departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo · hino nacional pela banda de música do...

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO SESSÃO: 058.4.50.O DATA: 05/05/98 TURNO: Matutino TIPO SESSÃO: Sessão Solene - CD LOCAL: Câmara dos Deputados HORA INÍCIO: 10h28min HORA TÉRMINO: 12h30min CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINAL Número Sessão: 058.4.50.O Tipo Sessão: Sessão Solene - CD Data: 05/05/98 Montagem: Yoko

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Page 1: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO · Hino Nacional pela Banda de Música do Batalhão de Polícia do Exército. Homenagem à memória do Marechal Cândido Mariano

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA,

REVISÃO E REDAÇÃO

SESSÃO: 058.4.50.ODATA: 05/05/98

TURNO: Matutino

TIPO SESSÃO: Sessão Solene - CD

LOCAL: Câmara dos Deputados

HORA INÍCIO: 10h28minHORA TÉRMINO: 12h30min

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 058.4.50.O Tipo Sessão: Sessão Solene - CDData: 05/05/98 Montagem: Yoko

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

SESSÃO ORDINÁRIA DE 05/05/98

IV — HOMENAGEM

(Homenagem à memória do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon).

PRESIDENTE (Michel Temer) - Convite ao Ministro do Exército, General ZenildoZoroastro de Lucena, ao Contra-Almirante Roberto da Silva Legey e ao Sr.Angelo Cristiano Rondon para composição da Mesa Diretora. Execução doHino Nacional pela Banda de Música do Batalhão de Polícia do Exército.Homenagem à memória do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Oradores: MURILO DOMINGOS, AROLDE DE OLIVEIRA, ANTONIO FEIJÃO,GILNEY VIANA, RODRIGUES PALMA, ARNALDO FARIA DE SÁ, ALDOREBELO.

PRESIDENTE (Paulo Paim) - Presença no plenário de alunos do Colégio Militar deBrasília. Aviso de realização, no Salão Negro da Câmara dos Deputados, deeventos em homenagem à memória do Marechal Cândido Mariano da SilvaRondon. Agradecimento da Presidência às autoridades presentes á sessão.

V - ENCERRAMENTO

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I - ABERTURA DA SESSÃO

O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - A lista de presença acusa

o comparecimento de ........ Srs. Deputados.

Está aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos

nossos trabalhos.

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.

II - LEITURA DA ATA

O SR. ...........................................................................................,

servindo como 2º Secretário, procede à leitura da ata da sessão antecedente, a

qual, sem observações, é aprovada.

O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Passa-se à leitura do

expediente.

O SR. ............................................................................................

procede à leitura do seguinte

III - EXPEDIENTE

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O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Finda a leitura do

expediente, passa-se à

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IV - HOMENAGEM

O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Srs. Parlamentares,

demais autoridades, senhoras e senhores, esta é uma sessão solene dedicada a

homenagear a memória e a figura do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon,

sessão solene esta derivada de um requerimento do nobre Deputado Murilo

Domingos.

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O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Para compor a Mesa,

tenho a honra de chamar o Exmo. Sr. Ministro do Exército, General Zenildo Lucena.

Quero chamar também o Sr. Contra-Almirante Roberto da Silva Legey,

representando o Sr. Ministro-Chefe do Estado Maior das Forças Armadas. Convido

também, representando a família do Marechal Rondon, o Dr. Angelo Cristiano

Rondon, seu neto, para fazer parte da Mesa.

Composta a Mesa, convido todos para, de pé, ouvirmos a Banda

de Música do Batalhão de Polícia do Exército de Brasília, sob a regência do Ten.

Ronaldo Esron Menon da Cunha , que tocará o Hino Nacional.

(Execução do Hino Nacional)

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O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - A Câmara dos Deputados

tem a honra de promover esta homenagem ao Marechal Cândido Mariano da Silva

Rondon, neste dia 5 de maio, que celebra os 133 anos de seu nascimento.

Passados já quarenta anos de sua morte, o Brasil ainda sente presente o trabalho

que, em prol desta terra, desenvolveu esse excepcional brasileiro que, como

pouquíssimos outros em qualquer tempo, honrou a sua nacionalidade.

Lembrar Rondon, senhoras e senhores, é trazer à memória as

páginas mais épicas e ao mesmo tempo mais sublimes da história brasileira,

momentos que definiram o século XX no Brasil, que teve em Rondon um dos

maiores expoentes de brasilidade, que se traduziu num apelo que sempre devotou

ao serviço empreendido em prol do desenvolvimento, da integração, da unidade

nacional, da paz social.

Imbuído de profundo espírito patriótico, o que incluía

obrigatoriamente a curiosidade por todas as coisas do nosso chão, a Rondon o

Brasil deve a descoberta e a catalogação de boa parte dos seus recursos e

riquezas naturais: em suas expedições, nas quais fazia questão de se acompanhar

de especialistas de diversas áreas científicas, foram descobertos minerais, vegetais

e animais até então desconhecidos dos cientistas; confeccionou mapas das mais

remotas regiões, refez outros, conferiu-os, corrigiu erros.

O Brasil se viu, enfim, pela vontade e obra de Rondon,

expandido dentro de si mesmo. Rondon deu continuidade ao trabalho dos primeiros

bandeirantes que se embrenharam costa adentro nas terras desconhecidas, com a

diferença de que ele adentrava o interior não com o espírito de espoliar a riqueza

autóctone, como os primeiros, mas para conhecê-la e oferecê-la a todo o povo;

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contactava os povos primitivos não com a intenção de escravizá-los, mas com o fim

de protegê-los do contato maléfico com o branco inescrupuloso.

São conhecidas essas suas palavras, que bem traduzem o seu

pensamento e modo de agir com relação aos indígenas brasileiros:

"Temos para com os índios grande dívida contraída desde o

tempo de nossos maiores, que lhes foram invadindo os

territórios, devastando a caça, furtando o mel, para não falar

em males muito maiores, mais graves, vergonhosos e

infames."

Deu continuação à obra de Rio Branco — este, na definição de

nossas fronteiras, Rondon na proteção e no desenvolvimento delas: até os nossos

extremos levou os cabos das comunicações, e seria mais tarde incumbido de

inspecionar as fronteiras brasileiras desde a Guiana Francesa até o Uruguai, ao

longo de mais de dez mil quilômetros; e também a ele seria incumbida uma

espinhosa missão de conciliação bilateral, esta no litígio sobre o Porto de Letícia,

da qual saiu aclamado por seu magnífico trabalho e pelo desfecho pacífico entre os

contendores.

Assim, é simples dever de justiça para esta Casa promover a

lembrança deste brasileiro que elevou sobremaneira o nome do Exército brasileiro,

a quem serviu com vocação desde a juventude até os seus últimos dias, que

sempre pautou sua dilatada vida pelos princípios mais rígidos e sólidos do amor ao

semelhante, que, como outros próceres da nossa história, honrou com o seu

serviço este País.

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É com grande prazer, portanto, que a Câmara dos Deputados

promove esta solenidade, a pedido e por sugestão do Deputado Murilo Domingos, a

quem concederei a palavra após registrar as presenças dos familiares: Sra. Maria

Inês Rondon Amarante, Sra. Mariana Rondon Amarante, Sr. Coronel Antonio Lara

Marialva Meireles Rondon, Sr. Major Benjamin Acioly Rondon do Nascimento, Dra.

Fernanda Cristina Rondon.

Registro também as presenças do Senador Jonas Pinheiro e da

Sra. Maria da Glória Garcia, Prefeita do Município de Santo Antônio do Leverger.

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O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Concedo a palavra ao

nobre Deputado Murilo Domingos, autor da proposição.

O SR. MURILO DOMINGOS (PTB-MT. Sem revisão do orador.)

- Sr. Presidente Michel Temer, nobres colegas Deputados; Ministro Zenildo de

Lucena, em cujo nome quero cumprimentar toda a família militar; Contra-Almirante

Roberto da Silva Legey, representando o Ministro-Chefe do EMFA; familiares do

Marechal Rondon; Sr. Senador Jonas Pinheiro, que representa a cidade de Santo

Antônio do Leverger, onde nasceu Rondon; Sra. Prefeita de Santo Antônio do

Leverger, Glorinha Garcia; Dr. Cursíndio Monteiro da Silva, Chefe da Consultoria

Jurídica do EMFA; Dra. Alaíde Poquevique, Secretária de Turismo da Chapada dos

Guimarães; nobre Vereadora Cleusa, da localidade de Mimoso, especificamente

onde nasceu Rondon.

Nossos agradecimentos iniciais ao Comando Militar do Planalto,

por intermédio do seu Comandante, General-de-Divisão Carlos Roberto Figueiredo

Uchôa de Moura; ao Colégio Militar de Brasília, por intermédio do seu

Comandante, Coronel de Infantaria Telmo Luiz Moré; ao Centro de Instrução de

Guerra Eletrônica, por intermédio do seu Comandante, Coronel de Comunicações

Sérgio Gomes Novo, e também à Banda de Música do Pelotão de Polícia do

Exército, Batalhão Brasília, regida pelo Tenente Ronaldo Esron Menon da Cunha.

Há pessoas que, incensadas nos compêndios da história por

sua importância e grandeza, levam-nos a crer que nunca existiram como seres

comuns, criaturas portadoras das qualidades e dos defeitos inerentes à condição

humana. Reverenciadas pelo povo, parecem homens que se fizeram lendas,

sobrepostas, em razão da imaterialidade dos mitos, aos ponteiros com que se mede

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o tempo. Assim cultuamos figuras como Tiradentes, Machado de Assis, Duque de

Caxias, Rui Barbosa, Rio Branco, Santos Dumont e outros brasileiros que se

imortalizaram pelo arrojo das idéias e pelo brilho da inteligência. Nesse grupo de

celebridades, inscreve-se, por dever de justiça, o nome glorioso do Marechal

Rondon, o civilizador da última fronteira, a quem a Câmara dos Deputados tem a

honra de prestar, nesta sessão solene, a respeitosa homenagem que lhe

consagram todos os brasileiros.

