declaracao da assembly da cultura e educacao ... · latinas para construir uma cultura política de...

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1 O que é essa marcha? muitos perguntam. Como o FSM pode criar uma Abertura festiva e dialógica para informar, inspirar e motivar a participação diversa da população? Declaração da Assembléia de Convergência da Cultura e Educação Transformadoras Forum Social Mundial 2011, Dakar, Senegal Introdução Essa 2ª Assembléia de Cultura & Educação Transformadoras (CET) é o fruto amadurecido de um Fórum e três encontros realizados no ano de ações globais do FSM 2010 que geraram dez cuidados orientadores (abaixo) para os debates no FSM 2011. Essa Assembléia foi lançada através de um cartão postal criativo na Abertura do FSM que afirmou a necessidade de uma Pan-Amazônia sustentável. Apesar da desarticulação grave causada pelo colapso de logística no Forum, essa contribuição foi seguida por uma oficina sobre artes de transformação com 20 estudantes do Departamento de Pedagogia da Universidade Dioup de Senegal; uma intervenção teatral diante de um público de 300 pessoas por jovens atores educadores de Burkina Faso; um fórum que refletiu sobre a estética do FSM (sua cultura política, organização e compreensão da Cultura e das artes) e os desafios enfrentados por arteducadores-as nas escolas e universidades; um encontro virtual no Brasil como parte do FSM Extendido; e uma oficina de direitos culturais. Lamentavelmente, devido ao colapso logístico desta edição do Fórum, não foi possível integrar os participantes dessa oficina final ou os resultados das atividades do programa de Mídias Alternativas ou do fórum Pan-Amazônico no processo e os resultados da 2ª Assembléia. A Assembléia de 2011 afirma a seguinte visão como contexto para 09 ações específicas para 2011-2012 (orientadas por 10 cuidados) por organizações locais, nacionais e regionais que trabalham com cultura e educação transformadoras no processo do FSM: Durante a última década, a Cultura tem sido cada vez mais reconhecida como a força motriz que gera e media a transformação pessoal e coletiva e gera novas políticas e práticas. Cultura não é mais vista como os efeitos da luta de classes economicamente determinada, mas como o solo fértil nos limiares entre a identidade humana e a linguagem, memória e auto-estima, a visão histórica e a imaginação, a geografia e a genética, a utopia e a metodologia, em suas diversas manifestações. É o medo e o riso causados por mudanças de paradigma, o desejo doloroso e a práxis ousada de fazer o novo, juntos. A ponte vital que liga a ética, estética e economia solidária. Durante essa mesma decada, o FSM tem sido a tentativa de transformar a política de resistência ideológica em novas Abertura do FSM: O poder das artes Por que o FSM as marginalisa? Abertura: performance dos direitos humanos. Por que não incluir ação cultural na metodologia inteira do FSM? Qual é o poder social, cultural e político da beleza? Atrás da Abertura, teatro de rua de Dakar engaja o público que observa a passeata. Por que não integrar tais ações culturais no território inteiro do FSM?

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1

O que é essa marcha? muitos

perguntam. Como o FSM pode criar

uma Abertura festiva e dialógica para

informar, inspirar e motivar a

participação diversa da população?

Declaração da Assembléia de Convergência da Cultura e Educação Transformadoras Forum Social Mundial 2011, Dakar, Senegal Introdução Essa 2ª Assembléia de Cultura & Educação Transformadoras (CET) é o fruto amadurecido de um Fórum e três encontros realizados no ano de ações globais do FSM 2010 que geraram dez cuidados orientadores (abaixo) para os debates no FSM 2011. Essa Assembléia foi lançada através de um cartão postal criativo na Abertura do FSM que afirmou a necessidade de uma Pan-Amazônia sustentável. Apesar da desarticulação grave causada pelo colapso de logística no Forum, essa contribuição foi seguida por uma oficina sobre artes de transformação com 20 estudantes do Departamento de Pedagogia da Universidade Dioup de Senegal; uma intervenção teatral diante de um público de 300 pessoas por jovens atores educadores de Burkina Faso; um fórum que refletiu sobre a estética do FSM (sua cultura política, organização e compreensão da Cultura e das artes) e os desafios enfrentados por arteducadores-as nas escolas e universidades; um encontro virtual no Brasil como parte do FSM Extendido; e uma oficina de direitos culturais. Lamentavelmente, devido ao colapso logístico desta edição

