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de taludes
Denise M. S. Gerscovich
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Copyright 2012 Oficina de Textos
Grafia atualizada conforme o Acordo Ortogrfico da Lngua Portuguesa de 1990, em
vigor no Brasil a partir de 2009.
Conselho editorial Cylon Gonalves da Silva; Jos Galizia Tundisi; Luis Enrique Snchez; Paulo Helene; Rozely Ferreira dos Santos;
Teresa Gallotti Florenzano
Capa, projeto grfico e diagramao Malu VallimPreparao de figuras Eduardo RossettoPreparao de texto Rena SignerReviso de texto Gerson SilvaImpresso e acabamento Grfica e editora Vida & Conscincia
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Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)(Cmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Gerscovich, Denise Estabilidade de taludes / Denise Gerscovich. -- So Paulo : Oficina de Textos, 2012.
Bibliografia.ISBN 978-85-7975-043-4
1. Engenharia de estruturas 2. Geotcnica 3. Geotxteis 4. Mecnica do solo I. Ttulo.
12-03568 CDD-624
ndices para catlogo sistemtico:
1. Estabilidade de taludes : Engenharia civil 624
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Agradeo aos meus mestres, que me ensinaram como enfrentar o
desafio de prever o comportamento de um material to complexo,
produto da natureza.
Agradeo aos meus alunos, que motivaram a organizao deste
volume.
Agradeo minha famlia, que me apoiou em todos os momentos
da minha vida.
Agradeo Faperj pelo apoio ao ensino e pesquisa no Rio de
Janeiro.
Agradecimentos
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AApresentao
A questo da segurana envolvendo taludes em materiais geome-
canicos (solos, alterao de rocha, fraturas e descontinuida-
des, rochas) um problema recorrente nas Engenharias Civil e
Geotcnica, seja envolvendo encostas naturais, seja envolvendo
taludes de aterros e pilhas. Em muitas situaes nos mais diver-
sos tipos de obras e outras intervenes humanas, a avaliao da
segurana de taludes o fator controlador de projetos, normal-
mente expresso sob a forma de um coeficiente de segurana
mnimo a ser estabelecido como critrio de projeto/implantao ou
sob outras formas de expressar a segurana (p.ex., probabilidade
de ruptura). Destacam-se ainda as frequentes ocorrncias recentes
de fenmenos macios de movimentao de massa em encostas
naturais, com maior ou menor influncia humana.
Apesar do assunto estabilidade de taludes ser tratado como captulo
em grande nmero de livros-texto particularmente estrangeiros, mas
tambm em algumas referncias brasileiras , havia uma carncia de
um texto mais especfico envolvendo as anlises de estabilidade com
uma abordagem tanto qualitativa como quantitativa.
O livro da Profa. Denise Gerscovitch vem suprir essa lacuna na
literatura tcnica bsica brasileira. Pela sua estruturao, este livro
fornece uma viso abrangente do problema de avaliao da segurana
de taludes naturais, aterros e pilhas, cobrindo os diversos aspectos do
problema envolvendo:
1. identificao do tipo de movimento de massa, essencial para
seleo do mtodo de avaliao qualitativa ou de anlise quantita-
tiva do fenmeno;
2. conceituao das causas possveis dos escorregamentos e conse-
quente seleo do tipo de anlise a ser aplicada em cada caso;
3. definio do tipo de solicitao envolvida (drenada ou no drenada,
curto ou longo prazo) e consequente definio do tipo de anlise
a ser aplicada (tenses efetivas ou totais, materiais saturados ou
parcialmente saturados);
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4. identificao e determinao dos parmetros geomecnicos dos
materiais (solos, rochas, planos de fraqueza, descontinuidade)
requeridos nos tipos de movimento e de anlise identificados; e
5. descrio detalhada dos mtodos de clculo usados em anlises de
estabilidade, aplicveis em cada situao.
