desafio como .. lidar com imites · zoo de erfurt, na alemanha cen ... sergio bessennan,...

4
r o ESTADfJ DE S PAIlO . e IPLANETA ENTREVISTA AQUECIDOS Suricatos (Suricata suricatta) r, sob um aquecedor artificial dur, temporada de temperaturas fri zoo de Erfurt, na Alemanha cen ................................................................................................................................................................... Sergio Bessennan, coordenador da Rio+20 na prefeitura do Rio I 'Desafio é I como lidar I I .. I com ImItes : do planeta' Para pesquisador, falta aos Líderespolíticos criatividade para criar modelo de expansão econômica sustentável Giovana Girardi o economista Sergio Besser- man Vianna é o encarregado, por assim dizer, na prefeitu- ra do Rio, por organizar a Conferência das Nações Uni- das sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+2o. Mas ele fala sobre o evento com o conhecimento do pesquisa- dor que investiga questões li- gadas às mudanças climáti- cas e aos danos que isso po- de trazer às cidades; e tam- bém como militante das cau- sas ambientais e colaborador do Ministério do Meio Am- biente e do Itamaraty. Para ele, não é um erro a Rio+2o não ser uma confe- rência ambiental, justamen- te porque o problema que a L !:I ~ ._~.__~ _~L ~ Mas o tema é exatamente esse: que tipo de economia pode existir que não esbarre nos limi- tes do planeta e consiga dar à ci- vilização uma noção de avanço e progresso na sociabilidade. Que tipo de economia pode existir que não nos leve aos pio- res cenários de aquecimento global, à extinção de espécies, à acidificação dos oceanos e man- tenha a inclusão social. Esse modelo que está aí não serve. Quem esbarra nos limites do planeta hoje são 1,5 bilhão de pessoas, mas 5,5 bilhões que- rem esbarrar. O modelo ofereci- do não é generalizável. . Mas quando os governos decla- raram que não é uma conferên- cia de ambiente, mas de econo- mia e combate à pobreza, houve reações negativas. Na verdade, a reação de muita gente, incluindo a minha, foi pensar: "Claro! Até mesmo nem existe esse problema de meio ambiente". Temos mes- mo de discutir a macroecono- ~ia glo~al, ,os pre~o~ qU7.n~la sair uma declaração dos chefc de Estado que impulsione as fi gociações climáticas, da biod versidade e a agenda do dese volvimento sustentável, vai aj dar. Agora, se for uma decl ção pífia, a qual falte corage para reconhecer a gravidade d momento de crise ecológic vai ser ruim. Mas pode ser q o comício que vá vaiá-Ia ajude . Já são 40 anos de discussões e ainda não se avançou muito. sr. acha que em parte isso pode ter ocorrido porque até então e tava se separando a questão a biental das demais? 'II'... .. ~

Upload: phungnhi

Post on 09-Feb-2019

217 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

r

o ESTADfJDE S PAIlO

.

eIPLANETA

ENTREVISTA

AQUECIDOSSuricatos (Suricata suricatta) r,sob um aquecedor artificial dur,temporada de temperaturas frizoo de Erfurt, na Alemanha cen

.........................................................................................................................................................................

Sergio Bessennan, coordenador da Rio+20 na prefeitura do Rio

I 'Desafio éI como lidarI

I..

I com ImItes

: do planeta'Para pesquisador, faltaaos Líderespolíticoscriatividade para criarmodelo de expansãoeconômica sustentável

Giovana Girardi

o economista Sergio Besser-man Vianna é o encarregado,por assim dizer, na prefeitu-ra do Rio, por organizar aConferência das Nações Uni-das sobre DesenvolvimentoSustentável, a Rio+2o. Masele fala sobre o evento com oconhecimento do pesquisa-dor que investiga questões li-gadas às mudanças climáti-cas e aos danos que isso po-de trazer às cidades; e tam-bém como militante das cau-sas ambientais e colaboradordo Ministério do Meio Am-biente e do Itamaraty.

