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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL Versão para registro histórico Não passível de alteração COMISSÃO DE EDUCAÇÃO EVENTO: Audiência Pública REUNIÃO Nº: 0961/16 DATA: 09/08/2016 LOCAL: Plenário 10 das Comissões INÍCIO: 14h52min TÉRMINO: 17h39min PÁGINAS: 54 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO MALVINA TANIA TUTTMAN - Conselheira do Conselho Nacional de Educação CNE do Ministério da Educação. PATRÍCIA MARTINS DE FREITAS - Mestre em Psicologia e Doutora em Ciências da Saúde. PATRÍCIA NEVES RAPOSO - Diretora de Políticas de Educação Especial da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão SECADI do Ministério da Educação. DÉBORA DANTAS - Representante do Coletivo Filhos da Flor, da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Distrito Federal. SUMÁRIO Debate sobre a regulamentação do direito ao aprendizado ao longo de toda a vida, previsto na Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. OBSERVAÇÕES Houve exibição de imagens. Grafia não confirmada: Capelo.

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Page 1: DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO … · com Deficiência, atendendo aos Requerimentos nº 176, de 2016, e nº 49, de 2016, de autoria do Deputado Eduardo Barbosa,

CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

Versão para registro histórico

Não passível de alteração

COMISSÃO DE EDUCAÇÃO

EVENTO: Audiência Pública REUNIÃO Nº: 0961/16 DATA: 09/08/2016

LOCAL: Plenário 10 das Comissões

INÍCIO: 14h52min TÉRMINO: 17h39min PÁGINAS: 54

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

MALVINA TANIA TUTTMAN - Conselheira do Conselho Nacional de Educação — CNE do Ministério da Educação. PATRÍCIA MARTINS DE FREITAS - Mestre em Psicologia e Doutora em Ciências da Saúde. PATRÍCIA NEVES RAPOSO - Diretora de Políticas de Educação Especial da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão — SECADI do Ministério da Educação. DÉBORA DANTAS - Representante do Coletivo Filhos da Flor, da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais do Distrito Federal.

SUMÁRIO

Debate sobre a regulamentação do direito ao aprendizado ao longo de toda a vida, previsto na Convenção da ONU sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência.

OBSERVAÇÕES

Houve exibição de imagens. Grafia não confirmada: Capelo.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINAL Comissão de Educação Número: 0961/16 09/08/2016

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Professor Victório Galli) - Boa tarde a todas e

a todos. Nós vamos começar os nossos trabalhos.

Declaro aberta a presente reunião de audiência pública da Comissão de

Educação, com a participação da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas

com Deficiência, atendendo aos Requerimentos nº 176, de 2016, e nº 49, de 2016,

de autoria do Deputado Eduardo Barbosa, para debater a regulamentação do direito

ao aprendizado ao longo de toda a vida, previsto na Convenção da ONU sobre os

Direitos das Pessoas com Deficiência.

Convido para compor a Mesa: a Sra. Malvina Tânia Tuttman, Conselheira do

Conselho Nacional de Educação — CNE (palmas); a Sra. Patrícia Neves Raposo,

Diretora de Políticas de Educação Especial — SECADI, do Ministério da Educação

— MEC (palmas); a Sra. Patrícia Martins de Freitas, Mestre em Psicologia e Doutora

em Ciências da Saúde (palmas); a Sra. Débora Dantas, representante do projeto

Coletivo Filhos da Flor (palmas). A Deputada Zenaide Maia, que está chegando,

também vai compor a Mesa.

Antes de passar a palavra aos nossos convidados, informo que a reunião está

sendo gravada, para posterior transcrição. Por isso solicito a todos que forem usar

da palavra que falem ao microfone.

Para melhor ordenamento dos trabalhos, adotaremos os seguintes critérios:

cada expositor terá o prazo de 15 minutos para a sua exposição, o qual não poderá

ser prorrogado. O debate será aberto ao final da última palestra, e as perguntas

deverão se restringir ao assunto da exposição e ser formuladas no prazo de 3

minutos, dispondo o palestrante de igual tempo para a resposta. Serão permitidas a

réplica e a tréplica pelo prazo de 3 minutos. Para responder a cada interpelação, os

expositores terão o mesmo tempo, 3 minutos.

Informo aos Parlamentares que a lista de inscrição para os debates se

encontra na nossa mesa de apoio e solicito aos Deputados interessados em

interpelar os palestrantes que se inscrevam previamente.

Quero registrar a presença do Deputado Ságuas Moraes, meu colega mato-

grossense. É um prazer contar com a sua presença.

Quero registrar também a presença da Deputada Creuza Pereira. É um

prazer tê-la conosco.

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Registro também a presença do Deputado Eduardo Barbosa, autor do

requerimento, a quem, daqui a pouco, eu vou passar a condução dos trabalhos, para

que possa presidir a reunião.

Cumprimento os membros da Mesa, na pessoa do Deputado Eduardo

Barbosa, autor do requerimento para a realização desta presente audiência, as

demais Deputadas e Deputados. Saúdo todos os presentes.

O Congresso Nacional, por meio do Decreto Legislativo nº 186, de 2008,

aprovou o texto da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e de

seu Protocolo Facultativo, assinados em Nova York, em 30 de março de 2007. O

então Presidente Lula promulgou a Convenção por meio do Decreto nº 6.949, de 25

de agosto de 2009.

O propósito desse diploma legal internacional é promover, proteger e

assegurar o exercício pleno e equitativo de todos os direitos humanos e liberdades

fundamentais por todas as pessoas com deficiência e promover o respeito pela

dignidade inerente.

A convenção define pessoas com deficiência como aquelas que têm

impedimentos de longo prazo de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os

quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e

efetiva na sociedade em igualdade de condições com as demais pessoas.

Esse pacto internacional, de acordo com o seu art. 3º, assenta-se nos

seguintes princípios: o respeito pela dignidade inerente, a autonomia individual,

inclusive a liberdade de fazer as próprias escolhas, e a independência das pessoas,

bem como o respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas com deficiência

como parte da diversidade humana e da humanidade. Foi destacado ainda, como

princípio norteador, o respeito pelo desenvolvimento das capacidades das crianças

com deficiência e pelo direito das crianças com deficiência de preservar sua

identidade.

Por meio dessa convenção, o Brasil se comprometeu, junto à comunidade

internacional, a garantir o direito das pessoas com deficiência ao aprendizado, ao

longo de toda a vida, com o objetivo do pleno desenvolvimento do potencial humano

e do senso de dignidade e autoestima, além do fortalecimento do respeito pelos

direitos humanos, pelas liberdades fundamentais e pela diversidade humana.

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Foi enfatizado o máximo desenvolvimento possível da personalidade e dos

talentos e da criatividade das pessoas com deficiência, assim como de suas

habilidades físicas e intelectuais.

É importante destacarmos aqui que a convenção foi aprovada, no nosso

ordenamento jurídico interno, como emenda à Constituição. O art. 5º, § 3º, da nossa

Carta Política estabelece que os tratados e convenções internacionais sobre os

direitos humanos que forem aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em

dois turnos, por três quintos dos votos dos respectivos membros, serão equivalentes

às emendas constitucionais.

Isso equivale a dizer que qualquer ato omissivo ou comissivo ou lei que

contrarie dispositivo da convenção comete ofensa constitucional e deve sofrer as

responsabilizações cabíveis, ou banimento do mundo jurídico, no caso da legislação

incompatível.

Foi também pela iniciativa desta Casa que aprovamos, após 15 anos de

debate das Casas Legislativas federais e da comunidade, a Lei Brasileira de

Inclusão da Pessoa com Deficiência, ou Estatuto da Pessoa com Deficiência, que

estabelece, no seu art. 27, que a educação constitui direito da pessoa com

deficiência, assegurados sistema educacional inclusivo em todos os níveis e

aprendizado ao longo de toda a vida, de forma a alcançar o máximo

desenvolvimento possível de seus talentos e habilidades físicas, sensoriais,

intelectuais e sociais, segundo suas características, interesses e necessidades de

aprendizagem.

Aprender ao longo da vida não é uma condição do aprendizado, senão do

aprendiz mesmo. A aprendizagem é indissociável da vida. Mas temos que

reconhecer que o caminho é mais longo para as pessoas com deficiência.

Temos o desafio de ensiná-las a aprender a ser autônomas na direção do seu

desenvolvimento, a gerir a gama de conhecimento que é produzido contínua e

diariamente e ser eficientes, num contexto em que o aprendizado acontece por meio

de ações continuadas que não se limitam mais às oportunidades compartilhadas

pelo professor dentro da sala de aula tradicional, senão também pelas mídias

eletrônicas e até pelas interações sociais.

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Espero que, por meio dos debates de hoje, possamos amadurecer as

conquistas que temos, bem como as formas de viabilizar essas conquistas e

possíveis medidas legislativas ou fiscalizatórias que se podem empreender.

A Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência está e

estará sempre disponível para acolher sugestões, para melhorar a legislação e

viabilizar os debates, como o faço agora por meio desta audiência pública, fruto do

requerimento do nobre Deputado Eduardo Barbosa, que tanto se tem destacado na

defesa das pessoas com qualquer tipo de deficiência.

Muito obrigado.

Convido o Deputado Eduardo a presidir os trabalhos.

Já está conosco a Deputada Zenaide. (Palmas.)

(Pausa.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Boa tarde a todos os

presentes.

Desde já, eu quero agradecer a todos os convidados que aceitaram o nosso

convite de pronto.

Hoje, teremos o primeiro debate sobre a regulamentação do direito ao

aprendizado ao longo de toda a vida. Desde que aqui cheguei — já tenho 22 anos

de Câmara de Deputados —, esta é a primeira vez que promovemos uma discussão

nova dentro do nosso cenário, abordando a educação ao longo da vida, tema trazido

pela própria Convenção Internacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência e

absorvida também pela Lei Brasileira de Inclusão, como o nosso Presidente acabou

de citar.

Antes de passar a palavra às convidadas, eu quero falar brevemente sobre o

que nos provocou a fazer esta discussão e promover este debate por meio da

Comissão de Educação e da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com

Deficiência.

O Congresso Nacional tem sido muito demandado por familiares de pessoas

com deficiência, por mães principalmente, que fazem uma verdadeira peregrinação

na luta pelos direitos dos seus filhos.

Nós nos deparamos com um quadro precário nessa área, que repercute em

todos os Estados e Municípios. Após concluírem a educação básica no Brasil, as

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pessoas com deficiência intelectual ou deficiência múltipla, não têm alternativas

ainda estruturadas e com a amplitude de alcance da população com deficiência

intelectual, fazendo com que essas pessoas geralmente voltem para casa, fiquem

sem atividades e se mantenham, muitas vezes, num processo de isolamento.

Quando isso não acontece, são vítimas da rua, sendo até explorados em algumas

comunidades.

Essa angústia das famílias tem trazido para o Congresso Nacional a busca de

uma solução para tal problema. No entanto, essa busca nunca corresponde à altura

da situação enfrentada pelas pessoas com deficiência.

Tendo como respaldo agora a Convenção da ONU e a Lei Brasileira de

Inclusão — LBI, um grupo de Parlamentares envolvidos na Comissão da Pessoa

com Deficiência resolveu discutir o tema. Inclusive, uma dessas Parlamentares está

integrando a Mesa, a Deputada Zenaide, que aqui hoje não está nessa condição.

Ela está aqui na condição de mãe de uma pessoa adulta com deficiência intelectual

e conhece também o drama vivido pela família de pessoas com deficiência,

principalmente pela mãe.

Foram muitas as vezes que compartilhamos com a Deputada Zenaide Maia a

sua angústia por ter que deixar seu filho no seu Estado e vir a Brasília, não tendo ele

aquilo que ela entendia que precisava ter para garantir a sua participação social e ter

uma vida ativa. Mais do que resolver esse drama pessoal, ela busca, de alguma

forma solucionar essa questão e tem condições familiares para tal. A Deputada

Zenaide compartilha com outras mães dessa ansiedade, porque no momento não há

forma de solucionar esse vazio assistencial do Estado brasileiro.

Após conversas com esse grupo de Parlamentares, resolvemos dar foco a

este tema aqui, na Câmara dos Deputados. Eu tive a iniciativa de apresentar um

projeto de lei e, com apoio da Consultoria Legislativa da Câmara dos Deputados,

entendi que nós deveríamos tratar desse assunto, Malvina, no que se refere à

educação de jovens e adultos, que já é uma discussão existente em outras esferas e

em outros países. Assim, nós poderíamos, além de encarar a educação formal de

jovens e adultos já existente no Brasil, tentar trabalhar com o conceito de educação

ao longo da vida na educação informal de jovens e adultos.

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Isso então nos amimou muito, porque não estaríamos reinventando ou

inventando algo, porque a própria Lei de Diretrizes e Bases da Educação já define

claramente o que é educação de jovens e adultos. Nós estaríamos apenas

ampliando a dimensão de seu objetivo e de seus destinatários. No caso desse

público específico ao qual fizemos referência, principalmente as pessoas com

deficiência intelectual ou múltipla, ele poderia ser o primeiro contemplado com a

amplitude da questão.

Nós nos entusiasmamos com isso e vamos, agora, começar este debate, que

no nosso entendimento é muito importante, extremamente necessário e essencial.

Para esta primeira Mesa, chegamos à conclusão de que deveríamos convidar

o Conselho Nacional de Educação, que se posicionará, em algum momento, a

respeito de possível regulamentação desse tema.

Nós tivemos provocação de alguns conselhos estaduais em alguns

momentos, e as respostas que nos deram foi de que entendiam que a educação ao

longo da vida era a educação continuada, mas os argumentos que me deram não

me convenceram disso, porque eu acho que são objetivos muito diferenciados.

Como a própria legislação da educação no Brasil não trata desse termo ainda,

nós vamos ter que a incorporar realmente, e é somente a partir do Congresso

Nacional que conseguiremos indicar isso no arcabouço legal brasileiro.

Entendemos também que precisaríamos ouvir especialistas. Por isso,

trouxemos hoje a Sra. Patrícia Martins, uma das especialistas em neurociência, que

nos mostrará as possibilidades de desenvolvimento de habilidades ao longo da vida,

que é a consistência científica que nós temos, porque estamos trabalhando numa

dimensão social importante, para dar a eles um espaço para a continuidade do seu

desenvolvimento, e temos hoje a ciência nos dando o suporte de que esse

aprendizado é possível, desde que as pessoas também tenham possibilidades de

ser estimuladas. Então, nós precisamos pensar como isso deve ser feito. A presença

da Patrícia nos traz esse olhar científico aqui.

Conversamos sobre isso também no Ministério da Educação, tanto com o

Ministro como com a Secretária Ivana, da SECADI, e com a Patrícia, que está aqui,

e assume a Diretoria de Educação Especial do MEC. Todos foram muito abertos no

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sentido de que o Ministério da Educação tem que encarar esse debate. Quem sabe

daqui para frente nós vamos ter resultados positivos.

