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DEPENDÊNCIA DA FLUÊNCIA E RECUPERAÇÃO DO FLUORETO DE POLIVINILIDENO (PVDF) COM A TEMPERATURA E TAXA DE RECUPERAÇÃO Marina di Giolo Bernardes Guimarães Projeto de Graduação apresentado ao Curso de Engenharia de Materiais da Escola Politécnica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Engenheira de Materiais. Orientadora: Marysilvia Ferreira da Costa Co-orientador: Ilson Paranhos Pasqualino Rio de Janeiro Março de 2013

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DEPENDÊNCIA DA FLUÊNCIA E RECUPERAÇÃO DO

FLUORETO DE POLIVINILIDENO (PVDF) COM A

TEMPERATURA E TAXA DE RECUPERAÇÃO

Marina di Giolo Bernardes Guimarães

Projeto de Graduação apresentado ao

Curso de Engenharia de Materiais da

Escola Politécnica, Universidade Federal

do Rio de Janeiro, como parte dos

requisitos necessários à obtenção do

título de Engenheira de Materiais.

Orientadora: Marysilvia Ferreira da Costa

Co-orientador: Ilson Paranhos Pasqualino

Rio de Janeiro

Março de 2013

III

Guimarães, Marina di Giolo Bernardes.

Dependência da Fluência e Recuperação do Fluoreto de

Polivinilideno (PVDF) com a Temperatura e Taxa de

Recuperação/ Marina di Giolo Bernardes Guimarães. – Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2013.

X, 38 : il.; 29,7 cm.

Orientadora: Marysilvia Ferreira da Costa

Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/

Engenharia de Materiais, 2013.

Referências Bibliográficas: p. 47-48.

1. Fluência e Recuperação. 2. Fluoreto de Polivinilideno

(PVDF). 3. Linhas flexíveis offshore. I. Costa, Marysilvia

Ferreira da. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola

Politécnica, Curso de Engenharia de Materiais. III.

Dependência da Fluência e Recuperação do Fluoreto de

Polivinilideno com a Temperatura e Taxa de Recuperação.

IV

Dedico este trabalho aos meus pais, Lúcio Henrique G. Guimarães e Jussara B. C. Guimarães e aos meus irmãos Caio Henrique B. Guimarães e Ciro Henrique B. Guimarães.

V

Agradecimentos

A Deus, pela benção de cada dia ser um novo dia, uma nova oportunidade, uma nova

chance de buscar meus objetivos.

Aos meus pais, pelo apoio incondicional durante minha caminhada, pela força a cada

momento de desânimo e pela dedicação a cada passo da minha vida.

Aos meus irmãos, pelo carinho, atenção e incentivo, sempre presentes.

Aos alunos da Metalmat que fizeram parte dessa jornada, dividindo sorrisos, estudos,

dificuldades e momentos inesquecíveis durante todos esses anos de graduação, aos

grandes amigos que conquistei durante esta fase da minha vida, Felipe Celestino,

Lays Branco, Fernando Olmedo e Katarina Fernandes e em especial à Ariella Fontes

por ter sido uma irmã e ao Douglas Hashimoto pela amizade,companheirismo,

dedicação e cumplicidade nesta fase final de projeto de graduação.

À minha orientadora acadêmica, Renata Simão, pela amizade, dedicação,

companheirismo, paciência e sabedoria durante minha jornada.

À minha orientadora, Marysilvia, pela dedicação e auxílio na elaboração desse projeto.

Aos professores que contribuíram para minha formação.

À Luisa e demais integrantes do LabPol pelo auxílio e disponibilidade em me auxiliar

nos ensaios para a realização do projeto.

Aos orientadores Aloísio Pina, Luiz Lima (CETEM) e Otávio Gomes (CETEM) pela

oportunidade na realização de iniciações científicas bem como aos técnicos que me

auxiliaram durante essa caminhada.

A todos que de alguma maneira me ajudou a concluir mais esta etapa da minha vida,

obrigada!

Marina

VI

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários para obtenção do grau de Engenheira de Materiais.

Dependência da Fluência e Recuperação do Fluoreto de Polivinilideno (PVDF) com a

Temperatura e Taxa de Recuperação

Marina di Giolo Bernardes Guimarães

Março/ 2013

Orientador(a): Marysilvia Ferreira da Costa

Co-Orientador(a): Ilson Paranhos Pasqualino

Curso: Engenharia de Materiais

Resumo:

A integridade de equipamentos estruturais utilizados na indústria offshore tem

sido o grande desafio encontrado pelas empresas de exploração, pois com a

exploração em águas cada vez mais pronfundas, tais equipamentos sofrem maiores

solicitações mecânicas. Com isso, o presente trabalho visa avaliar o comportamento

do PVDF que vem substituindo os materiais atualmente utilizados como barreira de

pressão em dutos flexíveis offshore, quando temperaturas de operação superiores a

65°C são previstas. O comportamento em fluência e recuperação do PVDF Solef

60512 foi estudado visando determinar a parcela viscoelástica do material com a

temperatura. Os resultados obtidos permitiram determinar parcelas elásticas e

viscoelásticas de recuperação do material, bem como revelou que o aumento da

temperatura causa a redução dessas parcelas, diminuindo a porcentagem de

recuperação do material. Além disso, foi verificado também a influência da taxa de

descarregamento do ensaio sobre os valores dessas parcelas e consequente

recuperação do material.

Palavras chave: Linhas flexíveis offshore, fluoreto de polivinilideno (PVDF),

fluência e recuperação.

VII

Abstract of Undergraduate Project presented to DEMM/EP/UFRJ as a partial fulfillment

of the requirements for the degree of Materials Engineer

Dependence of Creep and Recovery Polyvinylidene Fluoride (PVDF) with Temperature

and Strain Rate

Marina di Giolo Bernardes Guimarães

March/2013

Advisors: Marysilvia Ferreira da Costa

Co-Advisors: Ilson Paranhos Pasqualino

Course: Materials Engineer

Abstract:

Structural integrity of equipments used in the offshore industry has been the major

challenge faced by oil and gas companies, mainly due to the more and more harsh

conditions faced during exploration, such as the pre-salt layers. The present study aims

to evaluate the behavior of PVDF that is replacing the materials currently used as

pressure barrier layer in offshore flexible pipelines when operating temperatures above

65 ° C are predicted. The creep and recovery behavior of PVDF Solef 60512 was

investigated to determine the viscoelastic portion of the material with temperature. The

results were used to determine viscoelastic and elastic recovery of the material, and

revealed that the temperature increase causes reduction of those portions, decreasing

the percentage of recovery of the material. Furthermore, it was also verified the

influence of the rate of discharging of the assay over the values of these plots and

subsequent recovery of the material.

Keywords: Lines flexible offshore, polyvinylidene fluoride (PVDF), creep and recovery.

