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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS: ANÁLISE DE CONCEITOS ALTERNATIVOS A PARTIR DA PED PARA O PERÍODO 2000-2008 JULIA MORAIS SOARES Orientador: Prof. Dr. JOÃO SABOIA Rio de Janeiro Dezembro de 2010

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO DE ECONOMIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ECONOMIA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS: ANÁLISE DE CONCEITOS ALTERNATIVOS A PARTIR DA PED PARA O PERÍODO 2000-2008

JULIA MORAIS SOARES

Orientador: Prof. Dr. JOÃO SABOIA

Rio de Janeiro Dezembro de 2010

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JULIA MORAIS SOARES

DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS: ANÁLISE DE CONCEITOS ALTERNATIVOS A PARTIR DA PED PARA O PERÍODO 2000-2008

Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Econômicas.

Orientador: Prof. Dr. JOÃO SABOIA

Rio de Janeiro 2010

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JULIA MORAIS SOARES

DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS: ANÁLISE DE CONCEITOS ALTERNATIVOS A PARTIR DA PED PARA O PERÍODO 2000-2008

Dissertação de mestrado apresentada ao Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro como parte dos requisitos necessários à obtenção do grau de Mestre em Ciências Econômicas.

BANCA EXAMINADORA:

_________________________________________________ Prof. Dr. João Sabóia – Orientador

UFRJ

_________________________________________________ Prof. Dra. Valéria Pero

UFRJ

_________________________________________________ Prof. Dra. Daniela Carusi

UFF

Rio de Janeiro 2010

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RESUMO

Os anos noventa no Brasil foram caracterizados por intensificação de mudanças econômicas, com efeitos profundos sobre o mercado de trabalho. As políticas de estabilização e a abertura econômica contribuíram para a deterioração do mercado de trabalho atuando em lados distintos. A primeira por reduzir a capacidade de investimento do Estado e o nível de empregos por eles gerados e o segundo pela introdução de novos processos produtivos nas empresas, capazes de aumentar a produtividade e dispensar parte da mão-de-obra empregada, como forma de aumentar sua competitividade no mercado. Os anos 2000 a 2008 apresentaram uma tendência de recuperação do mercado de trabalho. A ocupação voltou a crescer, mas somente em 2004 cresceu o suficiente para fazer com que as taxas de desemprego retrocedessem. Este estudo construiu uma análise do período detalhada pelos três conceitos de desemprego da PED: o aberto; o oculto com trabalho precário e o oculto por desalento. Foi traçado comparativamente o perfil da população em cada situação de desemprego, por suas características individuais – sexo, cor, idade e grau de instrução-, e aspectos que impactam sobre a condição de vida do desempregado e seus dependentes (a posição na família e a renda familiar, o tempo de desemprego, o meio de sobrevivência, assim como o setor de atividade anteriormente ocupado). Concluímos que, embora os indicadores alternativos de desemprego não sejam suficientes para medir o déficit de postos de trabalho no país, há relevância em empregá-los como forma de captar a heterogeneidade social do desemprego, pois os dados mostram que há perfis sociais específicos associados a cada um deles.

5

ABSTRACT

The nineties in Brazil were characterized by intensification of economic changes, with deep effects on the labor market. The stabilization policies and economic openness contributed to the deterioration of the labor market acting on different sides. The first by the reduction of the State investment capacity and level of jobs it generates and the second by the introduction of new production processes in enterprises, able to increase productivity and eliminate part of the manpower employed, in order to increase their competitiveness in the market. The years 2000 to 2008 showed a recovery trend in the labor market. The occupation start to grow again, but only in 2004 was enough to reduce the unemployment rate. This study built an analysis of this period detailed by the three concepts of unemployment from PED: the open, the hidden with precarious job and the hidden by discouragement. The compared profile of the population in each situation of unemployment was drawned by their individual characteristics - gender, race, age and educational level-, and issues that impact on the livelihood of the unemployed and their dependents (position in the family and family income, the duration of unemployment, the means of survival, as well as the business sector previously occupied). We conclude that although the alternative indicators of unemployment are not sufficient to measure the deficit of jobs in the country, there is relevance to use them as a way to capture the social heterogeneity of unemployment, since the data show that there are specific social profiles associated with each kind of unemployment.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 12

CAPÍTULO 1 - MACROECONOMIA DO DESEMPREGO ................................................. 15

1.1. Neoclássicos e pré-keynesianos: a transição teórica ..................................................... 15

1.2. Keynes e Kalecki: o princípio da demanda efetiva ....................................................... 19

1.3. Subdesenvolvimento e desemprego nos debates marxista e estruturalista .................... 25

1.4. Conclusão ...................................................................................................................... 32

CAPÍTULO 2 – O DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS .......................... 34

2.1. Formação das metrópoles brasileiras e evolução do mercado de trabalho .................... 35 2.1.1. Êxodo rural, concentração econômica e populacional ........................................... 35 2.1.2. Abertura econômica e precarização ........................................................................ 39 2.1.3. Desemprego num mercado de trabalho heterogêneo: novos conceitos .................. 42

2.2. O período 2000-2008 ..................................................................................................... 46 2.2.1. Conjuntura econômica ............................................................................................ 47 2.2.2. Emprego e distribuição de renda ............................................................................ 51

2.3. A população desempregada: uma resenha da literatura empírica.................................. 52 2.3.1. Cor .......................................................................................................................... 52 2.3.2. Sexo e Posição na família ....................................................................................... 54 2.3.3. Faixa etária e grau de instrução .............................................................................. 58 2.3.4. Renda familiar e tempo de duração do desemprego ............................................... 61

2.4. Conclusão ...................................................................................................................... 64

CAPÍTULO 3 – COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DESEMPREGADA SEGUNDO CONCEITOS ALTERNATIVOS DE DESEMPREGO: ANÁLISE DOS DADOS DA PED 66

3.1. Desemprego por região metropolitana .......................................................................... 67

3.2. Evolução das taxas de desemprego das regiões metropolitanas agregadas ................... 70 3.2.1. Desemprego oculto com trabalho precário ............................................................. 74 3.2.2. Desemprego oculto por desalento........................................................................... 90 3.2.3. Desemprego aberto ............................................................................................... 104

3.3. Comparação e conjecturas sobre as três categorias de desemprego ............................ 115

3.4. Conclusão .................................................................................................................... 131

CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 135

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................... 140

7

ÍNDICE DE GRÁFICOS E TABELAS Gráficos

Gráfico 1 – Percentual do emprego por setor para diferentes tamanhos de aglomerações ........ 36

Gráfico 2 – Taxa de crescimento do PIB e componentes (%) – 2000-2008 .................................. 49

Gráfico 3 - PIB nas regiões metropolitanas cobertas pela PED e Distrito Federal – 2000 a 2008 ..................................................................................................................................................................... 50

Gráfico 4 – Comportamento das principais taxas do mercado de trabalho – 2000-2008 ........... 50

Gráfico 5 – Evolução da renda familiar real média nas metrópoles de 2000 a 2008 ................... 62

Gráfico 6.a. – Evolução da taxa de desemprego oculto com trabalho precário por Região Metropolitana – 2000-2008 .......................................................................................................................... 69

Gráfico 6.b. – Evolução da taxa de desemprego oculto por desalento por Região Metropolitana – 2000-2008 .......................................................................................................................... 69

Gráfico 6.c. – Evolução da taxa de desemprego aberto por Região Metropolitana – 2000-2008 ............................................................................................................................................................................... 69

Gráfico 7 - Desemprego desagregado (%) - 2000-2008 ....................................................................... 74

Gráfico 8 – Evolução do número de desempregados por cor – 2000-2008 .................................... 77

Gráfico 9 - Evolução da participação de homens e mulheres no DOTP - 2000-2008 ................. 79

Gráfico 10 – Número de desempregados (DOTP) na faixa etária de 10 a 19 anos por faixa de renda – 2000-2008 ........................................................................................................................................... 81

Gráfico 11 – Número de desempregados por setor de origem – 2000-2008 .................................. 90

Gráfico 12 - Homens e Mulheres no DOD - 2000-2008 ...................................................................... 94

Gráfico 13 – Evolução do número de desempregados por Setor do último emprego ............... 103

Gráfico 14 - Homens e Mulheres no desemprego aberto - 2000-2008 .......................................... 106

Gráfico 15 – Grau de instrução no DA – 2000 e 2008 ....................................................................... 107

Gráfico 16 – Distribuição dos desempregados (DA) na faixa etária de 20-29 anos pela posição na família – 2000 e 2008 ............................................................................................................................. 111

Gráfico 17 - Evolução do número de desempregados (DA) por setor do último trabalho – 2000- .................................................................................................................................................................. 115

Gráfico 18 – Taxas de desemprego dos grupos por Cor e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008 ................................................................................................................................................................... 117

Gráfico 19 – Taxas de desemprego entre Homens e Mulheres – 2000, 2003 e 2008 ................ 118

8

Gráfico 20 – Participação das faixas etárias no desemprego – 2000, 2003 e 2008. ................... 120

Gráfico 21 – Taxas de desemprego por grau de instrução – 2000, 2003 e 2008 ........................ 122

Gráfico 22 – Variação da taxa de desemprego por nível de escolaridade em p.p. (2008-2000) ............................................................................................................................................................................. 123

Gráfico 23 – Composição do desemprego por renda familiar dos desempregados e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008 .............................................................................................................. 125

Gráfico 24 – Evolução da renda familiar por tipo de desemprego – 2000-2008 ........................ 126

Gráfico 25 – Composição do desemprego pela renda alternativa do desempregado ................. 127

Gráfico 26 – Evolução da participação no desemprego total por setor de origem e tipo de desemprego 2000-2008 ................................................................................................................................ 130

Tabelas

Tabela 1 - Taxas de crescimento e participação no crescimento demográfico nacional segundo Regiões Metropolitanas – Brasil – 1940/91 ............................................................................................. 36

Tabela 2 – Composição da população metropolitana por faixa de renda familiar (%) e médias 2000-2008 .......................................................................................................................................................... 62

Tabela 3 – População Economicamente Ativa – 2000-2008 .............................................................. 71

Tabela 4 – População em Idade Ativa – 2000-2008 .............................................................................. 71

Tabela 5 – Taxa de participação – 2000-2008 ........................................................................................ 71

Tabela 6 – Evolução das taxas de desemprego metropolitano – 2000-2008 (%) ......................... 73

Tabela 7 – População desempregada por trabalho precário (% da PEA) – 2000 a 2008 ........... 75

Tabela 8 – Participação no DOTP por cor – 2000-2008 ...................................................................... 77

Tabela 9 – Grau de instrução da população desempregada por cor – 2000-2008 ........................ 78

Tabela 10 – Participação no DOTP por faixa etária – 2000-2008..................................................... 80

Tabela 11 – Desempregados com idade entre 20 e 29 anos por grau de instrução – 2000-2008 ............................................................................................................................................................................... 82

Tabela 12 – Participação no DOTP por grau de instrução – 2000-2008 ......................................... 83

Tabela 13 – Desempregados por faixa de renda familiar (DOTP) – 2000-2008 .......................... 85

Tabela 14- Desempregados por posição na família (% do DOTP) – 2000-2008 .......................... 86

Tabela 15 – Meio de sobrevivência dos desempregados (% do DOTP) – 2000-2008 ................ 87

9

Tabela 16 – Renda auferida no meio de sobrevivência principal – 2000-2008............................. 87

Tabela 17 – Desempregados e tempo de desemprego em anos (% do DOTP) – 2000-2008 .... 88

Tabela 18 – Desempregados por setor de origem no DOTP – 2000-2008 ..................................... 89

Tabela 19 – Evolução do desemprego oculto por desalento – 2000-2008 ...................................... 91

Tabela 20 – Participação no desemprego por desalento segundo a cor – 2000-2008 .................. 92

Tabela 21 – Participação no desemprego (DOD) por sexo e grau de instrução – 2000-2008... 94

Tabela 22 – Participação das faixas etárias no DOD – 2000-2008 ................................................... 95

Tabela 23.a – Grau de instrução da população de 20 a 29 anos em desemprego por desalento – 2000-2008 .......................................................................................................................................................... 96

Tabela 23.b – Grau de instrução da população desempregada por desalento – 2000-2008 ....... 97

Tabela 24 – Desempregados por desalento por faixa etária e renda familiar – 2000-2008 Faixa etária/faixa de renda (%) .................................................................................................................... 98

Tabela 25 – Percentual de mulheres por faixa etária no DOD – 2000-2008 .................................. 99

Tabela 26.a – Participação no DOD por posição na família – 2000-2008 .................................... 100

Tabela 26.b - Participação no DOD por sexo e posição na família – 2000-2008 ....................... 101

Tabela 27 – Meio de sobrevivência dos desempregados por desalento – 2000-2008 ............... 101

Tabela 28 – Renda alternativa por meio de sobrevivência do desempregado (DOD) – 2000-2008 ................................................................................................................................................................... 101

Tabela 29 – Desempregados e tempo de desemprego em anos – 2000-2008 .............................. 102

Tabela 30 – Desempregados no DOD por setor de origem – 2000-2008 ..................................... 103

Tabela 31 – Evolução do desemprego aberto – 2000-2008 .............................................................. 104

Tabela 32 – Participação no desemprego aberto por cor – 2000-2008 .......................................... 105

Tabela 33 – Participação de homens e mulheres no desemprego aberto – 2000-2008 ............. 106

Tabela 34 – Grau de instrução da PEA por sexo – 2000, 2003 e 2008 .......................................... 107

Tabela 35 – Participação no desemprego aberto por sexo e grau de instrução – 2000-2008 .. 108

Tabela 36 – Participação das faixas etárias no DA – 2000-2008 .................................................... 109

Tabela 37 – Participação no DA por faixa etária e renda familiar – 2000, 2003 e 2008 Faixa etária/faixa de renda (%) .................................................................................................................. 110

Tabela 38 – Participação no DA por posição na família – 2000-2008 .......................................... 111

10

Tabela 39 – Meio de sobrevivência dos desempregados (DA) – 2000-2008 ............................... 112

Tabela 40 – Percentual de desempregados (DA) por faixas de renda auferida em meios alternativos – 2000-2008 ............................................................................................................................. 112

Tabela 41 – Desempregados e tempo de desemprego (meses) – 2000-2008 ............................... 113

Tabela 42 – Desempregados em DA por setor do último trabalho – 2000-2008 ........................ 114

Tabela 43 – Taxas de desemprego por cor e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008 ........... 117

Tabela 44 – Taxas de desemprego por sexo e tipo de desemprego – 2000-2008 ....................... 118

Tabela 45 – Taxas de desemprego por faixa etária e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008 ............................................................................................................................................................................. 120

Tabela 46 – Tempo médio de duração do desemprego por tipo de desemprego – 2000-2008 128

Tabela 47 – Desempregados e seguro-desemprego – 2000-2008 ................................................... 129

Tabela 48 – Desempregados por setor de origem e tipo de desemprego (variação absoluta e em p.p.) ...................................................................................................................... 130

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LISTA DE SIGLAS

DIEESE – Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Sócio-econômicos

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

OIT – Organização Internacional do Trabalho

PIA – População em Idade Ativa

PEA – População Economicamente Ativa

PED – Pesquisa de Emprego e Desemprego

PME – Pesquisa Mensal de Emprego

SEADE – Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

INTRODUÇÃO

Os anos noventa no Brasil foram caracterizados pela intensificação de mudanças

econômicas, com efeitos profundos sobre o mercado de trabalho. O país sofria com a inflação

há décadas, mas a tão esperada estabilização só ocorreu na metade da década de noventa. As

políticas monetária e fiscal que se fizeram necessárias para viabilizar e manter a estabilidade

econômica tinham caráter fortemente contracionista, o que acabou por trazer transformações

profundas à estrutura produtiva do país e permitiu o avanço da precarização do trabalho e do

desemprego. A abertura econômica solidificou um novo tipo de estrutura de mercado no país

no qual as empresas tiveram que se adaptar para concorrer com os produtos estrangeiros no

mercado nacional em contexto de câmbio desfavorável.

As políticas de estabilização e a abertura econômica contribuíram para a deterioração

do mercado de trabalho, portanto, atuando em lados distintos. A primeira por reduzir a

capacidade de investimento do Estado e o nível de empregos por eles gerados e o segundo

pela introdução de novos processos produtivos nas empresas, capazes de aumentar a

produtividade e dispensar parte da mão-de-obra empregada, como forma de aumentar sua

competitividade no mercado.

Os anos 2000 a 2008 apresentaram uma tendência de recuperação frente às mudanças

da década de 90. Em 1999, com a troca de política cambial e conseqüente desvalorização do

câmbio, a economia nacional retomou as bases do crescimento, puxada principalmente pelas

exportações. Em 2000 a ocupação já crescia, mas somente em 2004 cresceu o suficiente para

fazer com que as taxas de desemprego retrocedessem.

De fato ainda se mostra como uma desafio para a sociedade brasileira viabilizar um

mercado de trabalho capaz de disponibilizar oportunidades de trabalho dignas e integradoras

do indivíduo, principalmente por meio de direitos e benefícios garantidos pelo Estado. Grande

parte do trabalho no Brasil é informal, portanto, poucos são os que têm acesso a seguro-

desemprego, décimo-terceiro salário, férias, licença maternidade, aposentadoria etc. Daí o

interesse deste trabalho em levantar informações sobre a condição do mercado de trabalho

brasileiro. O que o constituiu um mercado de trabalho heterogêneo e que deixa muitos sem

13

oportunidades de trabalho, principalmente digno, como mostram as altas taxas de

desemprego.

A base de dados da PED, desenvolvida pela SEADE e DIEESE, cobre a população de

seis regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte, Salvador,

Recife e Distrito Federal), fornecendo informações sobre emprego e desemprego. No que diz

respeito ao desemprego, objeto de análise deste estudo, a PED contribui com dois indicadores

alternativos, o desemprego oculto com trabalho precário e o desemprego oculto por desalento,

além do tradicional indicador de desemprego aberto. O conceito e mensuração do desemprego

oculto permitem adicionar à análise informações sobre as distintas formas de inserção e a

recorrência a trabalhos precários e, principalmente, sobre a forma como os indivíduos criam

suas expectativas em relação ao mercado de trabalho, que integravam ora a inatividade, ora o

desemprego, mas agora encontram uma classificação específica, pois têm seu papel na

dinâmica do trabalho. O IBGE também desenvolve uma metodologia com novos conceitos

que permitem obter maior conhecimento sobre a população ocupada e a população à procura

de trabalho e inclusive é mais utilizada nos estudos sobre trabalho no país. Optamos pela PED

tanto por ser menos utilizada como porque ela sintetiza as questões relacionadas ao mundo do

trabalho e da busca em dois indicadores de mais fácil manipulação e comparação.

Considerando este histórico do mercado de trabalho brasileiro e a capacidade da PED

de refletir algumas das informações que buscamos, este estudo tratará de analisar o

desemprego no período 2000-2008, revendo tanto o contexto econômico e social que o

acompanhou como sua estrutura no período. O objetivo principal será de evidenciar o papel

de uma metodologia que busque ser condizente com a complexidade do mercado de trabalho

brasileiro e que reflita as distintas formas de percepção dos indivíduos sobre ele.

Para desenvolver essa análise, o trabalho está estruturado em três capítulos, sendo o

primeiro incumbido de apresentar uma resenha da literatura teórica de desemprego. Neste

capítulo serão revisitadas as abordagens neoclássicas, a keynesiana e kaleckiana, a marxista e

a estruturalista. São apresentados os argumentos que cada abordagem sustentou sobre as

causas do desemprego e até mesmo as possíveis soluções. As discordâncias são grandes e

oscilam entre soluções plausíveis e problemas intrínsecos e insolúveis do capitalismo, de

acordo com as causas que lhe atribuem.

14

Já no segundo capítulo, será apresentada uma contextualização tanto do período 2000-

2008, como uma breve análise das décadas anteriores, em busca de uma explicação para o

aprofundamento da heterogeneidade e da precariedade que o mercado de trabalho brasileiro

vinha sofrendo. Nessa busca, o processo de formação das metrópoles brasileiras e as

implicações do processo de abertura comercial e de estabilização serão abordados e, para

fechar o capítulo, uma resenha da literatura empírica sobre as relações entre as características

dos indivíduos e a condição de desemprego, além das tendências demográficas e sociais que

possam ter efeitos sobre a sua composição. Esta última pesquisa servirá de apoio para a

análise de dados do capítulo 3.

O terceiro e último capítulo trará a análise da estrutura do desemprego baseada nos

microdados da PED referentes ao período 2000-2008. Os dados analisados permitirão

mensurar a dimensão do desemprego enquanto fenômeno social por duas perspectivas

centrais: primeiro, a dos atributos pessoais e, segundo, a dos tipos de desemprego. A

rotatividade, medida no tempo de duração do desemprego, o tratamento do mercado de

trabalho a distintos grupos sociais (homens e mulheres; pretos e brancos; pobres e ricos),

posição na família como medida do grau de dependência da renda do trabalho e etc, seriam

abordados na nossa primeira perspectiva. Já na segunda, poderíamos abordar o alcance do

desemprego em seus diversos conceitos apresentados na PED, o desemprego oculto (por

desalento e trabalho precário) e o mais conhecido desemprego aberto. Como resultado,

teremos traçado o perfil da população atingida por cada tipo de desemprego, o que

evidenciará a importância em se considerar metodologias preocupadas em refletir a

heterogeneidade do mercado de trabalho do país.

CAPÍTULO 1 - MACROECONOMIA DO DESEMPREGO

O desemprego encontrou espaço nos debates econômicos, principalmente nos países

desenvolvidos, após a crise de 1929. A grande depressão teve efeitos catastróficos sobre o

emprego nestes países ressuscitando o interesse em discutir suas causas e meios de solução.

Bem antes da crise, clássicos como Smith, Ricardo e Marx já discutiam o problema e lhe

incutiam natureza estrutural, isto é, intrínseca ao sistema capitalista. O presente capítulo tem

como intenção rever o que algumas linhas teóricas posteriores levantaram sobre a questão do

desemprego no que diz respeito às suas causas e reversibilidade. Vejamos como os clássicos

influenciaram as visões seguintes e a evolução em geral das teorias de desemprego, inclusive

no âmbito da discussão do subdesenvolvimento.

1.1. Neoclássicos e pré-keynesianos: a transição teórica

Na teoria neoclássica são quatro os pilares do esquema teórico formulado para explicar

o fenômeno do desemprego. Primeiro, que as firmas são maximizadoras de lucros; segundo,

que a tecnologia tem rendimentos decrescentes; terceiro, a oferta de trabalho cresce com os

salários reais; e quarto, que a demanda agregada nominal é exógena.

O terceiro pressuposto, de que a oferta de trabalho aumenta quando salários crescem,

está relacionado ao fato da disposição do trabalhador para o trabalho ser encarada como um

processo de maximização de utilidade, no qual se escolhe entre lazer e renda/consumo, de

forma a se estabelecer o maior nível de bem-estar possível. Seguindo esse raciocínio e de que

não há limitações pelo lado da demanda, Amadeo e Estevão (1994) concluem que a única

fonte possível de desemprego seria algum “mau funcionamento” do mercado de trabalho.

Enquanto a flexibilidade de preços garante o equilíbrio no mercado de bens, a

flexibilidade dos salários reais garante o equilíbrio no mercado de trabalho. A intersecção

entre a curva de demanda de mão-de-obra, negativamente inclinada em relação a salários

reais, e a curva de oferta de trabalho, positivamente inclinada, determina o salário real de

equilíbrio, no qual todos os trabalhadores dispostos a trabalhar, àquele nível salarial, estariam

16

empregados. Dessa forma, somente alguma rigidez de salários reais, advinda de ações

institucionais, por exemplo, que revertam a atuação livre e atomizada dos trabalhadores no

mercado de trabalho, como os movimentos sindicais, seria responsável pela insurgência do

desemprego.

A redução de salários reais, sendo bem-vista pelas empresas (como um aumento de

lucratividade), é suficiente para impulsionar um aumento de produção e de emprego, visto

que, nesta concepção, não traz nenhuma dificuldade de absorção dos produtos no mercado,

portanto, nenhuma implicação para a demanda agregada. Ademais, considerando que os

trabalhadores tomem decisões com base nos salários reais, há que se levar em consideração

ainda o comportamento dos preços1.

Os esforços de Pigou em explicar o comportamento do mercado de trabalho em The

Theory of Unemployment, de 1933, demonstram ao mesmo tempo uma forte conexão com a

teoria neoclássica e os primeiros passos para o reconhecimento do papel da demanda agregada

nos ciclos econômicos. Na análise real da teoria pigoviana, a combinação entre oferta de mão-

de-obra e demanda real de mão-de-obra é a relação básica de funcionamento do mercado de

trabalho segmentado em dois grandes setores: o de produção de bens-salário e o de produção

de bens não-salariais.

Segundo Keynes (2007), que debateu longamente com Pigou, a teoria pigoviana teria

omitido as relações entre estes dois setores, se detendo em afirmar que o nível de emprego da

economia é função da produção no setor de bens-salário. Isto porque Pigou admite que os

trabalhadores estipulam seus salários nominais a fim de manter o poder de compra da sua

remuneração, o que Keynes discorda veementemente. Ou seja, ao visar salários reais, Pigou

acaba por admitir que um aumento de preços dos bens de consumo dos assalariados,

redundante numa redução do salário real, levaria à saída voluntária de trabalhadores do

mercado de trabalho. Nessa lógica, o desemprego involuntário só existiria se houvesse algum

componente friccional que dificultasse a eficiência dos mecanismos de ajustamento dos

salários, mantendo-os acima do nível de equilíbrio. Os trabalhadores estariam dispostos a

abrir mão de lazer, mas as firmas, orientadas pelas condições físicas da produção de bens de

consumo não expandiriam a demanda por trabalho para absorver esse excedente.

1 Equação Quantitativa da Moeda: P= M.v/Y, sendo M a quantidade de moeda, dada v a velocidade de circulação da moeda e Y o nível de produto da economia, constante no equilíbrio, logo, somente a oferta monetária é capaz de afetar preços.

17

Para chegar a essa conclusão também é preciso assumir que os fatores de produção

sejam perfeitamente substituíveis entre si, para que quando um começar a se tornar escasso e

seu preço relativo aumentar, as firmas possam “optar” por maior intensidade do outro fator no

processo produtivo, reequilibrando os preços dos fatores, salários e juros, em seus respectivos

mercados. O economista clássico David Ricardo descartou a idéia de que a flexibilidade de

salários viabilizaria a substituição de fatores, e, como conseqüência, o pleno emprego. Sendo

assim, “it is the absence of substitution mechanisms that explains the possibility of persistent

unemployment in the Ricardian framework” (Montani apud Cesaratto et al, 2003, p.37).

As formulações “pré-keynesianas” dos economistas suecos Cassel e Wicksell

discutiam o conceito de desemprego, suas distintas formas e relação com os ciclos

econômicos. A despeito de uma construção teórica baseada num equilíbrio de longo prazo,

nos moldes neoclássicos, as teorias wickselliana e casseliana admitiam a persistência do

desemprego, embora, para o segundo, incapaz de pressionar para baixo os salários. Segundo

Wicksell, superpopulação e progresso técnico poupador de mão-de-obra poderiam explicar o

desemprego permanente, pois na complementaridade entre os fatores de produção trabalho,

capital e terra estaria a chave para o enigma do desemprego.

A tecnologia seria eficiente ao ponto de tornar necessário poucos homens para operar

as máquinas, enquanto uma grande parcela dos trabalhadores seria “permanentemente

redundante e com salários zero” (Boianovsky, 2003, p.17). O excesso de trabalhadores

inerente ao sistema é um fator de pressão baixista sobre os salários, desse modo, regular um

salário mínimo geraria desemprego ao não permitir que a queda dos salários reais colocasse

em funcionamento o mecanismo de substituição clássico, no qual os fatores capital e trabalho2

são substituíveis e alocados no processo produtivo de acordo com seu preço e com o objetivo

de maximização das firmas.

Cassel observa o importante papel dos sindicatos e do Estado e reforça o caráter

clássico do desemprego ao associá-lo à rigidez salarial, cuja fonte é “a percepção dos

trabalhadores de uma queda temporária da demanda durante os ciclos de negócios”

(Boianovsky, 2003, p.11). Embora o desemprego varie naturalmente de acordo com os ciclos

econômicos, Cassel avalia a possibilidade da persistência do desemprego, o desemprego de

2 Wicksell sugere ainda que em vez de se criar um salário mínimo, o que geraria desemprego, melhor seria deixar caírem os salários e subsidiar um complemento salarial aos trabalhadores, se a produtividade média da economia for suficientemente elevada para sustentar toda a população.

18

equilíbrio, como resultado de mecanismos que criam uma escassez artificial de força de

trabalho: a intervenção sindical manipulando uma retençao da oferta de trabalho e a

heterogênea qualificação dos trabalhadores.

Ao questionar por que o desemprego persistente não faz com que os salários caiam a

zero, já que há constante pressão de um excesso de trabalhadores no mercado de trabalho, que

seria o mesmo que perguntar por que o trabalho não se torna um “bem livre”, chega a

conclusão diferente de Wicksell. Em sua versão, os próprios desempregados oferecem

resistência a cortes de salários, com apoio dos sindicatos, criando uma escassez artificial de

mão-de-obra. Coexistiriam, portanto, desemprego e escassez de trabalho com salários

positivos, viabilizada pelo pagamento de benefícios aos desempregados pelos sindicatos.

Além da intervenção sindical, Cassel consegue notar na heterogeneidade da oferta de

trabalho outro fator determinante da rigidez salarial e, consequentemente do desemprego. A

escassez relativa de mão-de-obra está associada particularmente a tipos específicos de

trabalhadores de alta qualificação, o que cria um desequilibrio entre oferta e demanda de

trabalho.

Mais voltado para a literatura de seguro-desemprego, Cassel buscou encontrar

mecanismos de intervenção sindicais ou estatais que fizessem frente a mudanças regulares e

sazonais da demanda de trabalho, mas de certa forma previsíveis, a que chamou de

“desemprego normal”. Já dentre as categorias de desemprego3 que Wicksell classificou pode

ser observado um aprofundamento do assunto ainda não observado à época, início do século

XX, ao fazer referência a um caráter cíclico, mas persistente, do desemprego, associado às

oscilações econômicas, ao período de transição de um trabalho para outro dentre outras

formas.

A investigação da natureza do desemprego, presente nas análises tanto de Cassel como

de Wicksell, embora com nomenclaturas diferentes, além de atribuir a causa do desemprego à

3 O autor fez distinção entre três categorias de desemprego e seguintes subdivisões: 1. voluntário: opção por lazer 2. por conflito: envolvido em atritos/negociações trabalhistas. 3. forçado 3.1. normal: associado à busca por novo trabalho, cujo tempo de busca também tem comportamento cíclico. 3.2. periódico 3.2.1. sazonal: em certa medida previsível 3.2.2. por crises e tempos ruins: associado aos ciclos econômicos e crises.

19

rigidez salarial, tentou explicar o porque dessa rigidez e evidencia uma preocupação com o

desemprego anterior a Keynes e à grande depressão, mas foi a Teoria Geral do emprego, do

juro e da moeda, de 1936, que cunhou o termo “desemprego involuntário”.

1.2. Keynes e Kalecki: o princípio da demanda efetiva

Na teoria keynesiana a causa do desemprego não é a rigidez salarial, mas sim uma

insuficiência de demanda agregada. Keynes refuta os pressupostos neoclássicos de que a

oferta de trabalho seja crescente em relação aos salários reais (trabalhadores igualam a

utilidade do salário à desutilidade marginal do trabalho) e de que a demanda seja exógena. A

primeira recusa se pauta no argumento de que os trabalhadores podem no máximo influenciar

os salários nominais, visto que os preços dos bens salários são determinados por fatores de

demanda, livres de seu arbítrio. Ademais, os salários nominais, por fatores institucionais, são

rígidos. Isto é,

O conceito de Keynes da oferta de trabalho assume, implicitamente, que os trabalhadores preferirão trabalhar a não trabalhar, e que eles irão se ater a um contrato (especificado em termos de uma taxa de salário nominal e uma dada “jornada de trabalho”) para uma gama de salários reais. Ou, em outras palavras, os trabalhadores manterão seus contratos mesmo se houver um pequeno aumento no nível de preços dos bens-salário (Amadeo & Estevão, 1994, p.34).

Já na segunda recusa, Keynes argumenta que os salários nominais ao afetarem a

propensão a consumir, a taxa de juros e a eficiência marginal do capital, acabam por impactar

a demanda efetiva. A questão é que não há sistematicidade na relação entre salários e

demanda efetiva, logo não há como atribuir uma inclinação definida à relação entre nível de

emprego e taxa de salário nominal. O que se conclui é que a rigidez de salários nominais, não

é fator explicativo do desemprego na medida em que não é suficientemente previsível o seu

impacto sobre a decisão de investimento das firmas, que caso acrescido, geraria empregos. O

20

que o princípio da demanda efetiva estabelece, portanto, é que o nível de emprego é função

das despesas de investimento e de um multiplicador para cada nível de salário nominal.

A rigidez salarial, como dito, não é uma fonte de desemprego coerente com a

explicação de Keynes na TG, embora tenha sido defendida ainda por teóricos ditos

keynesianos. Os que se mantiveram arraigados nessa colocação clássica, estavam ainda

ligados à tendência, segundo eles irrepreensível, de que a economia tende ao pleno emprego

via reequilíbrio das forças de mercado. Logo, se se obstrui o movimento de uma dessas

forças, a flexibilidade de salários nominais, a resultante é o desemprego. De acordo com

Amadeo & Estevão (1994), duas são as alternativas analíticas dos que mantiveram essa linha

teórica: ou crêem que os efeitos sobre a demanda efetiva não são múltiplos ou tratam somente

do desemprego voluntário.

A possibilidade de eliminação do desemprego pelo “livre jogo das forças de mercado”,

enquanto fenômeno “cíclico, temporário e essencialmente autocorretivo”, era descartada por

Keynes, o que tornava necessário a intervenção do Estado: “o volume global de emprego só

poderia ser aumentado através de maior ‘demanda agregada’, seja através do gasto público

deficitário (aumento da demanda governamental) ou de uma política monetária expansionista

(aumento da demanda privada)” (O´brien & Salm, 1970, p.94 apud Azevedo, 1985).

Robinson na Introdução à Teoria do Emprego (1980), ao tentar clarificar os principais

pontos da Teoria Geral de Keynes, estabelece a origem do desemprego na relação entre o

investimento e a poupança. Fundamentalmente, ele existiria quando a taxa de poupança dos

indivíduos numa determinada economia fossem maiores do que o investimento.

Para explicar isto é preciso ficar claro que a) ao contrário da crença clássica, a

poupança não determina o investimento e b) que a renda é que determina a taxa de poupança.

Isto implica dizer que as escolhas dos indivíduos das parcelas da renda que destinarão ao

consumo e à poupança dependem do seu nível de renda. Ele não gastará toda ela em consumo

corrente, mas destinará uma parte a uma reserva para fins precaucionais ou a acumula na

forma de riqueza, desde que tenha um padrão de vida mínimo. Quanto mais alto o padrão de

vida, maior parte da renda será poupada.

Essa parcela da renda poupada é definida segundo regras subjetivas de consumo dos

indivíduos, as quais são desconectadas das decisões de investimento dos capitalistas. Desta

21

forma, não há porque se esperar que uma desejada taxa de poupança na economia, seja

necessariamente igualada à taxa de investimento. O investimento, segundo Keynes, é definido

pelas expectativas de retorno dos empresários, que levam em consideração tanto condições de

mercado (o custo do capital) como a capacidade de demanda dos consumidores, por sua vez

determinada pela renda. Logo, o simples aumento da poupança não os estimula a demandar

bens de capital. Somente quando, por algum motivo, os empresários passam a esperar um

aquecimento da demanda pelos seus produtos, aumentam o investimento. A maior demanda

por bens de capital gera empregos nesse setor da economia, portanto gera renda e capacidade

de consumo, que por sua vez afetam o emprego nos setores tradicionais, ofertantes de bens-

salário. Deve ser observado que o ciclo de acumulação assim estabelecido se deu pelo

aumento da renda tendo influenciado a expectativa dos capitalistas, que, em última instância,

aumenta a capacidade de poupança. Essa poupança será tão maior quanto mais concentrada

for a renda nessa economia.

Um aumento na poupança, como disséramos, não é capaz de afetar a demanda por

bens de capital, mas ao reduzir a demanda por bens de consumo desestimula o investimento,

pois inibe as expectativas de crescimento dos empresários. Nessas condições sim, pode

ocorrer o desemprego. “Existe desemprego quando a quantia de bens de capital que os

empresários decidem que valerá a pena comprar é inferior ao montante que os indivíduos

desejam poupar” (Robinson, 1980, p.18).

A explicação da literatura de expectativas racionais para o desemprego teve origem

nos trabalhos do monetarista Friedman, de 1968, que apresentava o desemprego como

resultante de erros expectacionais cometidos pelos trabalhadores. Sua distinção teórica em

relação aos pressupostos de Keynes é que o nível de preços é exógeno, determinado pela

exogeneidade da oferta monetária, pois Friedman substitui o princípio da demanda efetiva

pela teoria quantitativa da moeda. Daí decorre que haveria desemprego quando os

trabalhadores tivessem percepções equivocadas sobre o comportamento futuro dos preços,

determinantes dos salários reais. Fica clara uma restrição do modelo ao desemprego

voluntário, pois resgata o tratamento da decisão do trabalhador de ofertar sua força de

trabalho ou não, de acordo com os salários reais, nesse caso, esperados.

