desejo do coração - livro

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Desejo do Coração Tradução de Ana Cristina de Souza Patsy Oda 1

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Page 1: Desejo do coração - livro

Desejo doCoração

Tradução de Ana Cristina de Souza

Patsy Oda

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Page 2: Desejo do coração - livro

Todos os direitos reservados para a língua portuguesa. Copyright 1990 da Junta de Educação Religiosa e Publicações da CBB.

Oda, Patsy022d Desejo do Coração/ Patsy Oda; tradução de

Ana Cristina de Souza.- Rio de Janeiro: JUERP,1991.118p.1. Oda, Patsy – Biografia. 2. Histórias de Amor. 3.Testemunho Cristão. 1.Título

CDD – 920.72

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Agradeço a Deus pelas maravilhosas pessoas que ele trouxe até mim, para me ajudarem durante o processo de escrever este livro. Gostaria de poder citar todas as que oraram, aconselharam, datilografaram, criticaram e me encorajaram ao longo desta caminhada, mas a lista seria demasiado extensa.No entanto, quero, pelo menos, mencionar aquelas a que sinto ser devedora de um modo especial:Ethel Herr e as senhoras que compõem o corpo de crítica textual e literária;O Pastor Gerald J. Pluimer e a San Jose Open Bible Church.Virgínia Muir e outros editores e professores das Mount Hermon Christian Writers Conferences;Kari Ann Martin, minha editora pessoal em Tyndale;Walter, meu amável e constante encorajador;A cada um de vocês, o meu sincero apreço.

Patsy

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Dedicado, com amor, ao Reverendo e Sra. A.A.Smith e Joanne (Smith) Olfert.

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Sumário

1. O Meu primeiro Amor2. Promessas3. O arranjo Para me casarem4. O Encontro do Adeus5. Apenas Amigos por Correspondência6. A Visita7. Não Um Simples Livro8. Tentação9. Detalhes Específicos10. Um e único11. Teste de Obediência12. A surpresa

Epílogo

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Capítulo 1

O Meu Primeiro Amor

Através de um delicado véu de noiva, eu olhava para o marido que haviam escolhido para mim, que durante um longo tempo tinha tentado não amar. Era verdade que eu era finalmente uma noiva? Eu, a quem fora predito que jamais me casaria?

Ao solista iniciar o cântico nupcial, meu pensamento voltou para os acontecimentos de minha vida que tinham me trazido a este ponto. Nunca imaginei que uma decisão que fora tomada em minha infância pudesse causar um conflito de vinte e três anos, que culminaria neste casamento.

Tudo começou num dia quente de verão, quando um carro verde musgo, cheio de crianças, parou na rua esburacada, em frente à nossa casa, nas redondezas da pequena cidade de Lodi, Califórnia. Parei de brincar com minha irmãzinha e olhei para o motorista de cabelos cor de neve, que estava olhando em nossa direção. De repente, ele colocou o carro em nosso estacionamento e desligou o motor.

- Podemos sair também? – Perguntou um menino com sardas, pendurado na janela. - Não, só vai demorar um minuto, depois vou levá-los para casa - respondeu o

homem ao sair do carro e se aproximar de mim e minha irmã.- Ah! Mais estou esmagado aqui dentro! – uma voz protestou debaixo da pilha de

crianças do banco de trás.- Olá menininha – o homem gentio disse, abaixando-se até mim.- Qual é o seu nome?- Patsy.- E quantos anos você tem Patsy?- Seis.- Essa é sua irmãzinha? Ele sorriu para Delfina, que estava segurando a boneca por

uma perna. Fiz que sim com a cabeça. – Ela tem três anos. E tenho um irmão maior também

- Bem, Patsy, seu pai ou sua mãe está em casa? Ergui meus olhos e vi meu pai, um homem baixinho, usando um chapéu de safári, vindo em nossa direção, empurrando um carrinho de mão cheio de verduras.

- Aí vem meu pai – eu disse, apontando para ele. O homem ergueu-se, para cumprimentar o meu pai. Papai limpou nas calças suas mãos suadas, antes de apertar a mão estendida do homem.

- Olá, eu sou o Smith. O senhor é novo nesta região?- Sim, estou aqui há uns quatro meses.- Bem vindo à nossa comunidade! Dirijo uma igreja cristã mais ou menos duas

milhas daqui.Gostaria de saber se o senhor permitiria que seus filhos comparecessem.

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- Sabe, somos budistas – disse papai ao ministro – mas nossa igreja ainda não iniciou um programa para crianças, desde que voltamos do campo de concentração para a Califórnia.

- Ah! Sim! Nosso país cometeu um erro vergonhoso, colocando os cidadãos nipônico-americanos naqueles campos de concentração durante a guerra.

- Pára de me beliscar! Estou avisando! – alguém gritou de dentro do carro.Diante disso, o ministro andou em direção ao carro, mas continuou a falar com

papai. – Alguns de nossos vizinhos budistas estão deixando os seus filhos irem à minha igreja. Ele apontou para as crianças nipônico-americanas dentro do carro.

Papai olhou para o rosto delas, depois virou-se para mim. – Você quer ir também? – perguntou.- Fiz que sim com a cabeça, apreensiva, sem saber o que era igreja, mas pronta para ir

a qualquer lugar.- Ok, pode levar os meus filhos – disse papai ao homem. Começando no domingo,

meu irmão mais velho, Lester, e eu fomos com o Rev. Smith à sua igreja. Ele a dirigia em sua garagem, com lugar para um só carro. Mais tarde, enquanto a igreja crescia, ele a transferiu para uma capela nova.A filha adolescente do reverendo e da Sra. Smith, Joanne, era minha professora de

Escola Bíblica Dominical. Ela nos ensinava hinos e nos contava histórias sobre um homem chamado Jesus.

Antes eu pensava que Jesus era só um personagem de livro de histórias, como os personagens de contos de fadas do papel de parede em meu quarto. Mas, depois de prestar atenção e ouvir as histórias de Joanne, percebi que ele era um amigo invisível para ela, que o conhecia pessoalmente e que conversava com ele todos os dias.

E se Jesus for uma pessoa de verdade? Eu me perguntava, intrigada. Enquanto ia à Escola Bíblica Dominical, durante os dois anos que se seguiram,

entendi, em meu coração, aos poucos, que Jesus não só é uma pessoa de verdade, mas me conhecia e amava tanto que deixou as pessoas o pregarem na cruz, para ser castigado por meus pecados. Não pude conter as lágrimas ao ouvir Joanne contar à classe o que Jesus havia feito por nós.

Aos oito anos, apossou-se de mim um desejo único. Eu queria conhecer Jesus como Joanne. Ela sempre nos dizia que poderíamos conhecê-lo pessoalmente se o convidássemos a entrar em nosso coração, como Salvador e Senhor.

Eu o quero! Eu o quero! Era meu grito interior, mas a vergonha me impedia de falar. Então, num domingo, senti um empurrão gentil de dentro de mim. Era doce e irresistível.

Será que é Jesus, pensei e fiquei curiosa.“Crianças, guardem os seus lápis-de-cores e se arrumem para partir”, disse Joanne,

“E quem quiser que Jesus entre em seu coração hoje, fique depois da aula, pois quero orar com você”.

As outras crianças correram para fora, mas eu estava determinada a não ir embora sem Jesus desta vez.

Depois do ultimo colega sair da sala, puxei, timidamente, a manga de Joanne. - Eu quero ter Jesus em meu coração – disse, olhando para os meus olhos.- Oh! Patsy – ela exclamou, me abraçando. Sentamos junto à mesa outra vez. Ela abriu a Bíblia em João 3:16 e me explicou:

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- Deus amou você tanto, Patsy, que mandou seu único filho, Jesus, para morrer na cruz por seus pecados. Se você crer nele, não perecerá, mas terá a vida eterna no céu.

Joanne virou-se para mim: - Patsy, você acredita que Jesus morreu na cruz por seus pecados e que ele quer entrar em seu coração, para ser o seu Salvador?- Sim – repliquei, com um movimento afirmativo da cabeça.

Ajoelhamo-nos juntas no chão de madeira. Joanne colocou um de seus braços em volta de meus ombros e me fez repetir uma simples oração com ela. Solenemente, pedi que Jesus perdoasse os meus pecados e entrasse em meu coração como Salvador e Senhor.

Naquele dia, quando o Rev. Smith me levou para casa, saltei do carro dele e corri o mais rápido que pude para dentro.

A velha porta de tela bateu atrás de mim, enquanto corri para a pequena cozinha.- Mamãe! Mamãe! Advinha uma coisa! - exclamei.

Minha mãe tinha chegado do campo, para preparar o almoço para a família. Seu cabelo espesso e preto estava esticado, por usar chapéu com o sol quente. Ela parou de mexer a verdura na frigideira e olhou para mim. – O que foi? – respondeu, sorrindo diante de meu entusiasmo.

Hoje pedi para Jesus entrar no meu coração! Está vendo esta Bíblia? O Rev. Smith me deu porque agora pertenço a Jesus. Radiante, ergui minha nova Bíblia para ela ver.

O sorriso de minha mãe desapareceu. Receio se estampou em seus olhos.- O quê? Você é muito nova para escolher sua própria religião!- Espantada com reação dela, gaguejei:- Ma-a-as...- Você não entende as coisas de gente grande ainda.

Somos japoneses, e japoneses são budistas.Senti-me confusa.

- Papai e eu deixamos vocês crianças irem para a igreja cristã para aprenderem a ser boas crianças – Não para se tornarem crentes!Eu não podia entender por que ela estava tão aborrecida. Os adultos da igreja

estavam felizes por mim.Sentindo-me arrasada, impossibilitada de falar, olhei para o chão.A voz de minha mãe suavizou-se. – Ouvi dizer que a igreja budista começará uma

escola dominical para crianças brevemente. Aí você poderá freqüentá-la com todas as outras crianças japonesas. Eu deveria estar feliz, pensei.

Mas imaginava por que o meu intimo parecia resistir.- Vá mudar suas roupas e ponha a mesa para o almoço - minha mãe disse, enquanto voltava sua atenção para o fogão. - E, até estar velha o suficiente para saber a diferença entre o real e o imaginário, você deve esquecer a idéia de escolher uma religião.

Com pressa, fui para o meu quarto e atirei-me na cama. Será que apenas eu imaginava que Jesus estava em meu coração?, me perguntav. Será que sou muito nova para saber a diferença entre o que é real e o que não é?

Eu olhava para as figuras de meu papel de parede.Eu sei que não são reais.É possível que Jesus também não seja real? Então me lembrei do que Joanne havia dito: Que eu podia falar com Jesus, porque agora ele morava em meu coração.Hesitando, abri minha gola e sussurrei para dentro de minha blusa! “Jesus, você está aí?”.

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Num momento, conscientizei-me da presença de outra pessoa dentro de mim – de alguém maravilhoso, que me amava!

“Ó, Jesus” sussurrei com temor. Fechei os meus olhos, coloquei minhas mãos sobre o meu coração e suspirei: “Você está aqui, Jesus! Você realmente está aqui comigo!” Lágrimas de alívio deslizaram pela minha face.

Nos meses que se seguiram, não pude parar de falar sobre Jesus. Mas minha família e outros parentes balançavam suas cabeças, preocupados. “Não é normal uma criança ser tão religiosa”, diziam.

Quando a escola dominical budista começou, meus pais me mandaram para lá. Parte de mim sentiu-se confortável entre os meus amigos japoneses, mais ao mesmo tempo eu me sentia solitária por dentro. Jesus não parecia estar ali comigo.

Depois de muitas semanas, adivinhei qual poderia ser o meu problema.Acho que Jesus era um Cristão. E acho que ele quer que eu vá só a uma igreja cristã

– disse a minha mãe.- Tolice! O mesmo Deus está por trás de todas as religiões, e para ele não importa a

que igreja você vá.De alguma maneira a resposta dela me sufocava por dentro.

- Todas as outras crianças que iam a igreja cristã com você mudaram para a igreja budista, sem problemas.Não vejo por que você não o consegue também – ela continuou.Abaixei a cabeça.

- Você pensa que é mais inteligente do que os adultos japoneses que vão à igreja budista?

- Não, mais eu pertenço a Jesus, eu não posso mais voltar para a igreja budista – eu disse com voz trêmula.

- - Está bem! Não vou forçá-la a ir, mas não quero que você mencione Jesus nesta casa. Lembre-se, este é um lar budista – um olhar preocupado cobriu o seu rosto. – e não venha a mim chorando quando crescer e ninguém casar com você porque não foi onde os outros japoneses vão – ela disse, antes de sair do quarto.

- Mamãe! - gritei para ela, sentido-me incompreendida e abandonada.- Durante semanas não fui a nenhuma igreja. Num domingo, o Reverendo, a Sra.

Smith e Joanne passaram para me dizer “Oi”. Joanne tinha retornado da faculdade para passar o fim de semana e queria me ver. Eles me convidaram a voltar para a igreja, e meus pais deixaram que eu fosse para a igreja cristã novamente.Logo depois, entretanto, os Smith mudaram-se para outra cidade e outros ministros

vieram. Porém, nunca mais foi o mesmo sem os Smith ali para me darem as boas – vindas com um abraço caloroso. Então, alguns anos depois, a capela se fechou. De repente me achei isolada num ambiente familiar e étnico que não permitia lugar para o meu Jesus.

A realidade de Jesus em meu coração entrou em choque com minha herança nipônico-americana. Em nossa pequena cidade a comunidade nipônico-americana girava em torno da igreja budista. Eu era uma criança, presa naquele meio, sem ter alguém que entendesse o conflito que me dividia interiormente.

Nos anos que se seguiram sem igreja, eu sentia que estava perdendo meu Jesus. Desesperadamente, tentava me apegar a ele, implorando-lhe: “Jesus, não me deixes!”.

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Em minha solidão, comecei a levar a minha Bíblia para cama comigo. Apertando-a contra mim, dormia com ela noite após noite, até que a capa e as páginas desgastaram-se nas beiradas.

Mas chegou o dia em que não pude mais sentir a presença dele, e ficava imaginando se tinha me enganado o tempo todo. Sentindo-me abandonada e sozinha, chorava em meu travesseiro. “Ó Jesus! Onde estás? Por favor, não me deixes!”

Tristemente tirei minha Bíblia esfarrapada de meu esconderijo sob o meu colchão. Primeiramente, o volume de páginas impressas sem figuras me dominou. Em seguida, percebi um versículo que parecia sobressair na página:“Não te deixarei, nem te desampararei” (Hb 13.5).

De alguma maneira, estas palavras me animaram e confortaram ternamente, como um –pai amoroso o faria com o seu filhinho. Sublinhei as palavras com um lápis, e toda vez que achava que Jesus havia me deixado, corria para aquele versículo e deixava que me sustentasse.

Comecei a guardar uma lanterna em minha cama, junto com minha Bíblia, em noites que temores e dúvidas me atormentavam, ia para debaixo do cobertor e procurava aquele versículo com minha lanterna. Isso nunca falhava em acalmar e reafirmar que eu era filha de Deus.

Dessa maneira, secretamente comecei o meu relacionamento eterno com aquele que eu havia escolhido para ser o meu primeiro amor.

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Capítulo 2

Promessas

Durante o meu segundo grau, as crianças que não se adaptavam eram chamadas de quadradas. Nunca ninguém me chamou assim na cara. Mas socialmente eu me sentia um prego quadrado, tentando se encaixar num buraco redondo.

Ocasionalmente, meus amigos nipônico-americanos me encorajavam a comparecer às sociais dos jovens budistas. “É bom você vir, mesmo sendo cristã”, diziam. Mas quando ia, sentia-me uma visitante – nunca um deles.E, quando comparecia a atividade dos jovens crentes, sentia-me deslocada, por ser a única nipônico-americana do grupo. Onde quer que fosse, parecia ser diferente. Mas por dentro eu era uma adolescente como as demais, que desesperadamente precisava sentir-se parte do grupo.

Quando minhas amigas e eu nos encontrávamos, nossas conversas geralmente giravam em torno do assunto favorito – rapazes. Podíamos conversar durante horas sobre o lindo garoto do campus, que tínhamos a certeza de que havia piscado para nós. Algumas vezes compartilhávamos os nossos sonhos para o futuro e falávamos sobre o tipo de homem com quem desejávamos casar.

“Ele deve ser alto, bonito, romântico, rico, inteligente, atencioso, bondoso e divertido”, todas concordávamos. “Sim!”.

Mas, enquanto minha mente se revolvia com a idéia de tal Príncipe Encantado perfeito, uma vaga tristeza corria o meu coração. Alguma coisa estava faltando. Mas o que mais uma jovem podia almejar em um marido?

Um dia perguntei a Louise, uma amiga crente, sobre os seus padrões para o futuro marido.Ela pensou por um instante, depois respondeu: “Antes de tudo, o homem com quem me casar deve conhecer e amar a Jesus .” Que interessante! Ponderei sobre o seu critério pouco comum e perguntei-me por que isso seria tão importante. Lentamente a resposta me surgiu. Trata-se de algo divino. Algo Eterno. É isso! Era esse o elemento que faltava em meu sonho a respeito do futuro marido! O próprio Deus.

Aí percebi que Deus não estava ausente só de meus sonhos a respeito do futuro marido, mas, ultimamente, parecia estar também ausente de mim.

De alguma maneira, durante os anos longe da igreja, meu prazer nele tinha sido substituído por um tédio subjacente, inquietação profunda, dentro de mim.

Meu cordial relacionamento com ele foi reduzido a um conjunto de regras pesadas e opressivas.