VIII

SUMÁRIO

1. Introdução --------------------------------------------------------------------------------------1

2. Objetivo ------------------------------------------------------------------------------------------2

3. Revião Bibliográfica

3.1 Fundamentos Teóricos

3.1.1 Elasticidade------------------------------------------------------------------2

3.1.2 Plasticidade------------------------------------------------------------------2

3.1.3 Viscoelasticidade-----------------------------------------------------------3

3.1.4 Viscoplasticidade-----------------------------------------------------------4

3.1.5 Fluência e Recuperação--------------------------------------------------4

3.2 Fluoreto de Polivinilideno------------------------------------------------------------8

3.3 Barreiras de pressão em linhas flexíveis offshore-------------------------16

3.4 Motivação--------------------------------------------------------------------------------20

4. Materiais e Métodos

4.1 Materiais----------------------------------------------------------------------------------21

4.2 Processo de Fabricação dos Corpos de Prova-----------------------------21

4.3 Métodos

4.3.1 Ensaios de Tração---------------------------------------------------------23

4.3.2 Ensaios de Fluência e Recuperação-------------------------------24

5. Resultados e Discussões

5.1 Ensaios de Tração-------------------------------------------------------------------25

5.2 Ensaio de Fluência e Recuperação--------------------------------------------27

5.3 Curvas do Complice J(t)-----------------------------------------------------------31

5.4 Parcela Viscoelástica---------------------------------------------------------------32

6. Conclusão---------------------------------------------------------------------------------------35

7. Trabalhos Futuros----------------------------------------------------------------------------36

8. Referências Bibliográficas-----------------------------------------------------------------37

IX

Índice de Figuras

Figura 1 - Reações da deformação ao degrau do carregamento constante. [2] ............................ 3

Figura 2: Curva de fluência em polímeros, quando aplicada uma tensão constante. [4] .............. 5

Figura 3: (a) Deformação linear elástica; (b) Deformação linear viscoelástica. [7] ........................ 6

Figura 4: Função do complice de fluência J(t) ............................................................................... 7

Figura 5: Estruturas cristalinas e conformações moleculares do PVDF [17] ................................... 9

Figura 6: Diagrama esquemático de como cada fase cristalina do PVDF pode ser obtida. [19] ... 11

Figura 7: Estruturas do α PVDF e β PVDF respectivamente. [19] .................................................. 12

Figura 8: Ilustração das regiões cristalinas (com dobras lamelares) e regiões amorfas do PVDF. [17] ................................................................................................................................................. 12

Figura 9: PVDF utilizado em dutos para sistemas offshore. ........................................................ 16

Figura 10: Evolução da exploração de petróleo no Brasil em profundidades cada vez maiores. [23] ................................................................................................................................................. 16

Figura 11: Arranjo submarino da exploração de petróleo. ......................................................... 17

Figura 12: Configurações dos dutos flexíveis. [9] ......................................................................... 17

Figura 13: Duto flexível do grupo (a) smothe bore e (b) rough bore. [10,15] ................................. 18

Figura 14: Camadas estruturais de um duto do grupo rough bore.[11]........................................ 19

Figura 15: Tipos de corpos de prova segunda a norma ASTM D638 e um exemplo do tipo I. ... 21

Figura 16: Prensa hidráulica (a) MARCONI modelo MA 098/A (b) CAVER modelo 3912............ 22

Figura 17: Molde dos cinco corpos de prova processados e o CP após o acabamento final. ..... 23

Figura 18: Máquina de ensaios mecânicos Instron modelo 5567 e extensômetro acoplado ao

CP................................................................................................................................................. 24

Figura 19: Curva típica deformação-tempo de um ensaio de fluência/recuperação sob tensão

constante para materiais plásticos. ............................................................................................ 25

Figura 20: Curva Tensão x Deformação....................................................................................... 26

Figura 21: Curvas de deformação x tempo a temperatura ambiente para cada método. ......... 27

Figura 22: Curvas de deformação x tempo a temperatura de 40°C para cada método. ........... 28

Figura 23: Curvas de deformação x tempo a temperatura de 60°C para cada método. ........... 28

Figura 24: Curvas de deformação x tempo a temperatura de 80°C para cada método. ............ 29

Figura 25: Curvas deformação x tempo comparadas entre diferentes temperaturas.3030

Figura 26: Gráfico comparativo de fluência nas diferentes temperaturas..................................30

Figura 27: Curvas de recuperação para as temperaturas de 60 e 80°C segundo os dois métodos

analisados....................................................................................................................................31

Figura 28: Curvas do complice de fluência J(t) para diferentes T, comparando-as .................... 32

Figura 29: Representação das parcelas de deformação do material no ensaio de fluência e

recuperação.3333

Figura 30: Curva representativa da recuperação x temperatura. ............................................... 35

X

Índice de Tabelas

Tabela 1: Propriedades do Poli (fluoreto de vinilideno). [22,23] .................................................... 14

Tabela 2: Descrição das camadas de um duto do tipo não aderente e grupo interior rugoso. [11]

..................................................................................................................................................... 19

Tabela 3: Dimensões dos corpos de prova do ensaio tensão x deformação. ............................. 25

Tabela 4: Dados obtidos com o teste de tração. ......................................................................... 26

Tabela 5: Parcelas de deformação do material em casa temperatura proposta. ....................... 33

1

1. Introdução

O crescimento da demanda mundial por petróleo e gás vem direcionando as

principais empresas exploradoras à procura de novos reservatórios. Algumas

empresas deixam evidente que o “óleo fácil” já se esgotou e estão mudando o cenário

mundial de petróleo para um cenário de constantes esforços por novos materiais e

inovações tecnológicas.

Ao longo dos anos a exploração de petróleo foi atingindo águas cada vez mais

profundas de acordo com o avanço da tecnologia. Diante deste novo cenário o duto

fléxivel tem se tornado componente fundamental, tendo em vista sua melhor

adaptação às condições operacionais severas em maiores profundidades de lâminas

de água. Equipamentos e estruturas metálicas estão entre os mais utilizados devido as

suas propriedades mecânicas, porém na indústria petrolífera eles se encontram

localizados em ambientes hostis, podendo sofrer corrosão, que pode chegar a

degradação do material que o compõe.[5]

Visando aproveitar a combinação de boas propriedades mecânicas das

estruturas metálicas, os materiais poliméricos ganham cada vez mais espaço no

mercado petrolífero sendo utilizados como barreiras à ação de agentes agressivos a

essas estruturas em linhas flexíveis. Com isso, o Fluoreto de Polivinilideno (PVDF) tem

sido alvo de uma série de pesquisas, pois em comparação ao seu grande concorrente

o Poliamida -11, o PVDF apresenta superioridade nas propriedades relevantes como

maior resistência química, maior resitência a ciclagem térmica e a maiores

temperaturas, bem como boa flexibilidade.[18]

O PVDF atualmente apresenta uma gama de aplicações, porém quando

aplicados em áreas de cunho tecnológico, como o setor petrolífero, necessita-se de

um elevado grau de conhecimento a respeito das propriedades mecânicas para

tempos muito longos. Em geral, o conhecimento do modo de falha e propriedades de

fluência são de extrema importância para definir critérios de segurança em projetos

utilizando este polímero.

Neste trabalho, o PVDF será estudado visando avaliar seu comportamento

viscoelástico. Para isso será avaliado seu comportamento quando exposto a diferentes

temperaturas em ensaios de fluência por quatro horas para cada temperatura,

observando assim sua deformação e recuperação na condição analisada.

2

2. Objetivo

O presente trabalho tem como objetivo determinar a parcela viscoelástica da

deformação em fluência de curto tempo bem como o efeito da temperatura nessa

parcela, para um dos tipos de PVDF utilizado como barreira de pressão em linhas

flexíveis offshore.

3. Revisão Bibliográfica

3.1. Fundamentos Teóricos

3.1.1 Elasticidade

A elasticidade, ou mecanismo conhecido por deformação elástica, presente nos

materiais de forma geral e, consequentemente também nos poliméricos, consiste na

deformação sofrida pelo corpo, sobre baixos níveis de tensão. Essa deformação

permanece constante enquanto o carregamento for mantido, contudo após a remoção

do carregamento a deformação elástica desaparece imediatamente, apresentando

característica de reversibilidade, ou seja, fazendo com que as moléculas voltem as

suas conformações estáveis.

