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1 Autos n.º 0100823-57.2018.4.02.0000 Referência: IPL n.º 082/2018 - SR/DPF/RJ DECISÃO Trata-se de representação do MPF, após diligências efetuadas em cumprimento à decisão de fls. 319/395, requerendo para vários investigados a conversão de prisões temporárias em preventivas, e para quatro deles a suspensão e/ou proibição do exercício de funções públicas. Eis os requerimentos: Conversão da prisão temporária em prisão preventiva: INVESTIGADO 1. ANDRÉ GUSTAVO PEREIRA CORREA DA SILVA Deputado Estadual 2. FRANCISCO MANOEL DE CARVALHO Deputado Estadual 3. JAIRO SOUZA SANTOS Deputado Estadual 4. LUIZ ANTONIO MARTINS Deputado Estadual 5. MARCELO NASCIF SIMÃO Deputado Estadual 6. MARCOS ABRAHÃO Deputado Estadual 7. MARCUS VINÍCIUS DE VASCONCELOS FERREIRA Deputado Estadual 8. AFFONSO HENRIQUES MONNERAT ALVES DA CRUZ Secretário Estadual de Governo 9. CARLA ADRIANA PEREIRA Diretora de Registros do DETRAN/RJ 10. DANIEL MARCOS BARBIRATO DE ALMEIDA Enteado do Deputado LUIZ MARTINS 11. JOSÉ ANTONIO WERMELINGER MACHADO ex-chefe de gabinete do Deputado ANDRÉ CORREA 12. LEONARDO MENDONÇA ANDRADE Assessor do Deputado MARCOS ABRAHÃO 13. MAGNO CEZAR MOTTA Assessor do Deputado PAULO MELO Decretação da prisão preventiva originariamente: E: Nós vimos uma reportagem, uma entrevista, uma reportagem que ele deu, que ele vai tirar a vistoria dos Detran todinho. A: Aí vai ficar sem grana haha. Mas não faz diferença não… O Detran não acaba, só acaba a vistoria. (...) A: é… não… acaba a vistoria mas tem muito documento, tá tranquilo. “Vambora”. Vamo trabalhar, vamo trabalhar, “vambora”. TRF2 Fls 939 Documento No: 2320778-99-0-939-23-990144 - consulta à autenticidade do documento através do site http://portal.trf2.jus.br/autenticidade

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Autos n.º 0100823-57.2018.4.02.0000 Referência:

• IPL n.º 082/2018 - SR/DPF/RJ

DECISÃO

Trata-se de representação do MPF, após diligências efetuadas em cumprimento à decisão de fls. 319/395, requerendo para vários investigados a conversão de prisões temporárias em preventivas, e para quatro deles a suspensão e/ou proibição do exercício de funções públicas. Eis os requerimentos:

Conversão da prisão temporária em prisão preventiva:

INVESTIGADO 1. ANDRÉ GUSTAVO PEREIRA CORREA DA SILVA Deputado Estadual 2. FRANCISCO MANOEL DE CARVALHO Deputado Estadual 3. JAIRO SOUZA SANTOS Deputado Estadual 4. LUIZ ANTONIO MARTINS Deputado Estadual 5. MARCELO NASCIF SIMÃO Deputado Estadual 6. MARCOS ABRAHÃO Deputado Estadual 7. MARCUS VINÍCIUS DE VASCONCELOS FERREIRA Deputado Estadual 8. AFFONSO HENRIQUES MONNERAT ALVES DA CRUZ Secretário Estadual de

Governo 9. CARLA ADRIANA PEREIRA Diretora de Registros do

DETRAN/RJ 10. DANIEL MARCOS BARBIRATO DE ALMEIDA Enteado do Deputado LUIZ

MARTINS 11. JOSÉ ANTONIO WERMELINGER MACHADO ex-chefe de gabinete do

Deputado ANDRÉ CORREA

12. LEONARDO MENDONÇA ANDRADE Assessor do Deputado MARCOS ABRAHÃO

13. MAGNO CEZAR MOTTA Assessor do Deputado PAULO MELO

Decretação da prisão preventiva originariamente:

E: Nós vimos uma reportagem, uma entrevista, uma reportagem que ele deu, que ele vai tirar a vistoria dos Detran todinho.

A: Aí vai ficar sem grana haha. Mas não faz diferença não… O Detran não acaba, só acaba a vistoria. (...)

A: é… não… acaba a vistoria mas tem muito documento, tá tranquilo. “Vambora”. Vamo trabalhar, vamo trabalhar, “vambora”.

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INVESTIGADO

14. ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO Assessora do Deputado Estadual PAULO MELO

15. FABIO CARDOSO DO NASCIMENTO Assessor do deputado Estadual PAULO MELO

Suspensão do exercício da função pública:

INVESTIGADO ALCIONE CHAFFIN ANDRADE FABRI

Chefe de Gabinete do Deputado Estadual MARCOS ABRAHÃO

JORGE LUIS DE OLIVEIRA FERNANDES

Assessor do Deputado Estadual JAIRO SOUZA

Proibição de exercício de função pública:

INVESTIGADO LEONARDO SILVA JACOB Atual Presidente do DETRAN/RJ SHIRLEY APARECIDA MARTINS SILVA

ex-chefe de gabinete do Deputado Estadual EDSON ALBERTASSI

O MPF nada requer em relação aos investigados HARIMAN ANTONIO DIAS

ARAUJO, JENNIFER SOUZA DA SILVA, JORGE LUIZ RIBEIRO, MARIA MADALENA CARDOSO DO NASCIMENTO, MARCUS WILSON VON SEEHAUSEN e VINÍCIUS MEDEIROS FARAH.

Ordinariamente, na forma do art. 2º da Lei n.º 8.038/90 e art. 44 do RI/TRF2,

decido como Relator do feito todos os pedidos elaborados pelo MPF, haja vista que o prazo preclusivo disposto no art. 2º da Lei n.º 7.960/89, impõe decisão que o observe, dada a impossibilidade evidente de reunir extraordinariamente a 1ª Seção Especializada desta Corte em tempo, para a deliberação colegiada acerca do destino das medidas constritivas temporárias cumpridas em 08/11/2018, considerando que o pedido ministerial foi protocolado às 18:00h de hoje, 12/11/2018, e o prazo das temporárias se encerra amanhã.

Todavia, no que concerne às medidas requeridas em face dos Deputados

Estaduais, tendo em vista que, num primeiro momento, foram submetidos à 1ª Seção

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Especializada os pedidos que ora decido monocraticamente, serão também submetidas ao órgão colegiado, para referendo ou não, na primeira data disponível, conforme organização de pauta do Exmo. Presidente da 1ª Seção Especializada, em. Desembargador Federal IVAN ATHIÉ.

Passo a decidir. Quanto aos indícios de autoria e plausíveis elementos acerca da existência dos

fatos com relação aos investigados, reporto-me à fundamentação da decisão de fls. 319/395, referendada de forma unânime pela 1ª Seção Especializada (fl. 396) especialmente no que concerne aos Deputados Estaduais.

Num primeiro momento, aponta o MPF em seu requerimento, amparado

nos relatórios policiais até aqui elaborados acerca do cumprimento das diligências, muito provável "vazamento" anterior à execução das medidas adotadas com a deflagração da fase ostensiva da investigação policial.

Há indícios documentais e descrição de circunstâncias contextuais verificadas

no cumprimento dos mandados de busca e apreensão e de prisões temporárias indicando que alguns dos investigados e pessoas a eles relacionados teriam conhecimento prévio das ações policiais, não só se "preparando", mas atuando para o impedimento da arrecadação, alteração ou destruição de elementos de convicção.