Exatamente no dia 5 de maio nascia, há 133 anos, o menino

Cândido Mariano da Silva, na localidade de Mimoso, proximidades da Baía de

Chacororé, atual Município de Santo Antonio do Leverger, no Estado de Mato

Grosso.

No final de sua inigualável vida e como reconhecimento de seu

amor à terra natal, o homenageado elaborou o projeto e custeou a construção da

Escola Santa Claudina. A obra foi executada pelo então Engenheiro Garcia Neto e

inaugurada em 13 de junho de 1948. Posteriormente, já como Governador do

Estado do Mato Grosso, o Dr. Garcia Neto procedeu a reformas, ampliando-a, e

implantou a rodovia de acesso à localidade de Mimoso.

Aprendeu as primeiras letras na sua cidade natal, tendo como

mestre um furriel, veterano da Guerra do Paraguai. Posteriormente, levado pelo seu

tio paterno, Manuel Rodrigues da Silva Rondon, foi residir em Cuiabá. Terminou o

primário na Escola Pública João Albuquerque, matriculando-se em seguida no

Liceu Cuiabano, onde concluiu o curso com 16 anos, isto em 1881.

Cônscio da vocação que o impelia à carreira das armas,

muda-se para o Rio de Janeiro, onde, de 1881 a 1890, freqüentou a Escola Militar.

Dizia Rondon:

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"Era a minha vida austera e afanosa. Não perdia um

minuto, consagrando todo o meu tempo, toda a minha

capacidade moral, intelectual e prática ao objetivo único de

vencer com brilho, vencer para regressar a Cuiabá e,

realizando o voto de meu pai, servir à minha terra."

Rondon se orgulhava de possuir em suas veias sangue dos

índios terena e bororo, por parte da avó materna, e dos índios guanás, por parte da

avó paterna.

Em homenagem a seu tio Manuel Rondon, requereu ao Ministro

da Guerra que fosse acrescentado ao seu nome o apelido de Rondon. Com a

Portaria nº 28, de 1890, aquela autoridade deferiu sua petição, e passou a se

chamar Cândido Mariano da Silva Rondon, nome que o acompanhou para o resto

da vida.

Terminou o curso em 1889, ano em que foi destronado Dom

Pedro II com a Proclamação da República. Ao lado de Benjamin Constant, o jovem

Rondon participou ativamente do movimento, pondo em risco o seu posto de oficial

que conquistara com tanto sacrifício.

No ano seguinte, diplomou-se Bacharel em Matemática,

Ciências Físicas e Naturais, pela Escola Superior de Guerra do Brasil.

Quando no posto de capitão, casou-se com D. Francisca Xavier

da Silva, a 1º de fevereiro de 1892, sendo seus filhos: Araci Rondon Amarante,

Benjamim Rondon, Clotilde Rondon Amarante, Marina Rondon Berardinelli, Beatriz

Emília Rondon, Maria Molina Rondon e Branca Luiza Rondon.

Admirador de Benjamim Constant, Rondon fez suas opções pela

República e pela filosofia de Augusto Comte. Acreditava Rondon na criação de uma

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sociedade ideal, tendo "o amor como princípio, a ordem como base e o progresso

como fim".

Com a necessidade do estabelecimento de comunicações entre

as diversas Províncias e o Governo Imperial, este decidiu pela construção de uma

linha telegráfica que ligaria Franca a Uberaba e Goiás a Cuiabá, tendo sido criada

a "Comissão Construtora de Linhas Telegráficas."

O isolamento de Mato Grosso, limitante com a Bolívia e o

Paraguai, impunha urgência a essa ligação, principalmente com a implantação do

regime republicano.

A "Comissão Cuiabá", responsável pelos trabalhos situados à

margem esquerda do Araguaia, por indicação de Floriano Peixoto, foi chefiada pelo

Major Gomes Carneiro, tendo o homenageado como ajudante.

Rondon começou, assim, a impressionante epopéia de que seria

protagonista, tomando a si a fabulosa missão — suicida para muitos — de integrar

o Brasil por meio da implantação de linhas telegráficas ao longo das fronteiras e no

coração da selva amazônica. Do Paraguai às terras que, depois, constituiriam o

Território do Acre.

Lembre-se que, nesse início de século, o extremo Norte era

como se não fizesse parte do Brasil. Eram milhares de quilômetros quadrados onde

muitas vezes não se encontrava um único vivente. Região inacessível, a

colonizá-la não se dispunham as levas de imigrantes que demandavam o sul do

País na esperança de um futuro melhor. Somem-se a esses transtornos a

hostilidade compreensível dos povos da floresta, o legítimo temor dos aborígines, a

justificada beligerância das nações indígenas frente a ameaças de invasores

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brancos resolvidos a explorar, ocupar e quase sempre usurpar terras cuja posse

lhes parecia tão natural quanto a água que bebiam e o ar que respiravam.

Construída a etapa Cuiabá-Araguaia, em 30 de abril de 1891,

partiu-se para a complementação das ligações telefônicas com as ondas da

fronteira com mais de 1 mil e 746 quilômetros quadrados, alcançando Corumbá,

Porto Murtinho, Bela Vista e Cáceres, divisa com a Bolívia, e, ainda, passando por

Coxim, Nioaque, Miranda, Livramento e Poconé.

Rondon, com seu alto sentimento patriótico, registrava em cada

ato e passagem a marca de sua personalidade, empreendendo pesquisas,

investigações, explorações e observações nos campos da geografia, cartografia,

flora, fauna, geologia, orografia, potamografia, com estudos relativos à origem de

cursos d'água, coordenadas geográficas para futuras operações geodésicas,

composição do solo, variedades botânicas, manifestando seu interesse pelo

trabalho de feição científica, valorizando a natureza e a política.

Encaminhou ao Museu Nacional do Rio de Janeiro 23 mil e 107

exemplares de Botânica, Zoologia, Mineralogia, Geologia e Antropologia. Até 1918,

haviam sido incorporadas e devidamente classificadas 1 mil e 200 unidades.

Muitas espécies novas e até famílias, nos domínios da História

Natural, tomaram denominações derivadas do seu nome, como homenagem, por ter

ele possibilitado sua descoberta nos fatos científicos.

Criou-se a Comissão de Linhas Telegráficas e Estratégicas de

Mato Grosso ao Amazonas, a 11 de março, sob a responsabilidade de Rondon. A

missão é concluída a 1º de janeiro de 1915, sendo a extensão da linha-tronco de 1

mil e 947 quilômetros, e mais 763 dos ramais.

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Assim, chegando a lugares onde nunca estivera o ser humano,

estendendo fios pela vastidão dos campos e abrindo passagem nas profundezas da

selva, viveu Rondon uma das maiores e mais formidáveis odisséias da história

contemporânea.

Ao cabo de sua missão, havia desbravado e estudado uma superfície de cerca de

500 mil quilômetros quadrados, equivalente ao território da Espanha;

desempenhado importante papel nos trabalhos de definição das fronteiras

nacionais e concorrido para solucionar, pacificamente, a questão de limites entre o

Peru e a Colômbia.

A criação do Serviço de Proteção ao Índio, em 1910, e do

Parque Nacional do Xingu, em 1952, marcou admiravelmente a sua obra em favor

da população indígena brasileira.

Quando aventureiros atiraram em índios, como caçam bichos,

impôs Rondon aos seus comandados o respeito que se devia aos povos da

floresta, cunhando o admirável lema que o imortalizaria: "Morrer se preciso for.

Matar nunca".

O Congresso de Raças reunido em Londres, em 1913,

homenageou Rondon sob aplausos, pelos princípios e idéias inspiradas por José

Bonifácio, em 1823, estabelecendo a regra que norteou todo o seu trabalho,

apontando a obra de Rondon como exemplo a ser imitado "para a honra da

civilização universal" e recomendando a todas as nações o método de atração de

grupos indígenas eleito por Rondon e adotado pelo Brasil.

O Marechal Rondon foi distinguido como antropólogo, etnólogo,

sociólogo, geólogo, sertanista, indianista. Mais do que tudo, porém, foi ele um

humanista, um civilizador, um intelectual cônscio da prevalência do homem no

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universo de que é parte, sabedor de que não há nada maior nem mais nobre do

que a vida humana.

Daí o valor dispensado aos índios, a atenção com que os distinguiu, a importância

que lhes deu como sujeitos de uma história, como senhores de uma cultura e

mantenedores de uma tradição.

Em dezembro de 1913, inicia a expedição científica com

Theodore Roosevelt, que durou até maio de 1914, e durante a qual colocou o nome

de Roosevelt a um rio desconhecido de 1 mil e 500 quilômetros, o Rio da Dúvida.

A Sociedade Geográfica de Nova Iorque premiou o grande

brasileiro, em 1914, como o desbravador que mais se aprofundara em terras

tropicais. Nesse mesmo ano, o ex-Presidente norte-americano Theodore Roosevelt,

que o tivera por guia na famosa expedição ao sertão do Brasil, dá sobre ele um

importante testemunho:

"O Cel. Rondon não é apenas um oficial e um cavalheiro,

no sentido honrosamente verdadeiro para os melhores oficiais

do Exército, em qualquer bom serviço militar. É também um

explorador, particularmente intrépido e competente, homem

dotado de espírito científico, naturalista de campo, intelectual e

filósofo. Com ele a conversação ia da caçada de onças e dos

perigos da exploração no Mato Grosso, no grande sertão, à

antropologia indígena, aos perigos da civilização puramente

industrial ,materialista e à moral positivista.

