departamento de taquigrafia revisÃo e redaÇÃo … · jânio quadros e também não encontrou...
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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA
REVISÃO E REDAÇÃO
SESSÃO: 217.2.51.O
DATA: 29/11/00
TURNO: Matutino
TIPO SESSÃO: Sessão Solene - CD
LOCAL: Plenário Principal - CD
HORA INÍCIO: 10h
HORA TÉRMINO: 11h28min
OBS.: O DISCURSO DO DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL
SERÁ INCLUÍDO COMO CPA EM SESSÃO POSTERIOR.
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I - ABERTURA DA SESSÃO
O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) - Declaro aberta a sessão.
Sob a proteção de Deus e em nome do povo brasileiro iniciamos nossos
trabalhos.
O Sr. Secretário procederá à leitura da ata da sessão anterior.
II - LEITURA DA ATA
O SR. ..........................................................., servindo como 2° Secretário,
procede à leitura da ata da sessão antecedente, a qual é, sem observações, aprovada.
O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) - Passa-se à leitura do expediente.
O SR. ............................................................................, servindo como 1°
Secretário, procede à leitura do seguinte
III - EXPEDIENTE
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O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) - Finda a leitura do expediente,
passa-se à
IV – HOMENAGEM
O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) - Esta sessão solene destina-se a
comemorar o transcurso do centenário de nascimento de Milton Campos, em
atendimento a proposta do Deputado Bonifácio de Andrada.
Encontram-se presentes a esta sessão solene o Exmo. Sr. Senador Francelino
Pereira; o Dr. Marcos Brei, Presidente do Conselho da Fundação Milton Campos; o
Senador Jorge Kalume, 2º Tesoureiro da Fundação Milton Campos; o Dr. Jorge Alberto
Neves da Fontoura, Secretário da Fundação Milton Campos.
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O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Dando seqüência a este ato
solene, concedo a palavra ao autor da proposta, Deputado Bonifácio de Andrada, do
PSDB de Minas Gerais.
O SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA (PSDB-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.
Presidente, Srs. Congressistas, ilustres convidados, senhoras e senhores, falar em
Milton Campos para nós, mineiros, é indiscutivelmente nos aproximar de um dos
momentos mais expressivos e, possivelmente, mais cívicos da história do nosso povo.
Falar em Milton Campos é relembrar uma personalidade que, ao longo de sua
existência, pela coerência política, pela dedicação aos princípios que sempre abraçou,
constitui uma das figuras mais insignes não só da evolução de nosso Estado, mas
também do próprio País.
A vida de Milton Campos divide-se, a meu ver, em cinco grandes capítulos. O
primeiro retrata o período de Milton Campos jovem, saindo da faculdade de Direito e
participando das lides políticas da sua região e de Ponte Nova, sua terra natal.
No seu segundo momento, após 1930, Milton Campos era um jovem
revolucionário que se colocava ao lado da Aliança Liberal e das conquistas
democráticas daquele memorável evento para se transformar em Deputado Estadual na
Assembléia Constituinte de 1935 e ali marcar sua presença com invejável inteligência,
colaborando para a feitura da Carta Magna dos mineiros.
É nessa fase da história de Milton Campos que vamos encontrar um dos
instantes mais confusos da vida política de Minas, inserta na evolução da política
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nacional, quando às vésperas do golpe de 1937 os mineiros perderam um pouco a
firmeza nos seus rumos e se confundiram com as avalanchas das forças autocráticas
que em nosso País instalaram o Estado Novo.
Na sua terceira fase de existência, entretanto, Milton Campos fez resistência aos
costumes autocráticos da fase estado-novista e assinou o Manifesto dos Mineiros para,
mais uma vez, marcar sua posição de amor à liberdade, permanecendo, assim,
coerente com as grandes tradições do seu Estado.
Redemocratizado o País em 1945, Milton Campos foi eleito Deputado Federal e
Constituinte para a Assembléia de 1946. Ali destacou-se como jurista, como político e
como atuante legislador, deixando inserida na Carta Magna de 1946 indicações claras
de sua vocação democrática e de sua luta em favor do Estado de Direito.
Foi nessa fase da história de Milton Campos que os mineiros o conheceram, num
dos instantes mais atraentes da evolução política de Minas Gerais. Pertencendo ele à
União Democrática Nacional e não tendo o seu partido condições de ganhar as eleições
para o Governo do Estado, em 1947, ele foi indicado como o preferido dos seus
correligionários. Na realidade, sua indicação não era para a vitória, mas para a derrota.
Os eventos políticos de Minas, as crises comuns, certas vacilações e sobretudo
os conflitos existentes entre os grupos majoritários fizeram com que o grupo político que
apoiava Milton Campos se transformasse numa força poderosa que o levou ao triunfo
nas urnas de dezembro de 1947. E Milton Campos instalaria então um governo que, de
fato, provocaria repercussão em todo o País, porque seria um governo em que a lei
constituiria o primado da ação do Poder Executivo e o interesse público seria elevado à
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perseguição maior daqueles que comandariam o nosso Estado. Ele organizou uma
plêiade, uma equipe notável de auxiliares, que mais tarde assumiriam posições de
destaque na vida nacional, como Pedro Aleixo, Américo Giannetti, Magalhães Pinto,
Baeta Viana, Orlando Carvalho, Rodrigues Seabra; dentro do seu gabinete de trabalho:
Abílio Machado, Edgar da Mata Machado, Carlos Horta Pereira; e, como Chefe da
Segurança Pública do Estado, Campos Cristo. Todos eles figuras que se destacavam
pelos seus atributos e qualidades na vida pública de Minas Gerais.
O Governo de Milton Campos foi realmente modelo, exemplo democrático que
lançou por todo o País a notícia de que o Brasil de fato, depois de 1946, após a
Constituição daquele ano, poderia ter um homem de altas qualificações para governar e
para implantar de forma enérgica e veemente, embora com estilo ameno, os melhores
princípios democráticos.
Pouco tempo depois de sair do Governo, Milton Campos foi eleito Senador da
República pelo seu Estado. Passou, então, continuadamente, a emprestar sua figura a
duas campanhas eleitorais que marcaram, indiscutivelmente, a história do nosso País
na década de 50. Ele foi candidato a Vice de Juarez Távora, numa grande coligação,
derrotada por Juscelino Kubitschek; depois foi candidato a Vice de Jânio Quadros.
