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Henrique Cruz Médico Veterinário – Clínico de Equinos Apartado 62 2646-901 Alcabideche Tel: 914989260 Fax: 214662294 www.hcvet.eu [email protected] DENTISTERIA PORQUE QUE RAZAO É NECESSARIO LIMAR OS DENTES DOS CAVALOS? Evolução da espécie equina A evolução do cavalo começou na América do Sul e Central há cerca de 55 milhões de anos. O percursor do cavalo moderno era um animal do tamanho de um coelho chamado Hyracotherium ou Cavalo de Dawn. Alimentava-se de folhas moles que tinham um elevado teor nutricional e uma quantidade muito reduzida de silicatos abrasivos, por essa razão o gastamento dos dentes era mínimo. O Hyracotherium tinha dentes braquidontes (i.e. dentes pequenos e com coroa) semelhantes aos dos humanos, cães e gatos, que eram adequados para aquela altura em que a dieta não causava gastamento nos seus dentes. Imagem de Hyracotherium. Espécie presente no Museu de História Natural (Londres, Reino Unido). Devido em grande parte às variações climatéricas que ocorreram nas Américas, muita da vegetação alterou-se e as ervas

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Tel: 914989260 Fax: 214662294 www.hcvet.eu

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DENTISTERIA PORQUE QUE RAZAO É NECESSARIO LIMAR OS DENTES DOS CAVALOS?

Evolução da espécie equina A evolução do cavalo começou na América do Sul e Central há cerca de 55 milhões de anos. O percursor do cavalo moderno era um animal do tamanho de um coelho chamado Hyracotherium ou Cavalo de Dawn. Alimentava-se de folhas moles que tinham um elevado teor nutricional e uma quantidade muito reduzida de silicatos abrasivos, por essa razão o gastamento dos dentes era mínimo. O Hyracotherium tinha dentes braquidontes (i.e. dentes pequenos e com coroa) semelhantes aos dos humanos, cães e gatos, que eram adequados para aquela altura em que a dieta não causava gastamento nos seus dentes.

Imagem de Hyracotherium. Espécie presente no Museu de História Natural (Londres, Reino Unido). Devido em grande parte às variações climatéricas que ocorreram nas Américas, muita da vegetação alterou-se e as ervas

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tornaram-se mais duras e com maior teor em celulose. O Hyracotherium evoluiu gradualmente para se alimentar deste tipo de dieta. Ao nível do aparelho digestivo estas alterações evolutivas incluíram o desenvolvimento de um ceco e cólon largos contendo micróbios que digeriam a celulose (um dos nutrientes mais importantes da dieta mas que nenhuma enzima de mamífero consegue digerir). Esta evolução ocorreu bastante antes da evolução dos ruminantes. A alimentação com esta nova dieta requeria períodos mais prolongados devido ao baixo valor nutritivo e também porque estas ervas continham um elevado teor de silicato abrasivo. Os dentes deste cavalo primitivo estavam a sofrer um elevado gastamento devido à qualidade da alimentação. Consequentemente os dentes do Hyracotherium evoluíram para compensar este gastamento elevado; desenvolveram uma coroa longa com erupção lenta durante cerca de 20 a 25 anos (dente hypsodonte). Naquela altura, antes do afastamento das placas tectónicas, o Alasca ainda se encontrava ligado à Rússia, o que permitiu uma série de migrações do cavalo das Américas. O cavalo evoluiu em muitas fases, dando origem a diversas raças e espécies tais como as zebras e o tapir.

As primeiras provas de domesticação do cavalo datam de há cerca de 6 mil anos e provêm de caveiras que possuem um gastamento anormal no primeiro dente

molar causado pelo uso de um bridão. A mais velha destas caveiras foi encontrada junto dos mares Negro e Cáspio. Sinais clínicos

Ao falarmos aqui em sinais clínicos de problemas com os dentes, é importante realçar que a maioria dos cavalos sofre em silêncio com doenças dos dentes avançadas e dolorosas sem que apresentem qualquer sinal clínico externo. Por esta razão o exame aos dentes do cavalo deve ser feito com regularidade, mesmo nas situações em que o cavalo se encontra aparentemente normal.

