delírios miguel bajouco (04.10.2012)

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Page 1: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)
Page 2: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Introdução Conceito de Delírio

Etimologia História Abordagem Fenomenológica

O Delírio através da Fenomenologia Da Compreensibilidade aos Conceitos de Primário e Secundário Delírio e Deliróide Vivências Delirantes Primárias

Humor Delirante Percepção Delirante Representação Delirante Cognição Delirante

Modalidades de Delírio segundo Kurt Schneider Ocorrência Delirante Reação Deliróide

Nosologia Os Delírios na Escola Psiquiátrica Alemã

Processo, Desenvolvimento e Reação Delírios Processuais Delírios Não Processuais

Os Delírio na Escola Psiquiátrica Francesa Delírios Agudos Delírios Crónicos

Os Delírios na Psiquiatria Norte-Americana Perturbação Delirante Diagnóstico Diferencial Curso e Evolução Tratamento

Sumário

Page 3: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

O tema delírio, out of fashion, démodé ?

O delírio “constitui o tema central da Psicopatologia”

(Ey, H.,1950)

O delírio é o ponto máximo de concretização do pensamento psicótico

Introdução

Page 4: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Delusion (inglês) – deriva de delude, este do latim

deludere = enganar ou iludir

Whan (alemão) – capricho, opinião falsa, imaginação

Delírar (português) e Délire (francês)

Do latim delirare - sair da norma, “lavrar fora do sulco” (de + lira [sulco]=fora do sulco)

Aplicado ao pensamento humano seria… pensar fora do sulco da realidade

O delirante é o homem que delira…que sofre de doença mental

Conceito de Delírio Etimologia

Bastos, O. ,1986

Page 5: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Guiraud

Delírio (sintomas produtivos) vs Demência (sintomas negativos)

Oswald Bunke

Delírio como “erro originado morbidamente e incorrigível”.

Kraepelin “ideias morbidamente falseadas que não são acessíveis à

correção através da argumentação”

Conceito de Delírio História

Bastos, O. ,1986

Page 6: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Bleuler “Ideias delirantes são representações falsas, que não derivam

de uma insuficiência casual da lógica, mas de uma necessidade ou tendência interior (tendência delirante de Kraepelin)…as necessidades são sempre afetivas”.

H. Delgado Espinosa “alterações primárias do juízo, isto é, que não podem ser

deduzidas de outras experiências, nem racionais, nem emocionais. São juízos infundados que ocorrem ao indivíduo, o qual os vivencía como verdades incontestáveis e retira delas consequências, como um juízo fundamentado. Por isso, os doentes delirantes são capazes de discorrer com uma lógica intocável, porém em consonância com a falsidade que lhe serve de ponto de partida”

Conceito de Delírio História

Bastos, O. ,1986

Page 7: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Karl Jaspers

“Delírio de Ciúme, Contribuição à Questão - Desenvolvimento de uma Personalidade ou Processo?” (1910)

“Psicopatologia Geral” (1913)

Bases definitivas da fenomenologia do delírio

Questão da compreensibilidade vs incompreensibilidade

Delírio enquanto “Vivência Delirante”

Delírio: perturbação da consciência de realidade e dos juízos

Kurt Schneider

“Psicopatologia Clínica” (1948)

Delírio: perturbação do conteúdo do pensamento

Conceito de Delírio História

Querela de Heidelberg

Page 8: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

“Uma transformação na vasta consciência de realidade”

“...que se manifesta secundariamente em juízos de realidade“

Vivências delirantes como “juízos patologicamente falseados”

Delírio vs erros e crenças

“...onde a corporeidade alucinatória somente tem papel transitório, não-suficiente...”

Delírio vs Delirium

“...comparativamente à modificação de experiências básicas“

É da alteração da consciência de realidade que resulta o delírio

Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica

Jaspers, K. ,1987

Page 9: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Para Karl Jaspers, as ideias delirantes são “todos os juízos patologicamente falsos” que possuem as seguintes características externas:

a) Certeza: “convicção extraordinária” e “certeza subjetiva incomparável”com a qual são mantidos

b) Incorrigibilidade: “não influenciáveis pela experiência ou refutações lógicas”

c) «Impossibilidade do conteúdo»

Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica

Jaspers, K. ,1913

Page 10: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Críticas à definição de Jaspers:

Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos, superstições..)

