desenvolvimento agroflorestal no noroeste de mato grosso

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A importância das agroflorestas para a conservação e uso sustentável da biodiversidade é o tema da publicação “Desenvolvimento Agroflorestal no Noroeste de Mato Grosso: dez anos contribuindo para a conservação e uso das florestas”. Escrito pelos pesquisadores Marcos R Tito, Paulo C. Nunes e Jorge L. Vivan, o livro é a sistematização dos resultados de um dos componentes do projeto “Promoção da Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso”, financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF) e implementado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) e pelo Governo do Estado de Mato Grosso, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema/MT).

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Tito, Marcos R.; Nunes, Paulo C.; Vivan, Jorge L. Desenvolvimento Agroflorestal no Noroeste de Mato Grosso: dez anos contribuindo para aconservação e uso das florestas. Resultados do Componente Agroflorestal do Projeto BRA/00/G31. -- 1. ed. -- Brasília, Brasil. Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD),Secretaria de Meio Ambiente do Estado de Mato Grosso (Sema/MT) e Centro MundialAgroflorestal (Icraf). Projeto Promoção da Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidadenas Florestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso (BRA/00/G31). 2011. 134 p.; 21 x 30cm.

ISBN 978-85-88201-09-5

EQUIPE DO PROJETOCarlos Ferreira de Abreu Castro

Coordenador de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PNUD

Eliani FachimCoordenadora Nacional – Projeto BRA/00/G31

Paulo César NunesCoordenador Técnico Componente SAFs – Projeto BRA/00/G31

Plácido Costa JúniorCoordenador PIC – Projeto BRA/00/G31

Jussara Souza OliveiraAnalista Ambiental – Sema – MT

Valdete ScedrzykGestora Financeira – Projeto BRA/00/G31

COLABORADORES:Carlos Ferreira de Abreu Castro – Coordenador de Meio Ambiente e Desenvolvimento do PNUD

Jussara Souza Oliveira – Analista Ambiental – Sema-MTAndré Luiz Rodrigues Gonçalves – Agricultura Ecológica, Ambiente e Sociedade,

Consultoria e Planejamento LtdaRaquel de Moraes Graffin

ORGANIZAÇÃO DE CONTEÚDOMarcos Rugnitz Tito – Centro Mundial Agrofloresta – Icraf

FOTOGRAFIASLáercio Miranda

Marcos Rugnitz Tito, Paulo César Nunes e Jorge Luís VivanColaboração fotográfica: Raquel de Moraes Graffin

PROJETO GRÁFICO E DIAGRAMAÇÃOSelma Corrêa

REVISÃOPaulo César Nunes

Silvana Godoy

Disponível em: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) BrasilEQSW 103/104 Lote 1 Bloco D, Setor Sudoeste, Brasília, DF

Tel.: +55 (61) 3038-9300Website: http://www.pnud.org.br/publicações/

Autoriza-se a reprodução desta publicação com finalidades educativas e outros finsnão comerciais sem a prévia permissão escrita de quem detenha os direitos de autor

contanto que se mencione a fonte.

Proibe-se a reprodução desta publicação para venda ou para outras finalidadescomerciais sem a prévia permissão escrita de quem detenha os direitos de autor.

1. Biodiversidade Funcional; 2. Pagamento por Serviços Ambientais; 3. Madeira Desvitalizada;4. Corredores Ecológicos; 5. Conectividade de Paisagem; 6. Reserva Legal.

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FigurasFigura 1. Localização da região Noroeste do Estado de Mato Grosso .....................................................Figura 2. Desmatamento acumulado no período 1992-2005, Noroeste – MT ............................................Figura 3. Terras indígenas do Noroeste de Mato Grosso ..........................................................................Figura 4. Modelo de custo de oportunidade de soja no Noroeste de Mato Grosso ....................................Figura 5. Sistema de Transmissão Brasileiro ...........................................................................................Figura 6. Sistema de Transmissão de Mato Grosso .................................................................................Figura 7. Municípios que receberam o Componente Agroflorestal do Projeto BRA/00/G31 .........................Figura 8. Localização de Aripuanã no Mato Grosso .................................................................................Figura 9. Localização de Castanheira no Mato Grosso ............................................................................Figura 10. Localização de Cotriguaçu no Mato Grosso ............................................................................Figura 11. Localização de Juína no Mato Grosso ....................................................................................Figura 12. Localização de Juruena no Mato Grosso ................................................................................Figura 13. Localização dos assentamentos rurais onde foram implementados os SAFs ...........................Figura 14. Direção dos ventos alísios na região Amazônica .....................................................................Figura 15. Ilustração do ciclo da chuva em distintos cenários de perturbação e concentração de umidade do ar..Figura 16. Ilustração de croqui (A) vista aérea da propriedade, (B e C) Perfil Vertical do SAF ..................Figura 17. Ilustração de sistema renque florestal multipropósito consorciado ...........................................Figura 18. Ilustrações transecto em cafezais sombreados ........................................................................Figura 19. SAF de dossel aberto extensivo já maduro. Perfil de 50mx10m (500m²)de Sistema Agroflorestal no Sítio Luisão, Cotriguaçu, Mato Grosso, 2008 .................................................Figura 20. Sistema agroflorestal intensivo diversificado ............................................................................Figura 21. Diagrama do processo do Componente Agroflorestal. Projeto BRA/00/G31 ..............................Figura 22. Esquema da localização das árvores desvitalizada em SAFs, propriedadedo agricultor Luís Nascimento, Assentamento Nova Cotriguaçu ..............................................................Figura 23. Proposta de criação de corredores ecológicos, região NO – MT ..............................................Figura 24. Índices de biodiversidade (Shannon, Simpson) para 83 parcelas de SAF ordenadasem ordem crescente, amostradas nos municípios de Juína e Cotriguaçú, 2010 .......................................

QuadrosQuadro 1. Taxas de desmatamento no Noroeste MT referente ao ano de 2008 ........................................Quadro 2. Resumo comparativo com os dados dos municípios que recebem oComponente agroflorestal do Projeto BRA/00/G31 ...................................................................................Quadro 3. Relação dos assentamentos rurais e beneficiários do ComponenteAgroflorestal do Projeto BRA/00/G31 .......................................................................................................Quadro 4. Descrição de produtos resultantes das avaliações técnicas sobre o Componente Agroflorestal .......Quadro 5. Descrição de produtos resultantes das avaliações técnicasdo Projeto BRA/00/G31 que também analisam o Componente Agroflorestal ............................................Quadro 6. Quantidade de mudas contratadas e produzidas no marco do Projeto BRA/00/G31 em 2005 .........Quadro 7. Projetos aprovados junto ao FNMA para a região Noroeste – MT, entre 2008 e 2011................Quadro 8. Descrição de atividades, materiais e custos referente ao desdobramento de árvoresde Teca utilizando serraria Lucas Mill. Propriedade de Dirceu Dezan, Juína .............................................Quadro 9. Vinte espécies de maior Frequência Relativa (Fr%) em 83 parcelas de SAF avaliadasnos municípios de Juína e Cotriguaçu, Noroeste de Mato Grosso, 2010 ..................................................

CaixasCaixa 1. Breve histórico da ocupação da região Noroeste de Mato Grosso ..............................................Caixa 2. Programa piloto para a Proteção das Florestas Tropicais do Brasil (PPG7) ................................Caixa 3. Programa de Desenvolvimento Socioambiental da Produção Familiar Rural (Proambiente) ........Caixa 4. Associação Rural Juinense Organizada para Ajuda Mútua (Ajopam) ..........................................Caixa 5. Lista de atividades relacionadas em Carta de Acordo – Projeto BRA/00/G31 ..............................Caixa 6. Fatores de adoção de SAFs na região Noroeste de Mato Grosso ............................................Caixa 7. Formação de agentes comunitários ...........................................................................................Caixa 8. Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência e Extensão Rural (Empaer) .........................

Índice de figuras,de quadros e de caixas

151819202324343636373839405051556465

676886

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4088

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1628838485909697

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Como forma da neologia existente em nossa língua, comumente, condensamos várias palavras empoucas letras para agilizar a troca de informação. Tais abreviações são denominadas acrônimos esiglas (palavras criadas a partir de uma ou mais letras que constituem um título ou uma designa-ção). Entretanto, o uso excessivo dessas contrações pode constituir uma verdadeira “sopa deletras”, dificultando o entendimento do conteúdo. A realidade do presente documento não é diferen-te. No decorrer do texto encontram-se 87 designações entre acrônimos e siglas. Para facilitar aleitura, a seguir é apresentada lista com os acrônimos e siglas utilizadas na publicação.

Aderjur – Associação de Desenvolvimento Rural de Juruena

Ajopam – Associação Rural Juinense Organizada para Ajuda Mútua

Amca – Associação de Mulheres Cantinho da Amazônia

AP – Área Protegida

APP – Área de Preservação Permanente

Asirik – Associação do Povo Indígena Rikbaktsa

Ater – Assistência Técnica e Extensão Rural

BSNS – Balcão de Serviços para Negócios Sustentáveis

CAR – Cadastro Ambiental Rural

CC-Sema/MT – Cadastro de Consumidores de Produtos Florestais

CE – Corredores Ecológicos

Ceplac – Comissão Executiva de Planejamento da Lavoura Cacaueira

Cimi – Conselho Indigenista Missionário

Conab – Companhia Nacional de Abastecimento

Coopavam – Cooperativa de Pequenos Agricultores do Vale do Amanhecer

CPT – Comissão Pastoral da Terra

DAR/Sefaz – Documento de Arrecadação/Secretaria da Fazenda

DRP – Diagnóstico Rural Participativo

EE – Estação Ecológica

Embrapa – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária

Empaer/MT – Empresa Mato-grossense de Pesquisa, Assistência Técnica e Extensão Rural

Fema-MT – Fundação Estadual do Meio Ambiente

Flona – Floresta Nacional

FNMA – Fundo Nacional do Meio Ambiente

Funai – Fundação Nacional do Índio

GEF – Global Environment Facility

GF – Guia Florestal

GF4 – Guia Florestal modelo

Ibama – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis

IBF – Índice de Biodiversidade Funcional

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

ICI – Imperial Chemical Industries

ICMS – Imposto sobre Operações Relativas à Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços deTransporte Interestadual e Intermunicipal e de Comunicação

Icraf – International Center for Research in Agroforestry

Sopa de letras:acrônimos e siglas

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IL – Índice de Lacunas de Informação

Incra – Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

Intermat – Instituto de Terras de Mato Grosso

IPN – Instituto Pró-Natura

IQSAF – Índice de Qualidade dos SAFs

LBA – Large-Scale Biosphere-Atmosphere Experiment in Amazonia

MMA – Ministério do Meio Ambiente

Nasa – National Aeronautics and Space Administration

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento

PA – Planos de Assentamento da Reforma Agrária

Paca – Projeto Agroflorestal em Consórcio Adensado

Padic – Programa de Apoio Direto às Iniciativas Comunitárias

PD/A – Projetos Demonstrativos Tipo A

PE – Parque Estadual

Petrobras – Petróleo Brasileiro S/A

PFM – Produtos Florestais Madeireiros

PFNM – Produtos Florestais Não-Madeireiros

PGAI – Projeto de Gestão Ambiental Integrada

PIC – Programa Integrado da Castanha

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

PPG7 – Programa Piloto para Proteção das Florestas Tropicais do Brasil

Prade – Planos de Recuperação de Áreas Degradadas

Prodeagro – Programa de Desenvolvimento do Agronegócio

Prodes – Programa de Cálculo do Desflorestamento da Amazônia

Prodoc – Documento do Projeto que descreve a mudança desejada em termos de produtos

Rebraf – Rede Brasileira Agroflorestal

Resex – Reserva Extrativista

RL – Reserva Legal

RPPN – Reserva Particular do Patrimônio Natural

RS – Revisão Substantiva

SAFs – Sistemas Agroflorestais

Seder – Secretaria de Desenvolvimento Rural

Sema/MT – Secretaria de Estado do Meio Ambiente

Seplan – Secretaria de Estado de Planejamento e Coordenação Geral

SIF – Sistema de Inspeção Federal

SIG – Sistema de Informações Geográficas

Simlam – Sistema Integrado de Monitoramento e Licenciamento Ambiental

SLAPR – Sistema de Licenciamento Ambiental em Propriedades Rurais SPRN – Subprograma dePolíticas de Recursos Naturais (do PPG7)

SUT – Sistemas de Uso da Terra

TFP – Tipos Funcionais de Plantas

TIs – Terras Indígenas

UC – Unidade de Conservação

UD – Unidade Demonstrativa

UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais

UFMT – Universidade Federal de Mato Grosso

UFRRJ – Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro

UNDP – United Nations Development Programme

ZSEE – Zoneamento Socioeconômico e Ecológico

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Nota para interpretação

Sobre um contexto de contínuodesmatamento da região Noroeste de MT,em 2001, surge o Projeto Promoção daConservação e Uso Sustentável daBiodiversidade nas Florestas de Fronteirado Noroeste de Mato Grosso (tambémconhecido pela sigla BRA/00/G31),financiado pelo Fundo Global para o MeioAmbiente (GEF) e implementado peloPrograma das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) e pelo Governodo Estado de Mato Grosso, por meio daSecretaria de Estado do Meio Ambiente(Sema/MT). O objetivo do Projeto BRA/00/G31 foi apoiar a região com resultadose processos demonstrativos, políticasestaduais para compatibilizar odesenvolvimento socioeconômico e aconservação da biodiversidade, ajudando acriar um mosaico de Áreas Protegidas(APs), interligados por sistemas deprodução agrícola e ou animal queestivessem consorciados com componentearbóreo (Sistemas Agroflorestais – SAFs).Isso possibilitaria a conformação deCorredores Ecológicos (CE) entre osmosaicos.

Durante os dez anos de atuação, asatividades do Projeto BRA/00/G31 foramimplementadas de forma complementar noâmbito de três componentes principais:(1) Áreas Protegidas, incluindo Unidadesde Conservação e Terras Indígenas;(2) Sistemas Agroflorestais (SAFs); e(3) Manejo Florestal.

Cada um deles possuia independênciametodológica na estratégia deimplementação, bem como nos recursoshumanos e financeiros disponíveis. A si-nergia existente na execução das ativida-des entre os componentes, entretanto,dificulta a avaliação exata da participaçãode cada um destes nos resultados doProjeto.

Com o propósito de que a leitura dessedocumento ofereça base e estímulo paranovas pesquisas, projetos e programasagroflorestais, buscou-se ao máximoapresentar os processos e resultadosdiretamente relacionados com oComponente Agroflorestal do Projeto BRA/00/G31. Mais que apresentar os

e uso do documentoresultados deste componente, no entanto,os autores procuraram proporcionarinformações necessárias que permitamàqueles que não conhecem a região,entender como os sistemas agroflorestaispassaram a ser reconhecidos comoalternativa produtiva em uma regiãomarcada por severos conflitossocioambientais e por um recente passadode desmatamento que esteve os mais altosíndices do país.

Para melhor compreensão de algumas dasbarreiras superadas pelos proponentes epromotores agroflorestais do Projeto epartindo de um breve relato da ocupaçãoda região Noroeste, o primeiro capítulotraz informação sobre os principais usosda terra na região, como o cultivo da soja ea prática da pecuária extensiva e damineração. Há mais de 30 anos essaspráticas vêm se beneficiando das políticasagrícolas e de desenvolvimento regional enacional, que favorecem a relação decusto de oportunidade e transação frentea usos alternativos. O capítulo remete aovelho embate entre os limites dodesenvolvimento econômico Xconservação ambiental, explicitada pelosdois lados do potencial hidrelétricoregional. Nesse aspecto, de um lado está oretorno econômico que permite a geraçãode energia, além da viabilização de novasformas de produção. Já, do outro, estão osimpactos ambientais e a valorização douso da terra que, por sua vez, podeprovocar maior fluxo de migração eimigração interna, com consequênciaspara a floresta da região.

O segundo capítulo narra a trajetóriainstitucional e organizativa dos dez anosde atividades do Projeto BRA/00/G31, emquatro períodos: (1980-2000) descrição doquadro institucional que atuou na regiãopreviamente ao Projeto; (2001-2003)primeira etapa de atuação do Projeto;(2003-2005) segunda etapa após oprocesso de revisão; (2005-2010)consolidação do Componente SAF comoprotagonista de ações estratégicas einspiradoras de desdobramentos emprojetos relacionados ao tema.

Também buscando favorecer o

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entendimento sobre o contexto em que semarcou o Projeto, o capítulo trêsapresenta as informações fitogeoclimáticase características socioeconômicas doscinco municípios beneficiados peloComponente Agroflorestal. Essa seçãotambém descreve os assentamentosatendidos e propõe uma tipologia dosgrupos de produtores da região(pecuaristas, colonos, assentados).

O quarto capítulo busca harmonizar asdiversas definições sobre sistemaagroflorestal presentes na literatura,trazendo uma breve reflexão sobre asdiferenças e potenciais complementa-riedades desses conceitos. O capítuloressalta ainda, a importante função dosSAFs na regulação do clima da região e naprovisão de outros serviços ambientais.Finalmente, apresenta a metodologiautilizada no Projeto para a medição emonitoramento participativo de SAFs.

Ainda, levando em consideração aspectosconceituais (agroflorestais) e relacionando-os à realidade do Projeto, o quintocapítulo faz uma análise do estado da artedos sistemas agroflorestais no Noroeste deMT. O capítulo explora os contextos evetores que moldaram os sistemasagroflorestais que hoje compõem parte douso da terra dos agricultores da região.Nessa seção se descrevem e se relacionamos atuais tipos, arranjos e ComponentesAgroflorestais que são parte da herança deprojetos agroflorestais que antecederam aoProjeto BRA/00/G31. A análise considerao legado socioecológico e econômico e seupapel nas configurações atuais. Em umaanálise comparativa, se discutem asdinâmicas que afetam aspectos biofísicos(como estrutura, composição, área), e asfunções econômicas e relações destescomponentes com outros do Projeto.

O capítulo seis detalha o desenvolvimentodo Componente Agroflorestal através daimplementação de UnidadesDemonstrativas (UDs). Os desenhos dosmodelos e definição de áreas exigiu aidentificação e valorização de SAFspresentes na região por parte dos técnicose pesquisadores relacionados direta ouindiretamente (consultores) com o Projeto.A seção vai apresentar uma lista dosprodutos obtidos das avaliações técnicas.O capítulo também traz informação sobreos processos e metodologias utilizados nascapacitações, assistências técnicas e nofomento agroflorestal. Destaca-se autilização da metodologia de Produtor a

Produtor como principal forma desocialização do conhecimento gerado nomarco do Projeto.

Finalmente, o capítulo sete mostra osresultados derivados do ComponenteAgroflorestal do Projeto BRA/00/G31.O capítulo inicia com (1) a descrição doprocesso de formação de redes e parceriasque visaram o fortalecimento dagovernança agroflorestal da região; (2)apresenta o sinergismo existente comoutros projetos e programas quefacilitaram a execução das atividadespropostas; (3) descreve as contribuiçõesreferentes à comercialização e à agregaçãode valor para cada espécie (carro-chefe)agroflorestal; (4) avalia o potencial deintrodução de SAFs em áreas de ReservaLegal e; (5) analisa o potencial madeireirodos SAFs; (6) principalmente destacandoos desafios para o aproveitamento demadeira desvitalizada e; (7) o potencial decarbono em SAFs. A parte final destaseção oferece informações sobre o uso desistemas agroflorestais como (8) forma depromover conectividade entre paisagens(principalmente de áreas protegidas) e; (9)o fomento e a conservação dabiodiversidade e da variabilidade genéticaregional. Os dois últimos pontos buscamresponder diretamente ao objetivoprincipal do Projeto BRA/00/G31.

Desejamos que a leitura permitamaior compreensão sobre acomplexidade políticasocioeconômica e ambiental quecaracteriza a região Noroeste deMato Grosso, o que é indispensávelpara alcançar o desenvolvimentoagroflorestal de modoambientalmente correto, socialmentejusto e economicamente viável.Também, neste momento em que autilização sustentável de áreasabertas na Amazônia adquirecaráter de urgência, espera-se queesta publicação possa ser de usoefetivo para associações deprodutores, comunidades e demaisgrupos informais engajados na buscade alternativas agroflorestais para amelhoria de seu bem-estar.

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Reconhecimento

A presente publicação recebeu a essencial colaboração do Dr. CarlosFerreira de Abreu Castro – Coordenador de Meio Ambiente eDesenvolvimento do PNUD; André Luiz Rodrigues Gonçalves – AgriculturaEcológica, Ambiente e Sociedade, Consultoria e Planejamento Ltda; Raquelde Moraes Graffin; e Jussara Souza Oliveira – Analista Ambiental – Sema-MT.

Os autores reconhecem a participação de todos os agricultores, gestorespúblicos, técnicos e demais pessoas envolvidas direta e indiretamente com oComponente Agroflorestal, que tornaram possível a conclusão exitosa destaobra e do Projeto PNUD BRA/00/G31.

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O contextosocioeconômicoRegião de fronteira agrícola com extensas áreas de florestas nativas(8.616.970 ha) distribuídas por diferentes ecótonos, a conservação doNoroeste do Estado de Mato Grosso é estratégica para o desenvolvimento deações preventivas que visam a não afetação degenerativa dos recursoshídricos e da biodiversidade da Amazônia. Inserida no Arco doDesmatamento, na região encontram-se Áreas Protegidas (APs) e TerrasIndígenas (TIs), que constituem verdadeiros corredores ecológicos ao longodos rios Juruena, Aripuanã, Guariba e Roosevelt (afluentes dos rios Madeirae Tapajós,importantesformadores do RioAmazonas).

Com uma área totalde 107.571 Km²,(quase 12% doterritório do estado)estima-se que os setemunicípios queconstituem a região

1Esta região, que vai do Oeste do estado de Rondônia até o Sul do Pará, a Nordeste, possui a maior taxa de desmatamento da regiãoamazônica, que é caracterizado pelo movimento de avanço da fronteira agrícola.

Figura 1.Localização da região

Noroeste do Estadode Mato Grosso

15

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Apesar da baixa densidadepopulacional (1,2 habitantes/Km²) ahistória de ocupação (dedesenvolvimento) privilegiou aexploração não sustentávelmadeireira e a conversão deflorestas em pastagens,comprometendo a qualidade demanutenção dos recursos e serviçosambientais.

A região sofre intensa pressão deocupação por parte de migrantes dediferentes regiões do país e, nopassado recente, de imigrantes daregião Sul atraídos pelos projetos decolonização estimulados pelosgovernos federal e estadual.Atualmente, o maior fluxoimigratório provém de Rondônia,embora também sejam recebidosimigrantes de outros estados,vindos através de iniciativas dereforma agrária e por movimentosespontâneos. Estes ocupantes

seguem a forma tradicional de uso dosolo, em que a extração da madeira(seletiva ou não) é seguida pelo usualprocesso de roça e queima para aabertura de áreas agrícolas e depastagens. Depois de um curtoperíodo de tempo, a pecuária entra emfase de abandono ou registrabaixíssima lotação animal, emconsequência, principalmente, dautilização anual de fogo para limpezade pragas e ervas daninhas (May et al.2003).

Os estudos realizados na região,particularmente aqueles preparadospara o Projeto, têm confirmado alógica de uso predatório, que tambémé caracterizada pela transformaçãoradical da paisagem (Pozo, 2002). Aprática é conduzida e/ou financiadapor quatro grandes grupos de atores:os madeireiros, os pecuaristas, osprimeiros colonos e, finalmente, osassentados rurais.

Breve histórico da ocupação

da região Noroeste MTO processo histórico de ocupação da Amazônia brasileira está vinculado a fenômenos geopolíticos eeconômicos decorrentes basicamente da busca de matérias-primas para o mercado externo. Posteriormen-te, na ocupação definida pela necessidade de expansão territorial de fronteiras para atender contingentes depopulações rurais excedentes de outras regiões (Reydon e Muniz, S/N). Migrações causadas pelas adversi-dades climáticas em outras regiões e pela possibilidade de obtenção de ganhos especulativos (devido aobaixo valor da propriedade da terra) também contribuíram com o processo de ocupação.

Em 1907 o interesse governamental de defesa das fronteiras nacionais abriu outra frente de penetraçãocom a construção de uma linha telegráfica, projetada para propiciar a comunicação de Cuiabá, SantoAntonio do Madeira (hoje Porto Velho), Acre e Manaus com o restante do país. Mas foi com a SegundaGuerra Mundial – que provocou um aumento da demanda por borracha no mercado internacional – quemilhares de homens empobrecidos em sua região de origem, sobretudo do Nordeste, migraram. Elesatingiram locais nunca antes explorados, como as matas equatoriais das bacias dos rios Papagaio, Sacre,Sangue, Arinos, Juruena e Aripuanã (ISPP, 2010).

O incremento populacional na região ocorreu a partir da década de 1970 devido à implantação de grandesprogramas², projetos de colonização e políticas agrárias e extrativistas minerais. As populações tambémforam atraídas pelos créditos subsidiados e pelos incentivos fiscais, além do suporte oferecido pelo governomilitar da época. Entre alguns exemplos está a criação do Polo de Desenvolvimento Aripuanã-Juruena;subsídios governamentais a projetos agropecuários via incentivos fiscais gerados pela Superintendência deDesenvolvimento da Amazônia (Sudam); e implantação de projetos de colonização particular – Núcleo Azul,Colniza, Juruena e Juína. Naquela década, o governo militar iniciou uma política rural baseada na instala-ção de projetos pecuários, denominados “Crescente Pastoril³”, desde o norte de Cuiabá até o Atlântico.

² Programas de infraestrutura, transporte e comunicações (Transamazônica); programas especiais de colonização como o Programa deIntegração Nacional (PIN) e o Programa de Redistribuição de Terras e de Estímulos à Agroindústria do Norte e do Nordeste (Proterra); eprogramas de incentivo à ocupação produtiva como o de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Polamazônia).³ Os projetos aprovados pela Sudam, além da isenção de todos os impostos durante dez anos, eram favorecidos por financiamentos,extraídos do Imposto de Renda, em três quotas: a primeira, para a derrubada da mata; a segunda, para a formação das pastagens einstalação das benfeitorias; a terceira, para a introdução do plantel. Por cláusula contratual, a empresa não podia receber a 2ª e 3ª quotassem que a etapa anterior à implantação estivesse concluída.

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Imensas glebas foram então adquiridas a um custo simbólico, com altos financiamentos e isenção total deimpostos por dez anos. A região foi colonizada principalmente por agricultores familiares e assentados dareforma agrária, muitos deles migrantes do Centro-Sul do país em busca de terra e de melhores condiçõesde vida. A falta de estrutura e de planejamento para receber a grande quantidade de pessoas que vierampara a região, no entanto, trouxe vários problemas: conflitos de terra, doenças, desemprego, ocupação dereservas florestais, conflitos em terras indígenas e degradação ambiental.

Foi a partir da década de 1980 que áreas vizinhas ao Noroeste de Mato Grosso receberam grandes progra-mas e projetos, o que promoveu sua ocupação. Nessa época, a região de Rondônia e o Oeste de MatoGrosso receberam o Programa de Desenvolvimento Integrado para o Noroeste do Brasil (Polonoroeste-4)que tinha como eixo central a pavimentação da BR-3645 (Cuiabá-Porto Velho) e o desenvolvimento agríco-la. Já no fim da década, foram implementados o Programa de Desenvolvimento Agropecuário de MatoGrosso (Prodeagro) e o Plano Agropecuário e Florestal de Rondônia (Planafloro)6 (Lemos 2006).

17

4 O programa iniciado em 1981, em parte financiado pelo Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (Bird), foi duramentecriticado pelos impactos à região. As análises e Avaliações “Ex-Post” demonstraram que, embora os estudos preliminares efetuados pelo BancoMundial já apontassem os riscos na implantação e implementação do programa e, tivessem sido inseridos componentes ambiental e indígenacomo forma de minimização desses impactos, o Polonoroeste não teve capacidade de sustar a ocupação desordenada de Rondônia e decumprir suas metas sociais e econômicas (Sá Leão et. al 2004).5 Iniciada no fim da década de 1940, a BR-364 (Cuiabá-MT a Porto Velho-RO) começou a ter tráfego regular somente em 1968, facultando aocupação da região Noroeste do país e redesenhando o quadro socioeconômico do estado de Rondônia (Sá Leão et. al 2004).6 Financiado (empréstimo internacional) pelo Banco Mundial em setembro de 2002, o Programa Planafloro pretendia contribuir para melhoria daqualidade de vida de pequenos agricultores, populações indígenas e ribeirinhas, a partir da ação direta de projetos comunitários (Paic). Outrasações seriam a demarcação, a implementação de unidades de conservação e a infraestrutura, dentre outros. Das metas atingidas no período de2000 a 2002, destacam-se: implantação do plano de manejo da Floresta Estadual de Rendimento Sustentável (Fers) do rio Vermelho B; açõesde fiscalização nas terras indígenas; atendimento a 120 projetos do Programa de Apoio às Iniciativas Comunitárias (Paic), que já estão em fasefinal de execução; pavimentação de 65% das rodovias estaduais RO-473 e RO-370. Também foi concluído o Zoneamento SocioeconômicoEcológico do estado de Rondônia. http://www.abrasil.gov.br/avalppa/RelAvalPPA2002/content/av_prog/365/prog365.htm

A vocação florestal da região resultouem expansão da atividade madeireira –principal meio econômico até o fim dosanos 1990. A indústria madeireirarepresentou a base econômicaregional, sendo a principal responsávelpela geração de emprego e de renda.Entretanto, com poucas exceções(empresas com plano de manejo), a

região foi marcada pela atuação deempresas pequenas e médias quecompravam sua matéria-prima deáreas autorizadas ou não aodesmatamento, através do corte rasodos proprietários rurais locais(pecuaristas, colonos e assentados). Aexploração da madeira, embora aindacercada de um enorme desperdício,

Área desflorestada com alta presençade componente arbóreo. Juína, Noroeste (MT)

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graças a uma série derazões, tem a funçãoprimordial de financiar aconversão da área florestadaem área de pastagem(predominantemente). Oprincipal interesse ainda é aformação do pasto e não aexploração da madeira deforma racional, tal como umprodutor florestal, emborapossa ser percebida umapequena mudança nessecomportamento à medida emque o recurso florestalcomeça a escassear.

