desafios da polÍtica de seguranÇa pÚblica na sociedade brasileira luís flávio sapori

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DESAFIOS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA NA SOCIEDADE BRASILEIRA Luís Flávio Sapori

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DESAFIOS DAPOLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA

NA SOCIEDADE BRASILEIRA

Luís Flávio Sapori

O processo de retomada da Democracia na sociedade brasileira, desde meados da década de 1980, não trouxe consigo avanços na provisão da ordem pública.

deterioração intensa dos padrões desegurança pública

Manifestação de um inquietante paradoxo : a democratização tem sido acompanhada pela violência

NÚMERO ABSOLUTO DE HOMICÍDIOS - BRASIL1996 a 2005

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

0,0 10,0 20,0 30,0 40,0 50,0 60,0

South Africa

Brazil

Russian Federation

United States of America

Bulgaria

New Zealand

Turkey

Czech Republic

United Kingdom: Scotland

Poland

Austria

France

Australia

United Kingdom: England & Wales

Netherlands

Italy

Greece

Spain

Switzerland

Germany

Japan

Portugal

Sweden

Denmark

TAXAS DE HOMICÍDIOS EM PAÍSES SELECIONADOS - 2005

Taxa de Homicídios . Unidades da Federação Brasil . 2006

0 10 20 30 40 50 60

ALAGOAS

ESPÍRITO SANTO

PERNAMBUCO

AMAZONAS

RIO DE JANEIRO

RONDÔNIA

AMAPÁ

D.F

MT

SERGIPE

MS

PARÁ

PARANÁ

ACRE

BAHIA

GOIÁS

CEARÁ

PARAÍBA

MINAS GERAIS

SÃO PAULO

RS

RORAIMA

TOCANTINS

PIAUÍ

RN

MARANHÃO

SANTA CATARINA

TAXA DE HOMICÍDIOS . CAPITAIS BRASILEIRAS* 2006

0 20 40 60 80 100 120

MACEIÓ

RECIFE

VITÓRIA

PORTO VELHO

CURITIBA

BELO HORIZONTE

JOÃO PESSOA

ARACAJU

SALVADOR

CUIABÁ

FLORIANÓPOLIS

MACAPÁ

RIO DE JANEIRO

GOIÂNIA

PORTO ALEGRE

FORTALEZA

TERESINA

MANAUS

BELÉM

BRASÍLIA

CAMPO GRANDE

SÃO LUIS

SÃO PAULO

NATAL

A institucionalização da democracia e o recrudescimento da violência têm sido acompanhadas de uma lenta e gradual melhoria dos indicadores sociais.

Queda na proporção de pobres Queda da miséria Avanços nos indicadores de saúde e educação Melhoria do IDH

Há um processo em curso caracterizado por umacrescente inclusão social e não por uma exclusão social

PROPORÇÃO DE PESSOAS POBRES BRASIL 1976 / 2005

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

60,0

O recrudescimento da violência na sociedade brasileira nos últimos vinte anos não pode ser explicada pela pobreza absoluta.

Jovens negros e residentes nas periferias das grandescidades brasileiras tornaram-se as principais vítimase algozes deste espiral de violência

Combinação perversa de fatores psicossociais :

• disseminação de valores individualistas e consumistas• consolidação do tráfico de drogas• disseminação das gangues de jovens• manutenção de altos níveis de desigualdade social

Solidifica-se a ineficiência do Estado na provisão da ordem pública, acentuando elevados níveis de IMPUNIDADE na sociedade brasileira.

