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Dedimar Ribeiro Sabóia Aspectos legais do tratamento ortodôntico frente ao Código de Defesa do Consumidor Goiânia - GO 2011

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Dedimar Ribeiro Sabóia

Aspectos legais do tratamento ortodôntico frente ao Código de Defesa do Consumidor

Goiânia - GO 2011

Dedimar Ribeiro Sabóia

Aspectos legais do tratamento ortodôntico frente ao Código de Defesa do Consumidor

Monografia apresentada a Faculdades

Unidas do Norte de Minas, como

requisito parcial à obtenção do Título

de Especialista em Ortodontia.

Orientador: Prof. Ms. Rhonan Ferreira da Silva

Goiânia - GO 2011

Saboiá, Dedimar Ribeiro

Aspectos legais do tratamento frente ao código de defesa do consumidor / Rhonan Ferreira da Silva – Goiânia-GO, 2011.

20 f.: il.

Orientador: Prof. Ms. Rhonan Ferreira da Silva Monografia (Especialização) - FUNORTE - SOEBRAS,

Especialização em Ortodontia, 2011. 1. Ortodontia 2. Defesa do Consumidor 3. Odontologia Legal

4. Monografia. I. FUNORTE - SOEBRAS, Especialização em Ortodontia. II. Título

Folha de aprovação

Autor: Dedimar Ribeiro Sabóia

Título: Aspectos legais do tratamento ortodôntico frente ao código de

defesa do consumidor

Monografia apresentada a Faculdades Unidas do

Norte de Minas, como requisito parcial à obtenção

do Título de Especialista em Ortodontia.

Data: _______/_____________/______________

Nota___________________________

BANCA EXAMINADORA

Rhonan Ferreira da Silva – Mestre em Odontologia Legal

Mauro Machado do Prado – Doutor em Bioética

Rosimar Bernardete Queiroz– Especialista em Radiologia

Goiânia – GO

2011

A vocês, que me deram a vida e me ensinaram a vivê-la com

dignidade;

A vocês que iluminaram os caminhos obscuros com afeto e

dedicação, para que eu trilhasse sem medo e cheio de

esperança.

A vocês que se doaram inteiros e renunciaram aos seus

sonhos, para que muitas vezes, eu pudesse realizar os meus

sonhos.

A vocês, pais por natureza, por opção e amor...

Muito obrigado.

Agradecimentos

A Deus pela oportunidade e pela graça alcançada.

Aos meus pais que me ensinaram a trilhar os meus caminhos;

A minha filha Jacqueline pela compreensão, pelas horas que

Ficamos distantes, e pelo carinho sempre demonstrado.

À coordenação do curso de especialização, na pessoa do Prof.

Sérgio Jakob, e aos professores Marco Leonardo, Rogério

Sabath e Ricardo Shimada pela dedicação, orientação,

empenho e amizade, para nos ensinar os caminhos da

Ortodontia;

Ao meu orientador, Prof. Rhonan Ferreira da Silva, por

demonstrar o quanto a Odontologia Legal é importante para a

prática da Ortodontia.

Aos demais professores do curso de especialização pela sua

dedicação e empenho em transmitir os seus conhecimentos;

Aos colegas de turma, futuros ortodontistas, que

proporcionaram ótimos momentos de convivência e

consolidação de amizade no decorrer desses 3 anos de curso.

Aos meus amigos que trilharam esse caminho e ajudaram a

concretizar esse sonho;

À direção da EAP, aos seus funcionários pelo apoio logístico,

empenho e dedicação e em especial a Dra. Rose, pelo

incentivo, carinho e amizade;

A todos que de alguma forma contribuíram para que

realizássemos esse momento.

Carpe Diem. Procure realizar seus sonhos. E ame as pessoas como se não

houvesse amanhã, pois na verdade não há.

RESUMO O Código de Defesa do Consumidor (CDC) foi aprovado em 1990 trazendo várias

e importantes modificações na prestação de serviços odontológicos. Neste

sentido, foi realizada uma revisão de literatura que pudesse levantar aspectos

importantes da prestação de serviços odontológicos, especificamente

ortodônticos, confrontando com os dispositivos presentes no CDC. Foram

avaliados aspectos referentes a oferta do tratamento ortodôntico, importância do

plano de tratamento, elaboração de contrato e termo de consentimento,

determinação de critérios para o fim do tratamento além de prazos e condições de

garantia pós tratamento ortodôntico. Dentre as conclusões mais importantes,

ressalta-se a necessidade de elaborar um termo de consentimento e contrato

específicos para o tratamento ortodôntico, o registro detalhado do plano de

tratamento e o conhecimento aprofundado do conteúdo do CDC com o intuito de

evitar processos ético-judicias.

Palavras chave: Ortodontia, Defesa do Consumidor, Odontologia Legal

ABSTRACT The Consumer Defense Code (CDC) was approved in 1990 brought several and

important changes in the provision of dental services. In this sense, we performed

a literature review that could raise important aspects of oral care services,

specifically orthodontics, comparing with the devices within CDC. We evaluated

regarding the provision of orthodontic treatment, importance of the treatment plan,

preparation of contract and informed consent, determination of criteria for the end

of treatment beyond the warranty terms and conditions after orthodontic treatment.

Among the most important conclusions, it emphasizes the need to develop a

informed consent and contract specifically for orthodontic treatment, a detailed

record of the treatment plan and extensive knowledge of the contents of the CDC

in order to avoid ethical-judicial processes.

Key words: Orthodontics, Consumer’s Defense, Forensic Dentistry.