Como resultado da política deocupação com base na abertura derodovias e de incentivo à migração e à

colonização dirigida por meio dosassentamentos, até o ano de 2008mais de 17,7% da área de florestaoriginal da região Noroeste tinham sidodesmatadas.

Mesmo com essa primeira onda demigração (anos 1940 a 1980), a maiorparte da região não foi seriamenteameaçada por perda de biodiversidade.Isso, até o início da década atual (2000),quando uma nova leva de migrantes,garimpeiros e pecuaristas intensificou aocupação, com forte fluxo advindo deRondônia, o que foi facilitado pela

construção de estradas.

Em 2002 os índices de desmatamentona floresta tropical da Amazônia Legalatingiram o recorde de 25.500 Km²,conforme anunciado pelo GovernoFederal em 25 de junho de 2003.Somente no período de 2000 a 2005, aárea desmatada cresceu 66% na região

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Noroeste, sendo mais significativa aindanos municípios de Colniza (266%) eCotriguaçu (174%), foco da colonizaçãoespontânea interestadual (Vivan et al.2007).

De acordo com os mesmo autores,embora somente 16% da área territorialda região tivessem sido desmatados até2005, quando se descontam as áreasdas UCs e TIs, toda a região passa aexibir um déficit de Reserva Legal,tomando as áreas municipais como basede referência e adotando os 80% deReserva Legal definidos pelo CódigoFlorestal para as áreas de floresta

ombrófila amazônica.

Atualmente, de acordo com o PlanoTerritorial de Desenvolvimento RuralSustentável (ISPP 2010), a regiãoNoroeste é caracterizada "pelo baixograu de apropriação produtiva de seuterritório e pela precariedade de suaintegração ao conjunto do estado".

Também afirma que a localizaçãodistante da capital e de centros urbanos,além do precário sistema viário de quedispõe, causa um reduzido índice de4,2% de antropização e um povoamentorarefeito e relativamente recente.

Conflitos pelo uso da terraA região apresenta uma dinâmicasocioeconômica complexa. De um ladoestão as áreas protegidas7 públicas(UCs e TIs), que contribuem para aconservação dos recursos naturais epara a conectividade da região. Dooutro, estão áreas de produçãoagropecuária, que promovem aeconomia da região.

Somadas, as áreas protegidasperfaziam, até 2006, 35,9% doterritório da região (Sema, 2006). NasTerras Indígenas (TIs)8 habitam seispovos contatados que somam 4.344habitantes em 96 aldeias de trêsdiferentes grupos linguísticos. Elescobrem atualmente 38.600 Km², ondetambém estão quatro comunidadesisoladas (não contatadas). A regiãopossui um total de 9.692 agricultoresfamiliares e 6.416 famílias em 13assentamentos da reforma agrária(algumas delas inseridas dentro dezonas de amortecimento ou no entornodas UCs). Sá Leão et al (2004)destacam, porém, que a falência doprocesso histórico dos projetos deassentamento dirigidos e a nãoabsorção da mão de obra rural noscentros urbanos levou parte destapopulação aos garimpos e à invasãodas áreas públicas e das Terras

Indígenas. Isso causou a retiradaindiscriminada de madeiras de lei e adegradação ambiental.

Apesar de serem muitas as causas dodesflorestamento, há umreconhecimento de que a expansão dafronteira agrícola, conduzida pelaprodução de soja e pela criação degado, é uma das principais causas dodesmatamento (Oliveira 2008).

7 Estação Ecológica do Rio Madeirinha, Estação Ecológica do Rio Flor do Prado, Estação Ecológica do Rio Roosevelt, Estação EcológicaIquê, Parque Estadual Igarapés do Juruena, Parque Estadual Tucumã, Reserva Extrativista Guariba / Roosevelt.8 Arara do Rio Branco, Aripuanã, Enawenê-Nawê, Escondido, Igarapé Lourdes, Parque do Aripuanã, Rio Pardo, Roosevelt, Serra Morena,Sete de Setembro e Zoró.

Figura 3. Terras Indígenas doNoroeste de Mato Grosso

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O verde da sojaA inserção do estado de MatoGrosso (MT) no mercadoglobalizado por meio da venda decommodities agrícolas foiexpressiva entre os anos de 1995e 2005. A soja tem sido o carro-chefe desses produtos e elevadoos patamares de renda do estado,o que permite à agricultura umaimportância fundamental para aeconomia estadual e do país,com influência nos superávits dabalança comercial (Oliveira2008).Em 2002, a safra de sojabrasileira atingiu níveis recordes(Vilela & Moreira, 2006).

Fragmento de floresta entreprodução de soja (MT)

Em 2006, o PIB agrícola respondeupor 43% do PIB total do estado deMato Grosso (IBGE, 2007), e osvolumes de grãos e carne exportadosinfluenciaram positivamente nosuperávit da balança comercial dopaís.Os benefícios econômicos, todavia, sãoquestionados diante dos prejuízosambientais e da tensão local, onde osmovimentos sociais têm se oposto aesse modelo de produção (Venturieri etal, 2007).

O crescimento da sojicultura é oprincipal fator que impulsiona aexpansão de pastos em áreas doestado, sem vocação para esta culturadevido a alteração da relação do custode oportunidade. Como em casossimilares de fronteiras agrícolas, ocontexto é, por outro lado, tambémfértil para identificar oportunidades epropor alternativas sustentáveis quereduzam o ritmo da perda debiodiversidade e agrobiodiversidade naregião (Henkemans, 2000).

Figura 4.Modelo

de custo deoportunidade desoja no Noroestede Mato Grosso

Fonte:Soares Filho 2007

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Pecuária extensiva:a velha lógica do desenvolvimento

Não diferente ao contexto amazônico, aregião Noroeste de MT foi ocupada pelapecuária. A lógica de ocupação daregião segue, quase sempre, osseguintes passos: retirada da madeiramais valiosa, derrubada da mata equeimada. Em alguns casos, segue-secultivo agrícola de espécies anuais e,na grande maioria das vezes,finalizando em pastagem (Vaz 2004).Os atores envolvidos nesse processosão basicamente os madeireiros,primeiros colonos, assentados rurais egrandes fazendeiros (pecuaristas)(Pozo, 2003).

Essa forma de utilização de uso dosolo, não somente é responsável peladerrubada da mata, como tambémpelas queimadas anuais realizadascom o objetivo de limpeza do pasto. Talprática reduz ainda mais qualquerchance de regeneração da mata eaumenta a chance de queima dasáreas de preservação permanente e deReserva Legal, quando existentes. Oprocesso tem um ciclo médio entre deze quinze anos na região, quando seuresultado é a inviabilidade do pasto,provocada pela ausência de matériaorgânica, pela excessiva compactaçãodo solo e pela degradação da área.

Esse ciclo vicioso se reinicia a partirda derrubada de uma nova área. Oresultado desse processo pode sertestemunhado na existência de umagrande área de terra já degradada naregião.

A prática da pecuária recebe incentivotanto por parte de organizaçõesfederais, como internacionais. Oliveira(2008) cita dois fatores externos quecontribuíram para o aumento nosúltimos anos da demanda por carne esoja da Amazônia e, de maneiraparticular, de Mato Grosso. O primeirofoi o surgimento da doença da vacalouca na Europa, que aumentou ademanda por carne de animaisalimentados com ração vegetal. Osegundo foi a explosão econômica daChina, que elevou a necessidade porproteína animal (frango e porco) e,consequentemente, por soja. Isso fezcom que o preço do produtoalcançasse o recorde histórico nomercado internacional.

Adicionalmente, em 2002 e 2003 oReal apresentava desvalorizaçãovantajosa frente ao Dólar, o quepotencializava os rendimentos(Nepstad, 2005).

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Corrida ao ouro

A falência dos projetos deassentamento dirigidos e a nãoabsorção da mão de obra rural noscentros urbanos, levou parte destapopulação aos garimpos de ouro (SáLeão et. al 2004). Essa extraçãoocorria, inclusive, nas próprias áreasde alguns assentamentos do Noroeste(Vivan et al. 2009).

O garimpo de ouro, mais do quequalquer outra atividade agropecuária,traz consequências extremamentedanosas, tanto do ponto de vistaambiental, quanto sob o aspectosocial. A consequência foi a poluição eo assoreamento dos rios, áreas

degradadas e erosões generalizadas.Em 2002 o garimpo do ouro situado noassentamento Vale do Amanhecer,Juruena, trouxe a destruição dafloresta e o envenenamento dos rios edos lençóis freáticos com cianeto emercúrio, além de outros problemas(Vargas 2006, Vaz 2004). Também em2002, ocorreram 33 assassinatos nomunicípio onde está instalado oassentamento.

Em 2009 ainda eram relatados casosde envenenamento de gado empropriedades dos assentados,causados pela contaminação doscorpos hídricos (Vivan 2009).

9 O subsídio, criado com a Lei 8.631 de 1993, é mantido por todos os consumidores nacionais relacionados aos sistemasinterligados (Prodeam, 2004).

Os dois lados do potencialhidrelétrico regionalA região amazônica tem hoje umpotencial energético inigualávelcom uma capacidade de geraçãohídrica de cerca de 60% dopotencial remanescente do país(MME, 2005).Em função das distâncias ebarreiras geográficas na regiãoamazônica, como é o caso doNoroeste de Mato Grosso, alémdos sistemas interligadosencontram-se sistemas isoladosbaseados em termoelétricas queutilizam principalmente

combustíveis não-renováveis (óleodiesel). O custo com combustívelnas termoelétricas chega arepresentar, aproximadamente,entre 60% a 80% do custo total degeração (Prodeam, 2004).Os sistemas isolados de geração daregião Norte são baseados emdependentes da Conta de Consumode Combustível (CCC-Isol9 ) quesubsidia cerca de 60% docombustível adquirido. O subsídio,contudo, tem prazo definido parafindar-se em 2013, o que poderá

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causar sérios problemas à economiaregional, já que o custo real docombustível elevará o custo de geraçãoa um nível impossível de ser pagopelos consumidores.

A partir de meados dos anos 1990,o Governo Federaldesenvolveu novosinstrumentos deplanejamento como osEixos Nacionais deIntegração eDesenvolvimento, queconcretizam novasparcerias público-privadas, nas quais aoestado cabe a regulação,o planejamento e ofinanciamento dasinfraestruturas a seremimplementadas egeridas (além de usadas)pela iniciativa privada(Lemos, 2006).

Segundo o autor, "opapel da Amazônia nomapa energéticonacional parece, entreoutros aspectos,orientar-se comosolução para osproblemas advindos do esgotamentoda capacidade produtiva de energia deoutras regiões como o Sudeste e o Sule, como centro de atração deindústrias eletrointensivas, o quesignifica a exportação indireta esubsidiada de energia para os paísescentrais do continente".

Desde a implementação do programade privatização em 1996, o setorelétrico brasileiro vem substituindo aforma vertical tradicional sobcoordenação da Eletrobrás (Opet-OLA2003). Houve uma série de mudançasna estrutura, que culminou com aadoção de um novo modelo defuncionamento do sistema elétricodenominado Mercado10 Atacadista de

Energia Elétrica. Este mercadopermitiu a compra e a venda deeletricidade entre os agentesregistrados (Opet-OLA, 2003).

Atualmente, o sistema elétriconacional possui um Sistema

Interligado (SIN)11 operado de formacentralizada para otimizar os recursosdos diversos agentes do sistema. Essacentralização é função dainterdependência operativa existenteentre as diversas usinas que podemutilizar-se de recursos, os quais devemser necessariamente compartilhados,tendo em vista os diversosreservatórios localizados emsequência, em um mesmo rio ou baciahidrográfica. A energia gerada emdeterminada usina depende da vazãoliberada à montante por outras usinas,que podem ser ou não de uma mesmaempresa e que podem também, afetara geração de outras usinas (Baltazar2007).

Figura 5. Sistema de Transmissão BrasileiroFonte: Baltazar, 2007.

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10 O Mercado é administrado pelo Asmae (Administradora de Serviços do Mercado Atacadista de Energia Eléctrica).11 SIN é controlado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), entidade de direito privado, sob a forma de associação civil, instituídapela Lei 9.648/98 (Baltazar, 2007). De acordo com o mesmo, operar o SIN é administrar a rede básica de transmissão de energia elétrica.

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Todo processo histórico descritopossibilitou que hoje existaminumeráveis Pequenas CentraisHidrelétricas (PCHs) e UsinasHidrelétricas (UHE) espalhadas pelaregião amazônica e, a cada ano,surgem novos inventários de potencialhidrelétrico dos seus rios. Um destesinventários estima um potencial de5.000 MW somente para a bacia doRio Juruena.

Dois exemplos importantes de projetoshidrelétricos da região Noroeste de MTsão a Usina Hidrelétrica Dardanelos12,no rio Aripuanã, e a PCH de Juína.Ambas têm sua proposição econstrução associadas à constantesconflitos sociais. Como resultadodessa insatisfação, um grupo deindígenas de onze povos ocupou asinstalações das usinas.

No contraponto, nos municípios doVale do Juruena ainda há imensademanda para implantação de redesde energia elétrica13. Em Juruena,78% do município está energizado,mas em Juína apenas 47% da árearural tem luz em razão do problema dedistância entre as propriedades. No

município de Castanheira 86% da zonarural tem energia (Seder 2009)14. Deacordo com o autor, em Cotriguaçuestá em execução uma subestação e,em Aripuanã, na Conselvan, das 1.100famílias, 250 têm energia elétrica.

Os dois lados do potencial energéticocaminham em direções distintas. Sobum aspecto há o retorno econômicoque propicia a geração de energia e aviabilização de novas formas deprodução. Já sob outro, estão osimpactos ambientais e a valorização douso da terra que, por sua vez, podepromover maior fluxo de migração e deimigração, pressionando ainda mais afloresta da região.

Atualmente, a realidade é que o estadode Mato Grosso possui o maior sistemade transmissão do Brasil. São 2.527Km de linhas de transmissão, comcapacidade para transportar até 400MW, com nove subestações, além docircuito da linha de transmissãoCuiabá-Rondonópolis, construída emparceria com a iniciativa privada. Osistema corta a região de Sul a Nortedo estado (Eletrobras-Eletronorte2011)15.

12 Potencial esperado de 261 MW. Empreendedor: Energética Água das Pedras S.A. (Chesf 24,5%, Eletronorte 24,5% e Neoenergia 51%). Aimplantação da usina destruiu o cemitério, que tem valor sagrado para os povos Cinta Larga e Arara.13 O Decreto de Dezembro de 1997, outorga à Centrais Elétricas Mato-grossenses S.A (Cemat) concessões para produção de energiaelétrica, mediante o aproveitamento dos seguintes potenciais hidráulicos em 12 usinas (11 municípios) no estado de Mato Grosso, entre eles,duas que abrangem a área do Projeto: Usina Juína, no rio Aripuanã, município de Juína, e Usina Aripuanã, no rio Aripuanã, município demesmo nome;14 Gilberto de Werk, assessor especial da Secretaria de Desenvolvimento Rural. Para saber mais consultar: http://www.viamt.com.br/noticia.php?id=3735815 http://www.eln.gov.br/opencms/opencms/pilares/transmissao/estados/matogrosso/

Figura 6. Sistema de Transmissão de Mato GrossoFonte: Eletrobras-Eletronorte, 2011.

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Sobre o ProjetoEm 2001, em um contexto de contínuo desmatamento da região, surge oProjeto Promoção da Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade nasFlorestas de Fronteira do Noroeste de Mato Grosso (também conhecido pelasigla BRA/00/G31), financiado pelo Fundo Global para o Meio Ambiente(GEF). O Projeto foi implementado pelo Programa das Nações Unidas para oDesenvolvimento (PNUD) e pelo Governo do Estado de Mato Grosso, pormeio de sua Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema/MT). Em seusdez anos de duração (período compreendido entre 2001 e 2010), asatividades foram desenvolvidas em três componentes principais: (1) ÁreasProtegidas, incluindo Unidades de Conservação e Terras Indígenas; (2)Sistemas Agroflorestais; e (3) Manejo Florestal.

O Projeto teve como objetivo apoiar a região com resultados e processosdemonstrativos, políticas estaduais que visassem compatibilizar odesenvolvimento socioeconômico com a conservação da biodiversidade,ajudando a criar um mosaico de Áreas Protegidas (APs) e sistemas de usoda terra, com a formação de Corredores Ecológicos (CE).

Linha histórica:

Contexto prévio ao iníciodo Projeto (1993-2003)Em 1993, o Instituto Pró-Natura (IPN),apoiado pela empresa química inglesaImperial Chemical Industries (ICI), criou oCentro de Pesquisa e Extensão Agroflorestal,no município de Juruena. O propósito docentro era promover o desenvolvimentotécnico e a extensão rural voltados aospequenos produtores rurais assentados naregião, apoiando diretamente a Associaçãode Desenvolvimento Rural de Juruena(Aderjur) e a Secretaria Municipal deAgricultura.

O IPN também conduziu um projeto pilotovisando testar técnicas de impacto mínimode manejo florestal sustentável, emcolaboração com a empresa Rohden LigneaS.A.

16 Adaptado de Vivan 2009.

trajetória institucionale organizativa do Projeto

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17 O PGAI é um projeto do Subprograma de Política de Recursos Naturais (SPRN), o qual faz parte do Programa Piloto para Proteção dasFlorestas Tropicais do Brasil (PPG7). É gerenciado pela Semat/MT e implementado pelos municípios. Conta com recursos de doação e decontrapartida. A ênfase no PGAI é na proteção da biodiversidade strictu sensu, além de orientar a atividade produtiva e promover a fiscaliza-ção ambiental.

Também surgia o Programa Piloto paraa Proteção das Florestas Tropicais doBrasil (PPG7). Embora tenha sidoiniciado em 1992, o real período deexecução da iniciativa foi a partir de1995 com a implementação de projetosna região Noroeste de Mato Grosso.

Em 1998, o governo estadual alocou asoma de US$ 6,05 milhões via PPG-7para o Programa de Gestão AmbientalIntegrado (PGAI)17, voltado para umprocesso piloto de ZoneamentoSocioeconômico e Ecológico (ZSEE), noNoroeste de Mato Grosso.

Considerado uma das maiores iniciativas de promoção do desenvolvimento susten-tável na Amazônia Brasileira (Barbanti 2008), tendo ainda realizado algumas açõesna região da Mata Atlântica, o PPG7 foi concebido pelo governo brasileiro apósrepresentantes do grupo dos sete países mais ricos do mundo (G-7), interessadosem contribuir com o desenvolvimento sustentável da região, em 1990, criarem um

fundo fiduciário no Banco Mundial (Bird). O orçamento total estimado para a primeira fase era de US$250 milhões, que deveria ser complementado por uma contrapartida brasileira.

Segundo o Relatório Final de Avaliação do PPG-7 (Rueda, 2006), os objetivos específicos do progra-ma, estabelecidos nos documentos de sua criação, eram os seguintes: (1) Conciliar o desenvolvimentoeconômico sustentável com a conservação das florestas tropicais; (2) Conservar a biodiversidade dasflorestas; (3) Reduzir a contribuição das florestas tropicais brasileiras na emissão global de gases quecausam o efeito estufa; (4) Criar um exemplo de cooperação entre países industrializados e nações emdesenvolvimento sobre os problemas ambientais globais.

No momento de sua "avaliação final", o PPG-7 estava composto por dezesseis subprogramas eprojetos organizados em cinco áreas de atuação (Pinzon Rueda, 2006), das quais, três influenciaramdiretamente com o Projeto PNUD BRA/00/G31:

"Experimentação e Demonstração: apoio a experiências inovadoras em conservação, produção susten-tável e educação ambiental, desenvolvidas por comunidades locais e órgãos governamentais, por meiodos projetos ProManejo, ProVárzea, Proteger II, PDPI, PNS e PDA.

"Conservação de Áreas Protegidas: proteção e manejo de recursos naturais em terras indígenas,reservas extrativistas e outras reservas naturais com a participação das comunidades locais, desenvol-vidos pelos projetos PPG-7, Resex e Subprograma Corredores Ecológicos.

"Fortalecimento Institucional: apoio a instituições públicas na formulação e na implementação depolíticas ambientais, sob a ótica da gestão compartilhada entre União, estados e municípios,e de maior participação e controle social, por meio do SPRN e do apoio àsredes GTA e RMA.

Programa Piloto para a Proteção dasFlorestas Tropicais do Brasil (PPG7)

As atividades desenvolvidas pelo IPNcontribuíram para a formulação doDocumento do Projeto (Prodoc) doBRA/00/G31 enviada ao GEF. Oprocesso de elaboração do Projeto foiiniciado em 1997, com aprovação deum programa autossuficiente ("stand-alone"), focado em manejo e usosustentável de recursos florestais nãomadeireiros.

O contexto da iniciativa foi de uma

aliança institucional entre o IPN e aFundação Estadual do Meio Ambiente(Fema-MT). Em razão dorelacionamento estreito entre asentidades, o estado aprovou aestruturação de um projeto cujogerenciamento ficava sob o controle daequipe base, sediada no IPN. Com aassinatura do Projeto, as atividades emcampo foram iniciadas em junho de2001. O quadro lógico inicial tinha trêsobjetivos gerais (UNDP 2001):

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"A gestão ambiental e territorial:construir, através de zoneamentoeconômico-ecológico em âmbito regional,um mosaico entre atividades produtivase florestas remanescentes (não haviacomponente prevendo ações em TerrasIndígenas ou UCs);

"A melhoria dos sistemas de produçãopela inclusão de sistemas agroflorestais(SAFs) e silvopastoris, além do usosustentável de produtos florestais nãomadeireiros junto aos colonosexistentes, extrativistas na ResexGuariba-Roosevelt e novos assentadosque aceleravam sua chegada à região;

"O manejo florestal sustentável e acertificação florestal empresarial.Pretendia-se também facilitar odesenvolvimento de meios depagamento para serviços ambientais,com base nos resultados do projeto de

avaliação de estoques de carbono emflorestas”.

O Projeto, em sua versão inicial, previaa realização de estudos para facilitar odesenvolvimento de ferramentas para opagamento de serviços ambientais.Isso ocorreria com base nos resultadosde avaliação de estoques de carbono,porém focado em florestas naturais eem manejo madeireiro.

Dois projetos de alta relevância paraesse objetivo também foram atraídospara a região: o Nasa/LBA, queanalisava mudanças atmosféricas eação antropogênica18 e o Poço deCarbono Peugeot (1999), iniciativapiloto que buscava "avaliar a eficáciados Poços de Carbono Florestais, comoum meio de luta contra as mudançasclimáticas"18.

Revisão do Projeto e transição (2003-2005)Com a revisão de 2003, o Projetopassou então a dar maior ênfase àconservação de remanescentesflorestais. Outro foco seriam osmecanismos de controle público dagestão do processo de ocupação e usodo espaço por atividadesagropecuárias e de extração florestal.Tal atuação foi proposta para enfrentara aceleração do desmatamento que aregião estava percebendo em razão doprocesso migratório desde Rondônia, apartir dos municípios de Machadinhodo Oeste-RO e Colniza-MT.

O Projeto, então, focaliza suas ações,por meio da Revisão Substantiva (RS)de 16/10/2003, na constituição domosaico de Áreas Protegidas20, comuma matriz de usos sustentáveis daterra e com ênfase na implementação ena consolidação das Unidades deConservação, das Terras Indígenas ede seu entorno (10 Km), e pelo fomentoà constituição de corredores ecológicos

entre essas áreas.

O BRA/00/G31 tinha como objetivoproporcionar o incentivo àsalternativas econômicas sustentáveis.Estas, por sua vez, deveriam teriniciativas demonstrativas quepudessem fomentar a sua expansãoem atividades de maior escala emregiões prioritárias no entorno dasáreas protegidas ou de granderelevância para a proteção dabiodiversidade (Empaer, 2006).

Após a revisão, as ações do Projetoforam normalizadas a partir de marçode 2004. Com a eleição municipal emoutubro desse mesmo ano e, com oconsequente processo de renovação detoda a equipe do poder executivo noNoroeste, foi necessária umareapresentação da iniciativa paraesses novos atores, sendo estabelecidoum intenso processo de discussão daspossibilidades e objetivos, uma vez quepoucas dessas pessoas conheciam o

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18 http://earthobservatory.nasa.gov/Features/LBA/19 http://www.mecanicaonline.com.br/2009/1%2Bjaneiro/3%2Bengenharia/peugeot%2Bpoco%2Bcarbono.htm20 A Revisão Substantiva de 2003 identificou a necessidade de ampliação de Áreas Protegidas em 1.000 Km², meta que foi amplamentesuperada pelos 5.758,26 Km² alcançados em 2009 (Vivan 2010).

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histórico do BRA/00/G31 (Nunes2005).

Em 200521, a Fema passou à condiçãode Secretaria de Estado e assumiucomo coordenadora e executora daação. Na mesma época, a Secretariatambém assume as atribuições defiscalização do Ibama no Mato Grosso.A nova posição da Sema/MT permitiua organização e o gerenciamento deuma base centralizada de dadoscartográficos georreferenciados.

Nesse mesmo ano, a região Noroesterecebeu a visita do diretor nacional doProjeto, o secretário adjunto de meioambiente do estado de Mato Grosso. Avisita teve como objetivo principalapresentar os responsáveis dasagências implementadoras parceiras,em reuniões com autoridades elideranças municipais das associaçõesde agricultores familiares, empresáriosda indústria madeireira e técnicos da

Sema, Indea e Empaer (Nunes 2005).

A iniciativa, administrada pela Sema/MT, teve parte considerável das açõesligadas ao Componente SAFsimplementada por meio de convênioscom os governos municipais na regiãoalvo. Os técnicos de AssistênciaTécnica e Extensão Rural (Ater), queexecutavam as ações do Projeto, eramligados às prefeituras municipais e àextensão rural do governo do estado deMato Grosso. A estratégia foi crucialpara assegurar uma participaçãomaior das secretarias de agricultura emeio ambiente locais, compatibilizandomelhoria de qualidade ambiental coma geração de renda entre pequenosprodutores rurais (Vivan et. al 2007).De acordo com o autor, o entusiasmodos colaboradores foi atestado peloregistro de produção e demanda demudas em 2005/06, que superou em50% as metas quantitativas do BRA/00/G31.

21 Nesse ano uma ação da Polícia Federal desmontou um arranjo ilegal para o corte e licenciamento de madeira na região (Nunes 2005).

Desdobramentos pós-Revisão (2006-2010)Em 2006 a coordenação do Projetopela Sema/MT se consolidou naSuperintendência de Biodiversidade.

O desenho organizacional foiaperfeiçoado, criando-se, em 2006, asCoordenadorias de Ecossistemas,Fauna e Recursos Pesqueiros,Unidades de Conservação e, em 2008,as Coordenadorias de MudançasClimáticas e de Monitoramento eRecuperação de Áreas Degradadas. ASuperintendência de Gestão Florestalpassou a interagir de modo maisnivelado (e mais ágil) com aSuperintendência de Biodiversidade.Isso permitiu um melhor fluxo deinformações entre Licenciamento,Cadastro de Consumidores deProdutos Florestais (CC-Sema) e oSistema de Licenciamento Ambientalde Propriedades Rurais (SLAPR).Atualmente, os responsáveis técnicospelos empreendimentos, a Sema/MT e

o público em geral, interagem atravésde um conjunto de ferramentas online.Os responsáveis técnicos cadastradosna Sema/MT, com uma chave deacesso ao sistema, acompanham oandamento de processos e fazem usodas ferramentas disponíveis.

As limitações de pessoal e de recursospara os componentes 2 e 3, e a maiorconcentração de capacidades naSema/MT para a gestão ambiental eterritorial foram superadas ecomplementadas por parcerias comprefeituras, iniciativa privada e órgãosde pesquisa. Houve a captação, pelaequipe do PNUD de apoio à iniciativa,de R$ 8.813.190 em projetoscomplementares de caráter transversal(SAFs, produtos florestais nãomadeireiros) em ações voltadas paraagricultores e povos indígenas. Asações são descritas no capítulo VII.

