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Um jornal do índio, para o índio e pelo índio COLLOR DEVE SABER Revoltante é como se pode definir o resultado da política indi- genista até hoje adotada no país. Suicídios, assassinatos, massacres, invasões de terras, estupros, doen- ças e uma série de outros males sociais que atingem aldeias indíge- nas passaram a ocupar grandes espaços na grande imprensa nacio- nal e internacional registrando o estado de abandono em que se encontra os índios brasileiros. (Leia editorial na página 2) Foto Paulo Cabral ÍNDIO COMI INTE» E VAI DENU: DESTI MEIO u ÍSTALA iCACí 11 .IéM. * ... ; .. i i

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Um jornal do índio, para o índio e pelo índio

COLLOR DEVE SABER Revoltante é como se pode

definir o resultado da política indi- genista até hoje adotada no país. Suicídios, assassinatos, massacres, invasões de terras, estupros, doen- ças e uma série de outros males sociais que atingem aldeias indíge- nas passaram a ocupar grandes espaços na grande imprensa nacio- nal e internacional registrando o estado de abandono em que se encontra os índios brasileiros. (Leia editorial na página 2)

Foto Paulo Cabral

ÍNDIO COMI INTE» E VAI DENU: DESTI MEIO

u

ÍSTALA iCACí

11 .IéM. ■*■...■■; ..■■■■i i

Miiusim Abril/ Maio

O que Collor precisa saber Revoltante é como se

pode definir o resultado da política indigenista até hoje adotada no país. Suicídios, assassinatos, invasões de terras, estu- pros, doenças e uma série de outros males sociais que atingem as aldeias indígenas passa- ram a ocupar espaços na grande imprensa registrando o estado de abandono em que se encontra os índios brasi- leiros.

É de se esperar que o novo Governo, cujo Pre- sidente tem anunciado ser uma preocupação sua o resgate da justiça para os povos indígenas, assuma uma posição qüe não fique apenas na retórica, mas se traduza em gestos e ações capa- zes de dar um fim a essas agressões sofridas por nossos irmãos índios, protegendo-os contra as invasões de suas terras, garantindo-lhes o direito

ELIANE POTIGUARA

à saúde e à educação, dando-lhes condições de auto-sufíciência eco- nômica, através de uma política de incentivos ao desenvolvimento de suas terras, da pesca, da mineração, do arte- sanato e outras ativida- des produtivas, sem descuidar, mas ao con- trário, respeitar sua identidade, preservando sua cultura e suas tradi- ções.

Isso, no entanto, só existirá na prática se uma política indigenista, nascida sob a égide da defesa das populações indígenas, e do que determina a Constitui- ção, for aplicada. Para isso, porém, as comuni- dades indígenas devem ser ouvidas, consultados os seus interesses, decla- radas as suas necessida- des. A prática de

medidas tomadas nos gabinetes refrigerados, por pessoas quase sem- pre distanciadas da rea- lidade desses povos, tem resultado nisso que a grande imprensa vem registrando: morte e destruição.

Fala-se em extinção da Funai e sua substitui- ção por outro órgão. O Presidente anuncia medidas transferindo para os ministérios espe- cíficos assistência à saúde e à educação. Será que isso vai dar certo?

O que o Presidente Collor precisa ouvir é que não será extinguindo a Funai e substituindo-a por outro órgão ou pas- sando os problemas da saúde e educação para os respectivos ministé- rios que o quadro atual de abandono em que se encontra as populações

indígenas será revertido. Esse quadro só será

revertido, efetivamente, a partir do momento em que o Governo lote os postos de saúde exis- tentes nas aldeias de médicos e enfermeiros competentes, construa hospitais, promova o ensino bilíngüe, onde todas as matérias do currículo escolar comum a todas as crianças bra- sileiras seja aplicado, incentive a agricultura, oferecendo inclusive formação de técnicos agrícolas aos índios que trabalham a terra, esti- mule o artesanato, e que deixe os índios em paz para que construam seu próprio destino, sem paternalismo demagó- gico.

E, acima de tudo, que cumpra rigorosamente o que determina a Cons- tituição.

Eliane Potiguara. professora e escritora, é presidente do GRUMIN.

yid+sa^

GRUMIN forma Conselho Consultivo

- A Coordenação do GRUMIN — Grupo Mulher-Educação Indígena, em sua última reunião, decidiu convidar para compor o seu Conselho Con- sultivo personalidades das diversas áreas de ativida- des humanas e segmentos da sociedade, com o obje- tivo de através da valiosa contribuição de assessora- mento dessas pessoas melhor encaminhar suas pro- postas de trabalho e realização de projetos da entidade.

São as seguintes as personalidades convidadas para o Conselho Consultivo: Senador Darcy Ribeiro (Antropologia e Política Nacional); Orlando Val- verde (Ecologia e Meio Ambiente); Betty Mindlin (Antropologia e Etnologia); Olímpio Serra (Antro- pologia e Identidade Indígena); Deputado Sérgio Arouca (Saúde); Deputada Benedita da Silva (Mu- lher e Raça); Vereadora Lícia Ruça Caniné (Direi- tos Humanos); Paulo Freire (Educação); Branca Moreira Alves (Direitos da Mulher); Modesto da Silveira (Direito); Antônio Olímpio de Sant'Ana (Ecumenismo e Combate ao Racismo); Dom Pedro Casaldáliga, Bispo de São Félix do Araguia (Direitos Humanos e Igreja); Megaron Txukarra- mãe (Identidade Indígena); Marcos Terena (Direitos Indígenas); João Jorge (Cultura Popular; e Alcino Soeiro, ABI (Comunicação Social).

