defesa lorrayne belotti - portais4.ufes.brportais4.ufes.br/posgrad/teses/tese_10946_2015_lorrayne...

121
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SAÚDE COLETIVA LORRAYNE BELOTTI QUALIDADE DA FLUORETAÇÃO DA ÁGUA DE ABASTECIMENTO PÚBLICO NOS MUNICÍPIOS DA REGIÃO METROPOLITANA DA GRANDE VITÓRIA, ESPÍRITO SANTO, BRASIL VITÓRIA-ES 2017

Upload: dinhthuan

Post on 18-Jan-2019

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPRITO SANTO

CENTRO DE CINCIAS DA SADE

PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM SADE COLETIVA

LORRAYNE BELOTTI

QUALIDADE DA FLUORETAO DA GUA DE ABASTECIMENTO

PBLICO NOS MUNICPIOS DA REGIO METROPOLITANA DA GRANDE

VITRIA, ESPRITO SANTO, BRASIL

VITRIA-ES 2017

LORRAYNE BELOTTI

QUALIDADE DA FLUORETAO DA GUA DE ABASTECIMENTO

PBLICO NOS MUNICPIOS DA REGIO METROPOLITANA DA GRANDE

VITRIA, ESPRITO SANTO, BRASIL

Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Sade Coletiva do

Centro de Cincias e Sade da Universidade Federal do Esprito Santo

como requisito final a obteno do ttulo de mestre em Sade Coletiva, na rea de concentrao em Epidemiologia.

Orientador: Profo. Dro. Edson Theodoro

dos Santos Neto. Co-orientadora: Prof.Dr. Karina Tonini

dos Santos Pacheco

VITRIA-ES

2017

Dados Internacionais de Catalogao-na-publicao (CIP)

(Biblioteca Setorial do Centro de Cincias da Sade da Universidade Federal do Esprito Santo, ES,

Brasil)

Belotti, Lorrayne, 1990 -

B446q Qualidade da fluoretao da gua de abastecimento pblico nos

municpios da Regio Metropolitana da Grande Vitria, Esprito Santo, Brasil / Lorrayne

Belotti 2017.

125 f. : il.

Orientador(a): Edson Theodoro dos Santos Neto.

Coorientador(a): Karina Tonini dos Santos Pacheco.

Dissertao (Mestrado em Sade Coletiva) Universidade Federal do Esprito Santo,

Centro de Cincias da Sade.

1. Vigilncia em Sade Pblica. 2. Anlise da gua. 3. Fluoretao. 4.

Flor. I. Santos Neto, Edson Theodoro dos. II. Pacheco, Karina Tonini dos Santos. III.

Universidade Federal do Esprito Santo. Centro de Cincias da Sade. IV. Ttulo.

CDU: 614

Ao meu pai, minha luz, que antes de partir

me ensinou a ter a coragem das estrelas e

me explicou o infinito com sua

generosidade.

AGRADECIMENTOS

No h no mundo exagero mais belo que a gratido. Hoje escrevo meus

agradecimentos transbordando desse exagero, ciente que o encontro que tive

com cada um que relato aqui, me afetou e aumentou minha capacidade de agir

no mundo. Gratido:

minha me, Josy, minha grande incentivadora, que mesmo diante das

dificuldades me apoiou no caminho que escolhi seguir, at quando eu duvidei.

minha irm, Meyri, extenso do meu pai aqui nesse plano, e a quem confio todo

o meu amor. Aos meus sobrinhos, Bernardo e Pedro, meus meninos que me

desconectam de todos os problemas do mundo dos adultos.

Ao Gabriel, meu parceiro dessa vida e de outras, pelo companheirismo, cuidado

e dedicao em nos fazer feliz. Gratido pelas inmeras vezes que deixou sua

dissertao para me acompanhar nas coletas e por pousar ao meu lado,

sabendo que livre para voar e por tambm me permitir voar. minha querida

segunda famlia, Clia, Romildo e Lvia, por me deixar fazer parte da vida de

vocs e me aceitarem com tanto carinho quando precisei de um canto calmo e

fresco para escrever.

As amigas e amigos que fiz pelos outros caminhos que passei, por sempre

estarem disponveis para uma boa conversa, um desabafo, um conselho e um

carinho. E tambm por entenderem os momentos de ausncia. Vanessa, Ceclia,

Felipe, Gustavo, Cynthia, Alana, Brbara, Mayara, amo vocs! Em especial,

Lara, por me ouvir com tanta ateno, pela leve compania, por sempre estar

presente e por me acompanhar nas coletas que eram perto da praia (- esperta).

As amigas e amigos do mestrado, turma 2015, pelas discusses que

fortaleceram minhas inquietaes e proporcionaram inmeras reflexes, pelas

conversas nos corredores, pela cumplicidade e amizade. Com certeza fizemos

histria no PPGSC. Em especial duas grandes amigas que fiz nesta jornada:

rica, pela amizade, carinho e prestatividade - nunca esquecerei tudo que fez e

faz por mim; e Irina, pela boa energia, por ser quem inspira e por me motivar a

ser algum melhor.

Cinara, por sempre estar atenta aos detalhes, pelo profissionalismo e pela

prestatividade com que sempre me ajudou, mesmo quando a tarefa no era sua.

A sua competncia faz toda diferena na evoluo do PPGSC.

Ao professor Edson Theodoro dos Santos Neto, por me acolher como sua

orientanda, pela disponibilidade para me orientar, pela competncia, dedicao

e profissionalismo com que conduz a docncia.

s professoras e amigas Carolina Dutra Degli Esposti e Karina Tonini dos Santos

Pacheco, por tudo que me ensinam a cada encontro, pela generosidade em

dividir o que sabem e pela confiana que depositam em mim. Se hoje estou aqui,

finalizando um ciclo, devo sensilbilidade de vocs ao me conduzir nessa

escolha.

Aos Professores Adauto Emmerich de Oliveira e Paulo Frazo, pelas

contribuies, envolvimento e incentivo constante durante o desenvolvimento

deste trabalho. Ao Professor Jaime Cury pela disponibilidade em realizar as

anlises desta pesquisa e pela parceria firmada desde o inicio.

Aos colegas do grupo do Laboratrio de Projetos em Sade Coletiva, aos

professores do PPGSC, e s alunas que diretamente participaram do

desenvolvimento deste projeto, Izabela, Soraya, Bruna e Caroline. Obrigada pela

motivao, trabalho em equipe e parceria.

No tinha as certezas cientficas. Mas que aprendera coisas di-menor com a natureza. Aprendeu que as folhas

das rvores servem para nos ensinar a cair sem alardes. Disse que fosse ele caracol vegetado

sobre pedras, ele iria gostar. Iria certamente aprender o idioma que as rs falam com as guas

e ia conversar com as rs. (...)

Estudara nos livros demais. Porm aprendia melhor no ver, no ouvir,

no pegar, no provar e no cheirar. Manoel de Barros

RESUMO

O objetivo deste estudo foi analisar a qualidade da fluoretao da gua de

abastecimento pblico nos sete municpios da Regio Metropolitana da Grande

Vitria, Esprito Santo, (RMGV-ES), Brasil. Foi realizado um estudo descritivo e

analtico, dividido em trs etapas. Inicialmente, foi feita uma reviso crtica, com

levantamento de documentos de gesto, de trabalhos cientficos que incluiu

textos nas lnguas portuguesa e inglesa, publicados entre 1953 (ano da

implementao dessa medida no ES) e 2015, e de informaes sobre fluoretao

nos sites das prefeituras e da empresa de abastecimento responsvel pelos

municpios da RMGV-ES. Para anlise dos documentos e artigos foram

identificados: o ano do levantamento dos dados; nmero de municpios includos;

tema principal; autores/instituies; mtodo de pesquisa; anlise de

concentrao do on flor e qual a concentrao encontrada. Para as

informaes encontradas nos sites identificou-se o ano, a fonte, caracterstica e

trecho principal. Na segunda etapa, para anlise da concentrao de fluoreto na

gua de abastecimento pblico, foram realizadas 648 coletas de gua tratada

em Estaes de Tratamento de gua que abastecem mais de 80% da populao

de cada municpio da RMGV-ES, durante o perodo de maio a outubro de 2016.

As amostras foram analisadas atravs do Mtodo do Eletrodo Especfico e os

resultados foram categorizados de acordo com dois critrios de interpretao,

segundo a Portaria do Ministrio da Sade n635/1975 e o critrio proposto pelo

Centro Colaborador do Ministrio da Sade em Vigilncia em Sade Bucal

(CECOL). Tambm foram selecionadas variveis contextuais demogrficas,

socioeconmicas e relacionadas ateno sade de cada municpio. Para

anlise de concordncia entre os dois critrios de interpretao, realizou-se o

Teste Kappa. O Indicador de Proporo de Amostras Adequadas (IPAA) para

concentrao de flor foi calculado para ambos critrios. O indicador segundo o

critrio do CECOL foi relacionado aos fatores contextuais aplicando-se o Teste

de Spearman. Na ltima etapa, foram buscados dados do controle do fluoreto

produzidos pela empresa de abastecimento pblico e pela vigilncia municipal,

acessados no Sistema de Informao de Vigilncia da Qualidade da gua para

Consumo Humano (SISAGUA), ambos referentes aos mesmos meses em que

foram realizadas as coletas. Em seguida, foram calculadas as mdias e desvios-

padro dos resultados das amostras coletadas pelas trs fontes de informao

para as informaes semanais. Essas mdias foram comparadas

estatisticamente. Para as amostras mensais, disponibilizadas pela empresa e

SISAGUA, foi calculado o IPAA, de acordo com a proposta do CECOL, e

testadas estatisticamente as diferenas entre as propores. Na reviso crtica,

foram encontrados cinco textos cientficos referentes ao tema nos municpios

estudados, alm de informaes baseadas em relatrios de gesto, disponveis

do Centro Colaborador do Ministrio da Sade em Vigilncia da Sade Bucal da

Universidade de So Paulo. As informaes presentes nos sites da empresa e

prefeituras eram superficiais e no foram encontrados dados de

controle/heterocontrole da fluoretao. Em relao s coletas, a proporo de

amostras adequadas foi de 68,1% e 81,4%, segundo os diferentes critrios. O

percentual de concordncia entre os dois critrios foi de 86,69% e apresentou

concordncia substancial pelo Kappa (0,671). O ndice de desenvolvimento

humano, a mdia de escovao supervisionada e o tamanho da populao total

do municpio exibiram forte correlao positiva com o indicador de proporo de

amostras adequadas. A taxa de mortalidade infantil e a proporo de exodontias

apresentaram correlao moderada e negativa. A ltima etapa desta pesquisa

mostrou que os percentuais de adequao variaram segundo as ETA e os meses

de anlise. A comparao entre os percentuais exibiu poucas diferenas

estatisticamente significante (p-valor

ABSTRACT

The aim of this study was to analyse the quality of public supply water fluoretation

at seven cities of Vitorias Metropolitan Region - Espirito Santo, (RMGV-ES),

Brazil. A descriptive and analytic study was performed by three times. Firstly a

critic review included works at Portuguese and English language, published from

1953 (begining of fluoretation at ES state) to 2015. It involved findings about

management documents, searches and information from town hall official pages

and the company responsible by public supply water at the studied cities. To

analyse the documents and articles were considered: year of data findings,

quantity of municipalities included, main subject, authors/institutions;

methodology, concentration of ion fluoride analysis and witch concentration was

finded. About the information from official pages, the features considered were:

year, source, characteristic and main paragraph. At the second part, to

concentration of fluoride analysis at public supply water, 648 collect of treated

water at Water Treatment Stations that supply more than 80% of population from

each RMGV-ES municipality, during the period from May to October 2016. The

sample were analysed through Specific Electrode Methods and the outcome

were organized according to two criteria for interpretation, following the Health