3.1.2 Plasticidade

O mecanismo da deformação plástica pode ser observado em resposta à

aplicação de altos níveis de tensão produzindo, no caso de materiais poliméricos, uma

estrutura altamente orientada. Essa deformação pode causar alterações na estrutura

esferulítica para níveis moderados de alongamento. Se após a remoção do

carregamento a deformação permanecer, o material é então considerado inelástico, ou

plástico.

3

3.1.3 Viscoelasticidade

A viscoelasticidade é descrita como um comportamento intermediário, entre a

deformação elástica que ocorre instantaneamente após a aplicação da carga,

independente do tempo e o comportamento viscoso que é descrito por uma

deformação retardada ou dependente do tempo e temperatura. [1,3]

Os materiais apresentam uma resposta viscoelástica em fluência, ou seja,

quando aplicada uma tensão constante sofrem imediatamente uma resposta elástica,

seguida por um comportamento lento e contínuo de deformação com o tempo. Quando

a tensão é removida a recuperação elástica é instantânea seguida por uma

recuperação de deformação dependente do tempo a uma taxa de variação

continuamente decrescente, como ilustrado na FIG. 1. Materiais que apresentam esse

comportamento são influenciados de maneira significativa pela tensão, tempo e

temperatura. [2]

O comportamento viscoelástico poderá ser observado de várias maneiras, tais

como relaxação de tensão sob deformação constante, ruptura por fluência em função

do tempo(normalmente para matériais não poliméricos), dependência da frequência na

resistência à fadiga, recuperação da deformação dependente do tempo após a

completa remoção da carga e fluência sob carregamento constante. [2]

Os polímeros quando submetidos a uma tensão podem fundamentalmente se

deformar por dois diferentes mecanismos atômicos, distorção das ligações químicas

provocando um aumento de energia interna, ou também, caso o polímero tenha

mobilidade molecular suficiente, é possível uma maior escala de rearranjos entre os

átomos, podendo produzir grandes alterações na conformação da molécula, sendo

possível diminuir sua entropia conformacional (tornar a molécula menos desordenada).

Figura 1 - Reações da deformação ao degrau do carregamento constante. [2]

4

Sendo assim, a combinação da primeira e da segunda lei do estado

termodinâmico com o incremento de um trabalho mecânico no sistema pode produzir

um aumento de energia interna dU ou uma redução de entropia dS: [3]

f dx = dU - T dS (1)

A equação 1 nos permite verificar como um dos mecanismos sofre forte

influência da temperatura para que o polímero apresente comportamento

viscoelástico.

3.1.4 Viscoplasticidade

A viscoplasticidade ocorre quando a deformação plástica resultante depende

da taxa de deformação do ensaio.

3.1.5 Fluência e Recuperação

Os materiais poliméricos quando submetidos a um nível de tensão uniaxial

constante por um determidado tempo são suscetíveis a deformações, tais

deformações são chamadas de fluência viscoelástica. Esta, por sua vez, sofre grande

influência de três fatores: tensão, tempo e temperatura. [1,6]

Os ensaios de fluência são conduzidos por etapas, iniciando-se com a

aplicação de uma tensão inicial (normalmente de tração), sendo esta tensão inicial

prevista pelo seu módulo de elasticidade, seguida por uma etapa de carregamento

constante ao longo do tempo no qual o material irá deformar-se lento e continuamente

até atingir a ruptura ou falha. Além disso, este ensaio é realizado em condições

isotérmicas. [1,4]

5

O comportamento do material em função da taxa de deformação com o tempo

a uma tensão constante pode ser separado em três etapas: fase primária, secundária

e terciária. Como ilustrado na FIG. 2. [2,4,6]

Fase primária ou transiente: apresenta uma taxa de fluência decrescente;

Fase secundária ou fluência em regime estacionário: apresenta uma taxa de

fuência aproximadamente constante, com uma razão uniforme entre a

deformação e o tempo;

Fase terciária: apresenta uma taxa crescente de fluência, com um rápido

aumento na deformação até que se atinja a ruptura.

Contudo, esta é uma curva idealizada, pois alguns materiais não apresentam a

fase secundária, enquanto que a fluência terciária só ocorre em materiais dúcteis e

para altas tensões. Se tratando de polímeros, os estudos em fluência são realizados

durante a etapa secundária, já que a terciária raramente é atingida como observado

em materiais metálicos ducteis, além disso, todos apresentam um certo grau de

fluência, que para ser atingido depende de alguns fatores como: o tipo de polímeros, a

magnitude da carga, a temperatura e o tempo de ensaio. [4]

Uma importante propriedade avaliada em fluência é o “creep compliance”, ou

compliancia de fluência, dada como uma razão entre a taxa de deformação e uma

tensão constante.[6]

(2)

Figura 2: Curva de fluência em polímeros, quando aplicada uma tensão constante. [4]

6

Porém, ao contrário do que se é discutido em materiais metálicos, a fluência

em materiais poliméricos é essencialmente recuperável após a descarga, quando

associada a tensões baixas. Contudo, os polímeros podem apresentar diferentes

respostas de recuperação se a tensão aplicada atingir somente a região linear elástica

ou chegar a região linear viscoelástica. A FIG. 3 ilustra a comparação entre essas

duas regiões cuja recuperação apresenta diferentes níveis de resposta.[7]

Figura 3: (a) Deformação linear elástica; (b) Deformação linear viscoelástica. Adaptado de [7].

Em (a) observa-se uma proporcionalidade entre a tensão e a deformação, tanto

para o carregamento quanto para a recuperação. Já em (b), atingindo um caso mais

geral de um sólido viscoelástico, observa-se que a deformação é a soma das

deformações nas três regiões descritas como possíveis fases de fluência: e1 como

deformação elástica imediata, e2 como deformação elástica retardada e e3 como

deformação de um líquido viscoso, que se dado tempo suficiente em fluência poderá

deformar até fraturar. [7]

Partindo do pressuposto que o material apresenta comportamento linear,

observa-se também proporcionalidade da magnitude em relação a tensão das

grandezas de deformação e1,e2 e e3, permitindo definir o complice J(t) como a soma

dos compliances para cada região.[7]

7

(3)

Polímeros lineares amorfos apresentam J3 significativos para altas

temperaturas em relação às temperaturas de transição vítrea, porém a baixas

temperaturas, apenas J1 e J2 dominam. Além disso, polímeros altamente cristalinos

não apresentam J3, pois não atingem escoamento viscoso.[7]

Traçando o logarítimo do compliance de fluência J(t) em função do logarítimo

do tempo t, muda-se drasticamente o formato da curva comprimindo a região de curto

tempo e alongando a região com maior tempo de resposta. Com isso, retira-se os

extremos independentes do tempo, ou seja, retira-se o compliance muito baixo

(elástico) e o complice muito alto (viscoso), evidenciando apenas o comportamento

intermediário e dependente do tempo, ou seja, o comportamento viscoelástico.[7]

τ define o tempo de relaxação do processo de deformação, ou seja, tempo de

resposta à deformação. Além disso, esse tempo de resposta sofre elevada influência

Figura 4: Curva Log J(t )x Log t (complice máximo de fluência). [3]

8

da temperatura, pois a medida que a temperatura é elevada a frequência de rearranjos

moleculares aumenta, reduzindo τ. [3,7]