MilUZIÜI GRUPO MULHER EDUCAÇÃO INDÍGENA

Pelo Direito à vida

Entidade de Direito Público, sem fins lucrativos, registrada sob o n" 96.343 — Livro A 29, no Registro Civil de Pessoas Jurídicas do Rio de Janeiro, em 4/12/1987. Coordenação: ELIANE POTIGUARA Rua da Quitanda 185 — sala 503 — Cep: 20,091 — Rio de Janeiro-Rio Telefone: (021) 293-1745 Conselho Coordenador do GRUMIN

Potiguara (Paraíba) — Maria Nilda Faustino, Valda Batista, Zcnilda Tuxá, Incs Potiguara, Severina Faustino, Maria Vidal.' Pankararu (Pernambuco) Quitcria Pankararu, Maria Pankararu Xucuru-Kariri (Alagoas) Quitcria Celestino da Silva Kaigang (Paraná) Genilda Kaigang Bakairi (Mato Grosso) Vilinta Taukanc, Doroty Mayron Xavante (Mato Grosso) Sababa' Carmem Xavante Terena (Mato-Grosso) Nilda Cândido, Miriam Terena, Dona Neuza, Lurdes Terena Bororó (Mato Grosso) Maria Auxiliadora Bakaromugo Pareci (Mato Grosso) Chiquinha Pareci Guarani (Rio Grande do Sul) Hilda Zimmermman (ANAI) Kaigang (Rio Grande do Sul) Andila Inácio Dessana (Amazonas) Deolinda Prado Kaiapó (Pará) Tuíra Kaiowá (Mato Grosso do Sul) Anahí Kaiowá Karajá (Goiás) Inê Karajá

Jornal do GRUMIN

Diretora Responsável: Eliane Potiguara Lima dos Santos Editor: Alcino Soeiro (Reg. 11,170 - MTRJ) Redação: Alcino Soeiro, Paulo Thiago de Mello e Marco Antônio Pereira Fotografia: Renato Telles, Paulo Cabral, Mila Petrillo, Martha Nascimento, Silvia Civatti e Theodoro Diagramação: Luiz Carlos Frango Ilustração: Ykenga Fotocomposição e Montagem: Gráfica Mory (Jornal O POVO) Fotolitos c Impressão: Gráfica do Sindicato dos Bancários - RJ Redação: Rua da Quitanda, 185 sala 503 - RJ - CEP 20.091 Telefone: 021-293-1745 Apoio para esta edição: Sindicato dos Bancários-RJ; Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do RJ; Associação Brasileira de Imprensa; Alfredo Nascimento; e Editora Mory (Jornal O PPVO)

Abril/ Maio MLUJZIIM 3

Foto Mila Petrillo

500 anos de resistência

índio cria Comitê Intertribal e vai à Rio-92 denunciar destruição

Em abril, quatrocentos chefes indígenas estarão reunidos em Bra- sília para uma avaliação dos estra- gos produzidos na natureza pela ação predatória do homem da cidade, em nome do progresso e do desenvolvimento econômico, para denunciar fatos que compro- metem a ecologia e até o ecossis- tema do planeta, na grande confe- rência internacional sobre ecologia que terá lugar no Rio de Janeiro em 92.

Essa foi uma decisão resultante do encontro de lideranças indíge- nas de todo o País, em Brasília, em 21 de fevereiro, quando do lan- çamento do "Comitê Intertribal 300 Anos de Resistência", onde foram discutidos assuntos que vão

"Posso ser como você é, sem deixar de ser quem sou"

desde a política indigenista prati- cada no Brasil até hoje, à participa- ção dos índios no Encontro Mun- dial sobre Ecologia em 92,"não como peça exótica" - como afirmam em documento tirado ao final do encontro de Brasília , mas como "primeiro ecologista do planeta".

"O mundo deve aprender com o índio a respeitar sua magia, seu mistério, compreender sua íntima relação com o céu, o sol, a lua, com a terra, com o água" — afirma o documento tirado do encontro, que reuniu as mais importantes lideranças indígenas brasileiras, entre elas a dos caciques Raoni, Aritana, Megaron Txucarramãe, diretor do Parque do Xingu, Benja- mim, Marcos Terena, fundador da União das Nações Indígenas, Álvaro Tukano, Aílton Krenak, coordenador da UNI, e também pelas mulheres índias Eliane Poti- guara, presidente do Grumin - Grupo Mulher-Educação Indígena, Doroty Bakairi, indigenista em Mato Grosso, Anahi Kaiwá e Qui- téria Pankararu.

Com um texto de 12 folhas, os índios em seu manifesto de lança- mento do Comitê Intertribal 500 Anos de Resistência destacam a

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Marcos Terena, na instalação do Comitê Intertribal, observa que nas cidades a morte das crianças significa diminuição das despesas do povo brasileiro. "Nós índios queremos nossos filhos vivos"

necessidade de uma participação efetiva dos 180 povos indígenas existentes no Brasil, conclamando- os à unidade em tomo da luta que prossegue ainda, mesmo após terem decorridos 500 anos de invasão do povo europeu no continente americano.

Uma luta que, segundo assinala o documento, hoje tem característi- cas modemas como o próprio tempo em que vivemos. Luta por melho- res condições de vida que vão desde uma assistência efetiva de saúde, de educação, até mesmo de capacitação profissional, pois que o índio exige sua participação no processo produtivo do País.

"O mundo deve aprender com o índio a respeitar sua magia, seu mistério, compreender sua íntima relação com o céu, ò sol, a lua, com a terra, com a água".

O Comitê Intertribal é uma forma de resistência indígena ao processo de destruição da natureza e da casa de todos nós: o planeta, o uni- verso. É preciso meditar com a natureza o avanço tecnológico do homem, pois muitos em nome da paz constróem verdadeiras plata- formas de guerra. O Congresso promovido pela ONU, no Rio, irá reunir especialistas, observadores e teóricos, quase todos com experi- ência adquirida no contato com o homem da terra e seu método de bem-viver.

