departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo … · quero também esclarecer que,...
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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REVISÃO DE COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO DE DEFESA DO CONSUMIDOR, MEIO AMBIENTE E MINORIASEVENTO: Audiência pública N°: 639/01 DATA: 27/6/2001INÍCIO: 14:55 TÉRMINO: 19:23 DURAÇÃO: 4:28TEMPO DE GRAVAÇÃO: 4:34 PÁGINAS: 110 QUARTOS: 28REVISÃO: PAULO DOMINGOS, ODILON, ROSA ARAGÃO, IRMA, ELIANA, MARLÚCIA,CLÁUDIA CASTROSUPERVISÃO: GILZA, GRAÇA, J. CARLOS, LETÍCIA, MÁRCIACONCATENAÇÃO: JOEL
DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO
IRANI CARLOS VARELLA - Gerente-Executivo da Área de Saúde, Meio Ambiente e Segurançada Petróleo Brasileiro S.A. — PETROBRAS.BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Engenheiro da PETROBRAS.HELOÍSA GOMES DIAS GUIMARÃES - Engenheira ambiental, representante da CEPEMAR.CÉSAR LUIZ PALAGI - Gerente-Geral da Unidade de Negócios, Exploração e Produção daPETROBRAS.LUIZ PINGUELLI ROSA - Professor e Vice-Presidente do Instituto Alberto Luiz Coimbra dePós-Graduação e Pesquisa de Engenharia — COPPE, da Universidade Federal do Rio deJaneiro.EDSON CRUZ DE SÁ - Representante da El Paso Energy International.DEMÓSTENES BARBOSA DA SILVA - Vice-Presidente da AES-Tietê, empresa de geração deenergia elétrica.MANOEL MONTENEGRO NETO - Delegado Federal da Agricultura no Estado do Rio Grande doNorte.JOSÉ CARLOS GOMES DA COSTA - Representante do Ministério da Ciência e Tecnologia.CÉLIO FRANÇA - Representante do Ministério de Minas e Energia.DONIZETTI AURÉLIO DO CARMO - Chefe do Departamento de Licenciamento e CoordenaçãoAmbiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis —IBAMA.ALARICO JACOMO - Representante do Ministério do Meio Ambiente.
SUMÁRIO: Debate acerca dos impactos ambientais das modalidades de geração de energiaelétrica e do processo de licenciamento das plataformas da PETROBRAS, em especial asPlataformas P-38 e P-40.
OBSERVAÇÕES
A reunião contou com a participação da Comissão Externa destinada a apurar o acidenteocorrido na Plataforma P-36, da PETROBRAS, e da Frente Parlamentar Ambientalista.Houve exibição de imagens.Houve falha na gravação.Houve intervenções inaudíveis.
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ COM REDAÇÃO FINALNome: Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e MinoriasNúmero: 000639/01 Data: 27/06/01
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Declaro aberta a presente
audiência pública, que contará com a participação da Comissão Externa destinada a
acompanhar e apurar o acidente ocorrido na plataforma P-36 e demais plataformas;
e da Frente Parlamentar Ambientalista, para a discussão sobre os seguintes temas:
impactos ambientais das várias modalidades de geração de energia elétrica e
processo de licenciamento das plataformas da PETROBRAS, em especial as
plataformas P-38 e P-40.
Para compor a Mesa, em parceria, convido a tomarem assento os Deputados
Luiz Antonio Fleury, Presidente da Comissão Externa destinada a acompanhar e a
apurar o acidente ocorrido na plataforma P-36 e demais plataformas, e Deputado
Luciano Pizzatto, Coordenador da Frente Parlamentar Ambientalista, que já se
encontram ao meu lado e a quem concedo a palavra para suas considerações
iniciais.
Esclareço que inicialmente comporemos a Mesa com o Sr. Irani Varella,
Gerente-Executivo da Área de Saúde, Meio Ambiente e Segurança da
PETROBRAS, e com o Dr. César Luiz Palagi, Gerente-Geral de Unidade de
Negócios, Exploração e Produção da PETROBRAS, para tratarmos da questão de
licenciamento das plataformas.
Com a palavra o Deputado Luiz Antonio Fleury.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Sra. Presidenta, Srs.
Deputados, minhas senhoras, meus senhores, quero registrar a importância desta
audiência pública, uma vez que dentre os objetivos da Comissão Externa estão
exatamente a segurança ambiental e, no sentido mais amplo, a segurança do
licenciamento das plataformas da PETROBRAS. Daí nossa satisfação em participar
desta audiência.
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Sem mais delongas, vamos procurar nos reservar o direito de fazer qualquer
manifestação após a exposição que será feita pelos senhores convidados.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Com a palavra o Deputado
Luciano Pizzatto.
O SR. DEPUTADO LUCIANO PIZZATTO - Sra. Presidenta, Sr. Presidente
quero agradecer a gentileza do convite feito à Frente Parlamentar Ambientalista, que
congrega mais de 200 Deputados nesta Câmara Federal, para fazer parte destas
duas audiências públicas, uma vez que resolvemos somar, numa sinergia positiva,
as duas atividades. Obviamente, as notas taquigráficas serão depois distribuídas a
todos esses duzentos Parlamentares.
Hoje é um dia complicado. Como todos sabem, estamos votando a LDO.
Portanto, justifico aos demais presentes as dificuldades de organização.
Quero também esclarecer que, coincidentemente, sou o Relator da Comissão
Externa voltada para a questão do acidente da P-36 — assunto sobre o qual haverá
audiências durante o recesso, na segunda, na terça e na quarta-feira, no Rio de
Janeiro.
O objetivo dessa Comissão Externa, como o Deputado Fleury tem dito
sistematicamente, é o de analisar o acidente da P-36, cuja primeira etapa já está
quase encerrada, e, principalmente, o de acompanhar todo o sistema de meio
ambiente e segurança na Bacia de Campos em relação às plataformas. Portanto,
teremos ainda muito trabalho pela frente, e é por isso que esta Comissão se dedica
hoje a analisar o processo de licenciamento da P-38 e da P-40, que também fazem
parte do escopo da Comissão Externa — e esperamos a contribuição da sociedade
civil organizada, das universidades.
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Muito obrigado, Sra. Presidenta.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Esclareço que concederei a
palavra aos expositores por dez minutos inicialmente e, em seguida, farão uso da
palavra os Parlamentares previamente inscritos, sendo facultadas, em qualquer
caso, a réplica e a tréplica. A lista já está à disposição dos Srs. Parlamentares.
Com a palavra o Dr. Irani Carlos Varella, Gerente-Executivo da Área de
Saúde, Meio Ambiente e Segurança da PETROBRAS.
O SR. IRANI CARLOS VARELLA - Sra. Presidenta desta Comissão, Srs.
Deputados que compõem a Mesa, senhoras e senhores, antes de mais nada, quero
dizer do prazer de estar nesta Casa e o quão importante tem sido nossa experiência,
o nosso trabalho desde o acidente da Baía de Guanabara, em janeiro de 2000, ou
logo após janeiro de 2000, quando iniciamos projeto de excelência em gestão
ambiental e segurança operacional da PETROBRAS.
A partir desse evento, sem dúvida nenhuma, a área de segurança, meio
ambiente e saúde da PETROBRAS tem aumentado fortemente a interação com os
mais diversos órgãos ligados ao setor e, especialmente, com esta Casa.
Desses debates, surgiram várias sugestões, várias posições, e posso garantir
aos senhores que todas elas são analisadas e agregadas ao nosso processo de
melhoria de aderência aos mais diversos órgãos que compõem a sociedade
brasileira.
Peço licença à Presidenta para fazermos duas apresentações sobre a P-38 e
a P-40. Uma mostrando alguns dados do projeto, o tamanho desse projeto, os
investimentos, a produção, os benefícios. Na outra, estaremos apresentando um
estudo de impacto ambiental e o relatório de impacto ao meio ambiente da P-38 e da
P-40. Assim, peço aos nossos representantes que façam a apresentação.
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O engenheiro Bráulio Luiz Cortes Xavier, engenheiro responsável por esse
empreendimento e que tem acompanhado esse empreendimento, é responsável
pelo ativo de Marlim Sul, P-38 e P-40. S.Sa. fará a apresentação inicial.
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Muito obrigado. Sra. Presidenta,
Srs. Deputados, senhoras e senhores, vou tentar fazer brevemente uma exposição
sobre o andamento do processo de licenciamento da P-38 e da P-40.
(Exibição de imagens.)
Neste mapa vemos a localização do campo de Marlim Sul, na Bacia de
Campos. A Bacia de Campos, como todos já devem saber, é a principal província
produtora de petróleo do Brasil, possui uma área bastante extensa, atualmente
existem 38 plataformas em operação.
Esses campos representados na cor verde são hoje os diversos campos que
a PETROBRAS produz na Bacia de Campos. As áreas representadas em cores
diferentes são áreas em que hoje, em decorrência das licitações que a ANP tem
feito, a PETROBRAS não está mais atuando.
O campo de Marlim Sul fica nessa região central da Bacia, mas em direção
das águas mais profundas, a uma distância bastante grande da costa em vários
pontos. Este mapa mostra com um pouco mais de detalhes a região de Marlim Sul,
que, como o nome diz, fica ao sul do Campo de Marlim, também bastante
conhecido. Para refrescar nossa memória, ressalto que é onde hoje a PETROBRAS
produz 500 mil barris de petróleo por dia.
Temos um complexo de instalações bastante grande, cerca de nove unidades
de produção de tipos diversos já estão operando no local, existem mais de 140
poços perfurados em operação e uma extensa rede de tubulações submarinas para
óleo e gás.
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A P-38 e a P-40 vão ser instaladas nessa região, no campo vizinho, Campo
de Marlim Sul, que é separado, e elas compõem o primeiro módulo do projeto
definitivo desse campo.
O campo de Marlim Sul foi descoberto em 1987 e está situado em lâminas
d’água, variando a partir de 850 metros até mais de 2.400 metros de profundidade.
Esse foi um dos motivos pelos quais, apesar de ter sido descoberto em 1987, a
PETROBRAS demorou para conseguir capacitação tecnológica para ali instalar a
plataforma de produção definitiva. Nem por isso, porém, deixamos de hoje ter uma
produção da ordem de 50 mil barris no Campo de Marlim Sul. Essa produção vem
principalmente da borda norte do campo, porque, devido à proximidade com o
Campo de Marlim, podemos interligar poços dessa região a plataformas daquele
campo, como a P-26 e a P-37.
Além disso, temos uma outra embarcação de produção, o navio FPSO-2.
Trata-se de um navio pequeno que produz, no máximo, 35 mil barris por dia, com,
no máximo, dois poços. Esse navio tem atendido ao objetivo específico de
levantamento de informações sobre o campo e também de capacitação tecnológica.
A área desse campo é semelhante à área do Município de Casimiro de Abreu. As
informações sobre produtividade, a partir da operação desses poços na borda norte,
não nos dão confiança para assumir compromissos orçamentários com
investimentos em toda a extensão do campo.
O FPSO-2, então, vem sendo usado numa campanha itinerante há vários
anos, já esteve operando nessa região de águas ultraprofundas, inclusive na época
foi estabelecido um recorde de lâmina d’água, e hoje ele está nessa região
contribuindo para angariar informações dessa área do campo. Portanto, a partir
desses sistemas que temos hoje, produzimos ali 50 mil barris por dia.
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As reservas existentes hoje no campo, já provadas, são da ordem de 806
milhões de barris. Para dar-lhes uma idéia de comparação, no Campo de Marlim,
que já está plenamente desenvolvido, há reservas da ordem de 2 bilhões e 100
milhões de barris. O fato de termos feito essa campanha de levantamento de
informações com esse navio e também de antecipar a produção dos poços da borda
norte, possibilitou que Marlim Sul começasse seu desenvolvimento com uma
quantidade muito grande de reserva já provada.
Esta figura mostra como será a configuração da operação da P-38 e da P-40.
Este é o campo do subsolo, o reservatório de petróleo. Esta figura não está em
escala. Na verdade, a distância entre o reservatório até o fundo do mar é o dobro da
distância do fundo do mar até a superfície, que nessa região é em torno de mil
metros. Portanto, tenho um total de 3 mil metros da superfície até o reservatório.
Represento aqui apenas um poço, mas, na verdade, o sistema é composto de 28
poços. O poço, então, conecta o reservatório até o fundo do mar, onde existe a
árvore de natal, que é o equipamento de segurança que permite o fechamento do
poço. Da árvore de natal, uma tubulação leva o óleo até a P-40, onde é feito o
tratamento do óleo, que consiste basicamente em separar o gás produzido em
associação com o óleo. O gás é comprimido e enviado para a terra. O óleo, já sem
gás, é enviado para a PETROBRAS num navio de armazenamento que fica
permanentemente ancorado nessa posição por meio de oito âncoras, e toda vez que
o volume do P-38 atinge uma faixa de 600 a 700 mil barris, exatamente o volume do
petroleiro que faz a ponte entre a P-38 e os terminais das refinarias em terra, como,
por exemplo, o terminal da Baía de Guanabara, da Baía de Ilha Grande ou de São
Sebastião, o aliviador recolhe o óleo e o leva para a terra.
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Esta figura é uma concepção artística de como o campo de Marlim Sul pode
vir a ficar ao fim do seu desenvolvimento. Hoje, estamos trabalhando o Módulo I,
com a P-38 e a P-40. No futuro, o campo terá mais três módulos, num total de
quatro. Hoje os estudos indicam configuração semelhante ao que está aqui
desenhado, mas, principalmente em relação aos Módulos III e IV, que estão em fase
preliminar de estudo, ainda poderá haver alguma alteração de configuração. Chamo
a atenção dos senhores para o fato de que nesta concepção estamos trabalhando
com seis unidades, enquanto que o Campo de Marlim hoje conta com nove
unidades. Trata-se de campo um pouco menor, mas mesmo assim bastante grande.
Esta transparência resume o objetivo principal do projeto: a produção de
petróleo. Portanto, podemos ver a produção do Módulo I atingindo o seu pico em
cerca de dois anos a partir do início da operação e, seqüencialmente, os Módulos II,
III e IV, adicionando mais produção e levando o campo a um patamar bem próximo
ao de 350 mil barris por dia. Mais uma vez, comparando com o Campo de Marlim,
que produz 500 mil barris, chegamos próximo a essa produção, mas não chegamos
a superá-la.
Focando um pouco mais o Módulo I, objeto da discussão, onde serão
instaladas a P-38 e a P-40, verificamos que, adicionando aos poços da borda norte,
que será mantido em produção, a P-40, com capacidade de 150 mil barris por dia,
chega a um pico bem próximo de 200 mil barris por dia. Como é natural em projetos
de petróleo, a tendência depois é de declínio, e compensamos isso com as fases
subseqüentes.
Em termos de ordem de grandeza, uma produção desse tamanho representa,
grosseiramente, cerca de 1 bilhão de dólares por ano de divisas para o País.
Portanto, um dos primeiros benefícios de um projeto desse tipo é a balança
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comercial. Obviamente, existe grande geração de impostos em todos os níveis,
federal, estadual e municipal, e grande geração de emprego. A indústria petrolífera
tem forte efeito de alavanca na economia, a partir dos fornecedores de materiais,
equipamentos e serviços da PETROBRAS, além dos fornecedores desses
fornecedores. A atração de capital externo é outro fator, porque infelizmente ainda
importamos alguns dos equipamentos utilizados nesse tipo de projeto. Apesar de o
Brasil ter um parque industrial bastante desenvolvido na área do petróleo, ainda
usamos alguns equipamentos fabricados fora. No entanto, esses equipamentos vêm
com financiamento acoplado a juros bastante atrativos, porque todos os países têm
suas agências de fomento à exportação com juros bastante subsidiados, o que é o
contrário, muitas vezes, do que eles querem que o Brasil faça.
E, finalmente, a geração de energia, nesse caso especificamente da parte
líquida do petróleo.
Vamos falar um pouco mais sobre energia, mostrando a produção de gás.
Focaremos agora apenas a produção de gás do Módulo I, que chega a um pico de 3
milhões e 200 mil metros cúbicos por dia de gás. Para se ter uma idéia, isso
representa, em termos de energia, o consumo de 600 megawatts de uma
termoelétrica. Por coincidência, duas termoelétricas, das cinco que estão em
cogitação para o norte fluminense, uma das áreas impactadas economicamente pelo
projeto, produzem exatamente essa quantidade de energia. Para a região — refiro-
me aqui ao norte fluminense, onde esta apresentação vem sendo feita junto às
Prefeituras e às Câmaras de Vereadores há algumas semanas, visando à audiência
pública que se vai realizar no início de julho —, enfatizamos os benefícios gerados.
Portanto, serão criados postos específicos para a região, empregos específicos,
ocorrerá alavancagem econômica para a economia regional, assim como
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alavancagem social em função dos projetos que a PETROBRAS vem patrocinando
nessa área, quer seja no setor educacional, com a Universidade Norte Fluminense,
com a Escola Técnica de Macaé, quer seja no setor de saúde, porque a
PETROBRAS procura incentivar o aperfeiçoamento da infra-estrutura hospitalar da
região, além, obviamente, do benefício mais claro da produção de gás: a energia
elétrica.
Sobre geração de impostos, o Campo de Marlim Sul, ao atingir sua plena
produção no ano 2003, contribuirá com cerca de 350 milhões de dólares anuais em
impostos. Desses impostos, a parcela mais importante é a referente aos royalties e
a participação especial. Mais uma vez, foco essa parcela, porque, como esta
apresentação foi inicialmente planejada para a região norte fluminense, é dividida
entre os Municípios da região.
Nesse gráfico, mostramos um total de 206 milhões em impostos — apenas de
participação especial e royalties — do Módulo I, de Marlim Sul. O Governo Federal
fica com algo em torno 95 milhões; o Estado do Rio de Janeiro com uma parcela de
cerca de 72 milhões; e os Municípios recebem diretamente. O EIA/RIMA mostra com
mais detalhes quais os Municípios considerados no estudo. Os Municípios da região
— Macaé, Campos, Casimiro de Abreu, Rio das Ostras, Cabo Frio, Búzios, Arraial
do Cabo — vão dividir uma fatia de quase 40 milhões de dólares em impostos.
Falemos um pouco sobre as unidades propriamente ditas, P-38 e P-40. Essas
duas fotografias mostram as duas unidades e, como se pode ver, estão em grau
adiantado de complementação, estão praticamente prontas para entrar em operação
após a emissão da licença, o que é esperado para o final de julho, início de agosto.
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A P-38 é mostrada aqui entrando na Baía de Guanabara, e, aqui, a P-40 está
sendo carregada pelo navio especial de transporte de plataformas, numa operação
bastante impressionante.
Aqui, com mais detalhes, numa figura 3-D gerada por computador, temos a
P-40. Essa plataforma foi projetada por duas companhias nacionais, a IESA e a
PROJEMAR. Ela tem algumas características bastante peculiares, conta com três
flutuadores e treze colunas, uma planta para 150 mil barris por dia de óleo.
No processo que descrevi, que ocorre em P-40, a separação do gás e do óleo
ocorre concomitantemente com vários outros processos. Há o processo do óleo
propriamente dito, a compressão de gás e a geração de energia a bordo da
plataforma, já que parte do gás é usada para gerar energia para funcionamento da
plataforma. Temos, portanto, todo o sistema de controle de poluição, de lastro. Os
próprios postos, individualmente, são controlados a partir da sala de controle da
P-40.
Esta é uma foto da sala de controle, ainda em fase final de montagem e de
teste, onde se pode ver grande quantidade de computadores. A plataforma é
controlada por uma bateria de computadores, sendo que apenas um desses
computadores poderia, sozinho, controlar o processo. O motivo pelo qual existem
mais de um computador é relativo ao fato de que, apesar de um computador
conseguir controlar o processo sozinho, um homem não o consegue.
Temos especialistas, por exemplo, em processo de óleo, em compressão de
gás, especialistas com formação em eletricidade para geração de energia e
especialistas em controle de lastro. Então, cada um tem sua própria estação de
trabalho, mas o fato de estarem juntos num mesmo local e trocando idéias aumenta
bastante a segurança da operação.
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A sala de controle ainda faz outras ações ligadas à segurança da plataforma,
por exemplo, a parada de emergência por meio de um simples clicar do mouse, algo
que só uma plataforma computadorizada pode fazer. Numa plataforma manual a
parada de emergência é um procedimento extremamente demorado, trabalhoso,
envolve uma equipe grande e o uso de rádio de comunicação, o que dá margem a
outros erros. Às vezes, uma parada de emergência pode gerar outra emergência.
O sistema de controle da plataforma também monitora o ambiente externo ao
processo, tanto na área industrial quanto na de alojamentos e nas demais áreas da
plataforma. Ele usa uma bateria de sensores dos mais diversos tipos. Aqui mostro
sensores de fumaça, de temperatura, de chama, de vazamento de gás. Ao detectar
um sinal de qualquer um desses sensores, o sistema inicia imediatamente o
combate à emergência, independentemente de interferência humana. Então, ele
pode acionar, por exemplo, o sistema automático de combate a incêndio com CO2
ou com água. Mas, obviamente, a partir da primeira atuação do computador, que
inicia o combate à emergência, o ser humano tem de entrar em cena. Entram, então,
as equipes de emergência e os planos de emergência.
Passando ao próximo slide, falarei um pouco sobre o plano de emergência da
unidade. São dois planos na verdade, um para a P-40 e outro para a P-38. O plano
de emergência foca muito a sua execução na definição de equipe de emergência.
Então, para cada tipo de emergência existe uma equipe especializada em
combatê-la. Por exemplo: primeiros socorros, resgate de homem ao mar, combate à
poluição, combate a incêndio — a própria parada de emergência é acompanhada
por uma equipe, apesar de ser feita de forma automática —, a operação das
baleeiras, a equipe de heliporto.
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Essas equipes, tomando como exemplo a equipe de resgate de homem ao
mar, que utiliza o bote de resgate, são compostas por pessoas com função
predefinida. Na equipe de resgate há uma pessoa que opera o guincho que desce o
bote até a água, o piloto do bote de resgate, além das pessoas que, a bordo do bote,
vão se envolver na faina de recolher quem caiu ao mar e proceder aos primeiros
socorros. Essas pessoas, além de passarem por treinamentos específicos, cada
uma na sua função, têm substitutos. Ou seja, na falta do titular, assume o suplente.
O plano de emergência da unidade tem uma limitação. Algumas emergências
não conseguem ser combatidas apenas com os recursos da unidade. Isso não tem
muito a ver com o tamanho da emergência, mas sim com o tipo da emergência. Um
exemplo: uma pessoa sofre um ataque de apendicite numa unidade dessas e
precisa ser recolhida à terra. É acionado, então, o resgate aéreo: um helicóptero
vem à plataforma resgatar essa pessoa.
Apesar de termos mais de um helicóptero na Bacia de Campos pronto para
recolher pessoas, não dispomos de um para cada plataforma. É um recurso externo.
Além disso, quando esse helicóptero pousa em terra, uma equipe já deve estar
preparada para receber essa pessoa e encaminhá-la ao hospital. Tudo isso tem de
ser bem coordenado. E essa coordenação, no caso de resgate de emergência de
um doente, é feita em terra.
Quando acontece uma emergência desse tipo, trabalha-se no âmbito de outro
plano de emergência, mais poderoso, mas, principalmente, que envolva a atuação
de uma equipe em terra. É o que chamamos de Plano de Emergência da Bacia de
Campos. Ele estabelece como funciona a organização de controle da emergência
baseado em terra, quais os recursos que serão disponibilizados e onde estes estão
localizados, para o controle dessa emergência.