Para ele, não é um erro aRio+2o não ser uma confe-rência ambiental, justamen-te porque o problema que aL !:I ~ ._~.__~ _~L ~

Mas o tema é exatamente esse:que tipo de economia podeexistir que não esbarre nos limi-tes do planeta e consiga dar à ci-vilização uma noção de avançoe progresso na sociabilidade.Que tipo de economia podeexistir que não nos leve aos pio-res cenários de aquecimentoglobal, à extinção de espécies, àacidificação dos oceanos e man-tenha a inclusão social. Essemodelo que está aí não serve.Quem esbarra nos limites doplaneta hoje são 1,5 bilhão depessoas, mas 5,5 bilhões que-rem esbarrar. O modelo ofereci-do não é generalizável.

. Mas quando os governos decla-

raram que não é uma conferên-cia de ambiente, mas de econo-mia e combate à pobreza, houvereações negativas.Na verdade, a reação de muitagente, incluindo a minha, foipensar: "Claro! Até mesmonem existe esse problema demeio ambiente". Temos mes-mo de discutir a macroecono-

~ia glo~al, ,os pre~o~ qU7.n~la

sair uma declaração dos chefcde Estado que impulsione as figociações climáticas, da biodversidade e a agenda do desevolvimento sustentável, vai ajdar. Agora, se for uma declção pífia, a qual falte coragepara reconhecer a gravidade dmomento de crise ecológicvai ser ruim. Mas pode ser qo comício que vá vaiá-Ia ajude

. Já são 40 anos de discussões

e ainda não se avançou muito.sr. acha que em parte isso podeter ocorrido porque até então etava se separando a questão abiental das demais?'II'... .. ~

,Repito: nem existe um proble-ma de meio ambiente. Em seusbilhões de anos, ele sempre en-contrará formas de se recupe-rar. A natureza não tem um pro-blema no tempo dela. O proble-ma é que estamos estragando anatureza do nosso tempo.' Enós dependemos dela para terágua, solo, clima, biodiversida-de. E a população continua cres-cendo e há necessidade de inclu-são social. Nossa única questãoé: como a economia global po-de voltar a crescer sem esbarrarnos limites do planeta.

timamente ligado com o mo-delo econômico que desen-volvemos ao longo dos últi-mo séculos. "Temos hojeuma única questão: como aeconomia global pode voltara crescer sem esbarrar nos li-mites do planeta?" A seguir,ele explica por quê:

que a dicotomia de colocarambiente de um lado e o projeto econômico e social do outrlé uma balela. E que não há pos..,sibilidade de alcançar o desenJvolvimento econômico se nãQencontrarmos uma forma de li--dar com os problemas que esta-mos vivenciando. Isso passapor modificar o atual rumo deinsustentabilidade da produçãoe do consumo. E é muito difícil,porque pela primeira vez a hu-manidade estará lidando comtomar decisões de longo prazo.Estamos pedindo aos governan-tes que se elegem olhando paraquatro, oito anos no máximo,trazerem para si custos signifi-cativos em nome dos filhos dosnossos filhos. E isso tem de serfeito por toda a humanidade.Porque o problema é global.

...

.....

. O que podemos esperar daRio+20?Ostemas que devemser discutidos parecem tãovagos e tão abrangentes.O mandato da RiO+20é dife-rente da Rio 92. Não é umacúpula de chefes de Estado,é uma conferência das Na-ções Unidas, está um degrauabaixo, digamos assim, quequer discutir desenvolvimen-to sustentável, economia ver-de e combate à pobreza.

. E o sr. acha que os governan-tes têm clara essa noção?O que fica claro é esse jogo.Mas não há ainda maturidadena governança global ou no pro-cesso político. Não existe portrás dele uma massa crítica,muito mais ampla que as açõesdos governos, que lhes permitaenfrentar com coragem o pro-blema dos limites do planeta.Ele nem sai de cima da mesanem é abordado diretamente.Mas essa ambiguidade é normalem um processo político.

. Nãoé coisa demais?É um jogo. À primeira vistageraria uma leitura reducio-nista. Que economia verde étoda inovação tecnológicaou modo de fazer que sejaum pouco mais eficiente nouso dos recursos naturais. Ecombate à pobreza fica pare-cendo uma coisa do tipo: cui-dado com essas coisas rela-cionadas ao meio ambientepara não atrapalharem o pro-cesso de inclusão social.

