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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ DOUGLAS LEMOS DEFICIÊNCIA E EXCLUSÃO SOCIAL: Uma contribuição à inclusão sócio-jurídica dos portadores de necessidades especiais Itajaí (SC), novembro de 2009 PDF created with pdfFactory trial version www.pdffactory.com

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ

DOUGLAS LEMOS

DEFICIÊNCIA E EXCLUSÃO SOCIAL:

Uma contribuição à inclusão sócio-jurídica dos portadores de necessidades

especiais

Itajaí (SC), novembro de 2009

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DOUGLAS LEMOS

DEFICIÊNCIA E EXCLUSÃO SOCIAL:

Uma contribuição à inclusão sócio-jurídica dos portadores de necessidades especiais

Monografia apresentada como requisito parcial para a

obtenção do título de Bacharel em Direito, na

Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências

Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus de Itajaí.

Orientador: Prof. Dr. Jonas Modesto de Abreu.

Itajaí (SC), novembro de 2009

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Dedico este trabalho a todos que fizeram parte

desta minha conquista, entre amigos, familiares,

professores, e em especial meus pais que me

apoiaram nesta longa caminhada.

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Esta monografia é o resultado da compreensão e do respeito aos

portadores de necessidades especiais. A eles, dedico este trabalho.

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À minha família, pela confiança que depositaram em mim. Ao orientador, Professor Jonas Modesto de Abreu, norte seguro na orientação deste trabalho. Aos professores do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí do Campus de Itajaí, que muito contribuíram para a minha formação jurídica. Aos que contribuíram com suas críticas e sugestões para este trabalho. Aos colegas de classe, pelos momentos que passamos juntos e pelas experiências trocadas. A todos que, direta ou indiretamente, contribuíram para a realização desta pesquisa.

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A loucura, no indivíduo, é coisa rara – nos grupos, nos

partidos, nos povos, nas épocas, é a regra.

Friedrich Nietzsche

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade acerca

do mesmo.

Itajaí (SC), de Novembro de 2009.

Douglas Lemos Graduando.

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Douglas Lemos

DEFICIÊNCIA E EXCLUSÃO SOCIAL:

Uma contribuição à inclusão sócio-jurídica dos portadores de necessidades especiais

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e

aprovada pelo Curso de Direito do Centro de Ciências Sociais e Jurídicas, Campus de Itajaí.

Área de Concentração/Linha de Pesquisa: Direitos Humanos/Direito dos Portadores de Necessidades Especiais

Itajaí (SC), de Novembro de 2009.

Prof. Dr. Jonas Modesto de Abreu Orientador

Prof. MSc. Antônio Augusto Lapa Responsável pelo Núcleo de Prática Jurídica

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LISTA DE CATEGORIAS E SEUS CONCEITOS OPERACIONAIS

Deficiência Deficiência é um conceito complexo que reconhece o corpo com lesão, mas que também denuncia a estrutura social que oprime a pessoa deficiente. 1 Inclusão Inclusão é um conceito de que a diversidade humana deve ser acolhida e valorizada em todos os setores sociais comuns [...].2 Minorias Sociais [...] tratar de minorias não significa, necessariamente, falar de um grupo menor de pessoas, mas sim, de grupos específicos que não compartilham dos interesses predominantes na sociedade. As minorias sociais são compostas por idosos, crianças, mulheres, negros, indígenas, portadores de necessidades especiais, pessoas com opção sexual diferenciada, pessoas que professam crenças religiosas diferentes da predominante, pessoas pertencentes a grupos étnicos minoritários etc. 3 Sociedade Inclusiva Uma sociedade inclusiva garante seus espaços a todas as pessoas, sem prejudicar aquelas que conseguem ocupá-los só por méritos próprios.4 Principio da Igualdade A constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos, prevendo a igualdade de aptidão, uma igualdade de possibilidades virtuais, ou seja, todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. 5 Pessoa com deficiência Segundo Oliver e Barnes, “a expressão pessoa com deficiência sugere que a deficiência é propriedade do indivíduo e não da sociedade”, ao passo que “ pessoa deficiente” ou “deficiente” demonstram que a deficiência é parte constitutiva da identidade das pessoas, e não um detalhe.6 Constituição Juridicamente, porém, constituição deve ser entendida como a lei fundamental e suprema de um Estado, que contém normas referentes à estruturação do Estado, à formação dos poderes públicos, forma de governo e aquisição do poder de governar [...].7 Lesão

1 DINIZ, Débora. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007. Capa. 2 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 68. 3 ABREU, Jonas Modesto de. Ciência Política. São Paulo: EDUCON, 1997. p. 38. 4 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 168. 5 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: ATLAS, 2002. p. 64. 6 DINIZ, Débora. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007. p. 20. 7 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. São Paulo: ATLAS, 2002. p. 36.

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As lesões são determinadas por um desvio de uma categoria genérica aceita para os padrões de determinada população [...].8 Dignidade [...] a dignidade da pessoa humana engloba necessariamente respeito e proteção da integridade física e emocional (psíquica) em geral da pessoa, do que decorrem, por exemplo, a proibição da pena de morte, da tortura e da aplicação de penas corporais e até mesmo a utilização da pessoa para experiências científicas.9 Costumes [...] é um ordenamento de fatos que as necessidades e as condições sociais desenvolvem e que, tornando-se geral e duradouro, acaba impondo-se psicologicamente aos indivíduos.10 Visão A visão é o sentido que nos permite perceber a luz.11

8 DINIZ, Débora. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007. p. 50. 9 SARLET, Ingo Wolfgang, Dignidade da pessoa humana e direitos fundamentais na constituição federal de 1988, 5. Ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado Ed, 2007. p. 90. 10 FREITAS, Bastos. Introdução a ciência do direito. [20-]. p. 47. 11 OLIVEIRA, Valdemar de, Ciências Físicas e Biológicas, São Paulo: Editora do Brasil S/A, 1966. p. 399.

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CATEGORIES LIST AND OPERATIONAL CONCEPTS Deficiency Deficiency is a complex concept that recognize the injured body, but also denounces the social structure which oppresses the disabled. Inclusion Inclusion is a concept that human diversity should be welcomed and valued in all general social sectors [...]. Social Minorities [...] to deal with minorities does not necessarily mean talking to a lesser group of people, but specific groups that do not share the predominant interest of society. The social minorities are formed by elderly, children, women, black people, indians, person with special needs, people with different sexual orientation, people who profess different religious beliefs from the predominant, people belonging to minority ethnic groups etc. Inclusive Society An inclusive society ensures their space to all people without harming those who succeed to take their space only by their own merits. Principle of Equal The federal constitution of 1988 adopted the principle of equal rights foreseeing the principle of fitness, a possibility of equal virtues, in other words, all citizens have the right of identical treatment by the law, in line with the credit sheltered by legal planning. Person with deficiency According to Oliver and Barnes “the expression person with deficiency suggests that the deficiency is a property of the individual and not from the society”, while “disabled person” ou “disabled” show that the deficiency is a constitutive part of the person’s identity and not just a detail. Constitution Legally, though, constitution should be understood as the fundamental and supreme law of a State, which contains rules concerning the organization and formation of a State, form of government and acquisition of the power to govern [...]. Injury The injuries are determined by a general category deviation accepted by the standards of a given population [...]. Dignity [...] the dignity of a human being necessarily includes respect and protection of the physical and emotional (psychic) integrity of the person in general, resulting, for example, the prohibition of death penalty, torture, application of corporal punishment and even using a person for scientific experiments. Behavior

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[...] it is a legal fact that the needs and social conditions develop, becoming general and lasting, will eventually prevail psychologically on individuals. Vision vision is the sense that allows us to see the light.

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CNBB - Confederação Nacional dos Bispos do Brasil. SORRI - Sociedade para Reabilitação e Reintegração do Incapacitado. ONU - Organização das Nações Unidas. AIPD - Ano Internacional das Pessoas Deficientes. SEDH/PR - Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República. CORDE - Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência. AMPID - Associação Nacional do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos e Pessoas com Deficiência. APAE - Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais. ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. CRFB - Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. CEDAS - Centro São Camilo de Desenvolvimento Em Administração da Saúde.

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SUMÁRIO

DEFICIÊNCIA E EXCLUSÃO SOCIAL:

Uma contribuição à inclusão sócio-jurídica dos portadores de necessidades especiais

RESUMO ..................................................................................................................... XV

INTRODUÇÃO...............................................................................................................17

CAPITULO 2

2 A HISTÓRICA EXCLUSÃO DO DEFICIENTE FÍSICO...............................................20

2.1 A DEFICIÊNCIA NA VISÃO BÍBLICA......................................................................20

2.2 EGITO: O BERÇO DA CIVILIZAÇÃO E A DEFICIÊNCIA...................................................23

2.2.1 A Mitologia Egípcia e a Deficiência........................................................................................24

2.3 GRÉCIA: A DEFICIÊNCIA NA MITOLOGIA DA SOCIEDADE CLÁSSICA......................26 2.3.1 Grécia: o Estado Espartano e a Deficiência.............................................................................27 2.3.2 Grécia: a Deficiência na Filosofia Ateniense...........................................................................28

2.4 ROMA: A LEGISLAÇÃO ROMANA E A DEFICIÊNCIA......................................................29

2.5 CRISTIANISMO: AS DEFICIÊNCIAS CAUSADAS PELOS CASTIGOS RELIGIOSOS....32 2.5.1 Cristianismo: o Início da Tolerância à Deficiência..................................................................34

2.6 INQUISIÇÃO: AS PERSEGUIÇÕES AOS DEFICIENTES....................................................36

2.7 LOUCURA: A IMPLANTAÇÃO DOS MANICOMIOS DURANTE OS SÉCULOS XVIII E XIX....................................................................................................................................................37 2.7.1 Rush e a Pressão Física nos Tratamentos de Loucos................................................................38

2.8 A PERÍODO ANTECEDENTE À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O EXTERMÍNIO DE DEFICIENTES..................................................................................................................................43 2.8.1 O Nazismo e as Leis de Extermínio de Deficientes.................................................................44

CAPÍTULO 3

3 A LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS..............................47

3.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E DIREITOS HUMANOS.....................47

3.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS....................................49

3.3 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS DO HOMEM..............................50

3.4 DECLARAÇÃO SOBRE OS DIREITOS DO DEFICIENTE MENTAL.....................51

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3.5 DECLARAÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS DEFICIENTES................54

3.6 DIREITO E BENEFÍCIOS DA IGUALDADE NAS CONSTITUIÇÕES DE ALGUNS PAÍSES DA AMÉRICA LATINA..................................................................................58 3.6.1 Constituição da República Boliviana...........................................................................58 3.6.2 Constituição da República do Chile.............................................................................59 3.6.3 Constituição da República do Paraguai.......................................................................59 3.6.4 Constituição da República Oriental do Uruguai..........................................................60

CAPÍTULO 4

4 INCLUSÃO SOCIAL: OS DIVERSOS MEIOS DE INCLUIR O PORTADOR DE NECESSIDADES ESPECIAIS À SOCIEDADE.................................................................62

4.1 CONCEITO DE INCLUSÃO......................................................................................................62

4.2 A SOCIEDADE INCLUSIVA...........................................................................................62 4.2.1 Governo e Inclusão..........................................................................................................64 4.2.2 Ministério Público e Inclusão...........................................................................................65 4.2.3 Programas Preventivos.....................................................................................................66 4.2.4 O Papel da Educação Especial na Inclusão Social............................................................67 4.2.5 Arquitetura Inclusiva: Decreto 5296/2004................................................................................68

4.3 A IGUALDADE E O OBJETIVO FUNDAMENTAL NO ARTIGO 3º DA CRFB DE 1988.......................................................................................................................................73 4.3.1 O Princípio da Igualdade no artigo 5º da crfb de 1988...............................................73 4.3.2 Relações Trabalhistas nos artigos 7º e 37 da crfb de 1988.........................................75 4.3.3 A aposentadoria dos deficientes nos artigos 40 e 201 da crfb de 1988......................77 4.3.4 A previdência social e a inclusão do deficiente..........................................................78 4.3.5 Inclusão e cidadania....................................................................................................78

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................80

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS...................................................................... .83

XIV

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RESUMO

A exclusão social e o extermínio da pessoa deficiente, durante um longo período, fizeram parte da história da humanidade. De modo geral, tais exclusões e extermínios derivavam dos costumes sócio-culturais ou eram autorizadas por leis de sociedades intolerantes. Após a Segunda Guerra Mundial surgiram diversos movimentos de expressão internacional em prol da inclusão das minorias sociais, entre as quais se enquadram os portadores de necessidades especiais. A Declaração dos Direitos do Homem e de Cidadão de 1948 é um reflexo político-jurídico destas ações direcionadas à inclusão social das minorias. Apesar da existência de ações afirmativas que visam integrar (incluir) os portadores de deficiências à sociedade brasileira, é fácil perceber que os espaços sociais (edifícios, calçadas, meios de transportes, etc.) ainda não estão adaptados aos deficientes: fato que reforça o processo de exclusão, transformando os portadores de necessidades especiais em seres socialmente “invisíveis”. Destacando os elementos contemporâneos que acentuam a exclusão social dos deficientes, esta monografia pretende contribuir com as iniciativas sócio-jurídicas direcionadas à inclusão deste tipo específico de minoria social.

Palavras-chave:

Deficiência Minorias Sociais Inclusão

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ABSTRACT

The social exclusion and extermination of the disabled individual have been part of the human history for a long time. As a whole, these exclusions and exterminations derived from socio-cultural behaviors or were authorized by intolerant societies laws. After the Second World War many international movements of expression emerged towards the social minorities inclusion, in which person with special needs are included. The Declaration of Human and Citizen Rights from 1948 is a political-legal reflex of these actions directed to social minorities inclusion. Despite the existence of affirmative actions that aim to compose (integrate) disabled persons to brazilian society, it is clear to notice that social spaces (buildings, sidewalks, means of transportation, etc.) are still not adapted to the disabled: fact that strengthens the process of exclusion, transforming persons with special needs in socially “invisible” beings. Highlighting the contemporary elements which stress the social exclusion of the disabled, this monograph intends to contribute with the socio-legal initiatives directed to this specific kind of social minority inclusion.

Key-words: Deficiency Social Minorities Inclusion

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objeto12 o estudo dos direitos e da

atual condição social das pessoas portadoras de necessidades especiais no Brasil.

A importância do estudo deste tema reside no fato dele revisar o

processo de exclusão que marcou as sociedades passadas, servindo de exemplo a não ser

repetido.

Ressalte-se que, além de ser requisito imprescindível à conclusão

do curso de Direito na Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, o presente relatório

monográfico também vem colaborar para o conhecimento de um tema que, apesar de não

poder ser tratado como novidade no campo jurídico, na dimensão social-prática ainda pode

ser tratado como elemento novo e repleto de nuances a serem destacadas pelos intérpretes

jurídicos.

O presente tema, na atualidade, encontra-se em fase de debates na

sociedade e transformações no âmbito das leis.

A escolha do tema é fruto do interesse pessoal do pesquisador,

assim como para instigar novas contribuições para estes direitos na compreensão dos

fenômenos jurídicos-políticos, especialmente no âmbito de atuação dos Direitos Humanos.

Em vista do parâmetro delineado, constitui-se como objetivo geral

deste trabalho a realização de uma investigação histórica sobre o processo de exclusão

social de pessoas portadoras de necessidades especiais.

O objetivo institucional da presente Monografia é a obtenção do

Título de Bacharel em Direito, pela Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Ciências

Jurídicas, Políticas e Sociais, Campus de Itajaí.

Como objetivos específicos, pretende-se 1) Demonstrar a exclusão

histórica da pessoa deficiente; 2) Identificar os meios inclusivos para promover a inserção

dos deficientes à sociedade; 3) Analisar os meios inclusivos no Brasil através de ações

governamentais e da sociedade civil.

A análise do objeto do presente estudo incidirá sobre as diretrizes

teóricas propostas por vários autores e obras nacionais e internacionais. Este será, pois, o

marco teórico que norteará a reflexão a ser realizada sobre o tema escolhido. Sob sua luz,

pretende-se investigar os deslocamentos percebidos pelo objeto central da pesquisa, 12 Nesta Introdução cumpre-se o previsto em PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 170-181.

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especialmente na literatura jurídica contemporânea, colmatando seu significado na

atualidade.

Não é o propósito deste trabalho propor soluções definitivas à

problemática que marca a realidade do portador de necessidades especiais no Brasil. Por

certo não se estabelecerá um ponto final em referida discussão. Pretende-se, tão-somente,

aclarar o pensamento existente sobre o tema, circunscrevendo-o ao âmbito das discussões

sócio-jurídicas.