O positivismo do coronel era para ele verdadeiramente

uma religião da humanidade, um credo que lhe impunha ser

justo,

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bom e útil para com seus semelhantes, viver sua vida com

coragem e encarar a morte sem se preocupar com crença ou

descrença, nem com que o além-desconhecido possa reservar

para ele.

Concluída a comunicação telegráfica com a Amazônia,

empenha-se no trabalho de elaboração da Carta de Mato Grosso, em 1915, que,

pela fidelidade dos trabalhos daquela época, pouco deferiram das novas cartas

elaboradas com os instrumentos atuais de grande precisão; inclusive o traçado das

pavimentações asfálticas estão próximas aos das linhas telegráficas de Rondon.

General-de-brigada, foi nomeado Diretor de Engenharia do

Exército em 1919.

Em 1924, foi nomeado General-em-Chefe Comandante das

Forças em Operações no Paraná e em Santa Catarina, para neutralizar ações das

tropas revolucionárias que, partindo de São Paulo, pretendiam atingir o Rio e

estender, conflagrando o País do Rio Grande do Sul ao Contestado — missão que

considerava a mais difícil de sua vida.

Em 15 de janeiro de 1927, recebeu a comissão de Inspetor de

Fronteiras, inspecionando as linhas do Oiapoque até Marcelino Ramos, nas divisas

de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, onde chegou a 3 de outubro de 1930.

O percurso compreendeu a inspeção de 17 mil e 316 quilômetros.

Por ocasião da Revolução de 1930, foi feito prisioneiro pelas

forças custodiadas, por ordem do Chefe da Revolução, Getúlio Vargas. Oswaldo

Aranha procurou obter a sua adesão ao movimento, e Rondon negou-se a

atendê-lo já que condenava recorrer às armas para solução de problemas políticos.

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Indicado pelo Presidente da República mediador em problema

de fronteira entre o Peru e a Bolívia, se houve com tanta distinção que foi

condecorado pelos governos dos países litigantes.

Nesta homenagem a Rondon, permito-me, pela riqueza e

autenticidade, registrar conceitos, opiniões e expressões descritas com

competência e brilho pela escritora Esther de Viveiros, que marcam muito bem o

valor e a grandeza desse pequeno grande homem:

Na realidade, os homens quase sempre diminuem quando

deles nos aproximamos, mas outros há que brilham, ao longe,

como estrelas e, ao lhes chegarmos perto, verificamos que

são sóis esplêndidos a iluminar o caminho da evolução da

Espécie.

Ao refletir sobre Rondon, prossegue:

O que o torna grande não é o ter na sola dos pés o maior

caminho jamais percorrido (...), o que o torna incomparável é

sua incomparável obra de paz.

E complementa:

Com afã de apóstolo, passou pelos perigos como

dominador intangível. Pelas dificuldades, como se não

existissem. Pelas ingratidões, como se não as sentisse. Pela

saudade dos que se iam, como se não fosse seu peito escrínio

de delicada sensibilidade... Porque sua vida era como a reta

que o desenhista traça firmemente: olhos fixos no ponto a

atingir.

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Condecorações e homenagens prestadas a Rondon pelo País,

pelas nações estrangeiras, pelas sociedades científicas nacionais e internacionais.

Condecorações nacionais: Gran Cruz da Ordem do Mérito

Militar, no Brasil; Medalha Militar de Prata, Ouro e Platina do Exército brasileiro, por

ter completado respectivamente vinte, trinta e quarenta anos de serviço, sem nota

alguma que o desabonasse; Medalha de Ouro — Mérito da Sociedade de Geografia

do Rio de Janeiro.

Condecorações estrangeiras: Medalha de Prata — Medalha

Crévaux, da Sociedade de Geografia de Paris; Medalha de Bronze — The

Explorer's Club , dos Estados Unidos da América do Norte.; Gran Cruz da Legião

de Honra (Comendador), da França; Comendador da Ordem La Couronne da

Bélgica, pelo Rei Adalberto, com as seguintes palavras: "Pelo bem que o Senhor

tem feito à humanidade"; Membro de Honra da La Societé Suisse Des

Americanistes; Grande Oficial da Ordem El Sol, do Peru; Grande Oficial da Ordem

de Boyacá, da Colômbia; Gran Croce del Ordine al Merito della República , da

Itália.

Homenagens nacionais: Cartão de Ouro — com os dizeres:

"Homenagem dos munícipes de Santo Antônio do Madeira, no ato da inauguração

da linha telegráfica Cuiabá-Madeira, 1º de janeiro de 1915". Medalha oferecida

pelos mato-grossenses, residentes no Rio de Janeiro, para comemorar a travessia,

através do sertão, de Mato Grosso ao Amazonas, em 1919.

O título de Civilizador dos Sertões foi conferido ao General

Rondon pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, em 1939, no seu

regresso de Letícia, em sessão solene no Itamaraty, presidida pelo Ministro

Oswaldo Aranha.

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Inscrição no Livro do Mérito, presidida pelo Presidente da

República, Brasil.

Homenagens estrangeiras: Prêmio Livingstone da Sociedade

de Geografia de Nova Iorque, em 1914.

Inscrição com letras de ouro maciço num livro aberto à

curiosidade dos visitantes da Sociedade de Geografia de Nova Iorque: "Rondon, o

explorador que mais se avantajou em terras tropicais."

Diplomas diversos: cerca de trinta diplomas diversos de

Presidente honorário, Membro de Honra, Membro Efetivo, Membro Correspondente

de Sociedades de Geografia, de História e de Instituições Científicas diversas, tanto

brasileiras, da Capital e dos Estados, como estrangeiras.

Diversos atos e leis também consagraram seu nome, a exemplo

de Rondonópolis, Município criado pela Lei nº 666, de 10/12/1953, hoje um dos

importantes pólos de desenvolvimento de Mato Grosso.

Em sessão solene das duas Casas do Congresso, em 1955, foi

votada por unanimidade uma lei, segundo a qual ficou o General Rondon com o

direito às honras de Marechal.

Teve o privilégio de receber em vida a homenagem maior que

se pode prestar a um homem, ao ver o antigo Território de Guaporé chamar-se

Rondônia, através da Lei nº 2.731, de 17 de fevereiro de 1956, como gratidão por

tudo que fizera em prol da grandeza do Brasil e do progresso do mundo.

No trabalho do General Jaguaribe de Mattos, com aprovação

dos membros do 3º Congresso Internacional de História das Ciências, em Portugal,

denominou-a, por ficção geográfica, Meridiano Rondon, caracterizando uma linha

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nítida e ininterrupta desde o mar, na foz do rio Essequibo, na costa da Guiana

Inglesa, à foz do Rio da Prata.

Recebeu manifestações em favor da idéia de ser conferido o

Prêmio Nobel da Paz, em 1957, postulado pelo The Explorer's Club dos Estados

Unidos com apoio de entidades científicas e culturais do mundo inteiro, como

"pioneiro da fraternidade na América do Sul", embora Rondon nunca tivesse movido

iniciativa a honrarias.

No ano seguinte, em 19 de janeiro de 1958, morria, aos 93 anos

de idade, em meio à reverência ao luto de toda a Nação.

As homenagens a Rondon estenderam-se inclusive post

morten , como é o caso do Município de Marechal Cândido Rondon, no Paraná,

criado pela Lei 4.245, de 25 de julho de 1960, e, pelo decreto de 6 de abril de 1963,

passou a ser o Patrono das Comunicações.

Sras. e Srs. Deputados, dignas autoridades presentes, Mato

Grosso se orgulha deste seu filho, e a Câmara dos Deputados e o Brasil como um

todo enaltecem o seu passado de glória, exemplo para o presente e para o futuro.

Aos familiares do Mal. Cândido Mariano da Silva Rondon,

Civilizador da Última Fronteira e Patrono das Comunicações, o meu, o nosso

agradecimento pela honrosa presença neste plenário, aos quais estendo o

conteúdo deste pronunciamento como respeitosa homenagem da Câmara dos

Deputados, devida a um brasileiro que honrou sua Pátria e fez mais digno o tempo

em que viveu.

E no dizer de Demósthenes Martins:

"Rondon, sábio, como o qualificou Teodoro Roosevelt;

santo, como o julgou Paul Claudel; ideal feito homem, como o

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agnominou Roquete Pinto, ou charmeur d'indiens , como o

retratou Charles Badet, é personalidade singular que o

reconhecimento dos brasileiros há de glorificar no altar da

Pátria, como exemplo a ser seguido pelas gerações vindouras,

e que pompeará, luminosa, nos fastos da História como um

dos grandes operários da grandeza do Brasil."

Não poderia terminar a minha alocução sobre esse insigne

mato-grossense sem citar as palavras do Embaixador da Turquia no Brasil, Fuad

Carim:

"Rondon, altura média, testa larga, fisionomia distinta, traços

finos, olhos amendoados, queixo delgado, herói que nasceu

soldado e morrerá soldado, mas herói sui generis que, para

não matar, nem deixar que se matasse um só homem, preferiu

arrostar cem vezes a própria morte..."

Ao encerrar, Sr. Presidente, quero agradecer a todos a

presença, especialmente aos familiares do Marechal Rondon, bem como ao

Exército brasileiro, pela colaboração prestada, por intermédio do Ministro Zenildo

Lucena, para que esta sessão solene ficasse marcada com o brilho que estamos

sentindo aqui. Agradecemos também ao Grupo Folclórico Municipal de Santo

Antônio de Leverger, pela participação, com uma exposição sobre as lembranças

de Rondon.