Embora perdendo nas urnas, continuou, no Senado Federal, a ser a figura excelsa que
o País inteiro reconhecia como um dos maiores homens públicos daquela geração.
Os eventos políticos levaram o Brasil ao Movimento de 1964. Nós tivemos, após
aquele instante também histórico e marcante que revolucionou a vida brasileira, nova
fase: Milton Campos é convocado para o cargo de Ministro da Justiça. Ficou pouco
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tempo à frente dessa importante Pasta, porque, indiscutivelmente, seu temperamento e
mesmo suas inclinações, como dissera o Presidente Castello Branco, no momento em
que fora convocado, não teriam condições de se adaptar àquele instante de
modificações profundas, naquele momento em que a posição revolucionária do
Governo exigia modificações e alterações no quadro político e jurídico do País.
Milton Campos afastou-se do Governo de Castello Branco e, daí para a frente,
como Senador da República, passou a acompanhar os eventos políticos do País,
sempre fiel ao mandato obtido do povo mineiro, como membro da Aliança Renovadora
Nacional, mas nem sempre concordando com as decisões governamentais que se
desdobraram ao longo dos anos, até que o País, com seu falecimento, perde sua
presença no quadro político brasileiro.
A vida de Milton Campos — e essa é uma afirmação que fizemos numa palestra
no Instituto dos Advogados Mineiros — foi uma existência em que, valendo-nos dos
conceitos de Hegel e não de Marx, a dialética esteve presente em todo o desenrolar
dos seus dias, em todos os instantes da sua presença terrena.
Milton Campos se vinculava de corpo e alma às idéias que defendia. Era uma
liderança que julgava que a vida pública deveria ser um esforço de comportamento em
prol daqueles princípios que adotava. Percebe-se que ao longo de sua trajetória
humana há momentos de grande alegria em que ele julga que o País irá ao encontro
dos ideais que configuram suas metas, mas, logo depois, há períodos de pessimismo,
tristeza e amargura, porque vê que a aplicação daqueles princípios aos quais tanto se
dedicara não conseguiam dominar plenamente os dados da realidade nem implantar-se
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definitivamente no convívio da sua comunidade. Assim aconteceu ao participar da
Aliança Liberal em 1930, para depois se colocar entristecido contra os já iniciais
arremessos ditatoriais de Vargas, no início daquela década.
Em 1936, o seu melhor caminho — era o que lhe parecia — foi aquele que as
forças políticas de Minas, unidas, deram a um grupo poderoso então dominante em
nosso Estado. Mas logo verificou que esse agrupamento de forças iria fortalecer o
Chefe do Poder de então para que desse o golpe de Estado no ano seguinte, em 1937,
levando o País a um período autoritário. Mais uma vez sofre Milton Campos uma
decepção.
De fato, o momento mais glorioso da sua história, aquele instante em que mais
viveu a vida política como desejava, foi durante a governança do Estado de Minas
Gerais, embora, no final do seu mandato, não tenha recebido os merecidos aplausos.
Cai, então, no ostracismo e, mais uma vez, vive um instante de amargura na sua
caminhada política.
As suas duas candidaturas a Vice-Presidente da República foram imposições
que lhe fizeram, porque nem uma nem outra representavam para ele, naquele instante,
um passo a ser dado para o desenvolvimento político do seu tempo.
Foi candidato a Vice-Presidente na chapa de Juarez Távora, mas não sei se as
palavras do grande militar brasileiro, com tendências um tanto autoritárias,
representava, de fato...
O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Ilustre Deputado, o seu tempo está
esgotado, mas esta Presidência vai conceder-lhe mais dois minutos para a conclusão
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do seu pronunciamento.
O SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA – Cinco minutos, Sr. Presidente.
O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Perfeitamente. Como V.Exa. é o
autor da proposição, esta Presidência vai conceder a V.Exa. mais cinco minutos.
O SR. BONIFÁCIO DE ANDRADA – Logo depois, Milton Campos acompanhou
Jânio Quadros e também não encontrou nesta campanha, por certo, aqueles aspectos
positivos que poderiam lhe dar maiores momentos de alegria política dentro da vida
nacional.
Ministro da Justiça, afastou-se do processo revolucionário por entender que o
momento não era propício para a sua ação e para o seu temperamento. Nos últimos
anos de sua existência, fez um discurso memorável no Senado da República, onde
deixou, mais uma vez, a demonstração inequívoca da sua solidariedade ao partido e
também a sua discordância dos atos e fatos que ocorreram naquela época, vindos de
lideranças militares que dirigiam o País.
Sr. Presidente, peço a V.Exa. um pouco mais de paciência, para relembrar aqui
algumas das afirmações de Milton Campos, que devem realmente estar inseridas em
nossa fala, porque expressam, de forma indiscutível, não só sua vocação, sua
ideologia, mas também e sobretudo instantes marcantes da história de Minas e do
Brasil.
“O meu governo será mais da lei do que dos homens.” E o foi, nas práticas do
dia-a-dia, no manejo jurídico das suas ações à frente do Palácio da Liberdade.
“O meu governo será modesto, como convém à República, e austero, como é do
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gosto dos mineiros.” Era Milton Campos indo ao encontro da coletividade do seu
Estado. Marcava, assim, com essas palavras, com o modo de ser dos homens de
Minas, com a sua modéstia de comportamento, além de sua devoção à austeridade
permanente.
Outra: “Ao invés de policiais para deter os grevistas revolucionários, não será
melhor enviar o trem pagador para fazer o pagamento do que o Estado deve àqueles
pobres operários?” Foi a resposta do governante de Minas Gerais ao então chefe de
polícia, que pretendia anular o movimento grevista dos ferroviários desejosos de
receber os seus salários, num momento também muito significativo da vida política de
Minas.
Num célebre discurso no Senado da República, quando declarou as razões pelas
quais não esteve presente na escolha do Presidente Médici à mais alta Magistratura do
País, Milton Campos afirmou, de forma, aliás, bem enunciada, e que serve como
recomendação aos legisladores do futuro: “A disciplina partidária é necessária aos
partidos, mas não pode ser rígida ao ponto de abalar as consciências dos filiados”.
Sr. Presidente, quero, ao final destas palavras, relembrar parte de um texto de
Milton Campos, mas que não consegui encontrar para ler neste plenário, sobre João
Luiz Alves, outro ilustre mineiro que representou Minas nesta Casa, no Senado Federal
e no Supremo Tribunal Federal.
