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XV SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO A Cidade, o Urbano, o Humano Rio de Janeiro, 18 a 21 de setembro de 2018 DE VALES E VALAS: a Rua da Valla na Salvador do Séc. XIX VILAS E CIDADES; URBANIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO Daniel J, Mellado Paz Professor Adjunto - Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia RESUMO No presente artigo se defende a importância do Rio das Tripas, e do rio Camurugipe, para a constituição da cidade do Salvador – BA. Primeiro como elemento de defesa do primitivo assentamento, e depois transformado em dispositivo técnico de circulação e escoamento das águas, estrutural para a cidade no momento em que esta extrapola para além de seu núcleo original. O artigo enfatiza a sua urbanização no séc. XIX, como Rua da Valla, conectando partes consolidadas da cidade, explorando um fundo de vale antes problemático e lançando-se aos arrabaldes mais distantes, dos extremos norte e sul. A Rua da Valla se constrói no mesmo momento em que outras iniciativas de infra-estrutura urbana são realizadas, tecnificando a urbe e ampliando a escala de compreensão e intervenção. Deixou de enfatizar-se apenas o Rio das Tripas, e começou a ser pensada a bacia por inteiro, e mesmo sua conexão com a bacia do Lucaia. A Rua da Valla escoava todo o interior da cidade, e será ainda, por muitas décadas, o principal tronco dos vários projetos viários e de saneamento da cidade. Esse papel duplo, de esgoto e conexão urbana, se dará mesclado com o de fornecimento de água potável com os primeiros açudes, adutoras e fontes, também se recorrendo aos mananciais desta bacia, e do abastecimento de carne da cidade, e mesmo algo de suas atividades funerárias, que ali se dão. Apesar de geometricamente central nos dias de hoje, na história de Salvador esse vale sempre apareceu ora como uma espécie de “fundo”, antes periférico, agora nos andares inferiores, apesar de sua imensa importância. PALAVRAS-CHAVE: Rua da Valla; saneamento; circulação

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XV SEMINÁRIO DE HISTÓRIA DA CIDADE E DO URBANISMO A Cidade, o Urbano, o Humano Rio de Janeiro, 18 a 21 de setembro de 2018

DE VALES E VALAS: a Rua da Valla na Salvador do Séc. XIX VILAS E CIDADES; URBANIZAÇÃO E REGIONALIZAÇÃO Daniel J, Mellado Paz Professor Adjunto - Faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia

RESUMO

No presente artigo se defende a importância do Rio das Tripas, e do rio Camurugipe, para a constituição

da cidade do Salvador – BA. Primeiro como elemento de defesa do primitivo assentamento, e depois

transformado em dispositivo técnico de circulação e escoamento das águas, estrutural para a cidade

no momento em que esta extrapola para além de seu núcleo original. O artigo enfatiza a sua

urbanização no séc. XIX, como Rua da Valla, conectando partes consolidadas da cidade, explorando

um fundo de vale antes problemático e lançando-se aos arrabaldes mais distantes, dos extremos norte

e sul. A Rua da Valla se constrói no mesmo momento em que outras iniciativas de infra-estrutura urbana

são realizadas, tecnificando a urbe e ampliando a escala de compreensão e intervenção. Deixou de

enfatizar-se apenas o Rio das Tripas, e começou a ser pensada a bacia por inteiro, e mesmo sua

conexão com a bacia do Lucaia. A Rua da Valla escoava todo o interior da cidade, e será ainda, por

muitas décadas, o principal tronco dos vários projetos viários e de saneamento da cidade. Esse papel

duplo, de esgoto e conexão urbana, se dará mesclado com o de fornecimento de água potável com os

primeiros açudes, adutoras e fontes, também se recorrendo aos mananciais desta bacia, e do

abastecimento de carne da cidade, e mesmo algo de suas atividades funerárias, que ali se dão. Apesar

de geometricamente central nos dias de hoje, na história de Salvador esse vale sempre apareceu ora

como uma espécie de “fundo”, antes periférico, agora nos andares inferiores, apesar de sua imensa

importância.

PALAVRAS-CHAVE: Rua da Valla; saneamento; circulação

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ON VALLEYS AND DITCHES: the Rua da Valla in the XIXth Century Salvador ABSTRACT

This paper argues for the importance of the Rio das Tripas and Camurugipe river to the constitution of the city of Salvador - BA.

First as defense element of early settlement, and then transformed into technical device of circulation and sewage, structural to

the city at the time of it extrapolation beyond its original core. The paper emphasizes its urbanization in the XIX century, as the

Rua da Valla, connecting consolidated areas of the city, exploring a valley previously problematic and, on a larger scale, to launch

the most distant suburbs, the north and south ends. The Rua da Valla was built at the same time that other urban infrastructure

initiatives are being carried out, mechanizing the metropolis and broadening the scale of understanding and action. The Rua da

Valla operate in all the drainage of the heart of the city and will be, for many decades, the main trunk of the various city sanitation

projects, as well as key piece to some of its main avenues. This dual role, sewage and urban connection will occur mixed with the

drinking water supply from the first dams, aqueducts and fountains, also using the springs of the basin, and the city's meat supply,

and even something of their funeral activities. Although geometrically central today, in the history of Salvador this valley always

appeared sometimes as a kind of "background", before peripheral, now on the lower floors, besides its huge importance.

KEY-WORDS: Rua da Valla; sanitation; circulation

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DE VALES E VALAS: a Rua da Valla na Salvador do séc. XIX

1. Introdução

O Rio das Tripas é o maior afluente do rio Camurugipe, vindo da Barroquinha, seguindo Sete Portas.

Em Dois Leões, o Camurugipe recebe o Riacho das Quintas, vindo da Estrada da Rainha. Depois

recebe o Bonocô, que vem dos altos do Matatu, Acupe e Brotas, no leito da atual Av. Mário Leal

Ferreira, a Bonocô. No Beiju de Brotas, atualmente Iguatemi pelo shopping próximo, pouco depois de

receber contribuições do rio Pernambués, o rio Camurugipe fletia e corria pela Chapada até o Rio

Vermelho. Segundo Falk (1976, apud NOGUEIRA, 2000), fez-se entre 1948 e 1963 pelo Departamento

de Obras e Saneamento um desvio no rio, correndo a partir de então para o Costa Azul, obra realizada

para reduzir as inundações do Rio Vermelho. Com as obras do programa Bahia Azul, inverteu-se o

raciocínio: a calha de concreto que corre até o Costa Azul só recebe águas quando há chuvas; o seu

curso normal é rumo à Estação de Condicionamento Prévio do Lucaia.

FIGURA 1 - Mappa Topographica da Cidade de S. Salvador e Seus Suburbios, de Carlos Augusto Weill. Em destaque, uma parte da imensa bacia do rio Camurugipe. O círculo indica a área central da cidade, e o braço abrangido é a parte mais interior do Rio das Tripas. Observe-se que o mapa não alcança afluentes orientais, e mesmo uma das desembocaduras do rio, no Chega-Nego, hoje Costa Azul. Fonte: ALMEIDA, 2014.

A bacia do Camurugipe tem sido fundamental para a cidade, de seus tempos coloniais e até os dias de

hoje. Primeiro como elemento natural, maximizado pela mão do homem, de defesa do primitivo

assentamento. Depois, de obstáculo e problema, transformado em dispositivo técnico de circulação e

escoamento das águas, estrutural para a cidade no momento em que esta extrapola para além de seu

núcleo original. Terá como intenção conectar partes consolidadas da cidade, explorando um fundo de

vale antes problemático, e, em uma escala maior, lançar-se aos arrabaldes mais distantes, dos

extremos norte e sul. Esse papel duplo, de esgoto e conexão urbana, se dará mesclado com o de

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fornecimento de água potável com os primeiros açudes, adutoras e fontes, também se recorrendo aos

mananciais desta bacia, e do abastecimento de carne da cidade, e mesmo algo de suas atividades

funerárias, que ali se dão. Apesar de geometricamente central nos dias de hoje, na história de Salvador

esse vale sempre apareceu ora como uma espécie de “fundo”, antes periférico, agora nos andares

inferiores. É algo de sua imensa importância, e sua relação com os sucessivos projetos de cidade, que

será abordado aqui.

