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CÂMARA DOS DEPUTADOS DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIAS EVENTO: Audiência Pública N°: 0499/08 DATA: 23/04/200 8 INÍCIO: 14h41min TÉRMINO: 18h25min DURAÇÃO: 03h32min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h32min PÁGINAS: 84 QUARTOS: 43 DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO DANIEL PONTE – Médico legista e professor universitário. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Delegado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro. FERNANDO MATOS – Coordenador-Geral do Programa Nacional de Proteção de Defensores de Direitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República. FELIPE SEIXAS – Chefe da Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal. SUMÁRIO: Debate sobre denúncias de corrupção nos serviços de medicina legal e em outros órgãos da área de segurança pública do Estado do Rio de Janeiro. OBSERVAÇÕES Houve intervenções fora do microfone. Inaudíveis. Houve exibição de vídeo. Houve reprodução de áudio. Houve exibição de gravação. A reunião foi suspensa e reaberta. Há palavras ininteligíveis.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS

DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO

NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS E MINORIASEVENTO: Audiência Pública N°: 0499/08 DATA: 23/04/200 8INÍCIO: 14h41min TÉRMINO: 18h25min DURAÇÃO: 03h32minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 03h32min PÁGINAS: 84 QUARTOS: 43

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

DANIEL PONTE – Médico legista e professor universit ário.ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO – Delegado da Políc ia Civil do Estado do Rio deJaneiro.FERNANDO MATOS – Coordenador-Geral do Programa Naci onal de Proteção de Defensores deDireitos Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.FELIPE SEIXAS – Chefe da Divisão de Direitos Humano s da Polícia Federal.

SUMÁRIO: Debate sobre denúncias de corrupção nos se rviços de medicina legal e em outrosórgãos da área de segurança pública do Estado do Ri o de Janeiro.

OBSERVAÇÕES

Houve intervenções fora do microfone. Inaudíveis.Houve exibição de vídeo.Houve reprodução de áudio.Houve exibição de gravação.A reunião foi suspensa e reaberta.Há palavras ininteligíveis.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 0499/08 Data: 23/04/2008

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Declaro abertos os

trabalhos da presente audiência pública que tem como finalidade ouvir o Médico

Legista e Professor Universitário Daniel Ponte e o Delegado de Polícia Civil Dr.

Alexandre Neto, ambos do Estado do Rio de Janeiro, sobre as denúncias de

corrupção nos serviços de medicina legal e em outros órgãos da área de segurança

pública do Estado do Rio de Janeiro.

Dando início aos trabalhos, convido para compor a Mesa desta nossa

audiência pública os expositores. Primeiramente, o Dr. Daniel Ponte, Médico Legista

do Estado do Rio de Janeiro; em seguida, o Dr. Antônio Teixeira Alexandre Neto,

Delegado da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro.

Quero, ainda, esclarecer que o tempo a ser concedido a cada um dos

expositores é de 15 minutos — obviamente, haverá um beneplácito da Comissão

para que possamos, se houver necessidade, ampliar esse tempo.

Após as exposições será concedida a palavra aos Deputados presentes,

respeitada a ordem de inscrição. Cada Deputado inscrito terá o prazo de 3 minutos

para formular suas considerações ou pedidos de esclarecimento, dispondo os

expositores do mesmo tempo para as respostas.

Esclareço, ainda, que esta reunião está sendo gravada para posterior

transcrição, por isso solicito que falem ao microfone.

Dando continuidade aos trabalhos, quero, imediatamente, conceder a palavra,

ao Dr. Daniel Ponte, Médico Legista, a quem eu quero, desde logo, agradecer a

generosidade e a disponibilidade deste tempo para comparecer à Comissão e

prestar esclarecimentos sobre os fatos graves ocorridos na área de segurança

pública do Rio de Janeiro, uma série de irregularidades apontadas pelo convidado,

as quais suscitaram represálias muito fortes e que repercutiram nesta Comissão de

Direitos Humanos

Queremos, portanto, esclarecer as questões suscitadas e ampliar o debate

sobre o tema, para que possamos encontrar uma saída, uma solução, até porque

ameaças pesam sobre a pessoa de S.Sa. e também sobre a pessoa do Dr. Antônio

Teixeira Alexandre Neto, Delegado da Polícia Civil daquele Estado.

A Comissão de Direitos Humanos se vê na responsabilidade, no direito, no

dever, na obrigação de intervir tanto quanto possível.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 0499/08 Data: 23/04/2008

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Por conta disso, V.Sa. está com a palavra.

O SR. DANIEL PONTE - Boa tarde, Exmos. Deputados, Exmo. Sr.

Presidente. Primeiramente, farei um resumo da minha atuação na área. Entrei para

a Polícia Civil em 2002 e cheguei ao cargo de Vice-Diretor do Instituto Médico Legal,

porém, não consegui atuar de forma real. Era um cargo apenas fictício. Tentei largar

o cargo por várias vezes, mas fui impedido, sob ameaças do que chamam de

“punição geográfica”. Na Polícia Civil, quando fazemos algo que desagrada,

mandam-nos para algum local bem distante.

Quem exercia, na verdade, o cargo de Vice-Diretor é o atual Perito Legista e

também Capitão-de-Mar-e-Guerra Luiz Carlos Leal Prestes Júnior, que continua com

os dois cargos, mesmo sendo essa acumulação irregular.

Durante o período em que estive à frente da Vice-Diretoria levei várias

irregularidades ao Diretor de Polícia Técnico-Científica, Dr. Walter Barros, e também

ao seu assessor, Dr. Henrique Viana. Nenhuma providência foi tomada. O que

aparentava era que ambos não tinham poder, apenas figuravam na direção daquele

Departamento.

Posteriormente, em final de 2006, quando houve a troca de Governo, fui

coagido a aceitar a direção daquele Instituto, o que logicamente me causou enorme

desespero, pois nunca compactuei com roubo, nunca levei um centavo além do meu

salário e eu não poderia ficar num cargo com poder de mando e sem poder fazer

nada, que era o que eles na verdade queriam. O que eu fiz? Procurei o Delegado

aposentado Carlos Alberto de Oliveira, mais uma vez o Delegado Henrique Viana e

mais uma vez o Delegado Walter Barros, que orientaram que eu ficasse afastado do

Instituto no mês de dezembro para evitar retaliações do Perito Legista Roger

Vinicius Ancillotti e do seu Chefe de Gabinete, Aristóteles Marcos Batista.

Nesse ínterim, um auxiliar de necropsia de nome Alexandre Várzea alertou

que a minha morte tinha sido tramada. Como eu tinha recusado participar do roubo,

eu seria morto. E isso está gravado. Não sei se poderia colocar... Esse aviso do

Alexandre Várzea foi devidamente gravado e devidamente entregue ao Ministério

Público, inclusive em mãos do Exmo. Promotor Homero Neves. Para minha

surpresa, tudo que eu passava para esse promotor ele passava para o Chefe de

Polícia. E não tomava as medidas cabíveis.

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O que ocorreu, até acelerando um pouco os fatos? Esse rapaz que avisou da

minha morte chegou em setembro sem ser ouvido. Isso eu entreguei em janeiro,

lembrando que o prazo de conclusão do inquérito são 30 dias. Ele, em setembro, foi

morto em um acidente. Então, a principal testemunha foi morta sem ser ouvida. Só

que eu gravei. Gravei esse primeiro aviso e o segundo aviso dele também, da

reunião em que ele se encontrou com esse Aristóteles, avisando que não me

matasse porque senão ele, Alexandre, iria tomar outras providências. Aristóteles

responde que, quando ele fosse ver, eu já estaria frio e em cima da mesa. Isso tudo

está gravado e foi entregue para o Promotor de Justiça Dr. Homero das Neves.

Também foi entregue para a Polícia Federal, também foi entregue para a

Corregedoria de Polícia, também foi entregue para o Dr. Beltrame. Nenhuma

providência foi tomada.

Coincidência, uma semana após a morte de Alexandre, exatamente uma

semana, o nobre delegado que se encontra ao meu lado foi alvejado com 9 tiros de

fuzil calibre 762. Uma semana de diferença. Inclusive, num parecer, o Ministério

Público Federal salienta bem esse nexo temporal entre a morte de um e o caso do

outro.

Infelizmente, eu posso dizer: a Polícia Civil do Rio é uma organização

criminosa. Não há outro nome. Ela arrecada dinheiro de tudo que é local onde haja

ilicitudes. Poderiam ser levantados patrimônios dos delegados, dos chamados

Chefes GSI. No Orkut há comunidade da Polícia Civil do Rio. Nessa comunidade, eu

tenho gravado em vários CDs à disposição de V.Exas., vários policiais civis explicam

como é feita a arrecadação de dinheiro das delegacias.

E não precisamos ir muito longe. Esta aqui é a revista policial do Rio de

Janeiro. Quem financia a Revista 4x4 é uma casa de prostituição na Avenida

Buenos Aires, 44, casa de prostituição de luxo. Tem mais casas aqui. Clube Cancun.

Não sei se V.Exas. conseguem ver, tem até imagem de uma mulher nua aqui em

cima. Rua do Carmo, 64, Centro, Rio de Janeiro. Outra casa de prostituição de luxo.

Isso na revista policial do Rio de Janeiro. Acho que por aí se imagina o nível da

criminalidade institucional. Uma promotora, Dra. Dora Beatriz, com certeza

desconhece o art. 229 do CP, que trata da exploração de prostituição, casa de

prostituição.

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Nessa revista ainda tem uma casa de prostituição que fica bem em frente ao

prédio do Ministério Público, na Travessa do Ouvidor, 33. Há outros mais explícitos:

2 mulheres seminuas com anúncios também nesta revista.

Então, eu pergunto, uma revista da polícia, que tem o dever garantidor, como

pode fazer a apologia da exploração da prostituição? E o IML não era diferente.

Conforme eu tenho as gravações do Alexandre Várzea, de outro perito e de outros,

era o local de arrecadação de dinheiro. Segundo o Delegado Luís, da Corregedoria

de Polícia... V.Exas. vejam o tamanho do absurdo. Eu, ao depor na Corregedoria de

Polícia, um delegado de nome Luís tentou me pressionar para ver se eu sabia como

era feita a divisão de dinheiro dentro do IML. Todo o mundo sabia que as famílias

tinham de dar 250 reais para liberar o corpo. Eu, por exemplo, não sabia para onde

ia esse dinheiro. Esse delegado da Corregedoria tentou me pressionar. Vendo que

realmente eu não sabia, ele me explicou: 20 reais ficavam em cada local que o

cadáver passava, 20 reais na papiloscopia, 20 reais no óbito, e o resto subia para a

Chefia de Polícia. Ou seja, a corrupção vem de cima.

Salientando que ele fazia referência ao ex-Chefe de Polícia Álvaro Lins. Só

que no atual Governo a corrupção lá embaixo não parou. Até quando estive lá, tudo

continuou a mesma coisa. Então, é o mercado do crime. Infelizmente, a polícia serve

para arrecadar dinheiro de forma ilícita.

Quero apresentar alguns áudios e vídeos.

Voltando ao IML propriamente dito, estávamos trabalhando em meio a

milhares de moscas. Está filmado. É inacreditável a cena. O que fizeram? Pegaram

o IML e interditaram a parte boa dele, a clínica médica. De fato. De direito,

interditaram o IML todo, mas de fato interditaram só a parte boa e visível, tanto que o

necrotério funciona até hoje no IML interditado. Isso tudo para quê? Para pegar

dinheiro da SENASP e de outros locais e fazer obras sem licitar.

Curiosamente, parece que o inquérito foi enviado para a Polícia Federal do

Rio em junho ou julho, segundo advogada do Sindicato dos Médicos. Esse inquérito

sumiu. Já é o segundo que some dentro da Polícia Federal do Rio de Janeiro.

Então, o crime tem tentáculos em todos os cantos. Não há como pensar

diferente. A situação do Rio de Janeiro em matéria de criminalidade é a pior

possível. E o pior: a criminalidade institucional.

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Por último, há cerca de 1 mês, mais uma pessoa do IML foi morta, a tiros, lá

na Tijuca. (Pausa.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Esclareço a quem

quiser inscrever-se para falar que a lista está disponível aos Srs. Deputados.

(Pausa.)

O SR. DANIEL PONTE - Enquanto tentam sanar os problemas técnicos,

passo mais alguns detalhes do caso. Em julho, houve uma audiência pública

convocada pelo Deputado do PDT Paulo Ramos, na qual estiveram presentes o

Delegado Beltrame, o Chefe de Polícia Civil. Ao final dessa audiência, o Chefe de

Polícia Civil, Dr. Gilberto, disse as seguintes palavras para mim — abre aspas: “Você

é um péssimo servidor, desonra a instituição, e eu vou arrumar um jeito de lhe punir,

por você estar passando informações para a Polícia Federal”. Ou seja, roubar pode,

o que não pode é denunciar. E realmente eu estou com inquérito administrativo

disciplinar, um APAD, praticamente sendo demitido da Polícia Civil, a bem do serviço

público, não por roubar, mas simplesmente por falar a verdade e denunciar o crime

institucional.

O Dr. Gilberto Ribeiro, Chefe de Polícia, tem tanta certeza de impunidade e

ignora de tal forma as cláusulas pétreas constitucionais, que juntou a ficha criminal

de uma pessoa chamada Daniel Kates Einstein Pontes, sendo que meu nome é

Daniel Ponte, no singular, e mais nada, e imputou o fato criminoso à minha pessoa.

Fez isso até dentro de um mandado de segurança federal. A advogada do Sindicato

dos Médicos peticionou, pedindo a falsidade ideológica, por ele ter inserido

informação falsa dentro de um documento verdadeiro. O Juiz, Dr. Lafredo Lisboa,

sequer se manifestou. Aí é o que eu digo: a certeza de impunidade é muito grande.

Não sei se é devido o fato de ele ser filho e genro de procurador do MP do Rio, se é

devido ao fato de ele ser Chefe de Polícia. Eu sei que todas as ilegalidades que ele

faz ficam impunes.

Então, voltamos a época pior do que a ditadura. Na ditadura, se matava. Duas

testemunhas já morreram, tem 1 testemunha viva aqui, com 9 tiros de fuzil, perdeu 1

dedo e era para estar morta também. Então, não tem diferença da chamada ditadura

militar. Simplesmente hoje nós temos a ditadura da cleptocracia. É a ditadura do

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roubo, da propina. Infelizmente, essa é a realidade do Rio de Janeiro. É mais do que

lastimável, mas é a infeliz realidade.

Voltando a essas pérolas da Polícia carioca nessa revistinha maravilhosa,

francamente patrocinada pelo crime, nós temos Paris Café Boate. Reparem bem,

Paris Café Boate, Avenida das Américas, 15.150, outra conhecida casa de

prostituição de luxo no Rio de Janeiro. Tem o distintivo da 17ª DP. Ou seja, é uma

casa de prostituição com o brasão da polícia. Onde chegamos? Passamos do fundo

do poço. Agora já estamos no magma. É o cúmulo da certeza da impunidade e do

roubo. Na capa, Secretário de Segurança. Dentro da revista, o nosso Exmo.

Governador, a Promotora Dora Beatriz, sempre presente nesta revista, figura

sempre presente.

O famoso Dr. Gilberto Ribeiro, que tanto me odeia, essa pessoa que junta

informações criminais falsas contra mim, ele usou o sistema da Polícia para pegar

alguém com nome semelhante ao meu e simplesmente jogar as informações dessa

outra pessoa dentro da minha ficha criminal. E está impune. É esse senhor que

vocês estão vendo, que aparece na revista da Polícia com anúncios de casas de

prostituição, com distintivo.

Há também, neste mesmo exemplar, o novo Superintendente da Polícia

Federal do Rio de Janeiro, que, diga-se de passagem, foi quem tirou minha escolta.

Tive escolta da Polícia Federal por cerca de 10 a 15 dias, mas o Dr. Jacinto

Caetano, Superintendente da Polícia Federal no Rio Janeiro, nessa revistinha,

financiada pelo crime... Será que ele desconhece que junto com a prostituição vem a

sonegação fiscal, a lavagem de dinheiro, a sonegação de contribuição

previdenciária, crimes que puxam competência federal? Será que o mínimo que ele

deveria fazer não seria fechar essas casas? Ou seja, estamos entregues ao crime.

Não tenho dúvidas.

No mais, as ameaças de morte continuam. Proteção policial, nenhuma,

absolutamente nenhuma. É essa a minha sobrevivência.

Para V.Exas. terem idéia, várias ONGs estão tentando me dar apoio — já até

me ofereceram asilo fora do Brasil. Um aluno meu que trabalha na Corregedoria,

sabendo que eu pretendia sair do Brasil, avisou-me, sem me ameaçar, mas tentando

ser muito solícito: “Olha, se você sair do Brasil fazendo muito escândalo, sem levar

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sua mãe... Você sabe, ela é uma senhorinha, uma senhorinha idosa...” — isso

palavra literais dele — “...ela pode ser morta facilmente num latrocínio, pode ser

facilmente morta num roubo. Eu posso escondê-la onde você quiser.” Ele foi muito

solícito. Só que ele trabalha lá na Corregedoria de Polícia. Não sei até que ponto vai

a solicitude, ou se realmente era uma ameaça.

Na semana passada, eu estava dando aula quando um aluno chamado

Cássio Holanda entrou na sala e me disse as seguintes palavras: “O Alfa Lima” —

Alfa Lima, na linguagem policial, é AL: Álvaro Lins — “lhe mandou um abraço.” Eu

nunca vi esse homem. Quer dizer, para não dizer que nunca vi o homem, eu o vi na

minha formatura na Academia de Polícia, em 2002. Mas não troquei uma palavra

com ele, então não tem por que ele me mandar um abraço.

Esse mesmo aluno que foi muito solícito em relação à minha mãe, disse que

era para eu tomar cuidado, porque realmente poderiam me pegar etc. e tal.

Agora um protesto que eu quero registrar perante a Comissão de Defesa dos

Direitos Humanos do Executivo, não do Legislativo. Numa reportagem da revista

IstoÉ eu aparecia de colete e armado, então eles disseram que uma pessoa com

perfil de defensor de direitos humanos não podia usar colete e arma. Isso estava

causando problemas para eu ter proteção policial. Vejam o absurdo. Eu sou julgado

não pelas minhas atitudes, mas por usar um colete e uma arma que, diga-se de

passagem, me dão pouquíssima proteção, porque, quando eles atacam, eles

atacam com fuzil 762, e isso aí, infelizmente, o colete não segura.

Eu sofri essa discriminação pelo próprio pessoal do PT, que deveria ser o

primeiro a me dar apoio, e simplesmente por eu andar armado, legalmente armado.

Foi um verdadeiro absurdo. Levei o caso imediatamente ao Adroaldo, assessor do

Deputado Pompeo. Eu realmente me senti muito aviltado com isso. Além de médico,

sou também formado em Direito. Leciono direitos humanos, ensino aos meus alunos

o art. 5º da Constituição. Bato muito nessa tecla. E tenho que ouvir a desculpa de

que, como eu uso colete e arma, posso não me encaixar no perfil de defensor. É

lastimável.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, são 15h23min. É

importante que os Parlamentares não percam a oportunidade do debate. Às 16h

começa a Ordem do Dia. Há um problema técnico, que acho que não vão resolver

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logo. Seria importante que nós, a partir da fala dos 2... É claro que há problemas,

porque eles já deveriam ter toda essa informação. Mas daqui a pouco começa a

Ordem do Dia, e não teremos tempo para fazer os nossos questionamentos.

O SR. DANIEL PONTE - Peço a atenção de V.Exas. Esta gravação que eu

vou reproduzir é do auxiliar de necrópsia Alexandre Várzea, o primeiro a alertar para

o plano para a minha morte.

(Reprodução de áudio.)

O SR. DANIEL PONTE - Nesse áudio, que infelizmente não foi possível

transmitir, quem fala é o Alexandre Várzea, já morto, avisando sobre o plano da

minha morte, perpetrado pelo perito Roger Vinícius, pelo inspetor de Polícia

Aristóteles Marques Batista, pelo inspetor Ricardo, pela inspetora Meire, pelo técnico

policial de necrópsia José Carlos Paim e outros.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Enquanto o

Deputado Pompeo de Mattos conversa com o Delegado Antônio Teixeira Alexandre,

consulto o Plenário se gostaria de fazer logo algumas observações ou algumas

perguntas.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Pois é. Mas

podemos dialogar logo com o Dr. Daniel?

Deputado Luiz Couto, o que V.Exa. acha?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Acho que, para não atrapalhar, o Dr.

Alexandre e o Presidente devem conversar num outro lugar, porque não dá para

servir a 2 senhores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - O.k. Então vamos...

O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Sr. Presidente, permita-me.

O que está acontecendo? Daqui a pouco o pessoal que está aqui não

compreenderá o que está acontecendo. Quero relatar o que está havendo de viva

voz, de forma bem clara e transparente, na Comissão de Direitos Humanos. Ocorre

que o Delegado Alexandre Neto foi convidado, a partir de requerimento formulado...

Acho que fui eu que apresentei o requerimento. Quem mais?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Na realidade, minha

solicitação foi formulada no dia 11 de abril de 2008. Eu fui convidado para

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comparecer a esta Comissão, até porque me interessava, em função do risco de

vida que corro no Rio de Janeiro. Então, embora esteja de licença médica, em razão

dos 9 tiros de fuzil que levei na porta da minha casa, resolvi comparecer para

denunciar como isso aconteceu e como isso tudo vem acontecendo no Rio de

Janeiro.