Poderá não haver convicção extraordinária e certeza subjetiva

Podem ser receptivas à contra-argumentação

Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade» (e.g.: Delírio de Cíume)

Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre coeu, pour n’étre point malade! De Clerambault

Bastos, O. ,1986

Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica

Page 11: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Críticas à definição de Jaspers:

Nem todo o juizo falso é delirante (e.g. preconceitos religiosos, superstições..)

Poderá não haver convicção extraordinária e certeza subjetiva

Podem ser receptivas à contra-argumentação

Conteúdo delirante nem sempre é uma «impossibilidade» (e.g.: Delírio de Cíume)

Plút au ciel, Monsieur, qu’il suffise d´’étre coeu, pour n’étre point malade! De Clerambault

Bastos, O. ,1986

Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica

“…sei que sou traído, porque sempre que eu entro em casa, o cuco está a dar 5 horas...Era a hora a que ele voltava do trabalho, e sendo o cuco um ladrão de ninhos, ele julgava ser atraiçoado pela mulher, e o canto do cuco era a prova delirante apresentada…”

Henry Ey

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Caballero Goas

Fenómeno primário Imcompreensibilidade genética “surge sem motivo ou causa” (Lopez Ibor)

Perda de juízo da realidade

Conteúdo quase sempre impossível e irreal

Núcleo de toda a existência

Ruptura com a realidade Expressão de uma profunda alteração da personalidade “uma inversão das relações da realidade do Eu com o

Mundo…alienação da pessoa” (H. Ey)

Conceito de Delírio Abordagem Fenomenológica

Goas, C., 1966

Page 13: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

O Delírio através da Fenomenologia

Page 14: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Secundário

Primário

Compreensibilidade Genética

Incompreensibilidade Estática e Genética

Da Compreensibilidade aos Conceitos de Primário e Secundário

Estática

Page 15: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

“Quanto à origem do delírio devem distinguir-se duas grandes classes:”

“Autênticas Ideias Delirantes” (Wahnideen) Fenómeno primário e incompreensível

“…não são susceptíveis de serem seguidos psicologicamente, e do ponto de vista fenomenológico são algo de último e derradeiro…”

“Ideias deliróides” (Wahnhafteideen) “são as que surgem compreensivelmente de outros processos

psíquicos, que podem ser seguidas psicologicamente a partir das emoções, dos instintos, dos desejos e medos; não implicam nenhuma transformação da personalidade, antes são compreensíveis pela disposição permanente da personalidade ou estado de ânimo transitório.”

Delírio e Deliróide

Jaspers, K.,1987

Page 16: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

“As tentativas de compreender as vivências delirantes

primárias serão sempre infrutíferas (…) sobra sempre um resto enorme de algo incompreensível, inapreensível e imperceptível”

Consciência de realidade como uma consciência de significação

O significado surge da consciência que está em relação com o objeto

Na "experiência básica modificada" da vivência delirante, a consciência de significação experimenta uma transformação radical

Vivências Delirantes Primárias

Jaspers, K.,1987

Page 17: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

“os doentes sentem algo de estranho, há alguma coisa que

pressentem. Tudo tem nova significação. O ambiente está diferente…é uma modificação subtil, que tudo tinge e envolve numa luminosidade estranha e incerta. Uma atmosfera indefinível domina…Há algo no ar…uma tensão suspeita, desagradável, estranha(…)”

Vivências Delirantes Primárias

Humor Delirante

Jaspers, K.,1987

Page 18: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Os doentes referem-se a um segundo sentido das mensagens

ou atitudes dos outros – vivências de “posto”.1

“…são assaltados por pressentimentos e obscuras

suspeitas…Nada mais é como dantes, é algo de dramático, mas não

ainda conhecido, que está por acontecer…” 2

Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante

1Pio de Abreu, J.L., 1994 2Jaspers, K.,1987

“Algo está diferente”

“algo de novo está surgindo”

Page 19: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Grau máximo da angústia psicótica

