departamento de taquigrafia revisÃo e redaÇÃo … · jânio quadros e também não encontrou...

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA REVISÃO E REDAÇÃO SESSÃO: 217.2.51.O DATA: 29/11/00 TURNO: Matutino TIPO SESSÃO: Sessão Solene - CD LOCAL: Plenário Principal - CD HORA INÍCIO: 10h HORA TÉRMINO: 11h28min OBS.: O DISCURSO DO DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL SERÁ INCLUÍDO COMO CPA EM SESSÃO POSTERIOR.

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA

REVISÃO E REDAÇÃO

SESSÃO: 217.2.51.O

DATA: 29/11/00

TURNO: Matutino

TIPO SESSÃO: Sessão Solene - CD

LOCAL: Plenário Principal - CD

HORA INÍCIO: 10h

HORA TÉRMINO: 11h28min

OBS.: O DISCURSO DO DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL

SERÁ INCLUÍDO COMO CPA EM SESSÃO POSTERIOR.

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 217.2.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 29/11/00 Montagem: Sérgio/José

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I - ABERTURA DA SESSÃO

O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) - Declaro aberta a sessão.

Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos

trabalhos.

O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.

II - LEITURA DA ATA

O SR. ..........................................................., servindo como 2° Secretário,

procede à leitura da ata da sessão antecedente, a qual é, sem observações, aprovada.

O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) - Passa-se à leitura do expediente.

O SR. ............................................................................, servindo como 1°

Secretário, procede à leitura do seguinte

III - EXPEDIENTE

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O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) - Finda a leitura do expediente,

passa-se à

IV – HOMENAGEM

O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) - Esta sessão solene destina-se a

comemorar o transcurso do centenário de nascimento de Milton Campos, em

atendimento a proposta do Deputado Bonifácio de Andrada.

Encontram-se presentes a esta sessão solene o Exmo. Sr. Senador Francelino

Pereira; o Dr. Marcos Brei, Presidente do Conselho da Fundação Milton Campos; o

Senador Jorge Kalume, 2º Tesoureiro da Fundação Milton Campos; o Dr. Jorge Alberto

Neves da Fontoura, Secretário da Fundação Milton Campos.

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O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Dando seqüência a este ato

solene, concedo a palavra ao autor da proposta, Deputado Bonifácio de Andrada, do

PSDB de Minas Gerais.

O SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA (PSDB-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, Srs. Congressistas, ilustres convidados, senhoras e senhores, falar em

Milton Campos para nós, mineiros, é indiscutivelmente nos aproximar de um dos

momentos mais expressivos e, possivelmente, mais cívicos da história do nosso povo.

Falar em Milton Campos é relembrar uma personalidade que, ao longo de sua

existência, pela coerência política, pela dedicação aos princípios que sempre abraçou,

constitui uma das figuras mais insignes não só da evolução de nosso Estado, mas

também do próprio País.

A vida de Milton Campos divide-se, a meu ver, em cinco grandes capítulos. O

primeiro retrata o período de Milton Campos jovem, saindo da faculdade de Direito e

participando das lides políticas da sua região e de Ponte Nova, sua terra natal.

No seu segundo momento, após 1930, Milton Campos era um jovem

revolucionário que se colocava ao lado da Aliança Liberal e das conquistas

democráticas daquele memorável evento para se transformar em Deputado Estadual na

Assembléia Constituinte de 1935 e ali marcar sua presença com invejável inteligência,

colaborando para a feitura da Carta Magna dos mineiros.

É nessa fase da história de Milton Campos que vamos encontrar um dos

instantes mais confusos da vida política de Minas, inserta na evolução da política

CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 217.2.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 29/11/00 Montagem: Sérgio/José

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nacional, quando às vésperas do golpe de 1937 os mineiros perderam um pouco a

firmeza nos seus rumos e se confundiram com as avalanchas das forças autocráticas

que em nosso País instalaram o Estado Novo.

Na sua terceira fase de existência, entretanto, Milton Campos fez resistência aos

costumes autocráticos da fase estado-novista e assinou o Manifesto dos Mineiros para,

mais uma vez, marcar sua posição de amor à liberdade, permanecendo, assim,

coerente com as grandes tradições do seu Estado.

Redemocratizado o País em 1945, Milton Campos foi eleito Deputado Federal e

Constituinte para a Assembléia de 1946. Ali destacou-se como jurista, como político e

como atuante legislador, deixando inserida na Carta Magna de 1946 indicações claras

de sua vocação democrática e de sua luta em favor do Estado de Direito.

Foi nessa fase da história de Milton Campos que os mineiros o conheceram, num

dos instantes mais atraentes da evolução política de Minas Gerais. Pertencendo ele à

União Democrática Nacional e não tendo o seu partido condições de ganhar as eleições

para o Governo do Estado, em 1947, ele foi indicado como o preferido dos seus

correligionários. Na realidade, sua indicação não era para a vitória, mas para a derrota.

Os eventos políticos de Minas, as crises comuns, certas vacilações e sobretudo

os conflitos existentes entre os grupos majoritários fizeram com que o grupo político que

apoiava Milton Campos se transformasse numa força poderosa que o levou ao triunfo

nas urnas de dezembro de 1947. E Milton Campos instalaria então um governo que, de

fato, provocaria repercussão em todo o País, porque seria um governo em que a lei

constituiria o primado da ação do Poder Executivo e o interesse público seria elevado à

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perseguição maior daqueles que comandariam o nosso Estado. Ele organizou uma

plêiade, uma equipe notável de auxiliares, que mais tarde assumiriam posições de

destaque na vida nacional, como Pedro Aleixo, Américo Giannetti, Magalhães Pinto,

Baeta Viana, Orlando Carvalho, Rodrigues Seabra; dentro do seu gabinete de trabalho:

Abílio Machado, Edgar da Mata Machado, Carlos Horta Pereira; e, como Chefe da

Segurança Pública do Estado, Campos Cristo. Todos eles figuras que se destacavam

pelos seus atributos e qualidades na vida pública de Minas Gerais.

O Governo de Milton Campos foi realmente modelo, exemplo democrático que

lançou por todo o País a notícia de que o Brasil de fato, depois de 1946, após a

Constituição daquele ano, poderia ter um homem de altas qualificações para governar e

para implantar de forma enérgica e veemente, embora com estilo ameno, os melhores

princípios democráticos.