Meu coração começou a desejar, mais uma vez, o sentimento da presença completa de Deus. E, naquele dia, resolvi aproximar-me mais dele. Mas por mais que o tentasse, sem

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uma igreja e sem alguém para ensinar a conhecer Deus melhor, continuei a me afastar mais e mais dele.

Entrei na faculdade, temendo que o perderia totalmente antes de me formar. Senti-me vulnerável, com medo de que as aulas que ensinavam filosofias atéias me convencessem que Deus não existia de maneira alguma.

No final de outubro, Louise convidou-me para um retiro de crentes, durante um fim de semana, para universitários. Fui, esperando que isso me levasse para mais perto de Deus.

Durante o fim de semana todo, os pregadores explicaram verdades vitais sobre a vida cristã. Pela primeira vez aprendi que Deus tinha um propósito específico e um plano para a minha vida. O seu plano não estava baseado numa lista de regras frias, mas num relacionamento caloroso e progressivo com ele. Ouvi, atenta, com grande avidez, enquanto o pregador expunha as maneiras como eu poderia desenvolver esse relacionamento. Um ponto vital foi eu entregar a Deus o controle sobre cada área de minha vida.

Entregar a Deus o controle de minha vida. Quão maravilhosamente isso soava para minha alma cansada, que já tanto tinha tentado ficar com ele!

Naquela noite, fui andando, sozinha, afastando-me do acampamento. Sentei-me num penedo onde se contemplava um lago iluminado pela lua e rodeado por montanhas, inclinei a cabeça e orei. “Jesus, mais do que qualquer outra coisa no mundo, quero que meu relacionamento contigo cresça. Por favor, toma conta de minha vida”. Suspirei, imaginado se ele tinha ouvido minha palavras. “ Por favor, ó Deus! Não posso suportar mais prosseguir sem ti!” clamei. "Preciso que tu me guies!” Uma brisa fresca soprou ao meu redor. Encostei os joelhos contra o meu peito enterrei o meu rosto em meus braços.

Depois de um longo tempo, pensei estar sentindo algo borbulhando dentro de mim – como uma pequena fonte nas profundezas de meu ser. Brotava cada vez mais intensamente, até que lágrimas de alegria escorreram pela minha face. De repente, a realidade do amor de Jesus tomou conta da estagnação que me tinha oprimido durante tanto tempo. Senti-me como uma borboleta livre de seu casulo aprisionador. Meu coração expandiu-se com o singelo gozo de descobrir Jesus. “Ò Jesus! Eu te amo!” exclamei, olhando para o céu Estrelado. O ar perfumado dos pinheiros da montanha refrescou os meus sentidos e meu mundo parecia incrivelmente vivo.

Que futuro emocionante me esperava! “Senhor Jesus, tu tens realmente um plano para a minha vida? Quero que saibas que pretendo ser o que tu quiseres que eu seja! Irei para onde tu quiseres que eu vá! E casarei com quem tu quiseres que eu case!”

Retornando de meu retiro, juntei-me a um grupo de crentes do acampamento. Com a ajuda deles, aprendi a estudar a Bíblia, como conhecer melhor a Deus e como descobrir o que ele queria que eu fizesse com minha vida.Como uma criança que começa a andar,caía, muitas vezes, e tropeçava com minhas vacilantes pernas espirituais.Mas, aos poucos, comecei a desenvolver um relacionamento pessoal com Jesus e a reconhecer que Deus estava dirigindo a minha vida.Nos anos que se seguiram, Deus, passo a passo, conduziu-me à carreira de professora.

Durante aqueles mesmos anos, ele estava me ensinando a respeito do tipo de homem com quem deveria me casar. Por meio de 2Coríntios 6.14-18, ele me instruiu que,como sua filha, deveria casar-me tão-somente com um crente, a fim de que tivéssemos uma base divina para a harmonia entre nós em nossa vida.Através de 1Coríntios 2.14, ele, gentilmente, alertou-me que o mundo invisível de Deus parece tolo para uma pessoa que não conheceu Jesus pessoalmente.

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Eu sabia muito bem disso. Durante a minha vida cristã tinha experimentado a solidão de viver em um “mundo que não existia” para aqueles que eu mais amava. Estremecendo, ao pensar em me casar com um homem que não seria capaz de entender ou compartilhar de meu mundo com Deus, cuidadosamente rejeitava cada pretendente que não se interessava em conhecer Jesus. E, um que o conhecia, perguntava a Deus se ele era o escolhido para ser o meu marido.

A resposta sempre parecia negativa.Quando tinha vinte e cinco anos, Deus conduziu as coisas de modo que eu fosse

ensinar inglês no Japão. Passei os mais fascinantes três anos de minha vida lá, vendo e experimentando os costumes japoneses em confronto com minha mentalidade americana. Um desses costumes era o arranjo de casamentos, que ainda é muito praticado no Japão.

Um dia, Keiko, uma aluna de conversação em inglês com a idade de universitária veio praticar inglês comigo. Mais audaciosa e inquiridora do que todos os outros alunos, ela sempre tornava nossas aulas mais animadas.

- Sobre o que conversaremos hoje? – perguntei a ela, que sentou-se na cadeira do outro lado da mesa estreita da sala de aula.

- Quero conversar sobre matlimônio – ela disse, pronunciando o (r) como (l).- Matrimônio, tri, tri, corrigi.- Ma-tlimônio – ela repetiu, contorcendo a boca para articular um r.- Quero saber se a senhora quer se casar um dia?- Sim, quero casar-me um dia – respondi, pensando que só mesmo a Keiko podia

fazer uma pergunta tão ousada.- No Japão, é costume arranjar um marido por...por... meio do que chamamos...

coletor matlimonial.Sem entender, olhei para ela meio duvidosa.

- A senhora sabe...coletor matlimonial – ela tentou de novo.- Ah! Um corretor, isto é, intermediário matrimonial! Na América, chamamos essa

pessoa de casamenteira.- Se a senhora quiser se casar, posso lhe achar um bom casamenteilo. - É muito gentil de sua parte, Keiko – disse eu educadamente – mas os americanos

gostam de achar eles próprios o seu companheiro e casar por amor.- Sim, a senhora pode casar por amor. È só dizer para o casamenteilo o tipo de

homem que pode amar. Depois ele acha esse homem e o traz com os pais, para apresentá-los à senhora.

- Os pais dele também! Que pressão terrível! pensei comigo mesma. Entretanto, respondi a Keiko: - Seria conveniente, mas já tenho um casamenteiro. Deus é meu casamenteiro – apontei para o céu, para ajudá-la a entender o que eu estava dizendo.Mas, dois anos mais tarde, quando voltei para a América, ainda estava só. Minhas

antigas amigas tinham-se casado e mudado, e eu me senti inferior socialmente. Em seguida, Deus levou-me de volta para o emprego anterior como professora perto da casa de meus pais, e me achei morando com eles na fazenda mais uma vez.

Algumas vezes, na tranqüilidade dos deveres da sala de aula, minha mente volvia a uma inesquecível experiência que tive no Japão antes de voltar para a América. No meio da noite eu acordava repentinamente, sentindo, de alguma forma, que o homem com quem Deus desejava que me casasse, estava em perigo. Ele morreria se eu não orasse por ele. Então orei fervorosamente por ele até que a paz volveu!

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O que teria acontecido àquele homem? Onde estaria no momento? Pus-me a pensar se devia mudar de profissão, para poder ir a algum lugar, para encontrá-lo. Mas meu coração sabia mais. Deus havia escolhido este posto de professora no campo para mim. Se eu mudasse, me encontraria no lugar errado, na hora errada.

Durante os feriados natalinos, antes de meu vigésimo nono aniversário, eu, tristemente, observava casais andando de mãos dadas pelas ruas, diante das lojas. Comecei a duvidar se Deus havia planejado que me casasse.

Quando voltei para casa, descobri um cartão de Natal esperando por mim na caixa de correio.

“Oh, é da Keiko!” exclamei, abrindo-o imediatamente e lendo que nele estava escrito:

Querida Profa. Patsy – Sensei,Já faz seis meses que a senhora voltou para a América. Como tem passado?Certa vez perguntei à senhora sobre o seu casamento, a senhora disse que Deus era

seu casamenteiro, que ele arranjaria um marido para a senhora um dia. Por favor, não me ache mal-educada por perguntar, mas seu Deus já lhe arranjou um marido?

“Não, ele não arranjou”, disse eu baixinho. Fechei o cartão.“Não, ele não arranjou... ainda não...”.

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Capitulo3

O Arranjo Para Me Casarem

“Pobre Patsy! Pensou que o Deus cristão dela iria arranjar um marido para ela, mas olhem o que aconteceu. Ela, provavelmente, nunca se casará”.

Eu ouvia esses comentários casuais nos ajuntamentos anuais, durante os feriados natalinos. Esse comentário feriu o meu coração. Mal podia esperar para voltar para casa e chorar minha mágoa diante de Deus.

Quando finalmente encontrei refugio em meu quarto, joguei-me na cama e solucei sobre o travesseiro: “Senhor Jesus, eles estão falando sobre mim e ti! Estão dizendo que a culpa é tua por eu não ter casado!”

Desejei que não tivesse tido a ninguém, que estava esperando Deus me dar um marido. Mas havia pensado que ele se faria. Agora sentia-me envergonhada por ter usado o nome de Deus em minhas suposições.

“Senhor, não me importo em ficar solteira se for o que tu achares melhor para mim. Mas, por favor, faça algo para salvar o teu nome!”

Pus-me a pensar em maneiras de conhecer homens. Mas não adiantou nada – todos os homens nipônico-americanos que conhecia eram budistas ou não crentes.

Doía por dentro a minha situação que parecia sem esperança, e pus-me a chorar novamente sobre o travesseiro: “Jesus, mesmo se existisse um crente nipônico-americano em algum lugar, como ele poderá me achar, morando eu aqui distante, na zona rural... a menos que tu o tragas até mim!”

Inesperadamente, naquele instante senti em meu coração claramente que Deus havia revelado seu plano para mim através de minha própria boca. “Até mim? Jesus, tu vais trazer até mim um homem para eu me casar?” - perguntei-lhe, surpresa. Ondas de paz me invadiram, eu senti que, sem dúvida, Deus traria o meu futuro marido até mim.

Naquela noite ainda estava rindo por dentro quando apaguei a luz e fui para a cama. “Bem, acho que não deveria estar tão surpresa. Minha vida nunca mais foi a mesma desde que tu entraste nela, Senhor.” Abraçando meu travesseiro, adormeci em paz.

A próxima coisa que me tornei cônscia foi que a porta do meu quarto se abriu, a luz foi acessa e minha mãe estava chamando meu nome, agitada.- Patsy, acorde!Sentei-me e olhei para a janela. Ainda estava escuro lá fora. Peguei meus óculos e olhei para o relógio. Seis e meia da manhã! Não admira que ainda esteja escuro!

-O que aconteceu?-murmurei. -CHIYECO está no telefone e quer saber se pode trazer um homem para conhecê-la hoje à noite. Arregalei os olhos. Um homem? Deus disse que traria um homem até mim. Mas tão rápido?

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-O que você quer fazer? - mamãe perguntou. - CHIYECO está esperando. Ela tem que ligar para a mãe do homem com sua resposta. -A mãe dele? Porque é assim que ela tem que fazer a apresentação, para induzir um par ao casamento.-O que?- esfreguei meus olhos. -CHIYECO está arranjando um casamento para você da maneira formal Japonesa. Minha mente rodopiou. Devo está sonhando! Ninguém arranja casamento assim! Não na América! Não em 1950! Como isso podia estar acontecendo comigo? Então meu pensamento volveu para a ocorrência de um dia havia uns cinco dias atrás. Fazendo compras numa loja por perto, eu encontrava Chiyeko, uma amiga íntima de minha mãe. “Um dia, gostaria de apresentá-la para um homem interessante que conheço”, ela havia dito. Mas não falou nada sobre o antigo costume japonês de arranjar casamento. - Bem, decida logo - mamãe insistiu – Chiyeko tem de fazer os arranjos para isso antes de ir trabalhar agora pela manhã. Senhor, que devo dizer? , perguntei-lhe em meu íntimo, e mais uma vez me lembrei da promessa que Deus me havia feito na noite anterior. Chiyeko e seu marido não eram crentes... Mas, e se o amigo deles fosse?

- Chiyeko está esperando! – mamãe me apressou.- Ah,... está bem, diga-lhe que quero conhece-lo – me ouve respondendo.

Mamãe correu de volta para o telefone na cozinha. Deslumbrada, sentei-me em minha cama e fiquei ouvindo a entonação excitada da voz dela, combinando os detalhes com Chiyeko. Depois de alguns minutos, e contou a noticia a papai. Ela me informou que Chiyeko traria o homem e sua mãe viúva a nossa casa as sete horas da noite. Momentos depois, ouvi o carro dela se afastando. Logo depois, a camioneta de meu pai saiu do quintal, em direção aos seus clientes jardineiros na cidade. Ainda sentada na cama, olhei para os manuais de professor que estavam empilhados sobre minha escrivaninha. A tarefa especial que tinha planejado preparar durante o feriado natalino não parecia importante agora. Um vento persistente arremessava sem parar os galhos das árvores ruidosamente contra a janela, que ficava acima da minha escrivaninha, e chamava minha atenção. Perdida em meus pensamentos, levantei-me para contemplar o dia. Nuvens baixas e ameaçadoras escureciam o céu. Estremeci, e a duvida foi lentamente tomando conta de meu pensamento. “Querido Jesus, em que fui me meter?” Minha voz saiu num sussurro seco. “ Talvez esse homem não te conheça. E se não houver lugar para ti em sua vida? Ou sentir-se inconfortável ao ouvir o teu nome?

Um sentimento familiar de solidão invadiu meu coração.“Jesus, o que me fez pensar que pessoas que não te conhecem pudesse trazer um

homem que te conhecem?”Arrependendo-me da minha decisão presunçosa, coloquei um blusão e uma calça jeans.

O vento continuava a rugir.Em volta da casa, e os galhos das árvores batiam contra a vidraça da janela. O clima

de inverno obscurecia os meus pensamentos, e a medida que a consciência da seriedade da situação que aceitei crescia em mim, o arrependimento aumentava, levando-me ao sentimento de frustração. Confusa, exclamei: “Meu Pai do céu, por favor, ajude-me a sair

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dessa enrascada!” Mas não ouvi resposta. Só o vento impetuoso lá fora, que soprava contra as árvores.

Mais tarde, ao tomar o café da manhã, um pensamento passou por minha mente: Deus gosta de fazer coisas impossíveis. Eu sabia que ele podia fazer qualquer coisa. Mas de alguma maneira nesse dia nublado não podia acreditar que ele tivesse escolhido a noite desse mesmo dia para trazer o meu marido até mim. Podia não ser impossível, mas, afinal de contas, muito improvável. Deus gosta de fazer coisas impossíveis! O mesmo pensamento surgiu em minha mente mais uma vez, como o vislumbre de uma esperança. Mas abafei-o rapidamente, com receio de ter esperanças vãs.Porém, o pensamento voltou pela terceira vez, e finalmente reconheci a voz de Deus na idéia que tentava descartar. Ela ardia em meu coração. Patsy, gosto de fazer coisas impossíveis para você. Dê-me uma chance.Lentamente, pus minha imaginação em movimento. Talvez esse homem realmente seja o meu futuro marido! Afinal, ele ia ser trazido até mim.Durante a manhã, aquela pequena chama de esperança cresceu e gradativamente consumiu minhas dúvidas e temores. No intimo, senti a confirmação de que, a despeito das aparências, fora Deus quem havia planejado esse encontro especial.Naquela tarde, enquanto limpava a entrada da sala de estar, aconteceu de olhar para a porta e uma forte intuição me atingiu: Dentro de poucas horas, meu futuro marido vai entrar por essa porta! Fiquei imaginado como ele seria.“Jesus, uma coisa é certa. Saberei se ele é teu pelo reflexo de tua vida através dos olhos dele”.A alegria transbordou em meu íntimo, e eu saltitava com o aspirador de pó pelo resto da casa.À noite, meus pais e eu jantamos e lavamos a louça rapidamente. Às seis e meia eu já estava vestida com minha blusa branca favorita e meu macacão cor de vinho, eu não tinha mais nada para fazer a não ser esperar. Sem conseguir ficar parada, fui até a sala de estar e vi papai sentado em sua cadeira predileta, usando sua melhor roupa de ocasião, lendo o jornal.De repente, minha irmã caçula, Diana, irrompeu casa adentro. Antes que eu pudesse perguntar por que tinha voltado para casa, proveniente da faculdade, onde estava como interna, ela perguntou: - Eles virão ainda hoje à noite?

- Quem contou a você? – perguntei-lhe, um tanto encabulada com o entusiasmo visível dela por causa da reunião que aconteceria, enquanto eu, com dificuldade, tentava manter-me calma.

- Mamãe me contou. Eu telefonei há pouco para saber como estão as coisas aqui em casa. Ela respondeu que você estava se preparando para conhecer alguém para se casar.

Diana olhou para os aperitivos que estavam na mesa da cozinha, e meteu a cabeça dentro da geladeira.- Você não vê com maus olhos quererem arranjar-lhe casamento com alguém

totalmente desconhecido? – ela perguntou, ao erguer-se com uma maçã na mão.- Não – repliquei, tentando parecer indiferente.- E o que vai fazer se ele for esquisito?- Não sou obrigada a casar com ele se não gostar dele.

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- Diana não parecia perceber o tremor de minha voz. Tinha se acomodado na janela da cozinha e estava olhando para a estrada defronte da nossa casa.

