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Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015 1 DESCENTRALIZAÇÃO PRODUTIVA, FLEXIBILIZAÇÃO E PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NA INDÚSTRIA DE CATALÃO (GO) PRODUCTIVE DECENTRALISATION, FLEXIBILIZATION AND PRECARIOUSNESS WORK IN CATALAN José de Lima Soares 1 Resumo O presente trabalho é parte integrante de um projeto que venho desenvolvendo sobre o processo de reestruturação e a descentralização produtiva, a precarização e a flexibilização do trabalho na indústria de Catalão. Nossa pesquisa tem como eixo central as empresas Mitsubishi, Anglo American e Vale. Contudo, vale ressaltar que, quaisquer que sejam os "modelos" tecno- organizacionais, impostos pelo capital, eles funcionam como formas de exploração de mais- valia relativa e absoluta (e como controle social do capital sobre o trabalho). O capital, não esqueçamos, é uma relação social coercitiva. Nesse sentido, é possível considerar o toyotismo como um dos momentos importantes do processo de subsunção real do trabalho ao capital, que atinge as grandes empresas, num cenário de competitividade global sob a regência de políticas neoliberais, pode ser caracterizado, ainda, como uma ofensiva do capital na produção. A crise do capital tende a tornar adequada, para as condições novas de acumulação capitalista mundial, o modelo japonês. Deste modo, as condições sócio-históricas, onde nasceu o toyotismo, um capitalismo de escassez, de mercado restrito, moldaram-no como um conjunto de princípios adequados para o período do capitalismo em crise. Mais do que uma simples escolha ideológica, a adoção do paradigma toyotista é uma simples necessidade objetiva da lei da acumulação nas condições vigentes sob o capitalismo tardio em crise. O toyotismo é uma forma (entre outras) de exploração implementada pelos capitalistas, que tem funcionado como uma tentativa de atenuar os efeitos da própria crise do capital mundializado. 1 Doutor em Sociologia pela UnB - é professor e pesquisador do Instituto de História e Ciências Sociais (INHCS/UFG) - Unidade Acadêmica de Catalão (GO), autor dos livros: Sindicalismo no ABC Paulista: Reestruturação Produtiva e Parceria e Outros Ensaios (Editora CRV, 2014), Ensaios de Sociologia do Trabalho (Editora Ciência Moderna, 2011), entre outros. E-mail: [email protected].

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Seminário América Latina: Cultura, História e Política - Uberlândia - MG – 18 a 21 de maio de 2015

1

DESCENTRALIZAÇÃO PRODUTIVA, FLEXIBILIZAÇÃO E

PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NA INDÚSTRIA DE CATALÃO (GO)

PRODUCTIVE DECENTRALISATION, FLEXIBILIZATION AND

PRECARIOUSNESS WORK IN CATALAN

José de Lima Soares1

Resumo

O presente trabalho é parte integrante de um projeto que venho desenvolvendo sobre o processo

de reestruturação e a descentralização produtiva, a precarização e a flexibilização do trabalho na

indústria de Catalão. Nossa pesquisa tem como eixo central as empresas Mitsubishi, Anglo

American e Vale. Contudo, vale ressaltar que, quaisquer que sejam os "modelos" tecno-

organizacionais, impostos pelo capital, eles funcionam como formas de exploração de mais-

valia relativa e absoluta (e como controle social do capital sobre o trabalho). O capital, não

esqueçamos, é uma relação social coercitiva. Nesse sentido, é possível considerar o toyotismo

como um dos momentos importantes do processo de subsunção real do trabalho ao capital, que

atinge as grandes empresas, num cenário de competitividade global sob a regência de políticas

neoliberais, pode ser caracterizado, ainda, como uma ofensiva do capital na produção. A crise

do capital tende a tornar adequada, para as condições novas de acumulação capitalista mundial,

o modelo japonês. Deste modo, as condições sócio-históricas, onde nasceu o toyotismo, um

capitalismo de escassez, de mercado restrito, moldaram-no como um conjunto de princípios

adequados para o período do capitalismo em crise. Mais do que uma simples escolha ideológica,

a adoção do paradigma toyotista é uma simples necessidade objetiva da lei da acumulação nas

condições vigentes sob o capitalismo tardio em crise. O toyotismo é uma forma (entre outras) de

exploração implementada pelos capitalistas, que tem funcionado como uma tentativa de atenuar

os efeitos da própria crise do capital mundializado.

1 Doutor em Sociologia pela UnB - é professor e pesquisador do Instituto de História e Ciências Sociais

(INHCS/UFG) - Unidade Acadêmica de Catalão (GO), autor dos livros: Sindicalismo no ABC Paulista:

Reestruturação Produtiva e Parceria e Outros Ensaios (Editora CRV, 2014), Ensaios de Sociologia do

Trabalho (Editora Ciência Moderna, 2011), entre outros. E-mail: [email protected].

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Palavras-chave: reestruturação e descentralização produtiva; precarização do trabalho;

flexibilização, sindicalismo.

DESCENTRALIZAÇÃO PRODUTIVA, FLEXIBILIZAÇÃO E

PRECARIZAÇÃO DO TRABALHO NA INDÚSTRIA DE CATALÃO (GO)

PRODUCTIVE DECENTRALISATION, FLEXIBILIZATION AND

PRECARIOUSNESS WORK IN CATALAN

José de Lima Soares2

Resumo: O presente trabalho é parte integrante de um projeto que venho desenvolvendo sobre o processo

de reestruturação e a descentralização produtiva, a precarização e a flexibilização do trabalho na

indústria de Catalão. Nossa pesquisa tem como eixo central as empresas Mitsubishi, Anglo

American e Vale. Contudo, vale ressaltar que, quaisquer que sejam os "modelos" tecno-

organizacionais, impostos pelo capital, eles funcionam como formas de exploração de mais-

valia relativa e absoluta (e como controle social do capital sobre o trabalho). O capital, não

esqueçamos, é uma relação social coercitiva. Nesse sentido, é possível considerar o toyotismo

como um dos momentos importantes do processo de subsunção real do trabalho ao capital, que

atinge as grandes empresas, num cenário de competitividade global sob a regência de políticas

neoliberais, pode ser caracterizado, ainda, como uma ofensiva do capital na produção. A crise

do capital tende a tornar adequada, para as condições novas de acumulação capitalista mundial,

o modelo japonês. Deste modo, as condições sócio-históricas, onde nasceu o toyotismo, um

capitalismo de escassez, de mercado restrito, moldaram-no como um conjunto de princípios

adequados para o período do capitalismo em crise. Mais do que uma simples escolha ideológica,

a adoção do paradigma toyotista é uma simples necessidade objetiva da lei da acumulação nas

condições vigentes sob o capitalismo tardio em crise. O toyotismo é uma forma (entre outras) de

exploração implementada pelos capitalistas, que tem funcionado como uma tentativa de atenuar

os efeitos da própria crise do capital mundializado.

Palavras-chave: reestruturação e descentralização produtiva; precarização do trabalho;

flexibilização, sindicalismo.

Abstract: The present work is an integral part of a project that I have developed over the restructuring

process and the productive decentralization, the precariousness and the flexibilization of work in

Catalan industry. Our research has as its central axis companies Mitsubishi, Anglo American

and Valley. However, it is worth mentioning that, whatever the techno-organizational "models",

imposed by capital, they work as exploitation of surplus value relative and absolute (and how

social capital control on the job). The capital, let us not forget, is a coercive social relationship.

In this sense, it is possible to consider the ‘toyotism’ as one of the important moments of the

2 Doutor em Sociologia pela UnB - é professor e pesquisador do Instituto de História e Ciências Sociais

(INHCS/UFG) - Unidade Acadêmica de Catalão (GO), autor dos livros: Sindicalismo no ABC Paulista:

Reestruturação Produtiva e Parceria e Outros Ensaios (Editora CRV, 2014), Ensaios de Sociologia do

Trabalho (Editora Ciência Moderna, 2011), entre outros. E-mail: [email protected].

