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1 A INOVAÇÃO TERRITORIAL COLETIVA E A DENSIDADE INSTITUCIONAL NOS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL/REGIONAL: A EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA-PORTO XAVIER/RS. 2 DISPARIDADES TERRITORIAIS X PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL/REGIONAL 2 A INOVAÇÃO TERRITORIAL COLETIVA E A DENSIDADE INSTITUCIONAL NA EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA 6 A Experiência da COOPERCANA – Cooperativa dos Produtores de Cana de Porto Xavier – RS. 6 AS INOVAÇÕES TERRITORIAIS COLETIVAS PRESENTES NA EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA 8 A DENSIDADE INSTITUCIONAL NA EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS 17 REFERÊNCIAS 19

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A INOVAÇÃO TERRITORIAL COLETIVA E A DENSIDADE INSTITUCIONAL NOS PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL/REGIONAL: A EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA-PORTO XAVIER/RS. 2 DISPARIDADES TERRITORIAIS X PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL/REGIONAL 2 A INOVAÇÃO TERRITORIAL COLETIVA E A DENSIDADE INSTITUCIONAL NA EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA 6

A Experiência da COOPERCANA – Cooperativa dos Produtores de Cana de Porto Xavier – RS. 6 AS INOVAÇÕES TERRITORIAIS COLETIVAS PRESENTES NA EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA 8 A DENSIDADE INSTITUCIONAL NA EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA 12 CONSIDERAÇÕES FINAIS 17 REFERÊNCIAS 19

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A INOVAÇÃO TERRITORIAL COLETIVA E A DENSIDADE INSTITUCIONAL NOS

PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL/REGIONAL: A

EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA-PORTO XAVIER/RS1.

ANELISE GRACIELE RAMBO2

ALDOMAR ARNALDO RÜCKERT3

O presente artigo, propõe estabelecer uma discussão em torno da inovação territorial coletiva e da

densidade institucional e sua contribuição no desencadeamento de processos de desenvolvimento

territorial, principalmente no âmbito dos territórios periféricos. Entende-se que à medida que os atores

locais/regionais desencadeiam ações de forma coletiva, buscando uma interação com as demais escalas de

poder e gestão, seja possível promover processos de desenvolvimento territorial local/regional, de modo a

atender as demandas e necessidades dos atores locais/regionais. Da mesma forma, entende-se ser

fundamental a preocupação destes atores com a inovação territorial coletiva, ou seja, a busca coletiva por

inovações, com base nas potencialidades locais/regionais. Buscar-se-á demonstrar tais pressupostos a

partir da experiência da COOPERCANA de Porto Xavier. Esta consiste numa Cooperativa

autogestionária, sendo a única usina de álcool combustível do Estado. Além de ser uma experiência

inovadora, percebe-se relativa densidade institucional em torno da mesma, havendo uma considerável

interação entre atores locais/regionais, bem como as demais escalas de poder e gestão, pensando ações

que visem o desenvolvimento de seu entorno territorial.

DISPARIDADES TERRITORIAIS X PROCESSOS DE DESENVOLVIMENTO TERRITORIAL LOCAL/REGIONAL

No atual estágio do meio técnico-científico-informacional, fica cada vez mais evidente, o aumento das

disparidades territoriais. Tal constatação pode ser percebida em diversos autores quando tratam, por

exemplo, do crescimento dos espaços de fluxos em detrimento dos espaços de lugares, (Castells, 1999);

do surgimento das regiões ganhadoras e perdedoras (Benko; Lipietz, 1994); ou ainda, dos espaços opacos

e luminosos, e das regiões do mandar e do fazer (Santos; Silveira, 2001). Enfim, do surgimento de

territórios centrais e periféricos, sendo que estes últimos, de modo geral, encontram-se subordinados aos

primeiros, atendendo de forma passiva às suas exigências. Assim, surgem algumas inquietações: existem

alternativas de desenvolvimento aos chamados territórios periféricos, àqueles sustentados

economicamente pela agricultura familiar e por pequenas e médias empresas no espaço urbano? Como

1Projeto de Pesquisa de Dissertação, vinculado ao LABES–Laboratório do Espaço Social, desenvolvida dentro do Programa de Pós-Graduação em Geografia/Mestrado-UFRGS. 2 Aluna do Curso de Mestrado em Geografia ([email protected]). 3 Professor Orientador ([email protected]).

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territórios distantes dos grandes centros industriais e de decisão podem assumir maior protagonismo como

atores de seu processo de desenvolvimento?

O que fica evidente, é que os atores dos territórios periféricos, não podem esperar das forças do mercado

as soluções para seus problemas. Segundo Haesbaert (1995: 14) “o capitalismo nunca se reproduz

priorizando o bem-estar e a maior igualdade social, mas o aumento das desigualdades que promovem o

lucro e a acumulação” (1998: p.14). Além do mais, a promoção do desenvolvimento exógeno, por meio

do incentivo a instalação de grandes empresas ou multinacionais, em muitos casos pode até levar a um

crescimento econômico, o que não significa necessariamente o desenvolvimento do lugar. De acordo com

Hirst e Thompson (1998), as possibilidades de desenvolvimento nos países periféricos, mediante o

investimento direto estrangeiro, pode ser bastante limitado, observando-se, em geral, a acentuação das

desigualdades territoriais. Nesse caso “a única possibilidade de desenvolvimento de uma determinada

região (...) é servir aos interesses dos conglomerados, transnacionalizados, concedendo-lhes todo tipo de

facilidades. É a velha e surrada fórmula de se fazer desenvolvimento, concentrando investimentos e renda

e, assim, gerando crescentes desequilíbrios regionais e desigualdades sociais” (Becker, 2003:47).

Esperar que esta solução venha do Estado, de cima para baixo, também pode ser frustrante. Diante do

neoliberalismo, mesmo havendo uma busca do Estado pela diminuição das discrepâncias territoriais, isso

não deixa de ser uma tarefa árdua. Becker (1983: 16) evidencia isso ao afirmar que o “Estado, produzindo

e usando o espaço não está atento à necessidade de todos os setores da população. Restou à população

integrar seu poder no espaço vivido, criando uma nova linguagem, do espaço social vivido”. A colocação

da autora evidencia, que diante deste cenário, a sociedade civil passa a ter um papel maior quanto à gestão

do território. Principalmente com o processo de descentralização político-administrativa do Estado, a

partir dos anos 80, é que a sociedade civil passa a ter a possibilidade de participar de forma menos passiva

da gestão de seu território. É com base nessas premissas que se estabelecem as hipóteses desta pesquisa.