- Faróis! – gritou de repente.- Ergui-me do sofá de um salto e corri para a janela, só para ver o lampejo do farol de

um caminhão passar num lance.- Por que não se senta, Diana? Você está me deixando nervosa! – protestei, porém ela

continuou a vigiar a estrada.- Espere aí! Este parece estar parando. Acho que são eles!- Virei e vi luzes de faróis adentrando a entrada de nossa garagem.- Eles chegaram! – Diana exclamou alto o suficiente para ser ouvida na casa toda.- Meu coração disparou, e meu estômago se agitou como mil borboletas ao iniciarem

o vôo. Se tinha interpretado corretamente o que pensei que Deus havia me dito pela manhã, estava prestes a conhecer meu futuro marido. Isso significava que ele tinha que amar Jesus como eu o amava. Mas enquanto os próximos segundos iam se esgotando, tive de lutar contra uma crescente ansiedade. E se eu estava errada? Respirei fundo para me acalmar.

Papai dobrou o jornal e levantou-se de sua cadeira de encosto. Mamãe apressou-se pelo corredor. Logo todos nós esperávamos na sala de estar, ouvindo, tensos, na expectativa.

- As portas do carro bateram. Passos se aproximaram da entrada. Sapatos se arrastaram pela varanda. A campainha tocou.

- Esperei que ninguém notasse que meus joelhos estavam tremendo alto enquanto fui e conscientemente abri a porta. Ali na varanda um pouco escura estava Chiyeko e seu marido, Tom, e atrás dele o meu provável marido e sua mãe.

- Entrem, por favor, - convidei.- Sorrindo, cordialmente, eles entraram em nossa sala de estar. Tentei não ficar

olhando para o homem que tinha sido trazido até mim. Mas diversos olhares furtivos revelaram um homem de boa aparência, estatura média, com óculos de armação preta e cabelos abundantes bem penteados. Aprovei-o.

- Patsy, este é Walter Oda – disse Chiyeko. – Walter, esta é Patsy Hirasuna- É um prazer conhece-la – ele disse, parecendo um tanto nervoso, mas estendendo a

mão para mim.- Da mesma forma - respondi, colocando a minha mão na dele, surpresa com minha

própria calma.Olhei para dentro de seus olhos, na ânsia de encontrar a expressão de bondade de quem também conhecia e amava o meu Deus. Mas fiquei surpresa ao detectar um imenso vazio nele. Um arrepio interior me agitou, desfazendo a pequena esperança que havia desenvolvido em mim durante o dia, de que ele era o homem que Deus me havia prometido.Chiyeko apresentou os outros. Uma série de apertos de mãos misturados com cumprimentos japoneses se seguiu, e mamãe acomodou os convidados na sala de estar. Diana pendurou o casaco deles enquanto saí da sala para trazer refrigerantes.Sozinha na cozinha olhei, tremendo, através da janela, para a noite fria e escura. Finalmente, em voz audível, botei para fora o que o meu coração temia. “Jesus, ele não te conhece, não é?”, sussurrei decepcionada, segurando as lagrimas de desilusão. Só porque Deus havia feito uma promessa especialmente a mim, eu tinha suposto que esse encontro preencheria minhas esperanças ao meu futuro marido. Agora, mais uma vez,

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sentia-me envergonhada de minha presunção. A ultima coisa que desejaria fazer era voltar a encarar aquelas pessoas na sala ao lado. Jesus, por favor, ajude-me, fiz uma oração silenciosa, em desespero.Depois que recuperei minha compostura, peguei a bandeja e voltei para a sala de estar, onde os mais velhos conversavam em japonês como velhos amigos. Diana sentou-se no carpete, perto da mesa do café, virada para Walter. - Você mora em Tacoma, Washington? – ouvi Diana lhe perguntar. – O que o traz à

Califórnia? - Estou aqui passando o feriado, visitando minha mãe em Sacramento – respondeu

Walter.- Coloquei um prato de bolinhos de arroz na mesinha de café e comecei a servir chá

verde quente e bolo. Podia sentir Walter olhando para mim, enquanto servia os outros. Finalmente, coloquei o chá e o bolo na mesa de café diante dele e sentei-me no sofá.-Patsy, soube que você é uma professora do curso primário – ele disse numa voz suave e agradável.

- Sim, leciono para a terceira série. A que tipo de trabalho você se dedica, Walter? – perguntei-lhe, imaginando o que ele estava pensando de mim.

- Sou um engenheiro eletrônico.- É uma bela profissão – repliquei, e de repente percebi que não sabia mais o que

dizer. Não me sentindo à vontade, comecei a tomar meu chá. Ele se inclinou e começou a provar o seu bolo, usando o grafo com a mão esquerda. Comemos sem dizer mais uma palavra, sorrindo um para o outro, quando nossos olhares se encontravam acidentalmente.

- Depois de terminar de comer bolo, ele olhou para mim e disse: - Diana me contou que você lecionou no Japão durante 3 anos.

- Sim, voltei há seis meses – respondi, aliviada porque o silêncio fora interrompido.- Você tirou muitas fotos lá?- Sim. Você gostaria de ver algumas delas?- Sim, gostaria.- Eu trouxe o meu álbum e sentei-me perto dele. Nossa conversa tornou-se menos

tensa enquanto ele virava as páginas e eu lhe explicava os pontos altos de minha vida no Japão: Ensinar inglês e trabalhar com missionários.

- Desejei ansiosamente que ele havia vindo porque Deus o havia enviado. Mas mesmo quando lhe revelei que tinha ido ao Japão porque sentira que era Deus que queria que eu fosse, ele não disse nada. A resposta vazia dos seus olhos me convenceu de que ele não conhecia Deus de maneira alguma. Quando chegamos ao final de meu álbum, minha esperança de que Deus havia me mandado Walter também chegara ao seu final.

- Durante o resto da noite tentei penosamente esconder minha decepção. Felizmente, Diana, minha irmã tagarela, fez a conversa se estender.

- Finalmente, os convidados se levantaram para ir embora. Mas antes de sair, Walter convidou-me para jantar com ele duas noites depois. A mãe dele dirigiu-me um sorriso gracioso de aprovação ao sair pela porta.

- Assim fechei a porta, Diana perguntou-me: - Então, o que achou dele?-- Ele parece legal – consegui dizer antes de um nó apertar minha garganta.

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- Acho que ele serve para Patsy – mamãe comentou.- È ele aquele desconhecido? – Diana brincou.Forcei um sorriso, diante da piada amigável de minha irmã.- Quero dizer que eles combinam na idade, altura, educação e antecedentes – mamãe

continuou.- Papai, o que achou do Walter? – perguntei, esperando que meu pai tivesse notado

algo negativo em seu genro em perspectiva.- Ele parece um bom moço – papai afirmou, em seguida voltou para a sala de estar, a

fim de acabar de ler o jornal.- Se você comprometer-se agora, poderá noivar em junho, assim que terminarem as

aulas – Diana brincou.- Diana, não a pressione! – mamãe ralhou. – Por enquanto eles têm que decidir se

querem se conhecer melhor e se querem se casar.- Mamãe virou-se para mim: - Pense direitinho. Se você se decidir a não casar com

ele, deve dizer-lhe isso logo. Ele tem trinta e três anos. Vocês dois devem procurar outra pessoa, se não estão interessados um no outro.

- Está bem, mãe – repliquei e pus-me a juntar as xícaras e pratos e levá-los à cozinha. Mamãe e Diana pegaram os refrescos que restaram e me seguiram.

- A discussão continuou na cozinha, mas em meu coração eu já havia decidido que Walter não era o homem para mim. Sabia que não podia me casar com ele. E sabia que teria que dizer isso a ele na ocasião de nosso jantar.

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Capítulo 4

O Encontro do Adeus

“ Senhor, Walter estará aqui dentro de dois minutos, e ainda não tenho idéia de como vou lhe dizer que já decidi não me casar com ele. Que farei?Diga-lhe a verdade – que o seu Deus proíbe você de ser casar com um não crente, Deus parecia estar dizendo em meu coração.“Mas, Senhor, ele não o entenderá. Ele vai achar que sou uma fanática religiosa”, protestei. “Tu não podes fazê-lo me rejeitar primeiro, para que eu não tenha que dizer isto a ele?”A campainha tocou.Fiz mais um pedido. “Senhor, por favor, não o deixe se interessar por mim!”Quando abri a porta, a roupa de Walter chamou minha atenção imediatamente. Tudo o que ele vesti parecia ser novinho em folha – o casco esporte azul–marinho, a gravata de lã, as calças quadriculadas e até os sapatos pretos e brilhantes.

Engoli em seco.- Oi Patsy – ele disse com um sorriso radiante.- Oi - respondi, desanimada, sentindo as circunstancias se fechando sobre mim.Levamos uma hora de carro até um restaurante em Sacramento, onde garçons aguardavam nossa chegada vestidos de ternos pretos, atentos a todo e qualquer pedido. A comida, o ambiente e os serviços eram refinados. Mas não pude aproveitar nem um pouquinho. Minha mente me atormentava com a obsessão embaraçosa: Como vou dize-lo?Especialmente porque ele já parece está interessado em mim!

Diversas vezes abri minha boca para dizer-lhe o que tinha a dizer. Mas, de alguma maneira, quando as palavras saíam, ouvia-me comentar sobre “o restaurante agradável”.

- Está tudo bem com você esta noite? – Walter perguntou com o tom de voz que revelava solicitude.

- Estou bem, obrigada – respondi, tocada pela sua sensibilidade, o que me fez sentir pior.

- Quando nos levantamos, para ir embora, Walter disse: - Espero que tenha gostado do jantar.

- Estava delicioso – repliquei. Mas quando notei a bagunça em meu prato, tive vontade de me esconder debaixo da mesa. Parecia que eu tinha mexido a comida a noite inteira, sem comer nada.

Uma densa neblina tinha encoberto a cidade enquanto estávamos no restaurante. Walter dirigiu devagar, olhando atento através daquela brancura. A não ser pelo comentário ocasional sobre a neblina, seguimos ao que parecia numa eternidade de silêncio.Minhas chances de falar com ele estavam indo embora!

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- pensei, aflita. Não posso deixar ele voltar a Tacoma com esperanças vãs de me ver outra vez!

A algumas milhas de casa senti que iria explodir se não lhe dissesse o que tinha a dizer .- Walter, há algo importante que tenho que contar-lhe – disse, num ímpeto.- Está bem mas isso pode esperar até chegarmos a sua casa? Tenho que me

concentrar na estrada agora.- Ah,... é claro.Encostei-me no banco envergonhada. Como pude ser tão imprudente? Censurei-me mentalmente.Finalmente, chegamos em casa. Ele desligou o motor e virou-se para mim. – Agora você pode me dizer o que queria dizer.O tom sério da voz dele denotava que ele estava esperando más noticias.

Você se importaria se conversássemos lá dentro de casa durante alguns minutos?- perguntei, sentindo-me repentinamente despreparada para falar.

-Está bem. Meus pais e minha irmã tinham ido para a cama.

Convidei Walter para a sala de estar, onde poderíamos conversar sem acordar ninguém. Sentamos no sofá. Walter esperou pacientemente, enquanto eu tentava encontrar uma maneira mais gentio de lhe falar. Finalmente eu disse- Acho que você sabe que sou crente, pelas fotos das atividades de minha igreja no Japão. Mas você sabia que crentes só se casam com crentes? Não, não sabia- ele respondeu baixinho, como se já estivesse entendendo onde esta conversa terminaria. Olhei para as minhas mãos, grudando de suor. E agora o que devo fazer, Senhor? -Bem, acho que, antes de tudo, preciso saber se você é crente - continuei hesitante. -Não, não sou - ele respondeu em sua maneira breve, característica dele. -Eu receava que não fosse - eu disse, sem conseguir erguer os olhos. Isso significa que não posso me casar com você... caso fosse me pedir isso- gaguejei, envergonhada mais uma vez. Walter não fez nenhum comentário. O que ele irá pensar de mim agora? Por que ele não diz nada?

- Não quero comanda-lo nem impedi-lo de conhecer alguém com quem se possa casar. O que quero dizer é que acho melhor cada um de nós seguir o seu caminho antes que venhamos a estar mais apegados um ao outro - concluí.

Franzindo as sobrancelhas, ele fixou os olhos nas brasas que se apagavam na lareira no outro lado da sala. Depois de um longo tempo, disse:- Por que você quis me conhecer se não tinha certeza de que eu não era crente?Abaixei a cabeça. – Desculpe-me mas eu me enganei, pensando que você fosse o homem que Deus disse que traria a mim.- Deus falou com você?Walter parecia surpreso.- Não, não da maneira que você está pensando.- O que você quer dizer então?- É uma longa historia. Tem certeza de que quer ouvi-la?- Sim, quero.

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Relutante contei-lhe o que tinha acontecido antes de conhece-lo. Ele ouviu, atento, como uma criança entretida numa história na hora de dormir.Quando terminei, Walter balançou a cabeça,pensativo. – Isso é incrível! – ele disse. – Mas ainda quero saber como Deus lhe falou. Você ouvi uma voz? - Não, não era uma voz audível. Era mais como um entendimento secreto entre dois

corações que tem se conhecido e amado durante muito tempo.Walter ficou olhando para o chão e não disse nada, e mais uma vez um misto de vergonha e arrependimento tomou conta de mim.- Sinto muito ter colocado tantos em situações embaraçosas – eu disse baixinho.Seguiu-se um grande silêncio. Fiquei esperando a reação dele.Finalmente ele esse levantou – Obrigado por sua explicação – disse. Estendeu sua mão para mim. – Foi um prazer conhece-la, mesmo que por tão pouco tempo.- Igualmente – respondi, apertando sua mão.Fui até a porta com ele. Ele a abriu, disse adeus e se foi. Depois que a escuridão nublada apagou a imagem dele de minha vista, fechei a porta e me encostei nela, olhando sem ver para o chão. Pobre Walter! Um homem tão bom, vivendo a vida inteira sem Deus!Na manhã seguinte, Diana me interceptou no momento em que eu saía de meu quarto. – Então, como foi o encontro?- Legal.- Você vai se encontrar com ele de novo antes de ele voltar para Tacoma?- Não, não temos o bastante em comum – eu disse, tentando, com grande esforço,

aparentar naturalidade.- Mamãe, você ouvi isso? Patsy e Walter já desmancharam o namoro.O serviço informativo de Diana alcançou a cozinha antes que eu pudesse impedi-lo.Qual é o problema? – mamãe perguntou, quando entrei na cozinha.- Ah, ele não é o meu tipo, e eu não sou o tipo dele – eu disse, não querendo mencionar Deus e ouvir que estava sendo demasiada religiosa.Espero que você não esteja sendo muito exigente. Você jamais irá encontrar o homem perfeito.Eu sei, mamãe. Mas você disse que eu deveria dizer-lhe o mais breve possível se achasse que não era o homem certo para mim. Foi o que fiz. Depois do café da manhã, fui para a escola. Precisava fazer algo, uma atividade construtiva que me deixasse ocupada. Em minha sala de aula, fiquei olhando as prateleiras vazias das estantes que tinham sido esvaziadas antes das férias natalinas. Arregacei as mangas e comecei a preparar novas disposições e lições. Durante os dois dias que se seguiram, forcei os desafios do meu trabalho a ocuparem os meus pensamentos e minha energia.O ultimo dia das férias natalinas, um domingo, apresentou-se úmido e escuro. Diana e eu estávamos lavando a louça, quando vimos Walter entrar com o carro em nosso quintal.Suspeitei, sem acreditar.- Pensei que você e o Walter tivessem desmanchado o namoro! – Diana disse,

surpresa, e dirigiu para mim um olhar brincalhão.- Também pensei – eu disse, secando minhas mãos no pano de pratos. Minha cabeça

fervilhou de interrogações. Ó Deus, por que ele voltou? Que devo fazer agora?

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Através da janela, fiquei olhando-o sair do carro. Um olhar sombrio anuviava o seu rosto enquanto ele seguia em direção à casa. Deixando Diana terminar com a louca, fui atender à campainha e logo estava face a face com o homem com quem pensava que nunca mais iria me encontrar.- Oi, Patsy. Posso falar com você por alguns minutos? Não posso ficar muito tempo.

Tenho que devolver o carro ao meu irmão em San Jose antes de pegar o avião para Tacoma.

- Por favor, entre – convidei, esperando que ele não reparasse como eu estava nervosa. Fiz sinal para que se sentasse no sofá da sala de estar, e depois fechei a porta que dava para a cozinha, para maior privacidade.