2. Na Salvador colonial

A eleição do sítio para a fundação de Salvador pautou-se, entre outros fatores, na sua defesa. Daí estar

guarnecida pela escarpa que divide a Cidade Alta da Cidade Baixa, a oeste, e por duas baixadas, a

norte e a sul, falhas na falésia donde saíam algumas das primeiras ladeiras coloniais ligando esses

dois andares. E ao Ribeirão d´Água e seu vale, que eram o limite a leste. Quando Gabriel Soares

descreveu este rio, que nascia dentro da propriedade dos beneditinos1, nas primeiras décadas de vida

da cidade, ainda era limpo o bastante para lhe servir de manancial.

(...) o que se pode fazer como lhe ficar dentro uma ribeira de água, que nasce junto dela, que agora a vai cercando toda, a qual se não bebe agora, por estar o nascimento dela pisado dos bois, que vão beber, e porcos; mas, limpa, é muito boa água, da qual se não aproveitam os moradores por haver outras muitas fontes de que bebe cada um, segundo a afeição que lhe tomam, e a de que lhe fica mais perto se ajuda por serem todas de boa água. (SOUSA, 2010: 132).

FIGURA 2 - Planta da Cidade do Salvador, de 1605 (circa). Vê-se o conjunto de roças ao largo do Rio das Tripas. Fonte: REIS FILHO, 2001.

Cedo se tornou destino dos rejeitos da cidade. O mais expressivo provinha do matadouro público,

apontado no século XVIII como estando na região que descia do Mosteiro de São Bento até as

cabeceiras do Ribeirão d´Água, atualmente o terminal da Barroquinha. Ademais, “em vários espaços

1 Passando mais avante com o rosto ao sul, no outro arrabalde da cidade, em um alto e campo largo, está situado

um mosteiro de São Bento, com sua clausura, e largas oficinas, e seus dormitórios, em que se agasalham vinte religiosos que naquele mosteiro há, os quais têm sua cerca e horta com uma ribeira de água, que lhe nasce dentro, que é a que rodeia toda a cidade, como fica atrás dito. (SOUSA, 2010, pag. 131).

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próximos às Hortas de São Bento, existiram currais menores onde o gado esperava o abate, desde o

dia anterior, para a madrugada do dia seguinte” (LOPES, 2009: 49).

O nome Rio das Tripas, que doravante será empregado, advém do descarte das vísceras e carcaças

das reses abatidas, das tripas portanto. Ainda assim suas encostas serão ocupadas por hortas que

abastecem a cidade com frutas e hortaliças, junto com outras que se estendem no entorno do núcleo

urbano.

FIGURA 3 - Vista de Huma Parte da Cidade de Santo Salvador (1724-56). Único desenho do gênero, mostra o flanco interior da Montanha, a falda ocidental do vale do Rio das Tripas. Vê-se nitidamente roças abaixo do Convento do Carmo. A ruptura no maciço montanhoso, à direita, é a baixada por onde descerá a Ladeira da Água Brusca, ponto de intercessão do caminho que vem pela Rua do Arco. Fonte: REIS FILHO, 2001.

No breve período em que ocuparam a cidade (1624-25), os holandeses represaram o trecho do Rio

das Tripas que cercava a cidade primitiva. Luiz dos Santos Vilhena dá as coordenadas:

As águas que existiam em todas as baixas que ficam entre os morros e que hoje não existem mais, por haverem sido entulhados esses brejos ou alagadiços, foram sustadas pelos hollandezes, que fizeram uma obra para este fim na baixa do Maciel, outra no logar que fica entre S. Miguel e a rua da Poeira, e outra em Guadalupe, entre as ladeiras da Praça e da Palma, guarnecendo elles estes pontos com artilheria. (VILHENA, 1922: 491).

O dique arrefecerá nos séculos seguintes, formando charcos considerados nocivos à cidade, e

obstáculo à comunicação entre o centro e as novas áreas de expansão para os atuais bairros da Palma,

Saúde e Desterro. O acesso se dava pelas cotas superiores, provavelmente próximo à atual Av. Joana

Angélica, ou pelas várzeas do vale.

Por outro lado, esse núcleo urbano precisava articular-se com o seu entorno imediato e áreas mais

distantes. Para a Barra, ao sul, partia caminhos pela cumeada da Vitória e Graça. Para o Rio Vermelho,

arrabalde de pescadores, seguia pela cumeada da Federação ou pela de Brotas, ou pelo vale do rio

Lucaia. Para Chega-Nego (atual Costa Azul), Armação, Itapuã e os currais de Garcia d´Ávila, pelo vale

do Camurugipe2. E a que chegava do sertão distante para a cidade, caminho principal das reses até os

2 Chega Nego, Chega-Negro ou mesmo Chega-Negra era toponímia empregada a um leque de áreas próximas, e

que se refere à foz do rio, no atual Costa Azul, que até hoje opera como um pequeno porto natural. Equivocadamente há quem, hoje, o assinale no atual bairro de Armação. Este, por sua vez, extrai seu nome das Armações, que se referiam à Armação do Gregório – provavelmente, no local hoje conhecido como Armação – e a Armação do Saraiva – na região do antigo Aeroclube, depois Parque Aeroclube. Os elementos documentais para estas hipóteses não cabem aqui. A explicação destes dois lugares – Chega Nego e Armações/ Armação – se compreenderá adiante.

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matadouros, chamada Estrada das Boiadas. Esta tinha de cruzar dois rios: o Dendezeiros, que

desaguava em Pirajá, na Enseada dos Tainheiros, e as cabeceiras do Camurugipe. A Estrada

penetrava na cidade “pelas planícies do Cabrito e Pirajá, em direção ao Tanque do Engenho da

Conceição, hoje conhecido como Largo do Tanque, e daí em direção à Fortaleza do Barbalho, até findar

nas Hortas de São Bento” (LOPES, 2009: 42).

Vales e cumeadas eram caminhos naturais naquele momento. Porém esses cursos – o do Lucaia e do

Camurugipe – serão pioneiros das vias de vale. Eles se concatenam a montante e a jusante. A

montante, no próprio nascedouro do Rio Lucaia, no Dique do Tororó (que não é o Dique dos

Holandeses, formado no Rio das Tripas), e a jusante, na foz deles, no Rio Vermelho.

Nos primeiros séculos da cidade, o conjunto de espelhos d´água formado pelo Dique do Tororó (muito

mais vasto do que hoje), pelo dique constituído no Rio das Tripas e suas várzeas, constituíam um

círculo defensivo importante.

FIGURA 4 - Planta da Cidade da Bahia (1715). Aqui se percebe que o dique formado no Rio das Tripas, ladeando o núcleo da cidade, encolheu. O caminho nordeste que toma é o leito da Rua da Valla. As vertentes d´água mais a norte são as da Baixa da Soledade, depois urbanizadas pela Estrada da Rainha. O espelho d´água maior, acima, é o Dique do Tororó, separado do curso do Rio das Tripas por muito pouco. Fonte: REIS FILHO, 2001.

Porém ao final do séc. XVIII, o Rio das Tripas tornara-se o que se entendia por fonte de enfermidades:

(...) te fallei no aterro de hum grande brejal ou pântano (...) hé este cheyo de milhares de sevandijas e reptis, como cobras, e sapos pesonhentissimos e immundicies a monte; alem de que, no verão ficão por muitas partes charcos profundos, cuja agoa apodrece com o calôr e todo elle evapora eflúvios que inficionão a cidade, motivando sezões e febres mortaes, além de outras enfermidades em que a Bahia pouco cede hoje as povoações que temos em África.

