desafios e fragilidades do trabalho social no … · aos meus amigos, que me ajudaram durante toda...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS URBANOS E REGIONAIS SARA JUDY CHRISTIE DE OLIVES DESAFIOS E FRAGILIDADES DO TRABALHO SOCIAL NO PROGRAMA MINHA CASA MINHA VIDA NA REGIÃO METROPOLITANA DE NATAL Natal | RN 2017

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Page 1: DESAFIOS E FRAGILIDADES DO TRABALHO SOCIAL NO … · Aos meus amigos, que me ajudaram durante toda a trajetória do curso e que estiveram ao meu lado, sempre compartilhando os bons

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS

URBANOS E REGIONAIS

SARA JUDY CHRISTIE DE OLIVES

DESAFIOS E FRAGILIDADES DO

TRABALHO SOCIAL NO

PROGRAMA MINHA CASA MINHA

VIDA NA REGIÃO METROPOLITANA

DE NATAL

Natal | RN

2017

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SARA JUDY CHRISTIE DE OLIVES

DESAFIOS E FRAGILIDADES DO

TRABALHO SOCIAL NO

PROGRAMA MINHA CASA MINHA

VIDA NA REGIÃO METROPOLITANA

DE NATAL

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pós-

Graduação em Estudos Urbanos e Regionais, do Centro de

Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal do

Rio Grande do Norte, como parte dos requisitos para obtenção

do título de Mestre em Estudos Urbanos e Regionais.

Área de concentração: Dinâmicas Urbanas e Regionais e

Políticas Públicas.

Orientador: Prof. Dr. Robério Paulino

Natal | RN

2017

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Olives, Sara Judy Christie de. Desafios e fragilidades do trabalho social no Programa MinhaCasa Minha Vida na região metropolitana de Natal / Sara JudyChristie de Olives. - 2017. 142f.: il.

Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do Rio Grandedo Norte. Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes. Programade Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais. Orientador: Prof. Dr. Robério Paulino Rodrigues.

1. Habitação de Interesse Social - Natal (Rio Grande doNorte). 2. Programa Minha Casa Minha Vida. 3. Trabalho Social.4. Região Metropolitana - Natal (Rio Grande do Norte). I.Rodrigues, Robério Paulino. II. Título.

RN/UF/BS-CCHLA CDU 351.778.532(813.2)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRNSistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes -CCHLA

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Dedicatória

Aos meus amados avós,

Afonso Bernardino e Maria Raimunda (in memorian)...

Aos meus pais, Maria Cristina e Nabucodonosor, por todo apoio e amor...

Aos meus irmãos, pela compreensão e carinho...

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Agradecimentos

Agradecer é sentir ou mostrar gratidão por algo que temos recebido. Eu tenho

muito a agradecer a muitas pessoas que me acompanharam, sem saber, neste

longo e árduo trabalho, que com palavras de apoio reconfortaram o meu coração

e me incentivaram a não desistir dos meus sonhos e metas de vida.

Agradeço a Deus, mestre e âncora das nossas vidas.

Aos meus pais, Nabucodonosor e Maria Cristina, que me deram a vida e sempre

estão presentes! É o maior de todos os agradecimentos.

Aos meus irmãos, Sophya, Paloma e Philyps, que são parte da minha vida e que

compartilham das alegrias e desafios! Sei que sempre estarão presentes!

Aos meus avós, Afonso Bernardino e Maria Raimunda de Oliveira, (in memorian).

Apesar de não estarem mais conosco, quero lembrar-me deles como meus anjos

da guarda, já que sempre os amarei.

Ao meu namorado e companheiro de vida, David Esteban Diaz. Obrigada por

seu amor, cumplicidade, cuidado e amizade! Obrigada por estar comigo e

acreditar em mim! Estamos juntos nesta caminhada! Eu o amo muito!

Agradeço à família Diaz Taquez! Sou agradecida a Deus por ter a oportunidade

de ter uma família muito linda na Colômbia. Muitíssimo obrigada pelo carinho e

pela estadia neste país maravilhoso!

Às minhas amigas argentinas: Mariela Delgado e Yamila Katz. Obrigada pela

amizade de vocês! Eu as amo muito!

Agradeço à minha querida amiga, Jasmine Besinger. Obrigada por seu carinho,

espero que um dia eu possa revê-la em terras colombianas ou americanas.

À minha amiga Mariana Brimdjam. Obrigada, nêga, por tudo!

Quero agradecer ao meu irmão colombiano e Mineiro, Daniel Santos. Obrigada

por tudo, eu o amo bastante.

Ao meu ilustre orientador, Prof. Dr. Robério Paulino, por sua amizade, paciência,

dedicação e conselhos, perante a condução da minha vida acadêmica.

Obrigada, Professor Robério!

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Agradeço as minhas amigas do mestrado, Suzana Dutra, Milenna Nicoletti e

Renata Leão. Obrigada, meninas!

Aos professores do Departamento de Políticas Públicas da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, pelos ensinamentos transmitidos e pelas amizades

construídas!

Aos companheiros da turma do Mestrado em Estudos Urbanos e Regionais –

UFRN. Obrigada!

Aos professores do Mestrado em Estudo Urbanos e Regionais! Muita gratidão

pelos ensinamentos compartilhados!

Aos meus amigos, que me ajudaram durante toda a trajetória do curso e que

estiveram ao meu lado, sempre compartilhando os bons momentos da vida.

Aos meus queridos amigos da turma de “Gestão de Políticas Públicas 2010.2”

da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, pelo companheirismo e força

que me passaram durante estes anos na Universidade.

À Universidade Federal do Rio Grande do Norte e à Universidade Federal do Rio

Grande do Sul, pelo ensino de qualidade, bem como pelos professores dos quais

tive a oportunidade e a honra de ser aluna.

E a todos e todas que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização

deste árduo trabalho.

Obrigada!

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Resumo

Este trabalho analisa o trabalho social do Programa Minha Casa Minha Vida

(PMCMV), Faixa 1, na Região Metropolitana de Natal (RMN), nas cidades de

Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante. Metodologicamente, o estudo

trata-se de uma pesquisa qualitativa, no qual foram utilizados os seguintes

procedimentos metodológicos: revisão bibliográfica, análise documental, análise

de dados secundários e primários, diário de campo, observação participante,

entrevistas semiestruturadas e grupos focais que evidenciaram as percepções

dos principais atores sociais que estão diretamente relacionados com a

implementação do trabalho social nos empreendimentos do PMCMV na RMN.

Foram definidos três empreendimentos para a realização desta investigação: o

Residencial Vivendas do Planalto I, II, III, IV, na cidade de Natal (Capital); o

Residencial Ilhas do Atlântico, em Parnamirim; e o Residencial Ruy Pereira, no

Município de São Gonçalo do Amarante. A pesquisa apontou para a pouca

efetividade da implementação do trabalho social pré/pós-ocupacional e da

gestão condominial nos empreendimentos do PMCMV na RMN. Ademais, as

Secretarias de Habitação dos municípios estudados possuem baixa capacidade

técnica na elaboração dos Projetos de Trabalho Social (PTS), escassez de

quadro de técnicos qualificados em projetos de habitação de interesse social,

alta rotatividade de profissionais e fragilidades quanto à forma de contratação

das Equipes Técnicas Sociais (ETS). Por fim, a pesquisa constatou que o

trabalho social é permeado por interesses econômicos e políticos em todas as

fases de execução, por diversos atores sociais e políticos.

PALAVRAS-CHAVES: Trabalho Social, Programa Minha Casa Minha Vida,

Habitação de Interesse Social, Região Metropolitana de Natal.

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Abstract

This work aims to analyze the social work of the Programa Minha Casa Minha

Vida (PMCMV), track 1, in the Metropolitan Region of Natal (RMN), in the cities

of Natal, Parnamirim and São Gonçalo do Amarante. Methodologically, the study

is a qualitative research, based on the dialectical-critical method, which

evidences the perceptions of the main social actors that are directly related to the

social work in PMCMV ventures. In this way, the following methodological

procedures were used: bibliographic review, documentary analysis, analysis of

secondary and primary data, semi-structured interviews, field diary and focus

groups. Three projects were set up to carry out this research: the Residencial

Villas do Planalto I, II, III, IV, in the city of Natal (Capital); The Residencial Ilhas

do Atlântico, in Parnamirim; And the Residencial Ruy Pereira, in the Municipality

of São Gonçalo do Amarante. In addition to the scarcity of studies in the area,

the research pointed to little effectiveness of the implementation of pre/post-

occupational social work and condominial management in PMCMV ventures in

NMR. In addition, the housing departments of the municipalities studied have a

low technical capacity in the elaboration of social work projects and a shortage of

skilled technicians in projects of social interest housing, high turnover of

professionals and weaknesses as to their way of hiring the Technical Teams

(ETS). Finally, the research found that social work is permeated by economic and

political interests in all stages of implementation, by various social and political

actors.

KEYWORDS: Programa Minha Casa Minha Vida, social work, housing of social

interest, Metropolitan Region of Natal.

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Lista de Figuras

Figura 1: Mapa da Região Metropolitana de Natal | RN (2017)..........................61 Figura 2: Localização dos Empreendimentos do PMCMV por faixa e Fase na

RMN...................................................................................................................65

Figura 3: Espacialização dos Empreendimentos do PMCMV Faixa 1 na

RMN...................................................................................................................68

Figura 4: Empreendimento São Pedro (PMCMV/Faixa-1), em Natal-RN...........71

Figura 5: Obras do Empreendimento Village de Prata (PMCMV/Faixa-1), em Natal...................................................................................................................72 Figura 6: Obras do Empreendimento Padre João Maria e as Dez (PMCMV/

PAC), em São Gonçalo do Amarante/RN..........................................................74

Figura 7: Localização do Empreendimento Vivendas do Planalto (I a IV)..........78

Figura 8: Foto (a) Tipologia do Empreendimento Vivendas do Planalto; Foto (b)

Blocos de Apartamentos....................................................................................80

Figura 9: Equipamentos Comunitários do Residencial Vivendas do Planalto

(Quadra Poliesportiva e Academia ao Ar Livre)..................................................81

Figura 10: Mapa da Espacialização dos Equipamentos Públicos Existentes no

Entorno do Empreendimento Vivendas do Planalto...........................................82

Figura 11: Mapa das Áreas de Risco e Assentamentos Precários do Entorno do

Empreendimento Vivendas do Planalto..............................................................84

Figura 12: Foto (a) Vista Aérea do Assentamento Precário 08 de Outubro; Foto

(b): Habitações da Comunidade 08 de Outubro..................................................85

Figura 13: Foto (a) Vista Aérea do Assentamento Precário Anatália, Foto (b):

Registro Fotográfico das Habitações da Comunidade Anatália..........................86

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Figura 14: Foto (a) Vista aérea do Assentamento Precário Monte Celeste, no

detalhe em Amarelo; Foto (b): Registro fotográfico da favela Monte Celeste......86

Figura 15: Percentual da Origem das Demandas Fechada (assentamento) e

Aberta (sorteio) do Residencial Vivendas do Planalto I a IV................................88

Figura 16: Foto (a) Registro Fotográfico da Mudança no Assentamento Anatália;

Foto (b) Chegada das Famílias no Residencial Vivendas do Planalto................93

Figura 17: Foto (a): Líder do MLB na Reunião do CONHABINS; Foto (b):

Advogados Representantes do Banco do Brasil Explicando o Processo de

Reintegração de Posse do Residencial Morar Bem Pajuçara............................95

Figura 18: Registro Fotográfico Atual dos Condomínios do Residencial Vivendas

do Planalto (2016)..............................................................................................98

Figura 19: Localização do Residencial Ilhas do Atlântico –

Parnamirim/RN................................................................................................101

Figura 20: Foto: (a) Faixada do Empreendimento Ilhas do Atlântico; Foto: (b)

Blocos de Apartamentos do Residencial Ilhas do Atlântico...............................102

Figura 21: Renda Familiar do Residencial Ilhas do Atlântico, em Parnamirim -

RN....................................................................................................................107

Figura 22: Foto (a): Seminário de Encerramento do PTS; Foto (b): Oficina de

Contação de Histórias......................................................................................109

Figura 23: Localização do Empreendimento Ruy Pereira - São Gonçalo do

Amarante.........................................................................................................112

Figura 24: Foto (a): Imagem do Residencial Ruy Pereira I; Foto (b): Bloco de

Apartamentos...................................................................................................114

Figura 25: Foto (a): Via de Acesso para o Residencial Ruy Pereira I; Foto (b):

Via de Acesso pela BR 406..............................................................................114

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Figura 26: Foto (a): Sorteio dos Apartamentos e Blocos do Residencial Ruy

Pereira VI; Foto (b): Famílias Beneficiárias Aguardando a Definição dos

Apartamentos...................................................................................................116

Figura 27: Foto (a): Mobilização dos Moradores; Foto (b): Atividade de Terapia

Comunitária com as Famílias Moradoras do Residencial Ruy Pereira VI.........121

Figura 28: Renda Média Mensal das Famílias do Residencial Ruy Pereira

VI......................................................................................................................123

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Lista de Quadros e Tabelas

Quadro 1: Etapas, Instrumentos de Planejamento e Atividades do Trabalho

Social.................................................................................................................46

Quadro 2: Programa Minha Casa Minha Vida: Modalidades, Faixas e Fontes de

Recursos............................................................................................................................54

Tabela 1: Programa Minha Casa Minha Vida: Metas e Contratações................58

Tabela 2: Programa Minha Casa Minha Vida: Unidades Contratadas, Unidades

Entregues e Valor de Investimentos por Região e Estado do Brasil....................59

Tabela 3: Dados Populacionais e Densidade Demográfica por Município da RMN

(2010 e 2016).....................................................................................................62

Tabela 4: Déficit Habitacional Total por faixa de rendimento (%) nos Municípios

de Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante (2010).................................63

Tabela 5: Déficit Habitacional por Município da RMN (2010).............................64

Tabela 06: Produção Habitacional Total (Empreendimentos e Unidades) do

PMCMV por Municípios estudados da RMN.......................................................66

Tabela 7: Déficit Habitacional e a relação com a Produção PMCMV Faixa 1 nos

Municípios de Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante (2013)...............68

Tabela 8: Quantidade de Unidades Produzidas por Faixa de Renda e Fase na

RMN até 2014....................................................................................................69

Tabela 9: Quantidade de empreendimentos por Faixa 1, fases do PMCMV, nos

municípios estudados e na Região Metropolitana de Natal................................70

Tabela 10: Informações do Residencial Vivendas do Planalto I a IV..................79

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Lista de Siglas e Abreviaturas

AEIS Área Especial de Interesse Social.

BB Banco do Brasil.

BNH Banco Nacional de Habitação.

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento.

BNDES Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

BIRD Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento.

BPC Benefício de Prestação Continuada.

CF/88 Constituição Federal de 1988.

COTS Caderno de Orientação Técnica Social.

COHAB Companhia de Habitação.

CONHABINS Conselho Municipal de Habitação de Interesse Social de Natal.

CEF Caixa Econômica Federal.

CAS Central de Atendimento Social.

CRAS Centro de Referencial em Assistência Social.

CADÚNICO Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal.

CEB Comunidades Eclesiais de Base.

DC Desenvolvimento Comunitário.

DASPE Departamento de Ação Social e Projetos Especiais.

ETS Equipe Técnica Social.

ESA Educação Sanitária e Ambiental.

ESPES/TREINAT Estudos e Pesquisas/Treinamento e Assistência Técnica

FNHIS Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social.

FCP Fundação da Casa Popular.

FGTS Fundo de Garantia por Tempo de Serviço.

FPC Fundo de Participação Comunitária.

FUNCERN Fundação de Apoio à Educação Tecnológica do Rio Grande do

Norte.

FHC Fernando Henrique Cardoso.

FNRU Fórum Nacional de Reforma Urbana.

FJP Fundação João Pinheiro.

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FICAM Programa de Financiamento da Construção, Aquisição ou

Melhoria da Habitação de Interesse Social

FCPC Fundo Comunitário de Programas Cooperativos.

FAR Fundo de Arrendamento Residencial.

FDS Fundo de Desenvolvimento Social.

GER Geração de Trabalho e Renda.

GIDUR Gerências de Desenvolvimento Urbano.

GIHAB Gerência de Habitação

HBB Habitar Brasil/ BID.

IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

INCRA Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária

INOCOOP Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais.

IFRN Instituto de Tecnologia do Rio Grande do Norte.

IPTU Imposto Predial e Territorial Urbano.

ISS Imposto Sobre Serviços

ITIV Imposto de Transmissão Intervivos.

MNRU Movimento Nacional de Reforma Urbana.

MDU Ministério do Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente.

MOC Mobilização e Organização Comunitária.

MLB Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas

ONU Organização das Nações Unidas.

OGU Orçamento Geral da União.

ONG Organização Não Governamental.

PPEUR Programa de Pós-Graduação em Estudos Urbanos e Regionais.

PMCMV Programa Minha Casa Minha Vida.

PITTS Plano de Intervenção de Trabalho Social.

PTTS Projeto de Trabalho Técnico Social.

PTS Projeto de Trabalho Social.

PDST Plano de Desenvolvimento Sócioterritorial.

PNH Plano Nacional de Habitação.

PAC Programa de Aceleramento do Crescimento.

PRODEC Programa de Desenvolvimento Comunitário

PDST Plano de Desenvolvimento Sócio e territorial.

PNHS Política Nacional de Habitação e Saneamento.

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PLANHAP Plano Nacional de Habitação Popular.

PROFILURB Programa de Financiamento de Lotes Urbanizados.

PIB Produto Interno Bruto.

PSH Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social.

PROMORAR Programa de Erradicação da Sub-habitação.

PPI Projetos Prioritários de Investimentos.

PNHU Programa Nacional de Habitação Urbana.

PNHR Programa Nacional de Habitação Rural.

PROSANEAR Programas de Saneamento para População de Baixa Renda.

PAR Programa de Arrendamento Residencial.

QCI Quadro de Composição de Custo.

PT Partido dos Trabalhadores.

PMDB Partido do Movimento Democrático Brasileiro.

RMN Região Metropolitana de Natal.

RN Rio Grande do Norte.

SM Salário Mínimo.

SNHIS Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social.

SEHAB Secretaria de Habitação, Regularização Fundiária e Saneamento.

SFH Sistema Financeiro de Habitação.

SERFHAU Serviço Federal de Habitação e Urbanismo.

SEHARPE Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e

Projetos Estruturantes de Natal.

SBPE Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo

SUDEC Subprograma de Desenvolvimento Comunitário.

TS Trabalho Social.

TAC Taxa de Apoio Comunitário.

UFRN Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

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Sumário

1 Introdução................................................................................................. 19

2 Histórico do Trabalho Social na Política Habitacional

Brasileira....................................................................................................... 25

2.1 Aspectos Históricos do Trabalho Social no BNH (1964-1986)........ 25

2.2 Trabalho Social em Habitação no Período Pós-redemocratização (1985

- 1999)................................................................................................................34

2.3 Trabalho Social e o Ministério das Cidades (2003): metodologias e

diretrizes........................................................................................................... 41

3 Desafios e Avanços do Programa Minha Casa Minha

Vida.................................................................................................................51

3.1 O Programa Minha Casa Minha Vida no Brasil....................................... 51

3.2 Problemática habitacional e a Implementação do PMCMV na Região

Metropolitana de Natal.................................................................................... 60

4 Análise do Trabalho Social no Programa Minha Casa Minha

Vida na RMN................................................................................................. 77

4.1 Trajetória do Trabalho Social no Empreendimento Vivendas do Planalto

(I a IV) em Natal................................................................................................ 77

4.1.1 Seleção dos Beneficiários do Vivendas do Planalto I a IV................................... 83

4.1.2 Trabalho Social de Pré/pós-ocupação Condominial no Vivendas do Planalto I a

IV...................................................................................................................................89

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4.2 Experiência do Trabalho Social no Residencial Ilhas do Atlântico em

Parnamirim/RN.................................................................................................

100

4.3 Dificuldades do Trabalho Social no Residencial Ruy Pereira VI no

Município de São Gonçalo do Amarante..................................................... 111

Considerações Finais.............................................................................125

Referências Bibliográficas................................................................... 128

Apêndice.....................................................................................................137

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1 Introdução

Historicamente, as ações do Estado brasileiro que visam a produção de políticas

públicas habitacionais evidenciam os desafios do Brasil em lidar, principalmente, com

diversos problemas sociais, tais como: o déficit habitacional, a precariedade das

moradias, o alto índice de favelização das cidades brasileiras, bem como a ocupação

desordenada de áreas de risco. A política habitacional brasileira passou por um longo

processo de reconfigurações, alternando-se por momentos de ampliação ou redução

da atuação do Estado, sendo influenciada por conjunturas sociais e econômicas do

Brasil, assim como pelo cenário internacional.

Segundo Maricato (2001), no Brasil, as iniciativas das políticas públicas de

habitação de interesse social, nas últimas décadas do século XX, caracterizam-se pela

descontinuidade e, sobretudo, pela falta de articulação com as demais políticas sociais.

Para Maricato (2001), as principais intervenções estatais na área da habitação social

pouco atenderam à população urbana de baixa renda, como os grandes conjuntos

habitacionais construídos por meio do Banco Nacional de Habitação (BNH). Para

Cardoso (2012), desde a extinção do BNH, em 1986, as políticas públicas destinadas

à habitação social permaneceram por um longo período em uma situação subalterna

na agenda das políticas sociais do país.

Com as transformações recentes no campo das políticas habitacionais no Brasil,

especialmente com a criação do Programa Minha Casa Minha Vida (PMCMV), em

2009, instauraram uma nova ordem de demandas, tanto por parte do Estado, quanto

dos atores sociais, privados e políticos envolvidos com a implementação desta política

pública. Com a formulação do PMCMV, houve um aumento de debates fundamentais

acerca da moradia social, com destaque para os seus impactos sobre as cidades e

sobre a vida das famílias beneficiadas.

O Programa foi lançado há sete anos, alcançando, até o ano de 2016, a marca

de mais 4,2 milhões de unidades habitacionais contratadas em todas as faixas desta

política pública, sendo que mais de 2,6 milhões já foram entregues às famílias. Em

média, até 2016, o PMCMV já havia beneficiado mais de 10,4 milhões de pessoas, com

um investimento total, segundo o Ministério das Cidades, que ultrapassa o valor de R$

294 bilhões (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2016).

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Com o lançamento do PMCMV, diversos municípios da RMN aderiram

imediatamente ao Programa. No Rio Grande do Norte, as produções habitacionais do

Programa, segundo dados do Ministério das Cidades, até o ano de 2016, foram

contratadas 100.243 unidades habitacionais em todas as faixas do Programa e 71.339

imóveis já foram entregues, sendo investidos pelo Governo Federal R$ 6,919 bilhões

em todo o RN.

Assim, a necessidade de garantir o acesso digno à moradia para amplos

contingentes populacionais implica em lidar com a questão da provisão habitacional por

meio do PMCMV, em seus mais diversos aspectos. Pois, o combate ao déficit

habitacional não está restrito à construção de casas, mas deve pressupor a garantia do

direito à moradia, o direito à cidade e o acesso aos novos patamares de cidadania e

qualidade de vida. É importante compreender que as políticas públicas de habitação de

interesse social necessitam de uma visão multidimensional das realidades, superando

os limites da ação localizada, buscando não somente inserção urbana dos

empreendimentos, mas a inserção social destas famílias nestes novos territórios.

Como respostas a estas questões que vão para além da edificação de moradias,

ao longo da história da política habitacional brasileira podemos observar avanços no

que se refere à institucionalização do trabalho social (TS) a partir da criação do

Ministério das Cidades, em 2003, e sua introdução como componente da Política

Nacional de Habitação (PNH). Em suma, o trabalho social tem o seu fundamento na

Política Nacional de Habitação, onde suas diretrizes (BRASIL, 2014) visam a promover

a autonomia e o protagonismo social das famílias atendidas pelas políticas

habitacionais. O trabalho social é planejado para criar mecanismos capazes de

viabilizar a participação dos beneficiários nos processos de decisão, implantação e

manutenção dos bens e serviços, adequando-os às necessidades e à realidade dos

grupos sociais atendidos, além de incentivar a gestão participativa para a

sustentabilidade dos empreendimentos habitacionais (BRASIL, 2014).

As intervenções do trabalho social na área da habitação popular devem funcionar

como um indutor da inclusão social, da garantia do direito à cidade e dos demais

políticas públicas sociais, além de estimular a participação das famílias em todo o

processo de implementação. Atualmente, o trabalho social em programas e projetos de

habitação de interesse social do Ministério das Cidades é normatizado pela Portaria N°

21, de 22 de janeiro de 2014. Com essa Portaria, o trabalho social passa a ser

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reconhecido como um componente “obrigatório” e “estratégico”, com recursos próprios

destinados para a sua execução nas políticas e programas de desenvolvimento urbano

e habitacional.

O interesse por esta pesquisa ocorreu devido a minha inserção profissional,

como Gestora de Políticas Públicas na área de elaboração e implementação de projetos

de habitação de interesse social e reassentamento de favelas na Cidade do Natal/RN

e também em projetos de reassentamento e assessoria jurídica e fundiária na cidade

do Porto Alegre, em 2013. Atuando como profissional na área do planejamento urbano,

pude refletir acerca das múltiplas determinações que norteiam a prática dos gestores

públicos envolvidos com a política urbana.

A partir da minha experiência em projetos de urbanização e reassentamento de

favelas, assim como na implementação do Programa Minha Casa Minha Vida

(PMCMV), na cidade do Natal, cuja população está estimada em 877.662 habitantes e

que concentra 65% do déficit habitacional1 da Região Metropolitana de Natal (RMN),

me possibilitou observar as dificuldades dos municípios na gestão e na execução

técnico-operativa do trabalho social e das ações propostas pelo PMCMV. Desta forma,

esta pesquisa desenvolveu um estudo sobre o trabalho social no Programa Minha Casa

Minha Vida (Faixa 1), nos municípios da Região Metropolitana de Natal/RN.

Como problemática de pesquisa, partimos dos seguintes questionamentos:

efetivamente, os municípios da RMN têm conseguido implementar o trabalho social do

PMCMV? Quais são os desafios da efetivação do trabalho social do PMCMV na RMN?

Respondendo a estas perguntas, o estudo parte da hipótese de que os municípios

possuem um papel importante na gestão e implementação do trabalho social nos

projetos de habitação do PMCMV Faixa 1, porém, a baixa capacidade técnica de gestão

eficaz dos municípios da RMN são fatores que têm contribuído para o insucesso na

efetivação do trabalho social junto aos beneficiários do PMCMV.

O estudo tem como objetivo geral analisar a implementação do trabalho social

do PMCMV Faixa 1, considerando as diretrizes nacionais do Ministério das Cidades e

a sua implementação nos municípios da RMN. Compreendendo os seguintes objetivos

específicos: a) identificar os principais atores sociais, estatais e privados, envolvidos

1 Dados estatísticos sobre o Déficit Habitacional Brasileiro, segundo, a Fundação João Pinheiro (FJP) em

parceria com o Ministério das Cidades, Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em 2013.

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com a implementação do trabalho social do PMCMV; b) verificar a natureza dos

serviços que são oferecidos junto às famílias beneficiárias pelo Programa; c) relacionar

as diretrizes nacionais do trabalho social do PMCMV com as ações que estão sendo

executadas pelos municípios; d) compreender o processo de implementação do

trabalho social do PMCMV junto às famílias beneficiárias; e) analisar o contexto

organizacional e institucional de implementação do trabalho social; f) identificar os

desafios da implementação, assim como dos agentes implementadores do trabalho

social.

Para o desenvolvimento da pesquisa empírica, fez-se um recorte territorial,

estabelecendo um universo de três municípios da RMN (Natal, Parnamirim e São

Gonçalo do Amarante), por concentrarem os maiores índices de déficit habitacional do

Estado que, segundo a Fundação João Pinheiro (FJP), em 2013, estava em torno de

45.716 imóveis. Além disso, essas cidades possuem os maiores números de unidades

habitacionais contratadas pelo PMCMV Faixa 1.

Definiu-se como critérios norteadores para a escolha dos empreendimentos a

serem analisados os seguintes parâmetros: a) empreendimentos da Faixa 1; b)

tipologia habitacional (optou-se por escolher 1 empreendimento de cada munícipio,

considerando a sua tipologia – condomínio vertical, fechado e aberto); c) prazo de

entrega do empreendimento (superior a 6 meses da data de pós-ocupação). Com base

nesses critérios, foram definidos três empreendimentos para a realização deste estudo:

o Residencial Vivendas do Planalto I, II, III, IV, na cidade de Natal (Capital); o

Residencial Ilhas do Atlântico, em Parnamirim e o Residencial Ruy Pereira IV, no

Município de São Gonçalo do Amarante.

Com o objetivo principal de desenvolver estudos de natureza qualitativa acerca

do trabalho social desenvolvido junto às famílias beneficiárias do PMCMV na RMN,

alguns empreendimentos foram selecionados como base empírica para análise,

investigando-se aspectos relativos à efetivação ou não da sua implementação nesses

locais.

Metodologicamente, para a realização desta investigação, optou-se pela

abordagem do tipo qualitativo, tal metodologia nos permitiu uma análise do trabalho

social nos projetos de habitação social do PMCMV, investigando os fatores políticos,

econômicos e sociais que contribuem ou não para sua efetivação, já que o Programa é

permeado por interesses conflitantes em sua implementação junto aos beneficiários.

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Para a realização da pesquisa, diversas técnicas metodológicas foram utilizadas,

tais como: revisão bibliográfica, análise documental e de conteúdo da legislação

pertinente ao tema, análise de dados secundários e primários, entrevistas

semiestruturadas e realização de grupos focais com moradores dos empreendimentos

escolhidos do PMCMV na RMN. Em um primeiro momento, foi realizada uma revisão

da literatura sobre o histórico do trabalho social dentro da política habitacional brasileira.

Em seguida, foi feito um levantamento documental dos principais documentos e

portarias federais que regulamentam o PMCMV e o trabalho social presente nas

páginas do Ministério das Cidades e da Caixa Econômica Federal.

Através dos grupos focais, foi levantada a percepção de moradores dos

conjuntos habitacionais visitados. Foram realizados 3 grupos focais com os

beneficiários de cada empreendimento escolhido por município (Residencial Ilhas do

Atlântico – Parnamirim; Residencial Ruy Pereira – São Gonçalo do Amarante;

Residencial Vivendas do Planalto – Natal).

Além disso, optou-se por realizar entrevistas semiestruturadas com os principais

atores envolvidos no processo de implementação do trabalho social no PMCMV, como:

os Gestores das Secretarias de Habitação; Coordenadores dos Projetos de Trabalho

Social (PTS/PMCMV) de cada empreendimento selecionado; Técnicos Sociais

responsáveis pela implementação do trabalho social; Técnicos da GIHAB (Gerência

Executiva de Habitação) da Caixa Econômica Federal, sendo este os últimos

responsáveis por verificar a viabilidade técnica dos empreendimentos habitacionais,

como as exigências relativas aos diversos processos construtivos e às várias etapas

do Projeto de Trabalho Social. A utilização destas estratégias tem como finalidade

compreender os (in) sucessos do trabalho social no Programa. Por fim, foi realizada a

análise, tabulação e interpretação dos dados e informações.

Esta dissertação compõe-se de distintos capítulos. Depois desta Introdução, o

primeiro capítulo (Perspectivas Históricas do Trabalho Social na Política Habitacional

Brasileira) visa a analisar a trajetória histórica do trabalho social nas políticas públicas

habitacionais brasileiras.