do Fórum, não foi possível integrar os participantes dessa oficina final ou os resultados das atividades do programa de Mídias Alternativas ou do fórum Pan-Amazônico no processo e os resultados da 2ª Assembléia. A Assembléia de 2011 afirma a seguinte visão como contexto para 09 ações específicas para 2011-2012 (orientadas por 10 cuidados) por organizações locais, nacionais e regionais que trabalham com cultura e educação transformadoras no processo do FSM: Durante a última década, a Cultura tem sido cada vez mais reconhecida como a força motriz que gera e media a transformação pessoal e coletiva e gera novas políticas e práticas. Cultura não é mais vista como os efeitos da luta de classes economicamente determinada, mas como o solo fértil nos limiares entre a identidade humana e a linguagem, memória e auto-estima, a visão histórica e a imaginação, a geografia e a genética, a utopia e a metodologia, em suas diversas manifestações. É o medo e o riso causados por mudanças de paradigma, o desejo doloroso e a práxis ousada de fazer o novo, juntos. A ponte vital que liga a ética, estética e economia solidária. Durante essa mesma decada, o FSM tem sido a tentativa de transformar a política de resistência ideológica em novas

Abertura do FSM: O poder das artes

Por que o FSM as marginalisa?

Abertura: performance dos direitos

humanos. Por que não incluir ação

cultural na metodologia inteira do FSM?

Qual é o poder social, cultural e político

da beleza?

Atrás da Abertura, teatro de rua de

Dakar engaja o público que observa a

passeata. Por que não integrar tais

ações culturais no território inteiro do

FSM?

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culturas políticas de transformaçao, para criar ‘um outro mundo possível’. Porém, apesar de um compromisso a um processo experimental para inventar um espaço aberto de convergência, na prática, o Fórum ainda sofre de uma estética de declaração ideológica em vez de colaboração dialógica. Isso desafia todos nós – pais, educadores, artistas, ativistas e políticos que sabem que agora é a hora – para repensar a política em termos de cultura e de pedagogia. E desafia-nos a libertar o poder transformador e pedagógico da música, imagem, gesto, vídeo, dança e teatro para cultivar novas metodologias, colaborações, economias, éticas e espaços dialógicos: uma nova estética de transformação social sustentável.

Ações específicas para 2011-2012 rumo ao FSM 2013:

1. Construir uma Plataforma Ponte de CET em cada continente que pesquisa e fomenta modelos de transformação social a partir das artes e pedagogias artísticas, para incentivar políticias públicas sustentáveis pertinentes; Ver o exemplo: http://plataformapuente.blogspot.com/ 2. Articular a criação de uma Comissão de Cultura dentro do Conselho Internacional do FSM para ampliar a compreensão e integração da cultura como metodologia dialógica, participativa e transformadora no território e processo inteiro do FSM; 3. Articular as trocas culturais (oficinas, cursos, serviços, produtos artesanais e artísticos), entre países e redes, pré, durante e pós FSM, como prática de economia solidária; 4. Garantir centralidade às manifestações artísticas e às culturais das comunidades tradicionais de cada país e região que hospeda o encontro do FSM, incorporando-as como vivência e metodologia do Fórum, não marginalizando-as na programação cultural; 5. Envolver as redes culturais locais e os artistas comunitários na programação do FSM, integrando escolas locais, jovens, crianças, educandos e educadores em suas manifestações artístico-culturais, evitando uma participação limitada à grupos artísticos e públicos interessados nas artes numa programação cultural paralela do FSM;

Ator-educadores de Burkina Faso, de

repente saem do acampamento da

juventude para realizar uma

intervenção teatral de 15 minutos no

Fórum. Atraem 300 pessoas em

segundos. O que teatro popular possa

ajudar a criar uma política dinâmica e

dialógica da democracia participativa?