Levando-se em consideração a multidimensionalidade do poder, entende-se que, a partir da interação

destes poderes – sociedade civil, Estado e mercado – em diferentes escalas, seja possível desencadear

processos de desenvolvimento territorial. Processo este que não se restringe a setores da economia, ou tão

somente ao crescimento econômico, mas que busca atender às demandas sociais, culturais e ambientais

dos atores locais/regionais, de modo a diminuir a passividade dos territórios periféricos às exigências

exógenas. Desse modo, frente à lógica perversa e excludente do mercado, e à dificuldade do Estado em

promover uma política de integração nacional, que leve a um desenvolvimento e à redução das

desigualdades territoriais, entende-se como sendo fundamental a preocupação dos atores locais/regionais

com a inovação territorial coletiva e com a densidade institucional.

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A densidade institucional é entendida aqui como a interação ou a densidade de atores públicos e privados,

individuais ou coletivos, da sociedade civil, do Estado e do mercado, organizações e instituições, com

vistas à realização de ações com objetivos comuns. Segundo Amin; Thrift (apud Kirat; Lung, 1999, p.31)

a densidade institucional representa a “combinação de fatores, incluindo suas interações inter-

institucionais e sinergia, uma representação coletiva por muitos corpos, um objetivo industrial comum e

normas culturais e valores compartilhados”.

Fernández (2004), ampliando a discussão destes autores, define a densidade institucional como uma

sólida presença institucional (formal), representada através da presença de firmas, associações

empresariais, instituições financeiras, ONGs, agências de desenvolvimento, escolas, centros de serviço,

institutos tecnológicos e universidades, etc; bem como o desenvolvimento de formas de cooperação entre

os atores a partir da consolidação entre esse complexo de atores, de uma consciência de pertença mútua a

uma dinâmica territorial e ao padrão de coalizão representativo dos interesses locais.

Vale destacar ainda que a “densidade institucional também se refere à temática de capital social e

associativismo como também a outros aspectos de fortalecimento da sociedade civil. Solidariedade,

emancipação e capacidade associativa também se refletem na capacidade que pequenos empreendedores

têm para criar novas ligações não exploradoras nas cadeias de produção das quais fazem parte” (Rede

Dlis, 2005)4. Essa densidade é tida como essencial para que territórios, cuja agricultura familiar ainda

representa grande parcela PIB, e onde o meio urbano está sustentado por pequenas e médias empresas,

consigam realizar ações baseadas em inovações territoriais coletivas.

De acordo com Fernández (2004), a inovação territorial coletiva pode ser entendida como um sistema

dinâmico de reprodução territorial fundado em inovações permanentes, resultado de relações de

cooperação entre os atores - públicos e privados, individuais e coletivos - de determinada região/território.

Ou ainda, segundo Méndez, (2002) consiste na capacidade de gerar e incorporar conhecimentos para dar

respostas criativas aos problemas do presente, resultando num fator chave para melhorar a

competitividade e favorecer o desenvolvimento dos territórios, não só em termos de crescimento

econômico, mas numa perspectiva integrada.

De acordo com o LEADER5, a característica “inovadora” de uma ação é definida tendo em conta o

contexto local no qual esta ação se inscreve. Toda a ação que responde a necessidades particulares de

desenvolvimento de um território introduzindo novas soluções, é inovadora (LEADER, 2005). De forma

4 Rede Dlis – Desenvolvimento local integradado sustentavel. Consiste numa é uma rede mista e plural, envolvendo pessoas e organizações de todos os setores, em todas as regiões do Brasil e no exterior. 5 LEADER - Ligações entre Ações de Desenvolvimento da Economia Rural, compostos por diferentes Estados da União Européia. Consiste numa iniciativa comunitária que incentiva ações-piloto integradas de desenvolvimento rural, concebidas e realizadas através de parcerias ativas que atuam a nível local.

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5

resumida, pode ser considerada uma busca coletiva por novos conhecimentos que levem a inovações

quanto à organização e a gestão territorial e, conseqüentemente, a um processo de desenvolvimento

territorial local/regional.

O processo de desenvolvimento territorial local/regional representa ações, mecanismos, estratégias e

políticas, desencadeadas por atores locais/regionais em interação com as demais escalas de poder e

gestão, reforçando ou reconstruindo relações de poder sobre o espaço, tornando-o território. Tal processo,

por sua vez, se dá através de novos usos políticos e econômicos do território, com base em

potencialidades locais/regionais, de modo a atender a suas demandas e necessidades. Assim o

desenvolvimento territorial se produz a partir do momento em que os atores, formando uma

comunidade/sociedade, se reconhecem como tal e tem como referência primeira seu território. Projetam

suas ações sobre as tessituras, nós e redes, desenvolvendo suas potencialidade (ambientais, humanas,

econômicas) e constituindo-se como atores mais ativos na intervenção e ação sobre seu território, com o

intuito de promover seu desenvolvimento.

Para Boisier (1997) o desenvolvimento territorial consiste numa expressão ampla que inclui o

desenvolvimento de micro-localidades. Refere-se a processos de mudança sócio-econômica, de caráter

estrutural, delimitados geograficamente e inserido num marco configurado por sistemas econômicos de

mercado, ampla abertura externa e descentralização dos sistemas de decisão. Este baseia-se ainda em três

objetivos: (1) o aperfeiçoamento do território entendido não como um container e suporte físico de

elementos naturais, mas como um sistema físico e social estruturalmente complexo, dinâmico e

articulado; (2) o aperfeiçoamento da sociedade ou comunidade que habita esse território e (3) o

aperfeiçoamento de cada pessoa, que pertence a essa comunidade e que habita esse território. Assim,

percebe-se que o desenvolvimento territorial não se restringe ao crescimento econômico, e consiste na

articulação dos atores na busca de atender também suas demandas sociais, potencializando tanto capitais

tangíveis (aspectos econômicos do desenvolvimento) quanto aspectos intangíveis (capacidade coletiva

para realizar ações em comum) (Dallabrida; Siedenber; Fernández, 2004).

Diante do discorrido acima, considera-se que a experiência COOPERCANA, pode ser um exemplo

empírico da hipótese levantada. A seguir buscar-se-á discorrer sobre as inovações territoriais coletivas e a

densidade institucional presentes nesta experiência e como estas têm refletido no processo de

desenvolvimento territorial local/regional.