O segundo capítulo (O Programa Minha Casa Minha Vida e o Trabalho Social no

Brasil) traz uma breve análise do Programa, buscando entender o contexto em que ele

foi formulado e o estágio atual de implementação. Ainda neste capítulo, é realizada uma

apresentação dos conceitos e metodologias do trabalho social em habitação, com

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destaque para os normativos e diretrizes desta política pública, através da análise da

Portaria Nº 021, de 22 de janeiro de 2014, que aprova o Manual de Instruções do

Trabalho Social nos Programas e Ações do Ministério das Cidades.

Por fim, no último capítulo (Implementação do Trabalho Social do PMCMV na

Região Metropolitana de Natal), é analisado em que medida o trabalho social foi ou não

efetivamente implementado, identificando os fatores de sucesso ou fracasso na sua

execução.

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2 Histórico do Trabalho Social na

Política Habitacional Brasileira.

As intervenções do trabalho social no campo da habitação de interesse social

remontam a décadas anteriores à criação do Ministério das Cidades, em 2003. Assim,

a forma como o trabalho social se apresenta, na atualidade, tem como referência as

concepções e práticas adotadas em anos anteriores na história da política habitacional

brasileira. Daí a relevância do recorte histórico, uma vez que, para conhecer a realidade

presente, é necessário mergulhar na trajetória histórica do trabalho social dentro da

política habitacional. Desta forma, procuraremos, neste capítulo, discutir a trajetória do trabalho social

em habitação. Para isso, recorreremos à construção de uma linha do tempo,

destacando a integração do trabalho social nas principais políticas públicas de

habitação e suas concepções, em três momentos da história brasileira: a) o período de

1964 a 1986, em que se analisa o trabalho social executado nos programas do Banco

Nacional de Habitação (BNH), durante o regime militar brasileiro; b) o período de 1987

a 1999, fase pós-regime militar, que revela a dificuldade dos governos em formular uma

política habitacional efetiva, com a criação apenas de programas habitacionais

pontuais, nos quais havia a exigência do trabalho social pelo Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID); e c) o período de 2003 até a atualidade, sendo esta fase

marcada pela institucionalização definitiva do trabalho social dentro da Política Nacional

de Habitação e a criação do Programa de Aceleramento do Crescimento (PAC) e o

PMCMV.

2.1 Aspectos Históricos do Trabalho Social no BNH (1964-1986).

Ao longo da história da política habitacional brasileira nos deparamos com

diversos fatos que marcam a forma de planejamento e implementação de políticas

públicas para as cidades. Apesar do trabalho social ser regulamentado a partir da

criação do Banco Nacional de Habitação (década de 1960), é importante salientar que

nos anos finais da década de 30 e início da década de 40 verificam-se intervenções

sociais pontuais em áreas de moradia da classe trabalhadora, principalmente em

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morros e favelas. De acordo com Valladares (2000), durante este período é possível

observar a atuação de Assistentes Sociais na realização de trabalhos sociais a

população empobrecida das favelas do Rio de Janeiro.

Tudo indica que a prática da assistência social, com suas regulares idas e vindas à favela, maior assiduidade e intimidade no contato com as famílias, teria contribuído para o avanço na descoberta da favela durante a longa fase que precedeu o advento das ciências sociais. As assistentes sociais, mais que qualquer outro agente, tinham entrada garantida na casa dos pobres. No entanto, nem por isso conseguiram desvencilhar-se de uma imagem negativa, cheia de clichês, que por muito tempo marcou a maneira de as elites nacionais conceberem a pobreza e os pobres: pobreza igual a vadiagem, vício, sujeira, preguiça, carregando ainda a marca da escravidão; pobre igual a negro e a malandro (VALLADARES, 2000, p, 14).

Valladares (2000) esclarece que o trabalho social desenvolvido nas favelas pelas

Assistentes Sociais tinha um caráter de um Serviço Social tradicional implementado

através de ações direcionadas em uma perspectiva de controle e disciplinamento dos

segmentos pauperizados.

Não seria exagerado dizer que de certo modo, as assistentes sociais funcionavam como a mão direita da administração municipal na gestão da pobreza: entre a proteção social e o controle dos pobres. Assim, administrar a favela significa também “pilotar”, “direcionar” sua população. A educação dos pobres era a chave de entrada que justificava a presença desses agentes nos bairros onde essa população morava. Era necessário educá-los, não apenas estimular bons hábitos como, igualmente, fornecer-lhes os elementos necessários à sua promoção social. As assistentes sociais sabiam que era fundamental conhecer a população para realizar um trabalho social eficaz (VALLADARES, 2000, p. 21).

De acordo com Borges (2015), até os anos de 1960, a forma de intervenção do

Serviço Social tradicional passa a ser questionada no interior da profissão, culminando

no Movimento de Reconceituação na América Latina, que tinha como questão central,

a “funcionalidade profissional na superação do subdesenvolvimento”. Para a autora,

havia um questionamento por parte das Assistentes Sociais sobre o seu papel

profissional frente as manifestações da questão social.

Com o golpe militar de 1964, instaura-se o regime militar no Brasil, no mesmo

ano, cria-se o BNH, o Sistema Financeiro da Habitação (SFH), o Serviço Federal de

Habitação e Urbanismo (SERFHAU), institui-se a correção monetária nos contratos

imobiliários, bem como cria-se o Plano Nacional de Habitação, através da Lei Nº 4.380,

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de 21 de agosto de 19642. O modelo implementado a partir da criação do BNH, nos

anos 1960, segundo Cardoso (2008, p. 1), “deixou marcas importantes na estrutura

institucional e na concepção dominante de política habitacional nos anos que se

seguiram”.

Segundo Azevedo (1988), durante a ditadura militar, a principal motivação para

a criação do BNH foi de ordem política. O projeto de criação do BNH incluía

implicitamente a ideia de que a casa própria poderia desempenhar um papel ideológico.

Segundo os mentores do BNH, o desempenho marcante na produção de casas populares deveria permitir ao regime militar emergente obter a simpatia de largos setores das massas que constituíram o principal apoio social do governo populista derrubado em 1964. Nesse projeto, igualmente encontrava-se implícita a ideia de que a casa própria poderia desempenhar um papel ideológico importante, transformando o trabalhador de contestador em ‘aliado da ordem' (AZEVEDO, 1988, p. 109).

O trabalho social em projetos habitacionais tem sua institucionalização

regulamentada a partir da criação do BNH (1964) e da Política Nacional de Habitação

e Saneamento (1968) (BORGES, 2015). Durante a existência do banco, entre os anos

de 1964 a 1986, o trabalho social era realizado nos principais conjuntos habitacionais

e nos programas de habitação de interesse social.

O BNH foi o órgão central do SFH, controlador do Sistema Brasileiro de

Poupança e Empréstimo (SBPE) e gestor do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço

(FGTS), sendo o principal agente da política habitacional do governo militar até 1986

(NALIN, 2013). Sua importância devia-se a funcionar como um banco central dos

agentes financeiros, garantindo os créditos e depósitos dos financiamentos do setor

imobiliário.

Sendo o primeiro órgão de alcance nacional a instituir uma política habitacional

para todo o país, o BNH tinha como base o SFH, que captava recursos advindos de

duas fontes principais: I) do FGTS, um tipo de poupança compulsória constituída por

depósitos correspondentes a 8% dos salários dos trabalhadores, formalizado para

financiar moradias destinadas à população de baixa renda; e II) do SBPE, um fundo de

2Segundo Nalin (2013), o SFH era composto pelos seguintes instituições : a) BNH; b) órgãos federais,

estaduais e municipais, inclusive sociedades de economia mista com participação majoritária do poder público (tais como as Caixas Econômicas Estaduais e Federal e as chamadas COHABS; c) Sociedades de Crédito Imobiliário; d) fundações, cooperativas e outras formas associativas para a construção ou aquisição de casa própria, sem finalidade de lucro (tais como as Associações de Poupança e Empréstimo, Cooperativas Habitacionais e Institutos de Previdência Social).

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poupança voluntária para financiar o setor de classes média e alta (AZEVEDO e

ANDRADE, 1982). Rolnik (2015) aponta que o FGTS se transformou na principal fonte

de recursos para a política habitacional brasileira ao longo da história. Para a autora:

A magnitude dos recursos do FGTS alçou o BNH à condição de segundo estabelecimento bancário do país, desde a sua criação até o início dos anos 1970, e o fundo é, até os dias de hoje, a grande fonte de recursos da política habitacional (ROLNIK, 2015, p. 284).

O atendimento aos beneficiários do BNH, em termos de financiamento

habitacional, era realizado por Faixas de mercados, segundo estratos de renda. As

Companhias Estaduais ou Municipais de Habitação (COHABs) atendiam as camadas

mais carentes, que recebiam até cinco salários mínimos, denominadas de mercado

popular. Além da aquisição de imóveis, nas COHABs eram ofertados aos mutuários

ações do trabalho social.

Majoritariamente, o trabalho social desenvolvido nas COHABs era realizado por

Assistentes Sociais, a partir dos recursos da Taxa de Apoio Comunitário (TAC), criada

em 1973. De acordo com Paz e Taboada (2010), este recurso do TAC tinha como

destinação a manutenção dos conjuntos habitacionais e seus equipamentos

comunitários, assim como o pagamento de Assistentes Sociais que atuavam nos

conjuntos habitacionais, executando um Plano de Serviço Social, custo este que era

embutido no preço da habitação que era financiada ao mutuário.

De acordo com Nalin (2013), neste período é interessante observar que já havia

uma composição de equipes multidisciplinares, já que em algumas situações as

Equipes Técnicas Sociais (ETS) eram formadas por Sociólogos, Psicólogos,

Pedagogos e Assistentes Sociais. No entanto, não havia uma prática linear ou comum

a seguir sobre uma metodologia do trabalho social entre as equipes sociais.

As abordagens das equipes sociais junto à população beneficiária eram diferentes, de acordo com a filosofia do agente com relação ao programa habitacional e de seus objetivos. Os programas direcionados às comunidades pobres focavam as seguintes frentes: “educação, saúde, capacitação profissional, treinamento de lideranças e cultura geral” [...]. Exemplo disso pode ser dado por meio da COHAB de Santa Catarina, em que o Serviço Social na década de 1970 realizou um amplo trabalho de desenvolvimento comunitário nos seus conjuntos habitacionais, com vistas a sua recuperação física, administrativa e social [...] (NALIN, 2013, p. 142).

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Para Borges (2015), o trabalho social daquela época tinha um caráter

meramente “administrativo”, pois, de uma forma geral, havia preocupação somente com

a seleção dos beneficiários, com o acompanhamento da adimplência dos mutuários e

com a organização comunitária, especialmente com a constituição de associações de

moradores para que estes pudessem administrar os espaços comunitários construídos

nos conjuntos habitacionais (centros comunitários através de comodatos).

Em relação aos estratos médios, também chamados de “mercado econômico”,

que recebiam entre cinco a dez salários mínimos, estes constituíam-se na clientela

preferencial das Cooperativas Habitacionais, assessoradas em suas atividades pelos

Institutos de Orientação às Cooperativas (INOCOOP)3. A Faixa salarial entre um e três

salários mínimos que, no início, foi a principal razão para a criação do BNH, passou a

ser cada vez menos atendida nos novos conjuntos habitacionais, concentrando-se a

ação nas Faixas mais altas, entre três a cinco salários. Cardoso (2008, p. 2) revela que

o BNH:

Um primeiro elemento diz respeito ao que talvez seja a questão central nas críticas à atuação do BNH: sua incapacidade em atender à população de mais baixa renda (entre 0 e 3 salários mínimos). Essa incapacidade decorria das contradições intrínsecas aos dois grandes objetivos da política habitacional: o de alavancar o crescimento econômico e o de atender à demanda habitacional da população de baixa renda. Ao priorizar o financiamento para as camadas de mais alta renda, que se configuravam como demanda efetiva e que atraíam a preferência dos setores empresariais ligados à área, a atuação do Banco conseguiu de fato produzir um novo boom imobiliário, gerando efeitos multiplicadores relevantes.

Além do trabalho social desenvolvido nas COHABs, havia também o trabalho

social realizado nos INOCOOP, criados em todas as regiões do país, em 1966. O papel

do trabalho social no INOCOOP tinha o caráter de orientar as Cooperativas

Habitacionais através de elaboração de projetos, regularização jurídica e fundiária,

seleção dos candidatos, construção e entrega das obras, assessoria técnica e social,

destacando-se entre eles a presença de Assistentes Sociais. O trabalho social tinha

como objetivo o acompanhamento dos trabalhadores desde a constituição da

3As Faixas de renda mais alta, acima de dez salários mínimos, formavam o mercado a ser atendido pelo

Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE). O mercado popular e o mercado econômico eram também chamados de interesse social, e por isso, eram atendidos com recursos oriundos do FGTS (NALIN, 2013).

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cooperativa, contratação e execução das obras, até a mudança para a nova moradia.

Para Borges (2015, p. 89):

Em 1972, o BNH por meio do Instituto de Orientação às Cooperativas Habitacionais (INOCOOPs), definiu diretrizes e uma proposta metodológica do trabalho social em habitação, passando, a partir de então, a ser exigência nos programas financiados e executados por esse órgão. Essas diretrizes propunham a execução do trabalho em equipes constituídas com forte presença da interdisciplinaridade. Em relação à proposta metodológica pautou um trabalho social com caráter menos burocrático, orientado para a promoção do mutuário como cidadão com consciência de seus direitos e deveres e a importância de sua participação.

Durante a existência do BNH, havia nas Carteiras de Cooperativas Habitacionais

um departamento voltado para o Desenvolvimento Comunitário (DC), inicialmente sem

estrutura ou plano de ação. No 1º Encontro dos INOCOOP, realizado em 1972, houve

a sinalização do compromisso do BNH em dar suporte ao trabalho social desenvolvido

pelas equipes sociais. A partir deste momento, se inicia a estruturação de equipes, a

definição de diretrizes, a formulação de normativo e o arcabouço metodológico voltado

para o trabalho social em habitação. Em relação a este fato, segundo Borges (2015, p.

89): “Interessa salientar que essas orientações ocorreram dentro de um quadro político

repressivo. As mudanças na orientação do trabalho social introduzem a discussão de

direitos e deveres dos moradores das unidades habitacionais do BNH contrariamente

à perspectiva posta pela conjuntura política ditatorial”.

Em termos de metodologia, o trabalho social desenvolvido nos INOCOOP, previa

algumas fases que antecediam às obras e continuavam durante e posteriormente às

obras. Segundo Paz (2015), na fase anterior às obras eram realizados o

assessoramento e constituição das Cooperativas Habitacionais. Para a autora, essa

atividade era desenvolvida por profissionais da área jurídica e social e tinha como

objetivos discutir o cooperativismo, a legislação, as formas de ação para que os grupos

de interessados nos sindicatos visitados formassem as cooperativas habitacionais e,

assim, adquirissem sua casa própria de forma mais barata.

Paz (2015) esclarece que a partir da estruturação do trabalho social na década

de 70, foi criado o Subprograma de Desenvolvimento Comunitário (SUDEC), em 16 de

janeiro de 1975, através da Resolução de Diretoria 40/75, que institucionalizou o

trabalho social nacionalmente em todos os programas geridos e ofertados pelo BNH.

De acordo com Paz e Taboada (2010), o SUDEC encontrava-se no âmbito dos projetos

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e programas do setor de Estudos e Pesquisas/Treinamento e Assistência Técnica

(ESPES/TREINAT) e daí advinham os seus recursos.

No BNH houve a implantação do Programa de Desenvolvimento Comunitário

(PRODEC) que tinha como vistas o desenvolvimento do trabalho social e o incentivo à

organização, participação e ao desenvolvimento comunitário, por meio de ações que

contribuíam para a integração das famílias beneficiárias ao espaço urbano. Os recursos

para financiamento do trabalho social do PRODEC vinham de um valor embutido no

custo do Programa, que se constituiu em um “fundo rotativo”, especialmente criado em

setembro de 1980 e chamado de Fundo de Participação Comunitária (FPC), para os

programas e projetos ligados às COHABS. Em março de 1981, foi criado o Fundo

Comunitário de Programas Cooperativos (FCPC), através da Resolução BNH Nº

104/81, para os Programas e Projetos da Carteira de Habitação (PAZ, 2015).

O planejamento do trabalho social e a sua programação eram realizados nas

Companhias Habitacionais e nos Institutos de Orientação, aprovados e monitorados

pelo Banco, nas suas várias unidades descentralizadas. A experiência do SUDEC e,

posteriormente, do PRODEC, obteve um baixo nível de eficiência, através do fundo

rotativo. Mais tarde, com o fim do BNH, a Caixa Econômica Federal (CEF), sucessora

do Banco, manteve a sua execução até o ano de 1991 (PAZ, 2015).

Em relação às intervenções à população de baixa renda, durante a gestão do

BNH, houve algumas iniciativas desenhadas pelo banco para responder à questão do

acesso à terra e à moradia, cujo público alvo eram famílias com rendimento mensal de

até três salários mínimos, considerados programas4 alternativos, como o Programa de

Lotes Urbanizados (PROFILURB), Programa de Financiamento da Construção,

Aquisição ou Melhoria da Habitação de Interesse Social (FICAM); Programas de

Erradicação da Sub-habitação (PROMORAR) e João de Barro, bem como nos

Programas de Saneamento para População de Baixa Renda (PROSANEAR)

(SILVEIRA E MALPEZZI, 1991; SANTOS, 1999).

Estes programas visavam a obras de urbanização, melhorias nas habitações

pré-existentes, equipamentos urbanos, regularização de lotes e apoio a autoconstrução

e acompanhamento do trabalho técnico social, mas não tinham como prioridade a

4 O Programa de Erradicação de Sub-habitação (PROMORAR) foi criado em 1979. O Programa de

Financiamento de Lotes Urbanizados (PROFILURB) teve a sua instituição em 1975. Já o Programa João de Barro foi criado em 1984. Esses programas visavam a obras de urbanização, melhorias nas habitações pré-existentes, equipamentos urbanos, regularização de lotes e apoio à autoconstrução, mas não tinham como prioridade a produção de novas unidades habitacionais.

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produção de novas unidades habitacionais. De qualquer forma, os resultados desses

programas não foram significativos, em face da produção habitacional no período BNH.

De uma forma geral, apesar do caráter repressivo do regime militar e do

cerceamento do debate político, o trabalho social desenvolvido junto às famílias dos

mutuários do BNH tinha como objetivos a discussão dos direitos e deveres dos

cidadãos que adquiriam uma unidade habitacional, o acompanhamento da construção

dos conjuntos habitacionais, a preparação para a mudança, o apoio na organização da

nova comunidade, a capacitação para viver em condomínio (no caso de construções

verticalizadas), o apoio à organização e à constituição de associações de moradores,

assim como a discussão do uso e manutenção dos equipamentos comunitários e a

integração da comunidade entre si e com o entorno (PAZ e TABOADA, 2010).

No início dos anos 80, durante o governo do ex-presidente João Figueiredo

(1979-1985), o Brasil enfrentou um alto processo inflacionário que conduziu a uma

grave recessão econômica. O governo passou a adotar uma política contra a crise

econômica, com o objetivo de diminuir o processo inflacionário que chegou a 110% em

1980, 211% em 1983 e níveis superiores a 200% em 1984 (SILVA, 1989). O arrocho

salarial do trabalhador brasileiro, o aumento do índice de desemprego e o

empobrecimento da população marcaram este obscuro período.

Em 1984, dos 4,5 milhões de mutuários existentes do BNH, 1,1 milhões se

encontravam em atraso; desses, 30% já estavam em insolvência (mais de três parcelas

não pagas). Entre os inadimplentes, havia beneficiários que eram ex-moradores de

favelas e pessoas da classe média (SILVA, 1989). Como já mencionado e amplamente

retratado pela literatura (AZEVEDO, 1988; BONDUKI, 1998; VALENÇA, 2014), na

época da extinção do BNH (em 1986), o país encontrava-se em recessão econômica,

com alta inflação, desemprego, saques progressivos da poupança e do FGTS.

Consequentemente, diminuíram-se os recursos para investimentos, o que levou à

falência tanto do SFH quanto do BNH.

Nos anos do governo do ex-presidente José Sarney (1985-1990), o BNH

enfrentou uma grave crise institucional, apresentava baixo desempenho social, alto

nível de inadimplência, baixa liquidez do sistema e manifestações de protesto dos

mutuários. Apesar de várias tentativas para reverter o quadro deficitário, em 1986,

durante a presidência de José Sarney, as operações do BNH foram encerradas. Em

relação a este cenário, Valença (2014, p. 3) aponta que:

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O fechamento do BNH foi motivado pela grave crise do endividamento externo do início dos anos 1980, que afetou o fluxo de caixa das fontes de recursos do sistema, e pela inadimplência das COHABS, devido a intervenções políticas de governadores e prefeitos. Porém, era também importante, no contexto da redemocratização do país, livrá-lo de instituições emblemáticas das políticas “sociais” dos governos militares, sendo o BNH a mais importante delas. Estranhamente, o banco foi fechado, mas os ordenamentos do SFH, a causa de suas disfunções econômicas, não foram substancialmente alterados, passando a Caixa Econômica Federal a operar a política habitacional do país desde então.

A partir do Decreto Lei Nº 2.291, de 21 de novembro de 1986, o BNH passa a

ser incorporado à Caixa Econômica Federal, que herda todos os seus direitos e

obrigações, permanecendo a área de habitação vinculada ao Ministério do

Desenvolvimento Urbano e Meio Ambiente (MDU). Quanto a este último, sua

competência abrangia a política habitacional, o saneamento básico, o desenvolvimento

urbano e o meio ambiente, enquanto a Caixa Econômica Federal passava a ser

vinculada ao Ministério da Fazenda (MINISTÉRIO DAS CIDADES, 2006).

Ao longo da sua existência, o Banco realizou diversos projetos padronizados em

todo o país. Segundo Azevedo (1988), em termos quantitativos, os resultados do BNH

não foram totalmente insatisfatórios. Cardoso (2008, p. 3) revela que cerca de “4,5

milhões de unidades habitacionais foram construídas, com 48,8% do total destinadas

aos setores médios, e 33,5% formalmente destinadas aos setores populares”.

Além de insuficientes e inadequados em relação à demanda que se propunham

a atender, os programas populares financiados pelo BNH caracterizaram-se pela

construção de enormes conjuntos nas periferias das grandes cidades ou em áreas

rurais, não dotadas de infraestrutura mínima, na tentativa de viabilizar soluções de mais

baixo custo. Sobre isso, Maricato (1987, p. 45) indica que:

É surpreendente que experiências tenham sido levadas a cabo de norte a sul do Brasil e só depois de muitos fracassos, que resultaram em custos sociais muito altos, as autoridades responsáveis começaram a reconhecer a inviabilidade do BNH, de servir à população de renda mais baixa, mantendo as regras do jogo.

Porém, Cardoso (2008) esclarece que os conjuntos habitacionais da época do

BNH não consideravam as particularidades regionais e não atendiam à população de

mais baixa renda (entre 0 e 3 salários mínimos). Além disso, conforme o autor, o

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crescimento das periferias é apontado como consequência do fracasso e da ineficácia

das ações do BNH.

2.2 Trabalho Social em Habitação no Período Pós-redemocratização

(1985 - 1999).

No final da década de 80, com a crise do SFH e a extinção do BNH, segundo

Cardoso (2008), o país encontrava-se em um processo de mudanças do regime militar

para o democrático. Após 21 anos de repressão, o regime ditatorial acabou quando

José Sarney assumiu a presidência (em um governo transitório), o que deu início ao

período conhecido como Nova República que culminou com a promulgação da

Constituição Federal de 1988 (CF/88), restituindo as bases democráticas do país.

Nos anos seguintes, observou-se uma desestruturação da política habitacional,

não sendo introduzidos novos mecanismos de financiamento para a habitação popular,

trazendo insegurança para o poder público e o mercado. Rolnik (2015, p. 286) relata

que:

A paralisação do sistema armado pelo BNH, assim como o período de recessão e estagnação econômica dos anos 1980, representou uma retração da atividade imobiliária e do financiamento habitacional. Esse cenário só começa a mudar a partir de meados dos anos 1990, quando reformas tanto no modelo de regulação do crédito habitacional quanto na estrutura e composição do capital das empresas envolvidas no mercado imobiliários residencial passam a

ser implementadas.

Durante a década de 80, através de uma desarticulação progressiva e

fragmentação institucional, houve uma perda da capacidade decisória e redução

significativa dos recursos federais para a área habitacional (CARDOSO, 2008). Assim,

durante os anos que vão da extinção do BNH até 1995 (quando tem início uma

reestruturação mais consistente do setor), a política habitacional foi direcionada para

vários órgãos que se sucederam ao longo do período, sem alcançar resultados

positivos no enfrentamento das principais problemáticas habitacionais (ARRETCHE,

1996).

No Brasil, os movimentos sociais urbanos que lutavam pelo direito à moradia,

regularização fundiária, saúde e saneamento básico se organizaram ainda no regime

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militar, durante a década de 1970, tendo os setores progressistas da igreja católica um

forte papel na condução deste processo. Nos anos seguintes, os movimentos sociais

no campo da moradia da década de 1980 articularam-se com outras organizações da

sociedade (sindicatos, universidades, organizações não governamentais), em um

cenário de reorganização da sociedade civil e ampliaram a luta do direito à moradia

para o direito à cidade, constituindo-se uma rede de reforma urbana aglutinada no

Fórum Nacional de Reforma Urbana (FNRU).

As organizações envolvidas com o Movimento Nacional de Reforma Urbana

(MNRU) constituíram o Fórum Nacional de Reforma Urbana. Inicialmente, o Fórum

continha três principais objetivos, sendo eles: a incorporação do direito à moradia na

CF/88, a aprovação de uma lei federal que regulamentasse os capítulos constitucionais

da política urbana e, por último, a aprovação do Fundo Nacional de Habitação de

Interesse Social (FNHIS). Ao mesmo tempo, o FNRU também reivindicou a criação pelo

governo federal de um aparato institucional adequado, em nível nacional, que tornasse

o planejamento e a política urbana no país como política de Estado.

Neste período, as inúmeras conferências internacionais e nacionais

influenciaram os Assistentes Sociais que implementavam o trabalho social em

habitação a participarem do MNRU e do FNRU. Os técnicos sociais passaram a

assessorar diversos movimentos locais, por meio de organizações não

governamentais, somando-se a outras categorias profissionais e movimentos sociais

na defesa à moradia digna (NALIN, 2013).

De acordo com Paz e Taboada (2010), a atuação das equipes técnicas sociais

envolvidas em projetos habitacionais passou a ter como eixo central o apoio às

reivindicações e à organização popular das famílias. A ação destes profissionais, que

atuavam na execução das políticas públicas habitacionais, incentivava a organização

de comissões de moradores, de grupos de mulheres que reivindicavam creches e

equipamentos públicos, de movimentos de resistência e ocupação de áreas públicas e

privadas. Os movimentos de moradia passam a identificar os técnicos sociais como

aliados de suas lutas, em um contexto mais amplo de lutas pela redemocratização do

país.

As políticas neoliberais adotadas em vários países da América Latina,

especialmente no Brasil, a partir da década de 1980, agravaram o cenário de crise

habitacional e urbana, decorrente da redução de gastos nas políticas sociais e do

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desemprego em massa. Durante os anos de 1980 e 1990, os problemas de moradia

tornavam-se ainda mais dramáticos, agravados pela crise econômica e pelo

empobrecimento da população que marcaram estas décadas (VALENÇA, 2001).

A drástica limitação da oferta de recursos federais para programas habitacionais

e urbanos, diversos municípios e estados encontraram alternativas para solucionar os

problemas de financiamento utilizando recursos orçamentários próprios e assumindo

contratos de financiamento junto a organismos internacionais (BRASIL, 2010). Sobre

este fato, Ferreira (2015, p. 71) revela que:

Deu-se início, então, a um esforço direcionado para a redução do déficit qualitativo sobretudo nas metrópoles brasileiras. Nesse período, as agências multilaterais de fomento, a exemplo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BIRD) e do Banco Mundial (BID), financiaram diversos programas e projetos de urbanização de assentamentos precários e de desenvolvimento institucional em várias cidades brasileiras, a exemplo do Habitar Brasil/BID e do PAT-Prosanear. Mesmo assim, apesar de limitações financeiras e institucionais, os municípios começaram a atuar de maneira mais ativa no processo de planejamento e gestão da política habitacional.

Agências multilaterais tornaram-se parceiras nesta nova fase de intervenções

sobre as questões de moradia no Brasil. O Banco Mundial, o Banco Interamericano de

Desenvolvimento (BID), Banco Mundial, a União Europeia e a Cities Alliance

influenciaram na formatação desses programas, com diretrizes para recuperação de

custos, redução da remoção de famílias, participação da população, adoção de

instrumentos de monitoramento e avaliação, critérios de sustentabilidade ambiental e

exigência de regularização fundiária dos assentamentos (BRASIL, 2010). Neste

período, o trabalho social passou a ser um elemento importante nas intervenções

públicas de urbanização de favelas, saneamento e construção de novas unidades

habitacionais.

Nos anos que se seguem à gestão de Itamar Franco (1993-1994) foram

instituídos dois programas habitacionais destinados à população de baixa renda: o

Programa Habitar Brasil (1994), onde o trabalho social passa a ser admitido como

contrapartida dos estados e municípios e o Programa Morar-Município, alimentados

com os recursos do Orçamento Geral da União (OGU).

Ao final da primeira gestão FHC, a partir de 1999, foi criado do Programa Habitar

Brasil/BID que tinha o intuito de elevar a capacidade dos governos municipais em

solucionar os problemas urbanos, principalmente na condução de melhorias de

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assentamentos precários, o qual era destinado a famílias de até três salários mínimos,

além de seguir rigorosas exigências impostas pelo BID, incluindo a realização do

trabalho social através de um projeto específico denominado Trabalho de Participação

Comunitária (TPC).

Segundo Marchi (2004), nos programas habitacionais financiados por

empréstimos internacionais do BID, a participação social passou a ser exigidos como

garantia de eficácia e efetividade da aplicação dos recursos. Para atender as exigências

do Banco, o Conselho curador do FGTS aprovou a inserção do trabalho social como

item obrigatório e de investimento nos programas. Desta forma, a CEF passou a contar

com uma equipe técnica social, composta por profissionais de nível superior, com

habilitações específicas e comprovada experiência em Projetos de Mobilização e

Organização Comunitária (MARCHI, 2004; CERVELIN, 2006). Para Cervelin (2006, p.

41):

A partir dessa exigência, em 1996, a CAIXA passa a contar com o cargo de Técnico Social em seu quadro técnico, que teve por atribuição básica realizar as atividades sociais especializadas, decorrentes da implementação de projetos de participação comunitária, que deveriam ser ocupados por funcionários de carreira, com formação superior em Serviço Social, Psicologia, Sociologia ou Pedagogia.

O Programa Habitar Brasil/BID foi inovador para o trabalho social, pois

apresentava uma série de requisitos novos para a sua implementação. De acordo com

Paz (2016), o programa previa que fossem realizados diagnósticos com o intuito de

reconhecer a realidade com dados primários, assim como o consentimento das famílias

aos projetos, tendo que ser assinado um termo de adesão e compromisso de pelo

menos 80% da população alvo.

Além do TPC, o Programa previa o desenvolvimento de diagnósticos que

incluíssem objetivos, cronogramas de atividades e de desembolso de recursos,

metodologias e prazos claramente definidos. Havia também a exigência de um plano

de reassentamento da população, explicitado, debatido e aprovado pelas famílias, e a

comprovação da existência de cadastro das famílias para impedir que fossem

contempladas mais de uma vez.

Segundo Paz (2015), foi a partir deste programa que se exigiu pela primeira vez

a existência de um profissional de Serviço Social ou de Sociologia, com experiência

profissional comprovada, para responder tecnicamente pelos projetos. No caso de

terceirização do trabalho social, as empresas deveriam ser especializadas na área.