Caso a carga seja removida na etapa de fluência secundária, uma reversão da

deformação elástica ocorrerá imediatamente seguida de uma recuperação da

deformação, sofrida a uma taxa decrescente de fluência. [2] Durante este processo de

descarregamento, ou seja, remoção da carga, caso o material sofra uma tensão axial

compressiva, o mesmo estará sucetível a flambagem, fenômeno de encurvadura que

ocorre em peças onde a seção transversal é pequena em relação ao seu

comprimento. Neste caso, com a aplicação de uma tensão no instante t=0 e remoção

da mesma no instante t=1 a deformação observada no instante t > t1 é dada pela

adição dos dois termos, fluência e recuperação, dada por:[3,7]

Fluência => ; (4)

Recuperação => ; (5)

Portanto, será expressa por:

(6)

Com isso, a recuperação dada por será definida como a diferença

entre a fluência sobre tensão inicial e a resposta real medida após a retirada da

tensão. [7]

3.2. Fluoreto de Polivinilideno (PVDF)

O poli (fluoreto de vinilideno), conhecido por PVDF é um polímero

termoplástico de cadeia linear que possui ao longo de sua cadeia polimérica a

alternância de grupos CH2 e CF2.[16] Sua sintetização é obtida por meio da adição

sucessiva de vinilideno, ou unidades de monômeros de flúor. [17]

n(CH2=CF2) → –(CH2−CF2)n–.

Com utilização comercial iniciada por volta da década de 60, esse polímero

apresenta uma característica peculiar conhecida por polimorfismo e tem sido muito

pesquisado, revelando uma gama de aplicações por apresentar diferentes

propriedades tais como mecânicas, químicas, piezoelétricas e piroelétricas. Essa

9

diversidade só é possível devido a sua capacidade de apresentar diferentes estruturas

moleculares e cristalinas apenas realizando manipulações em sua configuração devido

a simplicidade de sua estrutura química.[16,18,22]

Foram identificadas pelo menos quatro diferentes estruturas cristalinas neste

polímero, denominadas fases α, β, γ e δ. Contudo, a ocorrência de cada uma delas

depende fortemente das condições de cristalização através de tratamentos térmicos,

elétricos ou mecânicos. [5,19]

Tais fases cristalinas diferem uma das outras devido à orientação relativa das

moléculas na estrutura do cristal e também à ordenação sequêncial dos ângulos de

torção. Essa ordenação dos ângulos determina a orientação dos átomos de flúor e

hidrogênio na cadeia de carbono. Sendo assim, foi identificado que as estruturas

cristalinas α e δ do PVDF apresentam conformação TGTG´(sendo T=trans, G=gauche

e G´=-gauche), a fase β possui toda a conformação TTTT enquanto a fase γ apresenta

conformação TTTGTTTG´. Na FIG. 5 são ilustradas as estruturas cristalinas e

moleculares das fases descritas acima.[17,19,21]

Figura 5: Estruturas cristalinas e conformações moleculares do PVDF [17]

10

As unidades básicas do polímero (meros), onde os átomos formam ligações

covalentes apresentam átomos de hidrogênio eletropositivos e átomos de flúor

eletronegativos em relação aos átomos de carbono, sendo assim o PVDF é

inerentemente polar. Porém, quando essas unidades se repetem dando origem a

macromoléculas, elas podem formar ligações químicas do tipo cabeça-cabeça ( “head-

to-head” ) cuja forma é – CH2(– CH2 – CF2–) CH2 – ou cauda-cauda ( “tail-to-tail” ) cuja

forma é – CF2(– CH2 – CF2 –) CF2–, onde a alternância entre os grupos CH2 e CF2 é

responsável por influenciar as propriedades do PVDF, tornando-o até mesmo apolar.

Estudos têm demonstrado que as unidades “cabeça-cabeça” ou “cauda-cauda” estão

distribuídas ao longo da cadeia do polímero de forma aleatória e que o número dessas

unidades é determinado pela temperatura na qual o polímero foi sintetizado.[16,19]

O papel de reduzir a força de interação na ligação CF2 – CF2 é desempenhado

no PVDF pelo grupo CH2, pois o mesmo assume posições intermediárias entre os

grupos CF2. Essa pode ser umas das principais razões pelas quais mesmo no estado

cristalino esse polímero possa assumir variedades de fases com conformações e

estruturas moleculares variadas.[16]

A fase mais comum dentre as fases identificadas, devido a sua estabilidade, é

a fase apolar α, obtida por processamento controlado, normalmente por resfriamento a

partir da massa fundida. A fase β, polar, é obtida por estiramento uniaxial da fase α a

temperaturas inferiores a 90°C, elevada pressão na cristalização ou taxa de

resfriamento mais alta na mesma e até mesmo a partir de soluções específicas. Além

dessas duas fases, há também a fase γ, apolar, sua fusão ocorre a temperaturas

superiores as das fases α e β podendo ser obtida a partir de soluções a temperaturas

acima de 155°C ou pela cristalização a partir do fundido sob altas pressões. E por

último a fase polar δ, formada pela aplicação de um alto campo elétrico a fase α. O

esquema de processos para obtenção metaestável das outras três fases a partir da

fase α está ilustrada na FIG. 6. [5,16,18,19]

11

Dentre as fases do PVDF citadas, a fase apolar α e a fase polar β têm sido as

mais estudadas devido às suas aplicações. A fase cristalina β vem sendo

extensivamente estudada por décadas devido às suas propriedades piezoelétricas,

enquanto a fase α só muito recentemente ganhou interesse pela sua ampla aplicação

nas indústrias químicas e de petróleo. Portanto, tem sido alvo de grandes estudos

para melhor compreensão de suas propriedades mecânicas, assim como seu

comportamento em aplicações estruturais em tubos offshore.[20]

As formações das fases α e β podem ser visualizadas na FIG. 7, no qual se

pode notar que a formação α é uma combinação entre uma conformação helicoidal e

uma ziguezague planar, assumindo a formação semi-helicoidal. Já a fase β, uma

fomação ziguezague planar, formação esta que força os átomos de flúor ao longo da

cadeia de carbono a aproximar-se e se sobrepor, sendo assim, essa estrutura permite

uma maior densidade de empacotamento com um alinhamento dipolar, garantindo ao

polímero a propriedade piezoelétrica.[19]

Figura 6: Diagrama esquemático de como cada fase cristalina do PVDF pode ser obtida. [19]

12

A fase α portando é a fase cujo PVDF é aplicado em linhas flexíveis offshore

por garantir boas propriedades mecânicas.[5] A mesma possui morfologia

semicristalina com uma região esferulítica (cristalitos) cercada por uma região amorfa

(FIG. 8), devido ao alto grau de cristalinidade o PVDF é composto por duas regiões

amorfas distintas, distinguidas pela proximidade das mesmas em relação aos

esferulitos. Essas regiões são descritas como fase amorfa “ constrained ” (constrita ou

restrita), e fase amorfa livre designada como região amorfa de cadeias livres, ou seja,

mais distante dos cristalitos. Com isso, seu comportamento mecânico resulta no

processo de deformação de cada um dos seus constituintes bem como suas

interações. Portanto, suas viscosidades e temperaturas de transição vítrea são

notavelmente diferentes, sendo para a região amorfa livre Tg= -40°C e se tratando da

região constrita Tg´= 50 - 60°C. Essa peculiaridade também pode ser encontrada no

PEAD, polipropileno (PP) e no polioximetileno (POM). [5,16,20]

Figura 7: Estruturas do α PVDF e β PVDF respectivamente. [19]

Figura 8: Ilustração das regiões cristalinas (com dobras lamelares) e regiões amorfas do PVDF. [17]

