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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS: ANÁLISE DE CONCEITOS ALTERNATIVOS A PARTIR DA PED PARA O PERÍODO 2000-2008
JULIA MORAIS SOARES
Orientador: Prof. Dr. JOÃO SABOIA
Rio de Janeiro Dezembro de 2010
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JULIA MORAIS SOARES
DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS: ANÁLISE DE CONCEITOS ALTERNATIVOS A PARTIR DA PED PARA O PERÍODO 2000-2008
Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Econômicas.
Orientador: Prof. Dr. JOÃO SABOIA
Rio de Janeiro 2010
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JULIA MORAIS SOARES
DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS: ANÁLISE DE CONCEITOS ALTERNATIVOS A PARTIR DA PED PARA O PERÍODO 2000-2008
Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Econômicas.
BANCA EXAMINADORA:
_________________________________________________ Prof. Dr. João Sabóia – Orientador
UFRJ
_________________________________________________ Prof. Dra. Valéria Pero
UFRJ
_________________________________________________ Prof. Dra. Daniela Carusi
UFF
Rio de Janeiro 2010
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RESUMO
Os anos noventa no Brasil foram caracterizados por intensificação de mudanças econômicas, com efeitos profundos sobre o mercado de trabalho. As políticas de estabilização e a abertura econômica contribuíram para a deterioração do mercado de trabalho atuando em lados distintos. A primeira por reduzir a capacidade de investimento do Estado e o nível de empregos por eles gerados e o segundo pela introdução de novos processos produtivos nas empresas, capazes de aumentar a produtividade e dispensar parte da mão-de-obra empregada, como forma de aumentar sua competitividade no mercado. Os anos 2000 a 2008 apresentaram uma tendência de recuperação do mercado de trabalho. A ocupação voltou a crescer, mas somente em 2004 cresceu o suficiente para fazer com que as taxas de desemprego retrocedessem. Este estudo construiu uma análise do período detalhada pelos três conceitos de desemprego da PED: o aberto; o oculto com trabalho precário e o oculto por desalento. Foi traçado comparativamente o perfil da população em cada situação de desemprego, por suas características individuais – sexo, cor, idade e grau de instrução-, e aspectos que impactam sobre a condição de vida do desempregado e seus dependentes (a posição na família e a renda familiar, o tempo de desemprego, o meio de sobrevivência, assim como o setor de atividade anteriormente ocupado). Concluímos que, embora os indicadores alternativos de desemprego não sejam suficientes para medir o déficit de postos de trabalho no país, há relevância em empregá-los como forma de captar a heterogeneidade social do desemprego, pois os dados mostram que há perfis sociais específicos associados a cada um deles.
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ABSTRACT
The nineties in Brazil were characterized by intensification of economic changes, with deep effects on the labor market. The stabilization policies and economic openness contributed to the deterioration of the labor market acting on different sides. The first by the reduction of the State investment capacity and level of jobs it generates and the second by the introduction of new production processes in enterprises, able to increase productivity and eliminate part of the manpower employed, in order to increase their competitiveness in the market. The years 2000 to 2008 showed a recovery trend in the labor market. The occupation start to grow again, but only in 2004 was enough to reduce the unemployment rate. This study built an analysis of this period detailed by the three concepts of unemployment from PED: the open, the hidden with precarious job and the hidden by discouragement. The compared profile of the population in each situation of unemployment was drawned by their individual characteristics - gender, race, age and educational level-, and issues that impact on the livelihood of the unemployed and their dependents (position in the family and family income, the duration of unemployment, the means of survival, as well as the business sector previously occupied). We conclude that although the alternative indicators of unemployment are not sufficient to measure the deficit of jobs in the country, there is relevance to use them as a way to capture the social heterogeneity of unemployment, since the data show that there are specific social profiles associated with each kind of unemployment.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12
CAPÍTULO 1 - MACROECONOMIA DO DESEMPREGO ................................................. 15
1.1. Neoclássicos e pré-keynesianos: a transição teórica ..................................................... 15
1.2. Keynes e Kalecki: o princípio da demanda efetiva ....................................................... 19
1.3. Subdesenvolvimento e desemprego nos debates marxista e estruturalista .................... 25
1.4. Conclusão ...................................................................................................................... 32
CAPÍTULO 2 – O DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS .......................... 34
2.1. Formação das metrópoles brasileiras e evolução do mercado de trabalho .................... 35 2.1.1. Êxodo rural, concentração econômica e populacional ........................................... 35 2.1.2. Abertura econômica e precarização ........................................................................ 39 2.1.3. Desemprego num mercado de trabalho heterogêneo: novos conceitos .................. 42
2.2. O período 2000-2008 ..................................................................................................... 46 2.2.1. Conjuntura econômica ............................................................................................ 47 2.2.2. Emprego e distribuição de renda ............................................................................ 51
2.3. A população desempregada: uma resenha da literatura empírica.................................. 52 2.3.1. Cor .......................................................................................................................... 52 2.3.2. Sexo e Posição na família ....................................................................................... 54 2.3.3. Faixa etária e grau de instrução .............................................................................. 58 2.3.4. Renda familiar e tempo de duração do desemprego ............................................... 61
2.4. Conclusão ...................................................................................................................... 64
CAPÍTULO 3 – COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DESEMPREGADA SEGUNDO CONCEITOS ALTERNATIVOS DE DESEMPREGO: ANÁLISE DOS DADOS DA PED 66
3.1. Desemprego por região metropolitana .......................................................................... 67
3.2. Evolução das taxas de desemprego das regiões metropolitanas agregadas ................... 70 3.2.1. Desemprego oculto com trabalho precário ............................................................. 74 3.2.2. Desemprego oculto por desalento........................................................................... 90 3.2.3. Desemprego aberto ............................................................................................... 104
3.3. Comparação e conjecturas sobre as três categorias de desemprego ............................ 115
3.4. Conclusão .................................................................................................................... 131
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 135
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 140
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ÍNDICE DE GRÁFICOS E TABELAS Gráficos
Gráfico 1 – Percentual do emprego por setor para diferentes tamanhos de aglomerações ........ 36
Gráfico 2 – Taxa de crescimento do PIB e componentes (%) – 2000-2008 .................................. 49
Gráfico 3 - PIB nas regiões metropolitanas cobertas pela PED e Distrito Federal – 2000 a 2008 ..................................................................................................................................................................... 50
Gráfico 4 – Comportamento das principais taxas do mercado de trabalho – 2000-2008 ........... 50
Gráfico 5 – Evolução da renda familiar real média nas metrópoles de 2000 a 2008 ................... 62
Gráfico 6.a. – Evolução da taxa de desemprego oculto com trabalho precário por Região Metropolitana – 2000-2008 .......................................................................................................................... 69
Gráfico 6.b. – Evolução da taxa de desemprego oculto por desalento por Região Metropolitana – 2000-2008 .......................................................................................................................... 69
Gráfico 6.c. – Evolução da taxa de desemprego aberto por Região Metropolitana – 2000-2008 ............................................................................................................................................................................... 69
Gráfico 7 - Desemprego desagregado (%) - 2000-2008 ....................................................................... 74
Gráfico 8 – Evolução do número de desempregados por cor – 2000-2008 .................................... 77
Gráfico 9 - Evolução da participação de homens e mulheres no DOTP - 2000-2008 ................. 79
Gráfico 10 – Número de desempregados (DOTP) na faixa etária de 10 a 19 anos por faixa de renda – 2000-2008 ........................................................................................................................................... 81
Gráfico 11 – Número de desempregados por setor de origem – 2000-2008 .................................. 90
Gráfico 12 - Homens e Mulheres no DOD - 2000-2008 ...................................................................... 94
Gráfico 13 – Evolução do número de desempregados por Setor do último emprego ............... 103
Gráfico 14 - Homens e Mulheres no desemprego aberto - 2000-2008 .......................................... 106
Gráfico 15 – Grau de instrução no DA – 2000 e 2008 ....................................................................... 107
Gráfico 16 – Distribuição dos desempregados (DA) na faixa etária de 20-29 anos pela posição na família – 2000 e 2008 ............................................................................................................................. 111
Gráfico 17 - Evolução do número de desempregados (DA) por setor do último trabalho – 2000- .................................................................................................................................................................. 115
Gráfico 18 – Taxas de desemprego dos grupos por Cor e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008 ................................................................................................................................................................... 117
Gráfico 19 – Taxas de desemprego entre Homens e Mulheres – 2000, 2003 e 2008 ................ 118
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Gráfico 20 – Participação das faixas etárias no desemprego – 2000, 2003 e 2008. ................... 120
Gráfico 21 – Taxas de desemprego por grau de instrução – 2000, 2003 e 2008 ........................ 122
Gráfico 22 – Variação da taxa de desemprego por nível de escolaridade em p.p. (2008-2000) ............................................................................................................................................................................. 123
Gráfico 23 – Composição do desemprego por renda familiar dos desempregados e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008 .............................................................................................................. 125
Gráfico 24 – Evolução da renda familiar por tipo de desemprego – 2000-2008 ........................ 126
Gráfico 25 – Composição do desemprego pela renda alternativa do desempregado ................. 127
Gráfico 26 – Evolução da participação no desemprego total por setor de origem e tipo de desemprego 2000-2008 ................................................................................................................................ 130
Tabelas
Tabela 1 - Taxas de crescimento e participação no crescimento demográfico nacional segundo Regiões Metropolitanas – Brasil – 1940/91 ............................................................................................. 36
Tabela 2 – Composição da população metropolitana por faixa de renda familiar (%) e médias 2000-2008 .......................................................................................................................................................... 62
Tabela 3 – População Economicamente Ativa – 2000-2008 .............................................................. 71
Tabela 4 – População em Idade Ativa – 2000-2008 .............................................................................. 71
Tabela 5 – Taxa de participação – 2000-2008 ........................................................................................ 71
Tabela 6 – Evolução das taxas de desemprego metropolitano – 2000-2008 (%) ......................... 73
Tabela 7 – População desempregada por trabalho precário (% da PEA) – 2000 a 2008 ........... 75
Tabela 8 – Participação no DOTP por cor – 2000-2008 ...................................................................... 77
Tabela 9 – Grau de instrução da população desempregada por cor – 2000-2008 ........................ 78
Tabela 10 – Participação no DOTP por faixa etária – 2000-2008..................................................... 80
Tabela 11 – Desempregados com idade entre 20 e 29 anos por grau de instrução – 2000-2008 ............................................................................................................................................................................... 82
Tabela 12 – Participação no DOTP por grau de instrução – 2000-2008 ......................................... 83
Tabela 13 – Desempregados por faixa de renda familiar (DOTP) – 2000-2008 .......................... 85
Tabela 14- Desempregados por posição na família (% do DOTP) – 2000-2008 .......................... 86
Tabela 15 – Meio de sobrevivência dos desempregados (% do DOTP) – 2000-2008 ................ 87
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Tabela 16 – Renda auferida no meio de sobrevivência principal – 2000-2008............................. 87
Tabela 17 – Desempregados e tempo de desemprego em anos (% do DOTP) – 2000-2008 .... 88
Tabela 18 – Desempregados por setor de origem no DOTP – 2000-2008 ..................................... 89
Tabela 19 – Evolução do desemprego oculto por desalento – 2000-2008 ...................................... 91
Tabela 20 – Participação no desemprego por desalento segundo a cor – 2000-2008 .................. 92
Tabela 21 – Participação no desemprego (DOD) por sexo e grau de instrução – 2000-2008... 94
Tabela 22 – Participação das faixas etárias no DOD – 2000-2008 ................................................... 95
Tabela 23.a – Grau de instrução da população de 20 a 29 anos em desemprego por desalento – 2000-2008 .......................................................................................................................................................... 96
Tabela 23.b – Grau de instrução da população desempregada por desalento – 2000-2008 ....... 97
Tabela 24 – Desempregados por desalento por faixa etária e renda familiar – 2000-2008 Faixa etária/faixa de renda (%) .................................................................................................................... 98
Tabela 25 – Percentual de mulheres por faixa etária no DOD – 2000-2008 .................................. 99
Tabela 26.a – Participação no DOD por posição na família – 2000-2008 .................................... 100
Tabela 26.b - Participação no DOD por sexo e posição na família – 2000-2008 ....................... 101
Tabela 27 – Meio de sobrevivência dos desempregados por desalento – 2000-2008 ............... 101
Tabela 28 – Renda alternativa por meio de sobrevivência do desempregado (DOD) – 2000-2008 ................................................................................................................................................................... 101
Tabela 29 – Desempregados e tempo de desemprego em anos – 2000-2008 .............................. 102
Tabela 30 – Desempregados no DOD por setor de origem – 2000-2008 ..................................... 103
Tabela 31 – Evolução do desemprego aberto – 2000-2008 .............................................................. 104
Tabela 32 – Participação no desemprego aberto por cor – 2000-2008 .......................................... 105
Tabela 33 – Participação de homens e mulheres no desemprego aberto – 2000-2008 ............. 106
Tabela 34 – Grau de instrução da PEA por sexo – 2000, 2003 e 2008 .......................................... 107
Tabela 35 – Participação no desemprego aberto por sexo e grau de instrução – 2000-2008 .. 108
Tabela 36 – Participação das faixas etárias no DA – 2000-2008 .................................................... 109
Tabela 37 – Participação no DA por faixa etária e renda familiar – 2000, 2003 e 2008 Faixa etária/faixa de renda (%) .................................................................................................................. 110
Tabela 38 – Participação no DA por posição na família – 2000-2008 .......................................... 111
10
Tabela 39 – Meio de sobrevivência dos desempregados (DA) – 2000-2008 ............................... 112
Tabela 40 – Percentual de desempregados (DA) por faixas de renda auferida em meios alternativos – 2000-2008 ............................................................................................................................. 112
Tabela 41 – Desempregados e tempo de desemprego (meses) – 2000-2008 ............................... 113
Tabela 42 – Desempregados em DA por setor do último trabalho – 2000-2008 ........................ 114
Tabela 43 – Taxas de desemprego por cor e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008 ........... 117
Tabela 44 – Taxas de desemprego por sexo e tipo de desemprego – 2000-2008 ....................... 118
Tabela 45 – Taxas de desemprego por faixa etária e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008 ............................................................................................................................................................................. 120
Tabela 46 – Tempo médio de duração do desemprego por tipo de desemprego – 2000-2008 128
Tabela 47 – Desempregados e seguro-desemprego – 2000-2008 ................................................... 129
Tabela 48 – Desempregados por setor de origem e tipo de desemprego (variação absoluta e em p.p.) ...................................................................................................................... 130
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LISTA DE SIGLAS
DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
OIT – Organização Internacional do Trabalho
PIA – População em Idade Ativa
PEA – População Economicamente Ativa
PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego
PME – Pesquisa Mensal de Emprego
SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados
INTRODUÇÃO
Os anos noventa no Brasil foram caracterizados pela intensificação de mudanças
econômicas, com efeitos profundos sobre o mercado de trabalho. O país sofria com a inflação
há décadas, mas a tão esperada estabilização só ocorreu na metade da década de noventa. As
políticas monetária e fiscal que se fizeram necessárias para viabilizar e manter a estabilidade
econômica tinham caráter fortemente contracionista, o que acabou por trazer transformações
profundas à estrutura produtiva do país e permitiu o avanço da precarização do trabalho e do
desemprego. A abertura econômica solidificou um novo tipo de estrutura de mercado no país
no qual as empresas tiveram que se adaptar para concorrer com os produtos estrangeiros no
mercado nacional em contexto de câmbio desfavorável.
As políticas de estabilização e a abertura econômica contribuíram para a deterioração
do mercado de trabalho, portanto, atuando em lados distintos. A primeira por reduzir a
capacidade de investimento do Estado e o nível de empregos por eles gerados e o segundo
pela introdução de novos processos produtivos nas empresas, capazes de aumentar a
produtividade e dispensar parte da mão-de-obra empregada, como forma de aumentar sua
competitividade no mercado.
Os anos 2000 a 2008 apresentaram uma tendência de recuperação frente às mudanças
da década de 90. Em 1999, com a troca de política cambial e conseqüente desvalorização do
câmbio, a economia nacional retomou as bases do crescimento, puxada principalmente pelas
exportações. Em 2000 a ocupação já crescia, mas somente em 2004 cresceu o suficiente para
fazer com que as taxas de desemprego retrocedessem.
De fato ainda se mostra como uma desafio para a sociedade brasileira viabilizar um
mercado de trabalho capaz de disponibilizar oportunidades de trabalho dignas e integradoras
do indivíduo, principalmente por meio de direitos e benefícios garantidos pelo Estado. Grande
parte do trabalho no Brasil é informal, portanto, poucos são os que têm acesso a seguro-
desemprego, décimo-terceiro salário, férias, licença maternidade, aposentadoria etc. Daí o
interesse deste trabalho em levantar informações sobre a condição do mercado de trabalho
brasileiro. O que o constituiu um mercado de trabalho heterogêneo e que deixa muitos sem
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oportunidades de trabalho, principalmente digno, como mostram as altas taxas de
desemprego.
A base de dados da PED, desenvolvida pela SEADE e DIEESE, cobre a população de
seis regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador,
Recife e Distrito Federal), fornecendo informações sobre emprego e desemprego. No que diz
respeito ao desemprego, objeto de análise deste estudo, a PED contribui com dois indicadores
alternativos, o desemprego oculto com trabalho precário e o desemprego oculto por desalento,
além do tradicional indicador de desemprego aberto. O conceito e mensuração do desemprego
oculto permitem adicionar à análise informações sobre as distintas formas de inserção e a
recorrência a trabalhos precários e, principalmente, sobre a forma como os indivíduos criam
suas expectativas em relação ao mercado de trabalho, que integravam ora a inatividade, ora o
desemprego, mas agora encontram uma classificação específica, pois têm seu papel na
dinâmica do trabalho. O IBGE também desenvolve uma metodologia com novos conceitos
que permitem obter maior conhecimento sobre a população ocupada e a população à procura
de trabalho e inclusive é mais utilizada nos estudos sobre trabalho no país. Optamos pela PED
tanto por ser menos utilizada como porque ela sintetiza as questões relacionadas ao mundo do
trabalho e da busca em dois indicadores de mais fácil manipulação e comparação.
Considerando este histórico do mercado de trabalho brasileiro e a capacidade da PED
de refletir algumas das informações que buscamos, este estudo tratará de analisar o
desemprego no período 2000-2008, revendo tanto o contexto econômico e social que o
acompanhou como sua estrutura no período. O objetivo principal será de evidenciar o papel
de uma metodologia que busque ser condizente com a complexidade do mercado de trabalho
brasileiro e que reflita as distintas formas de percepção dos indivíduos sobre ele.
Para desenvolver essa análise, o trabalho está estruturado em três capítulos, sendo o
primeiro incumbido de apresentar uma resenha da literatura teórica de desemprego. Neste
capítulo serão revisitadas as abordagens neoclássicas, a keynesiana e kaleckiana, a marxista e
a estruturalista. São apresentados os argumentos que cada abordagem sustentou sobre as
causas do desemprego e até mesmo as possíveis soluções. As discordâncias são grandes e
oscilam entre soluções plausíveis e problemas intrínsecos e insolúveis do capitalismo, de
acordo com as causas que lhe atribuem.
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Já no segundo capítulo, será apresentada uma contextualização tanto do período 2000-
2008, como uma breve análise das décadas anteriores, em busca de uma explicação para o
aprofundamento da heterogeneidade e da precariedade que o mercado de trabalho brasileiro
vinha sofrendo. Nessa busca, o processo de formação das metrópoles brasileiras e as
implicações do processo de abertura comercial e de estabilização serão abordados e, para
fechar o capítulo, uma resenha da literatura empírica sobre as relações entre as características
dos indivíduos e a condição de desemprego, além das tendências demográficas e sociais que
possam ter efeitos sobre a sua composição. Esta última pesquisa servirá de apoio para a
análise de dados do capítulo 3.
O terceiro e último capítulo trará a análise da estrutura do desemprego baseada nos
microdados da PED referentes ao período 2000-2008. Os dados analisados permitirão
mensurar a dimensão do desemprego enquanto fenômeno social por duas perspectivas
centrais: primeiro, a dos atributos pessoais e, segundo, a dos tipos de desemprego. A
rotatividade, medida no tempo de duração do desemprego, o tratamento do mercado de
trabalho a distintos grupos sociais (homens e mulheres; pretos e brancos; pobres e ricos),
posição na família como medida do grau de dependência da renda do trabalho e etc, seriam
abordados na nossa primeira perspectiva. Já na segunda, poderíamos abordar o alcance do
desemprego em seus diversos conceitos apresentados na PED, o desemprego oculto (por
desalento e trabalho precário) e o mais conhecido desemprego aberto. Como resultado,
teremos traçado o perfil da população atingida por cada tipo de desemprego, o que
evidenciará a importância em se considerar metodologias preocupadas em refletir a
heterogeneidade do mercado de trabalho do país.
CAPÍTULO 1 - MACROECONOMIA DO DESEMPREGO
O desemprego encontrou espaço nos debates econômicos, principalmente nos países
desenvolvidos, após a crise de 1929. A grande depressão teve efeitos catastróficos sobre o
emprego nestes países ressuscitando o interesse em discutir suas causas e meios de solução.
Bem antes da crise, clássicos como Smith, Ricardo e Marx já discutiam o problema e lhe
incutiam natureza estrutural, isto é, intrínseca ao sistema capitalista. O presente capítulo tem
como intenção rever o que algumas linhas teóricas posteriores levantaram sobre a questão do
desemprego no que diz respeito às suas causas e reversibilidade. Vejamos como os clássicos
influenciaram as visões seguintes e a evolução em geral das teorias de desemprego, inclusive
no âmbito da discussão do subdesenvolvimento.
1.1. Neoclássicos e pré-keynesianos: a transição teórica
Na teoria neoclássica são quatro os pilares do esquema teórico formulado para explicar
o fenômeno do desemprego. Primeiro, que as firmas são maximizadoras de lucros; segundo,
que a tecnologia tem rendimentos decrescentes; terceiro, a oferta de trabalho cresce com os
salários reais; e quarto, que a demanda agregada nominal é exógena.
O terceiro pressuposto, de que a oferta de trabalho aumenta quando salários crescem,
está relacionado ao fato da disposição do trabalhador para o trabalho ser encarada como um
processo de maximização de utilidade, no qual se escolhe entre lazer e renda/consumo, de
forma a se estabelecer o maior nível de bem-estar possível. Seguindo esse raciocínio e de que
não há limitações pelo lado da demanda, Amadeo e Estevão (1994) concluem que a única
fonte possível de desemprego seria algum “mau funcionamento” do mercado de trabalho.
Enquanto a flexibilidade de preços garante o equilíbrio no mercado de bens, a
flexibilidade dos salários reais garante o equilíbrio no mercado de trabalho. A intersecção
entre a curva de demanda de mão-de-obra, negativamente inclinada em relação a salários
reais, e a curva de oferta de trabalho, positivamente inclinada, determina o salário real de
equilíbrio, no qual todos os trabalhadores dispostos a trabalhar, àquele nível salarial, estariam
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empregados. Dessa forma, somente alguma rigidez de salários reais, advinda de ações
institucionais, por exemplo, que revertam a atuação livre e atomizada dos trabalhadores no
mercado de trabalho, como os movimentos sindicais, seria responsável pela insurgência do
desemprego.
A redução de salários reais, sendo bem-vista pelas empresas (como um aumento de
lucratividade), é suficiente para impulsionar um aumento de produção e de emprego, visto
que, nesta concepção, não traz nenhuma dificuldade de absorção dos produtos no mercado,
portanto, nenhuma implicação para a demanda agregada. Ademais, considerando que os
trabalhadores tomem decisões com base nos salários reais, há que se levar em consideração
ainda o comportamento dos preços1.
Os esforços de Pigou em explicar o comportamento do mercado de trabalho em The
Theory of Unemployment, de 1933, demonstram ao mesmo tempo uma forte conexão com a
teoria neoclássica e os primeiros passos para o reconhecimento do papel da demanda agregada
nos ciclos econômicos. Na análise real da teoria pigoviana, a combinação entre oferta de mão-
de-obra e demanda real de mão-de-obra é a relação básica de funcionamento do mercado de
trabalho segmentado em dois grandes setores: o de produção de bens-salário e o de produção
de bens não-salariais.
Segundo Keynes (2007), que debateu longamente com Pigou, a teoria pigoviana teria
omitido as relações entre estes dois setores, se detendo em afirmar que o nível de emprego da
economia é função da produção no setor de bens-salário. Isto porque Pigou admite que os
trabalhadores estipulam seus salários nominais a fim de manter o poder de compra da sua
remuneração, o que Keynes discorda veementemente. Ou seja, ao visar salários reais, Pigou
acaba por admitir que um aumento de preços dos bens de consumo dos assalariados,
redundante numa redução do salário real, levaria à saída voluntária de trabalhadores do
mercado de trabalho. Nessa lógica, o desemprego involuntário só existiria se houvesse algum
componente friccional que dificultasse a eficiência dos mecanismos de ajustamento dos
salários, mantendo-os acima do nível de equilíbrio. Os trabalhadores estariam dispostos a
abrir mão de lazer, mas as firmas, orientadas pelas condições físicas da produção de bens de
consumo não expandiriam a demanda por trabalho para absorver esse excedente.
1 Equação Quantitativa da Moeda: P= M.v/Y, sendo M a quantidade de moeda, dada v a velocidade de circulação da moeda e Y o nível de produto da economia, constante no equilíbrio, logo, somente a oferta monetária é capaz de afetar preços.
17
Para chegar a essa conclusão também é preciso assumir que os fatores de produção
sejam perfeitamente substituíveis entre si, para que quando um começar a se tornar escasso e
seu preço relativo aumentar, as firmas possam “optar” por maior intensidade do outro fator no
processo produtivo, reequilibrando os preços dos fatores, salários e juros, em seus respectivos
mercados. O economista clássico David Ricardo descartou a idéia de que a flexibilidade de
salários viabilizaria a substituição de fatores, e, como conseqüência, o pleno emprego. Sendo
assim, “it is the absence of substitution mechanisms that explains the possibility of persistent
unemployment in the Ricardian framework” (Montani apud Cesaratto et al, 2003, p.37).
As formulações “pré-keynesianas” dos economistas suecos Cassel e Wicksell
discutiam o conceito de desemprego, suas distintas formas e relação com os ciclos
econômicos. A despeito de uma construção teórica baseada num equilíbrio de longo prazo,
nos moldes neoclássicos, as teorias wickselliana e casseliana admitiam a persistência do
desemprego, embora, para o segundo, incapaz de pressionar para baixo os salários. Segundo
Wicksell, superpopulação e progresso técnico poupador de mão-de-obra poderiam explicar o
desemprego permanente, pois na complementaridade entre os fatores de produção trabalho,
capital e terra estaria a chave para o enigma do desemprego.
A tecnologia seria eficiente ao ponto de tornar necessário poucos homens para operar
as máquinas, enquanto uma grande parcela dos trabalhadores seria “permanentemente
redundante e com salários zero” (Boianovsky, 2003, p.17). O excesso de trabalhadores
inerente ao sistema é um fator de pressão baixista sobre os salários, desse modo, regular um
salário mínimo geraria desemprego ao não permitir que a queda dos salários reais colocasse
em funcionamento o mecanismo de substituição clássico, no qual os fatores capital e trabalho2
são substituíveis e alocados no processo produtivo de acordo com seu preço e com o objetivo
de maximização das firmas.
Cassel observa o importante papel dos sindicatos e do Estado e reforça o caráter
clássico do desemprego ao associá-lo à rigidez salarial, cuja fonte é “a percepção dos
trabalhadores de uma queda temporária da demanda durante os ciclos de negócios”
(Boianovsky, 2003, p.11). Embora o desemprego varie naturalmente de acordo com os ciclos
econômicos, Cassel avalia a possibilidade da persistência do desemprego, o desemprego de
2 Wicksell sugere ainda que em vez de se criar um salário mínimo, o que geraria desemprego, melhor seria deixar caírem os salários e subsidiar um complemento salarial aos trabalhadores, se a produtividade média da economia for suficientemente elevada para sustentar toda a população.
18
equilíbrio, como resultado de mecanismos que criam uma escassez artificial de força de
trabalho: a intervenção sindical manipulando uma retençao da oferta de trabalho e a
heterogênea qualificação dos trabalhadores.
Ao questionar por que o desemprego persistente não faz com que os salários caiam a
zero, já que há constante pressão de um excesso de trabalhadores no mercado de trabalho, que
seria o mesmo que perguntar por que o trabalho não se torna um “bem livre”, chega a
conclusão diferente de Wicksell. Em sua versão, os próprios desempregados oferecem
resistência a cortes de salários, com apoio dos sindicatos, criando uma escassez artificial de
mão-de-obra. Coexistiriam, portanto, desemprego e escassez de trabalho com salários
positivos, viabilizada pelo pagamento de benefícios aos desempregados pelos sindicatos.
Além da intervenção sindical, Cassel consegue notar na heterogeneidade da oferta de
trabalho outro fator determinante da rigidez salarial e, consequentemente do desemprego. A
escassez relativa de mão-de-obra está associada particularmente a tipos específicos de
trabalhadores de alta qualificação, o que cria um desequilibrio entre oferta e demanda de
trabalho.
Mais voltado para a literatura de seguro-desemprego, Cassel buscou encontrar
mecanismos de intervenção sindicais ou estatais que fizessem frente a mudanças regulares e
sazonais da demanda de trabalho, mas de certa forma previsíveis, a que chamou de
“desemprego normal”. Já dentre as categorias de desemprego3 que Wicksell classificou pode
ser observado um aprofundamento do assunto ainda não observado à época, início do século
XX, ao fazer referência a um caráter cíclico, mas persistente, do desemprego, associado às
oscilações econômicas, ao período de transição de um trabalho para outro dentre outras
formas.
A investigação da natureza do desemprego, presente nas análises tanto de Cassel como
de Wicksell, embora com nomenclaturas diferentes, além de atribuir a causa do desemprego à
3 O autor fez distinção entre três categorias de desemprego e seguintes subdivisões: 1. voluntário: opção por lazer 2. por conflito: envolvido em atritos/negociações trabalhistas. 3. forçado 3.1. normal: associado à busca por novo trabalho, cujo tempo de busca também tem comportamento cíclico. 3.2. periódico 3.2.1. sazonal: em certa medida previsível 3.2.2. por crises e tempos ruins: associado aos ciclos econômicos e crises.
19
rigidez salarial, tentou explicar o porque dessa rigidez e evidencia uma preocupação com o
desemprego anterior a Keynes e à grande depressão, mas foi a Teoria Geral do emprego, do
juro e da moeda, de 1936, que cunhou o termo “desemprego involuntário”.
1.2. Keynes e Kalecki: o princípio da demanda efetiva
Na teoria keynesiana a causa do desemprego não é a rigidez salarial, mas sim uma
insuficiência de demanda agregada. Keynes refuta os pressupostos neoclássicos de que a
oferta de trabalho seja crescente em relação aos salários reais (trabalhadores igualam a
utilidade do salário à desutilidade marginal do trabalho) e de que a demanda seja exógena. A
primeira recusa se pauta no argumento de que os trabalhadores podem no máximo influenciar
os salários nominais, visto que os preços dos bens salários são determinados por fatores de
demanda, livres de seu arbítrio. Ademais, os salários nominais, por fatores institucionais, são
rígidos. Isto é,
O conceito de Keynes da oferta de trabalho assume, implicitamente, que os trabalhadores preferirão trabalhar a não trabalhar, e que eles irão se ater a um contrato (especificado em termos de uma taxa de salário nominal e uma dada “jornada de trabalho”) para uma gama de salários reais. Ou, em outras palavras, os trabalhadores manterão seus contratos mesmo se houver um pequeno aumento no nível de preços dos bens-salário (Amadeo & Estevão, 1994, p.34).
Já na segunda recusa, Keynes argumenta que os salários nominais ao afetarem a
propensão a consumir, a taxa de juros e a eficiência marginal do capital, acabam por impactar
a demanda efetiva. A questão é que não há sistematicidade na relação entre salários e
demanda efetiva, logo não há como atribuir uma inclinação definida à relação entre nível de
emprego e taxa de salário nominal. O que se conclui é que a rigidez de salários nominais, não
é fator explicativo do desemprego na medida em que não é suficientemente previsível o seu
impacto sobre a decisão de investimento das firmas, que caso acrescido, geraria empregos. O
20
que o princípio da demanda efetiva estabelece, portanto, é que o nível de emprego é função
das despesas de investimento e de um multiplicador para cada nível de salário nominal.
A rigidez salarial, como dito, não é uma fonte de desemprego coerente com a
explicação de Keynes na TG, embora tenha sido defendida ainda por teóricos ditos
keynesianos. Os que se mantiveram arraigados nessa colocação clássica, estavam ainda
ligados à tendência, segundo eles irrepreensível, de que a economia tende ao pleno emprego
via reequilíbrio das forças de mercado. Logo, se se obstrui o movimento de uma dessas
forças, a flexibilidade de salários nominais, a resultante é o desemprego. De acordo com
Amadeo & Estevão (1994), duas são as alternativas analíticas dos que mantiveram essa linha
teórica: ou crêem que os efeitos sobre a demanda efetiva não são múltiplos ou tratam somente
do desemprego voluntário.
A possibilidade de eliminação do desemprego pelo “livre jogo das forças de mercado”,
enquanto fenômeno “cíclico, temporário e essencialmente autocorretivo”, era descartada por
Keynes, o que tornava necessário a intervenção do Estado: “o volume global de emprego só
poderia ser aumentado através de maior ‘demanda agregada’, seja através do gasto público
deficitário (aumento da demanda governamental) ou de uma política monetária expansionista
(aumento da demanda privada)” (O´brien & Salm, 1970, p.94 apud Azevedo, 1985).
Robinson na Introdução à Teoria do Emprego (1980), ao tentar clarificar os principais
pontos da Teoria Geral de Keynes, estabelece a origem do desemprego na relação entre o
investimento e a poupança. Fundamentalmente, ele existiria quando a taxa de poupança dos
indivíduos numa determinada economia fossem maiores do que o investimento.
Para explicar isto é preciso ficar claro que a) ao contrário da crença clássica, a
poupança não determina o investimento e b) que a renda é que determina a taxa de poupança.
Isto implica dizer que as escolhas dos indivíduos das parcelas da renda que destinarão ao
consumo e à poupança dependem do seu nível de renda. Ele não gastará toda ela em consumo
corrente, mas destinará uma parte a uma reserva para fins precaucionais ou a acumula na
forma de riqueza, desde que tenha um padrão de vida mínimo. Quanto mais alto o padrão de
vida, maior parte da renda será poupada.
Essa parcela da renda poupada é definida segundo regras subjetivas de consumo dos
indivíduos, as quais são desconectadas das decisões de investimento dos capitalistas. Desta
21
forma, não há porque se esperar que uma desejada taxa de poupança na economia, seja
necessariamente igualada à taxa de investimento. O investimento, segundo Keynes, é definido
pelas expectativas de retorno dos empresários, que levam em consideração tanto condições de
mercado (o custo do capital) como a capacidade de demanda dos consumidores, por sua vez
determinada pela renda. Logo, o simples aumento da poupança não os estimula a demandar
bens de capital. Somente quando, por algum motivo, os empresários passam a esperar um
aquecimento da demanda pelos seus produtos, aumentam o investimento. A maior demanda
por bens de capital gera empregos nesse setor da economia, portanto gera renda e capacidade
de consumo, que por sua vez afetam o emprego nos setores tradicionais, ofertantes de bens-
salário. Deve ser observado que o ciclo de acumulação assim estabelecido se deu pelo
aumento da renda tendo influenciado a expectativa dos capitalistas, que, em última instância,
aumenta a capacidade de poupança. Essa poupança será tão maior quanto mais concentrada
for a renda nessa economia.
Um aumento na poupança, como disséramos, não é capaz de afetar a demanda por
bens de capital, mas ao reduzir a demanda por bens de consumo desestimula o investimento,
pois inibe as expectativas de crescimento dos empresários. Nessas condições sim, pode
ocorrer o desemprego. “Existe desemprego quando a quantia de bens de capital que os
empresários decidem que valerá a pena comprar é inferior ao montante que os indivíduos
desejam poupar” (Robinson, 1980, p.18).
A explicação da literatura de expectativas racionais para o desemprego teve origem
nos trabalhos do monetarista Friedman, de 1968, que apresentava o desemprego como
resultante de erros expectacionais cometidos pelos trabalhadores. Sua distinção teórica em
relação aos pressupostos de Keynes é que o nível de preços é exógeno, determinado pela
exogeneidade da oferta monetária, pois Friedman substitui o princípio da demanda efetiva
pela teoria quantitativa da moeda. Daí decorre que haveria desemprego quando os
trabalhadores tivessem percepções equivocadas sobre o comportamento futuro dos preços,
determinantes dos salários reais. Fica clara uma restrição do modelo ao desemprego
voluntário, pois resgata o tratamento da decisão do trabalhador de ofertar sua força de
trabalho ou não, de acordo com os salários reais, nesse caso, esperados.
Outros modelos na linha de expectativas racionais que se propuseram a explicar o
desemprego como desvios em relação a uma taxa natural de desemprego estão em Barro, de
1976, e Fischer, de 1977. No primeiro, os desvios seriam explicados por choques inesperados,
22
que devido a informações imperfeitas obstruem a capacidade dos trabalhadores, normalmente
aptos a construir previsões perfeitas, de prever corretamente o nível de preços, o que geraria
desemprego voluntário. Já Fischer apela para a rigidez dos salários, acertados em termos
nominais em contratos de trabalho, como fonte de erro de expectativas dos agentes, caso as
autoridades monetárias decidam mudar a regra monetária (Amadeo & Estevão, 1994).
