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DEFESA CIVIL OU DEFESA SOCIAL: APROXIMAÇÕES E AFASTAMENTOS NA QUESTÃO DA CORPORAÇÃO DE BOMBEIROS MILITARES DE PERNAMBUCO Aline Castilho Gomes Ribeiro¹; José Augusto Amorim Guilherme da Silva² 1 Estudante do Curso de Ciências Sociais da UFRPE; e-mail: [email protected]; 2 Analista Sênior III da Diretoria de Pesquisas Sociais (Coordenação de Estudos Sociais e Culturais) da Fundação Joaquim Nabuco/FUNDAJ; e-mail: [email protected] RESUMO: O papel desempenhado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) como agente da defesa civil, e também como força operativa da Secretaria de Defesa Social (SDS-PE), expõe aspectos que ora aproximam, ora afastam a corporação do princípio geral que orienta as duas defesas: a indivisibilidade do ser humano, que é, ao mesmo tempo, indivíduo (objeto da defesa civil) e cidadão (objeto da defesa social). O objetivo do subprojeto é investigar as razões pelas quais o Governo do Estado de Pernambuco, no que se refere ao modelo de defesa social, inclui o CBMPE no Pacto Pela Vida, o programa estadual de segurança pública. A partir da pesquisa teórica sobre defesa civil e defesa social, é possível verificar que a ação dos bombeiros (defesa civil) é compreendida de forma transversal ao universo da defesa social. Porém, no processo da pesquisa aplicada, verificou-se que, na atual configuração do programa, essa transversalidade é mitigada, porque a maior parte da atenção governamental é direcionada à questão da segurança pública, sem que se considere a forte relação entre a ambiência criminosa (aspecto da defesa social) e a ambiência de risco (aspecto da defesa civil), seja na esfera do crime ou no cenário do desastre. Palavras-chave: Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco; defesa civil; defesa social; Pacto Pela Vida; segurança global da população; sociologia dos desastres. INTRODUÇÃO A atuação da defesa civil nos episódios recorrentes de enchentes e estiagens fomenta a discussão sobre o que durante muito tempo costumou-se chamar de “desastres naturais” no Brasil e a forma com que esses se relacionam com a defesa social. De acordo com a Política Nacional de Defesa Civil, desastre é o “resultado de eventos adversos, naturais ou provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável”, mas são os fatores como o risco, ou seja, a probabilidade de ocorrer, e a representação da ameaça, a probabilidade estatística, condicionados pela situação de vulnerabilidade que irão definir a sua intensidade (Política Nacional de Defesa Civil, 2007, p.8-9). A defesa civil divide os desastres quanto à origem em naturais, humanos ou antropogênicos e mistos. Entretanto, essa classificação pode ser questionada quando se verifica que os desastres naturais são, muitas vezes, consequências de desastres políticos. Segundo Castro (1999), a questão da crise econômica no Brasil na década de 1970, por exemplo, contribuiu para a ocorrência de desastres relacionados ao desemprego, pobreza, redução do estoque de terrenos, construções em áreas de risco e migrações. Enquanto que o desastre é uma categoria específica da defesa civil, a segurança pública é o grande foco da defesa social, sendo os seus respectivos focos a ambiência de risco (a negação da cidadania) e a ambiência criminosa (a atividade ilícita e ilegal que danifica a vida social e despreza o contrato que

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DEFESA CIVIL OU DEFESA SOCIAL: APROXIMAÇÕES E

AFASTAMENTOS NA QUESTÃO DA CORPORAÇÃO DE

BOMBEIROS MILITARES DE PERNAMBUCO

Aline Castilho Gomes Ribeiro¹; José Augusto Amorim Guilherme da Silva²

1Estudante do Curso de Ciências Sociais da UFRPE; e-mail: [email protected];

2Analista

Sênior III da Diretoria de Pesquisas Sociais (Coordenação de Estudos Sociais e Culturais) da

Fundação Joaquim Nabuco/FUNDAJ; e-mail: [email protected]

RESUMO: O papel desempenhado pelo Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco

(CBMPE) como agente da defesa civil, e também como força operativa da Secretaria de

Defesa Social (SDS-PE), expõe aspectos que ora aproximam, ora afastam a corporação do

princípio geral que orienta as duas defesas: a indivisibilidade do ser humano, que é, ao

mesmo tempo, indivíduo (objeto da defesa civil) e cidadão (objeto da defesa social). O

objetivo do subprojeto é investigar as razões pelas quais o Governo do Estado de

Pernambuco, no que se refere ao modelo de defesa social, inclui o CBMPE no Pacto Pela

Vida, o programa estadual de segurança pública. A partir da pesquisa teórica sobre defesa

civil e defesa social, é possível verificar que a ação dos bombeiros (defesa civil) é

compreendida de forma transversal ao universo da defesa social. Porém, no processo da

pesquisa aplicada, verificou-se que, na atual configuração do programa, essa

transversalidade é mitigada, porque a maior parte da atenção governamental é direcionada

à questão da segurança pública, sem que se considere a forte relação entre a ambiência

criminosa (aspecto da defesa social) e a ambiência de risco (aspecto da defesa civil), seja

na esfera do crime ou no cenário do desastre.

Palavras-chave: Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco; defesa civil; defesa social;

Pacto Pela Vida; segurança global da população; sociologia dos desastres.

INTRODUÇÃO

A atuação da defesa civil nos episódios recorrentes de enchentes e estiagens fomenta a

discussão sobre o que durante muito tempo costumou-se chamar de “desastres naturais” no

Brasil e a forma com que esses se relacionam com a defesa social. De acordo com a

Política Nacional de Defesa Civil, desastre é o “resultado de eventos adversos, naturais ou

provocados pelo homem sobre um ecossistema vulnerável”, mas são os fatores como o

risco, ou seja, a probabilidade de ocorrer, e a representação da ameaça, a probabilidade

estatística, condicionados pela situação de vulnerabilidade que irão definir a sua

intensidade (Política Nacional de Defesa Civil, 2007, p.8-9). A defesa civil divide os

desastres quanto à origem em naturais, humanos ou antropogênicos e mistos. Entretanto,

essa classificação pode ser questionada quando se verifica que os desastres naturais são,

muitas vezes, consequências de desastres políticos. Segundo Castro (1999), a questão da

crise econômica no Brasil na década de 1970, por exemplo, contribuiu para a ocorrência de

desastres relacionados ao desemprego, pobreza, redução do estoque de terrenos,

construções em áreas de risco e migrações. Enquanto que o desastre é uma categoria

específica da defesa civil, a segurança pública é o grande foco da defesa social, sendo os

seus respectivos focos a ambiência de risco (a negação da cidadania) e a ambiência

criminosa (a atividade ilícita e ilegal que danifica a vida social e despreza o contrato que

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rege a ordem e a vida em sociedade). Desta forma, Melo (2012) entende que a defesa civil

e a defesa social constituem duas faces de uma mesma moeda como políticas públicas de

total capilaridade com ações que envolvem o Estado e a sociedade como par dialético.

Segundo Castro (2004), tanto as ações de defesa civil quanto as de defesa social estão

voltadas para a segurança global da população como medidas básicas para a prevenção e

defesa da vida. Atualmente, esta temática é tratada por Valencio (2009), que elabora uma

análise sociológica do processo de construção social dos desastres no Brasil como uma

problemática relacionada às disputas pelo direito de morar e fazer parte do espaço da

cidade em que a “área carente” é compreendida quase que automaticamente como “área de

risco” ou, de modo mais generalizado, como “lugar da desordem” que desafia as normas e

as convenções e identificam seus moradores como indivíduos inferiores e potencialmente

violentos. Nesta perspectiva, o objetivo geral da pesquisa é investigar se o papel

desempenhado pelo CBMPE, enquanto agente da defesa civil, pode ser compreendido

tanto a partir do modelo do atual Sistema Nacional de Proteção e Defesa Civil (SINPDEC),

quanto por meio do modelo teórico da defesa social.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Nesta pesquisa buscou-se estabelecer um foco sobre algumas questões pertinentes para se

compreender a atuação dos bombeiros como agentes da defesa civil, mas também como

forças operativas da defesa social no âmbito da SDS-PE e do programa Pacto Pela Vida. A

pesquisa optou pelo método qualitativo no que se refere à coleta e análise de dados, a partir

dos pressupostos teórico-metodológicos trabalhados por Melo (2000), Araujo Junior

(1991), Castro (2004) e Valencio (2009) com o objetivo de verificar a possibilidade de

aplicação dos conceitos utilizados por esses autores na realidade institucional da

corporação. No segundo momento, diante da impossibilidade de conhecer diretamente a

estrutura física dos quartéis, a pesquisa progrediu para a análise do conteúdo das

entrevistas semiestruturadas e em profundidade gravadas em áudio e vídeo com os três

principais operadores do CBMPE. A primeira entrevista foi realizada em janeiro de 2012

com o comandante geral do CBMPE, Coronel Casa Nova, no próprio Quartel do Comando

Geral (QCG), localizado na Avenida João de Barros, no bairro da Boa Vista. As demais

entrevistas foram realizadas em maio de 2012, no estúdio da Massangana Multimídia

Produções da Fundação Joaquim Nabuco, no Derby, com o diretor geral de operações do

CBMPE, Coronel Daniel Ferreira Filho, e com o comandante de bombeiros da Região

Metropolitana do Recife, Coronel Manoel Teles.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A história do Corpo de Bombeiros Militar de Pernambuco (CBMPE) remonta ao período

da invasão holandesa no Estado. A criação do primeiro serviço regular de extinção de

incêndios das Américas, a Companhia dos brantmeesters (mestres de incêndios), ocorreu

oficialmente no dia 7 de agosto de 1636. Os brantmeesters eram um grupo responsável por

combater os incêndios, até então o único tipo de ocorrência e motivo de preocupação por

razão do grande fluxo de navios que aportavam no Recife e em todo o litoral do Brasil.

Com o crescimento do número de incêndios criminosos contra os navios e os locais que

armazenavam as cargas, empresas de seguro da Inglaterra passaram a investir para a

normatização do serviço de bombeiros. Assim, a data da criação do atual CBMPE é o dia

20 de outubro de 1887 (CAVALCANTI, 2007; CASA NOVA, 2012).

A Constituição Federal de 1988, no capítulo III, artigo 144, parágrafo quinto, estabelece

que “às polícias militares cabem à polícia ostensiva e a preservação da ordem pública” e,

“aos corpos de bombeiros militares, além das atribuições definidas em lei, incumbe a

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execução de atividades de defesa civil” (BRASIL, 2011, p.43). No entanto, é importante

ressaltar que, no Brasil, a defesa civil tem seu passado ligado à Aeronáutica e o Corpo de

Bombeiros ao Exército. A natureza hierárquica destas instituições influencia o

planejamento e a execução das ações do CBMPE em relação à defesa civil e à defesa

social, embora os bombeiros não participem diretamente do planejamento das ações de

coordenação da defesa civil, que são responsabilidade da União, dos Estados-membros, do

Distrito Federal e dos Municípios que integram o Sistema Nacional de Proteção e Defesa

Civil (SINPDEC) (CERRI NETO, 2007, p.31-2).

Em Pernambuco, os bombeiros foram integrados à SDS-PE, em 1999, após 72 anos como

orgânicos da Polícia Militar e, desde 2007, atuam como uma das forças operativas do

programa estadual de segurança pública, o Pacto Pela Vida. Embora o pacto ressalte em

seu plano institucional a importância de alguns postulados da defesa social como a

“transversalidade e a integralidade das ações de segurança pública”, a “articulação entre

Segurança Pública e Direitos Humanos” e ações que conciliem a “qualificação repressiva e

coercitiva” com “aspectos de prevenção social e específica da criminalidade violenta”, o

programa, sem dúvida, privilegia a atuação das forças policiais como as mais qualificadas

para atingir a sua meta: a redução das taxas de CVLI (crimes violentos letais intencionais)

(PACTO PELA VIDA, 2007, p.13).

É importante esclarecer que a defesa social é um movimento não doutrinário, prático e

universal que surgiu no final da Segunda Guerra Mundial e busca entender o fenômeno

criminal de modo crítico, multidisciplinar e pluridimensional a fim de retirar da alçada do

Direito Penal a função de único instrumento capaz de conter a violência (ARAUJO

JUNIOR, 1991). Entretanto, segundo o diretor geral de operações do CBMPE, Coronel

Daniel Ferreira Filho (FILHO, 2012), a defesa social, no âmbito da SDS-PE, é vista de

forma doutrinária e pouco relacionada com as ações práticas. Assim, dentro da atual

realidade institucional, a defesa civil, tratada do ponto de vista teórico como um tema

transversal à defesa social, não recebe do Governo do Estado a mesma atenção dispensada

às ações de segurança pública.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS As aproximações e os afastamentos entre a defesa social e a defesa civil são pontuais e superam o campo de atuação do CBMPE tanto na SDS-PE quanto no Pacto Pela Vida, porque a ação dos bombeiros não pode ser compreendida em sua totalidade somente por um ou outro modelo. Durante a pesquisa, não foi possível verificar como essas aproximações e afastamentos entre defesa civil e defesa social ocorrem dentro da estrutura

do CBMPE1. Porém, por meio da análise de conteúdo das entrevistas, chegou-se a um

esboço da organização dos bombeiros e da sua participação nas ações do Pacto Pela Vida.

Em Pernambuco, os bombeiros se aproximam da defesa civil por meio das operações

sazonais (eventos que ocorrem todo ano como Carnaval, Semana Santa, São João, entre

outros) e ordinais (Operação Guarda-Chuva, durante o inverno) e nas ações de prevenção e

socorro em casos de emergência e desastres de qualquer origem pela referência técnica que

possuem para atuar nesses cenários.

Por outro lado, os bombeiros se afastam da defesa civil primeiramente pelo fato de estarem

fora da esfera de planejamento nessa área, uma vez que, institucionalmente, a Secretaria

Executiva de Defesa Civil está subordinada à Secretaria da Casa Militar. Também se afasta

1 Embora previsto no subprojeto, não foi possível adentrar as unidades do Corpo de Bombeiros com o

objetivo de gravar imagens em vídeo e fotografia de suas estruturas internas, uma vez que o Comando Geral

do CBMPE não autorizou sob a alegação de que as unidades passavam por um processo de reforma geral nas

estruturas.

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da defesa civil em relação ao comprometimento com a diminuição da taxa de CVLI, índice

criado pelo plano estadual de segurança pública. No sentido contrário, os bombeiros se

aproximam da defesa social através de operações realizadas em apoio às polícias no âmbito

do Pacto Pela Vida como, por exemplo, a intervenção para a apreensão de drogas no

interior do Estado. Finalmente, os bombeiros se afastam da defesa social e

consequentemente se aproximam da defesa civil quando, nas situações de resgate e

salvamento, nas quais existe uma preocupação absoluta com a preservação da vida do

indivíduo (seja ele quem for), a atribuição e a responsabilidade são específicas da

corporação, sendo a única instituição detentora de conhecimento técnico e equipamento

adequado para a utilização em tais situações.

AGRADECIMENTOS

À Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) por fomentar a pesquisa científica; ao CNPq, pela

concessão da bolsa e auxílio financeiro por meio da IC; ao orientador Augusto Amorim,

por acreditar em minha capacidade; à pesquisadora Ronidalva Melo, coordenadora da

pesquisa, pelo apoio e ambição em organizar um projeto tão importante; ao professor

Gilberto Farias (UFFRPE), que proporcionou o ingresso da nossa equipe ao fórum de

defesa civil promovido pelo Ministério Público de Pernambuco.

REFERÊNCIAS

ARAUJO JUNIOR, João Marcello de. Os grandes movimentos da política criminal de

nosso tempo: aspectos. In: . (Org.) Sistema penal para o Terceiro Milênio: (atos do

Colóquio Marc Ancel). 2 ed. Rio de Janeiro: Revan, 1991. p.65-79.

BRASIL. Constituição (1988). Brasília: Senado Federal, Subsecretaria de Edições

Técnicas, 2011.

. Ministério da Integração Nacional. Secretaria Nacional de Defesa Civil. Política

Nacional de Defesa Civil. Brasília: Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2007. 82p.

CASA NOVA, C.E.P.A. Carlos Eduardo Poços Amorim Casa Nova: entrevista [jan.

2012]. Entrevistadores: R. Melo e A. Castilho. Recife: Fundaj, 2012. Arquivo digital

(103min). Formato Som WAV. Entrevista concedida à Fundação Joaquim Nabuco.

CASTRO, Antonio Luiz Coimbra de. Manual de planejamento em defesa civil. 1 ed. v.1.

Brasília: Ministério da Integração Nacional/Secretaria de Defesa Civil, 1999. 72p. . Glossário de defesa civil, estudos de riscos e medicina de desastres. 5 ed.

Brasília: Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2004.

191p.

CAVALCANTI, Carlos Bezerra. Guerreiros da paz. 5. ed. Recife: Ed. do Autor,

2007.134p.

CERRI NETO, Mauro. Aspectos jurídicos das atividades de defesa civil. Brasília:

Ministério da Integração Nacional/Secretaria Nacional de Defesa Civil, 2007. 69p.

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. SECRETARIA DA CASA CIVIL.

Pacto Pela Vida: Plano estadual de segurança pública do estado de Pernambuco. Recife:

Companhia Editora de Pernambuco, 2007. MELO. Ronidalva de Andrade. Repressão à violência e defesa social. In: LIMA, José

Fernandes de.; NASCIMENTO, Afonso. FÓRUM PENSAR SERGIPE: políticas

públicas. V.11. São Cristóvão: Universidade Federal de Sergipe, 2000. p.503-516.

. Entendendo a relação defesa social e defesa civil. In: FÓRUM DE DEFESA

CIVIL, 2012, Recife. Arquivo de áudio (101min). Formato Som WAF. Conferência

concedida ao Ministério Público de Pernambuco.

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VALENCIO. Norma. Da ‘área de risco’ ao abrigo temporário: uma análise dos conflitos

subjacentes a uma territorialidade precária. In: VALENCIO, N.; SIENA, M.;

MARCHEZINI, V.; GONÇALVES, J.C. (Orgs.). Sociologia dos desastres: construção,

interfaces e perspectivas no Brasil. São Carlos: Rima, 2009 (versão eletrônica). p.282.

ESCOLA EXPERIMENTAL DO CENTRO DE ESTUDOS E PESQUISAS

EDUCACIONAIS DO RECIFE:

LOCUS DE ENSINO E PESQUISA (1961-1975)

Analice Martins da Silva1; Semada Ribeiro Alves de Azevedo

2

1Estudante do Curso de Pedagogia do CE da UFPE; e-mail: [email protected];

2Pesquisador(a) da

Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj – DIPES/CGEE; e-mail: [email protected]

RESUMO: Este trabalho apresenta as atividades da pesquisa realizada e em curso sobre a Escola Experimental do Centro de Pesquisas Educacionais do Recife, cujo

funcionamento cobre o período de 1961 a 19751. Na perspectiva da memória da educação, a

pesquisa teve como objetivo primordial produzir uma cartografia da memória da referida Escola. A pesquisa bibliográfica forneceu elementos para a conceituação de memória, principal categoria teórica, para o histórico da criação e do desenvolvimento da Escola. As fontes documentais confirmam que a Escola foi lugar de ensino e pesquisa. Em razão do volume de fontes documentais existentes, aponta-se a necessidade da continuidade da pesquisa.

Palavras–chave: Arquivo escolar; Escola Experimental do Centro de Pesquisas

Educacionais do Recife; Memória da Educação.

INTRODUÇÃO Na busca da memória educativa herdada pela Fundaj, cerne da pesquisa, cabe questionar o

significado de memória, categoria central. A literatura especializada responde que não há

uma definição única de memória, este conceito se dá a partir do olhar epistemológico de

vários campos do conhecimento. Na Educação, a memória vem se constituindo campo de

pesquisa em estreita ligação com a história dessa área do conhecimento. Na história da

educação brasileira, as contribuições de Anísio Teixeira colaboram com as discussões atuais

acerca da educação brasileira, que esteve muito perto, pelas realizações do autor, de ser

verdadeiramente democrática. Por essa razão, como defende Nunes (2000), não se pode ler

e estudar a obra de Anísio Teixeira sem refletir e pensar a educação atual. Uma dessas

contribuições foi a criação do Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais e dos seus

congêneres em diversas capitais, onde também foram criadas escolas experimentais, como

a do Centro de Pesquisas Educacionais do Recife (CPER), objeto da referida pesquisa,

cujo objetivo geral é produzir uma cartografia da memória da Escola Experimental do

CPER. Os específicos são levantar fontes bibliográficas e documentais sobre a memória da

Escola, contextualizar essas fontes no repertório nacional existente, consultar sujeitos da

Escola e organizar banco de dados.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa documental, “[...] pouco explorada não só na área da educação como em outras

áreas das ciências sociais”, segundo Lüdke e André (1986, p. 38), caracteriza-se como central

na metodologia trilhada, na perspectiva de que as informações que se obtém dos documentos

justificam “[...] o seu uso em várias áreas das Ciências Humanas e Sociais porque

possibilita ampliar o entendimento de objetos cuja compreensão necessita de

contextualização histórica e sociocultural.” (SÁ-SILVA; ALMEIDA; GUINDANI, 2009).

A pesquisa documental está sendo realizada em “[...] materiais que ainda não receberam

um tratamento analítico, ou que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetos de

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pesquisa” (GIL, 2002. p. 44), ou seja, a documentação da Escola Experimental do

Recife, a qual se confunde com a do Centro, arquivada no Setor de Microfilmagem do

Centro de Estudos e Documentação da História Brasileira (Cehibra) da Diretoria de

Memória, Educação, Cultura e Arte (Meca) da Fundaj. Preservado por meio de

microfilmagem e acondicionado em 17 caixas, o conjunto do acervo recebe a denominação

de INEP – CRPE NE, subdivididas conforme a tabela abaixo.

Tabela 1 – Acervo documental do Centro de Pesquisas Educacionais do Recife

Setor Filme Caixa/Nº

Secretaria 001 250

002 251

003 252

004 253

005 254

006 255

Contabilidade 001 256

002 257

003 258

004 259

005 260

006 261

007 262

008 263

009 264

Pesquisas 001 266

Projetos de pesquisa 001 267

Fonte: Fundaj/Meca/Cehibra/Setor de Microfilmagem

Atualmente em processo de digitalização, os documentos da caixa 251, aproximadamente

da ordem de 6115, começaram a ser pesquisados, tendo sido apenas catalogados em razão da

data do seu recebimento: junho de 2012. Procedimento essencial, a catalogação contribuirá

para a formação do banco de dados, que favorecerá futuras pesquisas.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Os resultados são iniciais pela razão exposta acima. Os primeiros documentos pesquisados

compõem a correspondência recebida nos anos de 1957 a1972 e a correspondência expedida

nos anos de 1957 a1962. De diversos gêneros – ofício, telegrama, carta –, em sua maioria se

refere à inauguração do Centro Regional de Pesquisas de Pernambuco, além de coleta de

preços, solicitação e aprovação de recursos, aprovação de projeto de pesquisas,

encaminhamento de livros para escolas do Recife, para o enriquecimento das bibliotecas

escolares, curso de capacitação de professores, parte do programa de atividades educativas e

culturais do CRPE-PE.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Ainda que preliminares, as primeiras informações obtidas confirmam a hipótese

subsumida no título da pesquisa: a Escola Experimental do Recife caracterizou-se como

lugar de ensino e pesquisa. Encontramos diversas menções a projetos de pesquisa de

professores e também o deslocamento desses professores para cursos de capacitação. O

passo inicial dado deve ser compreendido como uma etapa e não como o encerramento da

pesquisa, a qual deve ser continuada. Para esse fim submetemos à seleção do Pibic

CNPq/Fundaj 2012 o projeto “Entre o ensino e a pesquisa: perfil dos educadores da Escola

Experimental do Centro Pesquisas Educacionais do Recife”.

AGRADECIMENTOS Ao CNPQ/Fundaj que através do Programa de Iniciação Científica contribuiu positivamente

para minha formação enquanto estudante-pesquisadora, possibilitando a construção de novos

conhecimentos. À orientadora Semada Ribeiro Alves de Azevedo que desempenhou com

competência sua função, corrigindo, apontando alternativas, se disponibilizando em

favor do aprendizado e do desenvolvimento deste trabalho.

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REFERÊNCIAS GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2002.

LÜDKE, Menga; ANDRÉ, Marli. Pesquisa em educação: abordagens qualitativas. São Paulo,

EPU, 1986.

NUNES, Clarice. Anísio Teixeira entre nós: a defesa da educação como direito de todos.

Educação & Sociedade, Campinas, v. 21, n. 73, p. 9-40, dez. 2000. Disponível em

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-

CONSUMO CULTURAL DOS JOVENS OLINDENSES.

UM ESTUDO DE CASO

Beatriz Yolanda Pontes de Gusmão Sá¹; Ana Lúcia Alencar Hazin2

1Estudante do Curso de Ciências Sociais - CFCH - UFPE; e-mail: [email protected];

2Pesquisadora

da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj – Dipes e da Coordenação Geral de Estudos Econômicos e

Populacionais – CGEP; e-mail: [email protected]

RESUMO: O trabalho é resultado da pesquisa “Consumo cultural dos jovens olindenses. Um

estudo de caso”, que teve como objetivo geral conhecer as práticas culturais dos jovens de

Olinda a fim de identificar se elas fazem parte de programas, projetos ou ações

governamentais. Trata-se de uma pesquisa qualitativa na qual houve a junção de pesquisa

bibliográfica e empírica. A parte empírica foi composta de observação participante e

entrevistas semi-estruturadas com jovens entre 15 e 29 anos. As entrevistas foram transcritas

e analisadas a partir de categorias temáticas retiradas das respostas dadas às perguntas. Os

resultados mostram: o conhecimento e a participação dos jovens em projetos governamentais,

as motivações das escolhas das atividades culturais dos entrevistados, os significados

atribuídos ao consumo cultural e as possíveis repercussões desse consumo cultural no

convívio dos jovens na sociedade.

Palavras–chave: consumo cultural; juventude; políticas públicas.

INTRODUÇÃO

A juventude vem sendo objeto de atenção nas esferas acadêmicas e governamentais,

principalmente a partir dos anos 1990, devido ao seu envolvimento em problemas de

violência. Estudos como os de Sposito (1994; 2006) e de Pais (1990) exemplificam as

discussões sobre o tema e alertam que a população juvenil não é um grupo homogêneo; ela

deve ser entendida em sua diversidade e seus contextos sociais também precisam ser

observados para que haja uma melhor compreensão da categoria. Essas discussões estão

fazendo com que o poder público invista em ações e programas na tentativa de ocupar o

tempo livre de jovens, sobretudo os das classes mais baixas. Apesar disso, o jovem tem

dificuldades de acesso à cultura, à educação pública de qualidade e ao emprego. O público

juvenil continua sendo encarado como instável e como ator social do futuro. A discussão é

importante por tentar mostrar à sociedade que a exclusão dos jovens é um problema social. A

consciência dessa realidade levou ao desenvolvimento da pesquisa “Consumo cultural dos

jovens olindenses. Um estudo de caso”, com o objetivo de conhecer e identificar se as

práticas culturais dos jovens de Olinda fazem parte de programas governamentais. O

município foi escolhido por integrar a Região Metropolitana do Recife, visto que já havia

realizado anteriormente uma pesquisa sobre as práticas culturais da juventude recifense. O

estudo sobre as práticas culturais dos jovens entrevistados permitiu identificar se eles

conhecem as políticas públicas voltadas para a cultura e se elas correspondem, de fato, aos

seus anseios.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa realizada possui caráter qualitativo e foi desenvolvida com a junção de pesquisa

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bibliográfica e empírica. A parte empírica utilizou entrevista semi-estruturada, sendo o seu

roteiro pensado a partir dos objetivos específicos. Para a seleção dos jovens da amostra, foi

utilizada a técnica bola de neve. Como ponto de partida, o local escolhido foi a escola de

música Grêmio Henrique Dias por ela ter se beneficiado de recursos de programas públicos e

por congregar jovens que mantem contato com o meio cultural. Os alunos entrevistados

indicavam outros jovens não ligados à escola de música, e assim a pesquisa conseguiu

alcançar uma maior diversidade dos subgrupos juvenis. Ao todo foram entrevistados 24

jovens de ambos os sexos, de janeiro a junho de 2012. A análise de conteúdo dos textos

produzidos pelas respostas das entrevistas foi feita a partir das categorias temáticas

identificadas nas falas dos jovens. Na pesquisa, os jovens receberam nomeação por números

para a preservação de suas identidades.

RESULTADOS/DISCUSSÃO

A escola de música Grêmio Henrique Dias, em Olinda, não possui fins lucrativos; não há

delimitação de faixa etária, sendo o interesse pela música o critério que define o acesso do

aluno á instituição. Além da música e do cuidado com o instrumento, os professores ensinam

bons modos, dão conselhos e tem uma relação amigável com seus alunos. A seguir estão os

principais resultados da pesquisa: sobre o conhecimento de políticas ou ações culturais

governamentais, percebe-se que a maioria dos entrevistados não sabe de nenhuma iniciativa

do governo. Os que dizem conhecer algum tipo de programa se mostram insatisfeitos com o

contexto a partir do qual eles são idealizados: “também é muito difícil de ter, quando tem é

mais nesse período de eleição [...] mas depois acaba do nada” (ENTREVISTADO 09, 2012).

Outros afirmam saber da existência de financiamento do governo para a cultura através de

editais. Poucos entrevistados disseram já ter participado de algum tipo de projeto público,

porém a maioria destaca sua importância, pois além de favorecer o aprendizado, gera

oportunidades e proporciona uma ocupação para o tempo livre. Não foram percebidas

diferenças significativas entre as escolhas dos programas culturais dos entrevistados do

Grêmio e as dos indicados, pois todos os jovens disseram já ter participado de atividades

culturais; a música apareceu como sendo a mais atrativa, pois só um entrevistado não teve

nenhum tipo de envolvimento com ela. Também atraem os jovens a dança, o artesanato e o

teatro. As motivações que levaram os jovens a buscarem tais atividades estão relacionadas à

família, aos amigos e à vocação surgida ainda na infância. Os lugares e fontes de diversão

também foram similares entre os dois grupos, com destaque para o Recife Antigo, os bares e

os espaços abertos em Olinda, os eventos gratuitos como A Mostra Internacional de Música

de Olinda – MIMO, os cinemas dos shoppings centers e os concertos musicais realizados no

Teatro Santa Isabel e nos Conservatórios do Recife e de Olinda. Foi relevante perceber na

pesquisa que o consumo cultural é importante para os jovens, pois permite a distração das

obrigações do cotidiano, a ocupação do tempo livre e a socialização com outras pessoas.

Destaca-se também o sentimento de realização pessoal resultante da participação em

atividades culturais como a música, e da possibilidade de ampliar os espaços de sociabilidade

através da inserção em grupos ou bandas. As novas amizades influenciam o gosto e o

comportamento dos jovens, mas vale a ressalva de que as amizades antigas permanecem, para

a grande maioria. Eles afirmaram sentir mudanças em seus comportamentos, devido à

inserção em atividades culturais; também se vêem mais tranquilos, conseguem se relacionar

melhor e se acham mais abertos para vivenciar novas experiências. Os resultados obtidos

através da pesquisa vieram confirmar posições encontradas na revisão bibliográfica quanto à

diversidade da juventude, a construção da identidade, a satisfação pessoal através da inserção

em grupos e a necessidade de pensar o consumo cultural pela ótica da cidadania.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Através da pesquisa conclui-se que os jovens, de modo geral, não conhecem programas

governamentais e a falta de divulgação pode explicar esse fato. Por essa razão nota-se que

mesmo existindo instâncias específicas destinadas a elaborar projetos voltados aos jovens,

esse público não tem muita assistência, pois as ações citadas são direcionadas para toda a

sociedade. Os jovens entrevistados acreditam que o investimento na educação pode lhes dar

um futuro melhor e afirmam que o envolvimento com alguma atividade cultural refletiu

positivamente em suas vidas. Os entrevistados percebem a juventude como agente de

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mudança social, em um tempo de novas experiências ampliadas pela intensa utilização da

internet como meio de informação, entretenimento e principalmente de comunicação. Uma

ideia interessante para trabalhos posteriores é explorar a consciência política juvenil. O

estudo apresentado é importante para o reconhecimento de suas demandas e para perceber o

déficit de investimento no público jovem.