A Sra. Patrícia Neves está aqui conosco porque participou de uma discussão

que fizemos acerca de um documento das organizações não-governamentais do

País.

Aqui temos também a presença da Federação Nacional das APAEs. Eu

gostaria que os senhores levantassem a mão. Os coordenadores pedagógicos de

todos os Estados estão aqui presentes, porque felizmente esta data coincidiu com a

de uma reunião de trabalho da Coordenação Nacional de Educação. Eles vieram a

esta audiência, porque são eles que vão assumir o desafio de dar essa resposta à

necessidade dos jovens adultos e de suas famílias.

Essa carta elaborada pelas entidades abordou alguns pontos para o Ministro,

mostrando que nessa questão deveríamos avançar em nosso País.

Com alegria, quisemos abrilhantar a nossa audiência com uma experiência

real, trazida pela Débora Dantas. Ela desenvolve um trabalho — não sei se posso

denominar assim, ela mesma vai definir depois — de linguagens alternativas, na

APAE-DF, cuja proposta metodológica que eu tive a grata surpresa de conhecer e

perceber vem ao encontro daquilo em que acredito. Eu acho que teremos aqui

também a oportunidade de ver alguma coisa concreta, algo já a ser realizado. Dessa

forma, nós estamos estimulados a promover esta audiência.

Está conosco também a Deputada Carmen Zanotto, assim como nosso

Presidente e membros da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com

Deficiência.

Eu gostaria de dizer que a Deputada Carmen foi uma das motivadoras deste

tema, desta discussão, também pela sua vivência. Ela não só é Parlamentar como

tem um irmão adulto com deficiência intelectual que vive aos cuidados dela. Então, a

Deputada Carmen Zanotto também vive, como a Deputada Zenaide Maia, em outra

dimensão. Como irmã, ela tem a responsabilidade de dar ao irmão aquelas

condições dignas de vida.

O exemplo que eu coloco da Deputada Carmen Zanotto é o que identificamos

hoje pelo País afora. Muitas vezes os pais morrem ou estão envelhecidos, e

algumas dessas pessoas têm a graça de possuir um irmão ou uma irmã que assume

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a responsabilidade de estar ao lado delas nessa trajetória; outras ficam em situação

de abandono. Eu conheço, inclusive, em meu Estado, casos em que os vizinhos

assumiram a responsabilidade de dar abrigo, teto a pessoas que perderam os seus

pais e que, por não haver nenhuma referência de serviços, ficaram à mercê da ajuda

humana, da solidariedade de outros.

Este assunto é muito pertinente. Ele nos traz a possibilidade da discussão

técnica do tema, mas com cunho social de relevância.

Vou passar a palavra à Sra. Malvina Tânia Tuttman, para sua exposição, por

15 minutos.

Hoje o Conselho Nacional de Educação está dando posse a seus novos

conselheiros, em evento que conta com a presença do Ministro e dos Secretários do

MEC. A Conselheira Malvina fez questão de estar aqui representado o CNE, no

entanto, ela não vai poder ficar o tempo todo da nossa discussão.

Passo a palavra à Sra. Malvina Tania Tuttman, agradecendo a sua presença.

A SRA. MALVINA TANIA TUTTMAN - Muito obrigada a todos.

É uma satisfação muito grande para o Conselho Nacional de Educação

compor esta audiência com as demais parceiras. E fico feliz que essas parceiras,

com todo o respeito, Deputado, sejam mulheres, porque o normal é nós vermos uma

Mesa, independentemente dos assuntos, composta majoritariamente por homens.

Nada contra isso, mas sou a favor de que as mulheres também possam ocupar

esses espaços de importância.

Eu quero cumprimentar todos, em nome do Conselho Nacional de Educação,

especialmente no do seu Presidente, o Prof. Gilberto Garcia, que, pelos motivos já

apresentados pelo Deputado Eduardo Barbosa, infelizmente não pôde estar aqui.

Ele me pediu, e eu adorei, que participasse, mesmo que por um breve momento. Eu

peço desculpas, porque faço parte do coletivo de 24 conselheiros nacionais e terei

que estar lá presente. Mas já adianto que responderei a todas as questões. Além

das posições, das argumentações, das propostas surgidas à Mesa, o debate é o

mais rico, para que nós possamos assimilá-lo também e dar continuidade, ou num

coletivo, ou nas nossas próprias esferas de atuação.

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Eu já inicio colocando o Conselho Nacional de Educação à disposição dos

senhores. Deixarei os contatos para as respostas que o coletivo presente considerar

pertinente ouvir do Conselho.

Já coloco, Deputado, que o Conselho estará presente a todos os outros

movimentos que esta Casa der prosseguimento, porque, pelo que entendi, este é o

primeiro encontro. Queremos estar no segundo, no terceiro, no quarto, se for

necessário, e nas discussões de encaminhamentos e de conclusões, porque as

nossas crianças, os nossos jovens e os nossos adultos já não têm mais tempo —

não é, Patrícia? — de esperar que possamos encarar, com a seriedade que todos

que estão aqui encaram, essa temática.

Quero dizer aos senhores e às senhoras que o Conselho Nacional de

Educação é formado basicamente por duas câmaras, a Câmara de Educação

Básica e a Câmara de Educação Superior, e um Conselho Pleno, que reúne as duas

câmaras. Existem assuntos, temáticas, em que prevalece o tratamento em uma ou

em outra Câmara; ou, então, no Conselho Pleno. Trabalhamos também por

comissões. E essas comissões temáticas também são comissões das câmaras ou

são comissões bicamerais.

Esta temática tem sido trabalhada pela Comissão de Educação Básica, da

qual eu pertenço. E nós começamos, Patrícia, conversando exatamente sobre esta

demanda da educação ao longo da vida, o que ela significa, e pensando isso junto

com a SECADI.

A SECADI está presente no Conselho, mas esteve especialmente, algumas

vezes, na Câmara de Educação Básica, discutindo a questão da educação ao longo

da vida, Deputado, partindo justamente do entendimento da educação de jovens e

adultos. Acredito que estamos em sintonia nessa questão. Estamos discutindo isso.

Agora, tivemos modificações no Ministério da Educação e também no

Conselho Nacional de Educação, mas as temáticas irão continuar, porque não são

assuntos próprios de determinados grupos, são assuntos nacionais, são assuntos

fundamentais para dar dignidade à nossa população.

Neste contexto, o Conselho Nacional de Educação trabalha sempre em

parceria com as Secretarias do Ministério da Educação, com as representações da

sociedade organizada, da sociedade civil, e com esta Casa.

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Eu gostaria de falar especialmente sobre duas resoluções do Conselho

Nacional de Educação. Desculpem-me se eu falo algumas coisas que já são do

conhecimento da maioria, mas é importante reforçar que o Conselho Nacional de

Educação trabalha, entre outras questões, basicamente com pareceres, que são

estudos sobre uma determinada temática demandada. No caso, esta poderia ser a

temática. Espero que o encaminhamento seja esse, vou fortalecer isso em nome do

Conselho.

Em seguida, vou falar das diretrizes. A toda diretriz antecede um parecer, que

analisa, na teoria e na pratica também, as questões. Não é um coletivo de 12, 10, 6,

2 conselheiros, não. Há um presidente ou uma presidente, um relator ou uma

relatora, mas há um conjunto de outros conselheiros. E essa comissão é ampliada,

sempre com representações. Produz-se um primeiro documento, um segundo

documento, enfim. Quando consideramos que essa documentação está adequada

para ser mais socializada, iniciamos um processo de audiências públicas, em que as

representações se fazem presentes, e há um debate. E esse documento é

modificado na sua íntegra ou em alguns aspectos, e é daí que surgem os pareceres

e também as diretrizes.

Especialmente sobre o tema educação especial, nós temos duas diretrizes: a

última resolução, a Resolução de nº 4, de 2 de outubro de 2009, que institui

diretrizes operacionais para o atendimento educacional especializado na educação

básica, na modalidade educação especial; e uma resolução de 2001, que institui

diretrizes nacionais para a educação especial. As duas estão em vigor: a de 2001,

que instituiu as diretrizes nacionais; e a de 2009, que considerou importante

estabelecer diretrizes operacionais.

Nós temos também um parecer importantíssimo agora, porque, no

entendimento do Conselho Nacional de Educação, não podemos discutir uma

temática de tamanha relevância sem termos um olhar significativo para a formação

dos profissionais, em especial, da educação. Em 1º de julho de 2015, foram

homologadas as diretrizes curriculares nacionais para a formação pedagógica para

graduandos, para profissionais de segunda licenciatura, enfim, que já abordam,

Patrícia Neves, Débora, Patrícia Martins, Deputado, Deputada, a importância da

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formação desses profissionais, mas, logicamente, compete ao Conselho Nacional de

Educação trabalhar essas questões.

O Conselho Nacional tem uma ligação direta com os Conselhos Estaduais e

com os Conselhos Municipais. Eu sou carioca, do Rio de Janeiro. Sou do Conselho

Estadual de Educação também e tive o prazer de ser a relatora de uma diretriz, a

Deliberação nº 355, de 2016, recentemente instituída, que trabalha a educação

especial de forma diferente do Conselho Nacional, no que tange à abordagem do

seu público. O Conselho Nacional trabalha para a educação básica, e nós tivemos o

entendimento, no Estado do Rio de Janeiro, de que essas diretrizes devem ser

também para todo o sistema, incluindo-se aí a formação superior em todos os

cursos.

Eu acredito que esse também é um avanço, não no sentido mais amplo de

que trata esta audiência, mas já é um caminhar importante; senão, nós estamos

delegando, Patrícia, apenas para a educação básica; e, para a educação de jovens

e adultos, na ótica que o Deputado muito bem colocou, é como se parasse o direito

do jovem e do adulto de ter a continuidade formal também dos seus estudos.

Então, a Deliberação nº 355, que é recente, do mês de junho, já trata dessa

abordagem.

Concluindo, como esse processo foi feito? E eu deixo também a possibilidade

de discutirmos isso. Ele foi feito por meio de audiências públicas. O Conselho do Rio

de Janeiro, tal qual o Conselho Nacional, foi a oito polos, congregando todos os

Municípios do Estado, e, o mais importante, junto com o Ministério Público do

Estado. Houve uma parceria do Conselho Estadual de Educação com o Ministério

Público do Estado.

Escutamos mais do que falamos — podem acreditar! Escutamos

representações de profissionais, que apresentaram muitas experiências importantes

e exitosas no chão da escola, das APAEs. Nós temos que escutar o que esses

profissionais estão dizendo. Houve depoimentos importantes dos responsáveis,

Deputada, que nos relatam as suas dificuldades, como os laudos. Enfim, são muitas

dificuldades, e V.Exas., melhor do que eu, sabem disso.

Apontamos quais seriam as prioridades. Tivemos, como o senhor teve

também, a preocupação de receber a assessoria da academia. Tivemos a

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assessoria tanto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro como da

Universidade Federal Fluminense. E o grupo vai-se ampliando. Tivemos também a

participação importante da Ordem dos Advogados do Brasil, que veio discutir

conosco.

Eu acredito que este movimento se inicia na Casa muito bem. O Conselho

Nacional de Educação está dizendo: “Estamos presentes”.

Termino relembrando Carlos Drummond Andrade, nosso grande poeta, em

um dos seus belíssimos poemas: “Vamos juntos, de mãos dadas”.

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Muito obrigado, Malvina.

A SRA. MALVINA TANIA TUTTMAN - Desculpe-me por ter-me alongado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Não se alongou, de

forma alguma.

Eu acho que o posicionamento político do Conselho Nacional de Educação,

ao encontro daquilo que nós desejamos, já é, para nós, uma abertura muito grande

para o desdobramento deste debate. Então, obrigado pela exposição, pelo

envolvimento e por fazer-se presente aqui, representando o Conselho.

Eu quero também destacar a presença do Deputado Angelim, do Deputado

Otavio Leite e do Deputado Izalci, além da presença da Deputada Carmen Zanotto,

que eu já citei.

Eu gostaria de ressaltar a presença do Ministério do Desenvolvimento Social

e Agrário, através da Sra. Vera Lúcia Capelo; também da Sra. Deusina Lopes da

Cruz, grande militante na área da pessoa com deficiência há mais tempo do que eu;

e da Sra. Niusarete Margarida de Lima. Para quem não sabe, ambas são mães de

autistas. Elas contribuíram muito, quando estavam na Associação de Capacitação,

Orientação e Desenvolvimento do Excepcional — ACORDE, para as primeiras

concepções de desenvolvimento de políticas na área. O Brasil deve muito a elas,

quando na ACORDE exerceram essas funções. Agora estão no MDS, e nós vamos

precisar muito delas também.

Vou passar a palavra à Sra. Patrícia Martins de Freitas, que é Mestre em

Psicologia e Doutora em Ciências da Saúde.

A SRA. PATRÍCIA MARTINS DE FREITAS - Boa tarde a todos.

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Eu gostaria de, em primeiro lugar, cumprimentar os membros da Mesa

através do Deputado Eduardo Barbosa, a quem agradeço pelo convite.

Estou muito feliz de participar desta audiência, em especial pela magnitude

que ela representa na questão educacional das pessoas com deficiência.

Destaco a abertura, o convite à Neurociência, uma área que se dedica a

pesquisar e a entender o funcionamento neurocognitivo e como ele pode impactar

as modificações no processo de aprendizagem . Assim, a Neurociência tenta

encontrar as soluções, os caminhos para facilitar a aprendizagem de pessoas com

algum tipo de deficiência neurocognitiva.

Eu vou trazer aos senhores um pouco do meu conhecimento, a fim de

contribuir para a audiência no que diz respeito à regulamentação do aprendizado ao

longo da vida, que, no meu entendimento, é algo a ser debatido com muita

profundidade.

Nós acompanhamos várias crianças em nossos projetos, tanto de pesquisa

quanto de extensão, e vemos o enfrentamento das famílias. Não é por acaso, eu

tenho uma prima e uma sobrinha com paralisia cerebral. Acho que isso é algo que

nos mobiliza mais de perto, não só como cientista, mas também como pessoa. Vou

trazer essa contribuição com o intuito de favorecer o debate.

(Segue-se exibição de imagens.)

Eu sou da Universidade Federal da Bahia, do campus de Vitória da

Conquista, do Instituto Multidisciplinar em Saúde, localizado no sudoeste da Bahia.

Lá existe um grupo de pesquisa, o Núcleo de Investigações Neuropsicológicas da

Infância e da Adolescência — NEURONIA, cujo símbolo é aquele ali.

Em relação às bases científicas que justificam o entendimento, a busca por

esse aprendizado ao longo da vida, primeiramente abordo a nossa compreensão do

desenvolvimento neurocognitivo. O desenvolvimento ocorre ao longo da vida, está

presente do momento da concepção até a morte.