Pouco tempo depois de sair do Governo, Milton Campos foi eleito Senador da

República pelo seu Estado. Passou, então, continuadamente, a emprestar sua figura a

duas campanhas eleitorais que marcaram, indiscutivelmente, a história do nosso País

na década de 50. Ele foi candidato a Vice de Juarez Távora, numa grande coligação,

derrotada por Juscelino Kubitschek; depois foi candidato a Vice de Jânio Quadros.

Embora perdendo nas urnas, continuou, no Senado Federal, a ser a figura excelsa que

o País inteiro reconhecia como um dos maiores homens públicos daquela geração.

Os eventos políticos levaram o Brasil ao Movimento de 1964. Nós tivemos, após

aquele instante também histórico e marcante que revolucionou a vida brasileira, nova

fase: Milton Campos é convocado para o cargo de Ministro da Justiça. Ficou pouco

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tempo à frente dessa importante Pasta, porque, indiscutivelmente, seu temperamento e

mesmo suas inclinações, como dissera o Presidente Castello Branco, no momento em

que fora convocado, não teriam condições de se adaptar àquele instante de

modificações profundas, naquele momento em que a posição revolucionária do

Governo exigia modificações e alterações no quadro político e jurídico do País.

Milton Campos afastou-se do Governo de Castello Branco e, daí para a frente,

como Senador da República, passou a acompanhar os eventos políticos do País,

sempre fiel ao mandato obtido do povo mineiro, como membro da Aliança Renovadora

Nacional, mas nem sempre concordando com as decisões governamentais que se

desdobraram ao longo dos anos, até que o País, com seu falecimento, perde sua

presença no quadro político brasileiro.

A vida de Milton Campos — e essa é uma afirmação que fizemos numa palestra

no Instituto dos Advogados Mineiros — foi uma existência em que, valendo-nos dos

conceitos de Hegel e não de Marx, a dialética esteve presente em todo o desenrolar

dos seus dias, em todos os instantes da sua presença terrena.

Milton Campos se vinculava de corpo e alma às idéias que defendia. Era uma

liderança que julgava que a vida pública deveria ser um esforço de comportamento em

prol daqueles princípios que adotava. Percebe-se que ao longo de sua trajetória

humana há momentos de grande alegria em que ele julga que o País irá ao encontro

dos ideais que configuram suas metas, mas, logo depois, há períodos de pessimismo,

tristeza e amargura, porque vê que a aplicação daqueles princípios aos quais tanto se

dedicara não conseguiam dominar plenamente os dados da realidade nem implantar-se

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definitivamente no convívio da sua comunidade. Assim aconteceu ao participar da

Aliança Liberal em 1930, para depois se colocar entristecido contra os já iniciais

arremessos ditatoriais de Vargas, no início daquela década.

Em 1936, o seu melhor caminho — era o que lhe parecia — foi aquele que as

forças políticas de Minas, unidas, deram a um grupo poderoso então dominante em

nosso Estado. Mas logo verificou que esse agrupamento de forças iria fortalecer o

Chefe do Poder de então para que desse o golpe de Estado no ano seguinte, em 1937,

levando o País a um período autoritário. Mais uma vez sofre Milton Campos uma

decepção.

De fato, o momento mais glorioso da sua história, aquele instante em que mais

viveu a vida política como desejava, foi durante a governança do Estado de Minas

Gerais, embora, no final do seu mandato, não tenha recebido os merecidos aplausos.

Cai, então, no ostracismo e, mais uma vez, vive um instante de amargura na sua

caminhada política.

As suas duas candidaturas a Vice-Presidente da República foram imposições

que lhe fizeram, porque nem uma nem outra representavam para ele, naquele instante,

um passo a ser dado para o desenvolvimento político do seu tempo.

Foi candidato a Vice-Presidente na chapa de Juarez Távora, mas não sei se as

palavras do grande militar brasileiro, com tendências um tanto autoritárias,

representava, de fato...

O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Ilustre Deputado, o seu tempo está

esgotado, mas esta Presidência vai conceder-lhe mais dois minutos para a conclusão

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do seu pronunciamento.

O SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA – Cinco minutos, Sr. Presidente.

O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Perfeitamente. Como V.Exa. é o

autor da proposição, esta Presidência vai conceder a V.Exa. mais cinco minutos.

O SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA – Logo depois, Milton Campos acompanhou

Jânio Quadros e também não encontrou nesta campanha, por certo, aqueles aspectos

positivos que poderiam lhe dar maiores momentos de alegria política dentro da vida

nacional.

Ministro da Justiça, afastou-se do processo revolucionário por entender que o

momento não era propício para a sua ação e para o seu temperamento. Nos últimos

anos de sua existência, fez um discurso memorável no Senado da República, onde

deixou, mais uma vez, a demonstração inequívoca da sua solidariedade ao partido e

também a sua discordância dos atos e fatos que ocorreram naquela época, vindos de

lideranças militares que dirigiam o País.

Sr. Presidente, peço a V.Exa. um pouco mais de paciência, para relembrar aqui

algumas das afirmações de Milton Campos, que devem realmente estar inseridas em

nossa fala, porque expressam, de forma indiscutível, não só sua vocação, sua

ideologia, mas também e sobretudo instantes marcantes da história de Minas e do

Brasil.

“O meu governo será mais da lei do que dos homens.” E o foi, nas práticas do

dia-a-dia, no manejo jurídico das suas ações à frente do Palácio da Liberdade.

“O meu governo será modesto, como convém à República, e austero, como é do

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gosto dos mineiros.” Era Milton Campos indo ao encontro da coletividade do seu

Estado. Marcava, assim, com essas palavras, com o modo de ser dos homens de

Minas, com a sua modéstia de comportamento, além de sua devoção à austeridade

permanente.

Outra: “Ao invés de policiais para deter os grevistas revolucionários, não será

melhor enviar o trem pagador para fazer o pagamento do que o Estado deve àqueles

pobres operários?” Foi a resposta do governante de Minas Gerais ao então chefe de

polícia, que pretendia anular o movimento grevista dos ferroviários desejosos de

receber os seus salários, num momento também muito significativo da vida política de

Minas.

Num célebre discurso no Senado da República, quando declarou as razões pelas

quais não esteve presente na escolha do Presidente Médici à mais alta Magistratura do

País, Milton Campos afirmou, de forma, aliás, bem enunciada, e que serve como

recomendação aos legisladores do futuro: “A disciplina partidária é necessária aos

partidos, mas não pode ser rígida ao ponto de abalar as consciências dos filiados”.