AGRADECIMENTOS

Agradeço todo o apoio recebido do CNPq e da Fundação Joaquim Nabuco durante a

participação no Pibic e em especial à orientadora Ana Lúcia Hazin por acreditar no meu

potencial; aos professores do Grêmio Henrique Dias e aos jovens que contribuíram para a

pesquisa.

REFERÊNCIAS

ANDRADE, Carla Coelho de. Juventude como questão social e o jovem como sujeito de

políticas públicas no Brasil. In: SEMINÁRIO JUVENTUDE JUVENTUDES: PRESENTE

E DEVIR. Fundarp. mar. 2010.

PAIS, J. M. A construção sociológica da juventude – alguns contributos. Análise Social, v.

XXV (105-106), 1990. p. 139-165.

SPOSITO, Marília Pontes. A sociabilidade juvenil e a rua: novos conflitos e ação coletiva na

cidade. Tempo Social. Rev. Sociol. USP, São Paulo. nov. 1994. p.161- 178.

SPOSITO, Marília Pontes; SILVA, Hamilton Harley de Carvalho; SOUZA, Nilson Alves.

Juventude e poder local: um balanço de iniciativas públicas voltadas para os jovens em

municípios de regiões metropolitanas. Revista Brasileira de Educação. v. 11. n.32.

maio/ago. 2006.

MIGRAÇÃO E MOBILIDADE COTIDIANA: OS EFEITOS DA INTERIORIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS EM

PERNAMBUCO

Daniel Torban

1 Wilson Fusco

2

1Estudante do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e-mail:

[email protected]; 2Pesquisador da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj - DIPES/CGEP; e-mail:

[email protected]

RESUMO: O processo de interiorização está provocando diversos efeitos na dinâmica de

onde são inseridos novos campi. Além de atingir a população local, um dos aspectos que

merece destaque é a possibilidade que esse processo está apresentando aos jovens de

localidades vizinhas realizarem mobilidade cotidiana, além de ser um atrativo para diversos

jovens da região migrarem para esses novos centros educacionais. Esta pesquisa objetiva

identificar e analisar impactos e mudanças provocadas pela inserção das universidades

federais nas áreas de influência dos municípios que recebem os novos campi, com

recorte territorial definido para o estado de Pernambuco. Para a realização da pesquisa

trabalhou-se com o software SPSS, dados primários produzidos pela Fundação Joaquim

Nabuco, além de dados secundários dos Censos de 1991, 2000 e 2010. Também foi

produzido um perfil sócio-demográfico dos migrantes que se inserem no grupo de

interesse, qualificando os deslocamentos (ou a permanência) em termos motivacionais.

Palavras-Chave: interiorização; migração; pendularidade; Pernambuco.

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INTRODUÇÃO Os efeitos que a implementação de um campus universitário, com toda sua infraestrutura e

recursos humanos, podem provocar num determinado território varia em função das

características da gestão e do próprio território em que se insere. Um dos aspectos que

merece destaque é a possibilidade que esse processo apresenta aos jovens de permanecerem

em seu município de residência, diminuindo a necessidade de migrarem para a capital

com o objetivo de estudar em uma de suas universidades. Também a mobilidade

cotidiana, de alunos que se deslocam de municípios do interior para a capital com o mesmo

objetivo, seria reduzida. Por outro lado, é possível que a chegada de um campus

universitário em um município do interior provoque a dinamização do lugar, não só em

termos educacionais, mas também econômicos e culturais. Tal processo traz em seu bojo

certa atratividade para jovens de municípios vizinhos. Ou seja, o município que

recebe o aparato universitário passaria a atrair migrantes de diversos lugares. Os

questionamentos tidos por Sjaastad sobre o papel desempenhado pela migração como

mecanismo equalizador de economias em transformação passam então a serem colocados

em evidência (SJAASTAD, 1980). Este trabalho, então, objetiva identificar e analisar

impactos e mudanças provocadas pela inserção das universidades públicas e gratuitas, com

recorte territorial definido às áreas de influência dos municípios de Pernambuco que

receberam os novos campi: Caruaru, Garanhuns, Serra Talhada, Vitória de Santo Antão e

Petrolina. Mais especificamente, objetiva-se identificar os impactos nos fluxos de migração e

mobilidade espacial: retenção e atração de pessoas, além dos deslocamentos cotidianos

diretamente correlacionados com a implantação das Instituições Federais de Ensino

Superior (IFES).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a elaboração deste trabalho foi utilizado o software SPSS, para a manipulação de

dados primários produzidos pela Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), além de dados

secundários dos censos de 1991, 2000 e 2010. Ademais, foi elaborado um perfil

sociodemográfico dos migrantes que se inserem no grupo de interesse, qualificando os

deslocamentos (ou a permanência) em termos motivacionais. Também consta no trabalho

um elemento qualitativo, realizado a partir de visitas a campo e participação em grupos

focais e entrevistas a professores, promovidas por pesquisadores e bolsistas da Fundaj.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Os alunos dos campi foram divididos em três grupos de interesse no decorrer deste estudo.

Os grupos em questão são: (I) a população nativa, aquela que já se encontra no município

em questão a mais de dez anos; (II) a população pendular, que diz respeito ao estudante

que reside em um município diferente daquele em que estuda, realizando mobilidade

cotidiana entre os municípios em questão e a população migrante. A definição do conceito

de migrante é algo bastante discutido dentro da literatura especializada, desde os primeiros

estudos realizados por Ravenstein até os dias de hoje, acaba possuindo variações a

depender do autor e da época de produção. Um exemplo seria o de Lee, que define o

conceito como sendo uma mudança permanente ou semipermanente de residência (LEE,

1980). Para este trabalho migrante é definido como o indivíduo que declarou ter realizado

mudança de município no período entre 2000 e 2010, anos de realização do

censodemográfico do IBGE e década na qual houve a implementação dos campi

através do programa Reuni, do Governo Federal.

Dos cinco campi estudados (Caruaru; Vitória de Santo Antão; Serra Talhada; Garanhuns e

Petrolina/Juazeiro), dois são da UFPE, dois da UFRPE e um da Univasf. No que diz

respeito a diferenciação da UFPE e UFRPE, ambos com sede na capital, é percebida uma

mudança organizacional que acaba por se refletir na qualidade do ensino e satisfação dos

alunos. Em cidades como Caruaru e Vitória de Santo Antão, a Universidade se constitui

como um Centro, com relativa independência da sede no que diz respeito aos seus

processos internos e administrativos. Já em Garanhuns e em Serra Talhada (também

presente a UFRPE), a relação que se tem é de um maior controle da unidade por parte da

sede, refletindo em uma maior burocratização dos processos. Tal diferenciação acaba por

fazer com que os alunos se sintam em segundo plano em relação aos alunos da capital.

No decorrer do trabalho foi visto que há uma maior presença feminina nos campi. Com

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exceção de Caruaru, todos os outros centros apresentam um quantitativo de alunas superior

ao de alunos, chegando a 71,5% no caso de Vitória de Santo Antão, segundo o censo de

2010. Em nenhum dos casos as percentagens correspondem à configuração de mulheres no

município, a distribuição dos cursos, entretanto, pode ser um fator gerador dessa

desigualdade.

Entrando mais a fundo na identificação das características do corpo discente. Foi percebido

que, de forma geral, os alunos naturais dos municípios costumam apresentar uma maior

renda familiar, vem de famílias em que os pais tiveram um maior contato com o Ensino

Superior e, além de terem prestado vestibular para a Universidade Federal, também

prestaram para outras IES, levando a crer que buscariam um título superior mesmo sem a

interiorização, com exceção de Vitória de Santo Antão. Os estudantes que realizam

pendularidade apresentam uma condição de vida mais difícil, em geral vem de municípios

mais pobres, com rendimentos familiares baixos e vindos de famílias que tiveram pouco ou

nenhum contato com o Ensino Superior, muitos desses grupos acabam tendo acesso às

Universidades pelo transporte disponibilizado por suas prefeituras que os levam e buscam

diariamente no campus. Quanto aos migrantes, acabam por estarem em um estrato

intermediário entre os dois outros grupos.

Em relação ao corpo docente, em sua maioria é proveniente de outros municípios que não

o possuidor do campus, fazendo com que sua presença gere alterações na dinâmica local,

até pelo fluxo de capital que passa a chegar decorrente de seus salários. No caso de Vitória

de Santo Antão, que se encontra mais próximo do Recife e João Pessoa, os professores

acabam por realizar mobilidade cotidiana. Já no caso de Serra Talhada, por exemplo, os

docentes acabam por migrarem ao município. Algo a ser visto no caso de Serra Talhada é

que, mesmo com vidas muito diferentes das que levavam nas capital e diferente do que

ocorre em outros municípios estudados, 95% dos professores pretendem continuar vivendo

em Serra Talhada e lá formar a sua família, sendo ainda 45% deles solteiros, diferente dos

22,9% da média geral, segundo os dados apresentados pelo survey da Fundaj.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Este trabalho procurou fazer uma análise dos efeitos na dinâmica migratória causados pela

implementação do aparato universitário nos municípios pernambucanos. O entendimento

do perfil das pessoas que migram e daquelas realizadoras de mobilidade, acabam por

melhor explicar a nova dinâmica que surgiu nos municípios em questão após a abertura dos

campi. As peculiaridades de cada município, seja Vitória de Santo Antão pela proximidade

da região metropolitana do Recife; Petrolina pelo seu desenvolvimento econômico ou

Garanhuns pelo perfil sui generis da forma como os diferentes grupos interagem, acabam

por alertarem acerca da necessidade de estudos mais detalhados sobre as realidades locais e

a forma como a Universidade interage com a sociedade em um sentido amplo. Os dados

colhidos e analisados identificam lacunas dentro do processo de interiorização, mas

também demonstram os efeitos positivos na promoção de um ensino superior público mais

perto de camadas até então sem acesso ao mesmo. O entendimento de quem são os alunos

dos centros acadêmicos dá margem à criação de políticas públicas mais efetivas dentro das

Universidades.

AGRADECIMENTOS Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq

pelo auxílio financeiro, à Fundação Joaquim Nabuco pela oportunidade de desenvolver

esta pesquisa e, principalmente, ao meu orientador, Wilson Fusco, sem o apoio dos quais

este trabalho não poderia ter sido realizado.

REFERÊNCIAS

LEE, E. S. Uma Teoria sobre Migração. In: MOURA, H. (Coord.) Migração Interna:

Textos Selecionados. Fortaleza, CE: BNB, 1980. P., 89-114.

RAVENSTEIN, E. G. As Leis da Imigração. In: MOURA, H. (Coord.) Migração Interna:

Textos Selecionados. Fortaleza, CE: BNB, 1980. P., 19-88.

SJAASTAD, Larry A. The Cost and Return of Human Migration. In: MOURA, H.

(Coord.) Migração Interna: Textos Selecionados. Fortaleza, CE: BNB, 1980. P., 115-144.

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O CONTEXTO SOCIO-FAMILIAR E A PRÁTICA PEDAGÓGICA NA

IMPLEMENTAÇÃO DO PAR.1

Danilo Manoel Farias da Silva1; Cibele Maria Lima Rodrigues

2

1 Bolsista Pibic CNPq FUNDAJ e estudante do Curso de Bacharelado em Ciências Sociais da Universidade

Federal Rural de Pernambuco - UFRPE; e-mail: [email protected] ; 2Pesquisadora da DIPS da FUNDAJ

e coordenadora da pesquisa do PAR – CGEE; e-mail: [email protected]

RESUMO: Analisamos a implementação do “Programa Mais Educação” no discurso de 19

alunos em 10 escolas do município de Jaboatão dos Guararapes, esse se insere no eixo de

contraturno do PAR (promover a educação integral). Os principais resultados encontrados

foram que o programa está estruturando uma lógica educacional de gosto pelos estudos por

parte dos alunos e trazendo novas perspectivas de realidade em comparação a formada

anteriormente pelo contexto sócio-familiar. Nos dois casos nota-se uma mudança biográfica

que pode influenciar as escolhas futuras na trajetória de vida desses alunos. O estudo do

programa foi feito metodologicamente a partir da “política de ciclo” de Ball, e os dados

recolhidos foram lidos a partir da análise do discurso de Foucault. Para compreensão das

interações no contexto familiar e escolar nos fundamentamos nas teorias de socialização e na

psicanálise Lacaniana.

Palavras–chave: análise de política educacional; formação do sujeito; programa mais

educação; mudança biográfica.

INTRODUÇÃO O atual subprojeto se insere no âmbito da pesquisa de avaliação do PAR (FUNDAJ, 2011)

tendo como foco o eixo de contraturno (aumento das horas escolares a partir da educação

integral) que é implementado nas escolas a partir do Programa Mais Educação2. Esse

programa engendra uma série de atividades multivariadas no contexto da socialização

escolar, sendo que com uma lógica pedagógica diferente da utilizada no ensino formal

(BRASIL, 2012). No âmago da pesquisa, em Jaboatão dos Guararapes a análise do

“programa” foi feito a partir da dialética entre o “contexto de produção do texto” e o

“contexto da prática” de Stephen Ball (2006). Nesse sentido a compreensão do primeiro

contexto (texto) foi feita a partir do estudo da codificação textual do MEC que formulou a

política do Mais Educação no âmbito do PNE, direcionando o planejamento e execução dos

investimentos educacionais nos municípios com base no “discurso da qualidade social da

educação” (SAVIANI, 2009). E para o entendimento do contexto da prática, lócus da

política onde os textos do “poder central” são reestruturados e reinterpretados na sua

execução pelos agentes (MAINARDES, 2006), os alunos foram percebidos como sujeitos

formados socialmente a partir de uma estruturação sócio-familiar determinante na formação

do seu habitus (BOURDIEU, 2008). Nesse ínterim, a partir das categorias de socialização

(BERGER e LUCKMANN, 2009) e de cadeia significante (LACAN, 1998), percebemos na

função discursiva dos alunos (FOUCAULT, 2009) que as ações do Mais Educação no

contexto escolar estavam produzindo novos sentidos e aptidões diferentes da formada

inicialmente no âmbito familiar. Com isso, o programa estava começando a contribuir com

uma mudança biográfica desses alunos que pode gerar fortes consequências na trajetória de

vida no sentido de uma mudança social.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa de campo foi realizada no Município de Jaboatão dos Guararapes, no primeiro

1 Adaptado do modelo utilizado no XVIII Conic/UFPE e VII JOIC/Fundaj.

2 A implementação do PAR está estruturado nas seguintes dimensões: infraestrutura, práticas pedagógicas,

formação de professores e gestão educacional. Nesse ultima se insere o eixo de contraturno, esse se estrutura na política do Mais Educação (BRASIL. 2005).

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semestre do ano de 2012, em 10 escolas distribuídas por bairros e RPAs (regionais) para

poder se ter uma dimensão plural da rede de ensino. Foram 19 alunos entrevistados em 10

escolas pesquisadas, com a média de idade de aproximadamente 10 anos, divididos entre o

sexo feminino (9) 3 e masculino (10) que estavam entre a 2º e a 6º série. As entrevistas foram

feitas com questionários utilizando métodos qualitativos de pesquisa. Para análise do material

recolhido foi utilizado o software NVIVO 9 onde as categorias de análise foram divididas em

“nós”. Também foi feita uma pesquisa bibliográfica nos documentos do MEC relacionados à

política educacional (PDE) e educação integral (eixo de contraturno do PAR).

RESULTADOS/DISCUSSÃO

O contexto sócio-familiar onde habitam os alunos entrevistados é marcado pela ausência da

figura paterna em metade das famílias, já as mães que são as principais educadoras nesse

contexto são em sua maioria donas de casa (13 das 19 entrevistadas). Mas foi observada no

discurso dos alunos uma relação entre os estudos e o sucesso na vida, mesmo com o baixo

índice de estudos dos Pais. Como na fala de um dos entrevistados: “tenho que estudar para

ser alguém na vida, foi o que minha mãe me ensinou”. Essa fala demonstra que eles já

internalizaram o discurso da importância dos estudos, repetidos e memorizados em casa e na

escola. Essa forma de encarar os estudos também está presente na fala dos estudantes quando

se referem à escola. De uma forma geral, a valorização dos estudos é a “gramática

dominante” (ORLANDI, 2009), o que é uma mudança nos códigos culturais em relação a

nossa historiografia, já que a literatura aponta que no Brasil houve pouca valorização dos

estudos (AGUIAR e MELO, 2005). Essa configuração se deve muito ao professor ser o

principal agente capaz de impulsionar mudanças na biografia dos alunos na socialização

escolar (FREIRE, 1967; BARBOSA, 2009). Essa relação pedagógica dos professores,

principalmente os do Programa Mais Educação, impulsionou várias influências nas

expectativas sobre a trajetória futura dos alunos, em relação à escolha da profissão. A figura

do professor aparece como um duplo educador em que as crianças além de aprendem, se

“espelham” na sua formação biográfica enquanto sujeitos4. Com essa “identificação”, o Mais

Educação consegue produzir novos sentidos nas suas atividades, como podemos ver nos

enunciados seguintes: “gostei mais de estudar antes eu não gostava, eu não reprovei mas

não gostava de estudar”; “fazer as tarefas,eu não sabia ler mas agora eu to sabendo”.

Vemos que as atividades escolares estão sendo apreendidas mais facilmente com o método

utilizado pelos professores comunitários do programa do que com o utilizado no ensino

formal. Nesse aspecto o programa está ajudando a cumprir o papel de socialização escolar

introduzindo na biografia dos meninos um gosto pelos estudos que eles não apreenderam

enquanto significante na sua socialização familiar (THIN, 2010). Dentre as atividades

oferecidas destacam-se: letramento (português), educação cidadã , esporte (judô, futebol),

xadrez, dança, musica (instrumentos5 e canto), pintura (desenho, grafitagem), fotografia,

horta, reforço e recreação; sendo futebol, musica e judô a que os alunos mais gostam. A

dimensão do “aprendizado” apareceu em seis (6) discursos, no sentido de que “com o

programa os alunos estão aprendendo bem mais do que antes”, principalmente em relação à

leitura (português-letramento) que aparece em metade das falas. Nesse mesmo sentido, os

alunos falaram que houve o aumento do desempenho de quem participava do programa:

“Ficou mais legal, aprende mais, a gente soube um bucado de coisa que não sabia, aprendi

judô, a ler”; “a pessoa tem mais facilidade com as atividades, na prova tira nota boa. Só

mudou a aprendizagem de quem faz parte do programa”. Já as dificuldades que apareceram

no discurso dos alunos foram infraestrutura, comportamento dos alunos (bullying),

comportamento dos professores (gritos) e a falta de mais atividades como informática(que

não tinha em nenhuma escola, assim como a biblioteca) e ciências6. Mas em seu sentido

3 No espaço amostral da nossa pesquisa era pra ser pesquisado 2 alunos por escola (um menino e uma

menina), sendo que em uma escola houve dificuldade em encontrar alunos que fizessem parte do Mais Educação. O que já é um dado da implementação do programa, já que na mesma escola o aluno entrevistado afirmou que nenhum amigo seu participava do programa (baixo publico). 4 Até porque a formação do Eu só ocorre em relação com o Outro, na formação de vínculos sociais que

determinam a entrada da sociedade enquanto Sujeito (ser social). Para mais informação ver o texto de Freud “a relação com o objeto” ou Lacan “o estádio do espelho como formador da função do eu”. 5 Violão, flauta, percussão, trombone e coral.

6 Para uma compreensão mais detalhada de todos os aspectos da pesquisa ver o Relatório Final do Pibic 2012

(RODRIGUES e SILVA, 2012).

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majoritário o programa está causando mudanças nos alunos a partir da produção de novos

sentidos com as atividades ofertadas, como é bem ilustrado na fala “com o mais educação a

gente está aprendendo coisas que nem sabia que existia”. Isso só é possível com a

internalização de significantes que perpassam pela sua “cadeia simbólica”, conferindo com

isso um significado na realidade social (LACAN, 1998). Com isso os alunos podem perceber

uma realidade (sentido) que eles antes não percebiam por estar fora da sua “cadeia

simbólica”, logo não tomava uma dimensão de sentido (Ibidem). Essa formação de sentidos

se fez possível a partir da socialização nas atividades oferecidas pelo Mais Educação.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

O Mais Educação, além de ressaltar o papel da socialização escolar, abre espaço para outros

tipos de saberes que também constituem a formação cidadã das crianças, desenvolvendo

aptidões para além dos muros da escola. Nesse ínterim, o programa está atuando em duas

frentes: estruturando a educação formal (no desempenho e gosto pelos estudos) e trazendo

novas perspectivas de realidade que podem influenciar nas suas escolhas futuras. E nos dois

casos está trazendo uma perspectiva biográfica de vida que vai além da que foi ensinada na

família e no bairro. Por fim, vale novamente destacar esta frase que sintetiza bem o espírito

do programa: “com o Mais Educação a gente aprendeu coisas que nem sabia que existia”.

Nota-se aqui o choque de realidade causado pelo programa ao apresentar atividades

pedagógicas e sociais que estavam fora da cadeia simbólica deles, sem tomar uma dimensão

de realidade, como diz Lacan. Com isso, antes essas atividades não tinha sentido na

percepção e ação dos alunos, mas agora passam a existir para eles como uma realidade

concreta.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer ao CNPq por me conceder uma bolsa Pibic para poder realizar essa

pesquisa que foi muito importante na minha formação profissional, principalmente pela

relevância social do estudo feito. Também gostaria de reconhecer a FUNDAJ que

proporcionou as melhores oportunidades estruturais e cientificas para este subprojeto poder

ser realizado. E por fim gratular a Cibele Rodrigues, minha orientadora, por todo aprendizado

e treinamento que ela proporcionou a minha formação de Cientista Social.

REFERÊNCIAS

AGUIAR, Márcia Ângela da S.; MELO; Márcia Maria de Oliveira. Pedagogia e Faculdades

de Educação: vicissitudes e possibilidades da formação pedagógica e docente nas IFES.

Educação e Sociedade, Campinas, v. 26, n. 92, p. 959-982, out. 2005. Disponível em:

<http://www.scielo.br>. Acesso: 05 out. 2006.

BALL, Stephen. Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: Uma revisão

pessoal das políticas educacionais e da pesquisa em política educacional. Currículo sem

fronteiras. V.6, n.2, p.10-32, jul./dez 2006.

BARBOSA, Maria Ligia. Desigualdade e desempenho: uma introdução à sociologia da

escola brasileira. Belo Horizonte: Argvmentvm, 2009.

BERGER, P. LUCKMANN, T. A construção social da realidade: tratado de sociologia do

conhecimento. Petrópolis Rj: vozes, 2009.

BOURDIEU, Pierre. A Distinção: critica social do julgamento. SP: EDUSP, 2008.

Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Documento norteador para

elaboração de Plano Municipal de Educação – PME / elaboração Clodoaldo José de

Almeida Souza. – Brasília: Secretaria de Educação Básica, 2005.

_____________. Programa Mais Educação. Passo a Passo.

Disponível:http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/passoapasso_maiseducacao.pdf. Acessado

em 13 de Janeiro de 2012.

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FOUCAULT, Michel. Arqueologia do Saber. 7ed.-RJ: Forense Universitária, 2009.

FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO. Avaliação do Plano de Ações Articuladas no

Contexto do Plano de Metas Compromisso Todos Pela Educação. Relatório

Intermediário I – Nordeste. Recife, 2011.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. -RJ: Paz e Terra, 1967.

LACAN, Jacques. Escritos.- RJ: Jorge Zahar, 1998.

MAINARDES, Jefferson. “Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para a análise

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ORLANDI, Eni P. Análise do discurso: princípios e procedimentos. 8ed, Campinas, SP:

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RODRIGUES, Cibele; SILVA, Danilo. O contexto sócio-familiar e a prática pedagógica

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Recife: Fundaj, 2012.

SAVIANI, Dermeval. PDE – Plano de Desenvolvimento da Educação: análise critica da

política do MEC.- Campinas, SP: Autores Associados, 2009.

THIN, Daniel. Famílias populares e instituição escolar: entre autonomia e heteronomia.

Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 36, n. especial, p. 065-077, 2010. Disponivel em:

http://www.scielo.br/pdf/ep/v36nspe/v36nspea06.pdf

TERRITÓRIOS DA PESCA ARTESANAL: AMBIENTES DE

TRABALHO DA MULHER1

Dannilo Carneiro Lima 1

Lígia Albuquerque de Melo 2

1Estudante do Curso de Geografia (Bacharelado)-CFCH-UFPE; e-mail:

[email protected] 2

Pesquisador(a) da CGEA da Diretoria de Pesquisas Sociais-

DIPES/FUNDAJ; e-mail: [email protected]

RESUMO: No dinamismo da pesca, o principal sujeito do processo de trabalho o

pescador (a), realiza a captura dos organismos nos ambientes naturais da água, sendo o rio,

o mangue e o estuário, alguns desses territórios. Cada ambiente apresenta suas

especificidades e neles, a mulher pescadora realiza a sua atividade em meio as mais

variadas espécies providas pela natureza. O objetivo do trabalho é analisar a participação

da mulher pescadora artesanal nos diferentes territórios pesqueiros do Brasil a partir da

perspectiva dos elementos naturais que compõem estes ambientes. Para tanto, foi realizado

levantamento de dados secundários referentes aos recursos naturais do rio, mais

precisamente do rio São Francisco, leituras bibliográficas sobre as temáticas da pesca

artesanal, bem como as atividades desenvolvidas pelas mulheres pescadoras artesanais.

Verificou-se que políticas antrópicas protagonizadas pelo capital provocam uma contínua e

acelerada degradação dos ecossistemas existentes nestes territórios. Apesar destas

interferências, os ambientes da pesca artesanal ainda apresentam suas riquezas naturais,

possibilitando que a mulher pescadora realize as atividades de trabalho que garantem,

muitas vezes, o único meio de sobrevivência de sua família.

Palavras–chave: mulheres; pescar artesanal; território

INTRODUÇÃO

Os territórios pesqueiros em que a mulher pescadora está inserida são formados por águas

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salgadas ou doces, os quais apresentam uma grande complexidade de fauna e flora, como

também, sérios problemas ambientais. Tais problemas são, em sua maioria, causados pelas

próprias ações antrópicas, as quais dificultam o exercício do trabalho da pescadora

artesanal. Sendo assim, o objetivo do trabalho é analisar, sob os aspectos naturais, quais

são e como se apresentam os ambientes da pesca artesanal, tendo como elemento principal

a mulher pescadora. O recorte espacial da pesquisa refere-se as águas interiores, que são

águas que não tem ligação com o mar, dentre elas a do rio São Francisco e, também, das

águas salgadas do Brasil. Para este estudo, foram observados os ambientes nos quais os

pescadores e pescadoras artesanais estão inseridos, com ênfase a atuação da mulher em

cada um deles. Diferentemente das áreas litorâneas, nas águas continentais, de acordo com

Thais (2006), a mulher desenvolve as atividades da pesca em todos ambientes do São

Francisco, ou seja, nas margens e dentro do rio. Além de pescar, as mulheres também

participam de outros processos de trabalho, os quais entendem: a confecção de redes, o

beneficiamento do pescado e a venda do produto em feiras livres. Considera-se esta

investigação científica de grande utilidade, pois possui o intuito maior de oferecer

esclarecimentos a respeito da natureza desses territórios aqueles que se dedicam e desejam

trabalhar com a pesca artesanal. Haja vista que estes locais são pouco evidenciados a partir

dos aspectos ambientais.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Para atingir os objetivos do estudo foram realizados os seguintes procedimentos

metodológicos: De início foram levantados dados secundários referentes aos recursos

naturais do rio São Francisco, bem como, bibliografia sobre as temáticas pesca artesanal

nos mais diferentes territórios do Brasil e as atividades referentes às mulheres pescadoras

artesanais. Após esse processo, foram utilizados como fontes de dados sites de organismos

oficiais, como: Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco

(CODEVASF) e Ministério da Pesca e Aquicultura (MPA). No intermédio das pesquisas

bibliográficas e do levantamento de dados, foram assistidas palestras e seminários a respeito

da pesca artesanal nos mais diferentes ambientes, dentre eles, o do rio São Francisco. Além

disso, foram mantidos diálogos com orientadora e com pesquisadores e professores que

atuam na área durante as excursões didáticas realizadas pela Universidade Federal de

Pernambuco no curso de Geografia Bacharelado.

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RESULTADOS/DISCUSSÃO

Os territórios da pesca artesanal são formados por águas litorâneas e águas

continentais, cada qual com suas particularidades naturais e seus problemas

ambientais. Dentre esses territórios aquáticos, podemos destacar o rio São Francisco.

Em águas são franciscanas a pesca artesanal consiste numa das principais atividades

econômicas, contudo há outros aspectos que propiciam a utilização desse grande

volume d’água, como por exemplo: na agricultura, navegação, geração de energia

elétrica, turismo, indústrias de mineração e etc.

Embora as águas do rio tenham suas múltiplas funções, Godinho (2003) destaca que

a atividade pesqueira nela desenvolvida tem suas características marcadas na história,

sendo o São Francisco farto e abundante não só na região Nordeste, como também, em

outras partes do Brasil por onde o “Velho Chico” percorre. O mar, outro importante

ambiente pesqueiro, por possuir uma grande área de extensão e, consequentemente,

uma maior diversificação de espécies, se destaca com a maior produção mundial de

pescados extraídos. A atividade pesqueira artesanal requer uma maior atenção, pois

“reveste-se de extrema importância em virtude do grande contingente humano nela

envolvido, bem como em razão da oferta de produtos proteicos de origem animal de

elevada qualidade” Silva (1986) apud Cruz Magda (2006, p.13). Nos territórios

pesqueiros do litoral, a mulher pescadora realiza seu trabalho em meio das mais

variadas espécies providas do meio natural, haja vista que esses territórios expõe

uma grande diversidade ecológica. Entretanto, o cenário atual desses territórios

apresenta grave intervenção do homem no contínuo processo de degradação,

provocando o desaparecimento dessas importantes áreas que cedem lugar a construções

voltadas aos interesses capitalistas, a exemplo das práticas de carcinocultura (criação de

camarão) em grande parte do litoral do Nordeste brasileiro, do aumento da especulação

imobiliária, do grande crescimento das indústrias em locais próximo a áreas de

preservação, além do turismo, que acontece permanentemente nestes ambientes

vulneráveis. No rio São Francisco, o exercício da pesca é realizado em todo o seu

seguimento. Dessa forma, “a pesca profissional, praticada de forma artesanal, é uma

das atividades mais clássicas de trabalho no rio São Francisco, havendo milhares de

famílias ribeirinhas que se dedicam a essa ocupação, por vezes há mais de uma

geração” (VALENCIO et al., 2003 p. 423). Segundo a Estatística do Desembarque

Pesqueiro (2006), há uma diminuição das espécies de peixes encontradas. Cerca de 150

foram identificadas em todo o “Velho Chico”. Dourado (Salminus maxillosus),

curimatã (Prochilodus scrofa) pacu (Piaractus mesopotamicus), tucunaré (Cichla spp),

traíra (Hoplias malabaricus), são algumas delas. Destaque para o surubim

(Pseudoplatyatoma coruscans) peixe símbolo das águas do rio São Francisco e que

hoje encontra-se em extinção devido a ações antrópicas. Diversas atividades humanas

foram sendo instaladas nas margens e dentro do rio e seus tributários, provocando

impactos ambientais importantes, como contaminação da água por defensivos agrícolas e

fertilizantes químicos utilizados na agricultura, além dos desmatamentos das margens

para produção de carvão vegetal utilizado pela indústria siderúrgica. Tais ações

implicam na reprodução e consequentemente na população de peixes, afetando

diretamente as mulheres pescadoras que vivem nesse meio.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

Observou-se ao longo do tempo de pesquisa que apesar das interferências antrópicas,

os ambientes da pesca artesanal ainda apresentam as suas riquezas ecológicas. Levando

em consideração que tais recursos naturais são de extrema importância para

continuidade da vida de milhares de pessoas, dentre elas, principalmente, os pecadores

e pescadoras artesanais, existe a necessidade de atentar para uma perspectiva mais

sensível no que diz respeito aos aspectos de conservação do meio ambiente. A

constante perturbação desses territórios pesqueiros refletirá em sérios problemas que

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irá atingir os ecossistemas e as populações que têm nestes ambientes o único meio de

sobrevivência.