Ministry Ordinance n635/1975 and the criteria proposed by the Collaborating

Center of the Health Ministry in Oral Health Surveillance (CECOL). Also

demographic, socioeconomic and health-related variables were selected at each

municipality. For analysis of concordance between the interpretation criteria, it

performed the test and Kappa. The ratio indicator of samples with adequate

fluorine was calculated for both criteria. The indicador according to the CECOL

criterion was related to the contextual factors by Spearman Test. In the last step,

were searched for fluoride control data produced by the public supply company

and by municipal surveillance. Surveillance information was accessed in the

Information System for Surveillance of Water Quality for Human Consumption

(SISAGUA). Then, the means and standard deviations of the results of the

samples collected by the three information sources were calculated for the weekly

information. These averages were compared statistically. For the monthly

samples, made available by the company and SISAGUA, the IPAA was

calculated, according to the CECOL proposal, and statistically tested for

differences between proportions. In the critical review, five scientific texts were

found, as well as information based on management reports, available from the

CECOL of the University of So Paulo. Information on company websites and

prefectures was superficial. Control and heterocontrol data were not found. The

proportion of adequate samples was 68.1% and 81.4% according to the different

criteria. The percentage of agreement between the two criteria was 86.69% and

presented substantial agreement (Kappa 0,671). The human development index,

the supervised toothbrushing and the total population of the municipality showed

a strong positive correlation with the ratio indicator of adequate samples. The

infant mortality rate and the proportion of extractions exhibited a moderate and

negative correlation. The last step of this research showed that the adequacy

percentages varied according to the ATS and the months of analysis. The

comparison between the percentages exhibited few statistically significant

differences (p-value

LISTA DE FIGURAS

FIGURAS PGINA

Figura 1. Mapa da Regio Metropolitana da Grande Vitria, Espirito Santo20

Artigo 2

Figura 1. Relao entre o percentual de amostras adequadas, segundo Critrio

II, e os fatores contextuais municipais. RMGV-ES, 2017....................................68

LISTA DE TABELAS

TABELAS PGINA

Tabela 1. Descrio das coletas de gua realizadas nos municpios que

compem a RMGV-ES, 2017.............................................................................23

Tabela 2. Descrio da categorizao das amostras de acordo com a

concentrao de flor, segundo os critrios de anlise.......................................27

ARTIGO 1

Tabela 1. Percentual de cobertura populacional de gua fluoretada e mdia das

concentraes de fluoreto (mg/l) na gua de abastecimento pblico nos

municpios da RMGV-ES entre 2010 e 2015. ...................................................39

Tabela 2. Anlise da produo cientfica sobre a fluoretao da gua de

abastecimento na RMGV-ES entre os anos de 1953 e 2015..............................40

Tabela 3. Anlise das informaes sobre a fluoretao da gua de

abastecimento nos sites da Empresa de Abastecimento e das prefeituras

municipais. RMGV-ES, 2017..............................................................................41

ARTIGO 2

Tabela 1. Descrio das coletas de gua e das variveis dos municpios que

compem a RMGV-ES.......................................................................................63

Tabela 2. Classificao das amostras segundo concentrao dos teores de flor

(ppm) (Critrio I e II), na RMGV-ES....................................................................65

Tabela 3. Distribuio da porcentagem de amostras adequadas segundo o ms

e os municpios da RMGV-ES, de acordo com Critrio I e II de anlise. RMGV-

ES, 2017............................................................................................................66

Tabela 4. Concordncia entre os critrios de classificao (Critrio I e II) dos

teores de fluoreto na gua de abastecimento pblico. RMGV-ES, 2017............67

ARTIGO 3

Tabela 1. Descrio da abrangncia de cada Estao de Tratamento de gua

inserida na pesquisa. RMGV-ES, 2017..............................................................83

Tabela 2. Distribuio da quantidade de amostras de fluoreto realizadas pela

vigilncia em sade de cada municpio da RMGV-ES, no ano de

2016...................................................................................................................87

Tabela 3. Mdia e desvio padro dos teores de flor para coletas realizadas na

mesma semana, segundo trs fontes de dados. RMGV-ES,

2017...................................................................................................................88

Tabela 4. Percentual de amostras adequadas (mximo benefcio contra crie e

baixo risco de fluorose) e diferena entre as propores, segundo duas fontes

de dados. RMGV-ES, 2017................................................................................89

Tabela 5. Analise comparativa entre as mdias dos teores de fluoreto para

coletas realizadas na mesma semana pelas das trs fontes de dados. RMGV-

ES, 2017............................................................................................................90

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

BIREME- Biblioteca Regional de Medicina

CECOL- Centro Colaborador do Ministrio da Sade em Vigilncia da Sade

Bucal

CPO-D- Indce de Dentes Cariados, Perdidos e Obturados

ES- Esprito Santo

ETA- Estao de Tratamento de gua

FAPES- Fundao de Amparo Pesquisa do Esprito Santo

FDI- Federao Dentria Internacional

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

IADR- International Association for Dental Research

IDHM- ndice de Desenvolvimento Humano Municipal

IPAA- Indicador de Proporo de Amostras Adequadas

IFES- Instituto Federal do Esprito Santo

INCAPER- Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistncia Tcnica e Extenso

LILACS - Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias da Sade

MS- Ministrio da Sade

OMS- Organizao Mundial da Sade

ORCA- Organizao Europeia de Pesquisas sobre a Crie

PET- Programa de Educao pelo Trabalho para a Sade

PNSB- Poltica Nacional de Sade Bucal

PNUD- Programa das Naes Unidas para o Desenvolvimento

PIB- Produto Interno Bruto

PPM- Partcula Por Milho

PUBMED- Publisher Medline

RAT- Reservatrio de gua Tratada

RMGV- Regio Metropolitana da Grande Vitria

SCIELO- Scientific Electronic Library Online

SESP- Fundao Servios Especiais em Sade Pblica

SISAGUA-Sistema de Informao de Vigilncia da Qualidade da gua para

Consumo Humano

SPSS- Statistical Package Social Science

SUS- Sistema nico de Sade

UFES- Universidade Federal do Esprito Santo

UR- Unidade de Referncia

VMP- Valor Mximo Permitido

VIGIAGUA- Programa Nacional de Vigilncia da Qualidade da gua para

Consumo Humano

SUMRIO APRESENTAO ......................................................................................................... 6

1 INTRODUO ............................................................................................................ 8

2 JUSTIFICATIVA ....................................................................................................... 16

3 OBJETIVOS .............................................................................................................. 17

3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 17

3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS ............................................................................... 17

4 MATERIAIS E MTODOS ...................................................................................... 18

4.1 LOCAL DE ESTUDO ............................................................................................ 18

4.2 COLETA DE DADOS............................................................................................ 21

4.2.1 Levantamento de informaes sobre as aes de heterocontrole da

fluoretao da gua de abastecimento pblicas .............................................. 21

4.2.2 Coletas das amostras de gua tratada ...................................................... 22

4.2.3 Informaes sobre concentrao de flor na gua de abastecimento

pblico contidas no Sistema SISAGUA (Vigilncia) e as provenientes da

empresa de abastecimento ..................................................................................... 24

4.2.4 Variveis Contextuais ..................................................................................... 24

4.3 ANLISE LABORATORIAL DA GUA .............................................................. 26

4.4 CLASSIFICAES DAS AMOSTRAS DE GUA SEGUNDO TEOR DE

FLUORETO................................................................................................................... 26

4.5 ANLISE DOS DADOS........................................................................................ 27

4.6 ASPECTOS TICOS ............................................................................................ 29

4.7 FINANCIAMENTO................................................................................................. 29

5 RESULTADOS ......................................................................................................... 30

5.1 ARTIGO 1 ............................................................................................................... 30

5.1.1 Resumo............................................................................................................... 31

5.1.2 Abstract .............................................................................................................. 31

5.1.3 Resumen ............................................................................................................ 32

5.1.5 Metodologia ....................................................................................................... 36

5.1.6 Resultados ......................................................................................................... 38

5.1.7 Discusso .......................................................................................................... 42

5.1.8 Concluso .......................................................................................................... 50

5.1.9 Referncias ........................................................................................................ 51

5.2 ARTIGO 2 .............................................................................................................. 55

5.2.1 Resumo............................................................................................................... 56

5.2.2 Abstract .............................................................................................................. 57

5.2.3 Introduo.......................................................................................................... 58

5.2.4 Metodologia ....................................................................................................... 60

5.2.5 Resultados ......................................................................................................... 65

5.2.6 Discusso .......................................................................................................... 69

5.2.7 Concluso .......................................................................................................... 73

5.2.8 Referncias ........................................................................................................ 74

5.3 ARTIGO 3 ............................................................................................................... 77

5.3.1 Resumo............................................................................................................... 78

5.3.2 Abstract .............................................................................................................. 79

5.3.3 Introduo.......................................................................................................... 80

5.3.4 Metodologia ....................................................................................................... 82

5.3.5 Resultados ......................................................................................................... 86

5.3.5 Discusso .......................................................................................................... 91

5.3.6 Concluso .......................................................................................................... 95

5.3.7 Referncias ........................................................................................................ 96

6 CONSIDERAES FINAIS ................................................................................... 98

7 REFERNCIAS GERAIS ......................................................................................100

ANEXO 1-Termo de liberao do Comit de tica em Pesquisa com

Seres Humanos do Centro de Cincias da Sade da Universidade

Federal do Esprito Santo ..................................................................................106

6

APRESENTAO

Durante a graduao em Odontologia na Universidade Federal do Esprito Santo

(2008-2013), pude me aproximar e transitar na rea da Sade Coletiva atravs

de projetos de extenso e estgios, e vejo esta atuao como um dos elementos

mais importantes que constituem minha formao. Formar cidados e

profissionais comprometidos com a sociedade fundamental para reduzir as

iniquidades sociais e consolidar o Sistema nico de Sade (SUS) como direito

universal e gratuito.