Sr. Presidente, quero, ao final destas palavras, relembrar parte de um texto de

Milton Campos, mas que não consegui encontrar para ler neste plenário, sobre João

Luiz Alves, outro ilustre mineiro que representou Minas nesta Casa, no Senado Federal

e no Supremo Tribunal Federal.

Dizia Milton Campos que via três tipos de homens públicos: os idealistas,

aqueles que colocavam toda a sua força, toda a sua atividade em busca da realização

das suas idéias; os realistas, que esperavam o momento certo para lutar e conseguir

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fazer prevalecer suas idéias; e os oportunistas, que não tinham idéias, porque as idéias

eram do cargo que eles ocupavam.

Essa crítica a respeito dos homens públicos é um dos dados interessantes que

ele assinalou à vida pública brasileira. Mas cumpre-me aqui dizer que rememorar Milton

Campos, para nós, mineiros, é uma evocação que a todo instante nos emociona, que

nos apaixona, que nos perturba, que nos sensibiliza e que nos empurra para a boa

política. A vida de Milton Campos é patrimônio da história que reverenciamos,

saudosos, com as melhores das nossas homenagens e com a demonstração

inequívoca do apreço da Câmara do Deputados, a que ele soube servir e onde ele

soube viver um dos mais belos momentos de sua existência política.

Muito obrigado. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Dando seqüência à sessão solene,

concedo a palavra ao Deputado Eduardo Barbosa, pelo PSDB. Faço saber aos Srs.

Parlamentares que temos reunião extraordinária marcada para as 11h e, portanto, cada

Deputado terá cinco minutos para proferir o seu pronunciamento.

O SR. EDUARDO BARBOSA (PSDB-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, o Líder do PSDB, Aécio Neves, gostaria de estar aqui neste momento e já

tinha inclusive se programado para isso. No entanto, impedido por uma reunião de

última hora com o Presidente da República, designou-nos para representá-lo e ao

PSDB, em particular o de Minas Gerais, o que faço com muito orgulho e com muita

humildade, já que estou ao lado dos grandes líderes daquele Estado que, com

sabedoria, poderão descrever a biografia do ilustre Milton Campos. Como político de

nova geração, é importante estar nesta Casa pronto a aprender com essa grande

liderança do nosso País.

“Reencontra-se esta Casa consigo mesma, no momento em que evoca e cultua

a memória de Milton Campos, testemunha reverente que foi de sua atuação neste

recinto, a que sua presença conferia uma maior dimensão de grandeza. Nenhum outro

sítio mais adequado seria do que este para o reconhecimento e a proclamação dos

méritos desse brasileiro invulgar. Amante da concepção democrática, servidor da

pregação liberal, foi aqui, por certo, entre todos os encargos a que a vida política o

conduziu, que o seu idealismo melhores condições de afirmação e convivência

encontrou.”

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Com estas palavras, o Deputado Aécio Cunha iniciou sua oração na homenagem

póstuma com que a Câmara dos Deputados pranteou, em 1972, o desaparecimento de

Milton Campos, um dos maiores e mais respeitáveis homens públicos da história do

Brasil.

Com as mesmas palavras, iniciamos nós, passados 28 anos, o pronunciamento

que temos a honra de fazer, em nome da Liderança do Partido da Social Democracia

Brasileira, na sessão solene comemorativa do centenário de nascimento de Milton

Campos, proposta por nosso companheiro Deputado Bonifácio de Andrada, ao lado de

quem, com muita honra, nos encontramos.

Mineiro de Ponte Nova, onde nasceu em 1900, nosso homenageado veio ao

mundo sob o signo do amor às letras e da destinação política. Não surpreende, pois,

que logo tenha conquistado o apreço e o afeto dos companheiros de geração — e que

geração! —, em que brilhavam, na Belo Horizonte do começo do século, valores como

Pedro Aleixo e Gustavo Capanema, Afonso Arinos de Melo Franco e Carlos Drummond

de Andrade, Cyro dos Anjos e Rodrigo Melo Franco de Andrade, Pedro Nava e Abgar

Renault. Compreende-se, assim, a admiração e o respeito que Drummond dispensava

a Milton Campos, na opinião do poeta, o orientador involuntário e despretensioso da

geração a que pertencia.

Jornalista, advogado, professor e escritor, Milton Campos era, sobretudo,

político, na mais alta e mais nobre acepção que se possa conceder à palavra. Em 1943,

apresenta-se como um dos mais decididos e importantes signatários do famoso

“Manifesto dos Mineiros”, com que, pela primeira vez, os defensores da democracia, da

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liberdade e da justiça manifestavam-se publicamente contra a opressão e o jugo do

Estado Novo.

Pressentindo a cólera com que Getúlio Vargas reagiria ao documento, Milton

Campos teria comentado: “Este Manifesto, se não fizer onda, certamente abrirá vagas

(...)”. Como realmente abriu, a começar por ele próprio, com a exoneração do cargo que

ocupava na Caixa Econômica Federal — a que só voltaria dez anos depois, por decisão

do Supremo Tribunal Federal.

O gracejo de Milton nos lembra alguns dos seus traços mais pitorescos e

representativos: o temperamento alegre, o humor refinado, a observação espirituosa, o

comentário inteligente, a sabedoria com que se punha a ver o espetáculo dos homens e

da vida. Candidato, nas eleições de 1947, ao Governo de Minas, conta-se que teria

declarado, ao saber do bom desempenho na campanha: “Corro o perigo de ser eleito

(...)”.

Governador do Estado — para surpresa dele próprio, ao que parece —, não se

descontrolou ante a greve dos ferroviários da Rede Mineira de Viação, em Divinópolis,

pelo pagamento de salários. Ao assessor que lhe propusera responder à manifestação

com um trem cheio de soldados da Polícia Militar, sugeriu: “Não seria melhor mandar o

trem pagador?”.

Assim era Milton Campos: um homem simples e bom, sensato e generoso.