AGRADECIMENTOS

Agradecimentos aos órgãos de fomento à Pesquisa, ao Conselho Nacional de

Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), a Fundação Joaquim Nabuco

(FUNDAJ) a pesquisadora e orientadora Dra. Lígia Albuquerque de Melo da

Coordenação Geral de Estudos Ambientais e da Amazônia (CGEA).

REFERÊNCIAS CRUZ, M. S. L. P. Caracterização e Avaliação da Pesca Artesanal no Sertão do

Estado de Pernambuco. 2006. p. 73

GODINHO, Alexandre Lima; GODINHO Hugo Pereira. Águas, peixes e pescadores

do São Francisco das Minas Gerais: Breve Visão do São Francisco. Belo Horizonte:

PUC Minas, 2003. p. 468

MADEIRA, Thais Fernanda Leite. Da Casa ao Rio: um estudo sobre as relações

de gênero e ambiente entre os pescadores do Alto-Médio Rio São Francisco. São

Carlos-SP. 2006.

VALÊNCIO, N. F. L. S. et al. A precarização do trabalho no território das águas:

limitações atuais ao exercício da pesca profissional no Alto-Médio São Francisco. In

Godinho, H.P. & Godinho, A.L. Águas, peixes e pescadores do São Francisco

das Minas Gerais. Belo Horizonte: Puc Minas, 2003 p. 423.

PERSPECTIVAS DE CONTRIBUIÇÃO DO PLANO NACIONAL

DE EDUCAÇÃO (2011-2020) À SUSTENTABILIDADE DOS

AMBIENTES DA PESCA ARTESANAL NA BACIA DO RIO SÃO

FRANCISCO

Daywison Borges da Silva1

. Bolsista do Pibic/CNPq/Fundaj. Patrícia Alves da Silva

e Erica de Souza Silva. Ex-bolsistas do Pibic/CNPq/Fundaj; Solange Soares Coutinho2

1Estudante do Curso de Licenciatura Plena em Geografia da FFPNM/UPE; e-mail:

[email protected]; 2Pesquisadora da Diretoria de Pesquisa da Fundaj – Dipes/CGEA e

Professora da FFPNM/UPE; e-mail: [email protected]

RESUMO: A pesquisa objetivou avaliar a contribuição do PNE (2011-2020) para a

sustentabilidade ecológica e social dos ambientes que dão suporte à Pesca Artesanal,

respaldando- se na revisão bibliográfica, levantamento, coleta, tratamento e interpretação

de dados primários e secundários. Programado para ter sua vigência no período de

2011-2020, o PNE contendo as Metas Educacionais que o Brasil deverá atingir em dez

anos ainda encontra-se em discussão nas instâncias governamentais. Observou-se nas

análises acerca das propostas do PNE 2011-2020 que a relação entre Educação e Pesca

Artesanal não foi contemplada e quanto aos temas utilizados na comparação entre o

Plano passado (2001-2010) e a nova proposta do PNE – sustentabilidade, populações

tradicionais, gênero, educação ambiental e educação contextualizada –, não houve

avanços e sim retrocessos em conteúdos de fundamental importância na prática da

Educação para Sustentabilidade. Ainda foi possível perceber o desconhecimento desse

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documento que rege o Sistema Educacional brasileiro por parte da sociedade,

especialmente das populações que possuem especificidades nas suas atividades

produtivas e nas suas culturas, como é o caso das pessoas envolvidas com a pesca

artesanal.

Palavras-Chave: Bacia do Rio São Francisco; Plano Nacional de Educação;

Populações Tradicionais; Sustentabilidade Ecológica e Social.

INTRODUÇÃO

A contribuição do Plano Nacional de Educação (2011-2020) para sustentabilidade

ecológica e social de ambientes que dão suporte à Pesca Artesanal na Bacia Hidrográfica

do São Francisco foi a questão condutora da pesquisa. Partiu-se da verificação e

posterior avaliação da presença, ou não, dos temas sustentabilidade, populações

tradicionais, gênero, educação ambiental e educação contextualizada nas diretrizes, metas

e estratégias do PNE 2001-2010 e no projeto do PNE 2011- 2020. O recorte geográfico

do presente estudo se dá no Baixo e Médio São Francisco, sendo que tal área abrange

apenas os municípios que compõem o Nordeste brasileiro, especificamente os que se

localizam às margens do leito principal do Rio São Francisco, correspondendo ao total

de sessenta municípios, com área equivalente a 139.197,4 km² e população total de

1.933.354 habitantes (BRASIL, 2011a). Nesse ambiente a utilização dos recursos

naturais ainda se dá, predominantemente, através de processos extrativistas ou de

subsistência sem reposição dos recursos utilizados. Esse modelo predatório já faz

sentir seus efeitos negativos nos serviços ecossistêmicos prestados pelos elementos

físico-químicos e biológicos que de forma integrada constituem os sistemas ecológicos.

Neste sentido, especificando o papel da educação na formação do (a) cidadão/cidadã,

destaca-se a educação voltada para o conhecimento e compreensão do ambiente como

um sistema – proposta da Educação Ambiental –, o que constitui um imprescindível

instrumento para a manutenção das condições de equilíbrio dos ecossistemas ou

recuperação daqueles que sofreram alterações decorrentes de atividades mal elaboradas

e/ou não planejadas por parte do poder público e da iniciativa privada. O déficit

educacional se reflete na relação da população com os lugares que reside, trabalha e

utiliza como lazer etc. Ainda não é comum a todos a compreensão de que a espécie

humana faz parte do ambiente estando, assim, sujeita às consequências da sua

qualidade (COUTINHO, 2009). É neste âmbito que se julga relevante conhecer e

compreender como o PNE 2011-2020 poderá contribuir para a sustentabilidade das

atividades desenvolvidas pelas populações tradicionais, mais especificamente se e como

as pessoas que lidam com a pesca artesanal percebem este Plano e se inserem na

Educação para a Sustentabilidade a partir do ensino formal e/ou do conhecimento

empírico.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para o desenvolvimento desta pesquisa utilizou-se uma orientação quanti-qualitativa

centrada na revisão da literatura, no levantamento, coleta, tratamento e análise

interpretativa de dados primários e secundários. Para o primeiro foi elaborado um

questionário semiaberto que foi aplicado em caráter exploratório a lideranças

representativas da pesca artesanal no Médio e Baixo São Francisco e para interpretação

das respostas abertas obtidas recorreu-se à análise de conteúdo. Para obtenção dos dados

secundários utilizou-se fontes oficiais, como o IBGE, o MEC/IDEB e o PNUD/IDH. De

forma mais aprofundada foram analisados o Plano Nacional de Educação 2001- 2010 e

a proposta do Plano Nacional de Educação 2011-2020. A tramitação do projeto do PNE

2011-2020 foi acompanhada na mídia nacional, na literatura pertinente e nos sites do

governo brasileiro. Nas análises interpretativas buscou-se aliar as referências teóricas aos

dados obtidos e às observações diretas dos fatos.

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RESULTADOS/ DISCUSSÕES A pesquisa permitiu perceber que o ambiente pesqueiro tem sofrido alterações em sua

dinâmica e isto vem acarretando impactos negativos significativos no modo de vida

dos ribeirinhos e das ribeirinhas, trazendo como consequência a diminuição de uma

fonte importante de alimento e da renda familiar. Nesse contexto, destacam-se o

significado que a educação pode ter na proteção do ambiente no qual os educandos

vivem e a pouca relação entre o projeto do Plano Nacional de Educação 2011-2020 e a

sustentabilidade da pesca artesanal. Notou-se isto através das avaliações e comparações

entre o PNE 2001-2010 e a proposta do PNE 2011-2020 no que diz respeito à

inserção dos temas selecionados e nas avaliações críticas que o Plano já executado e

a atual proposta vêm sofrendo. (DOURADO, 2011). Apesar de estar-se na Década da

Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014) criada pela Resolução

254, na 57ª Sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas em 2002 (UNESCO,

2005), notou-se relevante retrocesso em conteúdos de fundamental importância no

discurso da Educação para Sustentabilidade. O atual documento não incluiu os temas

educação ambiental, populações tradicionais e educação contextualizada em nenhuma

das suas metas. Destaca-se o quanto seria relevante a inserção desses temas por se

considerar seus conteúdos capazes de provocar políticas públicas educacionais e

possibilitar à população local o verdadeiro entendimento da realidade socioambiental a

qual pertence, tornando-a mais apta a participar das decisões relativas à qualidade

ambiental, incluindo mudanças de hábitos e ações em desacordo com a proteção

ambiental. A questão relativa à Gênero esteve presente de forma bem mais significativa

no PNE 2001-2010. Outro aspecto que deve ser posto em evidência é a falta de

conhecimento da população acerca do que seria o Plano Nacional de Educação e sua

finalidade, o que é um contrassenso uma vez que este documento deveria ser um Plano

de Estado capaz de expressar a participação da sociedade brasileira nos rumos da

educação e isto é preocupante, pois acaba contribuindo para que este instrumento

não atenda às verdadeiras necessidades da sociedade. Indagados se já tinham ouvido

falar do Plano Nacional de Educação e do que ele deveria tratar, os respondentes E1 e E3

disseram nunca ter ouvido falar. Apenas um respondente (E2), alegou já ter ouvido falar

do PNE: “Sim, na universidade ouvi falar. Os professores falam. Nunca me aprofundei.

É uma tentativa de inovar” e complementou afirmando que o PNE deveria tratar da

Educação Contextualizada. Como não tem conhecimento da proposta do novo Plano,

não sabe que este tema não está incluído e nem foi tratado no PNE anterior. O

desconhecimento do PNE, inclusive por pessoas que estão em postos de lideranças

representando interesses de pescadores e pescadoras artesanais, dificulta a transformação

do discurso em práticas que de fato conduzam à sustentabilidade. Entretanto, deve-se

enfatizar também, que o PNE contendo as Metas Educacionais que o Brasil deverá

atingir em dez anos ainda encontra-se em discussão nas instâncias governamentais.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

Em julho de 2012 o Projeto do PNE 2011‐2020 foi aprovado pela Comissão

Especial da Câmara dos Deputados e seguirá para o Senado Federal, onde ainda não

foi definida a data em que o mesmo entrará em pauta nas discussões. Há expectativas

de que as contribuições possam ir além das questões puramente orçamentárias,

aprimorando‐o. Espera‐se, pois, que o Plano Nacional de Educação, que objetiva ser

capaz de expressar a vontade da sociedade brasileira nos rumos da educação, se faça

coerente com as necessidades locais e assim seja capaz de contribuir, de fato, para

alterações positivas derivadas de ganho em qualidade na educação, mas para isto

precisará, antes de tudo, considerar as especificidades dos lugares e ser conhecido e

monitorado pelos diversos atores a ele direta ou indiretamente relacionados – o povo

brasileiro.

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AGRADECIMENTOS Ao CNPq/Pibic pela bolsa concedida; à Fundação Joaquim Nabuco, em especial à

Coordenação e Secretaria do Pibic/Fundaj; aos coordenadores, pesquisadores e

estagiários da CGEA pela oportunidade de vivenciar um ambiente de pesquisa

científica e a pesquisadora Solange Fernandes Soares Coutinho pela competente

orientação.

REFERÊNCIAS BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades@. Rio de Janeiro: IBGE,

2011a. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?>. Acesso em:

29 dez. 2011.

BRASIL, Ministério da Educação. Plano Nacional de Educação. Brasília: MEC,

2011b. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/index.php>. Acesso em: 23 ago. 2011.

COUTINHO, Solange Fernandes Soares. A educação ambiental na formação de

professores. In: SEABRA, Giovanni. (Org.). Educação ambiental. João Pessoa: Editora

Universitária da UFPB, 2009.

DOURADO, Luiz Fernandes. Plano Nacional de Educação como Política de Estado:

antecedentes históricos, avaliação e perspectivas. In: DOURADO, Luiz Fernandes

(Org.). Plano Nacional de Educação (2011-2020): avaliação e perspectivas. Goiana:

UFG, 2011. p.17-59.

UNESCO. Década das Nações Unidas na Educação para o Desenvolvimento

Sustentável 2005-2014. Brasília: Escritório da Unesco no Brasil, 2005.

FAMÍLIA, DIREITO E HABITAÇÃO: MULHERES E POLÍTICAS

PÚBLICAS DE MORADIA NO RECIFE

Felipe Resk de Queiroz1; Alexandre Zarias

2

1

Estudante do Curso de Jornalismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e-mail:

[email protected]; 2

Pesquisador da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundação Joaquim

Nabuco (Fundaj); e-mail: [email protected]

RESUMO: A pesquisa investigou como o acesso legal à propriedade pode beneficiar

as mulheres residentes na região denominada Ponte do Maduro, zona Norte do Recife.

Conhecida pela violência e pobreza, a área formada por Santo Amaro, Santa

Terezinha, Chié e Ilha de Joaneiro abriga mais de oito mil famílias sem o título de

posse de seus terrenos. Para entender até que ponto a regulamentação fundiária interfere

na percepção da da posse da terra, foi selecionada uma abordagem que, partindo

dos pressupostos de gênero, levou em conta as representações das mulheres acerca do

seu status social e de moradia. Para isso, realizou-se, em parceria com o Espaço

Feminista do Nordeste para Democracia e Direitos Humanos, um grupo focal

envolvendo dez moradoras da região, entre 19 e 45 anos. Certamente, a titulação, por si

só, fornece segurança jurídica da posse. Entretanto, alguns resultados do estudo sinalizam

que a posse segura do solo deriva de uma intricada equação, composta por marco legal,

etapas de desenvolvimento e particularidades culturais em proporções e pesos

singulares, que demandam investigações contínuas no campo. A questão também deve

passar pelo empoderamento das mulheres, relacionando-se à desconstrução de

mecanismos de opressão e de privação que foram historicamente institucionalizados.

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Palavras–chave: Gênero; Políticas públicas; Recife; Regularização fundiária;

Sociologia do desenvolvimento.

INTRODUÇÃO A Rede Global de Ferramentas de Acesso à Terra (GLTN, em inglês) entende que a

posse de um terreno ou domicílio constitui um dos direitos básicos dos cidadãos – chave

para o desenvolvimento econômico, social e político das pessoas que vivem em

situação de vulnerabilidade, especialmente, as mulheres. Nesse sentido, esta pesquisa se

preocupou em investigar como o acesso legal à propriedade pode beneficiar as

moradoras da região denominada Ponte do Maduro, que compreende uma Zona

Especial de Interesse Social (Zeis) formada por quatro bairros – Santo Amaro, Santa

Terezinha, Chié e Ilha de Joaneiro– localizados na Zona Norte do Recife. Ela abriga mais

de oito mil famílias sem o título de posse de seus terrenos. As lutas que marcam o

processo de desenvolvimento nas áreas de ocupação informal do local datam mais de

cinco décadas. Contudo, acontecimentos recentes reforçam a necessidade de se debruçar

sobre o tema, em especial no cenário de Pernambuco. O Governo do Estado anunciou

durante o 5º Fórum Urbano Mundial, realizado no Rio de Janeiro, em 2010, o início do

processo de regularização da Ponte do Maduro. Mas o processo de regularização foi

iniciado, efetivamente, em julho de 2011.

Além de órgãos públicos das esferas municipais, estaduais e federais, a ação é

acompanhada por uma série de instituições. Entre as quais, destacam-se a GLTN; a

ONU- Habitat; a Huairou Commission; o Espaço Feminista do Nordeste para

Democracia e Direitos Humanos e a Fundação Joaquim Nabuco. Desde o anúncio

oficial da regularização fundiária da Ponte do Maduro, essas organizações passaram a

delegar mais atenção à área que, futuramente, pode servir como um modelo de política

pública guiado pela perspectiva de gênero.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foram utilizadas fontes bibliográficas para a construção do argumento de pesquisa

e entendimento da conjuntura da regularização fundiária, tanto dentro de um cenário

amplo, a América Latina, quanto específico, a Ponte do Maduro, no Recife. Para

entender até que ponto a regulamentação fundiária interfere na percepção da segurança da

posse da terra, foi selecionada uma abordagem que, partindo dos pressupostos de gênero,

levasse em conta as representações das mulheres acerca do seu status social e de

habitação. Para isso, realizou- se, em parceria com o Espaço Feminista do Nordeste

para Democracia e Direitos Humanos, um grupo focal envolvendo dez mulheres, entre

19 e 45 anos, moradoras das comunidades da Ponte do Maduro. Segundo Iervolino e

Pelicioni (2001), o método enfatiza a compreensão a partir do ponto de vista dos grupos,

na medida em que desvela a maneira em que as pessoas avaliam uma experiência; ou

definem problemas e quais opiniões e significados estão associados a determinados

fenômenos. Além das discussões, foi realizada uma dinâmica com as mulheres. A

atividade consistia em cada uma ter que registrar, em papel ofício, seu nome; fazer

um desenho da sua casa; explicar qual é a importância da moradia para ela e indicar

o que não pode faltar e o que não queria que houvesse na própria residência. As

informações reproduzidas no papel, junto às falas reunidas no grupo focal, formam o

corpo de estudo que deve ser analisado à luz da vertente teórica eleita.

RESULTADOS

Na etapa da dinâmica dos desenhos, quando se questiona “Qual é a importância da

casa?”, absolutamente nenhuma resposta registrada escapa ao duo “dignidade” e

“afirmação” como sujeito socialmente ativo. Além disso, a família é sempre um dos

primeiros itens citados em “O que é mais importante na sua casa?”. O grupo focal

reuniu mulheres casadas, solteiras e divorciadas – mesmo que não oficialmente. Entre

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elas, apenas uma não mencionou diretamente “família” ou mencionou qualquer relação

de parentesco (pai, mãe, filho, etc). Para todas as outras, ela é vista tanto como a

unidade social, quanto dentro de uma função cíclica: de servir de base para a casa na

medida em que também é servida por ela. Há, inclusive, um registro que considera

fundamentais termos como “casar” e “filhos”, feito por uma mulher solteira. Entre os

elementos mais recordados, depois de família, estão: “comida”, “paz” e “bens de

consumo”, que reforçam o quanto o conforto e o bem estar são fundamentais às

questões de habitação. A presença do termo “comida”, nos desenhos, também diz

muito sobre as comunidades, já que a preocupação diante de uma necessidade primária

é constante. Um dado importante diz respeito ao fato de todas as dez mulheres

participantes do grupo estarem, hoje, excluídas do mercado formal de trabalho. É curioso,

entretanto, que, mesmo assim, a palavra “dinheiro” não aparece em nenhum dos

registros. Já durante o debate do grupo focal, quando questionado diretamente se a

titulação fará diferença na vida das mulheres, a resposta unânime é “sim”. Em

contrapartida, nos discursos, é possível perceber que, quando a mulher não investe na

casa em que mora, a justificativa reside mais na falta de autorreconhecimento como

proprietária, ainda informal – em caso de, por exemplo, aluguel ou precisar dividir

o espaço doméstico com outros familiares – do que pela ausência em si da escritura.

E o título nem sempre é considerado fundamental para a noção de pertencimento,

conforme pode ser percebido do relato: “Independente de ter nome de posse ou não, é

meu. Eu não construí a minha casa ali?”.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Esta pesquisa sinaliza que, além da titulação, há outros fatores na fórmula da

regularização fundiária que precisam ser considerados para que ela seja, de fato,

bem sucedida. A questão passa, inclusive, pelo empoderamento das mulheres, o que

está relacionado à desconstrução de mecanismos de opressão e de privação que foram

historicamente institucionalizados. A posse segura do solo é resultado de uma equação

que envolve marco legal, etapas de desenvolvimento e particularidades culturais em

proporções e pesos singulares. O material obtido durante o trabalho oferece, senão

respostas, importantes indicativos para questionar – não no sentido de contrapor – a

regularização fundiária. Longe de querer cerrar a questão, os resultados confirmam a

necessidade de investigações contínuas, para, inclusive, driblar a escassez de informações

e dados confiáveis, provocada pela ausência de um repertório consistente da literatura

desse campo. Certamente a titulação, por si só, fornece segurança jurídica da posse para

os moradores. Mas será que é suficiente para promover a integração socioespacial e

garantir a permanência das comunidades?

AGRADECIMENTOS À Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científico e Tecnológico (CNPq) sem o apoio dos quais não seria possível a

realização desta pesquisa.

REFERÊNCIAS DA MATTA, R. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil. Rio

de Janeiro: Rocco, 1997.

DOS SANTOS, A. Antropologia do parentesco e da família. Lisboa: Instituto

Piaget, 2006.

FERNANDES, E. Informal Settlements in Latin America. Cambridge: Lincoln

Institue of Land Policy, 2011.

FREYRE, G. Sobrados e mucambos: decadência do patriarcado rural e

desenvolvimento do urbano. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1936.

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Global Land Tool Network. Grassroots women’s participation and the Global

Land Tool Network, 2010.

IERVOLINO, S.A.; PELICIONI, M.C.F. A utilização do grupo focal como

metodologia qualitativa na promoção da saúde. Rev Esc. Enf USP, v. 35, n.2, p.115-21,

jun, 2001.

QUINTAS, M. F. A. Casa & família: o cotidiano feminino. Rev. Cadernos de

Estudos Sociais. v. 5, 1989.

ZARIAS, A. Que gênero é esse? Militância feminista e ações desenvolvimentistas para

a posse segura da terra. 35º Encontro Anual da Associação Nacional de Pós-

graduação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS). Caxambu, 2011.

O PAR NO CONTEXTO DA GESTÃO MUNICIPAL

Gleiciane Silva Vieira de Souza1; Cibele Maria Lima Rodrigues

2

1Estudante do Curso de Ciências Sociais - DECISO – UFRPE; E-mail: [email protected];

2Pesquisadora da Coordenação Geral de Estudos Educacionais – CGEE; E-mail:

[email protected]

Resumo: O governo Lula instituiu o Plano de Metas Compromisso Todos pela

Educação, por meio da Resolução/CD/FNDE/029/2007, baseado no debate nacional

sobre a Qualidade Social da Educação Básica¸ criando metas e indicadores que,

monitorados, seriam capazes de medir a Qualidade. Nesse contexto, o PAR (Plano

de Ações Articuladas), o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e o

Programa Mais Educação são epifenômenos da concepção de políticas públicas que têm

por base o discurso do desenvolvimento social. Nesse sentido, nosso sub-projeto,

inserido na pesquisa maior: Avaliação do PAR no contexto do Plano de Metas

Compromisso Todos pela Educação, se debruçou sobre o indicador contraturno (horário

integral), contido na dimensão do PAR de gestão educacional. Realizamos entrevistas

com 10 diretores em 10 escolas da rede municipal de Jaboatão dos Guararapes, nos

detendo em seus discursos sobre o Programa Mais Educação. Verificamos que o

Programa encontra alguns óbices para o seu funcionamento, como ausência de

infraestrutura citada por todos os entrevistados. Também observamos que a lógica de

escola em tempo integral proposta pelo MEC não parece introjetada, no entanto, em

alguns casos isolados as diretoras mostraram simpatia pelo Programa graças ao

desempenho de sucesso de alguns alunos nas oficinas ofertadas pelo Mais Educação.

Palavras-chave: Programa Mais Educação; Discurso; Gestão escolar.

INTRODUÇÃO No presente subprojeto o nosso enfoque é relativo ao indicador contraturno (horário

integral), contido em uma das dimensões da política educacional PAR (Plano de

Ações Articuladas), a dimensão de gestão educacional. A partir deste recorte estamos

analisando o Programa Mais Educação, que é baseado na lógica da escola integral

(contraturno). Acreditamos que é importante identificar o(s) objetivo(s) que o programa

deseja alcançar, visto que, essa proposta pode encontrar dificuldades em se efetivar nos

diferentes contextos. Um dos óbices podem ser a cultura política autoritária e as relações

de poder no domínio do município (DAGNINO, 2000). Nossa análise se utiliza do ciclo

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de políticas de Stephen Ball, a partir de três contextos: contexto da influência, contexto

da produção do texto e contexto da prática (MAINARDES, 2006).

O contexto da influência corresponde ao local no qual as políticas públicas se iniciam

e onde os discursos políticos se constroem. No contexto de influência brasileiro

identificamos um legado de práticas clientelistas oriundos de uma cultura política

autoritária, nesse sentido, acreditamos que o legado histórico e conjuntural

pode influenciar profundamente a política atual. O contexto da produção do texto

corresponde aos textos políticos, representam a política e resultam de disputas e

compromissos, sendo considerados coerentes e claros ou contraditórios. O contexto da

produção do texto da atual política foi preparado através da concepção de políticas

públicas que supõe a necessidade de criação de metas e indicadores a serem

monitorados permanentemente como forma de medir a Qualidade, aqui representado

pelo Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação

(Resolução/CD/FNDE/No029/2007), o PAR, o IDEB (Índice de Desenvolvimento da

Educação Básica) e o Programa Mais Educação.

O contexto da prática seria o local de interpretação e recriação da política pelos

agentes escolares, que podem transformar a política original. A abordagem do ciclo de

políticas é baseada na complexidade da política educacional, com o enfoque nos

processos micro- políticos e na ação de atores locais que lidam com as políticas,

atribuindo à articulação entre os processos macro e micro do estudo de políticas

educacionais um papel relevante (MAINARDES, 2006).

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O município do Jaboatão dos Guararapes correspondendo a uma das áreas da Região

Metropolitana do Recife. É dividido em sete regionais, Jaboatão Centro, Cavaleiro,

Curado, Muribeca, Prazeres, Praias e Guararapes. Na seleção foram escolhidas escolas

distribuídas geograficamente nas regionais. Entrevistamos 10 gestores1

em 10 escolas

do Município de Jaboatão dos Guararapes, através de entrevistas estruturadas

(questionário/pesquisa qualitativa). Nosso objetivo principal consiste em saber qual a

percepção dos gestores do Programa Mais Educação, pois nosso referencial teórico

pressupõe que em cada contexto os agentes interpretam a política de forma diferenciada e

que as políticas educacionais são discursos, produzindo objetos epistemológicos,

pedagógicos e didáticos (BALL, 2006). Nossa análise se utiliza da abordagem do ciclo de

políticas de Stephen Ball que se utiliza do conceito de discurso em Foucault (2010) para

quem não há nada velado, há enunciados e relações, que o próprio discurso põe em

funcionamento.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Dentre os nossos entrevistados todos são do sexo feminino, estando na faixa dos 40

anos de idade. Todas possuem pós-graduação em nível de especialização e apenas uma

possui mestrado. A especialidade da maioria é na área de educação e gestão, mais da

metade delas possuem entre um e cinco anos de experiência com gestão. Todas as

diretoras tiveram que fazer um curso de formação de gestores e depois uma prova para

então se candidatarem às eleições para gestor.

1

O município de Jaboatão dos Guararapes conta com uma peculiaridade na gestão escolar, são dois

gestores por escola. No entanto, para nossa análise entrevistamos apenas um gestor das dez escolas

selecionadas sem nos determos em critério de escolha, apenas em função da disponibilidade.

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Nesse sentido, percebemos que o processo de escolha da gestão das escolas em

Jaboatão dos Guararapes, diferente de outros municípios do Nordeste, é democrático, fato

que indica uma rotatividade circular das elites. Há uma circulação da gestão, já que a

maioria das diretoras tem no máximo 5 anos de gestão. O fato de haver curso de

formação e posterior prova para poder se candidatar às eleições nos indica a existência

do fator de valorização dos ideais democrático e meritocrático, pois as diretoras

precisam estar bem preparadas para fazer a avaliação imposta pelo município. Quanto

à percepção das diretoras sobre o Programa Mais Educação, maioria delas afirmou que

há problemas estruturais como falta de espaço, mas de maneira geral a percepção delas foi

positiva.

Inicialmente, constatamos que o Programa parece ser recebido como uma realidade

estranha à escola e as atividades por ele desenvolvidas são vistas como brincadeiras e

sem utilidade para o ensino formal, segundo algumas diretoras. Também não houve na

fala das entrevistadas menção à escola integral como coloca o MEC. Nesse sentido, as

gestoras não introjetaram o discurso do MEC, o que pode ser explicado pela própria

inexistência dessa realidade no Brasil, não correspondendo apenas ao ensino público,

mas à educação em geral. No entanto, em várias escolas vimos casos isolados nos

quais alguns alunos se destacaram como na oficina de música e na de judô, um deles foi

convidado para participar do projeto do Galo da Madrugada Mirim e a aluna do judô

ganhou um campeonato pernambucano. Tais acontecimentos fizeram essas escolas

investirem mais no Programa, pois o desempenho dos alunos parece servir de estímulo

para toda a comunidade escolar se comprometer mais ainda com seu funcionamento.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Hoje um dos maiores problemas identificados é de base estrutural, que cria óbices para

o funcionamento do Programa como é previsto pelo MEC. O Mais Educação tem aberto

um “novo mundo” para essas crianças que antes passavam mais tempo na rua do que na

escola, muitas vezes sem ter o que comer em casa segundo a percepção das

entrevistadas. O aprendizado parece melhorar, a vontade de estar na escola tem

aumentado de acordo com o discurso das diretoras, mesmo assim essas crianças não

representam toda a escola, pois o Programa só atende um número determinado, o que

tem gerado alguns problemas. Observamos que a percepção do Programa é alterada a

partir de experiências de “sucesso” dos alunos, havendo uma mudança nos discursos de

algumas gestoras. Ou seja, graças a esses casos isolados o Programa é visto com certa

simpatia pelas gestoras, o que acaba incentivando-as a terem mais ações que

possibilitem o Mais Educação de acontecer de maneira mais satisfatória nas escolas.

AGRADECIMENTOS Agradeço ao MEC, CNPq e FUNDAJ pela bolsa e pelo auxílio financeiro,

contribuindo para a realização do trabalho e desenvolvimento científico. Agradeço à

atenção e o acompanhamento da orientadora no desenvolvimento do trabalho.

REFERÊNCIAS

BALL, S. “Sociologia das políticas educacionais e pesquisa crítico-social: Uma

revisão pessoal das políticas educacionais e da pesquisa em política educacional”. In:

Currículo sem fronteiras. V.6, n.2, p.10-32, jul/dez 2006.

BRASIL, Resolução/CD/FNDE/No029/2007. Estabelecem os critérios, os parâmetros e

os procedimentos para a operacionalização da assistência financeira suplementar a

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projetos educacionais, no âmbito do Compromisso Todos pela Educação, no exercício

de 2007. Ministério da Educação. Brasília, DF, 20 de junho de 2007.

DAGNINO, E. Cultura, cidadania e democracia: a transformação dos discursos e

práticas na esquerda da América Latina. In: ALVARÉZ, S.; DAGNINO, E.; ESCOBAR,

A. (Org.) Cultura e política nos movimentos sociais latino-americanos: novas leituras.

Belo Horizonte: UFMG, 2000, p61-102.