Dizia Milton Campos que via três tipos de homens públicos: os idealistas,
aqueles que colocavam toda a sua força, toda a sua atividade em busca da realização
das suas idéias; os realistas, que esperavam o momento certo para lutar e conseguir
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fazer prevalecer suas idéias; e os oportunistas, que não tinham idéias, porque as idéias
eram do cargo que eles ocupavam.
Essa crítica a respeito dos homens públicos é um dos dados interessantes que
ele assinalou à vida pública brasileira. Mas cumpre-me aqui dizer que rememorar Milton
Campos, para nós, mineiros, é uma evocação que a todo instante nos emociona, que
nos apaixona, que nos perturba, que nos sensibiliza e que nos empurra para a boa
política. A vida de Milton Campos é patrimônio da história que reverenciamos,
saudosos, com as melhores das nossas homenagens e com a demonstração
inequívoca do apreço da Câmara do Deputados, a que ele soube servir e onde ele
soube viver um dos mais belos momentos de sua existência política.
Muito obrigado. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Dando seqüência à sessão solene,
concedo a palavra ao Deputado Eduardo Barbosa, pelo PSDB. Faço saber aos Srs.
Parlamentares que temos reunião extraordinária marcada para as 11h e, portanto, cada
Deputado terá cinco minutos para proferir o seu pronunciamento.
O SR. EDUARDO BARBOSA (PSDB-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.
Presidente, o Líder do PSDB, Aécio Neves, gostaria de estar aqui neste momento e já
tinha inclusive se programado para isso. No entanto, impedido por uma reunião de
última hora com o Presidente da República, designou-nos para representá-lo e ao
PSDB, em particular o de Minas Gerais, o que faço com muito orgulho e com muita
humildade, já que estou ao lado dos grandes líderes daquele Estado que, com
sabedoria, poderão descrever a biografia do ilustre Milton Campos. Como político de
nova geração, é importante estar nesta Casa pronto a aprender com essa grande
liderança do nosso País.
“Reencontra-se esta Casa consigo mesma, no momento em que evoca e cultua
a memória de Milton Campos, testemunha reverente que foi de sua atuação neste
recinto, a que sua presença conferia uma maior dimensão de grandeza. Nenhum outro
sítio mais adequado seria do que este para o reconhecimento e a proclamação dos
méritos desse brasileiro invulgar. Amante da concepção democrática, servidor da
pregação liberal, foi aqui, por certo, entre todos os encargos a que a vida política o
conduziu, que o seu idealismo melhores condições de afirmação e convivência
encontrou.”
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Com estas palavras, o Deputado Aécio Cunha iniciou sua oração na homenagem
póstuma com que a Câmara dos Deputados pranteou, em 1972, o desaparecimento de
Milton Campos, um dos maiores e mais respeitáveis homens públicos da história do
Brasil.
Com as mesmas palavras, iniciamos nós, passados 28 anos, o pronunciamento
que temos a honra de fazer, em nome da Liderança do Partido da Social Democracia
Brasileira, na sessão solene comemorativa do centenário de nascimento de Milton
Campos, proposta por nosso companheiro Deputado Bonifácio de Andrada, ao lado de
quem, com muita honra, nos encontramos.
Mineiro de Ponte Nova, onde nasceu em 1900, nosso homenageado veio ao
mundo sob o signo do amor às letras e da destinação política. Não surpreende, pois,
que logo tenha conquistado o apreço e o afeto dos companheiros de geração — e que
geração! —, em que brilhavam, na Belo Horizonte do começo do século, valores como
Pedro Aleixo e Gustavo Capanema, Afonso Arinos de Melo Franco e Carlos Drummond
de Andrade, Cyro dos Anjos e Rodrigo Melo Franco de Andrade, Pedro Nava e Abgar
Renault. Compreende-se, assim, a admiração e o respeito que Drummond dispensava
a Milton Campos, na opinião do poeta, o orientador involuntário e despretensioso da
geração a que pertencia.
Jornalista, advogado, professor e escritor, Milton Campos era, sobretudo,
político, na mais alta e mais nobre acepção que se possa conceder à palavra. Em 1943,
apresenta-se como um dos mais decididos e importantes signatários do famoso
“Manifesto dos Mineiros”, com que, pela primeira vez, os defensores da democracia, da
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liberdade e da justiça manifestavam-se publicamente contra a opressão e o jugo do
Estado Novo.
Pressentindo a cólera com que Getúlio Vargas reagiria ao documento, Milton
Campos teria comentado: “Este Manifesto, se não fizer onda, certamente abrirá vagas
(...)”. Como realmente abriu, a começar por ele próprio, com a exoneração do cargo que
ocupava na Caixa Econômica Federal — a que só voltaria dez anos depois, por decisão
do Supremo Tribunal Federal.
O gracejo de Milton nos lembra alguns dos seus traços mais pitorescos e
representativos: o temperamento alegre, o humor refinado, a observação espirituosa, o
comentário inteligente, a sabedoria com que se punha a ver o espetáculo dos homens e
da vida. Candidato, nas eleições de 1947, ao Governo de Minas, conta-se que teria
declarado, ao saber do bom desempenho na campanha: “Corro o perigo de ser eleito
(...)”.
Governador do Estado — para surpresa dele próprio, ao que parece —, não se
descontrolou ante a greve dos ferroviários da Rede Mineira de Viação, em Divinópolis,
pelo pagamento de salários. Ao assessor que lhe propusera responder à manifestação
com um trem cheio de soldados da Polícia Militar, sugeriu: “Não seria melhor mandar o
trem pagador?”.
Assim era Milton Campos: um homem simples e bom, sensato e generoso.
Deputado Estadual, Deputado Federal, Governador de Minas Gerais, Senador da
República e Ministro de Estado, protagonizou uma das mais fulgurantes carreiras da
nossa política. Trajetória em que se revelou, sobretudo, mineiro, pela sobriedade e pela
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prudência, pela ponderação e pela temperança com que encarnou à perfeição o célebre
— e algo misterioso — espírito da “mineiridade”. Leia-se, como prova, o que certa vez
afirmou: “Em verdade, o meio-termo é uma posição de coragem (...). O ponto extremo é
mais cômodo, porque oferece uma definição precisa e dispensa as constantes revisões
que a realidade suscita. É um compromisso teórico e sistemático, cuja firmeza está em
contraste com as vertiginosas mutações da vida real. O ponto intermediário é mais
propriamente uma zona fronteiriça, de contornos imprecisos e lindes esquivas, mas
onde mais adequadamente se demarca a área da realidade”.
