decisÃo - portal ct · 2018-05-22 · referida resolução do órgão nacional, não incidiu o...
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TRIBUNAL SUPERIOR ELEITORAL
RECURSO ORDINÁRIO N° 0600085-48.2018.6.27.0000 - TOCANTINS
(Palmas)
Relator: Ministro Tarcisio Vieira de Carvalho Neto
Recorrente: Partido dos Trabalhadores - Diretório Nacional
Advogados: Nile William Fernandes Hamdy e outros
Recorrida: Coligação A Verdadeira Mudança
Advogados: Leandro Manzano Sorroche e outros
DECISÃO
Trata-se de recurso eleitoral, com pedido de antecipação dos efeitos
recursais, interposto pelo Partido dos Trabalhadores - Diretório Nacional contra
acórdão proferido pelo Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins (TREfTO) em que,
por maioria, foi julgada improcedente a impugnação apresentada pelo ora
recorrente ao DRAP da Coligação A Verdadeira Mudança e, por conseguinte,
deferido o registro da aludida coligação (composta pelos partidos PT, PTS, PODE,
PSS e PCdoS), habilitando-a para as eleições suplementares designadas para o
dia 3.6.2018 naquele estado.
O acórdão regional (publicado na sessão de 14.5.2018 - 10
nO259219) foi sintetizado na seguinte ementa:
ELEIÇÕES SUPLEMENTARESzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA2018. DEMONSTRATIVO DE
REGULARIDADE DOS ATOS PARTIDÁRIOS - DRAP. _ COLIGAÇÃO
MAJORITÁRIA "A VERDADEIRA MUDANÇA". IMPUGNAÇÕES.
ILEGITIMIDADE ATIVA DA COLIGAÇÃO ADVERSÁRIA. NULIDADE DE
CONVENÇÃO. ATOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAINTERNA CORPORIS. COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA
RO nO0600085-48/TOzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA2
ELEITORAL. AUSÊNCIA DE FIXAÇÃO DE DIRETRIZES PARTIDÁRIAS.
NÃO OBSERVÂNCIA DO § 10 DO ART. 7° DA LEI 9.504/97. NÃO
DEMONSTRADA A DESOBEDIÊNCIA DAS DIRETRIZES.
IMPROCEDÊNCIA DA IMPUGNAÇÃO. DEFERIMENTO DO REGISTRO.
1. Conforme entendimento jurisprudencial, por se tratar de questãozyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA
interna corporis, não possui "legitimidade" a coligação ou qualquer
outro candidato ou partido político alheios aos fatos.
2. A competência jurisdicional para controle de mérito dos atos
intrapartidários incide, tão somente, sobre a legalidade, ou seja,
sobre a conformidade destes com a lei e os estatutos das agremiações
políticas, limitando-se a declarar a nulidade de· seus atos.
(Precedente: TSE, AGRG no REspe nO 821·96.2012, ReI. Min.
Henrique Neves, DJe 2.4.2013).
3. A permissão de que as Comissões Executivas Nacionais anulem
Convenções Estaduais, em razão das Coligações ali formadas,
somente pode ocorrer quando houver prévio e tempestivo
estabelecimento de diretrizes para a realização de Coligações em nível
local, conforme interpretação do art. 70, §§ 10 e 20 da Lei
nO 9.504/97. Sem diretriz tempestiva não subsiste a possibilidade de
intervenção das esferas superiores nas decisões tomadas nas
Convenções Estaduais.
4. Não havendo nos autos notícia de que a convenção partidária
realizada se tenha oposto às diretrizes legitimamente estabelecidas
pelo órgão de direção nacional, nos termos do respectivo estatuto,
não é cabível a anulação da deliberação e dos atos dela decorrentes,
com fundamento no art. 70, § 20, da Lei nO 9.504/97. (Precedente
TSE - Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nO 120959,
30.10.2012).
5. Demanda de impugnação julgada improcedente.
6. Estando regular o processo relativo à coligação o seu registro deve
ser deferido.