“…há sempre algo de presente, embora totalmente impreciso...Esta disposição delirante geral, sem conteúdo determinado é insuportável. Os doentes sofrem horrivelmente; e encontrar uma ideia determinada já é um alívio. Nasce no doente uma sensação de falta de apoio e insegurança que o impele instintivamente a procurar um ponto firme…”

“…uma ideia clara…ação tranquilizadora…embora a partir dela nasçam as convicções de perseguição ou juízos de exaltação e grandeza”

Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante

Jaspers, K.,1987

Page 20: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Trema (Conrad) aumento de tensão que precede a irrupção do surto

esquizofrénico…é algo de “atormentador e incontrolável”. 1

“O doente fica aprisionado no seu mundo que se torna caótico, estranho e incompreensível para ele mesmo.”2

(Pio de Abreu)

Desvio da Seta Intencional (Lopez-Ibor) “em vez de se dirigir do indivíduo para o mundo (conferindo-lhe

significados), dirige-se do mundo para o indivíduo”. 2

Vivências Delirantes Primárias – Humor Delirante

1Conrad, K., 1963 2Pio Abreu, J.L., 1994

Page 21: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

“quando uma significação delirante é experimentada sem que haja

qualquer perturbação sensorial estamos perante percepções delirantes…vão desde vivências de significação imprecisa, até claros delírios de observação e autoreferência” (Jaspers)

Na vivência de significação imprecisa, os objetos e as pessoas significam algo de diferente mas não definido: “…chamam a atenção do doente as fisionomias transfiguradas, a beleza dominadora do sol…deve estar a acontecer alguma coisa…”

Na vivência de observação determinados fenómenos do mundo passam a chamar a atenção: uma flor caída, um cordão de sapato, uma palavra pronunciada por alguém, uma parede amarela rachada, etc.

Na vivência de auto-referência, as significações são delimitadas e referidas ao doente: um olhar, uma palavra, o miado de um gato.

Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante

Jaspers, K. ,1987

Page 22: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Kurt Schneider:

“é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”

“...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;

Inexistência de um motivo compreensível que a origine;

Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;

Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;

A “estranheza” é “sempre dupla”;

Estrutura de dois membros: o que vai do indivíduo ao objeto percebido; e outro que vai do objeto percebido à significação anormal.

Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia

Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante

Schneider, K.,1968

Page 23: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Kurt Schneider:

“é uma percepção normal à qual se atribui significado anómalo…”

“...na maioria das vezes no sentido da auto-referência”;

Inexistência de um motivo compreensível que a origine;

Significação é “estranha”, “simbólica” e sempre “imposta” ao Eu;

Carácter de “aviso”, “sinal” ou “mensagem”, como falasse – diz Schneider – uma “realidade superior” ou “uma revelação”;

A “estranheza” é “sempre dupla”;

Estrutura de dois membros: o que vai do indivíduo ao objeto percebido; e outro que vai do objeto percebido à significação anormal.

Sintoma de primeira-ordem de Esquizofrenia

Vivências Delirantes Primárias - Percepção Delirante

Schneider, K.,1968

“Quando percebi que chamavam três vezes às 12 horas em ponto no andar inferior e que um Volkswagen vermelho passava rápido pela rua, senti um medo terrível e compreendi que se havia decidido o destino da Europa” 2

Page 24: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

“surgem sob a forma de novas significações das recordações

da vida ou na forma de ocorrência repentinas”.

Exemplo 1: “O doente afirma «Eu sou filho do Rei Luís o que é confirmado pela recordação de como o imperador, ao passar a cavalo na parada, há alguns anos, olhou calorosamente para ele.”

Exemplo 2: “Numa das noites tornou-se evidente para mim, de repente e de modo muito natural que a Sra. L. é a causa provável destas coisas simplesmente terríveis que nos últimos anos tive que sofrer (influência telepática entre outras)…tudo se me impôs de modo repentino e de todo inesperado.”

Vivências Delirantes Primárias - Representação Delirante

Jaspers, K. ,1987

Page 25: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Vivência que surge intuitivamente, de modo imediato,

sem qualquer vinculação com dados perceptivos do mundo.

Exemplo:“Uma jovem ao abrir casualmente a Bíblia, lê o episódio da ressureição de Lázaro. De imediato sente-se como Maria. Marta é a sua irmã e Lázaro o primo doente. Ela experiencía o acontecimento que lê, como uma vivência própria.”