Outros modelos na linha de expectativas racionais que se propuseram a explicar o

desemprego como desvios em relação a uma taxa natural de desemprego estão em Barro, de

1976, e Fischer, de 1977. No primeiro, os desvios seriam explicados por choques inesperados,

22

que devido a informações imperfeitas obstruem a capacidade dos trabalhadores, normalmente

aptos a construir previsões perfeitas, de prever corretamente o nível de preços, o que geraria

desemprego voluntário. Já Fischer apela para a rigidez dos salários, acertados em termos

nominais em contratos de trabalho, como fonte de erro de expectativas dos agentes, caso as

autoridades monetárias decidam mudar a regra monetária (Amadeo & Estevão, 1994).

Economista de pronunciados estudos na questão da distribuição de renda e

crescimento econômico, Kalecki, ao publicar “Essays on the theories of economic

flutuations” em 1939, introduziu ao debate sobre a determinação dos níveis de emprego e

produto da economia novos elementos de grande esclarecimento. Assim como Keynes,

Kalecki atribui importância central à demanda agregada na dinâmica econômica, mas parte de

pressupostos distintos da TG. Enquanto essa previa rendimentos decrescentes da tecnologia,

objetivo das firmas de maximização de lucros e competição perfeita nos mercados, Kalecki

manteve somente o segundo ponto e no lugar dos demais defendeu a existência de

rendimentos marginais constantes e estrutura de mercado de concorrência imperfeita. A

mudança desencadeada no corpo das duas teorias é da relação causal e do sentido da

correlação entre distribuição e nível de emprego que cada uma delas estabelece (Amadeo &

Estevão, 1994). Para Keynes o aumento do emprego – e do produto – afeta negativamente a

distribuição, já para Kalecki a distribuição afeta o nível de emprego e o produto

positivamente. Vejamos por que, enfatizando a explicação dele sobre o processo de formação

de preços e seus efeitos sobre a distribuição e a relação entre distribuição e nível de emprego.

Pelo pressuposto de concorrência imperfeita nos mercados, o “grau de imperfeição do

mercado” passa a ser elemento chave na formação dos preços4. Isto porque a reação das

firmas a mudanças nos salários depende do seu poder de mercado e da elasticidade da

demanda de seus produtos (e a definição dos salários reais condicionada às mudanças nos

preços, também). Quanto menor a redução da demanda quando aumenta o preço dos bens

(menor elasticidade), maior a capacidade da empresa de reajustar preços sem reduzir suas

margens de lucro. O grau de concentração do mercado também delimita a capacidade de

organização das firmas com intuito de manipular os preços. Em suma, a formação dos preços

em Kalecki adquiriu um perfil muito mais complexo em relação às teorias anteriores ao

considerar o que denominou “fatores de distribuição”, o que torna da mesma forma complexa

4 Mais detalhes sobre a teoria kaleckiana de formação de preços ver “Theory of Economic Dynamics” (1954), “The Suply curve of an industry under imperfect competition” (1940), “The problem of profit margins” (1942),

23

a determinação do nível de emprego e produto da economia, que, segundo ele, perpassa pelas

condições de distribuição da renda.

Outra proposição importante da teoria kaleckiana diz respeito à propensão marginal a

consumir, que considera diferenciada entre capitalistas e trabalhadores assalariados.

Trabalhadores têm baixa propensão a poupar - normalmente suposta nula por Kalecki -

portanto um aumento de salários reais, via redução dos preços, por exemplo, representa um

aumento do gasto agregado, dada a alta capacidade de consumo dos trabalhadores. Os salários

também são definidos segundo um mecanismo de interação de classes muitas vezes

independentes do nível de atividade (o modelo de “luta de classes” de Kalecki). A relação

causal se inverte, funcionando os salários como elo entre a distribuição de renda e o

crescimento, tendo seus efeitos dinâmicos delimitados pelo grau de imperfeição (grau de

monopólio) do mercado ao definir o comportamento dos preços.

Amadeo & Estevão (1994, p.92) sintetizam a posição de Kalecki nas seguintes

palavras:

[...] em primeiro lugar, há uma troca compensatória (trade-off) entre o movimento dos “fatores distributivos” ao longo do ciclo econômico no seu efeito sobre a participação dos salários na renda; esta, portanto, tende a ser bem menos volátil do que o nível de emprego (que é dirigido fundamentalmente pelos gastos dos capitalistas). Em segundo lugar, variações arbitrárias dos salários nominais tendem a ser ineficazes como um instrumento para fazer variar o nível de emprego se o grau de monopólio permanecer inalterado, e os trabalhadores podem resistir às reduções dos salários durante as recessões e, desse modo, evitar o efeito estagnacionista da deterioração do perfil de distribuição da renda. E, em último lugar, a política econômica pode afetar a distribuição, e, por este canal, o emprego, alterando as alíquotas de imposto de renda e imposto indireto sobre bens-salário, ou pode também promover um aumento de salários e controle de preço, aumentando, desta forma, a participação dos salários na renda.

A variação de preços será determinante do impacto de aumentos no salário mínimo

sobre o consumo de bens e serviços e, consequentemente, sobre a distribuição da renda. Esse

aspecto é especialmente relevante no contexto desse estudo pelos fatores que condicionaram a

recuperação do PIB e redução do desemprego nos últimos anos no Brasil, acompanhado de

uma valorização real do salário mínimo a partir de 2004, mas que deixaremos para discutir no

capítulo seguinte, estabelecendo o devido detalhamento da questão.

24

Expusemos duas vertentes principais da teoria econômica do desemprego, uma que o

associa a algum tipo de rigidez de salários nominais e outra que estabelece sua origem numa

deficiência de demanda agregada. Partindo de pressupostos distintos acabam divergindo sobre

a capacidade do salário mínimo de funcionar como mecanismo de distribuição de renda (e de

redução do desemprego, como discutiremos mais à frente). A abordagem mais conservadora

julga a fixação de um salário mínimo contraproducente, por gerar desemprego; ineficiente,

por frear a produtividade, e ineficaz, por não ter efeitos sobre a distribuição de renda. Como

havíamos explicado e reitera Medeiros (2005), esse tipo de argumentação se pauta na crença

de perfeita substituição entre capital e trabalho, que faz com que quando salários aumentam as

firmas vejam mais vantagem em substituir a mão-de-obra mais cara por capital. Nessa

construção existe um salário de equilíbrio e desvios em relação a ele representariam excesso

de oferta de trabalho – desemprego.

Efeitos positivos sobre a demanda agregada seriam inexistentes porque quaisquer

ajustes salariais seriam compensados por ajustes de preços, já que os trabalhadores visam

salários reais. Na segunda abordagem, por considerar que os trabalhadores têm nenhuma

influência sobre salários reais a espiral de preços e salários não se efetiva e que o processo de

formação de preços é mais complexo do que se pretendia anteriormente, dá margem para um

mecanismo de definição inexata de impacto de preços sobre salários, em última instância,

sobre poder de compra dos assalariados e demanda agregada. Neste arquétipo o desemprego

adquire dimensão de problema estrutural. Não se pode garantir o pleno emprego deixando

investimento e consumo “interagirem”, tanto pela complexidade de fatores em questão como

pela imprevisibilidade das expectativas dos agentes. Decorrente disso, o que a abordagem da

demanda efetiva defende é a intervenção Estatal via gastos públicos para que o pleno emprego

seja atingido.

Cesaratto et al (2003) fornecem bases interessantes da teoria econômica para a

discussão do desemprego no período que nos propusemos a analisar, 2000 a 2008. Os

mecanismos de mercado restauradores do pleno emprego são rejeitados e da mesma forma

refutados quaisquer mecanismos de substituição, o que implicaria, no caso de aplicação de

tecnologia no processo produtivo, em substituição irreversível de mão-de-obra por capital:

desemprego tecnológico. Haveria fatores ligados à demanda efetiva, antes ignorados pela

teoria neoclássica, levados em consideração. O crescimento da demanda agregada deve ser

suficiente para acompanhar o aumento da produtividade, isto significa ter que alterar padrões

de consumo, por sua vez, dependentes de outros fatores como distribuição da renda, o caráter

25

da mudança técnica, disponibilidade de crédito ao consumo e de como o crescimento da renda

e o progresso tecnológico se afetam mutuamente. Alguns desses fatores serão revistos num

contexto específico na seção seguinte.

Daqui em diante o rumo dado à discussão será voltado para o processo de

desenvolvimento das economias capitalistas subdesenvolvidas especificamente e de forma

comparativa com as desenvolvidas, como construído na análise de muitos economistas e

outros estudiosos do assunto, de diversas linhas teóricas. Nela, o desemprego, assim como a

condição de subdesenvolvimento em si, é atribuído a especificidades do processo histórico de

evolução de alguns países de desenvolvimento industrial tardio.

1.3. Subdesenvolvimento e desemprego nos debates marxista e estruturalista

Lewis (1954), em Economic development with unlimited supply of labour, estruturou a

análise do mercado de trabalho de economias subdesenvolvidas da seguinte maneira: uma

economia em processo de modernização, com parcela significativa da população ainda

vivendo no campo. Os salários no meio urbano tenderiam a se estabilizar num nível pouco

acima do de subsistência suficiente para atrair a mão-de-obra do campo. Enquanto houver

força de trabalho disponível no meio rural disposta a migrar para a cidade, haverá margem

para que os salários urbanos não subam. Portanto, a estabilização do salário no nível pouco

acima do nível de subsistência no campo geraria uma “oferta ilimitada de mão-de-obra”.

Medeiros relaciona outra referência na análise de desemprego na mesma linha do

dualismo estrutural de Lewis:

“na literatura do desenvolvimento econômico um influente estudo sobre migrações e desemprego [Harris e Todaro, 1970] incorporando as hipóteses convencionais sobre salários de equilíbrio postulava que além do desemprego provocado pela formação de um salário superior ao de equilíbrio, o hiato de renda entre as atividades de subsistência e os salários urbanos formados institucionalmente pela política de salário mínimo fazia com que a oferta de trabalho urbano aumentasse com o aumento do mínimo já que os trabalhadores de atividades de subsistência calculavam a probabilidade de aumentar a sua renda e migravam para as cidades elevando, desta forma, a taxa de desemprego. Naturalmente que este efeito só existe se denominarmos de emprego as atividades de subsistência e auto-emprego e fizermos a hipótese de que os fatores de expulsão não jogam um papel relevante nas migrações internas” (Medeiros, 2005).

26

Kowarick (1981), seguinda pela linha marxista, também faz referência ao intenso

fluxo migratório do campo para a cidade, resultado da estagnação do setor agrário nas

economias subdesenvolvidas (mais especificamente da América Latina), como fator

explicativo da marginalidade, compreendida pelos autores das teorias da marginalidade como

condição marginal em relação ao mercado de trabalho, ou seja, onde se incluem o desemprego

e o subemprego. Além desse fato, a lenta expansão do emprego industrial e o crescimento

demográfico criaram nessas economias uma oferta ilimitada de mão-de-obra, tal qual definiu

Lewis. A referida incapacidade do setor industrial de se expandir absorvendo maciçamente a

mão-de-obra, em sintonia com a tradição cepalina, é explicada pelo tipo de desenvolvimento

industrial ocorrido nesses países. Segundo esta abordagem, a indústria aumenta sua

capacidade produtiva principalmente nos centros urbanos, mas o nível de emprego não cresce

na mesma proporção. A introdução de tecnologia tipicamente poupadora de mão-de-obra

importada dos países desenvolvidos, na tentativa de desconstruir a estrutura econômica

predominantemente agro-exportadora e implantar uma política de substituição de

importações, catalisa um processo de marginalização social profundamente associado às

dificuldades de inserção de grande parcela da população no mercado de trabalho.

Ou seja, à luz da chamada “teoria da dependência”, a manutenção de relações de

dependência dos “países periféricos”, submissos econômica e culturalmente aos “países

centrais”, que exerceram seu domínio por meio de grandes redes monopolistas, desencadeou

um quadro de concentração e centralização econômica desprovido de um objetivo de

desenvolvimento nacional. Além da exclusão de trabalhadores do setor industrial “de grande

tecnologia e de grande rentabilidade para os monopólios estrangeiros”, o esquema de

industrialização dependente responde também pela relativa marginalização de determinados

ramos de produção.

como a disponibilidade de capitais é limitada e a concentração do excedente econômico se acentua no âmbito restrito das unidades produtivas, de tipo monopolista, articulado a estas e a elas subordinado, organiza-se um espectro de atividades cuja expansão se apóia na utilização extensiva da força de trabalho, o que caracteriza de modo particular as ocupações autônomas do setor terciário, além das atividades ligadas ao artesanato urbano e à indústria a domicílio, que, em muitas partes, ao invés de serem destruídas, continuam sendo recriadas (Kowarick, 1981, p.72).

27

A natureza específica de reprodução do capital nas economias periféricas, via inserção

“abrupta e parcial” do capital estrangeiro, deixa em descompasso a abundante oferta de

trabalho e a limitada demanda; e a mão-de-obra não absorvida acaba se estabelecendo em

relações de produção não tipicamente capitalistas5, as quais Kowarick chama de “formas

marginais de inserção no mercado de trabalho”. Essas formas de inserção são caracterizadas

por arcaísmo tecnológico e relações de trabalho indefinidas (a rigor, o trabalhador não é nem

patrão nem é assalariado) e que, na maior parte das vezes, não chegam a remunerar o trabalho.

Resumindo, embora negue o determinismo entre subdesenvolvimento (aí incluso

desemprego e subemprego) e capitalismo dependente, Kowarick atribui ao tipo de

desenvolvimento tecnológico a causa do desemprego (incluso no universo da marginalidade .

Outros autores defendem posição contrária aos pontos centrais dessa linha de argumentação,

criticando as teorias que costumam explicar a persistência do desemprego e do subemprego na

periferia pelo uso de tecnologia "inadequada" (Azevedo, 1985).

Faria (1974) critica as teorias da marginalidade, compreendida pelos seus autores

como condição marginal em relação ao mercado de trabalho, mais especificamente às suas

formas capitalistas, o que incluiria tanto o desemprego como o subemprego. Segundo ele, não

se pode falar em desenvolvimento capitalista perverso nas economias subdesenvolvidas, pois

ele gera as forças produtivas na periferia da mesma forma que no centro: destruindo formas

tradicionais e arcaicas de produção e substituindo-as pelas formas estritamente capitalistas ao

mesmo tempo em que gera um excedente de mão-de-obra que garante tanto que os salários

não subam como uma reserva de força de trabalho para as firmas. Tampouco foi a

industrialização a causa da desestruturação do mercado de trabalho na periferia, pois mesmo

antes de 1890 a população nas cidades já era excessiva e dificilmente encontrava ocupação

permanente. Foi neste contexto que se introduziu a indústria capitalista no Brasil, por

exemplo, restando compreender como se estabeleceram as formas de sobrevivência da massa

não absorvida pela indústria.

Nesta mesma linha, Singer (1977) parte da premissa de que para compreender o

desemprego e o subemprego é preciso examinar a forma como a força de trabalho se reproduz

sob a égide do capital. Sua conclusão foi que o progresso técnico em si, no caso de países

não-desenvolvidos determinado exogenamente e injetado no sistema produtivo com certa

5 A definição de relação capitalista aqui é a construída por Marx, no Capital, cuja lógica de funcionamento é a exploração dos trabalhadores, que desprovidos dos meios de produção vendem no mercado a sua força de trabalho. O excedente do produto do trabalho, “mais-valia”, é apropriado pelos capitalistas.

28

defasagem, não gera desemprego, mas a forma como a força de trabalho se reproduz nesse

contexto, além de elementos histórico-estruturais. No sistema capitalista é o capital que rege a

produção e reprodução da força de trabalho e não o contrário, como tendem a considerar

outras teorias, que, por isso, tendem a associar o desemprego ao crescimento demográfico ou

fluxo migratório. A produção não tem que absorver a mão-de-obra disponível, mas a oferta de

mão-de-obra – bem como a demanda - que se ajusta às necessidades do capital.

O tom da argumentação de Singer está em sintonia com os conceitos e premissas que

ele considera, dentre os quais o mais forte é limitar a análise às formas de produção capitalista

e considerar as demais atividades como complementares ou dependentes. Em primeiro lugar é

preciso ficar bem claro o que se deve entender por “produção” e “reprodução” da força de

trabalho.

A tradicional discussão do dualismo das economias subdesenvolvidas, assim

consideradas por não ter sido o capitalismo nelas existente irradiado a todas as relações de

produção, existindo ainda os chamados setores tradicionais ou de subsistência, coloca o setor

capitalista como atrator da mão-de-obra dos demais setores. Essa capacidade de atração que o

capitalismo exerce sobre os demais setores é a “produção de força de trabalho”, sendo ela

“reproduzida” a partir do momento em que é comprada pelo capitalista. O capitalismo produz

a força de trabalho ao eliminar ou expropriar dos indivíduos seus meios de subsistência,

forçando-o a ofertar sua capacidade de trabalho no mercado. O exército industrial de reserva

se forma, portanto, quando uma parcela da mão-de-obra produzida não é reproduzida. E a

situação se agrava em países subdesenvolvidos onde o contingente de “trabalhadores

‘liberáveis’” (trabalhadores não-assalariados) é maior.

Em Kowarick o conceito marxista “exército industrial de reserva” também é discutido

e relacionado à existência do desemprego e subemprego, inerente ao desenvolvimento do

sistema capitalista. A força de trabalho incorporada ao capital no processo produtivo, segundo

Kowarick (1981), é cada vez menor, portanto, “está dentro da lógica da produção capitalista

criar uma população ‘excedente’ que se torna ‘supérflua’ na medida em que não é

imediatamente necessária ao ciclo de expansão do capital”. Esta população excedente exerce

duplo papel, primeiro predatório sobre a condição dos trabalhadores, pois funciona como um

fator redutor das pressões dos trabalhadores sobre os capitalistas para aumentar salários ou

melhorar as condições de trabalho. E um segundo papel positivo para os capitalistas ao

funcionar como garantia de mão-de-obra para suprir as demandas cíclicas do capital, sem

afetar a alocação intersetorial do fator.

29

Nas economias capitalistas subdesenvolvidas modernas, segundo Kowarick, a parcela

de desempregados e subempregados ainda exerce função de exército industrial de reserva, na

medida em que ainda é possível inseri-los na indústria sem maiores dificuldades. Os tipos de

“exigências qualitativas de trabalho” facilitam a substituição de trabalhadores, pois se

caracterizam basicamente por trabalhos repetitivos, que quase nunca requerem raciocínio ou

capacidade de decisão.

Claro está que, tanto mais escasso e necessário determinado tipo de trabalhador, tanto mais difícil substituí-lo. Mas não se pode fazer da qualificação um “cavalo de batalha”, como se para forjar um trabalhador fosse necessário uma verdadeira metamorfose. Não se quer negar que certas modalidades de trabalho supõem um aprendizado cuja efetivação implica em certas doses de aptidão pessoal e grau prévio de conhecimento, como também de treinamento. O que se quer enfatizar é que não se pode fazer do operário especializado uma categoria sem competidores no mercado de trabalho, ou sem substrato potencial no sentido de não ser viável sua substituição (Kowarick, 1981, p. 120)

Nos países inovadores, a própria dinâmica de desenvolvimento das forças produtivas

acaba por absorver o exército de reserva, alternando inovações de processos e inovações de

produtos, enquanto nos países não-desenvolvidos a substituição de importações de bens de

consumo, introdução de “novos produtos”, contraditoriamente reduz a acumulação interna de

capital. Isto porque, num primeiro momento os novos produtos são consumidos pelos

capitalistas6 com parte do excedente gerado e quando introduzidos na cesta de consumo dos

assalariados eleva os custos de reprodução da força de trabalho, que, na ausência de inovações

de processo que reduzam os custos de produção (deverão ser novamente importadas) têm sua

produtividade estagnada.

É preciso, finalmente, notar que o desemprego, nestes países, longe de ser “tecnológico”, como insistentemente se apregoa, é antes de mais nada o resultado de uma produção extemporânea e de uma reprodução precária da força de trabalho pelo capital. A industrialização desemprega mesmo quando se dá em níveis comparativamente baixos de produtividade, porque o capital toma o lugar de formas de produção pré-industriais, de produtividade ainda menor. Além do mais, como foi visto, a produtividade do trabalho tende a estagnar nos ramos tornados capitalistas, o que coloca sérias limitações tanto à acumulação do capital quanto à reprodução da força de trabalho, o que vai, contraditoriamente, agravar o desemprego (Singer, 1977, p.195).

6 As distorções nas economias subdesenvolvidas causadas pelo padrão de consumo dos seus capitalistas é apontado também nas teorias de Furtado (1983).

30

A expansão dos salários reais que deveria acompanhar o aumento de produtividade

não se verifica nas economias não-desenvolvidas, seja vista sua limitada capacidade de gerar

mais-valia relativa, ou seja, reduzir custos via progresso técnico. Como resultado, os salários

são muitas vezes insuficientes e colaboram para a redução da produtividade da força de

trabalho ao limitar a qualidade de vida do trabalhador, além de intensificar a entrada de

mulheres e jovens no mercado de trabalho com intuito de reforçar a renda familiar. Outros

problemas sociais surgem a partir disso, relacionados à desestruturação familiar.

Tavares (1983), ao contrário de Singer, vem somar argumentos à tese de que o

desemprego venha a ser uma conseqüência da atipicidade do contexto de evolução industrial

nas economias capitalistas subdesenvolvidas, discutido em especial para o Brasil. A

concentração econômica e da renda operam no sentido de beneficiar permanentemente um

eixo dinâmico da economia à custa dos setores tradicionais. Para ela o sistema econômico

adquiriu um caráter dual, responsável pelos desequilíbrios sociais e regionais que já à época

colocavam em cheque um desenvolvimento econômico sustentável, capaz de distribuir renda

e difundir o progresso técnico para o consumo em massa.

Esta dualidade é caracterizada pela existência de um pólo capitalista de crescimento

intenso, relativamente alta produtividade e fraca capacidade de geração de empregos; e outro

pólo, subdesenvolvido, onde se concentra maior parte da população mantida à margem do

sistema capitalista, tanto no que diz respeito ao trabalho como a consumo. Essa estrutura

decorreu do desenvolvimento intenso das forças produtivas, via importação de tecnologia,

com intuito de implantar uma indústria de transformação capaz de substituir grande parte dos

produtos componentes da pauta de importações, responsáveis, segundo seus defensores à

época, pela dependência e vulnerabilidade externa do balanço de pagamentos. A dinâmica do

processo de substituição de importações conciliava a introdução de tecnologia poupadora de

mão-de-obra, determinante da baixa capacidade de geração de empregos da indústria de

transformação nas décadas de mais intenso crescimento, e desigual distribuição de renda em

uma sociedade estratificada7, com desigual capacidade de consumo, evidentemente.

7 Essa estratificação se coloca da seguinte forma, como nas próprias palavras de Tavares (1983): “A cúpula dessa pirâmide representa o grande mercado consumidor para o pólo capitalista cujo poder de compra foi suficiente para garantir mercado às indústrias de bens de consumo duráveis. A faixa intermediaria está constituído por aquela parcela de população que gravita na periferia do pólo dinâmico e cuja renda média corresponde à própria média brasileira que, por ser extremamente baixa, não representa um poder de compra considerável a não ser daqueles bens industriais de consumo universal. Finalmente, a base da pirâmide, em que está compreendida metade da população, está praticamente à margem do mercado capitalista” (idem, p. 111).

31

Numa primeira fase do processo de substituição de importações, a cúpula vai crescendo à custa da expansão e diversificação do setor capitalista e embora a estrutura produtiva do setor atrasado permaneça sensivelmente, há um certo grau de acesso da população da base ao setor dinâmico, cujas funções de produção são absorvedores de mão-de-obra. À medida, porém, que a industrialização avança para faixas de maior densidade de capital e a estrutura do setor primário continua inalterada, cessa o transito de um setor para o outro e a cúpula da pirâmide tende a descolar da base (Tavares, 1983, p.112).

Em síntese, a tese da economista é de que um setor da indústria brasileira se torna

dinâmico graças à existência de um mercado consumidor restrito, cuja alta renda lhe confere a

capacidade de adquirir bens de alta tecnologia e mais caros. À margem disso, no entanto, fica

uma grande parcela da população que não é absorvida nas indústrias de alta densidade de

capital e submetida a baixos salários, dadas as condições de concorrência no mercado de

trabalho de países subdesenvolvidos (existência de exército de reserva). Ao capital é possível

aumentar mais-valia relativa e absoluta enquanto se mantiver o preço dos bens-salário sob

controle, o que adquire certo antagonismo, pois acaba por penalizar os setores tradicionais

cuja demanda é bem menos dinâmica (Tavares, 1983 e Tavares & Serra, 2000; Oliveira,

1972). Acrescentando ainda que o crescimento do emprego aquém do necessário não se deve

à importação de tecnologia intensiva em capital, mas à forma como o maior excedente por ela

gerado é utilizado:

Durante o período mais intenso da industrialização, mesmo quando se verificou uma dilatação da fronteira econômica e a extensão da modernização a várias áreas agrícolas, bem como a incorporação de novos contingentes da população ao setor de serviços em vários pólos urbanos, a heterogeneidade se acentuou, juntamente com a concentração de capital e a redução do ritmo de absorção produtiva da força de trabalho nos centros urbanos.

Como resultado, a concentração econômica ao nível regional, da atividade empresarial

e da renda (pessoal e funcional) se mantinha e o problema do “desemprego estrutural de mão-

de-obra não qualificada” permanecia sem solução pelo fato do ritmo de crescimento do

emprego não acompanhar o crescimento populacional. O setor terciário continua sendo uma

opção, mas, pela proporção da população sem oportunidades nas outras áreas, acaba

caracterizado pelo “empreguismo” e desemprego disfarçado.

32

Na visão de Furtado (1983), assim como de Tavares, o excedente estrutural de mão-

de-obra e má distribuição de renda estão bastante interligados. No processo de

desenvolvimento das economias capitalistas o crescimento econômico conseguiu distribuir

renda e gerar consumo em massa a partir do momento em que gerou empregos e promoveu às

classes trabalhadoras a capacidade de auferir sua própria renda. À medida que a mão-de-obra

se tornava escassa, além das pressões sociais, os salários aumentavam. No extremo oposto, o

histórico dos países subdesenvolvidos evidenciou a possibilidade de crescimento sem

distribuição, ainda que recalcitrante. Mas o ressaltado por Furtado é que o processo de

urbanização em países subdesenvolvidos se deu num contexto de assimilação tecnológica

incompatível com a absorção natural da mão-de-obra que migra para os centros urbanos. O

crescimento nessa fase não se dá unicamente pelo aumento do trabalho na indústria, mas pelo

próprio aumento da produtividade do capital. Sobre o assunto, Oliveira (1972, p.75) chega a

afirmar que “a reserva de força de trabalho é de tal porte [no Brasil] que o sistema se dá ao

luxo de crescer horizontalmente”.

A partir desta afirmação de Oliveira queremos apresentar dois pontos à discussão

desse capítulo, que nos servirão de gancho para os capítulos seguintes. Em primeiro lugar,

como se formou8 e como hoje se estrutura9 essa reserva de força de trabalho. E em segundo,

que mais nos servirá de base para reflexão para trabalhos futuros, o desenvolvimento do setor

terciário e sua relação com a marginalização e o subemprego na economia brasileira.

1.4. Conclusão

O setor terciário acolheu grande parte da mão-de-obra cada vez mais obsoleta aos

processos produtivos dos setores agrário e industrial devido ao alto grau de modernização que

sofreram. O progresso técnico não pode ser visto, no entanto, como fator gerador do

desemprego e pobreza, visto que é ele que possibilita o aumento de produtividade que supriria

as necessidades de uma população crescente. O problema está na divisão dos bônus do

desenvolvimento tecnológico, que não se efetivam pela baixa remuneração dos trabalhadores,

principalmente do setor terciário. Embora a precariedade do trabalho não seja unicamente

associável a este setor, pois está presente em outros setores principalmente se associada a

8 Será a discussão do capítulo 2. 9 A ser discutido no capítulo 3.

33

baixa remuneração, sobre ele pesa sua própria natureza e a pulverização das atividades nele

incluídas, que facilitam o contorno da regulamentação do mercado de trabalho e,

consequentemente, o controle do Estado sobre o cumprimento do estabelecido nas leis.

Por fim, até que chegássemos à questão do desemprego e subemprego de países

subdesenvolvidos, como o Brasil, passamos por estruturas teóricas distintas, mas que dão uma

idéia da complexidade de se pensar a questão do desemprego, principalmente no âmbito

macroeconômico. Os aspectos teóricos selecionados serão úteis para desenvolver uma

reflexão sobre uma questão que precisa ser compreendida em profundidade: o comportamento

do desemprego e seus condicionantes no Brasil. Embora agora ascendido à condição de país

“em desenvolvimento” ou “emergente”, o país ainda apresenta grandes déficits no que diz

respeito ao seu mercado de trabalho e capacidade de gerar bem-estar social por meio da renda

do trabalho.

Aos poucos ficará clara a vertente teórica com que o presente trabalho se identifica e

se considera capaz de explicar, ainda que abstrativamente, o comportamento do desemprego

na economia brasileira no período recente, 2000 a 2008.

CAPÍTULO 2 – O DESEMPREGO NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS

O presente capítulo tem como intenção fortalecer as bases investigativas sobre o

desemprego no Brasil, dando continuidade à discussão do capítulo anterior, mas afunilando-a

para a realidade brasileira tanto em aspectos ainda teóricos como empíricos.

Para isso, o capítulo será dividido em três partes principais. Uma primeira que será

incumbida de apresentar aspectos do desenvolvimento industrial no país, como havíamos

iniciado no capítulo anterior, e paralelo crescimento das metrópoles brasileiras. Aqui,

portanto, discutir o capitalismo brasileiro deve adquirir um caráter mais específico tanto

espacialmente, pois guiaremos a discussão para o contexto metropolitano, como

historicamente, isto é, a trajetória, o que inclui as políticas - ou falta delas - que percorreu o

desenvolvimento brasileiro e que culminou no mercado de trabalho que hoje observamos nas

metrópoles brasileiras.

A segunda seção terá relação direta com a primeira enquanto continuidade histórica do

processo, mas optamos por separá-la pela abordagem que será feita. Neste ponto será

analisada a conjuntura econômica do período 2000-2008, assim como seus potenciais reflexos

sobre o mercado de trabalho, cuja evolução também será analisada em dados básicos

presentes na literatura sobre o tema.

A terceira seção trará uma revisão de literatura sobre a relação entre características

individuais dos brasileiros com a situação de desemprego. O objetivo aqui será de já

introduzir alguma inferência sobre a determinância entre variáveis a serem analisadas no

capítulo 3. Consideramos importante rever o que pesquisadores conhecedores do assunto têm

a dizer sobre a estrutura do desemprego, a fim de fornecer bases analíticas para o trabalho

empírico do capítulo seguinte.

O capítulo como um todo tem um caráter investigativo muito forte, pois traz como

premissa revisitar o pensamento sobre a análise empírica e, principalmente, refletir sobre um

hábito comum no âmbito dos estudos sobre mercado de trabalho de isolar o efeito de variáveis

sobre o emprego e desemprego.

2.1. Formação das metrópoles brasileiras e evolução do mercado de trabalho

2.1.1. Êxodo rural, concentração econômica e populacional

O mercado de trabalho metropolitano enfrenta hoje dificuldades de geração de

empregos dignos para uma parcela considerável de sua população, o que é, em algum grau,

explicado pela forma como se desenvolveu.

O ritmo acelerado de crescimento das metrópoles brasileiras nos últimos 50 anos,

acompanhado de uma miopia política para os problemas de longo prazo que uma falta de

planejamento urbano tanto econômico como espacial poderia causar, deflagraram uma

situação de marginalidade, pobreza e desemprego em níveis consideráveis nas suas periferias.

Algumas informações dão uma noção da velocidade deste crescimento. A população

urbana saltou de 56% para 80% de 1970 para cá e quase três quartos do crescimento total do

país se concentrou em cidades grandes durante a década de 70. Somente os centros

metropolitanos aumentaram sua participação no acréscimo populacional de 28,1% em 1940-

50 para 36,8% em 1970-80, o que, de acordo com Singer (1982), reflete a progressiva

metropolização do país. O êxodo rural, portanto, foi um fenômeno de substanciais

conseqüências sobre essa dinâmica.

O fluxo migratório no sentido das grandes cidades e áreas metropolitanas esteve em

grande parte relacionado ao emprego na indústria de transformação e maior dinamismo

econômico que gerava. No entanto, entre as décadas de 1970 e 2000 o país passou por um

processo de descentralização industrial, ou seja, uma saída das atividades industriais dos

grandes centros urbanos (Mata; Deichmann et al, 2006), se tornando o setor terciário o maior

empregador nessas áreas. O Gráfico 1 mostra como o setor de comércio e serviços adquire

maior peso sobre o emprego à medida que se considera maior tamanho das cidades.

36

Gráfico 1 – Percentual do emprego por setor para diferentes tamanhos de aglomerações

Fonte: MATA; DEICHMANN et al (2006)

A análise empírica do capítulo seguinte irá considerar informações de seis regiões

metropolitanas brasileiras, São Paulo, Porto Alegre, Distrito Federal, Recife, Salvador e Belo

Horizonte. Obviamente as regiões metropolitanas tiveram diferenças grandes entre si ao longo

do processo de crescimento populacional e econômico, mas podemos extrair como

denominador comum entre elas o crescimento acelerado e a reestruturação setorial.

Tabela 1 - Taxas de crescimento e participação no crescimento demográfico nacional segundo Regiões Metropolitanas – Brasil – 1940/91

Fonte: Martine (1994)

São Paulo foi inquestionavelmente a região metropolitana que mais se expandiu. Nos

dois primeiro períodos apontados na Tabela 1 ela cresceu acima da taxa de crescimento

37

demográfico nacional e algo pouco inferior a partir da década de 80. Um claro sinal de

desaceleração. Recife foi a que menos cresceu dentre as regiões selecionadas, apresentando

taxas sempre inferiores à nacional. Salvador, por sua vez, só cresceu menos que o país como

um todo no primeiro período.

Belo Horizonte manteve taxas superiores à nacional em todos os períodos, de 1940 a

1991. Enquanto isso Porto Alegre cresce praticamente às taxas de expansão demográfica

nacionais, superando em um pouco mais no último período. Uma tendência evidente e geral

às regiões metropolitanas é a desaceleração do crescimento, normalmente esperado pelo

arrefecimento dos fluxos migratório, principalmente êxodo rural, e pela redução paulatina da

taxa de fecundidade.

Algumas características das grandes aglomerações urbanas, que podemos associar a

essas regiões metropolitanas em relação ao interior do estado a que pertencem, são

sumarizadas da seguinte forma:

Maiores aglomerações são mais diversificadas, com a presença de indústrias intensivas em alta tecnologia e serviços especializados. Isso requer trabalhadores mais qualificados e remunerações maiores, o que acarreta maiores salários e, por sua vez, atrai os trabalhadores qualificados. Entre as maiores aglomerações documentou-se, aqui, uma tendência à descentralização do setor da indústria de transformação. Com o aumento dos preços e da congestão, empresas saem desses grandes centros urbanos. Em vez de irem para as pequenas cidades, onde os salários são menores, elas se estabelecem na periferia das grandes cidades, a fim de angariar os benefícios de aglomeração, tais como: a proximidade dos compradores, dos fornecedores e dos serviços especializados (Mata; Deichmann et al, 2006, p.29).

A atratividade econômica criada nessas cidades se estende para a mão-de-obra não

qualificada, que parte para os grandes centros em busca de melhores oportunidades de

emprego, principalmente através da prestação de serviços para as empresas e classes mais

altas ou mesmo para grandes obras que depois de concluídas acabam desempregados. A

descentralização industrial acabou por contribuir para a deterioração de um quadro já nada

satisfatório devido à grande disponibilidade de mão-de-obra presente nas grandes cidades

realizando atividades instáveis e mal remuneradas. Sem considerar o déficit de infra-estrutura

urbana, que não acompanhou o rápido crescimento demográfico das cidades.

38

Para antes da década de 80, Dedecca (1998a) consegue apontar uma dinâmica ainda

sustentável do ponto de vista do emprego, embora de alta rotatividade. Os fatores

supramencionados, além da “acomodação” da estrutura do emprego sobre o setor terciário

ficam bem claros no seguinte trecho:

O desdobramento da estrutura produtiva moderna induzia o crescimento sistemático do emprego assalariado, fazendo que o comportamento da produção e do emprego fosse convergente. Assim, observou-se, nos anos 80, que, ao contrário das previsões pessimistas do final dos anos 60, aquele padrão de desenvolvimento havia apresentado uma grande capacidade de geração de novos empregos, que somente não se traduziu em uma maior estruturação do mercado urbano de trabalho devido o aumento exponencial da disponibilidade de força de trabalho nas cidades, causada por uma modernização agrícola que havia relegado a solução do problema agrário. A grande dificuldade que se apresentou foi que, face a presença de uma grande população economicamente ativa vinculada as atividades agrícolas e a ausência de um programa de reforma agrária, o desdobramento industrial produzia uma modernização agrícola perversa, que criava um fluxo migratório incompatível com a capacidade de geração de novos empregos no meio urbano (Rodrigez & Portugal, 1984; Salm & Eichemberg, 1989). Desse modo, o excedente de força de trabalho ia sendo absorvido em atividades urbanas no setor terciário tradicional, em especial no emprego doméstico e nos serviços pessoais. O crescimento sustentado do emprego assalariado permitia consolidar essa forma de relação de trabalho e transformar o mercado urbano de trabalho. Apesar da elevada rotatividade da mão de obra presente nos segmentos mais estruturados do mercado urbano de trabalho, a força de trabalho que era absorvida por esses segmentos conseguia se reempregar, fazendo do desemprego uma situação transitória entre dois postos de trabalho assalariado (Dedecca, 1998b, p.2)

Mas já a partir de 1981 deu-se início ao período de maior deterioração do mercado de

trabalho. Toda a década foi marcada pela instabilidade política e econômica já bem

conhecidos pelos economistas (endividamento, inflação, crises conjunturais, transição de

regimes políticos), que levaram praticamente todos os setores a perder capacidade de geração

de postos de trabalho: indústria de transformação, construção civil e comércio tiveram

desempenho pífio, com exceção dos serviços, que conseguiram apresentar taxas positivas no

final da década. Após longo período de crescimento puxado pela indústria, a economia

brasileira em crise e estagnada e com um mercado de trabalho pouco estruturado passa a

sofrer um novo problema: o desemprego.