Sentamos num silêncio embaraçoso por alguns minutos. Em seguida ele começou – Estive pensando muito nos últimos quatro dias. De alguma maneira sinto que devemos ter-nos conhecido por mais razões do que para dizer adeus tão depressa... Se não se importar, gostaria de manter contato com você. Poderíamos nos corresponder?Os olhos de Walter examinavam o meu rosto enquanto ele esperava por uma resposta.Olhei para as minhas mãos e procurava ganhar tempo enquanto uma confusão inesperada obscurecia minha resolução de não me envolver. Percebi que parte de mim queria muito manter contato com este homem. Quase desesperadamente voltei-me para o Senhor, procurando ajuda. Senhor Jesus, o que devo fazer?- Não me importo de me corresponder com você, mas não quero me envolver com

alguém que com quem não possa me casar – respondi finalmente.- Isso não seria problema, se ambos entendermos que só estamos escrevendo como

amigos.O ponto dele parecia racional, e em meu íntimo eu me censurava por entrar em pânico pelo simples fato de escrever cartas.- Acho que você tem razão – concordei. – Poderíamos nos corresponder como

amigos e nada mais até um de nós encontrar alguém. Está bem?- Sorrimos um para o outro ao chegarmos a um acordo. Em seguida, Walter olhou

para o relógio e se pôs de pé.- Tenho que ir agora, senão perco o avião. Por favor, apresente os meus

cumprimentos aos seus pais e Diana.Ele se apressou até o carro, e exclamou: - Escrever-lhe-ei em breve!Um tanto deslumbrada, acenei para ele e fechei a porta. Jesus, o que significa tudo isso?-perguntei. Antes de ter tempo de pensar nestes acontecimentos, a porta se abriu e Diana entrou – Por que ele foi embora tão depressa? – ela perguntou, quase sem fôlego pelo excitamento.Respirei fundo e tentei responder com voz firme: - Porque tem que pegar o avião de volta para Tacoma.Os olhos de Diana brilhavam com a impaciência produzida por uma curiosidade intensa, que só uma irmã mais nova podia sentir.- E por que ele veio?- Ah, ele só queria saber se eu gostaria de manter correspondência com ele.- Você vai?- Acho que sim.- Diana me dirigiu um largo sorriso. Os olhos dela brilhavam. Senti que não parecia

tão indiferente quanto pretendia aparentar.

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- Não, não é o que você está pensando – eu disse, com reprovação – Só vamos nos corresponder como amigos, até um de nós conhecer alguém para ter algo sério. Mais nada!

- Pensei que você tinha dito que vocês não têm nada em comum! – ela brincou.- E não temos mesmo. Mas isso não significa que não podemos nos corresponder –

respondi me defendendo, embora em meu coração ainda fique imaginado por que Deus quer que nos correspondamos.

Coloquei meu casaco e fui lá fora, atrás do barracão do trator, a fim de contemplar o pomar de nogueiras de papai, que ficava no sentido leste. Freqüentemente, quando precisava falar com Deus, eu ia ao seu encontro nesse lugar. Hoje o nosso lugar predileto estava enlameado e as árvores peladas, sob um céu escuro. “ Senhor, não entendo o que está acontecendo!” – exclamei. “ Por que tu o deixaste voltar? Sobre o que poderemos escrever? “ Uma enorme gota de chuva caiu sobre o meu nariz, mas eu estava determinada a esperar ali uma resposta de Deus.Nenhuma resposta dramática veio, nada mais senão uma paz suave, que acabou com todas as minhas interrogações. Voltei para casa com a íntima certeza de que, como no passado, podia confiar em Deus para me orientar nessa situação desafiadora.

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Capítulo 5

Apenas Amigos porCorrespondência

4 de janeiro de 1972

Querida Patsy,

Estou feliz por tê-la conhecido durante as férias. Você pertence a uma ótima família e tem uma linda casa.Cheguei a tempo no aeroporto, para pegar o meu avião.Antes de arranjar este emprego em Tacoma, há quatro meses, trabalhei em sacramento durante dez anos, morando com minha mãe. Morar sozinho num apartamento e cozinhar são coisas novas para mim.Sinto-me feliz por você ter concordado em se corresponder comigo. Será tão bom voltar para casa e encontrar uma carta sua. Por favor, escreva-me e fale sobre você.

Sinceramente.

Walter.

12 de janeiro de 1972

Querido Walter,

Obrigada pela sua carta. Eu também estou feliz por termos nos conhecido.Estou impressionada com o fato de você cozinhar para si mesmo. Você se importa em me dizer o que um homem solteiro prepara para o seu jantar?Não sei o que lhe contar sobre mim. Acho que poderia começar do começo. Nasci em Arkansas, num campo de concentração, durante a guerra.Depois da guerra, meus pais se mudaram para Lodi e mais tarde compraram esta fazenda. Cresci neste lugar. Há muitos anos, nossa casa atual foi construída na mesma propriedade onde nossa antiga casa ficava.Tive a infância típica de uma menina nipônico-americana de terceira geração, exceto numa coisa. Quando tinha oito anos de idade, conheci Deus, através de Jesus Cristo. E ele tem tornado a minha vida uma aventura singular com ele.

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Tenho um irmão mais velho, Lester, que é dono de uma fábrica de vidros em Fresno. O nome da esposa dele é Helen. Tenho duas irmãs mais novas: Delfina, uma editora de revistas em San Francisco, e Diana, uma formanda no Estado de Sacramento.Há sete anos, formei-me no Estado de Sacramento, obtendo o certificado de professora. Tenho ensinado desde então.Agora que sabe “tudo” sobre mim, por favor, escreva e fale-me sobre você.

Sempre sua

Patsy

20 de janeiro de 1972

Querida Patsy

Foi maravilhoso receber notícias suas.

Gostaria de impressionar você, dizendo que sou um cozinheiro gourmet. Mas tenho que admitir que minhas habilidades na cozinha se limitam ao arroz, carneiro, ovos fritos e pastelões de carne. Geralmente faço o pastelão de carne bem grande, de modo a dar para vários dias, almoço e jantar. Felizmente, tenho amigos que sempre me convidam para preparar jantares especiais em suas casas.No que diz respeito à minha vida, nasci em e fui criado em numa fazenda em Sacramento Tenho uma irmã ( a mais velha) e cinco irmãos. Sou o segundo mais novo e o único solteiro. Meu pai faleceu quando eu fazia a faculdade.Depois de me formar na Universidade de Califórnia, em Berkeley, há doze anos, trabalhei como engenheiro eletrônico em Sacramento, e agora em Tacoma. Quando não estou trabalhando, gosto de pescar.Obrigado por me contar sobre sua vida. Fiquei sobremodo interessado quando li que você conheceu Deus aos oito anos de idade. Você se importa em me contar como foi?Espero ter novas notícias suas.

Sinceramente,

Walter

26 de janeiro de 1972

Querido Walter,

Adorei ler sobre sua vida.

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Você pode não ser um cozinheiro gourmet, mas, se pela prática se adquiri a perfeição, então você deve está fazendo os mais gostosos pastelões de carne de Tacoma. Você acredita que conheci Deus numa garagem de um só carro? Quando tinha seis anos, meus pais consentiram em que eu freqüentasse uma igreja cristã, liderada pelo Ver.A.A. Smith em sua garagem.Depois de freqüenta-la durante dois anos, compreendi que Jesus é o filho de Deus, que veio ao mundo para morrer pelos meus pecados. E descobri que poderia conhece-lo pessoalmente, porque ele ressuscitou dentre os mortos e ainda vivi hoje.

Num domingo, com o auxílio da minha professora da Escola Bíblica Dominical, orei e convidei Jesus para morar em meu coração. Mais tarde, em casa, senti a presença dele dentro de mim e comecei a conversar com ele. Daquele dia em diante, soube que, de alguma maneira, Deus tinha se tornado o meu pai celeste e que o céu se tornara o meu verdadeiro lar. Creio que disse o bastante a respeito de mim! Por favor, fale-me mais sobre você. Como é a engenharia eletrônica? Você está envolvido em algum projeto especial?

Desejo-lhe um bom dia

Sempre sua,

Patsy

5 de fevereiro de 1972

Querida Patsy,

Não estou atuando como engenheiro eletrônico hoje porque a companhia está fechada por causa da neve.Estou sentado em meu apartamento, perto da janela, olhando a neve cair e relendo sua carta. Não posso deixar de ficar fascinado com sua associação especial com Deus. Muitos crentes falam com Deus como você?

Espero que você não se importe por eu abreviar minha carta. Quero que o carteiro a leve ainda hoje. Quanto mais cedo a enviar, mais cedo você a receberá. E quanto mais cedo a responder, mais cedo ficarei sabendo notícias suas.

Aguardo sua próxima carta.

Sinceramente,

Walter

8 de fevereiro de 1972

Querido Walter,

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Você ainda está preso com a neve? Espero que isso não lhe tenha causado muitos transtornos.Vou tentar responder à pergunta que você me fez em sua última carta.Todo crente nasceu de novo em espírito, podendo se comunicar com Deus, o seu Pai espiritual. Mas nem todo crente separa tempo para desenvolver uma relação íntima com ele.Deus fala conosco constantemente. No entanto, na maioria das vezes não silenciamos nosso coração durante um tempo suficiente para ouvir o que ele está dizendo. È pela prática que se aprende a ouvir Deus atentamente. Eu estou aprendendo a ouvi-lo. Freqüentemente “ouço de modo errado”, como quando pensei que ele me havia dito que estava trazendo você até mim, para nos casarmos.Posso lhe perguntar qual tem sido sua experiência com Deus? Não estou presa pela neve, mas gostaria de saber notícias suas em breve.

Tenha boas férias nervosas!

Sempre sua,

Patsy

16 de fevereiro de 1972

Querida Patsy

Minhas férias nervosas duraram três dias. Sua carta chegou em meu terceiro dia de volta ao trabalho. Obrigado pela sua pronta resposta.Nunca tive um encontro pessoal com Deus como você, mas acredito que um ser superior deve ter criado o mundo.

Como um desenhista de engenharia eletrônica, é difícil engolir a teoria da evolução. Todo o equilíbrio incrível e desígnio deliberado na natureza não pode ter acontecido por acidente. E não posso acreditar que o acaso ensinou os animais o que sabem e fazem por instinto.

Está nevando outra vez. Flocos de neve me fazem lembrar de algo que li certa vez. Todo floco de neve tem o seu feitio peculiar – nenhum se iguala. Isso também me diz que há um gênio criativo em algum lugar.

Caso a companhia feche novamente, por causa da neve você me escreverá imediatamente outra vez?

Sinceramente,

Walter

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24 de fevereiro de 1972

Querido Walter,

Obrigado por você me expor os seus pensamentos sobre Deus.

Fiquei especialmente interessada em saber que você acredita que os milagres da natureza são evidências de um Criador Divino. Você sabia que Deus afirma que ele expressa os seus feitos na natureza para confirmar no coração humano a sua existência?Deus deu o instinto aos animais para servir-lhes de orientação no suprimento de suas maiores necessidades. Você acredita que Deus também colocou em nosso coração um instinto que nos faz suspirar por ele, e saber que ele mesmo é a nossa maior necessidade?

Pascal, o famoso físico e filósofo, disse: “Há um vazio na forma de Deus no coração de cada homem, que não pode ser preenchido por nenhuma coisa criada, a não ser por Deus, o Criador, tornado conhecido por meio de Jesus Cristo”.

Acho que ele está certo. Quando converso com pessoas que conheceram Jesus Cristo recentemente, elas me dizem que o vazio que existia em seu coração desapareceu quando ele nele entrou.

Aguardo novas notícias suas.

Sempre sua,

Patsy

12 de março de 1972

Querida Patsy,

Antes de começar a me corresponder com você, nunca me ocorreu que pessoas comuns poderiam conhecer Deus pessoalmente. Talvez algum dia, eu possa me interessar o suficiente para investigar as religiões do mundo, com o fim de acha-lo também.

Mas até lá gostaria de saber o que você tem a dizer sobre o assunto. Importo-me com o que é importante para você.Quando pedi que me escrevesse, não esperava ficar tão fascinado como tenho estado com suas cartas. Ultimamente, tenho me perguntado se amigos por correspondência não poderiam se visitar pessoalmente.

Estou planejando uma viagem a sacramento, para ver minha mãe, daqui a duas semenas. Gostaria de vê-la também. Posso passar aí, para visitá-la?

Espero que diga sim.

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Sinceramente,

Walter

19 de março de 1972

Querido Walter,

Estou Feliz por você pretender tomar em consideração buscar Deus algum dia. No entanto, você não precisa procurar por ele pelo mundo todo. Ele pode ser achado tão perto de você quanto sua própria respiração.

Até ter aulas na faculdade sobre as religiões do mundo, eu acreditava que todas as religiões procuram Deus. Para minha surpresa, descobri que muitos fundadores de grandes religiões nem sequer criam na existência de Deus.

Eles buscavam verdades que pudessem ajudar a humanidade. Eles buscavam respostas para á vida após a morte. Mas muitos deles nunca buscaram nem jamais conheceram o Deus vivo.

Deus não é uma filosofia religiosa nem uma sensação de santidade nem um conceito vago em nossa mente. Ele é uma Pessoa onipresente, onisciente e onipotente, que nos ama e quer nos amparar pessoalmente. E qualquer um que quiser conhecê-lo pode fazê-lo.Quanto à sua visita, acredito que Deus aprovou que o visse. Uma das maneiras de ele guiar os seus filhos pela vida é com sua paz. Quando lhe perguntei sobre a sua vinda, ele encheu o meu coração com a sua divina paz.

Espero vê-lo em breve.

Sempre sua,

Patsy

25 de março de 1972

Querida Patsy,

Você não pode imaginar como fiquei feliz ao saber que até Deus aprova o nosso encontro!Voarei para Sacramento nesta sexta à noite, e irei visitá-la no sábado à tarde.

Espero vê-la em breve!

Sinceramente,

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Walter

Capítulo 6

A Visita

O aroma do sukiyaki quente encheu a cozinha. E com que fome eu estava! Sentei-me à mesa e olhei para o relógio. Uma e meia! Espero que o Walter não chegue justamente ao começarmos a almoçar, pensei, enquanto tirava uma colher cheia de sukiyaki da caçarola que estava no centro da mesa, dando uma mordida ávida no pedaço de carne tenra e suculenta, temperada com perfeição. Naquele momento ouvi um ruído de carro na estrada.Diana largou os pauzinhos japoneses com que comia e deu uma olhadela através das cortinas da janela. – Walter chegou – ela disse por cima da mesa.

- Quem é ele? – nossa tia perguntou.- Ele é o namorado de Patsy, de Tacoma Washington.- Ele não é meu namorado. Ele é apenas um rapaz que conheci durante o feriado

natalino – corrigi.- Ele deve estar interessado em você, se vem de Washington para visitá-la – nosso tio

comentou. - Não, ele veio visitar a mãe dele, que mora em Sacramento – eu disse andando em

direção à porta.- Traga-o para a cozinha, para que possamos conhecê-lo – minha irmã Delfina disse,

sentada à mesa. – Eu também não o conheci ainda.Quando abri a porta, Walter sorriu e me entregou uma caixa de bombons. – Isto é para você.Ah, não! Agora todo mundo vai pensar que ele é meu namorado mesmo! – pensei, quase esquecendo de agradecer-lhe e convidá-lo a entrar. Ele entrou na sala de estar, olhando para os carros no pátio – Eu não sabia que sua família está com visitas hoje.- São só meu tio e tia de Los Angeles, visitando-nos por uma semana. E minha irmãs

estão passando o fim de semana em casa.- Oh, vocês ainda estão almoçando! Devo ter chegado cedo demais – ele disse,

olhando para o relógio, enquanto eu o conduzia até a cozinha.- Não, nós é que estamos atrasados – eu disse, e o apresentei ao tio Tak, tia Yo e

Delfina.- Walter, há bastante sukiyaki – mamãe disse.- Sente-se e coma – papai convidou.- Não, obrigado. Almocei antes de vir. Vou ler uma revista. Ele foi até a sala de estar,

no final da cozinha.Quando retornei à minha cadeira ao lado de tia Yo, ela me catucou com o cotovelo e sussurrou sonoramente:- Agarre-o, querida! Ele vai ser um bom maridinho!

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Delfina e Diana quase se engasgaram, ao tentar conciliar o riso. Tentei sorrir e fiquei pensando se Walter tinha ouvido o comentário. Atemorizada pela maneira como a visita tinha começado, comi mais um pouco de sukiyaki e pedi licença para sair da mesa.- Você gostaria de andar pelo quintal? – perguntei ao Walter.- Oh, sim – ele disse, sorrindo, e seguiu-me pela porta da frente.Lá fora, a primavera se mostrava em todo canto do jardim. O ar era claro e fresco. Andamos até o quintal detrás, parando no caminho para admirar narcisos, que nos mostraram os seus rostos ensolarados.Walter parou diante do jardim japonês de mamãe, debaixo de um enorme pinheiro inclinado.- Gostaria de ter minha máquina fotográfica para tirar um retrato seu aqui – ele disse.Apesar de deliberadamente demonstrar distância, senti uma onda de calor por causa de seu elogio. Havia muito tempo que um homem não pedia para tirar uma foto minha. Mas apenas sorri e segui em direção ao campo.- Depois que papai parou de cultivar hortaliças, ele plantou estas cerejeiras e algumas

nogueiras lá atrás – expliquei, apontando para os limites da pequena fazenda de meu pai.

- Sei.Os olhos de Walter apreciavam a paisagem rural.Andamos juntos na direção do pomar de nogueiras, do outro lado do galpão do trator. O sol da tarde se refletia em nossos rostos enquanto ficávamos olhando para o horizonte ao leste, atrás das nogueiras vestidas de folhas verdes e novas, para além da cerca de arame da plantação de alfafa do vizinho.- Adoro este lugar tranqüilo – disse eu, quase falando comigo mesma.- È o lugar onde sempre venho falar a sós com Deus.Olhei para ele. Ele estava me olhando tristemente, como sempre, mas com uma expressão amável e interessada nos olhos. Hesitei após o que disse: - Na verdade você é a única pessoa a quem falei, alguma vez, sobre este lugar.Parei num repente, percebendo que tinha permitido Walter entrar no meu mundo particular com Deus. Ele sorriu para mim, e parecia satisfeito por eu ter compartilhado a ele o meu lugar secreto. Porém senti-me vulnerável e inquieta.- Você gostaria de sentar-se aqui? – perguntei-lhe, oferecendo-lhe um velho caixote

que estava junto ao galpão. Peguei um outro caixote para mim. Durante um longo tempo, sentamos e ficamos observando os pintarroxos voando pelas árvores.