A Profa. Denise tem slida formao bsica e acadmica e larga
experincia em estudos e avaliaes envolvendo estabilidade de encos-
tas naturais e taludes de aterros, sob diferentes condies. Tambm
professora de cursos de graduao e ps-graduao relacionados com
esse assunto e supervisionou diversas teses de mestrado e trabalhos
de final de curso, alm de diversas palestras tcnicas e relatos gerais
em conferncias. Ressalte-se tambm sua participao na equipe que
elaborou o Manual de Estabilidade de Encostas da Geo-Rio, referncia brasi-
leira obrigatria sobre o assunto. Seu trabalho de pesquisa de douto-
ramento, relacionado com estabilidade de encostas, destacou-se pelo
tratamento simultneo do problema de infiltrao de gua de chuva em
encostas naturais, parcialmente saturadas, com a avaliao de efeitos
tridimensionais nos estudos de fluxo e estabilidade. O trabalho ainda
abrangeu o estudo de um caso real de escorregamento de grande porte e
importncia em encosta natural no Rio de Janeiro, tornando-se um dos
mais completos e inovadores nessa rea.
Tendo acompanhado ao longo de vrios anos as atividades acad-
micas e profissionais da Profa. Denise, tenho a certeza de que a presente
publicao se tornar uma referncia obrigatria em cursos de gradua-
o em Engenharia Civil e Engenharia Geotcnica, assim como impor-
tante referncia para cursos de ps-graduao e para profissionais de
Engenharia Geotcnica.
Vamos esperar que, em breve, a autora d continuidade a esta
primeira publicao, envolvendo exemplos e casos de aplicaes e um
novo texto envolvendo mtodos de clculo das tcnicas de estabilizao
de encostas.
Leandro de Moura Costa Filho
Scio-Diretor da LPS Consultoria e Engenharia
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SSumrio
1 Tipos de talude e movimento de massa ...............................................131.1 Tipos de talude ........................................................................................................... 131.2 Tipos de movimento de massa ........................................................................... 17
2 Conceitos bsicos aplicados a estudos de estabilidade ................372.1 Conceito de tenso ................................................................................................... 372.2 Conceito de deformaes .................................................................................... 442.3 Comportamento tenso x deformao ............................................................. 442.4 Tenses em solos ...................................................................................................... 482.5 gua no solo ................................................................................................................ 592.6 Resistncia ao cisalhamento ................................................................................. 77
3 Concepo de projeto de estabilidade ...............................................853.1 Quanto geometria da ruptura ........................................................................... 873.2 Quanto ao mtodo de anlise .............................................................................. 873.3 Quanto escolha da condio crtica: final de construo x longo prazo ........................................................................................ 933.4 Quanto ao tipo de anlise .................................................................................... 953.5 Quanto aos parmetros dos materiais .............................................................. 96
4 Mtodos de estabilidade ........................................................................1014.1 Talude vertical solos coesivos ........................................................................... 1014.2 Blocos rgidos .............................................................................................................. 1034.3 Talude Infinito .............................................................................................................. 1054.4 Superfcies planares ................................................................................................ 1094.5 Superfcie circular ....................................................................................................... 1134.6 Superfcies no circulares ....................................................................................... 1354.7 Comentrios sobre os mtodos de Equilbrio limite ................................... 146
Anexo A ............................................................................................................151Anexo B ............................................................................................................157
Referncias bibliogrficas citadas e recomendadas ..........................161
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1tipos de talude e movimento de massa1.1 Tipos de talude
Talude a denominao que se d a qualquer superfcie inclinada de
um macio de solo ou rocha. Ele pode ser natural, tambm denomi-
nado encosta, ou construdo pelo homem, como, por exemplo, os
aterros e cortes.
A Fig. 1.1 exemplifica vrias situaes prticas em que as anli-
ses de estabilidade so necessrias. No caso de aterros construdos ou
cortes, a anlise deve ser realizada considerando as alteraes geradas
ao longo da execuo e aps o trmino da obra, de forma a identificar a
condio mais crtica em termos de segurana. No caso de barragens de
terra, deve-se analisar a estabilidade nas diversas etapas de construo
e operao, isto , no final da construo, durante a operao e em situa-
es em que a barragem poder estar sujeita a um rebaixamento rpido
do reservatrio. As barragens de rejeitos so estruturas semelhantes s
barragens de terra, entretanto, tm a funo de estocagem de resduo
e, em muitos casos, o prprio rejeito usado como material de constru-
o. Esse tipo de obra tem como condio crtica a baixa capacidade de
suporte do resduo.