13

Essa característica faz com que o estudo do micromecanismo de deformação

do PVDF seja mais complexo, pois na temperatura ambiente, tanto a fase amorfa

“constrained” quanto a amorfa livre coexistem com processos diferentes de

deformação e só passarão a apresentar o mesmo processo de deformação acima da

Tg´. A deformação da fase amorfa “constrained”, ocorre por nucleação e crescimento

das bandas de cisalhamento, onde segmentos microestruturais da cadeia serão

localmente cortados. Sendo assim, acima da Tg constrita o polímero flui mais ou

menos como um líquido altamente viscoso, transmitindo tensões entre os cristalitos e

se exposto a temperaturas mais elevadas o desemaranhamento é possível, reduzindo

a viscosidade do material e consequentemente seu rendimento para o comportamento

mecânico. [19,20]

O PVDF tem ganhado destaque pois, além de apresentar inúmeras

propriedades de interesse para o setor tecnológico, assumiu elevada importâncida

devido ao seu menor custo em relação aos demais polímeros fluorados. Dentre suas

propriedades, algumas são de maior destaque para o setor, como a resitência

química e à intempéries, além da boa resistência mecânica e à fluência.

Adicionalmente, esse polímero apresenta propriedades piezoelétricas e piroelétricas,

boa resistência ao impacto e abrasão, à radiação nuclear e ultravioleta e à propagação

de trinca por fadiga, além de não ser considerado tóxico, desde que não seja

catalisado na presença de aditivos como sílica, dióxido de titânio e óxido de antimônio.

Entretando, caso ocorra o processo de catalisação na temperatura de degradação do

PVDF, em torno de 375°C, com a presença desses catalisadores, poderá haver

liberação de ácido fluorídrico anidro (HF), considerado altamente tóxico. Portanto, a

combinação de suas propriedades garante o uso do PVDF em uma ampla faixa de

temperatura que varia de 27°C a 150°C, visto que o mesmo é normalmente utilizado

até 130°C e que seu ponto de fusão é em aproximadamente 170°C. [16,18]

Muitas dessas propriedades no polímero dependem de três fatores:

irregularidades ao longo da cadeia cristalina, polidispersão e peso molecular, fatores

esses controlados durante a polimerização para garantir que uma propriedade

específica seja obtida. [18] A tabela 1 apresenta algumas das propriedades citadas.

14

Propriedades Unidades Condições Valores

Peso molecular g.mol-1 CH2=CF2 64.034

Sequências cabeça-cabeça % CF2 – CF2 – CH2 – CH2 3.5 – 6

Alcance típico de peso molecular g.mol-1 - 3.4 – 40 x 104

Índice típico de polidispersão - - 1.62-2.14

Taticidade % - 95-97

Morfologia (formas dos cristais) - - α, β, ϒ, δ

Densidade/ forma do cristal g.cm-3

fase α

fase β

Amorfa

1.92

1.97

1.68

Densidade (cristalina) g.cm-3

Moldado a 170°C (temperado a 0°C)

Moldado a 170°C (temperado a Tamb)

Recozido a 120°C por um dia

1.75-1.78 (47%)

1.779(60%)

1.769(69%)

Coeficiente linear de expansão

térmica k-1 - 0.7-1.5 (x10-4)

Condutividade térmica W.m-1.K-1 25-160°C 0.17-0.19

Resistência à compressão MPa 25°C 55-90

Resistência à deformação

elástica MPa Valor comercial 35

Resistência à tração MPa Valor comercial 38

Alongamento na ruptura % Valor comercial 43

Tensão na ruptura MPa 25°C

100°C

38-52

17

Módulo elástico MPa em tração

em flexão

1340-2000

1200-2200

Tabela 1: Propriedades do Poli (fluoreto de vinilideno). [22,23]

15

em compressão

em torção

850-1275

550-800

Coeficiente piezoelétrico

cgs.esu

pC/N

pC/N

fase α, 38% de cristalinidade

fase β

fase δ

0.32x10-7

20-30

2-3

Coeficiente piroelétrico µCKm-2 fase β 30-40

Ponto de fusão °C - 154-184

Transição vítrea região amorfa

livre °C - -40

Transição vítrea região amorfa

restrita °C - 50-60

Fragilização a baixa

temperatura °C - -62 a -64

Diante da capacidade de operar em uma ampla faixa de temperatura sem

grandes alterações em suas principais propriedades, o PVDF possui uma gama de

aplicações como:

revestimentos (recuperação de dutos) de tubos metálicos já

deteriorados por ambientes corrosivos ou até mesmo para prevenção;

indústria de semicondutores (isolamento primário ou capa de instalação

elétrica industrial);

sensores (dispositivos médicos de instrumentação e computadores) ;

indústria alimentícia (embalagens);

indústria química;

acabamento superficial;

16

distribuição de petróleo e gás, etc.

3.3. Barreiras de Pressão em Linhas Flexíveis Offshore

A produção de petróleo no Brasil vem enfrentando muitos desafios e um dos

maiores deles na exploração é o desenvolvimento de tecnologia capaz de suportar

maiores profundidades de lâminas de água, onde foram detectados a maior parte da

reserva nacional deste recurso.[9]

O escoamento do petróleo se dá através de dutos que interligam poços,

plataformas, locais em terra e/ou um navio aliviador e tem por finalidade realizar o

transporte do fluido entre eles. Podem ser classificados como dutos rígidos

(constituídos por ligas de aço ou titânio) ou flexíveis (contituído por várias camadas de

materiais diferentes com funções diferentes).[10]

Figura 9: PVDF utilizado em dutos para sistemas offshore.[25]

Figura 10: Evolução da exploração de petróleo no Brasil em profundidades cada vez maiores. [25]

17

Linhas flexíveis tem se tornado um componente fundamental no cenário de

exploração de petróleo, pois apresentam condições operacionais mais propícias a

adaptação em grandes profundidades, variações de temperatura, correntes marinhas,

passeios de plataformas etc, [9] revelando propriedades tais como:[10,12]

Grande resisência à tração;

Rigidez à flexão relativamente pequena;

Capacidade de acomodar movimentos naturais ao lançamento, ao

serviço e à desmobilização;

Menor coeficiente de troca térmica em relação ao duto rígido não-

isolado;

Resistência à pressão interna e a possíveis esforços decorrentes de

rápida despressurização.

Esses dutos flexíveis são apresentados no cenário submarino de exploração

por diversas maneiras, assentados no leito marinho (Flowlines), interligando os

equipamentos submersos aos de superfícies (Risers) e em pequeno comprimento

formando uma catenária (Jumpers), como visto na FIG. 12[11].