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A INOVAÇÃO TERRITORIAL COLETIVA E A DENSIDADE INSTITUCIONAL NA EXPERIÊNCIA DA

COOPERCANA

A COOPERCANA – Cooperativa dos Produtores de Cana de Porto Xavier, localiza-se nas duas regiões

dos COREDEs6 Fronteira Noroeste e Missões. Estas, destacam-se pela territorialidade em torno das

relações de poder decorrentes do cultivo da soja. Porém, sua estrutura fundiária baseada principalmente

em pequenas propriedades, e a ação individualizada dos pequenos agricultores, têm se colocado como um

obstáculo cada vez maiores a ser transposto pelos pequenos agricultores

Brum (2002, p.142) retrata muito bem essa realidade ao mencionar que a “a soja continua sendo o motor

econômico regional, porém, não permite a sobrevivência das pequenas e médias propriedades rurais

quando vista isoladamente. Altos custos de produção, a estagnação em baixa dos preços internacionais da

oleaginosa, e a incapacidade destes produtores em assimilarem novas técnicas de comercialização, os

obriga a modificarem seu sistema de produção”. É nesse contexto que surge COOPERCANA

A Experiência da COOPERCANA – Cooperativa dos Produtores de Cana de Porto Xavier – RS.

A experiência da COOPERCANA inicia em 1984, quando é constituída a Alpox S/A (Usina de Álcool de

Porto Xavier), incentivada pelo Pró-álcool. Esta sociedade anônima é composta por 156 acionistas: 143

pequenos agricultores, com 49% ações e 13 empresários e profissionais liberais detendo 51% das ações.

Desde sua fundação há divergências entre sócios majoritários e minoritários e, em função disso,

desencadeia-se uma crise financeira na usina, levando a constituição da COOPERCANA.

A Cooperativa, que surge na tentativa de contornar essa crise financeira, é composta pelos agricultores

produtores de cana (sócios minoritários) e funcionários da usina. Em 1999, por pressão da sociedade civil

organizada e por instituições e organizações locais/regionais, o poder judiciário decreta a falência da

Alpox S/A e a COOPERCANA assume os serviços da usina, arrendando o parque industrial.

Atualmente os associados da Cooperativa localizam-se nos municípios de Roque Gonzáles (58%); Porto

Xavier (35%) na região das Missões e Porto Lucena (7%) na região Fronteira Noroeste. São ao todo 273

associados, os quais cultivam cana em propriedades de 5 a 20 ha, totalizando 1.930 ha que produzem cana

para a COOPERCANA. Sua produção atende a 2% demanda de álcool do Estado, o que representa uma

produção de 6 milhões de litros por safra. A seguir são apresentados dados quanto à geração de empregos

oriundos diretamente dos trabalhos da usina, bem como impostos arrecadados pela mesma.

6 COREDE – Conselho Regional da Desenvolvimento

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Tabela 01: Empregos gerados pelas atividades da Usina da COOPERCANA

COLHEITA (06 meses) Nº de empregos no corte 400 Quadro técnico de apoio 15 Operadores de carregadeiras 10 Motoristas de caminhões 52 Agricultores 273

PLANTIO Média histórica 50

INDÚSTRIA Quadro efetivo 43 Quadro safrista 76

Total de empregos gerados pelas atividades da Usina 919 Fonte: COOPERCANA, FEV/2005.

Mesmo que a usina não empregue as 919 pessoas acima elencadas, estes empregos se dão em decorrência

direta das atividades da Usina, sendo que os empregos indiretos (no comércio e serviços) ultrapassam

esse número. A geração de impostos também é significativa. Dados contabilizados de 1999 a agosto de

2004 demonstram que esse valores chegam a quase R$ 6 milhões, como pode ser visualizado abaixo:

Tabela 02: Impostos recolhidos pela COOPERCANA - Porto Xavier/RS.

Origem ICMS PIS e

COFINS INSS FUNRURAL TOTAL 1999 303.953,48 44.452,53 11.178,33 17.774,25 377.358,59 2000 595.606,60 79.155,97 34.535,44 26.497,70 735.795,71 2001 870.624,45 124.032,40 47.725,65 39.692,97 1.082.075,45 2002 1.081.565,34 157.091,38 67.436,55 58.719,24 1.364.812,51 2003 1.174.934,51 164.343,77 101.367,84 56.461,47 1.497.107,59

2004* 703.951,94 154.375,18 65.154,36 10.393,15 933.874,63 TOTAL 4.314.586,63 609.877,11 282.686,76 209.123,07 5.991.024,58

*Dados contabilizados até 31 de agosto de 2004 Fonte: COOPERCANA, FEV/2005

Os valores acima (empregos/impostos), certamente não girariam na região, se a sociedade civil, junto a

demais poderes locais/regionais não tivesse se mobilizado em torno da constituição da Cooperativa,

assumindo a usina. O caráter coletivo que permitiu o processo de constituição da Cooperativa, também

permite que se desenvolvam diversas inovações em torno da mesma. A seguir elencar-se-ão algumas

inovações territoriais coletivas perceptíveis na experiência.

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8

AS INOVAÇÕES TERRITORIAIS COLETIVAS PRESENTES NA EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA

Antes de tratar propriamente das inovações, se torna importante frisar que estas não são entendidas

apenas como inovações tecnológicas, numa perspectiva econômico-empresarial, mas, para ter uma

dimensão territorial, a esta perspectiva são acrescidas características como (1) a criação de um clima

social ou uma mobilização em favor do desenvolvimento e da incorporação de novidades capazes de

romper com inércias herdadas, ineficazes ou injustas; (2) a constituição de redes locais de cooperação,

que torna possível a realização de projetos comuns; (3) a presença de instituições locais/regionais, que

adotam uma atitude protagonista em apoio à inovação e o desenvolvimento territorial, mediante

iniciativas e negociações de acordos com outras instâncias públicas/privadas; (4) um esforço quanto a

melhorias na formação de recursos humanos (ensino em diversos níveis de qualificação, reciclagem de

empresários e trabalhadores, até uma adaptação às demandas do saber fazer local) (Méndez, 2002)

Assim pode-se citar como inovação a própria densidade institucional da experiência, o que vai de

encontro aos itens (1), (2) e (3) descritos acima. Percebe-se por parte dos atores envolvidos na

COOPERCANA, uma busca quanto à interação com demais instituições e organizações, sejam

locais/regionais ou de outras escalas, seja como instituição protagonista ou simplesmente colaboradora.

