departamento de taquigrafia, revisÃo e redaÇÃo … · alexandre pagnani – presidente da...
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CÂMARA DOS DEPUTADOS
DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO
NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES
TEXTO COM REDAÇÃO FINAL
COMISSÃO ESPECIAL - PL 4874/01 - ESTATUTO DO DESPORTOEVENTO: CONFERÊNCIA N°: 1402/04 DATA: 09/11/2004INÍCIO: 10h00min TÉRMINO: 15h26min DURAÇÃO: 05h26minTEMPO DE GRAVAÇÃO: 05h26min PÁGINAS: 103 QUARTOS: 66
DEPOENTE/CONVIDADO – QUALIFICAÇÃO
DAGOBERTO FERNANDO DOS SANTOS – Membro da Comissão Permanente de Futebol eMarketing do Conselho Nacional do Desporto.JOÃO PAULO DE JESUS LOPES – Diretor de Planejamento e Desenvolvimento do São PauloFutebol Clube.JOÃO ZAMFORLIM – Jornalista e advogado do Sport Club Corinthians.JOSÉ DE ASSIS ARAGÃO – Presidente da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol —ANAF.JOSÉ DE SOUZA TEIXEIRA – Presidente do Sindicato dos Treinadores Profissionais do Estadode São Paulo.MUSTAFÁ CONTURSI – Presidente do Sindicato Nacional das Associações de Futebol —SINDAFEBOL.PAULO ROGÉRIO AMORETTY DE SOUZA – Presidente do Instituto Gaúcho de DireitosDesportivos.PIRACI OLIVEIRA – Advogado e Diretor-Jurídico da Sociedade Esportiva Palmeiras.RINALDO JOSÉ MARTORELLI – Presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estadode São Paulo.ROGÉRIO CABOCLO – Vice-Presidente Financeiro da Federação Paulista de Futebol.MARCO POLO DEL NERO – Presidente da Federação Paulista de Futebol.NABI ABI CHEDID – Presidente em exercício da Confederação Brasileira de Futebol — CBF.JOÃO OMAR GAMBINI – Sem qualificação.ARIALDO BOSCOLO – Representante da Confederação Brasileira de Clubes.GEORGIOS STYLIANOS –Presidente do Conselho de Diretores de Escolas de EducaçãoFísica.VALTER PICHINO – Sem qualificação.REGINALDO TEIXEIRA ROSA – Sem qualificação.JOÃO ANTONIO BETIN – Presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro.CLÁUDIO CONSUR – Presidente da Associação Brasileira de Parapente.ALEXANDRE MACHADO – Representante do Grupo de Estudos do Futebol.ALEXANDRE PAGNANI – Presidente da Comissão Brasileira de Estudos e Combate ao Doping.
SUMÁRIO: Conferência Estadual do Estatuto do Desporto. 1º Painel: Políticas Públicas para oEsporte. 2º Painel: Esporte Social. 3º Painel: Desporto de Rendimento. 4º Painel: Futebol.
OBSERVAÇÕES
Houve exibição de imagens.Houve falhas na gravação.Há intervenções inaudíveis.
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O SR. APRESENTADOR - Peço a todos que tomem seus lugares para que
possamos dar início aos trabalhos do dia de hoje.
Damos início ao 4º Painel da Conferência Estadual do Estatuto do Desporto
de São Paulo, cujo tema é Lei Pelé e Estatuto do Torcedor.
Convido a tomar assento à Mesa a Deputada Federal Mariângela Duarte,
Coordenadora da Conferência Estadual do Estatuto do Desporto de São Paulo, que
presidirá os trabalhos de hoje. (Pausa.)
Convido também a tomar assento à Mesa os Srs. Dagoberto Fernando dos
Santos, membro efetivo da Comissão Permanente de Futebol e Marketing
Desportivo do Conselho Nacional de Esporte e dirigente do Santos Futebol Clube
(palmas); João Paulo de Jesus Lopes, engenheiro e Diretor de Planejamento do São
Paulo Futebol Clube, que fará palestra sobre a situação financeira do futebol
brasileiro (palmas); João Zanforlim, jornalista esportivo e advogado de vários clubes
de São Paulo e do Brasil, que falará sobre o tema A Legislação Desportiva na
Justiça do Trabalho: Direito de Imagem e Arena (palmas); José de Assis Aragão,
Presidente da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol, que falará sobre a
arbitragem na legislação atual (palmas); Prof. José de Souza Teixeira, Presidente do
Sindicato dos Treinadores Profissionais do Estado de São Paulo e Coordenador
Técnico da Associação Portuguesa de Desportos (palmas); Mustafá Contursi,
Presidente do Sindicato Nacional das Associações de Futebol Profissional e
Presidente da Sociedade Esportiva Palmeiras, que falará sobre saneamento
financeiro (palmas); Paulo Rogério Amoretty de Souza, Presidente do Instituto
Gaúcho de Direitos Desportivos, que fará palestra sobre o tema O Êxodo de Atletas
Para o Exterior (palmas); Piraci Oliveira, advogado e Diretor Jurídico da Sociedade
Esportiva Palmeiras, que falará sobre a legislação tributária relativa ao futebol
(palmas); Rogério Caboclo, Vice-Presidente Financeiro da Federação Paulista de
Futebol, cuja palestra versará sobre o tema O Papel das Entidades de
Administração de Desporto no Fomento e Organização do Futebol (palmas); e
Rinaldo José Martorelli, Presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado
de São Paulo e Vice-Presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de
Futebol (palmas).
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Após o pronunciamento da Coordenadora da Mesa, Deputada Mariângela
Duarte, passaremos a palavra aos palestrantes, de forma seqüencial, que disporão
de 10 minutos para a sua exposição.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Bom-dia a todos.
Quero novamente agradecer a expressiva presença a esta Conferência.
Ontem, iniciamos os trabalhos por volta das 9h45min e os terminamos às 19h, com
a defesa de verdadeiras teses, todas ancoradas na realidade.
Destaco que chegamos à conclusão de que é no triângulo gestão do
esporte/controle social/financiamento que residem as reflexões que nos devem
auxiliar.
Quero registrar a presença de meus companheiros, o Presidente e o Relator
da Comissão Especial do Estatuto do Desporto da Câmara dos Deputados. Vamos
nos revezar na coordenação dos trabalhos ao longo do dia, porque essa tarefa é
sempre coletiva. Devemos buscar as soluções para o esporte — área tão essencial
quanto saúde, habitação ou educação — sempre de forma coletiva, transparente,
exaustivamente discutida e ancorada na realidade.
Hoje, diante desta Mesa extremamente representativa do futebol, gostaria
apenas de fazer breve abertura. Na condição de educadora de Língua Portuguesa e
Artes, de Teoria da Literatura e Literatura, aprendi desde muito cedo, com a Filosofia
e sobretudo com a Antropologia, a enorme importância do futebol em um país cujo
povo é caldeado; onde sempre nos ensinaram que miscigenação é procedimento
pobre. Ao contrário: quanto mais se estuda, mais se conhecem o caldeamento de
raças, as etnias formadoras e de contribuição. E verificamos que este povo é muito
rico, versátil, flexível, solidário. Se não cuidarem de nós, talvez nossos filhos e netos
caminhem celeremente para a criminalidade.
Daí o esporte ser um negócio tão fantástico. Ora, hoje vamos discutir o que
há de mais bonito nesta Conferência. Toda a cúpula do futebol, todos os que lidam
com esse esporte e o vivenciam vão discutir, em meio a representantes de todos os
outros esportes, a responsabilidade que temos.
Levando em consideração a cultura a que me referia, só mesmo um olhar
antropológico pode entender a grandeza e a importância do futebol. Ele está
arraigado no tronco comum da nossa cultura. Devemos ter o máximo respeito por
ele e entendê-lo. Não podemos perder esse elã, essa força, essa motivação que o
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futebol apresenta. Ele percorre toda a gama de definições do esporte: tem desde o
caráter educativo, do rendimento, da disciplina e da motivação, até de espetáculo.
Por isso, V.Sas. estão de parabéns.
Concluindo esta introdução, tendo em vista que há muitos debatedores, para
a efetividade do encontro devemos buscar ser bastante objetivos. Vou ser um pouco
rigorosa com o tempo.
Eu gostaria apenas de lhes falar sobre fatos que me preocupam, já instigando
a discussão. Se o futebol tem esse escopo na penetração da cultura e da identidade
do povo brasileiro, não poderemos deixar de discutir aqui, além do tripé
gestão/financiamento/controle social e transparência, o limite da competitividade.
Lembro-me de que Oscar dizia que a dor fazia parte do seu uniforme. Como
poderemos, nós educadores, exigir do atleta a disciplina e tudo o que lhe compete e,
ao mesmo tempo, ter pelo esporte o respeito que se tem pela vida? Acredito ser este
o momento oportuno para discutir o tema. Fiquei preocupada com o fato de não o
termos discutido ontem e gostaria que não saíssemos daqui sem falar sobre a
relação entre esporte e vida, os limites para a competitividade e o que está em jogo,
quando tratamos do esporte futebol.
Muito obrigada.
Passamos a palavra ao primeiro convidado, Dr. Dagoberto Fernando dos
Santos, que vai falar sobre o programa de saneamento dos clubes de futebol.
O SR. DAGOBERTO FERNANDO DOS SANTOS - Bom-dia a todos.
Inicialmente, gostaria de agradecer o convite à Coordenadoria desta
Conferência, na pessoa da Deputada Mariângela Duarte. Convite esse também
formulado pelo Presidente da Federação Paulista de Futebol, Sr. Marco Polo Del
Nero.
Sinto-me muito honrado de estar discutindo assuntos atinentes à indústria do
futebol, que representa, na verdade, grande ferramenta de inserção social. Talvez
seja a manifestação cultural mais importante do povo brasileiro.
(Segue-se exibição de imagens.)
Faço parte de comissão instituída por uma portaria do Ministério do Esporte,
de abril de 2004, cuja missão é apresentar soluções e inovações para o
desenvolvimento do esporte. A atribuição inicial dessa comissão, designada pelo
Ministro Agnelo Queiroz, é dar prioridade a ações emergenciais, tais como propor
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programa de saneamento para os clubes de futebol; estudar possibilidades de
abertura de linhas de financiamento, principalmente para a construção e a reforma
de estádios e centros de treinamento; interagir junto ao Conselho Federal de
Contabilidade no sentido de padronizar os balanços financeiros das entidades de
práticas desportivas e, com isso, obter certo grau de comparabilidade nas
demonstrações contábeis; fazer algumas alterações pontuais na atual legislação,
com efeito de curtíssimo prazo, de tal forma a equilibrar os interesses dos principais
agentes que movimentam a indústria do futebol, ou seja, torcedores, clubes e
atletas.
Cabe-me, nestes 10 minutos rigorosamente determinados pela
Coordenadoria do evento, falar sobre o plano de saneamento. Sua lógica seria criar
receitas alternativas, desenvolvidas, idealizadas e fomentadas pelo Ministério do
Esporte e a Caixa Econômica Federal, ou seja, uma loteria esportiva que deverá
receber o nome de Timemania. Trata-se de um concurso de prognósticos, a
exemplo da Mega-Sena, que, em vez de números, conterá a marca de 80 clubes de
futebol.
A previsão da Caixa Econômica Federal é de que haja arrecadação anual da
ordem de 500 milhões, da qual 25% serão repassados para as entidades de práticas
desportivas, para os clubes. Desses 25%, 20% seriam utilizados, compulsoriamente,
no abatimento de passivos do INSS, do Imposto de Renda e do Fundo de Garantia,
e 5% formariam novo caixa para os clubes. Essa é a lógica do processo.
Num primeiro momento, é importante quantificar esses passivos. Essa
quantificação se dá inicialmente por uma data de corte na contabilidade de cada
clube, de acordo com a natureza do passivo. Uma vez quantificado, é feita uma
conciliação, ou seja, um encontro de contas junto com as entidades arrecadadoras,
para chegar a um valor definitivo.
O pagamento do passivo deve ser proporcional à dívida. Se um clube deve 10
milhões de reais de passivos, sendo 5 milhões ao INSS, 3 milhões de Imposto de
Renda e 2 milhões ao Fundo de Garantia, do total arrecadado 50% vão para o INSS,
30% para a Receita e 20% para o Fundo.
No programa de saneamento, a distribuição da arrecadação se dará da
seguinte forma: 46% para o apostador que ganhou o prêmio; 1% para a Seguridade
Social; 3% para o Fundo Penitenciário Nacional — isso está na lei das loterias
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esportivas ; 20% para despesas de manutenção da Caixa, para que possa garantir a
arrecadação dos 500 milhões — um grande trabalho de marketing será feito nesse
sentido ; 5% para o Ministério do Esporte, para fomentar ações sociais através do
esporte; e 25% para entidades de práticas desportivas, sendo 20%
compulsoriamente destinados a abatimento e liquidação de passivos, sem que
esses recursos transitem pelo caixa do clube; e 5% representariam, aí sim, dinheiro
novo a ser incorporado para a liquidez do clube.
Os elegíveis a esse tipo de programa de saneamento são todos os clubes das
Séries A e B e tantos clubes da Série C necessários para completar 80 clubes. Em
2005, haverá na Série A 22 clubes; na Série B, 22; e na Série C, 36. Com a redução
dos clubes das Séries A e B em 2006, haverá aumento dos clubes da Série C.
A distribuição desses recursos por série gerou discussão muito grande no
âmbito da comissão. Porém, a premissa adotada foi a de estabelecer um critério de
importância estratégica de cada série no campeonato nacional. Chegamos à
conclusão de que a Série A deveria receber 65% desses valores; a Série B, 25%; e
a Série C, 10%. Traduzindo em números, a Série A seria presenteada com 81
milhões; a Série B com 31 milhões; e a Série C, com 12 milhões, totalizando os 125
milhões, que nada mais são do que os 25% do total de arrecadação da loteria.
Quanto ao rateio anual para cada clube, os da Série A receberiam
anualmente 3,7 milhões de reais, sendo 2,9 milhões para liquidação de passivos e
800 mil para reforço de caixa; os da Série B receberiam 1,4 milhão na totalidade,
sendo 1,1 milhão para pagamento de passivos e 300 mil para reforço de caixa; os da
Série C receberiam 400 mil na totalidade, sendo 300 mil para pagamento de
passivos e 100 mil para reforço de caixa.
As condições para o programa de saneamento encerram algumas premissas.
Primeira: a adesão é facultativa. Os clubes cederiam suas marcas e, portanto, a
adesão ao programa não seria obrigatória. Porém, existem algumas exigências,
entre elas o cumprimento anual e integral das obrigações fiscais correntes do
exercício — o conceito por trás dessa obrigação é evitar que se criem novos
passivos e que no futuro tenhamos de desenvolver um novo plano de saneamento
—, e o cumprimento integral da legislação vigente, notadamente no que diz respeito
à transparência e à publicação de balanços auditados.
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A contrapartida de cada entidade prática desportiva seria a cessão de suas
instalações ociosas para projetos sociais de inclusão e massificação esportiva de
jovens e crianças, ou seja, a adesão ao Projeto Segundo Tempo do Ministério do
Esporte.
Quanto aos benefícios para os clubes, num primeiro momento receberiam
certidão negativa de débito, dela constando quites com suas obrigações fiscais, e
gerariam uma nova receita. Para os clubes optantes do Fundo de Garantia, isso
representaria sobra de caixa, na medida em que deixariam de pagar a parcela
referente ao financiamento. Os clubes inadimplentes teriam a garantia e a
tranqüilidade de uma dívida autoliquidada por um programa de saneamento
desenvolvido e fomentado pelo Governo. E os clubes adimplentes teriam um reforço
de caixa adicional como prêmio pela eficiência da gestão.
Finalizando, quero deixar uma mensagem. Esse programa que pretende
sanear e alavancar a indústria do futebol representa um exemplo de como é
possível, com o dinheiro do futebol e a vontade política do Governo, encontrar
soluções, sem perdão ou anistia das dívidas e sem depender de dinheiro público.
Era o que tinha a dizer. Estou à disposição para debater o assunto a seguir.
(Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Obrigada, Sr.
Dagoberto Fernando dos Santos, pela objetividade. Lembro que a Comissão
Especial precisará de cópia das transparências apresentadas para a elaboração do
relatório.
Quero me desculpar por não ter informado que falarão no encerramento deste
evento as 2 representações maiores do futebol do Estado e do País: Nabi Abi
Chedid, Presidente em exercício da Confederação Brasileira de Futebol, que ontem
já compareceu à Conferência, aqui ficando durante toda a manhã, e que foi meu
colega, na condição de Deputado Estadual, por 8 anos, a quem agradecemos muito
a participação; e Marco Polo Del Nero, Presidente da Federação Paulista de
Futebol, a primeira pessoa a me ouvir dizer que queria realizar esta Conferência;
S.Sa. acreditou em mim e me deu todo o seu apoio. Portanto, tudo que estamos
fazendo se deve ao apoio de V.Sas. à proposta. Depois vieram os outros parceiros.
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Após a exposição dos integrantes da Mesa, V.Sas. poderão falar sobre as
expectativas da Federação Paulista de Futebol e da Confederação Brasileira de
Futebol.
Passamos a palavra ao Sr. João Paulo de Jesus Lopes, para discutir a
situação financeira do futebol brasileiro.
O SR. JOÃO PAULO DE JESUS LOPES - Deputada Mariângela Duarte,
Coordenadora desta Conferência; Deputado Deley, Presidente da Comissão
Especial; Deputado Gilmar Machado, Relator da Comissão; Sr. Marco Polo Del
Nero, Presidente da Federação Paulista de Futebol; Sr. Nabi Abi Chedid, Presidente
em exercício da CBF, meus cumprimentos.
Deram-me 10 minutos, mas posso falar em 1 minuto sobre a situação
financeira do futebol brasileiro. Todos a conhecemos. Vou procurar fazer um
arrazoado, com base na nossa experiência.
Estamos aqui para tentar ajudar o Governo a formular política que permita
melhor desenvolvimento do esporte. De nossa parte, em especial do futebol.
A revista Balanço Anual publicou a situação econômico-financeira de alguns
clubes brasileiros, com base em seus balanços de 31 de dezembro de 2003. Entre
esses clubes estão 8 dos mais representativos do futebol de São Paulo, Rio de
Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. Eles representam 53% dos torcedores
brasileiros, segundo o IBOPE. À exceção de 2, os demais apresentaram resultado
negativo no exercício passado. Esses 2 obtiveram superávit em suas contas graças
à transferência de atletas para o exterior. O endividamento somado desses 8 clubes
foi da ordem de 800 milhões de reais. Não há nenhum indicador de que essa
situação tenha melhorado em 2004.
Em um país onde o futebol é esporte de identidade nacional, obviamente algo
está errado. A caótica situação econômico-financeira dos clubes se deve,
principalmente, ao fato de que a equação não fecha. O São Paulo Futebol Clube, de
que posso falar com maior propriedade, teve receita total, até setembro deste ano,
da ordem de 66 milhões de reais. Dessa receita, 52 milhões vieram do
Departamento de Futebol, que, por sua vez, teve despesas pouco superiores a esse
valor: gerou pequeno déficit de 37 mil reais. Entretanto, esse déficit seria
substancialmente maior se, por exemplo, não tivessem ocorrido receitas de
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transferências de jogadores, o que, ao nosso ver, é uma distorção e acaba
mascarando defasagem crônica.
O mesmo ocorre com todos os clubes que têm a felicidade de transferir
jogadores. Os que não conseguem agravam cada vez mais as suas dificuldades
financeiras.
E por que a equação do futebol não fecha? Porque há grande desequilíbrio
nos componentes dessa equação. No nosso caso, os patrocínios representam 14%
das nossas receitas; os direitos de TV representam 31% da receita; as arrecadações
de bilheteria — o ponto mais importante — apenas 11%. No caso do São Paulo,
desses 11%, 8% ocorreram em jogos da Taça Libertadores da América, que tiveram
público superior a 52 mil pessoas. Se não fossem esses jogos, seriam 3% da
receita. A atual loteria esportiva respondeu por 0,24% das nossas receitas. Outras
receitas de menor expressão totalizam mais 2%. Esses itens somam 58%. O outros
42% são provenientes da transferência de atletas, o que já é, de certa forma,
tradicional no nosso clube, visto que nos últimos 10 anos temos negociado em
média 7 a 8 milhões por ano.
Em vez de cobrir os constantes déficits do Departamento de Futebol, essas
receitas deveriam ser dirigidas a investimentos produtivos, que certamente cada
clube tem em seu planejamento, os quais aguardam uma incerta disponibilidade de
recursos.
As receitas de cessão de direitos de TV e de patrocínio podem ser
ligeiramente melhoradas pelos departamentos competentes dos clubes, mas é óbvio
que o grande desequilíbrio está na arrecadação das bilheterias.
Enquanto na Inglaterra o público médio do Manchester United é superior a 50
mil pessoas por jogo em seu estádio, o público médio do São Paulo,
desconsiderando esses jogos da Libertadores, não chega a 9 mil pessoas. Será que
os ingleses gostam mais de futebol do que os brasileiros? Idêntico quadro
observamos nos demais clubes.
Agravam ainda a situação os elevados descontos que se observam dos
borderaux das partidas, hoje da ordem de até 40% por um clube que joga em seu
estádio, podendo superar 55% quando manda uma partida em estádio de terceiros.
Essa conjuntura acaba provocando um ciclo vicioso. Com baixa arrecadação,
o clube fica mais dependente dos patrocínios e da venda dos direitos de TV. As TVs
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pagam bem, mas adaptam datas e horários de jogos a sua conveniência de
programação. Certos horários e datas, além do excesso de exposição, acabam
afastando o torcedor dos estádios. Estabelece-se, assim, o ciclo vicioso.
Também o baixo poder aquisitivo de grande parte da população faz com que
o preço dos ingressos seja muito barato. Na semana passada houve um jogo de
apenas 31 minutos, todos os senhores acompanharam, mas com portões abertos. O
horário era inconveniente, mas cerca de 22 mil pessoas compareceram. O ingresso
inteiro de arquibancada no Campeonato Brasileiro custa apenas R$ 15,00. Estudo
realizado pelo nosso clube mostra que o valor justo desse ingresso, de forma que
pudesse remunerar o custo do estádio e do espetáculo, deveria ser R$ 37,00, mas é
completamente impraticável.
A falta de segurança crônica, a dificuldade nos transportes coletivos e nas
vias de acesso, a falta de bolsões de estacionamento, a ação de cambistas, os
excessos das torcidas organizadas, a nosso ver todos eles itens de responsabilidade
do Poder Público, são também fatores que diminuem consideravelmente o afluxo de
público aos estádios. Chegamos ao cúmulo de em um jogo de uma torcida só haver
mais público do que um grande clássico, como Palmeiras e São Paulo, Corínthians e
Santos. Essas são as dificuldades estruturais que precisam ser equacionadas.
As medidas que deverão ser baixadas proximamente pelo Governo, por meio
do chamado Pacote do Futebol, sobre as quais tomamos melhor conhecimento
ontem, pelo pronunciamento do Deputado Gilmar Machado e do Secretário Orlando
Silva, e hoje, por intermédio do companheiro Dagoberto dos Santos, parecem-nos
acertadas, e são muito bem-vindas, para estancar a hemorragia que os organismos
atravessam.
O saneamento fiscal e previdenciário dos clubes de futebol via “timemania”, a
valorização dos clubes formadores, a regularização formal da situação dos clubes e,
principalmente, muito principalmente, o ajuste na relação entre clubes e atletas
certamente criarão condições para que os clubes possam reverter a queda livre ao
fundo do poço e retomar a grandeza que tinham até poucos anos atrás. Melhor
ainda será se o Governo puder apoiar, por meio do BNDES, da Caixa Econômica
Federal ou do Banco do Brasil, os investimentos necessários em centros de
treinamento e de formação de atletas e modernização dos estádios, até para que os
clubes possam atender às recentes exigências do Estatuto do Torcedor.
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O moderno sistema de monitoramento de TV do Estádio Cícero Pompeu de
Toledo, que muito nos orgulha, custou 1,5 milhão de reais; o sistema on line de
venda de ingressos, que integra vários pontos de bilheterias do estádio e catacras,
outra exigência do Estatuto do Torcedor, aumentou nossa despesa em cada jogo de
4% para 12% em média.
Pudemos constatar, pelos trabalhos desenvolvidos, que as boas idéias que
muitas vezes houve no passado estão agora saindo do discurso e colocadas em
prática. Acreditamos que, implantadas as medidas anunciadas, finalmente
poderemos ter definidos onde está o dever do Estado e o dos clubes.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Parabenizo o Sr. João
Paulo de Jesus Lopes pela objetiva e esclarecedora exposição.
Concedo a palavra ao Sr. João Zamforlim, que abordará o tema A legislação
desportiva na Justiça do Trabalho. Direito de imagem e de arena.
O SR. JOÃO ZAMFORLIM - Sra. Presidenta, inicialmente agradeço a
indicação do Presidente da Federação Paulista e o convite formulado por V.Exa.
para falar sobre legislação desportiva.
Represento também neste momento o Dr. Celso Rodrigues, advogado do
Clube dos Treze. Ele não pôde vir porque está preparando um projeto de lei que
deverá ser apresentado ao Congresso Nacional acerca do desfibrilador, mais uma
responsabilidade que os clubes terão nos campos de futebol.
Da outra vez em que esti ve nesta Comissão, disse-lhes que, na estrada da
vida, na condição de jornalista e há 35 anos trabalhando com legislação desportiva,
aprendi algumas coisas. O jornalista não pode brigar com a notícia, nem gostar ou
não gostar da notícia: tem de ser imparcial. Na qualidade de advogado, aprendi que
a lei é impessoal. Lamentavelmente, pelo o que li no jornal Folha de S.Paulo, o autor
desse substitutivo não estaria presente hoje, porque teria se encontrado aqui,
ontem, com um dirigente que o deixou constrangido. Isso demonstra que esse
substitutivo foi preparado com certo grau de pessoalidade. Ora, não poder haver
restrições a qualquer dirigente. Estamos num sistema democrático, e se ele foi eleito
é porque as entidades e os clubes o preferiram. Precisamos acabar com a mania de
fazer uma legislação levando em consideração questões de ordem pessoal.
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Existe ultimamente um saco de maldades no futebol, mas, se Deus quiser,
isso vai terminar, e está terminando. Parece-me que os grupos que preparavam a
legislação já não estão mais trabalhando, já não estão mais apresentando
sugestões. Diria, com todo respeito que me merecem os representantes do povo,
que a redação desse substitutivo, tendo em vista algumas situações aqui
consideradas, representa um verdadeiro monstro. Vou referir-me a algumas delas,
porque estamos aqui para criticar e apresentar sugestões.
O art. 12 do substitutivo diz: “Na forma desta lei, as pessoas físicas...” É onde
mora o perigo. Nós estamos lutando, como advogados de clubes, para acabar com
essa sandice dos direitos federativos. Chega alguém num determinado clube e diz:
“Tenho direito a 50% dos direitos federativos de tal jogador.” Ora, a Lei Pelé fala
apenas em pessoa jurídica. Mas substitutivo abre a possibilidade de um
representante ou empresário ter direito sobre um atleta.
Vou falar de outros artigos, porque tenho absoluta certeza de que os
representantes do povo no Congresso Nacional não vão deixar passar esse
substitutivo do jeito que está.
O art. 55 diz o seguinte:
“Os contratos de transmissão de imagem e de
patrocínio de competição desportiva serão comunicados
ao sindicato dos atletas para efeito do cálculo do direito
de arena e demais obrigações legais, quando for o caso.”
É uma invasão na entidade privada. Esse artigo não passará na Comissão de
Constituição e Justiça.
Vou dar um exemplo: o Jaraguá faz contrato para eventos e, de repente, os
funcionários celetistas começam a exigir do Jaraguá esse contrato firmado com a
empresa responsável pelo evento. Não tem cabimento.
Já me avisaram aqui que me restam 5 minutos. Vou pedir mais tempo, Sra.
Presidenta, porque o assunto me fascina.
Há ainda art. 95, que diz:
“É considerado atleta toda pessoa no exercício do direito ao desporto, sem
quaisquer distinções”.
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Como sou advogado de clube sou um atleta. Podem olhar para mim: eu sou
um atleta! Com o todo respeito ao Mustafá Contursi, que está representando o Clube
dos Treze, como representante de clube ele também é um atleta.
São aberrações dessa natureza que encontramos nesse Estatuto.
E, mais: começa a dizer o que é contrato de patrocínio, o que é direito de
imagem. Isso está no novo Código Civil, arts. 18 e 20. O substitutivo não pode ter
nada disso. É o apelo que fazemos. Aliás, não é nem apelo, é uma súplica: que
exista uma legislação só para o futebol.
Ouvi ontem o representante do Ministro Agnelo Queiroz dizer que o futebol
nos representa, que o futebol é isso, é aquilo, que nossa seleção é pentacampeão;
que o futebol acabou com uma guerra civil, que o futebol esteve no Haiti. Nós só
queremos que o futebol tenha sua própria legislação.