Deputado Estadual, Deputado Federal, Governador de Minas Gerais, Senador da

República e Ministro de Estado, protagonizou uma das mais fulgurantes carreiras da

nossa política. Trajetória em que se revelou, sobretudo, mineiro, pela sobriedade e pela

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prudência, pela ponderação e pela temperança com que encarnou à perfeição o célebre

— e algo misterioso — espírito da “mineiridade”. Leia-se, como prova, o que certa vez

afirmou: “Em verdade, o meio-termo é uma posição de coragem (...). O ponto extremo é

mais cômodo, porque oferece uma definição precisa e dispensa as constantes revisões

que a realidade suscita. É um compromisso teórico e sistemático, cuja firmeza está em

contraste com as vertiginosas mutações da vida real. O ponto intermediário é mais

propriamente uma zona fronteiriça, de contornos imprecisos e lindes esquivas, mas

onde mais adequadamente se demarca a área da realidade”.

Vê-se que Milton Campos pensava bem e, exatamente por isso, escrevia bem,

com a elegância e o primor de um verdadeiro estilista. Suas páginas muitas vezes nos

impressionam menos pela grandeza do político do que pelo talento do escritor: “Diz

uma oração que este mundo é um vale de lágrimas. Em frase ainda mais líquida, é um

oceano de amargura. Não vale a pena viver nadando eternamente, a romper com o

peito as ondas. É melhor que fiquemos, a princípio, no raso, construindo pacientemente

nosso batel. Depois (...) ‘soltem-se os remos!’ — e vagaremos serenamente à flor das

águas, a ver a asa das gaivotas cortando o azul do céu (...)”.

Não se creia, no entanto, que essa índole poética, essa percepção amena lhe

tolhessem a sensibilidade social, a ação política. Pelo contrário: delas provinham a

atenção e o interesse que dispensava aos problemas brasileiros, às grandes questões

da nacionalidade. Como Deputado Federal e como Senador da República, bateu-se

pela reforma agrária, pelo aperfeiçoamento do processo eleitoral, pela melhora das

instituições políticas e pelo aprimoramento do Poder Judiciário — temas que se

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impõem, ainda hoje, como da maior importância para o Estado e para o povo brasileiro.

Esse o Milton Campos a quem prestamos a mais respeitosa e sincera

homenagem, em nome da Liderança do Partido da Social Democracia Brasileira. Se

repetimos, no intróito do nosso pronunciamento, as palavras com que o Deputado Aécio

Cunha lhe deplorou a morte, desejamos encerrá-lo com o adeus que proferiu o

Deputado Tancredo Neves, na homenagem póstuma desta Casa ao grande brasileiro

de quem hoje comemoramos o centenário do nascimento: “Consideramos Milton

Campos uma página na nossa História, um lance nas tentativas democráticas que se

repetem e um triunfo a sua existência. Homens de tal porte enobrecem um país, dão

sentido positivo à sua cultura e se tornam modelos que espontaneamente se impõem

às gerações que nos vierem suceder. A lembrança de Milton Campos há de

permanecer imaculadamente pura entre nós, sobrevivendo apesar da morte,

atravessando a treva, varando a noite, brilhando com a luz que ilumina os caminhos,

como símbolo da democracia que foi uma das razões de sua vida pública”.

Desta forma, aliando-nos a todos os mineiros desta Casa, deixamos aqui a

homenagem do PSDB ao nosso tão querido e lembrado Milton Campos.

Muito obrigado. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Para continuação da sessão solene

em homenagem ao centenário de nascimento de Milton Campos, concedo a palavra ao

Deputado Eliseu Resende, pelo PFL.

Convido o Deputado Bonifácio de Andrada para assumir a Presidência da sessão

solene.

O SR. ELISEU RESENDE (PFL-MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, meus senhores e minhas senhoras, o povo

brasileiro, por meio de seus legítimos representantes nesta Casa do Parlamento

Nacional, presta culto à memória de Milton Soares Campos, ao ensejo do transcurso do

centenário de seu nascimento.

Das mais completas personalidades que passaram pela atividade

político-administrativa de nosso tempo, têm sido relembradas e salientadas, em

memoráveis discursos, suas qualidades de homem público, de advogado e

jurisconsulto, de pensador e homem de letras, ressaltando-se o amadurecimento de

seu espírito, o equilíbrio de seu raciocínio político e a firme coerência de seus atos,

todos a revelar como o cidadão exemplar completava as virtudes do homem de bem.

Recebendo a honrosa incumbência do PFL para falar nesta sessão dedicada a

esta homenagem, sinto imperiosa necessidade de destacar um aspecto da

multifacetada vida pública de Milton Campos, não para preencher uma lacuna, nem

pelo desejo de originalidade, senão porque é a seara à qual modestamente dedico

minha atividade.

Trago, portanto, para registro nos Anais desta Casa, Sr. Presidente, documento

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escrito em que elaboro trabalho a respeito do que poderíamos chamar “Milton Campos,

um intelectual na ação administrativa”.

Inicialmente, para completo conhecimento da época e do meio em que atuou,

justificando essa perfunctória análise, é necessária ligeira digressão histórica, para bem

situá-lo no seu conturbado tempo e no seu espaço entre os montanheses.

A Revolução de 1930 pusera termo definitivo à política do café com leite, o

velho acordo destinado a colocar a Presidência da República como simples alternativa

entre mineiros e paulistas, os dois maiores Estados da Federação na época, os quais

disputavam, quase em igualdade de condições, a primazia do domínio econômico-

financeiro do País e cujos quadros humanos eram marcados pela identificação de

princípios, de processos e de propósitos.

Afinal, o que somos nós, mineiros, nos primórdios de nossa formação, senão os

mineradores paulistas desiludidos da procura do eldorado que as bandeiras iam fixando

como agricultores pelas ínvias trilhas do exuberante solo das Gerais?

Durante aquele período, até a denominada queda da ditadura Vargas, ocorrida

em 1945, após a 2ª Grande Guerra Mundial, acentuou-se a predominância paulista,

sentindo-se a habilidade com que o Poder Central cuidara de impedir a reedição da

temida coligação política de ambas as províncias.

Eleito Presidente da seção mineira da Ordem dos Advogados, na chapa

oposicionista ao Governo, Milton Campos trabalhara febrilmente, no Instituto dos

Advogados, em favor da publicação do documento hoje nacionalmente conhecido como

"Manifesto dos Mineiros", o mais veemente apelo em favor dos princípios democráticos

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então publicado, marco inicial no processo de redemocratização logo verificado. Já se

revelava, nesses episódios, pelos gestos afirmativos e o vigor de sua cultura, o

intelectual se completando pelo homem de ação.

Em Minas Gerais, à saída de Benedicto Valladares Ribeiro do Governo

Estadual, após 9 anos de exercido, sucederam-se as denominadas interventorias.