Isso permite que sejam atendidas demandas tanto da Cooperativa, quanto do seu entorno territorial maior.

Constitui-se assim, uma mobilização social, bem como redes de cooperação que permitem a busca de

inovações como as que serão mencionadas a seguir, permitindo novos usos políticos e econômicos do

território e conseqüentemente um desenvolvimento territorial local/regional.

Outra inovação territorial coletiva a ser considerada, é o fato de se cultivar cana-de-açúcar numa região

onde tipicamente predomina a cultura da soja. O Noroeste gaúcho é conhecido como umas das maiores

regiões produtoras de soja do Estado. O município de Santa Rosa é conhecido como “Berço Nacional da

Soja”, e onde se realiza a FENASOJA - Feira Internacional da Soja desde 1966, estando em sua 15ª

edição.

Assim, os atores locais/regionais, aproveitando um micro-clima favorável ao cultivo da cana – idêntico ao

tropical-, passam a produzir álcool combustível a partir da cana-de-açúcar. Esta pode ser considerada uma

potencialidade local/regional, sendo que já faz parte da cultura regional. Pode-se afirmar isso, pois a cana

é cultivada desde época das reduções jesuíticas (1600), porém, em geral, seu cultivo se dá para o auto-

consumo nas propriedades rurais. Sendo assim, a partir de uma potencialidade local, forma-se uma nova

racionalidade em torno de uma velha forma (Santos, 1997), destinando-se ao mercado, um produto que

em geral era destinado a subsistência. Vale destacar ainda que o Brasil é um dos poucos países a produzir

combustível a partir de fontes renováveis e menos poluentes como a cana.

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O que foi mencionado acima vai de encontro ao que afirma Méndez (2002) quando menciona que todas

as comunidades territoriais dispõem de um conjunto de recursos (econômicos, humanos, ambientais,

institucionais, culturais...) que constitui seu potencial de desenvolvimento, devendo-se encontrar atores e

estratégias capazes de atribuir valor a tais recursos, de forma eficaz e inovadora. Tais potencialidades

podem ser entendidas também como capital territorial.

De acordo com o LEADER (2005), o capital territorial remete àquilo que constitui a riqueza do território,

(atividades, paisagens, patrimônio, saber-fazer local), não na perspectiva de um inventário contabilístico,

mas da procura das especificidades que podem ser valorizadas (como, por exemplo, a existência de um

micro-clima favorável à cultura da cana). Em alguns territórios, por exemplo, este fenômeno pode passar

pela recuperação pontual de elementos em vias de abandono e cujo desaparecimento se traduziria por um

anonimato ainda mais profundo. Ao observar-se a Figura 01 abaixo, percebe-se que o capital territorial

possui varias dimensões.

Figura 01:O Capital do Território e suas dimensões

Fonte: http://europa.eu.int/comm/archives/leader2/rural-pt/biblio/compet/sub21.html

Para potencializar o chamado capital territorial, torna-se necessário levar em consideração o processo

histórico do território. Ou seja, “a noção de espaço é inseparável da idéia de sistemas de tempo. A cada

momento da história local, regional, nacional ou mundial, a ação das diversas variáveis depende das

condições do correspondente sistema temporal” (Santos, 1985, p.22). Assim, para compreender a

realidade local/regional exige-se levar em consideração as rugosidades do espaço, bem como a difusão

desigual das técnicas.

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10

A dimensão interior pode ser compreendida como a interação entre os atores locais e exterior, entre estes

atores locais com as demais escalas de poder e gestão, constituindo portanto, a densidade institucional. A

visão de futuro, pode ser entendida como o próprio processo de desenvolvimento territorial local/regional

a ser desencadeado, de modo que, o desenrolar do processo atenda as demandas e necessidades dos atores

locais/regionais.

No caso da COOPERCANA, o desenvolvimento do cultivo da cana, pode ser considerado como uma

recuperação ou ativação de um potencial do capital territorial. Isso, pois a cana é cultivada em grande

parte das propriedades rurais, sendo que da mesma forma, grande parte desta produção destina-se ao auto-

consumo.

Pode-se afirmar assim, que os atores locais/regionais tem desenvolvido seu capital territorial, através de

suas potencialidades ambientais - no caso micro-clima favorável ao cultivo da cana; e sócio-culturais,

com o desenvolvimento da densidade institucional, potencializando seu relativo grau de capital social7.

Este, segundo Bandeira (2001), pode ser considerado umas das maiores vantagens competitivas do norte

gaúcho. Nesse sentido, vale mencionar ainda, que a COOPERCANA é a única usina de álcool auto-

sugestionária do Brasil. Além desse fato demonstrar seu caráter inovador, permite observar que os atores

locais/regionais exercem ações políticas sobre seus territórios, reforçando as relações de poder sobre o

mesmo, a partir da potencialização de seu capital social, constituindo uma densidade institucional.

Outra inovação territorial coletiva, pode ser o fato da industrialização da cana e não sua venda in natura,

como ocorre no caso da soja. Além disso, o processo de industrialização permite uma maior geração de

empregos e impostos na escala local/regional, uma remuneração maior dos agricultores, sendo que os

produtos primários em geral agregam menos valor que os industrializados, bem como mais uma fonte de

renda.

É importante mencionar ainda o fato da COOPERCANA ser uma Cooperativa e não uma empresa

privada do tipo sociedade anônima. Em geral, as indústrias da região são criadas a partir de uma iniciativa

individual ou de alguns poucos acionistas. Dados do Anuário Estatístico da FEE de 1993, (IPD, 2005)

demonstram que nas duas regiões dos COREDES, o setor industrial emprega em média 9 empregados por

indústria. Já, o caráter cooperativo da COOPERCANA permite que esta empregue na usina, 43

empregados efetivos, chegando a empregar, na época da safra, 73. Isso sem contar que em decorrência do

funcionamento da usina são gerados 919 empregos como consta na Tabela 01, anteriormente citada.

Quanto à capacitação de recursos humanos, citado no item (4) acima, pode-se destacar os cursos de

formação e de cooperativismo ministrados pela ANTEAG e pelo DIEESE, para a capacitação dos atores

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11

envolvidos mais diretamente na Cooperativa, de modo a prepará-los para a nova realidade e ser

construída. Os atores da Cooperativa desenvolvem ainda, integrações técnicas e culturais com outras

usinas e agroindústrias de cana da região, de outros estados e também da Argentina, com vistas a trocas

de experiências e informações técnicas.