FOUCAULT, M. A ordem do discurso. 20ª. Ed. São Paulo: Loyola, 2010.

MAINARDES, J. “Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para a análise

de políticas educacionais”. In: Educ.Soc. Campinas, v.27.94, p47-69, jan/abr2006.

CONDIÇÕES POLÍTICO-INSTITUCIONAIS FAVORÁVEIS À

INTERIORIZAÇÃO DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS EM

PERNAMBUCO

Isabella Augusta de Carlo Furtado Bastos1; Cátia Wanderley Lubambo

2

1Estudante do Curso de Ciências Sociais da UFPE; e-mail: [email protected].;

2Pesquisadora da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj – DIPES da Coordenação Geral de

Estudos Sociais e Culturais - CGES; e-mail: [email protected]

RESUMO:

A pesquisa analisa as mudanças de articulação político-institucional entre as

instituições de ensino, as governamentais e as de mercado, especificamente

evidenciando as condições favoráveis e desfavoráveis da implementação das

universidades no interior de Pernambuco. A amostra foi de cinco municípios: Vitória de

Santo Antão, Serra Talhada, Garanhuns, Caruaru e Petrolina; o foco da análise será

direcionado para o estudo de Caruaru. Com relação à metodologia, a pesquisa se

pretendeu descritiva e exploratória, utilizando a pesquisa documental, a realização de

entrevistas semiestruturadas e a observação direta.

Palavras-chave: atores sociais; descentralização de políticas; interiorização.

INTRODUÇÃO

Desde a primeira gestão do governo de Luís Inácio Lula da Silva, em 2003, o discurso

recorrente era o da luta pela redução das desigualdades sociais. Na área da educação, em

especial no ensino superior, o discurso segue por essa mesma linha, a da democratização

do ingresso à universidade. Ainda em 2003 foi criado o PROUNI (Programa

Universidades para todos), e em 2007 o Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e

Expansão das Universidades Federais, o REUNI, que tem como meta aumentar para 90 %

a conclusão média dos cursos de graduação, o aumento do número de vagas para o

acesso a universidade, e para isso a criação de novas universidades e campis.

Através do REUNI foram criados 30 novos Institutos Federais, 25 novos campis e 14

novas universidades federais desde 2003 até novembro de 2010, sendo dez delas

voltadas à interiorização do ensino superior público. No governo de Dilma Rousseff, o

Brasil continua com a expansão. Em 2011, o governo federal anunciou uma nova fase

que se estenderá até 2014. A partir dessa contextualização é possível perceber que há

uma interiorização das instituições de ensino superior significativa em curso, o que

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deixa claro a importância do presente estudo. A pesquisa1

possuiu como objetivo geral:

“Evidenciar as condições político-institucionais favoráveis e desfavoráveis ao processo de

interiorização em Pernambuco. Analisando o contexto de criação das unidades em estudo –

Universidade Federal do Vale do São Francisco, a Unidade Acadêmica de Serra Talhada

(UAST – UFRPE – Universidade Federal Rural de Pernambuco), a Unidade Acadêmica

de Garanhuns (UAG – UFRPE), as unidades de extensão da UFPE (Universidade

Federal de Pernambuco) nos campi de Caruaru e Vitória”. Como objetivo específico,

pode-se destacar: observar, em especial, o caso de Caruaru, identificando diferentes

percepções e estratégias de ação dos atores políticos e dos gestores em torno da

implantação dos campi e do monitoramento das práticas.

Com relação ao marco teórico, a literatura existente é insipiente, entretanto foram

utilizados, para fundamentar a análise dos dados levantados em campo, trabalhos

anteriores. A análise se iniciou com uma revisão teórica sobre os conceitos tomados do

neoinstitucionalismo histórico e sociológico (HALL; TAYLOR, 2003), por meio dos

quais, se buscou o momento crítico de implantação de cada unidade de análise da

interiorização. A visão de Maria Tereza Fleury e Rosa Maria Fischer (1996), também

utilizada, serviu à pesquisa com seu conceito de cultura organizacional. E, ainda como

parte da revisão teórica, o trabalho incluiu considerações acerca de como o ciclo de

políticas (MAINARDES, 2006) contribui para o entendimento das políticas

educacionais, no caso a política da interiorização.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

A pesquisa foi descritiva e exploratória. As técnicas de coleta de dados utilizadas foram: a

pesquisa documental, a realização de entrevistas semiestruturadas e a observação direta.

Foram realizadas entrevistas com gestores e atores políticos importantes tanto no âmbito

central da UFPE e da UFRPE, quanto no âmbito local dos campi dos cinco municípios.

Para o tratamento dos dados resultantes das entrevistas realizadas, a técnica da análise

utilizada foi baseada nos pressupostos de Bardin (2011).

RESULTADOS/DISCUSSÃO

A interiorização no interior de Pernambuco foi tardia, se comparada a outras regiões do

Brasil. A interiorização do estado de Pernambuco começou assim que a criação da

Universidade Federal do Vale do São Francisco (UNIVASF) foi anunciada, instituição

com três campi divididos por estado, a sede fica na cidade de Petrolina. A interiorização

teve força entre 2005 e 2006 quando começaram a instalação das quatro expansões

universitárias nas cidades de Vitória de Santo Antão (UFPE), Caruaru (UFPE),

Garanhuns (UFRPE) e Serra Talhada (UFRPE). As cinco cidades citadas são cidades

polos de suas regiões, principalmente no âmbito da economia.

De acordo com Fleury e Fisher (2009), Edgar Schein afirma que há uma tendência dentro de

uma organização na qual a cultura se diferencia de acordo com os cargos que os

membros ocupam. Com a pesquisa foi possível verificar algo que pode ser equiparado, os

agentes governamentais, por exemplo, apresentavam visões e percepções parecidas, assim

como as pessoas que eram ligadas à formação profissional, por isso, foram criadas

categorias dos atores e gestores entrevistados: agentes governamentais, agentes vinculados

à formação acadêmica, agentes vinculados à formação profissional e representantes da

sociedade civil.

1

A pesquisa referente à esse trabalho integra uma pesquisa maior intitulada ” A interiorização recente das

Instituições públicas e gratuitas de ensino superior no Norte e Nordeste: efeitos e mudanças”, em

andamento na FUNDAJ.

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Outro resultado encontrado também está ligado aos papéis que os entrevistados exerciam

frequentemente. Percebe-se a falta de intersetorialidade, de conexão entre setores

relacionados à educação; a falta de percepção com relação à conexão dos dois pólos:

ensino fundamental e superior, assim como entre as esferas estadual e municipal –

falha também percebida. Outro aspecto importante, percebido durante a pesquisa, foi a

relevância dos Institutos Federais e seu papel no hall das instituições de ensino superior e

técnico.

A pesquisa de campo em Caruaru conta com cinco entrevistados, que se concentraram

em duas categorias: a dos agentes vinculados à formação profissional (ITEP, SEBRAE,

SENAC e IFPE) e agentes vinculados à formação acadêmica (IFPE e FAFICA). Os

núcleos de sentido das entrevistas se concentraram em categorias reflexivas (BARDIN,

2011), que foram divididas em impactos: mudanças no município (anteriores à

interiorização), impactos no município (posteriores à interiorização); em percepção

conceitual: educação como bem público, arenas distributivas e redistributivas

(LOWI,1964); e em condições favoráveis: condições estruturais e intersetorialidade.

Caruaru passou por várias mudanças nos últimos anos, que foram evidenciadas pelos

entrevistados. Aumento significativo da industrialização, crescimento da construção

civil, especulação imobiliária, diminuição do sentimento de segurança, ampliação de novos

empregos e oportunidades, migração de pessoas de outros locais para Caruaru.

Há um clima de transformação na cidade, mas algumas características são marcantes,

uma delas é o comércio, que continua sendo a grande atividade da cidade, incluindo a feira

livre. Além disso, enormes cadeias e arranjos na área de confecções e agroindústria. Com a

cidade em transformação a tarefa de identificar os impactos específicos da

interiorização se dificulta. O primeiro percebido está relacionado à mão-de-obra. Foram

realizadas pesquisas de mercado tanto pelo IFPE, tanto pela UFPE. As instituições

SENAC, ITEP, FAFICA, além do governo estadual e municipal participaram de reuniões

para discutir os cursos que seriam ofertados pela universidade. Outra ação significativa. A

negociação foi pacifica com algumas instituições, porém, apresentou também certos

conflitos não com a negociação em si, mas com a implementação da política, que entrou

em choque com os interesses, em especial, das autarquias.

Outro impacto recorrente se refere à ampliação das opções de vida, do desenvolvimento

futuro da região. O que aparece, frequentemente, atrelado a uma ideia de

democratização do ensino, que recai sobre a educação como bem público, na qual o

consumo desse bem teoricamente não pode ser individualizado, sem haver a distinção de

grupos.

A educação como bem público, principalmente, a educação superior encontra o desafio da

limitação das vagas, diminuindo, assim o quanto as outras pessoas podem

potencialmente desfrutar desse bem. Com isso a distribuição dessas vagas, falando agora

de arena distributiva, que se encarna na própria política da interiorização, encontra o

desafio de se manter como um bem de todos. Com esse dilema, que podemos pensar

sobre a ótica da arena redistributiva, há o aparecimento da oferta de cotas, assim como

cursos de nivelamento; outras altertanivas possíveis são a oferta de bolsas e moradia

estudantil. Quanto à existência de bolsas, o campi da UFPE em Caruaru conta com apenas

dois auxílios, o de alimentação e o auxílio para alunos com renda comprovada

insuficiente. Já com relação ao IFPE, é possível notar a preocupação com as políticas

redistributivas. Existe um curso de nivelamento e cota para alunos provenientes de escola

pública.

Outra questão levantada refere-se ao ambiente acadêmico de Caruaru atualmente, ainda

percebe-se uma ausência significativa dessa dinâmica.

O último ponto são as considerações feitas acerca das condições favoráveis: as condições

estruturais e intersetorialidade. As condições estruturais seguem no sentido de parcerias,

apoios do poder público e privado. Caruaru conta com essas parcerias, a exemplo, do

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auditório do ITEP compartilhado com a UFPE, IFPE, SEBRAE, ITEP e SENAC. Ou no

caso da parceria entre a prefeitura e o IFPE para a criação do curso de educação física, bem

como a UFPE ter sido situada primeiramente no ITEP. São essas parcerias e apoios

institucionais que indicam a capacidade do município se organizar. Por outro lado, as

condições estruturais físicas é muito incipiente.

Ainda com relação às parcerias, é possível notar o apoio estadual e municipal com

financiamento para algumas instituições, como o ITEP. Intercambio de professores entre o

ITEP e a UFPE, o que não acontece com a FAFICA e a UFPE. O que denota a falta de

intersetorialidade, a falha da capacidade do município se organizar em suas esferas em

nível horizontal. As principais causas dessa falha giram em torno da fragilidade financeira

dos municípios, recursos limitados e falta de uma tradição política integrada e

desenvolvida. Causas que são facilmente encontradas em Caruaru, porém o contrário

também é visto, como a parceria das instituições de ensino, de mercado e o poder

municipal para realização de eventos, palestras e cursos. Com o exemplo de cursos

promovidos pela Associação Comercial Rotary e Lions e a secretaria de

desenvolvimento rural da prefeitura.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS A análise presente neste trabalho não pretende ser definitiva, mas sim preliminar,

descrevendo e explorando aspectos ainda não considerados, visto que a política da

interiorização está em andamento.

Caruaru apresenta condições que são favoráveis à interiorização das universidades,

mostrando que a autonomia local do município encontra saídas e caminhos que não

podem ser previstos, entretanto existem vários desafios, principalmente com relação às

condições financeiras e organização institucional do município. Espera-se que o presente

estudo tenha cumprido o que se propôs, e contribua para pesquisas futuras relacionadas ao

tema. Quanto aos outros municípios, o projeto, do qual essa pesquisa faz parte, pretende

explorá-los e apresentar um quadro comparativo entre eles.

AGRADECIMENTOS Agradeço à Fundação Joaquim Nabuco e ao CNPQ pela bolsa e auxílio financeiro, assim

como a Cátia Wanderley Lubambo pelo apoio, aprendizado e orientação. E, por fim, a Inês

Freire pela ajuda e simpatia, mesmo com a burocratização cotidiana.

REFERÊNCIAS BARDIN, Laurence. Análise de conteúdo. Lisboa: Edições 70, 2011.

BRASIL. Ministério da Educação. Relatório do REUNI. Brasília, DF,2009.

Disponível em http://portal.mec.gov.br.

FLEURY, Maria Tereza Leme e FISCHER, Rosa Maria (org). Cultura e poder nas

organizações. São Paulo, Atlas, 1996.

HALL, Peter A; TAYOR, Rosemary C. R. As três versões do neo-institucionalismo.

Lua Nova (on line). 2003, n.58, pp.193-223.

LOWI, Theodor. “American Business, Public Policy, Case Studies and Political

Theory”, World Politics, 1964.

MAINARDES, Jefferson. Abordagem do Ciclo de Políticas: uma contribuição para a

análise de políticas educacionais. Educ. Soc., Campinas, vol. 27, n. 94, p. 47-69, jan./abr.

2006 47 Disponível em http://www.cedes.unicamp.br.

MARQUES, Mirella. Interiorização – A nova revolução do campo. Diário de

Pernambuco.12/09/2010; Vida Urbana.

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FERNANDO DE NORONHA E A MEMÓRIA DA EDUCAÇÃO EM

PERNAMBUCO1

Isabelle dos Santos França1; Janirza Cavalcante da Rocha Lima

2

1Estudante do Curso de História UFRPE; e-mail: [email protected];

2Pesquisadora da

Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj – CGEE; e-mail: [email protected]

RESUMO: Há registros da presença de escolas no arquipélago de Fernando de Noronha já

no século XIX, 1890, período em que a ilha ainda era utilizada como presídio. Nesse

sentido, foram consultados livros do controle administrativo do presídio de Fernando de

Noronha entre os anos de 1900 e 1930, na tentativa de compreender o funcionamento da

instituição educacional da ilha durante esse período, tomando por base metodológica o

conceito de Memória Coletiva de Maurice Halbwachs (1950). Onde as recordações sobre a

escola foram consultadas a partir de documentos construídos por uma coletividade, com

objetivos específicos. Percebe-se que pouco se escreve nos documentos oficiais do presídio

sobre a escola. As informações são vagas e resumidas, nos permitindo apenas confirmar a

existência de uma escola para educação infantil e outra escola para os sentenciados do

presídio. Os livros administrativos do presídio possuem majoritariamente registros

relacionados à entrada e saída de presidiários, alimentos e medicamentos, fornecendo

poucos elementos conclusivos sobre a organização do sistema educacional instalado na

ilha de Fernando de Noronha.

Palavras–chave: Educação; Fernando de Noronha; Presídio de Fernando de Noronha

INTRODUÇÃO Os registros documentais apontam para a existência de estabelecimento de ensino, em

Fernando de Noronha, em 1890. O livro de matrícula da Escola Pública Mista do Presídio

de Fernando de Noronha indica o funcionamento da instituição até 1916. Há na história da

educação do arquipélago a constante falta de profissionais habilitados à docência. Até

recentemente, as esposas dos comandantes-governadores e dos militares ensinavam nas

escolas, independente da formação profissional. A escola, naquele momento, se estabelecia

como local de disseminação das regras morais e éticas militares. Eram reproduzidas, no

espaço escolar, as relações de poder e submissão que ocorriam em toda ilha, entre os civis

e militares. Até o início da década de 1960, já existia na ilha o Grupo Escolar Major Costa

(1957) e o Ginásio de Noronha (1964). Em 1972, essas duas instituições foram

incorporadas à Unidade Integrada de Ensino de 1º Grau do Território Federal de Fernando

de Noronha. Quando os alunos atingiam a adolescência, eram encaminhados para

internatos religiosos no Continente, localizados em Pesqueira e Garanhuns. Em 1988, a

escola passa a ser administrada pela Secretaria de Educação de Pernambuco, já que o

arquipélago é anexado à Pernambuco. Nesse momento, a escola se desvincula oficialmente

do militarismo, mas não dos problemas administrativos. De acordo com relatos de ilhéus, a

única escola existente na ilha possui muitos problemas: falta de professores e infraestrutura

deficitária (ROCHA LIMA, 2000). De acordo com Rocha Lima (2000), a escola funciona

mais como um local de aquartelamento de crianças do que como uma instituição de ensino.

“Ela, por enquanto, está sendo o depósito oficial da criança expulsa do espaço doméstico

para atender à demanda do turismo no Arquipélago” (ROCHA LIMA, 2000, p.267). O que

se percebe preliminarmente é que a escola, em Fernando de Noronha, vem funcionando, ao

longo tempo, como espaço de repressão, controle, disciplina. Ela está presente no contexto

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da ilha enquanto presídio, quartel e território do Estado de Pernambuco. Essa pesquisa

buscou, então, aprofundar os conhecimentos sobre a memória da Educação em Fernando

de Noronha.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O trabalho tem por fundamentação metodológica Maurice Halbwachs e seu conceito de

Memória Coletiva (1950). Foi adotado como caminho metodológico o mapeamento exaustivo do

corpus documental existente no Arquivo Público do Estado de Pernambuco referente à sessão

“FN”, assunto Fernando de Noronha, dos anos 1900 a 1930. Foram consultados os livros

administrativos do Presídio de Fernando de Noronha, onde foram catalogadas as páginas ou trechos

relacionados à educação no arquipélago.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Diante da documentação visitada, foi possível observar que a Escola Pública do Presídio de

Fernando de Noronha poucas vezes é citada durante a documentação consultada. No caso

específico do relatório administrativo anual, são oferecidas informações muito vagas,

citando apenas o nome da professora, indicando o funcionamento da escola durante o ano

em questão. Durante alguns anos, e de forma não sequenciada, foram feitos alguns mapas

gerais sobre o funcionamento da escola pública do presídio, a partir dos dados da matrícula

dos alunos, com dados que deveriam ser apresentados ao Diretor da Instrução Pública da

capital do Estado de Pernambuco. De forma geral, percebe-se que a escola era frequentada

por crianças (tanto meninos quanto meninas) com idade entre 5 e 11 anos de idade, que os

graus de instrução dos alunos não estavam relacionados diretamente com a idade e a escola

possuía em torno de 18 alunos matriculados. A partir da leitura de outros documentos que

constam nos livros, foi possível relacionar o sobrenome dos alunos ao sobrenome de

alguns funcionários do presídio, inclusive ao sobrenome da professora da escola, dando a

entender que essa instituição era frequentada por filhos de funcionários do presídio de

Fernando de Noronha. Durante a leitura dos documentos, puderam-se apreender

informações sobre o grau de instrução dos presidiários que, em sua maioria, eram

analfabetos. Dentre os documentos, consta, em alguns livros, uma tabela mensal com os

valores dos salários de cada funcionário do presídio anexada ao pedido mensal de verba

que o diretor do presídio encaminhava ao governador de Pernambuco. A professora recebia

um dos menores salários da tabela, ficando à frente, apenas, dos Amamuenses e do Guarda

Agente. Há, inclusive, um pedido de reajuste salarial para a professora, assinado pelo

diretor do presídio e encaminhado ao governador, de 15%, além do retroativo referente aos

anos de 1904 a 1906.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Os resultados da pesquisa foram inconclusivos. A consulta aos registros do presídio de

Fernando de Noronha seria feita com o intuito de melhor contextualizar o início do

funcionamento das instituições de educação no arquipélago. Os livros do presídio são

formados em sua maior parte por ofícios relacionados às atividades fundamentais à

manutenção da instituição carcerária. O documento indicou, em suas lacunas, não ser

primordial para o funcionamento do presídio a descrição do cotidiano da escola. Os dados

obtidos nos documentos administrativos do presídio de Fernando de Noronha, apesar de

apresentar poucas informações, indicam a presença de uma (ou mais de uma) instituição

educacional no arquipélago durante o início do século XX, dando margem à continuidade

da pesquisa nesse sentido, a partir de outros documentos da época, pertencentes à Diretoria

de Instrução Pública do Estado de Pernambuco ou até mesmo ao Palácio do Governo do

Estado de Pernambuco.

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AGRADECIMENTOS Agradecimentos ao CNPq, por me fornecer bolsa de iniciação científica, à Fundaj por

proporcionar oportunidade de desenvolver essa pesquisa e aos que compõem a

Coordenação Geral de Estudos Educacionais por contribuir com meu aprendizado durante

a execução desse projeto, especialmente à minha orientadora Jana da Rocha Lima.

REFERÊNCIAS BURKE, Peter. O que é história cultural? Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 2005.

CLIFFORD, James. A experiência etnográfica: Antropologia e literatura no século XX.

Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 1998.

FERNANDES, Rogério. A história e os seus registros: O que fazer com este museu? In:

Educação, Memória História. Possibilidades, Leituras. Maria Cristina Menezes (Org.).

Campinas: Mercado de Letras, 2004.

HALBWACHS, Maurice. A memória coletiva. São Paulo: Centauro, 2004.

HÉBRARD, Jean. As bibliotecas escolares. In: Educação, Memória História.

Possibilidades, Leituras. Maria Cristina Menezes (Org.). Campinas: Mercado de Letras,

2004.

PEIRANO, Mariza. A favor da etnografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1995.

REIS, José Carlos. A História, entre a Filosofia e a Ciência. Belo Horizonte: Autêntica

Editora, 2004.

ROCHA LIMA, Janirza Cavalcante da. Memória e tradição – a produção intelectual do

departamento de Educação da Fundação Joaquim Nabuco (1980-1995). Recife: Fundaj,

2007. [Relatório de pesquisa]

ROCHA LIMA, Janirza Cavalcante da. Nas águas do arquipélago de Fernando de

Noronha. São Paulo: PUC, 2000. [Tese doutorado]

GÊNERO E PESCA ARTESANAL NO TERRITÓRIO DO RIO SÃO

FRANCISCO

Jéssica Veruska Braga de Miranda1; Lígia Albuquerque de Melo

2

1

Estudante do Curso de. Bach em Ciências Sociais da UFRPE, bolsista de iniciação científica Fundaj/

CNPq; e-mail: [email protected]; 2

Pesquisadora da Diretoria de Pesquisas Sociais da

Fundaj – CGEA; e-mail: [email protected]. br

RESUMO: As mulheres pescadoras artesanais, de modo geral, consideram as atividades

realizadas na pesca, como extensão do trabalho doméstico. Tal entendimento contribui

para o não reconhecimento social do trabalho dessas mulheres Nesse sentido, o presente

estudo, tem como objetivo analisar as principais atividades que as mulheres desenvolvem

na pesca artesanal com recorte para as águas do Rio São Francisco. Para atingir o objetivo

da pesquisa recorreu-se a dados secundários do tipo: artigos, livros, teses, dissertações

levantadas na biblioteca da Fundaj e na internet além de estudos teóricos sobre gênero,

divisão social do trabalho, pesca artesanal, pesca artesanal no Rio São Francisco. Com base

no material pesquisado se conclui que apesar da carência de reconhecimento social do

trabalho da mulher na pesca, ela está presente nos vários ambientes pesqueiros como nos

mares, rios e estuários e no Rio São Francisco elas participam das diversas atividades que

envolvem a pesca artesanal.

Palavras–chave: Gênero; divisão sexual do trabalho; pesca artesanal; Rio São Francisco

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INTRODUÇÃO Entendendo as relações de gênero, como relações de poder historicamente e socialmente

construídas, o presente projeto utilizou os conceitos de gênero expostos por Jean Scott

juntamente com os conceitos sobre a divisão sexual do trabalho, levantados pela autora

Helena Hirata, com o objetivo de entender como se dá a relação de gênero no processo de

trabalho na pesca artesanal. Esta modalidade de pesca possui como uma de suas principais

características a utilização da mão-de-obra familiar. Nessa modalidade de trabalho, a

participação feminina é de fundamental importância. Apesar da pesca artesanal ser uma

atividade socialmente entendida como uma atividade de competência masculina, as

mulheres pescadoras artesanais; exercem diversas funções dentro da pesca, desde o

momento da coleta do peixe até a venda. No entanto, a visibilidade social da mulher

identificada como pescadora artesanal é precária.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a realização do presente estudo foi necessário a realização de um levantamento

bibliográfico de artigos, livros, teses, dissertações sobre a pesca artesanal, a pesca artesanal

no Rio São Francisco, as atividades realizadas pelas pescadoras artesanais. Em seguida,

foram realizadas leituras e discussões propostas pela orientadora, referente aos estudos de

gênero na sociedade para compreender a relação de subordinação da mulher em relação ao

homem, no decorrer da história. Foram levantados dados no site do Ministério da Pesca e

Aquicultura (MPA) sobre as modalidades de pescas existentes no Brasil, com a atenção

voltada para pesca artesanal; bem como informações na Superintendência Federal de Pesca

e Aquicultura em Pernambuco, sobre a pesca artesanal nos territórios do Rio São

Francisco. Por último, foram analisados e organizados os dados coletados para a

elaboração do relatório final da pesquisa.

RESULTADOS/DISCUSSÃO A partir das leituras realizadas e dos dados levantados a respeito do tema, percebe-se que

as mulheres pescadoras artesanais realizam atividades diretamente relacionadas à pesca

como a extração do pescado, e indiretamente como a limpeza e o beneficiamento do peixe,

bem como a confecção e o conserto de apetrechos utilizados na pesca e a comercialização

do pescado. Embora a presença das mulheres seja uma realidade, o trabalho por elas

realizado carece de uma visibilidade, de reconhecimento da sociedade.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS A pesca artesanal foi socialmente eleita, desde o início, uma atividade masculina, embora a

mulher participe ativamente das diversas atividades que envolvem a cadeia produtiva da

pesca. No Rio São Francisco a realidade das mulheres pescadoras não se apresenta de

forma diferente. Elas estão presentes na confecção de instrumentos utilizados na pesca, na

extração do peixe onde muitas vezes vão acompanhadas do companheiro nas embarcações,

no benefiamento (retirada de vísceras e escamas) e na venda do peixe. Por ser considerado

um trabalho destinado ao masculino, na pesca artesanal, apesar da participação da mulher

em diversos momentos da pesca, ela não tem o reconhecimento social devido, tendo seu

trabalho considerado uma extensão do trabalho doméstico sendo vista apenas como uma

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auxiliar do trabalho produtivo masculino. É válida a indicação para um futuro estudo de

caráter comparatório entre as pescadoras artesanais do território do Rio São Francisco com

as pescadoras artesanais localizadas no litoral, e a parti dessa perspectiva analisar a

construção de identidade com o trabalho da pesca, estabelecida por ambas pescadoras. O

presente estudo é importante para ressaltar o reconhecimento social do trabalho da mulher

pescadora, enfatizando a importância do trabalho feminino em mais um segmento da

sociedade.

AGRADECIMENTOS Agradeço à Fundação Joaquim Nabuco pela oportunidade permitida para a minha inserção

na iniciação das pesquisas científicas, tão importante para o sucesso do meu futuro

acadêmico e à minha orientadora Lígia Albuquerque de Melo por ter me apresentado os

melhores caminhos para a produção de textos científicos, permitindo dessa maneira que eu

desenvolvesse segurança e técnicas auxiliares na construção de trabalhos de cunho

científico.

REFERÊNCIAS

BECK, A. Pertence à mulher: mulher e trabalho em comunidades pesqueiras do

litoral de Santa Catarina. Natal, RN: [s. n.], 1989. Fórum de discussão sobre o universo

social da mulher, a pesca e sua relação com a ecologia.

STADLTER, Hulda. Mulheres na pesca artesanal de Pernambuco: políticas sociais e

ambientais do litoral ao sertão. Disponível em:

<http://www.fazendogenero.ufsc.br/9/resources/anais/1278169502_ARQUIVO_Textopa

pelpadrao.pdf >. Acesso em: 24 out. 2011.

MELO, Maria de Fatima Massena de; LIMA, Daisyvângela E. S.; STADLTER, Hulda

Helena Coraciara. E a pescadora pesca? Reprodução da Hierarquia dos Gêneros entre

pecadoras artesanais. Disponível em:

< http://itaporanga.net/genero/gt5/15.pdf >. Acesso em: 10 dez. 2011.

MADEIRA, Thais Fernanda Leite; MANCUSO, Maria Inês Raute. Relatos e imagens de

pescadoras do Alto e Médio São Francisco. Disponível em: < http://www.alasru.org/wp-

content/uploads/2011/07/GT5-Thais-Madeira.pdf >. Acesso em: 10 dez. 2011.

MADEIRA, Thais Fernanda Leite. Da casa ao rio: um estudo sobre as relações de gênero

e ambiente entre os pescadores do Alto-Médio Rio São Francisco. São Carlos-SP. 2006

Diagnóstico da pesca artesanal no norte de Minas, alto/médio São Francisco.

Disponível em: <http://www.saofranciscovivo.com.br/node/742>. Acesso em: 29 mar.

2012

.STADLTER,Hulda; Mulheres na pesca artesanal de Pernambuco: políticas sociais e

ambientais do litoral ao sertão.

HIRATA, Helena ; KERGOAT, Daniele ; NOVAS CONFIGURAÇÕES DA DIVISÃO

SEXUAL DO TRABALHO . Cadernos de Pesquisa, v. 37, n. 132, pág- 595- 609 – set./

dez. 2007

SCOTT, Joan; Gender: a useful category of historical analyses. Gender and the politics

of history. New York, Columbia University Press. 1989.

CABRAL, Maria Das Mercês ; STADLER, Hulda ;TAVARES, Lyvia; “MULHERES

PESCADORAS: GÊNERO E IDENTIDADE, SABER E GERAÇÃO”

Disponível: em: < http://itaporanga.net/genero/gt5/7.pdf> Acesso em: 30 de Jun. 2012

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DO DIREITO AO AMBIENTE À REGULAÇÃO DAS ATIVIDADES

REALIZADAS PELAS MULHERES NO SETOR PESQUEIRO

Kaio Cesar Damasceno de Albuquerque¹; Cibelle Honorato Melo de

Oliveira²; Izaura Rufino Fischer³

1Estudante do Curso de Direito – CCJ – UFPE; E-mail: [email protected];

² Estudante do Curso de Economia Doméstica – DCD – UFRPE; E-mail: [email protected];

³ Pesquisadora da Coordenação Geral de Estudos Ambientais e da Amazônia – DIPES – Fundaj; E-mail:

[email protected]

RESUMO: O presente estudo versa sobre a relações de gênero e ética ambiental,

buscando analisar seus reflexos na legislação pátria. Teve por escopo analisar a

participação das mulheres pescadoras na conservação do ambiente e no processo de

ordenamento pesqueiro. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, que se baseia em revisão

bibliográfica, levantamento, coleta e análise de dados secundários. Observou-se que as

mulheres desenvolvem diferentes perspectivas acerca da ética ambiental, em face

daquelas cultivadas pelos homens, em virtude de sua socialização diferenciada. O

estudo possibilitou evidenciar que a prática da pesca predatória parece estar mais afinada

com a figura masculina, posto que historicamente os homens foram socializados para

atuar no espaço público e desbravar a natureza ao mesmo tempo em que as

mulheres eram socializadas para o cuidado da coletividade (família). Os princípios

morais que sustentam essa socialização parecem se refletir na postura feminina diante

do ambiente pesqueiro, levando as mulheres a assumirem um compromisso mais ético

do que aquele cultivado pelos homens em relação à natureza e a vida. No entanto,

apesar de apresentarem maior sensibilidade com as questões ambientais, a legislação

ambiental ora vigente parece estar míope, na medida em que resquícios do sistema

patriarcal se refletem no ordenamento pesqueiro obscurecendo as atividades realizadas

pelas mulheres e, em virtude disto, tratando de forma diferenciada os ambientes onde

homens e mulheres desenvolvem seu labor.

