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III DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a minha família, em especial aos meus pais, pois sem eles não seria nada e aos meus queridos irmãos, como prova de amor e carinho.

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III

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha família, em especial aos meus pais, pois sem eles não

seria nada e aos meus queridos irmãos, como prova de amor e carinho.

IV

AGRADECIMENTOS

Gostaria de expressar os meus sinceros agradecimentos às pessoas e instituições que

contribuíram para a realização deste trabalho, nomeadamente:

Os meus familiares pelo apoio que concedem-me diariamente;

A Shell Cabo Verde, SARL, em nome dos senhores Marco Morazzo e

Hermes Ramos;

O Instituto Superior de Ciências Económicas e Empresarias, pólo de São

Vicente, em nome dos docentes que auxiliaram-nos durante o período de

formação, aos funcionários que estão sempre dispostos a cooperar e

especialmente ao docente Anselmo Fonseca pelo apoio e orientação deste

trabalho;

A todos os demais que directa, ou indirectamente, me apoiaram, o mais

profundo reconhecimento e expressão da minha dívida de gratidão.

V

“Uma pessoa não é a terra, nem a água, nem tão pouco o vento ou o espaço. Também

ela não é a sua própria consciência, muito menos um conjunto de consciências. Mas,

sem estes atributos, o que é o individuo?”

Dalai Lama

VI

ÍNDICE

Pag.

RESUMO ANALÍTICO XII

INTRODUÇÃO 13

1. A RESPONSABILIDADE SOCIAL DA ORGANIZAÇÃO 15

1.1. Noção e âmbito da responsabilidade social 15

1.2. Evolução histórica da responsabilidade social 17

1.3. Níveis interno e externo da responsabilidade social na organização 18

1.4. Diferentes visões de responsabilidade social 21

1.5 Marketing social nas organizações 22

2. A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL DA ORGANIZAÇÃO 24

2.1 Âmbito da responsabilidade ambiental 24

2.2 Evolução histórica da responsabilidade ambiental 25

2.3 Níveis interno e externo da responsabilidade ambiental na organização 26

2.4 A continuidade da organização e o desenvolvimento sustentável 28

2.4.1 A continuidade da organização 28

2.4.2 O desenvolvimento sustentável 29

3. A CONTABILIDADE SOCIAL E A CONTABILIDADE AMBIENTAL 30

3.1 Ramificações da contabilidade social 31

3.1.1 Contabilidade ambiental 31

3.1.2 Contabilidade de recursos humanos 32

3.1.3 Informação de carácter ético 33

3.2 O conceito de balanço social 33

4. IMPLICAÇÕES CONTABILÍSTICAS E FISCAIS DA

RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL 36

4.1 Implicações contabilísticas da responsabilidade social e da responsabilidade

ambiental 36

4.1.1 Implicações contabilísticas da responsabilidade social 36

4.1.2 Implicações contabilísticas da responsabilidade ambiental 38

4.2 Implicações fiscais da responsabilidade social e da responsabilidade

VII

Ambiental 42

4.2.1 Implicações fiscais da responsabilidade social 42

4.2.2 Implicações fiscais da responsabilidade ambiental 44

5. ESTUDO DE CASO: RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL

NUMA EMPRESA CABOVERDIANA 46

5.1 Breve caracterização da empresa 46

5.2 Analise social e ambiental dos documentos de prestação de contas 47

5.2.1 Estrutura dos relatórios de gestão e contas dos últimos três anos 47

5.2.2 Referência a matérias sociais e ambientais 49

5.2.3 O balanço social da empresa 52

5.2.4 Activos e passivos de natureza social e ambiental 54

5.2.5 Rendimentos e gastos sociais e ambientais 55

5.2.6 Práticas de mecenato 57

5.2.7 Aplicação do principio da continuidade 57

5.3 Implicações fiscais da responsabilidade social e ambiental 58

5.3.1 Reduções de matéria colectável e colecta de imposto sobre

rendimentos 58

5.3.2 Outras implicações fiscais 59

CONCLUSÃO 63

VIII

LISTA DE ABREVIATURAS

Pag.

C

CMMAD – Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento………..29

CVE – Escudo de Cabo Verde……………………………………………………......46

E

ELI – English Language Institute…………………………………………...….…….50

EUA – Estados Unidos da América………………………………. ……………...…33

I

INPS – Instituto Nacional de Previdência Social………………………………. ...….53

ISCEE – Instituto superior de Ciências Económicas e Empresariais…………………50

ISO – International Organization for Standardization / Organização Internacional de

Padronização…………………………………………………………………..26

IUR – Imposto Único sobre o Rendimento…………………………………………...44

IUR/PC – Imposto Único sobre o Rendimento das Pessoas Colectivas……………...43

IUR/PS – Imposto Único sobre o Rendimento das Pessoas Singulares………….…...43

P

PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente…………………….29

PNC – Plano Nacional de Contabilidade……………………………………………...54

S

SARL – Sociedade Anónima de Responsabilidade Limitada………………………...46

SIDA – Síndrome de Imune Deficiência Adquirida……………………………..……50

SNCRF – Sistema de Normalização Contabilística e de Relato Financeiro…………..54

T

TIER – Nível de Resposta a Derrames de Produtos Poluentes………………………..51

IX

W

WCSD – World Council for Sustainable Development………………………………16

X

LISTA DE QUADROS

Pag.

Quadro 1 – Diferentes Visões de Responsabilidade Social.………………………...... 21

Quadro 2 – Definições e Opiniões de Contabilidade Social mais relevantes segundo

alguns Organismos e Autores……………………………………………..30

Quadro 3 – Principais Benefícios e Beneficiários do Balanço Social…………….….. 35

Quadro 4 – Evolução do Pessoal da Shell no Triénio 2005/2007……………………. 53

Quadro 5 – Contribuições da Shell para as Áreas Social e Ambiental no ano 2007..... 54

XI

LISTA DE ANEXOS

Pag.

Anexo 1 – Artigo 41º do Regulamento do Imposto Único sobre o Rendimento IUR

e Legislação Subsidiária……………………………………………….. 68

Anexo 2 – Lei do Mecenato………………………………………………………… 69

XII

RESUMO ANALÍTICO

O presente trabalho tem por objectivo demonstrar como é importante promover políticas

de responsabilidade social e ambiental, expondo e descrevendo as implicações

contabilísticas e fiscais das mesmas.

Neste sentido, é apresentado o conceito, uma breve caracterização histórica e os níveis

de responsabilidade social e ambiental na organização. É feita uma pequena alusão a

contabilidade social, destacando as suas ramificações, e ao balanço social. Ao longo do

trabalho são realçadas as implicações contabilísticas e fiscais da responsabilidade social

e ambiental, salientando as modificações nas rubricas das demonstrações financeiras e

as vantagens que se têm ao nível fiscal, derivadas das doações que se fazem.

O estudo de caso apresentado aborda as práticas de responsabilidade social e ambiental

numa companhia petrolífera, com sede local em Mindelo, Cabo Verde.

Neste estudo optamos por fazer uma análise dos documentos disponibilizados pela

entidade de forma a constatar o que vem sendo feito em relação a acções de cariz social

e de protecção do meio ambiente, realçando as rubricas que são afectadas derivado dos

programas implementados e a possível redução dos encargos fiscais provenientes de

práticas de responsabilidade e ambiental.

A metodologia seguida durante a elaboração do trabalho baseia-se em revisões

bibliográficas acerca do tema em causa e estudo de caso.

Palavras-chave: Responsabilidade Social, Responsabilidade ambiental.

13

INTRODUÇÃO

As responsabilidades social e ambiental, demonstradas através da elaboração de

programas de cariz social e de protecção do meio ambiente, fazem parte, com maior

frequência, das preocupações dos administradores das empresas nacionais, da sociedade

em geral e do Governo. Apesar de fazerem parte das preocupações dos administradores

das empresas nacionais, não estão sendo encaradas de forma aberta pela maior parte,

salvo algumas excepções.

No presente trabalho propõe-se fazer um levantamento teórico de aspectos ligados as

responsabilidades social e ambiental, importantes para a compreensão do tema em causa

e uma análise prática de forma a clarificar os diversos benefícios que as práticas de

responsabilidade, tanto ao nível social, como ambiental podem trazer para as

organizações.

A escolha do tema prende-se com o facto de, em Cabo Verde, as empresas ainda se

encontrarem afastadas de políticas de cariz social e de protecção do meio ambiente,

facto sem dúvida prejudicial para a gestão competitiva que se espera das mesmas.

Pretendemos com essa escolha alertar os responsáveis das empresas sedeadas no

território para essa questão importante.

O objectivo geral deste trabalho é essencialmente destacar como é importante

implementar e seguir políticas de responsabilidade social e ambiental nas entidades e as

suas implicações tanto aos níveis contabilístico e fiscal. De forma específica, queremos

mostrar de que forma a manutenção de politicas de responsabilidade social e ambiental

podem ser vantajosas para as empresas, para a sociedade e para o meio ambiente.

O presente trabalho reveste-se de interesse para a comunidade académica, pois trata-se

de um conjunto de informações teóricas e de mais um exemplo prático para uso futuro,

comprovando que cada vez mais é necessário implementar e seguir políticas de

responsabilidade social e ambiental.

A metodologia a ser seguida durante a elaboração do trabalho baseia-se em revisões

bibliográficas de diversa ordem e estudo de caso. Essas revisões irão recair sobre

revistas, livros, dissertações, jornais e informações retiradas de diversos websites. O

estudo de caso recairá sobre uma filial nacional de uma companhia transnacional, do

14

ramo petrolífero, realçando políticas de responsabilidade social e ambiental seguidas

pela mesma e as suas implicações contabilísticas e fiscais.

15

1. A RESPONSABILIDADE SOCIAL NA ORGANIZAÇÃO

1.1. Noções e âmbito da responsabilidade social

As organizações que actuam no mercado têm uma influência elevada sobre os seus

colaboradores internos e sobre a sociedade em geral. Tendo influência sobre eles,

devem cooperar com os mesmos com o objectivo de consolidar a relação existente. Essa

cooperação é denominada responsabilidade social.

A colaboração das empresas está cada vez mais a ser estimulada pela administração

pública, pelos stakeholders e por estudiosos do tema, que aconselham a entidade a

focalizar as suas ideias principalmente em áreas como a saúde, a educação, o desporto, a

cultura, o meio ambiente, a economia, os transportes, a habitação, as actividades locais e

as do Governo, preservação e manutenção de bens públicos e religiosos. Essas acções

possibilitam a criação de programas ou projectos de cariz social, trazendo benefício

mútuo para a empresa e para as outras partes abrangidas, melhorando-lhes a qualidade

de vida e também conseguindo uma boa imagem para a instituição.

A responsabilidade social surge de um compromisso da organização com a sociedade,

em que sua participação vai mais além do que apenas gerar empregos, impostos e

lucros. As empresas devem ver a responsabilidade social não como uma opção, mas sim

como uma questão de visão, de estratégia e, por vezes, de sobrevivência. Mas o grande

problema é estarem dispostas a encarar os desafios que se colocam rumo a uma entidade

realmente preocupada com o bem-estar social. Um dos desafios que se coloca às

empresas é o operacional, que implica o dispêndio de elevados montantes para pôr os

programas em prática.

Cada vez mais nota-se que a responsabilidade social não significa a mesma coisa para

todos. Para alguns representa a ideia de obrigação legal, para outros um comportamento

ético, enquanto que outros acreditam no sentido de “socialmente consciente”. Ela vem

sendo um trunfo para as organizações que são certificadas com o título “socialmente

responsável”, pois quando a certificação se converte em informação para o consumidor,

ele irá valorizar os produtos dessas entidades de forma distinta de outros produtos de

igual aparência.

16

Seguidamente, apresentamos diversos conceitos de responsabilidade social, com o

objectivo de reter as ideias chave do tema.

A World Council for Sustainable Development (WCSD) define responsabilidade

social como sendo “a decisão da empresa de contribuir para o desenvolvimento

sustentável, trabalhando com seus empregados, suas famílias e a comunidade

local, assim como com a sociedade em seu conjunto, para melhorar a sua

qualidade de vida. “1

Alguns sociólogos assumem que a responsabilidade social pode ser definida

como ” a forma de retribuir a alguém, por algo alcançado ou permitido,

modificando hábitos e costumes ou perfil do sujeito ou local que recebe o

impacto.”2

“ É a integração voluntária de preocupações sociais e ambientais por parte da

empresa nas suas operações e na sua interacção com todas as partes

interessadas. “3

“Trata-se de contribuir, de forma positiva, para a sociedade e de gerir os

impactos ambientais da empresa, o que poderá proporcionar vantagens directas

para o negócio e assegurar a competitividade a longo prazo. “4

“É o conjunto amplo de acções que beneficiam a sociedade e as instituições que

recebem o auxilio das empresas, levando em consideração a economia, a

educação, o meio ambiente, a saúde, o transporte, a habitação, as actividades

locais e as do Governo.”5

Conforme se pode comprovar, qualquer que seja o conceito acima referido, a ideia

chave é a que a responsabilidade social é um conjunto de acções desenvolvidas por

parte das empresas, de forma voluntária, com a intenção de melhorar o bem-estar da

população em geral e diminuir os impactos negativos provocados pelas mesmas no

meio e na comunidade.

1 Conceito retirado do website www.iapmei.pt/iapmei (consulta de 15 de Janeiro de 2009)

2 Conceito retirado do website www.ambientegobal.com.br (consulta de 20 de Fevereiro de 2009)

3 Informações retiradas do website www.ambientegobal.com.br (consulta de 20 de Fevereiro de 2009)

4 Informações retiradas do website www.iapmei.pt/iapmei (consulta de 15 de Janeiro de 2009)

5 Informações retiradas do website www.campus.fct.unl (consulta de 25 de Janeiro de 2009)

17

A responsabilidade social que existe actualmente, nem sempre foi assim. Ela conta com

uma história relativamente longa como vem descrito no ponto seguinte.

1.2. Evolução histórica da responsabilidade social 6

As primeiras discussões acerca do tema responsabilidade social das empresas datam de

1919 com o julgamento na justiça americana do caso de Henry Ford, presidente e

accionista maioritário da Ford Motor Company, e o grupo de accionistas liderado por

John e Horace Dodge (que posteriormente constituíram a empresa de automóveis

Dodge), que contestavam as ideias de Ford.

No ano de 1916, Henry Ford não distribuiu todos os dividendos aos accionistas,

alegando a realização de objectos sociais e investiu no aumento de salários dos

trabalhadores, no aumento da capacidade de produção e no fundo de reserva para

diminuição esperada de receitas devido à redução dos preços dos automóveis. O

Tribunal Supremo decidiu a favor de John e Horace Dodge, entendendo que as

empresas existem para o benefício dos seus accionistas e que os gestores devem garantir

o lucro, não podendo usá-lo para outros fins, neste caso, para fins sociais.

O conceito de que a empresa deveria existir somente para o benefício dos accionistas

começou a receber duras críticas durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1953, outro facto trouxe a público a discussão sobre a inserção da empresa na

sociedade e suas responsabilidades: o caso A P. Smith Manufacturing Company versus

seus accionistas, que contestavam a doação de recursos financeiros à Universidade de

Princeton.

Nos anos 60 do Século XX, autores europeus destacavam-se, discutindo problemas

sociais e suas possíveis soluções e nos Estados Unidos as empresas já preocupavam-se

com a questão ambiental e em divulgar suas actividades no campo social.