Paralelamente, por uma desafeta pessoal, uma das pessoas que estou

denunciando perante esta Comissão de Direitos Humanos, a Deputada Federal

Marina Maggessi...

Eles me convidaram para ir à Comissão Parlamentar de Inquérito que trata

das escutas telefônicas ilegais no dia 16, ou seja, 6 dias depois dos senhores. Está

aqui, dia 18 de abril. O primeiro convite foi da Comissão de Direitos Humanos.

Então, resolvi atendê-lo e fiz esse sacrifício, porque diz respeito à minha

sobrevivência. Já sofri um atentado, que ocorreu, coincidentemente, depois de a

Inspetora Marina Maggessi, hoje Deputada Federal, ter vaticinado isso na imprensa.

Trago o áudio da Rádio CBN, onde ela, depois de Deputada, candidamente

apregoa a minha morte. Inclusive, uma dessas frases que ela proferiu foi premiada

pelo O Globo. Eles não se calaram. Melhores frases de 2007 mostram excessos do

Brasil no mundo. Ela diz candidamente que matar uma pessoa é crime, mas ter

vontade não é. Esse foi o prêmio que ela ganhou. Está consagrada como Deputada

Federal. Fora as reportagens que junto aqui para o Deputado Pompeo de Mattos

ver. Uma delas é do JB Online: “Deputada Marina Maggessi diz que delegado não

perde por esperar”.

Coincidentemente, depois disso tudo, levei 9 tiros de fuzil na minha casa. Não

sei se foi algum eleitor dela ou alguém ligado a ela, mas o fato é que,

coincidentemente, levei 9 tiros de fuzil.

Quem é a Deputada Marina Maggessi? Marina Terra Maggessi de Souza. Ela

já respondeu a processo por uso de drogas, em 14 de maio de 1992 — art. 16 da Lei

nº 6.368/76. Isso está no ICA da Polícia Civil.

Então, na realidade, estou duelando contra uma pessoa bastante poderosa,

que está na Câmara dos Deputados hoje e insiste em querer me ouvir, mesmo eu

estando de licença médica.

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Vim aqui para tratar da minha segurança pessoal. Espero — não só eu, como

o Dr. Daniel Pontes — que saiamos daqui com alguma posição, porque a nossa

situação está cada vez pior e já não temos mais a quem recorrer. Existem vídeos. O

áudio está aí para ser visto. Foi instaurada uma sindicância perante a CGU e

perante a Corregedoria de Polícia do Rio, que não anda, porque ela é Deputada,

tem imunidade. E as coisas continuam como antes. Vamos ver o que pode ser feito

a partir de agora.

O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - Eu quero, Presidente..

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Pois não, Deputado

Pompeo...

O SR. DEPUTADO POMPEO DE MATTOS - ...na linha do que foi dito pelo

delegado, relatar que, quando nós fizemos o convite tanto ao delegado quanto ao

ilustre médico legista, exatamente com o intuito de a Comissão de Direitos Humanos

tomar pé da situação e ver a amplitude, enfim, o que se tinha oferecido em termos

de segurança, o que se podia avaliar, no que diz respeito à condição... na visão, na

ótica dos direitos humanos.

Hoje pela manhã tomei conhecimento de que a CPI que trata dos grampos

telefônicos tem interesse em ouvir o delegado. É um interesse legítimo, não há como

negar. Há todos os procedimentos legais, formais. A Comissão sabe disso. Já

participei de várias Comissões Parlamentares de Inquéritos, e como advogado

criminalista também sei bem como isso funciona.

Algumas pessoas vieram me dizer que poderiam, aqui na Comissão, prender

o delegado e levá-lo, de forma coercitiva, para depor na CPI. Eu disse que aqui na

Comissão nós não iríamos aceitar isso. Dialoguei inclusive com o Deputado Chico

Alencar sobre o assunto. O que a Comissão decidir lá... A Comissão decide lá fora.

Aqui na Comissão de Direitos Humanos nós não vamos aceitar, absolutamente,

nenhuma interferência, como não vamos interferir lá na Comissão.

Só quero esclarecer isso, e essa é a preocupação que antecede o debate.

Não queremos misturar o que acontece lá com o que acontece aqui. Aqui tratamos a

questão sob a visão, a ótica dos direitos humanos. Discutimos as coisas mais

elementares, como a dignidade da vida, a ameaça contra pessoas. São essas

questões que queremos tratar aqui. Quanto a outras questões que a CPI do grampo

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telefônico quer tratar, isso deve ser feito lá. Desculpem-me a expressão, mas “cada

macaco no seu galho”. Eles lá, nós aqui, numa e noutra missão. E vamos nos

respeitar.

Só queria esclarecer isso. Essa é a angústia que está havendo aqui na

Comissão. Não vamos aceitar uma interferência indevida, como jamais vamos

interferir indevidamente lá, ainda mais numa Comissão Parlamentar de Inquérito,

pois sabemos a importância que tem.

Só quero deixar isso claro, de forma pública, transparente, na Comissão de

Direitos Humanos, que tenho a honra, o desafio, o compromisso, o dever e ao

mesmo tempo o direito de presidir e também de preservar a integridade física e a

relação clara, límpida e cristalina daqueles que aqui comparecem para depor.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Sr. Presidente, V.Exa. me

concede a palavra, por favor.

O SR PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Só um instante, por

gentileza.

Primeiro, quero dizer que, na condição de Presidente, neste momento, estou

de pleno acordo com o Deputado Pompeo de Mattos, nosso Presidente de fato. Não

sei se seria o caso... se já foi feito algum contato com o Presidente da Câmara,

Deputado Arlindo Chinaglia. Não tem cabimento um procedimento dessa natureza

vindo de uma outra Comissão.

Está aberta a palavra sobre este assunto também para os outros Deputados,

mas penso que a Comissão Parlamentar de Inquérito deve tomar as medidas que

julgar cabíveis, se for o caso, até do ponto de vista judicial, para ouvir o delegado, se

tiver realmente justificativa para ouvi-lo, se tiver respaldo legal e regimental para

isso. Mas não se pode, de maneira alguma, interromper uma reunião da Comissão

de Direitos Humanos, que está ouvindo 2 autoridades que foram convidadas para

falar aqui, e criar uma constrangimento dessa natureza não só ao delegado, mas

também a todos nós da Comissão de Direitos Humanos.

Então, neste momento em que estou assumindo a Presidência, a nossa

posição é totalmente contrária a qualquer intervenção de uma outra Comissão em

nossos trabalhos.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Deputada Marina Maggessi.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Pois não, Deputada.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Excelência, não houve nenhuma

intervenção nesta Comissão. Em momento algum, ninguém interferiu aqui.

Realmente o requerimento para o encaminhamento do Sr. Alexandre Neto da forma

que ele escolheu ir lá já foi aprovado naquela CPI. E nós estamos aguardando,

apesar de ele estar marcado para as 14h, no mesmo horário desta Comissão, o

término desta audiência pública para que ele possa comparecer à CPI. Ele vai

escolher a maneira que quer ir. É só isso.

Em nenhum momento algum membro da Comissão Parlamentar de Inquérito

quis criar, ou criou, alguma crise. O que houve foi que o Presidente da Associação

dos Delegados de Polícia, que estava na CPI e viu o requerimento ser votado,

resolveu tentar convencer o Dr. Alexandre Neto de que não era necessário esse tipo

de conduta. Mas como ele, acintosamente, respondeu àquela Comissão que não

iria, isso acabou sendo deliberado no plenário por todos os Deputados que fazem

parte daquela Comissão. Só isso.

Muito obrigada.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Qual o seu nome,

Deputado? Desculpe-me.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Laerte Bessa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Pergunto ao

Deputado Chico Alencar, que pediu a palavra anteriormente, se posso, primeiro,

conceder a palavra ao Deputado Bessa.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Tudo bem. Depois quero falar como

membro da Comissão para continuarmos com a nossa audiência pública, inclusive.

O SR. PRESIDENTE(Deputado Sebastião Bala Rocha) - Está bem. Obrigado.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Sr. Presidente, também pertenço à

Comissão Parlamentar de Inquérito que trata dos grampos telefônicos. Foi agora

aprovado um requerimento de condução coercitiva do nosso colega Dr. Neto. Acho

que uma coisa não tem nada a ver com a outra. Não vamos interferir no trabalho

aqui. Só que não custa nada, acho que não tem nenhum problema, o Dr. Neto ir à

CPI, já que está em Brasília, e participar, colaborar com a nossa CPI. Ele foi

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convidado para ir à nossa CPI para colaborar com as nossas investigações. Então,

não vejo nenhum empecilho para que ele não possa ir. Agora, não há nenhuma

interferência nas interceptações ilegais por parte da Comissão de Direitos Humanos.

O senhor pode ficar tranqüilo. Assim que terminar esta reunião vamos convidá-lo, a

princípio, para que lá compareça. Mas se ele não comparecer, vamos ter que usar a

forma requerida pela Deputada Marina Maggessi, ou seja, a condução coercitiva.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Obrigado,

Deputado. Vou devolver a Presidência ao Deputado Pompeo de Mattos, com a

sugestão de que haja um diálogo, se for possível, entre o Presidente Pompeo de

Mattos e o Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito, para tentar chegar a

um entendimento sobre este assunto, porque acredito que ficaria muito mal para a

Comissão de Direitos Humanos ver um depoente, alguém que veio prestar um

esclarecimento à Comissão, sair daqui conduzido de maneira coercitiva para uma

outra Comissão. Essa é a minha posição pessoal. Prefiro que o Deputado Pompeo

de Mattos encaminhe uma solução negociada com a Presidência da Comissão

Parlamentar de Inquérito e com a Presidência da Câmara dos Deputados.

Deputado Pompeo. Obrigado.

O Deputado Chico Alencar pediu a palavra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Com a palavra o

Deputado Chico Alencar, do Rio de Janeiro, que, aliás, desculpa a expressão, vive

todo esse drama lá, que se transferiu para cá.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Pois é. O tambor de ressonância do

Brasil. Vamos simplificar para continuar nossa audiência pública extremamente

importante.

O Dr. Daniel fez afirmações aqui da mais alta gravidade. Sabemos que existe

corrupção na vida pública brasileira, inclusive na política, quase como rotina, mas

isso não significa que não devamos combatê-la. Isso faz parte também dos direitos

humanos, que dizem respeito à dignidade da pessoa, à honestidade e à moralidade

pública.

Então, tenho até algumas questões — já estou inscrito — para o Dr. Daniel .

Entendo que devemos ouvir o Delegado Alexandre. Eles vieram aqui nesta

audiência pública como convidados. Uma Comissão Parlamentar de Inquérito,

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instrumento importantíssimo, não pode ser banalizado nem desprestigiado por

ninguém, nem pelo Executivo, nem pelo Judiciário, nem por nós mesmos e nem pela

cidadania, ela tem, Delegado Alexandre, o poder de convocar. Então, pelo que fui

informado aqui, a própria CPI aprovou a convocação do Delegado Alexandre para

prestar depoimento, responder o que quiser e o que souber — e isso é importante

para o próprio trabalho da Comissão dos Grampos Telefônicos —, e ela tem também

esse instrumento, em caso de recusa do convidado, qualquer que seja ele, da

condução coercitiva. Entendo que é perfeitamente plausível se resolver isso de

maneira tranqüila. O depoimento rico e importante do Delegado Alexandre aqui é

indiscutível — quero encerrar para ouvirmos — e lá na CPI também. Tenho certeza

que ele pode colaborar com isso sem ir sob vara. Isso é desnecessário. Agora é

óbvio que não abrimos mão da autonomia da Comissão. Enquanto não acabar essa

audiência pública nenhuma medida pode ser tomada. Aliás, a bem da verdade, a

Deputado Marina me disse que tinha havida essa deliberação e que, é óbvio, iria

esperar o término da Comissão. Mas a notícia corre e se cria essa tensão. Espero

que todos que estão aqui assistam a audiência pública, prestigiando-a.

E também, Delegado Alexandre, só um detalhe. Claro que o ambiente

parlamentar tem seus códigos, assim como a polícia também tem, todos

respeitáveis, mas aqui não pode ser o espaço do duelo entre V.Sa. e a Inspetora e

Deputada Marina. O senhor tem a liberdade de falar o que quiser, mas esta

Comissão vai fazer por onde, com o Presidente Pompeo, para que não haja um

duelo aqui. Queremos saber a situação de risco que vossa senhoria corre e como

esta Comissão, a exemplo do caso do Dr. Daniel, pode minimizar isso, tomar

providências. A situação é realmente dramática e grave.

Então, vamos solucionar com o critério do bom senso e não da

espetaculosidade, que acaba atrapalhando esta audiência pública.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Pois não.

Agradeço a colaboração sempre pronta e qualificada do Deputado Chico

Alencar, que, como disse, vive esse drama.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Só para entender a dinâmica. Agora

o Dr. Alexandre faz a sua exposição e, depois, os Parlamentares...

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Os questionamentos.

Depois os questionamentos.

O Dr. Daniel pediu uma breve manifestação.

O SR. DANIEL PONTE - Acompanho o Dr. Alexandre Neto desde que ele

sofreu o atentado. (Pausa.) Inclusive, temos a foto ali dos 9 tiros de fuzil que ele

levou. Aquela projeção é dele, fora a mão.

Então, o Dr. Alexandre se encontra num período de estresse pós-traumático.

Isso é um diagnóstico médico. Digo que o Dr. Alexandre não tem capacidade plena

de autodefesa. E contra-indico. Se alguém discordar, por favor, chame uma junta de

psiquiatras para analisá-lo e analisar o caso. Estresse pós-traumático não é ser

maluco.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Vamos aqui fazer o

debate da Comissão de Direitos Humanos, que tem um outro propósito, um outro

viés. Sei que tem muita angústia. Acompanhei pela imprensa, acompanhei pela

mídia aquilo que aconteceu no Rio de Janeiro. Não vivenciei pessoalmente. Mas à

distância, pela experiência que tenho como advogado, pude medir o ambiente

belicoso que existe no Rio de Janeiro no que tange a essa questão.

O propósito do convite feito aos Drs. Daniel Ponte e Alexandre Neto é para

tratar aqui questões de direitos humanos. Não tem outro propósito. Não é para se

fazer aqui contraponto com a Deputada — muito pelo contrário — por quem temos

um profundo respeito. Afinal de contas, é a nossa colega e, como tal, temos essa

identidade. Então, estamos tratando dessa questão: direitos humanos. Queremos

separar uma coisa da outra.

Quanto à CPI, ela que resolva as questões. O que não quero é que seja

travado um debate da CPI na Comissão de Direitos Humanos, porque não é o local

apropriado, nem da parte dos colegas Deputados que integram a CPI, de forma

honrosa e desafiadora, uma missão nobre e honrada — e sei quão é porque

participei de várias CPIs —, tampouco do Dr. Alexandre, que vai tratar das questões

em relação à própria segurança e às graves ameaças, enfim, ao tiroteio do qual ele

foi vítima. É isso que queremos.

Portanto, Dr. Alexandre Neto, V.Sa. está com a palavra.

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Boa-tarde, Srs.

Deputados, Sr. Presidente desta Comissão de Direitos Humanos.

O que nos trouxe aqui foi exatamente o que nos aflige.

O Rio de Janeiro hoje é um grande campo de batalha, onde marginais e

policiais travam diariamente lutas para sobreviver. O que me trouxe aqui foi

exatamente essa aflição, não só minha como do Dr. Daniel, em função de tudo pelo

qual a gente passou.

Isso teve um início. Essa minha situação teve um início. Gostaria que o Dr.

Daniel Ponte pudesse colocar o vídeo, onde mostra como isso tudo começou, como

vim a perder um dedo, depois de um atentado em que levei 9 tiros de fuzil na porta

da minha casa, há menos de 2 metros de distância. Isso tudo também depois de

haver uma forte incitação por parte de uma Deputada Federal. Mas isso está

documentado. A gente vai ouvir primeiro a reportagem, o que aconteceu em

Copacabana, o que é altamente atentatório aos direitos humanos.

Como delegado de polícia, de plantão no dia, fui jantar — não fui com viatura,

fui com o meu carro pessoal —, parei no estacionamento, fui abordado por policiais

militares, curiosamente o comandante desse batalhão hoje está preso no batalhão

de choque, foi preso na segunda fase da Operação Gladiador, Operação Hurricane,

e ligado ao Deputado Álvaro Lins, muito amigo dele. Acho que até foram colegas de

turma, se não me falhe a memória. Mas são pessoas conhecidas. Mas a gente vai

ver como isso começou e qual foi o desdobramento disso logo após, em razão das

escutas telefônicas, onde uma Deputada foi surpreendida falando com um dos

marginais. Marginais eu não digo, mas foi usado por um grande marginal. E esse

policial está preso hoje, até agora, em Bangu I, por conta dessa Operação

Hurricane. Ele foi surpreendido num diálogo com uma Deputada Federal, onde ela,

então, apregoa que eu tenha que levar um monte de tiros nos cornos. Uma

Deputada Federal eleita já, porque ela falou isso antes. Essa captação telefônica foi

decodificada, foi transcrita e, assim que ela assumiu o mandato dela, ela,

candidamente, declarou isso na Rádio CBN. E não só na Rádio CBN....

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Sr. Presidente, acho que concordamos

em tratar o assunto de direitos humanos. Acho que poderíamos entrar diretamente

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no assunto e deixar a queixa do Alexandre Neto para depois na CPI. Vamos tratar

de direitos humanos.

Acho que não é o momento, mesmo porque a Deputada Marina não quer

responder, não quer contrapor ele porque vai ficar um bate-boca aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Perfeito.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Então, pedimos a V.Exa. que

conduzisse a oitiva dele como...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Eu quero dizer...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Olha, eu tenho o laudo na

mão, eu já tenho o laudo na mão...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Só um minutinho, Dr.

Alexandre...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Então, ela não está nem

na Polícia Civil do Rio de Janeiro, está afastada, está licenciada e quer saber mais

do que quem levou o tiro. É engraçado isso. Ela sabe tudo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Dr. Alexandre.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Ela ficou no SINPOL

durante 2 anos, eu acho, não prendeu ninguém de dentro da polícia. A polícia

federal teve que fazer isso. É engraçadíssimo isso. Quer dizer, eu tenho que rir

muito. Mas, infelizmente, eu não faço em respeito aos senhores.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Dr. Alexandre, Dr.

Alexandre, por favor.

Quero deixar claro aqui, até para que não tumultuemos a audiência pública na

Comissão de Direitos Humanos. Sei que tem demandas e angústias muito graves.

Gostaria que os senhores se ativessem à questão de relatar...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não admito que a

senhora me xingue aqui dentro da sua Casa. A Casa é sua, mas a senhora tem que

me respeitar, por favor.

A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES - Sr. Presidente, por favor, para o bom

andamento da nossa sessão, seria importante que o convidado se ativesse ao

tema...

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - É exatamente o que

estou propondo...

A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES - ... para não provocar reação de nenhum

Parlamentar, porque o interesse da Comissão de Direitos Humanos é conhecer as

denúncias, saber se elas têm procedência e se a Comissão vai tomar alguma

providência a respeito, porque caso contrário não chegaremos a lugar algum.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Compreendo,

Deputada Iriny. Essa é a angústia que tenho também. O que acontece? Temos aqui

um fato de uma controvérsia muito grande que envolve respeitosamente o nome da

Deputada Maggessi e com denúncias do Dr. Alexandre.

Mas o que quero é que o senhor relate as questões sob o ponto de vista dos

direitos humanos, da sua angústia, mas não para fazer um contraponto, uma

acusação.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Excelência...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - É essa a diferenciação

que quero que se estabeleça. Para essa oportunidade vai ter outro foro, que não é a

Comissão de Direitos Humanos. Se não, não vamos evoluir nesse debate, e o

senhor não vai poder dar as declarações que tanto se fazem necessárias para a

Comissão de Direitos Humanos e até mesmo por parte de V.Sa.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Será que tem algum material?

Já até procurei, na época, o chefe de polícia. Existe algum material escrito que eu

possa levar comigo?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Já está sendo feito,

Deputado. O IML do Rio já está em plena conclusão em São Cristóvão, muito

embora contra a comunidade lá. Inicialmente, eles não quiseram.

O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Mas não está pronto. O material

existente sobre o IML tem aí? Está escrito? Ah, está em CD.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Na verdade, só para

esclarecer, Deputado. Inclusive, ele colocou em vídeo aqui para vermos as imagens

muito chocantes do IML do Rio de Janeiro, que, obviamente, imagino, está

franqueado a todos os colegas Parlamentares.

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Diga-se de passagem, só

para complementar, porque são coisas que se entrelaçam, a minha vida aqui,

notadamente por causa disso, porque estou sob licença médica. Está aqui. Vim aqui

mais para tratar dessa situação de segurança pessoal, porque isso nos aflige, e isso

diz respeito aos direitos humanos. Na medida em que este é um País, um Estado

Democrático de Direito que garante a liberdade de expressão e a denúncia contra

aqueles maus servidores públicos, acho que isso está acima de qualquer outro tipo

de CPI, sem querer desprestigiar, obviamente, Deputado, a participação dos

senhores. Mas a administração pública é impessoal. A impessoalidade deve reger

os princípios norteadores da administração pública. E é isso que a gente está

tentando evitar. Então, a gente não pode ver uma CPI sendo instrumentalizada para

atingir um delegado que, efetivamente...