A concepção de desenvolvimento modificou-se, desde a década de 90, com o

conceito de life span, que é o desenvolvimento ao longo da vida. Isso mudou nossa

perspectiva de envelhecimento, de alterações do neurodesenvolvimento, mostrando

que não existe um momento em que nós estagnamos. Nós estamos sempre nos

desenvolvendo.

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Aprendizagem e suas bases neurocognitivas. Quais são as bases

neurocognitivas da aprendizagem? Este é um ponto em que vou me fixar, porque eu

quero que fique bastante clara a importância de nós entendermos como a mente

funciona, como o cérebro funciona, para que possamos ter mais eficiência nas

nossas estratégias de ensino e aprendizagem.

Além disso, vamos trazer aos senhores as seguintes temáticas: o que muda

com as deficiências; e a neuroplasticidade e a funcionalidade.

Desenvolvimento e aprendizagem. O desenvolvimento é um processo de

mudança, ele ocorre através de mecanismos de mudança. Essas mudanças são

pautadas pela interação entre o que nós trazemos de base biológica e a estimulação

do ambiente. Isso já é um consenso na ciência. Não basta o entendimento da nossa

base biológica. Ela é um ponto de partida. Mas nós precisamos entender que o

ambiente promove esse processo.

Por meio de estudos com animais e da comparação entre diferentes estados

socioeconômicos, entre condições onde há muita estimulação e pouca estimulação,

visualizamos claramente um desenvolvimento neurocognitivo diferente, não apenas

em funções como também em estrutura do sistema nervoso central. Não é pouco

falar da importância dessa interação com o ambiente.

Aquisição de informações que são transformadas em conhecimento. Isso é o

que entendemos como aprendizado do indivíduo, mas às vezes há alguma

dificuldade para promover essa aquisição e também para provocar essa expressão.

Às vezes não sabemos qual é o caminho para provocar essa expressão. Esperamos

que o indivíduo mostre um comportamento aprendido naquela hora, naquele exato

momento, quando as condições ainda não estão favoráveis. Isso também tem que

ser observado.

A interação entre bases biológicas e o ambiente, como eu disse, vai depender

da estimulação. Essa estimulação é fundamental, pois é como se vai, de fato,

promover essa mudança, que é o desenvolvimento. Então, o neurodesenvolvimento

vai ocorrer quando o ambiente também proporcionar as aquisições e a modelagem

da estrutura do sistema nervoso central.

Neurociências e educação. A interação entre esses campos ainda é bastante

distante, algo que nos preocupa muito. As neurociências ainda têm tido um impacto

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muito maior no campo clínico da saúde do que na educação. E acreditamos que,

muito pelo contrário, elas deveriam estar presentes e se inserir de forma profunda no

campo educacional, não apenas na educação dos indivíduos com deficiências —

desses em maior magnitude —, mas também na educação das pessoas que não

têm deficiência.

Compreender como o cérebro funciona não é mero luxo científico. Parece que

falar do cérebro, entender como o cérebro funciona, é coisa para um cientista que

está lá dentro da universidade, mas não é. Isso é coisa para o educador, porque é

ele quem vai fazer a estimulação, é ele quem vai trabalhar com estímulos que

precisam prender a atenção do indivíduo.

Como se vai prender a atenção, se não se sabe como a atenção funciona?

Como se vai fazer com que o indivíduo aprenda, se para aprender é preciso

memorizar, e se não se sabe quais são os componentes da memória, nem como a

memória funciona no sistema nervoso central? Esses são alguns elementos que

precisamos entender que têm um grau de limitação e sobre os quais é preciso

refletir.

Funções como atenção, memória, linguagem, planejamento e resolução de

problemas são organizadas em módulos que funcionam dentro de circuitos neurais.

Compreender tais funções não pode estar distante da educação de pessoas com

deficiência, especialmente quando se está pensando na aprendizagem ao longo da

vida. É um processo mais dinâmico. E é preciso compreender esse funcionamento

neuronal e neurocognitivo para se estimular adequadamente.

O que muda com as deficiências. As limitações que caracterizam as

deficiências mostram a necessidade de atendimento diferenciado. Isso está claro!

Mas nós precisamos entender que as estratégias têm que ser individualizadas, elas

têm que ser pensadas caso a caso. No entanto, como se vai pensar caso a caso se

não se está avaliando caso a caso, se não se conhece o funcionamento

neurocognitivo, qual funcionalidade está preservada e qual está em

comprometimento em cada indivíduo?

Os currículos adaptados para a necessidade de cada um e o uso de técnicas

de ensino e aprendizagem com evidências científicas. Nós precisamos sair desse

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modelo educacional muito intuitivo, muito romantizado. Nós precisamos rever na

literatura o que de fato funciona e o que funciona para as pessoas com deficiência.

Eu acabei de ver a publicação de um artigo no qual estavam ensinando a

consciência fonológica, ou seja, a capacidade de identificar fonemas e transpô-los

para a escrita, a pessoas que não tinham habilidade de comunicação e que tinham

deficiência intelectual associada. Então, é preciso questionar se as estratégias para

a aprendizagem de mecanismos de consciência fonológica têm fundamentação

científica e se estão adequadas a pessoas com déficit de comunicação e com

deficiência intelectual.

Neuroplasticidade. Esta é a menina dos olhos das neurociências. Menina dos

olhos das neurociências por quê? Nós estamos lidando com um campo que é

também, até as evidências de neuroplasticidade começarem a se confirmar,

bastante romântico. O que havia era apenas a preocupação e o sonho de que

pudesse haver a recuperação funcional a partir de estímulos, treinos, reabilitação,

processos de ensino e aprendizagem. Eu costumo dizer que a melhor reabilitação,

no caso das deficiências intelectuais, é a questão educacional. Com certeza a

neuroplasticidade mostra evidências de recuperação funcional, ou seja, indivíduos

que têm algum tipo de lesão, mesmo lesão do sistema nervoso central, conseguem

ter o desenvolvimento de funções que poderiam estar comprometidas.

Esse potencial de neuroplasticidade é diferenciado ao longo da vida, mas ele

não deixa de existir. Esse aspecto mostra que o trabalho de investimento no

processo educacional realmente tem fundamento e não se trata simplesmente de

investir em algo que não vai trazer retorno, muito pelo contrário. Quanto mais nós

estimularmos, se o fizermos de maneira adequada e ao longo da vida, mais

resultados o indivíduo com deficiência vai alcançar, tanto na aprendizagem quanto

em outras funções.

Nós não podemos nos preocupar apenas com a aprendizagem escolar. Nós

também temos que nos lembrar das habilidades de autonomia, das competências

necessárias para que esse indivíduo se torne cada vez mais autônomo e tenha mais

participação e maior inserção social. Essa é a nossa causa! Ela não se restringe ao

fato de o indivíduo aprender a ler e escrever, manusear dinheiro ou lidar com

números. Nós temos que nos preocupar com a inserção social.

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Obviamente, aqui nós não estamos tratando do tema com profundidade, por

causa do tempo, mas uma das possibilidades da neuroplasticidade é a modificação

das conexões sinápticas. Neste momento, muitos de vocês que nunca ouviram falar

deste assunto estão fazendo novas conexões sinápticas. Isso é o que acontece

quando nós que não temos nenhum tipo de deficiência estamos aprendendo. Esse é

um processo natural. A neuroplasticidade é inerente à nossa estrutura, que é

plástica, que se modifica.

Nos indivíduos com deficiência o que se espera? Que, a partir do estímulo, da

experiência, também se favoreçam novas conexões, também se favoreça uma

melhor rede sináptica e, portanto, a modificação do comportamento, ou seja, a

aquisição de habilidades, a aquisição de novas funções e também a aquisição da

aprendizagem escolar. Essa ginástica neuronal faz parte de um processo

educacional que já é trabalhado, porém ela precisa ser mais sistematizada, para se

alcançarem melhores resultados.

Pensando nesse processo ao longo da vida, qual é a nossa intenção? Que

essa estrutura continue sendo estimulada, que ela não fique estagnada. O que

acontece? Quando esses indivíduos interrompem o ciclo de escolarização é que, de

fato, eles vão sofrer uma estagnação. A família não dá conta de prover essa

estimulação e, mesmo se for possível a família assumir, nós temos que considerar

que a família passa por um processo de sobrecarga quando assume sozinha o

cuidado, a estimulação, as intervenções. Nós sabemos que sempre há alguém que

assume esse cuidado e acaba sendo essa pessoa que vai passar pela sobrecarga.

Qual é a intenção de proporcionar um processo de aprendizagem ao longo da

vida? Manter a estimulação, garantindo o aperfeiçoamento de habilidades

desenvolvidas e a aquisição de novas funções. Com isso, não estamos pensando

em uma política pública apenas para garantir um espaço de convivência. Não é essa

a intenção. A intenção é a estimulação cognitiva e neurocognitiva e a promoção de

novas conexões sinápticas. Essa tem que ser a intenção, porque esse, sim, vai ser o

efeito que vai garantir uma ampliação da inserção social desses indivíduos.

Estratégias de ensino precisam ser favoráveis ao desenvolvimento gradativo,

contínuo e muitas vezes lento. O desenvolvimento é lento, sim! Quem trabalha com

o deficiente sabe que é lento, mas isso não significa que ele não vá ocorrer. Nós

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precisamos entender isso. No entanto, às vezes esse desenvolvimento pode ser

supreendentemente rápido, o que vai depender muito do contexto, do tipo e das

condições de estimulação e da individualidade de cada criança.

Redução do estresse familiar e das suas consequências. Como eu disse, a

família também precisa ser considerada, e é necessário aumentar a possiblidade de

os membros das famílias se envolverem em atividades de trabalho, em atividades de

inserção social que sejam voltadas para eles mesmos, e não apenas para o cuidado

daquele indivíduo com deficiência. Nós temos que nos preocupar com o efeito que

isso pode ter.

Necessidades. Eu acredito que, para que essa regulamentação possa

ocorrer, é preciso o maior aperfeiçoamento dessas diretrizes que o Conselho estava

apresentando. É necessária a formação, trabalhar esse conhecimento do

funcionamento neurocognitivo e das avaliações funcionais. A formação dos

professores que vão trabalhar com ensino especializado e inclusivo deve ter o olhar

voltado para a questão neurocognitiva. Nós não podemos mais abrir mão disso.

Programas educacionais com evidências científicas. Nós precisamos revisar e

fundamentar a nossa prática educacional. Há uma vasta literatura sobre a prática

educacional com a pessoa com deficiência. Há inúmeras estratégias de ensino

individualizado e de tecnologias assistivas. Isso mostra que existe outro caminho

que não implica apenas levar a criança para oficinas, para trabalhos lúdicos, ou

mesmo criar condições para sua inserção em um contexto de educação regular, mas

isso não ocorrer de fato. Nós não podemos ter uma criança com Transtorno do

Espectro Autista, com inteligência acima da média, sentada numa classe de ensino

regular apenas colorindo. Por que isso acontece? Isso não deveria acontecer. É uma

falha grave. É uma falha de entendimento do que é o Transtorno do Espectro Autista

e de como funciona a estrutura neurocognitiva desse indivíduo.

Impactos e ganhos. Eu elenquei alguns impactos, mas há inúmeros: aumento

dos recursos neurocognitivos para os indivíduos com deficiência intelectual,

devemos nos aprofundar nesse debate, pensando nos diferentes níveis da

deficiência intelectual; ampliação da inserção social; mais qualidade de vida, tanto

para o indivíduo com a deficiência intelectual quanto para suas famílias e também

para aqueles que estão em torno dele; redução de perdas alcançadas. Se nós

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interrompemos a escolarização de um indivíduo, nós o colocamos em uma condição

em que aquilo que ele ganhou ele pode perder. Se aos 17 anos de idade ele

interrompe sua escolarização e passa a vivenciar uma estimulação muito aquém

daquela de que ele necessita, isso pode levar a perdas. Outro aspecto seria

minimizar impactos para o ambiente familiar. Que impactos são esses? O estresse,

a sobrecarga familiar pode gerar a presença de ansiedade, depressão, em especial

para aqueles que assumem o cuidado, porque isso gera preocupação, como vai ser

a vida daquele indivíduo no futuro e o que vai acontecer com ele quando a família

não estiver mais presente. Todos esses são fatores podem ser minimizados com a

regulamentação do aprendizado ao longo da vida.

Eu espero ter contribuído. Não vou me estender mais. Tenho muito a dizer,

mas o tempo é curto. Espero que nós possamos ter outras oportunidades, mas, se

não as tivermos, no debate poderemos aprofundar um pouquinho, para que os

senhores saiam daqui pelo menos com essa mensagem que eu quis passar:

Neurociência não é algo para estar na universidade, dentro de laboratório; é algo

para contribuir em especial com a educação. A educação carece muito desse

argumento científico de como nós funcionamos, como nós vamos aprender. Isso

tudo é base neurocientífica.

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Muito obrigado, Patrícia.

Eu acho que a mensagem foi dada aos Parlamentares envolvidos nessa

questão. Nós precisávamos justamente dessa fundamentação para levar à frente a

discussão dentro do Congresso.

Eu quero ressaltar a presença da Sra. Gicileide Oliveira, que é Diretora do

Centro de Ensino Especial do Guará, no Distrito Federal. É um prazer ter a senhora

conosco mais uma vez.

Registro a presença da Sra. Cecília Gomes Muraro, que é psicóloga da APAE

do Distrito Federal; da Sra. Vera Lúcia, quem eu já havia citado; da Sra. Fabiana

Maria das Graças Oliveira, que é Coordenadora Nacional de Educação e Ação

Pedagógica da Federação Nacional das APAEs; da Profa. Erenice Natália Soares de

Carvalho, que é uma especialista e referência na educação especial, já foi Diretora

da Educação Especial do Governo do Distrito Federal e é Consultora da Federação

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Nacional das APAEs. Ela tem vários livros publicados, vários trabalhos à disposição

da ciência brasileira.

Destaco a presença da Sra. Maria Sônia da Silva, da Federação Estadual das

APAEs do Estado de Pernambuco; da Sra. Júnia Ângela, da Federação Estadual

das APAEs do Estado de Minas Gerais, que trabalha conosco e é minha

conterrânea; da Sra. Geórgia Galvão, da APAE de Caruaru, de Pernambuco; da Sra.

Cristiane da Silva Ballester, da Federação das APAEs do Estado do Amazonas; da

Sra. Maria Helena Alcântara de Oliveira, que é Diretora da APAE do Distrito Federal,

Coordenadora da Área de Educação Profissional da Federação Nacional das APAEs

e também antiga militante; do Sr. Luciano Ambrósio, que é do gabinete do Senador

Paulo Paim. É um prazer tê-lo conosco. O Senador Paulo Paim foi nosso colega e

fez a proposição inicial do Estatuto da Pessoa com Deficiência e do Estatuto do

Idoso. Eu tive a honra de presidir a Comissão Especial que o analisou.