Economista de pronunciados estudos na questão da distribuição de renda e
crescimento econômico, Kalecki, ao publicar “Essays on the theories of economic
flutuations” em 1939, introduziu ao debate sobre a determinação dos níveis de emprego e
produto da economia novos elementos de grande esclarecimento. Assim como Keynes,
Kalecki atribui importância central à demanda agregada na dinâmica econômica, mas parte de
pressupostos distintos da TG. Enquanto essa previa rendimentos decrescentes da tecnologia,
objetivo das firmas de maximização de lucros e competição perfeita nos mercados, Kalecki
manteve somente o segundo ponto e no lugar dos demais defendeu a existência de
rendimentos marginais constantes e estrutura de mercado de concorrência imperfeita. A
mudança desencadeada no corpo das duas teorias é da relação causal e do sentido da
correlação entre distribuição e nível de emprego que cada uma delas estabelece (Amadeo &
Estevão, 1994). Para Keynes o aumento do emprego – e do produto – afeta negativamente a
distribuição, já para Kalecki a distribuição afeta o nível de emprego e o produto
positivamente. Vejamos por que, enfatizando a explicação dele sobre o processo de formação
de preços e seus efeitos sobre a distribuição e a relação entre distribuição e nível de emprego.
Pelo pressuposto de concorrência imperfeita nos mercados, o “grau de imperfeição do
mercado” passa a ser elemento chave na formação dos preços4. Isto porque a reação das
firmas a mudanças nos salários depende do seu poder de mercado e da elasticidade da
demanda de seus produtos (e a definição dos salários reais condicionada às mudanças nos
preços, também). Quanto menor a redução da demanda quando aumenta o preço dos bens
(menor elasticidade), maior a capacidade da empresa de reajustar preços sem reduzir suas
margens de lucro. O grau de concentração do mercado também delimita a capacidade de
organização das firmas com intuito de manipular os preços. Em suma, a formação dos preços
em Kalecki adquiriu um perfil muito mais complexo em relação às teorias anteriores ao
considerar o que denominou “fatores de distribuição”, o que torna da mesma forma complexa
4 Mais detalhes sobre a teoria kaleckiana de formação de preços ver “Theory of Economic Dynamics” (1954), “The Suply curve of an industry under imperfect competition” (1940), “The problem of profit margins” (1942),
23
a determinação do nível de emprego e produto da economia, que, segundo ele, perpassa pelas
condições de distribuição da renda.
Outra proposição importante da teoria kaleckiana diz respeito à propensão marginal a
consumir, que considera diferenciada entre capitalistas e trabalhadores assalariados.
Trabalhadores têm baixa propensão a poupar - normalmente suposta nula por Kalecki -
portanto um aumento de salários reais, via redução dos preços, por exemplo, representa um
aumento do gasto agregado, dada a alta capacidade de consumo dos trabalhadores. Os salários
também são definidos segundo um mecanismo de interação de classes muitas vezes
independentes do nível de atividade (o modelo de “luta de classes” de Kalecki). A relação
causal se inverte, funcionando os salários como elo entre a distribuição de renda e o
crescimento, tendo seus efeitos dinâmicos delimitados pelo grau de imperfeição (grau de
monopólio) do mercado ao definir o comportamento dos preços.
Amadeo & Estevão (1994, p.92) sintetizam a posição de Kalecki nas seguintes
palavras:
[...] em primeiro lugar, há uma troca compensatória (trade-off) entre o movimento dos “fatores distributivos” ao longo do ciclo econômico no seu efeito sobre a participação dos salários na renda; esta, portanto, tende a ser bem menos volátil do que o nível de emprego (que é dirigido fundamentalmente pelos gastos dos capitalistas). Em segundo lugar, variações arbitrárias dos salários nominais tendem a ser ineficazes como um instrumento para fazer variar o nível de emprego se o grau de monopólio permanecer inalterado, e os trabalhadores podem resistir às reduções dos salários durante as recessões e, desse modo, evitar o efeito estagnacionista da deterioração do perfil de distribuição da renda. E, em último lugar, a política econômica pode afetar a distribuição, e, por este canal, o emprego, alterando as alíquotas de imposto de renda e imposto indireto sobre bens-salário, ou pode também promover um aumento de salários e controle de preço, aumentando, desta forma, a participação dos salários na renda.
A variação de preços será determinante do impacto de aumentos no salário mínimo
sobre o consumo de bens e serviços e, consequentemente, sobre a distribuição da renda. Esse
aspecto é especialmente relevante no contexto desse estudo pelos fatores que condicionaram a
recuperação do PIB e redução do desemprego nos últimos anos no Brasil, acompanhado de
uma valorização real do salário mínimo a partir de 2004, mas que deixaremos para discutir no
capítulo seguinte, estabelecendo o devido detalhamento da questão.
24
Expusemos duas vertentes principais da teoria econômica do desemprego, uma que o
associa a algum tipo de rigidez de salários nominais e outra que estabelece sua origem numa
deficiência de demanda agregada. Partindo de pressupostos distintos acabam divergindo sobre
a capacidade do salário mínimo de funcionar como mecanismo de distribuição de renda (e de
redução do desemprego, como discutiremos mais à frente). A abordagem mais conservadora
julga a fixação de um salário mínimo contraproducente, por gerar desemprego; ineficiente,
por frear a produtividade, e ineficaz, por não ter efeitos sobre a distribuição de renda. Como
havíamos explicado e reitera Medeiros (2005), esse tipo de argumentação se pauta na crença
de perfeita substituição entre capital e trabalho, que faz com que quando salários aumentam as
firmas vejam mais vantagem em substituir a mão-de-obra mais cara por capital. Nessa
construção existe um salário de equilíbrio e desvios em relação a ele representariam excesso
de oferta de trabalho – desemprego.
Efeitos positivos sobre a demanda agregada seriam inexistentes porque quaisquer
ajustes salariais seriam compensados por ajustes de preços, já que os trabalhadores visam
salários reais. Na segunda abordagem, por considerar que os trabalhadores têm nenhuma
influência sobre salários reais a espiral de preços e salários não se efetiva e que o processo de
formação de preços é mais complexo do que se pretendia anteriormente, dá margem para um
mecanismo de definição inexata de impacto de preços sobre salários, em última instância,
sobre poder de compra dos assalariados e demanda agregada. Neste arquétipo o desemprego
adquire dimensão de problema estrutural. Não se pode garantir o pleno emprego deixando
investimento e consumo “interagirem”, tanto pela complexidade de fatores em questão como
pela imprevisibilidade das expectativas dos agentes. Decorrente disso, o que a abordagem da
demanda efetiva defende é a intervenção Estatal via gastos públicos para que o pleno emprego
seja atingido.
Cesaratto et al (2003) fornecem bases interessantes da teoria econômica para a
discussão do desemprego no período que nos propusemos a analisar, 2000 a 2008. Os
mecanismos de mercado restauradores do pleno emprego são rejeitados e da mesma forma
refutados quaisquer mecanismos de substituição, o que implicaria, no caso de aplicação de
tecnologia no processo produtivo, em substituição irreversível de mão-de-obra por capital:
desemprego tecnológico. Haveria fatores ligados à demanda efetiva, antes ignorados pela
teoria neoclássica, levados em consideração. O crescimento da demanda agregada deve ser
suficiente para acompanhar o aumento da produtividade, isto significa ter que alterar padrões
de consumo, por sua vez, dependentes de outros fatores como distribuição da renda, o caráter
25
da mudança técnica, disponibilidade de crédito ao consumo e de como o crescimento da renda
e o progresso tecnológico se afetam mutuamente. Alguns desses fatores serão revistos num
contexto específico na seção seguinte.
Daqui em diante o rumo dado à discussão será voltado para o processo de
desenvolvimento das economias capitalistas subdesenvolvidas especificamente e de forma
comparativa com as desenvolvidas, como construído na análise de muitos economistas e
outros estudiosos do assunto, de diversas linhas teóricas. Nela, o desemprego, assim como a
condição de subdesenvolvimento em si, é atribuído a especificidades do processo histórico de
evolução de alguns países de desenvolvimento industrial tardio.
1.3. Subdesenvolvimento e desemprego nos debates marxista e estruturalista
Lewis (1954), em Economic development with unlimited supply of labour, estruturou a
análise do mercado de trabalho de economias subdesenvolvidas da seguinte maneira: uma
economia em processo de modernização, com parcela significativa da população ainda
vivendo no campo. Os salários no meio urbano tenderiam a se estabilizar num nível pouco
acima do de subsistência suficiente para atrair a mão-de-obra do campo. Enquanto houver
força de trabalho disponível no meio rural disposta a migrar para a cidade, haverá margem
para que os salários urbanos não subam. Portanto, a estabilização do salário no nível pouco
acima do nível de subsistência no campo geraria uma “oferta ilimitada de mão-de-obra”.
Medeiros relaciona outra referência na análise de desemprego na mesma linha do
dualismo estrutural de Lewis:
“na literatura do desenvolvimento econômico um influente estudo sobre migrações e desemprego [Harris e Todaro, 1970] incorporando as hipóteses convencionais sobre salários de equilíbrio postulava que além do desemprego provocado pela formação de um salário superior ao de equilíbrio, o hiato de renda entre as atividades de subsistência e os salários urbanos formados institucionalmente pela política de salário mínimo fazia com que a oferta de trabalho urbano aumentasse com o aumento do mínimo já que os trabalhadores de atividades de subsistência calculavam a probabilidade de aumentar a sua renda e migravam para as cidades elevando, desta forma, a taxa de desemprego. Naturalmente que este efeito só existe se denominarmos de emprego as atividades de subsistência e auto-emprego e fizermos a hipótese de que os fatores de expulsão não jogam um papel relevante nas migrações internas” (Medeiros, 2005).
26
Kowarick (1981), seguinda pela linha marxista, também faz referência ao intenso
fluxo migratório do campo para a cidade, resultado da estagnação do setor agrário nas
economias subdesenvolvidas (mais especificamente da América Latina), como fator
explicativo da marginalidade, compreendida pelos autores das teorias da marginalidade como
condição marginal em relação ao mercado de trabalho, ou seja, onde se incluem o desemprego
e o subemprego. Além desse fato, a lenta expansão do emprego industrial e o crescimento
demográfico criaram nessas economias uma oferta ilimitada de mão-de-obra, tal qual definiu
Lewis. A referida incapacidade do setor industrial de se expandir absorvendo maciçamente a
mão-de-obra, em sintonia com a tradição cepalina, é explicada pelo tipo de desenvolvimento
industrial ocorrido nesses países. Segundo esta abordagem, a indústria aumenta sua
capacidade produtiva principalmente nos centros urbanos, mas o nível de emprego não cresce
na mesma proporção. A introdução de tecnologia tipicamente poupadora de mão-de-obra
importada dos países desenvolvidos, na tentativa de desconstruir a estrutura econômica
predominantemente agro-exportadora e implantar uma política de substituição de
importações, catalisa um processo de marginalização social profundamente associado às
dificuldades de inserção de grande parcela da população no mercado de trabalho.
Ou seja, à luz da chamada “teoria da dependência”, a manutenção de relações de
dependência dos “países periféricos”, submissos econômica e culturalmente aos “países
centrais”, que exerceram seu domínio por meio de grandes redes monopolistas, desencadeou
um quadro de concentração e centralização econômica desprovido de um objetivo de
desenvolvimento nacional. Além da exclusão de trabalhadores do setor industrial “de grande
tecnologia e de grande rentabilidade para os monopólios estrangeiros”, o esquema de
industrialização dependente responde também pela relativa marginalização de determinados
ramos de produção.
como a disponibilidade de capitais é limitada e a concentração do excedente econômico se acentua no âmbito restrito das unidades produtivas, de tipo monopolista, articulado a estas e a elas subordinado, organiza-se um espectro de atividades cuja expansão se apóia na utilização extensiva da força de trabalho, o que caracteriza de modo particular as ocupações autônomas do setor terciário, além das atividades ligadas ao artesanato urbano e à indústria a domicílio, que, em muitas partes, ao invés de serem destruídas, continuam sendo recriadas (Kowarick, 1981, p.72).
27
A natureza específica de reprodução do capital nas economias periféricas, via inserção
“abrupta e parcial” do capital estrangeiro, deixa em descompasso a abundante oferta de
trabalho e a limitada demanda; e a mão-de-obra não absorvida acaba se estabelecendo em
relações de produção não tipicamente capitalistas5, as quais Kowarick chama de “formas
marginais de inserção no mercado de trabalho”. Essas formas de inserção são caracterizadas
por arcaísmo tecnológico e relações de trabalho indefinidas (a rigor, o trabalhador não é nem
patrão nem é assalariado) e que, na maior parte das vezes, não chegam a remunerar o trabalho.
Resumindo, embora negue o determinismo entre subdesenvolvimento (aí incluso
desemprego e subemprego) e capitalismo dependente, Kowarick atribui ao tipo de
desenvolvimento tecnológico a causa do desemprego (incluso no universo da marginalidade .
Outros autores defendem posição contrária aos pontos centrais dessa linha de argumentação,
criticando as teorias que costumam explicar a persistência do desemprego e do subemprego na
periferia pelo uso de tecnologia "inadequada" (Azevedo, 1985).
Faria (1974) critica as teorias da marginalidade, compreendida pelos seus autores
como condição marginal em relação ao mercado de trabalho, mais especificamente às suas
formas capitalistas, o que incluiria tanto o desemprego como o subemprego. Segundo ele, não
se pode falar em desenvolvimento capitalista perverso nas economias subdesenvolvidas, pois
ele gera as forças produtivas na periferia da mesma forma que no centro: destruindo formas
tradicionais e arcaicas de produção e substituindo-as pelas formas estritamente capitalistas ao
mesmo tempo em que gera um excedente de mão-de-obra que garante tanto que os salários
não subam como uma reserva de força de trabalho para as firmas. Tampouco foi a
industrialização a causa da desestruturação do mercado de trabalho na periferia, pois mesmo
antes de 1890 a população nas cidades já era excessiva e dificilmente encontrava ocupação
permanente. Foi neste contexto que se introduziu a indústria capitalista no Brasil, por
exemplo, restando compreender como se estabeleceram as formas de sobrevivência da massa
não absorvida pela indústria.
Nesta mesma linha, Singer (1977) parte da premissa de que para compreender o
desemprego e o subemprego é preciso examinar a forma como a força de trabalho se reproduz
sob a égide do capital. Sua conclusão foi que o progresso técnico em si, no caso de países
não-desenvolvidos determinado exogenamente e injetado no sistema produtivo com certa
5 A definição de relação capitalista aqui é a construída por Marx, no Capital, cuja lógica de funcionamento é a exploração dos trabalhadores, que desprovidos dos meios de produção vendem no mercado a sua força de trabalho. O excedente do produto do trabalho, “mais-valia”, é apropriado pelos capitalistas.
28
defasagem, não gera desemprego, mas a forma como a força de trabalho se reproduz nesse
contexto, além de elementos histórico-estruturais. No sistema capitalista é o capital que rege a
produção e reprodução da força de trabalho e não o contrário, como tendem a considerar
outras teorias, que, por isso, tendem a associar o desemprego ao crescimento demográfico ou
fluxo migratório. A produção não tem que absorver a mão-de-obra disponível, mas a oferta de
mão-de-obra – bem como a demanda - que se ajusta às necessidades do capital.
O tom da argumentação de Singer está em sintonia com os conceitos e premissas que
ele considera, dentre os quais o mais forte é limitar a análise às formas de produção capitalista
e considerar as demais atividades como complementares ou dependentes. Em primeiro lugar é
preciso ficar bem claro o que se deve entender por “produção” e “reprodução” da força de
trabalho.
A tradicional discussão do dualismo das economias subdesenvolvidas, assim
consideradas por não ter sido o capitalismo nelas existente irradiado a todas as relações de
produção, existindo ainda os chamados setores tradicionais ou de subsistência, coloca o setor
capitalista como atrator da mão-de-obra dos demais setores. Essa capacidade de atração que o
capitalismo exerce sobre os demais setores é a “produção de força de trabalho”, sendo ela
“reproduzida” a partir do momento em que é comprada pelo capitalista. O capitalismo produz
a força de trabalho ao eliminar ou expropriar dos indivíduos seus meios de subsistência,
forçando-o a ofertar sua capacidade de trabalho no mercado. O exército industrial de reserva
se forma, portanto, quando uma parcela da mão-de-obra produzida não é reproduzida. E a
situação se agrava em países subdesenvolvidos onde o contingente de “trabalhadores
‘liberáveis’” (trabalhadores não-assalariados) é maior.
Em Kowarick o conceito marxista “exército industrial de reserva” também é discutido
e relacionado à existência do desemprego e subemprego, inerente ao desenvolvimento do
sistema capitalista. A força de trabalho incorporada ao capital no processo produtivo, segundo
Kowarick (1981), é cada vez menor, portanto, “está dentro da lógica da produção capitalista
criar uma população ‘excedente’ que se torna ‘supérflua’ na medida em que não é
imediatamente necessária ao ciclo de expansão do capital”. Esta população excedente exerce
duplo papel, primeiro predatório sobre a condição dos trabalhadores, pois funciona como um
fator redutor das pressões dos trabalhadores sobre os capitalistas para aumentar salários ou
melhorar as condições de trabalho. E um segundo papel positivo para os capitalistas ao
funcionar como garantia de mão-de-obra para suprir as demandas cíclicas do capital, sem
afetar a alocação intersetorial do fator.
29
Nas economias capitalistas subdesenvolvidas modernas, segundo Kowarick, a parcela
de desempregados e subempregados ainda exerce função de exército industrial de reserva, na
medida em que ainda é possível inseri-los na indústria sem maiores dificuldades. Os tipos de
“exigências qualitativas de trabalho” facilitam a substituição de trabalhadores, pois se
caracterizam basicamente por trabalhos repetitivos, que quase nunca requerem raciocínio ou
capacidade de decisão.
Claro está que, tanto mais escasso e necessário determinado tipo de trabalhador, tanto mais difícil substituí-lo. Mas não se pode fazer da qualificação um “cavalo de batalha”, como se para forjar um trabalhador fosse necessário uma verdadeira metamorfose. Não se quer negar que certas modalidades de trabalho supõem um aprendizado cuja efetivação implica em certas doses de aptidão pessoal e grau prévio de conhecimento, como também de treinamento. O que se quer enfatizar é que não se pode fazer do operário especializado uma categoria sem competidores no mercado de trabalho, ou sem substrato potencial no sentido de não ser viável sua substituição (Kowarick, 1981, p. 120)
Nos países inovadores, a própria dinâmica de desenvolvimento das forças produtivas
acaba por absorver o exército de reserva, alternando inovações de processos e inovações de
produtos, enquanto nos países não-desenvolvidos a substituição de importações de bens de
consumo, introdução de “novos produtos”, contraditoriamente reduz a acumulação interna de
capital. Isto porque, num primeiro momento os novos produtos são consumidos pelos
capitalistas6 com parte do excedente gerado e quando introduzidos na cesta de consumo dos
assalariados eleva os custos de reprodução da força de trabalho, que, na ausência de inovações
de processo que reduzam os custos de produção (deverão ser novamente importadas) têm sua
produtividade estagnada.
É preciso, finalmente, notar que o desemprego, nestes países, longe de ser “tecnológico”, como insistentemente se apregoa, é antes de mais nada o resultado de uma produção extemporânea e de uma reprodução precária da força de trabalho pelo capital. A industrialização desemprega mesmo quando se dá em níveis comparativamente baixos de produtividade, porque o capital toma o lugar de formas de produção pré-industriais, de produtividade ainda menor. Além do mais, como foi visto, a produtividade do trabalho tende a estagnar nos ramos tornados capitalistas, o que coloca sérias limitações tanto à acumulação do capital quanto à reprodução da força de trabalho, o que vai, contraditoriamente, agravar o desemprego (Singer, 1977, p.195).
6 As distorções nas economias subdesenvolvidas causadas pelo padrão de consumo dos seus capitalistas é apontado também nas teorias de Furtado (1983).
30
A expansão dos salários reais que deveria acompanhar o aumento de produtividade
não se verifica nas economias não-desenvolvidas, seja vista sua limitada capacidade de gerar
mais-valia relativa, ou seja, reduzir custos via progresso técnico. Como resultado, os salários
são muitas vezes insuficientes e colaboram para a redução da produtividade da força de
trabalho ao limitar a qualidade de vida do trabalhador, além de intensificar a entrada de
mulheres e jovens no mercado de trabalho com intuito de reforçar a renda familiar. Outros
problemas sociais surgem a partir disso, relacionados à desestruturação familiar.
Tavares (1983), ao contrário de Singer, vem somar argumentos à tese de que o
desemprego venha a ser uma conseqüência da atipicidade do contexto de evolução industrial
nas economias capitalistas subdesenvolvidas, discutido em especial para o Brasil. A
concentração econômica e da renda operam no sentido de beneficiar permanentemente um
eixo dinâmico da economia à custa dos setores tradicionais. Para ela o sistema econômico
adquiriu um caráter dual, responsável pelos desequilíbrios sociais e regionais que já à época
colocavam em cheque um desenvolvimento econômico sustentável, capaz de distribuir renda
e difundir o progresso técnico para o consumo em massa.
Esta dualidade é caracterizada pela existência de um pólo capitalista de crescimento
intenso, relativamente alta produtividade e fraca capacidade de geração de empregos; e outro
pólo, subdesenvolvido, onde se concentra maior parte da população mantida à margem do
sistema capitalista, tanto no que diz respeito ao trabalho como a consumo. Essa estrutura
decorreu do desenvolvimento intenso das forças produtivas, via importação de tecnologia,
com intuito de implantar uma indústria de transformação capaz de substituir grande parte dos
produtos componentes da pauta de importações, responsáveis, segundo seus defensores à
época, pela dependência e vulnerabilidade externa do balanço de pagamentos. A dinâmica do
processo de substituição de importações conciliava a introdução de tecnologia poupadora de
mão-de-obra, determinante da baixa capacidade de geração de empregos da indústria de
transformação nas décadas de mais intenso crescimento, e desigual distribuição de renda em
uma sociedade estratificada7, com desigual capacidade de consumo, evidentemente.
7 Essa estratificação se coloca da seguinte forma, como nas próprias palavras de Tavares (1983): “A cúpula dessa pirâmide representa o grande mercado consumidor para o pólo capitalista cujo poder de compra foi suficiente para garantir mercado às indústrias de bens de consumo duráveis. A faixa intermediaria está constituído por aquela parcela de população que gravita na periferia do pólo dinâmico e cuja renda média corresponde à própria média brasileira que, por ser extremamente baixa, não representa um poder de compra considerável a não ser daqueles bens industriais de consumo universal. Finalmente, a base da pirâmide, em que está compreendida metade da população, está praticamente à margem do mercado capitalista” (idem, p. 111).
31
Numa primeira fase do processo de substituição de importações, a cúpula vai crescendo à custa da expansão e diversificação do setor capitalista e embora a estrutura produtiva do setor atrasado permaneça sensivelmente, há um certo grau de acesso da população da base ao setor dinâmico, cujas funções de produção são absorvedores de mão-de-obra. À medida, porém, que a industrialização avança para faixas de maior densidade de capital e a estrutura do setor primário continua inalterada, cessa o transito de um setor para o outro e a cúpula da pirâmide tende a descolar da base (Tavares, 1983, p.112).
Em síntese, a tese da economista é de que um setor da indústria brasileira se torna
dinâmico graças à existência de um mercado consumidor restrito, cuja alta renda lhe confere a
capacidade de adquirir bens de alta tecnologia e mais caros. À margem disso, no entanto, fica
uma grande parcela da população que não é absorvida nas indústrias de alta densidade de
capital e submetida a baixos salários, dadas as condições de concorrência no mercado de
trabalho de países subdesenvolvidos (existência de exército de reserva). Ao capital é possível
aumentar mais-valia relativa e absoluta enquanto se mantiver o preço dos bens-salário sob
controle, o que adquire certo antagonismo, pois acaba por penalizar os setores tradicionais
cuja demanda é bem menos dinâmica (Tavares, 1983 e Tavares & Serra, 2000; Oliveira,
1972). Acrescentando ainda que o crescimento do emprego aquém do necessário não se deve
à importação de tecnologia intensiva em capital, mas à forma como o maior excedente por ela
gerado é utilizado:
Durante o período mais intenso da industrialização, mesmo quando se verificou uma dilatação da fronteira econômica e a extensão da modernização a várias áreas agrícolas, bem como a incorporação de novos contingentes da população ao setor de serviços em vários pólos urbanos, a heterogeneidade se acentuou, juntamente com a concentração de capital e a redução do ritmo de absorção produtiva da força de trabalho nos centros urbanos.
Como resultado, a concentração econômica ao nível regional, da atividade empresarial
e da renda (pessoal e funcional) se mantinha e o problema do “desemprego estrutural de mão-
de-obra não qualificada” permanecia sem solução pelo fato do ritmo de crescimento do
emprego não acompanhar o crescimento populacional. O setor terciário continua sendo uma
opção, mas, pela proporção da população sem oportunidades nas outras áreas, acaba
caracterizado pelo “empreguismo” e desemprego disfarçado.
32
Na visão de Furtado (1983), assim como de Tavares, o excedente estrutural de mão-
de-obra e má distribuição de renda estão bastante interligados. No processo de
desenvolvimento das economias capitalistas o crescimento econômico conseguiu distribuir
renda e gerar consumo em massa a partir do momento em que gerou empregos e promoveu às
classes trabalhadoras a capacidade de auferir sua própria renda. À medida que a mão-de-obra
se tornava escassa, além das pressões sociais, os salários aumentavam. No extremo oposto, o
histórico dos países subdesenvolvidos evidenciou a possibilidade de crescimento sem
distribuição, ainda que recalcitrante. Mas o ressaltado por Furtado é que o processo de
urbanização em países subdesenvolvidos se deu num contexto de assimilação tecnológica
incompatível com a absorção natural da mão-de-obra que migra para os centros urbanos. O
crescimento nessa fase não se dá unicamente pelo aumento do trabalho na indústria, mas pelo
próprio aumento da produtividade do capital. Sobre o assunto, Oliveira (1972, p.75) chega a
afirmar que “a reserva de força de trabalho é de tal porte [no Brasil] que o sistema se dá ao
luxo de crescer horizontalmente”.
A partir desta afirmação de Oliveira queremos apresentar dois pontos à discussão
desse capítulo, que nos servirão de gancho para os capítulos seguintes. Em primeiro lugar,
como se formou8 e como hoje se estrutura9 essa reserva de força de trabalho. E em segundo,
que mais nos servirá de base para reflexão para trabalhos futuros, o desenvolvimento do setor
terciário e sua relação com a marginalização e o subemprego na economia brasileira.
1.4. Conclusão
O setor terciário acolheu grande parte da mão-de-obra cada vez mais obsoleta aos
processos produtivos dos setores agrário e industrial devido ao alto grau de modernização que
sofreram. O progresso técnico não pode ser visto, no entanto, como fator gerador do
desemprego e pobreza, visto que é ele que possibilita o aumento de produtividade que supriria
as necessidades de uma população crescente. O problema está na divisão dos bônus do
desenvolvimento tecnológico, que não se efetivam pela baixa remuneração dos trabalhadores,
principalmente do setor terciário. Embora a precariedade do trabalho não seja unicamente
associável a este setor, pois está presente em outros setores principalmente se associada a
8 Será a discussão do capítulo 2. 9 A ser discutido no capítulo 3.
33
baixa remuneração, sobre ele pesa sua própria natureza e a pulverização das atividades nele
incluídas, que facilitam o contorno da regulamentação do mercado de trabalho e,
consequentemente, o controle do Estado sobre o cumprimento do estabelecido nas leis.
Por fim, até que chegássemos à questão do desemprego e subemprego de países
subdesenvolvidos, como o Brasil, passamos por estruturas teóricas distintas, mas que dão uma
idéia da complexidade de se pensar a questão do desemprego, principalmente no âmbito
macroeconômico. Os aspectos teóricos selecionados serão úteis para desenvolver uma
reflexão sobre uma questão que precisa ser compreendida em profundidade: o comportamento
do desemprego e seus condicionantes no Brasil. Embora agora ascendido à condição de país
“em desenvolvimento” ou “emergente”, o país ainda apresenta grandes déficits no que diz
respeito ao seu mercado de trabalho e capacidade de gerar bem-estar social por meio da renda
do trabalho.
Aos poucos ficará clara a vertente teórica com que o presente trabalho se identifica e
se considera capaz de explicar, ainda que abstrativamente, o comportamento do desemprego
na economia brasileira no período recente, 2000 a 2008.
CAPÍTULO 2 – O DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS
O presente capítulo tem como intenção fortalecer as bases investigativas sobre o
desemprego no Brasil, dando continuidade à discussão do capítulo anterior, mas afunilando-a
para a realidade brasileira tanto em aspectos ainda teóricos como empíricos.
Para isso, o capítulo será dividido em três partes principais. Uma primeira que será
incumbida de apresentar aspectos do desenvolvimento industrial no país, como havíamos
iniciado no capítulo anterior, e paralelo crescimento das metrópoles brasileiras. Aqui,
portanto, discutir o capitalismo brasileiro deve adquirir um caráter mais específico tanto
espacialmente, pois guiaremos a discussão para o contexto metropolitano, como
historicamente, isto é, a trajetória, o que inclui as políticas - ou falta delas - que percorreu o
desenvolvimento brasileiro e que culminou no mercado de trabalho que hoje observamos nas
metrópoles brasileiras.
A segunda seção terá relação direta com a primeira enquanto continuidade histórica do
processo, mas optamos por separá-la pela abordagem que será feita. Neste ponto será
analisada a conjuntura econômica do período 2000-2008, assim como seus potenciais reflexos
sobre o mercado de trabalho, cuja evolução também será analisada em dados básicos
presentes na literatura sobre o tema.
A terceira seção trará uma revisão de literatura sobre a relação entre características
individuais dos brasileiros com a situação de desemprego. O objetivo aqui será de já
introduzir alguma inferência sobre a determinância entre variáveis a serem analisadas no
capítulo 3. Consideramos importante rever o que pesquisadores conhecedores do assunto têm
a dizer sobre a estrutura do desemprego, a fim de fornecer bases analíticas para o trabalho
empírico do capítulo seguinte.
O capítulo como um todo tem um caráter investigativo muito forte, pois traz como
premissa revisitar o pensamento sobre a análise empírica e, principalmente, refletir sobre um
hábito comum no âmbito dos estudos sobre mercado de trabalho de isolar o efeito de variáveis
sobre o emprego e desemprego.
2.1. Formação das metrópoles brasileiras e evolução do mercado de trabalho
2.1.1. Êxodo rural, concentração econômica e populacional
O mercado de trabalho metropolitano enfrenta hoje dificuldades de geração de
empregos dignos para uma parcela considerável de sua população, o que é, em algum grau,
explicado pela forma como se desenvolveu.
O ritmo acelerado de crescimento das metrópoles brasileiras nos últimos 50 anos,
acompanhado de uma miopia política para os problemas de longo prazo que uma falta de
planejamento urbano tanto econômico como espacial poderia causar, deflagraram uma
situação de marginalidade, pobreza e desemprego em níveis consideráveis nas suas periferias.
Algumas informações dão uma noção da velocidade deste crescimento. A população
urbana saltou de 56% para 80% de 1970 para cá e quase três quartos do crescimento total do
país se concentrou em cidades grandes durante a década de 70. Somente os centros
metropolitanos aumentaram sua participação no acréscimo populacional de 28,1% em 1940-
50 para 36,8% em 1970-80, o que, de acordo com Singer (1982), reflete a progressiva
metropolização do país. O êxodo rural, portanto, foi um fenômeno de substanciais
conseqüências sobre essa dinâmica.
O fluxo migratório no sentido das grandes cidades e áreas metropolitanas esteve em
grande parte relacionado ao emprego na indústria de transformação e maior dinamismo
econômico que gerava. No entanto, entre as décadas de 1970 e 2000 o país passou por um
processo de descentralização industrial, ou seja, uma saída das atividades industriais dos
grandes centros urbanos (Mata; Deichmann et al, 2006), se tornando o setor terciário o maior
empregador nessas áreas. O Gráfico 1 mostra como o setor de comércio e serviços adquire
maior peso sobre o emprego à medida que se considera maior tamanho das cidades.
36
Gráfico 1 – Percentual do emprego por setor para diferentes tamanhos de aglomerações
Fonte: MATA; DEICHMANN et al (2006)
A análise empírica do capítulo seguinte irá considerar informações de seis regiões
metropolitanas brasileiras, São Paulo, Porto Alegre, Distrito Federal, Recife, Salvador e Belo
Horizonte. Obviamente as regiões metropolitanas tiveram diferenças grandes entre si ao longo
do processo de crescimento populacional e econômico, mas podemos extrair como
denominador comum entre elas o crescimento acelerado e a reestruturação setorial.
Tabela 1 - Taxas de crescimento e participação no crescimento demográfico nacional segundo Regiões Metropolitanas – Brasil – 1940/91
Fonte: Martine (1994)
São Paulo foi inquestionavelmente a região metropolitana que mais se expandiu. Nos
dois primeiro períodos apontados na Tabela 1 ela cresceu acima da taxa de crescimento
37
demográfico nacional e algo pouco inferior a partir da década de 80. Um claro sinal de
desaceleração. Recife foi a que menos cresceu dentre as regiões selecionadas, apresentando
taxas sempre inferiores à nacional. Salvador, por sua vez, só cresceu menos que o país como
um todo no primeiro período.
Belo Horizonte manteve taxas superiores à nacional em todos os períodos, de 1940 a
1991. Enquanto isso Porto Alegre cresce praticamente às taxas de expansão demográfica
nacionais, superando em um pouco mais no último período. Uma tendência evidente e geral
às regiões metropolitanas é a desaceleração do crescimento, normalmente esperado pelo
arrefecimento dos fluxos migratório, principalmente êxodo rural, e pela redução paulatina da
taxa de fecundidade.
Algumas características das grandes aglomerações urbanas, que podemos associar a
essas regiões metropolitanas em relação ao interior do estado a que pertencem, são
sumarizadas da seguinte forma:
Maiores aglomerações são mais diversificadas, com a presença de indústrias intensivas em alta tecnologia e serviços especializados. Isso requer trabalhadores mais qualificados e remunerações maiores, o que acarreta maiores salários e, por sua vez, atrai os trabalhadores qualificados. Entre as maiores aglomerações documentou-se, aqui, uma tendência à descentralização do setor da indústria de transformação. Com o aumento dos preços e da congestão, empresas saem desses grandes centros urbanos. Em vez de irem para as pequenas cidades, onde os salários são menores, elas se estabelecem na periferia das grandes cidades, a fim de angariar os benefícios de aglomeração, tais como: a proximidade dos compradores, dos fornecedores e dos serviços especializados (Mata; Deichmann et al, 2006, p.29).
A atratividade econômica criada nessas cidades se estende para a mão-de-obra não
qualificada, que parte para os grandes centros em busca de melhores oportunidades de
emprego, principalmente através da prestação de serviços para as empresas e classes mais
altas ou mesmo para grandes obras que depois de concluídas acabam desempregados. A
descentralização industrial acabou por contribuir para a deterioração de um quadro já nada
satisfatório devido à grande disponibilidade de mão-de-obra presente nas grandes cidades
realizando atividades instáveis e mal remuneradas. Sem considerar o déficit de infra-estrutura
urbana, que não acompanhou o rápido crescimento demográfico das cidades.
38
Para antes da década de 80, Dedecca (1998a) consegue apontar uma dinâmica ainda
sustentável do ponto de vista do emprego, embora de alta rotatividade. Os fatores
supramencionados, além da “acomodação” da estrutura do emprego sobre o setor terciário
ficam bem claros no seguinte trecho:
O desdobramento da estrutura produtiva moderna induzia o crescimento sistemático do emprego assalariado, fazendo que o comportamento da produção e do emprego fosse convergente. Assim, observou-se, nos anos 80, que, ao contrário das previsões pessimistas do final dos anos 60, aquele padrão de desenvolvimento havia apresentado uma grande capacidade de geração de novos empregos, que somente não se traduziu em uma maior estruturação do mercado urbano de trabalho devido o aumento exponencial da disponibilidade de força de trabalho nas cidades, causada por uma modernização agrícola que havia relegado a solução do problema agrário. A grande dificuldade que se apresentou foi que, face a presença de uma grande população economicamente ativa vinculada as atividades agrícolas e a ausência de um programa de reforma agrária, o desdobramento industrial produzia uma modernização agrícola perversa, que criava um fluxo migratório incompatível com a capacidade de geração de novos empregos no meio urbano (Rodrigez & Portugal, 1984; Salm & Eichemberg, 1989). Desse modo, o excedente de força de trabalho ia sendo absorvido em atividades urbanas no setor terciário tradicional, em especial no emprego doméstico e nos serviços pessoais. O crescimento sustentado do emprego assalariado permitia consolidar essa forma de relação de trabalho e transformar o mercado urbano de trabalho. Apesar da elevada rotatividade da mão de obra presente nos segmentos mais estruturados do mercado urbano de trabalho, a força de trabalho que era absorvida por esses segmentos conseguia se reempregar, fazendo do desemprego uma situação transitória entre dois postos de trabalho assalariado (Dedecca, 1998b, p.2)
Mas já a partir de 1981 deu-se início ao período de maior deterioração do mercado de
trabalho. Toda a década foi marcada pela instabilidade política e econômica já bem
conhecidos pelos economistas (endividamento, inflação, crises conjunturais, transição de
regimes políticos), que levaram praticamente todos os setores a perder capacidade de geração
de postos de trabalho: indústria de transformação, construção civil e comércio tiveram
desempenho pífio, com exceção dos serviços, que conseguiram apresentar taxas positivas no
final da década. Após longo período de crescimento puxado pela indústria, a economia
brasileira em crise e estagnada e com um mercado de trabalho pouco estruturado passa a
sofrer um novo problema: o desemprego.