É preciso destacar que não é um terceiro desinteressado que obstrui a colheita de

provas ilicitamente. Obviamente que, em regra, são os investigados ou pessoas diretamente ligadas a eles que têm interesse em criar os obstáculos à instrução. E com base nos relatórios policiais até aqui elaborados já é possível cogitar da eventual prática do crime descrito no art. 2º, §1 da Lei n.º 12.850/2013, a ser ainda melhor apurado.

Esse contexto aponta com verossimilhança a existência de pessoa de prontidão

para repassar informações aos investigados, valendo destacar que parte dos fatos descritos pelo MPF envolve exatamente a ingerência que os agentes políticos teriam na indicação e ocupação de cargos dentro das mais variadas estruturas estatais, que encontrou, para vários deles, corroboração nas medidas de busca e apreensão.

Direito a não se autoincriminar não se confunde com ações ilícitas de obstrução

à Justiça, impedimento de colheita de provas, sua destruição ou ocultação, tal como exarado na jurisprudência.

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PROCESSO PENAL - DECISÃO INTERLOCUTÓRIA - RECURSO CABÍVEL - PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE - ADVOGADO - INVIOLABILIDADE - DILIGÊNCIA -AUTORIZAÇÃO - VERIFICAÇÃO PELO JUIZ DE MATERIAL APREENDIDO - OBSERVAÇÃO DO SEGREDO DE JUSTIÇA. Embora seja razoável o entendimento de que, também no processo penal, o recurso cabível contra as decisões interlocutórias deveria ser, por analogia com o processo civil, o agravo de instrumento, o princípio da fungibilidade e uma firme orientação doutrinária e jurisprudencial recomendam a admissibilidade tanto da apelação quanto do mandado de segurança e até da correição parcial, em todos os casos que não se enquadram nas hipóteses de recurso em sentido estrito, especialmente quando houver risco de dando irreparável. O direito à inviolabilidade do escritório ou local de trabalho do Advogado, dos seus arquivos e dados, da sua correspondência e de suas comunicações, inclusive telefônicas ou afins, não é absoluto, podendo ser afastado em caso de busca e apreensão determinada por magistrado. Naturalmente, o poder judicial também não é ilimitado, o que implicaria inutilizar, na prática, a prerrogativa profissional: o juiz só pode determinar busca e apreensão em escritório ou local de trabalho de Advogado nas precisas hipóteses do artigo 240 do Código de Processo Penal. É dizer: o direito do Advogado à privacidade do seu escritório ou local de trabalho, dos seus arquivos e dados, da sua correspondência e de suas comunicações, inclusive telefônica ou afins, não vai além da medida estritamente necessária para a garantia do legítimo exercício da advocacia, em nome da liberdade de defesa e do sigilo inerente à essa atividade profissional, não podendo ser confundido com imunidade para a prática de crimes, para a ocultação de provas ou para o favorecimento de criminosos, hipóteses que legitima plenamente a busca e apreensão determinada por magistrado. Peculiaridades do caso concreto resolvidas por meio de autorização para que o juiz verifique, pessoalmente assegurada presença das partes, em segredo de justiça, o material apreendido no escritório de advocacia, buscando identificar a existência de elementos que possam ter relevância probatória, no processo penal. (TRF4: MS 2001.04.01.070250-0 – 8ª Turma – Rel. Des. Federal AMIR JOSÉ FINOCCHIARO SARTI – Dje 16/01/2002) PENAL. PROCESSUAL PENAL. MOEDA FALSA. CARACTERIZAÇÃO. FALSIDADE GROSSEIRA. INOCORRÊNCIA. FALSA IDENTIDADE.AUTODEFESA.INAPLICABILIDADE. 1. Para que se

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caracterize o delito de moeda falsa, é imprescindível que o produto fabricado ou alterado guarde semelhança com o verdadeiro, capaz de se confundir com o autêntico, não o desfigurando, contudo, o fato de a imperfeição ser percebida num exame atento. 2. Tendo o acusado, em seu poder, cédula falsa, sem propiciar ao julgador, com base em provas, um fundamento razoável na linha de defesa de que não sabia se tratar de moeda falsa, é de confirmar-se o decreto condenatório, nos termos do art. 289, § 1º CP. 3. Não se caracteriza autodefesa,e sim o crime de identidade falsa, o fato de o acusado atribuir-se falsa identidade no momento da sua prisão por autoridade policial, a fim de obter vantagem. 4. É certo que a inexistência do crime de perjúrio no Brasil (no sentido de que o acusado pode mentir sobre os fatos criminosos praticados, atribuí-los a outrem desconhecido etc. sem qualquer conseqüência jurídica para si), tem ensejado o entendimento, que já foi aceito inclusive no seio do Superior Tribunal de Justiça, de que a falsa identidade, buscando evadir-se da ação da justiça penal, como no caso de falsa identificação apresentada perante a autoridade policial, seria penalmente atípica. Todavia, deve ser preferido o entendimento de que o fato de ninguém acusado de crime ser obrigado a falar (CF, art. 5o, LXIII), depor contra si mesmo ou confessar-se (CPP, art. 186), não equivale à permissão de tentar se passar por terceira pessoa. Poderá o indivíduo se calar, omitindo até mesmo a sua identidade, ou produzir qualquer versão que lhe interesse dos fatos, incriminando até mesmo terceiros [desde que não os identifique, sob pena de cometimento de denunciação caluniosa (TJSP, RT 606/317)]. Mas não pode, para dar maior verossimilhança às suas alegações, forjar ou destruir provas, produzir falsificações ou usar de falsa identidade. Há previsão específica de cometimento de delito nestes casos, e a falsa identidade para obter vantagem de qualquer natureza é tipificada no artigo 307 do Código Penal. Cabe dar o contorno necessário à garantia do silêncio, não permitindo práticas, por parte de acusados, que terminam por fazer com que investigações e processos criminais sejam conduzidos de modo indevidamente favorável ao acusado, livrando-o das conseqüências de ações dolosas contra terceiros ou contra a administração da justiça. A auto defesa não enseja a permissão para o cometimento de novos crimes, e a tolerância quanto a isto corresponde a entendimento que não chega a encontrar apoio no próprio sistema de direito positivo. 5. Apelação a que se nega provimento. (TRF1: ACR 0036819-41.2005.4.01.3800 – 3ª Turma – Rel. Des. Federal OLINDO MENEZES – Dje 09/11/2007)

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Há também, em relação a alguns dos investigados, indicativos plausíveis e mais marcantes da reiteração de ações ilícitas que persistiram no tempo, com amparo sobretudo em movimentação de valores a descoberto e a margem do sistema bancário oficial, possível interposição patrimonial, manipulação de dinheiro em espécie de origem suspeita e guarda com perfil de ilicitude.

Mas a avaliação de toda a situação comporta análise individualizada.

1. DEPUTADO ESTADUAL PAULO MELO, ANDREIA CARDOSO DO NASCIMETNO, FABIO CARDOSO DO NASCIMETNO, MAGNO CEZAR MOTTA e CARLA ADRIANA PEREIRA.