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process of real subsumption of labor to capital, which reaches the majors, against a backdrop of

global competitiveness under neo-liberal policies, may be characterized as an offensive of

capital in production. The crisis of capital tends to make it suitable for the new conditions of

capital accumulation. The crisis of capital tends to make it suitable for the new conditions of the

world capitalist accumulation, the Japanese model. In this way, the socio-historical conditions,

where was born the ‘toyotism’, a capitalism of scarcity, restricted market, cast it as a set of

appropriate principles for the period of capitalism in crisis. More than a simple ideological

choice, the adoption of toyotist pedagogy paradigm is a simple objective necessity of the law of

accumulation under the conditions prevailing under late capitalism in crisis. The ‘toyotism’ is a

form of exploitation (among others) implemented by the capitalists, who has worked as an

attempt to mitigate the effects of globalized capital crisis itself.

Keywords: productive restructuring and decentralization; precariousness work; flexibilization,

unionism.

Introdução

O objetivo deste ensaio é levantar algumas questões pertinentes ao fenômeno da

assim chamada descentralização produtiva imposta pelo capital e, com ela, o

desdobramento das práticas de flexibilização e precarização do trabalho a partir da

implementação da reestruturação produtiva na indústria de Catalão. O ponto de partida

são as três mais importantes indústrias da cidade de Catalão, localizadas no sudeste do

Estado de Goiás. Trata-se de duas indústrias químicas, a Copebrás S/A que integra o

complexo Anglo American e a Ultrafértil S/A que teve seu controle acionário

recentemente adquirido pelo grupo Vale, e de uma montadora do setor automobilístico,

a MMC Automotores do Brasil (Mitsubishi), de capital nacional.

Com a alteração do paradigma taylorista e fordista para o toyotismo, emergem

novos processos de trabalho, onde o cronômetro e a produção em série e de massa são

"substituídos" pela flexibilização da produção, pela "especialização flexível", por novos

padrões de busca de produtividade, por novas formas de adequação da produção à

lógica do mercado.3 Ensaiam-se modalidades de desconcentração industrial, buscam-se

3 O termo “Especialização flexível” é uma expressão consagrada por Michael Piore e Charles Sabel

(1990). Tomando como base o trabalho desses estudiosos, Cattani faz a seguinte afirmativa: “A

especialização flexível constituindo-se em um paradigma alternativo para a produção capitalista, (...) se

funda em elementos da produção artesanal em pequenos lotes, com tecnologia multipropósito, ancorada

em trabalhadores qualificados e dotada de capacidade de alterar, constantemente, o mix de produção com

baixos custos de reconversão, em oposição ao paradigma da produção em massa, que teria dominado o

desenvolvimento econômico internacional do século” (Cattani, 1997: 83). A especialização flexível é a

fabricação de produtos variados com equipamentos de múltiplos propósitos e trabalhadores polivalentes,

que se mostra em oposição ao paradigma da produção em massa. A experiência da “Terceira Itália”,

estudada por Piore e Sabel (1990), foi utilizada nas indústrias de cerâmica, calçados, autopeças,

motocicleta e máquinas agrícolas do norte da Itália, e nas indústrias de máquinas-ferramentas da então

Alemanha Ocidental e do Japão. Nas regiões da “Terceira Itália” (norte e centro da Itália) teria ocorrido,

segundo os autores, um crescimento industrial fundamentado no processo de descentralização produtiva,

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novos padrões de gestão da força de trabalho, dos quais os Círculos de Controle de

Qualidade (CCQs), a "gestão participativa", a busca da "qualidade total", são expressões

visíveis não só no mundo japonês, mas em vários países de capitalismo avançado e do

Terceiro Mundo industrializado. O toyotismo penetra, mescla-se ou mesmo substitui o

padrão fordista dominante, em várias partes do capitalismo globalizado (Antunes,1997a;

2009) . Vivem-se formas transitórias de produção, cujos desdobramentos são também

agudos, no que diz respeito aos direitos do trabalho. Estes são desregulamentados, são

flexibilizados, de modo a dotar o capital do instrumental necessário para adequar-se a

sua nova fase. Direitos e conquistas históricas dos trabalhadores são substituídos e

eliminados do mundo da produção. Diminui-se ou mescla-se, dependendo da

intensidade, o despotismo taylorista, pela participação dentro da ordem e do universo da

empresa, pelo envolvimento manipulatório, próprio da sociabilidade moldada

contemporaneamente pelo sistema produtor de mercadorias.

As mudanças tecnológicas e organizacionais tem implicações diretas sobre o

processo do que David Harvey (1993) chama de “acumulação flexível” e,

consequentemente, no deslocamento das plantas industriais para áreas longínquas, onde

não há movimentos sindicais organizados e uma força de trabalho abundantemente

precária e barata. Tudo isso funciona muito bem como contratendência do capital. A

descentralização produtiva é expressão real desse processo.

Se tradicionalmente a empresa fordista resultava de um modelo marcado pela

rigidez e apto a eliminar custos de transação e garantir o controle do processo de

produção, hoje a maior mobilidade dos fatores produtivos e a inovação na organização,

com a formação de redes industriais com pequenas e médias empresas. O trabalho, neste modelo, seria

caracterizado por um alto nível de especialização e qualificação de mão-de-obra, treinada para atender a

demanda das grandes indústrias e junto a estas, as pequenas e médias empresas, constituídas como

cooperativas, deteriam uma certa autonomia. A acumulação flexível é marcada por um confronto direto

com a rigidez do fordismo. Ela se apóia na flexibilidade dos processos de trabalho, dos mercados de

trabalho, dos produtos e padrões de consumo. Caracteriza-se pelo surgimento de setores de produção

inteiramente novos, novas maneiras de fornecimento de serviços financeiros, novos mercados e,

sobretudo, taxas altamente intensificadas de inovação comercial, tecnológica e organizacional. A

acumulação flexível envolve rápidas mudanças dos padrões de desenvolvimento desigual, tanto entre

setores como entre regiões geográficas, criando, por exemplo, um vasto movimento no emprego no

chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos industriais completamente novos em regiões até então

subdesenvolvidas (Harvey, 1993, p. 140). E complementa:“A acumulação flexível envolve mudanças dos

padrões do desenvolvimento desigual, tanto entre setores como entre regiões geográficas, criando, por

exemplo, um vasto movimento no emprego no chamado “setor de serviços”, bem como conjuntos

industriais completamente novos em regiões até então subdesenvolvidas (tais como a “Terceira Itália”,

Flandres, os vários vales e gargantas do silício, para não falar da vasta profusão de atividades dos países

recém industrializados” (Harvey, 1993, p. 140).

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as tecnologias ou as comunicações teriam conduzido a um maior interesse empresarial

em organizar os processos produtivos sobre o mercado, dado que aquelas inovações

facilitam uma redução de custos de transação até situá-los por baixo dos custos que se

derivam da organização interna dos processos produtivos empresariais. Esta tese da

redução de custos de transação na gestão dos fatores produtivos alcançaria também ao

uso da força de trabalho, de forma que um objetivo de “racionalidade econômica” leva

ao empresário em um momento determinado a estar mais interessado em procurar este

fator produtivo fora da própria empresa, por exemplo, através da contratação ou do

trabalho autônomo e precarizado, antes que sua gestão a partir do interior da empresa.

Não há dúvida que a descentralização produtiva cumpre esse papel dentro da lógica

capitalista.

De acordo com Alves (2000; 2011), o tempo histórico do capitalismo global

pode ser caracterizado pela vigência do regime de acumulação flexível e pela crise

estrutural do capital. A terceirização adotada pelas organizações capitalistas ocorre no

bojo do complexo de reestruturação produtiva do capital sob o espírito do toyotismo

(Alves, 2000; 2011). Deste modo, a categoria de “terceirização”, em comparação, por

exemplo, com o putting-out system da indústria capitalista do século XVIII, possui outra

significação histórico-ontológica bastante precisa: ela diz respeito a um processo de

ofensiva do capital na produção que reorganiza o espaço-tempo da exploração da força

de trabalho assalariado nas condições da crise estrutural do capital.

Do ponto de vista coletivo, se no início os trabalhadores lutaram contra a

imposição de um novo tipo de trabalho, de um novo tempo a ser dedicado ao trabalho,

ao longo da história vê-se que essa nova cultura temporal, aos poucos, acaba fazendo

parte de toda a sociedade. O próprio E. P. Thompson (1987; 1998), já havia anunciado,

em importantes trabalhos, que as mudanças na noção de tempo provocaram mudanças

na organização e na orientação social. A noção de tempo adota novo valor (adotado

desde as Igrejas até as fábricas), toda a organização social passa a ser controlada pelo

tempo e toda a ação social converte-se em “tempo é dinheiro”. Seria como se os

indivíduos tivessem um “relógio moral interno”, um valor internalizado fundamentado

na concepção do tempo, por isso situado dentro de uma ética social que se difunde nas

fábricas, escolas, na vida das pessoas: formaram-se novos hábitos de trabalho e impôs-

se uma nova disciplina de tempo.