Figura 11: Arranjo submarino da exploração de petróleo. [25]

Figura 12: Configurações dos dutos flexíveis. [9]

18

Uma linha flexível é composta por várias camadas de diferentes materiais,

formando estruturas constituídas de camadas cilíndricas poliméricas e metálicas,

dispostas em helicóides. São ainda classificadas em dois tipos, de acordo com seu

processo construtivo: bonded ou vulcanizadas e unbonded ou independentes.[9,10,12]

Bonded (camadas aderentes) – um processo de vulcanização faz co

que as camadas sejam coladas umas nas outras atuando de maneira uniforme, ou

seja, como se fosse uma única camada;

Unbonded (camadas não aderentes) – as camadas são dispostas

apenas em contato de tal maneira que o movimento relativo seja possível entre as

mesmas;

Além disso, os dutos flexíveis podem ser divididos em dois grupos de acordo

com a camada interna: smoth bore (interior liso), que possui internamente um duto

termoplástico (barreiras de pressão polimérica) e é utilizado para o transporte de

líquidos que não apresentam gases em sua composição, e o tipo rough bore (interior

rugoso), sua aplicação facilita a injeção de óleos, água e gás nos poços, possui como

primeira camada uma estrutura metálica intertravada conhecida por carcaça, com a

função de dar suporte a camada polimérica, proporcionando resistência ao colapso,

que pode ocorrer devido a difusão de gases e à pressão hidrostática externa. [9,10, 18]

(a) (b)

Figura 13: Duto flexível do grupo (a) smothe bore e (b) rough bore. [10,15]

19

Ambos os grupos possuem camadas poliméricas que agem como barreiras de

pressão, além de apresentarem funções de vedação, isolamento térmico e redução de

fricção, como pode ser observado na relação entre a FIG. 14 e a tabela 2.

Como pode ser observado na tabela 2 cada camada apresenta uma função

específica que será detalhada a seguir: [10,12]

(A) Camada intertravada – proporcionar suporte à camada termoplástica

com a finalidade de resistir ao colapso devido à difusão do gás e à pressão

hidrostática externa;

(C) Camada termoplástica interna – camada de pressão, com função de não

permitir vazamentos líquidos nem gasos;

(D) Camada zeta – perfil em forma de Z de uma fita de aço encobrindo a

camada termoplástica com a função básica de resistir ao efeito radial de

pressão interna;

Figura 14: Camadas estruturais de um duto do grupo rough bore.[11]

Tabela 2: Descrição das camadas de um duto do tipo não aderente e grupo interior rugoso. [11]

20

(F) Camada termoplástica interna – reduz a fricção entre as camadas de

aço, atua como isolante térmico, e oferece a resistência ao colapso do duto;

(G) Armaduras de tração – formadas por fios chatos de aço carbono

entrelaçados de forma helicoidal que tem a função de resistir às cargas

internas e externas;

(H) Adesivo – chamada de fita anti-flambagem, tem como principal função

resistir a uma possível expansão na armadura de tração;

(I) Camada plástica externa – possui a função de atuar como isolante

térmico, proporcionar estanqueidade ao duto e proteger o duto de radiações

solares.

Em condições normais de serviço, como resultado dos efeitos de pressão e

temperatura, os revestimentos utilizados como barreiras de pressão nas linhas

flexíveis, sofrem solicitações de tração, com isso, caso o polímero utilizado não

apresente propriedades mecânicas específicas poderá sofrer fluência até que ocorra

falha. Portanto, o polímero utilizado como revestimento interno deverá responder por

fluência.[12]

3.4. Motivação

Após a descoberta de petróleo em águas profundas, uma das maiores

preocupações na sua produção é a integridade de linhas flexíveis offshore, visto que

prejuízos devastadores podem ser causados por falhas nestas estruturas, tais como

desastres ambientais.

Visando proporcionar um desenvolvimento que assegure melhores

performances nesses equipamentos, o PVDF tem sido estudado para viabilizar sua

aplicação na área offshore como barreira de pressão em dutos flexíveis, visto que

maiores profundidades culminam em maiores carregamentos sob as linhas flexíveis e

o conhecimento das propriedades mecânicas dos materiais que a compõe tornou-se

um ponto crítico para o conhecimento do seu comportamento estrutural.

Portanto, o intuito deste trabalho é avaliar o comportamento do poli (fluoreto de

vinilideno), estudando a partir de ensaios de fluência a tensão constante, a variação de

21

suas propriedades obtidas a temperatura ambiente em relação às propriedades

obtidas a temperaturas superiores. Essa variação da temperatura tem por objetivo

simular condições sofridas pelos dutos durante a exploração e avaliar sua influência

nas propriedades do polímero em estudo.

4. Materiais e Métodos

4.1. Materiais

O polímero utilizado para análise proposta por este trabalho foi o PVDF Solef®

60512. O mesmo foi fornecido pelo fabricante Solvay Solexis na forma de pellets.

4.2. Processo de fabricação dos corpos de prova

Processados via moldagem por compressão, para ensaios de tração, fluência e

recuperação, os corpos de prova foram prensados no formato gravata em moldes com

cinco corpos de prova a cada processamento, esse molde apresenta dimensões

específicas, estabelecidas pela norma ASTM D638 – Tipo I.

Figura 15: Tipos de corpos de prova segunda a norma ASTM D638 e um exemplo do tipo I. [24]

22

Visando reduzir o ciclo do processo, antes de seguir para a etapa de

prensagem, o material na forma de pellets foi pré-aquecido na estufa à vácuo, modelo

Marconi MA030, a uma temperatura de 150°C por um tempo determinado de 10

minutos. Em seguida, dando continuidade ao processo de fabricação o material seguiu

para o processo de moldagem, que se deu na prensa hidráulica MARCONI modelo MA

098/A (FIG. 15(a)), durante 5 minutos a uma temperatura de 220°C em ambas as

placas e carga de 6 toneladas.

Durante a etapa de prensagem foram realizadas degasagens em 4, 5 e 6

toneladas respectivamente, com intuito de atingir melhor compactação, diminuindo o

número de vazios e aumentando a densidade dos corpos de prova.

Em seguida, os corpos foram levados a uma segunda prensa hidráulica, Caver

modelo 3912 (FIG. 15(b)) e prensados a 1 tonelada e temperatura de 80°C por 10

minutos. Esta etapa tem por finalidade proporcionar a cristalização adequada ao

polímero.

(a) (b)

Figura 16: Prensa hidráulica (a) MARCONI modelo MA 098/A (b) CAVER modelo 3912

23

Por fim, os corpos processados seguem para a etapa final de acabamento com

corte e lixamento.

4.3. Métodos

4.3.1 Ensaios de Tração

Conhecer as propriedades do material é necessário para evitar esforços

mecânicos excessivos, pois seu comportamento mecânico reflete sua capacidade de

resposta, ou seja, deformação, quando submetido a uma solicitação de carga. Um

ensaio muito utilizado para medir tais propriedades é o ensaio de tração, que consiste

em deformar uma amostra, sob uma carga gradativamente crescente, aplicada

uniaxialmente ao longo do eixo mais comprido do corpo de prova, até sua fratura. [5]

Para os polímeros este tipo de ensaio pode ser utilizado para se obter

propriedades tais como: módulo de elasticidade, ductilidade, limite de escoamento

(correspondente ao valor máximo na curva que ocorre imediatamente após o término

da região elástica linear) e também o limite de resistência a tração (correspondente ao

valor no qual ocorre a fratura). [1]

No presente trabalho foram realizados ensaios de tração com objetivo de

comparar valores do limite de escoamento e módulo de elasticidade dos corpos de

prova processados, com valores presentes na literatura. O intuito foi avaliar a

qualidade do processamento. Neste caso o ensaio foi realizado na máquina universal

Figura 17: Molde dos cinco corpos de prova processados e o CP após o acabamento final.

24

de ensaios mecânicos Instron modelo 5567 , a 100mm/min na temperatura ambiente,

conforme a norma ASTM D638.

4.3.2 Ensaios de Fluência e Recuperação

Os ensaios de fluência e recuperação descritos anteriormente, foram

realizados na máquina de ensaios mecânicos Instron modelo 5567 com um forno

acoplado para garantir que os ensaios sejam realizados nas temperaturas propostas

neste trabalho. Os corpos de prova foram submetidos a ensaios de fluência (creep)

por um período de 4 horas seguidos de ensaios de recuperação (recovery) por um

período similar.