Nossos gritos e bandeiras são para

quem? Com quem o FSM está se

comunicando? Na linguagem de

quem?

3

6. Cuidar para que o paradigma das artes de transformação no processo do FSM supere a abordagem interdisciplinar e avance em direção à prática transdisciplinar, começando pelas salas de nossas casas, para chegarmos nas salas de aula, nas salas empresariais e enfim, nos quintais, onde afinal, podemos cultivar nossas sementes e raízes, e encontrar aquilo que nos nutre e sustenta, real e simbolicamente; 7. Cuidar para que os saberes e tradições dos mestres e mestras populares sejam reconhecidos e estejam presentes no processo do FSM, por meio dos seus jeitos de cantar, dançar, tocar, contar histórias, fazer poesia, pintar o corpo, fazer artesanato, falar suas línguas e seus sotaques, manipular suas ervas, brincar, viver em comunidade, como meios de comunicação em diálogo com as novas tecnologias de informação;

8. Contribuir para a metodologia do FSM 2013 como uma demonstração de um novo paradigma de formação e capacitação de artistas, professores (no universo popular e institucional), e expertes/profissionais de cada setor da sociedade civil; 9. Organizar um Fórum Mundial de Cultura e Educação Transformadoras temático em 2012 através de uma série de encontros pertinentes para alcançar esses objetivos.

Cuidados orientadores 1. Linguagens artísticas como línguagens de transformação social sustentável Cuidar da redefinição e democratização das artes como línguagens de toda a aprendizagem e produção colaborativa de saberes; cultivam nossas inteligências múltiplas e práticas coletivas de solidariedade dialógica, para possibilitar práxes de cooperação e sustentabilidade, pedagogias de descolonização, projetos inter e transculturais, ao criar comunidades sustentáveis. 2. Estética íntima dialógica Cuidar continuamente da escala e a arquitetura de reuniões e projetos para possibilitar as formas íntimas e circulares de comunicação; garantam a troca de saberes, o encontro democrático entre línguas e culturas, e a criação participativa de comunidade.

A Assembléia usa danças africanas e

latinas para construir uma cultura

política de participação confiante e

dialogo criativo. Improvisamos

nossas ações coletivas em uma nova

música intercultural.

Uma cultura política de debate

plenário inibido e cansativo, pode

gerar estratégias inovadoras para

criar um outro mundo possível?

Dançarinos/as e cantores de Mali

dramatizam sua luta pela libertação do

‘programa cultural’ da noite do FSM,

assistidos só por jovens locais que

refletem sobre sua própria identidade

e realidade.

Por que não usamos o poder

expressivo-analítico das artes em cada

eixo do programa do Fórum ao

estimular e aprofundar nossa

compreensão e vitalizar nosso debate?

4

3. As artes da mediação intercultural e transcultural Cuidar continuamente para construir pontes dialógicas entre o atual paradigma da competição e o emergente de cooperação; são necessárias entre as classes sociais, gerações, gêneros, raças, seres humanos, suas raízes e antenas, e se beneficiam da expressão artística e cultural que revela a memória visceral e motiva a experimentação criativa, conectando comunidades históricas e futuras, tornando viável o desconhecido. 4. Produção sustentável coletiva Cuidar das práxes transformadoras baseadas na produção cultural, dialógica, criativa e coletiva; nessas, a cultura é entendida como um processo de criação e transformação sustentável que se baseia no paradigma da cooperação, e a produção cultural como a sustentação da identidade, da soberania e da história de um povo.