Para o desenvolvimento da presente pesquisa foram formulados os

seguintes questionamentos:

a) A sociedade, desde os primórdios, adotou o sistema inclusivo para

seus deficientes?

b) Há no Brasil contemporâneo ações inclusivas voltadas à pessoa

deficiente?

c) As Leis e o desenvolvimento econômico e social do Brasil são

elaborados levando em conta a existência do portador de necessidades especiais?

Já as hipóteses consideradas foram as seguintes:

a) Durante o longo percurso da história da humanidade o deficiente,

de modo geral, sempre esteve à margem da participação ativa na sociedade;

b) Há no Brasil contemporâneo ações inclusivas voltadas à pessoa

deficiente, porém elas não são culturalmente compreendidas e respeitadas;

c) As leis brasileiras destacam a necessidade de incluir à sociedade o

portador de necessidades especiais, contudo, ele ainda permanece “invisível” no processo de

planejamento e promoção do desenvolvimento econômico e social de nosso país.

O relatório final da pesquisa foi estruturado em três molduras

distintas, mas conexas: a primeira, atinente à exclusão social desde épocas remotas até a

Segunda Guerra Mundial; a segunda, trata de atos inclusivos mundiais, derivados das

Declarações de Direitos Humanos; e, por derradeiro, destaca-se a inclusão na esfera

nacional, através de leis, estruturas arquitetônicas e, sobretudo, na Constituição da

República Federativa do Brasil de 1988.

Quanto à metodologia empregada, registra-se que, na fase de

investigação foi utilizado o método dedutivo, e, o relatório dos resultados expresso na

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presente monografia é composto na base lógica dedutiva13, já que se parte de uma

formulação geral do problema, buscando-se posições científicas que os sustentem ou

neguem, para que, ao final, seja apontada a prevalência, ou não, das hipóteses elencadas.

Nas diversas fases da pesquisa, foram acionadas as técnicas do

referente, da categoria, do conceito operacional e da pesquisa bibliográfica14.

É conveniente ressaltar, enfim, que, seguindo as diretrizes

metodológicas do Curso de Direito da Universidade do Vale do Itajaí, as categorias

fundamentais, são grafadas, sempre, com a letra inicial maiúscula e seus conceitos

operacionais apresentados em Lista de Categorias e seus Conceitos Operacionais, ao

início do trabalho.

Os acordos semânticos que procuram resguardar a linha lógica do

relatório da pesquisa e respectivas categorias, por opção metodológica, estão apresentados

na Lista de Categorias e seus Conceitos Operacionais, conforme sugestão apresentada por

Cesar Luiz Pasold, muito embora algumas delas tenham seus conceitos mais aprofundados

no corpo da pesquisa.

Ressalte-se que a estrutura metodológica e as técnicas aplicadas

neste relatório estão em conformidade com as propostas apresentadas no Caderno de Ensino:

formação continuada. Ano 2, número 4, assim como nas obras de Cezar Luiz Pasold, Prática

da pesquisa jurídica: idéias e ferramentas úteis ao pesquisador do Direito e Valdir Francisco

Colzani, Guia para redação do trabalho científico.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as Considerações

Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos destacados, seguidos da estimulação à

continuidade dos estudos e das reflexões sobre o tema.

Com este itinerário, espera-se alcançar o intuito que ensejou a

preferência por este estudo: contribuir com a inclusão sócio-jurídica dos portadores de

necessidades especiais à sociedade de nosso país.

13 Sobre os “Métodos” e “Técnicas” nas diversas fases da pesquisa científica, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 99-125. 14 Quanto às “Técnicas” mencionadas, vide PASOLD, Cesar Luiz. Prática da Pesquisa Jurídica: idéias e ferramentas úteis para o pesquisador do Direito, p. 61-71, 31- 41, 45- 58, e 99-125, nesta ordem.

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2 A HISTÓRICA EXCLUSÃO DO DEFICIENTE FÍSICO

Historicamente é defasado o tema deficiência e exclusão social

antes da cultura Egípcia, sendo unânime entre os estudiosos tal fato, sendo assim, no

primeiro capítulo esta monografia versará sobre material Bíblico e Mitológico,

transcorrendo para as grandes civilizações: Egípcia, Grega, Romana, passando também

pelo Cristianismo; trazendo os fatos que expressavam a exclusão do deficiente físico da

época, assim como as personalidades marcantes e sua contribuição à sociedade.

2.1 A DEFICIÊNCIA NA VISÃO BÍBLICA

Tendo por início ao trabalho cita-se o trecho bíblico, o qual o

sacerdote tem proximidade corporal com a santidade não podendo assim ter “defeitos

físicos”, uma das primeiras citações de exclusão do deficiente.

O SENHOR falou a Moisés: Dize a Aarão: Nenhum de teus futuros descendentes que tenha algum defeito físico poderá aproximar-se para oferecer o alimento de seu Deus. Nenhum homem com defeito poderá aproximar-se para ministrar, seja cego, coxo, desfigurado ou deformado, tenha pé ou mão quebrados, seja corcunda, anão, vesgo, tenha sarna, eczema ou testículo esmagado. Nenhum descendente do sacerdote Aarão que tenha algum defeito físico poderá aproximar-se para oferecer as ofertas queimadas para o Senhor [...].15

Conforme também citado em “LEVÍTICO” (19:14), tem-se a

tolerância do deficiente a partir do dever de respeitá-lo, assim como o dever de respeitar os

pais, guardar os sábados, evitar a vingança, idolatria, ódio etc. “Não amaldiçoaras o surdo,

nem porás tropeços diante do cego, mas temerás o Senhor teu Deus, porque eu sou o

Senhor.”

Caracterizando um castigo, as citações bíblicas seguem

demonstrando que a inserção de uma deficiência no indivíduo pode ter ligação a uma

punição a qual a pessoa recebe como forma da ira divina ou até mesmo autoflagelação:

15 Bíblia sagrada, tradução da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), LEVÍTICO, 21: 16-21.

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Desta maneira cita-se em deuteronômio16:

Mas, se não obedeceres à voz do SENHOR teu Deus, guardando e praticando todos os seus mandamentos e leis que hoje te prescrevo, eis as maldições que virão sobre ti e te atingirão: [...] O SENHOR te ferirá de loucura, cegueira e delírio. Em pleno meio-dia andarás tateando, como cego na escuridão.

Na citação anterior, segundo Amaral17, “[...] podemos detectar uma

representação do cego como “vilão”, pois a cegueira (assim como a loucura e a deficiência

mental) é apresentada como um castigo divino à desobediência sendo então o cerne da

própria maldição”

Conforme prescreve em sua obra, o humanista e diretor da

Sociedade para Reabilitação e Reintegração do Incapacitado (SORRI) São Paulo, Otto

Marques da Silva, nos traz o castigo de Zacarias pelo Anjo Gabriel:

Zacarias era sacerdote e casado com Isabel, prima de Maria, mãe de Jesus. Eram os dois considerados como justos e harmoniosos em seu modo de viver e não tinham filhos, pois Isabel era estéril. [...] O anjo tranqüilizou o velho sacerdote e anunciou que sua esposa engravidaria. Ele reagiu como qualquer outro homem reagiria: duvidou [...] porque “sou velho e minha mulher está avançada em anos”. O anjo identificou-se como Gabriel, [...] fui enviado para te falar e te dar esta boa nova. E eis que ficarás mudo e não poderás falar até o dia em que estas coisas sucedam, visto que não acreditaste nas minhas palavras, que se hão de cumprir a seu tempo. Nove meses depois, nascido João Batista - primo de Jesus - Zacarias indicou numa tabuinha o nome que o menino deveria ter e imediatamente voltou a falar. 18

Durante a longa história da humanidade muitas personalidades que

foram acometidas por doenças hereditárias ou até mesmo em virtude de algum acidente,

vieram a possuir algum tipo de deficiência, conforme exposto, o presente parágrafo e

16 Bíblia sagrada, tradução CNBB, DEUTERONÔMIO, 28: 15,28,29. 17 AMARAL, Ligia Assumpção. Conhecendo a deficiência: em companhia de Hercules, São Paulo: Robe Editorial, 1995. p. 47. 18 SILVA, Otto Marques da. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje, São Paulo: CEDAS, 1986. p. 85.

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subseqüente trabalho indicaremos algumas das figuras, iniciando com Moises, e sua

deficiência.

Cita Silva: 19

De acordo com afirmações inseridas no livro de sua autoria, o “Êxodo”, Moises foi vítima de um serio e perturbador distúrbio da comunicação. Esse problema, já antigo em sua vida, deve ter-se agravado num momento de forte tensão em que ele, morador no deserto por muitos anos, decidiu levar seu rebanho ao monte Horeb para pastar. No meio da noite calma viu uma grande touceira de sarça pegando fogo, mas sem queimar. Aproximando-se com cautela, ouviu uma voz que, segundo suas informações, era do próprio Deus, chamando-o para a grande missão de sua vida: tirar os hebreus do Egito e conduzi-los à Terra Prometida. Eis que está registrado no Êxodo: “Perdoa, Senhor, eu não falo bem desde ontem e antes de ontem”- quer dizer, há muitos anos- “e desde que falaste ao teu servo sinto-me com mais dificuldade e mais atrasado em minha língua [...].

Jesus Cristo foi uma personalidade importante na vida dos

enfermos, os beneficiando e curando seus males, como exemplo, temos o caso do surdo-

mudo de Decápole, sendo um dos vários milagres que Jesus proferiu.

Jesus deixou de novo a região de Tiro [...]. Trouxeram-lhe, então, um homem que era surdo e mal podia falar, e pediram que impusesse as mãos sobre ele. Levando-o à parte, longe da multidão, Jesus pôs os dedos nos seus ouvidos, cuspiu, e com a saliva tocou-lhe a língua [...]. Imediatamente os ouvidos do homem se abriram, sua língua soltou-se e ele começou a falar corretamente.20

Outro caso merecedor da apreciação por conta da importância em

que ocorreu, justifica-se na cura de uma doença através da fé, assim descrito em Lucas21,

[...] quando dez leprosos vieram ao seu encontro. Pararam a certa distância e gritaram: “Jesus, mestre, tem compaixão de nós!” ao vê-los, Jesus disse: “Ide apresentar-vos aos sacerdotes”. Enquanto estavam a caminho, aconteceu que ficaram curados. Um deles, ao perceber que

19 SILVA, Otto Marques da. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje, São Paulo: CEDAS, 1986. p. 75-76. 20 Bíblia sagrada, tradução CNBB, MARCOS, 7: 31-35. 21 Bíblia sagrada, tradução CNBB, LUCAS, 17: 12-19.

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estava curado, voltou glorificando a Deus em alta voz; prostrou-se aos pés de Jesus e lhe agradeceu [...]. E disse-lhe: “levanta-te e vai! Tua fé te salvou.”

2.2 EGITO: O BERÇO DA CIVILIZAÇÃO E A DEFICIÊNCIA

A civilização Egípcia é uma das mais antigas da humanidade, tendo

sua constituição a mais de sete mil anos, seus grupos sociais eram representados por

escravos, guerreiros, sacerdotes e nobres, dos poucos relatos, apenas as pessoas com

problemas de deficiência de primeiro escalão entram em destaque, devido à escassez de

material. Do pouco que se obtém sobre informações dos grupos sociais menos favorecidos,

Silva22 cita em sua obra:

[...] de um modo geral as camadas mais pobres da população do Egito. [...] e os escravos, dispunham de pouquíssimos recursos e ficavam à mercê de improvisadores, de exorcistas ignorantes que vendiam amuletos e feitiços aos trabalhadores e suas famílias.

A exclusão corrobora através dos estratos sociais e não do

indivíduo com deficiência, sendo que a pessoa deficiente de um estrato social abastado

teria o tratamento privilegiado em face de uma menos favorável. Vale a informação – de

muitos autores - de que a sociedade egípcia foi a que teve menor grau de deficiência dentre

as civilizações antigas, devido principalmente a dieta vegetariana de seus habitantes.

Priorizando o pensamento de uma sociedade na qual os deficientes

eram menos prejudicados socialmente, citamos os anões do alto escalão social - até mesmo

por haver restrito material quanto aos deficientes de outros grupos sociais – os anãos, sejam

por crença contra males, ou por serem dotados de versatilidade artística, se tornavam

amuletos vivos:

Ressalta Silva23:

22 SILVA, Otto Marques da. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje, São Paulo: CEDAS, 1986. p. 56. 23 SILVA, Otto Marques da. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje, São Paulo: CEDAS, 1986. p. 60.

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Na cultura Egípcia antiga os anões jamais foram olhados como seres marginalizados ou desgraçados, inferiores aos outros homens. Os de classes mais elevadas podiam aspirar a qualquer cargo que fosse; os provenientes de classes mais pobres eram por vezes adquiridos por grandes somas por faraós ou ricos senhores [...]. Existe no Museu do Cairo um sarcófago da época Saíta (1150 a 336 a.C.) com a famosa múmia de Talchos, representado na tampa como um anão que realmente era em vida. A inscrição cita sua piedade, pois dançava magnificamente em festas religiosas.

Dentre as personalidades no Egito que possuíam necessidades

especiais a maior delas sem duvidas é o faraó Amenhotep IV ou Akhenaton “torna aton

feliz”, esse último nome em homenagem a Aton, deus de sua autoria após revolucionária

decisão em tornar a religião egípcia antes politeísta em monoteísta, segundo relatos de sua

época, Akhenaton mantinha contato direto com seu deus ao ter ataques epilépticos

desconhecidos à época.

Conforme relata Silva24:

Akhenaton era um homem doentio e sofria muito com ataques epiléticos, então considerados como evidentes sinais de contatos com seu deus. Vários historiadores dedicaram-se a esse estranho faraó monoteísta. Contam alguns deles que em sua nova capital ele cultuava esse seu deus único não só em público, mas também particularmente e em especial quando sentia a iminência da “aproximação de Aton”, nos ataques de epilepsia. E, para não haver testemunhas oculares de suas crises quando em palácio, só admitia cantores cegos no coral masculino do templo do palácio.

2.2.1 A Mitologia Egípcia e a Deficiência

Conta a lenda, segundo Heródoto, que o faraó Phéron perdeu a

visão por dez anos como forma de castigo, após lançar um dardo no rio Nilo que havia

transbordado, sendo o mal sanado apenas quando lavasse os olhos com urina de mulher que

24 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 65.

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tivesse contato com apenas um homem, conforme citação abaixo, temos o desfecho da

lendária história:

No décimo primeiro ano, já muito arrependido, obteve do deus Nilo a promessa de recuperar a visão, desde que lavasse os olhos com a urina de uma mulher que nunca tivesse tido contato com outro homem senão com seu próprio marido. A experiência com a urina de sua própria esposa não deu resultado. [...] continuou a fazer tentativas, até que um dia recuperou a visão. [...] tomou uma providencia adicional: reuniu todas as mulheres infiéis aos seus maridos - inclusive a sua - numa cidade abandonada e mandou incendiá-la, matando todas elas. Logo em seguida casou-se com a mulher que lhe devolvera a visão. 25

“BES” também é lembrado nas obras da maioria dos autores cujo

objetivo é descrever a mitologia egípcia, em tais obras sempre é associado o deus BES

como divindade das danças e dos jogos, sua característica é marcante, além de ser anão

também era – considerado - muito feio, fato que o transformava em amuleto que afastava

os males da vida dos antigos egípcios.

Assim nos trás Wilkinson26:

BES, os egípcios acreditavam que criaturas feias eram capazes de assustar os maus espíritos. Bes era um anão muito feio, mas amistoso, que gostava de música e de se divertir. Às vezes aparece tocando um pandeiro ou uma harpa. Junto com Taweret, cuidava das mulheres que estavam dando à luz. Muito popular, acreditava-se que trazia sorte aos casados e às famílias, de modo que muitas vezes as casas tinham imagens de Bes.

Desta forma encerra a associação da civilização Egípcia com o

deficiente, constatando que quase sempre havia certa aceitação para com eles, tornando-os

até mesmo deuses protetores.

25 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 64. 26 WILKINSON, Philip. O livro ilustrado da Mitologia: lendas e histórias fabulosas sobre grandes heróis e deuses do mundo inteiro. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2002. p. 34.

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2.3 GRÉCIA: A DEFICIÊNCIA NA MITOLOGIA DA SOCIEDADE CLÁSSICA

Assim como nos contam alguns trechos bíblicos a mitologia grega

também é rica em pormenorizar as formas de castigo, na qual, a cegueira ou alguma outra

deficiência vem acompanhada de supostas iras divina.