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Entre os recursos que a PETROBRAS naturalmente já dispõe em seu
processo produtivo normal, como as embarcações de apoio, helicópteros e toda a
sua infra-estrutura, recentemente foi incorporado um recurso extra: o Centro de
Defesa Ambiental. Isso aconteceu em decorrência do aprendizado da empresa com
o acidente ocorrido na Baía de Guanabara há alguns anos. O Centro de Defesa
Ambiental dispõe de grande quantidade de recursos para combate à emergência
específica de poluição por derrame de óleo.
O fato de esses recursos se encontrarem bem próximos à Bacia de Campos
permite maior rapidez de resposta.
A construção e a operação de uma plataforma desse tipo são reguladas por
grande série de normas e fiscalizadas por vários órgãos. Nesta tabela, resumi os
principais órgãos que fiscalizam esse tipo de atividade. Aqui, nesta coluna, listo o
nome do órgão; aqui, as normas aplicáveis, e, neste campo, quem faz auditoria ou
inspeção a bordo da plataforma e como isso está sendo cumprido.
Por exemplo, a Marinha do Brasil, por intermédio da Diretoria de Portos e
Costas, tem um conjunto de normas que a própria Capitania dos Portos ou a
Diretoria de Portos e Costas fiscaliza.
A International Maritime Organization, instituição internacional que surgiu em
razão de tratados internacionais, dos quais o Brasil também é signatário, edita outra
série de normas. Aqui, listei quatro. A MODU é uma série de normas específicas
para embarcações flutuantes que lidam com produção de petróleo. E a MARPOL é
uma norma específica para a poluição no mar.
Essas normas são fiscalizadas e auditadas pelas companhias classificadoras.
No caso da P-38 e da P-40 existe o Bureau Veritas e o American Bureau of
Shipping, que emitem certificados de conformidade com essas normas. A própria
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Marinha do Brasil conta com esses certificados para subsidiar parte da inspeção
feita a bordo das unidades.
O IBAMA tem suas normas próprias e também fiscaliza sua aplicação a bordo
das unidades. O Ministério do Trabalho e do Emprego também tem normas
reguladoras, mais especificamente na parte de saúde ocupacional, e ele próprio faz
a fiscalização. A ANP igualmente tem portarias que regulam a atividade e também
vai a bordo fazer a sua fiscalização.
Recentemente, a PETROBRAS, independentemente de órgão regulador, ou
seja, por meio de adesão voluntária, adicionou mais duas normas reguladoras a
esse rol de normas que regem a atividade: a BS-8800 e a ISO 14.000. A ISO 14.000
é bastante conhecida de gestão ambiental e a BS-8800 é uma norma de segurança
e meio ambiente inglesa, voltada para a indústria petrolífera e bastante evoluída a
partir da experiência existente no Mar do Norte. A PETROBRAS aderiu a essas
normas e se comprometeu a operar em conformidade com elas e usa uma auditoria
independente, o Bureau Veritas Quality Institute, para confirmar essa conformidade.
Aqui embaixo, no canto, aparece o certificado da exploração e produção da
Bacia de Campos, da auditoria do BVQI — Bureau Veritas Quality Institute, a
respeito da nossa conformidade com essas normas.
Do estudo de impacto ambiental feito pela nossa consultoria, saem duas
grandes linhas de ação. A primeira é a dos planos de emergência. O estudo de
impacto ambiental permite quantificar os riscos que esse tipo de projeto traz às
pessoas e ao ambiente em geral. A partir desses riscos, é possível, obviamente,
trabalhar em planos de emergência enfocando os riscos identificados.
Uma outra linha do estudo de impacto ambiental é a identificação dos
impactos ambientais e a proposição de programas para a gestão desses impactos.
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No caso da P-38 e da P-40, foram propostos oito programas. Quatro são locais,
conduzidos a bordo da P-38 e da P-40, e quatro são regionais, enfocando o impacto
do projeto na região norte fluminense, na Região dos Lagos, que sofre o efeito
socioeconômico desse tipo de projeto.
Entre os programas locais, há o de monitoramento ambiental, que acompanha
a qualidade da água do mar ao redor da P-38 e da P-40, confirmando que o controle
da poluição de todos os efluentes líquidos da unidade estão em conformidade com a
legislação e com o próprio estudo de impacto ambiental. O controle da poluição está
ligado ao monitoramento ambiental. Há um programa de educação ambiental para
os empregados da P-38 e da P-40 que trabalham com esses equipamentos e
efetivamente tomam decisões diárias para preservar o meio ambiente. Há ainda o
programa de desativação, previsto para entrar em funcionamento daqui a 25 ou 30
anos, quando essas plataformas forem desativadas. Nele, há o compromisso de que
isso vai ser feito mediante proposta técnica detalhada, apresentada ao IBAMA,
atendendo a legislação em vigor na época.
Quanto aos programas regionais, existe antiga convivência da PETROBRAS,
na Bacia de Campos, com as comunidades e a sociedade da região. Foram
propostos quatro programas, dois na linha de educação ambiental, um na linha de
apoio às organizações de pescadores e um de comunicação social, em que se
insere esse trabalho que vimos fazendo no norte fluminense, divulgando
informações sobre o projeto, antes mesmo da audiência pública, requisito legal e
complementar da própria audiência pública.
Da minha parte, era esta a apresentação que tinha a fazer.
Agradeço aos senhores a atenção.
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Passo a palavra agora à Sra. Heloísa Guimarães, da CEPEMAR, que vai
apresentar um resumo do estudo de impacto ambiental.
A SRA. HELOÍSA GOMES DIAS GUIMARÃES - Boa tarde a todos. Meu
nome é Heloísa Guimarães. Sou engenheira ambiental e estou aqui representando a
CEPEMAR, empresa de consultoria contratada pela PETROBRAS para a
elaboração do EIA/RIMA do Projeto Marlim Sul.
Sediada em Vitória, a CEPEMAR, empresa de consultoria, trabalha na área
de meio ambiente há mais de vinte anos. Temos feito trabalhos no Brasil inteiro,
tanto na área de petróleo quanto em diversas outras — e temos feito muitos
trabalhos para a PETROBRAS.
Vou fazer uma apresentação bastante sucinta, devido ao tempo de que
dispomos. Depois, estaremos disponíveis para responder qualquer questionamento.
A equipe técnica encarregada do EIA/RIMA, como a relacionada a qualquer
estudo de impacto, tem de ser multidisciplinar, englobar diferentes áreas dos meios
físicos e bióticos e contar com diversos profissionais, desde biólogos a engenheiros
e sociólogos.
Temos como diretriz trabalhar com pessoas que já têm conhecimento prévio
do local ou que sejam de destaque naquele local.
No caso do EIA/RIMA Marlim SuI trabalhamos com o Instituto de Biologia da
UFRJ, que já vem atuando na Bacia de Campos há bastante tempo, fazendo
monitoramentos ambientais, e com o Departamento de Oceanografia da UERJ. Eles
estão nos ajudando a avaliar. Por quê? Porque, na realidade, o estudo de impacto
parte do conhecimento do empreendimento em avaliação, que no caso foi
apresentada recentemente.
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Não vou fazer nenhuma descrição, mas ele faz a descrição do
empreendimento, delimita as áreas de sua influência, até onde vai a interferência do
empreendimento naquele local e traz todo o diagnóstico ambiental dos meios físicos,
bióticos e socioeconômicos da região.
Então, é preciso ter conhecimento da região antes da incorporação daquele
empreendimento, para, aí, sim, fazer uma avaliação dos impactos possíveis, que
chamamos de impactos potenciais, que o empreendimento pode ocasionar naquela
região. São levantados todos os impactos, o que não quer dizer que eles vão
ocorrer. Assim o fazemos até para promover ações que venham a minimizá-los e
evitá-los em alguns casos. Trata-se do quinto ponto ali, que é a proposição de
medidas mitigadoras no caso de impactos negativos ao ambiente em questão.
Muitas vezes, há impactos também positivos, como a geração de empregos e
o desenvolvimento da região. São propostas medidas potencializadoras, que seriam
para majorar os impactos positivos, e programas ambientais que vão acompanhar
esse empreendimento ao longo de sua vida e verificar se as medidas mitigadoras e
potencializadoras estão sendo eficazes.
Já foi apresentada de forma bastante clara aqui a região do empreendimento.
Nem vou falar disso. Enfim, o empreendimento está na região oceânica da Bacia de
Campos. Todos os diagnósticos do meio físico e biológico foram feitos naquela
região marítima distante da costa, a uma profundidade de mil metros da lâmina
d’água e com mais de mil metros de extensão. Não vou ater-me ao diagnóstico da
área. Vou passar direto para a parte de avaliação de impacto.
Quero ressaltar que, no caso da população afetada, da economia da região afetada,
o diagnóstico foi feito em nove Municípios, que estão marcados aqui, ao longo do
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norte fluminense e da baixada litorânea — Campos, Carapebus, Quissamã, Macaé,
Rio das Ostras, Casimiro de Abreu, Cabo Frio, Arraial do Cabo, Búzios e outros.
Para caracterização ambiental foram usadas estratégias de análise de
satélites, mapeamentos, análises de dados, todo histórico de levantamento de dados
secundários existentes na região e obtenção de informações novas.
No caso da socioeconomia foi feito um questionário e todas as comunidades
envolvidas foram entrevistadas. No caso do meio biótico há um fato interessante: foi
coletada amostra de um sedimento dessa região, a mais de 1.500 metros de
profundidade, fato inédito. Foi um conhecimento adquirido através desse projeto.
Nos Municípios estudados estão parte no norte fluminense e parte na baixada
litorânea. Analisando essas duas regiões do Estado do Rio de Janeiro, percebemos
que apresentam características bastante diferentes ao longo de sua história. A
região norte fluminense possui característica agrícola, com indústria da cana, e a
baixada litorânea, com a indústria do turismo, recentemente mais forte. A partir da
década 80, a indústria petrolífera entrou nesse cenário existente na região.
Quanto aos aspectos socioeconômicos, foi caracterizado o tamanho da
população, a migração, as características das cidades, saúde, educação e
infra-estrutura. Todo esse levantamento foi feito nesses nove Municípios. A
economia local dá destaque para a atividade pesqueira. Como o empreendimento
está em área marítima, ressaltamos que a atividade pesqueira, que usa essa mesma
região, teria maior interferência.
O estudo do turismo, lazer, cultura, organização social e política foi baseado
em um termo de referência feito pelo IBAMA, específico para esse empreendimento.
Foi feito o Termo de Referência nº 39, de 2000, para o Marlim Sul, para a P-38 e
P-40.
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Além do estudo de impacto, também foi feito o estudo de análise de risco.
São dois estudos que estão previstos no termo de referência do IBAMA. Então,
quando da análise histórica de acidentes em instalações semelhantes, ocorridas no
mundo inteiro, faz-se um diagnóstico e um histórico de todo tipo de acidente que
pode ocorrer, a análise preliminar de perigos. Foram identificadas 271 hipóteses,
225 na P-40 e 46 na P-38, unidades que compõem o Sistema Marlim Sul.
Com essa análise de risco foram levantadas medidas preventivas e
mitigadoras, foram elaborados planos de gerenciamento de risco. Foi escolhido um
cenário para fazer uma modelagem de vazamento de óleo no mar. Segundo o termo
de referência do IBAMA, teriam de ser escolhidos dois cenários: um mais freqüente,
com menor volume de óleo; e outro mais raro de ocorrer, menos freqüente, mas com
maior volume. Chegou-se ao volume de 46 mil metros cúbicos, que corresponde a
dois tanques da P-38, como se ocorresse um abalroamento e todo aquele volume
vazasse. Foi o cenário mais crítico identificado para esse empreendimento.
Com base nessa análise de risco, foi elaborado o Plano de Ação de
Emergência — O Sr. Bráulio já falou bastante sobre ele — para controlar toda essa
emergência, apoiado no Plano de Contingência da Bacia de Campos, recursos
humanos e ações de combate à emergência e poluição.
Com isso, foi realizada também a avaliação dos impactos potenciais e a
proposição dos programas e medidas mitigadoras. Existe uma metodologia clássica
de avaliação de impactos ambientais, a Matriz de Leopold, em que se levanta e
classifica, através de uma discussão multidisciplinar, todas aquelas pessoas que
participaram das diversas áreas desse estudo, são feitas matrizes de interações,
esses impactos são classificados por tipo, magnitude (se é pequeno, médio, forte,
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negativo, positivo e duração), é feita a proposição de medidas e a proposição de
programas.
Passaremos para alguns impactos que consideramos mais expressivos,
alguns positivos e outros negativos. É importante notar que a presença física da
plataforma na região leva à incrustação de seres vivos naquela estrutura da
plataforma. Com isso, temos o aumento da quantidade de peixes.
Aquela região, muito distante, tem um aporte de nutrientes, uma quantidade
pequena de alimentos, se comparada à região costeira. Com isso, a quantidade de
todos os seres vivos é um pouco menor do que na região costeira. A plataforma faz
com que essa quantidade de alimentos para os peixes aumente e os atraia para a
região.
Isso gera também um certo conflito com os pescadores, porque há uma
limitação para se pescar em seu entorno. Os pescadores vão à procura de local com
maior quantidade de peixes. Na realidade, o impacto é positivo por esse aumento da
quantidade de peixes, de seres vivos naquela região. Há o impacto negativo com
relação à socioeconomia e o conflito com os pescadores.
Para isso, foram previstos programas de comunicação para toda a região dos
nove Municípios, programa de apoio à associação de pescadores, sentimos que é a
comunidade que tem maior interferência. Estão sendo também avaliadas rotas para
embarcação de apoio. Uma das reclamações da comunidade pesqueira é essa
interferência das embarcações que fazem o suprimento das plataformas com a
atividade pesqueira.
Isso aqui são plataformas já existentes da PETROBRAS, essa está na Bacia
de Santos, a P-14. Como fica a estrutura e as âncoras da plataforma? São os
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incrustantes que atraem os peixes para comer esse tipo de ser que se fixa nessa
estrutura.
Outro tipo de impacto seria a movimentação e o embarque das embarcações
de apoio e de carga. Ela introduz os seres vivos, que vêm presos ao casco de
qualquer tipo de embarcação. Chegando ao local, soltam larvas que se fixam nos
cascos e na estrutura da plataforma.
O risco que se corre é de haver poluição ambiental por acidente na
movimentação de carga. Pode ocorrer ou não. Se ocorrer o acidente, ocorrerá o
impacto. Há também o risco de ocorrer acidentes entre embarcações.
Como medida mitigadora, foi sugerida a manutenção das frotas das
embarcações, para que esse risco não seja corrido pela pessoa, mas pelos
equipamentos. Foi sugerido um programa de educação ambiental para os
operadores de embarcações, para que essa relação com as embarcações de
pescadores melhore. Foi sugerido também um plano de emergência, para se evitar e
minimizar, no caso de ocorrência de acidente. Não entrarei em detalhes nos planos
de educação ambiental. Se alguém desejar algum esclarecimento, poderemos
fazê-lo.
Outro tipo de impacto seria o lançamento de poluentes no mar. Esse impacto
causaria a alteração da qualidade da água do mar, com possibilidade de afetar os
seres vivos. Esse lançamento de poluentes, mais significativo, seria a água de
produção. Quando se retira o petróleo em uma certa época da vida da plataforma,
começa a vir junto com a água, que é separada e lançada de volta ao mar. Como
medida mitigadora, deverá ser feito o tratamento de efluentes — o Bráulio não teve
tempo de explicar — para que se lance ao mar dentro da Resolução CONAMA, que
é 20-PPM.
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Deverá ser feito o monitoramento tanto de efluente com relação a vários
parâmetros, mais especificamente para óleos, temperatura e o monitoramento do
entorno, para verificar se essa alteração não está ocorrendo.
Percebemos, pelas outras plataformas instaladas na região, analisando o
monitoramento de outras plataformas, que esse impacto não é tão significativo, não
o percebemos. Como a corrente marítima é muito grande, a quantidade de água no
entorno é muito grande e essa quantidade fica muito pequena, dilui muito naquele
entorno. Não há uma alteração significativa, tanto assim que é um atrativo para
peixes.
Para isso, foi sugerido o Programa de Gerenciamento de Efluentes Líquidos e
de Resíduos, para que esses efluentes sejam bem tratados e fiquem dentro do
padrão.
Existem alguns sistemas de segurança que se estiverem fora do padrão,
válvulas bloqueiam a saída desse efluente e ele retorna para ser retrabalhado. Em
relação a resíduos, há todo um programa já em andamento na Bacia de Campos.
Cada resíduo, quando sai da plataforma, já é designado para a área específica, já
tem o seu destino final. E há um programa de monitoramento ambiental para o
acompanhamento desse eventual impacto em torno da plataforma — e também
existem outras no entorno às quais a P-40 e a P-38 vão ser incorporadas.
O outro impacto seria a queima de gás natural e outros combustíveis.
Algumas vezes, em caso de emergência, o gás natural é aproveitado, mas também,
algumas vezes, pode ser queimado na tocha. Foi feita toda a caracterização desse
gás, dessa emissão, e o impacto seria a alteração da qualidade do ar, que também
não foi considerada muito significativa devido às correntes estarem longe da costa e
a meteorologia ter ajudado na sua dispersão.
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Agora, como medida mitigadora, manutenção e operação adequada aos
equipamentos para que fiquem dentro daquele padrão calculado e estimado. Então,
o programa de gerenciamento de emissões atmosféricas prevê todo o
acompanhamento dessas emissões ao longo da vida da unidade.
O lançamento de esgotos e restos de alimentos no mar, na realidade, tem até
um impacto positivo na medida em que se está lançando matéria orgânica e
alimentos para aqueles seres vivos. Há aumento na quantidade de alimentos e
também é um atrativo para os peixes daquela região. Foi proposto aqui que isso seja
tratado conforme a legislação. Há uma legislação específica, a MARPOL, por
exemplo, que determina que esses restos de alimentos têm de ser triturados em
pequenas dimensões para facilitar essa degradação e para que os organismos
possam consumi-los.
A produção, a transferência e o armazenamento de petróleo têm um impacto
que, na realidade, é um risco que pode ocorrer ou não: a poluição do mar por
derrame acidental de óleo. É um grande impacto que, na realidade, é um risco. Não
é um impacto que obrigatoriamente venha a ocorrer. Pode ficar anos sem ocorrer,
mas pode vir a ocorrer, é o risco da atividade. Com isso, pode trazer prejuízo à
pesca naquele entorno.
Para isso foram adotadas medidas mitigadoras e medidas de segurança e
controle da poluição, estabelecidas no plano de emergência, para que seja evitado o
máximo possível e, no caso de ocorrer, para que seja minimizado e controlado no
entorno da plataforma, para que não se dirija a uma área maior.
Em relação à socioeconomia da região, um dos impactos levantados é a
pressão sobre a infra-estrutura das cidades por meio do crescimento delas.
Percebe-se hoje em dia, em Macaé, mais no seu entorno, e Rio das Ostras, a
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chegada de pessoas de outras regiões. A medida mitigadora seria a contratação de
mão-de-obra naquele local, para minimizar essa migração maior para essa região. E
cursos de treinamento para viabilizar essa contratação de mão-de-obra e compra de
produtos e serviços na região, que seria um incremento na dinâmica e no
desenvolvimento da região.
O impacto positivo no meio socioeconômico é a geração de empregos diretos
e indiretos, a geração de tributos e royalties e o desenvolvimento da região por
meio de todos esses empregos e essa dinâmica. Como impacto potencializador, no
caso, e isso já é um impacto positivo, para melhorar ainda mais essa questão
positiva, é a contratação de mão-de-obra local e compras de produtos e serviços da
região.
Encerrando a minha apresentação, quero também dizer que o maior impacto
positivo dessa indústria é justamente o aumento da produção de gás e petróleo com
ganhos para a economia brasileira como um todo, economia de divisas, enfim,
visando a nossa sustentabilidade em relação ao petróleo, que também foi
identificado como um impacto positivo.
Se tiverem qualquer dúvida, estarei à disposição de V.Exas.
Era o que tinha a dizer.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - A primeira etapa dos
trabalhos já foi concluída. Vamos, então, para a segunda etapa. Foi sugerido,
inicialmente, que fizéssemos — como o tema tem a ver — debates posteriores à
segunda etapa. Os Srs. Deputados concordam?
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Sra. Presidenta, quero
esclarecer aos senhores convidados que temos uma verdadeira gincana, nas terças
e quartas-feiras, o plenário e outros compromissos. Tenho algumas perguntas a
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fazer rapidamente, se V.Exa. me permitir, porque é importante para a conclusão dos
debates.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Perfeito.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Em primeiro lugar, se as
conclusões da sindicância a respeito da P-36 influenciaram ou não os estudos que
estão sendo realizados?
O SR. IRANI CARLOS VARELLA - Sem dúvida nenhuma. O grupo que
trabalha na P-40 e na P-38 está inserindo todas as sugestões que estão no relatório
da P-36.
No que se refere às questões de manutenção e treinamento, há uma
preocupação constante desse grupo em fazer essa análise e esse paralelo nesse
trabalho.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Dentro dessa linha, quero
saber se dessa vez vai ter back up dos computadores, porque não havia na P-36.
Não temos acesso aos dados da manutenção da plataforma, porque, segundo a
informação, só se fazia o back up de quinze em quinze dias. Vai ter back up?
O SR. IRANI CARLOS VARELLA - Essa é uma sugestão de procedimentos,
de arquivamentos de dados e operações. Sem dúvida, isso será instalado para
todas as nossas operações.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Monitores de vídeo com
gravação da plataforma, isso qualquer loja de conveniência tem e não tinha na P-36.
Quero saber se vai ter daqui para frente.
O SR. IRANI CARLOS VARELLA - Acredito que sobre monitores de vídeo o
Bráulio poderia esclarecer.
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O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Temos 28 câmaras de vídeo na
P-40.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Mas gravando
permanentemente?
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Algumas são gravadas, mas o
relatório da Comissão de Sindicância saiu na sexta-feira. Vamos incorporar todas as
recomendações.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Gostaria que fosse
incorporada essa sugestão. Não tivemos acesso aos vídeos porque as câmaras não
gravaram. Acho que para a PETROBRAS isso não é uma grande despesa.
Em relação às equipes de emergência e outras atribuições, vimos que quem
faz parte da equipe de emergência, por exemplo, da equipe de combate ao incêndio,
exercia outras funções também dentro da plataforma. Como vai ser daqui para
frente?
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - As equipes de emergência da
P-38 e P-40 são compostas de pessoas que exercem função normal na operação e
têm um papel na emergência. Isso porque as emergências ocorrem na área
industrial e é interessante que a pessoa que está envolvida no controle da
emergência conheça o equipamento que está atacando. Se ela não participa da
operação normal do equipamento, dificilmente vai ter um bom desempenho quando
atacar uma emergência naquele equipamento.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Mas havia um acúmulo de
funções, principalmente no que diz respeito ao controle, pessoas que exerciam duas
ou três funções.
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O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Em relação à P-36, o Sr. Irani
pode comentar.
O SR. IRANI CARLOS VARELLA - O nosso trabalho de análise da P-36 no
que se refere a questões citadas, por exemplo, funções burocráticas, supervisores,
sobreposição de algumas atividades, tudo isso está sendo analisado.
Quanto ao nosso trabalho de operação, uma das sugestões do grupo foi que
tivéssemos um programa de excelência operacional, que V.Exa. observou no
relatório. Sem dúvida nenhuma, todos esses itens estão sendo abordados e serão
objeto de análise e de implementação para as nossas operações, não só para a
P-40 e a P-38, mas para outras plataformas também.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - A respeito dos planos de
emergência, quero saber se esse Plano de Contingência da Bacia de Campos já
existia ou está sendo implantado agora, juntamente com o outro.