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O Habitar Brasil/BID previa que, no desenvolvimento do trabalho técnico social,

as ações deveriam ser norteadas pelos eixos de: a) Mobilização e Organização

Comunitária (MOC); b) Educação Ambiental e Sanitária (ESA); e c) Geração de

Trabalho e Renda (GER). O foco do trabalho social passou a incluir a temática

ambiental e a sustentabilidade através de metodologias que foram trabalhadas com as

famílias beneficiarias do Habitar Brasil/BID. Além disso, durante esta fase, inicia-se a

discussão de programas de geração de trabalho e renda e projetos de educação

ambiental associados ao trabalho social na habitação de interesse social.

Para Paz e Taboada (2010), a discussão destes temas inclusos no trabalho

social passa ser uma preocupação não somente dos Assistentes Sociais, mas de um

grupo de técnicos constituído por profissionais de várias formações (Urbanistas,

Arquitetos, Psicólogos, Assistentes Sociais, Economistas e Sociólogos). Eles sabiam

que as mudanças advindas da urbanização das favelas traziam uma elevação dos

gastos das famílias, que necessitavam de estímulo e apoio para fazer frente a esses

novos gastos e, assim, permanecer no novo território e na nova moradia.

Os monitoramentos dos projetos de urbanização do Programa HBB/BID eram

realizados trimestralmente através da elaboração dos relatórios trimestrais, que eram

encaminhados para a CEF, onde eram transformados nos relatórios de

acompanhamento semestrais enviados ao BID (PAZ, 2015). Para Pimentel (2012, p.

12):

O BID, através do Subprograma de Urbanização de Assentamentos Subnormais, estabeleceu um modelo para o trabalho social, então chamado de “Participação Comunitária”. Este modelo passou a ser adotado nas ações ligadas à urbanização de favelas e dos chamados assentamentos subnormais em vários municípios brasileiros.

A CEF tinha como responsabilidade o monitoramento do trabalho social

executado pelas Prefeituras e empresas terceirizadas (consultorias), pois recebia

mensalmente os relatórios de medição que ensejava a liberação de recursos para

pagamento das atividades realizadas. De acordo com Paz (2015, p, 34):

Também foi neste Programa que se orientou pela primeira vez, a não liberação de recursos de obras se o trabalho social não fosse executado. Durante o processo de sua implementação, o HBB produziu uma discussão nacional sobre Avaliação do Programa, com participação da academia, Prefeituras, Estados e Caixa, que resultou numa Matriz de Indicadores de valor inestimável e que foi utilizada pela maioria dos 119 projetos contratados.

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Com o lançamento do PAC, em 2007, os projetos do HBB que ainda estavam

em execução e que não haviam sido concluídos foram redirecionados para os Projetos

Prioritários de Investimentos (PPI), do PAC. Assim, os proponentes conseguiriam obter

recursos para sua conclusão, pois as regras e normativos continuavam sendo as do

regulamento operacional do programa e de seus manuais. Oficialmente, o HBB foi

encerrado em 2008, quando se realizou em Brasília um seminário de avaliação e de

encerramento do Programa, conforme previsto no acordo de empréstimo do BID.

Durante a gestão do presidente Fernando Henrique Cardoso (FHC), podemos

ressaltar dois principais programas habitacionais, sendo eles: o Pró-Moradia e o

Programa de Arrendamento Residencial (PAR). O Programa Pró-Moradia, que

concedia financiamento aos governos estaduais e municipais, objetivava a produção

de moradia para a população com renda até três salários mínimos. No Programa Pró-

Moradia, o trabalho social estava entre as exigências de enquadramento dos

municípios. De acordo com Cardoso e Aragão (2013, p. 24):

Entre 1994 e 2002, a ocorrência de crises financeiras internacionais que atingiram a economia brasileira levou o governo federal à adoção de medidas de austeridade fiscal, seguindo as prescrições do Fundo Monetário Internacional, incluindo-se aí a limitação ao endividamento do setor público. Isso teve como consequência forte restrição dos empréstimos do FGTS para a produção de moradias por estados e municípios, o que levou à redução quase absoluta dos financiamentos previstos no Programa Pró-Moradia, que se delineava, até 1997, como o principal programa para apoio à atuação dos governos locais no setor habitacional.

Já o Programa de Arrendamento Residencial era constituído como uma forma

distinta de acesso à moradia, por meio de arrendamento, ou leasing. Através do PAR,

o imóvel, que faz parte do patrimônio do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR),

permanece sob a “propriedade fiduciária” da Caixa Econômica Federal, que é a gestora

do fundo e representa o arrendador ativa e passivamente.

Assim, a propriedade do imóvel é do FAR, enquanto o arrendatário paga uma

taxa de arrendamento mensal, por um período de 15 anos, quando poderá obter o

direito de optar pela aquisição do imóvel, mediante o pagamento ou o financiamento do

saldo devedor, se houver. O PAR era destinado apenas àquela população com renda

mensal até seis salários mínimos, podendo chegar a oito salários, para pessoas ligadas

à atividade da segurança pública (segmento conhecido como PAR 1).

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O PAR, como muitos outros programas no passado, visava, no seu início, atender a uma população de renda mais baixa (até 6 salários mínimos) e tem por meta construir 200.000 unidades habitacionais, nas regiões metropolitanas, onde o problema é mais concentrado. Uma exigência do programa é que as áreas beneficiadas já sejam servidas por infraestrutura básica, o que força as Prefeituras a implementarem a infraestrutura antes da construção das unidades habitacionais. Tal exigência, porém, beneficia as Prefeituras mais ricas (VALENÇA, 2001, p.40).

O trabalho social realizado no PAR tinha como foco a gestão condominial e

patrimonial, uma vez que os seus empreendimentos eram de propriedade da CEF.

A inovação era o que o governo federal passava a incluir nos custos do empreendimento a ser contratado, recursos para o desenvolvimento do trabalho social, sendo que parte destes recursos era a fundo perdido, ou seja, a custo zero, para os municípios e estados. O limitador neste caso estava na dependência de aprovação dos recursos através de emendas parlamentares. O Governo Federal também ofertava, através de empréstimo de recursos do FGTS, o Programa Pró-Moradia, onde o trabalho social estava entre as exigências de enquadramento. Neste caso, o limitador era a capacidade de endividamento de estados e municípios (PAZ, 2015, p. 31).

Nos anos 2000, as Prefeituras municipais tinham muitas dificuldades em efetivar

o trabalho social e permitir aos técnicos da CEF o acompanhamento regular, da mesma

forma que era feito o acompanhamento das obras. Diante desta situação, foi

incorporado aos itens de investimentos dos projetos de desenvolvimento urbano um

valor especifico para o trabalho social.

Diante deste cenário, o fato é que a política habitacional brasileira ficou relegada

a programas pontuais, não solucionando o grande déficit habitacional e o alto índice de

favelização das cidades brasileiras. Como indica Valença (2001), o conjunto de ações

desenvolvidas durante a os governos de Figueiredo, Sarney, Collor, Itamar Franco e

FHC não resolveram os problemas habitacionais da população mais empobrecida do

país, as intervenções estatais, ao longo da história, atenuaram o quadro de

desigualdades sociais e de exclusão social da população mais carente ao acesso à

terra urbana e à moradia digna.

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2.3 Trabalho Social e o Ministério das Cidades (2003): Metodologias

e Diretrizes.

A partir do governo do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, percebe-se uma

nova articulação das políticas de desenvolvimento urbano com as políticas públicas

habitacionais brasileiras, principalmente com a criação de um Ministério das Cidades,

em 2003.

Com a criação do Ministério das Cidades foi possível vislumbrar um cenário

diferente como lançamento da Política Nacional de Habitação (PNH), em 2004,

regulamentada pela Lei Nº 11.124/2005, o que possibilitou a criação do Conselho das

Cidades, do Sistema Nacional de Habitação de Interesse Social (SNHIS) e do Fundo

Nacional de Habitação de Interesse Social (FNHIS). A nova institucionalidade da

política habitacional é considerada uma grande conquista, pois o seu projeto de lei foi

resultado de uma ampla mobilização nacional por parte dos movimentos sociais que

lutam pelo direito à moradia nos anos 80 e 90.

Com a PNH, ampliou-se a concepção e o reconhecimento da importância do

trabalho social, tendo a sua exigência estendida para todos os projetos de habitação

de interesse social e para os demais programas do Ministério das Cidades que

possuem recursos a fundo perdido da União e naqueles obtidos através de

empréstimos a estados e municípios (PAZ, 2015).

A partir de então, as orientações, normativas e diretrizes para o trabalho social

vêm sendo desenvolvidas pelo Ministério das Cidades e pela Caixa Econômica Federal

para os mais diferentes programas e projetos de habitação de interesse social, onde se

destacam: o respeito às conquistas importantes dos movimentos sociais de moradia,

como o direito das famílias em permanecerem na área ocupada, minimizando ao

máximo o número de famílias a serem removidas, a necessária infraestrutura urbana e

a participação durante a execução do empreendimento.

Com as intervenções das políticas públicas de desenvolvimento urbano

implementadas nos últimos anos no país, principalmente as relacionadas com o

Programa de Saneamento Ambiental Integrado, o PAC e o PMCMV, aumenta-se a

importância da efetivação do trabalho social. Em suma, são ações fundamentais a

serem realizadas com as famílias beneficiárias das políticas públicas do Ministério das

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Cidades. Este tipo de trabalho envolve uma diversidade de atividades, que vão desde

o processo de preparação das famílias para as intervenções das obras físicas até o

processo de pós-ocupação das novas moradias.

Com a implementação de diversas políticas públicas, em 2009, o Ministério das

Cidades regulamentou o trabalho social em projetos de intervenções urbanísticas e

habitacionais, estabelecendo normas gerais para a sua implementação nos municípios,

através da Instrução Normativa Nº 08, de 26 de março de 2009. Deste modo, as

orientações para o trabalho social eram aplicadas aos programas de provisão

habitacional5 e de intervenções de urbanização e reassentamento de favelas6. Segundo

o trabalho social define-se como:

Um conjunto de ações que visam promover a autonomia, o protagonismo social e o desenvolvimento da população beneficiária, de forma a favorecer a sustentabilidade do empreendimento, mediante a abordagem dos seguintes temas: mobilização e organização comunitária, educação sanitária e ambiental, e geração de trabalho e renda (BRASIL, 2009b, p. 03)

A partir da análise da Instrução Normativa Nº 08/2009, Paz (2015) afirma que as

regras para contratação e execução do trabalho social pelos agentes públicos foram

baseadas em conceitos, metodologias e eixos de atuação definidos anteriormente pelo

Manual do Trabalho Social do Programa HBB/BID. Para a autora, com a criação da

Instrução Normativa Nº 08/2009, não houve uma preocupação do Ministério das

Cidades em formular uma nova metodologia do trabalho social para os Programas do

PAC e PMCMV.

Assim, os conceitos e metodologias apresentados pela Instrução Normativa N°

08/2009 se revelaram inadequadas ou insuficientes, tendo em vista que as

5As orientações normativas para a implementação do trabalho social em intervenções de provisão

habitacional, que constam no anexo I, aplicam-se às seguintes ações: a) Programa Habitação de Interesse Social – Ação Apoio à Provisão Habitacional de Interesse Social, do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social - HIS/FNHIS; b) Programa de Atendimento Habitacional através do Poder Público – PRÓ-MORADIA – Modalidade Produção de Conjuntos Habitacionais (BRASIL, 2009b, p. 03).

6Segundo a Instrução normativa Nº 08, de 26 de março de 2009, o Trabalho Social era obrigatório,

principalmente nas intervenções de urbanização de assentamentos precários, dos seguintes Programas: a) Programa Urbanização Regularização e Integração de Assentamentos Precários; Projetos Prioritários de Investimentos (PPI); b) Empreendimentos de Saneamento Integrado em Assentamentos Precários em municípios de Regiões Metropolitanas, de Regiões Integradas de Desenvolvimento Econômico ou Municípios com mais de 150 mil habitantes; c) Programa de Apoio à Melhoria das Condições de Habitabilidade de Assentamentos Precários, do Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social - UAP/FNHIS; d) Programa de Atendimento Habitacional através do Poder Público – PRÓ-MORADIA – Modalidade Urbanização de Assentamentos Precários; e e) Projetos Multissetoriais Integrados – PMI (BRASIL, 2009b, p. 01-02).

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características dos projetos, especialmente o PAC, são distintas do HBB/BID,

principalmente em relação à sua escala, tipologias de intervenções urbanas e aos

volumes de recursos envolvidos. Assim, Paz (2015, p. 40) revela que, “as orientações

para o trabalho social construídas no HBB atendiam ao escopo de um programa para

áreas menores e também para um universo menor de famílias".

O trabalho social passa a trazer novos desafios com a implementação de

grandes obras do PAC e do PMCMV. Nesse cenário, as referências normativas e

metodológicas divergem da nova realidade apresentada por tais políticas públicas. De

acordo com PAZ (2016), as concepções, as metodologias e os instrumentos de atuação

do trabalho social para grandes projetos habitacionais e/ou intervenções urbanas

deveriam ter sido revistos em função destas novas realidades das políticas de

desenvolvimento urbano do país.

Diante destas lacunas da instrução normativa N° 08/2009, em 2014, como

resposta aos novos desafios das políticas de desenvolvimento urbano, o Ministério das

Cidades ampliou as diretrizes e modificou a metodologia para a implementação do

trabalho social ao lançar a Portaria Nº 021/2014. Com o novo manual de instruções

para o trabalho social, o Ministério das Cidades mudou as principais orientações para

a execução do trabalho social nos programas PMCMV, PAC e Saneamento Integrado.

Desta forma, o Ministério das Cidades (2014), através da Portaria Nº 021/2014,

modificou o conceito de trabalho social e estabeleceu que:

O Trabalho Social compreende um conjunto de estratégias, processos e ações, realizado a partir de estudos diagnósticos integrados e participativos do território, compreendendo as dimensões: social, econômica, produtiva, ambiental e político-institucional do território e da população beneficiária, além das características da intervenção, visando promover o exercício da participação e a inserção social dessas famílias, em articulação com as demais políticas públicas, contribuindo para a melhoria da sua qualidade de vida e para a sustentabilidade dos bens, equipamentos e serviços implantados. (BRASIL, 2014, p. 5).

Com as novas diretrizes do trabalho social (BRASIL, 2014), todas as ações são

voltadas para os novos eixos7de: a) Mobilização, Organização e Fortalecimento Social;

7Segundo a Portaria 021/2014 do Ministério das Cidades, os eixos do trabalho social são referentes a:

a) “Mobilização, organização e fortalecimento social – prevê processos de informação, mobilização, organização e capacitação da população beneficiária visando a promover a autonomia e o protagonismo social, bem como o fortalecimento, a constituição e a formalização de novas representações e novos canais de participação e controle social.

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b) Acompanhamento e Gestão Social da Intervenção; c) Educação Ambiental e

Patrimonial; e d) Desenvolvimento Socioeconômico). Assim, o trabalho social passa a

ter como objetivo a promoção “da participação social, a melhoria das condições de vida,

a efetivação dos direitos sociais dos beneficiários e a sustentabilidade da intervenção”

(BRASIL, 2014, p. 5).

As diretrizes do trabalho social orientam que as intervenções devem levar em

consideração, na elaboração e desenvolvimento do Projeto de Trabalho Social (PTS),

as recomendações da Política Nacional de Habitação. Neste sentindo, Paz e Taboada

(2010, p. 71) dimensionam que:

As intervenções públicas na área de habitação devem ser acompanhadas por um trabalho social sistemático e que objetive a promoção da inclusão social, do acesso à cidade e aos serviços públicos, e que estimule a participação cidadã. Os processos e ações implementados pela via do trabalho social que dão ancoragem e direção a programas de enfrentamento à desigualdade social e sustentabilidade dos programas de Habitação de Interesse Social (HIS).

Em relação à implementação do trabalho social firmado no âmbito do PMCMV,

com recursos com Fundo de Arrendamento Residencial (FAR) para municípios com

população acima de 50 (cinquenta) mil habitantes, o manual de instruções estabelece

os papeis de todos os atores envolvidos na execução do trabalho social. Esses papeis

podem ser descritos através da interação entre seis grandes atores: 1) Ministério das

Cidades; 2) governos estaduais e/ou municipais; 3) Caixa Econômica Federal; 4)

instituição financeira que funciona como gestora dos recursos do Governo Federal; 5)

Equipes técnicas sociais (formadas normalmente por Assistentes Sociais, Psicólogos,

Pedagogos e Educadores Ambientais); 6) empresas terceirizadas responsáveis pela

b) Acompanhamento e gestão social da intervenção – visa a promover a gestão das ações sociais necessárias para a identificação, encaminhamento e solução de problemas construtivos ou de manutenção referentes ao empreendimento, em articulação com a construtora, os Entes Públicos e as concessionárias de acordo com as respectivas competências.

c) Educação ambiental e patrimonial – visa a promover mudanças de atitude em relação ao meio ambiente, ao patrimônio e à vida saudável, fortalecendo a percepção crítica da população sobre os aspectos que influenciam sua qualidade de vida, além de refletir sobre os fatores sociais, políticos, culturais e econômicos que determinam sua realidade, tornando possível alcançar a sustentabilidade ambiental e social da intervenção.

d) Desenvolvimento Socioeconômico – objetiva a articulação de políticas públicas, o apoio e a implementação de iniciativas de geração de trabalho e renda, visando à inclusão produtiva, econômica e social, de forma a promover o incremento da renda familiar e a melhoria da qualidade de vida da população, fomentando condições para um processo de desenvolvimento socioterritorial de médio e longo prazo”.

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execução do trabalho social, representantes do setor privado; e 7) beneficiários. Desta

forma, para Pimentel (2012, p. 148), os atores envolvidos no trabalho social são:

O ente público, aquele que contrata o programa a ser executado, em geral administração municipal; a Caixa Econômica Federal, agente operacional financeiro dos programas; o corpo técnico de profissionais que executam o trabalho social, sendo dividido por aqueles que atuam na gestão e gerenciamento dos projetos sociais (Assistentes Sociais, Sociólogos, em grande parte, historiadores e psicólogos, em número menor) profissionais com formação única especializada e de nível superior, e aqueles que estarão na linha de frente da execução – que compreende os profissionais acima citados e também os agentes comunitários, educadores, oficineiros etc.; população alvo do trabalho social; e as empresas que possam vir a ser contratada para a realização do Trabalho Social.

Um ator bastante importante na condução do trabalho social é a Caixa

Econômica Federal, como um órgão financeiro e agente operador do Programa. A CEF

possui as atribuições de analisar, acompanhar, avaliar e atestar a execução do trabalho

social nos empreendimentos do PMCMV. No entanto, um elemento bastante

controverso é o de que a CEF, como gestor dos recursos federais, associa o controle

do desenvolvimento do trabalho social com metas e rotinas e burocracias típicas de um

banco, ocasionando uma série de divergências no processo de execução do trabalho

social. Para Cardoso et al (2015, p. 99):

[...] o TTS passa a ser igualado e ‘medido’ temporal e metodologicamente de acordo com as intervenções físicas, como se fosse uma ‘obra’. Essa metodologia pressupõe que as fases do Trabalho Técnico Social sigam uma linearidade, que, na prática, não existe.

Em termos de planejamento, anteriormente, a responsabilidade técnica da

execução do trabalho social dos projetos habitacionais era atribuída a um profissional

do Serviço Social ou Ciências Sociais. Com a Portaria N° 21/2014, houve uma

redefinição neste quesito, sendo que o coordenador e/ou responsável técnico deverá

“preferencialmente” ser formado em Serviço Social ou Sociologia, mas abrindo a

possibilidade para qualquer outra profissão de nível superior, desde que tenha

experiência em ações socioeducativas em intervenções de saneamento e de habitação

(PAZ, 2015).

Assim, as fases de planejamento, implementação e avaliação do

empreendimento, em especial, na elaboração dos Projetos de Trabalho Social, deverá

incluir diagnósticos sociourbanísticos, construção de relatórios de demanda por

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equipamentos e serviços públicos e urbanos, além da matriz de responsabilidades.

Deverá, ainda, ocorrer de forma integrada com todos os atores envolvidos com o TS,

inclusive as famílias beneficiárias. Para o Ministério das Cidades e a CEF, o

planejamento do trabalho social deverá acontecer em três etapas, constituídas, no

mínimo, por:

Quadro 1: Etapas, Instrumentos de Planejamento e Atividades do Trabalho Social.

Fases 1. Pós-

assinatura do Convênio TS

2. Pré-contratual com o

Beneficiário

3. Pós–contratual com o beneficiário/Pós-obra

Marcos

Temporais

Da assinatura do

convênio TS até a

entrega do PTS à

IF, com duração até

12 meses ou até a

obra atingir 65% de

execução.

Da aprovação do

PTS pela IF até a

assinatura do

contrato com o

beneficiário, devendo

ser iniciado 8 meses

antes da mudança

das famílias.

A partir da mudança das

famílias com duração até

12 meses

Instrumento de

Planejamento

PTS-P PTS PDST

Atividades

-Cadastro, seleção

E hierarquização da

demanda.

-Elaboração e

aprovação do PTS.

-Desenvolvimento

das

ações/atividades.

-Elaboração e

aprovação do PDST.

-Execução das

ações/atividades descritas

no PDST.

Fonte: Ministério das Cidades, Portaria 021/2014.

A partir da fase de planejamento do trabalho social, acompanhado pelo agente

operador financeiro (CEF ou BB), a opção metodológica, a escolha do instrumental, as

estratégias e as técnicas a serem utilizadas para a implementação do trabalho social é

da competência dos estados e municípios, que deverão levar em conta, além dos

aspectos técnicos e o tipo de intervenção, as peculiaridades culturais, sociais,

econômicas e ambientais, identificadas a partir da caracterização e diagnóstico da área

de intervenção e dos beneficiários e do diagnóstico socioterritorial da macro área de

intervenção (BRASIL, 2014).

Porém, em muitos Projetos de Trabalho Social do PMCMV existe um

descompasso entre a realidade identificada nos diagnósticos socioterritoriais e as

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ações desenvolvidas pelo TS. Em muitas ocasiões, a formulação dos projetos não leva

em consideração a participação das famílias, bem como as principais questões sociais

e as características dos territórios que serão alvo de intervenção. Percebe-se que existe

uma padronização dos projetos sociais do PMCMV, ou seja, em muitas situações os

estados e os municípios utilizam o mesmo PTS (apenas mudando algumas

informações) em todos os empreendimentos do PMCMV. O trabalho social é visto

apenas como uma etapa obrigatória de cumprimento dos prazos junto à Caixa

Econômica Federal e ao Ministério das Cidades, para não ocasionar a suspensão junto

ao FAR.

Em relação à composição de custo do trabalho social, os recursos financeiros

para sua execução são repassados para os entes públicos, mediante formalização de

convênio entre o poder público executor e a instituição financeira responsável pela

contratação do empreendimento, logo após a aprovação do Projeto de Trabalho Social

– Preliminar (PTS-P).

Assim, os recursos do FAR para a execução do Projeto de Trabalho Social

correspondem a 1,5% do valor da obra dos empreendimentos tanto na forma de

condomínio (verticalizados ou horizontais) como para os empreendimentos na forma

de loteamento de casas. O valor de aquisição da unidade habitacional é exclusivamente

proveniente do FAR. Os recursos do trabalho social são liberados após a aprovação

dos relatórios pelo agente operador financeiro (CEF ou BB), em conformidade com as

metas e cronogramas do PTS-P, PTS e PDST (BRASIL, 2014).

Com a destinação de recursos específicos para o trabalho social, podemos

observar um grande avanço nos normativos que sustentam a definição de que ele é um

componente necessário da Política Nacional de Habitação. A implementação do

trabalho social, atualmente, conforme a Portaria 021/2014, deve ser executada

diretamente ou de forma mista, ou seja, o trabalho social poderá ser implementado por

empresas terceirizadas, o que em muitas situações abre caminho para a precarização

nas formas de contratação profissional dos técnicos sociais.

Quando o Projeto de Trabalho Social prevê a forma mista de execução do TS, a

equipe técnica deve ser integrada, ao menos parcialmente, por servidores do quadro

do estado ou município, sendo vedada a possibilidade de adoção de regime de

execução do trabalho social exclusivamente indireto. No entanto, em alguns casos de

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excepcionalidade, essa ação é possível desde que seja comprovada a necessidade de

total terceirização dos serviços ao Ministério das Cidades.

Nas situações em que o estado ou município optar por terceirizar as suas

atividades, a empresa/instituição contratada deverá ter reconhecida experiência na

temática e ser contratada por meio de processo licitatório específico, distinto do

utilizado para a contratação das obras (BRASIL, 2014). Em muitas Prefeituras, observa-

se que as licitações do trabalho social admitem a contratação de consórcio de

empresas, fundações e Organizações Não Governamentais (ONGs) para a execução

do trabalho social.

Como amplamente relatado pela literatura (ROLNIK e NAKANO, 2009;

CARDOSO e ARAGÃO, 2013; MARICATO, 2014), em um primeiro momento, a

formulação do PMCMV fez parte de um grande pacote de medidas econômicas que

visava a impulsionar a economia a partir de inúmeros setores envolvidos com a cadeia

produtiva da construção civil. Além dessa cadeia produtiva, o PMCMV oportunizou a

promoção de um nicho de mercado para as empresas de consultorias de execução do

trabalho social. Com a possibilidade de contratar empesas terceirizadas para a

execução do trabalho social, o desenho institucional adotado pelo Programa favorece

uma lógica econômica, onde as empresas buscam ao máximo a racionalização das

ações do trabalho social, além de reduzir custos, com vistas à obtenção do lucro e,

consequentemente, afetando a qualidade e a efetividade das ações oferecidas pelo TS.

Como o Ministério das Cidades define um teto para o financiamento dos PTS, as

empresas terceirizadas criam estratégias de maximização de seus ganhos. Ou seja,

em muitos municípios em que o trabalho social do PMCMV é terceirizado, as empresas

contratadas solicitam a reprogramação dos Projetos de Trabalho Social à CEF, a fim

de modificar as atividades, as metodologias, diminuir a quantidade de profissionais das

equipes sociais e o tempo de execução do trabalho social pós-ocupacional. Paz (2015,

p. 46) alerta que “o volume de recursos (1,5% sobre o valor da obra) gera disputas entre

os diversos agentes e merece um olhar detalhado sobre a qualidade dos serviços por

Estados”. Para além da ideia de desenvolvimento da cidadania, o trabalho social do

PMCMV veio responder às necessidades “econômicas” imediatas das empresas de

consultoria do trabalho social.

No que se refere ao monitoramento e avaliação, a instituição financeira possui

um papel importante nesta fase. Por meio de relatórios de atividades apresentados pelo

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ente público, o agente operador financeiro avalia todas as atividades constantes no

PTS aprovado de acordo com a fase a que se refere, sendo, neste caso, justificadas as

atividades previstas e não realizadas, quando for o caso.

Os referidos relatórios são instrumentos pelos quais são apresentadas as

medições das atividades/ações desenvolvidas no trabalho social e que ensejam o

desbloqueio de recursos financeiros para pagamento pela instituição financeira ao

proponente do projeto. No entanto, o fato de serem feitos relatórios mensais do trabalho

social desenvolvido não comprova a efetividade das ações. Os relatórios de

acompanhamento do trabalho social são mais um mecanismo de comprovação da

eficácia do cumprimento das metas, objetivos e resultados pretendidos do PTS, mas

não medem a real efetividade do alcance do trabalho social nas vidas das famílias.

Segundo a Portaria 021/2009, a não realização do trabalho social impede que

os estados e municípios efetuem novas contratações com recursos do FAR. O trabalho

social, por ser obrigatório, em muitas situações é visto como uma ação secundária

dentro do processo de implementação do PMCMV. Em muitos casos, a sua prática é

visualizada como realização de meras reuniões que antecedem a entrega do

empreendimento com os moradores, com vistas a explicar as regras do programa e de

convivência em condomínio. Assim, em muitas situações, não há uma preocupação

real dos entes públicos em realizar um trabalho social efetivo com as famílias.

Cardoso et al (2015) indicam que é um avanço na política habitacional brasileira

o reconhecimento do trabalho social como um direito do cidadão, integrando a questão

social aos programas habitacionais. No entanto, por outro lado, o trabalho social na

prática assume o papel de ditador de regras de convivência, que visa prioritariamente

à manutenção do patrimônio. Desta forma, a implementação do trabalho social passa

a ser realizada através de ações e estratégias fragmentadas, efetivadas diretamente

ou terceirizadas, por municípios que, na sua maioria, ainda entendem que o trabalho

social tem uma função mais assistencialista do que educativa, excluindo, desta forma,

o entendimento do mesmo enquanto processo contínuo que leva ao desenvolvimento

da cidadania (CARDOSO et al, 2015).

Para Carvalho (2014), o trabalho social é a medição necessária a toda política

pública, que se comprometa com a busca da equidade enfretamento das desigualdades

sociais. Para a autora, o trabalho social “[...] envolve uma reflexão sobre a gestão social

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com seus novos arranjos e especificidades próprias à condução da política pública em

sociedades que são cada vez mais complexas” (CARVALHO, 2014, p. 7).

Todo trabalho social implica rupturas com concepções regadas na tutela e no autoritarismo para se poder avançar e concretizar o fortalecimento e a emancipação dos chamados grupos excluídos. Isto porque ele possibilita mobilizar e fortalecer a população para que suas demandas adentrem na agenda pública como prioridade, e conquistem pertencimento as cidades (CARVALHO, 2014, p. 7).

A implementação do trabalho social é permeada de contradições, limites e

desafios, pois ainda serão necessárias grandes mudanças sobre a forma de concepção

do trabalho social em projetos de habitação de interesse social. No próximo capítulo,

será realizada uma análise do PMCMV no Brasil, assim como da problemática

habitacional e a sua implementação na Região Metropolitana de Natal.

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3 Desafios e Avanços do Programa

Minha Casa Minha Vida.

O Capítulo I inicia-se com uma breve análise do Programa Minha Casa Minha

Vida no Brasil, com vistas a evidenciar em que conjuntura o Programa foi formulado e

a sua atual realidade de implementação. Este capítulo segue apresentando e discutindo

as problemáticas habitacionais da RMN e de como o PMCMV atua para reduzir o déficit

habitacional metropolitano e atender ao mercado de construção civil e imobiliário.

3.1 O Programa Minha Casa Minha Vida no Brasil.

O PMCMV foi formulado, em 2009, como um Programa econômico anticíclico e

com uma política fiscal expansiva. Tinha como objetivo central ser um impulsionador

do setor da construção civil e do mercado imobiliário brasileiro, afetados, como o

conjunto da economia, pela crise econômica internacional de 2008. Cardoso e Aragão

(2013, p. 37) relatam que essa crise surgiu a partir dos “problemas sistêmicos

financeiros provocados pela crise dos mercados secundários de títulos lastreados em

hipotecas, envolvendo os chamados subprimes”.

Neste contexto de crise internacional, o Brasil foi duramente afetado,

ocasionando recessão econômica, diminuição no Produto Interno Bruto (PIB), além de

outros efeitos. Como dimensionam Cardoso e Aragão (2013), a reação do governo do

ex-presidente Lula frente à crise internacional foi rápida, pois o país não poderia

permanecer em tal situação por um longo período.

Diante daquele cenário, as medidas adotadas para o enfrentamento da crise

previam a expansão do crédito pelos bancos públicos (Banco do Brasil, BNDES e CEF),

com o objetivo de mitigar a retração do setor privado e dos demais setores em

dificuldades. Tais providências tinham um caráter anticíclico, pois segundo Cardoso e

Aragão (2013, p. 37), “o governo manteve os investimentos em infraestrutura previstos

no âmbito do PAC e mobilizou a Petrobrás no sentido de que também mantivesse os

investimentos previstos”.