E, a propósito, cabe aquela piada da pulga e do cachorro: para matar a pulga,
aplicaram tanto veneno que acabaram matando o cachorro. Se quiserem pegar os
dirigentes — já houve uma CPI — que façam uma legislação para que ele seja
banido, para que ele seja executado em praça pública, mas que não prejudiquem os
clubes, porque são os clubes que estão sendo prejudicados com essa legislação
que apresenta essa característica de pessoalidade.
Tivemos o Código Brasileiro da Justiça Desportiva, que serve — está aí o
problema, a experiência tem que ser levada em consideração — para todos os
esportes. Tem cabimento uma multa de 50 mil reais!? Não cabe nem para um time
profissional, muito menos para um time amador. Pois o Mogi-Mirim foi punido com
multa de 50 mil reais, o que corresponde folha de pagamentos do clube. O
advogado e o Vice-Presidente me disseram: “Como vamos fazer com esses 50 mil?”
Cinqüenta mil reais representam nada mais, nada menos que um público de 18 mil
pessoas.
E para mostrar que essa legislação não pode ser aplicada a outros esportes,
quero dizer que o Dr. Felipe Ezabella, do Tribunal da FUPE, outro dia aplicou uma
multa de 5 mil reais a uma entidade acadêmica — e entidade acadêmica não tem
fonte de renda. Então, venderam troféus, venderam medalhas, pararam o carro na
rua para arranjar o dinheiro e pagar a multa. Senão, seria punida e estaria suspensa
do campeonato.
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Legislação desportiva na Justiça do Trabalho. Li hoje num jornal declaração
de presidente de sindicato que os clubes, em razão do caso Serginho, também
acham — é um direito que podem pleitear — que este é o momento propício para
requerer um período de férias coletivo, se bem que a legislação siga os princípios da
CLT, já que o jogador é comparado ao trabalhador comum. O futebol está tentando
fazer isso faz tempo. Agora, estão aprendendo alguma coisa.
Os clubes têm de lutar para que a profissionalização seja feita depois dos 18
anos. É um repto que faço aqui. Daqui a 10 anos, se as coisas continuarem do jeito
que estão, a Seleção Brasileira de Futebol vai ser um saco de pancadas. Sabem por
quê? Porque hoje estão...( falha na gravação.) E, mais: prestes a terminar o contrato
do jogador — e é ele que tem de expressar sua vontade, a partir dos 18 anos —, o
empresário diz ao seu ouvido: “Olha, a Lapônia vai te dar cem mil dólares”. E ele vai
embora mesmo.
Em razão do caso Serginho, estamos vendo também, Sra. Deputada, que o
sindicato vai pleitear seguro de vida para os jogadores. Meu Deus do céu! Já existe
a previsão de seguro na Lei Pelé. Vejo aqui, com muita felicidade, o Gilmar, vejo o
Deley, que era um jogador fino no trato com a bola; ele parou, mas a bola tem
saudade dele até hoje; alguns jogadores param e a bola dá graças a Deus; não é o
caso dele, que tratava bem a bola como grande talento que era. Peço aos
representante do povo que observem, que mandem auditores à FAAP. Para quem
não sabe, informo que essa Federação de Assistência ao Atleta Profissional fatura
em cada jogo do Campeonato Brasileiro 1% da renda, fatura 1% do valor de cada
contrato. E onde está esse dinheiro? O que essa entidade tem feito para os atletas?
Essa entidade poderia neste momento socorrer a família do Serginho, se bem que o
São Caetano fez o seguro que a Lei Pelé manda e vai pagar à família.
Temos informações que esse tributo privado será cobrado pela federação dos
clubes de futebol, embora seja um tributo indevido e não deve ser recolhido.
Sobre o direito de arena, gostaria de falar mais, porém o tempo é escasso.
Como estou falando também pelo Dr. Marcelo Teixeira, pergunto se a Sra.
Presidenta me concede os 10 minutos dele.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Por questão de
igualdade de oportunidades e respeito aos demais expositores, peço a V.Sa. que
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conclua. Posteriormente, haverá um período destinado a debates. Então, V.Sa.
poderá se aprofundar.
Já sabíamos que a questão mais polêmica estaria nesta Mesa. Respeitamos,
integralmente, o direito de as entidades formarem a Mesa. E, mais do que isso,
como V.Sa. está sendo contundente na crítica, o que é ótimo para nós, pois, às
vezes, a crítica é mais louvável do que o elogio, solicito-lhe que encaminhe suas
observações à Comissão, para que possamos discuti-las mais amplamente. Mas em
respeito a extensa lista de expositores, solicito a V.Sa. que conclua.
O SR. JOÃO ZAMFORLIM - Muito obrigado.
Sobre o direito de arena isso vai gerar discussão. A defesa é no sentido de
que o direito de arena não é do atleta, pois este recebe salário. Tanto esse direito é
de natureza civil. Ocorreria o mesmo se os empregados que receberam para a
construção de uma obra, depois de ela ter sido realizada, fossem ao dono da
incorporadora e dissessem que, por anuidade vendida, ele teria de passar 20% para
os empregados. Isso não tem sentido. A Lei Pelé deixa claro, no art. 94, que isso
não se aplica ao futebol e relaciona os artigos aplicados exclusivamente ao futebol.
O art. 42, relativo ao direito de arena, não está na Lei Pelé, a legislação em vigor.
Muito obrigado. Desculpem-me. Prolonguei-me porque estava falando pelo
Presidente do Santos Futebol Clube, Dr. Marcelo Teixeira, que não pôde vir, pois
está resolvendo o problema do Robinho. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Obrigada.
Comunico ao Plenário que ontem à noite o Dr. Marcelo Teixeira confirmou sua
presença nesta reunião, mas ele foi chamado para uma entrevista, às 11, com o
Robinho e com toda a diretoria do Santos, na qual fariam um apelo devido a não ter
havido contato dos seqüestradores da mãe do atleta.
Por ser de extrema importância, reitero a V.Sa. pedido para que nos envie os
seus questionamentos, pois serão de grande valia para nós.
Concedo a palavra ao Sr. José de Assis Aragão, que abordará o tema A
arbitragem na legislação atual.
O SR. JOSÉ DE ASSIS ARAGÃO - Bom-dia a todos. Cumprimento a
Deputada Mariângela Duarte, os componentes da Mesa, o Dr. Nabi Abi Chedid,
Presidente em exercício da CBF, o Dr. Marco Polo Del Nero, a quem agradeço pelo
convite, o querido amigo Deputado Gilmar Machado, o Deputado Deley — tive a
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sorte de nunca expulsá-lo de campo —, o Dr. Reinaldo Carneiro Bastos, Vice-
Presidente da Federação Paulista de Futebol, e os senhores esportistas.
Evidentemente, o tema arbitragem é muito polêmico, é assunto sobre o qual
muitas pessoas não gostam de discutir, mas, na qualidade de Presidente da
Associação Nacional dos Árbitros de Futebol, tenho de passar para os senhores o
que o Estatuto do Torcedor não está sendo interessante nem conveniente aos
árbitros de futebol. Vamos referir-nos em especial a 3 artigos: 12, 13 e 34.
Lerei o art. 12 para que todos saibam o que vou expor:
“Art. 12. O árbitro e seus auxiliares deverão até
quatro horas, contado do término da partida, entregar a
súmula e os relatórios da partida ao representante do
jogo”.
É claro que, terminada uma partida de futebol, o árbitro ainda está naquele
clima de nervosismo natural do jogo e não tem tranqüilidade suficiente para relatar
os fatos que ocorreram. Mas se não entregar o relatório em 4 horas ele será punido
com advertência. É necessário maior prazo para que o árbitro entregue a súmula e o
seu relatório. Citarei exemplo que aconteceu, recentemente, num jogo do Atlético
Paranaense: o árbitro foi punido com 120 dias de suspensão porque não relatou que
jogaram rolos de papel higiênico no campo. Certamente ele viu, mas não relatou,
talvez por esquecimento ou por qualquer outra razão, e foi penalizado com 120 dias
de suspensão, o que poderá atrapalhar a carreira desse jovem árbitro.
Pedimos que seja concedido um prazo maior. Quando termina uma partida, é
muito difícil para os árbitros relatarem todos os fatos. O tribunal tem mais de 40
horas para analisar os acontecimentos, assistir aos tapes e julgar o que ocorreu
numa partida. O árbitro não tem esses mecanismos à sua disposição.
Nós apresentamos duas sugestões. A instalação de um televisor ou de
aparelho um vídeo no vestiário do árbitro — seria uma despesa a mais que os
clubes dificilmente efetuariam — certamente facilitaria o seu trabalho, e ele teria
condições de fazer seu relato em 4 horas. Mas, como não temos esse equipamento,
solicitamos que seja concedido um prazo maior para que o árbitro possa
confeccionar a súmula e o relatório.
O art. 13, que é bastante polêmico, refere que, “nas competições da primeira
e segunda divisões de âmbito nacional e da primeira divisão de âmbito regional e
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estadual, os árbitros serão escolhidos mediante sorteio para cada partida, entre
aqueles previamente selecionados.”
Quando dos estudos acerca do Estatuto do Torcedor, de cuja elaboração
também tive prazer de participar em algumas sessões, fomos totalmente contra a
realização do sorteio. Explico o porquê: estamos impedindo que novos árbitros
surjam no futebol brasileiro.
V.Exas. vão perguntar: “Por quê? É só o presidente da comissão colocá-los
entre os que vão ao sorteio”. Mas isso é totalmente impossível, porque nenhum
presidente de comissão teria a coragem de, para um jogo como Corinthians e
Santos, colocar no globo 2 árbitros antigos e um árbitro novo. O árbitro novo poderia
ser sorteado, e ninguém sabe o que poderia acontecer nessa partida. Ou esse
árbitro poderia ser bastante feliz na condução do jogo, e sua carreira deslancharia,
ou poderia não ser, e sua carreira praticamente seria encerrada. Isso seria muito
maldoso para com esse árbitro.
Deveríamos, portanto, repensar o sorteio, que foi criado em função — fala-se
muito em credibilidade — de que poderia haver algumas situações em que a
arbitragem seria envolvidas. Isso eu posso dizer aos senhores que não existe.
Arbitragem é uma coisa muito séria e hoje, no Brasil, é de primeira qualidade. É
claro que temos algumas falhas, que são normais no ser humano. Todos os seres
humanos falhamos, e o árbitro de futebol também falha.
Qualquer um dos senhores, no exercício de suas funções, pode sentir-se um
árbitro de futebol, porque o árbitro de futebol tem uma fração de segundo para
decidir sobre o que ocorre numa partida e o que deve aplicar naquele caso concreto.
Isso depende de bom preparo físico, boas condições psicológicas, de conhecer
profundamente as regras do esporte.
Esse sorteio não pode prosseguir da maneira como está sendo feito. Estamos
impedindo o surgimento de árbitros. Os árbitros mais antigos, mais conhecidos, mais
famosos são sempre sorteados para partidas de maior responsabilidade, e isso é
desgastante. Ao final do Campeonato Brasileiro, a maioria dos árbitros principais
terá algum desgaste, e isso não é bom para a continuidade de um campeonato de
âmbito nacional.
Temos de repensar o sorteio. Se há no meio da arbitragem alguém que não
tenha credibilidade, vamos afastá-lo. Se há alguém nas comissões de arbitragem
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que não possua credibilidade, vamos tirá-lo da comissão. Se há alguém que não traz
nenhum benefício à arbitragem, mas prejuízo, vamos tirá-lo da arbitragem. Para
isso, temos gente competente na condução do setor de arbitragem, as federações e
a CBF. Portanto, é muito simples resolver esse problema, e não haveria
necessidade da realização desse sorteio, que considero prejudicial à categoria.
Nos dias 5, 6 e 7 deste mês, foi realizado um congresso na cidade de Caldas
Novas, em Goiás, com a presença dos 27 presidentes de sindicato. Debatemos esse
assunto com muita cautela e inteligência, sem procurar criticar ou ofender ninguém,
mas defender os interesses da arbitragem. Os 27 presidentes de sindicato foram
unanimemente contrários à realização do sorteio.
Vejam V.Exas.: quem trabalha na arbitragem, quem vive a arbitragem, quem
foi árbitro de futebol — eu trabalhei 25 anos nessa profissão — e sabe o que está
acontecendo no momento na arbitragem é contra a realização do sorteio.
Posteriormente, vou entregar uma Carta Aberta, elaborada no último
congresso, aos que estão aqui para que tomem conhecimento do que decidimos.
Estamos interessadíssimos em que haja essa alteração, embora saibamos que
somente pode ser feita por medida provisória. E, evidentemente, não será editada
uma medida provisória apenas para concretizar uma reivindicação da arbitragem,
mas, de qualquer maneira, sendo acolhida no Estatuto do Desporto, já nos
sentiremos bastante felizes, porque representará um primeiro passo.
Vamos agora ao art. 34, que dispõe o seguinte:
Art. 34........................................................................
III - remuneração com pagamento antecipado,
condizente com a entidade e com a importância da
partida, feita pela entidade detentora do mando da
partida, ou conforme dispuser o regulamento da
competição”.
Senhores, os árbitros são punidos por não relatarem o que foi visto na
televisão, por uma falha ou por não terem percebido realmente o que aconteceu,
mas estão também sendo penalizados por falta de pagamento das taxas de
arbitragem. Há clubes que não estão pagando os árbitros de futebol. A quem
devemos recorrer? O Estatuto é claro: tem de ser pago antecipadamente. E isso não
vem ocorrendo. Na Série B, houve diversos casos de árbitros que não receberam o
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que lhes era devido. O árbitro viaja, paga o transporte, o hotel, a alimentação e não
recebe a taxa de arbitragem! Só vai recebê-la algum tempo depois, o que lhe causa
um transtorno muito grande. Já houve casos de árbitros com problemas em serviços
de proteção ao crédito, porque compraram a passagem com cartão de crédito e,
posteriormente, não puderam efetuar o pagamento da respectiva fatura, por não
terem recebido a taxa de arbitragem.
Os clubes vivem situação muito difícil. O João Zamforlim fez uma explanação
belíssima, o Dagoberto dos Santos falou sobre a situação financeira. Tudo é muito
difícil neste mundo, principalmente no setor esportivo, mas os árbitros não podem
deixar de receber. Se alguém trabalha, tem o direito de receber, porque tem família
e precisa dar o sustento a ela. Ele não pode trabalhar e receber no momento em que
for conveniente para os clubes de futebol.
Portanto, Srs. Presidentes de clubes, de federações e da CBF, por favor, é
urgente sanar esse problema. Não vai aqui uma crítica a ninguém, apenas estou
externando o que nós da arbitragem sentimos. Esperamos que haja uma correção
do problema.
Era o que eu tinha a dizer. Muito obrigado a todos pela paciência de terem me
ouvido. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Agradecemos ao Sr.
José de Assis Aragão a colaboração e pedimos a S.Sa. que nos encaminhe suas
reflexões a respeito do tema que abordou.
Aviso ao Plenário que estamos passando formulários para as questões a
serem dirigidas aos expositores. Elas devem ser feitas objetivamente. Ao chegarem
à Mesa, faremos a triagem e as encaminharemos aos respectivos destinatários, com
o que ganharemos tempo.
Tem a palavra o Sr. José de Sousa Teixeira, que falará sobre A normatização
da relação entre treinadores e clubes.
O SR. JOSÉ DE SOUZA TEIXEIRA - Muito bom-dia. Cumprimento a
Deputada Mariângela Duarte, os componentes da Mesa e, se me permitirem, a um
dos pioneiros oriundos da Escola de Educação Física, o Prof. Hélio Mafia, que se
encontra presente. O Prof. Hélio Mafia, o Prof. Júlio Mazzei e eu, podemos dizer,
fomos os primeiros oriundos da universidade a trabalhar no futebol.
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Agradeço o convite para oficialmente falar aqui em nome de uma classe, a
dos treinadores de futebol. Nesses 46 anos em que trabalho profissionalmente,
recebi apenas 6 solicitações para falar oficialmente, e não como amigo. “Teixeira,
você é amigo e está na prática, não gostaria de falar?” A primeira vez que recebi
convite para uma participação oficial foi quando o Dr. Nabi Abi Chedid era
Presidente da Federação Paulista de Futebol, e eu, treinador do Corinthians. Como
homem da prática, fui convidado a participar porque ele gostaria de ouvir o outro
lado, e entregou-me uma carteirinha de Assessor Adjunto da Presidência. Foi a
primeira vez que recebi um convite ou que ouvi alguém falar oficialmente em nome
da classe
Mais recentemente, também fui surpreendido quando os Srs. Marco Polo Del
Nero e Reinaldo Carneiro Bastos, Presidente e Vice-Presidente da Federação,
pediram à sua secretária que telefonasse para o Sindicato dos Treinadores, porque
gostariam que o Presidente designasse 10 treinadores, aproximadamente, para
comparecerem em determinado dia à Federação a fim de discutirem o regulamento
do próximo Campeonato Paulista de Futebol, que terá início no dia 19 de janeiro do
próximo ano. Compareci e cumpri com minha obrigação de Presidente do Sindicato.
Eles poderiam muito bem ter convidado alguns treinadores pessoalmente, mas o
fizeram de forma oficial.
Agora, novamente a Federação me convida e a Deputada Mariângela Duarte
confirma oficialmente a minha participação na condição de Presidente do Sindicato
dos Treinadores.
Tenho apenas 10 minutos, talvez já nem tanto, porque já se passaram alguns,
mas existe sempre o acréscimo do tempo. O treinador, quando o seu perde o jogo,
vive um sufoco, um sofrimento, e os dirigentes, que estão do lado de fora, acabam
sofrendo muito mais. Sabendo da premência do tempo para nossa exposição,
preparei algo por escrito, que entregarei oficialmente, para ter a possibilidade de
manifestar o interesse da própria classe e também a experiência pessoal.
E aqui eu me permitiria, como uma pessoa experiente no futebol e como
representante da classe, apresentar algumas posições. Como disse, fui convidado
oficialmente e gostaria de solicitar à Comissão encarregada do exame do Estatuto
do Desporto que incluíssem algumas modificações.
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Diz o art. 7º: “Para o cumprimento do disposto no art. 6º...” O art. 6º dispõe
sobre a cooperação das classes. Vemos várias entidades representativas nessa
comissão. Temos representantes do desporto de alto rendimento, do desporto
educacional, do desporto paraolímpico, dos árbitros, das empresas que patrocinam
atletas, dos atletas profissionais, dos atletas não profissionais, dos ex-atletas, entre
outros, e um representante do desporto indígena. Mas não vimos um representante
da classe dos treinadores de futebol, que é tão antiga quanto o próprio futebol,
porque, na primeira partida realizada, alguém fez a escalação dos times, alguém
dividiu as camisas. Então, estamos entregando por escrito a solicitação de que um
representante participe oficialmente desse grupo de trabalho.
Temos alguns problemas no futebol que repercutem no treinador. Há, por
exemplo, entre outros — e seremos breves —, a exigência da apresentação de
diploma para trabalhar no futebol. Como podemos exigir que o treinador seja
diplomado por uma universidade se apenas 10% das 5.500 cidades brasileiras
possuem uma escola de educação física? Como ele pode estudar enquanto joga?
Esse é o primeiro ponto.
Segundo, fizemos um levantamento, em 2003, e foram quase 20.000 atletas
profissionais registrados na CBF, sendo que 79% recebem até 2 salários mínimos e
só 5% estão registrados com mais de 4.800 reais. É claro que existe o contrato de
imagem, mas ninguém que ganha um, dois ou três salários mínimos recebe imagem.
Acaba recebendo quando 30, 40, 50, 100 reais.
Terceiro ponto: como se pode pagar a escola se elas custam 500, 700, 800
reais mensais? E o ponto mais importante: só falamos de leis, de aspectos técnicos,
de legislação e esquecemos o ser humano. O atleta de futebol é um ser humano, e
esquecemos disso.
A lei exige que estude enquanto está nas categorias de base. Só que os
clubes não cumprem isso, o que é uma falha terrível. Se não faz os 1º e 2º graus,
como pode entrar numa faculdade posteriormente? Somos a favor da regularização
de toda essa situação, porque achamos que todos merecem e a lei deve ser
respeitada. A lei deve ser respeitada, e temos que encontrar caminhos para que isso
seja exeqüível.
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O treinador de futebol normalmente é um ex-jogador de futebol. Temos um
levantamento, desde 1971, que constatou que somente 9% dos treinadores até hoje,
em 2003, saíram de uma universidade. Saem, têm seus direitos, mas não podemos
prescindir daqueles homens que tiveram 10, 15, 20 anos dentro do campo e podem
exercer a profissão de treinador. Só que não podem deixar de ser jogador, não se
preparar e começar a trabalhar como treinador. Teriam que fazer um curso especial,
porque não há possibilidade de manter seu trabalho.
Gostaria de dizer que estamos à procura de um código de ética em que a lei
exige que o treinador assine um contrato registrado na liga, na federação ou na
confederação no prazo improrrogável de 10 dias.
Estou no futebol há muitos anos, trabalhei em 6 países diferentes, e em todos
os países segue-se a lei. Apenas no Brasil, pentacampeão mundial, deixamos a lei
para o lado. Não dá mais para continuar.
Entregarei oficialmente à coordenadora, Deputada Mariângela Duarte, aquilo
que estamos pensando. Em linhas gerais, gostaria de dizer que o treinador — só
lembrado quando o time perde ou faz uma substituição inconseqüente — deveria ser
lembrado também na hora em que fazemos as leis.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA COORDENADORA (Deputada Mariângela Duarte) - Obrigada, Sr.
José de Souza Teixeira.
A seguir, passo a palavra ao Sr. Mustafá Contursi, que exporá o tema
Saneamento financeiro.
Mesmo passando um pouco do tempo, nossa dinâmica está sendo muito boa.
Queria agradecer a colaboração dos expositores que se apresentaram até aqui.
O SR. MUSTAFÁ CONTURSI - Aos presentes, meus cumprimentos;
Deputada Mariângela Duarte, minha saudação e agradecimento pela oportunidade
de manifestação; aos Deputados presentes, ao Wanderley, nosso ex-atleta, que nos
deu a honra de servir também, meus cumprimentos.
O tema saneamento financeiro já se misturou na manifestação de alguns dos
expositores.
Inicio dizendo que, pela primeira vez, estou esperançoso de que encontremos
um caminho. Boa parte da situação que os clubes atravessam vem da
impossibilidade de se adaptar, com a rapidez necessária, às legislações do esporte,
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que, nos últimos 10 anos, produziu 5 textos diferentes, outras tantas medidas
provisórias, decretos-leis, portarias, etc. A todo momento somos surpreendidos com
algo que não chegamos nem a tomar conhecimento pela rapidez com que ocorre,
agravado por um comportamento lamentável que nos era imposto, nós, desprezíveis
cartolas. Éramos convocados para nos manifestar, expor sinceramente nossos
pontos de vista, e, nos gabinetes, manobravam para que tudo acontecesse
exatamente ao contrário de nossas manifestações.
Sinto neste momento, sem nenhum sentido de angariar simpatias para
algumas teses, que há uma discussão sincera e o objetivo de levar o segmento
esporte, especialmente o segmento futebol, ao saneamento de suas finanças, o que
não é nada absurdo, nem difícil. Reivindica-se muito menos que as concessões
especiais já estabelecidas para outros segmentos de nossa economia, que tiveram
suas situações regularizadas.
Passa o saneamento proposto por um estudo daquilo que seria a
responsabilidade dos clubes. Durante algum tempo, sofremos fiscalizações,
acompanhadas de um carimbo de força-tarefa, que vinha com o objetivo de política
de terra arrasada, nenhuma possibilidade de contra-argumentação, a não ser
recorrermos ao direito de acionar a Justiça para defender nossos interesses.
Em nosso clube, cujo montante de responsabilidades é insignificante em
relação ao conjunto daquilo que se informa, houve alguns sucessos na área do
Poder Judiciário, mostrando que boa parte daquilo que nos cobravam de
responsabilidade beirava ao exagero. Temos comparecido a todas as convocações
sempre com a mensagem de um saneamento responsável, à discussão com todos
os segmentos dos setores de fiscalização a fim de, a partir daí, e com os planos de
financiamento e os débitos fiscais, podermos partir para aquela cobrança de
responsabilidade absoluta do dirigente que, infelizmente, tem seus orçamentos
contaminados por surpresas que acontecem com arrestos, penhoras, bloqueios de
rendas. Não conseguem cumprir suas obrigações contratuais com os atletas, e aí
são criticados como inadimplentes. Estão envolvidos num tumulto de ordem
financeira e fiscal.
Essa tem sido nossa mensagem todas as vezes que somos convocados.
Temos certeza de que encontraremos um caminho, porque a situação dos clubes
não é nada que não possa ser resolvido com algumas assunções e
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responsabilidades, a partir do momento em que se encontre o caminho para esse
saneamento, fundamental para que o clube que for responsável pelo
desenvolvimento do esporte no País por, no mínimo, um século possa voltar a
desenvolver essa sua vocação junto à população, colocando as suas instalações
que são mais adequadas em termos de possibildade e desenvolvimento desportivo à
disposição do social junto à população.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Mariângela Duarte) - Muito obrigada, Sr.
Mustafá Contursi.
Passamos, agora, a palavra ao Sr. Paulo Rogério Amoretty de Souza, que
falará sobre o tema Pirataria, o êxodo de atletas para o exterior.
O SR. PAULO ROGÉRIO AMORETTY DE SOUSA - Eu vou chegar ao tema
bem no final do que pretendo dizer.
Em primeiro lugar, quero agradecer a oportunidade à Deputada Mariângela
Duarte, aos Deputados Federais, ao Deputado Deley, ao Dr. Marco Polo Del Nero,
ao Dr. Rinaldo Martorelli, da Federação Paulista de Futebol, ao Presidente Mustafá
Contursi, que também é Presidente do Palmeiras e do Sindicato Nacional das
Associações de Futebol, do qual tenho a honra de ser diretor jurídico e ter a sua
companhia na diretoria.
Vou defender essencialmente o futebol. Fiquei muito feliz por ouvir, ontem,
algumas manifestações, principalmente do Secretário do Ministério dos Esportes, de
uma legislação, de um estudo de interesse por uma legislação voltada para o
futebol. Não tenho formação como ex-dirigente ou dirigente essencialmente de
futebol, embora tenha iniciado o futebol em 1973 como advogado do Internacional;
galguei praticamente todos os postos e acabei sendo Presidente, em 1998 ou 1999,
do Internacional, hoje, ainda o único clube gaúcho que permaneceu todo o tempo na
primeira divisão e vai continuar assim por muito tempo.
Passei, por força do envolvimento com o esporte, no Internacional, que hoje
tem poucas manifestações desportivas, além do futebol, em 1969, quando inaugurou
o seu estádio, construído por sua torcida. Tinha todos os esportes olímpicos e não-
olímpicos praticáveis no País. Na época, por uma felicidade, ganhou todos os
torneios e competições disputados em 1999, em âmbito estadual, no Rio Grande do
Sul.
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Hoje, o Internacional já não tem mais tanto isso, como os clubes em geral
também não têm. Mas, por força dessa generalidade, acabei atuando como dirigente
não-remunerado, advogado, mais antigamente, juiz de tribunal, e depois auditor em
todas as federações amadoras desportivas, no âmbito estadual e até no nacional.
Depois de ter sido Presidente, fui convidado, pelo então e ainda hoje Presidente do
Palmeiras, para representar um caso na FIFA. Passei a fazer o mesmo para o
Palmeiras, para o São Paulo, para o Corinthians, enfim, para outros clubes de São
Paulo e clubes do Brasil inteiro, hoje. Acabei indo compor o primeiro tribunal que a
FIFA organizou a partir de 2002, do qual sou um dos dois membros efetivos sul-
americanos. Tenho a honra de ter o Dr. Marco Polo Del Nero como membro também
do tribunal, embora ainda na suplência, mas certamente chegará à efetividade. E
tenho, com isso, uma visão muito clara do que acontece em relação ao futebol e,
especificamente, ao futebol brasileiro, que, de alguma forma, é um modelo maior do
futebol sul-americano, o que se reflete com menos intensidade no resto do
continente sul-americano.
Há um equívoco no Brasil, especialmente quando se diz que a Lei Pelé tirou
dos clubes todo o seu acervo, no aspecto do rendimento que os clubes tinham em
transferir os seus jogadores. Na verdade, a Lei Pelé fez isso internamente. E fez isso
internamente, porque, externamente, a FIFA já considerava assim.
Vou dar um exemplo, em 1993, no sentido inverso, o Internacional tirou um
jogador do Hamburgo, da Alemanha, e a fixação do valor foi feita pela FIFA. Como
fez depois também — um dos casos mais rumorosos do País — com o caso do
Ronaldinho, que saiu do Grêmio e foi para o Paris Saint-Germain.
Digo que isso é um equívoco com muita propriedade, porque ela foi o marco
detonador dessa situação. No âmbito interno, nem os clubes, nem os empresários,
nem os agentes de futebol, nem os advogados ou os jogadores atentavam para
esse fato. Quase ninguém no País sabia que um jogador, terminado seu contrato
aqui, poderia ir para qualquer clube no exterior sem que a CBF ou o clube local que
detinha seu passe pudesse impedi-lo.