39

2.1.2. Abertura econômica e precarização

O mercado de trabalho formal do país corresponde hoje a pouco mais da metade da

população economicamente ativa (PEA), o que representa uma tênue relação entre os

mecanismos de proteção do Estado e os trabalhadores. Primeiro, pela característica debilidade

destes mecanismos de proteção em termos de duração e valor de benefícios; e segundo, pela

não cobertura da metade informal a garantias oferecidas pela legislação trabalhista, o que

acaba expondo os trabalhadores a alta rotatividade, baixos salários e jornadas de trabalho

extensas. A maior deterioração das relações trabalhistas e conseqüente precarização do

trabalho é explicada pela trajetória econômica e social percorrida pelo país e catalisada pelas

mudanças da década de 1990.

Em dados gerais, a década de 90 teve um desempenho ainda pior que o da década

anterior. Mesmo com a estabilização econômica conquistada a partir de 94, a inflação média

da década foi maior, assim como as taxas de desemprego aberto e o PIB tiveram pior

desempenho. É extensa a literatura sobre o mercado de trabalho neste período exatamente

pela profundidade das mudanças ocorridas e há uma convergência na observação do fato de

que o acelerado ritmo da abertura comercial teve efeitos imediatos e intensos sobre sua

estrutura (ROCHA, 2006; CHAMON, 1998; REIS, 2006; ERNST, 2007; ARBACHE,

CORSEUIL, 2001; DEDECCA, 1998a e 2006).

Em consonância com o ritmo de mudanças institucionais apregoadas no mundo inteiro

como solução para a crise vivida pelos países emergentes, o Brasil iniciou um processo de

abertura econômica e reforma do Estado. Houve liberação do movimento de capitais,

intensificação da redução dos mecanismos protecionistas tarifários e não tarifários iniciada na

década de 80 e recorreu-se a altas taxas de juros e câmbio valorizado como forma de controlar

a inflação.

Ao mesmo tempo eram adotadas medidas que restringiam cada vez mais o peso do

Estado na economia: privatizações e corte de gastos principalmente de investimentos, que

levaram à deterioração da infra-estrutura do país. O cenário não era dos melhores para o

investimento privado e crescimento industrial. Como forma de sobreviver diante das novas

condições concorrenciais (câmbio desfavorável à exportação) e alto custo do capital, as

indústrias iniciaram um intenso processo de reestruturação acompanhado de baixo

crescimento da economia com seus efeitos naturais sobre a retração do emprego.

40

Kupfer (2004) ressalta que a chamada “estratégia de enxugamento” praticada no

período permitiu altos ganhos de produtividade sem que fossem realizados grandes

investimentos, destacando a baixa propensão a investir do período. Em vez de investir em

expansão e diferenciação de produtos, “intensificou-se e generalizou-se a adoção das novas

técnicas de organização da produção”, redução do escopo das linhas de produção,

desverticalização (facilitada pelo maior acesso a bens importados) e terceirização das

atividades de apoio. Como resultado, a eliminação de postos de trabalho decorrente dessas

mudanças tecnológicas mais que compensou o aumento no emprego gerado pela expansão da

demanda doméstica e das transações externas.

Esta estratégia culminou numa relação inversa entre emprego e crescimento, isto é, a

produção industrial crescia amparada pelos ganhos de produtividade do enxugamento, em

detrimento dos níveis de emprego industrial, a despeito dos excepcionais desempenhos das

exportações e da demanda doméstica na década de 90. Desta forma, Kupfer (2004) conclui

que a mudança tecnológica foi determinante no mau desempenho do setor industrial na

geração de empregos e acrescenta que a progressiva mecanização do campo é um foco de

eliminação de postos de trabalho, o que representa maior pressão sobre o emprego nos centros

urbanos.

Chamon (1998) argumenta neste mesmo sentido. O aumento nas taxas de desemprego

na década de 90 pode ser explicado tanto pelo aumento nas subcontratações como pela

implantação de novas técnicas gerencias. Mas o investimento em capital (máquinas e

equipamentos), que num contexto de abertura econômica e taxa de câmbio favorável se

viabilizou via importações e essencialmente para reposição e não para expansão ou

construção de novas plantas, contribuiu para a continuidade do aumento do produto mesmo

com redução do emprego.

Por outro lado, o setor de serviços compensou as perdas de postos de trabalho de

outros setores, essencialmente indústria de transformação e agronegócio (Kupfer, 2004;

CEPAL, PNUD, OIT, 2008), o que aliado ao esgotamento do processo de reestruturação da

indústria, culminou em aumento da taxa de ocupação no final da década de 90.

A reestruturação setorial observada na migração da mão-de-obra do setor secundário

para o setor terciário, segundo estudo do IBGE (apud CEPAL, PNUD, OIT, 2008), pode ser

explicada por duas razões. Uma primeira explicação, positiva, é de que isto seja resultado das

mudanças e da modernização da estrutura de consumo e de produção da sociedade. Ou, como

segunda explicação, seria reflexo de um processo de desindustrialização acompanhado da

41

expansão de atividades irregulares, precárias e de baixa produtividade como única alternativa

aos indivíduos de sobrevivência nas áreas urbanas.

Cardoso Jr. (1999) reforça essa segunda explicação ao afirmar que a participação dos

ocupados com carteira assinada diminuiu no setor industrial, mas somente uma parcela foi

reempregada no setor de serviços, que apresentou aumento no número de ocupados com

carteira, enquanto outra parte acabou na informalidade.

Já Rocha (2006) aponta para algumas tendências estruturais que teriam afetado o

mercado de trabalho como resposta às mudanças dos anos 90. Dentre elas, crescimento da

ocupação urbana, terceirização, feminização, redução do trabalho precoce e aumento da

escolaridade da mão-de-obra. O primeiro ponto citado, relativo à ocupação urbana, tem forte

ligação com transformações tecnológicas no setor agrícola, acelerando um processo de

modernização e urbanização, baseado principalmente no inchamento do setor terciário, grande

incorporador de trabalho de baixa produtividade.

Para a autora, a inflexão de política cambial de 1999 é que propiciou alguma

recuperação para o emprego e parece ter dado fim ao processo de enxugamento de mão-de-

obra, tendo o setor industrial aumentado sua participação na ocupação, assim como as

atividades do setor terciário (comércio e serviços). No entanto, não pode ser constatada

nenhuma regularidade na capacidade dos setores em incorporar força de trabalho. Muito

menos num ritmo suficiente para atender à oferta de trabalho cada vez maior, dadas as

mudanças expostas.

Em paralelo às mudanças econômicas em voga, o elevado déficit de trabalho decente e

heterogeneidade se tornaram distintivos do mercado de trabalho brasileiro quando de sua

maior flexibilização a partir da década de 90. O aumento da informalidade nas metrópoles foi

verificado não somente no setor de serviços, mas inclusive na indústria, o que contribui

consideravelmente para a multiplicação de frágeis relações de trabalho. Podemos enumerar

como principais traços do mercado de trabalho desde então:

a) elevadas taxas de desemprego e de informalidade, que resultam em baixo grau de proteção social e inserção inadequada dos trabalhadores; b) expressiva parcela de mão-de-obra sujeita a baixos níveis de rendimento e produtividade; c) alta rotatividade no emprego; d) alto grau de desigualdade entre diferentes grupos, sobretudo em relação às mulheres e à população negra (CEPAL; PNUD; OIT, 2008).

42

De um modo geral estes traços formatam o avanço da precarização, que pode ser

entendida ainda através da noção utilizada por Nogueira et al (2004 apud Duarte 2006, p.31),

segundo a qual a precariedade envolve pelo menos uma das características: a) situação de

déficit ou inexistência de direitos assegurados pela legislação trabalhista ou da seguridade

social (licença-maternidade, seguro-desemprego, férias anuais, décimo terceiro salário,

aposentadoria; b) trabalho de curta duração ou temporário, que submetem o trabalhador a

instabilidade de renda e do próprio trabalho; c) vulnerabilidade do indivíduo à sua condição,

devido a elevada exposição a certos riscos e incertezas, como baixa remuneração,

insalubridade e desemprego. A conseqüência apontada seria de exclusão dos trabalhadores

em vários aspectos: econômico, social e político.

Em suma, a flexibilização do mercado de trabalho para dar conta do novo quadro

competitivo das empresas trouxe consigo o aumento da informalidade e da precarização ao

mercado de trabalho brasileiro, com conseqüências negativas sobre a sociedade como um

todo. A isso se somou o peso da desaceleração econômica, sobre a qual vários setores

tradicionalmente bons empregadores nas regiões metropolitanas perderam sua capacidade de

ocupar trabalhadores ou foram transferidas para o interior. O desemprego e a transitoriedade

entre os seus tipos se acentuaram.

2.1.3. Desemprego num mercado de trabalho heterogêneo: novos conceitos

A precarização acompanhada pela redução da importância do assalariamento e

multiplicação de trabalhadores ligados ao setor de serviços representou para o mercado de

trabalho brasileiro uma acentuação da sua heterogeneidade. Tratar o mercado de trabalho em

bases duais se tornou impossível dado o nível de complexidade que atingiu a estrutura

econômica e do mercado de trabalho em si.

Segundo as colocações de Kowarick (1981), o mercado de trabalho seria classificado

de acordo com as condições sobre as quais a exploração se concretiza. Nesse arquétipo, o

mercado formal englobaria as relações de trabalho tipicamente capitalistas, na qual o

trabalhador vende sua força de trabalho a um e somente um empregador, usufruindo de

estabilidade (trabalho contínuo e regular). Já no mercado não formal operam as firmas não

registradas, sendo o emprego a ele vinculado sem reconhecimento legal. Os trabalhadores são

tipicamente prestadores de serviços, portanto, no lugar dos empregadores estão os

43

consumidores – ou clientes - e “a relação não envolve um emprego fixo, mas uma tarefa

específica, o mais das vezes de curta duração” (Kowarick, 1981, p.93). A fragilidade desta

relação de trabalho está no fato de ser “instável”, no que diz respeito à regularidade e

continuidade do trabalho, e “flexível”, no que relaciona ao preço pago pelos serviços.

Como afirma Dedecca (1998b), a partir da nova estrutura econômica e do mercado de

trabalho é necessário abrir mão de tentar associar as relações de produção e as relações de

trabalho, tal qual vimos ser feito por Kowarick e em boa parte das teorias revisadas no

primeiro capítulo deste estudo. Uma distorção causada por tal associação está em se

considerar como postos de trabalho de qualidade somente aqueles inseridos no “núcleo do

setor capitalista (grande empresa e setor público)” enquanto os precários se situariam no

“setor não capitalista tradicional (emprego doméstico, trabalho ambulante,...)”. Enquanto o

que se observa na realidade é uma gama variadíssima de formas de inserção no mercado de

trabalho, que, formal ou não, não apresentam regra com relação à sua capacidade de fornecer

condições dignas ou precárias de vida. Como conseqüência foi necessária inclusive uma

revisão das metodologias de mensuração do desemprego.

Havíamos destacado a capacidade da economia brasileira de crescer até 1980 com

relativamente boa relação entre a indústria e os demais setores, principalmente o de serviços

que ainda conseguia dar conta do excedente de trabalho não empregado no secundário. Nesse

período as possibilidades de reemprego eram altas, o que explicava a relevância em se utilizar

medidas de desemprego com procura nos sete dias anteriores à pesquisa. Com as mudanças

demonstradas o período referencial de procura usado como critério para medir o desemprego

se torna igualmente mais complexo e passa a exigir uma análise mais minuciosa das situações

ocupacionais (Dedecca, 1998a).

Estudo da OIT destaca a dificuldade em mensurar emprego e desemprego numa

economia em desenvolvimento:

Given the dual nature [faz referência aos dualismos ‘grandes empresas versus pequenas empresas e trabalho formal versus informal’] of the economy and the labour market, a simple evaluation of employment and unemployment figures is not sufficient for an understanding of the evolution of the market. Where there is an excess labour supply, and thus high level of non-formal employment, a fall in unemployment may not automatically mean an improvement in the labour market. It could simply be the result of an increase in precarious jobs characterized by low productivity (Ernst, 2007).

44

Dentro do que o autor concebe como “dualismo” ele assegura haver uma

indeterminação do comportamento do mercado de trabalho e considera limitado, ou quase

ausente, a proteção estatal aos desempregados dada sua cobertura somente ao trabalho formal,

uma parcela pequena do mercado de trabalho no Brasil. O resultado sobre as medidas de

desemprego se amparadas somente pelo conceito de desemprego aberto, são estatísticas

superficiais.

In developing countries, the absence of formal unemployment insurance systems means that open unemployment is, in effect, limited to a small number of people, who have enough resources to wait until a job with the characteristics they are looking for actually opens… Less fortunate people cannot join the queue, or have to leave it rather quickly, accepting any kind of occupation that simply allows them to survive…from a statistical point of view, these people are not ‘unemployed’. They are employed, but they just have a ‘bad’ job (Bourguignon, 2005 apud Ernst, 2007).

A PED, desenvolvida pela SEADE e DIEESE em parceria com órgãos públicos locais

em seis regiões metropolitanas brasileiras (São Paulo, Porto Alegre, Recife, Salvador, Belo

Horizonte e Distrito Federal), é uma das pesquisas realizadas no país que revisou a

conceituação e mensuração do desemprego. Segundo a metodologia, são quatro os critérios de

classificação da PIA entre desempregados, ocupados ou inativos: a) procura efetiva de

trabalho; b) disponibilidade para trabalhar com procura em doze meses; c) situação de

trabalho; d) tipo de trabalho exercido (Dedecca, 1998a). Sendo assim, os três tipos de

desemprego englobariam os seguintes parâmetros básicos:

- desemprego aberto (DA): situação de não trabalho em sete dias e procura efetiva nos últimos

trinta dias;

- desemprego oculto por desalento (DOD): situação de não trabalho e disponibilidade para

trabalhar com procura por quinze dias nos últimos doze meses, mas ausência de procura

efetiva por desestímulo do mercado de trabalho;

- desemprego oculto com trabalho precário (DOTP): situação de trabalho, embora precário, e

procura efetiva nos trinta dias anteriores, senão nos doze meses precedentes (necessidade de

mudança de trabalho). É considerado precário o trabalho irregular ou não-remunerado de

ajuda em negócios de parentes (SEADE, “Metodologia da Pesquisa de...”).

A metodologia do IBGE, a PME, mais correntemente utilizada nos estudos sobre

emprego e desemprego, foi reestruturada em 2001, para melhor refletir as heterogeneidades

45

do mercado de trabalho brasileiro e as distintas formas de inserção dos trabalhadores,

inclusive como forma de melhor atender às recomendações da OIT. A nova metodologia de

classificação das formas de inserção inclui categorias como a dos marginalmente ligados ao

mercado de trabalho, desalentados, subocupados por insuficiência de horas trabalhadas,

pessoas sub-remuneradas ou que realizam trabalho não-remunerado de ajuda a parentes. A

PED acaba por agrupar algumas dessas características e apresentá-las em dois indicadores de

desemprego mais abrangentes do que o de desemprego aberto, flexibilizando a questão da

busca por trabalho como distintiva da condição de inatividade e de ocupação.

Além destas mudanças em relação a outras bases de dados, a PED amplia outros

conceitos, com a mesma finalidade de refletir mais fielmente a realidade nacional. Para a PIA

são incorporadas as crianças com idade entre 10 e 14 anos, que, embora em idade inferior à

legalmente estipulada como mínima para trabalhar, infelizmente são parte integrante da

realidade social do país. Outra mudança está relacionada ao que se há de considerar como

trabalho e como desemprego na pesquisa. A PED passa a considerar limites temporais

mínimos para a jornada semanal, incluindo a noção de continuidade e regularidade do

exercício do trabalho, o que teria o efeito de aumentar o índice do que se consideraria como

trabalho precário nas amostras ao impor critérios mais severos para o que seria considerado

como trabalho.

Como critérios para desemprego, a noção de ausência de trabalho e de procura por

trabalho são revistas. Em parte pela própria alteração no que seria considerado como trabalho,

que acabamos de mencionar, mas também por levar em conta que a presença de trabalho em

si não preenche as necessidades de emprego do indivíduo, principalmente na ausência de

mecanismos de proteção do Estado aos desempregados, que os leva a exercer atividades

irregulares e descontínuas enquanto procuram trabalho.

E, por fim, a mudança no critério procura de trabalho, que caracteriza o desemprego

oculto por desalento. Quando o indivíduo tem suas expectativas frustradas em relação ao

mercado de trabalho, abandona a procura no período considerado pela PED de “procura atual

de trabalho” (trinta dias anteriores ao da entrevista), pois não acredita que haja alguma

oportunidade.

Em suma, desemprego aberto passa a enquadrar indivíduos com 10 anos ou mais de

idade que não tenham exercido nenhum trabalho nos últimos sete dias e procuraram emprego

no período de 30 dias anteriores à pesquisa. Isto por si só já contempla uma parcela maior da

população, mas ainda são adicionados dois status de desemprego: o oculto por trabalho

46

precário, no qual são enquadrados os indivíduos com 10 anos ou mais cujos trabalhos

exercidos foram limitados a trabalhos remunerados de forma irregular ou não remunerados de

ajuda em negócio de parentes, tendo procurado mudar de trabalho nos 30 dias anteriores à

entrevista. E o oculto por desalento que engloba os indivíduos da PIA que não tiveram nem

procuraram trabalho nos últimos 30 dias. Ambos consideram o período de procura por

trabalho de até 12 meses anteriores à entrevista.

Um destaque deve ser feito em relação ao DOTP. Por levar em consideração as

preferências dos indivíduos, pois o desejo de troca e procura de trabalho manifestas pelo

trabalhador são captadas na pesquisa, consegue-se separar ainda que subjetivamente a parcela

do mercado informal considerada precária. Nem sempre se verifica no amplo espectro do

trabalho informal postos de trabalho de baixa qualidade, estando os bons geralmente

associados a trabalhadores por conta própria de qualificação mais alta. Como discutiu

amplamente Duarte (2006), a informalidade nem sempre está associada a situações precárias

de trabalho.

Os indicadores da PED apontam para um aumento do desemprego em períodos de

contração do mercado de trabalho que em metodologias como a PME, do IBGE, era

observado como um aumento da inatividade. A maioria dos estudos empíricos atuais adota a

nova versão desta metodologia do IBGE, que em 2002 foi modificada a fim de ampliar o

conceito de desemprego, mas optou por algumas diferenças conceituais em relação à PED.

Não temos o objetivo de discutir a importância de uma metodologia em detrimento da outra,

basta-nos deixar claro que o desemprego aberto unicamente como medida de desemprego não

reflete as reais necessidades do mercado de trabalho metropolitano brasileiro.

2.2. O período 2000-2008

O período mais recente, especificamente os anos de 2000 a 2008, será analisado em

maior profundidade devido às mudanças ocorridas no mercado de trabalho do país. Em 2000 a

ocupação já vinha crescendo, mas somente a partir de 2004 foi observada uma inflexão clara

na tendência de aumento das taxas de desemprego que ocorria desde a década de 80 e havia se

acelerado na década seguinte. Os dados disponíveis da PED permitem fazer uma comparação

entre os últimos anos em que as taxas cresceram e o período que começaram a cair, o que

pode agregar alguma informação à análise das características dos indivíduos estabelecendo

47

uma relação comparativa entre elas e o comportamento do desemprego. Esta seção, portanto,

será incumbida de apresentar os principais fatos econômicos e sociais do período 2000-2008,

como forma de enriquecer a análise empírica através dos microdados da PED a ser feita no

capítulo 3.

2.2.1. Conjuntura econômica

De 1993 a 1995, devido às mudanças econômicas da década lideradas pela abertura

comercial, o desemprego não teria caído na mesma proporção que o aumento do PIB, ficando

próximo a 4%. De 1996 a 99 a taxa de desemprego aberto escalou para 9,4%, como efeito

combinado de baixo crescimento e impacto na ocupação. Considerando a metodologia da

PED, elaborada pelo convênio entre SEADE e DIEESE, a taxa de desemprego agregada total

mostra números ainda maiores.

A taxa de desemprego total, que inclui o desemprego oculto por trabalho precário e o

por desalento, chegou a 20,2% em 1999, mostrando que a apresentação de taxas de

desemprego aberto é limitada dependendo do que se quer discutir sobre o mercado de

trabalho. A nosso ver deve-se tomar cuidado para não menosprezar a necessidade de medidas

de reversão do déficit de postos de trabalho e para não ignorar parte maior dos problemas do

mercado de trabalho brasileiro. A relevância dos números expostos na adoção de critérios de

identificação do desemprego chamado oculto e sua proporção na medida do desemprego total,

principalmente a partir da década de 90, que torna premente uma melhor discussão sobre a

relação entre emprego e subemprego.

Até 2002 o nível de desemprego continuou crescendo a despeito da aceleração da

ocupação já a partir de 2000. Foi de 2004 em diante que tanto o desemprego aberto como o

oculto vieram apresentando consistente trajetória de queda, sobre a qual podem ser apontados

como determinantes, a priori, o melhor desempenho da economia com maior impacto sobre a

geração de empregos, aliado ao crescimento somente moderado da PEA. A economia

brasileira, de 1995 a 2002 cresceu à taxa média anual de 2,32% e de 2003 a 2008, 4,2%,

apontando para tendência expansiva da economia com efeitos maiores sobre o emprego pela

natureza do crescimento do período. Um olhar mais aprofundado sobre o período pode trazer

alguns esclarecimentos.

48

Embora tenha apresentado taxas de crescimento maiores em relação aos anos

anteriores, a economia brasileira cresceu menos do que outros países emergentes. A principal

explicação para isso está nas políticas monetária e fiscal contracionistas adotadas. No campo

da política fiscal foram adotadas metas de superávit fiscal, cujo principal impacto sobre o

desemprego está na limitação dos investimentos públicos em infra-estrutura social e

econômica. Além dos empregos diretos não gerados pela redução do investimento, os

gargalos de infra-estrutura acabam por limitar a expansão do setor privado. Na política

monetária, as altas taxas de juros são apontadas como grandes vilãs do crédito ao

investimento privado e ao consumo.

Além disso, atuam contra um mercado interno mais dinâmico as taxas de câmbio

valorizadas. Muito embora haja controvérsias sobre seus efeitos especificamente sobre o

mercado de trabalho metropolitano. A valorização cambial enfraquece o desempenho das

exportações, cuja pauta brasileira não tem perfil de grandes centros urbanos, pois se baseia em

commodities e mesmo os manufaturados tiveram suas principais indústrias migrando para as

cidades médias. O setor de serviços é o maior no contexto metropolitano, como salientamos

em tópicos anteriores. Operando em outra direção, está a facilidade em importar máquinas e

equipamentos, cujo impacto sobre o emprego depende do tipo de tecnologia, se poupadora de

mão-de-obra ou se traz um novo produto, ou seja, cria um novo mercado no país.

Apesar das políticas econômicas restritivas, o cenário para o investimento era

relativamente favorável, pois a inflação estava controlada e a demanda externa aquecida. As

exportações responderam por maior parte da retomada de crescimento em 2003 e colaboraram

para os saldos positivos na balança comercial. As importações vêem crescendo num ritmo

mais acelerado, puxada tanto pelo aumento do consumo de bens duráveis como pelo

investimento. O aumento do emprego e da renda acabaram por alterar a importância relativa

dos componentes do PIB na demanda efetiva, passando das exportações para o consumo das

famílias, que adquiriu trajetória crescente a partir de 2003, enquanto a primeiro esfriava

principalmente pela redução dos preços das commodities no mercado internacional.

A formação bruta de capital foi alavancada a partir de 2002, principalmente no

componente de capital fixo, ou seja, investimentos em máquinas e equipamentos. Os

investimentos em expansão permanente da produção sinalizam expectativas otimistas em

relação ao crescimento da demanda, um ótimo sinal para o emprego. A desaceleração do

investimento em 2007 já pode estar relacionada à crise internacional que estourou no Brasil

em 2008, mas já começava a se manifestar nos países desenvolvidos no ano anterior.

49

Gráfico 2 – Taxa de crescimento do PIB e componentes (%) – 2000-2008

Fonte: IBGE/SCN 2000 Anual (elaboração própria).

Em relação ao desempenho econômico das regiões metropolitanas e Distrito Federal,

pesquisados pela PED, também é observado um quadro de recuperação. Os setores

agropecuário, administração pública e serviços voltaram a crescer a partir de 2003, enquanto o

setor industrial já vinha crescendo pelo menos desde 200210. Além do comportamento é

possível ver no gráfico a ordem de importância dos setores na economia metropolitana. Em

primeiro lugar serviços, em seguida indústria, administração pública e, com uma participação

muito pequena, a agropecuária. O desempenho econômico está diretamente relacionado com o

perfil evolutivo do mercado de trabalho, cujas principais variáveis mostram a coincidente

recuperação do emprego com redução do desemprego. (Gráficos 3 e 4)

A ocupação ainda antes de 2003 crescia, mas vinha perdendo fôlego, como pode se

notado pelas taxas positivas, mas decrescentes que apresentara. A guinada ocorre juntamente

à recuperação dos setores: a ocupação retoma um ritmo de crescimento forte o suficiente para

superar o crescimento da PEA, o que proporciona a queda do desemprego aberto e oculto.

10 Embora nossa análise comece no ano de 2000, tivemos de limitá-la ao disponibilizado pelo IBGE, cuja série de dados municipais de PIB tem início em 2002 e termina em 2007.

50

Gráfico 3 - PIB nas regiões metropolitanas cobertas pela PED e Distrito Federal – 2000 a 2008

Fonte: IBGE/SCN/PIB dos Municípios.

Gráfico 4 – Comportamento das principais taxas do mercado de trabalho – 2000-2008

Fonte: PED (elaboração própria).

Interessante notar a trajetória sincronizada da PEA e da ocupação a partir de 2006.

Notamos ao mesmo tempo um crescimento endógeno da oferta de trabalho, isto é,

propulsionado pelo próprio aquecimento do mercado de trabalho e uma capacidade expansiva

da ocupação para absorver a força de trabalho que está ingressando e ainda reduzir os

estoques, o desemprego.

A despeito das políticas macroeconômicas restritivas, podemos apontar alguns fatores

que operaram a favor do crescimento do emprego e da renda. Já havíamos mencionado o

cenário externo favorável, que conseguiu alavancar a recuperação, mas a isso queremos

adicionar a valorização do salário mínimo e a transferência de renda adotada nos últimos

anos. Outro ponto que também merece discussão é a questão da flexibilização das regras do

mercado de trabalho.

51

2.2.2. Emprego e distribuição de renda

Duarte (2006) encontrou na falta de clientes e na elevada concorrência as principais

dificuldades enfrentadas por empresas do setor informal nos anos de 1997 e 2003, com

destaque para este último. Isto revela o baixo dinamismo do mercado interno ainda em 2003 e

a importância que tiveram a geração de empregos e a valorização do salário como formas de

aumentar a massa salarial e o consumo interno.

Estudos recentes concluíram que o aumento do emprego tem exercido um importante

papel na distribuição de renda no Brasil e, consequentemente, no estímulo ao consumo das

famílias, o componente do PIB maior responsável pelo seu crescimento. Os investimentos,

aproveitando a conjuntura favorável, também têm crescido. O crescimento da massa salarial

estimula a demanda dos setores tradicionais, de produção de bens de consumo básicos, e o

setor de serviços nos subsetores mais ligados às atividades das famílias (turismo, restaurantes,

comunicação, serviços de lazer, etc). Além da indústria de bens duráveis, dadas as facilidades

de acesso ao crédito a consumo, com a contrapartida de aumento das importações de duráveis

mais acessíveis com o câmbio valorizado.

Na dinâmica recente da economia brasileira o salário tem desempenhado

excepcionalmente o papel de gerar demanda, mais do que como componente de custos. Neste

contexto caem por terra explicações para o desemprego que o associem a problemas de

rigidez no mercado de trabalho. Os investimentos têm crescido vislumbrando uma expansão

de mercado lucrativa, que compensam os aumentos de salários, e aumentam as contratações.

A pobreza vem diminuindo desde 1995, como aponta estudo de Pochmann (2010),

principalmente a partir de 2003 quando a redução se acelera. Sua análise comprova que a

renda do trabalho contribuiu em maior parte por essa redução, tanto a atrelada ao salário

mínimo, mas principalmente a não atrelada. Colaborando, embora em bem menor escala,

estão a previdência indexada ao mínimo e as transferências de renda pelos programas Bolsa

Família e Benefício de Prestação Continuada (BPC). Parte da maior contribuição da renda do

trabalho não indexada ao salário mínimo é explicada pelo seu grande peso na renda total das

famílias, mais de 70%. A indexada equivaleria a pouco menos de 4%.

As orientações macroeconômicas voltadas para a valorização do salário mínimo

possuem estreita relação com as teorias de demanda efetiva que discutimos no capítulo 1.

Segundo elas o desemprego seria causado por uma insuficiência de demanda agregada, tal

52

qual anunciado por Keynes. Indo mais longe ainda, a distribuição da renda é apontada como

capaz de afetar positivamente o nível de produto e emprego, como dissera Kalecki. A

importância que a distribuição de renda assumiu no desenvolvimento do mercado interno

brasileiro, permitindo a sustentação do crescimento após a redução das exportações, mais

suscetíveis ao cenário externo, a eleva à categoria de prioridade de política. E o papel que a

renda do trabalho desempenhou mostra que mais do que nunca deve-se preocupar com a

geração de empregos, como forma de fomentar um crescimento autônomo das remunerações e

melhora da qualidade dos postos de trabalho.

2.3. A população desempregada: uma resenha da literatura empírica

Esta seção tem como objetivo específico revelar tendências principais em aspectos

culturais, sociais e econômicos que têm efeitos diretos e indiretos sobre a população

metropolitana e sua capacidade de emprego. É de suma importância esclarecer em que sentido

as análises das características dos indivíduos deve ser feita para uma percepção ideal das

proposições deste trabalho, como apoio analítico para o capítulo seguinte.

2.3.1. Cor

Maior parte da população pobre no Brasil é composta de pretos e pardos. O intuito da

investigação desta característica entre a população desempregada está na busca de

componentes raciais na determinação do desemprego e da marginalização no mercado de

trabalho de uma forma geral.

Alguns estudiosos atribuíram o problema à proximidade histórica da escravidão,

enquanto outros argumentaram a favor de barreiras étnicas travestidas de barreiras não-étnicas

como limitantes da mobilidade social de pretos e pardos. A primeira linha de argumentação,

além de associar o imobilismo social de alguns negros à proximidade histórica com a

escravidão, defendeu a preponderância do preconceito de classe sobre o preconceito racial.

Quanto mais negro, maior a proximidade com a escravidão e o preconceito de classe sofrido

pelo indivíduo (Pierson, 1945; Wagley, 1952 apud Osório, 2004). A segunda linha de

53

pensamento, a nosso ver, mais coerente, aponta para a existência de um preconceito racial

velado no Brasil, ou seja, não escancarado na forma de leis e segregação direta da sociedade,

como observado em outros países, mas intrínseca à sua organização e meios de reprodução do

status quo (Costa Pinto, 1952; Hasenbalg, 1976, 1979, 1983, 1988 e 1999; Nogueira, 1998;

Cardoso e Ianni, 1960, Valle e Silva, 1979, Caillaux, 1994 apud Osório, 2004).

Segundo o status quo historicamente definido, os pretos e pardos têm posição

permanentemente preterida na sociedade brasileira, sobrando a eles os trabalhos “manuais,

exaustivos e deletérios”, muitas vezes precários. Sobre-representados nas classes inferiores, as

ocupações menos valorizadas e os ramos de atividade pior remunerados que lhes são

oferecidos pela sociedade acabam por reproduzir a condição subalterna de inserção de pretos

e pardos no mercado de trabalho.

O racismo, em seu componente histórico, provocaria a sobre-representação dos negros nos estratos inferiores, o que resultaria em desvantagem logo de partida, pois a cada nova geração a proporção de negros partindo de baixo é maior que a de brancos. Depois, o racismo provocaria diferenças nas oportunidades de mobilidade intra-ocupacional ao longo do ciclo vital. Tais diferenças seriam de várias ordens, envolvendo habilidades profissionais, acesso à educação, e mesmo aspirações, pois a internalização da inferioridade social preconizada pela ideologia racial restringe os desejos e os objetivos dos indivíduos do grupo discriminado (Osório, 2004, p.16-17).

Tal passagem do texto de Osório evidencia o alcance da questão racial enquanto

mecanismo marginalizador. Os pretos e pardos não atingem sequer nível educacional

competitivo no mercado de trabalho, mas ainda que fossem postos em pé de igualdade no

quesito qualificação na busca por trabalho, pesariam fatores raciais. São estes os processos de

realização educacional intrageracionais, que, associados aos processos de realização

intergeracionais cooperam para a manutenção do status coletivo inferior de pretos e pardos.

No segundo processo, a acumulação de desvantagens sucessivas na origem social do

indivíduo (região do país; escolaridade e ocupação do pai; área que habita, se rural ou urbana)

interferem diretamente na renda das gerações seguintes, ao transmitir integralmente as

desvantagens, principalmente na transmissão de status e realização educacional. Em suma,

A despeito de ser por intermédio da educação que a maior parte das desigualdades sociais reproduz-se e viabiliza-se, o racismo não se imiscui somente dentro do sistema educacional. A origem pobre em uma sociedade

54

na qual o melhor horizonte ascensional é a passagem ao status de um pouco menos pobre é outro fator de peso na reprodução das desigualdades raciais. Some-se ainda a segmentação do mercado de trabalho, pois os negros inserem-se principalmente em ocupações de trabalhos manuais, serviços pesados e braçais. Embora não impeçam a presença de indivíduos negros nas camadas privilegiadas da sociedade, os diversos fatores relacionados predispõem o grupo racial do qual fazem parte a permanecer concentrado nas posições sociais subalternas (Osório, 2004, p.21).

Para o objetivo da nossa pesquisa podemos acrescentar ainda outra observação ou

meta de averiguação. Estando tão introjetado na percepção de classe de pretos e pardos no

Brasil a sua projeção limitada na sociedade, suas “aspirações”, “desejos e objetivos”, como

fica a questão da mensuração do desemprego por trabalho precário na PED se são levados em

consideração o desejo de mudança de trabalho? A resposta se torna muito subjetiva na medida

em que nem todos que ocupam postos de trabalho precários e poderiam ser considerados

objetivamente desempregados não o declaram e muito menos buscam outro trabalho que lhe

confira maior bem-estar.

2.3.2. Sexo e Posição na família

Algumas mudanças na sociedade e na economia têm reflexo direto sobre o mercado de

trabalho. A reestruturação da década de 90 e o avanço das mudanças culturais relacionadas ao

papel da mulher na sociedade foram determinantes no desenho da estrutura do desemprego.

A segunda metade da década de 90 foi marcada pela acentuação das desigualdades de

gênero, revelando um quadro no qual o desemprego feminino se tornava crescente. Parte

desse crescimento está associado à maior disposição e procura das mulheres por trabalho e

suas dupla relação com a deterioração do mercado de trabalho ocorrida ao longo da última

década do século XX. Como explicado anteriormente, a abertura comercial ao desencadear

uma reestruturação das empresas para sobreviver no novo contexto competitivo e ao facilitar a

importação de máquinas e equipamentos modernos, operou no sentido de enxugar a força de

trabalho utilizada no processo produtivo.

O aumento do desemprego na indústria, setor majoritariamente masculino, transferiu

para o setor de serviços montante considerável de trabalhadores. Para as mulheres, que já

vinham aumentando a sua participação no mundo do trabalho, isso teria representado uma

55

concorrência com os homens em setores tradicionalmente ocupados por elas, como o de

serviços, ou seja, uma mudança no perfil das atividades por gênero. “o aumento da

concorrência por postos de trabalho entre homens e mulheres no setor de serviços estaria

incrementando a taxa de desemprego feminino num setor tradicionalmente generoso com o

chamado “segundo sexo” (Lavinas et al, 2000, p.17). Isto porque a ocupação de homens e

mulheres no setor foi igual, indiferente à maior entrada de mulheres no mercado, redundando

em maiores taxas de desemprego para elas.

Em períodos recessivos era verificada uma retração da oferta de trabalho masculina,

enquanto a feminina tende a ser menos sensível à conjuntura, sendo os efeitos sobre o

desemprego num mesmo período distintos por isso. A redução da “taxa de atividade” (taxa de

participação) masculina geralmente era acompanhada por uma redução do desemprego,

enquanto para as mulheres isso não era verificado. Mesmo com a taxa de participação

diminuindo, o desemprego entre elas aumentava.

Há sinais invertidos em termos de tendência para ambos os sexos, o que não acontecia antes. Enquanto para eles há uma inflexão clara na tendência daquela taxa [de atividade], que sofre ligeira queda a partir de 1990, para as mulheres de 1992 em diante, o comportamento é oposto, já que sua taxa de atividade se eleva. Evidentemente, o ritmo dessas mudanças é lento, apesar de a tendência ser clara. A taxa de atividade masculina cai de 89% em 1983 para 86,5% em 1998, enquanto a feminina passa de 45% para 52% no mesmo período (ponta a ponta) (Lavinas et al, 2000, p.8).