39
2.1.2. Abertura econômica e precarização
O mercado de trabalho formal do país corresponde hoje a pouco mais da metade da
população economicamente ativa (PEA), o que representa uma tênue relação entre os
mecanismos de proteção do Estado e os trabalhadores. Primeiro, pela característica debilidade
destes mecanismos de proteção em termos de duração e valor de benefícios; e segundo, pela
não cobertura da metade informal a garantias oferecidas pela legislação trabalhista, o que
acaba expondo os trabalhadores a alta rotatividade, baixos salários e jornadas de trabalho
extensas. A maior deterioração das relações trabalhistas e conseqüente precarização do
trabalho é explicada pela trajetória econômica e social percorrida pelo país e catalisada pelas
mudanças da década de 1990.
Em dados gerais, a década de 90 teve um desempenho ainda pior que o da década
anterior. Mesmo com a estabilização econômica conquistada a partir de 94, a inflação média
da década foi maior, assim como as taxas de desemprego aberto e o PIB tiveram pior
desempenho. É extensa a literatura sobre o mercado de trabalho neste período exatamente
pela profundidade das mudanças ocorridas e há uma convergência na observação do fato de
que o acelerado ritmo da abertura comercial teve efeitos imediatos e intensos sobre sua
estrutura (ROCHA, 2006; CHAMON, 1998; REIS, 2006; ERNST, 2007; ARBACHE,
CORSEUIL, 2001; DEDECCA, 1998a e 2006).
Em consonância com o ritmo de mudanças institucionais apregoadas no mundo inteiro
como solução para a crise vivida pelos países emergentes, o Brasil iniciou um processo de
abertura econômica e reforma do Estado. Houve liberação do movimento de capitais,
intensificação da redução dos mecanismos protecionistas tarifários e não tarifários iniciada na
década de 80 e recorreu-se a altas taxas de juros e câmbio valorizado como forma de controlar
a inflação.
Ao mesmo tempo eram adotadas medidas que restringiam cada vez mais o peso do
Estado na economia: privatizações e corte de gastos principalmente de investimentos, que
levaram à deterioração da infra-estrutura do país. O cenário não era dos melhores para o
investimento privado e crescimento industrial. Como forma de sobreviver diante das novas
condições concorrenciais (câmbio desfavorável à exportação) e alto custo do capital, as
indústrias iniciaram um intenso processo de reestruturação acompanhado de baixo
crescimento da economia com seus efeitos naturais sobre a retração do emprego.
40
Kupfer (2004) ressalta que a chamada “estratégia de enxugamento” praticada no
período permitiu altos ganhos de produtividade sem que fossem realizados grandes
investimentos, destacando a baixa propensão a investir do período. Em vez de investir em
expansão e diferenciação de produtos, “intensificou-se e generalizou-se a adoção das novas
técnicas de organização da produção”, redução do escopo das linhas de produção,
desverticalização (facilitada pelo maior acesso a bens importados) e terceirização das
atividades de apoio. Como resultado, a eliminação de postos de trabalho decorrente dessas
mudanças tecnológicas mais que compensou o aumento no emprego gerado pela expansão da
demanda doméstica e das transações externas.
Esta estratégia culminou numa relação inversa entre emprego e crescimento, isto é, a
produção industrial crescia amparada pelos ganhos de produtividade do enxugamento, em
detrimento dos níveis de emprego industrial, a despeito dos excepcionais desempenhos das
exportações e da demanda doméstica na década de 90. Desta forma, Kupfer (2004) conclui
que a mudança tecnológica foi determinante no mau desempenho do setor industrial na
geração de empregos e acrescenta que a progressiva mecanização do campo é um foco de
eliminação de postos de trabalho, o que representa maior pressão sobre o emprego nos centros
urbanos.
Chamon (1998) argumenta neste mesmo sentido. O aumento nas taxas de desemprego
na década de 90 pode ser explicado tanto pelo aumento nas subcontratações como pela
implantação de novas técnicas gerencias. Mas o investimento em capital (máquinas e
equipamentos), que num contexto de abertura econômica e taxa de câmbio favorável se
viabilizou via importações e essencialmente para reposição e não para expansão ou
construção de novas plantas, contribuiu para a continuidade do aumento do produto mesmo
com redução do emprego.
Por outro lado, o setor de serviços compensou as perdas de postos de trabalho de
outros setores, essencialmente indústria de transformação e agronegócio (Kupfer, 2004;
CEPAL, PNUD, OIT, 2008), o que aliado ao esgotamento do processo de reestruturação da
indústria, culminou em aumento da taxa de ocupação no final da década de 90.
A reestruturação setorial observada na migração da mão-de-obra do setor secundário
para o setor terciário, segundo estudo do IBGE (apud CEPAL, PNUD, OIT, 2008), pode ser
explicada por duas razões. Uma primeira explicação, positiva, é de que isto seja resultado das
mudanças e da modernização da estrutura de consumo e de produção da sociedade. Ou, como
segunda explicação, seria reflexo de um processo de desindustrialização acompanhado da
41
expansão de atividades irregulares, precárias e de baixa produtividade como única alternativa
aos indivíduos de sobrevivência nas áreas urbanas.
Cardoso Jr. (1999) reforça essa segunda explicação ao afirmar que a participação dos
ocupados com carteira assinada diminuiu no setor industrial, mas somente uma parcela foi
reempregada no setor de serviços, que apresentou aumento no número de ocupados com
carteira, enquanto outra parte acabou na informalidade.
Já Rocha (2006) aponta para algumas tendências estruturais que teriam afetado o
mercado de trabalho como resposta às mudanças dos anos 90. Dentre elas, crescimento da
ocupação urbana, terceirização, feminização, redução do trabalho precoce e aumento da
escolaridade da mão-de-obra. O primeiro ponto citado, relativo à ocupação urbana, tem forte
ligação com transformações tecnológicas no setor agrícola, acelerando um processo de
modernização e urbanização, baseado principalmente no inchamento do setor terciário, grande
incorporador de trabalho de baixa produtividade.
Para a autora, a inflexão de política cambial de 1999 é que propiciou alguma
recuperação para o emprego e parece ter dado fim ao processo de enxugamento de mão-de-
obra, tendo o setor industrial aumentado sua participação na ocupação, assim como as
atividades do setor terciário (comércio e serviços). No entanto, não pode ser constatada
nenhuma regularidade na capacidade dos setores em incorporar força de trabalho. Muito
menos num ritmo suficiente para atender à oferta de trabalho cada vez maior, dadas as
mudanças expostas.
Em paralelo às mudanças econômicas em voga, o elevado déficit de trabalho decente e
heterogeneidade se tornaram distintivos do mercado de trabalho brasileiro quando de sua
maior flexibilização a partir da década de 90. O aumento da informalidade nas metrópoles foi
verificado não somente no setor de serviços, mas inclusive na indústria, o que contribui
consideravelmente para a multiplicação de frágeis relações de trabalho. Podemos enumerar
como principais traços do mercado de trabalho desde então:
a) elevadas taxas de desemprego e de informalidade, que resultam em baixo grau de proteção social e inserção inadequada dos trabalhadores; b) expressiva parcela de mão-de-obra sujeita a baixos níveis de rendimento e produtividade; c) alta rotatividade no emprego; d) alto grau de desigualdade entre diferentes grupos, sobretudo em relação às mulheres e à população negra (CEPAL; PNUD; OIT, 2008).
42
De um modo geral estes traços formatam o avanço da precarização, que pode ser
entendida ainda através da noção utilizada por Nogueira et al (2004 apud Duarte 2006, p.31),
segundo a qual a precariedade envolve pelo menos uma das características: a) situação de
déficit ou inexistência de direitos assegurados pela legislação trabalhista ou da seguridade
social (licença-maternidade, seguro-desemprego, férias anuais, décimo terceiro salário,
aposentadoria; b) trabalho de curta duração ou temporário, que submetem o trabalhador a
instabilidade de renda e do próprio trabalho; c) vulnerabilidade do indivíduo à sua condição,
devido a elevada exposição a certos riscos e incertezas, como baixa remuneração,
insalubridade e desemprego. A conseqüência apontada seria de exclusão dos trabalhadores
em vários aspectos: econômico, social e político.
Em suma, a flexibilização do mercado de trabalho para dar conta do novo quadro
competitivo das empresas trouxe consigo o aumento da informalidade e da precarização ao
mercado de trabalho brasileiro, com conseqüências negativas sobre a sociedade como um
todo. A isso se somou o peso da desaceleração econômica, sobre a qual vários setores
tradicionalmente bons empregadores nas regiões metropolitanas perderam sua capacidade de
ocupar trabalhadores ou foram transferidas para o interior. O desemprego e a transitoriedade
entre os seus tipos se acentuaram.
2.1.3. Desemprego num mercado de trabalho heterogêneo: novos conceitos
A precarização acompanhada pela redução da importância do assalariamento e
multiplicação de trabalhadores ligados ao setor de serviços representou para o mercado de
trabalho brasileiro uma acentuação da sua heterogeneidade. Tratar o mercado de trabalho em
bases duais se tornou impossível dado o nível de complexidade que atingiu a estrutura
econômica e do mercado de trabalho em si.
Segundo as colocações de Kowarick (1981), o mercado de trabalho seria classificado
de acordo com as condições sobre as quais a exploração se concretiza. Nesse arquétipo, o
mercado formal englobaria as relações de trabalho tipicamente capitalistas, na qual o
trabalhador vende sua força de trabalho a um e somente um empregador, usufruindo de
estabilidade (trabalho contínuo e regular). Já no mercado não formal operam as firmas não
registradas, sendo o emprego a ele vinculado sem reconhecimento legal. Os trabalhadores são
tipicamente prestadores de serviços, portanto, no lugar dos empregadores estão os
43
consumidores – ou clientes - e “a relação não envolve um emprego fixo, mas uma tarefa
específica, o mais das vezes de curta duração” (Kowarick, 1981, p.93). A fragilidade desta
relação de trabalho está no fato de ser “instável”, no que diz respeito à regularidade e
continuidade do trabalho, e “flexível”, no que relaciona ao preço pago pelos serviços.
Como afirma Dedecca (1998b), a partir da nova estrutura econômica e do mercado de
trabalho é necessário abrir mão de tentar associar as relações de produção e as relações de
trabalho, tal qual vimos ser feito por Kowarick e em boa parte das teorias revisadas no
primeiro capítulo deste estudo. Uma distorção causada por tal associação está em se
considerar como postos de trabalho de qualidade somente aqueles inseridos no “núcleo do
setor capitalista (grande empresa e setor público)” enquanto os precários se situariam no
“setor não capitalista tradicional (emprego doméstico, trabalho ambulante,...)”. Enquanto o
que se observa na realidade é uma gama variadíssima de formas de inserção no mercado de
trabalho, que, formal ou não, não apresentam regra com relação à sua capacidade de fornecer
condições dignas ou precárias de vida. Como conseqüência foi necessária inclusive uma
revisão das metodologias de mensuração do desemprego.
Havíamos destacado a capacidade da economia brasileira de crescer até 1980 com
relativamente boa relação entre a indústria e os demais setores, principalmente o de serviços
que ainda conseguia dar conta do excedente de trabalho não empregado no secundário. Nesse
período as possibilidades de reemprego eram altas, o que explicava a relevância em se utilizar
medidas de desemprego com procura nos sete dias anteriores à pesquisa. Com as mudanças
demonstradas o período referencial de procura usado como critério para medir o desemprego
se torna igualmente mais complexo e passa a exigir uma análise mais minuciosa das situações
ocupacionais (Dedecca, 1998a).
Estudo da OIT destaca a dificuldade em mensurar emprego e desemprego numa
economia em desenvolvimento:
Given the dual nature [faz referência aos dualismos ‘grandes empresas versus pequenas empresas e trabalho formal versus informal’] of the economy and the labour market, a simple evaluation of employment and unemployment figures is not sufficient for an understanding of the evolution of the market. Where there is an excess labour supply, and thus high level of non-formal employment, a fall in unemployment may not automatically mean an improvement in the labour market. It could simply be the result of an increase in precarious jobs characterized by low productivity (Ernst, 2007).
44
Dentro do que o autor concebe como “dualismo” ele assegura haver uma
indeterminação do comportamento do mercado de trabalho e considera limitado, ou quase
ausente, a proteção estatal aos desempregados dada sua cobertura somente ao trabalho formal,
uma parcela pequena do mercado de trabalho no Brasil. O resultado sobre as medidas de
desemprego se amparadas somente pelo conceito de desemprego aberto, são estatísticas
superficiais.
In developing countries, the absence of formal unemployment insurance systems means that open unemployment is, in effect, limited to a small number of people, who have enough resources to wait until a job with the characteristics they are looking for actually opens… Less fortunate people cannot join the queue, or have to leave it rather quickly, accepting any kind of occupation that simply allows them to survive…from a statistical point of view, these people are not ‘unemployed’. They are employed, but they just have a ‘bad’ job (Bourguignon, 2005 apud Ernst, 2007).
A PED, desenvolvida pela SEADE e DIEESE em parceria com órgãos públicos locais
em seis regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo
Horizonte e Distrito Federal), é uma das pesquisas realizadas no país que revisou a
conceituação e mensuração do desemprego. Segundo a metodologia, são quatro os critérios de
classificação da PIA entre desempregados, ocupados ou inativos: a) procura efetiva de
trabalho; b) disponibilidade para trabalhar com procura em doze meses; c) situação de
trabalho; d) tipo de trabalho exercido (Dedecca, 1998a). Sendo assim, os três tipos de
desemprego englobariam os seguintes parâmetros básicos:
- desemprego aberto (DA): situação de não trabalho em sete dias e procura efetiva nos últimos
trinta dias;
- desemprego oculto por desalento (DOD): situação de não trabalho e disponibilidade para
trabalhar com procura por quinze dias nos últimos doze meses, mas ausência de procura
efetiva por desestímulo do mercado de trabalho;
- desemprego oculto com trabalho precário (DOTP): situação de trabalho, embora precário, e
procura efetiva nos trinta dias anteriores, senão nos doze meses precedentes (necessidade de
mudança de trabalho). É considerado precário o trabalho irregular ou não-remunerado de
ajuda em negócios de parentes (SEADE, “Metodologia da Pesquisa de...”).
A metodologia do IBGE, a PME, mais correntemente utilizada nos estudos sobre
emprego e desemprego, foi reestruturada em 2001, para melhor refletir as heterogeneidades
45
do mercado de trabalho brasileiro e as distintas formas de inserção dos trabalhadores,
inclusive como forma de melhor atender às recomendações da OIT. A nova metodologia de
classificação das formas de inserção inclui categorias como a dos marginalmente ligados ao
mercado de trabalho, desalentados, subocupados por insuficiência de horas trabalhadas,
pessoas sub-remuneradas ou que realizam trabalho não-remunerado de ajuda a parentes. A
PED acaba por agrupar algumas dessas características e apresentá-las em dois indicadores de
desemprego mais abrangentes do que o de desemprego aberto, flexibilizando a questão da
busca por trabalho como distintiva da condição de inatividade e de ocupação.
Além destas mudanças em relação a outras bases de dados, a PED amplia outros
conceitos, com a mesma finalidade de refletir mais fielmente a realidade nacional. Para a PIA
são incorporadas as crianças com idade entre 10 e 14 anos, que, embora em idade inferior à
legalmente estipulada como mínima para trabalhar, infelizmente são parte integrante da
realidade social do país. Outra mudança está relacionada ao que se há de considerar como
trabalho e como desemprego na pesquisa. A PED passa a considerar limites temporais
mínimos para a jornada semanal, incluindo a noção de continuidade e regularidade do
exercício do trabalho, o que teria o efeito de aumentar o índice do que se consideraria como
trabalho precário nas amostras ao impor critérios mais severos para o que seria considerado
como trabalho.
Como critérios para desemprego, a noção de ausência de trabalho e de procura por
trabalho são revistas. Em parte pela própria alteração no que seria considerado como trabalho,
que acabamos de mencionar, mas também por levar em conta que a presença de trabalho em
si não preenche as necessidades de emprego do indivíduo, principalmente na ausência de
mecanismos de proteção do Estado aos desempregados, que os leva a exercer atividades
irregulares e descontínuas enquanto procuram trabalho.
E, por fim, a mudança no critério procura de trabalho, que caracteriza o desemprego
oculto por desalento. Quando o indivíduo tem suas expectativas frustradas em relação ao
mercado de trabalho, abandona a procura no período considerado pela PED de “procura atual
de trabalho” (trinta dias anteriores ao da entrevista), pois não acredita que haja alguma
oportunidade.
Em suma, desemprego aberto passa a enquadrar indivíduos com 10 anos ou mais de
idade que não tenham exercido nenhum trabalho nos últimos sete dias e procuraram emprego
no período de 30 dias anteriores à pesquisa. Isto por si só já contempla uma parcela maior da
população, mas ainda são adicionados dois status de desemprego: o oculto por trabalho
46
precário, no qual são enquadrados os indivíduos com 10 anos ou mais cujos trabalhos
exercidos foram limitados a trabalhos remunerados de forma irregular ou não remunerados de
ajuda em negócio de parentes, tendo procurado mudar de trabalho nos 30 dias anteriores à
entrevista. E o oculto por desalento que engloba os indivíduos da PIA que não tiveram nem
procuraram trabalho nos últimos 30 dias. Ambos consideram o período de procura por
trabalho de até 12 meses anteriores à entrevista.
Um destaque deve ser feito em relação ao DOTP. Por levar em consideração as
preferências dos indivíduos, pois o desejo de troca e procura de trabalho manifestas pelo
trabalhador são captadas na pesquisa, consegue-se separar ainda que subjetivamente a parcela
do mercado informal considerada precária. Nem sempre se verifica no amplo espectro do
trabalho informal postos de trabalho de baixa qualidade, estando os bons geralmente
associados a trabalhadores por conta própria de qualificação mais alta. Como discutiu
amplamente Duarte (2006), a informalidade nem sempre está associada a situações precárias
de trabalho.
Os indicadores da PED apontam para um aumento do desemprego em períodos de
contração do mercado de trabalho que em metodologias como a PME, do IBGE, era
observado como um aumento da inatividade. A maioria dos estudos empíricos atuais adota a
nova versão desta metodologia do IBGE, que em 2002 foi modificada a fim de ampliar o
conceito de desemprego, mas optou por algumas diferenças conceituais em relação à PED.
Não temos o objetivo de discutir a importância de uma metodologia em detrimento da outra,
basta-nos deixar claro que o desemprego aberto unicamente como medida de desemprego não
reflete as reais necessidades do mercado de trabalho metropolitano brasileiro.
2.2. O período 2000-2008
O período mais recente, especificamente os anos de 2000 a 2008, será analisado em
maior profundidade devido às mudanças ocorridas no mercado de trabalho do país. Em 2000 a
ocupação já vinha crescendo, mas somente a partir de 2004 foi observada uma inflexão clara
na tendência de aumento das taxas de desemprego que ocorria desde a década de 80 e havia se
acelerado na década seguinte. Os dados disponíveis da PED permitem fazer uma comparação
entre os últimos anos em que as taxas cresceram e o período que começaram a cair, o que
pode agregar alguma informação à análise das características dos indivíduos estabelecendo
47
uma relação comparativa entre elas e o comportamento do desemprego. Esta seção, portanto,
será incumbida de apresentar os principais fatos econômicos e sociais do período 2000-2008,
como forma de enriquecer a análise empírica através dos microdados da PED a ser feita no
capítulo 3.
2.2.1. Conjuntura econômica
De 1993 a 1995, devido às mudanças econômicas da década lideradas pela abertura
comercial, o desemprego não teria caído na mesma proporção que o aumento do PIB, ficando
próximo a 4%. De 1996 a 99 a taxa de desemprego aberto escalou para 9,4%, como efeito
combinado de baixo crescimento e impacto na ocupação. Considerando a metodologia da
PED, elaborada pelo convênio entre SEADE e DIEESE, a taxa de desemprego agregada total
mostra números ainda maiores.
A taxa de desemprego total, que inclui o desemprego oculto por trabalho precário e o
por desalento, chegou a 20,2% em 1999, mostrando que a apresentação de taxas de
desemprego aberto é limitada dependendo do que se quer discutir sobre o mercado de
trabalho. A nosso ver deve-se tomar cuidado para não menosprezar a necessidade de medidas
de reversão do déficit de postos de trabalho e para não ignorar parte maior dos problemas do
mercado de trabalho brasileiro. A relevância dos números expostos na adoção de critérios de
identificação do desemprego chamado oculto e sua proporção na medida do desemprego total,
principalmente a partir da década de 90, que torna premente uma melhor discussão sobre a
relação entre emprego e subemprego.
Até 2002 o nível de desemprego continuou crescendo a despeito da aceleração da
ocupação já a partir de 2000. Foi de 2004 em diante que tanto o desemprego aberto como o
oculto vieram apresentando consistente trajetória de queda, sobre a qual podem ser apontados
como determinantes, a priori, o melhor desempenho da economia com maior impacto sobre a
geração de empregos, aliado ao crescimento somente moderado da PEA. A economia
brasileira, de 1995 a 2002 cresceu à taxa média anual de 2,32% e de 2003 a 2008, 4,2%,
apontando para tendência expansiva da economia com efeitos maiores sobre o emprego pela
natureza do crescimento do período. Um olhar mais aprofundado sobre o período pode trazer
alguns esclarecimentos.
48
Embora tenha apresentado taxas de crescimento maiores em relação aos anos
anteriores, a economia brasileira cresceu menos do que outros países emergentes. A principal
explicação para isso está nas políticas monetária e fiscal contracionistas adotadas. No campo
da política fiscal foram adotadas metas de superávit fiscal, cujo principal impacto sobre o
desemprego está na limitação dos investimentos públicos em infra-estrutura social e
econômica. Além dos empregos diretos não gerados pela redução do investimento, os
gargalos de infra-estrutura acabam por limitar a expansão do setor privado. Na política
monetária, as altas taxas de juros são apontadas como grandes vilãs do crédito ao
investimento privado e ao consumo.
Além disso, atuam contra um mercado interno mais dinâmico as taxas de câmbio
valorizadas. Muito embora haja controvérsias sobre seus efeitos especificamente sobre o
mercado de trabalho metropolitano. A valorização cambial enfraquece o desempenho das
exportações, cuja pauta brasileira não tem perfil de grandes centros urbanos, pois se baseia em
commodities e mesmo os manufaturados tiveram suas principais indústrias migrando para as
cidades médias. O setor de serviços é o maior no contexto metropolitano, como salientamos
em tópicos anteriores. Operando em outra direção, está a facilidade em importar máquinas e
equipamentos, cujo impacto sobre o emprego depende do tipo de tecnologia, se poupadora de
mão-de-obra ou se traz um novo produto, ou seja, cria um novo mercado no país.
Apesar das políticas econômicas restritivas, o cenário para o investimento era
relativamente favorável, pois a inflação estava controlada e a demanda externa aquecida. As
exportações responderam por maior parte da retomada de crescimento em 2003 e colaboraram
para os saldos positivos na balança comercial. As importações vêem crescendo num ritmo
mais acelerado, puxada tanto pelo aumento do consumo de bens duráveis como pelo
investimento. O aumento do emprego e da renda acabaram por alterar a importância relativa
dos componentes do PIB na demanda efetiva, passando das exportações para o consumo das
famílias, que adquiriu trajetória crescente a partir de 2003, enquanto a primeiro esfriava
principalmente pela redução dos preços das commodities no mercado internacional.
A formação bruta de capital foi alavancada a partir de 2002, principalmente no
componente de capital fixo, ou seja, investimentos em máquinas e equipamentos. Os
investimentos em expansão permanente da produção sinalizam expectativas otimistas em
relação ao crescimento da demanda, um ótimo sinal para o emprego. A desaceleração do
investimento em 2007 já pode estar relacionada à crise internacional que estourou no Brasil
em 2008, mas já começava a se manifestar nos países desenvolvidos no ano anterior.
49
Gráfico 2 – Taxa de crescimento do PIB e componentes (%) – 2000-2008
Fonte: IBGE/SCN 2000 Anual (elaboração própria).
Em relação ao desempenho econômico das regiões metropolitanas e Distrito Federal,
pesquisados pela PED, também é observado um quadro de recuperação. Os setores
agropecuário, administração pública e serviços voltaram a crescer a partir de 2003, enquanto o
setor industrial já vinha crescendo pelo menos desde 200210. Além do comportamento é
possível ver no gráfico a ordem de importância dos setores na economia metropolitana. Em
primeiro lugar serviços, em seguida indústria, administração pública e, com uma participação
muito pequena, a agropecuária. O desempenho econômico está diretamente relacionado com o
perfil evolutivo do mercado de trabalho, cujas principais variáveis mostram a coincidente
recuperação do emprego com redução do desemprego. (Gráficos 3 e 4)
A ocupação ainda antes de 2003 crescia, mas vinha perdendo fôlego, como pode se
notado pelas taxas positivas, mas decrescentes que apresentara. A guinada ocorre juntamente
à recuperação dos setores: a ocupação retoma um ritmo de crescimento forte o suficiente para
superar o crescimento da PEA, o que proporciona a queda do desemprego aberto e oculto.
10 Embora nossa análise comece no ano de 2000, tivemos de limitá-la ao disponibilizado pelo IBGE, cuja série de dados municipais de PIB tem início em 2002 e termina em 2007.
50
Gráfico 3 - PIB nas regiões metropolitanas cobertas pela PED e Distrito Federal – 2000 a 2008
Fonte: IBGE/SCN/PIB dos Municípios.
Gráfico 4 – Comportamento das principais taxas do mercado de trabalho – 2000-2008
Fonte: PED (elaboração própria).
Interessante notar a trajetória sincronizada da PEA e da ocupação a partir de 2006.
Notamos ao mesmo tempo um crescimento endógeno da oferta de trabalho, isto é,
propulsionado pelo próprio aquecimento do mercado de trabalho e uma capacidade expansiva
da ocupação para absorver a força de trabalho que está ingressando e ainda reduzir os
estoques, o desemprego.
A despeito das políticas macroeconômicas restritivas, podemos apontar alguns fatores
que operaram a favor do crescimento do emprego e da renda. Já havíamos mencionado o
cenário externo favorável, que conseguiu alavancar a recuperação, mas a isso queremos
adicionar a valorização do salário mínimo e a transferência de renda adotada nos últimos
anos. Outro ponto que também merece discussão é a questão da flexibilização das regras do
mercado de trabalho.
51
2.2.2. Emprego e distribuição de renda
Duarte (2006) encontrou na falta de clientes e na elevada concorrência as principais
dificuldades enfrentadas por empresas do setor informal nos anos de 1997 e 2003, com
destaque para este último. Isto revela o baixo dinamismo do mercado interno ainda em 2003 e
a importância que tiveram a geração de empregos e a valorização do salário como formas de
aumentar a massa salarial e o consumo interno.
Estudos recentes concluíram que o aumento do emprego tem exercido um importante
papel na distribuição de renda no Brasil e, consequentemente, no estímulo ao consumo das
famílias, o componente do PIB maior responsável pelo seu crescimento. Os investimentos,
aproveitando a conjuntura favorável, também têm crescido. O crescimento da massa salarial
estimula a demanda dos setores tradicionais, de produção de bens de consumo básicos, e o
setor de serviços nos subsetores mais ligados às atividades das famílias (turismo, restaurantes,
comunicação, serviços de lazer, etc). Além da indústria de bens duráveis, dadas as facilidades
de acesso ao crédito a consumo, com a contrapartida de aumento das importações de duráveis
mais acessíveis com o câmbio valorizado.
Na dinâmica recente da economia brasileira o salário tem desempenhado
excepcionalmente o papel de gerar demanda, mais do que como componente de custos. Neste
contexto caem por terra explicações para o desemprego que o associem a problemas de
rigidez no mercado de trabalho. Os investimentos têm crescido vislumbrando uma expansão
de mercado lucrativa, que compensam os aumentos de salários, e aumentam as contratações.
A pobreza vem diminuindo desde 1995, como aponta estudo de Pochmann (2010),
principalmente a partir de 2003 quando a redução se acelera. Sua análise comprova que a
renda do trabalho contribuiu em maior parte por essa redução, tanto a atrelada ao salário
mínimo, mas principalmente a não atrelada. Colaborando, embora em bem menor escala,
estão a previdência indexada ao mínimo e as transferências de renda pelos programas Bolsa
Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Parte da maior contribuição da renda do
trabalho não indexada ao salário mínimo é explicada pelo seu grande peso na renda total das
famílias, mais de 70%. A indexada equivaleria a pouco menos de 4%.
As orientações macroeconômicas voltadas para a valorização do salário mínimo
possuem estreita relação com as teorias de demanda efetiva que discutimos no capítulo 1.
Segundo elas o desemprego seria causado por uma insuficiência de demanda agregada, tal
52
qual anunciado por Keynes. Indo mais longe ainda, a distribuição da renda é apontada como
capaz de afetar positivamente o nível de produto e emprego, como dissera Kalecki. A
importância que a distribuição de renda assumiu no desenvolvimento do mercado interno
brasileiro, permitindo a sustentação do crescimento após a redução das exportações, mais
suscetíveis ao cenário externo, a eleva à categoria de prioridade de política. E o papel que a
renda do trabalho desempenhou mostra que mais do que nunca deve-se preocupar com a
geração de empregos, como forma de fomentar um crescimento autônomo das remunerações e
melhora da qualidade dos postos de trabalho.
2.3. A população desempregada: uma resenha da literatura empírica
Esta seção tem como objetivo específico revelar tendências principais em aspectos
culturais, sociais e econômicos que têm efeitos diretos e indiretos sobre a população
metropolitana e sua capacidade de emprego. É de suma importância esclarecer em que sentido
as análises das características dos indivíduos deve ser feita para uma percepção ideal das
proposições deste trabalho, como apoio analítico para o capítulo seguinte.
2.3.1. Cor
Maior parte da população pobre no Brasil é composta de pretos e pardos. O intuito da
investigação desta característica entre a população desempregada está na busca de
componentes raciais na determinação do desemprego e da marginalização no mercado de
trabalho de uma forma geral.
Alguns estudiosos atribuíram o problema à proximidade histórica da escravidão,
enquanto outros argumentaram a favor de barreiras étnicas travestidas de barreiras não-étnicas
como limitantes da mobilidade social de pretos e pardos. A primeira linha de argumentação,
além de associar o imobilismo social de alguns negros à proximidade histórica com a
escravidão, defendeu a preponderância do preconceito de classe sobre o preconceito racial.
Quanto mais negro, maior a proximidade com a escravidão e o preconceito de classe sofrido
pelo indivíduo (Pierson, 1945; Wagley, 1952 apud Osório, 2004). A segunda linha de
53
pensamento, a nosso ver, mais coerente, aponta para a existência de um preconceito racial
velado no Brasil, ou seja, não escancarado na forma de leis e segregação direta da sociedade,
como observado em outros países, mas intrínseca à sua organização e meios de reprodução do
status quo (Costa Pinto, 1952; Hasenbalg, 1976, 1979, 1983, 1988 e 1999; Nogueira, 1998;
Cardoso e Ianni, 1960, Valle e Silva, 1979, Caillaux, 1994 apud Osório, 2004).
Segundo o status quo historicamente definido, os pretos e pardos têm posição
permanentemente preterida na sociedade brasileira, sobrando a eles os trabalhos “manuais,
exaustivos e deletérios”, muitas vezes precários. Sobre-representados nas classes inferiores, as
ocupações menos valorizadas e os ramos de atividade pior remunerados que lhes são
oferecidos pela sociedade acabam por reproduzir a condição subalterna de inserção de pretos
e pardos no mercado de trabalho.
O racismo, em seu componente histórico, provocaria a sobre-representação dos negros nos estratos inferiores, o que resultaria em desvantagem logo de partida, pois a cada nova geração a proporção de negros partindo de baixo é maior que a de brancos. Depois, o racismo provocaria diferenças nas oportunidades de mobilidade intra-ocupacional ao longo do ciclo vital. Tais diferenças seriam de várias ordens, envolvendo habilidades profissionais, acesso à educação, e mesmo aspirações, pois a internalização da inferioridade social preconizada pela ideologia racial restringe os desejos e os objetivos dos indivíduos do grupo discriminado (Osório, 2004, p.16-17).
Tal passagem do texto de Osório evidencia o alcance da questão racial enquanto
mecanismo marginalizador. Os pretos e pardos não atingem sequer nível educacional
competitivo no mercado de trabalho, mas ainda que fossem postos em pé de igualdade no
quesito qualificação na busca por trabalho, pesariam fatores raciais. São estes os processos de
realização educacional intrageracionais, que, associados aos processos de realização
intergeracionais cooperam para a manutenção do status coletivo inferior de pretos e pardos.
No segundo processo, a acumulação de desvantagens sucessivas na origem social do
indivíduo (região do país; escolaridade e ocupação do pai; área que habita, se rural ou urbana)
interferem diretamente na renda das gerações seguintes, ao transmitir integralmente as
desvantagens, principalmente na transmissão de status e realização educacional. Em suma,
A despeito de ser por intermédio da educação que a maior parte das desigualdades sociais reproduz-se e viabiliza-se, o racismo não se imiscui somente dentro do sistema educacional. A origem pobre em uma sociedade
54
na qual o melhor horizonte ascensional é a passagem ao status de um pouco menos pobre é outro fator de peso na reprodução das desigualdades raciais. Some-se ainda a segmentação do mercado de trabalho, pois os negros inserem-se principalmente em ocupações de trabalhos manuais, serviços pesados e braçais. Embora não impeçam a presença de indivíduos negros nas camadas privilegiadas da sociedade, os diversos fatores relacionados predispõem o grupo racial do qual fazem parte a permanecer concentrado nas posições sociais subalternas (Osório, 2004, p.21).
Para o objetivo da nossa pesquisa podemos acrescentar ainda outra observação ou
meta de averiguação. Estando tão introjetado na percepção de classe de pretos e pardos no
Brasil a sua projeção limitada na sociedade, suas “aspirações”, “desejos e objetivos”, como
fica a questão da mensuração do desemprego por trabalho precário na PED se são levados em
consideração o desejo de mudança de trabalho? A resposta se torna muito subjetiva na medida
em que nem todos que ocupam postos de trabalho precários e poderiam ser considerados
objetivamente desempregados não o declaram e muito menos buscam outro trabalho que lhe
confira maior bem-estar.
2.3.2. Sexo e Posição na família
Algumas mudanças na sociedade e na economia têm reflexo direto sobre o mercado de
trabalho. A reestruturação da década de 90 e o avanço das mudanças culturais relacionadas ao
papel da mulher na sociedade foram determinantes no desenho da estrutura do desemprego.
A segunda metade da década de 90 foi marcada pela acentuação das desigualdades de
gênero, revelando um quadro no qual o desemprego feminino se tornava crescente. Parte
desse crescimento está associado à maior disposição e procura das mulheres por trabalho e
suas dupla relação com a deterioração do mercado de trabalho ocorrida ao longo da última
década do século XX. Como explicado anteriormente, a abertura comercial ao desencadear
uma reestruturação das empresas para sobreviver no novo contexto competitivo e ao facilitar a
importação de máquinas e equipamentos modernos, operou no sentido de enxugar a força de
trabalho utilizada no processo produtivo.
O aumento do desemprego na indústria, setor majoritariamente masculino, transferiu
para o setor de serviços montante considerável de trabalhadores. Para as mulheres, que já
vinham aumentando a sua participação no mundo do trabalho, isso teria representado uma
55
concorrência com os homens em setores tradicionalmente ocupados por elas, como o de
serviços, ou seja, uma mudança no perfil das atividades por gênero. “o aumento da
concorrência por postos de trabalho entre homens e mulheres no setor de serviços estaria
incrementando a taxa de desemprego feminino num setor tradicionalmente generoso com o
chamado “segundo sexo” (Lavinas et al, 2000, p.17). Isto porque a ocupação de homens e
mulheres no setor foi igual, indiferente à maior entrada de mulheres no mercado, redundando
em maiores taxas de desemprego para elas.
Em períodos recessivos era verificada uma retração da oferta de trabalho masculina,
enquanto a feminina tende a ser menos sensível à conjuntura, sendo os efeitos sobre o
desemprego num mesmo período distintos por isso. A redução da “taxa de atividade” (taxa de
participação) masculina geralmente era acompanhada por uma redução do desemprego,
enquanto para as mulheres isso não era verificado. Mesmo com a taxa de participação
diminuindo, o desemprego entre elas aumentava.
Há sinais invertidos em termos de tendência para ambos os sexos, o que não acontecia antes. Enquanto para eles há uma inflexão clara na tendência daquela taxa [de atividade], que sofre ligeira queda a partir de 1990, para as mulheres de 1992 em diante, o comportamento é oposto, já que sua taxa de atividade se eleva. Evidentemente, o ritmo dessas mudanças é lento, apesar de a tendência ser clara. A taxa de atividade masculina cai de 89% em 1983 para 86,5% em 1998, enquanto a feminina passa de 45% para 52% no mesmo período (ponta a ponta) (Lavinas et al, 2000, p.8).
Em 2008, segundo os dados da PED, 54% das mulheres estão economicamente ativas
nas metrópoles. Ocorre uma desaceleração do crescimento da taxa em relação ao período
anterior, mas ainda pode ser visto como um fator relevante para a rigidez das taxas de
desemprego feminino em contexto de relativamente maior crescimento econômico,
principalmente a partir de 2004. Como resultado do ingresso maciço e “competição” com o
trabalho masculino, Lavinas et al (2000) afirma ainda que as mulheres acabam ficando mais
expostas a trabalhos sazonais e precários do que os homens.