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A região Noroeste mato-grossense está inserida no planalto de Apiacás-Sucurundi e na depressão Interplanáltica Amazônica Meridional, Serra doNorte. A topografia é variada, mas o relevo é predominantemente suaveondulado e plano. Os solos predominantes são o Podzólico (Neossolos)vermelho amarelo distrófico, Podzólico vermelho álico e Latossolo (Oxissolos)vermelho escuro álico. No município de Castanheira podem ser encontradasmanchas de áreas de Latossolo vermelho e amarelo escuro de boa fertilidade.A vegetação é formada por floresta tropical densa, em diversos estágios deabertura, floresta estacional e cerradão (Pozo, 2002, 2003). A precipitaçãoanual é de aproximadamente 2.250 mm, com intensidade máxima em janeiro,fevereiro e março. A temperatura média anual é de 24º C, alcançandotemperaturas máximas de 40º C.

Dados georreferenciados coletados em 32 locais (para saber mais consultarMay et al 2003), nos municípios de Juruena, Castanheira e tambémCotriguaçu, registraram 1.241 plantas, que incluíram aproximadamente 542espécies individuais de plantas e 366 tipos funcionais (TFPs). Em algunslocais foram encontradas espécies de alto valor comercial e socioeconômico,desde os cultivos comerciais até as fontes medicinais e/ou alimentarestradicionais. O número máximo de espécies encontrado em um lote (40 x 5m)foi de 75. A fauna registrada para um subconjunto de 16 dos 32 locaisamostrados foi de 85 espécies (2 anfíbios, 10 répteis, 17 mamíferos e 56 aves).Em um subconjunto de 11 locais, os especialistas em cupins encontraram 63espécies entre cinco diferentes grupos funcionais (alimentação), entre elasalgumas raras (Gillison, 2002).

A matriz do material rochoso em toda a região é principalmente granítica, comarenitos desgastados pelo tempo, nos terrenos altos. Os solos dos terrenosbaixos são cada vez mais ácidos, de estrutura variável com nutrientesmoderados a baixos. Na maioria dos casos, o bom desenvolvimento desistemas agrícolas e agroflorestais exigirá injeção externa de fertilizantes ouplantio em rodízio, com a utilização de plantas que fixam seu próprionitrogênio, bem como outras espécies conhecidas pela sua capacidade demelhorar a fertilidade do solo (Buol citado em Gillison, 2002).

Contexto Fitogeoclimático dosMunicípios Beneficiados peloComponente Agroflorestal do Projeto

Estabeleci-mento detrincheiraspara análisede qualidadefísica equímica dosolo daregião

Fonte:Fernandes2001

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Caracterização dos municípiosbeneficiados pelo ProjetoO Componente Agroflorestal, que é ofoco desta análise, foi implementadoem forma de Unidades Demonstrativas(UD´s) nos municípios de Aripuanã,Castanheira, Cotriguaçu, Colniza,Juína e Juruena. A utilização de UD´svisou a meta geral do Projeto demanter e ampliar a conectividade dacobertura florestal nas áreas privadascom as áreas protegidas públicas

(PNUD 2000), como TI's e UC's. Aproposta foi incentivar a formação deum mosaico de usos do solocompatíveis com a conservação dabiodiversidade de importância global. Aestratégia foi colocada em prática apartir da revisão de 2003.A seguir, é apresentado quadrocomparativo com os dados gerais decada município.

²² http://www.mteseusmunicipios.com.br/NG/indexint.php?sid=267

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Com apenas 3% da populaçãoestadual (em 1996), 60% dosmunicípios da região Noroeste de MTcom população abaixo de 15 milhabitantes, com característicastotalmente rurais (tais como Aripuanã,Castanheira, Colniza, Cotriguaçu eRondolândia), tinham uma média de50% da população vivendo na árearural (ISPP, 2010). Apenas Juína eJuruena têm uma população ruralabaixo de 30%. Os municípios maispopulosos são Juína, Colniza eAripuanã. Em média, o Noroestepossui Índice de DesenvolvimentoHumano (IDH)23 inferior ao do estado(0, 796), e ao do país (0,813). Osmelhores IDH são dos municípios deJuína e Juruena, acima da média daregião.

Como resultado dessa forma deocupação (descrita no capítulo I), aregião apresenta grande concentraçãofundiária, com elevada participaçãodos grandes e muito grandesestabelecimentos (maiores de 10 milha) (ISPP, 2010). A maior parte dosnúcleos de pequenos produtoreslocaliza-se em Juína e Aripuanã, ondeforam implantados projetos decolonização particular, a partir dadécada de 1970.

Nos pequenos estabelecimentos rurais,a força de trabalho é familiar e osistema de produção adotado, queinclui a queimada para limpeza dosolo, provoca uso mais intensivo daterra. Também constata-se reduzidautilização de práticas de manejo dosolo ou de outras técnicas etecnologias modernas. Sobre esta basetradicional de produção, cultivam-seprodutos alimentares como arroz emilho (Juína, Castanheira), café(Juína, Cotriguaçu), feijão e mandioca(Aripuanã). Os produtos são paraconsumo próprio e também domercado regional, incluindo Rondônia(ISPP, 2010). De acordo com os

mesmos autores, no período 1990-1994, com exceção do café e damandioca, vêm diminuindo, em termosabsolutos e relativos, a área cultivadadas demais culturas. A região vemdesenvolvendo fortemente os cultivo dapupunha, da mandioca, do cacau, eainda a cafeicultura, a pecuária decorte e leiteira, a fruticultura, ahorticultura, além de atividadesflorestais e agroflorestais.

Em 1994 a região respondia por1,23% do valor da produção agrícolado estado (principais produtos),destacando-se apenas nos itens feijão(5,2% do valor da produção estadual) emandioca (6,1%). Em termosagregados, com 4,9% do Valor daProdução dos "produtos tradicionais".No segmento extrativismo vegetal,participava com 12,6% da produçãode madeira em tora e, no mesmo ano,respondia por 3,7% do rebanho bovinoestadual.

No período recente, constata-se umincremento significativo da economiaregional por meio da expansão dapecuária, desenvolvida em moldesextensivos (Juína, Castanheira eAripuanã) e do extrativismo vegetal(Colniza, Juruena e Aripuanã), queconstituem as principais atividadesgeradoras da renda regional. Valeressaltar que a atividade extrativamineral (ouro e diamantes) já foiexpressiva, realizando-se em diversospontos de seu território. A atividadeapresenta, ainda hoje, algumaexpressão em Juína. A região, comoum todo, mantém relações decomplementaridade funcional comVilhena/RO e Tangará da Serra.Predomina a força de trabalhoconstituída por membros nãoremunerados da família (mais de90%), sendo que 34% destaspercebem, mensalmente, uma rendamédia familiar per capita inferior a 0,5salário mínimo.

23 IDH – Índice de Desenvolvimento Humano: foi criado no início da década de 1990 pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvi-mento (PNUD). Trata-se de um meio para identificar o estágio de desenvolvimento de um povo e combina três componentes básicos dodesenvolvimento humano: (1) longevidade, (2) educação e (3) renda. O IDH varia entre os valores 0 e 1, sendo que quanto mais próximo de1, mais alto o nível de desenvolvimento humano do país ou da localidade em questão. Para classificar os países ou a localidade em trêsgrandes categorias, o PNUD estabeleceu as seguintes faixas: 0,000 < 0,500 Baixo Desenvolvimento Humano; 0,500 < 0,800 Médio; 0,800 <1,000 Alto.

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O município possui uma área de65.936,9 Km². O nome Aripuanã éindígena e seu significado é "água depedra", em uma referência ao rioAripuanã, que margeia a cidade ecorre sobre leito rochoso. Emancipadoem 1943, foi ponto de desbravamentona década de 1940 pelo ProjetoRondon. Atualmente, possui áreaterritorial preservada em váriospontos, mas a exploração madeireiradevastou parte significativa doterritório do município.

O município está 900 Km distante deCuiabá. Possui vôos diários, pois aimplantação da hidrelétricaDardanellos, pela Eletronorte,movimentou novamente a economia dacidade, bem como levou à chegada demineradoras na região. A renda percapita média do município em 2000era de R$ 197,36.

No período 1991-1996, apresentouelevada taxa de crescimento

populacional (4,3% a.a.) devido aocontingente migratório que vemrecebendo, principalmente de Rondônia.

O município localiza-se no Noroeste deMato Grosso. Altitude de 240 metros,temperatura média de 26º C, comclima equatorial quente e úmido. Otipo de solo é argilo-arenoso. Osprincipais rios são: Aripuanã,Roosevelt, Guariba, Canamã, Capitari,Furquim e Rio Branco.

O município24 de Castanheira possuiárea de 3.789,94 Km² e altitude de400 metros. Sua população estimadaem 2009 era de 8.059 habitantes.Castanheira foi inicialmente habitadapelos índios Rikbaktsa, posteriormentedeslocados para terras indígenas emoutros municípios da região.

O município foi estabelecido a partirde um acampamento dos funcionáriosda Companhia de Desenvolvimento doEstado de Mato Grosso (Codemat), queestavam implantando o projeto decolonização do Noroeste mato-grossense no município de Juína,entre os anos de 1979 e 1983.

Figura 8. Localização de Aripuanãno Mato Grosso.

Figura 9. Localização deCastanheira no Mato Grosso.

Depois de 1980, teve início a formaçãodo vilarejo com a chegada dosprimeiros colonizadores vindos dostrês estados do Sul do Brasil.

24 Foi criado em 4 de julho de 1988, pela Lei Estadual nº 5.320.

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A partir de 1986, já reconhecido comodistrito, Castanheira teve umaexplosão populacional com a chegadade maior número de pessoas,predominantemente da região Sul,mas também de migrantes de outrasregiões, como Sudeste e Nordeste,principalmente dos estados de MinasGerais, Espírito Santo e Bahia (Pozo,2003).

Do ponto de vista industrial, emCastanheira o segmento maisimportante atualmente é a indústriade laticínios, que recebe a produçãodos produtores de leite do município.Na zona rural, a pecuária épredominante, ocupando 93% da áreadestinada às atividades agropecuáriasno município. O rebanho é estimado

em 236 mil cabeças, sendo que 83%do rebanho é de gado de corte e orestante de gado de leite.Entre as culturas agrícolas, o destaqueno município é o café, que ocupa 87%da área destinada às culturas perenes.Entre as culturas anuais, o milho e oarroz têm maior expressão, seguidospelo feijão e por outros cultivos típicosde subsistência familiar.Dos municípios da região Noroeste,Castanheira apresenta as menorestaxas de cobertura vegetalremanescente. No município, o poderpúblico tem apoiado sistematicamentenovas ações de suporte aodesenvolvimento local e, maisrecentemente, com uma ótica desustentabilidade.

O atual território do município deCotriguaçu sempre foi ocupado pornações indígenas, especialmente as delíngua tupi. Os Rikbaktsa25 tambémhabitaram a região, mas atualmenteestão instalados na Terra IndígenaEscondido (160 mil ha).

Cotriguaçu foi criada pela Lei Estadualnº 5.912. No território que atualmenteconstitui o município, a coordenaçãodos trabalhos de abertura de estradas,colonização e assentamento decolonos, adquirentes de lotes rurais eurbanos, foi realizada pelo ProjetoCotriguaçu-Juruena, em área de 400mil hectares de terras. Esta porçãoterritorial fazia parte do total de ummilhão de hectares de propriedade daCotriguaçu Colonizadora do AripuanãS/A.

De 1991 a 2000, a taxa média de

25 Atualmente estão confinados em terras indígenas especialmete destinadas ao seu povo, nos municípios de Cotriguaçu, Juara e Brasnorte.

crescimento populacional foi de10,29% ao ano, passando de 3.625pessoas em 1991 para 8.474habitantes em 2000. A renda percapita média do município em 2000era R$ 225,96, com uma taxa deurbanização de 43,75%.

Figura 10. Localização deCotriguaçu no Mato Grosso.

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A cidade de Juína surgiu a partir daimplantação do projeto que leva seunome. Tem aproximadamente 411 milhectares de terras e está localizada naregião do Alto Aripuanã e Juína-Mirim,entre os Km 180 e 280 da rodovia AR-1. A estrada ligaria a BR-364, a partirdo município rondoniense de Vilhena,até a sede do município de Aripuanã, epassou a se constituir no principaleixo da malha viária prevista para opolo Aripuanã. A colonização efetivadeu-se a partir de 1978.

O projeto que resultou no núcleoJuína foi considerado o maior êxito decolonização da Codemat. Em virtudedo crescimento acelerado, em junho de1979, foi criado o distrito de Juína.Poucos anos depois, em maio de 1982,o distrito passou a ser consideradomunicípio (Lei nº 4.456, de 1982), comárea de quase 30 mil Km²,desmembrada do município deAripuanã.

A partir de 1976, foram descobertasricas jazidas diamantíferas na região,através de pesquisas identificadas pelaSociedade de Pesquisas Minerais(Sopemi) e pelo Projeto RamBrasil. Agarimpagem de diamantes acaboufazendo história em Juína. A cidade foiescolhida pelos irmãos Ben Davi,compradores de diamantes, para ainstalação da Bolsa de Diamantes, que

adquiriu, por longos anos, considerávellote de gemas.A sede municipal de Juína, pelafunção polarizadora que exerce e emrazão do seu porte populacional, é acidade mais expressiva da região. Nomunicípio estão localizadas algumasindústrias processadoras da produçãolocal, com destaque para serrarias eprocessamento de diamantes,constituindo esse centro urbano onúcleo polarizador da atividademinerária regional.Em 2000, a taxa média de crescimentoanual do município era de quase 1%,com taxa de urbanização de 80,15%.Nesse mesmo ano, a população domunicípio representava 1,52% dapopulação do estado.

Figura 11. Localização deJuína no Mato Grosso.

Localizada a 20 Km do rio de mesmonome, o município de Juruena foifundado em 1988, a partir daimplantação do projeto privado"Colonização Juruena"26. Estainiciativa era baseada na oferta delotes de terra a preços baixos e atraiu

grande leva de pequenos produtoresrurais dos estados do Paraná e SantaCatarina. Também migraram para aregião pessoas interessadas emtrabalhar como assalariadas naimplementação do projeto decolonização e de suas atividades

26 Projeto inicial incluía uma área total de 200.000 ha.

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correlatas (Pozo, 2002). Atualmente,com uma área de 3.203,30 Km²,Juruena soma 9.595 habitantes,segundo as estimativas do IBGE em2009. O contingente populacionalindica o fracasso do modelo decolonização adotado, que inicialmentepreviu a implantação de uma cidadede grande porte e milhares de famíliase empreendimentos agropecuários(May et al. 2003).Em Juruena, as atividades econômicasde maior expressão são o comércio, apecuária, a agricultura e a extração eindustrialização de madeira, sendoesta considerada como a principalatividade econômica do município(Pozo, 2002). A cidade possui,inclusive, uma empresa madeireira degrande porte, a Rohden IndústriaLignea, exportadora de painéis eportas para países da Europa, Ásia,além dos Estados Unidos (Veiga Neto,2000). Treze indústrias madeireirassão responsáveis pelo emprego de 60%da mão de obra urbana. O comércioformal é a segunda fonte de emprego,seguido pelo funcionalismo público. Apecuária é o destaque na zona rural,com um rebanho aproximado de 72mil cabeças. Suínos, caprinos, ovinos

e aves são criados para consumointerno. Na agricultura, as culturas demaior expressão são o café, este paracomercialização, arroz, feijão emandioca, para consumo interno. Hátambém, em pequena escala, o cultivode árvores frutíferas (Pozo, 2002).A partir de 2005, a empresa RohdenIndústria Lignea recebeu a certificaçãoForest Stewardship Council (FSC) parasua área de Manejo Florestal e para aindústria, certificando a cadeia decustódia completa.

Figura 12. Localização deJuruena no Mato Grosso.

Assentamentos beneficiados pelo ProjetoOs Projetos de Assentamentos (PAs) daregião Noroeste de Mato Grosso foramcriados no marco do Plano Nacional deReformaAgrária (PNRA).Alguns PAsforamimplantadospelo Incra eoutros pelogoverno doestado. Osassentamentosapresentamaltas taxas demobilidade,compatível como conceito desociedade de fronteira que caracterizaa região. Predominam assentados

provenientes de outros municípios doestado (33,67%) e os de fora de MatoGrosso (30,1%).

Do total de 540assentamentos doestado (entreáreas instaladaspelo governofederal, do estadoe municipais),apenas um tinhaLicença Ambien-tal Única (LAU)em 2006 (PA Ena,município deNova Bandei-rante-MT).A licença,

entretanto, foi cancelada peloMinistério Público, em função da

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invasão da Reserva Legal daquela áreapelos madeireiros e grileiros demadeira.Na tentativa de apresentar um modelode licenciamento ambiental para osórgãos ambientais e o próprio Incra, oProjeto investiu na LAU do PA Vale doAmanhecer – Juruena/MT, que foiprotocolada na Sema-MT em 2007 eainda encontra-se em análise, comchances de ser aprovada em 2011.

Os desdobramentos da ampliação de

parcerias em 2003 permitiram àEmpaer atender 400 famílias dosassentamentos Gleba Iracema, Vale doAmanhecer, Nova Cotriguaçu,Conselvan, Lontra, Rio Branco ePuraquê, instalados nos municípios deJuína, Juruena, Cotriguaçu eAripuanã.

No conjunto, esses PAs beneficiadospelo Projeto abrangem27 314.405 ha(3% do território do NO-MT), em queestão assentadas 5.291 famílias.

O essencial ser humano (tipologia do campo)A ocupação da zona rural pormigrantes do Centro-Sul é umacaracterística convergente entremunicípios.Hoje, há três grandes grupos deprodutores na região: (1) ospecuaristas, detentores da maiorparcela de terra; (2) os denominadoscolonos, produtores que se

estabeleceram a partir da compra doslotes colocados à venda pelasempresas colonizadoras e, (3) o grupodos assentados rurais, tanto aquelesque foram assentados pelo InstitutoNacional de Colonização e ReformaAgrária (Incra), quanto aquelesocupantes de assentamentos oriundosde ocupações ilegais.

27 Estão também contabilizadas as áreas dos assentamentos de N União, Ouro Verde, Conselvan, Perseverança e Pacutinga.

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PecuaristasEmbora minoritários em relação aosoutros grupos de proprietários, ospecuaristas, como de resto em boaparte do país, são os principaisdetentores de terra na região.Inicialmente, o grupo adquiriu terrasdiretamente da colonizadora e algunstêm ampliado sua área original com acompra de áreas dos primeiros colonose assentados. A prática repete umprocesso clássico na Amazônia, noqual aqueles com menor custo deoportunidade chegam antes, sofrendoas piores condições e vendendo suas

glebas no momento em que ainfraestrutura (estradas etc.) está umpouco melhor. O mesmo processo éreproduzido mais adiante.

Por promover essa lógica dedeslocamento, os pecuaristas sãoconsiderados como os responsáveispela extensão do desmatamento. Em1999, no município de Castanheira, ogrupo de produtores foi o principalresponsável pela alta taxa dedesmatamento observado (63% doterritório) (Pozo, 2003).

Detentores de propriedades com áreamédia de 100 ha, os primeirosocupantes da região, em geral,seguiram e continuam seguindo oprocesso tradicional de ocupaçãodescrito no início deste tópico. Nassuas glebas predominam as áreas compastagens, culturas agrícolaspermanentes e temporárias, e poucosfragmentos florestais. Em Juruena, ataxa média de desmatamento nessasglebas está em torno de 40% (Vivan2009). De acordo com o autor, podem

ser observadas muitas nascentes emargens de córregos desflorestadas,assim como os corpos d'águaassoreados. Dada a dificuldade para acomercialização de seus produtos, agrande maioria vende a sua força detrabalho em atividades de derrubada,roçada ou outros serviços rurais. Umaparte deles abandonou suas glebas efoi morar na cidade para trabalhar nasempresas madeireiras, trabalhando emsuas áreas apenas nos fins de semana.Também em decorrência da

Colonos

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dificuldade de comercialização e diantedo exemplo dos "bens sucedidos", amaioria dos colonos vemtransformando a antiga área decultura em pastagens, buscando comisso a tão sonhada autossuficiênciaatravés do lote de terra.

Esse objetivo dificilmente é alcançadoem função da pouca disponibilidadede área para pasto, da falta de capital,da inexperiência no manejo do gado eda degradação das pastagens (Pozo,2002). Entre as culturas perenes,muitos têm apostado no café comoalternativa. Contudo, a dependênciade atravessadores locais, tem sido umdesalento para os produtores.

Existe uma grande expectativa sobreoutros produtos que possam ter bomdesempenho comercial, mas algumastentativas realizadas pelas prefeiturasesbarram na dificuldade de agregaçãode valor, assistência técnica ecomercialização.

Os assentados formam outro grupoexpressivo nos municípios do BRA/00/G31, embora sua origem seja maisrecente. Os assentamentos rurais doNoroeste de Mato Grosso datam dasegunda metade da década de 1990 e,do ponto de vista social, é o públicoque mais se beneficiaria com projetosque pudessem alavancar recursospara oferecer suporte a formassustentáveis de produção e quepudessem gerar renda maior porhectare. Em geral, possuem um lote de50 ha e, por lei, devem manter 80% daárea como reserva. Sobram, assim,apenas 10 ha para sua sobrevivência,quantidade de terra claramenteinsuficiente, dependendo do sistemade uso adotado.

Assim como os outros atores rurais daregião, os assentados desenvolvem o

Assentados mesmo sistema extensivo de uso daterra com monocultivos e, mais aindado que os colonos, dependem, comraras exceções, da venda de sua mãode obra para sua estabilidade social.

Durante muitos anos as agênciasfinanceiras e os programas de créditoda reforma agrária estimularam odesmatamento em assentamentos daAmazônia, com a liberação de créditopara formação de pastagens e paracriação de gado bovino de corte. Oentendimento das agências era de quea pecuária de corte seria a únicaatividade, que em curto prazo,possibilitaria o retorno doinvestimento.

Pela ausência de programasgovernamentais que incentivassemuma mudança de atitude, nenhum dos540 assentamentos de Mato Grossopossui atualmente Licença AmbientalÚnica (LAU) aprovada. Nessa condição,

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uma medida provisória do BancoCentral impediu a liberação de créditofinanceiro para famílias que residemem assentamentos sem Reserva Legale sem a LAU aprovada pelos órgãosambientais estaduais.

Apenas recentemente algumaspolíticas e programas governamentaistentam reverter essa situaçãooferecendo recursos para arecuperação de áreas degradadas como uso de SAFs, mas ainda em caráterpiloto, em uma escala muito pequenapara o tamanho do problema a serenfrentado.

Buscando apoiar essa lógica, o Projetopreparou em 2006 toda adocumentação do Assentamento Valedo Amanhecer (14.200 ha de área

total, com 7.100 ha de Área de ReservaLegal averbada), para aprovação daLicença Ambiental Única desta áreapela Sema-MT. O processo aindaencontra-se em análise pelos técnicosdo governo do estado e vem sofrendoalterações à medida em que asnormativas de licenciamento ambientaltêm sido reformuladas.Acredita-se que o novo CódigoFlorestal, em discussão na CâmaraFederal e no Senado, possa trazeravanços na busca de soluções paraesse problema.O interesse de outros setoreseconômicos, porém, pode atrapalhar edificultar ainda mais a questão,causando aumento das taxas dedesmatamento nas áreas deassentamentos.

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Sistemas agroflorestais:sobre o queestamos falando?As primeiras definições de sistemas28 agroflorestais (SAFs) surgem na décadade 197029. Atualmente, ainda não há uma definição aceita universalmente. Adificuldade está em determinar um uso do solo (ou uma prática de manejo)que possui complexas combinações e interações relacionadas a distintostempos e espaços. Para Nair (1989), as primeiras definições se ocuparam maisem propor o que deveria ser a agrofloresteria30 (conceito), que diferenciá-la deoutras disciplinas (definição). Porém, como ponto em comum entre asdefinições disponíveis na literatura, é a associação (simultânea ou sequencial)entre cultivos agrícolas ou animais com espécies lenhosas (árvores, arbustos epalmeiras). Petit, 2008, destaca que outro ponto de convergência é o objetivode otimização da produção (Farell e Altieri 2004, Fair 1982). Para o Icraf(1982) e a Rebraf (2007) deve existir a "intencionalidade" na utilização e nomanejo das espécies associadas para que um sistema seja caracterizado comoagroflorestal. Por sua vez, Beall & Côté (1977), ressaltam que tal prática demanejo deve ser compatível com os padrões culturais da população local. ParaVaz (2004), sob essa aparente convergência, agrega-se uma infinidade decorrentes, muitas vezes divergentes em princípios e convicções, faltandonomenclatura adequada que conceitue e diferencie essas diversas formas deprodução. Ao ponto que um determinado consórcio pode ser chamado de"agroflorestal" na condição de ter, entre os componentes, pelo menos uma

28 Sistema é definido como "um conjunto de componentes unidos ou relacionados de tal maneira que formam uma entidade ou todo”(Engel 1999).29 Para Ospina, 2008, a paternidade do termo "agroforestry" deve ser atribuído à equipe liderada por John G. Bene com o trabalho: "TreeFood and People: Land Manegement in the tropics (1977)"30 Em muitos momentos, autores empregam o termo agrofloresteria (agroforestry) ou sistemas agroflorestais (agroforestry systems)dando um igual tratamento a ambos (Ospina, 2003). Entretanto, segundo o mesmo autor, o primeiro se refere à arte, ciência oudisciplina, e o segundo denomina o sistema de uso da terra.

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espécie florestal. Miller (2009) propõeduas linhas que explicam as distintas"correntes": SAF "Agroecológico ouFlorestal", que empregam muitasespécies, por sua vez, maior coberturado solo, buscando reproduzir osprocessos do ecossistema florestal,gerando vários produtos e serviçosambientais; e a linha "Convencional ouAgronômica". Esta, utiliza poucasespécies, promovendo, com isso,poucas interações e consequentementegerando poucos produtos. A linhaenfatiza o repasse de tecnologiasgeradas em estações de pesquisa, compouca flexibilidade no desenho dosSAFs. Neles, o maior espaçamento nosplantios ocasiona demanda superiorde mão de obra para a limpeza, atéque haja o fechamento das copas,além de reduzir o potencial deacúmulo de biomassa e ciclagem denutrientes. Uma distinção semelhanteà proposta por Miller já havia sidoapresentada anteriormente por Smithet al. (1998). De acordo com osautores, o sistema pode sercategorizado31 como: "tradicional","comercial" ou "misto". Apesar detodas estas tipologias seremdenominadas de sistemasagroflorestais, existem grandesdiferenças não somente quanto ao tipode arranjo e de manejo, mas tambémquanto à visão do cultivo e do próprioser humano no ambiente em que vive(Vaz 2004).Independentemente das desvantagensde cada tipo, Miller (2009) mencionaque é fundamental para a estabilidadebiológica e econômica dos sistemasque a diversidade deve ser construídade forma consciente pelo agricultor.Entre outros aspectos, o êxito de umSAF dependerá dos objetivos propostospelo produtor e de suas condiçõessocioeconômicas, como, por exemplo,disponibilidade de mão de obra,terreno e recursos financeiros.Os sistemas agroflorestais sãoclassificados em função do tipo dearranjo estrutural e temporal da

disposição dos componentes. Aclassificação estrutural é a forma maisutilizada. Nela, os sistemas sãoagrupados (Farell & Altieri 2004):(1) agrosilvocultural ou silvoagrícola –associação de cultivos agrícolas eflorestais; (2) silvopastoril –combinação de pastagem e/ou animaise espécies lenhosas; (3)agrosilvopastoril – combinação decultivos agrícolas/animais e espécieslenhosas; (4) produção florestal demultipropósito – associação deespécies lenhosas para a produção demadeira e outros produtos nãomadeireiros (folhas, frutos, forragens).

Tendo em consideração atemporalidade da inclusão doscomponentes, classifica-sem SAFscomo: (1) sequenciais, com a relaçãocronológica entre as colheitas anuais eos produtos arbóreos (esta categoriainclui formas de agricultura migratóriae os sistemas Taungya); e (2)simultâneos, que consistem naintegração concomitante (contínua)entre os componentes (cultivos anuaisou perenes, animais com espécieslenhosas) (Arévalo 1999).

Entre as tecnologias agroflorestaismais utilizadas no Brasil estão:(1) árvores de sombra em cultivospermanentes (ex. café e cacau);(2) renques (cultivos entre linhas);(3) barreiras vivas; (4) sistema deTaungya; (5) capoeira "enriquecida";(6) árvores isoladas em camposagrícolas (inclui regeneração natural eplantação, com amplo espaçamento [>10 m]); (7) quintais agroflorestais (commuitos estratos de dosséis, animais –especialmente de pequeno porte, quegeram muitos produtos comerciais e deuso familiar); (8) pastoreio em florestassecundárias, plantações florestais(mais comum em plantações de 2 a 6anos) e cultivos perenes, tais comocafé, cacau, pupunheira, cítricos;(9) árvores dispersas em pastagens;(10) árvores forrageiras etc.