O SR. CÉSAR LUIZ PALAGI - Talvez eu possa responder a essa pergunta. O
plano de contingência da Bacia de Campos já existia, tanto é que ele foi utilizado
durante o acidente da P-36. Então, vem sendo utilizado há bastante tempo.
O que acontece é que esses planos de contingência evoluem no tempo.
Aprendemos com o que fazemos e assim modificamos e aprimoramos esses planos
de contingência. Então, esse plano já foi aprimorado em função do acidente da P-36.
As recomendações do grupo encarregado do acidente da P-36 são
analisadas e incorporadas a este plano, ao mesmo tempo em que as pessoas são
treinadas. Essas coisas acontecem em determinada escala de tempo.
Era o que tinha a dizer.
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O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Ainda dentro desta questão,
V.Sa. referiu-se a papéis e responsabilidade. Acho isso fundamental. Depois
gostaria de ter acesso mais detalhado às responsabilidades, por motivos óbvios.
Quanto à inspeção, gostaria de saber como ela é feita pela Marinha e pela
ANP? Temos notícia de que a ANP inspeciona os certificados e não a plataforma
fisicamente. Não sei como é feita a da Marinha.
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - A Marinha fiscaliza. Inclusive,
nesta semana, a Marinha está a bordo do P-40 fazendo a sua fiscalização inicial.
Antes de a plataforma ser deslocada para a locação final, ela faz a fiscalização a
bordo efetivamente. No entanto, ela também se baseia muito no que os relatórios e
os certificados da classificadora dizem, tanto confiando como desconfiando. Então,
se no certificado a classificadora aponta algo diferente, a Marinha às vezes quer
constatar.
Com relação à ANP, a sua fiscalização é efetivamente mais relativa à
produção, porque o foco da ANP é a gestão das reservas de petróleo.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Não. Também a ANP tem o
papel de fiscalizar para ver se a plataforma pode operar ou não.
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Sim.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Então, quero saber se essa
fiscalização é física ou é feita apenas no papel.
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Existe a fiscalização física, mas
ela não assume, vamos dizer, a função da fiscalização da segurança e meio
ambiente. Essa função é assumida pelo IBAMA, pela Marinha, pelas certificadoras.
A ANP não toma frente disso. Ela participa desse processo. Talvez o Sr. Irani queira
complementar.
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O SR. IRANI CARLOS VARELLA - Ela visita, fisicamente, a plataforma,
observa e analisa.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Pelo jeito não foi feito na P-36.
Era só isso que queria saber.
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - A freqüência das visitas da ANP
não é tão grande quanto à da Marinha.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Queria saber se, antes de a
plataforma ir para alto-mar, a ANP visita, verifica e autoriza, porque quem autoriza a
entrada em operação é a ANP. Se ela não autorizar, a plataforma não pode ir para
alto-mar.
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Na verdade, essa fiscalização é
feita depois que a plataforma já está lá, antes de entrar em operação.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Depois que está lá?
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Antes de entrar em operação.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Outra coisa. Chamou-me a
atenção o Bureau Veritas ser a certificadora. Essa é a mesma empresa que fez a
sindicância sobre a P-36?
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Não. Quem fez a sindicância da
P-36 foi a DNV.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - É outra empresa?
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Sim.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Vi também que há um
aliviador. Esse aliviador tem casco duplo ou caso simples?
O SR. BRÁULIO LUIZ CORTES XAVIER - Casco simples.
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O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Não há uma recomendação
no sentido de que se utilize preferencialmente casco duplo, já que pode ocorrer um
acidente com vazamento muito grande?
O SR. IRANI CARLOS VARELLA - Esse projeto da Marlim Sul é bastante
anterior ao acidente da Baía de Guanabara. Enfim, é um projeto que foi feito há
muito tempo. A exigência de casco duplo é para o ano de 2015. Hoje, as novas
unidades que temos comprado, os quatro navios que serão construídos no Brasil já
têm a especificação de casco duplo. A essa recomendação, vamos nos adaptar ao
longo do tempo. Mas esse, especificamente, tem casco simples.
O SR. DEPUTADO LUIZ ANTONIO FLEURY - Muito obrigada, Sra.
Presidenta. Era o que tinha a dizer. Peço desculpas aos senhores que vão participar
do segundo painel, mas daqui a pouco teremos de sair.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Ana Catarina) - Obrigada. Sua participação
foi importante. Neste momento desfazemos a primeira Mesa. Passamos agora ao
segundo painel.
Terminando as exposições, vamos dar início à discussão sobre os impactos
ambientais das várias modalidades de geração de energia elétrica.
Em seguida vamos abrir os debates aos Deputados.
Convido para compor a Mesa dos trabalhos os Srs. José Carlos Gomes da
Costa, Coordenador-Geral de Políticas Setoriais, representando o Ministério da
Ciência e Tecnologia; Luiz Pinguelli Rosa, Professor e Vice-Presidente dos
Programas de Pós-Graduação em Engenharia — COOPE, da UFRJ; Alarico
Jacomo, Geólogo do IBAMA, representando o Ministério do Meio Ambiente; Manuel
Montenegro Neto, Delegado Federal da Agricultura do Estado do Rio Grande do
Norte, representando o Ministério da Agricultura e do Abastecimento; Consultor
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Edson Cruz de Sá, representando a El Paso Energy International; Demóstenes
Barbosa da Silva, Vice-Presidente da AES-Tietê, empresa de geração de energia
elétrica, do Grupo AES; engenheiro Irani Carlos Varella, Gerente Executivo da Área
de Saúde, Meio Ambiente e Segurança da PETROBRAS; Célio França, que ainda
não chegou, Coordenador da Secretaria de Energia, representando o Ministério de
Minas e Energia.
Esta Presidência informa que também foram convidados a participar do
evento o Presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo, Horácio
Lafer Piva, que encaminhou correspondência informando a impossibilidade de seu
comparecimento em face de compromisso anteriormente assumido; o Sr. Ricardo
Tripoli, Secretário de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, que não encaminhou
justificativa.
Inicialmente, concederei a palavra aos expositores por dez minutos. Em
seguida, farão uso da palavra os Deputados Salatiel Carvalho, Luciano Pizzatto e
Ronaldo Vasconcellos, na qualidade de autores do requerimento que solicitou esta
audiência e, após três minutos, aos Parlamentares previamente inscritos, sempre
facultada em qualquer caso a réplica e a tréplica.
A lista de inscrição encontra-se à disposição dos Parlamentares, com o
secretário desta Comissão.
Para facilitar a transcrição deste debate, que está sendo gravado, solicito
àqueles que desejarem fazer uso da palavra a gentileza de declinarem previamente
os seus nomes.
Feitas as considerações iniciais, passo inicialmente a palavra, em função do
horário do seu horário de viagem, ao Sr. Luiz Pinguelli Rosa, professor e
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Vice-Presidente do COPPE, referente aos programas de pós-graduação em
engenharia da UFRJ.
O SR. LUIZ PINGUELLI ROSA - Agradeço à Comissão o convite. É muito
oportuna esta discussão que a Comissão promove.
No Brasil há predominância de geração hidrelétrica de mais de 90%. Estamos
tentando introduzir mais freqüentemente a termeletricidade. Para os dois casos há
vantagens e problemas.
Um grande problema neste momento é que grande parte do potencial
hidrelétrico está na Região Norte, onde predomina a floresta. Assim sendo, temos
problemas ambientais, com a terra indígena, problemas sociais e até antropológicos.
Apesar disso, têm sido feitos aproveitamentos razoáveis e aproveitamentos
possíveis devem ser cogitados. Temos a chamada Usina de Belo Monte, que pode
ser feita a fio d’água, ou seja, praticamente com alto coeficiente de potência em
relação à área inundada. É bem maior do que a Itaipu, quase o dobro, com uma
variabilidade grande de fluxo de água e vai obrigar também a geração de gás natural
complementar, mudando completamente o que foi feito até hoje no Brasil, ou seja, o
uso de grandes reservatórios para acumular água para os períodos secos. Se isso
tivesse sido feito com adequação a atual crise de energia teria sido evitada. Há
agora tendência para o uso da termeletricidade para complementação térmica, o que
exige mudança do regime de comercialização do gás natural.
O gás natural apresenta vantagens: o investimento é menor. Há também
desvantagens, que é o ataque ao meio ambiente, incluindo o efeito estufa, que é o
aquecimento da atmosfera da terra. No entanto, esses efeitos são bem menores do
que apresentam as outras opções termelétricas.
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O uso do óleo está pouco cogitado hoje. O uso do carvão é cogitado. Há um
projeto no Estado do Rio de Janeiro para uso do carvão na geração termelétrica, o
que causará maior impacto no meio ambiente, na qualidade do ar e ainda polui a
atmosfera.
Quanto ao uso da energia nuclear, o Brasil tem duas usinas funcionando,
discute-se hoje a construção da terceira. O problema é que este é um investimento
muito elevado, como é também elevado o seu custo político ambiental, dado o risco
que apresenta. Se a usina funcionar bem ela impacta menos do que as outras
opções, mas se houver algum acidente seja com o reator, seja com o combustível
utilizado, as conseqüências são gravíssimas.
Fizemos um estudo comparativo entre a energia hidrelétrica e a termelétrica.
Não faz muito sentido discutirmos hoje a energia nuclear no Brasil, pois a construção
de uma usina é muito demorada. Temos de nos ater, portanto, ao impacto ambiental
das hidrelétricas e das termelétricas. Na minha instituição, COPPE, fizemos isso
para a ELETROBRÁS e para a Fundação Ford. Apresentarei um resumo desse
estudo que compara hidrelétricas e termelétricas convencionais, sejam elas de
carvão, gás ou óleo.
O custo da hidrelétrica é maior. Entretanto, o custo da energia é menor
porque não necessita de combustível. O prazo de construção das hidrelétricas é
bem maior, o retorno do capital demora mais, embora a vida útil da hidrelétrica seja
também muito maior. Uma vez construída, a hidrelétrica dura muito tempo. Ela é
sustentável, porque usa o recurso renovável água. Apesar de ser muito abundante
no Brasil, onde usamos pequena parcela do seu potencial, sua distribuição
geográfica concentra-se no Amazonas. Tem suas características técnicas, mas a
tecnologia é disponível no País.
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Quanto à termeletricidade, se não houver uma política industrial no Brasil, ela
pressionará muito o balanço de pagamentos, porque teremos de importar o gás e os
equipamentos. É preciso então política industrial para a produção de equipamentos
de geração termelétrica no Brasil.
A hidrelétrica tem o problema da transmissão já que as usinas ficam longe. O
impacto da hidrelétrica deve-se principalmente ao reservatório de água, utiliza-se de
territórios de produção agrícola, em geral com terras férteis. Além do impacto
ambiental, há o impacto social com o deslocamento das populações da área
escolhida.
No caso da termelétrica, o problema é a água para refrigeração, que se
tornará grande, ainda não no Brasil, mas com muito uso, será. É possível usar
refrigeração aérea, mas isso torna o projeto mais caro, por isso tem de ser pensado
adiante.
Quanto à poluição atmosférica, no caso da hidrelétrica, ela é nula, embora
estudos do COPPE mostrem que há pequena contribuição das hidrelétricas para o
efeito estufa, com a emissão de gases. Essa emissão é menor do que no caso da
termelétrica. No fim do ano passado, contribuímos com a Comissão Mundial de
Barragens em um estudo.
O grave problema da termelétrica é a poluição local, que emite gases. Pode
emitir particulados — não no caso do gás natural —, mas emite gases: óxido de
nitrogênio, monóxido de carbono, que são poluentes. No caso do carvão é bem pior.
Não vou passar para outros aspectos porque aí já é problema de geração de
emprego, tipo de impacto positivo, mas vamos economizar o tempo.
O problema mais grave da termelétrica é o da poluição local. A poluição
atmosférica global é grave, porém, não é urgente no sentido de que o Brasil emite
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pouco dióxido de carbono e metano para atmosfera, na área de energia, e nós não
estamos obrigados pela Convenção do Clima a fazer reduções. Poderá ser um
problema para o futuro, quando certamente a Convenção do Clima onerará a
utilização de combustíveis fósseis mesmo para os países como o Brasil, o que não
ocorre no momento.
O problema no momento é a poluição do ar nas cidades. Vou mostrar um
modelo simples que vem da tecnologia nuclear. Faz parte daquele relatório cuja
capa mostrei e que causou imensa polêmica com a antiga estatal ELETROSUL.
Vamos chamar a atenção disso, porque fizemos o cálculo do índice de mortes por
megawatt/hora. Isto é real. Uma termelétrica funcionando, no caso a Usina Jorge
Lacerda, movida a carvão, emite poluentes para a atmosfera. Podemos calcular o
que chama dose, ou seja, o tempo que respira o poluente: a população ou um
indivíduo multiplicado pela intensidade do poluente. Tempo-intensidade. Digo que
isso vem da energia nuclear porque com esse tipo de energia é muito claro. Se
tivéssemos uma fonte radioativa fraca conosco, não seria grave estarmos próximos
a ela. Provavelmente nesse ambiente há radioatividade por causa dos materiais de
construção. No entanto, a situação pode tornar-se grave se ficarmos eternamente
com ela. Por exemplo: se colocarmos material radioativo no bolso ou usarmos
continuamente relógios feitos com emissão radioativa nos mostradores. Dessa
forma, a dose de radioatividade é alta porque o tempo é grande, embora a
intensidade da radiação seja pequenininha.
Isso ocorre também com a poluição atmosférica. Pode-se calcular isso
utilizando dados meteorológicos, sabendo qual é a usina, a sua emissão, a
população em torno dela. Esses dados meteorológicos permitem que calculemos o
grau de exposição dessa população, ou seja, por quanto tempo as pessoas
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respiraram os diversos poluentes emitidos pela termelétrica, assim como por uma
indústria, por veículos nas ruas.
Bem, podemos então calcular o efeito incremental devido à determinada
planta. É um modelo matemático, não é um bicho-de-sete-cabeças. Só chamo a
atenção para a sua lógica. Neste caso, se há um ponto de emissão, uma nuvem vai
deslocar-se conforme o vento se espalhar em torno desse ponto. Se temos
conhecimento da população em torno e da variabilidade da direção do vento,
poderemos fazer o cálculo. Complicado, mas factível.
Com dados sanitários poderemos saber, em relação a essa poluição, qual
será a incidência de certas doenças. Selecionamos para aquele estudo alguns
poluentes. São três: SO2, SO4 e material particulado. Com isso há a probabilidade
matemática de haver certas doenças em certas populações.
Em Jorge Lacerda, no Sul — e pode-se pegar todos os Municípios —,
levantamos todas as populações. A distância é importante porque há dispersão, há
atenuação da intensidade de acordo com o aumento do raio. E assim podemos
calcular a concentração em cada local. O modelo matemático permite fazer o cálculo
da deposição, porque interessa para nós o que chega à altura próxima ao solo, uma
parte não chegará, dispersar-se-á para longe e aí tem-se a quantidade de doentes.
E também a estatística sanitária mostra que com doenças há probabilidade de
morte. A doença, muitas vezes, não causa a morte por ela mesma, mas pode
complicar, juntando-se a outras situações. Por exemplo, pessoas diabéticas têm
mais probabilidade de morrer por causa de doença que não mataria pessoa não
diabética. O mesmo acontece com crianças pequenas ou com idosos. Isso é
calculado no final, e as conseqüências são analisadas. Não entrarei em detalhes,
apenas estou mostrando trabalho possível de ser feito para cada termelétrica. Com
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isso poderemos saber o que acontecerá em cada uma das cidades, qual o risco
individual de morte por ano. Isso é real, isso acontece!
Fizemos um cálculo recentemente para as usinas do Estado do Rio de
Janeiro. Não fizemos dessa maneira. Mas pode ser convertido a valor monetário,
ainda que reconheçamos que é muito difícil converter morte a valor monetário. As
maneiras que existem para fazer isso e que os economistas neoclássicos fazem, em
geral, vinculam a morte à capacidade econômica do indivíduo, o que faz a morte de
um rico valer muito mais, como custo, do que a morte de um pobre, o que é
abominável e absolutamente repulsivo.
Então, esse tipo de modelagem é complicada no que diz respeito à morte,
mas no que diz respeito à doença, não. A doença significa perda de tempo de
trabalho, é indenizada através de um sistema de seguridade social ou tem o custo
de um tratamento médico. Então, escapamos, no caso do Rio de Janeiro, desse
problema, evitando chegar a esse cálculo. Fizemos o cálculo das usinas Rio Gem
Merchant do Estado do Rio de Janeiro e chegamos à conclusão de que a avaliação
ambiental dela daria um custo de cerca de 15 reais por megawatt/hora nesse tipo de
problema. Seriam algumas centenas de milhões de reais por ano.
É um custo significativo pois o da geração termelétrica a gás natural está em
80 reais por megawatt/hora. Esse estudo é uma tese, é acadêmico, pode ter valores
diferentes, exigir mais dados, mais trabalho, mas mostra que é necessário, visto que
o custo equivale a 20% do total, o que não é de negligenciar-se.
Estou chamando a atenção porque esse assunto exigirá muito da nossa
atenção, de nós da universidade e de V.Sas. dos órgãos ambientais, das empresas
do Governo porque é um assunto novo. O Brasil gera pouquíssimo em termos de
eletricidade e o gerado é com o uso do carvão, poluente maior do que o gás natural,
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que será predominante. Mas tem-se que estudá-lo. Esses números citados mostram
que o gás natural terá também impacto ambiental significativo.
Agradeço-lhes o convite e por ter tido a honra de estar na Câmara dos
Deputados, tratando desse assunto, neste momento.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Agradeço ao Dr. Luiz
Pinguelli Rosa.
Inverterei a ordem de chamada dos convidados porque me parece que os
órgãos representativos de Governo terão de dar uma opinião. Seria aconselhável
então que escutassem a opinião da sociedade. Portanto, tomarei a liberdade, se o
Deputado Luiz Antonio Fleury e os demais Deputados presentes concordarem, de
conceder a palavra ao Dr. Edson Cruz de Sá, representante da El Paso Energy
International.
Antes, gostaria de informar aos senhores que o CONAMA, está reunido hoje.
Por sinal os membros do Governo que aqui estão deveriam estar no CONAMA,
assim como eu que lá represento a Câmara dos Deputados. Hoje o CONAMA estará
tratando da nova resolução sobre energia. Talvez seja um pouco intempestiva, hoje,
a nossa reunião e alguns fatos já estejam sendo resolvidos. Outros fatos irão ser
resolvidos no andamento do processo, mas, em todo caso, estaremos enriquecendo
a discussão com as informações que obteremos desta reunião e com a divulgação
das notas taquigráficas para os demais Parlamentares.
Concedo a palavra ao Sr. Edson Cruz de Sá.
O SR. EDSON CRUZ DE SÁ - Muito obrigado.
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Agradeço em nome da El Paso Energy International o convite de vir à Câmara
dos Deputados para apresentar algumas ponderações a respeito do aproveitamento
de usinas termelétricas no Brasil.
Como bem disse o Prof. Luiz Pinguelli, não existem atividades econômicas
que produzam energia que não tragam impactos. Todas elas trazem, ou seja, o
homem no momento em que está na natureza e que busca um desenvolvimento,
automaticamente busca a utilização de recursos naturais, ambientais e isso de certa
maneira causa impactos. Não há como negar isso.
O que temos de fazer, então, é verificar as tecnologias mais adequadas, de
forma a colocá-las em prol do desenvolvimento da sociedade e que a sua utilização
se dê da maneira mais sustentável possível.
Então, quanto ao aspecto da termeletricidade, hoje, a El Paso Energy
International está no Brasil com algumas unidades em funcionamento, duas delas
em Manaus, onde conseguiu reverter bastante a falta de energia, e funcionam com
óleo diesel. Há uma unidade funcionando em Porto Velho com algumas máquinas,
mas ainda em processo de ampliação. Certamente contribuirá para melhoria
substancial na área energética do Estado de Rondônia.
Essas três unidades na Região Norte, hoje, funcionam a óleo, mas tão logo se
desenvolva o gás de Urucu, que no momento está em processo de licenciamento
ambiental, estarão capacitadas a gerar energia a partir do gás natural, conforme
disse o Dr. Luiz Pinguelli, que é combustível menos poluente, apresentando
sensíveis vantagens quanto ao ponto de vista ambiental, quanto ao ponto de vista
de emissões.
Na Região Sul e Sudeste a El Paso Energy International está hoje com uma
usina em processo de construção no Estado do Paraná, chamada de UEG de
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Araucária, usina de quatrocentos e poucos megawatts, de ciclo combinado,
utilizando o gás natural através do gasoduto Bolívia-Brasil, com uma tecnologia que
dá maior eficiência na produção de gás e com isso ainda trabalha com melhores
padrões de qualidade ambiental.
Está em planejamento uma termelétrica no Estado de Santa Catarina, na
cidade de Joinville, e no Estado do Rio de Janeiro há uma usina em construção, em
Macaé, de 750 megawatts, ou seja, de porte bastante grande, o que trará melhoria
sensível no suprimento energético da região do norte do Estado do Rio e do Espírito
Santo. E há outra usina em planejamento no Estado do Rio, a Usina de Paracambi,
que também está num centro de carga hoje deficitário, do ponto de vista energético.
Quanto ao planejamento estratégico dessas termelétricas da El Paso, elas
atendem bastante aquilo que foi falado inicialmente, na primeira palestra, pelo Dr.
Irani Varella, da PETROBRAS: que há uma quantidade de gás natural na Bacia de
Campos e que esse gás natural hoje, por falta de consumidores, é queimado. Na
verdade, hoje a Bacia de Campos queima em torno de 4 milhões de metros cúbicos
por dia de gás natural. Esses 4 milhões de metros cúbicos por dia são suficientes
para uma termelétrica dessas, de 750 megawatts, que equivaleria ao potencial de
atendimento a 4 ou 5 milhões de habitantes. Ou seja, hoje, na verdade, não
utilizando o gás natural da Bacia de Campos, estamos cometendo uma falta contra a
sustentabilidade, quanto ao ponto de vista ambiental, pois temos um combustível
natural, e ele é desperdiçado.
Então, num primeiro momento, a utilização desse gás trará um benefício
ambiental bastante substancial. Isso sem contar que a queima do gás em alto-mar,
nas plataformas, não tem a mesma eficiência da queima feita numa termelétrica,
porque, no caso, o que vai para a atmosfera é apenas um residual.
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Poderíamos dizer, em relação ao impacto ambiental, de que trata essa
palestra hoje, no desenvolvimento dos projetos, que esse impacto deve ser
considerado desde o início do planejamento do empreendimento. Se isso acontecer,
logicamente esses impactos serão minimizados, porque a localização de uma
termelétrica depende fundamentalmente de três componentes básicos: a
proximidade do combustível, quer dizer, se tivermos o gás próximo, isso se torna
uma atratividade, já que é o principal insumo da geração; a possibilidade de o local
de implantação ter uma chamada bacia aérea, com boas qualidades, em termos de
absorção de emissões atmosféricas, ou seja, ter capacidade de suporte para
absorver emissões atmosféricas; a atratividade é a proximidade de centro de cargas
ou a ligação com linhas de transmissão. Isso impede que haja grandes impactos
com a construção de novas linhas de transmissão, e que se perca energia com o
transporte. Então, a localização é também um fator importante.
Dentro do fator locacional, também é necessária, para a definição da
localização desse tipo de empreendimento, que haja grande quantidade de recursos
hídricos que possam ser utilizados tanto para refrigeração, como para tratamento
dos gases.