Com essa definição de princí- pios, foi instalado o Comitê Inter- tribal, em Brasília, na sede do Sin- dicato dos Professores, cuja soleni-

dade contou com a presença de representantes dos povos Tikuna, Kaiapó, Terena, Pankararu, Poti- guara, Kaiowá, Bororó, Pareci e Karajá. O Comitê é integrado por setenta nações indígenas, das 180 existentes no Brasil, e já está em fase de organização o lançamento dos subcomitês regionais, estando previstos para este semestre os da Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo, Mato Grosso, Pernambuco e Ama- zonas. No documento tirado da reu- nião, os índios exigem ter voz na Rio-92, sob o seguinte argu- mento: "Não podemos admitir como índios e como brasileiros que um simples evento defina a salvação do planeta, a preservação da Amazônia, deixando de lado toda a catástrofe social legada ao índio nesses 500 anos de domina- ção. A destruição também deve ser avaliada, e mesmo fazendo parte de um país de terceiro mundo, lembrando apenas como fonte de matéria-prima e por seu futebol e carnaval, o índio reivindicará ter voz. Quem melhor conhece o rio Araguaia, como os Jawaé e Karajá? Quem melhor conhece os pampas, como os Kaingangue e Guarani? Quem melhor conhece o Pantanal, como os Guató, Kadiwéus e Terena? Quem domina melhor os seringais, como os Kampa e Kaxinawá? Quem melhor conhece as águas marinhas como os Pataxó e Poti- guara? Quem melhor administra os cerrados, como os Xavante, Bakairi, Bororó e Kraô? Quem melhor conhece a Amazônia, como os Mundurucu, Yanomami, Ticuna, Sateré e Tukano? Ou quem conhece melhor os lavrados, como os Macuxi? Se o homem branco quiser, poderá recuperar sua* alma

nativa junto com os índios. O progresso deve ser feito para

todos e não para beneficiar apenas alguns, como tem ocorrido. Não somos contra o progresso, mas temos muita preocupação como povos indígenas, quando vemos o mundo do homem "civilizado" doente. Suas crianças estão aban- donadas, sem casa e sem comida; apesar de muitas terras, as favelas estão proliferando; e tanto quanto o bem, o ruim é construído para

"O Comitê Intertribal é uma forma de resistência ao processo de destruição da natureza".

o próprio construtor, o homem". O Comitê Intertribal vai ao longo

desses dois anos desenvolver várias etapas de trabalho em todo o país, que culminarão com o Encontro dos Povos Indígenas da América, também em 92, quando da realiza- ção do Congresso sobre Meio Ambiente, promovido pela ONU, no Rio de Janeiro.

O Comitê será dividido em várias comissões, como finanças, política e social, cultura, tradição e esporte. É formado por uma equipe de cinco membros titulares, cinco suplentes e cinqüenta mem- bros conselheiros. Membros efeti- vos: Marcos Terena — coordena- ção geral; Eliane Potiguara — arti- culação política; Megaron Txukar- ramãe — articulação da área inter- nacional; Idjarruri Karajá — coor- denação financeira; e Anahi Kaiwá — articulação na área acadêmica.

Suplentes: Álvaro Tukano; Pau- lo Paiakán; Aldemício Tikuna; Doroty Mayron e Daniel Cabixi.

4 rrkiusim Abril/Maio ÍHLUJSIIM 5

Dorothy: o posto

Seria fundamental para os povos indígenas que a política indigenista fosse executada com sua participação direta e efe- tiva, pois só assim o Bra- sil criaria condições de oferecer ao mundo uma imagem limpa de um país em que os direitos cons- titucionais desses povos são fielmente observados, num clima de paz e de prosperidade. Bastaria isso para que cessassem os con- flitos com os invasores de terras, a cultura e as tra- dições desses povos pudessem ser exercidas sem a interferência de estranhos, a saúde e a edu- cação garantidas, o traba- lho na terra desenvolvido, a natureza respeitada.

A presença, portanto, de um índio na chefia de um posto da Funai signi- fica um avanço nesse movimento, pois ele melhor que um estranho à sua gente sabe avaliar melhor as necessidades do seu povo. Mas o êxito de sua missão dependerá, naturalmente, do apoio que as autoridades do órgão lhes dê e, mais que isso, da sensibilidade desses administradores para as questões cruciais de cada aldeia.

Dorothy Mayron, índia Bakairi, 38 anos, mãe de uma menina de 11 anos, apesar de poucc* estudos, aprendeu com a vida junto ao seu povo, no dia-a-dia de suas lutas por melhores condições de vida, essa lição, e é com esses prin- cípios que vem desenvol- vendo há três anos a difí- cil tarefa de ser chefe do posto indígena do povo Bakairi.

— No início — diz Dorothy — o fato de ser mulher tomou um pouco difícil o meu relaciona- mento com os meus supe- riores da administração de Rondonópolis. Até mesmo com meus irmãos Bakairi tive algumas difi-

uma índia chefia indígena bakairi

Foto Theodoro

Foto Eliane Potiguara

Dorothy Mayron é otimista quanto à organização indígena

culdades para impor, nào digo minha autoridade, mas para executar meu trabalho. Aos poucos, porém, todos foram vendo que o fato de eu ser mulher, filha de uma mãe guerreira, tendo meus avós ancestrais lutadores, só me fortalecia e me dava condições de lutar pelo meu povo. Meus avós nunca se calaram. E eu fui preparada por minha mãe para enfrentar qual- quer luta, por pior que fosse. E hoje eu sou pres- tigiada pelo meu povo.

Grumin — Como é ser mulher e chefe de posto, ao mesmo tempo?

Dorothy — Não vejo nenhuma diferença em ser mulher ou ser homem no trabalho, na luta. É claro que para a mulher há mais sobrecarga, pois ela tem a responsabilidade da assistência direta à famí- lia, aos filhos. Para ser chefe de um posto primeiro tem que se conhecer muito bem a política interna de cada aldeia e manter um relacionamento estreito e irmão com as lideranças da área. Depois a gente tem que não só encami- nhar as reivindicações do povo à Funai, mas lutar, lutar muito para que elas sejam atendidas, porque

são sempre justas, e a falta de uma resposta positiva a uma delas significa um desgaste muito grande para a gente.

Grumin — Qual o maior problema do povo Bakairi e da mulher Bakairi, em particular.

Dorothy — Eu acho que não há muita diferença entre os problemas enfren- tados pelos Bakairi e os outros povos indígenas. Todos têm falta de tudo, saúde, educação, apoio para desenvolver suas ter- ras, defender seus direitos, suas culturas, e enfrentar os destruidores da natu- reza, os invasores de nos- sos territórios.

Grumin — E qual a saída que você aponta para a solução desses pro- blemas?