É a partir da década de 70 do citado século que a responsabilidade social ganha maior

destaque e as empresas começam a preocupar-se com o como e quando deveriam

responder por suas obrigações sociais. Nessa época, a demonstração para a sociedade

das acções empresariais tornou-se extremamente importante.

6 Adaptado da dissertação Contabilidade Ambiental – Relatório para um futuro sustentável, responsável e

transparente de Maria Elisabeth Kraemer

18

O primeiro país do mundo a ter uma lei que obriga as empresas que tenham mais de 300

funcionários a elaborar e publicar o Balanço Social foi a França. O objectivo principal

do balanço social é informar os colaboradores internos e a sociedade em geral acerca do

clima social na empresa e aquilo que vem fazendo, ligado a área social.

Na década de 90, aumentou a discussão sobre os temas ligados à ética e a moral nas

empresas, o que contribuiu de modo significativo para o fortalecimento e

implementação da responsabilidade social.

1.3. Níveis interno e externo da responsabilidade social na organização

É relevante perceber que as políticas de responsabilidade social das empresas podem ser

implementadas a dois níveis: interno (responsabilidade social interna) e externo

(responsabilidade social externa).

1.3.1. Nível interno da responsabilidade social na organização

As políticas de responsabilidade social interna da organização devem ser equilibradas

de forma a responder aos interesses de três grupos de utentes, que estão

interrelacionados: os clientes, os trabalhadores e os accionistas e que por sua vez,

podem influenciar os resultados da mesma entidade.

1.3.1.1. Responsabilidades para com os clientes

A questão da responsabilidade social perante os clientes está bem definida num aspecto,

por exemplo, nas normas legais específicas que definem a segurança do produto e

mantém-se bastante fluida noutro, por exemplo nas expectativas gerais quanto à relação

qualidade-preço. Muitas empresas optam por assumir as suas responsabilidades para

com os clientes, respondendo prontamente às reclamações, fornecendo informação

completa e exacta sobre o produto, implementado campanhas de publicidade

absolutamente verdadeiras quanto ao desempenho do produto e assumindo um papel

activo no desenvolvimento de produtos que respondam às preocupações sociais dos

clientes.

19

1.3.1.2. Responsabilidades para com os trabalhadores

A gestão pode limitar-se a assumir o mínimo de responsabilidades para com os

trabalhadores, respeitando apenas as obrigações legais relativas à relação empregado-

empregador. Estas leis abordam questões relativas a condições físicas de trabalho

(particularmente, as questões de segurança, higiene e saúde), fixação de salários e

horários de trabalho, relação com os sindicatos, e outras análogas. O objectivo dessas

leis é induzir a gestão a criar locais de trabalho seguros e produtivos, nos quais os

direitos civis básicos dos trabalhadores não sejam postos em causa. Para além destas

responsabilidades mínimas, a prática empresarial moderna de benefícios

complementares (fundos de reforma, seguros de saúde, de hospitalização e contra

acidentes) alargou o leque das actividades socialmente obrigatórias.

Uma empresa pode ainda assumir outras actividades socialmente responsáveis, como

proporcionar formação abrangente aos trabalhadores, progressão na carreira e

aconselhamento, ou criar programas de assistência, nomeadamente ajuda aos que

tenham problemas ligados ao álcool e as drogas. Também pode fomentar um melhor

equilíbrio entre trabalho, família e lazer, ampliar as perspectivas profissionais para as

mulheres, promover a participação nos lucros, permitir que os trabalhadores actuem em

algumas decisões da empresa e promover o respeito ao trabalho e a não discriminação

de trabalhadores do sexo feminino ou de indivíduos provenientes de minorias étnicas,

até apoio em relação àqueles que serão, eventualmente, demitidos.

1.3.1.3. Responsabilidades para com os accionistas

Os gestores têm, perante os accionistas, a responsabilidade de revelar totalmente e com

exactidão, a utilização dos recursos da empresa e os resultados dessa utilização.

Muitas pessoas argumentam que a primeira responsabilidade da gestão é para com os

accionistas. Essas pessoas defendem que qualquer acção da gestão que vá para além do

comportamento socialmente obrigatório de benefício de outro grupo que não os

accionistas constitui uma violação da responsabilidade da gestão e, portanto, da

responsabilidade social.

Há provas de que empresas que, activamente, assumem comportamentos sociais são

mais rentáveis do que as que não o fazem.

20

Os beneficiários internos das acções da empresa constituem o centro de muitos dos

comportamentos socialmente obrigatórios. É na sua relação com os clientes,

trabalhadores e accionistas que os gestores estão mais sujeitos a ser socialmente

responsáveis.

1.3.2. Nível externo da responsabilidade social na organização

As empresas são entidades altamente modificadoras do contexto socioeconómico, já que

interferem directamente na realidade da sociedade, onde estão inseridas.

A responsabilidade social externa da entidade está ligada às consequências das suas

acções de carácter social sobre aqueles que beneficiam das mesmas, podendo esses

beneficiários ser específicos ou gerais.

1.3.2.1 Beneficiários externos específicos

As sociedades modernas são constituídas por diversos grupos de interesses, que

trabalham para melhorar o bem-estar dos seus membros. Estes grupos representam,

sobretudo, conjuntos bem definidos de pessoas que procuram satisfazer pretensões

históricas: minorias e grupos étnicos, mulheres, deficientes e idosos. Os referidos

grupos prosseguem os seus interesses levando a opinião política e publica a influenciar

as acções da empresa. Alguns conseguem ver aplicadas leis que obrigam as empresas a

apoiar os seus esforços. As empresas podem ser julgadas social e legalmente

irresponsáveis, se violarem essas leis.

A principal ideia destes grupos é que eles foram discriminados no passado e que as

empresas desempenharam um papel importante nessa discriminação. Portanto, uma

grande parte da responsabilidade deve ser assumida pelas empresas, no sentido de

eliminar os vestígios de discriminação histórica e de criar um novo ambiente de

igualdade de acesso às oportunidades de emprego e à evolução económica.

1.3.2.2 Beneficiários externos gerais

Os programas que implicam beneficiários externos gerais podem ser considerados

socialmente responsáveis, na medida em que revelam os esforços da empresa para

21

resolver ou prevenir problemas sociais genéricos. As empresas têm desenvolvido

esforços para apoiar áreas como a educação, as artes, o desporto e a saúde pública,

através de donativos e voluntariado. Outras têm contribuído para causas filantrópicas

(benéficas), visando melhorar a qualidade de vida da comunidade.

As empresas que seguem políticas de responsabilidade social em relação à comunidade,

tornam-se importantes postos de trabalho e em muitos dos casos, são também

responsáveis pelos níveis de salário e renda e pelo recolhimento de impostos.

Os consumidores atribuem um valor importante aos produtos e serviços de empresas

que apoiam uma determinada causa social, pois sabem que, ao consumi-los, estarão

também contribuindo para tornar o mundo melhor.

1.4 Diferentes visões de responsabilidade social

A responsabilidade social pode ser vista de diversas formas dentro da organização.

Segundo Kraemer (2004), a melhor forma de analisar o conceito de responsabilidade

social de uma entidade é identificando as diferentes visões existentes.

Quadro 1

Diferentes visões de responsabilidade social

VISÃO CARACTERÍSTICAS

Atitude e comportamento empresarial

ético e responsável

É dever e compromisso da organização

assumir uma postura transparente,

responsável e ética em suas relações com os

seus diversos públicos (governo, clientes,

fornecedores, comunidade, financiadores,

investidores, accionistas, etc.)

Postura estratégica empresarial

A procura da responsabilidade social é vista

como uma acção social estratégica que gera

retorno positivo aos negócios, ou seja, os

resultados são medidos através das vendas,

quota de mercado, etc.

Exercício de consciência ecológica A responsabilidade social é vista como

responsabilidade ambiental. A empresa

investe em programas de educação e

preservação do meio ambiente e,

consequentemente, torna-se uma difusora

de valores e práticas ambientais.

22

Estratégia de valorização de

produtos/serviços

O objectivo não é apenas comprovar a

qualidade dos produtos/serviços da

empresa, mas também proporciona-lhes o

estatuto de “socialmente correctos”.

Estratégia social de desenvolvimento da

comunidade

A responsabilidade social é vista como uma

estratégia para o desenvolvimento social da

comunidade. Dessa forma, a organização

passa a assumir papel de agente do

desenvolvimento local, conjuntamente com

outras entidades comunitárias e o próprio

governo

Promotora da cidadania individual e

colectiva

A empresa, mediante suas acções, ajuda

seus trabalhadores a se a tornarem

verdadeiros cidadãos e contribui para a

promoção da cidadania na sociedade.

Estratégia de marketing institucional O foco está na melhoria da imagem

institucional da empresa. São os ganhos

institucionais da condição de empresa que

contribui para problemas sociais que

justificam os investimentos em acções

sociais encetadas7 pela empresa.

Fonte: Kraemer, Elizabeth, (2004) – (A Contabilidade Social medindo a Responsabilidade Social); (São

Paulo), adaptado

1.5 Marketing social nas organizações8

O marketing social pode ser definido como sendo a modalidade de acção institucional

que tem como objectivo principal atenuar ou eliminar os problemas sociais, as carências

da sociedade relacionadas principalmente com as questões de higiene e saúde pública,

de trabalho, educação, habitação, transportes e nutrição. Ou seja, o marketing social

pode ser visto como o exercício da responsabilidade social por parte da empresa.

O marketing social também tem como objectivo transformar a maneira pela qual um

determinado grupo (neste caso uma empresa) percebe uma questão social e promove

mudanças comportamentais, visando melhorar a qualidade de vida de um segmento

populacional.

O marketing social apropria-se de conhecimentos e técnicas, adaptando-se à promoção

do bem-estar social e trabalha com objectivos claramente definidos, metas mensuráveis,

pesquisas e avaliações quantitativas e qualitativas, além do desenvolvimento de

7 Iniciadas, começadas, principiadas.

8 Informações encontradas na dissertação “Gestão ambiental e a responsabilidade social”, de Denise

Antunes Grohe, Guilherme Boger e Rodrigo Dora Bessow

23

tecnologias sociais para segmentos específicos. Busca transmitir as inovações sociais

que pretende introduzir, implementa estratégias, cria, planeia e executa campanhas de

comunicação para satisfazer necessidades que não estão sendo atendidas, estabelecendo

novos modelos sociais.

As empresas que têm a intenção de aumentar a sua quota de mercado, aumentar as suas

vendas e, por conseguinte, os seus lucros devem mudar a filosofia da organização,

apostando no social, sendo que o mercado está em constante mudança e os

consumidores estão ficando cada vez mais exigentes em relação ao exercício social das

organizações. Contudo, actuar na sociedade não faz com que a empresa torne-se

socialmente responsável. As empresas devem preocupar-se tanto com a sociedade em

geral, como com os colaboradores organizacionais.

24

2. A RESPONSABILIDADE AMBIENTAL NA ORGANIZAÇÃO

2.1. Âmbito da responsabilidade ambiental9

Antigamente o sistema industrial de produção, caracterizava-se por uma mentalidade de

uso, desperdício e reposição de recursos. As empresas não direccionavam a sua

produção para o consumo e para a procura, isto é, um produto era colocado no mercado

não segundo a vontade do consumidor, mas sim segundo a óptica de mercado da

empresa. Esta política era reveladora de uma diminuta preocupação ambiental das

empresas e o meio ambiente era apenas um local onde se extraia matérias para a

produção e se descartava os resíduos provenientes desta mesma fase, ou seja, as

empresas não tinham a preocupação com o ambiente e não seguiam políticas de

responsabilidade ambiental. Com o passar do tempo, ficou claro que os recursos

naturais eram esgotáveis e, portanto, finitos se mal utilizados. A acumulação destes

factores ao longo de várias décadas, implicou uma progressiva destruição e poluição do

meio ambiente ao nível planetário.

Perante a conjuntura actual, verifica-se uma preocupação mais intensa em relação às

questões ambientais por parte dos consumidores e uma maior responsabilidade

ambiental por parte das empresas. Cada vez mais as empresas estão responsabilizando-

se pela protecção do ambiente, pois sabem que as questões ambientais são um factor

essencial nas suas políticas de gestão. Desta forma, surge um "novo modelo do

consumo" onde o consumismo, o desperdício e a destruição são substituídos pela

cooperação, pela ampliação dos direitos, por uma exigência de melhor qualidade de vida

e de um consumo responsável e sadio.

Também se verificam progressos na área ambiental em relação aos instrumentos

técnicos, políticos e legais, principais atributos utilizados para a construção de uma

política de protecção do meio ambiente ao nível mundial. Os responsáveis a este nível

cada vez assumem que as reservas naturais são finitas e que as soluções ocorrem através

de tecnologias mais adequadas ao meio ambiente.

A gestão de qualidade da empresa passa cada vez mais pela obrigatoriedade de que

sejam implantados sistemas organizacionais e de produção que valorizem os bens

naturais, as fontes de matérias-primas, as potencialidades do quadro humano criativo, as

9 Dados recolhidos do website www.campus.fct.unl (consulta de 25 de Janeiro de 2009)

25

comunidades locais e deve iniciar o novo ciclo, onde a cultura do descartável e do

desperdício sejam coisas do passado. Actividades de reciclagem, incentivo à diminuição

do consumo, controlo de resíduos, capacitação permanente dos quadros profissionais

em diferentes níveis e escalas de conhecimento, fomento ao trabalho em equipa e às

acções criativas são desafios neste novo cenário. O retorno do investimento antes visto

simplesmente como lucro e causa de enriquecimento dos accionistas, passou a ser uma

grande fonte de contribuição para a criação de um mundo sustentável.

A responsabilidade ambiental é decorrente da responsabilidade social, pois

preocupando-se com as pessoas, ou seja, com a parte social, a empresa terá de se

preocupar com o meio ambiente. Visto que a maior parte das definições recolhidas

durante as nossas pesquisas relacionadas com a responsabilidade social integram a

questão ambiental, achamos que não é necessário redizer tais ideias, pelo que optamos

somente por definir responsabilidade social, de modo a não sermos repetitivos.

2.2. Evolução histórica da responsabilidade ambiental10

Os impactos ambientais vêm afectando o nosso planeta há milhões de anos, mas foi já

no século XX que o homem consciencializou-se da problemática ambiental e as

empresas começaram a ter preocupações com o ambiente. Antes disso, as empresas

preocupavam-se somente com o mercado e com a procura do lucro.

Na década de 60 do século passado desperta a preocupação com o problema ambiental e

surgem os primeiros grupos ambientalistas. Nesta mesma década estudiosos concluíram

que os resíduos dispostos de forma incorrecta poderiam entrar na cadeia alimentar e

provocar danos à saúde do homem e dos demais seres vivos. Nos sectores económico e

financeiro, as ideias da maximização do lucro deram lugar a objectivos simultâneos de

procura do lucro máximo e de responsabilidade humana e social, onde a de carácter

ambiental tinha um peso elevado.

A década de 70 é marcada pela crise do petróleo. Surge uma preocupação com a

racionalização do uso da energia e a busca de combustíveis mais limpos e puros,

levando a regulamentação de novas leis ambientais. Nessa mesma década surge um

10

Adaptado do artigo “Contabilidade Ambiental – A sua revelação no relato financeiro”, Outubro de

2007, do Jornal de Contabilidade

26

conceito ligado à protecção do meio ambiente. Este conceito é denominado

desenvolvimento sustentável. O desenvolvimento sustentável é definido no Relatório

Brundtland (Nosso Futuro Comum), elaborado pela Comissão Mundial do Meio

Ambiente e Desenvolvimento, como "aquele que atende as necessidades do presente

sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias

necessidades".