Mas vamos ao que interessa, para a gente ter uma idéia do que...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Só para esclarecer. Sr. Presidente, só

para esclarecer ao Dr. Alexandre Neto. Sou delegado de polícia licenciado. Agora

sou Deputado. O senhor pode ter certeza de que o senhor vai ser muito bem

recebido lá, com dignidade, e o assunto que vamos tratar lá não se trata de rixa do

Rio de Janeiro. Vamos tratar de assunto de interceptação telefônica. Não tem nada

a ver. O senhor pode ficar tranqüilo, porque os colegas que estão lá estão

receptivos. O senhor pode ficar tranqüilo que a casa é de respeito. Eu também

estarei lá como delegado de polícia, já que sou um colega seu. Pode ter certeza que

será bem tratado na Comissão. Espero que V.Sa. compareça para nos ajudar, para

colaborar conosco.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - O senhor pode ter certeza

que isso vai acontecer, Excelência.

Só quero deixar claro o que está acontecendo para o senhor entender. Já

respondi ao requerimento que me foi mandado posteriormente ao convite dessa

Comissão. Foi me enviado o convite no dia 11 — tenho aqui tudo documentado — e

os senhores me mandaram outro convite no dia 18. Como havia essa preocupação

de segurança pessoal — não é este o caso do Dr. Daniel, mas é arriscado a

acontecer comigo —, viemos a esta Casa, colocando em risco até mesmo a minha

saúde, a minha situação pessoal, para tratar desse assunto. Mas tecnicamente

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tenho um documento público do Estado que comprova que estou de licença médica,

sucessivamente prorrogada. Estou com uma cirurgia de mão marcada para a

semana que vem; já com risco cirúrgico aqui. Vim em função da minha situação

pessoal que me aflige, porque eu levei 9 tiros de fuzil. O laudo já consta do inquérito,

está tudo documentado. Não tenho que ficar contando história.

O Dr. Daniel Ponte acompanhou todo o caso. Nós não acreditamos

inicialmente que fossem tiros de fuzil, mas foram tiros de fuzil. Isso desnuda uma

face muito maior do atentado que eu sofri, porque se fossem tiros de pistola eu

estaria satisfeito, mas não foram tiros de pistola, foram de fuzil. Os projéteis foram

apreendidos e foi feita perícia com as balas que retiraram do meu corpo e as que

ficaram no carro. Foram 9 tiros de fuzil 762.

Quero que o senhor entenda o que sofreu um delegado de polícia de plantão

na DAS no dia em que se desenrolava um seqüestro. Fui jantar com o meu carro,

para não usar uma viatura oficial, porque geralmente quando se usa uma viatura

oficial, encontra-se um problema. Eu janto no Galeto, na Rua Prado Júnior, onde ao

lado fica um inferninho. Eu vou a inferninho, eu sou solteiro, eu adoro.

Acho que as mulheres aqui presentes deveriam trabalhar muito para

regularizar a vida das meninas que trabalham em inferninho, porque não é uma vida

fácil. É uma vida muito dura. Eu, quando não tenho nada para fazer, visito

inferninho. Eu adoro, converso, bate-papo e vou embora. Mas nesse dia,

infelizmente, não pude porque eu fui obstado em função disso.

Gostaria que o senhor assistisse a esse vídeo que vai demonstrar o que está

acontecendo, o que aconteceu e o que está por vir. Por favor.

Vou ficar de pé apenas para que vocês tenham uma noção do que está

acontecendo.

(Exibição de vídeo.)

Essa operação se desenrola no Rio de Janeiro todas as noites e era, aliás,

até hoje é chamada de Operação Copacabana Legal. É uma operação muito

eficiente para coibir os abusos noturnos, pessoas que ficam à noite explorando

estacionamento irregular e outras atividades de desordem urbana.

O que aconteceu? Nesse dia eu estava de plantão na DAS e eu iria

coordenar essa operação juntamente com o Delegado Freitas, que era o delegado

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encarregado. Mas como choveu o SINPOL comunicou, às 22 horas, que não haveria

mais Operação Copacabana Legal. Eu então desativei as duas equipes da DAS que

estavam comigo e disse: vocês podem descansar que eu vou mandar uma

interceptação para o fórum. Essa interceptação de uma escuta telefônica de um

seqüestro em andamento foi para o fórum e eu fui jantar com o meu carro. Quando

cheguei à Rua Prado Júnior, onde tem um restaurante chamado... Esqueci o nome

do restaurante de galeto... É um galetinho que tem lá. Eu parei o carro na porta do

galeto. Quando subi na calçada com as duas rodas, fui instado por um policial que

disse que eu não poderia parar o carro ali. Desci imediatamente, parei o carro atrás

das viaturas da PM que estavam estacionadas e perguntei: o que está

acontecendo?

Esse é o meu carro. O policial militar que se chama Barbosa, esse policial

militar que me empurrou... Não tem voz, não tem áudio.

Eu paro o carro atrás deles e me identifico: O que está acontecendo?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Quem gravou, por

gentileza, essas imagens?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - A própria PM. O Serviço

Reservado da PM estava trabalhando nesse dia. Então, eles tinham a mania de

gravar esse vídeo. O senhor vai ver tudo o que aconteceu aí. É porque o senhor não

está ouvindo o diálogo, mas foi tudo degravado, o processo está todo aqui, foi

xerocopiado.

Eu me identifiquei para esse policial Barbosa, aquele de quepe branco, e

disse: Sou Delegado de Polícia da DAS. O que está havendo? Ele falou assim: “Hoje

é Operação Copacabana Legal”. Eu falei: Legal não, ela é ilegal porque a operação

está suspensa. Vocês não eram para estar aqui, o que está acontecendo?. “Não,

nosso comandante mandou a gente ficar aqui hoje e estamos tomando conta aqui”.

O que acontece geralmente: eles ficam nas portas das boates porque se

alguém pára ali, tem aquela pressãozinha. O cara pára, ele multa e dá aquela

pressão para o caro dizer: “Meu amigo, anda aí, toma um dinheirinho e vai embora.”

Então, como eu questionei isso falei: Essa operação não era para estar

acontecendo. Ele disse que está acontecendo e está acabado, vai acontecer. Eu

falei: Essa operação tecnicamente não poderia, porque eu inclusive fui dispensado

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dessa operação. Eu estaria comandando essa operação hoje com o Dr. Freitas. E aí

começou o bate-boca.

Esse Sargento Barbosa é a pessoa que me agrediu inicialmente. Eu

conversando com ele, ele insistiu na apresentação do meu documento, eu já tinha

me identificado para ele. Recusei-me a fazê-lo e disse: Olha, você está levando a

coisa para o lado pessoal, já me identifiquei para você. Sou Delegado de Polícia,

estou trabalhando e não vou me identificar de novo para você. Ele veio e multou o

carro. Eu falei que não ia me identificar e ele foi e me empurrou.

Esse é um policial civil que chega, da 12ª DP. Esses dois são policiais, tanto

esse quanto esse, viram a situação, trabalham na circunscrição e vieram ao meu

auxílio para ver o que estava acontecendo. Aí eu explico, nisso estou algemado.

Estou algemado e eles querendo me levar para a delegacia porque eu teria

desacatado e agredido o policial militar. Isso está tudo documentado aqui e vou

deixar com o Deputado Pompeo de Mattos para que ele verifique minudentemente o

que aconteceu.

Esse é o tenente que comandava a operação, Tenente Medeiros. Esse é o

Sargento Barbosa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - A sua detenção foi por

estacionamento irregular e desacato a autoridade?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Deixe eu explicar o que

aconteceu. Não, a detenção... A gente vai se estender muito. O que aconteceu?

Quando chegamos à delegacia, vi que estava sendo filmado, porque eles filmaram

todo esse evento. Então, eu peguei e falei: está sendo filmado, está ótimo, então

estou tranqüilo. Está sendo filmado e gravado, está ótimo. Quando eu cheguei à

delegacia, a primeira coisa que eu fiz: apreender a máquina com a delegada que

estava de plantão e separar o PM Barbosa, o Sargento, do Oficial Medeiros. O

depoimento do Tenente Barbosa diz o seguinte: Ele me levou preso... Está aqui,

poderia até ler para vocês. Ele me levou preso porque eu teria me negado a fornecer

a identificação. Como eu me neguei a fornecer a identificação e a comparecer à

delegacia, ele me prendeu.

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O Tenente Medeiros, por seu turno, diz que me prendeu porque eu agredi o

Sargento Barbosa. Quer dizer, são duas declarações totalmente díspares. Um diz

uma coisa e outro diz outra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - De qualquer forma, o

senhor mostrou os seus documentos.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Eu mostrei, claro. Eles vão

ser mostrados de novo. O senhor vai ver que eles vão ser mostrados de novo. Aqui,

ele pega a minha carteira, volta a mostrar o documento — isso tem um laudo aqui —

para o tenente. Eu já tinha mostrado, entendeu? Eu não mostrei de novo porque eu

já tinha mostrado. É inacreditável, mas aconteceu no Rio de Janeiro, mas tem mais

coisas inacreditáveis. Isso é só o começo, o senhor vai ver que tem ainda mais

coisas inacreditáveis.

Eu não deixo que ele pegue a minha carteira. Eu falo: não, eu já me

identifiquei. Eu não me recusei a me identificar.

Quatro testemunhas para a delegacia, além de policiais que lá estavam

também que viram, mas havia quatro policiais civis.

(Exibição de vídeo.)

(Não identificado) - Deputado Gabeira, Deputado Chico Alencar, eu sei de

um episódio no Rio que a polícia prendeu um juiz federal e transitou no Rio

procurando saber onde é que ia levá-lo, se iria levar para a delegacia ou se sumia

com ele.

(Não identificado) - Enquanto isso a população está à mercê de tudo. A

população que paga o salário de todos eles e o nosso também.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - O resultado disso tudo foi

isso aqui. Mas o senhor vai ver depois o que aconteceu. Foi uma série de fatores

que colaboraram para isso aqui, no final desses 8 tiros que eu levei na porta da

minha casa.

Eu não chamei a Polícia Civil, porque se eu chamo a CORE ou a minha

delegacia, ia ter uma troca de tiros no meio da rua, com certeza. Eu evitei isso ao

máximo. O pessoal disse chama a Polícia. Eu não vou fazer isso, porque daria um

problema sério. Eu algemado com o pessoal da minha delegacia chegando, ia ser

uma confusão no meio da rua sem limites. Então, eu evitei chamar a CORE ou a

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própria DAS que estava de prontidão. Eles estavam esperando lá. Eles não foram

embora, e na delegacia tive que contornar esse problema, que foi um problema

seriíssimo.

Esse aí apertava a minha algema propositalmente para me machucar. Ele

apertava e eu estava reclamando. Ele dizendo que eu o agredi. As primeiras

imagens mostram que quem me empurrou foi ele. E ele dizendo que eu o agredi. O

azar é que ele não sabia que estava gravado. Mas na delegacia, eu prestei meu

depoimento e nós fomos ver a fita. A delegada, Karina, uma delegada nova, ou invés

de prendê-los por denunciação caluniosa, não o fez. Apenas os elencou na lei de

abuso de autoridade. Mas V.Exas. verão o que aconteceu depois.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Delegado, vai longe

esse vídeo? Quanto tempo dura?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Seria bom que todos os

senhores assistissem para ver a quantas...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Quanto tempo dura o

vídeo?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Mais uns 5 minutos.

Isso foi no Governo Anthony Garotinho. Um Governo exemplar, que não era

da Rosinha, quem governava era o Garotinho. Foi no Governo da família Garotinho.

Mais tarde eu fiquei sabendo que o Comandante desse batalhão chama-se

Celso Nogueira Lacerda, está preso na Hurricane. Quando houve esse problema, o

tenente ligou para o comandante e disse que estava tendo um problema com o

delegado. O comandante perguntou qual o nome do delegado e ele informou que

era Alexandre Neto. O comandante ligou para o Álvaro Lins e disse: “Pode

esculachar.” E aconteceu o que vocês estão vendo aí.

Quem me passou isso foi gente do batalhão. Alguns policiais que me

conheciam não intercederam, ficaram preocupados, porque sabiam que ia dar

problema. Alguns até se recusaram a depor na delegacia. Eu estou com uma ação

cível contra o Estado, em trâmite acho que na 4ª Vara de Fazenda Pública.

Acho que acaba. Ele me coloca na marra dentro do carro, eu sou levado

dentro de uma viatura da PM para a delegacia onde conseguimos apreender a fita e

periciá-la.

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Pode acelerar, já está no final.

Isso aconteceu no dia... Foi bem antes do atentado. Isso aconteceu no dia 22

de fevereiro de 2006.

Ocorrido isso, delegacia de polícia, procedimento, todos foram ouvidos. Para

eu conseguir fazer o laudo da fita foi uma guerra, porque o Dr. Álvaro Lins intercedia

para que esse laudo não fosse feito. O chefe de polícia civil, ele intercedia para que

o laudo não fosse feito. Mas como eu tinha um amigo dentro do ICE, já era final do

mandato, ele fez o laudo, o laudo saiu, está aqui. Esse aqui é o segundo volume. O

caso foi encaminhado para o GECRIM, porque no dia a delegada, pressionada, filha

de general, recém-concursada... Se fosse meu plantão, estavam todos presos por

denunciação caluniosa, porque, se os senhores virem o que está na fita e o que eles

dizem, é óbvio. E o que aconteceu? Isso seguiu, foi mandado para o GECRIM e o

promotor que oficia no 4º GECRIM entendeu que o crime não era de menor

potencial ofensivo. Ele entendeu que isso era um crime gravíssimo e que não

poderia tramitar pelo GECRIM. Ele faz um parecer, que está aqui, e encaminha esse

procedimento para a vara comum. Caiu na vara comum. A juíza abre vistas, os meus

advogados entraram como assistente de acusação, o processo vai para o Ministério

Público. No Ministério Público, a promotora que oficiava na vara criminal suscitou um

conflito negativo de atribuição. Ou seja, não sou competente para julgar isso, é no

GECRIM mesmo, porque seria um crime de abuso de autoridade, a despeito de tudo

que vocês viram aí.

Isso foi para o Conselho Superior do Ministério Público onde foi decidido que

é o GECRIM. Quando saiu essa decisão, os meus advogados entraram com um

recurso perante o Colégio dos Procuradores. Nesse intervalo eu sofri o atentado. O

atentado que eu sofri foi no dia 2 de setembro de 2007, agora, no ano passado. Eu

levei 8 tiros de fuzil na porta da minha casa.

Com a eclosão desse fato novo, recorremos ao Conselho Superior do

Ministério Público. Resumindo, o recurso foi feito, e está aqui. O recurso passou 7

meses no Ministério Público e o crime de abuso de autoridade prescreveu. Ou seja,

tudo que aconteceu até agora não deu em nada.

Nesse entremeio, surgiu um fato novo que pode ter açodado a iniciativa

desses policiais militares. Quando eu sofri o atentado, o carro filmado na minha rua

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foi o do Sargento Barbosa. O carro dele passou, embora não tivesse placa, mas

apreendeu-se o carro e verificou-se que na janela de trás, por onde os tiros foram

disparados, havia excessiva quantidade de pólvora, característica de arma de fogo.

Quando eu fui baleado, fui andando para o hospital, eu pressenti a

emboscada, eu me abaixei, os tiros resvalaram aqui, só levei esse tiro na mão, eu vi

que era um carro prata e eu falei para o policial: olha é um carro prata. O policial que

havia feito o laudo coincidentemente era o policial que estava na Homicídios e foi

direto nos carros dos policiais envolvidos. No terceiro carro que ele pesquisa, o carro

do Barbosa, um Polo prata, a gente foi apreender o carro e eles estão presos. Por

que até plantaram uma terceira testemunha. Uma viatura da PM que passa minutos

antes plantou uma testemunha que mais tarde descobriu-se que estava falando

mentira, porque ela falou que teria sido um Tempra, que um cara teria saltado do

Tempra e me alvejado. Só que, quando ele depôs na DPJM, ele mostrou essa

versão. Quando foi para a delegacia de polícia, nós tínhamos a fita da rua, e não

passava nenhum Tempra branco. E aí então ele teve que falar a verdade. Ele falou:

“Não, eu fui coagido pelos policiais.” Então, essa foi a situação que se colocou.

Agora, o que aconteceu? Antes disso, uma Deputada — não vou citar nome

—, eu já brigando com o Álvaro Lins, até porque eu tenho mania de escrever em

jornal, isso é um erro meu, dediquei vários artigos ao Álvaro, a essa Deputada, e até

hoje não fui interpelado. Estou louco para ser interpelado, mas não fui.

Então, os artigos, Deputado Pompeo de Mattos, estão aqui. Agora, gostaria

que... Daniel, bota a fita de mídia da Rádio CBN.

Eu digo isso porque diz respeito a direitos humanos. Quando você vê que um

cidadão que é esculachado, como eu fui, um delegado de polícia, no meio da rua,

trabalhando, como os PMs fizeram comigo... Isso porque era na Zona Sul. Se fosse

na Baixada, em Bangu, eu estaria dentro da mala de um carro e estaria morto, eu

nunca mais iria aparecer. Como foi na Zona Sul, não deu para fazer isso, eles

tiveram que me levar para a delegacia, me autuar. Se fosse na Baixada

Fluminense... Eu branco, delegado de polícia, na Zona Sul... Imaginem — sem

qualquer tipo de discriminação — um pretinho, em Bangu, de fusca! Estaria na mala

de uma viatura, tranqüilamente, mortinho da silva, e ninguém iria saber o que

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aconteceu. Aí, então, o que aconteceu? Com a eclosão da Operação Gladiador,

Hurricane, flagrou-se...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Delegado, eu só queria

alertar que temos aqui vários colegas Parlamentares, todos interessados em fazer

seus questionamentos. Quem sabe o senhor encerra e nós vamos abrir espaço para

eles fazerem os seus questionamentos. Assim poderemos avançar.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Excelência, isso é

importante. Olha só, eu vou dizer por que é importante. Eu gostaria que o senhor

ouvisse essa entrevista, é uma entrevista importante, porque diz respeito àqueles

que deveriam zelar por nossa segurança, àqueles que são eleitos para zelar por

nós, para orar por nós, pecadores, agora e na hora da nossa morte, amém.

Então, esse áudio, para mim, é muito importante ser ouvido porque é um

áudio que vai dizer a quantas anda a situação no Rio de Janeiro, e quem é eleito no

Rio de Janeiro para defender a nossa sociedade. Isso é importante para mim. Isso

aqui, esse tiro que eu levei e esse dedo que eu perdi, eu podia estar morto, eu tenho

prazer de ver minha mão faltando um dedo, mas eu estou vivo, isso não foi à toa,

houve uma conjuntura que levou a isso, alguém foi encorajado a: “Pô, vamos

esculachar esse delegado, ninguém gosta dele; pô, vamos dar uma esculachada

nele, já teve até uma pessoa que mandou dar um monte de tiro nos cornos dele.

Então, vamos esculachar, não custa nada dar uns tirinhos de fuzil nele, ninguém vai

correr atrás”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Por favor, o vídeo.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Então, Deputado, estou

entregando para o senhor. Isso aí está parado, está no GECRIM, a denúncia não foi

aceita, está prescrito. E vamos ver o que é que vai acontecer. Aí está tudo

documentado.

Um fato que coadjuvou esse foi esse fato que aqui está...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Os policiais estão presos, não é?

Os policiais militares estão presos?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não. Olha só: o Barbosa

está preso e os 2 PMs que teriam plantado a testemunha também estão presos por

terem coagido essa testemunha.

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A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Mas o senhor está convicto de

que foram eles que praticaram esse crime?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Olha, eu não tenho essa

convicção, porque eu não acredito que 2 sargentos e um cabo tenham feito isso

confiando na condição deles.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Mas o senhor não acompanhou

essas investigações na Homicídios?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não, eu estou baleado,

Deputada. Deputado, com todo o respeito, está faltando um dedinho aqui. Eu estou

me recuperando de um trauma violento na porta da minha casa.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Eu sei, eu encontrei o senhor na

festa de posse na semana passada. Eu encontrei o senhor na festa de posse do Dr.

Reimão.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - É obrigação. É obrigação.

É meu colega de turma. Nós estudamos um do lado do outro. Eu me sentava nessa

mesa aqui e ele se sentava nessa.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Está, mas não vamos desvirtuar.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Delegado, vamos abrir

os questionamentos enquanto o vídeo não sai, vamos fazer os questionamentos até

achar o vídeo. Por favor, o senhor pode se sentar aqui. Eu tenho inscritos para os

questionamentos. O primeiro deles, a quem franqueio a palavra imediatamente, é o

Deputado Chico Alencar, do PSOL do Rio de Janeiro.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Com a rapidez que o horário exige,

porque nós já temos a Ordem do Dia aberta, queria perguntar ao Dr. Daniel Ponte —

se possível, sugiro anotar aí as questões para depois responder — e também ao Dr.

Alexandre. Primeiro...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Quer ouvir o vídeo?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Não, sinceramente, se é notícia, eu

conheço perfeitamente, não só da CBN como de vários jornais, as transcrições...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Sr. Presidente, eu peço a V.Exa. que

essa fita não envolva a Deputada, que não cite o nome dela. Se for citar, eu sou

contra a publicação disso aí.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Matos) - Esse não é o problema.

O Deputado Chico Alencar está com a palavra.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Isso. Vamos lá. Então, primeiro o Dr.

Daniel. O senhor poderia repetir o esquema de corrupção para liberação de corpos

no Instituto Médico Legal, aquele valor que o senhor citou, como é feita a partilha e

se o senhor pode afirmar se esse esquema prossegue? Esta é a primeira pergunta.