Por um ano fui monitora do Programa de Educao pelo Trabalho para a Sade

(PET-Sade), e tive a oportunidade de vivenciar a prtica do servio. Essa

experincia cheia de descobertas e aprendizados despertou em mim uma

vontade imensa de continuar no campo da sade coletiva, e me direcionou ao

caminho que deveria seguir.

No ano de 2014, me inseri na equipe do Projeto Vigiflor - Espirito Santo (ES)

e pude vivenciar como a fluoretao ainda pouco discutida no estado, mesmo

sendo reconhecida como uma medida fundamental para melhoria da condio

de sade bucal e mesmo sendo o ES o primeiro estado do Brasil a ter uma cidade

com gua fluoretada. A partir dessa experincia pensamos como poderamos

expandir a pesquisa da Rede Brasileira de Vigilncia da Fluoretao da gua

(Vigiflor) para suprir as individualidades regionais.

Aps ingressar no Mestrado em Sade Coletiva na Universidade Federal do

Esprito Santo, tive a oportunidade de colocar em prtica os objetivos da

pesquisa e retomar desafios que despertaram o meu interesse na rea da

Odontologia Social e que engendraram o objeto do meu estudo.

Desta forma, objetivo geral do estudo foi de analisar a qualidade da fluoretao

da gua da rede pblica de abastecimento nos sete municpios da Regio

Metropolitana de Vitria, Esprito Santo, Brasil.

7

Este documento foi estruturado em seis tpicos. O primeiro refere-se

introduo na qual apresentada uma breve reviso de literatura acerca do

tema. Em seguida, so apresentados a justificativa, os objetivos desta pesquisa

e os mtodos que descrevem a coleta de dados em suas diferentes etapas, at

a anlise estatstica.

Os resultados esto apresentados na modalidade de artigos, intitulados:

informaes sobre a fluoretao da gua de abastecimento pblico: produo e

disponibilidade em questo; Fatores contextuais relacionados a fluoretao da

gua: uma anlise na Regio Metropolitana da Grande Vitria, ES, Brasil; Nvel

de qualidade da fluoretao da gua segundo trs fontes de informao.

8

1 INTRODUO

Dentre as mudanas conceituais na Odontologia ocorridas no sculo XX, a mais

significativa se relaciona ao entendimento da crie dentria como doena, seu

tratamento e preveno (CURY, 2001). Atualmente, sabe-se que a crie resulta

da colonizao da superfcie do esmalte dentrio por diferentes espcies de

microorganismos acar-dependentes e o seu controle ocorre por meio do

restabelecimento do equilbrio fsico-qumico na cavidade bucal (SIMON-SORO;

MIRA, 2015). O acmulo de biofilme e a exposio frequente a aucares so

fatores determinantes para o desenvolvimento de leses de crie (TENUTA ;

CHEDID; CURY, 2011).

A medida de maior impacto para o controle do desenvolvimento da crie tem

sido o uso de flor (CURY, 2001), considerado um fator determinante para tentar

contrabalancear o desequilbrio provocado no processo de progresso da

doena (CURY; TENUTA, 2009). A ao do fluoreto no controle da crie tem

sua importncia mundialmente comprovada, fato que justifica seu uso sob

diversas formas de administrao, tanto individualmente quanto coletivamente

(PETERSEN, 2003). O flor pode ser utilizado por meio de gis, solues para

bochecho e materiais restauradores, ou por meio da incorporao a gua de

abastecimento pblico e ao sal de consumo humano (CARVALHO et al., 2011).

Em relao aos meios de uso de fluoreto, a fluoretao da gua o mtodo

seguro, eficaz, simples, econmico (SALIBA et al.,2009; PERTESEN, 2003;

FRIAS et al., 2006) e cientificamente comprovado como efetiva medida

preventiva da crie dentria (McDONAGH et al., 2000). Alm disso, no

demanda a interveno profissional do agente de sade, nem outra iniciativa da

populao beneficiada, pois sendo inevitvel o consumo de gua, o benefcio

ocorre de modo involuntrio (ANTUNES; NARVAI, 2010).

No que diz respeito concentrao de flor na saliva, sabe-se que maior nos

indivduos que bebem gua fluoretada, quando comparados aos que no a

ingerem. Visto que o sangue considerado o compartimento central

responsvel pela distribuio de flor para algumas partes do corpo, incluindo a

9

cavidade oral. Como uma consequncia, com a regular ingesto, a concentrao

de flor na saliva mantida em nveis elevados, refletindo a concentrao no

sangue. No entanto, no existe um mecanismo homeosttico para manter a

concentrao de fluoreto no sangue e, consequentemente, a quantidade de flor

na saliva dependente do seu consumo (CURY; TENUTA, 2008). Portanto, a

fluoretao da gua reconhecidamente, um dos meios de sade pblica para

manter flor constante na cavidade bucal (CURY, 2001).

A medida recomendada por mais de 150 organizaes de cincia e sade,

incluindo a Federao Dentria Internacional, a Associao Internacional de

Pesquisa Odontolgica, a Organizao Mundial de Sade e a Organizao Pan

Americana de Sade. A fluoretao da gua de abastecimento pblico tambm

foi reconhecida como uma das dez melhores medidas de sade pblica no

sculo XX, ao lado de medidas como vacinao e segurana alimentar

(CDC,1999).

No Brasil, a adio de flor gua de abastecimento pblico teve incio em 1953,

sendo Baixo Guandu, no Esprito Santo (ES), a primeira cidade a ter sua gua

fluoretada pelo servio de abastecimento operado pela Fundao Servios

Especiais em Sade Pblica (SESP) do Ministrio da Sade (EMMERICH;

FREIRE, 2009). No entanto, apenas na dcada de 1970 a fluoretao passou a

ser mais difundida, com a aprovao da Lei Federal n 6.050 que determinou a

obrigatoriedade da fluoretao em sistemas de abastecimento pblico quando

existir estao de tratamento de gua (BRASIL, 1975).

A Portaria do Ministrio da Sade (MS) n 635, de 26 de dezembro de 1975,

aprovou as normas e padres sobre a fluoretao da gua dos sistemas pblicos

de abastecimento, destinadas ao consumo humano, e estabeleceu limites

recomendados para a concentrao de fluoreto em funo da mdia das

temperaturas mximas dirias. Assim, cada estado da federao brasileira pode

ter sua legislao, definindo a concentrao mnima e mxima do on fluoreto,

com base nas temperaturas mximas dirias (BRASIL, 1975).

Em relao legislao da gua de abastecimento, a Portaria MS n 2.914, de

12 de dezembro de 2011, remete Portaria MS n 635/1975, reafirma os teores

10

de flor recomendados e estabelece que a gua potvel deve estar em

conformidade com o padro de substncias qumicas que representam risco

sade, sendo 1,5 mg F/L o valor mximo permitido de on fluoreto (BRASIL,

2011).

Desde o incio da fluoretao da gua, tem-se observado declnio na prevalncia

de crie dentria no Brasil (MOIMAZ et al., 2013). Pesquisas epidemiolgicas

realizadas a nvel nacional tambm demonstraram os efeitos da fluoretao da

gua na reduo do ndice de dentes cariados, perdidos e obturados (CPO-D),

que mede a experincia de crie numa populao (ANTUNES; NARVAI, 2010).

O ndice reduziu de 6,7 em 1986 para 2,8 em 2003 e para 2,1 em 2010, entre

crianas de 12 anos de idade (BRASIL, 2012). Em populaes adultas, o maior

acesso ao flor pode explicar o aumento no nmero de dentes hgidos e o

declnio no nmero de dentes perdidos (NASCIMENTO et al., 2013).

Na cidade de Baixo Guandu (ES), o CPO-D reduziu de 8,7 em 1953 (antes da

fluoretao) para 3,7 em 1963, em crianas de 12 anos (DANTAS, 1998). Fato

que confirma a efetividade da fluoretao e derrota a descrena nessa medida

(PINTO, 1993). Porm, h indcios que a fluoretao teria sido interrompida

nesse municpio na dcada de 1980, portanto, houve aumento do CPO-D para

5,0, em 1984. Em meados dos anos 90 o valor foi de 5,5, e ao se restabelecer a

fluoretao no municpio o valor declinou para 2,2, em 2003 (NARVAI; FRAZO;

FERNANDES, 2004).

Segundo Narvai et al. (2006) a reduo dos valores do CPO-D pode ser atribuda

evoluo favorvel da oferta de gua fluoretada, visto que sua efetividade

um fato amplamente aceito, tanto por especialistas em sade pblica quanto pela

comunidade odontolgica. Alm disso, relata outras mudanas ocorridas no

perodo de 1980 a 2000, tais como: introduo de dentifrcios fluorados no

mercado e a mudana de enfoque nos programas de odontologia em sade

pblica em todas as regies do pas.

Apesar de inegveis avanos na reduo do CPO-D no Brasil, cabe ressaltar,

que existem importantes diferenas regionais em relao prevalncia de crie

dentria. Comparando-se as regies, so expressivas as diferenas nas mdias

11

do CPO-D aos 12 anos: as regies Norte (com 3,16) e Nordeste (com 2,63) e

tambm o Centro-Oeste (com 2,63) tm situao pior que as regies Sudeste

(1,72) e Sul (2,06) (BRASIL, 2012). Ao mesmo tempo, essa desigualdade se

estende para cobertura da populao beneficiada por gua fluoretada,

principalmente entre as capitais das regies Norte e Nordeste em relao ao

Sudeste e Sul (GABARDO et al., 2008).