Muito obrigado. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Antes de conceder a

palavra ao próximo orador, esta Presidência quer registrar a presença ilustre do

General-de-Divisão Carlos Alberto Figueiredo Uchôa de Moura, Comandante do

Comando Militar do Planalto; do Sr. Coronel de Infantaria Telmo Luiz Moré,

Comandante do Colégio Militar de Brasília; do Sr. Coronel de Comunicações Sérgio

Gomes Novo, Comandante do Centro de Instrução de Guerra Eletrônica.

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O SR. PRESIDENTE (Michel Temer) - Neste momento, para

falar pelo PFL, concedo a palavra ao nobre Deputado Arolde de Oliveira, ao mesmo

tempo em que transfiro a Presidência ao Deputado Paulo Paim.

O SR. AROLDE DE OLIVEIRA (PFL-RJ. Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Exmo. Sr. Ministro do Exército, General Zenildo Lucena;

Exmo. Sr. Contra-Almirante, Roberto da Silva Legey, representando o seu

Ministro-Chefe do EMFA, Dr. Angelo Cristiano Rondon Amarante, que compõe a

Mesa, representando os familiares do Mal. Rondon — aqui já citados pelo

Presidente; Senador Jonas Pinheiro, que participa também desta sessão solene,

como bom mato-grossense; Sra. Maria da Glória Ribeiro Garcia, Prefeita de Santo

Antônio do Leverger; meus prezados colegas Deputados Federais; Srs.

Oficiais-Generais, Oficiais Superiores, Oficiais do Exército e das outras Forças

Armadas; alunos e alunas do Colégio Militar; demais autoridades presentes; Srs.

Comandantes Militares aqui citados, é com muita alegria que quero registrar a feliz

inspiração do Deputado Murilo Domingos ao solicitar, por requerimento, a

realização desta sessão solene em memória do Marechal Rondon.

Muito honrado e com extrema alegria, quero agradecer ao Líder

do Partido da Frente Liberal, Deputado Inocêncio Oliveira, por me haver designado

para representá-lo e ao nosso partido nesta oportuna e meritória homenagem à

memória do ilustre brasileiro Cândido Mariano da Silva Rondon. Honrado, porque

posso me associar a tão ilustres líderes militares e civis para falar de Rondon. E

falar de Rondon é falar da própria história do Brasil na fase de consolidação da

República. É falar do espírito patriótico e pioneiro das Forças Armadas, em

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particular, do Exército Brasileiro. É falar da história da integração de um

país-continente de condições geopolíticas tão favoráveis.

Estou feliz porque a vida de Rondon tem marcado de forma

indelével minha própria carreira profissional. É o patrono da minha turma de

Aspirantes da Arma de Engenharia e Comunicações do Exército da Academia

Militar das Agulhas Negras, de 1959. Está aqui também o General Muniz, meu

colega de turma e também meu amigo e companheiro desde o fim da nossa

adolescência e o início da nossa mocidade. Portanto, Rondon é o patrono da Arma

de Comunicações do Exército.

Comemora-se hoje — Rondon nasceu a 5 de maio de 1865 — o

Dia Nacional das Telecomunicações, setor a que me dediquei profissionalmente.

Para mim, a figura, o pensamento e a obra de Rondon constituem-se em referência

permanente. Por isso estou feliz.

Rondon foi diplomado Oficial do Exército na Escola Militar da

Praia Vermelha em 1889, dando início a uma brilhante carreira militar, ao longo da

qual, até o posto de General-de-Divisão, quando retirou-se da ativa em 1930,

cumpriu missões que o projetaram entre os contemporâneos e as gerações futuras

como verdadeiro paradigma.

Primeiro como professor, estimulado por Benjamin Constant, de

quem adotou também a doutrina positivista que o acompanhou pelo resto da vida.

Em seguida, Gomes Carneiro, então chefe da Comissão de Construção de Linhas

Telegráficas, convenceu-o a largar o ensino e os estudos — era Bacharel em

Ciências Físicas, Naturais e Matemáticas — e ir para o sertão dedicar-se ao

trabalho de construção e manutenção de estações de linhas telegráficas entre

Cuiabá e o norte do País, bem como Paraguai e Bolívia. Conhecia bem a vida e a

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natureza dessa região do País, pois era nascido em Mimoso, próximo a Cuiabá, no

Estado de Mato Grosso.

Foi nessa época que começou a notabilizar-se como sertanista,

estudando apaixonadamente o comportamento e a cultura indígena, o que lhe valeu

exercer o cargo de Diretor do Serviço de Proteção ao Índio, e, em outra

oportunidade, mais tarde, o de Presidente do Conselho Nacional de Proteção aos

Índios.

Ainda nessa época, em 1912, acompanhou o ex-Presidente dos

Estados Unidos, Theodore Roosevelt, em expedição de cinco meses pelo

Centro-Oeste e pela Amazônia. No silêncio dos acampamentos, nas jornadas pela

selva, nas travessias de rios e igarapés e no contato com a flora, com a fauna e

com as populações indígenas, Roosevelt desfrutou da intimidade do pensamento,

do caráter e da paixão daquele quase caboclo mato-grossense, e pôde aquilatar a

grandiosidade da obra sertanista que Rondon realizava. Quando retornou à

América, fez uma síntese de sua experiência com Rondon nos seguintes termos:

"A América pode apresentar ao mundo duas realizações

ciclópicas: ao Norte, o Canal do Panamá; ao Sul, o trabalho de

Rondon — científico, prático, humanista."

Queria dizer com isso que o Canal do Panamá, ao interligar dois

oceanos, integrava o comércio entre os povos do leste e do oeste, enquanto que o

trabalho de Rondon interligava, pelas telecomunicações da época, o telégrafo, o

litoral brasileiro às suas fronteiras longínquas e integrava as nações indígenas à

Nação brasileira.

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Talvez poucos saibam, mas o Presidente Roosevelt ficou tão

impressionado com Rondon e seu trabalho que escreveu um livro de várias

centenas de páginas, relatando sua magnífica viagem ao interior do Brasil, onde

Rondon aparece como principal referência.

Promovido a General em 1919, Rondon foi nomeado Diretor de

Engenharia do Ministério da Guerra, na gestão de Pandiá Calógeras, muito

lembrado porque era civil e porque construiu dezenas de quartéis modernos e

avançados para a época. Não devemos esquecer a contribuição inevitável do seu

Diretor de Engenharia, o General Rondon.

Mesmo afastado da vida militar, foi convocado pelo Governo em

diversas oportunidades para contribuir com a sua densa experiência de verdadeiro

bandeirante nas questões de fronteiras, inclusive como árbitro para dirimir conflitos

de demarcação entre a Colômbia e o Peru.

Faleceu aos 92 anos de idade no Rio de Janeiro, em 1958, dois

anos antes da inauguração de Brasília, plataforma definitiva no avanço das

fronteiras econômicas ao oeste do Brasil e até a Amazônia, que ele tanto conheceu

e tanto amou.

O pensamento e a obra de Rondon se confundem com a própria

doutrina militar. Com certeza, sua contribuição foi inestimável, diretamente e

através dos chefes militares que o sucederam, na decantação e consolidação do

comportamento do Exército em face a questões nacionais. O pioneirismo, o

patriotismo, o integracionismo, o pacifismo, a honradez, a disciplina e o

compromisso social, que são características dos nossos líderes militares,

transbordam para a própria instituição do Exército, dando-lhe perenidade,

abrangência e credibilidade diante da Nação, e contam, sem dúvida, na origem,

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com a contribuição do exemplo e da obra do Marechal Rondon. O posto de

Marechal foi-lhe concedido em 5 de maio de 1955, em sessão solene do Congresso

Nacional, como reconhecimento pátrio pelos relevantes serviços prestados ao

Exército Brasileiro.

No tempo presente, Rondon viveria de forma muito mais

profunda a nossa contradição.Ocupar economicamente a Amazônia e vê-la

sucumbir à destruição das queimadas, da poluição dos seus rios, da extinção das

suas espécies, do extermínio das nações indígenas, ou não explorar as riquezas

em detrimento da própria nação brasileira e vê-la objeto da cobiça e ganância

estrangeiras. Não, não creio. Rondon não viveria esta contradição. Ele, como

cientista, como ambientalista e com pragmatismo, realizaria o sonho de uma

ocupação ordenada, justa e racional da região amazônica.

Mas Rondon não está entre nós. Permanece a sua memória e o

testemunho de sua vida como fonte de inspiração para ultrapassarmos esse dilema

e essa contradição de nosso tempo, condição sine qua non para garantirmos uma

adequada qualidade de vida às gerações do terceiro milênio.

Nossas homenagens ao falarmos de Rondon alcançam também

o Exército brasileiro, que abrigou em seus quadros, como privilegiado, o ilustre

cidadão Cândido Mariano da Silva Rondon.

Muito obrigado, Sr. Presidente, muito obrigado senhoras e

senhores. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Esta Presidência registra,

com enorme satisfação, a presença entre nós do Sr. General-de-Brigada Ary Silvio

Tomaz Nunes, do Sr. General-de-Brigada José Batista de Queiroz, do Sr.

General-de-Brigada Manoel Indiano da Fonseca e do Sr. General-de-Brigada Mário

de Oliveira Seixas.

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Passo a palavra ao

Deputado Federal Antonio Feijão. S.Exa. falará pela bancada do PSDB.