Além disso, de caráter mais amplo, pode-se citar a constituição do EMA – Ensino Médio Alternativo, na

Escola da Linha São Carlos/Porto Xavier, a qual possui como diferencial o fato de ser uma escola de

ensino médio no meio rural, e ainda, com suas atividades e currículo voltados à realidade do meio rural

local. Outra atividade direcionada a educação, são os chamados Estágios de Vivência.

Estes estágios, são realizados pelos alunos do curso de agronomia da UNIJUI/Ijuí. Seu objetivo é fazer

com que os estudantes que optam por esse curso, passem alguns dias em uma propriedade rural, vivendo a

realidade agrícola da região, a fim de terem uma idéia mais clara sobre a profissão a qual optaram. Essa

preocupação, quanto a processos de educação, vai de encontro a duas das finalidades do desenvolvimento

territorial, citadas por Boisier (1997), no inicio deste artigo: o aperfeiçoamento da sociedade/comunidade

que habita o território e o aperfeiçoamento de cada pessoa, que pertence a essa comunidade/sociedade.

Pode-se destacar ainda que a COOPERCANA é a única usina de álcool combustível do Rio Grande do

Sul, atendendo a 2% da demanda do consumo do Estado. Sua capacidade chega e 9 milhões de

litros/safra, sendo que atualmente produz 6 milhões, como já mencionado acima. No entanto, já há um

projeto que visa aumentar essa capacidade para atender a demanda, como será explicitado posteriormente.

O processo de discussão dentro da Cooperativa, também e de caráter inovador. Esta possui os 273

associados distribuídos em 12 núcleos de base. Estes núcleos realizam reuniões nas localidades do meio

rural dos três municípios. Neles, iniciam-se as discussões e tomadas de decisão. A partir dessa

organização, todos os seus associados, tem a possibilidade de participar das decisões que envolvem as

ações da Cooperativa, garantindo uma gestão mais democrática da mesma.

Para finalizar, pode-se mencionar ainda, a geração de energia a partir da queima do bagaço de cana, que

caracteriza um resíduo, sendo que, não tratado adequadamente, provoca sérios impactos ambientais.

Assim, durante o funcionamento da usina (junho a novembro), esta se isenta do pagamento da taxa de

energia.

Entende-se que as inovações citadas acima são possíveis em função da densidade institucional presente na

experiência. A interação entre os atores da Cooperativa e entre estes e as demais escalas de poder e

gestão, aumentam a capacidade de se realizar ações sobre o espaço, tornando este território. Assim, essa

7 O capital social refere-se às relações de confiança e reciprocidade entre atores, as quais permitem a realização de ações coletivas (Putnam, 1999).

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densidade institucional tem possibilitado ainda, a realização de diversas ações e projetos que visam

atender tanto a demandas não só setoriais ou corporativas (da Cooperativa) mas também territoriais. Vale

destacar que pesquisas realizadas do Programa de Desenvolvimento Social da Faixa de Fronteira, aponta

o entorno do município de Porto Xavier como uma área de alta densidade institucional (numa escala de

baixa a muito alta).

A DENSIDADE INSTITUCIONAL NA EXPERIÊNCIA DA COOPERCANA

Até o momento foram mapeadas 48 instituições e organizações da sociedade civil, do Estado e do

mercado, das diferentes escalas de poder e gestão (local, loca/regional, estadual, federal e internacional).

Abaixo estão elencados alguns projetos e ações resultantes da densidade institucional:

Tabela 03: Projetos/ações resultantes da Densidade Institucional em torno da COOPERCANA

Projetos/ações Nível8 1 PBA - Educação para a Gestão Ambiental: Qualidade de Vida e do Ambiente pela Cidadania Consciente 1 2 Programa de Geração de Biodiesel 1 3 Projeto para Modernização da Planta Industrial na Produção de Álcool para Produção de Biodiesel pela Agricultura Familiar 1 4 Integração Cultural entre COOPERCANA e Engenho Azucarero 1 5 Processo de Arrendamento da Massa Falida da Alpox S/A. 1 6 Construindo Segurança Alimentar nas Missões do RS 1 7 Rede de Cidades 1 8 Curso de Formação 1 9 Processo de Compra da Massa Falida pela COOPERCANA 1

10 Curso de Cooperativismo 2 11 Processo de Constituição da EMA - Ensino Médio Alternativo 2 12 Cadeia Produtiva da Cana-de-açúcar 2 13 Projetos patrocinados através da LIC (Lei de Incentivo a cultura) 2 14 Processo de Constituição da Cooper Bioverde 2 15 Estudo de Adaptação de Variedades de Cana-de-açúcar na Região Noroeste do Rio Grande do Sul 2 16 Diagnóstico e Estratégias de Desenvolvimento da Agricultura de Porto Xavier 3 17 Convênio de Cooperação técnica COOPERCANA - UNIJUÍ 4 18 Processo de Constituição da CRESOL 4 19 Intercâmbio ao Salto do Jacuí 4

Fonte: Elaborado pelo autor.

Busca-se a seguir, elencar alguns reflexos sobre o território da COOPERCANA, de alguns dos projetos

acima, na tentativa de demonstrar a importância da densidade institucional para os processos de

8 Os níveis são compostos pelos seguintes atores nível 1: poder federal, estadual e local, instituições/organizações civis e organizações estrangeiras; nível 2: poder estadual e instituições/organizações civis; nível 3: poder municipal e instituições/organizações civis e nível 4: poder apenas das instituições/organizações civis e profissionais.

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desenvolvimento territorial local/regional, em territórios periféricos. Ou seja, aqueles territórios distantes

dos grandes centros industriais e de tomada de decisão, e aqueles sustentados pela agricultura familiar –

pequenas e médias propriedade que contam basicamente com trabalho familiar – e o espaço urbano,

também sustentados por pequenos e médios empreendimentos.