Esses fatores locacionais devem estar associados, logicamente, à população,
na medida em que um dos impactos associados às termelétricas é o das emissões
atmosféricas. Então, se houver no local menor concentração de população, e
tivermos boa capacidade de recepção em bacias aéreas, de tal forma que essas
bacias tenham a capacidade adequada de suporte, logicamente esses projetos, sob
o ponto de vista ambiental, tornam-se menos impactantes.
Voltando à questão básica, quer dizer, ao planejamento do local onde deve
ser instalada uma termelétrica, deve-se levar em consideração essa variável
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ambiental. No caso da El Paso, que hoje tem uma termelétrica em construção no Rio
de Janeiro, esse foi um ponto tão importante que a empresa mudou o sítio inicial.
Ela havia adquirido, em 1997, na cidade de Macaé, um terreno que, quanto ao ponto
de vista técnico, era o mais indicado. Estava numa área contígua à estação de
beneficiamento de gás de Cabiúnas, o TGN da PETROBRAS, e teríamos então o
combustível praticamente na porta da termelétrica. Não haveria custo nenhum de
transporte e os riscos associados a ele seriam os menores possíveis. Só que esse
terreno foi comprado em 1997, e em 1998 foi criado na região próxima a essa área
uma unidade de conservação: o Parque Nacional da Restinga de Jurubatiba. E
também em função da dinâmica populacional da cidade de Macaé, por falta de
planejamento urbano efetivo, a população começou a crescer muito para o lado da
área industrial, para aquela área que deveria ter alguns parâmetros adequados para
a implantação de indústrias. No momento em que houve crescimento populacional
para o local, ele passou a ter duas novas variáveis a serem definidas no projeto: a
proximidade de uma unidade de conservação, que logicamente é importante por ser
o único parque nacional de restinga do Brasil, o que causaria grande impacto quanto
à qualidade do ar na região; e os possíveis conflitos com populações futuras, em
virtude do crescimento populacional em direção àquela região.
Então, os consultores ambientais da El Paso sugeriram que fosse levada em
consideração a possibilidade de nova área onde houvesse menos interveniência
externa, que pudessem causar impactos na ocasião ou futuramente, o que
representaria fator de conflitos.
O empreendedor aceitou a argumentação, fez uma consulta ao próprio
IBAMA. Inicialmente sobre a possibilidade de construir a unidade próximo ao parque.
O IBAMA não respondeu logo, e ele achou por bem — até pela velocidade que o
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empreendimento exigia, porque era considerado, dentro do setor energético, como
prioritário — adquirir outra área, com alguns custos adicionais na parte de
engenharia, mas solucionáveis, e com conflitos ambientais extremamente reduzidos.
Então, foi adquirida nova área, de grandes dimensões, cerca de 100 hectares.
Embora o empreendimento utilize, para as instalações, uma área de cerca de 10
hectares, no máximo, foi adquirida a área de 100 hectares, para que se tenha uma
zona de amortecimento de maiores impactos. E esse terreno foi comprado em
localidade que não tem aglomerados urbanos. É área rural, no Município de Macaé,
próxima à BR-101 e ao Rio Macaé. No entanto, necessita de maior ramal de
distribuição de gás para se chegar à usina. Logicamente, esse ramal de gás tem um
custo ambiental muito menor do que se produzir junto a aglomerados urbanos ou
com algum tipo de conflito com áreas de conservação. O planejamento, se bem
feito, não elimina os impactos ambientais associados ao empreendimento, mas os
reduz sensivelmente.
O estudo foi realizado dentro do contexto do órgão ambiental. No caso do
Estado do Rio de Janeiro, pela Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente
— FEEMA, órgão bastante equipado, com excelentes técnicos, quase pioneiro no
Brasil. Antes de existirem as regulamentações do CONAMA com relação ao
ambiente, já havia várias outras nesse sentido, embora não tão efetivas como as de
hoje.
A FEEMA apresentou instruções técnicas que deveriam ser seguidas pelo
empreendedor. Os estudos foram feitos levando-se em consideração um aspecto
bastante importante: a cumulatividade das emissões atmosféricas. Na região
próxima à Usina El Paso, a Macaé Merchant, já estava programada uma outra usina
termelétrica a gás natural, também de porte: a Termelétrica Norte Fluminense.
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Dentro do empreendimento, a FEEMA solicitou que os estudos levassem em
consideração a presença de outra unidade que também estaria gerando energia e
logicamente tendo emissões atmosféricas.
Estudos realizados com os mais atuais rigores técnicos concluíram que os
modelos de dispersão atmosférica utilizados em países de Primeiro Mundo —
Estados Unidos e Alemanha — são os melhores; afinal, causam impactos de baixa
densidade na atmosfera. Os impactos ficam localizados em área rural e se
dispersam em condições meteorológicas mais desfavoráveis à distância de oito
quilômetros da usina — são concentrações máximas. Os valores considerados mais
problemáticos pelo CONAMA são o óxido de nitrogênio e o dióxido de nitrogênio.
Estes possuem valores máximos. Os valores a que chegamos com as duas
termelétricas em funcionamento são menores do que 50% dos padrões
considerados admissíveis para as emissões e as concentrações no solo. Os
impactos existentes têm de ser acompanhados e tratados.
O órgão ambiental do Rio de Janeiro, que tem trabalhado nesse setor,
solicitou aos empreendedores que implantassem sistemas de monitoramento
contínuo para, a qualquer momento, verificar-se o grau de efetividade dos
instrumentos de controle e monitoramento de chaminés. Ele está exigindo que cada
empreendedor monte, dentro do custo do empreendimento, uma estação de
monitoramento de qualidade do ar, com dados contínuos a serem enviados tanto
para a FEEMA quanto para a Prefeitura de Macaé. Dessa forma, à qualidade do ar
— e esta representa uma das maiores preocupações — está sendo dado tratamento
bastante adequado.
Outra questão relacionada às termelétricas a ser levada em consideração,
como bem ressaltou o Prof. Luiz Pinguela Rosa, é a utilização da água nas
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termelétricas, embora em pequena quantidade. Elas utilizam uma parte de recursos
hídricos para geração de energia. Uma usina dessas, que produz 750 megawatts,
utiliza cerca de 180 litros por segundo de água para os processos de refrigeração e
para o controle de emissões atmosféricas. Logicamente, dentro do contexto global,
isso tem de ser levado em consideração como uso industrial previsto na legislação
das águas. A prioridade primeira é o abastecimento do público. Outras vêm em
ordem subseqüente. A prioridade industrial é uma delas. Os estudos realizados no
caso das termelétricas têm conseguido, no Estado do Rio de Janeiro, impor
velocidade bastante aceitável para o atendimento das metas necessárias para
superar a questão energética. As termelétricas já estavam nos planos da
ELETROBRÁS dois anos atrás, mas não foram efetivadas por diversos problemas,
inclusive do próprio custo do insumo básico: o gás. O Rio de Janeiro está
conseguindo, por meio do órgão ambiental e com bastante esforço em termos de
parcerias feitas entre o empreendedor, os Municípios e os órgãos ambientais, fazer
projetos ambientalmente adequados, não transgredindo, em momento algum,
qualquer legislação, cumprindo todos os prazos de lei, as regulamentações do
CONAMA e de organismos internacionais que tratam de poluição. E o está
conseguindo a tempo de dar uma resposta ao Governo quanto à questão da
produção de energia.
A Usina Macaé Merchant iniciou seu processo de planejamento inicial efetivo
em setembro do ano passado, quando buscou a solicitação da emissão da licença
prévia. À ocasião, a FEEMA emitiu ainda as instruções técnicas para os estudos. Em
outubro, elas foram dadas. Hoje, a usina já está em construção. Está previsto para
setembro o funcionamento das primeiras quatro unidades geradoras. São dezesseis
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unidades geradoras que fornecem 750 megawatts. E as demais unidades deverão
estar em funcionamento entre janeiro e fevereiro de 2002.
Esse é o panorama da Usina Macaé Merchant no Estado do Rio de Janeiro.
Trata-se de empreendimento somente possível de ser viabilizado por meio de um
processo visível que contou com total participação da sociedade organizada, desde
o princípio do planejamento dos estudos. Por isso, está sendo possível chegarmos a
bom termo no que diz respeito ao empreendimento como um todo. Refiro-me às
questões ambientais associadas a ele e às medidas que estão sendo tomadas em
termos de compensações ou de mitigações ambientais. Está sendo investida
quantidade bastante razoável de dinheiro, tanto no atendimento ao meio por cento
previsto no setor elétrico para as compensações ambientais, quanto ao adicional
que chega a quase outro meio por cento de outras ações de compensação voltadas
a privilegiar a questão dos recursos hídricos.
Estão sendo tomadas várias medidas efetivas para melhorar o conhecimento
da disponibilidade de água do Rio Macaé. Interessa a todo o mundo, às populações
e ao empreendedor que o Rio Macaé possa ter água disponível ao longo desses
anos todos para suas diversas finalidades. Está-se procurando fazer um programa
de recuperação ambiental no Rio Macaé, porque ele tem nascentes bastante
degradadas, por causa do grande processo de desmatamento.
Será investida uma quantidade razoável em termos de revegetação de matas
ciliares. Há programas voltados para a foz do Rio Macaé, que enfrenta grandes
problemas de assoreamento, causado por desmatamentos nas cabeceiras, que têm
degradado os manguezais. Há um programa específico para os manguezais. Há
outros associados às unidades de conservação do Estado que estavam
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abandonadas. Cito como exemplo o Parque Estadual do Desengano. Vão ser
tomadas medidas para colocá-lo em funcionamento.
Enfim, há programas de educação ambiental e outros voltados para o
Município. O empreendimento está em processo de construção. Espera-se que a
licença de operação inicial saia no mês de setembro, para que o empreendimento
comece efetivamente.
Esse é o contexto do empreendimento no Estado do Rio de Janeiro. Ele pode
servir de exemplo — e a Câmara dos Deputados está discutindo o assunto — de
regulamentação. Se existir parceria entre o Estado, o empreendedor, o Município e a
sociedade civil, o empreendimento pode ser realizado com o rigor técnico adequado,
contemplando-se a questão ambiental de maneira efetiva, o que pode render
dividendos.
Muito obrigado. Coloco-me à disposição dos senhores para qualquer
esclarecimento.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Antonio Fleury) - Agradecemos ao Sr.
Edson Cruz de Sá, representante da El Paso Energy International.
Informamos que o Prof. Luiz Pinguelli Rosa teve de se retirar em razão de
horário de vôo já previamente determinado.
Passo a palavra ao Sr. Demóstenes Barbosa da Silva, Vice-Presidente da
AES-Tietê, empresa de geração de energia elétrica.
O SR. DEMÓSTENES BARBOSA DA SILVA - Inicialmente, saúdo o
Presidente da Mesa, Deputado Luiz Antonio Fleury, os demais Srs. Deputados, os
integrantes deste painel, as senhoras e os senhores presentes.
Em segundo lugar, cumprimento a Comissão pela iniciativa de realizar a
audiência neste momento em que o Brasil enfrenta grave crise de energia e a
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sociedade brasileira dá mais uma demonstração de compreensão e de capacidade
de solução dos problemas e de enfrentamento dos desafios que lhe são impostos.
Percebemos que a sociedade brasileira atendeu, pronta e espontaneamente, ao
necessário pedido de economia feito pelo Governo.
Esta talvez seja a segunda demonstração da sociedade brasileira de
capacidade de atender a desafio dessa magnitude no campo de energia. O primeiro
— quero lembrar — foi na época dos dois choques do petróleo, em que o Brasil,
extremamente dependente desse produto para as atividades econômicas básicas,
teve de economizar por força da total impossibilidade da manutenção da compra do
petróleo nos níveis em se projetava. Naquela primeira ocasião, a sociedade
brasileira entendeu perfeitamente o problema e cooperou. Conseguimos controlar a
situação exatamente por força da reação dos consumidores.
Para a exposição de hoje, fiz uma reflexão do que seria relevante. Temos
inúmeros dados e informações. Contudo, como o objetivo da Comissão é analisar o
impacto ambiental — particularmente neste momento em que temos de encontrar a
melhor saída para o Brasil não apenas a curto, mas a médio e longo prazo —, vou
limitar-me apenas a algumas informações relevantes sobre o tema. Vou falar
especificamente sobre o impacto ambiental que a geração de energia está causando
no mundo, como o Brasil se coloca nesse contexto, quais as nossas alternativas a
curto prazo e os espaços que temos para evoluir sem apenar nossa sociedade mais
do que ela já sendo pela falta de energia.
Para não me alongar, vou discorrer sobre os três aspectos essenciais para
uma tomada de decisão em termos de política energética. Primeiro, devemos
verificar como é o modelo de consumo de energia no mundo e seu impacto
ambiental no planeta; segundo, a importante relação da energia com a produção
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econômica. Creio que, com uma política ambiental adequada, não restringiremos o
crescimento econômico no País. E, terceiro, temos de refletir sobre o que é racional
para o País, em termos de política energética. O Brasil deve crescer, mas
assegurando um ambiente o mais limpo possível.
Sobre os impactos da geração de energia, vale lembrar o modelo de oferta de
energia no mundo, que totaliza em torno de 15 mil tW/h por ano. Podemos
considerar três das fontes utilizadas para a geração de energia no mundo como
extremamente poluentes. Elas têm sido objeto da pressão da legislação ambiental,
que a cada ano torna mais restritiva a oportunidade de expansão dessas fontes. São
elas: petróleo, gás e carvão mineral. Por força da revolução industrial, da evolução
da industrialização, o carvão mineral é ainda a fonte mais usada: participa com 38%
da geração de energia. O petróleo — óleo diesel e combustível — é utilizado em
menor proporção.
Conforme disse o Prof. Luiz Pinguelli Rosa, a energia nuclear oferece grande
risco de contaminação, mas, se adequadamente operada — cabe aqui o exemplo da
França, onde 70% da energia elétrica é com base nuclear, e não polui —, bem
controlada, não oferecerá muitos problemas. Na hidráulica — e o Brasil é o melhor
exemplo — há o problema do alagamento. Há alguns estudos no sentido de que a
matéria orgânica que fica submersa nos lagos acaba por gerar a emissão de gás
metano, também poluente, mas nada comparável com o porte, a agressividade, a
intensidade das emissões dos poluentes daquelas três fontes: gás, petróleo e carvão
mineral.
Esses dados são comuns e têm sido utilizados. Contudo, é interessante
observar que, com esse modelo, que é o do planeta, aquelas três fontes
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representam 63% de toda a geração de energia. Portanto, 63% da energia gerada
no mundo atualmente implica emissão de gases poluente na atmosfera.
Comparando a geração de energia elétrica às demais atividades poluentes do
homem, podemos dizer que um terço de toda a emissão que há no mundo está
ligada à geração de energia elétrica. A magnitude disso é a emissão de
aproximadamente 2 bilhões de metros cúbicos de gás carbônico no ar por ano. O
curioso disso tudo é que o Brasil participa do problema com apenas 0,3% ou 0,4%
do volume total. Ou seja, o País não representa coisa alguma no problema da
poluição atmosférica no mundo, hoje. Noventa por cento da eletricidade gerada no
Brasil não implica emissão de poluente algum. Apenas 10% implica.
Essa é uma questão que hoje mobiliza as nações como um todo, a
Conferência das Nações sobre o Meio Ambiente e pressiona potências, como os
Estados Unidos, a se posicionarem reticentemente em relação a políticas mais
agressivas de mudança desse modelo de consumo e de geração de energia. Por
participar pouco desse processo, o Brasil tem grande espaço para não impor
contenção à nossa sociedade com relação ao problema ambiental causado pela
geração de energia.
Não almejamos que o Brasil venha a expandir sua geração de energia com
fontes poluentes. Contudo, enquanto não tivermos tecnologia própria, adequada e
viável para substituir esse modelo, não é justo que a sociedade brasileira seja
apenada com a restrição da expansão da geração de energia para suportar o
crescimento econômico. Já que não poluímos praticamente nada, menos de meio
por cento que o planeta suporta hoje, ainda podemos crescer.
Qual o significado para a sociedade quando dizemos que o Brasil polui pouco
e tem espaço para expandir? Esses números foram extraídos do balanço energético
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nacional. Trata-se de documento oficial do Ministério de Minas e Energia. Cada
milhão de dólares do PIB brasileiro é gasto basicamente em eletricidade, petróleo e
outras fontes como carvão, lenha e biomassa. Gastamos aproximadamente 40%
desse montante com eletricidade, 32% com petróleo e o resto com as outras fontes.
Para cada milhão de dólares do PIB do Brasil temos aproximadamente 390
toneladas equivalentes de petróleo consumidos por habitante. Está incluído nesse
cálculo o consumo das residências. Os brasileiros gastam cerca de 391 toneladas
de petróleo.
É importante compararmos esses dados com a média dos países
desenvolvidos, que gastam cerca de 15% a menos de energia para produzir o
mesmo milhão de PIB. É certo que eles possuem modelos, composições e
atividades diferentes das nossas economias. É curioso — repito — observarmos que
o Brasil gasta em média 10% a 15% a mais de energia para produzir 1 milhão do
nosso PIB.
A nossa sociedade consome oito a dez vezes menos energia do que as
nações desenvolvidas. Trata-se, na minha percepção, de grande disparidade, não
apenas de renda, mas de bem-estar e de condição de trabalho. Daí dá para inferir
mais uma vez a eficiência da própria sociedade brasileira. Consumindo certamente
muito menos energia, estamos conseguindo manter o crescimento do País em 4%,
como foi divulgado nesta semana pela mídia.
Temos de refletir sobre isso. Faz sentido propormos uma opção a curto
prazo?! A preocupação da Comissão foi essencialmente abrir um debate para saber
quais soluções o Brasil pode adotar a curto prazo que não restrinjam a oferta de
energia no País e também não causem impacto ao meio ambiente.
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A médio prazo precisamos pensar numa política que possa evitar que o Brasil
venha a sofrer no futuro próximo com algo que podemos alterar agora. Para justificar
isso, vou falar do exemplo da tecnologia na telecomunicação, com o advento da
telefonia móvel. Temos tecnologias no mundo hoje que vão permitir certamente a
criação de equipamentos para nos suprir de energia com capacidade mais reduzida,
mas com uma flexibilidade muito grande.
Estamos assistindo ao que está acontecendo com a indústria automobilística.
Esta, por força da própria legislação ambiental, está se preparando para lançar
veículos que vão emitir poluição zero. Estão prometendo lançar no Brasil esses
veículos já em 2004. Inclusive, há um projeto de demonstração de ônibus em São
Paulo que vai ter emissão zero. Talvez, depois, possamos usar algum tempo para
falar desse projeto e de outro que vai tentar prover de energia, com tecnologia
totalmente limpa, a Amazônia.
Se observarmos o arcabouço legal do Brasil, é hora de fazermos um
ordenamento político claro, objetivo, para que se possa fazer duas coisas
basicamente. Primeiro, devemos romper com o ciclo crônico de passarmos
alternativamente da escala reduzida de fontes alternativas não poluentes para a
inviabilidade econômica. Sempre que falamos em fontes alternativas deparamos
com esse ciclo que nos impede de aplicá-las. Isso é natural. A teoria
microeconômica, usada na análise dos projetos, sempre conduz à mesma
conclusão. Não podemos resolver o problema deste País e de nenhum outro com
fontes alternativas, porque elas têm escala reduzida — e diria não apenas do ponto
de vista do porte dos equipamentos, da tecnologia, até mesmo de uma escala de
produção dos equipamentos. Se tivéssemos produção em larga escala,
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provavelmente teríamos preços mais reduzidos para os equipamentos que usam
essas fontes alternativas. E a inviabilidade econômica é uma conseqüência natural.
Portanto, não adianta acalentarmos o bonito sonho de que hoje podemos
resolver o problema no Brasil com fontes alternativas. Podemos, sim, liderar o
rompimento desse ciclo, que está presente em todo o mundo, organizando nossa
sociedade para usar, a médio prazo, energia alternativa não poluente.
Temos a excelente oportunidade de fazer isso. Desde 1982, quando se
inaugurou a conferência sobre o meio ambiente no Rio de Janeiro, as nações estão
buscando políticas que possam ao mesmo tempo restringir e reduzir até a emissão
de poluentes no mundo, mas, principalmente, permitir a implantação de alternativas.
O Brasil, com o Programa Nacional do Álcool, na época do choque do
petróleo, com suas firmes posições e com a grande oportunidade que tem hoje de
não repetir os modelos convencionais já implantados nos países desenvolvidos,
pode adotar políticas para explorar ao máximo os compromissos internacionais
decorrentes dessa conferência e também implantar suportes que lhe permitam
liderar o rompimento desse ciclo. Existe muito dinheiro no mundo que pode ser
aplicado em países em desenvolvimento.
Essa é uma posição clara, que já deve ter sido percebida pelos nossos
representantes nesta conferência. Contudo — e isso nos preocupa —, essa política
não interessa às nações desenvolvidas. Estas precisam não apenas criar soluções
para suportar o novo crescimento de energia, mas substituir fontes que tenham sua
maturidade econômica ainda em curso. O Brasil, por sua vez, não precisa substituir
fontes. Precisa simplesmente dosar com políticas adequadas a velocidade que ainda
precisa ter de expansão do uso de eletricidade hidráulica, hidrelétrica e também de
gás natural, que é a bola da vez. Ao mesmo tempo, tem de preparar a sociedade
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para a utilização dessas novas fontes, sem precisar fazer substituição ou quebra de
empresas. E o Brasil tem todas as condições de liderar isso. Fatalmente, mais dia
menos dia, irá acontecer no mundo como um todo a substituição do modelo de
consumo.
Vamos falar do Brasil a curto prazo, sem deixarmos de considerar que é sério
o problema do impacto ambiental. Precisamos verificar onde o Brasil pode expandir
a oferta de energia com o gás, que é a fonte natural menos poluente, convencional e
mais viável a curto prazo. Temos tido interessante experiência. A AES opera dez
usinas hidrelétricas ao longo do Rio Tietê, no Estado de São Paulo. Temos dez
usinas hidrelétricas em um local densamente ocupado por indústrias. Sentimos, por
isso, como é a efetividade do impacto que essas usinas causaram no passado. A
idade média delas é de 29 anos. Hoje, vendo essas obras, podemos compará-las
com a outra experiência que tivemos ao construir a primeira grande planta
termelétrica a gás natural, que está instalada em Uruguaiana, no Rio Grande do Sul.
Lá usamos gás importado da Argentina. Ela foi colocada em operação há poucos
meses.
Enquanto fazíamos o projeto deparamos com grandes problemas. O
representante da El Paso mencionou alguns dos grandes problemas que já
enfrentamos no Sul. O Prof. Pinguelli observou outro problema sério: a água para a
refrigeração das turbinas de uma usina desse porte. Podemos dizer, com
tranqüilidade, que todos esses problemas têm solução. No local em que está
instalada a Usina de Uruguaiana não podemos, pelas restrições ambientais
colocadas pela Fundação do Meio Ambiente e também pelo IBAMA, usar água de
curso d’água comum. Entretanto, fomos buscar água nos lençóis subterrâneos.
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Usamos o aqüífero de Botucatu, que se estende do meio do Brasil até o Sul. Essa
foi a solução.
O problema da poluição ambiental atmosférica das emissões é mais um.
Implantamos lá uma estação meteorológica que nos orientou como poderíamos
eventualmente nos posicionar geograficamente, em função dos ventos que ocorrem
na região, para que o impacto seja o menor possível. Dá para observar que os
impactos que venham a ser causados por uma usina termelétrica ou hidrelétrica hoje
são — nos termos dos padrões internacionais — perfeitamente contornáveis.
Precisamos assegurar o crescimento da economia do Brasil, sem a restrição
da oferta de energia. O problema ambiental é sério e precisa ser cuidado, mas tem
solução. Não podemos deixar que o Brasil incorra no mesmo problema da Califórnia,
nos Estados Unidos. Lá eles não têm restrição de capital nem problema regulatório.