Efetivamente, isso representou um problema. E logo em seguida à Lei Pelé
ocorreu uma situação muito pior, que nos remete a todos que somos ligados ao
futebol. Minha indagação é sobre o que podemos fazer ou o que estamos fazendo
para que o futebol brasileiro reaja a essa condição. O futebol brasileiro foi vítima —
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vou fazer uso do caso do Ronaldinho, brinquei agora com o Grêmio, mas é um dos
grandes clubes do País — quando Ronaldinho Gaúcho foi tirado do Grêmio e foi
para o PSG. Porque, ao terminar seu contrato, a FIFA arbitrou seu valor de
indenização em 5 milhões e 900 mil dólares. Alguém fez um acordo no ano seguinte
por 4 milhões e 500 mil dólares para receber de uma vez, porque demandaria certo
tempo.
V.Exas. sabem qual seria o valor do Ronaldinho fixado pela FIFA se o jogador
saísse do Grêmio, hoje, com o mesmo tempo de formação integral, o qual a FIFA
define dos 12 ao 21 anos? Quinhentos e oitenta mil euros. Este é o valor que a FIFA
passou a arbitrar a partir de setembro de 2001 em decorrência de resolução do
Congresso realizado em julho de 2001, em Buenos Aires.
Nesse congresso o assunto foi discutido e os parâmetros foram estabelecidos
pela FIFA com a Comunidade Européia, que predomina na FIFA. Vejam a que os
clubes brasileiros e sul-americanos, da mesma forma os asiáticos e africanos, estão
submetidos: ao poder maior da Comunidade Européia na FIFA. Onde estávamos
quando a FIFA discutiu isso, em julho de 2001? Particularmente, estive no
congresso, bem assim o Presidente Mustafá Contursi, os dirigentes da CBF e de
outros clubes, os dirigentes da federação, mas qual era a nossa grande
preocupação?
Esta é a idéia que vou tentar transmitir nesse pouco tempo. É preciso que o
futebol se desvincule, que deixe de suportar e atrapalhar os outros esportes para ter
seu desenvolvimento legal, seus estudos, seus caminhos desimpedidos.
À época, em julho de 2001, estavam presentes todos os dirigentes do futebol
brasileiro, os atuais e os anteriores, pressionados pela CPI do Senado tendo que se
voltar para as situações internas, para a situação dos clubes, para suas contas, para
suas auditorias, para responder aquela séria desmoralização do futebol enquanto a
FIFA aprovava com a Comunidade Européia sem que o Brasil se desse conta. Não
vamos falar nos demais países da América do Sul, porque não têm a expressão do
futebol brasileiro, muito menos no êxodo de atletas para o exterior.
Hoje, a pirataria está praticamente oficializada por essa situação, ou seja,
qualquer clube do exterior pode tirar o melhor jogador brasileiro por 580 mil euros.
Em casos excepcionalíssimos como seria hoje o do Ronaldinho, por exemplo, que
está concorrendo ao melhor jogador do mundo, a FIFA admite que poderia alterar
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essa tabela, mas não o faria por 10, 20 ou 30 vezes, caso contrário o jogador sairia
talvez por 2 ou 3 milhões de euros. Isso explica o êxodo e só uma forma de fazer
isso. Os clubes de futebol têm de parar de se preocupar com aquelas situações
anacrônicas, injustas. Decorrem, por exemplo, que a maior parte dos advogados do
futebol que não são remunerados têm de defender os clubes da discussão, da multa
rescisória, do contrato, que entendemos unilateral e que seriam devidos aos clubes.
Por uma redação malfeita, hoje muitos juízes condenam os clubes. Queremos que
os advogados dos clubes, das federações, se preocupem com a legislação do
futebol, ouvindo o futebol bem conduzida para que possamos fazer com que a
representação do Brasil que ganha no campo possa defender os interesses dos
brasileiros. O Brasil é o país que mais contribui com as metas para o exterior e, ao
mesmo tempo, é o que menos arrecada. O futebol precisa se ver livre de
contribuições com o Estado. Por exemplo, no Estatuto do Desporto, onde o futebol
vai receber 800 mil por ano, cada clube da série A vai dar 5% do que recebe das
televisões e dos contratos para o Fundo de Esporte, que não tem a ver com futebol.
Esta rápida manifestação é uma pregação para que o futebol possa seguir
seu caminho e ter recursos para se desenvolver e se defender lá fora, onde estão
nossos maiores adversários.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Agradecemos ao Sr.
Paulo Rogério Amoretty de Souza.
Gostaríamos de pedir às entidades, ou novos representantes, que chegaram
hoje que não participaram dos debates, que, por favor, se forem representantes de
entidades, ou autoridades, que nos passem a indicação da sua presença. Por
exemplo, queríamos saudar e gostaríamos não só de parabenizá-lo, mas que ele
leve para a Assembléia Legislativa de São Paulo o esforço que nós, da Câmara dos
Deputados, fazemos para ouvir não só o futebol, mas todo o esporte de São Paulo.
Agradecemos a presença do Deputado Estadual Sebastião Arcanjo, representando
a Assembléia Legislativa de São Paulo.
Concedo a palavra ao Sr. Piraci Oliveira, que vai abordar o tema Legislação
tributária relativa ao futebol, tributos e futebol.
O SR. PIRACI OLIVEIRA - Sra. Presidenta, meus agradecimentos ao convite.
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Coube a mim a honra de estar aqui presente para falar sobre a questão
tributária que envolve especialmente o futebol.
Esta discussão tão espinhosa, que é a carga tributária, dividiria em 3 pontos
estanques. Até a vigência da Lei nº 10.672, em 14 de maio de 2003, o futebol vivia
uma relação teoricamente estável, no que diz respeito à legislação, gozando da
imunidade que cabe às associações, de uma maneira geral. A carga tributária neste
momento, desde a Constituição, desde muitos anos, até 14 de maio de 2003, é
global, equivalente a 4,8 do faturamento. Tínhamos até 14 de maio de 2003 uma
carga fiscal igual ao do faturamento na média. Fiz um arrazoado, passei para grande
parte das pessoas, onde explico item a item.
No momento em que vigeu a alíquota de 4,8, os grandes clubes de futebol,
especialmente aqueles que compõem o Clube dos Treze, uns 20 clubes de maneira
geral, amealharam um passivo declarado da ordem de 600 milhões de reais,
aproximadamente. Consolidando o débito de todos os clubes até 14 de maio de
2003, sob uma alíquota global de 4,8, o futebol, dados oficiais, tem o passivo
declarado por volta de 600 milhões. Em 15 de maio de 2003, inicia-se o período que
costumo chamar do calvário do futebol naquilo que diz respeito ao aspecto tributário.
Foi editada a Lei nº 10.672, sob a denominação da lei da moralização e do futebol
naquilo que diz respeito ao aspecto tributário. Foi editada a Lei nº 10.672, sob a
denominação de Lei da Moralização, que trouxe alguns aspectos até então
despercebidos, infelizmente, por grande parte da imprensa e até dos Srs.
legisladores.
Essa Lei nº 10.672, que passou a viger em 15 de maio e vige até hoje, trata
da possibilidade de os clubes de futebol se transformarem em empresas. Então, sob
o jugo de uma suposta faculdade, a lei determina que os balanços devem ter uma
auditagem, devem ser publicados, e deve haver uma transparência que ninguém
supõe. Mudando o art. 27 da Lei Pelé, essa malfadada lei determina que o clube de
futebol que não se transformar em empresa naquela data — não há prazo nenhum
para isso — passa a ser ilegal. Ou seja, aquele que dormiu dia 14 no regime de
associação e acordou no dia 15 no regime diferente de uma sociedade empresarial,
passou a ser uma entidade ilegal, uma entidade sem o abrigo da legislação civil,
uma entidade cuja denominação o próprio Código Civil traz: uma sociedade
incomum, uma sociedade irregular. Então, os clubes de futebol que, em 15 de maio
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de 2003, não se adaptaram à Lei nº 10.672, entenda-se, e que não se
transformaram em empresa, passaram a ser visto sob a ótica fiscal e previdenciária,
especialmente tributária como entidades irregulares.
O que isso causou? Do ponto de vista pragmático e objetivo, além da perda
do regime associativo e da imunidade tributária, passou-se a conviver com uma
tributação que é apurada sobre a sistemática do lucro arbitrado.
Fiz um arrazoado sobre isso, inclusive cálculos, e chegue à triste conclusão
de que a carga tributária impositiva aos clubes de futebol que não se adequaram a
essa sistemática está por volta de 30% do faturamento. Então, temos uma carga
tributária próxima a 30% do faturamento para aqueles clubes que não se
transformaram em empresa.
O que acontece hoje? Qual é o panorama que existe hoje? Até 14 de maio de
2003, há um passivo declarado por volta de 600 milhões de reais. Esse passivo vai
ser saneado, como bem explicaram aqui alguns colegas, especialmente o Sr.
Dagoberto, com a Timemania, que é uma inovação, uma criação muito boa,
espetacular. Não poderia imaginar uma coisa melhor do que essa. Só que essa
regulamentação da Timemania vai abraçar os débitos confessados ou declarados.
Então, fica aqui o levantamento de uma questão bastante oportuna que é o
seguinte: entre 15 de maio de 2003 e 31 de dezembro de 2004, quando,
supostamente, passará a viger o Estatuto do Desporto, ou a Timemania ou a nova
medida provisória, por hipótese, os clubes das Séries A, B e C contraíram,
supostamente, um novo passivo da ordem de 700 a 800 milhões de reais, por conta
de uma lei mal escrita, malfeita e que, de maneira até ardil, trouxe a caracterização
da sociedade incomum para os clubes de futebol, sem debate, sem grande análise e
sem grande estudo. Portanto, por mais que a Timemania resolva esse passivo que
existe, que é passado, ela não vai solucionar todos os problemas. Eu estava aqui
com uma posição até um pouco ruim, do ponto de vista de quem acha que vamos
resolver todos os problemas com o Timemania, porque resta identificar o que será
feito com esse passivo, que chamo de buraco negro, esse passivo oculto que se
criou por conta da Lei nº 10.672. Essa lei traz também, junto com a sociedade
incomum, a caracterização dessa sociedade, a responsabilização solidária dos
dirigentes. Então o dirigente esportivo, aquele que não optou pela empresa, passa a
ser solidário com os débitos contraídos com o clube. Esse caminho é algo até
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louvável. Por exemplo, uma das responsabilidades administrativas é esta: aquele
que gera deve ser responsabilizado. A conseqüência disso é que o associado do
clube, aquele que compra o título, que se filia ao clube e passa a usar a piscina ou o
campo de futebol do clube, esse passa a ser responsável subsidiário por esse
passivo que foi criado.
Quando a lei joga os clubes que não se transformaram em empresa na
sociedade incomum ela transforma o associado em responsável subsidiário. Para
resumir: aquele que vai ao clube, que paga sua mensalidade, que vai à piscina, que
vai ao clube, que paga sua mensalidade, que vai à piscina, que joga futebol no
clube, a partir de 15 de maio de 2003 passa a ser responsável subsidiário por todo o
passivo que o clube tem, por esses 700 milhões que já existiam e esses outros 700
ou 800 milhões que foram criados a partir de 15 de maio de 2003.
Esse é um ponto que costumo comentar com bastante veemência e
objetividade porque me parece que passa despercebido. Isso fica a lateri desse
debate.
A minha preocupação e a do Clube dos 13, é bastante relevante porque
houve a oportunidade — pela primeira vez, ao que me consta — de os advogados
do Clube dos 13 serem ouvidos na Comissão de Futebol e Marketing Esportivo que
tratou da nova legislação para o futebol. E, naquele debate, levantei esse ponto.
Para minha surpresa, sequer esse assunto era de conhecimento daquele grupo.
Então quando eu falei da cifra, do valor, isso causou um certo espanto, porque
passou sem análise. Mais uma vez gerou-se, com essa situação, uma insegurança
jurídica que deve ser atacada de toda forma. Tanto isso não foi avaliado na
Comissão de Futebol e Marketing Esportivo que na minuta da medida provisória,
que tivemos acesso, não consta nenhum tipo de ataque ou de proposta para essa
solução que chamei de buraco negro.
Então, o ponto principal que trago para esse debate é justamente este. Quer
dizer, até 14 de maio de 2003, havia um desenho que foi brilhantemente saneado
pela Timemania. Acho que a Timemania é uma solução inimaginavelmente boa. Só
que ela dá com uma mão e tira com a outra, sem que a questão tenha sido levada a
debate. Abre-se um passivo maior do que aquele que foi solucionado pela
Timemania.
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Os clubes de futebol das séries A e B que se transformaram em empresa
representam menos de 10% das delegações. Portanto, temos um problema bastante
grave que acho que passa despercebido, e cabe a mim, neste debate, levantar ao
menos essa história.
O tempo está acabando, é muito exíguo, e quero só falar sobre o Estatuto do
Desporto, sobre a minuta apresentada. Falarei rapidamente sobre 4 itens.
O primeiro é que mantém-se a insegurança em relação a esse período. Isso é
bastante grave, tem que ser atacado. Inclusive fiz um arrazoado com relação a isso.
O Clube dos 13, por intermédio dos seus advogados — e faço parte de um grupo —
fez um arrazoado, que coloco aqui à disposição. Porque parece-me que se dá com
uma mão e tira-se com a outra, talvez até sem que saiba. Repito: há uma
insegurança.
O segundo ponto que gostaria de registrar em relação ao Estatuto do
Desporto refere-se à FAAP. Por favor, peço que seja feita uma análise muito
criteriosa em relação à FAAP, porque é de flagrante inconstitucionalidade a criação
de um tributo privado para favorecer um grupo específico de atletas, tendo por base
de cálculo as rendas de bilheteria, o patrocínio, todas as rendas e até o próprio jeito
de veiculação. Tudo isto está compondo a FAAP. Os advogados já estão se
mobilizando para estudar este assunto, para o qual peço uma reflexão.
De uma maneira geral, até fazendo coro com o que falou o João Zamforlim,
acho que deve haver uma regulamentação específica ao futebol. Não consigo
imaginar que uma mesma lei possa absorver o badminton, o tênis de mesa e o
futebol, especialmente em um País pentacampeão de futebol do mundo. Não
acredito que o mesmo texto original possa servir a todos esses esportes. Para se ter
uma idéia de como isso é tão flagrante, o art. 53 do Estatuto previsto, da minuta
apresentada, determina que a participação de seleções ou delegações brasileiras
em competições oficiais deverá ser transmitida ao vivo por, pelo menos, uma rede
nacional de televisão. E fico me perguntando quem é que vai transmitir e quem é
que vai assistir ao campeonato sul-americano de badminton. Porque aqui está
sendo aplicado para todas as agremiações. Nitidamente o art. 53 é destinado ao
futebol. Portanto, acredito que num mesmo corpo legal fica bastante difícil.
Por fim, causa certa estranheza — deve ter sido até supostamente um erro —
que a Lei nº 10.672, essa malfadada lei, que é o pior texto legal que já se fez, desde
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a República, não tenha sido revogada pelo Estatuto do Desporto. A minuta não
contempla a revogação dela. Então, não sendo feita essa revogação vai-se criar
uma outra insegurança bastante oportuna.
Aproveito a oportunidade, ainda, para manifestar minha opinião pessoal em
relação ao Estatuto do Desporto, que traz uma grande evolução no que diz respeito
à Justiça Desportiva, ao não permitir que magistrados figurem como auditor. Com
isso teremos o retorno da ética, com a ausência do nepotismo e do clientelismo que
se instalou no Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
Era o que tinha a dizer e muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Muito obrigada.
Agradecendo ao Dr. Piraci Oliveira a exposição lúcida, informo que já
chegaram a esta mesa contestações sobre alguns pontos que esclareceremos no
debate. Vamos para os 2 últimos expositores. Logo após, vamos desfazer a Mesa e
chamar os Presidentes em exercício da CBF e da Federação Paulista de Futebol
para fazerem o encerramento. Os 2 últimos expositores serão o Sr. Rinaldo José
Martorelli e o Sr. Rogério Caboclo.
Agradeço a colaboração. Não fosse isso, pelo número de expositores, não
teríamos essa dinâmica.
Está presente entre nós o Sr. Sérgio Corrêa da Silva, Presidente do Sindicato
dos Árbitros de Futebol de São Paulo.
Se houver alguém que represente alguma entidade e não tiver sido
designado, que faça chegar o nome à mesa. Obrigada.
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - Bom dia a todos. Em nome do
sindicato e dos atletas, agradeço o convite. Minha saudação aos Presidentes Nabi,
Marco Polo e Sérgio; aos Deputados Deley e Gilmar Machado; ao Dr. Nicolau; ao Dr.
Carlos Senger, Presidente da Comissão de Direitos Esportivos da OAB de São
Paulo, da qual faço parte. Reiterando o que disse o Prof. José Teixeira, a figura do
Prof. Hélio José Mafia me remonta à época em que eu era atleta no Palmeiras,
quando era meu gerente e preparador físico. Um abraço, professor.
O tema proposto para minha exposição trata da legislação trabalhista do
instituto da arbitragem jurídica, de acordo com as normas da FIFA. É mais ou menos
o que o Dr. Amoretty já falou. Farei algumas considerações e depois falarei a
respeito desse tema.
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Primeiro, gostaria de dizer que estamos discutindo o Estatuto do Desporto, e
há uma medida provisória prontinha para sair do forno. Quando os senhores ouvirem
que Rinaldo Martorelli, Presidente do Sindicato dos Atletas Profissionais do Estado
de São Paulo e Vice-Presidente da Federação Nacional dos Atletas Profissionais de
Futebol, concordou com o texto final, saibam que é mentira. Rinaldo Martorelli
participou de uma reunião e meia naquela Comissão e fez algumas propostas. Eu
não conheço o texto final. Algumas das coisas que vi já não me agradam, porque
não era o que havíamos discutido.
Quanto ao Dr. João Zamforlim — não posso deixar de citá-lo, pois é um
adversário fervoroso —, ele fez menção a uma notícia de jornal e se contradisse. Ele
disse que não podemos nem amar nem odiar a informação. Estamos necessitando
regulamentar uma série de questões. Quando ele mencionou férias — eu havia feito
referência a férias e a seguro de vida —, quero crer que não subestimou minha
inteligência ou pelo menos que os senhores não tenham entendido assim, porque
trabalhamos essa questão das férias há algum tempo, pelo menos há 4 anos.
Quanto ao seguro de vida, na verdade, há uma preocupação. Há uma
obrigatoriedade pelo seguro de afastamento temporário. Mostrando a cara do
Sindicato dos Atletas e da Federação Nacional, conseguimos uma apólice brasileira
muito mais acessível para oferecer aos clubes. Ela já vem com o seguro de vida
acoplado. É algo bem acessível para se levar aos clubes.
O Dr. Piraci disse que a FAAP contempla alguns atletas. Quero retificar,
dizendo que ela não contempla nenhum atleta. Não conheço nenhum caso de
assistência do FAAP. Há discussão há algum tempo com relação a isso. Para piorar,
o Ministério do Esporte fez um convênio com o FAAP, de junho deste ano a abril do
ano que vem, de 504 mil reais. Levei essa informação à Comissão. Quer dizer, não
sabemos para onde vai. Precisamos ter certeza das coisas que estão sendo feitas.
Com relação ao direito de arena, o Dr. João Zamforlim disse que o atleta não
tem direito. Os clubes tentam extinguir o direito. É interessante que V.Exas. saibam
que esse direito existe desde 1973, e começou a ser parcialmente respeitado em
2000, quando fizemos um acordo. A partir de então, houve grita dos clubes.
Precisamos discutir e resolver a questão, mas não extinguindo o direito, mesmo
porque está previsto na Constituição Federal e no Código Civil. Não podemos tapar
o sol com a peneira.
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O problema do saneamento do Governo é interessante. Vou reiterar o que
disse na Comissão. Não vejo saneamento do passivo trabalhista, e isso me choca
um pouco. Disseram-me: “Não dá pra fazer”. Se foi possível em relação ao Fundo de
Garantia, por que não o é em relação ao passivo trabalhista, na negociação e
adesão? Entendo ser possível. Estou um pouco preocupado com isso.
Voltando ao assunto, o instituto da arbitragem no futebol é interessantíssimo
para nós. Precisamos retomá-lo. Como todos sabem, a Justiça do Trabalho está
assoberbada, não dispõe do aparelhamento necessário para nos dar a resposta
imediata de que necessitamos. É fundamental caminharmos para a arbitragem. Mas
a FIFA manda as associações nacionais fazer as arbitragens. Há uma Câmara de
Arbitragem na CBF, Presidente Nabi, só que não funciona. Ela não foi composta de
forma igualitária, como a FIFA ordena. Já discutimos aqui em São Paulo. Já houve
tentativa, mas infelizmente as coisas caminham muito devagar.
É lógico que, para tratar de arbitragem, temos que primeiro tentar informar
àqueles sujeitos à arbitragem o conceito que ela traz, o que nossa sociedade
infelizmente ainda não conhece. Creio que esse é um caminho. Completando a
questão da arbitragem, ou até fazendo uma referência clara sobre a execução da
arbitragem, precisamos de outro dispositivo legal, a chamada convenção coletiva de
trabalho. É para isso que tenho chamado os senhores há algum tempo.
A medida provisória estaria aliviada se tivéssemos o entendimento, se
conseguíssemos, a partir de então, estabelecer uma cultura de negociação.
Sabemos dos nossos problemas — os atletas, os clubes, as federações. Nem
sempre os Deputados conhecem esses problemas. Então, começam a criar
mostrengos, como já foi dito aqui, que acabam se tornando inexeqüíveis para nós.
Deixo claro também que sou favorável à permanência do atleta no País e a
que haja segurança para o clube formador — eu, o Sindicato de Atletas Profissionais
do Estado de São Paulo e a Federação Nacional — , só que não podemos trilhar por
um caminho que nos traga problema. Como fazer? Como dar uma segurança para o
clube de forma legal? Será dizer que o atleta, para se transferir, ele tem que
indenizar? É contrario sensu dizer que ele não pode ir. É inconstitucional.
Então, não adianta amarrar as coisas da forma como se amarra. Amarrar com
uma “linhazinha” qualquer. Precisamos traçar um plano e discuti-lo. Uma convenção
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coletiva de trabalho contempla tudo isso, porque nós estaremos discutindo as
nossas necessidades.
Portanto, senhores, eu não vejo outro caminho, senão deixar de lado as
armas e começarmos a conversar. Não adianta continuar discutindo cláusula penal.
Eu dizia em 2000, 2001, também numa plenária do Congresso, que aquela
aplicabilidade, como citou o Dr. Paulo Amoretty, era perigosa. Um coisa é um jurista
dar um parecer; outra coisa é o Juiz do Trabalho dar a sentença. E a sentença
acabou virando contra o clube. Nós temos o caso aqui, infelizmente — cito com dor
no coração, porque passei também por lá —, da Portuguesa, de São Paulo, que tem
um passivo trabalhista de quase 40 milhões de reais, composto quase que 100% de
cláusula penal com atletas de até 20 anos, porque eles entendiam que isso não ia
ser cobrado deles. Agora vem a medida provisória estabelecer cláusula indenizatória
e multa rescisória. Quer dizer, criam 2 institutos: um pode ser estabelecido até 2 mil
vezes, que é pago pelo atleta; o outro, que vai ser estabelecido até 400 vezes, pago
pelo clube. Na hora em que for discutido judicialmente, vai dar problema. O caminho
não é esse. O caminho é de entendimento.
Portanto, os senhores terão o Sindicato dos Atletas e a Federação Nacional
como parceiros leais na fase preventiva. E terão também, da mesma forma, o
Sindicato de Atletas e a Federação Nacional, e particularmente Rinaldo Martorelli,
como um adversário fervoroso na fase repressiva. Está na hora de a gente acordar.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Obrigada, Martorelli.
Pediria que você mandasse por escrito esta posição sobre a questão do passivo
trabalhista, já que é uma crítica séria sobre uma saída para a medida provisória.
Aquilo que você puder nos mandar, nós agradecemos, porque, quanto mais
conhecimento tiver o Deputado, com maior transparência e lisura ele agirá. Agora,
toda vez que alguém faz alguma coisa que ninguém percebe e tal, é bom pedir aos
cronistas, à imprensa, a todos que não façam julgamento, para evitar que as
pessoas, na calada da noite, criem dificuldades para vender facilidades.
Portanto, ouvi observações sérias. E nós pedimos que as pessoas nos
orientem de forma mais substancial, com textos, com as questões, para que
possamos refletir e rastrear o porquê de isso estar ocorrendo.
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Com a palavra o último expositor, Sr. Rogério Caboclo, que vai expor sobre papel
das entidades da administração do desporto no fomento e organização do futebol.
Enquanto se dirige à tribuna, eu gostaria de anunciar a presença entre nós do Dr.
Naief Saad, Presidente do Tribunal de Justiça Desportiva do Futebol do Estado de
São Paulo. S.Exa. pode nos dar uma grande colaboração, mesmo não estando
inscrito como expositor, formulando pontos que julgue interessante que cheguem
aos Deputados.
Então, com a palavra o Sr. Rogério Caboclo.
O SR. ROGÉRIO CABOCLO - Muito obrigado. Quero apresentar minhas
cordiais saudações a todos os presentes. Eu gostaria de cumprimentar em especial
os nobres Parlamentares designados para essa missão tão importante de
regulamentar o esporte, de dar as diretrizes para os destinos do esporte brasileiro.
Gostaria de registrar que pouca coisa a respeito das entidades de
administração do desporto estão previstas neste Estatuto do Desporto, que vai
reunir e integrar de uma vez por todas as legislações esparsas que tratam do
esporte.
Talvez ainda seja um pouco desconhecido o tema, mas o papel das entidades
de administração do desporto é muito complexo e muitas vezes até se mistura com
a própria atividade pública estatal, no que diz respeito à promoção do esporte, do
lazer e, por que não, até da cultura.
Eu falaria rapidamente sobre as atribuição de uma federação. Podemos falar,
em breves pinceladas, que cabe à federação: dirigir o futebol, incentivar a difusão e
o aperfeiçoamento do esporte, ajudar as entidades no encontro de seu equilíbrio
econômico, promover e organizar campeonatos, incrementar a cultura física e
intelectual, moral e cívica dos desportista, especialmente no que trata da juventude,
contribuir para o progresso material e técnico das entidades de prática desportiva,
promover campanhas educacionais, principalmente para a juventude, criar e
participar de forma direta — como na prática tem acontecido com muito sucesso,
conjuntamente com órgãos oficiais — da organização e elaboração de projetos que
busquem instituir escolas de futebol em favor da comunidade carente.
Esses seriam os pilares fundamentais das atribuições de uma federação
desportiva.
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Na prática, como isso tem acontecido? Comumente, a federação é solicitada
a ajudar os clubes a se viabilizarem econômica e financeiramente e possam
subsistir. Como é do conhecimento geral, a situação financeira do futebol brasileiro
encontra-se bastante debilitada, em virtude de uma queda acentuada de receitas
observadas ao longo dos últimos anos.
Não olvidamos que as causas de tal fenômeno são as mais diversas. No
entanto, algumas merecem referências pontuais, como é o caso da dinâmica
legislativa relacionada a tal esporte até o momento, que já mudou por várias vezes
e, em certas ocasiões, de forma ininteligível.
É importante destacar, para se entender a situação econômica do futebol
brasileiro e o papel das entidades de administração do desporto neste resultado, ou
para melhorar esse resultado, quais são as fontes de receita de um clube de futebol.
O assunto já foi tratado com muita competência pelo João Paulo e eu gostaria de
destacar em 3 tópicos para tornar mais fácil o entendimento.
As fontes de receita basicamente são 3: a comercialização dos direitos de
televisionamento das partidas; o merchandising e o patrocínio e as bilheteiras das
partidas.
Todos esses fatores, ao longo dos últimos anos, contribuíram para o
decréscimo das receitas do futebol, merecendo especial referência a redução
substancial das cotas pagas pela televisão aos clubes de futebol.
Vale ressaltar que nos últimos anos várias competições foram extintas do
calendário. O campeonato nacional foi praticamente duplicado, sem um reajuste
proporcional dos valores pagos anteriormente. E os campeonatos estaduais, que já
tiveram uma posição de destaque no cenário nacional, tiveram o seu período de
duração dizimado até há pouco tempo para não mais de 2 meses.
Recentemente, à luz da necessidade de majoração das receitas provenientes
da TV, da necessidade de estimular os clubes a investirem em modernização
estrutural e de seus elencos, incentivar aos torcedores a acompanhar seus clubes
como em outras épocas, principalmente aqueles clubes de menor porte, privados de
praticar outros campeonatos que não aqueles de âmbito estadual, a Federação
Paulista de Futebol se propôs a dialogar profundamente com a CBF, e obteve um
calendário para o próximo ano, de 2005, que, se não o ideal, vai melhorar em muito
a visibilidade, os investimentos e as emoções do campeonato.