Lista de abreviaturas

CDC – Código de Defesa do Consumidor

CEO – Código de Ética Odontológica

CFO – Conselho Federal de Odontologia

CRO – Conselho Regional de Odontologia

TCLE – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

Sumário

Resumo ..................................................................................................06

Abstract ...................................................................................................07

Lista de abreviaturas ...............................................................................08

1. Introdução ...........................................................................................10

2. Proposição ..........................................................................................12

3. Revisão deliteratura ...........................................................................13

4. Discussão ...........................................................................................19

4.1. Oferta dos serviços odontológicos – uso de publicidade e

propaganda.............................................................................................. 19

4.2. Importância legal do plano de tratamento ............................. 22

4.3. Contratação dos serviços ...................................................... 24

4.4 – Disponibilizando informações técnicas, orientações e avisos

sobre o tratamento ortodôntico – uso do TCLE ........................................... 28

4.5 – Critérios para determinar o fim do tratamento ortodôntico...... 30

5.6 – Defeitos na prestação de serviços e garantias.................................... 31

5. Conclusões... ......................................................................................... 34

6. Referências............................................................................................. 35

13

1. INTRODUÇÃO

Com a aprovação do Código de Defesa do Consumidor (CDC), por

meio da Lei 8.078/90 (BRASIL, 1990), a prestação de serviços na área de

saúde ficou regida pelos dispositivos contidos nesta normativa e o fornecimento

de produtos e serviços em Odontologia teve que se adequar às práticas

mercantis então vigentes, circunstância em que o paciente foi equiparado a

consumidor e o Cirurgião-dentista a fornecedor de produtos e serviços.

Especificamente na prestação de serviços odontológicos, o Cirurgião-

dentista deve estar atento a alguns aspectos legais importantes para uma boa

prática comercial, com o intuito de se respaldar diante de eventuais problemas

com o paciente, uma vez que o consumidor encontra-se cada vez mais

conhecedor dos seus direitos, principalmente pela ampla divulgação do CDC.

Neste contexto, ressalta-se a aprovação da Lei 12.291/2010 (BRASIL, 2010) que

fixa a obrigação dos estabelecimentos comerciais e/ou de prestação de serviços,

dentre eles os consultórios e clínicas odontológicas, de disponibilizarem ao

público de modo geral um exemplar do CDC e aqueles estabelecimentos que

descumprirem esta lei podem ser multados em R$ 1.064,10.

Considerando que o profissional da Odontologia deve ser conhecedor do

conteúdo do CDC sob pena de ter que responder por eventuais falhas tanto de

condutas quanto nas práticas comerciais, em esferas judiciais (civil e criminal) ou

administrativas, o presente trabalho tem como objetivo revisar a literatura

pertinente à prestação de serviços odontológicos, com enfoque na Ortodontia, em

pontos relacionados desde a oferta, contratação, planejamento, execução até a

finalização e garantia do tratamento ortodôntico confrontando com os dispositivos

presentes no Código de Defesa do Consumidor (CDC).

14

2. PROPOSIÇÃO

O presente trabalho tem como objetivo revisar a literatura pertinente à

prestação de serviços odontológicos, com enfoque na Ortodontia, discutindo

pontos relacionados desde a oferta, contratação, planejamento, execução até a

finalização e garantia do tratamento ortodôntico e confrontando com os

dispositivos presentes no Código de Defesa do Consumidor (CDC).

15

3. REVISÃO DE LITERATURA

Alguns aspectos relacionados com a oferta de serviços odontológicos já vêm

sendo estabelecidos em legislação desde a década de 60. Uma das principais

normas envolvidas é a Lei 5.081/66, que regulamenta o exercício da Odontologia

no Brasil, e veda o anúncio de gratuidades, preços e modalidades de pagamento

( BRASIL, 1966).

Neste sentido, o Código de Ética Odontológico, aprovado pela Resolução

CFO 042/2003 e posteriormente alterado pela bem Resolução CFO 071/2006

também veda práticas que possam configurar concorrência desleal entre os

profissionais da Odontologia (CFO, 2003; (CFO 2006).

Já o Código de Defesa do Consumidor brasileiro foi aprovado em

1990, por meio da Lei Federal n. 8078, estabelecendo regras e obrigações

principalmente entre consumidores e fornecedores de produtos e serviços,

incluindo as prestações de serviço na área de saúde (BRASIL, 1990).

Saquy et al. (1993) relatam que no início da vigência do Código de Defesa

do Consumidor (CDC), em 1990, houve uma certa dúvida quanto ao

enquadramento dos profissionais da área de saúde como sendo fornecedores de

produtos e serviços e os pacientes como consumidores. Entretanto, todos aqueles

prestadores de serviços (pessoa física ou jurídica) que fornecem serviços

mediante remuneração, salvo as de natureza trabalhista, estão enquadrados no

CDC (Art. 3º § 2º). Os autores ressaltam a possibilidade de inversão do ônus da

prova, a favor do consumidor (Art. 6º, VIII), nos casos de processos entre

profissionais de saúde e pacientes em que a parte vulnerável ou considerada

hipossuficiente (consumidor, no caso) alega que o suposto erro ou insucesso no

tratamento foi ocasionado pelo profissional. Nestes casos, não é o paciente que

tem a obrigação (ônus) de provar o erro, e sim, o profissional é que terá que

provar que não cometeu erro algum.