A cobertura da fluoretao da gua em 2008, segundo a Pesquisa Nacional de

Saneamento Bsico, alcanou aproximadamente 75% da populao brasileira,

contudo no sul e sudeste do pas, mais de 90% da populao urbana foi

beneficiada pela fluoretao, enquanto essa taxa foi cerca de 50% na regio

nordeste e apenas 30% na regio norte (IBGE, 2008). Alm disso, estudos

mostram que reas com maior privao social esto associadas ausncia de

fluoretao (PERES; ANTUNES; PERES, 2004; DAR; SOBRINHO; LIBNIO,

2009), o que afirma que a disponibilidade e a prestao adequada de servios

de sade variam inversamente s necessidades da populao e contribui para a

crescente desigualdade na ateno sade (GABARDO et al., 2008).

Um estudo realizado por Peres, Antunes e Peres (2006), demonstrou que o

ndice CPO-D aos 12 anos menor em reas fluoretadas (2,4) quando

comparado a reas no fluoretadas (3,5). Os autores tambm revelaram que

quanto maior a cobertura do sistema de abastecimento de gua, menor o CPO-

D aos 12 anos. Segundo Frazo, Antunes e Narvai (2003), em um estudo

conduzido em So Paulo, a experincia de crie dentria em adultos que

residem em cidades com gua de abastecimento pblico fluoretada tambm foi

menor em comparao com adultos de cidades sem esse benefcio (FRAZO;

ANTUNES; NARVAI, 2003). Essa diferena expressa a injustia social envolvida

no no atendimento da determinao legal de fluoretao para todos os

municpios.

Desta forma, a fluoretao da gua de abastecimento pblico, medida de sade

pblica efetiva na reduo de desigualdades em sade bucal , ela prpria,

objeto de profundas desigualdades em sua implantao. Essa distribuio

irregular do recurso preventivo aumentou, ainda mais, o vis socioeconmico na

prevalncia da doena e a no universalidade mantm um enorme contingente

12

populacional margem do benefcio (ANTUNES, NARVAI, 2010). Segundo

Narvai (2000), interromper ou no realizar fluoretao constitui ato juridicamente

ilegal, cientificamente insustentvel e socialmente injusto.

Porm, para garantir o benefcio preventivo da fluoretao, no basta adicionar

flor gua de abastecimento, necessrio garantir o controle deste parmetro

por meio da avaliao da qualidade da gua de consumo humano (RAMIRES et

al., 2006). importante destacar que quando em nveis elevados existe a

possibilidade de provocar fluorose dentria, que so malformaes do esmalte

dentrio com alteraes de colorao e de forma nos casos mais graves, e

quando em nveis abaixo do preconizado, no atingem o potencial preventivo

contra a crie (FRAZO; PERES; CURY, 2011).

Portanto, a ao preventiva da fluoretao dependente do seu controle, tanto

em termos operacionais nas empresas de abastecimento, quanto em termos de

vigilncia em sade (NARVAI, 2000). Contudo, o monitoramento e o controle da

fluoretao da gua, pelas secretarias municipais de sade, no ocorre de forma

uniforme, visto que vrios municpios no possuem um sistema permanente em

um programa de vigilncia em sade (SALIBA et al., 2009).

Vrios estudos alertam para a grande oscilao dos nveis de fluoreto na gua

de abastecimento, reforando a necessidade da implementao de sistemas de

vigilncia (CESA et al., 2011; RAMIRES; BUZALAF, 2007; PIVA; TOVO;

KRAMER, 2006). Um estudo realizado por Moura et al. (2005) demonstrou que

a populao de Teresina esteve submetida a concentraes de fluoreto na gua

de abastecimento pblico diferentes recomendada e irregularmente

distribudas, em que cerca de 46,7% das amostras estavam em desacordo com

a legislao. Catani et al. (2008) tambm constataram irregularidades em

relao a fluoretao, cerca de 40% das amostras analisadas apresentavam

concentrao do on flor em desacordo com a legislao.

A constatao de que em muitas localidades brasileiras ocorriam oscilaes nas

concentraes do flor adicionado gua de abastecimento pblico motivou a

formulao de uma proposta para implantao de sistemas de vigilncia

sanitria da fluoretao da gua de abastecimento pblico, baseados no

13

princpio do heterocontrole (PANIZZI; PERES, 2008). Este pode ser definido

como o princpio que considera, se um bem ou servio qualquer implica risco ou

representa fator de proteo para a sade pblica, alm do controle do produtor

sobre o processo de produo, distribuio e consumo deve tambm haver

controle por parte de instituies do Estado (NARVAI, 1982).

Desta forma, o controle da fluoretao por instituies no envolvidas

diretamente em sua operacionalizao fundamental para preservar a qualidade

do processo e para que as informaes tenham credibilidade (NARVAI, 2000).

imprescindvel controlar os teores de flor ao longo do tempo uma vez que a

continuidade do seu uso em aes de sade pblica requer medidas de

vigilncia cada vez mais precisas e ininterruptas (ESPOSTI; FRAZO, 2015).

Alm disso, a ampliao da cobertura da fluoretao da gua no pas, a partir da

implantao da Poltica Nacional de Sade Bucal (PNSB) (2004) reforou a

necessidade do monitoramento desse parmetro por parte das secretarias

municipais de sade, responsveis pela vigilncia da gua para consumo

humano (BRASIL, 2004).

No Brasil, no ano 2000, foi implantado o Programa Nacional de Vigilncia da

Qualidade da gua para Consumo Humano (VIGIAGUA), coordenado pela

Secretaria de Vigilncia em Sade do Ministrio da Sade e, a fluoretao da

gua de abastecimento pblico possui um espao institucional com legitimidade

para garantir o cumprimento dos padres estabelecidos na legislao vigente

(BRASIL, 2005).

Como apoio ao VIGIAGUA e com o objetivo de produzir, analisar e fornecer

informaes para avaliao da qualidade da gua foi desenvolvido o Sistema de

Informao de Vigilncia da Qualidade da gua para Consumo Humano

(SISAGUA), que inclui campos especficos para o registro das anlises do

fluoreto. Esse sistema deve ser alimentado com dados produzidos pela vigilncia

ambiental, ou seja, diferentes daqueles que so realizados pela empresa de

abastecimento, podendo gerar informaes que permitem a correo oportuna

de variaes evitveis na concentrao do fluoreto na rede de distribuio

(BRASIL, 2003).

14

Porm, estudo realizado por Frazo et al. (2013), mostrou a existncia de

problemas com a estrutura do SISAGUA e com o seu uso pelos municpios. No

que diz respeito cobertura do sistema, em 2008, cerca de metade dos

municpios brasileiros (50,4%), no estavam cadastrados e 12,3%, embora

cadastrados, no alimentaram o sistema com periodicidade. Em relao

vigilncia do parmetro fluoreto, pode-se afirmar que a efetividade de

desempenho do sistema de informao foi baixa e as ferramentas e indicadores

utilizados foram insuficientes e inadequados. Alm disso, no existiam campos

para registrar interrupes no processo da fluoretao. Assim, os relatrios

gerados pelo SISAGUA pouco contribuam para melhorar a qualidade da gesto

da vigilncia em sade.

Segundo Cesa et al. (2011), embora o fluoreto seja um indicador utilizado em

um programa nacional de vigilncia da qualidade da gua, os nveis de fluoreto

na gua de abastecimento no foram monitorados pelo VIGIAGUA, em 2005, em

71% das capitais brasileiras. A alta prevalncia de amostras fora dos padres no

SISAGUA, alm da inexistncia de coletas, anlise e divulgao dos teores de

flor nos municpios estudados, revelou a tendncia de inadequao no

processo de fluoretao, visto que no h comprometimento das insti tuies

pblicas na realizao das aes de vigilncia desse parmetro (CESA et al.,

2011).

Em 2014, o SISAGUA foi reformulado com o objetivo de otimizar o

preenchimento das informaes, a insero de dados e minimizar o

cadastramento de dados inconsistentes, inclusive de fluoreto. Para possibilitar a

avaliao das aes e dos resultados por regio de sade e o planejamento de

aes corretivas, os relatrios podem ser gerados com maior facilidade pelos

municpios, afim de permitir identificao adequada de instituies responsveis

pelo abastecimento (BRASIL, 2016a).

15

Diante da relevncia pblica do heterocontrole do flor na gua de

abastecimento pblico, a presente pesquisa pretende analisar a qualidade da

fluoretao da gua da rede pblica de abastecimento nos sete municpios da

Regio Metropolitana de Vitria (RMGV), Espirito Santo (ES), Brasil.

16

2 JUSTIFICATIVA

No Brasil, dispe-se de poucas informaes precisas para avaliar a extenso e

a qualidade da fluoretao da gua de abastecimento pblico em todo o territrio

nacional (NARVAI et al., 2014). Esse um fato preocupante, pois para que o

flor tenha o efeito desejado na preveno da atividade cariosa necessria

uma concentrao tima, bem como a continuidade da medida ao longo do

tempo. Portanto, a subdosagem no tem efeito algum e, nesses casos, apenas

implicam em gastos desnecessrios, visto que, o objetivo preventivo no ser

atingindo. J a concentrao em nveis elevados, pode afetar a condio de

sade do indivduo, levando ao desenvolvimento de fluorose dentria em

crianas expostas grandes concentraes desse on.

Diante dessa necessidade, foi realilizado, em mbito Nacional, o Projeto

Vigiflor, que buscou identificar as aes de Vigilncia, descrever a cobertura da

fluoretao da gua de abastecimento pblico, e avaliar concentrao de flor

nas cidades do Brasil com mais de 50 mil habitantes (www.cecol.fsp.usp.br ).

Portanto, esse tema de interesse da Coordenao Nacional de Sade Bucal,

assim como deve tambm ser das Coordenaes Estaduais e Municipais, uma

vez que uma ao prioritria da Poltica Nacional de Sade Bucal (PNSB).

Por isso, conhecer as informaes e a realidade das aes de vigilncia da

fluoretao da gua de abastecimento pblico, bem como as concentraes de

fluoreto existentes para consumo humano, dar capacidade aos gestores

pblicos das reas da sade e saneamento direcionarem aes e alocarem

recursos pblicos para ampliao dessa medida de preveno, visto que

podero ser identificadas reas de maior carncia.