Vivências Delirantes Primárias – Cognição Delirante

Paim, I. ,1993b

Page 26: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Engloba a representação delirante e cognição delirante

descritas por Jaspers. 1

Fenomenologicamente indistinguível do aparecimento súbito de uma ideia normal.

Estado único: “trata-se de um fenómeno que une diretamente o indivíduo à ocorrência, não havendo o segundo membro da percepção delirante que vai do objeto percebido à significação anormal.”2

Auto-referencial“significação especial.”1,2

“…menor importância para o diagnóstico de Esquizofrenia.” 1,2

Modalidades de Delírio de K. Schneider - Ocorrência Delirante

1Paim, I, 1993b 2 Schneider K.,1968

Page 27: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

“…constituem-se sempre sobre a base afetiva, a partir de uma

distimia, da angústia expectante, da desconfiança.”1

Ideias/Reações Deliróides vs Ideias Delirantes Secundárias 2

Modalidades de Delírio de K. Schneider– Reação Deliróide

1 Schneider, K.,1968 2 Goas C.,1960

Ideias/Reações Deliróides

Ideias Delirantes Secundárias

Origem

- Estado de Humor - Personalidade anormal

- Situação de stress

Vivência patológica

Características

- Influenciáveis - Corrigíveis

- Fraca convicção subjetiva

≈ Delírios Primários (Ininfluenciabilidade,

Incorrigibilidade, Convicção Subjetiva)

Page 28: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Nosologia

Os Delírios na Escola Psiquiátrica Alemã

Page 29: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Processo

Tipicamente esquizofrénico

“algo inteiramente novo” (Jaspers)

Alteração da estrutura do Eu

Ruptura da unidade histórico-significativa

Incompreensível genéticamente

Vivências primárias, inderiváveis e irredutíveis

Deterioração da personalidade

Processo,

Desenvolvimento, Reação

Paim, I. ,1993a

Page 30: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Desenvolvimento

3 premissas:

Personalidade Prévia característica

“possibilidades implícitas” de base biológica (Lopez Ibor)

Circunstância ou acontecimento vital mobilizador

Distinto do Processo:

Compreensível geneticamente

Sem deterioração da personalidade

Reação

Vivência anormal (Intensidade e duração desproporcionadas)

Determinantes:

Predisposição pessoal

Factores externos desencadeantes

Processo, Desenvolvimento, Reação

Paim, I. ,1993a

Page 31: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Primário e processual geneticamente incompreensível

Início em idades jovens

Elaboração a partir de uma vivência delirante primária

Mal sistematizado

Mecanismo variado (interpretativo, alucinatório, intuitivo, etc.)

Conteúdos polimórficos, bizarros e ilógicos

Evolução com grave deterioração da personalidade

Marcada avolição e indiferença afetiva

Contraste entre a intensidade das alucinações auditivo-verbais e conteúdos delirantes e a escassa ressonância afectiva do doente

Delírios Processuais Delírio Esquizofrénico Paranóide

Page 32: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Kraepelin, 1913

Forma intermédia entre a Paranóia e a Demência Precoce

Início tardio (>30 anos)

Primário, crónico e mal sistematizado

Conteúdo polimórfico

3 temas: perseguição, erostismo, megalomania

Menos incoerente que o delírio esquizofrénico

Síndrome alucinatório de base imaginativa

“Diplopía da existência“(H. Ey).

Deterioração sui generis (<Delírio Esquizofrénico)

afeta mais a consistência das ideais delirantes que as capacidades afetivas e volitivas do indivíduo

Delírios Processuais Delírios Parafrénicos

Kraepelin, E. ,2005

Page 33: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Quatro formas clínicas (cf. Kraepelin): Sistemática Delírio persecutório progressivo e megalómano mais tarde. Alucinações auditivo-verbais (++), cenestésicas e

pseudoalucinações Comportamento congruente com o conteúdo delirante hostil e ameaçador (perseguido); irónico e altivo (megalómano) < suspeição e desconfiança que o paranóico perseguido

Expansiva Sexo Feminino (75%) Ideias megalómanas de tonalidade erótica (++) e místicas Alucinações táteis, visuais e cenestésicas (ativam o delírio erótico) Humor expansivo ou irritável Altivos, com tendência à insolência e as explosões coléricas

Delírios Processuais Delírios Parafrénicos

Kraepelin, E. ,2005

Page 34: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Confabulatória

Rara

Temática delirante semelhante

Ausência de alucinações e pseudoalucinações

Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos reconhecimentos)

Fantástica

Conteúdo delirante extravagante

delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)

Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes

Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.

Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da personalidade

Delírios Processuais Delírios Parafrénicos

Kraepelin, E. ,2005

Page 35: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Confabulatória

Rara

Temática delirante semelhante

Ausência de alucinações e pseudoalucinações

Paramnésias au fure et à mesure (falsas-memórias e falsos reconhecimentos)

Fantástica

Conteúdo delirante extravagante

delírios persecutórios e de influência; delírios megalómanos (+ tarde)

Alucinações auditivas e cenestésicas frequentes

Sugestionabilidade e certa indiferença afectiva.

Forma clínica de parafrenia que provoca maior deterioração da personalidade

Delírios Processuais Delírios Parafrénicos

Kraepelin, E. ,2005

"são o prolongamento de um movimento psicótico interrompido"

Henry Ey

“O tempo dirá se são formas atenuadas de Esquizofrenia ou algo diferente dela”

E.Bleuler

Page 36: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Segundo Kraepelin, a Paranóia (DesenvolvimentoParanóide) é:

Delírio crónico, de início insidioso, bem sistematizado

Endógeno (≠ psicoses psicogénicas reativas)

Sem deterioração da personalidade (≠ delírio esquizofrénico e

parafrénico)

Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide

Kraepelin, E. ,2007

Page 37: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Personalidade Prévia

Personalidade paranóide (enfoque paranóide da vida)

Desconfiança e suspeita permanente

Rigidez psíquica

Egocentrismo

Autoreferência

Hostilidade

Escassa autocrítica

“inseguras de si mesmas”na sua forma sensitiva "com capacidade de impressão aumentada para todas as vivências.” ( Schneider)

“necessitadas de estima” (Schneider) ou de “carácter histérico” (Kock)

Circunstância ou acontecimento vital transcendente capaz de mobilizar as características anómalas da personalidade

que sobrevalorize uma ideia para constitui o ponto de partida do delírio

Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide

Goas, C., 1966

Page 38: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Características fundamentais: Delírio crónico Início insidioso e progressivo (40 anos) Mecanismo interpretativo Temática persecutória (++) Sem alucinações ou pseudoalucinações Bem sistematizado Ideias sobrevalorizadas como base Atividade delirante de intensidade variável Preservação das capacidades afetivo-volitivas “ao serviço do

delírio” Acentua a convicção subjetiva, ininfluenciabilidade e incorrigibilidade

Caráter racional e verosímil Extensão em continuidade a múltiplos domínios Grande influência do fator afetivo: “muito mais uma sinfonia que um

verdadeiro teorema” (H. Ey)

Delírios Não-Processuais Desenvolvimento Paranóide

Goas, C., 1966

Page 39: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Resposta do tipo delirante determinada por:

Predisposição da personalidade prévia (paranóide)

Circunstâncias vitais desencadeantes

Descrição semiológica: Delírio sistematizado e estável

Mecanismo interpretativo (outros mecanismos secundários)

Temática uniforme, lógica, verossímil

Em relação com a personalidade prévia e fatores desencadeantes

Sem desagregação ou destruturação do Eu

Transitória (determinada pela presença do fator desencadeante)

Evolução com remissão total e sem deterioração

Delírios Não-Processuais Reação Paranóide

Goas, C., 1966

Page 40: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Prognóstico Reversível e transitória através de: Terapêutica; Extinção da situação Mudanças favoráveis nos fatores externos

Evolução para Desenvolvimento Delirante Paranóide Bom prognóstico se: Início agudo Individualização dos factores desencadeantes < 30 anos Sexo feminino Duração < 6 meses antes de início da hospitalização

Delírios Não-Processuais Reação Paranóide

Goas, C., 1966

Page 41: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Reação Paranóide

Vivência única e aguda Paranóia Abortiva (Gaupp)

Paranóia Psicogénica (Kraepelin, Lange, Lacan)