A primeira geração de trabalhadores nas fábricas aprendeu com seus

mestres a importância do tempo; a segunda geração formou os seus

comitês em prol de menos tempo de trabalho no movimento pela

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jornada de dez horas; a terceira geração fez greve pelas horas extras

ou pelo pagamento de um percentual adicional (1,5%) pelas horas

trabalhadas fora da hora do expediente. Eles tinham aceito as

categorias de seus empregadores e aprendido a revidar os golpes

dentro desses preceitos. Haviam aprendido muito bem a sua lição, a de

que tempo é dinheiro (Thompson, 1998: p. 294).

Hoje, a terceirização que ocorre no bojo da nova reestruturação produtiva do

capital, na medida em que atinge os coletivos organizados do trabalho, tende a

promover uma reordenação socioterritorial dos espaços de produção do capital,

implicando não apenas a precarização do trabalho no sentido da corrosão de direitos

trabalhistas (inclusive no tocante a negociação coletiva) ou degradação das condições

salariais dos homens e mulheres que trabalham, mas também a precarização do trabalho

no sentido de debilitamento da consciência de classe dos coletivos de trabalho, tendo em

vista que desmonta os locis de memória pública e experiências pretéritas de luta de

classes.4

De acordo com Antunes (1999, p.18-20), mesmo frente à flexibilização do

trabalho ocorrida a partir dos anos 70, a indústria fordista com produção

taylorista não foi totalmente extinta embora superada pela chamada especialização

flexível. Querendo fugir das generalizações, Antunes (1999), busca nas teses de

diversos autores encontrar em que medida a especialização flexível substituiu, ou

mesmo entrou em simbiose com o modelo fordista. Alguns destes autores alvo do seu

estudo argumentam que os novos e flexíveis processos produtivos são inteiramente

distintos e substitutos da base fordista, enquanto outros defendem a tese de que não

passaram a existir realmente mudanças a tal ponto significativas no interior do

processo de produção do capital. Recorrendo a Harvey (1993), Antunes (1999, p. 21),

reconhece “a existência de uma combinação de processos produtivos, articulando o

fordismo e os processos flexíveis”. Certamente a idéia de generalizar as tendências de

aumento crucial da flexibilidade e sua mobilidade geográfica, pode trazer distorções,

bem como o mesmo pode acontecer ao ignorar-se as práticas da flexibilização em

todos os sentidos desta nova fase de acumulação.

De fato enquanto nos países centrais ainda se concentrava a produção industrial,

as novas tecnologias e a força de trabalho antes refugada, se tornaram estratégias

4 Nesse quadro, segundo Giovanni Alves (2000, p. 205-206) o processo de terceirização é um tipo de

descentralização produtiva, centrado na lógica da focalização da produção, isto é, a empresa tende a

concentrar seus esforços e a se especializar na produção daquelas mercadorias sobre as quais ela detém

evidentes vantagens competitivas. Diz-se, por exemplo, que o “negócio” das montadoras é montar

automóveis, e nada mais do que isso.

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fundamentais. Quando o capital adquiriu mobilidade suficiente, passou a buscar novas

regiões para produzir em áreas de baixos salários, e também se valorizar

financeiramente em paraísos fiscais, que se proliferavam nos anos de 1970.

Esse processo de flexibilização da produção e acumulação permite ao capitalista exercer

uma maior pressão sobre a vida dos trabalhadores, estes que já vêm suas lutas

enfraquecidas com o esvaziamento sindical e redução cada vez maior de direitos

vislumbrados nesta “era neoliberal”.

Embora o padrão toyotista represente um aparente avanço nas relações entre

patrões e empregados, na medida em que estes se vêm com maior participação e

autonomia dentro do espaço organizacional, há que se chamar atenção para o fato de

que as mudanças propostas por esse modelo de acumulação em nada favoreceram o

trabalhador.

Nesse sentido, a descentralização produtiva está tendo efeitos evidentes sobre as

relações trabalhistas:

- Generalizam-se os mecanismos de flexibilidade interna;

- Desenvolvem-se os mecanismos de flexibilidade externa;

- Diversificam-se os estatutos jurídicos nas relações trabalhistas, com uma clara

diferenciação entre os trabalhadores da empresa principal e os das empresas auxiliares,

e entre os trabalhadores autônomos;

- Reduz-se o campo de relação contratual do trabalho e se expandem as formas civis e

mercantis de prestação de serviços.

A descentralização produtiva não é um fenômeno novo. É uma prática imposta

pelo capital em várias regiões do planeta, mas que nas duas últimas décadas vem se

intensificando nos países periféricos. Alguns autores como David Harvey (1993) já

havia levantado essa questão do deslocamento de empresas para áreas longínquas e

remotas, distantes das grandes metrópoles, e sem tradição sindical, como no caso do

Vale do Silício. O que está por trás dessa política é a desregulamentação do trabalho.

No Brasil, como indica Ricardo Antunes:

Várias fábricas de calçados, por exemplo, transferiram-se da região de

Franca, no interior de São Paulo, ou da região do Vale dos Sinos, no

Estado Grande do Sul, para estados do Nordeste, como no Ceará e

Bahia e hoje começam a pensar em transferir parcela de sua produção

para o solo chinês. Indústrias consideradas modernas, do ramo

metalomecânico e eletrônico, transferiram-se da Região da Grande

São Paulo para áreas do interior paulista (São Carlos e Campinas) ou

deslocaram-se para outras áreas do país, como interior do Rio de

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Janeiro (Resende), ou ainda para o interior de Minas Gerais (Juiz de

Fora), ou outros estados como Paraná, Bahia, rio Grande do Sul. E

hoje examinam possibilidades de transferência de parte da produção

para a China. Novas plantas foram instaladas, como a Toyota e

Honda, ambas na região de Campinas, dentre tantos outros exemplos”

(Antunes, 2007, p. 15).5

A necessidade de elevação da produtividade dos capitais em nosso país vem

ocorrendo, então, vem fundamentalmente através de reorganização sócio-técnica da

produção, da redução do número de trabalhadores, da intensificação da jornada de

trabalho dos empregados, do surgimento dos Círculos de Controle de Qualidade

(CCQ’s) e dos sistemas de Just-in-time, kanban, kaizen, células de produção, entre

outros elementos.

Foi quando o fordismo aqui vigente sofreu os primeiros influxos do

toyotismo. A partir dos anos 1990 essa processualidade deslanchou através

da implantação dos receituários oriundos da acumulação flexível e do

ideário japonês, seguidos da intensificação da lean production, das formas

de subcontratação e de terceirização da força de trabalho, da transferência

de plantas e unidades produtivas, onde empresas tradicionais, como a

indústria têxtil, sob imposição da concorrência internacional, passaram a

buscar, além de isenções fiscais , n í ve i s m ai s rebaixados de remuneração

da força de trabalho, combinados com uma força de trabalho sobrante, s em

5 De acordo com o presidente da Federação das Indústrias de Goiás (Fieg), Pedro Alves de Oliveira, a

fábrica japonesa Suzuki deve ser instalada em Itumbiara, até final de 2012. A previsão é que a linha de

montagem – a primeira fora do Japão - comece a operar já no início de 2013. A SBV Automotores,

representante da Suzuki e da Mitsubishi no Brasil, deve oficializar a notícia na primeira semana de maio.

