delírios miguel bajouco (04.10.2012)
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Introdução Conceito de Delírio
Etimologia História Abordagem Fenomenológica
O Delírio através da Fenomenologia Da Compreensibilidade aos Conceitos de Primário e Secundário Delírio e Deliróide Vivências Delirantes Primárias
Humor Delirante Percepção Delirante Representação Delirante Cognição Delirante
Modalidades de Delírio segundo Kurt Schneider Ocorrência Delirante Reação Deliróide
Nosologia Os Delírios na Escola Psiquiátrica Alemã
Processo, Desenvolvimento e Reação Delírios Processuais Delírios Não Processuais
Os Delírio na Escola Psiquiátrica Francesa Delírios Agudos Delírios Crónicos
Os Delírios na Psiquiatria Norte-Americana Perturbação Delirante Diagnóstico Diferencial Curso e Evolução Tratamento
Sumário
O tema delírio, out of fashion, démodé ?
O delírio “constitui o tema central da Psicopatologia”
(Ey, H.,1950)
O delírio é o ponto máximo de concretização do pensamento psicótico
Introdução
Delusion (inglês) – deriva de delude, este do latim
deludere = enganar ou iludir
Whan (alemão) – capricho, opinião falsa, imaginação
Delírar (português) e Délire (francês)
Do latim delirare - sair da norma, “lavrar fora do sulco” (de + lira [sulco]=fora do sulco)
Aplicado ao pensamento humano seria… pensar fora do sulco da realidade
O delirante é o homem que delira…que sofre de doença mental
Conceito de Delírio Etimologia
Bastos, O. ,1986
Guiraud
Delírio (sintomas produtivos) vs Demência (sintomas negativos)
Oswald Bunke
Delírio como “erro originado morbidamente e incorrigível”.
Kraepelin “ideias morbidamente falseadas que não são acessíveis à
correção através da argumentação”
Conceito de Delírio História
Bastos, O. ,1986
Bleuler “Ideias delirantes são representações falsas, que não derivam
de uma insuficiência casual da lógica, mas de uma necessidade ou tendência interior (tendência delirante de Kraepelin)…as necessidades são sempre afetivas”.
H. Delgado Espinosa “alterações primárias do juízo, isto é, que não podem ser
deduzidas de outras experiências, nem racionais, nem emocionais. São juízos infundados que ocorrem ao indivíduo, o qual os vivencía como verdades incontestáveis e retira delas consequências, como um juízo fundamentado. Por isso, os doentes delirantes são capazes de discorrer com uma lógica intocável, porém em consonância com a falsidade que lhe serve de ponto de partida”
Conceito de Delírio História
Bastos, O. ,1986
Karl Jaspers
“Delírio de Ciúme, Contribuição à Questão - Desenvolvimento de uma Personalidade ou Processo?” (1910)
“Psicopatologia Geral” (1913)
Bases definitivas da fenomenologia do delírio
Questão da compreensibilidade vs incompreensibilidade
Delírio enquanto “Vivência Delirante”
Delírio: perturbação da consciência de realidade e dos juízos
Kurt Schneider
“Psicopatologia Clínica” (1948)
Delírio: perturbação do conteúdo do pensamento
Conceito de Delírio História
Querela de Heidelberg
“Uma transformação na vasta consciência de realidade”
“...que se manifesta secundariamente em juízos de realidade“
Vivências delirantes como “juízos patologicamente falseados”
Delírio vs erros e crenças
“...onde a corporeidade alucinatória somente tem papel transitório, não-suficiente...”
Delírio vs Delirium
“...comparativamente à modificação de experiências básicas“
É da alteração da consciência de realidade que resulta o delírio
Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica
Jaspers, K. ,1987
Para Karl Jaspers, as ideias delirantes são “todos os juízos patologicamente falsos” que possuem as seguintes características externas:
a) Certeza: “convicção extraordinária” e “certeza subjetiva incomparável”com a qual são mantidos
b) Incorrigibilidade: “não influenciáveis pela experiência ou refutações lógicas”
c) «Impossibilidade do conteúdo»
Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica
Jaspers, K. ,1913
Críticas à definição de Jaspers:
Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos, superstições..)