. Mas ainda nem sequer conse-guimos resoLverprobLemasLo-cais, de curto prazo, como o daschuvas todo ano...Verdade. E a gente sabe que de-ve chover mais, o nível do marvai subir. Os problemas locais eos globais estão totalmente in-terconectados. Além disso, a si-tuação hoje é outra. Em 92, oque prevalecia era um sentimen-to, que se revelou falso poucodepois, de que a humanidadehavia deixado para trás a época

. QuaLserá o produtodo evento?É restrito. É uma declaração po-lítica. Mas.como se trata de umprocesso político, histórico, degigantesca profundidade, se

Parceria institucional:.

Prof.Dr. Gilmar Ferreira MendesCoordenação Geral AcadêmicaESCOLA DE DIREITO DO BRASIL

.

Advocacianos 'lliburnúsSuperiores- STJ e SlF I Con~ PPPselicitaçõesIRepercussãoGeral I MatemáticaFinanceirapara AdvogadosI

· Direito Eleitoral ICrimina1ística,entre outros.. .". _ _ _'_'~_' _~~~;,~,;:;:-~~~,:..:;"~~~'~.!:~':~~'Y,~r.:;,*~r.~__A~',~::.~~::.~~~~~~~~~:~'."~'

;~p:m4í}i~tS':)~lfft\V\~~~.ç0I),cl1I~O~Sl;q}:br2 LI)j~ L"~+),x:~ 2i-72.23:2J;,~.

-- ~-- - - -'- -------

DOMINGO,ll DE MARÇODE2012 I Vida IA23

(ame10

JENS MEYER/AP

ESTADÃO. : ., I-.-FM 92,9 - AM 700

Acompanhe o PlanetaEstadão, sexta-feira às 14h30

..........................................................................................................................................................................

---

stão é: como a economia global pode voltar a crescer sem esbarrar nos limites do planeta?'

QUEM É,......................................................

* SergioBesserman Vianna éeconomista e ambientaLista.Conhecido como comunista

verde, está na presidência dogrupo de trabaLho da prefeitu-ra do Rio para a Conferênciadas Nações Unidas sobre De-senvoLvimento SustentáveL, aRio+20. Ex-diretor do BNDES

e do IBGE, eLehoje é conse-Lheiro da ONG WWF e da Fun-

dação Brasileira para o Desen-volvimento SustentáveL.

......................................................

das grandes crises econômicas.Quando o-conhecimento cientí-fico apresentava que tínhamosum problemão, a reação das au-toridades era de que a humani-dade seria capaz de enfrentá-los. Hoje sabemos que era u.motimismo panglossiano. Hoje aRiO+20se realiza em um contex-to muito distinto. Por um lado,temos a crise econômica que co-meçou em 2008, a maior desde1929, com todos os seus desa-fios pela frente. Nenhum dosdesequilíbrios macroeconômi-cos globais fundamentais quelevaram à crise sequer começa-ram a ser enfrentados. Não é

apenas o fato de que a huma-nidade não foi capaz de reali-zar nenhuma ação efetiva pa-ra enfrentar o problema doclima e da biodiversidade.Também são 20 anos de mui-to mais pesquisa, e o quadroque o conhecimento nosapresenta hoje é de uma gra-vidade muito maior do queaquela que conhecíamos em92. Não é o apocalipse, a hu-manidade não vai acabar,mas é muito, muito grave.

. Osr. está otimista?Vamos guardar o pessimis-mo para dias melhores.