- A voz baixa de Walter quebrou o silêncio: - Você sempre pergunta a Deus a respeito de tudo o que faz?

- Eu tento – respondi, sem olhar para ele.- Posso perguntar por quê?- Por que ele é Deus e sabe o que é melhor para mim – eu disse, virando-me, para

observar os olhos dele enquanto eu falava.- Walter ficou me olhando, - Patsy, você vive num mundo fascinante!Eu sabia que ele queria dizer que o meu mundo era irreal para ele, e uma dor familiar de isolamento feriu meu coração.- Acho que nós, crentes, encaramos a vida de uma maneira diferente, sempre

perguntando a Deus sobre tudo – eu disse. – O que você faz quando tem que tomar uma decisão importante?

- Que tipo de decisão?

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- Bem, por exemplo, como você decidiria quem é a mulher certa para você se casar?- Retive a respiração, surpresa com minha audácia inesperada.- Walter respondeu calmamente. – É fácil. Primeiro analisaria e calcularia todas as

opções. Depois escolheria a melhor opção com que minha mente e coração concordassem. Em seguida faria a proposta a ela.

Ele parou de falar e piscou para mim.Engoli em seco. Certamente ele não estava pensando em fazer a proposta a mim! Nervosamente, levantei-me e levei meu caixote par junto do galpão. Em seguida, ouvi-me perguntando: - Você tem analisado muitas jovens eventualmente?- Não. Amigos tentam me arranjar garotas, mas eu sempre recuso. Quero ver e

conhecer a jovem antes.Ele pegou o caixote dele e o colocou perto do meu. A proximidade dele me perturbou. Eu estava achando difícil permanecer indiferente.- Mas você não tinha me visto ou conhecido antes. Por que concordou em me

conhecer?Afastei-me dele e olhei para o campo.Ele aproximou-se e ficou perto de mim. – Realmente não sei por quê. Chieko telefonou-me entusiasmada naquela manhã cedo. Talvez estivesse sonolento para pensar numa boa razão para não conhecê-la. Além do mais, não tinha nada planejado para aquela noite – ele justificou.Dirigi-lhe um meio sorriso, determinada a não encorajar um avanço dele.Mas ele colocou suas mãos em meus braços e olhou dentro de meus olhos.- Não importa por que concordei, estou feliz por ter vindo e por ter conhecido você

Patsy – disse.Ele puxou-me para perto de si e tomou-me em seus braços.Uma brisa fresca soprava através dos pinheiros, murmurando como riachos distantes. Senti-me aconchegada e confortável nos braços dele, mas meu coração gritava em protesto: Afaste-se! Não se deixe envolver! Você entrará no mundo dele sem Deus! Eu sabia que não deveria deixa-lo me abraçar, mas meus braços pareciam fracos para afasta-lo. Ò Deus! Por favor, me ajude! – orei.- Patsy! Walter! Onde estão vocês? – a voz de Diana chamou do outro lado do

galpão.- Estamos aqui – respondi aliviada, afastando-me de Walter.- Diana veio contornando o lado do galpão. – Mamãe quer saber se vocês querem

torta de maçã.- Não sei se é o seu caso, Walter, mas estou louca por uma sobremesa – eu disse.

Meu estômago me lembrou que tinha comido pouco no almoço.- Eu aceito também. Torta de maçã é a minha preferida. – disse Walter.- Andamos de volta para casa com Diana.Mais tarde, enquanto saboreávamos a torta na sala de estar, tia Yo veio da cozinha.- Estou preparando um pato assado especial e chow mein para o jantar, querida – ela me disse. Por que você não convida Walter para ficar?- Ah, não devo... – Walter comentou, olhando para mim.- Você será bem vindo, se quiser ficar – eu disse.- Claro, querido, por que não fica e janta conosco? – tia Yo encorajou.- Bem, se é realmente conveniente para você – Walter disse, olhando para mim outra

vez.

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- Ele ficará. – Diana decidiu por ele.Walter ficou para o jantar e passou o resto da tarde vendo TV com nossa família.Todos tinham ido para a cama quando o levei até a porta para dizer boa noite.- Não me lembro de ter tido um dia melhor, Patsy – ele disse, olhando para mim

ternamente. - Eu também gostei do dia – repliquei, sentido-me culpada por ter gostado tanto da

atenção dele.Por um momento ficamos olhando um para outro. E novamente senti o vazio da vida dele sem Deus. Meu coração doeu. Este relacionamento era sem valor. Não apresentava nenhum futuro para nós. Desviei os meus olhos.- Espero que você me deixe visitá-la outra vez – disse.- Eu... eu continuarei a escrever para você – gaguejei, incerta, sem conseguir dizer-

lhe que não o veria mais.Ele colocou a mão sobre o meu queixo e aproximou o meu rosto dele. E beijou os meus lábios ternamente.Meu coração mandou um aviso: Não comece a se envolver!Tentei falar, mas minha mente ameaçou: Se você deixá-lo ir, nunca mais encontrará outra pessoa! Nunca mais.- Boa noite – ele sussurrou. – Voltarei em breve para vê-la.- Muda, fiquei olhando-o partir.- Em meu quarto, senti-me solitária e longe de Deus. Sabia que não podia deixar

Walter ir para casa com a impressão de que poderíamos ter um futuro juntos.“ Senhor Jesus, sinto muito por não ter encerrado o assunto”, eu disse. Mas o magnetismo dos momentos maravilhosos que passei com Walter lutava com minha emoção.Senti-me cheia de tristeza porque tinha perdido a paz com Deus, mas não estava arrependida por não ter deixado Walter. Não posso deixá-lo e arriscar-me a passar o resto da minha vida sozinha! – pensei. Ele provavelmente é minha última chance! Atirei-me na cama e chorei sentidamente.Então, do fundo do meu coração, Deus me confortou. “Patsy, não pode mais confiar em mim quanto ao seu futuro?”Num segundo entendi minha verdadeira ofensa contra Deus. Era verdade, falhara em não dizer ao Walter para nunca mais voltar. Mas isso era o menos. O meu erro fora mais grave. Eu temia que Deus iria recusar um bom marido para mim e me deixar sem nenhum.Dessa vez minhas lágrimas se derramaram não por mim mesma, mas pelo Deus que eu tinha ofendido.“ Senhor, sinto muito por haver te ferido. Como pude desconfiar de ti, quando tu sempre me trataste com tanta bondade e amor? Tu nunca me recusaste nada que fosse bom para mim. Por favor, me perdoe.”Olhei para o alto e renovei fervorosamente os meus votos. “Senhor Jesus, eu te amo! E confiarei o meu futuro, meu casamento e minha vida a ti”.Pouco a pouco, o sentimento da presença dele retornou, e sua paz encheu o meu coração.

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Capítulo 7

Não um Simples Livro

3 de abril de 1972

Querida Patsy,

Mais uma vez muito obrigado pelos momentos maravilhosos que passei com você, sua família, seu tio e tia. Por favor, dê as minhas lembranças a eles.

Agradeço, especialmente, à sua tia Yo por preparar o delicioso jantar.

A propósito, gostei do que a ouvi dizer a você à mesa do almoço.

Depois de retornar a Tacoma, peguei um terrível resfriado. Acho que não me importo em enfrentar outro inverno aqui.

Pensei em você a viagem toda no avião. Você é uma pessoa muito especial para mim. Sinto sua falta e espero vê-la outra vez em breve. Por favor, escreva-me logo.

Sinceramente,

Walter

10 de abril de 1972

Como está o seu resfriado? Estou orando para que você fique bom logo.

Quando decidimos nos corresponder, concordamos que seria só como amigos. Mas sua última visita e carta indicam um relacionamento mais sério. Walter, por favor, entenda que é importante para minha vida com Deus que não me envolva com você. Deixe-me tentar explica-lo.

Como crente, conheci Deus pelo seu filho Jesus Cristo, que veio ao mundo na forma de homem, para se relacionar conosco. Como aconteci com qualquer relacionamento, um relacionamento significativo com Deus deve ser desenvolvido passando-se tempo junto com ele, para ouvir, dizer e fazer coisas que agradam a um e a outro.

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Agradamos a Deus quando confiamos nele e obedecemos ao que está escrito em seu livro – a Bíblia. Em relação ao casamento, a Bíblia não recomenda o crente se casar com um não crente porque eles seriam incompatíveis.Se eu fosse me envolver com você, sabendo que isso, poderia levar ao casamento, estaria voluntariamente desobedecendo a Deus. A desobediência sempre arruína o nosso relacionamento com Deus. É um preço muito alto para eu pagar em troca de qualquer relacionamento humano.

Gostaria de continuar a escrever-lhe como amiga. Mas se isso for encorajá-lo a pensar em casar comigo, devo insistir que devemos parar com nossa correspondência imediatamente. Deixarei a decisão com você.

Sempre sua

Patsy

18 de abril de 1972

Querida Patsy,

Enquanto analisava o que você escreveu, cheguei a inacreditável conclusão de que estamos sendo separados por um simples livro. Um livro que tem nada menos que milhares de anos. Continuarei a escrever-lhe como amigo porque estou curioso em saber como você pôde deixar um livro antigo reger a sua vida nesta idade moderna. Os tempos mudaram. Como algo que foi escrito há tanto tempo pode dar conselhos aplicáveis a alguém hoje? Não o entendo.

Meu resfriado está melhor. Obrigado por sua preocupação.

Por favor, escreva-me outra vez.

Sinceramente,

Walter

26 de abril de 1972

Querido Walter,

O livro que está se entrepondo entre nós não é um simples livro. A Bíblia é o único livro no mundo que Deus diz ter escrito.

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Na verdade, Deus diz que este livro representa ele mesmo, em forma escrita, revelando seus feitos, seus pensamentos, seus sentimentos, sua vontade, seus planos e sua personalidade.

Sim, os tempos mudaram. A moda mudou. As filosofias humanas mudam constantemente. Mas a humanidade é basicamente a mesma desde o seu início.É por isso que“ o manual para seres humanos” é ainda tão relevante hoje quanto foi há milhares de anos.Neste mundo instável, de ideologias humanas que mudam constantemente e moralidade decadente, escolhi o Deus Criador e seu livro de Instruções imutáveis para ser meu padrão absoluto de conduta.Walter, estou feliz por você ter decidido continuar a me escrever como amigo. Eu sentiria falta de suas cartas interessantes, se parasse.Por favor, escreva-me novamente em breve.

5 de maio de 1972

Querida Patsy,

Tem certeza que estamos falando sobre o mesmo livro? Quando estava na faculdade, tentei certa vez ler a Bíblia. Por favor, não se sinta ofendida, mas não pude obter muito dela. Na verdade achei-a meio chata.

Posso lhe perguntar o que faz você achar que a Bíblia foi escrita por Deus? Que prova você tem?

Antes de terminar esta carta, gostaria de lhe pedir um favor. Você me mandaria uma foto sua?

Por favor, responda logo.Sinceramente,

Walter

14 de maio de 1972.

Querido Walter,

Sinto muito por você ter tido uma experiência negativa lendo a Bíblia. Mas Deus escreveu a Bíblia para o coração daqueles que já o conhecem. É como uma carta dirigida a um estranho, a não ser que Deus more em seu coração, fazendo-a pessoal para você.

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Entretanto, se você quiser tentar ler a Bíblia novamente, leia o evangelho de João em o Novo Testamento. É dirigido àqueles que não conhecem a Deus, mas que querem ser apresentados a ele.Realmente, ninguém mais, a não ser Deus, poderia ter escrito a Bíblia. Quem mais, a não ser Deus, poderia saber quais os ingredientes que usou para fazer o corpo humano? Até anos recentes, os cientistas não sabiam que o corpo humano se constituía dos mesmos elementos químicos que o pó da terra. A Bíblia disse isso há muito tempo.Quem mais, a não ser Deus, poderia ter escrito a história do mundo desde a sua criação até a sua destruição? Tudo sobre os tempos modernos combina com a descrição, por parte de Deus, da última geração, que iria ver Israel se tornar uma nação e ponto central do mundo.Quem mais, a não ser Deus, poderia ter escrito as leis morais que se provaram ser a verdade absoluta através dos tempos? Os indivíduos, assim como as nações, virão a ruína quando tentarem desobedecer às leis de Deus.Quem, a não ser Deus, poderia ter escrito com autoridade sobre coisas eternas e invisíveis, como o céu, o inferno, os anjos e os demônios?Quem, a não ser Deus, poderia ter escrito um livro em que ele se apresenta ao homem? Onde quer que a Bíblia foi espalhada, pessoas de todas as idades, todas as culturas conheceram o Deus Criador vivo.Quem, a não ser Deus, poderia ter escrito um livro através do qual teria um relacionamento pessoal durante a vida toda com bilhões de pessoas através da história do mundo?Deus diz que seu livro é vivo e que tem o poder de falar com clareza específica a qualquer que o ler e lhe obedecer. Sei por experiência própria que isso é verdade.Estou lhe mandando anexo um folheto que contém mais razões Por que a Bíblia foi escrita por Deus.Tenha um bom dia. Escreva-me em breve.

Sempre sua,

Patsy

22 de maio de 1972

Querida Patsy,

Quando o seu envelope volumoso chegou, acreditei firmemente que continha fotos suas. Mas se tratava apenas de um folheto interessante e de sua carta. Obrigado assim mesmo.No entanto, ainda quero uma foto sua, para que não tenha que me corresponder com alguém sem rosto.Sua carta me deu muito a pensar. A propósito, por que Deus nos criou?

Responda-me em breve.

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Sinceramente,

Walter

30 de maio de 1972

Querido Walter,

Você acredita que Deus nos criou especificamente para si mesmo? Diferente de todos os outros seres de sua criação, o ser humano foi feito à imagem de Deus.Deus é um Espírito eterno e uma pessoa com emoções, intelecto e vontade. Nós também temos um espírito eterno e somos pessoas com emoções, intelecto e vontade.Como Deus, somos indivíduos singulares, que têm livre-arbítrio, que nos permite escolher o nosso caminho. Sem a vontade, não seríamos mais do que meros robôs programados, incapazes de termos emoções ou pensamentos pessoais.O desejo básico de Deus é amar e ser amado. O nosso também. Ele nos fez para si mesmo para nos amar e para que o amássemos. Com nossa vontade, podemos escolher amá-lo ou não.Deus gosta de ter um relacionamento significativo com as pessoas e de fazer coisas entusiásticas com elas. Nós também.Ele tem um plano específico para a satisfação de nossas vidas individuais. Se quisermos, podemos andar com ele e deixa-lo desvendar o seu plano diante de nós. Desde o seu início, nossas vidas tinham a finalidade de serem uma aventura divina com Deus.É interessante você pedir um rosto para se corresponder.Talvez uma das razoe por que Deus veio até nós na forma de um ser humano foi para propiciar-nos um rosto para o nosso relacionamento com ele. Jesus representa a face através da qual podemos nos relacionar com o Deus invisível do universo.Como quer que seja, estou lhe mandando, anexa, uma foto minha tirada no Japão.Desejo-lhe um bom dia.

Sempre sua,

Patsy

11 de junho de 1972

Querida Patsy,

Obrigado por sua fascinante carta. E obrigado especialmente por sua linda foto. Coloquei uma moldura nela e a mantenho na mesa da cozinha, para vê-la, ao escrever para você, ao tomar minhas refeições, sentar-me e ao passar por ela...

Já estamos em junho. Quando será o seu último dia na escola? Você tem planos para as férias de verão?

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Durante a primeira semana de julho. Estarei em San José, numa pequena viagem de negócios. Também visitarei o meu irmão, Ricardo, que mora lá. Estarei a apenas duas horas de distância de você, mas receio que o tempo não dará para vê-la nessa viagem.

Mais uma vez, muito obrigado pela linda foto.Por favor, escreva-me em breve.

Sinceramente,

Walter

16 de julho de 1972

Querido Walter,

Acabo de verificar que já faz mais de um mês que não lhe escrevo. Por favor, perdoe-me por meu longo silêncio. Tenho estado extremamente ocupada.

Logo depois de uma estafante semana final de aulas, antigos alunos e amigos do Japão começaram a chegar, para me visitar. Tenho-os acompanhado a muitos lugares familiares na Califórnia, apreciando esses lugares pelos olhos daqueles que nunca viram a América.

Pensei em você durante a primeira semana de julho e fiquei imaginando se tinha vindo a San Jose para a viagem de negócios. Espero que tenha passado bons momentos em sua visita a seu irmão.

Desejo-lhe um feliz verão.

Sempre sua,

Patsy

30 de julho de 1972

Querida Patsy,

Sinto-me aliviado em saber que tudo está bem com você. Tenho que admitir que fiquei preocupado por você não escrever

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Tenho estado ocupado também. Aconteceram-me tantas coisas desde a última vez que lhe escrevi. Minha viagem de negócios a San Jose teve como fim uma entrevista com respeito a uma nova colocação de engenheiro eletrônico numa companhia ali.Para abreviar a história, consegui o emprego! Vou mudar-me para San Jose no fim de agosto e começarei em meu novo emprego no dia 5 de setembro.Depois que me instalar, passarei aí para vê-la e dar-lhe o meu novo endereço. Espero que também esteja feliz com minha mudança.Esperando vê-la em breve,

Sinceramente,

Walter

Capítulo 8

Tentação

Quando Walter veio me entregar o seu novo endereço em San Jose, perguntou-me se podia tornar a voltar um outro dia. - Claro – respondi, presumindo que Deus permitiria uma visita ocasional de um velho

amigo por correspondência.Mas logo Walter se tornou um visitante habitual dos fins de semana em nossa casa. E comecei a ficar desejando vê-lo depois de uma longa e desafiadora semana com as crianças na escola. Tudo parecia sob controle entre nós, mas de alguma maneira eu lutava com um sentimento de inquietude. Certamente Deus não se importa por eu ter um amigo, racionalizei. Afinal de contas, só estamos nos vendo em casa com minha família.Com o passar dos meses, não pude deixar de perceber que Walter ainda queria se casar comigo.- Vou pegá-la e levá-la comigo hoje à noite – ele com freqüência brincava.- Isso não parece próprio para um amigo por correspondência fazer – eu brincava

também, empurrando-o gentilmente. Mas, em meu coração, eu sabia que tínhamos nos tornado mais que simples amigos.