31 SAFs tradicionais: caracterizados pela pequena quantidade de uso de mão de obra e de insumos, alta diversidade de espécies e altaproporção de produtos usados para subsistência; comerciais: uso intensivo de mão de obra e de insumos, baixa diversidade de espécies,incorporação mínima de regeneração natural de espécies florestais e elevada quantidade de produtos vendidos nos mercados; e SAFsmistos, que reúnem características de ambos (Smith et al. 1998).

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Serviços ambientais: a funçãodos sistemas agroflorestais naregulação do clima da regiãoOs sistemas agroflorestaisapresentam-se como alternativasadequadas às condições amazônicaspor reunirem princípios ecológicos queconservam e ou aumentam afertilidade do solo, absorvem carbono,valorizam espécies nativas erecuperam os serviços ambientaisindisponíveis emterras agrícolasdegradadas. Entreos serviçosambientaisprestados por essetipo de sistema (quese assemelha àestrutura de umafloresta) destaca-sea captura earmazenamento dodióxido de carbonopresente naatmosfera e acontribuição aociclo hidrológicoregional. Amboscontribuem com aregulação do climada região.

Os SAFs atuamtanto para osequestro docarbono, com a função de reservatório,como também evitando a perda dosreservatórios existentes, ao reduzir apressão sobre as florestas. Aquantidade de carbono armazenadanesse tipo de uso do solo depende daespécie e da densidade de plantioutilizadas, da matéria orgânicapresente no solo, idade doscomponentes, tipo de solo,características da área, fatoresclimáticos e o manejo silvoculturalsubmetido. A fixação de carbono estáem função direta do crescimento dabiomassa de um ou mais componentesdo sistema, já que cerca de 50% da

biomassa é constituída por esteelemento (IPCC, 1996). Andrade 1999,estima que alguns SAFs apresentamtaxas de fixação de 0,1 a 5 t C ha-1ano-1. Kurstel e Burschel (1993),também tendo em consideração SAFs,apresentam maiores valores comampla variação, que oscilam entre 3 a

15 t C ha-1 ano-1.Como parâmetro,segundo Avila (2000),um hectare deplantação florestalabsorve cerca de 10 tC ha-1 ano-1. Porsua vez, Dixon (1995)estima que opotencial para oarmazenamento decarbono em SAF,incluindo o carbonodo solo, oscila entre12 e 228 t C ha-1.

Do ponto de vista doserviço ambientalhidrológico, devido àpresença docomponente arbóreo,os sistemas regulama mudança de tempe-ratura, resultando emtemperaturas

máximas e mínimas mais amenas emaior umidade relativa embaixo dasárvores, em comparação com as áreasabertas. A diminuição de temperaturae a redução do movimento do ardevido ao dossel diminuem a média deevaporação. Ao mesmo tempo, aumidade do ar pode ser captada pelasfolhas e incorporada ao sistema. Comoresultado da melhor estrutura do soloe da presença de serapilheira, a águaque chega ao solo é utilizada de modomais eficiente em decorrência doincremento da filtração e permeabili-dade. Isso reduz a evaporação e oescoamento superficial (run-off).

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SistemaAgroflorestalEcológico

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As chuvas na região Amazônicaocorrem por causa da umidade querecebe do oceano Atlântico, atravésdos ventos que cruzam a região. Elesse somam à água da evapotranspi-ração das plantas, com a água queevapora dos rios e lagos e ainda comas partículas de aerossóis (e compos-tos orgânicos voláteis), que conformamos núcleos de condensação, emitidospelas plantas.

Cerca de 60 a 80% das partículasnaturais de aerossóis na Amazôniaatuam como núcleos de condensação(NC)32 (Artaxo et al. 2006).

Em outras palavras, para ocorrer aformação das nuvens devem existirduas condições fundamentais:(1) o ar deve conter umidade elevada(vapor d'água);(2) devem haver pequenas partículassuspensas no ar sobre a qual o vapord'água possa se juntar (amontoar),tornando-se mais denso (condensar)33.

Para ambos os casos, a contribuiçãodos SAFs é fundamental. Eles não

somente contribuem na evapotranspi-ração, mas também com os compostosorgânicos voláteis (COVs)34 que estãodiretamente associados com os núcleosde condensação.

Devido aos ventos alísios35 (queatravessam a região, ver representaçãona figura), toda a fumaça e fuligem dosincêndios causados principalmentepelo processo de mudança de uso do

32 Minúsculas partículas suspensa no ar (como poeira, sais que vêm do oceano, pólen das plantas, fuligem, entre outras) que contribuemcomo uma superfície para a condensação do vapor d'água.33 Quando a condensação ocorre, a taxa de crescimento inicial das gotículas é grande, mas diminui rapidamente porque o vapor d'águadisponível é facilmente consumido pelo grande número de gotículas em competição. O resultado é a formação de uma nuvem comminúsculas gotículas de água, todas tão pequenas que permanecem suspensas no ar.34 Principalmente sob a forma de isopreno e monoterpenos.35 Ventos que ocorrem durante todo o ano nas regiões tropicais, resultado da ascensão de massas de ar que convergem de zonas de altapressão (anticiclônicas), nos trópicos, para zonas de baixa pressão (ciclônicas) no Equador, formando um ciclo. São ventos úmidos,provocando chuvas nos locais onde convergem (Wikipedia).

Figura 14. Direçãodos ventos alísiosna região amazônica

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solo que ocorre na Amazôniabrasileira, têm forte influência nadinâmica das chuvas em toda a baciaAmazônica e em grande parte daregião latino-americana.

Esse processo poderá ser acentuadocom o aquecimento global. Um cenáriomais quente (previsto para a região)poderá deixar o clima mais seco,causando a morte de muitas plantas eanimais, além do empobrecimento dafloresta. Por consequência, a florestaempobrecida lançaria menos umidade(evapotranspiração) e compostosorgânicos voláteis para a atmosfera,intensificando ainda mais o calor ediminuindo as chuvas.Na região, durante a estação chuvosae com a atmosfera mais "limpa", ouseja, com menores36 quantidades deNC, ocorre a formação de nuvensrasas (baixas, base até 2 Km dealtura). Com a chuva, devolvem osNúcleos de Condensação e o vapord'água em lugares próximos aos queforam gerados pela floresta (Artaxo etal. 2006).

Entretanto, caso a atmosfera estejapoluída (com um número elevado deNC), a disputa pelo vapor de águadisponível aumenta, as gotas crescempouco e devagar enquanto a nuvem vaicrescendo.

Muitas vezes essas nuvens nem chegama precipitar; as gotas evaporam e aágua, junto com os aerossóis, nãoretorna ao chão, mas é levada pelosventos a outros locais distantes (Artaxoet al., 2006). Desta forma, durante aestação chuvosa, a presença deaerossóis e fuligem proporcionam aocorrência de nuvens altas (cumulos-nimbus).

No período da estação seca, o processoé diferente. As queimadas na regiãoamazônica provocam o aumento daconcentração de aerossóis, gases deefeito estufa e fuligem na atmosfera.Com a baixa umidade do ar, a fuligem ea excessiva concentração de aerossóiscontribuem para a absorção daradiação do sol, fazendo com que asnuvens evaporem antes que chova.

Para facilitar a compreensão, a seguir é ilustrado o ciclo da chuvana região amazônica tendo em consideração o estado de perturbaçãoda floresta, estado da atmosfera e quantidade de umidade.

Floresta não perturbada Área perturbada comatmosfera "suja" epouca umidade do ar

Área perturbada comatmosfera "suja" e muitaumidade no ar

Figura 15. Ilustração do ciclo da chuva em distintos cenários de perturbação econcentração de umidade do ar. Fonte: Baseado em Rugnitz (2011)

36 Na Amazônia, a diferença na concentração de Núcleo de Condensação da estação chuvosa para a estação seca é de cerca de 200 para 20mil partículas por cm-3.

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Busca-se evidenciar, com essaexplicação, que a agricultura brasileiradepende da manutenção da florestaamazônica e dos sistemas que nela sebaseiam, como o caso dos SAFs. Estesecossistemas regulam as chuvas noCentro-Oeste. Sem eles, a região do

Cerrado mato-grossense, uma dasprincipais áreas produtoras de grãosdo país, pode se tornar seca demaispara a produção dos produtos, comoa soja, por exemplo (Oliveira 2008).Outra ocorrência seria a maiorconstância de eventos extremos.

Medições e monitoramento participativode SAFs: teoria e prática37

Avaliar a resiliência de SAFs emregiões tropicais implica lidar comsistemas de alta diversidade ecomplexidade. O monitoramento tem afunção de entender mecanismosadaptativos e evolucionais dasUnidades Demonstrativas, com ointuito de reforçá-las e de ampliar suainfluência, de modo a aumentar asaúde (a resiliência) do sistemasocioecológico. Outro objetivo édirecionar os esforços e recursos nadireção adequada.

O primeiro desafio para omonitoramento é identificar o que sepode conceituar como "meta-indicadores". Trata-se de índicescompostos que sintetizam grandesconjuntos de aspectos associados.

O passo seguinte é identificar o estadodos indicadores que formam cadameta-indicador. O problema é que

muitos deles também serãoformados por verificadoresquantitativos e qualitativos.Assim, verificadores corretosformarão indicadoresconfiáveis, e estes, podemalimentar os meta-indicadores. Este cruzamentode índices com a visão geral eprocessual deverá ser refeito(eventualmente novos dadosdeverão ser coletados) até quediagnóstico e prognósticoadequados possam serproduzidos.O último desafio do

monitoramento é a participação efetivado "avaliado". O objetivo é que oconjunto de informações que emergedo processo não seja apenas preciso,mas efetivamente apropriado por quemtoma decisões, resultando emmudanças comportamentais quecontribuam na maior resiliência dasUDs.A fundamentação do monitoramentoparticipativo é um processo deaprendizado e de formação, como deprodução de informação e reflexãosobre a prática para a tomada dedecisão informada, que se dá em umvetor de mão dupla (técnicos-agricultores). Essa abordagemdemanda processos de construçãocoletiva de indicadores e formas deverificação, uma linguagem comum atécnicos e agricultores. Requer aindaformas de organização e interpretaçãode dados que sejam dinâmicas.

37 Seção retirada de Vivan et al. 2007

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O monitoramento participativo tenta,portanto, resolver problemas deforma sistêmica e progressiva,caracterizando o que se denominauma abordagem de ManejoAdaptativo38.

O desafio que esta abordagemprocura enfrentar é a demanda deuma evolução e adaptação contínuasde comportamentos dos atores,desde a dimensão organizacional-institucional do BRA/00/G31, até osdiferentes níveis de ações dentro dasdimensões socioeconômicas egenético-ecológicas.

O principal desafio em tal tipo deabordagem de monitoramento é areal participação e apropriação porparte dos atores. Esse protagonismodeve ir desde resultados e reflexões,na fase de concepção coletiva dosindicadores e verificadores, até asconsequências em termos demudanças de comportamentos que

devem ser apropriados pelos atoreslocais (Lal et al, 2001, Vivan &Floriani, 2004).

38 Manejo Adaptativo: abordagem que prevê desenhos de projeto que permitam testar hipóteses sobre o que se propõe, desde ações eestratégias até pressupostos e estratégias. O objetivo é, deste modo, antecipar cenários, fazer as mudanças necessárias a tempo, evoluir,adaptar (Holling, 1978), de forma a contribuir tanto para melhores práticas, assim como para melhores políticas públicas.39 A resiliência é um termo oriundo da física, que se refere à propriedade de que são dotados alguns materiais, de acumular energia quandoexigidos ou submetidos a estresse sem ocorrer ruptura. O termo foi adaptado às ciências humanas e biológicas e atualmente representa acapacidade de seres vivos e sistemas (naturais ou produtivos) de resistir e recuperar-se frente às adversidades.40 Verificadores são dados ou informações necessárias para avaliar um indicador. Eles definem os detalhes específicos que mostram comoum indicador é satisfeito.

Mapas de indicadoresIndicadores são componentes ou variáveis do sistema que "indicam" o estado ouas condições desse sistema. A construção de indicadores de qualidade dos SAFdeve ser orientada pela seguinte pergunta-chave: Quais são os aspectos-chavepara a resiliência39 dos sistemas agroflorestais, enquanto parte do Sistemade Uso daTerra? As respostas, obtidas na primeira experiência na Mata Atlântica e revisa-

das e ampliadas com o grupo participante para o Noroeste de MatoGrosso, geraram a seguinte estrutura: cinco dimensões (Paisagem,Agronômico-Ecológicas, Solos, Socioeconômicas e Culturais).Elas foram analisadas por um total de 31 indicadores, os quais foramchecados por um total de 82 verificadores.

A versão consolidada com osindicadores deve ser repassada aosresponsáveis pelo monitoramento naforma digital. Já a forma impressadeve ser levada a campo para seraplicada em um tempo variável entreuma e duas visitas, como umaentrevista estruturada. A princípio,

todos os verificadores40 têm o mesmopeso e são transformados em valorespercentuais nas planilhas. O processode calibragem de notas tem comoparâmetro superior de contraste,aspectos estruturais e funcionais datipologia florestal encontrada nosfragmentos de floresta nativa

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existentes, adotando a hipótese geralmente aceita de que tais ecossistemaspossuem resiliência superior aos agroecossistemas, florestas secundárias oumodificadas (Schroth et al., 2004). O parâmetro inferior deve ser definido com osmesmos aspectos, porém, em relação aos sistemas que adotam apenaspastagens e lavouras anuais extensivas. O parâmetro inferior é, portanto, osistema socioecológico que se quer mudar e aproximar da funcionalidade dosremanescentes florestais.

Ainda em relação aos mapas deindicadores:

O processo de adaptação para ocontexto do Projeto foi por meio deoficinas envolvendo teoria e prática,com testes de campo, em umperíodo recomendado de quatromeses. O roteiro de indicadores temas seguintes características:

Diário AgroflorestalO Diário Agroflorestal é uminstrumento para anotação(Caderno tipo ata) ougravação (gravador manual)pelo agricultor inovador.Nele, devem ser registradasentradas e saídas no SAF efragmentos florestais anexos(atividades, insumos, horastrabalhadas, observaçõesimportantes, fenômenos). Aleitura e a reflexão periódicado Diário são feitas de formaconjunta entre técnico eagricultor, com o objetivo degerar comentários e reflexõeseconômicas e ecológicassobre os SAFs emmonitoramento.

A Parcela Permanente é um levantamentoetnobotânico de parcela em formato de transecto(recomenda-se utilizar: 400-1000 m²), incluindotodo o estrato arbóreo e herbáceo funcional, comlocalização, DAP, área de copa, estrutura emtermos de estrato. Ela gera os dados básicos paraavaliar funcionalidade ecológica e socioeconômicados SAFs, bem como, projeções para serviçosambientais.

Parcela Permanente

Trata-se de uma planilha Excel que organiza esintetiza os dados das parcelas permanentes e odiário agroflorestal. É o ponto focal para as análisesde funcionalidade socioeconômica e ecológica.

Banco de dados despp. e BiodiversidadeFuncional

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Registro em mapas mentais e/ou mapascartográficos georreferenciados, quandodisponíveis, fornecendo informaçõessobre variáveis como Acessos, Limitesda Propriedade, Perfis dos SAF (vista

Imagens & croquis

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aérea, perfil de transecto), bem comooutros aspectos relevantes (zonassuscetíveis a fogo, inundação, ventos,invasões etc.). Pode servir de referênciade contraste para séries históricas.

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Com base nas informações registradasao longo de um período demonitoramento e de reflexão conjuntacom o agricultor inovador, o técnico ouo responsável pelo monitoramento

Relato de caso

Recomenda-se avaliar os sistemas considerando 19 variáveis:

Perfil de UDs

As respostas devem ser transformadas em sim e não (1, 0) ou em valoresdiscriminantes sem propriedade numérica (espécies, tipos de solo etc.). Oconjunto de dados deve ser submetido a uma análise de agrupamento usando oprograma estatístico disponível. O procedimento deve analisar, inicialmente,similaridades para o agrupamento de casos e de variáveis. O intuito é identificartanto hipóteses para o perfil de UD's, como para variáveis socioecológicasassociadas a estas Unidades.

A diversidade funcional tem sido vistacomo a chave para se preverestabilidade, invasibilidade, aquisiçãode recursos, ciclagem de nutrientes eprodutividade nas comunidades41

(Mason et al. 2003). Essa diversidadepode ser definida como sendo "o valore a variação das característicasfuncionais das espécies queinfluenciam o funcionamento das

Índice de biodiversidade funcionalcomunidades" (Tilman 2001).Como consequência dessa definição,medir a diversidade funcional significamedir a diversidade de característicasfuncionais, ou seja, os componentesdos fenótipos dos organismos queinfluenciam os processos nacomunidade (Cianciaruso, 2009). Oautor estabelece um exemplo parafacilitar a compreensão: imaginando

41Comunidades ecológicas são conjuntos de espécies concorrentes que interagem potencialmente uma com a outra. Resultam não apenasde processos ecológicos presentes, como da competição entre as espécies e os filtros ambientais, mas também de processos evolutivospassados e contínuos (Cianciaruso 2009).

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escreve um texto síntese descrevendo aexperiência (UD).Um roteiro orientador foi fornecido aosparticipantes, bem como formaçãoespecífica.

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duas comunidades (A e B) com omesmo número de espécies. Se todasas espécies em A forem dispersas poraves, enquanto que as em B foremdispersas por mamíferos, aves,lagartos e pelo vento, apesar de ambaspossuírem o mesmo número deespécies, B será mais diversa porapresentar espécies funcionalmentediferentes no que se refere ao tipo dedispersão.

O autor conclui, no entanto, que avariabilidade funcional entreindivíduos da mesma espécie, apesarde usualmente ignorada, pode serbastante importante para váriosprocessos nas comunidades (porexemplo, na dinâmica de nutrientes,resistência a perturbações eprodutividade).

Para analisar as UD's e os SAFs emtermos de biodiversidade funcional, foiconsiderada a pontuação nosindicadores Agronômico-Ecológicos ede Paisagem. Isso em razão deagruparem os verificadores ligados àfuncionalidade econômica e ecológicados sistemas em avaliação. Como aslacunas são pontuadas como valorigual a zero, estas contribuem parabaixar a média geral obtida,reforçando a noção de fragilidade

naquele indicador específico. Talabordagem acompanha elementos domanejo adaptativo: o que não ésuficientemente conhecido, além deuma fragilidade.

Para avaliar no nível de espécies, deve-se inicialmente elaborar uma listageral delas por:

1) listas de mudas entregues emviveiros;

2) relatos de presença nos SAFs emUD´s.

Deve-se eliminar sinonímias, poistrabalha-se apenas com nomespopulares, em função de limites detempo e recursos para umaidentificação e confirmação botânicade todos os títulos populares. Deve-se,também, contrastar as listas, nosentido de avaliar similaridades entreo que foi distribuído e o que estáefetivamente implantado nos SAF.

O Índice foi formado pelos pontospercentuais que cada espécie, dentroda lista total, alcançou na soma dasvariáveis ecológicas socioeconômicas ede mercado, contra uma "espécieideal", que alcançaria 100 pontospercentuais no total. Os resultadosobtidos devem ser organizados emFrequência Relativa (Fr) e Frequência

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Absoluta (Fa), para aslistas geradas em cadacategoria/fonte deinformação (UD's,Viveiros). As listas serãoentão organizadas emIntervalos de Classe,para o conjunto deespécies em cadacategoria.

O Índice deBiodiversidade Funcional(IBF) deve ser geradoincluindo as seguintesvariáveis:

Índice de Qualidade dos SAF (IQSAF)e Índice de Lacunas de Informação (IL)Os resultados de cada UD em termosde verificadores formarão IQSAF desdeverificadores específicos, indicadores,dimensões, entre diferentes escalas(ex. UD's, Município e no conjunto doProjeto). O resultante percentual devegerar uma classificação deste Índiceem termos de Ruim (1 a 25% depontos); Médio (26 a 50%); Bom (51 a

75%), Muito Bom (76 a 100%).O Índice de Lacunas simplesmentesoma as ausências (células em branconas planilhas), e classifica osverificadores, indicadores, dimensõese UD's pela seguinte escala: Muito alto(38-50% de lacunas); Alto (25-37,9%);Médio (13-24,9%); Insignificante (0-12,9%).

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Cronologia da introduçãodos sistemas agroflorestaisno Noroeste deMato Grosso

Além das milenares práticas agroflorestais nas Terras Indígenas por seuspovos nativos, considera-se que o conceito e as técnicas referentes a SAFtenham sido introduzidos na região na década de 1980. Isso ocorreu com acolonização de municípios em que o processo de ocupação é mais antigo,como Aripuanã e Juína. Modelos de SAF com cacau sombreado já erampromovidos pela Ceplac42 desde suas bases em Rondônia, em sua primeiraunidade criada em 198343, e pela unidade de Alta Floresta (MT), criada em1988. Em municípios como Cotriguaçu e Colniza, e em menor escala emJuína, Castanheira e Rondolândia, ainda é possível encontrarremanescentes desses plantios com mais de 25 anos de implantação.

Da mesma forma, na década de 1980, migrantes paranaenses e paulistasformaram cafezais utilizando, inicialmente, a variedade Arábica, que depoisfoi sendo substituída, gradualmente, por Conillon (Coffea Conephora), maisadaptado às condições climáticas da região. A partir desse momento,começaram a surgir, principalmente no estado de Rondônia, várias

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1980-1990: Movimentos sociais amazônicos

42 Em 1976, a Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) condicionou o fornecimento de assistência técnica e crédito aospequenos produtores da Amazônia que plantassem cacaueiro com espécies sombreadoras (Barros et al. 2009).43 Até 1982, dos 39 mil hectares de cacauais plantados em Rondônia, 19 mil, ou seja, 48%, estavam em mãos dos 1.654 colonos dosprojetos do Incra, com lotes individuais de cem hectares em Ouro Preto, Jaru, Cacoal e Ariquemes. http://www.erasmo.kit.net/cacau_em_rondonia.htm

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associações com terminação PAM(Para Ajuda Mútua)44. Elas seorganizavam em torno do produto café,que antes era vendido sembeneficiamento (o que gerava grandeexploração dos atravessadores sobreos pequenos agricultores). Com osurgimento das associações, arealidade mudou para melhor, pois oproduto passou a ser beneficiado pelospróprios agricultores(as).

Desde o início dos anos 1990, os doistipos de cultivos receberamsombreamento como parte de umaprática estimulada, desde Rondônia,

44 Em 1989 surgiu a Acaram (Articulação Central das Associações Rurais de Ajuda Mútua), com sede no município de Ji-Paraná. Sua criaçãofoi fruto do movimento de organização. Por meio da central Acaram, as associações começaram a acessar o preço do café direto da Bolsade Londres. Com o novo Código Civil, as associações não poderiam mais comercializar. Nesse contexto, anos mais tarde, nascem então ascooperativas com a terminação PAM, como o caso da Ajopam.45 Em 1987, a Diocese de Ji-Paraná criou o Projeto Padre Ezequiel, cujo intuito seria desenvolver atividades alternativas nas seguintes áreas:agrícola, alfabetização, menores de rua e saúde. O setor agrícola do Projeto Pe. Ezequiel teve como principal atividade a capacitação técnicados agricultores por meio da Escola de Agricultores. O projeto foi financiado pela entidade alemã Misereor/KZE.46 A Coocaram é uma cooperativa localizada na região central de Rondônia, que tem como carro-chefe a produção de café. Atualmente é amaior cooperativa do segmento da agricultura familiar estadual. A Coocaram surgiu em 24 de julho de 2002 com o desafio de industrializar aprodução de café na perspectiva da agregação de valores. A cooperativa desenvolve e apoia os processos de produção agroecológicos etambém as formas de comercialização do Comércio Justo. Para saber mais, consultar: http://www.coocaram.com.br/47 O Projeto Terra Sem Males (PTSM) é uma ação participativa criada por famílias agricultoras de Rondônia, que praticam a agriculturaecológica. Com a Comissão Pastoral da Terra (CPT) e com o Projeto Padre Ezequiel (PPE), busca a construção de práticas e de conheci-mentos em agroecologia. A proposta é a mudança de condutas na agricultura e a difusão de conhecimentos pela troca de experiências. Apartir de 2001, dá-se início, no estado de Rondônia, a debates realizados por entidades de apoio a agricultores familiares. Essas discussõesrevelaram a necessidade de um acompanhamento técnico diferenciado, que não somente olhasse a produção de alimentos, mas a produçãosob a ótica das responsabilidades social e ambiental. Assim, em 2003, com apoio financeiro da entidade inglesa Cafod (Agência Católicapara o Desenvolvimento) e sob responsabilidade da CPT-RO, começaram as atividades do Terra Sem Males. Para saber mais, consultar:http://projetoterrasemmales.blogspot.com/48 Através do PGAI foi efetivada a construção e a estruturação da sede da Sema-Juruena. O local recebeu mobílias, equipamentos deinformática e de escritório, equipamentos eletrônicos para prática de educação ambiental e uma moto. Também ficaram sob sua responsabi-lidade 35 hectares de SAFs em pequenas propriedades de assentamentos, construção de viveiros, práticas de educação ambiental e decapacitação para os agricultores locais (Relatório Carta Acordo 2005, Juruena).49 O projeto Paca começou em 1996, com fundos do PD/A. Uma segunda fase da ação teve início e consistiu-se da industrialização e dacomercialização de produtos oriundos de experiências que combinam geração de renda e preservação ambiental. Dentre esses itens estão:palmito de pupunha, mel, guaraná, plantados em áreas de agricultura (principalmente o café) e capoeira abandonada (http://www.cifor.cgiar.org/rehab/_ref/countries/Brazil/WS1/2.htm).

por agricultores e agricultorasfamiliares ligados ao Projeto PadreEzequiel (PPE)45 da Diocese de Ji-Paraná/RO, à Coocaram46 e ao ProjetoTerra Sem Males (PTSM)47. As ligaçõesdas dioceses de Juína (MT) e Jí-Paraná(RO) aos sindicatos de trabalhadoresrurais se mostrariam importantes nadisseminação da ideia pelas comissõesde pastoral. Mesmo sem um arranjoprodutivo adequado e com umapresença quase nula de serviços deAssistência Técnica e Extensão Rural(Ater), essa rede social colaborou paraa manutenção de SAFs implantados naépoca.

1991-2000: Iniciativas agroflorestaisprévias ao Projeto PNUD BRA/00/G31No ano de 1991 o Instituto Pró-Natura(IPN) desenhou um projeto para criarem Juruena um centro de pesquisa eextensão agroflorestal com ênfase emcapacitação, contando com unidadesdemonstrativas de sistemasagroflorestais (SAFs). A iniciativa foimaterializada em 1993 e alavancou oprocesso de elaboração do ProjetoBRA/00/G31. No contexto, aindaatuava, desde 1995, o PPG7. O braçoinfraestrutural e logístico para meioambiente eram o Subprograma deRecursos Naturais (SPRN) e o PGAI

(Programa de Gestão AmbientalIntegrada), que atuava de modolimitado na região, mas montou ainfraestrutura das secretariasmunicipais de meio ambiente de Juínae Jururena48. As ações comagricultores eram custeadas pordiferentes projetos e programas doPPG7, sendo que os ProjetosDemonstrativos (PDAs) financiaram oProjeto Agroflorestal e ConsórcioAdensado (Paca)49, gerenciado pelaAssociação Rural Juinense Organizadapara Ajuda Mútua (Ajopam, Juína). O

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projeto teve uma importância crucialpara ações futuras, ao permitir aimplantação de famílias de pupunhapara semente, deixando uma base deSAFs que hoje perdura com algumasvariações, que serão discutidas maisadiante.Entre 1996 e 1998 atingiuaproximadamente 340 agricultoresdivididos em 78 comunidades. Seuobjetivo inicial foi a produção e omanejo de sementes florestais de

pupunha para palmito, com apoio daprefeitura municipal.A proposta previa 500 ha de SAFsinstalados com um grupo de espécies"eixo", que eram pupunha,castanheira, seringueira, cupuaçu,café, cacau, guaraná e pimenta, alémda apicultura. Parte dessa política foiincorporada aos programas municipaisde agricultura, com oscilações deênfase por conta de mudança departidos no comando da prefeitura.

Tecnologias agroflorestaisno marco do Projeto50

Baseado nas medições e análises de60 Unidades Demonstrativas, Vivan(2010) propõe seis categorias para ossistemas agroflorestais (SAFs) daregião Noroeste mato-grossense.

A tipologia proposta considera acomposição e a estrutura dosistema, sobretudo, osespaçamentos entre os componentes(abertura de dossel):

1. Renques florestais multipropósitos consorciados;

2. Café sombreado;

3. SAF de dossel aberto 51

a) intensivo; b) extensivo;

4. Silvopastoril com espécies nativas;

5. Quintais agroflorestais ;

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50 Seção adaptada de Vivan (2010).51 SAFs com dossel fechado: são poucos exemplos no Brasil, entre os quais estão os seringais formados a partir de roçados na região daFlona Tapajós, Pará. Sua característica principal é que a espécie de interesse econômico faz parte do dossel dominante.