Como parte do conjunto de medidas do Governo Federal, em março de 2009, o

PMCMV foi lançado com o claro objetivo de criar condições de ampliação do mercado

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habitacional para o atendimento das famílias com renda de zero a dez salários mínimos,

dinamizando a cadeia de produção da construção civil e de outros setores da economia.

Tanto para Cardoso e Aragão (2013), Maricato (2014), como para Rolnik e Nakano

(2009), o PMCMV tem uma forte inspiração nas políticas habitacionais implementadas

em outros países da América Latina, como México e Chile. Para Rolnik e Nakano (2009,

p. 131):

Em linhas gerais, essas experiências promoveram um modelo de inclusão pelo consumo, em que a moradia para a população de baixa renda deve ser ao mesmo tempo uma mercadoria a ser acessada por meio de relações de mercado e uma oportunidade de negócio para empresas privadas. Assim como no caso do PMCMV, essas políticas habitacionais tiveram como aspectos fundamentais a produção em grande escala por empresas privadas e a concessão de subsídios governamentais diretos ao comprador para viabilizar a compra da casa própria por grupos que estariam fora do mercado.

Para Amore (2015), esta nova política pública habitacional foi formulada pelos

Ministérios da Casa Civil e pelo Ministério da Fazenda, em diálogo com os setores da

construção civil e imobiliário. Através da medida provisória (Nº 459/2009),

posteriormente transformado na Lei Nº 11.977/2009, o Programa foi formulado como

uma forma declarada de enfrentamento da crise dos subprimes norte-americanos, que

tinha provocado a quebra de bancos e impactado diretamente a economia

financerizada mundial. A respeito disso, Amore (2015, p. 18) afirma que:

O contexto da crise econômica, junto com o enfraquecimento do Ministério das Cidades no seu papel de formulador e condutor da política urbana, levou o governo acolher a proposta do setor da construção civil, apostando no potencial

econômico da produção de habitação em massa.

O PMCMV não foi criado somente com o objetivo de enfrentar o déficit

habitacional brasileiro, mas, centralmente, de atender as demandas do mercado, que

se encontrava em crise. De acordo com Cardoso et al (2015), o Programa, ao longo

dos seus sete anos de existência, não apenas ficou restrito à provisão de moradias. Os

autores esclarecem que:

Sua importância transcende a questão habitacional e sua implementação envolve uma trama complexa de agentes e interesses, atravessada por uma série de disputas, conflitos, arranjos, articulações e contrassensos, fato que ficou evidente já mesmo na sua origem (CARDOSO et al 2015. p. 73).

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Com a criação do PMCMV, previa-se a construção de mais de 1 milhão de

moradias, com um investimento de 34 bilhões de reais, oriundos do Orçamento Geral

da União e do FGTS, alocados no FAR, operados pela Caixa Econômica Federal. Em

suma, o Programa não previa somente a provisão de unidades habitacionais, mas, por

ter um caráter anticíclico, visava a gerar empregos e, consequentemente, renda, em

um setor da economia capaz de mobilizar diversos outros setores associados: desde a

indústria extrativista e produtora dos materiais básicos da construção civil até a indústria

moveleira e de eletrodomésticos8, que eram ativadas no momento da entrega das

chaves (AMORE, 2013).

O PMCMV ilustra bem a possibilidade e as contradições da ação pública do

Estado em relação à formulação e implementação de políticas sociais de habitação no

país. Maricato (2014, p. 75) indica que: “o PMCMV retoma a política habitacional com

interesse apenas na quantidade de moradias e não na sua fundamental condição

urbana”. Como a provisão habitacional ficou a cargo basicamente do mercado, os

estados e municípios criaram uma certa “dependência” em relação ao PMCMV na

construção de novas moradias.

No âmbito municipal, em muitas ocasiões, as políticas públicas habitacionais

ficaram restritas a ações de regularização fundiária e urbanização de assentamentos

precários. Segundo Cardoso e Aragão (2011), o papel do Estado na promoção de

habitação de interesse social ficou delimitado em dois tipos de atuação: 1) o poder

público é o agente promotor (modelo de execução do SNHIS); e 2) o setor privado é o

agente executor (modelo de implementação do PMCMV).

Em linhas gerais, o PMCMV é formado por dois subprogramas: o Programa

Nacional de Habitação Urbana (PNHU) e o Programa Nacional de Habitação Rural

(PNHR). O PNHR tem por objetivo subsidiar a produção ou reforma de imóveis aos

trabalhadores rurais, agricultores familiares, comunidades tradicionais (como

quilombolas, extrativistas, pescadores artesanais, ribeirinhos e indígenas) e

reassentados do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), cuja

renda familiar anual bruta não ultrapasse R$ 60.000,00. O PNRH é composto por duas

fontes de recursos advindos do OGU e de recursos do FGTS, onde as unidades

8 Os beneficiários do Minha Casa Minha Vida tinham à disposição uma linha de crédito, que segundo o Ministério das Cidades era em torno de R$ 18,7 bilhões para a compra de móveis e eletrodomésticos para as novas unidades habitacionais. O anúncio do financiamento foi denominado de “Minha Casa Melhor”. As famílias poderiam financiar até R$ 5 mil, com taxas de 5% ao ano, e o prazo de pagamento era até 48 meses e desconto de 5% em relação aos preços à vista.

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habitacionais poderiam ser contratadas na zona rural de qualquer município,

independentemente do seu número de habitantes.

Em relação ao Programa Nacional de Habitação Urbana, este tem por objetivo a

produção ou aquisição de novas unidades habitacionais ou a requalificação de imóveis

urbanos para famílias com renda mensal de até R$ 5.000,00 reais. O PNHU visa à

compatibilização da prestação da casa própria com a capacidade de pagamento da

família, onde é estabelecida modalidade segundo o porte do município e a Faixa de

renda da família beneficiária. Em linhas gerais, o PNHU é composto por cinco

modalidades: PMCMV empresas, municípios, oferta pública, entidades e FGTS

(Quadro 2).

Quadro 2: Programa Minha Casa Minha Vida: Modalidades, Faixas e Fontes de

Recursos.

FAIXA

RENDA

FAMILIAR

MODALIDADES

CARACTERÍSTICA

FONTE

1

Até R$

1.800,00

Empresas/FAR

Entidades/FDS

Municípios com até 50

mil hab.

Rural grupo 1

Até 90% de subsídio do

valor do imóvel. Pago em

até 120 prestações mensais

de, no máximo, R$ 270,00,

sem juros.

OGU

1,5

Até R$

2.350,00

FGTS

Rural 2

Até R$ 45.000,00 de

subsídio, com 5% de juros

ao ano.

-

2

Até R$

3.600,00

FGTS

Rural 2

Até R$ 27.500,00 de

subsídio, com 6% a 7% de

juros ao ano

OGU +

FGTS

3

Até R$

6.500,00

FGTS

Rural 3

8,16% de juros ao ano

FGTS

Fonte: Ministério das Cidades, 2016.

Tanto o PMCMV Empresas, como os Municípios, a Oferta Pública e as Entidades

são destinadas para as famílias com renda até 1.800,00 reais, na qual a fonte de

recursos do OGU, sendo estes distribuídos pela CEF a partir de avaliação dos projetos

submetidos pelas empresas ou entidades.

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Desta forma, o PMCMV articula-se entre três grandes linhas de atuação, do qual

permite agrupar os beneficiários por Faixas de renda familiar. Na Faixa 1, são

participantes famílias com renda até R$ 1.800,00 reais9, onde estão concentrados os

maiores subsídios aportados pelo Programa, atendidos pelo FAR. Nesta Faixa, o

PMCMV, possui modalidade voltada para entidades, o que permite que famílias

organizadas de forma associativa, por uma Entidade Organizadora (Associações,

Cooperativas e outros) habilitada, produzam suas unidades habitacionais, com

recursos oriundos do Fundo de Desenvolvimento Social (FDS).

Na Faixa 2 são atendidas famílias pela modalidade financiamento via FGTS, com

renda familiar até R$ 3.600,00. Os beneficiários que são enquadrados nesta Faixa de

renda assumem um financiamento habitacional, com taxas de juros e valor de seguros

inferiores as praticadas no mercado. Para atuar no PMCMV/FGTS, as construtoras

apresentam propostas à CEF, que, Segundo Cardoso e Aragão (2013):

[...] realiza pré-avaliação e autoriza o lançamento e comercialização. Após a conclusão da análise e comprovação da comercialização mínima exigida, é assinado o Contrato de Financiamento à produção. A comercialização é feita pelas construtoras ou através dos “feirões” da Caixa, havendo a possibilidade de que os pretendentes à aquisição consigam uma carta de crédito na Caixa para ir ao mercado buscar uma moradia para aquisição (Cardoso e Aragão, 2013, p. 39).

Conforme Cardoso e Aragão (2013), diferentemente dos empreendimentos

Faixa 1 que utilizam o FAR, onde não há qualquer risco de comercialização ou

inadimplência para as construtoras, as operações realizadas com recursos do FGTS

configuram-se como “de mercado”, ainda que em condições de baixo risco para as

construtoras. Por fim, a Faixa 3 possui semelhanças com a Faixa 2, porém, são

atendidas as famílias com renda até R$ 6.500,00, os beneficiários que estão

enquadrados neste limite poderão adquirir um financiamento habitacional com taxa de

juros e valor de seguro inferior às praticadas no mercado, mas sem uso do subsídio

complementar.

Em seu desenho de política pública, segundo Bonduki (2009), o PMCMV não

segue as orientações propostas pelo SNHIS, assim como do Plano Nacional de

Habitação e do FNHIS. Conforme Rolnik et al. (2015, p. 131), “as normas que orientam

9 Em 2009, o valor era de R$ 1.395, o que equivalia a três SMs; em 2012, o valor da renda familiar passou

a ser de R$ 1.600, que equivalia a 2,57 SMs. Atualmente, com o lançamento do PMCMV 3, a Faixa de renda é de até R$ 1,800,00 reais.

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sua implementação não foram pautadas pelas estratégias de enfrentamento do déficit

habitacional contidas na política de habitação recém-elaborada, mas por uma agenda

atrelada aos fatores macroeconômicos e setoriais”.

Diante disso, o mercado passa a ser o principal agente promotor de execução

do Programa, pois as empresas construtoras e incorporadoras passam a ter a iniciativa

de produzir, escolher os terrenos, a tipologia do empreendimento (casa, apartamento,

condomínio fechado ou aberto), as tecnologias construtivas, o número de unidades

habitacionais, a qualidade dos materiais, ou mesmo a Faixa de renda a qual o

empreendimento será destinado (CARDOSO et al, 2015). A respeito disto, Cardoso e

Aragão (2011, p. 92) vão evidenciar que:

Um dos impactos mais imediatos sobre os programas desenvolvidos no âmbito do SNHIS diz respeito à eliminação dos repasses para as ações de provisão habitacional. Desde o lançamento do PMCMV, o FNHIS passou a concentrar os seus recursos nas ações de urbanização de assentamentos precários e de desenvolvimento institucional.

Além do que foi exposto até aqui, o Programa Minha Casa Minha Vida segue

uma lógica de reprodução do padrão periférico da moradia da população de baixa renda

do Brasil. Segundo Cardoso e Aragão (2011, p. 90), “a produção de novos

empreendimentos passa a ser definida segundo mecanismos de mercado, o que tem

fortes impactos sobre a localização dos empreendimentos e sobre a qualidade dos

projetos”. Além disso, como relatado por Rolnik et al. (2015), a atuação das construtoras

na promoção de projetos e na seleção de terrenos relega a inserção urbana dos

empreendimentos a uma questão de relevância secundária, senão inexistente, em

muitos municípios. Neste aspecto, Ronilk et al. (2015, p. 132) indicam que:

[...] o Programa consolida um modelo em que a oferta de habitação se transforma fundamentalmente num negócio, sendo orientada por uma lógica em que a maximização dos ganhos das empresas se torna a principal condicionante do modo como os terrenos são escolhidos e de como os projetos são elaborados.

Por outro lado, conforme Cardoso et al (2015), a implementação do Programa

relegou aos municípios apenas o papel de aprovar os projetos dos empreendimentos,

de modificar ou flexibilizar as legislações urbanísticas e ambientais em relação às

demandas geradas para a implantação do Programa, além de selecionar os

beneficiários (demanda fechada e aberta) de formular e executar o trabalho social

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durante a construção das unidades habitacionais e após a ocupação dos

empreendimentos de Faixa 1. Em relação ao agente financeiro operador do PMCMV,

a Caixa Econômica Federal, através de suas Gerências de Desenvolvimento Urbano

(GIDUR) e da Gerência de Habitação (GIHAB), é responsável por avaliar se as

propostas dos projetos de empreendimentos, assim como os Projetos de Trabalho

Social, estão de acordo com as normas e parâmetros técnicos do Ministério das

Cidades.

Sendo assim, Cardoso et al (2015) revelam que em muitas situações há uma

baixa articulação dos diferentes agentes envolvidos, seja os municípios, as empresas

ou a Caixa Econômica, pois, na implementação do Programa, há uma variação nos

contextos políticos e institucionais nas realidades estaduais e municipais. De acordo

com os autores acima citados: “cabe dizer que em cada caso específico o processo de

implementação do PMCMV assume nuances e particularidades que dependem

diretamente da atuação in loco de qualquer um dos agentes envolvidos” (CARDOSO et

al 2015, p. 75).

Após setes anos de sua implantação, o PMCMV encontra-se atualmente em sua

terceira fase, mas, devido ao processo de impeachment da ex-presidenta Dilma

Rousseff (Partido dos Trabalhadores - PT) e a nomeação de Michel Temer (Partido do

Movimento Democrático Brasileiro - PMDB) como presidente, o PMCMV passou por

uma restruturação nas novas regras do programa habitacional, no qual houve um

reajuste das faixas de renda e também do limite de financiamento.

A Tabela 1, a seguir, apresenta os números referentes ao total de metas e

contratações do PMCMV em suas duas fases de atuação. Apresenta, também, alguns

dados do PMCMV Faixa 1 referentes à quantidade de unidades habitacionais

contratadas, unidades já entregues e investimentos destinados para a implantação do

Programa.

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Tabela 1: Programa Minha Casa Minha Vida: Metas e Contratações.

1° FASE 2° FASE

Marços (2009 – 2010) (2011 – 2014)

Meta 1 milhão Meta 2,75 milhões

UH contratadas 1.005.128 UH contratadas 2.758.471

UH entregues 830.777 UH entregues 1.195.052

Fonte: Ministério das Cidades. Posição: Dez/2014

Na Tabela 2, podemos observar que, nas regiões Norte e Sul do Brasil (exceto

o Estado da Bahia), percebe-se que os valores investidos do PMCMV são relativamente

baixos em comparação às outras regiões do país. Estes dados podem nos revelar que

ainda persiste, no Brasil, uma concentração de investimentos no eixo Sul e Sudeste.

Apesar disso, o PMCMV, em seu desenho, prevê que a distribuição de investimentos

para a construção de empreendimentos por regiões do país deve seguir as estimativas

aproximadas do déficit habitacional em cada uma dessas regiões. No entanto, em

relação a este aspecto sobre a concentração de investimentos nas regiões Sul e

Sudeste, Cardoso e Aragão (2013, p. 60) demonstram que,

Essa relação de dependência do Programa para com a dinâmica imobiliária, fruto da hegemonia conferida ao setor privado, pode gerar problemas distributivos, já que os governos estaduais e municipais não controlam diretamente os meios necessários para garantir que os recursos estabelecidos na cota sejam efetivamente transformados em contratos. É possível que algumas administrações locais, com maior experiência em política habitacional, possam atuar como “facilitadoras” das iniciativas privadas, como parece ter acontecido em alguns casos, mas mesmo essa “competência” específica traz como consequência uma acentuação da desigualdade. Ou seja, aqueles municípios ou estados que já têm recursos (financeiros ou administrativos) atrairão mais recursos enquanto aqueles mais pobres e com baixa qualificação não conseguirão atingir as suas cotas.

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Tabela 2: Programa Minha Casa Minha Vida: Unidades Contratadas, Unidades

Entregues e Valor de Investimentos por Região e Estado do Brasil.

REGIÃO

ESTADO

UNIDADES

CONTRATADAS

UNIDADES

ENTREGUES

INVESTIMENTO

EM BILHÕES

NORDESTE

RN 100.243 71.339 R$6,919

PB 102.750 69.152 R$7,785

PE 145.653 79.340 R$8,714

AL 117.590 74.119 R$6,776

SE 58.768 30.297 R$3,421

BA 298.315 175.395 R$17,02

PI 84.738 50.806 R$4,216

CE 124.601 124.601 R$8,390

MA 167.248 84.363 R$8,579

NORTE

TO 30.167 15.702 R$ 1,500

PA 141.912 64.897 R$7,974

AP 10.195 2.858 R$539 (milhões)

AM 46.000 20.869 R$ 2,437

RR 9.628 7.836 R$502 (milhões)

AC 9.348 7.167 R$486 (milhões)

RO 44.202 19.693 R$2,679

SUDESTE

MG 435.292 313.714 R$32,215

ES 54.776 26.320 R$3,818

RJ 223.101 104.486 R$16,703

SP 775.915 457.454 R$61,399

CENTRO-

OESTE

DF 50.634 14.050 R$3,737

GO 244.979 181.737 R$19,477

MT 101.232 58.675 R$6,337

MS 80.363 57.384 R$5,825

SUL

PR 303.414 240.624 R$23,519

SC 169.221 128.297 R$13,535

RS 289.081 210.273 R$20,012

Fonte: Ministério das Cidades, 2016.

Assim, considerando o funcionamento do Programa (bem como o de qualquer

outra política pública), o PMCMV depende diretamente da atuação de uma diversidade

de atores para a sua implementação. Em seu desenho institucional, o PMCMV, no

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entanto, não permite que os municípios tenham um papel protagonista como promotor

e gestor do empreendimento, pois a instituição financeira (Caixa Econômica Federal),

por um lado, e as empresas, por outro lado, ganham centralidade em detrimento dos

órgãos e instituições responsáveis pelas políticas urbanas e habitacionais (RUFINO,

2015).

Portanto, diante do que foi exposto nesta sessão, para uma melhor compreensão

do PMCMV, podemos inferir que o Programa contratou em apenas cinco anos de

existência quase 80% das unidades que o BNH financiou nos seus 22 anos de

existência. Ambas tiveram em comum a participação do setor da construção civil e

dupla orientação, visando não só ao objetivo social de superar o déficit de moradia para

segmentos de baixa renda, mas, igualmente, com objetivos econômicos. Segundo

Amore (2015), os dois programas, também, não conseguiram inserir a política

habitacional em um quadro mais amplo de uma reforma urbana com mudanças mais

estruturais e de longo prazo.

3.2 Problemática habitacional e a Implementação do PMCMV na

Região Metropolitana de Natal.

Durante décadas, as cidades brasileiras conviveram com diversas problemáticas

habitacionais, como o crescimento urbano desigual, a elevação do déficit habitacional

e o aumento da pobreza urbana. A Região Metropolitana de Natal10 (com 1.577,072

habitantes, o que corresponde a 45,38% da população do RN, em 2016) apresenta

muitos desafios no enfrentamento do déficit habitacional na faixa de interesse social (0

a 3 SM), com insuficiência de políticas públicas de habitação social.

Devido ao crescimento populacional e urbano da RMN, muitos problemas

relacionados com o aumento do déficit habitacional, com a favelização e a ocupação

de áreas de riscos tornam-se desafios para os gestores públicos. Muitos municípios

apresentam deficiências em sua capacidade de formular e implementar políticas

10A Região Metropolitana de Natal (RMN) foi criada formalmente em 1997, pela Lei Complementar

Estadual Nº 152/97. Atualmente, é composta por 14 Municípios: Arês, Ceará-Mirim, Extremoz, Goianinha, Ielmo Marinho, Macaíba, Maxaranguape, Monte Alegre, Natal (Capital), Nísia Floresta, Parnamirim, São Gonçalo do Amarante e São José do Mipibu.

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públicas para o enfretamento destas problemáticas, ocasionando uma dependência

financeira e técnica das políticas federais para a atender a demanda habitacional.

Figura 1: Mapa da Região Metropolitana de Natal | RN (2017).

Fonte: Ferreira, 2016.

.

Em todas as cidades da RMN, nos últimos anos, houve um crescimento

populacional expressivo. Municípios como Natal, Parnamirim, São Gonçalo do

Amarante e Macaíba, por possuírem os maiores quantitativos de habitantes (Tabela 3),

também apresentam os maiores indicadores relacionados com o aumento da pobreza,

da precariedade das habitações, da favelização e expansão urbana para as áreas

periféricas das cidades.

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Tabela 3: Dados Populacionais e Densidade Demográfica por Município da RMN (2010

e 2016).

MUNICÍPIOS POPULAÇÃO

2000

POPULAÇÃO

2010

DENSIDADE

DEMOGRÁFICA

2010 (HAB./Km²)

Arês 11.323 12.924 111,89

Ceará-Mirim 62.424 68.141 94,07

Extremoz 19.572 24.526 176,03

Goianinha 17.661 22.481 116,92

Ielmo Marinho 10.249 12.171 39,01

Macaíba 54.883 69.467 136,00

Maxaranguape 8.001 10.441 79,51

Monte Alegre 18.874 20.685 98,07

Natal 712.317 803.739 4.805,24

Nísia Floresta 19.040 23.784 77,126

Parnamirim 124.690 202.456 1.639,70

São Gonçalo

do Amarante

69.435 87.668 351,91

São José do

Mipibu

34.912 39.776 137,00

Vera Cruz 8.522 10.719 127,77

Total RMN 1.171.903 1.411.975 -

Fonte: Censo do IBGE, 2000, 2010. (Elaboração própria da autora).

Dentre os municípios selecionados para esta investigação, Natal e Parnamirim

são as únicas cidades da RMN consideradas 100% urbanizadas e que possuem maior

dinâmicas de evolução da mancha urbana. São Gonçalo do Amarante, em 2016,

possuía 84,52% dos seus habitantes residindo na área urbana e somente 15,48% da

população na zona rural, em um grande contraste com o ano de 2000, ano no qual

85,89% da população habitava no campo. Este processo de crescimento urbano de

São Gonçalo do Amarante pode ser explicado tanto pela migração do campo para à

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cidade, como pela transformação de áreas rurais em áreas de expansão urbana e pelo

próprio desenvolvimento industrial e econômico do município.

Em relação às necessidades habitacionais presentes nos municípios da RMN, o

déficit habitacional contabiliza os domicílios inadequados, que apresentam

adensamento excessivo, carência e precariedade de infraestrutura e condições de

habitabilidade inadequadas. De acordo com Silva et al (2015, p. 266):

O conceito de necessidades habitacionais abarca duas categorias distintas: o déficit habitacional e a inadequação da moradia. O primeiro refere-se à necessidade de construção de novas moradias, já o segundo diz respeito à qualidade de vida dos moradores em virtude de residirem em moradias inadequadas. Na realidade, aquele conceito permite uma leitura mais ampliada da problemática habitacional, uma vez que possibilita identificar aspectos relacionados à qualidade da moradia.

Na Região Metropolitana de Natal, os Municípios de Parnamirim e São Gonçalo

do Amarante apresentam os maiores indicies relativos ao déficit habitacional, segundo

dados da Fundação João Pinheiro. Em 2010, a FJP indicava que o déficit habitacional

relativo da RMN estava estimado em 53.501 unidades, o que equivale a 14,74% da

quantidade total de domicílios particulares permanentes dessa região.

Tabela 4: Déficit Habitacional Total por faixa de rendimento (%) nos Municípios de

Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante (2010).

Município

Déficit

Habitacional

(DH) Total

DH para

domicílios

com

rendimento

(0-3 SM)

DH para

domicílios

com

rendimento

(3-6 SM)

DH para

domicílios

com

rendimento

(3-6 SM)

DH para

domicílios

com

rendimento

(10 ou

mais SM)

Déficit

Habitacional

Relativo

Natal

64,90 62,46 62,05 74,16 76,88 14,70

Parnamirim 14, 59 15,97 11,49 12,13 12,15 12,90

São

Gonçalo

Do

Amarante

5,96 6,07 8,64 4,36 2,55 13,00

Fonte: Ferreira (2016), com base nos dados do Déficit habitacional Municipal do Brasil, 2010, Fundação João Pinheiro – Ministério das Cidades (2013). (Adaptado pela autora).

Para Silva et al (2015), nos municípios da RMN que possuem maior integração

com o polo Natal, respondem sozinhos por 54,31% do déficit habitacional relativo da

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região. O que significa, em termos quantitativos, uma necessidade de incremento do

estoque de 13,67%. Analisando o déficit habitacional por intrafaixas, 62,3% (35.519) do

déficit na RMN situa-se na faixa de interesse social (0 a 3 salários mínimos). Natal

concentra sozinha quase 65,24% do déficit habitacional total, decorrente do passivo

existente no Município em termos de produção e/ou aquisição de unidades

habitacionais.

O quadro descrito anteriormente reflete não apenas o processo de elevação do

índice do déficit habitacional no espaço metropolitano, mas destaca, em particular, a

dificuldade das cidades de produzir habitação formal e bem localizada, em razão do

auto custo da terra decorrente da valorização do solo urbano.

Tabela 5: Déficit Habitacional por Município da RMN (2010).

MUNICÍPIOS % EM RELAÇÃO

AO DÉFICIT TOTAL

DÉFICIT RELATIVO

Arês - -

Ceará-Mirim 4,56 14,05

Extremoz 1,66 13,59

Ielmo Marinho - -

Goianinha - -

Macaíba 3,89 10,65

Monte Alegre 0,98 9,10

Maxaranguape - -

Natal 65,24 14,74

Nísia Floresta 0,95 7,89

Parnamirim 15,27 12,90

São Gonçalo do Amarante 5,99 13,05

São José do Mipibu 2,06 10,15

Vera Cruz 0,53 10,15

Total RMN 100,00 13,67

Fonte: Elaboração própria da autora, com base no Déficit Habitacional Municipal no Brasil 2010 (Fundação João Pinheiro/Ministério das Cidades, 2013). Obs.: Os dados ausentes são de cidades que ingressaram recentemente na RMN.

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Com o lançamento do PMCMV, em 2009, diversos municípios da RMN aderiram

imediatamente ao Programa com o objetivo de diminuir o déficit habitacional, reassentar

favelas e atender, principalmente, ao mercado da construção civil e imobiliário. Houve

uma expansão da construção de empreendimentos e loteamentos, destinados para

todas as faixas de mercado no RN. Com isso, no Rio Grande do Norte, segundo dados

do Ministério das Cidades, até o ano de 2016 foram contratadas, em todas as Faixas

do Programa, cerca de 100.243 unidades habitacionais e, destas, 71.339 já foram

entregues, tendo sido investidos R$ 6,919 bilhões.

No que se refere a produção habitacional do PMCMV, entre os anos de 2009 a

2014, nas duas fases do Programa (Fase 1 e 2), foram contratados 370

empreendimentos (Faixa 1) em toda Região Metropolitana de Natal (FERREIRA, 2016).

Figura 2: Localização dos Empreendimentos do PMCMV por faixa e Fase na RMN.

Fonte: Ferreira (2016).

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Dos municípios selecionados para esta investigação, de acordo com Ferreira

(2016), as cidades de Natal e Parnamirim concentram os maiores quantitativos de

empreendimentos na RMN por faixa de renda (Faixas 1, 2 e 3) e fase do referido

Programa. Em conjunto, os municípios de Natal e Parnamirim respondem por 48,38%

dos empreendimentos e 62,95% do total de unidades habitacionais em todas as fases

do Programa na Região Metropolitana de Natal. Para Ferreira (2016), estes dados

demonstram que estas cidades possuem uma dinâmica imobiliária mais intensa e um

mercado de habitação mais consolidado que favoreceu o alcance dos percentuais

relacionados à produção habitacional entre os anos de 2009 a 2014.

Em São Gonçalo do Amarante é possível observar que somente recentemente

que o município tem apresentado um avanço no setor imobiliário, devido a

implementação de projetos estruturantes do governo federal na cidade, como a

instalação do Aeroporto Internacional de São Gonçalo do Amarante, em 2014 e os

investimentos do PRODEUTUR – NE e investimentos do governo estadual em

infraestrutura vial, como revela Ferreira (2016). Além disso, os recursos do PMCMV

têm possibilitado o município alcançar avanços no setor imobiliário. Sobre este tema,

Ferreira (2016, p.182) revela que: “com efeito, o PMCMV contribuiu para desconcentrar

espacialmente a produção em relação aos ciclos imobiliários anteriores, assim como

para ampliar o espaço metropolitano periférico, abrindo novas frentes de expansão”.

Na tabela a seguir são apresentados os dados referentes ao total de

empreendimentos e unidades habitacionais contratados nos municípios selecionados

para esta investigação.

Tabela 06: Produção Habitacional Total (Empreendimentos e Unidades) do PMCMV

por Municípios estudados da RMN.

RECORTE TERRITORIAL

EMPREENDIMENTOS

UNIDADES

Natal 75 7.083

Parnamirim 104 13.471

São Gonçalo Do Amarante 72 4.030

TOTAL 251 24.584

Fonte: Ferreira (2016), com base nos dados do SIAFI – PMCMV/CEF (2015), 2016. (Adaptado pela autora).

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Para Silva et al (2015), os dados referentes à produção habitacional do PMCMV

indicam que, dos 370 empreendimentos contratados até 2014 cerca de 28,7% estão

localizados na Região Metropolitana de Natal, totalizando 32.651 unidades

habitacionais, representando 80,34% dos recursos, num total de investimentos federais

de R$ 1.135.010.915,35.

Com relação a produção habitacional do PMCMV na RMN, Bentes et al (2015,

p. 347) revelam que:

A produção do PMCMV na RMNatal, representou, entre outros um aumento de intensidade na produção da moradia social (faixa 1) e o reposicionamento do mercado imobiliário para os segmentos médios (faixa 2 e 3), atualmente na escala metropolitana, com efeitos na escala intraurbana. Tais efeitos de escala representam, ao mesmo tempo, a continuidade e o acirramento das tendências de ocupação do solo urbano (extensiva e intensivamente) pré-existentes, em especial nas áreas contiguas ao polo (Natal). Em primeiro plano, tais características podem sugerir inovação, originada pelo PMCMV nas características socioespaciais da RMNatal; entretanto, a presentes pesquisa compreender que, de fato, há dois sentidos aparentemente contraditórios dessa produção – por um lado, a intensidade referente à faixa 1, em municípios metropolitana, responde aos interesses de uma estrutura fundiárias herdada das etapas da segregação e da desigualdade, historicamente desenvolvidas na metrópole; por outro lado, aproximou o tema da moradia social dos grupos sociais mais vulneráveis, em espacial daqueles que estavam fora do mercado.

Tabela 7: Déficit Habitacional e a relação com a Produção PMCMV Faixa 1 nos

Municípios de Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante (2013).

MUNICÍPIO

DÉFICIT

HABITACIONAL

(%) TOTAL

DÉFICIT

HABITACIONAL

(0 - 3 SM)

PRODUÇÃO

PMCMV (0 –

3 SM)

% PRODUÇÃO

EM RELAÇÃO

AO DÉFICIT

HABITACIONAL

(0 A 3 SM)

Natal

64,90 22.185 2.864 12,91

Parnamirim 14, 59 5.671 5.488 96,77

São

Gonçalo Do

Amarante

5,96 2.155 2.115 97,77

Fonte: Bentes (2015), com base nos dados da Caixa Econômica Federal – Base de Dados PMCMV, 2015. (Adaptado pela autora).