o recorrente apresenta as seguintes alegações:
ROzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAnO 0600085-48/TO 3
a) o recorrente enviou ofício ao TREfTO, comunicando que: i) o
diretório regional não cumpriu a determinação nacional de apoio aos partidos e
personalidades que se opuseram ao processo dezyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAimpeachment da então
presidente da República, Dilma Rousseff (diretriz firmada em 16.12.2017, de
cunho estritamente político); e ii) as decisões das convenções estaduais devem
ser submetidas ao crivo da Comissão Executiva Nacional do Partido dos
Trabalhadores;
b) o acórdão hostilizado se escora no § 1° do art. 7°, mas a norma
aplicável ao caso é a prevista no § 2° do referido artigo, segundo o qual "se a
convenção partidária de nível inferior se opuser, na deliberação sobre coligações,
às diretrizes legitimamente estabelecidas pelo órgão de direção nacional, nos
termos do respectivo estatuto, poderá esse órgão anular a deliberação e os atos
dela decorrentes";
c) a regra do § 1° não se aplica no caso em tela, pois o Estatuto do
Partido dos Trabalhadores deixa claros os mecanismos de escolha das suas
candidaturas e coligações, estabelecendo seu sistema normativo-político, que
deve reger o processo interno de convenção partidária;
d) não há, portanto, lacuna normativa a ser contemplada por norma
que exija publicação no DOU, devendo ser resguardado, in casu, o mandamento
constitucional de caráter nacional dos partidos políticos (inciso I do art. 17 da
Constituição da República);
e) o partido exerce juízo interno e discricionário sobre a
determinação de quais foram as principais personalidades que se opuseram ao
impeachment, de modo que, na espécie, a candidatura que mereceria seu apoio
seria a da senadora Kátia Regina de Abreu;
f) tal afirmação é tão corriqueira que a Revista Veja qualificou a
recusa do PTfTocantins em apoiá-Ia como "traição", conforme se verifica no link
ROzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAnO 0600085-48/TO 4
https://veja.abril.com.br/blog/radar/pt-vaiapoiar-adversario-de-katia-abreu-ao-
governo-de-tocantins. Além disso, a principal jornalista política do Tocantins,
Roberta Tum, discorreu sobre quão improvável seria a coligação de Carlos
Enrique Franco Amastha com o PT (https://www.t1noticias.com.br/minha-
opiniao/katia-e-amasthaamastha-e-katia-a-dupla-do-baruIho-ja-polariza-no-pos-
convencao/934991) ;
g) para corroborar sua tese, cita os seguintes precedentes do TSE:
REspe nO 199-55, ReI. Min. Raphael de Barros Monteiro Filho, PSESS de
26.9.2002; e REspe nO112-28, ReI. Min. Luiz Fux, de 4.10.2016;
h) no tocante à observância do devido processo legal partidário, a
orientação adotada pela Corte Regional não merece subsistir, pois tal exigência
não encontra respaldo no art. 7° da Lei nO9.504/97, devendo-se considerar, ainda,
a exiguidade dos prazos fixados no calendário eleitoral do pleito suplementar;
i) a anulação do ato do diretório regional implicouzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAdecisão extra et
ultra petita, pois tal não foi requerido pela coligação impugnada, além de ser
matéria afeta à competência da Justiça Comum, conforme iterativa jurisprudência
do TSE;
j) ao avaliar se o candidato a governador Carlos Enrique Franco
Amastha é ou não defensor da presidente Dilma Rousseff, o decisum impugnado
adentra o conteúdo político e o juízo discricionário do Diretório Nacional do PT
quanto à matéria;
k) caso a Justiça Eleitoral emita determinação de cunho político, só
poderia impor a coligação do PT com o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL),
visto que todas as demais coligações têm partidos que apoiaram o impeachment.
Postula a antecipação dos efeitos da tutela recursal, nos termos do
art. 932, 11,do Código de Processo Civil, com base nos seguintes argumentos:
ROzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAnO 0600085-48/TO 5
i) estão presentes os requisitos previstos no art. 300 do CPC (probabilidade do
direito e perigo de dano ou risco ao resultado útil do processo); e ii) as eleições
suplementares estão previstas para o dia 3.6.2018, e a continuidade do PT em
uma coligação que não é a devida expõe a imagem do partido perante a
sociedade tocantinense e seus militantes.
Ao final, requer: a) a antecipação dos efeitos da tutela recursal,
concedendo-se medida provisória de urgência para retirada liminar do PT da
referida coligação e de todos os materiais que ela divulgue a título de propaganda
eleitoral; e b) o conhecimento e provimento do presente recurso, a fim de
assegurar a autonomia e o conteúdo nacional dos partidos pOlíticos, julgando-se
procedente a impugnação formulada nestes autos, com a exclusão definitiva do
PT da Coligação A Verdadeira Mudança, e retificação do referido ORAP.