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Renques florestaismultipropósitos consorciados

Figura 17. Ilustração de sistema renque florestal multipropósito consorciado.Fonte: May e Trovato, 2008.

Os renques florestais multipropósitosconsorciados conformam "corredores"dentro da propriedade, que podemcontribuir para a conectividade52 entreremanescentes de floresta nativaexistentes na propriedade ou noentorno. Neste sistema, espécies deexigências diferentes de luz, o início deprodução e a demanda de manejo sãocombinadas em faixas. Entre estasfaixas, a área aberta recebe cultivos53

anuais e perenes que precisam demuita luz e de proteção contra o vento.O tamanho das faixas será maior oumenor de acordo com a dimensão dascopas das espécies escolhidas, econforme a tolerância à sombra dasespécies arbustivas.

O sistema ainda tem o efeito de umquebra-vento e pode gerar ummicroclima favorável para espécies quesão beneficiadas por sombreamento

52 Sua complementaridade espacial com outros esquemas de recomposição (cafezais arborizados, reflorestamentos) aumenta o valorecológico dessa opção.53 Um dos sistemas de uso da terra mais importantes na agricultura familiar do Noroeste de Mato Grosso são os monocultivos perenes.Dentre eles, o café, os citrus e a pupunha para palmito são dos mais relevantes. A pupunha para palmito ou para produção de sementesgeralmente ocupa áreas de dimensões médias a reduzidas (entre 0,5 e 5 ha). Já o café pode alcançar áreas maiores, de 5 a 12 ha, variandonesta faixa. Outro sistema que pode ser considerado como "monocultivo perene" são as pastagens de pequena escala, voltadas parapecuária de leite, geralmente entre 5 e 10ha (Vivan 2010).

leve, como citrus, café e mesmodeterminadas pastagens. Para que ofeito seja concreto, os renques devemter entre 6 e 8 metros. Recomenda-seque pelo menos 50% das espécies dodossel dominante sejam de plantasnativas. Estas espécies proverãoalimento e abrigo para a fauna.

Em propriedades que tenham comoatividade a produção animal, espéciesarbóreas com finalidade forrageiradeverão ser incluídas. Os renquespodem servir de divisão entre piquetese, além de funcionar como banco deproteínas, os animais poderãodesfrutar neles de sombra e proteçãocontra ventos, o que oferece maiorconforto térmico. Finalmente, a escolhade espécies com tolerância a fogo ouque não produzem materiais quefavorecem as chamas, podem ajudare/ou prevenir queimadas.

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Café sombreadoO café é uma espécie de sub-bosquetolerante à sombra da cobertura decopas (entre 30 a 50% de cobertura,porcentagem de cobertura condizentecom o conceito florestal). Osombreamento em café foi adotado nasserras úmidas do Ceará e dePernambuco como medida paracontornar os extremos climáticos desdeo fim do século XIX (Severino & Oliveira,1999). Na região Noroeste de Mato

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Grosso e em Rondônia esse tipo detecnologia agroflorestal é praticado porprodutores entusiastas (e bemsucedidos). O estado de Rondônia tem,inclusive, uma cooperativa que vendecafé Conillon sombreado e certificadocomo orgânico (Coocaram, município deJi-Paraná). Dois modelos (Figura 18) decafezais sombreados são apresentados aseguir, a partir de transectos de casoscomerciais, e variando em níveisprogressivos em termos de complexidadee sombreamento.

1. Inga spp ;2. Pithecolobium

acutilifolium ;3. Chorisia glaziovii ;4. Mangifera indica ;

5. Cordiatrichotoma ;

6. Coffea arabica ;7. Musa spp.

Figura 18.Ilustrações transectoem cafezaissombreadosFonte: Vivan (2008)

1. Inga spp ;2. Pithecolobiumpolycephalum ;3. Musa spp .;

4. Coffea arabica

A

B

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A Figura 18A ilustra um sistema commenor densidade de sombreamento,mas que atinge as metas de coberturade copas (definição de floresta).É recomendado para áreas maisextensas e nas quais existamrestrições de solo e de mercado queimpeçam ou desestimulem umadiversificação maior. A escolha dasespécies de sombreamento deveprivilegiar leguminosas que tenhamqueda natural de folhas e flores e, depreferência, que incluam espéciestolerantes à poda, como o mulungu.

A Figura 18B ilustra um sistema decafé sombreado com maiorfuncionalidade ecológica e maiordiversidade de espécies, aliando aintrodução de espécies de interesseeconômico (no caso, banana), quecomplementam a renda do café.

Para obter funcionalidade ecológicaadequada da arborização do cafezal, oarranjo deve ser feito buscando umbalanço entre espécies desombreamento e café. Esse equilíbrio(para mais ou menos funcionalidadeecológica) tem como condicionantesfatores mercadológicos, climáticos,

Figura 18 edáficos e o tipo de café que se esperaproduzir. Alguns dos condicionantessão descritos a seguir:

• Havendo mercados consolidadospara frutas, a opção por consórcioscom banana, citrus e outras frutíferasde porte alto é uma prática comum.Ela agrega valor à área e reduzoscilações de renda por conta depreços ou fatores climáticos;

• Solos férteis em regiões de grandeinsolação (caso, por exemplo, dodistrito de Terra Roxa, em Juína), emtese podem receber sombreamento emcafezal com maior adensamento queem áreas de latossolos ou de enclavesde solos de cerrado, existentes naregião. Em tese, isso possibilita incluirmais frutas e madeiráveis no sistema;

• Os chamados "café de floresta" sãocafezais com cobertura de copassuperiores a 60% e grande presençade espécies nativas formando umdossel que imita uma floresta natural.Geralmente formados pela variedadeArábica, esses cafés são considerados"especiais". Seus preços alcançam trêsou quatro vezes mais o preço dos cafésconvencionais, mas demandamtecnologia de colheita, despolpamentoe secagem cuidadosos.

SAF de dossel aberto extensivoEsse tipo de sistema é desenvolvido para maiorfuncionalidade ecológica em seu ponto dematuridade. A diversidade de espécies e acobertura de copas, por sua vez, sãocaracterísticas que evoluem com o tempo.Sistemas assim costumam incorporar nodossel uma mistura de espécies com alto valorpara fauna (como Ficus spp. e as Eritrinas),com espécies de alto valor madeireiro eecológico para fauna e entomofauna (Cordia,Bertholetia, Bagassa, Tabebuia, Parkia).Com o aumento da idade, crescem as epífitas eganham essas árvores em qualidades dehabitat. A Figura 19 indica o tipo de estruturaesperada de um sistema desse tipo, no qual ocultivo comercial (1) pode ser cacau oucupuaçu, ou ambos, considerando para isso oespaçamento adequado para não haverconcorrência entre as duas espécies.

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Figura 19. SAF de dossel aberto extensivo já maduro. Perfil de 50m x 10m (500m²)de sistema agroflorestal no Sítio Luizão, Cotriguaçu, Mato Grosso, 2008.

1. Bagassa guianensis e outras espécies nativas; 2. Bactris gasipaes ; 3. Coffeacanephora ; 4. Theobroma cacao ; 5. Brachiaria brizantha .Fonte: Vivan (2008).

A Figura 19 ilustra um SAF de dosselaberto com a opção de introdução depupunha para palmito. A espéciepermite renovação de abertura emtermos de luz e oferta de palha paracobertura de solo, além dos resíduosda limpeza do palmito a cada operaçãode colheita. A combinação de espéciesde fuste alto e com copas reduzidascriam ascondições ideaispara esse tipo deconsórcio.Com o tempo, asárvores irãoganhar embiomassa ecobertura de

dossel, o que pode inviabilizar a opçãoda pupunha para palmito, mantendo-se apenas as matrizes selecionadaspara sementeiras. Em um período de20 a 30 anos, a retirada de indivíduosdo dossel dominante (manejo seletivo)para fins madeireiros poderáoportunizar a reintrodução dapupunha para palmito.

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Sistemas de dossel aberto sãorepresentados pelos quintaisagroflorestais até grandes extensõescom café e cacau, as espécies maisrepresentativas.

Eles são intensivos quando o acessofácil e a menor área (geralmente abaixode 2ha) permitem maior diversidade defrutas, espécies arbustivas e herbáceas(geralmente hortaliças) e mesmopequenos animais. Os valores deimportância da diversidade florística(diversidade, sua biomassa total epopulação) caem dos sistemasextensivos para os intensivos. Diminuemas áreas, aumentam as intervenções, aciclagem é mais rápida e dirigida, eexistem aportes eventuais de adubo

orgânico e mineral. Sistemas intensivos,com menos insumos e com maior valorde conservação, são uma exceçãopossível nas áreas de várzea amazônica,que recebem nutrientes na época dascheias.Os sistemas intensivos (Figura 20)apresentam maior funcionalidadeecológica e conectividade com osfragmentos florestais da propriedade edo entorno.Com a presença desse aspecto, aregeneração assistida de espéciesnativas no sistema pode oferecer umaalternativa de reposição constante deespécies madeireiras e de usosmúltiplos, enriquecendo funçõesecológicas e econômicas.

SAF de dossel aberto intensivoSAF de dossel aberto intensivo

Figura 20. Sistema agroflorestalintensivo diversificado.

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Os quintais54 agroflorestais estãolocalizados próximos às residênciasdos produtores e têm predominânciade espécies frutíferas e de usodoméstico.

54 Quintais agroflorestais, copiados em sua estrutura e manejo dos sistemas utilizados na Indonésia, foram implantados por imigrantesaçorianos e seus descendentes no Sul do Brasil desde 1740. Além disso, toda uma tradição de roçados indígenas, espécies por elesdomesticadas e utilizadas e seus arranjos, contribuíram enormemente para enriquecer esse legado (Miller, 2005).

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Sistema silvopastoril ouarborização de pastagensOs sistemas silvopastoris permitemque pequenas áreas destinadas àpastagem ganhem em funcionalidadeecológica e econômica a médio e longoprazos (5 a 15 anos). Nesses sistemastradicionais, atributos comoconectividade e banco de sementesviabilizam a regeneração e amanutenção de uma complexidade emespécies e estrutura horizontal.

Por sua parte, o manejo da paisagem

permitindo, por exemplo, plantasnativas em pastos formados sobreecossistemas de matas de galerias,conserva populações significativas deespécies arbóreas. Podem, no entanto,apresentar vulnerabilidades porexcesso de pastoreio ou fragmentaçãoe degradação progressiva dosremanescentes florestais. Isso afeta aregeneração da flora nativa e suadinâmica populacional, de formarelacionada também.

A produção de espécies nesse tipo desistema, tradicionalmente está ligada àsegurança alimentar. A venda defrutas, entretanto, pode complementara fonte de renda da família.

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Esses sistemas podem serconsiderados intensivos quandoespécies nativas ou exóticas sãointroduzidas em pastos divididos parapastejo rotativo contendo bosques,aleias e quebra-ventos que objetivamalimento para o gado ou múltiplosusos econômicos diretos. Os custos deoportunidade representam sua maiorvulnerabilidade. A atual conjunturapermite acesso fácil à conversão deflorestas em pastos, além de preçosbaixos para a carne e leite. O valor deconservação decresce dos sistemasextensivos para os intensivos. Estesúltimos, porém, podem ser críticospara recuperar margens de rios ouerosão em locais de vulnerabilidade àinundação ou quando a erosão estáaliada à alta densidade demográfica.

Os sistemas intensivos são uma formade complementar os efeitos da

Sistemas silvopastoris em regime de lotaçãotemporária. Juína, 2010.

recuperação ambiental. Tambémpodem agregar valor (madeira eprodutos não madeireiros), confortotérmico e qualidade às pastagensdegradadas.Quando ocorreu a ocupação dosmunicípios do Noroeste de MatoGrosso, a exigência em relação àReserva Legal era de 50% da área daspropriedades. Após a MedidaProvisória nº 2.166-67, de agosto de2001, a exigência passou a ser de 80%para todas as propriedades nãoaverbadas até aquele momento, ouseja, a totalidade. Os produtoresdesses municípios, em sua maioria,não cumprem com nenhuma das duasexigências. Desta forma, pressionadospelos órgãos ambientais, veem combons olhos qualquer iniciativa em queo plantio de árvores pode ser aliado àmanutenção da atividade pecuária,como é o caso dos SAFs silvopastoris.

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Principais Componentes Agroflorestais (SAFs)As espécies componentes de um SAFpodem ter, entre si, relaçãocomplementar, suplementar,competitiva ou antagônica55. Taisrelações entre componentes ocorremem função do tipo de arranjo e demanejo agroflorestal utilizado. Por setratar de uma decisão só perceptível amédio e longo prazos, a partir da qualos produtores são beneficiados ouprejudicados, questões sobremercados e lucratividade, competiçãoentre plantas, mão de obra na colheitae ciclo de vida das espécies, entreoutras, precisam ser avaliadas (Barroset al 2009). Assim, a seleção dasespécies para compor os SAFs deveenvolver um amplo amadurecimentopor parte dos técnicos e dos

55 De acordo com Barros et al. (2009) quando é complementar, um cultivo melhora a produção do outro e vice-versa. Exemplo disso são asárvores que fertilizam o solo para os plantios agrícolas. Já quando um cultivo não interfere no outro, as culturas são suplementares, ou seja,possuem uma relação independente. Considera-se relação competitiva quando os cultivos competem entre si por inúmeros recursos, comoágua, luz e nutrientes. As relações são antagônicas quando as plantas não podem ser combinadas em nenhuma hipótese, por razões decompetição por luz, nutrientes, entre outras, o que conduz ao monocultivo.

produtores (Miller, 2009).Em um monitoramento realizado nosmunicípios participantes do Projeto,Vivan (2007) identificou 129 espéciespresentes nos SAF's. Os sistemasagroflorestais, entretanto, quasesempre são marcados pela presença deespécies principais, tambémconhecidas como carros-chefes. Elasgeram a principal renda do sistema oucontribuem na segurança alimentar doagricultor e de sua família. Geralmentesão espécies perenes que demarcam opadrão espacial do sistema.A seguir é apresentado um resumohistórico da introdução e da utilizaçãodas espécies que atualmente sãoconsideradas os carros-chefes dosSAFs da região.

O cultivo do cacau em arranjosagroflorestais na região amazônica(não considerando as práticasagroflorestais indígenas da região) foipromovido a partir de 1976 pelaCeplac. Ocorreu quando a instituiçãocondicionou o fornecimento deassistência técnica e de crédito aospequenos produtores da Amazônia aoplantio de cacau com espéciessombreadoras (Barros et al, 2009).

Na região Noroeste de MT, a Ceplacpromoveu os SAFs com cacausombreado desde suas bases emRondônia, em sua primeira unidadecriada em 1983, e pela unidade deAlta Floresta-MT, criada em 1988.O cultivo foi estabelecido em maiorproporção nos municípios comoCotriguaçu, Colniza e Aripuanã, emáreas ocupadas por agricultoresprovenientes de Rondônia, que têmexperiência com a cultura do cacau, eem menor escala em Juína,

Cacau

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Castanheira e Rondolândia. A altaumidade da região, no entanto, assimcomo as temperaturas amenas, apouca luminosidade e ventilaçãoprovocados por SAFs mal manejadosfavoreceram as doenças causadaspelos fungos. Muitos são os fungosque parasitam o cacau no Brasil.Entretanto, o Crinipellis perniciosa,agente causal da doença vassoura-de-bruxa, é o que mais preocupa.

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Outro motivo de apreensão é apotencial chegada da monilíase, quesempre foi considerada secundáriapara o cacau no país, com ocorrênciarestrita ao Ocidente do Equador e naColômbia. As perdas históricas nasprincipais regiões cacaueiras da

Colômbia variam de 30% a 40%,(Freitas e Mendes 2005).Práticas preventivas como a inspeção,ainda são as mais eficientes nocontrole da introdução, disseminação edispersão de doenças em áreas ondeainda não ocorreram.

Entre as culturas perenes, o café é delonge a cultura que tem a maior área deplantio na região. Os cafezais foramestabelecidos com a chegada dosprimeiros colonos provenientes do Suldo país. Inicialmente, eles utilizaram avariedade Arábica, que depois foi sendosubstituída paulatinamente porConillon (Coffea Conephora), maisadaptado às condições climáticas daregião. Hoje, a produção cafeeira naregião é, em quase sua totalidade, davariedade Conillon. Existem, entretanto,alguns plantios de Arábica que osagricultores usam para o consumofamiliar. A preferência pelo Robustadeu-se pelo melhor desenvolvimento eponto de colheita no período deestiagem. Em contrapartida, o Arábica,além de encontrar uma altitude quevaria de 150 a 350 m, tem seu ponto de

colheita nos meses de fevereiro emarço, período que coincide commuitas chuvas. Há também na regiãouma variedade conhecida comoCatimor, fruto de cruzamento daespécie Caturra com híbrido doTimor, que é cultivada em Rondônia,no campo de experimentação daEmbrapa há mais de 20 anos. Elamostra uma excelente adaptação,mesmo em baixa altitude.Recentemente, alguns produtores daregião adquiriram essas sementesjunto à Embrapa e posteriormenteplantaram.

Em 2002, Dubois descreveu osistema de produção local do cafécomo pouco adensado e com poucasexceções, sem a utilização de plantasde cobertura. Segundo oslevantamentos realizados para o DRP(Pozo, 2003), em 2002, a cultura decafé na região apresentava pequenarentabilidade, fundamentalmentepela baixa densidade populacional,

ausência de adubação sistemática eestresse hídrico causado pela insolaçãoexcessiva e pela ausência de chuvas naépoca seca. Outra questão importante éo péssimo manejo pós-colheita, fatordeterminante na qualidade final do café.Em 2005 a maior parte da produção doscafezais da região tinha toda a produçãovoltada para o mercado do estado deRondônia ou comprada pela MitsuiAlimentos de Mato Grosso. Essaempresa realiza todos os anos umconcurso estadual, incentivando amelhoria da qualidade do café.Agricultores do Noroeste têm alcançadoimportantes resultados no concurso,sendo que a premiação é convertida emadicional de preço para qualquerquantidade que seja enviada com amesma qualidade da amostra premiada(Nunes, 2005).

Café

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pupunheira irrigada.

Como resultado do processo, três (3)fábricas de palmito operam na regiãobeneficiando e comercializando aprodução destes plantios, o queaumentou significativamente ointeresse dos agricultores no trabalho

Para a comercialização do palmitocultivado nos SAFs da região, oProjeto apoiou os municípios nogeorreferenciamento e quantificaçãodas áreas em que foram plantadasas mudas distribuídas no passado.Isso permitiu rápido levantamentodo potencial de produção e auxiliouna regularização destas áreas juntoà Sema, a partir de 2005. Ainstituição é responsável pela gestãoflorestal do estado e pela emissão dodocumento de autorização detransporte desse produto.

Com a proposição pelo Projeto deelaboração pelos técnicos do estadode uma Diretriz Técnica para ocultivo comercial da pupunheira, foisancionada pelo governador,juntamente com o decreto deexploração de produtos florestaisnão madeireiros. As agênciasfinanceiras, então, iniciaram aliberação de crédito para projetos deincentivo à cadeia produtiva dopalmito de pupunha cultivada. Atravésdo Banco do Brasil, na linha de créditodo Desenvolvimento RegionalSustentável, agricultores familiares domunicípio de Aripuanã receberam R$2,1 milhões para o plantio de

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Palmito

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desenvolvido pelo Projeto na região. Simultaneamente, uma das empresas queadquiriu o palmito, apresentou interesse por diversos produtos dos SAFs para aprodução de condimentos e polpa de frutas, propondo a assinatura de contratoscom as organizações de produtores rurais da região.

No passado, o Noroeste de MT foi umadas áreas de maior produção deborracha nativa do estado,principalmente nos vales dos riosJuruena e Arinos, onde vários povosindígenas se envolveram na atividade.Mais recentemente (2005), a regiãorecebeu uma nova oportunidade pararetomar esse protagonismo a partir dosacordos propostos pela companhiafrancesa Michelin. A empresa, quepossui uma fazenda no cerrado de MT,com quatro milhões de seringueiras emfase produtiva, firmou convênio com oProjeto BRA/00/G31 e com a Sema-MTpara comprar toda a produção de látexdo Noroeste pelos próximos anos.

A Michelin também firmou um convêniocom o governo de MT para ser aempresa-âncora que garantirá a comprado látex produzido nos plantios a seremfinanciados pelo Banco do Brasil, viaPrograma DRS. Através do Programa MTRegional, os municípios de Aripuanã,Juína e Juruena enviaram projetos aoPrograma DRS e já iniciaram a formaçãode jardins clonais e plantios comerciaisde seringueira, com apoio técnico eorientações da equipe da empresa.

Seringueira74

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O Programa Integrado daCastanha (PIC) começouem outubro de 2003 como povo Rikbaktsa. Ainiciativa surgiu paracriar alternativas aomodelo predatório deexploração dos recursosnaturais, tradicional-mente praticado naregião Noroeste de MatoGrosso. Isso ocorreria apartir da demonstraçãode sistemas sustentáveisde uso e manejo dosrecursos.

Desde o início, a partirdas demandasapontadas pelacomunidade, questõesprioritárias para omanejo da castanhaforam atendidas, comocursos de capacitação e implantaçãode infraestrutura para melhorar aqualidade do produto. Também foramconstruídos barracões próprios para obeneficiamento da castanha e, por

Castanha

último, realizado contato comempresas compradoras idôneas, numabusca por melhores preços e relaçõescomerciais mais justas.

Atualmente, o PIC está sendodesenvolvido pelas associaçõesindígenas dos povos Zoró e Rikbaktsa,pela Funai – Núcleos de Apoio deJuína e Ji-Paraná, pelo Sindicato dosTrabalhadores Rurais de Aripuanã,pelas associações do assentamentoVale do Amanhecer, pela Cooperativade agricultores do Vale do Amanhecer– Juruena e pelas associações dosseringueiros do Rio Guariba e do RioRoosevelt. O PIC tem como objetivoprincipal apoiar estes grupos naestruturação do sistema de coleta,seleção, armazenamento ecomercialização de castanha-do-brasil.Pretende, ainda, fomentar processosde gestão territorial e a geração derenda baseados no uso sustentável dafloresta e no respeito às formas deorganização social desses povos.

Em 2007 o cenário do Mercado daCastanha indicou uma quedaacentuada nos preços, quandocomparado com valores praticados no

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segundo semestre de 2004. A reduçãode preços no mercado internacional serefletiu com a mesma magnitude nocomércio doméstico.

Tal situação levou a crises sistêmicasnas empresas de beneficiamento decastanha-do-brasil que passaram aoperar no prejuízo.Isso tudo se refletiuno mercado dacastanha in natura,com casca, isto é,na matéria-primabásica dasindústriascastanheiras.Dessa forma, osfornecedoresprimários(extrativistas,agricultoresfamiliares ecomunidadesindígenas) tambémforam diretamenteafetados, com ospreços caindo deum patamar de R$14,00-16,00/lata(unidade padrão docomércio da castanha bruta = 10 Kg)em 2004 para R$ 10,00/lata em2006/2007.

Atualmente, a Coopavam adquire todaa produção de castanha da terraindígena Rikbatsa, Resex Guariba-Roosevelt, de agricultores familiares de

vários assentamentos do corredor doRio Juruena. Recentemente, firmoucontrato de compra com os povosindígenas Apiacás-Kaiabi-Mundurucu,de Juara (MT), e Cinta-larga, deAripuanã (MT), trabalhando com umvolume anual de 150 toneladas decastanha processada em amêndoa.

Este produto temcertificação orgânicada Ecocert para osmercados europeu,norte-americano ebrasileiro. Asempresas NaturaCosméticos,Jasmine AlimentosOrgânicos e Frutosda Terra Alimentosabsorvem parte daprodução deamêndoas. Já aoutra parte édistribuída nomercado institucio-nal para a merendaescolar nosmunicípios deJuína, Castanheira,Juruena,

Cotriguaçu, Aripuanã e Colniza.Paralelamente à experiência da fábricade beneficiamento de castanha, surgiua Associação de Mulheres Cantinho daAmazônia-Amca. São 87 mulheresagricultoras que produzem biscoitos decastanha-do-brasil no assentamentoVale do Amanhecer. Os produtos são

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distribuídos na merenda escolar dosmesmos municípios para ondetambém vão as amêndoas.

As experiências, consideradas exitosaspela população local, já têmrepercutido na sensibilização das

Durante os monitoramentos realizadosnos SAFs, ficou evidente o uso pelosagricultores de uma multiplicidade deespaçamentos para uma mesmaespécie. O fato sugere que o Projetoincentivou diversos arranjos deespécies nativas com uma mesmaespécie como carro-chefe e não aimplantação de pacotes tecnológicos

Espaçamentos dosComponentes Agroflorestais

pessoas para a importância dacastanheira e da floresta em pé para amanutenção das atividades.

Além disso, 30 mil mudas decastanheira foram plantadas em SAFsno município de Juruena, em 2010.

Para Miller (2009), a questão doespaçamento tem sérias implicaçõespara os fatores de sustentabilidade emanejo da matéria orgânica. Em umplantio menos adensado (sistemaconvencional) os espaços deixados pelasculturas comerciais são rapidamenteocupados pelas plantas invasoras. Porapresentarem ciclo de vida curto,produzem grande quantidade desementes, infestando as áreas dosistema de produção e demandandomão de obra cada vez maior paralimpeza da área (Rosário et al., 2000).

Por outro lado, o excesso de zelo nalimpeza faz com que haja baixaprodução de matéria orgânica,

com altos níveis de usos de insumos.Estimulou, portanto, o aproveitamentodo conhecimento tradicional e dosprocessos biológicos como a ciclagemde nutrientes e o aumento dabiodiversidade dos plantios comoestratégia de aumentar a susten-tabilidade. Nos plantios monitoradosos espaçamentos utilizados eram:

comprometendo a manutenção dasqualidades físico-químicas do solo,além de prejudicar o potencialregenerativo dos SAFs (Miller, 2009).

O aumento da diversidade deespécies nativas em consórcio com asculturas comerciais garante maioreficiência na conservação dafertilidade do solo. Isso porque raízesde diferentes espécies têm exigênciasdiferenciadas por determinadosnutrientes. Elas os trazem àsuperfície e incluem no processo deciclagem de nutrientes elementos queestão distribuídos no solo emprofundidades que as raízes doscultivos comerciais não alcançariam.

77Café: 3 x 2m; 3 x 2,5m; 3 x 3m; 3 x 1,5m

Pupunha: 3 x 2m; 3 x 1,5m

Açaí: 2 x 1,5m; 1,5 x 1,5m; 3 x 2m; 2 x 2m; 5 x 5m;5 x 3m; 6 x 6m; 2 x 1m; 6 x 3m

Cacau: 5 x 4m; 4 x 4m Cupuaçu: 4 x 3m

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Analisando as experiênciasagroflorestais existentes na regiãoNoroeste MT, Dubois (2003) chegouà conclusão que, em decorrência dafalta de conhecimento e de recursosfinanceiros, os sistemas apresenta-vam falhas no que se referia a:(1) níveis de biodiversidade internados sistemas de produção (númerototal de componentes plantados e/ou espontâneos): daí a necessidadede continuar aplicando agrotóxicosou, na ausência de recursos paracomprar esses insumos, obtençãode baixos rendimentos;(2) ocupação eficiente e geradora derenda do espaço (principalmente asentrelinhas entre espécies carro-chefe);(3) escolha das espécies perenes (e/ou variedades/cultivares) cultivadasnos SAFs: considerando o processode escolha tanto no que tange àscondições locais de solo e clima,como de demanda e perspectivasefetivas de demanda paracomercialização dos produtos;(4) para cada espécie carro-chefe,aplicar o princípio de consorciarcultivares (ou procedências)geneticamente diferenciados paraevitar os efeitos negativos de "in-breeding" (necessidade de melhoraro uso racional de recursos genéticosnos SAFs);(5) necessidade de inserir nos SAFsespécies madeireiras (ou de usomúltiplo) de alto valor comercial, asquais, em uma fase mais avançadade amadurecimento do SAFs,preencherão um papel decisivo noprocesso de "capitalização"(formação de capital) em termos deagricultura familiar.

Em maio de 2006, a partir domonitoramento de 30 UDs, a Rebrafidentificou três grupos principais deSAFs, sendo que duas estratégiaseram recomendadas:

Aspectos socioecológicos dosSAFs no Noroeste de Mato Grosso

• Grupo 1 – para o qual asvariáveis associadas maisclaras eram restrição emtamanho de área de SAFs efalta de cobertura nativa napropriedade. Para estes, odesafio era intensificar oretorno econômico ecompensar essas "disfunções"ecológicas com recuperação depassivo ambiental com SAFsmais extensivos;

• Grupo 3 – que consistia de áreasmais amplas de SAF e maiorcobertura florestal remanescente,mas um baixo valor sendo obtidopor área, reduzindo sua importânciano cômputo geral do uso da terra;

• Grupo 2 – agrupando sistemas dealta variabilidade em composição eretorno econômico do Grupo 3, seaproximava em termos defragilidades (renda por área, retornodo trabalho), de modo a manter acaracterística desejável daspropriedades, que eram seusremanescentes florestais (entre43% a 83% da área total dapropriedade), mas aumentandorenda através de intensificação deprocessos (manejo) e arranjosprodutivos.