Para atrair o novo investimento – estimado em mais de U$$ 200 milhões - o Estado ofereceu a área para

construção da planta, além de investimentos em infraestrutura e R$ 2,1 bilhões em financiamento de

incentivos fiscais, via Goiás Fomento, de acordo com informações do portal Estadão. E deve atrair outras

indústrias do setor – o Estado já dispõe de fábricas da Mitsubishi, em Catalão, e da Hyundai Caoa, em

Anápolis. A disputa para receber os investimentos do grupo japonês exaltou os ânimos entre os

municípios de Catalão e Itumbiara – Anápolis concorria por fora. Em Catalão, a contenda antecipou em

mais de um ano o clima da disputa pela prefeitura local em 2012, que tem entre os principais os

adversários, o PMDB e PSDB. O prefeito Velomar Rios chegou a acusar seu desafeto político, deputado

tucano Jardel Sebba (recém-eleito prefeito de Catalão, mas sem definição de posse, por ter problemas

com a justiça eleitoral) de atuar contra os interesses do município. E, no fogo cruzado que tinha como

figura de proa o governador Marconi Perillo, elevou-se ao máximo o tom político da discussão. Tanto o

grupo SBV Automotores quanto o governo têm assegurado que a escolha se daria com base em critérios

técnicos. Ninguém é ingênuo de imaginar que a decisão para um investimento dessa monta passe ao largo

da política. Mas, como é próprio do capitalismo, não há benefícios que superem a logística e o critério

técnico quando o que está em jogo são os lucros. Tanto melhor que a escolha do grupo japonês contribua

para a descentralização do desenvolvimento industrial também entre os municípios das varias regiões do

Estado de Goiás. Já que o Grupo MMCB é detentor oficial da licença para montagem e fabricação dos

veículos da marca Suzuki Motors no Brasil, é possível que a Mitsubishi, em Catalão, passe efetivamente a

montagem de veículos da marca Suzuki.

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ex p e r i ên c i a s in d i ca l e p o l í t i c a , pou co o u n ad a t a y lo r i za da e

f o r d i z ad a e carente de qualquer trabalho.6

Dando ênfase a terceirização da produção no modelo toyotizado (não

esquecendo de todas as características do modelo apresentado acima), isso porque há

uma complexa relação deles com a mudança da exploração, assim como na

intensificação do trabalho da classe trabalhadora, cria-se uma produção flexível, em

distintos espaços, que poderá estar distantes do núcleo de produção. Como por exemplo,

a montadora de automóveis Mitsubishi em Catalão7 (GO) que produz veículos com

peças de diferentes lugares, como, por exemplo, peças que vem de várias regiões do

Japão, da Europa entre outras do mundo. Com isso, a fábrica toyotizada tem um núcleo

de produção, cercado de empresas terceiras que produzem peças, acessórios entre outros

e, também, possui firmas terceirizadas a milhares de quilômetros, produzindo peças que

compõe a mercadoria final que é montada no núcleo de produção. É desse modo que a

intensificação do trabalho ocorre. Com a fragmentação da produção em diferentes

espaços e diferentes territórios, a dificuldade dos trabalhadores de se organizarem é

imensa. Em conseqüência disso, o capital explora com mais intensidade a força de

trabalho, a partir de diferentes estratégias. Antunes (1999, p. 56), explica como é o

modo de trabalho de uma fábrica nos padrões do toyotismo:

O processo de produção de tipo toyotista, por meio dos team work,

supõe portanto uma intensificação da exploração do trabalho, quer

pelo fato de os operários trabalharem simultaneamente com várias

máquinas diversificadas, quer pelo ritmo e a velocidade da cadeia

produtiva dada pelo sistema de luzes. Ou seja, presencia-se uma

intensificação do ritmo produtivo dentro do mesmo tempo de trabalho

ou até mesmo quanto este se reduz. Na fábrica Toyota, quando a

luz está verde, o funcionamento é normal; com a indicação da cor

laranja, atinge-se uma intensidade máxima, e quando a luz

vermelha aparece, é porque houve problemas, devendo-se diminuir o

ritmo produtivo. A apropriação das atividades intelectuais do trabalho,

que advém da introdução de maquinaria automatizada e informatizada,

aliada à intensificação do ritmo do processo de trabalho, configuram

um quadro extremamente positivo para o capital, na retomada do ciclo

de acumulação e na recuperação da sua rentabilidade.

6 Verifica-se a expansão daquilo que Juan Jose Castillo cunhou como liofilização organizacional. É um

processo no qual substâncias vivas sào eliminadas – trata-se do trabalho vivo – que é substituído pelo

maquinário técno-cientifico, pelo trabalho morto, conforme pôde demonstrar em Os Sentidos do Trabalho

(1999). A liofilização organizacional não é outra coisa senão o processo de “enxugamento” das empresas. 7 Ver: Pedro Ricardo Reis Filho e Geisa Daise Gumiero Cleps. Trabalho, Cidade e Geografia: Uma

análise da Mitsubitshi Motors em Catalão-GO. Anais do XVI Encontro Nacional dos Geográfos.

Realizado de 25 a 31 de julho de 2010. Porto Alegre. Para uma análise mais aprofundada do tema, ver:

Magda Valéria da Silva, “A indústria automobilística em Catalão/Goiás”, tese de doutorado em

Geografia”, Universidade Federal de Uberlândia, 2010.

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Inaugurada em 1998, a montadora pertence ao grupo Souza Ramos e produz

veículos da marca Mitsubishi. Atualmente a fábrica monta em média 200 carros por dia

e quatro modelos diferentes, sendo eles: Pajero Dakar, L200, ASX e Lancer. A empresa

ainda nacionaliza outros modelos provenientes do Japão, dentre eles: Outlander e Pajero

Full. A empresa, inicialmente, empregava cerca de 150 trabalhadores; hoje emprega

2.800 trabalhadores diretos e 1.500 indiretos (terceirizados).8 No início, a fábrica

possuía capacidade de montagem de 10.000 veículos por ano;9 atualmente a produção

anual é de 48.000 veículos.

A territorialização dessas indústrias provocou importantes transformações na

Microrregião de Catalão, contribuindo sobremaneira para a mudança no perfil

econômico, social e cultural de Catalão e certamente lançaram as bases para a

consolidação do início do processo de industrialização da economia. O primeiro é a

intensificação da mobilidade do trabalho e na alteração relação cidade-campo,

sobretudo, a partir da década de 1970. O segundo, as sucessivas transformações no

espaço urbano, decorrentes da territorialização do capital industrial e financeiro

(Santana, 2011).

Santana, em sua pesquisa, conseguiu apreender os aspectos centrais das

mudanças ocorridas na indústria de Catalão, com destaque para a MMC Automotores

do Brasil S/A. Ao analisar as principais mudanças nos processos produtivos, o

pesquisador entende que as transformações espaciais promovidas pela reestruturação

produtiva do capital alteraram profundamente a relação entre o capital e o trabalho.

Como reflexo desta nova dinâmica, a mobilidade geográfica do capital acabou gerando

uma descentralização produtiva para outras regiões do país, onde sequer havia

organizações dos trabalhadores, capazes de se contrapor as práticas de precarização e

flexibilização do trabalho. O caso da Mitsubishi é emblemático: uma montadora

nacional, instalada entre 1997/98, estabeleceu um novo padrão de reprodução do capital

8 Recentemente, a Mitsubishi, ao implementar a reestruturação produtiva, acabou aprofundando a

flexibilização e a precarização do trabalho, providenciando a separação dos trabalhadores terceirizados

em quatro novas empresas: a PRC (motores e chassis de propulsão); a BW & P (solda e pintura); a

Mitsubishi Seguros (parte de vendas e seguros); e a Mitsubishi (montagem de componentes). Com a

inauguração do novo prédio da pintura (projeto financiado pelo BNDES), a empresa pretende ampliar a

produção passando de 200 para 400 modelos por dia. 9 Na verdade, o surgimento da Mitsubishi tem uma história. De acordo com Erik Sousa (2010), em 1991,

a Brabus obteve licença para importar e distribuir veículos e peças da marca Mitsubishi Motors

Corporation, tornando-se representante exclusiva da marca japonesa no Brasil. A empresa tem como

objetivo social a comercialização, importação e exportação de veículos automotores novos e usados, de

peças, partes, acessórios e equipamentos em geral para veículos automotores; prestação de serviços de

assistência técnica em geral, destinados à conservação, manutenção, reparos e blindagem de veículos

automotores, além de promoção de eventos esportivos, treinamento profissional, entre outras (Sousa,

2010, p. 33).

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no Sudeste Goiano. Atualmente a Mitsubishi somando-se às terceirizadas contratam em

torno de 3.000 trabalhadores, em sua grande maioria representados pelo Sindicato dos

Trabalhadores Metalúrgicos de Catalão (SIMECAT), fundado em 2004 e filiado à

Central Força Sindical.