Em 2008, segundo os dados da PED, 54% das mulheres estão economicamente ativas

nas metrópoles. Ocorre uma desaceleração do crescimento da taxa em relação ao período

anterior, mas ainda pode ser visto como um fator relevante para a rigidez das taxas de

desemprego feminino em contexto de relativamente maior crescimento econômico,

principalmente a partir de 2004. Como resultado do ingresso maciço e “competição” com o

trabalho masculino, Lavinas et al (2000) afirma ainda que as mulheres acabam ficando mais

expostas a trabalhos sazonais e precários do que os homens.

Além desse primeiro fator cultural, de revisão do papel da mulher na sociedade e na

família, um segundo efeito das mudanças da década de 90 colaborou para a maior

participação das mulheres na PEA, a saber, o próprio desemprego masculino e reestruturação

dos papéis dos indivíduos no próprio núcleo familiar como forma de equilibrar a ausência da

renda do chefe da família.

56

A expansão do número de famílias monoparentais chefiadas por mulheres representa

um agravante da realidade de maior desemprego entre as mulheres. Além disso, tem se

expandido o seu papel enquanto complementar da renda em núcleos familiares formados por

casal e filhos. O posto de chefia das famílias tem cada vez mais sido assumido pelas mulheres

nos dois contextos diferentes.

a elevação do desemprego e as perdas salariais de homens adultos vêm contribuindo para acelerar a desconstrução do papel do homem provedor, processo que, não raro, resulta em conflitos intrafamiliares, inclusive na violência contra mulher e filhos, na dissolução do vínculo conjugal ou, simplesmente, na fuga das responsabilidades da paternidade (Borges, 2006, p.207).

Em um deles isso decorre da necessidade de repor a renda do marido desempregado.

Obviamente, tal condição está mais associada a situações em que o ex-chefe de família não

tenha tido direito ao seguro-desemprego, ou ele tenha sido insuficiente, e em famílias de

menor ou nenhuma riqueza acumulada. Além das mulheres, o ingresso dos filhos no mercado

de trabalho também é antecipado. Nos segmentos em melhores condições de vida houve um

fenômeno de redução das taxas de atividade de crianças e adolescentes, mas nos segmentos e

regiões mais pobres o quadro chegou a ser de piora, evidenciando a resistência das famílias

mais carentes a abrir mão da ajuda do trabalho dos filhos, dada sua maior necessidade.

Como já apontado por Montali (2000, 2003), nos seus estudos para a RMSP, também nas regiões aqui consideradas [Salvador e Porto Alegre] as estratégias do passado, baseadas na inclusão dos filhos jovens na força de trabalho familiar, tornam-se cada vez mais inaplicáveis (ou melhor, pouco eficazes), aumentando a importância do trabalho da mulher cônjuge (Borges, 2006, p.211).

Fernandes e Felício (2002) buscaram respaldo empírico para a existência do que

chamam “efeito trabalhador adicional11”, que é a saída da mulher da inatividade porque o

marido transitou da condição de empregado para desempregado, isto é, a mudança de curto

prazo na oferta de trabalho da mulher quando o marido se torna desempregado. Os testes

11 Na definição exata dos autores, é a diferença entre a proporção de mulheres que transitaram para atividade quando seus maridos ficaram desempregados e a proporção de mulheres inativas, com maridos que transitaram para o desemprego, que teria transitado para a força de trabalho caso os seus maridos tivessem mantido o status de empregado.

57

apontaram para as seguintes relações para a transição da esposa da inatividade para a

atividade:

- no que tange à idade das esposas a relação foi de U invertido, ou seja, a probabilidade de

ingresso é maior para idades intermediárias e menor nas extremidades, mas não foi

encontrada uma relação significativa com a idade dos maridos;

- quanto maior o grau de instrução delas, maior a probabilidade de passarem a procurar

emprego, e quanto maior a escolaridade dos maridos, menor a probabilidade;

- sinal negativo para a relação com o número de filhos menores, mas positivo para o tamanho

da família como um todo;

- e, finalmente, um coeficiente positivo e significativo para a relação com o desemprego do

marido, corroborando a existência do “efeito trabalhador adicional” no Brasil e a dificuldade

das famílias brasileiras em “adotar estratégias alternativas para ‘suavizar’ renda e consumo

em períodos de desemprego do chefe de família”.

Interessante acrescentar que não foram encontradas evidências de que o seguro-

desemprego ou o FGTS amenizem o efeito.

Além das mulheres casadas que ingressam no mercado de trabalho para substituir o

marido desempregado, estão as chefes de família sem cônjuges representando uma parte

considerável do desemprego feminino, que, segundo Borges (2006), estão expostas a maiores

riscos.

A explicação para essa maior exposição aos riscos do mercado de trabalho dessas famílias monoparentais parece estar na maior dependência que elas têm da força de trabalho juvenil, que, como visto, é o segmento mais exposto aos riscos acentuados pela crise do mercado de trabalho (Borges, 2006, p.217)

À perda de importância do modelo de chefe provedor pode ser atribuída pelo menos

parte da responsabilidade pelas altas taxas de desemprego entre jovens e mulheres, além do

baixo grau de instrução, ao tornar necessária o aumento da participação de cônjuges e filhos

no mercado de trabalho.

58

2.3.3. Faixa etária e grau de instrução

Apenas uma parte dos jovens que entram no mercado de trabalho conseguem se

ocupar adequadamente. Além do fraco dinamismo econômico anterior a 2003, os baixos

níveis educacionais podem ser importantes complicadores da situação da população jovem

desempregada nas metrópoles.

De acordo com Fernandes e Menezes-Filho (2002), a abertura econômica iniciada na

década de 90 no Brasil definiu um novo perfil de demanda por mão-de-obra e os motivos para

isso seriam dois: a nova divisão internacional do trabalho e o novo padrão tecnológico. Pela

nova divisão do trabalho no comércio internacional, países como o Brasil, classificados como

“em desenvolvimento”, passaram a responder pela produção de manufaturados em detrimento

da produção unicamente de commodities e isso foi acompanhado por especialização entre os

países também no que diz respeito à mão-de-obra, aumentando a demanda relativa por mais

qualificados. Seguindo na mesma trilha, as mudanças de padrão tecnológico, simbolizada

pelos avanços ocorridos na área de telecomunicações e microeletrônica, teriam como viés o

aumento da demanda por mão-de-obra qualificada.

O caso do Brasil é um pouco mais complexo, por dois motivos: em primeiro lugar

porque a separação entre os efeitos da abertura comercial e os das inovações técnicas não é

tão clara como nos países desenvolvidos. Isto porque maior parte do progresso técnico

implementado no país é importado, uma possibilidade facilitada pela abertura econômica, ao

mesmo tempo em que por meio da competição a implantação de métodos organizacionais e de

produção mais eficientes é incentivada. Em segundo, porque num país de nível educacional

médio muito baixo e dispersão elevada a segregação entre qualificados e não-qualificados

pode não ser ideal. Ela funciona bem em países onde o número de pessoas que freqüentaram

pelo menos um ano de universidade é grande.

Com estes argumentos, Fernandes e Menezes-Filho (2002) propõem a divisão entre

trabalhadores não-qualificados, qualificados e intermediários. Essa divisão permite notar que,

à diferença dos países desenvolvidos, os quais se especializaram em uso de mão-de-obra

qualificada, o Brasil se especializou em trabalhadores de qualificação intermediária.

Uma vez ajustado para os movimentos na oferta de trabalho, conclui-se pela existência de uma tendência de aumento na demanda relativa de

59

trabalhadores qualificados em relação aos intermediários e na demanda relativa de trabalhadores intermediários em relação aos não-qualificados. Essa tendência de crescimento existe desde o início dos anos 80, portanto, anterior à abertura comercial (Fernandes e Menezes-Filho, 2002, p. 220)

Castro (1993) confirma que tenha havido um aumento da ocupação de trabalhadores

mais qualificados, de uma forma geral, na década de 80. Mas nos anos 90 especificamente a

relação entre intermediários e não-qualificados é ampliada, favorecendo ainda mais os

trabalhadores intermediários, mas ocupando-os em tarefas simples antes realizadas pelos não-

qualificados.

Alguns estudos, no entanto, mostram que esse aumento da ocupação de trabalhadores

de qualificação intermediária não ocorre em sintonia com a redução do desemprego para o

mesmo grupo. Ou seja, talvez a maior demanda relativa de trabalhadores semi-qualificados se

deva a maior oferta destes e não a novas necessidades em relação ao perfil da mão-de-obra de

acordo com a tarefa a ser desempenhada. A mudança na composição educacional da

população ativa, no sentido de aumento significativo de trabalhadores com pelo menos o

Ensino Médio, contribuiu para a resistência de crescimento das taxas de desemprego nesses

grupos (Reis, 2006). E como afirmaram Fernandes e Menezes-Filho (2002), muitas vezes os

trabalhadores eram ocupados nas mesmas tarefas simples em que trabalhavam os não-

qualificados. Algum ganho de produtividade era verificado entre eles, devido ao maior tempo

de estudo, o que seria suficiente para estimular a substituição.

O desemprego atinge mais as mulheres e jovens, independentemente de seus maiores

níveis educacionais, o que comprova a seguinte colocação de Segnini (2000, p.79-80):

A qualificação assim compreendida expressa relações de poder no interior dos processos produtivos e na sociedade; implica também o reconhecimento que escolaridade e formação profissional são condições necessárias, mas insuficientes, para o desenvolvimento social. Isso porque se sabe que somente políticas e ações concretas, que possibilitem real desenvolvimento social e econômico (distribuição de renda, reforma agrária, reforma do sistema de saúde e educacional), podem estar superando desigualdades e construindo condições sociais que redundam em cidadania. E só encontram sentido social no interior de um projeto de desenvolvimento econômico que possibilite direitos sociais, entre eles, o trabalho. Nesse contexto, educação torna-se fundamental como um fim em si mesma, como condição sine qua non para a cidadania crítica (...); vinculá-la ao trabalho sem mediações tem sido relevante para culpar as vítimas (desempregados escolarizados) ou legitimar ações políticas que possibilitam a “ilusão de desenvolvimento” (Arrighi, 1997) sem alterar a ordem social desigual.

60

Não acreditando na vinculação direta entre o desemprego e o grau de instrução, na

análise dos dados do capítulo 3 optamos por buscar novas relações entre o desemprego, grau

de instrução e algumas características como cor, gênero, idade etc, sem uma regra específica.

A intenção foi de deixar fluir os questionamentos dentro de suposições específicas acerca da

realidade de cada tipo de desempregado (se por desalento, aberto ou por trabalho precário), e

sem esperar esgotamento do assunto dada a complexidade de seus determinantes e relações.

A baixa escolaridade muitas vezes está relacionada com a inserção precoce no

mercado de trabalho. Como comentamos anteriormente, o desemprego dos chefes de família

da década de 90 acelerou a oferta de trabalho de jovens, ou mesmo adolescentes, e cônjuges.

Numa análise por idade, podemos adiantar um problema maior entre adolescentes e jovens,

sobre os quais incidem maior taxa de desemprego, evidenciando um pouco dessa necessidade

de trabalhar, na maioria das vezes em substituição aos estudos. É necessário ainda questionar

qual a natureza da qualificação que deve ser dada a esses jovens. Se aqueles que têm acesso

somente às escolas públicas estão tendo a formação adequada a inseri-los competitivamente

no mercado de trabalho e formá-los enquanto cidadãos12.

Pesquisando o problema do desemprego entre jovens, Flori (2004) encontrou na

literatura referências às seguintes causas:

Um argumento é que a causa do alto desemprego juvenil está na dificuldade do jovem em conseguir o primeiro emprego. Outro argumento a associa a um sistema de educação inadequado frente às exigências do mercado de trabalho e à incapacidade dos jovens permanecerem na escola. Outros autores, como Silva (2001), destacam a opção, por parte dos empresários, por trabalhadores adultos, que somam experiência e hábitos de trabalho mais sedimentados, o que seria mais um obstáculo para o jovem, principalmente para a obtenção do primeiro emprego (Flori, 2004, p.2).

No entanto, chegou à conclusão de que os jovens não têm tido dificuldade em

conseguir o primeiro emprego, mas de se manter nele por muito tempo. A rotatividade entre

jovens acaba sendo maior e a duração do desemprego menor do que o dos adultos, o

suficiente para indicar uma taxa mais elevada em relação aos trabalhadores mais velhos. Pode

não ser um problema de conseguir o primeiro emprego, mas continuam questionáveis a

12 Salm e Fogaça (1998) recorrem a autores consagrados como Ricardo, Marx e Marshall para elaborar uma reflexão interessante sobre os requerimentos de qualificação de trabalhadores para que estejam preparados para um capitalismo em constante mudança.

61

capacidade do sistema educacional de formar adequadamente os jovens e a deles de

permanecer na escola.

Cacciamali (2004) aponta além das causas mencionada por Flori (2004) a insuficiência

de demanda e a baixa articulação entre políticas de trabalho, educação e capacitação.

Schwartzan e Cossío (2007) destacam a importância do contexto sócio-econômico no qual o

jovem esteve inserido ao longo de sua vida como determinante de evasão escolar e altas taxas

de repetência. As políticas no campo da assistência social, saúde e educação que tentam

incentivar a “demanda por educação” não têm funcionado bem no sentido de reduzir o

desemprego dos jovens provenientes de famílias pobres.

Se isto é verdade, então o trabalho fundamental para romper o círculo vicioso da má educação e trabalho precário e mal remunerado precisa ser feito junto ao sistema escolar, e não no mercado de trabalho, e nem por subsídios à demanda por educação, embora políticas específicas nestas áreas possam também ter seu lugar (Schwartzman & Cossío, 2007, p.3).

2.3.4. Renda familiar e tempo de duração do desemprego

Nosso primeiro argumento para introduzir a variável renda familiar na decomposição

do desemprego está na sua utilidade enquanto medida do grau de vulnerabilidade a que está

submetido o indivíduo quando desempregado. Já o segundo diz respeito à relação causal entre

a renda familiar e o desemprego. Como de conhecimento geral, baixas rendas são um fator

limitante da adequada formação social e educacional dos indivíduos, e, como conseqüência,

da sua inserção competitiva no mercado de trabalho. Em outras palavras, uma renda familiar

baixa é um agravante e um multiplicador das condições precárias de inserção no mercado de

trabalho, principalmente pelas desvantagens intergeracionais que gera.

A demonstração seguinte da tendência de renda familiar13 da população metropolitana

como um todo fomentará o estudo da composição do desemprego por essa variável na família

do indivíduo em situação de desemprego a ser construída no capítulo três.

13 Todas as análises de renda feitas ao longo do trabalho utilizam valores reais de 2008, corrigidos pelo IPCA.

62

Tabela 2 – Composição da população metropolitana por faixa de renda familiar (%) e médias 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

<= 250,00 3,7 4,2 3,2 3,6 3,8 3,6 3,2 2,8 2,6

250 - 500 10,5 11,6 13,5 13,7 13,9 12,7 12,5 11,2 10,6

500 - 1000 22,1 22,6 25,0 25,4 24,4 23,7 23,4 22,9 22,6

1000 - 2000 28,2 28,5 28,0 28,8 28,2 29,0 29,7 30,6 31,5

2000 - 3000 13,1 12,5 12,3 11,7 11,8 13,0 12,9 13,7 13,4

3000 - 5000 11,2 11,0 9,4 9,0 9,8 9,7 10,1 10,3 10,8

>5000 11,2 9,7 8,6 7,8 8,0 8,4 8,3 8,5 8,6

Média (R$) 2.411,53 2.232,46 2.070,98 1.968,16 2.022,63 2.051,12 2.091,39 2.123,67 2.207,41

Fonte: PED (elaboração própria)

Pela Tabela 2 pode ser observado que, entre os anos de 2000 e 2008, a população da

faixa de menor renda, inferior a R$ 250,00 por família, diminuiu enquanto entre as faixas de

renda familiar entre R$ 500,00 e R$ 2.000,00 reais aumentou o percentual de pessoas. A

dispersão da renda familiar entre os desempregados também se reduziu ao longo do período.

Ambas as tendências estão relacionadas ao seguinte comportamento da renda familiar real

média:

Gráfico 5 – Evolução da renda familiar real média nas metrópoles de 2000 a 2008

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da PED.

De acordo com o Gráfico 5 a renda familiar real média brasileira vinha caindo até

2003, mas a partir de 2004 retomou um ritmo de crescimento, mas ainda sem recuperar em

2008 os níveis de 2000. Segundo Borges (2006), a trajetória de queda da renda familiar é

acompanhada pela recomposição da força de trabalho familiar desencadeada pelas

transformações da década anterior e remete às diferentes valorizações do trabalho de homens

e mulheres no mercado de trabalho. A participação da renda da mulher no núcleo familiar

63

aumentou, mas a persistência de queda da renda da família evidencia a difícil substituição

entre seus componentes e a fragilidade das estratégias de sustentação da renda da família

numa conjuntura ainda adversa ao emprego.

Outro fator de vulnerabilidade do indivíduo desempregado e da família como um todo

é o tempo que leva para conseguir um novo trabalho. No Brasil, o seguro-desemprego pode

chegar a até cinco meses e poucos são os que têm acesso ao auxílio já que é restrito a

trabalhadores que tenham saído de algum trabalho formal. Mesmo os cobertos pelo benefício,

a partir do quinto mês já passam a sofrer maior dificuldade em encontrar um novo trabalho

dada a sua restrição de renda e uma imensa maioria sequer tem esse período de alguma

garantia de renda.

A partir da década de 90, com a aceleração das taxas de desemprego, também o tempo

de duração do desemprego passou a ser maior do que nas décadas anteriores. Podemos

apontar alguns estudos que buscaram explicações para o maior tempo de permanência na

condição de desempregado, dentre eles o de Penido e Machado (2002) e Menezes-Filho e

Picchetti (2002). Ambos associaram a duração do desemprego a características do indivíduo,

o que não foi feito no nosso terceiro capítulo por uma questão de limitação do tema, mas é

bastante interessante notar o quanto esses dois campos estão relacionados.

Bivar havia encontrado uma duração média de seis semanas para o desemprego no

Brasil, em estudo de 1991, já Menezes-Filho e Picchetti, em 2000, encontraram para São

Paulo, centro mais dinâmico do país, uma duração média de seis meses; enquanto Penido e

Machado encontraram período de dez meses de procura para 1999. Todos utilizaram como

base a PME e analisaram somente o desemprego aberto. Ainda que com ressalvas em relação

à comparação dos números de bases de dados distintas, no último capítulo veremos que esses

dados pioraram bastante na primeira década do século XXI.

Na bibliografia sobre o assunto geralmente são apontados como características

relacionadas à maior dificuldade de transitar da situação de desempregado para empregado:

- ser cônjuge;

- ter maior nível educacional;

- ser estudante;

- ter mais idade;

64

- ter trabalhado anteriormente na indústria, comércio ou serviços, em relação à construção

civil;

- maior tempo de trabalho no último emprego;

- ter sido demitido do trabalho anterior;

- ter trabalhado anteriormente com carteira de trabalho;

- ter recebido FGTS quando saiu do último trabalho;

- maior renda;

- maior taxa de desemprego agregado.

Em contrapartida, têm mais facilidade para se reempregar os chefes de família,

homens, que já tenham experiência de trabalho. Ser mais educado e ter maior renda podem

estar relacionados a maiores salários de reserva exigidos pelos trabalhadores, isto é, a busca

por trabalhos melhor remunerados acaba tornando mais longo o período de espera e procura.

Já a maior taxa de desemprego agregado acaba sendo um indicador de conjuntura, pois

quando a dificuldade de encontrar emprego é generalizada, o período de desemprego tende a

se prolongar.

2.4. Conclusão

Este capítulo teve como objetivo contribuir para a reflexão sobre o desemprego,

lançando as bases da literatura empírica sobre o tema e suas relações multifacetadas com os

indivíduos enquanto portadores de características e do meio de interação em seus aspectos

sociais, demográficos e econômicos.

Vimos que o processo de formação das metrópoles brasileiras foi acelerado e

desprovido de planejamento, o que culminou na realidade atual de deficiência de infra-

estrutura básica e enorme população marginalizada. A informalidade no setor de serviços, nas

suas piores formas, prepondera como meio de sobrevivência para esses indivíduos, o que

torna premente formas de observação e análise dessa população que limitem exatamente do

que se trata o desemprego nesse contexto. A procura constante por trabalho nem sempre é

viável, nem a mera espera, sendo necessário recorrer a formas precárias de trabalho,

principalmente quando se tem a responsabilidade maior pelo seu núcleo familiar.

65

Ao longo da década de noventa se aceleraram mudanças na estrutura familiar: as

mulheres passaram a responder por maior parcela da renda familiar, seja na posição de

cônjuges ou de chefes de família, o que se tornou cada vez mais comum. Em contrapartida,

passaram a sofrer maiores taxas de desemprego, assim como os jovens. Em relação à cor, foi

mantida a tendência de marginalização de pretos e pardos em relação aos brancos e o tempo

de procura por novo trabalho vinha aumentando. O aspecto positivo está ligado à conjuntura

econômica pós-2000, principalmente pós-2003. A renda familiar voltou a crescer

paralelamente à ocupação e os tipos de políticas econômicas adotadas no período, de viés

distributivo, podem contribuir para a manutenção do ritmo de crescimento e desenvolvimento.

No capítulo seguinte iremos analisar como essa nova conjuntura afetou a composição

do desemprego nas regiões metropolitanas brasileiras e, segundo diferentes conceitos, como

se distribui e se caracteriza a população desempregada.

CAPÍTULO 3 – COMPOSIÇÃO DA POPULAÇÃO DESEMPREGADA SEGUNDO

CONCEITOS ALTERNATIVOS DE DESEMPREGO: ANÁLISE DOS DADOS DA

PED

O presente capítulo será dedicado à análise em certo nível de detalhe da estrutura do

desemprego mais especificamente no que diz respeito às características e perfil da população

atingida. Só para fazer a devida conexão, os capítulos anteriores se encarregaram de

apresentar alguns aspectos macroeconômicos, sociais, demográficos e culturais, que a partir

daqui assumirão forma empírica. Ou seja, por meio dos dados extraídos da PED referentes aos

anos 2000 a 2008, poderemos observar na realidade o peso desses aspectos. Uma avaliação

precisa dos impactos exigiria uma profundidade muito maior do que a que caberia neste

trabalho, estando a relevância da exposição aqui apresentada em destacar os pontos onde a

relação entre as variáveis (desemprego e a característica do indivíduo) chama atenção.

Por outro lado, não só uma extensão do escopo do trabalho por vias econométricas,

por exemplo, a esta altura do trabalho nos parece um tanto desnecessária, seja vista a imensa

disponibilidade de estudos que se encarregaram de fazê-lo, mas também por crermos que a

complexidade do tema reside em fatores que coeficientes matemáticos não ajudariam a

resolver. O que queremos dizer é que, de certa forma, o sinal dos coeficientes já é conhecido,

restando agora formular as políticas que dêem conta da gama de problemas sociais associados

ao desemprego e subemprego, tanto enquanto causa como conseqüência.

Paes e Barros (1997) identifica as seguintes aplicações para o estudo da composição

do desemprego:

- permite identificar fatores determinantes do desemprego, como nível educacional,

qualificação profissional e experiência de trabalho, ademais, viabiliza o teste de teorias sobre

a origem do desemprego;

- permite a avaliação do “grau de turbulência” do mercado de trabalho, ou seja, a freqüência e

intensidade de choques setoriais os quais a economia pode sofrer, além do “grau de

descasamento entre habilidades ofertadas e as demandadas no mercado de trabalho”, de forma

a fomentar a formulação de políticas específicas de treinamento e retreinamento, inclusive

para diferentes níveis regionais;

67

- melhora o gerenciamento e análise do programa de seguro-desemprego ao fornecer

informações de tendências do perfil da mão-de-obra que deverá se beneficiar do programa,

inclusive seus impactos distributivos e variações de acordo com o setor produtivo.

O estudo que se segue se prestará a contribuir neste sentido para a economia do

trabalho. Os dados que analisaremos nos permitirão mensurar a dimensão do desemprego

enquanto fenômeno social por duas perspectivas centrais. Primeiro, a dos atributos pessoais e,

segundo, a dos tipos de desemprego. A rotatividade, medida no tempo de desemprego, o

tratamento do mercado de trabalho a distintos grupos sociais (homens e mulheres; pretos e

brancos; pobres e ricos), papel no núcleo familiar como medida do grau de dependência da

renda e etc, seriam abordados na nossa primeira perspectiva. Já na segunda, poderíamos

abordar o alcance do desemprego em seus diversos conceitos apresentados na PED, o

desemprego oculto (por desalento e trabalho precário) e o mais conhecido desemprego aberto.

Devem ser levados em consideração ainda aspectos do desemprego no âmbito

metropolitano, que perpassa por causas e admite conseqüências específicas do contexto

urbano e, ainda, por discrepâncias entre as próprias regiões. São Paulo, Recife, Porto Alegre,

Belo Horizonte, Distrito Federal e Salvador, de acordo com os dados da PED, responderam

cada uma a seu modo ao padrão de crescimento recente da economia brasileira.

3.1. Desemprego por região metropolitana

Os menores níveis de desemprego oculto com trabalho precário, como nos mostra o

Gráfico 6.a estiveram entre Distrito Federal, depois Porto Alegre, para terminar 2008 com a

RM de Belo Horizonte. Já a maior taxa foi da RM de Salvador em todo o período. Além

disso, como havíamos suposto, seja qual for o fator, ou conjunto de fatores, definitivo sobre a

inflexão da taxa de desemprego em 2003, ele não teve o mesmo efeito individualmente sobre

as regiões. Foi Belo Horizonte quem mais influenciou a queda sistemática a partir de 2004

(caiu 45%), contribuindo muito para a escalada de 2000 a 2003 também (25%), mas Distrito

Federal conseguiu superá-la nesse período (cresceu 44%). A despeito de variações

individuais, todas tiveram queda em relação ao início do período.

Já no desemprego oculto por desalento (Gráfico 6.b), Recife e Porto Alegre estão nos

extremos, com a taxa mais alta e mais baixa, respectivamente, tendo a primeira, inclusive,

68

voltado a aumentar em 2008, enquanto as demais continuaram caindo. A evolução foi menos

irregular do que no desemprego com trabalho precário, mas dessa vez foi Belo Horizonte

quem mais influenciou tanto o aumento do desemprego metropolitano na primeira fase do

período, como a queda no segundo (48% e -53%), seguida por Porto Alegre (-49%) e São

Paulo (-42%). O Gráfico 1.b ajuda a comparar a evolução das RMs.

No Gráfico 6.c. temos a evolução da taxa de desemprego aberto nas regiões. Por ele

vemos que Salvador sofre mais altas taxas, enquanto Porto Alegre mais uma vez apresenta o

melhor indicador, pelo menos até 2005, quando perde a posição para Belo Horizonte. A

melhora mais robusta nos índices de BH mais uma vez foi definitiva para a taxa de

desemprego aberto total, principalmente sendo uma região de grande peso dentre as seis (caíra

34%). Já o desemprego em Recife foi o que mais subira, 28% na primeira fase.

As desigualdades sócio-econômicas entre as regiões do Brasil ficam evidentes na

apresentação desses dados, pois vemos pelo menos uma das RMs do Nordeste em

desvantagem em relação às demais nos três tipos de desemprego. Além de taxas altas

persistentes, são as menos beneficiadas quando o quadro geral de desemprego melhora e mais

prejudicadas quando piora. Belo Horizonte, por outro lado, teve posição de destaque na

redução dos três tipos de desemprego, mesmo vindo de um quadro negativo, de aceleração do

desemprego na primeira fase, reverteu a situação com mais eficiência, em alguns momentos

superando os melhores índices da representante do Sul do país, Porto Alegre. As

especificidades do perfil econômico e social de cada região metropolitana estão por trás dos

diferentes comportamentos das taxas de desemprego.

69

Gráfico 6.a. – Evolução da taxa de desemprego oculto com trabalho precário por Região

Metropolitana – 2000-2008

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

7%

8%

9%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

RM Recife RM SalvadorRM Belo Horizonte RM São PauloRM Porto Alegre Distrito Federal

Fonte: PED (elaboração própria)

Gráfico 6.b. – Evolução da taxa de desemprego oculto por desalento por Região Metropolitana

– 2000-2008

0%

1%

2%

3%

4%

5%

6%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Gráfico 6.c. – Evolução da taxa de desemprego aberto por Região Metropolitana – 2000-2008

5%

7%

9%

11%

13%

15%

17%

19%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

70

A despeito das orientações individuais das taxas, fugiria ao escopo deste trabalho

dissertar sobre as causas das disparidades. Por isso, tomemos como dadas as relações

estabelecidas entre elas e o retrato de que as limitações econômicas de alguns certamente

levarão a evoluções distintas e tentemos analisar a redução dos tipos de desemprego como

uma variável agregada, sobre a qual agem a evolução da PEA e o tipo de crescimento

econômico do período.

3.2. Evolução das taxas de desemprego das regiões metropolitanas agregadas

A População Economicamente Ativa (PEA) das seis regiões metropolitanas

cobertas pela PED totalizava quase 20 milhões de trabalhadores em 2008, contra pouco

menos de 17 milhões em 2000. Isto representa um crescimento de praticamente 15%

acumulado no período, com média anual de 2%. Para evitar o aumento da taxa de

desemprego, o número de postos de trabalho criados neste período deveria crescer mais do

que a PEA.

Por outro lado, a População em Idade Ativa tem crescido no mesmo ritmo,

permitindo que a taxa de participação, razão entre PEA e PIA, varie muito pouco (entre

61% em 2000 e 62% em 2008. A PIA é a população com pelo menos dez anos de idade,

cujas características no Brasil acabam associando seu crescimento a aumentos também da

PEA. A demografia brasileira ainda se caracteriza por uma base larga na pirâmide

demográfica e uma propensão ao início da vida laboral muito cedo, ou seja, uma população

jovem ainda muito grande em relação aos adultos e idosos, além da presença de trabalho

antes do 18 anos, alimentando cada vez mais o mercado de trabalho com novos

trabalhadores, ingressantes na PEA.

Além das informações supracitadas, pode ser observado nas Tabelas 3 e 4 uma

outra característica do mercado de trabalho metropolitano brasileiro: a inatividade entre as

mulheres é estruturalmente maior do que entre os homens, ou seja, apesar de haver mais

mulheres em idade ativa nas regiões metropolitanas, nem todas ingressam na PEA, o que

estaria associado a fatores culturais e sociais. A tendência, contudo, é de redução da

inatividade feminina, pois o crescimento demográfico do grupo, apontado na composição

da PIA, complementado pela conjuntura econômica, tem levado a maior ingresso delas no

71

mercado de trabalho no período recente, em relação ao ingresso dos homens. Pela Tabela 5

vemos que a 51% das mulheres em idade ativa estavam economicamente ativas em 2000,

crescendo para 54% esta participação em 2008, enquanto dentre os homens 70% se

disponibilizam para o trabalho. Mais adiante veremos a associação deste fato com o

desemprego, em seus diversos tipos.

Tabela 3 – População Economicamente Ativa – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

9.343.938 9.447.028 9.638.254 9.773.308 9.909.517 9.969.420 10.065.004 10.256.748 10.485.009

55,2% 54,6% 54,4% 53,9% 53,7% 53,5% 53,2% 53,3% 52,9%

7.598.195 7.870.664 8.094.318 8.361.130 8.557.788 8.677.230 8.838.152 8.989.405 9.343.570

44,8% 45,4% 45,6% 46,1% 46,3% 46,5% 46,8% 46,7% 47,1%

16.942.133 17.317.692 17.732.572 18.134.438 18.467.305 18.646.650 18.903.156 19.246.153 19.828.579

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboração própria)

Homens

Mulheres

Total

Tabela 4 – População em Idade Ativa – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Homens 13.189.556 13.401.308 13.635.760 13.837.649 14.100.987 14.309.947 14.572.294 14.819.211 15.034.801

47,1% 47,0% 47,0% 46,9% 46,9% 46,8% 46,8% 46,8% 46,6%

Mulheres 14.803.444 15.083.692 15.355.240 15.658.351 15.938.013 16.275.053 16.570.706 16.854.789 17.197.199

52,9% 53,0% 53,0% 53,1% 53,1% 53,2% 53,2% 53,2% 53,4%

27.993.000 28.485.000 28.991.000 29.496.000 30.039.000 30.585.000 31.143.000 31.674.000 32.232.000

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Total

Tabela 5 – Taxa de participação – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Masculina 71% 70% 71% 71% 70% 70% 69% 69% 70%

Feminina 51% 52% 53% 53% 54% 53% 53% 53% 54%

Total 61% 61% 61% 61% 61% 61% 61% 61% 62%

Fonte: PED (elaboração própria)

Como explicado no início do capítulo, nossa análise será detalhada por três tipos de

desemprego: o aberto; o oculto com trabalho precário e o oculto por desalento. Esta análise

tratará de traçar o perfil da população em cada situação de desemprego, seja por suas

características pessoais – sexo, cor, idade e grau de instrução- seja pelas características

capazes de delinear o impacto da condição de desemprego que a atinge – o tempo de

desemprego, a renda alternativa a que tem acesso, além do setor de atividade do último

emprego.

72

Com estas informações podemos definir três grupos distintos de perfil de

desemprego. Um primeiro que relacionaria o desemprego a características pessoais do

trabalhador e que poderiam ser determinantes da sua dificuldade de inserção no mercado

de trabalho, tais como sua idade, cor, sexo e instrução. No segundo grupo estariam as

variáveis que mediriam a profundidade da situação de desemprego e, conseqüentemente, a

capacidade da ausência de trabalho de determinar a condição de vida do indivíduo, tais

como o tempo de desemprego e o seu meio de sobrevivência, bem como a renda familiar

poderá ser usada como indicador da dependência de se exercer alguma atividade

remunerada.

Já o terceiro grupo fornecerá alguma idéia sobre a relação do desemprego a

mudanças no desempenho econômico, embora não se possa afirmar muito sobre a

migração inter-setorial de mão-de-obra, o que fugiria do objetivo central do capítulo de

elaborar um quadro geral do desemprego no Brasil. A variável de apoio será o Setor no

qual o trabalhador se empregara anteriormente à situação de desemprego.

De fato os determinantes do desemprego não podem ser claramente segregados nos

três grupos que definimos acima, mas o método facilitará nossa análise e não impedirá que

se evidenciem as relações multifacetadas do desemprego. Isto ficará mais claro ao longo do

desenvolvimento do estudo.

Daqui em diante o nosso universo de estudos será a parcela desempregada nas

regiões metropolitanas de Recife, Salvador, São Paulo, Belo Horizonte, Distrito Federal e

Porto Alegre, agregadas. Não trataremos a estrutura do desemprego como taxas de

desemprego por grupo social, em vez disso, veremos os grupos sociais desempregados

como constituintes do total de desempregados e, dessa forma, teremos acesso à informação

de participação desse determinado grupo no desemprego, por tipo de desemprego (aberto;

oculto com trabalho precário; oculto por desalento). Por exemplo, quando analisamos a

relação dos gêneros com o desemprego oculto por desalento, queremos saber quantos

destes desempregados são homens e quantos são mulheres.

A pesquisa dos dados metropolitanos de 2000 a 2008 aponta para a evolução das

taxas de desemprego exposta na Tabela 6:

73

Tabela 6 – Evolução das taxas de desemprego metropolitano – 2000-2008 (%)

TotalTrabalho Precário

Desalento

2000 11,5% 7,2% 4,8% 2,4% 18,7%

2001 11,8% 7,0% 4,8% 2,2% 18,8%

2002 12,2% 7,3% 4,9% 2,5% 19,5%

2003 13,2% 7,6% 5,0% 2,6% 20,8%

2004 12,3% 7,4% 5,0% 2,4% 19,7%

2005 11,3% 6,6% 4,6% 2,1% 17,9%

2006 11,0% 5,7% 3,9% 1,9% 16,7%

2007 10,5% 5,0% 3,4% 1,6% 15,5%

2008 9,5% 4,6% 3,1% 1,5% 14,1%

Fonte: PED (elaboração própria)

Desemprego Aberto

Desemprego Oculto

TotalAno

Taxa de Desemprego

A taxa de desemprego total cresceu até 2003 e declinou sistematicamente a partir

de 2004. Sendo a redução da taxa de desemprego, obviamente, dependente da redução do

número de desempregados em relação à PEA, que, como vimos anteriormente, vem

crescendo à média de 2% ao ano desde 2000, o comportamento observado das taxas

significa que, até 2003, o número de postos de trabalho criados não foi suficiente para

absorver todos os trabalhadores que a cada ano ingressaram no mercado de trabalho,

portanto, inferior a 2%14.

A inflexão ocorrida em 2004 então demonstra uma patente recuperação do mercado

de trabalho, como mostra o gráfico a seguir, que ilustra a evolução das taxas de cada tipo

de desemprego de 2000 a 2008.

A mesma tendência foi observada no desemprego oculto com trabalho precário

(DOTP) e no aberto, apresentando o desemprego oculto por desalento (DOD) uma leve

oscilação entre 2000 e 2002, mas adquirindo mesma trajetória de queda a partir de 2004. O

Gráfico 7 deixa evidente essa tendência no comportamento do desemprego e outras

informações importantes devem ser destacadas, qual seja a da parcela de cada tipo de

desemprego no total. A queda no desemprego aberto foi menos acentuada do que a dos

outros, o que fez aumentar sua participação no total, de 61,5% em 2000 para 67,5% em

2008. Enquanto o DOPT passou de 26% para 20% e o DOD de 13% para 10% no mesmo

período.

14 Deixaremos a discussão do paralelo com a expansão da ocupação para mais adiante, abordando inclusive com exatidão essas taxas.