A década de 80 é marcada pela globalização das preocupações com a conservação do

meio ambiente. Surgem empresas especializadas na elaboração de estudos de impacto

ambiental, analisando o ciclo de vida dos produtos, a fim de avaliar o efeito

contaminador induzido pela produção de um determinado produto em cada uma das

fases da sua vida.

Na década de 90 ganha importância a qualidade ambiental. Em 1992 tem lugar a

conferência do Rio de Janeiro, onde a noção de Desenvolvimento Sustentável se

estruturou. Nessa mesma conferência é adoptada a convenção sobre as alterações

climáticas e de conservação da biodiversidade que constituem duas novas convenções

de Direito Internacional. Os conceitos de certificação ambiental, actuação e gestão

responsável assumem grande importância.

Em 1997 é assinado, no Japão, o protocolo de Quioto que vem estabelecer mecanismos

para o comércio de emissões de gases, desenvolvimento limpo, permitindo aos países

desenvolvidos baixar os custos da redução das emissões poluentes. Nesse protocolo é

fixado, como meta, a redução até 2012 de 5% das emissões de gases responsáveis pelo

efeito de estufa.

Surgem ainda nessa década as Normas ISO14000 que vêm sensibilizar as organizações

para a questão ambiental. De notar a importância que assumem os chamados impostos

ecológicos, traduzindo a preocupação dos governos com a problemática ambiental.

2.3. Níveis interno e externo da responsabilidade ambiental na organização

É importante salientar que a responsabilidade ambiental das empresas pode ter duas

perspectivas: interna (responsabilidade ambiental interna) e externa (responsabilidade

ambiental externa).

2.3.1. Nível interno da responsabilidade ambiental na organização

27

Nas práticas de responsabilidade ambiental, numa perspectiva interna, a empresa

responsável pode implementar formas de actuação capazes de minimizar o consumo de

recursos não renováveis, maximizar a utilização das matérias-primas utilizadas no

processo produtivo de forma a evitar o desperdício dos recursos naturais, bem como

promover a reciclagem e o uso alternativo dos refugos11

do material utilizado no

processo produtivo, ou dos excedentes da produção. Também pode promover a redução

do uso de água e energia eléctrica e ou a procura de matérias-primas e formas

alternativas para a produção.

Essas iniciativas, além de preservar o meio ambiente e os recursos naturais,

proporcionam vantagens financeiras, ainda que a longo prazo, na medida em que

diminui os custos de produção. Assim, a empresa responsável é também aquela que

implementa acções e promove a participação dos seus colaboradores internos, através da

consciencialização.

2.3.2. Nível externo da responsabilidade ambiental na organização

A empresa responsável, além de promover práticas de responsabilidade ambiental

internamente, pode, através dos seus gestores, promover projectos de cariz ambiental de

forma externa, de modo a afectar positivamente o meio ambiente e efectuar mudanças

significativas no mesmo. Deve desenvolver programas ou projectos ligados

profundamente a questão da protecção ambiental, adoptando políticas que devem ser

seguidas.

Como exemplo de políticas de protecção ambiental seguidas pela empresa tem-se a

diminuição da emissão de gases poluentes para a atmosfera, diminuição do efeito de

estufa, o não envio de materiais poluentes para os rios e mares, diminuição do número

de árvores que são derrubadas e aumento da plantação de árvores no lugar das retiradas

para a industria, a colocação de filtros nas chaminés das fabricas, a utilização de painéis

solares, a não poluição dos lençóis freáticos, a utilização de equipamentos

tecnologicamente “amigos da natureza”, a diminuição da poluição da água, do ar e

sonora, ou destruição de lixo e de resíduos radioactivos. Seguindo essas políticas, a

11

Restos.

28

empresa está garantindo tanto a sua continuidade, como o bem-estar de aqueles que a

rodeiam.

2.4. A continuidade da organização e o desenvolvimento sustentável

2.4.1. A continuidade da organização

As demonstrações financeiras de qualquer organização são elaboradas com o

pressuposto de que a entidade é uma instituição em continuidade e que continuará a

funcionar num futuro próximo. Não preocupando-se com as questões sociais e com a

protecção do ambiente, como é que uma entidade pode continuar a funcionar no futuro?

A existência e a continuidade das entidades dependem essencialmente do meio

ambiente e dos seus recursos, pois a maior parte das matérias-primas utilizadas na

produção dos bens e na prestação de serviços são retiradas do mesmo. Também os seus

clientes, fornecedores, investidores, financiadores, os seus trabalhadores, a comunidade,

ou seja, a sociedade em geral vive neste mesmo meio.

A longo prazo, não havendo preocupação por parte das empresas e se o interesse dos

accionistas não se dividir com os problemas da comunidade e do ambiente, o meio que

nos rodeia corre o risco de desaparecer, tal como a humanidade e por conseguinte as

próprias empresas. Por esta razão, devem idealizar políticas ligadas a protecção do

ambiente e da sociedade e devem colocar essas mesmas políticas em prática. Empresas

que são social e ambientalmente responsáveis geram valor para quem está próximo das

mesmas e acima de tudo, conquistam melhores resultados.

O princípio da continuidade, que é também um pressuposto subjacente segundo a

estrutura conceptual do novo normativo contabilístico, tem uma ligação estreita com as

questões de ordem social e ambiental e como é claro com a continuidade das actividades

da empresa, uma vez que uma organização que pretende prosseguir com as suas acções

terá que criar condições capazes de garantir o bem-estar das pessoas que estão ligadas a

sua actividade e de proteger o local onde subtrai as matérias-primas indispensáveis para

o prosseguimento do seu negócio.

Não se consegue dar continuidade a uma entidade para que possa prosseguir com as

suas actividades, sem matérias-primas e pessoas.

29

2.4.2. Desenvolvimento sustentável12

A pobreza que vem cada vez mais fustigando o planeta, o aumento exagerado da

população de uma forma desordenada, a má distribuição das riquezas que são geradas, o

desperdício dos recursos naturais e a degradação do meio ambiente são problemas que

vêm afectando o mundo globalizado onde vivemos desde o tempo dos nossos

antepassados e necessitam de soluções com uma certa rapidez. Diante desses

acontecimentos e procurando solucioná-los, surgiu a ideia de desenvolvimento

sustentável, com o objectivo de conciliar o desenvolvimento económico, com a

preservação do ambiente e o fim da pobreza mundial.

A ideia deriva inicialmente do relatório intitulado “Os Limites do Crescimento” e,

posteriormente, do conceito de eco desenvolvimento, durante a primeira Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Estocolmo, 1972), a qual

deu origem ao Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA).

Em 1987, a Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CMMAD)

das Nações Unidas, presidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem

Brundtland, adoptou o conceito de Desenvolvimento Sustentável em seu relatório Our

Common Future13

, também conhecido como Relatório Brundtland. Este conceito

defende que a opção actual por um determinado nível de produção terá influência na

produção futura, pois pode-se estar a consumir recursos não renováveis, criar poluição

irreversível ou mesmo criar poluentes com vidas longas que irão afectar as gerações

futuras.

O conceito foi definitivamente incorporado como um princípio, durante a Conferência

das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Cúpula da Terra de

1992 – Eco-92, no Rio de Janeiro, consolidando-se a noção de desenvolvimento

sustentável em que é imperativo desenvolver-se, mas sem destruir o meio ambiente,

para que as gerações futuras tenham oportunidade de existir e viver bem, de acordo com

as suas necessidades.

12

Informações retiradas do website www.ambiente global.com.br (consulta de 20 de Fevereiro de 2009) e

da monografia “Contabilidade e gestão ambiental”, Maio 2007 de Zelinda Soares 13

Our common future – Nosso futuro comum

30

3. A CONTABILIDADE SOCIAL E A CONTABILIDADE AMBIENTAL

Há vários tipos de informações contabilísticas e algumas são de tal maneira específicas

que a forma de classificar nem sempre tem sido a melhor. Temos por exemplo, a

Contabilidade Social que não tem um conceito próprio. Uma vez que a contabilidade

social não possui um conceito próprio, pretendemos com o quadro seguinte expor

definições e opiniões de alguns organismos e autores acerca do tema em causa.

Quadro 2

Definições e opiniões de contabilidade social mais relevante segundo alguns

organismos ou autores

Autor/Organismo Definição

American

Accounting

Association

Ciência que mede e interpreta as actividades e fenómenos que são

de natureza económica e social essencialmente.

Seidler e Seidler

Modificação e aplicação de práticas, técnicas e disciplinas da

contabilidade convencional à análises e solução dos problemas de

natureza social.

Ramanathan

Processo de selecção de variáveis de acordo com os

comportamentos sociais observados na empresa e sua evolução.

Gray, Owen e

Maunders

A contabilidade social pode ter dois sentidos:

a) Custos e benefícios do impacto de comportamento da empresa;

b) Apresentação periódica de informações sociais da entidade.

Fonte: Rego, Arménio. (2006) – (Gestão Ética e Socialmente Responsável); (Lisboa, Editora RH),

adaptado

A contabilidade social também pode ser definida como publicação de carácter

voluntário de informação qualitativa e quantitativa, económica e não económica relativa

à actividade da empresa, incluindo informações sobre os trabalhadores e avaliação dos

recursos humanos.

A informação contabilística relacionada com a responsabilidade social é importante

perante a sociedade e para que a contabilidade social conquiste sua efectivação e que

tenha resultados, é preciso que a organização escolha uma gestão participativa,

envolvente e comprometida com todas as camadas que formam o sistema social e

organizacional.

31

Actualmente, no mundo globalizado em que vivemos, existe a necessidade de se

informar e de se ser informado acerca da evolução das empresas. Longe vai o tempo em

que as empresas apenas tinham que produzir informações económicas, financeiras e

outras para o consumo interno.

As empresas, cada vez mais, devem procurar transmitir essas informações a um leque

maior de interessados e exporem a verdadeira situação.

3.1. Ramificações da Contabilidade Social

Segundo Kraemer, no seu relatório “A contabilidade social medindo a responsabilidade

social”, a contabilidade social pode ser ramificada em contabilidade ambiental,

contabilidade dos recursos humanos e informação de carácter ético.

3.1.1. Contabilidade ambiental

É uma das ramificações da contabilidade social de maior relevância na actualidade. A

contabilidade ambiental pode ser definida como sendo o estudo e registo do património

ambiental (bens, direitos e obrigações ambientais) de determinadas organizações e

respectivas implicações que são expressas monetariamente.

São objectivos da contabilidade ambiental:

(i) Saber se a empresa cumpre ou não com a legislação ambiental vigente;

(ii) Ajudar a direcção no processo de tomada de decisões e na fixação de uma

política e objectivos de gestão ambiental;

(iii) No caso de empresas com uma política ambiental estabelecida, conhecer se

têm cumprido com os objectivos ambientais fixados;

(iv) Identificar oportunidades para uma melhor gestão dos aspectos ambientais;

(v) Obter informação específica para fazer frente à solicitação dos stakeholders.

São obstáculos a implementação da contabilidade ambiental:

(i) Conceito de custo ambiental não definido claramente;

(ii) Passivo ambiental de cálculo difícil;

32

(iii) Problema na determinação de obrigações futuras por custos passados;

(iv) Tratamento de activos de vida longa ainda não uniforme.

As inovações da contabilidade ambiental estão associadas a pelo menos três temas:

(i) A definição do custo ambiental;

(ii) A forma de mensuração do passivo ambiental, com destaque para o

decorrente de activos de vida longa;

(iii) A utilização intensiva de notas explicativas abrangentes e o uso de

indicadores de desempenho ambiental, padronizados no processo de

fornecimento de informações ao público.

Segundo Palma (1998), a contabilidade ambiental não vai resolver os problemas

ambientais, mas face à sua capacidade de fornecer informações, pode alertar os vários

interessados no tema para a gravidade do problema, ajudando, desta forma, na procura

de soluções.

Existem três motivos básicos para a empresa adoptar uma contabilidade ambiental:

(i) Gestão interna – Está relacionada com uma gestão ambiental activa e seu controlo.

(ii) Exigências legais – A crescente exigência legal e normativa pode obrigar os

directores a controlar mais seus riscos ambientais, sob pena de se sujeitarem ao

pagamento de multas e outras penalizações.

(iii) Pressão dos stakeholders – A empresa está submetida cada vez mais a pressões

internas e externas. Essas pressões podem ser dos empregados, accionistas,

administração pública, clientes, bancos, investidores, organizações ecológicas,

seguradoras e comunidade local.

3.1.2. Contabilidade dos recursos humanos

O conceito de contabilidade de recursos humanos pode ser examinado em duas

dimensões: (i) o investimento em recursos humanos e; (ii) o valor de recursos humanos.

As despesas com a formação, aumento e actualização dos conhecimentos dos recursos

humanos é um investimento em recursos humanos. Tal investimento traz resultados

lucrativos como uma produtividade mais elevada e uma renda também mais elevada à

33

organização. O rendimento que o investimento nos recursos humanos gera será

considerado como a base de valor do recurso humano.

Este ramo da contabilidade ressurge na actualidade devido às novas propostas

empregadas pela responsabilidade social das empresas.

3.1.3. Informação de carácter ético

A responsabilidade social e a ética caminham lado a lado. É a partir da moral e dos

valores éticos daqueles que conduzem uma empresa que parte a prática da sua

responsabilidade social.

Ao preparar os relatórios contabilísticos que incluem informações ligadas a

responsabilidade social, os responsáveis devem ser os mais éticos possíveis, de forma a

passar aos stakeholders a verdadeira posição da entidade perante esta realidade. A ética

passa a ser uma pressão colectiva e espera-se que trabalhe pelo bem-estar colectivo.

Os consumidores actuais já podem avaliar se uma entidade é boa ou má tendo por base a

responsabilidade social. Este julgamento tem em conta a forma como são tratados os

funcionários e a ética nos negócios.

3.2. O conceito de balanço social

Breves considerações sobre o balanço social14

Na década de 60, nos EUA e na Europa, a renúncia da população à guerra do Vietname

deu início a um movimento contra à aquisição de produtos e acções de algumas

empresas ligadas ao conflito. A sociedade exigia uma nova posição ética e diversas

empresas passaram a prestar contas de suas acções e objectivos sociais. A elaboração e

divulgação anual de relatórios com informações de carácter social resultaram no que

hoje se chama de balanço social.

O balanço social é um demonstrativo publicado anualmente pela empresa reunindo um

conjunto de informações sobre os projectos, benefícios e acções sociais dirigidas aos

empregados, investidores, accionistas e à comunidade.

14

Dados recolhidos do website www.balancosocial.org.br (consulta de 26 de Fevereiro de 2009)

34

No balanço social, a empresa apresenta o que faz por aqueles que a ela estão

directamente ligados e pela comunidade, dando transparência às actividades, através das

quais busca melhorar a qualidade de vida de todos. O balanço social é, nas empresas

privadas, simultaneamente um meio de informação, um utensílio de negociação ou de

concertação e um instrumento de planeamento e gestão nas áreas sociais e de recursos

humanos.