O sinal clínico mais típico de um problema com os dentes é o cavalo deixar cair bocados de comida parcialmente mastigada, enquanto

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mastiga e antes de engolir. Isto pode ser devido a lesões tais como pontas afiadas nos dentes que causam úlceras nos tecidos moles (língua e bochecha) e também a diastema. Entende-se por diastema um intervalo anormal entre os dentes onde a comida se tende a acumular causando inflamação e infecção das membranas periodontais, que por sua vez causa dor. Um teste útil que pode ajudar a detectar presença de problemas com os dentes é oferecer um pouco de feno ao cavalo e ouvir e observar o seu comportamento masticatório. Um cavalo normal faz um barulho esmagatório vigoroso quando mastiga o feno; enquanto que alguns cavalos com problemas nos dentes são bastante mais silenciosos a mastigar. Outra observação que se deve fazer é olhar para o chão na boxe, e à porta desta, para verificar se o cavalo deixou cair pedaços de comida mastigada.

Se um cavalo não mastigar bem os alimentos, não irá quebrar a membrana dura do grão e por isso as suas próprias enzimas digestivas, bem como as da microflora do cólon e ceco, não terão acesso ao amido e outros açúcares para os digerir pelo que o animal não obtém nutrição dos grãos que comeu. De igual modo, se a celulose da forragem (palha, feno ou erva) não for quebrada em partículas pequenas não haverá uma área de superfície suficiente para os micróbios do intestino grosso actuarem, e mais uma vez o valor nutricional dos alimentos será desperdiçado. A perda de peso é simplesmente o estado final de doença dentária severa e crónica. Consequentemente, a ausência de perda

de peso não exclui a presença de doença dentária. Outros sinais clínicos de doença dentária incluem problemas em aceitar o bridão, má colocação da cabeça e/ou do pescoço durante o trabalho, e dores no dorso. Exame oral Não é possível examinar os dentes molares de um cavalo sem o uso de um abre-bocas completo (tipo Haussmans), fonte de luz (i.e.: lanterna) e um espelho. Em alguns animais poderá ser necessária a administração de um sedativo de modo a que estes cooperem com o examinador.

Está provado que a determinação da idade de um cavalo através da sua dentição é um método falível e impreciso. No entanto, até aos 5 anos de idade, a erupção dos dentes incisivos ocorre de forma relativamente previsível. A partir dos 6 anos de idade a determinação da idade torna-se falível e imprecisa.

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Os dentes molares do cavalo têm outras características que os distinguem dos dentes das espécies braquidontes, como os cães ou os humanos. Além de terem uma coroa contínua e longa, as arcadas dos dentes superiores (maxilares) encontram-se mais afastadas do que as arcadas dos dentes inferiores (mandibulares) e o ângulo da superfície de contacto é de cerca de 15 a 25º em vez de ser horizontal como nos humanos.

Imagem de corte transversal da cabeça de um cavalo demonstrando a distancia entre os dentes maxilares e mandibulares bem como o respectivo angulo da superfficie de oclusão. Uma vez que os dentes superiores e inferiores não mantêm um contacto completo e ambos têm uma superfície de contacto angulada, quando o animal fecha a boca e desloca a mandíbula para um dos lados para iniciar a mastigação, eventualmente os dentes superiores e inferiores irão tocar-se levando os incisivos a separar-se. Isto é normal e reflecte um ângulo normal da superfície dos dentes molares.

INCISIVOS A maior parte das anomalias dos dentes incisivos são benignas e em alguns casos reflectem anomalias dos dentes molares.

A “boca de papagaio” é uma anomalia congénita em que os dentes incisivos superiores se situam numa posição mais anterior do que os incisivos inferiores (braquignatismo). A conformação inversa (prognatismo) ocorre quando os dentes incisivos inferiores estão mais anteriores do que os incisivos superiores, sendo a sua ocorrência menos comum. Surpreendentemente, estas anomalias não interferem com a capacidade do animal comer. Contudo, não é raro que este tipo de conformação esteja associado à presença de focos de crescimento excessivo (ganchos) nos dentes molares. Estas anomalias podem ser corrigidas cirurgicamente quando detectadas em poldros em crescimento.

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CANINOS O problema mais frequente dos dentes caninos é a acumulação de tártaro, cuja causa não se encontra ainda bem esclarecida. Ocasionalmente lesões nos caninos implicam a sua extracção. Estes dentes possuem uma coroa de reserva e raiz bastante longas e curvilíneas pelo que a sua extracção requer um plano radiográfico e deve ser bastante cuidadosa.

DENTES DE LOBO Os dentes de lobo são vestigiais no cavalo, equivalem ao primeiro pré-molar, e só se encontram presentes em alguns cavalos.