Como o objetivo deste trabalho é avaliar o efeito da temperatura na parcela

viscoelástica do PVDF, foram realizados ensaios a temperaturas de 23, 40, 60 e 80°C

para posteriormente realizar uma comparação entre os resultados. Estes ensaios

foram realizados segundo a norma ASTM D2990-09, com tensão constante de

aproximadamente 20% do limite de escoamento do material em análise, o que

equivale a 7 MPa, com uma taxa constante de carregamento e descarregamento.

Além disso, foram avaliados corpos de prova (CP´s) com duas diferentes taxas de

descarregamento e os valores obtidos de deformação foram registrados com o auxílio

de um extensômetro, observado na FIG. 18. Para cada condição foram avaliados no

mínimo 3 CP´s, garantindo a confiabilidade dos resultados do ensaio. Sendo assim,

uma curva típica de fluência/recuperação (FIG. 19) é esperada.

Figura 18: Máquina de ensaios mecânicos Instron modelo 5567 com o forno acoplado e extensômetro

25

Figura 19: Curva típica deformação-tempo de um ensaio de fluência/recuperação sob tensão constante.[7]

5. Resultados e Discussões

5.1. Ensaios de Tração

Ensaios de tração foram realizados com finalidade de garantir que os corpos

de prova foram devidamente processados e apresentam resistência mecânica de

acordo com a literatura. A tabela 3 apresenta, segundo a norma ASTM D638-Tipo I, as

dimensões dos lotes de CP´s processados para o ensaio.

Tabela 3: Dimensões dos corpos de prova do ensaio tensão x deformação.

CP´s Largura (mm) Espessura (mm)

CP 1 12,94 3,49

CP 2 12,67 2,98

CP 3 12,91 2,94

CP 4 13,08 3,31

CP 5 12,89 3,38

26

Tabela 4: Dados obtidos com o teste de tração.

Corpos de

Prova

Módulo Elástico/Young

(MPa)

Resistência à deformação

elástica (MPa)

1 CP1 1364,44 35,48

2 CP2 1352,42 35,03

3 CP3 1380,57 35,26

4 CP4 1357,66 33,83

5 CP5 1392,61 35,41

Média - 1369,54 35,00

Desvio

Padrão - 33,38 1,35

Figura 20: Curva Tensão x Deformação

27

Com os resultados observados na FIG. 20 e tabela 4, podemos concluir que o

PVDF utilizado no presente trabalho apresentou propriedades aceitáveis comparado

ao valor citado pela literatura com limite de escoamento em torno de 35 MPa e módulo

entre 1340 -2000 MPa,visto na tabela 1.[22,23]

5.2. Ensaios de Fluência e Recuperação

Foram realizados ensaios de fluência e recuperação a temperaturas de 23, 40,

60 e 80°C, para duas metodologias. A metodologia 1 consiste em um carregamento a

uma taxa de 1mm/min até que se atinja 20% do limite de escoamento do material

testado, para o caso do PVDF 7 MPa. Ao atingir a tensão desejada o material é

deixado sob fluência por 4 horas, seguido então de um descarregamento a mesma

taxa de 1mm/min com recuperação de 4 horas.

Na metodologia 2 mantém-se a taxa de carregamento e o tempo de fluência,

porém no descarregamento a taxa foi reduzida para 0,1mm/min seguida também por 4

horas de recuperação. O comportamento do material pode ser observado nas curvas

de fluência/recuperação representadas pelas FIG. 21 a 24. Para cada temperatura

proposta por este trabalho, foram plotadas curvas referentes a metodologia 1 e 2 a fim

de compará-las entre si.

0 100 200 300 400 500

-0,1

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

Str

ain

%

Time (min)

T amb 1

T amb 2

Figura 21: Curvas de fluência/recuperação a 23°C

28

0 100 200 300 400 500

0,0

0,2

0,4

0,6

0,8

1,0

1,2

Str

ain

%

Time (min)

40°C 2

40°C 1

Figura 22: Curvas de fluência/recuperação a 40°C.

0 100 200 300 400 500

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Str

ain

%

Time (min)

60°C 1

60°C 2

Figura 23: Curvas de fluência/recuperação a 60°C.

29

0 100 200 300 400 500

-1,5

-1,0

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

4,5

Str

ain

%

Time (min)

80°C 2

80°C 1

Figura 24: Curvas de fluência/recuperação a 80°C.

As curvas acima descrevem um comportamento típico dos polímeros em

ensaios de fluência/recuperação, como visto na FIG. 19. Para cada temperatura foram

escolhidas, em ambos os métodos, as melhores curvas representativas. Como foi

observado flambagem, ou seja, deformação compressiva nos corpos de prova

ensaiados a 60 e 80°C pelo método 1, foi necessário a realização de novos ensaios

com menor taxa de descarregamento, descrito neste trabalho como método 2. A

diminuiçao na velocidade de descarregamento visava proporcionar mais tempo para

as cadeias se rearranjarem, pois chegou-se a conclusão que possivelmente a

velocidade definida pelo método 1 era muito rápida em relação ao tempo de

reorganização das cadeias durante a recuperação. Observou-se também a influência

da temperatura nos ensaios, pois apesar de não apresentar 100% de recuperação em

nenhuma condição ensaiada as curvas revelam que a recuperação diminui com o

aumento da temperatura e aumenta com a diminuição da taxa de descarregamento.

Além disso, foi possível verificar a influência da taxa de descarregamento

somente para temperaturas acima de 40°C. Para as temperaturas de 23 e 40°C a

metodologia não influênciou significativamente na recuperação, enquanto que para a

temperatura de 80°C o material sofreu flambagem em ambos os métodos, não sendo

possível verificar se houve ou não recuperação, porém para a menor taxa de

descarregamento foi possível verificar menor percentual de flambagem.

30

Partindo desta primeira análise, concluiu-se então que a metodologia 2 é mais

adequada na recuperação. Sendo assim, foram plotadas curvas desta metodologia

para as diferentes temperaturas com intuito de compará-las (FIG. 25).

0 100 200 300 400 500

-0,5

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

3,5

4,0

Str

ain

%

Time (min)

T amb

40°C

60°C

80°C

Figura 25: Curvas de fluência/recuperação comparadas entre diferentes temperaturas.

Analisando as curvas podemos concluir que o aumento da temperatura

influencia fortemente na deformação do material em fluência (FIG.26), principalmente

para temperaturas acima da Tg´, conhecida por Tg constrita, pois nesta região o

material apresenta o processo de deformação por nucleação e crescimento das

bandas de cisalhamento, sendo possível seu desmaranhamento resultando em menor

viscosidade[20] o que leva o material a atingir níveis de deformação viscoelástica e

plástica.

Entretando, se tratando apenas de recuperação, observou-se que para a

temperatura de 60°C o material sofre flambagem quando descarregado a uma taxa de

Figura 26: Gráfico comparativo de fluência nas diferentes temperaturas.

31

1mm/min (metodologia1), o que não ocorre na metodologia 2, com a taxa de

descarregamento a 0,1mm/min. Isso pode ser explicado devido ao fato de ao elevar o

material a temperatura de 60°C, na faixa de sua Tg constrita, com o processo de

deformação sofrido pelo material sob tensão, o mesmo apresenta “desenovelamento”

das cadeias e ao sofrer o descarregamento as mesmas precisam de tempo suficiente

para enovelarem novamente, voltando ao seu estado de menor energia (equilíbrio), ou

seja, recuperando-se, condição esta atingida na metodologia 2. No entanto, para a

temperatura de 80°C, acima da segunda Tg, o material não conseguiu recuperar-se, ou

seja, não teve tempo suficiente para retornar ao seu estado de equilíbrio mesmo para

uma taxa de descarregamento mais baixa, sofrendo assim uma deformação plástica

em ambos os métodos avaliados, como pode ser observado na FIG. 27.