Podia este inimigo estar hoje extincto com os muitos entulhos que nelle se podião ter lansado athé estar terraplanado, ou pela menos trazer-lhe sempre aberta huma valla mestra, sempre limpa com sargetas lateraes, que nella deverão desagoar; isto porém so emquanto se hia entulhando e

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obrigando as agoas a tomar diversas vias subterrâneas para o que daria muito a rotura das terras, que, como já dice, hé muita. (VILHENA, 1922: 164).

Vilhena dá a tônica do que virá: eliminar o charco, não por meio do mero aterro (um desastre técnico,

visto ser o grande coletor de águas do centro da cidade), e sim pela sua canalização. Thomas O´Neil

fala dos problemas advindos desse charco, em processo de transformação: “O canal causou grandes

epidemias por suas águas estagnadas, então os portugueses foram compelidos a preenchê-lo, o que

não estava completo em 1808” (O´NEIL, 1810: 71 – tradução nossa).

Em 1824:

Aproveitamo-nos igualmente desta occasião, para lembrarmos à Camara desta Cidade hum objeto digno de toda a consideração, e que merece hum prompto remedio; qual he mandar quanto antes desembaraçar a correntesa do Rio das Tripas, que circula esta Cidade, o qual da Casa do Ferrão, à Barroquinha, se acha inteiramente privado da sua carreira ordinaria; por quanto além de haver nestes sitios pouca correntesa por ser o terreno quase igual, e mui diminuta, ou nenhuma a queda preciza, de mais a mais nelle se deita a maior parte do lixo desta Cidade, bem como todos os dias acontece nas pontes do Caminho Novo, S. Miguel, Rua das Flores, &c. o que embaraçando totalmente a correnteza das aguas, fórma grandes charcos, e pantanos, em diversos lugares; cujas putridas exhalações são mui nocivas à saude publica produzindo, continuamente sezões, febres, e mil outras enfermidades. No quintal do Convento de S. Francisco tem charcos, e atoleiros tão grandes, que qualquer animal, que nelles entra, jamais se pode tirar. Este importane objecto já mereceo a consideração de hum dos Capitães Generaes, que governárão eta Provincia, o qual (segundo me informárão), ordenou que a Camara, então existente, attendendo a hum objecto de tanta monta, e consequencia, desse a providencias necessarias, para que se entulhasse todos os lamaçaes, e charcos que houvessem dentro da Cidade, mandando-se igualmente desembaraçar a correntesa do Rio das Tripas, fazendo esgotar para elle as aguas; que, empoçadas, tanto mal fazem à saúde dos habitantes desta Cidade; o que tudo promptamente cumprio, encarregando a administração daquelle trabalho a hum celebre Frade por nome Fr. Clemente, (que depois foi Capellão de hum dos Batalhões dos Lusitanos) o qual principiou a obra pelos lugares mais baixos do Rio, levando-o até o Caminho Novo; o que tudo melhor constará dos assentos, e livros da Camara.

Julgamos de summa importancia, e utilidade, esta obra, mormente quando já entramos no Inverno, tempo em que os lamaçaes, e charchos, se tornão mais prejudiciaes: parece-nos, que esta empresa não será das mais dispendiosas, por isso, que para ella concorrerão voluntariamente com seus escravos muitos Cidadãos patriotas, principalmente os moradores nas visinhanças daquelle Rio, que mais que nenhuns outros soffrem grandes encommodos, e molestias. (GRITO DA RAZÃO, 1824)

O destino do Rio das Tripas seria decidido pela Rua da Valla, medida de saneamento e circulação, com

implicações diversas.

3. A Rua da Valla

Por volta de 1846, há uma polêmica sobre obras na calçada do Largo do Theatro. Na discussão pública,

aparecem as idéias originais sobre o Rio das Tripas. André Przewodoski aponta que uma idéia original

era aprovetar a falha na Montanha do Baixa dos Sapateiros/ Pelourinho/ Taboão para drenar o Rio das

Tripas por ali e, aproveitando, recolher o esgotamento de toda aquela bacia e lançar nas águas da baía,

por meio do Comércio.

“É etc... uma necessidade de dar forma regular a esta grande valla metida no centro da povoação, para evitar o que hoje succede, de estar todo este longo curso do rio reduzido a um charco de immundicias. Seria mesmo mais conveniente dar-lhe prompta sahida para o mar por meio de uma boa galeria subterranea entre o Rozario e o Carmo pelo lugar do mesmo chamado – Baixa dos Sapateiros – com grande vantagem no escoamento pelo seo mais rapido declive, e deixando o resto do Rio ds Tripas paara ser melhorado quando o terreno adjacente se tornar mais habitado.”

Bahia 3 de junho de 1846. – André Przewodowski. (O GUAYCURU, 1846c)

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Depois que mudou para uma compreensão maior, tomando a bacia do Camurugipe por inteiro. É esta

obra, conforme realizada, que iremos descrever.

No Centro, essa canalização se dava com a pista sobre o rio, inteiramente coberto. A partir da região

do Aquidabã, nas aforas da cidade, as vias se desenvolviam nas margens do canal. Não apenas havia

diferença nas medidas, mas também nos resultados da obra.

FIGURA 5 - Rua da Valla, em área mais central, e densamente ocupada. Ao fundo, o Convento e Igreja de São Francisco. Postal da Coleção Ewald Hackler, produzido pela Litho-Typographia Almeida, em 1906. Fonte: VIANNA, 2004.

FIGURA 6 - Foto da região mais externa da Rua da Valla, antes do Arco. Acima está o Colégio e Capela da Providência, na Ladeira do Alvo. Nota-se na Valla uma ocupação mais térrea e mesmo rústica. Postal da Coleção Ewald Hacker, confeccionado pela Reis & e Cia. Photo Lindemann, em 1917. Fonte: VIANNA, 2004.

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FIGURA 7 - Além do Arco, na região das Sete Portas, corria o canal aberto. Postal da Coleção Ewald Hackler, de A. Aragão, em 1921. Fonte: VIANNA, 2004.

Ali a Rua da Valla lograva continuidade urbana entre o núcleo da ocupação e a segunda cumeada, em

especial Palma, Desterro e Saúde, que antes se resolvia por longa volta pela cota superior ou por

pontilhões.

Depois de levados os trabalhos projectados até seu termo, o lugar da Barroquinha, será a rua da Valla a principal artéria de communicação desta extensa e populosa Cidade. Com pequenos raios em direcção a este grande centro não so as distancias de hoje se incurtarão em menos de metade, como desapparecerá o grande obstáculo para as communicações dos vehiculos sobre rodas, o melhor ou mais digno da nossa crescente civilização. (FALLA..., 1852: 16).

Foi concebida ainda como uma forma de expansão da cidade, ocupando uma área de roças e baixadas,

paralela à área consolidada da cidade, sem as desvantagens das ladeiras. A concepção é simples

porém engenhosa: o que era um alagadiço problemático seria solo urbano salubre e contínuo,

conectado em nível à cota mais baixa do Pelourinho (Rua do Taboão), ademais, de fácil acesso a

antigas ladeiras (do Taboão e Caminho Novo) que chegavam à Cidade Baixa.

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Imaginava-se que seria uma área de recreio da cidade. A obra com certeza deveria “muito influir em

sua salubridade, no seu abastecimento, e no aprasível de seus passeios” (FALLA..., 1850: 27), daí ser

“urgente para a salubridade pública, e utilíssima para o aprovisionamento, commodos e recreio desta

Capital” (FALLA..., 1851: 15). Os passeios e recreio esperados não se cumpriram. Quando concluída,

com o entorno adensado ao Centro, as classes mais altas haviam já dirigido sua atenção a outra

direção. A Rua da Valla como alternativa sofisticada para o centro da cidade não vingou.