Ás vezes eu temia que nossas vidas estavam lentamente, mas, sem dúvida alguma, caminhando em direção ao casamento. Eu observava deliberadamente o vazio dos olhos dele, para me lembrar como minha vida seria vazia se me casasse com um homem que não tinha o conhecimento de Jesus. Isso parecia servir como uma parede de proteção para me abster de me envolver emocionalmente com ele, e eu me dizia que ainda tinha controle suficiente sobre a situação.Mas um dia a professora da quarta série veio falar comigo, logo depois da aula. – Patsy, está tudo bem entre você e o Senhor? – minha amiga crente perguntou, num tom preocupado.

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- Por que está perguntando?- Bem, é que parece que você não tem paz ultimamente.Abaixei a cabeça, chocada porque estava sendo tão notório que estava afastada de Deus. Finalmente tive que admitir que a amizade de Walter tinha se tornado mais importante para mim do que o meu relacionamento com Deus. Minhas prioridades haviam ficado para trás. Não admira que a vida me parecesse tão confusa e sem sabor ultimamente!Decidi que, quando Walter viesse me visitar no sábado seguinte à noite, eu lhe proporia que não nos encontrássemos tão freqüentemente dali em diante.No sábado à tarde entrei na cozinha e vi minha mãe e avó envolvidas numa discussão à mesa.Enquanto colocava leite num grande copo para mim, ouvi Obaa-chan, minha avó, dizer em japonês: - Você acha que os Sugiyama devem ser convidados?- É claro. Eles sempre nos convidaram para ocasiões importantes – mamãe respondeu

em japonês, escrevendo o nome deles na lista.- Convidá-los para o quê? - perguntei, sem conseguir conter minha curiosidade.- Ah, só estávamos pensando em quem deveríamos convidar para o casamento,

quando você e o Walter se casarem – mamãe respondeu, sem graça.- Quem disse que iremos nos casar?- Bem, vocês podiam se casar mesmo – Delfina comentou, folheando uma revista na

sala de estar. – Toda vez que venho para casa, vocês estão vendo TV como um velho casal.

- É, estou começando a achar que ele já faz parte da família – Diana acrescentou, mordiscando um biscoito.

- É, mas não vamos nos casar. Somos apenas amigos – declarei e sentei-me à mesa com o meu leite.

- Minha avó olhou ternamente para mim do outro lado da mesa. – Pachi – ela disse, num inglês quebrado, pronunciando o meu nome de modo errado – Obaa-chan acha Watta bom menino.

- Sim, Obaa-chan, Watta é um bom menino, mas não quero me casar com ele – eu disse, pensando por que também falava inglês errado quando falava com ela.

Papai olhou por cima do jornal. – Se você não pretende casar-se com ele, não continue com ele – disse, enterrando a cabeça novamente no jornal. E ninguém mais falou.Naquela noite, Walter e eu assistimos à TV até que todos foram para a cama. Quando ficamos sozinhos, ele se virou para mim e disse: Como foi a sua semana?Eu tinha planejado não entrar em discussão, mas como ele tinha perguntado, admiti: - Não tão bem. Andei pensando que não podemos continuar nos vendo assim.- Tenho pensado a mesma coisa.- Ah, tem?- Sim. Vamos fugir para Reno hoje à noite para nos casarmos – ele disse, em tom de

brincadeira. Mas, ao mesmo tempo, seus olhos me mostraram que não estava brincando.

- Estou falando sério, Walter! Nosso futuro assim está em perigo. Estamos ficando mais velhos! E como não vamos nos casar, precisamos começar a conhecer outras pessoas. Você está tentando conhecer outras garotas?

- Ele colocou as mãos em meus braços e olhou dentro de meus olhos.- Será que você não entende que não me importo em conhecer outras garotas? Eu

amo você, Patsy! Não quero me casar com nenhuma outra pessoa.

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- Mas eu lhe disse desde o princípio que não posso me casar com você. Por quanto tempo vamos continuar assim?

- Até eu vê-la casada com outra pessoa. Por favor, deixe-me ter a esperança de que você será minha esposa algum dia – ele respondeu, com os olhos cheios d’água.

Apesar de tudo, abracei-o e chorei diante do sonho sem esperança dele e pelo nosso relacionamento inútil.Naquela noite, me virei e revirei na cama, sem conseguir dormir. Frustrada, acendi a luz e abri minha Bíblia, para procurar uma palavra da parte de Deus que me confortasse. Meus olhos deram com uma passagem sublinhada em vermelho, passagem que sempre me encorajava a continuar esperando para Deus me apresentar o marido certo: “Porque necessitais de perseverança, para que, depois de haverdes feito a vontade de Deus, alcanceis a promessa. Pois ainda em bem pouco tempo aquele que há de vir virá, e não tardará” ( Hb 10.36,37 ).No passado, eu só tinha focalizado o fato de que as promessas de Deus se tornariam reais sem ultrapassar a hora certa. Mas, nessa noite, à parte “depois de haverdes feito a vontade de Deus” parecia apontar um dedo convincente a mim. “Senhor, o que devo fazer para obedecer à tua vontade?”.Mesmo enquanto lhe perguntava, já sabia que Deus queria que eu abandonasse esse relacionamento não-cristão com Walter de uma vez por todas.“Mas... mas Walter representa minha única vida social! O que farei sem suas visitas...sem suas cartas...sem sua amizade?” O sentimento de solidão tomou conta do meu coração.Contudo, sem querer esquecer, apaguei as luzes e chorei baixinho no travesseiro. No silêncio da noite, comecei a sentir um leve puxão em meu coração. Patsy e nós? E nós? E nós? Eu sabia que era Jesus.O puxão logo se transformou numa intensa paixão dolorosa, que surgia do fundo do meu ser. Patsy, amo você. Amo você com um amor eterno... e nós?Comecei a chorar. “Oh, Jesus! Sinto muito! Eu também te amo! Eu não vou mais deixar Walter se interpor entre nós!”.Acendi a luz, coloquei o roupão e sentei-me junto à minha escrivaninha. Lágrimas deslizavam pela minha face, enquanto eu escrevia minha carta de despedida ao Walter:

19 de janeiro de 1973

Querido Walter,

Por meio desta carta rompo todos os laços com você. Não posso continuar com a futilidade de nosso relacionamento. E não posso agüentar mais deixar você esperando por um casamento que nunca se realizará.

Por favor, aceite a minha mais profunda gratidão por sua amizade e bondade para comigo e para com minha família.

Hoje à noite, enquanto lhe escrevo esta última carta, meu coração pesa com algo que preciso lhe dizer antes de nos separarmos. No futuro cada um de nós partirá deste

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mundo. A Bíblia fala que só nascemos uma vez, só morremos uma vez e então enfrentaremos o juízo. Depois do juízo cada um de nós irá para o céu ou o inferno eterno. Nenhum de nós está sem pecado e nenhum de nós poderá escapar do julgamento, para entrar no céu puro e sem pecado.

Mas Deus nos amou a tal ponto que não desejava que nenhum de nós perecesse. È por isso que ele enviou o seu filho Jesus, para tomar os nossos pecados sobre si, para ser julgado culpado em nosso lugar e sofrer a pena de morte por nós. Se confiarmos em Jesus e o convidarmos a entrar em nossa vida por aquilo que fez por nós, então quando comparecermos perante Deus para o julgamento eterno, ele nos declarará inocentes, porque o castigo pelo nosso pecado já foi totalmente pago.

Ninguém precisa ficar imaginando para onde irá depois da morte. Na Bíblia, Deus nos fala a respeito desse assunto: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está em seu Filho. Quem tem o Filho tem a vida; quem não tem o Filho não tem a vida. Estas coisas vos escrevo, a vós que credes no nome do Filho de Deus, para que saibas que tendes a vida eterna” (1 João 5.11-13).

Walter, mais do que qualquer outra coisa, desejaria que você aceitasse a dádiva de Deus da vida eterna.Adeus, precioso amigo. Estarei orando por você.

Sempre sua,

Patsy

No dia seguinte, quando lancei a carta na caixa do correio, senti-me aliviada, do sentimento de culpa que tinha toldado a minha vida durante os últimos quatro meses.

Nas semanas que se seguiram, no entanto, me achei verificando a caixa do correio todos os dias, esperando uma resposta do Walter. Então, certo sábado, um pequeno pacote enviado por ele chegou. Peguei-o e corri para o meu canto atrás do galpão do trator. Sentada num caixote, abri o pacote. Meu retrato e os folhetos que lhe tinha enviado caíram no chão. Peguei-os e procurei entre eles por uma carta... ou até mesmo um bilhete. Nada! Mas a mensagem não-escrita de Walter estava clara para mim: ele não me escreveria nem me veria mais.

Foi isso que eu tinha pedido. Então por que estava sentindo que meu coração ia se partir? Lágrimas nublaram minha visão, enquanto olhava a orquídea morta pelo inverno em minha frente.

Finalmente, forcei-me a olhar para cima. Enxugando as lágrimas, eu disse: “Senhor, quero que saibas que confio em ti, mesmo quando não vejo nenhum sinal da primavera à minha frente”.

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Deliberadamente, comecei a afastar Walter de meu coração, e parte de mim parecia morrer.

“Jesus, tu nunca me disseste que minha vida contigo seria fácil, mas tu prometeste nunca me deixares nem desamparares...isso será o suficiente para mim... mesmo se tu preferires que não me case”.Um sentimento de paz completa invadiu e aqueceu o meu coração. A mão invisível de Deus parecia segurar a minha, e caminhamos juntos de volta para casa.

Capítulo 9

Detalhes Específicos

Sem o Walter tive mais tempo de falar com Jesus. Certa noite, pareceu Deus colocar em meu íntimo o pensamento de que eu deveria ser mais específica, ao pedir-lhe um marido.“O que queres dizer Senhor? Meu pedido para me enviares um homem crente nipônico americano não é suficiente específico?” – perguntei-lhe.Muitos homens caberiam nesta descrição, ele salientou. Como você poderia reconhecer o homem certo, mesmo se fosse eu quem o enviasse a você?Naquela noite decidi escrever uma lista de detalhes específicos, tão-somente para provar a mim mesma se eu sabia o que queria num marido. Peguei uma folha de papel em branco e escrevi em seu cabeçalho: Meu Futuro Marido. Em seguida comecei minha lista:

1. Deve ser crente2. Nipônico americano3. Bondoso4. “número quatro”, disse em voz alta para mim mesma. “Deixe-me pensar...” Que tipo de crente você quer? Morno ou consagrado? Deus inquiriu dentro de mim.Um crente consagrado, eu escrevi ao lado do número quatro. “Eu não quero me casar com ele enquanto não receber de ti uma palavra clara da Bíblia, como fizeste comigo quando fui ao Japão”, eu disse enquanto escrevia.5. Confirmado pela palavra de Deus“Ah, eu quero que enchas os nossos corações de paz, para nos assegurares que nos escolhestes um para o outro”. Paz escrevi ao lado do número seis.Qual a altura que quer que ele tenha?, Deus indagou em meu coração, para maiores detalhes.“Entre três e seis polegadas mais alto do que eu”.Com que idade?“Ah, que seja dois a seis anos mais velho do que eu”, repliquei enquanto continuava a escrever.Algum gosto pessoal específico?

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“Bem, seria bom se ele gostasse tanto de comida japonesa quanto eu. Não gostaria de me sentar à mesa e ouvi-lo reclamar toda vez que fizesse peixe cru, meu prato preferido, para o jantar”.E de que não gostaria?“Agora Senhor, tu podes achar que é ridículo. Mas não quero um sobrenome comprido. Alguns nomes japoneses têm mais de dez letras. Quero que o meu novo sobrenome seja mais curto que o meu de solteira”, coloquei ao lado do número dez.Não esqueça de que prometi trazê-lo até você, ele lembrou.“Ah, sim!” – disse, escrevendo-o.Mas alguma coisa? – ele perguntou.“Nada que me lembre agora. Mas fico imaginando o que aconteceu com o homem por quem orei no Japão. Lembras-te quando tu me acordaste no meio da noite para que eu orasse pelo meu futuro marido, que tu disseste estar em perigo de morte? Pela incrível paz que senti em meu coração depois de orar, acreditei que tu preservaste a vida dele”.Escapou milagrosamente da morte, escrevi ao lado do número doze.Sem conseguir pensar em mais detalhes específicos, dobrei a lista e a escondi cuidadosamente dentro de uma caixa cheia de livros em meu armário, onde ninguém pudesse esbarrar acidentalmente e rir-se dela.Os meses se passaram em paz – fevereiro, março, abril, maio, junho – bem como as férias de verão novamente. Sem o conflito interno de estar me encontrando com alguém que Deus não queria que me encontrasse, desfrutei harmonia e contentamento em meu mundo com ele.Então, numa noite em julho, recebi um telefonema inesperado que sacudiu o meu mundo de paz.- Oi Patsy. Como tem passado? – Era Walter.- Oh, bem, obrigada – eu disse. – E como vai você?- Também estou bem.- Um silêncio embaraçoso seguiu-se.Finalmente, ele disse: - Você se importa se eu lhe perguntar se você já conheceu alguém para se casar?Estremeci diante do pensamento de Walter voltar a se interpor em meu relacionamento com Deus.- Não... não encontrei – disse. – E você?- Eu também não.Permaneci calada, não querendo encorajá-lo a me ver outra vez. Finalmente, ele disse: Patsy, estive pensando seriamente sobre o seu Deus, e tenho algumas interrogações que preciso ver respondidas. Você é a única crente que conheço bem. Você me escreveria, dando-me a resposta para elas?Meu coração teve um baque. Senhor, não quero recomeçar um relacionamento de amizade com ele por correspondência! O que devo dizer-lhe?, gemi em meu íntimo.- Não sei se vou conseguir responder às suas perguntas, mas posso tentar – me ouvi

replicar-lhe, apesar de meus sentimentos.

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Capítulo 10

Um e único

7 de julho de 1973

Querida Patsy,

Obrigado por você concordar em voltar a se corresponder comigo.Você sempre me disse que Deus nos criou e nos ama.Mas acho difícil acreditar quando vejo notícias na TV e observo pessoas sofrendo fome, guerra, terremotos, crimes e enfermidades.Por que este mundo é tão imperfeito? Por que Deus não faz algo para ajudar-nos? Você pode me dar uma resposta?

Sinceramente,

Walter.

12 de julho de 1973

Querido Walter,

Eu também ficaria perplexa diante das terríveis condições do mundo se a Bíblia não explicasse por que essas coisas acontecem.

De fato, nossas mentes humanas não conseguem compreender todos os caminhos do Soberano Deus do Universo, mas podemos conhecer alguns fatos básicos sobre como o mundo chegou a seu estado presente.

No começo Deus criou um mundo perfeito. E nele colocou Adão, que foi criado à sua semelhança.

Deus amou tanto adão que não só o colocou num mundo perfeito, mas também lhe deu o controle e o domínio sobre esse mundo.

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Mas adão e sua esposa, Eva se viraram contra o seu Deus e Pai, acreditando na mentira que Satanás e se juntando a ele em rebelião. Através desse ato de rebelião, Adão e a raça humana se afastaram de Deus. O domínio do mundo passou para as mãos de Satanás.

Usando o poder de reinar herdado de Adão, trabalhando primeiramente em nossas mentes, Satanás tenta inferiorizar a Deus e destruir sua criação. A Bíblia chama Satanás de pai de toda mentira, um assassino desde o começo e um ladrão, que veio para roubar, matar e destruir.

Ele enche o mundo com filosofias pervertidas, causando a destruição de vidas, de lares, produzindo doenças, desastres e guerras.

Até na área religiosa Satanás cria inúmeras religiões falsas, para confundir seguidores sinceros, para que não encontrem Deus. Ele extravia as pessoas com experiências religiosas falsas e sentimentos que não tem nenhum fundamento.

Mas Deus ainda anela pelos seus filhos que criou, que por causa da desobediência se tornaram reféns de Satanás. Por amor, Deus entregou o seu Filho unigênito, Jesus, para morrer como Redentor, para nos livrar do domínio de Satanás. Ele também nos deu a sua verdade escrita, a Bíblia, através da qual podemos detectar as mentiras sutis desse “anjo de luz” enganador.

Entretanto, um resgate não tem nenhum efeito, a não ser que escolhamos aceitar a liberdade que nos oferece. A verdade escrita não é de nenhum valor pessoal, a não ser que a leiamos e aceitemos, rejeitando as mentiras que ela desmascara. Se assim fizermos, poderemos pertencer a Deus e conhecer a verdade num mundo que está cheio de falsidade.

Quando Jesus veio como um Bebê a Belém, ele entrou no reinado terreno de Satanás. Quando ele morreu na cruz por nossos pecados, ele destruiu o domínio de Satanás sobre nós. Numa data futura, ele voltará e destruirá Satanás e seu domínio sobre a terra completamente, porque só Jesus é o Rei soberano de toda a criação.