Dorothy — Primeiro de tudo, a organização do nosso povo, criando as condições políticas que fortaleçam a nossa luta. Depois, encontrar novas formas de luta para que as autoridades do país façam respeitar os nossos direitos que estão escritos na Constituição e que devem servir como base da política indigenista que todos nós queremos ver executada.

As mulheres bakairis no seu primeiro encontro de organização

Grumin se instala entre os bakairis Ao ser instalada

| a Coordenadoria do GRUMIN — Grupo Mulher-Educação Indígena na Aldeia Bakairi, em Parana- tinga, no extremo

norte do Mato Grosso, onde vivem mais de 3.000 índios, em 30 de dezembro do ano passado, em assembléia da qual participaram cerca de 100 mulheres, o descon- tentamento com a política indige- nista até agora adotada, o aban- dono a que estão relegados não só o hospital local, construído no início do século, as sete escolas destinadas à alfabetização bilíngüe das crianças e adultos, e a falta de um programa de auto-sustenta- ção econômica para a região foram as mais sentidas reclamações fei- tas durante a reunião.

Para Vilinta Taukane, 60 anos, diretora do Museu Bakairi, nascida na aldeia, e que foi escolhida para coordenar o trabalho do GRUMIN naquela área indígena, a vida de seu povo só pode alcançar padrões dignos se em primeiro lugar a polí- tica indigenista sofrer sérias trans- formações, a partir de um apoio mais efetivo na área da educação, da saúde e se forem aplicados pro- gramas emergenciais capazes de desenvolver as terras Bakairi, res- gatando o processo de auto-susten- tação econômica que um dia já tiveram. Também o resgate dos valores culturais e o fortalecimento das famílias são fundamentais para o desenvolvimento de uma comu- nidade forte e segura. Salienta, também, o papel reservado à mulher na condução desse processo de libertação. Mas, para isso, res-

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Foto Theodoro

Professores bakairi que já estão adotando a cartilha do Grumin, "A Terra é a Mãe do índio", defronte ao Museu Oficina Kuikare —

salva ser necessária a organização das mulheres, para desempenhar trabalhos que vão desde à conscien- tização do povo para os seus pro- blemas e soluções, até a unidade na luta em torno dessas soluções.

Cartilha do GRUMIN

De autoria de Eliane Potiguara, presidente do GRUMIN, a cartilha "A Terra é a Mãe do índio" teve seu lançamento no Museu Bakairi, durante o encontro. Todos os pro-

fessores das sete escolas distribuí- das naquela área indígena estive- ram presentes dicutindo novas for- mas de atuação na política educa- cional do índio.

Todos foram unânimes em afir- mar não ser possível trabalhar com a eficiência desejada, na medida em que desde as próprias condi- ções físicas das escolas, até a falta de material didático, passando pela ausência da merenda para as crian- ças, tomam a tarefa do professor de difícil execução.

Reclamações têm sido dirigidas à Funai sem que até agora qual- quer providência no sentido de soluciohar esses problemas tenha sido adotada pelo órgão. Nem mesmo a presença do presidente da Funai, Cantídio Guerreiro, no final do ano, e o compromisso assumido por este de dotar a aldeia Bakairi de uma infra- estrutura educacional que atenda às exigências locais resultaram em alguma coisa de positivo para professores e alunos.

Ato público de caciques marcam ano novo bakairi Os índios Bakairi

decidiram romper o ano de 91 bem ao seu modo. É claro, houve festa, com música e muita dança. Mas em meio a isso tudo, houve espaço destinado a um ato público de protesto contra a política indige- nista até agora apíicada no Brasil, por seis caci- ques Bakairi e outras lide- ranças indígenas.

Improvisada em palan- que, a carroceria de um caminhão serviu para que dez lideranças indígenas falassem para um público formado por trezentos índios, todos destacando a necessidade de que a década de 91, agora ini- ciada, venha a registrar avanços significativos no trato da questão indígena pelo Governo.

"Não queremos mais a indiferença à nossa dor, nem que persistam a injus- tiça, a incompreensão, o desrespeito aos nossos direitos" foram a tônica dos discursos. A questão da terra, a educação, saúde e, sobretudo a sobrevivên- cia condigna dos índios teve destaque em cada pronunciamento. Uma revisão^ total na política indigenista adotada, base- ada nò cumprimento da Constituição brasileira, foi reclamada.

"Não adianta chegarem

Foto Theodoro

No ato público, o protesto dos caciques

aqui os homens que man- dam na Funai, tomarem conhecimento de nossas necessidades, nos enche- rem de promessas de um futuro melhor, com saúde, educação, apoio ao nosso desenvolvimento agrícola e outras coisas mais e depois nada vermos con- cretizado" — disse, por exemplo, o coordenador de assuntos indígenas do Estado de Mato Grosso, Odenir Moura.

"O que todos nós índios queremos não é um trata- mento paternalista por parte do Governo. O que nós queremos é uma polí- tica indigenista voltada para os nossos interesses, que façam justiça à nossa gente, e que nos assegure bem-estar. Basta de ser- mos tratados como uma

população marginal dentro de nossa própria terra, ou como incapazes de gerir nossos próprios destinos. Basta de opressão e vio- lência. Exigimos respeito à nossa dignidade huma- na" — salientou a presi- dente do Grupo Mulher- Educação Indígena, Eliane Potiguara.

Falaram ainda o índio Estevão Taukani da UNI sobre a democratização do Movimento Indígena, e todos os participantes do Comitê Intertribal dos 500 Anos presentes ao ato.

Depois veio a festa, comemorando-se a passa- gem do Ano-Novo, com muita música e danças em tomo de uma grande fogueira onde foram assa- dos inhame, mandioca e batata-doce.

Os bakairis

O sexo feminino prevalece entre or» índios Bakairi, do município de Paranatinga, norte do Mato Grosso, representando mais de 60% da população. São

fortes, muito ativas e se dedicam com extremo carinho aos seus filhos. A pre- sença de moças e moços solteiros é mar- cante, devido ao elevado número de jovens e crianças. São muito alegres, gostam muito de música e fins de semana praticam a dança, no centro da aldeia. Por sua proximidade com a cidade, o ritmo e as músicas executa- das refletem a cultura mato-grossense.