O SR. ANTÔNIO FEIJÃO (PSDB-AP. Sem revisão do orador.) -

Sr. Presidente; Dr. Angelo Rondon, através de quem cumprimento todos os

descendentes do Marechal Rondon; General Zenildo Lucena, através de quem

cumprimento as Forças Armadas, especialmente o Exército brasileiro; demais

membros da Mesa; Parlamentares do Estado do Mato Grosso, dos quais destaco o

Senador Jonas Pinheiro; Deputados Federais Gilney Viana, Rodrigues Palmas,

Murilo Domingos, senhoras e senhores, demais autoridades aqui presentes,

normalmente, quando homenageamos alguém nesta Casa, há uma repetição do

gregoriano bibliográfico da autoridade a ser homenageada, e sendo um pouco

caboclo, talvez até imitando de certa forma o ímpeto que fez essa grande figura

nacional e internacional do Marechal Rondon, vou também romper o lógico e

destacar, com toda a vênia ao meu partido, o PSDB, aos redatores do brilhante

discurso, a minha vontade de falar do fundo do meu coração, como brasileiro, como

nacionalista que mora no Amapá e que sentiu a floresta, como geólogo e como

caboclo das matas da Amazônia.

Gostaria de dizer isso especialmente porque vejo aqui políticos,

brasileiros de várias esferas, militares jovens e militares que atingiram o generalato.

Quero dizer que o melhor discurso com que se poderia honrar hoje Rondon, para

que pudéssemos homenageá-lo, seria falar um pouco dos seus ideais com relação

às sociedades que ele descobriu na Amazônia, aos brasis que ele garimpou.

Rondon foi um homem que achou vários brasis. Humboldt, com

todo o seu saber, transbordou do Século XVIII para o Século XIX na Amazônia sem

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trazer grandes coisas para o Brasil. Visitou Casiquiari e achou grandes espécies,

tornando-se famoso. Rondon fez muito mais, mas com a vontade de construir um

Brasil único, galopando pelo desconhecido, tornou-se mais do que antropólogo, do

que sociólogo, do que geólogo, do que geógrafo. Sua obra era tão infinita que ele

não parava para cumprimentar o sucesso.

Foi ouvindo o discurso brilhante e completo do Deputado Murilo

Domingos que me deu vontade de falar sobre a questão indígena, tão buscada na

sua essência, não como povos desconhecidos, mas como brasileiros que querem

ser apresentados ao Brasil. Rondon via nas sociedades indígenas o Brasil e os

brasileiros que o próprio Brasil e nós, ditos civilizados, desconhecíamos.

Hoje, dia de meditação, é necessário entendermos que as

sociedades indígenas que ele tanto buscou integrar ao Brasil não se devem estar

fragmentando numa planilha curta, de visão fundiária, achando que o chão é a

maior dádiva que se pode dar ao homem. É a cultura, é esta que protege. Nem um

universo de florestas poderá proteger uma cultura que não suporte uma economia

que caminha em seu confronto. Rondon caminhava nos seus passos. Vi ontem a

descoberta de jazidas de diamantes a milhões de anos-luz, mas eram os seus

passos, as suas enfermidades que faziam com que ele tivesse tempo para decantar

o Brasil que ele descobria.

Hoje, peço a toda a classe militar, aos seus comandantes e aos

Parlamentares desta Casa que não deixem que instituições e canetas façam uma

política indigenista de papel, a qual, em vez de fazer o que Rondon fazia,

aglomerar os brasis para uma nação, separa o Brasil em pedaços, em enclaves de

nações.

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Não nos vamos deixar iludir pela construção de enclaves, achando que o espaço é

maior do que a sociedade. O Brasil precisa abraçar as suas fronteiras com o seu

povo. Se não podemos mais vivificar as fronteiras com o povo que aglomera a

maior parte de nossa cultura, vamos integrar as culturas que estão na fronteira ao

Brasil que somos.

Esta deve ser uma nova visão para debate. Vamos transformar

aqueles povos naquilo que sempre foram: os primeiros brasileiros. Nós somos os

segundos, os terceiros, as gerações que sucederam aos invasores, que, por força

da fé e da lei, viraram conquistadores. Mas nós somos o Brasil, e eles estão quase

em uma intersecção ou em uma sobreposição ao mesmo espaço nosso.

O que falta para sermos um só? Interagir as culturas sob o

Pavilhão e sob o Hino Nacional. Falta mais nacionalismo nas ações. Não podemos

deixar que uma hipocrisia escravizada pela força dos países ricos possa ditar uma

nomenclatura federativa nova ao nosso território, que decanta cinco séculos de

luta, desde as primeiras visões de Pinzón, na foz do Oiapoque, até o sangue

dolorido de todos os bandeirantes que deformaram Tordesilhas e transformaram

esta fronteira que não podemos mais entregar, porque não fomos nós que a

conquistamos; foram os nosso antepassados.

Esta é a obra de Rondon: conquistar o espaço colocando sobre

ele o maior afloramento que Deus dá à natureza, que é o valor do homem, seja ele,

como dizia, indígena, seja ele caboclo, como Rondon foi, seja ele mulato, negro ou

mesmo português. Isso é o que está muito bem dito nesse discurso chamado "O

Humanismo Rondoniano".

Para mim, seria uma frase só. Poderíamos formar antropólogos

só na seita de Rondon. Poderíamos formar uma geopolítica militar só no conceito

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de Rondon. Ele foi maior do que qualquer academicismo ou do que todas as

declarações de Humboldt , depois que viu que duas grandes bacias se uniam na

Amazônia.

Então, agora, a obra dele deverá ser feita por nós. Vamos fazer,

com a tecnologia que descobre diamantes no espaço, o que Rondon fez com os

pés, com os amigos, com os caboclos, com os indígenas, mas, principalmente, com

o coração de brasilidade, que é integrar o Brasil ao povo brasileiro.

Muito obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Com satisfação,

registramos as presenças do General-de-Brigada Luiz Carlos Minussi e dos

Generais-de-Divisão Adalberto Imbrósio, Carlos Roberto Uchôa de Moura,

Dilermando Carlos Soares Adler, Francisco Roberto de Albuquerque, Gilberto

Rodrigues Pimentel e Luiz Seldon da Silva Muniz.

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O SR PRESIDENTE (Paulo Paim) - Concedo a palavra ao

Deputado Gilney Viana, pelo PT.

O SR. GILNEY VIANA (PT-MT. Sem revisão do orador.) - Sr.

Presidente, Sr. Ministro do Exército, General Zenildo Zoroastro Lucena, Sr.

Contra-Almirante, Roberto da Silva, representante do Ministro-Chefe do EMFA, e

Dr. Angelo Cristiano Rondon, neto do Marechal Rondon, em nome do qual saúdo

todos os seus descendentes, sinto-me honrado em representar o Partido dos

Trabalhadores nesta sessão solene que presta homenagem a um dos filhos mais

dignos desta terra, o brasileiro e sertanista Cândido Mariano da Silva Rondon.

Rondon é filho de Mimoso, antiga Sesmaria do Morro Redondo,

pertinho da curva do rio, onde nasceu o Senador Jonas Pinheiro. Nas suas

memórias, Rondon lembrava-se daquela terra natal assim:

"Ali ninguém é proprietário; não há cercas demarcando

as terras familiares; ali se cultiva em comum a terra e não há

disputa."

Por isso, quando ele, após a Proclamação da República, na

sua maturidade, percebeu que as leis cambiavam, fez questão de estabelecer o

registro em nome de sua avó e de sua descendência.

Reproduzo, de certa forma, o mesmo procedimento do Deputado

Antônio Feijão, do Amapá, porque não me sinto afetivamente à vontade em

discursar lendo.

Seria repetitivo falar do papel histórico desempenhado por

Rondon — até porque outros oradores já o fizeram — no desbravamento do sertão;

do seu papel de indigenista, de sertanista, de contactador com os povos indígenas

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e de iniciador de pesquisas sobre a fauna e a flora, não apenas da floresta mas

também do Pantanal Mato-grossense, e do seu papel no estabelecimento das

comunicações. Por isso ele é o patrono das comunicações em geral no Brasil.

Vou cingir-me a algumas declarações de Rondon e à percepção

que tenho delas hoje. Quando vou a Santo Antônio do Leverger ou a Barão de

Melgaço — naquela época não existiam esses Municípios —, percebo que há

muita coisa ainda da época de Rondon naquela região. É incrível, mas ainda

existem sesmarias no Pantanal Mato-grossense e na Baixada Cuiabana. Ainda há

terras comunais, divisas.

Em função desse anacronismo histórico, aquele povo conserva

seu padrão cultural pantaneiro. Certamente, a Prefeita de Santo Antônio do

Leverger irá brindar-nos com uma dessas manifestações folclóricas de cururu e

siriri, que nos dará um pouquinho da sensação do que é ser pantaneiro, do que foi

Rondon.

Particularmente, quando ando no Chapadão dos Parecis, passo

pela Estação Rondon. Lá existe um poste fincado, às vezes sobre um cerrado já

desnudo, mas ali está um símbolo do papel histórico de Rondon. É um poste já sem

fio, mesmo porque as comunicações modernas prescindem disso. Mas todos que

por ali passam fazem questão de indicar, particularmente para o estrangeiro e o

brasileiro de outros terras, que por ali passou Rondon.

Conheço também o Rio Roosevelt, o Guariba e o Aripuanã. Já

andei por aquelas terras onde andaram o ex-Presidente Theodore Roosevelt e o

Marechal Rondon. Por incrível que pareça, há pouca diferença daqueles idos de

1913, quando por ali perambularam.

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Só para se ter uma noção, há cerca de dez ou quinze anos, as

crianças, filhas dos seringueiros do beiradão dos Rios Aripuanã, Guariba e

Roosevelt, não tinham apenas registros civis, porque ainda há muitos brasileiros

que não os têm, mas nenhuma denominação familiar.