Inicialmente, a alta administração do Estado foi entregue ao Poder Judiciário,

assumindo a governadoria o Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Nísio

Baptista de Oliveira, de novembro de 1945 a fevereiro de 1946. Depois, já eleito

Presidente o Marechal Eurico Gaspar Dutra, na ânsia de desarticular o sistema Vargas,

procurou interferir na sucessão mineira, da qual o “valadarismo” era considerado o

esteio, nomeando interventores à mercê das possibilidades de determinadas

candidaturas ao Palácio da Liberdade: João Tavares Correia Beraldo, de fevereiro a

agosto de 1946; Júlio Ferreira de Carvalho, de agosto a novembro 1946; Noraldino de

Lima, em novembro e dezembro do mesmo ano; e, finalmente, Alcides Lins, de 21 de

dezembro de 1946 até a transmissão do cargo ao Governador eleito, em 18 de março

de 1947, justamente Milton Soares Campos, que fora lançado candidato para o

sacrifício, tal a certeza antecipada da derrota, mas, mercê da hábil ação eleitoral

empreendida, sagrou-se vencedor e governou o Estado até 31 de janeiro de 1951.

O que as sucessivas mudanças de governo representaram nas combalidas

finanças públicas, na administração e na economia mineiras, no período que precedeu

a posse do eleito, é fácil de imaginar: seis interventores, com missões, ações

governamentais e entendimentos inteiramente diversos, em apenas dezesseis meses

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sucessivos.

A eleição do homenageado de hoje resultou de interessante e excepcional

convergência de forças. Formados os partidos políticos, predominava o Partido Social

Democrático, em cujo seio, no entanto, formou-se uma dissidência para apoiá-lo, mas a

maioria, unida ao Partido Trabalhista Brasileiro, situou-se na oposição; na base de

apoio ao Governo recém-eleito, a União Democrática Nacional, o Partido Republicano e

poucos partidos menores.

Concomitantemente, foram eleitos os Deputados para a Assembléia Legislativa,

com a missão de votar e promulgar urna nova Constituição Estadual, conseguindo o

Governo, ainda como resultante de dissidência pessedista, uma base de 36

Parlamentares, contra 36 oposicionistas e 1 Deputado comunista, “livre-atirador”, como

fiel da balança, decidindo as questões mais controvertidas, quando ocorria empate em

alguma votação.

Um dos exemplos mais sensíveis das dificuldades políticas defrontadas foi a

eleição indireta, que a seguir se processou, para preenchimento do cargo de

Vice-Governador, recaindo no nome oposicionista do Deputado pessedista José Ribeiro

Pena.

Milton Campos, assim distanciado do Poder Central e visando a um governo

"mais das leis do que dos homens”, procurou compor seu secretariado com os nomes

mais sugestivos de sua coligação, mais tarde projetando-se na vida pública nacional:

Secretaria do Interior e Justiça, Pedro Aleixo; Agricultura, Comércio, Indústria e

Trabalho, Américo Renné Giannetti; Fazenda, José de Magalhães Pinto e, mais tarde,

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Cândido Lara Ribeiro Naves; Viação e Obras Públicas, José Rodrigues Seabra;

Educação e Cultura, Augusto Mário Caldeira Brant; Saúde, José de Baeta Viana.

Resultara da campanha compromisso solene, representativo de formidável

desafio ao descortino e à ação do ungido nas urnas, pelo empenho de sua palavra: "À

estruturação democrática das nossas instituições políticas, brilhantemente conseguida

pela Constituição de 18 de setembro, vai seguir-se a prática dos princípios nela

consagrados, pelo conteúdo de realidade com que vamos completar a obra iniciada”.

O presente impunha, assim, a pronta reorganização institucional do Estado,

dotando-o dos diplomas legais indispensáveis ao fiel desempenho da administração

pública, sob as novas inspirações do Estado Democrático.

As interventorias passadas, efêmeras no tempo, mas duradouras nas despesas

permanentes e pouco preocupadas com as receitas públicas, haviam tornado

indispensável a imediata reorganização das finanças; e as perspectivas do futuro

demandavam planejamento econômico a um tempo condizente com as pujantes

necessidades do insopitável desenvolvimento estadual e à altura das aspirações e das

esperanças do povo mineiro.

“Austero, como convém à República, e simples, como é do gosto dos mineiros”,

sem alarde, sem divulgação, ele pôs mãos à obra e conseguiu, em quatro meses, fazer

promulgar a nova Constituição do Estado, datada de 14 de julho de 1947; a Lei de

Organização Municipal foi sancionada em 22 de novembro do mesmo ano; em julho,

ele já havia publicado o decreto-lei instituindo a Taxa dos Serviços de Recuperação

Econômica e de Fomento à Produção, incidindo sobre as transações de qualquer

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natureza; concedeu-se, paralelamente, isenção tributária às indústrias que se

instalassem no Estado; e, em dezembro do mesmo ano, expediu decreto contendo o

Regulamento dos Minérios, criando assim as bases indispensáveis à execução do seu

Plano de Recuperação Econômica, logo dado a público.

Ainda no primeiro ano de seu mandato, voltado para os aspectos sociais,

desapropriou 6.143.500m2 de terrenos necessários à construção da vila operária na

então florescente “Cidade Industrial”, no Município de Contagem, limítrofe à Capital

mineira; publicou as indispensáveis alterações na Organização Judiciária do Estado;

criou o Departamento Jurídico; reorganizou a Chefia de Polícia e a estrutura da Polícia

Militar; promoveu a revisão das aposentadorias políticas do chamado Estado Novo;

publicou o Regulamento da Assistência Judiciária; deu início às obras do novo prédio

do Palácio da Justiça (então denominado Fórum Lafayette e hoje integrando o conjunto

da sede do Tribunal de Justiça); e autorizou alienação de imóveis para obtenção de

recursos destinados à edificação da nova sede da Secretária de Agricultura.

Há pequenos detalhes a evidenciar a grandeza do seu espírito: seu adversário

nas urnas fora o grande chefe pessedista, mais tarde também Governador do Estado,

José Francisco Bias Fortes; do pai deste, o ex-Presidente da Província, Chrispim

Jacques Bias Fontes, em cujo Governo a Capital do Estado foi transferida de Ouro

Preto para a recém-construída Belo Horizonte, comemorar-se-ia o centenário em 25 de

outubro de 1947. Milton Campos declarou a data festa cívica e mandou comemorá-la

solenemente em todas as unidades escolares do Estado, delas participando

ativamente.