Poderá não haver convicção extraordinária e certeza subjetiva
Podem ser receptivas à contra-argumentação
Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade» (e.g.: Delírio de Cíume)
Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre coeu, pour n’étre point malade! De Clerambault
Bastos, O. ,1986
Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica
Críticas à definição de Jaspers:
Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos, superstições..)
Poderá não haver convicção extraordinária e certeza subjetiva
Podem ser receptivas à contra-argumentação
Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade» (e.g.: Delírio de Cíume)
Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre coeu, pour n’étre point malade! De Clerambault
Bastos, O. ,1986
Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica
“…sei que sou traído, porque sempre que eu entro em casa, o cuco está a dar 5 horas...Era a hora a que ele voltava do trabalho, e sendo o cuco um ladrão de ninhos, ele julgava ser atraiçoado pela mulher, e o canto do cuco era a prova delirante apresentada…”
Henry Ey
Caballero Goas
Fenómeno primário Imcompreensibilidade genética “surge sem motivo ou causa” (Lopez Ibor)
Perda de juízo da realidade
Conteúdo quase sempre impossível e irreal
Núcleo de toda a existência
Ruptura com a realidade Expressão de uma profunda alteração da personalidade “uma inversão das relações da realidade do Eu com o
Mundo…alienação da pessoa” (H. Ey)
Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica
Goas, C., 1966
O Delírio através da Fenomenologia
Secundário
Primário
Compreensibilidade Genética
Incompreensibilidade Estática e Genética
Da Compreensibilidade aos Conceitos de Primário e Secundário
Estática
“Quanto à origem do delírio devem distinguir-se duas grandes classes:”
“Autênticas Ideias Delirantes” (Wahnideen) Fenómeno primário e incompreensível
“…não são susceptíveis de serem seguidos psicologicamente, e do ponto de vista fenomenológico são algo de último e derradeiro…”
“Ideias deliróides” (Wahnhafteideen) “são as que surgem compreensivelmente de outros processos
psíquicos, que podem ser seguidas psicologicamente a partir das emoções, dos instintos, dos desejos e medos; não implicam nenhuma transformação da personalidade, antes são compreensíveis pela disposição permanente da personalidade ou estado de ânimo transitório.”
Delírio e Deliróide
Jaspers, K.,1987
“As tentativas de compreender as vivências delirantes
primárias serão sempre infrutíferas (…) sobra sempre um resto enorme de algo incompreensível, inapreensível e imperceptível”
Consciência de realidade como uma consciência de significação
O significado surge da consciência que está em relação com o objeto
Na "experiência básica modificada" da vivência delirante, a consciência de significação experimenta uma transformação radical
Vivências Delirantes Primárias
Jaspers, K.,1987
“os doentes sentem algo de estranho, há alguma coisa que
pressentem. Tudo tem nova significação. O ambiente está diferente…é uma modificação subtil, que tudo tinge e envolve numa luminosidade estranha e incerta. Uma atmosfera indefinível domina…Há algo no ar…uma tensão suspeita, desagradável, estranha(…)”
Vivências Delirantes Primárias
Humor Delirante
Jaspers, K.,1987
Os doentes referem-se a um segundo sentido das mensagens
ou atitudes dos outros – vivências de “posto”.1
“…são assaltados por pressentimentos e obscuras
suspeitas…Nada mais é como dantes, é algo de dramático, mas não
ainda conhecido, que está por acontecer…” 2
Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante
1Pio de Abreu, J.L., 1994 2Jaspers, K.,1987
“Algo está diferente”
“algo de novo está surgindo”
Grau máximo da angústia psicótica
“…há sempre algo de presente, embora totalmente impreciso...Esta disposição delirante geral, sem conteúdo determinado é insuportável. Os doentes sofrem horrivelmente; e encontrar uma ideia determinada já é um alívio. Nasce no doente uma sensação de falta de apoio e insegurança que o impele instintivamente a procurar um ponto firme…”
“…uma ideia clara…ação tranquilizadora…embora a partir dela nasçam as convicções de perseguição ou juízos de exaltação e grandeza”
Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante
Jaspers, K.,1987
Trema (Conrad) aumento de tensão que precede a irrupção do surto
esquizofrénico…é algo de “atormentador e incontrolável”. 1
“O doente fica aprisionado no seu mundo que se torna caótico, estranho e incompreensível para ele mesmo.”2
(Pio de Abreu)
Desvio da Seta Intencional (Lopez-Ibor) “em vez de se dirigir do indivíduo para o mundo (conferindo-lhe
significados), dirige-se do mundo para o indivíduo”. 2
Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante
1Conrad, K., 1963 2Pio Abreu, J.L., 1994
“quando uma significação delirante é experimentada sem que haja
qualquer perturbação sensorial estamos perante percepções delirantes…vão desde vivências de significação imprecisa, até claros delírios de observação e autoreferência” (Jaspers)
Na vivência de significação imprecisa, os objetos e as pessoas significam algo de diferente mas não definido: “…chamam a atenção do doente as fisionomias transfiguradas, a beleza dominadora do sol…deve estar a acontecer alguma coisa…”
Na vivência de observação determinados fenómenos do mundo passam a chamar a atenção: uma flor caída, um cordão de sapato, uma palavra pronunciada por alguém, uma parede amarela rachada, etc.
Na vivência de auto-referência, as significações são delimitadas e referidas ao doente: um olhar, uma palavra, o miado de um gato.
Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante
Jaspers, K. ,1987
Kurt Schneider:
“é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”
“...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;
Inexistência de um motivo compreensível que a origine;
Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;
Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;
A “estranheza” é “sempre dupla”;
Estrutura de dois membros: o que vai do indivíduo ao objeto percebido; e outro que vai do objeto percebido à significação anormal.
Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia
Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante
Schneider, K.,1968
Kurt Schneider:
“é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”
“...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;
Inexistência de um motivo compreensível que a origine;
Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;
Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;
A “estranheza” é “sempre dupla”;
Estrutura de dois membros: o que vai do indivíduo ao objeto percebido; e outro que vai do objeto percebido à significação anormal.
Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia
Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante
Schneider, K.,1968
“Quando percebi que chamavam três vezes às 12 horas em ponto no andar inferior e que um Volkswagen vermelho passava rápido pela rua, senti um medo terrível e compreendi que se havia decidido o destino da Europa” 2
“surgem sob a forma de novas significações das recordações
da vida ou na forma de ocorrência repentinas”.
Exemplo 1: “O doente afirma «Eu sou filho do Rei Luís o que é confirmado pela recordação de como o imperador, ao passar a cavalo na parada, há alguns anos, olhou calorosamente para ele.”
Exemplo 2: “Numa das noites tornou-se evidente para mim, de repente e de modo muito natural que a Sra. L. é a causa provável destas coisas simplesmente terríveis que nos últimos anos tive que sofrer (influência telepática entre outras)…tudo se me impôs de modo repentino e de todo inesperado.”
Vivências Delirantes Primárias - Representação Delirante
Jaspers, K. ,1987
Vivência que surge intuitivamente, de modo imediato,
sem qualquer vinculação com dados perceptivos do mundo.
Exemplo:“Uma jovem ao abrir casualmente a Bíblia, lê o episódio da ressureição de Lázaro. De imediato sente-se como Maria. Marta é a sua irmã e Lázaro o primo doente. Ela experiencía o acontecimento que lê, como uma vivência própria.”
Vivências Delirantes Primárias – Cognição Delirante
Paim, I. ,1993b
Engloba a representação delirante e cognição delirante
descritas por Jaspers. 1
Fenomenologicamente indistinguível do aparecimento súbito de uma ideia normal.