Vê-se que Milton Campos pensava bem e, exatamente por isso, escrevia bem,
com a elegância e o primor de um verdadeiro estilista. Suas páginas muitas vezes nos
impressionam menos pela grandeza do político do que pelo talento do escritor: “Diz
uma oração que este mundo é um vale de lágrimas. Em frase ainda mais líquida, é um
oceano de amargura. Não vale a pena viver nadando eternamente, a romper com o
peito as ondas. É melhor que fiquemos, a princípio, no raso, construindo pacientemente
nosso batel. Depois (...) ‘soltem-se os remos!’ — e vagaremos serenamente à flor das
águas, a ver a asa das gaivotas cortando o azul do céu (...)”.
Não se creia, no entanto, que essa índole poética, essa percepção amena lhe
tolhessem a sensibilidade social, a ação política. Pelo contrário: delas provinham a
atenção e o interesse que dispensava aos problemas brasileiros, às grandes questões
da nacionalidade. Como Deputado Federal e como Senador da República, bateu-se
pela reforma agrária, pelo aperfeiçoamento do processo eleitoral, pela melhora das
instituições políticas e pelo aprimoramento do Poder Judiciário — temas que se
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impõem, ainda hoje, como da maior importância para o Estado e para o povo brasileiro.
Esse o Milton Campos a quem prestamos a mais respeitosa e sincera
homenagem, em nome da Liderança do Partido da Social Democracia Brasileira. Se
repetimos, no intróito do nosso pronunciamento, as palavras com que o Deputado Aécio
Cunha lhe deplorou a morte, desejamos encerrá-lo com o adeus que proferiu o
Deputado Tancredo Neves, na homenagem póstuma desta Casa ao grande brasileiro
de quem hoje comemoramos o centenário do nascimento: “Consideramos Milton
Campos uma página na nossa História, um lance nas tentativas democráticas que se
repetem e um triunfo a sua existência. Homens de tal porte enobrecem um país, dão
sentido positivo à sua cultura e se tornam modelos que espontaneamente se impõem
às gerações que nos vierem suceder. A lembrança de Milton Campos há de
permanecer imaculadamente pura entre nós, sobrevivendo apesar da morte,
atravessando a treva, varando a noite, brilhando com a luz que ilumina os caminhos,
como símbolo da democracia que foi uma das razões de sua vida pública”.
Desta forma, aliando-nos a todos os mineiros desta Casa, deixamos aqui a
homenagem do PSDB ao nosso tão querido e lembrado Milton Campos.
Muito obrigado. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Philemon Rodrigues) – Para continuação da sessão solene
em homenagem ao centenário de nascimento de Milton Campos, concedo a palavra ao
Deputado Eliseu Resende, pelo PFL.
Convido o Deputado Bonifácio de Andrada para assumir a Presidência da sessão
solene.
O SR. ELISEU RESENDE (PFL-MG. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Parlamentares, meus senhores e minhas senhoras, o povo
brasileiro, por meio de seus legítimos representantes nesta Casa do Parlamento
Nacional, presta culto à memória de Milton Soares Campos, ao ensejo do transcurso do
centenário de seu nascimento.
Das mais completas personalidades que passaram pela atividade
político-administrativa de nosso tempo, têm sido relembradas e salientadas, em
memoráveis discursos, suas qualidades de homem público, de advogado e
jurisconsulto, de pensador e homem de letras, ressaltando-se o amadurecimento de
seu espírito, o equilíbrio de seu raciocínio político e a firme coerência de seus atos,
todos a revelar como o cidadão exemplar completava as virtudes do homem de bem.
Recebendo a honrosa incumbência do PFL para falar nesta sessão dedicada a
esta homenagem, sinto imperiosa necessidade de destacar um aspecto da
multifacetada vida pública de Milton Campos, não para preencher uma lacuna, nem
pelo desejo de originalidade, senão porque é a seara à qual modestamente dedico
minha atividade.
Trago, portanto, para registro nos Anais desta Casa, Sr. Presidente, documento
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escrito em que elaboro trabalho a respeito do que poderíamos chamar “Milton Campos,
um intelectual na ação administrativa”.
Inicialmente, para completo conhecimento da época e do meio em que atuou,
justificando essa perfunctória análise, é necessária ligeira digressão histórica, para bem
situá-lo no seu conturbado tempo e no seu espaço entre os montanheses.
A Revolução de 1930 pusera termo definitivo à política do café com leite, o
velho acordo destinado a colocar a Presidência da República como simples alternativa
entre mineiros e paulistas, os dois maiores Estados da Federação na época, os quais
disputavam, quase em igualdade de condições, a primazia do domínio econômico-
financeiro do País e cujos quadros humanos eram marcados pela identificação de
princípios, de processos e de propósitos.
Afinal, o que somos nós, mineiros, nos primórdios de nossa formação, senão os
mineradores paulistas desiludidos da procura do eldorado que as bandeiras iam fixando
como agricultores pelas ínvias trilhas do exuberante solo das Gerais?
Durante aquele período, até a denominada queda da ditadura Vargas, ocorrida
em 1945, após a 2ª Grande Guerra Mundial, acentuou-se a predominância paulista,
sentindo-se a habilidade com que o Poder Central cuidara de impedir a reedição da
temida coligação política de ambas as províncias.
Eleito Presidente da seção mineira da Ordem dos Advogados, na chapa
oposicionista ao Governo, Milton Campos trabalhara febrilmente, no Instituto dos
Advogados, em favor da publicação do documento hoje nacionalmente conhecido como
"Manifesto dos Mineiros", o mais veemente apelo em favor dos princípios democráticos
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então publicado, marco inicial no processo de redemocratização logo verificado. Já se
revelava, nesses episódios, pelos gestos afirmativos e o vigor de sua cultura, o
intelectual se completando pelo homem de ação.
Em Minas Gerais, à saída de Benedicto Valladares Ribeiro do Governo
Estadual, após 9 anos de exercido, sucederam-se as denominadas interventorias.