No que concerne ao Deputado Estadual PAULO MELO, e se estende para

ANDREIA CARDOSO DO NASCIMENTO e FABIO CARDOSO DO NASCIMENTO, os elementos reunidos ao cabo das diligências evidenciam que, o primeiro, e os outros dois, apesar de já estarem respondendo criminalmente pelos fatos constantes dos autos n.º 0100523-32.2017.4.02.0000 (operação Cadeia Velha), inclusive tendo FABIO e ANDREIA sido presos preventivamente e, posteriormente contemplados com solturas deferidas por esta Corte em habeas corpus concedidos contra a manutenção de suas prisões pelo MM. Juiz Federal MARCELO BRETAS, nos autos desmembrados da operação "Cadeia Velha", vêm, mais uma vez, a demonstrar que adotam condutas no sentido de impedir a manutenção e colheita de elementos de convicção, com suas potenciais destruição e ocultação.

Com efeito, é o que demonstram os documentos apreendidos e referidos por

fotografia na própria representação que o MPF ora apresenta. Em documentos apreendidos na residência de ANDREIA CARDOSO DO

NASCIMENTO, assessora do Deputado Estadual PAULO CÉSAR MELO DE SÁ, que por sua vez, mesmo preso a mais de um ano, de fato, pelo que se percebe, prossegue orientando seus asseclas de dentro do presídio onde se encontra, teria recebido orientações escritas para destruir elementos de convicção, apagando registros de conversas, emails, fotos em redes sociais, dentre outras ações.

Esses documentos manuscritos apresentam grafia em tudo semelhante a outros

documentos já arrecadados com o irmão de ANDREIA e também assessor do Deputado PAULO MELO, o investigado FABIO CARDOSO DO NASCIMENTO. O MPF destaca ainda que ao final desse manuscrito com indicações para destruição e ocultar evidências consta a anotação: "digitar esse papel, não circular com isso com minha letra não, por favor".

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Há ainda um item do manuscrito onde consta o registro “(eu + Andreia)”, em mais uma indicação de que seria documento escrito por FABIO CARDOSO. Chamam a atenção também os seguintes trechos do manuscrito:

“30. Preciso de cópia das operações: decisão, inquérito policial, Ministério Público. Operações: Rio 40 graus + Eficiência + Tolypeutes + Fatura Exposta + Retatouille + Quinta do Ouro + Saqueador + Xepa + Calicute + Ponto Final”

“31. Vc precisa continuar conversando com amigo, outras operações vão surgir com continuação das investigações das empresas citadas. Vão tentar manter ele aqui com novos dados. Veja se estão agindo e fazer o que tem que ser feito.”

Nesse mesmo documento consta determinação para excluir mensagens

eletrônicas trocadas com as pessoas de “Alessandro, Mário, Vinícius, Guilherme, Paulo Afonso Trindade Jr.”

Como bem destacou o MPF: "na operação Cadeia Velha, Alessandro Carvalho

de Miranda, Mário Peixoto e Vinícius Peixoto apresentam vínculos societários e eleitorais (doação de campanha) com PAULO MELO. A família Peixoto também aparece na operação Quinto do Ouro, vinculada ao pagamento de propina para o ex-conselheiro do TCE/RJ, Jonas Lopes".

Constam até mesmo indicações acerca do tratamento a ser dado aos registros de

câmeras dos prédios onde se daria o suposto recebimento de propina. Sendo de se observar, que a obtenção de vídeos constantes de câmeras situadas em locais indicados como de negociatas em torno de entrega de valores em dinheiro, é um dos meios de arrecadação de provas que atualmente se torna de essencial utilização pelas autoridades da persecução.

Por seu turno, documentos apreendidos na residência de CARLA ADRIANA e

MAGNO MOTTA confirmaram que esses investigados, vinculados a PAULO MELO já na ocasião da operação "Cadeia Velha", passaram a atuar diretamente na campanha da esposa do Deputado, FRANCIANE MOTTA, eleita Deputada Estadual.

De fato não se poderia, por si só, incriminar a atuação política de pessoas no

sentido de atuarem em campanhas eleitorais, não fosse, entretanto, o fato de que, no caso sob exame é correto o argumento do MPF no sentido de que isto indicaria persistência da atuação do mesmo Deputado preso numa tentativa de prosseguir através de pessoa a ele ligada numa espécie de "nova legislatura de fato". Ademais, não se perca de vista que, tal atuação em benefício da legislatura da esposa, como se percebe se valeu da estrutura física e de funcionários do DETRAN.

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Todavia, afigura-se exagerada a prisão preventiva destes dois investigados MAGNO CEZAR MOTTA e CARA AFRIANA PEREIRA, com base neste substrato de suas atuações, no bojo da presente investigação criminal. É que, ao contrário de FABIO e ADNREIA que, mesmo já incluídos numa primeira denúncia, presos e soltos, retornam a atividade em tese delituosa de forma mais marcante, o que de todo é incompatível com o prosseguimento dos mesmos em liberdade, MAGNO e CARLA, pelo que relata o MPF, não apresentaram o mesmo nível de interferência, com suas condutas, para que seja decretada a prisão preventiva, superando a alternativa de medidas menos drásticas.

Neste diapasão também convém observar que, como expresso pelo MPF, com

base em informação de junho deste ano, da Polícia Federal, FABIO e ANDREIA também atuaram no sentido de, através de sua mãe, MARIA MADALENA e das secretárias NATÁLIA e MARIA RAQUEL, prosseguir articulando operações financeiras em tese para ocultar patrimônio, o que não é nada compatível com a função de quem acabara de ser solto beneficiado por habeas corpus desta Corte.

Sendo assim, tem razão o MPF, porquanto, para o Deputado Estadual PAULO

MELO, cuja prisão preventiva já foi decretada para garantia da ordem pública em razão de sua atuação mais incisiva nos crimes investigados, agora com outro viés que não integrou a denúncia da operação "Cadeia Velha", como já expressei na decisão anterior, reforça a necessidade da prisão preventiva por conveniência da instrução criminal, haja vista a interferência ilícita indireta na colheita de provas.

Em relação a FABIO e ANDREIA, não se olvide as suas condições de pessoas

já envolvidas em uma ação penal, soltas com um voto de confiança da Justiça, prosseguindo na interferência quanto a busca de elementos probatórios, obstruindo-a.

Destarte, é de se decretar a prisão preventiva de FABIO e ANDREIA

CARDOSO DO NASCIMETNO, por conveniência da instrução criminal e garantia da ordem pública em razão de sua insistência em violar a lei penal e adotar condutas para dificultar a reunião de elementos de convicção.

No que concerne a CARLA ADRIANA PEREIRA e MAGNO CEZAR

MOTTA, reputo suficiente a suspensão do exercício da função pública que desempenhavam no DETRAN e ALERJ, respectivamente, a proibição de acesso e freqüência ao DETRAN e a ALERJ, para ambos, lugares que têm relação com os fatos, bem como a proibição de se ausentarem do país e a entrega de seus passaportes, na forma do art. 319, inciso II, IV e VI e art. 320 do CPP.

2. DEPUTADO ESTADUAL JAIRO SOUZA SANTOS

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No cumprimento da busca e apreensão na residência do Deputado Estadual JAIRO SOUZA SANTOS as autoridades policiais encontraram apenas um único computador com todos os arquivos e histórico de navegação apagados. Constatou-se que o Deputado Estadual e sua filha teriam saído dos grupos de whatsapp exatamente no dia que antecedeu o cumprimento dos mandados.

Esses fatos demonstram, a meu ver, como já realçado pela DPF em relatórios

prévios, que a operação "Furna da Onça" de fato teve vazamento benéfico evidente em relação a alguns dos acusados, o que não pode passar despercebido.