Além desse primeiro fator cultural, de revisão do papel da mulher na sociedade e na
família, um segundo efeito das mudanças da década de 90 colaborou para a maior
participação das mulheres na PEA, a saber, o próprio desemprego masculino e reestruturação
dos papéis dos indivíduos no próprio núcleo familiar como forma de equilibrar a ausência da
renda do chefe da família.
56
A expansão do número de famílias monoparentais chefiadas por mulheres representa
um agravante da realidade de maior desemprego entre as mulheres. Além disso, tem se
expandido o seu papel enquanto complementar da renda em núcleos familiares formados por
casal e filhos. O posto de chefia das famílias tem cada vez mais sido assumido pelas mulheres
nos dois contextos diferentes.
a elevação do desemprego e as perdas salariais de homens adultos vêm contribuindo para acelerar a desconstrução do papel do homem provedor, processo que, não raro, resulta em conflitos intrafamiliares, inclusive na violência contra mulher e filhos, na dissolução do vínculo conjugal ou, simplesmente, na fuga das responsabilidades da paternidade (Borges, 2006, p.207).
Em um deles isso decorre da necessidade de repor a renda do marido desempregado.
Obviamente, tal condição está mais associada a situações em que o ex-chefe de família não
tenha tido direito ao seguro-desemprego, ou ele tenha sido insuficiente, e em famílias de
menor ou nenhuma riqueza acumulada. Além das mulheres, o ingresso dos filhos no mercado
de trabalho também é antecipado. Nos segmentos em melhores condições de vida houve um
fenômeno de redução das taxas de atividade de crianças e adolescentes, mas nos segmentos e
regiões mais pobres o quadro chegou a ser de piora, evidenciando a resistência das famílias
mais carentes a abrir mão da ajuda do trabalho dos filhos, dada sua maior necessidade.
Como já apontado por Montali (2000, 2003), nos seus estudos para a RMSP, também nas regiões aqui consideradas [Salvador e Porto Alegre] as estratégias do passado, baseadas na inclusão dos filhos jovens na força de trabalho familiar, tornam-se cada vez mais inaplicáveis (ou melhor, pouco eficazes), aumentando a importância do trabalho da mulher cônjuge (Borges, 2006, p.211).
Fernandes e Felício (2002) buscaram respaldo empírico para a existência do que
chamam “efeito trabalhador adicional11”, que é a saída da mulher da inatividade porque o
marido transitou da condição de empregado para desempregado, isto é, a mudança de curto
prazo na oferta de trabalho da mulher quando o marido se torna desempregado. Os testes
11 Na definição exata dos autores, é a diferença entre a proporção de mulheres que transitaram para atividade quando seus maridos ficaram desempregados e a proporção de mulheres inativas, com maridos que transitaram para o desemprego, que teria transitado para a força de trabalho caso os seus maridos tivessem mantido o status de empregado.
57
apontaram para as seguintes relações para a transição da esposa da inatividade para a
atividade:
- no que tange à idade das esposas a relação foi de U invertido, ou seja, a probabilidade de
ingresso é maior para idades intermediárias e menor nas extremidades, mas não foi
encontrada uma relação significativa com a idade dos maridos;
- quanto maior o grau de instrução delas, maior a probabilidade de passarem a procurar
emprego, e quanto maior a escolaridade dos maridos, menor a probabilidade;
- sinal negativo para a relação com o número de filhos menores, mas positivo para o tamanho
da família como um todo;
- e, finalmente, um coeficiente positivo e significativo para a relação com o desemprego do
marido, corroborando a existência do “efeito trabalhador adicional” no Brasil e a dificuldade
das famílias brasileiras em “adotar estratégias alternativas para ‘suavizar’ renda e consumo
em períodos de desemprego do chefe de família”.
Interessante acrescentar que não foram encontradas evidências de que o seguro-
desemprego ou o FGTS amenizem o efeito.
Além das mulheres casadas que ingressam no mercado de trabalho para substituir o
marido desempregado, estão as chefes de família sem cônjuges representando uma parte
considerável do desemprego feminino, que, segundo Borges (2006), estão expostas a maiores
riscos.
A explicação para essa maior exposição aos riscos do mercado de trabalho dessas famílias monoparentais parece estar na maior dependência que elas têm da força de trabalho juvenil, que, como visto, é o segmento mais exposto aos riscos acentuados pela crise do mercado de trabalho (Borges, 2006, p.217)
À perda de importância do modelo de chefe provedor pode ser atribuída pelo menos
parte da responsabilidade pelas altas taxas de desemprego entre jovens e mulheres, além do
baixo grau de instrução, ao tornar necessária o aumento da participação de cônjuges e filhos
no mercado de trabalho.
58
2.3.3. Faixa etária e grau de instrução
Apenas uma parte dos jovens que entram no mercado de trabalho conseguem se
ocupar adequadamente. Além do fraco dinamismo econômico anterior a 2003, os baixos
níveis educacionais podem ser importantes complicadores da situação da população jovem
desempregada nas metrópoles.
De acordo com Fernandes e Menezes-Filho (2002), a abertura econômica iniciada na
década de 90 no Brasil definiu um novo perfil de demanda por mão-de-obra e os motivos para
isso seriam dois: a nova divisão internacional do trabalho e o novo padrão tecnológico. Pela
nova divisão do trabalho no comércio internacional, países como o Brasil, classificados como
“em desenvolvimento”, passaram a responder pela produção de manufaturados em detrimento
da produção unicamente de commodities e isso foi acompanhado por especialização entre os
países também no que diz respeito à mão-de-obra, aumentando a demanda relativa por mais
qualificados. Seguindo na mesma trilha, as mudanças de padrão tecnológico, simbolizada
pelos avanços ocorridos na área de telecomunicações e microeletrônica, teriam como viés o
aumento da demanda por mão-de-obra qualificada.
O caso do Brasil é um pouco mais complexo, por dois motivos: em primeiro lugar
porque a separação entre os efeitos da abertura comercial e os das inovações técnicas não é
tão clara como nos países desenvolvidos. Isto porque maior parte do progresso técnico
implementado no país é importado, uma possibilidade facilitada pela abertura econômica, ao
mesmo tempo em que por meio da competição a implantação de métodos organizacionais e de
produção mais eficientes é incentivada. Em segundo, porque num país de nível educacional
médio muito baixo e dispersão elevada a segregação entre qualificados e não-qualificados
pode não ser ideal. Ela funciona bem em países onde o número de pessoas que freqüentaram
pelo menos um ano de universidade é grande.
Com estes argumentos, Fernandes e Menezes-Filho (2002) propõem a divisão entre
trabalhadores não-qualificados, qualificados e intermediários. Essa divisão permite notar que,
à diferença dos países desenvolvidos, os quais se especializaram em uso de mão-de-obra
qualificada, o Brasil se especializou em trabalhadores de qualificação intermediária.
Uma vez ajustado para os movimentos na oferta de trabalho, conclui-se pela existência de uma tendência de aumento na demanda relativa de
59
trabalhadores qualificados em relação aos intermediários e na demanda relativa de trabalhadores intermediários em relação aos não-qualificados. Essa tendência de crescimento existe desde o início dos anos 80, portanto, anterior à abertura comercial (Fernandes e Menezes-Filho, 2002, p. 220)
Castro (1993) confirma que tenha havido um aumento da ocupação de trabalhadores
mais qualificados, de uma forma geral, na década de 80. Mas nos anos 90 especificamente a
relação entre intermediários e não-qualificados é ampliada, favorecendo ainda mais os
trabalhadores intermediários, mas ocupando-os em tarefas simples antes realizadas pelos não-
qualificados.
Alguns estudos, no entanto, mostram que esse aumento da ocupação de trabalhadores
de qualificação intermediária não ocorre em sintonia com a redução do desemprego para o
mesmo grupo. Ou seja, talvez a maior demanda relativa de trabalhadores semi-qualificados se
deva a maior oferta destes e não a novas necessidades em relação ao perfil da mão-de-obra de
acordo com a tarefa a ser desempenhada. A mudança na composição educacional da
população ativa, no sentido de aumento significativo de trabalhadores com pelo menos o
Ensino Médio, contribuiu para a resistência de crescimento das taxas de desemprego nesses
grupos (Reis, 2006). E como afirmaram Fernandes e Menezes-Filho (2002), muitas vezes os
trabalhadores eram ocupados nas mesmas tarefas simples em que trabalhavam os não-
qualificados. Algum ganho de produtividade era verificado entre eles, devido ao maior tempo
de estudo, o que seria suficiente para estimular a substituição.
O desemprego atinge mais as mulheres e jovens, independentemente de seus maiores
níveis educacionais, o que comprova a seguinte colocação de Segnini (2000, p.79-80):
A qualificação assim compreendida expressa relações de poder no interior dos processos produtivos e na sociedade; implica também o reconhecimento que escolaridade e formação profissional são condições necessárias, mas insuficientes, para o desenvolvimento social. Isso porque se sabe que somente políticas e ações concretas, que possibilitem real desenvolvimento social e econômico (distribuição de renda, reforma agrária, reforma do sistema de saúde e educacional), podem estar superando desigualdades e construindo condições sociais que redundam em cidadania. E só encontram sentido social no interior de um projeto de desenvolvimento econômico que possibilite direitos sociais, entre eles, o trabalho. Nesse contexto, educação torna-se fundamental como um fim em si mesma, como condição sine qua non para a cidadania crítica (...); vinculá-la ao trabalho sem mediações tem sido relevante para culpar as vítimas (desempregados escolarizados) ou legitimar ações políticas que possibilitam a “ilusão de desenvolvimento” (Arrighi, 1997) sem alterar a ordem social desigual.
60
Não acreditando na vinculação direta entre o desemprego e o grau de instrução, na
análise dos dados do capítulo 3 optamos por buscar novas relações entre o desemprego, grau
de instrução e algumas características como cor, gênero, idade etc, sem uma regra específica.
A intenção foi de deixar fluir os questionamentos dentro de suposições específicas acerca da
realidade de cada tipo de desempregado (se por desalento, aberto ou por trabalho precário), e
sem esperar esgotamento do assunto dada a complexidade de seus determinantes e relações.
A baixa escolaridade muitas vezes está relacionada com a inserção precoce no
mercado de trabalho. Como comentamos anteriormente, o desemprego dos chefes de família
da década de 90 acelerou a oferta de trabalho de jovens, ou mesmo adolescentes, e cônjuges.
Numa análise por idade, podemos adiantar um problema maior entre adolescentes e jovens,
sobre os quais incidem maior taxa de desemprego, evidenciando um pouco dessa necessidade
de trabalhar, na maioria das vezes em substituição aos estudos. É necessário ainda questionar
qual a natureza da qualificação que deve ser dada a esses jovens. Se aqueles que têm acesso
somente às escolas públicas estão tendo a formação adequada a inseri-los competitivamente
no mercado de trabalho e formá-los enquanto cidadãos12.
Pesquisando o problema do desemprego entre jovens, Flori (2004) encontrou na
literatura referências às seguintes causas:
Um argumento é que a causa do alto desemprego juvenil está na dificuldade do jovem em conseguir o primeiro emprego. Outro argumento a associa a um sistema de educação inadequado frente às exigências do mercado de trabalho e à incapacidade dos jovens permanecerem na escola. Outros autores, como Silva (2001), destacam a opção, por parte dos empresários, por trabalhadores adultos, que somam experiência e hábitos de trabalho mais sedimentados, o que seria mais um obstáculo para o jovem, principalmente para a obtenção do primeiro emprego (Flori, 2004, p.2).
No entanto, chegou à conclusão de que os jovens não têm tido dificuldade em
conseguir o primeiro emprego, mas de se manter nele por muito tempo. A rotatividade entre
jovens acaba sendo maior e a duração do desemprego menor do que o dos adultos, o
suficiente para indicar uma taxa mais elevada em relação aos trabalhadores mais velhos. Pode
não ser um problema de conseguir o primeiro emprego, mas continuam questionáveis a
12 Salm e Fogaça (1998) recorrem a autores consagrados como Ricardo, Marx e Marshall para elaborar uma reflexão interessante sobre os requerimentos de qualificação de trabalhadores para que estejam preparados para um capitalismo em constante mudança.
61
capacidade do sistema educacional de formar adequadamente os jovens e a deles de
permanecer na escola.
Cacciamali (2004) aponta além das causas mencionada por Flori (2004) a insuficiência
de demanda e a baixa articulação entre políticas de trabalho, educação e capacitação.
Schwartzan e Cossío (2007) destacam a importância do contexto sócio-econômico no qual o
jovem esteve inserido ao longo de sua vida como determinante de evasão escolar e altas taxas
de repetência. As políticas no campo da assistência social, saúde e educação que tentam
incentivar a “demanda por educação” não têm funcionado bem no sentido de reduzir o
desemprego dos jovens provenientes de famílias pobres.
Se isto é verdade, então o trabalho fundamental para romper o círculo vicioso da má educação e trabalho precário e mal remunerado precisa ser feito junto ao sistema escolar, e não no mercado de trabalho, e nem por subsídios à demanda por educação, embora políticas específicas nestas áreas possam também ter seu lugar (Schwartzman & Cossío, 2007, p.3).
2.3.4. Renda familiar e tempo de duração do desemprego
Nosso primeiro argumento para introduzir a variável renda familiar na decomposição
do desemprego está na sua utilidade enquanto medida do grau de vulnerabilidade a que está
submetido o indivíduo quando desempregado. Já o segundo diz respeito à relação causal entre
a renda familiar e o desemprego. Como de conhecimento geral, baixas rendas são um fator
limitante da adequada formação social e educacional dos indivíduos, e, como conseqüência,
da sua inserção competitiva no mercado de trabalho. Em outras palavras, uma renda familiar
baixa é um agravante e um multiplicador das condições precárias de inserção no mercado de
trabalho, principalmente pelas desvantagens intergeracionais que gera.
A demonstração seguinte da tendência de renda familiar13 da população metropolitana
como um todo fomentará o estudo da composição do desemprego por essa variável na família
do indivíduo em situação de desemprego a ser construída no capítulo três.
13 Todas as análises de renda feitas ao longo do trabalho utilizam valores reais de 2008, corrigidos pelo IPCA.
62
Tabela 2 – Composição da população metropolitana por faixa de renda familiar (%) e médias 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
<= 250,00 3,7 4,2 3,2 3,6 3,8 3,6 3,2 2,8 2,6
250 - 500 10,5 11,6 13,5 13,7 13,9 12,7 12,5 11,2 10,6
500 - 1000 22,1 22,6 25,0 25,4 24,4 23,7 23,4 22,9 22,6
1000 - 2000 28,2 28,5 28,0 28,8 28,2 29,0 29,7 30,6 31,5
2000 - 3000 13,1 12,5 12,3 11,7 11,8 13,0 12,9 13,7 13,4
3000 - 5000 11,2 11,0 9,4 9,0 9,8 9,7 10,1 10,3 10,8
>5000 11,2 9,7 8,6 7,8 8,0 8,4 8,3 8,5 8,6
Média (R$) 2.411,53 2.232,46 2.070,98 1.968,16 2.022,63 2.051,12 2.091,39 2.123,67 2.207,41
Fonte: PED (elaboração própria)
Pela Tabela 2 pode ser observado que, entre os anos de 2000 e 2008, a população da
faixa de menor renda, inferior a R$ 250,00 por família, diminuiu enquanto entre as faixas de
renda familiar entre R$ 500,00 e R$ 2.000,00 reais aumentou o percentual de pessoas. A
dispersão da renda familiar entre os desempregados também se reduziu ao longo do período.
Ambas as tendências estão relacionadas ao seguinte comportamento da renda familiar real
média:
Gráfico 5 – Evolução da renda familiar real média nas metrópoles de 2000 a 2008
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da PED.
De acordo com o Gráfico 5 a renda familiar real média brasileira vinha caindo até
2003, mas a partir de 2004 retomou um ritmo de crescimento, mas ainda sem recuperar em
2008 os níveis de 2000. Segundo Borges (2006), a trajetória de queda da renda familiar é
acompanhada pela recomposição da força de trabalho familiar desencadeada pelas
transformações da década anterior e remete às diferentes valorizações do trabalho de homens
e mulheres no mercado de trabalho. A participação da renda da mulher no núcleo familiar
63
aumentou, mas a persistência de queda da renda da família evidencia a difícil substituição
entre seus componentes e a fragilidade das estratégias de sustentação da renda da família
numa conjuntura ainda adversa ao emprego.
Outro fator de vulnerabilidade do indivíduo desempregado e da família como um todo
é o tempo que leva para conseguir um novo trabalho. No Brasil, o seguro-desemprego pode
chegar a até cinco meses e poucos são os que têm acesso ao auxílio já que é restrito a
trabalhadores que tenham saído de algum trabalho formal. Mesmo os cobertos pelo benefício,
a partir do quinto mês já passam a sofrer maior dificuldade em encontrar um novo trabalho
dada a sua restrição de renda e uma imensa maioria sequer tem esse período de alguma
garantia de renda.
A partir da década de 90, com a aceleração das taxas de desemprego, também o tempo
de duração do desemprego passou a ser maior do que nas décadas anteriores. Podemos
apontar alguns estudos que buscaram explicações para o maior tempo de permanência na
condição de desempregado, dentre eles o de Penido e Machado (2002) e Menezes-Filho e
Picchetti (2002). Ambos associaram a duração do desemprego a características do indivíduo,
o que não foi feito no nosso terceiro capítulo por uma questão de limitação do tema, mas é
bastante interessante notar o quanto esses dois campos estão relacionados.
Bivar havia encontrado uma duração média de seis semanas para o desemprego no
Brasil, em estudo de 1991, já Menezes-Filho e Picchetti, em 2000, encontraram para São
Paulo, centro mais dinâmico do país, uma duração média de seis meses; enquanto Penido e
Machado encontraram período de dez meses de procura para 1999. Todos utilizaram como
base a PME e analisaram somente o desemprego aberto. Ainda que com ressalvas em relação
à comparação dos números de bases de dados distintas, no último capítulo veremos que esses
dados pioraram bastante na primeira década do século XXI.
Na bibliografia sobre o assunto geralmente são apontados como características
relacionadas à maior dificuldade de transitar da situação de desempregado para empregado:
- ser cônjuge;
- ter maior nível educacional;
- ser estudante;
- ter mais idade;
64
- ter trabalhado anteriormente na indústria, comércio ou serviços, em relação à construção
civil;
- maior tempo de trabalho no último emprego;
- ter sido demitido do trabalho anterior;
- ter trabalhado anteriormente com carteira de trabalho;
- ter recebido FGTS quando saiu do último trabalho;
- maior renda;
- maior taxa de desemprego agregado.
Em contrapartida, têm mais facilidade para se reempregar os chefes de família,
homens, que já tenham experiência de trabalho. Ser mais educado e ter maior renda podem
estar relacionados a maiores salários de reserva exigidos pelos trabalhadores, isto é, a busca
por trabalhos melhor remunerados acaba tornando mais longo o período de espera e procura.
Já a maior taxa de desemprego agregado acaba sendo um indicador de conjuntura, pois
quando a dificuldade de encontrar emprego é generalizada, o período de desemprego tende a
se prolongar.
2.4. Conclusão
Este capítulo teve como objetivo contribuir para a reflexão sobre o desemprego,
lançando as bases da literatura empírica sobre o tema e suas relações multifacetadas com os
indivíduos enquanto portadores de características e do meio de interação em seus aspectos
sociais, demográficos e econômicos.
Vimos que o processo de formação das metrópoles brasileiras foi acelerado e
desprovido de planejamento, o que culminou na realidade atual de deficiência de infra-
estrutura básica e enorme população marginalizada. A informalidade no setor de serviços, nas
suas piores formas, prepondera como meio de sobrevivência para esses indivíduos, o que
torna premente formas de observação e análise dessa população que limitem exatamente do
que se trata o desemprego nesse contexto. A procura constante por trabalho nem sempre é
viável, nem a mera espera, sendo necessário recorrer a formas precárias de trabalho,
principalmente quando se tem a responsabilidade maior pelo seu núcleo familiar.
65
Ao longo da década de noventa se aceleraram mudanças na estrutura familiar: as
mulheres passaram a responder por maior parcela da renda familiar, seja na posição de
cônjuges ou de chefes de família, o que se tornou cada vez mais comum. Em contrapartida,
passaram a sofrer maiores taxas de desemprego, assim como os jovens. Em relação à cor, foi
mantida a tendência de marginalização de pretos e pardos em relação aos brancos e o tempo
de procura por novo trabalho vinha aumentando. O aspecto positivo está ligado à conjuntura
econômica pós-2000, principalmente pós-2003. A renda familiar voltou a crescer
paralelamente à ocupação e os tipos de políticas econômicas adotadas no período, de viés
distributivo, podem contribuir para a manutenção do ritmo de crescimento e desenvolvimento.
No capítulo seguinte iremos analisar como essa nova conjuntura afetou a composição
do desemprego nas regiões metropolitanas brasileiras e, segundo diferentes conceitos, como
se distribui e se caracteriza a população desempregada.
CAPÍTULO 3 – COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DESEMPREGADA SEGUNDO
CONCEITOS ALTERNATIVOS DE DESEMPREGO: ANÁLISE DOS DADOS DA
PED
O presente capítulo será dedicado à análise em certo nível de detalhe da estrutura do
desemprego mais especificamente no que diz respeito às características e perfil da população
atingida. Só para fazer a devida conexão, os capítulos anteriores se encarregaram de
apresentar alguns aspectos macroeconômicos, sociais, demográficos e culturais, que a partir
daqui assumirão forma empírica. Ou seja, por meio dos dados extraídos da PED referentes aos
anos 2000 a 2008, poderemos observar na realidade o peso desses aspectos. Uma avaliação
precisa dos impactos exigiria uma profundidade muito maior do que a que caberia neste
trabalho, estando a relevância da exposição aqui apresentada em destacar os pontos onde a
relação entre as variáveis (desemprego e a característica do indivíduo) chama atenção.
Por outro lado, não só uma extensão do escopo do trabalho por vias econométricas,
por exemplo, a esta altura do trabalho nos parece um tanto desnecessária, seja vista a imensa
disponibilidade de estudos que se encarregaram de fazê-lo, mas também por crermos que a
complexidade do tema reside em fatores que coeficientes matemáticos não ajudariam a
resolver. O que queremos dizer é que, de certa forma, o sinal dos coeficientes já é conhecido,
restando agora formular as políticas que dêem conta da gama de problemas sociais associados
ao desemprego e subemprego, tanto enquanto causa como conseqüência.
Paes e Barros (1997) identifica as seguintes aplicações para o estudo da composição
do desemprego:
- permite identificar fatores determinantes do desemprego, como nível educacional,
qualificação profissional e experiência de trabalho, ademais, viabiliza o teste de teorias sobre
a origem do desemprego;
- permite a avaliação do “grau de turbulência” do mercado de trabalho, ou seja, a freqüência e
intensidade de choques setoriais os quais a economia pode sofrer, além do “grau de
descasamento entre habilidades ofertadas e as demandadas no mercado de trabalho”, de forma
a fomentar a formulação de políticas específicas de treinamento e retreinamento, inclusive
para diferentes níveis regionais;
67
- melhora o gerenciamento e análise do programa de seguro-desemprego ao fornecer
informações de tendências do perfil da mão-de-obra que deverá se beneficiar do programa,
inclusive seus impactos distributivos e variações de acordo com o setor produtivo.
O estudo que se segue se prestará a contribuir neste sentido para a economia do
trabalho. Os dados que analisaremos nos permitirão mensurar a dimensão do desemprego
enquanto fenômeno social por duas perspectivas centrais. Primeiro, a dos atributos pessoais e,
segundo, a dos tipos de desemprego. A rotatividade, medida no tempo de desemprego, o
tratamento do mercado de trabalho a distintos grupos sociais (homens e mulheres; pretos e
brancos; pobres e ricos), papel no núcleo familiar como medida do grau de dependência da
renda e etc, seriam abordados na nossa primeira perspectiva. Já na segunda, poderíamos
abordar o alcance do desemprego em seus diversos conceitos apresentados na PED, o
desemprego oculto (por desalento e trabalho precário) e o mais conhecido desemprego aberto.
Devem ser levados em consideração ainda aspectos do desemprego no âmbito
metropolitano, que perpassa por causas e admite conseqüências específicas do contexto
urbano e, ainda, por discrepâncias entre as próprias regiões. São Paulo, Recife, Porto Alegre,
Belo Horizonte, Distrito Federal e Salvador, de acordo com os dados da PED, responderam
cada uma a seu modo ao padrão de crescimento recente da economia brasileira.
3.1. Desemprego por região metropolitana
Os menores níveis de desemprego oculto com trabalho precário, como nos mostra o
Gráfico 6.a estiveram entre Distrito Federal, depois Porto Alegre, para terminar 2008 com a
RM de Belo Horizonte. Já a maior taxa foi da RM de Salvador em todo o período. Além
disso, como havíamos suposto, seja qual for o fator, ou conjunto de fatores, definitivo sobre a
inflexão da taxa de desemprego em 2003, ele não teve o mesmo efeito individualmente sobre
as regiões. Foi Belo Horizonte quem mais influenciou a queda sistemática a partir de 2004
(caiu 45%), contribuindo muito para a escalada de 2000 a 2003 também (25%), mas Distrito
Federal conseguiu superá-la nesse período (cresceu 44%). A despeito de variações
individuais, todas tiveram queda em relação ao início do período.
Já no desemprego oculto por desalento (Gráfico 6.b), Recife e Porto Alegre estão nos
extremos, com a taxa mais alta e mais baixa, respectivamente, tendo a primeira, inclusive,
68
voltado a aumentar em 2008, enquanto as demais continuaram caindo. A evolução foi menos
irregular do que no desemprego com trabalho precário, mas dessa vez foi Belo Horizonte
quem mais influenciou tanto o aumento do desemprego metropolitano na primeira fase do
período, como a queda no segundo (48% e -53%), seguida por Porto Alegre (-49%) e São
Paulo (-42%). O Gráfico 1.b ajuda a comparar a evolução das RMs.
No Gráfico 6.c. temos a evolução da taxa de desemprego aberto nas regiões. Por ele
vemos que Salvador sofre mais altas taxas, enquanto Porto Alegre mais uma vez apresenta o
melhor indicador, pelo menos até 2005, quando perde a posição para Belo Horizonte. A
melhora mais robusta nos índices de BH mais uma vez foi definitiva para a taxa de
desemprego aberto total, principalmente sendo uma região de grande peso dentre as seis (caíra
34%). Já o desemprego em Recife foi o que mais subira, 28% na primeira fase.
As desigualdades sócio-econômicas entre as regiões do Brasil ficam evidentes na
apresentação desses dados, pois vemos pelo menos uma das RMs do Nordeste em
desvantagem em relação às demais nos três tipos de desemprego. Além de taxas altas
persistentes, são as menos beneficiadas quando o quadro geral de desemprego melhora e mais
prejudicadas quando piora. Belo Horizonte, por outro lado, teve posição de destaque na
redução dos três tipos de desemprego, mesmo vindo de um quadro negativo, de aceleração do
desemprego na primeira fase, reverteu a situação com mais eficiência, em alguns momentos
superando os melhores índices da representante do Sul do país, Porto Alegre. As
especificidades do perfil econômico e social de cada região metropolitana estão por trás dos
diferentes comportamentos das taxas de desemprego.
69
Gráfico 6.a. – Evolução da taxa de desemprego oculto com trabalho precário por Região
Metropolitana – 2000-2008
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
7%
8%
9%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
RM Recife RM SalvadorRM Belo Horizonte RM São PauloRM Porto Alegre Distrito Federal
Fonte: PED (elaboração própria)
Gráfico 6.b. – Evolução da taxa de desemprego oculto por desalento por Região Metropolitana
– 2000-2008
0%
1%
2%
3%
4%
5%
6%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Gráfico 6.c. – Evolução da taxa de desemprego aberto por Região Metropolitana – 2000-2008
5%
7%
9%
11%
13%
15%
17%
19%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
70
A despeito das orientações individuais das taxas, fugiria ao escopo deste trabalho
dissertar sobre as causas das disparidades. Por isso, tomemos como dadas as relações
estabelecidas entre elas e o retrato de que as limitações econômicas de alguns certamente
levarão a evoluções distintas e tentemos analisar a redução dos tipos de desemprego como
uma variável agregada, sobre a qual agem a evolução da PEA e o tipo de crescimento
econômico do período.
3.2. Evolução das taxas de desemprego das regiões metropolitanas agregadas
A População Economicamente Ativa (PEA) das seis regiões metropolitanas
cobertas pela PED totalizava quase 20 milhões de trabalhadores em 2008, contra pouco
menos de 17 milhões em 2000. Isto representa um crescimento de praticamente 15%
acumulado no período, com média anual de 2%. Para evitar o aumento da taxa de
desemprego, o número de postos de trabalho criados neste período deveria crescer mais do
que a PEA.
Por outro lado, a População em Idade Ativa tem crescido no mesmo ritmo,
permitindo que a taxa de participação, razão entre PEA e PIA, varie muito pouco (entre
61% em 2000 e 62% em 2008. A PIA é a população com pelo menos dez anos de idade,
cujas características no Brasil acabam associando seu crescimento a aumentos também da
PEA. A demografia brasileira ainda se caracteriza por uma base larga na pirâmide
demográfica e uma propensão ao início da vida laboral muito cedo, ou seja, uma população
jovem ainda muito grande em relação aos adultos e idosos, além da presença de trabalho
antes do 18 anos, alimentando cada vez mais o mercado de trabalho com novos
trabalhadores, ingressantes na PEA.
Além das informações supracitadas, pode ser observado nas Tabelas 3 e 4 uma
outra característica do mercado de trabalho metropolitano brasileiro: a inatividade entre as
mulheres é estruturalmente maior do que entre os homens, ou seja, apesar de haver mais
mulheres em idade ativa nas regiões metropolitanas, nem todas ingressam na PEA, o que
estaria associado a fatores culturais e sociais. A tendência, contudo, é de redução da
inatividade feminina, pois o crescimento demográfico do grupo, apontado na composição
da PIA, complementado pela conjuntura econômica, tem levado a maior ingresso delas no
71
mercado de trabalho no período recente, em relação ao ingresso dos homens. Pela Tabela 5
vemos que a 51% das mulheres em idade ativa estavam economicamente ativas em 2000,
crescendo para 54% esta participação em 2008, enquanto dentre os homens 70% se
disponibilizam para o trabalho. Mais adiante veremos a associação deste fato com o
desemprego, em seus diversos tipos.
Tabela 3 – População Economicamente Ativa – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
9.343.938 9.447.028 9.638.254 9.773.308 9.909.517 9.969.420 10.065.004 10.256.748 10.485.009
55,2% 54,6% 54,4% 53,9% 53,7% 53,5% 53,2% 53,3% 52,9%
7.598.195 7.870.664 8.094.318 8.361.130 8.557.788 8.677.230 8.838.152 8.989.405 9.343.570
44,8% 45,4% 45,6% 46,1% 46,3% 46,5% 46,8% 46,7% 47,1%
16.942.133 17.317.692 17.732.572 18.134.438 18.467.305 18.646.650 18.903.156 19.246.153 19.828.579
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboração própria)
Homens
Mulheres
Total
Tabela 4 – População em Idade Ativa – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Homens 13.189.556 13.401.308 13.635.760 13.837.649 14.100.987 14.309.947 14.572.294 14.819.211 15.034.801
47,1% 47,0% 47,0% 46,9% 46,9% 46,8% 46,8% 46,8% 46,6%
Mulheres 14.803.444 15.083.692 15.355.240 15.658.351 15.938.013 16.275.053 16.570.706 16.854.789 17.197.199
52,9% 53,0% 53,0% 53,1% 53,1% 53,2% 53,2% 53,2% 53,4%
27.993.000 28.485.000 28.991.000 29.496.000 30.039.000 30.585.000 31.143.000 31.674.000 32.232.000
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Total
Tabela 5 – Taxa de participação – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Masculina 71% 70% 71% 71% 70% 70% 69% 69% 70%
Feminina 51% 52% 53% 53% 54% 53% 53% 53% 54%
Total 61% 61% 61% 61% 61% 61% 61% 61% 62%
Fonte: PED (elaboração própria)
Como explicado no início do capítulo, nossa análise será detalhada por três tipos de
desemprego: o aberto; o oculto com trabalho precário e o oculto por desalento. Esta análise
tratará de traçar o perfil da população em cada situação de desemprego, seja por suas
características pessoais – sexo, cor, idade e grau de instrução- seja pelas características
capazes de delinear o impacto da condição de desemprego que a atinge – o tempo de
desemprego, a renda alternativa a que tem acesso, além do setor de atividade do último
emprego.
72
Com estas informações podemos definir três grupos distintos de perfil de
desemprego. Um primeiro que relacionaria o desemprego a características pessoais do
trabalhador e que poderiam ser determinantes da sua dificuldade de inserção no mercado
de trabalho, tais como sua idade, cor, sexo e instrução. No segundo grupo estariam as
variáveis que mediriam a profundidade da situação de desemprego e, conseqüentemente, a
capacidade da ausência de trabalho de determinar a condição de vida do indivíduo, tais
como o tempo de desemprego e o seu meio de sobrevivência, bem como a renda familiar
poderá ser usada como indicador da dependência de se exercer alguma atividade
remunerada.
Já o terceiro grupo fornecerá alguma idéia sobre a relação do desemprego a
mudanças no desempenho econômico, embora não se possa afirmar muito sobre a
migração inter-setorial de mão-de-obra, o que fugiria do objetivo central do capítulo de
elaborar um quadro geral do desemprego no Brasil. A variável de apoio será o Setor no
qual o trabalhador se empregara anteriormente à situação de desemprego.
De fato os determinantes do desemprego não podem ser claramente segregados nos
três grupos que definimos acima, mas o método facilitará nossa análise e não impedirá que
se evidenciem as relações multifacetadas do desemprego. Isto ficará mais claro ao longo do
desenvolvimento do estudo.
Daqui em diante o nosso universo de estudos será a parcela desempregada nas
regiões metropolitanas de Recife, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Distrito Federal e
Porto Alegre, agregadas. Não trataremos a estrutura do desemprego como taxas de
desemprego por grupo social, em vez disso, veremos os grupos sociais desempregados
como constituintes do total de desempregados e, dessa forma, teremos acesso à informação
de participação desse determinado grupo no desemprego, por tipo de desemprego (aberto;
oculto com trabalho precário; oculto por desalento). Por exemplo, quando analisamos a
relação dos gêneros com o desemprego oculto por desalento, queremos saber quantos
destes desempregados são homens e quantos são mulheres.
A pesquisa dos dados metropolitanos de 2000 a 2008 aponta para a evolução das
taxas de desemprego exposta na Tabela 6:
73
Tabela 6 – Evolução das taxas de desemprego metropolitano – 2000-2008 (%)
TotalTrabalho Precário
Desalento
2000 11,5% 7,2% 4,8% 2,4% 18,7%
2001 11,8% 7,0% 4,8% 2,2% 18,8%
2002 12,2% 7,3% 4,9% 2,5% 19,5%
2003 13,2% 7,6% 5,0% 2,6% 20,8%
2004 12,3% 7,4% 5,0% 2,4% 19,7%
2005 11,3% 6,6% 4,6% 2,1% 17,9%
2006 11,0% 5,7% 3,9% 1,9% 16,7%
2007 10,5% 5,0% 3,4% 1,6% 15,5%
2008 9,5% 4,6% 3,1% 1,5% 14,1%
Fonte: PED (elaboração própria)
Desemprego Aberto
Desemprego Oculto
TotalAno
Taxa de Desemprego
A taxa de desemprego total cresceu até 2003 e declinou sistematicamente a partir
de 2004. Sendo a redução da taxa de desemprego, obviamente, dependente da redução do
número de desempregados em relação à PEA, que, como vimos anteriormente, vem
crescendo à média de 2% ao ano desde 2000, o comportamento observado das taxas
significa que, até 2003, o número de postos de trabalho criados não foi suficiente para
absorver todos os trabalhadores que a cada ano ingressaram no mercado de trabalho,
portanto, inferior a 2%14.
A inflexão ocorrida em 2004 então demonstra uma patente recuperação do mercado
de trabalho, como mostra o gráfico a seguir, que ilustra a evolução das taxas de cada tipo
de desemprego de 2000 a 2008.
A mesma tendência foi observada no desemprego oculto com trabalho precário
(DOTP) e no aberto, apresentando o desemprego oculto por desalento (DOD) uma leve
oscilação entre 2000 e 2002, mas adquirindo mesma trajetória de queda a partir de 2004. O
Gráfico 7 deixa evidente essa tendência no comportamento do desemprego e outras
informações importantes devem ser destacadas, qual seja a da parcela de cada tipo de
desemprego no total. A queda no desemprego aberto foi menos acentuada do que a dos
outros, o que fez aumentar sua participação no total, de 61,5% em 2000 para 67,5% em
2008. Enquanto o DOPT passou de 26% para 20% e o DOD de 13% para 10% no mesmo
período.
14 Deixaremos a discussão do paralelo com a expansão da ocupação para mais adiante, abordando inclusive com exatidão essas taxas.
74
Gráfico 7 - Desemprego desagregado (%) - 2000-2008
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
20
22
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Desemprego aberto Desemprego oculto pelo trabalho precário
Desemprego oculto por desalento Desemprego total
Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego, Convênio SEADE/DIEESE
O que contribuiu para que a partir de 2003 o desemprego começasse a cair? E
porque houve mudança na própria composição da taxa de desemprego total? Está
relacionado com a composição social desses desempregos? Essas são as três questões
suscitadas a partir dos dados expostos e que tentaremos refletir sobre, começando pelo
detalhamento das informações que temos disponível na Pesquisa de Emprego e
Desemprego sobre a população desempregada.