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De acordo com Ferreira (2016), com relação as unidades habitacionais da Faixa

1, os dados da CEF (2015) indicam que na RMN foram produzidas 15.143 habitações.

Quando comparados, Parnamirim e Natal apresentam os maiores índices de déficit

habitacional e também os maiores quantitativos de unidades habitacionais Faixa 1 do

Programa, respectivamente 5.488 (43,24%) e 2.864 (22,56%).

Para Bentes et al (2015), na RMN houve uma concentração de investimentos do

Programa nos Municípios de Parnamirim, Ceará-Mirim, Extremoz, São Gonçalo do

Amarante, Macaíba e Natal. Por serem as maiores cidades da RMN e por possuírem

um mercado imobiliário mais dinâmico, observa-se que os empreendimentos e

loteamentos de casas foram construídos em áreas periféricas, para atender,

principalmente, o setor da construção civil e imobiliário.

Figura 3: Espacialização dos Empreendimentos do PMCMV Faixa 1 na RMN.

Fonte: Ferreira (2016).

Como se pode observar na Tabela 5, abaixo, durante a primeira fase, do

Programa na RMN, que vai de 2009 a 2014, foram construídas 11.887 unidades e, na

segunda fase, que vai de 2014 até hoje, 16.397, somando 28.284 unidades

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habitacionais. Silva et al (2015) apontam que, das unidades habitacionais contratadas

na primeira fase na RMN, percebe-se uma maior produção na Faixa 1 do Programa.

Para esses autores, a principal explicação está relacionada ao fato de “[...] que os

empreendimentos destinados às famílias de interesse social são de grande porte, em

geral possuindo uma média de 281 unidades por empreendimento” (SILVA et al 2015,

p. 286).

Tabela 8: Quantidade de Unidades Produzidas por Faixa de Renda e Fase na RMN

até 2014.

FASES DO

PMCMV FAIXA DE RENDA DO PMCMV

Faixa 1 Faixa 2 Faixa 3 Total

PMCMV 1

7.018 3.549 1.320 11.887

PMCMV 2

3.734 11.106 1.557 16.397

TOTAL 10.752 14.655 2.877 28.284

Fonte: Bentes et al. (2015), com base nos dados da Caixa Econômica Federal – Base de Dados PMCMV, 2013. (Adaptado pela autora).

De acordo com Bentes et al (2015), a partir de uma análise comparativa entre as

duas fases do PMCMV, na fase 1 do programa houve um maior quantitativo de

empreendimentos construídos nas Faixas 1 e 2. Já na fase 2, houve uma redução do

número de unidades construídas nas Faixas 1 e 3 e um aumento significativo na Faixa

2 do Programa, conforme pode ser visualizado na Figura 2.

Os Municípios de Natal e Parnamirim concentraram 98,09% da produção

habitacional do Programa Minha Casa Minha Vida na Faixa 3. Para Bentes et al (2015,

p. 44), “a principal explicação para essa concentração é a existência de um mercado

imobiliário consolidado nesses municípios, o que favorece a oferta de produtos voltados

para famílias com rendimento de 6 a 10 salários mínimos”.

De acordo com Ferreira (2016), na RMN foram produzidos 370

empreendimentos, ou seja, totalizando 32.651 unidades habitacionais, até 2015. Entre

os municípios estudados (Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante), somente a

cidade de Parnamirim, quantitativamente, conseguiu construir unidades habitacionais

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equiparados ao seu déficit habitacional em todas as faixas. Os demais municípios da

RMN não produziram um quantitativo superior ao déficit na faixa de 0 a 3 salários

mínimos.

Tabela 09: Quantidade de empreendimentos por Faixa 1, fases do PMCMV, nos

municípios estudados e na Região Metropolitana de Natal.

EMPREENDIMENTOS DO PMCMV FAIXA 1

MUNICIPIO

FASE 01 FASE 02 TOTAL

Natal - 13 13

Parnamirim 8 5 13

São Gonçalo Do Amarante 1 6 7

RMN 21 30 51

Fonte: Ferreira (2016), com base nos dados do SIAFI – PMCMV/CEF (2015), 2016. (Adaptado pela autora).

Nos municípios selecionados para a presente investigação, em Natal, a

contratação de unidades do PMCMV Faixa 1 aconteceu somente na fase 02 do

Programa. Dos 13 empreendimentos contratados em Natal (Residencial Vivendas do

Planalto I a VI, Residencial Morar Bem Pajuçara, Residencial São Pedro e o Complexo

Habitacional Village de Prata), apenas 5 foram entregues às famílias. Em 2014, foi

entregue o Vivendas do Planalto (I a IV), o qual está localizado no Bairro do Guarapes

(Zona Oeste), próxima ao assentamento Leningrado.

Em 2016, o município de Natal realizou o reassentamento11 de 200 famílias

oriundas das comunidades Maruim, Jacó e outras, que se encontravam no Programa

de Auxílio Moradia, para o empreendimento São Pedro, cujas obras fazem parte da

conjugação entre os Programas PAC e PMCMV (Figura 4). De acordo com informações

da SEHARPE, foi realizado todo o processo de preparo das famílias para as novas

habitações através do trabalho social.

O empreendimento Morar Bem Pajuçara conta com 176 apartamentos que estão

sendo construídos no Bairro de Pajuçara, Zona Norte de Natal. Porém, o residencial foi

11Em 2013, a Secretaria Municipal de Habitação e Regularização Fundiária realizou uma nova proposta

ao Ministério das Cidades e Caixa Econômica Federal, na qual se conjugou a Reurbanização da área ocupada da comunidade Maruim, com o Reassentamento das famílias para um Empreendimento do PMCMV, em terreno doado pela Prefeitura, no Bairro da Ribeira/Natal-RN.

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invadido, em 2015, e desde então encontra-se em processo de reintegração de posse

e retomada das obras, pois a construtora responsável rescindiu contrato com a CEF.

Figura 4: Empreendimento São Pedro (PMCMV/Faixa-1), em Natal-RN.

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes, 2016.

Além disso, no Bairro do Guarapes (Zona Oeste), encontra-se em fase de obras

o Complexo Habitacional Village de Prata (Figura 4), com 1.792 apartamento. O

empreendimento terá 50% das unidades habitacionais destinadas ao reassentamento

das favelas do Cambuim, 8 de março e famílias remanescentes da favela do Alemão.

Durante a investigação, a Secretaria de Habitação de Natal ainda não tinha realizado o

sorteio de definição das famílias e não tinha iniciado o trabalho social com as famílias

da demanda fechadas. Na Figura 5 é possível observar as obras do complexo

habitacional Village de Prata, no Bairro do Guarapes:

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Figura 5: Obras do Empreendimento Village de Prata (PMCMV/Faixa-1), em Natal.

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes, 2016.

Em todos os empreendimentos do PMCMV, no Município de Natal, o Programa

foi utilizado, fundamentalmente, como um instrumento para o amplo processo de

remoção de favelas na Capital. Ao total, através do PMCMV, em Natal foram

reassentadas 4 favelas (8 de outubro, Anatália, Monte Celeste, Maruim e famílias que

residiam em áreas de risco da Comunidade São José do Jacó). Ademais, a previsão é

a de que, nos próximos empreendimentos do Village de Prata e Morar Bem Pajuçara,

sejam removidas as favelas Cambuin, 8 de março, remanentes da favela do Alemão e

famílias da Comunidade África que são alvo do Programa de Mobilidade Urbana Pró-

Transporte, do Governo do Estado do RN.

O reassentamento de favelas para os condomínios verticalizados do PMCMV

Faixa1, reproduz um modelo em que o Estado não leva em consideração as

características socioeconômicas destas famílias e as relações com o território.

A remoção destas famílias para estes conjuntos habitacionais, em Natal, de certa

forma reproduziu o processo de segregação socioespacial, tendo em vista que a

maioria dos residenciais foram construídos na periferia da cidade, que apresenta graves

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problemas de acesso à infraestrutura e aos serviços urbanos, não garantindo a

efetivação do direito à cidade e moradia às famílias beneficiárias.

A cidade de Parnamirim é a cidade que possui a maior quantidade de unidades

habitacionais contratadas no PMCMV na RMN, cerca de 56% nas duas fases do

Programa. Na Figura 5, é possível visualizar a espacialização dos empreendimentos

do PMCMV Faixa 1, em Parnamirim. No total, o Município recebeu 13

empreendimentos do Programa na Faixa 1, atendendo cerca de 21.952 pessoas. Sobre

isso, Silva et al, (2015, p. 286), comentando o crescimento anual da cidade afirmam

que:

Essa produção mantém estreita correlação com o próprio processo de crescimento do Município, pois, comparando os Censos de 2000 e 2010, verifica-se que dos municípios que integram a RMNatal, Parnamirim foi o que mais cresceu, tendo uma taxa de crescimento de quase 5% no período em tela.

De acordo com informações da Secretaria Municipal de Habitação e

Regularização Fundiária (SEHAB), como forma de incentivo à realização de parcerias

com a iniciativa privada, a Prefeitura encaminhou um projeto de lei à Câmara de

Vereadores de Parnamirim, com a proposta de isenção de Imposto Sobre Serviços

(ISS) e parcelamento do Imposto de Transmissão Intervivos (ITIV), durante o prazo da

obra, para os empresários da construção civil que tivessem interesse em construir na

cidade. Para as famílias beneficiárias com renda entre zero e três salários mínimos, o

benefício proposto foi a isenção do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) durante

10 anos e do ITIV, principalmente para o PMCMV Faixa 1.

Em relação ao Município de São Gonçalo do Amarante, para Bentes et al. (2015),

este vem passando por importantes transformações na sua dinâmica socioespacial e

econômica. Conforme os autores, estas transformações ganharam celeridade e

expressividade também em virtude dos investimentos decorrentes do PMCMV.

Segundo Bentes et al (2015, p. 73), “[...] têm contribuído para a continuidade da

dinâmica do setor habitacional iniciada com os investimentos do imobiliário turístico em

São Gonçalo do Amarante”.

Por outro lado, por estar localizado próximo à cidade do Natal, o Município tem

apresentado crescimento demográfico desordenado, consequência do

transbordamento da mancha urbana da capital do Estado sobre seu território. Esse

processo desordenado de uso e ocupação do solo tem gerado alguns problemas para

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os dois municípios, principalmente, de ordem territorial, provocando a formação de

novas periferias e assentamentos precários.

Para enfrentar essa situação, em parceria com o Governo Federal, foi

construído, por meio do PMCMV, o empreendimento Jomar Alecrim, com 305 casas,

distante 2,5 Km da área central da cidade.

Além do empreendimento Jomar Alecrim, o Município também abriga duas

grandes obras do PMCMV. A Área de Interesse Social (AEIS) Padre João Maria e as

Dez, que segundo o Plano Diretor, está situada em uma zona isofônica (ruído), por

estar próxima ao Aeroporto Internacional Aluísio Alves, também é alvo de intervenções

do Programa. Através da conjugação do PAC e do PMCMV, cerca 344 casas foram

construídas para atender às famílias reassentadas da AEIS, cujas obras foram

custeadas com recursos do Governo Federal, da ordem de R$ 29 milhões (Figura 6).

Figura 6: Obras do Empreendimento Padre João Maria e as Dez (PMCMV/ PAC), em

São Gonçalo do Amarante/RN.

Fonte: Prefeitura Municipal de São Gonçalo do Amarante, 2016.

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Ainda para atender às necessidades habitacionais do Município, em 2013, o

Ministério das Cidades aprovou a contratação de 1.800 unidades habitacionais através

do PMCMV (Faixa 1). Composto por 6 conjuntos residenciais de 300 apartamentos, o

Residencial Ruy Pereira, atualmente, é o maior empreendimento habitacional do Rio

Grande do Norte. A construção do Residencial Ruy Pereira ainda não supre as

necessidades habitacionais do Município, pois a cidade de São Gonçalo do Amarante

encontra-se em elevado processo de crescimento, conforme relato da Coordenadora

do PMCMV da SEHAB:

[...] que até, então, ainda é pouco para o déficit habitacional. Porque nós somos uma região metropolitana que cresceu muito e que está crescendo muito! Antes éramos uma cidade dormitório, hoje nós não somos mais, porque está vindo muitas empresas. Veio o aeroporto, agora está vindo o Açaí, está vindo o Hiper Queiros. Então assim, SGA vai ser um polo industrial muito forte, aqui na Região Metropolitana. As pessoas estão vindo habitar, porque moram perto do trabalho, é até uma sugestão própria do empresário, a questão da demanda de moradia. Então assim, na hora que você abre uma empresa, os trabalhadores precisam morar próximo ao trabalho, então o déficit habitacional do Município vai aumentar. Então a gente, temos o maior empreendimento do RN, que está em fase de construção (Coordenadora do PMCMV da SEHAB, em São Gonçalo do Amarante, setembro de 2016).

Os dados apresentados revelam um panorama geral sobre as características do

PMCMV Faixa 1 na RMN, ao qual está relacionado, principalmente, como atendimento

ao setor imobiliário e à construção civil, o enfrentamento do déficit habitacional e as

necessidades dos municípios de reassentar populações de assentamentos precários,

com ampla repercussão sobre a estruturação do espaço urbano e metropolitano.

No entanto, esta dinâmica de construção de novas moradias pelo PMCMV, como

dimensionam Silva et al (2015) está levando a expansão urbana “sem urbanidade”. Isso

significa que existe uma baixa cobertura de infraestrutura urbana, com ausência de

equipamentos sociais, como escolas, creches, postos de saúde, segurança pública e

transporte público nas áreas que estão sendo ocupadas pelos beneficiários do

Programa. Silva et al (2015, p. 265) revelam que esses processos de espraiamento das

novas manchas urbanas apresentam:

[...] ao mesmo tempo em que se verifica uma expansão da metrópole pela produção de solo semiurbanizado (na maior parte das vezes apenas com abastecimento de água e eletrificação), dispersando a metrópole, recrudesce o quadro da inadequação habitacional nas áreas internas a Natal e periféricas à metrópole.

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Para Moura (2014), a construção dos empreendimentos Faixa 1 do PMCMV na

RMN aponta para uma crescente expansão da periferia metropolitana, o que está

relacionado, inicialmente, com a indisponibilidade de áreas de baixo custo para os

investimentos imobiliários deste porte. De acordo com Bentes et al. (2015, p. 14),

quando se trata das intervenções do Programa, os autores destacam que “essas

intervenções atuam de modo a reforçar a centralidade de Natal como polo

metropolitano, enquanto o PMCMV evidencia um movimento de reforço aos processos

de fragmentação do espaço urbano, com expansão das periferias”. Em síntese, o

PMCMV tem muitos impactos sociais e econômicos na RMN, principalmente no que se

refere às dinâmicas de produção e consumo de moradia. Todavia, após sete anos de

sua criação, o Programa se tornou a única forma de intervenção habitacional em

contexto local.

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4 Análise do Trabalho Social no

Programa Minha Casa Minha Vida na

RMN.

O presente capítulo tem por objetivo investigar como se encontra o trabalho

social no âmbito do PMCMV/FAR, na Região Metropolitana de Natal, apontando os

principais dificultadores para sua execução ou facilitadores de sua efetividade.

Inicialmente, serão abordados os resultados da investigação do trabalho social do

PMCMV Faixa 1, apontando como se deu o processo de seleção e hierarquização das

famílias beneficiárias e o trabalho social pré/pós-ocupacional do PMCMV na RMN. Será

analisado como a gestão condominial dos empreendimentos tem apresentado

fragilidades na sua execução e como o trabalho social tem atuado nesta problemática.

Para a realização deste estudo, optou-se por fazer um recorte espacial,

considerando três municípios pertencentes à Região Metropolitana de Natal (Natal,

Parnamirim e São Gonçalo Amarante), focalizando os seguintes empreendimentos: o

Residencial Vivendas do Planalto I, II, III, IV, na cidade do Natal (Capital); o Residencial

Ilhas do Atlântico, em Parnamirim e, por fim, o Residencial Ruy Pereira, no Município

de São Gonçalo do Amarante.

4.1 Trajetória do Trabalho Social no Empreendimento Vivendas do

Planalto (I a IV) em Natal.

Os Residenciais Vivendas do Planalto I, II, III e IV, construídos com recursos do

PMCMV Faixa 1, foram inaugurados em 2014 no Bairro do Guarapes, Zona Oeste de

Natal (Figura 6). A Região Administrativa Oeste, onde eles estão situados, é a segunda

zona mais populosa do Município, com 218.405 habitantes (IBGE, 2010), o que

equivale a 27,17% da população da cidade de Natal, sendo também a segunda maior

área territorial. Possui o maior quantitativo de assentamentos precários existentes na

capital, totalizando 31, de um universo de 70, reconhecidos oficialmente pela Prefeitura.

O local onde está situado o empreendimento é caracterizado pela existência de

vazios urbanos, formados por grandes porções de glebas. De acordo com Bentes et al

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(2015), a área recebeu projetos de urbanização integrada12, com recursos do PAC, para

reassentar famílias que residiam em áreas de risco, sobretudo, nos bairros Planalto e

Guarapes.

Figura 7: Localização do Empreendimento Vivendas do Planalto

(I a IV).

Fonte: Google Maps, 2017. Elaboração própria da autora.

O Residencial Vivendas do Planalto I a IV é composto por 4 empreendimentos

contíguos, cuja tipologia é do tipo condomínio verticalizado aberto. Cada

empreendimento possui 224 apartamentos, totalizando 896 unidades habitacionais e

uma população estimada de 3.584 habitantes.

12 No âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC I), foi realizado o Projeto Habitacional

Planalto/DETRAN. Segundo a SEHARPE, o Projeto Planalto II reassentou comunidades em situação de risco localizadas em diversos bairros da cidade e que se contavam com ações judiciais. Assim, foram reassentados 06 assentamentos precários: Via Sul, Luiz Gonzaga (conhecida como Sopapo), Alagamar, Pião, 8 de Outubro e parte do assentamento DETRAN.

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O valor destinado de repasse do Ministério das Cidades previsto para a

execução do trabalho social nos quatros residenciais foi da ordem de R$ 672.000,00

reais, ou seja, para cada empreendimento, o valor do Projeto de Trabalho Social (PTS)

é estimado em R$ 168.000,00 (repasse). Em contrapartida, a Prefeitura utilizou

recursos próprios que são mensurados no quadro de composição de custos do PTS.

No total, foram investidos pelo Governo Federal, na construção do residencial, R$

44.800.000,00 (Tabela 10).

Tabela 10: Informações do Residencial Vivendas do Planalto I a IV.

EMPREENDIMENTO

UNIDADES VALOR (R$) CONSTRUTORA

VALOR (R$)

TRABALHO

SOCIAL

Vivendas do

Planalto I

224 11.200.000,00 Tecnart Engenharia

Comércio e

Indústria LTDA

168.000,00

Vivendas do

Planalto II

224 11.200.000,00 Zeta Engenharia

168.000,00

Vivendas do

Planalto III

224 11.200.000,00 Marco Engenharia

e Consultoria

LTDA

168.000,00

Vivendas Do

Planalto IV

224 11.200.000,00 Construtora Monte

Neto 168.000,00

Total 896 44.800.000,00 - 672.000,00

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes.

Elaboração da autora.

De acordo com as informações da Secretaria Municipal de Habitação,

Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes (SEHARPE), cada apartamento tem

uma área interna de 43,18 m² com sala, dois quartos, banheiro social, hall e cozinha

conjugada com área de serviço; área frontal para estacionamento e local para depósito

de lixo (Figura 8). Dos 896 apartamentos, 96 unidades habitacionais possuem uma área

de 47,16 m², por serem adaptadas e destinadas a famílias com pessoas com deficientes

(principalmente cadeirantes). Na parte central do empreendimento, com uma área total

de 4.000 m², foi construído um centro comunitário, além de uma praça urbanizada, com

diversos equipamentos comunitários, como quadra poliesportiva, playground,

academia ao ar livre, áreas arborizadas e o centro comunitário (Figura 9).

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Figura 8: Foto (a) Tipologia do Empreendimento Vivendas do Planalto; Foto (b) Blocos

de Apartamentos.

(a) (b) Fonte: foto (a): Marcelo Barroso; foto (b): http://www.marcoengenharia.com.br/vivendas-do-planalto

Figura 9: Equipamentos Comunitários do Residencial Vivendas do Planalto (Quadra

Poliesportiva e Academia ao Ar Livre).

(a) (b) Fonte: Foto (a): http://www.marcoengenharia.com.br/vivendas-do-planalto, Foto (b): Prefeitura do Natal, 2014.

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Segundo dados do Censo 2010 (IBGE), o setor censitário onde está localizado

o Residencial Vivendas do Planalto (I a IV) possuía 701 domicílios particulares

permanentes. Com a implantação deste empreendimento na região, houve um

incremento na quantidade de domicílios, passando de 701 para 1.587, mais que o

dobro, conforme Bentes et al (2015). A área onde está situado o residencial possui

elevado percentual de inadequação de infraestrutura quando comparado com a média

verificada no Bairro do Guarapes. Diferentemente do restante da localidade, o

empreendimento ainda conta com infraestrutura de vias e acessos, abastecimento de

água, captação e drenagem de águas pluviais, além de praça urbanizada com diversos

equipamentos comunitários.

Por ser um programa habitacional de construção de moradias em grande escala,

em muitas ocasiões, nos empreendimentos do PMCMV Faixa 1, a qualidade da obra

revela uma lógica de produção na qual as empresas buscam, ao máximo, racionalizar

a gestão dos canteiros, diminuir os tempos da obra, além de reduzir os custos com os

materiais de construção. No Residencial Vivendas do Planalto não foi diferente, já que

os condomínios foram entregues às famílias com vários problemas de vícios de

construção, apresentando diversas patologias construtivas, principalmente nas paredes

e pisos, desde o momento da entrega das chaves.

Durante as visitas de campo ao residencial, foi identificado que a maioria dos

condomínios possui graves problemas de esgotamento sanitário, pois as residências

foram construídas com o sistema de fossas sépticas e algumas delas apresentam

defeito estrutural, não comportando o volume de dejetos de todos os apartamentos.

Isso acaba ocasionando infiltrações e entupimentos constantes, prejudicando a saúde

das famílias moradoras.

Segundo relatos dos moradores (titulares), a CEF já havia sido notificada quanto

aos problemas de vícios de construção e os defeitos estruturais nas fossas sépticas.

No entanto, não obtiveram respostas positivas para a solução destes problemas.

Recentemente, a área foi alvo do Projeto de Saneamento Básico do Governo do Estado

do RN, mas não foram realizadas as ligações intra-domiciliares dos apartamentos ao

sistema de esgotamento sanitário. Assim, os moradores estão fazendo ligações

clandestinas, conforme relato abaixo:

As fossas estão todas cheias, estamos fazendo ligação clandestinas! Porque já passou o saneamento, mais as fossas estão todas cheias, porque eles

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fizeram o saneamento, mas não fizeram as ligações. Então, estamos fazendo clandestinos, porque ninguém vai ficar morrendo com esse cheiro ruim! (Morador do Residencial Vivendas do Planalto, novembro de 2016).

Na Figura 10, é possível visualizar a espacialização dos equipamentos públicos

na região e sua distância do empreendimento. No entanto, o residencial encontra-se

em uma localização periférica em relação às áreas centrais do Município de Natal. Para

Bentes et al. (2015, p. 108) isso vem

[...] evidenciando graves problemas de acesso aos serviços e equipamentos urbanos pelos moradores. Para além de uma Escola de ensino fundamental localizada nas proximidades do Conjunto, não foi identificado nenhum outro serviço e equipamento urbano na área.

Figura 10: Mapa da Espacialização dos Equipamentos Públicos Existentes no

Entorno do Empreendimento Vivendas do Planalto.

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes. 2013.

Em relatos dos moradores, a falta de acesso à infraestrutura urbana é um dos

grandes dificultadores para o alcance da garantia do Direito à Cidade e à inserção

urbana das famílias. Com uma população estimada de 3.584 habitantes, do ponto de

vista da escala, segundo os dados do Observatório das Metrópoles, o empreendimento

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apresenta uma densidade demográfica de 497,77 hab./km ². Para Bentes et al (2015,

p. 108): “esse porte, possibilitado pela estratégia de contiguidade na implantação das

diferentes etapas, quando relacionado à precariedade da infraestrutura urbana, agrava

os problemas de inserção urbana do Conjunto”.

Mesmo após três anos de ocupação, o empreendimento continua apresentando

diversos problemas relacionados ao acesso aos equipamentos públicos e precariedade

da infraestrutura urbana, com o problema de transporte, pois a área conta apenas com

duas linhas de ônibus. Isso dificulta o acesso dos moradores a outras partes da cidade.

4.1.1 Seleção dos Beneficiários do Vivendas do Planalto I a IV.

Uma parte importante da implementação do trabalho social pré-ocupação está

relacionada às etapas de seleção e hierarquização das famílias, definidas pela Portaria

021/2014. Na fase que antecede a entrega das unidades habitacionais, o trabalho social

é uma estratégia importante na condução da seleção e definição das famílias. Segundo

a SEHARPE, os beneficiários do Residencial Vivendas do Planalto I a IV foram

definidos com base nas diretrizes do Ministério das Cidades, através da Portaria Nº

610, de 26 de dezembro de 2011, cuja normatização dispõe sobre os parâmetros de

priorização e o processo de seleção dos beneficiários do PMCMV.

Todo o processo de cadastramento, seleção, hierarquização e habilitação, tanto

da demanda aberta13 (sorteados), quanto da fechada14 (assentados), no âmbito do

Município, ficou sob a responsabilidade da SEHARPE, com execução e gestão

vinculada ao Departamento de Ação Social e Projetos Especiais (DASPE). Neste

sentido, a Técnica Social da Secretaria de Habitação responsável pelo trabalho social

do Vivendas (I a IV) nos informou que:

13Demanda aberta dos empreendimentos do MCMV no âmbito do Fundo de Arrendamento Residencial

(FAR) deve ser selecionada a partir de cadastro público efetuado pelo Município, Distrito Federal ou Estado, nas condições estabelecidas pela Portaria do Ministério das Cidades Nº 595/2013 (BRASIL, 2014).

14 A demanda fechada dos empreendimentos do PMCMV é identificada previamente no momento da

contratação no âmbito do Fundo de Arrendamento Residencial (FAR). Ou seja, até 50% das unidades produzidas no município podem ser destinadas a “um grupo de famílias provenientes de um mesmo assentamento irregular, em razão de estarem em área de risco, terem sido desabrigadas por motivo de risco ou outros motivos justificados em projetos de regularização fundiária e que tiverem que ser realocadas” (BRASIL, 2011, p.2).

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O Programa no Município de Natal, os apartamentos foram definidos via sorteio! Foi construído o banco de dados do sistema do PMCMV. Então, o sorteio para demanda aberta se dá via inscrição, mas a demanda fechada também tem que está inscrito e a partir desta inscrição é que é feito todo o processo de habilitação (Responsável Técnica Social do Vivenda do Planalto I a IV, outubro de 2016).

Figura 11: Mapa das Áreas de Risco e Assentamentos Precários do Entorno do

Empreendimento Vivendas do Planalto.

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes, 2013.

Os moradores são originários de dois grandes grupos identificados como

sorteados (demanda aberta) e assentados (demanda fechada, limitada a 50% do total

de unidades habitacionais do empreendimento), conforme deliberação do Conselho

Municipal de Habitação de Interesse Social de Natal/RN (CONHABINS)15.

15 Resolução CONHABINS N° 005/2014, de 14 de fevereiro de 2014. “Art. 1° - Fica retificado para até

50% (cinquenta por cento) o percentual para atendimento a famílias a serem beneficiadas, em cumprimento ao disposto nos itens 3.3, 3.3.1 e 3.3.2 da Portaria n° 595/2013 do Ministério das Cidades, para o Empreendimento Vivendas do Planalto I, II, III e IV.

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Para se chegar à definição dos assentamentos a ser erradicados, a SEHARPE

identificou um total de 12 ocupações irregulares (Planalto, Urubu, Sitio Guarapes, Alto

do Guarapes, Alta Tensão, Fio, Alemão, Barreiros, Anatália, 08 de Outubro, Monte

Celeste e 08 de Março) localizadas num raio de 2,5 km do Empreendimento (Figura

11).

Além dos critérios da Portaria do Ministério das Cidades, Nº 610/2011, vigente à

época, considerou-se, juntamente com o Conselho, alguns critérios locais que

nortearam a análise e escolha dos assentamentos precários, sendo eles: maior tempo

de existência do assentamento; elevados níveis de insalubridade/risco; observância ao

critério de territorialidade; nenhuma intervenção anterior; existência de demanda

judicial; não inserção em outros projetos. Por fim, depois da análise destes critérios, a

SEHARPE, conjuntamente com o Conselho, definiu os seguintes assentamentos

precários a serem reassentados no empreendimento Vivendas16: Monte Celeste (115

famílias), 08 de Outubro (133 famílias) e Anatália (240 famílias). Nas figuras, a seguir,

é possível visualizar os assentamentos precários reassentados no Residencial

Vivendas do Planalto:

Figura 12: Foto (a) Vista Aérea do Assentamento Precário 08 de Outubro; Foto (b):

Habitações da Comunidade 08 de Outubro.

(a) (b) Fonte: Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes, 2013

16 Resolução CONHABINS N° 015/2013, de 19 de julho DE 2013. “Art. 1° - Aprovar a indicação dos

Assentamentos Precários denominados Monte Celeste e 8 de Outubro e Anatália como beneficiários do empreendimento Vivendas do Planalto I, II, III e IV [...]”.

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Figura 13: Foto (a) Vista Aérea do Assentamento Precário Anatália, Foto (b): Registro

Fotográfico das Habitações da Comunidade Anatália.

(a) (b) Fonte: Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes. 2013.

Figura 14: Foto (a) Vista aérea do Assentamento Precário Monte Celeste, no detalhe

em Amarelo; Foto (b): Registro fotográfico da favela Monte Celeste.

(a)

(b)

Fonte: Secretaria Municipal de Habitação, Regularização Fundiária e Projetos Estruturantes, 2013.

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Definidos os assentamentos precários, a Secretaria de Habitação de Natal, em

2013, contratou uma empresa de consultoria especializada para realizar o

congelamento e o selamento dos imóveis de todos os assentamentos. Esta etapa

consiste em realizar um diagnóstico socioterritorial das favelas com o objetivo de se

obter informações sobre as condições de vulnerabilidade social e habitabilidade, sobre

o perfil das famílias, assim como cadastrar todos os imóveis dos moradores. De acordo

com o Manual de Instruções do Trabalho Social (BRASIL, 2014, p.31):

O cadastro é atividade in loco que se faz para a identificação e o registro dos moradores do território que serão afetados pelo projeto habitacional. Esse processo é constitutivo do diagnóstico social. Mas não é só! É um processo estratégico no estabelecimento de relações de proximidade, de acolhimento dos moradores e apresentação da proposta de intervenção habitacional.

Durante a fase de seleção das famílias, a Caixa Econômica Federal tem um

papel fundamental na análise e habilitação dos moradores. Como gestora dos recursos

do Governo Federal, a CEF possui a responsabilidade de realizar a análise financeira

de todos os beneficiários. Em relação a isso, a Técnica Social da SEHARPE informou

que “o acompanhamento da CEF foi na parte da análise, o que cabe a ela na parte da

análise financeira do processo de habilitação das famílias [...]”.

Segundo aquela mesma Técnica Social, durante todo o processo de habilitação

dos beneficiários, após o congelamento dos imóveis17, houve diversas denúncias ao

Ministério Público sobre beneficiários que não residiam nos assentamentos e que

possuíam residências em outras localidades ou de falsas coabitações de famílias que

mentiam para receber uma unidade habitacional. Assim, todas as famílias eram

acompanhadas por uma Equipe Técnica Social (Assistentes Sociais) que realizava

visitas domiciliares com o objetivo de averiguar todas as denúncias de falsas

coabitações, de famílias que não residiam nas comunidades ou que possuíam outros

imóveis.