A ruptura em si caracteriza-se pela formao de uma superfcie de
cisalhamento contnua na massa de solo. Portanto, existe uma camada
de solo em torno da superfcie de cisalhamento que perde suas caracte-
rsticas durante o processo de ruptura, formando assim a zona cisalhada,
conforme mostrado na Fig. 1.2. Inicialmente, forma-se a zona cisalhada
e, em seguida, desenvolve-se a superfcie de cisalhamento.
1.1.1 Taludes construdosOs taludes construdos pela ao humana resultam de cortes em
encostas, de escavaes ou de lanamento de aterros.
Os cortes devem ser executados com altura e inclinao adequa-
das, para garantir a estabilidade da obra. O projeto depende das proprie-
dades geomecnicas dos materiais e das condies de fluxo.
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Estabilidade de taludes22
Corridas
Corridas so movimentos de alta velocidade ( 10 km/h) gerados pela perda completa das caractersticas de resistncia do solo. A
massa de solo passa a se comportar como um fluido e os desloca-
mentos atingem extenses significativas.
O processo de fluidificao pode originar-se por: i) adio de gua
em solos predominantemente arenosos; ii) esforos dinmicos (terre-
moto, cravao de estacas etc.); iii) amolgamento em argilas muito sensi-
tivas. Dentre esses fatores, a presena de gua em excesso em perodos
de precipitao intensa mais usual.
A forma da corrida assemelha-se a uma lngua, na qual se distin-
guem trs elementos (Fig. 1.8): a regio de montante, denominada raiz,
Fig. 1.7 Distribuio de velocidade em funo do tipo de movimento (modificado de Lacerda, 1966)
Fig. 1.6 Exemplo de rastejo (Sharpe, 1938 apud Guidicini e Nieble, 1983)
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1 | Tipos de Talude e Movimento de Massa31
resistncia ao cisalhamento. Assim, os
mecanismos deflagradores da ruptura
podem ser divididos em dois grupos
(Quadro 1.6).
No caso de encostas naturais, o
movimento de massa induzido pela infil-
trao de guas de chuva um fenmeno
comum em regies montanhosas tropicais.
Entretanto, retroanlises de casos hist-
ricos demonstram que, em alguns deles,
a infiltrao da gua atravs da super-Fig. 1.21 Condio de ruptura por escorregamento
Quadro 1.6 Classificao dos fatores deflagradores dos movimentos de massa
ao faToreS fenmenoS geolgicoS / anTrpicoS
Aum
ento
da
solic
ita
o
Remoo de massa (lateral ou da base) (Fig. 1.22)
ErosoEscorregamentosCortes
Sobrecarga Peso da gua de chuva, neve, granizo etc.Acmulo natural de material (depsitos)Peso da vegetaoConstruo de estruturas, aterros etc.
Solicitaes dinmicas Terremotos, ondas, vulces etc.Exploses, trfego, sismos induzidos
Presses laterais gua em trincas (Fig. 1.23 )CongelamentoMaterial expansivo
Redu
o
da re
sist
ncia
ao
cisa
lham
ento
Caractersticas inerentes ao material (geometria, estruturas etc.)
Caractersticas geomecnicas do material
Mudanas ou fatores variveis
Ao do intemperismo provocando alteraes fsico--qumicas nos minerais originais, causando quebra das ligaes e gerando novos minerais com menor resistncia.Processos de deformao em decorrncia de variaes cclicas de umedecimento e secagem, reduzindo a resistncia.Variao das poropresses (Fig. 1.24 ):Elevao do lenol fretico por mudanas no padro natural de fluxo (construo de reservatrios, processos de urbanizao etc.). Infiltrao da gua em meios no saturados, causando reduo das presses de gua negativas (suco).Gerao de excesso de poropresso, como resultado de implantao de obras.Fluxo preferencial atravs de trincas ou juntas, aceleran-do os processos de infiltrao.