Santana constatou ainda que a precarização do trabalho, os métodos de

organização da produção, os diversos mecanismos de controle social, entre os quais

destacam-se a Participação nos Lucros e Resultados, o trabalho em equipe permeado

pelo discurso da cooperação, a terceirização e a contratação de trabalhadores de várias

cidades da Microrregião de Catalão, mostram que a expansão geográfica do capital

atinge profundamente a classe trabalhadora, sobretudo a sua capacidade de organização

e mobilização.

Autores como Armando Boito Jr. (2003; 2005), Giovanni Alves (2000; 2009;

2011), Ricardo Antunes (2005; 2006a; 2006b; 2011), Ariovaldo Santos (2004; 2006),

Graça Druck (2006; 2007; 2011), Andréia Galvão (2007), Sadi Dal Rosso (2008), entre

outros, tem insistido que o processo de reestruturação produtiva, nos últimos anos, tem

levado a uma profunda intensidade do trabalho, seguido da flexibilização e da

precarização. Fazendo um retrospecto da bibliografia dos autores que tratam do tema, é

possível destacar que desde o governo FHC, passando pelo governo de Lula da Silva

tem havido uma intensificação do processo de flexibilização e precarização do trabalho.

A bibliografia pesquisada indica sobremaneira que o trabalho precário e o

processo de flexibilização se inserem na lógica da exploração da força de trabalho nos

marcos da ordem do capital. Do setor industrial ao setor de serviços, do trabalho formal

ao trabalho informal, incontáveis sujeitos vivem longe das possíveis vantagens que vêm

do núcleo privilegiado do capitalismo. Embora em nossa sociedade atual seja quase uma

redundância falar em ‘trabalho precário’, alguns poucos trabalhadores conseguem fazer

de sua atividade laboral uma fonte de prazer, estabilidade e dinheiro. Mas a maioria

encontra-se obrigada, com mais ou menos intensidade, a conviver com as várias facetas

da precariedade no trabalho (Padilha, 2010).

Para Galeazzi (2006) a precarização do trabalho é entendida como situações

laborais que se tornaram expressivas com a ocorrência da chamada ‘reestruturação

produtiva’ sob a égide neoliberal. De acordo com a autora, “a definição de trabalho

precário contempla pelo menos duas dimensões: a ausência ou redução de direitos e

garantias do trabalho e a qualidade no exercício da atividade” (Galeazzi, 2006, p. 203).

Assim, a precarização do trabalho é considerada uma das formas de assalariamento

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atípico, o trabalho assalariado não regulamentado, a subcontratação, o trabalho por

tempo determinado, o trabalho em tempo parcial e a contratação de cooperativas de

trabalho como uma forma especial de terceirização.

Diante desse quadro, podemos definir o trabalho precário como um conjunto de

fatores – os quais podem ou não estar combinados – que caracterizam a atividade

laboral de inúmeros trabalhadores. Os principais fatores são: a) desregulamentação e

perdas dos direitos trabalhistas e sociais (flexibilização das leis e direitos trabalhistas);

b) legalização de trabalhos temporários, em tempo parcial, e da informalização do

trabalho; c) terceirização e quarteirização (‘terceirização em cascata’); d) intensificação

do trabalho; e) aumento da jornada de trabalho (duração do trabalho) com acúmulo de

funções (polivalência); f) maior exposição a fatores de riscos para a saúde; g)

rebaixamento dos níveis salariais; h) aumento da instabilidade no emprego; i)

fragilização dos sindicatos e das ações coletivas de resistência; j) feminização da força

de trabalho; k) rotatividade estratégica (para rebaixamento de salários) (Padilha, 2010).

O conceito de precarização do trabalho diz respeito às distintas formas de

rebaixamento salarial, degradação das condições de trabalho, retirada de direitos

trabalhistas historicamente conquistados e fragmentação da classe operária, atingindo

homens e mulheres. Sinteticamente, pode-se afirmar que nessas décadas o capitalismo

avançou sobre as conquistas dos trabalhadores e dos povos oprimidos do mundo, desta

vez este conjunto de ataques foi levado adiante, destruindo os coletivos de

trabalhadores, através de uma revolução molecular no seio do processo produtivo, ou

seja, daquilo que Antonio Gramsci chamou de “revolução passiva”. Assim, houve um

enorme ataque às condições de trabalho e de vida de toda a classe trabalhadora, que

consistia em criar subcategorias, possibilitando que em uma mesma empresa ou fábrica

existam trabalhadores que realizam o mesmo serviço com salários e direitos distintos,

criando assim um abismo entre as classes trabalhadoras. Esta divisão se dá ao mesmo

tempo em que os efetivos também perdem direitos e condições em relação à etapa

anterior ao neoliberalismo.10 É o que autores como Boito Jr. e Antunes denominam de

neocorporativismo societal. Ou seja, alguns sindicatos conseguem lutar em prol dos

10 Pierre Bourdieu define o neoliberalismo como um projeto político que visa principalmente destruir as

coletividades e reduzir a noção de racionalidade à racionalidade individual. Ele argumenta que a essência

do neoliberalismo consiste em colocar em prática, sem medir quaisquer conseqüências, um programa de

destruição de todas as estruturas coletivas que atuem como obstáculo à lógica de um mercado puro,

dirigido pelos interesses financeiros e voltado pare a obtenção de benefícios e lucros individuais de curto

prazo. Assim, o enfraquecimento do Estado, dos sindicatos, das associações, dos laços comunitários, etc.,

abriria caminho para a realização da utopia neoliberal de um mundo de exploração sem limites. Ver, do

autor: “A essência do neoliberalismo”. Disponível em http://infoalternativa.org/teoria/teo007.htm.

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trabalhadores e categorias mais organizadas, em detrimento dos setores precarizados,

terceirizados, subcontratados.

Para Vasopollo (2005), o trabalho precário equivale ao ‘trabalho atípico’. É o

que o autor caracteriza como “nova organização capitalista do trabalho marcada pela

precariedade, pela flexibilização e desregulamentação, de maneira sem precedentes para

os assalariados. É o mal-estar no trabalho (...) com a angústia vinculada à consciência de

um avanço tecnológico que não resolve as necessidades sociais. É um processo que

precariza a totalidade do viver social” (Vasapollo, 2005).

Chama a atenção a perspectiva crítica do autor ao definir a flexibilização do

trabalho como um processo onde há liberdade da empresa para despedir parte de seus

empregados, sem penalidades, quando a produção e as vendas diminuem; liberdade da

empresa para produzir ou aumentar o horário de trabalho, repetidamente e sem aviso

prévio, quando a produção necessite; faculdade da empresa de pagar salários reais mais

baixos do que a paridade de trabalho, seja para solucionar negociações salariais, seja par

poder participar de uma concorrência internacional; possibilidade de a empresa

subdividir a jornada de trabalho em dia e semana de sua convivência, mudando os

horários e as características (trabalho por turno, por escala, em tempo parcial, horário

flexível etc.); liberdade para destinar parte de sua atividade a empresas externas;

possibilidade de contratar trabalhadores em regime de trabalho temporário, de fazer

contratos por tempo parcial, de um técnico assumir um trabalho por tempo determinado,

subcontratado, entre outras figuras emergentes do trabalho atípico, diminuindo o pessoal

efetivo a índices inferiores a 20% do total da empresa. Ou seja, a flexibilização do

direito do trabalho consubstancia-se no conjunto de medidas destinas a afrouxar, adaptar

ou eliminar direitos trabalhistas de acordo com a realidade econômica e produtiva.11

É o que Ricardo Antunes (1999; 2007) tem chamado de “dimensões da

precarização estrutural do trabalho”. A classe trabalhadora desprovida de direitos e sem

carteira assinada, desemprego ampliado, seguido da precarização exacerbada e do

rebaixamento salarial acentuado.

11 No dicionário de Trabalho e Tecnologia, organizado pelos professores Antonio David Cattani e Lorena

Holzmann, o verbete “flexibilização” é definido como um “conjunto de processos e de medidas que

visam alterar as regulamentações concernentes ao mercado de trabalho e às relações de trabalho,

buscando torná-las menos ordenadas e possibilitando arranjos considerados inovadores diante de uma

forte tradição de controle legal das relações laborais. A proposta de flexibilização contrapõe-se a essa

tradição, que diz respeito às proteções que os trabalhadores obtiveram nas condições de venda e uso de

sua força de trabalho e à garantia de direitos a benefícios e serviços decorrentes de sua condição de

trabalhadores” (Holzmann e Piccinini, 2006, p. 131).