Segunda: a revista policial que o senhor mostrou aí várias vezes é uma

publicação de que entidade? Aquela que tem anúncios de patrocinadores de casas

de saliência e atividades que não têm o escopo legal? Quem a edita?

Terceira: o senhor disse que na Polícia Civil há uma corrupção vertical, que

vem de cima, e não só no IML, na Polícia toda. Esse esquema prossegue?

Quarta: o senhor disse que o Superintendente da Polícia Federal, tão logo

assumiu, tirou sua escolta em função dessas denúncias que o senhor fez. O senhor

se recusou a aceitar uma proteção, entrando no programa PROVITA mais

recentemente? Eu tenho essa informação.

É evidente que, pelo grau de denúncias que o senhor faz, os riscos são

enormes, e esta Comissão tem extrema preocupação com esse aspecto. Mas o

senhor teria recusado entrar em algum programa de proteção à testemunha?

A outra questão: o senhor disse que a Secretaria de Direitos Humanos da

Presidência da República disse que o senhor — para clarear isso, eu não entendi

bem — não mereceria ser considerado, inclusive nas suas denúncias, e nem ser

protegido, porque em algum lugar apareceu o senhor com arma e colete? Mas como

assim? Um comentário. Quem fez e que efeitos isso teve? O senhor disse que está

praticamente demitido. O que é exatamente estar praticamente demitido? Estar

demitido é uma coisa. Eu já o estive em várias situações da vida. E não estar é

outra. Esses processos que o senhor sofre podem culminar em demissão? É isso?

E o senhor disse que o Diretor do Departamento de Polícia Técnica e

Científica é o mesmo do Governo Rosinha Garotinho. Ele estaria também nesse

esquema de corrupção?

São essas as indagações.

E agora para o Dr. Alexandre Neto, objetivamente: o senhor foi ameaçado

antes do atentado? É bom responderem os 2 juntos e eu vou encerrar minha

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participação. Depois do atentado, de setembro para cá, houve novas ameaças?

Qual é a situação em que o senhor está? O senhor tem proteção? Qual é a situação

atual?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Com a palavra, para as

suas respostas, o Dr. Daniel.

O SR. DANIEL PONTE - Excelência, eu gostaria que o senhor fizesse a

pergunta número um.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Não anotou?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Por isso eu pedi para anotar, como

um bom professor. Mas o senhor não é meu aluno, o senhor é professor também.

Mas vamos lá, perdendo tempo de novo. Depois dizem que Deputado é que enrola.

Vamos lá.

O senhor confirma o esquema... Parece que qualquer pessoa, para liberar um

corpo do deplorável, abjeto Instituto Médico Legal... Não sei se em outros Estados é

assim, eu já estive lá também, tomara que transfiram logo. Mas, se não me engano,

o senhor disse que, para liberar os corpos, são 250 reais, isso é, por fora, sendo que

210 iriam para a cúpula da Polícia Civil. É isso?

O SR. DANIEL PONTE - Isso daí foi dito pelo Delegado Luís, da Corregedoria

de Polícia, que explicou como era a divisão do dinheiro.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - É o delegado da Corregedoria. É o

Corregedor atual?

O SR. DANIEL PONTE - Não, da Corregedoria atual. Não é a corregedora, é

um delegado-corregedor. Ele riu, tentou me imprensar para ver se eu sabia como

era feita a divisão. Aí ele riu e explicou: “É, vai. Dos 250 reais, 20 reais ficam em

cada local que o cadáver passa, e o resto passa para a chefia”. Isso ele se referia à

época de Álvaro Lins. Isso na frente do advogado do SINDMED, Dr. Antônio Erlon.

Tive testemunha do que ele disse.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Quando o senhor publicizou essa

informação, ele negou?

O SR. DANIEL PONTE - Não. O que ele fez? Ele pegou e deu para o Dr.

Leonardo Tumiati seguir com a sindicância. Saiu da sindicância. E um detalhe: ele

garantiu que as minhas denúncias não dariam em nada.

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O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Essa revista policial que o senhor

exibiu aí é editada por quem? É uma revista de que entidade?

O SR. DANIEL PONTE - É uma revista de um grupo de policiais, PMs,

policiais civis. Tem um rol ali de...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas não tem uma entidade que a

edita?

O SR. DANIEL PONTE - Polícia em Ação, Ação Policial. Olhe ali o índice.

Pegue ali a revista. (Pausa.) Quem edita... Diretor Responsável, Departamento

Jurídico, Conselheiros... Tem coronel, coronel, delegado...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas ela é uma publicação — não

tem na capa, não? — da associação tal?

O SR. DANIEL PONTE - Não, não diz nada. Polícia em Ação. Agora, não

acredito que quem saia nessa revista não veja os anúncios, ainda mais com a casa

de prostituição. A Deputada Marina, com todo o respeito que eu tenho à senhora...

(Pausa.)

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - As pessoas entrevistadas... Antes o

senhor falou do Governador, do Superintendente da Polícia Federal, do Chefe da

Polícia Civil. Elas são entrevistas pela equipe da própria revista?

O SR. DANIEL PONTE - Exatamente.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Então, o senhor poderia deixar na

Comissão um exemplar, não é?

O SR. DANIEL PONTE - Eu deixo. Vou deixar um CD.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sim.

O SR. DANIEL PONTE - Eu não tenho muitos exemplares.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Está certo.

O senhor falou da corrupção vertical na Polícia, que a cúpula é que estimula

em cada delegacia... É exatamente isso?

O SR. DANIEL PONTE - Isso aí eu tenho uma gravação do falecido

Alexandre Várzea, que foi morto num acidente muito suspeito, em que ele ainda cita

literalmente, falando do IML, que tinha o Álvaro Lins, que era o Ali Babá, e tinha os

40 ladrões e que o Roger, que era o Diretor do IML, fazia parte dos 40 ladrões. Isso

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eu tenho gravado. Eu tenho vários CDs aqui e posso deixar com vocês. Essa

pessoa foi morta.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Isso tem gravado onde?

O SR. DANIEL PONTE - Em CD. Eu vou deixar com os senhores.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E o senhor fez essa denúncia onde?

O SR. DANIEL PONTE - Polícia Federal, Polícia Civil, Corregedoria,

Ministério Público Federal.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E há uma investigação em curso?

O SR. DANIEL PONTE - Em tese, sim. O Ministério Público Federal deu o

seu parecer, disse que as denúncias são graves, as provas são contundentes, que

eu presto relevantes serviços à sociedade — tenho parecer do Ministério Público

Federal — e delegou a competência ao Ministério Público Estadual. O Ministério

Público Federal já apreciou todo o fato e disse que há fundamento.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Esse Alexandre Várzea morreu num

acidente automobilístico?

O SR. DANIEL PONTE - Em ziguezague, de moto, na contramão.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Como assim? Ele estava de moto?

O SR. DANIEL PONTE - Ele estava de moto, em ziguezague, na contramão.

Muito estranha a morte dele, ele sendo a principal testemunha, tendo todas as

autoridades e essas gravações desde janeiro — janeiro e fevereiro. E ele morreu em

setembro. Por que ele não foi ouvido, se o prazo do inquérito são 30 dias? E maior

coincidência: exatamente uma semana depois o Dr. Alexandre Neto é fuzilado.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - O senhor falou — o que nos

interessa particularmente — que a Superintendência da Polícia Federal do Rio

retirou a sua escolta.

O SR. DANIEL PONTE - Exatamente.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Quando foi isso?

O SR. DANIEL PONTE - Retirou a minha escolta em janeiro, alegando que eu

não sou testemunha em processo federal algum, criminal. Isso é mentira, porque eu

tenho, inclusive no CD aqui, eu posso projetar, a intimação para comparecer à

Delegacia Fazendária com data de dezembro. Então, como é que eu não sou

testemunha, não tem nenhum procedimento, se eu tenho a intimação? Inclusive a

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ONU... O Brasil respondeu à OEA que eu não sou testemunha em processo algum

criminal. Eu peguei, escaneei a intimação, escaneei o meu depoimento e mandei

para a OEA, mostrando que o Brasil litiga de má-fé.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - O senhor está há quase 4 meses

então sem nenhuma proteção?

O SR. DANIEL PONTE - Nenhuma.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E o senhor teria se negado a entrar

num programa de proteção, como o PROVIDA?

O SR. DANIEL PONTE - O Programa de Proteção a Testemunhas é

simplesmente uma cadeia para a pessoa honesta, porque eu não posso exercer

minha Medicina, não vou poder exercer o Direito, não vou poder fazer nada da

minha vida, vou ter de viver escondido. É esse o prêmio que eu ganho por ser

honesto.

Enquanto isso, se vocês forem à Polícia do Rio, vamos ver o padrão de vida

de vários delegados e chefes de SI. No Orkut, se vocês entrarem no Orkut da Polícia

Civil, na comunidade, que inclusive está no CD, os próprios policiais explicam a

divisão de dinheiro. Não sou eu que falo, são os policiais no Orkut, que é uma coisa

pública.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Está no Orkut?

O SR. DANIEL PONTE - Está no Orkut. Está no CD, está no CD que eu

apresento para os senhores. Está lá falando que eles pegam... A delegacia A pega

dinheiro da termas; delegacia B pega dinheiro do ferro-velho; a delegacia C pega

dinheiro do tal... Está no Orkut, policiais mostrando a cara. Eu já entreguei esse CD

para tudo que é lugar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Finalmente, o Dr. Alexandre Neto

então...

O SR. DANIEL PONTE - Acho que o senhor tinha mais algumas perguntas,

não?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - É, tinha em relação ao “praticamente

demitido”...

O SR. DANIEL PONTE - O “praticamente demitido”, eu respondo,

(ininteligível) de 040, na Corregedoria-Geral Unificada, não por ser ladrão. Mas

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aquelas imagens que V.Exas. viram, eu trabalhando em meio a moscas, eu

entreguei para o meu sindicato, o Sindicato dos Médicos, e o Sindicato dos Médicos

entregou para a imprensa. Então, eu feri o sigilo policial. Eu peguei pneumonia,

peguei abcesso de pele trabalhando naquelas condições. Isso se chama crime de

exposição a perigo contra a saúde. Isso daí não foi apurado.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Agora, com relação à Secretaria de

Direitos Humanos da Presidência da República, sempre tem tido uma parceria...

O SR. DANIEL PONTE - Outra coisa: o Dr. Hugo disse...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Quem é o Dr. Hugo?

O SR. DANIEL PONTE - É o assessor da Deputada Irany.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Iriny Lopes.

O SR. DANIEL PONTE - Perdoe-me. Muito prazer. O que ele disse para

mim? Que como eu saí na Istoé de colete de arma, isso dificultou muito, pois não

era uma postura de um defensor. Então eu penso: qual é a postura do defensor? Eu

fiz até uma analogia um pouco grosseira: Mengele era um médico que andava de

branco e fez as maiores atrocidades. Eu, infelizmente, tenho de andar de arma e de

colete porque o Estado não me dá nenhuma segurança. Eu não roubei.

Ofereceram-me uma lista para eu dar o aval, uma lista da SENASP, do perito

Jefferson, lá do IML, a mando do Dr. Walter Barros. Eu recusei dar o aval. Ele me

ofereceu o “convênio”, entre aspas, das funerárias. Eu perguntei para ele se tinham

firmado algum tipo de parceria público-privada. Ele arrancou essa lista da minha

mão. Quem deu o aval nessa lista foi o Capitão-de-Mar-e-Guerra e Perito Legista

Luiz Carlos Leal Prestes. Eu não sei como é que ele pode ser perito legista e

capitão-de-mar-e-guerra ao mesmo tempo, porque a Constituição não permite; são 2

cargos de dedicação integral. Só que ele continua no cargo, e ele que deu esse aval

para a interdição fraudulenta do IML, porque interditaram só a melhor parte, que era

a clínica médica. Aquelas imagens que V.Exas. viram eram do IML interditado,

inclusive porque eu fiz filmagens e fotos com jornais, onde há datas. Então, não há

como dizer que era antigo.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - A sua situação atual funcional. O

senhor leciona onde?

O SR. DANIEL PONTE - Na Estácio de Sá.

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O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E no serviço público?

O SR. DANIEL PONTE - Estou afastado por stress pós-traumático ligado à

atividade.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Obrigado.

O SR. DANIEL PONTE - E outra coisa. Já fui ameaçado de morte dentro do

IML e dentro da Corregedoria de Polícia. E um detalhe: quem me ameaçou de morte

dentro da Corregedoria da Polícia, com testemunhas... O Inspetor Aristóteles

Marques Batista me pediu claramente cuidado com o que eu fosse falar e disse que

ele não sabia como a gente estava vivo ainda. Isso é claro: 344, coação à

testemunha. Misteriosamente, o Delegado Leonardo Tumiati tipificou como mera

ameaça. Ou seja, ele deixou de ser preso.

Deve ser considerado ainda que, quanto a esse Inspetor Aristóteles, consta

na ficha criminal dele que ele já matou um policial militar pelas costas. Foi absolvido.

Curiosamente, os amigos deles, o Wilson — eu tenho gravado, a gravação do

próprio Alexandre Várzea, morto — disse que quem conseguiu a absolvição dele foi

por influência do ex-chefe de Polícia. Está tudo gravado. Wilson Queiroz, auxiliar de

cartório. Tenho as gravações em que ele conta muito bem as fraudes

previdenciárias lá no IML, peculato de grande material. Está tudo bem gravado aqui.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Por fim, então, para o Dr. Alexandre:

o senhor, antes desse episódio, desse entrevero, dessa detenção, em fevereiro de

2006, já tinha sofrido alguma ameaça?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Eu não sofri ameaça

nenhuma? A gente não pode ter medo de ameaça, inclusive, isso eu respondi a

essa entrevista que foi dada à CBN. Mas eu concluo que isso, decisivamente, incitou

as pessoas, porque é aquela história: chutar cachorro...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas antes de fevereiro de 2006,

desse episódio aí?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Antes não. Antes não.

Não houve nenhuma ameaça. A gente, efetivamente, é ativista do sindicato. Eu

pertenço ao Sindicato dos Delegados de Polícia do Estado do Rio de Janeiro.

Estamos sempre pleiteando para que haja uma melhora no trabalho da perícia

técnica, da Polícia Judiciária de modo geral. Não recebi nenhum tipo de ameaça,

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mas obviamente não sabemos até que ponto uma incitação a um crime contra

alguém pode... A idéia que fica é a seguinte: se você tem uma pessoa de destaque

que está mandado fazer isso, por que não vou fazer? Até porque vai ficar na dúvida,

pode ter sido A, B ou C. E isso é que foi grave. Acho que foi uma coisa muito grave

que aconteceu, uma coisa gravíssima.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - O senhor se refere ao atentado de

setembro de 2007...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não, ao atentado e à

incitação...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - ...ou à sua detenção em fevereiro?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não, às 3 coisas que

aconteceram, porque você tem o atentado, depois a incitação e depois o atentado

concretizado? É muito grave isso, mormente partindo de alguém que deveria primar

pela instituição. Porque diferenças podem existir, mas não a ponto de você vulnerar

a hierarquia e a disciplina em virtude do que aconteceu. Eu nunca havia destratado

essa pessoa que proferiu isso contra mim. Apenas me insurgi devido ao que

aconteceu em razão da operação que desnudou aquela situação toda.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Agora, do ponto de vista, como o Dr.

Daniel disse, de ameaças que ele sofreu até diretamente. Isso, com o senhor, nunca

aconteceu?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não, não, mas isso é algo

viável, porque pode acontecer. Na realidade, sou delegado da anti-seqüestro, como

estou de licença por mais de 90 dias, posso ser removido para o Departamento

Geral de Administração — DEGAF, onde toda a parte operacional da Polícia é

subtraída. Quem me dava a segurança, por ordem do Secretário Beltrame, era o

próprio Fernando Moraes, da DAS. Com a mudança, o Reimão, meu colega de

turno, disse: “Alexandre, não tem problema nenhum. O pessoal continua andando

com você e eu volto a dizer, com toda a tranqüilidade, eu não tenho medo de morrer,

nenhum medo de morrer. Vou continuar andando por onde tiver que andar, mas é

claro que se você tiver alguém para andar com você e te ajudar a se defender seria

bem melhor”.

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Minha preocupação, minha vinda aqui hoje foi exatamente por isso, porque o

Reimão assumiu a delegacia na semana passada, na terça-feira. Ele: “Não vou

mudar nada”. Mas na sexta-feira ele veio me dizer o seguinte: “Alexandre, como

você é um cara que vive escrevendo aí no jornal, eles podem querer, vamos falar o

português claro, te sacanear e te passar para o DEGAF para você perder a

segurança aqui. Eu não vou tirar tua segurança, vou manter o pessoal. Se você me

ligar, a hora que você me ligar querendo alguém contigo eu vou mandar, mas vai

ficar uma coisa oficiosa”. Então, já me reportei ao Secretário Beltrame, já me reportei

ao Subsecretário Berene, e há todo esse problema envolvendo minha situação. O

Daniel Ponte corre esse risco de ser mandado embora, sim, porque a perseguição

política existe. Eu me insurgi contra o Chefe de Polícia, Dr. Gilberto Ribeiro, numa

reunião do sindicato. Ele tomou posse para moralizar a Polícia e nomeou como

chefe de gabinete dele a mulher dele. Então, essa foi uma atitude meio antiética em

termos de... A gente viu isso, o sindicato viu isso como atitude antiética: você

assume para moralizar e bota sua mulher para ser chefe de gabinete? Isso foi o que

aconteceu, e aí começou essa rixa contra mim. Somos a bola da vez. Basta alguém

dizer: “Olha, pode dar um monte de tiro porque não vai dar em nada não”. É essa a

gravidade das circunstâncias em virtude de tudo o que aconteceu.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - De qualquer forma o senhor tem

uma proteção oficiosa...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Ainda não sei até quando,

mas ela é oficiosa.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - ...da Divisão Anti-Seqüestro?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - É, ela é uma...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - E na conversa com o Secretário de

Segurança o senhor pediu uma proteção oficial?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - O Secretário de

Segurança está na Alemanha. Vou estar amanhã com o Dr. Berene, até porque, em

função dessa minha cirurgia, o que vai acontecer? Vou me submeter a uma cirurgia

na semana que vem e vou ficar com uma mão só, porque a outra vai ter que ser

aberta para ver se solta um tendão, porque meu dedo não está fazendo o curso

todo. Então, repito, vou ficar com uma mão só. Como vou me defender com uma

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mão só? Quando você tem duas, dá para fazer alguma coisa, mas com uma mão só

não tem como. Então, vou negociar isso lá para ver como vai ficar, entendeu? Mas

gostaria de uma posição, já que é a Comissão de Direitos Humanos que pugne.

Outra coisa que queria deixar registrado: fiz um pequeno texto que serve para

reflexão de todos os Srs. Deputados. Essa lei de proteção à testemunha, na

realidade, não se aplica ao servidor público probo. A Lei de Proteção a Testemunhas

estabelece normas para a organização e a manutenção de programas especiais de

proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de

Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de

acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração

à investigação policial e ao processo criminal.

Vejam bem. Fiz um pequeno texto que é um desabafo, não só para o Daniel

como para mim ou para qualquer outro servidor público, que são os perseguidos da

democracia.

“Outrora, havia os chamados subversivos, que

eram todos aqueles que se viam perseguidos pelo regime

militar, instaurado por força de uma revolução batizada de

Salvadora. Eram tempos da chamada Guerra Fria, onde

alguns poucos não se conformavam como o sistema, que

se recusava a absorver as idéias da esquerda,

conhecidas então como comunismo e socialismo. Era a

chamada política do proletariado, através da qual a

sociedade alcançaria as benesses de seus dirigentes

segundo suas necessidades e todos seriam felizes para

sempre.

Hoje, aos perseguidos da democracia, da chamada

ditadura da democracia, que são aqueles que não se

conformam com um sistema que só funciona em prol

daqueles que querem para si tudo aquilo que deveria ser

carreado para sociedade e para os necessitados. A queda

do muro de Berlim desnudou a esquerda, que acabou no

Velho Mundo e cambaleia no chamado Novo Mundo,

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mostrando a todos que tanto a direita como aquela

padecem dos mesmos defeitos.

Os perseguidos da ditadura conseguiam se ver

livres dela deixando o País, pois os políticos no poder não

mais os alcançava, ficavam livres dos intelectuais, e o

mundo os acolhia como valorosos dissidentes e todos

podiam ser felizes para sempre.