Encontra-se presente também a Sra. Maria Cristina Jorge Maróstica, da

Federação das APAEs do Estado de Goiás; e da Sra. Cristiane Andersen, que é

Gerente-Geral da Federação Nacional das APAEs.

Agora nós vamos ouvir o “mundo oficial”, aquela que vai dar continuidade ao

debate que nós estamos realizando. Com muita alegria, recebemos e já

cumprimentamos, porque ela é a recém-nomeada Diretora de Políticas de Educação

Especial e aqui também representa a Secretaria de Educação Continuada,

Alfabetização, Diversidade e Inclusão — SECADI, do Ministério da Educação, a

Secretária Ivana, que está na reunião do Conselho Nacional de Educação, e

representa ainda o nosso Ministro da Educação.

Patrícia Neves Raposo, desejo-lhe sucesso na sua trajetória. Confiamos

muito na senhora e sabemos que a senhora está nos representando no Ministério da

Educação. Com certeza, nessa questão específica, nós precisamos muito que a

senhora seja a grande coordenadora desse processo de regulamentação da

educação ao longo da vida.

Com a palavra Patrícia Neves Raposo.

A SRA. PATRÍCIA NEVES RAPOSO - Boa tarde a todos.

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Deputado Eduardo Barbosa, quero agradecer a V.Exa. pelo convite e pela

oportunidade de, na Câmara, a nossa Casa, discutir um tema tão importante. Quero

agradecer pela participação nesta Mesa e a todos os presentes a esta discussão.

Sem dúvida, este tema representa desafios para o poder público e para a

sociedade civil. É um tema que tem sido estudado por alguns teóricos, ainda de

forma tímida, na minha opinião, mas que terá um impacto significativo na vida de

muitas pessoas com deficiência.

Eu estou aqui representando — desculpem-me, eu deveria ter iniciado com

esta informação — a Secretária Ivana de Siqueira, da Secretaria de Educação

Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão — SECADI do Ministério da

Educação. Eu, Patrícia, estou na Diretoria de Políticas de Educação Especial.

Agradeço, mais uma vez, a presença de todos e o seu convite, Deputado

Eduardo Barbosa.

Eu quero trazer para a discussão, para a reflexão e, em algum momento,

acredito, para a nossa inquietação, algumas questões. Vou partir dos aspectos

legais, para que nós possamos discutir e levantar alguns pontos importantes em

relação ao tema.

Já foi falado, mas eu vou tratar, rapidamente, de alguns aspectos da

Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, adotada pela

Organização das Nações Unidas, em especial no seu art. 24; e sobre a Lei Brasileira

de Inclusão da Pessoa com Deficiência, no seu art. 27, que diz respeito ao direito à

educação e à responsabilidade do Estado. No caso da Convenção, o direito à

educação, assegurando o sistema de ensino inclusivo e o aprendizado ao longo da

vida.

Este é um tema extremamente importante, e eu vou fazer, em breve, uma

referência à questão da educação e da aprendizagem. Mas entendemos que o

nosso ordenamento jurídico enfatiza este tema, que é importante, porque fala da

vida, do curso da vida.

(Segue-se exibição de imagens.)

Eu estou apresentando alguns slides — não sei quem os está acompanhando

—, e este material também representa a minha fala. Se houver qualquer dúvida,

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depois nós poderemos conversar, dialogar sobre o assunto. Os slides trazem alguns

pontos escritos, mas eu vou falar sobre cada um deles.

O chamado fluxo escolar. A palavra fluxo também tem sido discutida, tem sido

estudada. É difícil eu não trazer aqui meu viés de professora, de pesquisadora, de

estudiosa, principalmente, desse tema, e muito curiosa. Mas o fluxo escolar,

principalmente, tem sido discutido. Ele é de fundamental importância quando

pensamos em educação e em aprendizagem.

Em nosso País, nós temos um início, que é a escolarização, e temos um

momento em que essa escolarização, esse percurso escolar está legalmente

determinado. Se for pelo fluxo escolar normal, a pessoa entra na educação infantil e

vai até o ensino superior, o último nível de ensino.

De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a

educação básica deve ser gratuita e obrigatória de 4 a 17 anos. Nós temos essa

garantia, pelo poder público, pelo Estado, em primeiro lugar. Isso é importante e,

inclusive, consta do Plano Nacional de Educação. A LDB garante também a

educação infantil para crianças de até 5 anos.

Nós sabemos que isso tem um impacto na educação de crianças com

deficiência, em razão dos problemas que essa criança pode ter no seu

desenvolvimento. Sabemos da importância do trabalho nesse período da vida. É

necessária uma estimulação precoce ou qualquer outro termo que signifique isso.

Parece que o termo estimulação precoce não tem sido bem aceito nos últimos

documentos técnicos. Mas ela deve acontecer, com o objetivo de minimizar os

problemas do desenvolvimento.

Vemos também a necessidade das crianças nascidas, nesses últimos 2 anos,

com microcefalia, em razão do zika vírus. Então, é de grande importância esse item.

Queremos que as pessoas que não realizaram, que não cursaram o ensino

fundamental e médio na idade correspondente também tenham a oportunidade do

acesso, por meio de outra modalidade de educação.

E outro aspecto importante, uma figura que surge na LDB, no Capítulo V, Da

Educação Especial, no art. 59, que é a terminalidade específica. Eu quero tratar

desse assunto em breve, mas a LDB — Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional garante a terminalidade específica aos alunos que não tiveram a

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possibilidade de atingir o nível exigido para a conclusão do ensino fundamental na

idade própria — e frisa — em razão das suas deficiências. Então, é assegurada a

terminalidade específica para esses alunos.

Como podemos entender isso? Vamos fazer uma análise dessas questões

legais na escolarização.

Como eu disse, educação e aprendizagem são processos distintos. A

educação é entendida como um processo formal, definido na nossa legislação, que

se inicia com a educação infantil e passa por etapas e modalidades, até o ensino

superior, tendo a educação especial como uma modalidade transversal. Ou seja, em

qualquer etapa ou modalidade de ensino, a educação especial atua para atender

especificamente alunos que apresentam necessidades específicas de

aprendizagem, por meio de atendimentos diferenciados previstos em lei, como foi

citado aqui pela Malvina, do Conselho Nacional de Educação.

A universalização da educação infantil tem problemas. O próprio Plano

Nacional de Educação indica que a universalização não será alcançada nos 10 anos

entre 2014 e 2024. Está previsto que apenas metade da demanda de crianças na

faixa etária de zero a 4 anos será atendida, o que representa uma questão a ser

trabalhada. A implantação de creches que possam atender adequadamente todas as

crianças é um desafio para o Ministério da Educação, mas também para toda a

sociedade. Nós acreditamos que há motivo para a criação de creches para crianças

que necessitam de atendimento especializado, por diversas razões. Assim como

hoje há uma política interministerial para cuidar da questão do Aedes aegypti, nós

acreditamos que essa demanda da educação infantil também vai mobilizar a

estrutura do Estado para tratar da construção de creches para todas as crianças que

necessitam delas.

O ensino fundamental é uma importante fase da escolarização, pois é a fase

do letramento, do numeramento, da oralidade, do desenvolvimento integrado, das

habilidades e competências curriculares do aluno. Muitas vezes, porém, sua

organização escolar e curricular não atende às necessidades de aprendizagem. Aí

há um problema de fluxo.

Eu gosto muito de citar o que o estudioso Luiz Carlos Freitas, da Universidade

de São Paulo, chama de trilhas. Num texto sobre a internalização da exclusão —

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não somente de pessoas com deficiência—, ele diz que muitas vezes são

construídas trilhas no fluxo escolar. Essas trilhas são menos favorecidas e já

carimbam o destino desse aluno no percurso escolar.

Em relação à questão do fluxo e das trilhas, uma das alternativas pode ser a

terminalidade específica, como possibilidade de corrigir o fluxo. Mas ela teve uma

implicação. A terminalidade acabou criando uma demanda de alunos com

deficiência para a educação de jovens e adultos e para a educação profissional, que

não estavam — e, em minha opinião, ainda não estão — totalmente organizadas

para atender essa demanda. Segundo dados que ainda estão sendo mais bem

analisados, o número de alunos com deficiência intelectual e deficiência múltipla é

muito grande, chega a quase 100 mil. Por isso, é importante compreender o que

aconteceu. A educação de jovens e adultos — EJA e a educação profissional ainda

estão em processo de organização, de construção de possibilidades. Por várias

razões, não havia essa demanda, mas agora há.

No ensino médio, na EJA correspondente e no ensino superior, a realidade é

outra. Mesmo que a lei tenha organizado e provocado a construção de núcleos de

acessibilidade para atender as necessidades específicas dos alunos no ensino

superior, a flexibilização do currículo — que é necessária — às vezes está indo de

encontro ao que é desejado para a formação profissional. É como se a formação de

uma pessoa deficiente fosse inferior. Por exemplo, é fundamental um geógrafo com

cegueira fazer uma maquete? Será que é fundamental? Isso foi questionado. E uma

pessoa cega se tornou geógrafa sem fazer uma disciplina de construção de

maquetes. Isso foi entendido como uma flexibilização, e ele se formou sem essa

exigência. Mas isso, na maioria das vezes, não acontece. Ao contrário, as

universidades, as instituições de ensino superior negam essa flexibilização,

considerando a formação desse aluno como inferior.

Portanto, todo o sistema de ensino está se adaptando para receber uma

diversidade de alunos com deficiência, que chegavam até o ensino fundamental,

quando chegavam. Essa é uma realidade.

Nós precisamos trabalhar no que é chamado de aprendizagem ao longo da

vida. A aprendizagem precisa ser entendida como um processo singular de cada

sujeito, nos vários momentos da sua vida, que está mediado por relações sociais.

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Tanto a quantidade quanto a qualidade das relações sociais desses sujeitos,

independente dos espaços onde estão integrados — não falamos em espaços mais

ou menos inclusivos, falamos em espaços sociais —, causam um impacto nessa

aprendizagem mediada.

A aprendizagem ao longo da vida deve ser uma garantia, e para nós, no

Ministério, ela é um ponto de estudo e de reflexão. Vamos promover estudos sobre

essa questão, inclusive da sua interface com as escolas especializadas e seu papel

no desenvolvimento das pessoas com deficiência e no contexto do desenvolvimento

humano. Não podemos deixar de fora a questão da aprendizagem ao longo de toda

a vida, que não necessariamente precisa acontecer em espaços escolares.

Como a minha xará Patrícia falou aqui, a aprendizagem pode acontecer ao

longo de toda a vida, do ponto de vista do desenvolvimento da neuroplasticidade e

da psicologia histórico cultural, a partir de novas e melhores organizações sociais.

Enfim, as ciências têm explicações teóricas, mas é importante promover ações e

desenvolver políticas que atuem no sentido de melhorar a vida das pessoas com

deficiência, já que essas pessoas têm envelhecido.

Salientei a questão do envelhecimento da pessoa com deficiência,

especialmente a intelectual. Tenho conversado sobre esse assunto com a Profa.

Erenice Carvalho — somos grandes amigas e companheiras de estudos e debates.

Ela e outros especialistas, com certeza, poderão trazer muito mais textos e estudos

sobre essa questão.

Mais uma vez, quero agradecer. O MEC está à disposição para discutir, traçar

melhores ações e políticas para a educação do nosso País, sem excluir nenhum

grupo. A inclusão é um processo relacionado a todo e qualquer aluno. Então,

trabalhamos com a educação formal, mas cremos que a aprendizagem, sem dúvida,

deve ocorrer ao longo de toda a vida.

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Muito obrigado, Patrícia.

Eu acho que é um alento esse indicativo que você nos traz, estabelecendo um novo

diálogo, inclusive com segmentos representativos, para que nós possamos

vislumbrar essa organização de sistema que alcance essa perspectiva. Obrigado.

Peço que você transmita o nosso abraço ao Ministério da Educação como um todo.

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Quero ressaltar a presença dos Deputados Pedro Uczai e Aliel Machado; da

Viviane Guimarães, do Movimento Orgulho Autista Brasil; da Maria Alzira Correia da

Silva, da Federação das APAEs do Estado do Rio Grande do Norte; da Arabella

Nóbrega, Conselheira Escolar do Centro de Ensino Especial de Brasília; e também

da Marciane Machado Silva, Presidente da Federação das APAEs do Estado de

Tocantins.

Agora, nós vamos passar para a mãe e Deputada Zenaide Maia, que vai

trazer o seu olhar, representando as mães brasileiras. Nós a convidamos justamente

para fazer com que o Brasil entenda que aqui no Parlamento também há pessoas

que vivenciam o que vocês vivenciam lá fora. O Congresso brasileiro é tão colorido,

porque traz as diversas vertentes das necessidades da população brasileira.

Tem a palavra a Deputada Zenaide Maia.

A SRA. DEPUTADA ZENAIDE MAIA - Boa tarde a todas e a todos aqui

presentes.

Eu quero agradecer o convite do meu colega Deputado Eduardo Barbosa,

que defende as pessoas com deficiência. Este é o meu primeiro mandato. Quando

cheguei aqui e o vi, eu disse: “É do lado dele que eu vou estar”.

Quero agradecer a presença de todos que compõem a Mesa e dos meus

colegas Deputados.

Aqui é a Zenaide mãe que está falando. Nós ouvimos muito sobre a criança

deficiente, mas eu acho que só nós temos a vivência. Primeiro, você se prepara para

receber aquele filho, e é um impacto quando o pediatra diz que seu filho tem que ser

reavaliado e estimulado.

Após esses anos todos de convivência com César, o meu filho, eu costumo

dizer que o deficiente, principalmente o intelectual, tem uma luta muito grande,

porque ele começa brigando para que a família aceite sua deficiência. Deputado

Eduardo e todas vocês que são mães, eu sou médica e vi muito isso. Não é por uma

questão de egoísmo, mas a mãe e o pai ficam com aquela esperança de que o

diagnóstico esteja errado e que seu filho realmente não tenha uma patologia com a

qual se tenha que conviver a vida toda.

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Depois desse impacto, passamos a vibrar com cada pequena vitória que ele

tem, como uma passada, se ele não anda. O meu filho é deficiente intelectual e tem

dificuldade de andar. Então, quando ele anda, a mãe vibra.

Eu percebi algo sobre o que a professora e cientista falou: toda família de

deficiente tem a tendência de superprotegê-lo. Nós temos essa tendência, o que não

é bom, por um lado. Como mães, nós temos a tendência de superprotegê-los, mas

temos outros filhos que não têm deficiência. Tive a primeira filha, o Cesinha foi o

segundo, e tive um terceiro filho, depois de 5 anos. Então, começamos a ter um

olhar diferenciado para o filho deficiente, mas o irmão, muito criança, não entende

aquele comportamento. Portanto, temos que nos dar conta de que vivemos num

núcleo familiar.