A citação dá conta do abastecimento e, sobretudo, a salubridade, aqui entendida como o escoamento

dos efluentes urbanos. O escoamento direto para a Baía de Todos os Santos era a solução da Cidade

Baixa e parte da Montanha. A canalização do Rio das Tripas permitia que toda a região interior da

cidade dependesse menos dos escravos e suas barricas, e funcionasse por meio da gravidade por

canos instalados gradualmente. Ademais, entendia-se que o Rio das Tripas agia então como foco de

contaminação. Canalizado e coberto, deixava de ser um problema grave e tornava-se uma solução.

Nas aforas, a salubridade tinha outros contornos. A canalização servia para conduzir e acelerar as

águas; longe de limpá-las. Tratava-se evitar as águas estagnadas, as várzeas do rio, com a formação

de charcos, a proximidade e o contato daquelas fontes de miasmas. Através da canalização –

rebaixamento do leito, limpeza periódica, retificação do percurso – e do aterro das baixadas vizinhas,

“sendo atterrados os pântanos das margens do mesmo rio” (FALLA..., 1856: 30). O rio, que oscilava ao

longo das estações, já alimentava plantações.

(...) este Rio que he pouco abundante no Verão, com tudo no Inverno enche muito pelas águas das ruas da Cidade, que grande parte d´ellas lança-se nelle; faz igualmente a abundancia das muitas hortas e quintaes por onde passa, e que d´ellas se servem, principalmente no Estio. (REBELLO, 1829: 141).

As várzeas conquistadas significavam mais terra útil, “com grande proveito das terras adjacentes, que innundadas jaziam desaproveitadas, e da salubridade pelo desapparecimento d´aquelle foco de febres intermittentes” (FALLA..., 1857: 54).

Inclusive, uma denúncia feita ao empreiteiro da obra, José de Barros Reis:

CORRESPONDENCIA.

Senhor Redactor do Guaycurú.

(...)

Ao sr. Barros reis que in illo tempore a obra de uma valla no rio Camorogipe, por cerca de vinte contos de réis, e a quem o sr. Tibério teve a indecencia de dar vinte africanos escravos, chamados livres, negando-os ao serviço publico na Quinta dos Lasaros e por toda parte – miseros africanos que ou todos morreram já, ou tiveram o fim que a Deus aporuve dar-lhes, porque há muito que ninguem ouve fallar nisso – a esse sr. Barros Reis, creatura muito notoria nesta cidade, acaba o sr. Tiberio de dar agora mais vinte escravos desses que importou a Maria Smith.

Eu não quero pôr em rosto a esse governo immoral até as últimas torpesas o escandalo de mandar para as lavouras de capim do sr. Barros, sob o pretexto d´empregarem-se na inculcada canalisação do Camorogipe miseraveis africanos de 10 e 12 annos de idade e talvez alguns de menos.

(...)

Os vinte moleques que o sr. Tiberio acaba de dar ao sr. Barros, estão como seus desgraçados companheiros fulminados de peste – desses mesmos 20 consta-me que um, ou talvez mais, fallecem apenas mettidos nas herdades do rei de copas do Cabulla. (O GUAYCURU, 1856).

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Embora a denúncia gire em torno do uso indevido de escravos, por meio dela sabemos que Barros

Reis, com lavouras no Cabula (dai ser o “rei de copas do Cabulla”), teria assim terrenos às margens da

obra que ele mesmo executava, como empreiteiro contratado, e agiria em causa própria, em suas

lavouras de capim, nas várzeas do rio.

Voltando aos demais benefícios da obra, como se disse na sessão da Assembléia Provincial de 28 de

julho de 1849:

Julgo escusado entreter-vos com a descripção de uma obra [da Rua da Valla], que podeis ver avaliar em poucas horas que destinardes para um aprasivel passeio: à todos os instantes do dia, principalmente nas manhãs e tardes, vereis um sem numero de passantes, e o transito de variados objectos da nossa pequena lavoura; ahi encontrareis tambem com valor consideravel e productivo o que não era mais do que pantanos e terrenos abandonados;. em breve podereis ver igualmente importantes predios que serão construidos. (A TOLERÂNCIA, 1849).

Estabilizava as áreas adjacentes, antes variáveis. Em outro momento, se diz que “sua direcção he por

um valle de terrenos muito férteis, que poderão ser depois aproveitados para bellas chácaras até o

Engenho da Conceição” (FALLA..., 1860: 108).

O caráter da circulação se dava no sentido longitudinal, permitindo que se alcançasse o Rio Vermelho

e as Armações e, portanto, a orla atlântica até Itapuã, rio abaixo. E rio acima, caminho contínuo até a

Península de Itapagipe.

O encanamento, que se está fazendo na rua da Valla tem, como sabeis, o duplo fim de dar esgoto à todas as águas da cidade alta, que pendem para o lado oriental, dirigindo-as para o riacho Camorogipe, e abre uma via de communicação, que começando do convento da Lapa irá, passando pelo sítio Retiro e Conceição, terminar no bairro do Bom-Fim por uma planície continua, podendo também com um pequeno ramal estender-se ao bairro da Soledade. (FALLA..., 1857: 52).

Um dos pontos interessantes é ser uma cota única, uma extensão imensa para as escalas da cidade

de então, alcançando Itapagipe ao circunvalar a Montanha.

Sabia-se que seria obra longa, “d´aquellas obras que se devem sempre continuar te acabal-as, quando

mesmo isso leve annos por causa dos poucos recursos provinciaes, e da pequena coadjuvação dos

cofres geraes” (FALLA... 1854: 4). Daí a importância de convergir esforços, contando com recursos do

Município e da Província, até por poder encaixar-se em vários itens diferentes, como o item Hygiene

Publica (FALLA... 1854: 4).

Cada surto epidêmico na cidade aumentava a urgência da obra, ao mesmo tempo em que lhe asfixiava,

pela escassez de mão-de-obra, como com a febre amarela e o cólera. Diante desse perigo, medidas

urgentes eram a extinção de esterquilínios, a fundação de cemitérios extramuros, a remoção do

matadouro (foco de infecção no centro da Cidade) e um sistema de esgoto, que serão os “canos”

conduzindo ao Rio das Tripas e o Rio Camurugipe.

Foi em 21 de Julho que se manifestaram os primeiros factos bem averiguados de cholera-morbus, em tres localidades diversas n´esta capital, à saber: junto ao Convento dos Carmelitas na freguesia de Santo Antonio, na rua do Castanheda na freguezia de Santa Anna, e na povoação do Rio Vermelho na Victoria. O que há de commum entre estas tres localidades, é que as duas primeiras eram habitações muito próximas de sterquilinios inveterados e muito extensos, as quaes não tinham commodos alguns d´arejamento, nem de illuminação; e a povoação do Rio Vermelho esta na foz do rio Camurugipe, que recebe todas as immundicias do rio das tripas, o qual serve de esgoto publico a esta cidade. (FALLA..., 1856: 3).

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O rio Lucaia já aparece como contaminado, mais por inferência que por realidade3. A medida advogada

da canalização não tornaria o rio mais limpo, apenas diminuiria os danos pretensamente causados pela

sua estagnação e pelas várzeas. Estes mesmos surtos e seus efeitos seriam prova dos efeitos

benéficos da obra em andamento, “cumprindo observar que a cholera muito poupasse o Cabula, Brotas,

e diversos outros arredores do mencionado Camorogipe” (FALLA..., 1856: 62).

O que era uma obra em região central foi se tornando o caminho para a urbanização de toda a bacia.