Palavras–chave: Pesca Artesanal; Relações de Gênero; Ética Ambiental; Direito

Ambiental.

INTRODUÇÃO As relações de gênero instituídas no interior de comunidades pesqueiras sugerem

reflexões sobre o sistema patriarcal. No contexto da pesca, homens e mulheres têm

papéis fundamentados no ideário da subordinação e essa mesma lógica vem sendo

utilizada para justificar a relação indivíduo/natureza. Tal lógica é alimentada,

sobretudo, por regras morais que consideram os homens seres superiores às mulheres

e à natureza. Consoante o entendimento de Yayo Herrero (2010), a relação de

subordinação homem/mulher, cultura/natureza, produção/reprodução etc. contribui para

explicar a exploração da metade negada. Assim, a subordinação das mulheres e da

natureza aos homens é possível graças às regras morais que dão lugar a estas

dicotomias. A divisão sexual do trabalho, amparada numa socialização diferenciada

de gênero, faz com que indivíduos do sexo masculino e indivíduos do sexo feminino

desenvolvam visões diferentes sobre a natureza. As mulheres são responsáveis pelo

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cuidado da casa, saúde, educação, alimentação etc. e, sem mais preâmbulos, pelo

cuidado da família. Conforme os princípios morais elas sempre estiveram atreladas à

noção de zelo pela vida e pela coletividade, de forma que vem de longa data a intrínseca

relação estabelecida entre mulher e natureza. Os estudos de Escalier & Maneschy

(2004) e Ramalho (2007) comprovam que, na prática, ocorre uma intensa divisão das

esferas de atuação de homens e mulheres no setor pesqueiro, na qual as pescadoras estão

atreladas as áreas de maior proximidade do espaço privado da casa e o pescador ao

mar. Por sua vez, o setor pesqueiro, tipicamente intrínseco e transversal à questão

ambiental, está regulado por normas jurídicas, destinadas a proteção dos recursos

naturais, que parecem reproduzir traços patriarcais. Nesse cenário, a presente pesquisa

buscou analisar a participação das mulheres pescadoras na conservação do ambiente e

no processo de ordenamento pesqueiro. Para tal, busca-se estabelecer, a partir dos

critérios ético/morais desenvolvidos pelos(as) operários(as) da pesca artesanal, quem são

os indivíduos mais propensos à desobediência legal, apresentando uma breve discussão

sobre as áreas de pesca e a tutela jurídica a elas aplicada, cuja perspectiva hipotética

sugere que os critérios morais estabelecidos no âmago da sociedade patriarcal têm se

reproduzido, no processo de ordenamento pesqueiro, à medida que seleciona quais são

as áreas ou espécies que merecem ser tuteladas pelo direito ambiental.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Pesquisar sobre as relações de gênero, sejam as instituídas no interior de comunidades

de pesca artesanal, sejam as relações de gênero de modo geral, exige que o

pesquisador possua conhecimentos de diversas áreas e desenvolva um olhar clínico em

cada situação, posto que, por diversas vezes, se faz necessário enxergar além das

palavras ditas e dos gestos. Portanto, a abordagem multidisciplinar/subjetiva

apresentou-se como a mais apropriada para a condução de um estudo sobre gênero e

pesca artesanal. Como este subprojeto de pesquisa está atrelado ao projeto A Pesca

Artesanal no Rio São Francisco: condições ambientais e de trabalho das mulheres

pescadoras desenvolvida na Coordenação Geral de Estudos Ambientais e da Amazônia

da Fundação Joaquim Nabuco, centrou-se a delimitação do campo de estudo na Região

do São Francisco. O “Velho Chico” é um dos poucos ecossistemas brasileiros que possui

uma legislação própria que define as áreas que devem ser protegidas. A pesquisa

esteia-se em revisão bibliográfica; levantamento, coleta e análise de dados secundários.

A coleta de dados efetuou-se através de pesquisas em sítios da internet, livros, artigos

acadêmicos, periódicos, teses e dissertações, posteriormente lidos e discutidos com a

orientadora e os colegas de iniciação ligados à temática estudada. Por fim, efetuou-se a

análise e condensação dos elementos que deram origem ao presente estudo.

RESULTADOS/DISCUSSÃO A pesquisa sobre gênero, pesca artesanal e direito ambiental se desenvolve a partir de

um ponto comum: a ética. Tanto as relações de gênero na pesca, quanto à legislação

ambiental trazem consigo fortes fundamentos éticos que norteiam a atividade humana.

A legislação pesqueira, até pouco tempo, fora omissa em relação ao labor feminino,

deixando muitas vezes de reconhecer como atividades de pesca aquelas realizadas pelas

mulheres. Ocorre que, em geral, no processo de criação das leis o legislador imprime suas

convicções, suas perspectivas sobre a sociedade ignorando a mulher pescadora como

uma profissional da pesca, pondo as atividades por ela realizadas à margem das

discussões. Dessa maneira, ocorreu uma seletividade entre os ambientes de pesca

considerados financeiramente mais expressivos, de sorte que a divisão dos espaços

sociais na pesca interferiu na legislação pesqueira, à medida em que foi dada maior

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importância as áreas onde, geralmente, predomina o trabalho masculino. Trata-se da

importância dada à pesca embarcada, mediante as diversas portarias que regulamentam

o tamanho da embarcação à espessura das redes utilizadas em alto mar e, por outro

lado, a quase inexistente regulação da pesca de proximidade, sem falar da ineficácia na

fiscalização. Em pesquisas realizadas nos sítios dos Tribunais Superiores, acerca da

prática da pesca predatória, foi possível constatar que, na maioria das vezes, o agente

considerado é o indivíduo do sexo masculino. Pois bem, vê-se que a participação das

mulheres, bem como a dos homens, no processo de conservação dos ambientes

pesqueiros é de crucial importância para a preservação das espécies e, em última

análise, do próprio ambiente pesqueiro e da natureza. Contudo, parece que resquícios

do sistema patriarcal, aliados aos anseios econômicos do capitalismo, fazem dos homens

os maiores agressores destes ambientes, em virtude da manutenção dos papéis

delimitados na divisão sexual do trabalho (FISCHER, 2009). Observa-se certa

inversão, na legislação ambiental, no que diz respeito às prioridades do que merece,

ou não, proteção jurídica, no contexto do São Francisco, existindo, pois, um histórico

processo de normatização da pesca que privilegia a pesca industrial em detrimento da

pesca artesanal. No entanto, quando o debate se desloca para o período de defeso, as

primazias se invertem e as águas rasas, típicas de atuação das mulheres, passam a figurar

como prioritárias, posto que são nestes ambientes que a maioria dos peixes costumam se

reproduzir.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS A análise desenvolvida nos permite afirmar que as relações de gênero estabelecidas no

interior de comunidades pesqueiras possuem reflexos no âmbito jurídico na medida

em que é possível constatar certa seletividade nas normas de direito ambiental. No que

diz respeito à participação das mulheres na conservação do ambiente pesqueiro,

ressalta-se que a socialização dos gêneros, aliada à divisão sexual do trabalho, levam

homens e mulheres a desenvolver perspectivas morais diferentes, principalmente em

relação à ética ambiental. Logo, as relações desiguais de gênero subordinam as

mulheres aos homens no sentido de que devem corresponder as expectativas que a

sociedade lhes impõe através das leis morais. Nesse sentido, a face oculta da divisão

sexual do trabalho, que atribui ao homem o ônus de provedor, é também responsável

por deixá-los mais propensos à desobediência legal, haja vista a necessidade de utilizar

os recursos naturais para a manutenção financeira da família. Por sua vez, a socialização

diferenciada de gênero tem levado, historicamente, as mulheres a se tornarem seres

mais afetos ao cuidado com a vida e, consequentemente, com o meio ambiente. No

caso das pescadoras artesanais, observa-se que, no geral, aparentemente as mulheres

compreendem o ambiente pesqueiro como uma extensão do quintal de suas casas,

motivo pelo qual se sentem no dever de cuidar dele com o mesmo zelo que devotam ao

lar.

AGRADECIMENTOS À Deus pela graça da vida; à minha família, pelo apoio; à pesquisadora Izaura Rufino

Fischer, pelas atenciosas orientações, essenciais para a concretização desse trabalho;

às pesquisadoras Lígia Melo e Solange Coutinho, pelas contribuições e, por fim, mas

não menos importante, ao PIBIC/CNPq/Fundaj pela bolsa concedida.

REFERÊNCIAS ESCALIER, Christine; MANESCHY, Maria Cristina. Mulheres na Pesca Artesanal

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do Pará: Percepção e Estatuto. Boletim Rede Amazônia. Ano III Nº 1, 2004.

FISCHER, Izaura Rufino. A Mulher do Acampamento Rural na Conservação

Ambiental. In: MOURA, Alexandrina Sobreira de (Org). Políticas Públicas e Meio

Ambiente: da economia política às ações setoriais. Recife: Massagana, 2009.

HERRERO, Yayo. Feminisno y Ecología: reconstruir em verde y violeta. In: ACSUR –

Madrid (Org.). Mujeres y Medio Ambiente: adimiraciones y interrogantes. Madrid:

ACSUR – Madrid, 2010.

RAMALHO, Cristiano. O Caminhar Sobre as Águas das Ciências Sociais. In: COSTA,

Adriane Lobo (Org.). Nas redes da Pesca Artesanal. Brasília: IBAMA, 2007.

CONDIÇÕES E RELAÇÕES DE TRABALHO NO SERVIÇO PÚBLICO:

O CASO DOS DOCENTES DAS IFE’S

E DOS PESQUISADORES EM C&T

Maria Emília Lyra da Silva1; Darcilene Cláudio Gomes

2

1Estudante do Curso de Bacharelado em Ciências Sociais da UFRPE;e-mail:

[email protected];

2Pesquisadora da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj – DIPES-CGEP;e-mail:

[email protected].

RESUMO: O trabalho apresentado tem por objetivo analisar as carreiras dos Docentes

das Instituições Federais de Ensino Superior (IFE’s) e Pesquisadores em Ciência e

Tecnologia (C&T) durante o Governo Lula (2003-2010), a partir da política de recursos

humanos do Governo Federal brasileiro com informações sobre a seguridade social,

reestruturação das carreiras, remuneração e benefícios, democratização da gestão e

relações de trabalho. Como metodologia foram utilizados métodos qualitativos para a

pesquisa, com entrevistas semi-estruturadas, levantamento da legislação pertinente ao

tema, estudos bibliográficos e documentais. A Reforma do Estado no Governo Lula

implantou mudanças administrativas e instaurou a Mesa Nacional de Negociação,

levando ao servidor público a possibilidade de negociação coletiva por intermédio dos

sindicatos. Além disto, as Universidades aderiram ao Reuni, houve abertura de

concursos públicos e investimentos para a pesquisa. Nos Institutos Federais de

Pesquisa, há uma reestruturação da carreira, investimentos para a pesquisa e uma maior

aproximação destes Institutos ao ensino, a partir de parcerias com as Universidades e

Programas com investimentos dados por órgãos de fomento à ciência. São estas e

outras medidas que causaram impactos nas carreiras analisadas e são objetivos deste

estudo compreender tais mudanças, durante o período especificado.

Palavras–chave: carreira; participação; precarização; reestruturação; sindicalização.

INTRODUÇÃO O Brasil nos últimos 25 anos vivenciou mudanças em sua política nacional, econômica e na

forma de administrar o Estado. O serviço público é um dos marcos nas mudanças ocorridas

durante este período tendo como ícone a Reforma do Estado. Durante o Governo Fernando

Henrique Cardoso (FHC) e Governo Lula da Silva foram iniciadas importantes Reformas,

e especialmente no Governo Lula houve investimentos para a área da educação e da ciência

e tecnologia. No período recente, ocorreram mudanças na previdência social – esta Reforma

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Previdenciária foi muito aguardada, mas muito criticada à medida que foi implementada ,e

Marques e Mendes (2004) apontam que ela foi dada a “toque de caixa” e não se ocupou

dos objetivos iniciais propostos como a cobertura do risco-velhice, caracterizando-se como o

inicio de um processo de destruição do Estado que vem desde o Governo Collor - a

reestruturação das carreiras do serviço público e a criação de um espaço para a negociação

coletiva entre os servidores públicos e Estado, antes inexistente. Conforme Gomes; Barbosa;

Sória (2011) a Mesa Nacional de Negociação Permanente, representa um enorme avanço e

estabelece importante ferramenta de dialogo. Com os investimentos, o governo Lula da Silva

criou programas, tais como o Reuni, que impactaram de forma expressiva a dinâmica das

Universidades. E na área da Ciência e Tecnologia, fomento à pesquisa, com investimentos para

o desenvolvimento científico. Comitantemente a diversas mudanças e investimentos, há

mudanças do trabalho docente e uma nova configuração de pesquisador em C&T, então, esta

fase caracteriza-se como a busca do servidor por uma nova identidade, de acordo com

Nogueira (1999). Portanto, são objetivos desta pesquisa compreender tais alterações para

as carreiras de Pesquisador em Ciência e Tecnologia (C&T) e Docentes das Instituições

Federais de Ensino Superior (IFE’s), como forma de analisar as condições e relações de

trabalho estabelecidas durante o período de Governo que foi de 2003 a 2010. Utilizando como

marco a Constituição Federal de 1988, que consolida a garantia de direitos aos cidadãos

brasileiros, e fazendo uso da legislação pertinente ao tema abordado, assim como bibliografia

sugerida, serão estudados os percursos mais relevantes para se chegar aos objetivos

propostos nesta pesquisa, dentre eles, o estudo do sindicalismo brasileiro, sua estrutura - que

conforme Boito Jr. (1991) tem na investidura sindical (um dos elementos que formam a

estruturam o sindicato) o poder de representação e direito à negociação coletiva de salários e

condições de trabalho - e seu funcionamento no serviço público percebendo a participação

política dos sujeitos estudados. A seguridade social, também estudada, a fim de

compreender a previdência social e como são estabelecidos seus critérios para o servidor

público e mudanças vindas das Reformas. As relações de trabalho, observando as formas de

negociação coletiva e relação dos servidores com sindicatos. Os benefícios e remuneração, a

partir das negociações realizadas e observação das mudanças remuneratórias durante o

período. E por fim, questões relativas à saúde, tanto a assistência médica quanto a atenção à

saúde do servidor na sua relação com as atividades realizadas.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

O método utilizado foi o de pesquisa qualitativa com entrevistas semi-estruturadas,

contando com dois sujeitos de pesquisa para a investigação: docentes das IFE’s e

pesquisadores em C&T. De quais, foram visitadas duas Universidades Federais do

Estado de Pernambuco: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e Universidade

Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), e suas unidades interiorizadas. Das unidades

interiorizadas da UFPE, tivemos: o Centro Acadêmico do Agreste (CAG), localizado no

município de Caruaru – PE e o Centro Acadêmico de Vitória (CAV), localizado no

município de Vitória de Santo Antão – PE. Das unidades interiorizadas da UFRPE,

tivemos: a Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) e a Unidade Acadêmica de

Garanhuns (UAG). Ao todo foram entrevistados seis docentes de todas as instituições

federais de ensino citadas. Por parte dos pesquisadores, foram realizadas um total de

cinco entrevistas em três Institutos de Pesquisa Federal do estado de Pernambuco: a

Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho (Fundacentro), o

Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste (Cetene) e o Centro Regional de Ciências

Nucleares (CRCN).

Portanto, entende-se aqui que para compreender como se deram as mudanças ocorridas na

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carreira dos sujeitos estudados, fez-se necessário compreender os contextos externos as

carreiras, contextualizando com os dados coletados a partir do trabalho de campo, como

também o uso da bibliografia estudada, obtendo resultados e conclusões que serão

apresentados a seguir.

RESULTADOS/DISCUSSÃO

São duas as importantes questões que influenciam de forma direta as condições e relações de

trabalho na carreira docente: as de infraestrutura, e as de fenômenos específicos da carreira

docente. Temos com o REUNI, a expansão universitária com a criação de novos cursos e

interiorização das universidades. Com isso, o movimento sindical tem uma baixa adesão local

dos professores/docentes o que tornam as reivindicações sindicais um tanto distantes de

proposições que realmente exerçam mudança nas condições locais do trabalho. Durante o

Governo Lula, há a abertura de concursos públicos e segundo dados do Ministério do

Planejamento e Orçamento há um aumento de 41.352 para 64.574 docentes ativos e não-

temporários, do período de 2003 a 2010. Esta recomposição também esteve relacionada ao

REUNI, mas não supriu a real necessidade de docentes, tendo que serem contratados

professores temporários para cobrirem tal necessidade. A defasagem na remuneração do

docente foi consenso entre todos os professores entrevistados, e percebe-se que o esforço

empreendido na atividade docente pode ser proporcional a sua satisfação em exercer tal função,

tendo em vista a baixa remuneração e a quantidade de atividades desenvolvidas por um

professor. A previdência social, é uma questão polêmica ao se tratar de reestruturação da

carreira docente, devido à mudança que já vinha sendo discutida desde o Governo de

Fernando Henrique Cardoso, e que teve sua redefinição no ano de 2003, já durante o

Governo Lula: o pagamento da previdência social pelos servidores inativos. Tal Reforma

põe em discussão e justificativa, por parte do Governo, o pagamento da divida interna em

sacrifício de desconto dos inativos. Contudo é posta em dúvida por parte dos docentes das IFE’s a

forma de recolhimento e gerenciamento de tais cofres públicos. Uma questão pontual, que

merece uma devida atenção na carreira docente das IFE’s tornou-se a da saúde do servidor

público no que se refere à assistência médica e ao acompanhamento da saúde do professor

com exames periódicos. Ao que consta, a partir das entrevistas realizadas, é a insatisfação quanto

ao valor recebido para o auxilio complementar à saúde, que por vez passa despercebido no

contracheque dos Professores.

A carreira de pesquisador em Ciência e Tecnologia (C&T) tem como principal eixo a pesquisa

cientifica e apesar de se caracterizar como uma carreira diferente da carreira docente, e estas

possuírem diferentes funções, elas muito se assemelham, pois ambas tem em suas

definições de atividades a pesquisa, e alguns pesquisadores também adotam o ensino.

Pode-se notar a partir das entrevistas realizadas, ao se tratar de mudanças para a carreira, que

ressaltaram-se os incentivos e investimentos de fomento à Ciência e Tecnologia, durante o

Governo Lula, contudo, estes são dados de forma distinta para cada área de atuação. No ano

de 2008 várias negociações, consecutivas da greve e paralisações do ano anterior, 2007, foram

realizadas. O Fórum de C&T e o SindCT tiveram importante papel na consolidação dessas

negociações e implementação de aumentos salariais, assim como mudanças nas gratificações

recebidas. A remuneração também é um ponto de insatisfação entre os pesquisadores,

contudo estes lutam mais pela incorporação das gratificações ao salário base, tendo um vista um

melhor recolhimento na aposentadoria. A mesma, percepção dos docentes sobre a

previdência social e suas mudanças, tem os pesquisadores. Quanto a saúde do servidor,

nota-se que cada Instituição dá uma diferente importância à questão, de acordo com as

atividades demandadas em cada área de atuação nas pesquisas. Principalmente o Cetene, CRCN

e Fundacentro têm em suas rotinas uma atenção aos exames periódicos dos servidores. Mas, a

assistência médica ainda é umas das mais frágeis condições, especialmente considerando as

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especificidades da carreira, pois muitos pesquisadores vivem uma rotina de riscos em seus

laboratórios e experimentos. Como os demais servidores públicos, a assistência médica

depende da contratação de planos privados de saúde, e, para tanto, há o incentivo considerado

insatisfatório à saúde suplementar pago pelo governo federal (muito aquém dos valores

praticados pelo mercado).

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

Sendo assim, a partir das colocações apresentadas, constata-se uma precarização do trabalho

docente nas condições de trabalho locais (infraestrutura), e a necessidade de uma

reestruturação da carreira que inclua revisão salarial e critérios diferenciados de avaliação,

também é preciso repensar a questão da saúde e a previdência social. Compreendendo que

estas três questões relacionam-se e são contínuas. A falta de participação dos sujeitos

estudados nas proposições de mudança para a carreira também contribui para uma demora

no avanço da qualidade nas condições do trabalho. Portanto, a participação mais efetiva, com

a real protagonização dos atores, é essencial para atribuição de mais força e consolidação das

propostas sobre a reestruturação da carreira.

Nota-se uma variável participação e envolvimento nas discussões sobre as condições e relações

do trabalho dos pesquisadores em C&T, de acordo com o instituto de pesquisa, no qual os

sujeitos são lotados, confirmando uma descentralização da atividade sindical e

heterogeneidade dos atores envolvidos. Quanto a reestruturação da carreira confirma-se (como

para os docentes) a necessidade de tratar as questões sobre a saúde, a remuneração e a

previdência de uma forma contínua e inter- relacionada.

Compreende-se aqui, a amplitude da pesquisa em questão, e a importância de continuidade da

investigação para aprofundamento das questões relevantes apresentadas, como a saúde do

servidor, e a participação política e sindicalização entre os sujeitos investigados.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao CNPq e a Fundaj pela concessão da bolsa neste Programa de Iniciação

Científica. À minha orientadora, Pesquisadora Dra. Darcilene Gomes pela oportunidade de

desenvolvimento desta pesquisa e pelos ensinamentos dados. Aos pesquisadores (as) da

CGEP. À coordenação do Programa, e a Inês Freire, sempre solicita aos bolsistas.

REFERÊNCIAS BOITO Jr., A. Introdução; Um Aparelho de Tipo Particular: o sindicato de Estado.

BOITO Jr., Armando. O Sindicalismo de Estado no Brasil: uma análise crítica da

estrutura sindical. Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1991. p. 11 – 59

BRASIL. Plano Diretor da Reforma do Estado. Brasília: Câmara da Reforma do Estado,1995.

68p.

BRASIL. Programa de Governo 2002. Brasília: 2002, 73p.

BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Brasília, 1988.

GOMES, Darcilene; BARBOSA, Leonardo; SÓRIA, Sidartha. Condições e Relações de

Trabalho no Serviço Público: O caso do Governo Lula. 1º Simpósio Brasileiro de

Ciência de Serviços, Brasília, 2010.

MARQUES, R. M.; MENDES, A. O Governo Lula e a Contra-Reforma Previdenciária. In:

São Paulo Perspectiva, 18(3): 3-15, 2004.

NOGUEIRA, Arnaldo J. F. Mazzei. Emergência e Crise do Novo Sindicalismo no Setor

Público Brasileiro. RODRIGUES, Iram Jácome. O Novo Sindicalismo. Petropolis, RJ: Editora

Vozes, 1999.

Page 43: DEFESA CIVIL OU DEFESA SOCIAL: APROXIMAÇÕES E … · Direito Penal a função de ... Os grandes movimentos da política criminal de nosso tempo: aspectos. In: . (Org.) Sistema penal

FATORES DE EVITABILIDADE DA MORTALIDADE PERINATAL,

RECIFE (PE), 2010

Midiã Gomes da Silva1; Cristine Vieira do Bonfim

2

1Estudante do Curso de Bacharelado em de Enfermagem - UNINASSAU; e-mail:

[email protected]; 2

Pesquisadora da Coordenação Geral de Estudos Sociais da Fundaj –

CGES; e- mail: [email protected].

RESUMO: O estudo objetiva descrever o perfil da mortalidade perinatal, sob a

perspectiva da evitabilidade no Recife. Trata-se de um estudo descritivo de corte

transversal, cuja população foi composta por todos os óbitos perinatais ocorridos em

2010, entre a 22ª semanas de gestação até seis dias completos de vida extra-uterina,

pesando 500g ou mais ao nascer, de gravidez única de residentes do Recife, não-

portadores de anencefalia. A fonte dos dados, constituída pelos Sistemas de Informação

sobre Nascidos Vivos e Mortalidade. Foi utilizado o critério de classificação de

evitabilidade por intervenções do Sistema Único de Saúde do Brasil. Utilizou-se

estatística descritiva para análise dos dados. A taxa de mortalidade perinatal foi de

12,81/1000 nascidos totais, 6,88 óbitos fetais e 5,90 neonatais precoces. Ocorreram

281 óbitos perinatais, 151 (53,73%) fetais e 130 (46,26%) neonatais precoces. Do

total de óbitos perinatais, 149 (53,02%) considerados evitáveis, sendo 80 (53,7%)

mortes reduzíveis por adequada atenção à gestante, 42 (28,18%) por adequada atenção

ao parto e 27 (18,12%) ao recém-nascido. Os resultados demonstraram que no Recife

ainda ocorrem muitas mortes perinatais evitáveis. As ações preventivas e contínuas são

importantes para alcançar melhores indicadores.

Palavras–chave: Estatísticas vitais; mortalidade neonatal; mortalidade perinatal;

sistemas de Informação.

INTRODUÇÃO

A mortalidade perinatal é considerada um indicador de saúde materno-infantil que reflete

tanto as condições de saúde ligadas aos fatores socioeconômicos, quanto à qualidade da

assistência durante a gestação, o parto e ao recém-nascido (LANSK et al., 2006). O Brasil

é assinante dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM), compromisso

estabelecido pela OMS que tem como propósito alcançar condições de vida mais digna

para a população. Uma das metas do ODM consiste na redução da mortalidade infantil

com o objetivo de atingir o coeficiente de 17,9 óbitos por mil nascidos vivos (NV) para o

país até 2015 (MS, 2009). A diminuição da mortalidade perinatal depende do

reconhecimento dos riscos da gravidez e da criança, além do acesso oportuno a serviços de

saúde regionalizados e qualificados (LANSKY; FRANÇA; LEAL, 2002). Dos óbitos

perinatais que estão relacionados ao acesso e utilização dos serviços de saúde, a maioria, é

considerado eventos sentinela (LANSKY et al., 2006). O evento sentinela é o ato de

detectar uma doença, incapacidade ou morte prevenível, e, após a detecção, o Sistema de

Vigilância Sentinela, sistema de monitoramento, é acionado utilizando esse evento como

sinal de alerta para a inspeção da terapêutica ou prevenção utilizada, na qual, deve

rapidamente estabelecer medidas indicadas evitando futuros casos (MINISTÉRIO DA

SAÚDE, 2004). De fato, muitos problemas que surgem no período perinatal contribuem

para o desenvolvimento da doença e morte nos primeiros dias de vida. Com o estudo dos

óbitos perinatais ocorridos no Recife em 2010, poderão ser apontados aspectos importantes

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que cooperem para a melhoria dos indicadores perinatais na cidade.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foi realizado um estudo descritivo de corte transversal, cuja população foi composta

por todos os óbitos perinatais de mães residentes na cidade do Recife, capital de

Pernambuco, estado localizado no litoral da Região Nordeste do Brasil ocorrido no ano de

2010. A fonte de dados foi constituída pelo Sistema de Informações sobre Nascidos

Vivos (SINASC) e pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM).

Considerando-se perda fetal o natimorto com peso igual ou superior a 500g e/ou idade

gestacional maior ou igual a 22 semanas e óbito neonatal precoce, o óbito infantil de

zero a seis dias de vida completos e peso ao nascer igual ou superior a 500g de gravidez,

não-portadores de anencefalia. Foram utilizadas variáveis relacionadas às características

maternas (idade e escolaridade), ao parto (tipo de parto e local de ocorrência) e ao recém-

nascido (sexo, tempo de gestação e peso ao nascer). Foi utilizado o critério de

classificação de evitabilidade por intervenções do Sistema Único de Saúde (SUS) do

Brasil, Malta (2007). Utilizou-se estatística descritiva para análise dos dados. A

pesquisa foi submetida à análise e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do

Hospital Otávio de Freitas (CAEE nº 02387012800005200). Foi solicitada a anuência

do gestor municipal de saúde para utilização do banco de dados do SIM.

RESULTADOS E DISCUSSÃO Foram registrados 21.920 nascimentos ocorridos no Recife, com 281 óbitos

perinatais, sendo 151 (53,74%) fetais e 130 (46,26%) neonatais precoces. O

coeficiente da mortalidade perinatal foi de 12,81 por mil nascimentos. A redução da taxa

de mortalidade, como indicador social, reflete melhores condições e esperança de vida

de uma população (MARTINS, 2010). De acordo com as características maternas,

verificou-se 171 (61,96%) dentre os óbitos perinatais, que as mães tinham

escolaridade acima de oito anos. A escolaridade materna tem influencia na assistência

pré-natal, uma vez que, há relação entre a disponibilidade dos serviços de saúde e o

autocuidado da população (TREVISAN et al., 2002). Contabilizaram-se 225 (80,07%)

óbitos de bebês prematuros e 212 (77,38%) de baixo peso no período perinatal. Os

partos prematuros estão ligados a fatores epidemiológicos, obstétricos, ginecológicos,

clínico-cirúrgicos e iatrogênicos, sendo responsáveis por aproximadamente 50% dos

casos (BITTAR, ZUGAIB, 2003). Identificar e diagnosticar precoce e precisamente os

estágios iniciais do trabalho de parto prematuro leva o profissional a prorrogar e

promover o nascimento em melhores condições (CRURVINEL, PAULETTI, 2009). A

principal causa do óbito foram as afecções maternas que afetam o feto ou recém-

nascido, contabilizando 44 (29,53%) óbitos perinatais. A vaginose bacteriana é uma

das afecções maternas mais frequentes, alterando o pH local conduzindo à bolsa rota

precocemente; recomendando-se o tratamento em gestantes assintomáticas portadores

dessa infecção, mesmo que seja desnecessário. (BITTAR, ZUGAIB, 2003).

Contabilizaram-se 149 (53,03%) óbitos perinatais evitáveis evidenciando as mortes

reduzíveis por adequada atenção à mulher. No Brasil, as mortes perinatais estão

diretamente relacionadas às principais causas de óbito materno, que são hipertensão

gestacional; hemorragia; infecção puerperal; doenças do aparelho circulatório,

complicadas pela gravidez; parto, puerpério e aborto (BRASIL, 2012). Como fator

importante para a saúde coletiva, a identificação do óbito perinatal permite além de

classificá-lo, direcionar para o planejamento local e específico das medidas de prevenção.

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CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Os resultados apresentaram que no Recife ainda ocorrem muitas mortes perinatais

evitáveis. As ações contínuas de promoção e prevenção em saúde nas comunidades

com monitoramento e aconselhamento de riscos; treinamentos de profissionais na

utilização de novas tecnologias; sensibilização e humanização no atendimento pré-

natal, parto e neonatal são importantes investimentos para alcançar melhores indicadores.

AGRADECIMENTOS Agradeço ao PIBIC/FUNDAJ/CNPq por me proporcionarem o aprendizado de técnicas

e métodos de pesquisa, sob orientação da pesquisadora drª Cristine Bonfim,

fornecendo suporte e formação necessários para o meu desenvolvimento técnico-

científico.

REFERÊNCIAS

BITTAR, R. E.; ZUGAIB, M. Parto prematuro: fatores predisponentes e prevenção.

In: MARCONDES, Eduardo et al. Pediatria básica. São Paulo: Sarvier, 2003. p.337-345.

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da Saúde, 2004.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Saúde Brasil 2007,

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Acesso em: 26 jan 2012.

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LANSKY, S. et al. Mortes perinatais e avaliação da assistência ao parto em

maternidades do Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte (Minas Gerais, Brasil,

1999). Caderno de Saúde Pública, Rio de Janeiro, v. 22, n. 1, p. 117-130, 2006.

MALTA, D. C. et al. Lista de causas de mortes evitáveis por intervenções do

Sistema Único do Brasil. Epidemiologia e serviços de saúde, Brasília, v.16, n. 4, p. 233-

244, 2007.

MARTINS, E. F. Mortalidade perinatal e avaliação da assistência ao pré-natal, ao parto

e ao recém nascido em Belo Horizonte, Minas Gerais. 2010. 178f. Tese

(Doutorado) – Escola de Enfermagem, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo

Horizonte, 2010.