Aqui temos restrição de capital e não temos ainda a equação regulatória para que
esses investimentos, esses projetos se estabeleçam. Entretanto, o Brasil tem
posição favorecida. Ele não é poluidor. Podemos efetivamente, a curto prazo,
assegurar a energia de que necessitamos para continuar crescendo a 4%, como tem
sido neste ano, sem essa restrição. É fundamental termos no País neste momento,
em vez das claras sinalizações — e o Congresso Nacional já aprovou a partir de
1995 cinco, seis leis que abrem o mercado de energia para a iniciativa privada,
estabelecendo que quem deve fazer o investimento na sua geração é o capital
privado — um plano diretor que facilite, economize o tempo e viabilize a indicação
de onde podemos instalar essas usinas no Brasil.
Estamos — além de termos essas usinas prontas — tentando desenvolver
duas outras em São Paulo: a de Santa Branca, no norte do Estado, na divisa com o
Rio de Janeiro; outra, a de Bariri, que está próxima de uma hidrelétrica que já
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operamos, no oeste do Estado. Esses dois projetos nos dão uma visão clara da
importância que temos de um prévio direcionamento, diria até mesmo de um plano
diretor que oriente onde esses projetos podem se instalar.
A Usina de Santa Branca está sendo desenvolvida há dois ou três anos e a
Usina de Bariri há oito ou nove meses. Em que pese o tempo maior da outra, já
estamos com os estudos de impacto ambiental feitos da segunda, e já temos uma
clara indicação de que, muito provavelmente, conseguiremos a licença para a
segunda e não para a primeira.
Quanto tempo e dinheiro foram gastos até este momento! O empreendedor
privado vai até onde está a oportunidade que, às vezes, fica ofuscada, porque tem a
impressão de que dá para se instalar num local e, depois de dois ou três anos,
descobre que teria um outro lugar muito melhor e muito mais factível sob o prisma
ambiental.
É isso que talvez possa, no Brasil, contribuir para acelerar esse processo
todo, para que, no curto prazo, não tenhamos a restrição e, sim, a expansão da
oferta de energia.
Gostaria de finalizar fazendo a observação de que, com a Comissão aqui
reunida, desejo que as conclusões alcançadas certamente possam se frutificar em
leis específicas e objetivas capazes de atender à solução desse problema a curto e
médio prazo.
Temos uma oportunidade ímpar no Brasil, com recursos, sociedade
mobilizada e uma grande expectativa. Certamente, a Comissão poderá contribuir
muito com soluções no âmbito de legislação que possa ser implantada.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Obrigado.
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Vou passar a palavra ao Dr. Manoel Montenegro Neto, Delegado Federal da
Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte.
Devido ao adiantado da hora, pediria a S.Sa. que fosse o mais objetivo
possível, porque os Deputados têm mais uma votação.
O SR. MANOEL MONTENEGRO NETO - Sr. Presidente, Srs. Deputados,
componentes da Mesa, vou falar de um tema que não é novo para nós, do Nordeste
brasileiro.
Em 1968, chegava a Natal, à Barreira do Inferno, onde se fazia sondagem
para os lançamentos das Apolos 11, 12 e 13. Usava-se, naqueles tempos, energia
eólica. De lá para cá, 33 anos se passaram, e a energia eólica não é nova para nós,
principalmente do Rio Grande do Norte e do Nordeste.
Em 1995, comecei um trabalho sobre energia eólica, mostrando ao Nordeste
como era viável, pois não poluía o ar e não traria problemas de licença ambiental.
Lamento, como brasileiro, já conhecer tanto sobre essa energia e ainda não usá-la.
Agora, em tempos de apagão, fala-se de quantitativo de energia de bens renováveis
que poderia não ser satisfatoriamente gerada para resolver os nossos problemas.
Vejam os senhores que um aerogerador moderno, hoje, parte, no mínimo,
com 600 quilowatts. Um aerogerador usado na Europa, na China, na Índia, na
Austrália, nos Estados Unidos, na Espanha e em tantos países do mundo, tem uma
capacidade de gerar, em média, 1,3 mW/h.
No mês passado, estive numa missão do Ministério da Agricultura, na
Alemanha, na Feira de Hannover. Conhecia, no passado, dezenas de empresas.
Participei aqui em Brasília de um encontro na ELETROBRÁS, com os Ministérios de
Minas e Energia e Relações Exteriores e o Instituto de Energia Eólica da Alemanha,
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em 1998, no auditório da CNI, sobre esse assunto. Vi o quanto era viável para nós
fazermos esse trabalho.
Em 1996, importei da Alemanha um pequeno aerogerador através de uma
empresa alemã detentora de tecnologia para fazermos pesquisas no Rio Grande do
Norte. Dois anos depois, chegamos à conclusão de que era superviável se utilizar a
força dos ventos no Nordeste brasileiro.
Posteriormente, entramos em entendimento e fomos ver o problema da
legislação brasileira. Isso, sim, é o mais sério de que poderemos tratar aqui. Tenho
certeza de que estou diante daqueles que podem dar solução a esse problema, que
são os Srs. Parlamentares.
Nenhuma empresa arriscou tanto quanto a Wobben e a Enecom. Ontem
estive com eles em Fortaleza, visitando o seu parque eólico. Conheço a indústria na
Alemanha, e tantas outras. O mesmo instituto de energia eólica alemã, que esteve
aqui em 1998, estava comigo em Fortaleza. Amanhã estarei com eles no Rio de
Janeiro; estaremos reunidos com todos aqueles que se interessam por essa energia.
Eu disse que não há problema para se gerar, a curto prazo, energia eólica no Brasil.
Em apenas doze meses, poderemos gerar em grande quantidade.
Vou dar alguns dados informativos. Tenho vários relatórios, revistas e
publicações da Alemanha sobre a força eólica de diversos países do mundo,
inclusive os Estados Unidos. Enquanto isso, no Brasil, no Nordeste brasileiro, é
superviável se gerar hoje 20 mil megawatts. Podemos gerar, no Nordeste brasileiro,
num certo espaço de tempo, em torno de cinco anos, desde que tenhamos uma
legislação própria.
No Rio Grande do Norte tentou-se fazer uma legislação; a ANEEL tem uma
outra legislação, de fevereiro de 2001. Mas, se os senhores... (Falha na gravação.)
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...votada no ano passado e que o SIMPLES enxuga e possibilita utilizar toda e
qualquer rede, seja a 13,8, a 69 ou até a de alta tensão, a 138.
Vejam bem que, no nosso sistema — a CHESF, no caso do Nordeste —
poderemos injetar essa energia em grande quantidade. Há duas semanas, recebi
uma correspondência do Ministério da Agricultura a respeito de uma empresa alemã
que se compromete, se tivermos legislação própria, a gerar, como proposta inicial,
500 megawatts no Nordeste brasileiro. Estão na minha pasta os mapas eólicos do
Estado do Ceará que podem gerar 10 mil megawatts.
Poderiam alguns dos senhores ter essas informações, mas outros não.
Gostaria de reforçar. Todo o sistema CHESF, no Nordeste brasileiro, só gera hoje
cerca de 6 mil megawatts e já contratou 95% dessa capacidade de geração máxima.
Poderíamos gerar, no Rio Grande do Norte, só nos cem primeiros quilômetros da
BR-101, 3 mil megawatts. O Estado de Pernambuco só consome mil megawatts; o
Rio Grande do Norte, 500 megawatts; o Ceará, mil megawatts.
O Rio Grande do Norte é um dos maiores produtores de gás natural do Brasil.
Conheço bem esse aspecto. A energia eólica é a mais barata hoje existente, porque
ela não tem combustível, é gerada pela força dos ventos. A vida útil de um
aerogerador é de vinte anos. Em seis a oito anos ele se paga pela própria geração.
Precisamos, sim, de linhas de crédito do BNDES para que se possa fazer essa
geração.
Podemos colocar um aerogerador, como posso mostrar em 150 fotografias da
Alemanha, feitas há sessenta dias, para movimentar as fábricas que precisam de um
mega, dois mega. Poderemos energizar as pequenas cidades que precisam dessa
energia, as cooperativas...
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O que está faltando? Uma lei simples, clara, que dê acesso às redes de
transmissão, seja dentro das cidades, as 13.8, como também as de alta tensão, as
69, pois essas redes todas são públicas. Um empresário, seja no campo ou na
indústria, quando precisa de energia, se ele for além de um mega, banca uma rede e
uma subestação 69; mas, para energizar, ele doa de volta à concessionária regional
ou local. Se, no caso, for a 13.8, faz a mesma coisa, mesmo sendo pequeno. Ele
tem que doar, inclusive o transformador, para poder utilizar energia, embora a
manutenção, daí por diante, fique por conta da concessionária.
Esta audiência pública foi muito oportuna. Estamos num momento mais do
que viável para resolver os nossos problemas. Fico triste muitas vezes quando ouço
falar no apagão. Precisamos falar em quem vai gerar energia. Precisamos de
energia! O déficit no Brasil é conhecido há cinco, oito anos. O Rio Grande do Norte,
no ano passado, cresceu 8% no consumo de energia, o Ceará e tantos outros
Estados, também. Tenho publicações de revistas desta semana que mostram que
nós só geramos 2,8% nos últimos 10 anos e estávamos precisando de muito mais
energia.
Sr. Presidente, estou aberto ao debate. V.Exas. poderiam perguntar-me: por
que o Ministério da Agricultura está tão interessado por energia? Sou do Nordeste. A
minha Região hoje tem uma grande força na fruticultura, principalmente para
exportação. Exportamos 50 mil toneladas de melão no ano passado e estávamos
esperando 70 mil neste ano. Temos hoje também uma grande alavanca de
desenvolvimento: o camarão. Para produzir-se um quilo de camarão, precisa-se de
três quilos de energia, e 80% da fruticultura são movidas por energia.
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Tenho certeza de que, se V.Exas. nos escutarem, garanto que, em menos de
12 meses, já começaremos a implantar os parques eólicos no Nordeste, para
sairmos desta crise energética.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Agradeço ao Dr. Manoel
Montenegro Neto.
Concedo a palavra ao Dr. José Carlos Gomes da Costa, Coordenador-Geral
de Políticas Setoriais, representando o Ministério da Ciência e Tecnologia.
O SR. JOSÉ CARLOS GOMES DA COSTA - Sr. Presidente, Sras. e Srs.
Deputados, agradeço a oportunidade de o Ministério de Ciência e Tecnologia poder
apresentar uma visão sobre a questão do meio ambiente e energia. Meio ambiente
tratado como política nacional veio baseado inicialmente em trabalhos de cientistas
de nossas universidades; foram eles que primeiro levantaram essas questões. Há
pouco o Dr. Pinguelli levantou o indicador, com o qual podemos ou não concordar,
mas S.Sa. aduz aos nossos trabalhos outra forma de pensar, outros critérios que
devam ser analisados até chegarmos a conclusões sobre o que queremos para a
população, para que aqui se tenha melhor qualidade de vida.
O Ministério de Ciência e Tecnologia entendeu que a melhor forma de
priorizar a questão do meio ambiente é explicitando suas formas oficiais de
financiamento, em especial uma que já está em operação, que é o Fundo Setorial de
Petróleo. Temos cerca de 50 projetos na área de meio ambiente em andamento,
representando nossos valores. Obviamente, ciência e tecnologia na área de energia
somam em torno de 1% do faturamento de empresas.
Na parte de petróleo e gás natural, temos investimento da ordem de
aproximadamente 20 milhões de reais. Estamos hoje com dois editais — um já está
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em análise e o outro recebendo propostas — representando o total de 90 milhões de
reais. Entre os poucos itens elegíveis nessa área de petróleo e gás natural, temos
itens como redução do risco de acidentes ecológicos, logística de operações na
bacia sedimentar da Amazônia, recuperação de clareiras abertas na floresta
amazônica pela atividade de exploração e transporte de petróleo e gás natural e
redução dos danos ao meio ambiente provocado por derramamento de petróleo e
seus derivados e vazamento de gás natural. Ou seja, isso já vem sendo
contemplado.
Fomos honrados com a aprovação por esta Casa de leis de outros fundos
setoriais, um deles especificamente ligado à área, o Fundo Setorial de Energia, que
chamamos de CTENERG, deverá ser regulamentado nos próximos dias e também
prevê em sua linha a possibilidade de financiamentos específicos na área de meio
de ambiente. É a ciência e tecnologia tentando colaborar para a melhoria da
qualidade de vida dentro daquilo que a universidade e os nossos centros de
pesquisa podem contribuir no processo.
O nosso colega, Dr. Demóstenes, está enfrentando questões com a
implantação do parque térmico, que pode vir a ser analisado pela universidade a
partir do momento em que esse Fundo Setorial esteja operando. Poderemos chegar
a conclusões que melhorem o projeto e o desempenho até da própria usina, sem
prejudicarmos o meio ambiente. Muito pelo contrário! Vamos mitigar os problemas
que, em geral, causa a geração de energia.
O Dr. Demóstenes é um grande defensor dos projetos que estão sendo feitos
na área da adoção de hidrogênio como alternativa de geração de energia, inclusive
fomentando que a indústria instalada no País venha realmente a produzir
equipamento de pilhas a combustível.
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Remeto-me à apresentação do Dr. Manoel. Energia eólica é também objeto de
interesse de ciência e tecnologia, só que é uma tecnologia emergente. O preço
dessa geração ainda está alto. A Agência Nacional de Energia Elétrica reconhece
isso, já que é 55% superior à da geração convencional. Mas está em estudo.
Permita-me, Dr. Célio, que é do Ministério de Minas e Energia e está trabalhando em
grupos equivalentes, mas estamos estudando alternativas de promover o uso maior
da energia eólica. Quem consulta, por exemplo, o mapa eólico do Centro de
Pesquisa de Energia Elétrica do Sistema ELETROBRÁS, que está disponível na
Internet, poderá ver que o Estado do Rio Grande do Norte é o que tem a maior
mancha de tendencidade de energia eólica no País, com a vantagem de haver redes
de distribuição por onde ela pode ser interconectada.
A mancha que o senhor pode ver no mapa eólico é melhor do que essa
fotografia. Ela surpreende muito. As margens do Rio São Francisco é a área ou local
onde existe mais energia eólica disponível no País, mas é prejudicada pela falta de
transmissão, quer dizer, é difícil escoar, no momento, a energia que vem a ser
gerada na reunião.
Também é importante comentar que o Ministério da Ciência e Tecnologia vem
apoiando o principal centro de referência na área de ciência e tecnologia de energia
eólica no País, que é sediado na Universidade Federal de Pernambuco. Tão logo se
torne operacional esse Fundo Setorial de Energia, estaremos em negociação com
eles para que este venha a se tornar um centro muito importante no suporte a
qualquer empresa que queira instalar-se aqui no País.
Citei o importante apoio que a AES vem dando à indústria nacional na
fabricação de pilhas a combustível, mas acredito que a legislação que venha a ser
feita nesta Casa deva dar uma atenção também à produção local. A capacitação
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nacional em produção de geradores eólicos ainda está em 180 megawatts/ano em
relação a máquinas possíveis de serem instaladas e comercializadas, para
potenciais, como o Dr. Manoel falou, sempre muito altos e que vão basear-se muito
na importação de equipamentos.
Tenho sempre minhas preocupações sobre até que ponto essas empresas
terão uma noção correta das condições brasileiras, que não obrigatoriamente são as
condições da Dinamarca e da Alemanha, onde esses equipamentos são fabricados
principalmente. Exemplo típico é o que está acontecendo no Porto de Mucuripe, em
Fortaleza, onde temos quatro geradores que estariam funcionando há algum tempo,
mas que estão parados por problemas sérios de corrosão. O ar marinho daqui não é
exatamente igual ao ar marinho de lá.
Nós, no Brasil, temos capacitação tecnológica para colaborar. Quero citar
que, no caso daquela fazenda eólica existente na Prainha, a leste de Fortaleza,
aquelas pás já foram dimensionadas para as condições brasileiras, quer dizer, a
forma da pá é absolutamente importante em função do tipo de vento, já que também
as características do vento daqui são diferentes do europeu. Então, o melhor
aproveitamento depende de um dimensionamento correto da pá, o que foi feito aqui
no País com tecnologia nacional, tanto que já vem sendo adotado esse projeto.
Cito como defesa da indústria nacional que boa parte dos aerogeradores em
utilização ou sendo construídos no mundo, no momento — o gerador em si, a parte
elétrica —, utiliza marcas produzidas no Brasil por indústria brasileira instalada em
Santa Catarina. Por conta disso, eu lembraria aos legisladores que, quando
promovessem esse tipo de atividade, não se esquecessem de fomentar, além da
tecnologia, a questão da produção local para beneficiar os trabalhadores brasileiros
e a competência empresarial brasileira.
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Por último, faço referência a dois importantes projetos de lei que estão
tramitando nesta Casa, um do Senador Edison Lobão e outro do Deputado José
Carlos Aleluia, cuja aprovação em qualquer instância se tornará excelente motivação
e apoio à adoção de fonte alternativa de energia que vem sendo patrocinada em
suas bases pelo Ministério da Ciência e Tecnologia.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Eu é que agradeço.
Com a palavra o Dr. Célio França, Coordenador da Secretaria de Energia,
representando o Ministério de Minas e Energia.
O SR. CÉLIO FRANÇA - Sr. Presidente, Srs. Deputados, eu gostaria de fazer
algumas considerações iniciais. A primeira delas é que, como servidor público, acho
que uma informação importante que vai ajudar esta audiência pública é que neste
momento, talvez até provocado ou estimulado pela crise, estejamos neste País
evoluindo de um modelo de planejamento por setor para um modelo de
planejamento mais integrado. Acho que será uma grande conquista do setor elétrico
e da sociedade se conseguirmos viabilizar isso.
Até aqui tínhamos, no campo energético, um planejamento da PETROBRAS,
um planejamento do setor elétrico, mas não tínhamos um planejamento de energia.
Além disso, a mudança do modelo institucional de um setor basicamente
capitaneado pelo setor público para um modelo pulverizado, com ampla participação
do setor privado, levou à fragilização dos precários instrumentos de planejamento
que tínhamos.
Neste momento, até pegando um gancho com o que o Sr. José Carlos disse
em sua apresentação, acho que, com esse projeto do Deputado José Carlos Aleluia,
o nosso Secretário de Energia conseguiu a introdução do planejamento energético
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como responsabilidade governamental, aí incluída a sua vinculação com o eixo de
desenvolvimento econômico e sobretudo com o eixo ambiental. Acho que essa é
uma grande conquista.
Independentemente disso, acho que há alguns progressos que talvez não
sejam ainda do conhecimento amplo. Acho até que pode ser do conhecimento da
maioria dos senhores, mas não nos podemos esquecer que houve uma evolução,
um vôo superpanorâmico. Entretanto, o aproveitamento hidrelétrico para energia
neste País tem pouco mais de 100 anos. A partir de 1934, da Lei de Águas, embora
algumas preocupações com defesa tenham surgido, ali era a água essencialmente
como um domínio do setor elétrico para uso de barragem, podendo o setor fazer o
que queria. Como tínhamos um ativo ambiental muito grande, não existiam grandes
preocupações com relação a isso.
Passamos daí a um modelo de desenvolvimento pós-guerra que privilegiava o
modelo monolítico de desenvolvimento estimulado pelo setor público, em que se
confundia setor elétrico e Governo como motor do processo de desenvolvimento.
Isso vai levar-nos até a década de 80, quando alguns absurdos do ponto de vista
ambiental foram cometidos por este País, mas que se justificaram ou foram
inevitáveis no modelo dominante.
Passamos a mudar na década de 90 com a aprovação da Lei das Águas e a
definição de usos mútuos, porque inicialmente — o Deputado Gabeira sabe disso;
naquele momento eu estava trabalhando no Ministério do Meio Ambiente com o
Ministro Gustavo Krause — havia a dificuldade de o setor elétrico aceitar a partilha e
o fato de que ele não tinha mais domínio exclusivo. Essas são evoluções, são
conquistas que esta sociedade fez.
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O outro ponto é que, desde 1980, diferentemente de outros setores
produtivos, quando este País começou a adquirir consciência ambiental, não
pudemos deixar de dar esse crédito ao setor elétrico. Esse setor, pelas suas
diversas agências — ELETROBRÁS, Furnas, CHESF —, suas diversas empresas,
criou equipes técnicas altamente sofisticadas para tratar da questão ambiental,
sendo que faltou um encaminhamento político e institucional de nível adequado.
Ainda que fossem questões negociadas entre técnicos setoriais elétricos e
técnicos ambientais, aquilo não passava pelo núcleo de decisão como preocupação
de decisão política. Era apenas vencer etapas, vencer licenças, cumprir
compromissos mínimos com a agenda ambiental.
Aí acho que surgiu neste País uma disputa que, neste momento, cabe a nós
modificar: de um lado, o setor ambiental achava que tinha o poder de veto e de
preservação; de outro, o setor elétrico achava que tinha de, rapidamente, obter
licença para conseguir fazer suas implementações.
Aí surgimos no pior dos dois mundos, porque criamos uma regulação que
nem é adequada para o setor ambiental nem é adequada para as necessidades do
setor produtivo.
Depois o representante do Ministério do Meio Ambiente vai falar aqui com
mais detalhes, mas acho que hoje é um dia histórico: acabamos de aprovar, no
CONAMA, uma resolução na linha da medida provisória da crise que respeita
integralmente os pressupostos e requisitos definidos na legislação ambiental, mas
leva o setor ambiental a reconhecer que há empreendimentos de diversos portes e
que podem haver aqueles com pequeno impacto no setor ambiental para os quais
se cria um procedimento mais acelerado de decisão, garantidas todas as
responsabilidades legais, constitucionais, institucionais, próprias do setor ambiental.
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Acho que foi uma grande conquista. Com uma discussão exaustiva nos
últimos 25 dias, conseguirmos hoje aprovar, com ampla participação da sociedade,
Ministério Público, órgãos estaduais do meio ambiente, essa resolução do
CONAMA. Estou menos empolgado pelo que representa de milagre técnico e muito
mais pelo que representa no novo processo de comunicação entre o setor elétrico e
o setor ambiental.
Além disso, acho que há algumas outras conquistas que fizemos que
precisam ser mais divulgadas. Com a mudança do modelo de planejamento do setor
elétrico, que antes estava em grande parte sob a responsabilidade da nossa
ELETROBRÁS, criou-se o Conselho Coordenador do Planejamento da Expansão,
que é um órgão colegiado do qual participa Ministério, sociedade, setor produtivo,
vários empreendedores. Esse comitê, desde 1999, tem um comitê técnico
socioambiental que, neste momento, já está testando uma metodologia de avaliação
ambiental estratégica para os empreendimentos do setor elétrico. Quer dizer, a
priori, vamos começar a saber se a hidrelétrica que pretendemos fazer daqui a dez
anos tem ou não viabilidade ambiental, quais são as medidas compensatórias, se
pode ou não fazer, se aquilo está em terras indígenas, se tem de haver autorização
do Congresso Nacional. Isso já está sendo hoje testado na prática e usado para
definir encaminhamentos de prioridade.
No ano passado, foi finalmente institucionalizado o Conselho Nacional de
Política Energética, que, ao lado dos sete comitês técnicos específicos do setor, tem
também um comitê de meio ambiente com ampla participação da sociedade. A
mudança de Governo e a crise de energia de alguma maneira ainda não impediram
que esse comitê se manifestasse ou efetivamente funcionasse, mas, em
compensação, a totalidade das propostas previstas para o comitê para serem
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conseguidas ao longo de um ano, a crise nos fez entrar em um processo de
articulação institucional com o Ministério do Meio Ambiente e acelerou. Já temos
hoje, no Ministério do Meio Ambiente, uma diretoria de assuntos energéticos; em
contrapartida, temos, no Ministério de Minas e Energia, uma coordenação de
assuntos ambientais.