Lembro-me até de um secretário da Prefeitura de Aripuanã.

Quando as terras comunais, também dos seringueiros, foram negociadas e

apropriadas por fazendeiros, que foram expulsando os seringueiros com seus

filhos, fez-se um colégio de seringueiros no beiradão do Rio Aripuanã. Esse

secretário literalmente denominou as crianças dos seringueiros. Foi engraçado,

porque deu a elas nomes de cantores populares daquela época. Conto essa

passagem da época de Rondon para mostrar que muita coisa não cambiou, apesar

das violentas e importantes mudanças havidas no País.

Conhecendo os povos indígenas do Brasil e convivendo com

eles, particularmente com os de Mato Grosso, entre eles os parecis e os bororo,

constato que ainda existe a memória de Rondon. E é uma memória positiva, se

considerarmos as novas e muito agressivas ondas de colonização dos povos

indígenas, pois não respeitavam as suas vidas, muito menos os seus padrões

culturais. E o Marechal Rondon, não obstante ter um espírito desbravador, era

profundamente humanista. E é isso que o distingue dos desbravadores modernos

da Amazônia, é isso que faz com que ele supere os conceitos da época e se torne

moderno, antropologicamente.

Permito-me citar um conceito que considero relevante, tirado do

livro da Sra. Ester Viveiros, intitulado "Rondon conta sua vida", que precisamos

reeditar, porque é hoje uma obra rara. Que eu saiba, é a única publicação que traz

um depoimento vivo do Marechal Rondon.

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Diz ele:

"Desde muito cedo me empolgou o problema do brasilíndio.

Expulso da terra, de que era legítimo dono, pelo invasor que

viera, com mostras de paz, trazer sangue, ruínas, destruição, é

ele o mais digno de benemerência. Trata-se do resgate da

mais sagrada dívida de honra, da reparação das mais

dolorosas culpas e erros sociais dos nossos antepassados"

E eu diria aos familiares do Marechal Rondon: também dos

erros da atual geração.

Mas Rondon não era generoso apenas com aqueles que eram

diferentes dele próprio e de nós, da nossa sociedade nacional. Era generoso com

seus companheiros de Exército e com os civis que participavam das expedições,

com as mulheres que os acompanhavam. Naquela época a expedição era formada

por uma verdadeira coluna.

Já no fim de sua vida, em seu depoimento ele assim se refere,

quando retorna mentalmente ao Pantanal, a Mimoso, a Santo Antônio do Leverger,

a Barão do Melgaço: ,

"Diante dos meus olhos, já quase sem vista, levantava-se a

estação de Melgaço; e além, lá no alto, como que procurando

aproximar-se do céu, o pequeno cemitério, com singelas

cruzes de madeira e canteiros, onde ninguém depunha flores,

mas onde havia também nomes de mulheres, heroínas

anônimas a acompanhar os maridos nas longas marchas,

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ajudando-os a carregar as bagagens, com eles sofrendo a

inclemência do sol e da chuva, vivendo aquela vida dura que

procuravam amenizar, encontrando, em sua dedicação, forças

para, ainda assim, encher o sertão de risos e canções — o

sertão onde muitos ficariam a dormir para sempre".

Sr. Presidente, para terminar esta singela mensagem, digo aos

vários descendentes de Rondon — descendentes por consangüinidade,

descendentes por missão, como os oficiais, membros das Forças Armadas,

particularmente do Exército brasileiro — que na tumba do Marechal Rondon não se

apagará o fogo da pira da nacionalidade. No cemitério onde está a sua tumba não

faltarão flores oferecidas por esta e pelas futuras gerações de brasileiros que

honrarão a sua memória. (Palmas).

Era o que tinha a dizer.

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Registramos ainda entre

nós, com satisfação, a presença do Sr. Sulivan Silvestre de Oliveira, Presidente da

FUNAI.

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Passamos a palavra ao

nobre Deputado Rodrigues Palma, que falará pelo PTB.

O SR. RODRIGUES PALMA (PTB-MT. Sem revisão do orador.)

- Sr. Presidente, Deputado Paulo Paim, Sr. Ministro do Exército, quero

cumprimentar o companheiro e amigo Deputado Murilo Domingos pela feliz

iniciativa da realização desta homenagem. Quero dizer também que me dou por

satisfeito com o seu pronunciamento e com o de todos os que falaram sobre a vida

de Rondon, sobre o militar Rondon, sobre o pacificador Rondon, sobre o

conquistador Rondon. Dou-me por satisfeito com os brilhantes discursos feitos

neste plenário, mas quero ainda, em poucas palavras, relatar algo sobre o homem

Rondon, sobre o mato-grossense, o mimosiano Rondon.

Tive e ainda tenho a grata satisfação de conviver com pessoas

que lhe dedicaram extrema amizade, que conviveram intimamente com Rondon,

como é o caso do ex-Governador José Garcia Neto, amigo pessoal do Marechal

Rondon e meu sogro, com quem convivo, e de quem ouço falar sobre Rondon. Com

que gosto, com que orgulho o cidadão Garcia Neto fala do homem Rondon, do pai,

do filho, que, ao receber um recurso recebido do exterior, em função de

homenagem prestada ao Marechal, aplica esse dinheiro na construção de uma

escola em Mimoso, a escola Santa Claudina, que foi construída pelo Engenheiro

José Garcia Neto na Baía de Chacororé, a baía-mar, a baía que todos nós

aprendemos a gostar e admirar. E Garcia Neto conta que, para construir a escola,

por várias vezes dirigiu-se a Mimoso, ao lado de operários e de companheiros,

atravessando a baía em canoa, levando todos os materiais — areia, pedra, tijolos

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—. Rondon fez questão de construir essa escola para que os mimosianos, assim

como ele, pudessem adquirir educação, conhecimento e saber.

Esse era Rondon, o homem de quem muito tenho ouvido falar.

Tive, inclusive, a oportunidade de ler cartas que escreveu ao amigo José Garcia

Neto e a várias outras pessoas que com ele conviveram.

Estou satisfeito, Deputado Murilo Domingos, com os discursos

aqui proferidos sobre a vida de Rondon, o pacificador, o homem, a pessoa e o

conquistador que, como bem disse o Deputado Gilney Viana, soube conquistar e,

sobretudo, ser conquistado pelos índios e por aqueles que viviam na selva.

O homem Rondon transmitiu para todos nós, mato-grossenses,

cuiabanos, nós que vivemos na Baixada Cuiabana, em Santo Antônio de Leverger,

em Barão de Melgaço, no Mimoso, dentro do coração da brasilidade, do espírito do

brasileiro, o compromisso não de conquista, mas de levar fraternidade,

conhecimento e, sobretudo, apoio àqueles que viviam completamente isolados do

resto do mundo.

Graças à ação de Rondon podemos hoje percorrer todo o

Estado de Mato Grosso com grande tranqüilidade, comunicando-nos com o mundo

via satélite. Rondon fez o primeiro elo, o primeiro contato, a primeira conquista,

levando o seu coração, a sua presença, o seu amor ao Brasil e, sobretudo, sua

disposição de fazer com que as pessoas pudessem se entrelaçar. Não era o

conquistador que chegava para ocupar, mas para ser conquistado por aqueles que

vivem na terra.

Portanto, meus amigos, é com imenso prazer, com verdadeira

alegria, que presto à memória do Marechal Rondon minha homenagem. Esta é a

homenagem daquele que conheceu sua vida e que, por intermédio de pessoas que

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com ele conviveram, aprendeu a admirá-lo, não pelas glórias recebidas pelo

trabalho exercido na condição de militar ou de conquistador, mas pelo trabalho

realizado como homem, como pessoa que soube transmitir amor e fraternidade a

todas as pessoas que vivem em Mato Grosso. (Palmas.)

Era o que tinha a dizer.

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Com a palavra o nobre

Deputado Arnaldo Faria de Sá, que falará pelo PPB.

O SR. ARNALDO FARIA DE SÁ (PPB-SP.Sem revisão do

orador.) - Sr. Presidente, Deputado Paulo Paim; demais Parlamentares presentes;

Sr. Ministro de Exército, General Zenildo Zoroastro de Lucena, na figura de quem

cumprimento todos os Generais e Praças do Exército brasileiro aqui presentes; Dr.

Angelo Cristiano Rondon, neto do Marechal Rondon; Senador Jonas Pinheiro, que

prestigia esta sessão da Câmara dos Deputados; Sra. Prefeita do Município de

Santo Antônio de Leverger, Sra. Maria da Glória Garcia, é com alegria contida que

assomamos a esta tribuna não apenas para cumprimentar Rondon, mas, acima de

tudo, para lembrar a importância do Exército brasileiro.

Quando se fala de Rondon, é lembrado o pacifista. E esta tem

sido a tônica de ação do Exército Brasileiro.

Exmo. Sr. Ministro Zenildo Zoroastro de Lucena, nos dias de

hoje, preocupa-me a grande oferta de espaço às chamadas "reservas", entre aspas,

quando, na verdade, quem fazia reserva, mas para o povo brasileiro, era o

Marechal Rondon. As reservas que buscava, desbravando lugares nunca antes

explorados, eram para todo o povo brasileiro.

Comentava eu com alguns companheiros desta Casa que são

feitas reservas de milhares e milhares de quilômetros para pequenos grupos de

pessoas, que não sabem utilizá-las. Entretanto, algumas organizações

não-governamentais, cujas sedes são no exterior, acabarão contrastando com o

trabalho realizado por Rondon. É por esse motivo que, nesta homenagem ao

Marechal Rondon, queremos enaltecer o trabalho do Exército brasileiro.