PEREIRA, P. P.; NEME, B. Traumatismo fetal: aspectos obstétricos. In:

MARCONDES, Eduardo et al., Pediatria básica. São Paulo: Sarvier, 2003. p. 305-306.

TREVISAN. M. R. et al. Perfil da Assistência pré-natal entre usuárias do Sistema Único

de Saúde em Caxias do Sul. Revista Brasileira de Genicologia e Obstetrícia, Rio

Grande do Sul, v. 24, n. 5, p. 293-299, 2002.

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O CONTEXTO DA PRÁTICA DOCENTE NO PLANO DE

AÇÕES ARTICULADAS (PAR)

Raul Vinícius Araújo Lima1; Cibele Maria Lima Rodrigues

2

1Estudante do Curso de Licenciatura em Ciências Sociais – UFPE; Email:

[email protected], 2Pesquisadora da Coordenação Geral de Estudos Educacionais –

CGEE – FUNDAJ; Email: [email protected]

RESUMO: O Plano de Ações Articuladas (PAR) tem como objetivo tornar o atual

Plano Nacional de Educação mais operacional, dentro dos municípios brasileiros,

criando ações que visam cumprir as diretrizes estabelecidas, na busca pela melhoria

da educação básica. Dentre as ações, destaca-se o Programa Mais Educação, que é

objeto de análise do presente trabalho. Portanto, foram entrevistadas 10

professoras da rede municipal de Jaboatão dos Guararapes que coordenam o

programa. O objetivo foi avaliar Programa considerando o perfil desses professores,

suas trajetórias de formação, suas condições de trabalho, sua expectativa em relação à

prática e sua interpretação sobre o programa, no sentido que esses fatores podem

influenciar no desenvolvimento da política educacional em questão, foram nossos

objetivos. Através da metodologia do Ciclo de Políticas de Stephen Ball, podemos

observa a variedade de interpretações e tipos de prática acerca da política pública

do Programa Mais Educação, este que foi considerado pelo discurso dominante das

professoras como um apoio aos alunos, aos pais e aos professores, atendendo às

necessidades específicas desses atores pedagógicos.

PALAVRAS-CHAVE: política educacional; prática docente; programa mais

educação.

INTRODUÇÃO A pesquisa inicial que tem por objetivo mais geral avaliar a implementação do Plano de

Ações Articuladas do MEC, no contexto das práticas educativas desenvolvidas na

busca de uma educação de qualidade. Neste sentido, nossa pesquisa buscou analisar

apenas uma das ações contidas no plano, qual seja, o Programa Mais Educação, que

visa a ampliação do tempo de permanência das crianças nas escolas, dentro rede

municipal de Jaboatão dos Guararapes. O objetivo da análise é o contexto da prática

dos professores que atuam como coordenadores do referido programa, considerando

questões específicas em relação à interpretação dos docentes em relação à política e

avaliar em que medida as trajetórias e expectativas de cada docente, em relação ao

processo educativo, podem influenciar no contexto da prática.

A escolha dos professores, como sujeitos de análise, tem por base a metodologia de

Stephen Ball, o Ciclo de Políticas, que permite uma análise crítica da trajetória do

programa e que toma o modo da execução da política, em nosso caso desenvolvido

pelos professores, um fator importante, pois, será nesse momento no qual a política é

interpretada e recriada. Construímos nossa análise sobre a ampliação do tempo de

permanência dos alunos na escola através da teorização de Ana Maria Cavaliere. A

autora traz como reflexão duas diretrizes: uma diretriz visa investir em melhorias nas

condições estruturais da escola, a escola em tempo integral, e outra que fomenta

articulações com instituições e projetos, em prol de atividades que não

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necessariamente sejam promovidas dentro da área escolar, o aluno em tempo

integral. Com isso a pesquisa busca analisar os discursos dos docentes acerca do

Programa Mais Educação e os efeitos produzidos através de suas práticas e

interpretações sobre a política pública.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A pesquisa possui caráter qualitativo e usou como instrumento uma entrevista e a

observação. A entrevista foi elaborada a partir das dimensões do PAR e contam com

quatro categorias de análise: condições de trabalho, avaliação da prática,

expectativa em relação à prática e trajetória da construção da profissão docente. Na

observação conversamos informalmente com as docentes, com gestoras, com alunos,

com pais, para compreender as nuances de nosso campo.

Foram escolhidas dez escolas situadas dentro do município de Jaboatão dos

Guararapes, a partir das indicações da equipe responsável pelo acompanhamento do

Programa Mais Educação no município. Foram elencadas escolas com dificuldades de

desempenho do programa e outras que apresentam um melhor desenvolvimento do

programa, para obtermos representações diferenciadas do programa.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Entrevistamos 10 Professores Comunitários, mais especificamente, dez professoras

comunitárias, pois, encontramos apenas mulheres no exercício dessa função nas

escolas, com uma média de 30 a 39 anos de idade, com 5 a 15 anos de experiência

docente. A maioria das professoras é formada em apenas um único curso, Pedagogia,

as outras docentes são formadas em licenciaturas diversas. As professoras são

chamadas e tratadas como verdadeiras tias, o que é passível de uma análise mais

detalhada, pois, elas e os outros atores pedagógicos estão reproduzindo, acerca da

sua profissão docente, um mesmo discurso que difere bastante daquele de Paulo

Freire, no qual o autor afirma que essa categorização retira delas todo o caráter

político e profissional da profissão docente. Apenas cinco professoras afirmaram já ter

cursado outros cursos além dos referidos à suas áreas de ensino, e apenas uma

professora afirmou ter tido experiência em um grupo social, qual seja, uma ONG.

Percebemos um indício de quanto mais diversa for a formação dessas docentes,

maior será o saber advindo pelas experiências, e a partir dessas as professoras

poderão julgar a pertinência das reformas introduzidas nos programas ou nos

métodos. Encontramos na fala das docentes a imagem de profissão mal remunerada e

desvalorizada pela sociedade e pelo estado, concluímos que a imagem das tias está

atrelada a uma desvalorização da profissão. Sete docentes sugeriram uma melhor

estrutura física para as escolas, que em grande maioria são casa alugadas pela

prefeitura, um melhor pagamento e treinamento aos monitores. Através de nossas

observações, podemos perceber que a estrutura física das escolas é algo preocupante,

pois, em sua maioria, elas estão mal conservadas e equipadas. O discurso mais

frequente relatado nas entrevistas sobre o que seria a educação integral, pelas

professoras foi o de que a educação integral é a educação responsável pelos alunos

como um todo, que completa o desenvolvimento deles através de atividades

culturais e esportivas. Todas as articuladoras consideraram o Mais Educação um

programa que está implementando a educação integral.

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CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS O Programa Mais Educação, enquanto uma ação de uma política maior, atua

diretamente dentro dos municípios, buscando a melhoria da educação infantil, e é

interpretado com certa equidade pelas professoras comunitárias do município de

Jaboatão dos Guararapes. Porém encontramos situações de diferentes interpretações

sobre o programa, configurando-o como um texto político, que pode ser considerado

um discurso dominante, como também será alvo de diferentes interpretações,

resultando em diferentes práticas também. As professoras comunitárias, enquanto

agentes atuantes, com suas formações e suas as expectativas causaram mudanças

sobre os resultados das atividades e sobre o desenvolvimento dos alunos. Por fim, o

trabalho mútuo de todos os atores pedagógicos, pais, alunos, professores

comunitários, gestores, professores regulares, monitores é necessário para a melhoria

da educação, pois, assim como outros programas, o Mais Educação, acontece

dentro e para escola, que precisa dessa cooperação para a superação da

desvalorização da educação. E a Educação Integral está posta neste meio como uma

educação do aluno em tempo integral, porém de forma precária, por não oferecer a

estrutura adequada para o desenvolvimento das atividades dos alunos.

Enfatizar as principais conclusões do estudo.

AGRADECIMENTOS

Agradeço ao CNPQ pela bolsa PIBIC, sem a qual essa pesquisa não poderia ser

desenvolvida. E também a FUNDAJ, pela qualidade da estrutura fornecida nesse

processo de formação profissional, a Cibele Rodrigues pela oportunidade orientação, e

aos amigos Danilo Farias e Gleiciane de Souza pela parceria no trabalho.

REFERÊNCIAS AMBROSSETI, Neusa Banhara; ALMEIDA, Patrícia Cristina Albeiri de.

Profissionalidade docente: Uma análise a partir das relações constituintes entre

professores e a escola. Revista Brasileira de Estudos Pedagógico RBEP, vol. 90, n.

226, p. 592-608, 2009.

BALL, S. J. Diretrizes políticas globais e relações políticas locais em educação.

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BRASIL. Rede de Saberes mais educação: pressupostos para projetos

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CAVALIERE, Ana Maria. Escolas de tempo integral versus alunos em tempo

integral. Em Aberto, Brasília, v. 22, n. 80, p. 51-63, abr. 2009.

FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso: Aula inaugural no College de France,

pronunciada em 2 de dezembro de 1970. – São Paulo: Ed Loyola, 1996.

FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não: cartas a quem ousa ensinar. São Paulo.

Ed. Olho D´Água. 1997.

FUNDAÇÃO JOAQUIM NABUCO. Avaliação do Plano de Ações Articuladas

no Contexto do Plano de Metas Compromisso Todos Pela Educação. Relatório

Intermediário I – Nordeste. Recife, 2011.

MAINARDES, J. Abordagem do ciclo de políticas: uma contribuição para a

análise de políticas educacionais. Educ. Soc., Campinas, v. 27, n. 94, p. 47-69,

jan/abr 2006.

PLANK, David N. Política Educacional no Brasil: Caminhos para a salvação

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pública. Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.

TARDIF, Maurice. Saberes docentes e formação profissional. 9. ed. Petrópolis:

Vozes, 2008.

POLÍCIA MILITAR ESPECIALIZADA SOB FOCOS DE

LENTES

Roberto Barreto Marques1, Ronidalva de Andrade Melo2

1

Graduando do bacharelado em ciências sociais pela UFRPE- E-mail:

[email protected] 2

Pesquisadora da Coordenação Geral de Estudos Culturais e Sociais (CGES) –

Fundaj -E-mail: [email protected]

RESUMO: A presente pesquisa visa analisar cinco unidades especializadas da

polícia militar de Pernambuco (Companhia Independente de Operações Especiais,

Companhia Independente de Policiamento com Moto, Regimento de Polícia Montada,

Batalhão de Polícia de Choque e Batalhão de Polícia de Trânsito) sob a perspectiva

dos princípios do movimento de Defesa Social, tendo como um dos principais

objetivos a captação de imagens das unidades, tendo em vista o armazenamento desta

informação visual e a compreensão do que estas polícias dispõem para enfrentar a

criminalidade e fornecer serviços condizentes com as necessidades da sociedade.

Procurando analisar estruturalmente as instituições mencionadas, dividimos o

presente texto (na parte destinada aos resultados) em cinco momentos, onde

consideramos a situação do efetivo, estrutura física, recursos financeiros, materiais

tecnológicos, formação e programas sociais.

Palavras-chave: Polícia Militar de Pernambuco, Defesa Social, Segurança Pública,

Imagens

INTRODUÇÃO Como parte da pesquisa maior, o presente trabalho ficou responsável por dar conta

da instituição Polícia Militar de Pernambuco, especificamente cinco unidades da

polícia militar especializada: Regimento de Polícia Montada (RPmon), Batalhão de

Polícia de Choque (BPchoque), Batalhão de Polícia de Trânsito (BPtran),

Companhia Independente de Policiamento como Moto (CIPmoto, mais conhecida

como ROCAM) e Companhia Independente de Operações Especiais (CIOE).

Intentando verificar o que tais unidades dispunham para fornecer serviços

condizentes com as necessidades da população, adentramos no interior destas

instituições, observando suas estruturas físicas e colhendo informações a respeito do

que elas dispunham de equipamentos tecnológicos, material humano, recursos

financeiros, programas sociais, armamentos e instrução e renovação de

conhecimentos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS A presente pesquisa lança mão das seguintes fontes e técnicas: entrevistas não-

estruturadas e semi-estruturadas com comandantes e subcomandantes das unidades,

filmagem e fotografia das estruturas das unidades e de alguns procedimentos dos

policiais, gravação em áudio, análise de dados secundários e observação direta.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO As diversas instituições públicas, ligadas ao Estado, devem agir em consonância e

diálogo com a sociedade civil, com a comunidade, utilizando aparatos técnicos e

científicos multidisciplinares para agir sobre o que Guerra (apud Melo, 2002) chama

de violência branca (negação da cidadania), que gera a violência vermelha (atividade

criminosa que danifica a vida social e despreza o contrato que rege a ordem e a vida

em sociedade).

Neste sentido a ideia de Defesa Social, que abarca várias esferas da vida, indo da

segurança pública à empregabilidade do cidadão, passando mesmo pela iluminação

pública, deveria estar também no seio da polícia militar do estado de Pernambuco já que

esta está vinculada a uma instituição denominada de Secretaria de Defesa Social,

que coordena diferentes instituições além desta polícia, como Polícia Civil, Polícia

Científica e Corpo de Bombeiros Militar.

No entanto uma política pública que vise diretamente a articulação de diferentes

instituições pública (ultrapassando as que são administradas pela SDS) e a sociedade

civil aparece no estado apenas no ano de 2007. Tal política pública foi denominada

de “Pacto Pela Vida”, que até o presente momento tem como principal propósito

reduzir os índices de assassinatos no estado, para tanto procurando.

Contudo a Polícia Militar do estado age sob outros delitos e contravenções penais

como: furtos e roubos (7.969 registros em 2010), crimes contra o meio ambiente (150

registros no ano de 2010), crimes contra a paz pública (4.334 registros em 2010),

crimes contra o patrimônio (131.900 registros em 2010), entres outros. Como a

concentração se dá nos CVLI, as policiais especializadas estudadas, que não possuem

uma área fixa de atuação, como os batalhões de área, comprometem suas atuações

específicas no intuito de dar apoio descontextualizado aos batalhões de área.

Falamos de apoio descontextualizado porque as doze unidades de polícia

especializada do estado de Pernambuco dispõe, cada uma, de um treinamento e

especialidade específica e que tal especialidade fica comprometida quando há o

destacamento de efetivo para complementar os batalhões de área. Temos o exemplo

da polícia montada, que oferece um curso exaustivo, de mais de duas semanas

(todos os dias e cerca de doze horas por dia) para iniciar o policial na montaria, no

policiamento a cavalo. Eles também dispõe de treinamento periódico com o cavalo,

sendo tão excelente a performance dos policiais, que eles participam de competições

no estado e fora dele. No entanto o efetivo, já deficiente, frequentemente sofre

empréstimos para batalhões, onde o policial montado trabalha sem seu animal,

executando um trabalho policial que não é sua especialidade.

Deste modo, mesmo com a efetiva redução no número de crimes violentos letais

intencionais - ao menos se compararmos os dados das vítimas entre os anos de 2007

(4.592) e 2010 (3.496), segundo informações no site da SDS –, as unidades

especializadas estão se comprometendo. Na verdade é por conta do Pacto Pela Vida

que verificamos alguns problemas nas unidades investigadas, como na CIOE, cujos

policiais são responsáveis por atuar em ocasiões com reféns e bombas, possuindo

cursos e conhecimento para tal atuação, mas não um equipamento necessário.

Segundo o comandante da unidade, falta a roupa antifragmentação e um

equipamento de raio-x. O primeiro serve para o policial se aproximar de objetos

suspeitos de conter bomba e protegê-lo em caso de explosão. O segundo equipamento

verificaria que elementos estão contidos em um recipiente suspeito de conter material

explosivo.

Em termos de estrutura física as unidades analisadas sofrem com alguns problemas

pontuais, havendo apenas uma com um grave problema, mas com solução em

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andamento. O BPchoque dispõe de uma estrutura física alocada em um antigo sobradão

de antiga família opulenta do Recife e, apesar da antiguidade do imóvel, está muito

bem preservado, dispondo de academia, sala de jogos e biblioteca (todas financiadas

pelos próprios soldados). Já a CIOE apresenta algumas fiações expostas, cupins e

um ar condicionado quebrado há algum tempo. Mas a unidade com maior problema

físico é a RPmon, que em vista realizada se encontrava solucionando problemas na

rede elétrica, que não estava suportando alguns equipamentos, como ar

condicionado.

No que diz respeito aos programas sociais, que facilitam o contato cordial com a

comunidade e contribui, com projetos e atividades, para além da segurança pública,

observamos que há um projeto que engloba toda a polícia militar, chamado PROERD.

Ele consiste na ida voluntária de um policial a uma escola para ministrar palestrar

para prevenir crianças e adolescentes do caminho às drogas e ao crime. Mas algumas

unidades investigadas apresentaram outros programas, próprios, como o BPchoque e a

RPmon.

Estes projetos são de suma importância, mas deveriam obter maiores recursos e

incentivos do comando geral, pois possuem um potencial evidente, como é o caso do

programa quartéis abertos, da RPmon, que convida a comunidade para dentro do

quartel, instruindo os interessados na lida com o cavalo e o cuidado com ele. Além

disso existe a equinoterapia, que consiste na reabilitação psicossomática através da

montaria. Esta última deveria ser mais incentivada pelo poder público, pois auxiliaria

os próprios policiais vítimas de acidentes em serviço.

CONSIDERAÇÕES FINAIS Observando as cinco unidades de polícia especializada, verificamos que elas, em

alguns pontos, agem para além da mera segurança pública, como é o caso dos

programas sociais, estando em conformidade com o princípio da Defesa Social que

fala da multiplicidade de esferas da Defesa Social e que o fenômeno do crime é algo

mais do que o ato criminoso, remontando ao ambiente em que foi gerado o

criminoso, as situações que propiciaram o crime. No entanto falta um maior

deslocamento de recursos nesta área.

O efetivo, bem como os recursos financeiros recebidos de modo fixo, por mês, a

cada unidade, também não pareceram suficientes. Principalmente o efetivo parece

deficiente. Já a estrutura física, de modo geral, pareceu adequada, apesar de alguns

pontos críticos. Em termos de equipamentos, observamos algumas lacunas

principalmente nos itens mais específicos, como os mencionados no caso da CIOE.

No que se refere a instrução, aos cursos, as polícias especializadas pareceram bem

abastecidas deles, havendo reciclagens constates.

AGRADECIMENTOS Meus agradecimentos a Fundação Joaquim Nabuco, pelo excelente programa de

iniciação científica e ao CNPQ pela bolsa e incentivo à pesquisa.

REFERÊNCIAS MELO, Ronidalva de Andrade. Repressão à Violência e Defesa Social. In: LIMA,

José Fernandes de; NASCIMENTO, Afonso (org). Fórum Pensar Sergipe: políticas

setoriais. São Cristóvão: UFS, 2000.p. 503-516

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______. A pobreza como locus preferencial da violência. In: BURITY, Joanildo;

CAVALCANTI, Helenilda (org). Polifonia da miséria: uma construção de novos

olhares. Recife: Massangana, 2002.p.151-161

Sites consultados

<http://www.sds.pe.gov.br>

Acesso em 10 de dezembro de 2011

<http://www.pactopelavida.pe.gov.

br> Acesso em 02 de novembro

de 2011

CONSUMO, CRIMINALIDADE E AÇÕES PÚBLICAS PARA

CONTENÇÃO DA VULNERABILIDADE ENTRE JOVENS

Rodrigo Vieira de Assis1; Patricia Bandeira de Melo

2

1Estudante do Curso de Ciências Sociais da UFRPE; e-mail:

[email protected]; 2Pesquisadora da Diretoria de Pesquisas Sociais da

Fundaj – DIPES/CGEP; e-mail: [email protected]

RESUMO: Este trabalho compactua com ideias recentemente desenvolvidas na

sociologia brasileira que trazem o consumo para o centro da análise das sociedades

contemporâneas. O objetivo geral do estudo é analisar a possível relação entre consumo

e criminalidade no contexto social de jovens marcados por vulnerabilidades sociais. Para

alcançar esse objetivo, realizamos uma pesquisa de campo em um abrigo municipal

localizado no Recife- PE. Estudamos as trajetórias sociais de jovens, com idade entre 15 e

29 anos, observando, especialmente, em que medida o desejo de posse os levou à prática

criminosa. Os resultados apontam para a existência de uma cultura de consumo pautada

em dimensões simbólicas entre os indivíduos e os bens, que pode resultar na formação

de indivíduos que vivem em busca da supressão dos seus desejos de consumo.

Palavras–chave: consumo; crime; juventude; indústria cultural; vulnerabilidade social.

INTRODUÇÃO Este trabalho compactua com ideias recentemente desenvolvidas na sociologia

brasileira que trazem a mídia e o consumo para o centro da análise das sociedades

contemporâneas (ROCHA, 2002; TASCHNER, 2009; MELO, 2010). Essa perspectiva se

volta a temas que vão desde a atuação da publicidade e da imprensa até as possíveis

relações entre a mídia e as práticas sociais, que de algum modo resultam das

representações produzidas pela indústria cultural (ADORNO, 2002). Para contribuir às

analises sociológicas da comunicação e do consumo buscamos um caminho a partir da

problematização das práticas sociais. Entendemos prática social como o modo de ação

dotado de sentido que externaliza as estruturas sociais interiorizadas pelo indivíduo em

seu processo de socialização, permitindo a partir de sua análise conhecer o contexto

social formador das disposições desses indivíduos (BOURDIEU, 2008). Assim, o leitor

deve-se perguntar: o que a mídia tem a ver com isso? Consideramos que as práticas

sociais contemporâneas resultam, em maior ou menor grau, das imbricações entre a

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vida cotidiana e as representações reproduzidas pela indústria cultural. Desse modo,

tratando do consumo (que já inclui uma análise sobre a indústria cultural) demonstramos

as consequências últimas dos efeitos da ação dos meios de comunicação: o estímulo ao

consumo como forma de atingir ideais de felicidade e de prazer que se conjugam em

uma espécie de hedonismo contemporâneo constituído com base nos valores do

capitalismo (MELO, 2009; MISSE, 2006). Desse modo, a questão que norteia esse

estudo é a seguinte: em que medida os jovens situados em um contexto marcado por

vulnerabilidades sociais (desemprego e baixo nível educacional, principalmente), ao

buscarem suprir seus desejos de consumo, podem ver no crime a rota de acesso aos

bens? Nosso objetivo, assim, é analisar a possível relação entre o consumo e a

criminalidade no contexto social da juventude, especificamente naquele segmento

marcado pelas vulnerabilidades. Ao pensarmos uma possível relação dessa ordem,

identificamos que a cultura tem um peso determinante sobre o sentido do consumo e não

pode ser esquecida ao buscarmos desvendar os significados sociais atribuídos aos atos

de apropriação dos bens. Assim, na medida em que à cultura é delegado um papel

estruturante sobre os indivíduos e sobre suas ações, verificamos um caminho para pensar

a emergência de uma cultura de consumo (BOURDIEU, 2008; ROCHA, 2002;

TASCHNER, 2009). Para o entendimento dessa compreensão de cultura de consumo e

do caminho pelo qual percorremos nesse estudo, segue abaixo os procedimentos

metodológicos e os principais resultados obtidos.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Utilizamos como ferramenta para levantamento de dados a técnica de entrevista em

profundidade. Compomos um roteiro de 89 questões. Esse modelo de entrevista

intentou perceber as diferentes formas de relação dos jovens com sua família, com o

consumo e com o crime, objetivando, assim, reconstruir sociologicamente seus

contextos sociais. Percebemos um caminho ao público alvo do estudo nos abrigos do

Instituto de Assistência Social e Cidadania da Cidade do Recife (IASC). Após obter a

documentação necessária, estabelecemos contato com indivíduos do sexo masculino,

com idade entre 15 e 29 anos1, residentes em um dos abrigos. Os indivíduos que

integraram a amostra foram identificados entre os que cometeram crimes vinculados

ao desvio de bens (tênis, mochilas, equipamentos eletrônicos, celulares, laptops etc.),

ou seja, cujas transgressões, entre outras causas, tiveram o desejo de consumo como

propulsor da ação criminosa. Realizamos, assim, cinco entrevistas em profundidade.

Elas aconteceram no Centro de Reintegração

Social (CRS), no bairro do Cordeiro, o maior abrigo do IASC. O seu público é

formado por jovens e adultos, do sexo masculino, que já usaram ou usam drogas ilícitas.

O número de entrevistas parece, a priori, insignificante. No entanto, devido ao nível de

profundidade proposto no modelo de entrevista que desenvolvemos, esse número ganha

significância, na medida em que essa técnica permite reconstruir a história de vida dos

entrevistados.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Ao procurarmos verificar nos dados das entrevistas a relação do jovem com a

família, sentimos que os indivíduos tentavam, a priori, representar, via discursos, um

1

O recorte etário corresponde ao mesmo adotado pelo Estatuto da Juventude, aprovado em 2010

pela Câmara dos Deputados.

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contexto de relações familiares ideais. No entanto, no decorrer dos diálogos surgiram

episódios violentos que contradiziam os primeiros discursos. Brigas entre os pais ou

entre jovem e outro familiar (tio, irmãos, padrasto etc.) fortaleceram nossas

percepções sobre a fragilidade do processo de socialização nesses contextos. No que

tange os modos de consumo desses indivíduos, identificamos que esses jovens

legitimam um conjunto de bens que são considerados distintivos em seus contextos de

sociabilidade. Um entrevistado que não possui renda, por exemplo, afirmou que quando

comete delitos para conseguir recursos para comprar algo, a ação só faz sentido se for

para a posse de um produto distintivo em seu meio social: “se eu consigo dinheiro pra

comprar camisa da Seaway, que tem no shopping, eu não vou querer uma de ‘feira’

que todo mundo tem” (Entrevistado II, 29 anos). Sua fala expressa um dos pontos que

identificamos levar os jovens à criminalidade: a busca por diferenciação e status em seu

meio social, o que, com base nas entrevistas, pode ser alcançado via representação pela

posse de objetos. Possuir um produto original em uma loja localizada em um Shopping

faz com que o ator busque alcançar a imagem do consumidor ideal, aproximando-o das

representações dos indivíduos presentes nas narrativas midiáticas: o homem detentor

de poder econômico, marcado por um estilo de vida distintivo que chama a atenção das

mulheres. No que tange a lógica do consumo, ter prazer está condicionado à posse de

mercadorias. Os relatos do Entrevistado V, 29 anos, nos possibilita visualizar isso:

“(...) quando eu precisava comprar uma roupa era muito ruim, porque eu não tinha

dinheiro. Eu me sentia muito mal. Quando eu comecei a fazer ‘bico’ e tinha como sair

pra gastar o que tinha, eu me sentia realizado”. Constatamos em outra entrevista a

afirmação de que a busca por dinheiro fácil era o que prendia o indivíduo à carreira

criminosa: “Eu sempre tinha dinheiro. Não ficava ‘na pior’ nunca. Eu saía com meus

amigos e pagava lá. Sempre saía com alguma menina e tal. Aí é difícil parar de

roubar ou traficar” (Entrevistado I, 18 anos). Um dos jovens afirma também que se

trabalhasse ia demorar muito para ter certos produtos, como TV ou equipamento de

som, daí saía e roubava celular no centro da cidade, o que lhe garantia certamente um

valor monetário maior do que o recebido pelo trabalho mensal.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS As conclusões desse estudo respaldam nossas hipóteses iniciais, ou seja, que a busca

pela supressão dos desejos de consumo pode sim estimular os indivíduos (especialmente

aqueles que vivem em um meio marcado pelas vulnerabilidades sociais) a visualizarem

na carreira criminosa a rota de acesso a recursos e bens que desejam possuir. Além

disso, ao ver na dimensão da cultura um ponto significante para o entendimento das

práticas sociais e dos sentidos atribuídos a essas práticas, alcançamos resultados

inovadores, na medida em que nenhum outro trabalho, na sociologia brasileira, tentou

estabelecer uma sistemática entre os estudos do consumo e do crime entre os jovens. O

resultado disso é a percepção de que a busca por ser um homem detentor de poder e

de um estilo de vida distintivo corresponde às tradições culturais de uma sociedade

de origem patriarcal em que ao homem destina-se uma representação de indivíduo

protagonista e detentor de poder.

AGRADECIMENTOS Agradeço ao CNPq e à Fundaj pela concessão da bolsa de Iniciação Científica. À

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pesquisadora Patricia Melo, orientadora desse estudo, suas observações e sugestões

foram sempre preciosas. Agradeço, por fim, a Inês Freire (secretária do PIBIC/Fundaj),

pois sua competência e atenção, sem dúvida, garantem a qualidade do referido programa

de bolsas.

REFERÊNCIAS ADORNO, T. Indústria cultural e sociedade. São Paulo: Paz e Terra, 2002.

BOURDIEU, P. A distinção: crítica social do julgamento. 1ª reimpr. – São Paulo:

Edusp; Porto Alegre, RS: Zouk, 2008.

MELO, P. B. A epidemia do consumo, o hedonismo e o dinheiro como distinção: o

que a mídia tem a ver com isso? Terça Psi, Conselho Regional de Psicologia, 2009.

. Histórias que a mídia conta: o discurso sobre o crime

violento e o trauma cultural do medo. Recife: EDUFPE, 2010.

MISSE, M. Crime e violência no Brasil contemporâneo: Estudos de Sociologia

do Crime e da Violência Urbana, Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2006.

ROCHA, M. E. M. Pobreza e cultura de consumo em São Miguel dos Milagres.

Maceió: EDUFAL, 2002.

TASCHNER, G. Cultura, consumo e cidadania. Bauru: EDUSC, 2009.

AVALIAÇÃO DE CARTEIRA DE PROJETOS DE

PESQUISA E DESENVOLVIMENTO: UMA APLICAÇÃO.

Sandro Soares Ramos de Freitas1; Abraham Benzaquen Sicsú

2

1Estudante do Curso de Ciências Socias do CFCH/UFPE;

e-mail: [email protected];2

Pesquisador

da Diretoria de Ciência e Tecnologia da Fundaj – CECT; e-mail: [email protected]

RESUMO: Este trabalho apresenta os principais resultados de um estudo de caso

realizado numa empresa do Setor Elétrico para avaliar impactos causados pela

execução de projetos de Pesquisa e Desenvolvimento. Após a realização de um

levantamento das principais metodologias de avaliação de impactos de P&D, foram

selecionadas duas para servirem como base referencial para o estudo: a metodologia do

BETA e a Metodologia de Avaliação de Impactos ESAC, do Departamento de Política

Científica e Tecnológica da Unicamp. A escolha dessas abordagens se deu pela

importância atribuída à mensuração dos resultados indiretos, os spinoffs, além dos

resultados inicialmente previstos. Em seguida, a metodologia foi adaptada e aplicada

a um grupo de projetos de P&D, já concluídos, de uma empresa do setor elétrico

brasileiro. Foram realizados estudos de caso, analisando os projetos originais e

relatórios de acompanhamento. Também foram realizadas entrevistas com os atores

envolvidos no desenvolvimento de cada projeto avaliado. Entre os principais resultados

observados pela avaliação, merecem destaque as parcerias firmadas com universidades

públicas e a baixa participação de funcionários internos na execução dos projetos. Tal

situação demonstra a fraca presença de uma cultura de inovação tecnológica na

empresaapesar dos recentes incentivos governamentais.

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Palavras–chave: inovação tecnológica; metodologias de avaliação; pesquisa e

desenvolvimento.