Segundo informações colhidas junto ao DASPE, cada participante concorreu

com um número de inscrição recebido quando de sua efetivação no Banco de

Cadastrados do PMCMV no Município. As inscrições eram realizadas na página do

17 A partir de visitas e entrevistas a todas as residenciais que serão alvo de algum projeto urbano, o

“congelamento” ou a “selagem” da área é um mecanismo utilizado para se controlar o número de famílias beneficiadas, tentando restringir um aumento de adensamento da favela, o que provavelmente prejudicaria a implementação de um projeto (ABIKO E COELHO, 2009).

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PMCMV no site da Prefeitura de Natal ou na própria sede da Secretaria de Habitação.

É importante ressaltar que a Cidade de Natal é um dos poucos Municípios da RMN que

possui um banco de dados de inscrições do PMCMV informatizado, cujas inscrições

podem ser atualizadas ou realizadas virtualmente.

Em agosto de 2013, foi realizado um sorteio, através da extração da Loteria

Federal, do qual participaram todas as pessoas inscritas no banco de dados do

PMCMV18. A partir do sorteio, com base nos critérios nacionais19 e locais20,

normativamente previstos, foram feitas a pré-seleção, a hierarquização e a composição

dos grupos de candidatos (titulares e reservas).

Figura 15: Percentual da Origem das Demandas Fechada (assentamento) e Aberta

(sorteio) do Residencial Vivendas do Planalto I a IV.

Fonte: Cadastro único e Banco de Cadastrados PMCMV-Natal.

18 A metodologia de seleção foi publicada na Portaria 031/2013, de 19 de julho de 2013 da SEHARPE.

19 De acordo com a Portaria 610/2011 do Ministério das Cidades, os critérios nacionais para seleção das

famílias foram: a) famílias residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas; b) famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar e c) famílias das quais façam parte pessoas com deficiência.

20 Para complementar os critérios nacionais, o Conselho de Habitação de Natal, em abril de 2013, definiu

os seguintes critérios locais (Resolução CONHABINS N° 003/2013, de 15 de abril de 2013), para a seleção da demanda aberta: a) famílias com renda per capita igual ou inferior a R$ 70,00 reais; b) territorialidade (considerados os endereços localizados em um raio de 2,5 km do empreendimento); c) filho menor de 18 anos.

54%

16% 16%14%

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Sorteio Assentamento 8 deOutubro

Assentamento Anatália Assentamento MonteCeleste

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O primeiro grupo foi composto por candidatos com cinco a seis critérios de

classificação (75% das vagas). Já o segundo grupo formado por candidatos por até

quatro pré-requisitos (25% das vagas). Além dos grupos formados por idosos e pessoas

com deficiência. Depois de aprovados em todas as etapas, os candidatos sorteados

foram habilitados a participar do sorteio das unidades habitacionais e posterior

assinatura de contrato de financiamento com a CEF. Após a definição das famílias

beneficiárias, o Residencial Vivendas do Planalto ficou constituído por 54% de famílias

oriundas de sorteio e 46% de famílias provenientes de assentamentos precários (Figura

15).

Segundo a SEHARPE, 35% das famílias são originarias do Bairro do Guarapes,

18% pertenciam ao Bairro de Planalto e 17% do Bairro de Felipe Camarão. Estes dados

revelam que a maioria dos beneficiários do Programa tinha a sua anterior moradia na

Zona Oeste de Natal, em função do critério local de “territorialidade”.

No que se refere às características dos titulares dos apartamentos, cerca de 83%

são mulheres e apenas 17% corresponde ao sexo masculino. Essa informação

evidencia a importância de as mulheres responderem pela maioria das escrituras no

PMCMV. O próprio Programa da prioridade para que as mulheres chefes de famílias sejam as

titulares dos imóveis. De acordo com o Governo Federal, atualmente, as mulheres são

proprietárias de 89% das moradias do PMCMV (Faixa 1).

4.1.2 Trabalho Social de Pré e pós-ocupação Condominial no Vivendas do

Planalto I a IV.

O trabalho social pré e pós-ocupação tem sua importância revelada quando um

empreendimento do PMCMV possui uma diversidade de realidades sociais de famílias

que possuem um histórico de exclusão social e que necessitam de acompanhamento

do TS. Em 2014, o Residencial Vivendas do Planalto recebeu inúmeras famílias

oriundas de assentamentos precários e sorteio.

A pesquisa identificou que na etapa que antecedeu a entrega das unidades

habitacionais a Secretaria de Habitação de Natal realizou o trabalho social pré-

ocupacional, principalmente com as famílias dos assentamentos precários, e, apesar

de não ter formulado o PTS-P e enviado à CEF, a SEHARPE desenvolveu atividades

referentes a esta etapa. Quando foi questionada sobre o trabalho social pré-ocupação,

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a Responsável Técnica Social do Residencial Vivendas do Planalto informou que:

Nós fizemos o trabalho com as famílias que eram demanda fechada (assentamento), a parte de cadastramento, de acompanhamento, de orientação. Então, toda essa parte de orientação das famílias do cadastramento até mesmo a questão de documentação nós acompanhamos (Responsável Técnica Social do Residencial Vivenda do Planalto I a IV, outubro de 2016).

Uma realidade constada em diversos Municípios do país é à baixa capacidade

administrativa das Secretarias de Habitação em formular e implementar políticas

públicas de habitação de interesse social. Durante a investigação, foi possível observar

que, no Município de Natal, fatores como a falta de uma equipe Técnica mais completa,

as limitações da infraestrutura e de capacitação administrativa e de planejamento da

Secretaria de Habitação são apontadas como alguns dos dificultadores para a

execução do trabalho social dos empreendimentos habitacionais.

De acordo com informações da Responsável Técnica Social do Residencial

Vivendas, na época que antecedeu a entrega do empreendimento, em 2013:

A equipe sempre foi muito reduzida, principalmente nessa época da implementação do trabalho no Vivendas do Planalto. [...] éramos apenas três Assistentes Sociais na época e precisamos fazer parceria com a Casa do Menor Trabalhador para poder contratar jovens que pudessem nos auxiliar nesse processo de habilitação das famílias, na parte de recebimento da documentação (Responsável Técnica Social do Residencial Vivenda do Planalto I a IV, outubro de 2016).

Apesar dessa situação, o DASPE realizava acompanhamento das famílias

através de atendimentos técnico-sociais, visitas domiciliares e reuniões com os líderes

comunitários das favelas. Para a Técnica Social, o Movimento de Luta nos Bairros, Vilas

e Favelas (MLB) foi um parceiro importante na condução do trabalho social pré-

ocupacional com as famílias dos assentamentos, conforme relato:

O MLB foi um aliado importante no processo. Porque nós tínhamos as três comunidades a serem reassentadas. Teve também a líder comunitária Dona Fátima, que era do Monte Celeste que já não era uma relação tão amistosa, era uma relação bem mais conflituosa, mas, de um modo geral, nós temos uma boa relação de trabalho com os movimentos sociais (Responsável Técnica Social do Residencial Vivenda do Planalto I a IV, outubro de 2016).

O MLB atuava como forte articulador entre a instituição e os beneficiários do

Programa. Nos assentamentos liderados pelo MLB (8 de Outubro e Anatália), havia

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uma forte integração comunitária, diferentemente do Monte Celeste, onde havia

desarticulação da comunidade e resistência entre as famílias moradoras, sendo isso

dificultador na atuação da equipe social da Prefeitura. Apesar dos conflitos existentes,

a Prefeitura de Natal tenta manter uma boa relação com os movimentos sociais de luta

pela moradia existentes na Capital, conforme descrito pela Técnica Social do Vivendas

do Planalto.

Os conflitos, eles existem, embora a Prefeitura tenha uma boa relação com o MLB, mas são muitos conflitos de ordem que saem do coletivo, tratam de algumas questões específicas dentro do assentamento, como as questões políticas e visões dentro do próprio da própria comunidade. A Prefeitura tem um diálogo que acaba sendo favorável com aos movimentos sociais. Então isso, facilita no momento da execução do trabalho social nas comunidades que foram reassentadas (Responsável Técnica Social do Residencial Vivenda do Planalto I a IV, outubro de 2016).

Como se percebe no caso estudado, a existência de movimento sociais

previamente organizado tem contribuído para facilitar o desenvolvimento do trabalho

social nos projetos de habitação, pois esses acabam estabelecendo uma colaboração

com os técnicos responsáveis por esta tarefa. Contribuem também para evitar que o

vácuo institucional seja preenchido por organizações ligados ao crime. Foram relatadas

situações inclusive, nas quais esses movimentos organizados montaram esquemas de

segurança para evitar a invasão dos apartamentos e o domínio pelo tráfico de droga.

Muitas ocasiões, as famílias organizadas pelo MLB faziam plantões de vigílias com o

tal objetivo.

Em relação ao trabalho social com as famílias da demanda aberta, a SEHARPE

realizou poucas atividades, segundo relatos dos morardes (sorteados). Foram

realizados apenas atendimentos sociais (quando eram necessários), operacionais

(montagem de dossiês) e, nas reuniões de sorteio dos apartamentos, as assinaturas

contratos e a entrega das chaves dos apartamentos.

Com relação à participação das famílias durante todo o processo de recebimento

das unidades habitacionais, foi realizado um trabalho mais participativo com as famílias

de assentamentos, com reuniões e assembleias. Além disso, o próprio MLB era

integrante do Conselho Municipal de Habitação de Interesse Social e havia a

participação das famílias do assentamento mobilizadas pelo movimento nas reuniões

do Conselho.

No entanto, não havia uma maior participação das famílias oriundas de sorteio.

Isto se deve ao fato de que a Secretaria de Habitação não fomentava a participação

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destas famílias. Os primeiros contatos com essas famílias ocorreram apenas no

processo de montagem de dossiês. E depois nas reuniões de sorteio de definição dos

endereços, na assinatura dos contratos e entrega das chaves dos apartamentos. No

que se refere a participação das famílias, a Técnica Social informou que:

A participação da demanda aberta é uma demanda bem direcionada, porque são selecionados, já vem direcionado para a questão da entrega de documentação, para saber se realmente o sorteado vai ser habilitado ou não, porque ele entra no processo de habilitação do Programa. Então é bem mais simples a questão da participação. Porém, a questão do reassentamento das famílias da demanda fechada, ela se torna bem mais complexa. Então, a gente faz o trabalho social com a comunidade, fazemos reunião com elas. Damos as orientações necessárias com relação a essa nova mudança para esse empreendimento (Responsável Técnica Social do Residencial Vivenda do Planalto I a IV, outubro de 2016).

No depoimento dos moradores, é possível observar que existe um sentimento

de descaso com as famílias, pois em nenhuma parte do processo elas foram

convidadas a participar da construção do PTS ou de outras etapas do processo. Um

morador afirmou:

A gente que era de sorteio éramos desprezados. A CAIXA abandonou nós! Só teve uma reunião da CAIXA, que foi no dia de assinar os contratos. Antes de entregarem, eles fizeram uma reunião aqui! Porque veio prefeito, vereador; veio só por boniteza. Só veio nesse dia e pronto. Falaram no dia de assinatura dos contratos que com um mês iriam fazer fiscalização nos apartamentos. Até hoje, nada! Vai fazer 2 anos que estamos aqui e eles nunca vieram! (Morador do Residencial Vivendas do Planalto, novembro de 2016).

Como se ver, o trabalho social nestes empreendimentos é precário ou até

inexistente. A maior parte das famílias é praticamente “jogada”, sem qualquer

acompanhamento nas unidades habitacionais. Enquanto isso, políticos da localidade,

aproveitam-se para fazer atos políticos na entrega dos apartamentos, com objetivos

eleitorais, sem, no entanto, terem qualquer compromisso com as famílias no sentido de

melhorar a infraestrutura e os serviços públicos nos bairros onde estes estão instalados.

Após a etapa do trabalho social preliminar, o Município tem a responsabilidade

de acompanhar as famílias no trabalho social pós-ocupacional, em conformidade com

a Portaria N° 021/2014. As primeiras mudanças das famílias e a erradicação dos

assentamentos precários ocorreram em maio de 2014.

O trabalho social pós-ocupacional do Vivendas não foi efetivo e permeado de

conflitos. Por alguns meses, a SEHARPE desenvolveu um plantão social no Centro

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Comunitário do empreendimento, com assistentes sociais e estagiários. O plantão tinha

como objetivo principal o atendimento técnico social individualizado, auxiliando as

famílias nas mudanças, ou seja, ser um ponto de apoio para o processo de adaptação,

assim como esclarecer possíveis dúvidas quanto às regras do Programa e de

convivência e realizar a troca das chaves dos apartamentos.

Figura 16: Foto (a) Registro Fotográfico da Mudança no Assentamento Anatália; Foto

(b) Chegada das Famílias no Residencial Vivendas do Planalto.

.

(a) (b)

Fonte: Prefeitura de Natal, 2014.

Por diversos fatores, a SEHARPE não conseguiu dar continuidade ao trabalho

social pós-ocupacional no empreendimento. Para a Técnica Social Responsável, houve

muitos fatores que foram determinantes para a precariedade do trabalho social. Como

já foi citado, o Residencial Vivendas do Planalto recebeu o reassentamento de 3

comunidades. Junto com a mudança das famílias, o novo residencial também foi

cenário de muita violência, disputa de território pelo tráfico de drogas, homicídios,

invasão de apartamentos e roubos. Pela falta de segurança pública na região, diversas

famílias foram alvos da constante violência.

Nos primeiros meses, após a ocupação do empreendimento, diversos

apartamentos foram ocupados irregularmente ou roubados, pois havia uma milícia que

invadia os apartamentos e falsificava os contratos da CEF para vender a terceiros. Para

a SEHARPE, a Prefeitura não possui nenhuma responsabilidade sobre este assunto,

pois a Caixa Econômica Federal, normativamente, possui a obrigação de reaver os

apartamentos por processo judicial, solicitando a reintegração de posse dos imóveis.

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Segundo relato da Responsável Técnica Social do Residencial Vivenda do Planalto, as

invasões e vendas de apartamentos constituem um dos principais fatores para a não

realização do trabalho social. Segundo ela:

[...]. É um território que tem milícias e onde alguns realmente acabaram invadindo os apartamentos. E a gente teve toda uma dificuldade de realizar esse trabalho social, porque dentro dessa situação de invasão, a CAIXA deveria ter tomado um posicionamento que era a reintegração de posse. E não ocorreu! E aí, até hoje a gente está tentando ver como a gente consegue desenvolver esse trabalho social, para poder atender às famílias que ainda estão para receber as suas unidades habitacionais. Acho que chega em torno de 40 famílias (Responsável Técnica Social do Residencial Vivenda do Planalto, outubro de 2016).

A demora da reação da Caixa Econômica Federal contra as invasões e a

comercialização ilegal dos apartamentos do Vivendas do Planalto, com a demora dos

pedidos de reintegração de posse, abre caminho para a insegurança e para as práticas

ilegais e criminosas nos condomínios. Aqui claramente se revela a falta de presença de

autoridade do poder público nestas regiões periféricas das cidades onde estes

empreendimentos são instalados. Muitas vezes, o que predomina a lei do mais forte,

inclusive conflitos armados na ocupação ilegal dos apartamentos. Há relatos inclusive

de milícias armadas envolvidas neste comercio ilegal, que falsificam contratos de

compra e venda, impedem a posse das famílias contempladas e revendem os

apartamentos.

Como regra do PMCMV, as unidades habitacionais pertencem à União durante

10 anos e, após este período, é que as famílias recebem as escrituras públicas dos

imóveis. Até o momento, a Secretaria não possui o quantitativo de apartamentos

invadidos ou comercializados indevidamente e a CEF não realizou a reintegração de

posse dos imóveis. Os moradores relatam insatisfação quanto à atuação da CEF e da

Prefeitura na resolução do problema das invasões:

A Prefeitura e a CAIXA não fizeram nada sobre essas invasões! Tem muita gente aqui que mora de posse! E o secretário foi uma vez no assentamento, antes de entregar isso aqui e falou que com o mês a fiscalização da CAIXA vai ficar em cima. E até hoje esperamos por essa fiscalização! Dois anos que já foi entregue isso aqui e nada da parte da Prefeitura e da CAIXA! (Morador do Residencial Vivendas do Planalto, novembro de 2016).

O MLB, como membro integrante do Conselho de Habitação de Interesse Social

de Natal, solicitou uma reunião extraordinária (15 de setembro de 2015) do

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CONHABINS, com o objetivo de discutir os problemas de invasões dos apartamentos

no Vivendas do Planalto e Morar Bem Pajuçara. Nessa ocasião, foram convidados

representantes da Caixa Econômica Federal e do Banco do Brasil (agente operador

financeiro responsável pela contratação do empreendimento Morar Bem Pajuçara) para

dar explicações sobre os processos de reintegração de posse dos apartamentos

invadidos e comercializados indevidamente. Porém, somente compareceram à reunião

do CONHABINS os advogados representantes do Banco do Brasil (Figura 17).

Figura 17: Foto (a): Líder do MLB na Reunião do CONHABINS; Foto (b): Advogados

Representantes do Banco do Brasil Explicando o Processo de Reintegração de Posse

do Residencial Morar Bem Pajuçara.

(a) (b)

Fonte: Foto (a): acervo pessoal da autora, outubro de 2015; Foto (b): Rosa de Fátima, outubro de

2015.

Além das invasões dos apartamentos, a equipe técnica também foi ameaçada e

os equipamentos da Secretaria de Habitação foram roubados do centro comunitário,

onde eram realizadas as ações do trabalho social. Diante destes acontecimentos, a

Secretaria parou as atividades do trabalho social, assim que todas as chaves dos

apartamentos foram destrocadas. Logo após, a ETS da SEHARPE deixar de frequentar

o residencial, o centro comunitário foi ocupado por três famílias que viviam em situação

de coabitação. Desde então, a SEHARPE encontra dificuldades em acessar novamente

o território e dar continuidade ao trabalho social no empreendimento. Para um morador:

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Foi só na entrega mesmo! As assistentes sociais ficaram aqui somente um mês! Para terminar de ajeitar e entregar as chaves de todo mundo! Mas, depois disso, foram embora! Para não dizer que não tem acompanhamento, o pessoal do CRAS teve aqui, fez uma lista porque para receber a cesta básica tem que passar fome! Então, elas vieram para fazer o cadastro, fazer o Bolsa Família e atualizar o Cadastro Único. O pessoal do CRAS só veio para isso mesmo (Moradora do Residencial Vivendas do Planalto).

A recorrentemente violência e o tráfico de drogas aparecem como um dos

problemas mais graves do conjunto, na visão de seus moradores. A percepção da

violência no residencial está particularmente associada à presença do tráfico de drogas,

ao risco de arrombamentos e invasões dos apartamentos, assim como à ausência de

policiamento. Com muita frequência, o residencial é noticiado, na mídia policial, como

local de homicídios, roubos e outros delitos.

No que se refere à gestão condominial e patrimonial do Residencial Vivendas do

Planalto, segundo relatos da Técnica Social responsável pelo trabalho social, a CEF

ficou com a responsabilidade de executar toda a gestão condominial do

empreendimento. A CEF contratou uma empresa terceirizada para realizar a tarefa de

formalização dos condomínios e eleição de síndico, por meio de um modelo de gestão

condominial realizado em condomínios de classe média. Neste sentido, Paz; Rodrigues

e Blanco (2015) esclarecem que:

Outra questão central diz respeito ao modelo de gestão condominial, inspirado nos condomínios do mercado de classe média, que tem se revelado inadequado para o modo de vida da população de baixa renda. O modelo reproduz o autoritarismo, a centralização e não favorece o convívio, a participação e a sociabilidade

Ou seja, a forma de organização da gestão condominial do PMCMV Faixa 1 é

inspirada nos moldes de conjuntos habitacionais de classe média e não levam em

consideração a cultura e o modo de organização das famílias oriundas de áreas de

favelas, ocupações e loteamentos irregulares. A implementação da gestão condominial

no Residencial Vivendas do Planalto foi permeada de muitos conflitos, pois os

moradores rejeitaram as ações da empresa contratada pela CEF. Conforme relato da

Técnica Social:

Parte desde a questão da gestão condominial que ficou a cargo da Caixa Econômica Federal. A CAIXA contratou uma empresa para a gestão de condomínio e a empresa não fez o trabalho a contento. Aí, a gente teve toda uma dificuldade de desenvolver o trabalho social (Responsável Técnica Social do Residencial Vivendas do Planalto, outubro de 2016).

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Como se ver, a tendência dos técnicos sociais é responsabilizar a CEF a não

realização do trabalho social, se, no entanto, perceber que a responsabilidade por este

trabalho recai para as Prefeituras. Houve muitos conflitos entre os moradores no

processo de formação dos condomínios, principalmente na definição dos síndicos, da

taxa de condomínio e na criação do regimento interno. Em geral, os moradores

desconhecem os motivos pelos quais são necessárias regras de convivência

condominial, pois muitas famílias são oriundas de assentamentos precários e

loteamentos informais ou residiam em imóveis alugados. Segundos relatos de

moradores, atualmente, muitos condomínios não possuem síndicos os moradores não

pagam as taxas condominiais.

Fala 1: Não tivemos nenhuma atividade, não tivemos nada! Estamos aqui abandonados! Para não falar que teve uma reunião, veio um senhor aqui para tentar fazer as eleições de síndicos. Veio da Caixa da Econômica, ele veio para gestão condominial! A gente tentou fazer, mas tinha gente que aceitava ter sindico, tinha gente que não aceitava e ele também abandonou o trabalho! Fala 2: A gente não aceitou porque era R$ 30,00 reais e não tínhamos para mal comer e pagar apartamento! A gente não vai ter para pagar sindico por boniteza! (Moradores do Residencial Vivendas do Planalto, novembro de 2016.)

Alguns moradores e lideranças comunitárias informais estão realizando o

voluntariamente o trabalho de formação dos condomínios, eleição de sindico. Ou seja,

de forma informal e autogestionaria de alguns condomínios, os moradores estão

instituindo a gestão condominial, conforme relato abaixo:

A gente mesmo que se organizou! Porque no meu bloco é assim! Eles chegaram com essa proposta do síndico e cada morador pagando 30,00 reais ao síndico. Como uma moradora se disponibilizou como sindica não precisamos mais pagar esse valor (Morador do Residencial Vivendas do Planalto, novembro de 2016.)

Com relação a infraestrutura comum deste condomínio, percebe-se que as áreas

de uso coletivas e comunitárias estão bastante deterioradas, pois durante um período

o centro comunitário foi ocupado por três famílias. Atualmente, algumas lideranças

comunitárias reocuparam o espaço e o transformaram em uma associação de

moradores, com funcionamento de alguns projetos sociais. Os equipamentos de

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esporte e lazer encontram-se bastantes depredados, em função de não comportarem

o volume de pessoas do residencial e por não possuírem manutenção.

O Residencial foi registrado como condomínio do tipo aberto. Porém, as famílias

construíram muros em torno de cada bloco, transformado as áreas em condomínios

fechados (Figura 18). Como citado pelos moradores durante o grupo focal:

Nós sentimos total abandono! Nós preferíamos que o condomínio fosse fechado, e estamos fechando os condomínios. Quando a gente chegou aqui era fechado, com placas das construtoras. Porque para a gente entrar aqui, tínhamos que mostrar o contrato, mas depois de um mês, tiraram tudo! A gente não podia sair porque se não os apartamentos eram arrombados, ou se não, quando a gente saísse por 15 dias, já tinha gente morando e arrombado o apartamento! (Morador do Residencial Vivendas do Planalto, novembro de 2016).

Figura 18: Registro Fotográfico Atual dos Condomínios do Residencial Vivendas do

Planalto (2016).

Fonte: Acervo pessoal da autora, outubro de 2016.

Com a não realização do trabalho social e a falta de organização da gestão

condominial, percebe-se nas falas dos moradores que isto foi um dificultador para o

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processo de adaptação a nova moradia, como relatado por uma moradora: “[...] eu,

sinceramente, eu gostaria que eles tivessem feito o que foi prometido! A assistência

social antes, durante e depois! Já era de bom tamanho! ”

O residencial recebeu muitas famílias em situação de vulnerabilidade social, que

antes viviam em condições precárias de habitabilidade, em coabitação ou aluguel. O

acesso à nova moradia não foi suficiente para a garantia do direito à cidade ou aos

demais direitos sociais. O trabalho social no âmbito dos projetos de habitação de

interesse social deveria funciona como uma ponte entre as políticas públicas e o

alcance e usufruto efetivo dos serviços e programas sociais. O trabalho social pode ser

um mecanismo para o desenvolvimento de oportunidades de cidadania da população.

O Conselho de Habitação de Habitação de Natal até que vem tentando fiscalizar

e exigir a realização do trabalho social nos projetos de habitação de interesse social da

Capital. Os assuntos relacionados chegam a ser discutidos no CONHABINS. Apesar

dos esforços do CONHABINS, mesmo após três anos, as famílias do residencial ainda

aguardam as intervenções do trabalho social na comunidade. Uma Técnica Social da

SEHARPE relata que todas as discussões relacionadas ao trabalho social foram feitas

no Conselho.

As discussões e as deliberações todas foram no Conselho. Aí, dentro da parte do Conselho, as deliberações foram todas normatizadas através das resoluções. Para que a gente pudesse ter o direcionamento no trabalho social, de como proceder seguindo todo esse normativo, essa legislação especifica do Programa (Responsável Técnica Social do Residencial Vivenda do Planalto I a IV, 2016).

De acordo com a SEHARPE, o Projeto de Trabalho Social ainda se encontra em

processo de formulação. A proposta da SEHARPE é realizar uma licitação pública

assim que o PTS seja aprovado pela CEF, de modo a contratar uma empresa

especializada na execução de trabalho social em projetos de habitação de interesse

social.

Existem muitos motivos que levaram à baixa ou à quase nenhuma efetividade

das ações do trabalho social da Prefeitura no Vivendas do Planalto I a IV. Fatores como

a baixa capacidade técnica, a escassez de profissionais para a execução das ações, a

violência no território e tantos outros podem ser enumerados. Tanto a Prefeitura, como

a CEF e o Ministério das Cidades são responsáveis pelos problemas enfrentados pelas

famílias que moram no residencial.

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A falta da presença do Estado nos territórios abre espaço para o aparecimento

da violência e da insegurança dos condomínios. Pelo que se ver no noticiário, o que

acontece no Residencial Vivendas do Planalto, na verdade parece ocorrer em grande

parte dos empreendimentos do PMCMV Faixa 1 no país. A presença de milicianos e do

tráfico de drogas são problemas que devem ser enfrentados pelos governos Estaduais

através da política de segurança pública, seja de forma preventiva ou ostensiva.

Durante a nossa investigação, os moradores do Vivendas do Planalto

demonstraram um profundo sentimento de abandono por parte do Estado, não somente

pelo fato de não ter sido realizado o trabalho social, mas por não terem acesso aos

principais serviços públicos na região. Isso, no entanto, não os leva a negar a conquista

que tiveram ao obterem suas novas moradias. Nos discursos é possível ver que a vida

melhorou do ponto de vista de habitabilidade, pois muitas famílias não moram mais em

casas precárias ou pagam aluguel. Porém, expressam claramente o sentimento de

severa privação de outros direitos sociais.

4.2 Experiência do Trabalho Social no Residencial Ilhas do Atlântico

em Parnamirim/RN.

Com o lançamento do PMCMV, em 2009, a Prefeitura de Parnamirim aderiu ao

Programa imediatamente e iniciou o processo de inscrição das famílias. Inicialmente,

foram inscritas 16.485 mil pessoas (6.629 pela internet e 9.856 nas escolas municipais),

no período entre 8 de maio a 19 de junho/2009. O número de inscrições foi superior ao

total do déficit habitacional do Município, estimado na época pelo Plano Municipal de

Habitação de Interesse Social em 7.819 domicílios.

Em 2016, o Residencial Ilhas do Atlântico21 (com 496 apartamentos) foi o nono

empreendimento do PMCMV Faixa 1 inaugurado na cidade de Parnamirim (Figura 19).

O residencial está situado no Bairro Liberdade e foi construído pela construtora M&K

Comércio e Construções LTDA, com recursos do FAR, na ordem de R$ 20.333.105,07.

21 Cada unidade habitacional possui uma área útil de 37,39 m², tendo um valor de construção de R$

40.994,16. As instalações físicas do empreendimento são compostas por sala de estar/jantar, cozinha, área de serviço, banheiro social, 2 quartos. Em relação aos equipamentos coletivos, o empreendimento conta com área de lazer, sendo constituída de: churrasqueira, 2 banheiros (masculino/feminino), 2 piscinas (infantil e adulta) e Salão de Festas, uma guarita; casa de lixo e quadra de esportes.

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Figura 19: Localização do Residencial Ilhas do Atlântico – Parnamirim/RN.

Fonte: Google Maps, 2017. Elaboração própria da autora.

O residencial é um dos poucos empreendimentos do Programa que possui

piscinas e calçamento com piso tátil no RN. Isto se deve ao fato do condomínio ter sido

inicialmente planejado e construído para o público do Faixa 2 (renda familiar de R$

2.351,00 e R$ 3.600,00). No entanto, segundo informações da Secretaria Municipal

de Habitação e Regularização Fundiária de Parnamirim (SEHAB), a CEF não aprovou

a medição financeira da obra, alegando que a construção estava abaixo do padrão

construtivo da Faixa 2 do Programa.

A solução encontrada pela Prefeitura e pelo Conselho Municipal de Habitação

de Interesse Social de Parnamirim foi aprovarem a desoneração fiscal para reduzir o

preço dos imóveis, em um acordo entre CEF e a construtora, para que as unidades

habitacionais fossem destinadas às famílias da Faixa 1 do Programa.

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Figura 20: Foto: (a) Faixada do Empreendimento Ilhas do Atlântico; Foto: (b) Blocos

de Apartamentos do Residencial Ilhas do Atlântico.

(a) (b) Fonte: foto (a): Disponível em: <http://www.novojornal.jor.br/cotidiano/contemplados-com-o-ilhas-do-atlantico-receberao-chaves-de-seus-imoveis>, acesso em fevereiro de 2017. Foto (a): Disponível em: <http://giraparnamirim.com.br/arq/geral/3393-ilhas-do-pacifico-esta-na-reta-final-para-a-entrega.html>.Acesso em fevereiro de 2017.

Diferentemente dos empreendimentos implantados nas periferias da RMN, a

área onde encontra-se localizado Residencial Ilhas do Atlântico é uma região dotada

com boa oferta de infraestrutura urbana, com a oferta de serviços públicos e está a

poucos quilômetros de distância do centro da cidade. Percebe-se que a região

encontra-se processo de crescimento imobiliário, pois diversos loteamentos e

empreendimentos estão sendo implantados na área. Com a construção deste

residencial no Bairro Liberdade, houve no setor censitário um aumento na quantidade

de imóveis, de 329 domicílios para 825 residências, representando um crescimento de

150,75% (IBGE, 2010).