Num contexto em que, a princípio se imputa aos parlamentares estaduais uma

interferência em uma série de órgãos públicos, colhendo-se de uma das planilhas que serviu de base ao prosseguimento das investigações que, até mesmo nas polícias, há interferência na indicação de cargos, e sendo o investigado do qual se trata, oriundo da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro, é perfeitamente plausível crer, diante das circunstâncias em que deixou sua casa na madrugada anterior à execução dos mandados e apagou dados de suas mídias, que foi um dos beneficiários de algum esquema de "informação ilícita", a respeito das ações policiais que eventualmente pudessem incidir sobre ele.

Mas não é só, porque em relação a este investigado, aponta o MPF, com base em

relatórios da Receita Federal que apresentou movimentação financeira incompatível com os rendimentos declarados em período convergente com os fatos sob apuração, além de inconsistências em suas declarações de renda e bens, chamando a atenção para expressivas doações em dinheiro efetuadas aos seus filhos entre 2008 e 2016.

Os servidores de seu gabinete também apresentaram movimentação financeira

suspeita, que superava 10 milhões de reais, como já constou da decisão de fls. 319/395, enquanto o assessor JORGE LUIS apresentou destacado envolvimento no "loteamento de cargos", conforme diálogos também já ali tratados.

Veja-se que, em relação a essas movimentações financeiras, há ainda em anos

próximos ausência na declaração de renda sobre aquisição de veículos de luxo, relatório de inteligência e áudios captados em interceptações telefônicas dando conta de movimentações em datas muito próximas a presente (2016 e 2017).

Todo esse contexto, demonstra que, além de haver indicativos fortes de que o

Deputado Estadual CORONEL JAIRO atua e mantém algum sistema capaz de dificultar a reunião de provas em face da sua pessoa, e no que diz respeito a movimentação de valores a descoberto, indicativo de proveniência ilícita de fonte e

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sua eventual dissimulação, também prossegue sugerindo fortemente reiteração criminosa.

Destarte, o pedido de conversão em prisão preventiva por conveniência da

instrução criminal e garantia da ordem pública é plausível com relação ao Deputado Estadual JAIRO SOUZA SANTOS.

Do mesmo modo, acolho, porque requerido pelo órgão ministerial, como

suficiente para o caso concreto, em alternativa à prisão preventiva, a suspensão do exercício da função pública de JORGE LUIS DE OLIVEIRA FERNANDES, bem como proibição do acesso ou frequência à ALERJ, já que os fatos investigados se relacionam com o referido local, bem como a proibição de se ausentar do país e a entrega de seu passaporte, na forma do art. 319, inciso II, IV e VI e art. 320 do CPP.

3. AFFONSO HENRIQUES MONNERAT Já o Investigado AFFONSO HENRIQUES MONNERAT teria recebido a

equipe policial às 06:00h da manhã vestido socialmente e com seu diploma de formação acadêmica em envelope devidamente separado. Em sua residência não foram localizados computadores ou documentos, sendo também constatado a partir de acesso ao seu aparelho celular (medida amparada na decisão de fls. 318/394 deste Relator) que conversas de aplicativo (whatsapp) teriam sido apagadas, restando pouquíssimos diálogos, tudo a demandar maior esforço das autoridades da persecução com vistas a recuperar dados no aparelho celular deste investigado.

Este contexto demonstra, a meu ver, que houve vazamento evidente, capaz de

criar obstáculos ilícitos à arrecadação de provas, sua alteração e ou destruição. Ademais, nota-se que AFFONSO MONNERAT, ex-chefe de gabinete de

WILSON CARLOS, também tem contra si reunidos elementos que apontam sua interferência no que diz respeito a um sistema que o MPF cada vez mais apresenta como uma das vertentes da corrupção existente no Governo do Estado do Rio de Janeiro, que é exatamente as nomeações por indicação para diversos cargos valendo destacar o que afirma com muita propriedade o MPF, em cujo trecho, por sua conclusão didática, se encontra a realidade dos fatos ilícitos indicados e que a seguir se transcreve:

"Essas provas precisam ser lidas em conjunto com aquelas já exploradas no

requerimento inicial. Embora possa se considerar natural uma certa proximidade entre deputados estaduais e o presidente do Detran/RJ – na medida em que a Alerj tem atribuição para deliberar sobre questões de trânsito e pode ser do interesse dos parlamentares entender dinâmicas e necessidades da autarquia –, esses contatos fonados e presenciais, não só por sua frequência, mas também porque nem todos os deputados estaduais ligavam ou

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iam até o Detran/RJ, respaldam a existência de uma aproximação fisiologista entre certos parlamentares e a presidência da autarquia. No mesmo sentido, os assuntos tratados na reunião muitas vezes eram de natureza particular, considerando aquilo que foi expressamente indicado como motivo do encontro nas planilhas.

Na verdade, em cerca de quatro meses, se considerada a quantidade total de

deputados estaduais, constata-se que a grande quantidade de registros envolvendo os integrantes do Legislativo era composta basicamente de muitas incursões dos mesmos parlamentares, muitos dos quais os ora requeridos, o que, dado o contexto da presente investigação, torna-se mais uma prova das relações espúrias que se estabeleceram entre a Alerj e o Detran/RJ, destinadas exclusivamente a atender interesses privados dos agentes públicos e do esquema criminoso, e, ainda, do vínculo subjetivo entre diversos investigados em organização criminosa."

Ante o exposto, acolho o pedido de conversão em prisão preventiva por

conveniência da instrução criminal e garantia da ordem pública. 4. MARCUS VINICIUS DE VASCONCELOS FERREIRA ("NESKAU") Relata o MPF que não foram encontrado computadores nas residências

diligenciadas (seja no Rio de Janeiro ou em Petrópolis), tampouco em seu Gabinete na ALERJ, o que também o coloca entre os alvos suspeitos de terem se beneficiado do "vazamento" das informações afetas à operação, haja vista que, não é crível, na realidade de hoje, que em nenhum desses endereços tenha sido possível encontrar qualquer espécie de referência documental em aparelhos de informática de alguém que trabalha como Deputado Estadual.

Mas não é só, pois, da análise até aqui desenvolvida pela Receita Federal

observa-se movimentação financeira superior aos rendimentos declarados, variação patrimonial a descoberto e aquisição de imóveis e veículos que não constaram de suas declarações de bens, isto em relação a datas muito próximas, como o ano de 2017, me que quatro veículos de luxo foram avaliados em valores superiores a R$ 140.000,00, o que vai ao encontro das declarações prestadas pelos colaboradores, retiradas também dos sistemas de contabilidade de propinas.

Situação absolutamente semelhante foi constatada pelo Fisco em relação ao seu

assessor MARCUS WILSON, o que até aqui reafirma a mesma linha de risco já delineada na decisão de fls. 319/395. Veja-se que, em relação a ele, que é apontado como o "laranja" do Deputado "NESKAU", a movimentação financeira no período de 2012 a 2017 chegou a ser 7 (sete) vezes superior aos rendimentos lícitos declarados, deixando ele também de declarar a aquisição de veículos, sendo um deles, em valores superiores a R$ 110.000,00.

Nesse contexto, somando-se uma provável obtenção de informações prévias

para o fim de suprimir provas e a atualidade de algumas movimentações financeiras a

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demonstrarem reiteração em condutas ilícitas como as que aventa o MPF, é de se converter a prisão temporária em preventiva, novamente por conveniência da instrução criminal e para garantia da ordem pública.