Também é muito lindo nós ouvirmos que a mãe tem que se dedicar só ao seu

filho, para estimular e para dar maior atenção a ele. Mas essa família tem que ter

uma vida e trabalhar, porque a maioria das crianças com deficiência adoece mais,

tem morbidades mais do que o comum. Então, temos que nos preocupar em ter

mais recursos para cuidar dessa criança. Nós, que somos mães, sabemos que não

é tão simples oferecer estimulação, assistência médica, tudo isso.

Então, Deputado Eduardo, é dito que a mãe não deveria trabalhar, mas a mãe

tem que trabalhar. Muitas vezes, nós sentimos remorso por deixar nosso filho. Nós

formamos, naturalmente, um grupo de mães que levavam seus filhos para trabalhar

psicomotricidade, fonoaudiologia etc., e eu via isso nas colegas. Mas eu sempre

dizia assim: “Não podemos sentir peso de consciência, porque nós não estamos

deixando nossos filhos para nos divertir. Nós estamos indo para o trabalho, para

melhorar as condições de vida deles, as quais nós sabemos que são muito mais

difíceis.”

Eu queria manifestar a vocês a minha felicidade por encontrar aqui uma

população que aparentemente era invisível. No ano passado, criou-se esta

Comissão de Defesa dos Direitos dos Deficientes. Poderia ser dito que não havia

necessidade dela, porque o deficiente já era defendido na Comissão de Direitos

Humanos, na Comissão de Educação e na Comissão de Seguridade Social e

Família. Mas a criação deste espaço de debate é inestimável, por permitir às mães

de todo o País que nos ouvem dizerem: “Nós podemos!”

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Meu filho já é adulto, tem quase 40 anos. Eu disse ao meu amigo Deputado

Eduardo Barbosa, que tem grande experiência, e à minha colega Deputada Carmen

Zanotto que, quando os deficientes passam da faixa dos ensinos normais, é como

se eles deixassem de existir. Não existe nada para essas crianças, quase nada,

mesmo para quem tem condições financeiras. Se você quer estimular uma

educação ao longo da vida para o seu filho, você escolhe um psicólogo aqui, uma

equoterapia ali. Mas um local onde ele vai continuar a se desenvolver não existe.

Falta um espaço para essa população, que é como se deixasse de existir a partir de

uma etapa.

A escola do meu filho é especializada. Inicialmente, o Estado, o Município era

responsável, mas os professores foram retirados. O César tem 15 colegas, os quais

eu tento manter.

César não fala. Meu filho tem uma deficiência intelectual grande e não fala.

Isso para a mãe é difícil, porque nós nunca sabemos exatamente o que ele quer

comunicar. Ao longo do tempo, desenvolvemos uma ideia do que ele está sentindo

ou do quer dizer, mas é diferente.

Eu costumo dizer que nós, pais dos deficientes, temos um medo maior de

morrer do que a população em geral. Como a colega falou aqui, pensamos logo em

quem vai cuidar deles. Isso é uma coisa muito palpável, muito real.

A educação continuada, ao longo da vida, dá maior autonomia, permitindo a

cada um comer com a própria mão e ir aonde puder. Não há dúvida, nós mães de

deficientes comemoramos cada vitória, como ver nosso filho comer com a própria

mão, andar sem depender de ajuda, saber nadar.

Quando César não ia para a aula — nós temos uma tendência de, se ele não

quer ir para aula na escola especializada, não levá-lo —, o meu filho menor me dizia

assim: “Cesinha só vai para a aula quando quer”. Eu respondia: “Meu filho, você não

vê que seu irmão não fala?” Aí ele, com 5 anos, disse: “Ele não fala, mas ele sabe

nadar, e eu não sei nadar”. Então, nós temos que equilibrar isso tudo.

Os homens que me desculpem, mas em mais de 60% das famílias — no

mundo todo, não só no Brasil —, geralmente o pai sai de casa. Eu agradeço a Deus

por não ser meu caso, porque nós sabemos que não é fácil cuidar sozinho dos

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filhos. Nada substitui uma família formada, mas as mães correm atrás. Essa é a

nossa vida real, de cada mãe aqui.

Eu tenho um prazer imenso em defender essa causa. Por isso, quando o

Deputado Eduardo perguntou se eu queria ir como mãe, eu disse: “Olha, é o meu

principal papel. Com certeza, vou estar lá”. Tenho certeza de que as mães que estão

presentes, para as quais eu estou olhando agora, sentem a mesma coisa que eu.

Temos um olhar diferenciado para o nosso filho.

Dra. Patrícia falou de uma coisa sobre a educação que me chamou atenção.

É importante que se tenha conhecimento para saber lidar com o desenvolvimento

neurocognitivo e com a educação dos deficientes. Nós, as mães, temos tendência

de deixar os nossos filhos fazerem tudo, porque são deficientes, mas não podemos

fazer isso.

Estamos otimistas, após ouvirmos nossas convidadas — coincidentemente,

aqui estão duas Patrícias —, por sabermos que esse assunto já está em pauta e ter

visibilidade, não só no MEC, mas nesta Casa.

Eu costumo dizer que esta Casa tem uma importância fundamental, porque

aqui se decide cada detalhe da vida de cada cidadão: do salário, da carga horária

até o medicamento que deve ir ou não para a prateleira. A conquista deste espaço

democrático para defender quase um quarto da população é importante, porque as

pessoas passam a nos ver. É como se essa população não fosse vista antes do

Estatuto da Inclusão, antes da Deputada Mara Gabrilli mostrar sua competência.

Eles eram visíveis até os 17 anos, enquanto estavam na escola. Agora, se

Deus quiser, a educação continuada vai passar, e nós vamos lutar para que eles

sejam vistos ao longo de toda a vida.

Então, Deputado Eduardo Barbosa, eu quero agradecer a cada um dos

presentes. Obrigada a todos vocês! Contem com Zenaide! (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Obrigado, Deputada

Zenaide Maia.

Acho que V.Exa. foi muito bem escolhida para estar aqui falando como mãe,

pela sua sensibilidade, pela sua riqueza de expressão. V.Exa. fala com os olhos, fala

com a face e com esse sotaque potiguar gostoso, que também nos envolve.

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Os nordestinos são muito mais expressivos do que os brasileiros de outras

regiões. Isso, aliado ao sentimento que V.Exa. passou, só engrandece a nossa

Mesa. Obrigado, Deputada.

Eu quero destacar uma coisa. Muitos Parlamentares têm pessoas com

deficiência na família, mas poucos têm a coragem de se expor como pais ou como

parentes de uma pessoa com deficiência. E a presença da Deputada Zenaide

também desmistifica isso, porque é um assunto que muitas vezes não é revelado

pelos próprios familiares. Na medida em que S.Exa. coloca — como sempre colocou

desde o primeiro momento — a sua vida pessoal nesse aspecto também como fonte

de inspiração para um mandato político, isso é para nós também um exemplo, que

se deve estender a outros agentes políticos que escondem esse tipo de questão por

eles vivenciada.

Então, Deputada Zenaide Maia, é isso o que a sua exposição representa para

nós desta Mesa. São poucos os que têm coragem de se expor.

Eu quero ressaltar a presença de Maria da Glória Motta, representante da

Organização Nacional dos Cegos do Brasil. É uma alegria muito grande receber a

Glorinha, nossa amiga de muitos anos. Também estão presentes a Arabella

Nóbrega, Conselheira Educacional do Centro de Ensino Especial nº 1, de Brasília; o

Prof. José Rafael de Miranda, Coordenador-Geral de Desenvolvimento da Educação

Especial, da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e

Inclusão — SECADI, do Ministério da Educação, que foi Diretor da Secretaria de

Educação Especial, do Distrito Federal, e é também um especialista na área há

muitos anos; e Vanessa Carvalho de Soares, Assistente da Diretoria de Políticas de

Educação Especial, do Ministério da Educação. Obrigado pela presença.

Agora nós vamos encerrar a exposição, como eu disse, com a participação da

esperança (riso), daquilo que é real, vivenciado com a experiência prática. A Débora

Dantas veio representar isso para nós através de um projeto chamado Coletivo

Filhos da Flor.

Eu dou a palavra, então, a Débora Dantas.

A SRA. DÉBORA DANTAS - Boa tarde a todos. É uma satisfação estar aqui.

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Sou professora da Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais —

APAE/DF e estou representando o Coletivo Filhos da Flor, um projeto que está

sendo desenvolvido desde abril deste ano na APAE da 911 Sul.

Nós nos encontramos, na semana passada, com o Deputado Eduardo

Barbosa — eu e a idealizadora do projeto, a Profa. Astrid, que também está na

APAE desde este ano. E foi uma satisfação, foi uma alegria sermos convidadas para

vir apresentar a vocês esse projeto que estamos realizando. Ele está apenas no

comecinho, mas já está fazendo bastante diferença.

(Segue-se exibição de imagens.)

Este é o nosso projeto, que se chama Filhos da Flor. Aí estão algumas fotos

de alguns poucos dos nossos alunos. Nesse projeto, nós pensamos em trabalhar

com o corpo e a alma desses alunos, extrapolando o corpo na medida do limite de

cada um, através da dança e além de qualquer limitação — não limitação física, mas

aproveitando tudo o que há de melhor neles.

Esse projeto tem algumas intervenções humanas e urbanas também. Então,

nós extrapolamos o limite físico da APAE e vamos às ruas. Nós queremos ser vistos,

nós queremos que os alunos sejam vistos. E eles estão sendo vistos e estão sendo

muito recebidos. Essa é uma das nossas intenções.

O que nós queremos com esse projeto é defender a tolerância e as

diferenças. Este é um ponto crucial dele: a inclusão através da tolerância às

diferenças.

O homem depende de cooperação, e a natureza dotou-o do aparato instintivo,

do qual pode surgir a cordialidade necessária para a colaboração. Então, nós

necessitamos interagir com o outro. Portanto, no momento em que fazemos as

nossas intervenções, em que estamos nas ruas, em pontos turísticos ou lugares que

nos recebem de braços abertos, nós estamos fazendo essa ponte, nós estamos

cooperando para que esses alunos sejam vistos, sejam recebidos e sejam queridos

também.

Esse projeto é destinado a alunos e a professores também, a pais, a

familiares e a vários parceiros. Hoje nós temos vários parceiros e colaboradores,

entre fotógrafos, dançarinas, bailarinas, designers. Esse projeto está contando com

muita ajuda, muita colaboração.

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Por trás de cada eslaide que eu exibir, há sempre uma intervenção. Cada foto

destas foi tirada numa intervenção feita. Então, fomos à Torre de TV, à Ermida, a um

haras. Nós estamos correndo Brasília inteira.

Como nasceu o Coletivo Filhos da Flor? O projeto nasceu da empatia

multiprofissional, objetivando capitular essa força solidária. Nós queremos semear o

amor entre os homens, cunhando também o hábito da benevolência, em busca de

uma convivência sustentável, de uma convivência amorosa, de uma convivência

aceitável.

As nossas escolhas. Nós definimos as nossas ações embasadas na

perspectiva de sensibilidade e de valorização do afeto. Delineamos os direitos

humanos que merecem proteção como patrimônio social e simbólico e buscamos

ações, reflexões, fundando um padrão ético amoroso que oriente uma nova conduta

individual e coletiva.

Eu vim aqui representar a parte prática de todo esse debate, de toda essa

conversa — nós fomos convidadas a fazer isso. Mas nós temos, é claro, uma

fundamentação, que está aí. Nossas ações e intervenções estão norteadas no

direito da pessoa com deficiência, com fundamento principalmente na Constituição

Federal, na Convenção das Nações Unidas e na Lei Brasileira de Inclusão — LBI.

Aí estão os arts. 8º, 28 e 43 do Estatuto da Pessoa com Deficiência, aos quais

nós nos apegamos. O art. 8º diz que é dever do Estado assegurar o direito à

educação, à cultura, ao desporto, ao lazer, à convivência familiar e comunitária. O

art. 28 fala da educação inclusiva ao longo de toda vida. O art. 43 fala que o poder

público deve promover a participação da pessoa com deficiência em atividades

artísticas — eles estão virando verdadeiros artistas —, intelectuais, culturais,

esportivas e recreativas, com vistas ao protagonismo.

Nossos objetivos. O projeto se iniciou em abril, sendo que os nossos objetivos

já estão bem à frente daquilo a que nós nos propusemos: desenvolver o potencial

artístico, intelectual e social dos aprendizes. Então, eles estão aí e são verdadeiros

artistas, são protagonistas. Eu vim aqui muito colorida, mas não mais do que eles,

que saem completamente fantasiados e muito bem arrumados. Nós chamamos a

atenção, dançamos na rua. Sempre que saímos, contamos com um fotógrafo.

Fazemos intervenções, conversamos com as pessoas e caminhamos.

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Então, um dos nossos objetivos é promover o potencial artístico, intelectual e

social, sendo eles os protagonistas. Assim promovemos a autoestima, a criatividade

e o aprendizado ao longo da vida. Também é nosso objetivo promover a formação

cultural e artística dos professores, porque, se eles trabalharem felizes, os alunos

também vão receber aquela carga de energia positiva, feliz e alegre. E isso

engrandece o nosso trabalho, o nosso projeto, o nosso dia a dia e a vida deles e de

seus familiares.

Nossa inspiração. Esta é uma foto minha com uma aluna. A nossa inspiração

foi o movimento da contracultura, que teve seu auge na década de 60, quando

nasceu um novo estilo de mobilização. Havia ali um espírito libertário. Eles eram

jovens libertários, queriam transformar, queriam modificar, queriam sair da mesmice.

Por isso, nós nos inspiramos nesse movimento da contracultura. Tanto é que as

roupas que vestimos, as maquiagens que fazemos e os adereços que usamos são

todos baseados nesse movimento.

Estas são as intervenções humanas de que falei. Algumas são feitas através

de fotos. Para aqueles que têm maior problema de mobilidade, nós fazemos

algumas fotos na APAE. Mas a dificuldade em mobilidade não é problema para nós,

porque mobilizamos um grande número de professores, todos muito engajados, e

vamos para as ruas.

Estas são as performances de rua, com manifestações artísticas sempre

ligadas à dança. Uma das nossas estratégias são as intervenções humanas.

Ao final do ano, a nossa intenção é fazer um musical, que será intitulado

Filhos da Flor. Então, além das fotos e das intervenções, temos a intenção de fazer

um musical no final do ano, que já começou a ser preparado.

Inclusive, haverá a abertura do projeto no dia 19, na próxima sexta, às 19

horas, na sede da APAE, na 911 Norte. Nesse dia, serão expostas 1.200 fotos das

intervenções que fizemos de abril até agora, das coreografias que já temos prontas

até hoje e das músicas.

Então, convido todos vocês para a abertura do nosso projeto no dia 19. Não

aconteceu ainda a abertura do projeto, que é bastante novo.