Fonte: adaptada de Varnes (1978).
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2conceitos bsicos aplicados a estudos de estabilidadeEm geral, os estudos de estabilidade de taludes seguem a seguinte
metodologia:
definio da topografia do talude; definio das sobrecargas a serem aplicadas sobre o talude, caso
existam;
execuo das investigaes de campo para definir a estratigrafia e identificar os elementos estruturais eventualmente enterrados na
massa e os nveis freticos;
definio das condies crticas do talude, considerando diversos momentos da vida til da obra;
definio dos locais de extrao de amostra indeformada; realizao de ensaios de caracterizao, resistncia ao cisalhamento
e deformabilidade (para estudos de anlise de tenses);
anlise dos resultados dos ensaios para definir os parmetros de projeto;
adoo de mtodos de dimensionamento para a obteno do fator de segurana ou das tenses e deformaes.
A qualidade do projeto depende da confiabilidade das investigaes
de campo e laboratrio e da capacidade do projetista em interpretar os
resultados experimentais, definir os parmetros de projeto e, principal-
mente, analisar os diferentes cenrios possveis que possam alterar as
condies de resistncia ao cisalhamento e reduzir o fator de segurana.
A seguir, apresentam-se os conceitos bsicos necessrios para a
realizao de um estudo de estabilidade.
2.1 Conceito de tensoQualquer ponto no interior da massa de solo est sujeito a esforos,
em razo do peso prprio, alm daqueles gerados pela ao de foras
externas. Esses esforos podem ser representados por suas resultantes,
atuantes nas direes normal (Ra) e tangencial (Ta), a partir das quais,
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Estabilidade de taludes38
Fig. 2.1 Tenses no ponto P (plano a)
definem-se os estados de tenso normal (sa) e cisalhante (ta), como mostra a Fig. 2.1.
(2.1)
(2.2)
Ao se ampliar esse conceito
para a condio tridimensional,
quando um sistema de eixos ortogo-
nais passa por um determinado
ponto, as componentes de tenso so
definidas por nove parcelas, repre-
sentadas graficamente na Fig. 2.2.
Conhecidas as componentes
das tenses em trs planos ortogo-
nais em torno de um ponto, as
componentes da tenso em qualquer
outro plano podem ser obtidas pelas
equaes de equilbrio de foras (Fig. 2.3).
Existem alguns planos e condies com caractersticas especiais,
descritos a seguir.
Planos principais as tenses cisalhantes so nulas e as tenses normais so designadas por s1 > s2 > s3.
Invariantes de tenso (I1, I2, I3) as direes e magnitudes das tenses principais so independentes das orientaes dos eixos X,
y e z. Assim,
Fig 2.2 Componentes de tenso tridimensional
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Estabilidade de taludes52
2.4.3 Tenses in situ Superfcie horizontalAs tenses in situ so originadas pelo peso prprio do macio e sua
determinao pode ser bastante complexa em situaes de grande
heterogeneidade e topografia irregular. No entanto, quando a
superfcie do terreno, assim como as subcamadas, so horizontais
e h pouca variao das propriedades do solo na direo horizon-
tal, a determinao das tenses in situ relativamente simples.
A esta situao d-se o nome de geosttica.
Em condio geosttica, no existem tenses cisalhantes atuando
nos planos verticais e horizontais, razo pela qual esses planos
correspondem aos planos principais de tenso. Esse cenrio pode ser
idealizado a partir da anlise do processo de formao de um solo
sedimentar, no qual a deposio de sucessivas camadas impe aos
elementos de solo acrscimos de tenso que tendem a gerar deformaes
verticais e horizontais (Fig.2.21). Na direo horizontal, as deformaes
se anulam, uma vez que h uma compensao de tendncia de desloca-
mentos entre elementos adjacentes. Com a inexistncia de tendncia de
deslocamento horizontal, no so mobilizadas tenses cisalhantes nos
planos horizontais durante o processo de
formao do depsito. Como consequncia,
os planos horizontais e verticais so planos
principais.