74

Gráfico 7 - Desemprego desagregado (%) - 2000-2008

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

22

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Desemprego aberto Desemprego oculto pelo trabalho precário

Desemprego oculto por desalento Desemprego total

Fonte: Elaboração própria a partir de dados da Pesquisa de Emprego e Desemprego, Convênio SEADE/DIEESE

O que contribuiu para que a partir de 2003 o desemprego começasse a cair? E

porque houve mudança na própria composição da taxa de desemprego total? Está

relacionado com a composição social desses desempregos? Essas são as três questões

suscitadas a partir dos dados expostos e que tentaremos refletir sobre, começando pelo

detalhamento das informações que temos disponível na Pesquisa de Emprego e

Desemprego sobre a população desempregada.

3.2.1. Desemprego oculto com trabalho precário

Corroborando a afirmação feita no início do capítulo, a Tabela 7 nos mostra que a

tendência nacional do desemprego oculto com trabalho precário foi de crescimento até

2003 e queda consistente a partir de 2004. Fato curioso, que nos instiga a conjecturar sobre

suas possíveis causas, cabendo ainda uma reflexão sobre a natureza da estatística no

contexto do mercado de trabalho brasileiro.

75

Tabela 7 – População desempregada por trabalho precário (% da PEA) – 2000 a 2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

816.444 822.715 863.447 916.475 914.409 850.686 732.992 664.514 611.653

4,8% 4,8% 4,9% 5,1% 5,0% 4,6% 3,9% 3,5% 3,1%

Fonte: PED (elaboração própria)

Desemprego Oculto por Trabalho Precário

O desemprego oculto com trabalho precário abrange pessoas que realizam trabalhos

precários, ocasionais, ou que realizam trabalho não remunerado em ajuda a parentes e que

procuram mudar de trabalho nos 30 dias anteriores ao da entrevista ou que, não tendo

procurado neste período, o fizeram sem êxito nos últimos 12 meses. Nos estudos sobre o

desemprego no Brasil é o que está mais associado ao chamado trabalho informal ou

subemprego.

Cabe ressaltar, entretanto, que as duas estatísticas, DOTP e trabalho informal, não

são idênticas, mas a primeira está contida na segunda. Só o são no caso extremo em que

não exista trabalho informal acompanhado de busca por outro emprego, se considerando o

trabalhador satisfeito com a atividade exercida. A diferença metodológica é sutil e o

desemprego oculto muitas vezes acaba sendo captado como emprego em outros tipos de

pesquisas, embora como informal, pela simples presença de trabalho no período de sete

dias anteriores à pesquisa. A questão é, principalmente, o tipo de trabalho exercido, que

muitas vezes leva o trabalhador a procurar outro emprego, caracterizando a noção de

desemprego que a PED tenta refletir.

A noção de ausência de trabalho e de procura por trabalho que são revistas na PED

vêm exatamente a construir essa dissociação entre o trabalho informal “bom” e “ruim”. Em

parte pela própria alteração no que seria considerado como trabalho, mas também por levar

em conta que a presença de trabalho em si não preenche as necessidades de trabalho do

indivíduo, principalmente na ausência de mecanismos de proteção do Estado a muitos

desempregados, o que os leva a exercer atividades irregulares e descontínuas enquanto

procuram outro trabalho. Cardoso Jr, em sua análise da informalidade no Brasil, adota uma

metodologia intencionada a filtrar do emprego informal estes casos de precariedade do

trabalho.

76

A justificativa para este corte analítico está ligada ao fato de que no interior de ambas15 as categorias ocupacionais assumidas enquanto informais residem as atividades de trabalho mais precárias, do ponto de vista do conteúdo ou da qualidade da ocupação, e de mais frágil inserção profissional, do ponto de vista das relações de trabalho. Isto não é, obviamente, o mesmo que afirmar que não existam atividades de trabalho precárias ou frágeis também no seio das categorias de assalariados com carteira, estatutários e militares, mas sim que nestes casos a incidência de inserções de natureza ruim é bem menor, posto estarem ligadas ao núcleo mais estruturado do mercado de trabalho (CARDOSO Jr, 2007).

É certo que o desemprego, exceto o voluntário (a inatividade), se caracteriza como

uma oferta de trabalho não demandada pelo mercado, o que não caberia no termo “trabalho

informal”, mas, controvérsias a parte, não há relevância científica na discussão entre se

classificar uma pessoa como desempregado com trabalho precário ou como empregado

informal, desde que se tenha consciência de que a condição do trabalho, seja medida sua

precariedade pelas condições de execução ou pela baixa remuneração, é que determina a

que veio aquela estatística. O objetivo da estatística em fomentar políticas públicas só se

perde se sua capacidade de refletir a heterogeneidade e a debilidade do mercado de

trabalho brasileiro for ignorada.

Foi considerando este caráter do mercado de trabalho brasileiro que achamos

relevante explorar as principais características da população atingida pelo desemprego

oculto com trabalho precário (DOTP), enquanto condição específica da informalidade, a

fim de construir um perfil destes e uma reflexão sobre sua relação com o contexto

econômico e as estruturas sociais. As perguntas que nos movem por agora são, portanto,

quem são os desempregados que compõem o DOTP?

15 O autor divide o trabalho informal em duas categorias, autônomos e sem-carteira, baseado num critério de relação de produção existente. Por isso inclui no conceito do informal, trabalhadores classificados como empregadores, mas pelo fato do grau de organização do negócio ser baixo, passa a ser considerado precário do ponto de vista da organização capitalista (lucro e remuneração) e exclui parcela de profissionais liberais do meio urbano, que auferem rendas altas e não são submetidos à instabilidade e ocasionalidade do trabalho, inclusive recolhem contribuição previdenciária como autônomos.

77

3.2.1.1. Perfil da população em desemprego oculto com trabalho precário

Nesse primeiro ciclo da análise dividiremos a população desempregada em dois

grupos, segundo critérios de cor16: Pretos e Pardos, de um lado; e Brancos e Amarelos, de

outro. Sobre cada um desses grupos a recuperação da taxa de desemprego surtiu efeitos

distintos. No Gráfico 8, é perceptível a melhora, mas o que talvez não fique tão claro é o

aumento das desigualdades entre os dois grupos. Pretos e Pardos, no ano 2000, respondiam

por 54,3% do DOTP e essa participação cresceu paulatinamente até alcançar o patamar de

61,2% em 2008, enquanto os Brancos e Amarelos respondiam pelos demais 38,8%17.

Gráfico 8 – Evolução do número de desempregados por cor – 2000-2008

-

200

400

600

800

1.000

Milhares

Branca e amarela 372.861 334.262 352.247 373.429 379.535 344.906 302.008 268.333 237.053

Preta e Parda 443.584 487.275 511.048 542.993 534.874 505.736 430.984 396.182 374.600

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Fonte: PED (elaboração própria).

Tabela 8 – Participação no DOTP por cor – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

372.861 334.262 352.247 373.429 379.535 344.906 302.008 268.333 237.053

45,7% 40,6% 40,8% 40,7% 41,5% 40,5% 41,2% 40,4% 38,8%

443.584 487.275 511.048 542.993 534.874 505.736 430.984 396.182 374.600

54,3% 59,2% 59,2% 59,2% 58,5% 59,5% 58,8% 59,6% 61,2%

Fonte: PED (elaboração própria)

Branca e amarela

Preta e Parda

16 Como pode ser observado foi adotado um segundo critério de fusão entre as características. Pretos foram aliados aos Pardos, pela maior ligação cultural, histórica e até biológica, enquanto Amarelos associamos a Brancos pela menor exposição a problemas de aceitação social, que geralmente são atribuídos a Pretos e Pardos. 17 Fato intrigante é que grande parte dessa mudança se deu no ano de 2000 para 2001, um espaço de tempo muito curto.

78

Se olharmos o grau de instrução dos dois grupos, notamos que Pretos e Pardos,

tinham deficiência maior em relação aos Brancos e Amarelos, pois em sua maioria tinham

escolaridade inferior. Embora ambos venham se desenvolvendo em direção a maior nível

de instrução; o primeiro grupo conseguiu se aproximar das proporções apresentadas pelo

segundo, o que, poupando qualquer parecer sobre a empregabilidade dos grupos em si,

indica somente que a composição do desemprego para o grupo de indivíduos de cor Preta e

Parda se alterou mais rapidamente no sentido do aumento da escolaridade de seus

componentes.

Tabela 9 – Grau de instrução da população desempregada por cor – 2000-2008

Branca e Amarela Preta e Parda

Branca e Amarela

Preta e Parda

Branca e Amarela Preta e Parda

11.490 22.028 9.208 25.031 2.484 10.195

3,1% 5,0% 2,7% 5,1% 1,1% 2,7%

1.596 990 1.279 1.892 98 868

0,4% 0,2% 0,4% 0,4% 0,0% 0,2%

167.769 255.518 149.789 268.351 78.437 149.184

45,0% 57,6% 44,7% 55,1% 33,2% 39,9%

51.617 59.205 51.350 65.536 37.435 53.411

13,9% 13,4% 15,3% 13,5% 15,9% 14,3%

38.789 41.909 33.479 48.235 28.193 46.403

10,4% 9,5% 10,0% 9,9% 12,0% 12,4%

70.503 55.604 66.658 68.080 65.555 101.640

18,9% 12,5% 19,9% 14,0% 27,8% 27,2%

14.204 4.863 11.607 5.820 10.020 8.065

3,8% 1,1% 3,5% 1,2% 4,2% 2,2%

16.653 3.235 11.783 3.875 13.694 4.367

4,5% 0,7% 3,5% 0,8% 5,8% 1,2%

372.621 443.352 335.153 486.820 235.916 374.133

100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

2000 2001 2008

Analfabeto

Sem escolarização

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

Total

Quando analisamos a relação entre gênero e desemprego oculto com trabalho

precário (DOTP), o que claramente se nota é a perda relativa de participação dos homens

nesta categoria de desemprego. Em valores absolutos o desemprego entre eles caiu muito

mais do que entre as mulheres. Não podemos, no entanto, nos precipitar para a conclusão

de que os primeiros tenham sido os mais atingidos pela recuperação do emprego no

período, visto que, ao observarmos os dados da PEA, vimos que houve em contrapartida

aumento da participação das mulheres no mercado de trabalho. O emprego entre elas pode

ter aumentado tanto quanto para os homens, mas o estoque de mão-de-obra feminina sem

79

trabalho pode ter permanecido inalterado por motivo de ingresso cada vez maior destas na

busca por emprego. No Gráfico 9, que relaciona o número absoluto (em milhares) de

homens e mulheres desempregados ao longo do tempo, pode-se notar a redução do

desemprego masculino, com maior impacto sobre o desemprego total.

Gráfico 9 - Evolução da participação de homens e mulheres no DOTP - 2000-2008

100

300

500

700

900

1100

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Milh

ares

Homens Mulheres Total

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

545.856 535.040 560.756 596.767 587.175 532.638 455.354 406.032 356.75866,90% 65,00% 64,90% 65,10% 64,20% 62,60% 62,10% 61,10% 58,30%270.588 287.675 302.691 319.708 327.234 318.047 277.638 258.482 254.89633,10% 35,00% 35,10% 34,90% 35,80% 37,40% 37,90% 38,90% 41,70%

Fonte: PED (elaboração própria)

Homens

Mulheres

Sobre a relação entre idade e desemprego, alguns pontos importantíssimos podem

ser ressaltados e associados a características estruturais da sociedade brasileira. A Tabela

10 relaciona o número de desempregados em cada faixa etária ao longo do período 2000-

2008, contendo as taxas de participação no DOTP em cada ano.

Chamam atenção as taxas encontradas para a população entre 10 e 19 anos,

que atingem em média 14,7% do DOTP. Em busca de uma explicação para esse fato,

tentamos relacionar essa parcela da oferta de trabalho com a renda familiar dos

adolescentes. Nesta investigação concluímos que uma baixa renda familiar está associada à

busca de trabalho dos indivíduos desta faixa etária. Com um número médio de membros

por família de 4,81 pessoas no segmento populacional18 mais vulnerável e onde há mais

adolescentes desempregados, a renda familiar per capita teve maior média da série em

18 Selecionamos os indivíduos desempregados com trabalho precário e com renda familiar inferior a R$ 1000,00.

80

2007, R$ 152,28. Incluindo a faixa de renda imediatamente superior, a maior média passa a

ser a de 2008, R$ 217,10.

Um sinal positivo é que, como pode ser visto no Gráfico 10, que relaciona a

participação absoluta (em milhares) de crianças e adolescentes em cada faixa de renda, o

número destes enquadrados no DOTP tem diminuído muito. E o fato da renda das classes

mais baixas estar aumentando pode interferir positivamente neste aspecto, via políticas

assistenciais que têm como critério a frequência escolar dos beneficiados ou pela própria

redução do desemprego entre os chefes de família.

Tabela 10 – Participação no DOTP por faixa etária – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

137.970 137.662 128.685 131.166 133.378 121.774 103.341 86.372 83.100

16,9% 16,7% 14,9% 14,3% 14,6% 14,3% 14,1% 13,0% 13,6%

281.231 278.546 298.917 313.309 325.520 298.364 260.362 234.622 209.492

34,4% 33,9% 34,6% 34,2% 35,6% 35,1% 35,5% 35,3% 34,3%

205.535 202.646 217.788 233.911 226.190 209.869 176.993 171.285 151.030

25,2% 24,6% 25,2% 25,5% 24,7% 24,7% 24,1% 25,8% 24,7%

132.484 143.427 152.603 165.432 158.336 151.937 129.251 115.452 112.683

16,2% 17,4% 17,7% 18,1% 17,3% 17,9% 17,6% 17,4% 18,4%

49.192 53.217 55.078 62.283 61.353 60.523 55.149 48.674 47.543

6,0% 6,5% 6,4% 6,8% 6,7% 7,1% 7,5% 7,3% 7,8%

9.024 6.912 9.706 9.885 8.830 8.063 7.866 7.833 7.754

1,1% ,8% 1,1% 1,1% 1,0% ,9% 1,1% 1,2% 1,3%

1.007 306 672 488 802 156 30 275 52

,1% ,0% ,1% ,1% ,1% ,0% ,0% ,0% ,0%

816.443 822.716 863.449 916.474 914.409 850.686 732.992 664.513 611.654

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboração própria)

Total

10 - 19

20 - 29

>70

30 - 39

40 - 49

50 - 59

60 - 69

As maiores taxas no desemprego são observadas para os indivíduos com idade entre

20 e 29 anos, que respondem por 34,3% do DOTP em 2008, praticamente o mesmo do que

consta para 2000. O fato de serem altas pode representar uma deficiência da economia

brasileira em receber os jovens ingressantes no mercado de trabalho, associável não

somente à inexperiência profissional, mas principalmente à ausência de formação

profissional. Para averiguar esta hipótese, vamos buscar relacionar a evolução do grau de

instrução dos jovens de 20 a 29 anos, detalhado na Tabela 11.

81

Gráfico 10 – Número de desempregados (DOTP) na faixa etária de 10 a 19 anos por faixa de renda – 2000-2008

0

20

40

60

80

100

120

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Milh

ares

<= 1000 1000,01 - 2000 2000,01 - 5000 >5000

Fonte: PED (elaboração própria)

O quadro educacional nas metrópoles como um todo tem melhorado, pois o número

de pessoas que tinham somente o Ensino Fundamental diminuiu, enquanto os níveis mais

altos de escolaridade têm aumentado sua população correspondente. A parcela de

desempregados com idade entre 20 e 29 anos tem acompanhado essa tendência, ou seja,

também tem aumentado o número dos mais instruídos, mas ao mesmo tempo aumentaram

as taxas de desemprego para os níveis mais altos. A extraordinária redução absoluta do

número de jovens desempregados com Ensino Fundamental Incompleto, mais que

compensou a elevação dos com Ensino Médio e Superior Completos, surtindo efeito

líquido positivo sobre o desemprego para esta faixa etária.

O grau de instrução desses jovens desempregados é muito baixo, apenas 3,7%, em

2008, tinham o Superior Completo, e esse número é 68,3% maior do que o de 2000. Por

outro lado, na PEA como um todo, crescera 76,7%. Os números para o Ensino Médio vão

na mesma linha: a parcela desempregada aumentara 30,7% em relação ao ano inicial,

enquanto no total da PEA aumentara 77,5%. Já para aqueles com Fundamental Incompleto,

houvera recuo de 59,5% e 52,4%, respectivamente. Em suma, para os níveis mais altos de

instrução, Médio Completo e Superior Completo, o aumento no desemprego foi menor do

que o aumento na oferta de trabalhadores desses grupos; enquanto para o nível

Fundamental Incompleto a reversão foi ainda mais positiva, pois obteve uma queda maior

em relação à redução da mão-de-obra disponível – PEA. O que indica uma clara

substituição de mão-de-obra menos qualificada pela mais qualificada, acompanhando a

82

tendência de aumento do grau de instrução da população, embora o aproveitamento da

maior qualificação dos jovens não tenha sido integral.

Tabela 11 – Desempregados com idade entre 20 e 29 anos por grau de instrução – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

4.153 5.307 5.885 5.261 2.931 3.581 2.658 1.393 1.430

1,5% 1,9% 2,0% 1,7% ,9% 1,2% 1,0% ,6% ,7%

75 225 191 129 219 409 40 68 0

,0% ,1% ,1% ,0% ,1% ,1% ,0% ,0% ,0%

133.296 125.574 125.138 119.980 106.796 98.385 73.755 65.512 53.949

47,4% 45,1% 41,9% 38,3% 32,8% 33,0% 28,4% 27,9% 25,8%

37.521 40.914 42.120 43.039 46.268 43.125 38.357 30.749 27.243

13,3% 14,7% 14,1% 13,7% 14,2% 14,5% 14,7% 13,1% 13,0%

31.565 31.853 36.052 35.568 38.631 35.780 32.851 34.705 31.430

11,2% 11,4% 12,1% 11,4% 11,9% 12,0% 12,6% 14,8% 15,0%

59.661 60.754 75.034 93.260 110.179 98.497 94.652 85.758 77.963

21,2% 21,8% 25,1% 29,8% 33,9% 33,0% 36,4% 36,6% 37,3%

10.330 9.242 9.846 10.312 13.420 11.034 9.867 9.649 9.145

3,7% 3,3% 3,3% 3,3% 4,1% 3,7% 3,8% 4,1% 4,4%

4.590 4.676 4.651 5.656 6.899 7.552 7.947 6.589 7.723

1,6% 1,7% 1,6% 1,8% 2,1% 2,5% 3,1% 2,8% 3,7%

281.191 278.545 298.917 313.205 325.343 298.363 260.127 234.423 208.883

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Superior Incompleto

Superior Completo

Total

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Analfabeto

Sem escolarização

Para o restante das faixas etárias o desemprego caiu em termos absolutos e

ganharam importância relativa devido à grande perda de participação do desemprego de

crianças e adolescentes de 10 a 19 anos. O nível educacional melhorou para as faixas como

um todo, mas o histórico de uma população pouco instruída é realçado no aumento das

disparidades entre os níveis de escolaridade à medida que a idade aumenta.

Na observância do quadro geral do desemprego por grau de instrução, vemos que

uma parcela muito grande da população na situação de DOTP, 51,9%, tinha apenas o

Fundamental Incompleto em 2000. Em 2008 passou para 37,3%, transferindo maior peso a

Ensino Médio Completo, com 27,4%. Dentro das condições precedentes, as taxas de 2008

demonstram até uma melhora, por estarem associados ao aumento do grau de instrução da

população em geral. Mas devemos ressaltar que a redução do desemprego não foi na

mesma proporção que o aumento, em número de trabalhadores, da escolaridade da PEA.

O perfil educacional dos desempregados do DOTP fica resumido na Tabela 12, que

relaciona o número de desempregados em cada grau de instrução, com respectivas taxas de

participação no DOTP.

83

Tabela 12 – Participação no DOTP por grau de instrução – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

33.518 34.239 35.357 35.459 29.010 29.551 19.083 14.757 12.678

4,1% 4,2% 4,1% 3,9% 3,2% 3,5% 2,6% 2,2% 2,1%

2.586 3.170 2.192 2.482 2.192 1.180 1.141 1.129 967

,3% ,4% ,3% ,3% ,2% ,1% ,2% ,2% ,2%

423.288 418.207 421.737 424.611 386.861 353.714 284.806 252.059 227.621

51,9% 50,9% 48,9% 46,4% 42,3% 41,6% 38,9% 38,0% 37,3%

110.821 116.935 123.549 132.187 136.938 126.203 113.004 97.212 90.846

13,6% 14,2% 14,3% 14,4% 15,0% 14,8% 15,4% 14,7% 14,9%

80.698 81.764 89.006 91.341 97.240 89.277 83.136 77.606 74.596

9,9% 9,9% 10,3% 10,0% 10,6% 10,5% 11,4% 11,7% 12,2%

126.107 134.759 156.565 190.699 214.047 206.792 192.107 184.872 167.196

15,5% 16,4% 18,1% 20,8% 23,4% 24,3% 26,2% 27,9% 27,4%

19.067 17.428 18.390 20.486 24.420 21.109 18.762 17.688 18.085

2,3% 2,1% 2,1% 2,2% 2,7% 2,5% 2,6% 2,7% 3,0%

19.888 15.658 16.308 18.304 23.441 22.816 20.196 18.091 18.061

2,4% 1,9% 1,9% 2,0% 2,6% 2,7% 2,8% 2,7% 3,0%

815973 822160 863104 915569 914149 850642 732235 663414 610050

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Total

Analfabeto

Sem escolarização

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

De qualquer forma, o que não se consegue observar é a correlação entre as

variações por faixas ou níveis de instrução com a taxa de desemprego oculto com trabalho

precário, que cresceu até 2003 e nos anos seguintes diminuiu. Isso se deve à gama de

fatores que afetam os valores absolutos, dentre eles o crescimento populacional, o

envelhecimento da população (fazendo com que migrem de uma faixa etária para outra e

não que haja uma redução de desemprego numa faixa em detrimento da outra), a mudança

de nível educacional dos indivíduos ao longo do tempo etc. Em suma, o aumento do

emprego teria que compensar todos os fatores demográficos para que o resultado final da

variável necessariamente reflita as mudanças conjunturais. Neste nível de análise é inócuo

buscar impacto econômico sobre os grupos sociais ano a ano, por isso consideramos mais

relevante a comparação do início com o final do período, ainda com ressalvas, já que não é

objetivo deste trabalho discutir variáveis demográficas a fundo. Quando possível e

pertinente, será observado o comportamento temporal do desemprego.

Pela análise do primeiro grupo de características, pudemos constatar que a

participação dos homens no DOTP é maior, embora venha diminuindo, possivelmente pela

entrada cada vez maior das mulheres no mercado de trabalho. A faixa etária predominante

é de jovens até 29 anos, seguida pela faixa de 30 a 39 anos, e que o nível educacional dessa

população em geral é baixo, têm no máximo o Fundamental Incompleto, mas há grande

parcela com Médio Completo. Embora tenha melhorado o quadro educacional, o que se

84

teve como resultado dessa melhoria foi um aumento do desemprego para as pessoas com

maiores graus de instrução, principalmente para Médio Completo.

Já no segundo grupo, que havíamos mencionado como capaz de medir a

sensibilidade das condições de vida do indivíduo à sua situação de desemprego, estão o

tempo de desemprego e o meio de sobrevivência ao qual ele recorre; além da renda

familiar como indicador da dependência de se exercer alguma atividade remunerada. A

análise que vamos desenvolver agora se pauta no alto grau de associação entre desemprego

e pobreza. Eles estão intimamente ligados na medida que criam-se problemas de inserção

no mercado de trabalho seja pela trabalho precoce ou inacesso a ensino de qualidade com

determinante da fraca formação profissional, particularmente nas pessoas de renda familiar

mais baixa. A situação imposta pela falta de recursos é de estagnação ou pior, de

multiplicação dos baixos padrões de vida, que tendem a se perpetuar de geração em

geração.

Para buscar os vínculos entre estes fatores vamos associar o desemprego à faixa de

renda das famílias; a posição do desempregado no seu círculo familiar, cujo peso na renda

é determinante na qualidade de vida dos seus, tanto no presente como no futuro; e a renda

alternativa (ou meio de sobrevivência). Para cada tipo de desemprego as opções de renda

são adaptadas e consonantes com as características de cada um deles, como no caso do

desemprego oculto com trabalho precário, que por agora será nosso objeto de análise, a

renda alternativa mais importante é a de trabalhos temporários e esporádicos.

Para dar sequência na referenciada análise, optamos pelo corte de faixas de renda a

cada R$ 1000,00 para evitar vinculação com o valor de salário mínimo, que embora seja

um mecanismo importante de proteção dos salários dos trabalhadores, ainda não é uma boa

medida de qualidade de vida para a família. De qualquer forma, não pretendemos entrar no

mérito dessa discussão de limites ideais de salário mínimo, tão somente medir de algum

modo a relação entre desemprego e renda.

Pelos dados da PED, as famílias destes desempregados nas regiões metropolitanas

vêm diminuindo o número de membros, enquanto a renda familiar real cresce (média de

R$ 1194,50 em 2000 para R$ 1059,49 em 2008). A renda familiar per capita média

passou, portanto, de R$ 302,56 para R$ 290,08 no período. Para termos reais de renda,

portanto, o reflexo foi de aumento suave da participação de desempregados com renda

85

familiar inferior a R$ 1000,00 no DOTP, de iniciais 61,4% para 64,3% no ano de 2008.

(Tabela 13)

Tabela 13 – Desempregados por faixa de renda familiar (DOTP) – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

<= 1000,00 61,4% 65,0% 67,8% 70,2% 67,0% 66,6% 66,1% 66,3% 64,3%

1000,01 - 2000 24,0% 21,6% 21,1% 20,6% 21,9% 21,3% 22,4% 22,5% 23,6%

2000,01 - 3000 7,4% 7,3% 6,0% 5,2% 5,9% 7,0% 5,9% 6,7% 6,1%

3000,01 - 4000 3,0% 2,8% 2,4% 2,0% 2,8% 2,0% 2,7% 2,3% 3,1%

4000,01 - 5000 1,6% 1,1% 1,2% ,9% ,9% 1,1% 1,3% ,8% 1,0%

>5000 2,6% 2,1% 1,5% 1,2% 1,5% 1,9% 1,6% 1,3% 1,9%

Total 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Até a segunda faixa de renda familiar se concentra grande parte do desemprego, o

que nos leva a concluir que há uma grande associação entre desemprego oculto com

trabalho precário e baixas rendas. Um dos dois casos que se enquadram do DOTP, de

exercício de trabalho precário e ocasional, o conhecido “bico”, é muito comum nesse

quadro, visto que a necessidade de incrementar a renda familiar é maior. Já o segundo caso

de DOTP, trabalho não remunerado de ajuda a parentes, desponta em famílias de maior

renda. Se o objetivo de pesquisa estiver conectado como uma busca de determinantes de

condições de vida, deve-se ter cuidado ao associar o desemprego com trabalho precário à

pobreza por esse motivo. Não é possível distinguir, sem um maior detalhamento dos dados

por renda, a situação de carência de emprego como determinante da condição de vida do

indivíduo.

Podemos corroborar uma outra hipótese citada, a de que a pobreza, por sua vez

refletida no desemprego, esteja associada a baixos níveis educacionais. Em 2000, 57,6%

dos desempregados com renda familiar inferior a R$ 1000 tinham somente o Fundamental

Incompleto, em segundo lugar estão aqueles com Fundamental Completo – 13,8%,

seguidos por aqueles com o Ensino Médio Completo, 12,3%. Já em 2008, as taxas foram

de 43,4%, 23,8% e 15,4%, respectivamente. À medida que cresce a renda, o peso dos

níveis mais altos de instrução aumenta.

No entanto, se observarmos os dados absolutos, vemos que a grande proporção de

pessoas com graus de instrução mais baixos por si só não é explicativo da persistência do

desemprego, pois como visto anteriormente, a melhoria do nível educacional da população

86

em geral não tem significado absorção garantida desses trabalhadores mais preparados pelo

mercado de trabalho.

O segundo aspecto que pode estabelecer relação determinística entre desemprego e

pobreza é a posição do indivíduo desempregado na família. Os Chefes de família têm papel

central na geração de renda para o seu núcleo familiar, complementada, geralmente, pela

renda do Cônjuge, portanto cabe questionar qual a parcela dos desempregados que têm

ocupado essas posições essenciais.

De acordo com a Tabela 14, que apresenta o número de desempregados por posição

na família a cada ano, além da respectiva taxa de participação no DOTP, os chefes de

família representavam 41,8% do desemprego em 2000 e passaram para 45% em 2008,

enquanto os cônjuges saltaram de 14,7% para 18%. Esse aumento foi somente em relação

ao desemprego total, claro, já que a queda absoluta foi significativa, devido à maior queda

relativa do desemprego nas outras posições, principalmente dos filhos, que tiveram

inclusive sua participação percentual diminuída, de 35,4% para 29,9%.

Tabela 14- Desempregados por posição na família (% do DOTP) – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

341.185 345.478 368.526 395.879 368.042 296.834 253.345 231.942 210.849

41,8% 42,0% 42,7% 43,2% 40,2% 43,6% 44,0% 46,2% 45,0%

119.645 124.656 131.180 135.686 138.170 115.417 102.280 90.146 84.577

14,7% 15,2% 15,2% 14,8% 15,1% 16,9% 17,8% 17,9% 18,0%

288.895 283.740 288.728 306.152 327.855 215.172 176.523 144.974 140.091

35,4% 34,5% 33,4% 33,4% 35,9% 31,6% 30,7% 28,8% 29,9%

66.720 68.842 75.012 78.757 80.342 54.052 43.244 35.485 33.357

8,2% 8,4% 8,7% 8,6% 8,8% 7,9% 7,5% 7,1% 7,1%

816.445 822.716 863.446 916.474 914.409 681.475 575.392 502.547 468.874

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

1. inclui as categorias Outro parente, Agregado, Pensionista, Empregado Doméstico , Parente Empregado Doméstico e Outros.

Chefe

Conjuge

Filho

Demais

Total

Em relação ao meio de sobrevivência do desempregado (Tabela 15), como era

esperado, quase a totalidade dos desempregados sobrevive principalmente da renda de

trabalhos irregulares, 95,7% em 2000 e 96% em 2008, oscilando pouco ao longo do

período. Na Tabela 14 está exposta a relação de desempregados de acordo com a faixa de

renda que aufere no trabalho ocasional. A renda obtida nesta alternativa de trabalho era

inferior a R$ 250,00 (valores de 2008) para 68,4% em 2000, aumentando para 71,8% em

87

2008. As maiores reduções absolutas foram entre os segmentos que conseguiam renda

superior no trabalho precário. (Tabela 16)

Tabela 15 – Meio de sobrevivência dos desempregados (% do DOTP) – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

781.480 777.098 817.694 886.380 868.765 813.956 702.905 645.848 587.224

95,7% 94,5% 94,7% 96,7% 95,1% 95,8% 95,9% 97,2% 96,0%

10.386 12.120 12.953 9.198 13.335 11.083 7.855 4.928 8.425

1,3% 1,5% 1,5% 1,0% 1,5% 1,3% 1,1% ,7% 1,4%

21.546 28.826 30.779 18.618 28.455 21.358 20.416 13.139 14.398

2,6% 3,5% 3,6% 2,0% 3,1% 2,5% 2,8% 2,0% 2,4%

2.942 4.246 1.981 2.002 3.000 3.392 1.794 600 1.404

,4% ,5% ,2% ,2% ,3% ,4% ,2% ,1% ,2%

816.354 822.290 863.407 916.198 913.555 849.789 732.970 664.515 611.451

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Trabalhos irregulares, ocasionais, bicos, etc+demais meios

Ajuda de parente e/ou conhecidos

Outra(s) pessoa(s) da familia tem trabalho

Outros meios

Total

Tabela 16 – Renda auferida no meio de sobrevivência principal – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

496.515 523.512 550.967 576.153 616.839 572.042 474.107 411.461 389.283

68,4% 72,9% 72,0% 71,5% 76,2% 74,2% 72,4% 70,3% 71,8%

129.093 121.659 144.514 148.163 127.156 127.972 115.385 109.419 101.425

17,8% 16,9% 18,9% 18,4% 15,7% 16,6% 17,6% 18,7% 18,7%

61.062 34.734 42.383 48.886 38.830 43.260 35.867 39.828 25.624

8,4% 4,8% 5,5% 6,1% 4,8% 5,6% 5,5% 6,8% 4,7%

85.926 71.412 56.495 60.821 54.245 56.512 56.053 51.447 46.479

11,8% 10,0% 7,4% 7,6% 6,8% 7,3% 8,6% 8,8% 8,6%

726.032 717.772 765.721 805.757 809.371 771.330 654.694 585.591 541.859

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Total

<= 250,00

250,01 - 500

500,01 - 750

>750

A Tabela 17 mostra a evolução do número de desempregados por período de tempo

de desemprego, com respectivas taxas em relação ao total de desempregados (OTP). Em

2000, ele tinha sido apenas para 54,4% dos desempregados inferior a um ano. Em 2008

houve uma melhora no sentido de maior parte dos desempregados estarem na faixa de

menor tempo de desemprego, sugerindo que a permanência na condição de desemprego

tem diminuído e pode estar associada à maior facilidade de reinserção no mercado de

trabalho.

88

Tabela 17 – Desempregados e tempo de desemprego em anos (% do DOTP) – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

394.541 417.637 446.162 457.009 443.830 434.422 398.581 360.570 339.524

54,4% 56,6% 57,5% 55,2% 54,6% 56,5% 60,9% 60,3% 62,4%

142.258 127.538 131.570 154.976 157.367 130.537 101.641 93.031 82.518

19,6% 17,3% 16,9% 18,7% 19,3% 17,0% 15,5% 15,5% 15,2%

68.807 68.520 66.944 76.207 68.144 64.798 50.496 44.324 34.862

9,5% 9,3% 8,6% 9,2% 8,4% 8,4% 7,7% 7,4% 6,4%

37.716 38.187 35.526 36.248 41.853 35.580 29.305 27.498 20.109

5,2% 5,2% 4,6% 4,4% 5,1% 4,6% 4,5% 4,6% 3,7%

25.785 27.984 27.238 32.222 27.461 29.545 19.677 22.903 17.567

3,6% 3,8% 3,5% 3,9% 3,4% 3,8% 3,0% 3,8% 3,2%

56.125 58.823 67.363 66.325 71.052 70.990 57.455 52.163 54.234

7,7% 8,0% 8,8% 8,3% 8,9% 9,3% 8,6% 8,3% 9,3%

725.232 738.689 774.803 822.987 809.707 765.872 657.155 600.489 548.814

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Total

2,001 - 3

3,001 - 4

4,001 - 5

>5

<= 1

1,001 - 2

Basicamente, a condição determinada (ou determinante) pelo desemprego oculto

com trabalho precário, no que diz respeito ao acesso do indivíduo e dos membros do seu

núcleo familiar a bens e serviços básicos, é bastante limitada. A sensibilidade, desta forma,

do bem-estar do indivíduo ao desemprego é considerável para uma grande parcela deles,

ou seja, a intensidade com que a falta de uma renda estável e satisfatória afeta a sua

capacidade de prover condições mínimas de vida é relevante, por estar circunscrita a um

segmento populacional vulnerável às oscilações conjunturais, tanto pelo seu baixo grau de

instrução como pela renda em níveis baixos.

O grau de instrução, assim como a cor, idade ou sexo, podem determinar a

dificuldade de inserção no mercado trabalho, tornando o tempo de desemprego mais longo

do que o aceitável. Sem alternativas, na maioria dos casos há que se recorrer a trabalhos

precários, os quais quase sempre remuneram irrisoriamente o trabalhador, sem contar as

reais condições nas quais esse trabalho é realizado, que muitas das vezes, por não ser

regulado, exige cargas horárias mais altas.

O último aspecto do desemprego oculto com trabalho precário que destacaremos é

o setor do último trabalho. Isto servirá somente para que identifiquemos a procedência

profissional dos indivíduos, não representando nenhuma estatística relevante no sentido de

indicar o “setor desempregador”, já que os dados que estamos nos baseando partem da

pessoa desempregada e não do empregador. Nesse caso, a relação analítica mais próxima

que encontraríamos é de quais desempregados, por setor de origem, tem tido maior

dificuldade de se reempregar no mercado de trabalho, ou, analogamente, quais foram mais

89

rapidamente reabsorvidos com o reaquecimento da economia. Claro que essa resposta

também é condicionada ao tamanho do setor na economia, já que estamos trabalhando com

números absolutos, mas deixaremos esse estudo mais profundo para quando formos

comparar os três tipos de desemprego, onde apresentaremos a economia metropolitana por

setor.

Segundo a Tabela 18, que apresenta o número de desempregados por setor que

trabalhara no último emprego, maior parte do DOTP, no ano 2000, era composto por

trabalhadores provenientes do setor de Serviços e continuou o sendo por todo o período. A

maior redução foi dentre os que provinham da Agricultura, Pecuária e Extração Mineral,

mas dada a pouca representatividade deste setor no grupo, podemos considerar a redução

dos originários da Indústria como a mais relevante, com queda de 41,5%. Os que

representavam o setor de serviços caíram 20%, mas em números absolutos é próximo à

redução no anterior, por ser um setor normalmente de maior peso.