16

Calvielli (1996) entendia como sendo contratual (contrato de locação de

serviços) a relação entre pacientes e profissionais da área de saúde e, uma vez

contratados os serviços, ambas as partes possuem obrigações. Para o paciente,

a obrigação seria de pagar os honorários e seguir as obrigações terapêuticas

estipuladas pelo profissional, como: comparecimento às consultas, manutenção

da higiene bucal, levando em conta que o descumprimento das obrigações por

parte do paciente pode refletir no insucesso do tratamento. Para o profissional, a

obrigação pode ser de meio ou de resultado. Na primeira, o profissional está

incumbido de utilizar todos os recursos necessários para obter o sucesso do

tratamento sem, contudo, estar vinculado ao resultado. Por outro lado, a

obrigação de resultado é aquela em que o dentista se obriga a atingir

determinado. fim (resultado) e, quando este não é atingido do modo que espera o

paciente, o profissional pode ser cobrado pelo “insucesso”. O autor relata que

uma das causas de processos contra dentistas é o modo pelo qual o profissional

realiza a propaganda dos serviços odontológicos, anunciando garantias explícitas

e que o mesmo está sempre preparado para atingir o sucesso no tratamento,

desconsiderando o aspecto biológico do paciente.

Milton et al. (2001) relataram 3 casos envolvendo a deglutição de peças

ortodônticas por pacientes. Estes corpos estranhos foram posteriormente

eliminados sem a necessidade de intervenção cirúrgica ou outras intercorrências.

Tanaka e Garbin (2003) estudaram as reclamações efetuadas contra

dentistas junto ao PROCON de Presidente Prudente (SP) de 1997 a 2001,

totalizando 25 ocorrências. A prótese foi a especialidade mais envolvida nas

reclamações (38,71%) e os motivos mais frequentes para a procura do PROCON

foram: a) erro de tratamento (51%); b) omissão de tratamento; e c) não

cumprimento de contrato. Do total de reclamações, 52% foram resolvidas

mediante intervenção do PROCON e a devolução dos valores pagos (68%) foi a

conduta mais adotada pelos profissionais para solucionar o impasse.

17

Panzeri et al. (2004) relataram 4 casos de reclamações registradas junto ao

Procon de Ribeirão Preto (SP). No primeiro caso, o paciente iria pagar R$ 470,00

por cinco extrações e uma prótese, mas este alegou, no fim do tratamento, que a

prótese não ficou boa. A solução do impasse foi o pagamento de 50% do valor

combinado para o profissional. Segundo caso: paciente paga pela confecção de

duas próteses, sendo que ambas começaram a amarelar e a superior quebra com

8 meses de uso. O profissional realizou os reparos e cobrou R$ 40,00, que não

foram pagos pelo paciente por ter sido “destratada”. O conflito foi solucionado

com o não pagamento do reparo. No terceiro caso, o paciente começou um

tratamento odontológico que se estendeu por tempo demasiado e os tratamentos

iniciados não eram concluídos. Foi solicitada a devolução dos valores pagos, mas

o impasse não foi resolvido, sendo encaminhado para o Juizado Cível. No último

caso, um paciente pagou R$ 1.750,00 por um tratamento odontológico que foi

iniciado nas dependências de um sindicato, mas teve o local de tratamento

mudado por 2 vezes para um local que era de difícil locomoção para o paciente. O

tratamento não foi encerrado e o paciente solicitou a devolução dos valores

pagos, conduta que foi acatada pelo profissional.

Kliemann e Calvielli (2007) estabeleceram as obrigações contratuais de

cada parte (profissional e paciente) durante a prestação dos serviços

odontológicos. As obrigações foram divididas em: a) dever principal: que o objeto

principal do contrato, ou seja, a execução do tratamento odontológico contratado;

b) deveres secundários ou meramente acessórios: b1) dever de possuir os

conhecimentos técnicos correspondentes; b2) dever de utilizar todos os meios

possíveis para a obtenção do diagnóstico; b3) dever de empregar a terapêutica

que ofereça os menores riscos e melhores resultados; b4) dever de possuir os

meios técnicos necessários e em perfeito estado de funcionamento; e c) deveres

laterais de conduta: c1) dever de informar, referente ao esclarecimento e ao

aconselhamento; c2) dever de continuidade e de vigilância; c3) dever de sigilo; e

c4) dever de proteção. De todos estes deveres, o paciente possui grande

participação no dever de continuidade quando este tem a obrigação de

comparecer às consultas marcadas (não interromper o tratamento), seguir as

recomendações propostas pelo profissional e realizar o pagamento dos

honorários. Para todos os demais deveres, inclusive o de continuidade, é o

18

cirurgião-dentista quem tem o dever de observá-los para manter uma boa relação

profissional/paciente e evitar conflitos ético-judiciais.

Paranhos et al. (2009) propuseram um modelo de contrato de prestação de

serviços e um outro modelo de Termo de Consentimento Livre e Esclarecido

(TCLE), aplicados à Ortodontia, discutindo aspectos importantes para o respaldo

profissional. No contrato, devem constar os seguintes itens: partes contratantes

(devidamente qualificadas), objeto do contrato, valor do contrato e forma de

pagamento, duração do contrato (vigência), rescisão, garantias, obrigações do

paciente e do profissional, do abandono do tratamento, do foro (local para

resolução de eventuais impasses) e assinatura das partes. O TCLE aplicado à

Ortodontia deve ser elaborado em linguagem simples, contendo somente os

termos científicos necessários, esclarecendo o que é a Ortodontia, suas

indicações e limitações, informando os riscos e benefícios do tratamento, todas as

opções de tratamento possíveis dentro dos limites técnico-biológicos, informação

sobre o atendimento, além dos cuidados no pós-tratamento.