Nós temos um lema: Dance bem, dance sem parar, dance até sem saber

dançar. Mexa-se, ouça a música, sinta a alegria, vista-se e vá! E eles vão com um

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sorriso no rosto. Muitas vezes, nós vemos alguns quietinhos, caladinhos, sentados,

com sono por conta de muitas medicações. Nós dissemos: “Levante-se! Vamos

embora! Enfeite-se! Ponha uma saia! Ponha uma roupa!”

Nós temos o hábito de colocar uns enfeites, um arco de flores na cabeça —

eu vinha com um deles, mas acabei não vindo. Todos eles têm uma jaqueta com a

propaganda do nosso projeto. E aí nós nos vestimos e vamos para a rua, vamos

dançar. Se não formos para a rua, vamos para a sala de dança da APAE. Mas

sempre estamos nos movimentando.

Esta é a nossa equipe técnica e pedagógica, composta pelas professoras,

cada uma na sua função. A Cida Bontempo, lá em cima, é a nossa coordenadora; a

Astrid, à direita, é a idealizadora do projeto Coletivo Filhos da Flor. Todas as outras

são diretoras, colaboradoras e professoras do projeto, trabalhando com muita garra,

com muita fé, com muita esperança e com muita inspiração.

O Coletivo foi dividido em 13 tribos, sendo que cada uma dessas tribos tem

um tema. Só para exemplificar, Rosa Atômica é uma tribo. Então, nós nos vestimos

de acordo com o que a música diz, com o que se passou à época, e fomos tirar fotos

na Praça dos Três Poderes. O fotógrafo tirou nossas fotos. Lá nós levamos o tema

Pacifismo.

Já tivemos também a tribo É Cor de Rosa-Choque. Todos se vestiram de

rosa-choque. Fomos para um haras, onde fizemos as danças e as intervenções e

tiramos as fotos. Tudo isso será apresentado no dia 19.

Além da inauguração desse coletivo, que será no dia 19 de agosto, às 19

horas — não é difícil lembrar —, nós temos uma página do Facebook, chamada

Filhos da Flor, que é movimentada diariamente, sempre com novidades. Estamos de

férias até o final desta semana. A partir da semana que vem, ela será movimentada

diariamente.

Era isso que tinha a dizer. Agradeço a atenção de vocês. Espero que estejam

lá de verdade, porque vai ser muito bonito.

Muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - A Débora vai ficar me

devendo, porque eu havia lhe pedido que viesse a caráter hoje. Mas acho que nós

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Deputados a inibimos, porque ela se caracteriza toda. Nós queríamos que eles

chegassem aqui todos caracterizados.

Débora, você ficou meio tímida! Foi a Eugenia que disse para você não vir a

caráter? (Risos.)

A SRA. DÉBORA DANTAS - Não. (Riso)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Informo a vocês que a

Eugenia é a nossa Secretária da Comissão de Educação, que está aqui e,

felizmente, também teve uma trajetória profissional na educação especial. Nada é

por acaso, por isso, hoje ela está secretariando a essa Comissão de Educação. Ela,

que é muito amiga da Débora, conheceu esse projeto e tem sido nossa facilitadora.

Nós estamos vivendo um bom tempo, Deputada Zenaide Maia, em que as

coisas todas vão se aglutinando a favor da defesa das ideias que compartilhamos.

Gostaria de conceder a palavra a algumas pessoas inscritas, apesar de o

nosso tempo estar avançado. Combinei aqui com os representantes do Ministério do

Desenvolvimento Social e Agrário que eles fariam uso da palavra rapidamente, pois

terão condição de fazê-lo mais apropriadamente em outros momentos.

A nossa ideia pessoal é que possamos estabelecer um encontro entre a

política de educação ao longo da vida, por meio do Ministério da Educação, mas

também nos aproximando do Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário,

porque, dentro da Política Nacional de Assistência Social, eles têm

responsabilidades com esse público adulto e em envelhecimento, através de

programas desenvolvidos pela política nos centros-dia ou centros de convivência.

Nós poderíamos justamente promover uma interface dessas políticas,

enriquecendo os programas de atenção a esse público. Inclusive, eu e a Patrícia já

conversamos um pouco sobre isso. Acho que o próximo movimento talvez seja o de

estabelecermos essa construção de um modelo em consonância com as duas

políticas, para que, lá na ponta, elas sejam implantadas de forma prática, efetiva e

real. Isso depende muito dos gestores municipais. Mas, se a diretriz nacional já

estabelecer essa interface, fica muito mais fácil a articulação no Município.

Registro que temos aqui a presença do Secretário Nacional de Atenção à

Saúde, do Ministério da Saúde. É um prazer muito grande tê-lo aqui.

Concedo a palavra à Sra. Deusina.

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A SRA. DEUSINA LOPES DA CRUZ - Inicialmente, eu quero agradecer e

parabenizar o Deputado Eduardo Barbosa. Todos nós que trabalhamos nessa área

sabemos do seu empenho pessoal. Nós nos conhecemos há muito tempo, por

vários motivos, sendo esse o principal motivo.

Estamos aqui a pedido da nossa Secretária Maria do Carmo Brant e da nossa

Diretora Renata, para que acompanhássemos a audiência e colocássemos o nosso

Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário à disposição de todos.

Estão aqui conosco representantes da nossa área de benefícios e da nossa

área de residência inclusiva. Nós trabalhamos com serviços da média complexidade

mais expressivos, sendo o centro-dia um dos que se ouve mais falar.

Gostei muito das exposições de todos. Eu me senti supercontemplada,

principalmente com relação à neurodiversidade. Eu tenho um filho autista de 34

anos. Há 2 anos, quando eu tive um câncer, ele virou para mim e disse: “Isso vai

passar, porque o seu DNA é forte”. E o câncer passou. Aí eu falei: “Olha, não sei se

o meu DNA é forte, mas sei que o teu santo é forte”. (Riso.) Então, temos mil

histórias.

A Nizarete está aqui também, com o filho dela da mesma idade. É uma

companheira. Todo mundo tem sua história de vitória. Nós crescemos muito em

função deles.

Nós realmente sentimos a falta enorme de uma educação especializada na

adolescência e na fase adulta. Todos nós criamos as nossas escolas aqui no Distrito

Federal, com Rafael e todo o mundo. Nossas crianças passaram pelo ensino

integrado. O Carlos Filipe estudou até o sexto ano. Mas a verdade é que a fase da

adolescência e da vida adulta necessita de um processo de aprendizado mais

funcional e específico. E parece que nós não contamos muito com a adesão dos

serviços, que não apostam muito em nós.

A Política Nacional de Assistência Social reconhece a necessidade dos

cuidados e da proteção aos jovens, adultos, mães cuidadoras, cuidadores e

familiares como elemento fundamental para o desenvolvimento das pessoas com

deficiência e do núcleo familiar, dos nossos filhos que não têm deficiência, de tudo

aquilo de que a nobre Deputada falou com muito propriedade.

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Quando isso veio para a letra, fazendo parte da política Política Nacional de

Assistência Social, os serviços na proteção básica, os serviços de convivência

puderam ser ofertados pelo gestor municipal, em parceria com entidades. E nós

vimos que mais de 4 mil Municípios preencheram o Censo dizendo que, em parceria

com as entidades ou por iniciativa própria, eles ofertavam serviços com perfil

compatível ao do serviço de convivência.

É claro que está faltando um pouco desse polimento que estamos definindo

aqui. Mais de 600 Municípios também responderam que prestavam algum serviço

compatível com o centro-dia, que trabalhavam com jovens e adultos e com pessoas

idosas e com deficiência nessa perspectiva da proteção e do cuidado, nessas

atividades que nós compreendemos serem também espaços de aprendizado ao

longo da vida.

A própria companheira do MEC lembrou — e nós vamos ter de dar conta

disso — que o espaço do aprendizado ao longo da vida não necessária e

exclusivamente é o escopo da sala de aula, da educação da escola. Então, talvez

esteja nos faltando uma maior bagagem técnica e legal que legitime um espaço de

aprendizado com essas dimensões, obedecendo a esses critérios tecnicamente

colocados, que nós até dizemos que são comprovados cientificamente.

Eu não chego até aí, não chego a essa perfeição toda. Mas, dentro do escopo

do processo educacional, do processo de proteção e cuidado, do processo de

habilitação e reabilitação, nós já temos elementos muito fortes para melhorar esses

serviços e integrá-los na ponta.

Existe um instrumento de transferência de renda muito importante, que é a

Proposta Pedagógica Curricular — PPC. Temos feito um esforço enorme para

implantar a PPC Escola. São inúmeras crianças de zero a 18 anos fora da rede

educacional, por falta não só de escolas com capacidade de recebê-los, como por

falta de cuidadores ou familiares que possam levá-los à escola. Esses são

problemas primários que seguramente repercutirão na fase adolescente e adulta.

Hoje já existe essa rede de serviços e de informações reais e concretas. Eu

até falei para o Deputado Eduardo Barbosa que existem alguns centros-dia que são

executados em parceria com a APAE e com a Pestalozzi, por exemplo, e que nós

podemos fazer alguns laboratórios para vermos o que está acontecendo ali. Eles

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também fazem outras ofertas em educação e saúde. Eles podem dizer para nós: “A

diferença está aqui, a união está aqui, a ausência está aqui, o vácuo está aqui e a

potência está aqui”. Então existem elementos muito interessantes nessa vida, que

nós podemos e devemos aproveitar.

A política pública é cofinanciada nas três esferas, mas tem uma decisão

municipal de oferta. Nós vivemos, no último ano, uma decisão um pouco fragilizada

em virtude das dificuldades econômicas. Então, nós abrimos o aceite para vários

serviços, sendo que alguns Municípios fizeram o aceite, mas não puderam executar

os serviços. Eu acho que nós vamos superando isso também com as orientações

técnicas e a soma de esforços.

Nós estamos muito esperançosos. Faltava-nos certa luz, mas essa luz está

cada vez mais clara. Eu acho que agora falta alinhavar, andar na mesma direção,

valorizar o esforço de cada um. Não existe serviço de segunda linha. Não se pode

dizer que esse serviço da assistência social é para pobre. Não existe isso, porque

esse serviço nem é para pobre, mas para as pessoas em situação de

vulnerabilidade, de risco e de direito violado.

Então, nós temos bastantes elementos para avançar em tudo isso e valorizar

a iniciativa de todos.

Nós estamos à disposição para seguir. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Obrigado, Deusina.

Eu acho que é nisto que também as duas Comissões, tanto a Comissão de

Educação, como a Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e

nós Deputados que estamos aqui podemos ser facilitadores junto aos Ministros:

justamente para estabelecer uma relação de trabalho conjunto dos dois Ministérios,

para que a proposta possa ser desenhada com esse olhar.

Eu acho que a presença do MDS aqui consolida essa proposição. Vamos

caminhar nesse sentido. E eu coloco, em nome de todos os Deputados aqui

presentes, a nossa disposição de sermos a retaguarda política para o projeto

acontecer.

Eu quero passar agora a palavra ao Deputado Izalci, do PSDB do Distrito

Federal.

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O SR. DEPUTADO IZALCI - Sr. Presidente, Deputado Eduardo Barbosa,

inicialmente eu quero parabenizá-lo pela iniciativa. Todos nós sabemos que V.Exa. é

um ícone desta Casa, é nossa referência nessa área.

V.Exa. participou da audiência pública que fiz recentemente, com relação à

questão financeira dos superdotados, que nós temos que olhar também.

Eu quero tirar uma dúvida. Quero dizer, Deputada Zenaide Maia, que gostei

da sua fala. Realmente não é fácil, a coisa é complicada. Mas precisamos agir,

precisamos dar condições para que as coisas aconteçam.

Eu tenho algumas dificuldades. Há algum tempo, eu tenho visitado algumas

instituições. Está aqui uma minha amiga que é diretora de uma escola do Guará,

cujo trabalho nós acompanhamos. As pessoas trabalham com muito amor nessa

área. Os professores realmente precisam ser muito bem valorizados, porque

trabalham com muito carinho e amor.

Eu estive numa escola. Não sei se mudou, não sei se é no Brasil. Com

relação à LDB, nós fizemos umas modificações de 2013 e 2015, mas eu lembro que

uma vez uma diretora me disse que estava tendo dificuldade, porque a idade mental

do aluno era, sei lá, de 30 ou 40 anos, e parece que havia dificuldade de repasse de

recurso, aliás, até de atendimento, na época. Não podia atender, porque a lei dizia

que era até 18 anos, 17 anos, não sei. Isso foi superado?

Segundo, eu estive recentemente na Pestalozzi também, e eles tinham

dificuldade muito grande com transporte. É um negócio difícil. Já é difícil fazer o

deslocamento; no sistema tradicional, é impossível, ainda mais com esses ônibus

que não têm nem como. Isso desmotiva muito. Muitas famílias têm dificuldade de

realmente levar a criança ou a pessoa com necessidade especial a essas entidades.

Por incrível que pareça, não sei se é questão só de dificuldade econômica,

não temos encontrado essa boa vontade do Governo principalmente com as

entidades privadas, que é o caso da parceria da Pestalozzi e das APAEs. Eu não sei

se é daquele caminho da escola, daqueles programas, se nós não temos como

também viabilizar alguma coisa neste sentido,

Recentemente, eu fui à Pestalozzi, quase 50% dos alunos deixaram de

comparecer. Havia o convênio com o GDF, mas ele foi cortado, e os pais não têm

como... As pessoas vêm da Ceilândia, do Paranoá, de Planaltina para trazer para a

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Pestalozzi, é impossível! E mais de 50%... Há mais um problema: não comparece,

não repassa o recurso, inviabiliza a instituição.

Então, são essas duas colocações. Eu queria ver como está o andamento

disso e de que forma nós podemos ajudar, se é que já resolveram. Se resolveram,

legalmente não se está praticando, porque está havendo esses problemas. Como

está isso?

Quero me colocar à disposição. V.Exa. sabe que o que nós pudermos fazer

na Comissão de Educação, no Ministério, nós vamos juntos, vamos brigar por isso,

porque V.Exa. é um batalhador. Eu sei que todos os que estão aqui deram a sua

contribuição e precisam continuar dando.

Nós temos plano de saúde e educação, precisamos implementar isso. A luta

foi grande. V.Exa. acompanhou de perto isso. Então, eram as duas dúvidas que eu

tinha com relação a isso: a questão do atendimento e a questão do transporte.

Como está isso aqui e nos Estados?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - O Deputado Izalci

mexeu na ferida, foi ao ponto que, inclusive, suscitou tudo isso aqui.

O que nós estamos criando, com a proposição de colocar dentro da educação

de jovens e adultos a educação ao longo da vida, como a EJA informal, ou seja, que

ela não precise ocorrer dentro de um contexto de sala de aula, como foi colocado

aqui, com uma proposta curricular definida, com um objetivo que é a conclusão do

ensino fundamental, por exemplo, é justamente por isso.