Baixo grau de certeza da punição

1. as ‘taxas de atrito’ do sistema de justiça criminal são muito baixas

2. níveis elevados de crimes não reportados à polícia

3. taxas baixas de esclarecimento de crimes

4. tempo expressivo de processamento dos crimes

5. taxas baixas de encarceramento, considerados os elevados índices de criminalidade

A prevalência do gerenciamento de crises como racionalidade administrativa preponderante na área de segurança pública.

ausência de planejamentos sistemáticos bem comode mecanismos adequados de monitoramento de projetos

Trabalha-se basicamente com o curtíssimo prazo, não havendo planos de ações que contemplem o médio e o longo prazos

A mídia determina, em boa medida, a agenda de trabalhodas secretarias estaduais de segurança pública

INEFICÁCIA

E

INEFICIÊNCIA

Experiências esparsas de gestão mais racionalizada do setor

• Políticas de integração das polícias nos estadosdo Pará e do Ceará• gestão da segurança pública no início do governoGarotinho no RJ• A gestão da segurança pública no estado de São Paulonos últimos 12 anos• A gestão da segurança pública no estado de Minas Geraisno período 2003 - 2006

No âmbito federal, somente a partir de 2000 é quesão elaborados planos nacionais de segurança pública

São raros os exemplos de Municípios que sedispuseram a implementar planos locais de controleda criminalidade

As evidências empíricas disponíveis não permitem afirmar que estratégias preventivas de controle da criminalidade são mais efetivas do que estratégias repressivas, e vice-versa.

- polícia impacta o crime mediante intensificação do patrulhamento policial direcionado como também mediante a atuação pró ativa na prisão de criminosos reincidentes

- incremento do aprisionamento de criminosos potencializa a incapacitação de criminosos reincidentes

- programas direcionados para jovens que atuam em gangues em regiões violentas previne criminalidade na fase adulta

- programas de treinamento e qualificação de egressos do sistema prisional consegue diminuir a reincidência criminal

(SHERMAN,Lawrence et al – Preventing crime: what works, what doesn’t, what’s promising. 1996 )

Mais recentemente tem se desenvolvido uma concepção de prevenção criminal, especialmentena América Latina, influenciada pela EPIDEMIOLOGIA.

Violência como fenômeno multicausal sobre o qualincidem fatores individuais, familiares, sociais eculturais.

Identificação dos fatores que estão associados,com maior frequência, à incidência do fenômeno.

FATORES DE RISCO

Exemplo de enfoque integral de uma política de segurança pública:

MEDIDAS PREVENTIVAS

Programas educacionais• Diminuição da deserção escolar• Educação para a solução pacíficade conflitos

Organização da comunidade• Modelos de polícia comunitária• Redes de apoio a vítimas de violência

Controle da venda de álcool e do consumo de drogas

Controle do porte de armas

Combate à pobreza e à desigualdade social

• urbanização de favelas• geração de empregos

MEDIDAS DE CONTROLE

Reforma do sistema policial

• Superação do caráter reativoda polícia• Profissionalização da polícia• Racionalização administrativa• Aumento da dotação de pessoal• Elevação dos salários• Reforço dos organismos decontrole da polícia

Reformas judiciais

• Flexibilização dos procedimentosjudiciais• Coordenação do sistema judicial como sistema policial• Aprimoramento de recursos humanose materiais

Reformas do sistema prisional

• Aplicação dos tratados internacionais• Ampliação da dotação orçamentária• Agilização dos processos• Controle rígido da corrupção• Adoção de modelos alternativos de capacitação profissional e apoio psicossocial• Promoção das penas alternativas

Outras medidas

• Criação de mecanismo de resoluçãode conflitos nas comunidades• Criação de sistemas de estatísticascriminais• Promoção de estudos científicos sobrea criminalidade

Merece atenção especial o conjunto de programas e projetos que compuseram a experiência de Bogotá, no

período 1994 / 2002

1. O controle do consumo de bebidas alcoólicas e do uso de armas de fogoAdotou-se como medidas principais a restrição ao porte de armas de fogo nos finais de

semana e em dias de festividades bem como o limite do horário de venda de bebidas alcoólicas na cidade, com proibição estipulada a partir de 1 hora da manhã.

-

2. Recuperação de espaços urbanos deteriorados Entre as intervenções adotadas, sobressaem aquelas orientadas para a

recuperação de avenidas e de áreas urbanas degradadas. Neste último caso, merece menção as intervenções em dois bairros da cidade, o primeiro caracterizado por grande concentração de vendedores informais ambulantes e o segundo notadamente a região mais violenta de Bogotá.