Essa primeira análise teve um caráterqualitativo e exploratório, além debuscar a integração dos agentes deAter e agricultores no monitoramento,investindo em oficinas de capacitação(May et al. 2007).

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Os grupos apresentados pela Rebrafsão coerentes com as análisesrealizadas por Vivan et al. (2008), apartir da amostragem de 83 parcelas

Outro aspecto importante identificado por Vivan(2010) durante os monitoramentos é que osagricultores inovadores que adotam SAFs têm menosdesmatamento acumulado por habitante e maiscobertura florestal percentual que seus municípiosde inserção.

Os SAFs superam a rentabilidade da pecuária.Contudo, histórico pessoal, conhecimento, acesso econexões com o mercado condicionam as decisõesdos agricultores.

instaladas em 60 UDs (4.158Componentes de SAF) dos municípiosde Juína e Cotriguaçu. Neste trabalhoos autores destacam os seguintespontos:

• Considerando asespécies de FrequênciaRelativa (Fr%) acima de0,49%, de um total de

146 espécies, apupunha ocupa o

primeiro lugar (Fr% =26,9). Isso confirma oresultado de 2007 e aprópria concepção deprojetos anteriores,

como o Paca, queapostavam na pupunha

como espécie deespecial interesse;

• Dentre o total de 23espécies que

alcançaram Fr% >0,49%, 50% são nativasdo Noroeste de MT, e 9%

são nativas da regiãoAmazônica;

• Espécies como teca,cacau, garrote, açaí,

seringueira e cupuaçuaparecem nesse grupo,e totalizam acima de

65% das espéciespresentes nos SAFs;

• Espéciescom

finalidademadeireira,

mas comfunções

múltiplas(como teca egarrote, que

aindaalimentam

fauna) têm umpercentual

tambémmajoritário

(18%);

79• Cerca de 43% das espécies

identificadas pertencem ao estratoarbustivo (cupuaçu, cacau)

e subdominante/intermediário(pupunha e açaí).

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Desde 2001 os SAFs faziam parte da estratégia do BRA/00/G31 como"melhoria dos sistemas de produção pela inclusão de sistemasagroflorestais (SAFs), sistemas silvopastoris, além do uso sustentável deprodutos florestais não madeireiros junto aos colonos existentes,extrativistas da Resex Guariba-Roosevelt e novos assentados quechegavam à região". No mesmo ano e sediado em Juruena, o Projetoiniciou suas atividades e montou, como previsto, um centro demonstrativoe de formação. Nos dois primeiros anos (de 2001 a 2003), sete produtoresrurais pertencentes aos municípios de Cotriguaçu, Juruena, Castanheirae Juína foram selecionados por abrigarem modelos com potencial de êxitocomercial e viabilidade técnica. O grupo, que foi sendo ampliado e recebeucerca de vinte agricultores a partir de um diagnóstico em 2002, semanteve ativo e evoluiu em termos técnicos e econômicos e em seu papeldemonstrativo até o presente (Vivan, 2009). Enquanto o Projeto seguia seucurso, a articulação regional, facilitada pelas comissões pastorais eliderada por Juína, conseguiu que a cidade fosse escolhida para sediarum dos polos do programa Proambiente.

O Proambiente foi criado como fruto da discussão entre as Federações dos Traba-lhadores na Agricultura (Fetagri) da Amazônia Legal, a Confederação Nacional dosTrabalhadores na Agricultura (Contag), o Grupo de Trabalho Amazônico (GTA), oConselho Nacional dos Seringueiros (CNS), o Movimento Nacional dos PescadoresArtesanais (Monape) e a Coordenação das Organizações Indígenas da AmazôniaBrasileira (Coiab). O programa atuou em 11 polos pioneiros distribuídos nos esta-dos do Amazonas, Roraima, Pará, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Acre,Maranhão e Amapá. A iniciativa surgiu em função do apelo organizado dos movi-mentos sociais junto ao governo federal. Estava previsto que os produtos oriundosdos SAFs destes polos, por meio de convênios com as prefeituras, fossem utiliza-dos na merenda escolar, que possui demanda por produtos regionalizados. Existiuum esforço em realizar a certificação dessa modalidade de produtos, em parceriacom o Inmetro, para que possam ser comercializados diferenciadamente de produ-tos originados de sistemas de cultivo tradicional.

Programa de DesenvolvimentoSocioambientalda Produção Familiar Rural(Proambiente)

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Desenvolvimento doComponente Agroflorestaldo Projeto PNUDBRA/00/G31

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O programa para pagamento deserviços ambientais a agricultorescomeçou em 2004 com a contrataçãode equipes técnicas e a elaboração dosPlanos de Utilização das Propriedadese dos Acordos Comunitários.Em 2006 foram realizados osprimeiros pagamentos por serviçosambientais às famílias em Juína, mas

Em 2004 ocorreu uma divisão no interior destaorganização e a separação provocou a criação deduas entidades diferentes no seu modo de atua-ção. De um lado a Coopropam, que seguiu admi-nistrada por ex-diretores e sindicalistas dos traba-lhadores rurais, atuando na região comoatravessadores e construindo comércio para vendade agrotóxicos.

Por outro lado, a Ajopam se reestruturou com asantigas lideranças, fundadoras da associação, queaté então vinha ocupando cargo nas secretarias doexecutivo municipal por duas legislaturas, cujosprincípios adquiridos e apoiados pela Igreja Católi-ca, via CPT, estão sendo mantidos. Isto, emvirtude de prática de formação política dos líderescomunitários existentes nas diversas linhas rurais etambém pela técnica na qualificação da mão de

obra. O objetivo é a busca de autonomia econômica, por meio da implantação de siste-mas agroflorestais e de uma agricultura sustentável, que respeite o meio ambiente.

Outra ação foi a estruturação de escola de formação para a família dos agricultores, 50%de gênero, assim colocada entre casais e jovens. Também foram realizados: fórumpara levantamento de dados na apicultura com a participação da UFMT,seminário sobre SAFs com ênfase para a cultura da pupunha, e dia decampo de manejo desta espécie.

Associação Rural Juinense Organizada

para Ajuda Mútua (Ajopam)

A partir da Revisão de 2003, o BRA/00/G31 incluiu os PAs (Projetos deAssentamento da Reforma Agrária) comofoco de atuação para o ComponenteSAFs, já que 11 em 13 PAs no Noroestede Mato Grosso estavam nas zonasprioritárias de amortização. A perda depessoal de campo do Projeto no processode revisão reorientou a estratégia paraas parcerias com prefeituras municipais,instituições e associações, dando maiorcapilaridade e uma receptividade maisampla à iniciativa na região.No momento em que o Proambiente apre-

sentou problemas de sustentabilidade(após 2007), ligados a aspectos legais e deprovisão dos recursos para PSA (Paga-mentos por Serviços Ambientais), o Pro-jeto supriu parte da expectativa criada. Is-to foi feito através de Cartas de Acordo, naprática contratos com prefeituras munici-pais, Ater estadual e organizações, comosindicatos, cooperativas e a própria Ajo-pam. Elas viabilizaram Ater, mercado pa-ra sementes, produção de mudas e capa-citação em SAFs, apoiando arranjos pro-dutivos para a pupunha, castanha, serin-gueira e produtos diversificados de SAFs.

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interrupções e atrasos naqueleprograma causaram sérios problemastrabalhistas para a organizaçãoresponsável por sua implementação(Ajopam). As dificuldades causaram,ainda, a interrupção das atividadescom agricultores e criaram umalacuna, considerando-se a expectativacriada.

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A Revisão do Projeto determinou o estabelecimento de parcerias com a finalidade dedesempenhar as atividades de implementação a campo. Coube à equipe de doisengenheiros, mantida no Projeto, a função de coordenação e monitoramento (alémda administração do escritório, manutenção e administração financeira). Para forma-lizar tais parcerias, foram assinadas Cartas de Acordo com instituições locais (prefei-turas de municípios, associações), que determinaram as atividades a seremcumpridas por cada uma, como as que se seguem:

• produção de mudas;

• distribuição de mudas;

• distribuição de sementes;

• assistência técnica;

• implantação de SAFs;

• realização de seminários;

• acompanhamento e monitoramento

do processo de consolidação das UDs de SAFs;

Lista de atividades relacionadas emCarta de Acordo – Projeto BRA/00/G31

Em 2003 foram firmados os primeirosconvênios com as prefeiturasmunicipais e associações, repassandorecursos de doação do BRA/00/G31,denominados "Subprojeto Carta deAcordo", para formação de SAFs,implementação destes e de JardinsClonais com incentivo para a produçãode frutas. Em 2004 foi firmado umnovo convênio através do "SubprojetoCarta de Acordo" com as prefeituras,recursos de doação do Projeto BRA/00/G31, para implementação dosSAFs iniciados pelo PGAI e pelos SAFsformados com recursos da "Carta deAcordo/2003". No ano seguinte (2005),foi firmado outro acordo, dandocontinuidade ao trabalho iniciado nosanos anteriores e iniciando uma novaatividade de recuperação de áreas(como, por exemplo, no entorno do RioJuruena).

Em 2005 o Componente Agroflorestaldo Projeto possuía, oficialmente, noveagências implementadoras: Ceplac,Empaer, Ajopam e as prefeituras deJuína, Castanheira, Juruena,Cotriguaçu, Colniza e de Aripuanã.

Numa ação integrada, todas asAgências Implementadorasproduziram juntas em torno de ummilhão de mudas de espéciesagroflorestais. A Empaer promoveuassistência técnica nos viveiros e oacompanhamento do plantio e manejodessas mudas no campo, com oobjetivo de implementar 500 ha desistemas agroflorestais em 350propriedades de agricultoresfamiliares, nos Assentamentos doentorno das TIs e UCs.

Uma parceria entre a Ceplac e aEmbrapa foi estabelecida com oobjetivo de assessorar e capacitar ostécnicos locais da Empaer, além deintroduzir material genéticoagroflorestal melhorado e adaptado àregião, e apoiar na definição dosarranjos das espécies agroflorestais.Na etapa de beneficiamento, o Projetointegrou as ações das duasorganizações de produtores ruraismais fortes, que são a Aderjur e aAjopam (Nunes 2005). Um diagramacom o resumo de todas as relações éapresentada na Figura 21.

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Figura 21. Diagrama do arranjo interinstitucionaldo Componente Agroflorestal do Projeto.

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A Empaer, em parceria com o Projeto,realizou diagnósticos da situação socio-ambiental e as oficinas de planejamentoparticipativo com as comunidades detrês assentamentos nos municípios deAripuanã, Cotriguaçu e Juruena. Oobjetivo foi levantar o passivo ambientaldessas comunidades, identificandoagricultores com experiência e interesseem trabalhar com sistemasagroflorestais. A Empaer implementou oPrograma de Assistência Técnica Sociale Ambiental (Ates), gerenciado peloIncra, com foco para os problemasambientais e sociais das comunidades.Esse programa teve forte sinergia comas ações do Projeto GEF, envolvendo aassistência técnica para aimplementação de SAFs em toda aregião Noroeste (Nunes 2005).

Em maio de 2006 o BRA/00/G31contratou a Rede Brasileira Agroflorestalpara iniciar um processo demonitoramento participativo doComponente SAFs. O objetivo eraidentificar fragilidades e apontarcaminhos e prioridades para os trêsanos restantes do Projeto, de acordocom o cronograma da época.

Uma série de projetos foi idealizada ederam sequência e/ou herdaram açõesdo BRA/00/G31. Um bom exemplo, oProjeto Poço de Carbono Juruena,patrocinado pela Petrobras (2010-2011)em Juruena, que se propôs a produzir"dois milhões de mudas de espéciesnativas de interesse dos agricultores;

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fazer a recomposição de 660 ha de áreasalteradas através da conservação e daregeneração natural, do reflorestamentoou de plantios de enriquecimento emSAFs; realizar o monitoramento doincremento de biomassa dos sistemasagroflorestais implementados". Noconjunto, os projetos elaborados,finalizados e/ou em andamento (2007-outubro de 2011) somaram até 2010, R$9.140.587,00. Eles envolvem cincomunicípios e estão focados em Ater,fomento, monitoramento e capacitação.Outras iniciativas com investimentos eminfraestrutura somam o valor de R$ 1,5milhão e tiveram financiadores como oIncra, MDA, Conab e PetrobrasAmbiental. Entre as iniciativas estão afábrica de processamento de castanha-do-brasil em Juruena e a processadorade palmito de pupunha e polpas defrutas em Juína. Ambos osinvestimentos tem externalidadesimportantes para SAFs, uma vez quefacilitam arranjos produtivos para estese seus produtos não madeireiros (Vivanet al 2010).

Uma das mais importantes estratégiasde consolidação das atividades dasdiversas iniciativas já citadas de apoio aSAFs foi o acesso dos municípios doNoroeste de MT ao Programa de Aqui-sição de Alimentos PAA-Conab, opor-tunizado pela parceria nacional PNUD-Conab. Começou em 2005 com aformação da rede de mobilização e decapacitação dos técnicos dos municípios

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do Noroeste, apoiada pelo BRA/00/G31,envolvendo a rede social já formada noComponente SAFs. Resultados dainiciativa oportunizaram, desde 2006, aaquisição de alimentos provenientesprincipalmente das áreas de SAFs, emvalor que atualmente ultrapassa R$ 1,8milhão anuais no total de municípios.

Além da compra e doação destesalimentos pela Conab, outros projetosna linha de Formação de Estoque deprodutos florestais como castanha-do-brasil e palmito de pupunha tambémsão desenvolvidos desde 2007 noNoroeste em virtude dessascapacitações, que consideraram povos

indígenas, agricultores familiares eextrativistas. Todo o trabalhodesenvolvido na cadeia produtiva dacastanha-do-brasil ainda tem, até aatualidade, o seu pilar de sustentaçãoconstituído exclusivamente peloPrograma de Aquisição de Alimentos,sem o qual não há capital de giro paraaquisição da castanha.

Um aspecto relevante da iniciativa é aintrodução de um hábito alimentar deconsumo de frutas tropicais em umapopulação originária do Sul do país,acostumada ao consumo de alimentosde clima temperado.

Avaliações técnicas sobreo Componente AgroflorestalConsultorias especializadas produziramsubsídios numa escala de paisagempara dar suporte tanto ao ComponenteAgroflorestal quanto ao planejamentobiorregional, com dados de solo,vegetação, estoques de carbono ebiodiversidade faunística ao longo de

gradientes, analisando usos do solocorrentes.

A seguir, são apresentados (quadros 3 e4) os produtos das avaliações técnicasque analisaram direta ou indiretamenteo Componente Agroflorestal.88

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No seu Componente Agroflorestal, oProjeto se propôs inicialmente a definirmodelos de consórcios de espéciespara sistemas agroflorestais. Oobjetivo foi, através da promoção dosSAFs em Unidades Demonstrativas(UDs), identificar, avaliar e promoverum mosaico integrado de diferentesusos do solo (PNUD, 2000). Taliniciativa exigiu a identificação e a

Implementação de UnidadesDemonstrativas

valorização de SAF e de outrossistemas de manejo já existentes eafinados com essa meta (Passos 2003,Fernandes 2003, Dubois 2002), bemcomo a promoção de ações decapacitação e apoio às respectivascadeias produtivas. Essas açõesincluíram, além da identificação deagricultores inovadores, a instalaçãode UDs com participação dos

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produtores, a compra de sementes, ainstalação de viveiros e tambémassistência técnica e apoio para

Fatores de adoção de SAFsA decisão dos agricultores por adotar SAFs envolve fatores endógenos, como suaprópria trajetória social, e o saber ecológico em termos do ecossistema e da floranativa. Também se relaciona a aspectos estruturais e contextuais, desde a possibilidadede adquirir mudas e receber assistência técnica, até flutuações e fluxos principais daeconomia regional e macrorregional. Todos estes fatores podem, portanto, servir decatalisadores e vetores na tomada de decisões sobre conversão permanente ou adoçãode SAFs e mosaicos de uso em regiões de fronteira agrícola (Henkemans, 2000). Emum foco mais micro, as decisões sobre espécies e consórcios se dão sobre um lequereduzido de opções econômicas. A realidade é que, fora dos fluxos majori-tários, as informações sobre opções e estratégias para espéci-es florestais e agroflorestais ainda são reduzidas57.

57 Na região Noroeste de Mato Grosso o mercado já existe, mas para produtos hortícolas que integram os estágios iniciais dos SAF e algunsprodutos de espécies perenes, como frutas cítricas, palmito de pupunha (Bactris gasipaes Kunth), café (Coffea arábica L. e principalmente C.canephora L.) e cacau (Theobroma cacao L.). Dos fragmentos florestais, o produto principal é a castanha-do-brasil (Bertholletia excelsaH.B.K.), além de frutas silvestres, mel e outros produtos não madeireiros, completando o portfólio (Vivan et al 2007).

A Revisão de 2003 redirecionou a áreade atuação do ComponenteAgroflorestal do Projeto, aumentando onúmero de municípios, masrestringindo o foco para as áreas doentorno de Unidades de Conservação ede Terras Indígenas e áreas destinadasa corredores ecológicos. Nesteprocesso, foram implementadas trinta

unidades demonstrativas de SAFs nosmunicípios de Juína, Castanheira,Juruena, Aripuanã, Cotriguaçu eColniza, como estratégia de difusãodas ações do BRA/00/G31. As Unida-des Demonstrativas foram monitora-das por meio da ferramenta desenvol-vida e aplicada em parceria com ostécnicos e agricultores da região.

Capacitação agroflorestalForam realizadas pelo Projeto BRA/00/G31 várias oficinas de capacitaçãodos agricultores em SAFs. Acontece-ram em parceria com associaçõeslocais, institutos de pesquisas, centrosde desenvolvimentos e universidades.Em uma parceria com os agricultores-técnicos da Associação de AgricultoresAlternativos (APA), de Ouro Preto (RO),durante as oficinas nos municípios deJuína, Juruena, Cotriguaçu eAripuanã, 250 agricultores foramcapacitados com enfoque para ocultivo das palmáceas: pupunha eaçaí, em sistemas agroflorestais. Umaparceria entre a Ceplac e a Embrapa-RO foi estabelecida com o intuito de

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assessorar e capacitar os 25 técnicoslocais da Empaer e das prefeituras daregião Noroeste. A proposta eraviabilizar assistência técnica com aqualidade necessária para suprir asdemandas das áreas de SAFs dosagricultores do Noroeste.Em outra ação voltada à capacitação,para atender a demanda debeneficiamento da produção depalmito na região, o Projeto investiuna formação de agricultores para omanejo e colheita do palmito, emparceria com a Ajopam. Em 2005, foirealizado em Juína seminário sobre ocultivo de pupunha em SAFs. A açãoregistrou a participação de

comercialização. Todas foramexecutadas visando promover aadoção dos sistemas.

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representantes de instituições detoda a região Noroeste e deempresários interessados nosprodutos dos SAFs. Resultou navenda de 87 mil unidades de palmitode pupunha da região, colhidos nossistemas agroflorestais implantadosdurante os últimos quatro anos pelasAgências Implementadoras doProjeto, para a Carpello Indústria de

• Em uma parceria com a Embrapa do Amazonas foramcapacitados em implantação de SAFs 60 agricultores dosmunicípios de Castanheira e Juruena.

• Em uma parceria com a Ajopam foram capacitados emimplantação de SAF 50 agricultores de Juína que visitaramNova Califórnia (RO) para conhecer a experiência do Reca.

• Seminário do café em SAFs realizado em Aripuanã pormeio de parceria com a Ceplac-MT.

• Seminário de elaboração participativa da ferramenta demonitoramento dos Sistemas Agroflorestais do Projeto, paraser utilizada nas unidades demonstrativas de SAFs. Foramtreinados 25 técnicos do governo do estado e dosmunicípios.

• Seminário para apresentação da ferramenta e resultadosdo monitoramento envolvendo 30 técnicos das agênciasgovernamentais do estado e dos municípios;

• Através de uma parceria entre as prefeituras e a Ceplac,foram capacitados com recursos do Projeto, 280agricultores de Aripuanã, Colniza e Juína. Foram utilizadasas Unidades Demonstrativas de Sistemas Agroflorestais dosagricultores parceiros, como área de treinamento práticopara a implementação e o manejo de SAFs.

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Alimentos (Nunes 2005).

Durante os dez anos de atuação doBRA/00/G31 mais de mil pessoas(entre produtores e técnicos) da regiãoNoroeste de Mato Grosso passarampor seus eventos de formação.

Entre outras atividades ainda nãomencionados estavam:

Em 2007, durante a Oficina deMonitoramento, Avaliação eSistematização do Componente deSistemas Agroflorestais, realizada emmarço na cidade de Juína, Dubois58

(2007), através de trabalhos de grupo,identificou as seguintes demandasrelacionadas ao componente decapacitação: (1) capacitar funcionáriosdas agências bancárias para asoperações de crédito agroflorestal e

cobrar agilidade (articulação paracronogramas que viabilizem osplantios); (2) capacitação direcionadapara associativismo/cooperativismo;(3) capacitar técnicos e lideranças emelaboração e implementação deprojetos (MT Floresta, Pronaf Florestal,FNMA etc.); (4) fortalecer a capacidadede fornecer orientação adequada eacompanhamento referente a todo ociclo produtivo.

58 A pergunta central utilizada por Dubois para levantar as demandas relacionadas à capacitação foi: quais são os aspectos-chave identifica-dos para viabilizar sistemas agroflorestais como sistema de uso da terra?

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A partir das recomendações dasavaliações técnicas, o Projeto passou apromover a implementação daMetodologia de Produtor a Produtor(MPP) como principal forma desocialização do conhecimento geradono marco do BRA/00/G31.

Utilizada há mais de 25 anos noMéxico, a MPP é considerada mais queum método participativo detransferência de experiências econhecimentos. Constitui uma trocade paradigmas que transformaradicalmente opapel dosprodutores e dostécnicos frente aosprocedimentosutilizados, até agoraempregados, queeram, com frequên-cia, verticais.

A troca de experiên-cias ocorre, geral-mente, com a visita

Metodologia deprodutor a produtor

de um grupo de produtores à áreaagroflorestal de um produtor com maisanos de experiências com SAFs. Destaforma, concretiza-se um processo deautoajuda participativo, inovador,criativo, experimental e comunicativo.Ele permite procurar de maneirarecíproca e coletiva, fomentar asustentabilidade do desenvolvimentorural na própria comunidade oupropriedade e, inclusive, abordar poressa via tarefas sociais, políticas eculturais.

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Outros eventos promovidos no marco doscomponentes 1 e 3 do Projeto BRA/00/G31,também beneficiaram aos participantes doComponente Agroflorestal. Foram os seguintes:

Momentos de capacitaçõesagroflorestais em imagens

Arboreto (2005)

Alta Floresta (2006)

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59 O seminário foi organizado pelo MMA (SBF, SEDR, SFB, ICB), MDA (SAF, SDT, Incra), MDS (Saip), Funbio, GTZ, Sebrae, MME (Luz paraTodos) e parceiros regionais, contando com o apoio do MDIC (ABDI), MCT (APL), Mapa (Conab, Embrapa), CEBDS, Chesf, Eletrosul,Eletronorte, Furnas, Itaipu, Senar, ISA e parceiros regionais.60 Foi comercializado castanha-do-brasil, óleo de copaíba, doces de frutas tropicais e o mel de abelhas, levados pela APRVA, Ajopam eAderjur.

Assistência técnica agroflorestalA assistência técnica tem papelfundamental para o sucesso dequalquer projeto que promova aintrodução de nova tecnologia ouforma de uso do solo. Mattos et al.(2001) evidencia a importância daassistência técnica de qualidade parao sucesso na implantação deprogramas inovadores de crédito.Particularmente, deve ocorrer naqueles

em que se pretende aprofundar autilização de técnicas que, apesar deconhecidas, ainda não são praticadasem grande escala, como os SAFs (Mayet al 2003). Segundo os autores, aassistência técnica de qualidade, sebem executada, apoiará o produtor emtodos os momentos de implementação,desde a escolha do terreno maisapropriado, a discussão das espécies

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mais apropriadas a cada caso, oacompanhamento das mudas nosviveiros e sua distribuição no momentocorreto, a implantação da culturapropriamente dita, o acompanhamentodas mudas no campo e a orientaçãodos produtos fitossanitários a seremutilizados, até o momento da colheita,finalizando com os tratos pós-colheita.

A estrutura lógica de assistênciatécnica proposta inicialmente para oComponente Agroflorestal do BRA/00/G31 contava com uma equipecomposta de: um profissional de nívelsuperior (agrônomo ou florestal,

responsável por 150 famílias), umtécnico agrícola para cada município(responsável pelo atendimento a 75famílias), e a participação de dezmonitores locais (agentescomunitários), que seriam osresponsáveis pela identificação dosproblemas a serem resolvidos, pelomonitoramento de quinzepropriedades (com o apoio dostécnicos) e pela interlocução dosprodutores e equipe técnica (May et al2003).Esses monitores fariam parte do grupode quinze produtores e seriamescolhidos pelos próprios agricultores.

Formação de agentes comunitáriosTambém recomendado por Vaz (2004), os agentes comunitários (agricultores-monitores) promovem a participação da comunidade local, facilitam a apropriação ea construção de técnicas, fortalecem a organização local, valorizam o trabalho dacomunidade e aumentam a eficiência e abrangência do trabalho dos técnicos. Osagricultores-monitores são formadores de opinião. Visitam regularmente os agricul-tores e promovem as trocas entre eles. Fazem relatos dessas visitas e auxiliam otrabalho dos técnicos das AIs que dão assistência às UDs e aos outros agricultores.Os agricultores-monitores fazem a ponte entre técnicos e a comunidade, além defazerem a função de canal de apropriação de técnicas pela população local, já quefazem parte da comunidade. O trabalho do grupo deve ser remunerado, masnão deve incentivar um desvio de atividade do agricultor como tal.

A partir da Revisão de 2003, noentanto, com um novo cenário deocupação da região e rápida perda debiodiversidade das florestas peloavanço do desmatamento, uma novaestratégia foi definida para o Projeto,priorizando as parcerias cominstituições locais (prefeituras, Aterestadual, sindicatos e cooperativas),fazendo com que estas, através deCartas de Acordo, se responsabilizas-sem pela produção de mudas e

capacitação em SAFs. Com isso, aEmpaer passou a ser responsável pelaassistência técnica do Projeto.

O problema estava no fato de que aempresa tinha uma equipe técnica61 (eforma de distribuição) distinta aoproposto pelo BRA/00/G31. Alémdisso, tinha a responsabilidade deatender a um número muito maior deprodutores em cada município.

Apesar disso, a empresa se propôs62 a

61 A Empaer tem três engenheiros agrônomos, um engenheiro agrícola, uma assistente social, um administrador de empresas e 11 técnicosem agropecuária no seu quadro de profissionais, atuando na região Noroeste de Mato Grosso. Tem ainda escritórios municipais, todosequipados com computadores, impressora e veículos (sendo dois em Juína, um em Juruena, um em Aripuanã e outro em Cotriguaçu).Dispõe também da estrutura de um laboratório de análise de solo, localizado no município de Várzea Grande (Empaer, 2006).62 A empresa também se propôs a fazer visitas mensais às propriedades rurais, antes, durante e após a implementação dos SAF's, com oacompanhamento, assistência técnica e monitoramento de todas as atividades. Utilizaria formulário próprio, que seria definido em reuniãopara esse fim, levando em conta o termo de referência de cada município para os próximos períodos. Cada produtor rural atendido nesseProjeto seria cadastrado com seus dados sociais. Sua propriedade teria informações ambientais e de produção, além do seugeorreferenciamento. Todos esses elementos estariam disponíveis no relatório parcial e consolidado do Projeto (Empaer, 2006).

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trabalhar nos assentamentos situadosno entorno das Unidades deConservação e das Terras Indígenasdos municípios de Aripuanã,

Castanheira, Cotriguaçu, Juína eJuruena (Empaer, 2006), priorizandoo desenvolvimento tecnológicoparticipativo em SAFs.

