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OFÍCIO N. 01/2013

Caruaru, 18 /01/2013

Da: Pastoral Carcerária de Caruaru

Para: Secretaria de Ressocialização do Estado de Pernambuco

C/C:

Diocese de Caruaru, Vice- Governador de Pernambuco, Gerência

da PJPS, OAB- Caruaru, Secretaria Estadual de Direitos Humanos,

Juiz da Execução Penal de Caruaru, Ministério Publico Estadual,

GAJOP, Deputada Raquel Lyra.

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Vimos, através deste ofício, descrever, de acordo com o

depoimento dos detentos da Penitenciária Juiz Plácido de Souza

em Caruaru, um conjunto de ações de violações de direitos,

perpetradas em ação de revista naquela unidade prisional que

ferem o Estado de direito, as regras mínimas de tratamento para

reclusos e a LEP.

Nesse sentido, a partir das escutas iniciais, convocamos

outros membros da sociedade civil que nos acompanhassem na

escuta detalhada dos detentos, que conosco, percorreram as

várias alas da PJPS e que assinam com a Pastoral Carcerária de

Caruaru as denúncias que se seguem.

1. No dia 11 de dezembro de 2012 foi realizada revista na

unidade prisional a pedido a direção da unidade, como o

objetivo de busca de objetos ilícitos na unidade prisional, a

revista requisitada pela direção da unidade foi realizada

sob o comando do Coronel Clinton, acompanhado de

agentes penitenciários do Estado de Pernambuco e policiais

da Ciozac;

2. Compreendemos a revista como uma necessidade de

repressão as ações ilícitas no ambiente penal, inclusive

para a contenção da violência e do tráfico de drogas que

colocam em cheque a pacificação e a redução de conflitos

em unidades prisionais. No entanto, tal ação deve levar em

consideração os protocolos nacionais e internacionais em

que a revista ocorra dentro da legalidade e dos princípios

democráticos;

3. As narrativas que ora apresentaremos, demonstra o total

desrespeito a dignidade humana dos prisioneiros, na

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medida em que o objetivo da pena privativa de liberdade é

agir sobre a liberdade do prisioneiro e não da sua condição

humana e de sua dignidade. Os fatos merecem uma

profunda investigação, e ao mesmo tempo, apontam para a

necessidade de uma formação específica em direitos

humanos para os profissionais do Governo do Estado

responsáveis por sua realização, e comprometem

propostas como a do Pacto pela Vida na medida em que

violam direitos, desrespeitam a condição humana dos

prisioneiros, onde quem deveria representar a ordem e a

lei se comporta com violência psicológica, pratica de

vandalismo, realiza arrastão de objetos pessoais de

reclusos com consequências danosas para a imagem

democrática do governo do Estado de Pernambuco, na

medida em que não apenas os detentos, mas suas famílias

também denunciaram os atos criminosos praticados

naquela revista;

4. Segundo os detentos a revista foi realizada por um grande

número de profissionais de segurança, citados

anteriormente, que os mandaram sair na direção da

quadra, onde ficaram no sol, sem direito a banheiro, sem

tomar água das 8h às 13h ficaram sob sol forte, com sede

urinando e defecando naquele espaço, de onde escutavam

palavrões, acusações e ameaças;

5. Durante a revista estes profissionais de segurança

responsáveis pela revista fizeram pressão piscológica com

gritos, palavrões, ameaças de atirar, se os mesmos

reclamassem, além de palavrões com as suas famílias. O

ambiente foi de terror e medo, relataram que a qualquer

momento, por qualquer reclamação que algum detento

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fizesse, eram ameaçados de transferência, de apanhar, em

palavras dos detentos “tocaram terror”;

6. Outra denúncia de extrema gravidade que segundo

detentos, de todas as alas visitadas. Escutamos dos reclusos

que os profissionais que fizeram as revista “levaram”

pertences pessoais dos detentos, pedimos que

exemplificassem tais pertences: perfumes, relógios,

cordões, bijuterias, fotos das famílias, roupas, TVs, DVDs,

documentos pessoais, desaparecerem, roupas, dinheiro,

encontramos detentos que precisaram reunir roupas de

outros colegas por perderem todos os seus objetos de uso

pessoal;

7. Vimos reclusos com muito medo de falar, alguns preferiram

confirmar com a cabeça o que muitos presos nos narraram.

Também nos narraram que nas cantinas, recolheram TV,

DVD, microondas, ameaçando os cantineiros de transferi-

los se os mesmos negociassem a entrada de microondas

novamente. Requisitamos da unidade prisional circular ou

ofício que proibisse em todas as unidades do Estado de

Pernambuco o funcionamento de tais equipamentos nas

unidades prisionais, o que não nos foi apresentado,

parecendo uma ação exclusiva na PJPS, quando do ponto

de vista legal, sabemos da importância de normatização

para o que pode ou não pode funcionar nas unidades

prisionais e não apenas em uma ou outra unidade;

8. Os profissionais envolvidos na revista, de acordo com a

narrativa dos reclusos, bagunçaram com vandalismo o

interior da unidade prisional, tomaram caixas da bebida

Red bull e refrigerantes que abriam, bebiam e jogavam o

resto no chão, estragaram mercadorias das cantinas,

pacotes de salgadinhos foram abertos ao meio e

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pisoteados, pisados, copos descartáveis foram espalhados e

pisoteados também, carteiras de cigarros foram saqueadas,

os profissionais de acordo com as narrativas encheram os

bolsos e as roupas levaram, de forma desrespeitosa;