Quando do castigo divino, resultando em uma posterior exclusão,

nos trás Wilkinson27: “O ferreiro divino Hefaísto nasceu manco e tão feio que sua mãe,

Hera, atirou-o no rio Oceano. Salvo pelas ninfas, tornou-se um artesão famoso”.

Tem-se também o entendimento de tais deficiências serem

motivadas por autoflagelação, fato percebido mitologicamente na história de Édipo

conforme transcrito a seguir por Wilkinson28.

[...] sem saber que eram seus pais, matou Laio e casou com Jocasta. Quando Jocasta descobriu quem ele era, suicidou-se. Édipo furou os próprios olhos e foi viver no exílio, com as filhas, Antígona e Ismênia.

Personalidade marcante na Grécia, tanto pelo seu legado histórico

para com a cultura quanto sua vida particular, ressalta-se a importância de Homero, homem

cego que dentre suas obras marcantes está a Odisséia.

Nos trás Silva29:

Quanto a Homero, já notamos a grandiosidade de suas obras – Ilíada e Odisséia – ao falar de Hefesto, o deus da metalurgia. A respeito desse grande poeta grego, afirmou Cícero quando analisava os males que aparentemente podem tornar uma vida miserável, mas que podem ser superados graças à força de cada um: “Homero era cego, segundo a tradição. Seus poemas são verdadeiros quadros: que lugares, que praias, que paragens da Grécia, que tipos de combates, que estratégias de batalhas, que manobras navais, que movimentos de homens e animais são tão fielmente retratados pelo autor, que parece nos colocar sob os olhos, o que ele mesmo não havia nunca visto.

27 WILKINSON, Philip. O livro ilustrado da Mitologia: lendas e histórias fabulosas sobre grandes heróis e deuses do mundo inteiro. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2002. p. 57. 28 WILKINSON, Philip. O livro ilustrado da Mitologia: lendas e histórias fabulosas sobre grandes heróis e deuses do mundo inteiro. 2. ed. São Paulo: Publifolha, 2002. p. 69. 29 SILVA, Otto Marques da. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 104.

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2.3.1 Grécia: o Estado Espartano e a Deficiência

Quando falamos em Esparta antiga e exclusão, a frase parece soar

sinonimamente, uma vez que a Cidade-Estado era o marco inicial da eugenia negativa,

tendo como prova, a ilimitada destruição de bebês disformes, com a explicação de criar

apenas os mais fortes, pois a cidade vivia constantemente sob guerras internas e externas,

não aceitado os novos habitantes que iriam prejudicar futuramente o desenvolvimento

pensado à época.

Ressalta Amaral30:

[...] sabe-se que as pessoas desviantes/diferentes/deficientes tinham, conforme o momento histórico e os valores vigentes, seu destino selado de forma inexorável: ora eram mortas, assim que percebidas como deficientes, ora eram simplesmente abandonadas à “sua sorte”, numa prática então eufemisticamente chamada de “exposição”. Desta última, inclusive, resultou o uso dessas crianças para a mendicância, uma vez que eram freqüentemente recolhidas por pessoas da plebe com o intuito de, a partir do sentimento de caridade da população, auferir rendimentos que viessem “engordar” seus recursos.

O Estado era o possuidor do direito da vida de todos os Espartanos

nascidos das famílias conhecidas como “homoioi” (iguais), como nos conta Plutarco, citado

na obra “A Epopéia Ignorada” de Otto Marques da Silva31, conforme segue:

O pai de qualquer recém-nascido das famílias conhecidas como “homoioi” (ou seja, “os iguais”) e que eram a nata de Esparta, não tinha o direito de criá-lo, pois o Estado subordinava a todos. Pelas leis vigentes, ele era obrigado a levar o bebê, ainda bem novo, a uma espécie de comissão oficial formada por anciãos de reconhecida autoridade. [...] se fosse um bebê normal e forte ele era devolvido ao pai que passava a ter a incumbência de criá-lo. Depois de certa idade de – entre 6 e 7 anos – o Estado tomava a si a responsabilidade e continuava sua educação,

30 AMARAL, Lígia Assumpção. Conhecendo a deficiência: em companhia de Hércules. São Paulo: Robe Editorial, 1995. p. 43. 31 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 121-122.

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que era dirigida para a arte de guerrear. [...] No entanto, “se lhes parecia feia, disforme e franzina”, como refere Plutarco, esses mesmos anciãos, em nome do Estado e da linhagem [...] ficavam com a criança. [...] levavam a um local chamado “Apothetai”, que significa “depósitos”. Tratava-se de um abismo situado na cadeia de montanhas Taygetos, perto de Esparta, para lá a criança ser lançada e encontrar sua morte, [...].

No antigo Peloponeso, sob a liderança guerreira de Esparta, outras

formas menos extremistas foram utilizadas contra os bebês deficientes, como nos conta

Otto Marque da Silva32:

Recorriam os seus habitantes a lugares considerados como sagrados, tais como as florestas, os vestíbulos dos templos, as beiras dos rios, as cavernas, onde as crianças eram deixadas bem embrulhadas numa grande panela de barro ou num cesto, com roupas que continham seus símbolos maternos (Xýmbola metrós). Elas podiam sobreviver ou não. Os símbolos bordados nas roupas e nas cobertas poderiam inclusive levar à identificação da família original. Caso uma criança assim exposta morresse, a manta e vestidos acabavam servindo para adorno em seu funeral.

Diante da política de qualificação dos recém nascidos que havíamos

destacado anteriormente, estas últimas práticas parecem ser menos intoleráveis na

sociedade contemporânea.

2.3.2 Grécia: a Deficiência na Filosofia Ateniense

Ainda quanto aos recém nascidos, retomando o processo de

exclusão dos deficientes, temos o entendimento a seguir;

Platão em seu livro III, República (Medicina e Jurisprudência),

destaca: “cuidarão apenas dos cidadãos bem formados de corpo e alma, deixando morrer os

que sejam corporalmente defeituosos”.

32 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p.123.

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Complementando, o Livro V nos trás: “[...] os (filhos) dos homens

inferiores, e qualquer dos outros que seja disforme, escondê-los-ão num lugar interditado e

oculto como convêm.”

Aristóteles, também possuía o mesmo entendimento quanto aos

nascidos com deficiência, citando o livro IV, Capítulo 14 de A Política: “[...] com respeito

a conhecer quais os filhos que devem ser abandonados ou educados, precisa existir uma lei

que proíba nutrir toda criança disforme.”

Em contrapartida a exclusão que acontecia no início da vida dos

Espartanos, tem-se a Inclusão, através de leis protetoras, ressaltando sempre que tal

inclusão era para aqueles que adquiriam alguma deficiência no decorrer da vida.

Conforme nos explica Plutarco citado na Obra de Silva33:

Sólon estabeleceu normas bem claras para proteger também cidadãos atenienses enfraquecidos por doenças ou vitimados por deficiências. Em Atenas essas normas, alem de garantir a alimentação, davam ampla liberdade para que qualquer agressor fosse processado por atos de injuria ou de ataques físicos, caso alguns desses cidadãos deficientes fosse assaltado, espancado ou sofresse qualquer tipo de violência.

2.4 ROMA: A LEGISLAÇÃO ROMANA E A DEFICIÊNCIA

Grande criadora de Leis, a civilização Romana com intuito de

delegar direito e deveres aos seus cidadãos, denomina antes quem são os agentes de direitos

e deveres, excluindo assim os nascidos com deficiências.

Escreve Silva34:

No Direito Romano havia leis que se referiam ao reconhecimento dos direitos de um recém-nascido e em que circunstancias esses direitos deveriam ser garantidos ou poderiam ser negados. Dentre as condições

33 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p.126. 34 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p.127.

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para a negação de direito, a chamada “vitalidade” e a forma humana eram as principais. Como exemplo poderemos mencionar que, tanto os bebês nascidos prematuramente (antes do 7º mês de gestação) quanto os que apresentavam sinais da chamada “monstruosidade”, não tinham condições básicas de capacidade de direito.

Assim como ocorria em Esparta, os romanos também possuíam o

poder de morte dos seus filhos diferenciando apenas na forma e na autoridade competente

para tal, para Moreira Alves35, era uma forma de solução, pois não tinham medicina

apropriada ou até mesmo princípios de vida humana, conforme trecho subtraído do livro

“A Epopéia Ignorada”:

[...] havia para o “pater famílias”, dentre as faculdades a ele outorgadas pelo poder paterno (pátria potestas), uma alternativa: poderia expor a criança às margens do rio Tibre ou em lugares sagrados, desde que antes de o fazer tivesse mostrado o recém-nascido a cinco vizinhos, para que fosse certa forma certificada a existência da anomalia ou da mutilação.

Mesmo legalmente autorizado, muitas crianças mal formadas

tiveram sua vida preservada, contrariando assim o homicídio legal, constituindo em um

problema futuro para a cidade romana, pois uma vez adultos sem trabalho e sem um plano

estatal para mantê-los, tais cidadãos necessitavam de esmolas para a sobrevivência.

Corrobora Silva36:

Crianças malformadas, doentias ou consideradas como anormais e monstruosas eram, no máximo, abandonadas em cestinhas enfeitadas com flores às margens do Tibre. E os escravos ou as pessoas empobrecidas que viviam de esmolas ficavam na espreita e atentos para eventualmente se apossarem dessas crianças, criando-as para mais tarde servirem como meio de exploração do compadecido e por vezes muito culpado coração romano, obtendo esmolas volumosas.

35 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p.128. 36 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p.130.

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31

Entre estas pessoas destaca-se Caio Júlio César (102 a 44 a.C), que

além de estar à frente de um Império - segundo muitos historiadores - possuía epilepsia,

motivo de crendice de que a pessoa epilética tinha uma suposta ligação com os deuses.

Salienta Silva37:

Certamente um dos romanos mais importantes que a História registrou, Caio Júlio César não era o tipo atlético, alto e sem problemas que muitos imaginam ao analisar seus feitos. Além de magro e de estatura bastante medíocre, sempre esteve sujeito a fortes dores de cabeça e, segundo muitos historiadores, sofria do famoso “mal divino”, ou seja, de epilepsia.

Sua citação como personalidade também merece importância por

ser ele responsável por várias outras pessoas também tornarem-se deficientes, pois,

conforme segue segundo Mitton, citado por Silva38:

[...] a mutilação do nariz e das orelhas foi muito utilizada como castigo ou como vingança contra inimigos capturados pelas legiões romanas, nos tempos de guerra. Caio Júlio César [...] confessa em sua obra “De Bello Gallico” que aplicava essa pena em seus próprios soldados nos casos de faltas muito graves contra a disciplina militar ou de deserções.

Outra personalidade marcante é o escritor Lucius Annaeus Sêneca

(4 a.C a 65 d.C), cuja obra é citada por Amaral39: “[...] nós sufocamos os pequenos

monstros; nós afogamos até mesmo as crianças quando nascem defeituosas e anormais: não

é a cólera e sim a razão que nos convida a separar os elementos sãos dos indivíduos

nocivos.”

Segundo Silva40:

37 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p.133. 38SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 132. 39 AMARAL, Ligia Assumpção. Conhecendo a deficiência: em companhia de Hercules, p 46. 40 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 128.

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Sêneca [...] indica que os recém-nascidos com deformidades físicas eram mortos por afogamento. O grande pensador e filosofo romano não analisa, em seus comentários, a validade da lei em si mesma. Analisa apenas a necessidade de, em nossas vidas, fazermos tudo, mesmo as coisas desagradáveis e chocantes, sem ira, sem ódio.

O autor do pensamento citado demonstra a necessidade de

selecionar não somente pela lei, mas através da razão, os indivíduos em desacordo com o

conceito de normal mantido em sua época.

2.5 CRISTIANISMO: AS DEFICIÊNCIAS CAUSADAS PELOS CASTIGOS

RELIGIOSOS

Com o início do Cristianismo - doutrina pregada por aqueles

seguidores da doutrina de Jesus Cristo, na qual o ser humano é concebido como igual ao

seu próximo e criado por um único deus - os males históricos sofridos pelos deficientes são

amenizados em decorrência da fé cristã destacar também o amor ao próximo.

Entretanto, antes de estabelecer suas sólidas bases, o Cristianismo e

seus adeptos também foram alvos de inúmeras perseguições por parte dos Romanos,

segundo Silva41, dessas perseguições decorreram “muitas mortes provocadas por sentenças

injustas e por vezes muito cruéis, cuja intenção principal era desencorajar as afrontas dos

cristãos aos usos, costumes e autoridades estabelecidas.”

Com o passar do tempo, os romanos que não conseguiam obter

êxito aplicando sentenças de morte contra os praticantes da crença cristã, passaram a se

preocupar com a imagem desumana de suas sanções e, por isso, os Imperadores Romanos

decidiram amenizar de certa forma tais condenações, poupando a vida dos cristãos, mas

subtraindo-lhes partes do corpo, tornando assim, grande parte da população da época,

deficiente.

41 SILVA, Otto Marquesa. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 156.

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33

Assim nos relata Silva42:

Alguns desses imperadores, preocupados em manter uma certa imagem de clemência e de humanidade, resolveram mudar de tática: os juizes passaram a receber ordens para não mais condenar os cristãos à tortura e à morte. [...] Ordenou-se que a partir de então vazassem nossos olhos e aleijassem uma de nossas pernas. Esta foi a humanidade e esse lhes pareceu um gênero brando de suplício.

Como podemos verificar no parágrafo anterior a exclusão em tal

período teve início contra aqueles que possuíam crença distinta da romana culminando

assim nas várias penas mutiladoras, tornando vários cristãos deficientes, que

subsequentemente eram excluídos e condenados a pagar por sua crença trabalhando em

minas, assim como ser atormentados até seus últimos dias.

Tais minas eram compostas por estes cegos e coxos que tinha

como consolo a solidariedade de alguns, os quais autorizavam a reunião dos deficientes

para juntos fazerem suas orações.

Segundo Silva43:

Por vezes os algozes desses muitos cristãos que estavam condenados à minas [...] permitiam que se reunissem para orar. [...] Depois, todavia, dependendo sempre dos tipos de homens encarregados de sua vigilância, bem como da produção das diversas minas, começou a ocorrer a dispersão violenta, sua transferência de mina para mina e finalmente a decapitação dos condenados enfermos e menos produtivos, incluindo sempre os portadores de deficiências sérias e limitadoras da capacidade de trabalho.

Tais reuniões à época originaram o que conhecemos hoje como

igreja.

42 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 156. 43 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 156.

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2.5.1 Cristianismo: o Início da Tolerância à Deficiência

Já com o Cristianismo consolidado iniciou-se a mudança da

mentalidade sobre a deficiência física.

Ensina-nos Silva44:

O cristianismo foi muito relevante [...] pois condenava abertamente muito do que o sistema vigente aprovava, como a libertinagem das pessoas solteiras, a perversão do casamento, a morte de crianças não desejadas pelos pais devido a deformações.

Ressalta-se o fato de tais alterações começarem com o imperador

Constantino em 315 d.C, taxando aqueles que matavam seus filhos de parricidas.

Afirma Silva45:

[...] em 315, editou uma lei que bem demonstrava a influencia dos princípios defendidos pelos cristãos de respeito à vida. [...] Exigiu que essa nova lei fosse publicada em todas as cidades da Itália e da Grécia, e que fosse em todas as partes gravadas em bronze para, dessa forma, tornar-se eterna.

Entretanto não foram estes atos que mudaram por completo a

mentalidade para com os deficientes, como exemplo, a própria Igreja e seu sistema

restringiam a ascensão hierárquica de pessoas deficientes.

Relata Silva46:

[...] o cânone vigésimo segundo declara como “irregulares” os casos de sacerdotes que se auto-mutilavam, porque “eles são homicidas de si mesmos”. [...] Para casos de sacerdotes que tomavam essas medidas, o cânone vigésimo terceiro castiga com sua deposição, seu afastamento das funções sacerdotais.

44 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 160. 45 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 160. 46 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 166-167.

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Em contrapartida o propósito de tal restrição, e até o banimento

destes homens tem o entendimento benéfico por parte da Igreja, servindo como exemplo a

futuros pecadores que também viam na “automutilação” - inclusive de órgãos sexuais - o

perdão divino.

Seguindo, nos conta Silva47:

Gelásio I, papa que reinou de 492 a 496, reafirmou a mesma orientação de Hilário e do concilio de Roma contra aceitação de sacerdotes com deficiência, ao afirmar em sua carta ao bispo de Lucânia que candidatos ao sacerdócio não poderiam ser nem analfabetos nem “ter alguma parte do seu corpo incompleta”.