3.2.1. Desemprego oculto com trabalho precário
Corroborando a afirmação feita no início do capítulo, a Tabela 7 nos mostra que a
tendência nacional do desemprego oculto com trabalho precário foi de crescimento até
2003 e queda consistente a partir de 2004. Fato curioso, que nos instiga a conjecturar sobre
suas possíveis causas, cabendo ainda uma reflexão sobre a natureza da estatística no
contexto do mercado de trabalho brasileiro.
75
Tabela 7 – População desempregada por trabalho precário (% da PEA) – 2000 a 2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
816.444 822.715 863.447 916.475 914.409 850.686 732.992 664.514 611.653
4,8% 4,8% 4,9% 5,1% 5,0% 4,6% 3,9% 3,5% 3,1%
Fonte: PED (elaboração própria)
Desemprego Oculto por Trabalho Precário
O desemprego oculto com trabalho precário abrange pessoas que realizam trabalhos
precários, ocasionais, ou que realizam trabalho não remunerado em ajuda a parentes e que
procuram mudar de trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista ou que, não tendo
procurado neste período, o fizeram sem êxito nos últimos 12 meses. Nos estudos sobre o
desemprego no Brasil é o que está mais associado ao chamado trabalho informal ou
subemprego.
Cabe ressaltar, entretanto, que as duas estatísticas, DOTP e trabalho informal, não
são idênticas, mas a primeira está contida na segunda. Só o são no caso extremo em que
não exista trabalho informal acompanhado de busca por outro emprego, se considerando o
trabalhador satisfeito com a atividade exercida. A diferença metodológica é sutil e o
desemprego oculto muitas vezes acaba sendo captado como emprego em outros tipos de
pesquisas, embora como informal, pela simples presença de trabalho no período de sete
dias anteriores à pesquisa. A questão é, principalmente, o tipo de trabalho exercido, que
muitas vezes leva o trabalhador a procurar outro emprego, caracterizando a noção de
desemprego que a PED tenta refletir.
A noção de ausência de trabalho e de procura por trabalho que são revistas na PED
vêm exatamente a construir essa dissociação entre o trabalho informal “bom” e “ruim”. Em
parte pela própria alteração no que seria considerado como trabalho, mas também por levar
em conta que a presença de trabalho em si não preenche as necessidades de trabalho do
indivíduo, principalmente na ausência de mecanismos de proteção do Estado a muitos
desempregados, o que os leva a exercer atividades irregulares e descontínuas enquanto
procuram outro trabalho. Cardoso Jr, em sua análise da informalidade no Brasil, adota uma
metodologia intencionada a filtrar do emprego informal estes casos de precariedade do
trabalho.
76
A justificativa para este corte analítico está ligada ao fato de que no interior de ambas15 as categorias ocupacionais assumidas enquanto informais residem as atividades de trabalho mais precárias, do ponto de vista do conteúdo ou da qualidade da ocupação, e de mais frágil inserção profissional, do ponto de vista das relações de trabalho. Isto não é, obviamente, o mesmo que afirmar que não existam atividades de trabalho precárias ou frágeis também no seio das categorias de assalariados com carteira, estatutários e militares, mas sim que nestes casos a incidência de inserções de natureza ruim é bem menor, posto estarem ligadas ao núcleo mais estruturado do mercado de trabalho (CARDOSO Jr, 2007).
É certo que o desemprego, exceto o voluntário (a inatividade), se caracteriza como
uma oferta de trabalho não demandada pelo mercado, o que não caberia no termo “trabalho
informal”, mas, controvérsias a parte, não há relevância científica na discussão entre se
classificar uma pessoa como desempregado com trabalho precário ou como empregado
informal, desde que se tenha consciência de que a condição do trabalho, seja medida sua
precariedade pelas condições de execução ou pela baixa remuneração, é que determina a
que veio aquela estatística. O objetivo da estatística em fomentar políticas públicas só se
perde se sua capacidade de refletir a heterogeneidade e a debilidade do mercado de
trabalho brasileiro for ignorada.
Foi considerando este caráter do mercado de trabalho brasileiro que achamos
relevante explorar as principais características da população atingida pelo desemprego
oculto com trabalho precário (DOTP), enquanto condição específica da informalidade, a
fim de construir um perfil destes e uma reflexão sobre sua relação com o contexto
econômico e as estruturas sociais. As perguntas que nos movem por agora são, portanto,
quem são os desempregados que compõem o DOTP?
15 O autor divide o trabalho informal em duas categorias, autônomos e sem-carteira, baseado num critério de relação de produção existente. Por isso inclui no conceito do informal, trabalhadores classificados como empregadores, mas pelo fato do grau de organização do negócio ser baixo, passa a ser considerado precário do ponto de vista da organização capitalista (lucro e remuneração) e exclui parcela de profissionais liberais do meio urbano, que auferem rendas altas e não são submetidos à instabilidade e ocasionalidade do trabalho, inclusive recolhem contribuição previdenciária como autônomos.
77
3.2.1.1. Perfil da população em desemprego oculto com trabalho precário
Nesse primeiro ciclo da análise dividiremos a população desempregada em dois
grupos, segundo critérios de cor16: Pretos e Pardos, de um lado; e Brancos e Amarelos, de
outro. Sobre cada um desses grupos a recuperação da taxa de desemprego surtiu efeitos
distintos. No Gráfico 8, é perceptível a melhora, mas o que talvez não fique tão claro é o
aumento das desigualdades entre os dois grupos. Pretos e Pardos, no ano 2000, respondiam
por 54,3% do DOTP e essa participação cresceu paulatinamente até alcançar o patamar de
61,2% em 2008, enquanto os Brancos e Amarelos respondiam pelos demais 38,8%17.
Gráfico 8 – Evolução do número de desempregados por cor – 2000-2008
-
200
400
600
800
1.000
Milhares
Branca e amarela 372.861 334.262 352.247 373.429 379.535 344.906 302.008 268.333 237.053
Preta e Parda 443.584 487.275 511.048 542.993 534.874 505.736 430.984 396.182 374.600
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Fonte: PED (elaboração própria).
Tabela 8 – Participação no DOTP por cor – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
372.861 334.262 352.247 373.429 379.535 344.906 302.008 268.333 237.053
45,7% 40,6% 40,8% 40,7% 41,5% 40,5% 41,2% 40,4% 38,8%
443.584 487.275 511.048 542.993 534.874 505.736 430.984 396.182 374.600
54,3% 59,2% 59,2% 59,2% 58,5% 59,5% 58,8% 59,6% 61,2%
Fonte: PED (elaboração própria)
Branca e amarela
Preta e Parda
16 Como pode ser observado foi adotado um segundo critério de fusão entre as características. Pretos foram aliados aos Pardos, pela maior ligação cultural, histórica e até biológica, enquanto Amarelos associamos a Brancos pela menor exposição a problemas de aceitação social, que geralmente são atribuídos a Pretos e Pardos. 17 Fato intrigante é que grande parte dessa mudança se deu no ano de 2000 para 2001, um espaço de tempo muito curto.
78
Se olharmos o grau de instrução dos dois grupos, notamos que Pretos e Pardos,
tinham deficiência maior em relação aos Brancos e Amarelos, pois em sua maioria tinham
escolaridade inferior. Embora ambos venham se desenvolvendo em direção a maior nível
de instrução; o primeiro grupo conseguiu se aproximar das proporções apresentadas pelo
segundo, o que, poupando qualquer parecer sobre a empregabilidade dos grupos em si,
indica somente que a composição do desemprego para o grupo de indivíduos de cor Preta e
Parda se alterou mais rapidamente no sentido do aumento da escolaridade de seus
componentes.
Tabela 9 – Grau de instrução da população desempregada por cor – 2000-2008
Branca e Amarela Preta e Parda
Branca e Amarela
Preta e Parda
Branca e Amarela Preta e Parda
11.490 22.028 9.208 25.031 2.484 10.195
3,1% 5,0% 2,7% 5,1% 1,1% 2,7%
1.596 990 1.279 1.892 98 868
0,4% 0,2% 0,4% 0,4% 0,0% 0,2%
167.769 255.518 149.789 268.351 78.437 149.184
45,0% 57,6% 44,7% 55,1% 33,2% 39,9%
51.617 59.205 51.350 65.536 37.435 53.411
13,9% 13,4% 15,3% 13,5% 15,9% 14,3%
38.789 41.909 33.479 48.235 28.193 46.403
10,4% 9,5% 10,0% 9,9% 12,0% 12,4%
70.503 55.604 66.658 68.080 65.555 101.640
18,9% 12,5% 19,9% 14,0% 27,8% 27,2%
14.204 4.863 11.607 5.820 10.020 8.065
3,8% 1,1% 3,5% 1,2% 4,2% 2,2%
16.653 3.235 11.783 3.875 13.694 4.367
4,5% 0,7% 3,5% 0,8% 5,8% 1,2%
372.621 443.352 335.153 486.820 235.916 374.133
100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
2000 2001 2008
Analfabeto
Sem escolarização
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Médio Incompleto
Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Total
Quando analisamos a relação entre gênero e desemprego oculto com trabalho
precário (DOTP), o que claramente se nota é a perda relativa de participação dos homens
nesta categoria de desemprego. Em valores absolutos o desemprego entre eles caiu muito
mais do que entre as mulheres. Não podemos, no entanto, nos precipitar para a conclusão
de que os primeiros tenham sido os mais atingidos pela recuperação do emprego no
período, visto que, ao observarmos os dados da PEA, vimos que houve em contrapartida
aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho. O emprego entre elas pode
ter aumentado tanto quanto para os homens, mas o estoque de mão-de-obra feminina sem
79
trabalho pode ter permanecido inalterado por motivo de ingresso cada vez maior destas na
busca por emprego. No Gráfico 9, que relaciona o número absoluto (em milhares) de
homens e mulheres desempregados ao longo do tempo, pode-se notar a redução do
desemprego masculino, com maior impacto sobre o desemprego total.
Gráfico 9 - Evolução da participação de homens e mulheres no DOTP - 2000-2008
100
300
500
700
900
1100
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Milh
ares
Homens Mulheres Total
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
545.856 535.040 560.756 596.767 587.175 532.638 455.354 406.032 356.75866,90% 65,00% 64,90% 65,10% 64,20% 62,60% 62,10% 61,10% 58,30%270.588 287.675 302.691 319.708 327.234 318.047 277.638 258.482 254.89633,10% 35,00% 35,10% 34,90% 35,80% 37,40% 37,90% 38,90% 41,70%
Fonte: PED (elaboração própria)
Homens
Mulheres
Sobre a relação entre idade e desemprego, alguns pontos importantíssimos podem
ser ressaltados e associados a características estruturais da sociedade brasileira. A Tabela
10 relaciona o número de desempregados em cada faixa etária ao longo do período 2000-
2008, contendo as taxas de participação no DOTP em cada ano.
Chamam atenção as taxas encontradas para a população entre 10 e 19 anos,
que atingem em média 14,7% do DOTP. Em busca de uma explicação para esse fato,
tentamos relacionar essa parcela da oferta de trabalho com a renda familiar dos
adolescentes. Nesta investigação concluímos que uma baixa renda familiar está associada à
busca de trabalho dos indivíduos desta faixa etária. Com um número médio de membros
por família de 4,81 pessoas no segmento populacional18 mais vulnerável e onde há mais
adolescentes desempregados, a renda familiar per capita teve maior média da série em
18 Selecionamos os indivíduos desempregados com trabalho precário e com renda familiar inferior a R$ 1000,00.
80
2007, R$ 152,28. Incluindo a faixa de renda imediatamente superior, a maior média passa a
ser a de 2008, R$ 217,10.
Um sinal positivo é que, como pode ser visto no Gráfico 10, que relaciona a
participação absoluta (em milhares) de crianças e adolescentes em cada faixa de renda, o
número destes enquadrados no DOTP tem diminuído muito. E o fato da renda das classes
mais baixas estar aumentando pode interferir positivamente neste aspecto, via políticas
assistenciais que têm como critério a frequência escolar dos beneficiados ou pela própria
redução do desemprego entre os chefes de família.
Tabela 10 – Participação no DOTP por faixa etária – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
137.970 137.662 128.685 131.166 133.378 121.774 103.341 86.372 83.100
16,9% 16,7% 14,9% 14,3% 14,6% 14,3% 14,1% 13,0% 13,6%
281.231 278.546 298.917 313.309 325.520 298.364 260.362 234.622 209.492
34,4% 33,9% 34,6% 34,2% 35,6% 35,1% 35,5% 35,3% 34,3%
205.535 202.646 217.788 233.911 226.190 209.869 176.993 171.285 151.030
25,2% 24,6% 25,2% 25,5% 24,7% 24,7% 24,1% 25,8% 24,7%
132.484 143.427 152.603 165.432 158.336 151.937 129.251 115.452 112.683
16,2% 17,4% 17,7% 18,1% 17,3% 17,9% 17,6% 17,4% 18,4%
49.192 53.217 55.078 62.283 61.353 60.523 55.149 48.674 47.543
6,0% 6,5% 6,4% 6,8% 6,7% 7,1% 7,5% 7,3% 7,8%
9.024 6.912 9.706 9.885 8.830 8.063 7.866 7.833 7.754
1,1% ,8% 1,1% 1,1% 1,0% ,9% 1,1% 1,2% 1,3%
1.007 306 672 488 802 156 30 275 52
,1% ,0% ,1% ,1% ,1% ,0% ,0% ,0% ,0%
816.443 822.716 863.449 916.474 914.409 850.686 732.992 664.513 611.654
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboração própria)
Total
10 - 19
20 - 29
>70
30 - 39
40 - 49
50 - 59
60 - 69
As maiores taxas no desemprego são observadas para os indivíduos com idade entre
20 e 29 anos, que respondem por 34,3% do DOTP em 2008, praticamente o mesmo do que
consta para 2000. O fato de serem altas pode representar uma deficiência da economia
brasileira em receber os jovens ingressantes no mercado de trabalho, associável não
somente à inexperiência profissional, mas principalmente à ausência de formação
profissional. Para averiguar esta hipótese, vamos buscar relacionar a evolução do grau de
instrução dos jovens de 20 a 29 anos, detalhado na Tabela 11.
81
Gráfico 10 – Número de desempregados (DOTP) na faixa etária de 10 a 19 anos por faixa de renda – 2000-2008
0
20
40
60
80
100
120
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Milh
ares
<= 1000 1000,01 - 2000 2000,01 - 5000 >5000
Fonte: PED (elaboração própria)
O quadro educacional nas metrópoles como um todo tem melhorado, pois o número
de pessoas que tinham somente o Ensino Fundamental diminuiu, enquanto os níveis mais
altos de escolaridade têm aumentado sua população correspondente. A parcela de
desempregados com idade entre 20 e 29 anos tem acompanhado essa tendência, ou seja,
também tem aumentado o número dos mais instruídos, mas ao mesmo tempo aumentaram
as taxas de desemprego para os níveis mais altos. A extraordinária redução absoluta do
número de jovens desempregados com Ensino Fundamental Incompleto, mais que
compensou a elevação dos com Ensino Médio e Superior Completos, surtindo efeito
líquido positivo sobre o desemprego para esta faixa etária.
O grau de instrução desses jovens desempregados é muito baixo, apenas 3,7%, em
2008, tinham o Superior Completo, e esse número é 68,3% maior do que o de 2000. Por
outro lado, na PEA como um todo, crescera 76,7%. Os números para o Ensino Médio vão
na mesma linha: a parcela desempregada aumentara 30,7% em relação ao ano inicial,
enquanto no total da PEA aumentara 77,5%. Já para aqueles com Fundamental Incompleto,
houvera recuo de 59,5% e 52,4%, respectivamente. Em suma, para os níveis mais altos de
instrução, Médio Completo e Superior Completo, o aumento no desemprego foi menor do
que o aumento na oferta de trabalhadores desses grupos; enquanto para o nível
Fundamental Incompleto a reversão foi ainda mais positiva, pois obteve uma queda maior
em relação à redução da mão-de-obra disponível – PEA. O que indica uma clara
substituição de mão-de-obra menos qualificada pela mais qualificada, acompanhando a
82
tendência de aumento do grau de instrução da população, embora o aproveitamento da
maior qualificação dos jovens não tenha sido integral.
Tabela 11 – Desempregados com idade entre 20 e 29 anos por grau de instrução – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
4.153 5.307 5.885 5.261 2.931 3.581 2.658 1.393 1.430
1,5% 1,9% 2,0% 1,7% ,9% 1,2% 1,0% ,6% ,7%
75 225 191 129 219 409 40 68 0
,0% ,1% ,1% ,0% ,1% ,1% ,0% ,0% ,0%
133.296 125.574 125.138 119.980 106.796 98.385 73.755 65.512 53.949
47,4% 45,1% 41,9% 38,3% 32,8% 33,0% 28,4% 27,9% 25,8%
37.521 40.914 42.120 43.039 46.268 43.125 38.357 30.749 27.243
13,3% 14,7% 14,1% 13,7% 14,2% 14,5% 14,7% 13,1% 13,0%
31.565 31.853 36.052 35.568 38.631 35.780 32.851 34.705 31.430
11,2% 11,4% 12,1% 11,4% 11,9% 12,0% 12,6% 14,8% 15,0%
59.661 60.754 75.034 93.260 110.179 98.497 94.652 85.758 77.963
21,2% 21,8% 25,1% 29,8% 33,9% 33,0% 36,4% 36,6% 37,3%
10.330 9.242 9.846 10.312 13.420 11.034 9.867 9.649 9.145
3,7% 3,3% 3,3% 3,3% 4,1% 3,7% 3,8% 4,1% 4,4%
4.590 4.676 4.651 5.656 6.899 7.552 7.947 6.589 7.723
1,6% 1,7% 1,6% 1,8% 2,1% 2,5% 3,1% 2,8% 3,7%
281.191 278.545 298.917 313.205 325.343 298.363 260.127 234.423 208.883
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Superior Incompleto
Superior Completo
Total
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Médio Incompleto
Médio Completo
Analfabeto
Sem escolarização
Para o restante das faixas etárias o desemprego caiu em termos absolutos e
ganharam importância relativa devido à grande perda de participação do desemprego de
crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. O nível educacional melhorou para as faixas como
um todo, mas o histórico de uma população pouco instruída é realçado no aumento das
disparidades entre os níveis de escolaridade à medida que a idade aumenta.
Na observância do quadro geral do desemprego por grau de instrução, vemos que
uma parcela muito grande da população na situação de DOTP, 51,9%, tinha apenas o
Fundamental Incompleto em 2000. Em 2008 passou para 37,3%, transferindo maior peso a
Ensino Médio Completo, com 27,4%. Dentro das condições precedentes, as taxas de 2008
demonstram até uma melhora, por estarem associados ao aumento do grau de instrução da
população em geral. Mas devemos ressaltar que a redução do desemprego não foi na
mesma proporção que o aumento, em número de trabalhadores, da escolaridade da PEA.
O perfil educacional dos desempregados do DOTP fica resumido na Tabela 12, que
relaciona o número de desempregados em cada grau de instrução, com respectivas taxas de
participação no DOTP.
83
Tabela 12 – Participação no DOTP por grau de instrução – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
33.518 34.239 35.357 35.459 29.010 29.551 19.083 14.757 12.678
4,1% 4,2% 4,1% 3,9% 3,2% 3,5% 2,6% 2,2% 2,1%
2.586 3.170 2.192 2.482 2.192 1.180 1.141 1.129 967
,3% ,4% ,3% ,3% ,2% ,1% ,2% ,2% ,2%
423.288 418.207 421.737 424.611 386.861 353.714 284.806 252.059 227.621
51,9% 50,9% 48,9% 46,4% 42,3% 41,6% 38,9% 38,0% 37,3%
110.821 116.935 123.549 132.187 136.938 126.203 113.004 97.212 90.846
13,6% 14,2% 14,3% 14,4% 15,0% 14,8% 15,4% 14,7% 14,9%
80.698 81.764 89.006 91.341 97.240 89.277 83.136 77.606 74.596
9,9% 9,9% 10,3% 10,0% 10,6% 10,5% 11,4% 11,7% 12,2%
126.107 134.759 156.565 190.699 214.047 206.792 192.107 184.872 167.196
15,5% 16,4% 18,1% 20,8% 23,4% 24,3% 26,2% 27,9% 27,4%
19.067 17.428 18.390 20.486 24.420 21.109 18.762 17.688 18.085
2,3% 2,1% 2,1% 2,2% 2,7% 2,5% 2,6% 2,7% 3,0%
19.888 15.658 16.308 18.304 23.441 22.816 20.196 18.091 18.061
2,4% 1,9% 1,9% 2,0% 2,6% 2,7% 2,8% 2,7% 3,0%
815973 822160 863104 915569 914149 850642 732235 663414 610050
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Total
Analfabeto
Sem escolarização
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Médio Incompleto
Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
De qualquer forma, o que não se consegue observar é a correlação entre as
variações por faixas ou níveis de instrução com a taxa de desemprego oculto com trabalho
precário, que cresceu até 2003 e nos anos seguintes diminuiu. Isso se deve à gama de
fatores que afetam os valores absolutos, dentre eles o crescimento populacional, o
envelhecimento da população (fazendo com que migrem de uma faixa etária para outra e
não que haja uma redução de desemprego numa faixa em detrimento da outra), a mudança
de nível educacional dos indivíduos ao longo do tempo etc. Em suma, o aumento do
emprego teria que compensar todos os fatores demográficos para que o resultado final da
variável necessariamente reflita as mudanças conjunturais. Neste nível de análise é inócuo
buscar impacto econômico sobre os grupos sociais ano a ano, por isso consideramos mais
relevante a comparação do início com o final do período, ainda com ressalvas, já que não é
objetivo deste trabalho discutir variáveis demográficas a fundo. Quando possível e
pertinente, será observado o comportamento temporal do desemprego.
Pela análise do primeiro grupo de características, pudemos constatar que a
participação dos homens no DOTP é maior, embora venha diminuindo, possivelmente pela
entrada cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho. A faixa etária predominante
é de jovens até 29 anos, seguida pela faixa de 30 a 39 anos, e que o nível educacional dessa
população em geral é baixo, têm no máximo o Fundamental Incompleto, mas há grande
parcela com Médio Completo. Embora tenha melhorado o quadro educacional, o que se
84
teve como resultado dessa melhoria foi um aumento do desemprego para as pessoas com
maiores graus de instrução, principalmente para Médio Completo.
Já no segundo grupo, que havíamos mencionado como capaz de medir a
sensibilidade das condições de vida do indivíduo à sua situação de desemprego, estão o
tempo de desemprego e o meio de sobrevivência ao qual ele recorre; além da renda
familiar como indicador da dependência de se exercer alguma atividade remunerada. A
análise que vamos desenvolver agora se pauta no alto grau de associação entre desemprego
e pobreza. Eles estão intimamente ligados na medida que criam-se problemas de inserção
no mercado de trabalho seja pela trabalho precoce ou inacesso a ensino de qualidade com
determinante da fraca formação profissional, particularmente nas pessoas de renda familiar
mais baixa. A situação imposta pela falta de recursos é de estagnação ou pior, de
multiplicação dos baixos padrões de vida, que tendem a se perpetuar de geração em
geração.
Para buscar os vínculos entre estes fatores vamos associar o desemprego à faixa de
renda das famílias; a posição do desempregado no seu círculo familiar, cujo peso na renda
é determinante na qualidade de vida dos seus, tanto no presente como no futuro; e a renda
alternativa (ou meio de sobrevivência). Para cada tipo de desemprego as opções de renda
são adaptadas e consonantes com as características de cada um deles, como no caso do
desemprego oculto com trabalho precário, que por agora será nosso objeto de análise, a
renda alternativa mais importante é a de trabalhos temporários e esporádicos.
Para dar sequência na referenciada análise, optamos pelo corte de faixas de renda a
cada R$ 1000,00 para evitar vinculação com o valor de salário mínimo, que embora seja
um mecanismo importante de proteção dos salários dos trabalhadores, ainda não é uma boa
medida de qualidade de vida para a família. De qualquer forma, não pretendemos entrar no
mérito dessa discussão de limites ideais de salário mínimo, tão somente medir de algum
modo a relação entre desemprego e renda.
Pelos dados da PED, as famílias destes desempregados nas regiões metropolitanas
vêm diminuindo o número de membros, enquanto a renda familiar real cresce (média de
R$ 1194,50 em 2000 para R$ 1059,49 em 2008). A renda familiar per capita média
passou, portanto, de R$ 302,56 para R$ 290,08 no período. Para termos reais de renda,
portanto, o reflexo foi de aumento suave da participação de desempregados com renda
85
familiar inferior a R$ 1000,00 no DOTP, de iniciais 61,4% para 64,3% no ano de 2008.
(Tabela 13)
Tabela 13 – Desempregados por faixa de renda familiar (DOTP) – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
<= 1000,00 61,4% 65,0% 67,8% 70,2% 67,0% 66,6% 66,1% 66,3% 64,3%
1000,01 - 2000 24,0% 21,6% 21,1% 20,6% 21,9% 21,3% 22,4% 22,5% 23,6%
2000,01 - 3000 7,4% 7,3% 6,0% 5,2% 5,9% 7,0% 5,9% 6,7% 6,1%
3000,01 - 4000 3,0% 2,8% 2,4% 2,0% 2,8% 2,0% 2,7% 2,3% 3,1%
4000,01 - 5000 1,6% 1,1% 1,2% ,9% ,9% 1,1% 1,3% ,8% 1,0%
>5000 2,6% 2,1% 1,5% 1,2% 1,5% 1,9% 1,6% 1,3% 1,9%
Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Até a segunda faixa de renda familiar se concentra grande parte do desemprego, o
que nos leva a concluir que há uma grande associação entre desemprego oculto com
trabalho precário e baixas rendas. Um dos dois casos que se enquadram do DOTP, de
exercício de trabalho precário e ocasional, o conhecido “bico”, é muito comum nesse
quadro, visto que a necessidade de incrementar a renda familiar é maior. Já o segundo caso
de DOTP, trabalho não remunerado de ajuda a parentes, desponta em famílias de maior
renda. Se o objetivo de pesquisa estiver conectado como uma busca de determinantes de
condições de vida, deve-se ter cuidado ao associar o desemprego com trabalho precário à
pobreza por esse motivo. Não é possível distinguir, sem um maior detalhamento dos dados
por renda, a situação de carência de emprego como determinante da condição de vida do
indivíduo.
Podemos corroborar uma outra hipótese citada, a de que a pobreza, por sua vez
refletida no desemprego, esteja associada a baixos níveis educacionais. Em 2000, 57,6%
dos desempregados com renda familiar inferior a R$ 1000 tinham somente o Fundamental
Incompleto, em segundo lugar estão aqueles com Fundamental Completo – 13,8%,
seguidos por aqueles com o Ensino Médio Completo, 12,3%. Já em 2008, as taxas foram
de 43,4%, 23,8% e 15,4%, respectivamente. À medida que cresce a renda, o peso dos
níveis mais altos de instrução aumenta.
No entanto, se observarmos os dados absolutos, vemos que a grande proporção de
pessoas com graus de instrução mais baixos por si só não é explicativo da persistência do
desemprego, pois como visto anteriormente, a melhoria do nível educacional da população
86
em geral não tem significado absorção garantida desses trabalhadores mais preparados pelo
mercado de trabalho.
O segundo aspecto que pode estabelecer relação determinística entre desemprego e
pobreza é a posição do indivíduo desempregado na família. Os Chefes de família têm papel
central na geração de renda para o seu núcleo familiar, complementada, geralmente, pela
renda do Cônjuge, portanto cabe questionar qual a parcela dos desempregados que têm
ocupado essas posições essenciais.
De acordo com a Tabela 14, que apresenta o número de desempregados por posição
na família a cada ano, além da respectiva taxa de participação no DOTP, os chefes de
família representavam 41,8% do desemprego em 2000 e passaram para 45% em 2008,
enquanto os cônjuges saltaram de 14,7% para 18%. Esse aumento foi somente em relação
ao desemprego total, claro, já que a queda absoluta foi significativa, devido à maior queda
relativa do desemprego nas outras posições, principalmente dos filhos, que tiveram
inclusive sua participação percentual diminuída, de 35,4% para 29,9%.
Tabela 14- Desempregados por posição na família (% do DOTP) – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
341.185 345.478 368.526 395.879 368.042 296.834 253.345 231.942 210.849
41,8% 42,0% 42,7% 43,2% 40,2% 43,6% 44,0% 46,2% 45,0%
119.645 124.656 131.180 135.686 138.170 115.417 102.280 90.146 84.577
14,7% 15,2% 15,2% 14,8% 15,1% 16,9% 17,8% 17,9% 18,0%
288.895 283.740 288.728 306.152 327.855 215.172 176.523 144.974 140.091
35,4% 34,5% 33,4% 33,4% 35,9% 31,6% 30,7% 28,8% 29,9%
66.720 68.842 75.012 78.757 80.342 54.052 43.244 35.485 33.357
8,2% 8,4% 8,7% 8,6% 8,8% 7,9% 7,5% 7,1% 7,1%
816.445 822.716 863.446 916.474 914.409 681.475 575.392 502.547 468.874
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
1. inclui as categorias Outro parente, Agregado, Pensionista, Empregado Doméstico , Parente Empregado Doméstico e Outros.
Chefe
Conjuge
Filho
Demais
Total
Em relação ao meio de sobrevivência do desempregado (Tabela 15), como era
esperado, quase a totalidade dos desempregados sobrevive principalmente da renda de
trabalhos irregulares, 95,7% em 2000 e 96% em 2008, oscilando pouco ao longo do
período. Na Tabela 14 está exposta a relação de desempregados de acordo com a faixa de
renda que aufere no trabalho ocasional. A renda obtida nesta alternativa de trabalho era
inferior a R$ 250,00 (valores de 2008) para 68,4% em 2000, aumentando para 71,8% em
87
2008. As maiores reduções absolutas foram entre os segmentos que conseguiam renda
superior no trabalho precário. (Tabela 16)
Tabela 15 – Meio de sobrevivência dos desempregados (% do DOTP) – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
781.480 777.098 817.694 886.380 868.765 813.956 702.905 645.848 587.224
95,7% 94,5% 94,7% 96,7% 95,1% 95,8% 95,9% 97,2% 96,0%
10.386 12.120 12.953 9.198 13.335 11.083 7.855 4.928 8.425
1,3% 1,5% 1,5% 1,0% 1,5% 1,3% 1,1% ,7% 1,4%
21.546 28.826 30.779 18.618 28.455 21.358 20.416 13.139 14.398
2,6% 3,5% 3,6% 2,0% 3,1% 2,5% 2,8% 2,0% 2,4%
2.942 4.246 1.981 2.002 3.000 3.392 1.794 600 1.404
,4% ,5% ,2% ,2% ,3% ,4% ,2% ,1% ,2%
816.354 822.290 863.407 916.198 913.555 849.789 732.970 664.515 611.451
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Trabalhos irregulares, ocasionais, bicos, etc+demais meios
Ajuda de parente e/ou conhecidos
Outra(s) pessoa(s) da familia tem trabalho
Outros meios
Total
Tabela 16 – Renda auferida no meio de sobrevivência principal – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
496.515 523.512 550.967 576.153 616.839 572.042 474.107 411.461 389.283
68,4% 72,9% 72,0% 71,5% 76,2% 74,2% 72,4% 70,3% 71,8%
129.093 121.659 144.514 148.163 127.156 127.972 115.385 109.419 101.425
17,8% 16,9% 18,9% 18,4% 15,7% 16,6% 17,6% 18,7% 18,7%
61.062 34.734 42.383 48.886 38.830 43.260 35.867 39.828 25.624
8,4% 4,8% 5,5% 6,1% 4,8% 5,6% 5,5% 6,8% 4,7%
85.926 71.412 56.495 60.821 54.245 56.512 56.053 51.447 46.479
11,8% 10,0% 7,4% 7,6% 6,8% 7,3% 8,6% 8,8% 8,6%
726.032 717.772 765.721 805.757 809.371 771.330 654.694 585.591 541.859
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Total
<= 250,00
250,01 - 500
500,01 - 750
>750
A Tabela 17 mostra a evolução do número de desempregados por período de tempo
de desemprego, com respectivas taxas em relação ao total de desempregados (OTP). Em
2000, ele tinha sido apenas para 54,4% dos desempregados inferior a um ano. Em 2008
houve uma melhora no sentido de maior parte dos desempregados estarem na faixa de
menor tempo de desemprego, sugerindo que a permanência na condição de desemprego
tem diminuído e pode estar associada à maior facilidade de reinserção no mercado de
trabalho.
88
Tabela 17 – Desempregados e tempo de desemprego em anos (% do DOTP) – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
394.541 417.637 446.162 457.009 443.830 434.422 398.581 360.570 339.524
54,4% 56,6% 57,5% 55,2% 54,6% 56,5% 60,9% 60,3% 62,4%
142.258 127.538 131.570 154.976 157.367 130.537 101.641 93.031 82.518
19,6% 17,3% 16,9% 18,7% 19,3% 17,0% 15,5% 15,5% 15,2%
68.807 68.520 66.944 76.207 68.144 64.798 50.496 44.324 34.862
9,5% 9,3% 8,6% 9,2% 8,4% 8,4% 7,7% 7,4% 6,4%
37.716 38.187 35.526 36.248 41.853 35.580 29.305 27.498 20.109
5,2% 5,2% 4,6% 4,4% 5,1% 4,6% 4,5% 4,6% 3,7%
25.785 27.984 27.238 32.222 27.461 29.545 19.677 22.903 17.567
3,6% 3,8% 3,5% 3,9% 3,4% 3,8% 3,0% 3,8% 3,2%
56.125 58.823 67.363 66.325 71.052 70.990 57.455 52.163 54.234
7,7% 8,0% 8,8% 8,3% 8,9% 9,3% 8,6% 8,3% 9,3%
725.232 738.689 774.803 822.987 809.707 765.872 657.155 600.489 548.814
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Total
2,001 - 3
3,001 - 4
4,001 - 5
>5
<= 1
1,001 - 2
Basicamente, a condição determinada (ou determinante) pelo desemprego oculto
com trabalho precário, no que diz respeito ao acesso do indivíduo e dos membros do seu
núcleo familiar a bens e serviços básicos, é bastante limitada. A sensibilidade, desta forma,
do bem-estar do indivíduo ao desemprego é considerável para uma grande parcela deles,
ou seja, a intensidade com que a falta de uma renda estável e satisfatória afeta a sua
capacidade de prover condições mínimas de vida é relevante, por estar circunscrita a um
segmento populacional vulnerável às oscilações conjunturais, tanto pelo seu baixo grau de
instrução como pela renda em níveis baixos.
O grau de instrução, assim como a cor, idade ou sexo, podem determinar a
dificuldade de inserção no mercado trabalho, tornando o tempo de desemprego mais longo
do que o aceitável. Sem alternativas, na maioria dos casos há que se recorrer a trabalhos
precários, os quais quase sempre remuneram irrisoriamente o trabalhador, sem contar as
reais condições nas quais esse trabalho é realizado, que muitas das vezes, por não ser
regulado, exige cargas horárias mais altas.
O último aspecto do desemprego oculto com trabalho precário que destacaremos é
o setor do último trabalho. Isto servirá somente para que identifiquemos a procedência
profissional dos indivíduos, não representando nenhuma estatística relevante no sentido de
indicar o “setor desempregador”, já que os dados que estamos nos baseando partem da
pessoa desempregada e não do empregador. Nesse caso, a relação analítica mais próxima
que encontraríamos é de quais desempregados, por setor de origem, tem tido maior
dificuldade de se reempregar no mercado de trabalho, ou, analogamente, quais foram mais
89
rapidamente reabsorvidos com o reaquecimento da economia. Claro que essa resposta
também é condicionada ao tamanho do setor na economia, já que estamos trabalhando com
números absolutos, mas deixaremos esse estudo mais profundo para quando formos
comparar os três tipos de desemprego, onde apresentaremos a economia metropolitana por
setor.
Segundo a Tabela 18, que apresenta o número de desempregados por setor que
trabalhara no último emprego, maior parte do DOTP, no ano 2000, era composto por
trabalhadores provenientes do setor de Serviços e continuou o sendo por todo o período. A
maior redução foi dentre os que provinham da Agricultura, Pecuária e Extração Mineral,
mas dada a pouca representatividade deste setor no grupo, podemos considerar a redução
dos originários da Indústria como a mais relevante, com queda de 41,5%. Os que
representavam o setor de serviços caíram 20%, mas em números absolutos é próximo à
redução no anterior, por ser um setor normalmente de maior peso.