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A federação teve êxito na sua empreitada em busca de um equilíbrio
financeiro para os clubes. Contou com a sensibilidade da CBF e foi contemplada
com a possibilidade de promover, no ano que vem, um campeonato com 19 datas,
com aproximadamente 3 meses de duração, o que em muito vai melhorar o
resultado prático e financeiro dos clubes.
A entidade está procurando agregar valor aos seus campeonatos, tendo como
pano de fundo as premissas que norteiam a gestão da entidade: transparência,
seriedade e respeito incondicional aos clubes e aos torcedores.
O resultado é que já há um ganho notório em relação aos recursos
provenientes da TV em relação ao últimos anos. Mas ainda há muito o que fazer até
que se possa voltar a patamares históricos de um passado recente.
Os patrocínios em geral dos clubes foram afetados nos últimos anos não só
pela queda acentuada do próprio mercado publicitário mas também em razão do
receio de investidores em agregar suas marcas ao futebol, que em alguns momento
teve a sua gestão exagerada e generalizadamente criticada, a despeito de
resultados incontestáveis dentro e fora do campo.
Não é prudente negar que no Brasil, com tantas dificuldades enfrentadas,
exista um grande número de dirigentes com altíssima qualidade.
Em relação às bilheterias, que também já foram objeto de outros
pronunciamentos, existem números que podemos chamar de alarmantes. Se formos
comparar o público médio dos campeonatos, por exemplo, paulista, entre 1997 e
2001, tínhamos 15 mil 445 torcedores, por partida. Já entre 2002 e 2004, esse
número caiu 73%, para 4 mil 136 torcedores. O número de jogos que entre 1997 e
2001 foi de 155, de 2002 a 2004 caiu para 105, menos 32%.
Esses são alguns dos fatores que explicam a crise financeira que assola o
futebol brasileiro.
Se formos tratar dos clubes de menor porte, aqueles que realmente
encontram-se em situação mais debilitada e difícil, podemos dizer que são 90 os
clubes, só no Estado de São, que não participam da primeira divisão do campeonato
da série A-1. Esses clubes representam, em média, 4 mil inscrições anuais, ou seja,
4 mil empregos diretos e 8 mil empregos indiretos.
Se a realidade das fontes de receita não são animadoras em relação aos
grandes clubes que disputam a primeira série do Campeonato Brasileiro, é
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necessário informar que para nos outros clubes a situação é ainda mais agravante e
merece a nossa atenção. A realidade dos clubes denominados pequenos, que não
disputam a série A-1, é muito diferente. Os recursos da TV, que representam 70% a
90% para um grande clubes, simplesmente não existem, pois o produto não é
atrativo para o grande público.
Em razão da falta de visibilidade na mídia, os patrocínios são escassos, para
não dizer raros, e restritos a pequenos anunciantes locais. Os valores são ínfimos. A
receita de bilheteria é mínima.
Diante desse quadro é que a Federação Paulista de Futebol tem que
administrar a vida de mais de 80% dos seus filiados, em grande parte dependentes
exclusivamente dos certames promovidos pela entidade, uma vez ausentes dos
campeonatos nacionais.
Como sempre diz o Presidente Marco Polo Del Nero, já não podemos mais
contar, no caso desses clubes, com a venda de 1 ou 2 atletas, por ano — que, em
outras épocas, permitia que o equilíbrio financeiro fosse retomado.
Os campeonatos, portanto, das séries A-2, A-3 e B, são totalmente
subvencionados pela Federação Paulista de Futebol, como é o caso também de
outras federações pelo País.
A mesma coisa, em grande parte, acontece com os campeonatos das
categorias de base. Os campeonatos são dispendiosos para a entidade e têm uma
representatividade muito grande em razão da sua receita operacional bruta.
Podemos citar que, entre 2002 e 2003, a receita operacional da Federação
Paulista de Futebol foi de 6 milhões e 200 mil reais, dos quais 78,35%, ou seja, 4
milhões e 897 mil reais foram destinados aos subsídios e subvenções dos pequenos
clubes.
A Federação Paulista também, como outras, encontra dificuldade ou
escassez de recursos para suas receitas. Em razão disso, essa subvenção e esses
subsídios não podem continuar por longa data, por muito tempo. Há necessidade,
hoje, de as federações passarem a ter um equilíbrio financeiro para que possam
subsidiar, dentro de suas possibilidades, os pequenos clubes. Agora, sem o auxílio
objetivo por parte do Estado, esses clubes, sem o subsídio das federações, estarão
fadados ao insucesso no curto prazo.
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Vale mencionar que as federações cumprem um papel social importante.
Mencionaria, de forma objetiva, que as federações promovem a educação física e
intelectual, bem como a prática do esporte, no fomento do lazer, o que é indiscutível.
Trata-se de finalidade, algumas vezes, até estatutária dessas entidades. É também
inquestionável que a prática do esporte promovida pelas federações é capaz de
conceder o desejável amparo às crianças carentes, a promoção da integração ao
mercado de trabalho, sem prejuízo de inúmeros outros benefícios. Recentemente a
Federal Paulista de Futebol tem desenvolvido junto aos Poderes Públicos, em
especial a Prefeitura municipal de São Paulo e o Governo Federal, por meio do
Ministério do Esporte, planos de inclusão social, por intermédio do futebol, que têm a
finalidade de ensinar o esporte e, ao mesmo tempo, promover a qualidade de vida
para crianças carentes. Hoje as federações desempenham muitas vezes um papel
que seria próprio do Estado, definido assim pela própria Constituição Federal. As
federações funcionam como verdadeiras parceiras do Estado nessa atividade.
Existe uma questão importante, que foi muito bem tratada pelo Dr. Piraci
Oliveira, um grande mestre no assunto, que merece nossa atenção nesse momento
de definição da normatização do Estatuto do Desporto. É o caso da formatação e da
situação tributária das entidades de prática desportiva e de administração do
desporto. O art. 217 da Constituição Federal trata da autonomia da entidades
esportivas para organização e funcionamento. O Código Civil prevê 3 modalidades
de formatação das entidades, como associações, fundações ou sociedades. Dessa
feita, cada uma delas pode escolher a forma que melhor se adapte às suas
finalidades sociais antes de se associar.
Da mesma forma, como foi tratado aqui, a Constituição Federal trata, de
maneira objetiva, da imunidade constitucional tributária, atribuindo a determinadas
entidades, que cumprem seus requisitos, capacidade para não contribuir com
qualquer tipo de tributo federal. Assim sendo, o art. 146 da Constituição Federal
atribui à própria Constituição ou ainda à lei complementar, com exclusividade, o
poder de limitar as imunidades constitucionais. Isso não é o que tem acontecido.
Muitas leis complementares têm invadido essa seara e, de uma forma
inconstitucional, procurado limitar essa capacidade que compete exclusivamente à
Constituição de conferir imunidade constitucional a clubes e federações.
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Assim sendo, para não ultrapassar o tempo, passarei para as propostas
objetivas. Ontem foi mencionada por representantes das 3 esferas do Governo na
área do esporte — União, Estados e Municípios — a criação de um sistema de
financiamento eficaz para o esporte. Surgiu a idéia da criação de um fundo público
com o objetivo de fomentar o esporte. Sabemos que o Brasil tem uma imagem
negativa no exterior. Um dos poucos produtos brasileiros que tem imagem,
aceitação e respeito internacionais é o futebol que, no entanto, não é tratado pelo
Estado com o cuidado proporcional à qualidade que projeta internacionalmente.
Assim como a Administração Pública em geral, a gestão do futebol é cercada por
profunda desconfiança da opinião pública, ainda que aqui se pratique um grande
futebol e grandes gestões públicas.
É necessário e oportuno, neste momento de mudanças pelo qual o Brasil
passa, que o Estado e as entidades de administração do esporte conjuguem
esforços para criar condições efetivas da generalização da prática esportiva na
sociedade, por um lado, e para aumentar ainda mais o nível de competitividade de
nossos atletas, por outro lado.
Para que isso se efetive na prática é fundamental que a nossa legislação
contemple alguns pontos que passaremos a propor.
Primeiro, o reconhecimento, por lei, da condição de associações, sem fins
lucrativos, detentoras de imunidade constitucional tributária para aquelas entidades
desportivas e de administração do desporto que cumpram rigorosamente os
requisitos legais.
Segundo, que as entidades de administração do desporto façam jus aos
mesmos benefícios que a legislação está procurando criar para sanear ou resgatar
financeiramente os clubes de futebol.
Nada mais justo, já que as federações subsidiam grande parte dos clubes de
futebol. Neste sentido, a proposta é que o percentual da receita que será produzida
pela loteria Timemania seja destinada às federações que tenham representantes
entre os 80 clubes que participarão do projeto, sem prejuízo dos recursos já
previstos para essas associações.
Terceiro, que as federações recebam recursos públicos que possam suportar
os pequenos clubes de futebol e façam direcionamento desses recursos aos clubes
de menor porte, cuidando para que eles sejam investidos da melhor maneira
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possível. É o único caminho viável para modernização e estruturação, formação
responsável de atletas e profissionalização dos pequenos clubes de futebol.
Esta medida se justifica pela proximidade das federações com os clubes e
pelo conhecimento que as entidades têm das necessidades e do potencial de cada
um deles. Neste caso, a Federação Paulista de Futebol propõe que essas verbas
fiquem sujeitas às fiscalizações dos Tribunais de Contas, inclusive.
Na cidade de São Paulo, como dissemos, temos um projeto social e um vasto
subsídio aos clubes de futebol, o que tem imposto à federação resultados negativos
em seus balanços patrimoniais.
Esta é a realidade do futebol paulista.
Quero finalizar, registrando que a Federação Paulista de Futebol, coerente
com os princípios que norteiam a sua administração, é totalmente favorável às
recém-editadas medidas para o esporte no que tange à moralização. Entre as quais
podemos citar: a transparência dos atos de gestão, a unicidade, a publicidade das
demonstrações financeiras, a contratação de auditorias independentes, a previsão
estatutária da existência de conselhos fiscais atuantes e a responsabilização de
dirigentes por seus atos, desde que judicialmente comprovados.
Para exemplificar o que isso representa em termos numéricos, poderíamos
dizer que hoje, totalmente, o déficit, no caso da Federação Paulista de Futebol, está
relacionado com subsídio e subvenções a pequenos clubes e categorias de base.
Era o que tinha a dizer. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Agradeço ao último
orador, desta longa série de exposições, o Sr. Rogério Caboclo, e peço que nos
envie, por escrito, não só sua exposição de motivos, mas a relação de sugestões.
Tenho que registrar algumas presenças que nos honram como a do
Presidente da Cooperativa dos Profissionais do Esporte, Dr. Celso Luiz Lozada
Sansiviero; do Presidente da Sociedade Paulista de Medicina do Esporte — área
que nos preocupa —, Dr. Samir Daher; do ex-Prefeito de Bertioga, Mauro Orlandini.
Se algum dos presentes esqueceu de passar na mesa, na qual se faz o registro, terá
de fazê-lo, se quiser ser mencionado.
Chamaremos, conforme havíamos decidido, o Presidente em exercício da
CBF e o Presidente da Federação Paulista de Futebol, que farão breve exposição.
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Não posso desmontar a Mesa, porque em seguida os senhores vão
responder às questões. Hoje estamos adotando um procedimento diferente do que
normalmente se faz. Estamos perdendo um pouco mais de tempo, ganhando em
ouvir. É isso o que se precisa entender. Se não der para responder a todas as
questões, pedimos aos expositores que posteriormente enviem as respostas, para
que ninguém saia daqui insatisfeito por não ter sido atendido .
Solicito a presença do Dr. Marco Polo Del Nero para fazer o encerramento da
Mesa do Futebol, e, com muita alegria, do Presidente em exercício da CBF, Nabi Abi
Chedid.
Tem a palavra, encerrando a parte de exposição, o Presidente da Federação
Paulista de Futebol, Sr. Marco Paulo Neto.
O SR. MARCO POLO DEL NERO - Ilustre Presidenta, Deputada Mariângela
Duarte, madrinha do futebol no Estado de São Paulo; Srs. Deputados Deley e
Gilmar Machado, dignos representantes do nosso Congresso Nacional; Sr. Nabi Abi
Chedid, presidência em exercício da Confederação Brasileira de Futebol, demais
componentes da Mesa, quando foi discutida a Lei Zico e, depois, a Lei Pelé, em
nenhum momento os clubes de futebol ou o Sindicato das Associações de Futebol
Profissional do Estado de São Paulo, o qual eu presidia, foram convidados a
participar de qualquer debate, daí esse absurdo todo. Por isso, hoje, vejo com muita
alegria e esperança nesse momento quando não só os Parlamentares vêm a uma
conferência no Estado de São Paulo para discutir o Estatuto do Desporto com uma
platéia que tanto entende de futebol, seja clube ou seja atleta, estamos aqui
discutindo bastante. E o diálogo, no meu entendimento, é que forma a melhor
legislação; não uma legislação feita nas pernas, como se costuma dizer, porém uma
legislação discutida, ponto por ponto. E V.Exas. estarão aí, mais à frente, para, num
determinado momento, mudar essa legislação.
Não posso deixar de falar também sobre o Ministro dos Esportes. O Ministro
Agnelo Queiroz solicitou algumas vezes, por intermédio de sua assessoria, o prédio
da Federação Paulista de Futebol, para ouvir todos os segmentos envolvidos no
futebol. E lá estiveram as comissões, lá foram ouvidos os representantes dos clubes
e de tantos outros segmentos. Então, hoje há alegria, há esperança de que tudo
sairá bem. Tenho certeza de que o Congresso Nacional e o Presidente da República
Lula entendem que algo precisa ser feito para salvar o futebol.
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Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Em meu nome, em
nome do Relator, Deputado Gilmar Machado, e em nome do Presidente da
Comissão, Deputado Deley, agradecemos ao Dr. Marco, o primeiro a nos acolher
para que pudéssemos concretizar essa ampla e detida discussão sobre o Estatuto
do Desporto, as modalidades, e hoje, exaustivamente, o futebol.
Nós temos que, a cada passo, ou próximo ou futuro passo, nunca mais repetir
os erros que já cometemos.
Não é possível um esporte ter tanto respeito, tanto amor pela comunidade e
se ouvir os disparates de legislação que são feitos. Se a questão for com os clubes,
que se têm de atualizar, têm problemas de gestão e transparência, eles que
resolvam, e nós fiscalizamos enquanto sociedade. Mas o que não dá é ouvir que os
legisladores, os responsáveis pelo caráter institucional do País podem fazer leis que
desrespeitem ou afrontem o futebol, ou qualquer outro esporte. É um contra-senso.
O que nós estamos fazendo hoje? Este diálogo, esta rede, esta presença dos
senhores no Congresso — e é o Congresso que tem de vir aos senhores e não só
os senhores virem ao Congresso — é que vão evitar esse tipo de postura.
Quero, com ênfase, chamar a atenção da imprensa para esse fato. Muitos de
nós são absolutamente vocacionados para a vida pública, rigorosos no trato da coisa
pública e nos incomodam, mexem com os nossos brios ouvir, da forma como
estamos ouvindo, que podemos prejudicar o futebol.
Ao encerrar, pois quero que o Nabi faça o encerramento das exposições,
quero dizer que, se os clubes têm defeitos, temos de controlá-los, aprovar uma
legislação mais moderna, mais viável, mais eficaz para tudo. Este o grande desafio.
O que não podemos admitir, de jeito nenhum, é o agente público institucional, que
somos nós, fazer leis que prejudiquem, atrapalhem ou que tenham objetivos
escusos ou completamente contrários daquilo que precisamos.
Da minha parte e dos 2 aqui, inclusive com as críticas ao substitutivo,
sabemos a seriedade com que o trabalho está sendo feito e seremos cada vez mais
vigilantes e exigentes na questão da ética comportamental em relação à vida
pública.
Muito obrigada. (Palmas.)
Passo a palavra ao Dr. Nabi.
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O SR. NABI ABI CHEDID - Boa-tarde a todos. Inicialmente, quero
cumprimentar a minha querida amiga, colega, brilhante Parlamentar, ao lado dos
Deputados Gilmar e Deley, ela, que foi uma grande Deputada Estadual, aguerrida,
determinada, pois quando quer, ela busca e consegue realizar: Mariângela Duarte,
por quem tenho um carinho todo especial.
Eu fazia parte, na Assembléia, de um grupo que apoiava o Governo; era da
Oposição, mas o nosso relacionamento era espetacular, pelo respeito que eu
sempre tive pelos Deputados do PT de São Paulo. (Palmas.)
Rapidamente, vou dizer por que sempre estive dos 2 lados. Legislador, 40
anos Deputado, desportista e dirigente desde 1958, num clube do interior — é lá que
nasce o futebol. Estou, portanto, à vontade para falar. Gostaria até de ter mais
tempo, mas quero, neste instante, saudar todos os membros da Mesa, em especial
o meu querido amigo, Presidente da Federação Paulista de Futebol, Marco Polo Del
Nero, um homem de bem, um homem que pacificou o futebol paulista e o futebol
brasileiro. A CBF não poderia viver sem uma integração e um entrosamento com o
futebol de São Paulo. E por mais que o Presidente Ricardo Teixeira tentasse, não
conseguia — só com Marco Polo Del Nero isso foi possível acontecer.
Então, a minha saudação, a minha homenagem a esse grande desportista e a
toda a Diretoria da Federação Paulista de Futebol.
Meus amigos, às vezes, muitos que estão fora do futebol fazem críticas, mas
quando chegam a administrar um clube, uma federação, uma confederação é que
sentem as dificuldades.
Acho que agora vivemos um momento de felicidade no futebol brasileiro.
Conforme foi dito há pouco pelo Presidente Marco Polo, Lei Pelé, Lei Zico, outras
leis vieram goela abaixo, às vezes com a boa vontade de realizar o bom para o
futebol, mas não conseguiram transmitir aquilo que era realmente o sentimento do
futebol brasileiro.
Hoje nós vivemos um momento de felicidade. Nenhum Presidente da
República se interessou tanto pelo futebol quanto o Presidente Lula. Ele é um
desportista, um torcedor. Ele ama o futebol. Quando estive com ele recentemente
entregando-lhe um DVD sobre a visita ao Haiti, ele me contava que tem toda a
história do futebol que transformou num DVD. Ele acompanha tudo o que diz
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respeito ao futebol, a todos os esportes, mas principalmente ao futebol. Então o
momento é oportuno.
Quando vemos, com muito orgulho e muito respeito, um legislador vir até as
entidades, aos clubes, aos dirigentes, a todos os segmentos do desporto, não só do
futebol, para ouvir e redigir, minha querida Deputada, o Estatuto do Desporto, que é
importante para unificar toda essa legislação que está solta por aí, que se contradiz,
meu caro Zamforlim, nós ficamos felizes. Por isso digo que é um momento de
felicidade.
Falar em futebol é fácil. Dizia há pouco o Rogério Caboclo, com muita
propriedade, sobre o papel da Federação com relação ao futebol paulista. O que
acontece? Mais de 80% de subsídios aos clubes menores do futebol paulista. E
como? Pela boa administração que está sendo realizada. O futebol de São Paulo
sempre foi um celeiro de grandes jogadores. O América do Rio Preto, Ferroviária,
São Bento de Sorocaba, XV de Piracicaba, Batatais — por que não? —, todos esses
clubes, Comercial, Botafogo. Hoje não é mais. Vai começar a ser novamente; ter o
impulso que o Presidente Marco Polo tem dado, desses subsídios para que se
realizem os campeonatos.
Hoje o clube do interior não tem condições de sobreviver, se não tiver esses
subsídios, e mesmo assim vive com dificuldade. Então, é preciso, meus caros
legisladores, pensar no todo do futebol. Tem que pensar em todos os desportos,
muito bem, mas o futebol tem que ter uma legislação especial, porque ele é
diferente. Ele precisa de uma legislação especial.
O campeonato da Série B do ano passado estava prestes a ser interrompido.
Foi adiado o seu início, por duas vezes; depois esteve para ser interrompido por falta
de recursos. Aquilo que os dirigentes buscavam, patrocínios de estatais etc. o
dinheiro não chegou. E o campeonato tinha que acontecer. Se não acontecesse,
inviabilizava o campeonato da Série A. E a CBF teve que subsidiar. E subsidiou a
Série B, sem ter condições naquele momento, ao longo do campeonato, em 13
milhões de reais, pagando despesas de arbitragem, pagando transporte,
subsidiando os clubes.
É isso que precisa ser entendido e se busque a solução. Nós iniciamos um
processo em que há um Presidente envolvido e interessado, um Ministro de
Esportes dando tudo de si para que aconteça. E quando temos também a Comissão
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do Desporto da Câmara Federal sentindo, ouvindo e, acima de tudo, abrindo o
diálogo para que todos sejam ouvidos, podemos dizer que é um momento de
felicidade. Vamos consertar os erros com paz e harmonia.
O futebol brasileiro é muito grande, é pentacampeão, pode ser hexa, pode ser
muito mais, porque é o maior futebol do mundo. Esse futebol brasileiro é amado no
exterior. Quem esteve no Haiti — quem não deu muito valor a esse jogo — pôde
sentir o que é o sentimento pelo futebol brasileiro. Vimos torcedores se arrastando
nas ruas, chorando, gritando, com bandeiras do Brasil, com camisas verde-amarela,
com muito orgulho e alegria de receber uma seleção como a do Brasil. Hoje, o Brasil
é respeitado em todo o mundo.
Por favor, pelo amor de Deus, cuidem, em legislação específica, do futebol,
para que não haja conflitos entre dirigentes, federações, confederações, clubes,
atletas, porque os dirigentes do futebol brasileiro, hoje, a começar por aqueles que
estão nos rincões mais distantes, são realmente heróis, que constróem a grandeza
do futebol brasileiro.
Parabéns, Deputada Mariângela; parabéns, Deputado Deley, craque que
sempre admiramos pelo maravilhoso futebol; parabéns, Deputado Gilmar Machado,
pelo trabalho que está realizando. Eu estive em uma missão importante, atendendo
ao pedido de S.Exa., por determinação do meu Presidente, Ricardo Teixeira, de
levar a nossa taça de pentacampeão à cidade de Ubá, com muito orgulho e
satisfação.
Por favor, meditem, a responsabilidade é grande. O que os senhores
aprovarem, o Presidente da República vai sancionar, podem ter certeza, pela
confiança que tem no trabalho aqui realizado, como todos nós também temos.
Obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Agradeço aos
senhores. A CBF aqui quase 2 dias, não é brincadeira.
Quero agora pedir que um dos meus 2 colegas, o Presidente da Comissão,
Deputado Deley, jogador de futebol, conduza os trabalhos nessa segunda parte, que
são os debates. Eu gostaria que ele tivesse vindo no início. Já chegaram as
questões, cada qual já tem domínio.
Quero apenas designar ainda mais 2 presenças: Prof. Georgios Stylianos,
Presidente do Conselho de Diretores das Escolas de Educação Física do Estado de
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São Paulo, importante presença, pelo respeito que devemos ter, ao discutir o
esporte, aos professores de Educação Física; e Ivan Manoel de Oliveira, Presidente
da Cooperativa Craques de Sempre.
Obrigada por essa primeira parte.
Passo a palavra ao Deputado Deley.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Boa-tarde a todos.
Dando prosseguimento aos trabalhos, quero praticamente subscrever o que a
Deputada Mariângela falou e agradecer as palavras carinhosas. Ficamos ali, eu e o
Gilmar, muito atentos, evidentemente, também às considerações dos expositores.
Conforme disse o Nabi, é uma oportunidade e, como também havia dito o
próprio Martorelli, meu ex-companheiro de Palmeiras, muitas vezes se fizeram leis
dentro daquela Casa sem ouvir a sociedade.
Então, quando propusemos — não só na condição de Presidente, mas
também ouvindo de forma democrática todos os nossos pares — levar esta
Comissão a várias regiões do País, independentemente de haver ou não uma MP
em andamento, de qualquer forma, que toda e qualquer ação do Executivo passe
pelo Congresso. Então, não tenha dúvida de que vamos discutir, e é importante essa
contribuição de cada um dos senhores para termos mais argumentos, a fim de que
possamos defender a opinião da sociedade.
Dando continuidade aos trabalhos, concedo 3 minutos para os expositores
selecionarem as perguntas mais necessárias de serem respondidas no momento e
as outras devem ser encaminhadas por e-mail ou ao endereço, provavelmente,
constante da ficha.
Concedo a palavra ao Sr. Dagoberto Fernando dos Santos, que dispõe de 3
minutos.
O SR. DAGOBERTO FERNANDO DOS SANTOS - Muito obrigado. A
primeira pergunta foi encaminhada por Leonardo Serafim e versa sobre o seguinte:
os clubes que aderirem ao programa da Time Mania terão de abrir mão de eventuais
ações judiciais sobre dívidas fiscais, previdenciárias etc. ou poderão continuar na
Justiça sem que dívidas em controvérsia sejam descontadas da verba da Time
Mania?
A princípio o encaminhamento da proposta da Comissão é de que eles devam
permanecer com as ações judiciais até que a sentença tenha transitado em julgado.
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Uma vez transitado em julgado é que comporão o passivo que vai ser amortizado
com o dinheiro da Time Mania.
A Ana Maria de Camargo pergunta: o prêmio por eficiência de gestão que
será destinado aos clubes incluirá alguma avaliação relacionada ao desenvolvimento
de projetos ligados a outra modalidades? Considerando ainda que muitas crianças
são encaminhadas para a prática do futebol na expectativa de projeção do meio
esportivo, haverá vínculo entre os recursos repassados para que, por meio do
futebol, mais recursos possam ser repassados ao desenvolvimento de outras
modalidades?
A princípio, não há nenhum direcionamento compulsório, nenhuma indução
para que o dinheiro que não foi utilizado para liquidação de passivos, no caso
específico aqui, de clubes adimplentes, ou o recurso proveniente da Time Mania
sejam um reforço de caixa adicional. A legislação que estamos encaminhando não
prevê nenhum direcionamento para atividades voltadas à prática do esporte do
jovem ou da criança. Isso estará dentro de um dos objetivos estratégicos de cada
clube.
Outra, de Breno de Assis: por que não fomentar a prática do desporto lato
sensu e dedicar parte dos 25% às entidades de práticas desportivas minoritárias?
Não sei se entendi a pergunta, mas, na verdade, estamos privilegiando 80
clubes, aqueles que cederão suas marcas para as loterias esportivas em detrimento
de todos os demais. Na verdade, o que estamos buscando é uma solução para que
todos os outros clubes possam ter algum tipo de benefício. Há alguns estudos a
respeito, porém não concluímos esse trabalho. Retirar 25% dos atuais clubes não
me parecia justo, porque esses 80 clubes representam, com certeza, mais de 90%
dos passivos que estão aí.
Muito obrigado.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Obrigado, Dagoberto.
Passo a palavra agora ao João Paulo de Jesus.
O SR. JOÃO PAULO DE JESUS LOPES - A primeira pergunta é do Prof.
Paulo César Araújo Ribeiro. Ele pergunta se a adequação do calendário não é o
primeiro passo para reverter o déficit de renda e público. Com certeza, a adequação
do calendário é um passo importante no caminho da reversão do déficit financeiro no
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futebol. Acredito que isso já esteja sendo tratado pelas entidades de administração
do esporte.
Na nossa visão, há um excesso de partidos e um descasamento dos
campeonatos nacionais com as competições internacionais congêneres, mas é
necessário também que se abra um período entre as temporadas, para que os
clubes possam excursionar e obter alguma vantagem financeira. Hoje a imagem do
futebol brasileiro está sendo explorada exclusivamente pelas seleções nacionais.
O Sr. Sílvio Alves Sena pergunta se não achamos que o futebol amador
deveria ter direito a uma fatia na loteria Time Mania.
Acho que o futebol amador não está desamparado, pois já é objeto de apoio
da Lei Piva como esporte olímpico da própria Federação Paulista de Futebol, da
Secretaria Municipal de Esportes, e a Time Mania, de certa forma, vai acabar
auxiliando os clubes de futebol amador, na medida em que os clubes de futebol
profissional, aliviados nos seus orçamentos, poderão destinar maiores recursos às
suas divisões específicas.
E a última pergunta, do Prof. Marino Tessari: qual a explicação (falha na
gravação) de clubes como o Figueirense não possuírem dívidas e médias de público
altas no campeonato brasileiro, 10 mil torcedores, que, em sua maioria, são sócios
do clube e, portanto, pagam o ano todo.
O Figueirense é realmente um clube privilegiado, teve uma receita de 8
milhões em 2003 e 1 milhão e 330 de resultado líquido. O endividamento existe, sim,
é da ordem de 5 milhões, que não é alto, é menos de 20%, completamente fora da
média dos clubes brasileiros.
É óbvio que os 10 mil torcedores, que são também sócios, criam suportes e
compensam a falta de outras receitas, patrocínio, TV, etc. que ele tem. Não nos
podemos esquecer também de que os clubes de menor expressão têm a seu favor
os visitantes terem uma grande atração na sua cidade.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Obrigado. Com a palavra o Sr. João
Zamforlim.