Como a Deputada Zenaide Maia colocou, os seus filhos são vistos pelo

sistema educacional até 17 anos. Há alguns Estados e Municípios que levam isso ao

pé da letra, pela questão econômica, mesmo por que o censo escolar permite incluir

e lançar esses educandos até esse processo de conclusão do ensino fundamental.

Então, se ele está além de 17 anos, ele tem ainda como possibilidade a EJA

formal. Mas concluindo o EJA formal do ensino fundamental, ele está fora do

sistema. Não há nenhum financiamento.

Quando eu conversei com a Débora, por exemplo, ela colocou a sua prática e

experiência aqui. Ela é uma professora do GDF à disposição da APAE do Distrito

Federal. Todo início de ano é uma angústia. Não sabem se vão poder continuar ou

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não, porque uma proposta de trabalho como esta não está enquadrada dentro de

um sistema formal reconhecido para o financiamento.

Então, se o Estado não pode computar essa matrícula, esse trabalho fica

sendo voluntarioso, voluntário, e não com profissionais que vão dar uma retaguarda

técnica ao trabalho, também com esse princípio de alcance que nós queremos ter,

de continuar o estímulo de desenvolvimento, como a Patrícia colocou, que é

essencial. Então, Izalci, essa é a questão da ferida.

Quando nós conversamos com o Paulo Sena, que é nosso consultor técnico,

ele nos mostrou que o debate todo era facilmente resolvido, porque nós tínhamos

que incluir a educação ao longo da vida dentro da EJA. Para mim foi um alívio,

porque a EJA já é uma modalidade. Nós não estamos mudando nada na LDB. O

financiamento, seja pequeno ou grande, existe. Nós vamos concorrer com ele e

trabalhar para ampliar o financiamento também para poder alcançar esse público

que está além da educação formal. Então, V.Exa. mexeu no ponto.

O que nós já encaminhamos ao Ministério da Educação, por meio do Ministro

e do FNDE? Justamente fazer com que os programas já existentes também possam

criar caminhos para identificar esse aluno, porque hoje nós estamos fora disso tudo,

quando estamos além da EJA formal.

Então, nós não temos mais política de transporte escolar para esse fim, esse

aluno não é computado para o Dinheiro Direto na Escola. É um recurso que às

vezes pode ser utilizado para a compra de material para utilização dessas práticas,

por exemplo.

O FNDE está muito sensível a criar esse caminho. Inclusive, eles estão se

aproximando da SECADI para conversar, justamente para dar consistência técnica à

proposta. O Gastão, por exemplo, me falou que não vê nenhuma dificuldade nem

sequer orçamentária do FNDE para já absorver isso.

Inclusive, Patrícia Raposo, eu quero colocar que urge essa discussão

acontecer. Eu até falei com o Gastão Vieira, por exemplo, que, em outubro, nós

estamos definindo as emendas parlamentares. E eu tenho certeza de que, se essa

proposta estiver definida no MEC, vários de nós, Parlamentares, vamos poder

incrementar essas ações com emendas parlamentares destinadas aos Municípios.

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A Deputada Zenaide Maia deu um depoimento: “Eu estou bancando para 15

colegas do meu filho uma proposta de trabalho”. Então, ela pode, com uma emenda

parlamentar, institucionalmente, repassar para seu Município um aporte de recurso

que venha fomentar um trabalho ali desenvolvido. Por iniciativa pessoal, ela está

fazendo isso, o que é louvável, mas não é por aí que nós vamos construir direitos.

Não é por aí.

Então, quanto a isso que V.Exa. colocou, Deputado Izalci, eu quero V.Exa.

conosco nisso. Nós abrimos os caminhos nos órgãos para este debate, agora nós

vamos ter que amarrar isso. Está muito na mão do MEC, agora com o FNDE, definir

esse padrão e aprovar o meu projeto de lei.

O SR. DEPUTADO IZALCI - Quando V.Exa. fala isso, fala no transporte,

porque o transporte não é só para acima de 18 anos. Há criança também no

contraturno que tem dificuldade.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Justamente.

Então, se nós realmente regulamentarmos essa questão da educação ao

longo da vida, nós temos uma possibilidade muito diferenciada de isso se tornar uma

política pública alcançada pelo financiamento à educação.

Deputada Carmen Zanotto, nós conversamos tanto com os olhos, que eu

achei que já tinha lhe dado a palavra.

A SRA. DEPUTADA CARMEN ZANOTTO - Obrigada, Deputado Eduardo

Barbosa, proponente desta audiência pública, com as duas Comissões: Comissão

da Educação e nossa Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência.

Eu queria saudar todas as nossas expositoras e dizer que não é por mera

coincidência que a grande maioria das expositoras convidadas, incluindo a nossa

Deputada Dr. Zenaide Maia, é composta por mulheres, porque o cuidar ainda é uma

tarefa muito feminina.

Então, não me espanta audiência dessa natureza ser composta na maioria

por mulheres, mas nós temos a felicidade de ter o Deputado Eduardo Barbosa, o

Deputado Izalci e um conjunto grande de outros homens nesta Casa, que já

ajudaram a aperfeiçoar a legislação, como a nossa Lei nº 13.146, que é o grande

marco da lei brasileira da inclusão da pessoa com deficiência.

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Eu queria dizer que eu me senti extremamente contemplada por todas as

falas, mas eu, durante as falas, fiquei me perguntando: “Onde estão os nossos

adultos com deficiência?” Provavelmente cerceados dentro de uma casa, dentro de

um quarto, sem a possibilidade de continuar desenvolvendo os seus potenciais.

Então, eu queria dizer para a Patrícia Martins que eu fiquei muito feliz com a

fala dela. Como nós, Parlamentares, já com toda essa legislação, Deputado Eduardo

Barbosa, podemos fazer, efetivamente, com que esses adultos tenham esse direito

assegurado de saírem de seus lares, de irem para um estabelecimento que não

necessariamente seja a escola padrão ou uma escola especializada, mas que

acolha esta população que precisa, efetivamente, continuar sendo estimulada? Se

ela não continuar tendo essa atenção e ficar apenas com a atenção da família...

Digo isso por experiência, a minha mãe tem 91 anos. O Deputado Eduardo foi

muito feliz quando colocou que vemos o Cirinho melhorar conforme mostramos as

coisas para ele, inclusive, as habilidades básicas. O cuidado com a cama dele já é

diferente hoje do que era há alguns anos. O cuidado pessoal dele não depende de

nós. Para higiene ele não depende. Ele depende da família, da mãe e das irmãs

para alguma questão mais complexa. Mas ele já tem todas as básicas, porque

continuamos — mesmo todas nós trabalhando, a mãe é quem fica mais com ele —

estimulando e mostrando para ele.

E aí eu me pergunto quantas habilidades nós poderíamos desenvolver,

inclusive, o conhecimento, para essa população que tem a necessidade desse olhar

diferenciado. Assim, vimos na apresentação da Débora, porque eles estão felizes,

porque eles se sentem parte da sociedade onde estão, quer seja num parque, quer

seja num monumento, enfim, eles se sentem incluídos. Temos que trabalhar muito

para que cada criança e cada adolescente possa, efetivamente, estar incluído e

inserido na nossa sociedade.

E que passemos a deixar de olhá-los como alguém que não é normal. Muito

pelo contrário, temos que olhar e compreender as suas limitações. Eu não pude

ouvir a fala da Deputada Zenaide Maia, mas eu já conheço todo o carinho, todo o

amor — trocamos muitas informações. Eu tive que ir até o Auditório Freitas Nobre,

senão o Deputado Mandetta nos cobraria. Não deu tempo, eu só fui lá.

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O senhor não foi, na condição de médico, acho que nem a Deputada Zenaide,

que também é sua colega médica. Mas eu passei lá rapidamente para dizer que nós

estamos na audiência pública conjunta da Comissão de Educação e da Comissão

de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência e não podemos ficar lá. Mas

também queremos levar o nosso apoio a essa iniciativa que ele está tendo com

relação às entidades e às especialidades médicas.

Eu estive durante o recesso viajando pelo interior do Estado. As APAEs, no

País afora, estão vivendo exatamente o que foi dito aqui. Os professores cedidos do

Estado que estão se aposentando, estão entrando em licença-prêmio ou licença-

maternidade não estão sendo substituídos. Por quê? Todos nós sabemos que

estamos vivendo uma grande crise econômica, então, deve-se enxugar. Então, se o

professor que estava na APAE se aposentou, passa a ser de responsabilidade

daquela entidade a substituição, e não mais do Estado. Ao menos foi o que ouvimos

lá, muito semelhante ao que foi colocado aqui.

Isso, com certeza, a médio e longo prazo, vai impactar na qualidade do

ensino e da atenção prestada por essas instituições especializadas, vai fazer com

que o número de matrículas venha a ser reduzido, pois como acolher se não há

profissionais especializados?

Então, precisamos, efetivamente, mesmo dentro de uma conjuntura difícil com

cortes orçamentários, garantir que as instituições especializadas de atendimento na

área da educação à pessoa com deficiência e iniciativas das escolas regulares

também tenham esse outro olhar.

E me impacta muito quando ouvimos uma mãe ou uma especialista, uma

doutora no assunto, dizendo: “O autista desenhando na sala de aula”. Enquanto os

outros estão tendo o direito de aprender, aquele aluno está lá ocupando uma

cadeira. E quem sabe quanto está se frustrando ou quanto está processando a sua

diferença ainda mais, porque não é abraçado, não é incluído, não é estimulado a

aprender as mesmas matérias que estão sendo dadas.

Precisamos discutir que tipo de escola regular com atendimento à pessoa

com deficiência nós queremos. Eu não quero essa escola. E não sou especialista na

área, sou enfermeira de formação, mas não quero isso, porque não precisamos

apenas de um espaço para colocá-los ou para aliviar a família dizendo que o filho

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está indo para a escola. É preciso que ele vá para a escola e se sinta parte da

escola, e não alguém que está apenas lá. Sejamos muito sinceros: eles sabem e

sentem quando acham que estão incomodando ou estão sendo demais.

Esta é uma das audiências que renovam a esperança de estarmos nesta

Casa, com tantos temas complexos e difíceis. Precisamos renovar nossa esperança

no Ministério da Educação, no Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, no

Ministério da Saúde, para, mesmo com os poucos recursos que temos, termos a

transversalidade e nos comunicarmos melhor, a fim de que aquilo que constitui a

norma escrita chegue efetivamente aos domicílios e aos Municípios.

Acho que estamos bem contemplados no que respeita à legislação. Na

ciência, já está comprovado que não devemos parar. Assim, precisamos garantir

que todos os adultos que estão nos domicílios possam efetivamente ter a

oportunidade de conviver na sociedade e continuar o aprendizado.

Por isso, este tema nos é muito caro e precisamos somar forças com nosso

líder maior, o Deputado Eduardo Barbosa, bem como com a Deputada Zenaide

Maia, que é mãe e nos traz sua experiência, e com cada um dos Parlamentares, que

entende a magnitude desta matéria.

Quero dizer que este é mais um passo do longo caminho que temos a

prosseguir, para conquistarmos o que está na legislação.

A todos nós, expositoras e expositores, muito obrigada. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Muito obrigado,

Deputada. Quero colocar uma questão, inspirada na fala de V.Exa. Outro dia recebi

uma denúncia gravíssima.

Nós trabalhamos muito pelo processo de aprimoramento da legislação, para

que a política pública cumpra o seu papel principalmente em relação à educação

inclusiva. Hoje o professor de apoio é identificado na legislação como uma garantia,

quando é necessário.

Eu recebi denúncias de que há professores já no final de carreira que têm

optado por ser professores de apoio porque ficam com o aluno fora da sala de aula,

correndo no pátio ou no refeitório, ao longo deste tempo todo, sem nenhum

compromisso com o aprendizado.

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Nós, legisladores, nunca poderíamos imaginar que uma função conquistada

dentro do espaço educacional pudesse ser burlada assim. A consciência profissional

é uma questão ainda muito relevante no nosso País, e não se fazem, de fato,

cobranças para que fatos como este coloquem abaixo conquistas que tivemos com a

legislação brasileira e a possibilidade de financiamento.

A SRA. DEPUTADA CARMEN ZANOTTO - Permita-me, Deputado Eduardo

Barbosa. Acho que não é a consciência profissional, mas, sim, o desconhecimento

de que aquele cidadão ainda é sujeito de direito. Aliás, ele é sujeito de direito e pode

não só aprender o conteúdo curricular, mas também desenvolver outras habilidades.

Eu acho que vamos ter que trabalhar muito em prol disso.

O papel fundamental do MEC talvez seja o de mostrar para este conjunto de

trabalhadores e trabalhadoras que eles são efetivamente a nossa essência, porque

nós somente estamos aqui porque um dia passamos pelos bancos escolares e

porque os professores fizeram e fazem a nossa formação. De outro lado, talvez seja

necessário que a neurociência chegue lá dentro, dizendo que eles são capazes, que

podem aprender e vão aprender.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - É isso mesmo. Trata-se

da consciência não só em relação à ética, mas também ao conhecimento, que traz

uma visão muito maior daquela que estamos tendo.

Concedo a palavra à Sra. Patrícia Freitas. S.Sa. pode aproveitar e comentar

sobre este assunto.

A SRA. PATRÍCIA MARTINS DE FREITAS - Não é uma notícia muito feliz,

mas, para termos uma ideia de como a questão do cuidador pode ser impactante,

fez-se um estudo na Suécia sobre o efeito do cuidador. Em se tratando de algumas

habilidades formais, identificou-se que eles estavam aprendendo mais rapidamente,

mas perdendo em autonomia e comunicação. Desta forma, eles interagiam apenas

com o cuidador.

É óbvio que não se compara com esta experiência infeliz que se está

trazendo, fruto de denúncia.

O estudo científico feito na Suécia mostra que, se não tivermos atenção a

como deve ser feito o trabalho do cuidador, ele pode efeito inverso. O cuidador está

ali para mediar e favorecer o processo de inserção social e mais participação, e não

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o contrário: não pode ficar numa mesinha estimulando ou favorecendo mais, ou

talvez apoiando uma determinada tarefa.

É claro que este é um papel importante, mas a pessoa com deficiência não

pode ser isolada — ela tem que ser inserida. Este mecanismo de inserção vai fazer

com que depois ela consiga se inserir em outros ambientes. A escola é um preparo

para ela ser inserida no transporte público, nos parques, nas lojas, em locais onde

ela vai desenvolver suas habilidades.

É preciso que se trabalhe o papel do cuidador. Qual é o papel do cuidador?

Será que é mais fácil ficar? Deve-se abrir mão da sala de aula para se ficar com

apenas um aluno? Não é isso. É preciso ter conhecimento e preparo para trabalhar

bem o estímulo e, ao mesmo tempo, garantir a participação social e a autonomia.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Muito obrigado, Patrícia

Freitas.