Tabela 18 – Desempregados por setor de origem no DOTP – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
151.366 146.447 146.865 155.205 147.734 129.444 110.907 109.036 88.546
18,5% 17,8% 17,0% 16,9% 16,2% 15,2% 15,1% 16,4% 14,5%
101.065 106.755 114.542 117.778 116.707 110.642 96.117 76.531 71.974
12,4% 13,0% 13,3% 12,9% 12,8% 13,0% 13,1% 11,5% 11,8%
109.635 107.653 110.033 121.618 125.562 117.177 94.321 86.467 81.592
13,4% 13,1% 12,7% 13,3% 13,7% 13,8% 12,9% 13,0% 13,3%
296.520 303.755 323.020 345.051 339.860 322.791 280.456 254.113 237.177
36,3% 36,9% 37,4% 37,6% 37,2% 37,9% 38,3% 38,2% 38,8%
61.538 67.714 74.138 79.377 78.090 80.468 65.752 65.173 60.302
7,5% 8,2% 8,6% 8,7% 8,5% 9,5% 9,0% 9,8% 9,9%
4.678 5.410 5.596 6.613 4.113 5.372 4.968 3.824 2.287
,6% ,7% ,6% ,7% ,4% ,6% ,7% ,6% ,4%
2.145 1.741 2.440 2.909 2.465 3.353 2.626 3.246 2.699
,3% ,2% ,3% ,3% ,3% ,4% ,4% ,5% ,4%
1.509 740 894 1.046 2.451 2.022 379 - 609
,2% ,1% ,1% ,1% ,3% ,2% ,1% ,0% ,1%
87.988 82.500 85.919 86.878 97.427 79.417 77.466 66.124 66.467
11% 10% 10% 9% 11% 9% 11% 10% 11%
816.444 822.715 863.447 916.475 914.409 850.686 732.992 664.514 611.653
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboraçao própria)
Obs: "Não se aplica" corresponde aos que buscam o primeiro trabalho.
Indústria
Construção Civil
Comércio
Serviços
Serviços Domésticos
Agricultura, Pecuária e Extração Vegetal
Outras
Sem Declaração
Não se aplica
Total
90
Outro fenômeno a ser observado é o papel de cada setor no comportamento da taxa
de DOTP. Serviços e Construção Civil seguiram estritamente a taxa total, enquanto a
Indústria oscilou no primeiro triênio do período. Já Serviços Domésticos tiveram um
aumento atípico em 2005 e Comércio, além da instabilidade no começo, só começou a cair
significativamente a partir de 2005. O setor de Serviços, devido a seu maior peso, acabou
por determinar o comportamento global da taxa, o que inclusive aumentou ainda mais sua
participação, como visto na Tabela anterior, enquanto reduzia, principalmente, o número
de egressos da Indústria.
Gráfico 11 – Número de desempregados por setor de origem – 2000-2008
-
50
100
150
200
250
300
350
400
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hare
s
Indústria Construção Civil Comércio Serviços Serviços Domésticos
Fonte: PED (elaboração própria)
Por enquanto o que exporemos sobre o DOTP são esses pontos. Mais à frente, com
o desenvolvimento das demais análises de desemprego, será possível fazer um estudo
comparativo dos três perfis.
3.2.2. Desemprego oculto por desalento
O desemprego oculto por desalento (DOD) é caracterizado pela ausência de
trabalho e de busca por trabalho nos últimos 30 dias anteriores à pesquisa, por
circunstâncias fortuitas ou desestímulo gerado por insucessos na busca no período de 12
meses anterior à pesquisa, embora ainda seja declarada a disponibilidade do trabalhador
91
para exercer alguma atividade laboral. Em que pesem as necessidades da população
desempregada em geral, pode-se conjecturar que haja fatores específicos que dêem suporte
para a “escolha” de não trabalho. A palavra “escolha” quando se analisa o desemprego
deve ser utilizada com certa cautela, pois existem certas limitações associadas à
capacitação e às condições de competição no mercado de trabalho, que associadas a fatores
psicológicos, não necessariamente definem a situação de não trabalho como uma opção.
O que se quer dizer é que a desfavorabilidade das circunstâncias, dada pelas
características pessoais ou necessidades do indivíduo num determinado momento (mães
que não tem com quem deixar os filhos, problemas de saúde etc) gera dificuldades de
conseguir um emprego e, após certo período de tempo, a desistência da busca. Mas a
necessidade, que vai além da disposição, de exercer atividade remunerada, se tratando da
faixa da população que vamos mostrar adiante, é também considerável. É a necessidade
que confere ao desemprego por desalento urgência de solução, seja diretamente sobre a
pessoa por ele atingida ou sobre seu núcleo familiar. O investimento na capacidade dos
chefes de família de crescer profissionalmente, na qualidade dos postos de trabalho
(estímulos à formalização, por exemplo), na educação e saúde públicas de qualidade para
os filhos seriam meios de reverter essa situação.
Em síntese, a importância em se analisar as fontes do desemprego por desalento
para a construção de medidas que o solucionem deve-se mais ao impacto que surte sobre a
condição da população atingida do que às proporções que toma na sociedade. As taxas de
DOD são relativamente pequenas, de forma que o seu impacto horizontal é reduzido, em
detrimento do impacto vertical que surte sobre o grupo seleto. Na Tabela 19 estão
reapresentadas tais taxas ao longo do período 2000-2008. Entre 2000 e 2002 oscilou,
subindo em 2003, mas voltando a cair com mais intensidade a partir de 2004.
Tabela 19 – Evolução do desemprego oculto por desalento – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
405.655 392.880 440.194 469.696 443.190 387.994 354.029 306.412 297.440
2,4% 2,3% 2,5% 2,6% 2,4% 2,1% 1,9% 1,6% 1,5%
Fonte: PED (elaboração própria)
Desemprego oculto por desalento
Daremos sequência à análise do desemprego oculto por desalento tentando expor as
condições em que se desenvolve, seja pelas características das pessoas ou do meio no qual
92
estão inseridas, em última instância determinantes do seu preparo e capacidade de se
promover profissionalmente e garantir condições mínimas de vida, nos mesmos moldes
que na análise anterior do DOTP. O comportamento da taxa no período será analisado à luz
das mudanças internas, ou seja, das características da população desempregada, a fim de
esboçar uma resposta de quem seriam os desempregados no início do período analisado,
quais fatores eventualmente alteraram esse perfil e qual o efeito final do surto de
recuperação do emprego sobre os desempregados, neste caso, por desalento.
3.2.2.1. Perfil da população em desemprego oculto por desalento
Nesta seção daremos atenção às características pessoais dos trabalhadores e à
interrelação entre elas. Em que medida a renda familiar afeta o grau de instrução e vice-
versa? O nível de desemprego está associado ao sexo ou à cor dos indivíduos? À medida
que as informações forem se revelando mais depurada será a investigação, para que no fim
possamos ter traçado o perfil da população desempregada por desalento.
De acordo com a distribuição da população no DOD pela cor, utilizando as
informações da Tabela 20, percebemos que a população de cor Preta e Parda tem
consistentemente sido mais representativa do que os Brancos e Amarelos. E mais, para
cada dez pessoas que saíam da situação de desemprego por desalento de 2000 a 2008, sete
eram do segundo grupo e três, somente, do primeiro, o que revela alguma tendência
estrutural que reduza os efeitos benéficos do crescimento sobre Pretos e Pardos.
Tabela 20 – Participação no desemprego por desalento segundo a cor – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
198.008 178.966 190.168 197.142 186.350 164.140 150.299 127.002 122.485
48,8% 45,6% 43,2% 42,0% 42,0% 42,3% 42,5% 41,4% 41,2%
207.569 213.902 250.026 272.470 256.839 223.853 203.730 179.410 174.954
51,2% 54,4% 56,8% 58,0% 58,0% 57,7% 57,5% 58,6% 58,8%
405.577 392.868 440.194 469.612 443.189 387.993 354.029 306.412 297.439
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Branca e amarela
Preta e Parda
Total
93
Além da marginalização social oriunda do preconceito, podem ser apontados
fatores que são conseqüência do processo histórico de colocação dos negros na sociedade
brasileira, cuja resultante é que perduram entre a população negra, seus descendentes e
demais miscigenações as piores condições de vida. Em outras palavras, a população pobre
e marginalizada no Brasil é, em sua maior parte, composta por negros e pardos, privados
do acesso a educação e saúde de qualidade e, consequentemente, de condições
competitivas de inserção no mercado de trabalho. Por isso, por menor que seja o impacto
claro e direto do preconceito em relação à cor, a desvantagem em relação aos demais,
Brancos e Amarelos, está estabelecida pela não superação da condição de exclusão social a
que foi exposta a parcela Preta e Parda da população.
Quanto aos gêneros, o Gráfico 12 pode nos elucidar alguns fatos. Ele relaciona a
evolução do número (em milhares) de mulheres e homens desempregados por desalento e
o que se nota claramente é a maior participação feminina neste tipo de desemprego.
Enquanto os homens eram 33,3% dos DOD em 2000, até o último ano do período regrediu
superficialmente, para 31,1%. As mulheres ficaram em desvantagem ainda maior em
relação aos homens, visto que para eles a redução do desemprego por desalento foi maior,
aumentando de 66,7% para 68,9% a participação delas, que também se deveria ao aumento
da taxa de participação das mulheres na PEA.
Mas o que faz com que parte dessas ingressantes não consiga se inserir no mercado
de trabalho? Como isto está associado ao grau de instrução e à faixa etária? A necessidade
de complementar a renda familiar é tão urgente quanto para os outros tipos de
desemprego? Por ser tipicamente composto por mulheres, ao contrário do DOTP, analisado
anteriormente, pode se esperar que haja uma amenização em relação aos outros tipos de
desemprego em muitos dos aspectos dessa população relacionados às condições de vida.
A Tabela 19 apresenta o número de desempregados por desalento por sexo e grau
de instrução, além das taxas de participação de cada categoria no DOD total (homens e
mulheres). No ano de 2000, 26,6% dos DOD eram mulheres com Fundamental Incompleto
e, em segundo lugar com taxas próximas, homens com este mesmo grau e mulheres com
Ensino Médio Completo.
94
Gráfico 12 - Homens e Mulheres no DOD - 2000-2008
050
100150200250300350400450500
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Milh
are
s
Homens Mulheres Total
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
135.022 128.828 140.838 149.880 140.605 123.923 111.551 90.086 92.447
33,3% 32,8% 32,0% 31,9% 31,7% 31,9% 31,5% 29,4% 31,1%
270.633 264.052 299.356 319.817 302.585 264.070 242.478 216.325 204.993
66,7% 67,2% 68,0% 68,1% 68,3% 68,1% 68,5% 70,6% 68,9%
405.655 392.880 440.194 469.697 443.190 387.993 354.029 306.411 297.440
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%Total
Homens
Mulheres
Fonte: PED (elaboração própria)
Já para 2008, a maior mudança foi em relação às mulheres com Médio Completo,
pois tiveram sua participação acrescida no DOD. Já havíamos chamado atenção para o
aumento do DOTP para níveis mais altos de escolaridade e constatando isso também para o
DOD direcionamos nossa conclusão para a generalização dessa tendência. Mais adiante,
com a análise do desemprego aberto poderemos-confirmar seus efeitos sobre o desemprego
total.
Tabela 21 – Participação no desemprego (DOD) por sexo e grau de instrução – 2000-2008
Analfab.Sem
escolariz.Fund.
Incomp.Fund.
CompletoMédio
Incomp.Médio
CompletoSuperior Incomp.
Superior Completo
Total
4.096 321 64.943 21.516 20.488 17.925 3.565 2.168 135.022
1,0% ,1% 16,0% 5,3% 5,1% 4,4% ,9% ,5% 33,3%
7.358 199 107.608 38.982 39.658 61.629 6.501 8.179 270.114
1,8% ,0% 26,6% 9,6% 9,8% 15,2% 1,6% 2,0% 66,7%
875 17 30.357 14.315 12.536 25.724 5.160 3.463 92.447
,3% ,0% 10,2% 4,8% 4,2% 8,6% 1,7% 1,2% 31,1%
2.653 515 53.560 27.572 29.812 74.396 7.308 9.177 204.993
,9% ,2% 18,0% 9,3% 10,0% 25,0% 2,5% 3,1% 68,9%
Homens (3.221) (304) (34.586) (7.201) (7.952) 7.799 1.595 1.295 (42.575)
Mulheres (4.705) 316 (54.048) (11.410) (9.846) 12.767 807 998 (65.121)
Fonte: PED (elaboração própria)
2000
Homens
Mulheres
2008
Homens
Mulheres
Variação 2008-2000
95
Para avançar na discussão, relacionamos na Tabela 22 a evolução do número de
desempregados em cada faixa etária, com suas taxas de participação no DOD a cada ano.
O que se nota é o maior peso da parcela com idade entre 20 e 29 anos, que a despeito da
queda absoluta aumentou sua participação, mas pelo bom motivo de redução do
desemprego para a faixa anterior, de 10 a 19 anos. Mais uma vez, há motivos para acreditar
que essa redução do desemprego entre crianças e adolescentes se deva ao aumento da
freqüência escolar e não ao aumento da ocupação destes.
Seja qual for a causa da redução de desemprego, que ainda não discutimos, é fato
que ela afetou na mesma direção todas as faixas etárias, ou seja, todos foram beneficiados,
a priori. Não podemos afirmar que por ter saído das estatísticas de desalento o indivíduo
resolveu seus problemas de inserção no mercado de trabalho, pois lhe são postas várias
outras opções, inclusive que passem a incluí-lo no desemprego com trabalho precário.
Tabela 22 – Participação das faixas etárias no DOD – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
115.344 106.597 112.039 118.686 113.006 93.726 87.598 69.142 72.683
28,4% 27,1% 25,5% 25,3% 25,5% 24,2% 24,7% 22,6% 24,4%
131.127 127.989 150.405 163.447 156.004 136.879 124.884 111.086 98.890
32,3% 32,6% 34,2% 34,8% 35,2% 35,3% 35,3% 36,3% 33,2%
75.769 72.180 77.645 81.822 77.859 76.097 60.945 58.292 57.603
18,7% 18,4% 17,6% 17,4% 17,6% 19,6% 17,2% 19,0% 19,4%
47.421 52.487 55.820 58.759 59.075 48.105 46.539 41.906 40.562
11,7% 13,4% 12,7% 12,5% 13,3% 12,4% 13,1% 13,7% 13,6%
26.749 23.805 32.451 36.397 29.168 25.975 27.269 20.936 20.258
6,6% 6,1% 7,4% 7,7% 6,6% 6,7% 7,7% 6,8% 6,8%
8.073 8.856 10.410 9.715 6.559 6.420 5.970 4.423 6.346
2,0% 2,3% 2,4% 2,1% 1,5% 1,7% 1,7% 1,4% 2,1%
1.172 966 1.423 871 1.519 792 825 626 1.099
,3% ,2% ,3% ,2% ,3% ,2% ,2% ,2% ,4%
405.655 392.880 440.193 469.697 443.190 387.994 354.030 306.411 297.441
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
10 - 19
20 - 29
30 - 39
40 - 49
50 - 59
60 - 69
>70
Total
No que diz respeito aos jovens de 20 a 29 anos, que representam maior parte do
DOD, vemos que o grau de instrução em geral tem se elevado, mas em troca de maior
participação no desemprego daqueles com maior escolaridade. O número de jovens com
Superior, Completo ou Incompleto, chegou a aumentar inclusive em termos absolutos.
96
Comparando as Tabelas 23.a e 23.b, uma com grau de instrução de uma faixa etária
específica e a outra do total, notamos que o número de desempregados por desalento com
Ensino Médio, de todas as faixas, aumentou 26%, enquanto para os jovens esse aumento
foi de 15%. E mais, se observarmos esses dados à luz do total de pessoas que compunham
a PEA e concluíram o Ensino Médio nesse período, vemos que apenas 0,69% entraram nas
estatísticas de desemprego por desalento, com impacto menor ainda sobre os jovens
especificamente.
Tabela 23.a – Grau de instrução da população de 20 a 29 anos em desemprego por desalento – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
1.376 1.108 1.216 1.300 1.091 722 873 610 111
1,0% ,9% ,8% ,8% ,7% ,5% ,7% ,5% ,1%
220 327 44 174 - - - - 27
,2% ,3% ,0% ,1% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0%
50.101 41.021 43.077 42.869 37.430 29.364 27.387 20.370 21.141
38,2% 32,1% 28,6% 26,2% 24,0% 21,5% 21,9% 18,3% 21,4%
16.652 15.991 18.624 20.050 16.760 16.413 16.383 14.015 10.446
12,7% 12,5% 12,4% 12,3% 10,7% 12,0% 13,1% 12,6% 10,6%
18.635 18.172 19.543 22.161 20.617 17.133 14.087 13.884 13.033
14,2% 14,2% 13,0% 13,6% 13,2% 12,5% 11,3% 12,5% 13,2%
36.649 42.804 56.148 63.855 66.759 59.495 54.896 50.681 42.282
28,0% 33,4% 37,3% 39,1% 42,8% 43,5% 44,0% 45,6% 42,8%
5.260 6.558 8.530 10.051 10.227 10.228 7.088 7.315 7.303
4,0% 5,1% 5,7% 6,1% 6,6% 7,5% 5,7% 6,6% 7,4%
2.194 2.007 3.225 2.987 3.121 3.525 4.170 4.210 4.547
1,7% 1,6% 2,1% 1,8% 2,0% 2,6% 3,3% 3,8% 4,6%
131.087 127.988 150.407 163.447 156.005 136.880 124.884 111.085 98.890
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Total
Analfabeto
Sem escolarização
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Médio Incompleto
Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Outro aspecto do multifacetado universo dos desempregados diz respeito à renda
familiar. Na Tabela 22 relacionamos o número de desempregados de cada faixa etária às
faixas de renda (inclusive com percentual dos desempregados de cada faixa etária sobre a
renda). Assim podemos mostrar que 47,6% da faixa de 10 a 19 anos que está
desempregada por desalento tem renda familiar inferior a R$ 1.000,00 em 2000, por
exemplo. No entanto, não conseguimos identificar uma correlação no desemprego por
desalento entre a renda e as faixas etárias. Isto é, não podemos esperar que permaneça uma
relação positiva, ou negativa, entre a renda familiar, que definimos como medida para a
necessidade de busca por trabalho, e o número de desempregados para cada faixa etária.
97
Tabela 23.b – Grau de instrução da população desempregada por desalento – 2000-2008
AnalfabetoSem
escolariz.Fundam. Incomp.
Fundam. Comp.
Médio Incomp.
Médio Completo
Superior Incomp.
Superior Completo
11.454 520 172.551 60.497 60.146 79.555 10.067 10.347
2,8% ,1% 42,6% 14,9% 14,8% 19,6% 2,5% 2,6%
11.158 763 152.709 58.687 57.434 90.102 11.393 10.635
2,8% ,2% 38,9% 14,9% 14,6% 22,9% 2,9% 2,7%
12.859 1.232 163.108 61.120 64.212 109.601 14.697 13.193
2,9% ,3% 37,1% 13,9% 14,6% 24,9% 3,3% 3,0%
14.577 443 157.727 70.670 70.828 126.185 15.650 13.442
3,1% ,1% 33,6% 15,1% 15,1% 26,9% 3,3% 2,9%
9.313 839 143.525 60.312 70.697 131.029 15.006 12.427
2,1% ,2% 32,4% 13,6% 16,0% 29,6% 3,4% 2,8%
6.415 509 117.320 51.538 61.907 121.743 16.204 12.358
1,7% ,1% 30,2% 13,3% 16,0% 31,4% 4,2% 3,2%
6.782 213 99.496 52.146 51.706 115.806 12.284 15.406
1,9% ,1% 28,1% 14,7% 14,6% 32,7% 3,5% 4,4%
5.220 121 84.573 42.966 46.152 100.735 11.791 14.854
1,7% ,0% 27,6% 14,0% 15,1% 32,9% 3,8% 4,8%
3.527 532 83.917 41.887 42.348 100.120 12.468 12.640
1,2% ,2% 28,2% 14,1% 14,2% 33,7% 4,2% 4,2%
Fonte: PED (elaboração própria)
2006
2007
2008
2002
2003
2004
2005
2000
2001
Os motivos para a suspensão da busca por trabalho são por demais subjetivos para
que se possa estabelecer claramente uma relação entre as variáveis, principalmente quando
se compara faixas etárias. O fato de a maioria dos desempregados por desalento ser do
sexo feminino também e as implicações relacionadas à incompatibilidade de realização de
trabalhos domésticos, como cuidar dos filhos, não fica clara na pesquisa, pois ao
responderem sobre a causa da não procura por trabalho nos 30 dias anteriores à pesquisa,
aproximadamente 85 a 90% tanto dos homens como das mulheres responderam que o
motivo seria a dificuldade em conseguir emprego. Em segundo lugar, com 9 a 11% das
respostas no período, o motivo apontado foi de problemas temporários e em terceiro, 1 a
4% responderam que já tinham alguma proposta de trabalho.
Desagregando esta resposta por faixa etária, o que se observa é uma modesta
elevação da resposta de dificuldade de encontrar emprego à medida que aumenta a idade. E
são as pessoas mais jovens, de 20 a 29 anos, que respondem mais por problemas
temporários. Outro fato interessante é a resposta de crianças e adolescentes, a faixa etária
de 10 a 19 anos, que tem um percentual bem alto para resposta de dificuldade de encontrar
trabalho. Isto pode estar relacionado à maior fiscalização e controle do trabalho de menores
desenvolvidos por políticas públicas dos últimos anos.
98
Tabela 24 – Desempregados por desalento por faixa etária e renda familiar – 2000-2008 Faixa etária/faixa de renda (%) 10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 70 - 79 Total
<= 1000,00 47,6 55,7 52,0 47,9 47,2 62,8 60,2 51,3
1000,01 - 2000,00 29,5 24,4 32,2 24,6 27,2 23,6 29,5 27,5
2000,01 - 3000,00 12,0 9,3 8,5 13,8 13,1 3,0 5,2 10,6
3000,01 - 4000,00 4,7 4,5 3,0 3,2 3,5 6,6 5,1 4,1
>4000,01 6,2 6,1 4,4 10,5 9,0 4,1 0,0 2,2
100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
<= 1000,00 57,1 59,1 62,7 51,7 54,5 62,2 96,0 58,1
1000,01 - 2000,00 27,4 26,8 26,9 29,8 23,6 22,9 4,0 27,0
2000,01 - 3000,00 8,0 6,8 4,3 9,4 10,7 12,5 0,0 7,4
3000,01 - 4000,00 3,5 2,5 3,5 4,6 4,9 0,6 0,0 3,3
4000,01 - 5000,00 4,0 4,8 2,6 4,4 6,3 1,8 0,0 1,5
100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
<= 1000,00 51,5 57,3 57,8 50,5 48,6 38,4 74,7 54,2
1000,01 - 2000,00 29,7 26,3 26,5 31,4 34,4 30,9 18,2 28,4
2000,01 - 3000,00 11,2 6,9 7,5 7,5 7,0 11,9 0,0 8,3
3000,01 - 4000,00 3,2 3,1 3,7 2,4 4,0 7,2 0,0 3,3
4000,01 - 5000,00 4,4 6,4 4,4 8,1 5,9 11,6 7,1 2,1
100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: PED (elaboração própria)
2000
2003
2008
Solucionar problemas relacionados ao desemprego por desalento, partindo do
pressuposto de que a necessidade de complementação da renda familiar ainda prevaleça e,
portanto, os problemas de limitação da qualidade de vida ainda sejam reais para esta
parcela da população, necessariamente passa pela busca da explicação do fenômeno entre
as mulheres, as mais afetadas. Em relação à idade, notamos que o desemprego entre elas é
predominante para as de idade entre 20 e 49 anos, de acordo com a Tabela 25, vindas de
famílias de baixa renda e possuem baixo nível de escolaridade, como pode ser deduzido
das informações anteriores.
Resta tentar associar esse maior desemprego por desalento entre elas à posição que
ocupam na família, como apresentado na Tabela 26.a, que relaciona o número de
desempregados por posição e sua taxa de participação no DOD em cada ano. Nota-se que
Filhos e Cônjuges respondem pela maior parte do desemprego, enquanto Chefes de
família, dada sua importância na renda familiar e a necessidade de encontrar alternativa de
trabalho remunerado, respondem por parte relativamente pequena, ao contrário do
observado no DOTP.
99
Tabela 25 – Percentual de mulheres por faixa etária no DOD – 2000-2008 10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 >70
62.290 92.484 61.508 36.396 14.863 2.791 300
54,0% 70,5% 81,2% 76,8% 55,6% 34,6% 57,3%
61.788 88.818 56.718 38.630 14.970 2.759 368
58,0% 69,4% 78,6% 73,6% 62,9% 31,2% 19,0%
62.412 106.556 64.224 41.959 19.928 3.935 342
55,7% 70,8% 82,7% 75,2% 61,4% 37,8% 12,0%
66.240 118.089 66.897 43.621 20.880 3.969 121
55,8% 72,2% 81,8% 74,2% 57,4% 40,9% 9,3%
64.079 110.099 63.931 45.175 16.199 2.504 597
56,7% 70,6% 82,1% 76,5% 55,5% 38,2% 20,2%
51.805 95.900 61.419 37.105 15.403 2.266 173
55,3% 70,1% 80,7% 77,1% 59,3% 35,3% 10,9%
47.958 89.450 48.372 36.124 17.307 3.218 47
54,7% 71,6% 79,4% 77,6% 63,5% 53,9% 2,9%
38.607 81.757 47.952 32.761 13.507 1.691 51
55,8% 73,6% 82,3% 78,2% 64,5% 38,2% 4,1%
42.427 69.523 45.960 32.218 11.782 2.627 457
58,4% 70,3% 79,8% 79,4% 58,2% 41,4% 20,8%
Fonte: PED (elaboração própria)
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
Ao abrirmos os dados por Sexo os divididos como Chefes de família, Cônjuges e
Filhos (Tabela 26.b), encontramos uma participação levemente superior das mulheres entre
os Filhos desempregados, mas predominantemente feminina entre os Cônjuges. Reflexo do
enfraquecimento do modelo familiar patriarcal, substituída pela tendência de surgimento
de família composta por mães e filhos somente, o desemprego por desalento tem, portanto,
um perfil bem definido e com explicações relativamente homogêneas se considerarmos o
problema da inserção de mão-de-obra feminina.
De forma alguma, no entanto, deve-se reduzir o problema a uma falta de estrutura
social para apoiar mulheres que precisem conciliar atividades domésticas e emprego, pois
perduram questões ligadas à baixa qualificação e pouca disponibilização de postos de
trabalho de qualidade. O que queremos dizer é que além de ser necessária a existência de
mecanismos que reduzam custos da contratação de mão-de-obra feminina, haja vista a
importância de direitos trabalhistas associados à maternidade, pesam ainda o déficit
educacional, que acaba por condenar os trabalhadores a trabalhos precários e informais. A
escolha se estabelece entre um trabalho de baixa qualidade, geralmente informal, sem
direitos trabalhistas associados, ou a ausência dele, embora ainda haja a necessidade de
complementação da renda familiar.
100
Em suma, quaisquer dos aspectos supracitados, despreparo profissional ou
inconciliabilidade entre papéis femininos, estariam enquadrados na mesma resposta à
pesquisa, “dificuldade de encontrar trabalho”. Uma das características do trabalho precário
que lhes é oferecido é a ausência de mecanismos de proteção e apoio específicos a
mulheres, o que desestimularia a busca de trabalho e, em última instância, seu exercício
pari passu a atividades domésticas.
Outro fundamento do desemprego por desalento está ligado à posição secundária,
complementar, da renda do indivíduo no seu núcleo familiar. Não sendo eles, em sua
maioria, Chefes de família, tem na ajuda de parentes e/ou conhecidos e principalmente no
trabalho de outras pessoas da família o seu meio de sobrevivência, como evidenciado na
Tabela 27. Como complementa a Tabela 28, essa ajuda ou apoio familiar, em praticamente
todos os casos, não ultrapassa o valor de R$ 250,00, ou seja, também não é uma renda que
permita ao indivíduo manter um padrão de vida aceitável ou investir em formação
educacional de qualidade que facilite sua futura reinserção no mercado de trabalho,
principalmente se considerada a instabilidade e limitação dessa renda no contexto familiar.
Outra observação a ser feita em relação a isso é que essa realidade não se alterou no
período 2000 a 2008, prevalecendo nesses limites a renda a que tinham acesso esses
desempregados.
Tabela 26.a – Participação no DOD por posição na família – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
66.720 67.800 76.352 80.045 77.154 66.335 59.632 50.829 49.983
16,4% 17,3% 17,3% 17,0% 17,4% 17,1% 16,8% 16,6% 16,8%
128.271 118.866 139.581 150.938 135.091 119.590 109.419 101.072 93.166
31,6% 30,3% 31,7% 32,1% 30,5% 30,8% 30,9% 33,0% 31,3%
177.150 175.109 186.691 195.889 196.259 172.418 156.005 128.561 126.820
43,7% 44,6% 42,4% 41,7% 44,3% 44,4% 44,1% 42,0% 42,6%
30.270 28.970 34.689 40.464 31.668 28.051 26.906 23.839 25.869
7,5% 7,4% 7,9% 8,6% 7,1% 7,2% 7,6% 7,8% 8,7%
1.672 915 1.295 786 1.135 556 954 767 488
,4% ,2% ,3% ,2% ,3% ,1% ,3% ,3% ,2%
81 40 116 - - - - 101 -
,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0%
60 - 145 - 134 - 24 61 -
,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0%
1.431 1.180 1.324 1.575 1.750 1.045 1.088 1.183 1.115
,4% ,3% ,3% ,3% ,4% ,3% ,3% ,4% ,4%
405.655 392.880 440.193 469.697 443.191 387.995 354.028 306.413 297.441
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboração própria)
Chefe
Cônjuge
Filho
Outro parente
Agregado
Pensionista
Parente Emp Doméstico
Outros
Total
101
Tabela 26.b - Participação no DOD por sexo e posição na família – 2000-2008
Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
82.039 95.112 1.277 126.995 38.714 28.005 46,3% 53,7% 1,0% 99,0% 58,0% 42,0%
77.778 97.331 1.384 117.482 37.505 30.295 44,4% 55,6% 1,2% 98,8% 55,3% 44,7%
81.433 105.258 1.565 138.016 42.370 33.982 43,6% 56,4% 1,1% 98,9% 55,5% 44,5%
82.885 113.005 2.336 148.601 45.352 34.693 42,3% 57,7% 1,5% 98,5% 56,7% 43,3%
85.428 110.831 1.869 133.222 39.897 37.257 43,5% 56,5% 1,4% 98,6% 51,7% 48,3%
74.627 97.791 1.334 118.256 35.798 30.537 43,3% 56,7% 1,1% 98,9% 54,0% 46,0%
69.781 86.224 1.577 107.843 29.800 29.832 44,7% 55,3% 1,4% 98,6% 50,0% 50,0%
54.794 73.766 1.002 100.070 24.832 25.997 42,6% 57,4% 1,0% 99,0% 48,9% 51,1%
56.209 70.611 1.014 92.153 24.569 25.414 44,3% 55,7% 1,2% 98,8% 49,2% 50,8%
Fonte: PED (elaboração própria)
2002
2003
2004
Filho Cônjuge Chefes de família
2000
2001
2005
2006
2007
2008
Tabela 27 – Meio de sobrevivência dos desempregados por desalento – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
144.535 143.988 156.019 177.128 167.089 154.032 139.087 120.905 128.003
35,60% 36,70% 35,40% 37,70% 37,70% 39,70% 39,30% 39,50% 43%
241.125 227.310 259.840 271.110 254.671 214.583 198.092 172.687 157.218
59,40% 57,90% 59,00% 57,70% 57,50% 55,30% 56,00% 56,40% 52,90%
19.956 21.377 24.335 21.377 21.387 19.335 16.850 12.819 12.220
4,90% 5,40% 5,50% 4,60% 4,80% 5% 4,80% 4,20% 4,10%
405.616 392.675 440.194 469.615 443.147 387.950 354.029 306.411 297.441
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Ajuda de parente e/ou conhecidos
Outra(s) pessoa(s) da família tem trabalho
Outros meios
Total
Tabela 28 – Renda alternativa por meio de sobrevivência do desempregado (DOD) – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
<= 250,00 95,6 95,3 94,7 95,3 95,8 95,2 95,4 96,3 95,4
250,01 - 500,00 2,0 2,2 2,6 2,8 2,4 2,5 2,2 2,0 2,3
500,01 - 750,00 0,4 1,0 0,8 0,6 0,5 0,6 0,9 0,6 0,8
>750 2,0 1,4 1,9 1,4 1,3 1,7 1,6 1,2 1,6
Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: PED (elaboração própria)
No que diz respeito ao tempo de desemprego, podemos notar na Tabela 29, que a
concentração no período inferior a um ano tem aumentado, o que parece um fator positivo,
102
mas deve-se levar em conta a possibilidade de transitar entre os dois tipos de desemprego
oculto. Isto significa que não podemos afirmar que a saída da situação de desemprego por
desalento se tenha dado pelo sucesso na busca por emprego estável, pois pode-se ter
recorrido a trabalhos temporários, que enquadrariam a situação de desemprego com
trabalho precário.
Tabela 29 – Desempregados e tempo de desemprego em anos – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
172.290 172.687 186.450 195.449 182.332 162.045 154.772 140.490 137.556
52,3% 55,0% 53,1% 52,2% 51,7% 52,7% 54,6% 56,9% 58,3%
62.100 55.441 64.507 70.245 71.266 56.419 51.796 43.702 36.155
18,8% 17,7% 18,4% 18,8% 20,2% 18,3% 18,3% 17,7% 15,3%
36.407 28.908 31.135 33.723 31.901 30.880 22.170 17.830 16.896
11,0% 9,2% 8,9% 9,0% 9,1% 10,0% 7,8% 7,2% 7,2%
15.873 15.785 19.002 18.501 17.136 15.052 14.244 10.779 11.580
4,8% 5,0% 5,4% 4,9% 4,9% 4,9% 5,0% 4,4% 4,9%
12.399 10.673 16.203 15.179 11.748 11.211 12.680 9.595 8.556
3,8% 3,4% 4,6% 4,1% 3,3% 3,6% 4,5% 3,9% 3,6%
30.448 29.788 32.728 38.610 36.280 32.365 28.249 25.564 27.021
9,2% 9,4% 9,4% 10,6% 10,4% 10,4% 9,6% 9,7% 10,7%
329.517 313.282 350.025 371.707 350.663 307.972 283.911 247.960 237.764
100,0% 99,8% 99,8% 99,6% 99,6% 100,0% 99,8% 99,8% 100,1%
Fonte: PED (elaboração própria)
<= 1
1,0 - 2,0
2,0 - 3,0
3,0 - 4,0
4,0 - 5,0
>5
Total
Por fim, vejamos qual a composição do DOD no que diz respeito ao setor do último
trabalho. Para isso nos basearemos no Gráfico 13, que relaciona o número de
desempregados, com respectivas taxas de participação no DOD, ao setor de origem.
Mais uma vez vemos o grande peso do setor de Serviços e sua capacidade de
determinar a intensidade do comportamento global da taxa de DOD, tal qual havíamos
visto para o DOTP. Nesse caso, os demais setores também oscilaram no primeiro triênio,
mas se repete o início retardado da queda do número de desempregados provenientes do
setor de Comércio, ao mesmo tempo em que para a Indústria e Construção a redução foi
precoce, se iniciando em 2003, não em 2004 como a taxa total.
103
Gráfico 13 – Evolução do número de desempregados por Setor do último emprego
-
20
40
60
80
100
120
140
160
180
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hare
s
Indústria Construção Civil Comércio Serviços Serviços Domésticos
Fonte: PED (elaboração própria)
Tabela 30 – Desempregados no DOD por setor de origem – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
56.521 51.327 58.427 54.403 52.548 42.318 40.749 32.526 29.449
13,9% 13,1% 13,3% 11,6% 11,9% 10,9% 11,5% 10,6% 9,9%
20.379 18.420 23.332 20.652 19.248 17.607 15.515 11.728 12.807
5,0% 4,7% 5,3% 4,4% 4,3% 4,5% 4,4% 3,8% 4,3%
63.209 58.817 59.722 67.828 67.347 59.948 53.986 49.334 47.593
15,6% 15,0% 13,6% 14,4% 15,2% 15,5% 15,2% 16,1% 16,0%
129.511 126.959 145.596 159.593 144.736 131.048 120.884 109.726 104.681
31,9% 32,3% 33,1% 34,0% 32,7% 33,8% 34,1% 35,8% 35,2%
56.288 54.813 59.355 68.482 64.826 54.186 48.774 40.727 37.811
13,9% 14,0% 13,5% 14,6% 14,6% 14,0% 13,8% 13,3% 12,7%
1.721 1.561 1.410 1.255 849 457 772 1.188 855
,4% ,4% ,3% ,3% ,2% ,1% ,2% ,4% ,3%
2.008 1.755 3.372 2.250 2.806 1.983 2.762 1.749 2.617
,5% ,4% ,8% ,5% ,6% ,5% ,8% ,6% ,9%
76.018 78.901 88.980 95.234 90.653 80.264 70.398 59.433 61.627
18,7% 20,1% 20,2% 20,3% 20,5% 20,7% 19,9% 19,4% 20,7%
405.655 392.880 440.194 469.697 443.190 387.993 354.029 306.411 297.440
100,0% 99,9% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 99,9% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboraçao própria)
Obs: "Não se aplica" corresponde aos que buscam o primeiro trabalho.
Total
Não se aplica
Agricultura, Pecuária e Extração Vegetal
Outras
Indústria
Construção Civil
Comércio
Serviços
Serviços Domésticos
Expostos todos os aspectos do desemprego oculto por desalento que consideramos
relevantes, podemos passar para a próxima etapa do nosso estudo: o desemprego aberto.
104
3.2.3. Desemprego aberto
No desemprego aberto são incluídos os indivíduos que procuraram trabalho nos
últimos 30 dias, não tendo exercido atividade remunerada pelo menos nos 7 dias anteriores
à pesquisa. Dos três tipos de desemprego, o aberto é o mais volátil, mais suscetível às
oscilações de desempenho econômico ou, como já havíamos mencionado, é o que exerce
maior pressão sobre o mercado. A população nele inserida se distingue do desemprego
oculto por desalento pela persistência na busca por novo emprego e do oculto com trabalho
precário pela ausência de prática de qualquer atividade remunerada, por fim, define o
conceito mais puro e neutro de desemprego, no aspecto da metodologia de análise
comparativa de mercado de trabalho entre países. Ao contrário do desemprego oculto, que
reflete especificidades estruturais de países em desenvolvimento, ele coloca em níveis
comparáveis, conceitualmente, com o desemprego de países desenvolvidos.