Atraso na reciclagem

Acidade de SãoPaulo encaminhapara a reciclagemapenas 1,4% das15 mil toneladasde lixo domiciliar

produzidas diariamente pelosseus 11milhões de habitantes.Nada menos que 60% do lixoreciclável separado pelos mora-dores em suas casas é despeja-do nos aterros comuns. As con-cessionárias responsáveis peloserviço de coleta seletiva justi-tlcam a ineficiência e a baixaabrangência dos serviços coma falta de espaço, de estruturae de mão de obra nas centraisde reciclagem, locais onde de-vem, de acordo com normasmunicipais, entregar os resí-duos. A cidade mais rica doPaís patina há décadas na ges-tão dos resíduos sólidos, o queagrava a degradação ambientale causa significativas perdaseconômicas. Estudo do Ipea,de 2010, estima em R$ 749 mi-lhões anuais o desperdício pro-vocado pelo despejo de 1 mi-lhão de toneladas de papel, pa-pelão, aço, alumínio, vidro eplástico em aterros da capital.

As 21 centrais de triagemoperadas por cooperativas decatadores de lixo atuam no li-mite da sua capacidade. Con-forme as concessionárias Logae Ecourbis, por não ter ondedespejar o lixo reciclável, cami-nhões usados na coleta e trans-porte desse tipo de materialnem sequer deixam as gara-gens. Grande parte do resíduoreciclável separado pela popu-lação acaba, assim, recolhidacomo lixo comum. A Secreta-ria Municipal de Serviços estu-da modificar a legislação que

exige a entrega dos recicláveisapenas para as centrais opera-das por aquelas cooperativas.

Há muito mais a estudar e arealizar para fazer avançar a co-leta seletiva. O gasto per capitacom serviços de limpeza urba-na em São Paulo é de R$ 73,63,muito inferior ao de outras me-trópoles, como Nova York (R$239,56),Cidade do México (R$632,32)e Tóquio (R$1.036A8).Dados do Compromisso Em-presarial para a Reciclagem(Cempre) mostram que, em2010, a Prefeitura investia R$60 milhões mensais para a cole-ta, transporte e aterramentodo lixo. Para a coleta seletiva

o Programa de ColetaSeletiva implantado em2003 ainda está aquémdo que era previsto.....................................................

era destinado irrisório 0,001%desse montante. .

De lá para cá, como poucacoisa mudou, os resultadoscontinuam muito aquém da ne-cessidade de uma capital compadrões de consumo próximosdos de países desenvolvidos.Basta dizer que, dos quase 300caminhões usados na coleta dolixo em São Paulo, apenas 7'/0fazem o recolhimento de mate-rial reciclado.

Para melhorar a gestão dosresíduos sólidos, há promessasde sobra. Asconcessionárias di~zem esperar o sinal verde daPrefeitura para investir. AEcourbis e a Loga afirmam que17novas centrais de triagem es-tarão prontas em 2013para de-safogar o sistema e ampliar acapacidade da cidade de reci-

clar seu lixo. Segundo seus re-presentantes, as causas do pro-blema são o amadorismo e aineficiência das cooperativas.A Prefeitura, por sua vez, pre-tende criar "uma porta alterna-tiva" para que a coleta não sejadesperdiçada. Como a corda ar-rebenta do lado mais fraco,concessionárias e governo mu-nicipal culpam os catadores.

O Programa de Coleta Seleti-va Solidária da Prefeitura foiimplantado em 2003 e tinha co-mo diretriz a inclusão de orga-nizações de catadores no ge-renciamento das centrais detriagem de material reciclável.Em um ano, 15centrais foraminstaladas. O contrato de con-cessão dos serviços de coletade lixo na cidade, de 2005, exi-gia a instalação de pelo menos31 centrais, uma em cada sub-prefeitura, além da ampliaçãodo número de postos de traba-lho para que os demais gruposorganizados de catadores fos-sem incorporados a essa rede.Em fins de 2009, longe de con-seguir atingir a meta fixada, aPrefeitura fez nova promessa:a de instalar 51centrais de tria-gem de recicláveis até o fim doano passado.

Sete anos se passaram desdeo início da administração Serra/Kassab, e apenas 21 centraisoperam em São Paulo. Sobre-carregadas, não comportammais material reciclávelque, as-sim, deixa de ser recolhido. En-quanto promessas se repetem,o volume do lixo aumenta, osgrupos de catadores não conve-niados já chegam a cem (são20 mil na cidade) e os resulta-dos da gestão dos resíduos sóli-dos na cidade só pioram.