Inicialmente, a alta administração do Estado foi entregue ao Poder Judiciário,
assumindo a governadoria o Presidente do Tribunal de Justiça, Desembargador Nísio
Baptista de Oliveira, de novembro de 1945 a fevereiro de 1946. Depois, já eleito
Presidente o Marechal Eurico Gaspar Dutra, na ânsia de desarticular o sistema Vargas,
procurou interferir na sucessão mineira, da qual o “valadarismo” era considerado o
esteio, nomeando interventores à mercê das possibilidades de determinadas
candidaturas ao Palácio da Liberdade: João Tavares Correia Beraldo, de fevereiro a
agosto de 1946; Júlio Ferreira de Carvalho, de agosto a novembro 1946; Noraldino de
Lima, em novembro e dezembro do mesmo ano; e, finalmente, Alcides Lins, de 21 de
dezembro de 1946 até a transmissão do cargo ao Governador eleito, em 18 de março
de 1947, justamente Milton Soares Campos, que fora lançado candidato para o
sacrifício, tal a certeza antecipada da derrota, mas, mercê da hábil ação eleitoral
empreendida, sagrou-se vencedor e governou o Estado até 31 de janeiro de 1951.
O que as sucessivas mudanças de governo representaram nas combalidas
finanças públicas, na administração e na economia mineiras, no período que precedeu
a posse do eleito, é fácil de imaginar: seis interventores, com missões, ações
governamentais e entendimentos inteiramente diversos, em apenas dezesseis meses
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sucessivos.
A eleição do homenageado de hoje resultou de interessante e excepcional
convergência de forças. Formados os partidos políticos, predominava o Partido Social
Democrático, em cujo seio, no entanto, formou-se uma dissidência para apoiá-lo, mas a
maioria, unida ao Partido Trabalhista Brasileiro, situou-se na oposição; na base de
apoio ao Governo recém-eleito, a União Democrática Nacional, o Partido Republicano e
poucos partidos menores.
Concomitantemente, foram eleitos os Deputados para a Assembléia Legislativa,
com a missão de votar e promulgar urna nova Constituição Estadual, conseguindo o
Governo, ainda como resultante de dissidência pessedista, uma base de 36
Parlamentares, contra 36 oposicionistas e 1 Deputado comunista, “livre-atirador”, como
fiel da balança, decidindo as questões mais controvertidas, quando ocorria empate em
alguma votação.
Um dos exemplos mais sensíveis das dificuldades políticas defrontadas foi a
eleição indireta, que a seguir se processou, para preenchimento do cargo de
Vice-Governador, recaindo no nome oposicionista do Deputado pessedista José Ribeiro
Pena.
Milton Campos, assim distanciado do Poder Central e visando a um governo
"mais das leis do que dos homens”, procurou compor seu secretariado com os nomes
mais sugestivos de sua coligação, mais tarde projetando-se na vida pública nacional:
Secretaria do Interior e Justiça, Pedro Aleixo; Agricultura, Comércio, Indústria e
Trabalho, Américo Renné Giannetti; Fazenda, José de Magalhães Pinto e, mais tarde,
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Cândido Lara Ribeiro Naves; Viação e Obras Públicas, José Rodrigues Seabra;
Educação e Cultura, Augusto Mário Caldeira Brant; Saúde, José de Baeta Viana.
Resultara da campanha compromisso solene, representativo de formidável
desafio ao descortino e à ação do ungido nas urnas, pelo empenho de sua palavra: "À
estruturação democrática das nossas instituições políticas, brilhantemente conseguida
pela Constituição de 18 de setembro, vai seguir-se a prática dos princípios nela
consagrados, pelo conteúdo de realidade com que vamos completar a obra iniciada”.
O presente impunha, assim, a pronta reorganização institucional do Estado,
dotando-o dos diplomas legais indispensáveis ao fiel desempenho da administração
pública, sob as novas inspirações do Estado Democrático.
As interventorias passadas, efêmeras no tempo, mas duradouras nas despesas
permanentes e pouco preocupadas com as receitas públicas, haviam tornado
indispensável a imediata reorganização das finanças; e as perspectivas do futuro
demandavam planejamento econômico a um tempo condizente com as pujantes
necessidades do insopitável desenvolvimento estadual e à altura das aspirações e das
esperanças do povo mineiro.
“Austero, como convém à República, e simples, como é do gosto dos mineiros”,
sem alarde, sem divulgação, ele pôs mãos à obra e conseguiu, em quatro meses, fazer
promulgar a nova Constituição do Estado, datada de 14 de julho de 1947; a Lei de
Organização Municipal foi sancionada em 22 de novembro do mesmo ano; em julho,
ele já havia publicado o decreto-lei instituindo a Taxa dos Serviços de Recuperação
Econômica e de Fomento à Produção, incidindo sobre as transações de qualquer
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natureza; concedeu-se, paralelamente, isenção tributária às indústrias que se
instalassem no Estado; e, em dezembro do mesmo ano, expediu decreto contendo o
Regulamento dos Minérios, criando assim as bases indispensáveis à execução do seu
Plano de Recuperação Econômica, logo dado a público.
Ainda no primeiro ano de seu mandato, voltado para os aspectos sociais,
desapropriou 6.143.500m2 de terrenos necessários à construção da vila operária na
então florescente “Cidade Industrial”, no Município de Contagem, limítrofe à Capital
mineira; publicou as indispensáveis alterações na Organização Judiciária do Estado;
criou o Departamento Jurídico; reorganizou a Chefia de Polícia e a estrutura da Polícia
Militar; promoveu a revisão das aposentadorias políticas do chamado Estado Novo;
publicou o Regulamento da Assistência Judiciária; deu início às obras do novo prédio
do Palácio da Justiça (então denominado Fórum Lafayette e hoje integrando o conjunto
da sede do Tribunal de Justiça); e autorizou alienação de imóveis para obtenção de
recursos destinados à edificação da nova sede da Secretária de Agricultura.
Há pequenos detalhes a evidenciar a grandeza do seu espírito: seu adversário
nas urnas fora o grande chefe pessedista, mais tarde também Governador do Estado,
José Francisco Bias Fortes; do pai deste, o ex-Presidente da Província, Chrispim
Jacques Bias Fontes, em cujo Governo a Capital do Estado foi transferida de Ouro
Preto para a recém-construída Belo Horizonte, comemorar-se-ia o centenário em 25 de
outubro de 1947. Milton Campos declarou a data festa cívica e mandou comemorá-la
solenemente em todas as unidades escolares do Estado, delas participando
ativamente.
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Portanto, empossando em março, já no final do seu primeiro ano de Governo
dispunha do instrumental legislativo indispensável ao fiel desempenho de seu mandato
e ao cumprimento de seu compromisso com os destinos do Estado.