Dentre as personalidades marcantes na época em questão, cita-se a

de um bispo cuja deficiência fora atribuída à vontade divina, tendo em vista tal fato assim

narrado.

Conta-nos Silva48:

[...] havia um bispo chamado Papas, cujo temperamento, arrogância e orgulho haviam causados sérios problemas ao clero a ele subordinado. [...] Procurando descobrir a causa do ódio com que Papas agia para com seus sacerdotes, Miles perguntou se ele afinal considerava-se um Deus. No calor das discussões Papas respondeu muito irritado: “Insensato! Tu queres me ensinar coisas como se eu não as conhecesse?” Tomando o livro dos Evangelhos que trazia consigo, Miles colocou-o sobre a mesa dos debates e lhe disse: “Se menosprezas aprender coisas de minha parte, por eu ser um mortal, não desdenhe aprendê-las do Evangelho do senhor que aqui está.” Papas não conseguiu conter-se mais, pois tomou o livro entre as mãos e olhando ferozmente gritou : “Fala, Evangelho,fala!” Miles, assustado e ao mesmo tempo chocado com aquela atitude questionadora, tirou-lhe o Evangelho das mãos [...]. Em seguida [...] disse ao bispo irreverente: “Já que em teu orgulho ousaste falar dessa maneira contra as palavras de vida do Senhor, eis que seu anjo está pronto para secar metade de teu corpo para inspirar o terror a todos. [...]

47 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 167. 48 SILVA, Otto Marques. A Epopéia Ignorada: A pessoa deficiente na história do mundo de ontem e de hoje. São Paulo: CEDAS, 1986. p. 160-161.

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No mesmo instante Papas sentiu a metade de seu corpo sem movimento e sem vida.

Conforme o fato descrito a arrogância de papas combinada com a

desobediência a um ser supremo, culminaram no castigo da vontade divina, servindo como

exemplo a não ser seguido.

2.6 INQUISIÇÃO: AS PERSEGUIÇÕES AOS DEFICIENTES

Outro período em que houve grande perseguição aos deficientes foi

o da inquisição, instituída pelo Papa Gregório IX em 1232. Produto de uma fase histórica

marcada pela caça as bruxas, o Santo Ofício da inquisição era um tribunal eclesiástico que

associava a imagem das bruxas às doenças mentais. Foi um período obscuro de nossa

história cuja perseguição deu-se através de crenças e superstições.

No entendimento de Szasz49:

Os psiquiatras são defensores entusiastas da teoria psicopatológica da feitiçaria: sustentam que as feiticeiras eram mulheres mentalmente doentes que tinham sido erradamente diagnosticadas por inquisidores. [...] Os historiadores, ao contrário, são defensores ardorosos da teoria de bode expiatório da feitiçaria: sustentam que as feiticeiras eram as ofertas “de sacrifício” de uma sociedade animada pelo simbolismo e pelos valores da Teologia Cristã. [...] Segundo a teoria do bode expiatório da feitiçaria, a crença em bruxas e sua perseguição organizada representam uma expressão da busca de uma explicação e de um controle dos vários problemas humanos, principalmente doenças físicas e conflitos sociais.

Tendo como base os dois pontos de vista acima citados, extraímos o

quão complexo podem ter sido os fatos marcantes da época da caça às bruxas.

Primeiramente a psiquiatria ao afirmar que as feiticeiras eram

mulheres com distúrbios mentais corrobora com a exclusão do deficiente acobertada - sem

intenção - por um misticismo que, eliminava da sociedade as pessoas diferentes.

49 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p. 126.

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Em outro ponto de vista tais pessoas diferentes eram as culpadas

dos conflitos e fatos que prejudicavam a sociedade.

Seguindo a obra de Szasz50, cita-se o trecho em que ele traz a teoria

do antropólogo Inglês Geoffrey Parrinder, o qual descreve:

Se os homens desejavam uma explicação de todos os males da natureza, puderam encontrá-la nas atividades diabólicas das feiticeiras. Estas constituíam um bode expiatório para os problemas da sociedade, tal como o tinham feito os judeus em determinados períodos, e tal como fariam novamente para os nazistas alemães no final do século XX.

Entretanto, associando a doença mental - cujo conhecimento ainda

não existia à época - a fatos místicos que se acreditava prejudicar a organização moral da

sociedade, a prática da inquisição na Era Cristã também contribuiu com o processo

histórico de extermínio dos deficientes.

2.7 LOUCURA: A IMPLANTAÇÃO DOS MANICOMIOS DURANTE OS SÉCULOS

XVIII E XIX

Ainda no tema feitiçaria e sua perseguição, o autor Szasz nos traz

uma analogia sobre o período da inquisição, já com os manicômios significando

confinamentos para seus hospedes:

Segundo Szasz51:

Embora as paixões das pessoas, receptivas à propaganda da Igreja, tenham permitido a difusão da mania de bruxas, os inquisidores aí desempenharam um papel fundamental: determinavam quem era colocado no papel de feiticeira e quem não o era. Quando apontavam seus dedos para as mulheres, estas eram queimadas. [...] Se a feitiçaria tinha suas vitimas principalmente em algumas classes sociais, o mesmo acontece com a doença mental. Os hospícios do séc. XVII e XVIII estavam cheios dos misérables da sociedade; os hospitais públicos dos séc. XIX e XX estão cheios de pessoas pobres e com pouca educação.

50 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p.126, 127. 51 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p. 129-130.

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Percebe-se no trecho subtraído acima que o problema antes social,

agora era entendido como um problema médico o qual na modernidade histórica tentara ser

solucionado com a construção de hospícios e hospitais públicos, mas que na realidade

serviam apenas de depósitos, pois o pensamento e a infra-estrutura da época não permitiam

a reabilitação do ser humano. Ressalta-se o fato de tais depósitos serem, neste momento

histórico, de pessoas vivas, diferente da sociedade Espartana que tinham seu depósito de

bebês mortos: “apothetai”.

Na seqüência, temos a citação abaixo que confirma a falta de

reabilitação do deficiente nos manicômios, continuando a ser uma ameaça à sociedade caso

conquistassem a liberdade.

Conta-nos Foucault52:

Mas os loucos [...] restituídos à liberdade, podem tornar-se perigosos para sua família e o grupo no qual se encontram. Daí a necessidade de contê-los e a sanção penal que se inflige aos que deixam errar “os loucos e os animais perigosos”.

2.7.1 Rush e a Pressão Física nos Tratamentos de Loucos

Contudo no século XVIII citando um nome expressivo dentro da

psiquiatria americana, temos o trecho abaixo subtraído da obra de Szasz, o qual

posteriormente nos trará também os vários tratamentos do abaixo citado doutor.

Ensina-nos Szasz53:

Benjamim Rush (1746-1813) foi Médico-Geral do Exército Continental e Professor de física e diretor da Faculdade de Medicina da Universidade da Pensilvânia. É indiscutivelmente o pai da psiquiatria americana; seu retrato enfeita a chancela da associação psiquiátrica Americana. Que tipo de homem era ele? Quais suas idéias e práticas psiquiátricas?

52 FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia, tradução Lílian Rose Shalders. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed tempo Brasileiro, 1984. p. 81. 53 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p. 170-171.

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Rush é celebrado como o fundador da Psiquiatria americana porque afirmava que não há diferenças entre doenças físicas e doenças mentais e porque através de sua grande influência pessoal como grande médico e amigo dos fundadores da República, foi capaz de impor suas idéias sobre doença mental. Em resumo, foi o primeiro medico americano a defender a transformação de problemas sociais em problemas médicos, e seu controle coercitivo através de sanções “terapêuticas” e não “punitivas”.

Como verificamos, a personalidade em questão foi um influente

homem na medicina e na sociedade de sua época, com idéias que apesar de revolucionárias

não acrescentou beneficamente em nada à inclusão e reabilitação dos deficientes, pelo

contrário, submeteu-os, como veremos mais adiante, a tratamentos desumanos.

Assim temos sob os dizeres de Szasz54:

Rush acreditava que, para curar a loucura, o médico precisava ter um controle completo sobre a pessoa do louco. Não era o único a aceitar essa opinião que, na realidade, era aceita pela maioria dos médicos de seu tempo. O grande Philippe Pinel - que, segundo se pensa, retirou as correntes do insano - era um defensor irrestrito da coerção psiquiátrica. Na verdade, opunha-se ao uso de correntes e ataques físicos aos doentes mentais, não porque desejasse devolver-lhes a liberdade, mas porque acreditava que, num hospício corretamente administrado, os pacientes ficariam tão impressionados com o poder e autoridade extraordinária dos responsáveis que esses métodos mais duros de controle seriam desnecessários. O tratado de insanidade de Pinel está cheio de elogios à “intimidação” e “ coerção”, o que se pode ver no seguinte trecho: “No entanto, se ele [O louco] enfrenta uma força evidente e convincentemente superior, submete-se sem oposição ou violência”.

Quanto das técnicas de tratamentos utilizadas, temos as praticadas

pelo conceituado Rush, tratamentos desumanos que em sua maior parte traziam a

obediência através do terror e da dor.

Inicialmente o doente era afastado do convívio que estava

acostumado, sendo aprisionado no hospício.

54 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p. 178.

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Descreve-nos Szasz55:

Um dos tratamentos prediletos de Rush era o “terror” que, segundo ele, “age poderosamente no corpo, através da mente, e deve ser empregado na cura da loucura”. Para aterrorizar adequadamente o paciente, era necessário afastá-lo de sua casa e encarcerá-lo num hospício. Isso é o que Rush considerava terapêutico: “efeito da privação de liberdade tem sido às vezes extremamente salutar”. [...] Apenas pensava, como o fazem muitos psiquiatras contemporâneos, que essa perda de liberdade era amplamente justificada pela proteção que dava à sociedade.

Tal aprisionamento além de excluir da sociedade, era motivado

pela justificativa de proteção social; num segundo momento os tratamentos por assim dizer,

seguiam com torturas ocasionando muitas vezes sérias lesões.

Cita Szasz 56:

Às vezes Rush classifica seus métodos como “tratamentos”, e às vezes como “castigos”. O exemplo seguinte mostra muito claramente o que Rush pensava dos loucos: compara-os a animais não-domados e considera que o dever do médico é dominá-los. Em sua lista de recomendações terapêuticas - entre as quais encontramos “confinamento por camisa de força”, [...] privação de seus alimentos usual e agradável, [...] despejar água fria sob a camisa, sangria, solidão, escuridão.

Outro exemplo de tratamento desumano descrito em detalhes é

trazido a seguir, no qual Rush busca inspiração nas técnicas utilizadas para domar cavalos,

que consistia no aprisionamento do doente a uma cadeira, reduzindo assim o pulso ao

diminuir a ação muscular.

Szasz57 assim nos traz:

55 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p. 179. 56 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p.181. 57 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p.181-182.

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[...] Rush inclui “uma posição ereta do corpo”. Esse método é empregado da seguinte forma: “Existe um método de domar cavalos rebeldes na Inglaterra, encurralando-os, e depois impedindo que deitem ou durmam, colocando-se pregos pontudos em seus corpos, durante dois ou três dias e noites. Não tenho dúvida de que as mesmas vantagens podem ser obtidas se colocarmos os loucos em posição ereta, e acordados, durante vinte e quatro horas, mas por meios diferentes e mais suaves.” Uma das mais famosas invenções terapêuticas de Rush foi um aparelho que denominou o “tranqüilizante”. Deutsch descreve esse aparelho da seguinte maneira: “o tranqüilizante era formado por uma cadeira ao qual o paciente era amarrado pelos pés e pelas mãos, além de uma parte que mantinha a cabeça numa posição fixa.

Esta terceira fase do tratamento que também pode ser alcunhado

como tortura uma vez que os pacientes eram obrigados a cooperar, mostra uma fase branda,

tendo em vista as próximas técnicas de tratamento.

Seguindo, nos conta Szasz58:

A segunda invenção psiquiátrico-terapêutica de Rush era uma máquina chamada o “girador”. Era uma prancha giratória a que se prendiam os pacientes que sofriam de loucura apática, com a cabeça colocada o mais longe possível do centro. Podia ser girado a grandes velocidades, fazendo com que o sangue corresse para a cabeça.

Ressaltasse que na época este e outros tratamentos eram vistos

como métodos terapêuticos elogiáveis, mas que para o doente vinham a ser insanos.

Rush e suas invenções findam no Mergulho, Szasz 59conta-nos: o

“tranqüilizante” e o “girador” não eram os únicos métodos terapêuticos de Rush. Ele usava

o “mergulho” que consistia em imergir a paciente na água e dizer-lhe que seria afogada.

Demonstrando que o doutor Rush não era o único a aplicar os

tratamentos cruéis em doentes mentais, temos nos métodos de Leurent outras técnicas

inadmissíveis para a atualidade.

58 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p. 182. 59 SZASZ, Thomas S. A fabricação da loucura, tradução Dante Moreira Leite. 3 ed. Rio de Janeiro: Ed. Guanabara, 1971. p. 183.

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Conta-nos Foucault 60:

[...] Leurent submetera seus doentes a uma ducha gelada na cabeça e empreendera neste momento, com eles, um diálogo durante o qual forçá-los-á a confessar que sua crença é apenas delírio. O século XVIII havia também inventado uma máquina rotatória onde se colocava o doente a fim de que o curso de seus espíritos demasiado fixo numa idéia delirante fosse recolocado em movimento e reencontrasse seus circuitos naturais. O século XIX aperfeiçoa o sistema dando-lhe um caráter estritamente punitivo: a cada manifestação delirante faz-se girar o doente até desmaiar, se ele não se arrependeu. Emprega-se também uma gaiola móvel que gira sobre si mesma segundo um eixo horizontal e cujo movimento é tanto mais vivo quanto esteja mais agitado o doente que ai é preso.

Numa visão menos prejudicial, mas que também abalava, temos a

pressão mental, que consistia na tentativa de melhora através do consciente do doente, uma

nova técnica criada pelo conceituado Pinel.

Quanto à pressão mental, retrata-nos Foucault sobre Pinel61:

Pinel, em Bicêtre, depois de ter “liberado os acorrentados” que ai se encontravam em 1793. Certamente, ele fez ruir as ligações materiais (não todas entretanto), que reprimiam fisicamente os doentes. Mas reconstituiu em torno deles todo um encadeamento moral, que transformava o asilo numa espécie de instancia perpetua de julgamento: O louco tinha que ser vigiado nos seus gestos, rebaixado nas suas pretensões, contratido no seu delírio, ridicularizado nos seus erros: A sanção tinha que se seguir imediatamente qualquer desvio em relação a uma conduta normal. E isto sob direção do médio que está encarregado mais de um controle ético que de uma intervenção terapêutica. Ele é, no asilo, o agente das sínteses morais

Salienta-se que devido ao encarceramento e o tratamento da época,

muitos deficientes perderam não só a liberdade, mas também a vida.

60 FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia, tradução Lílian Rose Shalders. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, 1984. p. 83. 61 FOUCAULT, Michel. Doença Mental e Psicologia, tradução Lílian Rose Shalders. 2 ed. Rio de Janeiro: Ed. Tempo Brasileiro, 1984. p. 82.

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2.8 PERÍODO ANTECEDENTE À SEGUNDA GUERRA MUNDIAL E O

EXTERMÍNIO DE DEFICIENTES

Outro período de expressão no que diz respeito à exclusão e

extermínio do deficiente é o pré Segunda Guerra Mundial. Há que se dizer, que este foi um

período marcado pela ascensão de regimes ditatoriais (totalitários) que acentuaram a

intolerância nos mais diversificados níveis, fato que mais uma vez interferiu na vida dos

portadores de deficiências.

Assim nos conta Cytrynowicz62:

Eu gostaria de fazer um parêntesis e lembrar que, a rigor, a primeira câmara de gás foi utilizada contra pacientes de um hospital psiquiátrico no programa nazista chamado de “eutanásia”, que matou cerca de 100 mil alemães considerados “doentes mentais e incuráveis”, entre eles epiléticos, surdos, cegos, pessoas com lábio leporino, às vezes também pessoas consideradas “associais” e judeus. A eutanásia foi oficialmente suspensa devido a protestos de setores da igreja, pressões que não ocorreram depois contra o extermínio dos judeus.

Mesmo com o protesto da Igreja contra o extermínio dos

deficientes, a política de esterilização continuava ativa, além dos casos em que muitos

deficientes eram levados à câmara de gás, outros tantos eram submetidos às experiências

bizarras, que também culminavam na morte.