17

3 OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a qualidade da fluoretao da gua de abastecimento pblico nos sete

municpios da Regio Metropolitana da Grande Vitria, Esprito Santo (RMGV-

ES).

3.2 OBJETIVOS ESPECFICOS

1) Analisar as informaes disponveis sobre o heterocontrole da fluoretao

gua de abastecimento pblico nos municpios da RMGV-ES.

2) Analisar os teores de flor na gua de abastecimento pblico, os fatores

contextuais relacionados sua adequao nos municpios da RMGV-ES

e a concordncia entre dois critrios de interpretao da concentrao de

fluoreto.

3) Comparar os dados da concentrao de fluoretos, entre trs fontes de

informaes: empresa de abastecimento pblico de gua, vigilncia

ambiental dos municpios da RMGV-ES; heterocontrole realizado por

pesquisadores da Universidade Federal do Esprito Santo.

18

4 MATERIAIS E MTODOS

Trata-se de um estudo de carter descritivo e analtico, conduzido nos sete

municpios que compem Regio Metropolitana da Grande Vitria (Cariacica,

Guarapari, Fundo, Serra, Viana, Vila Velha e Vitria), Esprito Santo (ES).

4.1 LOCAL DE ESTUDO

A Regio Metropolitana da Grande Vitria (RMGV) a nica regio

metropolitana do Esprito Santo, composta por sete municpios (Figura 1),

abrigando cerca de 48,6% da populao total do Estado (IBGE, 2015).

Segundo o Atlas de Desenvolvimento Humano, se ndice de Desenvolvimento

Humano (IDH) 0,772, o que situa essa regio na faixa de Desenvolvimento

Humano Alto (IDH entre 0,700 e 0,799). Isso representa a oitava posio entre

as 20 regies metropolitanas brasileiras segundo o IDH. A dimenso que mais

contribui para o IDH da RMGV-ES Longevidade, com ndice de 0,848, seguida

de Renda, com ndice de 0,782, e de Educao, com 0,695 (PNUD, 2010).

Entre 2000 e 2010, a populao da RMGV-ES cresceu a uma taxa mdia anual

de 1,61%. No Brasil, esta taxa foi de 1,17% no mesmo perodo. Nesta dcada,

a taxa de urbanizao da Regio passou de 98,15% para 98,30%. No Brasil,

esta taxa passou de 81,25% para 84,36% no mesmo perodo (PNUD, 2010).

Dentre as sete regies metropolitanas da regio sudeste, possui a segunda

menor taxa de mortalidade infantil (12,90), atrs da Regio Metropolitana de

Campinas (12,60). Apresenta ndice de Gini de 0,57 e ocupa a quarta posio

entre os maiores ndices das regies metropolitanas da regio sudeste (PNUD,

2010).

A mdia das temperaturas mximas, no ano de 2015, variou entre 28C a 32C,

segundo dados dos Boletins Climatolgicos Trimestrais produzidos pelo Instituto

Capixaba de Pesquisa, Assistncia Tcnica e Extenso Rural (INCAPER, 2015a;

INCAPER, 2015b; INCAPER, 2015c; INCAPER, 2015d; INCAPER, 2016).

19

De acordo com o Centro Colaborador do Ministrio da Sade em Vigilncia da

Sade Bucal (CECOL), em 2013, a cobertura populacional de gua tratada e

fluoretada em seis desses municpios variava entre 77% e 94,9%. O municpio

de Fundo no consta nos dados sistematizados pelo CECOL devido ao seu

porte populacional. Todos os municpios da RMGV-ES so abastecidos pela

mesma empresa de abastecimento pblico.

20

Figura 1. Mapa da Regio Metropolitana da Grande Vitria, Espirito Santo

Fonte: INSTITUTO JONES DOS SANTOS NEVES (2009)

21

4.2 COLETA DE DADOS

4.2.1 Levantamento de informaes sobre as aes de heterocontrole da

fluoretao da gua de abastecimento pblicas

Foi realizada uma investigao de informaes sobre a fluoretao da gua de

abastecimento pblico produzidas de 1953 (ano de implementao desta medida no

ES) a 2015. Foram buscados documentos tcnicos e de gesto, trabalhos cientficos

e dados disponibilizados pela empresa de abastecimento pblico e pelas vigilncias

municipais, para identificao de registros sobre a vigilncia da concentrao de

fluoreto na gua de abastecimento pblico nos sete municpios da RMGV-ES.

Foram contatadas as coordenaes e as bibliotecas de todas as seis instituies de

ensino de graduao e de ps-graduao em Odontologia no estado do ES, alm do

curso de Saneamento Ambiental do Instituto Federal do Esprito Santo (IFES), para

busca de trabalhos desenvolvidos sobre a fluoretao da gua de abastecimento

pblico.

Tambm foram realizados contatos com as Coordenaes Estadual e Municipais de

Sade Bucal da RMGV-ES e com os rgos de Vigilncia Ambiental desses

municpios, para consulta sobre a existncia de possveis documentos ou projetos,

construdos a partir das observaes desses rgos sobre a fluoretao da gua de

abastecimento pblico.

Para levantamento da produo cientfica, realizou nas bases de dados da Biblioteca

Regional de Medicina (Bireme), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias

da Sade (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Publisher Medline

(Pubmed). Como critrios de seleo foram selecionados textos nas lnguas

portuguesa e inglesa, publicados entre 1953 (ano da implementao dessa medida

no ES) e 2015, utilizando-se as seguintes palavras-chave: vigilncia; controle da

qualidade da gua; monitoramento da gua; fluoretao da gua.

A busca de informaes pblicas sobre o controle e heterocontrole da fluoretao da

gua foi realizada no endereo eletrnico da Empresa responsvel pelo

abastecimento pblico de gua de todos os municpios da RMGV-ES

(https://cesan.com.br/) nos sites das prefeituras municipais, e no endereo eletrnico

https://cesan.com.br/

22

do Centro Colaborador do Ministrio da Sade em Vigilncia da Sade Bucal

(CECOL). Nesses sites, foram levantadas todas as reportagens e notcias que

discutiam sobre a fluoretao de uma maneira geral. As palavras-chave para a busca

nos sites foram: qualidade da gua, fluoretao e flor.

4.2.2 Coletas das amostras de gua tratada

Para mensurar a concentrao de fluoreto na gua de abastecimento pblico,

nos municpios da RMGV-ES foram coletadas amostras de gua tratada

referentes s Estaes de Tratamento de gua (ETA) da regio. As coletas

foram realizadas num perodo de seis meses consecutivos, de maio a outubro

de 2016.

Para operacionalizar o objetivo no mbito dessa investigao, inicialmente foi

necessrio conhecer o nmero de sistemas de abastecimento de gua, que inclui

as ETA e os Reservatrios de gua Tratada (RAT), a sua localizao e sua

abrangncia populacional. Os sistemas de abastecimento so complexos e

variam em relao realidade de cada municpio. Alm disso, um sistema de

abastecimento pode fornecer gua para mais de um municpio, como tambm

um municpio pode ser servido por mais de uma estao de abastecimento.

Foram selecionadas as estaes de tratamento de gua que abastecem mais de

80% da populao de cada municpio de estudo. Porm, em um dos municpios,

apenas 77% da populao possuia acesso gua tratada e, portanto, neste,

foram coletadas amostras referentes a todas as ETA. Nos casos de municpios

sem ETA dentro do seu territrio, a Unidade de Referncia (UR) se tornou o RAT

abastecido pela ETA do municpio vizinho e responsvel pela distribuio da

gua tratada no municpio em questo.

Desta forma, esto foram coletadas seis amostras de gua de cada UR, obtidas

no mesmo dia, em diferentes pontos do territrio abastecido pelo respectivo

sistema, sendo trs amostras em pontos mais prximos UR e trs em pontos

mais distantes. As amostras de gua foram coletadas sempre no mesmo local

de coleta, durante seis meses consecutivos, a fim de analisar a continuidade

23

dessa medida ao longo desses meses. Portanto, coletou-se 36 amostras por

unidade de referncia no perodo de seis meses.

Em toda regio metropolitana foram selecionadas 18 UR, entre ETA e RAT.

Assim, foram 108 pontos de coleta por ms e ao final dos seis meses, 648

amostras (Tabela 1).

Tabela 1. Descrio das coletas de gua realizadas nos municpios que compem a RMGV-ES, 2017.

Municpio Populao

Total (IBGE 2015)

Unidades de

Referncia (UR)

Pontos de

coletas por ms

Nmero de

amostras

Abrangncia

populacional (UR)

Cariacica 381.802 1 6 36 80%

Fundo 19.985 2 12 72 88%

Guarapari 119.802 1 6 36 92%

Serra 485.376 1 6 36 98%

Viana 74.499 4 24 144 77%*

Vila Velha 472.762 4 24 144 86%

Vitria 355.875 5 30 180 100%

Total 1.910.101 18 108 648 -

Nota:*Apenas 77% da populao tem acesso a gua tratada.

Os pontos de coleta das amostras foram preferencialmente em unidades

pblicas ou comerciais em ponto da rede mais prximo da UR e tambm em

ponto da rede mais distante da UR. Apenas em quatro pontos de coleta,

referentes a UR que se localiza em uma vila no interior do municpio de Viana,

foram inseridas residncias no universo do plano de amostragem, pois nas

proximidades no existiam pontos pblicos e comerciais para cumprir o objetivo

de seis pontos de coletas por UR.

A coleta foi feita no hidrmetro (cavalete) ou na primeira torneira logo aps o

hidrmetro, porque a gua proveniente da caixa ou reservatrio pode no refletir

em tempo real a concentrao de fluoreto da gua da rede de distribuio da

cidade. Foi realizada utilizando-se frascos de polietileno de 10mL identificados

com etiquetas indicando o local do ponto de coleta, a data da coleta e o nome

do pesquisador.

24

4.2.3 Informaes sobre concentrao de flor na gua de abastecimento

pblico contidas no Sistema SISAGUA (Vigilncia) e as provenientes da

empresa de abastecimento

Os dados de controle de fluoreto, realizados nos mesmos meses da coleta de

gua, foram buscados junto Empresa de Abastecimento Pblico, responsvel

pelos sete municpios da RMGV-ES.

As informaes do heterocontrole produzidas pela vigilncia de cada municpio

foram acessadas na base eletrnica do SISAGUA. O Ministrio da Sade

forneceu os dados registrados no ano de 2016. Quando ausentes, os tcnicos

responsveis pela insero das informaes no sistema foram contatados para

disponibilizao dos dados do heterocontrole produzidos nos meses de maio a

outubro de 2016.