Com relação à seleção dos beneficiários do Residencial Ilhas do Atlântico, os

normativos seguidos para os critérios22 de seleção e hierarquização das famílias

22Para a seleção das famílias, foram utilizados os seguintes critérios nacionais da Portaria N° 140/2010:

a) famílias residentes ou que tenham sido desabrigadas de áreas de risco ou insalubres; e b) famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar. De forma a complementar os critérios nacionais, o Conselho Municipal de Habitação de Interesse Social (CMHIS) de Parnamirim estabeleceu os seguintes critérios adicionais de seleção: a) participantes em Programas Sociais do Governo Federal (ser participante em quaisquer programas sociais do Governo Federal com base no Cadastro Único); b)

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estavam contidos na Portaria N° 140, de 5 de março de 2010, do Ministério das

Cidades, vigente na época de contratação do empreendimento. A Coordenadora do

PMCMV em Parnamirim explicou como funcionavam o Programa no Município e os

critérios de participação:

Em 2009, foram lançados o Programa e as inscrições. O trabalho social mesmo aconteceu no final de 2010 e início de 2011. Então, o Programa Minha Casa, Minha Vida é destinado para famílias com renda de 0 a 3 salários mínimos. A Faixa de renda, você tinha que ter até R$ 1.600,00 reais na época. Com a nova portaria, a renda é até R$ 1.800,00 reais. Como prioridade, nós temos portarias que nos regem. A mais atual é a 412, que aí tem alguns critérios adicionais do programa. Os três principais são: ter renda familiar compatível com a lei, porque foi mudado em 2016; [...] segundo não ser proprietário de imóveis, ou seja, não pode ter um imóvel no nome; pessoas com deficiências; famílias que possuem como responsáveis familiares mulheres e principalmente famílias que moram em áreas de risco, aí entram os assentamentos precários, favelas, pessoas que moram em área de risco (Coordenadora do PMCMV da SEHAB de Parnamirim, novembro de 2016).

O sorteio dos apartamentos foi realizado em 2011, mas somente após cinco anos

os apartamentos foram entregues às famílias sorteadas. A demora na entrega dos

apartamentos e a morosidade da CEF e da Prefeitura são fatores que contribuíram para

a pouca efetividade do trabalho social com as famílias do Ilhas do Atlântico.

Devido à demora na entrega dos apartamentos, o trabalho social pré-

ocupacional, que deveria permitir analisar antecipadamente o perfil dos moradores e

prepará-los para a mudança, promovendo reuniões de esclarecimentos, orientações,

assembleias, sorteio das unidades habitacional etc, não foi realizado. Ou seja, o

trabalho social pré-ocupação com as famílias se resumiu apenas a realização de um

seminário de integração e reuniões de entrega das chaves.

O fato da Prefeitura ter contratado uma empresa para executar o trabalho social

pós-ocupação não exclui a responsabilidade do ente público de implementar o TS na

etapa pré-ocupação. Nos relatos dos moradores, foi apontado que durante cinco anos

as famílias cobraram da Prefeitura e da CEF um posicionamento sobre a razão pela da

não realização do trabalho social pré-ocupacional e os problemas relacionados com a

demora da assinatura dos contratos e a entrega do condomínio. Estes problemas

Existência de dependentes de 0 a 6 anos; c) Territorialidade (o candidato inscrito deveria residir próximo à região do empreendimento).

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também ficam evidentes na própria fala da Coordenadora do PMCMV da SEHAB, que

relata as dificuldades da não realização do trabalho social pré-ocupação:

Então, sempre foi um quesito que a gente se preocupava, porque meio que não acontecia como deveria. Como a questão do tempo e dos normativos eram atropelados, já chegava assim ‘vai ser entregue o empreendimento! ’ Então essa pré-ocupação não ocorreu como deveria ter ocorrido, entendeu? Porque já se iniciava o trabalho social no seminário de Integração e era nesse seminário que a gente já ia mostrando, sensibilizando e orientando. O ideal é que pelo menos uns 3 meses antes já fossem trabalhando. Lá em Parnamirim, no meu tempo, não houve essa execução do trabalho social pré-ocupação (Coordenadora do PMCMV da SEHAB, novembro de 2016).

Devido a quantidade de empreendimentos implantados no Município, a SEHAB

não realizou um Projeto de Trabalho Social individual para cada residencial, mas optou

pela criação de um Plano de Intervenção de Trabalho Técnico Social (PITTS) para

todos os conjuntos habitacionais do Programa, com a finalidade de traçar as diretrizes

básicas gerais para as ações do trabalho social junto às famílias beneficiárias.

Durante a investigação, foi possível constatar que a falta de estrutura técnica da

SEHAB e a alta rotatividade de profissionais são pontos desaforáveis para

implementação do trabalho social nos projetos de habitação no Município. De uma

forma geral, a Secretaria de Habitação de Parnamirim dispõe de mais funcionários

comissionados do que de (que em muitas ocasiões, não são contratados por

capacidades técnicas, mas para atender interesses políticos da gestão municipal)

profissionais estatutários capacitados da área social.

Por este motivo, a SEHAB utilizou como justificativa a contratação de uma

empresa terceirizada para executar o trabalho social. A Fundação de Apoio à Educação

e ao Desenvolvimento Tecnológico do RN (FUNCERN), do Instituto de Educação

Tecnológica do Rio Grande do Norte (IFRN), foi a vencedora da licitação do trabalho

social em Parnamirim. Desde 2013, a equipe técnica da FUNCERN é responsável por

formular e implementar o trabalho social pós-ocupacional nos residenciais entregues

em Parnamirim. Sobre este assunto, a Coordenadora do Trabalho Social da FUNCERN

no Residencial Ilhas do Atlântico nos informou que:

Em Parnamirim, foram 13 empreendimentos! Foram entregues 9 empreendimentos, mas quando iniciou a execução do trabalho social em Parnamirim, foram 8 de uma vez. Aí, teve um, esse eu fiquei em campo, que foi o Ilhas do Atlântico! Então eu tinha a responsabilidade de coordenar todas as equipes e a parte normativa, burocrática dentro da Secretaria de Habitação do Município nessa relação com a CAIXA. Como eu era de lá, eu coordenava

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todas as equipes da FUNCERN (Coordenadora do Trabalho Social da FUNCERN, novembro de 2016).

Com a inauguração do residencial, em 2016, a equipe técnica da FUNCERN deu

início ao trabalho social pós-ocupacional. Com uma equipe composta por Psicólogos,

Assistentes Sociais, Técnico em Meio Ambiente e estagiários das respectivas áreas, a

ETS também era formada por profissionais de consultoria condominial. As atividades

do trabalho social no condomínio foram desenvolvidas no prazo de sete meses, com

redirecionamento dos recursos financeiros do FAR através da reprogramação do PTS

de R$ 280.766,68. O Projeto de Trabalho Social do Ilhas do Atlântico tinha como

objetivo:

Realizar ações socioeducativas de organização, capacitação e qualificação dos beneficiários com vistas à organização comunitária, apropriação/ manutenção do ambiente construído, permanência no imóvel e sustentabilidade das famílias/empreendimento (PREFEITURA DE PARNAMIRIM, p. 3, 2016).

No PTS no condomínio, os propósitos das ações estavam voltados para permitir

a integração e a participação dos beneficiários e demais atores envolvidos, favorecendo

o fortalecimento da identidade, socialização, entretenimento e assimilação dos

processos educativos informais. Na fala da Responsável Técnica Social da FUNCERN

do Residencial Ilhas do Atlântico, o trabalho social iniciou-se com a finalidade de:

Primeiro de tudo foi mostrar aos beneficiários os seus direitos e deveres, essa nova realidade que eles iriam passar a ter um apartamento e a viver em condomínio. Porque a gente tem várias realidades, a gente tem assentamentos precários, tem situações de muita vulnerabilidade de famílias que vão morar em um condomínio fechado e apartamento (Técnica Social da FUNCERN Responsável pelo PTS do Ilhas do Atlântico, novembro de 2016).

Quanto à intersetorialidade do TS, no processo de implementação do PTS do

Ilhas do Atlântico, segundo informações da equipe da FUNCERN, foi necessário

realizar parcerias intersetoriais com as Secretarias de Educação, Saúde, Centro de

Referência em Assistência Social (CRAS) e o Central de Atendimento Social (CAS),

visando atender as principais demandas dos moradores. A intersetorialidade com

outras políticas públicas se apresenta fundamental para a efetivação do trabalho social

em projetos de habitação de interesse social. Sobre isso, Junqueira (1999, p. 27) afirma

que:

A qualidade de vida demanda uma visão integrada dos problemas sociais. A gestão intersetorial surge como uma nova possibilidade para resolver esses

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problemas que incidem sobre uma população que ocupa determinado território. Essa é uma perspectiva importante porque aponta uma visão integrada dos problemas sociais e de suas soluções. Com isso busca-se otimizar os recursos escassos procurando soluções integradas, pois a complexidade da realidade social exige um olhar que não se esgota no âmbito de uma única política social.

Durante a pesquisa empírica, foi possível observar as limitações na execução do

trabalho social conforme recomendados pela Portaria N° 021/2014. Devido ao curto

prazo de tempo (setes meses) de implementação do TS pós-ocupacional, as atividades

foram insuficientes para atender aos requisitos de todos os eixos exigidos pelo

Ministério das Cidades.

Dentre os eixos da Portaria N° 021/2014, a Educação ambiental e Patrimonial e

Mobilização e a Organização e Fortalecimento Social foram as mais desenvolvidas no

condomínio. Quanto ao eixo “Desenvolvimento Socioeconômico”, existe uma falta de

articulação de políticas públicas e iniciativas de geração de trabalho e renda que visem

a inclusão produtiva, econômica e social das famílias beneficiárias, de forma a

promover o incremento da renda familiar e a melhoria da qualidade de vida.

Em Parnamirim, foram realizados oficinas e cursos de geração de emprego e

renda. No entanto, pelo fato de serem apenas oficinas de confecção de pufs com

garrafas PET e confecção de sabão com óleo de cozinha, elas foram direcionadas,

principalmente, para o público feminino. Ou seja, não houve ações efetivas de geração

de emprego e renda destinadas para as famílias no Residencial.

O desenvolvimento de atividades de geração de emprego e renda revela-se

importante quando se tem em conta que, dentro de um universo de 1.984 beneficiários,

43% dos titulares encontram-se desempregados, 74% das famílias são beneficiárias do

Programa Bolsa Família e 47% dos moradores possuem renda familiar entre R$ 17,00

a R$ 500,00 (Figura 21).

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Figura 21: Renda Familiar do Residencial Ilhas do Atlântico, em Parnamirim - RN.

Fonte: Cadastro Único/SEHAB, 2016.

As ações de geração de emprego e renda deveriam incluir vários passos como

o mapeamento das vocações profissionais dos beneficiários, o encaminhamento aos

serviços de intermediação de mão de obra, o direcionamento aos serviços de formação

de núcleos associativos de produção e de microcrédito produtivo e a execução de

projetos de capacitação profissional.

Estas ações são consideradas fundamentais e devem levar em consideração o

perfil socioeconômico das famílias atendidas, pois em geral elas vêm de longo histórico

de exclusão e vulnerabilidade social. São pessoas com baixa escolaridade e que

apresentam dificuldade de acessar o mercado de trabalho formal e até mesmo de

participar de iniciativas de microcrédito. Infelizmente, as ações do trabalho social nesta

área ainda são pouco efetivas.

Para Inês Magalhães (2011), não é mais aceitável que sejam apenas ofertados,

pelo trabalho social, alguns cursos de capacitação, sem articulação intersetorial com as

demais políticas públicas. Para além de atividades pontuais voltadas para a geração de

emprego e renda, a intersetorialidade nesta temática é de fundamental importância,

pois com a apoio de políticas públicas de promoção do microcrédito,

empreendedorismo, cooperativismo e cursos técnicos profissionalizantes, é possível

descobrir e desenvolver as potencialidades dessas famílias e, consequentemente,

melhorar sua qualidade de vida.

47%

35%

15%

3%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%

R$ 17,00 a R$ 500,00 R$ 500,00 a R$ 1.000,00 R$1.000,00 a R$ 1.600,00 Sem renda

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Em relação às particularidades e diferenças na execução do trabalho social pós-

ocupacional com as famílias oriundas da demanda fechada (assentamentos precários)

e aberta (sorteio), a Técnica Social da FUNCERN relatou que são muitos desafios, pois

são famílias oriundas de diferentes contextos sociais e diversas realidades, com suas

próprias formações, histórias de vida e educação. A partir do momento em que essas

famílias passam a morar em apartamentos e condomínios fechados, elas

experimentam uma grande transformação de vida e, em muitas situações, esse

processo de adaptação se torna bastante conflituoso. Sobre esse assunto, a Técnica

Social da FUNCERN discorre que:

É um desafio muito grande, os públicos são de diversas realidades. No início, com a questão da renda que era de R$ 0,00 a R$ 1.600 [...]. Então, você tem uma família sorteada, você imagina as diversas realidades e tem a questão dos assentamentos. Tem os desafios por questões, primeiramente de renda em si, que conta muito e a própria formação, o histórico de vida, a educação. Então existe esses embates, existe essas dificuldades na relação de vizinhança. Por isso, que a gente trabalha muito essa questão do convívio, porque é diferente! É muito diferente! Eu vejo que seja um dos desafios do trabalho social, são essas realidades bem distintas (Técnica Social da FUNCERN responsável pelo PTS do Ilhas do Atlântico, novembro de 2016).

Em relação à participação dos beneficiários no processo de implementação do

PTS, a pouca participação dos beneficiários pode ser explicada pelo desacreditamento

das famílias com o TS e com a CEF e Prefeitura. No entanto, ao entrevistar a Técnica

Social da FUNCERN acerca da participação das famílias na condução do TS no

Residencial Ilhas do Atlântico, ela define como positiva, apesar de não ser uma

participação expressiva em comparação com o quantitativo de pessoas residindo no

condomínio:

Olha, normalmente é bem positivo, mas claro, normalmente os participantes sempre são o mesmo grupo, a gente nunca teve 100% ativo dos participantes do trabalho social. Variava muito de um condomínio para outro. Vou falar do último condomínio que eu estava em campo! Nós tivemos uma boa participação porque não tínhamos ainda os 496 beneficiários e acho que a gente chegou a ficar com uns 250 no máximo 300 beneficiários já morando! Que é outro fator delicado que essa demora de eles se mudarem e ainda tem a questão dos apartamentos fechados. Eu vejo a participação boa, claro no universo total do empreendimento quantitativa é pouco, mas pela realidade que a gente vê a forma de vida, estilo e histórico, eu vejo bem. Porque quando participam de verdade (Técnica Social da FUNCERN responsável pelo PTS do Ilhas do Atlântico, novembro de 2016).

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Figura 22: Foto (a): Seminário de Encerramento do PTS; Foto (b): Oficina de

Contação de Histórias.

(a) (b)

Fonte: FUNCERN, 2016.

Em relação à gestão condominial, segundo informações da Equipe Técnica da

FUNCERN, essa também foi permeada de conflitos, pois a construtora não realizou

todos os trâmites cartoriais e o condomínio ainda não foi legalizado. Todo esse

transtorno gera muitos problemas para os moradores, já que a falta de compromisso

da CEF, da construtora e da Prefeitura demonstra que a preocupação maior era apenas

entregar rapidamente os apartamentos, o que habilita as construtoras os pagamentos

do Programa, sem ao menos ter legalizado o condomínio e feito as ligações hidráulicas

e elétricas.

De forma paliativa, durante o seminário de integração apenas a eleição de

representantes de blocos do condomínio, segundo depoimento da Técnica Social

Responsável pelo Ilhas do Atlântico:

Nesse empreendimento Ilhas do Atlântico, teve reuniões do grupo gestor. O que aconteceu nesse, como ainda não está legalizado o condomínio, foi intitulado representantes de blocos no seminário de integração! Então, a partir destes representantes de bloco, eles passaram a representar o condomínio [...] no caso desse condomínio eram 11 blocos, então são 11 representantes. Então, se fazia reunião mensal com eles, chamávamos para a Secretaria de Habitação para fazer essa ligação da Secretaria com eles e CAIXA. A CAIXA participava das reuniões! Isto eles gostavam e sempre pediam. [...] A gente sempre tinha um olhar diferenciado, porque via que são múltiplos atores (Técnica Social da FUNCERN Responsável pelo PTS do Ilhas do Atlântico, novembro de 2016).

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Diferentemente dos outros municípios estudados (Natal e São Gonçalo do

Amarante), aqui neste caso a CEF não ficou responsável por executar a gestão

condominial. De acordo com a Coordenadora da Equipe de campo da FUNCERN, a

equipe é composta por um consultor em gestão condominial. Ela informa também que,

futuramente, será desenvolvido o curso de Gestão Condominial para os síndicos,

representantes de blocos, conselho fiscal e equipe técnica do PTS de Parnamirim. Já

para a Técnica Social do Ilhas do Atlântico, são vários dificultadores que

impossibilitaram a realização da gestão condominial:

Olha, são vários! Cada empreendimento é diferente! Outra parte bastante burocrática é a documentação legal, toda essa parte que leva muito tempo para resolver, como CPJ do condômino, isso dificulta também, regimento interno, tudo isso dificulta. No Ilhas do Atlântico que teve essa mudança! Nos outros, foram pelo projeto! Só que tem outra particularidade que a documentação desse condomínio não saiu, ainda está nos trâmites, entendeu? Tanto é que a gente terminou a execução agora em outubro, quando for tudo resolvido da parte legal, a parte da consultoria condominial vai voltar para lá, para finalizar o trabalho social 100%. Eu penso que esses dois fatores, assim, a gestão condominial e a parte burocrática para o condomínio existir legalmente, são os dificultadores, sabe? (Técnica Social da FUNCERN Responsável pelo PTS do Ilhas do Atlântico, novembro de 2016).

Nos depoimentos dos moradores, o tema da gestão condominial gera muitos

conflitos e transtornos, em virtude de o empreendimento não ter sido registrado no

cartório após um ano da entrega dos apartamentos. Por esse fato, os moradores são

impossibilitados de realizar eleições de síndico, definir o regimento interno, o conselho

fiscal e a taxa de condomínio. De acordo com um morador:

Eu creio que para um empreendimento como esse, pelo tempo que estávamos esperando, foi ruim porque esperamos muito, mas eu creio que, de certa forma, hoje, nós estamos vendo que não foi organizado altura. Por exemplo, eu preferia que tivesse demorado mais e que hoje nós tivéssemos tudo organizado e que tivesse síndico. O Projeto Minha Casa Minha Vida do Ilha do Atlântico tivesse entregue já com síndico, como é em todos os empreendimentos. Até hoje, não temos síndico, quase um ano depois e não temos! (Morador do Residencial Ilhas do Atlântico, novembro de 2016).

Para os moradores, a solução encontrada provisoriamente pela CEF e Prefeitura

de eleger representantes de blocos não está funcionando já que, por não haver síndico

e regimento interno, os moradores não pagam a taxa de condomínio:

A obra foi terminada desde 2012, eles estão cozinhando esse tempo todo, [...] pós-entrega e não temos síndico! Porque faz um ano que estamos aqui e

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precisamos de um sindico! Não tem como nos organizar! Na verdade, a gente organiza, mas acabamos que sempre estamos desorganizados. Aqui se junta todo mundo na boca a boca e fazemos um mutirão. No quesito limpeza, segurança e organização, quem está quebrando o galho é o representante de bloco e não é fácil! Você assumir uma conta que não é nossa! A luz do hall ainda está vindo no nome da empresa, enquanto o empreendimento já está no

nome dos moradores. Não existe taxa de condomínio para fazer a

manutenção, nós fazemos com uma taxa voluntária para a questão da segurança do condomínio (Morador do Residencial Ilhas do Atlântico, novembro de 2016).

Esse problema afeta diretamente os equipamentos de uso coletivo (piscina,

quadra, salão de festas e churrasqueiras), uma vez que não possuem manutenção.

Essas questões acabam gerando muitos transtornos, pois a empresa contratada fica

impedida de realizar a gestão condominial, o que acarreta no prejuízo ao condomínio.

A cidade teve um tempo maior para aprender a implementar o trabalho social do

Programa. Mesmo assim, pode-se perceber que, de maneira geral, o TS do Ilhas do

Atlântico foi pouco efetivo, em função de haver uma distância entre o que define as

diretrizes do Ministério das Cidades e o que foi executado. A não realização do trabalho

social pré-ocupacional, o curto prazo de tempo de execução e os problemas com a

gestão condominial são apresentados como impedimentos para a efetividade neste

empreendimento.

4.3 Dificuldades do Trabalho Social no Residencial Ruy Pereira VI

no Município de São Gonçalo do Amarante.

O Município de São Gonçalo do Amarante tem apresentado rápido crescimento

urbano e populacional. Entre os anos 2000 e 2010, o Município teve um crescimento

urbano de 70,41%, com 84,52% da sua população sendo hoje urbana. Tal crescimento

foi impulsionado pela instalação do Aeroporto Internacional Governador Aluízio Alves

(construído para operar como um hub de distribuição de mercadorias para a América

Latina), juntamente com a disponibilidade atual de rodovias federais e estaduais que

colocam o Município em posição privilegiada quanto ao planejamento logístico e

empresarial das empresas já instaladas na cidade. Essas características servem como

importantes atrativos para novas empresas que buscam instalar-se na região.

Com alto nível de integração metropolitana, São Gonçalo do Amarante, tem

apresentado nos últimos anos, diversos problemas decorrentes da evolução urbana e

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populacional. Para solucionar as demandas habitacionais, a Prefeitura aderiu ao

PMCMV com o intuito de reduzir o déficit habitacional do Município.

Com a construção do Residencial Ruy Pereira IV a VI23 (Figura 25), a Prefeitura

de São Gonçalo do Amarante pretendeu diminuir o seu déficit habitacional relativo que

está estimado pela FJP em 13,05%. Atualmente, o empreendimento é considerado o

maior empreendimento habitacional do PMCMV Faixa 1 no RN, com 1.800 unidades

habitacionais.

Figura 23: Localização do Empreendimento Ruy Pereira - São Gonçalo do Amarante.

Fonte: Google Maps, 2017. Elaboração própria da autora.

23 O Residencial Ruy Pereira possui os seguintes equipamentos de uso coletivo: 1 salão de festas com

163,95m² de área construída, composto de: copa, depósito, circulação, 02 banheiros (masculino e feminino) e 1 banheiro adaptado para pessoas com deficiência, 1 campo de futebol society e 1 quadra de voleibol, ambos com piso de areia, 1 parque infantil, com piso de areia, guarita com WC e depósitos de lixos.

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Cada apartamento24 possui uma área útil de 45,27 m², com um valor de

construção de R$ 61.000 mil. Composto por 06 conjuntos de 19 blocos, com 300

apartamentos e com uma população estimada de 7.200 pessoas, o residencial foi

construído pela construtora Borges e Santos S/A, com investimentos do Governo

Federal de mais de 110 milhões, segundo a Prefeitura. Para a realização da pesquisa

empírica, selecionamos o condomínio Ruy Pereira VI, por se tratar do conjunto

habitacional com maior tempo de pós-ocupação e por aí estar sendo implementado o

Projeto Trabalho Social com os moradores.

De acordo com os relatos dos moradores e dos líderes comunitários do

empreendimento, a região é totalmente desprovida de linhas de ônibus e o atendimento

do serviço de transporte público é realizado por uma van e alguns mototaxistas de forma

irregular na localidade. O conjunto habitacional encontra-se localizado em uma área

não dotada de infraestrutura urbana (escolas, postos de saúde, transporte público etc.),

com grandes parcelas de vazios urbanos e loteamentos.

Por estar situado na periferia da cidade, a região apresenta acentuado processo

de transformação de áreas rurais em áreas de expansão urbana, com baixa articulação

com o restante do tecido urbano do Município. Esta problemática também é presente

em diversos empreendimentos do PMCMV Faixa 1 nos Municípios da RMN. Por se

tratar de um megaempreendimento habitacional, a sua construção traz grandes

consequências socioespaciais para a cidade, como falta de inserção urbana e a baixa

urbanidade (SILVA el at, 2015)

Com o aumento populacional e de residências na área, de acordo com o IBGE

(2010), na localidade, existiam 617 domicílios particulares permanentes. Com a

construção de 1.800 novas unidades habitacionais, a área passou a conta com 2.417

domicílios, havendo um crescimento de 391%, em uma região que não foi preparada

para receber tamanho influxo de novos habitantes. Na região foi observado uma rápida

elevação do preço dos terrenos.

24 Cada apartamento é composto por: 1 sala, 2 quartos, 1 banheiro, cozinha e área de serviço e 1 vaga

de garagem descoberta e interna.

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Figura 24: Foto (a): Imagem do Residencial Ruy Pereira I; Foto (b): Bloco de

Apartamentos.

(a) (b)

Fonte: Prefeitura de São Gonçalo do Amarante, 2016.

Figura 25: Foto (a): Via de Acesso para o Residencial Ruy Pereira I; Foto (b): Via de

Acesso pela BR 406.

(a) (b)

Fonte: Acervo pessoal da autora, 2016.

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Em relação ao trabalho social do Residencial Ruy Pereira IV, o processo de

seleção das famílias seguiu os critérios25 nacionais estabelecidos pela Portaria

610/2011 do Ministério das Cidades e três critérios locais26, através da Lei Municipal Nº

1.402 de 17 de janeiro de 2014.

Diferentemente dos Municípios de Natal e Parnamirim, segundo informações da

SEHAB de São Gonçalo do Amarante, o condomínio não possui famílias oriundas de

assentamentos precários. Ou seja, o empreendimento foi 100% ocupado por famílias

selecionadas através de sorteio realizado pela CEF. Ainda sobre este assunto, a

Coordenadora do PMCMV da SEHAB esclarece que:

Pela demanda ser muito grande, em função do déficit habitacional, para fazer a seleção, usamos os critérios nacionais e os critérios locais. Para os critérios locais, a gente botou mães chefe de famílias, com filhos menores de 18 anos, porque a gente tem muito isso aqui na região. Colocamos um percentual de 3% dos idosos e 5% dos deficientes. Então, como a demanda era muito grande, procuramos o Ministério Público, né? Assim, nós achamos melhor fazer o trabalho do sorteio, porque a gente não tinha, no universo de 10.000 inscritos, selecionar 2.300 famílias. Porque poderíamos estar sendo omissos algumas situações, por isso que nós solicitamos a questão do sorteio. Para sermos mais democráticos (Coordenadora do PMCMV da SEHAB de São Gonçalo do Amarante, setembro de 2016).

Durante a pesquisa empírica, observamos a falta de transparência na construção

dos cadastros e no processo de sorteio das famílias para o Residencial Ruy Pereira.

Diante da falta de transparência pública e indícios de corrupção, o Ministério Público

Federal abriu um inquérito para investigar supostos “pagamentos de propinas” e

doações de casas do PMCMV para pessoas ligadas a SEHAB. O inquérito encontra-se

em segredo de justiça e não foi possível obter os resultados da investigação.

Mas a falta de transparência e informações sobre o Programa no Município,

também ficou destacado nos depoimentos dos moradores, pois muitas famílias

25 De acordo com a SEHAB, para a seleção/hierarquização dos beneficiários do residencial, foram utilizados os critérios nacionais, conforme a Portaria 610/2011 do Ministério das Cidades estabelece: a) famílias residentes em áreas de risco ou insalubres ou que tenham sido desabrigadas; b) famílias com mulheres responsáveis pela unidade familiar; e c) famílias de que façam parte pessoas com deficiência (titular ou integrante do grupo familiar beneficiado). 26 De forma a complementar os critérios nacionais, o Município estabeleceu os seguintes critérios adicionais de seleção, através da Lei Municipal Nº 1.402 de 17 de janeiro de 2014: a) indicação de um grupo de famílias oriundas de um mesmo assentamento irregular, sem aplicação de hierarquização e seleção, até o limite máximo definidos de 50%; c) famílias com filhos menores de 18 (dezoito) anos; d) territorialidade; vulnerabilidade Social (famílias com renda per capita familiar igual ou inferior a meio salário mínimo).

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inscreveram-se na Prefeitura acreditando que seriam construídas casas, como no

Programa de Habitação Social (PSH), porém, não houve esclarecimento sobre o

empreendimento e a sua tipologia, conforme relato dos moradores:

[...] eu morava em uma casa emprestada e eu fiz inscrição para uma casa, não foi para o apartamento. O cidadão chegou lá, fez a inscrição, não tenho moradia, tudo bem! Vocês vão colocar no PSH, muitas inscrições eram para isso aí. A maioria que foi inscrito acreditava que receberia casa. Ninguém aqui sabia que era para receber um apartamento. Aí, depois, em 2014, que houve o sorteio. Em maio de 2014 foi avisado que seria apartamentos. Até então, a gente não sabia (Morador do Residencial Ruy Pereira VI, setembro de 2016).

Figura 26: Foto (a): Sorteio dos Apartamentos e Blocos do Residencial Ruy Pereira

VI; Foto (b): Famílias Beneficiárias Aguardando a Definição dos Apartamentos.

(a) (b)

Fontes: Figura (a) <http://wendelljefferson.com.br/?p=3289>. Figura (b): Prefeitura de São Gonçalo do

Amarante, 2015.

O sorteio dos apartamentos foi realizado em 2014 e, após dois anos de espera,

as famílias assinaram os contratos com a CEF e realizaram o sorteio de definição de

endereço. No entanto, durante a pesquisa de campo, diversas famílias relataram que

no período do sorteio dos apartamentos não houve a priorização das unidades

habitacionais adaptados e do térreo para pessoas com deficiência e idosos, conforme

depoimento dos moradores:

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Fala 1: Foi sorteio! Quem ficou no terceiro ficou, não podia trocar ou negociar. Que acredito que quem saiu prejudicado no sorteio foram os idosos e deficientes, porque eles deveriam ter ficado nos andares de baixo. Todos os apartamentos de baixo são preparados para pessoas com necessidades especiais, tanto idosos quanto crianças.

Fala 2: Aqui no Bloco 7, nós temos um problema disso. A minha filha tem deficiência e a descoberta da deficiência foi antes dos apartamentos e tem laudo médico no dossiê. Depois disso, eu procurei a Secretaria, mas eles falaram que foi sorteio e que eu tinha que ficar no lugar em que eu fui sorteada (Moradores do Residencial Ruy Pereira IV, setembro de 2016).

Diferentemente dos discursos dos moradores, segundo informações da SEHAB,

5% das unidades habitacionais adaptadas foram destinadas aos titulares ou familiares

que possuem algum tipo de deficiência e 3% das unidades habitacionais do térreo,

preferencialmente, foram reservadas às pessoas idosas e que foram sorteadas por este

critério. Entretanto, muitas famílias inscritas, por desconhecimento das regras do

Programa e por falta de orientações da Secretaria de Habitação, não declararam essa

condição no momento da inscrição e não comprovam os critérios “deficiência” ou

“idoso”. As famílias que possuíam estes critérios e não declararam participaram do

sorteio geral das unidades habitacionais, não sendo possível troca posteriormente os

apartamentos.

Além da falta de transparência e de informação sobre o processo de seleção dos

beneficiários do PMCMV, em São Gonçalo do Amarante, a pesquisa identificou que o

Município não realizou o trabalho social pré-ocupacional com as famílias do residencial.

De acordo com a Portaria 021/2014 do Ministério das Cidades, após o sorteio e

definição das famílias, a Prefeitura deverá planejar e realizar o Projeto de Trabalho

Social Preliminar (PTS-P). Nos relatos dos moradores, não houve nenhum tipo de

intervenção do trabalho social por parte da Prefeitura que antecedesse a ocupação dos

apartamentos. Ou seja, a Prefeitura apenas realizou uma reunião com as famílias no

dia da assinatura dos contratos a fim de explicar e orientar sobre as regras do Programa

e a convivência em apartamentos.

A falta de compromisso do Município em desenvolver o trabalho social pré-

ocupação revela a omissão da CEF em fiscalizar e cobrar a atuação da Prefeitura no

TS durante as obras. De uma forma geral, tanto a CEF, quanto o Município possuem

uma preocupação maior apenas com construção do empreendimento, com a celeridade

de entregar o mais rápido possível, colocando em segundo o plano o trabalho social

com as famílias.