Estado único: “trata-se de um fenómeno que une diretamente o indivíduo à ocorrência, não havendo o segundo membro da percepção delirante que vai do objeto percebido à significação anormal.”2
Auto-referencial“significação especial.”1,2
“…menor importância para o diagnóstico de Esquizofrenia.” 1,2
Modalidades de Delírio de K. Schneider - Ocorrência Delirante
1Paim, I, 1993b 2 Schneider K.,1968
“…constituem-se sempre sobre a base afetiva, a partir de uma
distimia, da angústia expectante, da desconfiança.”1
Ideias/Reações Deliróides vs Ideias Delirantes Secundárias 2
Modalidades de Delírio de K. Schneider– Reação Deliróide
1 Schneider, K.,1968 2 Goas C.,1960
Ideias/Reações Deliróides
Ideias Delirantes Secundárias
Origem
- Estado de Humor - Personalidade anormal
- Situação de stress
Vivência patológica
Características
- Influenciáveis - Corrigíveis
- Fraca convicção subjetiva
≈ Delírios Primários (Ininfluenciabilidade,
Incorrigibilidade, Convicção Subjetiva)
Nosologia
Os Delírios na Escola Psiquiátrica Alemã
Processo
Tipicamente esquizofrénico
“algo inteiramente novo” (Jaspers)
Alteração da estrutura do Eu
Ruptura da unidade histórico-significativa
Incompreensível genéticamente
Vivências primárias, inderiváveis e irredutíveis
Deterioração da personalidade
Processo,
Desenvolvimento, Reação
Paim, I. ,1993a
Desenvolvimento
3 premissas:
Personalidade Prévia característica
“possibilidades implícitas” de base biológica (Lopez Ibor)
Circunstância ou acontecimento vital mobilizador
Distinto do Processo:
Compreensível geneticamente
Sem deterioração da personalidade
Reação
Vivência anormal (Intensidade e duração desproporcionadas)
Determinantes:
Predisposição pessoal
Factores externos desencadeantes
Processo, Desenvolvimento, Reação
Paim, I. ,1993a
Primário e processual geneticamente incompreensível
Início em idades jovens
Elaboração a partir de uma vivência delirante primária
Mal sistematizado
Mecanismo variado (interpretativo, alucinatório, intuitivo, etc.)
Conteúdos polimórficos, bizarros e ilógicos
Evolução com grave deterioração da personalidade
Marcada avolição e indiferença afetiva
Contraste entre a intensidade das alucinações auditivo-verbais e conteúdos delirantes e a escassa ressonância afectiva do doente
Delírios Processuais Delírio Esquizofrénico Paranóide
Kraepelin, 1913
Forma intermédia entre a Paranóia e a Demência Precoce
Início tardio (>30 anos)
Primário, crónico e mal sistematizado
Conteúdo polimórfico
3 temas: perseguição, erostismo, megalomania
Menos incoerente que o delírio esquizofrénico
Síndrome alucinatório de base imaginativa
“Diplopía da existência“(H. Ey).
Deterioração sui generis (<Delírio Esquizofrénico)
afeta mais a consistência das ideais delirantes que as capacidades afetivas e volitivas do indivíduo
Delírios Processuais Delírios Parafrénicos
Kraepelin, E. ,2005
Quatro formas clínicas (cf. Kraepelin): Sistemática Delírio persecutório progressivo e megalómano mais tarde. Alucinações auditivo-verbais (++), cenestésicas e
pseudoalucinações Comportamento congruente com o conteúdo delirante hostil e ameaçador (perseguido); irónico e altivo (megalómano) < suspeição e desconfiança que o paranóico perseguido
Expansiva Sexo Feminino (75%) Ideias megalómanas de tonalidade erótica (++) e místicas Alucinações táteis, visuais e cenestésicas (ativam o delírio erótico) Humor expansivo ou irritável Altivos, com tendência à insolência e as explosões coléricas
Delírios Processuais Delírios Parafrénicos
Kraepelin, E. ,2005
Confabulatória
Rara
Temática delirante semelhante
Ausência de alucinações e pseudoalucinações
Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos reconhecimentos)
Fantástica
Conteúdo delirante extravagante
delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)
Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes
Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.
Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da personalidade
Delírios Processuais Delírios Parafrénicos
Kraepelin, E. ,2005
Confabulatória
Rara
Temática delirante semelhante
Ausência de alucinações e pseudoalucinações
Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos reconhecimentos)
Fantástica
Conteúdo delirante extravagante
delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)
Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes
Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.
Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da personalidade
Delírios Processuais Delírios Parafrénicos
Kraepelin, E. ,2005
"são o prolongamento de um movimento psicótico interrompido"
Henry Ey
“O tempo dirá se são formas atenuadas de Esquizofrenia ou algo diferente dela”
E.Bleuler
Segundo Kraepelin, a Paranóia (DesenvolvimentoParanóide) é:
Delírio crónico, de início insidioso, bem sistematizado
Endógeno (≠ psicoses psicogénicas reativas)
Sem deterioração da personalidade (≠ delírio esquizofrénico e
parafrénico)
Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide
Kraepelin, E. ,2007
Personalidade Prévia
Personalidade paranóide (enfoque paranóide da vida)
Desconfiança e suspeita permanente
Rigidez psíquica
Egocentrismo
Autoreferência
Hostilidade
Escassa autocrítica
“inseguras de si mesmas”na sua forma sensitiva "com capacidade de impressão aumentada para todas as vivências.” ( Schneider)
“necessitadas de estima” (Schneider) ou de “carácter histérico” (Kock)
Circunstância ou acontecimento vital transcendente capaz de mobilizar as características anómalas da personalidade
que sobrevalorize uma ideia para constitui o ponto de partida do delírio
Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide
Goas, C., 1966
Características fundamentais: Delírio crónico Início insidioso e progressivo (40 anos) Mecanismo interpretativo Temática persecutória (++) Sem alucinações ou pseudoalucinações Bem sistematizado Ideias sobrevalorizadas como base Atividade delirante de intensidade variável Preservação das capacidades afetivo-volitivas “ao serviço do
delírio” Acentua a convicção subjetiva, ininfluenciabilidade e incorrigibilidade
Caráter racional e verosímil Extensão em continuidade a múltiplos domínios Grande influência do fator afetivo: “muito mais uma sinfonia que um
verdadeiro teorema” (H. Ey)
Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide
Goas, C., 1966
Resposta do tipo delirante determinada por:
Predisposição da personalidade prévia (paranóide)
Circunstâncias vitais desencadeantes
Descrição semiológica: Delírio sistematizado e estável
Mecanismo interpretativo (outros mecanismos secundários)
Temática uniforme, lógica, verossímil
Em relação com a personalidade prévia e fatores desencadeantes
Sem desagregação ou destruturação do Eu
Transitória (determinada pela presença do fator desencadeante)
Evolução com remissão total e sem deterioração
Delírios Não-Processuais Reação Paranóide
Goas, C., 1966
Prognóstico Reversível e transitória através de: Terapêutica; Extinção da situação Mudanças favoráveis nos fatores externos
Evolução para Desenvolvimento Delirante Paranóide Bom prognóstico se: Início agudo Individualização dos factores desencadeantes < 30 anos Sexo feminino Duração < 6 meses antes de início da hospitalização
Delírios Não-Processuais Reação Paranóide
Goas, C., 1966
Reação Paranóide
Vivência única e aguda Paranóia Abortiva (Gaupp)
Paranóia Psicogénica (Kraepelin, Lange, Lacan)
Paranóia Atenuada (Friedmann)
Delírio Sensitivo de Autoreferência (Kretschmer)
Delírio Querelante Recidivante (Racke)
Autênticas Psicoses de Situação
Vivência contínua, prolongada
Por Ação do Meio : Delírios induzidos ou partilhados - Folie à Deux da Escola Francesa Psicose Imposta
Psicose Simultânea
Psicose Comunicada
Por Isolamento do Meio Físico (e.g. Reclusos)
Sensorial (e.g. Cegos, Surdos)
Linguístico (e.g. Emigrantes)
Delírios Não-Processuais Reação Paranóide
Vidal, D.A.,1997
Reação delirante sobre uma personalidade sensitiva