Povo trabalhador, o Bakairi preo- cupa-se muito com a sua formação aca-

dêmica e profissional, até mesmo de nível superior, como é o caso de muitos índios que almejam ingresso nas univer- sidades para se formarem em médicos, professores, advogados, engenheiros, mas com o compromisso de servirem à sua comunidade, como é o caso de Estevão Taukane.

A razão da presença do GRUMIN na aldeia Bakairi tem, portanto, funda- mental importância de apoio, para a conquista dessa pretensão, mas segundo sua coordenadora local, Vilinta Tau- kane, é importante que ao ter %ce à educação e à cultura o índio tenha tam- bém consciência da necessidade da e- servação da sua identidade Índigo e não se afaste da sua comunidade.

FITdJSMM INTERNACIONAL Abril Maio

índio americano pede à ONU apoio ao índio brasileiro

Mais de 1.500 índios norte-americanos, representando as tribos Cheienne, Sioux. Apache. Dakota. Wine-

bajo, Navajo e outras, e índios do Alaska. Canadá e México, participaram do 47'-' Congresso Nacional dos índios Americanos, ia cidade de Albuquerque, em Novo México. Nesse encontro, que é realizado anualmente, foi feita uma avaliação das condi- ções políticas e econômicas dos povos indígenas da América.

Diferentemente do Brasil, o índio norte-americano já não mais discute problemas como demarcação de terras, pois isso já foi superado desde a assina- tura dos tratados com o Governo, ou de educação, pois que dis- põem até mesmo de univer- sidades próprias, ou ainda de sua participação na vida produ- tiva do país. uma vez que dis- põem de empresas que vão desde o pequeno comércio até mesmo à grande indústria. Lá também tão são discutidos problemas dementares como o do direito à saúde, pois têm sua própria organização hospitalar, com estabelecimentos administrados pelos próprios índios e com um corpo médico também formado por índios.

""Um novo federalismo em nossos termos'" foi o tema prin- cipal das discussões havidas no Congresso, pois apesar dos Esta- dos Unidos serem uma Federa- ção à qual estão integradas as reservas indígenas, pretendem os índios norte-americanos parti- ciparem do orçamento federal com maiores dotações de verbas.

Como no Brasil — resguar- dadas as devidas proporções

Documento à ONU -

CONSIDERANDO, que o "ongrcsso Nacional dos índios \orte-Amcricanos, reconhece que mais de um bilhão de índios incluindo Canadá. EUA. México, países da Amcrcia do Sul c Central foram afe- tados pelos efeitos do Colonialismo e Racismo,

CONSIDERANDO, que Eliane Poliguara representando o Movimento indígena brasileiro, em particular o GRUMIN (Grupo Mulher-Educação Indígena) participou do nosso 47'-' Congresso e falou do horror, do geno- cídio físico e cultural causados pelas Multinacionais, governos, igrejas rea- cionárias e antropólogos ligados ao poder, pede no^sa solidariedade,

CONSIDERANDO, que os líde- res espirituais de 17 nações indíge- nas Norte-Americanas estão orando nesse momento por essa representante e que os povos indígenas dos Esta- dos Unidos lutarão pela sobrevivên- cia dos índios do Brasil,

CONSIDERANDO, que a Decla- ração de Direitos Humanos da ONU' artigo 1, 13, 15, 55, 56 e 78 garante

Fotos Eliane Potiguara

Houve manifestações de danças e religiosidade indígenas

— também nos EUA existe uma Funai que atende pelo nome de BIA. Só que esse birô é administrado pelos próprios índios e cumpre uma política de ação que é determinada por um grande conselho formado por representantes das diversas reservas. Por convite especial, participou como conferencista ao 47" Congresso, representando o movimento indígena brasileiro, a presidente do GRUMIN, Eliane Potiguara, que falou das dificul- dades em que vive o índio brasi- leiro, que vão desde a falta de uma demarcação justa das suas terras a uma política indigenista que contemple esses povos de um programa eficaz de saúde, educação e desenvolvimento

político, social e econômico. Denunciou o processo de vio-

lência que ainda está em marcha no Brasil contra os povos indíge- nas, provocado por invasores latifundiários, mineradores e madeireiros, a discriminação social e racial que sofrem e a indiferença com que a sociedade envolvente encara esses graves problemas. Citou casos de expul- são de índios de suas terras, repressão e até mesmo crimes que sistematicamente são come- tidos contra a sua gente, e que permanecem impunes pela Justiça, como são os casos dos assassinatos de caciques como Marcai Tupã Y, Ângelo Kretã, Simão Bororó, os treze índios Tikuna mortos por emboscada

na cidade de Capacete, no Alto Solimões, e de uma infinidade de outros crimes que mesmo apuradas as responsabilidades não foram capazes de levar Os seus autores ao banco dos réus, E que quando vão, os processos são formados com tantas imper- feições que os autores desses crimes são absolvidos. Em con- seqüência das denúncias, devi- damente documentadas levadas pela representante brasileira, o 47- Congresso dos índios Ame- ricanos tirou uma resolução, encaminhada à Organização das Nações Unidas (ONU), com cópia para o Governo brasileiro, que foi entregue ao Ministro da Justiça, Jarbas Passarinho, no seguinte teor:

os Direitos indígenas, declarou a "Década de Combate à Discrimina- ção Racial e Social" e que está traba- lhando para combater o Racismo no mundo inteiro.

PORTANTO ESTÁ RESOLVIDO, que a 47a assembléia do NCAI, reali- zada em Albuquerque de 12 a 16 de novembro de 1990 representada pela diretora-executiva, 2 vice-Presidentes encontraram com B.G. RAMCHA- RAN, principal oficial da Secretaria- Geral da ONU, providenciaram ime- diata investigação da violação dos Direitos Humanos aos Povos indíge- nas do Brasil e exigem que cesse o genocídio às 180 nações indígenas que vem destruindo suas vidas, ter- ras, línguas, cultura, religiões e digni- dade.