Sinto muito que a carta tenha se prolongado tanto. Espero que ela responda a algumas de suas perguntas.

Sempre sua,

Patsy

20 de julho de 1973

Querida Patsy,

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Obrigado por sua interessante carta.Sempre senti que espíritos maus existem, especialmente no ocultismo, macumba e outras magias negras sobrenaturais. Mas nunca ouvi que o Diabo reinasse sobre a terra e as pessoas que nela se encontram. Se isso é verdade, certamente explica por que o mundo sofre tanta maldade e desordem.

Em sua carta, você citou religiões falsas. Como uma pessoa pode saber quais são as religiões verdadeiras e quais o Diabo falsifica?

Esperando receber sua resposta,

Sinceramente,

Walter

1 de agosto de 1973

Querido Walter,

Acho que você concordará que uma religião vale tanto quanto a vida de seu fundador.Durante os anos em que minha fé em Jesus foi testada, fiz algumas pesquisas sobre os fundadores das grandes religiões do mundo. Eis alguns fatos que descobri:

Nenhum líder religioso, a não ser Jesus, declarou ser Deus.

Nenhum líder religioso, a não ser Jesus, declarou ser o Criador do Universo.

Nenhum líder religioso, a não ser Jesus, cumpriu centenas de profecias detalhadas a respeito de seu nascimento miraculoso, sua vida, sua morte e sua ressurreição, preditas por Deus através de seus profetas muitos séculos antes.

A vida de Jesus é a mais documentada na História. A sua vinda dividiu a história em dois períodos a.C. e d.C.

Nenhum líder religioso, a não ser Jesus, foi julgado e crucificado por se recusar a negar que ele era Deus. E ainda mais, ele provou ser Deus ressuscitando do túmulo três dias depois de ser morto.

Nenhum líder religioso, a não ser Jesus, prometeu, da mesma maneira, ressuscitar você dentre os mortos e preparar-lhe um lar no céu, se você crer nele.

Nenhum líder religioso, a não ser Jesus, retornou ao céu diante de muitas testemunhas.

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Nenhum líder religioso, a não ser Jesus, tem tido um número incontável de seguidores que escolheram serem mortos para não negarem a realidade de Jesus como Deus. Através da História, crentes têm sido apedrejados, pendurados em cruzes, atirados aos leões, queimados em estacas, perseguidos e repudiados por causa de sua fé em Jesus, que foi mais preciosa para eles do que a própria vida.

Nenhum líder religioso tem o testemunho do próprio Deus, que declara que seu Filho Jesus é o único caminho para se chegar ao céu.

Walter, somente Jesus conhece você pelo seu nome e o ama tanto que morreu por você.Só Jesus pode mostrar-lhe as mãos e os pés marcados pelos cravos, que sangraram para pagar pelos seus pecados e para livrá-lo de Satanás.Entre os fundadores de grandes religiões do mundo, só Jesus ainda vive, para falar e andar com você. Mas não acredite só em minha palavra. O próprio Jesus pede para chamá-lo e promete responder-lhe. Por que você não o chama e descobre isso tudo por você mesmo?

Sempre sua,

Patsy

10 de agosto de 1973

Querida Patsy,

Nossas cartas têm sido tão em nível de negócios que não tenho perguntado pela sua vida pessoal. Como tem passado? Você tem aproveitado estas férias de verão?Gostei de sua carta informativa. Tenho que admitir que não sabia que Jesus é sem igual entre todos os outros líderes religiosos.Estou interessado em me tornar um crente. Seria melhor freqüentar uma igreja cristã e estudar a doutrina antes de me agregar? O que você recomenda?Escreva-me em breve.

Sinceramente,

Walter

21 de agosto de 1793

Querido Walter,

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Obrigada por você perguntar por mim. Estou bem e gostando de descansar nestas férias.Estou feliz por saber que você está pensando em se tornar um crente. No entanto, é importante que você entenda bem que o cristianismo não é uma religião, mas um relacionamento que começa a partir do momento em que você conhece Deus através de Jesus Cristo.

Uma pessoa não pode se tornar crente agregando-se a uma igreja nem acreditando na doutrina nem mesmo seguindo a Bíblia ao pé da letra.

A Bíblia afirma que mesmo os demônios crêem que Jesus é o Filho de Deus, e estremecem, mas certamente não são crentes. Os líderes religiosos dos tempos de Jesus seguiam as leis de Deus nos mínimos detalhes, mas não eram crentes, porque rejeitaram Jesus. Como você vê, o cristianismo não é tanto uma doutrina em que se deve crer, mas uma Pessoa que se deve receber.

Nenhum grande conhecimento da teologia cristã é necessário. Até uma criança pode receber Jesus. Lembre-se, eu só tinha oito anos quando me tornei uma crente.

Uma vez que você se tenha tornado cônscio de que Jesus é o Filho de Deus que morreu por seus pecados, tudo que tem de fazer é recebê-lo como seu Salvador pessoal e fazê-lo o Senhor da sua vida. Aí Deus realizará o milagre de colocar em você um novo espírito, o Espírito Santo. Através dele, você poderá se comunicar com Deus. E a sua vida com Deus terá seu início.

Deus promete, na Bíblia, que, àqueles que aceitarem o seu Filho, Jesus, ele dará o poder de serem feitos filhos de Deus (João 1.12).

Freqüentar uma igreja cristã para aprender a doutrina é bom. Mas se você não tomar a decisão de receber o Salvador vivo em sua vida, ir à igreja nada mais será do que um ritual sem valor para você.

Sempre sua,

Patsy

2 de setembro de 1973

Querida Patsy,

Também tenho passado bem. No trabalho, tenho estado ocupado com um projeto importante do Governo. Nos fins de semana, o que faço mais freqüentemente é passar por Lodi, para visitar minha mãe em Sacramento.

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Acho que o engenheiro em mim precisa ter uma explicação técnica para tudo – mesmo sobre Deus. Você poderia explicar em termos mais técnicos o que você quer dizer com “receber Jesus”? Como uma pessoa pode receber outra em sua vida?Antes de concluir esta carta, gostaria de fazer mais uma pergunta.Você se importaria se eu fosse à igreja com você em Lodi?Por favor, responda-me em breve.

Sinceramente,

Walter

12 de setembro de 1973

Querido Walter,

Durante a semana toda, fiquei pensando como explicar “receber Jesus” em termos técnicos para um engenheiro. Aí me lembrei que Deus determinou que o relacionamento matrimonial se baseasse no relacionamento de Jesus com o crente.Tanto receber o seu cônjuge quanto receber Jesus são atos de escolha e compromisso pessoais. Ambos são consumados por Deus através do milagre da união espiritual.Um homem e uma mulher recebem um ao outro em casamento ao escolherem um ao outro e fazerem, perante a lei, o voto de se amarem, respeitarem e se tratarem com carinho – não tendo olhos para outros, sendo fiéis tão-somente um ao outro.Uma pessoa recebe Jesus em sua vida quando lhe pede para ser o seu Salvador pessoal e lhe promete amá-lo, honrá-lo e obedecer-lhe, abandonando Satanás e o pecado, sendo fiel somente a Jesus.Espero que esta simples explicação seja técnica o suficiente para você.Quanto à igreja, você será bem vindo para participar do culto comigo, se o desejar. A Escola Bíblica Dominical começa às 9h30m e o culto às 10h45m. Se você vier à minha casa às nove horas, teremos tempo para chegar lá à hora.

Sempre sua,

Patsy

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Capítulo 11

Teste de Obediência

No momento em que li a carta do Walter, na qual ele perguntava se podia ir à igreja comigo, ocorreu-me que, se ele se tornasse crente, Deus poderia me pedir para casar-me com ele. Eu estava feliz porque Walter poderia ter um encontro com Jesus em breve, mas sentia-me inexplicavelmente desconfortável ao pensar em casar-me com ele.Fui além do galpão do trator, até o pomar de nogueiras, para refletir sobre minhas emoções. Uma imensa plantação de nogueiras estava quase pronta para a colheita, com os galhos carregados de frutos. Algumas das folhas já tinham ficado amarelas e caído no chão.Fui andando com dificuldade sobre os torrões de terra seca, resmungando comigo mesma: “Por que não quero me casar com o Walter? Ele é bom. Mas tenho a certeza de que poderia viver sem ele”. Este era meu problema. Alguém certa vez me aconselhou a casar com uma pessoa não simplesmente por sentir que podia viver com ela, mas por sentir que não poderia viver sem ela.Fiquei imaginando se meus sentimentos mudariam se o visse outra vez.No entanto, para meu espanto, quando Walter vinha eu ficava um tanto aborrecida em estar com ele. Para piorar as coisas, ele ainda parecia interessado em mim, e cada domingo parecia estar se aproximando mais de se tornar um crente.A ansiedade se acumulava em meu coração. “Por favor, ó Deus, não me peça para casar com o Walter!” – implorei.No quarto domingo em que Walter foi à igreja comigo, a voz mansa de Deus confrontou o meu coração com a pergunta que eu temia ouvir: Patsy, se o Walter se tornar um crente, você se casará com ele? Olhei para Walter, sentado ao meu lado no banco da igreja. De algum modo, os meus sentimentos em relação a ele pareciam tão afastados e mortos quanto as folhas debaixo das nogueiras. Mas Senhor, eu não o amo! – meu coração gritou em protesto.Após o culto, Walter disse-me que tinha que se preparar para uma viagem de negócios e que não poderia vir no domingo seguinte. Senti-me aliviada por ter duas semanas longe dele, para pensar.No entanto, toda vez que pensava num casamento com ele, uma parede intransponível de frieza bloqueava toda a antecipação de um futuro feliz. Como é que Deus pode pedir para que me case com alguém por quem não me sentia atraída, quando havia esperado trinta anos para me casar com o homem da escolha dele?Patsy, você sempre disse que eu poderia escolher o seu marido, Deus me lembrou. Você mudou de idéia?“Não, Senhor, não mudei de idéia, mas presumi que tu escolherias alguém que ao menos gostasse muito”, respondi friamente.No domingo seguinte fui sozinha à igreja. Meu coração obstinado não recebeu nada do sermão. Quando o culto terminou, esgueirei-me rapidamente por entre a multidão, em direção à saída.De repente, esbarrei numa senhora que tinha sido missionária em Trinidad.

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- Oh, Patsy querida, como vai você? – ela perguntou.- Bem, obrigada. E a senhora? – respondi, tentando não parecer muito impaciente.- Onde está o seu gentil amigo hoje? – ela perguntou, descontraidamente.- Ele está se preparando para uma viagem de negócios, e não pôde vir.Então uma idéia ocorreu-me. Eu devia consultá-la sobre o meu dilema. Ela tem andado com Deus durante muito tempo. Ela devia saber.- Posso fazer-lhe uma pergunta? – disse, hesitante.- Claro, querida. De que se trata? – ela respondeu, docemente.- Bem a senhora acha que Deus obriga uma pessoa a fazer algo que ela

definitivamente não quer fazer?- Deus não nos obriga a fazer nada que não queiramos fazer. Ele nos diz o que quer

que nos façamos. Aí permite que decidamos se queremos confiar ou não no que ele determinou – ela explicou.

- Entendi.Senti – me insatisfeita com a resposta trivial dela à minha pergunta trivial.- E quanto ao casamento? Deus pediria a uma pessoa para se casar com alguém por

quem não sentisse nada? – tentei de novo, nesta pergunta evasiva.- Ah, você está se referindo ao seu gentil amigo que vem à igreja com você? – ela

perguntou, percebendo a verdadeira pergunta atrás do que eu havia insinuado.- Sim – admiti.- Bem, querida, às vezes Deus trabalha de maneiras misteriosas, e temos que confiar

nele naquilo que não entendemos – ela disse, com um brilho nos olhos.Alguma coisa na maneira como ela sorriu me fez sentir que estava ao lado de Deus neste assunto sobre o Walter. Arrependi-me por ter-lhe indagado a respeito.Na quinta-feira que se seguiu perguntei a muitos outros crentes se eles achavam que Deus forçava as pessoas a se casarem com alguém que não amavam.- Oh, não! – todos respondiam, principalmente da maneira como eu fazia a pergunta.

Mas mesmo essa confirmação deles não sossegava o sentimento de insatisfação dentro de mim.

- Na sexta-feira à noite senti-me vencida por uma sensação de autocomiseração. Joguei-me na cama e chorei amargamente.

- Por que você está lutando contra o seu Deus, que ama você? Ele tão-somente quer dar-lhe o que acha melhor para você, eu disse a mim mesma. Pus para fora as minhas frustrações e até sentir-me aliviada, deitada na cama, esgotada pela emoção. No silêncio de meu quarto senti Deus querendo falar comigo. Finalmente, sentei-me e falei com ele suavemente.

“Pai do céu, por favor, perdoe-me por agir como uma criança egoísta e mimada... desculpe por trata-lo tão mal durante estas últimas semanas”.O doce perdão de Deus tomou conta do meu coração, mas eu sabia que o assunto inacabado ainda nos esperava.“Senhor, eu realmente desejo confiar em ti quanto a escolheres um marido para mim”, eu disse, ansiando que a sua paz retornasse ao meu coração.Você pode confiar em mim minha criança.Você pode, se quiser. Deus parecia me animar.Aos poucos, espontaneamente, abri as palmas de minhas mãos e as ergui acima de minha cabeça. Olhando para cima, com os olhos cheios de lágrimas, disse: “Pai do céu,

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vou confiar em ti para me casar com qualquer pessoa que tu escolheres para mim... mesmo que seja alguém que eu não ame”.Até Walter?“Sim...até Walter”.A paz invadiu meu coração como água cristalina invade a terra seca. No entanto, os meus sentimentos em relação ao Walter continuaram entorpecidos.Naquele sábado à noite Walter veio e fez outra pergunta sobre o cristianismo. Depois que ele se foi, senti-me desanimada. Ele parecia estar fazendo um progresso tão lento em direção a Deus. Tenho respondido às suas perguntas sobre Deus há cerca de dois anos! – pensei. Talvez ele seja daqueles que sempre aprendem, mas nunca aceitam.No domingo Walter foi à igreja comigo. Depois que o pastor proferiu a benção apostólica, ele olhou para a congregação e disse: “Sinto que Deus está me dizendo que alguém aqui quer convidar Jesus para entrar em sua vida hoje. Se você estiver sentindo um anelo por Deus durante o culto, digo que Jesus está batendo na porta de seu coração, atraindo-o a si”.“A congregação está dispensada, mas eu vou permanecer junto ao púlpito e orar com qualquer pessoa que quiser receber Jesus como seu Salvador pessoal e Senhor nesta manhã”.As pessoas seguiam em direção à porta. Virei-me para ir embora, mas Walter me bateu de leve no ombro.“Patsy, você quer me esperar aqui? Vou pedir ao pastor para orar comigo”.Fiquei boquiaberta, olhando, sem acreditar, enquanto Walter seguia pela comprida ala, em direção ao pastor.Amigos íntimos vieram a mim em alegre excitamento. Ajoelhamo-nos junto aos bancos da igreja e agradecemos a Deus, chorando de alegria. Quando nos levantamos vi o pastor apertar a mão de Walter. Então, de repente, alguma coisa no fundo de meu coração começou a estremecer, como no início de um terremoto. As sacudidelas iam se tornando cada vez mais fortes e mais violentas enquanto Walter caminhava em minha direção. E de súbito, com uma batida quase audível, a parede intransponível entre nós dois se partiu, se estilhaçou e desmoronou até o chão.Walter estava de pé diante de mim, e olhei para ele como se fosse a primeira vez. Procurei os olhos dele. O vazio que sempre havia refletido tinha sido substituído pela sua nova vida com Deus.“Parabéns!” eu disse, espantada por que mais uma vez me parecia tão normal abraçá-lo. Afastei-me para o lado, a fim de que as outras pessoas pudessem cumprimentá-lo também, mas não conseguia tirar os olhos dele.Querido Jesus, meu coração sussurrou. O que significa este sentimento que me atrai ao Walter agora?... Estou me apaixonando por ele?

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Capítulo 12

A Surpresa

Durante o mês que se passou, depois que Walter conheceu Jesus, nosso amor mútuo a Deus se tornou o fundamento para um novo tipo de amizade entre nós dois. Algumas vezes, após o culto, ele ficava para almoçar e fazer visitas antes de ir para casa. Eu adorava ficar perto dele, e Deus parecia estar entrelaçando os nossos corações. Mas Walter nunca mais disse que me amava.

Um domingo à tarde, no começo de dezembro, seguimos pelo quintal até o meu canto especial, atrás do galpão do trator. Walter ofereceu-me um caixote para me sentar e pegou outro para sentar-se ao meu lado.

Senti que ele tinha algo para dizer-me, mas ficamos sentados em silêncio, olhando para o campo de outono, rústico e sereno. Um tapete de folhas marrons cobria o chão de baixo de cada nogueira. Além da cerca de arame, a alfafa do vizinho tinha sido colhida e empilhada metodicamente em fardos.Depois de um longo tempo, perguntei: - O que você está pensando?

- Estou pensando em quanto amo você e como ainda quero casar com você.Ele virou-se para mim e pegou minha mão.Lágrimas surgiram em meus olhos. – Também o amo, Walter – disse, revelando o que meu coração ansiara dizer-lhe durante o mês que se passara.- Você me ama?Ele envolveu-me em seus braços. – Então vai se casar comigo? – ele perguntou baixinho em meu ouvido.- Quero dizer que sim, mas ainda não posso – repliquei, num gemido, afastando-me

gentilmente dele.- Por quê?- Porque não me sinto bem em tomar grandes decisões baseadas em meros

sentimentos. Preciso de tempo para consultar Deus, para que possa ter certeza de que é isso que ele quer para nós dois... E tenho uma lista de casamento que escrevi com Deus. Quero checá-la também.