5. Liderança juvenil Cuidar para tormar a juventude capaz de expressar criativamente suas perspectivas a partir de um novo paradigma de ensino baseado nas linguagens artísticas, no desenvolvimento de tecnologia e na produção colaborativa. Esse processo deveria ser guiado por uma ética de co-responsábilidade, solidariedade, pedagogia intergeracional de exemplo, e de uma estética de intervenção experimental, dialógica e cooperativa. 6. A cultura tradicional e as pedagogias transformadoras Cuidar para promover a transformação integrativa, visceral e reflexiva por meio das culturas tradicionais e da educação popular, para afirmar os valores humanos, os princípios orientadores da vida em comunidade, a prática solidária reflexiva e sensitiva, e o respeito à diversidade de saberes, culturas e visões mundiais. 7. Estética infantil Cuidar para garantir que as escolas e espaços infantis se transformam em zonas pedagógicas e locais de reunião do encontro lúdico com o conhecimento e a aprendizagem significativa da interação social, que facilitem e promovam o desenvolvimento holístico.

8. Memória e auto-determinação Cuidar para proteger os direitos de todos os povos que sofrem e sofreram conflitos para recordar ativamente, transformando essa memória viva em culturas populares, políticas e institucionais de justiça social, igualdade de direitos e de autodeterminação.

9. Transdisciplinaridade Cuidar para integrar territórios, saberes, culturas e subjetividades que existem entre as disciplinas e além de qualquer disciplina, na abordagem pedagógica do discurso e do fazer político em busca de compreensão do mundo na sua atualidade, para transformá-lo via diálogos entre conhecimentos e garantir a unidade na diversidade.

Se sediarmos o FSM 2013 em uma

universidade, podemos criar uma

outra universidade possível, mesmo

por alguns dias?

E podemos estender o território do

FSM para incluir comunidades

populares vizinhas, escolas e

shoppings, para criar uma outra

comunidade possível, só por alguns

dias?

Essa cultura política dialógica e

estética social está na nossa pauta?

Nossa Assembléia seleciona jovens

artistas para cantar nossa Declaração

na Assembléia das Assembléias. Como

em 2009, somos a última Declaração a

ser comunicada para um público

pequeno e cansado. Mas oferece uma

nova proposta aos ativistas

experimentados e emergentes.

Esse paradigma criativo pode

contribuir na renovação do FSM 2013?

Quem vai construir isso? E como?

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10. Inclusão transformadora Cuidar do reconhecimento e valorização dos limiares entre conhecimento científico e popular, para garantir a inclusão de todos e todas, sobretudo com as pessoas invisíveis ou invisibilizadas no ativismo político-sócio-cultural, como os jovens alienados dos movimentos políticos organizados, os povos tradicionais e originários excluídos em suas comunidades, as donas de casa e as crianças. Organizações/Redes participantes:

A Rede Brasileira de Arteducators Instituto Transformance: Cultura & Educaçäo Eixo de Cultura, Comunicação e Educacação Popular no Fórum Social Pan-Amazônica Rede de Interações Estéticas do Programa Arte, Cultura e Cidadania – Cultura Viva, Brasil Pontos de Cultura, no Pará, Brasil Sindicat dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e montes Claros, Brasil Rede Latino-Americana de Teatro Comunitário Plataforma para uma Política Latinoamericana de Cultura Viva Comunitária, Rede Latino-Americana de Arte e Transformação Social Rede Mundial de Artistas Instituto Polis, Brasil Ashtar Theatre, Palestine Organizações participantes do Fórum Mundial de Cultura Transformadoras 2009 e 2010

Uma escultura dramática prevê os efeitos da

exploração competitiva dos bens naturais do

mundo por um paradigm economico que

separa a cultura da educação e da política. Se

nós no Conselho Internacional do FSM

entendemos a importância da Cultura, por

que continuamos marginalizá-la?