Tabela 18 – Desempregados por setor de origem no DOTP – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

151.366 146.447 146.865 155.205 147.734 129.444 110.907 109.036 88.546

18,5% 17,8% 17,0% 16,9% 16,2% 15,2% 15,1% 16,4% 14,5%

101.065 106.755 114.542 117.778 116.707 110.642 96.117 76.531 71.974

12,4% 13,0% 13,3% 12,9% 12,8% 13,0% 13,1% 11,5% 11,8%

109.635 107.653 110.033 121.618 125.562 117.177 94.321 86.467 81.592

13,4% 13,1% 12,7% 13,3% 13,7% 13,8% 12,9% 13,0% 13,3%

296.520 303.755 323.020 345.051 339.860 322.791 280.456 254.113 237.177

36,3% 36,9% 37,4% 37,6% 37,2% 37,9% 38,3% 38,2% 38,8%

61.538 67.714 74.138 79.377 78.090 80.468 65.752 65.173 60.302

7,5% 8,2% 8,6% 8,7% 8,5% 9,5% 9,0% 9,8% 9,9%

4.678 5.410 5.596 6.613 4.113 5.372 4.968 3.824 2.287

,6% ,7% ,6% ,7% ,4% ,6% ,7% ,6% ,4%

2.145 1.741 2.440 2.909 2.465 3.353 2.626 3.246 2.699

,3% ,2% ,3% ,3% ,3% ,4% ,4% ,5% ,4%

1.509 740 894 1.046 2.451 2.022 379 - 609

,2% ,1% ,1% ,1% ,3% ,2% ,1% ,0% ,1%

87.988 82.500 85.919 86.878 97.427 79.417 77.466 66.124 66.467

11% 10% 10% 9% 11% 9% 11% 10% 11%

816.444 822.715 863.447 916.475 914.409 850.686 732.992 664.514 611.653

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboraçao própria)

Obs: "Não se aplica" corresponde aos que buscam o primeiro trabalho.

Indústria

Construção Civil

Comércio

Serviços

Serviços Domésticos

Agricultura, Pecuária e Extração Vegetal

Outras

Sem Declaração

Não se aplica

Total

90

Outro fenômeno a ser observado é o papel de cada setor no comportamento da taxa

de DOTP. Serviços e Construção Civil seguiram estritamente a taxa total, enquanto a

Indústria oscilou no primeiro triênio do período. Já Serviços Domésticos tiveram um

aumento atípico em 2005 e Comércio, além da instabilidade no começo, só começou a cair

significativamente a partir de 2005. O setor de Serviços, devido a seu maior peso, acabou

por determinar o comportamento global da taxa, o que inclusive aumentou ainda mais sua

participação, como visto na Tabela anterior, enquanto reduzia, principalmente, o número

de egressos da Indústria.

Gráfico 11 – Número de desempregados por setor de origem – 2000-2008

-

50

100

150

200

250

300

350

400

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Mil

hare

s

Indústria Construção Civil Comércio Serviços Serviços Domésticos

Fonte: PED (elaboração própria)

Por enquanto o que exporemos sobre o DOTP são esses pontos. Mais à frente, com

o desenvolvimento das demais análises de desemprego, será possível fazer um estudo

comparativo dos três perfis.

3.2.2. Desemprego oculto por desalento

O desemprego oculto por desalento (DOD) é caracterizado pela ausência de

trabalho e de busca por trabalho nos últimos 30 dias anteriores à pesquisa, por

circunstâncias fortuitas ou desestímulo gerado por insucessos na busca no período de 12

meses anterior à pesquisa, embora ainda seja declarada a disponibilidade do trabalhador

91

para exercer alguma atividade laboral. Em que pesem as necessidades da população

desempregada em geral, pode-se conjecturar que haja fatores específicos que dêem suporte

para a “escolha” de não trabalho. A palavra “escolha” quando se analisa o desemprego

deve ser utilizada com certa cautela, pois existem certas limitações associadas à

capacitação e às condições de competição no mercado de trabalho, que associadas a fatores

psicológicos, não necessariamente definem a situação de não trabalho como uma opção.

O que se quer dizer é que a desfavorabilidade das circunstâncias, dada pelas

características pessoais ou necessidades do indivíduo num determinado momento (mães

que não tem com quem deixar os filhos, problemas de saúde etc) gera dificuldades de

conseguir um emprego e, após certo período de tempo, a desistência da busca. Mas a

necessidade, que vai além da disposição, de exercer atividade remunerada, se tratando da

faixa da população que vamos mostrar adiante, é também considerável. É a necessidade

que confere ao desemprego por desalento urgência de solução, seja diretamente sobre a

pessoa por ele atingida ou sobre seu núcleo familiar. O investimento na capacidade dos

chefes de família de crescer profissionalmente, na qualidade dos postos de trabalho

(estímulos à formalização, por exemplo), na educação e saúde públicas de qualidade para

os filhos seriam meios de reverter essa situação.

Em síntese, a importância em se analisar as fontes do desemprego por desalento

para a construção de medidas que o solucionem deve-se mais ao impacto que surte sobre a

condição da população atingida do que às proporções que toma na sociedade. As taxas de

DOD são relativamente pequenas, de forma que o seu impacto horizontal é reduzido, em

detrimento do impacto vertical que surte sobre o grupo seleto. Na Tabela 19 estão

reapresentadas tais taxas ao longo do período 2000-2008. Entre 2000 e 2002 oscilou,

subindo em 2003, mas voltando a cair com mais intensidade a partir de 2004.

Tabela 19 – Evolução do desemprego oculto por desalento – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

405.655 392.880 440.194 469.696 443.190 387.994 354.029 306.412 297.440

2,4% 2,3% 2,5% 2,6% 2,4% 2,1% 1,9% 1,6% 1,5%

Fonte: PED (elaboração própria)

Desemprego oculto por desalento

Daremos sequência à análise do desemprego oculto por desalento tentando expor as

condições em que se desenvolve, seja pelas características das pessoas ou do meio no qual

92

estão inseridas, em última instância determinantes do seu preparo e capacidade de se

promover profissionalmente e garantir condições mínimas de vida, nos mesmos moldes

que na análise anterior do DOTP. O comportamento da taxa no período será analisado à luz

das mudanças internas, ou seja, das características da população desempregada, a fim de

esboçar uma resposta de quem seriam os desempregados no início do período analisado,

quais fatores eventualmente alteraram esse perfil e qual o efeito final do surto de

recuperação do emprego sobre os desempregados, neste caso, por desalento.

3.2.2.1. Perfil da população em desemprego oculto por desalento

Nesta seção daremos atenção às características pessoais dos trabalhadores e à

interrelação entre elas. Em que medida a renda familiar afeta o grau de instrução e vice-

versa? O nível de desemprego está associado ao sexo ou à cor dos indivíduos? À medida

que as informações forem se revelando mais depurada será a investigação, para que no fim

possamos ter traçado o perfil da população desempregada por desalento.

De acordo com a distribuição da população no DOD pela cor, utilizando as

informações da Tabela 20, percebemos que a população de cor Preta e Parda tem

consistentemente sido mais representativa do que os Brancos e Amarelos. E mais, para

cada dez pessoas que saíam da situação de desemprego por desalento de 2000 a 2008, sete

eram do segundo grupo e três, somente, do primeiro, o que revela alguma tendência

estrutural que reduza os efeitos benéficos do crescimento sobre Pretos e Pardos.

Tabela 20 – Participação no desemprego por desalento segundo a cor – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

198.008 178.966 190.168 197.142 186.350 164.140 150.299 127.002 122.485

48,8% 45,6% 43,2% 42,0% 42,0% 42,3% 42,5% 41,4% 41,2%

207.569 213.902 250.026 272.470 256.839 223.853 203.730 179.410 174.954

51,2% 54,4% 56,8% 58,0% 58,0% 57,7% 57,5% 58,6% 58,8%

405.577 392.868 440.194 469.612 443.189 387.993 354.029 306.412 297.439

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Branca e amarela

Preta e Parda

Total

93

Além da marginalização social oriunda do preconceito, podem ser apontados

fatores que são conseqüência do processo histórico de colocação dos negros na sociedade

brasileira, cuja resultante é que perduram entre a população negra, seus descendentes e

demais miscigenações as piores condições de vida. Em outras palavras, a população pobre

e marginalizada no Brasil é, em sua maior parte, composta por negros e pardos, privados

do acesso a educação e saúde de qualidade e, consequentemente, de condições

competitivas de inserção no mercado de trabalho. Por isso, por menor que seja o impacto

claro e direto do preconceito em relação à cor, a desvantagem em relação aos demais,

Brancos e Amarelos, está estabelecida pela não superação da condição de exclusão social a

que foi exposta a parcela Preta e Parda da população.

Quanto aos gêneros, o Gráfico 12 pode nos elucidar alguns fatos. Ele relaciona a

evolução do número (em milhares) de mulheres e homens desempregados por desalento e

o que se nota claramente é a maior participação feminina neste tipo de desemprego.

Enquanto os homens eram 33,3% dos DOD em 2000, até o último ano do período regrediu

superficialmente, para 31,1%. As mulheres ficaram em desvantagem ainda maior em

relação aos homens, visto que para eles a redução do desemprego por desalento foi maior,

aumentando de 66,7% para 68,9% a participação delas, que também se deveria ao aumento

da taxa de participação das mulheres na PEA.

Mas o que faz com que parte dessas ingressantes não consiga se inserir no mercado

de trabalho? Como isto está associado ao grau de instrução e à faixa etária? A necessidade

de complementar a renda familiar é tão urgente quanto para os outros tipos de

desemprego? Por ser tipicamente composto por mulheres, ao contrário do DOTP, analisado

anteriormente, pode se esperar que haja uma amenização em relação aos outros tipos de

desemprego em muitos dos aspectos dessa população relacionados às condições de vida.

A Tabela 19 apresenta o número de desempregados por desalento por sexo e grau

de instrução, além das taxas de participação de cada categoria no DOD total (homens e

mulheres). No ano de 2000, 26,6% dos DOD eram mulheres com Fundamental Incompleto

e, em segundo lugar com taxas próximas, homens com este mesmo grau e mulheres com

Ensino Médio Completo.

94

Gráfico 12 - Homens e Mulheres no DOD - 2000-2008

050

100150200250300350400450500

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Milh

are

s

Homens Mulheres Total

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

135.022 128.828 140.838 149.880 140.605 123.923 111.551 90.086 92.447

33,3% 32,8% 32,0% 31,9% 31,7% 31,9% 31,5% 29,4% 31,1%

270.633 264.052 299.356 319.817 302.585 264.070 242.478 216.325 204.993

66,7% 67,2% 68,0% 68,1% 68,3% 68,1% 68,5% 70,6% 68,9%

405.655 392.880 440.194 469.697 443.190 387.993 354.029 306.411 297.440

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%Total

Homens

Mulheres

Fonte: PED (elaboração própria)

Já para 2008, a maior mudança foi em relação às mulheres com Médio Completo,

pois tiveram sua participação acrescida no DOD. Já havíamos chamado atenção para o

aumento do DOTP para níveis mais altos de escolaridade e constatando isso também para o

DOD direcionamos nossa conclusão para a generalização dessa tendência. Mais adiante,

com a análise do desemprego aberto poderemos-confirmar seus efeitos sobre o desemprego

total.

Tabela 21 – Participação no desemprego (DOD) por sexo e grau de instrução – 2000-2008

Analfab.Sem

escolariz.Fund.

Incomp.Fund.

CompletoMédio

Incomp.Médio

CompletoSuperior Incomp.

Superior Completo

Total

4.096 321 64.943 21.516 20.488 17.925 3.565 2.168 135.022

1,0% ,1% 16,0% 5,3% 5,1% 4,4% ,9% ,5% 33,3%

7.358 199 107.608 38.982 39.658 61.629 6.501 8.179 270.114

1,8% ,0% 26,6% 9,6% 9,8% 15,2% 1,6% 2,0% 66,7%

875 17 30.357 14.315 12.536 25.724 5.160 3.463 92.447

,3% ,0% 10,2% 4,8% 4,2% 8,6% 1,7% 1,2% 31,1%

2.653 515 53.560 27.572 29.812 74.396 7.308 9.177 204.993

,9% ,2% 18,0% 9,3% 10,0% 25,0% 2,5% 3,1% 68,9%

Homens (3.221) (304) (34.586) (7.201) (7.952) 7.799 1.595 1.295 (42.575)

Mulheres (4.705) 316 (54.048) (11.410) (9.846) 12.767 807 998 (65.121)

Fonte: PED (elaboração própria)

2000

Homens

Mulheres

2008

Homens

Mulheres

Variação 2008-2000

95

Para avançar na discussão, relacionamos na Tabela 22 a evolução do número de

desempregados em cada faixa etária, com suas taxas de participação no DOD a cada ano.

O que se nota é o maior peso da parcela com idade entre 20 e 29 anos, que a despeito da

queda absoluta aumentou sua participação, mas pelo bom motivo de redução do

desemprego para a faixa anterior, de 10 a 19 anos. Mais uma vez, há motivos para acreditar

que essa redução do desemprego entre crianças e adolescentes se deva ao aumento da

freqüência escolar e não ao aumento da ocupação destes.

Seja qual for a causa da redução de desemprego, que ainda não discutimos, é fato

que ela afetou na mesma direção todas as faixas etárias, ou seja, todos foram beneficiados,

a priori. Não podemos afirmar que por ter saído das estatísticas de desalento o indivíduo

resolveu seus problemas de inserção no mercado de trabalho, pois lhe são postas várias

outras opções, inclusive que passem a incluí-lo no desemprego com trabalho precário.

Tabela 22 – Participação das faixas etárias no DOD – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

115.344 106.597 112.039 118.686 113.006 93.726 87.598 69.142 72.683

28,4% 27,1% 25,5% 25,3% 25,5% 24,2% 24,7% 22,6% 24,4%

131.127 127.989 150.405 163.447 156.004 136.879 124.884 111.086 98.890

32,3% 32,6% 34,2% 34,8% 35,2% 35,3% 35,3% 36,3% 33,2%

75.769 72.180 77.645 81.822 77.859 76.097 60.945 58.292 57.603

18,7% 18,4% 17,6% 17,4% 17,6% 19,6% 17,2% 19,0% 19,4%

47.421 52.487 55.820 58.759 59.075 48.105 46.539 41.906 40.562

11,7% 13,4% 12,7% 12,5% 13,3% 12,4% 13,1% 13,7% 13,6%

26.749 23.805 32.451 36.397 29.168 25.975 27.269 20.936 20.258

6,6% 6,1% 7,4% 7,7% 6,6% 6,7% 7,7% 6,8% 6,8%

8.073 8.856 10.410 9.715 6.559 6.420 5.970 4.423 6.346

2,0% 2,3% 2,4% 2,1% 1,5% 1,7% 1,7% 1,4% 2,1%

1.172 966 1.423 871 1.519 792 825 626 1.099

,3% ,2% ,3% ,2% ,3% ,2% ,2% ,2% ,4%

405.655 392.880 440.193 469.697 443.190 387.994 354.030 306.411 297.441

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

10 - 19

20 - 29

30 - 39

40 - 49

50 - 59

60 - 69

>70

Total

No que diz respeito aos jovens de 20 a 29 anos, que representam maior parte do

DOD, vemos que o grau de instrução em geral tem se elevado, mas em troca de maior

participação no desemprego daqueles com maior escolaridade. O número de jovens com

Superior, Completo ou Incompleto, chegou a aumentar inclusive em termos absolutos.

96

Comparando as Tabelas 23.a e 23.b, uma com grau de instrução de uma faixa etária

específica e a outra do total, notamos que o número de desempregados por desalento com

Ensino Médio, de todas as faixas, aumentou 26%, enquanto para os jovens esse aumento

foi de 15%. E mais, se observarmos esses dados à luz do total de pessoas que compunham

a PEA e concluíram o Ensino Médio nesse período, vemos que apenas 0,69% entraram nas

estatísticas de desemprego por desalento, com impacto menor ainda sobre os jovens

especificamente.

Tabela 23.a – Grau de instrução da população de 20 a 29 anos em desemprego por desalento – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

1.376 1.108 1.216 1.300 1.091 722 873 610 111

1,0% ,9% ,8% ,8% ,7% ,5% ,7% ,5% ,1%

220 327 44 174 - - - - 27

,2% ,3% ,0% ,1% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0%

50.101 41.021 43.077 42.869 37.430 29.364 27.387 20.370 21.141

38,2% 32,1% 28,6% 26,2% 24,0% 21,5% 21,9% 18,3% 21,4%

16.652 15.991 18.624 20.050 16.760 16.413 16.383 14.015 10.446

12,7% 12,5% 12,4% 12,3% 10,7% 12,0% 13,1% 12,6% 10,6%

18.635 18.172 19.543 22.161 20.617 17.133 14.087 13.884 13.033

14,2% 14,2% 13,0% 13,6% 13,2% 12,5% 11,3% 12,5% 13,2%

36.649 42.804 56.148 63.855 66.759 59.495 54.896 50.681 42.282

28,0% 33,4% 37,3% 39,1% 42,8% 43,5% 44,0% 45,6% 42,8%

5.260 6.558 8.530 10.051 10.227 10.228 7.088 7.315 7.303

4,0% 5,1% 5,7% 6,1% 6,6% 7,5% 5,7% 6,6% 7,4%

2.194 2.007 3.225 2.987 3.121 3.525 4.170 4.210 4.547

1,7% 1,6% 2,1% 1,8% 2,0% 2,6% 3,3% 3,8% 4,6%

131.087 127.988 150.407 163.447 156.005 136.880 124.884 111.085 98.890

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Total

Analfabeto

Sem escolarização

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

Outro aspecto do multifacetado universo dos desempregados diz respeito à renda

familiar. Na Tabela 22 relacionamos o número de desempregados de cada faixa etária às

faixas de renda (inclusive com percentual dos desempregados de cada faixa etária sobre a

renda). Assim podemos mostrar que 47,6% da faixa de 10 a 19 anos que está

desempregada por desalento tem renda familiar inferior a R$ 1.000,00 em 2000, por

exemplo. No entanto, não conseguimos identificar uma correlação no desemprego por

desalento entre a renda e as faixas etárias. Isto é, não podemos esperar que permaneça uma

relação positiva, ou negativa, entre a renda familiar, que definimos como medida para a

necessidade de busca por trabalho, e o número de desempregados para cada faixa etária.

97

Tabela 23.b – Grau de instrução da população desempregada por desalento – 2000-2008

AnalfabetoSem

escolariz.Fundam. Incomp.

Fundam. Comp.

Médio Incomp.

Médio Completo

Superior Incomp.

Superior Completo

11.454 520 172.551 60.497 60.146 79.555 10.067 10.347

2,8% ,1% 42,6% 14,9% 14,8% 19,6% 2,5% 2,6%

11.158 763 152.709 58.687 57.434 90.102 11.393 10.635

2,8% ,2% 38,9% 14,9% 14,6% 22,9% 2,9% 2,7%

12.859 1.232 163.108 61.120 64.212 109.601 14.697 13.193

2,9% ,3% 37,1% 13,9% 14,6% 24,9% 3,3% 3,0%

14.577 443 157.727 70.670 70.828 126.185 15.650 13.442

3,1% ,1% 33,6% 15,1% 15,1% 26,9% 3,3% 2,9%

9.313 839 143.525 60.312 70.697 131.029 15.006 12.427

2,1% ,2% 32,4% 13,6% 16,0% 29,6% 3,4% 2,8%

6.415 509 117.320 51.538 61.907 121.743 16.204 12.358

1,7% ,1% 30,2% 13,3% 16,0% 31,4% 4,2% 3,2%

6.782 213 99.496 52.146 51.706 115.806 12.284 15.406

1,9% ,1% 28,1% 14,7% 14,6% 32,7% 3,5% 4,4%

5.220 121 84.573 42.966 46.152 100.735 11.791 14.854

1,7% ,0% 27,6% 14,0% 15,1% 32,9% 3,8% 4,8%

3.527 532 83.917 41.887 42.348 100.120 12.468 12.640

1,2% ,2% 28,2% 14,1% 14,2% 33,7% 4,2% 4,2%

Fonte: PED (elaboração própria)

2006

2007

2008

2002

2003

2004

2005

2000

2001

Os motivos para a suspensão da busca por trabalho são por demais subjetivos para

que se possa estabelecer claramente uma relação entre as variáveis, principalmente quando

se compara faixas etárias. O fato de a maioria dos desempregados por desalento ser do

sexo feminino também e as implicações relacionadas à incompatibilidade de realização de

trabalhos domésticos, como cuidar dos filhos, não fica clara na pesquisa, pois ao

responderem sobre a causa da não procura por trabalho nos 30 dias anteriores à pesquisa,

aproximadamente 85 a 90% tanto dos homens como das mulheres responderam que o

motivo seria a dificuldade em conseguir emprego. Em segundo lugar, com 9 a 11% das

respostas no período, o motivo apontado foi de problemas temporários e em terceiro, 1 a

4% responderam que já tinham alguma proposta de trabalho.

Desagregando esta resposta por faixa etária, o que se observa é uma modesta

elevação da resposta de dificuldade de encontrar emprego à medida que aumenta a idade. E

são as pessoas mais jovens, de 20 a 29 anos, que respondem mais por problemas

temporários. Outro fato interessante é a resposta de crianças e adolescentes, a faixa etária

de 10 a 19 anos, que tem um percentual bem alto para resposta de dificuldade de encontrar

trabalho. Isto pode estar relacionado à maior fiscalização e controle do trabalho de menores

desenvolvidos por políticas públicas dos últimos anos.

98

Tabela 24 – Desempregados por desalento por faixa etária e renda familiar – 2000-2008 Faixa etária/faixa de renda (%) 10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 70 - 79 Total

<= 1000,00 47,6 55,7 52,0 47,9 47,2 62,8 60,2 51,3

1000,01 - 2000,00 29,5 24,4 32,2 24,6 27,2 23,6 29,5 27,5

2000,01 - 3000,00 12,0 9,3 8,5 13,8 13,1 3,0 5,2 10,6

3000,01 - 4000,00 4,7 4,5 3,0 3,2 3,5 6,6 5,1 4,1

>4000,01 6,2 6,1 4,4 10,5 9,0 4,1 0,0 2,2

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

<= 1000,00 57,1 59,1 62,7 51,7 54,5 62,2 96,0 58,1

1000,01 - 2000,00 27,4 26,8 26,9 29,8 23,6 22,9 4,0 27,0

2000,01 - 3000,00 8,0 6,8 4,3 9,4 10,7 12,5 0,0 7,4

3000,01 - 4000,00 3,5 2,5 3,5 4,6 4,9 0,6 0,0 3,3

4000,01 - 5000,00 4,0 4,8 2,6 4,4 6,3 1,8 0,0 1,5

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

<= 1000,00 51,5 57,3 57,8 50,5 48,6 38,4 74,7 54,2

1000,01 - 2000,00 29,7 26,3 26,5 31,4 34,4 30,9 18,2 28,4

2000,01 - 3000,00 11,2 6,9 7,5 7,5 7,0 11,9 0,0 8,3

3000,01 - 4000,00 3,2 3,1 3,7 2,4 4,0 7,2 0,0 3,3

4000,01 - 5000,00 4,4 6,4 4,4 8,1 5,9 11,6 7,1 2,1

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PED (elaboração própria)

2000

2003

2008

Solucionar problemas relacionados ao desemprego por desalento, partindo do

pressuposto de que a necessidade de complementação da renda familiar ainda prevaleça e,

portanto, os problemas de limitação da qualidade de vida ainda sejam reais para esta

parcela da população, necessariamente passa pela busca da explicação do fenômeno entre

as mulheres, as mais afetadas. Em relação à idade, notamos que o desemprego entre elas é

predominante para as de idade entre 20 e 49 anos, de acordo com a Tabela 25, vindas de

famílias de baixa renda e possuem baixo nível de escolaridade, como pode ser deduzido

das informações anteriores.

Resta tentar associar esse maior desemprego por desalento entre elas à posição que

ocupam na família, como apresentado na Tabela 26.a, que relaciona o número de

desempregados por posição e sua taxa de participação no DOD em cada ano. Nota-se que

Filhos e Cônjuges respondem pela maior parte do desemprego, enquanto Chefes de

família, dada sua importância na renda familiar e a necessidade de encontrar alternativa de

trabalho remunerado, respondem por parte relativamente pequena, ao contrário do

observado no DOTP.

99

Tabela 25 – Percentual de mulheres por faixa etária no DOD – 2000-2008 10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 >70

62.290 92.484 61.508 36.396 14.863 2.791 300

54,0% 70,5% 81,2% 76,8% 55,6% 34,6% 57,3%

61.788 88.818 56.718 38.630 14.970 2.759 368

58,0% 69,4% 78,6% 73,6% 62,9% 31,2% 19,0%

62.412 106.556 64.224 41.959 19.928 3.935 342

55,7% 70,8% 82,7% 75,2% 61,4% 37,8% 12,0%

66.240 118.089 66.897 43.621 20.880 3.969 121

55,8% 72,2% 81,8% 74,2% 57,4% 40,9% 9,3%

64.079 110.099 63.931 45.175 16.199 2.504 597

56,7% 70,6% 82,1% 76,5% 55,5% 38,2% 20,2%

51.805 95.900 61.419 37.105 15.403 2.266 173

55,3% 70,1% 80,7% 77,1% 59,3% 35,3% 10,9%

47.958 89.450 48.372 36.124 17.307 3.218 47

54,7% 71,6% 79,4% 77,6% 63,5% 53,9% 2,9%

38.607 81.757 47.952 32.761 13.507 1.691 51

55,8% 73,6% 82,3% 78,2% 64,5% 38,2% 4,1%

42.427 69.523 45.960 32.218 11.782 2.627 457

58,4% 70,3% 79,8% 79,4% 58,2% 41,4% 20,8%

Fonte: PED (elaboração própria)

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

2007

2008

Ao abrirmos os dados por Sexo os divididos como Chefes de família, Cônjuges e

Filhos (Tabela 26.b), encontramos uma participação levemente superior das mulheres entre

os Filhos desempregados, mas predominantemente feminina entre os Cônjuges. Reflexo do

enfraquecimento do modelo familiar patriarcal, substituída pela tendência de surgimento

de família composta por mães e filhos somente, o desemprego por desalento tem, portanto,

um perfil bem definido e com explicações relativamente homogêneas se considerarmos o

problema da inserção de mão-de-obra feminina.

De forma alguma, no entanto, deve-se reduzir o problema a uma falta de estrutura

social para apoiar mulheres que precisem conciliar atividades domésticas e emprego, pois

perduram questões ligadas à baixa qualificação e pouca disponibilização de postos de

trabalho de qualidade. O que queremos dizer é que além de ser necessária a existência de

mecanismos que reduzam custos da contratação de mão-de-obra feminina, haja vista a

importância de direitos trabalhistas associados à maternidade, pesam ainda o déficit

educacional, que acaba por condenar os trabalhadores a trabalhos precários e informais. A

escolha se estabelece entre um trabalho de baixa qualidade, geralmente informal, sem

direitos trabalhistas associados, ou a ausência dele, embora ainda haja a necessidade de

complementação da renda familiar.

100

Em suma, quaisquer dos aspectos supracitados, despreparo profissional ou

inconciliabilidade entre papéis femininos, estariam enquadrados na mesma resposta à

pesquisa, “dificuldade de encontrar trabalho”. Uma das características do trabalho precário

que lhes é oferecido é a ausência de mecanismos de proteção e apoio específicos a

mulheres, o que desestimularia a busca de trabalho e, em última instância, seu exercício

pari passu a atividades domésticas.

Outro fundamento do desemprego por desalento está ligado à posição secundária,

complementar, da renda do indivíduo no seu núcleo familiar. Não sendo eles, em sua

maioria, Chefes de família, tem na ajuda de parentes e/ou conhecidos e principalmente no

trabalho de outras pessoas da família o seu meio de sobrevivência, como evidenciado na

Tabela 27. Como complementa a Tabela 28, essa ajuda ou apoio familiar, em praticamente

todos os casos, não ultrapassa o valor de R$ 250,00, ou seja, também não é uma renda que

permita ao indivíduo manter um padrão de vida aceitável ou investir em formação

educacional de qualidade que facilite sua futura reinserção no mercado de trabalho,

principalmente se considerada a instabilidade e limitação dessa renda no contexto familiar.

Outra observação a ser feita em relação a isso é que essa realidade não se alterou no

período 2000 a 2008, prevalecendo nesses limites a renda a que tinham acesso esses

desempregados.

Tabela 26.a – Participação no DOD por posição na família – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

66.720 67.800 76.352 80.045 77.154 66.335 59.632 50.829 49.983

16,4% 17,3% 17,3% 17,0% 17,4% 17,1% 16,8% 16,6% 16,8%

128.271 118.866 139.581 150.938 135.091 119.590 109.419 101.072 93.166

31,6% 30,3% 31,7% 32,1% 30,5% 30,8% 30,9% 33,0% 31,3%

177.150 175.109 186.691 195.889 196.259 172.418 156.005 128.561 126.820

43,7% 44,6% 42,4% 41,7% 44,3% 44,4% 44,1% 42,0% 42,6%

30.270 28.970 34.689 40.464 31.668 28.051 26.906 23.839 25.869

7,5% 7,4% 7,9% 8,6% 7,1% 7,2% 7,6% 7,8% 8,7%

1.672 915 1.295 786 1.135 556 954 767 488

,4% ,2% ,3% ,2% ,3% ,1% ,3% ,3% ,2%

81 40 116 - - - - 101 -

,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0%

60 - 145 - 134 - 24 61 -

,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0% ,0%

1.431 1.180 1.324 1.575 1.750 1.045 1.088 1.183 1.115

,4% ,3% ,3% ,3% ,4% ,3% ,3% ,4% ,4%

405.655 392.880 440.193 469.697 443.191 387.995 354.028 306.413 297.441

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboração própria)

Chefe

Cônjuge

Filho

Outro parente

Agregado

Pensionista

Parente Emp Doméstico

Outros

Total

101

Tabela 26.b - Participação no DOD por sexo e posição na família – 2000-2008

Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino

82.039 95.112 1.277 126.995 38.714 28.005 46,3% 53,7% 1,0% 99,0% 58,0% 42,0%

77.778 97.331 1.384 117.482 37.505 30.295 44,4% 55,6% 1,2% 98,8% 55,3% 44,7%

81.433 105.258 1.565 138.016 42.370 33.982 43,6% 56,4% 1,1% 98,9% 55,5% 44,5%

82.885 113.005 2.336 148.601 45.352 34.693 42,3% 57,7% 1,5% 98,5% 56,7% 43,3%

85.428 110.831 1.869 133.222 39.897 37.257 43,5% 56,5% 1,4% 98,6% 51,7% 48,3%

74.627 97.791 1.334 118.256 35.798 30.537 43,3% 56,7% 1,1% 98,9% 54,0% 46,0%

69.781 86.224 1.577 107.843 29.800 29.832 44,7% 55,3% 1,4% 98,6% 50,0% 50,0%

54.794 73.766 1.002 100.070 24.832 25.997 42,6% 57,4% 1,0% 99,0% 48,9% 51,1%

56.209 70.611 1.014 92.153 24.569 25.414 44,3% 55,7% 1,2% 98,8% 49,2% 50,8%

Fonte: PED (elaboração própria)

2002

2003

2004

Filho Cônjuge Chefes de família

2000

2001

2005

2006

2007

2008

Tabela 27 – Meio de sobrevivência dos desempregados por desalento – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

144.535 143.988 156.019 177.128 167.089 154.032 139.087 120.905 128.003

35,60% 36,70% 35,40% 37,70% 37,70% 39,70% 39,30% 39,50% 43%

241.125 227.310 259.840 271.110 254.671 214.583 198.092 172.687 157.218

59,40% 57,90% 59,00% 57,70% 57,50% 55,30% 56,00% 56,40% 52,90%

19.956 21.377 24.335 21.377 21.387 19.335 16.850 12.819 12.220

4,90% 5,40% 5,50% 4,60% 4,80% 5% 4,80% 4,20% 4,10%

405.616 392.675 440.194 469.615 443.147 387.950 354.029 306.411 297.441

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Ajuda de parente e/ou conhecidos

Outra(s) pessoa(s) da família tem trabalho

Outros meios

Total

Tabela 28 – Renda alternativa por meio de sobrevivência do desempregado (DOD) – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

<= 250,00 95,6 95,3 94,7 95,3 95,8 95,2 95,4 96,3 95,4

250,01 - 500,00 2,0 2,2 2,6 2,8 2,4 2,5 2,2 2,0 2,3

500,01 - 750,00 0,4 1,0 0,8 0,6 0,5 0,6 0,9 0,6 0,8

>750 2,0 1,4 1,9 1,4 1,3 1,7 1,6 1,2 1,6

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PED (elaboração própria)

No que diz respeito ao tempo de desemprego, podemos notar na Tabela 29, que a

concentração no período inferior a um ano tem aumentado, o que parece um fator positivo,

102

mas deve-se levar em conta a possibilidade de transitar entre os dois tipos de desemprego

oculto. Isto significa que não podemos afirmar que a saída da situação de desemprego por

desalento se tenha dado pelo sucesso na busca por emprego estável, pois pode-se ter

recorrido a trabalhos temporários, que enquadrariam a situação de desemprego com

trabalho precário.

Tabela 29 – Desempregados e tempo de desemprego em anos – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

172.290 172.687 186.450 195.449 182.332 162.045 154.772 140.490 137.556

52,3% 55,0% 53,1% 52,2% 51,7% 52,7% 54,6% 56,9% 58,3%

62.100 55.441 64.507 70.245 71.266 56.419 51.796 43.702 36.155

18,8% 17,7% 18,4% 18,8% 20,2% 18,3% 18,3% 17,7% 15,3%

36.407 28.908 31.135 33.723 31.901 30.880 22.170 17.830 16.896

11,0% 9,2% 8,9% 9,0% 9,1% 10,0% 7,8% 7,2% 7,2%

15.873 15.785 19.002 18.501 17.136 15.052 14.244 10.779 11.580

4,8% 5,0% 5,4% 4,9% 4,9% 4,9% 5,0% 4,4% 4,9%

12.399 10.673 16.203 15.179 11.748 11.211 12.680 9.595 8.556

3,8% 3,4% 4,6% 4,1% 3,3% 3,6% 4,5% 3,9% 3,6%

30.448 29.788 32.728 38.610 36.280 32.365 28.249 25.564 27.021

9,2% 9,4% 9,4% 10,6% 10,4% 10,4% 9,6% 9,7% 10,7%

329.517 313.282 350.025 371.707 350.663 307.972 283.911 247.960 237.764

100,0% 99,8% 99,8% 99,6% 99,6% 100,0% 99,8% 99,8% 100,1%

Fonte: PED (elaboração própria)

<= 1

1,0 - 2,0

2,0 - 3,0

3,0 - 4,0

4,0 - 5,0

>5

Total

Por fim, vejamos qual a composição do DOD no que diz respeito ao setor do último

trabalho. Para isso nos basearemos no Gráfico 13, que relaciona o número de

desempregados, com respectivas taxas de participação no DOD, ao setor de origem.

Mais uma vez vemos o grande peso do setor de Serviços e sua capacidade de

determinar a intensidade do comportamento global da taxa de DOD, tal qual havíamos

visto para o DOTP. Nesse caso, os demais setores também oscilaram no primeiro triênio,

mas se repete o início retardado da queda do número de desempregados provenientes do

setor de Comércio, ao mesmo tempo em que para a Indústria e Construção a redução foi

precoce, se iniciando em 2003, não em 2004 como a taxa total.

103

Gráfico 13 – Evolução do número de desempregados por Setor do último emprego

-

20

40

60

80

100

120

140

160

180

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Mil

hare

s

Indústria Construção Civil Comércio Serviços Serviços Domésticos

Fonte: PED (elaboração própria)

Tabela 30 – Desempregados no DOD por setor de origem – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

56.521 51.327 58.427 54.403 52.548 42.318 40.749 32.526 29.449

13,9% 13,1% 13,3% 11,6% 11,9% 10,9% 11,5% 10,6% 9,9%

20.379 18.420 23.332 20.652 19.248 17.607 15.515 11.728 12.807

5,0% 4,7% 5,3% 4,4% 4,3% 4,5% 4,4% 3,8% 4,3%

63.209 58.817 59.722 67.828 67.347 59.948 53.986 49.334 47.593

15,6% 15,0% 13,6% 14,4% 15,2% 15,5% 15,2% 16,1% 16,0%

129.511 126.959 145.596 159.593 144.736 131.048 120.884 109.726 104.681

31,9% 32,3% 33,1% 34,0% 32,7% 33,8% 34,1% 35,8% 35,2%

56.288 54.813 59.355 68.482 64.826 54.186 48.774 40.727 37.811

13,9% 14,0% 13,5% 14,6% 14,6% 14,0% 13,8% 13,3% 12,7%

1.721 1.561 1.410 1.255 849 457 772 1.188 855

,4% ,4% ,3% ,3% ,2% ,1% ,2% ,4% ,3%

2.008 1.755 3.372 2.250 2.806 1.983 2.762 1.749 2.617

,5% ,4% ,8% ,5% ,6% ,5% ,8% ,6% ,9%

76.018 78.901 88.980 95.234 90.653 80.264 70.398 59.433 61.627

18,7% 20,1% 20,2% 20,3% 20,5% 20,7% 19,9% 19,4% 20,7%

405.655 392.880 440.194 469.697 443.190 387.993 354.029 306.411 297.440

100,0% 99,9% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 99,9% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboraçao própria)

Obs: "Não se aplica" corresponde aos que buscam o primeiro trabalho.

Total

Não se aplica

Agricultura, Pecuária e Extração Vegetal

Outras

Indústria

Construção Civil

Comércio

Serviços

Serviços Domésticos

Expostos todos os aspectos do desemprego oculto por desalento que consideramos

relevantes, podemos passar para a próxima etapa do nosso estudo: o desemprego aberto.

104

3.2.3. Desemprego aberto

No desemprego aberto são incluídos os indivíduos que procuraram trabalho nos

últimos 30 dias, não tendo exercido atividade remunerada pelo menos nos 7 dias anteriores

à pesquisa. Dos três tipos de desemprego, o aberto é o mais volátil, mais suscetível às

oscilações de desempenho econômico ou, como já havíamos mencionado, é o que exerce

maior pressão sobre o mercado. A população nele inserida se distingue do desemprego

oculto por desalento pela persistência na busca por novo emprego e do oculto com trabalho

precário pela ausência de prática de qualquer atividade remunerada, por fim, define o

conceito mais puro e neutro de desemprego, no aspecto da metodologia de análise

comparativa de mercado de trabalho entre países. Ao contrário do desemprego oculto, que

reflete especificidades estruturais de países em desenvolvimento, ele coloca em níveis

comparáveis, conceitualmente, com o desemprego de países desenvolvidos.