Um dos métodos de esterilização que era aplicado nos campos de

concentração era o feito por raios X, com autorização de tal procedimento feita por

Himmler.

Quanto aos campos de extermínio ressaltasse as experiências feitas

com os deficientes que por anos serviram de cobaias para os médicos S.S., especialmente

para o Dr. Joseph Mengele, que os usava para o aperfeiçoamento da tão sonhada raça

superior, buscando descobrir a causa da inferioridade dos corpos deficientes.

62 CYTRYNOWICZ, Roney. Segunda Guerra Mundial um Balanço Histórico. São Paulo: Ed. Xamã, 1995. p. 217.

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Conta-nos Aziz63:

Quando os comboios chegam [...] os soldados percorrem as fileiras formadas diante dos vagões a procura dos gêmeos e dos anões. [...] Os gêmeos adultos sabem que são interessantes do ponto de vista cientifico; na esperança de melhores condições, apresentam-se voluntariamente. O mesmo acontece com os anões. [...] As pesquisas são desenvolvidas em três campos diferentes. O primeiro, o mais importante aos olhos de Mengele, dizia respeito ao segredo da gestação dos gêmeos. Mas o medico S.S. interessa-se igualmente pelas causas biológicas e patológicas do nanismo e do gigantismo, esperando ai descobrir uma predestinação especial hereditária das raças inferiores. Por último, uma doença extremamente rara, surgida entre as crianças ciganas, oferece-lhe um terceiro campo de investigação: o noma fácies, ou gangrena seca do rosto. [...] Os gêmeos, os anões, os deformados de todos os gêneros, são ali submetidos a todos os exames médicos que o corpo humano pode suportar. Recolhas de sangue, punções lombares, transfusões de sangue entre irmãos gêmeos, assim como inúmeros exames, todos eles fatigantes e deprimentes.

As seleções citadas anteriormente, que consistiam em três grupos

eram fundamentadas primeiramente nos gêmeos, em desvendar como eram gerados, para

assim fazer a procriação da raça ariana em maior escala, quanto aos anões à intenção era

também descobrir sua origem, mas com o intuito de exterminar qualquer possibilidade do

surgimento de alemães com esta anomalia, no primeiro momento estas pessoas especiais

eram bem tratadas, ou seja, menos mal tratadas, tinham alimentação diferenciada dos

demais assim como suas moradias, e por estes motivos as mesmas se apresentavam

voluntariamente; já num segundo estágio, começavam as experiências que sempre

findavam, após muita tortura, na morte.

2.8.1 O Nazismo e as Leis de Extermínio de Deficientes

Período vergonhoso tanto para a história geral da humanidade

quanto à historia do corpo legislativo que legalizou as práticas de genocídio, incluindo

neste processo de extermínio legal de minorias, os portadores de deficiências.

63 AZIZ, Philippe. Os médicos da morte: Joseph Mengele ou a encarnação do mal. Rio de Janeiro: AGGS Ind. Gráficas SA., [20-]. p.118-120.

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Assim nos conta Aziz64:

Desde os primeiros meses do regime que a esterilização faz parte do arsenal dos métodos nazis. Um decreto de 1933 legalizou a esterilização por motivos eugênicos: pode-se privar da faculdade de procriar os doentes hereditários, os inadaptados, os desequilibrados. [...] Na Alemanha, a porta é completamente aberta aos mais graves excessos e os abusos depressa se tornam flagrantes: o inconformismo político é, muitas vezes, motivo para esterilização. Quando a guerra rebenta, os dirigentes alemães acabam por encarar a esterilização de populações inteiras, para criarem, conforme desejo de Himmler, um novo equilíbrio racial na Europa. O Dr. Mengele trabalha para a multiplicação da raça pura; outros devem, paralelamente, estudar os meios mais eficazes de impedir a reprodução das raças inferiores.

Seguindo, no trecho subtraído da revista almanaque Abril temos:65

Mas o racismo de Hitler ia mais longe. Outra lei de 14 de julho determinou a esterilização de deficientes físicos e mentais, com o objetivo de manter a pureza da raça ariana. De 1933 a 1945, 400 mil pessoas – entre alcoólatras e indivíduos considerados anti-sociais ou incapazes – foram esterilizados à revelia. Em 1939, pouco antes do inicio da guerra, os deficientes seriam separados da família, sem conhecimento prévio, para ser assassinados em centros espalhados pelo país.

Ou seja, antes do início da Segunda Guerra Mundial a Alemanha já

implantara a política de esterilização, autorizando estas práticas legalmente, que ao

transcorrer da guerra apenas disseminou o extermínio em massa, sempre lembrando que era

no entendimento de Hitler para a multiplicação da raça pura.

Nos traz Cytrynowicz66:

Para o nazismo, a medicina deveria se ocupar da higiene racial, da pureza étnica, e não dos indivíduos. Esta idéia deriva da visão de que a historia era movida por uma permanente luta entre raças, luta na qual os arianos

64 AZIZ, Philippe. Os médicos da morte: Joseph Mengele ou a encarnação do mal. Rio de Janeiro: AGGS Ind. Gráficas AS., [20-]. p. 153. 65 II Guerra Mundial 60 anos. A ofensiva do nazismo. São Paulo; v. 1: Abril, 2005. p. 70. 66 CYTRYNOWICZ, Roney. Segunda Guerra Mundial um Balanço Histórico. São Paulo: Ed. Xamã, 1995. p. 217.

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seriam vencedores. Aos nazistas se viam, portanto, como agentes biológicos que intervinham em um processo histórico-natural para abreviar um fim que se imporia pela lógica da historia, que daria a vitória aos arianos.

A união do corpo legislativo com a medicina permitiu ao nazismo

realizar experiências que findavam na morte de deficientes que, entre outras minorias,

passaram a ser utilizados como cobaias humanas.

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3 A LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITOS HUMANOS

3.1 ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS E DIREITOS HUMANOS

O fim da Segunda Guerra Mundial despertou a sociedade política

internacional para os perigos da intolerância contra as minorias políticas e sociais que havia

sido verificada nas ações de regimes totalitários como o nazismo. Para precaver-se deste

perigo é criada oficialmente em 24 de outubro de 1945 a Organização das Nações Unidas

(ONU). Em dezembro de 1948, fruto de resolução da III Sessão Ordinária da Assembléia

Geral das Nações Unidas, surge a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão,

primeiro e mais importante documento internacional de Direitos Humanos, ou seja, de

proteção jurídica às minorias sociais.

Inicialmente temos a consolidação dos direitos humanos em face à

sua violação antes e durante a Segunda Guerra Mundial: extermínios de judeus, deficientes

e civis de diversas nações.

Assim nos contempla Braga67:

As irremediáveis violações dos direitos humanos cometidas durante a Segunda Guerra Mundial foram determinantes para que tivesse inicio um fenômeno de internacionalização dos direitos humanos.

Para a garantia dos direitos fundamentais da pessoa humana

necessária fora a Organização das Nações Unidas que sucedeu a Sociedade das Nações

criada no fim da Primeira Guerra Mundial.

Ensina-nos Braga68:

A carta que instituiu a Organização das Nações Unidas foi concluída na cidade californiana de São Francisco, em 26.06.1945 [...] a preocupação essencial das Nações Unidas é “preservar as gerações vindouras do flagelo da guerra”. Para tanto, os Estados reafirmam a fé nos direitos fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana.

67 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. São Paulo: Método, 2009. p. 76. 68 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. São Paulo: Método, 2009. p. 128.

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Conforme nos explica Dallari, os direitos humanos não poderão ser

contrariados nem por outras leis, muito menos por autoridades públicas.

Assim nos contempla Dallari69:

O que desde logo deve ficar claro é que existem certos direitos que nem as leis nem as autoridades públicas podem contrariar. Esses direitos estão quase todos na Declaração Universal dos Direitos do Homem, aprovada pela Organização das Nações Unidas (ONU) em 1948.

Com a criação da ONU, os princípios abaixo elencados aparecem

com o intuito de prevenir o surgimento de novos conflitos étnicos, a exemplo dos fatos que,

em parte, provocaram a Segunda Guerra Mundial.

Assim nos traz Braga70:

O indivíduo passou, portanto, a ser destinatário de várias normas cujo objetivo é proteger os mais elementares direitos da pessoa humana, que lhe permitiam gozar de uma vida fundada nos princípios da igualdade e da dignidade.

Tais direitos fundamentais no Brasil são amparado a partir do art.

5º da Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, que veremos adiante no

capítulo III.

O ser humano como principal detentor de garantias fundamentais,

subseqüentemente aparecerá a figura do deficiente analogicamente com tais direitos, que

posteriormente será defendido com legislação específica.

Ainda quanto à igualdade e à dignidade, temos o entendimento a

seguir.

Segundo Dallari71:

69 DALLARI, Dalmo de Abreu. O que são direitos da pessoa. São Paulo: Brasiliense. 1984. p. 10. 70 BRAGA, Marcelo Pupe. Direito Internacional. São Paulo: Método, 2009. p. 76. 71 DALLARI, Dalmo de Abreu. O que são direitos da pessoa. São Paulo: Brasiliense, 1984. p. 7-8.

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Cada pessoa deve ter a possibilidade de exigir que a sociedade e todas as demais pessoas respeitem sua dignidade e garantam os meios de atendimento daquelas necessidades básicas. Além disso, as pessoas humanas são todas iguais por natureza e todas valem a mesma coisa, mas cada uma tem suas preferências, suas particularidades.

Necessário se faz sem dúvidas, a criação de normas para regular

essas diferenças e também garantir a dignidade, sendo esse o objeto deste e do próximo

capítulo.

3.2 DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS

Tendo o objetivo de priorizar a dignidade e a igualdade, iniciamos

trazendo a Declaração Universal dos Direitos Humanos, citando assim alguns de seus

artigos convenientes ao presente trabalho, tal Declaração é marco inicial dos direitos das

minorias, servindo de base para posteriores leis, sendo ele assinado no ano de 1948.

Já em seu preâmbulo, são declarados como atos bárbaros os

cometidos com desprezo e desrespeito aos direitos humanos. O direito a igualdade surge

logo em seu primeiro artigo que assim traz: “Todos os seres humanos nascem livres e

iguais em dignidade e direito”. 72

Seguindo, em seu artigo segundo é trazido o direito a gozar dos

benefícios consagrados na presente declaração: “Todo ser humano tem capacidade para

gozar os direitos e as liberdades estabelecidas nesta declaração, sem distinção de qualquer

espécie”.73

A de se notar que expressamente há o entendimento de que

qualquer pessoa com deficiência ou não deve ter seus direitos e deles gozar.

72 Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php> Acesso em: 09 set. 2009. 73 Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php> Acesso em: 09 set. 2009.

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Ainda quanto do direito ao gozo e igualdade, tem-se o

entendimento de Celso Ribeiro Bastos assim descrito na obra de Atchabahian74:

Desde as primeiras eras tem o homem se atormentado com o problema das desigualdades inerentes ao seu ser e à estrutura social em que se insere. Daí ter surgido a noção de igualdade que os doutrinadores comumente denominam igualdade substancial. Entende-se por esta, a equiparação de todos os homens no que diz respeito ao gozo e fruição de direitos, assim com sujeição a deveres.

Conforme mencionado anteriormente, o direito igualitário entre os

seres humanos representa o que se convencionou chamar de igualdade substancial.

Por fim, observasse no artigo vinte e oito: “Todo ser humano tem

direito a uma ordem social e internacional em que os direitos e liberdades estabelecidos na

presente Declaração possam ser plenamente realizados”.75 Para manter tal ordem é

necessária a introdução no meio social de leis, surgindo então o Estado como responsável a

manter a ordem social e a realização dos direitos juridicamente estabelecidos.

Quanto da participação da sociedade destaca-se o entendimento de

Cruz76: “Esta sociedade deve trabalhar no sentido de oferecer oportunidades para que cada

cidadão possa ser respeitado, garantindo-lhe mecanismos para que a mesma consiga a

integridade de sua autonomia, auto-determinada e participativa”.

3.3 CONVENÇÃO AMERICANA SOBRE DIREITOS DO HOMEM

A Convenção Americana sobre Direitos do Homem de 22 de

novembro de 1969, também conhecida como Pacto de São José da Costa Rica, assim como

prescreve seu preâmbulo, tem o intuito de consolidar no continente um regime de

liberdade pessoal e de justiça social, sempre baseado no respeito dos direitos essenciais do

ser humano.

74 ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. São Paulo, RCS Editora, 2004. p.73. 75 Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php> Acesso em: 09 set. 2009. 76 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte, Del Rey, 2003. p.127.

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Logo em seu primeiro artigo, conforme tradução de Campinos,77

tem-se a garantia do respeito por parte dos Estados quanto aos direitos e liberdades do ser

humano sem qualquer discriminação.

Os Estados que são partes nessa Convenção comprometem-se a respeitar os direitos e liberdades nela reconhecidos e a garantir o seu livre e pleno exercício a qualquer pessoa sujeita à sua jurisdição, sem discriminação alguma por motivo de raça, cor, sexo, idioma, religião, opiniões políticas ou de qualquer outra natureza, origem nacional ou social, posição econômica, nascimento ou qualquer outra condição social.

Ressalta-se que a discriminação contida no artigo primeiro não

exauriu um rol, abrangendo assim o entendimento de que não haverá nenhuma diferença

para com os deficientes físicos ou mentais.

No mesmo norte temos o entendimento de discriminação por

Cruz78:

[...] a discriminação como toda e qualquer forma, meio, instrumento ou instituição de promoção da distinção, exclusão, restrição ou preferência baseada em critérios como raça, cor da pele, deficiência física, mental ou patogênica que tenha o propósito ou efeito de anular ou prejudicar o reconhecimento, gozo ou exercício em pé de igualdade de direitos humanos fundamentais nos campos político, econômico, social, cultural ou em qualquer atividade no âmbito da autonomia pública ou privada.

3.4 DECLARAÇÃO SOBRE OS DIREITOS DO DEFICIENTE MENTAL

Da proteção específica das pessoas especiais, iniciamos citando

alguns trechos da Declaração sobre os Direitos do Deficiente Mental de 20 de dezembro de

1971, traduzido pelo jurista Jorge Campinos. Declaração esta que traz o compromisso dos

Estados membros das Nações Unidas a agirem conjunta ou separadamente - entre outras

obrigações - para cooperar com o progresso e o desenvolvimento da ordem econômica e

social, sempre visando integrar e proteger os direitos de bem-estar e readaptação dos

deficientes físicos e mentais. 77 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 182. 78 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p.22.

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Conforme tradução de Campinos79: ”O deficiente mental deve

beneficiar, em toda medida que for possível, dos mesmos direitos que os outros seres

humanos”.

Quanto ao entendimento do texto acima se tem o deficiente mental

como ser humano com seus direitos iguais ao demais, dentre eles o direito a vida,

liberdade, etc.

Na área da saúde temos a seguinte proteção:

O deficiente mental tem direito aos cuidados médicos e aos tratamentos físicos apropriados, bem como à instrução, à formação, à readaptação e aos conselhos que o ajudem a desenvolver ao máximo as suas capacidades e as suas aptidões.

Diferentemente do século XVIII e XIX, quando a deficiência

passara a ser um problema da medicina a ser resolvido através de tratamentos desumanos

que só vinham a piorar o estado da pessoa deficiente, atualmente é um dever dos órgãos

estatais, tendo como obrigação o tratamento médico apropriado para a readaptação do ser

humano à sociedade, diferenciando do período passado.

Demonstrando a possibilidade do ser humano exercer uma

atividade, seguimos a tradução da declaração ainda nos dizeres de Campinos80:

O deficiente mental tem direito à segurança econômica e a um nível de vida decente. Tem direito, em toda a medida das suas possibilidades, de desempenhar um trabalho produtivo ou de exercer qualquer outra ocupação útil.

Já no quarto parágrafo da declaração, encontra-se o dever da

família acolher o deficiente e assisti-lo devidamente, ou caso necessário, encaminhá-lo a

um estabelecimento apropriado.

79 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 570. 80 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 570.

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Assim traduz Campinos81:

Quando possível, o deficiente mental deve viver no seio de sua família ou de um lar que a substitua e participar em diferentes formas da vida comunitária. O lar onde vive deve ser assistido. Se a sua colocação em estabelecimento especializado é necessária, o meio e as suas condições de vida devem ser tão próximos quanto possível dos da vida normal.

Como verificado, a obrigação subsidiária e solidária é do Estado,

uma vez que deverá assistir ou manter estabelecimento para adaptá-lo à vida comunitária.