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Portanto, empossando em março, já no final do seu primeiro ano de Governo

dispunha do instrumental legislativo indispensável ao fiel desempenho de seu mandato

e ao cumprimento de seu compromisso com os destinos do Estado.

O Plano de Recuperação Econômica foi o mais completo documento de ação

governamental à época. A Fundação João Pinheiro, notável centro de estudos da

economia mineira, acaba de publicar interessante trabalho a respeito, denominado

“Minas Gerais — Uma introdução ao seu desenvolvimento e cultura”, dando a Milton

Campos, no seu mandato, um fator decisivo para essa evolução e para introdução da

fase de planejamento econômico e industrial do Estado.

Desse trabalho se extraem as seguintes oportunas observações:

A idéia de planejamento no Brasil formou-se ao longo

dos anos 30, em função do conjunto de instituições criadas e

da participação crescente do Estado na economia, como

regulador e produtor. Esta idéia se tornou clara em fins do

Estado Novo, com a criação da Comissão de Planejamento

Econômico, em 1944, e do célebre debate travado naquela

Comissão entre Roberto Simonsen, defensor do

planejamento e da industrialização, e Eugênio Gudin,

montearia, a favor da agricultura e do liberalismo econômico

(...).

Os mineiros assimilaram antes que qualquer outro

Estado brasileiro as idéias de planejamento e da

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industrialização como caminho para a superação do atraso

econômico, daí sua precocidade em termos de elaboração

de planos e montagem da infra-estrutura como suporte à

industrialização.

O analista observa:

Em síntese, em 1946, a situação da economia

mineira continuava crítica, especialmente pela indefinição de

rumos. Os resultados da expansão econômica dos primeiros

anos de 1940 mostraram-se insignificantes diante da

situação geral do Estado, pela sua extensão e pelos

problemas que acumulava. A emigração continuava de forma

significativa, refletindo as dificuldades da economia mineira.

Naquele período, São Paulo, como centro industrial mais

desenvolvido, absorvera de forma crescente a expansão

industrial do País. O atraso relativo acentuara-se. Fato que

se refletiu de forma clara no Programa de Recuperação

Econômica e Fomento da Produção, elaborado pelo governo

estadual no ano de 1947, primeira tentativa de planejamento

da economia mineira.

Abordando, em seguida, o problema referente à criação da ACESITA — Aços

Especiais Itabira S.A. — prossegue o estudo:

Este projeto demonstrava a crença dos mineiros na

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viabilidade de uma usina a carvão vegetal no Vale do Rio

Doce. Os trabalhos para implantação da usina começaram

em 1945, e os da Usina Hidrelétrica de Sá Carvalho, com

potência de 48.000Kw., em 1947. Em 27.04.49 — isto é, em

pleno Governo Milton Campos — foi feita a primeira corrida

de gusa. Em agosto de 1951, inaugurou-se a Usina

Hidrelétrica, e, em setembro, a aciaria.

Embora o diagnóstico da situação econômica do

Estado tenha sido feito de forma insuficiente, o Plano de

Recuperação listou um conjunto de projetos e programas que

cobria praticamente todas as atividades econômicas e

assistenciais. Porém, a preocupação básica era com a

industrialização; 78% dos investimentos previstos pelo plano

destinavam-se a transportes e apoio à industrialização e 67%

exclusivamente a energia e transportes.

Para promover a industrialização, teriam que ser

montados os pontos de apoio. A falta de energia elétrica era

vista como um dos principais obstáculos à industrialização.

Argumentava-se que, não existindo combustíveis

sólidos e/ou líquidos no Estado, e dado o grande potencial

hidráulico existente, a saída seria a instalação de grande

sistema elétrico para suportar a industrialização, fornecendo

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energia a baixo preço. E o agente teria que ser o setor

público, dados os elevados custos e os ônus para as

empresas privadas.

Oferecer ao consumidor energia a baixo preço será,

em breve, a pedra angular da expansão industrial do Estado,

que, com isso, atingirá um nível de civilização mais elevado.

Para tanto, previu-se a montagem da usina de Salto Grande,

no Rio Santo Antônio, com 60.000 HP, na primeira fase,

podendo atingir até 150.000 HP. Seria também construída

uma nova cidade industrial, próxima a Belo Horizonte, no

Município de Santa Luzia.

Relembra esse trabalho a abrangência desse Plano, prevendo nova política

fiscal, de financiamento e de amparo à produção, política de transportes, produção de

adubos, calcário moído, e a montagem de uma rede de frigoríficos em Belo Horizonte,

Montes Claros, Pirapora, Ibiá, Governador Valadares e no Triângulo Mineiro. Examina

ainda as dificuldades defrontadas em sua execução. E conclui:

Em síntese, a administração Milton Campos, embora

não tenha conseguido executar com sucesso seu plano de

governo, legara ao seu sucessor um quadro mais ou menos

claro da situação econômica do Estado e dos principais

problemas, bem como um conjunto de instrumentos. A

primeira tentativa de planejamento permitiu equacionar os

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problemas prioritários. O Plano de Eletrificação indicava ao

governo a política a ser seguida no setor. A Taxa de Serviços

de Recuperação Econômica e o sistema de incentivos à

industrialização mostraram-se posteriormente dois

importantes instrumentos. Achavam-se, pois, colocadas as

bases para uma nova etapa de política econômica.

O Governo seguinte se aproveitaria desses

instrumentos e conhecimentos acumulados e sintetizaria sua

ação no bem sucedido binômio: energia e transporte.

Senhoras e senhores, a Nação sabe que o governo seguinte, referido no

estudo, foi o do também saudoso Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, eleito

Governador em sucessão a Milton Campos.

Ambos hoje pertencem à História. Ambos constituem páginas sagradas para nós,

brasileiros e mineiros, que nos ufanamos de tê-los como ex-governantes de nosso

Estado, já comparados, por outro grande mineiro, a Gladstone e Disraelli, em festejado

estudo sobre essas notáveis personalidades.

Não desmerecerá os inegáveis méritos e a grande visão de estadista do

segundo fazer-se essa justiça ao seu antecessor, cujos comedimentos e modéstia

jamais lhe permitiram, em vida, fazer alarde dessa verdade, que agora aflora à

superfície do conhecimento público, através daquele trabalho técnico a que fiz

referência neste despretensioso pronunciamento.