A partir do afluente, o Rio das Tripas, e, entroncando-se com o rio Camurugipe, um braço da obra

segue a jusante, rumo à sua foz, então no Rio Vermelho, e outra a montante, para uma de suas

cabeceiras.

A obra a montante será a mais importante no séc. XIX, ligada à necessidade capital de unir o norte e o

sul da cidade, superando a distância horizontal e vencendo a falha geológica da Montanha. Outras

duas perspectivas se aliarão: os Matadouros, que seguem os vales da bacia, e a nova Estação de trem

da Calçada, que substitui a Estrada das Boiadas. As duas obras – a rua e a canalização – seguem no

mesmo percurso até pouco após a Baixa de Quintas, onde se inicia a Estrada do Cabula, na atual

Rótula do Abacaxi. A Rua da Valla, com esse nome, seguirá a montante do rio Camurugipe, e buscará,

por meio do Engenho Conceição4, atravessar o flanco rebaixado da Montanha, a escarpa onde se

assentou a Cidade Alta. Mas também se canalizará, com duas estradas marginais, até sua foz, no Rio

Vermelho, como revela a Falla de 1846.

Acompanhemos esses diferentes percursos.

3.1. As Primeiras Obras da Rua da Valla

A primeira menção à obra da Rua da Valla encontramos na Falla de fevereiro de 1839, registrada a

seguir na Falla de 1840 e a seguir somente na de 1849. A Falla de 1845 registra obra de “cano de

escoamento da Cidade Alta para o Rio das Tripas” (FALLA..., 1845). A do ano seguinte (FALLA...,

1846), a obra de cano no Largo do Teatro para o Rio das Tripas, e o começo das obras do encanamento

do rio Camurugipe, com rebaixamento no leito do rio, para dessecar os pântanos por onde passa.

Nesse momento já se tenciona construir duas estradas acompanhando o rio, em cada margem, até a

foz no Rio Vermelho. Aqui as obras deixam de ser especificamente no afluente Rio das Tripas e passam

a pensar o rio Camurugipe. O salto de escala aparece com nitidez, o arcabouço para uma cidade muito

maior do que a que então era concebida.

É preciso visualizar o que significava a Rua da Valla para a forma da cidade. A expansão da cidade

pode ser vista por círculos concêntricos, em termos de distância e topografia das cumeadas. A cidade

original se desenvolve a partir de uma colina, da Praça Municipal. Que ao norte finda na baixa do

3 É uma inferência da obra recente, pensada a partir do centro da cidade, do que uma realidade sentida na

desembocadura do rio. A carga orgânica então não era significativa. As conexões dos edifícios e moradias por certo não estavam todas completas. O rio é bastante extenso e, no caminho, recebe contribuições de águas pluviais e minadouros de uma área que, na época, era muito mais abrangente que a Salvador urbanizada. Recebia o rio Lucaia, por inteiro, nos meandros alagadiços que eram então aquela região. E nas décadas subsequentes a praia da foz do rio se prestará a banhos salgados, sem nenhum reclame de águas contaminadas.

4 O Engenho da Conceição era o Engenho da Nossa Senhora da Conceição de Itapagipe de Cima, que usaria as águas do Tanque da Conceição, origem do Largo do Tanque.

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Pelourinho e, ao sul, na região da Praça Castro Alves. Podemos vislumbrar uma segunda ordem de

colinas como um vasto arco. A região do São Bento e São Pedro, articulada por uma via, futura Rua

Joana Angélica, com a região da Palma, Desterro e Saúde. Esta ligada, por sua vez, pela Rua do

Caquende com Nazaré. Ao norte, a região do Carmo e do Santo Antônio, conectada pelo alto da Água

Brusca com os Campos do Barbalho.

FIGURA 8 - Geografica Topografica da Cidade Capital de S. Salvador (1785). Os círculos mostram de maneira geral o que foi dito. No primeiro círculo, o centro da cidade, com o Pelourinho ao norte e a atual Praça Castro Alves ao Sul. O segundo círculo será formado, de norte a sul, pelo Santo Antônio (arrematado pelos fortes de Santo Antônio Além do Carmo e Barbalho), Nazaré, Saúde, Desterro, Palma, Tororó, Piedade, Barris e São Pedro (arrematado, ao sul, pelo Forte de São Pedro). Fonte: REIS FILHO, 2001.

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FIGURA 9 - Rara foto do arco que ligava Barbalho a Nazaré, passando a Rua da Valla. Sem data. Fonte FALCÃO, 1941.

O que ajuda a entender o papel do arco que atravessa sobre a Rua da Valla, ligando Nazareth ao

Barbalho, concluída em maio de 1853.

Tendo-se dado maior elevação à este arco com vistas de melhorar-se a ladeira do Barbalho à Nazareth, achando-se por essa causa interrompido o transito por aquelle lado, fez o engenheiro Weyll um projecto de um caminho que, partindo de Nazareth, passando pela rua dos Perdões e becco dos Chinelos à sahir na ladeira d´Agoa Brusca, dará transito só com esta pequena ladeira desde o bairro da Victoria até o do Bomfim. (FALLA..., 1853: 50).

E, antes disso, na Sessão Extraordinária da Câmara Municipal, de 24 de janeiro de 1846:

A Camara apresenta-vos, além d´estas obras em que vos tem fallado, como de utilidade ao (...) uma rua que communique o largo de Nasareth, com o do Barbalho, independente das ladeiras afim de facilitar o transito das Carruages, e Carrinhos, e mesmo dos Viandantes da Cidade para o Bomfim. (O GUAYCURU, 1846a).

A meta explícita é, por meio da conexão entre Nazaré e Barbalho, alcançar o Bonfim.

Em 1860, Firmo José de Mello, do Corpo de Engenheiros, diz sobre obras nas muralhas do arco que

seguia “o projeto geral de communicação entre a Victoria e o Bonfim, apresentado pelo Engenheiro

Carlos Augusto Weyll” (FALLA..., 1855: 2). Ora, o Mappa Topographica da Cidade de S. Salvador e

Seus Suburbios, de 1845, deve ser visto como um projeto, e não como um levantamento, já que

apresenta, entre outras coisas, a Rua da Valla como concluída, revelando essa visão integrada da

cidade, ou integradora das obras públicas.

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FIGURA 10 - As conexões propostas. O arco que se fazia pelo leste era o caminho pelo fundo de vale da Rua da Valla, descendo pelo Tanque da Conceição. O outro seguia, a partir da Praça da Piedade, pela cumeada vizinha, da Palma, Desterro, passando por Nazaré, chegando ao Barbalho, pela Rua do Arco. No futuro, desceria pela Ladeira da Água Brusca. Inexistente, descia-se a Ladeira de São Francisco de Paula. Ao norte, até a Igreja de Nossa Senhora da Penha; ao sul, rumo às Igrejas de Nossa Senhora da Vitória e Nossa Senhora da Graça. Fonte do mapa original: ALMEIDA, 2014.

A Rua do Arco une aquele cinturão de cumeadas, formando um vasto semicírculo contínuo, em um

nível superior. Não é acidental que a região do Santo Antônio seja simétrica ao São Pedro, e a

Soledade, à região do Campo Grande, Canela e Vitória.

Por cima, pelas cotas superiores, concebe-se uma solução para a conexão norte e sul, e o traspasso

da Montanha: Vitória, Campo Grande, Piedade, Lapa, Palma e Desterro, Nazaré, passando pela Rua

do Arco para o Barbalho, e daí descendo pela Ladeira da Água Brusca.

Por baixo, passava a Rua da Valla, a primeira via de vale efetiva da cidade, e desde cedo mostrava

sua futura articulação em dois níveis. Se a Rua do Arco é parte de um anel viário nas cotas mais altas,

a Rua da Valla iniciava a conexão pelas cotas inferiores e a chegada a Itapagipe, circundando a

Montanha e atravessando-a por outra falha. A questão tratava-se de como conectar os dois níveis.