DIANTE DISSO FOI RESOL- VIDO: O Comitê executivo do Con- gresso Nacional dos índios Norte- Americanos exerce uma forte influên- cia na Organização dos Estados Uni- dos e pede .ao governo Brasileiro as

.seguintes açõeS: eliminar o Racismo •áos povos indfgénas do Brasil, demar- car as terras das 180 nações indíge-

Fofo Pat Locks

Red Crown, histórica liderança Sioux, apresentou a representante do movimento indígena brasileiro, Eliane Potiguara, durante o Congresso dos índios americanos, presidido por Waine Ducheneaux (centro) e Raymond Apodaca

nas como manda a nova Constituição Brasileira, estabelecer um emergente programa de saúde e educação: Remover um milhão de garimpeiros das florestas Amazônicas que estão destruindo a subsistência dos Povos e o balanço ecológico do Brasil e do mundo.

DIANTE DISSO FOI DECIDIDO, que a Diretora-Executiva e seus mem-

bros aguardam as atividades e os pro- gressos que irão apoiar as nossas irmãs e irmãos indígenas do Brasil.

APPROVED BY UNA- NIMOUS CONSET

Wayne Ducheneaux, President National Congress of American

Indians

November 14, 1990

Na América "descoberta"

tem contestação em Ato

Três organizações indígenas norte-americanas — SAIIC, IITC e Inter-Tribe — vão promover, em 1992, quando do 500" ano da chegada dos europeus à América, um grande ato público de contestação à colonização dos povos ameríndios e à tomada de suas terras.

Para esse ato, serão convidados índios das três Américas, inclusive índios brasileiros, e a manifestação se dará possivelmente na cidade de São Francisco, constando desse ato seis temas principais: preservação das terras indígenas: liberdade de religião (defesa e proteção das áreas indígenas sagradas): garantia dos direitos dos índios: educação com respeito à língua e cultura indígenas: maiores investimentos governamentais para o desenvolvimento sócio-econômico dos povos indígenas; e o reconhecimento mundial do Ano de 1992, como o "ANO DOS POVOS INDÍGENAS",

Abril/ Maio rfTFníTTm ? Raoni deu apoio à organização das mulheres como estratégia de luta do movimento indígena

Foto Eliane Potiguara

Dona Neuza pediu o apoio de Raoni para a luta das mães e avós índias, em suas aldeias

Questões como saúde, educação, trabalho e organização das mulheres indígenas foram longamente discutidas durante os três dias de realização do Seminário

da Mulher Indígena, promovido pelo Grupo Mulher-Educação Indígena tGRUMIN), gm Brasília. ^^x

Do encontro do qual participaram mujjieres representantes de diversas cpmwtfidades indígenas espalhadas pdo pat<e que foi prestigiado por Roani, Marcos Terena e Estevão Taukane(UNI) ficou^videnciadaanecessidade de providências urgentes dos órgãos do Governo ligados à saúde, à educação e à promoção social, que venham a solucionar os graves problemas que afetam aquelas comunidades.

A ausência de médicos nos postos e de um programa de pronto-socorro para atender principalmente às gestantes com dificuldades no parto, como é o caso de abortos espontâneos, que com alguma freqüência acontecem, tumores uterinos e nos seios, e assistência às crianças das aldeias, acometidas por febres endêmicas, doenças de pele. gastrointestinais e outras complicações. Constituiram-se nas principais preocupações das mulheres presentes no seminário como denunciou Quitéria Pankararu. com a experiência comunitária que tem no exercício de sua liderança junto ao povo Pankararu. "Na minha aldeia temos que caminhar léguas em busca de socorro médico para casos que nós índias não sabemos cuidar, como o de homorragia causada por abortos espontâneos. Nós temos posto médico, mas não tem médico. Temos farmácia, mas não tem remédio. É tudo muito difícil" —, relatou Quitéria.

Chiquinha Pareci, professora indígena que há muitos anos se dedica à área da educação em sua aldeia, também denunciou a ausência de pronto atendimento médico na sua comunidade, exemplicando com as dificuldades por que passou com seu próprio filho que contraiu pneumonia, quase morrendo por falta de socorro imediato. *'Por isso minha gente é que precisamos de profissionalização de índios interessados no estudo, para que se tomem médicos ou enfermeiros capazes de trabalhando junto com a nosa gente ali mesmo

GRUMIN PROMOVE SEMINÁRIO EM BRASÍLIA

Mulher indígena na luta por direito à

saúde e educação

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Dona Zilá e Míriam mostram o artesanato terena

prestarem seus serviços aos seus irmãos e irmãs doentes. O mesmo acontece na área da educação, em que nossas professoras índias tivessem condições de aperfeiçoar mais os seus conhecimentos, para dar aos nossos filhos o mesmo nível de ensino que é dado às crianças da sociedade envolvente. Não basta o índio apreender a ler e a escrever e, assim mesmo, mal. É preciso que ao mesmo tempo em que seja preservada a sua cultura tribal, sua língua de origem e suas tradições, tenha o índio uma formação profissional específica —, disse Chiquinha.

O estado de abandono a que estão relegadas as aldeias indígenas também foi denunciado por dona Neuza (Terena) que chorando, dirigiu-se ao cacique Raoni, presente ao seminário para prestigiar o encontro das

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mulheres indígenas, pedindo-lhe que com sua liderança ajudasse à mulher índia a enfrentar a vida difícil que leva.

Disse dona Neuza: "Não me importo de trabalhar duro na roça nem andar léguas para conseguir lenha. Mas sofro pelo estado de desamparo que estamos passando, como mães e avós".

Deolinda Prado, índia Dessana, contou sobre o sofrimento por que passam as mulheres do Alto Rio Negro, no Amazonas, que deixam a aldeia para se empregar como domésticas nas casas de Manaus, por falta de melhores condições de vida entre sua gente. Deolinda, que foi presidente da Associação de Mulheres Indígenas do Alto Rio Negro, disse da dificuldade para prosseguir no seu trabalho. Ela. como outras mulheres

de sua tribo, trabalha no artesanato de tapeçaria e cestaria, sem qualquer incentivo. Por essa razão, é que muitas índias — como admitiu — deixam a aldeia e vão para a cidade grande na ilusão de dias melhores, e lá só encontram a violência física e moral.