Foi possível observar, com o decurso dos anos, que o balanço social tem fornecido um

conjunto de informações essenciais sobre a situação social da empresa, pondo em

evidência pontos fortes e fracos da gestão social dos recursos humanos, o grau de

eficiência dos investimentos sociais e os programas ou projectos de acção que visam a

realização pessoal, a identificação com a empresa e a melhoria de vida dos

trabalhadores e da sociedade em geral.

Razões para elaborar um balanço social 15

O balanço social é considerado de vital importância às organizações pelas razões a

seguir apontadas.

(i) Porque agrega valor a empresa: o balanço social traz um diferencial para a

imagem da empresa que vem sendo cada vez mais valorizado por

investidores e consumidores.

(ii) Porque é um moderno instrumento de gestão: o balanço social é uma

ferramenta considerável para a empresa gerir, medir e divulgar o exercício

da responsabilidade social em seus negócios.

(iii) Porque é um instrumento de avaliação: os analistas de mercado,

investidores e órgãos de financiamento já incluem o balanço social na lista

dos documentos necessários para conhecer e avaliar os riscos e as projecções

de uma empresa.

(iv) Porque é um elemento inovador e transformador: realizar e publicar o

balanço social anualmente é mudar a antiga visão, indiferente à satisfação e

ao bem-estar dos funcionários e clientes, por uma visão moderna em que os

15

Dados recolhidos do website www.balancosocial.org.br (consulta de 26 de Fevereiro de 2009)

35

objectivos da empresa incorporam as práticas de responsabilidade social e

ambiental.

Principais benefícios e beneficiários do balanço social16

O balanço social auxilia a todos os conjuntos que interagem com a entidade. O Quadro

3 dá-nos uma súmula dos principais benefícios e beneficiários do balanço social de uma

entidade.

Quadro 3

Principais benefícios e beneficiários do balanço social

BENEFICIÁRIOS BENEFÍCIOS

Gestores

Disponibiliza informações úteis à tomada de

decisões relativas aos projectos sociais e ambientais

que a empresa desenvolve.

Trabalhadores

Estimula a participação nas acções e projectos

sociais, gerando um grau mais elevado de

comunicação interna e integração nas relações entre

gestores e o corpo funcional.

Fornecedores e Investidores

Informa como a empresa encara suas

responsabilidades sociais e ambientais, o que é

indicador favorável da forma como é administrada.

Consumidores

Evidencia a postura dos gestores e a qualidade do

produto ou serviço oferecido, demonstrando o

caminho que a empresa escolheu para construir sua

marca.

Estado Ajuda na identificação e na formulação de políticas

públicas.

16

Informações recolhidas do website www.cm-mirandela.pt (17 de Janeiro de 2009)

36

4. IMPLICAÇÕES CONTABILÍSTICAS E FISCAIS DA RESPONSABILIDADE

SOCIAL E DA RESPONSABILIDADE AMBIENTAL

Como é claro, a responsabilidade social e a responsabilidade ambiental têm implicações

tanto no campo contabilístico, como no campo fiscal.

4.1. Implicações contabilísticas da responsabilidade social e da responsabilidade

ambiental

Vem aumentando o número de empresas que estão cada vez mais preocupadas em

atingir e demonstrar um bom desempenho a nível social e ambiental e isto acaba por

afectar a contabilidade das entidades.

4.1.1. Implicações contabilísticas da responsabilidade social

Embora o social não possa ser contabilizado em termos de valorização própria ou efeito

directo, os reflexos de um bom clima entre a organização e os seus colaboradores e a

sociedade em geral, por exemplo, melhoram os resultados através de acréscimos de

produtividade e favorecem a conservação de bens patrimoniais, uma vez que a

consciência para proteger o que é da empresa por parte dos colaboradores é maior. A

quantificação desses ganhos de produtividade não aparece nos balanços tradicionais.

Contabilisticamente, a responsabilidade social pode ser conferida através da variação de

diversas contas, por exemplo, as contas “activos fixos tangíveis” e “depreciações

acumuladas” no caso da empresa possuir algum edifício ou construção ligado a

programas de cariz social e as contas de classe 6 (Gastos), donativos e gastos de acção

social.

De acordo com Chiavenato (2006), as “contas sociais” podem ser classificadas em

quatro categorias:

1) Contas sociais reduzidas a análises em termos de custos sociais relacionadas com

os principais parceiros sociais da organização como:

a) Pessoas: investimentos e/ou despesas anuais correntes referentes a

melhoria das condições de trabalho ou de higiene e segurança e formação

37

do pessoal, melhoria da qualidade de vida dos trabalhadores e de suas

famílias (como creches, campos de férias, assistência médica).

b) Clientes: investimentos (como pesquisa, controlo de qualidade,

melhorias no produto ou serviço) que visam o melhor atendimento ou a

protecção do consumidor.

c) Comunidade: despesas quanto ao ambiente físico, antipoluição,

melhorias urbanas, obras de interesse colectivo, etc.

2) Contas sociais em que as acções com fins sociais são avaliadas simultaneamente

em termos de custos expressos monetariamente e em termos de impacto não

monetário desses custos. Trata-se de um melhoramento do ponto 1), em que o

produto social é conhecido, mas não é expresso monetariamente de forma precisa.

Além de um benefício financeiro definido, inclui-se um benefício social não

expresso em unidades monetárias, mas em melhores condições de trabalho,

acréscimo da educação ou cultura, menor poluição, etc.

3) Contas sociais em que os custos sociais e produtos sociais são expressos

monetariamente para se determinar um resultado social líquido por tipo de

parceiro e por soma algébrica um resultado global. O exemplo característico é o

balanço social em que todas as grandezas são expressas em dinheiro e em que os

princípios da “partida dobrada” são respeitados, havendo uma conta para cada um

dos parceiros da entidade: empregados, accionistas, clientes, fornecedores, etc. Em

cada conta de um parceiro é calculado um resultado social líquido (beneficio

social ou perda social). A soma algébrica desses resultados sociais permite avaliar

a contribuição social da organização, que pode ser positiva ou negativa, a

sociedade.

4) Contas sociais que demonstram como no curso do tempo evolui a parte da riqueza

criada pela organização e distribuída pelos diversos parceiros sociais. Este modelo

parte da ideia de justiça social acompanhada de um conceito de política social:

evidencia o facto de que a economia liberal é apta a proporcionar o bem-estar

material de todos os parceiros sociais para mostrar como os ganhos de

produtividade são repartidos entre os diferentes parceiros sociais. Na forma mais

elementar, este tipo de contabilidade apresenta anualmente um quadro de

38

repartição ou de sobreposição do valor acrescentado entre diversos parceiros

sociais, considerando dois períodos sucessivos de tempo para demonstrar:

a) Se a produtividade global da organização melhorou de um período para o

outro e em que proporção;

b) Se houve algum acréscimo de produtividade e como esse benefício foi

proporcionado e distribuído para cada um dos parceiros sociais.

4.1.2. Implicações contabilísticas da responsabilidade ambiental

A directriz contabilística nº 29 da Comissão de Normalização Contabilística portuguesa,

denominada Matérias Ambientais, adopta a recomendação da Comissão Europeia de 30

de Maio de 2001 respeitante ao reconhecimento, mensuração e divulgação das matérias

ambientais nas contas anuais e no relatório de gestão das sociedades, publicada no

Jornal Oficial das Comunidades Europeias de 13 de Junho de 2001. Esta directriz diz

respeito, em primeiro lugar, aos critérios para o reconhecimento, mensuração e

divulgação relativos aos dispêndios de carácter ambiental, aos passivos e aos activos

com eles relacionados resultantes de transacções e acontecimentos que afectem, ou

sejam susceptíveis de afectar, a posição financeira e os resultados da entidade relatada.

Em segundo lugar, identifica o tipo de informação ambiental que é apropriado divulgar,

relativamente à atitude da entidade face às matérias ambientais e ao comportamento

ambiental da entidade, na medida que possam ter consequências para a posição

financeira.

Segundo a directriz, os problemas ambientais se posicionam na primeira linha das

preocupações à escala mundial.

A directriz, integrando-se na problemática global do ambiente, estabelece um conjunto

de preceitos contabilísticos respeitantes a matérias ambientais:

Acontecimento que cria obrigações: É um acontecimento que cria uma

obrigação legal ou construtiva, que faça com que a entidade não tenha nenhuma

alteração realista senão liquidar essa obrigação.

Obrigação legal: É uma obrigação que deriva de: a) um contrato; b) legislação;

ou c) outras obrigações da lei.

39

Obrigação construtiva: É uma obrigação que deriva de acções de uma entidade

em que: a) por um modelo estabelecido de práticas passadas, de políticas

publicitadas ou de partes que aceitará certas responsabilidades; e b) em

consequência, a entidade tenha criado uma expectativa válida nessas outras

partes de que cumprirá essas responsabilidades.

Passivo: É uma obrigação presente da entidade, proveniente de acontecimentos

passados de cuja liquidação se espera que resulte uma saída de recursos da

entidade, incorporando benefícios económicos.

Passivo ambiental: É a obrigação da empresa decorrente de deveres ou

responsabilidades de preservação, recuperação ou protecção ambientais.

Activos: É um recurso controlado pela empresa como resultado de

acontecimentos passados e do qual se espera que fluam para empresa benefícios

económicos futuros.

Activos ambientais: Incluem todos os recursos que visam preservar, proteger

ou recuperar o meio natural, podendo-se falar de activo tangível adquirido ou

construído para reduzir, eliminar ou recuperar resíduos poluentes, de

investimentos em investigação e desenvolvimento de tecnologia, de novos

produtos, de matérias verdes, etc.

Dispêndios de carácter ambiental: incluem os custos das medidas tomadas por

uma entidade, ou em seu nome, por outra entidade, para evitar, reduzir, ou

reparar danos de carácter ambiental decorrentes das suas actividades.

Reconhecimento de activos de carácter ambiental

Há dificuldades na identificação dos activos ambientais, porque muitas vezes estes bens

para além de servirem para a preservação do meio ambiente, são também de produção,

ou seja, são activos operacionais, motivo este que os leva a sofrer desgaste rápido em

função da produção.

Segundo a directriz contabilística nº29, ponto 30, só serão considerados activos

ambientais os que se destinarem a servir, de forma durável, a actividade da empresa e se

estiver satisfeita uma das condições seguintes: se os custos relacionarem-se com

benefícios económicos que a entidade venha a usufruir e que permitam melhorar a vida

40

dos outros activos detidos pela empresa ou se os custos permitirem reduzir ou evitar

uma contaminação ambiental susceptível de ocorrer em resultado de futuras actividades.

Reconhecimento de passivos de carácter ambiental17

Reconhece-se um passivo de carácter ambiental quando seja provável que uma saída de

recursos incorporando benefícios económicos resulte da liquidação de uma obrigação

presente de carácter ambiental, que tenha surgido em consequência de acontecimentos

passados e se a quantia puder ser mensurada de forma fiável.

A natureza desta obrigação deve ser claramente definida e pode ser de dois tipos:

a) Legal ou contratual, se a entidade tiver uma obrigação legal ou contratual de evitar,

reduzir ou reparar danos ambientais; ou

b) Construtiva, se resultar da própria actuação da entidade, quando esta se tiver

comprometido a evitar, reduzir ou reparar danos ambientais e não puder deixar de o

fazer em virtude de, em consequência de declarações públicas sobre a sua estratégia ou

as suas intenções, ou de um padrão de comportamento por ela estabelecido no passado,

a entidade tiver dado a entender a terceiros que aceita a responsabilidade de evitar,

reduzir ou reparar danos ambientais.

Mensuração dos passivos ambientais18

Segundo a directriz contabilística nº 29, o passivo é reconhecido quando for possível

uma estimativa dos dispêndios para liquidar a obrigação. Ao proceder à estimativa para

um passivo ambiental deve ter-se em conta que se existirem várias quantias estimadas

para um mesmo passivo, deve escolher-se a melhor para liquidar a obrigação presente à

data do balanço, considerando a conjuntura económica, a evolução futura da técnica e

da legislação.

Apresentação e divulgação de informação ambiental19

É necessário divulgar informação ambiental, uma vez que todos querem saber quem

polui e quem não o faz, o que atribui a este tipo de informação um carácter moral que é

17

Directriz contabilística nº29 capítulo V, ponto 16 18

Directriz contabilística nº29 capítulo VI, pontos 39 e 40 19

Directriz contabilística nº29 capítulo VI, pontos 52 e 53

41

legitimado por uma necessidade de justiça. Até algumas décadas atrás, em todo o

mundo, não mais de uma dezena de empresas tinham publicado relatórios ambientais.

Actualmente há um maior número de empresas a fazê-lo.

A divulgação das informações ambientais é algo que não é obrigatório e não acontece

por razões altruístas, mas sim porque traz benefícios para a empresa. Como exemplos de

benefícios tem-se a melhoria da imagem pública, liberdade de acção para a empresa,

que as outras não têm e por vezes, inexistência de multas por incumprimento.

A directriz contabilística nº 29 estabelece que matérias ambientais devem ser objecto de

divulgação desde que sejam materialmente relevantes para a avaliação do desempenho

financeiro ou posição financeira da empresa.

No relatório de gestão das empresas, deverá descrever-se todas as matérias relevantes e

fazer-se uma análise objectiva da evolução das suas actividades, no que respeita a

questão ambiental, comparando essas informações com resultados obtidos em anos

anteriores nesta mesma área. Também no relatório de gestão deve constar informações

acerca da existência de um relatório ambiental. O relatório ambiental é um instrumento

que contém informações da situação e desempenho das empresas e é preparado e

emitido pelo órgão de gestão para utilização interna e externa. A preparação de um

relatório de ambiental exige alguns requisitos: um sistema de gestão ambiental

implantado e operativo, uma política ambiental bem definida, um conjunto de

objectivos a atingir, uma contabilidade de controlo de gestão que dê alguma ênfase à

informação ambiental necessária e que permita quantificar a informação disponível e

uma estrutura organizacional responsável que coordene todo o processo que leva a

preparação do relatório de gestão.

Segundo a directriz, as informações sobre matéria ambiental devem ser divulgadas no

anexo ao balanço e demonstrações de resultados. As informações de carácter ambiental

podem ser divulgadas em documentos próprios independentes das demonstrações

financeiras. Entre esses documentos destaca-se o eco-balanço ou balanço ecológico

global, que é um balanço quantitativo dos fluxos de matéria e energia de um dado

sistema, que visa medir o impacto sobre o meio ambiente provocado pelo referido

sistema.

Contabilisticamente a responsabilidade ambiental pode ser conferida através da variação

de diversas contas, por exemplo, as contas “activos fixos tangíveis” e “depreciações

42

acumuladas” no caso da empresa possuir algum equipamento para evitar, reduzir ou

anular danos no meio ambiente e a conta de classe 6 (Gastos), donativos.

4.2. Implicações fiscais da responsabilidade social e da responsabilidade ambiental

Tal como a preocupação em atingir e demonstrar um bom desempenho a nível social e

ambiental afecta a contabilidade das entidades, ela também pode afectar a área fiscal das

mesmas.

4.2.1. Implicações fiscais da responsabilidade social20

As implicações fiscais da responsabilidade social podem ser de diversa natureza. Para

simplificar, vamos debruçar sobre uma das mais importantes que é o mecenato.