No atender qualquer um dos requi-
sitos da Fig. 2.21 pode acarretar o apareci-
mento de tenses cisalhantes nos planos
horizontais e verticais. No caso de super-
fcies inclinadas, por exemplo, a tendncia
de movimentao da massa de solo
gera tenses cisalhantes nos planos
horizontais e, consequentemente,
verticais (Fig.2.22).
Em casos de superfcie incli-
nada, a prtica tem mostrado que
o clculo da tenso vertical pode
ser feito com a mesma metodologia
adotada para a condio geost-
tica; entretanto, a determinao dos
demais estados iniciais de tenses
mais complexa.Fig. 2.22 Superfcie inclinada
Fig. 2.21 Condio geosttica solo sedimentar
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2 | Conceitos bsicos aplicados a estudos de estabilidade69
denominados aquferos. A permeabilidade do material no deter-
mina se este se torna um aqufero. O que importa o contraste
de permeabilidades com os materiais circundantes, isto , uma
camada de solo siltoso pode se tornar um aqufero se estiver
contida entre camadas argilosas.
Os aquferos podem estar confinados entre duas camadas imper-
meveis ou no confinados. Em geral, os aquferos confinados so
saturados, enquanto os no confinados podem estar parcialmente
saturados ou no apresentar nvel dgua.
Aquferos em que a carga piezomtrica superior cota de sua
extremidade superior so denominados aquferos artesianos. Em alguns
casos, a elevada carga piezomtrica associada a determinadas estrati-
grafias acarreta surgncias dgua na superfcie do terreno. Esse padro
de fluxo particularmente importante para os estudos de estabilidade,
pois geram tenses efetivas muito baixas no p do talude e ainda podem
promover eroso interna.
As camadas consideradas no aquferos representam barreiras
para a movimentao da gua. Assim, possvel encontrar situaes em
que um determinado perfil apresenta mais de um nvel dgua, denomi-
nado nvel dgua suspenso (Fig. 2.41).
Como a velocidade de fluxo no aqufero lenta e laminar, consi-
dera-se vlida a adoo da lei de Darcy, a qual estabelece que o fluxo (q)
ocorre pela ao de gradientes hidrulicos (i = Dh/L), isto ,
Fig. 2.40 Regime regional de fluxo
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3concepo de projetode estabilidadeO objetivo da anlise de estabilidade avaliar a possibilidade
de ocorrncia de escorregamento de massa de solo presente em
talude natural ou construdo. Em geral, as anlises so realizadas
pela comparao das tenses cisalhantes mobilizadas com a resis-
tncia ao cisalhamento. Com isso, define-se um fator de segurana
dado por:
(3.1)
Esse tipo de abordagem denominado determinstico, pois estabe-
lece um determinado valor para o FS. O FSadm de um projeto corresponde
a um valor mnimo a ser atingido e varia em funo do tipo de obra
e vida til. A definio do valor admissvel para o fator de segurana
(FSadm) depende, entre outros fatores, das consequncias de uma eventual
ruptura em termos de perdas humanas e/ou econmicas.
A norma NBR 11682 (ABNT, 2008) estabelece que, dependendo dos
riscos envolvidos, deve-se inicialmente enquadrar o projeto em uma
das classificaes de Nvel de Segurana, definidas a partir dos riscos de
perdas humanas (Quadro 3.1) e perdas materiais (Quadro 3.2). A qualifica-
o de risco deve considerar no somente as condies atuais do talude,
como tambm o uso futuro da rea, preservando-se o talude contra
cortes na base, desmatamento, sobrecargas e infiltrao excessiva.
Quadro 3.1 Nvel de segurana desejado contra perdas humanas
Nvel de segurana Critrios
Alto reas com intensa movimentao e permanncia de pessoas, como edificaes pblicas, residen-ciais ou industriais, estdios, praas e demais locais urbanos, ou no, com possibilidade de elevada concentrao de pessoasFerrovias e rodovias de trfego intenso
Mdio reas e edificaes com movimentao e permanncia restrita de pessoasFerrovias e rodovias de trfego moderado
Baixo reas e edificaes com movimentao e permanncia eventual de pessoasFerrovias e rodovias de trfego reduzido
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Estabilidade de taludes98
qualidade dos ensaios ou mesmo da representatividade das amostras,
isto , se elas efetivamente traduzem o comportamento de todo talude.