No transcorrer da declaração se tem no item sexto o procedimento

de possíveis incriminações judiciais.

O deficiente mental deve ser protegido contra qualquer exploração, qualquer abuso ou qualquer tratamento degradante. Se for objecto de incriminações judiciais deve beneficiar de um processo regular que tenha plenamente em conta, em função das suas faculdades mentais, o grau da sua responsabilidade.

O benefício no caso de um possível processo criminal também está

presente no Código Penal Brasileiro que traz no artigo vinte e seis a imputabilidade penal

do deficiente mental: “É isento de pena o agente que, por doença mental ou

desenvolvimento mental incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão,

inteiramente incapaz de entender.”

Anteriormente a possíveis incriminações judiciais, o texto acima

trata da dignidade do doente, devendo ser protegido contra qualquer tratamento degradante.

Findando a Declaração temos o procedimento para a supressão de

direitos, sendo tais supressões legais quando devidamente avaliada por peritos.

Traduz Campinos 82:

81 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 570. 82 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 571.

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Se, em virtude da sua deficiência, certos deficientes mentais não são capazes de exercer efectivamente o conjunto dos seus direitos, ou se uma limitação desses direitos ou mesmo a sua supressão se revelam necessárias, o processo utilizado para fim dessa limitação ou dessa supressão deve legalmente preservar o deficiente contra toda a forma de abuso. Esse processo deve ser baseado numa avaliação, feita por peritos qualificados, das suas capacidades sociais. A referida limitação ou supressão de direitos será submetida a revisões periódicas e preservará o direito de recurso perante instâncias superiores.

Tal medida é necessária tendo em vista que o doente deve ser

devidamente avaliado antes de ter algum de seus direitos subtraídos ou suspensos por assim

dizer, pois até o momento o que sempre foi visado é o direito do ser humano, em analogia

temos do art. 1.767 ao 1.780 Código Civil brasileiro, a figura do interditado; já no inciso I

do art. 1.767 traz a sujeição a curatela para “aqueles que, por enfermidade ou deficiência

mental, não tiverem o necessário discernimento para os atos da vida civil.” Já no art. 1.768

cita-se quem deverá promover a interdição: I – pelos pais ou tutores; II – pelo cônjuge, ou

por qualquer parente; III – pelo Ministério Público. Mais adiante no art. 1.773 nota-se o

direito ao recurso “ A sentença que declara a interdição produz efeitos desde logo, embora

sujeita a recurso. E no art. 1.776 se tem o tratamento em estabelecimento apropriado: “

Havendo meio de recuperar o interdito, o curador promover-lhe-á o tratamento em

estabelecimento apropriado”, sendo que no art. 1.777 informa-se que só deverão ser

internados em estabelecimentos adequados quando o doente não se adaptar ao convívio

doméstico.

3.5 DECLARAÇÃO SOBRE OS DIREITOS DAS PESSOAS DEFICIENTES

A presente Declaração, de 09 de dezembro de 1975, frisa além da

importância de assegurar o bem-estar e a readaptação dos deficientes físicos e mentais, a

prevenir a invalidez, assim como ajudar a pessoa deficiente desenvolver suas aptidões nos

mais diversos domínios, favorecendo a inclusão social.

Constitui que a presente Declaração seja base de medidas

importantes de caráter inclusivo a serem adotadas por cada Estado Democrático de Direito.

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Quanto aos itens importantes da presente declaração iniciamos com

a tradução de Campinos83:

O termo “deficiente” designa qualquer pessoa que se ache na incapacidade de assegurar, por si mesma, a totalidade ou parte das necessidades de uma vida individual ou social normal, em virtude de uma deficiência, congênita ou não, das suas capacidades físicas ou mentais.

Subseqüentemente temos o entendimento de Débora Diniz84 que

assim trata a deficiência: “Deficiência é um conceito complexo que reconhece o corpo com

lesão, mas que também denuncia a estrutura social que oprime a pessoa deficiente”

Na citação anterior é reconhecida a falha do Estado que acaba

oprimindo (excluindo) o ser humano portador de necessidades especiais quando lhe nega a

infra-estrutura arquitetônica e social que facilitaria o seu processo de inclusão social.

Campinos85 também destaca o reconhecimento dos direitos

humanos a todos os portadores de necessidades especiais:

O deficiente deve gozar de todos os direitos enunciados na presente Declaração. Esses direitos devem ser reconhecidos a todos os deficientes sem qualquer excepção e sem distinção ou discriminação baseadas na raça, cor, sexo, língua, religião, opiniões políticas ou outras, origem nacional ou social, estado de fortuna, nascimento ou qualquer outra situação, quer esta diga respeito ao deficiente ou à sua família.

Como verificado, o primeiro direito introduzido na presente

Declaração é o da igualdade, direito este que traz a não distinção inclusive dentro da

deficiência, por assim dizer, não existindo diferença entre ricos, pobres, negros, brancos,

cristãos, judeus etc.

Quanto ao parágrafo terceiro, nos traduz Campinos86:

83 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 574. 84 DINIZ, Débora. O que é deficiência. São Paulo: Brasiliense, 2007. Capa. 85 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 574.

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O deficiente tem essencialmente direito ao respeito da sua dignidade humana. O deficiente, quaisquer que sejam a origem, a natureza e a gravidade das suas perturbações e deficiências, tem os mesmos direitos fundamentais que os seus concidadãos de mesma idade, o que implica primacialmente o direito de gozar uma vida decente, tão normal e realizada quanto possível.

Quanto à dignidade humana do deficiente, subtrai o entendimento

que ela deriva da igualdade em relação aos cidadãos que não possuem deficiência, ou seja,

todos são iguais, independente de um possuir dois braços e outro apenas um, a dignidade

daquele deve ser respeitada como a deste.

Têm os mesmos direitos civis e políticos tanto os deficientes

quanto as pessoas comuns: “O deficiente tem os mesmos direitos civis e políticos que os

outros seres humanos [...]” assim trazido pelo parágrafo quarto, a exemplo disso temos no

Brasil, importantes personalidades que são portadoras de necessidades especiais. O próprio

presidente da República possui uma pequena deficiência.

O parágrafo quinto diz respeito à autonomia da pessoa

deficiente. Quanto aos tratamentos médicos, o parágrafo sexto é traduzido assim87:

O deficiente tem direito aos tratamentos médico, psicológico e funcional, incluindo o direito a aparelhos de prótese e de órtese; à readaptação médica e social; à educação; à formação e à readaptação profissionais; às ajudas, conselhos, serviços de colocação e outros serviços que assegurem a máxima promoção das suas capacidades e aptidões e que acelerem o processo da sua integração ou da sua reintegração social.

Vários programas de integração do deficiente estão disponíveis

para incluí-lo dentre outros no mercado de trabalho, quanto à área da saúde parte-se do

princípio de que o Estado seria o principal responsável para manter unidades de

readaptação e tratamento.

86 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 574. 87 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, 1984. p. 575.

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O parágrafo sétimo prioriza a segurança econômica e social que o

deficiente deve ter, assim como um nível de vida decente, o direito como qualquer outro

cidadão de manter um emprego ou uma ocupação útil, produtiva e remunerada, e participar

de organizações sociais.

O parágrafo oitavo diz respeito à consideração que deve ter o

deficiente em suas necessidades particulares, quando das planificações econômicas e

sociais, qualquer medida neste sentido deve ser pensada paralelamente com as necessidades

do deficiente.

Seguindo, se tem no parágrafo nono o direito do deficiente de

viver no seio de sua família, ou de viver em um lar que o substitua, diz que os tratamentos

diferenciados só existirão caso o estado de saúde da pessoa deficiente demande esta

diferenciação.

Transcorrendo a Declaração temos no parágrafo décimo:

O deficiente deve ser protegido contra qualquer exploração, qualquer regulamentação ou tratamentos discriminatórios, abusivos ou degradantes.

Quanto à proteção do deficiente há hoje várias leis que priorizam a

sua segurança, constituindo até mesmo processos criminais para quem desrespeitar estas

imposições legais. Essas medidas são tomadas em face de uma sociedade que ainda não

possui a devida conscientização da necessidade primaz de promover a inclusão da pessoa

portadora de necessidades especiais à sociedade.

O décimo primeiro parágrafo informa que o deficiente deve

beneficiar-se de assistência legal quando tal assistência revelar-se indispensável para a sua

proteção ou de seus bens. No caso de doentes mentais, o deficiente deve ter sua condição

especial levada em conta nos casos de incriminações judiciais.

O décimo segundo parágrafo assegura que a condição especial

poderá ser informada pelas organizações de deficientes.

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O décimo terceiro e último parágrafo é assim traduzido por

Campinos88: “O deficiente, a sua família e a sua comunidade devem ser plenamente

informados, por todos os meios apropriados, dos direitos contidos na presente Declaração”.

Infelizmente a sociedade não tem ciência dos direitos dos

deficientes e, muito menos de seus deveres para com eles. Direitos estes que só visam à

inclusão e a dignidade do ser humano.

3.6 DIREITO E BENEFÍCIOS DA IGUALDADE NAS CONSTITUIÇÕES DE ALGUNS

PAÍSES DA AMÉRICA LATINA

3.6.1 Constituição da República Boliviana

Temos na Constituição da República da Bolívia a igualdade da

pessoa humana ante a personalidade e capacidade jurídica, assim como o gozo dos direitos,

liberdades e garantias nela estabelecida, conforme trata seu art.6º:

Todo ser humano tiene personalidad y capacidad juridica, com arreglo a las leyes. Goza de los derechos, libertades y garantias reconocidos por esta Constitución, sin distincíon de raza, sexo, idioma, religión, opinión politica o de outra indole, origen, condición económica o social, u outra cualquiera. 89

Dentre os direitos assegurados aos bolivianos com lesões ou não,

está o direito à vida, à saúde, à segurança, etc.

Findando as garantias asseguradas pela Constituição da República da

Bolívia, verifica-se o dever do Estado de proteger a pessoa humana, garantindo sua saúde e,

quando necessário, assegurando-lhe os meios de subsistência e de reabilitação. Assim

segue o art. 158:

88 CAMPINOS, Jorge. Direito Internacional dos Direitos do Homem. Coimbra: Editora Limitada, p. 576. 89 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001, p. 109.

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El Estado tiene la obligación de defender el capital humano protegiendo la salud de la población; asegurará la continuidad de sus medios de subsistencia y rehabilitación de las personas inutilizadas; propenderá asimismo al mejoramiento de las condiciones de vida del grupo familiar. 90

Tal dever do Estado se expressa no sistema de seguridade social

que garante ao necessitado os meios para sua subsistência, assegurando os meios

necessários para a família mantê-lo.

3.6.2 Constituição da República do Chile

Quanto à Constituição da República do Chile, o artigo primeiro já

traz o direito à igualdade e à dignidade para todos: “Los hombres nacen libres e iguales em

dignidad y derechos.” 91

Ainda no artigo primeiro é citado o Estado como assegurador da

integração dos setores da Nação e da igualdade do ser humano na participação de

oportunidades na vida92: “[...] promover la integración armônica de todos los sectores de la

Nación y asegurar el derecho de las personas a participar com igualdad de oportunidades

em la vida nacional”.

No terceiro capítulo temos os direitos e deveres constitucionais

que também destacam a igualdade93: “Articulo 19: La igualdad ante la ley. Em Chile no

hay persona ni grupo privilegiados.”

3.6.3 Constituição da República do Paraguai

Na Constituição da República do Paraguai observa-se no artigo

sexto a qualidade de vida promovida pelo Estado sob planos e políticas de visam: erradicar

90 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 131. 91 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 401. 92 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 401. 93 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 403.

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a pobreza, promover a inclusão social do deficiente e do idoso94: “Articulo 6. DE LA

CALIDAD DE VIDA. La calidad de vida será promovida por el Estado mediante planes y

politicas que reconozcan factores condicionantes, tales como la extrema pobreza y los

impedimentos de la discapacidad o de la edad.”

O terceiro capítulo trata da igualdade entre as pessoas95:

Artículo 46. DE LA IGUALDAD DE LAS PERSONAS. Todos los habitantes de la República son iguales em dignidad y derechos. No se admiten discriminaciones. El Estado removerá los obstáculos e impedirá los factores que las mantengan o las propicien. Las protecciones que se establezcan sobre desigualdades injustas no serán consideradas como factores discriminatorios sino igualitarios.

Como verificado anteriormente, a igualdade e a dignidade também

são assegurados a todos os habitantes do Paraguai. Sendo que será removida qualquer

forma de empecilho às ações – governamentais - desiguais direcionadas à inclusão do

portador de necessidades especiais à sociedade. Essas medidas jurídicas não serão

consideradas medidas discriminatórias, mas sim, tratamentos que buscam a igualdade

através do reconhecimento da desigualdade.

3.6.4 Constituição da República Oriental do Uruguai

Da constituição da República Oriental do Uruguai se abstrai a

igualdade perante a lei, mas não necessariamente visando uma classe menos favorecida, e

sim, não favorecendo uma classe supostamente mais abastada96: “Artículo 8. Todas las

personas son iguales ante la ley no reconociêndose outra distinción entre ellas sino la de los

talentos o las virtudes”.

94 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 451. 95 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 456. 96 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 503.

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Já no artigo 44 temos97: “El Estado legislará en todas las cuestiones

relacionadas com la salud e higiene públicas, procurando el perfeccionamiento físico,

moral y social de todos los habitantes del país.” Assim tem-se a obrigação do Estado na

formação de leis buscando a harmonia entre a saúde publica e o homem.

Assim se finda o presente capítulo que buscou através de

Declarações de Direito Internacional e de Constituições Latino-Americanas demonstrar o

processo jurídico de inclusão do ser humano portador de necessidades especiais ao meio

social: seja esta inclusão pelos princípios internacionais da igualdade e da dignidade da

pessoa humana ou, simplesmente, por legislação específica.

97 CÂMARA DOS DEPUTADOS. Constituições dos Países do Mercosul: 1996-2000. Textos Constitucionais da Argentina, da Bolívia, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai. : Coordenação de Publicações, 2001. p. 505.

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4 INCLUSÃO SOCIAL: OS DIVERSOS MEIOS DE INCLUIR O PORTADOR DE

NECESSIDADES ESPECIAIS À SOCIEDADE

4.1 CONCEITO DE INCLUSÃO

Antes de verificarmos os vários meios inclusivos que estão

disponíveis, mas que pouco se faz presente no dia-a-dia, é preciso entender seu significado,

assim temos o entendimento de Sassaki98:

Com o advento do paradigma da inclusão e do conceito de que a diversidade humana deve ser acolhida e valorizada em todos os setores sociais comuns, hoje entendemos que a acessibilidade não mais se restringe ao aspecto arquitetônico, pois existem barreiras de vários tipos também em outros contextos que não o do ambiente arquitetônico.

Assim tem-se a inclusão, na destruição de várias barreiras que ao

longo da vida se apresentam perante a pessoa com lesão, não sendo apenas barreiras

arquitetônicas, mas sim educacionais, sociais, pessoais etc.

Quanto a barreiras pessoais ensina-nos Sassaki99:

Acessibilidade Atitudinal: sem preconceitos, estigmas, estereótipos e discriminações, como resultado de programas e práticas de sensibilização e de conscientização dos trabalhadores em geral e da convivência na diversidade humana nos locais de trabalho.

O autor quando cita a acessibilidade atitudinal, prioriza

especificamente a relação do trabalhador com o trabalho. Todavia, mas fácil será a analogia

que traz a idéia de acessibilidade entre pessoa e sociedade, construindo um convívio

através de práticas de conscientização sem discriminações.

4.2 A SOCIEDADE INCLUSIVA

Devido à sua importância, primeiramente temos a necessidade de

ampliar o conceito de inclusão ao patamar social, explicando alguns meios de inclusão

98 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 68. 99 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 69.

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social. Assim, quanto à inclusão no âmbito social, o conceito de sociedade inclusiva

destaca a criação de espaço para todos.

Explica-nos Sassaki100:

Uma sociedade inclusiva garante seus espaços a todas as pessoas, sem prejudicar aquelas que conseguem ocupá-los só por méritos próprios. Neste ponto, é oportuno acrescentar que o conceito de sociedade inclusiva, introduzido nos meios especializados em deficiência, tornou-se hoje válido também em outros meios, ou seja, naqueles em que estão presentes as pessoas com outras condições atípicas

Além de garantir o espaço para todos, fortalece a aceitação da

diversidade humana em outros meios, com a convivência, a cooperação, etc.