De acordo com Monteiro (2006), o mecenato é a prática de atribuição de donativos ou

liberalidades em dinheiro ou em espécie às entidades beneficiárias, cuja actividade

consista predominantemente na realização de iniciativas na área social, cultural,

ambiental, científica ou tecnológica, desportiva e educacional, sem concessão de

contrapartidas de carácter pecuniário ou comercial por parte destas.

Em Cabo Verde, o mecenato começou a ganhar corpo ainda nos anos 90 do século

passado, com a aprovação da legislação aplicável. De acordo com a nossa pesquisa, os

principais diplomas publicados são os seguintes:

(i) Lei nº 108/IV/99, de 2 de Agosto, primeira lei sobre o regime de incentivos ao

mecenato;

(ii) Lei nº 45/IV/2004, de 12 de Junho, que estabelece o novo regime de mecenato;

(iii) Regulamentação do mecenato respeitante a cultura e ao desporto;

(iv) Portaria nº 39/2005, que estabelece o registo dos mecenas.

A lei do mecenato visa o fomento, a protecção, o conhecimento e o desenvolvimento

dos seguintes sectores: social, cultural, desportivo, educacional, ambiental, juvenil,

científico, tecnológico, saúde e sociedade de informação.

20

Informações divulgadas no seminário “Regime Jurídico do Mecenato e os Benefícios Fiscais”,

Mindelo, Julho de 2006, apresentando pelo Economista Elias Monteiro

43

O termo mecenas é atribuído às pessoas singulares ou colectivas que concedam apoios,

através da concessão de liberalidades a título de doação ou patrocínio, destinadas às

entidades públicas ou privadas que exerçam acções relevantes para o desenvolvimento

de projectos e actividades referidas no âmbito da lei.

Ao abrigo da lei do mecenato, os donativos proporcionam benefícios fiscais às pessoas

ou instituições que os efectuam, desde que estejam inscritas como mecenas. Caso as

instituições não estejam inscritas, não poderão beneficiar-se das vantagens constantes da

lei do mecenato. Esses donativos podem ser sob a forma de dinheiro, espécie ou

patrocínios e visam a transferência de recursos ao beneficiário para a realização de

projectos com finalidades promocionais ou publicitárias e sem proveito pecuniário ou

patrimonial directo para o patrocinador.

Beneficiários dos donativos

Estado:

-Estado e autarquias locais;

-As associações de municípios;

-As fundações em que o estado ou autarquias locais participem no património inicial.

Entidades privadas:

-Instituições particulares de solidariedade social ou equiparadas;

-Pessoas colectivas de utilidade pública;

-Comité olímpico nacional;

-Associações desportivas;

-Organismos associativos;

-Organizações não governamentais;

-Outras entidades que desenvolvem acções no âmbito da lei.

Vantagens em ser mecenas

-A satisfação pessoal e o prestígio que resultam da associação a actividades filantrópicas

de qualidade e de relevante interesse para a sociedade;

-O beneficio dos incentivos fiscais previstos na lei do mecenato, na redução do imposto

único sobre o rendimento das pessoas colectivas (IUR/PC) e das pessoas singulares

(IUR/PS).

44

Benefícios fiscais aos mecenas

Actualmente, de acordo com a lei nº 45/IV/2004, de 12 de Junho, nova lei do mecenato,

consta o seguinte:

(i) No apuramento do rendimento tributável em sede do IUR, são considerados custos

ou perdas do exercício em 130% do respectivo valor total dos donativos até ao limite de

1% do volume de vendas ou serviços prestados;

(ii) Quando a actividade for desenvolvida no âmbito da própria empresa, as deduções

correspondem a 60% do seu montante até ao limite de 0.5%.

4.2.2. Implicações fiscais da responsabilidade ambiental21

É indiscutível a necessidade de defender a qualidade ambiental e a protecção dos

recursos naturais como aspecto essencial do desenvolvimento social. Explorar os

recursos naturais sem limitação tem provocado cada vez mais a deterioração do meio

ambiente e a devastação dos recursos ambientais, pois se colocam os recursos

económicos em primeiro lugar, pondo em segundo plano a capacidade futura de

produzir riquezas.

A política fiscal não pode afastar-se desta situação. Desde várias décadas atrás que se

vem reconhecendo que os instrumentos fiscais são uma forma de atingir os objectivos

ambientais, principalmente pela criação de impostos ecológicos.

A reforma fiscal ecológica

A adaptação da estrutura fiscal às questões ambientais consiste essencialmente em

alterar o mecanismo de impostos já existente, isentando ou reduzindo a tributação para

equipamentos não poluentes, veículos com dispositivos anti-poluentes, produtos

reutilizáveis ou recicláveis, etc. A reformulação do sistema fiscal com objectivos

ambientais não poderá ter como finalidade aumentar a carga fiscal e deverá permitir,

simultaneamente, diminuir os custos do trabalho e combater a poluição.

21

Dados extraídos do artigo “Os impostos como instrumento ambiental” de autoria de Carla Duarte dos

Santos e Dilene Gonçalves, constante do Jornal do técnico de contas e da empresa, nº34 de Abril de 2002

45

Os impostos ambientais surgem como forma de desencorajar agressões ao meio

ambiente e compensar a utilização de recursos naturais por parte das empresas.

Pretende-se levar o transgressor a tomar por sua iniciativa, medidas essenciais para

reduzir a poluição.

É necessário que as medidas fiscais sejam acompanhadas de um plano de sensibilização

e de responsabilização das empresas, de modo que se compreenda os objectivos de tais

medidas e a necessidade de todos contribuírem para um meio ambiente melhor. A

política fiscal poderá ser dirigida no sentido de modificar comportamentos das

entidades, de forma a incentivar os agentes económicos a utilizarem matérias-primas e

intermédias não poluentes ou a reutilização de resíduos, para que sejam os mesmos a

tomarem medidas protectoras do ambiente.

A política fiscal pode ser um aliado importante na protecção do meio ambiente, pois a

empresa que polui ou não respeita as regras de preservação ambiental, pode ver

agravados os seus impostos pelas autoridades fiscais, de forma a responsabilizá-la pelo

sucedido. Sendo que uma empresa que cumpre com aquilo que é determinado pelas

autoridades fiscais, que se responsabiliza pelo meio ambiente, que respeita o local onde

se situa as suas instalações, terá um encargo fiscal totalmente diferente daquela entidade

que não o faz.

As principais razões para a utilização de medidas tributárias ambientais:

a) São um instrumento eficiente na incorporação de custos relacionados com

degradação ambiental, directamente no custo dos produtos;

b) Tornam-se um incentivo para que os produtores alterem seus comportamentos,

direccionando-os para o uso mais eficiente dos recursos;

c) As receitas podem ser utilizadas para o financiamento de programas ambientais;

d) Podem tornar-se ferramentas eficientes no combate a situações prioritárias, como a

poluição da água.

Direccionando as receitas tributárias para a defesa do ambiente, estaremos a prevenir a

necessidade de vir a despender meios na recuperação do equilíbrio ecológico.

46

5. ESTUDO DE CASO: RESPONSABILIDADE SOCIAL E AMBIENTAL

NUMA EMPRESA CABO-VERDIANA

5.1. Breve caracterização da empresa

A presença da Shell em Cabo Verde data de 1919, por meio de uma representação da

Shell Portuguesa, SARL.

Após a Independência de Cabo Verde, proclamada a 5 de Julho de 1975, a Shell

Portuguesa, SARL transferiu as responsabilidades da empresa para a Shell Cabo Verde,

Sarl. Essa transferência foi homologada pelo Governo de Cabo Verde a 30 de Dezembro

de 1976, através da assinatura de um contrato de concessão válido por 20 anos. Através

do contrato de concessão assinado entre as partes, o Governo da República de Cabo

Verde autorizou a empresa a fornecer, em regime de exclusividade por um prazo de 20

anos contados a partir de 1 de Janeiro de 1977, combustíveis a navios acostados ao cais

existente no Porto Grande da ilha de São Vicente e aviões no Aeroporto Internacional

Amílcar Cabral, na ilha do Sal.

A empresa e o Estado de Cabo Verde celebraram, em Setembro de 1996, um novo

acordo denominado “ Convenção de Estabelecimento”, segundo o qual é concedido a

empresa o direito ao estabelecimento e exercício, em território cabo-verdiano, da

actividade económica de comercialização de derivados do petróleo por um período de

50 anos, contados a partir de 1 de Janeiro de 1997.

O capital social da Shell Cabo Verde, SARL é de 60.000 cts22

(sessenta mil contos),

representado por 60000 acções de valor nominal de 1000 CVE (mil escudos) cada, em

que 59900 dessas acções pertencem a Shell Internacional. A Shell Cabo Verde, SARL,

tal como as demais filiais da Shell espalhadas pelo mundo, tem como objectivo o

desenvolvimento de negócios ligados ao petróleo, gás butano, produtos químicos, fuel,

jet A1 e outras actividades escolhidas de forma eficiente, responsável e lucrativa, bem

como o investimento em projectos de cariz social e de protecção do meio ambiente.

22

Os valores serão expressos em milhares de escudos – contos.

47

5.2 Análise social e ambiental dos documentos de prestação de contas

5.2.1 Estrutura dos relatórios de gestão e contas dos últimos três anos

48

49

5.2.2 Referência a matérias sociais e ambientais

Matérias sociais

Como já foi referido durante o estudo, a responsabilidade social da empresa pode

abranger tanto a área interna, como a externa.

Em relação a área interna, a Shell Cabo Verde identifica e actua para satisfazer um

conjunto de beneficiários:

a) Accionistas: a entidade esforça-se para proteger o investimento dos mesmos e

assegurar bons níveis de rendibilidade. Também tem a responsabilidade de

revelar totalmente e com exactidão a utilização dos recursos da empresa e os

resultados dessa utilização.

b) Trabalhadores: a empresa assegura boas condições físicas de trabalho, fixação

dos salários e horários de trabalho, fundos de reforma, seguros de saúde, de

hospitalização, assistência medicamentosa e seguro contra acidentes de

trabalho. A entidade proporciona formações diversas aos trabalhadores,

progressões na carreira e possui um clube destinado ao desenvolvimento de

actividades lúdicas de modo a construir um melhor equilíbrio entre o trabalho,

família e lazer.

c) Clientes: a empresa demonstra a sua responsabilidade perante os clientes dando

informação completa e exacta sobre os produtos que fornece, respondendo

imediatamente às reclamações e adoptando um papel activo no

desenvolvimento de produtos que respondam às preocupações sociais dos

clientes.

Em relação ao âmbito externo, a Shell Cabo Verde possui um leque elevado de

programas que beneficia diversas áreas:

a) A sociedade em geral: a Shell tem responsabilidade perante a sociedade,

uma vez que respeita a legislação vigorante no país e concede especial

atenção em relação a áreas que afectam o bem-estar social.

b) Saúde: a saúde vem sendo beneficiada, através de apoios a campanha de luta

contra o paludismo, especialmente na ilha de Santiago, e contra o

50

HIV/SIDA. Para auxiliar no combate ao HIV/SIDA, a organização

desenvolve sessões informativas sobre a prevenção e palestras em todos os

concelhos do país, tal como a distribuição gratuita de preservativos.

Juntamente com a Rotary Club de Mindelo, a Shell desenvolve uma parceria

que abarca entre outros a oferta de equipamentos hospitalares a alguns

hospitais do país. Também apoia campanhas de vacinação em crianças,

conjuntamente com as diversas delegacias de saúde do país contra o sarampo

e a poliomielite.

c) Educação: ao longo dos vários anos que a Shell está em Cabo Verde, a

empresa tem contribuído para a construção e melhoramento de escolas

primárias em diversos locais do país em parceria com organizações

nacionais e internacionais e atribuindo bolsas de estudo para alunos do

secundário. Outros actividades vêm sendo desenvolvidas na área

educacional, tais como, oferta de materiais escolares a crianças carenciadas,

equipamentos para bibliotecas, aquisição de equipamentos de refrigeração,

melhoramento das cantinas e doação de bolsas de estudo para alunos

carenciados que terminaram o ensino secundário, com o objectivo de

continuarem o processo académico universitário. A Shell também está

ligada a criação e solidificação do Instituto Superior de Ciências

Económicas e Empresariais (ISCEE), resultante da parceria com o Instituto

Politécnico de Lisboa, auxiliando dessa forma o desenvolvimento do ensino

superior no nosso país. A empresa também apoia o English Language

Institute (ELI), que desenvolve cursos de inglês, desde os infantis até ao

nível técnico.

d) Juventude: em relação a está faixa etária a Shell tem elevadas preocupações,

criando projectos diversos com o objectivo de ocupar os tempos livres da

mesma. A Shell possui um polivalente desportivo e, frequentemente,

financia torneiros, campeonatos e actividades desportivas em que os jovens

participam com a intenção de motiva-los para a prática de actividades

saudáveis. A empresa patrocina anualmente o Festival da Juventude, os

Jogos Escolares e diversos encontros de “Capoeira” que acontecem no

nosso território.

51

Matérias ambientais

A Shell Cabo Verde, SARL, tal como as outras companhias da Shell espalhadas pelo

mundo é consciente das suas responsabilidades relacionadas com a protecção do meio

ambiente.

Ela é responsável, uma vez que produz bens que em contacto com o ambiente podem

danificar o mesmo e também porque preocupa com o desenvolvimento sustentável do

local onde está inserido e com as pessoas que vivem nesta área.

Tal como a responsabilidade social, a responsabilidade ambiental pode ter duas

vertentes: a interna (a responsabilidade ambiental interna) e a externa (responsabilidade

ambiental externa).

Em relação a vertente interna, a empresa desenvolve várias actividades, entre as quais

inspecções, reuniões, auditorias internas com o intuito de proteger o meio ambiente e

exercícios de combate ao incêndio.

A empresa possui um plano de emergência ambiental interna, TIER 1, utilizado para

responder aos casos de pequenos derrames. Os trabalhadores da entidade passam por

uma reciclagem semestralmente na área, com o objectivo de estarem prontos para

qualquer eventualidade.

Em relação a vertente externa, a Shell desenvolve planos de protecção ambiental

diversos, com é o caso do TIER2, que é um plano maior que o TIER1 e é utilizado para

responder aos casos de derrame fora das instalações da empresa, em que a entidade

associa-se a outras organizações, como é o caso da polícia, da Enapor e militares para o

combater. Outro plano para a protecção ambiental é o TIER3, um plano que só será

utilizado numa situação em que o derrame ocorrido for muito grande e a capacidade de

resposta exceder a capacidade da Shell Cabo Verde e do país. A Shell internacional

recomendou a Shell nacional a assinatura de uma convenção com uma organização

internacional especializada em combater grandes derrames de produtos poluentes a

escala planetária e paga-a uma taxa, tendo como garantia o auxilia rápido.

Além disso, a organização desenvolve acordos de parceria com a associação “Garça

Vermelha” em que os óleos lubrificantes, resíduos e produtos contaminados ao nível

52

nacional são armazenados nas instalações da entidade em causa, devidamente para um

futuro tratamento e com a “Associação Amigos da Natureza”, entidade instalada na ilha

de São Vicente, interessada em auxiliar os trabalhadores rurais a diminuir os efeitos das

condições climatéricas desfavoráveis, através de programas que os ajudam a obter

produtos de qualidade, fazendo a reflorestação, utilizando água residual para rega e

projecto de micro irrigação.