Esse nó viário, entre os dois níveis de conexão, seguindo o rio abaixo, e conectando as cumeadas

acima, está explícita nesta Sessão Ordinária da Câmara Municipal, de 15 de abril de 1846:

10. João Cerqueira Lima, arrematante da 2.ª parte da rua da Valla, representou à camara em seo officio de 17 de março, que me foi remettido, allegando haver o engenheiro Carlos Augusto Weyl mandado fazer uma ponte por baixo do arco por onde passa o Rio das Tripas, não comprehendida no orçamento da obra, nem nas condições por que a arrematou, e pedio que esta Camara attendendo ao expendido em seo officio, e no orçamento, e termo d´arrematação que juntou por certidão, deliberasse à respeito como julgasse de justiça, ou equidade. A Camaara se bem que conheça não estar contemplada semelhante ponte nem no orçamento nem nas condições da arrematação da obra, mandou ouvir ao engenheiro, o qual informa, como se vê do seo officio que a commissão submette ao juiso da Camara, que reconhecendo de necessidade aquella ponte julgando-a comprehendida no orçamento a mandou fazer, mas que vê agora não ter sido contemplada no orçamento; é a commissão de parecer, à vista da informação, e termo d´arrematação, que seja a ponte orçada para oportunamente se reclamar da assembléa legislativa da provincia a sua importancia. (O GUAYCURU, 1846b).

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O desafio, em termos horizontais, estava em conectar os arrabaldes distantes, núcleos antigos de

ocupação, e, em termos verticais, vencer os sucessivos desníveis, dos quais o mais dramático era o

da escarpa da Montanha. Solucionado com a passagem pela falha do Tanque da Conceição, hoje

Largo do Tanque, e assim “não só facilita o transito e o transporte, como também abre caminho para

um dos mais aprazíveis arrabaldes da Capital” (FALLA..., 1860: 108). Em 1861, “já se passa por ahí

em carro até o subúrbio do Bomfim” (FALLA..., 1861: 99).

FIGURAS 11 e 12 - À esquerda Espelho d´água do Tanque da Conceição. À direita, as margens do mesmo tanque, com os trilhos do bonde. Postais da Coleção Ewald Hackler, produzida pela Libro-Typ. Almeida em 1917. Fonte: VIANNA, 2004.

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FIGURA 13 - Atlas Parcial da Cidade do Salvador, realizado em 1955. O Tanque da Conceição já está reduzido a um charco. Vê-se o percurso dos trilhos do bonde, e a sua descida pela falha na Montanha. Fonte: PREFEITURA MUNICIPAL DO SALVADOR, 1956.

FIGURA 14 - Rua Nilo Peçanha na sua parte inferior, no sopé da Montanha. Primeira metade do séc. XX. Fonte: acervo da Fundação Gregório de Mattos.

A Falla de 1859 menciona as vantagens evidentes da obra, com a comunicação fácil entre as ruas que

atravessa, o dessecamento do pântano que “viciava o ambiente no coração da Cidade”, e o ganho para

“terreno espaçoso para novas edificações” (FALLA..., 1860: 108). Nesse mesmo ano o Imperador D.

Pedro II esteve em Salvador, por duas vezes. Em uma delas faz

um passeio pela estrada de Nazaré até o lugar em que se separa a do Cabula; é bem bonito e com bastantes chácaras ainda que não muito bem tratadas causando-me admiração que as pretas em grande número só tivessem uma tanga apresentando peitos de hotentotes. (D. PEDRO II, 1959: 167).

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Pensamos que o Imperador esteve na área do Aquidabã, talvez mais adiante, nas Sete Portes, onde

há a bifurcação do vale do Nazaré e seus jardins, morro acima, e do rio rumo ao Cabula. O notável são

as negras em grande número, e a liberdade que se davam. Louis-François de Tollenare, em uma das

raras menções ao vasto cinturão de roças e pobres no entorno da cidade, observara décadas antes:

(...) mas, quando se percorre os arrabaldes e bairros retirados causa admiração ver ali o formigar de uma imensa população de brasileiros livres, aglomerados em casinhas miseráveis. Toda esta gente vive de quase nada e anda pouco vestida. (TOLLENARE, 1956, pag. 327).

Nesse momento entra em cena a abertura da Estrada da Rainha, caminho entre a Rua da Valla e a

Baixa da Soledade, aproveitando outro fundo de vale, e alçando-se à cumeada principal (FALLA...,

1860: 110).

FIGURA 15 – Estrada da Rainha, com seus trilhos de bonde. Ao fundo, a Igreja e Convento de Nossa Senhora da Soledade. Postal da Coleção Ewald Hackler, feito por J. Mello, em 1911. Fonte: VIANNA, 2004.

3.2. O Caminho para o Rio Vermelho: a canalização do Camurugipe

Ao mesmo tempo em que a Rua da Valla seguia para o Engenho Conceição, seguiam as obras de

canalização do rio Camurugipe em direção à sua foz. O leito original do rio era o acesso mais fácil ao

litoral atlântico, a Chega-Nego e as Armações, e dali seguindo o cordão litorâneo até Itapuã. O

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empreendimento possui uma série de partes, das seções. A jusante do Rio Camurugipe, a partir do

encontro com o Rio das Tripas:

A primeira secção dos trabalhos se extende d´esde a ponte do Cabulla té a das armações na estrada entre esta e Brotas, fizerão-se n´ella no anno de 1854 quinhentas e setenta braças de canal, e alem d´este serviço, demarcou-se o canal em uma extensão quasi triplicada de que acabo de mencionar, sanjando-se do mesmo n´esta parte demarcada mais de cem braças; mesmo n´esta prilmeira secção será possível no inverno navegar em canoas, por quanto, na visita que em abril do anno de que tracto fiz a esta obra, navegamos ahi pelo canal a baixo e em um batelão seis pessoas, e com muita facilidade, e isto nas quinhentas braças contiguas a ponte do Cabulla, tendo, porém, nos embaraçado cerca de cem braças a baixo da dicta ponte. A segunda secção do canal é a comprehendida entre a já mencionada ponte das Armações e o logar que começa a curva, que liga o antigo leito do Camorogipe com o canal, que constitue a 3ª secção, a qual tendo princípio n´este porto, se extende te a ponte da Mariquita no Rio Vermelho. (FALLA..., 1855: 10).

FIGURA 16 - A – Trecho da Rua da Valla onde o rio é canalizado, até a Rua do Arco (1). B – Trecho da Rua da Valla ao longo do Rio das Tripas, com ruas à margem do canal. 3- Ponte do Cabulla. C – Trecho da Rua da Valla que segue até Tanque da Conceição (2). Da Ponte do Cabulla, segue o rio Camurugipe abaixo. Das três partes da obra, o trecho D tem uma dubiedade: o mapa aponta uma estrada, por vale onde hoje correm a Av. Santiago de Compostela e a Rua da Polêmica; é amplo o bastante para hoje ter o campo de futebol do Galícia Esporte Clube. Mas o braço de rio maior corre mais a leste. Provavelmente o caminho já existira, a nova canalização e sua estrada, que não constam neste mapa, ou seja, não eram ainda projeto, percorreriam o braço maior. O trecho E é o segundo trecho da obra, e F, o canal até a foz do Rio Vermelho. Fonte do mapa original: ALMEIDA, 2014.

O interessante é cogitar a possibilidade da navegação em canoas ao menos parte do canal.