O SR. JOÃO ZAMFORLIM - O Prof. Pereira faz uma pergunta — todos têm
endereço, mas ele não coloca o endereço aqui porque, com certeza, nos
encontramos sempre lá no Parque da Água Branca durante as caminhadas. Ele
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pergunta se pode ser extensivo o direito de arena ao trio de arbitragem. Não, pela
lei, do jeito que está escrito lá no 42, só atletas é que têm direito.
A outra pergunta é do Sílvio Alves Sena, Presidente do CDM Pedro José
Nunes: “Não seria mais proveitoso transferir os percentuais da FAAP para o futebol
amador, verdadeiro gerador de atletas?”
Vou fazer minhas as palavras do Martorelli. Se não sabemos para onde está
indo esse recurso, se fosse pelo menos para o futebol amador já saberíamos. Então,
com certeza, se for aplicado no futebol amador será melhor do que o lugar onde
porventura esteja sendo aplicado.
José Roberto Ribeiro, diretor, promotor de eventos — Promo Axé a já faz aqui
a propaganda: cultura e lazer —, diz o seguinte: “Você não acha que se faz
necessária a construção de ambulatórios médicos com aparelhos de UTI, pessoal
especializado nos estádios, praças e em espaços de grande aglutinação?”
Acho, mas economicamente isso é impossível. Não temos jeito nem de cuidar
da saúde, imagine um caso desse. Se tiver dinheiro, acho que deve haver
ambulatório, UTI, porque tem de se preservar, acima de tudo, a vida humana.
Rodrigo Napier, Consultor Jurídico: “Qual o seu ponto de vista em relação à
limitação da licença de uso de imagem entre atletas e sem clubes, será
inconstitucional? Art. 106 do substitutivo ao Projeto de Lei nº 4.874, de 2001”.
Então é mais uma situação interessante aqui para mostrar que confunde.
Entendo que esse art. 106 — quando diz para a limitação de uso de imagem entre
atleta e sem clubes — é como o caso do Guga. Acho que ele poderia ter essa
imagem sem clube, mas está na cara que isso não pode ser aplicado no futebol,
porque se o cidadão, ao chegar ao clube e for contratado, disser: “Olha, o nosso é o
seguinte, eu tenho o direito de imagem com aquela empresa e tal” e esta for um
concorrente do clube que o está contratando ele não será contratado.
Então, há aqui a necessidade de que esse atleta seja livre de uso de imagem,
mas a limitação parece que vem em medida provisória, porém não sei se isso será
resolvido ou não. Os juízes poderão entender que se trata de um complemento
salarial, porque houve abuso dos clubes, já que fizeram contrato de imagem até com
massagista, com todo o respeito ao massagista, mas ele não tem imagem.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Obrigado. Quando se falou em
direito de arena para árbitro, os olhos do José Assis até brilharam.
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O SR JOSÉ DE ASSIS ARAGÃO - Estou aqui ligado, Deputado Deley.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Passo a palavra ao José Assis, pelo
tempo de 3 minutos.
O SR JOSÉ DE ASSIS ARAGÃO - Nós teremos direito, sim, senhor, como
não?
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Se passar, vou me vingar. Vou lhe
dar um cartão rápido.
O SR JOSÉ DE ASSIS ARAGÃO - Ainda bem que eu não expulsei o
Deputado Deley quando ele era jogador de futebol.
O Rodrigo Gentile pergunta se eu tenho algum relacionamento com a
comissão de arbitragem da CBF e alguma influência nas decisões.
Não, tenho um bom relacionamento com o Armando Marques, mas não tenho
influência nas escalas, nisso ele tem total liberdade, inclusive do Presidente da CBF,
para fazer suas escalas.
Pergunta do Jairo Alves, que quer saber qual a minha sugestão para aqueles
clubes que não efetuam o pagamento das taxas de arbitragem.
Creio que no momento seria — como o árbitro já menciona em seu relatório
— o próprio Tribunal julgar e dar 24 ou 48 horas de tempo para que o clube possa
saldar o compromisso. Em princípio, vejo essa saída.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Com a palavra José de Souza
Teixeira.
O SR. JOSÉ DE SOUZA TEIXEIRA - Temos 3 perguntas e vamos
respondê-las de única vez.
O Sr. José Francisco de Brito, assessor parlamentar, pergunta se nós não
deveríamos dar mais atenção aos amadores, que é onde eles começam a jogar. O
Prof. Marino Tessari, da Universidade de Santa Catarina e Presidente do CREF, diz
que se o processo é de profissionalização devemos criar condições para os atletas
estudarem paralelamente. E o Sr. Hélio Rosa Viana, Diretor de Esporte, diz que se
não achamos que devemos observar se os clubes estão cumprindo rigorosamente o
que a lei propõe e futuramente firmar convênios com universidades, com bolsas de
estudo para esses ex-jogadores.
Não exigimos que os garotos, enquanto estão jogando na base, estudem; a
lei exige, mas não é cumprida. Como podemos depois fazer bolsas nas
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universidades e fazer com que esses jogadores estudem paralelamente se eles não
têm a base, o primeiro e o segundo graus?
A proposta que estou fazendo é muito mais na condição de homem vivido no
futebol do que propriamente na qualidade de presidente de sindicato, mas
principalmente também com o interesse de solucionar esse problema de hoje e
futuros. Das lições que aprendi quando comecei a trabalhar no futebol, a primeira foi
a do Sr. Vicente Feola, que me disse: “Teixeira, não esqueça o futuro hoje”. Naquele
momento eu não entendi o que ele quis dizer. Quando eu voltava para casa no seu
carro, perguntei-lhe: “O que o senhor quis dizer?” Ele me respondeu: “Infelizmente
os dirigentes” (isso em 1957) “só pensam nos jogadores da base” — que naquele
tempo se chamava jogadores amadores — “quando precisam deles. Temos que
pensar nesses jogadores enquanto eles estão nessa categoria”.
Então, faço a sugestão no sentido de que fosse muito mais uma determinação
governamental do que propriamente um acordo entre cavalheiros. Eu fiz um
levantamento há algum tempo e existe em todas as categorias de base, 4, 5, 6
jogadores cujas namoradas, com 14, 15, 16 anos, estão grávidas. Eles serão,
futuramente, pais de família. E não estamos vendo esse lado, mas apenas o
aproveitamento do jogador dentro do campo.
Proposta: enquanto eles não se tornarem profissionais legalmente, aos 16
anos, período em que estudam no 1º e 2º graus, que joguem somente aos sábados,
domingos e feriados, para que não tenham depois a desculpa de dizer que jogaram
quarta-feira à tarde, viajaram 2 horas e faltaram à escola; exatamente para que não
tenhamos esse problema que vem acontecendo no transcorrer do tempo. E hoje
estamos na mesma situação do que o Sr. Feola me falou há quase 50 anos,.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Obrigado.
Com a palavra Mustafá Contursi.
O SR. MUSTAFÁ CONTURSI - São duas perguntas, uma delas do Dr.
Vergílio Dalla Pria Netto, Presidente do Rio Preto Esporte Clube, sobre saneamento
dos clubes de futebol que poderiam ser incluídos nesse projeto do Ministério do
Esporte. Ele solicita informações sobre como os clubes que não pertencem às
Séries A, B e C do Campeonato Brasileiro seriam contemplados.
Isso não está no estudo, talvez até porque o Ministério esteja tentando
resolver um macroproblema, porque esses clubes representam provavelmente mais
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de 90% das dificuldades de saneamentos fiscais. Mas ainda existem ajustes. Isso foi
comentado, inclusive, em um programa de televisão, ontem, tanto pelo Presidente
da Comissão quanto pelo Ministro Agnelo Queiroz. Ajustes ainda estão sendo feitos.
Acredito não haver nenhuma dificuldade, com o Dagoberto presente, levando essa
mensagem, de se encontrar aí uma participação percentual para sanear também
aqueles que não estão incluídos nas Séries A, B e C do futebol brasileiro. Esse é
apenas um comentário do que temos conhecimento.
O Presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado de São Paulo
pergunta tanto a mim quanto ao Martorelli sobre o sorteio dos árbitros. Não seria o
segmento dos árbitros o único colocado em dúvida. Essa exigência do Estatuto do
Torcedor é uma aberração. Trata-se do caso típico daquela situação em que todos
os segmentos são ouvidos e os homens de gabinete decidem exatamente em
sentido contrário às propostas que haviam sido apresentadas. Quando se
apresentam com sinceridade as opiniões, elas são, às vezes, utilizadas para o
estabelecimento de contrapontos e a criação de dificuldades.
Tenho certeza de que essa legislação que está sendo discutida agora, o
Estatuto do Esporte, vai sanear tudo isso. Realmente, tenho a impressão até de que
a dúvida não estaria sendo levantada sobre os árbitros, mas sobre os dirigentes que
talvez tivessem a intenção de manipular esses árbitros. Não acredito em uma
situação nem em outra, até porque a legislação não prevê a forma do sorteio, e esse
sorteio hoje é feito entre 3 árbitros, o que também é uma maneira de dirigir a decisão
de quem estará conduzindo a partida. Mas concordo plenamente com a
manifestação do Corrêa e considero esse um dos absurdos da legislação.
São as respostas que eu poderia dar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Obrigado.
Com a palavra o Sr. Paulo Rogério de Souza.
O SR. PAULO ROGÉRIO AMORETTY DE SOUZA - Tenho 5 perguntas, mas
na verdade, são apenas 3 respostas. Primeiro, o Dr. João Mafia, advogado,
pergunta se, ao defender a cláusula penal como unilateral, eu não estaria ferindo as
regras contratuais da isonomia das partes e o equilíbrio contratual, em que o clube
teria direito, no caso de rescisão por culpa do empregado, a um valor muito superior
à rescisão por culpa do empregador.
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Não, porque, em primeiro lugar, a multa é estabelecida livremente entre as
partes. Em segundo, essa multa foi criada para compensar a extinção do passe.
Esse foi o motivo pelo qual foi idealizada essa multa.
Na verdade, há poucos dias, houve um debate num evento do Instituto
Brasileiro de Direito Esportivo, realizado no Rio Grande do Sul, onde um colega
inquiriu as pessoas que entendiam o contrário, os ilustres advogados, no seguinte
sentido: algum jogador já parou de jogar e pagou essa multa?
Não. Quem paga essa multa é o clube para onde eles são transferidos. Trata-
se, na realidade, de indenização do clube que tira o jogador de outro clube. Não é o
caso de o jogador parar de jogar e pagar alguma multa. Não há nenhum caso.
Todos os casos em que houve cobrança ou tentativa de cobrança foram os de
jogador que se transferiu de um clube para outro. O jogador jamais pagou essa
multa e nunca vai pagá-la. Essa multa, na verdade, é uma indenização que o clube
recebe daquele clube que tira o jogador.
O Dr. Jaime Franco, meu amigo da Federação Paulista, e o Dr. José Francisco de
Brita, Assessor Parlamentar, fazem uma pergunta similar.
O Dr. José Francisco de Brita pergunta por que não se faz uma lei no sentido
de que jogadores formados dos clubes só saiam a partir de 25 anos. E aí teríamos
jogadores como: Pelé, Garrincha, Pepe, Rivelino — e enumera outros. Faltou do
Internacional: Falcão e Dunga. Então, eles permanecem o tempo desejado no clube.
O Dr. Jaime pergunta se existe a possibilidade de serem fixadas salvaguardas
para evitar o êxodo de atletas para o exterior. Por exemplo, menores de 21 anos,
sem ferir normas da FIFA.
No aspecto da legislação interna, podemos estabelecer, por exemplo, que o
jogador vá para lá ou para cá a partir de certa idade. Vimos que a própria legislação
reconhece que o jogador se transfere hoje de um clube para outro. No Brasil, se ele
é amador, tem uma fixação de valores na própria Lei Pelé. Se é profissional, tem a
multa e essa fixação, trazida pela multa.
Agora, fora daqui, se o jogador tem contrato terminado, pode se transferir a
partir de 18 anos, que é o limite de idade que a FIFA fixou justamente preocupada
com essa situação de jogadores com menos de 18 anos. A FIFA só aceita uma
transferência de jogador com menos de 18 anos se houver concordância do clube,
onde ele estava jogando, ou se, por exemplo, houver um caso real, não simulado, de
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que os pais do jogador, por exemplo, emigraram para algum lugar, para outro país e
levaram o filho. Houve algumas tentativas de simulação de levar jogadores, sob
alegação de que os pais trabalhariam lá. Mas evidentemente isso pode ser
contestado quando o pai ou a mãe saem daqui — às vezes, uma pessoa sem
recursos que vai trabalhar no serviço de limpeza na Inglaterra. É uma facilidade
encontrada pelo clube. Esta é uma situação em que a FIFA aceitaria contestação.
A Sra. Ester Francisca da Silva, Supervisora de Esportes da Secretaria
Municipal de Esporte, da Prefeitura de São Mateus, pergunta: “Como são-paulina,
fico preocupada cada vez que o jogador do meu time se destaca, como no caso
agora do Grafite. O que fazer para conter o êxodo desses atletas que mais parecem
gado ou moeda de troca?”
O Sr. Roberto, Superintendente do Paulista Futebol Clube, formulou uma
pergunta ao Dr. Piraci Oliveira que, em função do tema, passou para mim: “Como
evitar que outros clubes e “empresários” dêem dinheiro aos atletas com contrato
com outro clube — quer dizer, o clube onde eles estão — para não renovarem com
esses clubes formadores? Como colocar isso no Estatuto do Desporto?”
Vou começar por essa segunda pergunta. Não há como tratar dessa questão
no Estatuto do Desporto. Só há uma maneira de os clubes se prevenirem. Vou dar
um exemplo, bem real e concreto, depois vou me referir aos clubes de São Paulo.
O Internacional , quando transfere jogadores — e não tem como não transferir
—, transfere-os auferindo valores vultosos, como fez agora com Nilmar, por mais de
R$ 20 milhões, e no ano passado com Daniel Carvalho, por mais ou menos R$ 20
milhões.
Outros clubes — e aqui eu vou citá-los, e explicar por que está acontecendo,
por que o Grêmio está na segunda divisão...
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Dr. Paulo, por gentileza, conclua.
O SR. PAULO ROGÉRIO AMORETTY DE SOUZA - Vou concluir: porque
perderam a idealização e a prática de manter os jogadores. Isso só se faz com boa
administração. Palmeiras e São Paulo, por exemplo, têm excelente administração.
Não tem como não venderem; agora, se administrarem bem, se fizerem contratos
bons, com boa duração, os jogadores não saem gratuitamente. Eles só vão sair
mediante remuneração.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Obrigado, Dr. Paulo.
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Concedo a palavra ao Dr. Piraci Oliveira.
O SR. PIRACI OLIVEIRA - Há uma única pergunta, em relação a se a Lei de
Incentivo Fiscal é a solução para o esporte nacional. Sim, de fato é. O desporto
nacional é inviável economicamente. Se não tiver uma ajuda externa, não tem como
fluir. Isso é um fato, e se até o futebol é assim, quanto mais o esporte de maneira
geral. Aproveitando o gancho, diria o seguinte: tão importante quanto uma lei de
incentivo fiscal ao esporte é uma lei que diga qual é o regime tributário do futebol,
porque, reitero, hoje estamos vivendo um caos nesse sentido. Não sei se há
isenção, imunidade ou tributação.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Com a palavra o Sr. Rinaldo
Martorelli.
O SR. RINALDO JOSÉ MARTORELLI - O Prof. Paulo César Araújo Ribeiro
pergunta: “Fala-se de saneamento do futebol, legislação, código do torcedor, mas o
ponto principal para o bom funcionamento do espetáculo é a organização do
calendário, que afeta os clubes, os profissionais e toda a estrutura. Como devemos
melhorar esse calendário?”
Entendo que a melhora do calendário passa necessariamente, primeiro, por
um amplo acordo com a rede de televisão que está pagando a conta, para que ela
entenda a necessidade de manutenção de todo esse quadro; segundo, pelo
fortalecimento e pela recuperação dos campeonatos regionais. Não podemos
incorrer no erro de querermos comparar-nos à Europa, que tem de 40 a 50 clubes
por país. Nós não podemos continuar nisso. Somos um País com todas as
dimensões geográficas que conhecemos, com mais de mil clubes, e precisamos
estar atentos a isso.
Não podemos continuar, da mesma forma, com uma legislação, Deputado
Deley, para 40 clubes. Não podemos continuar fixando o calendário para 40 clubes.
Temos que resgatar o princípio dos regionais, e então, posteriormente, darmos a
ênfase necessária, é lógico. Essa questão do resgate do regional não passa
necessariamente pelo desprestígio do campeonato nacional, mas temos de achar
uma equação para isso.
E o presidente Sérgio Correia, também como já referiu o presidente Mustafá,
pergunta minha opinião sobre o sorteio dos árbitros e se apenas a categoria da
arbitragem merece ter a sua honra colocada em dúvida. Primeiro, presidente Sérgio,
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como já me manifestei em outras ocasiões, sou 100% solidário ao árbitro. Meu apoio
é irrestrito, porque sei que, da mesma forma como passamos dentro do campo, a
atitude tem de ser muito rápida, o reflexo tem de ser muito rápido, e isso não é mais
possível. Isso que se fez, estabelecer comentarista para arbitragem, acho que
também é uma questão um pouco complicada, mesmo porque aqueles
comentaristas, quando atuaram, erraram bastante, comigo principalmente; por isso,
posso dizer isso de carteirinha (risos). Então, erraram, como todos erramos. E é uma
grande incoerência ficarmos analisando um lance 27 vezes e depois, em algumas
situações, ainda ficarmos na dúvida — o que nos remete à pergunta: será que a
honestidade do árbitro está limitada a isso? É lógico que não! É lógico que não!
Temos de prestar atenção no que fazemos no futebol pelo bem do próprio futebol.
E, como tudo de que falamos aqui, se não nos organizamos, todos — atletas,
clubes, árbitros, treinadores, televisão, patrocinadores, enfim, todos os que
participam —, só vamos encontrar situação desse tipo, que, ao invés de ajudar, vem
atrapalhar.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Obrigado, Martorelli.
Com a palavra o Sr. Rogério Caboclo.
O SR. ROGÉRIO CABOCLO - A primeira pergunta, feita por Rogério Gentile,
é a seguinte: “Qual é a importância das ligas regionais e municipais na
administração da entidade estadual de futebol?” Entendo que é idêntica à de todos
os filiados, guardadas as peculiaridades daqueles que são clubes e daqueles que
são ligas amadoras.
Maria José Soares Machado pergunta: “Foi defendido que o futebol não
deveria dar dinheiro para os fundos de esportes. Mas como fica a questão das
escolinhas de futebol da periferia, que têm muito interesse no funcionamento desses
fundos, já que estas também têm função dentro da estrutura geral do futebol?” Bem,
cabe-me falar em relação à Federação Paulista de Futebol, que funciona em razão
de duas vertentes: uma, a defesa do interesse dos seus filiados, e outra que é a
prática de uma atividade assistencial permanente, em que ela tenha a gestão de
escolas de futebol voltadas para crianças carentes. No caso de entidades privadas
que tenham essa mesma prática, acho que é possível e muito conveniente que se
busque uma parceria com o Governo, no âmbito federal, estadual ou municipal, e
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que mantenham planos com essa finalidade, desde que voltadas para crianças
carentes.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Antes de encerrar, nosso mestre de
cerimônia teria um aviso para nos dar. Por favor.
O SR. APRESENTADOR - Gostaríamos de lembrar a todos os presentes a
importância dos trabalhos no período da tarde. A partir de 14h teremos as oficinas
de trabalho, exatamente o momento em que todos poderemos manifestar-nos e
posteriormente apresentar os trabalhos ou as conclusões sobre cada um dos
assuntos discutidos. Para ordenar as oficinas de trabalho, a partir das 14h
estaremos utilizando as salas externas do hall de entrada, que terão a mesma cor da
identificação do crachá dos senhores. Cada um deverá dirigir-se, no período da
tarde, à sala em que estará sendo feito o trabalho específico sobre um dos assuntos.
Portanto, gostaríamos que todos estivessem atentos para o retorno às 14h, para que
o trabalho possa ser concluído.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - E voltamos a dizer: é até uma
chance melhor para que as pessoas possam expor suas opiniões.
Peço desculpas a Rogério; achei que ele já tinha encerrado.
Com a palavra o Sr. Rogério Caboclo, para concluir.
O SR. ROGÉRIO CABOCLO - Mais duas perguntas, ambas de Silvio Alves
Sena. Primeira: “E quanto à várzea e às escolinhas de futebol, que ninguém
defendeu? Afinal, somos os verdadeiros geradores de atletas.” Eu acho que é um
fato incontroverso que tanto as escolinhas como o futebol de várzea são grandes
celeiros de atletas e merecem a atenção e o respeito de todos. Mas, como eu disse
anteriormente, compete à Federação Paulista de Futebol fazer valer aquilo que é
previsto em seus estatutos, ou seja, praticar assistência social diretamente ou cuidar
do interesse daqueles clubes seus filiados. Dessa forma eu entendo também a
presente pergunta.
A outra questão, da mesma pessoa, Silvio Alves Sena, é a seguinte: “Acredito
que o estatuto não especifica nenhum incentivo às entidades filantrópicas, só que
não deve haver remuneração dos diretores.” Bem, em relação aos incentivos, objeto
da minha fala anterior, entendo que, tendo a Federação a responsabilidade de
viabilizar aproximadamente 90 clubes dentro do Estado de São Paulo, e ainda mais
considerando a pujança desse Estado, podemos imaginar, transferindo a questão
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para outros Estados, que talvez encontremos situações ainda piores. Se
imaginarmos que 80% da receita bruta da entidade é direcionada para que ela possa
sobreviver, entendo que existe, sim, a necessidade de um plano de investimento
público, até porque a Federação Paulista e outras federações muitas vezes
enveredam para atribuições que são próprias, típicas do Poder Público, do Governo.
É por isso que eu defendo esse tipo de incentivo, ou de investimento público, para o
futebol, até para que possamos fazer valer a existência desses 90 clubes, no caso
de São Paulo, desses 4 mil empregos diretos, desses 8 mil empregos indiretos, que
dependem hoje exclusivamente das Federações.
Em relação à remuneração ou não dos diretores, para fazer jus a qualquer
verba, entendo que temos de nos ater aos termos da lei. A Constituição Federal
delega à lei complementar, com exclusividade, o poder de regulamentar as questões
referentes ao recebimento de verbas públicas e à imunidade tributária. Aqueles
requisitos que estiverem na Constituição e na lei complementar sem dúvida devem
ser respeitados. Aqueles que tratam de remuneração de dirigente estão em âmbito
inferior a essas legislações, ou seja, são regidos por lei ordinária, que, no meu
entender e no de alguns juristas renomados, não tem o condão de regulamentar
termo constitucional ou lei complementar.
Por outro lado, é importante dizer que, num momento de definições como
esse, deixa de ser mito a questão da remuneração do dirigente, na medida em que
um dos itens que se busca com a nova legislação é transparência e, de uma forma
geral, profissionalismo.
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Quero, antes de encerrar, convidar o
meu companheiro Gilmar Machado para fazer uma saudação a todos. Desde já
agradeço toda a acolhida que tivemos aqui em São Paulo, e espero que a partir
daqui realmente possamos avançar no esporte brasileiro. Esse é objetivo de todos, e
quanto mais nos mobilizarmos e procurarmos dar nossa contribuição, não tenho
dúvidas de que a um resultado melhor vamos chegar.
Com a palavra o Deputado Gilmar Machado.
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO - Obrigado, Sr. Presidente.
Senhores membros da Mesa, demais presentes, todo debate é importante, e
nosso objetivo é também caminhar pelo País, para podermos... Por que foi que
soltamos o nosso substitutivo para o País inteiro, antes de colocá-lo em votação?
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Foi exatamente para que todo o mundo pudesse ler, examinar, fazer críticas,
mandar sugestões, para que pudéssemos fazer as alterações. Poderíamos chegar à
Comissão no último dia com o substitutivo e votá-lo, mas achamos que não seria a
forma mais correta, mais democrática de elaborarmos uma nova legislação, que não
é só para mim, mas para o País.
Na condição de homem público, uma coisa que aprendemos muito, em Minas
Gerais, não só por... (Falha na gravação.) ...quero incorporá-las, para que possamos
melhorar, porque eu, particularmente, sou uma pessoa que acompanha o tema, sou
professor por formação, e aprendi, como educador, que só aprendemos se tivermos
a capacidade de trabalhar juntos. Só tem capacidade de ensinar aquele que
consegue também aprender, e vim aqui hoje também para aprender. Saio daqui com
uma série de sugestões, e podem ter certeza de que vamos trabalhar, e junto com o
Presidente da Comissão, o Deputado Deley, vamos conversar com o Ministro.
Acho que a proposta que está sendo apresentada é interessante, mas há
alguns aspectos sobre os quais queremos dialogar, porque entendemos que eles
demandam uma medida provisória. Não vai dar tempo de esperar. Depois vamos
incorporar tudo ao Estatuto do Desporto. Mas algumas outras medidas achamos
temerário que venham por medida provisória, como, por exemplo, a alteração de
artigos da CLT e do Código Civil. Com isso abriríamos uma brecha que poderia criar
alguns transtornos. Mas acho que vamos conseguir, com diálogo e entendimento,
buscar a melhor saída.
O que estamos fazendo aqui é uma medida provisória; como indica o nome, é
provisória, temporária, emergencial, para resolver um problema que temos. Mas
ficou claro aqui também que o Estatuto tem de ter a capacidade de não ser apenas
um instrumento para resolver questões emergenciais. Tem de ser algo permanente.
E para isso temos de dar respostas. Nós estamos aqui achando uma saída para 80
clubes, mas no Brasil temos uma quantidade enorme de clubes. Falando só de
Minas Gerais, nas séries A e B vão ser atendidos no máximo 6 clubes, e nós temos
naquele Estado, só no futebol profissional, mais de 30, 40, 50 clubes. E os demais?
Então, essa é uma preocupação.
E é por isso que encerro aqui dizendo que eu, particularmente, entendo o
sentimento que move aqueles que querem uma legislação específica para o futebol,
mas, pessoalmente, ainda não estou convencido. Queremos ter o futebol, que é um
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elemento extremamente importante, e entendemos que deve ter um capítulo, algo
específico, mas ele também tem de fazer parte do grande arcabouço do esporte,
porque também é uma modalidade esportiva, e tem de fazer parte do grande espaço
inclusive para ajudar o esporte a se consolidar de fato no Brasil, porque, se houver
uma legislação separada do futebol, teremos tratamentos distintos.
O futebol pode dar e vai continuar dando uma grande contribuição. De fato,
estou convencido de que, dentro do arcabouço geral do desporto, ele deve merecer
um capítulo, algo específico, mas tem de fazer parte, repito, da estrutura geral do
esporte no Brasil, e é por isso que estamos tratando, dentro do Estatuto do
Desporto, o futebol junto com todas as demais modalidades, porque entendemos
que dessa forma fortaleceremos ainda mais o esporte no Brasil; mas eu entendo,
compreendo, e é por isso que vamos, no Estatuto, dar-lhe um tratamento especial,
um capítulo, alguma coisa. Isso eu também já estou convencido de que é preciso ser
feito.
Quanto aos árbitros, questão que eu tenho aprendido a conhecer um pouco
mais, no processo, tenho a certeza de que vamos conseguir. Eu tive oportunidade
de relatar também o Estatuto do Torcedor, e nós dissemos então: dêem um prazo
para possamos ver como será o funcionamento disso. E já estamos com 2 anos de
pleno funcionamento, já vimos os problemas que acontecem, e podem ter certeza de
que no ano que vem vamos apresentar e o Congresso estará preparado para fazer
essas modificações, as adaptações, e não só quanto a essa questão do árbitro, mas
a outras questões também, como prometemos aos dirigentes que iríamos fazer. Eu
acho que o ano que vem é um momento bom, porque já tivemos 2 anos de Estatuto,
e é exatamente o que está lá: depois de 2 anos o Estatuto pode sofrer alterações,
em calendários etc., e acho que aí cabe o aperfeiçoamento da legislação.
Nós faremos esta mesma conferência em mais 4 cidades do País. Peço aos
senhores que nos ajudem a fazer essa modificação, com o que, tenho certeza, vai
melhorar a situação.
Muito obrigado, Sr. Presidente, senhoras e senhores, pela contribuição.
(Palmas.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Nosso retorno está marcado para às
14 horas, mas eu proponho que voltemos às 14h30min, até para que as pessoas
tenham um tempo maior para almoçar com tranqüilidade.
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Agradeço a todos a participação.
(A reunião é suspensa.)
O SR. PRESIDENTE (Deputado Deley) - Vamos dar início à última etapa da
Conferência Estadual do Estatuto do Desporto.
Por gentileza, compareçam à Mesa os Relatores que vamos nominar: do
Desporto de Participação, Prof. João Gambini; do Desporto Educacional, Prof.