No ano de 2005, a entidade celebrou um acordo com a Direcção Geral do Ambiente,

propondo cooperar e participar no projecto de gestão de zonas costeiras e do plano

nacional de combate a poluição no mar.

A empresa possui um plano denominado passing ship23

, que não tem relação com a

actividade directa da empresa, e que tem como objectivo ajudar quaisquer navios nas

águas nacionais que esteja em dificuldades e esteja colocando em perigo o ambiente

marinho com ameaças de derrame de produtos poluentes.

5.2.3 O balanço social da empresa24

O balanço social da empresa é apresentado anualmente e tem revelado um instrumento

privilegiado de divulgação de informações para os accionistas, colaboradores e demais

“Stakeholders”, pretendendo sistematizar todas as operações efectuadas no decurso do

ano, referentes aos recursos humanos e os projectos e acções sociais direccionados à

sociedade civil.

Capital social

O capital social da empresa em 31/12/07 era de 60.000 cts (sessenta mil contos),

representado por 60000 acções de 1000 CVE (mil escudos) cada.

Caracterização do efectivo

Em 31/12/07, a entidade, tinha um total de 73 trabalhadores, em que 72 (98.6%)

pertenciam ao quadro do pessoal e 1 (1.4%) não pertencia. Dos 72 dos trabalhadores

que pertenciam ao quadro do pessoal, 9 eram do sexo feminino e 63 do sexo masculino.

23

Barcos de passagem 24

Uma vez que a Shell Cabo Verde não apresentou no ano 2007 o balanço social, com os dados

disponíveis optamos por criar um de modo simplificado.

53

Quadro 4

Evolução do pessoal da Shell no triénio 2005/2007

Trabalhadores 2005 2006 2007

Efectivos 60 72 72

Extra-quadros 9 0 1

Total 69 72 73

Formação profissional

Durante o ano foram levadas a cabo acções de formação, tanto no país como no

estrangeiro, num montante de 11.773 cts (onze mil, setecentos e setenta e três contos),

abarcando matérias importantes para os negócios, destacando-se a gestão com

qualidade, saúde, segurança e protecção do ambiente, excelência operacional e

eficiência dos sistemas e processos de laboração.

Sistema de previdência social

Em 31 de Dezembro, 72 trabalhadores do quadro do pessoal encontravam-se adstritos

no Sistema do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS.

Os sistemas são comparticipados em 23% da remuneração bruta de cada trabalhador,

sendo 8% assegurado por este e 15% pela entidade.

Responsabilidade social e ambiental

Na senda do que vem acontecendo nos anos anteriores, a entidade manteve a sua

acentuada actuação nas áreas social e ambiental, conforme se pode constatar do quadro

seguinte.

54

Quadro 5

Contribuições da Shell para as áreas social e ambiental no 2007

Beneficiários Montantes (milhares escudos - contos)

Saúde 1.235

Educação 1.286

Cultura 1.781

Juventude 1.222

Ambiente 5.702

A organização apoiou iniciativas sociais e ambientais, totalizando um montante de

11.226 cts.

5.2.4 Activos e passivos de natureza social e ambiental

Activos de natureza social e ambiental

As contas do activo onde são visíveis a preocupação da entidade com a parte social são:

À luz do PNC À luz do SNCRF

42 – Imobilizações corpóreas, sub conta

424 – Edifícios e outras construções

43 – Activos fixos tangíveis, sub conta

432 – Edifícios e outras construções

48 – Amortizações acumuladas, sub conta

482 – Imobilizações corpóreas, 4822 –

Edifícios e outras construções

43 – Activos fixos tangíveis, sub conta

438 – Depreciações acumuladas

Os activos que a empresa possui de carácter social são um polivalente desportivo

construído no ano de 1984, valendo 3500 cts, com uma vida útil de 25 anos e com uma

taxa de amortização de 4% ao ano e um edifício onde estão sedeadas a “cantina” (local

onde os funcionários abastecem com bens alimentícios) e o clube destinado a

actividades lúdicas por parte dos trabalhadores, construído em 1990, com uma vida útil

de 25 anos, valendo 22000 cts e com uma taxa anual de amortização de 4%.

55

Relativamente a parte ambiental, a preocupação da entidade é demonstrada através da

movimentação das seguintes contas do activo:

À luz do PNC À luz do SNCRF

42 – Imobilizações corpóreas, sub conta

424 – Ferramentas e utensílios

43 – Activos fixos tangíveis, sub conta

437 – Outros activos tangíveis

48 – Amortizações acumuladas, sub conta

482 – Imobilizações corpóreas, 4824 –

Ferramentas e utensílios

43 – Activos fixos tangíveis, sub conta

438 – Depreciações acumuladas

Considera-se como sendo activo de carácter ambiental um Kit pertencente ao plano de

emergência ambiental TIER 2, utilizado com o objectivo de combater grandes derrames

que possam ocorrer fora das instalações da entidade, composto por barreiras com

comprimento que varia entre 200 e 400 metros, um gerador e mangueiras. Esse Kit foi

adquirido em 2006, tem uma vida útil de 6 anos, o valor de aquisição foi de 2894 cts e é

amortizado a uma taxa de 16.66% ao ano.

No ano 2007 as imobilizações corpóreas/ activos fixos tangíveis de carácter social e

ambiental representavam cerca de 3% das imobilizações corpóreas/ activos fixos

tangíveis totais da empresa.

Passivos de natureza social e ambiental

Com a análise das informações recolhidas, concluímos que a entidade não possui

nenhum passivo de carácter ambiental ou social no ano em estudo.

5.2.5 Rendimentos e gastos sociais e ambientais

Rendimentos de natureza social e ambiental

Os rendimentos de natureza social e ambiental que a empresa poderá provavelmente ter

serão evidenciados através da diminuição dos impostos que terá que pagar perante as

entidades fiscais, ou seja, os créditos fiscais que futuramente poderá ter, o que vem

realçar que empresas que contribuem para programas sociais e ambientais têm melhores

resultados do que os que não o fazem.

56

Gastos de natureza social e ambiental

As contas que evidenciam os gastos de natureza social da entidade são;

À luz do PNC À luz do SNCRF

82 – Resultados extraordinários do

exercício, sub conta 8288 – Donativos e

quotizações obrigatórias

68 – Outros gastos, 688 – Outros, 6882 –

Donativos

65 – Despesas com o pessoal, sub conta

658 – Outras despesas com o pessoal

63 – Gastos com pessoal, sub conta 638 –

Outros gastos com o pessoal

68 – Amortizações e reintegrações do

exercício, 682 – Imobilizações corpóreas,

6822 – Edifícios e outras construções

64 – Gastos de depreciação e de

amortização, sub conta 642 – Activos

fixos tangíveis

Como gastos de natureza social, pode-se reconhecer os donativos que a empresa

disponibiliza para áreas como a saúde, a educação, cultura e juventude e os gastos de

que tem com o pessoal, relativo a formação. Pode-se reconhecer também os gastos de

depreciação das imobilizações corpóreas/dos activos fixos tangíveis de natureza social

que a empresa tem anualmente.

Os gastos de natureza ambiental que a empresa tem são evidenciados através dos

seguintes contas:

À luz do PNC À luz do SNCRF

82 – Resultados extraordinários do

exercício, sub conta 8288 – Donativos e

quotizações obrigatórias

68 – Outros gastos, 688 – Outros, 6882 –

Donativos

68 – Amortizações e reintegrações do

exercício, 682 – Imobilizações corpóreas,

6822 – Edifícios e outras construções

64 – Gastos de depreciação e de

amortização, sub conta 642 – Activos

fixos tangíveis

63 – Fornecimentos e serviços de

terceiros, 633 – Serviços de terceiros,

6338 – Outros serviços

62 – Fornecimentos e serviços externos,

6298 – Outros fornecimentos e serviços

externos

57

Em relação aos gastos de natureza ambiental, pode-se reconhecer os donativos que a

instituição atribui a organizações ligadas a protecção do ambiente (Associação Amigos

da Natureza e Associação Garça Vermelha).

Reconhece-se também os gastos de depreciação de activos fixos tangíveis de natureza

ambiental que a empresa tem anualmente.

Além desses gastos, reconhece-se o gasto que a entidade tem relativo a uma taxa de

4000 cts que paga anualmente, referente a assinatura da convenção com a organização

internacional, sedeada na Inglaterra, especializada em combater grandes derrames de

produtos poluentes, tendo como garantia o auxilio rápido.

5.2.6 Práticas de mecenato

Ao abrigo da lei do mecenato, os donativos proporcionam benefícios fiscais às pessoas

ou instituições que os efectuam, desde que estejam inscritas como sendo mecenas. Caso

as instituições não estejam inscritas, não poderão beneficiar-se das vantagens constantes

da lei do mecenato.

Relativamente a praticas de mecenato no ano 2007, não nos é possível assinalar factos

significativos, pois a empresa em estudo não estava inscrita até a data como mecenas

nas instituições fiscais.

5.2.7 Aplicação do principio da continuidade

Na Shell Cabo Verde é aplicado o princípio da continuidade, pois as suas

demonstrações financeiras são elaboradas com o pressuposto de que é uma instituição

em continuidade e que continuará a funcionar num futuro próximo.

Uma das rubricas que evidencia a intenção de continuar é a dos investimentos.

Essa rubrica tem uma evolução positiva ao longo dos últimos três anos:

- No ano 2005 cerca de 98.000 cts (noventa e oito mil contos) foram investidos em

áreas como a rede de retalho (postos de venda), armazenagem e distribuição, o novo

aeroporto da Praia, o parque de taras e a distribuição de gás e tecnologias de informação

e comunicação,

58

- No ano 2006, a Shell desenvolveu investimentos com um crescimento em cerca de

45% em relação ao ano 2005 atingindo a soma de 221.000 cts (duzentos e vinte e um

mil contos) em aquisição de carros abastecedores para o novo aeroporto da Praia e nos

equipamentos detidos em regime de co-propriedade.

- No ano 2007, a Shell investiu 190.000 cts (cem e noventa mil contos) na

modernização dos sistemas de monitorização dos tanques e em sistemas de

equipamentos para o abastecimento de aeronaves.

Outra rubrica que evidencia a intenção de continuidade por parte da empresa é a dos

donativos disponibilizados pela entidade para programas de cariz social e ambiental,

pois a mesma procura garantir um futuro melhor para as gerações vindouras, garantindo

dessa forma o prolongamento das suas actividades.

5.3 Implicações fiscais da responsabilidade social e ambiental

5.3.1 Reduções de matéria colectável e colecta de imposto sobre rendimentos

Segundo o artigo 41º, nº1, denominado Donativos, do Regulamento do Imposto Único

sobre os Rendimentos IUR e Legislação Subsidiária, em termos fiscais, a prática de

responsabilidade social e ambiental por parte das entidades através da atribuição de

donativos, pode ser considerada como sendo gastos do exercício:

a) Até ao limite de 6% do rendimento tributável do ano anterior, se a entidade

beneficiária for uma instituição cabo-verdiana de ensino ou de investigação

científica que, pelo Membro do Governo responsável pela área das Finanças seja

considerada de interesse para o desenvolvimento industrial do país, ou, em

particular para o aperfeiçoamento do pessoal, organização, equipamento ou

processos de fabrico do contribuinte;

b) Até ao limite de 5%, se as entidades beneficiárias forem autarquias locais,

pessoas colectivas de utilidade pública, museus, bibliotecas, escolas, institutos e

associações de ensino ou de educação, de cultura científica, literária ou artística,

e de caridade, assistência e beneficência.

59

Os donativos concedidos pela entidade no ano 2007 são legislados segundo a alínea b)

do referido artigo.

Nesse ano, a entidade doou 11.226 cts (onze mil e duzentos e vinte e seis contos) para

as áreas da saúde, educação. cultura, juventude e ambiente.

O rendimento tributável do ano anterior (2006) foi de 928.533 cts (novecentos e vinte e

oito mil, quinhentos e trinta e três contos).

Uma vez que os donativos atribuídos para as áreas da saúde, educação, cultura,

juventude e ambiente não excedem o limite de 5% do rendimento tributável do ano

anterior (2006), ou seja, são inferiores a 46.426 cts (quarenta e seis mil, quatrocentos e

vinte e seis contos), logo fiscalmente são aceites como sendo gastos do exercício na sua

totalidade.

Cálculo do imposto relativo ao ano 2007:

Rendimentos = 9.716.125 cts

Gastos = 8.987.922 cts

Taxa a aplicar sobre o resultado antes de imposto para se encontrar o imposto único

sobre o rendimento = 30%

IUR = (Rendimentos – Gastos) * 30%

IUR = (9.716.125 - 8.987.922) * 30%

= 728.203 cts * 30%

= 218.461 cts

Supostamente, se os outros gastos que a empresa declarou ao fisco forem aceites, o

imposto sobre os lucros pago em 2007 será de 218.461 cts (duzentos e dezoito mil,

quatrocentos e sessenta e um contos) correspondendo a uma quantia inferior a aquela

que seria paga, caso os donativos não fossem feitos e aceites totalmente.

5.3.2 Outras implicações fiscais

Como já foi referido anteriormente, a empresa em estudo não estava inscrita como

sendo mecenas no ano em causa e, consequentemente, as doações feitas pela mesma

60

para organismos externos não poderiam, no apuramento do rendimento tributável em

sede do IUR, ser consideradas gastos do exercício em 130% do respectivo valor total

dos donativos até ao limite de 1% do volume de vendas ou serviços prestados

Devido a essa razão, optamos por fazer nesta ponto uma comparação entre a situação

real, relativamente ao pagamento do imposto, e a situação em que supostamente a

empresa está inscrita como sendo mecenas, demonstrando os benefícios que a entidade

poderá ter se optar por seguir a lei do mecenato.

1ª Situação: Caso real

Os valores são expressos em contos (milhares de escudos - contos):

Rendimentos = 9.716.125 cts

Gastos = 8.987.922 cts

Taxa a aplicar sobre o resultado antes de imposto para se encontrar o imposto único

sobre o rendimento = 30%

IUR = (Rendimentos – Gastos) * 30%

IUR = (9.716.125 - 8.987.922) * 30%

= 728.203 cts * 30%

= 218.461 cts

Na situação real o imposto a pagar é de 218.461 cts, caso os gastos forem aceites na sua

totalidade pela entidade fiscal.

2ª Situação: Caso em que, supostamente, a empresa está inscrita como sendo mecenas (

os dados são iguais aos da 1ª situação)

Relativamente ao ano 2007, os donativos da empresa para organismos externos

ascenderam aos 11.226 cts (onze mil, duzentos e vinte e seis escudos).

Segundo a lei do mecenato, as doações para entidades externas são, no apuramento do

rendimento tributável em sede do IUR, consideradas gastos do exercício em 130% do

respectivo valor total dos donativos até ao limite de 1% do volume de vendas ou

serviços prestados.

61

No caso em estudo, tendo em conta que os donativos para instituições externas não

ultrapassam o limite de 1% do volume de vendas ou serviços prestados pela entidade

(94.612 cts), eles são considerados como sendo gastos do exercício em 130%.

Para o cálculo do imposto o valor dos donativos será igual a 14.594 cts (catorze mil,

quinhentos e noventa e quatro contos). Esse valor surge da multiplicação dos donativos

do ano 2007 pela taxa de 130%.