Paranóia Atenuada (Friedmann)

Delírio Sensitivo de Autoreferência (Kretschmer)

Delírio Querelante Recidivante (Racke)

Autênticas Psicoses de Situação

Vivência contínua, prolongada

Por Ação do Meio : Delírios induzidos ou partilhados - Folie à Deux da Escola Francesa Psicose Imposta

Psicose Simultânea

Psicose Comunicada

Por Isolamento do Meio Físico (e.g. Reclusos)

Sensorial (e.g. Cegos, Surdos)

Linguístico (e.g. Emigrantes)

Delírios Não-Processuais Reação Paranóide

Vidal, D.A.,1997

Page 42: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Reação delirante sobre uma personalidade sensitiva

(asténicos, tímidos,inseguros, hipersensíveis, escrupulosos)

São habituais as autorecriminações ético-morais a respeito do seu comportamento, com sentimentos de culpa e vergonha - delírio de " jovens masturbadores " e “velhas solteironas“;

3 formas de expressão:

Reação Paranóide

Casos “puros” com bom prognóstico

Desenvolvimento Paranóide

Organiza-se a partir da personalidade de traços sensitivo-paranóides;

Casos + graves

Desencadeante de Processo Esquizofrénico

Psicose reativa que “cristaliza” com deterioração

Delírios Não-Processuais Delírio Sensitivo-Paranóide de Kretschmer

Vidal, D.A.,1997

Page 43: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Nosologia

Os Delírios na Escola Psiquiátrica Francesa

Page 44: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Alucinatórios “Bouffée” delirante (≈Holodisfrenias de Barahona Fernandes) Protótipo dos delírios agudos alucinatórios

Início súbito (em baforada) e evolução curta

Alucinações auditivo-verbais e visuais

Ideias delirantes persecutórias, megalómanas, eróticas ou místicas, não estruturadas

Remissão completa (raramente evolução crónica)

Não Alucinatórios Exclusivos da Escola Francesa

Delírio Imaginativo Agudo e Delírio Interpretativo Agudo

Delírios Agudos

Goas, C.,1966

Page 45: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Lasègue (1852) – Delírio Sistemático de Perseguição

Tentativas de classificação clínica:

Tema do delírio

e.g. Delírio de grandeza de Foville e de perseguição de Falret)

Mecanismo

e.g. delírios de interpretação de Serieux e Capgras, imaginativos de Dupré, de amor de Clerambault, etc.

Característica Formais e Evolutivas

Delírios Sistemáticos

Delírios Crónicos

Vidal, D.A.,1997

Page 46: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Alucinatórios e.g. Delírio Crónico de Evolução Sistemática de Magnan

(≈Parafrenias Sistemática e Fantástica)

Não Alucinatórios

Delírio de interpretação (Serieux e Capgras)

Desenvolvimento em teia de aranha

Interpretações delirantes

Ausência de alucinações

Organização sistematizada com persistência do raciocínio

Incurável mas sem evolução demencial

Delírios Crónicos

Ey, H., 1950

Page 47: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Não Alucinatórios Delírio de Reivindicação (Serieux e Capgras)

Coexistência de “ideia prevalente” (política, social, erótica, cíume, etc.) com “estado passional”

Fanáticos, reciosos, rancorosos, vingativos

Desenvolvimento em cunha e intensidade máxima ad initium

Delírio do Reivindicador egocêntrico

e.g. Querelantes, Persecutórios, Hipocondríacos, Erotomaníacos, etc.

Delírio do Reivindicador altruísta

e.g. Inventores, “Reformadores sociais”, Autodidatas, profetas

Delírio de Imaginação (Dupré e Logre)

Delírios Crónicos

Ey, H., 1950

Page 48: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

Os Delírios Passionais (Gaetan de Clerambault) Clerambault descreve magistralmente a Erotomania, o mais

importante dos seus “delírios passionais”

Delírio platónico e reivindicativo… “convicção de ser amado por alguém que não o conhece ou o ignora (geralmente uma pessoa importante).