4.2.4 Variveis Contextuais

Para este estudo tambm foram utilizados dados secundrios, referentes s

informaes dos municpios estudados, tais como: variveis demogrficas,

socioeconmicas e de ateno sade.

a) Populao total do municpio: Populao total do municpio no ano de

2015 (IBGE,2015).

b) Percentual da populao em domiclios com gua encanada: Expressa,

em porcentagem, a populao que tem acesso a gua encanada em seus

domiclios (PNUD, 2010).

c) ndice de Gini: Expressa as desigualdades na distribuio de renda.

Quanto maior o coeficiente, que varia de 0 a 1, maior ser a concentrao

de renda do municpio (PNUD, 2010).

d) Produto Interno Bruto (PIB) per Capita: Representa a razo entre a

totalidade da produo econmica em valores financeiros do municpio e

a populao global do mesmo (PNUD, 2010).

e) ndice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDHM): O ndice abrange

dimenses como educao, a longevidade e a renda dos municpios.

25

Varia de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento

humano total) (PNUD, 2010).

f) Coeficiente de Mortalidade em menores de um ano de idade: Nmero de

bitos de menores de um ano de idade, por mil nascidos vivos, na

populao residente, no ano de 2010 (PNUD, 2010).

g) Coeficiente de internao por diarreia: Nmero de internaes por diarreia

e gastroenterite, por municpio no perodo de 2010 a outubro de 2015,

dividido pelo nmero total de internaes no mesmo perodo (BRASIL,

2016b).

h) Cobertura de Equipe de Sade Bucal: Relacionado a Cobertura

populacional estimada pelas equipes bsicas de sade bucal. Dado em

porcentagem, referente a 2015 (BRASIL, 2016b).

i) Percentual de exodontias em relao aos procedimentos odontolgicos:

Nmero total de extraes dentrias em determinado no ano de 2015,

dividido pelo nmero total de procedimentos clnicos individuais

preventivos e curativos selecionados no mesmo local e perodo (BRASIL,

2016b).

j) Mdia de Escovao Supervisionada: Mdia do nmero de pessoas

participantes na ao coletiva de escovao dental supervisionada, no

ano de 2015 (BRASIL, 2016b).

26

4.3 ANLISE LABORATORIAL DA GUA

A anlise laboratorial da gua foi feita pelo mtodo Eletrodo Especfico, devido

sua praticidade e sensibilidade (RODRIGUES et al., 2002). As amostras foram

enviadas para o Laboratrio de Bioqumica da Faculdade de Odontologia de

PiracicabaUniversidade Estadual de Campinas.

A concentrao de flor presente nas amostras de gua foi determinada em

duplicata, utilizando-se o eletrodo on sensvel, acoplado ao potencimetro,

utilizando- se 1,0 ml da amostra qual ser adicionado 1,0 ml de TISAB II

(tampo acetato 1 M, pH 5,0). Este eletrodo foi previamente calibrado com

solues padro contendo 0,1, 0,2, 0,4, 0,8, 1,6 foram aceitas. Todas as anlises

foram feitas em duplicata, a fim de se testar a repetitividade das leituras. A

checagem dos resultados das anlises das amostras de gua foi feita com nova

leitura de 10% das amostras, para que a reprodutibilidade das anlises fosse

checada.

4.4 CLASSIFICAES DAS AMOSTRAS DE GUA SEGUNDO TEOR DE FLUORETO

Os resultados foram classificados segundo sua concentrao de flor, de acordo

com dois critrios:

a) critrio I: de acordo com a vigncia das disposies da Portaria MS n

635, de 26 de dezembro de 1975, para avaliar a adequao dos teores de flor

em gua em funo de temperatura do local, a concentrao tima de flor para

a regio est determinada em 0,7ppm, com limite mnimo de 0,6ppm (variao

de 0,1ppm) e limite mximo de 0,8ppm (variao de 0,1ppm) (BRASIL, 1975).

Dessa forma, considera-se adequada a concentrao entre 0,6ppm e 0,8ppm,

inadequada baixa quando menor que 0,6ppm e inadequada alta quando maior

0,8ppm (Tabela 2).

27

b) critrio II: a partir da proposta de pesquisadores participantes do

Seminrio Vigiflor, realizado em 2011, que recomendam que a avaliao do

teor de flor na gua seja feita considerando-se, simultaneamente, as dimenses

relacionadas ao benefcio e ao risco. Desse modo, busca-se aferir, em cada

anlise, as intensidades tanto do benefcio preventivo da crie dentria quanto

do risco inerente exposio a flor. As anlises foram de acordo com a

concentrao de flor (mg/l) para localidades em que as mdias das

temperaturas mximas se situam entre 26,3C e 32,5C (CECOL, 2011).

Tabela 2. Descrio da categorizao das amostras de acordo com a concentrao de

flor, segundo os critrios de anlise

CRITRIO I CRITRIO II

TEOR DE

FLOR NA

GUA

CLASSIFICAO

TEOR DE

FLOR NA

GUA

BENEFCIO

RISCO

Menor que 0,6 Inadequada baixa 0,00 a 0,44 Insignificante Insignificante

0,6 a 0,8 Adequada 0,45 a 0,54 Mnimo Baixo

Maior que 0,8 Inadequada alta 0,55 a 0,84 Mximo Baixo

0,85 a 1,14 Mximo Moderado

1,15 a 1,44 Questionvel Alto

1,45 ou mais Malefcio Muito Alto

Fonte: BRASIL,1975; CECOL, 2011. 1-Teor em ppm ou mg F/L. 2- Benefcio na preveno

crie dentria. 3- Risco de produzir fluorose dentria.

4.5 ANLISE DOS DADOS

Uma anlise dos documentos e artigos selecionados foi realizada, buscando-se

identificar as seguintes informaes: ano do levantamento dos dados; nmero de

municpios includos no documento; nmero de documentos por municpio; tema

principal; autores/instituies responsveis pelo documento; mtodo de pesquisa,

identificando se foi ou no realizada anlise de concentrao do on flor e, caso

tenha sido realizada, qual a concentrao encontrada. A anlise das notcias

disponveis nos sites foi organizada para identificar: o ttulo da notcia; sua fonte;

ano de publicao; caracterstica geral; e trecho principal. Para auxiliar a

descrio, a anlise dos dados e tambm facilitar a comparao entre as

28

informaes obtidas, foi construda uma grade de anlise no programa Microsoft

Office Excel 2010.

Os dados quantitativos foram armazenados no programa Statistical Package for

the Social Sciences (SPSS), verso 20.0. Foram realizadas as anlises

descritivas por meio do clculo de frequncias absolutas e relativas.

Foi verificado o nvel de concordncia entre os dois critrios de anlise da

concentrao de flor na gua, pelos testes de Kappa. Os nveis de

concordncia foram avaliados de acordo com as categorias propostas por Landis

e Koch (1977), que consideram: nvel de concordncia quase perfeita, quando o

ndice varia de 0,80 a 1,00; concordncia substancial, de 0,60 a 0,79;

concordncia moderada, de 0,41 a 0,59; concordncia regular, de 0,21 a 0,40;

e, concordncia ruim, quando o ndice menor que 0,20. Para possibilitar a

comparao entre o preconizado pela Legislao e o disponibilizado pelo

CECOL, o mesmo foi reclassificado em trs categorias: benefcio

insignificante/risco mnimo; benefcio mximo/risco baixo; e benefcio

mximo/risco moderado a muito alto.

O Indicador de Proporo de Amostras Adequadas (IPAA) para fluoreto foi

calculado dividindo-se o total de amostras consideradas ideal segundo os dois

critrios (I: entre 0,6 a 0,8 e II: entre 0,55 a 0,84; benefcio mximo e baixo risco)

pelo total de amostras analisadas multiplicada por 100.

Foi realizado o Teste no paramtrico de Spearman para anlise de correlao

entre o indicador de proporo de amostras adequadas de flor segundo o

critrio II, e os fatores contextuais dos municpios.

Para amostras que foram coletadas na mesma semana pela pesquisa, empresa

e vigilncia, foram calculadas as mdias e desvio padro dos teores de fluoreto ,

no programa Microsoft Office Excel 2010. Quando as datas entre as trs fontes

no eram compatveis, foram consideradas as coletas realizadas na semana

anterior ou prxima realizada pela pesquisa.

A proporo de amostras adequadas foi calculada levando-se em considerao

as coletas mensais realizadas pela empresa e pela vigilncia nos meses de maio

29

a outubro de 2016. O IPAA para esses dados foi calculado segundo o critrio de

interpretao proposto pelo CECOL (Critrio II).

O programa BioEstat, verso 5.0 foi utilizado para as anlises comparativas entre

as informaes. Para testar se houve diferena entre as propores amostrais

foi realizado o Teste Binomial e considerado o p-valor para duas amostras

diferentes. Para determinar se a diferena entre as mdias era estatisticamente

significante, foi realizado o Teste Z para amostras independentes.

4.6 ASPECTOS TICOS

A pesquisa foi aprovada pelo Comit de tica em Pesquisa (CEP) da

Universidade Federal do Esprito Santo, seguindo as normas da Resoluo n

466/12, sob CAAE: n 32266514.6.0000.5060. Todos os participantes foram

informados e assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

4.7 FINANCIAMENTO

O projeto recebeu financiamento da Fundao de Amparo Pesquisa do Esprito

Santo (FAPES), por meio do Edital Universal Integrado de Pesquisa n 007/2014,

registrado sob o n 285984221919318062015.