Nesses casos, recomenda-se reduzir os parmetros de resistncia por
fatores de segurana, que podem variar entre 1 e 1,5, dependendo da
importncia da obra e do grau de confiana nos ensaios. Por exemplo:
(3.9)
(3.10)
em que fd e cd so, respectivamente, o ngulo de atrito e o intercepto de coeso para projeto; fp e cp so, respectivamente, o ngulo de atrito e o intercepto de coeso de pico; e FSf e FSc so os fatores de reduo para
atrito e coeso, respectivamente.
A Tab. 3.2 apresenta uma
indicao de valores tpicos dos
parmetros geotcnicos de solos
da regio do Rio de Janeiro.
Ruptura progressivaNa abordagem por equilbrio
limite, o FS admitido constante
em toda a superfcie; entretanto,
raro um talude romper de
modo abrupto. Adicionalmente,
Tab. 3.2 Valores tpicos de parmetros geotcnicos
Tipo de solo g (kN/m3) f (graus) c (kPa)
Aterro compactado (silte arenoargiloso)
19 - 21 32 -42 0 - 20
Solo residual maduro Colvio in situ
17 - 21 15 - 20
30 - 38 27 - 3 5
5 - 20 0 - 15
Areia densa Areia fofa
18 - 21 17 - 19
35 - 40 30 - 35
0 0
Pedregulho uniforme Pedregulho arenoso
18 - 21 19 - 21
40 - 47 35 - 42
0 0
Quadro 3.5 Parmetros e ensaios em solo no saturadoSituao crtica
Tipo de anlise Parmetros/envoltria de resistncia Ensaios de laboratrio
Final de construo (no drenado em solos compacta-dos)
Tenses efetivas
Triaxial CD, Cisalhamento direto, Triaxial CU com medida de poropresso, para determinao de c, fTriaxial PN (ensaio mantendo-se k = sh/sv = constante), para a obteno do parmetro de poropresso ru
Tenses totais Triaxial CU em amostras no saturadas
Longo prazo (drenado)
Tenses efetivas Ensaio com suco controlada
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4mtodos de estabilidade
Os mtodos apresentados a seguir baseiam-se na abordagem por
Equilbrio Limite e foram desenvolvidos para anlises em 2D.
Todos os mtodos pressupem estado plano de deformao e sua
validade est associada forma da da superfcie de ruptura.
Independentemente do mecanismo de ruptura, em solos coesivos
comum uma formao de trincas de trao na superfcie do terreno
antes do escorregamento. Quando isso ocorre, a superfcie potencial
de ruptura na regio da trinca deixa de contribuir para a estabilidade
global, como mostra a Fig. 4.1. Adicionalmente, eventuais sobrecargas
contidas no trecho no afetam mais os momentos instabilizantes. A
trinca pode ser preenchida por gua
e, com isso, gerar esforos adicio-
nais (h projetistas que consideram
a fatia limitada pela trinca para fins
de clculo dos momentos instabili-
zantes, como forma de compensar a
possibilidade de esta ser preenchida
por gua). Portanto, aconselhvel
estimar a profundidade da trinca.
4.1 Talude vertical solos coesivos
4.1.1 Trinca de traoCom base na teoria de equil-
brio limite, Rankine verificou
que, em macios com superfcie
plana, a menor tenso horizon-
tal suportada pelo solo poderia
ser definida pelo crculo de
ruptura e envoltria de Mohr-
Coulomb (Fig. 4.2).
Fig. 4.1 Trinca de trao
Fig. 4.2 Circulo de Mohr para solo coesivo
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4 | Mtodos de estabilidade 119
Fig. 4.22 baco de estabilidade: linha fretica com linha fretica profunda
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BAnexo
Resumo dos mtodos de anlise deestabilidade de taludes em solo (GeoRio, 1999)
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