Obviamente, o perfil dos indivíduos e intensidade dos efeitos desse desemprego
diferem de país para país. Em países como o Brasil, podemos esperar que o desemprego
aberto ainda esteja longe de se adequar ao clássico, segundo Keynes, desemprego
friccional, principalmente pela sua longa duração. Os determinantes da dificuldade de
inserção ou reintegração no mercado são mais atribuíveis a questões econômicas do que
sociais relativamente aos outros dois desempregos.
As taxas verificadas no Brasil, nas seis regiões metropolitanas que abordamos, são
as expostas na Tabela 31: crescente até 2003 e em seguida inicia queda significativa até
2008. Ainda não levantamos hipóteses acerca das causas dessa inflexão e melhora no
indicador, o que não nos absteremos de explorar, mas por agora nos interessa saber quais
as características dos indivíduos que integraram o DA nesse período, de modo a ter
delineado o perfil da população atingida.
Tabela 31 – Evolução do desemprego aberto – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
1.953.298 2.033.634 2.157.062 2.388.875 2.264.451 2.097.354 2.083.665 2.023.154 1.888.340
11,50% 11,70% 12,20% 13,20% 12,30% 11,20% 11,00% 10,50% 9,50%
Fonte: PED (elaboração própria)
Desemprego aberto
105
3.2.3.1. Perfil da população em desemprego aberto
Dividida segundo a cor dos indivíduos, como mostra a Tabela 32, a população em
situação de desemprego aberto (DA), em 2000, era composta por 51,5% de Brancos e
Amarelos e os demais 48,5%, Pretos e Pardos. Assim como o DOD, 2001 em relação ao
ano anterior, apresentou uma variação significativa na participação dos dois grupos, com
relativa estabilidade a partir de então.
As variações percentuais de ano a ano em geral foram muito pequenas, mas é
possível observar que a desigualdade em favor dos de cor Branca e Amarela que vinha
aumentando a partir de 2001, sofreu uma inversão em 2004. Enquanto até 2003 o
desemprego diminuía para um grupo, para o outro aumentava, mas a partir de 2004 o recuo
do desemprego em relação à PEA, nesse caso, foi acompanhado por maior saída dos de cor
Preta e Parda da estatística, um sinal positivo de absorção ampla da mão-de-obra, se
possível associar tal fenômeno ao aumento da ocupação e considerar marginais as
transferências entre tipos de desemprego. A aceleração da queda no desemprego entre
Pretos e Pardos, contudo, não foi suficiente para reduzir os números absolutos de
desemprego entre eles no período 2000-2008.
Tabela 32 – Participação no desemprego aberto por cor – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
1.005.298 947.563 1.005.263 1.100.956 1.041.227 979.960 949.910 944.824 882.054
51,5% 46,6% 46,6% 46,1% 46,0% 46,7% 45,6% 46,7% 46,7%
947.655 1.085.783 1.151.488 1.287.772 1.223.056 1.117.394 1.133.655 1.078.280 1.006.286
48,5% 53,4% 53,4% 53,9% 54,0% 53,3% 54,4% 53,3% 53,3%
Fonte: PED (elaboração própria)
Branca e Amarela
Preta e Parda
Na divisão da população desempregada por sexo, vemos as mulheres em crescente
desvantagem no mercado de trabalho. Inicialmente com participação de 57,2%, chegaram a
2008 com 61%. Pelos números absolutos relacionados no Gráfico 14, podemos notar que a
queda no desemprego entre as mulheres foi menos intensa do que entre os homens, que
conseguiram encerrar o período com queda absoluta, embora ambos tenham acompanhado
nitidamente a tendência geral de queda a partir de 2004.
106
A oferta de trabalho em geral é endógena, já que a participação dos indivíduos na
PEA responde às condições da economia. Isto porque, em fase de aquecimento, maiores e
melhores são as oportunidades de trabalho oferecidas pelo mercado e, portanto, maior o
estímulo aos trabalhadores a ofertar sua força de trabalho. O ingresso das mulheres, no
entanto, se mostra especialmente volátil, principalmente pela maior inatividade entre elas,
ou seja, a entrada feminina maciça é viável dada a grande reserva delas na PIA. Isto ficou
demonstrado no início do capítulo quando os dados da evolução da PEA nos mostraram
que a participação masculina cresceu 12%, enquanto a feminina cresceu 23%. A despeito
desse crescimento, o desemprego aberto entre os primeiros caiu 12%; já para elas acabou
por determinar uma elevação de 3%. (Tabela 33)
Gráfico 14 - Homens e Mulheres no desemprego aberto - 2000-2008
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hare
s
Homens Mulheres Total
Tabela 33 – Participação de homens e mulheres no desemprego aberto – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
836.434 854.730 931.948 1.019.414 965.136 862.225 857.971 811.806 735.531
42,8% 42,0% 43,2% 42,7% 42,6% 41,1% 41,2% 40,1% 39,0%
1.116.863 1.178.904 1.225.114 1.369.461 1.299.315 1.235.129 1.225.694 1.211.348 1.152.810
57,2% 58,0% 56,8% 57,3% 57,4% 58,9% 58,8% 59,9% 61,0%
1.953.297 2.033.634 2.157.062 2.388.875 2.264.451 2.097.354 2.083.665 2.023.154 1.888.341
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboração própria)
Homens
Mulheres
Total
O desemprego aberto se mostra mais presente entre as mulheres a despeito dos
maiores níveis de instrução entre elas. Concluímos isso ao observar que, em relação ao
grau de instrução da PEA como um todo, há relativamente mais mulheres nos níveis mais
altos de escolaridade (Tabela 34), ao mesmo tempo em que no desemprego aberto são elas,
as mulheres mais instruídas, que apresentam persistentemente maior participação.
107
Em suma, o fato de serem mais instruídas não atribuiu às mulheres vantagem no
mercado de trabalho em relação aos homens e, mais uma vez, o grau de instrução em si
não foi determinante, no sentido de surtir efeito significativo e definitivo sobre a redução
do desemprego. Alguns dados comprovam essa tendência: a evolução do grau de instrução
da PEA, por sexo, e a diferença de 2000 para 2008 no que tange ao DA (Gráfico 15).
Tabela 34 – Grau de instrução da PEA por sexo – 2000, 2003 e 2008
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
315.606 229.427 293.548 216.209 206.906 144.846
3,4% 3,0% 3,0% 2,6% 2,0% 1,6%
27.504 20.077 22.615 15.264 13.608 10.121
,3% ,3% ,2% ,2% ,1% ,1%
3.726.741 2.542.170 3.328.284 2.426.991 2.835.618 2.072.278
40,0% 33,5% 34,1% 29,0% 27,1% 22,2%
1.241.219 854.040 1.282.751 909.435 1.318.524 922.510
13,3% 11,3% 13,1% 10,9% 12,6% 9,9%
773.151 671.586 809.306 685.983 816.517 685.263
8,3% 8,9% 8,3% 8,2% 7,8% 7,3%
1.895.722 1.958.880 2.548.183 2.592.937 3.430.709 3.425.327
20,3% 25,8% 26,1% 31,0% 32,8% 36,7%
431.708 382.680 519.593 486.576 653.566 662.947
4,6% 5,0% 5,3% 5,8% 6,2% 7,1%
905.481 926.325 956.428 1.022.367 1.193.560 1.412.850
9,7% 12,2% 9,8% 12,2% 11,4% 15,1%
9.317.132 7.585.185 9.760.708 8.355.762 10.469.008 9.336.142
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboração própria)
2000 2003 2008
Analfabeto
Sem escolarização
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Médio Incompleto
Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Total
Gráfico 15 – Grau de instrução no DA – 2000 e 2008
-
100
200
300
400
500
600
700
800
Analfab. Semescolariz.
Fund.Incomp.
Fund.Compl.
MédioIncomp.
MédioCompleto
SuperiorIncomp.
SuperiorCompleto
Milh
ares
2000 2008
Fonte: PED (elaboração própria)
108
A Tabela 35, que relaciona o número de homens e mulheres desempregados para
cada grau de instrução, com respectivas taxas de participação no desemprego aberto,
mostra que praticamente um quarto do desemprego em questão era preenchido, no último
ano da análise, pelo sexo feminino com Ensino Médio Completo, contra uma distribuição
menos desigual em relação ao sexo masculino no início do período. Para nenhum grupo
masculino, no ano de 2008, houve concentração de desemprego tão alta quanto a que
apresentou o grupo feminino que mencionamos.
O aumento do grau de instrução, particularmente da parcela feminina da PEA, não
foi suficiente para coibir os efeitos da mais intensa entrada delas no mercado de trabalho, o
aumento da participação no DA, e acabou por definir um cenário desigual entre os sexos
que pode estar associado ao tipo de crescimento do período, em última instância, definidor
do perfil da mão-de-obra necessária.
Tabela 35 – Participação no desemprego aberto por sexo e grau de instrução – 2000-2008
Analfab. Sem escola riz. Fund. Incomp. Fund. Compl.Médio
Incomp.Médio
CompletoSuperior Incomp.
Superior Completo
Total
30.432 2.532 364.542 121.922 111.700 145.289 33.413 25.182 835.012
1,6% ,1% 18,7% 6,2% 5,7% 7,4% 1,7% 1,3% 42,8%
24.836 1.232 379.963 152.640 173.349 295.737 43.871 44.688 1.116.316
1,3% ,1% 19,5% 7,8% 8,9% 15,2% 2,2% 2,3% 57,2%
6.435 54 183.442 110.413 108.609 237.053 49.346 39.977 735.329
,3% ,0% 9,7% 5,8% 5,8% 12,6% 2,6% 2,1% 38,9%
8.028 204 223.130 141.559 169.228 463.865 76.366 70.370 1.152.750
,4% ,0% 11,8% 7,5% 9,0% 24,6% 4,0% 3,7% 61,1%
(23.997) (2.478) (181.100) (11.509) (3.091) 91.764 15.933 14.795 (99.683)
(16.808) (1.028) (156.833) (11.081) (4.121) 168.128 32.495 25.682 36.434
Fonte: PED (elaboração própria)
2000
Homens
Mulheres
2008
Homens
Mulheres
Variação (2008-2000)
Homens
Relacionado às distintas faixas etárias (Tabela 36), o desemprego aberto é mais
freqüente para as faixas mais jovens e diminui gradativamente com o aumento da idade.
Chamam atenção as altas taxas para a população de 10 a 19 anos, que não caíram tanto
quanto nos demais tipos de desemprego. Detalhando mais os dados dessa faixa etária
encontramos que o desemprego passa a ser relevante entre 15 e 16 anos, aumentando
progressivamente com a idade e atingindo máximo para os 18 anos.
109
Tabela 36 – Participação das faixas etárias no DA – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
588.895 614.161 619.252 651.168 637.332 579.475 573.479 536.919 514.793
30,1% 30,2% 28,7% 27,3% 28,1% 27,6% 27,5% 26,5% 27,3%
709.785 752.867 831.437 923.856 894.446 849.538 852.446 828.134 768.202
36,3% 37,0% 38,5% 38,7% 39,5% 40,5% 40,9% 40,9% 40,7%
339.751 343.276 360.138 416.830 371.323 341.407 344.339 346.987 325.103
17,4% 16,9% 16,7% 17,4% 16,4% 16,3% 16,5% 17,2% 17,2%
205.466 212.943 221.157 264.540 230.372 217.160 208.217 201.413 184.202
10,5% 10,5% 10,3% 11,1% 10,2% 10,4% 10,0% 10,0% 9,8%
84.412 87.676 99.782 105.390 105.317 91.743 85.126 88.756 80.733
4,3% 4,3% 4,6% 4,4% 4,7% 4,4% 4,1% 4,4% 4,3%
22.027 20.774 23.225 24.635 22.864 16.703 18.744 18.210 13.620
1,1% 1,0% 1,1% 1,0% 1,0% ,8% ,9% ,9% ,7%
2.962 1.937 2.072 2.456 2.797 1.327 1.312 2.735 1.687
,2% ,1% ,1% ,1% ,1% ,1% ,1% ,1% ,1%
1.953.298 2.033.634 2.157.063 2.388.875 2.264.451 2.097.353 2.083.663 2.023.154 1.888.340
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
10 - 19
20 - 29
30 - 39
40 - 49
50 - 59
60 - 69
>70
Total
Esse desemprego aberto concentrado nas idades de 18 e 19 anos se defronta com
uma outra condição preocupante: em 2000, uma média de 66% destes adolescentes
desempregados estavam em situação de atraso escolar (grau de instrução inferior ao Médio
Completo). Em 2008 a média caiu para 50%. Essa realidade continua a merecer atenção na
medida em que evidencia a necessidade de abandono ou fraco desempenho nos estudos de
uma parcela muito grande da população de baixa renda (inquestionavelmente também
associável às condições supramencionadas). A Tabela 37, que relaciona a renda familiar
média19 e as faixas etárias das pessoas em desemprego aberto, mostra que 78,2% tinham
renda familiar inferior a R$ 2.000,00 (que equivaleriam a uma renda per capita20 inferior a
R$ 491,40 com média de R$ 419,73) em 2008. Já no início do período, a participação era
de 76,9%, que equivaliam a uma renda familiar per capita de R$ 450,45, no máximo, com
média de R$ 398,50.
Dos adolescentes desempregados, 74,7% (duas primeiras faixas de renda) tinham
renda familiar média de R$ 1707,49 e per capita média de R$ 386,52, em 2000, e R$
1510,46 e R$ 367,33, respectivamente, em 2008. As demais faixas etárias mantêm altas
taxas de concentração nos níveis de menor renda, sendo aquelas entre os 30 e 49 anos as
que se destacam.
19 Refere-se à renda familiar média da população desempregada no ano, com ano base em 2008, corrigida pelo IPCA (IpeaData). 20 O número médio de membros nas famílias dos desempregados (DA) em 2008 foi de 4,07, enquanto no ano de 2000 tinha sido de 4,44 membros.
110
Poderíamos considerar uma renda razoável se os sistemas educacionais e de saúde
públicos fossem satisfatórios, que não é o que acontece ainda no Brasil. O que isso implica
é em dependência imediatista de renda do trabalho e a estagnação das condições de vida
que já mencionamos algumas vezes ao longo deste trabalho. Não é atribuível a essas
famílias o direito de planejar e pensar no longo prazo se são as necessidade imediatas de
sobrevivência que se sobrepõem à dedicação aos estudos.
Tabela 37 – Participação no DA por faixa etária e renda familiar – 2000, 2003 e 2008 Faixa etária/faixa de renda (%)
10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 >70
<= 1000 44,5 48,1 58,7 55,6 52,2 55,4 70,6
1000 - 2000 30,2 27,3 23,9 24,2 24,2 27,5 14,3
2000 - 3000 12,2 10,8 8,7 9,7 11,4 8,6 4,3
3000 - 4000 5,5 5,2 3,8 4,4 4,8 0,7 3,4
4000 - 5000 2,7 2,5 1,9 1,9 2,8 4,5 2,9
>5000 5,0 6,1 3,1 4,2 4,6 3,3 4,7
100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
<= 1000 51,9 53,4 64,6 62,0 52,9 55,4 69,5
1000 - 2000 29,8 27,2 22,3 23,3 25,4 22,4 13,2
2000 - 3000 9,9 9,1 7,3 7,3 9,9 14,2 0,0
3000 - 4000 4,0 3,9 2,6 3,4 6,6 0,9 0,0
4000 - 5000 1,7 1,9 1,0 1,0 1,9 1,3 17,4
>5000 2,8 4,6 2,2 3,1 3,2 5,8 0,0
100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
<= 1000 45,4 47,0 55,0 51,6 47,7 41,1 73,7
1000 - 2000 32,6 29,3 27,9 30,1 26,3 31,4 5,4
2000 - 3000 11,2 10,9 7,9 8,8 9,5 12,8 0,0
3000 - 4000 4,9 4,8 3,9 4,1 6,5 6,0 0,0
4000 - 5000 2,7 2,6 1,8 1,5 2,8 1,3 0,0
>5000 3,3 5,4 3,6 3,8 7,2 7,6 20,9
100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0
Fonte: PED (elaboração própria)
2000
2003
2008
Em relação à idade da população desempregada havíamos concluído que maior
parte se encontrava nas faixas inferiores aos 39 anos, com destaque para a faixa de 20 a 29
anos, única que teve aumento absoluto do desemprego. Esse aumento pode ser em grande
parte explicado pelo envelhecimento de uma parcela da população que também possuía
altas taxas no desemprego desde o início do período, a de 10 a 19 anos, embora o mesmo
argumento não explique a redução da faixa seguinte (30-39).
111
O peso da primeira e segunda faixa etária está coerentemente relacionado com o
fato de grande parte da população em estudo ser composta, no que diz respeito à posição
na família, por Filhos. A faixa de 20 a 29 anos, que seria mais mista em relação à faixa
anterior, é composta em mais da metade por Filhos. A distribuição está ilustrada nos
gráficos abaixo, evidenciando inclusive a pouca alteração sofrida na participação relativa
dos membros da família.
Gráfico 16 – Distribuição dos desempregados (DA) na faixa etária de 20-29 anos pela posição na família – 2000 e 2008
0%
20%
40%
60%
80%
100%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Chefe Conjuge Filho Demais
Fonte: PED (elaboração própria)
Pela Tabela 38, que relaciona o número e a proporção de desempregados por
posição na família sobre DA total, vemos que, dentre os grupos com participação
relevante, a maior queda foi observada entre os Chefes, -18,3%, enquanto Cônjuges
tiveram aumento de 4,8% e para Filhos a redução foi somente de 0,7%.
Tabela 38 – Participação no DA por posição na família – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
406.903 411.629 440.078 496.147 426.512 390.131 385.963 374.126 332.612
20,8% 20,2% 20,4% 20,8% 18,8% 18,6% 18,5% 18,5% 17,6%
401.956 417.900 437.716 487.285 457.801 430.831 427.854 429.932 421.381
20,6% 20,5% 20,3% 20,4% 20,2% 20,5% 20,5% 21,3% 22,3%
953.137 1.002.905 1.068.605 1.163.818 1.151.943 1.072.441 1.069.895 1.022.231 946.720
48,8% 49,3% 49,5% 48,7% 50,9% 51,1% 51,3% 50,5% 50,1%
191.303 201.199 210.663 241.625 228.194 203.951 199.952 196.866 187.627
9,8% 9,9% 9,8% 10,1% 10,1% 9,7% 9,6% 9,7% 9,9%
1.953.299 2.033.633 2.157.062 2.388.875 2.264.450 2.097.354 2.083.664 2.023.155 1.888.340
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboração própria)
1. inclui as categorias Outro parente, Agregado, Pensionista, Empregado Doméstico, Parente Empregado Doméstico e Outros.
Chefe
Cônjuge
Filho
Demais1
Total
112
Os Filhos e Cônjuges têm papel complementar na renda da família e a importância
dessa complementação de renda é grande, pois, como havíamos observado, maior parte das
famílias dos desempregados são pobres. Ainda assim, em situação involuntária de
inatividade, como forma de sustento durante a busca por um novo emprego, os integrantes
do DA recorrem à ajuda de parentes e/ ou conhecidos ou vivem como dependente da renda
do trabalho de outras pessoas da família. As parcelas de desempregados em cada um
desses meios de sobrevivência podem ser vistas na Tabela 39. Em relação a essa
informação podemos dizer ainda que a renda alternativa fornecida pelo meio de
sobrevivência ao qual os desempregados tinham acesso no ano de 2000, para 94,4% deles,
não superava o valor de R$ 250,00. Até 2008, pouco se alterou, como pode ser visto na
Tabela 40, que apresenta a população desempregada por faixa de renda auferida no meio
de sobrevivência.
Tabela 39 – Meio de sobrevivência dos desempregados (DA) – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
649.830 677.243 722.617 864.926 823.891 789.629 787.563 753.077 681.134
33,3% 33,3% 33,5% 36,2% 36,4% 37,7% 37,8% 37,2% 36,1%
1.155.717 1.207.874 1.277.468 1.371.798 1.310.812 1.172.704 1.166.487 1.154.677 1.098.830
59,2% 59,4% 59,2% 57,4% 57,9% 55,9% 56,0% 57,1% 58,2%
147.244 147.842 156.852 151.792 129.008 134.379 129.341 115.153 108.326
7,5% 7,3% 7,3% 6,4% 5,7% 6,4% 6,2% 5,7% 5,7%
1.952.791 2.032.959 2.156.937 2.388.516 2.263.711 2.096.712 2.083.391 2.022.907 1.888.290
100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Ajuda de parente e/ou conhecidos
Outra(s) pessoa(s) da familia tem trabalho
Outros meios
Total
Tabela 40 – Percentual de desempregados (DA) por faixas de renda auferida em meios alternativos – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
<= 250 94,4 94,7 94,1 94,1 94,5 94,3 94,2 93,8 93,4
250 - 500 4,1 3,3 3,9 3,8 3,3 3,0 2,8 3,0 3,3
500 - 750 1,5 2,0 2,0 2,2 2,2 2,6 3,0 3,2 3,2
Fonte: PED (elaboração própria)
Pela Tabela 41, que apresenta os dados extraídos da PED sobre o tempo que o
indivíduo em desemprego aberto saiu do último trabalho, podemos notar que o
componente friccional no desemprego não tende a ser período tão curto. Ou seja, a
recolocação da força de trabalho no mercado não é imediata, o que torna o seguro
desemprego um importante mecanismo de proteção ao trabalhador, principalmente porque
as condições das famílias desses desempregados não são suficientemente boas.
113
Tabela 41 – Desempregados e tempo de desemprego (meses) – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 fc 2000 fc 2008
1 12,3% 12,9% 12,2% 10,8% 12,7% 14,1% 12,2% 12,1% 13,9% 12,3% 13,9%
2 12,3% 13,0% 12,5% 11,9% 12,0% 12,9% 13,8% 14,1% 15,0% 24,6% 29,0%
3 7,9% 8,5% 8,3% 8,2% 7,6% 7,9% 8,9% 8,5% 8,5% 32,5% 37,4%
4 5,7% 6,6% 6,0% 6,3% 5,1% 5,3% 6,1% 6,8% 6,0% 38,2% 43,4%
5 a 7 13,3% 13,6% 14,5% 14,4% 12,8% 13,8% 14,9% 15,2% 14,4% 51,5% 57,8%
8 a 11 6,9% 7,2% 7,9% 8,1% 7,0% 7,5% 6,9% 6,7% 6,6% 58,4% 64,4%
12 10,1% 9,6% 10,3% 11,1% 11,1% 10,0% 11,1% 11,1% 10,9% 68,5% 75,3%
>12 31,5% 28,6% 28,3% 29,2% 31,7% 28,5% 26,0% 25,6% 24,7% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboração própria)
Somente 12,3% estavam desempregados há apenas um mês em 2000, aumentando
para 13,9% em 2008. Embora positivo, esse aumento não foi suficiente para reproduzir
uma idéia de reajustamento rápido do mercado de trabalho brasileiro. Pelo contrário,
salienta uma característica dele: a insuficiente disponibilidade de postos de trabalho como
determinante do longo período de busca por atividade remunerada.
O período de referência para o não exercício de atividade laboral na estatística de
desemprego aberto é dos sete dias imediatamente anteriores à pesquisa, todavia os números
de desempregados para períodos pouco mais longos que esse é pequeno. O desemprego de
curta duração é raro, como mostram os dados dispersos ao longo do período de um ano
após a perda do emprego. Aqueles sem trabalho há um ano, por exemplo, têm quase o
mesmo peso que os com apenas um mês (13,9% contra 10,9%).
Como último aspecto, a apresentação do Setor econômico do último emprego do
trabalhador desempregado (Tabela 42) mantém a maior representatividade dos oriundos do
setor de Serviços, que de 34,5% em 2000 passou para 37,7% do desemprego aberto, em
2008, em seguida está o setor de Comércio (15,3 para 16,1%). Ambos apontam para
tendência de aumento da participação do setor terciário na economia, onde o trabalho
informal é mais presente, e por isso provavelmente também uma maior instabilidade das
relações de trabalho, o que poderia explicar grande parte da volatilidade do nível de
desemprego a eles associado. As variações no setor de serviços sempre superam as de
outros setores.
114
Tabela 42 – Desempregados em DA por setor do último trabalho – 2000-2008
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
274.905 284.703 299.152 320.998 285.053 268.139 265.308 249.137 232.940
14,1% 14,0% 13,9% 13,4% 12,6% 12,8% 12,7% 12,3% 12,3%
121.726 126.746 130.337 144.068 126.972 108.310 96.584 88.742 72.633
6,2% 6,2% 6,0% 6,0% 5,6% 5,2% 4,6% 4,4% 3,8%
298.769 303.510 335.991 359.849 344.024 323.981 324.181 319.434 303.183
15,3% 14,9% 15,6% 15,1% 15,2% 15,4% 15,6% 15,8% 16,1%
673.912 701.889 778.625 865.669 797.096 774.127 769.383 769.215 712.702
34,5% 34,5% 36,1% 36,2% 35,2% 36,9% 36,9% 38,0% 37,7%
211.718 225.902 214.150 244.491 229.950 211.406 194.428 183.992 167.678
10,8% 11,1% 9,9% 10,2% 10,2% 10,1% 9,3% 9,1% 8,9%
5.118 7.415 6.751 8.473 6.561 3.932 6.356 6.224 5.679
,3% ,4% ,3% ,4% ,3% ,2% ,3% ,3% ,3%
5.578 5.070 5.909 8.415 8.063 7.427 6.898 7.684 9.186
,3% ,2% ,3% ,4% ,4% ,4% ,3% ,4% ,5%
360.798 377.318 385.889 436.213 464.535 399.940 419.999 397.407 384.077
18,5% 18,6% 17,9% 18,3% 20,5% 19,1% 20,2% 19,6% 20,3%
1.953.297 2.033.634 2.157.062 2.388.875 2.264.451 2.097.354 2.083.665 2.023.154 1.888.341
100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%
Fonte: PED (elaboraçao própria)
Obs: "Não se aplica" corresponde aos que buscam o primeiro trabalho.
Não se aplica
Total
Serviços
Serviços Domésticos
Agricultura, Pecuária e Extração Vegetal
Outras
Indústria
Construção Civil
Comércio
A intensidade das mudanças na estrutura do desemprego associado aos setores
econômicos é em última instância definida pelo desaquecimento deste setor, embora não
possamos fazer as mesmas afirmações a respeito do aquecimento pelo ângulo que
analisamos o mercado de trabalho, pois não se mostra aqui onde esses desempregados
foram alocados, somente de onde saíram.
Pelo Gráfico seguinte é possível notar que o comportamento do número de
desempregados para todos os setores foi coerente com o da taxa de desemprego aberto. Até
2003 houve um aumento, para que a partir de 2004 se iniciasse queda sistemática.
Como conclusão, podemos, portanto, delinear o perfil do desemprego aberto: são
principalmente Pretos ou Pardos, em maioria mulheres, pertencentes às faixas etárias mais
densas da pirâmide populacional brasileira (10-29). São indivíduos que procuram emprego
porque precisam da renda, mas, por definição, não chegam a buscar meios alternativos,
dentre eles o trabalho precário, tanto pelas dificuldades na execução do próprio trabalho
como pela possibilidade de ser sustentado pelo núcleo familiar, pois são na maior parte
dependentes (Filhos e Cônjuges). Como fator complicador, o grau de instrução da
população que procura emprego sem êxito, é muito baixo, além de na maioria das vezes
insuficiente, de baixa qualidade. Muito embora pelos dados que analisamos não possamos
fazer nenhuma afirmação nesta questão, a fraca qualidade do ensino público brasileiro,
única a que têm acesso, é de conhecimento geral.
115
Gráfico 17 - Evolução do número de desempregados (DA) por setor do último trabalho – 2000-2008
-
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1.000
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Mil
hare
s
Indústria Construção Civil Comércio Serviços Serviços Domésticos
Fonte: PED (elaboração própria)
Ademais, verificamos que maior parte provém do setor de Comércio e Serviços,
onde vigoram principalmente relações informais de trabalho. Isso acaba por determinar
uma deterioração das condições de vida do indivíduo recém-desempregado, dificultando a
manutenção da busca por emprego, já que não têm direito a recebimento de seguro-
desemprego. Também para os demais tipos de desemprego, nos quais o peso do terciário é
grande, se estabelecem situações semelhantes, em maior ou menor intensidade. Mas como
exatamente ficam definidas essas intensidades?
O que muda no desemprego aberto em relação aos outros dois tipos de
desemprego? Os atributos do indivíduo, sua formação e condições de vida se relacionam
diferentemente com a falta de trabalho em cada uma das três situações? Na seção seguinte
vamos concluir a análise do perfil e estrutura do desemprego sintetizando e comparando os
principais pontos apresentados até agora.
3.3. Comparação e conjecturas sobre as três categorias de desemprego
O comportamento da taxa de desemprego no período 2000 a 2008 foi analisado ao
longo deste capítulo à luz das mudanças internas, ou seja, das características da população
desempregada. O objetivo era esboçar uma resposta a quem seriam os desempregados no
início do período analisado, quais fatores eventualmente alteraram esse perfil e qual o
efeito final do surto de recuperação do emprego sobre os desempregados. A análise foi
116
detalhada por três tipos de desemprego: o aberto; o oculto com trabalho precário e o oculto
por desalento, separadamente. Para esta seção a proposta é de sintetizar as informações
coletadas e comparar o perfil das três categorias de desemprego, primeiro, pelas
características pessoais (sexo, cor, idade e grau de instrução). E, segundo, pelos aspectos
que delineiam o impacto da condição de desemprego sobre o indivíduo e sua família
(posição na família, nível de renda, tempo de desemprego, renda alternativa e setor de
atividade do último emprego).
Para desenvolver o estudo da composição do desemprego até agora utilizamos taxas
de participação dos indivíduos segundo determinadas características sobre cada tipo de
desemprego. Esta abordagem agrega valor à nossa análise na medida que fornece uma
fotografia da população em condição de trabalho precário, que leva o indivíduo a desejar
mudança de emprego, de desestímulo em relação ao mercado de trabalho, e dos que tem
mais recentemente buscado se reinserir e se dedicado exclusivamente à busca. O uso
paralelo da convencional taxa de desemprego do grupo na PEA nos permitirá separar
aumento da pressão de determinados grupos sobre o emprego (aumento da oferta) da
dificuldade de inserção inerente a características do desempregado. Outra ressalva a ser
feita em relação ao método de análise é que os anos enfatizados serão os que apresentaram
inflexão do comportamento da taxa de desemprego, abstraindo dos períodos de queda ou
ascensão sistemática.
Para o primeiro atributo pessoal dos desempregados, a cor, encontramos as
seguintes relações. No desemprego oculto com trabalho precário se apresenta maior
participação da população Preta e Parda (chegou a 61,2% em 2008), embora ela seja
maioria nos três tipos, com tendências iguais de aprofundamento das desigualdades em
relação a Brancos e Amarelos a despeito da queda no desemprego para ambos. A Tabela
43 e o Gráfico 18 nos mostram o quão desigual é esta relação, pois evidencia a persistência
de maiores taxas de desemprego entre Pretos e Pardos, em relação a Brancos e Amarelos.
No desemprego aberto o aumento da desigualdade foi acompanhado pelo
crescimento do número absoluto de Pretos e Pardos na sua população até 2008, em
confronto com uma situação inicial de maioria Branca e Amarela. A redução absoluta para
os outros dois tipos de desemprego acompanhado de mudanças na participação relativa dos
grupos21 sinaliza efeitos distintos do crescimento sobre a desocupação de ambos, na qual
21 Rever Tabelas 8, 20 e 32.
117
Brancos e Amarelos se mostraram mais propensos a sair da situação de desemprego, tanto
no desalento como no precário.
Tabela 43 – Taxas de desemprego por cor e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008
Brancos e Amarelos
Pretos e PardosBrancos e Amarelos
Pretos e PardosBrancos e Amarelos
Pretos e Pardos
372.861 443.584 373.429 542.993 237.053 374.600
3,8% 6,3% 3,9% 6,4% 2,2% 4,1%
1.005.298 947.655 1.100.956 1.287.772 882.054 1.006.286
10,2% 13,5% 11,4% 15,2% 8,3% 10,9%
198.008 207.569 197.142 272.470 122.485 174.954
2,0% 2,9% 2,0% 3,2% 1,2% 1,9%
8.319.393 5.443.871 7.981.831 6.376.320 9.384.703 7.644.980
84,1% 77,3% 82,7% 75,2% 88,3% 83,1%
9.895.560 7.042.679 9.653.358 8.479.555 10.626.295 9.200.820
100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
2000 2003 2008
DOTP
DA
DOD
Ocupados
Total
Gráfico 18 – Taxas de desemprego dos grupos por Cor e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
Brancos eAmarelos
Pretos ePardos
Brancos eAmarelos
Pretos ePardos
Brancos eAmarelos
Pretos ePardos
2000 2003 2008
DOTP DA DOD
Fonte: PED (elaboração própria)
Ou seja, a recuperação do mercado de trabalho a partir de 2004 representou uma
melhora inclusive nesse quesito, no qual os dois grupos foram afetados positivamente (e
foram prejudicados da mesma forma no período de desaquecimento), com exceção do DA.
No entanto, houve uma melhor resposta de Brancos e Amarelos a essa recuperação, o que
argumentamos anteriormente como uma consequência das menores oportunidades da
população Preta e Parda, sobre a qual pesam fatores como menores níveis de instrução e
menor renda, que acreditamos estar associado ao desemprego não só enquanto resultante,
mas também como causa.
118
Quanto à divisão da população desempregada pelo sexo, encontramos menor,
embora crescente, participação feminina somente no desemprego acompanhado de trabalho
precário. No desemprego aberto e no desalento elas são maioria também crescente, com
peso ainda mais significativo no segundo. A taxa de desemprego entre as mulheres é
sempre maior, como mostram as taxas abaixo no Gráfico 19 e Tabela 44.
Gráfico 19 – Taxas de desemprego entre Homens e Mulheres – 2000, 2003 e 2008
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
14%
16%
18%
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
2000 2003 2008
DOTP DA DOD
Fonte: PED (elaboração própria)
Tabela 44 – Taxas de desemprego por sexo e tipo de desemprego – 2000-2008
Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres
545.856 270.588 596.767 319.708 356.758 254.896
5,8% 3,6% 6,1% 3,8% 3,4% 2,7%
836.434 1.116.863 1.019.414 1.369.461 735.531 1.152.810
9,0% 14,7% 10,4% 16,4% 7,0% 12,3%
135.022 270.633 149.880 319.817 92.447 204.993
1,4% 3,6% 1,5% 3,8% 0,9% 2,2%
7.826.625 5.940.109 8.007.248 6.352.144 9.300.274 7.730.871
83,8% 78,2% 81,9% 76,0% 88,7% 82,7%
9.343.937 7.598.193 9.773.309 8.361.130 10.485.010 9.343.570
100% 100% 100% 100% 100% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
Total
DOTP
DA
DOD
2000
Ocupados
2003 2008
Os dados mostram claramente a inflexão na evolução do desemprego no período,
onde abstraímos dos intervalos de ascensão ou queda contínuas, divididas as taxas entre
homens e mulheres. No DOTP e no DOD houve redução absoluta do desemprego para
ambos, mas principalmente para os homens, enquanto no DA encontramos mais uma vez a
exceção, houve aumento absoluto do desemprego para as mulheres. A entrada das
119
mulheres no mercado de trabalho nos últimos anos foi intensa, o que acabou por definir
uma redução mais lenta, ou mesmo um aumento absoluto como no caso do DA, do número
de mulheres desempregadas.
No desemprego por desalento é predominante a participação das mulheres,
funcionando como uma reserva de trabalho feminino, a espera de condições favoráveis do
mercado de trabalho. A condição enquadrada no DOD é de paralisação da busca de
trabalho, principalmente pelas condições desfavoráveis de emprego, seja na
disponibilização de postos ou nos salários (estabelecidas suas exigências, ou seja, o salário
de reserva do trabalhador). A redução do desemprego por desalento, no contexto dos
últimos anos, pode também ter pressionado para o aumento do desemprego aberto entre as
mulheres por um desses fatores. A melhora do mercado de trabalho faria com que a parcela
da população desempregada, predominantemente feminina, que tinha suspendido a busca,
as retomasse, sendo isso captado de alguma forma pelas estatísticas da PED sem que
possamos definir com exatidão a defasagem e distribuição dessa transferência. Com os
dados que expusemos não é possível distinguir a mudança para uma situação de ocupação
ou desemprego aberto, o que não a torna negligenciável.
Em relação à idade da população desempregada, encontramos os seguintes fatos.
As faixas de indivíduos de idade superior a 60 anos são mais representativas no
desemprego por desalento. Na composição do DOD e do DA, as faixas etárias de 10 a 39
anos tiveram a maior participação, enquanto no DOTP a faixa de 40 a 49 substitui a
primeira faixa, mostrando aqueles com idade entre 20 e 49 anos como mais afetados.