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No atual momento vivenciado na política legislativa, procura-se

atingir as chamadas forças auxiliares, as Polícias Militares. E esse é apenas o

começo de uma caminhada adredemente preparada: atingir-se-á as forças

auxiliares para, depois, atingir as Forças Armadas.

E é por isso, General Zenildo de Lucena, que temos de estar

atentos. Muitos de nós temos de seguir o exemplo de Rondon nos dias de hoje,

para preservarmos o território nacional, salvaguardando a importância das nossas

Forças Armadas e particularmente do nosso Exército. Sabemos que a Força com

maior identificação popular é o Exército, a Força terrestre. O Exército é, pois, de

entendimento simples para toda a comunidade.

Nos dias de hoje há necessidade de sermos um pouco Rondon

e resgatarmos o grande valor do Exército brasileiro, que alguns tentam manchar,

diminuir, atingir. Esquecem-se alguns, quando se fala em anistia, de que o perdão é

para todos, de que não se anistia apenas para um lado. A anistia é para todos,

General.

Acompanhamos recentemente a tempestade em copo d'água

que se fez em relação ao caso do General Fayad. De repente, para administrar o

contexto político, o Governo acabou cedendo. Na verdade, quando se fala em outro

contexto, quando se está do outro lado, tudo é mais fácil. A anistia, no contexto

amplo, no contexto genérico, é o esquecimento, mas só se esquecem do que lhes

interessa.

Entendo que há necessidade de revalorização das nossas

Forças Armadas, do nosso Exército, e, neste momento, a imagem do Marechal

Rondon pode nos ajudar a sermos, todos nós, os desbravadores de um novo

tempo, de um novo momento. E quando se quer fazer alguma mudança ou reforma

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na Constituição tenta-se de todas as formas atingir o valor e a importância das

nossas Forças Armadas.

É importante que todos nós, neste momento, possamos

efetivamente saudar o Marechal Rondon e, mais do que isso, agirmos com ele,

desbravando e buscando os espaços que são extremamente importantes.

A todo momento o Exército é lembrado. Exemplo atual é o fato

de, nessa seca que vive hoje o Nordeste brasileiro, o Exército estar sendo chamado

para prestar seus serviços. Nas horas de crise, de dificuldades, lembram-se do

Exército, das Forças Armadas. Na verdade, as Forças Armadas têm tido importante

papel não apenas no passado, como tanto nos lembramos nesta homenagem a

Rondon, mas também nos dias de hoje e, com certeza, para todo o futuro desta

Pátria. É interessante valorizar e resgatar a importância das nossas Forças

Armadas, particularmente do Exército brasileiro.

Tenho certeza de que esta homenagem é muito pequena perto

da grandiosidade do que foi Rondon e do que é hoje o Exército brasileiro.

É por isso que assomo a esta tribuna no dia de hoje para

cumprimentar todos os militares brasileiros, não apenas os que estão presentes a

esta sessão solene, mas todos aqueles que compõem as nossas Forças Armadas,

o nosso Exército brasileiro. Estamos aqui prestando uma homenagem não apenas

ao Marechal Rondon, não apenas aos oficiais generais das três Armas, mas

também aos praças das nossas Forças Armadas, porque eles, na verdade, formam

a base da pirâmide do grande contingente que a sociedade brasileira espera — e

espera muito! —, para podermos superar muitas dificuldades.

Digo isso não apenas em relação à segurança nacional em

sentido estrito, mas à segurança nacional no seu sentido mais amplo.

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Que possamos representar, na verdade, para a sociedade do

futuro, a importância que Rondon teve no passado e aquilo que queremos

amalgamar no presente para, efetivamente, termos o futuro que queremos, mas não

com as atitudes de alguns que tentam — e os próprios assessores parlamentares

das Forças que estão aqui presentes sabem —achincalhar, menosprezar, atingir o

Exército brasileiro, que tem sofrido, em algumas ocasiões, lamentavelmente, por

omissão do Executivo e por pressão do Legislativo.

Tenho certeza de que, lembrando Marechal Rondon, com a luta

obstinada e determinada não apenas de V.Exa., General Zenildo de Lucena,

Comandante do Exército brasileiro, mas de todos os oficiais generais e praças aqui

presentes, saberemos, hoje, amanhã e sempre fazer novamente aquilo que fez o

Marechal Rondon.

Temos uma "Operação Rondon" em andamento. Ela não

necessita apenas da luta, do apoio, da ajuda de todos vocês que no dia de hoje

representam o Exército brasileiro, as Forças Armadas e o Brasil, mas de todos nós,

tendo sempre Rondon como exemplo, Rondon como prática, Rondon como meta do

futuro. Parabéns a todos. Parabéns a Rondon. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Passamos a palavra, neste

momento, ao nobre Deputado Aldo Rebelo. S.Exa. falará pelo PCdoB.

O SR. ALDO REBELO (PCdoB-SP. Sem revisão do orador.) -

Sr. Presidente, Deputado Paulo Paim, Exmo. Sr. Ministro do Exército, General

Zenildo Zoroastro de Lucena, senhores representantes aqui presentes dos

Ministérios, estimados familiares do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon,

cumprimento o Deputado Murilo Domingos, do Mato Grosso, pela generosa

iniciativa de prestar esta homenagem e fazer com que a Câmara dos Deputados

também a preste.

O Marechal Rondon, ao longo de sua vida e mesmo depois,

recebeu homenagens no Brasil e em todo o mundo. Foi condecorado por governos,

foi reconhecido pela sua atividade em prol da causa indígena, da unidade do nosso

território, da pacificação do nosso País, da harmonia dos brasileiros com seus

irmãos da América Latina. Chefiou missões diplomáticas difíceis. Mediou conflitos

de fronteiras entre países latino-americanos, sendo, em todas essas missões,

laureado pela sua persistência, pela sua inteligência e pela sua capacidade de

servir.

Teve Rondon a felicidade de nascer quando se formava na

sociedade brasileira o sentimento democrático e a aspiração republicana. Nasceu

quando ecoavam os últimos tiros da Guerra do Paraguai. Desenvolveu-se

convivendo com brasileiros ilustres e lutadores do final do século passado. Foi

contemporâneo do Marechal Deodoro da Fonseca. Foi contemporâneo de Floriano

Peixoto. E com eles e com os civis republicanos lutou pela República, lutou pela

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consolidação da república, abriu sua mente e seu coração às idéias mais

avançadas da época,

fazendo, a partir dali, uma brilhante carreira militar e, além disso, uma brilhante

carreira cívica grande brasileiro e patriota que foi.

Ouço, com satisfação, o ilustre Deputado Paes Landim.

O Sr. Paes Landim - Deputado Aldo Rebelo, acompanho com

atenção o discurso de V. Exa. que sintetizou muito bem o papel desenvolvido por

Rondon em nosso País e os seus ideais republicanos. Sabem todos que Rondon foi

um dos mais valorosos homens da nossa República. Quero apenas dizer que

Fernando Azevedo, em sua monumental obra "Cultura Brasileira", retrata muito bem

que a expedição científica de Rondon foi a maior contribuição que o País já teve no

campo da história natural e ao mesmo tempo foi a que mais projeção deu ao Brasil

no exterior. Ao homenagear Rondon vamos rememorar sobretudo o seu espírito

republicano. Era um homem do diálogo, da pesquisa, da aventura — no bom

sentido da expressão. Foi incumbido exatamente da missão de estudar uma zona

desconhecida do Brasil: a Amazônia. Esse foi o objetivo do ato administrativo que

criou a missão do grande Cândido Rondon. Esse espírito republicano de Rondon é

o paradigma, por excelência, do nosso Exército, representado aqui por esta figura

exemplar que é o General Zenildo de Lucena, a quem presto minhas homenagens.

Ele que é praticamente o segundo Ministro do Exército que vem da geração de

Agulhas Negras. Formado exatamente em um ambiente de respeito aos valores

republicanos e democráticos, mas sem perder de vista, em nenhum momento, o

espírito da ordem, da disciplina e do respeito à hierarquia. É exatamente esse

sentimento republicano de Rondon que engradece o Brasil, que engrandece

sobretudo a história republicana, os grandes momentos do Exército, tão bem

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representado neste momento pelo seu Comandante-Chefe, o General Zenildo de

Lucena. Muito obrigado nobre Deputado Aldo Rebelo. Apesar da divergência

ideológica, tenho por V.Exa. o maior respeito, exatamente pela maneira civilizada,

concisa com que V.Exa. defende seus ideais nesta Casa.

O SR. ALDO REBELO - Tenha certeza, Deputado Paes Landim,

que o respeito é recíproco. Eu agradeço o inteligente aparte de V.Exa., como

sempre o faz, e o incorporo com satisfação ao meu pronunciamento.

Como dizia, Sr. Presidente, quando o Brasil marchava para

transformações profundas e duradouras na sua estrutura política e jurídica, com o

advento da República, e na sua estrutura social, com o fim da escravidão, tivemos

também na sociedade brasileira e no seu exército lutadores exemplares, como o

próprio Rondon, como Deodoro e Floriano, filiados a suas altas patentes aos clubes

abolicionistas existentes na época. Condecorados pelos clubes abolicionistas, esta

contribuição, que depois prosseguiria em defesa da causa indígena, Rondon já a

oferecia na luta contra o regime servil, na luta contra a escravidão.

Ainda jovem oficial, foi destacado por seu professor e ideólogo,

Benjamim Constant Botelho de Magalhães, cabeça pensante do movimento

republicano, para missões específicas e delicadas, como, por exemplo, a de sondar

a posição do Almirante Eduardo Wandekolk a respeito do desencadeamento do

movimento que proclamou a República. Cumpriu essa missão com seu colega de

farda, Augusto Tasso Fragoso. Na mesma madrugada em que se proclamava a

República, incorporou-se na guarda pessoal da brigada que marchava para o

quartel general ao encontro do Marechal Deodoro e daqueles que fizeram, no dia

15 de novembro de 1889, importante transformação republicana na vida da

sociedade brasileira.