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Para Bourdieu (p. 123 e 124) a precarização está presente em toda parte e atinge

grande parte da população, operários, empregados no comércio e na indústria,

professores, jornalistas e estudantes. É o que ele chama de novo modo de dominação

sobre o trabalho e os trabalhadores:

A precariedade atua diretamente sobre aqueles que ela afeta e

indiretamente sobre todos os outros pelo temor que ela suscita e que é

metodicamente explorado pelas estratégias de precarização, com a

introdução da famosa “flexibilidade”. Começa-se assim a suspeitar

que a precariedade seja o produto de uma vontade política, e não de

uma fatalidade econômica, identificada com a famosa

“mundialização”. A precariedade se inscreve num modo de dominação

de tipo novo, fundado na instituição de uma situação generalizada e

permanente de insegurança, visando obrigar os trabalhadores à

submissão, à aceitação da exploração. Apesar de seus efeitos se

assemelharem muito pouco ao capitalismo selvagem das origens, esse

modo de dominação é absolutamente sem precedentes, motivando

alguém a propor aqui o conceito ao mesmo tempo muito pertinente e

muito expressivo de “flexploração” (Bourdieu, 1998, p. 123-124).

Na sociedade capitalista, segundo Marx, o processo de exploração ocorre da

seguinte maneira: o trabalhador, que dispõe apenas da sua força de trabalho, se vê

obrigado a vendê-la - ao capitalista - para não morrer de fome. O capitalista compra, no

mercado de trabalho, a força de trabalho, e não o trabalho realizado. A força de trabalho

torna-se, assim, uma mercadoria, mas o trabalhador, não (Cattani, 1997). Através do

processo de exploração, o capitalista se apropria do excedente, do sobretrabalho, que

Marx chamou, também, de mais-valia, trabalho não-pago. O que caracterizaria a assim

chamada exploração do homem pelo homem.

Nesse processo de produção capitalista, o trabalhador, que não possui os meios

ou instrumentos de produção, acaba se alienando. O processo de alienação ocorre no

momento em que um indivíduo, um grupo, uma instituição ou sociedade se tornam ou

permanecem alheios, estranhos aos resultados ou produtos de sua própria atividade. O

trabalhador se defronta com o produto de seu trabalho como um objeto que lhe é

estranho, com o qual não mais se identifica. Tal alienação se manifesta em diferentes

níveis. Em primeiro lugar, a realização aparece como perda de realidade; em segundo

lugar, a objetivação surge como perda do objeto; e, finalmente, a apropriação surge

como desapropriação. A alienação do produto do trabalho implica alienação da

natureza, que fornece ao trabalhador não apenas matéria de seu trabalho, mas também

os meios de sua subsistência física. Dá-se, dessa forma, uma perda dupla e uma sujeição

dupla do operário à natureza, porque, como trabalhador, deve à natureza os meios do

trabalho, e porque recebe cada vez menos meios de subsistência. O trabalho alienado

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constitui uma atividade exterior ao sujeito, à natureza do homem, de modo que o

operário só se realiza fora da esfera do trabalho. Além disso, constitui uma atividade

forçada, que não lhe pertence, mas pertence a outrem. Aqui, não é o objeto que se torna

estranho, mas o próprio trabalhador que se torna estranho, mas o próprio trabalhador

que se torna estranho a si mesmo ("sente-se em casa, quando não trabalha; e trabalha,

quando não se sente em casa"). A alienação conota a situação em que os atores sociais

não falam em seu nome, não tem o domínio de seu próprio destino, não são incluídos no

processo de decisão, mas são falados pelos outros e vivem sob o reino da heteronomia

(Cattani, 1997).

O objetivo é analisar a reestruturação produtiva, concomitantemente ao

desenvolvimento da indústria, somadas à flexibilização e precarização do trabalho

implementadas nas principais empresas de Catalão. Por outro lado, é importante

destacar e caracterizar as particularidades de uma área que vem atraindo investimentos

de setores não-agroindustriais, como é o caso da montadora Mitsubishi e das

mineradoras Vale e Copebrás. Daí decorre um fato relevante que se expressa não apenas

na descentralização produtiva, mas na própria formação da classe trabalhadora e no seu

crescimento. Classe trabalhadora essa, que vem crescendo rapidamente e que vem

experimentando as mais diferentes formas de trabalho precário, com destaque para a

terceirização como prática em expansão nas principais indústrias de Catalão. Alguns

estudiosos como Guimarães e Ribeiro (2006) sugerem que a marca de origem desse

dinamismo industrial está associado à disponibilidade de recursos naturais, que são

capazes de alterar a dinâmica espacial da produção. Essa cidade possui ricas jazidas

minerais de Argila Refratária, Barita, Fosfato, Nióbio, Pirocloro, Titânio (Anatásio) e

Vermiculita, mas apenas as reservas de Fosfato e o Nióbio são exploradas. No entanto, é

fato relevante que os produtos de suas principais unidades industriais não estão

dissociados da demanda oriunda da fronteira agropecuária, pois, mesmo o veículo

produzido pela Mitsubishi tem como principal mercado consumido as pessoas cuja

renda é gerada no agronegócio. Do conjunto dos principais produtos industriais de

Catalão, apenas os da Mineração Anglo American (extração de nióbio) não são

destinados ao complexo agropecuário (Guimarães e Ribeiro, 2006).12

12 Todavia, apenas alguns desses minérios são explorados, como é o caso do nióbio (explorado pela

Anglo American - Mineração Catalão), do fosfato (explorado e industrializado pela Fosfértil e Anglo

American - Copebrás) e das argilas, exploradas por várias companhias ceramistas instaladas no

município. Os demais minérios identificados já estão com seus depósitos registrados para as mais diversas

companhias, como é o caso do titânio, registrado pela Companhia Vale do Rio Doce. De toda forma, as

jazidas são abundantes, conforme pode-se ver baixo (os dados estão em toneladas métricas), para os

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Um breve histórico da indústria mineradora em Catalão, nos permite começar

pela Mineração Catalão Ltda. Foi a primeira empresa mineradora a se implantar no

município de Ouvidor, onde iniciou suas atividades em 1976. A empresa explora a

jazida de nióbio, umas das poucas existentes no mundo, e faz seu beneficiamento para

produzir a liga metálica ferro-nióbio.13 Sua produção é totalmente vendida no mercado

externo. Atualmente essa empresa pertence ao grupo multinacional Anglo American

que, em 2009, devido a sua visão estratégica do mercado mundial e conforme seus

interesses manifestou a intenção de vender a empresa. A idéia do grupo Anglo

American é se tornar um dos maiores produtores de minério de ferro do mundo,

aumentando sua participação no mercado de 3% para 11%, com uma produção de 150

milhões de toneladas anuais até 2016. Por isso, a multinacional está colocando à venda

negócios menores, que não têm o mesmo nível de atração, retorno e escala de produção

(Santana, 2011).

A Copebrás S/A se instalou em Catalão (GO) em 1977, mas sua existência no

país teve início em 1955, em Cubatão (SP). No Complexo Mineral Catalão-Ouvidor a

empresa explora a jazida de fosfato no município de Ouvidor e faz o processamento de

fertilizantes em Catalão. Em 2002 a empresa fez investimento de US$ 140 milhões em

obras de verticalização da produção, passando a processar na unidade de Catalão ácido

sulfúrico e fosfórico, a acidulação e granulação de fertilizantes e o fosfato bicálcico.

Atualmente a Copebrás S/A pertence também ao grupo Anglo American, que

recentemente manifestou interesse em vender a empresa. Entre os interessados em

comprar a Copebrás destaca-se o grupo Vale, que busca a liderança no mercado mundial

de fertilizantes (Santana, 2011).