30

5 RESULTADOS

5.1 ARTIGO 1

INFORMAES SOBRE A FLUORETAO DA GUA DE ABASTECIMENTO

PBLICO: PRODUO E DISPONIBILIDADE EM QUESTO

*Artigo conforme as normas da Revista Tempus Actas de Sade Coletiva

31

5.1.1 Resumo

A fluoretao da gua de abastecimento pblico uma importante medida de sade

pblica. O objetivo deste estudo foi analisar as informaes disponveis sobre o heterocontrole da fluoretao gua de abastecimento pblico nos sete municpios que

compem a Regio Metropolitana da Grande Vitria (RMGV), Esprito Santo (ES). Foi realizada uma reviso crtica, com levantamento de documentos de gesto, de trabalhos cientficos que incluiu textos nas lnguas portuguesa e inglesa, publicados

entre 1953 (ano da implementao dessa medida no ES) e 2015, e de informaes nos sites das prefeituras e da empresa de abastecimento. Para anlise dos

documentos e artigos foram identificados: o ano do levantamento dos dados; nmero de municpios includos; tema principal; autores/instituies; mtodo de pesquisa; anlise de concentrao do on flor e qual a concentrao encontrada. Para as

informaes encontradas nos sites identificou-se o ano, a fonte, caracterstica e trecho principal. Cinco textos cientficos foram identificados referentes ao tema nos

municpios estudados, alm de informaes baseadas em relatrios de gesto, disponveis do Centro Colaborador do Ministrio da Sade em Vigilncia da Sade Bucal da Universidade de So Paulo. As informaes presentes nos sites da empresa

e prefeituras eram superficiais e no foram encontrados dados de controle/heterocontrole da fluoretao. Reafirma-se a necessidade de maior atuao

tanto dos rgos pblicos como das instituies de ensino no processo de vigilncia da fluoretao da gua na regio, para se garantir a efetividade da medida como forma de promoo da sade bucal.

Palavras chave: Vigilncia; controle da qualidade da gua; monitoramento da

gua; fluoretao da gua.

5.1.2 Abstract

The surveillance of fluoridation of public water supply is an important measure of monitoring this public health action. The objective of this study was to analyze the

information on the heterocontrol of the fluoridation water of public supply in the seven citties in the Metropolitan Region of Vitoria - Espirito Santo (RMGV-ES). To this was

critical review, with research of management documents, of scientific studies about control of fluoridation, in addition it was looked for information in the sites of the prefectures and of the company of supply. Texts were included in Portuguese and

English, published between 1953 (the year of implementation of this measure in ES) and 2015. To analysis of documents select was identify: year of survey data; number

of municipalities included; main theme; authors / institutions responsible; research method, whether or not performed analysis of fluoride ion and which found concentration. For the information found on the sites, the year, source, characteristic

and main section were identified. Only identified five scientific articles referring to the fluoridation of public water supplies in the municipalities of RMGV-ES. Also found

information based on management reports, available on the website of researchers from the University of So Paulo. The information on the sites was superficial and no fluoridation control data were found. Reaffirms the need for greater performance of

32

public service and educational institutions in fluoridation monitoring process of water in the region, to ensure the effectiveness of the measure as a way to promote oral

health.

Key words: Surveillance; Water Quality Control; Water Monitoring; Fluoridation

5.1.3 Resumen

Vigilancia de la fluoruracin del suministro pblico de agua es una medida importante de seguimiento de esta accin de salud pblica. El objetivo de este estudio

fue analizar la informacin disponible sobre la fluoracin del suministro pblico de agua en los siete municipios de la Regin Metropolitana de Vitoria - Espirito Santo (RMGV-ES). Una revisin crtica se hizo, con investigacin de los documentos de

gestin e artculos cientficos en portugus y Ingls, publicados entre 1953 y 2015. La informacin sobre los sitios web de los municipios y la empresa de suministro. Para el

anlisis de los documentos y artculos fueron identificados: el ao de los datos del estudio; nmero de municipios incluidos; tema principal; autores / instituciones; mtodo de investigacin; anlisis de la concentracin de iones de flor y que la

concentracin encontrada. Para obtener la informacin de los sitios fue identificado el ao, el origen, funcin, y parte principal. Cinco textos cientficos han identificado sobre

el tema, as como informacin sobre la base de los informes de gestin, disponible en la pgina web del Ministerio de Salud, Centro Colaborador para la Vigilancia de la Salud Oral de la Universidad de So Paulo. La informacin en los sitios web eran

superficiales y no se encontraron datos de control de la fluoracin. Reafirma la necesidad de un mayor desempeo tanto organismos pblicos como instituciones

educativas en proceso de monitoreo de la fluoracin del agua en la regin, para asegurar la eficacia de la medida como una forma de promover salud oral.

Palabras clave:Vigilancia; control de calidaddel agua; monitoreodel agua;

fluoruracin.

33

5.1.4 Introduo

A crie dentria resulta da colonizao da superfcie do esmalte dentrio por

microorganismos acar-dependentes. A anlise do material gentico obtido de

amostras de leses cariosas mostra que a microbiota responsvel pelo

desenvolvimento da doena extraordinariamente variada,. A perda mineral

provocada pelo metabolismo desses microrganismos pode provocar a formao de

cavidades, cuja evoluo, em casos extremos, pode promover a destruio de toda a

coroa dentria. Para o efetivo controle dessa doena, importante a manuteno de

pequenas quantidades de flor na cavidade bucal. Os mecanismos de ao do flor

nesse controle se do por meio da sua interferncia no processo de desmineralizao

e remineralizao dentria4,5.

Apesar da incorporao do flor estrutura dental, o maior grau de proteo contra a

crie dentria se d topicamente, pela permanncia de pequenas quantidades de flor

circulantes na cavidade oral4. Dessa forma, sua ao considerada preventivo-

teraputica, ou seja, o flor que interessa para fins de proteo crie no aquele

incorporado intimamente estrutura do dente, mas, o que incorporado na estrutura

mais superficial, sujeito dinmica constante de trocas minerais estabelecidas entre

a saliva e o esmalte dentrio6. Sendo assim, ele no oferece resistncia permanente

crie, uma vez que as pessoas privadas da exposio do flor voltam a ter as

mesmas chances de desenvolver a doena que aquelas nunca expostas7.

Por outro lado, uma exposio contnua a altas concentraes de flor na gua

durante o perodo de desenvolvimento dos dentes pode levar ocorrncia da fluorose,

uma alterao caracterizada pela hipomineralizao do esmalte dentrio8. Na

vigilncia da fluoretao, torna-se fundamental que os nveis de flor na gua sejam

capazes de produzir o mximo de proteo contra a crie e o mnimo de produo de

fluorose na populao. Desta forma, a existncia de um processo de vigilncia em

sade que atue ativamente sobre o processo de fluoretao da gua de

abastecimento pblico imprescindvel para proteo sade humana9.

A adio de flor gua de abastecimento pblico, como estratgia de sade pblica

para prevenir a crie dentria, teve incio em 1945 em algumas cidades dos Estados

Unidos e Canad7,10. No Brasil, a adio de flor ao tratamento da gua de

34

abastecimento pblico iniciou-se, de fato, em 1953 em Baixo Guandu, Esprito Santo

(ES). A medida tornou-se obrigatria em 1974, quando foi aprovada a Lei Federal n

6.050, que determinou que os projetos destinados construo ou ampliao de

sistemas pblicos de abastecimento de gua, onde houvesse estao de tratamento,

deveriam incluir previses e planos relativos fluoretao de gua, tendo em vista,

entre outras condies especficas, o teor natural de flor j existente e a necessria

viabilidade econmico-financeira da medida11.

Porm, essa lei s foi regulamentada em 1975, pelo Decreto da Presidncia da

Repblica n 76.872. Esse decreto discorreu sobre vrios pontos acerca da

fluoretao e, dentre eles, destacou a necessidade do Ministrio da Sade, em ao

conjugada com as Secretarias de Sade ou rgos equivalentes, exercer a

fiscalizao do exato cumprimento das normas estabelecidas, estando os dirigentes

dos rgos responsveis pelos sistemas pblicos de abastecimento de gua sujeitos

s sanes administrativas cabveis, de acordo com o regime jurdico a que estejam

submetidos, pelo no cumprimento do Decreto12.

As normas e os padres para a fluoretao a serem seguidos em todo o territrio

nacional foram aprovados pelo Ministrio da Sade e so atualmente regulamentados

pela Portaria n 2.914, de 12 de dezembro de 2011. Esse documento remete Portaria

n 635/Bsb e reafirma os teores de flor recomendados, alm de dispor tambm sobre

os procedimentos de controle e de vigilncia da qualidade da gua para consumo

humano e seu padro de potabilidade. Ela estabeleceu tambm como valor mximo

permitido (VMP) 1,5 mg de F/L de gua13,14,15.

Segundo a Organizao Mundial da Sade (OMS), a fluoretao pode, de forma

isolada, reduzir a chance de uma pessoa vir a ter crie em at 65%. Ela

recomendada pelas principais instituies cientficas, sanitrias e polticas, como a

Federao Dentria Internacional (FDI), a International Association for Dental

Research (IADR), a Organizao Europeia de Pesquisas sobre a Crie (ORCA) e a

prpria OMS8,16.

Alm disso, a fluoretao da gua em sistemas de abastecimento uma medida

preventiva de ateno primria16. Seu emprego justifica-se pela sua universalidade,

visto que muitos segmentos da sociedade esto expostos gua potvel servida

35

pelos sistemas de abastecimento pblicos10. A relao custo-benefcio dessa medida

positiva, uma vez que o custo de uma simples restaurao dentria equivale ao

gasto para fluoretar gua potvel ingerida por uma pessoa durante toda a sua vida15.

Tambm existe o benefcio causado pela incorporao do flor aos alimentos e

bebidas produzidos com gua fluoretada, beneficiando assim regies no

fluoretadas15.

Entretanto, para que o benefcio da fluoretao da gua de abastecimento pblico seja

alcanado, necessria que haja continuidade da medida ao longo do tempo e a

manuteno regular dos teores do on flor considerados timos pr-estabelecidos

pela Portaria n 635/Bsb, de acordo com determinados parmetros como, por

exemplo, a temperatura local14. As aes de vigilncia ambiental em sade

relacionadas qualidade da gua para consumo humano so de competncia do

setor pblico de sade, enquanto as aes de controle da qualidade da gua

competem aos responsveis pela operao do sistema ou da soluo alternativa

coletiva de abastecimento16.

A partir da constatao de que, em muitas localidades brasileiras, ocorriam oscilaes

nas concentraes do flor adicionado gua de abastecimento pblico, foram

formuladas propostas para a implantao de sistemas de vigilncia sanitria da

fluoretao da gua de abastecimento pblico, baseadas no princpio do

heterocontrole1, que diz que se um bem ou servio implica risco ou fator de proteo

para a sade pblica, alm do controle do produtor sobre o processo de produo,

distribuio e consumo, deve haver controle por parte do Estado17. Desse modo, o

heterocontrole considerado como o meio mais adequado para assegurar tal

condio, uma vez que deve ser executado por instituies pblicas ou, tambm,

entidades privadas distintas da empresa responsvel pela fluoretao18.