Já os perseguidos da democracia terminam como

reféns em seu próprio país, sempre alcançados pelos

políticos que se vêm impedidos de realizar suas falcatruas

e desmandos, impondo-lhes e a estigmatização. Outrora,

o chamado exílio preservava a identidade dos

perseguidos do regime, que até ganhavam notoriedade

fora do País, pois estes não eram obrigados a abdicar de

suas identidades e aptidões ao se fixarem como

residentes em outros países — o Deputado Gabeira deve

saber bem disso. Hoje, na chamada ditadura da

democracia, se busca impor aos perseguidos do regime

um exílio legal, um exílio que se denomina vulgarmente

como Lei de Proteção a Testemunhas, Lei nº 9.807/99,

onde servidores públicos e não vítimas e testemunhas,

que se oponham contra a corrupção são jogados na vala

comum das ditaduras, pois se vêm compelidos a abdicar

de suas profissões e ideais, de suas famílias e

identidades, para se apequenarem diante da fraude e da

roubalheira que hoje impera em nosso País. Chegou-se a

uma encruzilhada onde qualquer um pode ser vítima,

onde quem quer que seja pode se transformar em vilão,

mesmo sendo o mocinho, pois briga de quadrilha não tem

resultado previsível. Chegou a hora de se separar o joio

do trio, de tratar igualmente os iguais e desigualmente os

desiguais, sob pena de se sucumbir à marginália infame e

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afrontosa que se alastra sobre a sociedade e sobre

nossas instituições. O servidor público que denuncia

irregularidades administrativas e a malversação do Erário

não pode ser tratado como vítima ou testemunha,

mormente se em razão de tal ato de improbidade venha

sofrer ameaças concretas de morte. De duas, uma: ou se

proteja aqueles que cumprem seu dever ou se puna

exemplarmente aqueles que o descumprem. O que não

se pode é admitir a dupla omissão reinante, ou seja,

ninguém é protegido e ninguém é punido. Será o fim do

interesse púbico e a total primazia dos interesses

privados, custe o que custar a quem ousar contrariar”.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Bom, satisfeito o

Deputado Chico Alencar, temos mais 5 inscrições. A Deputada Iriny Lopes também

foi citada, mas o próximo inscrito é o Luiz Couto, do PT.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, em primeiro lugar,

estamos na Ordem do Dia e, segundo o Regimento Interno, tudo que fizermos

depois será nulo de fato.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Na verdade, não

estamos tomando decisão nenhuma, por isso que...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Mas há encaminhamentos, é claro.

Estávamos ouvindo numa CPI e fomos obrigados a parar porque fomos informados

de que não era só decisão, mas qualquer ato depois...

Mas quero perguntar ao Dr. Daniel: o senhor está na polícia há quanto

tempo?

O SR. DANIEL PONTE - Seis anos.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Seis anos. Essa situação do IML que o

senhor... Quando o senhor começou a trabalhar, já existia essa situação toda?

O SR. DANIEL PONTE - A situação do IML nunca foi boa, só que nunca

ninguém pensou que pudesse piorar, e, infelizmente — isso em relação às

condições de trabalho —, piorou muito entre janeiro e julho do ano passado.

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O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - O senhor começou a verificar isso, mas a

partir de quando o senhor começou a denunciar?

O SR. DANIEL PONTE - Desde 2006 eu treinei os policiais federais

administrativos da DPF Rio. Porquê? Por que quem faz a parte médico-legal da

Polícia Federal é a Polícia Civil, e eu estava vendo que estavam querendo vazar

informações. Eu era mandado para fazer exame e me perguntavam coisas. Eu não

respondia e conversei com o chefe dos médicos da Polícia Federal do Rio e treinei

os mesmos para fazerem os exames médicos legais. Só que o grande problema é o

seguinte: não tem... Uma das palavras do Dr. Luiz, esse corregedor que explicou a

divisão de dinheiro, eu falei para ele naquela época que não tinha para quem

reclamar, ele riu e perguntou: “E você acha que agora tem?”

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - E o Conselho Estadual de Medicina tinha

conhecimento dessa...

O SR. DANIEL PONTE - Total, o Roger faz parte do Conselho, o Luiz Carlos

Prestes faz parte do Conselho, então por ali...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - E nenhuma...

O SR. DANIEL PONTE - Não. O Roger é da minha turma, ele entrou junto

comigo para ser diretor do IML. Ele nunca tinha feito uma necrópsia antes de ser

diretor. Nunca.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Certo. E o senhor, ao denunciar essa

situação, começou a ser perseguido?

O SR. DANIEL PONTE - Sim, perseguido tanto com ameaças quanto...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Quais eram as formas que havia de

ameaça e perseguição?

O SR. DANIEL PONTE - Melhor do que dizer para V.Exa. é fazer V.Exa.

ouvir.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, para não atrapalhar,

pediria que pudessem conversar ali no canto, porque do contrário atrapalha. A

Comissão de Direitos Humanos não pode virar uma delegacia onde todo mundo

entra e atrapalha a audiência pública. Se for desse jeito, nós paramos, porque é um

desrespeito para com aquele que foi convidado para ser ouvido.

(Exibição da gravação.)

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O SR. DANIEL PONTE - Essa foi a primeira gravação feita com Alexandre

Várzea já morto.

(Exibição da gravação.)

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, desliga aí. Está

desligado?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Deputado Pompeo,

Deputado Nelson Pellegrino, seria possível, a pedido do Deputado Luiz Couto...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Eu me recurso a continuar desse jeito. É

um desrespeito à Comissão de Direitos Humanos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - É possível se

afastarem um pouquinho para darmos continuidade aos trabalhos, enquanto V.Exas.

negociam uma solução pacífica, sem qualquer constrangimento para a Comissão?

O SR. DANIEL PONTE - Essa é uma das gravações.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Certo. Então, o senhor foi ameaçado por

telefone?

O SR. DANIEL PONTE - Não, não, isso daí eu gravei... Falando com o

Nextel, eu gravei a minha conversa com o Nextel.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Ah sim. O telefone, no caso...

(Exibição da gravação.)

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Não está dando para ouvir direito, porque

o som está ruim, mas uma das coisas foi...

(Exibição da gravação.)

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Certo. O senhor gravou isso aqui?

O SR. DANIEL PONTE - E tem várias outras.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Eu pergunto: dentro do IML,

pessoalmente, o senhor recebeu alguma ameaça?

O SR. DANIEL PONTE - Sim, do Inspetor de Polícia Aristóteles Marques

Batista.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Certo.

O SR. DANIEL PONTE - Ele ficou mais de uma hora me esperando na

escada...

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O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - E alguma vez, no caminho para sua

residência, o senhor também foi seguido?

O SR. DANIEL PONTE - Três vezes, indo de casa para a academia de

ginástica, fui seguido.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Foi seguido.

SR. DANIEL PONTE - E um colega que trabalha diretamente comigo —

pena que eu esqueci de colocar as imagens. Éramos eu e ele no necrotério — ele

indo a caminho do IML trabalhar comigo, o carro dele foi alvejado no vidro dele, e a

delegacia, misteriosamente, fez o registro como tentativa de roubo. Foram 3 tiros,

sendo que um deles no vidro dele, motorista, que atingiu o volante, ele ficou com o

estilhaço. Tem no CD isso e foi registrado como tentativa de roubo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - O senhor, quando começou a... No caso

do outro Alexandre, esse Alexandre em algum momento disse para o senhor que

também estava sendo ameaçado de morte?

O SR. DANIEL PONTE - Não.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Não?

O SR. DANIEL PONTE - Não, mas ele disse que se interpôs com esse

Aristóteles, que essa pessoa é de tal extirpe que, quando ele encontrou comigo

no....

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, eu não sei agora. Está um

pandemônio aqui.

O SR. DANIEL PONTE - Quando ele encontrou comigo dentro do IML...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - É que o assunto é

grave, meu Presidente Luiz Couto.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Pois é, mas eu...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - O assunto é muito

sério, eu...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Pois é, eu sei, mas não é aqui. Aqui há

que se respeitar a Comissão de Direitos Humanos. Não se pode tratar disso aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Pois é, mas eu

acredito, desculpe o Presidente Pompeo...

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O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Aqui está virando uma delegacia onde

todo mundo entra, pega o preso e leva para lá.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Minha posição

como Presidente da Mesa é totalmente contrária a que seja tomada qualquer atitude

pela CPI com relação à presença do nosso convidado aqui na Comissão,

independentemente de ser agora ou depois do encerramento da sessão. Se

acontecer qualquer coisa ao convidado, será sob meu protesto. Eu considero de

qualquer jeito — não sei se o Deputado Nelson Pellegrino ainda está aqui — um

desrespeito. Está aqui o Deputado Simão Sessim, que acredito deve ser membro da

CPI também, mas considerarei um desrespeito a esta Comissão se for tomada

qualquer medida coercitiva ao convidado, porque ele veio à Câmara dos Deputados

a convite da Comissão de Direitos Humanos. Então, ele tem que sair daqui são e

salvo, ileso e sem qualquer constrangimento. Essa é minha posição como

Vice-Presidente da Comissão. Falo até em nome pessoal, não em nome da

presidência, porque o Presidente está presente.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Dr. Daniel, continuando...

O SR. DANIEL PONTE - Para V.Exa. ter...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Sr. Presidente... Só um minuto,

Dr. Daniel...

O SR. DANIEL PONTE - Deixe eu só, pela ordem...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Deputada Marina,

vamos dar continuidade à reunião.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Mas ele foi convocado para a

CPI, ele não foi convidado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Mas a CPI deve

tomar as medidas que ela entender necessárias e cabíveis...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Quando acabar esta sessão

aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Não. Acredito que

se tomar medida coercitiva hoje é um desrespeito à Comissão de Direitos Humanos.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Não é não, senhor.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - É a minha posição

pessoal.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Ele foi convocado pela CPI.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Se acontecer, é

sob meu protesto.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Ah, sob seu protesto sim.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Enquanto

Deputado, é sob meu protesto...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Sim, o.k.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - ...porque acredito

que podem ser tomadas outras medidas, se for o caso coercitivas, quando ele se

ausentar da Câmara dos Deputados. Fora da Câmara dos Deputados. No ambiente

da Câmara dos Deputados, eu considero um desrespeito à Comissão de Direitos

Humanos. E esta Comissão, acredito, Deputada, que V.Exa. tem todo direito de aqui

na Comissão de Direitos Humanos inclusive se defender, ser ouvida, o tempo que

V.Exa. precisar, porque V.Exa. está sendo vítima também de acusações aqui. Então,

acredito que V.Exa. tem todo o direito de se defender, repito, de usar da palavra

quantas vezes achar oportuno. A Mesa jamais lhe negará a palavra e o direito de se

defender, mas conduzir de maneira coercitiva o convidado após ele sair desta

Comissão, no meu entendimento, é um desrespeito à Comissão de Direitos

Humanos...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Certo. V.Exa. entende assim.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - ... e a Câmara dos

Deputados, porque ele está aqui como convidado. Se ele aqui não viesse como

convidado da Comissão de Direitos Humanos, a CPI não tomaria nenhuma medida

coercitiva contra ele hoje.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Tomaria sim, senhor.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Então, acredito que

não se justifica...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Tomaria.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Hoje?

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A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Hoje. Ele não vai comparecer

sabe por quê?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Se ele estivesse no

Rio de Janeiro...

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Ele não quer comparecer,

porque lá ele vai depor na Comissão de Investigados...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - ...a Comissão

Parlamentar de Inquérito iria conduzi-lo até aqui hoje?

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - ... porque ele colocou um

grampo clandestino.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, por favor, assegure minha

palavra.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Essa é a minha

posição. Depois cada Deputado pode se pronunciar a respeito do assunto. É minha

posição pessoal. Como estou neste momento na Presidência, esta é minha posição.

E que fique claro que o Presidente Pompeo de Mattos, como Presidente da

Comissão, é que poderá depois se manifestar oficialmente pela Comissão.

Deputado Luiz Couto, dando prosseguimento.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Continuando...

O SR. DANIEL PONTE - Esse Inspetor, Aristóteles Marques Batista, ele,

dentro do IML, na escada, proferiu as seguintes palavra para mim: “Olha, você tem a

cabeça fraca. Estão dizendo que quero te matar, mas isso daí é mentira, eu sou

muito seu amigo. Você sabe, eu já matei muitos, já perdi até a conta de quantos,

mas nenhum, ninguém nem desconfiava que ia morrer”. Eu lembro dessas palavras

como hoje. São 2 palavras que eu não esqueço: essas e a do Dr. Gilberto Ribeiro,

Chefe de Polícia Civil do Rio de Janeiro, quando disse que ia me punir por eu passar

informações para a Polícia Federal. E assim faz, porque coloca informações até de

uma pessoa chamada Daniel (ininteligível) na minha ficha criminal, dentro até de um

mandado de segurança em que o Dr. Lafredo Lisboa não tomou nenhuma

providência.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Certo. Além do senhor, como médico

perito, quantos médicos peritos tinham lá no IML?

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O SR. DANIEL PONTE - Em torno de 120 aproximadamente.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Cento e vinte. Só o senhor denunciou ou

teve mais alguém que denunciou?

O SR. DANIEL PONTE - Mais uma colega... A verdade é a seguinte: no IML,

os peritos têm 40 horas de carga horária. Nós ganhamos — pasmem — 2 mil reais

para trabalhar naquelas condições. Então, em vez de se trabalhar 40 horas,

trabalha-se 6. Então, ninguém quer reclamar, porque trabalha 6 horas e está

satisfeito. Eu não.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - E esse outro médico também sofreu a

mesma ameaça que o senhor ou ...

O SR. DANIEL PONTE - Esse outro médico está afastado por motivo de

doença.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Afastado. Uma outra questão que eu

teria...

O SR. DANIEL PONTE - Eu tenho inclusive a gravação dele explicando a

também divisão de dinheiro. Tenho várias gravações que falam da divisão de

dinheiro.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Correto. O senhor falou que a Secretaria

Especial de Direitos Humanos teria dito... Aí o senhor falou o nome do Hugo...

O SR. DANIEL PONTE - Falei do Dr. Hugo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Mas o Hugo não é membro da Secretaria,

ele é um assessor...

O SR. DANIEL PONTE - Não, sim, mas ele...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - que tem o direito... Opinião cada um pode

dar.

O SR. DANIEL PONTE - Mas ele não se referiu à opinião dele própria não,

tanto que eu estou sem segurança, não é?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Eu pergunto: o senhor já solicitou

formalmente...

O SR. DANIEL PONTE - Segurança?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sim.

O SR. DANIEL PONTE - Já, inúmeras vezes.

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O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - A quem?

O SR. DANIEL PONTE - À própria Secretaria, quando estive em Brasília

aproximadamente um mês atrás, isso está em ata.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Está em ata.

O SR. DANIEL PONTE - À Polícia Federal, à própria Polícia Civil, porque a

minha morte interessa a todos. O que eu tenho de sujeira... Isso daqui, essa Paris

Café aqui, que é uma casa de prostituição dentro da revista policial do Rio de

Janeiro, com emblema de uma delegacia, uma casa de prostituição, isso dá muito

lucro. Eu andei investigando, fazendo algumas investigações por conta própria...

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sim?

O SR. DANIEL PONTE - ... e descobri o seguinte: que uma casa dessa dá

em torno de 50 mil por semana. Quer dizer, é só me darem, porque, na última

reunião, eu falei com o representante da SENASP: “Emprestem-me 20 policiais que

eu vou fazer uma quantidade de prisão enorme”. Porque o crime, no Rio de Janeiro,

está em cada esquina. Tem o jogo do bicho, tem as casas de prostituição, tem a

casa de prostituição Monte Carlos, que fica quase do lado da 12ª DP, na Rua Hilário

de Gouveia. Quer dizer, ninguém sabe disso? Só as pessoas do povo? Será que o

delegado é tão burro, tão incompetente que não sabe que funciona uma casa de

prostituição do lado da delegacia? É impossível. Não é possível isso.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Certo.

O SR. DANIEL PONTE - Então, a minha morte interessa ao chefe de polícia,

interessa ao Governador, interessa ao Secretário de Segurança, a todos eles.

Porque isso daqui, o chefe de polícia está nessa revista, como é que ele não lê isso?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - O senhor falou também numa revista que

teria um delegado da Polícia Federal também.

O SR. DANIEL PONTE - Tem, está aqui. O Delegado Dr. Valdinho Caetano

está aqui na revista também. Eu já apresentei ao Ministério Público Federal e à

Corregedoria da Polícia Federal petição com a cópia da revista, perguntando se isso

não fere a moralidade administrativa, sair numa revista financiada pelo crime.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Quer dizer, o senhor hoje não tem

qualquer tipo de segurança?

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O SR. DANIEL PONTE - Nenhuma. Até minha mãe, uma senhora idosa, eu

recebo recado que ela pode ser morta facilmente num roubo. Quer dizer, é uma

absurdo. Eu vivo à custa de 6 remédios, para poder controlar meu stress

pós-traumático, porque sou massacrado administrativamente pelo Dr. Gilberto

Ribeiro, que prometeu se vingar e prometeu me punir, sou massacrado pelos

bandidos, que recebo ameaça, e não tenho amparo nenhum do Estado. Ou seja,

vivemos uma cleptocracia, é a ditadura do roubo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Em sua fala, o senhor parece que pediu à

Polícia Civil também proteção.

O SR. DANIEL PONTE - Também.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Mas o senhor disse na sua fala de que a

Polícia Civil do seu Estado ...

O SR. DANIEL PONTE - Sem dúvida.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - ...estava envolvida com o crime.

O SR. DANIEL PONTE - Está envolvida, sem dúvida. Mas com alguém do

meu lado fica mais difícil fazerem.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Certo.

O SR. DANIEL PONTE - Seja lá quem for.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Mas o senhor já pediu ao próprio Governo

do Estado como ....

O SR. DANIEL PONTE - Já, já solicitei até ao Subsecretário de Direitos

Humanos, Dr. Leonardo Casula.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - E qual foi a resposta?

O SR. DANIEL PONTE - Não.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Não.

O SR. DANIEL PONTE - Tem um inspetor que foi braço direito do chefe de

polícia, e isso eu já peticionei para o Ministério Público Federal. Essa informação eu

não tenho concreta, mas parece que o nome dele é Estelita. Foi braço direito do

chefe de polícia, chefe de SI. Chefe de SI é quem, entre outras coisas, faz

arrecadação de dinheiro, conforme consta no Orkut. Não sou eu quem está dizendo;

são vários policiais dentro do Orkut. Está aqui nos CDs. Eu copiei os relatos.

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Parece que esse Estelita mora num condomínio de luxo em Cabo Frio,

embora seja um mero inspetor. Não sei com ele vai, e volta, todos dos dias para

Cabo Frio de carro e ainda consegue morar num condomínio com marina e tudo.

Não sei como ele faz isso. Eu, como médico, bacharel em Direito e professor, vivo

com a minha mãe.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Há um programa que é de proteção dos

direitos humanos. Diferentemente do Programa de Proteção às Vítimas e

Testemunhas, ele é dirigido a pessoas ameaçadas que podem receber um outro tipo

de proteção que não aquele a que V.Sa. se referiu, que obriga a pessoa a se mudar

para um local diferente, como se fosse uma prisão domiciliar.

Nesse sentido, acho que a Comissão de Diretos Humanos deveria, a partir

desta audiência, analisar formas para que o Dr. Daniel possa ter a devida

segurança, ainda que proteção mesmo só tenhamos a de Deus. Mesmo com

segurança, sabemos que o crime organizado é forte e pode também destruir a

qualquer momento. Não serão 2 ou 3 policiais que vão garantir segurança, só

haverá um pouco mais de medo, de dificuldade. Nesse sentido, acho que o

depoimento do Dr. Daniel, com as informações que traz, deve ser analisado por nós.

Delegado Alexandre, a quanto tempo o senhor está na Polícia Civil do Estado

do Rio de Janeiro?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Eu tenho a honra de ter

entrado como detetive na Polícia Civil. Minha vida foi toda calcada em concurso

público. Eu fui funcionário da DATAPREV, de onde saí após prestar concurso para a

Polícia, porque, quando eu fiz concurso, meu sonho era ser delegado, e eu...

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Dr. Alexandre, peço

a gentileza de colaborar com nossa audiência pública e ser o mais objetivo possível,

porque já teve início o processo de votação em plenário.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Certo. Na época, não

havia concurso para delegado. A pessoa tinha que entrar para a Polícia e ir

ascendendo. Com o advento do concurso público em 1988, com a nova Carta

Magna, eu fiz o concurso e passei. Sou policial há 22 anos e delegado há 15 anos.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Como delegado, o senhor serviu em que

delegacia do Rio de Janeiro?

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Eu reestruturei a

Delegacia Anti-Seqüestro. Esse foi o meu trabalho mais promissor, à época do

ilustre General Cerqueira.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Durante esse tempo, o senhor sofreu

alguma represália, alguma ameaça?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não, não. Mas sempre

atrapalhamos bastante quem não queria fazer a coisa da maneira correta. Sabemos

que isso recai sobre a instituição. Dar 1 passo para frente e depois 2 para trás de

nada adianta. Sempre procuramos melhorar, até porque fazemos parte da

sociedade, e isso é normal.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Qual foi a última delegacia em que o

senhor serviu?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Na Delegacia

Anti-Seqüestro.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Na sua trajetória como delegado, o senhor

deve ter feito prisões de traficantes, de seqüestradores, de pessoas ligadas à

lavagem de dinheiro, enfim. É claro que, quando se faz isso, há toda uma reação...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Posso dizer uma coisa a

V.Exa.? Eu sei onde V.Exa. vai chegar?

Nenhum bandido desrespeita o bom policial. O bandido desrespeita o mau

policial, quer virar sócio dele, ter uma carteirinha e uma arminha na cintura e fazer o

que ele faz, usando essa arma e essa carteira que o Estado lhe outorga.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - A pergunta não era essa. A pergunta é

quem é favorecido com a ação do bandido.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Tivemos um exemplo

claro no Rio de Janeiro. A política é a grande favorecida — o Deputado Chico

Alencar sabe disso. Existem bons Deputados e maus Deputados. Para se chegar a

uma Assembléia Legislativa, se faz qualquer negócio; para se chegar a uma Câmara

dos Deputados, lugar que deveria ser sério, se faz qualquer negócio. E aí você

passa a ser perseguido pelo regime, pelo próprio sistema, pela própria democracia.

Ou você reza pela minha cartilha e deixar eu roubar, ou vai para a vala. Para

qualquer um que atrapalhe o negócio fica ruim.