Esta obra se fez sob o signo da peste. Então o cólera atacava a cidade, propagando-se a partir

precisamente do local das obras, o Rio Vermelho:

Na terceira secção construirão-se as obras do orçamento additivo, e pouco faltava das do primeiro orçamento, quando foi preciso suspender os trabalhos, porque indo eu visital-os em 9 de Agosto de 1855 já encontrei o feitor e serventes sob tal terror com o horrível espectaculos das mortes quase fulminantes, que victimavão na Povoação do Rio Vermelho e Mariquita oito, dez, e mesmo mais vidas por dia, que eu receando ver sacrificada improficuamente aquella gente, tanto mais quanto o trabalho era quase constantemente com os pés n´agua (...) (FALLA... 1856: 6).

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O rio canalizado teve sua dinâmica afetada. Os pântanos marginais eram a várzea do rio. Daí que a

carga de sedimentos, o assoreamento do canal e a extravazão continuassem nos anos seguintes,

exigindo limpeza constante. O mote principal era impedir a formação de “pântanos accidentaes e

conseguintemente focos de infecção paludica, espraiados e disseminados em seu longo trajecto”

(RELATÓRIO..., 1894: 7), de cerca de 12,5 km. Aqui aparece algo importante: os proprietários de

terrenos vizinhos criavam tais pântanos, gerando, para a Presidência da Província, febres nas

redondezas.

Tiveram logar no decurso do mesmo anno a limpeza e desobstrução dos rios Camarogipe e das Tripas,

sendo intimados por este facto os proprietários ribeirinhos, senhores de prezas nelles feitas, em ordem

a restabelecer a salubridade das localidades banhados por esses rios, e onde começava a desenvolver-

se febres. (RELATÓRIO..., 1899: 11).

4. Os Bondes a Burro

Outra inovação tecnológica urbana nos anos 1960 fora o transporte coletivo sobre trilhos por bondes

puxados a burro. A atuação das empresas de bondes refletiria o problema da articulação norte e sul, e

estariam a competir e ensaiar maneiras de vencer o declive da Montanha. Principalmente para alcançar

o Comércio, a região da Calçada e Itapagipe. Mas também, em outro grau, e sem a falésia da

Montanha, as cotas litorâneas mais baixas da Barra e Rio Vermelho.

Atuando a norte, do largo da Conceição da Praia até Ribeira, a companhia Veículos Econômicos. Em

direção ao sul, partindo da Praça Municipal até a Graça, e depois até a Barra, a companhia Transportes

Urbanos. Os seus proprietários, sob outra personalidade jurídica, foram responsáveis pelo Elevador

Hidráulico, hoje Elevador Lacerda, que unia as linhas das duas companhias. Diante disso inicia a

atuação da Trilhos Centrais, que operará na Rua da Valla.

4.1. a Trilhos Centrais

Em 1869 firma-se o contrato com a Câmara Municipal e inaugura-se em 1871 a primeira linha da

Companhia Trilhos Centrais (TARQUÍNIO, 1934), parte de uma linha maior que iria da Barroquinha ao

Engenho da Conceição, através da Rua da Valla.

Ela diferiu das companhias rivais ao lançar-se no sentido leste, com um espectro amplo de ramais que

vão congregando os arrabaldes dispersos. Se a Veículos Econômicos atua na estreita faixa sedimentar

que existe ao nível do mar, da Cidade Baixa à Península de Itapagipe, e a Transportes Urbanos, pelas

cumeadas, a Trilhos Centrais será a primeira a operar em um vale, em cota única, vencendo a

Montanha contornando-a pela Rua da Valla. Além da conexão, de fato, com uma linha para a Estrada

2 de Julho, que, atingindo outra bacia hidrográfica, faz com que estas se configurem como caminhos

que encintavam a cidade. Seu abrigo dos carros. e mais duas grandes estrebarias, ficavam na Ladeira

das Hortas, no nascedouro mesmo do Rio das Tripas. Pouco mais adiante, na Baixa de Sant´Anna,

ficava a cocheira. Dali partiam, seguindo o vale, alimentando uma linha tronco principal e uma série de

ramais, inaugurados à medida que as obras prosseguiam.

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FIGURA 17 - Ladeira ligando a Rua da Valla à Igreja do S.S. Sacramento e Senhora Santana. No sopé da ladeira, à direita, estão baias da Companhia Trilhos Centrais. Postal da Coleção Ewald Hackler, feito pela Reis & C., em 1903. Fonte: VIANNA, 2004.

Em 1º de junho de 1871. “Inaugurou-se o serviço da linha férrea denominada – Trilhos Centraes –

desde a Barroquinha até as Sete Portas, na estrada da Valla” (AMARAL, 1922: 218). Em julho de 1871,

prolongou o tráfego até a Baixa da Quinta dos Lázaros. Não se trata apenas de alcançar a Península

de Itapagipe e, com isso, a Cidade Baixa. Agora, a conexão se faz com a Estação de Trem da Calçada,

inaugurada em 1860, conectando a cidade com a Província.

Daquela linha-tronco da Rua da Valla partiam, seguindo afluentes do rio ou subindo as colinas, os

ramais: do Taboão; para a Fonte Nova, inaugurada em fins de 1871, subindo a Ladeira da Fonte das

Pedras e bifurcando-se para a Rua da Lapa e para o Largo de Nazaré); da Soledade, aberta em 1873

(CARVALHO, 1940: 20), com a Baixa de Quintas como parte do percurso. O ramal do Cabula estava

aberto ao tráfego em 1875 (RELATÓRIO..., 1875), e nesse mesmo ano se chegava ao Engenho Retiro

(RELATÓRIO..., 1875). O Relatório de 1876 assinalava que faltava apenas o prolongamento da última

seção, para chegar à Estação da Calçada.

Enquanto as empresas concorrentes antecedentes tinham percursos lineares atendendo a arrabaldes

com prestígio, a Trilhos Centrais atendia a população espalhada pelos arrabaldes orientais. Os trilhos

na Estrada da Rainha, subindo à Soledade, por exemplo, punha “em communicação fácil, commoda e

barata os habitantes da Soledade, Cruz do Cosme e bairros annexos, que estavam quasi segregados,

e assim inhibidos de facilmente virem à Cidade pelas distancias e difficuldades dos caminhos” (FALLA,

1873: 5). Ao mesmo tempo, a Rua da Valla vai sendo alargada, por conta da Trilhos Centrais.

Alguns ramais são fundamentais para entender a lógica por trás dessa linha e o papel designado para

essa bacia hidrográfica. As linhas não apenas atendiam as pessoas de uma área vasta, e avançavam

para arrabaldes antes desatendidos, como Brotas e Cabula, como respondiam a uma demanda muito

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rentável para as empresas: os enterros. Com o pequeno ramal para a Baixa de Quintas alcançava o

Cemitério da Quinta dos Lázaros5.

Mas o tópico principal era o Matadouro. O abastecimento de carne de Salvador se aglutina em torno

da bacia do rio Camurugipe. Primeiramente o principal Matadouro da cidade estava nas Hortas de São

Bento. F. Borges de Barros (1934) informa que em tempos coloniais funcionou na Fazenda Campinas,

no percurso da Estrada das Boiadas6. Diz ainda que funcionou na Baixa da Barroquinha, quase no

Guadalupe (e não nas Hortas de São Bento). Em 1708, localizava-se na encruzilhada das Quintas.

Depois, para São José. Foi transferido para os currais do Barbalho, acedidos diretamente pela Estrada

das Boiadas, ao longo das cumeadas. No entanto, havia o problema do saneamento, dos restos da

atividade, e do desgaste dos pastos adjacentes, fundamentais para as reses. Cogita-se, já em 1849, a

transferência do Matadouro Público para o Engenho da Conceição, no caminho da Estrada das Boiadas

(FALLA..., 1849). A retirada da parte principal da atividade do Barbalho só será resolvida com a Trilhos

Centrais, responsável pela construção do novo edifício, no Engenho Retiro. Em 1872 (FALLA..., 1872)

temos notícia dessas obras e em de 1876 passou a funcionar ali (BARROS, 1934). A nova Estação de

Trem soma-se a essa tecnificação do abastecimento da cidade. A linha de bondes a burro não apenas

liga a cidade ao novo Matadouro, como este à estrada de ferro, por meio da baixada do atual Largo do

Tanque (Engenho da Conceição). As reses passam a vir nos vagões do trem, e não penando pela

longa Estrada das Boiadas.