Georgios Stylianos; da Administração do Desporto, Dr. Valter Piccino; do Esporte
Não Olímpico, Sr. Cláudio Consolo; do Financiamento , Dr. Arialdo Bosco; do
Futebol, Sr. Alexandre Machado; do Esporte Paraolímpico, Sr. João Antônio Bentim;
do Esporte Olímpico, Dr. Reginaldo.
Esta plenária será presidida pela Deputada Federal Mariângela Duarte e terá
a seguinte seqüência: cada expositor terá 12 minutos para apresentar o trabalho
desenvolvido nas oficinas.
Registro que todas as sessões, de ontem e de hoje, estão sendo gravadas, e
a fita, na íntegra, será enviada à Deputada Mariângela Duarte em Brasília.
Concedo a palavra à Deputada Mariângela Duarte.
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Mariângela Duarte) - Senhoras e senhores,
seria inconcebível se eu não abrisse a última etapa destes 2 intensos e profícuos
dias de trabalho sem referir o profundo agradecimento, o respeito e o carinho que
me despertou cada um dos senhores, pessoas que não têm o dever de colaborar
conosco e de estar aqui, dando a sua contribuição, exaustivamente, para que
possamos, aprendendo com todos os senhores, errar cada vez menos.
Muitas vezes o político, pela soberba de uma disputa, de uma competitividade
feroz, esquece que, primeiro, a atividade política é sempre coletiva, nunca individual;
segundo, não se faz política sem a sociedade, sem o povo, não existe isso; sem o
povo não se tem força, não se tem nada; terceiro, é isso mesmo que nos faz ter
muita firmeza, muita gana e garra, mas também muita humildade. Portanto, fico
emocionada ao dizer isso de cada um senhores, das mais múltiplas e diferentes
origens, atuações, visões de mundo, comportamentos, valores e princípios, mas
todos unidos em nome de uma paixão e de uma responsabilidade comuns, que é o
esporte, seja ele na sua modalidade madura, seja o estudantil/escolar, o de base, o
profissional, o de rendimento, de alto rendimento, paraolímpico, não olímpico. Todos
aqui tiveram vez e voz, nem sempre na dimensão necessária, mas em uma
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amplitude muito maior do que teríamos se tivéssemos todos de ir para Brasília e
submeter-nos à rigidez dos horários. Às vezes estamos no auge do debate e temos
de encerrar tudo porque começam as votações.
Não temos ilusão alguma quanto a que sempre podemos fazer muito mais do
que fomos capazes de oferecer e de fazer, mas temos bastante convicção de que
buscamos exercer este direito, e ao mesmo tempo dever, de abrir-nos à sociedade
para ouvi-la sobre uma das suas principais paixões, que é o esporte, sabendo da
importância basilar do esporte para a formação do ser humano, para a qualidade de
vida, para a auto-estima de todos nós e de tantos quantos são os brasileiros.
Quero então agradecer aos senhores e pedir-lhes que se atenham aos 12
minutos.
Agradeço a esses Relatores ad hoc, pessoas de abnegada qualidade
expositiva, reiterando que estamos gravando esta reunião, fizemos questão disso, e
deixando bem claro, uma vez que fui entrevistada por um órgão da grande imprensa
de São Paulo... Parece que virou uma tônica, isso, não é? Eu não venho, não
acompanho nada, não compareço do início até o fim, mas quero perguntar o
seguinte: não fica mal a Federação Paulista de Futebol ser uma das patrocinadoras,
se houver interesse? Acho que não fariam esse tipo de pergunta capciosa, para
dizer o menos, se tivessem ficado o dia inteiro aqui. Então, não escondemos nada;
tudo está nas faixas; abrimos o debate, e como não tínhamos mesmo o dinheiro
para fazer, fizemos com a gana e garra de todos. Cada um deu um pouco; a
Prefeitura ajudou, a Secretaria de Esportes, todo o mundo, Lars Grael, o Ministério,
todos ajudaram, e quem mais pôde. Portanto, quero deixar isso claro, dizendo em
alto e bom som que sou uma educadora e muito briosa na minha atividade política e
no exercício do mandato. Não sou a melhor, nem sou a única, mas tenho convicção
de que estou falando pelos nossos companheiros que ficaram nesta reunião o dia
todo: deixamos bem claro que abrimos o debate para todos; só não veio quem não
quis.
Dificilmente se vê uma conferência com amplíssima participação, dos mais
humildes aos mais poderosos. Todos submeteram-se à disciplina, às regras do jogo,
e todos, indistintamente, deram sua inestimável colaboração. Todos são
merecedores do nosso absoluto respeito. Nada foi escondido, porque procurei 20
entidades que me pudessem ceder um espaço sempre neutro; inclusive estava
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disposta a fazer este seminário na Assembléia Legislativa, Casa que freqüentei por
8 anos, com 2 mandatos. No entanto, lá não havia salas disponíveis, só um
auditório. Não havia salas, não havia lugares para nos repartimos. Portanto, não
servia, apesar de ser a única instituição possível, se o calendário se adequasse. Já
havíamos adiado duas vezes a realização desta conferência por causa do período
eleitoral, mas não se encontrava outro lugar. Portanto, para que fique bem claro,
digo em alto e bom som que estamos agindo com o máximo de rigor e
transparência, e precisamos da absoluta contribuição de todos, e todos os que
vieram foram bem-vindos.
Esclareço ainda o seguinte: o Deputado Gilmar Machado, meu companheiro
valoroso — e se estou nisso é em grande parte pela generosidade dele —, que me
acolheu e me ensinou os caminhos, e reconheceu-me capaz de assumir esta tarefa,
senão seria impossível, e da mesma forma o companheiro Deley do PV, do Rio de
Janeiro, Presidente da nossa Comissão, os 2 inclusive receberam a passagem, e
até isso o jornalista perguntou-lhes, porque estão fora dos seus Estados; um é do
Rio, o outro de Minas. A Deputada coordenadora pagou a sua noite de hotel e o seu
almoço. Ninguém custeou minha viagem, porque moro no Estado, e por isso a
Câmara não ressarce as minhas despesas.
Ora, estou dando esta explicação porque já estou com 16 anos de mandato e
fico infensa a esse tipo de provocação. Tenho muito respeito pela imprensa, mas
acho que às vezes ela precisa mudar um pouco o seu comportamento. Da mesma
forma que qualquer segmento merece respeito, há muita gente boa séria, ética e
responsável na política, e seria uma má lição para as futuras gerações que outros
não se estimulem a entrar na vida pública, uma vez que a minha geração, por
exemplo, já está envelhecendo, e é preciso colocar os jovens na política.
Portanto, quero, com toda a elegância — e fiquei muito calma, mas enfrentei
o debate —, que os senhores saibam cada uma das regras que nos moveu.
Concluída a minha fala, quero dizer que o fecho desta parte deveria ser feito
pelo Relator. Acontece que o Congresso está em votação. Há um clima de
desespero. Eles caçam os Deputados. E eu vou perder um dia, mas, entre 3, é
preferível que eu perca um dia, e não 2. E eles já deram uma imensa colaboração, já
que vão ter as suas próprias audiências. Portanto , pediria aos senhores que apenas
ouvissem o Deputado Gilmar Machado, só para uma despedida, porque às 5h
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S.Exa. terá que se dirigir ao aeroporto com destino a Brasília. Eu só irei para o
aeroporto às 8h da noite, e espero embarcar às 9h.
Muito obrigada a todos. Saibam que a vontade, a expressão, aquilo que for
possível, de forma geral, em relação ao que aqui foi ouvido e discutido será
profundamente respeitado por nós da Comissão e quiçá pelo Congresso Nacional.
Vamos ouvir o Deputado Gilmar Machado. Muito obrigada a todos. (Palmas.)
O SR. DEPUTADO GILMAR MACHADO - Mais uma vez, desejo a todas e a
todos uma boa tarde. Muito obrigado aos relatores. O texto que os senhores vão
entregar a Deputada Mariângela Duarte vai encaminhá-lo a nós em Brasília; vamos
recolhê-los todos, e posteriormente todo esse trabalho estará no site da Câmara,
para que o Brasil inteiro possa acompanhá-lo. De cada audiência que fazemos,
colocaremos na Internet todos os debates, as contribuições e as sugestões.
Pretendo também, no decorrer desta semana, no mais tardar na próxima,
inserir no site a nossa avaliação sobre as 123 emendas que recebemos, para que
todos possam acompanhar e mandar as suas contribuições, que agradeço
antecipadamente, porque todas serão consideradas. Ainda temos condições — e
vamos fazê-lo — de, em recebendo essas contribuições, fazer a emenda do Relator,
para aperfeiçoá-la da melhor forma possível.
Agradeço, Deputada Mariângela Duarte, V.Exa. ter aceito coordenar esta
conferência em São Paulo e ao mesmo tempo dar esta grande contribuição,
aumentando o número de Parlamentares que se dispõem a trabalhar em Brasília em
prol do esporte. V.Exa. vem enriquecer os trabalhos, e vai ajudar-nos, e muito. Eu,
pessoalmente, como membro da bancada do PT, fico feliz por V.Exa. reforçar este
time e dar-nos esta força, assim como, ao mesmo tempo, agradeço a capacidade de
trabalho de todas as pessoas. Isso é importante, é exatamente o que queremos em
Brasília e o que temos procurado na Comissão. Todos os partidos, todos os
Deputados que querem trabalhar pelo esporte atuam de forma igual na Comissão,
todos colaborando e ajudando uns aos outros. Esse é o espírito do esporte. O
esporte provoca isso, e espero poder ter dado a minha contribuição acompanhando
este processo; espero, como Relator, quando entregar o relatório, cometer o menor
número de erros, porque agradar a todos infelizmente não será possível, mas
tentaremos fazer um relatório da média do Brasil, já que este é um país enorme, e
cada esporte tem a sua demanda.
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Podem ter a certeza de que vamos fazer o melhor para que o Brasil possa
avançar. Fiquem certos também de que fizemos, o Presidente Lula e todo o mundo,
um compromisso em relação ao Estatuto do Torcedor. Deixamos claro que depois
de 2 anos faríamos uma avaliação. Nesse sentido, os árbitros e todos os que estão
esperando mudanças podem ter certeza de que ficaremos atentos a esse
aperfeiçoamento, para que possamos ter um processo cada vez melhor.
A todas e a todos, meu muito obrigado. Parabéns, companheira Mariângela, e
pode ter a certeza de que V.Exa. nos deu, com essa demonstração, uma grande
ajuda, e os outros coordenadores vão espelhar-se na organização deste evento
montado por V.Exa. para realizar grandes conferências no resto do País e realmente
redigir o melhor Estatuto, para aperfeiçoar cada vez mais o esporte brasileiro.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Obrigada.
Sem mais delongas, seria impossível o Deputado Gilmar Machado retirar-se
sem fazer uma despedida. Podemos correr, mas temos de ser civilizados, e inclusive
agradecer aos incansáveis servidores da Prefeitura e do Estado que
espontaneamente estão trabalhando aqui. Ficaremos eternamente agradecidos aos
senhores pelo trabalho voluntário, que não há o que pague. Portanto, uma salva de
palmas a todos os servidores públicos aqui. (Palmas.)
Passemos imediatamente à exposição do Sr. João Omar Gambini, Relator do
Desporto de Participação. O senhor dispõe de 12 minutos improrrogáveis.
O SR. JOÃO OMAR GAMBINI - Boa-tarde a todos.
Bom, o nosso grupo foi composto de 19 pessoas. Procuramos tratar
especificamente desse tema, e depois, pontualmente, dos que mais ou menos se
relacionavam a ele.
Do nosso desporto de participação trata o Capítulo I do Título VII, Das
Disposições Gerais. Há os arts. 89, 90, 91 e 92, que, para a nossa compreensão,
estão de bom tamanho. Concordamos com esse texto e com o entendimento ali
esposado.
Já no caso do Capítulo II, Do Incentivo ao Desporto de Participação, quanto
ao art. 93 fizemos uma ressalva, e gostaríamos de sugerir, então, um destaque aqui:
o parágrafo único — por favor, aqueles que puderem acompanhar-me —, o
parágrafo único do texto original estabelece: “As dimensões da área a que se refere
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o caput deste artigo deverão permitir pelo menos a prática de esportes coletivos,
inclusive do futebol de campo, sem prejuízo das atividades de lazer, recreação e
desporto da população em geral.” Entendemos que essa disposição não
compreende a realidade dos diversos locais. É impossível haver vários locais, por
exemplo, até com espaço para um campo de futebol. Mas ela compreende outras
atividades, outros espaços. E o texto que sugerimos, Deputado, para a Comissão, é
o seguinte: “As dimensões da área a que se refere o caput deste artigo deverão
atender à prática de esportes coletivos sem prejuízo das atividades de lazer,
recreação e desporto da população em geral.” Então, estamos retirando as
expressões “permitir pelo menos” e “inclusive de futebol de campo”. Essa é uma
sugestão que estamos fazendo.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Está bem. Então,
espere um momento: os senhores concordam com o art. 7º na sua íntegra e com o
art. 2º, que também fala da participação?
O SR. JOÃO OMAR GAMBINI - Não, é o artigo...
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Tudo bem, depois o
senhor vai apresentar por escrito.
O SR. JOÃO OMAR GAMBINI - Desculpe-me, fomos direto para o capítulo
que diz respeito ao desporto, e depois... fizemos o contrário, depois dispusemos as
comunicações entre eles.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Está bem. Pode
seguir. Só fiz uma... Fiquei em dúvida sobre os artigos. Pode continuar.
O SR. JOÃO OMAR GAMBINI - Então, quanto ao Capítulo I, Do Desporto de
Participação, no que se refere à parte Das Disposições Gerais, concordamos com o
texto.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Está bem.
O SR. JOÃO OMAR GAMBINI - E quanto Capítulo II, Do Incentivo ao
Desporto de Participação, fazemos uma sugestão referente ao parágrafo único do
art. 93. Esse parágrafo está assim redigido: “As dimensões da área a que se refere o
caput deverão permitir pelo menos a prática (...)” Retiramos as expressões “permitir
pelo menos” e “inclusive o futebol de campo”, e o texto ficou assim: “As dimensões
da área a que se refere o caput deverão atender à prática de esportes coletivos, sem
prejuízo das atividades de lazer, recreação e desporto da população em geral.” Por
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que isso? Porque temos, pelo conjunto das explicações do grupo, além de o
tamanho, as dimensões de campo etc. já estarem previstas, até no artigo seguinte,
entendemos que há lugares que não comportam essas dimensões, mas é preciso
que esses espaços sejam preservados, está certo? E que isso seja um pouquinho
mais aberto; quer dizer, o certo é “atender”. Esses espaços devem ter áreas que
atendam efetivamente ao esporte coletivo, porque aí o esporte individual também
ficaria contemplado. Então, esse é o art. 93, parágrafo único.
O art. 94 faz referência a uma lei que foi promulgada em 19 de dezembro de
1979, e ela, na realidade, define aquilo que foi dito antes, que são os equipamentos
urbanos, e traduz “equipamento urbano” como os campos de futebol e as quadras
de esporte que não podem ser mais mexidas, quer dizer, nada pode ser construído
neles, e tudo mais; só que isso é de 1979. Quer dizer, aqui não se fala de nenhuma
atualização. Fazemos uma sugestão; trata-se de um projeto de lei, de algo que não
está no estatuto, mas a sugestão é no sentido de que a definição de “equipamento
urbano”, para essa finalidade, seja modificada. Hoje temos pistas de skate, pistas de
bicicross e uma série de outros equipamentos que compõem a rede de novos
esportes e precisam ser contemplados, tendo as suas áreas preservadas. Se essa
área foi criada pelo Município para esse fim, que depois lá não seja construída
alguma outra coisa, ou substituída, na mudança da política. Então, nesse aspecto
fizemos essa sugestão.
Agora, pulando de um lado para o outro aqui, o art. 142 estabelece o
seguinte: “Os recursos públicos para o desporto serão destinados prioritariamente à
promoção do desporto educacional e ao apoio à participação de delegações
nacionais em eventos esportivos internacionais.” Bom, no nosso entendimento, o
desporto de participação em nenhum momento está sendo contemplado no texto
com destinação de recursos. Quer dizer, o desporto de participação, entendido com
base no conceito esposado lá no art. 89 — que define o que é o desporto de
participação e tudo que ele envolve —, não tem acesso a recursos, ou pelo menos
não há uma destinação de recursos, de acordo com o que vimos aqui. Então,
sugerimos a substituição desse artigo pelo seguinte texto: “Os recursos públicos
para o desporto serão destinados à promoção da formação esportiva do desporto
educacional, do desporto de participação e das delegações esportivas nacionais de
desporto não-olímpico participantes dos eventos internacionais.” Por que
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acrescentamos a questão do desporto não-olímpico? Porque em todos os outros
artigos o esporte olímpico já está contemplado. Isso está no texto do COBI e em
todos esses textos. Então, pensamos: quem está fora dessa cobertura? E fizemos
essa sugestão, Deputado, quanto ao art. 142, e só repito aqui...
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Talvez porque
devamos estudar essa participação na própria criação do Fundo do Esporte, que fala
do esporte de base e do educacional. Talvez seja a via mais rápida.
O SR. JOÃO OMAR GAMBINI - Talvez. Mas o importante é querermos
preservar isso, porque dentro desses esportes não-olímpicos há toda uma gama, aí
está incluído o desporto de participação, toda essa área. São vasos comunicantes.
Então, precisamos conversar nesse sentido.
A última observação que fazemos é quanto ao art. 7º, que estabelece o
seguinte: “Para cumprimento do disposto no art. 6º, o Conselho Nacional de Esporte,
ou órgão colegiado que venha a substituí-lo, terá a seguinte composição: (...)” E aí
listam-se os representantes, e no item II há um “representante do subsistema do
desporto de participação”. A nossa pergunta foi: como será escolhido esse
representante do desporto de participação? Temos de estar presentes na área de
desporto de participação, mas é preciso que se crie a forma como isso vai dar-se,
porque o desporto de participação envolve uma gama enorme de instituições que
não estão conectadas.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Deixe-me só fazer
uma observação, que é uma questão de formulação legal, porque assim já
avançamos no processo: no escopo da lei, normalmente não se regulamenta a lei; é
na regulamentação da lei que se desce a essas particularidades. Então, no corpo da
lei o que se pode e se deve discutir é se um representante — e tem-se de considerar
o geral, os demais, o universo, todos — contempla o número ou não, porque a
regulamentação dificilmente o corpo da lei conterá, e isso fica a critério da
regulamentação.
Por isso, já avançando na questão de formatação das normatizações legais, o
melhor caminho é o seguinte: cada um veio aqui, sacrificou-se, defendeu o seu, teve
solidariedade com o escopo geral dos esportes; agora é preciso trabalhar na lei — é
aquilo que digo há 16 anos —, e nunca deixar de trabalhar redobradamente na
regulamentação da lei, porque aí é que escapole o pássaro. Então, pediria que o
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mesmo esforço feito para o Estatuto seja insano na hora da regulamentação pelo
Executivo. Aí é que mora o perigo.
Disse isso porque creio que adianta a discussão. Não vamos discutir como se
define o critério. Há coisas que temos de dizer à sociedade civil: “Olhem, briguem e
se entendam, mas nos tragam um representante”.
É só isso. Fica uma alerta bem claro: não dá para o corpo da lei, não é da
normatização, da formatação legal que se faça isso no texto do Estatuto.
O SR. JOÃO OMAR GAMBINI - Só para terminar, Deputada. Foi feita no
grupo uma solicitação para que se estudasse — não houve tempo para isso —- a
questão do esporte de rendimento que envolve trabalhadores. Já houve, em épocas
anteriores, o esporte classista, outras denominações também foram utilizadas, mas,
independentemente do lazer, em que, em tese, a maior parte das ações são
contempladas, há uma especialização em muitas empresas, por meio dos seus
ADCs, e se criou a categoria de esporte de rendimento ligado aos trabalhadores,
especificamente. Não houve tempo para esse estudo, para esse aprofundamento,
mas foi dito isso. Considero oportuno, portanto, levantarmos isso.
Obrigado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Muito obrigada por
sua colaboração.
Quero apenas pedir a vocês que façam um esforço para elaborar uma
redação, porque isso ajuda a reflexão. Se não se subverter o que fez o grupo, não
há problema. É sempre bom receber a redação de vocês, e não nós, da oitiva,
ficarmos fazendo a redação por vocês. Considero mais legítimo que vocês nos dêem
a própria redação, porque, dessa forma, o trabalho é mais representativo. Muito
obrigada.
Passaremos imediatamente ao segundo Relator. Antes, uma informação.
Todos me pediram algo que chegou agora, o calendário das próximas conferências
pelo Brasil. Se eu deixar para o fim, vocês podem ir embora e ficar sem essa
informação.
Nos dias 18 e 19 de outubro... Vamos continuar o relatório, pois me deram um
papel cuja validade foi alterada. Não se pode dar a Deputada um papel que não está
correto, tem de estar absolutamente correto. É importante que cada agrupamento de
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esporte possa acionar os seus membros no Estado para acompanhar, para termos
força no cômputo geral.
Passemos ao relatório de Arialdo Boscolo, da Confederação Brasileira de
Clubes. É o relator do financiamento.
O SR. ARIALDO BOSCOLO - Boa-tarde a todos. Procuramos nos ater em
nosso grupo, de 12 membros, ao texto do Estatuto do Desporto. Quando falamos em
financiamento, abre-se uma situação imensa aí. Hoje mesmo, na exposição quanto
à Comissão do Futebol, Dagoberto dos Santos nos trouxe uma série de informações
relativas, por exemplo, a financiamento para o futebol, que logicamente o Estatuto
do Desporto não contempla. Dessa forma, preocupamo-nos inicialmente em analisar
o texto do Estatuto do Desporto, do projeto apresentado.
Também se trata de um tema bastante polêmico. O próprio grupo era
bastante heterogêneo, todos viam a sua situação dentro das modalidades. Portanto,
realmente, é muito difícil contemplar em pouco tempo tudo que diz respeito a
financiamento. Assim, preocupamo-nos primeiro com o texto do projeto e este
relatório do Gilmar Machado.
Basicamente, estamos solicitando alteração de apenas 2 artigos do texto.
Com relação ao art. 142, também citado por meu antecessor, e muito bem citado,
preocupamo-nos com o financiamento.
O texto diz o seguinte: “Os recursos públicos para o desporto serão
destinados prioritariamente” — chamo a atenção para o prioritariamente — “ao
desporto educacional e ao apoio à participação de delegações nacionais em eventos
desportivos internacionais,” — bem citado por meu antecessor, como eu disse —
“principalmente aos esportes não-olímpicos”. Incluímos também “prioritariamente à
promoção da formação esportiva ”, porque, se é que teremos os 200 milhões
anunciados pelo Presidente Lula, pelo Ministro Agnelo Queiroz, para formação
esportiva, logicamente será o maior financiamento da Pasta e, portanto, tem que ser
prioridade. A formação do atleta, com o anúncio, pelo Presidente da República e
pelo Ministro dos Esportes, de que será introduzida no Orçamento, tem que ser
prioridade. Portanto, no texto do Estatuto, no art. 142, tem que entrar como
prioridade a promoção da formação esportiva.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Só um aspecto: já há
garantia constitucional. As outras leis desrespeitavam o art. 217 da Constituição. A
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Constituição já garante ao esporte a preferência do dinheiro público. Ou seja, a
destinação, a preocupação, a prioridade é para o que vocês estão reiterando. Essa
já é uma garantia constitucional. Só falta confirmar. Se houver alguém da área
jurídica... Isso fica no nosso texto, mas pode ficar tranqüilo quanto a esta destinação
do dinheiro: a definição dos esportes prioritários para o uso do dinheiro público é
garantia constitucional. Nem o Estatuto pode retirar isso.
O SR. ARIALDO BOSCOLO - Mas a Constituição fala do esporte de
formação nacional e do esporte educacional. Por isso, estamos introduzindo a
formação esportiva.
A parte mais polêmica, bastante citada, e vamos referendar, é justamente o §
2º do art. 143, que fala da Lei Agnelo/Piva, já muito comentada. É notório que a
grande maioria do público esportivo e da Nação brasileira entende que não é
possível que, deste que é hoje o maior financiamento, 85% vão para o Comitê
Olímpico Brasileiro e 15% vão para o Comitê Paraolímpico. Não temos nada contra
isso. Mas desse montante, hoje, 10% são destinados ao esporte escolar e 5% ao
universitário, garantindo-se à parte educacional pelo menos um pouco desses
recursos.
Sabemos que esses recursos não chegam à base, à instância estadual, às
entidades de prática e, principalmente, aos atletas. Estamos sugerindo, além desses
15%, incluir mais 15%, ou seja, não estamos mexendo no percentual, continuam os
mesmos 2% de todos os recursos e prognósticos, só que 15% iriam para o esporte
educacional e universitário e mais 15% para as entidades de prática desportiva,
destinados à formação de atletas, inclusive de modalidades não-olímpicas,
repassados por intermédio do Ministério do Esporte, como defendeu o palestrante
Humberto Panzetti. Ou seja, com apenas uma alteração de redação se faz justiça a
uma imensa população que pratica o esporte. (Palmas.)
Fora isso, Deputada, listamos aqui 4 citações de artigos — não vamos citar
uma a uma, para não perder o nosso tempo — que entendemos incorretas. Por
exemplo, “no caput do art. 146” está incorreto, seria art. 142. Creio que são erros de
digitação, que estamos aproveitando para citar.
Independentemente desses artigos, fizemos 2 ressalvas. Entendemos que a
maior contribuição para o financiamento do esporte seria uma realização específica
de incentivo fiscal ao esporte. (Palmas.)
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Corroboro as palavras do Lars Grael quando disse que não deveríamos, em
função dos 200 milhões de reais anunciados pelo Presidente Lula e pelo Ministro
Agnelo Queiroz... Mas também acho que temos que manter isso vivo, mesmo
porque vai ser incluído no Orçamento, que será votado agora. Queremos saber se
isso realmente vai ocorrer ou se, mais uma vez, apenas se fala que vai haver
incentivo ao esporte e nada acontece. (Palmas.)
Queremos o compromisso do Presidente da República, do Ministro Agnelo
Queiroz e dos Parlamentares de que esses recursos serão incluídos. Se 20% passar
para a DRU, meu Deus do céu! Que passe até 30%. Mas quero ver esses 200
milhões no Orçamento. Independentemente disso, sugerimos que seja feita a
discussão da lei de incentivo ao esporte, mais ou menos nos termos da Lei Rouanet.
Tenho muitos amigos no Partido dos Trabalhadores, partido da Deputada,
mas não podemos aceitar que o Presidente encaminhe para o Congresso Nacional a
proposta de regulamentação dos bingos numa semana e depois, em Recife, em
discurso, na minha opinião, infeliz, cite o problema da prostituição infantil, ligando-a
aos bingos, e retire a proposta.
Entendemos que esse também é um financiamento importante. O bingo
existe, as casas estão funcionando. E se a regulamentação fosse feita, de maneira
correta, sem que houvesse lavagem de dinheiro, corrupção e outras coisas mais...
Ou seja, somos pela legalidade dos bingos e que esses recursos sejam destinados
ao esporte. São 2 recomendações que o nosso grupo faz.
Obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Agradecemos ao
senhor o esforço de redação. Tomara possamos ser convincentes na resposta.
A questão do bingo é um pouco mais complexa, porque foi votada este ano
pela Câmara dos Deputados, que já tinha feito o reparo que o senhor faz agora. Na
visão do senhor, o Senado corrigiu isso. Então, já existe uma definição. Entretanto,
há uma resistência forte do Poder Judiciário.
A parte da legislação pelo Congresso Nacional já foi vencida. O que o senhor
alega foi aprovado na votação no Senado. Pode ser que caia na Câmara. Acho
difícil. Pelo que se sabe do que vem nos textos, há uma fortíssima reação do Poder
Judiciário. Se passar pelo Congresso Nacional, cai na Justiça. Ainda assim, acho
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que é pertinente. Fica o seu alerta. Vamos ter que discutir no Colégio de Líderes e
buscar uma solução. Obrigada.
O próximo orador é o Sr. Georgios Stylianos, Presidente do Conselho de
Diretores de Escolas de Educação Física e que vai ser o relator do desporto
educacional.
Permitam-me abordar um pequeno ponto. Não consegui discutir isso com a
Comissão, mas achei estranho. Avançou-se incluindo os dirigentes estaduais, os
dirigentes de esporte dos governos nos 3 níveis, os dirigentes de educação, todo o
mundo. Talvez esteja correto o texto, mas fiquei com uma dúvida. Como é que ficam
os professores de Educação Física? Avançamos, mas nesse avanço — estou
perguntando a quem relatou — isso foi abordado? Abrimos para segmentos. Talvez
pareça corporativismo. Não sei. Gostaria de saber isso.
(Intervenção ininteligível.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Pois é, mas vocês
discutiram isso, puseram isso no relatório? É isso que quero saber. Vamos lá ver?
O SR. GEORGIOS STYLIANOS - Bem, Deputada, gostaria de agradecer a
oportunidade e vou procurar ater-me ao tempo e ao que foi discutido em nossa
comissão.