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V.Exas. ainda verão os desdobramentos dessa Operação Hurricane. V.Exas.

verão o que era o Rio de Janeiro, onde o chefe de polícia aposta a carteira dele

como os caras vão entrar no concurso. É triste, mas a polícia é usada. Quais são as

coisas usadas pelos políticos no Rio de Janeiro? Polícia e fiscalização. O Deputado

Chico Alencar está cansado de saber disso. Ou o Silveirinha aconteceu à toa? Ou o

Dr. Álvaro Lins aconteceu à toa? Pelo amor de Deus! Não vamos ser inocentes a

esse ponto. Está ali, na revista Veja: todo mundo sabia o que o Dr. Álvaro Lins fazia.

Todo mundo sabia. Está aqui. Não sou eu quem está dizendo, não. Ele está me

processando, mas todo mundo sabia que o ex-Chefe da Polícia Civil do Rio tinha

relações com bandidos. Só agora caiu a ficha. Por quê? O senhor sabia, Deputado

Chico Alencar? Todo mundo que é do Rio sabia.

E aí? Eu é que pergunto: quer dizer que o cara que anda certo vira vítima?

Porque você tem de andar errado. Se você andar errado e não atrapalhar ninguém,

está tudo bem.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Como nós estamos vendo a questão das

ameaças, o que queremos saber é o seguinte...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Bandido não ameaça. O

verdadeiro crime organizado não ameaça; ele não manda recado, ele faz. Quem

ameaça é o bandido chulé, e não vai fazer nunca.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Aquela ação que foi feita pela polícia, o

ato de sua prisão, depois o atentado que o senhor sofreu, tudo isso foi parte de uma

corporação que era para fazer a defesa, mas que era de bandidos também que

agem.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não resta dúvida. Daí a

razão de estarmos aqui.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Não somente os bandidos que estão lá,

mas...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - É o que eu estou dizendo

para o senhor: o pior bandido é o que está do lado de cá. O bandido que está do

lado de lá assume a postura de bandido.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Eu sei.

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - O pior é o cara que faz

biscate de polícia. O cara que tem carteira e distintivo e delinqüe é muito mais

bandido do que o bandido, porque o bandido assume a postura de bandido. Eu

respeito muito mais o cara que está na boca de fumo com um chinelo e uma AR-15

do que o cara que está de terno e gravata tirando uma de bonzinho, e não é. Porque

esse você não sabe. Esse tem bons advogados, tem tráfico de influência, que é um

tráfico que não deixa materialidade, tem toda uma série de circunstâncias que o

favorecem. Esse é o grande criminoso. Não é verdade?

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Certo.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Então, não temos medo

do bandido chulé. Agora, é claro que, quando me preocupo, é que, na conjuntura em

que vivemos, em que um policial que pertence à instituição manda lhe dar um monte

de tiros nos cornos, isso abre um leque... É a mesma coisa que um Deputado

chegar aqui e falar para o senhor... Um Deputado não, um estafeta da Assembléia

chegar aqui e falar: “Aquele Deputado tem mais é que levar um monte de tiros nos

cornos”. “Se ele tem um inimigo, eu vou dar, porque ele vai ficar na dúvida. Pode ter

sido ela, pode ter sido o PM, pode ter sido o fulano”. Está entendendo?

Quando se dá uma declaração dessas — e o art. 19 da Lei de Imprensa taxa

expressamente esse comportamento como crime, incitação através de meios de

comunicação e informação —, isso é um comportamento relevantíssimo que não

podemos deixar passar em branco.

Essa é a minha preocupação; eu não sei até quando isso vai continuar.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Parece que ainda tem o Deputado

Guilherme.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Deputado Luiz

Couto, o problema é só o horário. Está todo mundo interessado na audiência

pública.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Delegado, o senhor está recebendo

segurança por parte do Estado?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Oficiosa. Eu estava na

DAE, e os colegas faziam questão de me dar segurança. Eu não sei se isso vai

continuar e até quando.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Sebastião Bala Rocha) - Ele está

perguntando se o senhor tem segurança oficial.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Oficial, não. Nem eu nem

o Dr. Daniel, nem ninguém no Rio de Janeiro que se mete com o crime organizado

tem segurança oficial, a não ser que entre no Programa de Proteção a

Testemunhas, em que você, como servidor público, vira vítima e testemunha.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Essa segurança que o senhor recebe tem

o respaldo do Secretário de Segurança Pública?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Sim, tem o respaldo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Então, nesse sentido, o senhor não tem a

nível federal, mas o senhor tem uma segurança oficial.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Oficiosa, não oficial. Ele

não disse assim: “Olha, vou destacar, vai estar publicado no boletim que o senhor

vai ter...”

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Digo que é oficial porque tem a permissão

do Secretário.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Permissão tácita, não

permissão expressa: “Olha, você tomam conta do cara porque está acontecendo

isso”. Eu vou fazer outra cirurgia agora e sei lá se com a mão ruim o cara chega e

me dá mais tiro? Estou com o risco cirúrgico marcado. Eu até mostrei.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Também porque na segurança oficial não

é publicado, do contrário, o senhor não vai ter segurança nenhuma, porque vão

saber quem são os soldados.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não resta dúvida. Eu

concordo. Fica mais difícil.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Digo que ela é oficial porque tem o

respaldo do Secretário. O Secretário está de acordo com essa segurança que o

senhor tem.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Com certeza.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Mas o senhor acha que essa segurança

pode, a qualquer momento, ser retirada?

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Exatamente. Essa é a

minha preocupação. Daí minha vinda aqui. Estando de licença médica, eu vim aqui

para quê? Eu não sou obrigado a ir a lugar nenhum de licença médica, por mais

importante que seja o motivo. O fato é que tenho de me preservar. Até para vir aqui

eu tenho de vir inteiro. Essa é a minha preocupação. O que me trouxe aqui foi

primordialmente essa situação.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, a informação que eu tenho

é de que o Delegado Alexandre Neto, ao chegar aqui, ele teria solicitado à Comissão

que seu depoimento fosse prestado em caráter reservado. Quero saber se foi isso

mesmo o que o senhor pediu?

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Foi, exatamente, porque

são fatos graves que só deveriam ser dados a conhecer aos Deputados, até porque

os senhores têm essa responsabilidade social com o eleitorado e com a Nação, de

procurar reverter esse quadro que está acontecendo numa das unidades federativas

e que compromete o Pacto Federativo.

Na medida em que o Estado vive essa situação, até que ponto isso não pode

se alastrar para outros Estados? É complicado.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Sr. Presidente, data venia, no momento

em que alguma pessoa foi convidada, disse que o depoimento público pode trazer

problemas e solicitou que fosse em caráter reservado, a Comissão teria de ter dado

esse espaço para que o delegado Alexandre pudesse falar e nós pudéssemos

analisar as informações. Não podemos retroagir, mas fico contente com as

respostas e retorno a palavra a V.Exa., Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Deputado Luiz Couto,

apenas para esclarecer: o Dr. Alexandre solicitou essa medida, mas nós

ponderamos a ele que esses fatos eram públicos e, na verdade, estavam sendo

reprisados aqui na Comissão. Ele espontaneamente se propôs a falar, e o está

fazendo.

O SR. DEPUTADO LUIZ COUTO - Mas não teríamos tido esse problema.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Na verdade, não,

porque qualquer Deputado tem o direito a ter acesso à Comissão de Direitos

Humanos. Não temos como evitar isso. Esse problema, aliás, transcende às

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questões da Comissão de Direitos Humanos e, de certa forma, impediu que

avançássemos o necessário em relação ao que propusemos. Atravessou-se no

nosso trabalho esse problema havido em razão da CPI. Nós respeitamos a CPI, eu

mais do que ninguém respeito a CPI, mas essa é uma situação bastante

constrangedora para a Comissão de Direitos Humanos.

Passo a palavra ao Deputado Guilherme Menezes.

O SR. DEPUTADO GUILHERME MENEZES - Sr. Presidente, em primeiro

lugar, solicito a V.Exa. que continue buscando um acordo para que seja marcada

para outra data o atendimento à convocação da CPI dos Grampos, até por uma

questão de respeito entre as Comissões desta Casa e entre todos os Deputados.

Nós vivemos aqui no debate, mas sempre de maneira respeitosa. E o Dr. Alexandre

veio aqui, como já foi dito e repetido, a convite da Comissão de Direitos Humanos.

Em segundo lugar — e vou ser breve, mesmo porque os Deputados Chico

Alencar e Luiz Couto já praticamente esgotaram as perguntas —, quero dizer que,

antes, eu tinha encaminhado requerimento, por intermédio da Presidência desta

Comissão, ao Governador do Estado do Rio de Janeiro sobre a questão do Dr.

Daniel Ponte, após a leitura de matéria veiculada na revista IstoÉ. A resposta que

soube por intermédio da assessoria da Presidência foi que o Governador disse que

encaminhou a matéria ao órgão competente, para os procedimentos cabíveis.

Ora, temos documentos, filmes, gravações, creio que temos tudo. Quero,

então, informar a V.Exa., Sr. Presidente, Deputado Pompeo de Mattos, que estou

encaminhando requerimento — e peço apoio dessa Presidência e dos Deputados

desta Comissão — de audiência com o Governador do Estado do Rio de Janeiro

para esclarecimentos desses fatos. Não há mais ninguém para dialogarmos a

respeito de fatos tão graves e tão bem documentados. Aquela imagem do Instituto

Médico Legal do Rio de Janeiro é a prova mais contundente do desprezo à vida e do

desprezo à morte. Eu sou médico. Estagiei, quando estudante, por mais de 1 ano no

Instituto Médico Legal. A relação com pessoas mortas e cadáveres putrefatos é o

dia-a-dia de quem trabalha nesses serviços. Mas vemos que aqueles cadáveres,

verdadeiros criadores de moscas e geradores de larvas, não chegaram apodrecidos.

São empilhados com o maior desrespeito e desprezo. Trata-se de uma instituição

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pública, um órgão de grande importância, que ajuda a desvendar crimes e

assessora as Polícias Científica e Técnica.

Portanto, vou apresentar esse requerimento, para o qual desde já peço o

apoio a V.Exa., Sr. Presidente, e dos demais membros da Comissão, para que

encaminhemos um pedido de audiência ao Governador do Estado do Rio, a fim de

que a Comissão de Direitos Humanos possa dialogar diretamente com ele a respeito

de todos esses fatos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Perfeito, Deputado

Guilherme Menezes. Encaminhe V.Exa. o requerimento de V.Exa. e não tenha

dúvida de que, ante o que foi relatado, estaremos ao seu lado e tomaremos os

procedimentos necessários para que essa audiência efetivamente aconteça.

O SR. DANIEL PONTE - V.Exa. permite, Sr. Presidente?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Pois não.

O SR. DANIEL PONTE - Sr. Deputado, um detalhe: após a audiência pública

na ALERJ com o Deputado Paulo Ramos, a condição melhorou. Não está mais

naquele estado que o senhor viu, mas mudou graças às minhas denúncias. Só que

as minhas denúncias viraram um PAD — Processo Administrativo Disciplinar para

me colocarem na rua. Então, melhorou a condição, mas, em contrapartida, estou

sendo demitido.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - É mais um motivo para

termos a audiência.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Presidente Pompeo de Mattos,

relembro aos membros da Comissão que, na próxima terça-feira, teremos uma

audiência pública sobre a atuação das Polícias no Rio de Janeiro — audiência

motivada, é claro, pela altíssima letalidade delas, especialmente da Polícia Militar —

e está convidado o Secretário de Segurança Pública do Estado. Como é próprio das

Comissões, nós só podemos convidar, mas alguém estará aqui respondendo pela

Secretaria de Segurança e pela política de segurança pública no Estado. Os dados

apresentados pelos nossos convidados nesta audiência, cujo foco é a proteção à

vida daqueles que denunciam situações gravíssimas para além da investigação,

obviamente serão retomados na audiência da terça-feira. Haverá uma continuidade.

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Por fim, eu só queria esclarecer um ponto. O Delegado Alexandre disse: o

Deputado Chico Alencar sabe que a imbricação da política e da corrupção, que a

tomada de dinheiro para financiar campanhas e a ligação com o banditismo é

corriqueira no Rio de Janeiro. É, sim. Agora, o fato de eu saber e combater essa

prática com os instrumentos de que disponho — o discurso, a pena, a campanha

pelo voto limpo e pelo voto ético — não nos dá o poder de investigar.

O PSOL, com o seu único representante na Assembléia Legislativa, pediu um

processo contra o Deputado Álvaro Lins, mas nem a Comissão de Ética da

Assembléia do Rio de Janeiro — e ao ler os nomes dos componentes da Comissão

já ficamos preocupados em relação a alguns deles — aceitou. Então, temos também

limitações.

O ideal é a cidadania estar cada vez mais atenta e a Polícia banir a corrupção

do seu meio, investigando qualquer pessoa, doa a quem doer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Tem a palavra o

Deputado Sebastião Bala Rocha.

A próxima oradora será a Deputada Iriny Lopes.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Presidente, não vou fazer

perguntas. Estou satisfeito com as respostas oferecidas pelos 2 convidados.

No entanto, eu quero propor 2 procedimentos. Inicialmente, ao apoiar a

iniciativa do Deputado Guilherme Menezes, sugiro que a essa audiência com o

Governador do Estado do Rio de Janeiro seja também convidado o Secretário

Nacional de Direitos Humanos, se for oportuno.

O primeiro procedimento é no sentido de que, terminada esta audiência,

façamos uma reunião administrativa da Comissão, se possível até reservada, para

definir que passos daremos em relação a esse grave assunto. São várias

circunstâncias que agravam as denúncias aqui trazidas. Se realizamos esta

audiência pública, a partir de agora somos co-responsáveis também, claro que com

todas as nossas limitações, porque contra a bandidagem não há muita resistência a

oferecer. Com todos os instrumentos e prerrogativas que esta Comissão de Direitos

Humanos tem, devemos daqui para frente estabelecer uma estratégia de apoio à

segurança dessas pessoas. Parece-me que, já com a situação mais calma, seria

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muito produtivo termos uma reunião administrativa para definir quais os próximos

passos que iremos dar na Comissão de Direitos Humanos.

O segundo procedimento, Sr. Presidente, é no sentido de que V.Exa. continue

negociando com a CPI para evitar que o convidado seja a ela conduzido de maneira

coercitiva.

Aproveito a presença do Deputado Laerte Bessa para dizer que sei da

importância de uma CPI; tenho também experiência política suficiente para saber

das competências e das prerrogativas de uma CPI, e não queremos de maneira

nenhuma criar qualquer óbice às investigações que a CPI dos Grampos está

fazendo, nem de impedir que ouça quem quer que seja. No entanto, da mesma

forma que a Comissão Parlamentar de Inquérito não pode se sentir desmoralizada

em virtude de a Comissão de Direitos Humanos estar apelando para que a oitiva do

o delegado não seja hoje, na minha visão, igualmente percebo que esta Comissão

ficará desmoralizada se acontecer o contrário, ou seja, se o convidado for de

maneira coercitiva conduzido à CPI. Imaginem o que vai sair nas manchetes do dia

seguinte: “Delegado vai à Comissão de Direitos Humanos e sai de lá conduzido para

a CPI de maneira coercitiva”. Algo assim, porque a imprensa é muito mais criativa do

que eu, que não sou da área. Isso é uma desmoralização, é um desrespeito à

Comissão.

Então, que esta Comissão use de suas prerrogativas e tome todas as

providências pertinentes a partir de amanhã, ou quando o convidado deixar as

dependências da Câmara dos Deputados. De outro modo — e é claro que o

delegado sabe muito bem que isso não ocorreu —, poderia até parecer que nós o

convidamos para facilitar o trabalho da CPI. Da mesma maneira que não devemos

criar obstáculos aos trabalhos, do ponto de vista dos direitos humanos somos

responsáveis para que o convidado saia daqui sem ser vítima de qualquer

constrangimento e sem se sentir molestado. Sou membro recente desta Comissão,

mas a visão de direitos humanos que eu tenho envolve também esses aspectos.

Se houver consenso, se for de comum acordo, se ele concordar em ir lá

depor, não haverá nenhum problema, mas se for de maneira coercitiva

desmoralizará esta Comissão. E, se isso acontecer, vou protestar em plenário e em

todos os espaços que eu tiver à disposição para fazê-lo, porque não aceito e não

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concordo com essa posição da Comissão Parlamentar de Inquérito. Como eu disse,

reverencio todo o trabalho que qualquer Comissão Parlamentar de Inquérito tem por

fazer, sobretudo esta, cujo objeto é relevante, mas é muito constrangedor para a

Comissão de Direitos Humanos ter um de seus convidados, imediatamente após a

reunião aqui havida, ser conduzido de maneira coercitiva para a CPI.

Então, apelo aos Deputados Laerte Bessa e Pompeo de Mattos, que está

fazendo muito bem o seu papel de Presidente, intermediarem essa negociação, para

que isso não venha a acontecer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Deputado Sebastião

Bala Rocha, para o conhecimento dos demais colegas Parlamentares, informo que

estamos dialogando com o Presidente da CPI das Escutas Telefônicas, o Deputado

Marcelo Itagiba, com o Relator e com outros interlocutores daquela Comissão.

Estamos próximos de acertar uma relação ética entre a Comissão de Direitos

Humanos e a Comissão Parlamentar de Inquérito. Sabemos o poder que tem a

Comissão Parlamentar de Inquérito, mas também temos consciência da

responsabilidade da Comissão de Direitos Humanos. É óbvio que não vamos tolerar

nenhum constrangimento para esta Comissão. Seria muito grave para a Comissão

de Direitos Humanos trazer um convidado para relatar a sua condição de vítima de

perseguição política e policial, tentativa de assassinato, ameaças de morte e ele sair

daqui preso ou conduzido sob vara para depor numa CPI. Uma coisa não combina

com a outra.

Era apenas esse detalhe que queria informar, sem desconhecer as

prerrogativas da Comissão Parlamentar de Inquérito, que todos respeitamos

profundamente.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Concede-me V.Exa. mais

30 segundos, apenas para dizer que propugno pelo entendimento, pelo acordo e

que se marque outro, a menos que ele concorde em depor hoje.

Eventualmente, se CPI mantiver sua decisão, a minha sugestão ao convidado

é que ele permaneça no recinto da Comissão de Direitos Humanos e que nós

fiquemos aqui também, garantindo a ele toda a proteção do ponto de vista dos

direitos humanos, que envolve tudo, vida e liberdade. Faço essa sugestão ao

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convidado. Se ele se sentir constrangido, que permaneça no recinto da Comissão e

que garantamos a ele o direito de sair daqui como entrou.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Inclusive já estamos

entrando em contato com o Presidente da Câmara dos Deputados, o Deputado

Arlindo Chinaglia, e com a sua assessoria, para que possamos chegar a bom termo.

Não queremos radicalizar, nem de um lado nem de outro, até porque a Comissão

pode ficar em reunião permanente e oferecer uma espécie de salvo-conduto ao

convidado ou um asilo dentro da Comissão.

É uma situação bastante constrangedora para todo o mundo. Não é o que nos

interessa nem o que queremos. Queremos o diálogo. Com o diálogo, que está sendo

estabelecido, temos condições de avançar.

Enquanto esse diálogo se processa, vamos conceder a palavra à Deputada

Iriny Lopes, que já foi Presidenta desta Comissão, mas que possivelmente nunca

tenha vivenciado momento como este em que eu estou tendo uma experiência única

nesta Comissão.

A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES - Sr. Presidente, demais colegas e

pessoas presentes, como foi citado pelo Sr. Daniel o nome do meu assessor, eu

quero relatar o fato a esta Comissão, para que não paire dúvida alguma o que

ocorreu nos últimos dias.

Fui procurada por algumas entidades de direitos humanos que, conhecedoras

da gravidade das denúncias apresentadas pelo Sr. Daniel e preocupadas com a sua

integridade física e a sua vida, me solicitaram que intermediasse perante o Governo

a proteção, até porque aguardavam o julgamento, pela OEA, de petição para que o

Sr. Daniel venha a receber do Governo brasileiro proteção.

Após conversa que mantive pessoalmente com os Ministros Paulo Vanucchi e

Tarso Genro e com o Dr. Luís Fernando, Diretor-Geral da Polícia Federal, iniciou-se

um processo para que fosse garantida proteção à vida do Dr. Daniel.

Teríamos 2 possibilidades: uma seria o enquadramento do caso na condição

de defensor ameaçado; a outra seria o enquadramento do caso na condição de

testemunha sob ameaça.

Tendo em vista que o Dr. Fernando se encontra presente, representando a

Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República — eu pediria ao Dr.

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Alexandre que deixasse o Presidente aqui, porque S.Exa. poderá fazer alguma

pergunta, e também do ponto de vista que essa Comissão vai fazer, o relato que eu

estou fazendo será de alguma utilidade.

Todas as conversas foram conduzidas no sentido de que o Dr. Daniel, mesmo

que não fosse em caráter definitivo, ficasse no PROVITA, uma vez que

tecnicamente ainda não havia condições de enquadrá-lo no Programa de Proteção a

Defensor ameaçado.

A decisão de não aceitar, pelas razões aqui expostas por ele mesmo, entrar

no PROVITA foi do Dr. Daniel. O comentário de natureza pessoal feito pelo Hugo,

que trabalha comigo e que é militante de direitos humanos há muito tempo, foi de

um certo constrangimento — e aí, Dr. Daniel, cada tem o seu direito de pensar com

base nas suas convicções. O comentário do Hugo foi no sentido de que um defensor

de direitos humanos, pelo menos na nossa visão de direitos humanos, não usa

arma, uma vez que ele se apropria do que a lei lhe oferece como proteção.