INTRODUÇÃO A inovação tecnológica compreende toda a novidade implantada por uma empresa,

através de pesquisas ou investimentos, que aumenta a eficiência do processo produtivo

ou que implica em um produto novo ou significativamente aprimorado. Ela é hoje um

fator determinante na posição competitiva ocupada por uma empresa ou, até mesmo,

por um país dentro de mercado mundial, ao ponto de se afirmar que a competitividade de

um país é diretamente dependente da capacidade de suas empresas em inovar. Dentre as

diversas atividades inseridas dentro do conceito de inovação tecnológica, as atividades

relacionadas à pesquisa e desenvolvimento (P&D) são as que ocupam o lugar de

destaque dentro dos planos estratégicos de crescimento tanto de empresas, quanto de

países no mercado global. Para o OCDE (2006) a P&D pode ser entendida como uma

atividade de pesquisa básica ou aplicada realizada com o objetivo de gerar avanços

do conhecimento sobre produtos, serviços e processos, desde que estes avanços sejam

aplicados para o desenvolvimento de novos produtos, processos e serviços, suprindo uma

demanda de um determinado setor ou mercado. Diante de um cenário de crescimento dos

investimentos em pesquisa e desenvolvimento, revela-se a necessidade de estudos que

priorizem a avaliação dos programas de P&D, desde a seleção do tema a ser pesquisado,

até os impactos posteriores a execução dos projetos. A importância deste tipo de estudo,

se dá pela sua capacidade de apontar possíveis deficiências, como também os pontos

positivos dos programas analisados, auxiliando dessa forma, na melhoria das ações das

empresas nessa área, como também das políticas governamentais de incentivo à inovação.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para a avaliação dos impactos dos projetos de P&D, foi escolhida, para servir como base

para a avaliação dos projetos analisados – que compunham a carteira de projetos

executados por uma empresa do setor de energia elétrica, localizada no nordeste do Brasil-

, uma metodologia baseada em estudos de caso, mas que congrega os critérios de

avaliação propostos pela metodologia do BETA e a metodologia ESAC. A escolha

deste procedimento metodológico se baseou, no levantamento inicial das principais

abordagens metodológicas usadas na avaliação de impactos de projetos de P&D, que

sugeriu um melhor desempenho tanto das metodologias baseadas em estudos de

caso, quanto de metodologias alternativas como a BETA e a ESAC. Somado a isso, a

metodologia proposta toma como princípio o modelo interativo de inovação,

permitindo assim, que sejam observadas, durante a avaliação, várias dimensões de

impactos, possibilitando ultrapassar os resultados inicialmente previstos pelos

projetos, chegando até aos seus impactos indiretos.

Inicialmente foi realizada uma pesquisa documental. Após ter acesso a todos os

projetos desenvolvidos pela empresa, foram selecionados os 67 projetos executados

e finalizados durante o período compreendido entre 2000 até o início de 2010, e avaliados

os projetos enviados ao órgão regulador estatal, e os relatórios periódicos de

acompanhamento dos projetos, produzidos por seus respectivos gerentes e

coordenadores. A pesquisa documental buscou identificar, em cada projeto,

informações iniciais como títulos dos projetos, equipe e entidades envolvidas, recursos

utilizados e resultados propostos e alcançados, o que ajudou a construir uma

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compreensão inicial sobre cada projeto avaliado. O passo seguinte foi identificar

questões importantes que não foram observadas através da pesquisa documental. Foram

selecionados oito projetos para a realização de entrevistas semiestruturadas, com os atores

envolvidos em cada projeto, com o objetivo de aprofundar efetivamente as informações

colhidas até então. As entrevistas realizadas buscavam abordar as seguintes temáticas:

características dos projetos; características das equipes; período entre a contratação e a

efetivação dos projetos; termo aditivo; capacitação da equipe durante o projeto; como

se deu a implementação dos resultados obtidos e seus impactos; dificuldades

encontradas durante o desenvolvimento dos projetos; e o reconhecimento da equipe

envolvida pela empresa.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Analisando os resultados obtidos em nosso estudo, já num primeiro momento, ficou claro

que os oito projetos avaliados, assim como todos os outros 59 projetos de P&D da

empresa até então executados, foram realizados por meio de parcerias com

universidades ou centros de pesquisa. No caso dos projetos avaliados, as parcerias se

deram com universidades públicas federais, localizadas majoritariamente na mesma

região geográfica que a empresa. Se por um lado, tal conclusão aponta para o sucesso

de recentes políticas públicas de incentivo à aproximação entre o setor produtivo e

as universidades para promover o desenvolvimento do país, os dados obtidos por

este estudo também corroboram com outras analises ligadas a temática da inovação

tecnológica quando também destaca a inexistência de uma cultura de inovação dentro

das estruturas internas das empresas. Tal situação força estas instituições a procurar, para

desenvolver seus projetos de P&D, o auxílio das universidades que contam a maior parte

dos pesquisadores brasileiros.

Muito em função desta carência de pesquisadores na empresa, outro aspecto que se

destaca é o baixo aproveitamento, no que tange capacitação de recursos humanos a

partir das atividades de P&D. A baixa participação de pesquisadores vinculados ao

quadro interno de funcionários da empresa faz com que a maior parte dos

conhecimentos adquiridos com as atividades de P&D sejam pouco absorvidos pelos

poucos funcionários envolvidos no processo de execução dos projetos.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Apesar das diversas barreiras – como a rejeição de novas tecnologias por setores

internos das empresas, o excesso de burocracias que dificulta a importação de

materiais muitas vezes fundamentais para as atividades de P&D, a baixa valorização

de pesquisadores dentro das estruturas internas das empresas etc. -, ainda encontradas

para a implementação de uma cultura de inovação dentro das empresas que compõem

o setor produtivo brasileiro em seus diversos segmentos, já é possível observas outras

mudanças além da maior integração “universidade x empresa”. Podemos destacar como

ponto positivo, dentre os dados obtidos por meio de nossa pesquisa, uma maior

inclinação em reconhecer nas atividades de P&D um caminho produtivo na solução de

demandas operacionais, não só internamente as empresas, como também por parte do

mercado. É a partir dessa mudança de perspectiva, onde se assimila que a necessidade

das atividades de inovação tecnológica no funcionamento das empresas está ligada a

resolução de necessidades operacionais e, com isso, no ganho de competitividade de

mercado, que se compreende a importância dos investimentos, da execução e das

avaliações das atividades de pesquisa e desenvolvimento.

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AGRADECIMENTOS Agradeço pelo apoio concedido pelo CNPq e pela Fundação Joaquim Nabuco para a

realização deste trabalho e, especialmente, ao orientador Abraham Benzaquen Sicsú,

pela confiança. Agradeço ainda à pesquisadora Luciana Elizabeth da Mota Távora,

pelas importantes sugestões e conselhos.

REFERÊNCIAS BRASIL, Ministério de Ciência e Tecnologia. Indicadores.Disponível

em:<http://www.mct.gov.br/index.php/content/view/740.html?execview=>.Acesso em:

14 de setembro de 20011.

HASEGAWA, Mirian. Avaliação das Capacitações e dos Spinoffs Gerados por

Programas de P&D: O Programa Cana do IAC. Tese (Doutorado em Política Científica

e Tecnológica), IG, UNICAMP, Campinas, 2005.

OCDE. Manual de Oslo: diretrizes para a coleta e interpretação de dados sobre

Inovação. 3ª ed., Tradução FINEP, 2006, Disponível em: <http://www.petrobras.co

m.br/minisite/comunidade_cienciatecnologia/portugues/docs/Manual-de-Oslo.pdf>.

Acesso em: 18 Set. 2011.

SICSÚ, Abraham; TÁVORA, Luciana. Avaliação de Impactos dos Investimentos em

Pesquisa e Desenvolvimento no Setor Elétrico do Nordeste Brasileiro: Proposta

Metodológica, 2011.

CONCEPÇÕES DE INFÂNCIA NOS PROGRAMAS DO

PLANO DE AÇÕES ARTICULADAS (PAR)

Sindy de Souza Leão Pereira1; Patrícia Maria Uchôa Simões

2

1Estudante do Curso de Pedagogia do Centro de Educação/UFPE; e-mail:

[email protected]; 2

Pesquisadora do Depto CGEE da Fundaj – DIPES; e-mail: patrí[email protected]

RESUMO: O Ministério da Educação instituiu, em 2007, Plano de Metas

Compromisso Todos pela Educação. O Plano de Ações Articuladas (PAR) configura-se

dentre as ações do Plano de Metas e caracteriza-se pelo planejamento do estado ou

município sobre as ações a serem implantadas e desenvolvidas em prazo pré-

determinado e deve ser elaborado de acordo com algumas orientações do Ministério

da Educação (MEC) que consideram dados do município presentes em documentos

oficiais e disponibilizadas na página eletrônica do MEC. Entre as ações ofertadas,

algumas dirigem-se ao atendimento à primeira infância. Nesse estudo, serão analisadas as

concepções de infância e de Educação Infantil que fundamentam os programas

direcionados a essa faixa etária. Para tanto, foi realizado o levantamento de todas as

ações disponibilizadas pelo Ministério da Educação, a seleção das que tem foco nas

crianças de 0 a 6 anos e a aplicação de questionários com profissionais da educação de

alguns municípios pernambucanos. Os resultados identificados apontaram para uma

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maior preocupação com o acesso e democratização do ensino, investimento em

infraestrutura e formação docente específica para a Educação Infantil.

Palavras–chave: educação infantil; infância; políticas públicas.

INTRODUÇÃO Em 2007, o Ministério da Educação instituiu o Plano de Desenvolvimento da Educação

(PDE), com o intuito de tornar acessíveis aos estados e municípios ações que

contribuíssem para a melhoria da qualidade da educação, sobretudo no âmbito da

educação básica. Dentre essas ações configura-se o Plano de Metas Compromisso

Todos pela Educação, que se constitui de 28 diretrizes, com metas a serem

cumpridas em regime de colaboração entre a União, estados e municípios. A partir da

adesão ao Plano de Metas, os estados, os municípios e o Distrito Federal passaram à

elaboração de seus respectivos Planos de Ações Articuladas (PAR). O PAR

caracteriza-se pelo planejamento do estado ou município sobre que ações serão

executadas em determinado período e deve ser elaborado a partir de algumas

orientações do Ministério da Educação (MEC). Entre as ações do PAR, algumas são

dirigidas ao atendimento das crianças de 0 a 6 anos, no entanto os estados e

municípios devem selecionar quais as que respondem às demandas locais.

No Brasil, as pesquisas no campo da história da infância e da assistência revelaram o

caráter paternalista e assistencialista das políticas sociais dirigidas às crianças durante

todo o século XX, especialmente quando se trata da criança pobre. Neste sentido, a

história da infância coincide com a história do atendimento às crianças em situação de

risco (Kuhlmann Jr., 1998). Até o início da década de 60, a história da infância e a

história da educação eram consideradas como fazendo parte de dois campos distintos de

pesquisa. Os estudos de Ariès (1981) sobre a história social da infância e da família

iniciaram um processo de redefinição desse campo de estudo, ampliando para a análise

sobre as famílias, instituições de ensino, meios de comunicação, etc.

Para o presente estudo foi considerada essa perspectiva presente nos textos de Sirota

(2001), Plaisance (2004) e Corsaro (2011), além dos autores já citados.

O objetivo do estudo foi analisar os programas do Plano de Ações Articuladas do

Ministério de Educação direcionados à primeira infância. Pretende-se propor uma

avaliação das propostas de atendimento a essa faixa etária nesses programas e sua

inserção no debate da política educacional atual.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Inicialmente, foi feito o levantamento de todos os programas elaborados e

executados pelo Ministério da Educação. Em seguida, foram identificados os

programas que são dirigidos ao atendimento da educação infantil. Por fim, ainda nessa

etapa, os programas foram caracterizados analisando a abrangência dos mesmos; os

atores responsáveis pela concepção e execução do programa; os atores para os quais os

programas estão dirigidos; os objetivos e a área do atendimento do Programa. A segunda

etapa consistiu na análise das diretrizes de dois programas escolhidos por serem os

únicos que são especificamente dirigidos à Educação Infantil: o Programa de Formação

Inicial para Professores em Exercício na Educação Infantil (PROINFANTIL) e o

Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede Escolar

Pública de Educação Infantil (PROINFÂNCIA). Para tanto foi feito um levantamento

dos textos que delimitam as diretrizes e objetivos dos mesmos na página eletrônica do

MEC. A terceira e última etapa consistiu na aplicação de questionários sobre 22

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programas que atendem à primeira infância com 44 profissionais da educação de 16

municípios do estado de Pernambuco. O principal objetivo do instrumento foi

identificar como e o quanto esses programas são conhecidos, assim como de que forma

as pessoas os avaliam.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Foram identificados 20 programas voltados para a primeira infância. Quanto à

abrangência dos mesmos, a maioria deles pode ser executado em todo o país, dependendo

apenas das demandas de cada localidade, da vontade política dos governantes da

região e de algumas questões burocráticas. Nesse sentido, apontamos para a

necessidade de programas que atendam às demandas específicas, considerando a

diversidade das regiões do país. A inserção dessa preocupação no momento da

elaboração das políticas públicas direcionadas para a Educação Infantil demonstrará a

consideração das concepções atuais que têm sido discutidas pelos estudiosos e pelas

autoridades, nas quais a criança é reconhecida como um ser de direito e que precisa

que sua realidade seja incorporada quando da execução dos programas, a fim de torná-los

ainda mais significativos.

Sobre os atores responsáveis pelos programas, os resultados indicam uma distância entre

os atores responsáveis pela concepção das ações e os atores responsáveis pela execução

das mesmas, o que pode dificultar a implantação das políticas, uma vez que a

participação de atores locais pode acrescentar demandas específicas não consideradas na

concepção do programa. Quanto aos atores envolvidos nas ações percebeu-se que apesar

de os alunos não serem diretamente contemplados em todos os programas, todos eles

tem como objetivo elevar a qualidade do ensino ofertado nas escolas públicas de todo o

país.

O Programa Nacional de Reestruturação e Aquisição de Equipamentos para a Rede

Escolar Pública de Educação Infantil (Proinfância) tem como objetivo garantir o

acesso de crianças a creches e escolas de educação infantil públicas, especialmente em

regiões metropolitanas, onde são registrados os maiores índices de população nesta faixa

etária. Já o Proinfantil visa valorizar o magistério e oferecer condições de crescimento ao

profissional que atua na educação infantil.

A terceira etapa desse trabalho consistiu na aplicação e análise de 44 questionários

respondidos por profissionais da educação de 16 municípios pernambucanos. Quando

questionados sobre os programas conhecidos e implantados nos diversos municípios,

os programas Escola Aberta, Proinfância, Proinfantil e Rede Nacional de Formação

Continuada de Professores apareceram em aproximadamente 30% das respostas como

os mais conhecidos. Essas respostas corroboram a preocupação do Ministério da

Educação com a formação de qualidade dos docentes de Educação Infantil, assim como

com a disponibilização de recursos financeiros para a melhoria dos espaços destinados a

essa etapa do ensino básico. Já sobre os mais implantados, os programas Merenda

Escolar e Provinha Brasil apareceram em aproximadamente 50% das entrevistas e os

programas Escola Aberta e Escola Ativa apareceram em cerca de 40% das respostas

como os mais frequentes. Os dados apresentam que poucos programas parecem ter sido

implantados e que entre os mais conhecidos está a ação direcionada para a avaliação,

uma vez que condiciona o recebimento de recursos. Nesse sentido, percebe-se uma

possível contradição entre os textos estudados e a percepção dos profissionais da

educação, uma vez que a maioria dos programas tem sido pouco divulgados e de pouco

acesso para grande parte dos municípios.

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CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Por fim, a análise dos resultados das etapas dessa pesquisa, leva a refletir sobre a

necessidade de uma maior participação dos atores locais na concepção dos

programas, a fim de que sejam inseridas nos documentos as demandas de cada

localidade. Também se faz necessária a comunicação entre os atores responsáveis pela

concepção dos programas e aqueles responsáveis pela execução dos mesmos, para que,

dessa forma, seus objetivos sejam atingidos com êxito.

Dessa forma, pôde-se concluir que os documentos sobre os programas estudados, assim

como as respostas dos entrevistados indicaram que as ações têm sido realizadas de

acordo com as proposições dos estudos sobre infância e Educação Infantil, apontando

para algumas deficiências quanto à comunicação dos atores responsáveis pela concepção e

execução dos programas e quanto à divulgação das ações.

AGRADECIMENTOS Meus agradecimentos ao CNPQ, instituição financiadora desse projeto, à Fundação

Joaquim Nabuco, pela oportunidade e acompanhamento assíduo ao longo do ano de

trabalho e a Patrícia Maria Uchôa Simões, pelo empenho na orientação para que o melhor

fosse feito.

REFERÊNCIAS ARIÈS, P. História Social da Família e da Criança. Porto Alegre: ARTMED, 1981.

CORSARO. W.A. Sociologia da Infância. Ed. Artmed, Porto Alegre, 2011.

KUHLMANN Jr., M. Histórias da educação infantil brasileira. Revista Brasieira de

Educação, n.14, p. 5-18, 2000.

PLAISANCE, E. Para uma sociologia da pequena infância. Educação & Sociedade, vol.

25, n. 86, p. 221-241, 2004.

SIROTA, Régine. Emergência de uma sociologia da infância: evolução do objeto e do

olhar. Cadernos de Pesquisa, nº112, p. 7-31, 2001.

OS ALUNOS DAS UNIVERSIDADES FEDERAIS DOS CAMPI DO

INTERIOR DE PERNAMBUCO: O PAPEL DA INTERIORIZAÇÃO NA

FORMAÇÃO DE PROJETOS DE VIDA

Suzy Luna Nobre Gonçalves Ferreira1

Luis Romani Campos2

1Estudante do Curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); e-mail:

[email protected]; 2Pesquisador(a) da Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj– DIPES/CGEP; e-mail:

[email protected]

RESUMO: O governo Lula adotou o pressuposto de redução das desigualdades sociais e da

concentração espacial de renda a partir, principalmente, da mudança na concepção do papel do

Estado no âmbito da educação. Com base nisso, instituiu-se o Programa de Apoio a Planos de

Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), que tem como objetivo global

expandir o ensino superior gratuito, com a finalidade de elevar a qualidade da educação brasileira e

oferecer oportunidades a jovens que enfrentam dificuldades de ingressar na graduação. O presente

trabalho visa contrapor o discurso governamental e a perspectiva dos alunos dos campi do interior de

Pernambuco como intuito de analisar a adequação prática do Reuni e seus impactos nas trajetórias dos

estudantes.

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Palavras–chave: REUNI; interiorização; Alunos; Governo.

INTRODUÇÃO O projeto de reforma educacional pensado no governo Lula baseia-se no pressuposto que a

democratização do ensino superior é considerada uma das chaves para a superação das desigualdades

históricas que caracterizam a experiência social brasileira. Nesse contexto, nasceu o REUNI cujo

objetivo é: elevar a taxa de conclusão média na graduação presencial do ensino superior. Uma de

suas metas é levar o ensino superior a jovens que, por estarem em regiões do interior do país,

encontravam na migração a única solução para ingressar na graduação.

A implantação dos campi no interior de Pernambuco revela que, quando observado na prática, o

discurso governamental por vezes se apresenta de forma conflitante e contraditória no que diz respeito

à aplicabilidade de alguns de seus pressupostos e objetivos. A experiência dos estudantes nas

unidades do interior se faz fundamental para observar esse processo. Em linhas gerais, o propósito

deste trabalho é analisar o discurso do governo em contraposição à perspectiva dos alunos para

compreender de que forma a política do Reuni foi empregada e seus impactos sob aqueles que são os

principais beneficiados, os alunos.

Para ilustrar esses argumentos, faz-se necessário apresentar o contexto de criação do Reuni e da

proposta de interiorização das universidades. O discurso governamental foi caracterizado a partir

de diversos materiais encontrados em fontes do governo. Por último, a apresentação do discurso

dos estudantes, obtidos através da realização de seis grupos focais com alunos e alunas das

instituições Federais e Federais Rurais do interior de Pernambuco, que aconteceram no período de

novembro de 2011 a abril de 2012.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Para dar conta dos objetivos propostos, foi realizada uma vasta revisão bibliográfica sobre a

reforma educacional proposta no governo Lula, focando-se principalmente no Reuni, além da

análise de documentos e dados oficiais. A pesquisa de campo prevista no projeto permitiu a

realização de seis grupos focais no interior de Pernambuco, nos municípios de: Caruaru, Vitória de

Santo Antão, Garanhuns, Serra Talhada e Petrolina, sendo fundamental para embasar a construção e a

análise da perspectiva dos alunos e alunas de graduação.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Em 24 de abril de 2007, foi lançado o Decreto Nº 6.096, que institui o REUNI, cujo objetivo é

a ampliação do acesso e da permanência nos cursos de graduação presencial 1

e, para isso,

estabelece a “redução das taxas de evasão, ocupação das vagas ociosas e aumento de vagas de

ingresso, especialmente no período noturno” (DECRETO Nº 6.096/2007), deixando claro que

essas novas oportunidades devem valorizar um público de estudantes-trabalhadores, inclusive com a

ampliação das assistências estudantis.

O Reuni, mesmo tendo problemas – que podem perfeitamente ser contornados – permitiria

a criação de novos cursos justamente naquelas regiões em que mal existem uma os duas

faculdades, se existem, ou mal conseguem ter um ou dois cursos nos chamados campi

avançados – cursos e faculdades em vias de consolidação e faltando muita coisa.

1

De acordo com o item 4.3.1 da LEI Nº 10.172/2001: “Prover, até o final da década, a oferta da

educação superior para, pelo menos, 30% da faixa etária de 18 a 24 anos”.

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Professores e estudantes das universidades federais temos, agora, um compromisso com

o novo Brasil, um Brasil não voltado para o Sudeste e o Sul. Um novo Brasil que

comece a dar oportunidades a todos aqueles que não têm a oportunidade de entrar numa

universidade de alguma grande cidade brasileira. Longe de disputas ideológicas e de

radicalismos estéreis, a hora de mudar os rumos da universidade brasileira, e de dar

oportunidade às novas gerações que moram no interior deste grande país, pode ter

chegado (PALÁCIOS, apud CORREIA, 2008).

A opinião do professor Gonçalo Armijos Palácios expressa acima revela um dos pontos principais

da reforma na educação: a interiorização das universidades públicas. O lema que parece ser o

suporte de todas as políticas estabelecidas nesse governo é: “expandir até ocupar todo o Brasil!”

(MEC, 2006). O governo passa a enxergar a educação como um direito social de todos

efetivamente e tem por objetivo o desenvolvimento do país e a inclusão social através de uma

democratização do ensino de qualidade e gratuito para a população que teria na migração a única

solução para estudar numa universidade pública (MEC, 2004 e 2006).

De acordo com o discurso de inauguração da Universidade de Juiz de Fora do então Ministro

da Educação Tarso Genro (MEC, 2004) o Brasil ainda não cumpre suas obrigações instituídas na

Constituição de 1988, visto que, apenas 9% dos jovens (18 a 24 anos) têm acesso ao ensino

superior, número preocupante comparado com os 40% na Argentina, 60% na França, 80% nos

EUA e 90% no Canadá. Além do mais, aproximadamente 80% desses jovens brasileiros estão

matriculados em instituições “não-públicas”, o que é um grave indício de que a educação perpetua a

desigualdade sociale de renda.

Todavia, é no que refere a não adequação completa da educação superior às necessidades do mercado

que o discurso governamental parece mais contraditório, pois ainda que por vezes argumente que é

papel da universidade promover profissionais e saberes que, além de outras coisas, contenham

“com muralhas epistemológicas e políticas os efeitos perversos do mercado capitalista” (MEC, 2006,

p. 7), instituiu, neste mesmo documento, enquanto diretriz norteadora da interiorização, o

enquadramento às necessidades e vocações econômicas de cada região.

Os dados do Censo da Educação Superior de 2010, do Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) são fundamentais para expressar de que maneira a

reforma educacional no ensino superior afetou a realidade das universidades e estudantes

brasileiros. Em 2001, haviam 3.036.113 brasileiros matriculados no ensino superior. Já 2010, esse

número atinge o patamar de 6.379.299, o que representa um aumento importante de cerca de

110%. O argumento é que ainda que seja inegável a grandeza das instituições privadas e que

sua taxa crescimento em relação ao número de matrículas tenha sido de 126,4% nesse período,

comparado com 86% das instituições federais, nos últimos anos essa situação parece estar

mudando. Observando os dados a partir do ano de 2007, não por acaso, ano de implementação do

Reuni, o Inep argumenta que este setor parece estar numa fase mais estável do seu crescimento, em

detrimento da expressiva e “inédita” expansão do setor público, com destaque para o federal, que

perpassa uma fase bastante representativa para os interesses do governo, apresentando a maior taxa

de crescimento entre os setores públicos e em relação ao setor privado.

A cada ano, no período de 2007 a 2010, ocorreu nas instituições públicas um aumento médio de

103.375 no número de matrículas. Já nas instituições privadas, esse número chega a ser mais

que o dobro, com um aumento médio de 263.819. Se comparado com os dados do período de

2001 a 2007, que teve um aumento de matrículas nas instituições privadas e publicas de 300.940 e

19.562, respectivamente, percebe-se que de fato ouve um crescimento significativo nas universidades

federais, todavia, ainda há a manutenção do cenário da expressiva representatividade das instituições

privadas.

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Em todos os grupos focais foi ressaltado o caráter transformador da implementação das

universidades federais no interior. Quando questionados como seria a vida sem a universidade

revelaram que a ausência dela representaria um “vazio”, uma “dúvida”, um “atraso”, um

“futuro incerto”, “sem graduação não se é ninguém”. A universidade seria responsável por

oferecer a possibilidade da realização do sonho de ter um curso superior, de conquistar

conhecimento e um espaço na sociedade. Foi consenso entre os alunos as novas

oportunidades trazidas pela interiorização das universidades. Apontaram ainda para a importância

de levar mudança na visão da região, novas perspectivas e desenvolvimento. De acordo com

uma aluna do Centro Acadêmico de Vitória de Santo Antão (CAV) “a interiorização foi uma

coisa perfeita na vida de pessoas que não tem condições e até para quem tem condições”. As

unidades instaladas no interior atendem não só a demanda local, mas abrangem as

oportunidades para os municípios vizinhos e até mesmo para estudantes oriundos da capital,

oferecendo uma nova gama de possibilidades para os jovens que desejam ingressar no ensino

superior.

Entretanto, a perspectiva dos alunos no que diz respeito à “alta” evasão parece ser conflitante com

os objetivos do Reuni. Um dos principais motivos levantados é o déficit na qualidade do

ensino médio, a “dificuldade” encontrada nas disciplinas que necessitam de matemática, ou a “carga

excessiva de leituras” fazem com os estudantes não acompanhem o que está sendo dado, o que

resulta, por vezes, em um número alto de reprovação ou na desistência do curso. Associado a isso,

revelaram que uma grande parcela dos colegas encontra problemas em conciliar o trabalho e a

universidade, o que estaria vinculado também à menor oferta de cursos noturnos, contradição

comparada ao discurso de implementação do programa.2

Outro fator estaria relacionado às condições

sócio-econômicas. Ainda que em todas as unidades sejam ofertadas bolsas e auxílios de diferentes

valores, os alunos se queixam principalmente dos gastos em relação à moradia já que com o

aquecimento do mercado imobiliário os alugueis aumentaram consideravelmente, além do alto

gasto com transporte e a quantidade insuficiente de ônibus para atendê-los, o mesmo

comalimentação.

Em relação aos aspectos negativos da interiorização foi a falta de estrutura, tanto na universidade

como na cidade, o ponto que mais se repetiu em todas as unidades. Os estudantes reclamam que os

laboratórios, quando existem, são improvisados, com falta de material ou não comportam todos os

alunos; “os laboratórios não são bons, não são seguros. Os professores fazem a prática com muito

sacrifício”. Na biblioteca o cenário é parecido, contam com poucos exemplares, faltam muitos

títulos importantes e não tem espaço para salas de estudo, ademais, os alunos não desfrutam de

espaços de convivência.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS De modo geral, o discurso dos estudantes aponta que a interiorização parece atingir sua principal meta

de se fazer responsável por novas oportunidades para um número expressivo de jovens, pela

possibilidade de algo que antes parecia impossível: a escolha de estudar e trabalhar na própria cidade,

de fixar-se nela com condições de desenvolvê-la. Ressalta também que a instalação de uma

universidade no interior ultrapassa seus muros, o desenvolvimento (por vezes não planejado e

problemático) pelo qual essas cidades estão passando fica claro a partir da expansão do mercado

2

Na Unidade Acadêmica de Serra Talhada (UAST) dos nove cursos oferecidos, cinco são

noturnos. No Centro Acadêmico do Agreste (CAA), em Caruaru, dos onze cursos oferecidos quatro

são noturnos, dois noturnos e diurnos e cinco só diurnos. Já no Centro Acadêmico de Vitória de

Santo Antão (CAV) apenas um dos quatro oferecidos é noturno. Na Unidade Acadêmica de

Garanhuns (UAG) dos sete, só dois são noturnos. A maior discrepância está na Universidade do Vale

de São Francisco (UNIVASF), dos vinte e três cursos, apenas seis são noturnos.

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imobiliário, da ampliação do setor de serviços, incluindo a criação de novos polos de lazer para

atender a demanda dos estudantes e professores, além de novas demandas das empresas locais que

são responsáveis pela empregabilidade dos egressosdessas instituições.

Na inauguração da sede provisória da UAG Lula declarou: “Não existe, na história da

humanidade, nenhum povo que conseguiu sair da pobreza sem antes investir na educação. É preciso

parar de tratar a educação como gasto" (UFRPE, 2005). Coincidentemente, sete anos mais tarde, foi

na mesma unidade que o problema da falta de base do ensino fundamental e médio foi revelado. A

meta da reforma na educação superior foi ousada, mas é preciso pensar para alémdo quantitativo;

aumentar a oferta para, pelo menos, 30% dos jovens entre 18 e 24 anos em uma década, não garante

per si a qualidade do ensino ofertado, tampouco o aprendizado dos alunos ou o desenvolvimento do

país.

Os dados apresentados mostram que, no que diz respeito a tentativa de reverter à tendência

de crescimento e de expansão das instituições privadas, uma das principais metas do programa, o

governo obteve pouco sucesso até agora. É inegável que houve uma intensificação expressiva no

crescimento das universidades públicas, mas isso não resultou na reversão da magnitude de

crescimento das instituições privadas; o ensino superior hoje continua sendo predominantemente

responsabilidade do setor privado. Dessa forma, mesmo que seja um fato a mudança no

cenário nacional em relação ao ensino superior público a partir de 2007 (principalmente em

relação à interiorização das universidades federais) ainda é cedo para afirmar que houve uma

transformação consolidadaa partir do Reuni.

AGRADECIMENTOS A princípio, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq pelo

auxílio financeiro e a Fundação Joaquim Nabuco pela oportunidade de desenvolver esta pesquisa.

Além disso, agradeço as pessoas que fazem parte do CGEP que de forma direta ou indireta me

ajudaram na construção desse trabalho, a Alexandre Zarias e especialmente ao meu orientador Luis

Campos.

REFERÊNCIAS CORREIA, Wilson. REUNI: vamos continuar calados?. Revista Espaço Acadêmico, nº 82,

março de 2008. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/082/82correia.htm>. Acesso

em: 18 de janeiro de 2012.

Decreto Nº 6.096, de 24 de abril de 2007. Institui o Programa de Apoio a Planos de

Reestruturação e Expansão das Universidades Federais – REUNI. Disponível em:

<www.mec.gov.br>. Acesso em: 17 de janeiro de 2012.

Lei Nº 10.172, de 9 de janeiro de 2001. Aprova o Plano Nacional de Educação e dá outras

providências. Disponível em: <www.planalto.gov.br>.

Ministério da Educação. Aula inaugural do Ministro Tarso Genro na Universidade de Juiz de

Fora – MG, 12 de março de 2004. Disponível em: <www.mec.gov.br>. Acesso em: 17 de janeiro de

2012.