Temos o conceito de sociedade inclusiva exteriorizada pela ONU a

partir do ano de 1981, quando é realizado o Ano Internacional das Pessoas Deficientes.

Ensina-nos Sassaki101:

A semente do conceito sociedade inclusiva foi lançada em 1981 pela própria ONU quando realizou o Ano Internacional das Pessoas Deficientes (A I P D), que enalteceu firmemente o reconhecimento dos direitos das pessoas com deficiência como membros integrantes da sociedade.

Outro termo usado para tratar de inclusão social é o de “sociedade

para todos”, elaborado por Ture Jonsson, conforme descreve Sassaki102:

Sociedade para todos como “uma sociedade que se empenha para acolher as diferenças de todos os seus membros, isto significa que temos que

100 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 168. 101 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 169. 102 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 169.

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focalizar nossos esforços não mais em adaptar as pessoas à sociedade e sim em adaptar a sociedade às pessoas”.

Contudo, para haver uma sociedade inclusiva, não se faz apenas

necessário a criação de mais declarações, leis e decretos, mas sim, é preciso despertar a

conscientização da sociedade em geral, entendendo que somos iguais em direito e que a

melhor forma de incluir uma pessoa com lesão a meio social é praticar um conjunto de

idéias que já estão formuladas em teorias educacionais, médicas e arquitetônicas.

No mesmo compasso temos o entendimento de Atchabahian103:

O entendimento atual é no sentido de fazer valer, efetivamente, a igualdade entre todos. Significa dizer que a efetividade está na igualdade alcançada de forma real e não somente na letra da lei. Eis aqui a igualdade substancial.

4.2.1 Governo e Inclusão

O primeiro instrumento que une o governo às ações inclusivas no

Brasil é a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

(SEDH/PR), secretaria de governo que objetiva promover políticas públicas voltadas à

proteção dos direitos humanos.

Outras funções lhe são conferidas104:

1 - Prestar assessoria direta e imediata ao Presidente da República na formulação de políticas e diretrizes voltadas à promoção dos direitos da cidadania, da criança, do adolescente, do idoso e das minorias e à defesa dos direitos das pessoas portadoras de deficiência [...] 2 - coordenar a Política Nacional de Direitos Humanos, [...] 3 - articular iniciativas e apoiar projetos voltados para a proteção e promoção dos direitos humanos em âmbito nacional [...] e 4 - exercer as funções de ouvidoria-geral da cidadania, da criança, do adolescente, da pessoa portadora de

103 ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. São Paulo, RCS Editora, 2004. p. 76. 104 Disponível em: <http://www.presidencia.gov.br/estrutura_presidencia/sedh/sobre/>Acesso em: 18 set. 2009.

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deficiência, do idoso e de outros grupos sociais vulneráveis.

A SEDH representa os “olhos” do Presidente Brasileiro, exercendo

atos voltados à dignidade da pessoa humana e fiscalizando as práticas sociais que

reafirmam a exclusão através da ouvidoria da cidadania.

Conforme verificamos, dentre as atribuições da Secretaria Especial

está a função de coordenar a Política Nacional de Direitos Humanos, delegando está

responsabilidade à Coordenadoria Nacional para a Integração da Pessoa Portadora de

Deficiência (CORDE).105

CORDE é o órgão de Assessoria da Secretaria Especial dos Direitos

Humanos da Presidência da República, responsável pela gestão de

políticas voltadas para integração da pessoa portadora de deficiência,

tendo como eixo focal a defesa de direitos e a promoção da cidadania.

Verifica-se como gestão de políticas voltadas às ações da

coordenação do Programa Nacional de Acessibilidade que apóia e promove a capacitação

de recursos humanos em acessibilidade, acompanhando as atualizações de legislação sobre

a acessibilidade e organizando campanhas informativas e inclusivas.

4.2.2 Ministério Público e Inclusão

Outro órgão nacional que atua em favor da inclusão social de

minorias é a Associação Nacional do Ministério Público de Defesa dos Direitos dos Idosos

e Pessoas com Deficiência (AMPID). Entidade que foi criada em São Luiz do Maranhão

em 09/01/2004 - conforme seu registro de pessoa jurídica - com intuito de defender os

direitos dos idosos e das pessoas com lesões. Dentre os objetivos da associação estão106:

[...] a proclamação e defesa dos direitos das pessoas idosas e pessoas com deficiência. [...] promoção da cultura jurídica crítica e democrática, com base na formação dos Membros do Ministério Público de defesa das pessoas idosas e pessoas com deficiência. [...] o estudo das normas internacionais relativas ao envelhecimento e às deficiências, de maneira a contribuir para o aperfeiçoamento das instituições [...] a difusão dos

105 Disponível em: <http://www.mj.gov.br/corde/ > Acesso em: 18 set. 2009. 106 Disponível em: < http://www.ampid.org.br/O_que_e_AMPID.php> Acesso em: 14 set. 2009.

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estudos jurídicos e sociais, mediante a elaboração de boletins, revistas e jornais [...] a promoção de campanhas visando mobilização da opinião pública no sentido de participação dos diversos segmentos na promoção dos direitos das pessoas idosas e das pessoas com deficiência [...] aplicar integralmente suas rendas, recursos e eventual resultado operacional na manutenção e desenvolvimento dos objetivos institucionais no território nacional.

Percebe-se a intenção de defesa da pessoa deficiente através da

formação de promotores capacitados e conscientes sobre a necessidade de promover as

práticas de inclusão.

Quanto ao aperfeiçoamento das instituições que visam promover a

inclusão social de minorias, destaca-se a necessidade de ampliação do conhecimento sobre

as normas internacionais para mantê-las atualizadas, favorecendo a prática de divulgar

informações ao público interessado e formar campanhas inclusivas.

4.2.3 Programas Preventivos

No âmbito nacional também temos o exemplo de campanhas

preventivas e de readaptação que visam erradicar possíveis doenças que causariam algum

tipo de lesão, bem como, promover a recuperação de vítimas destas doenças.

Contempla-nos Cruz107:

Nesse sentido, as campanhas nacionais de imunidade contra a poliomielite/paralisia infantil têm conseguido êxito pleno na erradicação dessas doenças. O Poder Público é obrigado a fornecer gratuitamente medicamentos necessários ao tratamento do portador de deficiência, não podendo haver qualquer impedimento a sua participação nos planos ou seguros privados de saúde, nos termos do artigo 14 da Lei federal n. 9.658/98. Além disso, o Poder Público deve oferecer gratuitamente próteses que favoreçam sua adequação funcional, bem como, próteses auditivas, visuais e físicas.

Sabemos que o sistema de prevenção acaba sendo uma boa

alternativa para sanar problemas de saúde quando se está diante de um sistema de saúde

107 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 250.

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precário - inclusive para aqueles que não possuem lesão – que desfavorece as medidas

curativas.

4.2.4 O Papel da Educação Especial na Inclusão Social

Nacionalmente temos também a inclusão do deficiente no sistema

educacional, trazido assim por Cruz108:

No campo educacional, qualquer portador de deficiência tem direito à educação pública e gratuita, inclusive em sistema próprio de educação especial, adequada às suas necessidades, como se depreende do artigo 2º, inciso I da Lei n. 7.853/89, do artigo 58 da Lei n. 9.394/96 e do artigo 24 do Decreto n. 3.298/99. Entende-se por educação especial a modalidade oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para o educando com necessidades especiais, constituindo-se num processo flexível, dinâmico e individual ligado às necessidades de cada portador de deficiência.

Quanto à educação inclusiva, temos o posicionamento da

Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (APAE) que foi subtraído de seu site

nacional109:

Após décadas de existência e de profundas mudanças sócio-culturais no tocante a questão da deficiência no Brasil e no mundo, a Rede APAE tem acompanhado, junto a outras organizações sociais, uma mudança de paradigma sobre a questão da inclusão escolar. Tais mudanças influenciam diretamente na vida das pessoas com deficiência intelectual, no funcionamento da entidade, no foco de sua prestação de serviços e nas suas ações de articulação de promoção de políticas. [...] a APAE hoje possui um posicionamento claro e responsável sobre a questão da inclusão escolar.

A APAE é a favor de um processo de inclusão escolar gradativo (processual) e responsável, com o qual as escolas comuns sejam devidamente preparadas para o recebimento dos estudantes, que necessitam não apenas de recursos para acessibilidade física, mas, sobretudo de treinamento de professores, preparação dos alunos, dentre outras ações. Além disso, a Rede APAE defende o direito de escolha da

108 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 249. 109 Disponível em: <http://www.apaebrasil.org.br/artigo.phtml?a=11398> Acesso em: 16 set. 2009.

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pessoa com deficiência intelectual e de sua família sobre o local onde deseja estudar.

Com este entendimento temos a inclusão do deficiente sob a livre

escolha de sua família, seja em escolas especializadas ou comuns, o importante é que as

escolas também tenham profissionais competentes com atitudes inclusivas manifestas nas

ações de seus administradores, professores e ou alunos.

Quanto da participação da APAE, temos a opinião de Cruz110:

Contudo, se o Estado brasileiro está longe de implementar um programa coerente de ações afirmativas em favor do portador de deficiência, tal não se pode falar da sociedade brasileira. [...] A Associação de Paraplégicos, de deficientes físicos e as APAE são alguns dos milhares de exemplos de uma sociedade que deseja a inclusão e que vê a solidariedade como um principio constitucional próprio do Estado Democrático de Direito e não mera caridade ou “assistencialismo do Estado”.

4.2.5 Arquitetura Inclusiva: Decreto 5296/2004

Como meio inclusivo também se destaca a acessibilidade das

pessoas com lesão às construções arquitetônicas que integram os espaços urbanos.

Quanto a este tipo peculiar de acessibilidade temos o entendimento

de Cruz: “O direito à acessibilidade transformou-se em direito fundamental do portador de

deficiência por meio do artigo 227, §2º [...] da Constituição Federal de 1988.”

Além do artigo 227, §2º da Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988 (CRFB), temos o Decreto 5296/2004 que promove a

acessibilidade a espaços públicos, constituindo um elemento fundamental para a vida do

deficiente.

110 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 261.

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Acessibilidade segundo o Art.8º do Decreto 5296/2004111:

[...] condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou

assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das

edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e

meios de comunicação e informação, por pessoa portadora de deficiência

ou com mobilidade reduzida.

Para tratar do Decreto 5296/2004, citaremos alguns de seus

importantes artigos, a começar pelos que trazem a obrigação de cumprir normas técnicas112:

Art. 2º - Ficam sujeitos ao cumprimento das disposições deste Decreto, sempre que houver interação com a matéria nele regulamentada:

I - a aprovação de projeto de natureza arquitetônica e urbanística, de comunicação e informação, de transporte coletivo, bem como a execução de qualquer tipo de obra, quando tenham destinação pública ou coletiva;

II - a outorga de concessão, permissão, autorização ou habilitação de qualquer natureza [...]

Art. 11º - A construção, reforma ou ampliação de edificações de uso público ou coletivo, ou a mudança de destinação para estes tipos de edificação, deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis à pessoa portadora de deficiência ou com mobilidade reduzida.

Como verificado acima, o sujeito é subjetivo, podendo ser ente

público ao dar permissão à determinada obra ou privado ao construir a obra, devendo ter a

obrigação de zelar pelos preceitos contidos no presente decreto, sob a possibilidade de

constituir sanções contidas no artigo terceiro: “Art. 3º - Serão aplicadas sanções

administrativas, cíveis e penais cabíveis, previstas em lei, quando não forem observadas as

normas deste Decreto”.

111 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> acesso em: 16 set. 2009.

112 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> acesso em: 16 set. 2009.

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O parágrafo 3º do artigo quinto traz a obrigação da administração

pública e de empresas prestadoras de serviços públicos, bem como de entidades financeiras

de prestar atendimento prioritário aos deficientes113:

[...] O acesso prioritário às edificações e serviços das instituições financeiras deve seguir os preceitos estabelecidos neste Decreto e nas normas técnicas de acessibilidade da Associação Brasileira de Normas Técnicas - ABNT, no que não conflitarem com a Lei no 7.102, de 20 de junho de 1983, observando, ainda, a Resolução do Conselho Monetário Nacional no 2.878, de 26 de julho de 2001.

No caso da instituição financeira, além do respeito ao presente

Decreto, ela também deverá obedecer às normas contidas na Associação Brasileira de

Normas Técnicas (ABNT), entre outros dispositivos.

Conforme dispositivo, outras obrigações surgem em prol da

sociedade inclusiva. Remetendo ao cumprimento de norma técnica estabelecida pela ABNT

temos no Art. 15º: “No planejamento e na urbanização das vias, praças, dos logradouros,

parques e demais espaços de uso público, deverão ser cumpridas as exigências dispostas

nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT”. Entre estas obrigações estão o

rebaixamento de calçadas, construção de rampas, pisos com demarcação própria para

deficientes visuais, etc.

Há obrigação de se respeitar uma quota em determinados eventos, conforme prevê o Art. 23:

Os teatros, cinemas, auditórios, estádios, ginásios de esporte, casas de espetáculos, salas de conferências e similares reservarão, pelo menos,dois por cento da lotação do estabelecimento para pessoas em cadeira de roda distribuídos pelo recinto em locais diversos, de boa visibilidade, próximos aos corredores, devidamente sinalizados, evitando-se áreas segregadas de público e a obstrução das saídas, em conformidade com as normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

Também deverão ser respeitadas as normas técnicas da ABNT para

renovação, criação de cursos e autorização para funcionamento de escolas públicas ou

privadas. Em qualquer nível deverão apresentar estrutura acessível ao deficiente físico

113 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> Acesso em: 16 set. 2009.

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conforme determina o Art. 24: “Os estabelecimentos de ensino de qualquer nível [...]

proporcionarão condições de acesso e utilização de todos os seus ambientes ou

compartimentos para pessoas portadoras de deficiência.” Exemplos de ambientes são as

bibliotecas, auditórios, laboratórios, etc.

Ainda na área educacional o Art. 65 destaca o dever dos Poderes

Públicos na formação dos seguintes programas114:

Art. 65. Caberá ao Poder Público viabilizar as seguintes diretrizes:

[...] promoção da inclusão de conteúdos temáticos referentes a ajudas técnicas na educação profissional, no ensino médio, na graduação e na pós-graduação;

III - apoio e divulgação de trabalhos técnicos e científicos referentes a ajudas técnicas;

IV - estabelecimento de parcerias com escolas e centros de educação profissional, centros de ensino universitários e de pesquisa, no sentido de incrementar a formação de profissionais na área de ajudas técnicas.

Conforme trecho anteriormente exposto se tem o entendimento de

que a acessibilidade do deficiente deveria ser exposta na educação de graduação ou não, em

ensino privado ou público; o importante é informar o cidadão, demonstrando as várias

dificuldades de adaptação ao meio social enfrentadas pelo deficiente por conta de projetos

arquitetônicos que não visualizam o público portador de necessidades especiais.

O artigo sexto trata do atendimento prioritário ao deficiente,

definindo o que seria este atendimento em termos de arquitetura:

Art. 6o O atendimento prioritário compreende tratamento diferenciado e atendimento imediato às pessoas de que trata o art. 5o.

§ 1o O tratamento diferenciado inclui, dentre outros:

I - assentos de uso preferencial sinalizados, espaços e instalações acessíveis;

114 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2004/Decreto/D5296.htm> Acesso em: 16 set. 2009.

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II - mobiliário de recepção e atendimento obrigatoriamente adaptado à altura e à condição física de pessoas em cadeira de rodas, conforme estabelecido nas normas técnicas de acessibilidade da ABNT.

De nada adiantaria sinalizações indicando assentos exclusivos à

determinadas pessoas na recepção de algum órgão se no momento do atendimento tal

pessoa se deparasse com um balcão obstruindo seu contato com o atendente, fato que

ocorre freqüentemente em vários estabelecimentos.

Para evitar isso, o parágrafo quarto do Art. 6º estabelece

determinações para desobstrução de barreira: “§ 4º Os órgãos, empresas e instituições [...]

devem possuir, pelo menos, um telefone de atendimento adaptado para comunicação com e

por pessoas portadoras de deficiência auditiva”, observando assim o direito na igualdade de

comunicação do deficiente auditivo.

O parágrafo 1º do Art. 19 estabelece o prazo de 30 meses para que

estabelecimentos públicos já constituídos se adaptem as normas presentes no Decreto

5296/2004: “[...] edificações de uso público já existentes, terão elas prazo de trinta meses a

contar da data de publicação deste Decreto para garantir acessibilidade às pessoas

portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”.