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Terminada a luta, terminado o movimento da República, recebe

Rondon missões específicas, já então na sua terra, Mato Grosso, e incorpora-se a

uma comissão do Major Gomes Carneiro, para fazer a ligação entre a cidade de

Cuiabá e as margens do Rio Araguaia por via telegráfica. Deslocado da missão do

Major Carneiro, que depois morreria heroicamente no Cerco da Lapa, quando o

extinto regime monárquico tentava desesperadamente um gesto de restauração,

Rondon faz sua opção pelo trabalho que escolhera, até mesmo por seus

antecedentes, neto que era de índia bororó, caboclo, como caboclo também era

Floriano Peixoto, que nas suas feições não negava sua ascendência indígena.

Era um brasileiro não apenas legítimo, mas por essência: era

um brasileiro mestiço. Compreendia, por esta razão, fazer parte das novas etnia e

civilização que se formava: um Brasil gigantesco, mas pouco integrado, que tinha

pouco assegurada sua unidade territorial. Rondon compreendia isso. Depois, como

patrono da Arma de Comunicação, fez-se justiça a seu esforço e dedicação.

Rondon marchava pelas regiões inóspitas do Centro-Oeste e da Amazônia,

cumprindo a missão patriótica de civilização e unificação do Território Nacional,

mas, ao mesmo tempo, na sua visão humanista, tendo todo o cuidado necessário

no contato que fazia com populações primitivas, com populações indígenas.

O Deputado Murilo Domingos já citou a sua consigna,

transmitida aos seus soldados e oficiais, que marchavam sob tensão, em região

desconhecida, acometidos pela malária e beribéri e cercados pela ameaça — ou

mistificação da ameaça — do contato com povos primitivos, muitos deles tidos

como antropófagos. No entanto, Rondon se aferrava ao princípio: morrer, se

necessário; matar, não. Entre outras coisas, dizia a seus soldados: temos para com

os índios grande dívida, contraída desde os tempos dos nossos maiores, que lhes

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foram invadindo territórios, devastando a caça, furtando o mel, para não falar em

males muito piores, mais graves, vergonhosos e infames.

Era a partir dessa compreensão que Rondon desenvolvia seu

trabalho. Foi a partir dessa compreensão e dessa prática que Rondon foi

reconhecido nacional e internacionalmente, não apenas como desbravador e

cientista, mas, acima de tudo, como ser humano que compreendia a natureza,

distinção e particularidade dos povos indígenas.

Não foi homem totalmente compreendido em todos os

momentos da sua vida. Nos anos 30, como tinha liderado e comandado um

destacamento que combatera a coluna de Miguel Costa e Prestes, vitoriosa a

Revolução de 30, Rondon foi preso. Foi atacado violentamente por Juarez Távora,

que dizia que ele distribuía postes e fios pela Amazônia como se fossem

brinquedos para índios, dilapidando o patrimônio público. No entanto Getúlio,

Osvaldo Aranha e outros, que não tinham talvez o sangue quente de Juarez

Távora, nem sua juventude, compreenderam o papel de Rondon.

Rondon pediu reforma do Exército. Esta foi aceita, mas não foi

aceito o desligamento das suas missões e funções. O próprio Getúlio Vargas,

consolidado o Movimento de 30, ofereceu a Rondon a direção e a confiança de

todos os serviços que ele vinha prestando à Nação e ao povo brasileiros. Através

do próprio Getúlio, recebeu a missão de mediar conflito difícil entre duas nações

latino-americanas.

Teve a sorte de ter vida longa, e sua longevidade foi

aproveitada para sempre defender as mesmas causas.

Em 1954, ainda com Getúlio Vargas, pediu a criação do

Parque Nacional do Xingu. Depois, com Juscelino, queixou-se da situação em que

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se encontrava o Serviço de Proteção aos Índios, da mistura dessa atividade com

interesses políticos partidários, e solicitou de Juscelino a moralização do Serviço de

Proteção aos Índios. Em 1955, o Congresso Nacional votou lei especial para que

fossem concedidas a Rondon, que se reformara como general, honras de marechal

do Exército brasileiro. Por esta razão é que eu dizia, Sr. Presidente, que não é a

primeira homenagem que esta casa presta a Rondon: é mais uma homenagem, a

qual tenho esperança e confiança em que as futuras gerações, os futuros

Congressistas, os futuros oficiais das nossas Forças Armadas, a nossa juventude e

o povo brasileiro renovem a esse brasileiro que honrou a sua condição não apenas

de militar, mas sobretudo de patriota.

Sr. Presidente, termino fazendo rápida consideração sobre a

atualidade do pensamento e da ação de Rondon. Creio que se mantém a

preocupação de Rondon, Sr. Presidente e Srs. convidados, com a questão dos

povos indígenas. Creio que o nosso povo, nossos governantes, esta Casa, as

Forças Armadas e o Exército ao qual pertenceu Rondon não podem faltar neste

momento na sua solidariedade e na sua compreensão a esses primeiros brasileiros,

que são os nossos irmãos indígenas.

Creio que a solidariedade a eles, a defesa dos seus costumes,

da sua cultura e a preservação inclusive de suas vidas, é tarefa nossa. Mas, ao

mesmo tempo, digo que se Rondon preocupou-se com os índios, ele foi também um

patriota preocupado com a preservação da unidade nacional e da defesa do nosso

território. Que essa preocupação permaneça atual para todos nós. Que não se

pretexte, Sr. Presidente, nem aqui nem fora daqui, a proteção aos índios para se

ameaçar a integridade do Território Nacional. Os índios são brasileiros, e pelos

brasileiros serão protegidos. Suas vidas serão garantidas pelo povo brasileiro, pelo

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Governo brasileiro, pelas Forças Armadas do País. Os índios serão garantidos por

aqueles que sempre lutaram em sua defesa. Exterminadores de índios, cultuadores

de assassinos de índios não terão e não têm o direito de se imiscuírem no

tratamento dessas populações e na soberania da nossa Pátria.

Portanto, que a memória, a vida e a ação de Rondon sejam

preservadas, principalmente nos dias de hoje, quando se fala em globalização,

quando se procura apagar a história dos povos, quando se procura pregar

falsamente o desmanche dos Estados nacionais das nações frágeis e dos povos

oprimidos, porque os Estados nacionais fortes e dominantes são cada vez mais

fortes e dominantes. Rondon pensava nisso. Rondon era um brasileiro, um patriota.

Creio, Sr. Presidente, que é da unidade do nosso povo que se

poderá se reproduzir o objetivo de vida, o lema e a trajetória desse grande filho do

povo brasileiro.

Honra e glória ao Marechal Rondon. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Neste momento, é com

muita satisfação que registramos a presença entre nós daqueles que, sem sombra

de dúvida, representam neste plenário o conjunto da juventude brasileira, os líderes

de amanhã: os alunos do Colégio Militar de Brasília.

A eles uma salva de palmas, com muito carinho. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Convidamos a Banda de

Música do Batalhão de Polícia do Exército, sob a regência do Ten. Ronaldo Esron

Menon de Cunha, para que apresente "Dobrado do Mato Grosso" e "Canção das

Comunicações.

(Apresentação musical). (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Dando continuidade à

homenagem, esta Presidência informa a todos que, a seguir, no Salão Negro da

Câmara dos Deputados, teremos o lançamento do cartão magnético da TELEMAT,

em homenagem ao Marechal Rondon, pelo Presidente da empresa, Dr. Eduardo

Freire.

Ainda no mesmo salão ocorrerá a abertura da exposição sobre o

Marechal Rondon pelo Sr. Ministro do Exército, General Zenildo Zoroastro Lucena.

Logo após, haverá uma apresentação do Grupo Folclórico Municipal de Santo

Antonio de Laverger, seguida de um coquetel e da apresentação do documentário

"A Expedição de Roosevelt", produzido pelo jornalista Cáca de Souza, e de um

vídeo cedido gentilmente pela TV Cultura , intitulado "Rondon, o Sentimento da

Terra".

Neste momento, esta Presidência, encerrando os trabalhos,

agradece a todos os presentes, especialmente ao Ministro do Exército, General

Zenildo Zoroastro Lucena; ao Contra-Almirante Roberto da Silva Legey,

representando o Sr. Ministro Chefe do EMFA, e aos familiares do Marechal

Rondon, Dr. Angelo Cristiano Rondon Amarante, Maria Inês Rondon Amarante,

Mariana Rondon Amarante, Coronel Antonio Lara Marialva Meireles Rondon, Major

Benjamim Acioly Rondon do Nascimento e Fernanda Cristina Rondon.

Assim, esta sessão de homenagem, realizada a partir de

requerimento de autoria do Deputado Murilo Domingues, cumpriu seu objetivo de

homenagear o grande, saudoso Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Esta Presidência teria a acrescentar somente o seguinte: há

homens que morrem e há outros que viverão sempre entre nós, pela sua

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caminhada, pela sua história e pelo legado que deixaram a esta País. Esse homem

é o Marechal Rondon.

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V - ENCERRAMENTO

O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Nada mais havendo a

tratar, vou encerrar a presente sessão, antes convocando para hoje, às 14 horas,

sessão ordinária da Câmara dos Deputados com a seguinte

ORDEM DO DIA

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O SR. PRESIDENTE (Paulo Paim) - Está encerrada a sessão.

(Levanta-se a sessão às 12h30min)

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