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A inexistência do trabalho social pré-ocupação traz consequências irreparáveis

para a efetividade do PMCMV Faixa 1. São famílias que irão residir em apartamentos

e condomínios fechados com o mínimo de instrução sobre as regras que permeiam

estes espaços, prejudicando a adaptação e o convívio dos moradores.

Quanto ao trabalho social pós-ocupacional, a Coordenadora do PMCMV da

SEHAB informou que foi realizado o Projeto de Trabalho Social, cuja responsabilidade

técnica ficou a cargo da empresa terceirizada licitada para sua execução. Como em

outras realidades dos outros Municípios investigados por esta pesquisa, a Secretaria

de Habitação de São Gonçalo do Amarante não possui profissionais suficientes. Em

função disso, a Secretaria necessitou contratar uma empresa terceirizada para executar

o trabalho social de todos os empreendimentos do PMCMV do Município, conforme

relato da entrevistada:

O Município não tem profissionais suficientes, pois as Assistentes Sociais estão locadas nas Secretarias de Saúde, Educação, Habitação etc. Na hora que você tira uma equipe multidisciplinar de uma Secretaria dessa, aquele serviço vai ficar desfalcado (Coordenadora do PMCMV da SEHAB de São Gonçalo do Amarante, setembro de 2017).

A falta de profissionais na Secretaria levou a Prefeitura a realizar uma licitação

(concorrência pública) para a contratação de uma empresa terceirizada para a

execução do trabalho social em todos os conjuntos habitacionais do empreendimento

Ruy Pereira. A empresa licitada para implementação do trabalho social foi a Start

Consultoria. Ao ganhar a licitação, nos primeiros meses de atuação, a Start solicitou a

reprogramação do PTS junto à Prefeitura e à CAIXA a fim de modificar as atividades,

as metodologias e o Quadro de Composição de Custo (QCI) do PTS. Durante a

entrevista com a Coordenadora do TS da Start, foi possível observar os interesses

financeiros que permeiam o trabalho social do PMCMV:

Nós já tivemos uma reunião com o pessoal da CAIXA [...] e assim, a Start está começando agora. Tudo é novidade, ainda não sabíamos o caminho das pedras, tínhamos muitas dúvidas com questões de contratação de pessoal, de como gastar o dinheiro que tem previsto no PTS. E começou uma confusão, porque para a empresa o dinheiro era pouco para o que tinha previsto para ser feito no PTS, para contratação dos profissionais que estavam sendo exigidos no QCI, o dinheiro não dava. Aí, vem a questão do lucro da empresa, enfim! (Técnica Social da Start Consultoria responsável pelo PTS do Residencial Ruy Pereira VI, setembro de 2016).

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Como informado pela Coordenadora do PMCMV, a reprogramação do PTS

ainda encontra-se em fase de aprovação pela CAIXA, mas a equipe social contratada

já iniciou o trabalho social no residencial desde setembro de 2016, com uma equipe

multidisciplinar, formada por 11 profissionais (Pedagogos, Psicólogo social, Educador

Físico, Assistentes Sociais, Educador Ambiental e Estagiários de Serviço Social). A

ETS se reserva para executar o trabalho social nos dois condomínios já entregues: o

Ruy Pereira I e o VI. O trabalho social possui duração de 10 meses, com o valor total

do PTS de R$ 274.500,00. Para a Coordenadora do PMCMV da SEHAB:

O trabalho social foi licitado. A Start está executando o Projeto de Trabalho Social, que foi aprovado pela Caixa Econômica Federal. Dentro deste projeto existe várias atividades, várias demandas, de acordo com as necessidades dos moradores. Assim, nós fizemos um questionário, nós aplicamos este questionário com todos os moradores para fazer a identificação das principais demandas da população. Então, de acordo com este questionário, foi identificado algumas situações para a equipe técnica executar o trabalho social. Então, o trabalho social é realizado por uma equipe multidisciplinar, pois tem psicólogo, pedagogo, a gente trabalha com crianças, com adolescente. A equipe é composta por 11 profissionais e pelo projeto deveria ser uma equipe para cada condomínio. Entregamos dois empreendimentos, então estes 11 profissionais estão atendendo estes dois. Quando entregarmos mais empreendimento será outra equipe, porque cada empreendimento tem 300 apartamentos, então deve ter uma média de 1200 pessoa. [...] então, é uma demanda bem expressiva, por isso que ficou uma equipe para cada empreendimento (Coordenadora do PMCMV da SEHAB de São Gonçalo do Amarante, setembro de 2017).

No que se refere à atuação do agente operador financeiro no processo de

implementação do trabalho social do PMCMV no residencial, a CAIXA possui a

responsabilidade de orientar, monitorar, avaliar e liberar os recursos do trabalho. Assim,

a CAIXA realizou mais um empreendimento de orientação de gestão do trabalho social

com os técnicos sociais contratados para executar o TS em São Gonçalo do Amarante,

conforme relato abaixo de um técnico social da empresa:

Com relação ao trabalho social, a Técnica Social da CAIXA prestou algumas orientações, passou algumas direções do que estava dando certo e o que deveria continuar, o que não deu certo em outros empreendimentos e o que a gente deveria mudar neste momento. Mas assim, as orientações da CAIXA foram muito voltadas, neste primeiro momento, para estas questões financeiras, de organização e de gestão do PTS (Coordenadora do PMCMV da SEHAB de São Gonçalo do Amarante, setembro de 2017).

A participação é um dos grandes dificultadores para a efetivação do TS. Durante

a elaboração do Projeto de Trabalho, a Coordenadora do PMCMV da SEHAB informou

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que não houve participação dos beneficiários no processo de construção do PTS.

Quando os moradores foram questionados sobre a participação na elaboração do PTS

e das obras, foi esclarecido que:

Não participamos! Foi uma surpresa, pois fizeram as inscrições e não avisaram o que era isso aqui (empreendimento). Sortearam e jogaram a gente para cá. Vocês vão morar num canto e nunca disseram o que era, quem tivesse as suas perninhas viesse descobrir. Então foi assim que descobrimos este canto aqui. Não chegaram dizer o que é! E nunca participamos de nada, nem da obra e nem desse projeto social (Morador do Residencial Ruy Pereira IV, setembro de 2016).

Ao justificar a não participação dos moradores no processo de construção do

PTS, a Coordenadora do PMCMV da SEHAB informou que:

Não houve participação no processo de elaboração do PTS. Nós fizemos o projeto social de acordo com os cadastros que tínhamos na Secretaria. Então, a gente analisou a demanda e fizemos o Projeto de Trabalho Social. Com relação à execução, os beneficiários participaram, porque houve o seminário de apresentação. Então, muitas coisas foram ditas, muitas ideias foram trocadas e os moradores sugeriram, né? Na execução do trabalho social, sim, há uma participação dos beneficiários, mas na elaboração não houve participação (Coordenadora do PMCMV da SEHAB de São Gonçalo do Amarante, setembro de 2017).

Estes depoimentos evidenciam a necessidade de se modificar a concepção das

práticas participativas em projetos de habitação de interesse social, pois ainda persiste

o caráter meramente consultivo, com profissionais coletando informações. Porém, a

realidade mudou e se faz necessário desenvolver um modelo de participação mais

“cooperativo”, onde os moradores participem ativamente de forma efetiva no processo

de elaboração do projeto e da obra. De acordo com Carvalho (2014), é durante a fase

de pré-ocupação que ocorre a discussão de todo o projeto integrado, que precisa contar

com interlocução efetiva por parte de todos os atores envolvidos, inclusive da

comunidade, no sentido de conhecimento do território, dos seus moradores, da

realidade socioeconômica etc. Para Carvalho (2014, p. 32):

Já não se tolera mais a produção de planos e diagnósticos elaborados tão somente pela equipe técnica com posterior apresentação à população. Quer-se, ao contrário, a participação proativa desta no diagnóstico e formulação do projeto social. Considera-se que a equipe em campo e familiarizada com as dinâmicas sociais locais e seus moradores pode induzir de forma efetiva a participação da população já no processo de coleta de informações e diagnóstico.

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Figura 27: Foto (a): Mobilização dos Moradores; Foto (b): Atividade de Terapia

Comunitária com as Famílias Moradoras do Residencial Ruy Pereira VI.

(a) (b) Fonte: Acervo pessoal da autora, 2016.

Quanto à participação dos moradores no trabalho social pós-ocupacional,

percebe-se que muitas famílias encontram-se em situação de vulnerabilidade social e,

devido a este fato, diversas famílias participam mais ativamente das atividades, pois

visualizam no trabalho social uma ponte ou caminho para terem acesso aos direitos

sociais. Daí a importância da execução do trabalho social após a ocupação das novas

moradias. Na pesquisa de campo, foi verificado que durante a implementação do TS,

os próprios moradores buscam a equipe social para atuarem conjuntamente nas

atividades. A respeito da diferença entre as participações dos moradores nos conjuntos

habitacionais do Ruy Pereira I e VI, a Técnica Social da Start informou que:

Outra dificuldade que a gente percebe é com relação à participação. Nós temos sofrido bastante, principalmente no Residencial Ruy Pereira I. É uma baixa participação dos moradores. No condomínio I, temos esta dificuldade, mas no condomínio VI não temos este problema. O que a gente percebe, é que no condomínio VI identificamos mais problemas sociais, todos os tipos de problemas. As pessoas possuem baixo nível de escolaridade, as questões de desemprego são maiores, a vulnerabilidade social é maior, as pessoas possuem mais necessidades no condomínio. Nós atribuímos a estas questões [...]. Então, eles estão participando, estão mais próximos da Equipe Social, pois os moradores enxergam na gente um caminho, uma ponte para buscar os seus direitos. Já o condomínio I, não. O condomínio I [...]. Nós saímos para

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mobilização, uma grande parte dos condomínios estão fechados. E a gente sempre está perguntando quem está em casa [...], a gente vê esta diferença que causa dificuldades (Técnica Social da Start Consultoria responsável pelo PTS do Residencial Ruy Pereira VI, setembro de 2016).

No grupo focal, realizado no residencial (em 20 de outubro de 2016),

questionamos os moradores sobre a compreensão deles acerca do trabalho social em

habitação. Nos depoimentos, percebemos que os moradores associam o trabalho

social às regras de convivência no condomínio. Isso demonstra que a herança dos

antigos normativos do trabalho social da época do BNH ainda se faz presente nas falas

dos beneficiários e de muitos técnicos sociais.

Esse discurso de que o trabalho social é uma ação desenvolvida para moldar

comportamentos e criar regras de convivência comunitárias para as famílias, mesmo

com a mudança de metodologias do TS realizado pelo Ministério das Cidades, ainda

se faz presente. Para os moradores, o trabalho social:

Fala 01: É a socialização das pessoas, de como conviver em comunidade, entendeu? É poder conscientizar a convivência comum sobre como não incomodar, o que você pode fazer para melhorar o convívio. O convívio entre os moradores e os vizinhos, eu entendo assim (Morador do Residencial Ruy Pereira, setembro de 2016). Fala 02: O projeto de trabalho social é o projeto que deve ser instalado em uma comunidade. [...] que tem comunicação como o sistema de adaptação e educação [...] porque o projeto traz para trazer educação para o cidadão, para trazer essa cultura (Morador do Residencial Ruy Pereira, setembro de 2016).

Sobre a gestão condominial e patrimonial do empreendimento, esta ficou a cargo

da CEF. Segundo a Coordenadora do PMCMV, a gestão condominial no residencial

Ruy Pereira VI é realizada por uma empresa terceirizada pela CEF de Curitiba. Acerca

da gestão condominial, foi esclarecido pela Coordenadora do PMCMV da SEHAB que:

A gestão condominial ficou a cargo da Caixa Econômica Federal. A CAIXA fez a licitação destas empresas e ganharam cinco empresas. Cada empresa é responsável pela gestão condominial e atende todos os empreendimentos do RN. A gestão condominial é totalmente responsabilidade CAIXA e empresa, o Município não interfere. Então, a empresa se apresenta e faz de acordo com o normativo da CAIXA para gestão condominial (Coordenadora do PMCMV da SEHAB de São Gonçalo do Amarante, setembro de 2016).

Em comparação com os outros Municípios estudados (Natal e Parnamirim), o

trabalho de gestão condominial tem surtido efeitos positivos. Segundo a líder

comunitária do residencial, a partir da constituição do condomínio e do recebimento da

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taxa condominial, foi possível contratar 5 funcionários, que são moradores do

condomínio, para realizar a limpeza das áreas comuns e vigilância do residencial. Com

referência à atuação da empresa de gestão condominial terceirizada, os moradores

informaram que:

Tem uma pessoa que é o seu Tinoco. Digamos assim, é uma empresa terceirizada e ele representa essa empresa e a Caixa Econômica nesses interesses aqui. O objetivo dele é orientar a gente na forma de mostrar as regras, as leis em que o condômino está coberto, como se desenvolve a questão de gestão condominial, eleição de síndico. E ele explicou tudo isso sim (Morador do Residencial Ruy Pereira IV, setembro de 2016).

Durante a visita de campo in loco para a realização do grupo focal com os

moradores, houve diversos relatos sobre a gestão condominial. Para os moradores,

este tema é colocado como o maior dificultador para o processo de integração

comunitária no residencial. Muitos moradores reclamam do alto valor da taxa do

condomínio, pois, apesar de não mais pagarem aluguel, na nova moradia, houve um

incremento nas despesas familiares com o financiamento, taxa de condomínio, água,

luz, transporte etc.

Figura 28: Renda Média Mensal das Famílias do Residencial Ruy Pereira VI.

Fonte: Start Consultoria, setembro/ 2016.

Ademais, cerca de 63% das famílias são beneficiárias do Programa Bolsa Família,

e isso indica que grande parte dos moradores possuem baixo rendimento familiar

2%

30%

35%

28%

2% 2%

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

Nenhuma renda Menos de 1salário Mínimo

1 salário mínimo até 2 saláriosminímos

Acima de 2salários mínimos

Não sabeinformar

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(Figura 27). Como revelado por um morador: “[...] a taxa de condômino é só confusão,

é muito conturbado essa questão. No caso, são poucos que têm o interesse de levar

em frente de pagar [...]”.

Além disso, apesar de o residencial estar registrado como condomínio aberto,

após ocuparem os apartamentos, os moradores optaram por não retirar o muro que

está em volta do residencial, alegando questões de segurança. Sendo assim, pelo fato

de o condomínio estar fechado, alguns serviços fornecidos pela Prefeitura (iluminação

pública e limpeza) não podem ser feitos, já que estes não são realizados dentro de

áreas particulares, como condomínio fechado. Desta forma, as despesas com

zeladores e limpeza do residencial entram na conta do residencial e aumenta o valor

da taxa de condomínio.

Apesar de todos os problemas que estão presentes no PMCMV, diversas famílias

obtiveram a chance de realizar uma grande mudança de vida a partir do momento em

que recebem uma nova moradia. No entanto, a falta de inserção urbana e social dos

empreendimentos demonstra a existência de inúmeros obstáculos para a sua real

efetividade como política pública de habitação.

A cidade de São Gonçalo do Amarante possui o maior empreendimento do

PMCMV Faixa 1 do RN. Com a grande dimensão que o Residencial Ruy Pereira

apresenta, o trabalho social pré-ocupação e pós-ocupação apresenta diversas

fragilidades em sua implementação.

Muito mais do que realizar um trabalho social na perspectiva de assegurar a

apropriação da moradia ou de ser um elo entre as intervenções físicas e a população a

ser atendida, o TS deverá ser uma das vias para o desenvolvimento social destas

famílias. Porém, a pesquisa pontou que o trabalho social desenvolvido no Residencial

Ruy Pereira é permeado de interesses políticos e econômicos, onde a empresa

terceirizada contratada visa ao lucro sobre a execução do TS e o ente púbico utiliza a

moradia e o TS como moeda de troca política.

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Considerações Finais

O PMCMV foi um Programa de dimensões gigantescas, de imenso impacto

social, disponibilizando residências a baixo custo para milhões de famílias brasileiras.

No entanto, como não tinha apenas um objetivo social, mas também um sentido

econômico, de funcionar como uma política econômica anticíclica de enfrentamento

dos efeitos da crise financeira global deflagrada em 2008 no Brasil, terminou por

atender em grande medida os interesses das empresas construtoras. Por isso, pouco

levou em conta a necessidade de evitar reproduzir os padrões de segregação

socioespaciais já observados nos conjuntos habitacionais do antigo BNH. Como pôde

ser comprovado em nosso trabalho empírico, os empreendimentos foram construídos,

em geral, em regiões periféricas das cidades, sem uma infraestrutura de serviços

adequada para receber tantas novas famílias, o que terminou por reproduzir o padrão

de segregação socioespacial das cidades brasileiras.

Apesar de o Manual de Instruções indicar que o trabalho deveria ser um

componente essencial da política habitacional e urbana no PMCMV, na medida em que

promoveria o exercício da participação e do protagonismo social das famílias

beneficiárias, não foi isso o que se encontrou em nossa investigação. Com o trabalho

social, se executado de forma efetiva, pretende-se fortalecer as potencialidades dos

diversos grupos sociais, fomentando o diálogo e a mediação entre os diferentes atores

(agentes públicos e privados) e a população beneficiária dos projetos. Infelizmente,

nossa investigação comprovou a nossa hipótese, de que o trabalho social nos

empreendimentos não é efetivo.

Percebeu-se também que a não realização ou a precariedade da consecução do

trabalho social deveu-se à pressa com a qual esses empreendimentos foram entregues,

de forma a possibilitar o recebimento dos pagamentos pelas empresas construtoras,

secundarizando a realização daquele trabalho junto as famílias.

A partir dos resultados da pesquisa qualitativa sobre o trabalho social em

projetos de habitação, foram identificados os principais desafios para sua execução.

Durante o processo investigativo, a pesquisa revelou que, nos municípios estudados,

as ações educativas e estruturantes do trabalho social na fase que antecede as obras

e na fase de pós-ocupação apresentou fragilidades, sendo que em muitas ocasiões

elas não ocorrem ou foram descontinuadas.

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Os principais dificultadores para a execução do TS com os moradores após a

ocupação dos imóveis foram a inadequação na composição ou qualificação das

equipes municipais, a pouca valorização do trabalho social pelas gestões dos

municípios, a violência, o tráfico de drogas nos empreendimentos, assim como as

invasões e a comercialização de imóveis ilegalmente. Foi observado também que os

principais problemas para a efetivação do trabalho social derivam da carência de

articulação com outras políticas públicas, principalmente no que se refere à geração de

trabalho e renda e à pouca efetividade nas ações de apoio à gestão condominial.

Durante a pesquisa, foi constatado que a falta de estrutura das Secretarias de

Habitação dos municípios estudados e a insuficiência de profissionais qualificados na

área social levam as prefeituras a terceirizar estes trabalhos para empresas de

consultorias ou ONGs. Além disso, como o FAR passou a disponibilizar recursos

próprios para a realização do trabalho social nos empreendimentos do PMCMV,

observa-se que muitas empresas privadas, que foram contratadas para executar o

trabalho social, visam exclusivamente o lucro financeiro sobre este novo nicho de

mercado, sem um real compromisso com um trabalho social efetivo.

Com o PMCMV, não somente houve um incremento de recursos destinados às

construtoras, mas diversas empresas de consultorias e ONGs passaram a oferecer

estes “novos serviços” e a disputar as licitações dos Estados e Municípios. Contudo, a

falta de experiência destas empresas acaba ocasionando baixa efetividade das ações

do trabalho social nestes territórios. Observou-se que o trabalho social também é

permeado de interesses políticos e econômicos. Em alguns municípios, a realização do

trabalho social funciona como moeda de troca eleitoral.

No que se refere à gestão condominial dos empreendimentos, constatou-se a

existência de diversos problemas no processo. Essas dificuldades estão diretamente

relacionadas com a forma de implementação da gestão condominial. Em muitos

residenciais, identificou-se a falta de capacitação dos novos síndicos e o seu

despreparo para a realização de operações básicas de um condomínio, como a

cobrança e o recebimento da taxa condominial, a definição dos regimentos internos,

eleição do conselho fiscal etc. Constatou-se também uma incompatibilidade entre o

perfil socioeconômico e cultural das famílias atendidas e o modelo de gestão

condominial, típico de classe média, adotado pela CEF.

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É necessário repensar o trabalho social na forma como atualmente vem sendo

implementado nos empreendimentos do PMCMV Faixa 1. Os projetos de habitação do

deste Programa, marcados pela construção em massa de moradias, em

megaempreendimentos nas periferias das cidades, fazem emergir diversos problemas

relacionados com inserção urbana e social destes novos contingentes populacionais,

como revela Silva et al (2015). A inexistência ou a má condução do trabalho social

tende a agravar-se com a desarticulação entre as políticas urbana, habitacional e as

demais políticas públicas que se presencia hoje no Brasil.

O trabalho social, quando implementado de forma efetiva, deveria ser utilizado

como um forte indutor para plena integração dos beneficiários do Programa ao novo

ambiente social no qual estão sendo inseridos. Com o intuito a minimizar eventuais

impactos negativos desse processo, o trabalho social deveria contribuir para a melhor

fixação desses beneficiários nas novas unidades habitacionais, fortalecendo o seu

sentimento de pertencimento ao novo território. Mas não foi isso que se constatou na

presente investigação.

O trabalho social em projetos de habitação deveria ir para além de atividades

pontuais com os moradores. Deve pressupor um processo mais participativo, de

empoderamento dos beneficiários. Não pode se restringir somente ao recebimento de

um apartamento. Pelo contrário, o trabalho social deveria estar integrado com outras

políticas públicas, visando não somente o direito à moradia, mas o direito à cidade e a

um conjunto de outros direitos sociais.

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APÊNDICE

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Página | 138

Apêndice 01

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO NORTE

IDENTIFICAÇÃO

Nome:

Cargo/função: Terceirizado

1. Sim( ) 2. Não( )

Servidor público ( )

Comissionado ( )

Município:

Período em que trabalhou no PMCMV:

Responsabilidade no desenvolvimento do PMCMV:

Roteiro para entrevistas com os Gestores Públicos

Municípios de Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante.

1. Fale sobre o contexto de implementação do PMCMV no seu Município.

2. O que motivou o Município aderir ao PMCMV?

3. Quantos empreendimentos do PMCM foram entregues no Município? Quantos estão

em fase de construção?

4. Existe algum sistema do PMCMV no Município?

5. Como é realizado o processo de seleção e habilitação das famílias beneficiadas?

6. Fale dos critérios utilizados para realizar a seleção do empreendimento?

7. Como foi realizado o processo de definição da demanda aberta (sorteio) das famílias

beneficiadas?

8. Como é definida o percentual de 50% da demanda fechada (reassentamento) das

famílias beneficiárias?

9. Qual é o papel do Conselho Municipal de Habitação no processo de implementação do

trabalho social do PMCMV?

10. Existiu a participação de algum movimento social urbano no processo de definição da

demanda fechada?

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11. (Caso responda sim na pergunta 15). Qual é o papel do movimento social para o

processo de implementação do trabalho social do PMCMV?

12. Fale brevemente sobre a implementação do trabalho social do PMCMV?

13. Comente sobre as fases de execução do trabalho social (pré-obras, durante e pós-

ocupação) realizados.

14. Qual o tamanho da equipe que executa o trabalho social na secretaria?

15. Qual a formação destes profissionais?

16. Houve contratação de empresa terceirizada para execução do trabalho social?

17. (Caso responda sim na pergunta 17). Por qual motivo houve a contratação? Qual o

nome da empresa contratada para executar o trabalho social no Município?

18. Que tipos de atividades e ações a empresa terceirizada é responsável por executar o

Trabalho social?

19. O trabalho Social realizado pela terceirizada alcançou as metas estabelecidas no PTS?

20. Como se dá a interlocução da Secretaria de Habitação com à CFE no processo de

implementação do trabalho social do PMCMV?

21. De que forma a execução dos empreendimentos foi acompanhada pela CEF, em

relação aos procedimentos/metodologias para implementação do trabalho social?

22. De que forma são esclarecidos aos beneficiários sobre as normas e condições do

Programa? Em quem fase do trabalho social isto é realizado? Como é desenvolvido

este processo informativo?

23. Como são atribuídas as moradias aos beneficiários (escolha, sorteio, instrumentos e

estratégias utilizadas)?

24. Houve participação dos moradores durante o desenvolvimento do trabalho social? (Cite

elementos facilitadores e dificultadores da participação).

25. De que forma é realizado o Projeto de Trabalho Social? As famílias beneficiárias

participam do processo de construção do PTS?

26. Como é realizado o processo de monitoramento e avaliação do trabalho social do

PMCMV?

27. Como você avalia o trabalho social do Município?

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Apêndice 02

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO NORTE

IDENTIFICAÇÃO

Nome:

Cargo/função: Terceirizado

2. Sim ( ) 2. Não ( )

Servidor público ( )

Comissionado ( )

Município: Período em que trabalhou no PMCMV:

Responsabilidade no desenvolvimento do PMCMV:

Roteiro para entrevistas com os Técnicos Sociais que implementam o

Trabalho social do PMCMV.

Municípios de Natal, Parnamirim e São Gonçalo do Amarante.

I - Contexto geral do processo de implementação do trabalho social.

1. Na experiência de implementação do trabalho social no empreendimento _________,

quais foram as competências e responsabilidades da equipe social do PTS?

2. Foi distinto dos normativos do trabalho social do PMCMV/CEF?

3. Como se deu a realização do trabalho social com os beneficiários, em relação a etapa

de pré-obras, durante e pós-ocupação?

4. Houve particularidades (diferenças) na execução do trabalho social com a demanda

fechada e aberta (sorteio)?

5. Quais foram estas particularidades?

6. Qual é o papel da Caixa Econômica Federal no processo de implementação do

trabalho social?

7. Qual o maior dificultador no processo de execução do trabalho social?

8. Como se deu o processo de construção do Projeto de Trabalho Social? E quais são os

maiores dificultadores neste processo?

9. Quais são ações do trabalho social para o desenvolvimento da gestão condominial e

patrimonial foram realizadas? Cite exemplos.

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II - Participação dos beneficiários na execução do trabalho social.

10. Como se deu a participação dos moradores durante o desenvolvimento das obras?

11. Como se deu a participação dos beneficiários no processo de construção do Projeto

de Trabalho Social?

12. Cite elementos facilitadores e dificultadores no processo de participação das famílias

beneficiadas na definição do projeto, no processo de mudança e no pós-ocupacional?

13. Que atividades foram desenvolvidas para constituição e fortalecimento de grupos

representativos da população moradora nos conjuntos habitacionais?

14. Foram discutidos com os moradores regras de convivência coletiva? Como se deu

este processo de discursão?

15. Houve conflitos: sim ou não? E quais foram as formas de enfrentamento destes

conflitos?

III – estratégias de ocupação das unidades habitacionais.

16. Como se deu o processo de escolha das unidades habitacionais (sorteio, ou escolha e

os instrumentos de discussão).

17. Justifique a alternativa escolhida (por que foi a melhor)?

18. Como se deu o processo de reassentamento das famílias da demanda fechada?

19. Os moradores foram orientados quanto as possibilidades de modificações/melhorias

na UHs? Como se deu esse processo de orientação?

20. Tem ocorrido venda, invasões nos empreendimentos?

IV - Estratégias de informações

21. Os moradores foram esclarecidos quanto as normas e condições do Programa? Em

quais momentos?

22. Como se deu o processo informativo para as famílias beneficiarias? Quais foram as

estratégias utilizadas?

V – Articulação

23. O trabalho social foi realizado de forma integrada com outras secretarias ou serviços?

Cite exemplos desenvolvidos?

24. Como se da articulação do trabalho social com as demais políticas públicas?

25. Observações complementares.

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Apêndice 03

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO NORTE

IDENTIFICAÇÃO

Nome

Cargo/função: Terceirizado

3. Sim ( ) 2. Não ( )

Servidor público ( )

Comissionado( )

Período em que trabalhou no PMCMV:

Responsabilidade no desenvolvimento do PMCMV:

Roteiro de entrevistas com os Técnicos Sociais do Trabalho Social da Caixa Econômica Federal.

1. Qual é o papel da Caixa Econômica Federal no processo de implementação do

trabalho social do PMCMV?

2. Qual o tamanho de abrangência da atuação da CAIXA no processo de execução de

gestão social do PMCMV?

3. Existe diferença entre o trabalho social do PMCMV em relação ao trabalho social das

demais políticas públicas de habitação de interesse social?

4. Existe capacitações aos Municípios quanto a gestão social do PMCMV?

5. Discorra sobre a atuação da CAIXA no processo de implementação do trabalho social

do PMCMV realizado na RMNATAL?

6. Discorra sobre a contratação de empresas terceirizadas para execução do Trabalho

social.

7. Como é realizado o monitoramento e avaliação do Trabalho social pela CAIXA?

8. Em sua experiência e visão, quais são as maiores dificuldades dos Municípios no

processo de implementação do Trabalho Social?

9. Qual o papel do CAD ÚNICO dentro do Trabalho social?

10. Como você avaliar o trabalho social executado pelos Municípios de Natal, Parnamirim

e São Gonçalo do Amarante?

11. Como você analisa o cenário atual do trabalho social?

12. Observações complementares.

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Apêndice 04

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO

GRANDE DO NORTE

IDENTIFICAÇÃO

Empreendimento:

Endereço:

Município: N° de participantes:

Roteiro de perguntas para o grupo focal com os moradores dos

empreendimentos do PMCMV (Faixa 1) dos Municípios de Natal, Parnamirim e

São Gonçalo do Amarante.

1. Vocês são oriundos de assentamento ou sorteio?

2. Qual o nome dos assentamentos e bairros em que vocês eram oriundos?

3. Como era antiga moradia? Vocês participaram de algum movimento social urbano?

4. Explique como foi o processo de habilitação para o recebimento do apartamento do

PMCMV?

5. Vocês consideram que houve muita dificuldade (burocracia) para o recebimento do

apartamento?

6. Como se seu a escolha do apartamento?

7. Para vocês, o que é trabalho social?

8. Vocês sabem o que projeto de trabalho social?

9. Vocês participaram do processo de construção do projeto de trabalho social?

10. Vocês realizaram acompanhamento da obra do empreendimento?

11. Vocês foram esclarecidos sobre as normas e condições do Programa? Em que

momentos? Como foi desenvolvido esse processo informativo?

12. Como vocês avaliação a atuação da Prefeitura na condução da entrega dos

apartamentos?

13. Houve atividades/ações da Prefeitura após a entrega do empreendimento em relação a

geração de trabalho e renda?

14. (Obs. Caso responda Sim). Exemplifique?

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15. Houve atividades/ações da Prefeitura após a entrega do empreendimento em relação a

educação ambiental e sanitária?

16. (Obs. Caso responda Sim). Exemplifique?

17. Após a entrega da Prefeitura houve atividades e ações em relação a gestão

condominial?

18. Como foi realizado o processo de definição de sindico?

19. Existem problemas com o pagamento do condomínio (inadimplência)?

20. Como se deu a atuação das assistentes sociais no processo de adaptação da nova

moradia?

21. Houve por parte da Prefeitura o fortalecimento da organização comunitária? (Obs. Caso

responda Sim). Exemplifique?

22. Existe alguma associação de moradores e conselho comunitário?

23. Como vocês avaliam atuação da CAIXA no processo anterior ao recebimento dos

apartamentos e posterior?

24. Como vocês avaliam atuação da Prefeitura no processo anterior ao recebimento dos

apartamentos e posterior?

25. Que tipo de atividades e ações poderiam ter sido realizadas para a melhor condição

adaptação da nova moradia?

26. O que mudou na vida de vocês a partir do recebimento da nova moradia?