Por fim, a Fosfértil S/A se instalou em Catalão em 1978. No início das

operações se denominava Goiás Fertilizantes (Goiásfertil), empresa estatal que

minérios mais importantes: Argila para cerâmica vermelha - 400.000 toneladas medidas; Argilas

refratárias - 43.566.031 toneladas medidas 16.569.719 toneladas indicadas; Brita - 8.305.156 m³

medidos; Fosfato - 96.717.737 toneladas medidas 112.349.098 toneladas indicadas; Nióbio - 1.317.560

toneladas medidas 5.123.368 toneladas indicadas; Titânio - 4.889.981 toneladas medidas 5.483.860

toneladas indicadas; Turfa - 443.860 toneladas medidas 233.737 toneladas indicada; Vermiculita -

2.000.000 toneladas indicadas. Fonte: Wikpédia.

13 A liga ferro-nióbio é um importante insumo empregado na obtenção de alguns tipos de aços, como os

microligados e inoxidáveis, com aplicação nas indústrias de construção civil, automotiva, naval,

aeronáutica, espacial, na fabricação de tubulações (grades, estruturas, gasodutos e oleodutos) e de

ferramentas de alta precisão. Nos aços microligados, mesmo com um reduzido consumo específico (cerca

de 400g de FeNb por tonelada de aço), o nióbio confere ao produto características de alta resistência,

mecânica, tenacidade soldabilidade. Nos inoxidáveis a sua importância consiste em neutralizar o efeito do

carbono e do nitrogênio, afastando assim o risco de deterioração do produto por corrosão (Silva apud

Santana, 2011, p. 83).

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pertencia ao grupo Petrofértil. Foi criada dentro do contexto do Plano Nacional de

Fertilizantes e Calcário Agrícola do governo federal, tendo como objetivo suprir a

demanda interna de fertilizantes agrícolas no país (Lima apud Santana, 2011). Com a

privatização na década de 1990, a empresa passou a se chamar Ultrafértil S/A.

Recentemente seu controle acionário foi adquirido pelo grupo Vale, que comprou a

participação da Bunge e de outras empresas que controlavam seu capital social, numa

operação financeira de aproximadamente US$ 3 bilhões (Laguna apud Santana, 2011).

A implantação do Complexo Mineral Catalão-Ouvidor acabou provocando

grandes transformações econômica, social e cultural, lançando bases para a

consolidação do processo de industrialização e aprofundando a intensificação da

mobilidade do trabalho e causando impactos nos espaços urbanos, decorrentes da

territorialização do capital industrial e financeiro. Essas mudanças acabaram incidindo

diretamente nas condições materiais de existência e na subjetividade dos trabalhadores

dessas empresas.

De acordo com alguns pesquisadores como Guimarães e Ribeiro (2006), Silva

(2010) e Santana (2011), o que tem tornado mais atrativo a territorialização dessas

empresas na região de Catalão (nesse processo de descentralização produtiva), tem sido

o barateamento da força de trabalho (os baixos salários) e a ausência de uma tradição

sindical de luta, além de uma classe trabalhadora abundantemente jovem (entre 18 e 35

anos), formada e treinada no SENAI, que está exclusivamente voltada para atender às

necessidades das grandes empresas locais. Além disso, sua concepção de formação e

qualificação é vendida ideologicamente como se fosse a forma mais fácil de se

conseguir um bom emprego na cidade. Assim, a função ideológica do SENAI se

expressa na contradição de se individualizar um problema de caráter coletivo e social,

que é o desemprego. Ora, se é verdade que a escola reproduz a lógica do sistema

capitalista de exploração, a formação do SENAI não busca uma educação voltada para a

potencialização das capacidades humanas, mas, sim, está em sintonia com as demandas

do mundo empresarial burguês (Mendes apud Santana, 2011, p. 92).14

14 Leonardo de Oliveira Mendes, em sua dissertação de Mestrado Expansão do capital, territorialidade

do trabalho e as respostas do SENAI em Catalão (GO) no século XXI: uma contribuição à geografia do

trabalho, defendida na UNESP de Presidente Prudente, em 2007, ressalta o perfil das ações desenvolvidas

pelo SENAI em Catalão traçadas pelo empresariado local. Mendes cita o depoimento de um dos

instrutores que ilustra bem o fato: [...] “as próprias indústrias que são parceiras do SENAI, elas procuram

o SENAI com o pedido de um curso; eles tem necessidade de um curso para sua empresa, de uma

qualificação, alguma deficiência, eles vão procurar o SENAI e expor ali o que estão precisando naquele

momento. O SENAI vai manter o curso e montar aquele curso e passa para o coordenador da empresa que

fez o requerimento, que fez o pedido, ele vai estudar aquele curso qualificando o trabalhador que já está

na empresa, então ele atende de todas as formas. Ele é assim bem flexível [...] É flexível, justamente; não

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De acordo com Mendes (2007) o SENAI desempenha, a serviço do capital, a

função de educação para o trabalho, assistência técnica e tecnológica para a indústria.

Incomodados com a idéia simplista de que a qualificação profissional detém a função de

combater o desemprego, prestando um serviço ao trabalhador e incorporando assim uma

espécie de passaporte para a empregabilidade. Verificamos que o discurso da

qualificação profissional está revestido de um caráter cidadão, porém essencialmente

ideológico no sentido marxiano do termo, ou seja, de falseamento da realidade. Do

ponto de vista da práxis social, nos deparamos com um ambiente pedagogicamente

estruturado para o adestramento e o treinamento da mão-de-obra para indústria.

Percebemos assim, que a qualificação profissional se eleva enquanto poderoso

mecanismo de controle social do capital sobre o trabalho. Sua finalidade é

disciplinarizar o trabalho e os trabalhadores, ou seja, capacitá-los técnica e

ideologicamente para o mercado. Não é difícil compreender o sentido dessa

qualificação, basta analisar que, do ponto de vista do conhecimento técnico, há o

aumento da produtividade do trabalho nas indústrias e do ponto de vista ideológico, há a

difusão constante da cultura empresarial, o que possibilita a (re)produção dos valores de

vida capitalistas entre os trabalhadores. Monta-se então uma estrutura educacional, uma

pedagogia da fábrica, na qual o SENAI está inserido. É por meio dessa dimensão

intelectual e alienada do trabalho, que o capital moderno se apropria da inteligência do

trabalhador, criando um caminho original de racionalização do trabalho contemporâneo,

ou seja, a captura de sua subjetividade. Tanto que o SENAI se modifica em função do

movimento de reestruturação produtiva do capital, adequando-se as novas exigências do

mercado por novas qualificações do trabalho (Mendes, 2007).15

Considerações finais

Na contextualidade desse quadro, sugerimos a hipótese de que as organizações

dos trabalhadores, como os sindicatos, não tem se preocupado seriamente com o

fenômeno da precarização e da flexibilização do trabalho, o que tem deixado os

trabalhadores na defensiva. Tudo leva a crer que os sindicatos não vem buscando

organizar os trabalhadores contra essas práticas impostas pelas empresas capitalistas.

fugindo da diretriz, nós vamos em busca daquilo que é necessidade, o que é deficiência nós vamos em

busca, as empresas procuram o SENAI, para estar melhorando cada vez mais” (Mendes, 2007, p.80). 15 Sobre a Pedagogia da fábrica, ver: Kuenzer, A. Z., São Paulo: Cortez, 1995.

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Em Catalão, tanto o METABASE16 - Sindicato dos Trabalhadores da Indústria e

Extração do Ferro e Metais Básicos e de Minerais não Metálicos de Catalão-Ouvidor

quanto o SIMECAT, filiados à central neoliberal Força Sindical, aderiram à política de

concertação social. A tônica dessa política fica clara na análise que Mendes faz dos

sindicatos e de seus dirigentes cada vez mais comprometidos com o patronato. De

acordo com Mendes, os sindicatos enfrentam uma crise de identidade de grandes

proporções. No interior dos movimentos sindicais, cresce a força de direita, que os

levam ao imediatismo, à contingência, a operar sob o prisma constitucional e

burocrático, atado ao ideário capitalista, criando um sindicalismo de participação,

contrário de um sindicalismo de classe. Mendes (2007, p. 39) cita o depoimento do

presidente do METABASE e de sua relação com os empresários, onde afirma que: “Nós

fazemos os contatos com os empresários e existe uma relação de respeito mútuo, num

clima de profissionalismo [...] essa relação se efetiva geralmente através de reuniões e

através de ofícios de reivindicações buscando uma harmonia entre a classe trabalhadora

e empresarial”. Aqui não resta dúvida quanto a relação de parceria e consenso que a

direção desses sindicatos estabelecem com o capital.