Obviamente, o perfil dos indivíduos e intensidade dos efeitos desse desemprego

diferem de país para país. Em países como o Brasil, podemos esperar que o desemprego

aberto ainda esteja longe de se adequar ao clássico, segundo Keynes, desemprego

friccional, principalmente pela sua longa duração. Os determinantes da dificuldade de

inserção ou reintegração no mercado são mais atribuíveis a questões econômicas do que

sociais relativamente aos outros dois desempregos.

As taxas verificadas no Brasil, nas seis regiões metropolitanas que abordamos, são

as expostas na Tabela 31: crescente até 2003 e em seguida inicia queda significativa até

2008. Ainda não levantamos hipóteses acerca das causas dessa inflexão e melhora no

indicador, o que não nos absteremos de explorar, mas por agora nos interessa saber quais

as características dos indivíduos que integraram o DA nesse período, de modo a ter

delineado o perfil da população atingida.

Tabela 31 – Evolução do desemprego aberto – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

1.953.298 2.033.634 2.157.062 2.388.875 2.264.451 2.097.354 2.083.665 2.023.154 1.888.340

11,50% 11,70% 12,20% 13,20% 12,30% 11,20% 11,00% 10,50% 9,50%

Fonte: PED (elaboração própria)

Desemprego aberto

105

3.2.3.1. Perfil da população em desemprego aberto

Dividida segundo a cor dos indivíduos, como mostra a Tabela 32, a população em

situação de desemprego aberto (DA), em 2000, era composta por 51,5% de Brancos e

Amarelos e os demais 48,5%, Pretos e Pardos. Assim como o DOD, 2001 em relação ao

ano anterior, apresentou uma variação significativa na participação dos dois grupos, com

relativa estabilidade a partir de então.

As variações percentuais de ano a ano em geral foram muito pequenas, mas é

possível observar que a desigualdade em favor dos de cor Branca e Amarela que vinha

aumentando a partir de 2001, sofreu uma inversão em 2004. Enquanto até 2003 o

desemprego diminuía para um grupo, para o outro aumentava, mas a partir de 2004 o recuo

do desemprego em relação à PEA, nesse caso, foi acompanhado por maior saída dos de cor

Preta e Parda da estatística, um sinal positivo de absorção ampla da mão-de-obra, se

possível associar tal fenômeno ao aumento da ocupação e considerar marginais as

transferências entre tipos de desemprego. A aceleração da queda no desemprego entre

Pretos e Pardos, contudo, não foi suficiente para reduzir os números absolutos de

desemprego entre eles no período 2000-2008.

Tabela 32 – Participação no desemprego aberto por cor – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

1.005.298 947.563 1.005.263 1.100.956 1.041.227 979.960 949.910 944.824 882.054

51,5% 46,6% 46,6% 46,1% 46,0% 46,7% 45,6% 46,7% 46,7%

947.655 1.085.783 1.151.488 1.287.772 1.223.056 1.117.394 1.133.655 1.078.280 1.006.286

48,5% 53,4% 53,4% 53,9% 54,0% 53,3% 54,4% 53,3% 53,3%

Fonte: PED (elaboração própria)

Branca e Amarela

Preta e Parda

Na divisão da população desempregada por sexo, vemos as mulheres em crescente

desvantagem no mercado de trabalho. Inicialmente com participação de 57,2%, chegaram a

2008 com 61%. Pelos números absolutos relacionados no Gráfico 14, podemos notar que a

queda no desemprego entre as mulheres foi menos intensa do que entre os homens, que

conseguiram encerrar o período com queda absoluta, embora ambos tenham acompanhado

nitidamente a tendência geral de queda a partir de 2004.

106

A oferta de trabalho em geral é endógena, já que a participação dos indivíduos na

PEA responde às condições da economia. Isto porque, em fase de aquecimento, maiores e

melhores são as oportunidades de trabalho oferecidas pelo mercado e, portanto, maior o

estímulo aos trabalhadores a ofertar sua força de trabalho. O ingresso das mulheres, no

entanto, se mostra especialmente volátil, principalmente pela maior inatividade entre elas,

ou seja, a entrada feminina maciça é viável dada a grande reserva delas na PIA. Isto ficou

demonstrado no início do capítulo quando os dados da evolução da PEA nos mostraram

que a participação masculina cresceu 12%, enquanto a feminina cresceu 23%. A despeito

desse crescimento, o desemprego aberto entre os primeiros caiu 12%; já para elas acabou

por determinar uma elevação de 3%. (Tabela 33)

Gráfico 14 - Homens e Mulheres no desemprego aberto - 2000-2008

0

500

1000

1500

2000

2500

3000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Mil

hare

s

Homens Mulheres Total

Tabela 33 – Participação de homens e mulheres no desemprego aberto – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

836.434 854.730 931.948 1.019.414 965.136 862.225 857.971 811.806 735.531

42,8% 42,0% 43,2% 42,7% 42,6% 41,1% 41,2% 40,1% 39,0%

1.116.863 1.178.904 1.225.114 1.369.461 1.299.315 1.235.129 1.225.694 1.211.348 1.152.810

57,2% 58,0% 56,8% 57,3% 57,4% 58,9% 58,8% 59,9% 61,0%

1.953.297 2.033.634 2.157.062 2.388.875 2.264.451 2.097.354 2.083.665 2.023.154 1.888.341

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboração própria)

Homens

Mulheres

Total

O desemprego aberto se mostra mais presente entre as mulheres a despeito dos

maiores níveis de instrução entre elas. Concluímos isso ao observar que, em relação ao

grau de instrução da PEA como um todo, há relativamente mais mulheres nos níveis mais

altos de escolaridade (Tabela 34), ao mesmo tempo em que no desemprego aberto são elas,

as mulheres mais instruídas, que apresentam persistentemente maior participação.

107

Em suma, o fato de serem mais instruídas não atribuiu às mulheres vantagem no

mercado de trabalho em relação aos homens e, mais uma vez, o grau de instrução em si

não foi determinante, no sentido de surtir efeito significativo e definitivo sobre a redução

do desemprego. Alguns dados comprovam essa tendência: a evolução do grau de instrução

da PEA, por sexo, e a diferença de 2000 para 2008 no que tange ao DA (Gráfico 15).

Tabela 34 – Grau de instrução da PEA por sexo – 2000, 2003 e 2008

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

315.606 229.427 293.548 216.209 206.906 144.846

3,4% 3,0% 3,0% 2,6% 2,0% 1,6%

27.504 20.077 22.615 15.264 13.608 10.121

,3% ,3% ,2% ,2% ,1% ,1%

3.726.741 2.542.170 3.328.284 2.426.991 2.835.618 2.072.278

40,0% 33,5% 34,1% 29,0% 27,1% 22,2%

1.241.219 854.040 1.282.751 909.435 1.318.524 922.510

13,3% 11,3% 13,1% 10,9% 12,6% 9,9%

773.151 671.586 809.306 685.983 816.517 685.263

8,3% 8,9% 8,3% 8,2% 7,8% 7,3%

1.895.722 1.958.880 2.548.183 2.592.937 3.430.709 3.425.327

20,3% 25,8% 26,1% 31,0% 32,8% 36,7%

431.708 382.680 519.593 486.576 653.566 662.947

4,6% 5,0% 5,3% 5,8% 6,2% 7,1%

905.481 926.325 956.428 1.022.367 1.193.560 1.412.850

9,7% 12,2% 9,8% 12,2% 11,4% 15,1%

9.317.132 7.585.185 9.760.708 8.355.762 10.469.008 9.336.142

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboração própria)

2000 2003 2008

Analfabeto

Sem escolarização

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

Total

Gráfico 15 – Grau de instrução no DA – 2000 e 2008

-

100

200

300

400

500

600

700

800

Analfab. Semescolariz.

Fund.Incomp.

Fund.Compl.

MédioIncomp.

MédioCompleto

SuperiorIncomp.

SuperiorCompleto

Milh

ares

2000 2008

Fonte: PED (elaboração própria)

108

A Tabela 35, que relaciona o número de homens e mulheres desempregados para

cada grau de instrução, com respectivas taxas de participação no desemprego aberto,

mostra que praticamente um quarto do desemprego em questão era preenchido, no último

ano da análise, pelo sexo feminino com Ensino Médio Completo, contra uma distribuição

menos desigual em relação ao sexo masculino no início do período. Para nenhum grupo

masculino, no ano de 2008, houve concentração de desemprego tão alta quanto a que

apresentou o grupo feminino que mencionamos.

O aumento do grau de instrução, particularmente da parcela feminina da PEA, não

foi suficiente para coibir os efeitos da mais intensa entrada delas no mercado de trabalho, o

aumento da participação no DA, e acabou por definir um cenário desigual entre os sexos

que pode estar associado ao tipo de crescimento do período, em última instância, definidor

do perfil da mão-de-obra necessária.

Tabela 35 – Participação no desemprego aberto por sexo e grau de instrução – 2000-2008

Analfab. Sem escola riz. Fund. Incomp. Fund. Compl.Médio

Incomp.Médio

CompletoSuperior Incomp.

Superior Completo

Total

30.432 2.532 364.542 121.922 111.700 145.289 33.413 25.182 835.012

1,6% ,1% 18,7% 6,2% 5,7% 7,4% 1,7% 1,3% 42,8%

24.836 1.232 379.963 152.640 173.349 295.737 43.871 44.688 1.116.316

1,3% ,1% 19,5% 7,8% 8,9% 15,2% 2,2% 2,3% 57,2%

6.435 54 183.442 110.413 108.609 237.053 49.346 39.977 735.329

,3% ,0% 9,7% 5,8% 5,8% 12,6% 2,6% 2,1% 38,9%

8.028 204 223.130 141.559 169.228 463.865 76.366 70.370 1.152.750

,4% ,0% 11,8% 7,5% 9,0% 24,6% 4,0% 3,7% 61,1%

(23.997) (2.478) (181.100) (11.509) (3.091) 91.764 15.933 14.795 (99.683)

(16.808) (1.028) (156.833) (11.081) (4.121) 168.128 32.495 25.682 36.434

Fonte: PED (elaboração própria)

2000

Homens

Mulheres

2008

Homens

Mulheres

Variação (2008-2000)

Homens

Relacionado às distintas faixas etárias (Tabela 36), o desemprego aberto é mais

freqüente para as faixas mais jovens e diminui gradativamente com o aumento da idade.

Chamam atenção as altas taxas para a população de 10 a 19 anos, que não caíram tanto

quanto nos demais tipos de desemprego. Detalhando mais os dados dessa faixa etária

encontramos que o desemprego passa a ser relevante entre 15 e 16 anos, aumentando

progressivamente com a idade e atingindo máximo para os 18 anos.

109

Tabela 36 – Participação das faixas etárias no DA – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

588.895 614.161 619.252 651.168 637.332 579.475 573.479 536.919 514.793

30,1% 30,2% 28,7% 27,3% 28,1% 27,6% 27,5% 26,5% 27,3%

709.785 752.867 831.437 923.856 894.446 849.538 852.446 828.134 768.202

36,3% 37,0% 38,5% 38,7% 39,5% 40,5% 40,9% 40,9% 40,7%

339.751 343.276 360.138 416.830 371.323 341.407 344.339 346.987 325.103

17,4% 16,9% 16,7% 17,4% 16,4% 16,3% 16,5% 17,2% 17,2%

205.466 212.943 221.157 264.540 230.372 217.160 208.217 201.413 184.202

10,5% 10,5% 10,3% 11,1% 10,2% 10,4% 10,0% 10,0% 9,8%

84.412 87.676 99.782 105.390 105.317 91.743 85.126 88.756 80.733

4,3% 4,3% 4,6% 4,4% 4,7% 4,4% 4,1% 4,4% 4,3%

22.027 20.774 23.225 24.635 22.864 16.703 18.744 18.210 13.620

1,1% 1,0% 1,1% 1,0% 1,0% ,8% ,9% ,9% ,7%

2.962 1.937 2.072 2.456 2.797 1.327 1.312 2.735 1.687

,2% ,1% ,1% ,1% ,1% ,1% ,1% ,1% ,1%

1.953.298 2.033.634 2.157.063 2.388.875 2.264.451 2.097.353 2.083.663 2.023.154 1.888.340

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

10 - 19

20 - 29

30 - 39

40 - 49

50 - 59

60 - 69

>70

Total

Esse desemprego aberto concentrado nas idades de 18 e 19 anos se defronta com

uma outra condição preocupante: em 2000, uma média de 66% destes adolescentes

desempregados estavam em situação de atraso escolar (grau de instrução inferior ao Médio

Completo). Em 2008 a média caiu para 50%. Essa realidade continua a merecer atenção na

medida em que evidencia a necessidade de abandono ou fraco desempenho nos estudos de

uma parcela muito grande da população de baixa renda (inquestionavelmente também

associável às condições supramencionadas). A Tabela 37, que relaciona a renda familiar

média19 e as faixas etárias das pessoas em desemprego aberto, mostra que 78,2% tinham

renda familiar inferior a R$ 2.000,00 (que equivaleriam a uma renda per capita20 inferior a

R$ 491,40 com média de R$ 419,73) em 2008. Já no início do período, a participação era

de 76,9%, que equivaliam a uma renda familiar per capita de R$ 450,45, no máximo, com

média de R$ 398,50.

Dos adolescentes desempregados, 74,7% (duas primeiras faixas de renda) tinham

renda familiar média de R$ 1707,49 e per capita média de R$ 386,52, em 2000, e R$

1510,46 e R$ 367,33, respectivamente, em 2008. As demais faixas etárias mantêm altas

taxas de concentração nos níveis de menor renda, sendo aquelas entre os 30 e 49 anos as

que se destacam.

19 Refere-se à renda familiar média da população desempregada no ano, com ano base em 2008, corrigida pelo IPCA (IpeaData). 20 O número médio de membros nas famílias dos desempregados (DA) em 2008 foi de 4,07, enquanto no ano de 2000 tinha sido de 4,44 membros.

110

Poderíamos considerar uma renda razoável se os sistemas educacionais e de saúde

públicos fossem satisfatórios, que não é o que acontece ainda no Brasil. O que isso implica

é em dependência imediatista de renda do trabalho e a estagnação das condições de vida

que já mencionamos algumas vezes ao longo deste trabalho. Não é atribuível a essas

famílias o direito de planejar e pensar no longo prazo se são as necessidade imediatas de

sobrevivência que se sobrepõem à dedicação aos estudos.

Tabela 37 – Participação no DA por faixa etária e renda familiar – 2000, 2003 e 2008 Faixa etária/faixa de renda (%)

10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 >70

<= 1000 44,5 48,1 58,7 55,6 52,2 55,4 70,6

1000 - 2000 30,2 27,3 23,9 24,2 24,2 27,5 14,3

2000 - 3000 12,2 10,8 8,7 9,7 11,4 8,6 4,3

3000 - 4000 5,5 5,2 3,8 4,4 4,8 0,7 3,4

4000 - 5000 2,7 2,5 1,9 1,9 2,8 4,5 2,9

>5000 5,0 6,1 3,1 4,2 4,6 3,3 4,7

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

<= 1000 51,9 53,4 64,6 62,0 52,9 55,4 69,5

1000 - 2000 29,8 27,2 22,3 23,3 25,4 22,4 13,2

2000 - 3000 9,9 9,1 7,3 7,3 9,9 14,2 0,0

3000 - 4000 4,0 3,9 2,6 3,4 6,6 0,9 0,0

4000 - 5000 1,7 1,9 1,0 1,0 1,9 1,3 17,4

>5000 2,8 4,6 2,2 3,1 3,2 5,8 0,0

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

<= 1000 45,4 47,0 55,0 51,6 47,7 41,1 73,7

1000 - 2000 32,6 29,3 27,9 30,1 26,3 31,4 5,4

2000 - 3000 11,2 10,9 7,9 8,8 9,5 12,8 0,0

3000 - 4000 4,9 4,8 3,9 4,1 6,5 6,0 0,0

4000 - 5000 2,7 2,6 1,8 1,5 2,8 1,3 0,0

>5000 3,3 5,4 3,6 3,8 7,2 7,6 20,9

100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0

Fonte: PED (elaboração própria)

2000

2003

2008

Em relação à idade da população desempregada havíamos concluído que maior

parte se encontrava nas faixas inferiores aos 39 anos, com destaque para a faixa de 20 a 29

anos, única que teve aumento absoluto do desemprego. Esse aumento pode ser em grande

parte explicado pelo envelhecimento de uma parcela da população que também possuía

altas taxas no desemprego desde o início do período, a de 10 a 19 anos, embora o mesmo

argumento não explique a redução da faixa seguinte (30-39).

111

O peso da primeira e segunda faixa etária está coerentemente relacionado com o

fato de grande parte da população em estudo ser composta, no que diz respeito à posição

na família, por Filhos. A faixa de 20 a 29 anos, que seria mais mista em relação à faixa

anterior, é composta em mais da metade por Filhos. A distribuição está ilustrada nos

gráficos abaixo, evidenciando inclusive a pouca alteração sofrida na participação relativa

dos membros da família.

Gráfico 16 – Distribuição dos desempregados (DA) na faixa etária de 20-29 anos pela posição na família – 2000 e 2008

0%

20%

40%

60%

80%

100%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Chefe Conjuge Filho Demais

Fonte: PED (elaboração própria)

Pela Tabela 38, que relaciona o número e a proporção de desempregados por

posição na família sobre DA total, vemos que, dentre os grupos com participação

relevante, a maior queda foi observada entre os Chefes, -18,3%, enquanto Cônjuges

tiveram aumento de 4,8% e para Filhos a redução foi somente de 0,7%.

Tabela 38 – Participação no DA por posição na família – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

406.903 411.629 440.078 496.147 426.512 390.131 385.963 374.126 332.612

20,8% 20,2% 20,4% 20,8% 18,8% 18,6% 18,5% 18,5% 17,6%

401.956 417.900 437.716 487.285 457.801 430.831 427.854 429.932 421.381

20,6% 20,5% 20,3% 20,4% 20,2% 20,5% 20,5% 21,3% 22,3%

953.137 1.002.905 1.068.605 1.163.818 1.151.943 1.072.441 1.069.895 1.022.231 946.720

48,8% 49,3% 49,5% 48,7% 50,9% 51,1% 51,3% 50,5% 50,1%

191.303 201.199 210.663 241.625 228.194 203.951 199.952 196.866 187.627

9,8% 9,9% 9,8% 10,1% 10,1% 9,7% 9,6% 9,7% 9,9%

1.953.299 2.033.633 2.157.062 2.388.875 2.264.450 2.097.354 2.083.664 2.023.155 1.888.340

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboração própria)

1. inclui as categorias Outro parente, Agregado, Pensionista, Empregado Doméstico, Parente Empregado Doméstico e Outros.

Chefe

Cônjuge

Filho

Demais1

Total

112

Os Filhos e Cônjuges têm papel complementar na renda da família e a importância

dessa complementação de renda é grande, pois, como havíamos observado, maior parte das

famílias dos desempregados são pobres. Ainda assim, em situação involuntária de

inatividade, como forma de sustento durante a busca por um novo emprego, os integrantes

do DA recorrem à ajuda de parentes e/ ou conhecidos ou vivem como dependente da renda

do trabalho de outras pessoas da família. As parcelas de desempregados em cada um

desses meios de sobrevivência podem ser vistas na Tabela 39. Em relação a essa

informação podemos dizer ainda que a renda alternativa fornecida pelo meio de

sobrevivência ao qual os desempregados tinham acesso no ano de 2000, para 94,4% deles,

não superava o valor de R$ 250,00. Até 2008, pouco se alterou, como pode ser visto na

Tabela 40, que apresenta a população desempregada por faixa de renda auferida no meio

de sobrevivência.

Tabela 39 – Meio de sobrevivência dos desempregados (DA) – 2000-2008 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

649.830 677.243 722.617 864.926 823.891 789.629 787.563 753.077 681.134

33,3% 33,3% 33,5% 36,2% 36,4% 37,7% 37,8% 37,2% 36,1%

1.155.717 1.207.874 1.277.468 1.371.798 1.310.812 1.172.704 1.166.487 1.154.677 1.098.830

59,2% 59,4% 59,2% 57,4% 57,9% 55,9% 56,0% 57,1% 58,2%

147.244 147.842 156.852 151.792 129.008 134.379 129.341 115.153 108.326

7,5% 7,3% 7,3% 6,4% 5,7% 6,4% 6,2% 5,7% 5,7%

1.952.791 2.032.959 2.156.937 2.388.516 2.263.711 2.096.712 2.083.391 2.022.907 1.888.290

100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Ajuda de parente e/ou conhecidos

Outra(s) pessoa(s) da familia tem trabalho

Outros meios

Total

Tabela 40 – Percentual de desempregados (DA) por faixas de renda auferida em meios alternativos – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

<= 250 94,4 94,7 94,1 94,1 94,5 94,3 94,2 93,8 93,4

250 - 500 4,1 3,3 3,9 3,8 3,3 3,0 2,8 3,0 3,3

500 - 750 1,5 2,0 2,0 2,2 2,2 2,6 3,0 3,2 3,2

Fonte: PED (elaboração própria)

Pela Tabela 41, que apresenta os dados extraídos da PED sobre o tempo que o

indivíduo em desemprego aberto saiu do último trabalho, podemos notar que o

componente friccional no desemprego não tende a ser período tão curto. Ou seja, a

recolocação da força de trabalho no mercado não é imediata, o que torna o seguro

desemprego um importante mecanismo de proteção ao trabalhador, principalmente porque

as condições das famílias desses desempregados não são suficientemente boas.

113

Tabela 41 – Desempregados e tempo de desemprego (meses) – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 fc 2000 fc 2008

1 12,3% 12,9% 12,2% 10,8% 12,7% 14,1% 12,2% 12,1% 13,9% 12,3% 13,9%

2 12,3% 13,0% 12,5% 11,9% 12,0% 12,9% 13,8% 14,1% 15,0% 24,6% 29,0%

3 7,9% 8,5% 8,3% 8,2% 7,6% 7,9% 8,9% 8,5% 8,5% 32,5% 37,4%

4 5,7% 6,6% 6,0% 6,3% 5,1% 5,3% 6,1% 6,8% 6,0% 38,2% 43,4%

5 a 7 13,3% 13,6% 14,5% 14,4% 12,8% 13,8% 14,9% 15,2% 14,4% 51,5% 57,8%

8 a 11 6,9% 7,2% 7,9% 8,1% 7,0% 7,5% 6,9% 6,7% 6,6% 58,4% 64,4%

12 10,1% 9,6% 10,3% 11,1% 11,1% 10,0% 11,1% 11,1% 10,9% 68,5% 75,3%

>12 31,5% 28,6% 28,3% 29,2% 31,7% 28,5% 26,0% 25,6% 24,7% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboração própria)

Somente 12,3% estavam desempregados há apenas um mês em 2000, aumentando

para 13,9% em 2008. Embora positivo, esse aumento não foi suficiente para reproduzir

uma idéia de reajustamento rápido do mercado de trabalho brasileiro. Pelo contrário,

salienta uma característica dele: a insuficiente disponibilidade de postos de trabalho como

determinante do longo período de busca por atividade remunerada.

O período de referência para o não exercício de atividade laboral na estatística de

desemprego aberto é dos sete dias imediatamente anteriores à pesquisa, todavia os números

de desempregados para períodos pouco mais longos que esse é pequeno. O desemprego de

curta duração é raro, como mostram os dados dispersos ao longo do período de um ano

após a perda do emprego. Aqueles sem trabalho há um ano, por exemplo, têm quase o

mesmo peso que os com apenas um mês (13,9% contra 10,9%).

Como último aspecto, a apresentação do Setor econômico do último emprego do

trabalhador desempregado (Tabela 42) mantém a maior representatividade dos oriundos do

setor de Serviços, que de 34,5% em 2000 passou para 37,7% do desemprego aberto, em

2008, em seguida está o setor de Comércio (15,3 para 16,1%). Ambos apontam para

tendência de aumento da participação do setor terciário na economia, onde o trabalho

informal é mais presente, e por isso provavelmente também uma maior instabilidade das

relações de trabalho, o que poderia explicar grande parte da volatilidade do nível de

desemprego a eles associado. As variações no setor de serviços sempre superam as de

outros setores.

114

Tabela 42 – Desempregados em DA por setor do último trabalho – 2000-2008

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

274.905 284.703 299.152 320.998 285.053 268.139 265.308 249.137 232.940

14,1% 14,0% 13,9% 13,4% 12,6% 12,8% 12,7% 12,3% 12,3%

121.726 126.746 130.337 144.068 126.972 108.310 96.584 88.742 72.633

6,2% 6,2% 6,0% 6,0% 5,6% 5,2% 4,6% 4,4% 3,8%

298.769 303.510 335.991 359.849 344.024 323.981 324.181 319.434 303.183

15,3% 14,9% 15,6% 15,1% 15,2% 15,4% 15,6% 15,8% 16,1%

673.912 701.889 778.625 865.669 797.096 774.127 769.383 769.215 712.702

34,5% 34,5% 36,1% 36,2% 35,2% 36,9% 36,9% 38,0% 37,7%

211.718 225.902 214.150 244.491 229.950 211.406 194.428 183.992 167.678

10,8% 11,1% 9,9% 10,2% 10,2% 10,1% 9,3% 9,1% 8,9%

5.118 7.415 6.751 8.473 6.561 3.932 6.356 6.224 5.679

,3% ,4% ,3% ,4% ,3% ,2% ,3% ,3% ,3%

5.578 5.070 5.909 8.415 8.063 7.427 6.898 7.684 9.186

,3% ,2% ,3% ,4% ,4% ,4% ,3% ,4% ,5%

360.798 377.318 385.889 436.213 464.535 399.940 419.999 397.407 384.077

18,5% 18,6% 17,9% 18,3% 20,5% 19,1% 20,2% 19,6% 20,3%

1.953.297 2.033.634 2.157.062 2.388.875 2.264.451 2.097.354 2.083.665 2.023.154 1.888.341

100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0% 100,0%

Fonte: PED (elaboraçao própria)

Obs: "Não se aplica" corresponde aos que buscam o primeiro trabalho.

Não se aplica

Total

Serviços

Serviços Domésticos

Agricultura, Pecuária e Extração Vegetal

Outras

Indústria

Construção Civil

Comércio

A intensidade das mudanças na estrutura do desemprego associado aos setores

econômicos é em última instância definida pelo desaquecimento deste setor, embora não

possamos fazer as mesmas afirmações a respeito do aquecimento pelo ângulo que

analisamos o mercado de trabalho, pois não se mostra aqui onde esses desempregados

foram alocados, somente de onde saíram.

Pelo Gráfico seguinte é possível notar que o comportamento do número de

desempregados para todos os setores foi coerente com o da taxa de desemprego aberto. Até

2003 houve um aumento, para que a partir de 2004 se iniciasse queda sistemática.

Como conclusão, podemos, portanto, delinear o perfil do desemprego aberto: são

principalmente Pretos ou Pardos, em maioria mulheres, pertencentes às faixas etárias mais

densas da pirâmide populacional brasileira (10-29). São indivíduos que procuram emprego

porque precisam da renda, mas, por definição, não chegam a buscar meios alternativos,

dentre eles o trabalho precário, tanto pelas dificuldades na execução do próprio trabalho

como pela possibilidade de ser sustentado pelo núcleo familiar, pois são na maior parte

dependentes (Filhos e Cônjuges). Como fator complicador, o grau de instrução da

população que procura emprego sem êxito, é muito baixo, além de na maioria das vezes

insuficiente, de baixa qualidade. Muito embora pelos dados que analisamos não possamos

fazer nenhuma afirmação nesta questão, a fraca qualidade do ensino público brasileiro,

única a que têm acesso, é de conhecimento geral.

115

Gráfico 17 - Evolução do número de desempregados (DA) por setor do último trabalho – 2000-2008

-

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1.000

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Mil

hare

s

Indústria Construção Civil Comércio Serviços Serviços Domésticos

Fonte: PED (elaboração própria)

Ademais, verificamos que maior parte provém do setor de Comércio e Serviços,

onde vigoram principalmente relações informais de trabalho. Isso acaba por determinar

uma deterioração das condições de vida do indivíduo recém-desempregado, dificultando a

manutenção da busca por emprego, já que não têm direito a recebimento de seguro-

desemprego. Também para os demais tipos de desemprego, nos quais o peso do terciário é

grande, se estabelecem situações semelhantes, em maior ou menor intensidade. Mas como

exatamente ficam definidas essas intensidades?

O que muda no desemprego aberto em relação aos outros dois tipos de

desemprego? Os atributos do indivíduo, sua formação e condições de vida se relacionam

diferentemente com a falta de trabalho em cada uma das três situações? Na seção seguinte

vamos concluir a análise do perfil e estrutura do desemprego sintetizando e comparando os

principais pontos apresentados até agora.

3.3. Comparação e conjecturas sobre as três categorias de desemprego

O comportamento da taxa de desemprego no período 2000 a 2008 foi analisado ao

longo deste capítulo à luz das mudanças internas, ou seja, das características da população

desempregada. O objetivo era esboçar uma resposta a quem seriam os desempregados no

início do período analisado, quais fatores eventualmente alteraram esse perfil e qual o

efeito final do surto de recuperação do emprego sobre os desempregados. A análise foi

116

detalhada por três tipos de desemprego: o aberto; o oculto com trabalho precário e o oculto

por desalento, separadamente. Para esta seção a proposta é de sintetizar as informações

coletadas e comparar o perfil das três categorias de desemprego, primeiro, pelas

características pessoais (sexo, cor, idade e grau de instrução). E, segundo, pelos aspectos

que delineiam o impacto da condição de desemprego sobre o indivíduo e sua família

(posição na família, nível de renda, tempo de desemprego, renda alternativa e setor de

atividade do último emprego).

Para desenvolver o estudo da composição do desemprego até agora utilizamos taxas

de participação dos indivíduos segundo determinadas características sobre cada tipo de

desemprego. Esta abordagem agrega valor à nossa análise na medida que fornece uma

fotografia da população em condição de trabalho precário, que leva o indivíduo a desejar

mudança de emprego, de desestímulo em relação ao mercado de trabalho, e dos que tem

mais recentemente buscado se reinserir e se dedicado exclusivamente à busca. O uso

paralelo da convencional taxa de desemprego do grupo na PEA nos permitirá separar

aumento da pressão de determinados grupos sobre o emprego (aumento da oferta) da

dificuldade de inserção inerente a características do desempregado. Outra ressalva a ser

feita em relação ao método de análise é que os anos enfatizados serão os que apresentaram

inflexão do comportamento da taxa de desemprego, abstraindo dos períodos de queda ou

ascensão sistemática.

Para o primeiro atributo pessoal dos desempregados, a cor, encontramos as

seguintes relações. No desemprego oculto com trabalho precário se apresenta maior

participação da população Preta e Parda (chegou a 61,2% em 2008), embora ela seja

maioria nos três tipos, com tendências iguais de aprofundamento das desigualdades em

relação a Brancos e Amarelos a despeito da queda no desemprego para ambos. A Tabela

43 e o Gráfico 18 nos mostram o quão desigual é esta relação, pois evidencia a persistência

de maiores taxas de desemprego entre Pretos e Pardos, em relação a Brancos e Amarelos.

No desemprego aberto o aumento da desigualdade foi acompanhado pelo

crescimento do número absoluto de Pretos e Pardos na sua população até 2008, em

confronto com uma situação inicial de maioria Branca e Amarela. A redução absoluta para

os outros dois tipos de desemprego acompanhado de mudanças na participação relativa dos

grupos21 sinaliza efeitos distintos do crescimento sobre a desocupação de ambos, na qual

21 Rever Tabelas 8, 20 e 32.

117

Brancos e Amarelos se mostraram mais propensos a sair da situação de desemprego, tanto

no desalento como no precário.

Tabela 43 – Taxas de desemprego por cor e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008

Brancos e Amarelos

Pretos e PardosBrancos e Amarelos

Pretos e PardosBrancos e Amarelos

Pretos e Pardos

372.861 443.584 373.429 542.993 237.053 374.600

3,8% 6,3% 3,9% 6,4% 2,2% 4,1%

1.005.298 947.655 1.100.956 1.287.772 882.054 1.006.286

10,2% 13,5% 11,4% 15,2% 8,3% 10,9%

198.008 207.569 197.142 272.470 122.485 174.954

2,0% 2,9% 2,0% 3,2% 1,2% 1,9%

8.319.393 5.443.871 7.981.831 6.376.320 9.384.703 7.644.980

84,1% 77,3% 82,7% 75,2% 88,3% 83,1%

9.895.560 7.042.679 9.653.358 8.479.555 10.626.295 9.200.820

100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

2000 2003 2008

DOTP

DA

DOD

Ocupados

Total

Gráfico 18 – Taxas de desemprego dos grupos por Cor e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

Brancos eAmarelos

Pretos ePardos

Brancos eAmarelos

Pretos ePardos

Brancos eAmarelos

Pretos ePardos

2000 2003 2008

DOTP DA DOD

Fonte: PED (elaboração própria)

Ou seja, a recuperação do mercado de trabalho a partir de 2004 representou uma

melhora inclusive nesse quesito, no qual os dois grupos foram afetados positivamente (e

foram prejudicados da mesma forma no período de desaquecimento), com exceção do DA.

No entanto, houve uma melhor resposta de Brancos e Amarelos a essa recuperação, o que

argumentamos anteriormente como uma consequência das menores oportunidades da

população Preta e Parda, sobre a qual pesam fatores como menores níveis de instrução e

menor renda, que acreditamos estar associado ao desemprego não só enquanto resultante,

mas também como causa.

118

Quanto à divisão da população desempregada pelo sexo, encontramos menor,

embora crescente, participação feminina somente no desemprego acompanhado de trabalho

precário. No desemprego aberto e no desalento elas são maioria também crescente, com

peso ainda mais significativo no segundo. A taxa de desemprego entre as mulheres é

sempre maior, como mostram as taxas abaixo no Gráfico 19 e Tabela 44.

Gráfico 19 – Taxas de desemprego entre Homens e Mulheres – 2000, 2003 e 2008

0%

2%

4%

6%

8%

10%

12%

14%

16%

18%

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

2000 2003 2008

DOTP DA DOD

Fonte: PED (elaboração própria)

Tabela 44 – Taxas de desemprego por sexo e tipo de desemprego – 2000-2008

Homens Mulheres Homens Mulheres Homens Mulheres

545.856 270.588 596.767 319.708 356.758 254.896

5,8% 3,6% 6,1% 3,8% 3,4% 2,7%

836.434 1.116.863 1.019.414 1.369.461 735.531 1.152.810

9,0% 14,7% 10,4% 16,4% 7,0% 12,3%

135.022 270.633 149.880 319.817 92.447 204.993

1,4% 3,6% 1,5% 3,8% 0,9% 2,2%

7.826.625 5.940.109 8.007.248 6.352.144 9.300.274 7.730.871

83,8% 78,2% 81,9% 76,0% 88,7% 82,7%

9.343.937 7.598.193 9.773.309 8.361.130 10.485.010 9.343.570

100% 100% 100% 100% 100% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

Total

DOTP

DA

DOD

2000

Ocupados

2003 2008

Os dados mostram claramente a inflexão na evolução do desemprego no período,

onde abstraímos dos intervalos de ascensão ou queda contínuas, divididas as taxas entre

homens e mulheres. No DOTP e no DOD houve redução absoluta do desemprego para

ambos, mas principalmente para os homens, enquanto no DA encontramos mais uma vez a

exceção, houve aumento absoluto do desemprego para as mulheres. A entrada das

119

mulheres no mercado de trabalho nos últimos anos foi intensa, o que acabou por definir

uma redução mais lenta, ou mesmo um aumento absoluto como no caso do DA, do número

de mulheres desempregadas.

No desemprego por desalento é predominante a participação das mulheres,

funcionando como uma reserva de trabalho feminino, a espera de condições favoráveis do

mercado de trabalho. A condição enquadrada no DOD é de paralisação da busca de

trabalho, principalmente pelas condições desfavoráveis de emprego, seja na

disponibilização de postos ou nos salários (estabelecidas suas exigências, ou seja, o salário

de reserva do trabalhador). A redução do desemprego por desalento, no contexto dos

últimos anos, pode também ter pressionado para o aumento do desemprego aberto entre as

mulheres por um desses fatores. A melhora do mercado de trabalho faria com que a parcela

da população desempregada, predominantemente feminina, que tinha suspendido a busca,

as retomasse, sendo isso captado de alguma forma pelas estatísticas da PED sem que

possamos definir com exatidão a defasagem e distribuição dessa transferência. Com os

dados que expusemos não é possível distinguir a mudança para uma situação de ocupação

ou desemprego aberto, o que não a torna negligenciável.

Em relação à idade da população desempregada, encontramos os seguintes fatos.

As faixas de indivíduos de idade superior a 60 anos são mais representativas no

desemprego por desalento. Na composição do DOD e do DA, as faixas etárias de 10 a 39

anos tiveram a maior participação, enquanto no DOTP a faixa de 40 a 49 substitui a

primeira faixa, mostrando aqueles com idade entre 20 e 49 anos como mais afetados.

As taxas de desemprego são altas – superiores a 3% - para quase todos os grupos

etários no desemprego com trabalho precário e no aberto, adquirindo até mesmo valores

extremamente elevados, como para o caso dos adolescentes e jovens. No DOD as taxas são

menores, só passaram de 2% durante todo o período para as faixas de 10 a 29 anos, mas

inferiores a partir de 2007. (Gráfico 20 e Tabela 45)

120

Gráfico 20 – Participação das faixas etárias no desemprego – 2000, 2003 e 2008.