O Plano de Recuperação Econômica foi o mais completo documento de ação
governamental à época. A Fundação João Pinheiro, notável centro de estudos da
economia mineira, acaba de publicar interessante trabalho a respeito, denominado
“Minas Gerais — Uma introdução ao seu desenvolvimento e cultura”, dando a Milton
Campos, no seu mandato, um fator decisivo para essa evolução e para introdução da
fase de planejamento econômico e industrial do Estado.
Desse trabalho se extraem as seguintes oportunas observações:
A idéia de planejamento no Brasil formou-se ao longo
dos anos 30, em função do conjunto de instituições criadas e
da participação crescente do Estado na economia, como
regulador e produtor. Esta idéia se tornou clara em fins do
Estado Novo, com a criação da Comissão de Planejamento
Econômico, em 1944, e do célebre debate travado naquela
Comissão entre Roberto Simonsen, defensor do
planejamento e da industrialização, e Eugênio Gudin,
montearia, a favor da agricultura e do liberalismo econômico
(...).
Os mineiros assimilaram antes que qualquer outro
Estado brasileiro as idéias de planejamento e da
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industrialização como caminho para a superação do atraso
econômico, daí sua precocidade em termos de elaboração
de planos e montagem da infra-estrutura como suporte à
industrialização.
O analista observa:
Em síntese, em 1946, a situação da economia
mineira continuava crítica, especialmente pela indefinição de
rumos. Os resultados da expansão econômica dos primeiros
anos de 1940 mostraram-se insignificantes diante da
situação geral do Estado, pela sua extensão e pelos
problemas que acumulava. A emigração continuava de forma
significativa, refletindo as dificuldades da economia mineira.
Naquele período, São Paulo, como centro industrial mais
desenvolvido, absorvera de forma crescente a expansão
industrial do País. O atraso relativo acentuara-se. Fato que
se refletiu de forma clara no Programa de Recuperação
Econômica e Fomento da Produção, elaborado pelo governo
estadual no ano de 1947, primeira tentativa de planejamento
da economia mineira.
Abordando, em seguida, o problema referente à criação da ACESITA — Aços
Especiais Itabira S.A. — prossegue o estudo:
Este projeto demonstrava a crença dos mineiros na
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viabilidade de uma usina a carvão vegetal no Vale do Rio
Doce. Os trabalhos para implantação da usina começaram
em 1945, e os da Usina Hidrelétrica de Sá Carvalho, com
potência de 48.000Kw., em 1947. Em 27.04.49 — isto é, em
pleno Governo Milton Campos — foi feita a primeira corrida
de gusa. Em agosto de 1951, inaugurou-se a Usina
Hidrelétrica, e, em setembro, a aciaria.
Embora o diagnóstico da situação econômica do
Estado tenha sido feito de forma insuficiente, o Plano de
Recuperação listou um conjunto de projetos e programas que
cobria praticamente todas as atividades econômicas e
assistenciais. Porém, a preocupação básica era com a
industrialização; 78% dos investimentos previstos pelo plano
destinavam-se a transportes e apoio à industrialização e 67%
exclusivamente a energia e transportes.
Para promover a industrialização, teriam que ser
montados os pontos de apoio. A falta de energia elétrica era
vista como um dos principais obstáculos à industrialização.
Argumentava-se que, não existindo combustíveis
sólidos e/ou líquidos no Estado, e dado o grande potencial
hidráulico existente, a saída seria a instalação de grande
sistema elétrico para suportar a industrialização, fornecendo
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energia a baixo preço. E o agente teria que ser o setor
público, dados os elevados custos e os ônus para as
empresas privadas.
Oferecer ao consumidor energia a baixo preço será,
em breve, a pedra angular da expansão industrial do Estado,
que, com isso, atingirá um nível de civilização mais elevado.
Para tanto, previu-se a montagem da usina de Salto Grande,
no Rio Santo Antônio, com 60.000 HP, na primeira fase,
podendo atingir até 150.000 HP. Seria também construída
uma nova cidade industrial, próxima a Belo Horizonte, no
Município de Santa Luzia.
Relembra esse trabalho a abrangência desse Plano, prevendo nova política
fiscal, de financiamento e de amparo à produção, política de transportes, produção de
adubos, calcário moído, e a montagem de uma rede de frigoríficos em Belo Horizonte,
Montes Claros, Pirapora, Ibiá, Governador Valadares e no Triângulo Mineiro. Examina
ainda as dificuldades defrontadas em sua execução. E conclui:
Em síntese, a administração Milton Campos, embora
não tenha conseguido executar com sucesso seu plano de
governo, legara ao seu sucessor um quadro mais ou menos
claro da situação econômica do Estado e dos principais
problemas, bem como um conjunto de instrumentos. A
primeira tentativa de planejamento permitiu equacionar os
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problemas prioritários. O Plano de Eletrificação indicava ao
governo a política a ser seguida no setor. A Taxa de Serviços
de Recuperação Econômica e o sistema de incentivos à
industrialização mostraram-se posteriormente dois
importantes instrumentos. Achavam-se, pois, colocadas as
bases para uma nova etapa de política econômica.
O Governo seguinte se aproveitaria desses
instrumentos e conhecimentos acumulados e sintetizaria sua
ação no bem sucedido binômio: energia e transporte.
Senhoras e senhores, a Nação sabe que o governo seguinte, referido no
estudo, foi o do também saudoso Presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, eleito
Governador em sucessão a Milton Campos.
Ambos hoje pertencem à História. Ambos constituem páginas sagradas para nós,
brasileiros e mineiros, que nos ufanamos de tê-los como ex-governantes de nosso
Estado, já comparados, por outro grande mineiro, a Gladstone e Disraelli, em festejado
estudo sobre essas notáveis personalidades.
Não desmerecerá os inegáveis méritos e a grande visão de estadista do
segundo fazer-se essa justiça ao seu antecessor, cujos comedimentos e modéstia
jamais lhe permitiram, em vida, fazer alarde dessa verdade, que agora aflora à
superfície do conhecimento público, através daquele trabalho técnico a que fiz
referência neste despretensioso pronunciamento.