Empresa Mato-grossense de Pesquisa,Assistência e Extensão Rural (Empaer)A Empaer surgiu como Acarmat em 1964, passando a Emater em 1977. Em 1992a Empaer se formou da fusão entre a Empa (Empresa Mato-grossense de Pes-quisa Agropecuária), a Emater (Empresa de Assistência Técnica e ExtensãoRural do Estado de Mato Grosso) e a Codeagri (Companhia de DesenvolvimentoAgrícola). É uma sociedade de economia mista, vinculada à Secretaria de Desen-volvimento Rural (Seder), dotada de personalidade jurídica de direito privado,com patrimônio próprio e autonomia administrativa e financeira, revestindo aforma de sociedade anônima. A Empaer tem como missão institucional "promo-ver conhecimento, tecnologia e extensão para o desenvolvimento sustentável domeio rural, com prioridade à agricultura familiar". Em consonância com suamissão, vem desenvolvendo, através de seus escritórios locais, trabalhos como:a) planejamento participativo, promovendo o envolvimento dos beneficiários nasdiscussões, na identificação de prioridades e na definição das atividades a seremdesenvolvidas, considerando as condicionantes técnicas do mercado; b) conser-vação ambiental em áreas de desenvolvimento agrícola, utilizando a microbaciahidrográfica como unidade de planejamento das ações e de integração de esfor-ços na solução de problemas comuns das comunidades envolvidas, visando arecuperação, conservação e uso racional do solo; c) prestação dos serviços deassistência técnica, visando implementar a curto prazo ações voltadas à subsis-tência da família e, a médio prazo, a viabilização da atividade econômica comprocessos de produção inseridos e voltados ao mercado, preferencialmente emprojetos cooperativos integrados, verticalizados, com autogestão incorporadas àdinâmica sustentável; d) organização rural, geração, adaptação, validação etransferência de tecnologia voltada para o atendimento da agricultura familiar; e)desenvolvimento sustentável nas suas dimensões socioeconômica-ecológica,ampliando o espaço de atuação para além da cadeia produtiva (Empaer, 2006).

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O valor contratado pelo Projeto para osmunicípios de Colniza, Cotriguaçu,Juruena, Castanheira, Juína eAripuanã não ascendeu aos R$291.471,00, atingindo um custo médiode R$ 0,17/muda produzida. Algunsmunicípios abriram um cadastro paraque os agricultores apresentassem seuinteresse na implementação dos SAFs,e receberam demandas que superavamaté três vezes a capacidade do acordoestabelecido com o Projeto (Nunes2005).

Em setembro de 2006, contando com aparceria e contrapartida da prefeituramunicipal de Juruena, no viveiro dacidade foram produzidasaproximadamente 200 mil mudas deculturas perenes a mais do que estavaprogramado. Mais da metade delas,

porém, foi de mudas de pupunha. Aampliação na produção de mudasocorreu em razão do apoio daprefeitura, que injetou recursos parapoder atender parte da demandasolicitada pelos produtores locais(SMAMFM-MT). Contudo, destaca-se aimportância da Carta de Acordo, cujaexecução incentivou a demanda peloplantio e, consequentemente, pelaprodução.

Entre as espécies florestais e decultivos perenes produzidas no viveirode Juruena estavam: castanha-do-brasil, jatobá, cacau, mogno, jamelão,cajá, canela, jambo, ingá, cupuaçu,mixirica, abacate, neem, pinha, ata,guaraná, jaca, acerola, pupunha, açaí,graviola, pitanga, araçá-boi, caféGuarani e café Conillon Robusta.

Fomento AgroflorestalEm uma parceria com as prefeiturasde seis municípios, em 2005 o Projetoimplementou 571 ha de sistemasagroflorestais em 270 propriedadesrurais. Desse trabalho resultou aprodução e distribuição de 1.907.657mudas de espécies florestais nativas(caixeta, ipê, castanha-do-brasil,

cedro, jequitibá, figueira, louro-freijó,copaíba, cerejeira, cumbaru, garrote,jambo, ingá, seringueira e outras) e decultivos agrícolas (café, cupuaçu,pupunha, açaí, maracujá, pimenta-do-reino e outras), conforme quadro dedistribuição por municípioapresentado a seguir:

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Durante os dez anos de atuação, o Projeto contribuiu com o desenvolvimentosocioeconômico e a conservação da biodiversidade da região através daimplementação de processos demonstrativos e de formação de políticaspúblicas estaduais, parte dos objetivos dos seus três componentes (1. Áreasprotegidas, 2. Sistemas Agroflorestais e 3. Manejo florestal).

A sinergia existente na execução das atividades entre os componentesdificulta a avaliação da exata participação (limite) de cada um destes nosresultados do Projeto. Um bom exemplo desta situação é o caso dacastanha-do-brasil. O Programa Integrado da Castanha teve foco inicial noincentivo a processos de gestão ambiental em Terras Indígenas e passou aum enfoque mais transversal. Isso, com o desenvolvimento de ações devaloração econômica das áreas de Reserva Legal dos assentamentos com oenriquecimento dos consórcios agroflorestais ou mesmo com a exploraçãodestes PFNM das áreas florestais nativas, como é o caso da Reserva Legalcomunitária do PA Vale do Amanhecer e da área de manejo florestalempresarial da Rohden Lignea, em Juruena.

A proposta do capítulo 7 será apresentar resultados derivados doComponente Agroflorestal.

Colhendo frutos:principais resultados doComponente Agroflorestal

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Fortalecimento dagovernança agroflorestal:formação de redes e parceriasDesde sua formação, os poderespúblicos municipais na região doProjeto vêm enfrentando grandesdesafios administrativos causados pelaausência de infraestrutura até adificuldade de obtenção de mão deobra especializada (May et al. 2003).De acordo com os mesmos autores, osmodelos de ocupação, baseados naexploração predatória dos recursosnaturais geraram um desenvolvimentoconhecido como "explosão edecadência", dificultando ogerenciamento do município, agravadopelos surtos de chegada de novos

migrantes. Por conta disso, cada vezmais, os poderes municipais locaisbuscam alternativas à essa ocupação,percebendo de modo claro anecessidade de viabilização de opçõessustentáveis a longo prazo (May et al.2003).Sensível à problemática, o Projetoprocurou envolver as organizaçõesgovernamentais e não governamentaisem suas atividades, promovendoassim, o fortalecimento institucionallocal. O Componente Agroflorestal doProjeto, direta ou indiretamente,envolveu:

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105As parcerias com as associações debase foram essenciais para odesempenho da iniciativa. Ressalta-se,por exemplo, o fortalecimento dasassociações, principalmente nosmunicípios como Juruena (Aderjur,Amca e Coopavam) e Juína (Ajopam,Coopropam e Cooperjuafa), que têminfluência direta no desenvolvimentodo mercado local e foi um importantepasso para garantir uma estrutura deprodução e comercialização coletiva,visto que a maioria dessascooperativas trabalha com produtosregionais. A Ajopam, por exemplo, teminfraestrutura montada (casa do mel,armazém para café, agroindústria depalmito, salão para curso decapacitação e qualificação dosassociados), e apoio do BRA/00/G31para a certificação orgânica do palmitoda pupunheira. Recentemente, buscaa regulamentação do Sistema deInspeção Federal (SIF) para a casa domel.

Os desdobramentos a partir daampliação de parcerias incluíram osprocessos de formação (cursos paraimplantação e manejo de SAFs –

Embrapa Manaus); a participação empublicações (Icraf/Embrapa); ascapacitações em SAFs e as açõessuportadas pelo Projeto. Envolvendo aEmpaer-MT e secretarias deagricultura municipais, viabilizaramatendimento com assistência técnica a400 famílias dos assentamentos GlebaIracema, Vale do Amanhecer, NovaCotriguaçu, Conselvan, Lontra, RioBranco e Puraquê nos municípios deJuína, Juruena, Cotriguaçu eAripuanã.

Destacam-se também as parceriasrealizadas com empresas locais.Alguns empresários do ramomadeireiro e pecuário, cujaspropriedades estão localizadas noentorno do Rio Juruena e foramadquiridas com áreas jádesflorestadas, também foramparceiros. Conscientes de que osrecursos naturais precisavam serpreservados, eles colaboraram cominsumos (madeiramento paracanteiros, encanamentos, caixad'água) para a ampliação emanutenção da estrutura dos viveiros.Em troca, receberam mudas florestais

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produzidas pelo Projeto para recuperare enriquecer matas ciliares em locaisdesflorestados e para instalação decinturão verde em suas propriedades.As parcerias com a iniciativa privada ea obtenção de recursos federais(FNMA) permitiram que se mantivessea assistência técnica e aimplementação de SAFs nosmunicípios de Juína, Castanheira,Aripuanã, Colniza, Cotriguaçu eJuruena. Também viabilizaram aprodução de 100 mil mudas deespécies agroflorestais, para arecuperação de áreas degradadas,através da implementação de SAFs. Naregião do BRA/00/G31, mais de 1,5milhões de mudas foram produzidas, apartir de 2007, sem nenhum apoiofinanceiro direto do Projeto. A Ceplacmanteve a distribuição de sementes decacau e de cupuaçu, e tambématividades de capacitação deagricultores e técnicos para aimplementação de SAFs. As empresas-âncora que participam do programaestadual de Arranjos ProdutivosLocais, com particular ênfase naprodução e processamento decastanha-do-brasil e de palmito depupunha, representam importantesparceiros recentes nesse caminhovoltado à implantação de sistemasagroflorestais comerciais. Cafeicultoresexperientes também têm obtido êxitoem responder aos padrões de consumomais exigentes do mercado de cafésespeciais. (Vivan et. al 2007). Foramconvidados a Conab, a CarpelloIndústria de Alimentos, a Mitsui e oSebrae para articular a comerciali-zação dos produtos dos SAFs.

Entre outras experiências que tiveram

sinergia com o ComponenteAgroflorestal da iniciativa na regiãoNoroeste, destaca-se o Proambiente(Ajopam/MDA), Padic (Aderjur), Ates(Empaer-Ajopam/Incra), Conab(Ajopam), Consórcio dos Municípios doVale do Juruena (MMA/Empaer,Seder, Seplanex e prefeituras),Biodiesel (UFMT/Eletronorte),Território da Cidadania do Vale doJuruena (MDA, prefeituras), as quais,juntas, conferiram maior êxito àsações de todos esses programas.

Houve também parcerias fora domarco do Componente Agroflorestal,mas que o beneficiaram diretamente.A Associação do Povo IndígenaRikbatsa (Assirik) e Associação deMulheres Cantinho da Amazônia(Amca) estabeleceram uma parceria nosentido de oferecer a produção decastanha das Terras IndígenasErikbatsa, Japuíra e Escondido para afabricação de biscoitos, no âmbito doProjeto Quintais de Carbono, ainda emanálise de aprovação de recurso pelaPetrobras.

Como resultado da integração deatividades com outros programasdesenvolvidos na região, foi criado oConselho Regional de DesenvolvimentoRural Sustentável do Noroeste de MatoGrosso, com representatividade dopoder público de seis municípios,envolvendo todas as secretariasmunicipais de agricultura. Tratou-sede uma iniciativa voltada para aintegração das ações de todos osparceiros na região, levando para aesfera dos governos estadual e federal,as demandas regionais que sãosinérgicas aos objetivos do ProjetoBRA/00/G31 (Nunes 2005).

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Sinergismo com outrosprojetos e programasAs parcerias com organizaçõesgovernamentais e não governamentaisresultaram na formulação e execuçãodos seguintes projetos apoiados peloBRA/00/G31:

Projetos emJuruenaIniciativas que foram desenvolvidasno município:

• Projeto de Gestão AmbientalIntegrado do Noroeste de MatoGrosso (PGAI);• Projeto de Manejo FlorestalSustentável da Rohden IndústriaLígnea;• Programa de Apoio para oDesenvolvimento da IniciativaComunitária (Padic);• Centro ExperimentalAgrosilvopastoril Dr. Ivo Pereira deCamargo;• Projeto Poço de Carbono Peugeot;• Projeto Fogo: A AmazôniaEncontrando Soluções;• Programa de CapacitaçãoAmbiental (PCA);• Projeto Rede Sementes daAmazônia Meridional;• Agenda 21 Local63 – JuruenaConstruindo a Agenda 21;• Projeto "Carbon and NutrientStocks and Regrowth in ReducedImpact and Conventionally LoggedForests and Settlements in NW Mato

Grosso, Brasil LBA/Nasa/UFMT;• Projeto Poço de Carbono Juruena –Aderjur/Petrobras.

Além dessas realizações, destacam-seoutras propostas não aprovadas, masque também fazem parte dasatividades apoiadas pelo BRA/00/G31. Entre elas, destaca-se o"Quintais de Carbono", projetoapresentado pela Associação deMulheres Cantinho da Amazônia(Amca) ao edital Petrobras Ambiental,que tem como objetivo promover ointercâmbio de experiências para acapacitação de lideranças femininas,implementação de quintaisagroflorestais e instalação de umafábrica para produção de biscoitos decastanha-do-brasil.

63 A Agenda 21 Local do município de Juruena foi aprovada no FNMA em 2003 e conveniada em dezembro de 2005. Os recursos são doSPRN e a prefeitura entrou com contrapartida em torno de 10% do valor do projeto. A iniciativa realizou, entre outras atividades, ações deestruturação, que beneficiaram a sustentabilidade ambiental do município, e de desenvolvimento sustentável da agricultura familiar rural.

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Projetos em Aripuanã

Iniciativas desenvolvidas e/ou emdesenvolvimento na área ambiental domunicípio:

• Projeto Agroflorestal em ConsórcioAdensado (Paca);• Programa de Apoio Direto aIniciativas Comunitárias (Padic);• Programa de Apoio aoDesenvolvimento InstitucionalSustentável (Padis);• Programa de QualificaçãoProfissional em DesenvolvimentoSustentável; entre outros programasde qualificação, produção,agroindustrialização e treinamentoprofissional.• Em 2005 a Ajopam coordenava aimplementação do Proambiente(Programa de DesenvolvimentoSocioambiental da ProduçãoFamiliar Rural na Amazônia), no

qual foram elaborados até março de2005, 300 Planos de Utilização (PU's)das Unidades de Produção Familiar nomunicípio de Juína.Além desses projetos aprovados, ogoverno estadual criou um programachamado MT Regional, que cria polosde desenvolvimento no interior deMato Grosso, gerando emprego, rendae potencializando especificidadesregionais. Através da Parceria PúblicoPrivada (PPP), uma empresa-âncoraavaliza o financiamento dedeterminada cadeia produtiva,escolhida pela própria região. Por meiodesse programa, o governo comprouas sete toneladas de sementes depupunha da Ajopam, e a prefeitura deJuína comprou mais duas toneladas.O contingente foi cedido para aprópria Ajopam distribuir, em 2008,aos agricultores interessados noplantio. Isso foi considerado um resul-tado importante para o início dacolaboração entre a entidade e a pre-feitura de Juína. O MT Regionaldefiniu de forma participativa, comocadeias produtivas para o Noroeste, ocultivo de café e da pupunha emconsórcio com espécies madeiráveis, oreflorestamento, a apicultura, o leite, eo ecoturismo. Dessa maneira R$ 3milhões estiveram disponíveis paraestes agricultores acessarem no Bancodo Brasil. Técnicos da Empaer e daAjopam apoiavam a elaboração depropostas.

Projeto Manejo Integrado deMicrobacias do Aripuanã: realizado emparceria entre Empaer, Sema Aripuanãe o MDA, visou o levantamento e aconservação das microbaciasexistentes no município. Enquantoisso, o Projeto desenvolveu umtrabalho de sensibilização dosprodutores que estão se instalando emaglomerados rurais recentes, quanto àpreservação e manutenção dasreservas legais e proporcionando novas

Projetos em Juína

alternativas econômicas a essesprodutores, diminuindo a abertura denovas áreas de floresta.

Conjuntamente ao trabalho desensibilização foram distribuídas eplantadas mudas frutíferas eessências florestais para os produtoresrurais, sendo que no ano de 2003 e2004 foram distribuídas em torno de350 mil mudas produzidas no viveiromunicipal.

Fruto da pupunha,espécie explorada no

Projeto em Juína

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Projetos aprovados no Fundo Nacionaldo Meio AmbienteOs intercâmbios entre os agricultoresinovadores criaram a base de umarede de troca de experiências e deaperfeiçoamento progressivo dos SAFs.Como indicador de sucesso nacapacitação para geração e gestão deprojetos, tal processo tem um saldo de

mais de R$ 3 milhões em recursos afundo perdido aprovados junto aoFNMA, por meio de uma iniciativaintegrada do Projeto e seus parceirosda região, entre 2008 e 2011, para aformação de agentes multiplicadores,assistência técnica e extensão rural.

Com recursos doados pelo MDA, oProjeto Implementação de viveiro eimplantação de mudas auxiliou nacontinuidade das atividades que foraminiciadas com o PGAI e as Cartas deAcordo/2003/2004/2005. Tambématendeu outras necessidades dosmunicípios (Cotriguaçu, Aripuanã eCastanheira). Fez a ampliação e aconstrução do novo viveiro e aprodução de mudas de diversasespécies para distribuir aos produtoreslocais. Foi elaborado conforme o editaldo Pronaf Infraestrutura, cuja meta édesenvolver ações que integralizem

regionalmente os resultadosalcançados.

Como resultados dos projetos listadose descritos, de 50 ha em 2000, osSAFs passaram a ocupar cerca de1.400 ha em 2009. O processo demonitoramento participativosistematizou informações de 30 UDsem 2007 e identificou que 55% dasespécies mencionadas como presentesnos SAFs eram nativas.

Em 11 assentamentos, beneficiando800 famílias, em seis municípios noentorno de áreas protegidas, a

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pupunheira foi cultivada como aprincipal espécie-chave, sendocomercializada a produção de 350 milunidades de palmito. Foram captadosUS$ 2,6 milhões por doze projetoscomplementares desenvolvidos em seismunicípios no período de 2007 a

2011, coordenados por onzeorganizações parceiras locais, entre asquais cinco prefeituras municipais,duas Associações Indígenas (Zoró,Rikbaktsa), três associações deagricultores e uma associação deassentados (Vivan 2009).

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Promovendo a comercializaçãoe a agregação de valordos produtos dos SAFsAs atividadesvinculadas aosuporte àcomercialização eà agregação devalor dosprodutos dosSAFs são a pontafinal do esforçopara o estabeleci-mento de umprojeto exitoso.Elas sãofundamentaispara garantirsustentabilidadesocial, econômicae ambiental àiniciativa. As agênciasimplementadoras do Projeto buscaramevitar erros cometidos por outrasações, em que a boa conduçãoagronômica não esteve associada àrepercussão econômica para osprodutores em razão dos fracassoscomerciais. Os problemas foramcausados, principalmente, pelaescolha inadequada dos componentesa serem comercializados. O processotambém gera ofrequente desânimodos produtores quenão recebem pelavenda dos produtos ouse deparam com afalta de mercado paraoutros.

A definição dasespécies propostas

para cada arranjo de SAFs foideterminada tendo em consideraçãoaspectos comerciais, como obeneficiamento pós-colheita eindustrialização, que além de agregarrenda, reduz riscos vinculados aosetor produtivo, como as condiçõesclimáticas e de escoamento dosprodutos. A seguir são apresentadasas principais contribuições referentesà comercialização e à agregação de

valor de espécies (carro-chefe) agroflorestais,realizadas por parte doComponenteAgroflorestal do Projeto.

CastanhaO BRA/00/G31 criou eimplementou o

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64 Grande parte do pessoal que coleta castanha está envolvida no Componente SAFs, principalmente em Juruena. Também uma aldeiaCinta-larga, que coleta castanha, participa do Componente SAF em Aripuanã, assim como dois grupos de agricultores de Cotriguaçu.65 O Programa de Aquisição Antecipada de produtos agropecuários, executado por intermédio da Conab, permite a viabilidade financeira paradesencadear o processo de coleta da castanha no início da safra (cobre os custos iniciais da coleta). Há dois subprogramas de interessepara essas comunidades, um que envolve a compra antecipada dos produtos agrícolas com um teto máximo de R$ 2.500,00 por família, eoutro que trabalha com sistema de compra com doação simultânea da produção para uma entidade filantrópica do município.66 Foram realizadas reuniões com representantes de associações de agricultores, de organizações da sociedade civil da área de saúde e deeducação, além de autoridades do poder público municipal, em cinco municípios da região Noroeste.

Programa Integrado da Castanha (PIC)com foco inicial no incentivo aprocessos de gestãoambiental em TerrasIndígenas e de valoraçãoeconômica das áreas deReserva Legal dosassentamentos e naResex Guariba Roosevelt.Paralelamente, a Aderjurconstruiu em Juruena,com recurso do Incra,uma indústria debeneficiamento decastanha no PA Vale doAmanhecer. Foi equipadacom secador rotativo,quebradores decastanha, máquina paraembalagem à vácuo etc.O Projeto apoiou ainiciativa por meio dacertificação orgânica da castanha pelogrupo Ecocert, assim como, com

algumas das áreas64 de coleta. Comoação complementar, também apoiou a

Ajopam, comoinstituição executora doPrograma65 de Aquisiçãode Alimentos da Conabna região Noroeste,divulgando66 a propostade aquisição de produtosda agricultura familiar.

Importantesdesdobramentosocorreram na região apartir da implementaçãodos dois programas.

O sucesso do manejo dacastanha influenciou, em2008, a ação pararecuperação de áreasdegradadas (100ha)neste PA, no valor de R$

300 mil, sendo R$ 150 mil para aimplantação da fábrica de castanha

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(seleção, secagem, beneficiamento eembalagem).

A fábrica passou a operar em maio de2008. De um estoque de 50 toneladasbeneficiadas em 2009, 32 foramadquiridas da Terra IndígenaRikbaktsa. A produção de todos osgrupos envolvidos na coleta em 2009no Noroeste foi de 200 t. Áreasindividuais (lotes familiares)registraram plantios de até 200indivíduos de castanha, sendo que1.000 Kg de sementes de castanha-do-brasil foram plantados em viveiros porincentivo do Projeto Poço de CarbonoJuruena.A ação conjunta do Projeto e daConab, por meio de seu programa decompra antecipada de produtos,permitiu que o preço da castanhasubisse de R$ 0,30/Kg para R$ 1,20/Kg entre 2003 e 2004, chegando aopico de R$ 2,20/Kg em 2007. Já o

volume coletado no âmbito do Projetopassou de 30 toneladas em 2004 para200 em 2008-2009.

SeringueiraA empresa francesa Michelin tambémfirmou um convênio com o governo doestado de Mato Grosso para ser aempresa-âncora que garantirá acompra do látex produzido nosplantios a serem financiados peloBanco do Brasil, via programa DRS. Aempresa vem fomentando novosplantios e compra do látex de novasáreas, como parte de uma estratégiapara suprir a demanda de borrachabrasileira que atualmente só atende30% do mercado nacional. Com oenvelhecimento e a decadência dosseringais cultivados na Malásia, oaquecimento global e a necessidadecada vez mais evidente de diminuir ouso do petróleo, o mercado daborracha possivelmente deverá seexpandir.

Na região, os índios da etniaRikbaktsa, que têm longa experiênciana extração de látex de seringaisnativos, juntamente com seringueirosda Resex Guariba-Roosevelt foram osprimeiros beneficiados pelos acordos.

Além da produção a partir dosseringais nativos, o acordo foiorientado a melhorar a produtividadedos plantios da região e a expandirnovas áreas utilizando clones de altaprodutividade, fornecidos pelaempresa. As novas áreas foramimplantadas em arranjosagroflorestais (exemplo: seringueira Xpupunheira X pimenta-do-reino)67,repetindo a estratégia realizada pelaMichelin na região da Bahia(principalmente, consórcios seringa-pupunheira). Tais arranjos contribuempara melhorar a competitividade dapupunheira na região Noroeste numhorizonte estimado de 10-15 anos.

67 Até a seringueira entrar em produção, é possível obter, ao menos, três safras de palmito de pupunha. Além disso, a pimenta-do-reino aceitaa seringueira jovem como tutor vivo nos primeiros anos de cultivo do seringal.

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PalmitoPara a comercialização do palmitocultivado nos SAFs da região, o Projetoapoiou os municípiosno georreferenciamentoe na quantificação dasáreas em que foramplantadas as mudasdistribuídas, o quepermitiu o rápidolevantamento dopotencial de produção.Esse processo auxiliouna regularizaçãodestas áreas junto aSema-MT, órgãoresponsável pelaemissão do documentode autorização detransporte desseproduto. Forambeneficiadas com umfinanciamento via DRS300 famílias emAripuanã e Cotriguaçu, com foco naprodução de palmito de pupunha emSAFs.A Carpello SA foi definida noConsórcio de Municípios do Vale doJuruena como empresa-âncora noarranjo produtivo do Programa MTRegional e a Ajopam concluiu uma

fábrica para processamento depalmitos em Juína, com capacidadepara processar a produção do palmitode toda a região, valorizando o

produto local, gerandoemprego e renda paraos agricultores. Aempresa Carpelo SAadquiriu toda aprodução durante osprimeiros anos.Com apoio eenvolvimento direto daequipe do Projeto,Inpa, Empaer e UFMTcolaboraram paragerar as diretrizestécnicas para apupunha cultivada.Um decreto-lei foidefinido, disciplinandoplantio, colheita,transporte e comérciode produtos florestaisde espécies exóticas e

nativas. Uma Portaria com validadeaté dezembro de 2009, isentou delicenciamento ambiental as áreas compupunha cultivada, regulandoprodução e comércio, e caracterizandouma incursão das instituiçõesenvolvidas numa prática institucionalde Manejo Adaptativo. A definição de

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período de tempo de validade da leiadaptativa deverá permitir que aspropriedades envolvidas eidentificadas como adotando SAFs econsórcios florestais mistos, estejamregistradas no CAR (CadastroAmbiental Rural – MT-Legal) e

CacauEssa espécie foi introduzidanos PAs e se firmou comoatividade importante narenda dos SAFs. Em 2006 aCeplac promoveutreinamentos dosagricultores para ainstalação de viveirosrústicos e individuais para aprodução de mudas decacau, por meio dadistribuição de 200 mil sementes devariedades melhoradas, adaptadas àregião e mais tolerantes às doenças(Nunes 2005).

CaféCafezais sombreados em PAs a maisde 60 Km do centro urbano deCotriguaçu, em consórcio com cacau,pupunha e madeiras produziram (só

legalizadas.A elaboração das diretrizes legais paraa pupunha cultivada é umaexperiência acumulada que poderáajudar a Sema/MT no caso damadeira das pequenas áreas deroças68.

para o café) uma média de 1.000 Kg/ha e até R$ 3.000/ha/ano (noconjunto de produtos) (Vivan 2009).

Em Juína, um cafezal orgânicoirrigado na periferia da cidaderegistrou até 3.418 Kg/ha e R$13.000/ha/ano. Atualmente, asassociações locais projetaminvestimentos em condições paramelhor secagem e aquisição demáquinas para despolpar o produto.

68 Este processo deverá subsidiar uma legislação experimental e conduzi-la como um piloto que aumente o volume passível de ser estocado(dos 2m³ atuais), viabilizando a comercialização. Esta possibilidade poderá envolver o Incra, laudo técnico para emissão de nota avulsa –GF4 (Guia Florestal), a Receita Estadual (Sefaz).

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Avaliando o potencial de introduçãode SAFs em Reserva Legal

BabaçuNa região da fronteira com os estadosde Rondônia e Amazonas, municípiosde Aripuanã, Rondolândia e Colniza,existem extensas áreas de babaçuaisnativos que são parte do subdossel deflorestas ou dispersas em pastagens.Sua conservação é considerada umaespécie-chave para a fauna. Porém,babaçu é cortado para palmitopromovendo a limpeza de pastos. Obabaçu possui um grande potencialpara o manejo e associação comoutras espécies. Entretanto, somenteno município de Aripuanã há umaúnica experiência incentivada peloProjeto, na qual um grupo de mulheresfoi capacitado e recebeu equipamentospara produzir farinha de babaçu, queé consumida por algumas escolas do

município. Nas demais cidades aprodução é inexpressiva.A viabilização do mercado da farinhacontribui para a formação de redessociais e técnicas. Considerando essacondição, o MDA/SDS financiou aconstrução de uma pequena fábrica noassentamento, dentro dos padrõesexigidos pela vigilância sanitária. Porsua parte, a equipe do Projeto BRA/00/G31 elaborou a proposta para oMDA e promoveu capacitações paramelhorar a qualidade do produto, eanálises da farinha pela UFMT.Multiplicar as experiências obtidas apartir das escolas de Aripuanã podeser estratégico para que o governo doestado negocie com a Secretaria deEducação a aquisição desta produçãoaté para outras regiões de MatoGrosso.

O uso de recursos naturais e, dentreeles, as atividades agroflorestais esuas atividades inerentes, estásubordinado a leis e a outras normasimperativas que governam suas açõese que implicam obrigação deobediência e sanção em casos detransgressão (MMA, 2006). De acordocom o órgão, existem diversas leis eoutros instrumentos infralegais queincidem sobre atividades silvoculturaise agrárias, desde a conservação dossolos, uso de recursos hídricos,proteção da fauna, uso etransformação da cobertura vegetal,produção de sementes e mudas,transporte e comercialização dosprodutos florestais (MMA, 2006). Oentendimento e o respeito deempreendedores a essas normas, bemcomo suas aplicações pelos agentesoutorgados, em muitos casos, têm sidoapontados como fatores inibidores daampliação de atividades agroflorestais.

O Código Florestal determina que 80%da área de cada propriedade rurallocalizada em área de floresta devem

ser destinados para constituir a suarespectiva Reserva Legal (RL). Emborasomente 16% do espaço territorial doNoroeste de Mato Grosso tivessem sidodesmatados até 2005, quandodescontadas as áreas protegidas (UCse TIs), toda a região passa a exibir umdéficit de Reserva Legal, tomando asáreas municipais como base dereferência (Vivan et al., 2007).