O mesmo prazo está no parágrafo 2º do Art. 22 que trata da

construção de banheiros acessíveis (com equipamentos e acessórios especiais) a

deficientes, cuja construção pública já estava concretizada.

Já na área dos transportes, intenção do Art. 34 seria louvável - “A

infra-estrutura de transporte coletivo a ser implantada a partir da publicação deste

Decreto deverá ser acessível e estar disponível para ser operada de forma a garantir o seu

uso por pessoas portadoras de deficiência.” - se não existisse o prazo contido no § 3º do

Art. 38 que destaca: “A frota de veículos de transporte coletivo rodoviário e a infra-

estrutura dos serviços deste transporte deverão estar totalmente acessíveis no prazo máximo

de cento e vinte meses a contar da data de publicação deste Decreto”, abrindo assim

brechas para empresas de transportes continuarem dificultando os meios de transportes dos

deficientes.

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4.3 A IGUALDADE E O OBJETIVO FUNDAMENTAL NO ARTIGO 3º DA CRFB DE

1988

Com a citação de alguns artigos da nossa constituição que trazem a

igualdade em conjunto com a dignidade, iniciamos a discussão sobre a inclusão social

assegurada por nossa lei maior.

O primeiro artigo da CRFB a tratar expressamente da igualdade

entre os cidadãos brasileiros é o Art. 3º, IV, ao constituir como um dos objetivos

fundamentais de nossa Nação a promoção do bem de todos sem quaisquer formas de

preconceito: “Art. 3º- Constituem objetivos fundamentais [...] promover o bem de todos,

sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de

discriminação.”

No mesmo tocante temos o entendimento de Atchabahian115:

[...] a igualdade como valor supremo; aliado ao artigo 3º do mesmo Diploma Magno que consiste em um dos princípios fundamentais do Estado brasileiro, resta irrefutável, como já dito, que a efetivação do princípio da igualdade depende de políticas governamentais que, gradativa e progressivamente, atingirão ao fim a que se destinam.

Neste sentido, há no estado brasileiro ações positivadas em prol da igualdade. Isso

exige iniciativas do Estado que ultrapassam o limite de apenas cobrar retratações daqueles

que discriminam.

4.3.1 O Princípio da Igualdade no Artigo 5º da CRFB de 1988

O próximo artigo a tratar do princípio da igualdade é o artigo 5º:

“Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos

115 ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. São Paulo: RCS Editora, 2004. p. 163.

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brasileiros e estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito a vida, a liberdade,

a igualdade, a segurança, a propriedade, nos termos seguintes”.

Importante lembrar que o princípio da igualdade - diferentemente

de nossas constituições anteriores - ganha força como caput do artigo 5º.

Assim nos traz Atchabahian116:

O princípio da igualdade, inserto nas liberdades clássicas ou negativas, foi

amparado na Constituição de 1988, deixando de ser parágrafo e passando

ao caput do artigo 5º. É de se notar, ainda, que referido principio não está

estabelecido somente no artigo 5º, ao contrário tem previsões várias em

nossa lei Maior.

Ainda quanto ao Art. 5º, contempla-nos Atchabahian117:

Os direitos constantes do elenco do caput deste artigo são, evidentemente,

as vigas mestras onde se arrima toda a especificação contida nos incisos

seguintes. A igualdade perante a lei é previsão constante de todas as

Constituições pátrias e raramente faltante em qualquer diploma

constitucional de país civilizado e democrático.

A respeito do princípio da igualdade também vale destacar a visão

de Cruz118:

Assim, a semiótica jurídica do direito à igualdade, ampliando seu campo

de incidência e sua plurissignificação, é indispensável sob a ótica da

dignidade humana. Uma sociedade calcada nestes princípios é

necessariamente pluralista e inclusiva, pois deve garantir/estimular a

participação de todos, aproveitando as diferentes cosmovisões e

experiências humanas.

116 ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. São Paulo: RCS Editora, 2004. p. 68. 117 ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. São Paulo: RCS Editora, 2004. p. 105. 118 CRUZ, Álvaro Ricardo de Souza. O direito à diferença. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 127.

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Com o desenvolvimento da sociedade fica clara a necessidade de

atualização e progresso legislativo em prol de pessoas excluídas (minorias sociais),

emergindo de forma destacada princípios de direito antes visto como secundários.

E finalmente temos o entendimento de Moraes:

A constituição Federal de 1988 adotou o princípio da igualdade de direitos. [...] todos os cidadãos têm o direito de tratamento idêntico pela lei, em consonância com os critérios albergados pelo ordenamento jurídico. [...] o tratamento desigual dos casos desiguais, na medida em que se desigualam, é exigência tradicional do próprio conceito de justiça, pois o que realmente protege são certas finalidades.

4.3.2 Relações Trabalhistas nos Artigos 7º e 37 da CRFB de 1988

No tocante às relações trabalhistas surgem os primeiros passos

inclusivos através do artigo sétimo com a menção expressa de não discriminação, assim

temos no seu inciso XXXI: [...] “proibição de qualquer discriminação no tocante a salário e

critérios de admissão do trabalhador portador de deficiência”.

A priori se tem o entendimento de que a inclusão está subentendida

pelo fato de não se admitir a exclusão, fato este que não reflete a realidade segundo o

entendimento de Flavia Piovesan e Priscila Kei Sato conforme destaca Atchabahian119:

[...] entendem que “a igualdade e a discriminação pairam sob o binômio

inclusão/exclusão. Enquanto a igualdade pressupõe formas de inclusão

social, a discriminação implica na violenta exclusão e intolerância à

diferença e diversidade. O que se percebe é que a proibição da exclusão,

em si mesma, não resulta automaticamente na inclusão.

Sendo assim, não seria suficiente só a proibição de discriminação,

sendo obrigatórios atos inclusivos também nas relações trabalhistas.

119 ATCHABAHIAN, Serge. Princípio da igualdade e ações afirmativas. São Paulo: RCS Editora, 2004. p.164.

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Já para Moraes120, ações discriminatórias fazem parte da finalidade

limitadora do princípio da igualdade, que assim entende:

Importante, igualmente, apontar a tríplice finalidade limitadora do

princípio da igualdade – limitação ao legislador, ao intérprete/autoridade

pública e ao particular. [...] o particular não poderá pautar-se por condutas

discriminatórias, preconceituosas ou racistas, sob pena de

responsabilidade civil e penal, nos termos da legislação em vigor.

No entendimento mencionado, verifica-se a importância da não

discriminação que é definida pelo princípio da igualdade.

Ainda nas relações trabalhistas encontramos no artigo 37, inciso

VIII, o estabelecimento de critérios a serem elaborados para regulamentar reserva de

emprego a deficientes físicos: “[...] a lei reservará percentual dos cargos e empregos

públicos para as pessoas portadoras de deficiência e definirá os critérios de sua admissão.”

O critério a ser adotado está no artigo 5º, §2º da Lei Federal

8.112/90, que não trata do deficiente físico especificamente, mas que estabelece uma quota

de até 20% dos cargos e empregos públicos para deficientes, assim temos121:

[...] pessoas portadoras de deficiência é assegurado o direito de se inscrever em concurso público para provimento de cargo cujas atribuições sejam compatíveis com a deficiência de que são portadoras; para tais pessoas serão reservadas até 20% (vinte por cento) das vagas oferecidas no concurso.

Tanto em estabelecimentos particulares quanto em público, falta a

conscientização do empregador para contratação, assim como a adaptação do ambiente de

trabalho ao portador de necessidades especiais, pois o ambiente deverá ser adaptado as

características de cada tipo de necessidade, fato que dificilmente ocorre.

120 MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 11º ed. São Paulo: Atlas, 2002. p. 65. 121 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/LEIS/L8112cons.htm> Acesso em: 21 set. 2009.

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Na concepção de Sassaki122:

Pessoas com deficiência são admitidas e contratadas em órgãos públicos e empresas particulares, desde que tenham qualificação profissional e consigam utilizar os espaços físicos e os equipamentos das empresas sem nenhuma modificação. Esta forma é também conhecida como “trabalho plenamente integrado: Nenhuma alteração no ambiente.”

Além de condição para o trabalho, deve-se existir o entendimento

que as funções laborais do portador de necessidades especiais são tão produtivas quanto às

do não deficiente.

Quanto à empresa inclusiva, explica-nos Sassaki123:

Uma empresa inclusiva é, então, aquela que acredita no valor da diversidade humana, contempla as diferenças individuais, efetua mudanças fundamentais nas práticas administrativas, implementa adaptações no ambiente físico, adapta procedimentos e instrumentos de trabalho. 4.3.3 A Aposentadoria dos Deficientes nos Artigos 40 e 201 da CRFB de 1988

No que diz respeito aos direitos dos servidores públicos com

deficiência, outra aquisição é a diferenciação na concessão de aposentadoria, demonstrada

na exceção às regras estabelecidas pelo capítulo VII, temos no art. 40, §4º, I 124:

§4º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos abrangidos pelo regime de que trata este artigo, ressalvados, nos termos definidos em leis complementares, os casos de servidores:

I portadores de deficiência [...].

122 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 60. 123 SASSAKI, Romeu Kazumi. Inclusão: construindo uma sociedade para todos. Rio de Janeiro: WVA, 1997. p. 63. 124 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 21 set. 2009.

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Tal dispositivo foi acrescido à Constituição vigente por meio da

Emenda constitucional nº 47, de 2005, respeitando o art. 60.

Pendente ainda se encontra a Lei complementar que trataria da

aposentadoria prevista anteriormente.

Já para a aposentadoria dos beneficiários no regime geral da

previdência social, temos outra exceção que será tratada com Lei complementar ainda

pendente.

Assim temos no art. 201, §1º:

§ 1º É vedada a adoção de requisitos e critérios diferenciados para a concessão de aposentadoria aos beneficiários do regime geral de previdência social, ressalvados os casos de atividades exercidas sob condições especiais que prejudiquem a saúde ou a integridade física e quando se tratar de segurados portadores de deficiência, nos termos definidos em lei complementar. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 47, de 2005). 125

4.3.4 A Previdência Social e a Inclusão do Deficiente

O inciso IV do artigo 203 traz a questão da previdência social, com

o dever de auxiliar a quem dela necessitar: “[...] assistência social será prestada a quem

dela necessitar. [...] a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a

promoção de sua integração à vida comunitária.”

4.3.5 Inclusão e Cidadania

O artigo 206, I, traz o princípio da isonomia ao tratar com

igualdade o cidadão que necessita da educação, assim temos: “[...] igualdade de condições

para o acesso e permanência na escola.”

125 Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui%C3%A7ao.htm> Acesso em: 21 set. 2009.

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Já no artigo 227, § 2º, temos a inclusão através do estabelecimento

de uma norma especifica para a acessibilidade do deficiente em prédios públicos e

transportes coletivos, tal Lei já foi mencionada anteriormente quando tratamos do DL

5.296/2004; quanto ao texto constitucional temos em seu artigo: “[...] lei disporá sobre

normas de construção dos logradouros e dos edifícios de uso público e de fabricação de

veículos de transporte coletivo, a fim de garantir acesso adequado às pessoas portadoras de

deficiência.”

Encerrando citasse o entendimento Mahatma Gandhi, trazido assim

por Goyos Jr.:126 [...] este formidável intérprete da consciência humana, afirmou numa ocasião que “todos os homens nascem com prendas desiguais mas com direitos iguais, e a sociedade lhes deve uma mesma oportunidade de desenvolver suas habilidades e viver em liberdade”[...] Cabe a sociedade fazer seu papel, igualando o homem em seu meio, praticando assim o que alguns filósofos da antiguidade já pregavam e que atualmente a legislação traz como um de seus maiores princípios, a igualdade.

126 GOYOS JR, Durval de Noronha. O Novo Direito Internacional Público. São Paulo: Observador Legal Editora, 2005, p. 319,320.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo investigar, através das

civilizações passadas o meio social em que se inseria o portador de necessidades especiais

assim como o atual sistema inclusivo. Sob a ótica de implantação de organizações, Leis,

Constituições, projetos diversos etc.

O interesse pelo tema deu-se em razão de sua amplitude,

importância, e relevância no contexto atual, notadamente pelo fato de projetos serem

elaborados mas muitas vezes não chegarem a seu desfecho final, sem uma participação

ativa da comunidade, sendo esta pendência construída por falta de informações ou

ignorância da sociedade.

Para seu desenvolvimento lógico, o trabalho foi dividido em quatro

capítulos. No primeiro iniciou-se com o resumo, já o segundo, conceituou-se o meio social

a que era inserido o deficiente assim como sua exclusão na história das grandes

civilizações, seja ela por meios tolerantes ou muitas das vezes por extermínio, sempre com

um contesto explicativo por parte destas civilizações, findando na Segunda Guerra Mundial

e as leis estabelecidas que aprovavam o extermínio de deficientes.

Efetuou-se a investigação inicialmente por momentos Bíblicos que

tinham em seu contesto o deficiente, passando por várias civilizações dentre elas:

Espartana, Ateniense, Romana etc. constatando-se em toda a exclusão para com a pessoa

especial.

No terceiro capítulo, tratou-se dos meios inclusivos e da criação da

O.N.U com a intenção de incluir a igualdade no meio social, diminuindo assim as

diferenças entre as raças.

Tal incentivo se deu em detrimento da Segunda Guerra Mundial,

que por sua vez foi o carro chefe das discriminações contemporâneas, quanto aos meios

inclusivos temos como referencia as constituições de alguns países que trazem a igualdade

e a não discriminação, assim como importantes convenções que priorizam o respeito e a

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dignidade dos deficientes.

No quarto e último capítulo demonstrou-se a ocorrência de inclusão

social no Brasil através de associações, Decretos Leis, Constituição Federal. assim como a

importância do principio da igualdade no processo inclusivo, todavia importante também

será a conscientização da população a respeito de tais direitos.

As leis citadas são de primordiais importâncias, mas que sem

órgãos competentes nem a humanização da população não surtirão efeitos no processo

inclusivo

No mais, retomam-se as hipóteses levantadas e que impulsionaram

a presente pesquisa:

A) Durante o longo percurso da história da humanidade o

deficiente, de modo geral, sempre esteve à margem da participação ativa na sociedade.

B) Há no Brasil contemporâneo ações inclusivas voltadas à pessoa

deficiente, porém elas não são culturalmente compreendidas e respeitadas;

C) As leis brasileiras destacam a necessidade de incluir à sociedade

o portador de necessidades especiais, contudo, ele ainda permanece “invisível” no processo

de planejamento e promoção do desenvolvimento econômico e social de nosso país.

No que toca a primeira hipótese, restou confirmada, pois alem de

não existir legislação que priorizasse a igualdade e a dignidade do deficiente, inserindo-o

ao meio, as civilizações antigas eram levadas pelos seus costumes, que em detrimento de

crenças, guerras etc. viam o refugio do “problema” deficiente em sua exclusão ou

extermínio, seja dos deficientes adultos ou recém-nascidos.

A segunda hipótese também restou confirmada, pois, conforme

salienta o quarto capitulo, várias organizações existem em prol dos deficientes cujo

objetivo maior é angariar o entendimento de igualdade através de diversas ações inclusivas,

fato que não é conscientizado e concretizado por maior parte da população, que vêem seus

próprios problemas como motivos suficientes para tomar sua atenção e tempo.

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Quanto à última hipótese, registra-se que restou confirmada, pois

existentes são as Leis no atual sistema brasileiro que visam a inclusão do deficiente,

processo este necessário, pois sem as mesmas o deficiente conviveria com diversas

indiferenças, dentre tais Leis, a mais importante de todas é a Constituição da República

Federativa do Brasil de 1988, que traz como princípio a igualdade, e em outros mais artigos

a não discriminação; Existentes assim como as Leis, são os indivíduos, que desrespeitam os

direitos já existentes, seja por não construir rampas de acesso a órgãos públicos, por não

delimitar vagas de estacionamentos privativas a deficientes, ou por outros tantos motivos,

mas isto infelizmente acontece não só para com os especiais, seja por ignorância à lei ou

descaso, a humanidade muita das vezes é desumana cabendo a quem pouco a conhece

contribuir ao máximo para uma mudança.

Por fim, fica o registro de que o presente trabalho não tem caráter

exaustivo, isto é, com o mesmo não se teve a pretensão de tratar de todas as questões que

envolvem a Exclusão e Inclusão Social, razão pela qual deve servir apenas de ponto de

partida para o necessário e contínuo acompanhamento da evolução de entendimento

doutrinário e legal acerca desta tão relevante matéria do Direito Humano.

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