Considero poder concluir serem esses os principais marcos do intelectual na
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ação administrativa: o conhecimento e o descortino, repetindo sua reflexão, quando se
dirigiu ao povo mineiro, na Casa Legislativa, ao promulgar a nova Constituição, na
sugestiva data de 14 de julho de 1947, baseada no pensamento de Alain:
Que não seja vã e sem sentido a coincidência da
promulgação da Constituição Mineira com a data em que se
comemora a queda da Bastilha. Essa circunstância está
indicando a todos os cidadãos um pensamento de resistência
democrática que bem se poderia sintetizar neste conceito do
pensador francês: “Se impedíssemos cada dia que se
levasse uma pedra à Bastilha, nós nos pouparíamos o
trabalho de demoli-la”.
Para encerrar, este é Milton Soares Campos, um intelectual em ação. (Palmas.)
Durante o discurso do Sr. Eliseu Resende, o Sr.
Philemon Rodrigues, § 2° do artigo 18 do Regimento Interno,
deixa a cadeira da presidência, que é ocupada pelo Sr.
Bonifácio de Andrada, § 2° do artigo 18 do Regimento
Interno.
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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Com a palavra o nobre Deputado
Glycon Terra Pinto, pelo PMDB.
O SR. GLYCON TERRA PINTO (Bloco/PMDB-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, convidados presentes, a reverência que hoje
fazemos à memória de Milton Campos, por ocasião do centenário de seu nascimento, é
mais do que justa. Trata-se de irrecusável reconhecimento do valor de um homem que,
ao longo de quase quarenta anos de vida pública, ofereceu à Nação testemunho
permanente de retidão, de integridade e, acima de tudo, de observância intransigente
de princípios éticos e morais mais que quaisquer outros interesses.
Para Milton Campos, exercer um cargo público significava, sobretudo, o
cumprimento de um dever, muitas vezes penoso. Fundador da UDN, ele jamais buscou
no exercício do poder os dividendos decorrentes do prestígio, da glória e da
notoriedade. Nunca se eximiu, porém, de praticar todos os atos políticos que a sua
exigente consciência cívica cobrava.
Foi assim quando assinou o “Manifesto dos Mineiros”, em 1943, o primeiro golpe
mortal contra a ditadura do Estado Novo. O gesto custou-lhe a demissão da Caixa
Econômica Federal, onde era funcionário, e contribuiu para conduzi-lo a uma cadeira de
Deputado na Assembléia Constituinte, menos de três anos após a deposição de
Vargas.
Milton Campos chegou ao Palácio da Liberdade em 1947 e durante os quatro
anos em que exerceu o Governo de Minas jamais aplicou os métodos políticos
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rotineiramente usados para constituir um sólido patrimônio eleitoral para o seu partido.
Nunca nomeou nem demitiu visando conquistar cabos eleitorais fiéis à UDN e,
quando o PSD elegeu Juscelino Kubitschek para sucedê-lo, foi acusado pelos velhos
coronéis do seu partido de ser um mau político, embora homem inegavelmente justo,
probo e bem-formado.
Milton Campos, contudo, seguiu fiel a seus princípios, desprezando solenemente
tanto as triviais manobras eleitoreiras como a pompa do poder. Nunca pretendeu usar o
seu prestígio político para fazer carreira e por isso pôde-se dar ao luxo de recusar, por
três vezes, indicações para tornar-se Ministro do Supremo Tribunal Federal.
No primeiro convite, durante o Governo de Castello Branco, declarou-se
impedido, porque a vaga que lhe era oferecida fora criada por lei que ele próprio
preparara como Ministro da Justiça, para aumentar o número de Ministros do Tribunal.
Na segunda vez, já no final do Governo Castello Branco, não aceitou, porque se
sentia obrigado a cumprir o compromisso assumido com a Arena mineira para
candidatar-se ao Senado.
Na terceira, durante o Governo Costa e Silva, alegou idade avançada que o
obrigaria a aposentar-se poucos meses depois e enviou ao amigo Pedro Aleixo, então
Vice-Presidente da República e intermediário do convite, esta antológica manifestação
de integridade moral:
(...) já vou completar 69 anos e, a partir da nomeação e da
posse, eu acabaria por exercer as funções durante menos de
um ano, já que em agosto de 1970 me aposentaria pelo
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implemento da idade.
Essas condições me fariam, pela transitoriedade, um
Ministro de investidura precária, com sacrifício, talvez, da
autoridade que se deve ter e da reverência de que deve ser
cercado um juiz da Corte Suprema.
Eis como, por irresistível imposição da consciência,
ainda uma vez vejo abertas para mim as portas do Supremo
Tribunal e, entretanto, não as transponho, como me seria tão
honroso.
Esta é apenas uma entre as muitas e admiráveis lições de retidão e de integral
dedicação à causa pública que Milton Campos nos ofereceu durante 39 anos de intensa
atividade política.
Hoje, quando esta Casa reúne-se para prestar tão merecida homenagem a este
grande cidadão brasileiro, faço votos de que a lembrança de Milton Campos continue a
brilhar na memória nacional como paradigma do primado da Ética na Política,
iluminando as trajetórias de muitas gerações de brasileiros.
Obrigado, Sr. Presidente. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) - Tem a palavra o Deputado Virgílio
Guimarães, pelo Partido dos Trabalhadores.
O SR. VIRGÍLIO GUIMARÃES (PT-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.
Presidente, Sras. e Srs. Deputados, falo aqui como Parlamentar do Partido dos
Trabalhadores e como mineiro.
Como Parlamentar do PT, presto homenagem ao centenário de nascimento de
um grande liberal, cidadão militante e coerente com suas idéias, com sua trajetória, com
seu patriotismo. Esse mineiro foi um dos fundadores da OAB e da Faculdade de
Filosofia de Minas Gerais, que ajudou a consolidar a Universidade Federal de Minas
Gerais. Como petista, falo de alguém que, como tantos de nós, foi perseguido em
virtude de suas idéias, de sua militância. Por ter sido um dos signatários do “Manifesto
dos Mineiros”, foi cassado profissionalmente.
O jurista Milton Campos, nas condições mais difíceis, ajudou a construir o
ordenamento jurídico do País. Mesmo tendo assumido o Ministério da Justiça num
momento pouco jurídico, teve o senso de oportunidade para ali, naquela condição,
plantar algumas das nossas mais basilares leis, que até hoje estão a prestar serviço ao
ordenamento jurídico e à vida democrática.