Silva (2009) destaca alguns aspectos importantes do código de defesa do

consumidor que estão intimamente relacionados com a prática odontológica, tais

como a definição de consumidor/fornecedor e produtos/serviços, o fornecimento

de serviços gratuitos, o relacionamento profissional/paciente, a necessidade de

prestação das informações necessárias ao consumidor, os prazos para reclamar,

as práticas abusivas, o plano de tratamento (“orçamento”) e o contrato de

prestação de serviços.

Vassão et al. (2009) ressaltam a importância do consentimento informado,

da elaboração de plano de tratamento (“orçamento”) com suas alternativas

terapêuticas, respeitando-se o princípio da autonomia em Odontologia, para a

prevenção de processos jurídicos. Os autores orientam que a informação sobre o

tratamento deve ser passada de uma forma clara, objetiva, conforme a linguagem

do paciente, abordando os riscos e benefícios, bem como dando a oportunidade

do paciente questionar e esclarecer os pontos de dúvida acerca da prestação de

serviços odontológicos.

19

4. DISCUSSÃO 4.1. Oferta dos serviços odontológicos – uso de publicidade e

propaganda.

Quando um profissional da Odontologia sente a necessidade de divulgar os

inúmeros tipos de tratamento que ele pode ofertar à população em geral, o

mesmo tem a prerrogativa legal de utilizar dos diversos meios de comunicação

para fazer tanto a publicidade, propaganda quanto o anúncio dos seus produtos e

serviços.

Para tanto, o Cirurgião-dentista deve observar tanto os aspectos éticos,

dispostos no Código de Ética Odontológica (CEO), quanto os parâmetros legais

presentes principalmente na Lei 5.081/66 (BRASIL, 1966) e no Código de Defesa

do Consumidor (BRASIL, 1990).

O CEO foi alterado pela última vez no ano 2006, por meio da Resolução

CFO 71 (CFO, 2006), justamente no capítulo da publicidade. Desse modo, cabe

ao Cirurgião-dentista observar quais as informações mínimas necessárias para se

fazer uma publicidade ao público em geral (nome completo, profissão e número

de inscrição no CRO), além de outras facultativas como títulos de especialidade

(devidamente registrado no CFO), títulos acadêmicos, horário de trabalho,

convênios e outros, conforme estabelece o Artigo 33 do CEO. Ainda, cabe ao

profissional atentar para as vedações, que consequentemente constituem

infrações éticas, presentes no Artigo 34 do CEO que proíbem anunciar preços,

descontos, modalidades de pagamento, gratuidade, oferecer tratamentos em

troca de favores políticos, em sorteios ou como brinde, fazer publicidade abusiva

ou enganosa, utilizar de artifícios de propaganda como expressões do tipo “antes

e depois” e outras ações que impliquem em concorrência desleal ou que

denigram a imagem da profissão.

20

Do ponto de vista legal, a Lei 5.081/66 (BRASIL, 1966) regulamenta o

exercício da Odontologia no Brasil e traz em seu Artigo 7° algumas restrições

sobre na utilização de publicidade, sendo elas: a exposição de trabalhos

odontológicos ao público com intenção de granjear (aliciar) clientela, o anúncio de

mais de duas especialidades bem como o anúncio de prestação de serviço

gratuito em consultório particular e, principalmente, o anúncio de preços de

serviços, modalidade de pagamentos e outras formas de competição que

signifiquem concorrência desleal.

Ainda na parte legal, o Artigo 37 do CDC define as publicidades enganosa

e abusiva. Enganosa é qualquer modalidade de informação ou comunicação de

caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou, por qualquer outro modo,

mesmo por omissão, capaz de induzir ao erro o consumidor a respeito da

natureza, características, qualidade, quantidade, propriedades, origem, preço e

quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. Não é raro encontrarmos

publicidades odontológicas contendo, além de infrações éticas, informações que

enganam o paciente como as expressões: “manutenção de aparelho ortodôntico:

a partir de R$ 40,00...”. O paciente que eventualmente se dirige a este consultório

odontológico busca o produto ou serviço (manutenção ortodôntica) pelo preço

anunciado, mas geralmente é informado que no seu caso específico, o valor é

superior ao veiculado, pois o que foi exposto era a informação A PARTIR DE...

21

É considerada abusiva, dentre outras, a publicidade discriminatória de

qualquer natureza, a que incite à violência, explore o medo ou a superstição, se

aproveite da deficiência de julgamento e experiência da criança, desrespeita

valores ambientais, ou que seja capaz de induzir o consumidor a se comportar de

forma prejudicial ou perigosa à sua saúde ou segurança. Propaganda abusiva em

Ortodontia poderia ser aquela que promete tratamento indolor ou sem riscos, uma

vez que qualquer tratamento na área de saúde, incluindo os odontológicos, entra

em contato com estruturas inervadas e pode gerar desconforto (dor) como as

expansões de maxila, bandagem, alterações na oclusão por movimentação

dental, etc. Além do quadro álgico, qualquer tratamento odontológico possui

riscos e na Ortodontia e as reabsorções dentais constituem uma hipótese

plenamente viável, principalmente se o paciente sofreu algum tipo de trauma

dental.

Para que o paciente (consumidor) não tenha dúvidas quanto ao tipo e

características do produto ou serviço que irá contratar, qualquer tipo de

publicidade deve ser veiculada de forma suficientemente clara e precisa,

obrigando o profissional que cumprir o prometido (veiculado por meio de

publicidade) e integrando o contrato que vier a ser pactuado (Art. 30 do CDC).