O novo gasto do exercício será calculado da seguinte forma:

= 8.987.922 - 11.226 +14.594

= 8.991.260 cts

IUR = (Rendimentos - Novo gasto) * 30%

= (9.716.125 – 8.991.260) * 30%

= 724.865 * 30%

= 217.460 cts

Na 2ª situação o imposto sobre os lucros a ser desembolsado pela entidade é de 217.460

cts. Nota-se uma diminuição de 1001 cts em relação a 1ª situação, ou seja, se a empresa

fosse inscrita como mecenas os seus encargos perante o fisco seriam menores.

CONSIDERAÇÕES SOBRE O ESTUDO DE CASO

A adopção de políticas de responsabilidade social e ambiental por parte da Shell Cabo

Verde, Sarl é uma prova clara que os administradores da empresa têm conhecimento

acerca do tema em causa e actuam de forma a melhor o meio onde estão inseridos e a

sociedade que os rodeia.

No entanto, como não poderia deixar de ser, são importantes os seguintes comentários

numa tentativa de contribuir para a melhoria das acções da entidade em causa, tanto

interna como externamente e de outras entidades:

1. A entidade em causa deveria continuar com as acções que vem desempenhando,

relativamente, as causas sociais e ambientais, pois além de serem uma mais-

62

valia para a mesma, essas acções são formas de apoio importantes para o

desenvolvimento de actividades de diversas áreas dentro da sociedade.

2. Uma vez que a entidade anualmente disponibiliza donativos para diversas

instituições, ela deveria inscrever-se como mecenas de forma a reduzir ainda

mais os encargos que tem com o pagamento dos impostos.

3. Em relação as empresas sedeadas em território nacional que não seguem as

políticas de responsabilidade social e ambiental, deixamos um alerta, uma vez

que os consumidores estão optando por produtos e serviços de empresas com

responsabilidade social e ambiental e que cada vez mais a concorrência está

investindo nessa áreas.

LIMITAÇÕES DO TRABALHO

Tivemos algumas dificuldades aquando da elaboração do trabalho:

1) Escassez de bibliografia sobre as áreas que são objecto de estudo;

2) Insuficiência de informações por parte da empresa objecto do estudo de caso.

63

CONCLUSÃO

Ao longo do presente trabalho destaca-se o facto de que cada vez mais é importante

para as empresas idealizar e desenvolver acções de carácter social e de protecção

ambiental, porque a exigência dos consumidores, da administração pública e da

sociedade em geral é cada vez maior, tal como a concorrência

Para garantir a sua continuidade face as mudanças que ocorrem diariamente, as

entidades vêem-se obrigadas a reconstituir a forma de actuação perante o meio e as

pessoas que o rodeiam. É claro que essa actuação melhora a imagem da empresa.

Entretanto ficou comprovado que entidades que não se preocupam com a protecção

do meio ambiente e com problemas sociais são cada vez mais penalizadas, tanto por

instituições que têm essa função como também pela população em geral que opta

por consumir bens e serviços de entidades que preocupam-se com a parte social e

com o ambiente que as envolvem.

Destacou-se pela nossa parte a intenção de alertar as empresas nacionais que ainda

não implementaram as políticas de responsabilidade social e ambiental para as mais-

valias que se conquistam, bem como o aumento do volume de negócios e da carteira

de clientes.

No nosso caso prático foi exposto um exemplo de como a Shell Cabo Verde, uma

empresa que tem vários desafios decorrentes da forma geográfica do nosso

território, segue políticas de auxílio a população e ao meio que a envolve. Para este

efeito assina protocolos em diversas áreas e disponibiliza vários donativos com a

intenção de melhorar a qualidade de vida e o bem-estar social. Ficou visível que a

entidade investe na responsabilidade social e ambiental, pois reconhece que

instituições que seguem tais políticas têm melhores resultados.

Espera-se que o presente trabalho tenha aumentado o apelo à necessidade de

protecção do meio ambiente e ao desenvolvimento de acções sociais com a

finalidade de melhorar o bem-estar de todos. Também espera-se que traga

informações novas para futuras pesquisas académicas e sirva de referência à

comunidade empresarial de modo a notarem que a responsabilidade social e

ambiental são realidades cada vez mais presentes no nosso dia-a-dia.

64

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Livros:

BORGES, António; RODRIGUES, Azevedo; RODRIGUES, Rogério – Elementos de

Contabilidade Geral. 20ª Edição, Lisboa: Áreas Editora, 2002. ISBN 972-0-32640-9.

Contabilidade da Gestão Ambiental – Procedimentos e Princípios, Divisão para o

Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, Nações Unidas, Nova Iorque, 2001

CHIAVENATO, Idalberto – Recursos Humanos, O Capital Humano nas Organizações, São

Paulo: Áreas Editora, 2006. ISBN 85-224-3878-0

DONELLY, GIBSON, IVANCEVICH – Administração, Princípios de Gestão

Empresarial.10ª Edição, Lisboa: Editora Mc Graw-Hill Portugal, 2000. ISBN 972-773-037-

X. P.91-93

PALMA, João – Casos Práticos de Contabilidade de Gestão. Lisboa: Plátano Editora,

Agosto de 1998. ISBN 972-770-005-5

REGO, Arménio; DA COSTA, Nuno Guimarães; GONÇALVES, Helena – Gestão Ética e

Socialmente Responsável. Lisboa: Editora RH, 2006. ISBN 972-8871-09-O

Revistas e jornais especializados:

BARATA, Alberto da Silva, DUARTE, Manuela Rebelo; SARMENTO, Manuela, Ano 34º,

Considerações Sobre o Balanço Social. Jornal do Técnico de Contas e da Empresa, Nº441 –

Dezembro/2002. P.178

DE SÁ, António Lopes, Ano 32º, Considerações Sobre o Balanço Social. Jornal do Técnico

de Contas e da Empresa, Nº411 – Dezembro/99. P.345

ESCARDUÇA, Maria Apolinária, Ano 32º, Considerações Sobre o Balanço Social. Jornal

do Técnico de Contas e da Empresa, Nº411 – Dezembro/99. P. 358

PEREIRA, Ana Carla Filipe – A Contabilidade Ambiental – A sua Relevação no Relato

Financeiro. Jornal de Contabilidade Nº 367 (Outubro de 2007). 320 – 331.

PINTO, Massias de Sá, Ano IV, REVISTA DE CONTABILIADE E FINANÇAS, II Série, Nº

15 – Julho/Setembro 1999. P.7

PINTO, Massias de Sá, Ano V, REVISTA DE CONTABILIADE E FINANÇAS, II Série, Nº

20 – Outubro/Dezembro 2000.p. 8

RAMOS, Carla; GONÇALVES, Dilene – Os Impostos como Instrumento Ambiental, Jornal

do Técnico de Contas e da Empresa, Nº439 – Abril/2002. ISSN 0870-2241

65

Outras Referências:

BOGER, Guilherme; GROHE, Denise; BESSOW, Rodrigo – Gestão Ambiental e

Responsabilidade Social – um estudo de caso na empresa Dpaschoal filial Uruguaiana

(Consult. 5 de Janeiro de 2009). Disponível em www <URL: http://www.monografias.com

KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira – Contabilidade Ambiental – Relatório para Um

Futuro Sustentável, Responsável e Transparente. (Consult. 8 de Janeiro de 2009).

Disponível em www: <URL: http://www.monografias.com

KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira – A Contabilidade como Instrumento de Gestão

Ambiental. (Consult.10 de Janeiro de 2009). Disponível em www: <URL:

http://www.gestipolis.com

KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira – Contabilidade Ambiental – Um Passaporte para a

Competitividade. (Consult. 15 de Janeiro de 2009). Disponível em www: <URL:

http://www.gestaoambiental.com

KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira – A Contabilidade Social Medindo a Responsabilidade

Social. (Consult. 20 de Janeiro de 2009). Disponível em www: <URL:

http://www.monografias.com

KRAEMER, Maria Elizabeth Pereira – A Contabilidade como Alavanca na Construção do

Desenvolvimento Sustentável. (Consult. 02 de Fevereiro de 2009). Disponível em www:

<URL: http://www.monografias.com

Lei do Mecenato, lei nº 45/VI/2004 de 12 de Junho

SOARES, Zelinda da Fátima Ramos – Contabilidade e Gestão Ambiental. Mindelo, Maio de

2007

Regulamento do Imposto Único sobre os Rendimentos IUR e Legislação

Subsidiária, Praia 2003

Principais Websites

www.ambienteglobal.com.br (consulta de 20 de Fevereiro de 2009)

www.balanco social.org.br (consulta de 26 de Fevereiro de 2009)

www.campus.fct.unl (consulta de 25 de Janeiro de 2009)

www.cm-mirandela.pt (consulta de 17 de Janeiro de 2009)

www.fdg.org.br (consulta de 18 de Fevereiro de 2009)

www.iapmei.pt/iapmei (consulta de 15 de Janeiro de 2009)

66

www.lopesdesa.com.br (consulta de 21 de Fevereiro de 2009)

www.valoroline.com (consulta de 14 de Fevereiro)

Seminários

Regime Jurídico do Mecenato e os Benefícios Fiscais, Mecenato em Cabo Verde, Câmara de

Comércio, Industria, Agricultura e Serviços de Barlavento, Mindelo, 17 de Julho de 2006,

Elias Monteiro, 36 páginas

67

Anexos

68

ANEXO 1

REGULAMENTO DO IMPOSTO ÚNICO SOBRE OS

RENDIMENTOS IUR E LEGISLAÇÃO SUBSIDIÁRIA

Artigo 41º

Donativos

1. Os donativos concedidos pelos contribuintes serão considerados como custos ou

perdas do exercício nos termos seguintes:

c) Até ao limite de 6% do rendimento tributável do ano anterior, se a entidade

beneficiária for uma instituição cabo-verdiana de ensino ou de investigação

científica que, pelo Membro do Governo responsável pela área das Finanças seja

considerada de interesse para o desenvolvimento industrial do país, ou, em

particular para o aperfeiçoamento do pessoal, organização, equipamento ou

processos de fabrico do contribuinte;

d) Até ao limite de 5% do mesmo rendimento, se as entidades beneficiárias forem

autarquias locais, pessoas colectivas de utilidade pública, museus, bibliotecas,

escolas, institutos e associações de ensino ou de educação, de cultura científica,

literária ou artística, e de caridade, assistência e beneficência.

2. Serão havidos integralmente como custos ou perdas do exercício os donativos

concedidos ao Estado.

69

ANEXO 2

LEI DO MECENATO

Lei nº 45/VI/2004

De 12 de Junho

Por mandato do Povo, a Assembleia Nacional decreta, nos termos da alínea b) do artigo

174º Constituição, o seguinte:

CAPÍTULO I

Disposições Gerais

Artigo 1º

Objectivo

1. A presente lei estabelece o regime jurídico do mecenato, visando o fomento, a

protecção, o conhecimento e o desenvolvimento dos sectores social, cultural,

desportivo, educacional, ambiental, juvenil, cientifico, tecnológico, bem como

da saúde e da sociedade de informação.

2. Incluem-se no dispositivo no número anterior:

a) Os benefícios fiscais concedidos aos mecenas;

b) Os apoios concedidos ou recebidos pelo Estado e pelas autarquias locais

e suas associações;

c) Os apoios recebidos pelas fundações em que o Estado ou as autarquias

locais participem no património inicial.

Artigo 2º

Designações

Para os efeitos deste diploma, a referência a:

a) “Beneficiários”, visa as entidades e pessoas colectivas públicas e privadas que

tiverem recebido quaisquer liberalidades;

70

b) “Mecenas”, visa as pessoas singulares ou colectivas que tenham feito qualquer

liberalidade a título de doação ou patrocínio;

c) “Patrocínio”, visa a transferência de recursos ao beneficiário para a realização de

projectos com finalidades promocionais ou publicitárias e sem proveito

pecuniário ou patrimonial directo para o patrocinador;

d) “Inadimplência”, visa a situação dos contribuintes cuja divida para com o Fisco

tenha sido definitivamente declarada.

Artigo3º

Benefícios fiscais aos mecenas

1. Os benefícios fiscais previstos neste diploma são atribuídos às pessoas

singulares ou colectivas que prestarem serviços ou actividades, realizarem para

outrem ou financiarem, total ou parcialmente, obras ou projectos sociais,

culturais, educacionais, desportivos, ambientais, juvenis, científicos,

tecnológicos, bem assim nos domínios da saúde e da sociedade de informação.

2. Para efeitos do disposto no número anterior, as actividades e os projectos de

financiamento devem ser objecto de reconhecimento pelo departamento

governamental responsável pela respectiva área, salvo se os respectivos valores

não ultrapassarem os montantes que vierem a ser definidos por regulamento.

3. Os pedidos de reconhecimento que não merecerem pronúncia expressa do órgão

competente no prazo de 30 dias, a contar da sua entrada na Administração,

consideram-se tacitamente deferidos.

4. Não beneficiam do disposto neste diploma as pessoas singulares ou colectivas

que se encontram em situação de inadimplência para o Fisco.

Artigo4º

Beneficiários das liberalidades

Os beneficiários das liberalidades previstas neste diploma são:

a) As entidades e instituições previstas nos artigos 13º a 18º;

71

b) O Estado e as autarquias locais e qualquer dos serviços, estabelecimentos e

organismos, ainda que personalizados;

c) As associações de municípios;

d) As fundações em que o Estado ou as autarquias locais participem no

património inicial.

Artigo5º

Modalidades das liberalidades

1. As liberalidades podem ser concebidas tanto em dinheiro como em espécie e

podem ainda ser doações ou patrocínios.

2. Tratando-se de liberalidades em espécie as mesmas deverão ser objecto de

avaliação, servindo de base o valor constante de factura ou o preço normal

do mercado.

3. No caso de doação, o valor dos bens doados a relevar como custo será o

valor fiscal que os bens tiveram no exercício em que a mesma ocorrer.

4. As liberalidades, quando não envolvam valores monetários, devem ser

quantificadas, para o respectivo cômputo nos benefícios fiscais.

Artigo 6º

Princípio da prossecução do fim visado

Os beneficiários deverão utilizar os bens ou valores recebidos exclusivamente na

realização dos fins para que foram concedidos.

Artigo 7º

Renúncia Fiscal

1. A lei do Orçamento do estado fixa o montante máximo anual da renúncia fiscal

constituída pelos incentivos fiscais abrangidos por esta lei.

72

2. A renúncia fiscal referida no nº anterior devera ser objecto de uma repartição

que respeite o equilíbrio e o grau de dinamismo dos sectores referidos no nº 1 do

artigo 1º.

CAPÍTULO II

Apoios do Estado

Artigo 8º

Isenção Fiscal

1. Estão isentos do IUR os rendimentos directamente obtidos do exercício das

actividades culturais, desportivas, de solidariedade social, ambientais, juvenis,

científicos ou tecnológicos.

2. A isenção prevista no número anterior só pode ser concedida às associações e

fundações legalmente constituídas para o exercícios dessas actividades e desde

que se verifiquem cumulativamente os seguintes requisitos:

a) O exercício gratuito dos cargos nos seus órgãos

b) Existência da contabilidade ou escrituração que abranja todas as actividades

desenvolvidas e sua disponibilização aos serviços fiscais;

c) Em caso algum distribuam resultados e os membros dos seus órgãos não

tenham, por si ou por interposta pessoa, algum interesse directo ou indirecto nos

resultados de exploração das actividades prosseguidas.