(asténicos, tímidos,inseguros, hipersensíveis, escrupulosos)
São habituais as autorecriminações ético-morais a respeito do seu comportamento, com sentimentos de culpa e vergonha - delírio de " jovens masturbadores " e “velhas solteironas“;
3 formas de expressão:
Reação Paranóide
Casos “puros” com bom prognóstico
Desenvolvimento Paranóide
Organiza-se a partir da personalidade de traços sensitivo-paranóides;
Casos + graves
Desencadeante de Processo Esquizofrénico
Psicose reativa que “cristaliza” com deterioração
Delírios Não-Processuais Delírio Sensitivo-Paranóide de Kretschmer
Vidal, D.A.,1997
Nosologia
Os Delírios na Escola Psiquiátrica Francesa
Alucinatórios “Bouffée” delirante (≈Holodisfrenias de Barahona Fernandes) Protótipo dos delírios agudos alucinatórios
Início súbito (em baforada) e evolução curta
Alucinações auditivo-verbais e visuais
Ideias delirantes persecutórias, megalómanas, eróticas ou místicas, não estruturadas
Remissão completa (raramente evolução crónica)
Não Alucinatórios Exclusivos da Escola Francesa
Delírio Imaginativo Agudo e Delírio Interpretativo Agudo
Delírios Agudos
Goas, C.,1966
Lasègue (1852) – Delírio Sistemático de Perseguição
Tentativas de classificação clínica:
Tema do delírio
e.g. Delírio de grandeza de Foville e de perseguição de Falret)
Mecanismo
e.g. delírios de interpretação de Serieux e Capgras, imaginativos de Dupré, de amor de Clerambault, etc.
Característica Formais e Evolutivas
Delírios Sistemáticos
Delírios Crónicos
Vidal, D.A.,1997
Alucinatórios e.g. Delírio Crónico de Evolução Sistemática de Magnan
(≈Parafrenias Sistemática e Fantástica)
Não Alucinatórios
Delírio de interpretação (Serieux e Capgras)
Desenvolvimento em teia de aranha
Interpretações delirantes
Ausência de alucinações
Organização sistematizada com persistência do raciocínio
Incurável mas sem evolução demencial
Delírios Crónicos
Ey, H., 1950
Não Alucinatórios Delírio de Reivindicação (Serieux e Capgras)
Coexistência de “ideia prevalente” (política, social, erótica, cíume, etc.) com “estado passional”
Fanáticos, reciosos, rancorosos, vingativos
Desenvolvimento em cunha e intensidade máxima ad initium
Delírio do Reivindicador egocêntrico
e.g. Querelantes, Persecutórios, Hipocondríacos, Erotomaníacos, etc.
Delírio do Reivindicador altruísta
e.g. Inventores, “Reformadores sociais”, Autodidatas, profetas
Delírio de Imaginação (Dupré e Logre)
Delírios Crónicos
Ey, H., 1950
Os Delírios Passionais (Gaetan de Clerambault) Clerambault descreve magistralmente a Erotomania, o mais
importante dos seus “delírios passionais”
Delírio platónico e reivindicativo… “convicção de ser amado por alguém que não o conhece ou o ignora (geralmente uma pessoa importante).
Desenvolve-se em fases:
Esperança: qualquer ato acentua a convicção delirante de ser amado
Despeito: resultado de rejeição repetida
Ódio e rancor: ameças e agressões
Delírios Crónicos
Ey, H., 1950
Nosologia
Os Delírios na Psiquiatria Norte-Americana
Papel secundário da Psicopatologia Descritiva
Influência da Psicanálise e desvalorização da descrição semiológica
As classificações DSM-II (1968) e DSM-III (1980) Releva o tipo de personalidade e síndromes clínicas
Esquizofrenia e “Estados Paranóides” como "entidades", estimulando a multiplicidade de diagnósticos de um mesmo caso.
A revisão do DSM-III (1987) nova designação de "Perturbações Delirantes";
o termo "paranóide" abandonado por ser inerentemente ambíguo e pressupor conteúdos persecutórios no delírio.