Esse trabalho do CONAMA foi liderado um pouco pelo Governo com atuação
conjunta do Ministério do Meio Ambiente, através do Dr. Eduardo Novaes, e com a
Secretaria de Energia mobilizando toda a representação social contida no CONAMA.
Então, avançamos em dois meses, o que talvez não se tivesse conseguido em um
ano de funcionamento do comitê.
Esse grupo de trabalho de procedimentos simplificados encerrou, aprovou
hoje. Há um outro grupo amplo reexaminando a adequação da regulação ambiental
e possibilidades de simplificação, de aperfeiçoamento dessa regulação. Acho que é
muito positivo que, diferentemente de alguns medos e algumas veiculações, haja
uma consciência do Governo e da sociedade como um todo de não usar a crise para
“baipassar” algumas lentas conquistas que essa sociedade fez na causa ambiental,
mas sobretudo usar essa oportunidade para o aperfeiçoamento dessa legislação.
Pessoalmente, como servidor público e como cidadão, vejo muita positividade
nesse processo que estamos vivendo e acho que vamos abrir conquistas mais
importantes.
Essas eram as considerações fundamentais que podíamos fazer.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Com a palavra o Dr. Irani
Carlos Varella, Gerente-Executivo da Área de Saúde, Meio Ambiente e Segurança
da PETROBRAS.
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O SR. IRANI CARLOS VARELLA - Sr. Presidente, vou ser bastante breve e
considerar alguns pontos nessa questão da geração de energia e na questão
ambiental. O posicionamento que a empresa tem tomado, que já é bastante
conhecido pelos mais diversos segmentos da sociedade e aqui dentro desta Casa
foi, por várias vezes, explicitado.
Dada a vivência ou o tempo em que exercemos o monopólio estatal do
petróleo, evidentemente, a PETROBRAS não se coloca como mais uma empresa
agente na geração de energia ou produção de petróleo no Brasil. Absolutamente, o
tempo que ela teve de monopólio, o tamanho da empresa, por ser uma empresa
estatal, tem responsabilidades as mais diversas na interação com a sociedade como
um todo, mais que qualquer outra empresa, e na construção realmente de regras,
regulamentos, contribuição em tudo o que possa fazer nessa área.
No que se refere à questão de geração de energia, hoje temos, no nosso
planejamento estratégico para 2010, uma definição de a PETROBRAS ser uma
empresa de energia. Estamos colocando hoje também nesse planejamento
estratégico um trabalho em que estamos, nos próximos 5 anos, com investimentos,
em média, de 25 milhões de dólares em energias alternativas, incluindo energia
eólica, energia solar, enfim, efetivos projetos, discutindo-os com universidades e
colocando a geração de energias alternativas, geração de energias renováveis na
nossa matriz energética e, dessa forma, tendo uma transformação de uma empresa
de petróleo para, efetivamente, uma empresa de energia.
No que se refere à questão das termoelétricas, evidentemente, é conhecido
de todos que existe um programa grande no Brasil de implantação de termoelétrica
com uma participação muito forte da PETROBRAS, com investimentos e uma
participação principalmente, porque há uma inserção de mercado de gás,
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consegue-se ter uma inserção tanto para o mercado de gás associado da Bacia de
Campos, como gás da Bolívia, que também tem grandes jazidas de propriedade da
PETROBRAS Internacional.
Nessa linha, nessa construção, nessa fase em que estamos exercitando uma
nova atividade na implantação de termoelétricas, nossa discussão junto a órgãos
ambientais tem sido bastante intensa e temos alcançado resultados bastante
positivos nessa troca.
Nesta semana, está havendo um evento, um workshop em Porto Alegre,
com a participação de dezessete Estados do Brasil, onde estamos discutindo junto a
órgãos governamentais as necessidades e o que se pode fazer dentro da sociedade
para, atendendo as demandas e as exigências ambientais com respeito às questões
ambientais, se conseguir uma velocidade maior na questão de licenciamentos, em
que se possa ter contribuição da empresa e dos órgãos ambientais. Posso dizer a
V.Sas. que está havendo, nesse evento, uma participação efetiva e ampla — são
dezessete Estados que estão participando desse evento, o IBAMA está participando
também — e, sem dúvida nenhuma, estamos vendo como resultado desse trabalho
uma grande contribuição para que se possa ter uma melhoria ainda maior, um
entendimento ainda maior, uma interação ainda maior com órgãos governamentais e
a PETROBRAS para termos a implantação dos nossos investimentos e a geração
de energia necessária para a sociedade em um menor prazo possível.
Posso dizer que a empresa tem envidado esforços nessa direção, tem obtido
resposta dos órgãos governamentais, estaduais e federais.
Desta maneira, acredito que estamos no caminho correto nessa área que,
repito, é bastante nova. A implantação de termoelétricas, sem dúvida alguma, é um
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novo segmento em que teremos o aumento da geração de energia que atenderá as
nossas demandas.
De modo geral, são esses pontos que queria destacar, ou seja, o
comportamento da empresa e os resultados que estamos obtendo. Confiamos que
cada vez mais teremos resultados melhores da sociedade nesse processo de
implantação de geração de energia no País.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Agradecemos ao Dr. Irani
Varella a exposição.
Com a palavra o último orador, Dr. Donizetti Aurélio do Carmo, Chefe do
Departamento de Licenciamento e Coordenação Ambiental do IBAMA, destacando
que está acompanhado do Dr. Erani Bastos, engenheiro agrônomo do IBAMA, e Dr.
Alarico Jacomo, geólogo do IBAMA, representando também o Ministério do Meio
Ambiente.
O SR. DONIZETTI AURÉLIO DO CARMO - Boa tarde, já quase boa noite, a
todos.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Aqui não há crise de
energia, nunca sabemos se é boa tarde ou boa noite; se houve almoço ou não.
O SR. DONIZETTI AURÉLIO DO CARMO - Como temos um relógio ali, que
já marca 17h52min, acho que estamos chegando perto do boa-noite! De qualquer
forma, agradeço o convite a mim formulado.
Acabamos de sair da Câmara Técnica do CONAMA, que está discutindo essa
resolução, que dá nova possibilidade e premissa à celeridade de empreendimentos
de pequeno impacto.
Nesses 45 dias em que discutimos, conforme relatado aqui pelo nosso
colega, hoje representante do Ministério das Minas e Energia, que esteve do nosso
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lado há bem pouco tempo no Ministério do Meio Ambiente, foi-nos permitido de
maneira bastante concreta e clara definir um novo rumo do chamado conflito energia
versus meio ambiente.
Há bem pouco tempo, o setor energético era visto como um vilão pela área
ambiental e a área ambiental era vista pelo setor energético como aquela que
dificultava a implementação e implantação de empreendimentos.
Infelizmente a crise é dolorosa; por um lado, permite que seja um momento
rico em criatividade; por outro, pudemos chegar a um denominador comum.
Procuramos atender o que estava estabelecido na Medida Provisória nº
2.152, que estabelecia no seu art. 8º o que é empreendimento de pequeno impacto
e pequeno porte.
Conceituar isso para a área ambiental é extremamente complicado. De que
forma fazer esse conceito? Quais vertentes, quais matrizes, que cruzamentos
poderia haver num ecossistema extremamente variável, muitos deles até em
situação bastante frágil, como o caso da Mata Atlântica, e enquadrá-los num país de
tão grande dimensão continental? Mas conseguimos chegar.
A resolução acabou de ser discutida e com certeza haverá modificações que
infelizmente não tenho. Mas acredito que muito pouco tenha sido modificado, porque
nesses 45 dias conseguimos chegar a um equilíbrio e bom termo nos conceitos e
nas discussões.
O que vem a ser — vamos dizer assim — impacto ambiental de pequeno
porte? Simplesmente, o empreendedor estará apresentando ao órgão ambiental
licenciador um relatório de avaliação ambiental simplificado, que trata dos estudos
relativos aos aspectos ambientais, relacionados à localização, instalação, operação
e ampliação de uma atividade empreendimento, apresentada como subsídio para a
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concessão da licença prévia requerida. Esta conterá, dentre outras, as informações
relativas ao diagnóstico ambiental da região da inserção do empreendimento, sua
caracterização, a identificação dos impactos e das medidas de controle, mitigação e
compensação. O empreendedor apresenta esse relatório com as devidas
informações. O órgão ambiental, mediante avaliação e logicamente uma vistoria
técnica do local, emitirá um laudo, dizendo que o empreendimento está dentro da
categoria de pequeno impacto e pequeno porte e terá sua celeridade implantada na
sua análise.
Eu gostaria de abrir um parêntese, para dizer que, na gestão do ex-
Presidente do IBAMA, que está presente, Dr. Eduardo Martins, essas questões
começaram a ser discutidas. Lembro-me bem — e o Dr. Eduardo também pode
lembrar-se — que fizemos um workshop no IBAMA com a ANEEL, para discutirmos
esses procedimentos, em função da mudança do paradigma que havia no setor
energético.
A resolução CONAMA de 1986 é tácita, inclusive está sendo objeto de
revisão, porque o modelo que lá estava e que refletia aquela Resolução nº 6 era um
modelo de investimento estatal para os grandes empreendimentos do Estado. Hoje
não é mais assim. O empreendedor privado está presente, modificando essas
relações.
Outra questão que gostaria de ressaltar é que nessa resolução existe uma
proposta de conteúdo mínimo para o relatório ambiental simplificado, que acabamos
de citar.
No primeiro item, existe uma descrição do projeto, sua localização, sua
inserção nas políticas setoriais, planejamentos e programas governamentais.
Posteriormente, um diagnóstico e prognóstico ambientais, que abordará a tríade que
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separa o meio ambiente, que é o meio físico, o meio biótico, o meio socioeconômico,
versando sobre as suas alternativas, os horizontes de tempo, a incidência dos
impactos ambientais e também uma catalisação da qualidade ambiental da área de
influência, considerando essa interação entre os diferentes ambientes.
Num terceiro item, serão abordadas as medidas mitigadoras e compensatórias,
negociadas juntamente com os órgãos ambientais, para que aqueles impactos
temporais e sua magnitude, já caracterizados como de pequeno impacto, possam
ainda ser evitados.
Ainda no bojo dessa resolução, gostaria de chamar a atenção sobre o seu art.
3º, § 2º, que trata da outorga do direito do uso do recurso hídrico ou reserva a
disponibilidade, conforme prevê a Lei nº 9.433, de recursos hídricos, que deverá ser
requerida concomitantemente à licença prévia, junto à autoridade outorgante
competente. Quer dizer, se o empreendimento foi instalado em determinada bacia
hidrográfica, o proprietário, o dono, ou — vamos dizer assim — quem tem o registro
ativo dentro da ANEEL, deve requerer junto ao órgão competente, seja estadual ou
federal, a sua outorga ou a sua reserva de disponibilidade hídrica.
Isso nos remete à possibilidade de conflitos de uso dos recursos hídricos. A
instalação de uma usina hidrelétrica, mesmo que seja ela de pequena monta, deverá
ser feita em uma área em que não haja competição pelo recurso hídrico,
preferencialmente.
Outro item muito interessante para dar celeridade a esse processo: os
empreendimentos que serão sujeitos ao licenciamento ambiental, no seu caráter
simplificado, o órgão ambiental terá o prazo máximo de até dez dias úteis, para
responder ao empreendedor. O órgão ambiental deverá ser rápido para responder.
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Outra questão que está bastante clara: o prazo para emissão das licenças é
de sessenta dias. Não estão descartadas as audiências públicas. Transformamos
esse conceito em reunião pública, que poderá ser requerida, conforme a resolução
do CONAMA, por um grupo de, no mínimo, cinqüenta cidadãos. A velocidade e a
apresentação desse projeto deverá estar dentro do prazo de sessenta dias.
Outro assunto bastante discutido é o aspecto jurídico do tema. Se um
empreendedor disser que o seu empreendimento é de pequeno impacto e o órgão
ambiental identificar que não é assim, poderá ser solicitada a revisão da
documentação apresentada e que esse empreendedor a apresente de acordo com
os trâmites normais, isto é, pelo sistema de Estudo de Impacto Ambiental.
O art. 12 determina que o órgão ambiental competente, mediante decisão
motivada, assegurado o princípio contraditório e ressalvadas as situações de
emergência ou urgência, poderá, a qualquer tempo, modificar as condicionantes e
as medidas de controle e adequação do empreendimento, suspender e cancelar
licença expedida, quando ocorrer.
Quanto à violação ou inadequação de qualquer condicionante ou infração de
normas legais, superveniência de graves riscos ambientais ou à saúde, o parágrafo
único estabelece que é nula, de pleno direito, a licença expedida, com base em
informações ou dados falsos, enganosos ou capazes de induzir ao erro, não
gerando a nulidade qualquer responsabilidade civil para o Poder Público em favor do
empreendedor. Isso traduz uma garantia legal e as penas da Justiça àqueles que
tentarem apresentar um relatório ambiental simplificado, buscando partir por esse
caminho, para ter celeridade na implantação dos seus empreendimentos.
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As demais legislações e leis ambientais perpassam por essa resolução que
ora acabamos de aprovar no plenário do CONAMA. Já havia sido aprovada ontem
na Câmara Técnica. Hoje foi aprovada no plenário do CONAMA.
Eram essas as minhas palavras. Estamos à disposição para eventuais
perguntas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Está aberto o período de
debates. O primeiro inscrito é o Deputado Luiz Ribeiro. (Pausa.) Ausente.
Concedo a palavra ao Deputado Fernando Ferro.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sr. Presidente, senhores
debatedores, não faço parte da Comissão nem desse grupo, mas estou
particularmente interessado neste assunto em razão do acompanhamento da
Comissão Mista do Congresso que está tratando da crise de energia.
É evidente e natural que, em um momento de crise como este, surja uma
série de apelos e tentações para que afrouxemos certas exigências quanto à
questão ambiental. Ouvimos alguns debatedores que reclamaram do rigor com que
é tratada a questão ambiental na definição de certas plantas de geração. Afirmaram
que o País está perdendo com isso e é necessário que se façam modificações. É
evidente que somos favoráveis ao amplo debate, para estabelecer cada vez mais
mecanismos mais eficazes e completos para tratar desse assunto.
Uma preocupação que me vem em uma discussão como essa, quase
sempre, é que não perdemos o estilo e a cultura de tratar a questão energética
como se fôssemos um país do Primeiro Mundo. Há uma intenção cultural nossa, de
todos nós, de copiar padrões de consumo do Primeiro Mundo. Será seguramente
impossível manterem-se os limites que a natureza tem, as dificuldades que
apresenta e as crescentes exigências ambientais. Freqüentemente, tratamos do
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assunto como se no futuro fôssemos ser a Alemanha, França ou os Estados Unidos.
Essa é uma tentação cultural de que copiando seremos iguais.
Creio que devemos estar atentos neste debate, principalmente em um
momento de crise como o atual, para discutir sobre conservação e eficiência
energética. Existe também a sustentabilidade ambiental. Se não combinarmos esse
tipo de discussão, estaremos enganando e mentindo para nós mesmos, criando
padrões de consumo que não teremos condições de manter. Até por uma questão
de civilização, teremos que evitar.
A Europa faz hoje um grande esforço para reduzir em 20% a emissão de CO2.
Em debate que participei na Bélgica, o ano passado, falou-se nesse esforço de
introduzir cerca de 15% a 20% na matriz energética dele às fontes renováveis, para
ver se consegue conter isso aí.
A minha preocupação é que, em um debate como este, quase sempre
relegamos, desconhecemos a cultura de consumo pela qual estamos tomados. Há
limitações que esquecemos. Até recentemente, nós nos víamos como um país de
vastos recursos ambientais, de possibilidades imensas, para nos preocuparmos com
isso? Mas acho que deve fazer parte deste debate a mudança cultural no tratamento
da energia.
O Governo tem que incluir na agenda do debate da crise o debate pedagógico
do uso da energia. A crise está servindo para aprendermos. A população, na força
do chicote, está aprendendo e economizando, principalmente os consumidores
residenciais, que foram os mais chantageados, ameaçados e punidos, que
começam a ter uma certa consciência. Estão vendo que podem sobreviver com a
redução de energia.
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Há duas semanas, aprovamos uma lei que trata da conservação e deficiência
energética. Fazia nove anos que estava sendo discutida. Mais uma vez a crise
acelerou o assunto, e o trataremos com mais responsabilidade.
O Projeto de Lei nº 2.905, que o Deputado José Carlos Aleluia está relatando,
traz uma série de inovações na área das fontes energéticas.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Esta Comissão também
relata o mesmo projeto de lei. É simultâneo.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Eu tenho acompanhado esse
projeto de lei que está aqui. Íamos ter hoje uma discussão a respeito na Comissão
de Minas e Energia. Ele está em caráter de urgência urgentíssima, mas acho que
agora só no mês de agosto.
Mas é importante, porque alerta para isso, inova e traz importantes
contribuições na área da conservação de energia e principalmente das fontes
renováveis, como a biomassa e outras.
É importante a apresentação do IBAMA a respeito das Pequenas Centrais
Hidrelétricas — PCHs. É estabelecido um parâmetro energético de 30 megawatts
como referência. E 30 megawatts podem causar um desastre ecológico.
Dependendo das condições de uma inundação, uma usina de 30 megawatts pode
provocar um bruto impacto ambiental.
É preciso definir — o projeto inclusive não atenta para isso — qual é a área
inundada correspondente a esses 30 megawatts. Então, são questões desse tipo
que tem...
(Intervenção inaudível.)
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Sim. Esse é um projeto de lei. Se
não atentarmos para isso no projeto de lei, evidentemente há uma resolução do
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CONAMA, mas haverá também um projeto de lei que vai dar oportunidade de
inundar o quanto se queira. Então, é preciso atualizar isso aqui. E eu tenho alertado
em relação a essas questões.
Um debate como esse propicia essas e outras observações, buscando a
construção de elementos de adaptação da nossa situação à crise.
Por último, Sr. Presidente, todo encontro desse tipo me dá a impressão de
que trabalhamos nessa questão com uma dispersão incrível. Particularmente, quero
enfatizar uma situação que eu senti no debate com os órgãos públicos, com o
Governo.
Foi falado aqui do Conselho Nacional de Política Energética — CNPE. Este
Conselho tem papel importantíssimo para definir e elaborar um ambiente de debate
a respeito de política energética. Eu tive acesso a um dos relatórios do Conselho
Nacional de Política Energética, assinado inclusive pelo Ministro. Num dos debates
dessa Comissão, o Ministro Pedro Parente, cujo nome estava nesse relatório que
continha uma série de informações atuais em relação à crise, além de observações
muito sérias sobre ações do Governo que poderiam ter sido promovidas e
praticadas, inclusive para reduzir esse impacto. S.Exa., embora tenha colocado seu
nome no relatório, não sabia que o mesmo existia e até mesmo negou o fato
publicamente, afirmando que não o tinha assinado. O relatório alertava a respeito.
O que me preocupa é termos uma série de informações desagregadas em
vários órgãos do Governo tratando de assuntos diversos, algumas até bem
elaboradas. No entanto, são dispersas e desarticuladas politicamente. Por que não
existe uma visão de política energética para tratar disso? Não existe planejamento.
Nós não temos planejamento energético.
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Eu discordo da afirmação do representante do Ministério de Minas e Energia.
Se houvesse um planejamento energético, nós não estaríamos nessa situação.
Houve o planejamento de uma crise. Isso é o que houve. Nós destruímos, de certa
maneira, uma estrutura que discutia e planejava, mal ou bem, o setor elétrico
brasileiro, e criamos um outro escopo e um outro esqueleto de leis que não estão
ainda respondendo a essa realidade. O ONS (Operador Nacional do Sistema
Elétrico), a ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) e o MAE (Mercado
Atacadista de Energia), cada um no seu momento, não respondem às exigências do
modelo energético, particularmente no setor elétrico.
Essa é uma discussão em que é preciso estar tranqüilo e não é preciso agitar
ninguém. Estamos num final de Governo. Vamos ter que fazer uma discussão sobre
essa estrutura. É lamentável que essas coisas aconteçam num ambiente de crise,
mas vamos ter que fazê-la.
Nós quisemos, por bem ou por mal, copiar um determinado modelo inglês,
principalmente na reformulação do setor elétrico, que não serve no nosso caso
particular, tanto não serve que resultou na crise. Construímos uma série de
instrumentos, como a ANEEL, que, como agência de regulação, deveria ter uma
postura nesse momento da crise. Não a teve e terminou por ser obrigada a fazer
uma intervenção no Mercado Atacadista de Energia, que é um ente privado. O
Operador Nacional do Sistema Elétrico — ONS é outro ente privado.
No projeto do Deputado José Carlos Aleluia está sendo sugerido que é o
Estado que financia esse ente. Quer dizer, trata-se de dinheiro público para financiar
o ONS. Temos que discutir como é que vamos fiscalizar e regular o ONS. Já
estamos sabendo, por exemplo, que há pessoas no ONS ganhando salários
impressionantes, salários vultosos, Sr. Presidente. Nós não podemos fiscalizar isso,
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nem com o Tribunal de Contas da União, nem com o Ministério Público, pois se trata
de um ente privado. Como é que vamos lidar com isso? É preciso construir os
elementos para que o Estado e a sociedade possam interferir nesse assunto. É
preciso fazer, evidentemente, uma discussão sobre política energética a fim de dotar
o País de uma estrutura de lei e de um corpo que consiga conjugar o seu esforço
técnico e o seu saber acumulado nessa área com a necessidade de legislação
atualizada para enfrentar esse momento.
Deixo essas preocupações que estavam fazendo parte inclusive da nossa
discussão na Comissão Mista do Congresso.
Provavelmente, iremos convidar os representantes da área ambiental, uma
área que está faltando dar opinião sobre a crise energética. Evidentemente, temos
que ter um compromisso entre a exigência de superar e de vencer a crise e respeitar
o desenvolvimento sustentável e ter uma política que reconheça o papel cada vez
mais importante da questão ambiental. Eu falo como engenheiro eletricista, com
dezesseis anos no setor. Sempre estive do lado de lá, vendo o rio como caudatário
natural de utilização para gerar energia. Mas também aprendi algo com populações
atingidas por barragens. No Brasil se criou algo chamado MAB — Movimento de
Atingidos por Barragens, um movimento social resultante da agressão de grandes
empreendimentos e hidrelétricas sobre populações, que termina por nos sensibilizar
e nos contamina, para tomarmos atitudes e posturas no sentido de compreender a
importância desse debate no marco de um País que se pretende civilizado e
democrático.
Acho importantíssimo o que foi dito sobre as energias alternativas,
particularmente da energia eólica. No ano passado, na Comissão de Minas e
Energia, fizemos um seminário sobre energias alternativas e convidamos
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especialistas de várias áreas. Ali foram ditos todos os elementos básicos. Ficamos
sabendo que temos quase 30.000 megawatts de energia inventariada eólica. Quer
dizer, trata-se praticamente de 50% do total instalado no Brasil hoje, que está
disponível. Para isso ser viabilizado, é preciso vontade política. Há que se ter
vontade política para entrar nessa área. O Brasil, inclusive, já começa a ter seus
centros de pesquisa e áreas de desconhecimento. Há disponibilidade, além da
capacidade até em termos internacionais, de corresponder a curto prazo às
exigências da crise. Os empreendimentos hidrelétricos é até os térmicos são de
maior maturação e, no caso, as fontes eólicas sem sombra de dúvida podem
responder em determinadas condições com bastante eficiência e grande
propriedade, a meu ver, para resolver esta crise que estamos vivendo.