Inicia-se assim, tratando dos novos usos políticos do território que resultaram de ações coletivas dos

atores locais/regionais junto às demais escalas. Nesse sentido, pode-se citar o processo de arrendamento

da massa falida da Alpox S/A. Em função da crise financeira da usina, como já mencionado acima, há

uma mobilização de atores em torno da busca de uma solução a esta crise. Devido a isso, organizam-se os

agricultores produtores de cana (sócios minoritários) e os funcionários da usina, - para oficializar a

COOPERCANA -, a ASTRF (Associação dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais Fronteiriços), a

COOPAX (Cooperativa dos Pequenos Agricultores de Porto Xavier), o STR-Porto Xavier (Sindicato de

Trabalhadores Rurais), a ASPLACAN (Associação dos Plantadores de Cana-Porto Xavier), o Poder Local

de Porto Xavier e Roque Gonzáles. Dessa forma, os atores locais/regionais mobilizando-se, reúnem cerca

de 400 pessoas em frente ao Fórum da cidade de Porto Xavier, a fim de exigir que o poder judiciário

decretasse a falência da usina.

Essa densidade institucional permitiu que a usina permanecesse sob poder de atores locais/regionais, a

priori, mais comprometidos com o espaço local, por tratar-se de seu território. A Cooperativa arrendou o

parque industrial de 1999 a 2004, sendo que no final deste último ano, efetuou a compra da massa falida

Outro uso político do território que pode ser destacado é a constituição de uma agência bancária do

Sistema Cresol - Sistema Integrado de Cooperativas de Crédito Rural com Interação Solidária. Tal

processo, inicia-se no ano de 2000, quando foram realizados seminários no município de Porto Xavier,

que contaram com a participação de instituições e organizações como COOPERCANA; Emater; ASTRF;

STR – Porto Xavier; COOPAX; EMA; COOPESC (Cooperativa dos Pescadores-Porto Xavier);

Secretaria da Agricultura e Conselho Municipal da Agricultura de Porto Xavier, bem como a sociedade

civil. Estes seminários se propuseram a discutir os estrangulamentos quanto ao desenvolvimento local.

Como demanda primeira, surgiu a dificuldade de acesso ao crédito, por parte principalmente dos

pequenos agricultores. Percebeu-se a necessidade de uma organização que fomentasse a agricultura

familiar, facilitando o acesso a recursos financeiros. Assim, os atores locais/regionais optaram pelo

Sistema Cresol, que segundo os mesmos, melhor se adequou a suas necessidades e a seus interesses,

sendo implantado em janeiro de 2003.

Este banco cooperativo, surgiu no Paraná, expandindo-se para diversos municípios de Santa Catarina e do

Rio Grande do Sul, totalizando 81 agências (43 no Paraná, 20 Santa Catarina e 18 no Rio Grande do Sul).

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Nos COREDES Fronteira Noroeste e Missões, localizam-se dois nós desta rede: uma agência em Porto

Xavier como já citado e outra em Santo Cristo.

O território da Cresol-Porto Xavier, expande-se para além deste município, possuindo associados em

Porto Lucena, Porto Xavier, Roque Gonzáles e São Paulo das Missões. Conta atualmente com cerca de

600 associados, sendo que grande parte dos membros da COOPERCANA também participam da Cresol.

A densidade institucional em torno da constituição da Cresol, teve reflexos territoriais, atingindo não

apenas os associados da COOPERCANA, mas sim demais agricultores da região, proporcionando assim

um acesso mais fácil ao crédito para estes atores.

Ainda nessa linha, pode-se novamente citar a constituição do EMA. Os atores locais incentivados pelo

programa do Governo Estadual para a constituição de escolas mais adequadas à realidade local,

realizaram reuniões com a secretaria da educação do Estado e posteriormente entre entidades como

COOPERCANA, COMADEM9; STR; COOPAX; EMATER; Escolas de Rincão Comprido, Rincão

Vermelho e Linha São Carlos de Porto Xavier, para traçar o planejamento inicial do EMA. Após

sucessivos encontros através de seminários e reuniões, com o objetivo principal de planejar a melhor

forma de implantação, organização e seqüência do EMA, foi criado na Linha São Carlos, em julho de

2001, o ensino médio adequado a realidade agrícola local.

Outros projetos que merecem ser destacados são aqueles relacionados à Lei de Incentivo a Cultura. A

Cooperativa, junto a demais organizações e instituições da região vem patrocinando projetos culturais

(principalmente festivais estudantis) contribuindo para o desenvolvimento da cultura regional. Desde

2003, participou de 7 projetos nos municípios de Porto Xavier, Santo Cristo e Giruá, totalizando R$

200.429,30 disponibilizados ao financiamento dos mesmos. Estes projetos demonstram que os reflexos da

COOPERCANA não se dão apenas no espaço rural, beneficiando os associados produtores de cana.

Expandem-se de forma territorial, tendo reflexos mais significados à medida que esta interage com

demais organizações e instituições de diferentes escalas.

Quanto aos usos econômicos pode-se citar os diferentes usos do solo agrícola, decorrentes do cultivo da

cana e sua industrialização. Além das atividades da própria usina levar a um novo uso agrícola do solo,

destacam-se projetos que buscam incentivar e aprimorar o cultivo da cana na região.

Inicia-se tratando do projeto Rede de Cidades, desenvolvido de janeiro de 2002 a novembro de 2004. Este

contou com atores como o Governo Estadual, Federal e Local (AMM - Associação dos Municípios da

9 Conselho Municipal de Agricultura, Abastecimento e Desenvolvimento Rural. É composto por instituições e organizações ligadas ao espaço rural de Porto Xavier como Secretaria da Agricultura, Emater, cooperativas, associações, além da COOPERCANA. Este Conselho realiza reuniões periódicas para discussão e deliberação principalmente de verbas governamentais destinadas ao espaço rural do Município.

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Missões); PGU – Programa de Gestão Urbana da ONU para a América Latina e Caribe, além de 165

instituições e organizações locais/regionais, dentre elas a COOPERCANA.. Desenvolvido na região da

AMM, seu objetivo foi constituir um plano de ações para o desenvolvimento e combate a pobreza, a partir

de propostas de projetos já existentes na região. Foram realizados seminários de apoio para reforçar as

capacidades dos atores locais, quanto ao desenvolvimento dos projetos. Selecionados 14, estes foram

encaminhados a vários Ministérios e Secretarias do Governo Federal com interesse em seu financiamento.

Dentre os 14 projetos estava um relacionado à cana: “Construindo Segurança Alimentar nas Missões do

RS – gerando renda e saboreando alimentos com a cultura da cana-de-açúcar na agricultura familiar”, que

está em fase de implementação. Os atores envolvidos são a ASTRF, CONSAD (Consórcio de Segurança

Alimentar e Desenvolvimento Local – Missões), STRs, COOPERCANA e 600 agricultores familiares da

região.