. Censo da Educação Superior 2010: divulgação dos principais resultados do Censo da

Educação Superior 2010. Instituto Nacionalde Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira,

2011.

. Educação Superior: os caminhosda emancipação social. Secretaria de Educação Superior,

2006.

. Entrevista do Ministro Tarso Genro publicada na Revista Ensino Superior, 22 de

abril de 2004. Disponível em: <www.mec.gov.br>. Acesso em: 17 de janeiro de 2012.

UFRPE. Presidente Lula inaugura sede provisória da Unidade de Garanhuns. Agosto de 2005.

Disponível em: < http://www.ufrpe.br/siteantigo/emfoco/foco-232.html>. Acesso em: 19 de julho de

2012.

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A ESCOLA RURAL MODELO ANÍBAL FALCÃO/ALBERTO TORRES:

A EDUCAÇÃO RURAL E O IDEÁRIO NACIONAL

NAS DÉCADAS 1930-40

Tatiane Oliveira de Carvalho Moura1;Maurício Antunes Tavares

2

1Estudante do Curso de Ciências Sociais da UFPE; e-mail: [email protected];

2Pesquisador

Adjunto; Diretoria de Pesquisas Sociais da Fundaj – DIPES; e-mail: [email protected]

RESUMO: Este estudo trata da memória da educação rural pernambucana, nas décadas

1930 e 1940, tomando a Escola Rural Modelo Aníbal Falcão/Alberto Torres como objeto.

Tem-se por objetivo principal compreender os sentidos de “educação rural” naquele período.

Para tanto, foi realizada uma análise qualitativa, através da abordagem de análise do discurso,

tomando como material empírico os documentos governamentais, artigos de opinião e artigos

acadêmicos, e o jornal escolar “O Semeador”, editado pela referida escola. Isto

possibilitou-nos comparar discursos de atores sociais distintos, que utilizavam linguagem e

meios de difusão diferentes, e também com diferentes pontos de vista sobre educação e sobre

o projeto educacional dessa escola. A comparação desses discursos e a compreensão deles à

luz do contexto sociopolítico da época nos possibilitou entender que, o que se designava por

“educação ruralista”, variava de acordo com a posição dos atores sociais envolvidos, frente

ao processo político e econômico modernizador da sociedade nacional e local. Em um

primeiro momento a Escola atendeu a um projeto de civilizar o homem do campo, baseado

na higienização e na transformação das práticas agrícolas, submetendo-as às técnicas

científicas. Todavia, com o golpe do Estado Novo, o rumo tomado foi o de uma educação

com forte influência do nacionalismo e do catolicismo.

Palavras–chave: educação rural; Escola Rural Alberto Torres; memória da educação

pernambucana;

INTRODUÇÃO Este subprojeto reconstitui a memória da educação rural pernambucana, a partir do modelo

implantado na Escola Rural Modelo Aníbal falcão/Alberto Torres1, entre as décadas de

1930-1940. Esta escola era referência por articular conhecimentos tradicionais da

agricultura camponesa e conhecimentos científicos, formando alunos e professores

especializados no ensino agrícola. A escola desempenhava a função de “escola de aplicação”

das normalistas que se dirigiriam para o interior do estado, desenvolvendo práticas

educativas que combinavam aulas teóricas e práticas, na própria escola e em instituições

dedicadas à pesquisa em veterinária e agricultura. Estas particularidades atendiam aos

preceitos do movimento escolanovista, de renovação da educação através da aproximação

desta com o campo científico e com o mundo do trabalho, promovendo, simultaneamente,

um ensino geral, laico e universal para todos os brasileiros, mas também contextualizado com

a realidade local (LEÃO, 1939). Um dos participantes deste movimento foi o pernambucano

A. Carneiro Leão, idealizador da reforma educacional de 1926-27, durante o governo estadual

de Carlos de Lima Cavalcanti.

1

De início, desconhecia-se uma mudança no nome da Escola Rural Modelo Aníbal Falcão para

Alberto Torres, através do ato 905, de setembro de 1935. Por isso, o titulo original do subprojeto abarcava

somente a escola enquanto denominada “Aníbal Falcão”. Entretanto, o que se está pesquisando é a

Escola Rural Modelo, então a decisão mais coerente foi pela mudança do titulo, assim abrangendo também

o período em que Escola Rural Modelo em Pernambuco se chamou “Escola Rural Alberto Torres”.

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Considerando que o movimento pedagógico está interrelacionado com as mudanças na

sociedade que o circunscreve, a abordagem foi feita no sentido de entrelaçar aspectos

sociais, políticos e econômicos de forma correlacionada. Muitos autores trabalharam sobre a

memória da educação pernambucana, mas apenas há citações da Escola Rural Modelo. Então,

o ineditismo do tema abordado é pertinente, pois, ao trazer elementos novos, preenche

lacunas na discussão sobre ruralidade e educação em Pernambuco. Ainda, e

principalmente, elucida os sentidos de “educação rural” no período delimitado, por meio de

análise dos discursos emitidos pelos personagens que compuseram aquele cenário.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS Foi realizada uma análise qualitativa, com a abordagem de análise do discurso, a respeito da

memória da sociedade pernambucana nas décadas de 1930-1940. Os documentos coletados na

Fundaj e no Arquivo Público pernambucano foram analisados considerando- os como

construções da realidade, tendo influência histórica e ideológica daqueles que o construíram.

Este estudo procurou ressaltar as interelações entre indivíduos em sociedade, mostrando que as

mudanças se dão devido aos conflitos, negociações e tensões constantes que os indivíduos.

Ainda, considerou-se a teoria da memória baseada em Halbwachs (2004), na qual a memória

coletiva e individual se interferenciam e se fazem simultaneamente, mas podendo ser

registradas de formas diferentes. Portanto, foram considerados registros oficiais de governo e

também dos alunos da escola.

RESULTADOS/DISCUSSÃO Dizem que o programa da Normal, tem coisas que eu não posso acreditar, que tem ratos,

minhocas, lagartixas, e como o rato faz pra se casar. Gosto que me enrosco, de pensar

só no que lá em casa vai dizer vovó, quando a Ziza contar tudo que viu e que assistiu em

Tejipió. (SELLARO, 2009, p.195)

Esta marchinha foi a reação jocosa dos católicos frente à reforma implantada por Carneiro

Leão, durante o governo de Carlos de Lima Cavalcanti. A reforma educacional de 1926-27 já

trazia o espírito do movimento escolanovista. A educação embora devesse ser laica, geral e

universal, também considerava especificidades, como as do mundo rural. Então, a escola

idealizada por Leão contava com professores formados em educação rural, salas de aula que

mostravam teoricamente o que era visto nas aulas práticas de campo e criação. E assim foi

implantada, através do artigo 69-71 de 1933, a Escola Rural Modelo, primeiro, chamada

Aníbal Falcão, tornou-se Alberto Torres em 1936. Lima Cavalcanti, em consonância com o

governo de Getulio, tentou modernizar a sociedade pernambucana. E modernizar significava

seguir os padrões do mundo desenvolvido (SELLARO, 2009), e isso também para o mundo

rural. No jornal escolar O Semeador foram encontrados exemplos de uma educação rural

voltada para o trabalho e com caráter científico.

(...) juntamente com a guerra ao analfabetismo está a necessidade de fazer

indivíduos capazes de iniciativa, de esforço, de trabalho; criaturas que aprendam a contar

consigo e tenham confiança em si próprio (...) Numa época em que civilização é

riqueza e riqueza é produção, é capacidade de trabalho, de energia, de esforço e de

perseverança, vitorioso será o povo que conseguir uma educação na qual, melhor e

prontamente se adquiram qualidades tais. (LEÃO apud SELLARO, 2009, p.193)

Face ao movimento modernista de 22 em São Paulo, os intelectuais pernambucanos criaram

um movimento próprio com características tradicionalistas. E a marchinha acima apresentada

mostra como a população reagiu às tentativas de modernização. No cenário político, Carlos

de Lima Cavalcanti acabou sendo deposto em 1937, acusado de comunismo. No seu lugar

assumiu o ex-ministro do trabalho Agamenon Magalhães, dando ao governo nova face.

Agamenon dá ênfase ao ensino religioso, considerando a pressão da Igreja Católica que via seu

espaço no ensino sendo reduzido. “Na Religião, a pedagogia se completa e aperfeiçoa”

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(GOVERNO DO ESTADO, S/D, p.24). As práticas pedagógicas da escola rural mudam

drasticamente e a diferença é notável no jornal escolar O Semeador. Até 1937 pouco se vê

sobre influencia católica ou nacionalista nos relatos dos alunos, todavia a edição de sábado,

30 de maio de 1942, ano 8, n.5 foi somente para homenagens ao Papa, mostrando a força da

Igreja. Deve-se considerar que não foram encontradas as publicações dos anos 1938, 39, 40 e

41, e que a partir de 1942 a qualidade tipográfica cai, e o jornal passa a ser mimeografado.

Assim sendo, foi possível perceber as transformações ocorridas, durante um breve e

conturbado período histórico, nos sentidos que a educação rural tomou em Pernambuco. Em

um primeiro momento, a educação rural aparece mais como “urbanizadora” do espaço rural, e

depois com cunho mais moralizador, sem trazer aspectos científicos anteriormente observados.

Assim, “designar o que se convencionou chamar de “educação rural” exige considerar a

historicidade de suas ideias e práticas, e as relações entre estas e os projetos voltados para o

mundo rural” (TAVARES, 2012, p.1).

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS No período estudado, uma parte das elites rurais pernambucanas via nesse projeto

modernizador uma oportunidade para fortalecer o seu poder político e econômico, bastante

debilitado, assim como a cultura canavieira também estava. Mas havia também temores de que

esse processo resultasse em “anarquia social”, com o povo alfabetizado a exigir melhores

trabalhos do que os que eram oferecidos pelos usineiros. Então, o projeto pedagógico

inicialmente implantado em Pernambuco também passou pelos conflitos políticos de uma

elite rural dividida e acabou sendo modificado em parte, atendendo às vivências de uma

sociedade com forte influência católica e moralizadora. Como não foi possível determinar

quando a Escola Rural Modelo deixou de ser desse tipo, é premente um futuro estudo sobre

quando e por que este projeto se deslegitimou para a sociedade pernambucana.

AGRADECIMENTOS Agradeço ao CNPq pela oportunidade, fomentação e auxílio financeiro. Também á Fundação

Joaquim Nabuco, na pessoa de Maurício Antunes Tavares, que me orientou durante quase

um ano de estudo, e Inês Freire que me auxiliou durante essa jornada.

REFERÊNCIAS GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. Relatório apresentado ao Exmº. Snr.

Presidente da República: 1938-39. Recife, (s/d). 24 p.

HALBWACHS, M. A memória coletiva.São Paulo: Centauro, 2004.

LEÃO, A. Carneiro. A sociedade rural e seus problemas e sua educação. Rio de

Janeiro: Editora S. A. Noite, 1939.

GOVERNO DO ESTADO DE PERNAMBUCO. O SEMEADOR. Recife: Órgão Oficial

dos alunos da Escola Rural Modelo, n.5, 30 de maio de 1942.

SELLARO, L. R. A. Educação e modernidade em Pernambuco. Inovações no ensino

público (1920/1937). Recife: Ed. Universitária UFPE. 2009.

TAVARES, M. A. O Projeto Civilizador na Educação Rural no Período 1933-1942: O

Caso da Escola Rural Modelo, no Recife. Trabalho apresentado no X COLUBHE,

Universidade de Lisboa, Portugal, 2012.

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PODER JUDICIÁRIO: A PERSPECTIVA DO USUÁRIO

Thaysa Gabrielle Batista Barbosa¹; José Augusto Amorim Guilherme da Silva²

1 Estudante do curso de ciências sociais da UFPE; e-mail: [email protected];

2 Analista Sênior III da Diretoria de Pesquisas Sociais da FUNDAJ / DIPES / CGES; e-mail:

[email protected]

RESUMO: Este relatório apresenta os resultados da pesquisa sobre a questão da “morosidade” do

Poder Judiciário de Pernambuco, segundo a percepção dos usuários/cidadãos que buscam o

acesso à justiça. No estado, segundo pesquisa realizada pelo Conselho Nacional de Justiça,

em 2010, é alta a taxa de congestionamento nos tribunais (parâmetro medido em função da

quantidade de processos pendentes de sentença em relação aos que estão em andamento).

Dessa maneira, a pesquisa quantitativa realizada com 120 usuários do sistema judiciário da

Região Metropolitana do Recife (concentrado no Fórum Joana Bezerra), a partir de uma

amostragem não probabilística, tem como objetivo saber se efetivamente a atribuição de

“instituição morosa” por parte do senso comum condiz com a realidade desse segmento que é

parte do sistema mais amplo de defesa social.

Palavras-chave: Defesa social, Fórum do Recife, Litigiosidade, Morosidade,

Pernambuco, Poder Judiciário.

INTRODUÇÃO A partir da premissa de que o papel desempenhado pelo Poder Judiciário é essencial para

que o cidadão tenha assegurado o seu acesso à justiça, bem como que a sua demanda obtenha

uma resposta, o objetivo do presente trabalho é identificar a percepção geral, desses

cidadãos, sobre a ideia advinda do senso comum que o Judiciário é uma “instituição

morosa” e se isso condiz com a realidade desse segmento do sistema. Para isso, tornou-se

necessário conhecer as varas de primeiro grau que compõem o compõem na Região

Metropolitana do Recife e identificar as dificuldades enfrentadas pelos usuários, além de

traçar um perfil dos usuários que frequentam o Fórum do Recife.

A missão do Poder Judiciário é realizar a justiça e deve “ser reconhecido pela

sociedade como instrumento efetivo de justiça, equidade e de promoção da paz social”. A

legitimidade do Poder Judiciário está estreitamente vinculada ao seu desempenho

operacional e à sua eficiência administrativa. Com base nessa visão, tem-se que, além de ser um

dos poderes da república democrática, o Judiciário deve ser entendido, também, como um

prestador de serviços públicos. A ampliação ao acesso à justiça e a contemplação de novos

direitos fundamentais na Constituição Federal de 1988, aliadas à evolução na área da

ciência e da tecnologia a partir do século passado, geraram uma explosão de litigiosidade e o

protagonismo do Poder Judiciário.

A questão da morosidade é, após ser identificada como um dos grandes entraves do sistema

de justiça, discutida abertamente pelos três poderes e pela sociedade em geral, ressaltando-

se a existência de uma “crise” do Poder Judiciário e destacando-se a necessidade de sua

reforma. No entanto, as reformas legislativas efetuadas não foram suficientes para resolver o

problema. Assim, é necessário pensar em mudanças na estrutura do próprio sistema,

selecionando-se algumas prioridades. As prioridades passam pela necessidade de: a) redução do

valor das custas processuais; b) investimentos em recursos humanos, tecnológicos e

materiais; c) planejamento estratégico em nível nacional, a cargo do CNJ. No caso desta

pesquisa estuda-se especificamente o caso do estado de Pernambuco onde, segundo a pesquisa

realizada pelo CNJ, em 2010, a taxa de congestionamento nos tribunais (que mede a

quantidade de processos pendentes de sentença em relação aos que estão em andamento) é

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alta. Em Pernambuco, de cada cem processos, apenas nove foram sentenciados.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O subprojeto em questão contempla primordialmente a metodologia quantitativa, por meio

da aplicação de 120 questionários estruturados com 14 perguntas juntamente aos usuários

do sistema. A pesquisa de opinião traçou um perfil dos usuários do Fórum do Recife e,

também, e expôs a avaliação destes sobre o poder judiciário. Com esses dados foi possível

verificar, entre outros indicadores, o grau de satisfação dos usuários. Além do viés

quantitativo, a pesquisa contemplou as seguintes etapas: levantamento bibliográfico

complementar sobre a temática do Poder Judiciário; levantamento de dados secundários

relativos à estrutura das unidades do Poder Judiciário; análise dos dados coletados e,

finalmente, a redação do relatório parcial da pesquisa.

RESULTADOS E DISCUSSÃO No primeiro bloco de perguntas, no qual é traçado o perfil socioeconômico do usuário

do fórum nota-se uma presença equilibrada entre homens e mulheres (homens 47%, mulheres

53%), sendo o perfil estabelecido dos usuários jovens em sua maioria na faixa etária entre

25 a 34 anos (24,8 %) , tendo cursado o ensino médio (47,4 %), com renda

mensal em média de dois a cinco salários mínimos (34,6%) e empregados no setor privado

(40,9%).

A conciliação em suas diversas formas (mediação, arbitragem, negociação) é o ideal de

resolução de conflitos. Disso decorre o crescente sucesso do programa “Conciliar é Legal”, do

CNJ, que no último ano obteve 135.337 conciliações (44,3% do total de audiências realizadas).

Interessante notar, ainda, o significante percentual de usuários que prefere procurar a Igreja

quando sente que seus direitos foram desrespeitados (12%). Observe-se, também, a pouca

preferência do brasileiro pelos caminhos tradicionais, formais e legais, como “procuro um

advogado” ou “procuro por conta própria o Poder Judiciário, a Justiça”.

A dualidade juiz/Poder Judiciário começa a ser explicada quando analisamos o item

“Opinião em relação a características e aspectos do Poder Judiciário”. As perguntas foram

divididas em pares de características contrárias. As respostas demonstram que a Justiça é

vista como lenta por 88% dos entrevistados e que somente 8% consideram a agilidade uma de

suas características. Os custos da Justiça são caros para 78% dos entrevistados, enquanto 12%

acham que seus custos não são caros. Além disso, 69% acreditam que o Judiciário

beneficia alguns setores da sociedade, contra apenas 22% que entendem que sua atuação é

neutra; e 63% acham que o Judiciário se deixa influenciar pela mídia, empresários ou

políticos, ao passo que 28% o consideram independente. Já em relação à honestidade, um

empate técnico: 39% acham que o Judiciário é honesto, enquanto 37% o consideram corrupto.

Ou seja, embora o brasileiro tenha necessidade de Justiça e confie nos juízes, ele ainda é

bastante crítico em relação ao desempenho operacional da instituição. No entanto, aqueles

que procuraram o Judiciário estão “muito satisfeitos” ou “satisfeitos” com o atendimento

recebido e resultados obtidos. É o que nos indica o item “Satisfação em relação ao atendimento

recebido e resultados obtidos na Justiça”.

Se tal satisfação é verdadeira, tudo leva a crer que exista uma falta de sintonia entre a ênfase

da crítica realizada na questão aberta onde todos citam a ineficiência e a lentidão do judiciário:

17% consideram altos os seus custos, enquanto entre os que utilizaram esse número é de

apenas 10%. Quanto à avaliação geral do Poder Judiciário – entre aqueles que utilizaram os

serviços da Justiça nos últimos cinco anos, a avaliação é boa ou ótima para 45%, percentual

que cai para apenas 36% entre os que não os utilizaram.

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CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS Esta pesquisa reforça dois aspectos relevantes na relação poder judiciário / sociedade.

Primeiro, vale a pena procurar a Justiça e os brasileiros a estão procurando cada vez mais.

Justiça é gênero de primeira necessidade e não existe sociedade sem essa instituição. É latente

a necessidade de se viver em paz e de forma previsível. Tal necessidade induz os cidadãos a

aceitarem o Judiciário como instituição democrática legítima, mas essa aceitação é, no

entanto, preliminar. É mais uma predisposição de aceitar, do que uma aceitação definitiva.

A pesquisa diagnosticou a evidência de que a atuação do Judiciário deve ser condizente com

a necessidade social de paz, além de permitir a existência da vida social sem violência. Porém,

a efetividade do serviço prestado pelo Judiciário somente terá eficácia quando, no cotidiano

das partes, haja uma redução significativa dos entraves morosos que dificultam o andamento da

demanda.

AGRADECIMENTOS À Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) por fomentar a pesquisa na área de ciências humanas

e conceder a possibilidade da iniciação científica; ao CNPq, pela concessão da bolsa; e ao

orientador Augusto Amorim, pelo trabalho de orientação.

REFERÊNCIAS BOBBIO, Norberto. A Era dos Direitos. Trad. Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro:

Campus, 1992.

CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA (CNJ). Relatório anual 2006. [Brasília, 2006].

Disponível em: <http://www.cnj.gov.br/index.php?option=com_content&task=

view&id=2663&Itemid=251>.acessado em 20.03.2012

FARIA, José Eduardo. Direito e justiça no século XXI. Texto apresentado no Seminário

Direito e Justiça no Século XXI. Coimbra: Centro de Estudos Sociais, 2003.

SANTOS, Boaventura de Souza. Introdução à sociologia da Administração da Justiça.

In: FARIA José Eduardo (Org.). Direito e Justiça: a função social do judiciário. São Paulo:

Ática, 1997.

TASSE, Adel El. A “Crise” no Poder Judiciário. A falsidade do discurso que aponta os

problemas, a insustentabilidade das soluções propostas e os apontamentos para a

democratização estrutural. Curitiba/PR: Juruá, 2004.

ZAFFARONI, Eugénio Raúl. Poder Judiciário: crises, acertos e desacertos. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 1995.

MORTES MATERNAS POR CAUSAS EXTERNAS NO ESTADO DE

PERNAMBUCO, 2000-2009

Yane Ferreira Cardoso1; Cristine Vieira do Bonfim

2

1

Estudante do Curso de Enfermagem da FENSG/UPE; e-mail: [email protected];

2Pesquisadora da Coordenação Geral de Estudos Sociais da Fundaj – CGES; e-mail:

[email protected].

RESUMO: Este estudo teve por objetivo descrever o perfil epidemiológico das mortes

maternas relacionadas às causas externas, de residentes em Pernambuco, no período de 2000 a

2009. Trata-se de um estudo descritivo de série de casos, cuja fonte de dados foi constituída

pelo Sistema de Informações sobre Mortalidade. Para análise dos dados foi utilizado o

programa EpiInfo versão 7, onde realizou-se estatística descritiva, distribuição de frequências,

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medidas de tendência central e dispersão. Estudou-se 50 óbitos relacionados as causas externas,

onde 17 (34%) encontravam-se entre 25 a 29 anos, 25 (50%) ocorreram em mulheres pardas, a

maioria solteira (56%), 15 (30%) residiam na região metropolitana do Recife, onde ocorreu

28 (56%) óbitos, sendo 22 (44%) no puerpério precoce. A quase totalidade dessas mortes

ocorreu em âmbito hospitalar (98%), onde 43(86%) óbitos relacionam-se à complicações na

assistência médica e cirúrgica. Os resultados ressaltam a importância de estudos relacionados

ao óbito materno por causas externas, uma vez que esses óbitos são excluídos dos índices de

mortalidade materna.

Palavras–chave: Causas externas; estatísticas vitais; mortalidade materna; saúde pública;

sistemas de informação.

INTRODUÇÃO A mortalidade materna é um grande desafio para os sistemas de saúde em todo o mundo,

pois retrata as condições de vida das mulheres e a qualidade da assistência à saúde (HOGAN et

al., 2010). Uma das principais e complexas abordagens relativas ao óbito materno é

realizada através de fatores ligados as causas acidentais ou incidentais, que são descartadas da

definição de morte materna. Dessa forma, todas as mortes por causas externas ocorridas no

período gravídico-puerperal são automaticamente excluídas da construção dos indicadores de

mortalidade materna, ou seja, os óbitos são classificados apenas como mortes provocadas por

lesões externas, sem qualquer referência a gravidez ou puerpério (CAMPERO et al., 2006).

As mortes por violências, juntamente com as provocadas por acidentes que, na Classificação

da Organização Mundial da Saúde recebem o nome genérico de “causas externas”, ocupavam

o terceiro lugar na ordenação dos principais grupos e causas de morte no ano de 2008. As

informações de mortalidade segundo as causas externas são instrumentos importantes para

monitorar os casos de violência, acidentes e suicídios, pois permitem a avaliação de perfis e

tendências, e do impacto das intervenções voltadas para a sua redução. A relação entre causas

externas e morte materna é desconhecida e pouco investigada pelos sistemas de vigilância do

óbito materno no país, aumentando o nível de subinformação, o que, consequentemente,

mascara a realidade dos índices de mortalidade materna (ALVES; ANTUNES, 2009,

MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010).

Este estudo tem como objetivo descrever o perfil epidemiológico dos óbitos maternos

relacionados às causas externas, além de discutir a importância de incluir na definição de

mortalidade materna as mortes relacionadas com violências, contribuindo com a elaboração de

políticas públicas, programas e serviços de prevenção.

PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS O estudo foi realizado no estado de Pernambuco, que possui 185 municípios. Trata-se de um

estudo descritivo de série de casos, cuja população foi constituída pelos óbitos maternos

relacionados com as causas externas de residentes no estado de Pernambuco, ocorridos no

período de 2000 a 2009, que foram registrados no Sistema de Informação sobre Mortalidade.

Após a identificação dos óbitos, foram exploradas as variáveis sociodemográficas, relativas ao

óbito e a classificação da causa do óbito segundo a 10ª Revisão da Classificação Internacional

de Doenças (CID). Para análise dos dados, o programa utilizado foi o EpiInfo versão 7 onde

foi realizada estatística descritiva por meio de distribuições de frequências, medidas de

tendência central e dispersão. O projeto seguiu de acordo com as diretrizes e normas

regulamentadoras de pesquisas com seres humanos do Conselho Nacional de Saúde, resolução

nº 196/96.

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RESULTADOS/DISCUSSÃO Dos 1090 óbitos maternos de residentes no estado de Pernambuco no período estudado, 50

(4,58%) foram tidos como mortes relacionadas com as causas externas. A faixa etária com

maior número de óbitos foi entre 25 a 29 anos de idade, concentrando 17 óbitos (34%),

sendo compatível com o perfil de distribuição observado entre as mortes maternas por

causas obstétricas (DATASUS, 2010).

Em relação a mesorregião de residência, 30% das mulheres localizavam-se na mesorregião

metropolitana do Recife, diminuindo a concentração de mulheres residentes à medida que se

segue em direção ao interior do estado. O mesmo declínio no percentual de óbitos se

apresenta na mesorregião de ocorrência, onde a maioria se concentrou na metropolitana do

Recife.

Dentre as causas do óbito materno, 43 (86%) mortes resultaram de complicações relativas à

assistência médica e cirúrgica, como reação anormal ou complicação tardia causada por

intervenção cirúrgica e objeto estranho deixado acidentalmente no corpo durante cuidados

cirúrgicos e médicos, servem de alerta quanto a falta de capacitação da assistência à saúde e no

atendimento à população (POLL; LUNARDI; LUNARDI FILHO, 2008) (Tabela 1).

Tabela 1. Óbitos maternos segundo causas externas, PE, 2000 – 2009

Fonte: Sistema de Informação sobre Mortalidade, Secretaria Estadual de Saúde, PE, 2000-20

Cinco óbitos (10%) foram ocasionados por lesões acidentais, de trânsito, queda e/ou

envenenamento, podem ser justificadas devido a mudança no estilo de vida decorrente da maior

autonomia das gestantes para atividades cotidianas. As lesões autoprovocadas intencionalmente

(4%), por enforcamento, sufocação e intoxicações, exemplificam o perfil suicida no período

gravídico-puerperal onde os pensamentos sobre morte, juntamente com a depressão e a ansiedade,

tem impacto negativo durante a gravidez (FRAGA et al., 2005, SILVA et al., 2012) (Tabela 1).

Para confirmação da causa do óbito, em casos relacionados as causas externas, a lei brasileira

determina a obrigatoriedade do exame necroscópico. Entretanto, a necropsia não foi realizada em

40% das mortes estudadas e 10% foram ignoradas, introduzindo importante viés na caracterização

Causas/CID 10 n %

Complicações da assistência médica e cirúrgica Reação anormal em pacientes ou complicação tardia causada por intervenção cirúrgica e por outros atos cirúrgicos, sem menção de acidente durante a intervenção (Y83)

31 62

Efeitos adversos de anestésicos e gases terapêuticos (Y48) 5 10 Reação anormal em pacientes ou complicação tardia causada por outros procedimentos médicos, sem menção de acidente durante o procedimento (Y84)

4 8

Efeitos adversos de outras drogas e medicamentos não especificados (Y57) 1 2 Objeto estranho deixado acidentalmente no corpo durante a prestação de cuidados cirúrgicos e médicos (Y61)

1 2

Outros acidentes durante a prestação de cuidados médicos e cirúrgicos (Y65) 1 2 Acidentes de transporte

Ocupante de triciclo motorizado traumatizado em outros acidentes de transporte e em acidentes de transporte não especificados (V39)

2 4

Outras causas externas de lesões acidentais

Queda do mesmo nível por escorregão, tropeção ou passos em falsos (W01) 1 2 Envenenamento (intoxicação) acidental por exposição a outras substâncias químicas nocivas e às não especificadas (X49)

1 2

Lesões autoprovocadas voluntariamente

Lesão autoprovocada intencionalmente por enforcamento, estrangulamento e sufocação (X70) 1 2 Auto-intoxicação por exposição intencional a pesticidas (X68) 1 2

Sequelas de causas externas

Sequelas de acidentes de transporte (Y85) 1 2

Total 50 100

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do perfil da mortalidade materna por causas violentas (HARAKI; GOTLIEB; LAURENTI,

2005, MATOS; PROIETTI; BARATA, 2007).

CONSIDERAÇÕES FINAIS Este trabalho permitiu identificar que o óbito materno relacionado à causas externas é um objeto

de estudo importante dentro das estatísticas vitais, pois óbitos por violências e acidentes de

mulheres no período gravídico-puerperal são excluídos dos índices de morte materna.

AGRADECIMENTOS Ao PIBIC/CNPq e a Fundação Joaquim Nabuco pelo incentivo a pesquisa e ensino,

proporcionando novas experiências e conhecimentos técnico-científicos, e a todos que

contribuíram direta ou indiretamente no desenvolvimento deste trabalho.

REFERÊNCIAS ALVES, S. V.; ANTUNES, M. B. C. Morte por causas externas durante o período gravídico-

puerperal: Como classificá-las? Cadernos de Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 17, n.3, p. 743-

764, 2009.

CAMPERO, L. et al. The contribution of violence to maternal mortality in Morelos, Mexico.

Salud publica Mexico, v. 48, suppl. 2, p. s297-s306, 2006.

FRAGA, G. P. et al. Trauma abdominal em grávidas. Revista Brasileira de Ginecologia e

Obstetrícia, v. 24, n. 9, p. 541-47, 2005.

HARAKI, C. A. C.; GOTLIEB, S. L. D.; LAURENTI, R. Confiabilidade do Sistema de

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Brasileira de Epidemiologia, v. 8, n. 1, p. 19-24, 2005.

HOGAN, M. C. et al. Maternal mortality for 181 countries, 1980-2008: a systematic analysis of

progress towards Millennium Development Goal 5. The Lancet, v. 375, n. 9726, p. 1609-1623,

2010.

MATOS, S. G.; PROIETTI, F. A.; BARATA, R. C. B. Confiabilidade da informação sobre

mortalidade por violência em Belo Horizonte, MG. Revista de Saúde Pública, v. 41, n. 1, p. 76-84,

2007.

MINISTÉRIO DA SAÚDE. Sistemas de Informações em Saúde. DATASUS. Disponível em:

<http://www.datasus.gov.br/>. Acesso em: 18 jan. 2012.

. Saúde Brasil 2009: Uma análise da situação de saúde e da agenda

nacional e internacional de prioridades em saúde. Brasília/DF, 2010.

POLL, M. A.; LUNARDI, V. L.; LUNARDI FILHO, W. D. Atendimento em unidade de

emergência: organização e implicações éticas [review]. Acta Paulista de Enfermagem, v. 21, n. 3,

p. 509-14, 2008.

SILVA, R. A., et al. Suicidality and associated factors in pregnant women in Brazil.

Community Mental Health Journal, v. 48, n. 3, p. 392-95, 2012.

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