Eram essas as minhas considerações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Utilizando a nossa
metodologia de grupos de três Deputados, vou passar a palavra ao Deputado
Fernando Gabeira.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Sr. Presidente, falo na condição
de membro da Comissão de Defesa do Consumidor, Meio Ambiente e Minorias, da
Comissão Externa para apurar o acidente na plataforma, da Frente Parlamentar
ligada a isso e da Comissão de Racionamento de Energia. Eu deveria ter um pouco
mais de tempo. (Risos.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - V.Exa. terá todo o tempo
que merece.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Eu não vou usá-lo, não.
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Sr. Presidente, eu queria aproveitar a presença de tantas pessoas que
trabalham com esse tema, para ver se conseguimos avançar um pouco, porque nem
sempre conseguimos reunir tanta gente que conhece o tema.
Eu costumo dizer, de brincadeira, que não discutimos a matriz energética
brasileira nesse momento, discutimos a filial.
Quer dizer, a matriz é uma e vamos discutir exatamente aquela parte da
energia que vai fazer uma espécie de backup para a energia hidroelétrica que
temos. Realmente uma escolha muito feliz, no meu entender, como é a escolha da
Noruega.
O Brasil se vê no impasse de necessitar complementar a energia hidroelétrica
e está caminhando muito decididamente para a opção do gás. Acho que não houve
um debate adequado para saber se essa opção é realmente a melhor.
Na verdade, não quero dizer que o gás seria excluído de outra opção. Quero
dizer que é um mix, no qual o gás tem um peso muito grande. O Presidente da
República fala em 49 usinas térmicas. Nós costumamos brincar que serão ou quatro,
ou nove, mas 49 não serão mesmo, porque é um projeto muito ambicioso.
Iniciarei comentando a visão do Vice-Presidente da AES e do representante
do Ministério de Ciência e Tecnologia sobre o preço. Na verdade, quando
comparamos o gás com a energia eólica, aparentemente esta pode parecer mais
cara, mas quando falamos de preço, utilizamos muito aquela expressão que V.Sa.
usou, a viabilidade econômica. Na verdade, hoje vemos cada vez mais que esse
modo de pensar o mundo é muito limitado. Por quê? Porque também temos que
incluir os custos ambientais quando produzimos algo. Não podemos calcular hoje, a
não ser no preço que gastamos nos congressos internacionais, o preço do
aquecimento do Planeta, o preço que representará agora a redução das atividades
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industriais. Tanto que o Presidente George W. Bush resiste a isso, porque não quer
pagar esse preço.
Considero que a questão do gás está sendo conduzida no Brasil de forma
muito rápida. Primeiro, quanto ao preço, que acredito não foi discutido
adequadamente, não só o preço do gás e o preço ambiental, mas também o preço e
a disponibilidade dos equipamentos, porque também há uma procura, assim como
no caso da energia eólica, em que não se tem mais como atender a demanda. No
caso do gás também não se tem muito como atender a demanda. Os Estados
Unidos encomendaram mil e trezentas centrais térmicas. No meu entender, vale a
pena discutirmos um pouco mais sobre o preço.
No caso da energia eólica, teríamos dois problemas a resolver no Brasil. O
primeiro é garantir um preço. O segredo da legislação alemã de 1991 é que todo
mundo que está lá com uma central eólica pode se conectar à rede e a distribuidora
pagará esse preço. O segundo ponto que devemos resolver também é a situação
patética da nossa legislação fiscal.
Hoje, se produzimos em Sorocaba — onde V.Sa. deve ter estado — uma
central eólica, exportamos para Alemanha e desta mandamos para o Ceará. Ficará
mais barato do que produzir em Sorocaba e mandar para o Ceará. A nossa
legislação fiscal é tão perversa que, na verdade, pune quem produz no Brasil e
manda para o Brasil. Portanto, tínhamos que superar esse assunto.
A questão do preço do gás também tem uma interface com a questão
ambiental. V.Sas. que usam certo tipo de água já computaram o preço desta água
na composição final do preço da energia. Todo mundo fala em água no Brasil como
se fosse de graça, pelo menos até o momento se raciocina com a idéia de que a
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água será de graça, mas estamos com os comitê de bacia e com a ANA instalada e
a água será um produto raro e caro. Essa questão também deverá ser abordada.
Vimos agora duas centrais térmicas serem praticamente inviabilizadas. A
primeira, a de Carioba II, irá tirar 33 metros cúbicos por segundo do Rio Piracicaba,
onde a região está com menos água do que o previsto pela ONU para aquela
população. E ainda é vampirizada por São Paulo, que necessita de água.
Portanto, Carioba II não existe e é inviável naquela região. Se fosse examinar
o seu impacto é totalmente inviável. Em Santa Branca — tive oportunidade de
conhecer o local de trabalho de V.Exas., desculpe não citar os nomes, se não
chamarei o Deputado Luciano Pizzatto de Deputada Ana Catarina, porque está tudo
trocado — há um abaixo-assinado de 4 mil e 500 pessoas. Se fosse feito um exame
da bacia aérea se verificaria que a circulação é muito precária. Basta fazer uma
fogueira, pelo menos foi o que me disseram as pessoas que vivem na região, que
não há circulação adequada.
O lugar foi escolhido erroneamente. Não tem sentido colocar essas centrais
térmicas com essas problemáticas. Por quê? Primeiro, não se examinou
adequadamente a circulação aérea; segundo, porque não examinou
adequadamente as condições hidrológicas da região do Rio Piracicaba.
Não adianta fazer um projeto com 49 usinas e depois culpar os ecologistas
por não fazerem as 49 usinas. Acho que não são os ecologistas os culpados. Por
quê? O que se está dando, no caso das termoelétricas no Brasil, é um fenômeno
que já existe nos Estados Unidos em relação à central nuclear. É um fenômeno que
chamamos não no meu quintal, not in my backyard, não no fundo do meu quintal.
A maioria das pessoas está-se articulando para evitar que as centrais sejam feitas
na vizinhança.
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Temos que levar isso em conta. Não são propriamente os ecologistas que
estão dificultando, mas as atuais circunstâncias do Brasil, altamente urbanizado,
com uma série de problemas que exigem que essas centrais térmicas sejam feitas
em circunstâncias muito apropriadas. Isso não foi cumprido até agora e temos que
examinar essa questão.
Proponho que tentássemos conversar um pouco mais. Há outro ponto
fundamental sobre o que não conversamos: o gás é não renovável. Quanto gás
temos? A PETROBRAS acredita que o terá ainda por 25 ou 30 anos. Mas disse o
Sr. Rogério César Cerqueira Leite que a PETROBRAS está equivocada. Como
vamos calcular o preço do gás? O preço do gás será o mesmo quando ele estiver
acabando? Como vamos trabalhar com a escassez, daqui a doze ou treze anos? O
apagão de novo.
É melhor contarmos com os ventos alísios, que desde do princípio é chamado
trade winds, são os ventos de comércio, ventos regulares. São aqueles que estão
na costa do Nordeste. O Atlas que será lançado agora irá mostrar possibilidades no
Rio Grande Sul. Desenvolvemos no Ceará a possibilidade de criar uma usina eólica
em dunas e verificou-se que o litoral do Rio Grande do Sul é excelente para isso.
Por que não reduzirmos um pouco a importância do gás e tentarmos trabalhar com
outro elemento?
Aqui se falou pouco da energia solar. O vento é uma das modalidades, mas
temos a co-geração e a biomassa. Considero solar a energia produzida pelo bagaço
da cana, é a fotossíntese que nos garante isso. Também considero solar o bagaço
da laranja.
Esse mix não está bem trabalhado. Por quê? Por uma questão ideológica, uma vez
que bem trabalhado irá dotar o Brasil de uma sucessão de pequenos produtores de
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energia e mal trabalhado concentrará a energia na mão das grandes empresas do
setor. Desde do usineiro, que irá produzir a energia com a cana-de-açúcar, até o
homem que irá construir uma casa e comprar um sistema solar, um equipamento
para aquecer a sua água, estarão produzindo energia cada um a sua maneira. Acho
que este tem de ser o modelo no Brasil: estimular a descentralização progressiva da
produção e não ficar nos grandes complexos. Portanto, gostaria que os palestrantes
comentassem isso.
A PETROBRAS, por exemplo, está investindo na energia a gás, mas talvez
seja a energia eólica que vá dar uma chance à empresa. Por quê? Porque na
Europa já não há mais lugar para a energia eólica, eles estão offshore. Os senhores
podiam desenvolver, com a capacidade de que dispõem, técnicas supermodernas
de construção de usinas eólicas offshore. Mas é embarcar naquilo que está escrito,
porque no Brasil é assim: depois do um vem o dois; depois do dois vem o três;
depois do três vem o quatro; mas um dia vamos precisar dar um salto. Penso que
dar um salto para o século XXI é buscar uma competitividade maior nesse campo.
Essa é a minha opinião, mas gostaria de ouvir os participantes sobre como
avaliam isso.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Como último inscrito,
antes da reposta, darei a palavra ao Deputado Luciano Zica.
O SR. DEPUTADO LUCIANO ZICA - Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados,
senhores expositores, primeiro gostaria de justificar minha ausência em grande parte
desta reunião por estar participando de outra na Comissão que está elaborando uma
proposta para os combustíveis. Acabei me envolvendo e perdi a exposição sobre a
questão do licenciamento das plataformas. Espero ter acesso ao material
posteriormente.
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Inscrevi-me principalmente em função do debate sobre a crise energética e a
forma como se está buscando resolver a questão. Abordarei primeiro a questão do
gás. Acho até que temos gás para 25 ou 30 anos, de acordo com as negociações
internacionais, o que, evidentemente, está sujeito às intempéries políticas do nosso
vizinho, a Bolívia. Hoje temos grande controle sobre o setor de petróleo daquele país
em função da PETROBRAS, mas estamos sujeitos à entrada de um general que, a
qualquer momento, pode estabelecer um corte e nos deixar num apagão político.
Portanto, não podemos depositar no gás a expectativa de alteração da nossa matriz
energética. Entendo que o gás deve ter papel complementar. Como disse o Ministro
José Jorge, de forma transparente e sincera, numa exposição nesta Comissão, o
gás tem de ser um porto seguro para os momentos de problema de hidraulicidade.
Nesse sentido, não há empresário que vá investir sem a garantia política de
compensação financeira. O único sentido da introdução do gás na matriz energética
brasileira é esse. Do contrário, vamos estar produzindo uma deformação.
Na questão energética, não podemos pensar em soluções que tenham como
limite 25 anos. A construção, por exemplo, de novas hidrelétricas, do
desenvolvimento do projeto à concretização da obra, leva cerca de dez anos.
Soluções de 25 anos, portanto, são de curtíssimo prazo. Não podemos pensar
dessa forma e introduzir como fator de alteração da matriz energética um
componente de vida tão curto como o gás, que tem desenhado indisponibilidade no
Cone Sul, incluindo Argentina, Bolívia e Brasil. Portanto, não podemos considerar
essa hipótese.
Outra questão importante — sou um sonhador e por isso estou aqui como
Deputado militante, que acredita e tem esperança no futuro — é trabalhar as fontes
alternativas. Sem dúvida, a energia solar é fundamental num país como o nosso. É
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absurdo não pensar na biomassa ou em diversas outras fontes decorrentes da
energia solar, como a própria energia fotovoltaica, para o futuro. Pensando em 50
anos, é razoável pensar na energia fotovoltaica como sendo viável. Precisamos
pesquisá-la, assim como a própria energia eólica, subvalorizada, não no sentido
financeiro, como alternativa no Brasil. Muita gente sequer imagina que a produção
dos equipamentos se dá perto da minha cidade, Sorocaba.
Outra questão — vi na mesa uma citação do Dr. Irani, também já mencionada
pelo Deputado Fernando Gabeira — é a situação de Carioba II. Trata-se de grande
irresponsabilidade das autoridades do Governo, Deputado Luciano Pizzatto, pelo
seguinte: todos, em depoimento em diversas Comissões desta Casa, admitem que é
inviável a construção dessa obra. No entanto, a ANEEL licencia a obra e mantém
uma guerra violenta na cidade de Americana e na região, onde, de um lado, há
empreendedores contratando pessoas — que recebem de 20 a 25 reais por
audiência pública e mais um lanche, e são orientadas a promover pancadaria —, e,
de outro, pessoas que combatem sua instalação.
O Ministro José Jorge admitiu, conversando comigo, que o Secretário de
Energia de São Paulo, Dr. Mauro Arce, também acha que é inviável a construção de
Carioba II. No entanto, nenhum deles tem coragem de ir a público e dizer que não
dá para fazer, mas que se pode levar o projeto para a região noroeste de São Paulo,
onde vamos perder um pouco com transmissão, mas há água em abundância, rede
de transmissão, gás da Bolívia, a possibilidade de aproveitamento da cultura da
cana, o reflorestamento para absorver os gases e minimizar o impacto ambiental,
boa dispersão dos gases e uma série de outras condições. Falta ao Governo a
iniciativa e a coragem de orientar o investidor. O que vai acontecer? Possivelmente
deve sair o licenciamento de Carioba II.
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Estou com uma ação pronta, bem fundamentada, com documentação, que
duvido seja negada por algum juiz, via liminar, depois. Trata-se de um prejuízo. Esse
tempo poderia ser ganho direcionando-se o investimento para o lugar correto. Tenho
dirigido apelo sistematicamente às autoridades do Governo no sentido de que
tenham responsabilidade, que evitem o sofrimento existente hoje, como ocorreu com
o caso de Santa Branca. Acho que o complexo Grande São Paulo não pode se dar
ao luxo de agregar novos poluentes atmosféricos e disponibilizar água na vazão de
1,4 metro cúbico por megawatt para gerar energia elétrica. Santa Branca, Capuava,
Grande São Paulo e Carioba II — em Cubatão felizmente já desistiram — usam um
sistema de caixa d’água que não pode mais abrir mão da água. É crime, em troca de
alguns megawatts de energia, ameaçar o abastecimento de água dessa região
metropolitana, cuja situação é dramática.
Com a mudança e o redirecionamento desse investimento, poderíamos ter a
descentralização do desenvolvimento industrial, atraindo mercado consumidor de
vapor e de energia elétrica, até porque em Americana muitas pessoas estimulam a
fantasia de que uma usina termelétrica vai gerar empregos, quando na verdade
pode gerar vinte empregos. Criam também a fantasia de energia local, o que não
existe. O conceito de energia local é uma farsa. Hoje ela não existe mais. Não dá
para dizer que, se não fosse Angra, o Rio de Janeiro estaria sem energia. É uma
besteira falar isso. O sistema hoje é interligado. O impacto da energia de Angra é
nacional.
Portanto, a pergunta que faço àqueles que estão neste debate hoje tratando
da questão da energia é se estão levando em conta o timing dessas demandas,
principalmente em função da disponibilidade hídrica dos grandes centros. Vou
continuar insistindo nessa questão. Lamento profundamente que as autoridades do
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Governo assumam essa verdade nas conversas e não tenham coragem de assumir
para o público algo que diminuiria o risco de apagões no futuro, acelerando o
processo de solução.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Não havendo mais
Deputados inscritos, concedo a palavra a todos os presentes da Mesa para
responderem aos questionamentos.
Com a palavra o Deputado Fernando Gabeira.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Desejo apenas lembrar à
Presidência que, às 19h, inicia-se a sessão do Congresso para completarmos a
votação da LDO.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Talvez consigamos antes
alcançar...
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Tentar evitar que retirem o
dinheiro do Rio São Francisco...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - É verdade. Podemos
tentar almoçar nesse intervalo, não é, Gabeira? Mas tudo bem.
Como o Prof. Célio França tem de dar aula às 19h, vou passar a palavra a
S.Sa., para falar de maneira muito objetiva, porque nossa audiência foi
extremamente complexa. Desenvolvemos os dois temas num dos piores dias da
Câmara: o último dia de votação da LDO.
Tem a palavra o Dr. Célio.
O SR. CÉLIO FRANÇA - Deputado Fernando Ferro, acho que houve um mal-
entendido quando falei sobre o planejamento energético. Em nenhum momento
disse que tínhamos planejamento; disse que neste momento podemos estar
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caminhando para a construção de um novo modelo de planejamento energético na
linha a que V.Exa. se referiu.
Com relação ao consumo de energia, embora não seja especialista do setor
elétrico, temos de pensar sobre alguns aspectos.
Também quero ler um pequeno parágrafo do relatório do CNPE, do Comitê do
Meio Ambiente, a que o senhor se referiu. “A sociedade brasileira vem exigindo a
adoção de práticas e políticas ambientais capazes de conciliar as exigências
energéticas do desenvolvimento econômico-social do País com os princípios do
desenvolvimento sustentável”.
Temos de caminhar cada vez mais em direção à sustentabilidade. A
conservação de energia apresenta uma possibilidade de ganho enorme. A
sociedade está mostrando que um esforço de conservação dá resultados
extraordinários, talvez até muito superiores ao que todos estivéssemos pensando
inicialmente. Podemos evoluir muito mais nesse aspecto, e a conservação, até neste
momento, está vindo basicamente do setor doméstico, que não é o que consome
maior quantidade de energia devido a outras variáveis que temos. Mas não
podemos esquecer que esta sociedade tem um padrão de consumo de energia
ainda muito distante do de países desenvolvidos. Consumimos cinco ou seis vezes
menos do que Europa ou Estados Unidos por habitante, e ainda temos 20 milhões
de pessoas sem acesso à luz, 6 mil escolas e igual ou maior número postos de
saúde sem acesso à televisão, à informação. Eles permanecem completamente
isolados por ausência de energia elétrica.
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - E exportamos alumínio. (Risos.)
O SR. CÉLIO FRANÇA - Neste contexto entro no assunto referido pelo
Deputado Fernando Gabeira, que entusiasma todos nós, cidadãos deste País,
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quando faz afirmações tão lúcidas. E aqui quero comentar alguns pontos, sobretudo
como uma opção de Governo pelo gás. O que me parece — e o que o Deputado
Luciano Zica e o Ministro José Jorge mencionaram não é muito diferente do que
dizia o Ministro Tourinho — é que o gás é a opção de curto prazo para superar
alguns gargalos em termos de geração, na medida em que uma termelétrica pode
ser colocada em funcionamento muito mais rapidamente. Todavia, acho que não há
uma opção do Governo pelo gás, e é preciso darmos maior equilíbrio à nossa matriz
energética, termos uma matriz energética limpa. Uma matriz hidrelétrica altamente
renovável contribui positivamente para as questões climáticas etc.
Eu, como cidadão, estou muito preocupado com o relatório da Comissão
Mundial de Barragens, conquanto tenha uma sinalização muito grande para as
questões ambientais, como mencionou o Deputado Fernando Ferro quanto às
populações atingidas e alguns subprodutos.
O Brasil, com seu potencial hidrelétrico, tem 1% das barragens do mundo, e
há efetivamente uma sinalização por parte do Banco Mundial e de organismos
internacionais de não financiar hidrelétricas, o que nos levará a uma matriz
energética muito mais onerosa se não tomarmos, como Estado, como País, como
sociedade, os caminhos adequados. Há uma discussão ainda muito preliminar,
muito superficial desse relatório da Comissão Mundial de Barragens, que por
enquanto é uma ONG, mas sabemos como essas coisas se articulam.
O modelo de planejamento energético que o Deputado José Carlos Aleluia
incorporou neste projeto vai muito na direção das considerações que fez o Deputado
Fernando Gabeira. Há uma série de questões associadas, que têm de ser discutidas
num patamar que não é o do Ministério de Minas e Energia, mas da sociedade como
um todo. Vamos ter de fazer opções. Energia e meio ambiente, essa vai ser sempre
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uma equação muito delicada, até porque, pela lei de termodinâmica, não há energia
sem alguma afetação ambiental.
Finalmente, o Deputado Luciano Zica tem toda a razão. Na primeira
proposição das 49 termelétricas não se levou em conta, efetivamente, a
disponibilidade hídrica. Neste momento, está no Rio Grande do Sul uma equipe
nossa reunida com representantes de órgãos estaduais de meio ambiente, do
IBAMA, tentando definir alguns critérios de licenciamento, até para dar aos
empreendedores sinalização efetiva a algumas decisões de colocação das
termelétricas próximas à rede, em locais em que realmente há uma exacerbação da
questão da água, e a água é fundamental no caso. Neste momento estamos
fazendo a revisão, a reavaliação desse processo.
Eram essas as minhas considerações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Vamos dispensar o Dr.
Célio França para que possa dar sua aula na FGV, que certamente muito a
apreciará. Esperamos em breve tê-lo aqui novamente.
Tem a palavra o representante do Ministério do Meio Ambiente, Sr. Alarico
Jacomo.
O SR. ALARICO JACOMO - Sr. Presidente, quero apenas prestar um
pequeno esclarecimento quanto à disponibilidade hídrica para implantação de
empreendimentos dessa natureza.
Na medida provisória que o Governo baixou em razão da atual crise é
estabelecida alguma celeridade para o processo de licenciamento ambiental, de
impedimento de pequeno impacto. Nesses 45 dias de reunião, conseguimos, tanto o
setor energético quanto a área ambiental, incluir esse item na nossa resolução —
acho que o senhor não estava presente, e eu gostaria de repetir: a outorga do direito
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do uso do recurso hídrico ou reserva disponibilidade terá de ser obtida junto com a
licença prévia.
(Intervenção inaudível.)
O SR. ALARICO JACOMO - O senhor está “bastante por dentro”, como se
diz no linguajar do dia-a-dia. O senhor está dizendo que deveria estar.
Como falava, o empreendimento a ser licenciado no processo de celeridade
que agora se inicia deverá apresentar junto o pedido de outorga; quer dizer, ele vai
garantir a disponibilidade hídrica. A nossa idéia é que se peça ao órgão competente:
no âmbito federal, à ANA, e logicamente o pedido perpassará pelo Comitê de Bacia;
no âmbito estadual, à Secretaria de Recursos Hídricos ou ao órgão competente.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Tem a palavra o Sr.
Edson Cruz de Sá, representante da El Paso Energy International.
O SR. EDSON CRUZ DE SÁ - Sr. Presidente, quero apenas complementar
algumas informações. O ilustre Deputado não estava aqui quando fiz a
apresentação. O Deputado Fernando Gabeira, nosso conterrâneo, sim. Fico
satisfeito em ver que alguns pontos que estão sendo abordados em âmbito federal já
estamos praticando no Estado do Rio de Janeiro.
Há necessidade de verificação da outorga, quando já concedida a licença
prévia, e isso está sendo feito. Nas questões locacionais, um dos antecedentes ao
próprio pedido de licença tem sido a verificação da viabilidade ambiental do
empreendimento. Tem sido feito um diagnóstico ambiental simplificado, da maneira
como está sendo preconizado agora pelo CONAMA.
Quanto às diversas formas de energia, acho que não existe uma limitação ou
um antagonismo na utilização de diversas fontes. Defendemos que nem todas as
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fontes de energia são boas para cada lugar. Então, devem ser estudadas aquelas
formas mais viáveis e que realmente podem ser aproveitadas no contexto
econômico estadual e federal. No momento em que temos um sistema energético
todo interligado, é fundamental que isso seja abrangido. Acho fundamental que a
legislação tratando disso seja discutida.
Era só o que eu gostaria de falar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Muito obrigado.
Passo a palavra agora ao Dr. José Carlos Gomes da Costa.
O SR. JOSÉ CARLOS GOMES DA COSTA - Obrigado, Sr. Presidente.