Tuíra. grande guerreira Kaiapó, que se tornou a principal personagem do encontro dos povos do Xingu, em Altamira, pouco falou. Mas situou as dificuldades de seu povo, principalmente das mulheres, se solidarizando com suas parentes de outros Estados.

Ao final do seminário, Raoni, que a tudo assistiu com atenção, sensibilizado com os depoimentos das mulheres, convidado a falar contou emocionado a história de seus avós, dos seus pais, que foram lideranças combativas em sua aldeia, e, cujo exemplo influenciou muito a sua vida que passou a dedicar ao movimento de libertação do índio.

No final, Raoni propôs o encaminhamento de projetos que ajudem na solução dos problemas enfrentados pelas mulheres indígenas à Fundação Mata Virgem, da qual é fundador, para que depois de analisados sejam executados com a ajuda daquela entidade.

Conselho de Mulheres

A última parte do Seminário de Mulheres Indígenas, em Brasília, foi dedicada à formação do Conselho de Mulheres do Grupo-Mulher Educação Indígena (GRUMIN) que passa a ser constituídos pelas seguintes representantes: Velinta Kaiomalo e Doroty Mayron (Bakairi);. Miriam, Dona Zilá, Nilda e Dona Neuza (Terena); Deolinda Prado (Dessana); Andila Inácio (Kaigang); Chiquinha (Pareci); Quitéria Maria de Jesus e Maria Pankararu (Pankararu); Quitéria Celestino da Silva (Xukuru-Kariri); Tuíra (Kaiapó); Maria Auxiliadora Bakaromugo (Bororo);Severina Fernandes, Inês Tuxá, Maria Nilda Faustino, Valda Faustino, Maria Vidal (Potiguara); Inê (Karajá); Sabadá (Xavante); Hilda Zimmermman (Anaí), Anaí Kaiwá (Kaiwá).

Como convidados especiais e observadoras parlamentares compareceram ao Seminário, as deputadas Benedita da Silva e Moema Santiago, que se solidarizaram com a luta que vem sendo travada pela mulher indígena na conquista do seu espaço.

Mulheres se reúnem no Rio No final de novembro passado, mulheres

representantes de países das três Américas, que integram o "Taller de Mujeres en Las Américas", entidade voltada à defesa dos direitos humanos das mulheres, estiveram em Nova York, Estados Unidos, para uma reunião preliminar preparatória do próximo encontro que a organização promoverá no Rio de Janeiro, até o final deste ano.

Esse encontro, que será aberto à participação geral, terá por objetivo a discussão e o encaminhamento de propostas que • indiquem o caminho oara- o fim da

discriminação contra a mulher, colocando-a no mesmo patamar de direitos dos homens, garantindo-lhe tratamento igual seja do aspecto profissional, seja do aspecto político e social.

O encontro das coordenadoras do "Taller de Mujeres en Las Américas", em Nova York, realizou-se na sua sede, sob a presidência da norte-americana Esmeralda Brown, tendo representado o Brasil a presidente do Grupo Mulher-Educação Indígena, Eliane Potiguara.

PENSAMENTO INDÍGENA TERÁ MOSTRA EM BRASÍLIA

"Posso ser o que você é sem deixar de ser o que sou". Sob esse slogan o GRUMIN está organizando a I, Mostra do Pensamento Indígena Brasileiro, em Brasília. Essa mostra objetiva divulgar trabalhos escritos, em forma de prosa e poesia, textos políticos, lendas, histórias, músicas.

gritos de guerra ou de paz, orações e pensamentos.

Os trabalhos deverão ser encaminhados à sede do GRUMIN (Rua da Quitanda, 185 sala 503 — Rio de Janeiro — 20.91) através de gravações em fita K-7 (para pensamentos, músicas, lendas, histórias etc) ou por escrito, que não ultrapassem 3 páginas, na sua língua de origem e em português. Consulte a professora bilíngüe de sua aldeia.

A entrega do material deverá ser feita até o dia 10 de setembro deste ano. Os trabalhos serão publicados em livro á ser lançado pelo GRUMIN.

8 Hiiüzim Abril/ Maio

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GRUMIN

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| GRUPO MULHER — EDUCAÇÃO INDÍGENA

E A MAE DO ÍNDIO", car- tilha editada e publicada pelo GRU- MIN, continua sendo distri- buída às escolas indí- genas, urba- nas, univer- sidades e entidades. Se você quiser receber um exemplar escreva para Rua da Qui- tanda, 185 sala 503 — Rio de Janeiro — RJ 20.091, enviando cheque nominal para Grupo Mulher-Edu- cação Indí- gena ou Vale Postal no valor deCr$ 1.000,00

PREZADO LEITOR

A duras penas e com imenso sacrifício, até mesmo pessoal dos que têm a responsabilidade de conduzir os trabalhos do GRU- MIN, está chegando às suas mãos mais um número do nosso jornal, de forma gratuita, como instru- mento de comunicação da luta do índio por seus direitos. Mas,

a falta de recursos da entidade poderá impedir que ele possa con- tinuar a circular. Daí apelarmos a você, que tanto quanto nós ou está envolvido nessa luta, ou está ao nosso lado, que contribua com o que estiver ao seu alcance para que prossigamos em nossa ativida- de.

Grupo Mulher-Educação Indí- gena ' Banco Itaú - Conta nQ 29261-9 — Agência 0477 — Cinelândia-Rio

ÍNDIO QUER FALAR LÍNGUA DE ÍNDIO. AJUDE AS NAÇÕES INDICíNAS A NÁO PERDEREM A SUA IDENTIDADE

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BATENDO TAMBOR

Entre os guaranis-Kaiowás o clima é de tristeza e desolação. Os números oficiais apontam 74 casos de suicídio entre os índios, mas na verdade, segundo o administrador da Funai, Manoel Hélio de Paulo, esses números alcançam mais de 100, provocados pela miséria na região. A fome, segundo ele, mata mais do que qualquer praga.

Corajosamente — afinal Hélio de Paulo é da Funai — admite que no centro dessa tragédia toda está o fato de que 21.800 hectares de terra que "so- braram" para os Kaiowá são insuficien- tes para abrigar nada menos do que 40 mil índios.