Como disse, falo aqui como representante do Partido dos Trabalhadores, alguém
que segue ideologia de esquerda e tem militância que se distingue da liberal, mas que
guarda com ela identidades. Falo, portanto, com profundo respeito, de alguém com
quem temos divergências. E reconhecemos que a coerência liberal e jurídica de Milton
Campos orientou até mesmo a maneira como ele se retirou do primeiro governo
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autoritário do qual participou por acreditar que apenas transitoriamente teríamos aqui
uma administração que se distanciaria dos processos democráticos.
Como mineiro, não poderia deixar de reconhecer na figura de Milton Campos
alguém que ajudou a construir uma imagem das mais caras para o povo de Minas
Gerais: a do político equilibrado, coerente, probo, austero na sua administração e na
sua trajetória parlamentar. Alguém que, como Governador do Estado, arquitetou as
condições para a retomada do desenvolvimento.
Eleito pela Oposição, Milton Campos soube aproveitar quadros que ali estavam,
não usou a política da terra arrasada e ajudou a construir as bases para o Governo
seguinte.
Aproveitou idéias do Governador João Pinheiro — está presente no plenário o
nosso companheiro ex-Deputado Israel Pinheiro — e plantou bases para o Governo
Juscelino Kubitschek, que o seguiu. O binômio energia e transporte já estava
consignado na ação do Governo Milton Campos.
Sr. Presidente, é com satisfação que presto esta justa homenagem a um
jornalista dos Diários Associados, inspirado pela crônica brilhante do jornalista Dídimo
Paiva, e aos familiares do liberal Governador Milton Campos, que são militantes do
nosso partido, como o ex-Deputado Luiz Soares Dulce, seu sobrinho, e tantos outros.
Falo com agrado de alguém que merece a nossa lembrança, a nossa homenagem, o
nosso respeito. Que sirva de exemplo, pelo seu patriotismo e pelo seu sentimento ético,
para as novas gerações de políticos de Minas e do Brasil.
Muito obrigado. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – A Mesa registra a presença do
ilustre Deputado Israel Pinheiro, representante do Governo de Minas, que nos honra
com a sua presença no plenário.
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DISCURSO DO SR. DEPUTADO IBRAHIM ABI-ACKEL QUE, ENTREGUE À
REVISÃO DO ORADOR, SERÁ POSTERIORMENTE PUBLICADO.
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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Tem a palavra o nobre Deputado
Lincoln Portela, pelo PSL.
O SR. LINCOLN PORTELA (Bloco/PSL-MG. Sem revisão do orador.) – Sr.
Presidente, Deputado Bonifácio de Andrada, propositor desta sessão solene, Sras. e
Srs. Deputados, Senador Francelino Pereira — é um prazer muito grande tê-lo conosco
—, é muito difícil subir à tribuna depois que um Deputado do quilate de Ibrahim Abi-
Ackel discursa de maneira tão maravilhosa.
Falando de Milton Campos, lembro-me de quatro palavras que nortearam sua
vida. Nascido em Ponte Nova, de tradicional família mineira, vivendo e curtindo a
mineiridade, o caráter, as condições, o estilo de vida e aquilo que se lhe apresentava à
frente, através de seus familiares e amigos, Milton Campos pôde estabelecer princípios
em sua vida.
Há um adágio que diz: “Quebrados os princípios e fundamentos, perece o justo ”.
Milton Campos não pereceu, porque ele jamais quebrou seus princípios, como o de
permanecer fiel àquilo que é honesto, justo, íntegro e agradável, ainda que caíssem as
estrelas do céu. Esse homem, que estabeleceu seus princípios, pôde já, ainda jovem,
começando seus primeiros escritos literários, como artigos críticos e ensaios,
estabelecer e crer em algumas promessas que o seu próprio coração lhe havia feito.
Há outro adágio que diz : “Enganoso é o coração; e perverso, quem o
conhecerá?” Mas Milton Campos o conheceu. Conheceu o seu coração e pôde tratar
com as perversidades inerentes ao próprio ser humano, para que elas não fluíssem de
CÂMARA DOS DEPUTADOS - DETAQ REDAÇÃO FINALNúmero Sessão: 217.2.51.O Tipo: Ordinária - CDData: 29/11/00 Montagem: Sérgio/José
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sua vida, tampouco ficassem sufocadas, mas que fossem superadas pela integridade
que também está à disposição de todo aquele que busca o bem comum. Portanto,
Milton Campos pôde crer nas próprias promessas que estabeleceu a si mesmo,
promessas de servir ao povo, promessas de servir às Minas Gerais, promessas de
servir ao Brasil, de ser um homem público decente, íntegro e reto, por causa dos
princípios estabelecidos.
Mas Milton Campos não ficou apenas no “p” do “princípio” ou da “promessa”; ele
encontrou outro: o “p” do “problema”, porque todas as pessoas que estabelecem
princípios e são fiéis às suas próprias promessas, fiéis à atitude de um coração limpo e
preparado para servir com nobreza e dignidade, por certo também enfrentam
problemas.
Em 1937, quando enfrentou calúnias, cassação e perseguição, pôde permanecer
fiel a seus princípios, crendo em suas promessas. Por fim vemos Milton Campos
chegando ao poder — o que seria o quarto “p” —, não o poder como um fim em si
mesmo, mas o poder para servir, para ser útil, para contribuir com o povo mineiro. E o
fez como Governador. Conseguiu reerguer o edifício das Minas Gerais, que naquele
momento vivia um momento confuso, difícil e conturbado.
Milton Campos soube estabelecer princípios, vencer problemas, alcançar o
poder. Sendo eleito mais tarde Deputado Federal e, em seguida, Senador, serviu ao
Estado de Minas Gerais e ao Brasil como exemplo para jovens e homens públicos. E
prosseguiu sua vida mostrando que desta maneira muito poderia fazer por nossa
Nação.
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Concluo este pronunciamento com palavras de Milton Campos:
A solução só virá na encruzilhada em que se
encontrem os dois caminhos: o das classes desprotegidas,
com a reivindicação de seus direitos, e o das classes
favorecidas, com a consciência de seus deveres. Antes
disso, a paz social não será possível.
Era o que tinha a dizer. (Palmas.)
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O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Em nome da Mesa, trago a este
Plenário os agradecimentos da Câmara dos Deputados pela participação nesta sessão
solene em que se homenageia uma das figuras mais ilustres que já teve assento nesta
Casa.
Assim sendo, dou por encerrado este momento parlamentar.
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V – ENCERRAMENTO
O SR. PRESIDENTE (Bonifácio de Andrada) – Nada mais havendo a tratar, vou
encerrar a sessão.