Esta situação é comumente observada em outras áreas do comércio que podem

anunciar explicitamente os preços de seus produtos e serviços, diferentemente da

Odontologia. Como exemplo cita-se quando uma empresa anuncia um produto

por R$ 17,00 e o seu valor correto era R$ 170,00. Qualquer consumidor que

provar que o referido produto foi anunciado por R$ 17,00, por meio de um

panfleto, poderá forçar a empresa a cumprir a oferta pelo valor anunciado,

independentemente da alegação de erro na confecção da propaganda. Ou ainda,

aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente, ou rescindir o contrato

com direito à restituição da quantia eventualmente antecipada (Art 35 DO CDC).

Especificamente na Ortodontia, esta situação poderia concretizar-se

quando um plano de tratamento ortodôntico é elaborado de forma incompleta ou

equivocada, sendo posteriormente entregue ao paciente. Supondo-se que um

ortodontista entrega um plano de tratamento ortodôntico no valor de R$ 3.000,00

e diz que este é o valor de todo o tratamento, então, não haveria a possibilidade

22

de se propor honorários profissionais complementares para o acompanhamento

na fase de contenção, uma vez que esta etapa também faz parte do tratamento

ortodôntico.

Ressalta-se que o tratamento ortodôntico compreende as seguintes etapas:

diagnóstico, planejamento, adequação do meio (caso necessária), execução da

terapêutica ortodôntica (alinhamento e nivelamento), contenção (estabilização).

4.2. Importância legal do plano de tratamento.

O plano de tratamento pode ser definido como um documento que contém

os procedimentos odontológicos que serão executados no paciente, associados

aos custos. É elaborado após a consulta inicial, circunstância em que são

verificadas quais as necessidades terapêuticas que devem ser executadas para

restabelecer ou promover a saúde bucal de quem procura os serviços

odontológicos.

Perante o CDC, o plano de tratamento odontológico equipara-se ao

“orçamento”, termo este utilizado comumente na prática comercial, e propicia que

o consumidor tenha em mãos uma relação dos procedimentos odontológicos que

serão realizados em sua cavidade bucal, associados aos custos. Ou seja, na

Ortodontia, o plano de tratamento deverá conter o valor da execução do

tratamento ortodôntico como um todo, integrando valores de “mão-de-obra” e dos

materiais e equipamentos a serem empregados, explicitando as datas de início e

término do tratamento. Ressalta-se que o CDC exige que as condições de

pagamento (parcelamento e descontos, conforme o caso) devem estar presentes

no plano de tratamento, mas estas condições não podem ser expostas ao público

sob pena de instauração de processo ético odontológico (Art. 40 do CDC).

Por ser equiparado ao orçamento, legalmente, o plano de tratamento

odontológico tem validade de 10 (dez) dias contados a partir do recebimento

deste documento pelo consumidor (Art. 40, § 1º do CDC) e com o intuito de

comprovar qual o tipo de tratamento bem como os custos apresentados ao

paciente torna-se importante anexar cópia do plano de tratamento junto ao

prontuário do paciente.

23

Após a sua confecção, o plano de tratamento deverá ser aprovado pelo

paciente em momento posterior à explanação das alternativas de tratamento, com

suas opções tanto de técnicas, materiais e custos, caso existam. Depois de

aprovado o plano de tratamento, paciente e profissional ficam obrigados a cumprir

suas obrigações e eventuais alterações neste “pacto” poderão ser realizadas de

comum acordo entre as partes (Art. 40, § 2º do CDC). Ressalta-se a necessidade

de que o plano de tratamento seja elaborado com grande riqueza de detalhes,

prevendo, inclusive, a necessidade de procedimentos realizados por outros

profissionais, como extrações, restaurações, tratamentos endodônticos, cirurgias.

ambulatoriais (expansões de maxila) ou ortognatias, pois o consumidor não

responde por quaisquer ônus ou acréscimos decorrentes da contratação de

serviços de terceiros não previstos no orçamento prévio -Art. 40, § 3º do CDC.

Convém lembrar que a confecção de plano de tratamento bem como a sua

entrega e aprovação pelo consumidor (paciente) não são condutas facultativas à

vontade do Cirurgião-dentista para a execução dos serviços odontológicos,

conforme estabelecem os incisos III e VI do Art. 39 do CDC.

4.3 – Contratação dos serviços.

Ofertada a prestação de serviços odontológicos pelo Cirurgião-dentista, o

paciente (consumidor) tem a liberdade de procurar e escolher um profissional da

sua confiança ou aquele constante de uma relação específica, como nos casos de

convênio/credenciamentos, para que o mesmo realize os tratamentos

odontológicos necessários.

No momento em que a escolha profissional é realizada e o plano de

tratamento é proposto e aceito pelo paciente, uma relação contratual está

estabelecida e o documento que firma esta relação é o contrato.

24

As Seções I e II do Capítulo VI do CDC elencam artigos que tratam da

proteção contratual nas relações de consumo e, os que podem ser analisados

diretamente com a prestação de serviços odontológicos estabelecem que: os

contratos que regulam as relações de consumo não obrigarão os consumidores,

se não lhe for dada a oportunidade de tomar conhecimento prévio do seu

conteúdo, ou se os respectivos instrumentos forem redigidos de modo a dificultar

a compreensão de seu sentido e alcance (Art. 46); as cláusulas contratuais serão

interpretadas de maneira mais favorável ao consumidor (Art. 47).

Neste sentido torna-se importante que o ortodontista redija um contrato em

linguagem acessível e que o consumidor (paciente) tenha a possibilidade de ler e

entender todo o seu conteúdo, previamente à realização dos serviços. O Art. 47

ainda reforça que os contratos de prestação de serviços odontológicos devem ser

redigidos de modo a não prejudicar o consumidor, dando a oportunidade de

interpretar as cláusulas abusivas de modo favorável ao consumidor (KLIEMANN e

CALVIELI, 2007; VASSÃO et al., 2009).