Em contrarrazões (10 nO 259232), a Coligação A Verdadeira
Mudança pugna pela manutenção do acórdão regional e alega, em síntese, que:
a) é cabível, na espécie, o recurso especial, o qual não deve ser
conhecido por não terem sido apontados dissídio jurisprudencial ou violação legal;
b) a coligação foi criada em 22 de abril de 2018, como -resultado de
ato convencional regularmente realizado por cada partido, conforme registro nas
atas individuais e na ata da coligação apresentadas à Justiça Eleitoral;
c) a decisão tomada pelo diretório nacional é despida de validade por
ter sido arbitrária e ilegal, motivo pelo qual a impugnação formulada, tendo como
base esse fato, foi devidamente rechaçada pelo TREfTO;
d) os arts. 156 a 159 do estatuto partidário, que dispõem sobre as
regras gerais para a efetivação de convenções destinadas a deliberar sobre a
escolha de partidos e a formação de coligações, não foram descumpridos pelo
diretório regional, o que afasta a aventada dissidência intrapartidária;
ROzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAnO 0600085-48/TO 6
e) não há resolução editada pelo órgão nacional, no prazo legal de
180 dias, contendo diretrizes ao órgão estadual quanto ao pleito que se avizinha;
f) o Tribunal azyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAquo não enfrentou o mérito político da decisão,
limitando-se a averiguar a existência ou não da alegada afronta de diretrizes do
órgão nacional, isso porque o ora recorrente fundamentou a impugnação no fato
de que a decisão da Comissão Executiva Estadual do Partido dos Trabalhadores
no Tocantins teria contrariado a resolução do diretório nacional sobre o processo
eleitoral geral de 2018, no sentido de que o "eixo central de apoio nos Estados e
no Distrito Federal aos partidos e personalidades que se opuserem ao processo
de impeachment da presidenta Dilma Rousseff" (fI. 22);
g) ainda que se considerassem aplicáveis as orientações contidas na
referida resolução do órgão nacional, não incidiu o diretório estadual em qualquer
afronta à aludida norma, pois, no Estado do Tocantins, o PSB, que é o partido do
"cabeça de chapa" da coligação recorrida, manifestou-se desfavoravelmente ao
processo de impeachment;
h) a convenção foi realizada democraticamente, conforme
determinação contida no art. 156, § 1°, no sentido de que "as Convenções Oficiais
deverão, obrigatoriamente, homologar as decisões democraticamente adotadas
nos Encontros realizados nos termos deste Estatuto e nas demais resoluções da
instância nacional do Partido", contando com a participação,_ além dos
convencionais, de lideranças e militantes do PT de 32 (trinta e dois) municípios do
estado, visto que a escolha da proposta de coligação com o candidato Carlos
Amastha do PSB com indicação do vice Célio A. de Moura obteve 7 (sete) votos
favoráveis contra 5 (Cinco) votos contrários;
i) é incabível, na espécie, a concessão de tutela antecipatória, posto
que não preenchidos os requisitos recursais.
ROzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAn°zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA0600085-48fTO 7
o recurso, inicialmente distribuído por sorteio, foi redistribuído à
minha relatoria com base no art. 260 do CE (10 n° 259721), e os autos eletrônicos
vieram conclusos em 21.5.2018, às 15h32.
É o relatório.
Decido.
Neste juízo de cognição sumária, não se vislumbram os requisitos
necessários à concessão da pretendida tutela de urgência.
Conforme relatado, o recorrente postula a atribuição de efeito
suspensivo ativo ao recurso ordinário interposto de acórdão em que se deferiu o
ORAP da Coligação A Verdadeira Mudança, objetivando a retirada liminar do PT
da referida coligação, bem como de todos os materiais divulgados a título de
propaganda eleitoral.
Tal providência, em um primeiro olhar, contrasta com a norma
prevista no art. 16-A da Lei n° 9.504/97, que assegura aos candidatos cujos
registros estejam sub judice "efetuar todos os atos relativos à campanha eleitoral,
inclusive utilizar o horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão e ter seu nome
mantido na urna eletrônica enquanto estiver sob essa condição, ficando a validade
dos votos a ele atribuídos condicionada ao deferimento de seu registro por
instância superior".
Nesse sentido, este Tribunal já decidiu que, "a teor do disposto no
artigo 16-A da Lei n° 9.504/1997, o candidato com registro pendente de decisão
judicial pode praticar todos os atos relativoszyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAà campanha, utilizando inclusive o
horário eleitoral gratuito no rádio e na televisão, assegurada a inserção do nome
na urna eletrônica, independentemente de liminar afastando os efeitos da glosa
verificada" (Rp n° 892-80/PI, ReI. Min. Marco Aurélio, PSESS de 9.10.2012).
ROzyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAn°zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA0600085-48!TO 8
In casu, a concessão da tutela de urgência afetaria, de imediato, a
esfera jurídica do candidato ao cargo de vice-prefeito, Célio Moura, e lhe
acarretaria danos irreversíveis, haja vista a exiguidade do período destinado à
campanha eleitoral, circunstância que recomenda exame mais pormenorizado das
questões de fundo por ocasião do julgamento do recurso, que ocorrerá com a
maior brevidade possível.
Por outro lado, conforme assentado pelo Tribunal a quo, "[ ...] a
defesa demonstrou que o candidato Carlos Amastha se posicionou
desfavoravelmente ao processo de impeachment da ex-presidente Sra. Dilma
Rousseff, tendo assinado carta em sua defesa junto com outros 14 (quatorze)
prefeitos de capitais (1023943)", o que afasta, ao menos neste juízo preliminar, a
suposta desobediência às diretrizes partidárias elencadas pelo ora recorrente.
Tais circunstâncias, a meu juízo, afastam o alegado periculum in
mora sob o argumento de que propaganda eleitoral feita pela coligação seria
prejudicial à imagem do partido.
Ante o exposto,zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAin d efiro o pedido de antecipação da tutela recursal.
À PGE para parecer de mérito no prazo de 48h (quarenta e oito)
horas.
Após, venham conclusos.
/-\~rasíli~, 22 de maio
\
M· . ti T ~v·· d- CInlS ~o arCISIO lelra e arvalho Neto
\_) Relator