O PROVITA é uma conquista dos direitos humanos. Esse programa não foi

dado por Governo algum não. Houve uma luta prolongada dos militantes de direitos

humanos neste País para conquistar esse programa. Ele pode não ser o melhor,

mas é o que conseguimos.

O comentário feito pelo Hugo não interferiu de modo nenhum no fato de hoje

o Dr. Daniel não ter proteção. A decisão de não entrar no PROVITA foi do próprio

Dr. Daniel, como ele aqui relatou.

Então, quero deixar isso bastante esclarecido, para que não paire dúvida

alguma.

O nosso interesse, a nossa responsabilidade é manter vivos todos aqueles

que denunciam atos de violação de direitos humanos, assim como aqueles que

denunciam atos de corrupção seja contra quem for e em qualquer esfera. Nossa

responsabilidade é procurar manter essas pessoas vivas, para que tenham

prosseguimento as investigações e os responsáveis por aquilo que está sendo

denunciado sejam devidamente responsabilizados.

Não é interesse de ninguém interromper o processo de busca de proteção.

Também não é verdade que as pessoas não morram neste País em decorrência das

denúncias que fazem. A nossa galeria de mártires é bastante extensa. Mas a galeria

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de crimes sem a conclusão da investigação, a apresentação da denúncia e o devido

processo, com a devida responsabilização de alguém, também é bastante ampla

neste País.

No Brasil, claro, há uma coisa chamada impunidade, que permite que

pessoas continuem sendo assassinadas, que corruptos continuem corruptos. Não

damos menor importância a esse tipo de coisa, não. Nós damos importância máxima

à manutenção da vida daquelas pessoas que fizeram denúncia e de quem quer que

seja.

Repito: quero deixar isso bastante claro, porque não partiu, nem partirá

jamais, da parte de alguém que trabalha comigo a interrupção da busca de proteção

a quem quer que seja.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Com a palavra o Dr.

Daniel Ponte.

O SR. DANIEL PONTE - Exma. Sra. Deputada, primeiramente, quanto ao Dr.

Hugo, só tenho a agradecer o empenho que ele teve, assim como o empenho de

V.Exa. O que o Dr. Hugo colocou para mim não foi a visão dele. Ele deixou isso

muito bem claro. Foi a visão de pessoas ligadas ao Executivo. Isso eu deixo bem

claro. E, mais uma vez, registro nos Anais nesta Casa meu elogio ao Dr. Hugo e a

V.Exa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Estamos satisfeitos

com a manifestação de um ou de outro. Temos, ao final da reunião, apenas esse

impasse que diz respeito à relação com a Comissão Parlamentar de Inquérito das

Escutas Telefônicas. Não conseguimos chegar a um termo comum nas

negociações, que ainda espero possam avançar.

Por isso, quero sugerir, com base na manifestação de cada um dos

Parlamentares, inclusive do Deputado Bala Rocha, Vice-Presidente da Comissão,

que, ao invés de encerrar, suspendamos os trabalhos desta Comissão para

continuar essa negociação — e acredito que ela será ser breve — a fim de encontrar

um ponto comum com os colegas da Comissão Parlamentar de Inquérito, e, a partir

daí, equacionar essa situação que, para mim, acabou sendo um drama que estamos

vivenciando aqui a Comissão por conta do que....

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O SR. FERNANDO MATOS - Sr. Deputado, estou entendendo, com a devida

vênia, que a sessão está caminhando para ser suspensa. Meu nome é Fernando

Matos. Sou coordenador do Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos

Humanos — o Dr. Felipe coordena a área de direitos humanos da Polícia Federal. E

eu gostaria, até porque várias vezes o programa foi citado, se possível fazer, fazer

alguns esclarecimentos a esta Comissão.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - O senhor é o Dr.

Fernando Matos? E o Dr. Felipe Seixas é Diretor de Divisão dos Direitos Humanos

da Polícia Federal? Não tem nenhum problema. Esta é uma audiência pública. Se

V.Sas. têm interesse em se manifestar, a Comissão está aberta, e eu posso

franquear a palavra, não sem antes atender, pela ordem, o Deputado Chico Alencar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sr. Presidente, ainda sobre o

impasse extra-audiência pública. Indago a V.Exa. se o Dr. Alexandre já firmou,

dentro das negociações, porque houve muita conversa paralela em meio à audiência

pública, um compromisso com os membros da CPI acerca de uma data para

comparecer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Essa é a nossa

vontade. O Dr. Alexandre confirmou comigo a disposição de, ao ser intimado, marcar

uma data para comparecer a CPI, e assim o assunto estaria encerrado. Acho que é

o correto. Da nossa parte, não há nenhum óbice, até porque não haverá nenhum

constrangimento, mas está remanescendo ainda um pouco de resistência na

Comissão Parlamentar de Inquérito.

É esse que acordo que queremos fechar. Gostaríamos que hoje fosse feita a

intimação com data marcada para ele comparecer à Comissão de Inquérito. A

Comissão de Direitos Humanos não opõe nenhum óbice nem tem como interferir,

até porque a CPI tem autonomia.

Esta é a negociação estabelecida. Estamos aguardando a palavra final da

Comissão Parlamentar de Inquérito.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - O senhor me cede a palavra em

nome da CPI?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Com muito prazer,

Deputada Marina Maggessi.

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A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Acontece o seguinte: ouvi aqui

falar-se de asilo... Nós não vamos torturá-lo na CPI. Ele não precisa de asilo político,

nem precisa de proteção. Ele vai lá responder as perguntas que ele quiser

responder. Ele pode chegar lá, por exemplo, e se negar a responder, pois tem essa

prerrogativa.

Agora, isso virou um constrangimento muito grande para todo mundo, porque

parece de novo: a CPI dos Grampos está cheia de policiais, então lá só tem safado.

Aqui, na Comissão de Direitos Humanos, são os anjinhos. Não é verdade isso.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Não houve nada disso,

não.

É o que a mim me pareceu, o senhor me desculpe. O senhor falou o que

parecia para o senhor, agora o senhor ouça o que me parece. Eu senti isso.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - (ininteligível) ... a CPI

pudesse constranger qualquer convidado.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Exatamente. Então, o que

acontece? Ele foi convocado duas vezes, inclusive eu trouxe o Boletim Interno da

corporação, que foi levado agora para o Deputado Arlindo Chinaglia. Ele foi

convocado por meio do Boletim Interno da corporação. Todos os trâmites foram

cumpridos. Todas as vezes em que foi convocado pela CPI, ele dizia: “Ah, não vou,

não vou, não vou”.

Não criamos nenhum constrangimento. O que aconteceu é que respeitamos o

horário da convocação. O horário dele era 14 horas, o mesmo horário daqui. Nós

respeitamos e esperamos ele acabar. O Deputado Marcelo Itagiba resolveu até

esperar a Ordem do Dia acabar. Há uma resistência muito grande por parte dele. Ele

não quer ir à CPI porque está sendo convocado na condição de ter sido acusado de

um crime. Ele também gosta muito disso, de fazer tumulto.

Por mim, eu voltava lá para o plenário, porque tenho de acompanhar uma

emenda na MP nº 422, pela Amazônia úmida, e estou aqui nesse ramerrame. Por

mim, aceito marcar outro dia para ele vir. Só que quem vai escolher esse dia é a

CPI, certo? Aqui ele foi convidado; lá, ele foi convocado. E tenho certeza de que ele

não vai comparecer, mas ele vai incorrer nas penalidades da lei. Por mim, abro mão

disso, porque acho coisa de criança, meio doentia.

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O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Quero elogiar a Deputada Marina

Magessi, mas não concordo com essa visão que ela tem de que aqui é uma

Comissão dos anjinhos e lá é a dos bandidos. Não existe isso. Aliás, bandidos e

anjos às vezes estão dentro da gente mesmo. Então, vamos deixar esses juízos de

valor moral de lado.

Eu entendo, primeiro, que a CPI é um instrumento da democracia, pelo qual o

delegado Alexandre tanto clamou no belo texto que leu ao final do seu depoimento,

que deve ser respeitada sempre. Ela já produziu nada e já produziu resultados muito

bons para o País.

A CPI convoca, a Comissão convida. Convocado por CPI, seja para que

depoimento for, ninguém lá é constrangido, torturado, nada disso. As reuniões são

públicas, e o depoente tem de ser respeitado.

Vejo na transigência da Deputada Marina Maggessi um fato novo e

importante. Então, quero fazer um apelo ao delegado Alexandre, que muito

contribuiu com esta Comissão. Tudo que os senhores disseram aqui será

considerado. Vamos fazer uma reunião administrativa da Comissão com os

Parlamentares para ver os desdobramentos que já começam na audiência pública

da próxima terça-feira. Vamos procurar o Governador do Estado. Isso não vai ficar

simplesmente como um espetáculo verbal.

Entendo que é isso mesmo. A Comissão, por intermédio de seus membros,

pode determinar o dia, pode ser hoje às 9 da noite, pode ser daqui a uma semana. A

ponderação para ser em outro dia, para desvincular o convite feito pela Comissão de

Direitos Humanos da coerção para depor numa outra, é uma transigência, até

porque poderiam fazer isso. Seria uma bela notícia: “Foi à Comissão Direitos

Humanos e saiu em cana para a CPI”. Esse seria o lead.

Mas se há transigência, o impasse está resolvido. Agora, é óbvio que

qualquer convocado que não aparecer na CPI vai sofrer todas as sanções legais

com o apoio dos Parlamentares desta Comissão, aliás, dos 513 Deputados da Casa.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Para o senhor ter uma idéia, o

ex-Ministro Sepúlveda Pertence e o Ministro Gilmar Mendes, assim como várias

autoridades, já prestaram depoimento. Já conheço a personalidade da pessoa que

faz esse tipo de resistência. Acho também que se deve desvincular mesmo, porque

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esta Casa não pode servir de palco para esse tipo de coisa. Eu me sinto

envergonhada, tanto na qualidade de policial quanto na de Deputada Federal.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Com a palavra o

Deputado Sebastião Bala Rocha.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Deixe-me só eu dizer a

Deputada Marina — nós estamos nos conhecendo praticamente hoje — que eu não

conheço os membros da CPI, nem fiz qualquer prejulgamento com relação a isso,

mas com relação ao constrangimento. Estamos numa Comissão de Direitos

Humanos. E sair alguém daqui praticamente conduzido à força não fica bem,

Deputada. Se a CPI tem mecanismos para conduzir de maneira coercitiva hoje, tem

mecanismos para conduzir de maneira coercitiva amanhã. Que o faça se julgar

prudente. Defendo que o delegado Alexandre — quero deixar bem clara a minha

posição — vá à CPI, seja hoje, seja amanhã, seja depois de amanhã. Não tem

porque temer a CPI.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Eu sou um servidor

público, eu vou a qualquer lugar, desde que regularmente intimado. Estou

mostrando para o Vice-Presidente o que está acontecendo.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Deixe-me concluir, depois

o senhor fala. Minha posição é a de que o senhor vá a CPI. E até hoje. Se ele for

convidado e concordar, não tem problema nenhum.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Perfeito.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Ele veio aqui, depois vai lá

na CPI. Mas conduzido à força não fica bem, Sr. Presidente.

Agradeço à Deputada Marina Maggessi. Não houve nenhum prejulgamento.

Não tenho preconceitos. Tenho muitos amigos policiais. Existem bons policiais no

Brasil. No meu Amapá, há bons policiais. Espero que o que foi dito aqui da senhora

tenha sido injusto. Realmente, estou lhe conhecendo agora, e devoto à senhora toda

a consideração.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Só um minutinho. Ele sabe que é

injusto.

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O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Não estou fazendo

qualquer prejulgamento nem com relação a senhora nem com relação aos membros

da CPI

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Tenho 18 anos de Polícia e moro

num apartamento, alugado, de 50 metros quadrados. Tenho muita honra de ter sido

Chefe da Inteligência da Polícia. Não fui para Corregedoria de Polícia para prender

bandido, para prender policial bandido. Fui para a Inteligência da Polícia e acho que

o Brasil inteiro conhece o meu trabalho. Essa é uma questão pessoal que não cabe

aqui.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Perfeito. É que o palco

de discussão desse tema não é a Comissão de Direitos Humanos. Aqui é um outro

propósito, e essa vinculação se estabeleceu na medida em que ficou uma questão

umbilicalmente ligada e meio oportunística, ao menos é o que passa a impressão.

Alguém é convidado para vir na Comissão de Direitos Humanos na condição de

vítima para apontar fatos graves em relação à corrupção policial e, aproveitando-se

a oportunidade — é a impressão que passa — é carregado coercitivamente para

uma CPI. Isso não pega bem para Comissão de Direitos Humanos. É só isso que

queremos desvincular. Absolutamente não entramos no mérito da convocação. O

que questionamos é tão-somente a forma de se proceder.

Então, peço à Deputada Maggessi que confirme essa posição com o

Presidente da CPI, o Deputado Marcelo Itagiba ....

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Ele está conversando com o

Presidente desta Casa agora.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - ...bem como com o

Relator e traga uma posição oficial. Acho que essa é uma saída honrosa para a CPI

e para a Comissão de Direitos Humanos. E vai fazer que nosso convidado, que lá

convocado, assuma a responsabilidade de comparecer à CPI numa outra

oportunidade. Se não o fizer, responderá sob as penas da lei. A CPI tem os

mecanismos legais e formais para fazer que ele compareça de forma adequada.

Eu gostaria de obter a confirmação, porque isso facilitará nosso trabalho. Não

tendo essa confirmação, vamos manter a Comissão de Direitos Humanos em

reunião permanente, porque sinto que este é o ambiente que aqui está estabelecido.

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Enquanto não vem a resposta, ouviremos a palavra do Dr. Fernando Matos,

Coordenador-Geral do Programa Nacional de Proteção aos Defensores de Direitos

Humanos da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República,

e, em seguida, o Delegado Felipe Seixas, Diretor da Divisão de Direitos Humanos da

Polícia Federal.

Com a palavra o Dr. Fernando Matos.

O SR. FERNANDO MATOS - Sr. Deputado, permita-me. Até por uma questão

cronológica, eu gostaria que fosse feita uma inversão. Já conversei com o Dr. Felipe

a respeito. Ele poderia falar primeiro.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Pois não. Então, falará

primeiro o Dr. Felipe Seixas, Diretor da Divisão de Direitos Humanos da Polícia

Federal.

O SR. FELIPE SEIXAS - Sr. Presidente, agradeço a V.Exa. a concessão da

palavra.

Desejo esclarecer que sou Chefe da Divisão de Direitos Humanos da Polícia

Federal e fui eu quem deu o parecer contrário à entrada do Sr. Daniel Ponte no

Serviço de Proteção a Depoente Especial.

Minha manifestação aqui restringir-se ao problema da proteção e não às

graves denúncias reveladas nesta Comissão, até porque o Ministério Público

Federal, ao invés de requisitar a instauração de inquérito à Polícia Federal, entendeu

que se tratava de atribuição da Polícia Civil, competência da Justiça Estadual, e

encaminhou o caso ao Ministério Público Estadual.

No que se refere especificamente à proteção, o Sr. Daniel Ponte procurou a

Polícia Federal, e, assim que foram mostrados quais seriam os requisitos para a

entrada no programa, ele recusou, porque não concordava com as regras. Acho que

isso está bem claro.

Então, ele ajuizou uma ação judicial requerendo a proteção. A liminar foi

denegada em primeira instância e concedida em segunda. Só que não foi concedida

totalmente, mas em parte. Então, o Sr. Daniel Ponte desistiu da ação e entrou com

novo mandado de segurança, que, por prevenção, caiu na mesma vara, com o Dr.

Lafredo Lisboa. Mais uma vez, a liminar foi denegada, e, na sentença, o Dr. Lafredo

Lisboa determinou que a Polícia Federal fizesse, sim, a segurança, a escolta do Sr.

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Daniel Ponte até que fosse analisado o pedido de ingresso no Serviço de Proteção

ao Depoente Especial.

Na análise do pedido de ingresso, foram considerados todos os requisitos

legais, e ficou bem claro que o Sr. Daniel Ponte não os preenchia, principalmente

por não concordar com as regras, e esse é um requisito que está na norma.

Então, por esse motivo, o ingresso no Serviço de Proteção ao Depoente

Especial foi negado e, de acordo com a ordem judicial da 3ª Vara Federal, foi

suspensa a segurança. Foi exatamente esse o contorno que teve a sentença da

Justiça Federal.

Queria esclarecer à Comissão que foi oferecido o Serviço de Proteção ao

Depoente Especial, assim como foi oferecido o PROVITA — o Dr. Fernando Matos

vai esclarecer melhor como ele funciona —, mas não houve aceitação.

O Dr. Daniel Ponte também alegou que o argumento da Polícia Federal seria

que ele não é testemunha em processo criminal. É verdade. Na própria petição do

Sr. Daniel Ponte ao juiz, ele não menciona nenhum processo criminal. Eu ouvi o Sr.

Daniel Ponte, no Rio de Janeiro, e ele realmente não tinha um procedimento

instaurado, formal, para que houvesse esse ingresso. Mas, independentemente

disso, o que é mais importante é a falta de anuência do Sr. Daniel Ponte com as

condições do programa.

Finalmente, eu gostaria só de fazer um último comentário em relação ao

Superintendente Regional da Polícia Federal, Dr. Valdinho Jacinto Caetano, uma

pessoa altamente íntegra e que eu acho que não fica bem relacioná-lo a casa de

prostituição, a omissão em investigações, simplesmente porque ele está numa

reportagem de uma revista policial. É como se eu prestasse algum depoimento em

qualquer meio de comunicação e entre seus anunciantes houvesse alguma entidade

que tivesse alguma coisa contra os direitos humanos, e eu ficasse mal em minha

atuação à frente da Divisão de Direitos Humanos. Isso não tem nenhuma relação, e

essa é uma acusação, ao meu ver, irresponsável.

Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Muito obrigado.

Para uma rápida consideração, com a palavra o Dr. Daniel Ponte.

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O SR. DANIEL PONTE - Dr. Felipe, eu acho que o senhor equivoca-se em 2

pontos: um, que eu sou testemunha da própria Polícia Federal em inquérito aberto,

antes de o senhor dizer ao contrário, coisa que eu vou representar contra o senhor

na Corregedoria. E, segundo, se o Superintendente da Polícia Federal é pessoa tão

íntegra, fato que eu não duvido, ele deve coibir essas casas que estão aqui. A partir

deste instante, ele tem ciência legal das casas de prostituição, que sonegam

contribuições do INSS, impostos. Tem competência federal. Ele pode ir lá e fechar,

na revista em que ele está na capa — na capa, não, no interior.

Só essas observações.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Pois não.

Com a palavra o Dr. Felipe, para encerrar.

O SR. FELIPE SEIXAS - Se o Sr. Daniel Ponte é testemunha da própria

Polícia Federal, deveria ter dito isso no seu requerimento à Justiça. Não sei se é

este inquérito em que ele teria sido intimado, o que eu realmente desconheço, que

foi a causa das suas ameaças. E a lei é bem clara ao dizer que no inquérito em que

ele é testemunha é que deve ser a causa das ameaças, para ensejar o ingresso no

programa.

Então, em nenhum documento a que eu tive acesso, existe esse inquérito da

Polícia Federal que o Sr. Daniel Ponte menciona.

Sobre a questão da competência federal, não precisamos ficar divagando

aqui, porque isso é constitucional.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Perfeito.

Parece-me que está superada essa questão, até porque há um aspecto maior

nisso tudo: ele próprio recusou a proteção, até porque, imagino, ele pensava que a

proteção fosse de uma maneira e, quando foi ver o programa, era de outra forma.

Respeitamos a posição dele, como temos que respeitar a posição do programa.

Tenho bem clara essa compreensão.

Muito obrigado, Dr. Felipe, pelas suas palavras. O senhor é uma pessoa por

quem temos, na Comissão de Direitos Humanos, o mais profundo respeito. Sua

atuação não só neste caso, mas em vários outros depõe a seu favor. E nós

podemos dar este testemunho público — não só eu, mas outros tantos

Parlamentares que o conhecem perfeitamente.

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Passo a palavra agora ao Dr. Fernando Matos, Coordenador-Geral do

Programa Nacional de Proteção de Defensores de Direitos Humanos da Secretaria

Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.

O SR. FERNANDO MATOS - Muito obrigado, Sr. Presidente, Deputado

Pompeo de Mattos.

Desejo agradecer a oportunidade de esclarecer um pouco como funciona o

Programa de Proteção aos Defensores, até como forma de contribuir não apenas

nem relação ao caso concreto, mas no que diz respeito ao futuro debate que esta

Casa travará sobre o marco legal dessa política pública.

Inicialmente, quero dizer que o programa foi lançado em 2005 pelo ex-

Ministro e ex-Presidente desta Comissão, o ex-Deputado Nilmário Miranda, como

uma das contribuições que o Brasil tem a dar para que dezenas de pessoas que

dedicam a vida às causas da população brasileira — sindicalistas, padres, juizes, os

mais diversos tipos de militantes em nosso País —, que enfrentam a morte todos os

dias, tenham da parte do Estado uma proteção.

Esse programa funciona atualmente em 3 Estados: Pará, Espírito Santo e

Pernambuco. No ano passado, o Presidente Lula baixou o Decreto nº 60.044, que

instituiu a Política Nacional de Proteção aos Defensores, definindo o que é o

defensor de direitos humanos, com base em uma resolução da ONU, e dizendo o

que caracteriza a violação dos direitos humanos.