9. Levaram o computador da biblioteca que é utilizado para

empréstimos dos livros, e organização do acervo, sem

acesso a internet, sem ser utilizado prá qualquer objetivo

ilícito, mas serve as ações de educação e de Extensão

Universitária realizadas na PJPS, a biblioteca havia sido

organizada dentro da metodologia de organização técnica

de temas e títulos, mas as obras foram derrubadas sem

qualquer respeito, os livros foram derrubados no chão;

10. Levaram o computador da capela e o ar condicionado,

alegando que o uso de computador e ar naquele espaço

eram luxos, ainda quebraram a porta no interior da capela;

11. Os detentos afirmaram que foram provocados,

desmoralizados, humilhados e que não responderam, pois

o intuito daquela ação truculenta foi provocar uma rebelião

ou uma revolta, mas que suportaram as humilhações

constantes sem reagir, cumprindo as ordens que eram

determinadas;

12. Informaram que revistas sempre ocorrem e que são

recolhidos mais objetos ilícitos, no entanto, esta revista

ocorreu com imensa truculência, que reconhecem o direito

do Estado de conter a proliferação de condutas ilícitas e

que isso é importante inclusive para a segurança deles.

Através das denúncias que ouvimos dos detentos, ficamos

estarrecidos com o comportamento dos profissionais, razão

pela qual encaminhamos este ofício e pedimos

providências, na medida em que sabemos que no Brasil a

Prisão ainda não foi apresentada a democracia, o que pode

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ser verificado em qualquer visita as unidades prisionais do

país que refletem condições sub humanas de alojamento e

de ressocialização de prisioneiros e na PJPS também se

reflete este problema;

13. Ainda denunciamos a necessidade de interdição da PJPS no

sentido de proibir o aumento da população carcerária, com

capacidade para 98 detentos, abriga mais de 1400

detentos, as condições degradantes do ambiente violam a

dignidade humana dos prisioneiros, que confinados,

sobrevivem como animais abandonados em situação de

vulnerabilidade que difunde problemas de saúde em todos

os níveis e tornam o ambiente insalubre e dificultam

qualquer ação de ressocialização e pode comprometer as

ações sociais que são aprovadas pela comunidade de

Caruaru desde nas Gestões de Dr. Guilherme Azevedo e

Dra. Cirlene Rocha;

14. Além das questões acima tratadas, também requeremos

que as transferências de detentos da PJPS ocorram de

forma mais transparentes, com o aval do Poder Judiciário,

na medida em que vem ocorrendo transferências que

atingem prisioneiros com bom comportamento na unidade

prisional, que contribuem na difusão de valores positivos e

cujas transferências não levam em consideração outros

pareceres, senão aqueles determinados em ordens

internas, representando retrocessos significativos em um

Estado que já primou pelo reconhecimento dos Direitos

Humanos dos Prisioneiros;

15. Nesse sentido, requeremos que o governo do Estado de

Pernambuco e as instituições supracitadas se posicionem e

busquem verificar como estão sendo organizadas estas

revistas, mas que busquem qualificar melhor seus

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profissionais que ao saquearem, se apropriarem de objetos

pessoais e valores em dinheiro dos reclusos, na condição de

agentes do Estado, cometem crimes graves expressam um

Estado violador, cometem crimes tão graves como muitos

dos crimes cometidos pelos reclusos, mas infelizmente

acobertados por quem não pune nem verifica o que de fato

ocorreu;

16. Em um Estado de direito tais comportamentos são

inaceitáveis, em particular, por quem deveria defender o

direito e a legalidade, e na sua função constitucional, de

defender a ordem e a lei, comete crimes sob a função

estatal, violando a intimidade, a privacidade, a honra de

quem está sob a sua tutela: a pessoa humana do

prisioneiro;

17. Desta forma, encaminhamos a denúncia, pedimos a

apuração dos fatos, a punição das condutas criminosas, e a

devolução dos objetos “desaparecidos”. Além de

capacitação, formação específica em legalidade no Estado

de Direito”, Em Direitos Humanos no Sistema Penitenciário

para os profissionais responsáveis e envolvidos nas revistas

organizadas pelo Governo do Estado de Pernambuco, se

tomarmos como referência esta ocorrência na PJPS em

Caruaru, verificamos que estes agentes do Estado estão

totalmente desqualificados em equilíbrio emocional e legal

para a ação que deveriam realizar.

Nestes termos, pedimos deferimento e apuração dos fatos

em questão.

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Este documento é assinado pelas instituições envolvidas na

escuta dos prisioneiros que foi realizada 03 de janeiro de

2013.

Antônio Pereira Vasconcelos

Coordenação da Pastoral Carcerária de Caruaru

Profa. Dra. Ana Maria de Barros

Profa. Adjunta da UFPE – CAA, Grupo de Pesquisa:

Educação, Inclusão social e Direitos Humanos – UFPE/ CNPq

– CAA – Mestrado em Direitos Humanos da UFPE.

Profa. Msc. Maria Perpétua S. Dantas Jordão

Profa da ASCES, Coordenadora do EPJ da ASCES,

Coordenadora do Projeto de Adoção Jurídica de Cidadãos

Presos – Faculdade ASCES – EPJ

e

Voluntários

Lindalva Cordeiro de Lima

Jocélio de Castro Martins

Emiltton Rafael Junior

Maisa dos Santos Farias

Maria José da Conceição

Paulo Meneu Sobral

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Josafá de Lira Leal

Maria Josemary Gomes da Silva

Lucimary Elizabete Passos