Outro aspecto relevante deste artigo, é que procuramos apreender as principais

mudanças ocorridas no mundo do trabalho nas duas últimas décadas e, com elas, as

implicações que tiveram nas condições materiais de existência, bem como no plano da

16 No site da entidade, obtivemos a seguinte informação: “O Sindicato METABASE é uma entidade que

representa a categoria profissional que abrange todos os trabalhadores que exercem atividades conexas,

similares, idênticas ou afins, nas indústrias extrativas, minerais, na fabricação de adubos, corretivos e

defensivos agrícolas. Sua base territorial abrange as cidades de: Catalão, Ouvidor, Goiandira, Três

Ranchos, Nova Aurora, Anhanguera, Cumari, Pires do Rio, Corumbaíba, Davinópolis, Campo Alegre de

Goiás, Ipameri, Marzagão, Caldas Novas, Urutaí, Palmelo, Santa Cruz de Goiás e Orizona. O Sindicato

METABASE foi fundado em 18/03/1982, a sua diretoria é Colegiada e composta por 22 diretores,

constituída por diretoria executiva, conselho fiscal e delegados representantes eleitos pelos trabalhadores

associados à entidade. Foi Filiado a CUT (Central Única dos Trabalhadores de 1991 até 2010).

Atualmente está filiado à Força Sindical devido proposta e eleição da assembléia de trabalhadores. É

também filiado a FTIEG (Federação dos Trabalhadores na Indústria nos Estados de Goiás, Tocantins e

Distrito Federal) e a CNTI (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria). Possui um histórico

de lutas e conquistas, onde os Acordos Coletivos de Trabalho (ACT) se equiparam aos melhores do país,

estrutura física moderna, onde oferece aos seus associados assistência jurídica, 70 copias mensais de

xérox, escola de Informática em Catalão e Ouvidor, computadores para acesso a internet e vários outros

benefícios assistenciais gratuitos. Têm membros na diretoria executiva da FTIEG, Tornou-se um

Sindicato de renome nacional, com participação em vários movimentos e discussões acerca dos interesses

comuns dos trabalhadores. A Diretoria do Sindicato tem por princípio, lutar por melhores condições de

trabalho, de salários e benefícios no intuito de propiciar dignidade aos trabalhadores, visando diminuir a

árdua relação entre capital e trabalho”. Percebe-se que é um sindicato com as mesmas características

corporativistas e assistencialistas do velho sindicalismo pelego.

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consciência de classe dos trabalhadores. Em síntese, pretende-se abordar as

conseqüências dessas mudanças que tão profundamente tem afetado as condições

objetivas e subjetivas da classe trabalhadora.

O capitalismo em sua fase atual afetaria, de acordo com Sennett (1999), o caráter

pessoal dos indivíduos, uma vez que não oferece condições para a construção de uma

narrativa linear da vida sustentada na experiência. Para o trabalhador, fruto da

reestruturação produtiva, as relações de trabalho e os laços de afinidade não se

processariam a longo prazo, diferentemente do que ocorria com o trabalhador no

período fordista-keynesiano, que mesmo com o seu trabalho burocratizado e rotinizado,

conseguia construir uma história de vida cumulativa baseada no uso disciplinado do

tempo. Diante das mudanças no mundo do trabalho, o grande desafio pelo qual as

pessoas teriam que passar se resumia em duas questões: “Como se pode buscar

objetivos de longo prazo numa sociedade de curto prazo? Como se pode manter

relações duráveis?” (Sennett, 1999, p.27). O mundo do trabalho inserido no contexto da

flexibilização. O mundo do trabalho inserido no contexto da flexibilização da produção

teria provocado um rearranjo dos horários de trabalho - os chamados turnos – que

Sennett (1999) caracteriza como flexitempo. Ou seja, houve uma flexibilização dos

horários, exemplificado com a entrada das mulheres na força de trabalho, ajudando

assim a inovar o planejamento flexível do tempo integral e de meio período. Atualmente

essas mudanças ultrapassam, para o autor, as barreiras de gênero e os homens também

têm horários de trabalho diferentes. Isto pode ser evidenciado no trecho abaixo (Sennett,

1999, p. 67): [...] cerca de 20% das empresas permitem horários de trabalho

“comprimidos”, [...] o empregado faz o trabalho de toda uma semana em quatro dias.

Trabalhar em casa é hoje uma opção em cerca de 16% das empresas, sobretudo para

trabalhadores em serviços, vendas e técnicos, o que se tornou possível [...] devido ao

desenvolvimento de intra-redes de comunicação. Nos Estados Unidos, homens e

mulheres brancos de classe média têm hoje mais acesso a horários flexíveis de trabalho

[comparados com aqueles que trabalham] em fábricas, ou os trabalhadores hispânicos.

O flexitempo é um privilégio do trabalho diurno; o trabalho noturno ainda é passado

para as classes menos privilegiadas.

Para Sennett (1999), a flexibilidade do tempo requer uma flexibilização também

do caráter, caracterizada pela ausência de apego temporal a longo prazo e pela

tolerância com a fragmentação. Argumenta que o trabalho flexível leva a um processo

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de degradação dos trabalhadores de ofício, uma vez que com a introdução de novas

tecnologias organizacionais o trabalho torna-se fácil, superficial e ilegível.

Pede-se aos trabalhadores que sejam produtivos, estejam abertos a mudanças em

curto prazo, assumam riscos continuamente, dependam cada vez menos de leis e

procedimentos formais. Desse modo, o mundo atual do trabalho pede uma dedicação tão

intensa porque os critérios de sucesso perderam seu contorno de estabilidade e nunca

podemos dizer se permaneceremos em ascensão no trabalho. O fato de se não alcançar a

fama ou destaque é quase sempre interpretado como sinal de fracasso e de ausência de

habilidade pessoal. Assim, a flexibilidade exigida das pessoas (trabalhadores) rompe

com os modelos tradicionais de conduta, podendo mergulhar os indivíduos na

perplexidade e na confusão, absolutamente dependentes da indicação de caminhos a

serem seguidos.

Sennett nos leva a um cenário de época, em que o trabalho e a vida eram

lineares, baseados no aprofundamento das relações sociais e em valores como a ética.

Além disso, eram tempos em que o sistema burocrático regulava os ganhos de riquezas

e minimizava a desigualdade, e podia-se contar também com um certo paternalismo

estatal e da força sindical. Ele faz essa apresentação, de forma romântica, utilizando o

personagem Enrico, que trabalhava como faxineiro, e seu trabalho – limpar banheiros –

tinha um objetivo único e perene: servir à família. Compara o personagem Enrico e seu

modelo de trabalho com seu filho “Rico”, que 20 anos depois se apresenta no mercado,

inserido no modelo capitalista flexível.

Assim, para além da estratégia de redução de custos ou técnica de organização

da produção, a terceirização é, como temos salientado, uma arma política de luta de

classes que visa reestruturar coletivos do trabalho, criando as bases para processos de

“captura” da subjetividade do homem que trabalha (Alves, 2000). Ao fragilizar a

representação sindical e política dos trabalhadores assalariados, a terceirização é um dos

elementos impulsionadores, em sua materialidade específica da crise do sindicalismo

cuja estrutura corporativa historicamente verticalizada não consegue (ou tem

dificuldade) em lidar com a nova materialidade do capital.

Como se não bastasse tal agressividade, o capital também tem investido pesado

em práticas ideológicas, sofisticadas, de convencimento, cooptação, envolvimento e

individualização dos trabalhadores, etc. Nesse contexto, para dar continuidade à

reprodução ampliada do capital, o sistema capitalista de exploração aposta em uma nova

racionalidade produtiva, buscando, assim, atingir novos padrões de acumulação. No

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âmbito do mundo do trabalho, as práticas tradicionais tayloristas, fordistas,

estakhanovistas são ultrapassadas pelos novos métodos de gerenciamento, tais como o

chamado "modelo japonês", o toyotismo, o modelo sueco, a "especialização flexível"

(do norte da Itália), etc. O que ocorre, dialeticamente, de forma desigual, combinada e

contraditória, dado que não é possível se falar de "modelos" universais, puros (Soares,

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