5. DEPUTADO ESTADUAL ANDRÉ CORREA. Na representação o MPF aponta várias mensagens de email obtidas a partir da

quebra de sigilo telemático (petição n.º 2018.74.02.000014-3 - ainda em curso) e compatíveis com o período dos fatos investigados atestando os contatos entre o Deputado Estadual ANDRÉ CORREA, EDSON ALBERTASSI, PAULO MELO e também o então secretário de governo WILSON CARLOS e AFFONSO MONNERAT, este então chefe de gabinete da secretaria estadual de Governo. Dessas mensagens extrai-se claramente que havia não só a indicação de cargos por parte dos parlamentares, mas o completo comando sobre postos ocupados.

Em determinada mensagens o Deputado ANDRÉ CORREA, bastante irritado

com a exoneração de servidora que seria indicação sua afirma: "Querido Albertassi acordo que não foi cumprido. Lamento não ser informado. Comunico que vo pedir a substituição de todos onde sou votado."

As conversas apontam não só para a atuação dos Deputados Estaduais, mas

implicam também AFFONSO MONNERAT e o próprio WILSON CARLOS, denunciado múltiplas vezes juntamente com Sergio Cabral, na articulação desse esquema de "loteamento de cargos". Isso vai ao encontro do que afirmam os colaboradores CARLOS MIRANDA e SERJÃO.

Em algumas mensagens destacadas pelo MPF o Deputado Estadual ANDRÉ

CORREA trata com WILSON CARLOS acerca da indicação de postos de trabalho em delegacias, o que novamente reforça a influência que podem em tese ostentar, inclusive nas instituições policiais do Estado do Rio de Janeiro, também na linha de obter informações privilegiadas anteriormente ação das autoridades policiais na busca de provas, sendo certo que a instrução ainda não se encerrou.

A análise fiscal do Deputado ANDRÉ CORREA e das pessoas a ele

relacionadas na investigação indica movimentação financeira absolutamente discrepante dos rendimentos líquidos declarados em período convergente com os fatos sob apuração. Frisa o MPF que o assessor do Deputado, o investigado JOSÉ ANTONIO WERMELINGER entre 2014 e 2017 teria apresentado movimentação financeira "mais de cem vezes" superior aos rendimentos declarados e em 2016 movimentou cerca de R$ 4 milhões de reais sem origem conhecida.

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Isso demonstra, a meu sentir, que a atualidade da movimentação ilícita de valores está caracterizada, tendo em vista que um dos últimos exercícios em que isso se deu é exatamente o de 2017.

Na residência do citado assessor foram apreendidos em espécie R$ 60.000,00, o

que não é realmente compatível com uma manipulação e guarda lícita de valores, sobretudo diante do que se atribui a este assessor, como sendo uma espécie de "recebedor de valores" a cargo do Deputado.

Sendo assim, tem razão o MPF, e em relação tanto ao Deputado ANDRE

CORREA, quanto a ANTONIO WERMELINGER converto a prisão temporária em prisão preventiva para a conveniência da instrução criminal e garantia da ordem pública em face a reiteração e gravidade concreta dos fatos.

6. DEPUTADO ESTADUAL MARCOS ABRAHÃO É exatamente do Deputado MARCOS ABRAHÃO a frase da epígrafe desta

decisão, extraída de diálogo entre o Deputado e sua esposa EUCIMAR no qual tratam de um eventual fim das vistorias no Detran/RJ, assunto recentíssimo na mídia carioca, e cujo teor do diálogo realmente consubstancia aquilo que o MPF vem bradando como sendo um foco de corrupção e, por isso, de interesse na manutenção da indicação de cargos:

Eucimar: Nós vimos uma reportagem, uma entrevista, uma reportagem que ele deu, que ele vai tirar a vistoria dos Detran todinho.

Abrahão: Aí vai ficar sem grana haha. Mas não faz diferença não… O Detran não acaba, só acaba a vistoria.

Eucimar: Não, eu sei amor, acaba a vistoria, ué. Sei lá aonde faz vistoria aqui em Rio Bonito.

Abrahão: é… não… acaba a vistoria mas tem muito documento, tá tranquilo. “Vambora”. Vamo trabalhar, vamo trabalhar, “vambora”.

Do mesmo modo, há diálogos captados em fonogramas, que são documentos,

entre o Deputado MARCOS ABRAHÃO e seu assessor LEONARDO MENDONÇA ANDRADE que em tudo reforçam a atuação de ambos no "loteamento de cargos", no que o Deputado questiona seu assessor onde haveria vaga, em quais postos não teria "só gente nossa".

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Tudo isso, configura realmente a tese ministerial de que há no serviço público

estadual um interesse nada republicano na negociação desses cargos, o que examinado em face do contexto geral que as investigações estampam, demonstra que há ilícitos ainda em curso no que concerne à distribuição desses cargos e os motivos pelos quais ela se dá.

Note-se que no celular apreendido com ALCIONE CHAFFIN, chefe de gabinete

do Deputado MARCOS ABRAHÃO foram verificadas mensagens de aplicativo tratando de indicações em outros órgãos, como na Fundação Leão XIII, a corroborar, como já constava da planilha apreendida em computador do Deputado EDSON ALBERTASSI por ocasião da operação "Cadeia Velha", que esse loteamento de cargos se daria em vários órgãos públicos, não estando adstrito ao Detran/RJ.

A Receita Federal constatou para o Deputado movimentação incompatível com

os rendimentos declarados em período convergente com os fatos e ainda atuais (2017), além de uma série de bens móveis não declarados, o que igualmente se verificou em relação aos assessores ALCIONE CHAFFIN e LEONARDO ANDRADE.

Na residência do Deputado MARCOS ABRAHÃO foram apreendidos R$

50.000,00 em espécie, me situação incompatível com a guarda lícita destes valores. Sendo assim, cabível, como requer o MPF, a conversão da prisão temporária

em preventiva para o Deputado MARCOS ABRAHÃO e de LEONARDO MENDONÇA ANDRADE, para garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal.

Do mesmo modo, acolho, porque requerido pelo órgão ministerial, como

suficiente para o caso concreto, em alternativa à prisão preventiva, a suspensão do exercício da função pública que desempenhava ALCIONE CHAFIN, bem como proibição do acesso ou frequência à ALERJ, já que os fatos investigados se relacionam com o referido local, sem contar ainda a entrega de seu passaporte com a proibição de ausentar-se do país (art. 319 e 320 do CPP).

7. DEPUTADO ESTADUAL LUIZ MARTINS. Informa o MPF que foram apreendidos no gabinete do Deputado documentos

referentes a indicações de cargos em vários outros órgãos estaduais como a FAETEC e a Fundação Leão XIII e até na Secretaria Estadual de Saúde (esta última fortemente implicada em operações policiais já deflagradas e em curso na 7ª Vara Federal Criminal/SJRJ, como as operações Fatura Exposta, Ressonância e S.O.S).

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Segundo já apontado na decisão de fls. 319/395, foi verificado pela Receita

Federal movimentação muito superior aos rendimentos declarados por parte de seu enteado, o investigado DANIEL BARBIRATTO, apontado pelos colaboradores como intermediário no recebimento da propina. Nesse particular, destacou o MPF que DANIEL, além de patrimônio a descoberto entre 2012 e 2017, teve apreendido em sua residência mais de R$ 730.000,00, US$ 23.000 e 11.000 Euros, em espécie, além de vários relógios de alto valor, tudo a evidenciar guarda e manipulação de recursos com aparência de ilicitude e em harmonia com a alegação ministerial de sua atualidade.

Sendo assim, é de se converter as prisões temporárias decretadas em face do

Deputado Estadual LUIS MARTINS e de DANIEL BARBIRATTO em prisões preventivas com vistas a garantia da ordem pública e da instrução criminal.