Na realidade, além de Presidente do Conselho Diretor de Escolas de
Educação Física, sou membro do Conselho Regional de Educação Física, no qual
discutimos muito a questão do profissional de Educação Física e do professor de
Educação Física.
É uma discussão bastante complexa, existem muitos segmentos que
questionam a legalidade da profissão, mas a nossa preocupação básica é,
realmente, garantir prestação de serviços de qualidade à sociedade, e não reserva
de mercado.
Esse é um ponto no qual o Conselho Regional e o Conselho Federal têm
batido sempre, insistem que tem que haver um debate para formação adequada dos
profissionais que vão prestar serviços à comunidade, independentemente de quem
seja o responsável por essa formação. A preocupação é a formação responsável
dos profissionais de Educação Física que vão atuar perante a sociedade.
Voltando especificamente à questão do desporto educacional, como o Prof.
Medalha disse, acredito que a maioria do pessoal que trabalha com desporto
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educacional é formado em Educação Física, mas não pode ser deixado de lado o
desporto educacional em nenhum dos segmentos do desporto, tanto no desporto de
rendimento, quanto no de participação, quanto no de educação. Todos eles têm de
ter incorporada a questão educacional.
Uma preocupação muito importante é com a necessidade de o Ministério da
Educação entender e reconhecer que o esporte é uma ferramenta fundamental para
a educação. E não é o que acontece porque, mesmo na época em que fazia parte
do Ministério, era Ministério da Educação e do Desporto, o esporte era sempre
relegado a segundo plano. Os nossos pedagogos — e a senhora, que é professora,
sabe disso — relegam o estudo da Educação Física, das Artes, como segunda
matéria, sem importância, sendo que tanto a cultura, quanto os esportes, quanto as
artes deveriam ser fundamentais para o desenvolvimento integral dos indivíduos.
(Palmas.) Isso não é valorizado por muitos dos nossos educadores, muitos dos
nossos professores.
Nosso grupo teve integrantes das mais diversas origens. Tínhamos
educadores dos CEUs de São Paulo, de Volta Redonda, presidentes da liga do
CBDE, da Federação de Desporto Escolar, professores universitários. Analisamos o
Título VI, Do Desporto Educacional, composto de 3 capítulos, arts. 76 a 88, e
fizemos diversas sugestões de alteração da redação, porque achamos que existem
alguns equívocos. Questões curriculares de Educação Física não são função do
Estatuto do Desporto, são uma questão da LDB, do Ministério da Educação. Não
cabe no Estatuto do Desporto discutir a grade curricular, a famosa confusão que
existe entre Educação Física e desporto escolar. Então, temos que acertar isso, e
essas sugestões de alteração vão ser encaminhadas por escrito.
Entende-se que o desporto educacional deve ser realizado,
predominantemente, em ambiente escolar e universitário, podendo ser oferecido
como atividade de atendimento sistemático de crianças e adolescentes em situação
de risco. Esse é um fator muito importante que deixamos claro e discutimos muito.
Vemos o esporte como um todo educacional, mas, efetivamente, a atuação prática
deve ser nos ambientes escolar e universitário.
É muito importante deixarmos isso claro no Estatuto do Desporto, até para
não haver confusões inclusive para destinação de recursos do CONANDA, de
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atendimento nas favelas. Também é espaço adequado para o esporte educacional,
mas preferencialmente deve ser na escola e na universidade.
Outro ponto importante dentro dessa discussão é a garantia da lei da
destinação dos recursos para o cumprimento do calendário desportivo nacional e
internacional — da Lei Piva, no caso, e de outras que venham — a quem de direito,
que são a Confederação Brasileira de Desporto Escolar e a Confederação Brasileira
de Desporto Universitário, que são instituições já estabelecidas — a CBDU, desde
1941 — e que não têm recebido os recursos, que estão bloqueados, por depósito
judicial, no Comitê Olímpico Brasileiro.
Temos conhecimento de diversos eventos que necessitariam dos recursos, os
recursos existem, e há algum imbróglio legal — alegam ser uma questão legal do
Tribunal de Contas, que sabemos que já foi ultrapassada — para esses recursos
chegarem a quem de direito para a promoção do desporto educacional.
Voltando, temos que incluir no Capítulo 2, Do Desporto Escolar, a existência
da Confederação Brasileira de Desporto Escolar — CBDE, que, na época da
redação do Estatuto, estava em formação. Hoje existe uma entidade jurídica que
pode colaborar, e muito, com todos os segmentos dos Governos Municipais,
Estaduais e Federal para realização dos eventos e direção do desporto escolar. Ela
está sendo esquecida no Estatuto do Desporto. É muito importante a inclusão da
Confederação Brasileira de Desporto Escolar.
Acima de tudo, lembramos e reiteramos que o esporte educacional não é
somente participação, ele tem o seu segmento de performance também. Aliás, como
já foi dito anteriormente, todos os segmentos devem ter preocupação com a
educação.
No esporte de alto nível, no esporte de rendimento, todos os atletas têm que
dar exemplo. Eles não devem ser ídolos, porque ídolos quebram muito facilmente.
Eles têm que ser exemplos de vida. Esporte de performance tem que ser referencial
para toda a população, assim como o esporte de participação tem o seu momento
educacional, assim como o desporto escolar é o objetivo central. É muito importante
destacarmos isso.
Outra coisa importante que foi dita aqui anteriormente é que a formação dos
atletas do alto nível tem que ser fundamental. Em algum lugar do Estatuto do
Desporto — já foi garantido no desporto de base — a formação escolar do nosso
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atleta é fundamental. Temos conhecimento de diversos atletas nossos que fazem
opção: ou vão ser jogadores de bola ou vão estudar. Eles abandonam o estudo
formal para jogar bola e, quando a carreira acaba, não têm uma profissão, não têm
como seguir adiante. A profissão é ser ex-atleta, lamentavelmente, pela estrutura
esportiva no País.
Por isso, o Estatuto do Desporto deve obrigar que todo atleta tenha formação
escolar integral, desde o ensino fundamental até o ensino superior, que é um
exemplo na maioria dos países desenvolvidos. Se observarem o exemplo
americano, verão que a base esportiva é a escola. Não é o nosso caso. A origem
dos atletas aqui no Brasil vem da escola, passa pelo clube e vai para alto nível.
Não adianta copiar o exemplo japonês e o americano, que não funcionam no
Brasil. Precisamos ter o nosso próprio modelo. Mas a educação do nosso atleta é
fundamental. Isso tem que ser garantido no Estatuto do Desporto.
Passaremos à Deputada, por escrito, a redação completa das sugestões de
mudanças. Esperamos que, efetivamente, o Estatuto do Desporto seja uma lei que
pegue, e não uma letra morta dentro do arcabouço legal existente em nosso País.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Muito obrigada.
Parabéns pela colaboração de verdadeiro educador, pela lucidez e pelo tema
abordado.
Passarei a palavra ao Sr. Valter Pichino, da CBC.
(Intervenção inaudível.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Sei. Mas ele vai
relatar o quê? Não colocaram o relato aqui. Por favor.
(Intervenção inaudível.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Ah, está aqui
embaixo! Administração do desporto é o tema do seu relato.
O SR. VALTER PICHINO - Excelência, quero 1 minuto antes dos meus 12
regulamentados para cumprimentá-la pelo dinamismo, pelo entusiasmo com que
conduziu esta conferência, participando de todos os momentos e nos incentivando
nos instantes em que nosso ânimo caía. V.Exa. está de parabéns, como está de
parabéns também o Relator, Deputado Gilmar Machado, que já se ausentou, o
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Presidente da Comissão, Deputado Deley, e todos aqueles que pacientemente estão
aqui trazendo sua contribuição, sua colaboração.
No mais, Excelência, nós integramos um grupo de administração do desporto.
Encontramos uma série de dificuldades para conseguir inicialmente identificar o que
abrange esse grupo, diferentemente dos nossos outros colegas que falaram sobre o
desporto educacional e sobre o financiamento, com muito brilhantismo.
Faremos uma clínica geral, e como os demais membros, V.Exa. já autorizou,
nós nos reservamos a encaminhar depois, por escrito, esse resumo. Vou submetê-lo
aos meus pares e o encaminharemos a V.Exa., para expressar melhor aquilo que
queremos dizer.
Dos pontos que levantamos entre os integrantes do grupo, a primeira situação
seria relativa ao desporto militar e ao desporto do trabalhador, para que sejam essas
manifestações incluídas no art. 3º do Estatuto do Desporto, porque ele já recepciona
o desporto educacional, o desporto de participação e o de rendimento. Essas 2
manifestações, o desporto militar e o desporto dos trabalhadores, são
importantíssimas. Encaminharemos a V.Exa., juntamente com o relato,
manifestações da Federação Paulista de Atletismo e também da Confederação
Geral dos Trabalhadores, que aportou uma colaboração muito valiosa nesse sentido.
Excelência, se obtivermos sucesso na inclusão da manifestação dessas 2
especificidades esportivas, eles terão, evidentemente, os reflexos em todo o
Estatuto, com representação inclusive no Conselho Nacional do Esporte.
Paradoxalmente, mas respeitando sempre o princípio democrático, as
entidades de administração do desporto presentes em nosso grupo fazem uma
sugestão para que no inciso VII do art. 19, que fala a respeito da alternância de
poder nas entidades exclusivamente de administração do desporto, seja
determinado como será feita a alternância. Eles não querem trazer para dentro do
seu estatuto a regulação própria dessa situação. Pediram os representantes que tal
fosse alocado. Evidentemente, mencionaram também a proibição das ligas, mas
eles estão querendo retirar poderes de outros grupos, que não lhes competem. Seria
o caso dos clubes. Na organização das entidades desportivas, diz-se que os clubes
têm direito de criar liga. Eles querem retirar.
Relativamente aos incentivos fiscais, que aqui já foram abordados, com muito
brilhantismo e propriedade, por aqueles que me antecederam, tenho ainda 2
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colaborações. A primeira seria relativa aos incentivos fiscais locais, ou seja, os
incentivos fiscais que advêm da base, da municipalidade. Através do quê? Através
de projetos de isenções no âmbito municipal. Já existe uma lei no Município de São
José dos Campos permitindo que um determinado valor do IPTU das empresas,
guardada uma proporção na renúncia fiscal, possa ser repassado para projetos
formalmente aprovados e desenvolvidos.
E ainda, Excelência, no que tange aos incentivos fiscais, que poderiam ter a
conotação da Lei Rouanet, importantíssimo seria algo nesse sentido, porque os
associados, que são empresários, poderiam, através de suas empresas — e muito
mais as pessoas físicas, porque hoje as empresas estão falidas, não pagam Imposto
de Renda e o incentivo fiscal é uma parcela do Imposto de Renda — ter alguma
renda para repassar. E quem seriam essas pessoas físicas? Aquelas vinculadas às
associações que vestem a camisa do clube, têm amor àquele clube.
A Lei Rouanet é importantíssima para a cultura, mas também os seus desvios
haverão de ser corrigidos, para que não se usem esses recursos para fazer biografia
de empresário.
Outra situação que apresentei para V.Exa. é que nós, associações
desportivas, canalizamos mensalmente 1,5% das nossas folhas de salários no grupo
de contribuições de terceiros para uma entidade que nada tem a ver conosco. Ou
seja, financiamos as entidades da federação do comércio, através do SESC e do
SENAC, e pertencemos à Confederação Nacional da Cultura. Seria uma forma de
buscarmos um desvio numa lei específica, para que esse recurso que as entidades
já desembolsa retorne para si, sem necessidade do aporte governamental de
recursos, que já são extremamente escassos, e as prioridades, muitas.
Outro aspecto que nós...
(Intervenção ininteligível.)
O SR. VALTER PICHINO - Se V.Exa. me permitir, tenho um arrazoado e o
farei acompanhar desse relatório.
Nós nos ressentimos muito — e isto tem sido um grande fator de
desmotivação e desincentivo ao desporto não-profissional — quando se formam
equipes não-profissionais de basquete, vôlei, seja qual for a modalidade, inclusive
com a difícil caça de patrocínio para essas equipes, porque, encerrada a
participação desses atletas e dissolvidas as equipes, eles vão à Justiça obreira. E a
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Justiça obreira ignora a legislação esportiva e aplica sempre a legislação trabalhista,
o que acaba desaguando no reconhecimento de vínculo, com grandes encargos
para a associação. E, o que é pior: agora, com a responsabilidade pessoal, pela
descaracterização da personalidade jurídica do dirigente. Ao Estatuto do Desporto
não passou despercebido, pois foi lançada no art. 123 a caracterização do desvio de
finalidade. Basta o descumprimento de uma lei e o dirigente é enquadrado como
responsável. Então, algo haverá que ser feito. Vamos apresentar uma sugestão a
V.Exa.
As associações desportivas desfrutam, por um comando constitucional, de
liberdade de organização e funcionamento, assim como V.Exa. muito bem lembrou a
respeito dos incentivos que estão previstos na Constituição. Excelência, a
Constituição não é cumprida. Em relação à legislação infraconstitucional, com a
aprovação do novo Código Civil, voltou-se ao Estado Novo: ele impôs uma tipologia
estatutária para as associações, dizendo que estas não têm mais a manifestação da
vontade humana, têm, sim, a manifestação da pena do legislador, em ter que se
administrar de tal e tal maneira. Por essa razão, já foi apresentada uma emenda, e
estamos reiterando, para que se reforce, ainda que de forma tautológica, que os
preceitos do art. 59 não são aplicáveis — ele não é inconstitucional — às
associações desportivas, em face do comando maior. As associações de
revendedores disso e daquilo, é claro, são associações... Mas para as associações
esportivas queremos fazer valer o preceito constitucional de conquistas da
sociedade, da sua liberdade de organização e manifestação da vontade humana,
acima de tudo. (Pausa.)
No art. 96, oferecemos uma redação baseada na legislação atual, no que
tange ao atleta profissional, porque quando se diz “o atleta que faz do desporto meio
de vida”, esse meio de vida tem nos dado problemas na Justiça obreira, porque eles
não querem saber se existe ou não um contrato de trabalho — se bem que este,
necessariamente, não haverá de ser celebrado por escrito. Então, sugerimos que se
volte à redação do que prevê hoje a lei na definição do que é o atleta profissional.
Além disso, um dos integrantes do grupo sugere a V.Exa. que, estando o
Estatuto em vigor, sejam feitos fóruns periódicos de avaliação, até no sentido de
armazenar e historicamente colecionar subsidios para uma eventual reforma futura,
e também como forma de satisfação à sociedade brasileira, que está tão envolvida
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com esse Estatuto — muito mais nós, paulistas, pelo fato de estarmos sob o
comando da brilhante Deputada. (Palmas.)
A0 SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - O senhor, além de
ser extremamente gentil, fala um português escorreito. Pronunciou subsídio
corretamente. Nossa! Faz tempo que a velha professora de português não escuta a
forma correta. Todos a pronunciam “subzídio” e a pronuncia correta é “subssídio”.
Muito bem. Só o que me incomodou foi o tratamento de excelência. Precisamos
cortar um pouco isso. Nós, que somos representantes do povo, sermos chamados
de excelência! Ocupar palácios me dá um mal-estar terrível. Eu já tentei ver isso,
mas não há muito futuro. Um dia, nós mudamos isso. De qualquer jeito, como faz
parte de sua personalidade cortês, extremamente gentil, agradeço-lhe.
O SR. VALTER PICHINO - V.Exa. merece por direito, e não por sentença.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Sou uma servidora do
povo, não sou excelência. E, graças a Deus, como fico no chamado Carandiru do
Congresso Nacional, sinto-me bem uma educadora exercendo um papel político. De
excelência tenho muito pouco.
Foi mais uma escorreita e interessante intervenção. Agora, o Sr. Reginaldo
Teixeira Rosa vai discorrer sobre esporte olímpico.
Antes porém, queria só entender, não vamos questionar, o seguinte: no tema
que acabou de ser discutido, administração do desporto, há um eixo que não foi
abordado, salvo engano. E digo isso porque os senhores vão entregar o texto
depois. É o eixo da gestão, do planejamento e da administração de todas as
entidades que têm a responsabilidade de ser gestoras da administração.
Se eu estiver errada, me perdoem, mas parece-me que no tópico
administração do desporto deve ser considerado o eixo da gestão, que envolve
planejamento, profissionalização e administração propriamente dita das entidades
do esporte. Apenas isso. Fica essa ressalva, e quem quiser colaborar, por favor, nos
ajude nisso.
Com a palavra o Sr. Reginaldo Teixeira Rosa.
O SR. REGINALDO TEIXEIRA ROSA - Boa-noite. Agradeço à Deputada e a
todas as pessoas que estão participando deste fórum de debates. Por incrível que
pareça, não vou usar os 12 minutos a que tenho direito. Portanto, dou-me a
liberdade de citar o nome dos integrantes do meu grupo, até porque são só 9.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Que democrático.
O SR. REGINALDO TEIXEIRA ROSA - Andrew Ventura, Antonio Pedro,
Núbio de Almeida, Júlio Fagundes, Carlos Negrão, José Fiorizi, César Roberto
Granieri, o Betinho, e Carlos Roque.
Esse grupo representou as pessoas ligadas ao esporte olímpico. Por sorte,
não fomos os primeiros a falar, porque não pretendemos apresentar, nem como
sugestão, emendas ao Estatuto. Primeiro porque sabemos que a convergência de
idéias é muito grande, todos temos um interesse só: o esporte. Ninguém está
brigando aqui por privilégios para seu segmento. (Palmas.) Estamos todos brigando
pelo esporte.
Nossa idéia — falo em nome do grupo, porque isso foi discutido — é que
temos que ressaltar algumas coisas que são importantes no Estatuto. Se alguma
delas tiver que ser levada como sugestão, que o seja por quem for redigir a
regulamentação. O momento em que vamos brigar por isso é na regulamentação
mesmo, como bem disse a Deputada, até porque me parece que o Estatuto já está
pronto e bem redigido.
O grupo que analisou a situação do esporte olímpico lembra — isto foi várias
vezes citado — que esse é um esporte de mais expressão, esporte como cultura
nacional, que dá visibilidade esportiva ao País perante o mundo. O esporte olímpico
representa o esporte perante o mundo, para todos os países. É o que faz parar o
País a cada 4 anos, para se discutir uma série de aspectos relativos ao esporte.
Segundo ponto: investir no esporte de alto nível, ou seja, no esporte olímpico,
é investir em todos os outros segmentos do esporte, principalmente na base.
Quando investimos em alta performance, estamos investindo em todo o esporte
brasileiro, no de participação, no educacional e no de formação, porque dali vêm os
investimentos de know-how, de tecnologia e principalmente de imagem, de mídia e
de divulgação. Isso tem que ser lembrado quando se discute esporte como atividade
com maior percentual voltado para a atividade física. O esporte olímpico tem essa
característica.
Terceiro, sabemos, e foi discutido aqui por várias pessoas, que as leis de
incentivo são importantes. Queremos apenas pedir que todas as leis de incentivo
que sejam criadas no País, inclusive no Estatuto, sejam claras e práticas, como tem
sido a Lei Piva. Podem até discordar de alguma coisa, porque o dinheiro não chegou
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a um ponto ou a outro, mas a lei é clara e prática e tem dado benefícios diretos ao
esporte. Então, nosso grupo acha que todas as leis de incentivo devem ser tão
claras e tão práticas, ou seja, são criadas, são estipuladas e rapidamente chegam a
algum destino. A regulamentação vai determinar em que sentido e em que
percentuais isso vai acontecer.
Outra coisa discutida com ênfase no nosso grupo é que estamos seguros de
que é fundamental que o Comitê Olímpico Brasileiro, COB, tenha total autonomia de
gestão. O Comitê Olímpico Brasileiro representa o esporte olímpico brasileiro,
representa tudo aquilo que eu disse antes, a imagem do País esportivamente.
Então, ele tem que ter total autonomia de gestão, autonomia política e econômica,
para que possa desenvolver-se e não ficar preso a sentidos políticos ou a desejos
pessoais de quem quer que esteja no poder. Então, nosso grupo tem isso claro,
aceita esse estatuto como bom para o esporte olímpico. Todos os outros relatores
que falaram das suas atividades em seus grupos têm o consenso de que o esporte
precisa ser privilegiado nesse estatuto. O grupo de esporte olímpico acha que o
esporte olímpico é um dos que pode ajudar na evolução das outras atividades.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Muito obrigada ao
senhor.
A gente provocou, e o nosso Relator, que é muito democrático, nos expôs. Na
abertura, eu disse em que fase estamos na discussão do Estatuto do Desporto. As
emendas de Plenário são a última etapa de apresentação de emendas. Essas
emendas voltaram para a Comissão Especial, e resolvemos reabrir tudo para
discussão com a comunidade, não só nas audiências que foram feitas lá, mas, numa
dimensão muito mais ampla e substancial, abrindo as conferências estaduais. O
Gilmar deixou isso claro aqui, e a gente também. Então, podemos, sim. Ele vai
alterar o substitutivo para considerar não tudo, mas a média das opiniões que vierem
aprimorar e ampliar. Então, esse ponto está garantido. (Palmas.)
Faz parte do nosso compromisso com vocês não deixar que seja diferente,
senão vamos cair naquela primeira questão. Aquele senhor que está lá no fundo —
não sei seu nome — perguntou se a gente veio aqui só para referendar ou isso aqui
é para valer mesmo. E tem todo o direito. Acho que, com isso, estou dando uma
resposta absolutamente concreta. Não fosse isso, o projeto vai ter que passar pelo
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Senado, e lá se reabrem as discussões e sugestões. Normalmente, o próprio
Deputado é um grande articulador no Senado.
Se abrimos as conferências, quanto mais elas forem significativas,
representativas, múltiplas e plurais, como foram aqui, mais teremos condições de o
Congresso nos ouvir. A idéia é exatamente essa. Senão, é democracia de fachada.
Queria garantir isso. Eu estava preocupada com isso porque o Gilmar deixou aqui.
Por último, agora sim, com a correção, as conferências que serão
desencadeadas nos Estados.
No dia 16 do corrente mês de novembro, a Conferência da Região Nordeste
será realizada em Fortaleza, na Assembléia Legislativa do Estado do Ceará, com
início previsto para as 10 horas da manhã. O coordenador será o Deputado
Bismarck Maia, Secretário Nacional do PSDB — tucano, portanto; e isso é bom,
porque equilibra sempre.
Na Região Sul — foi feito o convite pessoalmente pelo Deputado Ivan
Ranzolin, o que achei muito digno — a Conferência será realizada em Florianópolis,
nos dias 18 e 19 do corrente mês. A Conferência da Região Sul, na capital Santa
Catarina, Florianópolis, terá como coordenadores o Deputado Ivan Ranzolin, pelo
PP de Santa Catarina, que nos prestigiou aqui em São Paulo, e também pelo
Deputado Darcísio Perondi, pelo PMDB do Rio Grande do Sul. Eles se juntaram
para também fazer uma conferência na Região Sul. Lembro que o Deputado Ivan
Ranzolin preside a Frente Parlamentar em Defesa do Esporte, o que é muito
importância para nós. S.Exa. fez o convite aqui ontem; ele falou pessoalmente da
Mesa. É uma energia enorme que faz com que tenhamos mais força nos nossos
trabalhos! Vocês serão informados; fiquem tranqüilos.
Continuando, na Região Norte, em Belém do Pará, a conferência ocorrerá
entre os dias 22 e 23 de novembro. Também ainda não está determinado o local.
Eles devem estar tendo o mesmo drama que eu tive de não encontrar local e, aí,
não dá para estabelecer nem o horário. O coordenador é o Deputado Nilson Pinto,
pelo PSDB do Pará.
No dia 26 de novembro ocorrerá a Conferência de Minas Gerais, em Belo
Horizonte, com a presença do Deputado que agora é Vice-Prefeito daquela cidade;
ele vai deixar de ser Deputado Federal para ser Vice-Prefeito de Belo Horizonte.
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Trata-se do Deputado Ronaldo Vasconcellos, pelo PTB de Minas Gerais. Estamos
perdendo um Deputado forte da área de turismo e de desporto.
Dias 29 e 30 de novembro será realizada a Conferência da Região
Centro-Oeste, em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, sob a coordenação do
Deputado João Grandão, pelo PT do Estado.
O fecho das conferências será nos dias 6 e 7 de dezembro, no Rio de
Janeiro, sob a coordenação do Presidente da Comissão Estadual, que esteve todo o
tempo conosco: o Deputado Deley. Todos estão informados e nós os convidamos.
Portanto, acionem todas as forças, que é assim mesmo que se faz política. Só me
perdoem porque alguns ainda não definiram local e horário, mas passaremos essas
informações a todos o mais rápido possível.
Continuando, temos ainda 3 oradores inscritos.
Agora é a vez do esporte paraolímpico. Por favor, os senhores que
agüentaram bonito!
Passo a palavra ao Sr. João Antônio Betin, que vai falar sobre o esporte
paraolímpico.
O SR. JOÃO ANTÔNIO BETIN - Para nós é uma grande oportunidade
estarmos aqui reunidos para ver se conseguimos dar um novo rumo ao nosso
esporte, em todas as suas ramificações: os olímpicos, os paraolímpicos e os
não-olímpicos.
Posteriormente, vamos enviar aos senhores um e-mail com algumas
propostas de alteração de redação, em consonância com tudo aquilo que nos tem
sido solicitado. Acho que assim é mais objetivo, do que estarmos lendo tudo
novamente e fazendo por cima as alterações, que, às vezes, tratam de coisas
específicas referentes a modalidade ou entidade.
No Capítulo II (Das Entidades de Administração do Desporto), percebemos
que, com aquela redação, seríamos totalmente excluídos. O art. 17 diz o seguinte:
“São entidades de administração do desporto: as confederações, as federações e as
ligas”.
Ora, todas as entidades que são filiadas ao Comitê Paraolímpico Brasileiro
são associações: a Associação Nacional de Desporto para Cegos etc. Penso que
aqui cabe também o termo ‘associação’, porque assim nossas associações não
estariam sendo excluídas. Vou mandar e-mail sobre isso também.
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Outra coisa a ser alterada encontra-se na Sessão III, sobre o Comitê
Paraolímpico Brasileiro.
Não sei quem forneceu a redação para o relator, mas está havendo muita
diferença entre Comitê Olímpico e Comitê Paraolímpico. Penso que o Comitê
Olímpico e o Comitê Paraolímpico têm os mesmos objetivos: levar a Bandeira do
Brasil, levar os atletas, empenhar-se pelas conquistas e tudo mais. Foram colocadas
algumas incumbências para o Comitê Paraolímpico, tais como esporte de
participação, esporte escolar. Acho não seja bem função do Comitê Paraolímpico
estar fazendo isso aí. Isso seria obrigação, por exemplo, das entidades nacionais,
das federações, que deveriam estar correndo atrás dessa parte, e não uma
responsabilidade do Comitê Paraolímpico Brasileiro. Portanto, onde se lê, na Seção
II, que é do Comitê Olímpico Brasileiro... Penso que tudo o que estiver previsto para
o Comitê Olímpico deveria ser colocado também para o Comitê Paraolímpico, que é
exatamente igual; afinal, não existe diferença alguma quanto a isso. Então, falta
colocar na redação o Comitê Paraolímpico e fazer a Seção III do Comitê
Paraolímpico.
Algumas outras coisas que foram colocadas aqui também não são
relacionadas ao Comitê Paraolímpico. Sua função maior é levar delegações para as
paraolímpiadas. Com relação a campeonatos nacionais e internacionais, isso seria
da responsabilidade das associações nacionais, o que não estão colocado aqui.
Outra coisa que acho muito importante, e temos que correr atrás, é o que toca
a financiamento. No que diz respeito a financiamento estamos esbarrando numa
coisa que está aí, líquida e certa, funcionando. Mas está havendo essa briga, esse
mal-entendido. Trata-se dos bingos.
A minha mãe tem 75 anos. Quando se começou a falar que estavam lavando
dinheiro por meio das casas de bingo, ela me disse: “Filho, mas é como é que lava
dinheiro? Não sei como é que lava. Põe na máquina de lavar roupa, depois pendura
no varal? E se passa um ladrão e rouba, como é que faz?” Quer dizer, admitimos
que ela saiba como se lava o dinheiro. No entanto, o que acontece? Pelo que tenho
ouvido dizer, o pessoal que tem dito que os bingos estão lavando dinheiro também
não estão sabendo direito como é que se lava o dinheiro. Porque, para se lavar
dinheiro, deve-se recolher Imposto. Aí o dinheiro fica limpo. Pensemos nos bingos.
Minha entidade já teve 2 bingos, e foram eles que alavancaram nosso movimento.
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Outras entidades paraolímpicas também dependem de casas de bingo. O bingo
repassa o dinheiro à nossa instituição sem querer saber se fomos campeões ou não,
se aparecemos na mídia ou não. Ela paga aluguel e funcionários e ainda tem a
obrigação de repassar 7% dos ganhos para as entidades, o que nós dá a
tranqüilidade de receber um dinheirinho todo mês, com o time ganhando ou
perdendo, saindo ou não na mídia — e é mais fácil não sair. O bingo, portanto, tem
essa obrigação; o bingueiro sabe que de tem que pagar às entidades para estar
dentro da lei, diferentemente do patrocínio, que é uma investimento passível de ser
suspenso quando não há retorno, por exemplo, em termos de divulgação na mídia.