O objetivo deste estudo analisar as informaes disponveis sobre o heterocontrole

da fluoretao gua de abastecimento pblico nos sete municpios que compem a

Regio Metropolitana da Grande Vitria (RMGV), Esprito Santo (ES), Brasil.

36

5.1.5 Metodologia

Trata-se de uma reviso crtica, baseada na investigao de informaes, na literatura

cientfica e cinzenta, sobre a fluoretao da gua de abastecimento pblico

produzidas de 1953 (ano de implementao desta medida no ES) a 2015. Foram

buscados documentos tcnicos e de gesto, trabalhos cientficos e dados

disponibilizados pela empresa de abastecimento pblico e pelas vigilncias

municipais, para identificao de registros sobre a vigilncia da concentrao de

fluoreto na gua de abastecimento pblico nos sete municpios da RMGV-ES:

Cariacica, Fundo, Guarapari, Serra, Viana, Vila Velha e Vitria. Todos os municpios

pesquisados distribuem gua fluoretada por meio do abastecimento pblico.

Foram contatadas as coordenaes e as bibliotecas de todas as seis instituies de

ensino de graduao e de ps-graduao em Odontologia no estado do ES, alm do

curso de Saneamento Ambiental do Instituto Federal do Esprito Santo (IFES), para

busca de trabalhos desenvolvidos sobre a fluoretao da gua de abastecimento

pblico.

Tambm foram realizados contatos com as Coordenaes Estadual e Municipais de

Sade Bucal da RMGV-ES e com os rgos de Vigilncia Ambiental desses

municpios, para consulta sobre a existncia de possveis documentos ou projetos,

construdos a partir das observaes desses rgos sobre a fluoretao da gua de

abastecimento pblico.

Para levantamento da produo cientfica, realizou nas bases de dados da Biblioteca

Regional de Medicina (Bireme), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Cincias

da Sade (Lilacs), Scientific Electronic Library Online (Scielo) e Publisher Medline

(Pubmed). Como critrios de seleo foram selecionados textos nas lnguas

portuguesa e inglesa, publicados entre 1953 (ano da implementao dessa medida

no ES) e 2015, utilizando-se as seguintes palavras-chave: vigilncia; controle da

qualidade da gua; monitoramento da gua; fluoretao da gua.

A busca de informaes pblicas sobre o controle da fluoretao da gua foi realizada

no endereo eletrnico da Empresa responsvel pelo abastecimento pblico de gua

de todos os municpios da RMGV-ES (https://cesan.com.br/) e sobre heterocontrole

nos sites das prefeituras municipais, e no endereo eletrnico do Centro Colaborador

do Ministrio da Sade em Vigilncia da Sade Bucal (CECOL)19. Nestes sites, foram

https://cesan.com.br/

37

levantadas todas as reportagens e notcias que versavam sobre a fluoretao na

RMGV-ES. As palavras-chave para a busca nos sites foram: qualidade da gua,

fluoretao e flor.

Uma anlise dos documentos e artigos selecionados foi realizada, buscando-se

identificar as seguintes informaes: ano do levantamento dos dados; nmero de

municpios includos no documento; nmero de documentos por municpio; tema

principal; autores/instituies responsveis pelo documento; mtodo de pesquisa,

identificando se foi ou no realizada anlise de concentrao do on flor e, caso tenha

sido realizada, qual a concentrao encontrada. A anlise das notcias disponveis nos

sites foi organizada para identificar: o ttulo da notcia; sua fonte; ano de publicao;

caracterstica geral; e trecho principal. Para auxiliar a descrio, a anlise dos dados

e tambm facilitar a comparao entre as informaes obtidas, foi construda uma

grade de anlise no programa Microsoft Office Excel 2010.

Todos os dados utilizados nesta pesquisa eram de domnio pblico e acesso irrestrito.

Portanto, no houve necessidade de submisso ao Comit de tica em Pesquisa.

38

5.1.6 Resultados

Em nenhuma das instituies foi encontrado qualquer trabalho que tenha sido

desenvolvido que atendesse aos critrios de seleo deste estudo. Nas

Coordenaes Estadual e Municipais de Sade Bucal e rgos de Vigilncia

Ambiental desses municpios, a resposta foi negativa quanto existncia de quaisquer

documentos que se encaixassem no tema deste estudo.

No endereo eletrnico do CECOL, foram identificadas informaes sobre a

fluoretao da gua nos municpios brasileiros com mais de 50 mil habitantes,

sistematizadas a partir de dados provenientes do Programa Nacional de Vigilncia da

Qualidade da gua para Consumo Humano (VIGIAGUA), em seu Sistema de

Informao de Vigilncia da Qualidade da gua para Consumo Humano (SISAGUA).

Essas informaes constituem o Projeto Vigiflor - Cobertura e Vigilncia da

Fluoretao da gua de Abastecimento Pblico no Brasil nos anos de 2010 a 2014,

uma pesquisa em execuo em todo o pas, que incluiu 11 municpios do ES, seis

deles localizados na RMGV-ES19. A exceo foi feita ao municpio de Fundo, que

possua populao inferior pr-estabelecida para incluso no Vigiflor.

A Tabela 1 mostra o percentual de cobertura populacional de gua fluoretada e as

respectivas mdias das concentraes de fluoreto nesses municpios, entre 2010 e

2014. Pode-se observar uma variao no percentual de cobertura populacional de

gua fluoretada. Com relao s mdias da concentrao de fluoretos para os

diversos municpios da regio, observou-se que, utilizando-se como referncia ideal o

intervalo de 0,6 a 0,8 mg de F/l de gua, determinado pela Portaria n 635/Bsb, para

municpios com mdia das temperaturas mximas dirias do ar entre 26,4-32,5C, que

o caso dos municpios da RMGV-ES14, 14 (51,9%) delas estavam no intervalo ideal,

onze (40,7%) estavam abaixo dessa faixa e duas (7,4%) estavam acima. Os

municpios de Cariacica e Viana no apresentaram informao para pelo menos um

dos anos analisados.

39

Tabela 1. Percentual de cobertura populacional de gua fluoretada e mdia das concentraes de fluoreto

(mg/l) na gua de abastecimento pblico nos municpios da RMGV-ES entre 2010 e 2015.

Municpio

2010 2011 2012 2013 2014

%

Cobertura

%

Cobertura

%

Cobertura

%

Cobertura

%

Cobertura

Cariacica * * 93,0 0,583 93,0 0,623 93,0 0,656 * *

Guarapari 90,2 0,588 97,1 0,587 95,9 0,728 90,8 0,581 90,6 0,636

Serra 100,0 0,924 97,3 0,659 98,5 0,653 89,0 0,613 92,2 0,676

Viana 76,3 0,570 75,8 0,164 * * 90,9 0,163 77,4 0,642

Vila Velha 70,9 0,596 87,6 0,593 93,0 0,962 88,3 0,679 87,0 0,277

Vitria 100,0 0,627 99,1 0,621 99,2 0,653 94,9 0,466 100,0 0,688

Fonte: Cecol19, So Paulo, 2016.

*Ausncia de informao Mdia

A pesquisa nas bases de dados permitiu identificar cinco artigos cientficos sobre a

fluoretao da gua de abastecimento pblico, que atendiam aos critrios de seleo

deste estudo. Os resultados da anlise esto descritos na Tabela 2. Pode-se observar,

alm do pequeno nmero de estudos identificados, que a maioria incluiu, para a

RMGV-ES, apenas a cidade de Vitria, capital do estado do ES.

40

No site da empresa de abastecimento pblico foram encontradas dez notcias e

documentos que continham no seu corpo as palavras-chaves flor e/ou fluoretao.

Como tema central, seis possuam carter de informe e quatro apresentavam dados

sobre o controle da qualidade da gua, atravs de relatrios. Porm, os Relatrios

Anuais sobre a qualidade da gua distribuda no continham dados da concentrao

de fluoretos, apesar de na sua descrio ficar claro que o flor se insere no objetivo

da anlise. Portanto, os resultados da anlise fsico-qumica ficaram restritos cor,

turbidez e ao cloro. Das seis notcias com objetivo de informe, apenas uma possua

informaes claras sobre a fluoretao e cinco a citavam, pontualmente, como parte

do processo de controle da gua. Na busca pelos sites das prefeituras municipais,

foram encontradas duas notcias com carter de informe divulgando a realizao de

atividades de monitoramento da fluoretao. Nenhum dado da vigilncia foi divulgado

atravs do endereo eletrnico das prefeituras (Tabela 3).

Tabela 2. Anlise da produo cientfica sobre a fluoretao da gua de abastecimento a RMGV -

ES entre os anos de 1953 e 2015.

Estudo

Ano da

publicao

Tema principal Amostra

Anlise da

concentrao de

fluoretos

Resultados

Ferreira et al.20

1999 Fluorose Vitria Sim Abaixo do ideal

(0,7 ppm)

Emmerich;

Freire21

2003 Histrico

Todos municpios

da RMGV-ES No -

Jesus et al.22

2005

Vigilncia Vitria Sim Mdia Ideal

(0,6 0,8 ppm)

Cesa et al.23

2011 Vigilncia 27 capitais - Vitria Sim

70,9% ideais

(0,6 0,8 ppm )

Narvai et al.24

2014 Vigilncia 27 capitais - Vitria No -

41

Tabela 3. Anlise das informaes sobre a fluoretao da gua de abastecimento nos sites da Empresa de

Abastecimento e das prefeituras municipais. RMGV-ES, 2017

Notcia

Fonte de

informao

Ano da

publicao

Caracterstica Trecho principal

Bairro de Guarapari ter

gua da Cesan em 30 dias

Empresa de

Abastecimento

2003 Informe

Cerca de 158 famlias (...)

passaro a receber gua tratada e fluoretada dentro de 30 dias.

Coral das guas na

semana do servidor

Empresa de

Abastecimento

2003

Informe

O Coral das guas estar se

apresentando (...) em

comemorao aos 50 anos de Fluoretao das guas na

Amrica Latina.

Scardua quer 100% da

gua fluoretada no ES

Empresa de

Abastecimento

2003

Informe

A fluoretao o mtodo mais

efetivo, universal e econmico

para a preveno da crie

dentria

Cirurgies dentistas

visitam sistema da Cesan

Empresa de

Abastecimento

2003

Informe

(...) a aplicao do flor atende

aos parmetros de qualidade da

gua exigidos pelo Mini