Trata-se de facto do primeiro prémolar. Existe bastante debate sobre o facto de os dentes de lobo interferirem com o posicionamento do bridão em alguns cavalos. Apesar dos dentes de lobo inferiores serem menos comuns, é mais provável que estes causem interferências com o bridão, e por essa razão deverão ser extraídos.

A extracção de um dente de lobo é um procedimento relativamente simples; contudo deve ser efectuado apenas por um médico veterinário experiente.

MOLARES E PRÉ-MOLARES Muita gente pensa que os dentes molares só causam problemas em cavalos velhos não ocorrendo em animais jovens. Isto é falso, pois de facto, os problemas com os dentes molares podem ocorrer a partir do momento em que surge o primeiro dente molar aos dois anos e meio.

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De um ponto de vista técnico e anatómico, existem em cada arcada 4 dentes pré-molares (dos quais o dente de lobo é o primeiro) e 3 molares. Contudo, para simplificar a escrita deste texto, e uma vez que funcionalmente estes dois grupos actuam em uníssono, vamos chamar a este conjunto apenas “dentes molares”. Diastema

Num cavalo normal, os seis dentes molares de cada arcada encontram-se juntos, sem intervalos entre eles, e actuam em conjunto como se só de um longo dente se tratasse. Quando ocorrem espaços entre os dentes molares (diastema), a trituração constante (cerca de 18 horas por dia) dos alimentos fibrosos irá eventualmente levar à acumulação de algumas partículas de comida entre os dentes. Com o continuar da mastigação, estas partículas fibrosas vão ser empurradas em direcção à gengiva acumulando-se nos espaços periodontais, causando irritação e dor uma vez que danificam a sensível membrana periodontal. Em alguns casos, nas arcadas superiores,

as partículas fibrosas podem migrar até aos seios nasais maxilares dando origem a uma fístula oro-maxilar e causando uma sinusite infecciosa que poderá ser séria. A presença de diastema nos cavalos é uma ocorrência comum e muito dolorosa, mas frequentemente não diagnosticada devido a exames dentários pouco minuciosos. Há situações de diastema que só podem ser diagnosticadas através de radiografias com projecções específicas.

Cavalos com diastema podem melhorar, a curto prazo, quando se lhes oferece erva cortada aos bocados uma vez que esta não se acumula tão facilmente no espaço periodontal. O mesmo se poderá dizer para uma ração de granulado mole, de preferência formulada especialmente para geriátricos. Contudo estas dietas são caras e uma vez que os cavalos não mastigam correctamente quando alimentados exclusivamente desta forma, necessitarão de ter os dentes limados cada 3 a 4 meses. Em alguns casos, a acumulação de comida pode ser removida do diastema com o uso de aparelhos de pressão de ar ou água. Contudo, se o problema primário não for resolvido, ocorrerá novamente acumulação de comida no espaço periodontal que voltará a ser doloroso. Presentemente, o melhor tratamento para diastema consiste em alargar

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o espaço entre os dentes ao nível da superfície de oclusão utilizando umas brocas especiais.

A porção do dente oposta ao diastema não vai ser gasta ao mesmo ritmo que o restante da arcada o que leva a um foco de crescimento excessivo. Isto pode ter um “efeito de bola de neve” uma vez que este foco pode cravar-se na zona do diastema, não só aumentando ainda mais o espaço entre os dentes como também empurrando mais comida para o espaço periodontal. É importante reduzir estes focos de crescimento excessivo em cavalos com diastema.

Focos de crescimento excessivo Outra condição comum que afecta os dentes molares são os focos de

crescimento excessivo do primeiro e do último dente (ganchos ou bicos). Estes focos de crescimento devem ser reduzidos sendo a sua redução hoje em dia largamente facilitada pelo uso de equipamento motorizado. No entanto, em situações avançadas, esta redução deverá ser faseada de modo a não expor a polpa dentária.