Realmente, há bingos que recolhem 1 milhão ou mesmo 2 milhões de reais por mês.
Infelizmente, não é o nosso caso, ou, então, estaríamos recebendo 140 mil reais por
mês. Por isso sabemos que não estão lavando dinheiro. Além disso, os bingos são
fáceis de serem fiscalizados. Há o problema da cartela. Essa cartela é feita pela
Caixa Econômica Federal, ou alguma outra instituição, de modo que se permite que
seja identificada sua autenticidade. Assim como acontece com o dinheiro,
identificada uma cartela como falsa, fecha-se o bingo. Quanto às máquinas, basta o
Governo equipá-las de chips específicos, o que podem ser providenciado em menos
de 3 ou 4 meses, porque eles permitem a geração de relatórios que informam dia,
hora e valor do dinheiro que tenha entrado ou saído, o que dá ao Governo um
controle total das operações das máquinas.
Seria uma coisa totalmente transparente; não haveria caixa dois, o que para
nós, clubes, seria excelente, pois receberíamos exatamente os 7%, assim como
também o Governo a sua cota-parte em tributos. Isso seria muito importante, já que
estamos atrás de dinheiro para patrocinar nossos atletas, nossas entidades. Basta
pesquisar quantos progrediram por causa dos bingos: associações, clubes, atletas...
Só para que tenham uma idéia, o Clube dos Paraplégicos de São Paulo, meu
clube, atualmente é o maior clube paradesportivo do Brasil. Anteriormente a essa
confusão, que ocorreu em fevereiro, tínhamos 25 atletas remunerados e 16
profissionais. Quando um jogador de basquete em cadeira de rodas poderia
imaginar que teria condições de ser remunerado?
A SRA. PRESIDENTE(Deputada Mariângela Duarte) - Tudo bem, eu aceito,
mas não estamos discutindo bingo, embora faça parte do debate. Foi muito válida a
sua observação, e espero receber essa contribuição por escrito. Porque essa
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discussão não acabou ainda no Congresso. Há outras implicações, temos outros
dados, como sabemos. Quero citar um pequeno dado que não justifica nem anula
nada do que o senhor está dizendo. Por exemplo, eu sei o volume de pessoas que
ficaram desempregadas em Santos com o fechamento dos bingos. Isso para mim foi
dramático. Em uma cidade, que é o maior campo de estatais deste País, houve uma
grande perda de empregos. Mas é verdade que os empregos no bingo são muito
irregulares. Sei disso, conheço o assunto, e o senhor sabe que fui atrás disso.
Segundo, uma cidade que está sendo considerada, não só a cidade, o litoral,
a capital brasileira da terceira idade, começamos a ter um outro problema seriíssimo:
o desespero das famílias com relação aos idosos. Eles são muito viciados em bingo.
Nós deparamos com questões muito sérias. Portanto, não existe apenas um lado.
Pelo esporte eu entendo, para os paraolímpicos calculo que o que o senhor esteja
dizendo é verdadeiro. Há também o problema do desemprego, sobretudo em
lugares em que os empregos que existem são exclusivos do bingo. Por outro lado, o
repasse para as entidades nem sempre foi correto. Eu sei de bingo que lava seu
dinheiro. Nenhum Deputado pode ser ingênuo, ninguém chega ao Congresso
Nacional sem que saiba disso. No Estado de São Paulo é necessário obter 100 mil
votos para disputar uma cadeira de Deputado. Ora, ninguém é ingênuo. Mas tudo
isso não desmerece, de maneira alguma, as observações.
Como esse assunto não está encerrado, é bom que os senhores nos armem
com argumentos. Mas tenho convicção de que há uma fortíssima resistência da
parte do Poder Judiciário. Pelo menos, a gente faz a nossa parte.
Mas não vamos discutir sobre bingo, senão complica o processo.
O SR. JOÃO ANTÔNIO BETIN - Ainda tenho 2 minutos e vou falar de outra
coisa, de outro tipo de financiamento. Uma opção seriam as multas de trânsito; são
muitas multas e uma parte dessa arrecadação poderia ser destinada ao esporte.
O DPVAT, como foi comentado aqui como uma caixa-preta. Vamos abrir essa
caixa para ver para onde está indo esse dinheiro, se o dinheiro está sendo bem
empregado. Afinal de contas, é dinheiro nosso.
A última observação que faço é com relação a esses 200 milhões de reais
previstos para nós. Vamos lavar a égua no ano que vem, se Deus quiser! Mas
proponho a divisão desse dinheiro proporcionalmente entre os desportos olímpicos,
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paraolímpicos e os não-olímpicos também. Uma porcentagem para cada um deles,
exatamente para podermos contar com esse dinheiro. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Mariângela Duarte) - Parabéns pela força
de expressão! Vamos refletir juntos. E, por favor, me envie textos.
Vamos passar aos não-olímpicos, com o Cláudio Consur. O Cláudio é muito
ativo: já fui duas vezes com ele falar com o Ministro!
O SR. CLÁUDIO CONSUR - Obrigado a todos. Quero agradecer
especialmente à Deputada e a todos os grupos que lembram de nós, os
não-olímpicos. Somos mais de 70 modalidades esportivas absolutamente ao léu.
Com muita felicidade, vemos que, desde o início da regulamentação do esporte no
Brasil, desde 1941, até que enfim seremos lembrados! A administração desportiva
não pode ser apenas movida apenas pela paixão. Refiro-me aos esportes
não-olímpicos. A administração esportiva nos esportes não-olímpicos depende única
e exclusivamente da paixão dos praticantes. É aquela história de a federação existir
dentro do carro, de o mesmo telefone de uma pessoa ser também o da entidade. Às
vezes, a minha a mãe faz de secretária. Falou-se ontem de esposa e filha, mas, às
vezes, minha própria mãe atua como se fosse minha secretária. Isso não pode.
Meu colega aqui do esporte olímpico falou do altíssimo nível. O alto nível é
inerente ao esporte olímpico. Isso é incontestável, mas não é uma exclusividade.
Quantas e quantas modalidades esportivas de altíssimo nível, de alto rendimento,
existem entre nós e que não são olímpicas! A minha mesmo, o parapente, é um
esporte de altíssimo nível, assim como o pára-quedismo — não vou começar a
enumerar, senão vamos longe —, e estão jogadas ao léu! Os esportes de aventura,
nos quais o Brasil pode ser uma potência, depende única e exclusivamente da
paixão e do favor dos amigos praticantes, que tentam fazer com que sua modalidade
vá para a frente. Temos todo um potencial; temos milhares de praticantes de
modalidades não-olímpicas. Precisamos, de uma vez por todas, que nos seja aberto
um espaço. É muita felicidade nossa estar aqui, tendo esse espaço.
A Associação Brasileira de Parapente — ABP já vem há bastante tempo,
inclusive até com a Deputada, se debruçando nesse texto. Vou ler algumas
propostas, e vou ser muito breve, porque preciso abrir um tempo para o Pagnani a
respeito do doping. Eles têm todo um trabalho pronto; fizeram uma reunião em
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separado, e precisam falar do assunto, porque é realmente uma coisa muito
importante.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Os que estão falando
são relatores, e temos que lhes dar preferência. Ao terminar o último, sobre o
futebol, se ele quiser falar, e havendo tempo, liberaremos a palavra. Aqui ninguém
teve o direito de falar cerceado, mas há uma regra, pelo número de pessoas
presentes. Então, conclua sua parte; depois entra o futebol, para seguir a ordem. Vi
o trabalho, e o louvo por isso, porque faz do esporte-vida. A gente depois abre
espaço para vocês.
O SR. CLÁUDIO CONSUR - A nossa primeira crítica é em relação ao art. 2º,
que vai tipificar as atividades esportivas como predominante físicas. Entendemos
que isso é um absurdo. Existem n atividades, mesmo olímpicas, como o tiro-ao-alvo,
que muitos podem contestar se sejam predominantemente físicas ou não.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - O xadrez, por
exemplo, é esporte intelectual.
O SR. CLÁUDIO CONSUR - Exatamente. E isso abre margem para vários
questionamentos. O parapente, há até pouco tempo, era alvo de uma atuação
absolutamente ilegal do Departamento de Aviação Civil. Apesar de eles terem um
Departamento de Aerodesporto, eles me falaram: “Esse Departamento de
Aerodesporto tem um nome errado, porque não deveria ser aerodesporto; na
verdade vocês não fazem esporte, vocês fazem aviação civil”. Escutei isso, no Rio
de Janeiro, do Diretor do Departamento de Aerodesporto, que falou que seu
departamento não era de aerodesporto e que o que eu fazia não era esporte. Pelo
amor de Deus!
Então, isso abre para essas possibilidades.
O art. 7º é muito importante. Trata da inclusão de um representante do
desporto não-olímpico no Conselho Nacional do Desporto, que foi criado e nele
temos cadeira. O Panzetti, nosso amigo, é nosso conselheiro. Nessa redação, isso
foi omitido, o que é um erro muito grande e que precisa ser corrigido.
No art. 12, a redação inicial dava a entender que a pessoa jurídica poderia
praticar esporte e que a pessoa física poderia administrar. Houve uma proposta para
corrigir essa distorção.
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Há outra proposta, agora referente ao art. 13, que acho muito importante. No
art. 217 da Constituição Federal há um comando genérico estabelecendo o que é o
desporto brasileiro. A Carta constitucional de 1988 foi a primeira a definir de maneira
explícita o esporte, mas se refere de maneira muito genérica à autonomia das
entidades nacionais de administração desportiva. O art. 13 estabelece exatamente
os limites, a extensão dessas entidades e disciplina a sua autonomia. Portanto, é
muito importante esse art. 13, que pode evitar as interferências que, por vezes,
acontecem. A nossa sugestão é incluir nesse artigo o inciso V:
Art. 13.
..................................................
V - levará em conta a liberdade das entidades
nacionais de administração desportiva para estabelecer
as normas e regras nacionais e para aceitar as
internacionais que regulamentarão a prática de suas
respectivas modalidades.
É muito importante que isso esteja definido no limite da autonomia, para mais
uma vez resguardar a competência das entidades desportivas. Graças ao apoio da
Deputada, nas nossas reuniões com o Ministro conseguimos resolver a questão com
o DAC. Agora estamos sofrendo com o Ministério do Turismo. Em relação a essa
questão da regra de prática, para alguns esportes pode parecer que isso está muito
sedimentado, mas, vira e mexe, acontecem problemas gravíssimos com outras
modalidades.
Vai ocorrer a substituição do DAC pela ANAC. Podemos estar novamente
sujeitos a uma série de coisas, e precisamos resolver logo isso. Estou falando não
só do parapente, mas também de todas as modalidades aerodesportivas, que são
diversas.
O art. 17 nomeia as entidades de administração de desporto, as
confederações, federações e ligas. Não cabe ao legislador dizer qual é o nome da
entidade. Num Estado Democrático de Direito, sendo livre a associação, não
compete ao legislador dizer qual será o nome da entidade. O nome da minha é
Associação Brasileira de Parapente, que é uma entidade nacional de administração
desportiva.
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A Lei Pelé definiu, de modo corretíssimo, o que são as entidades nacionais de
administração, as entidades estaduais, os clubes de prática, que não estão aqui no
art. 17, e as ligas.
Solicitamos a supressão ou a modificação desse artigo, porque não se pode
supor que, se uma entidade se chama associação, ela sai perdendo. Não cabe isso.
Além do que, esse dispositivo apresenta flagrante inconstitucionalidade.
Quanto aos arts. 18 e 19, sugerimos a substituição da palavra “jurisdição”.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - V.Sa. vai entregar
tudo por escrito depois?
O SR. CLÁUDIO CONSUR - Sim.
Jurisdição é uma atribuição do juiz e não de entidade. Essa é uma questão
técnica a ser corrigida nos arts. 18 e 19.
O art. 30, que fala das ligas, é muito genérico e não faz especificações. Ele
define o que é liga, o que ela faz, mas não como ela se forma. Sugerimos que a liga
seja composta por reconhecidas entidades de prática etc. Fala que a liga pode
existir, pode se organizar, mas como ela se forma?! A lei não fala disso. É uma
questão muito importante para o desporto.
Contestamos também o art. 56, que fala sobre o desporto de alto rendimento.
O dispositivo refere-se somente a comitês olímpicos, paraolímpicos e federações
internacionais. Mas existem diversas modalidades e provas que não
necessariamente precisam estar referendadas por uma entidade internacional para
que sejam consideradas de alto rendimento, de alto nível.
O art. 150, que trata das delegações internacionais, deve abrir espaço para as
delegações internacionais, a fim de que consigamos enviar delegações de desporto
não-olímpico ao exterior, para competir. A maior frustração que tenho é ver no meu
esporte diversos campeões mundiais, equipes muito bem treinadas, mas sem um
tostão para que possa ir lá fora buscar o título. Todos ficamos aqui. Isso não pode
continuar assim.
O art. 222, que foi incluído, deixo isso de modo muito claro, em nome de
todas as modalidades aerodesportivas, diz o seguinte nas disposições finais e
transitórias: “Os esportes aeronáuticos, em suas diversas modalidades, são
abrangidos pela presente lei”. Como modalidade aerodesportiva, não podemos
permitir que uma autoridade da área de administração, que nunca viu um
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equipamento nosso e nunca praticou o esporte, imponha regras absurdas para a
prática do nosso esporte. Somos vítimas de uma série de absurdos inconcebíveis.
De uma vez por todas, vamos democratizar o espaço para o desporto não-olímpico
e também e inserir o desporto aeronáutico.
A destinação das verbas também é algo que deve ser democratizado. O
desporto olímpico é prioritário, mas não pode ser exclusividade.
Muito obrigado. (Palmas).
A SRA. PRESIDENTE (Deputada Mariângela Duarte) - Não é à-toa que
existem 70 modalidades por trás de tudo disso.
Reiterando a paciência e a disciplina dos senhores, concedo a palavra ao Sr.
Alexandre Machado, último orador, que falará sobre futebol durante por 4 minutos.
O SR. ALEXANDRE MACHADO - O grupo de futebol é grande. Todo mundo
sempre tem opiniões a respeito. Não tive tempo de fazer o relatório do grupo
Tentarei sintetizar o que discutimos. Três temas polarizaram a discussão: o futebol
de base, a arbitragem e os treinadores. Em meio a tudo isso, algumas opiniões
foram dadas sobre contratos de atleta e financiamento.
O Prof. Teixeira, Presidente do Sindicato dos Treinadores, entregou um
documento que sintetiza a opinião dos treinadores sobre os parágrafos do relatório
que dizem respeito ao papel dos treinadores ou da Comissão Técnica, conforme
está escrito no relatório.
O pessoal da arbitragem recentemente realizou encontro em Caldas Novas e
encaminhou documento à Deputada. No evento, foram feitas alterações na redação
e incluídas propostas.
Enfim, com relação ao futebol de base, a questão mais abordada foi a do fruto
da formação desses atletas. Algumas pessoas ligadas aos clubes mencionaram o
aspecto de haver duas abordagens. É uma discussão que existe; ou seja, existe
uma legislação específica que trata do futebol profissional e também — e aí entraria
o relatório — uma abordagem do futebol de base, definindo o que vem a ser o
futebol de base e, inclusive, o financiamento do futebol de base, não só nos clubes
profissionais, mas também nos clubes amadores, que não têm registro nas
federações e acabam se sentindo prejudicados. Essa discussão precede esse
debate, e aconteceu, inclusive, na Conferência Nacional do Esporte. Quando o atleta
é formado em clubes que aqui em São Paulo chamamos de CDMs, clubes de várzea
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ou clubes amadores e acaba tendo acesso a um clube profissional, aquele clube
original que participou da primeira formação desse atleta fica a ver navios, fica sem
ter nenhuma participação na negociação desse atleta quando ele se destaca e se
profissionaliza. Então, a reivindicação das ligas amadoras, dos clubes amadores,
dos clubes que não são federados é de que haja um mecanismo de participação
dessas organizações naquilo que venha a ser lucro, que acaba ficando única e
exclusivamente nas mãos dos clubes profissionais, enquanto aqueles pequenos
clubes acabam não tendo nenhuma participação.
Alguns especialistas na legislação do futebol profissional fizeram algumas
intervenções, ressaltando os aspectos de formalização desse negócio; ou seja, se o
atleta saiu de um CDM qualquer da cidade e ingressou em um clube profissional,
que esse CDM se atenha ao aspecto legal de formalizar essa negociação, que deixe
bem clara a sua participação em uma eventual negociação desse atleta e que ganhe
um percentual sobre a transação.
Mas, efetivamente, quanto ao substitutivo, foram poucos os aspectos... O
Rogério Caboclo, representante da Federação Paulista de Futebol, tratou de alguns
artigos específicos. Foram levantados aspectos de inconstitucionalidade da redação
e que, provavelmente, enfrentarão problemas para sua aprovação na Comissão de
Constituição e Justiça. Ele, inclusive, ficou de encaminhar isso para a Comissão
posteriormente. O Deputado Gilmar Machado estava presente quando ele fez a
intervenção e, provavelmente, deve ter registrado isso.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Vocês vão nos
mandar as propostas por escrito também, não é?
O SR. ALEXANDRE MACHADO - Exatamente.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Vocês sugerem que
haja uma lei específica para o futebol profissional e que, no Estatuto, o futebol de
base também seja contemplado. É mais ou isso o que vocês estão propondo?
O SR. ALEXANDRE MACHADO - Houve algumas observações nesse
sentido. A preocupação das pessoas ligadas diretamente ao futebol profissional,
seja nas federações ou nos clubes, é de que haja uma legislação específica que
trate do futebol profissional, futebol entretenimento, futebol negócio etc, e que o
Estatuto do Torcedor aborde especificamente a questão do futebol de base,
definindo o seu caráter.
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A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Entendi. Essa é a
sugestão do grupo. Como vocês vão mandar por escrito, podem até aprimorar
qualquer consideração que esclareça a verdadeira expressão do grupo. A
Presidência agradece.
Mais uma vez, muito obrigada a cada um dos relatores, a todos que aqui
compareceram e colaboraram para o êxito deste evento. Vocês são nossos
expositores, debatedores ad hoc. Nada mais fizemos do que cumprir nosso dever,
com garra e amor, porque, graças a Deus, nem todo político é salafrário. Há
pessoas boas em qualquer setor da vida. Espero em Deus jamais decepcionar o
nosso povo!
O melhor agradecimento que tenho a fazer a vocês é dizer-lhes: puxa! como
vocês nos estimulam a continuar! Para mim, a quem esse campo ainda é um
desafio, é incomensurável e até emocionante meu agradecimento.
Em segundo lugar, devido à atenção e à dedicação que vocês tiveram e ao
mesmo interesse que nos une — o esporte — o mínimo que posso fazer em
retribuição eficaz é garantir que defenderei muito a sério aquilo sobre o qual vocês
se debruçaram para nos sugerir, enriquecer e corrigir o nosso Estatuto.
Muito obrigada a todos.
Agora concederei a palavra ao Sr. Pagnani, para expor, dentro do tempo que
lhe foi atribuído, a questão do antidoping. S.Sa. acha que o Estatuto inova, mas que
ainda não define bem a questão.
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - Boa-tarde, Sra. Presidenta, senhores
dirigentes e componentes da Mesa, Sras. e Srs. Deputados, Prof. Pereira, da
Secretaria do Esporte da Prefeitura Municipal de São Paulo.
Pedi para fazer uso da palavra porque os maiores especialistas de controle
antidoping não se encontram aqui. Como Presidente da Associação Brasileira de
Estudos e Combate ao Doping, estudioso da área, professor e elaborador de vários
projetos de lei na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, tive a incumbência
de analisar as propostas do Capítulo II, onde se utilizam de terminologia do doping e
dopagem, e de fazer as alterações possíveis, a serem encaminhadas à Câmara,
onde serão analisadas em conformidade com o tratado que o Brasil tem com a
Agência Mundial de Antidoping.
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Portanto, a redação da maioria dos arts. 174 ao 270 está incorreta. Falta a
inclusão da Agência Mundial Antidoping como fator referendado. Suprimimos os
arts. 170 e 171, e lhes demos uma redação mais abrangente acerca do que
representa o doping. Entende-se pela prática de doping o uso de substância,
agentes e métodos capazes de alterar o desempenho artificialmente na performance
do atleta, em busca de melhor resultado, na quebra do espírito do jogo, seja dentro
ou fora das competições, de acordo com as normas do Código Mundial de
Antidoping. Então, suprimimos os arts. 170 e 171 e criamos um outro art. 171, que
institui a criação da Agência Nacional de Controle de Dopagem, que é de suma
importância, porque sem essa agência todo esse trabalho signatário vai por água
abaixo. Portanto, paralelamente à Agência Mundial de Antidoping que se crie entre
nós a Agência Nacional de Controle de Dopagem e que se suprima a Comissão
Nacional, da qual eu, o Dr. De Rose e outros fazemos parte, que então passaríamos
a compor a essa nova agência nacional. Seriam instituídos e remodelados todos os
modos e sistemas com vistas à padronização de controle antidoping no País.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Permita-me entender.
A regulação do acordo internacional, do qual o Brasil é signatário, exige que se
tenha isso internamente?
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - Exige. O Brasil pagou 169 mil dólares de
cota sul-americana para filiação. Praticamente, o nosso foi o único país a pagar à
Agência Nacional Antidoping — ADA, no Brasil traduzida como ANA.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) – A justificativa tem de
estar bem fundamentada.
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - Está bem fundamentada. Na redação do
171, justificamos o porquê disso — porque o Brail é signatário.
Na redação do art. 172, estabelecemos que o controle do exame antidoping
será responsabilidade das entidades de administração e de prática esportiva , seja
olímpica, seja paraolímpica, seja não-olímpica, de acordo com o Código Mundial de
Antidoping, bem assim com o Código Brasileiro de Justiça Esportiva. A justificativa
vem logo abaixo.
A redação do 173 fixa que as comissões de controle de antidoping a serem
instituídas no âmbito das entidades de administração ou de prática esportiva serão
regida em conformidade com a Agência Nacional de Antidoping, subordinada ao
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Código Mundial de Antidoping, adotados nas política de incentivo da União, dos
Estados e dos Municípios. Vamos dar uma estatística básica. Temos 71
modalidades esportivas. Nos esportes não olímpicos, 4 fazem controle de exame
antidoping; as demais, não, porque não têm condições financeiras. Dos esportes
olímpicos, o COB pode fornecer esses dados: somente nas Olimpíados e nos Jogos
Sul-Americanos e Pan-Americanos é feito o controle por exame antidoping, pago
pelo Comitê Olímpico. Fora isso, apenas 6 confederações olímpicas executam o
exame de controle antidoping por conta própria. Por isso, é importante o incentivo da
Lei Piva e que se peça também ao próprio Comitê Olímpico, já que ele faz a gestão
do dinheiro.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Só uma pergunta. Os
senhores estão acompanhando o debate sobre o projeto das agências reguladoras
que vai agora a votação?
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - Não acompanhei.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Essa é a minha
preocupação. Pedem coisas sobre as quais estamos debatendo exaustivamente no
Congresso. Essas agências têm grande autonomia. Elas deviam ficar na definição
dos marcos regulatórios, mas acabam tendo funções executivas, legislativas e
judiciárias. Então, é muito simples ir lá pedir e aqui se faz. O debate sobre as
agências está tomando conta ...
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - Talvez o termo “agência” não tenha sido
bem aplicado.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Não pretendo discutir
o assunto agora, só quero alertá-lo. Esse é um dos tópicos que têm merecido
absoluta urgência na Câmara dos Deputados. Formou-se uma comissão especial e
debateu-se exaustivamente a questão, que é muito complexa. Pode ser que o
dinheiro do esporte vá todo para uma agência. Como a agência tem autonomia
financeira, a questão torna-se extremamente complicada. Não estou querendo
vender gato por lebre. Levanto a questão não porque participe da Comissão, mas
porque a considero muito importante. Muito bem. Nós vamos votar agora o projeto
das agências reguladoras. A sua é uma agência reguladora. Então, dizem: “Eu só
quero isso”. Mas, de repente, ela vai ter de se adequar às normas projeto em
discussão no Congresso Nacional. A agência é um órgão muito dispendioso,
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extremamente dispendioso. Por exemplo, elas podiam, durante 2 anos, contratar
pessoal. Agora, estamos propondo no projeto que haja concurso público, com o que
elas vão ter quadro permanente de pessoal. Então, de repente, pode-se, por um
lado, lutar para o esporte ter dinheiro e o dinheiro ir i todo para uma agência.
O SR ALEXANDRE PAGNANI - Só estou colocando que o tratado é
internacional.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - O Brasil é signatário,
sei de tudo isso. Só quero alertá-lo para a necessidade de que, neste ínterim,
enquanto estivermos discutindo o estatuto, os senhores nos ajudem no sentido de
definir qual é a regulamentação. Brevemente o projeto entrará agora em votação. É
um dos 4 projetos prioritários do Congresso. Acompanhei a discussão; considero-a
da maior seriedade, mas uma agência é um organismo absolutamente dispendioso,
com despesas para a manutenção da sua estrutura e pagamento dos seus
servidores.
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - Então, que os Ministérios de alguma forma
transformem isso, porque o Brasil tem de cumprir o tratado de que signatário. Caso
contrário, não teremos controle de exame antidoping, e já temos 5 casos de morte,
quase uma epidemia. Essa é só uma proposição que estamos apresentando, porque
esses dias mesmo o Governo também deu 4 milhões para o Laboratório Ladetec e
os esportes olímpicos e não olímpicos não desfrutaram de nenhum exame de
controle antidoping gratuito. Essa é uma das situações que também ocorrem.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - O Governo brasileiro
deu isso?
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - O Ministério dos Esportes doou à UFRJ
para terminar de equipar o laboratório destinado a atender aos esportes olímpicos
durante a realização dos Jogos Pan-Americanos. Trata-se de uma exigência da
UADA. O único laboratório credenciado é o da UFRJ. A Comissão de Combate ao
Doping, como a chamamos, foi constituída assim, tem autonomia muito estreita.
Tudo tem que passar pelo Conselho Nacional do Esporte, que não tem domínio
técnico da área e incorre em vários erros e provoca vários impasses. A importação
de amostras para a realização do controle, a chegada e o envio das amostras
coletadas, tudo é um problema seriíssimo. Entra a Vigilância Sanitária no meio,
perdem-se amostras no aeroporto, porque elas ficam lá 1 més, e não se pode punir
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o atleta, se o resultado for positivo, porque já venceu o prazo. É uma dor de cabeça!
E, se não houver uma regulamentação, não vamos conseguir fazer controle de
dopagem. Vamos fazer uma fachada e dizer assim: ”Diga sim ao doping”.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Está bom. Mas isso é
uma coisa que temos que decidir tendo em vista o escopo geral da legislação
brasileira. Nós montarmos uma agência reguladora...
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - Qualquer que seja o nome que se dê a
esse órgão, ele vai ter de regular isso.
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Está bom. Conclua,
por favor.
O SR. ALEXANDRE PAGNANI - Por último, fizemos um acréscimo: que a
associação — por ter provocado todo isso, feito denúncias de tráfico, trabalhado na
realização de congressos, fóruns internacionais — seja incluída no Conselho
Nacional do Esporte. É de suma importância o trabalho da Associação Brasileira de
Estudos e Combate ao Doping. Ela tem dados de tudo, e vem trabalhando e
empenhando-se ativamente nessa questão, juntamente com os Estados.
Testemunha disso é o Estado São Paulo, que saiu na frente com uma campanha
antidoping. E assim estamos fazendo em várias Capitais brasileiras, como
sociedade civil de interesse público. O Ministério da Justiça nos reconhece como
entidade de interesse público. Por isso, pedimos a inclusão da associação no
Conselho Nacional de Esportes.
Muito obrigado. (Palmas.)
A SRA. PRESIDENTA (Deputada Mariângela Duarte) - Parabéns a V.Sa. pela
pertinácia, disciplina e competência com que realizou seu trabalho.
Este evento foi extraordinário. Agradeço aos nossos auxiliares, em especial à
minha equipe e à Dra. Paula. A Dra. Paula trabalha comigo há 10 anos; ela fica em
Brasília, mas faz uma semana que ela está aqui, organizando esta conferência e o
outro evento que realizamos sexta-feira. Eu também coordeno, na Câmara dos
Deputados, a Frente Parlamentar pela Reforma Política com Participação Popular. É
muito importante cuidarmos da reforma política, porque, se ela for feita só por
políticos, será muito ruim.
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Mais uma vez, obrigada a todos. Os senhores estão de parabéns. Que
possamos honrar a confiança que depositaram em nós e o trabalho que conosco
realizaram.
Parabéns a todos.
Muito obrigada. (Palmas.)
Está encerrada a reunião.