Há em tramitação nesta Casa 2 projetos de lei sobre o assunto — um de

iniciativa da Deputada Iriny Lopes e outro do Deputado Eduardo Valverde —, e o

Governo Federal em breve estará encaminhando para apreciação dos Srs.

Parlamentares um projeto de lei que vai regulamentar a criação do programa federal

e dos programas estaduais.

Então, Sr. Deputado, nós estamos em um programa em que não há marco

legal.

Estive aqui no ano passado, a convite da Deputada Iriny Lopes e do

Presidente Luiz Couto, para discutir a proteção aos defensores nos Estados do Pará

e do Paraná. Defensores no campo, que estão sendo ameaçados em sua luta pela

reforma agrária e pela justiça social. É para mim uma honra retornar, e vim

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espontaneamente, porque o caso do Dr. Daniel se encontra sob análise da

coordenação nacional do programa.

Recebemos diversos ofícios e comunicações, tanto da Deputada Iriny como

do Presidente, Deputado Pompeo de Mattos, que encaminhou solicitação, a que já

respondemos, para que, diante da gravidade das denúncias e da situação de

ameaça ao Dr. Daniel Ponte, o programa o recebesse.

Convidei o Dr. Daniel, que foi trazido por nós a Brasília, para uma reunião

sigilosa no Ministério da Justiça, com a participação da SENASP, da Assessoria

Internacional da Secretaria de Direitos Humanos, da Coordenação Nacional do

Programa de Proteção a Testemunhas. Apenas a Ouvidoria da Secretaria não pôde

participar, porque o Ouvidor se encontrava adoentado. Foi uma reunião, no meu

entendimento, bastante profícua. O Dr. Daniel apresentou essas denúncias que

apresentou aqui hoje, e buscamos, dentro da possibilidade do marco legal em que

nos encontramos hoje, uma solução para o seu caso. No dia seguinte à reunião, ele

julgou que poderia correr risco ao retornar do aeroporto para sua residência, e, por

empenho do Dr. Hugo Melo e do Dr. Felipe Seixas, foi possível viabilizar o

acompanhamento da Polícia Federal no trajeto do aeroporto até a residência.

Realmente, iniciei a reunião dizendo ao Dr. Daniel que todas as pessoas

presentes nesta sala querem ajudá-lo a encontrar uma solução para sua proteção,

dentro do que a lei prevê e do que o marco jurídico permite. No caso dele, a reunião

foi no dia 27 de março, e nesse período nos reunimos com o Dr. Luiz Fernando, que

já se reuniu com a Deputada Iriny, que já conversou com o Ministro Vannuchi.

Estamos buscando uma alternativa, dentro do marco jurídico, que alcance a situação

do Dr. Daniel Ponte.

Quero concluir dizendo, em primeiro lugar, que o PROVITA não é prisão

domiciliar. Existem restrições, normas de segurança. Em função disso, mais de 3 mil

pessoas passaram pela proteção do PROVITA, em 19 Estados, mais o programa

federal. Nenhuma pessoa morreu, nem sofreu atentado. E queremos que o

Programa Defensores também tenha esse marco de excelência. Não queremos agir

de maneira irresponsável. Por isso, estamos buscando uma solução que seja ao

mesmo tempo técnica e garanta a integridade do Dr. Daniel Ponte.

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Também quero dizer que o SPDE é o órgão da Polícia Federal para o

depoente que não ingressa no PROVITA. Como está sob a gerência da Polícia

Federal, as restrições são maiores do que aquelas para quem está inserido no

programa. Tirando algumas situações de segurança, a pessoa leva a vida mais

normal possível, tendo cuidado com a autoproteção. O Programa de Proteção aos

Defensores tem um método inverso: queremos garantir que a pessoa continue no

local da sua luta, para que não enfraqueçam as denúncias que está fazendo.

Esta Casa encaminhou, a Deputada Iriny pessoalmente encaminhou, várias

entidades nacionais e internacionais encaminharam o pedido do Dr. Daniel Ponte. E

desde o dia 27 de março, há menos de um mês, estamos elaborando nosso parecer

técnico sobre a situação dele. Por que? Porque ele é um funcionário público e

algumas vantagens da sua proteção previstas na Lei 9.807, a Lei do PROVITA, não

existem no Programa de Proteção aos Defensores. Então, estamos buscando uma

forma compatível com a gravidade das denúncias e com o que melhor caracteriza a

sua proteção.

Para finalizar, quero dar um depoimento. Em momento algum, o comentário

que ele apresentou como tendo sido externado a ele pelo Dr. Hugo Melo este fez

conosco. Em nenhum momento, o Dr. Hugo Melo ligou, a não ser para pedir por ele,

para apoiá-lo, a se esforçar para que ele tivesse um atendimento ágil, correto, digno.

Em momento algum, o Dr. Hugo Melo fez conosco qualquer comentário que tenha

feito à pessoa do Dr. Daniel. Então, nada disso interferiu, nem interferirá na

apreciação do caso dele na Coordenação.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Muito obrigado, Dr.

Fernando Matos. Quero recordar que em 1999/2000, integramos a CPI do

Narcotráfico. V.Sa. acompanhou e acredito que o Dr. Felipe também. A Polícia

Federal esteve na frente conosco.

Sofríamos muitos constrangimentos exatamente quanto à proteção da

testemunha. Muitas pessoas queriam proteção, mas quando viam o que existia, não

gostavam, porque imaginavam um céu aberto, que teriam 2 seguranças ao lado o

dia inteiro e poderiam fazer as mesmas coisas que faziam antes. Isso não é

possível. É uma coisa muito rígida, bem restrita, e acaba tolhendo bastante a

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liberdade do protegido. E é assim até para poder garantir a segurança. Então, não é

como as pessoas imaginam. Por conta disso, muitas pessoas não gostam do que

vêem, se decepcionam ante a perspectiva que tinham e recuam.

Isso é perfeitamente compreensível, mas não dá para massacrarmos o

PROVITA. Nem dizer que é o melhor programa do mundo. Mas é o melhor que

temos, isso sim. O objetivo da Comissão de Direitos Humanos e de tantos quantos

militam nessa área é melhorar o programa cada vez mais, e sabemos que para isso

precisamos de recursos.

Tem a palavra o Deputado Chico Alencar, que fez a última incursão com os

nossos colegas da Comissão Parlamentar de Inquérito das Escutas Telefônicas.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Dizem que administrar bem é não

criar problemas além dos que já existem no cotidiano. Podemos desarmar um

problema que surgiu hoje. O Presidente Arlindo não está na Casa, quem preside a

sessão é o Vice-Presidente, Deputado Narcio Rodrigues, e há um consenso nas

consultas informais aos Líderes. A sessão está transcorrendo com assuntos

relevantes.

Conversei também com o Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito

das Escutas Telefônicas, que ponderou que não temos nenhum interesse em usar

força coercitiva para um convocado comparecer à CPI, que está aqui ao lado, a 10

passos. Orientou-me a ponderar com o Dr. Alexandre e a pedir a intercessão do

Deputado Pompeo para que, uma vez concluída esta audiência ou a Ordem do Dia,

ele apenas compareça, porque, embora tenha me mostrado que deu a resposta,

eles não receberam essa comunicação da impossibilidade de comparecer hoje.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Foi feriado na segunda, e

ontem foi ponto facultativo. Eu estive na Chefia e protocolei a resposta, porque na

segunda não havia ninguém lá, como ontem também não havia. Embora não fosse

feriado, foi ponto facultativo. E hoje é feriado lá. Mas a resposta em nenhum

momento desconsiderou a autoridade da CPI. Sou um servidor público e tenho local

fixo de residência. Tanto é que os caras me acharam e me deram 8 tiros na porta da

minha casa. Se o bandido me acha, como é que um Deputado que foi delegado da

Polícia Federal não vai me achar?

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O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ninguém está falando que não

achou. Apenas o que se pondera agora, e acho absolutamente razoável e

simplificador, é o seguinte: V.Sa. iria sem nenhum constrangimento, escolta, daria

10 passos até a Comissão, que está reunida e o ouviria, em 2 minutos, se for o

caso, à sua escolha, garantida constitucionalmente. O senhor pode dizer primeiro:

estou aqui, de corpo presente, atendendo a esta convocação, para dizer...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não estou atendendo a

essa convocação. Vou ser sincero. Elegi como prioridade atender a esta

convocação.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Tudo bem, mas como a CPI está

reunida...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Vou dar satisfação ao Dr.

Marcelo Itagiba, que é o Presidente, quanto à impossibilidade de fazer, o que já está

escrito. É porque ele ainda não chegou.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Está bem, mas como ele não

recebeu, não custa nada...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Mostrei ao

Vice-Presidente da Comissão, que já leu e entendeu totalmente.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ele está com toda a disposição.

Então, apelo ao senhor, inclusive em respeito à Câmara dos Deputados...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Deputado, pelo amor de

Deus, V.Exa. me constrange ao falar que apela.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Claro, para simplificar.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Vou lá com a maior boa

vontade, sem problema nenhum. Quero apenas ter o direito de falar com o Dr.

Marcelo Itagiba em particular, para explicar a ele o porquê da minha posição.

Entendeu?

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Não, mas não precisa ser em

particular.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Até em respeito a esta...

Faço questão. Sabe por que?

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O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - O senhor falou de coisas muito mais

graves aqui, em público. Aqui é o espaço...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - É, mas tudo bem, não tem

problema, eu queria conversar com ele...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Sim, mas vai ter...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - ...para ele entender o

porquê. Porque devo satisfação à Comissão e...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Os senhores podem até jantar no

Piantella, e pede para ele pagar, porque ele ganha mais do que o senhor. E me

convidem, porque eu nunca fui e tenho curiosidade nessa conversa.

Brincadeiras à parte. A solução está aqui. O Dr. Marcelo Itagiba está aqui do

lado, com o Deputado Simão Sessim e 3 ou 4 membros da CPI. Seria uma conversa

com as formalidades da convocação, mas em tom amistoso, informal. O

desdobramento compete a V.Sa. e à CPI, se vai fazer outro depoimento, se vai dizer

que não tem nada a dizer, que se sente ofendido com a convocação. Não acontece

nada e resolve, inclusive libera os servidores públicos, que têm mais o que fazer.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Deputado, vou deixar

claro o seguinte: vou comparecer para justificar a minha ausência...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Perfeitamente.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - ...que já está justificada

pelas vias que eles escolheram. Tecnicamente, o servidor público é intimado, e não

requisitado.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Isso. Está certo.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Requisitado é o militar.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Está certo. Não, mas só...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Então, não fui intimado,

não, senhor.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Não, mas só para comparecer...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Eu gostaria que me

mostrassem esse mandado...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Está certo.

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - ...porque ninguém bateu

na minha casa para me mostrar. A requisição, Dra. Marina, eu sou delegado de

polícia...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Ou a gente quer simplificar ou quer

esticar a corda e brigar. Se o senhor diz que comparece lá para dizer da

impossibilidade de comparecer...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Com certeza. Com

certeza.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - ...está feito, está resolvido e nós

vamos para a nossa sessão.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Já expliquei isso ao

Vice-Presidente, ele já entendeu...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Não quero ficar em vigília por 24

horas.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Não, com certeza, com

certeza.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Há outras causas mais nobres.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Vou lá explicar. Não vou

falar nada hoje, mas garanto que vou trazer tudo que tiver que trazer...

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Claro.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - ...para demonstrar

fartamente tudo o que está acontecendo. Aliás, já demonstrei ao Vice-Presidente a

documentação nova que tem... Quer dizer, é de 1º de abril, Dia da Mentira. Mas tem

outras anteriores também. O próprio supedâneo da justificativa caiu por água abaixo.

Mas não pára só aí. Existem outros fatos que mostrei a ele e ele achou razoáveis.

O SR. DEPUTADO CHICO ALENCAR - Mas é assunto lá da CPI.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Mas acho que o

Presidente da CPI primeiro tem que ouvir, ler e depois me chamar. Não vou fugir,

tenho que me operar, tenho endereço certo e sabido, sou funcionário público. Então,

não há problema nenhum, não estou com a mínima preocupação de ser ouvido, até

porque não serei só eu, outras pessoas poderão ser ouvidas também. Então, vamos

com tranqüilidade, não sei o porquê da pressa, dessa celeridade despropositada.

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Eu, que deveria estar com mais pressa de me curar, não estou com toda essa

pressa. Estou sem meu dedinho aqui tranqüilamente, me tratando. Então, está

tranqüilo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Estou vendo que há

impasse e não quero ser pego de surpresa.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Não, mas a informação

que tenho é que ele vai lá e vai ter que sentar para depor. É a informação que tenho.

Então, por conta disso, quero conferir... É a informação que o Deputado me deu.

Quero deixar bem claro que, se for para ele ir lá, nós vamos juntos, ele vai ser

intimado para comparecer tal dia, intima-se e vai embora. Nesse aspecto, não há

nenhum óbice. Diferentemente disso, não encerro a sessão.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Mas regimentalmente não

podemos fazer isso, porque já começou a Ordem do Dia, ninguém pode votar

requerimento hoje.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Mas ele pode ser

intimado.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Mas tem que ser votado um

requerimento na CPI.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Votar para intimar?

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - É.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Mas já tem para intimar

e ele não foi intimado até hoje. Já está aprovado o requerimento.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Ele foi, sim.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Eu não fui intimado,

Excelência.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Ele foi intimado...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Eu fui intimado?

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Por favor. Está intimado no

boletim interno da corporação inclusive.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Não, mas boletim... A

pessoa tem que intimar pessoalmente.

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Pessoalmente. A

intimação é pessoal.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - A intimação é pessoal.

Não é militar.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Para policial não precisa. A

gente lê no BI.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Não, não...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - O que é isso, doutora?

Dra. Marina, pelo amor de Deus!

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Mas ele tem que ser

intimado pessoalmente. Isso é direito da pessoa.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Isso é pessoal, está aqui.

Tem 3 súmulas do Supremo.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Ele tem que ser

intimado pessoalmente. Quero deixar claro que não vejo constrangimento nenhum.

A Comissão Parlamentar de Inquérito o intima, ele está intimado. Se não o acharam

antes, agora o acharam.

A SRA. DEPUTADA MARINA MAGGESSI - Sim, inclusive fui eu que vim

fazer isso aqui. Nós o intimamos para amanhã, às 9h.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Intima-o, e eu o libero

para depor amanhã, depois de amanhã, semana que vem, o dia que melhor convier.

Nesse aspecto, temos tranqüilidade para acertar isso.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Sr. Presidente, só para esclarecer

uma coisa.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Pois não.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Ele não vai atender à intimação. Pelo

que conversamos, ele não vai atender à intimação. E tem as suas razões, não vou

discuti-las.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Isso é outra questão.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Não vamos discutir. Mas poderíamos

solucionar da seguinte forma, não custa nada: V.Exa. pode acompanhá-lo. Vamos

lá. Ele não tem nada a declarar, ele vai dizer apenas que não tem nada a declarar e

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não precisa receber outra intimação, não precisa assinar intimação, não precisa

receber outra convocação.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Excelência, eu tenho a

declarar, sim. Só não vou admitir que os senhores utilizem um ardil para que isso

aconteça. Porque o que está acontecendo aqui, o senhor me desculpe, é um ardil.

Seus próprios colegas, seus pares, já verificaram isso. E eu já lhe expliquei, já lhe

mostrei a documentação, já lhe mostrei que a justificativa não subsiste e não me

furtei de responder. Apenas houve um feriado no Rio de Janeiro na segunda-feira,

um dia imprensado na terça, e hoje é feriado, na quarta. Mas a resposta foi dada ao

Chefe de Polícia.

O servidor público civil é intimado pessoalmente. Os acórdãos que estão aqui

são claros nesse sentido. O servidor militar é requisitado. Então, não recebi

nenhuma intimação. Está aqui o fax que recebi e mostrei ao senhor. E não se

assinalaram os 10 dias que a lei impõe para que alguém que foi intimado

compareça. O mínimo de 10 dias. Eu não posso ficar aos caprichos: amanhã você

está aqui de manhã. Isso não existe, Excelência.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Dr. Neto, deixe-me explicar. Não

vamos discutir.

(Intervenção fora do microfone. Inaudível.)

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - A documentação do Dr. Neto é

regular. Eu concordo com ele. Ele tem as razões dele, documentadas. Não discuto.

Mas estamos aqui para fazer um acordo para solucionarmos um problema que

surgiu entre 2 Comissões. Estamos fazendo acordo, já não estamos discutindo nem

a legalidade da CPI, nem a legalidade da Comissão de Direitos Humanos, nem a

sua legalidade. Estamos discutindo um acordo para encontrarmos uma solução. Se

você quiser no futuro voltar aqui, tudo bem. Mas você tem que declarar agora,

porque foi votado requerimento lá. Mesmo que não tenha a declarar, em 5 minutos

solucionamos o problema.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Mas vou declarar que me

vejo impedido...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Impedido, você disse.

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO ...de prestar qualquer

informação e tendo em vista que estou com o boletim de... Acabou.

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Não, não tem outra. Você está com

atestado médico.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Está aqui, tenho o BIM

da...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Você está com atestado médico e

poderá dizer: estou com atestado médico, não posso responder agora e me

disponibilizo para que, numa outra oportunidade, possa vir...

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Excelência, preste

atenção. Doutor, Deputado...

O SR. PRESIDENTE (Deputado (Pompeo de Mattos) - Deputado Bala, por

favor. V.Exa. tem o microfone, pode falar no microfone.

O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Já falei isso com o

Vice-Presidente, não foi, doutor? Eu já lhe mostrei... Eu não fabriquei atestado

médico. Estou com o BIM até o dia 30 deste mês.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Estou perguntando ao

Deputado Laerte se ele não pode ir lá e mediante atestado médico justificar...

A SRA. DEPUTADA IRINY LOPES - Dr. Alexandre, por favor, calma. Já

entendemos. Deixe o Vice-Presidente dialogar com o Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Por favor.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Estou consultando...

V.Exa. é Vice-Presidente, não é, Deputado?

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Não, não sou Vice-Presidente, sou

membro da Comissão.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Estou tentando ajudar

também, como estão todos tentando colaborar. Quero saber se ele pode

comparecer à Comissão e justificar que hoje não pode depor...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Exatamente.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - ...porque está de atestado

médico e marcar uma nova data.

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 0499/08 Data: 23/04/2008

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O SR. ANTÔNIO TEIXEIRA ALEXANDRE NETO - Com certeza, mas eu já

falei isso para o senhor aqui. Já lhe mostrei a documentação.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Deputado Laerte, o que foi

entendido preliminarmente foi que ele deveria ir lá na condição de intimado e ficar

calado ou dar uma justificativa oficial...

O SR. DEPUTADO LAERTE BESSA - Não.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - ...na Mesa, e ele queria

justificar ao Presidente da Comissão. Ou ele vai ter que justificar na mesa?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Bom, vou fazer o

seguinte.

O SR. DEPUTADO SEBASTIÃO BALA ROCHA - Pode ser na mesa

também?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Permitam-me fazer a

questão clara. Vou suspender a sessão, e vamos conversar com o Presidente.

Gostaria que outros colegas Parlamentares nos acompanhassem nessa conversa.

Se nós não nos entendermos, quem haverá de se entender? Não está entendido

ainda. Vamos clarear bem essa questão. Acho que dá para, entre mortos e feridos,

nos salvarmos todos, porque estamos numa causa do Congresso Nacional, da

Câmara dos Deputados, em função do Brasil e de um preceito maior, que é fazer

justiça nas coisas claras da forma mais correta e mais reta, e não com ardil, com

oportunismo. É essa a diferenciação. Muito obrigado.

Está suspensa a reunião.

(A reunião é suspensa.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Pompeo de Mattos) - Está reaberta a sessão

de audiência pública da Comissão de Direitos Humanos.

Estivemos conversando com o Deputado Marcelo Itagiba, Presidente da

Comissão Parlamentar de Inquérito dos Grampos Telefônicos. Estiveram conosco os

Deputados Chico Alencar, Iriny Lopes e Sebastião Bala Rocha. Estabelecemos um

diálogo e acertamos o seguinte: vamos encerrar a sessão, o Dr. Alexandre

comparece à CPI e diz por que não quer ou não pode depor agora. Definido isso,

acerta, em comum acordo com a CPI, uma nova data para dar o depoimento, recebe

a intimação e está liberado para seguir viagem, voltar ao Rio de Janeiro. Depois, vai

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CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Direitos Humanos e MinoriasNúmero: 0499/08 Data: 23/04/2008

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comparecer à CPI de acordo com a intimação que lhe vai ser feita na Comissão

Parlamentar de Inquérito.

Esse é o acordo firmado, com base no que nos sentimos contemplados. Acho

que é uma saída importante, séria, honrosa, tanto para a Comissão Parlamentar de

Inquérito quanto para a Comissão de Direitos Humanos. Acho que conseguimos

recuperar a boa relação. Vamos mantê-la daqui para a frente, com a intensidade que

se faz necessária entre os integrantes deste Parlamento.

Dr. Alexandre, esse é o acordo. V.Sa. comparece agora, nós vamos juntos,

abre-se a sessão da CPI, o Deputado Marcelo Itagiba lhe concede a palavra, o

senhor dá as explicações, acerta-se então nova data para o depoimento, o senhor é

intimado dessa nova data e está liberado para seguir viagem.

O impasse está encerrado e também está encerrada a presente audiência

pública.

Muito obrigado.