8. DEPUTADOS ESTADUAIS EDSON ALBERTASSI e JORGE

PICCIANI. Muito embora não tenha sido pedida a conversão da prisão temporária de

SHIRLEY APARECIDA em prisão preventiva, é possível constatar em relação ao Deputado EDSON ALBERTASSI, que na casa de sua ex-chefe de gabinete, a senhor SHIRLEY foram apreendidas planilhas de controle e indicação de cargos.

Note-se, como já constou da decisão de fls. 319/395 que SHIRLEI mesmo

depois de exonerada do cargo na ALERJ e com a prisão do Deputado ALBERTASSI teve captados diálogos tratando da indicação de um auditor para a Fundação Infância e Adolescência (FIA), demonstrando que o referido Deputado, de alguma forma, ainda se mantém ativo no fragmento da investigação que concerne à manipulação de cargos em interesse na obtenção de vantagens indevidas.

Mas não só ele, como o Deputado JORGE PICCIANI, tiveram suas prisões

preventivas decretadas no primeiro momento em acolhimento ao pedido do MPF muito mais pelo fato de estarem atrelados a uma nova vertente de pagamento de vantagem indevida, que não a que já foi objeto de denúncia na operação "Cadeia Velha".

sendo assim, em relação a eles, cabe agora apenas manter a prisão preventiva, tal

como decretada neste processo às fls. 319/395. Anotações manuscritas apreendidas na residência da investigada confirmam que

essa ingerência nos cargos persiste e até mesmo apontam indicação de contato com o

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Deputado Estadual RAFAEL PICCIANI, líder do MDB na ALERJ, acerca de um desses postos.

9. DEPUTADO ESTADUAL CHIQUINHO DA MANGUEIRA Aponta o MPF uma suspeita de que o Deputado CHIQUINHO DA

MANGUEIRA, pelas circunstâncias em que foi preso, também teria se valido de informações privilegiadas para subtrair elementos de prova ao processo.

Embora em relação a ele essa circunstância não esteja tão evidente, o que quase

lhe valeu a possibilidade de obter a substituição de usa prisão temporária por medida alternativa à prisão preventiva, fato é que, as circunstâncias de atuação ilícita no que diz respeito a movimentação de valores evidenciam alguma reiteração de conduta próxima no tempo.

Veja-se que, no cumprimento do mandado de prisão temporária foram

apreendidos em seu escritório em Vila Isabel mais de R$ 80.000,00 em espécie, o que não é compatível com a guarda lícita de valores, sobretudo diante das informações prestadas pelos colaboradores, calcadas em contabilidades submetidas a perícias prévias, de que este Deputado recebia com frequência e em larga escala valores em espécie.

Ocorre que, consta da representação originária, que o referido parlamentar teria

em 2017, movimentado mais de R$ 30 milhões de reais, o que recomenda, diante das circunstâncias, tal como requerido pelo MPF, a conversão de sua prisão temporária em prisão preventiva, para garantia da ordem pública e conveniência da instrução criminal, já que nesta toada, apresenta-se concretamente graves os fatos a ele imputados como parlamentar.

Destarte, converto a prisão temporária do Deputado Estadual FRANCISCO

MANOEL DE CARVALHO em prisão preventiva, para garantia da ordem pública e asseguração da instrução criminal.

10. DEPUTADO ESTADUAL MARCELO SIMÃO A Receita Federal constatou para o Deputado movimentação incompatível com

os rendimentos declarados, tal como os demais, entre os anos de 2007 e 2017, para o qual apontou uma diferença de mais de R$ 13 milhões de reais nesses 10 anos.

Todavia, numa análise mais detida dos quadros juntados pela Receita Federal e

utilizados pelo MPF, o que se verifica é que nos anos mais próximos ao da presente investigação, os valores disponíveis em espécie seriam da ordem de cerca de R$

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5.500,00, sendo certo que as diferenças mais marcantes remontam aos anos de 2011 e 2012.

Ademais, o referido Deputado não teve em seus endereços arrecadados em seus

endereços valores em espécie, bem como não houve em relação a ele a apuração de condutas caracterizadoras de eventual impedimento de colheita de provas ou destruição das mesmas.

Assim, na linha de adotar um critério pautado por essas circunstâncias que

foram levadas em consideração para os casos acima, a situação do Deputado Estadual MARCELO SIMÃO recomenda medida menos gravosa a qual se encontra na proibição de frequentar a ALERJ, eis que atrelada aos fatos que lhe são imputados, bem como a proibição de se ausentar do país e a entrega de seu passaporte, na forma do art. 319, inciso II, IV e VI e art. 320 do CPP.

Quanto à submissão das medidas aqui previstas à ALERJ, me reporto ao que já

exarado na decisão originária:

" Quanto aos pedidos de prisões dos Deputados Estaduais sobre os quais se delibera colegiadamente, é de se frisar que o art. 53, § 2º da CF aplica-se a eles, por força do art. 27 § 1º da CF, e há, por conta disso, o art. 102 da CERJ, que estabelece imunidade formal quanto à aplicação da prisão preventiva. Essa imunidade formal vem sofrendo duras críticas, porquanto tendo como origem histórica o liberalismo clássico em que o que se impediria com ela, era a interferência arbitrária e desmedida de soberanos despóticos na atuação de parlamentares, com o tempo ela passou a ser escudo para a impunidade de integrantes do legislativo que por meio de práticas delituosas abusam do mandato e traem o voto popular. O próprio c. STF já decidiu que nem mesmo as imunidades parlamentares são absolutas1. Essa questão, aliás, já foi definida pela 1ª Seção Especializada por ocasião dos julgamentos acerca das prisões decretadas na operação "Cadeia Velha" (autos 0100524-17.2017.4.02.0000), de modo que não tem lugar a submissão das medidas cautelares aqui impostas à deliberação prévia da ALERJ. Como destaquei naquela ocasião, a Constituição do Estado do Rio de Janeiro, em seu art. 102, alargou o que a Constituição Federal lhe remeteu, já em desacordo com os limites da Carta Federal. A Constituição do Estado do Rio de Janeiro fala em "licença e seu indeferimento", bem como em "autorização" para a prisão e o processo criminal, ali onde a Constituição da República fala em "resolver" sobre a prisão e "sustar" processo criminal já iniciado.

1 STF - HC 89.417 – 1ª Turma, julgado em 22/08/2006, DJ de 15/12/2006.

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De antemão, portanto, essas regras da Constituição Estadual devem ser contidas pelo que estabelece a Constituição Federal, em razão do princípio federativo, que orienta inclusive a regra de contenção da atuação dos Estados: "Art. 25. Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição. § 1º São reservadas aos Estados as competências que não lhes sejam vedadas por esta Constituição." Nessa esteira, quando a Constituição Federal dispõe que a Casa Legislativa resolverá sobre a prisão, está limitando o ato legislativo à espécie de prisão da qual se trate. Se flagrante por crime inafiançável, considerando que esse tipo de prisão tem natureza administrativa e pode ser feita até por qualquer do povo, o Legislativo estaria mais livre para resolver sobre sua legalidade. Mas tratando-se de prisão preventiva, de natureza judicial, somente o Poder Judiciário pode resolver sobre sua revogação, limitando-se o Legislativo, nessas prisões, a resolver sobre outras questões dela decorrentes, como a abertura de processo ético-disciplinar e coisa dessa natureza (o que aliás até o momento não iniciou com relação aos Deputados Estaduais presos na Operação Cadeia Velha, como já destaquei no tópico 9) Não cabe à ALERJ reapreciar decisão judicial e não pode “revogar” prisão decretada por órgão judiciário federal e menos ainda produzir resolução que seja irregularmente utilizada como alvará de soltura, como ocorreu por ocasião da operação "Cadeia Velha" (autos 0100524-17.2017.4.02.0000, dependente da ação penal n.º 0100523-32.2017.4.02.0000). Essa situação é inclusive objeto da Ação Direta de Descumprimento de Preceito Fundamental n.º 4972 ajuizada perante o c. STF pela Procuradoria Geral da República. A Constituição de 1988 não deu competência ao Poder Legislativo para decretar prisões, razão pela qual, também não é legítimo a esse Poder expedir mandados de prisão e nem o seu inverso, o alvará de soltura. Essa competência é apenas do Judiciário. No caso, do TRF da 2ª Região: "Art. 5º LXI - ninguém será preso senão em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada de autoridade judiciária competente, salvo nos casos de transgressão militar ou crime propriamente militar, definidos em lei Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar: IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral; V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente; VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem econômico-financeira; " O Supremo Tribunal Federal e o Superior Tribunal de Justiça, em dois casos emblemáticos, já limitaram a decisão sobre prisões cautelares ao Poder Judiciário, submetendo-as à reserva de jurisdição.