Farei três comentários. Primeiro, para o Deputado Fernando Ferro, sobre a
observação de eficiência energética. Pelo menos no que diz respeito ao Ministério
da Ciência e Tecnologia, no seu engajamento na agenda positiva para minimizar os
efeitos da crise, estamos adotando algumas medidas de apoio a iniciativas nessa
área.
Uma delas é a concessão de bolsas, o que está dentro das nossas
possibilidades, do CNPq, para que o SEBRAE, as federações de indústrias e até
mesmo as próprias empresas possam ter técnicos devidamente treinados nos seus
quadros que possam minimizar os efeitos do consumo de energia, utilizando os
preceitos da eficiência energética. Isso vai desde a troca de equipamentos até a
troca do processo, já que são bolsas que podem durar até dois anos e, bem
fundamentadas, podem dar um resultado muito importante para a empresa ou grupo
de empresas numa determinada região.
Temos uma experiência muito bem-sucedida na Federação das Indústrias do
Rio Grande do Sul, que pretendemos expandir para o Brasil inteiro. Iniciativas nessa
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área serão bem-vindas. Temos um edital praticamente pronto. Dentro de quinze dias
vamos lançá-lo. São 10 milhões de reais em bolsas somente para isso.
Outro item é a montagem de toda uma estrutura de certificação de produtos e
de equipamentos que utilizem energia elétrica. Foi aprovado há duas semanas um
projeto de lei bastante importante, criando indicadores mínimos de eficiência
energética. Então, já estamos capacitando a universidade, o centro de pesquisas
para fazer essa certificação dentro de itens que estão sendo negociados com o
Ministério de Minas e Energia, para saber quais os produtos que deverão ter
prioridade, porque nunca há recursos para fazer tudo ao mesmo tempo.
Chamaria a atenção também, para efeito de demonstração, que pretendemos
ter, a partir de setembro ou outubro — acho que dá para fazer em setembro —, a
montagem de show rooms ou feiras tecnológicas para mostrar tecnologias
recentes, desenvolvidas seja em universidades e centros de pesquisas, seja em
empresas brasileiras, a fim de que possam ser divulgadas, se já tiverem produção,
ou comercializadas, a partir do momento em que essas pequenas empresas,
incubadas em universidades públicas, possam mostrar o que têm a oferecer na atual
situação de crise. A FINEP vai estar lá, pois é um banco de fomento de tecnologias
dentro do Ministério da Ciência e Tecnologia, assim como o BNDES. A FINEP vai
até o lote-piloto e depois, de lá, entra o BNDES, se for uma ampliação industrial de
maior monta. São iniciativas que estão acontecendo, mas a mobilização e a
elaboração de medidas que sejam duráveis e permaneçam no tempo, não se
acabem com a primeira chuva, demandam certo trabalho. Imagino que isso esteja
acontecendo.
A chamada nacional pública de produtos já está, a partir de hoje, no site do
Ministério da Ciência e Tecnologia, dentro do quadro da FINEP. Vamos receber
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idéias até o final de julho. Não se trata de desenvolvimento tecnológico, pois não há
um centavo sequer envolvido nele. Queremos mostrar. E obviamente vamos mostrar
esses produtos dentro de um site específico que o Ministério da Ciência e
Tecnologia está montando e, daqui a uma ou duas semanas, vai estar em operação.
Primeiro ficou numa linguagem técnica demais. Então, estamos colocando numa
linguagem mais prática.
Faria duas observações para o Deputado Fernando Gabeira sobre a questão
de a energia eólica parecer cara. Hoje, existe uma legislação. Como V.Exa. bem
citou, temos aqui o Demóstenes da Silva, que participou de sua elaboração. Eu era
do Ministério de Minas e Energia também, e o Demóstenes nos auxiliou muito na
formatação desse novo setor elétrico brasileiro. Nesse conjunto — estou citando o
Demóstenes porque ele talvez possa complementar —, a legislação determina que
existam os contratos iniciais. Ou seja, as concessionárias têm quatro anos em
percentagens decrescentes de venda garantida. A partir daí, elas vão ter de disputar
mercado.
O que acontece com a energia eólica? Ela ainda é mais cara, desde a
consideração da ANEEL, com um valor normativo 55% acima da hidrelétrica, até
dentro de medidas em estudo que vão incentivar a energia eólica, com a aceitação
de um preço maior na faixa de 105% a 115%. Isso está em análise. Mas quando
acabar o contrato inicial, na COSERN, no Rio Grande do Norte, por exemplo, ela vai
ficar com um “mico”, a partir do momento em que outra empresa de energia elétrica
tiver um contrato de fornecimento de energia apenas hidráulica. Se conseguir um
bom contrato com a CHESF de fornecimento hidráulico, ela vai ter um preço mais
baixo. E a indústria de sal do Rio Grande do Norte, em vez de comprar da COSERN,
que vai ter de colocar no seu preço o custo da energia eólica, vai preferir comprar na
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Paraíba, que é, por exemplo, somente hidráulica. Essa é a forma como está
concebido.
Do jeito como está sendo examinada, está se pensando sempre num
subsídio, na compensação de uma estatal, como a ELETROBRÁS, a exemplo do
que foi feito pela PETROBRAS no caso do gás. Mas tudo isso é transitório se não
houver um instrumento forte como são os artigos da chamada Lei...
O SR. DEPUTADO FERNANDO GABEIRA - Queria acrescentar um ponto a
essa sua reflexão. No caso do Nordeste especificamente, a CHESF vende uma
energia muito barata. Ela está comprimida artificialmente. O preço da energia que
ela vende não é real, é o mais barato do mundo.
O SR. DEPUTADO FERNANDO FERRO - Há outra questão, da qual não sei
se os senhores têm conhecimento. A Europa recentemente estabeleceu uma tarifa
da poluição, algo em torno de 45 a 50 dólares por megawatt/hora, para as fontes
tradicionais. É o custo da poluição. Qualquer tarifa que se tiver hoje teria de
incorporar esse valor, para fazer efetivamente uma análise de viabilidade econômica
das diversas modalidades de energia. Eles já estabeleceram isso, e esse elemento é
interessante para não fazermos essa discussão, sempre comparando, tendo uma
visão seca desses valores, que não são realistas. Já se estão estabelecendo
parâmetros para computar o impacto ambiental das diversas fontes de geração.
O SR. JOSÉ CARLOS GOMES DA COSTA - Permita-me um comentário
sobre isso. Temos de trabalhar com os fatos na forma como eles aparecem hoje.
Essa é uma hipótese que deveria ser considerada sempre na formatação de um
projeto de grande porte como é a questão de energia eólica, como está sendo
ventilado pelos Estados do Rio Grande do Norte e do Ceará. São projetos muito
grandes, em função dos 20 megawatts que hoje existem na prática no País.
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Podemos fazer comparações com o que aconteceu, por exemplo, com o
ex-Ministro César Cals, de Minas e Energia, que propôs um programa de carvão em
cima de 5 milhões de toneladas ao ano e quis levar para vinte. Mal saíram quatro ao
final do tempo dele. Temos o próprio programa nuclear. Independentemente das
razões, eram não sei quantas usinas, acabaram saindo duas e está sendo discutida
a terceira.
Existem tantos outros programas de grande porte, como o próprio Programa
Nacional do Álcool. Demorou muitos anos até que se formasse a infra-estrutura de
comercialização do produto, o álcool hidratado, porque envolvia não só o
investimento na usina em si, mas também na comercialização e na utilização.
Todos esses programas de grande porte, se não estiverem muito bem
amarrados, correm alto risco de cair no descrédito. E não podemos estar sob a
ameaça de que uma importante fonte de energia, tida como a primeira do ponto de
vista do Ministério da Ciência e Tecnologia, como é o caso da energia eólica, peque
por questões ainda não completamente resolvidas. Não podemos lançar programas
enormes — 4 mil, 6 mil são números muito altos — que, daqui a dois anos, corram o
risco de estar desativados por falta da mencionada complementação de preço, falta
de estrutura ou indefinição sobre quem vai pagar a conta ou como esta será
distribuída. Se tudo isso não for definido, as usinas acabarão sendo desligadas,
assim como as bombas de álcool hidratado estão sendo desativadas em nossos
postos de combustível, desfazendo um tremendo investimento do País numa
importante alternativa energética.
O Deputado Fernando Gabeira falou também sobre a questão fiscal dos
geradores. Realmente há alguns detalhes muito interessantes na legislação. Desde
1997, se não me engano, existe uma resolução do CONFAZ que isenta a geração
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eólica do ICMS, desde que haja isenção do IPI. Em julho de 1999, o Ministério da
Fazenda taxou os geradores eólicos e a energia solar em 1%, o que, na verdade,
representou 18% ou 19%, dependendo do Estado, porque houve o acúmulo com o
ICMS. O MCT solicitou à Câmara de Gestão que zerasse o IPI e foi atendido. De
modo que relativamente aos equipamentos prontos a questão já está resolvida.
O que não conseguimos resolver ainda é o caso que citei do gerador em si,
do equipamento, produzido no Brasil, já que a Wobben se comporta como uma
montadora. Não consta da legislação como diferenciar um gerador destinado a um
equipamento eólico de um gerador destinado a um equipamento convencional.
Essas dificuldades ainda fazem com que, nos dias de hoje — esperamos que
consigamos resolver isso com os Ministérios da Fazenda e de Minas e Energia —,
seja mais barato importar o conjunto pronto do que tentar montá-lo aqui. No entanto,
estamos promovendo ações junto aos dois Ministérios para que isso se resolva.
Eram essas as observações.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Com a palavra o Sr. Irani
Carlos Varella.
O SR. IRANI CARLOS VARELLA - Sr. Presidente, vou ser bastante rápido
em meus comentários.
Se considerarmos os três grandes itens da questão ambiental, como
biodiversidade, mudança de clima e água, que parecem ser as três macroquestões
ambientais neste século, e adicionarmos a eles as questões de energia e de
educação — tomada a energia tanto sob o aspecto da geração quanto sob o
aspecto da forma de utilização e do não-desperdício, que está ligado à educação, e
esta, por sua vez, à sustentabilidade dos processos de desenvolvimento de uma
sociedade —, sem dúvida nenhuma, a PETROBRAS está levando em conta todas
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essas questões em planejamento estratégico e tomando medidas efetivas nessa
direção.
Temos apoiado vários projetos ligados à biodiversidade; estamo-nos
inserindo, não de maneira tímida, mas incipiente, no que se refere às questões de
mudança de clima; estamos lançando um programa de desenvolvimento sustentável
que inclui o bom uso da água dentro da empresa, na questão de efluentes e de
utilização da água.
Neste momento, temos mais de cem técnicos da empresa, de diversas partes
do País, reunidos, discutindo as questões de efluentes, de poluição e de reutilização
da água.
Ao mesmo tempo, como citamos anteriormente, há um grupo de técnicos de
dezessete Estados do Brasil, juntamente com técnicos do IBAMA e com forte
participação da PETROBRAS, reunidos no Sul, discutindo a questão do
licenciamento ambiental, a uniformização, enfim, tentando obter um consenso da
sociedade para a solução dessas questões.
Também, como disse, estaremos investindo cerca de 25 milhões de dólares
nos próximos anos em fontes renováveis de energia, o que inclui biomassa, células
de hidrogênio, energia eólica e solar. Enfim, estamos trabalhando para nos
transformar em uma empresa de energia e, sem dúvida alguma, assumindo parte da
responsabilidade por sermos uma empresa estatal que por longos anos exerceu
monopólio. Estamos interagindo fortemente tanto com órgãos ambientais quanto
com comunidades e Municípios. Estamos fortalecendo esse trabalho.
Não tenho dúvida de que posso dizer, com muita convicção, que a
PETROBRAS está efetivamente desempenhando um papel social bastante forte,
bastante consistente, que, acredito, atenderá exatamente às questões levantadas
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pelos senhores. Não tenho dúvida de que, num curto espaço de tempo, veremos os
resultados dessas ações. Já temos vários projetos pilotos, com trabalhos em
desenvolvimento nos centros de pesquisa, e manteremos contato com esta Casa,
mostrando, através de relatórios, como vêm progredindo os trabalhos realizados na
PETROBRAS.
Obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Com a palavra o Sr.
Manoel Montenegro Neto.
O SR. MANOEL MONTENEGRO NETO - Escutei com muita atenção os três
Deputados que apresentaram questões.
Antes de mais nada, gostaria de dizer ao Deputado Fernando Gabeira que o
Rio Grande do Norte e o Ceará já fizeram legislações próprias. Isto aqui é termo de
compromisso, não é mais protocolo de intenções, como se fazia no passado.
O dever de casa desses Estados já está feito, ou seja, no que diz respeito à
área fiscal, o problema está resolvido: no dia 14 de junho, o Governador do Estado e
a empresa que se propõe a gerar energia assinaram um termo de compromisso.
Também gostaria de dizer a V.Exa. que, sobre essa história de que não existe
mais demanda de indústria a que possa atender, também existe muita conversa
fiada por aí. Estou aqui com um documento assinado pela empresa que, há poucos
dias, em Natal, firmou termo de compromisso com o Governo do Estado. A empresa
comprometeu-se a instalar, inicialmente, 500 megawatts de energia eólica no
Nordeste brasileiro. E o Governo do Rio Grande o Norte deu a ela, por escrito, um
prazo de noventa dias para apresentar o projeto dos 100 primeiros megawatts.
Veja bem V.Exa. que se está falando muita coisa. Estive com a Diretoria da
Enecom, mês passado, na Alemanha, estive com eles ontem e estarei com eles
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amanhã, no Rio de Janeiro, quando visitarei sua fábrica, em Sorocaba. A empresa
está com uma produção aproximada de duzentos aerogeradores de 600 quilowatts.
No entanto, não há mercado no Brasil para esse produto. A empresa está vendendo
a energia para a Argentina e mandando-a para a Europa, a Turquia, o Japão e a
Índia, que está sendo viabilizada pela energia eólica.
Estamos com pouco tempo, mas, se V.Exas. assim o quiserem, posso
informar o percentual de energia eólica instalada em cada país do mundo.
A Jacob está chegando ao Brasil na próxima semana, mas não quer entrar
em lobby. Eles chegaram ao Rio Grande do Norte, ao Ceará. Posso afirmar-lhes
isso, conforme noticiou O Povo ontem, jornal de Fortaleza. Faz-se um contrato, uma
empresa investidora, com protocolo de intenção, para negociar na Europa, com os
industriais, a montagem de uma parque eólico no Ceará, e não são os industriais.
Então, o que os industriais estão dizendo? “Não tenho aerogerador para vender.”
Por quê? Porque eles querem vir diretamente.
Agora, seria importante se V.Exa. conseguisse agilizar, ajudar o Brasil, o
Nordeste brasileiro, com a legislação que está aí, principalmente a do Deputado
Aleluia, e se aproveitássemos um pouco desta aqui, que é alemã — se V.Exa. não
tiver, posso dar-lhe uma cópia. Vamos ver que ela trata de biomassa solar, eólica.
Ela só tem doze artigos, mas funciona na Alemanha. Sabem quantos aerogeradores
de 1 mega serão instalados este ano na Alemanha? Mil. Sabem quantos já estão
instalados? Mais de 10 mil. Sabem quanto se gera hoje em energia eólica na
Alemanha? Seis mil megas, o mesmo que todo o sistema CHESF do Nordeste
brasileiro gera. Isso é o máximo que a CHESF gera hoje lá.
Não temos mais o que aprender. Sabem o porquê do insucesso, no Ceará,
dos quatro aerogeradores a que o representante do Ministério da Ciência e
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Tecnologia se referiu agora? Não existir tradição tecnológica no Brasil. Tenho tido
algumas decepções com o País. Quem chegar aqui dizendo que gera energia eólica
com tecnologia própria está blefando ou enganando. A matriz mundial de energia
eólica está na Alemanha. Entretanto, eles estão na Dinamarca, por um problema
fiscal ou de mão-de-obra, mas as empresas são alemãs — a AN está lá, cujo
pessoal conheço.
A Enecom está aqui porque eles tiveram acesso mais fácil ao aço. Vou dar
uma informação: uma torre, para gerar 1,3 mega, pesa 120 toneladas. O corpo de
um aerogerador de 1,3 mega pesa cinqüenta toneladas. E aquelas três hélices
pesam trinta toneladas. O conjunto pesa duzentas toneladas. Um guindaste, para
pegar esse aerogerador e jogar lá em cima, pesa quatrocentas toneladas, e no
Brasil não existe. Por isso, sugiro aos senhores que o Brasil faça o seguinte
levantamento: eu preciso de 5 mil megawatts para suprir as necessidades internas.
Seria estipulado um prazo para instalação, um preço mínimo, que é o que existe na
Alemanha, e, quando suprida essa necessidade, repensa-se, no futuro, como seria
daí por diante.
Mas, com a legislação que estamos discutindo dentro da ANEEL, dentro da
Ciência e Tecnologia, dos diversos órgãos, do próprio Ministério de Minas e Energia,
não vamos ter a energia de que estamos precisando. Os senhores estão informados
da crise de hoje. Crise pior é a do próximo ano. Há cinco anos, nós, que
trabalhamos com energia há muitos anos — sou Diretor da Federação das Indústrias
do Rio Grande do Norte, faço parte do Comitê de Energia do Estado —, já tínhamos
certeza de que faltaria energia em 2000 no Brasil ou que ocorreria exatamente o que
estamos passando agora, em 2001.
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Se temos todo esse trabalho feito, toda essa pesquisa, os senhores fiquem
certos de que, no próximo ano, a necessidade de energia no Brasil será de mais de
5 mil megas. Vai chover, tudo vai ficar normal, mas vai faltar energia no próximo ano,
se não tomarmos essa providência agora.
Sr. Deputado, só tenho a lamentar não prosseguirmos num debate dessa
magnitude em virtude da hora. Mas quero dizer aos senhores que estou à
disposição e que gostaria, como idealista, de ajudar o Brasil, trazendo informações a
V.Exas. Que esses trinta anos em que trabalho nessa área não fiquem perdidos
dentro da minha casa, entre quatro paredes. E que possamos ajudar no sentido de
sairmos do apagão e passarmos para a produção.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Muito obrigado.
O último membro da Mesa é o Dr. Demóstenes Barbosa da Silva, da AES.
O SR. DEMÓSTENES BARBOSA DA SILVA - Muito obrigado. Gostaria de
usar cinco minutos, porque sei que já estamos ultrapassando o tempo permitido, em
função de outros compromissos.
Refletindo sobre as ponderações dos Deputados Fernando Ferro, Fernando
Gabeira e Luciano Zica, quero concordar com trechos da ênfase apresentada pelos
três.
O Deputado Fernando Ferro enfatizou bem. Concordo plenamente que a
eficiência de consumo no Brasil é algo que tem de ser prioritário em qualquer
política, plano ou programa do Governo ou mesmo de qualquer empresa.
Entretanto, temos de considerar que, ainda que consigamos mudar
equipamentos, sejam de uso residencial, industrial ou comercial, por outros novos
equipamentos mais eficientes, por mais que exploremos a capacidade da sociedade
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brasileira de racionalizar o consumo como ela está fazendo hoje, é muito difícil que
outro país consiga fazer o que o Brasil fez nas últimas três semanas.
Ainda que consigamos fazer tudo isso, estamos numa realidade em que o
consumidor brasileiro tem muito menos — cerca de oito a dez vezes menos —
energia para o seu bem-estar, para o seu trabalho, para a sua condição de vida.
Não se trata de estabelecer padrão de comparação, mas de pensar que o
Brasil vai precisar aumentar a oferta de energia para o brasileiro.
Com respeito à ponderação do Deputado Fernando Gabeira, concordo
plenamente com dois aspectos que S.Exa. apresentou. Precisamos diversificar. Seja
qual for o Governo que virá em 2002, e depois de quatro ou cinco anos um novo,
vamos ter de pensar na mudança do modelo de oferta no Brasil, até porque, como o
Deputado Luciano Zica disse, o gás é finito. Não vamos poder depender do gás,
importado que é, sem correr um grande risco envolvido nessa solução.
Precisamos encontrar o modelo ideal para o Brasil. Acontece que não se faz
isso em um ano, nem em um Governo, nem em um mandato de uma, duas, três ou
quatro Legislaturas. Precisamos ter no Brasil uma orquestração clara, uma
consciência plurigovernamental ao longo do tempo, para organizar os recursos,
fontes e forças que podemos ter no Brasil.
Quero lembrar aos senhores uma coisa que aprendi. Agradeço a menção do
fato de eu ter passado pelo Governo. Trabalhei nos dois últimos anos do Governo
Itamar Franco e no primeiro mandato do atual Governo. Passei pela estatal, pelo
Governo e hoje estou na iniciativa privada. E aprendi uma coisa: investimento
privado, como é o modelo de desenvolvimento no Brasil colocado para o setor de
energia elétrica hoje, não se impõe; investimento privado atrai-se. Se não nos
dispusermos a implementar políticas que incentivem o investimento, não o teremos.
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Fui um defensor da biomassa, de tentar fazer com que, em São Paulo, quem
quisesse co-gerar energia elétrica com biomassa, teria assegurado, através de uma
obrigação, que as distribuidoras comprariam essa energia a um preço mínimo. Hoje,
posso assegurar: a obrigação não é viável. Precisamos substituir o senso da
obrigação pelo senso do incentivo. E temos condições de fazer isso claramente.
Para resumir e, assim, terminar meu comentário, quero enfatizar minha plena
concordância com as três observações feitas: elas procedem, mas para um plano de
longo e médio prazos.
Talvez seja mais fácil surgir desta Casa, do Congresso Nacional a solução
para o médio prazo, até porque o Governo que se instala, que vai administrar — não
numa crise, como a que temos hoje, mas administrando o suprimento — não dispõe
de tempo para pensar na formulação de um projeto. Então seria muito bom que os
Parlamentares pensassem num médio e longo prazos e que trouxessem as
condições para uma solução duradoura.
Sintetizando, Deputado, minha argüição é a seguinte: temos de pensar e nos
esforçar nas soluções para médio e longo prazos. Mas, no caso de curto prazo, não
podemos deixar que a sociedade brasileira trunque seu desenvolvimento por falta de
energia. E aí precisamos ter a consciência que de que temos de tolerar alguma
poluição no Brasil, sob pena de faltar energia e de gente morrer ou deixar de nascer
com condições de vida por falta de energia no País.
Portanto, concordo plenamente com a opção de curto prazo, e diria que, se
temos oportunidade da opção eólica, vamos implantá-la. Não duvido, mas questiono:
não deve ser tão simples assim. Mas devemos incentivar. É algo que já está pronto,
e a tecnologia já é comercial. Mas num curto prazo precisamos aumentar a oferta no
Brasil, seja com hidrelétricas — com a qual já temos grande experiência —, mas
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também com termelétricas, porque estas já estão nas prateleiras dos fabricantes do
mundo inteiro. Podemos instalar uma usina termelétrica a gás no Brasil, se tudo der
certo, e em um ano e meio poderemos começar a testar a operação, fazendo no
lugar certo.
Deputado Luciano Zica, V.Exa. resumiu o que foi a minha observação,
embora V.Exa. ainda não estivesse aqui. Minha proposta de curto prazo é no sentido
de que tenhamos pelo menos uma polarização, uma orientação, o que chamei de
plano diretor; que o Governo, por meio das áreas ambientais federal e estaduais
possam orientar, para que o capital privado não fique quebrando cabeça para saber
por onde vai começar a estudar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Luciano Pizzatto) - Muito obrigado.
Quero informar que a resolução do CONAMA, discutida hoje, está no site do
IBAMA e em outros sites especializados.
Agradeço a todos os expositores, aos membros das três Comissões que aqui
se reuniram e aos demais convidados a presença. Muito obrigado.
Nada mais havendo a tratar, declaro encerrada a presente reunião.