Levantei-me.- Quanto tempo isso vai levar? – ele perguntou, ficando de pé ao meu lado.- Não sei. Você se lembra de quando fui ao Japão? Levou seis meses antes de Deus

falar comigo, através da Bíblia, e me dizer que ele definitivamente queria que eu fosse ensinar lá.

Voltei a sentar-me no caixote.- Como a Bíblia pode dizer-lhe para ir ao Japão? –Walter perguntou, sentando-se ao

meu lado outra vez.

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- Bem, é um milagre que Deus faz, através de seu Santo Espírito, que mora em nosso coração. Ele traz as palavras da Bíblia para a vida e as personaliza para a nossa situação específica.

- Verdade? Mas como uma pessoa pode saber quais as palavras que são as respostas de Deus para circunstâncias particulares?

- Não sei como responder, mas você saberá que Deus está falando diretamente a você ao ler uma certa passagem.

- Mas como você o sabe? È como um entendimento claro em sua mente?Ponderei a difícil pergunta de Walter. – Não, é muito mais que isso. É como algo sólido em seu coração que não pode ser removido. E a paz de Deus confirma que isso realmente vem dele.Walter ficou pensativo, em seguida disse mansamente: Acho que também vou ler a Bíblia e tentar obter uma resposta sobre o nosso casamento.- Você vai?Dei um pulo, quase sem acreditar no que ouvi. Minha mente se agitou, alvoroçada. – Sabe o que seria interessante fazer? – exclamei. – Vamos pedir que a Deus que nos fale através do mesmo versículo, se ele quer que nos casemos!

Walter hesitou. – Bem... está bem.Naquela noite ele foi embora cedo, parecendo desanimado.Na segunda-feira à noite decidi, casualmente, ler a minha Bíblia Viva, achando que levaria meses até que Deus me falasse sobre o casamento.Deitei de bruços em minha cama e inclinei a cabeça, para orar antes de começar a ler. “ Senhor, estou quase certa de que tu queres que me case com o Walter, mas lhe peço um versículo específico que possa servir de fundamento para o nosso casamento. Por favor, mostra-me claramente se devo casar-me com o Walter”.Ergui-me sobre um dos cotovelos, abri a Bíblia onde estava marcada em 1 Tessalonicenses, capítulo dois, e continuei a ler. De repente, uma pequena interrogação no versículo dezenove parecia saltar da página para o meu coração: “ Não o sois vós?” Pisquei, surpresa, e li o versículo todo em voz alta: “Por que, qual é a nossa esperança, ou gozo, ou coroa de glória, diante de nosso Senhor Jesus na sua vinda? Porventura não o sois vós?”.O versículo atingiu o meu coração.“Pai! Deus! Tu estás me dizendo que é o Walter?”.Uma certeza calma e inabalável encheu o meu ser. Eu soube que Deus havia escolhido Walter para mim. Queria gritar de alegria! Mas, para minha família não pensar que tinha ficado louca, celebrei-o silenciosamente com Deus em meu quarto.Na manhã seguinte, antes de começar a aula, compartilhei minha alegria com duas professoras, minhas colegas, que me ouviram com olhos cintilantes.- Agora, tudo que tenho a fazer é esperar Walter deparar com o mesmo versículo por

parte de Deus – concluí.- Patsy, isso é maravilhoso! Mas você tem a certeza que Deus quer falar ao Walter

através do mesmo versículo? E, se não falar, você poderá ter de enfrentar uma longa espera – a professora do quarto ano avisou, amorosamente.

- Isso mesmo! – a jovem professora, cheia de vivacidade, do segundo ano exclamou, e usando a sua imaginação brincalhona: - Posso até ver o Walter, com oitenta anos, vindo com uma Bíblia esfarrapada na mão.

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Ela se inclinou e mancou em minha direção, fingindo ter uma bengala em uma das mãos e uma Bíblia na outra. Com uma voz trêmula, disse: - Patsy, este é o versículo certo?Em seguida ela fingiu ser uma velha míope que verificava o versículo com uma lente de aumento na mão trêmula: - Na-ão, Walter, v-volte e te-tente outra vez!Caímos todas na gargalhada. Mas comecei a me preocupar que talvez tivesse imposto um de meus caprichos a Deus.Naquela noite Walter telefonou-me e eu disse a ele que Deus havia falado comigo através de um versículo. Não pude deixar de acrescentar que tinha encontrado o versículo em Tessalonicenses.- Que bom – ele disse, parecendo confuso. – Vou ler essa parte.- Vou orar por você – eu disse, tentando encoraja-lo, mas tive um sentimento

deprimente de que teria de esperar por um longo, longo tempo.No entanto, Walter surpreendeu-me com um telefonema na sexta-feira à noite. – Acho que Deus me deu a resposta sobre nós – ele disse.- Deu? – exclamei, quase deixando o fone cair. – Como você sabe?- Bem, enquanto lia, estes versículos em particular chamaram minha atenção. E,

enquanto tentei continuar a ler, senti a necessidade de reler os mesmos versículos. Quando os reli, um sentimento de paz tomou conta de mim e eu soube que Deus os estava apontando para nós. Você gostaria de saber quais são os versículos?

- Sim, gostaria – eu disse, com o coração batendo forte.- 1Tessalonicenses, capítulo três, versículos doze e treze.- Oh... não são os mesmos que os meus, mas tudo bem – eu disse, tentando esconder

o meu desapontamento. – Não estou com minha Bíblia aqui perto do telefone. Você poderia lê-los para mim? Deixei-me cair na cadeira da cozinha, desencorajada, mas disposta a ouvir.

- Diz assim: “E o Senhor vos faça crescer e abundar em amor uns para com os outros e para com todos, como também nós abundamos para convosco; para vos confirmar os corações, de sorte que sejam irrepreensíveis em santidade diante de nosso Deus e Pai, na vinda de nosso senhor Jesus com todos os santos”.

Um sentimento inesperado de paz me invadiu enquanto Walter lia os versículos que Deus tinha indicado, endireitei-me na cadeira. Meu coração agitou-se com o entendimento de que, embora Deus não estivesse nos indicado a mesma referência, ele nos tinha transmitido a mesma mensagem. Ele disse a nós dois que o amaríamos e serviríamos e ficaríamos juntos perante o nosso Senhor Jesus quando ele voltasse ao mundo.- São lindos os versículos. Eles falam a mim também – afirmei, com cautela, a cabeça

girando por causa da mudança nos acontecimentos.- Patsy, vou ter que trabalhar amanhã, mas passarei aí para vê-la no caminho de volta

a Sacramento, se não for muito tarde – ele disse.- Na manhã seguinte chegou uma carta de uma amiga minha, missionária no Japão.

Eu tinha escrito a ela sobre Walter logo depois que ele se tornara crente. Ansiosamente, abri a carta e passei a vista até a parte que se referia a ele:

Estou tão feliz porque Walter se tornou crente! Ele parece ser um bom homem, mas tenho que preveni-la que você deve ter a certeza de que ele é um crente consagrado antes de considerar a se casar com ele. Um crente não consagrado é praticamente pior que uma pessoa que não conhece a Deus.

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Mateus 6.21 diz: “Por que onde estiver o tesouro, aí estará também o teu coração”. Onde ele investe o dinheiro dele é um indicador externo de onde a consagração do coração dele está. Você sabe se ele está dando o dízimo? A pessoa que não entrega a Deus o dinheiro que por direito pertence a ele não é, na verdade, um crente consagrado.Abaixei a carta e orei: “Senhor, sei que devo me casar com um crente consagrado, e tenho visto muitas evidências de consagração no Walter”. Olhei para a carta como se tivesse que dar uma explicação. “Consagração envolve muito mais do que entregar o dízimo. Walter é um crente tão novo. Pode ser que ele nem saiba que um décimo de seu salário pertence a Deus”.Comecei a pensar em como poderia descobrir, discretamente, se ele entregava o dízimo. Mas não tive que ficar pensando por muito tempo. Mais tarde, naquela noite, quando Walter chegou, ele tinha uma pergunta para me fazer.- Separei o dízimo de meu contracheque este mês. Você pode me dizer onde devo

entregá-lo?- À igreja que você freqüenta regularmente – respondi, sorrindo interiormente para

Deus.Walter parecia cansado da longa semana e por ter dirigido à noite. Servi-lhe chá quente, e sentamos perto da lareira, na sala de estar.- Você gostaria de assistir TV? – perguntei.- Não, estou demasiado cansado para assistir um programa longo. Por que você não

me fala a respeito da lista de casamento que mencionou no fim da semana passada. Qual é o seu conteúdo?

- Não posso me lembrar exatamente. É uma lista de detalhes específicos que quero num marido. Deus me ajudou a escrevê-la há uns onze meses. Deixe-me pegá-la e ver como estamos indo.

Fui ao meu armário e tirei-a de seu esconderijo debaixo dos livros. Quando voltei à sala de estar, Walter tinha encostado a cabeça para trás e fechado os olhos.- Pode lê-la para mim? – ele pediu, com um olhar como se fosse pegar no sono a

qualquer momento.Notei que os três primeiros itens já estavam preenchidos e comecei a analisá-los enquanto lia.- Um: crente... certo. Dois: nipônico americano... certo. Três: bondoso... certo. Você

está ouvindo? – perguntei, vendo-o bocejar.- Sim, continue – ele respondeu, virando-se para uma posição mais confortável.- Quatro: crente consagrado... certo.Sorri, lembrando-me do dízimo.- Cinco: Confirmado através da Palavra de Deus... certo.Eu ainda estava impressionada com o rápido milagre que Deus havia feito. – Seis: Paz... certo. Sete: Entre três e seis polegadas mais alto... – Qual é a sua altura, Walter?- Cinco pés e cinco polegadas.- A minha é exatamente cinco pés.- Certo – ele disse, com um sorriso.- Oito: Entre dois a seis anos mais velho.- Certo – ele disse.- Nove: Gosta de comida japonesa – li.- Duplamente certo – Walter respondeu, parecendo perder o seu cansaço.

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- Dez: Sobrenome curto.Sorri, ao pensar no sobrenome do Walter: Oda.Certo – ele disse. – Se fosse mais curto, as pessoas o confundiriam com iniciais.Rimos.Onze: Trazido a mim... certo – eu disse, as lágrimas enchendo meus olhos enquanto me lembrava de quantas vezes tentara me livrar do Walter e de quantas vezes Deus o trouxera de volta a mim.- Doze: Escapou da morte milagrosamente – li.Num repente Walter sentou-se, ereto, bem acordado. – O que a fez escrever isto?Assustada, gaguejei: - Bem... é que... dois anos atrás, em maio, antes de voltar do Japão, acordei no meio da noite sentindo que o homem com quem Deus queria que me casasse estava em perigo de ser morto. E eu sabia que se não orasse por ele, ele morreria.Os olhos de Walter se arregalaram enquanto ouvia.- Meu coração ficou pesado por este homem, e orei durante a noite até que minha

aflição pela vida dele se desfez. Então senti paz e voltei a dormir.Walter olhou para mim, sem fala.- Por que está me olhando assim? – perguntei.- Há dois anos, em junho, quase morri num acidente de carro. – Walter disse,

pasmado. – O interior do carro ficou ensopado com meu sangue. As pessoas que viram o meu carro depois, diziam que ninguém poderia ter sobrevivido àquilo.

Ele virou-se para mim. – Patsy... eu era o homem por quem você orou no Japão.A sala parecia estar plena da presença de Deus, e permanecemos sentados em mudo espanto.Depois de algum tempo, quase que reverentemente, peguei a lista. Enquanto olhava para ela, verifiquei que todos os itens tinham sido cumpridos. Virei o papel e olhei o outro lado. Nada mais havia.- Walter – ouvi-me sussurrando – acho que estamos noivos!Mudos, olhamos para a lista e depois um para o outro. Uma paz Maravilhosa tomou conta de mim. Quando os meus olhos encontraram os de Walter, eu soube que ele também tinha experimentado a incrível confirmação de Deus em seu coração.No dia seguinte recebemos as bênçãos de nossos pais pela nossa decisão de nos casarmos, e, alegremente, anunciamos o nosso noivado aos nossos casamenteiros, parentes e amigos.Durante os 8 meses seguintes, Deus continuou a enriquecer o nosso amor com o seu e aumentou nossa alegria com surpresas ao longo de nossa caminhada.Uma surpresa ocorreu a tempo de ser impressa no programa de casamento. Enquanto eu dormia, conscientizei-me de uma frase rítmica que parecia pulsar lá dentro de mim. Era linda e não queria esquecê-la. Sonolenta, acendi a luz e anotei as palavras num bloco. Então mais frases surgiram. Continuei a escrever até pararem de fluir.Na manhã seguinte, enquanto li o meu manuscrito, que elaborei em minha sonolência, descobri um poema dedicado ao Walter – um soneto matrimonial, metrado e rimado:

Recebo-te com votos solenes e sagradosE o coração eu abro para te amar e honrar,Enquanto os dois com vida sejamos preservados,Pois só a ti pra mim quis o Senhor preparar.

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Embora inda conheça-te em parte – estranhos somos.Com alegria a vida aos teus quero dar.Daqui pra frente, juntos até o fim ficamos.Pra sonhar, trabalhar, descobrir, compartilhar.Na fartura ou na pobreza, sol ou tempestade,Habitem conosco a paz e a alegria.No lucro ou na perda, na saúde ou enfermidade,Com força e propósito vivamos cada dia.E, ao chegarmos da vida aqui na terra ao final,Que Deus tenha o nosso amor inda firme e real.

Finalmente, o dia, em agosto, de nosso casamento chegou. Centenas de amigos e parentes se reuniram na igreja onde Walter recebera Jesus dez meses antes.As velas foram acesas, os solistas cantaram e as damas de honra e cavalheiros tinham se encaminhado para os seus lugares. O pastor fez o sinal ao organista e ao pianista para iniciarem a marcha nupcial.A cauda de meu vestido marfim entrelaçado deslizava atrás de mim, enquanto descia alonga ala com papai. Percebi minha professora de Escola Bíblica Dominical da infância, Joanne, e sua mãe, Sra. Smith, sentadas entre os convidados. Desde o tempo em que cheguei à idade de me casar, elas haviam orado para que Deus me desse um marido crente. Hoje elas tinham viajado de uma cidade longínqua, para comemorar a resposta de Deus às suas orações.No altar, Walter pegou minha mão. Ficamos de pé um em frente ao outro, enquanto o solista iniciava um novo solo. Através de meu delicado véu, olhei dentro dos olhos de Walter e fiquei maravilhada com o resplendor da vida de Jesus nele.Finalmente, chegara a hora de repetirmos os nossos votos, acompanhando o pastor, e receber um ao outro em matrimônio. Por um momento, meu coração voltou para o dia, havia muito tempo, quando, ainda criança, repeti uma oração, acompanhando Joanne, e recebi Jesus como o meu Salvador e Senhor.Agora, com a mesma certeza em meu coração, olhei dentro dos olhos de Walter e repeti os meus votos.“Eu, Patsy, recebo você, Walter, para ser o meu marido. Para amá-lo, e honrá-lo e cuidar de você, renunciando qualquer outro, para ser fiel tão-somente a você, até que a morte nos separe”.

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Epílogo

Quando o editor deste livro me pediu para escrever um pequeno resumo sobre nossa vida juntos depois do casamento, perguntei ao Walter como ele o escreveria.“ E viveram felizes para sempre”, ele respondeu prontamente, sorrindo.Correspondi ao seu sorriso, encantada com a resposta, cônscia de que nossos treze anos de casamento têm sido verdadeiramente felizes. Por dentro, sorri para Deus, que nos tinha ajudado nas dificuldades corriqueiras e ajustamentos da vida conjugal.Desde o nosso casamento, Walter e eu moramos em San Jose, Califórnia. Somos membros ativos da Igreja da Bíblia Aberta em San Jose, onde temos constantemente crescido em amor com Jesus. Temos desfrutado continuamente da comunhão com os maravilhosos crentes que também amam a Deus.Não tenho ensinado em escolas públicas desde que me casei, mas Deus tem aberto outras áreas de ensino para mim. Logo que me casei, ele me deu o privilégio de ensinar crianças numa classe bíblica que se reúne após o horário escolar. Walter compartilhava de minha alegria quando Deus me permitia levar muitas crianças a Jesus nessas classes. Não temos filhos, mas Deus tem enchido nossas vidas com muitos filhos espirituais.Depois Deus também cumpriu outra fase de seu plano para nossas vidas. Amigos crentes começaram a vir a nossa casa para conversarem sobre o que Jesus estava fazendo em suas vidas. Tanto mais divertido era que os amigos convidaram outros amigos. Logo, nossos encontros evoluíram para um divertido encontro amigável semanal e estudo bíblico que ainda prevalece até hoje, onze anos mais tarde.No transcorrer dos anos, Deus começou a desenvolver em nossos corações o desejo crescente de compartilhar o conhecimento de Jesus por meio deste livro. Este livro, recordando o namoro singular que ele planejou para nós, é o resultado.Ao olharmos para trás, para vários acontecimentos e atividades de nossa vida conjugal, vemos, o tempo todo, um tema amoroso, unificador: Jesus, o Deus vivo, a quem amamos e servimos. Quanto mais o conhecemos, mais percebemos que ele é a fonte de amor e alegria para o nosso casamento, e a fonte de contentamento para toda a nossa vida.

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