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

DOT P DA DOD DOT P DA DOD DOTP DA DOD

2000 2003 2008

10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 >60

Fonte: PED (elaboração própria)

Tabela 45 – Taxas de desemprego por faixa etária e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008

10 - 19 20 - 29 30 - 39 40 - 49 50 - 59 60 - 69 >70

137.970 281.231 205.535 132.484 49.192 9.024 1.007 6,9% 5,3% 4,7% 4,1% 3,3% 2,0% 1,3%

588.895 709.785 339.751 205.466 84.412 22.027 2.962 29,3% 13,5% 7,8% 6,4% 5,6% 4,8% 3,6%

115.344 131.127 75.769 47.421 26.749 8.073 1.172 5,7% 2,5% 1,7% 1,5% 1,8% 1,8% 2,0%

1.169.435 4.139.534 3.742.397 2.849.716 1.348.801 422.136 94.716 58,1% 78,7% 85,8% 88,1% 89,4% 91,5% 93,1%

131.166 313.309 233.911 165.432 62.283 9.885 488 7,0% 5,5% 5,1% 4,6% 3,5% 1,9% 0,8%

651.168 923.856 416.830 264.540 105.390 24.635 2.456 34,8% 16,2% 9,1% 7,4% 5,9% 4,8% 2,5%

118.686 163.447 81.822 58.759 36.397 9.715 871 6,3% 2,9% 1,8% 1,6% 2,0% 1,9% 1,0%

969.596 4.317.713 3.847.726 3.085.140 1.573.164 467.238 98.814 51,8% 75,5% 84,0% 86,3% 88,5% 91,4% 95,7%

83.100 209.492 151.030 112.683 47.543 7.754 52 4,9% 3,5% 3,1% 2,8% 2,0% 1,2% 0,0%

514.793 768.202 325.103 184.202 80.733 13.620 1.687 30,2% 12,7% 6,6% 4,6% 3,4% 2,1% 3,3%

72.683 98.890 57.603 40.562 20.258 6.346 1.099 4,3% 1,6% 1,2% 1,0% 0,9% 1,0% 0,3%

1.035.397 4.986.777 4.405.626 3.668.455 2.199.822 615.549 119.520 60,7% 82,2% 89,2% 91,6% 93,7% 95,7% 96,4%

Ocup.

Ocup.

DOTP

DA

DOD

2000

2003

2008

DOTP

DA

DOD

Ocup.

DOTP

DA

DOD

Fonte: PED (elaboração própria)

A questão do desemprego para as duas faixas etárias mais jovens é grave e estão

intimamente relacionados. Primeiro, temos uma população muito grande que está

abandonando os estudos para contribuir para a renda da família, os adolescentes.

Enfrentam problemas de inserção no mercado de trabalho tanto pela inexperiência como

121

pela maior regulação e controle sobre o trabalho infantil22 (menores de 16 anos,

considerado aprendiz aquele com idade entre 14 e 16) preconizados nos últimos anos.

Além de se expor muito precocemente ao trabalho, acaba por estabelecer uma dificuldade

futura de integração no mundo do trabalho, pois não se qualifica adequadamente na época

certa nem consegue criar condições financeiras suficientemente melhores para sua família

a ponto de poder investir no seu crescimento profissional. Nesse aspecto a busca por

emprego na adolescência acaba por influenciar o desemprego na fase seguinte, de 20 a 29

anos. Segundo, portanto, além da baixa qualificação resultante do primeiro problema,

geralmente pesa para esse segundo grupo a inexperiência profissional daqueles que estão

buscando o primeiro emprego ainda. Amenizar esses problemas nos dois grupos perpassa

por uma reestruturação da educação e da assistência às famílias das crianças e adolescentes

para que não se tornem jovens pouco produtivos do ponto de vista do mercado de trabalho.

A baixa qualificação não é exclusividade de nenhum dos três tipos de desemprego

que analisamos. Na análise segregada deles vimos que maior é a participação dos grupos

com Ensino Fundamental Incompleto e Médio Completo, com inversão ou distribuição dos

pesos entre eles ao longo do período. Usando como indicador a taxa de desemprego dos

grupos encontramos as seguintes condições:

Para os níveis mais altos de instrução a tendência mais comum foi de redução das

taxas de desemprego para os grupos, com alguma resistência no desemprego aberto, para o

qual a taxa chegou a crescer entre pessoas com Nível Superior Completo. No DOD a taxa

chegou a cair a despeito do aumento do número de desempregados nele classificados para

os três últimos níveis. Somente no DOTP, nos dois níveis mais altos é que houve contração

tanto absoluta como relativa.

22 O peso dessa faixa etária na PEA é tão grande que mesmo com altas taxas de inatividade, que evoluiu de 68% para 72% no período, os aproximadamente 30% responderam por uma parcela considerável do desemprego. A inatividade nas faixas etárias de 20 a 59 anos fica em torno de 40%, voltando a subir para os idosos, naturalmente.

122

Gráfico 21 – Taxas de desemprego por grau de instrução – 2000, 2003 e 2008

0,0% 5,0% 10,0% 15,0% 20,0% 25,0%

DOTP

DA

DOD

DOTP

DA

DOD

DOTP

DA

DOD

2000

2003

2008

Analfabeto Sem escolarização Fundamental Incompleto

Fundamental Completo Médio Incompleto Médio Completo

Superior Incompleto Superior Completo

Fonte: PED (elaboração própria)

Podemos apontar, portanto, como uma tendência geral do mercado de trabalho o

aumento do nível educacional dos trabalhadores, mas com uma trajetória paralela do

desemprego, nos três níveis, de aumento do peso das pessoas mais instruídas nas

estatísticas. Na maior parte das vezes, a queda no desemprego foi acompanhada de queda

na ocupação para os menos instruídos, enquanto para os mais instruídos o aumento na taxa

de desemprego foi simultânea ao aumento na ocupação, indicando tanto uma pressão sobre

um segmento do mercado de trabalho de um perfil de mão-de-obra mais estudada, como

uma expansão das oportunidades de emprego ainda insuficiente para absorvê-los. A nosso

ver, isso indica que a defasagem educacional da população não é a única causa do

desemprego, tampouco o tipo de melhora na educação verificado a solução, pois ao mesmo

tempo que uma forte expansão do emprego não foi suficiente para empregar os mais

instruídos, nada garante que os empregados nesse período o tenham sido exatamente por

terem aumentado sua escolaridade. Em períodos de expansão e com baixo diferencial

123

salarial nas camadas pior remuneradas, o empregador obviamente prefere empregar aquele

com maior grau de instrução, independentemente das capacidades e habilidades exigidas

na atividade a ser exercida. Deve-se ressaltar que estamos falando de uma parcela do

mercado de trabalho que atinge a massa da população economicamente ativa, composta

por trabalhadores não-especializados e que ao longo de sua vida desempenham diversas

tarefas de natureza completamente distintas, pois é essa a população que compõe a

estrutura do desemprego.

Quanto a tendências específicas de cada tipo de desemprego, em relação ao grau de

instrução não encontramos nenhuma peculiaridade. As diferenças se mantêm no nível

estrutural, ou seja, a recuperação do emprego desde 2000 vem afetando linearmente os três

arquétipos de desemprego, com exceção do nível sem escolarização no DOD, que ao invés

de diminuir, aumentou. Para comparar a mudança na taxa de desemprego por grupos

segundo a escolaridade, relacionamos no Gráfico 22 a variação percentual da taxa de

desemprego por grau de instrução.

Gráfico 22 – Variação da taxa de desemprego por nível de escolaridade em p.p. (2008-2000)

-7%

-6%

-5%

-4%

-3%

-2%

-1%

0%

1%

2%

DOTP DA DOD

Analfabeto

Sem escolarização

Fundamental Incompleto

Fundamental Completo

Médio Incompleto

Médio Completo

Superior Incompleto

Superior Completo

Fonte: PED (elaboração própria)

A recuperação do emprego vis-à-vis a melhora do quadro educacional no período

2000 a 2008 operou para a maior redução do desemprego nos níveis mais baixos de

instrução, para todos os tipos de desemprego, com exceção do grupo Sem escolarização,

que sofreu aumento considerável no desemprego por desalento. No mesmo contexto, a

menor redução nos grupos mais instruídos, em relação à queda no outro tipo de

124

desemprego oculto, pode estar relacionado ao fator apontado por Águas (2010), de que o

salário de reserva do trabalhador é mais alto quando seu grau de instrução é elevado,

optando este por paralisar as buscas por emprego, aguardando uma melhor oportunidade.

Em geral no DOD pode-se observar uma relação quase linear entre a redução do

desemprego e a escolaridade: quanto maior o segundo, menor o primeiro.

No DOTP a taxa também recuou para todos os níveis, mas são os intermediários,

principalmente Médio Incompleto, que foram menos impactados pela redução do

desemprego. O DA foi certamente o menos “beneficiado” dos três para escolaridade

superior ao Fundamental Completo. Abstendo-nos de possíveis migrações entre os tipos de

desemprego, poderíamos dizer que os indivíduos do DOTP, que apresentou maior

regularidade entre os grupos na redução do desemprego, acabaram sendo os mais

beneficiados.

A questão do salário de reserva deve ser analisada com cautela, pois exigências em

relação a salários são mais viáveis em núcleos familiares com maior renda, sendo nele que

muitas das vezes o desempregado encontra apoio financeiro, e maior nível educacional.

Contudo, ser apoiado implica, primeiramente, que ele não tenha um papel central na

família, isto é, não seja o Chefe, tendo papel apenas complementar na renda da família.

Como vimos anteriormente a composição do desemprego pela posição na família varia

entre os desempregos. No DOTP predominam os Chefes de família e, em segundo lugar,

os Filhos. No DOD já são os Filhos e, em seguida, os Cônjuges. Por sua vez, no DA,

metade do desemprego é entre Filhos, ficando o restante praticamente dividido entre

Cônjuges e Chefes.

Essa estrutura pouco se alterou ao longo do tempo, com uma mudança sutil nos

pesos do DOTP, provavelmente influenciado pelo aumento das mulheres na PEA, pois a

queda no desemprego entre Cônjuges foi mais lenta do que para os demais participantes de

peso. No desalento as quedas foram proporcionais entre eles e no DA a redução foi maior

para os chefes de família e chegou a aumentar para Cônjuges.

A definição de cada um dos tipos de desemprego acaba sendo associável a esses

fatos com certa facilidade. Chefes de família desempregados representam maior

vulnerabilidade da família e, portanto, maior necessidade e urgência em encontrar uma

fonte de renda que cubra, embora precariamente, a ausência de um trabalho remunerado

estável. Por isso a recorrência em atividades alternativas e trabalhos esporádicos, os

125

“bicos”, é maior entre eles. Já as mulheres têm maior peso no DOD, pois podem optar por

não trabalhar, pelo seu caráter complementar na renda familiar, além do papel já

desempenhado por muitas no próprio lar, que muitas vezes substitui a busca constante por

trabalho. A maior presença de Filhos no desemprego aberto está associada a maior

facilidade e necessidade dos jovens, que coincide em grande parte com a condição de filho,

em manter a busca por trabalho, embora enfrentem dificuldades impostas pelos fatores

supramencionadas de baixo grau de instrução e inexperiência.

Em segundo lugar, a renda da família está relacionada à sua suficiência em amparar

seus membros desempregados, pois como constatamos, com exceção do desemprego

oculto com trabalho precário, o principal meio de sobrevivência tem sido a família.

Havíamos explicado que essa renda se apresenta como variável chave na definição de

urgência do emprego para o trabalhador assim como condicionante da privação de direitos

a que é submetido quando tolhido de um salário ou de uma relação de trabalho

acompanhada de proteção social, necessariamente associada ao trabalho formal. O Gráfico

23 apresenta os dados referentes à Renda Familiar, segundo a condição de desemprego do

indivíduo e mostra que há uma concentração de desempregados nas faixas de menor renda

familiar.

Gráfico 23 – Composição do desemprego por renda familiar dos desempregados e tipo de desemprego – 2000, 2003 e 2008

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

2000 2003 2008 2000 2003 2008 2000 2003 2008

DA DOTP DOD

<= 1000 1000 - 2000 2000 - 3000 3000 - 4000 >4000

Fonte: PED (elaboração própria)

126

Em 2008, as taxas de participação na primeira faixa de renda, a mais baixa, eram de

48,3%; 64,3% e 54,2% para DA, DOTP e DOD, respectivamente. Acumulando com a

renda de até R$ 2000,00, alcançavam os valores de 78,3%; 87,9% e 82,6%. Para se ter uma

idéia mais precisa das condições financeiras destas duas faixas populacionais, a renda per

capita média chegou a somente R$ 248,59; R$ 210,87 e R$ 235,72, no mesmo ano. Fato

para otimismo é que as três apresentaram maiores patamares em relação a 2000, ao

contrário da renda familiar per capita média dos grupos desempregados como um todo,

demonstrando uma maior distribuição da renda. Somente para o desemprego aberto o

aumento foi verificado em todos os âmbitos.

Ademais, o que se nota é uma diferença da predominância de determinados níveis

de renda entre os distintos tipos de desemprego. A renda familiar média dos indivíduos em

desemprego aberto é sistematicamente maior do que a dos outros dois tipos, sendo do

desemprego com trabalho precário a menor e mais instável. De uma forma geral, todas

acompanharam a tendência da renda real das famílias das metrópoles brasileiras no

período, que sofreu forte queda de 2000 a 2003, para a partir de 2004 recuperar sua

valorização real. (Gráfico 24)

Gráfico 24 – Evolução da renda familiar por tipo de desemprego – 2000-2008

800

900

1.000

1.100

1.200

1.300

1.400

1.500

1.600

1.700

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

DOT P DA DOD

Fonte: PED (elaboração própria)

A renda familiar pode ser um determinante da forma de inserção do indivíduo no

mercado de trabalho, principalmente por facilitar o processo de busca, financiando-o e

dando meio de sobrevivência temporariamente. Por isso, já que são relativamente mais

127

pobres, e pelo fato de serem em sua maioria Chefes de família, indivíduos acabam se

enquadrando na situação ocupacional definida no DOTP, por exemplo, que acabam por se

submeter a trabalhos precários para prover a renda do seu núcleo. No DOD, rendas mais

altas, em relação ao DOTP, permitem a opção por não trabalhar, ou seja, pelo perfil do

desemprego por desalento, é relativamente esperado que a necessidade de se exercer

atividade remunerada para complementar a renda da família seja menor, podendo o

trabalhador optar por suspender a busca por emprego, embora se mostre disponível caso

surja uma oportunidade.

Nestas condições, a renda alternativa a que tem acesso o desempregado, seja pelo

trabalho precário ou pela ajuda de parentes ou apoio familiar, não é alta. Os dados mostram

que 59,2% dos indivíduos em desemprego aberto e 59,4% dos desalentados se sustentam

do trabalho de outras pessoas da família. No DOTP, 95,7% sobrevive da renda de trabalhos

precários, principalmente. O Gráfico 25, que apresenta a composição do desemprego pela

renda alternativa média23 do período 2000 a 2008 do desempregado em cada tipo de

desemprego, mostra com clareza o grau de dependência dos indivíduos em desemprego

aberto e desalento em relação ao seu núcleo familiar, pois maior parte tem renda zero.

Enquanto os desempregados que exercem trabalhos precários apresentam maior dispersão

entre as faixas destacadas, embora isso não represente nenhuma vantagem prática, pois

85,1% não aufere mais do que R$400,00.

Gráfico 25 – Composição do desemprego pela renda alternativa do desempregado

17,6%

93,8% 95,1%

30,4%

18,2%

10,8%

8,1%

14,9%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

100%

DOT P DA DOD

<= 1 1 - 100 100 - 200 200 - 300 300 - 400 >400

Fonte: PED (elaboração própria)

23 Optamos pelo uso da média, pois as taxas não se alteraram significativamente no período.

128

Outro aspecto do desemprego com trabalho precário chama atenção: a sua duração.

A execução de trabalhos precários pode ser para muitas pessoas uma situação ocupacional

duradoura, pelo que encontramos nos dados em relação ao tempo de desemprego. Pior

estatística é a dos desempregados do DOD, dos quais 58,3% estão há um ano sem trabalho,

frente aos 62,4% do DOTP. O desemprego aberto é o que apresenta maior rotatividade dos

seus componentes, pois o tempo desempregado é mais curto para grande parte deles,

75,3% se concentram na faixa de no máximo um ano. A duração média do DOTP é de 1,96

ano, do DOD de 2,2 anos e do DA 1,36 no ano 2000, sendo em 2008 de 1,97; 2,21 e 1,24,

respectivamente (Tabela 46). O seguro-desemprego deveria assegurar alguma estabilidade

ao trabalhador pelo menos nos cinco primeiro meses do desemprego, mas, neste contexto,

e pela limitada quantidade de indivíduos que têm acesso ao benefício, se torna um

mecanismo de proteção defasado. (Tabela 47)

Tabela 46 – Tempo médio de duração do desemprego por tipo de desemprego – 2000-2008

DOTP DOD DA

2000 1,97 2,20 1,36

2001 1,96 2,21 1,35

2002 2,03 2,23 1,29

2003 2,03 2,36 1,33

2004 2,09 2,35 1,39

2005 2,07 2,33 1,28

2006 1,92 2,27 1,24

2007 1,96 2,13 1,23

2008 1,97 2,21 1,24

Fonte: PED (elaboração própria)

Como último aspecto sob análise, o setor de origem dos desempregados. Parte

expressiva dos desempregados, anteriormente à situação de desemprego, trabalhava no

setor de Serviços, onde predomina o trabalho informal. Isto pode ser um agravante, na

medida em que pesa na condição de vulnerabilidade do desempregado não ter direito a

seguro-desemprego. Buscamos essa informação na base de dados da PED e o que

encontramos não foi um quadro positivo. No desemprego aberto, por exemplo, o

percentual de desempregados com até cinco meses sem trabalho, ou seja, a população que

potencialmente poderia estar ainda usufruindo das parcelas do seguro (desconsiderando a

causa da perda do emprego ou do vínculo empregatício anterior), era de 42,6%, mas

somente 3,3%, em 2000, e 5,2% em 2008, o recebiam.

129

Tabela 47 – Desempregados e seguro-desemprego – 2000-2008

Sim Não Total

12.389 803.965 816.444

1,5% 98,5% 100%

65.017 1.888.131 1.953.298

3,3% 96,7% 100%

2.979 402.676 405.655

0,7% 99,3% 100%

13.440 598.010 611.653

2,2% 97,8% 100%

99.009 1.789.331 1.888.340

5,2% 94,8% 100%

2.926 294.514 297.440

1,0% 99,0% 100%

Fonte: PED (elaboração própria)

2000

DOTP

DA

DOD

2008

DOTP

DA

DOD

Além do setor de Serviços, o Comércio e a Indústria de Transformação têm sido os

mais presentes na composição do desemprego por Setor do último trabalho do

desempregado no DA. Este tipo de desemprego foi o único que apresentou aumento

absoluto do número de desempregados, no caso, os oriundos dos setores de Comércio,

Serviços e da Agricultura. No DOTP, o setor de Serviços despontava e os demais

(Indústria, Construção Civil e Comércio) dividiam quase igualmente 39,6% dos

desempregados, em 2008. A maior queda, em p.p., foi na Indústria, enquanto os dois

setores relacionados a Serviços aumentaram. Já no DOD, Serviços, Comércio e Serviços

Domésticos, nesta ordem, são mais representados. (Tabela 48)

Comparando os três tipos de desemprego novamente encontramos algumas

peculiaridades. No DOD a participação de desempregados que vinham do setor de

Serviços Domésticos é relativamente mais significativa e ao mesmo tempo menor na

Indústria, o que condiz com o perfil feminino desse grupo, embora a taxa da Construção

Civil não a reflita. No DOTP percebe-se maior presença de ex-trabalhadores da Construção

Civil.

No desemprego total teremos então como grupos mais representativos os de

Serviços e Comércio no DA, Serviços no DOTP e assim por diante, como pode ser

observado no Gráfico 26. Podemos notar ainda uma leve tendência de expansão do setor de

Serviços, mas não houve nenhuma mudança abrupta nas taxas de participação, ou seja, não

130

houve uma transformação estrutural relevante na economia no que diz respeito à formação

do desemprego.

Gráfico 26 – Evolução da participação no desemprego total por setor de origem e tipo de desemprego 2000-2008

0%

20%

40%

60%

80%

100%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Serviços (DA) Comércio (DA) Serviços (DOT P)

Indústria (DA) Serviços domésticos (DA) Serviços (DOD)

Indústria (DOT P) Demais

Fonte: PED (elaboração própria)

Tabela 48 – Desempregados por setor de origem e tipo de desemprego (variação absoluta e em p.p.)

Variação Variação Variação

(2008-2000) (2008-2000) (2008-2000)

88.546 (62.820) 29.449 (27.072) 232.940 (41.965)

14,5% -4,1% 9,9% -4,0% 12,3% -1,7%

71.974 (29.091) 12.807 (7.572) 72.633 (49.093)

11,8% -,6% 4,3% -,7% 3,8% -2,4%

81.592 (28.043) 47.593 (15.616) 303.183 4.414

13,3% -,1% 16,0% ,4% 16,1% ,8%

237.177 (59.343) 104.681 (24.830) 712.702 38.790

38,8% 2,5% 35,2% 3,3% 37,7% 3,2%

60.302 (1.236) 37.811 (18.477) 167.678 (44.040)

9,9% 2,3% 12,7% -1,2% 8,9% -2,0%

2.287 (2.391) 855 (866) 5.679 561

,4% -,2% ,3% -,1% ,3% ,0%

2.699 554 2.617 609 9.186 3.608

,4% ,2% ,9% ,4% ,5% ,2%

Fonte: PED (elaboração própria)

DOTP DOD DA

Agricultura, Pecuária e Extração Vegetal

Outras

2008 2008 2008

Indústria

Construção Civil

Comércio

Serviços

Serviços Domésticos

131

3.4. Conclusão

Este capítulo tinha como meta traçar o perfil do desemprego, segundo indicadores

construídos pela PED. A pesquisa agrega dois conceitos ao conhecido desemprego aberto:

o oculto com trabalho precário e o oculto por desalento. Um inclui no conceito de

desemprego as pessoas que têm trabalhado, mas em atividade considerada precária, ou

seja, atividade irregular ou não remunerada de ajuda em negócio de parentes. O trabalho

irregular é tido como uma auto-ocupação não remunerada ou remunerada instável, na qual

o trabalhador não tenha direitos nem garantias em relação à continuidade do trabalho

exercido nem de alternativas caso o perca, tampouco da renda que este lhe aufere. Por isso

sente necessidade de mudar para um trabalho que lhe provenha maior estabilidade.

O outro, do chamado desalentado, é a situação em que o indivíduo sem trabalho se

encontra desestimulado pelas dificuldades do mercado de trabalho ou por problemas

pessoais, mas que se declara disponível para trabalhar. É necessário ter procurado trabalho

por pelo menos quinze dias nos últimos doze meses. O aberto, mais amplamente utilizado

em pesquisas de desemprego, considera as pessoas que estavam sem trabalho há pelo

menos sete dias com procura efetiva por trabalho, isto é, nos 30 dias anteriores à pesquisa.

Os resultados encontrados para o desemprego com trabalho precário foram de

redução mais rápida do número de desempregados da cor Branca e Amarela, determinando

um aumento relativo da participação de Pretos e Pardos. Os homens estão em maior

número nas estatísticas, mas tem crescido a participação relativa das mulheres. As faixas

etárias predominantes eram de 10 a 39 anos, mas têm se deslocado para as faixas de 20 a

49 anos, mantido o grande peso da faixa de 20 a 29 especificamente. O nível educacional

dessa população em geral é baixo, mais da metade tinha no máximo o Fundamental

Incompleto em 2000 e, embora tenha melhorado o quadro educacional, o que se teve como

resultado dessa melhora foi um aumento no desemprego de pessoas com maiores graus de

instrução, principalmente para Médio Completo.

A composição segundo a posição na família mostra maior presença de Chefes e, em

segundo lugar, Filhos. A renda familiar é relativamente baixa, além dos ganhos do trabalho

precário serem irrisórios na maior parte das vezes. A duração do desemprego é, para 37,6%

dos desempregados, superior a um ano, tendo participações ainda visíveis para mais de

132

cinco anos de desemprego. Quanto ao setor de origem, os com trabalho anterior no setor de

Serviços são maioria, depois estão a Indústria e o Comércio, nesta ordem.

No desemprego oculto por desalento encontramos uma participação maior e

crescente de Pretos e Pardos em relação a Brancos e Amarelos. Em relação ao gênero, as

mulheres têm participação expressiva e também ascendente, chegando a quase 70%. O

grau de instrução é, em geral, baixo, com alta representatividade daqueles com Ensino

Médio Completo e Fundamental Incompleto, se acentuando os do primeiro grupo até 2008.

Os dados não corroboram como explicação para a predominância feminina o grau de

instrução, pois são maiores as taxas de participação delas, mesmo para níveis de instrução

mais altos. Em relação à faixa etária predominam aqueles com idade entre 10 e 39 anos,

em todo o período, e principalmente para 20 a 29 anos.

A posição na família mais comum entre os desempregados por desalento é de

Filhos e, em seguida, Cônjuges, que sobrevivem, em maioria, do trabalho de outras pessoas

da família, cuja renda também é relativamente baixa. A duração do desemprego é para

41,7% dos desempregados superior a um ano, estando por volta de 10% deles

desempregados há mais de cinco anos. Por volta de um terço dos desempregados trabalhara

anteriormente no setor de Serviços, com participações menores ficam o Comércio e a

Indústria, sendo percebida uma redução desta última com aumento da representação do

setor de Serviços.

No desemprego aberto foi observado um aumento absoluto do desemprego entre

Pretos e Pardos, que os tirou de uma situação inicial de minoria no DA para uma de

maioria. O aumento absoluto também ocorreu para as mulheres em relação aos homens,

alcançando o patamar de 61% do desemprego em questão, a despeito dos maiores níveis de

instrução entre elas. O número de desempregados, de ambos os sexos, aumentara para os

níveis mais altos de escolaridade (Médio Completo até Superior Completo). No que diz

respeito à idade das pessoas desempregadas, predominam nas faixas de 10 a 39 anos por

todo o período analisado.

Metade das pessoas em desemprego aberto são Filhos, ficando o restante

praticamente dividido entre Cônjuges e Chefes. Os Filhos e Cônjuges têm papel

complementar na renda familiar, portanto quando desempregados, como mostram os

dados, dependem do trabalho dos outros membros, principalmente, ou da ajuda de parentes

e conhecidos. Ao analisar os dados de renda familiar, encontramos níveis relativamente

133

baixos, agravados por tempo de desemprego longo, para 24,7% dos desempregados era

superior a um ano.

Comparando as três categorias de desemprego, observamos aspectos específicos a

cada um, demonstrando que as características pessoais e da família do desempregado

definem de alguma forma sua situação ocupacional. Chegamos à conclusão de que o perfil

da população que se encontra na situação de desemprego oculto por trabalho precário é a

mais vulnerável, pois a recorrência a trabalhos inferiores é resultante da condição

financeiramente frágil e da importância dos Chefes de família em prover a sobrevivência

do seu núcleo, não restringindo os malefícios do desemprego ao desempregado

unicamente. O desemprego aberto se apresenta como o grupo com condições relativamente

melhores sobre os outros dois.

A recuperação do mercado de trabalho já observada em 2000 começou a surtir

efeitos positivos sobre as taxas de desemprego a partir de 2004. E essa melhora foi, em

geral, benéfica a todos os grupos sociais e todos os tipos de desemprego, exceto para

Pretos e Pardos e Mulheres no desemprego aberto e para graus de instrução a partir do

Ensino Médio Completo em todos os tipos de desemprego. A redução do desemprego a

partir de 2004 foi acompanhada pelo aumento real da renda das famílias dos

desempregados.

Embora tenhamos verificado maior incidência do desemprego sobre determinados

grupos, não atribuímos as desigualdades observadas totalmente à característica em si, mas

a tendências demográficas, deficiência educacional ou mesmo históricos de exclusão

social. Mais especificamente, pesaram para o desemprego feminino a mais intensa entrada

das mulheres no mercado de trabalho nos últimos anos; e para Pretos e Pardos

consideramos como forte determinante do maior desemprego o processo histórico de

colocação dos negros na sociedade brasileira, sobre cuja população se concentram as

piores condições de vida e, consequentemente, dificuldades de inserção no mercado.

Salientamos ainda a possibilidade de migração de pessoas entre tipos de desemprego, além

do aumento da ocupação, em contexto de aquecimento econômico, como fator explicativo

do aumento do peso do desemprego aberto no desemprego total.

A despeito da subjetividade das questões levantadas nas duas classificações de

desemprego, elas tornam muito mais claras determinadas situações marginais de inserção

de grupos sociais no mercado de trabalho e quase dobram a taxa de desemprego. O que

134

melhora o foco e torna mais eficiente o desenvolvimento de políticas voltadas para a

absorção ampla de mão-de-obra.

135

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A incorporação acelerada de tecnologia ao processo produtivo (na indústria e no

campo) e crescimento populacional descontrolado lançaram as bases do problema do

desemprego nos grandes centros urbanos. Saturação das antigas fontes de crescimento e

contexto externo desfavorável agravaram a situação e exigiram uma reformulação

institucional. A então construída clamava por princípios liberais levando o mercado de

trabalho para o sentido da flexibilização. Como resultado, precarização do trabalho e

desemprego. Em poucas palavras, a ausência de planejamento estratégico no nível das

políticas públicas detonou uma situação nos grandes centros urbanos de difícil solução.

O quadro do desemprego nas metrópoles brasileiras foi esboçado no terceiro

capítulo destes trabalho, com base em dados da PED. Sobre os resultados da análise de

cada tipo de desemprego e posterior comparação entre eles, ficou clara a significância do

tipo de metodologia da PED, pois conseguiu captar diferenças entre os grupos e associar as

distintas formas de inserção no mercado de trabalho e de busca por trabalho às

características e condições de vida dos indivíduos e de sua família. Vimos que a conjuntura

favorável e o crescimento grande o suficiente das ocupações para reduzir o exército de

desempregados das metrópoles selecionadas surte efeitos sobre todos os grupos sociais,

embora em graus distintos. O desemprego oculto com trabalho precário apresentou os

seguintes resultados:

- redução mais rápida do número de desempregados da cor Branca e Amarela, levando a

aumento relativo da participação de Pretos e Pardos;

- maior presença de homens, mas crescente participação das mulheres;

- predominância das faixas etárias entre 10 e 39 anos, com tendência de deslocamento para

as faixas entre 20 e 49 anos, principalmente da faixa de 20 a 29 anos;

- mais da metade tinha somente o Fundamental Incompleto em 2000, com tendência de

aumento do desemprego para os níveis mais altos de instrução, principalmente para Ensino

Médio Completo, até 2008;

- maior presença de Chefes de família, em seguida de Filhos;

- renda familiar relativamente baixa, além de ganhos irrisórios no trabalho precário;

136

- para 37,6% o tempo de desemprego é superior a um ano, com participação ainda visível

para mais de cinco anos de desemprego (média de 1,96 ano);

- maior parte provém do setor de Serviços, depois Indústria e Comércio, nesta ordem.

Já do desemprego oculto por desalento foram obtidos os seguintes resultados:

- maior participação de Pretos e Pardos em relação a Brancos e Amarelos;

- participação expressiva e crescente das mulheres, beirando 70%;

- maior número de indivíduos com somente Ensino Fundamental Incompleto e,

principalmente, Ensino Médio Completo;

- nível de instrução mais alto entre as mulheres, a despeito da tendência de maior

desemprego entre elas;

- predominância das faixas etárias entre 10 e 39 anos;

- maior participação de Filhos e de Cônjuges;

- sobrevivência assegurada pelo trabalho de outras pessoas da família, embora a renda

familiar seja relativamente baixa;

- o DOD chegou a durar, em média, 2,2 anos no período;

- aproximadamente um terço havia trabalhado anteriormente no setor de Serviços, sendo o

Comércio e a Indústria o segundo e o terceiro setores que mais têm desempregados no

DOD, com tendência de redução da participação da Indústria nesse quesito;

No desemprego aberto, os resultados são os que seguem:

- aumento absoluto do desemprego entre Pretos e Pardos, que os tirou de uma situação

inicial de minoria no DA para uma de maioria;

- aumento absoluto da participação das mulheres, também a despeito do maior grau de

instrução entre elas;

- para os níveis mais altos de escolaridade, Médio Completo a Superior Completo, o

número de desempregados aumentou;

- predominam as faixas etárias de 10 a 39 anos em todo o período;

- os mais atingidos são os Filhos, em relação às demais posições na família, em seguida

vêem Cônjuges e Chefes;

137

- dependem da renda de outro que trabalhe na família ou da ajuda de parentes e

conhecidos;

- a renda familiar é relativamente baixa, agravadas por longos períodos de desemprego,

superior a um ano para um quarto dos indivíduos do DA, mas com tendência de queda

(média de 1,36 ano, em 2000, para 1,24 ano, em 2008);

Comparando os três tipos de desemprego, constatamos que o oculto por trabalho

precário concentra a população mais vulnerável, no sentido de mais carente e suscetível a

prejuízos à sua condição de vida quando na condição de desemprego. A recorrência a

trabalhos irregulares é coerente com o fato de serem em sua maioria Chefes de família, de

menor renda familiar em relação aos demais tipos de desemprego, em maioria são Pretos e

Pardos etc, coincide com a parcela mais marginalizada da sociedade e em piores condições

de competir no mercado de trabalho. Ou seja, os indivíduos são levados a buscar trabalhos

temporários, mal remunerados e instáveis porque precisam e outras pessoas dependem

dele.

No grupo intermediário estão os desalentados, preponderantemente mulheres. Os

Chefes de família deste grupo são aproximadamente metade do sexo feminino, o que

intensifica a gravidade do problema. Nas outras posições na família, Filhos e Cônjuges, a

mulher tem participação considerável (entre Cônjuges é a totalidade, praticamente). O que

justifica a proximidade com o conceito deste tipo de desemprego e parte da ausência de

busca por trabalho seria o fato de serem em maioria dessas duas últimas categorias, ou

seja, dependentes cuja renda teria caráter complementar no núcleo familiar. A Renda

familiar e o tempo de duração do desemprego também são intermediários em relação aos

demais tipos de desemprego.

O grupo menos desfavorecido é o de desemprego aberto. Nele as rendas familiares

são mais altas e o tempo de desemprego é menor, e cumprem, em maior parte, papel

complementar na renda familiar. Mas o lado negativo que evidencia é o das desigualdades.

Quando em competição direta no mercado de trabalho, com busca contínua, Pretos e

Pardos em relação a Brancos e Amarelos têm ainda maior desvantagem24, assim como as

mulheres em relação aos homens.

24 Levamos em consideração que nos dois tipos de desemprego oculto a redução do desemprego foi inclusive absoluta e que na nossa abordagem não podemos afirmar se o indivíduo migrou da condição de desempregado (DOTP ou DOD) para ocupado ou para o desemprego aberto. Tendo simplesmente reativado a

138

Pelo estudo da mensuração do desemprego segundo a metodologia da PED

encontramos barreiras à sua utilização enquanto medida de déficit de postos de trabalho,

devido à subjetividade principalmente no que diz respeito ao desemprego oculto por

trabalho precário. A partir do momento em que se coloca como critério da medida o desejo

de mudança e a busca de trabalho, são desconsiderados fatores da psicologia social

relacionada ao reconhecimento dos grupos enquanto indivíduos ativos e construtores do

próprio futuro, num ambiente extremamente adverso a vários deles. Em outras palavras,

nem sempre é manifesta a busca por outro trabalho, tampouco o desejo de mudança, não

porque não haja necessidade, mas simplesmente porque não se acredita que seja possível.

Se se tem como objetivo medir o desemprego por trabalho precário enquanto déficit de

postos de trabalho decentes no país é necessário considerar uma medida mais exata por

meio de critérios mais objetivos.

No desemprego por desalento o período em que a busca é considerada é de um ano.

À primeira vista longo demais, na verdade acaba por delimitar uma parcela relevante da

população, pois no período recente foi observada uma redução considerável do desalento,

muito provavelmente em função do crescimento das ocupações e, consequentemente, da

melhora das expectativas em relação ao mercado de trabalho para as pessoas que antes

estavam desalentadas. Em suma, o desalento agrupa uma parcela da PEA que se encontra à

margem do mercado de trabalho, atuando como fator de pressão da oferta de trabalho, a

qualquer sinal de melhora, ou como folga no caso contrário, evidenciando a endogeneidade

da oferta de mão-de-obra.

Os bons ventos contribuíram ainda para a redução da duração do desemprego e o

aumento da renda familiar, principalmente pela alta capacidade de absorção do setor de

serviços. Mas, embora tenha sido acompanhado pelo aumento do grau de escolaridade da

população metropolitana, principalmente para a escolaridade média, não houve uma

mudança estrutural de grandes dimensões no perfil da mão-de-obra demandada, o que

levou ao aumento do desemprego daqueles com mais alta escolaridade. Muitos dos que

adquiriram formação escolar média substituíram os menos escolarizados em tarefas

simples.

busca, poderíamos supor que no final das contas as desigualdades simplesmente desembocaram neste último de desemprego, quando a competitividade entre os grupos é direta.

139

Como conclusão, não há como pensar o desemprego como um problema isolado. A

ele se somam os problemas de habitação, de transporte, de desestruturação familiar e

principalmente de educação. É urgente uma melhoria significativa do nível educacional da

população brasileira para que se promovam as bases de um desenvolvimento auto-

suficiente em ciência e tecnologia ao mesmo tempo em que distribua oportunidades, a

exemplo do que acontece em outros países em desenvolvimento.

140

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