Concedo a palavra à Sra. Ana Cristina Silva, nossa professora de educação

especial no Distrito Federal.

A SRA. ANA CRISTINA SILVA - Boa tarde! Quero participar ao Deputado

Eduardo Barbosa que eu o acompanho desde a luta em prol da Meta 4. Desde

então, tenho assistido aos seus depoimentos sobre escolas especializadas nas

audiências públicas realizadas aqui no Distrito Federal.

Estou aposentada há 1 semana, mas continuo numa luta independente. Nós

nos juntamos a V.Exa., Deputado Eduardo Barbosa, que, mesmo sem saber, nos fez

um bem muito grande. Nós conseguimos nos juntar à luta de V.Exa. pela

manutenção, no Distrito Federal, das escolas especializadas e dos Centros de

Ensino Especial, com o apoio dos Deputados Distritais. Agora estamos tentando

regulamentar lei do Deputado Chico Leite que vem ao encontro da iniciativa de

V.Exa.

Quando me inscrevi, senti falta das escolas especializadas na manifestação

de V.Exa., que já conheço. Fiquei me perguntando onde estão as escolas

especializadas no discurso, na sua iniciativa. Mas, na resposta de V.Exa. ao

Deputado Izalci, eu vi que as escolas especializadas obviamente estão

contempladas no programa Educação de Jovens e Adultos — EJA.

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Neste sentido, eu gostaria de fazer algumas considerações, ainda que

informalmente.

Nesta legislação que pretende ser regulamentada, constará a nomenclatura

escolas especializadas? Hoje nós sabemos, como o senhor sabe, que existe uma

tendência muito forte, com o Decreto nº 4.281, se não me engano, de herança da

Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Inclusão —

SECADI, que pretendia, de alguma forma, destinar as escolas especializadas

apenas para o atendimento educacional especializado.

Assim, eu gostaria de saber se, neste projeto de lei, nós teremos a retomada

das escolas especializadas com papel específico porque, como a Deputada Zenaide

mencionou, a herança que a SECADI nos deixou foi muito ruim.

Com todo o respeito, temos muitas ações práticas positivas, mas acho que o

resultado social foi muito ruim para a educação especial em si. Eles conseguiram

dividir a educação especial entre quem é contra e quem é a favor da inclusão.

Na última audiência pública promovida pelo Deputado Izalci, à qual eu estava

presente, a Profa. Ivana foi muito feliz na sua explanação. Ela disse tudo o que nós

queríamos ouvir, ao afirmar que matrícula não significa inclusão.

Portanto, eu gostaria de saber como estarão as escolas especializadas neste

projeto de lei, porque o projeto EJA informal já existe há muitos anos. Nós fazemos

isso nas escolas especializadas há muitos anos, o que, no entanto, nunca foi

regulamentado por nenhuma Secretaria de Educação.

Eu fui Vice-Diretora de um Centro de Ensino Especial durante 6 anos e tentei

implementá-lo na minha escola, mas a Direção da Educação Especial, da qual fazia

parte a Sra. Patrícia Barbosa, nunca nos permitiu implementar o EJA formal na

nossa escola.

O projeto EJA informal sempre existiu, junto com o que a Dra. Patrícia falou,

que vem ao encontro do que existe. Nós promovemos nas escolas especializadas é

exatamente o aprendizado da autonomia e da estimulação cognitiva, para que o

estudante avance, independentemente de idade e de condição.

Nós temos uma modulação específica justamente por isso. Ensina-se, neste

centro de ensino especial, a autonomia que, como a doutora falou e provou, faz

parte do programa de aprendizado ao longo da vida.

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Eu acho que uma questão fundamental nesta discussão é a herança.

Enquanto não desmistificarmos este aspecto, dando um antídoto à sociedade

dizendo que as escolas especializadas precisam existir, não haverá outra opção a

médio e a curto prazo. Não vejo outra saída, a não ser receber os estudantes dentro

das escolas especializadas.

Foi dito aqui que a Educação de Jovens e Adultos — EJA ainda está se

organizando hoje. Nós estamos discutindo a educação especial há mais de 20 anos!

O programa EJA ainda está se organizando, as escolas especializadas ainda estão

se organizando. Hoje quem está organizado são as escolas especializadas. Como a

Deputada mencionou, houve uma extinção, pela herança da fala de que somos

segregacionistas ou excludentes. Excludente foi esta fala, que o senhor conhece

muito bem.

Hoje quantos indivíduos não estão em casa porque as APAEs modificaram o

atendimento? Quantos indivíduos não vão para a escola uma ou duas vezes na

semana, por 45 minutos, por causa da nossa herança? Quantos pais não estão

bancando as escolas que foram dissolvidas ou extintas por causa desta herança?

Eu sugiro ao MEC uma estratégia para que torne público que o estudante

será atendido, independentemente de onde estiver. Este, sim, é um processo de

inclusão, não de exclusão.

Em Brasília, somos privilegiados porque nós, diretores, estamos na luta. Nós

participamos de todas as audiências, para manter nossas escolas. Brigamos com o

Secretário de Educação, dizendo que não aceitávamos aquelas condições. Nos

outros Estados, isso infelizmente não aconteceu.

Eu participava da audiência em que o senhor estava no ano passado. Se não

me engano, havia mães do Estado do Acre ou do Amapá. O representante do MEC

estava presente e se lembra do que eu estou falando. As mães diziam o seguinte:

“Eu levo muito mais tempo no trajeto da minha casa para a escola do que o meu

filho dentro da sala de aula”. Isso me cortou o coração.

Portanto, eu gostaria de saber qual a importância das escolas especializadas

no projeto EJA. Gostaria de pedir ao MEC que institucionalizasse a EJA nas escolas

especializadas, coisa que, informalmente, já acontece. Nós não o fazemos efetiva e

comprovadamente porque não somos autorizados a fazê-lo.

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Meus parabéns a V.Exa., Deputado Eduardo Barbosa, pela iniciativa! Eu

acompanho a luta de V.Exa., mesmo aposentada.

Aproveito a ocasião para responder ao que a senhora perguntou: o porquê do

apoio. Porque foi uma política de inclusão a qualquer custo, para dizer à

Organização das Nações Unidas — ONU que estamos respondendo muito bem ao

protocolo. Foi feita uma estratégia em que o aluno tinha que estar de qualquer jeito.

Então, vamos apoiar, porque ele não está na sala de aula, ele está passeando. Mas,

na minha estratégia, estou dizendo que eu tenho 50 mil alunos incluídos no ensino

regular em classe comum.

Há 20 anos, eu fiz o que vocês estão fazendo. Tiro o chapéu para vocês: isto

é inclusão, autonomia, aprendizado, qualidade de vida, autoestima.

Por que as escolas especializadas não podem estar regulamentadas? Eu

acho, Deputado, que não temos que esconder nomes, não! Eu acho que temos que

dizer o que as escolas especializadas fazem, que elas existem e são autorizadas

para tal.

Eu estive com a Deputada Mara Gabrilli para tratar da Lei Brasileira de

Inclusão da Pessoa com Deficiência. Para aprovarmos esta lei, tivemos que fazer

um texto que não barrassem. Enquanto continuarmos usando subterfúgios para

aprovar, nós não avançaremos. Há estudantes em casa, sentados no sofá, por

causa de um País que não os assume.

Nós temos uma boa escola especializada, sim! Se esta escola presta um

atendimento de excelência, por que ela não pode existir? Excludente é aquela

escola cujo aluno fica correndo pelo pátio.

Era isso que eu queria dizer. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Obrigado, Sra. Ana

Cristina.

Peço à Sra. Patrícia Raposo que responda, oportunamente, às perguntas

feitas pela Sra. Ana Cristina.

Gostaria de lembrar que nós encaminhamos à nova gestão do Ministério da

Educação exatamente a nossa preocupação. Ao longo deste debate sobre educação

inclusiva, o Ministério da Educação, no meu entendimento, falhou quando não

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identificou claramente qual o papel da escola especial no contexto da organização

do sistema educacional.

Nós sugerimos ao Ministério da Educação que institua um trabalho que defina

formal e institucionalmente o papel da escola especial. A educação, ao longo da

vida, no nosso entendimento, talvez seja indicada como um dos papéis da educação

especial, da escola especial. Este foi o nosso encaminhamento ao Ministério da

Educação. Agora cabe à Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização,

Diversidade e Inclusão — SECADI dar uma resposta. Nós estamos acompanhando

e mantemos um diálogo aberto para que isso aconteça.

Quem vai formalizar para nós a resposta dos passos já iniciados neste

sentido é a Sra. Patrícia Raposo. Este é o nosso pleito.

Concedo a palavra à Sra. Viviane Guimarães.

A SRA. VIVIANE GUIMARÃES - Sr. Presidente, sou do Movimento Orgulho

Autista Brasil — MOAB. Eu gostaria de parabenizar V.Exa. pela realização desta

audiência. É de momentos como este que precisamos para criarmos possibilidades.

Eu concordo com o senhor quando diz que nossos professores realmente

trabalham com muito amor. Infelizmente, é somente isso que eles têm. Eles não são

preparados pelas nossas universidades. O MEC precisa começar a preparar os

nossos professores. Tanto na área da Licenciatura, como na área da Pedagogia e

da Medicina, eles não são preparados para trabalhar com a inclusão.

Antes de mencionarmos que nossas escolas precisam promover a inclusão,

precisamos preparar nossos professores, porque eles realmente só têm boa

vontade.

Eu agradeço a todos os que passam e aos que passaram pela vida do meu

filho. Meu filho, que é autista, está com 15 anos. Ele recebeu a inclusão devida, mas

porque houve um trabalho conjunto, realmente um trabalho de boa vontade.

Como não estamos preparando nossos professores neste aspecto, nós

voltaremos a falar a mesma coisa daqui a 10 anos, porque nossas escolas não

estão nem pensando em falar sobre inclusão. Elas não sabem o que é autismo, não

sabem direito o que é dislexia, não sabem o que é Transtorno do Déficit de Atenção

com Hiperatividade — TDAH. Sobre a síndrome de Down elas também têm poucas

informações.

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Desta forma, enquanto não prepararmos nossos professores, vamos

continuar falando sobre este assunto, porque eles não são preparados para esta

realidade.

Eu também quero falar com vocês sobre o “diploma social”, um projeto

superinteressante que o Prof. Casemiro Mota apresentou ao Instituto Federal

Catarinense, para que os institutos federais tenham a parte do ensino técnico. Eles

fizeram uma adaptação de acordo com o que o aluno precisava. Se o aluno não tem

condições de fazer, por exemplo, um curso de técnico em construção civil, o diploma

dele vai dizer que, dentro da construção civil, ele pode fazer determinadas

atividades. Portanto, o diploma é adaptado.

Nós precisamos incluir o autista. Nossas crianças com deficiência, quando

crescem, precisam estar incluídas no mercado de trabalho, coisa que infelizmente

não temos hoje em dia. Precisamos lembrar que nossas crianças vão crescer e

precisam estar inseridas, precisam ser tratadas como cidadãs para poderem

produzir.

Deputado, eu posso apresentar para o senhor o projeto do “diploma social”,

que precisa chegar ao MEC. O MEC precisa ter tanto a possibilidade de formar

melhor nossos professores, como a de incluir nossos alunos no mercado de

trabalho.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Obrigado, Sra. Viviane.

Eu tenho certeza de que a Sra. Patrícia Raposo receberá vocês para conhecer toda

a proposta. A Sra. Ivana orientou que se deva fazer a interlocução com todas as

organizações deste País. Você, Viviane, pode contribuir muito com a sua

experiência e com o que reconhece como positivo.

Tem a palavra a Sra. Patrícia.

A SRA. PATRÍCIA NEVES RAPOSO - Em primeiro lugar, eu gostaria de dizer

que o Deputado Eduardo Barbosa nos demandou este estudo sobre as escolas

especiais, no contexto da educação brasileira. Desde que cheguei à SECADI, esta

questão está sendo discutida, e nós encaminhamos, nos trâmites administrativos do

Ministério da Educação, um termo de referência para desenvolver esta ação. Em

breve, portanto, teremos o estudo sobre o papel das escolas especiais.

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É preciso conhecer o que o País está fazendo, como as escolas especiais

estão organizadas e como estão funcionando no País, para que possamos definir o

seu papel no contexto da educação brasileira. Em nenhum documento, está

afirmado que a escola especial não deve existir. Nenhum documento decretou o fim

da escola especial. Não existe, da nossa parte, nenhum encaminhamento ou

orientação neste sentido.

Sobre a Portaria nº 243, que define critérios para o financiamento dos Centros

de Atendimento Educacional Especializado, nas instituições especializadas, públicas

ou privadas, quero dizer que ela está sendo revista. Nós estamos discutindo esta

portaria — já discutimos este assunto com o Deputado Eduardo Barbosa.

Sabemos que existem pontos a ser discutidos, estudados, para ver a

convergência ou a divergência com a legislação e se a definição de critérios para as

escolas públicas e privadas está, de fato, ao alcance do Estado ou dos Municípios e

do Distrito Federal, para que esta portaria possa realmente vigorar.

Reafirmo à Ana Cristina que a portaria está sendo revista, com toda a atenção

e todo o cuidado, pela SECADI e pela Diretoria de Políticas de Educação Especial

— DPEE. Tão logo tenhamos resolvida esta questão, ela se tornará pública, e vocês

tomarão conhecimento.

A importância da escola especial é fato. Nós sabemos da sua importância

história. Nós estamos encaminhando este estudo justamente porque queremos

saber qual o papel que a escola especial vai desenvolver. Não é uma questão de

nome. Esse grande duelo que está sendo travado, na verdade, é a construção de

grupos dentro do País que se afastaram do nosso maior propósito: a educação e,

pedagogicamente, o aprendizado, por uma questão de posicionamentos muito

pessoais.

Nós estamos, sim, discutindo e, com certeza, estamos indo ao encontro de

muitos anseios.

O MEC, a nossa Secretaria e a nossa Diretoria estão à disposição para

conversar. Viviane, vamos nos encontrar e conversar sobre esta questão, que é

extremamente importante.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Eduardo Barbosa) - Acho que este assunto

não tem fim, mas vamos ter que encerrar esta reunião porque hoje temos uma

sessão muito importante na Câmara dos Deputados.

Quero agradecer aos nossos expositores, com os quais contamos para a

continuidade deste debate. Agradecemos também a todos os presentes.

Convoco as organizações, entidades e pessoas que militam na área a se

unirem a todos nós, para conseguirmos regulamentar a educação ao longo da vida.

Eu comentei com nossa Secretária e com a Patrícia que, se em 2 anos de um

governo que deve se estabelecer definitivamente em breve este ponto for

conquistado, ele já terá cumprido um papel fundamental.

Muito obrigado a todos.