Artigo 9º

Tributação

O estado procurará assinar acordos com outros países com vista a evitar a tributação

sempre que os mecenas residentes ou sedeados nesses países pretendam adquirir bens

ou equipamentos que se destinem a ser objecto de qualquer doação a entidades ou

73

instituições cabo-verdianos para a prossecução de qualquer dos objectivos previstos

neste diploma.

Artigo 10º

Isenção aduaneira

1. As pessoas individuais ou colectivas que exerçam alguma das actividades

referidas no artigo 1º sem fins lucrativos estão isentas de pagamento das taxas

alfandegárias pela importação de bens materiais destinados ao uso exclusivo da

sua actividade.

2. Estão ainda isentos de pagamento de direitos aduaneiros os mecenas pela

importação de bens a serem doados às pessoas ou Entidades que exercem

actividades sociais, culturais, educacionais, desportivas, juvenis, ambientais,

científicas ou tecnológicas.

3. Os bens materiais isentos do pagamento de direitos aduaneiros não podem ser

transmitidos a terceiros, sob qualquer forma, antes de decorridos 10 anos

contados da data da concessão da isenção.

4. A isenção prevista no n.º 2 só pode ser concedida quando o beneficiário da

doação esteja legalmente constituído ou, em caso negativo, seja registado no

serviço central de controlo.

CAPITULO III

Benefícios aos mecenas

Artigo 11º

Mecenas pessoas colectivas

1. Para o efeito de apuramento do rendimento tributável em sede do IUR, as

liberalidades concedidas pelas empresas fiscalmente definidas por lei, às

actividades ou projectos das entidades publicas ou privadas referidas no artigo 2º

74

são considerados custos ou perdas de exercício em 130% do respectivo valor

total até ao limite de 10/1000 do volume de vendas ou dos serviços prestados.

2. Os custos ou perdas do exercício serão apenas de 60% do seu montante, até ao

limite de 5/1000 do volume de vendas ou dos serviços prestados, se a actividade

for desenvolvida no âmbito da própria empresa para benefício dos seus

trabalhadores.

Artigo 12º

Mecenas pessoas singulares

1. Para o efeito de apuramento do rendimento tributável em sede do IUR, as

liberalidades concedidas por pessoas singulares fiscalmente definidas por lei, á

actividades ou projectos das entidades publicas ou privados referidos no artigo

2º são dedutíveis, ou considerados custos ou perdas de exercício, em 130% do

respectivo valor total.

2. As liberalidades atribuídas por pessoas singulares são ainda dedutíveis à colecta

do ano a que dizem respeito em valor correspondente a 30% do total das

importâncias atribuídas, até ao limite de 15% da colecta.

Artigo 13º

Mecenato social

Na área do mecenato social, são dedutíveis ou considerados custos ou perdas do

exercício as liberalidades atribuídas a instituições particulares de solidariedade social ou

equiparadas e pessoas colectivas de utilidade publica que prossigam os seguintes

objectivos:

a) A reeducação e a desintoxicação de pessoas, designadamente jovens, vítimas do

consumo de álcool e de outras drogas;

b) A assistência a pessoas vulneráveis, nomeadamente órfãos e filhos de pessoas

desempregadas, portadores de deficiência ou de doença mental, a beneficência e

a solidariedade social;

75

c) A criação de oportunidades de trabalho e a reinserção social de pessoas, famílias

ou grupos em situações de exclusão social, designadamente no âmbito de

programas de luta contra a pobreza;

d) Apoios a criação e às actividades de creches, jardins de infância e lares de 3ª

idade;

e) Apoios à criação e às actividades das associações de deficientes e de portadores

de doença mental:

f) Apoios a entidades que se dediquem à protecção social no trabalho.

Artigo 14º

Mecenato cultural

Na área do mecenato cultural, são dedutíveis ou considerados custos ou perdas de

exercício as liberalidades atribuídas às entidades e pessoas colectivas públicas e

privadas que prossigam os seguintes objectivos:

a) Incentivo á formação artística e cultural, designadamente a concessão de bolsas

de estudo, prémios a criadores, autores, artistas e suas obras, realização de

cursos de carácter cultural ou artístico;

b) Fomento à produção e divulgação cultural e artística no território nacional e no

estrangeiro, nomeadamente a produção e edição de obras, realização de

exposições, filmes, seminários, festivais de artes, espectáculos de artes cénicas,

de música e de folclore;

c) Preservação, promoção e difusão do património artístico, cultural e histórico,

designadamente a construção, formação, organização, manutenção, ampliação e

equipamento de museus, bibliotecas, arquivos e outras organizações culturais,

bem como de suas colecções e acervos, a restauração de obras de arte e bens

móveis e imóveis de reconhecido valor cultural e a protecção de folclore, do

artesanato e das tradições populares e nacionais;

d) Estimulo ao conhecimento dos bens e valores culturais, nomeadamente os

levantamentos, estudos, e pesquisas na área da cultura e de arte e de seus vários

segmentos, a atribuição de recursos a fundações culturais com fins específicos

ou a museus, bibliotecas, arquivos ou a outras entidades de carácter cultural;

76

e) Apoio a outras actividades culturais e artísticas assim reconhecidas pelo

departamento governamental responsável pela cultura, designadamente a

realização de missões culturais no País e no exterior, a contratação de serviços

para elaboração de projectos culturais e outras acções consideradas relevantes

pelo referido departamento governamental.

Artigo 15º

Mecenato desportivo

Na área do mecenato desportivo, são dedutíveis ou considerados custos ou perdas do

exercício as liberalidades atribuídas ao Comité Olímpico Nacional, a pessoas colectivas

de utilidade pública desportiva, associações desportivas ou promotoras do desporto e

associações dotadas do estatuto de utilidade pública, cujo objecto seja o fomento e a

prática de actividades desportivas, para a prossecução dos seguintes objectivos:

a) A formação desportiva, escolar e universitária:

b) O desenvolvimento dos programas desportivos para o menor carente, o

idoso e o deficiente:

c) O desenvolvimento de programas desportivos de escolas e demais

instituições visando o intercâmbio desportivo entre os cabo-verdianos,

incluindo os residentes no estrangeiro:

d) O desenvolvimento de programas desportivos nas próprias empresas em

beneficio de seus empregados e respectivos familiares:

e) A concessão de prémios a atletas nacionais em torneiros e competições

realizados em Cabo Verde:

f) A doação de bens móveis ou imóveis a pessoa jurídica de natureza

desportiva, reconhecida pelo departamento governamental responsável

pelo desporto:

g) O patrocínio de torneiros, campeonatos e competições desportivas

amadoras;

h) A construção de ginásios, estádios e locais para a prática desportiva;

i) A doação de material desportivo para entidade de natureza desportiva;

77

j) A doação de passagens aéreas para que atletas cabo-verdianos possam

competir no exterior;

k) Outras actividades assim consideradas pelo departamento governamental

responsável pelo desporto.

Artigo 16º

Mecenato educacional, ambiental, juvenil, cientifico, tecnológico e para a saúde

Na área do mecenato educacional, ambiental, juvenil, cientifico, tecnológico e para a

saúde, são dedutíveis ou considerados custos ou perdas do exercício as liberalidades

atribuídas às seguintes entidades:

a) Estabelecimentos de ensino onde se ministrem formações ou cursos legalmente

reconhecidos pelo departamento governamental responsável pela educação,

incluindo escolas privadas sem fins lucrativos,

b) Museus, bibliotecas, arquivos, fundações e associações de ensino ou de

educação,

c) Associações de defesa do ambiente, no respeita à sua criação e à suas

actividades,

d) Organizações não governamentais (ONG), entidades ou associações de defesa e

protecção do ambiente, que se dediquem nomeadamente à criação, restauro e

manutenção de jardins públicos e botânicos, parques zoológicos e ecológicos, ao

combate à desertificação e retenção, tratamento e redistribuição de águas

residuais e das chuvas e ao saneamento básico;

e) Instituições que se dediquem à actividades cientifica e tecnológica e ao

financiamento de bolsas de estudo definidas pelo Ministério da educação;

f) Escolas e órgãos de comunicação social que se dediquem à promoção da cultura

cientifica e tecnológica,

g) Instituições ou organizações de menores, bem como as de apoio à juventude;

h) Associações juvenis, no que respeita à sua criação e às suas actividades;

i) Instituições responsáveis pela organização de feiras internacionais;

j) Hospitais, delegacias de saúde e outras estruturas públicas de saúde;

78

k) Apoios a pessoas desprovidas de recursos que necessitem de intervenções

cirúrgicas e tratamento médico dispendiosos;

l) Associações de promoção da saúde, no respeita à sua criação e às suas

actividades.

Artigo 17º

Mecenato para a sociedade de informação

Na área do mecenato para a sociedade de informação são dedutíveis ou considerados

custos ou perdas do exercício as liberalidades em equipamentos informáticos,

programas de computadores, formação e consultoria na área de informática, concedidas

ás entidades referidas nas alíneas a) a d) do artigo 4º, bem assim os órgãos de

comunicação públicos e privados, que se dediquem á recolha, tratamento e difusão

social da informação.

Artigo 18º

Liberalidades a organismos associativos

São dedutíveis ou considerados custos ou perdas do exercício na totalidade e até ao

limite de 5/1000 do volume de vendas ou dos serviços prestados no exercício das

actividades comercial, industrial ou agrícola, as liberalidades atribuídas pelos

associados aos respectivos organismos associativos a que pertençam, com vista a

satisfação dos fins estatutários.

CAPÍTULO IV

Registo e acompanhamento

Artigo 19º

Serviço central de Registo

79

1. Na Direcção Geral das Contribuições e Impostos é criado um serviço central do

registo dos mecenas e dos beneficiários do disposto neste diploma.

2. Compete ainda ao serviço previsto no número anterior:

a) Centralizar, organizar e tratar as informações relativas ao mecenato;

b) Disponibilizar as informações relativas aos benefícios fiscais, bem como os

respectivos documentos de apoio, concedidos no âmbito do presente diploma

nomeadamente para efeitos da elaboração da Conta Geral do Estado.

3. Os serviços públicos estão obrigados a encaminhar o serviço previsto neste artigo

todas as informações e a respectiva documentação obtidas no âmbito desta

diploma.

4. O serviço referido neste artigo articula-se no desempenho das suas funções com

os demais serviço dos diferentes departamentos governamentais, dos municípios

e doutras pessoas colectivas públicas ligados aos sectores previstos neste

diploma.

Artigo 20º

Registo dos mecenas

1. Para efeitos fiscais os mecenas deverão promover o seu registo.

2. Desse registo deverão constar nomeadamente os seguintes elementos

identificativos:

a) O nome, designação ou firma e cópia dos respectivos estatutos;

b) O número de identificação fiscal;

c) O domicilio fiscal;

d) A área económica em que se desenvolve a sua actividade;

e) As actividades que pretendem apoiar.

3. Os mecenas comunicarão de imediato e por escrito ao serviço referido no artigo

anterior quaisquer liberalidades que tenham concedido e ainda farão as mesmas

constar da sua declaração fiscal relativa ao ano em causa, juntando os

necessários documentos comprovativos.

80

Artigo 21º

Registo dos beneficiários

1. Os beneficiários deverão fornecer ao serviço prestado no artigo 19º os seguintes

elementos:

a) Cópia do seu programa ou plano de actividades respeitante ao ano em

que receberam alguma das liberalidades previstas neste diploma,

b) A comprovação, nomeadamente documental, da utilização ou aplicação

das liberalidades recebidas na prossecução do fim para que foram

concedidos.

2. As entidades que não estejam legalmente constituídas e que pretendam

beneficiar das liberalidades previstas neste diploma, devem, para além do

disposto no número anterior, proceder ao registo no serviço referido no artigo

19º, do qual constarão o nome ou designação, o domicilio, a actividade exercida

e qualquer outros necessários à sua identificação.

3. Os beneficiários sujeitos ao IUR, farão constar da sua declaração fiscal anual o

valor das liberalidades recebidas, as quais não poderão ser tidas em conta para o

apuramento do imposto.

4. Os beneficiários comunicarão de imediato e por escrito ao serviço referido no

artigo 19º quaisquer liberalidades que tenham recebido, com a identificação do

mecenas e do projecto em causa bem como do montante recebido.

Artigo 22º

Acompanhamento

Os diferentes serviços do Estado relacionados com os sectores abrangidos por esta lei

devem prestar todas as informações e assistência necessárias a que os potenciais

beneficiários possam tirar melhor proveito do mecenato, designadamente na fase de

elaboração dos seus projectos.

81

Artigo 23º

Incompatibilidade

1. As liberalidades não poderão beneficiar directamente as pessoas vinculadas a

quem as praticar.

2. Consideram-se pessoas vinculadas:

a) A sociedade de que seja administrador, gerente, accionista ou sócio à

data das liberalidades, ou nos doze meses anteriores ou posteriores,

b) O cônjuge, os parentes até ao terceiro grau e os afins, os dependentes ou

administradores, gerentes, accionistas ou sócios do beneficiário nos

termos da alínea anterior.

c) O sócio, mesmo quando se trate de outra pessoa jurídica.

Artigo 24º

Fraude fiscal

A simulação de liberalidades ou do seu valor acima do valor real e mediante actuação

fraudulenta e concertada do mecenas e do beneficiário com o fim de obter um ganho

ilegítimo constitui crime de fraude fiscal, nos termos do Código Geral Tributário.

Artigo 25º

Sanções administrativas

1. O recebimento pelo mecenas de qualquer vantagem financeira ou material em

decorrência da liberalidade é punível com multa de 30.000 a 300.000$00,

tratando-se de pessoas colectivas, e de 15.000 a 150.000$00, no caso de pessoas

singulares.

2. Compete a Direcção Geral das Contribuições e Impostos o processamento da

contraordenação previsto no artigo 1º, incumbindo ao respectivo Director Geral

aplicar sanção respectiva.

3. Perante o desvirtuamento dos objectivos visados e a inobservância das normas

administrativas e financeiras aplicáveis, poderá o departamento governamental

concernente inabilitar por cinco anos o infractor de beneficiar de apoios públicos

e incentivos previstos neste diploma.

82

Artigo 26º

Apreensão pelas Alfandegas

Os bens referidos no número 2 do artigo 10º serão apreendidos pelas Alfândegas se não

forem efectivamente objecto de doação em virtude da qual foi concedida a isenção

aduaneira.

Artigo 27º

Relatório anual

O serviço a que se refere o artigo 19º deste diploma elabora até ao dia 31 de Janeiro um

relatório relativo aos recursos disponibilizados no exercício anterior e respeitantes a

cada uma das áreas abrangidas por este diploma.

CAPÍTULO V

Disposições finais e transitórias

Artigo 28º

Regulamentação

1. A regulamentação deste diploma é efectuada por Decreto-Regulamentar,

prejuízo do disposto no número seguinte.

2. A organização e o funcionamento do serviço previsto no artigo 19º bem assim

dos modelos necessários à execução do presente diploma são objecto de

regulamentação através de portaria do membro do Governo responsável pela

área das finanças.

Artigo 29º

Revogação

É revogada a lei nº 108/V/99, de 2 de Agosto.

Aprovada em 25 de Maio de 2004.

O presidente da Assembleia Nacional, Aristides Raimundo Lima

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Promulgada em 28 de Junho de 2004

Publique-se

O Presidente da República, PEDRO VERONA RODRIGUES PIRES

Assinado em 30 de Junho de 2004

O Presidente da Assembleia Nacional, Aristides Raimundo Lima