O projeto se propõe a diagnosticar a exclusão social a partir de uma pesquisa com 600 famílias de baixa

renda. Pretende diagnosticar ainda, iniciativas de industrialização da cana, que possam servir como uma

referência. Objetiva realizar intercâmbios regionais; promover a participação em eventos que

impulsionem a comercialização dos derivados de cana; buscar realizar análises laboratoriais que avaliem

as características nutricionais dos derivados de cana; sensibilizar e capacitar 200 famílias de agricultores

para resgatar a produção de alimentos ecológicos; potencializar feiras locais e constituir o Fórum

Regional da Cana (com reuniões e viagens de campo).

Através das atividades mencionadas acima, o projeto tem por meta, debater e desencadear um debate

sobre o potencial da cultura da cana como instrumento de viabilização das propriedades rurais e ainda,

como uma alternativa à dinâmica excludente da monocultura da soja. A densidade institucional desse

projeto pode alavancar atividades que se colocam como uma alternativa de desenvolvimento às pequenas

propriedades rurais de região, podendo ainda ter reflexos positivos quanto à segurança alimentar, à

medida que serão produzidos alimentos com uma gradativa diminuição no uso de agroquímicos, tanto

para o auto-consumo nas propriedades, como àqueles destinados ao consumo urbano.

Outro projeto envolvendo a cadeia da cana, foi o “Estudo de Adaptação de Variedades de Cana-de-açúcar

na Região Noroeste do Rio Grande do Sul”, concluído no final de 2004. Os atores envolvidos no projeto

foram a COOPERCANA, ASTRF, Governo do Estado (RS Rural), além de agroindústrias familiares de

cana dos municípios de Santo Cristo, Porto Xavier, Pirapó, Porto Lucena e Dezesseis de Novembro.

Esta iniciativa buscou testar variedades de cana de modo a identificar as que melhor se adaptam ao clima

e ao solo da região, ao produto final da cana (açúcar mascavo, aguardente, álcool, melado, rapadura), e as

variedades que dispensam a queima quando do corte da cana no canavial. Isso, com o intuito de tornar as

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atividades com a cana mais viáveis à agricultura familiar e visando a diminuição dos danos ambientais,

decorrentes da queima dos canaviais.

O projeto contou com a realização de dias de campo; visitas técnicas a uma micro-destilaria de álcool

(Ijuí); e a agroindústrias de cana (Caxambu do Sul/SC e Capanema/PR); cursos de formação (Guarani das

Missões, Porto Lucena); participação em eventos (Festa das Sementes Crioulas/Porto Lucena e o Fórum

Social Mundial 2005/Porto Alegre). Este projeto trouxe resultados positivos não apenas para os

associados da COOPERCANA, mas também para os demais produtores de cana envolvidos, um resultado

positivo da densidade institucional. Além do mais, está sendo publicada uma cartilha com os resultados

da pesquisa, estando acessível aos demais interessados.

Pode-se citar ainda o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel. O Governo Federal, propõe por

meio deste, um plano de ações no âmbito da agricultura familiar de todo território nacional. O programa

visa a produção de um combustível menos poluente, que tem como matéria-prima plantas como a

mamona, o girassol e a soja. Além do benefício ambiental, busca possibilitar a execução de projetos auto-

sustentáveis, considerando preços, qualidade, garantia de suprimento e uma política de inclusão social.

Quanto às ações ao nível local/regional, em fase de discussão, busca-se a instalação de duas ou três

plantas industriais de pequeno e médio porte. A expectativa é de que três cooperativas – COOPERCANA,

Coasa (Cooperativa Agrícola de Água Santa/RS) e Cotrimaio (Cooperativa Tritícola de Três de Maio/RS)

- produzam inicialmente de 10 a 40 toneladas de biodiesel por dia, cujo subproduto poderá ainda ser

transformado em ração animal. A COOPERCANA adaptar-se-á a produzir álcool anidro, usado na

geração do biodiesel. Já a Coasa e a Cotrimaio, forneceriam a matéria-prima, sendo que a segunda, com

uma relativa experiência quanto à comercialização e distribuição de combustível, passaria sua experiência

às outras cooperativas.

Cabe aqui mencionar o projeto, “Modernização da Planta Industrial na Produção de Álcool para Produção

de Biodiesel pela Agricultura Familiar”, encaminhado pela COOPERCANA ao BNDES em janeiro deste

ano. Nele está envolvida ainda a CRECAF – Central Regional de Cooperativas da Agricultura Familiar.

Este projeto busca a ampliação da produção de álcool hidratado (combustível), a produção de álcool

anidro (misturado à gasolina), e num segundo momento a produção de biodiesel pela COOPERCANA. O

biodiesel terá como matéria-prima a soja, havendo a possibilidade de posteriormente utilizar também a

canola, nabo forrageiro e o girassol, já cultivados na região. A partir daí, a COOPERCANA buscará

viabilizar uma integração com os agricultores ligados a CRECAF (cujas cooperativas integrantes

localizam-se nos municípios de Santo Cristo, Campina das Missões; Cândido Godói, Salvador das

Missões São Pedro do Butiá; Alecrim), os quais forneceriam a matéria-prima. A intenção dos atores em

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propor este projeto é buscar alternativas de agregação de valor à agricultura familiar bem como permitir

uma maior inserção dos agricultores familiares no mercado.

Pelo que foi mencionado acima, pode-se perceber que a densidade institucional em torno dos projetos e

das ações permite que, a partir da iniciativa dos atores locais/regionais, e da busca da interação com

demais atores das diferentes escalas de poder e gestão, torna-se possível atender algumas das demandas e

necessidades locais/regionais. Tais projetos/ações, acabam tendo um reflexo territorial e não setorial,

justamentente em razão das diferentes instituições e organizações que participam dos mesmos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Pelo que foi mencionado acima, pode-se ter uma idéia dos reflexos da inovação territorial coletiva e da

densidade institucional nos processos de desenvolvimento territorial local/regional. Estas duas variáveis,

presentes na experiência da COOPERCANA, permitem que esta organização se coloque, ao nível

local/regional, como uma instituição que, em interação com outras organizações e instituições, são juntas,

capazes de realizar ações coletivas e inovadoras, gerando reflexos territoriais.