Os sistemas agroflorestais permitemaos agricultores familiares enfrentar osdesafios da recuperação e do usosustentável das reservas legais emassentamentos rurais, o quepossibilitaria o licenciamentoambiental dessas áreas. Baseado nasamostragens de 60 parcelaspermanentes, Vivan (2010) propõe queos sistemas de "sombreamento decafé" e "SAFs com dossel abertoextensivo" podem ser utilizados pararecuperar 100% do passivo de RL emáreas entre 5 a 12ha, uma vez quecumpram os requisitos de incorporarpelo menos 50% de espécies nativas eacima de 30% de cobertura de copas.

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Sistemas de "renques consorciadospara recuperar áreas commonocultivos perenes", "SAFs dosselaberto intensivo" e "Silvopastoril comespécies nativas" podem ser

utilizados apenas de formacomplementar entre si e com osdemais em recuperação de RL, semprerespeitando os parâmetros exigidos, jácitados.

O potencial madeireiro dos SAFsEstima-se que hoje existam cerca de1400 ha de SAFs com espéciesarbóreas nativas implantadas comoparte das atividades do Projeto.Algumas destas áreas, implantadas hámais de nove anos, possuem umestoque disponível de madeira queoscila entre 25 e 77m³/ha (Vivan2009). O desdobramento da madeiraestocada nesse locais pode representaruma significativa fonte de renda paraos agricultores, principalmente, se forrealizado com uma serraria portátil.

Os produtores, entretanto, devemcontar com o licenciamento dessamadeira pela Sema-MT. A dificuldadede serrar as toras em meio aos SAFsocorre porque comumente estãocobertos pelos outros cultivosconsorciados, sem muito espaço parao desenvolvimento dos trabalhos.

A vantagem de utilizar uma serrariaportátil é que mesmo com poucoespaço é possível o processamento damadeira de forma satisfatória, pois oequipamento pode ser deslocado sobreas toras caídas. Para operacionalizar,no entanto, faz-se necessário oconstante deslocamento não só domaquinário, mas, em muitas vezes,dos esforços dos operadores paramanejarem as toras que serãoprocessadas.

Para avaliar o capital estocado emmadeira nos SAFs implementados naregião do Projeto, Graffin (2010)realizou um recente estudo(quantitativo e qualitativo) dospotenciais produtivo e econômico daatividade madeireira. O trabalhoavaliou a eficiência econômica daserraria portátil Lucas Mill avaliada

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em R$ 36 mil (fora o transporte). Ocusto de funcionamento da Lucas Millatinge aproximadamente R$ 20/m³serrado (R$ 12 valor da gasolina + R$8 do desgaste do equipamento – valorsugerido pelo fabricante).

O estudo sobre o desdobramento foirealizado sobre oito árvores de teca(Tectonia grandis), plantadasinicialmente com a função de quebra-vento e sombreamento para asfrutíferas, atualmente consorciadascom hortaliças (chuchu69). As mediçõesforam realizadas na propriedade de 12ha do produtor Dirceu Dezan, situadaa 3 Km do centro de Juína. Em toda apropriedade existem cerca de 140árvores da espécie, com idade de até12 anos.

Os resultados das mediçõesapresentaram um volume de 7,55 m³para as oito árvores. Por serem plantas

69 A venda dos frutos dos chuchuzeiros representa, na atualidade, uma das principais fontes de renda da propriedade, o que estabelece queas árvores devam ser derrubadas e processadas sem atingir esses cultivos. Existe uma distância média de 6 m (rua) entre os chuchuzeiros.As árvores estão plantadas no meio desta rua.70 O uso do equipamento com árvores de diâmetro inferior a 150 cm pode ser otimizado se a quantidade de toras for expressiva. Existe nomercado nacional, porém, serrarias portáteis mais indicadas para esse tipo de árvore, uma delas é a Ecoserra-Fita, equipamento cujo preçode venda é, atualmente, de aproximadamente R$ 18 mil. Suas características são: peso de cerca de 480 Kg, a montagem pode serprocessada em um hora e desmontagem em 15 minutos, com rendimento excepcional para toras de baixos diâmetros, se comparado àLucas Mill.71 A circunferência medida na altura de 1,3 m decresce em torno de 40% ao fim da altura comercial, significando que as últimas toras, querepresentam a ponta onde começa a abertura dos galhos, tinham em média 0,80 cm de circunferência.

jovens, a média do rendimento sobre obeneficiamento das árvores foi de48%, com uma variação de 32-72%.O resultado assegura os parâmetrossugeridos pelo fabricante (40-70% derendimento).A média dos resultados para o volumecomercial da madeira serrada de 0,45m³/árvore representa menos dametade do volume total (0,96 m³)calculado a partir do CAP e da alturacomercial. Esta diferença está ligadaao material residual (serragem, casca,partes da tora com defeitos) e naprópria qualidade de corte da serrariaLucas Mill, que não conseguiu oferecerrendimento econômico satisfatório(m³/dia) para toras inferiores70 a 1,5 mde CAP. Com o corte, a tora vaificando mais leve e começa a correrjunto com a serra, dificultando aoperação e baixando oaproveitamento71.

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Para desdobramento das oito árvoresde teca foram gastos cerca de R$3.188. Os valores são detalhados noquadro a seguir. O que encareceu oprocesso de beneficiamento pelaserraria, entre outros, foi o valor pagopara a empreiteira cortar as árvores

Fonte: Graffin (2010)* Na análise econômica, o custo do transporte e a operação de poda e desdobramento dasárvores são itens fora do comum, mesmo assim a análise econômica do experimentomostra um lucro.

Se as árvores fossem vendidas em pé,o produtor receberia cerca de R$ 300/árvore72, totalizando R$ 2.400. Casovenda os 2,46 m³ de madeirabeneficiada a R$ 2.500/m³ (valorcomercializado na região)73, ganhariaR$ 6.838. Este valor, menos o gastocom o processo de beneficiamento,resultaria em lucro de R$ 3.650, ouseja, R$ 456,2/árvore. Isso significaque o produtor teria uma agregação devalor de cerca de 50% a mais sobre opreço de venda da árvore em pé.

O beneficiamento das árvores de tecacom a Lucas Mill rendeu um volumede 3,20 m³ em 5 dias (4-5 horas/dia, oque resultaria em 3 dias completos) detrabalho. Isso determina umaprodutividade média de 1,06 m³/dia(3,20 m³/3 dias completos). Emtrabalhos sobre o desempenho daLucas Mill, o rendimento médio podechegar a 4 m³/dia (tábuas).

O resultado inferior alcançado nesseestudo foi condicionado ao tempo

com o sistema de poda por suspensão(uso de roldanas e cordas, para adescida de galhos um a um, cujo obje-tivo é não prejudicar o cultivo consor-ciado), o preço pago para o transporteda serraria e a demora no processo depreparo das toras para serragem.

72 Valor de compra oferecido pela empresa Berneck.73 Valor de venda da Berneck.

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gasto com as atividades de preparodas toras (poda, derrubada, corte,separação e organização do materiallenhoso e folhas das árvores) exigidopara a pesquisa e, localização doprocessamento(pouco espaçoentre oschuchuzeiros parao processo).

Isto mostraclaramente adificuldade de seutilizar dadosbrutos deexperimentos,paraempreendimentosde maior escala.

Graffin (2010) considera positiva arentabilidade econômica da serrariaportátil Lucas Mill como fator deagregação de valor aos produtosflorestais oriundos dos SAFs. Pode ser,entretanto, melhorada se utilizado umequipamento mais indicado para obeneficiamento de árvores com baixodiâmetro (p.e. árvores de desbastes).

Do ponto de vista ecológico, autilização da serraria portátilpossibilitou o corte e o deslocamentosomente do material que será serradoe utilizado, possibilitando que o

restante da árvore (resíduos) fique nolocal de origem, favorecendo amicrofauna, solos, e a presença dafauna local, pois inúmeros animaisutilizam os restos das árvores como

abrigo, ninho ealimento indireto.

Após o trabalhode campo, Graffin(2010) destaca afalta deplanejamento nosconsórcios paraum maioraproveitamentoda madeira. Aautora considerafundamentalplanejar o ciclo

de desbastes e corte final das árvores,em concordância com o ciclo dasculturas consorciadas, de modo quequando for efetuado o corte destas,não haja cultivo em fase produtiva nasproximidades.A autora recomenda a produtoresformar uma cooperativa debeneficiamento e venda direta domaterial lenhoso, pois, comequipamento adequado as perdas sereduziriam enormemente e orendimento econômico aumentariabastante, tornando o negócio emrentável e sustentável.

Fonte: Graffin (2010)

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Desafios para aproveitamentode madeira desvitalizadaNa região Noroeste mato-grossense,que compõe o arco do desmatamento,existe grande quantidade de árvoresmortas oriundas de processos deabertura de floresta para formação deáreas agrícolas ou de pastagem. Parteda madeira encontrada é remanes-cente das árvores que foram deixadasem decorrência da proibição do cortede algumas espécies. Com o passar dotempo, foram atingidas pelos inúmerosincêndios e acabaram morrendo ecaindo. São ainda espécies que têm amadeira extremamente resistente aofogo e às intempéries. Mesmoderrubadas no processo de abertura edepois de queimadas, ainda possuemsignificativo volume remanescente.Também existem árvores deixadaspelos madeireiros na época daexploração florestal.

A utilização de madeira desvitalizadadisponível em pastos e roçadosantigos, para obras internas, reduz ademanda em novas áreas e desperta ointeresse pelo manejo madeireiro.

Estima-se que na região do Projetoexiste suficiente estoque de madeiracaída nas pastagens para abastecerpor mais de dois anos toda a produçãolocal de madeira. Além disso, tantoesse prazo quanto a madeira, dariamfôlego aos envolvidos no manejoflorestal empresarial (empresas einstituições governamentais) pararegularizarem sua atividade semperder mercado.

Para avaliar o potencial de madeiradesvitalizada da região, desde 2005 foiadquirida pelo Projeto uma serrariaportátil. Também foi instalado no PAVale do Amanhecer um piloto para usointerno da madeira. Para utilização daserraria foi constituído um ConselhoComunitário e estabelecido acordo deuso comunitário, elaboradoparticipativamente, com regrasclaramente definidas, sendo oconselho responsável pelogerenciamento da serraria. Nessetrabalho, cada uma das 250 famíliasda comunidade tinha direito de uso damáquina por dois dias durante o ano.Um cronograma de rotatividade édefinido no início de cada ano atravésde sorteio, que ordenaria o roteiro decaminhamento da serraria entre aspropriedades do assentamento. Comoo estatuto definia que a serrariatrabalharia apenas com madeiradesvitalizada e para consumo internode cada propriedade, uma vez que, oassentamento não tem licenciamentoambiental e, portanto, não podetransportar madeira na estrada, foramconstruídas centenas de casas,galpões de armazenamento daprodução, galinheiros, pocilgas,cercas, currais e até mobília para asmoradias. Como resultados dainiciativa, foram definidos parâmetrosde custo e rendimento, além dehabilitação dos assentados paramanejo e operação do equipamento.Dos 34 m³ de madeira desvitalizada emroçados antigos e pastagens, 47%resultaram de castanheira. Isto estárelacionado ao enorme volume de cadaindivíduo da espécie e à suaresistência ao apodrecimento e até aofogo. Como o corte da espécie é

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proibido por lei, sua venda não podeser cogitada, a menos que oriunda defloresta plantada. As demais espéciesencontradas e identificadas nosinventários de processamento, sãotambém de madeiras duras (densidadeespecífica superior a 0,6 g/cm³). Amaior parte (37%) é de garrote ecupiúba, seguidas de pequi e angelimamargo (11,3%) e, com menorocorrência, itaúba, garapeira ecerejeira (4,7%) (Vivan 2009).

O trabalho se tornou referência nomunicípio de Juruena e resultou naaquisição de mais duas serrariasportáteis, que foram compradas porempresários para aproveitamento demadeira desvitalizada em áreas de

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pastagens. Recentemente, mais umamáquina foi adquirida para uso de umprojeto de continuidade, Poço deCarbono Juruena, e está envolvendo260 agricultores familiares de outrascomunidades do município, serrando4 m³ de madeira desvitalizada/dia.

Dando continuidade à ação, Graffin(2010) realizou um estudo com oaproveitamento da madeira serradaproveniente de 12 árvores nativas,mortas há mais de 5 anos. Elas seencontravam em meio aos SAFs e emáreas de pastagem da propriedade doagricultor Luís Vieira do Nascimento,localizada a cerca de 65 Km da sededo município de Cotriguaçu, noassentamento Nova Cotriguaçu.

74 Madeira que possui valor físico-mecânico inferior, porém é comercializada no mercado local como madeira de segunda (madeira deaproveitamento).

Figura 22. Esquema da localização das árvores desvitalizadas em SAFs,propriedade do agricultor Luís Nascimento, Assentamento Nova Cotriguaçu.Fonte: Graffin 2010

A madeira serrada na propriedaderendeu um volume de 42,5 m³ (56% deaproveitamento dos 87,4 m³inventariados), sendo, 31,4 m³ demadeira comercial e o restante, cercade 26%, foi classificado como madeirapara aproveitamento74.

O trabalho foi realizado em 16 dias,com um operador e três ajudantesque, treinados para operar o

equipamento, tiveram excelentedesempenho. O rendimento médio damadeira beneficiada foi de 2,7 m³/dia.O baixo rendimento ocorreu devidoaos diversos deslocamentos da equipe(em um dia em que não foi necessáriorealizar deslocamentos doequipamento, foram serrados cerca de4 m³).Para o beneficiamento da madeira

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foram gastos R$ 4.068.

Na localidade o valor do m³ entreguepelo madeireiro é de R$ 750. Issosignifica que caso o produtor vendessea madeira beneficiada de primeiraqualidade, receberia R$ 23.520 (31,36m³ x R$ 750). O lucro seria de R$19.452, o equivalente a R$ 458/m³processado, ou R$ 620/m³ da madeiracomercial vendida (31,36 m³), ouainda, R$ 1.621/árvore.

O valor de compra de árvores naregião75 é estimado em R$ 50 a R$150/árvore. Caso o produtor asvendesse quando ainda vivas, ele teriatido um retorno econômico de cerca deR$ 1.800, se vendidas ao preçomáximo de compra. Significaria vendersua matéria-prima em torno de 90%mais barato do que seu valorcomercial.

Potencial de carbono em SAFsPara avaliar o potencial do estoque decarbono e os benefícios da negociaçãodeste (mercado carbono), presente naspropriedades beneficiadas pelo Projeto,Gonçalves (2010) mediu e simulou76 oacúmulo de biomassa a partir da áreade passivo ambiental a ser recuperada

Os dados apresentados por Graffin(2010) servem para alertar e orientaros órgãos responsáveis pelasustentabilidade das florestas doestado a entenderem que existe umaquantidade ainda inestimável demadeira morta em áreas de pastageme em meio à agricultura na regiãoNoroeste. Esse produto não está sendoutilizado porque a legislação nãopermite.

Com o objetivo de solucionar aquestão, a mesma autora, durante otrabalho de consultoria contratadopelo Projeto, apresentou como um dosprodutos uma minuta de decreto delei. Esta, foi discutida e formatadajunto com a equipe de técnicos daSuperintendência de Gestão Florestalda Sema-MT, para regularização daexploração da madeira desvitalizadado Noroeste mato-grossense.

em 62 propriedades localizadas emJuína e Cotriguaçu, levando emconsideração um horizonte de 15anos.

A simulação considerou a implantaçãode sistemas com diferentes

75 Outro tipo de comércio madeireiro praticado na região consiste no madeireiro cortar e levar árvores das propriedades particulares e deprocessarem esta madeira em suas empresas muitas vezes distantes do local de origem (35 Km a mais próxima), o problema neste tipo detransação é que fica tudo na palavra de quem está levando a madeira e de quem esta deixando levar. O combinado neste tipo de transação édo madeireiro pagar ao produtor R$ 400,00/m³ da madeira de 1ª processada, sendo o pagamento vinculado à condição de venda da madeira,ou seja, só paga depois de vender e receber. O problema neste tipo de negociação é que o produtor não tem um controle sobre a rentabilida-de volumétrica das árvores levadas pelo madeireiro e fica a cargo da palavra e da confiança, o valor que irá receber, ou seja, caso o produtornão tenha noção sobre a rentabilidade das árvores que o madeireiro está levando, ele pode ser facilmente enganado pelo madeireiro quepoderá neste caso mentir sobre o verdadeiro volume extraído das árvores levadas.76 A estimativa do estoque de carbono acima do solo foi realizada através de equações alométricas encontradas na literatura e relativas àscaracterísticas do bioma Amazônia.

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densidades: (1) entre 300 e 600plantas/ha, para o caso das áreas deRL; (2) 1.500 plantas/ha para as áreasde APPs77; (3) para as áreas de SAFsconsiderou um conjunto decomposições desde o consórciosimples, como as aleias florestadaspara monocultivo perene, até sistemasmais intensivos com 1.800 plantas/ha. Para o cálculo da quantidade decarbono estocada nos diferentessistemas de manejo agroflorestaladotados pelos produtores, considerouapenas a biomassa acima do solocontida em árvores e arbustos comdiâmetro maior ou igual a cincocentímetros.O resultado da simulação dossistemas de recuperação da ReservaLegal apresentou um acúmulo de 45 tC ha-1 no período de quinze anos, oque representa 164,7 t CO2e ha-1.Estes valores assemelham-se ao vo-lume de biomassa acumulado emflorestas pioneiras da região com amesma idade de exploração pormanejo florestal. Para as APPsestimou-se que um sistema maisdenso, com quinze anos de idade, podechegar a acumular 60 t ha-1 de C,correspondendo a 219,6 t CO2e ha-1.

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Nas áreas de SAFs o conjunto dediferentes formas de manejo oscilouentre 45,0 t C ha-1 (164,7 t CO²e ha-1),para um sistema de pupunha parapalmito consorciado com espéciesarbóreas nativas de ciclo longoformando o dossel dominante, até 140t C ha-1 (512,4 t CO2e ha-1) para ossistemas silvopastoris compostos porespécies nativas como a castanheira, oparicá e o mogno.Somadas, as 62 propriedadesapresentaram 1.314 hectares de áreacom passivo ambiental78 (com umamédia de passivo ambiental de 46%).Promovendo a recuperação dessasáreas através de sistemas agroflores-tais, ao fim de 15 anos, seriam fixados262.800 t CO2e ha-1 (considerandouma média de 200 t CO2e ha-1).Levando em conta um preço médiopara a tonelada de dióxido de carbonode U$ 3/t CO2e, resultaria, ao fim de15 anos, em um ingresso de USD788.400 para 1.314 hectares de áreacom passivo ambiental recuperado. Ovalor deve ser diluído aos custos deimplantação e manutenção dos SAFs(estimado entre U$ 100.000 a U$300.000), mais os custos de transaçãodo projeto.

77 Para as áreas de preservação permanente, para as quais a legislação ambiental é mais restritiva quanto ao uso e manejo, recomendam-sesistemas mais densos e com ênfase nas espécies de maior funcionalidade ecológica, fundamentais para restaurar a integridade do sistema.78 As áreas de passivos estão com uso atual devotado principalmente ao gado de corte e, em menor proporção, monocultivos perenes.

Corredores agroflorestais: promovendoconectividade entre paisagensO caráter piloto do Projeto correucontra uma realidade dedesmatamento crescente para aexpansão de pastos e do plantio desoja, que afeta a pouco conhecidabiodiversidade das florestas intactasda região. Uma das principais apostasdo Projeto foi a contribuição dos SAFsà resiliência dos sistemas de uso daterra em termos de conservação dabiodiversidade. Para isso, eles devemapresentar bons índices defuncionalidade ecológica e econômica,

tanto em relação às espécies como noconjunto de seu arranjo nos SAFs(Huang et al. 2002). Para cumprir como objetivo geral do Projeto, tambémdevem exibir conectividade interna eexterna, reforçando a proteção dabiodiversidade em remanescentesflorestais da região (Vivan et al. 2007).

As ações em Corredores Ecológicosenvolveram ações de ordenamentoterritorial, como a regularizaçãofundiária, identificação e análise de

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desmate em APPs e RL,culminado emcadastramento,licenciamento ambiental emonitoramento.

As ações mistas foramconcretizadas ematividades de organizaçãopara a gestão sendodesenvolvidas, comoimplementação deConselho Gestor egeração de Plano deControle Ambiental (PCA)para a Resex Guariba-Roosevelt, e PCA paraEstação Ecológica (EE)Roosevelt, EEMadeirinha, PE Tucumã.

Três corredores principaisforam definidos: um CEque integra os municípiosde Colniza, Cotriguaçu eRondolândia, comprioridade definida emordenamento territorial;CE Central, que integra oParna Juruena, comações de conservação, e para o CEfronteiriço com Rondônia, aabordagem é mista. Por sua vez, ocorredor central que liga a parte Sulda região Noroeste à Resex Guariba-Roosevelt já está em estudo e emprocesso de modelagem. Serãoinclusos 64.468 Km², sendo que36.773 Km² formam parte de ÁreasProtegidas.

Conectividade entre fragmentosflorestais e seu efeito na viabilidadedos habitats e na possibilidade defluxo gênico foi analisado porGonçalves (2010), tendo emconsideração a recuperação de áreas

Figura 23. Proposta de Criação de CorredoresEcológicos, região NO (MT)

degradadas utilizando sistemasagroflorestais. Comparando doisexemplos de propriedades emassentamentos rurais (Figura 24), oautor demonstra que o lote (esquerda),que adota SAF como atividadeprincipal, tem uma conectividademuito superior ao outro lote (direita),em que o plano de recuperação propõecriar uma conectividade atualmenteausente.

O autor destaca que, ocorrendo aconectividade entre fragmentosflorestais e agroflorestais, haveráchuva de sementes, disseminadores eregeneração de espécies deimportância ecológica e econômica.

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Fomentando a conservação da biodiversidadee da variabilidade genética regionalOs ecossistemas da região constituemuma fonte importante e diversificadade recursos genéticos que facilitam aseleção e uso de espécies nativas comocomponentes de sistemasagroflorestais adaptados às condiçõeslocais (Dubois, 2002). Da mesmaforma, os sistemas agroflorestais, quepartem das estratégias de uso da terraem toda a região, possuem papelimportante na conservação dadiversidade e variabilidade genéticapelo uso de espécies nativas de grande

79 Sendo 15 no município de Cotriguaçu e 45 em Juína, citadas na seção de "reconhecimento".

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importância ecológica para a região.Na avaliação de 83 parcelaspermanentes de 700 m² (20 x 35 m) de61 propriedades79, realizada porGonçalves (2010) e Vivan (2010), umtotal de 113 espécies foi identificado.Entre elas, 23 espécies alcançaramuma Frequência Relativa (Fr%) >0,49%. Das espécies identificadas,50% são nativas da região Noroeste, e9% são nativas da região Amazônica.As 20 espécies mais frequentes nosSAFs são apresentadas no quadro 4.

Espécies nativas de alto valormadeireiro são frequentes nos SAFs,geralmente como dossel dominante oucomo aleias ou renques, dividindomosaicos de cultivos perenes ou SAFssimples, com manejo intensivo. Ogarrote ou tatajuba (Bagassaguianensis) é a espécie mais frequente

entre as árvores nativas que formam odossel dominante (Vivan, 2010).Finalmente, 43% das espéciesidentificadas demandam sistemasagroflorestais de dossel aberto (cacau,café, cupuaçu) ou que deixam espaçopara espécies que têm hábitosubdominante, como a pupunha e o

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açaí. Um grupo menor de sistemas derecuperação que geram formações dedossel fechado foi identificado. Essessistemas têm menor retorno econômicoe alta diversidade, com capoeiras emregeneração inicial em que éintroduzida a seringueira e/ouespécies nativas de valor madeireiro,além de outras espécies de valorcultural ou de usos locais. O processoainda é beneficiado pela regeneraçãoassistida, na qual espécies deinteresse (como o garrote) sãopoupadas, e cipós e bambus sãoeliminados para favorecer odesenvolvimento das árvores.

A diversidade associada a efeitos deredundância (quando mais que umaespécie cumpre a mesma função emum ambiente), característica que, porsua vez, está associada à resiliênciaecológica, ou seja, à capacidade destessistemas se adaptarem a distúrbios,mantendo um nível aceitável defuncionalidade. Na Figura 25, pode-seobservar essa variação em termos dabiodiversidade vegetal:

Os índices de diversidade (Shannon,Simpson) variaram entre as diferentescomposições e formas de manejoobservadas, com as parcelasordenadas por valores crescentes dediversidade. Este é um aspectofundamental para sistemas de

Figura 24. Índices de biodiversidade (Shannon, Simpson) para 83 parcelas de SAFs,apresentadas em ordem crescente, amostradas nos municípios de Juína e Cotriguaçu, 2010.

recuperação ambiental, uma vez quese espera que sejam resilientes emface de mudanças e que ofereçamcerto nível de flexibilidade ecapacidade de recuperação, mantendosuas funções ecológicas e econômicas.

Além das espécies vegetais, duranteseu trabalho de campo, Vivan (2010)avistou 59 espécies da fauna nosSAFs, das quais 28 eram demamíferos, sendo cinco de primatas:bugio (Alouatta sp.), macaco-aranha(Ateles sp.), sagui (Callithrix sp.),macaco-prego (Cebus sp.) e macaco-de-cheiro (Saimiri sp.). Também houveuma ocorrência de onça (Pantheraonca). Para avifauna foramidentificadas 25 espécies, com maiorrelato de ocorrência para arara-vermelha (Arara chloropterus), arara-vermelha-pequena (Arara macao),maritaca (Brotogeris sp.), tucano(Ramphastos sp.), inhambu (Tinamussp.) e suindara (Tyto alba). Aherpetofauna compreendeu seisespécies citadas pelos agricultores.

Os aspectos genéticos das espéciessendo manejadas passam a se mostrarcada vez mais relevantes. Algumasdelas, como a castanha, são plantadastambém nos SAFs não só a partir demudas obtidas em viveiros, mastambém de sementes colhidas pelospróprios agricultores nos fragmentos

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florestais, ou como resultado de trocasentre eles. Espécies de grandeimportância econômica, como cacau,cupuaçu, mandioca, pupunha eabacaxi, entre outros, têm parentessilvestres na região.

Todas essas atividades envolvem,ainda que incidentalmente, manejo derecursos genéticos vegetais, eenvolvem atores que coletam,processam e vendem sementes,conduzem viveiros, definem sistemasde plantio, e que também compram,processam e distribuem produtos dosSAFs e dos fragmentos florestais. Alémdisso, estes atores podem definir quaisespécies e quais aspectos delas serãomotivos para eliminação ou estímulo àsua regeneração nos SAFs efragmentos florestais manejados(Vivan et al., 2007).

No plano das espécies e de seusaspectos genéticos, Vivan et. Al. (2007)evidenciaram grande parcela deresponsabilidade pela conservação derecursos genéticos e diversidadebiológica nas mãos dos agricultoresinovadores. Parece existir, entretanto,uma percepção muito frágil dessaimportância pelo conjunto de atores(incluindo os próprios agricultores),quando o desafio é identificar ações eapoio de políticas públicas.Nesse sentido, os autores comentamque é necessário um esforço deformação dirigido e forte interação deapoio com pesquisa e Ater, para quetanto fragilidades como experiênciasde sucesso de manejo de recursosgenéticos vegetais florestais,agroflorestais e biodiversidadeassociada, se tornem mais claros,como crédito a seus protagonistas.

Considerações finais:os próximos passosOs próximos passos na regiãoNoroeste de Mato Grosso estão sendodados por projetos que sãodesdobramentos do Projeto, como oPoço de Carbono Juruena,implementado pela Aderjur epatrocinado pela Petrobras, ou poriniciativas como o Piloto de REDD –Redução de Emissões porDesmatamento e Degradação, daSema-MT, em Cotriguaçu.

Paralelamente, buscam-se parcerias efinanciamentos para desenhar eimplementar os PSA – Pagamentos porServiços Ambientais, os quais partirãode uma base social organizada,econômica e técnica, que conta commais de 18 anos de ações voltadaspara a redução de desmatamento e dequeimadas, e para o fomento dodesenvolvimento sustentável e daconservação da biodiversidade. Se, porum lado, o panorama em termos de

sociedade nacional e global éfavorável, por outro, o CongressoNacional brasileiro discute umareforma do Código Florestal quepoderá comprometer a imagemconstruída pelo Brasil e o interesseinternacional nos projetos aquidesenvolvidos.

Será fundamental promover e amparara rede social, ecológica e econômicaativada nesses projetos, criandoparcerias, principalmente com o setorprivado, para projetos voltados aomercado voluntário de carbono. Taisalianças fora da esfera governamentalpoderão permitir a concretização dosprojetos e seus sonhos de PSA, aindaque, em escala menor que de umprojeto REDD+. Isso, apesar deatuação contraditória e ainda vacilan-te dos legislativos brasileiros em rela-ção ao seu patrimônio em povos tradi-cionais, florestas e biodiversidade.

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