5.3. Curvas do Compliance J(t)

O compliance de fluência evidencia o comportamento intermediário e

dependente do tempo, ou seja, o comportamento viscoelástico do material[7]. A FIG. 28

representa esse compliance para cada condição analisada por este trabalho e o ponto

de inflexão das curvas, conhecido como τ, define o tempo de relaxação do processo

de deformação, ou seja, tempo de resposta à deformação[7].

Figura 27: Curvas de recuperação para as temperaturas de 60 e 80°C segundo os dois métodos analisados.

32

Segundo a literatura, o tempo de resposta do material sofre elevada influência

da temperatura, pois a medida que a temperatura é elevada a frequência de rearranjos

moleculares aumenta, reduzindo τ[7]

, comprovado na FIG 28.

5.4. Parcela viscoelástica

Como o objetivo deste trabalho é determinar a parcela viscoelástica do PVDF

bem como avaliar o efeito da temperatura na mesma, a tabela a seguir apresenta as

relações de definição das parcelas de deformação para cada condição ensaiada.

Sabendo que a recuperação é dada por e que a mesma é definida como

a diferença entre a fluência sobre tensão inicial e a resposta real medida após a

retirada da tensão[7], foi possível analisar tanto a recuperação elástica quanto a

viscoelástica do PVDF.

Figura 28: Curvas do complice de fluência J(t) para diferentes T, comparando-as.

33

Na FIG. 29, os conceitos utilizados para obter os valores das parcelas elásticas

e viscoelásticas foram ilustrados.

Sendo:

e => deformação total do material (e1+e2+e3) - medida no instante em

que terminam as 4 horas de fluência a tensão constante);

e1=> deformação elástica (medida no instante em que a tensão a ser

ensaiada é atingida);

e2=> deformação elástica retardada;

e3=> deformação plástica (medida no instante em que o ensaio é

finalizado, representa a deformação final do material);

e´1=> recuperação elástica (medida no instante em que a tensão cai a

zero);

er => recuperação viscoelástica (er= e -e1´ -e3).

Tabela 5: Parcelas de deformação do material em cada temperatura proposta.

Temperatura (°C)

CP e1 e e´1 e3 er (t-t1) Recuperação viscoelástica

(%)

23 23.01 0,499 0,626 0,124 0,039 0,463 74,00

23 23.02 0,564 0,811 0,310 0,039 0,461 56,81

40 40.01 0,972 1,173 0,519 0,059 0,595 50,76

40 40.02 0,615 0,897 0,544 0,029 0,323 36,08

60 60.01 1,948 2,610 1,889 -0,191 Flambagem 0,00

60 60.02 1,379 1,764 1,331 0,261 0,172 9,73

80 80.01 2,656 4,199 2,436 -0,981 Flambagem 0,00

80 80.02 2,877 3,656 2,098 -0,162 Flambagem 0,00

Figura 29: Representação das parcelas de deformação do material no ensaio de fluência e recuperação.[7]

34

Determinadas as parcelas elásticas e viscoelásticas da deformação em fluência

para o PVDF ensaiado sob diferentes condições, foi possível obter então o percentual

de recuperação do material para cada condição.

Analisando os dados da tabela observamos que o percentual de recuperação

cai com o aumento da temperatura. Esse comportamento é esperado pois ao elevar a

temperatura até a temperatura da faixa da Tg constrita do material, as cadeias

ganham mais mobilidade atingindo maiores deformações.

Além disso, foi demonstrado também na tabela uma queda na parcela

viscoelástica devido a menor taxa de descarregamento, no entanto, pode ser

observado que ao reduzir essa taxa de descarregamento, o material apresenta maior

recuperação elástica o que pode ser explicado pelo fato de ser dado às cadeias,

tempo suficiente para rearranjos moleculares. Este comportamento de maior

recuperação elástica não foi observado a temperaturas mais elevadas, pois ao

atingirem a Tg constrita, somado a tensão aplicada, o desenovelamento e estiramento

das cadeias são facilitados acarretando em uma maior deformação plástica,

consequentemente maior dificuldade de recuperação.

Por fim, não foi possível calcular a recuperação do material a 60°C pela

metodologia 1, nem a 80°C por ambas as metodologias pois os corpos de prova 60.01,

80.01 e 80.02 sofreram flambagem durante o descarregamento.

No entando, a curva representada pela FIG. 30 demonstra a influência da taxa

de descarregamento para maiores temperaturas, pois demonstrou que para uma taxa

de descarregamento mais baixa a 60°C o material apresentou recuperação, resultado

esse não atingido a 80°C nessa mesma condição.

35

Figura 30: Curva representativa da recuperação x temperatura.

Para o comportamento do material observado a 80°C há duas hipóteses a

serem estudadas, uma sugere que a taxa de descarregamento pode não ter sida baixa

o suficiente para permitir que as cadeias atinjam seu estado de equilíbrio e a segunda

sugere que a esta temperatura o material tenha apresentado deformação plástica

elevada, não sendo possível recuperá-la.

6. Conclusão

A análise dos dados obtidos nos ensaios de fluência e recuperação permitiram

determinar tanto a parcela viscoelástica, proposta no objetivo deste trabalho, quanto a

parcela elástica do PVDF, bem como a influência da temperatura nestas parcelas, pois

foi comprovado que o aumento da temperatura diminui a parcela de recuperação

viscoelástica no material diminuindo sua possibilidade de recuperação, pois ao atingir

a faixa da Tg constrita (60°C), as cadeias ganham maior mobilidade resultando em

uma maior deformação plástica, deformação esta que tende a aumentar com o

acréscimo de energia térmica.

Além disso, também foi possível concluir com este estudo que assim como a

temperatura, a taxa de descarregamento do ensaio atua como fator influente na

recuperação do material, pois apesar de sofrer significativa queda na parcela

viscoelástica com a temperatura, o material apresentou recuperação quando ensaiado

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segunda as condições da segunda metodologia proposta cuja a taxa de

descarregamento foi de 0,1mm/min, mais baixa que a taxa de 1mm/min proposta pela

primeira metodologia de estudo cujo material não apresentou recuperação. Esse fato

leva a conclusão que uma menor taxa de descarregamento promove tempo suficiente

para que rearranjos moleculares sejam feitos pela cadeia durante o descarregamento,

sendo possível uma recuperação. Contudo, para temperatura mais altas como 80°C

essa taxa não foi suficiente para que houvesse tempo de realizar esse rearranjo talvez

por apresentar uma maior deformação plástica durante a fluência.

7. Trabalhos futuros

O comportamento observado no material em maiores temperaturas deixa como

sugestão para posteriores trabalhos o estudo de duas hipóteses levantadas que

podem explicá-lo. Uma sugere que a taxa de descarregamento pode não ter sida baixa

o suficiente para permitir novamente o enovelamento das cadeias e a segunda sugere

que a esta temperatura o material tenha apresentado deformação plástica elevada e

não reversível inviabilizando sua recuperação.

Além disso, fica como sugestão realizar uma caracterização do material após o

ensaio de fluência e avaliar suas propriedades com o aumento da temperatura para

verificar se há presença de outras fases.

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8. Referências Bibliográficas

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