As preocupações dos atores locais/regionais com a inovação acentuam-se na era da globalização, pois

paradoxalmente, a manutenção da diferença, ou da inovação, não é só conciliável com o processo de

globalização como deles faz parte integrante (Ferrão, 2002-a). A partir do momento em que os atores

formam uma coletividade, uma densidade institucional, e buscam a partir de suas potencialidades (ou do

capital territorial), promover inovações territoriais coletivas, torna-se possível definir trajetórias de

evolução consideradas mais adequadas ao território, levando em conta, a situação presente e um horizonte

estratégico que vise compensar as principais debilidades existentes (Ferrão, 2002-b). Assim, passam a ser

atenuados os obstáculos locais/regionais quanto à distância aos grandes centros de consumo, ao pequeno

porte e a pequena produção das propriedades rurais, quando estruturadas de forma individualizada.

A densidade institucional e as inovações citadas acima, permitem desencadear projetos e ações que

atendem a diversas demandas dos atores locais/regionais. Pode-se citar como exemplos (1) um novo uso

econômico do solo agrícola, mais adequado a realidade dos agricultores familiares estruturados em

pequenas propriedades (COOPERCANA, agroindústrias familiares), diversificando suas fontes de renda,

(2) o acesso dos mesmos a créditos financeiros (Cresol), (3) uma opção de ensino mais adequada a

realizada rural local (EMA), (4) a realização de eventos culturais e recreativos (patrocínios através da Lei

de Incentivo a Cultura), (5) a geração de empregos, (6) impostos e (7) novos conhecimentos (troca de

informações/conhecimentos entre organizações e instituições).

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Entende-se que estas ações acabam tendo resultados mais imediatos e significativos sobre o território,

pois o protagonismo dos atores locais/regionais, quanto à busca de atender suas demandas, gera um

comprometimento maior dos mesmos para com tais ações. Isso pois, são estes atores os que mais sofrem

com tais carências, sabendo o quanto e necessário atendê-las para manter as relações de poder sobre seu

território. Ou segundo Kahil (2005), os atores locais criam nos lugares um novo dinamismo já que, da

convivência com a necessidade e com o outro, a cada dia, todo novo dia está a exigir a descoberta e

criação de formas inéditas de trabalho e de luta.

Os reflexos acima citados, que como já mencionado anteriormente, tem implicações territoriais e não

apenas setoriais ou corporativos. Tais reflexos, ao nível territorial, são decorrentes justamente da

densidade institucional. Atingem um número mais amplo de atores, devido à representação e integração

dos mesmos nas ações e projetos desenvolvidos.

A densidade institucional leva ainda a despertar uma preocupação maior quanto à redução dos impactos

ambientais desta cultura sobre o ambiente. Nela, são utilizados menos agroquímicos se comparada à soja,

além de ser uma cultura perene (seu plantio não se dá anualmente, podendo um mesmo canavial produzir

por até 7 anos). São desenvolvidas ainda pesquisas para validar variedades que não exigem a queima do

canavial antes do corte, bem como testadas variedades de leguminosas que podem ser consorciadas com a

cana, a fim de reduzir o desgaste do solo quanto a sua fertilidade. Os resíduos da industrialização da cana,

relativamente nocivos ao ambiente, são transformados em energia (o bagaço, para movimentar a usina) e

em adubação para as lavouras (vinhoto).

Não se pretende aqui, afirmar que o desenvolvimento da cadeia da cana seja em si, uma alternativa de

desenvolvimento para a região em questão. Pretende-se sim, a partir de uma experiência de cultivo e

industrialização da cana-de-açúcar, (a qual, neste caso, pode ser considerada uma potencialidade

específica deste território) que apresenta características quanto à inovação territorial coletiva e a

densidade institucional, demonstrar a importância dessas duas variáveis para o desenvolvimento territorial

local/regional. É necessário portanto, que cada território, defina de que forma, com quais meios pretende

alcançar seu desenvolvimento, consciente de que não há fórmulas, métodos modelos ou estratégias pré-

definidas que assegurem resultados (Siedenberg, 2003).

E importante deixar claro que o desencadeamento do processo de desenvolvimento territorial

local/regional e seus reflexos não se deram por mérito exclusivo da COOPERCANA. Mesmo esta

caracterizando uma instituição de referência, e sendo um nó central da territorialidade decorrente das

relações de poder e gestão resultantes do cultivo e industrialização da cana-de-açúcar, tais reflexos são

decorrentes sim, da densidade institucional. Ou nas palavras de Becker (2003: 61) “estratégias bem-

sucedidas de desenvolvimento regional estão, normalmente, associadas, nos tempos recentes, a vigorosas

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estratégias (re)estruturantes de desenvolvimento regional (vontades coletivas regionais), executadas pelas

organizações e instituições das comunidades regionais, ou seja, estratégias formuladas e executadas por

sujeitos coletivos locais”.

De forma isolada, a priori, a COOPERCANA, provavelmente restringir-se-ia a atender as demanda de

seus associados. No entando, com o poder das diversas instituições e organizações, e das diversas escalas

de poder e gestão somados, torna-se possível desenvolver as ações acima enumeradas. Ações estas com

relativo grau de inovação e protagonismo local, que buscam ainda, responder a exigências do processo de

globalização. Além disso, uma importante questão é levantada por Kahil (2005) quando esta afirma que:

“as discussões em torno das questões nacionais foram sendo substituídas por soluções paliativas através de políticas compensatórias, à escala subnacional, local. Estamos a carecer de uma visão de conjunto da sociedade brasileira, um projeto nacional a partir do qual houvesse redistribuição de poderes e de recursos, prerrogativas e obrigações para todas e entre as diversas esferas político-administrativas e escalas territoriais”.

Porém, tais soluções deixam de ser paliativas à medida que se constitui uma densidade institucional,

reunindo Estado, sociedade civil e mercado, de diferentes escalas, buscando inovações territoriais

coletivas de modo a desencadear processos de desenvolvimento territorial local/regional, com base nas

potencialidades de cada território. O poder local organizado (densidade institucional local), e este

buscando interagir com as demais escalas, caracteriza uma possibilidade de desenvolvimento e

atendimento das especificidades de cada lugar, constituindo-se um território nacional mais integrado e

homogêneo. Pelas considerações feitas, pode-se considerar que a inovação territorial coletiva e a

densidade institucional são elementos que merecem ser explorados teórico e empiricamente, quanto a sua

contribuição aos processos de desenvolvimento territorial, principalmente de territórios periféricos.

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