O consumidor pode desistir do contrato no prazo de 7 dias a contar de sua

assinatura, ou do ato de recebimento do produto ou serviço, sempre que a

contratação de fornecimento de produtos e serviços ocorrer fora do

estabelecimento comercial, especialmente por telefone ou domicílio. Se o

consumidor exercitar o direito de arrependimento previsto neste artigo, os valores

eventualmente pagos, a qualquer título, durante o prazo de reflexão, serão

devolvidos, de imediato, monetariamente atualizados (Art. 49).

25

Atualmente, pode-se constatar que vários profissionais e empresas de

Odontologia tentam ofertar seus serviços utilizando meios de comunicação que

atinjam uma maior quantidade de pessoas, por e-mail ou através das conhecidas

“centrais telefônicas”, que ligam ou entram em contato com os futuros

consumidores se que os mesmos tivessem procurado determinado

produtos/serviço. Assim, os profissionais que oferecem tratamentos ortodônticos

dessa maneira devem estar atentos para o prazo de reflexão e a possibilidade de

arrependimento do consumidor, mesmo que ele já tenha assinado o contrato.

Para as cláusulas tidas como abusivas, têm-se: Art. 51. São nulas de pleno

direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de

produtos e serviços que: I – impossibilitem, exonerem ou atenuem a

responsabilidade do fornecedor por vícios de qualquer natureza dos produtos e

serviços ou impliquem renúncia ou disposição de direitos; III – transfiram

responsabilidades a terceiros; VI – estabeleçam inversão do ônus da prova em

prejuízo do consumidor; XI – autorizem o fornecedor a cancelar o contrato

unilateralmente, sem que igual direito seja conferido ao consumidor; XIII –

autorizem o fornecedor a modificar unilateralmente o conteúdo ou a qualidade do

contrato, após a sua celebração; § 2° -a nulidade de uma cláusula contr atual

abusiva não invalida o contrato (...).

Conforme estabelecem os diversos incisos do Art. 51, todo o conteúdo que

for escrito num contrato e que tiver como intuito a colocação do consumidor em

posição de desvantagem para a realização da prestação dos serviços ontológicos

serão anuladas ou interpretadas de modo mais favorável ao consumidor.

Portanto, o ortodontista deve procurar confeccionar um contrato que possua

cláusulas claras e que possam ser modificadas bilateralmente em caso de

adaptação do contrato a uma nova realidade, ou seja, que haja a possibilidade de

ambas as partes modificarem o que for necessário para que a prestação de

serviços odontológicos atenda o seu objetivo principal –

restabelecimento/manutenção da saúde bucal do paciente. Ressalta-se que,

normalmente, a anulação de uma cláusula contratual não invalida todo o contrato

de prestação de serviços podendo este documento ainda ter a sua validade para

os outros pontos que forem aceitos pelas partes contratantes.

26

Na cobrança de débitos, o consumidor inadimplente não será exposto a

ridículo nem será submetido a qualquer tipo de constrangimento ou ameaça (Art.

42). Ressalta-se que configura crime de consumo, com pena de detenção de 6

meses a 1 ano e multa: utilizar de ameaça, constrangimento físico ou moral,

afirmações falsas incorretas ou enganosas ou de qualquer outro procedimento

que exponha o consumidor, injustificadamente, a ridículo ou interfira com seu

trabalho, descanso ou lazer (Art. 71).

Um ponto importante e relacionado com a prestação de serviços

odontológicos, mais especificamente ortodônticos, é o fato do consumidor

(paciente) encontrar-se inadimplente com suas obrigações no sentido de pagar

pelos serviços contratados e querer que o tratamento não seja interrompido.

Nesta situação sempre persistem dúvidas: em caso de falta/atraso no pagamento

dos honorários, posso suspender o tratamento do paciente? Como realizar a

cobrança dos débitos?

Para responder estas perguntas uma cláusula contratual deverá ser

especificamente confeccionada pelo ortodontista, no qual será estipulado um

prazo máximo para a continuidade do tratamento com atraso nos pagamentos

(30, 60 ou 90 dias, conforme o caso). Passado este prazo, o ortodontista deve

saber qual o momento ideal para suspender o tratamento ou rescindir o contrato

em decorrência da falta de pagamento, uma vez que a saúde bucal/geral um

paciente, sem a devida supervisão profissional, pode sofrer danos e o ortodontista

pode ser responsabilizado por este rompimento não planejado. Desse modo,

antes do ortodontista interromper o tratamento por motivos financeiros, este

profissional deve avaliar criteriosamente a saúde do paciente no estágio em que

ele se encontra para prevenir o surgimento de acidentes ou complicações como

ulcerações na mucosa ou gengiva por fios soltos, cáries pelo acúmulo de placa no

aparato ortodôntico ou reabsorções dentárias.

Diante de um não retorno do paciente ao tratamento, o ortodontista deverá

rescindir o contrato e proceder à cobrança dos honorários devidos por meio de

execução/protesto de cheques, boletos, notas promissórias ou ação de cobrança

atentando para as condições elencadas no Artigo 71 do CDC.

27

4.4. Disponibilizando informações técnicas, orientações e avisos sobre o

tratamento ortodôntico – uso do TCLE.

Evidenciar e explanar ao paciente os riscos, benefícios, vantagens e

desvantagens de um tratamento ortodôntico constituem ações importantes para

se evitar problemas com o paciente, pelo fato de que a execução da terapêutica

ortodôntica não está livre de intercorrências, acidentes e complicações (SILVA,

2009).