Desenvolve-se em fases:

Esperança: qualquer ato acentua a convicção delirante de ser amado

Despeito: resultado de rejeição repetida

Ódio e rancor: ameças e agressões

Delírios Crónicos

Ey, H., 1950

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Nosologia

Os Delírios na Psiquiatria Norte-Americana

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Papel secundário da Psicopatologia Descritiva

Influência da Psicanálise e desvalorização da descrição semiológica

As classificações DSM-II (1968) e DSM-III (1980) Releva o tipo de personalidade e síndromes clínicas

Esquizofrenia e “Estados Paranóides” como "entidades", estimulando a multiplicidade de diagnósticos de um mesmo caso.

A revisão do DSM-III (1987) nova designação de "Perturbações Delirantes";

o termo "paranóide" abandonado por ser inerentemente ambíguo e pressupor conteúdos persecutórios no delírio.

Delírios na Psiquiatria Norte-Americana

Vidal, D.A.,1997

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Na classificação norteamericana actual DSM-IV-TR (2000), os

quadros delirantes aparecem rígidamente codificados, separados da Esquizofrenia e das Pertubações do Humor, compreendendo:

Perturbação Delirante [F22.0],

Perturbação Psicótica Breve [F23],

Perturbação Psicótica Partilhada (folie à deux) [F24].

Transtorno Psicótico devido a Doença Médica, com ideias delirantes (F06.2)

Transtorno Psicótico Induzido por Substâncias scom ideias Delirantes

Transtorno Psicótico não-especificado (F29)

Delírios na Psiquiatria Norte-Americana

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Na classificação americana, o conceito da Perturbação Delirante é

semelhante à definição de Paranóia de Emile Kraepelin

Os critérios da DSM-IV-TR para a Perturbação Delirante são:1 A. Ideias delirantes não bizarras

B. O critério A para Esquizofrenia nunca foi preenchido.

C. O funcionamento não está marcadamente alterado

D. Se ocorreram episódios do humor simultaneamente com as ideias delirantes, a sua duração total foi relativamente breve

E. A perturbação não é devida aos efeitos fisiológicos directos de uma substância ou a um estado físico geral.

Tipos: Persecutório, Ciúme, Erotomaníaco, Somático, Grandiosidade, Misto, Não Especificado

Delírios na Psiquiatria Norte-Americana – Perturbação Delirante

1American Psychiatric Association,2002

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O Diagnóstico Diferencial deve ser feito com:

Esquizofrenia paranóide e Perturbação Esquizofreniforme.

Perturbações do Humor com Sintomas Psicóticos.

Perturbação Paranóide da Personalidade

Delirios Orgânicos

Perturbação Psicótica Breve [F23.8X]

Delírios na Psiquiatria Norte-Americana – Perturbação Delirante

American Psychiatric Association,2002

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Curso e Evolução:

Em concordância com os conceitos primitivos de Kraepelin, a maioría dos estudos de seguimento sugerem que a Perturbação Delirante tem estabilidade diagnóstica ao longo do tempo.

Outro autores afirmarm que cerca de um quarto dos doentes com o diagnóstico de Perturbação Delirante tinham desenvolvido uma esquizofrenia, confirmando as ideias primitivas de Bleuler a respeito do tema da Paranóia.

Delírios na Psiquiatria Norte-Americana – Perturbação Delirante

Vidal, D.A.,1997

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Tratamento: Áliança terapêutica é fundamental dada a ausência de consciência

mórbida, nunca desafiando o delírio do doente, mas evitando o seu reforço.

A hospitalização, quando necessária, quase sempre é involuntária

Os antipsicóticos têm mostrado eficácia relativa

antipsicóticos convencionais e atípicos

A psicoterapia do orientação cognitiva mostrou-se eficaz a

reduzir a preocupação por falsas crenças,

diminuir o isolamento social provocado pelos delírios

reorientá-lo para a realidade.

Delírios na Psiquiatria Norte-Americana – Perturbação Delirante

Page 56: Delírios   miguel bajouco (04.10.2012)

American Psychiatric Association (2002).DSM-IV-TR -Manual de Diagnóstico e Estatística das

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Bibliografia

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Kraepelin, E. (2007). Obras de Kraepelin: Lições Clínicas sobre a Demência Precoce, a Loucura

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Paim, I. (1993a). Curso de Psicopatologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária

Paim, I. (1993b). História da Psicopatologia. São Paulo: Editora Pedagógica e Universitária

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