3. Estímulo à participação comunitáriaA ação mais representativa deste programa foi a apoio à frentes locais de segurança.

Estas vinham sendo impulsionadas desde 1996 pela polícia metropolitana, sendo organizações através das quais se integram vizinhos por quadras ou setores de bairros em redes de apoio cívico-policiais, ou seja, tinham a tarefa de vigiar o entorno imediato e reagir a situações anômalas ou emergenciais com a o apoio da polícia. Em 2003 haviam algo em torno de 6600 destas frentes constituídas em Bogotá.

4. Fortalecimento da Polícia- Priorizou-se, por um lado, investimentos maciços em infra-estrutura logística e

física como também intensa capacitação dos recursos humanos em conteúdos teóricos e práticos. Por outro lado, adotou-se uma nova metodologia de gestão da ação policial focada em resultados

5. Ampliação das carceragens municipais- O governo municipal realizou um grande investimento entre 1998 e 2002 para a

readequação do cárcere distrital, destinado a presos de menor periculosidade ou autores de contravençoes, e da Unidade Permanente de Justiça, para o qual são conduzidas pessoas capturadas em situação de fragrante delito.

6. Prevenção da violência doméstica- Além de campanhas sistemáticas contra o maltrato infantil, adotou-se como

principal medida a implantação das comissarias de família. Estas contam com uma equipe multidisciplinar, integrada por advogados, psicologos, médicos, assistentes sociais e utilizam como medologia de trabalho a conciliação, as medidas de proteção e a psicoterapia. Realizam também as atividades básicas de investigação policial.

7. Implantação de mecanismos alternativos para resolução de conflitos- Entre 1995 e 2003, foram investidos mais de 12 milhões de dólares em dois tipos

de atividade para promover a a resolução alternativa de conflitos: as unidades de mediação e conciliação e as inspetorias de polícia. As primeiras eram espaços abertos para a solução de conflitos cotidianos, especialmente entre vizinhos e intrafamiliares.

A experiência recente do estado de Minas Gerais (2003 – 2006 ) na execução de uma política de segurança pública é exemplo concreto das possibilidades de redução dos indicadores de criminalidade.

1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 200650

100

150

200

250

300

350

400

450

500

550

600

108.83106.07107.73107.76116.93119.36132.38

144.92 136.3149.71

192.62

231.73

286.04

357.76369.46

436.42

542.07541.71521.6

472

Taxa d

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Taxa de criminalidade violenta – Minas Gerais (1986-2006)

EIXOS DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA NO ESTADO DE MINAS GERAIS (2003 – 2006)

REFORMA E PROFISSIONALIZAÇÃO DO REFORMA E PROFISSIONALIZAÇÃO DO SISTEMA PRISIONAL SISTEMA PRISIONAL

INTEGRAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES INTEGRAÇÃO DAS ORGANIZAÇÕES POLICIAISPOLICIAIS

PROFISSIONALIZAÇÃO DO ATENDIMENTO PROFISSIONALIZAÇÃO DO ATENDIMENTO AO ADOLESCENTE INFRATORAO ADOLESCENTE INFRATOR

ADOÇÃO DE PROGRAMA ESPECÍFICO DE ADOÇÃO DE PROGRAMA ESPECÍFICO DE PREVENÇÃO SOCIAL DA CRIMINALIDADEPREVENÇÃO SOCIAL DA CRIMINALIDADE

A BOA GOVERNANÇA DA POLÍTICA DE SEGURANÇA PÚBLICA CARACTERIZOU A EXPERIÊNCIA DE BOGOTÁ COMO

TAMBÉM A EXPERIÊNCIA DE MINAS GERAIS

1. Priorização política mediante vultosos investimentos

2. Elaboração de um planejamento que contemple projetos de curto e médio prazos

3. Adoção de nova racionalidade gerencial, com enfoque na gerência por resultados

4. Combinação de estratégias preventivas e repressivas de controle da criminalidade, focando na retomada da operacionalidade do aparato policial e prisional e na inserção social de jovens pobres das periferias urbanas

Meu blog

www.segurancapublicaecidadania.com.br