Considero poder concluir serem esses os principais marcos do intelectual na

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ação administrativa: o conhecimento e o descortino, repetindo sua reflexão, quando se

dirigiu ao povo mineiro, na Casa Legislativa, ao promulgar a nova Constituição, na

sugestiva data de 14 de julho de 1947, baseada no pensamento de Alain:

Que não seja vã e sem sentido a coincidência da

promulgação da Constituição Mineira com a data em que se

comemora a queda da Bastilha. Essa circunstância está

indicando a todos os cidadãos um pensamento de resistência

democrática que bem se poderia sintetizar neste conceito do

pensador francês: “Se impedíssemos cada dia que se

levasse uma pedra à Bastilha, nós nos pouparíamos o

trabalho de demoli-la”.

Para encerrar, este é Milton Soares Campos, um intelectual em ação. (Palmas.)

Durante o discurso do Sr. Eliseu Resende, o Sr.

Philemon Rodrigues, § 2° do artigo 18 do Regimento Interno,

deixa a cadeira da presidência, que é ocupada pelo Sr.

Bonifácio de Andrada, § 2° do artigo 18 do Regimento

Interno.

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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Com a palavra o nobre Deputado

Glycon Terra Pinto, pelo PMDB.

O SR. GLYCON TERRA PINTO (Bloco/PMDB-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, convidados presentes, a reverência que hoje

fazemos à memória de Milton Campos, por ocasião do centenário de seu nascimento, é

mais do que justa. Trata-se de irrecusável reconhecimento do valor de um homem que,

ao longo de quase quarenta anos de vida pública, ofereceu à Nação testemunho

permanente de retidão, de integridade e, acima de tudo, de observância intransigente

de princípios éticos e morais mais que quaisquer outros interesses.

Para Milton Campos, exercer um cargo público significava, sobretudo, o

cumprimento de um dever, muitas vezes penoso. Fundador da UDN, ele jamais buscou

no exercício do poder os dividendos decorrentes do prestígio, da glória e da

notoriedade. Nunca se eximiu, porém, de praticar todos os atos políticos que a sua

exigente consciência cívica cobrava.

Foi assim quando assinou o “Manifesto dos Mineiros”, em 1943, o primeiro golpe

mortal contra a ditadura do Estado Novo. O gesto custou-lhe a demissão da Caixa

Econômica Federal, onde era funcionário, e contribuiu para conduzi-lo a uma cadeira de

Deputado na Assembléia Constituinte, menos de três anos após a deposição de

Vargas.

Milton Campos chegou ao Palácio da Liberdade em 1947 e durante os quatro

anos em que exerceu o Governo de Minas jamais aplicou os métodos políticos

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rotineiramente usados para constituir um sólido patrimônio eleitoral para o seu partido.

Nunca nomeou nem demitiu visando conquistar cabos eleitorais fiéis à UDN e,

quando o PSD elegeu Juscelino Kubitschek para sucedê-lo, foi acusado pelos velhos

coronéis do seu partido de ser um mau político, embora homem inegavelmente justo,

probo e bem-formado.

Milton Campos, contudo, seguiu fiel a seus princípios, desprezando solenemente

tanto as triviais manobras eleitoreiras como a pompa do poder. Nunca pretendeu usar o

seu prestígio político para fazer carreira e por isso pôde-se dar ao luxo de recusar, por

três vezes, indicações para tornar-se Ministro do Supremo Tribunal Federal.

No primeiro convite, durante o Governo de Castello Branco, declarou-se

impedido, porque a vaga que lhe era oferecida fora criada por lei que ele próprio

preparara como Ministro da Justiça, para aumentar o número de Ministros do Tribunal.

Na segunda vez, já no final do Governo Castello Branco, não aceitou, porque se

sentia obrigado a cumprir o compromisso assumido com a Arena mineira para

candidatar-se ao Senado.

Na terceira, durante o Governo Costa e Silva, alegou idade avançada que o

obrigaria a aposentar-se poucos meses depois e enviou ao amigo Pedro Aleixo, então

Vice-Presidente da República e intermediário do convite, esta antológica manifestação

de integridade moral:

(...) já vou completar 69 anos e, a partir da nomeação e da

posse, eu acabaria por exercer as funções durante menos de

um ano, já que em agosto de 1970 me aposentaria pelo

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implemento da idade.

Essas condições me fariam, pela transitoriedade, um

Ministro de investidura precária, com sacrifício, talvez, da

autoridade que se deve ter e da reverência de que deve ser

cercado um juiz da Corte Suprema.

Eis como, por irresistível imposição da consciência,

ainda uma vez vejo abertas para mim as portas do Supremo

Tribunal e, entretanto, não as transponho, como me seria tão

honroso.

Esta é apenas uma entre as muitas e admiráveis lições de retidão e de integral

dedicação à causa pública que Milton Campos nos ofereceu durante 39 anos de intensa

atividade política.

Hoje, quando esta Casa reúne-se para prestar tão merecida homenagem a este

grande cidadão brasileiro, faço votos de que a lembrança de Milton Campos continue a

brilhar na memória nacional como paradigma do primado da Ética na Política,

iluminando as trajetórias de muitas gerações de brasileiros.

Obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) - Tem a palavra o Deputado Virgílio

Guimarães, pelo Partido dos Trabalhadores.

O SR. VIRGÍLIO GUIMARÃES (PT-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, Sras. e Srs. Deputados, falo aqui como Parlamentar do Partido dos

Trabalhadores e como mineiro.

Como Parlamentar do PT, presto homenagem ao centenário de nascimento de

um grande liberal, cidadão militante e coerente com suas idéias, com sua trajetória, com

seu patriotismo. Esse mineiro foi um dos fundadores da OAB e da Faculdade de

Filosofia de Minas Gerais, que ajudou a consolidar a Universidade Federal de Minas

Gerais. Como petista, falo de alguém que, como tantos de nós, foi perseguido em

virtude de suas idéias, de sua militância. Por ter sido um dos signatários do “Manifesto

dos Mineiros”, foi cassado profissionalmente.

O jurista Milton Campos, nas condições mais difíceis, ajudou a construir o

ordenamento jurídico do País. Mesmo tendo assumido o Ministério da Justiça num

momento pouco jurídico, teve o senso de oportunidade para ali, naquela condição,

plantar algumas das nossas mais basilares leis, que até hoje estão a prestar serviço ao

ordenamento jurídico e à vida democrática.