As reabsorções radiculares são as complicações que podem gerar um

maior transtorno ao profissional uma vez que um ou mais dentes podem ser

perdidos, fator que implicaria em danos estéticos, fonéticos e/ou mastigatórios

dependendo da quantidade e tipo de dentes perdidos.

O CDC exige que os fornecedores de produtos e serviços prestem ao

consumidor todas as informações necessárias e adequadas para a sua correta

utilização, respondendo, inclusive pela falta das mesmas, conforme consta no Art.

14 do CDC (SAQUY et al., 1993; CALVIELI, 1996). Ainda, caso o produto ou

serviço ofereça algum risco a saúde dos consumidores inerente à sua utilização,

estes devem estar acompanhados das informações pertinentes a seu respeito

(Art. 8). Neste sentido cabe o esclarecimento ao consumidor ou responsável legal,

quando o paciente é menor de idade, quanto aos riscos decorrentes do uso não

supervisionado do aparato ortodôntico, seja extra ou intrabucal, que pode

acarretar na produção de lesões nos tecidos moles intrabucais, danos na face

(nos olhos, pelo manuseio incorreto do aparelho extrabucal), deglutição ou

aspiração de peças ortodônticas (bráquetes, fios ou bandas) entre outras

(MILTON et al. 2001).

Daí a extrema necessidade de que o ortodontista confeccione e aplique ao

paciente um TCLE assim como preconizado por Paranhos et al.(2009),

documento este que deverá ser redigido em linguagem clara e de forma que o

paciente entenda o seu conteúdo. Este TCLE deverá ser produzido em 2 vias

(uma para o paciente e outra para o profissional), sendo que a via do paciente

28

deverá estar assinada em todas as páginas pelo paciente ou pelo seu

responsável legal.

4.5. Critérios para determinar o fim do tratamento ortodôntico.

O Art. 40 do CDC exige que o ortodontista estipule o início e o término da

prestação dos serviços. Portanto, o profissional deverá avaliar cautelosamente

cada caso e planejá-lo de modo que o tempo dispensado para a realização da

terapêutica seja o suficiente, considerando que o paciente compareça a todas as

consultas marcadas.

Neste sentido, seria interessante, ainda, estabelecer o tempo de tratamento

em sessões de atendimento, separando as fases de alinhamento e nivelamento

da fase de contenção. Em um exemplo, poderia se estipular que determinada mal

oclusão dentária poderia ser resolvida com 24 sessões mensais de atendimento,

ininterruptas, mais 12 sessões meses de acompanhamento e uso de contenção

fixa. Assim, o tratamento total deverá ser concluído com 36 sessões mensais de

atendimento.

Caso alguma intercorrência aconteça durante a execução do tratamento

ortodôntico, como viagens, doenças, falta de dinheiro para pagamento de

honorários, não cooperação do paciente, dentre outros fatores que possam

prolongar o tempo de tratamento, o paciente, ao retornar ao tratamento, deverá

ter o seu caso replanejado e o tempo previsto para o término do tratamento

deverá ser alterado. Este replanejamento deverá ser realizado por escrito e,

preferencialmente, contendo a assinatura do paciente na via que ficar com o

profissional para que se possa provar que ele está acompanhando as mudanças

no rumo do tratamento, acontecidas por fatores que não estão sob controle

profissional.

Ainda, caso haja contrato assinado, o mesmo deverá ser alterado nos

pontos relacionados a honorários profissionais e tempo de tratamento, para evitar

que o ortodontista seja cobrado pela não conclusão do tratamento no período de

tempo inicialmente proposto.

29

4.6. Defeitos na prestação de serviços e garantias.

O Art. 14 do CDC estabelece que o fornecedor de serviços responde,

independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados

aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por

informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos. Entretanto, o

§2º e §3º estabelecem que o serviço não é considerado defeituoso pela adoção

de novas técnicas ou quando o fornecedor provar que o defeito inexiste ou que a

culpa foi do consumidor ou de terceiro (TANAKA e GARBIN, 2003; PANZERI et

al. 2004).

Novamente ressalta-se a importância de se utilizar um TCLE e

confeccionar um planto de tratamento bem elaborado na prática ortodôntica para

resguardar o profissional de eventuais reclamações relativas à prestação de

serviços ortodônticos.

Em relação às novas técnicas, a mídia odontológica leva cada vez mais

notícias aos pacientes sobre “aparelhos invisíveis”, rapidez no tratamento,

bráquetes autoligantes, ortodontia lingual, etc., que podem seduzir um paciente

que não tem condição financeira ou indicação para uso, quando este utiliza um

aparelho ortodôntico convencional. Uma vez registradas as opções terapêuticas

no plano de tratamento, estes questionamentos poderão ser facilmente resolvidos

em caso de eventual litígio.

O Art. 14 estabelece como objetiva a responsabilidade dos fornecedores

de produtos e serviços diante de vícios (defeitos) presentes na prestação de

serviços, ou seja, somente o estabelecimento do nexo de causalidade seria o

suficiente para que o fornecedor indenizasse o consumidor (paciente) em

decorrência dos prejuízos sofridos. Entretanto, o § 4º deste mesmo artigo

estabelece que a responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada

mediante a verificação de culpa, remetendo a uma responsabilidade subjetiva,

inclusive cabendo análise pericial para o esclarecimento de fatos técnicos.