No rio Andirá, Amazonas, onde vivem os saterá-mawé, em três meses, 19 índios morreram vítimas de doenças endêmicas como malária e sarampo.

Nas áreas indígenas dos Ingaricos, Wapixanas e Makuxis onde vivem 35.000 pessoas, nas duas últimas sema- nas morreram seis índios de malária, dos 500 casos registrados. E ainda 500 doentes de tuberculose e 400 com doen- ças venéreas, contraídas após contato com garimpeiros (7 mil) que invadiram as áreas indígenas das fronteiras do Bra- sil com a Venezuela e Guianas, após a dinamitação das pistas de pouso de aviões na área yanomami.

E casos semelhantes vêm acontecedo em muitas outras aldeias. Como é o caso dos 1.100 índios kaxinawa kulina e jaminawa que vivem na reserva indígena do Alto Purus, no Acre, pró- ximo à fronteira com o Peru, onde um forte surto de diarréia está atingindo a região.

YANOMAMI

Onde andam os médicos, helicópte- ros, aviões e verbas que não chegam à área yanomami para socorrê-los. Afinal, o Presidente Collor informou à ONU, em setembro, que tudo estava sendo pro- videnciado. Mas até agora, nada. Quem informa é a CCPY acrescentando que suas negociações com o Governo para um atendimento de saúde eficaz para aquele povo já vai para o terceiro ano.

Alô, alô, Ministro Alceni Guerra.

KAIGANG

Cento e vinte índios Kaigang foram expulsos em novembro da reserva Nonoai, no Rio Grande do Sul. Apenas porque denunciaram a extração e venda ilegal de madeiras. Mulheres, velhos e

crianças, atingidos pela expulsão, estão vagando pelo interior de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Rodrigo Venzon, da Anaf, denuncia que 14 índios estão no interior de Guaruapuava, no Paraná, há 22 quilômetros de qualquer meio de transporte ou alimentação, vivendo carências das mais desumanas.

Este País é incrível: já houve até fis- cal do Samey. Mas quando o índio se transforma em fiscal do meio ambiente, nem o IBSMA vem a seu favor.

POTIGUARA

No dia 7 de janeiro, os caciques poti- guaras se reuniram na Aldeia do Forte e ali denunciaram a entrada de um motor de irrigação em suas terras. Isso quer dizer que estão chegando mais inva- sores, para se somar aos muitos que vêm infemizando a vida daquele povo. tomando seu território, poluindo suas águas de vinhoto e trazendo doenças.

Está na hora de o presidente da Funai. Cantídio Guerreiro, voltar sua atenção para o povo potiguara. Ou será que ele tem alguma coisa contra o índio do Nordeste?

XUKURU

Os índios xukuru, que vivem no Município de Pesqueira, em Pernam- buco, graças à sua ação combativa recu- peraram sua área — Pedra D'Água — que estava na mão de 15 posseiros. O povo agora espera da Funai: placa de identificação, demarcação das terras e seu reconhecimento legal. Mas a ação dos xukuru contra os posseiros, no caso, foi a do entendimento.

Tanto que estão pedindo também ao Governo o reassentamento dos possei- ros, constituídos de famílias pobres, em outras áreas.

Ufa! Até que enfim uma notícia boa.

ÍNDIOS E NEGROS

Foi realizado no Rio um seminário denominado de "Consulta Continental sobre o Racismo nas Américas e Cari- be" promovido pelo Programa de Com- bate ao Racismo, do Conselho Mundial de Igrejas. Disso nasceu uma articula- ção objetivando reunir negros e índios num programa de intercâmbio cultural, político e de ação contra o racismo.

CUNHA

O Coletivo Feminino de João Pessoa, Cunha, produziu um vídeo sobre o I Encontro Regional da Mulher Indí- gena, promovido pelo Grumin, na aldeia potiguara de São Francisco. Os interes- sados no vídeo podem fazer seus pedi- dos para Rua Rodrigues Aquino, 480 — João Pessoa. Ou pelo telefone (083) 222-3947.

CARTAS "Nos dias 6 e 7 de janeiro realizamos a 11 Assem-

bléia Geral da Tribo Satere-Mawé, na Aldeia Umiri- tuba Rio Andirá, Município de Barreirinha - Amazonas, onde tiveram grande representação os Tuxaua de todas as aldeias da nossa comunidade indígena, agentes de saúde, professores e representantes da Coiab e CGTSM. Tiramos um documento falando da omissão da Funai na questão da saúde, da educação e da falta de trans- porte para os doentes. Até a vacinação contra o sarampo e a malária não atendeu às crianças de toda a nossa área. Por isso, temos que pedir ajuda de outros países, como é o caso da Espanha e dos Estados Unidos, o que nos causa tristeza, pois temos um País que devia nos dar toda a assistência de que precisamos, pois a saúde vai muito mal entre nós."(Messias Sateré, Mawe, coordenador da Coiab, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira).

"Com emoção recebi sua carta comunicando-me a constituição do Comitf Intertribal dos 500 Anos de residência Indígena, bem como a indicação do meu nome para compor o Conselho Consultivo do GRU-

MIN. Aceito e agradeço sensibilizado essa honrosa indi- cação". (Orlando Valverde, presidente do CNDDA - Campanha Nacional de Defesa e Desenvolvimento da, Amazônia).

"Consciente da importância desenvolvida pelo GRUMIM e sabebor da necessidade de que este trabalho representa para a sociedade, agradeço a honra do con- vite para participar do Conselho Consultivo dessa enti- dade" (Sérgio Arouca, Deputado federal).

"Cumprimentos pela iniciativa da organização do Comitê Intertribal dos 500 anos de Resistência Indíge- na". (Mauro Leonel, Betty Mindlin, Carmem Junqueira e Eunice Paiva - lama - Instituto de Antropologia e Meio Ambiente.

"Acho importantíssimo conquistar mais um espaço para a nossa luta e provarmos que nós mulheres índias temos capacidade de organização para valer os nossos direitos". (Chiquinha Pareci-Mato-Grosso)

Quero dizer que estou disposta a lutar pela causa' indígena e as mulheres são grandes incentivadoras".(A- lexandra Terena) ■