Como disse, falo aqui como representante do Partido dos Trabalhadores, alguém

que segue ideologia de esquerda e tem militância que se distingue da liberal, mas que

guarda com ela identidades. Falo, portanto, com profundo respeito, de alguém com

quem temos divergências. E reconhecemos que a coerência liberal e jurídica de Milton

Campos orientou até mesmo a maneira como ele se retirou do primeiro governo

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autoritário do qual participou por acreditar que apenas transitoriamente teríamos aqui

uma administração que se distanciaria dos processos democráticos.

Como mineiro, não poderia deixar de reconhecer na figura de Milton Campos

alguém que ajudou a construir uma imagem das mais caras para o povo de Minas

Gerais: a do político equilibrado, coerente, probo, austero na sua administração e na

sua trajetória parlamentar. Alguém que, como Governador do Estado, arquitetou as

condições para a retomada do desenvolvimento.

Eleito pela Oposição, Milton Campos soube aproveitar quadros que ali estavam,

não usou a política da terra arrasada e ajudou a construir as bases para o Governo

seguinte.

Aproveitou idéias do Governador João Pinheiro — está presente no plenário o

nosso companheiro ex-Deputado Israel Pinheiro — e plantou bases para o Governo

Juscelino Kubitschek, que o seguiu. O binômio energia e transporte já estava

consignado na ação do Governo Milton Campos.

Sr. Presidente, é com satisfação que presto esta justa homenagem a um

jornalista dos Diários Associados, inspirado pela crônica brilhante do jornalista Dídimo

Paiva, e aos familiares do liberal Governador Milton Campos, que são militantes do

nosso partido, como o ex-Deputado Luiz Soares Dulce, seu sobrinho, e tantos outros.

Falo com agrado de alguém que merece a nossa lembrança, a nossa homenagem, o

nosso respeito. Que sirva de exemplo, pelo seu patriotismo e pelo seu sentimento ético,

para as novas gerações de políticos de Minas e do Brasil.

Muito obrigado. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – A Mesa registra a presença do

ilustre Deputado Israel Pinheiro, representante do Governo de Minas, que nos honra

com a sua presença no plenário.

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DISCURSO DO SR. DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL QUE, ENTREGUE À

REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.

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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Tem a palavra o nobre Deputado

Lincoln Portela, pelo PSL.

O SR. LINCOLN PORTELA (Bloco/PSL-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.

Presidente, Deputado Bonifácio de Andrada, propositor desta sessão solene, Sras. e

Srs. Deputados, Senador Francelino Pereira — é um prazer muito grande tê-lo conosco

—, é muito difícil subir à tribuna depois que um Deputado do quilate de Ibrahim Abi-

Ackel discursa de maneira tão maravilhosa.

Falando de Milton Campos, lembro-me de quatro palavras que nortearam sua

vida. Nascido em Ponte Nova, de tradicional família mineira, vivendo e curtindo a

mineiridade, o caráter, as condições, o estilo de vida e aquilo que se lhe apresentava à

frente, através de seus familiares e amigos, Milton Campos pôde estabelecer princípios

em sua vida.

Há um adágio que diz: “Quebrados os princípios e fundamentos, perece o justo ”.

Milton Campos não pereceu, porque ele jamais quebrou seus princípios, como o de

permanecer fiel àquilo que é honesto, justo, íntegro e agradável, ainda que caíssem as

estrelas do céu. Esse homem, que estabeleceu seus princípios, pôde já, ainda jovem,

começando seus primeiros escritos literários, como artigos críticos e ensaios,

estabelecer e crer em algumas promessas que o seu próprio coração lhe havia feito.

Há outro adágio que diz : “Enganoso é o coração; e perverso, quem o

conhecerá?” Mas Milton Campos o conheceu. Conheceu o seu coração e pôde tratar

com as perversidades inerentes ao próprio ser humano, para que elas não fluíssem de

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sua vida, tampouco ficassem sufocadas, mas que fossem superadas pela integridade

que também está à disposição de todo aquele que busca o bem comum. Portanto,

Milton Campos pôde crer nas próprias promessas que estabeleceu a si mesmo,

promessas de servir ao povo, promessas de servir às Minas Gerais, promessas de

servir ao Brasil, de ser um homem público decente, íntegro e reto, por causa dos

princípios estabelecidos.

Mas Milton Campos não ficou apenas no “p” do “princípio” ou da “promessa”; ele

encontrou outro: o “p” do “problema”, porque todas as pessoas que estabelecem

princípios e são fiéis às suas próprias promessas, fiéis à atitude de um coração limpo e

preparado para servir com nobreza e dignidade, por certo também enfrentam

problemas.

Em 1937, quando enfrentou calúnias, cassação e perseguição, pôde permanecer

fiel a seus princípios, crendo em suas promessas. Por fim vemos Milton Campos

chegando ao poder — o que seria o quarto “p” —, não o poder como um fim em si

mesmo, mas o poder para servir, para ser útil, para contribuir com o povo mineiro. E o

fez como Governador. Conseguiu reerguer o edifício das Minas Gerais, que naquele

momento vivia um momento confuso, difícil e conturbado.

Milton Campos soube estabelecer princípios, vencer problemas, alcançar o

poder. Sendo eleito mais tarde Deputado Federal e, em seguida, Senador, serviu ao

Estado de Minas Gerais e ao Brasil como exemplo para jovens e homens públicos. E

prosseguiu sua vida mostrando que desta maneira muito poderia fazer por nossa

Nação.

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Concluo este pronunciamento com palavras de Milton Campos:

A solução só virá na encruzilhada em que se

encontrem os dois caminhos: o das classes desprotegidas,

com a reivindicação de seus direitos, e o das classes

favorecidas, com a consciência de seus deveres. Antes

disso, a paz social não será possível.

Era o que tinha a dizer. (Palmas.)

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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Em nome da Mesa, trago a este

Plenário os agradecimentos da Câmara dos Deputados pela participação nesta sessão

solene em que se homenageia uma das figuras mais ilustres que já teve assento nesta

Casa.

Assim sendo, dou por encerrado este momento parlamentar.

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V – ENCERRAMENTO

O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Nada mais havendo a tratar, vou

encerrar a sessão.

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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Está encerrada a sessão.

(Encerra-se a sessão às 11 horas e 28 minutos.)