2 A ADPF já com 5 votos pela ilegalidade da Resolução emitida pela ALERJ

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O primeiro deles tratava da possibilidade ou não das Comissões Parlamentares de Inquérito decretarem prisões preventivas. "EMENTA: - Mandado de segurança. Ato do Presidente da Comissão Parlamentar de Inquérito do Senado Federal e do Presidente do Banco Central do Brasil. 2. Desbloqueio de proventos do impetrante depositados em sua conta corrente no Banco do Brasil S.A 3. Liminar deferida para suspender, até o final julgamento do mandado de segurança, a indisponibilidade dos valores relativos aos proventos de aposentadoria. 4. Relevantes os fundamentos do pedido e periculum in mora. Caráter alimentar dos proventos de aposentadoria. 5. Parecer da Procuradoria-Geral da República pelo deferimento do writ. 6. Afastada preliminar de incompetência do S.T.F. 7. Entendimento do STF segundo o qual as CPI'S não podem decretar bloqueios de bens, prisões preventivas e buscas e apreensões de documentos de pessoas físicas ou jurídicas, sem ordem judicial. Precedentes. 8. Mandado de segurança deferido, de acordo com a jurisprudência do STF, para anular o ato da CPI, que decretou a indisponibilidade dos bens do impetrante, explicitando-se, porém, que os bens do requerente continuarão sujeitos à indisponibilidade antes decretada pelo Juiz Federal da 12ª Vara da Seção Judiciária de São Paulo, em ação civil pública, sobre a matéria." (STF - MS 23455/DF - Relator: Ministro NERI DA SILVEIRA - Pleno - Julgamento: 24/11/1999) "E M E N T A: COMISSÃO PARLAMENTAR DE INQUÉRITO - QUEBRA DE SIGILO ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADA - ATO PRATICADO EM SUBSTITUIÇÃO A ANTERIOR QUEBRA DE SIGILO QUE HAVIA SIDO DECRETADA SEM QUALQUER FUNDAMENTAÇÃO - POSSIBILIDADE - EXISTÊNCIA SIMULTÂNEA DE PROCEDIMENTOS PENAIS EM CURSO, INSTAURADOS CONTRA O IMPETRANTE - CIRCUNSTÂNCIA QUE NÃO IMPEDE A INSTAURAÇÃO DA PERTINENTE INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR SOBRE FATOS CONEXOS AOS EVENTOS DELITUOSOS - REFERÊNCIA À SUPOSTA ATUAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO ESTADO DO ACRE, QUE SERIAM RESPONSÁVEIS PELA PRÁTICA DE ATOS CARACTERIZADORES DE UMA TEMÍVEL MACRODELINQÜÊNCIA (TRÁFICO DE ENTORPECENTES, LAVAGEM DE DINHEIRO, FRAUDE, CORRUPÇÃO, ELIMINAÇÃO FÍSICA DE PESSOAS, ROUBO DE AUTOMÓVEIS, CAMINHÕES E CARGAS) - ALEGAÇÃO DO IMPETRANTE DE QUE INEXISTIRIA CONEXÃO ENTRE OS ILÍCITOS PENAIS E O OBJETO PRINCIPAL DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR - AFIRMAÇÃO DESPROVIDA DE LIQUIDEZ - MANDADO DE SEGURANÇA INDEFERIDO. A QUEBRA FUNDAMENTADA DO SIGILO INCLUI-SE NA ESFERA DE COMPETÊNCIA INVESTIGATÓRIA DAS COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO. - A quebra do sigilo fiscal, bancário e telefônico de qualquer pessoa sujeita a investigação legislativa pode ser legitimamente decretada pela Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que esse órgão estatal o faça mediante deliberação adequadamente fundamentada e na qual indique, com apoio em base empírica idônea, a necessidade objetiva da adoção dessa medida extraordinária. Precedente: MS 23.452-RJ, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno). PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA RESERVA DE JURISDIÇÃO E QUEBRA DE SIGILO POR DETERMINAÇÃO DA CPI. - O princípio constitucional da reserva de jurisdição - que incide sobre as hipóteses de busca domiciliar (CF, art. 5º, XI), de interceptação telefônica (CF, art. 5º, XII) e de decretação da prisão, ressalvada a situação de flagrância penal (CF, art. 5º, LXI) - não se estende ao tema da quebra de sigilo, pois, em tal matéria, e por efeito de expressa autorização dada pela própria Constituição da República (CF, art. 58, § 3º), assiste competência à Comissão