Não surpreende que cavalos com este tipo de focos de crescimento excessivo muitas vezes apresentem problemas de comportamento e de aceitação do bridão. Quando um cavalo flecte o pescoço, a mandíbula desliza para a frente em relação ao maxilar. Contudo, se existir um foco de crescimento excessivo no primeiro dente da arcada superior, este irá fisicamente impedir que a mandíbula deslize para a frente, actuando como um entrave. Consequentemente o cavalo será forçado a abrir a boca de modo a colocar o pescoço na posição que o cavaleiro pretende. Esta resposta (abrir a boca) é indesejável em equitação pelo que a tendência do cavaleiro é castigar o cavalo. De igual modo, o uso de focinheiras que impeçam o cavalo de abrir a boca vai empurrar os dentes da arcada inferior sobre o foco de crescimento excessivo. Esta conformação anormal entre maxilar e mandíbula pode potencialmente induzir dor nas articulações temporo-mandibulares e consequentemente induzir dor secundária no pescoço e dorso. Situação semelhante pode ser causada por focos de crescimento excessivo no último dente da arcada inferior.

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Alem do primeiro ou último dente molar, o crescimento excessivo pode ocorrer em qualquer outro dente molar dando origem a conformações dentárias em “degraus” ou onduladas. Deslocamentos Deslocamentos dos dentes molares ou pré-molares podem ser adquiridos ou ocorrer durante a erupção destes. Dentes deslocados podem causar úlceras profundas na língua, palato ou bochecha conforme a orientação do deslocamento. Outra consequência é a formação de diastema devido ao afastamento dos dentes.

Dentes supranumerários Dentes supranumerários são aqueles que ocorrem em excesso da fórmula dentária normal. Podem resultar em problemas de compressão dos dentes por falta de espaço com resultante acumulação dolorosa de comida no espaço periodontal. Quando dentes supranumerários se encontram numa posição em que não se opõem a nenhum outro dente, não sofrem gastamento e por isso crescem continuamente causando sérios desequilíbrios na arcada dentária. Dependendo da sintomatologia, o tratamento consiste na redução do excesso de crescimento ou na extracção do dente. Consequências da domesticação Quando o cavalo mastiga forragem (ie: feno ou palha) ou erva a mandíbula (maxilar inferior) exerce um amplo movimento lateral em relação ao maxilar superior. Isto faz com que os dentes molares superiores se movimentem de um lado ao outro sobre os molares inferiores, causando um gastamento uniforme, evitando assim que se desenvolvam arestas afiadas ou focos de crescimento excessivo. Quando o cavalo come ração ou concentrado, os movimentos laterais da mastigação são mais curtos sendo parcialmente substituídos por movimentos

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verticais da mandíbula. Outro problema da ração de concentrado é o seu elevado teor calórico, o que permite ao cavalo assimilar as suas necessidades calóricas muito mais rapidamente do que se tivesse de obter a mesma quantidade de calorias através de uma alimentação à base de feno ou erva. Consequentemente, um cavalo alimentado à base de ração de concentrado passa menos tempo a mastigar, o que promove o desenvolvimento de focos de crescimento excessivo e arestas (pontas de esmalte) afiadas nos dentes molares.

A frequência dos exames dentários e dos tratamentos de rotina varia com a idade e tipo de trabalho do cavalo. Entre os 2 e os 5 anos, os cavalos perdem e ganham novos dentes. Nesta fase recomenda-se um exame e tratamento de rotina cada 6 meses. De igual modo, cavalos de competição, que têm de responder às ajudas através de um freio ou bridão na boca, necessitarão de uma atenção especial. Muitos destes cavalos de elite recebem tratamentos dentários 2 ou 3 vezes por ano de modo a prevenir o desenvolvimento de focos de crescimento excessivo ou qualquer outra anomalia. Por outro lado, para montadas de lazer ou éguas reprodutoras, provavelmente um exame anual será suficiente desde que estes animais tenham uma conformação dentária normal.

Contudo, no caso da existência de anomalias como um dente deslocado ou focos de crescimento excessivo severos, esses cavalos devem ser tratados cada 6 meses. É preferível fazer pouco em cada intervenção, mas intervenções frequentes, do que esperar até que os problemas se acumulem para depois tentar tratar tudo de uma vez.

O tipo de alimentação também influencia a frequência dos exames dentários. Animais que passam grande parte do tempo no campo ou em paddocks com erva desenvolvem menos focos de crescimento excessivo e menos pontas de esmalte afiadas do que cavalos estabulados que comem granulado; estes últimos necessitarão de cuidados dentários mais frequentes.

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Em suma, a domesticação do cavalo, o uso de ferros na boca (freio e/ ou bridão), ausência de selectividade de reprodutores baseados numa boa conformação dentária e alimentação à base de grandes quantidades de granulado, aumentaram significativamente a necessidade de efectuar tratamentos dentários profiláticos de rotina.