As taxas de desemprego são altas – superiores a 3% - para quase todos os grupos
etários no desemprego com trabalho precário e no aberto, adquirindo até mesmo valores
extremamente elevados, como para o caso dos adolescentes e jovens. No DOD as taxas são
menores, só passaram de 2% durante todo o período para as faixas de 10 a 29 anos, mas
inferiores a partir de 2007. (Gráfico 20 e Tabela 45)
120
Gráfico 20 – Participação das faixas etárias no desemprego – 2000, 2003 e 2008.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
DOT P DA DOD DOT P DA DOD DOTP DA DOD
2000 2003 2008
10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 >60
Fonte: PED (elaboração própria)
Tabela 45 – Taxas de desemprego por faixa etária e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008
10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 >70
137.970 281.231 205.535 132.484 49.192 9.024 1.007 6,9% 5,3% 4,7% 4,1% 3,3% 2,0% 1,3%
588.895 709.785 339.751 205.466 84.412 22.027 2.962 29,3% 13,5% 7,8% 6,4% 5,6% 4,8% 3,6%
115.344 131.127 75.769 47.421 26.749 8.073 1.172 5,7% 2,5% 1,7% 1,5% 1,8% 1,8% 2,0%
1.169.435 4.139.534 3.742.397 2.849.716 1.348.801 422.136 94.716 58,1% 78,7% 85,8% 88,1% 89,4% 91,5% 93,1%
131.166 313.309 233.911 165.432 62.283 9.885 488 7,0% 5,5% 5,1% 4,6% 3,5% 1,9% 0,8%
651.168 923.856 416.830 264.540 105.390 24.635 2.456 34,8% 16,2% 9,1% 7,4% 5,9% 4,8% 2,5%
118.686 163.447 81.822 58.759 36.397 9.715 871 6,3% 2,9% 1,8% 1,6% 2,0% 1,9% 1,0%
969.596 4.317.713 3.847.726 3.085.140 1.573.164 467.238 98.814 51,8% 75,5% 84,0% 86,3% 88,5% 91,4% 95,7%
83.100 209.492 151.030 112.683 47.543 7.754 52 4,9% 3,5% 3,1% 2,8% 2,0% 1,2% 0,0%
514.793 768.202 325.103 184.202 80.733 13.620 1.687 30,2% 12,7% 6,6% 4,6% 3,4% 2,1% 3,3%
72.683 98.890 57.603 40.562 20.258 6.346 1.099 4,3% 1,6% 1,2% 1,0% 0,9% 1,0% 0,3%
1.035.397 4.986.777 4.405.626 3.668.455 2.199.822 615.549 119.520 60,7% 82,2% 89,2% 91,6% 93,7% 95,7% 96,4%
Ocup.
Ocup.
DOTP
DA
DOD
2000
2003
2008
DOTP
DA
DOD
Ocup.
DOTP
DA
DOD
Fonte: PED (elaboração própria)
A questão do desemprego para as duas faixas etárias mais jovens é grave e estão
intimamente relacionados. Primeiro, temos uma população muito grande que está
abandonando os estudos para contribuir para a renda da família, os adolescentes.
Enfrentam problemas de inserção no mercado de trabalho tanto pela inexperiência como
121
pela maior regulação e controle sobre o trabalho infantil22 (menores de 16 anos,
considerado aprendiz aquele com idade entre 14 e 16) preconizados nos últimos anos.
Além de se expor muito precocemente ao trabalho, acaba por estabelecer uma dificuldade
futura de integração no mundo do trabalho, pois não se qualifica adequadamente na época
certa nem consegue criar condições financeiras suficientemente melhores para sua família
a ponto de poder investir no seu crescimento profissional. Nesse aspecto a busca por
emprego na adolescência acaba por influenciar o desemprego na fase seguinte, de 20 a 29
anos. Segundo, portanto, além da baixa qualificação resultante do primeiro problema,
geralmente pesa para esse segundo grupo a inexperiência profissional daqueles que estão
buscando o primeiro emprego ainda. Amenizar esses problemas nos dois grupos perpassa
por uma reestruturação da educação e da assistência às famílias das crianças e adolescentes
para que não se tornem jovens pouco produtivos do ponto de vista do mercado de trabalho.
A baixa qualificação não é exclusividade de nenhum dos três tipos de desemprego
que analisamos. Na análise segregada deles vimos que maior é a participação dos grupos
com Ensino Fundamental Incompleto e Médio Completo, com inversão ou distribuição dos
pesos entre eles ao longo do período. Usando como indicador a taxa de desemprego dos
grupos encontramos as seguintes condições:
Para os níveis mais altos de instrução a tendência mais comum foi de redução das
taxas de desemprego para os grupos, com alguma resistência no desemprego aberto, para o
qual a taxa chegou a crescer entre pessoas com Nível Superior Completo. No DOD a taxa
chegou a cair a despeito do aumento do número de desempregados nele classificados para
os três últimos níveis. Somente no DOTP, nos dois níveis mais altos é que houve contração
tanto absoluta como relativa.
22 O peso dessa faixa etária na PEA é tão grande que mesmo com altas taxas de inatividade, que evoluiu de 68% para 72% no período, os aproximadamente 30% responderam por uma parcela considerável do desemprego. A inatividade nas faixas etárias de 20 a 59 anos fica em torno de 40%, voltando a subir para os idosos, naturalmente.
122
Gráfico 21 – Taxas de desemprego por grau de instrução – 2000, 2003 e 2008
0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0%
DOTP
DA
DOD
DOTP
DA
DOD
DOTP
DA
DOD
2000
2003
2008
Analfabeto Sem escolarização Fundamental Incompleto
Fundamental Completo Médio Incompleto Médio Completo
Superior Incompleto Superior Completo
Fonte: PED (elaboração própria)
Podemos apontar, portanto, como uma tendência geral do mercado de trabalho o
aumento do nível educacional dos trabalhadores, mas com uma trajetória paralela do
desemprego, nos três níveis, de aumento do peso das pessoas mais instruídas nas
estatísticas. Na maior parte das vezes, a queda no desemprego foi acompanhada de queda
na ocupação para os menos instruídos, enquanto para os mais instruídos o aumento na taxa
de desemprego foi simultânea ao aumento na ocupação, indicando tanto uma pressão sobre
um segmento do mercado de trabalho de um perfil de mão-de-obra mais estudada, como
uma expansão das oportunidades de emprego ainda insuficiente para absorvê-los. A nosso
ver, isso indica que a defasagem educacional da população não é a única causa do
desemprego, tampouco o tipo de melhora na educação verificado a solução, pois ao mesmo
tempo que uma forte expansão do emprego não foi suficiente para empregar os mais
instruídos, nada garante que os empregados nesse período o tenham sido exatamente por
terem aumentado sua escolaridade. Em períodos de expansão e com baixo diferencial
123
salarial nas camadas pior remuneradas, o empregador obviamente prefere empregar aquele
com maior grau de instrução, independentemente das capacidades e habilidades exigidas
na atividade a ser exercida. Deve-se ressaltar que estamos falando de uma parcela do
mercado de trabalho que atinge a massa da população economicamente ativa, composta
por trabalhadores não-especializados e que ao longo de sua vida desempenham diversas
tarefas de natureza completamente distintas, pois é essa a população que compõe a
estrutura do desemprego.
Quanto a tendências específicas de cada tipo de desemprego, em relação ao grau de
instrução não encontramos nenhuma peculiaridade. As diferenças se mantêm no nível
estrutural, ou seja, a recuperação do emprego desde 2000 vem afetando linearmente os três
arquétipos de desemprego, com exceção do nível sem escolarização no DOD, que ao invés
de diminuir, aumentou. Para comparar a mudança na taxa de desemprego por grupos
segundo a escolaridade, relacionamos no Gráfico 22 a variação percentual da taxa de
desemprego por grau de instrução.
Gráfico 22 – Variação da taxa de desemprego por nível de escolaridade em p.p. (2008-2000)
-7%
-6%
-5%
-4%
-3%
-2%
-1%
0%
1%
2%
DOTP DA DOD
Analfabeto
Sem escolarização
Fundamental Incompleto
Fundamental Completo
Médio Incompleto
Médio Completo
Superior Incompleto
Superior Completo
Fonte: PED (elaboração própria)
A recuperação do emprego vis-à-vis a melhora do quadro educacional no período
2000 a 2008 operou para a maior redução do desemprego nos níveis mais baixos de
instrução, para todos os tipos de desemprego, com exceção do grupo Sem escolarização,
que sofreu aumento considerável no desemprego por desalento. No mesmo contexto, a
menor redução nos grupos mais instruídos, em relação à queda no outro tipo de
124
desemprego oculto, pode estar relacionado ao fator apontado por Águas (2010), de que o
salário de reserva do trabalhador é mais alto quando seu grau de instrução é elevado,
optando este por paralisar as buscas por emprego, aguardando uma melhor oportunidade.
Em geral no DOD pode-se observar uma relação quase linear entre a redução do
desemprego e a escolaridade: quanto maior o segundo, menor o primeiro.
No DOTP a taxa também recuou para todos os níveis, mas são os intermediários,
principalmente Médio Incompleto, que foram menos impactados pela redução do
desemprego. O DA foi certamente o menos “beneficiado” dos três para escolaridade
superior ao Fundamental Completo. Abstendo-nos de possíveis migrações entre os tipos de
desemprego, poderíamos dizer que os indivíduos do DOTP, que apresentou maior
regularidade entre os grupos na redução do desemprego, acabaram sendo os mais
beneficiados.
A questão do salário de reserva deve ser analisada com cautela, pois exigências em
relação a salários são mais viáveis em núcleos familiares com maior renda, sendo nele que
muitas das vezes o desempregado encontra apoio financeiro, e maior nível educacional.
Contudo, ser apoiado implica, primeiramente, que ele não tenha um papel central na
família, isto é, não seja o Chefe, tendo papel apenas complementar na renda da família.
Como vimos anteriormente a composição do desemprego pela posição na família varia
entre os desempregos. No DOTP predominam os Chefes de família e, em segundo lugar,
os Filhos. No DOD já são os Filhos e, em seguida, os Cônjuges. Por sua vez, no DA,
metade do desemprego é entre Filhos, ficando o restante praticamente dividido entre
Cônjuges e Chefes.
Essa estrutura pouco se alterou ao longo do tempo, com uma mudança sutil nos
pesos do DOTP, provavelmente influenciado pelo aumento das mulheres na PEA, pois a
queda no desemprego entre Cônjuges foi mais lenta do que para os demais participantes de
peso. No desalento as quedas foram proporcionais entre eles e no DA a redução foi maior
para os chefes de família e chegou a aumentar para Cônjuges.
A definição de cada um dos tipos de desemprego acaba sendo associável a esses
fatos com certa facilidade. Chefes de família desempregados representam maior
vulnerabilidade da família e, portanto, maior necessidade e urgência em encontrar uma
fonte de renda que cubra, embora precariamente, a ausência de um trabalho remunerado
estável. Por isso a recorrência em atividades alternativas e trabalhos esporádicos, os
125
“bicos”, é maior entre eles. Já as mulheres têm maior peso no DOD, pois podem optar por
não trabalhar, pelo seu caráter complementar na renda familiar, além do papel já
desempenhado por muitas no próprio lar, que muitas vezes substitui a busca constante por
trabalho. A maior presença de Filhos no desemprego aberto está associada a maior
facilidade e necessidade dos jovens, que coincide em grande parte com a condição de filho,
em manter a busca por trabalho, embora enfrentem dificuldades impostas pelos fatores
supramencionadas de baixo grau de instrução e inexperiência.
Em segundo lugar, a renda da família está relacionada à sua suficiência em amparar
seus membros desempregados, pois como constatamos, com exceção do desemprego
oculto com trabalho precário, o principal meio de sobrevivência tem sido a família.
Havíamos explicado que essa renda se apresenta como variável chave na definição de
urgência do emprego para o trabalhador assim como condicionante da privação de direitos
a que é submetido quando tolhido de um salário ou de uma relação de trabalho
acompanhada de proteção social, necessariamente associada ao trabalho formal. O Gráfico
23 apresenta os dados referentes à Renda Familiar, segundo a condição de desemprego do
indivíduo e mostra que há uma concentração de desempregados nas faixas de menor renda
familiar.
Gráfico 23 – Composição do desemprego por renda familiar dos desempregados e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
2000 2003 2008 2000 2003 2008 2000 2003 2008
DA DOTP DOD
<= 1000 1000 - 2000 2000 - 3000 3000 - 4000 >4000
Fonte: PED (elaboração própria)
126
Em 2008, as taxas de participação na primeira faixa de renda, a mais baixa, eram de
48,3%; 64,3% e 54,2% para DA, DOTP e DOD, respectivamente. Acumulando com a
renda de até R$ 2000,00, alcançavam os valores de 78,3%; 87,9% e 82,6%. Para se ter uma
idéia mais precisa das condições financeiras destas duas faixas populacionais, a renda per
capita média chegou a somente R$ 248,59; R$ 210,87 e R$ 235,72, no mesmo ano. Fato
para otimismo é que as três apresentaram maiores patamares em relação a 2000, ao
contrário da renda familiar per capita média dos grupos desempregados como um todo,
demonstrando uma maior distribuição da renda. Somente para o desemprego aberto o
aumento foi verificado em todos os âmbitos.
Ademais, o que se nota é uma diferença da predominância de determinados níveis
de renda entre os distintos tipos de desemprego. A renda familiar média dos indivíduos em
desemprego aberto é sistematicamente maior do que a dos outros dois tipos, sendo do
desemprego com trabalho precário a menor e mais instável. De uma forma geral, todas
acompanharam a tendência da renda real das famílias das metrópoles brasileiras no
período, que sofreu forte queda de 2000 a 2003, para a partir de 2004 recuperar sua
valorização real. (Gráfico 24)
Gráfico 24 – Evolução da renda familiar por tipo de desemprego – 2000-2008
800
900
1.000
1.100
1.200
1.300
1.400
1.500
1.600
1.700
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
DOT P DA DOD
Fonte: PED (elaboração própria)
A renda familiar pode ser um determinante da forma de inserção do indivíduo no
mercado de trabalho, principalmente por facilitar o processo de busca, financiando-o e
dando meio de sobrevivência temporariamente. Por isso, já que são relativamente mais
127
pobres, e pelo fato de serem em sua maioria Chefes de família, indivíduos acabam se
enquadrando na situação ocupacional definida no DOTP, por exemplo, que acabam por se
submeter a trabalhos precários para prover a renda do seu núcleo. No DOD, rendas mais
altas, em relação ao DOTP, permitem a opção por não trabalhar, ou seja, pelo perfil do
desemprego por desalento, é relativamente esperado que a necessidade de se exercer
atividade remunerada para complementar a renda da família seja menor, podendo o
trabalhador optar por suspender a busca por emprego, embora se mostre disponível caso
surja uma oportunidade.
Nestas condições, a renda alternativa a que tem acesso o desempregado, seja pelo
trabalho precário ou pela ajuda de parentes ou apoio familiar, não é alta. Os dados mostram
que 59,2% dos indivíduos em desemprego aberto e 59,4% dos desalentados se sustentam
do trabalho de outras pessoas da família. No DOTP, 95,7% sobrevive da renda de trabalhos
precários, principalmente. O Gráfico 25, que apresenta a composição do desemprego pela
renda alternativa média23 do período 2000 a 2008 do desempregado em cada tipo de
desemprego, mostra com clareza o grau de dependência dos indivíduos em desemprego
aberto e desalento em relação ao seu núcleo familiar, pois maior parte tem renda zero.
Enquanto os desempregados que exercem trabalhos precários apresentam maior dispersão
entre as faixas destacadas, embora isso não represente nenhuma vantagem prática, pois
85,1% não aufere mais do que R$400,00.
Gráfico 25 – Composição do desemprego pela renda alternativa do desempregado
17,6%
93,8% 95,1%
30,4%
18,2%
10,8%
8,1%
14,9%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
DOT P DA DOD
<= 1 1 - 100 100 - 200 200 - 300 300 - 400 >400
Fonte: PED (elaboração própria)
23 Optamos pelo uso da média, pois as taxas não se alteraram significativamente no período.
128
Outro aspecto do desemprego com trabalho precário chama atenção: a sua duração.
A execução de trabalhos precários pode ser para muitas pessoas uma situação ocupacional
duradoura, pelo que encontramos nos dados em relação ao tempo de desemprego. Pior
estatística é a dos desempregados do DOD, dos quais 58,3% estão há um ano sem trabalho,
frente aos 62,4% do DOTP. O desemprego aberto é o que apresenta maior rotatividade dos
seus componentes, pois o tempo desempregado é mais curto para grande parte deles,
75,3% se concentram na faixa de no máximo um ano. A duração média do DOTP é de 1,96
ano, do DOD de 2,2 anos e do DA 1,36 no ano 2000, sendo em 2008 de 1,97; 2,21 e 1,24,
respectivamente (Tabela 46). O seguro-desemprego deveria assegurar alguma estabilidade
ao trabalhador pelo menos nos cinco primeiro meses do desemprego, mas, neste contexto,
e pela limitada quantidade de indivíduos que têm acesso ao benefício, se torna um
mecanismo de proteção defasado. (Tabela 47)
Tabela 46 – Tempo médio de duração do desemprego por tipo de desemprego – 2000-2008
DOTP DOD DA
2000 1,97 2,20 1,36
2001 1,96 2,21 1,35
2002 2,03 2,23 1,29
2003 2,03 2,36 1,33
2004 2,09 2,35 1,39
2005 2,07 2,33 1,28
2006 1,92 2,27 1,24
2007 1,96 2,13 1,23
2008 1,97 2,21 1,24
Fonte: PED (elaboração própria)
Como último aspecto sob análise, o setor de origem dos desempregados. Parte
expressiva dos desempregados, anteriormente à situação de desemprego, trabalhava no
setor de Serviços, onde predomina o trabalho informal. Isto pode ser um agravante, na
medida em que pesa na condição de vulnerabilidade do desempregado não ter direito a
seguro-desemprego. Buscamos essa informação na base de dados da PED e o que
encontramos não foi um quadro positivo. No desemprego aberto, por exemplo, o
percentual de desempregados com até cinco meses sem trabalho, ou seja, a população que
potencialmente poderia estar ainda usufruindo das parcelas do seguro (desconsiderando a
causa da perda do emprego ou do vínculo empregatício anterior), era de 42,6%, mas
somente 3,3%, em 2000, e 5,2% em 2008, o recebiam.
129
Tabela 47 – Desempregados e seguro-desemprego – 2000-2008
Sim Não Total
12.389 803.965 816.444
1,5% 98,5% 100%
65.017 1.888.131 1.953.298
3,3% 96,7% 100%
2.979 402.676 405.655
0,7% 99,3% 100%
13.440 598.010 611.653
2,2% 97,8% 100%
99.009 1.789.331 1.888.340
5,2% 94,8% 100%
2.926 294.514 297.440
1,0% 99,0% 100%
Fonte: PED (elaboração própria)
2000
DOTP
DA
DOD
2008
DOTP
DA
DOD
Além do setor de Serviços, o Comércio e a Indústria de Transformação têm sido os
mais presentes na composição do desemprego por Setor do último trabalho do
desempregado no DA. Este tipo de desemprego foi o único que apresentou aumento
absoluto do número de desempregados, no caso, os oriundos dos setores de Comércio,
Serviços e da Agricultura. No DOTP, o setor de Serviços despontava e os demais
(Indústria, Construção Civil e Comércio) dividiam quase igualmente 39,6% dos
desempregados, em 2008. A maior queda, em p.p., foi na Indústria, enquanto os dois
setores relacionados a Serviços aumentaram. Já no DOD, Serviços, Comércio e Serviços
Domésticos, nesta ordem, são mais representados. (Tabela 48)
Comparando os três tipos de desemprego novamente encontramos algumas
peculiaridades. No DOD a participação de desempregados que vinham do setor de
Serviços Domésticos é relativamente mais significativa e ao mesmo tempo menor na
Indústria, o que condiz com o perfil feminino desse grupo, embora a taxa da Construção
Civil não a reflita. No DOTP percebe-se maior presença de ex-trabalhadores da Construção
Civil.
No desemprego total teremos então como grupos mais representativos os de
Serviços e Comércio no DA, Serviços no DOTP e assim por diante, como pode ser
observado no Gráfico 26. Podemos notar ainda uma leve tendência de expansão do setor de
Serviços, mas não houve nenhuma mudança abrupta nas taxas de participação, ou seja, não
130
houve uma transformação estrutural relevante na economia no que diz respeito à formação
do desemprego.
Gráfico 26 – Evolução da participação no desemprego total por setor de origem e tipo de desemprego 2000-2008
0%
20%
40%
60%
80%
100%
2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
Serviços (DA) Comércio (DA) Serviços (DOT P)
Indústria (DA) Serviços domésticos (DA) Serviços (DOD)
Indústria (DOT P) Demais
Fonte: PED (elaboração própria)
Tabela 48 – Desempregados por setor de origem e tipo de desemprego (variação absoluta e em p.p.)
Variação Variação Variação
(2008-2000) (2008-2000) (2008-2000)
88.546 (62.820) 29.449 (27.072) 232.940 (41.965)
14,5% -4,1% 9,9% -4,0% 12,3% -1,7%
71.974 (29.091) 12.807 (7.572) 72.633 (49.093)
11,8% -,6% 4,3% -,7% 3,8% -2,4%
81.592 (28.043) 47.593 (15.616) 303.183 4.414
13,3% -,1% 16,0% ,4% 16,1% ,8%
237.177 (59.343) 104.681 (24.830) 712.702 38.790
38,8% 2,5% 35,2% 3,3% 37,7% 3,2%
60.302 (1.236) 37.811 (18.477) 167.678 (44.040)
9,9% 2,3% 12,7% -1,2% 8,9% -2,0%
2.287 (2.391) 855 (866) 5.679 561
,4% -,2% ,3% -,1% ,3% ,0%
2.699 554 2.617 609 9.186 3.608
,4% ,2% ,9% ,4% ,5% ,2%
Fonte: PED (elaboração própria)
DOTP DOD DA
Agricultura, Pecuária e Extração Vegetal
Outras
2008 2008 2008
Indústria
Construção Civil
Comércio
Serviços
Serviços Domésticos
131
3.4. Conclusão
Este capítulo tinha como meta traçar o perfil do desemprego, segundo indicadores
construídos pela PED. A pesquisa agrega dois conceitos ao conhecido desemprego aberto:
o oculto com trabalho precário e o oculto por desalento. Um inclui no conceito de
desemprego as pessoas que têm trabalhado, mas em atividade considerada precária, ou
seja, atividade irregular ou não remunerada de ajuda em negócio de parentes. O trabalho
irregular é tido como uma auto-ocupação não remunerada ou remunerada instável, na qual
o trabalhador não tenha direitos nem garantias em relação à continuidade do trabalho
exercido nem de alternativas caso o perca, tampouco da renda que este lhe aufere. Por isso
sente necessidade de mudar para um trabalho que lhe provenha maior estabilidade.
O outro, do chamado desalentado, é a situação em que o indivíduo sem trabalho se
encontra desestimulado pelas dificuldades do mercado de trabalho ou por problemas
pessoais, mas que se declara disponível para trabalhar. É necessário ter procurado trabalho
por pelo menos quinze dias nos últimos doze meses. O aberto, mais amplamente utilizado
em pesquisas de desemprego, considera as pessoas que estavam sem trabalho há pelo
menos sete dias com procura efetiva por trabalho, isto é, nos 30 dias anteriores à pesquisa.
Os resultados encontrados para o desemprego com trabalho precário foram de
redução mais rápida do número de desempregados da cor Branca e Amarela, determinando
um aumento relativo da participação de Pretos e Pardos. Os homens estão em maior
número nas estatísticas, mas tem crescido a participação relativa das mulheres. As faixas
etárias predominantes eram de 10 a 39 anos, mas têm se deslocado para as faixas de 20 a
49 anos, mantido o grande peso da faixa de 20 a 29 especificamente. O nível educacional
dessa população em geral é baixo, mais da metade tinha no máximo o Fundamental
Incompleto em 2000 e, embora tenha melhorado o quadro educacional, o que se teve como
resultado dessa melhora foi um aumento no desemprego de pessoas com maiores graus de
instrução, principalmente para Médio Completo.
A composição segundo a posição na família mostra maior presença de Chefes e, em
segundo lugar, Filhos. A renda familiar é relativamente baixa, além dos ganhos do trabalho
precário serem irrisórios na maior parte das vezes. A duração do desemprego é, para 37,6%
dos desempregados, superior a um ano, tendo participações ainda visíveis para mais de
132
cinco anos de desemprego. Quanto ao setor de origem, os com trabalho anterior no setor de
Serviços são maioria, depois estão a Indústria e o Comércio, nesta ordem.
No desemprego oculto por desalento encontramos uma participação maior e
crescente de Pretos e Pardos em relação a Brancos e Amarelos. Em relação ao gênero, as
mulheres têm participação expressiva e também ascendente, chegando a quase 70%. O
grau de instrução é, em geral, baixo, com alta representatividade daqueles com Ensino
Médio Completo e Fundamental Incompleto, se acentuando os do primeiro grupo até 2008.
Os dados não corroboram como explicação para a predominância feminina o grau de
instrução, pois são maiores as taxas de participação delas, mesmo para níveis de instrução
mais altos. Em relação à faixa etária predominam aqueles com idade entre 10 e 39 anos,
em todo o período, e principalmente para 20 a 29 anos.
A posição na família mais comum entre os desempregados por desalento é de
Filhos e, em seguida, Cônjuges, que sobrevivem, em maioria, do trabalho de outras pessoas
da família, cuja renda também é relativamente baixa. A duração do desemprego é para
41,7% dos desempregados superior a um ano, estando por volta de 10% deles
desempregados há mais de cinco anos. Por volta de um terço dos desempregados trabalhara
anteriormente no setor de Serviços, com participações menores ficam o Comércio e a
Indústria, sendo percebida uma redução desta última com aumento da representação do
setor de Serviços.
No desemprego aberto foi observado um aumento absoluto do desemprego entre
Pretos e Pardos, que os tirou de uma situação inicial de minoria no DA para uma de
maioria. O aumento absoluto também ocorreu para as mulheres em relação aos homens,
alcançando o patamar de 61% do desemprego em questão, a despeito dos maiores níveis de
instrução entre elas. O número de desempregados, de ambos os sexos, aumentara para os
níveis mais altos de escolaridade (Médio Completo até Superior Completo). No que diz
respeito à idade das pessoas desempregadas, predominam nas faixas de 10 a 39 anos por
todo o período analisado.
Metade das pessoas em desemprego aberto são Filhos, ficando o restante
praticamente dividido entre Cônjuges e Chefes. Os Filhos e Cônjuges têm papel
complementar na renda familiar, portanto quando desempregados, como mostram os
dados, dependem do trabalho dos outros membros, principalmente, ou da ajuda de parentes
e conhecidos. Ao analisar os dados de renda familiar, encontramos níveis relativamente
133
baixos, agravados por tempo de desemprego longo, para 24,7% dos desempregados era
superior a um ano.
Comparando as três categorias de desemprego, observamos aspectos específicos a
cada um, demonstrando que as características pessoais e da família do desempregado
definem de alguma forma sua situação ocupacional. Chegamos à conclusão de que o perfil
da população que se encontra na situação de desemprego oculto por trabalho precário é a
mais vulnerável, pois a recorrência a trabalhos inferiores é resultante da condição
financeiramente frágil e da importância dos Chefes de família em prover a sobrevivência
do seu núcleo, não restringindo os malefícios do desemprego ao desempregado
unicamente. O desemprego aberto se apresenta como o grupo com condições relativamente
melhores sobre os outros dois.
A recuperação do mercado de trabalho já observada em 2000 começou a surtir
efeitos positivos sobre as taxas de desemprego a partir de 2004. E essa melhora foi, em
geral, benéfica a todos os grupos sociais e todos os tipos de desemprego, exceto para
Pretos e Pardos e Mulheres no desemprego aberto e para graus de instrução a partir do
Ensino Médio Completo em todos os tipos de desemprego. A redução do desemprego a
partir de 2004 foi acompanhada pelo aumento real da renda das famílias dos
desempregados.
Embora tenhamos verificado maior incidência do desemprego sobre determinados
grupos, não atribuímos as desigualdades observadas totalmente à característica em si, mas
a tendências demográficas, deficiência educacional ou mesmo históricos de exclusão
social. Mais especificamente, pesaram para o desemprego feminino a mais intensa entrada
das mulheres no mercado de trabalho nos últimos anos; e para Pretos e Pardos
consideramos como forte determinante do maior desemprego o processo histórico de
colocação dos negros na sociedade brasileira, sobre cuja população se concentram as
piores condições de vida e, consequentemente, dificuldades de inserção no mercado.
Salientamos ainda a possibilidade de migração de pessoas entre tipos de desemprego, além
do aumento da ocupação, em contexto de aquecimento econômico, como fator explicativo
do aumento do peso do desemprego aberto no desemprego total.
A despeito da subjetividade das questões levantadas nas duas classificações de
desemprego, elas tornam muito mais claras determinadas situações marginais de inserção
de grupos sociais no mercado de trabalho e quase dobram a taxa de desemprego. O que
134
melhora o foco e torna mais eficiente o desenvolvimento de políticas voltadas para a
absorção ampla de mão-de-obra.
135
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A incorporação acelerada de tecnologia ao processo produtivo (na indústria e no
campo) e crescimento populacional descontrolado lançaram as bases do problema do
desemprego nos grandes centros urbanos. Saturação das antigas fontes de crescimento e
contexto externo desfavorável agravaram a situação e exigiram uma reformulação
institucional. A então construída clamava por princípios liberais levando o mercado de
trabalho para o sentido da flexibilização. Como resultado, precarização do trabalho e
desemprego. Em poucas palavras, a ausência de planejamento estratégico no nível das
políticas públicas detonou uma situação nos grandes centros urbanos de difícil solução.
O quadro do desemprego nas metrópoles brasileiras foi esboçado no terceiro
capítulo destes trabalho, com base em dados da PED. Sobre os resultados da análise de
cada tipo de desemprego e posterior comparação entre eles, ficou clara a significância do
tipo de metodologia da PED, pois conseguiu captar diferenças entre os grupos e associar as
distintas formas de inserção no mercado de trabalho e de busca por trabalho às
características e condições de vida dos indivíduos e de sua família. Vimos que a conjuntura
favorável e o crescimento grande o suficiente das ocupações para reduzir o exército de
desempregados das metrópoles selecionadas surte efeitos sobre todos os grupos sociais,
embora em graus distintos. O desemprego oculto com trabalho precário apresentou os
seguintes resultados:
- redução mais rápida do número de desempregados da cor Branca e Amarela, levando a
aumento relativo da participação de Pretos e Pardos;
- maior presença de homens, mas crescente participação das mulheres;
- predominância das faixas etárias entre 10 e 39 anos, com tendência de deslocamento para
as faixas entre 20 e 49 anos, principalmente da faixa de 20 a 29 anos;
- mais da metade tinha somente o Fundamental Incompleto em 2000, com tendência de
aumento do desemprego para os níveis mais altos de instrução, principalmente para Ensino
Médio Completo, até 2008;
- maior presença de Chefes de família, em seguida de Filhos;
- renda familiar relativamente baixa, além de ganhos irrisórios no trabalho precário;
136
- para 37,6% o tempo de desemprego é superior a um ano, com participação ainda visível
para mais de cinco anos de desemprego (média de 1,96 ano);
- maior parte provém do setor de Serviços, depois Indústria e Comércio, nesta ordem.
Já do desemprego oculto por desalento foram obtidos os seguintes resultados:
- maior participação de Pretos e Pardos em relação a Brancos e Amarelos;
- participação expressiva e crescente das mulheres, beirando 70%;
- maior número de indivíduos com somente Ensino Fundamental Incompleto e,
principalmente, Ensino Médio Completo;
- nível de instrução mais alto entre as mulheres, a despeito da tendência de maior
desemprego entre elas;
- predominância das faixas etárias entre 10 e 39 anos;
- maior participação de Filhos e de Cônjuges;
- sobrevivência assegurada pelo trabalho de outras pessoas da família, embora a renda
familiar seja relativamente baixa;
- o DOD chegou a durar, em média, 2,2 anos no período;
- aproximadamente um terço havia trabalhado anteriormente no setor de Serviços, sendo o
Comércio e a Indústria o segundo e o terceiro setores que mais têm desempregados no
DOD, com tendência de redução da participação da Indústria nesse quesito;
No desemprego aberto, os resultados são os que seguem:
- aumento absoluto do desemprego entre Pretos e Pardos, que os tirou de uma situação
inicial de minoria no DA para uma de maioria;
- aumento absoluto da participação das mulheres, também a despeito do maior grau de
instrução entre elas;
- para os níveis mais altos de escolaridade, Médio Completo a Superior Completo, o
número de desempregados aumentou;
- predominam as faixas etárias de 10 a 39 anos em todo o período;
- os mais atingidos são os Filhos, em relação às demais posições na família, em seguida
vêem Cônjuges e Chefes;
137
- dependem da renda de outro que trabalhe na família ou da ajuda de parentes e
conhecidos;
- a renda familiar é relativamente baixa, agravadas por longos períodos de desemprego,
superior a um ano para um quarto dos indivíduos do DA, mas com tendência de queda
(média de 1,36 ano, em 2000, para 1,24 ano, em 2008);
Comparando os três tipos de desemprego, constatamos que o oculto por trabalho
precário concentra a população mais vulnerável, no sentido de mais carente e suscetível a
prejuízos à sua condição de vida quando na condição de desemprego. A recorrência a
trabalhos irregulares é coerente com o fato de serem em sua maioria Chefes de família, de
menor renda familiar em relação aos demais tipos de desemprego, em maioria são Pretos e
Pardos etc, coincide com a parcela mais marginalizada da sociedade e em piores condições
de competir no mercado de trabalho. Ou seja, os indivíduos são levados a buscar trabalhos
temporários, mal remunerados e instáveis porque precisam e outras pessoas dependem
dele.
No grupo intermediário estão os desalentados, preponderantemente mulheres. Os
Chefes de família deste grupo são aproximadamente metade do sexo feminino, o que
intensifica a gravidade do problema. Nas outras posições na família, Filhos e Cônjuges, a
mulher tem participação considerável (entre Cônjuges é a totalidade, praticamente). O que
justifica a proximidade com o conceito deste tipo de desemprego e parte da ausência de
busca por trabalho seria o fato de serem em maioria dessas duas últimas categorias, ou
seja, dependentes cuja renda teria caráter complementar no núcleo familiar. A Renda
familiar e o tempo de duração do desemprego também são intermediários em relação aos
demais tipos de desemprego.
O grupo menos desfavorecido é o de desemprego aberto. Nele as rendas familiares
são mais altas e o tempo de desemprego é menor, e cumprem, em maior parte, papel
complementar na renda familiar. Mas o lado negativo que evidencia é o das desigualdades.
Quando em competição direta no mercado de trabalho, com busca contínua, Pretos e
Pardos em relação a Brancos e Amarelos têm ainda maior desvantagem24, assim como as
mulheres em relação aos homens.
24 Levamos em consideração que nos dois tipos de desemprego oculto a redução do desemprego foi inclusive absoluta e que na nossa abordagem não podemos afirmar se o indivíduo migrou da condição de desempregado (DOTP ou DOD) para ocupado ou para o desemprego aberto. Tendo simplesmente reativado a
138
Pelo estudo da mensuração do desemprego segundo a metodologia da PED
encontramos barreiras à sua utilização enquanto medida de déficit de postos de trabalho,
devido à subjetividade principalmente no que diz respeito ao desemprego oculto por
trabalho precário. A partir do momento em que se coloca como critério da medida o desejo
de mudança e a busca de trabalho, são desconsiderados fatores da psicologia social
relacionada ao reconhecimento dos grupos enquanto indivíduos ativos e construtores do
próprio futuro, num ambiente extremamente adverso a vários deles. Em outras palavras,
nem sempre é manifesta a busca por outro trabalho, tampouco o desejo de mudança, não
porque não haja necessidade, mas simplesmente porque não se acredita que seja possível.
Se se tem como objetivo medir o desemprego por trabalho precário enquanto déficit de
postos de trabalho decentes no país é necessário considerar uma medida mais exata por
meio de critérios mais objetivos.
No desemprego por desalento o período em que a busca é considerada é de um ano.
À primeira vista longo demais, na verdade acaba por delimitar uma parcela relevante da
população, pois no período recente foi observada uma redução considerável do desalento,
muito provavelmente em função do crescimento das ocupações e, consequentemente, da
melhora das expectativas em relação ao mercado de trabalho para as pessoas que antes
estavam desalentadas. Em suma, o desalento agrupa uma parcela da PEA que se encontra à
margem do mercado de trabalho, atuando como fator de pressão da oferta de trabalho, a
qualquer sinal de melhora, ou como folga no caso contrário, evidenciando a endogeneidade
da oferta de mão-de-obra.
Os bons ventos contribuíram ainda para a redução da duração do desemprego e o
aumento da renda familiar, principalmente pela alta capacidade de absorção do setor de
serviços. Mas, embora tenha sido acompanhado pelo aumento do grau de escolaridade da
população metropolitana, principalmente para a escolaridade média, não houve uma
mudança estrutural de grandes dimensões no perfil da mão-de-obra demandada, o que
levou ao aumento do desemprego daqueles com mais alta escolaridade. Muitos dos que
adquiriram formação escolar média substituíram os menos escolarizados em tarefas
simples.
busca, poderíamos supor que no final das contas as desigualdades simplesmente desembocaram neste último de desemprego, quando a competitividade entre os grupos é direta.
139
Como conclusão, não há como pensar o desemprego como um problema isolado. A
ele se somam os problemas de habitação, de transporte, de desestruturação familiar e
principalmente de educação. É urgente uma melhoria significativa do nível educacional da
população brasileira para que se promovam as bases de um desenvolvimento auto-
suficiente em ciência e tecnologia ao mesmo tempo em que distribua oportunidades, a
exemplo do que acontece em outros países em desenvolvimento.
140
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