Delírios na Psiquiatria Norte-Americana
Vidal, D.A.,1997
Na classificação norteamericana actual DSM-IV-TR (2000), os
quadros delirantes aparecem rígidamente codificados, separados da Esquizofrenia e das Pertubações do Humor, compreendendo:
Perturbação Delirante [F22.0],
Perturbação Psicótica Breve [F23],
Perturbação Psicótica Partilhada (folie à deux) [F24].
Transtorno Psicótico devido a Doença Médica, com ideias delirantes (F06.2)
Transtorno Psicótico Induzido por Substâncias scom ideias Delirantes
Transtorno Psicótico não-especificado (F29)
Delírios na Psiquiatria Norte-Americana
Na classificação americana, o conceito da Perturbação Delirante é
semelhante à definição de Paranóia de Emile Kraepelin
Os critérios da DSM-IV-TR para a Perturbação Delirante são:1 A. Ideias delirantes não bizarras
B. O critério A para Esquizofrenia nunca foi preenchido.
C. O funcionamento não está marcadamente alterado
D. Se ocorreram episódios do humor simultaneamente com as ideias delirantes, a sua duração total foi relativamente breve
E. A perturbação não é devida aos efeitos fisiológicos directos de uma substância ou a um estado físico geral.
Tipos: Persecutório, Ciúme, Erotomaníaco, Somático, Grandiosidade, Misto, Não Especificado
Delírios na Psiquiatria Norte-Americana – Perturbação Delirante
1American Psychiatric Association,2002
O Diagnóstico Diferencial deve ser feito com:
Esquizofrenia paranóide e Perturbação Esquizofreniforme.
Perturbações do Humor com Sintomas Psicóticos.
Perturbação Paranóide da Personalidade
Delirios Orgânicos
Perturbação Psicótica Breve [F23.8X]
Delírios na Psiquiatria Norte-Americana – Perturbação Delirante
American Psychiatric Association,2002
Curso e Evolução:
Em concordância com os conceitos primitivos de Kraepelin, a maioría dos estudos de seguimento sugerem que a Perturbação Delirante tem estabilidade diagnóstica ao longo do tempo.
Outro autores afirmarm que cerca de um quarto dos doentes com o diagnóstico de Perturbação Delirante tinham desenvolvido uma esquizofrenia, confirmando as ideias primitivas de Bleuler a respeito do tema da Paranóia.
Delírios na Psiquiatria Norte-Americana – Perturbação Delirante
Vidal, D.A.,1997
Tratamento: Áliança terapêutica é fundamental dada a ausência de consciência
mórbida, nunca desafiando o delírio do doente, mas evitando o seu reforço.
A hospitalização, quando necessária, quase sempre é involuntária
Os antipsicóticos têm mostrado eficácia relativa
antipsicóticos convencionais e atípicos
A psicoterapia do orientação cognitiva mostrou-se eficaz a
reduzir a preocupação por falsas crenças,
diminuir o isolamento social provocado pelos delírios
reorientá-lo para a realidade.
Delírios na Psiquiatria Norte-Americana – Perturbação Delirante
American Psychiatric Association (2002).DSM-IV-TR -Manual de Diagnóstico e Estatística das
Perturbações Mentais, (4ª ed.).Lisboa: Climepsi Editores.
Bastos, O. (1986). Curso Sobre Delírios. Jornal Brasileiro de Psiquiatria, 35(1)
Bhugra, D. & Munro, A., et al. (1997). Troublesome Disguises – Underdiagnosed Psychiatric
Syndromes. Oxford: Blackwell Science
Conrad, K. (1963). La Esquizofrenia Incipiente: Intento de un Análisis de la Forma del Delírio.
Madrid: Ed. Alhambra
Ey, H. (1950). Estudo Sobre os Delirios. Madrid: Editora Paz Montalvo
Goas, C. (1966). Temas Psiquiátricos. Madrid: Editora Paz Montalvo
Jaspers, K. (1987) Psicopatologia Geral, Vol.1. Rio de Janeiro: Livraria Atheneu.
Bibliografia
Kraepelin, E. (2005). Obras de Kraepelin: A Demência Precoce (2º Parte) e Parafrenias.
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