30

No CDC, os defeitos presentes na prestação de serviços são tidos como

vícios aparentes (de fácil constatação) ou ocultos (de difícil constatação). Para os

vícios aparentes, o consumidor tem o prazo de 90 (noventa) dias para reclamar

considerando a prestação de serviços duráveis, como é o caso do tratamento

ortodôntico, iniciando-se o prazo decadencial a partir do término da execução dos

serviços (Art. 26).

Entretanto, tratando-se de vício oculto, prazo decadencial inicia-se no

momento em que ficar evidenciado o defeito (Art. 26, §3º), motivo pelo qual se

orienta que a documentação odontológica fique arquivada por tempo

indeterminado.

Portanto, os tratamentos ortodônticos teriam uma garantia mínima de 90

dias após a sua conclusão para a reclamação de vícios aparentes como resíduos

de resina aderidos aos dentes, recidiva de apinhamentos ou falhas na fase de

alinhamento/nivelamento. Em caso de problemas de difícil constatação, como

necroses pulpares assintomáticas e reabsorção dentária, o prazo inicia-se a partir

do momento em que for evidenciado o problema, estendendo, de certa forma, os

90 dias passados após a conclusão da prestação dos serviços.

Verificada a impropriedade nos serviços ortodônticos prestados, o paciente

poderá optar pela reexecução dos serviços (sem custo adicional), a restituição da

quantia paga ou o abatimento proporcional no preço pago (Art. 20). Ainda, em

caso de rompimento da relação profissional/paciente, o profissional poderá indicar

o paciente a um outro colega (devidamente capacitado, podendo-se entender um

especialista em ortodontia), por conta e risco de quem indicou (Art. 20, §1º).

É bom lembrar que a ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade

por inadequação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade (Art.

23), devendo o ortodontista reparar os danos eventualmente causados.

31

5. Conclusões

Diante da restrita literatura que correlaciona a prestação de serviços

odontológicos, especificamente os ortodônticos ao CDC, e considerando os

pontos ora discutidos pode-se concluir que: Torna-se imprescindível que durante

a primeira consulta, o ortodontista confeccione um plano de tratamento detalhado,

registrando as alternativas de tratamento, custos e prazos para início e término

dos trabalhos.

Considerando as recomendações previstas no CDC quanto ao fornecimento

de informações adequadas sobre os riscos e benefícios esperados do tratamento

ortodôntico, torna-se de suma importância que um TCLE seja adequadamente

elaborado.

A elaboração de contrato é uma ferramenta adequada para estabelecer as

obrigações de cada parte e registrar o modo pelo qual o paciente irá efetuar o

pagamento dos honorários profissionais relacionados à prestação dos serviços

ortodônticos. O ortodontista dever ser profundo conhecedor do conteúdo do CDC

para evitar possíveis problemas ético-judiciais com seus pacientes.

32

6. Referências BRASIL. Lei n. 5.081 – Regulamenta o exercício da odontologia no Brasil. 1966.

BRASIL. Lei n. 8.078 – Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras

providências. 1990.

BRASIL. Lei n. 12.291 – Fixa a obrigação dos estabelecimentos comerciais e/ou

de prestação de serviços, de disponibilizarem ao público de modo geral, um

exemplar da Lei 8.078/1990, o Código de Defesa do Consumidor. 2010.

CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA – Resolução CFO n. 42 Aprova

o Código de Ética Odontológica. Rio de Janeiro. 2003.

CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA – Prontuário odontológico: um

modelo para o cumprimento do Art. 5º, Inciso VIII do Código de Ética

Odontológica. Rio de Janeiro. 2004.

CONSELHO FEDERAL DE ODONTOLOGIA – Resolução CFO n. 71 – Altera o

Capítulo da Publicidade e da Propaganda do Código de Ética Odontológica. Rio

de Janeiro. 2006.

CALVIELLI, I.T.P. Natureza da obrigação assumida pelo CD no contrato de

locação de serviços odontológicos. Rev Assoc Paul Cir Dent. 1996; 50(4): 315-

18.

KLIEMANN, A.; CALVIELLI, I.T.P. Os contratos de prestação de serviços

odontológicos à luz da atual teoria dos contratos. Rev Assoc Paul Cir Dent.

2007; 61(2): 111-14.

33

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associated with orthodontic treatment: report of three cases and review of

ingestion/aspiration incident management. Br Dent J. 2001; 190(11): 592-96.

PANZERI, F.C.; PARDINI, L.C.; PANZERI, H.; TIRAPELLI, C. Cirurgião-dentista e

o código de defesa do consumidor. Rev ABO Nac. 2004; 12(6): 337-41.

PARANHOS, L.R.; GUEDES, T.M.P.; JÓIAS, R.P.; TORRES, F.C.; SCANAVINI,

M.A. Orientações legais aos ortodontistas: elaboração de contrato de prestação

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SPO 2009; 42(3): 237-43.

SAQUY, P.C.; PÉCORA, J.D.; SILVA, R.G.; SOUZA NETO, M.D. O código de

defesa do consumidor e o cirurgião-dentista. Rev Paul Odontol. 1993; 15(4): 4-5.

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Janeiro: Guanabara Koogan. 2009.

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dentistas no PROCON de Presidente Prudente-SP. Ver. Paul Odontol. 2003;

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a riscos jurídicos no exercício da odontologia: o que o cirurgião-dentista deve

saber. Rev Assoc Paul Cir Dent. 2009; 63(5): 390-94.

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Autorizo cópia total ou parcial desta obra,

apenas para fins de estudo e pesquisa,

sendo vedado qualquer tipo de reprodução

para fins comerciais sem prévia autorização

específica do autor.

Dedimar Ribeiro Sabóia

Goiânia – GO, fevereiro de 2011.