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Parlamentar de Inquérito, para decretar, sempre em ato necessariamente motivado, a excepcional ruptura dessa esfera de privacidade das pessoas. AUTONOMIA DA INVESTIGAÇÃO PARLAMENTAR. - O inquérito parlamentar, realizado por qualquer CPI, qualifica-se como procedimento jurídico-constitucional revestido de autonomia e dotado de finalidade própria, circunstância esta que permite à Comissão legislativa - sempre respeitados os limites inerentes à competência material do Poder Legislativo e observados os fatos determinados que ditaram a sua constituição - promover a pertinente investigação, ainda que os atos investigatórios possam incidir, eventualmente, sobre aspectos referentes a acontecimentos sujeitos a inquéritos policiais ou a processos judiciais que guardem conexão com o evento principal objeto da apuração congressual. Doutrina. Precedente: MS 23.639-DF, Rel. Min. CELSO DE MELLO (Pleno). O PROCESSO MANDAMENTAL NÃO COMPORTA DILAÇÃO PROBATÓRIA. - O processo de mandado de segurança qualifica-se como processo documental, em cujo âmbito não se admite dilação probatória, pois a liquidez dos fatos, para evidenciar-se de maneira incontestável, exige prova pré-constituída, circunstância essa que afasta a discussão de matéria fática fundada em simples conjecturas ou em meras suposições ou inferências." (STF - MS 23652/DF - Relator: Ministro CELSO DE MELLO - Pleno - Julgamento: 22/11/2000) O segundo, diz respeito às prisões administrativas para fins de deportação e expulsão, previstas no Estatuto do Estrangeiro (Lei n.º 6.815/80), que antes da Carta de 1988 podiam ser decretadas pelo Ministro da Justiça, e a partir dela, não mais poderiam: "HABEAS CORPUS. EXPULSÃO DE ESTRANGEIRO DO TERRITÓRIO NACIONAL. DECRETO DE EXPULSÃO EXPEDIDO PELO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ANTES DA DELEGAÇÃO DE PODERES AO MINISTRO DE ESTADO DE JUSTIÇA PREVISTA NO DECRETO N. 3.447/2000. AUSÊNCIA DE ATO IMPUTÁVEL AO MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA. INCOMPETÊNCIA DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA. EXTINÇÃO DO PROCESSO SEM JULGAMENTO DO MÉRITO. 1. Trata-se de habeas corpus fundado na iminência de constrangimento ilegal decorrente da prisão administrativa de estrangeiro prevista no art. 69 da Lei 6.815/80, bem como na expulsão desse estrangeiro do território nacional, argumentando o impetrante que o art. 75, II, "a" da referida legislação confere ao paciente o direito de permanência no Brasil por possuir cônjuge e filhos brasileiros. 2. ... omissis ... 3. ... omissis ... 4. ... omissis ... 5. Apreciando questão análoga, esta Primeira Seção já se posicionou no sentido de que, quando o decreto de expulsão é atribuível ao Presidente da República, resta evidenciada a ilegitimidade do Ministro de Estado da Justiça para integrar o pólo passivo da impetração, e, por conseguinte, a incompetência desta Corte para apreciação do pedido de habeas corpus. Nesse sentido, citam-se os seguintes julgados: HC 106017 / DF, rel. Ministro Mauro Campbell Marques, DJe 28/10/2008; AgRg no HC 42344 / DF, rel. Ministro Teori Albino Zavascki, DJ 27/6/2005. 6. Impende ressaltar, ainda, que a prisão administrativa de estrangeiro submetido a processo de expulsão, prevista no Estatuto do Estrangeiro, não pode mais ser determinada pelo Ministro da Justiça, porquanto o art. 69 da referida norma é manifestamente incompatível com o texto constitucional disposto no art. 5º, ilegal fundado na decretação de prisão para fins de expulsão a ser proferida pelo Ministro de Estado da Justiça se mostra de todo desarrazoada, porquanto como medida excepcional de restrição da liberdade e acautelatória do procedimento de expulsão somente será admitida mediante

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decisão da autoridade judiciária, e não mais da autoridade administrativa, nos termos da ordem constitucional vigente. 7. Habeas corpus extinto, sem julgamento de mérito, cassando-se a liminar anteriormente deferida. Prejudicado o agravo regimental de iniciativa da União." (grifo nosso) (STJ - HC 134.195-DF - Relator: Ministro MAURO CAMPBELL - Primeira Seção - julgado em 24/06/2009) Pelo art. 5º LXI da Constituição Federal, somente autoridade do Poder Judiciário pode expedir ordens de prisão, razão pela qual somente essas autoridades podem expedir os correspondentes alvarás de soltura. Ademais, o limite constitucional para "resolver" sobre prisões cautelares (preventiva no caso) decretadas pelo Judiciário não inclui o de revogar prisões de tal natureza processual. Destarte, não pode a ALERJ deliberar sobre prisões de tal natureza para revogá-las, menos ainda adotar resolução administrativa como alvará de soltura. Até porque há regras sobre mandados de prisões e alvarás para fins de registros em órgãos competentes e controle de presos e prisões, e que se dirigem à competência da autoridade judiciária. A Resolução n.º 108/2010 do CNJ, que trata do cumprimento de alvarás de soltura e sobre a movimentação de presos dos sistema carcerário é explícita ao citar em seu art. 1º, §6º: "Art. 1º O juiz competente para decidir a respeito da liberdade ao preso provisório ou condenado será também responsável pela expedição e cumprimento do respectivo alvará de soltura, no prazo máximo de vinte e quatro horas. §6º O cumprimento do alvará de soltura é ato que envolve o juízo prolator da decisão e a autoridade administrativa responsável pela custódia, não estando submetido à jurisdição, condições ou procedimentos de qualquer outro órgão judiciário ou administrativo, ressalvadas as hipóteses dos parágrafos 1º e 2º."

CONCLUSÃO Destarte, com base no art. 312 do CPP e com vistas à garantia da instrução

criminal, CONVERTO A PRISÃO TEMPORÁRIA em PRISÃO PREVENTIVA para os seguintes investigados:

INVESTIGADO

1. ANDRÉ GUSTAVO PEREIRA CORREA DA SILVA 2. FRANCISCO MANOEL DE CARVALHO 3. JAIRO SOUZA SANTOS 4. LUIZ ANTONIO MARTINS 5. MARCOS ABRAHÃO 6. MARCUS VINÍCIUS DE VASCONCELOS FERREIRA 7. AFFONSO HENRIQUES MONNERAT ALVES DA CRUZ 8. DANIEL MARCOS BARBIRATO DE ALMEIDA 9. JOSÉ ANTONIO WERMELINGER MACHADO

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10. LEONARDO MENDONÇA ANDRADE Pelas mesmas razões decreto originariamente a prisão preventiva de ANDREIA

CARDOSO DO NASCIMETNO e FABIO CARDOSO DO NASCIMENTO, com base no art. 312 do CPP.

Reitero a decretação das prisões preventivas dos Deputados Estaduais PAULO

MELO, JORGE PICCIANI e EDSON ALBERTASSI, tal como na decisão originária. Aplico as medidas alternativas acima expressadas em relação ao Deputado

Estadual MARCELO NASCIF SIMÃO. Quanto as pessoas de LEONARDO SILVA JACOB, ALCIONE CHAFFIN

ANDRADE FABRI, JORGE LUIS DE OLIVEIRA FERNANDES e SHIRLEY APARECIDA MARTINS SILVA, acolho a manifestação ministerial e substituo a prisões temporárias por medidas cautelares menos gravosas, com já acima delimitado, o que ora também aplico com relação a CARLA ADRIANA e MAGNO CEZAR MOTTA.

Todos deverão entregar seus passaportes para acautelamento junto à

Subsecretaria da 1ª Seção Especializada desta Corte, no prazo de 48 (quarenta e oito) horas.

Considerando que o MPF nada requer em relação aos investigados JENNIFER

SOUZA DA SILVA, JORGE LUIZ RIBEIRO, MARCUS WILSON VON SEEHAUSEN e VINÍCIUS MEDEIROS FARAH, oficie-se à SEAP/RJ para que sejam imediatamente postos em liberdade, haja vista que as prisões temporárias cumpriram suas finalidades e nada mais foi requerido pelo MPF.

Quanto a HARIMAN e MARIA MADALENA, com as ressalvas que antes já

foram feitas quanto ao primeiro na decisão originária, nada há a deliberar.

Expeçam-se, imediatamente, mandados de prisão preventiva. Expeçam-se termos de compromisso em relação aos investigados que

tiveram prisão temporária substituída por medidas cautelares alternativas. Oficie-se ao Exmo. Presidente em exercício da ALERJ, para ciência da

conversão da prisão temporária em prisão preventiva para os Deputados Estaduais apontados, com cópia desta decisão.

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Oficie-se, com a mesma finalidade, à OAB/RJ acerca dessa conversão deferida em relação ao investigado DANIEL MARCOS BARBIRATTO DE ALMEIDA.

Oficie-se, de ordem, e por qualquer meio célere, à SEAP/RJ. Solicite-se ao em. Presidente da Eg. 1ª Seção Especializada a designação de

reunião extraordinária do órgão colegiado para submissão a referendo ou não da presente decisão, no que concerne aos Deptuados Estaduais. Sugerindo-se a data de 14/11/2018, às 12:00h, tendo em vista a proximidade de ongo período de feriado.

Rio de Janeiro, 12 de novembro de 2018.

ABEL GOMES Desembargador Federal

Relator

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