4.2. a Linha Circular

Uma outra companhia de bondes a burro atuou em torno da bacia do Rio das Tripas: a Linha Circular

de Carris da Bahia, fundada pelo Engenheiro João Ramos de Queiroz em 1884 (TARQUÍNIO, 1934).

Uma de suas novidades estava na sua linha circular, de onde irradiariam ramais. Seria o percurso:

Praça Municipal, à Baixa dos Sapateiros, Rua Direita de Santo Antônio, Campo do Barbalho, Largo de

Nazaré, Campo da Pólvora, Rua Nova de São Bento, Praça Castro Alves, e Praça Municipal. No que

nos interessa, esse circuito contornava o vale do Rio das Tripas, enlaçando as duas cumeadas. Ao sul,

pela Rua Nova de São Bento, e ao norte, tudo indica, pelo arco que ligava Barbalho a Nazaré. Descia

ao fundo do vale em um momento, para não lidar com as bruscas ladeiras que se interpunham entre o

Terreiro de Jesus e o Santo Antônio. Operava por vias de declividade mais suave, incluindo abrindo

uma nova, à meia-encosta, por trás do Convento do Carmo, atual Ladeira Ramos de Queiroz.

5 Companhia rival, a Transportes Urbanos, atendia já o Cemitério do Campo Santo. A Veículos Econômicos tinha

o monopólio do atendimento ao Cemitério do Bom Jesus, também chamado de Massaranduba. 6 Mas contradiz a informação predominante que confere proeminência às cabeceiras do Rio das Tripas.

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FIGURA 18 - Ladeira Ramos de Queiroz, correndo por trás do Convento do Carmo, do Barbalho à Rua da Valla. Fonte: SINZIG, 1935.

5. Um Novo Esgotamento

Em princípio, a obra da Rua da Valla visava resolver um problema de saneamento. A escala da cidade

reconfigurou os problemas. Em primeiro lugar, a sua expansão demográfica. E com isso a situação se

inverteu quanto à retirada dos efluentes.

No início da Rua da Valla, quando do simples expediente de lançar as águas ao mar, eram as

localidades da Cidade Baixa privilegiadas em detrimento das demais. Agora, servidas pela bacia do

Camurugipe, passava a ser a Cidade Baixa o ponto mais frágil da cidade, necessitando de elevação

mecânica de seus efluentes para lançar, em seguida, nos escoadouros, naturais ou artificiais, até o mar

aberto. A região adjacente à bacia do Camurugipe seria naturalmente atendida pelo rio, ou pelo seu

percurso. No artigo Esgotos na Capital da Bahia, do Dr. M. Joaquim Saraiva, de 1891, apresenta-se

uma concepção, com os esgotos recolhidos por um coletor ao longo da Rua da Valla, acompanhando

o percurso do rio das Tripas, juntando-se com o rio Camurugipe, seguindo por tubos de ferro, até o

oceano, “ao lado do Rio Vermelho, além do Monte do Conselho” (SARAIVA, 1891: 218), com processos

de depuração a serem escolhidos.

Um outro motivo para a necessidade de prover-se o saneamento estava na saturação do sistema

“natural” da Rua da Valla. Em artigo da época (QUESTÃO..., 1893), fala-se sobre lançamento dos

esgotos no Rio das Tripas, contaminado com a série de esgotos ali lançados, debatendo os efeitos de

uma eventual cobertura do rio. Theodoro Sampaio apontara o papel do Rio das Tripas, após receber

os esgotos do hospital Santa Isabel: “é hoje o maior foco de infecção da cidade alta” (BRITTO, 1944).

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Já havia a concepção de que a solução anterior era muito rudimentar, e que a contaminação do Rio

das Tripas se incrementara com o adensamento populacional e com o hospital.

A bacia do Camurugipe ainda seria uma bacia sanitária, nos projetos realizados, como no de Teodoro

Sampaio. A variação estaria no lançamento final dos efluentes, se no Chega-Nego, se no Rio Vermelho.

A rede do distrito da cidade alta, na bacia do Camurugipe, esgotaria para o coletor geral que desceria da rua da Vala, hoje Dr. Seabra, passando pela baixa dos Sapateiros (onde receberia o emissário dos distritos da cidade baixa) e seguiria à margem do rio das Tripas para chegar aos tanques de depuração, como vimos acima; o efluente seria então descarregado no Camurugipe, que deita as águas no oceano a cêrca de 6 km de distância dos tanques, correndo em várzea alagadiça, úmida e com pequeno declive. (BRITTO, 1944: 217).

Porém, retornavam à cena os alagadiços intencionais das margens do Rio das Tripas.

A partir das Sete Portas, os moradores tinham o hábito de represar o rio para inundar e irrigar os

terrenos marginais plantados de capim. Essa possibilidade era motivo de polêmicas dos especialistas

em todo o mundo. No alvorecer da medicina bacteriológica, o sanitarismo, igualmente cientificista,

contrapunha-se absoluta e completamente à teoria médica em ascensão. Há, assim, uma discrepância

fundamental entre o engenheiro sanitarista e o médico, e não uma convergência, como é usual se

pensar. O primeiro desenvolve uma série de técnicas modernas, refinadas, para uma compreensão

anacrônica da enfermidade. Saturnino de Britto, convidado para pensar o abastecimento de água e

saneamento da cidade, em vários momentos ataca a tese microbiológica. Essas polêmicas implicavam

em medidas radicalmente opostas, como a possibilidade do emprego dos efluentes para irrigação e a

cobertura do rio. O procedimento seria duplamente vantajoso: as águas irrigariam os campos, os

campos depurariam as águas:

A teoria exigia que se fechassem hermeticamente os esgotos para impedir que os gases vissem à rua, e o resultado foi uma grande formação de gases, a invasão das casas, etc., provando a prática que o melhor sistema é a ventilação franca e a lavagem ativa. A teoria condenava os líquidos de esgotos carregados de fezes como sendo mais perigosos que eles mesmos sem estas, e a prática provou que o seu aspecto é o mesmo e a sua composição química sensivelmente igual. A teoria bacteriológica (pela voz de PASTEUR) protestou contra os campos de irrigação, e até hoje a prática tem mostrado, mesmo pela bacteriologia, que as previsões não eram verdadeiras, sendo aquele sistema o mais eficaz que se conhece para a depuração dos esgotos. (BRITTO, 1943a, pag. 31).

De um modo geral, na sua concepção, as bacias naturais de drenagem definiriam o traçado e a

expansão da cidade, em uma versão mais rebuscada do que ocorrera com a Rua da Valla. A regra

seria “colocar avenidas nas margens dos cursos (submetidos aos projetos de retificação) e estabelecer

vias públicas ao longo dos thalwegs e depressões naturais” (BRITTO, 1943b: 383), facilitando a locação

dos coletores das águas pluviais e de esgoto doméstico.

Quanto aos esgotos pluviais, a bacia receptora seria a do Rio das Tripas.

Constitue serviço essencial a projetada canalização do rio das Tripas, o infecto escoadouro das impurezas que passarão a correr nos esgotos sanitários (...); este elemento de insalubridade atravessa em galeria zona edificada depois corre a céu aberto ao lado de uma rua trafegada por bondes; na margem esquerda e na direita existem capinzais que são irrigados com as águas poluídas, por meio de represamentos. Uma vez feita esta obra de aformoseamento, de utilidade para o tráfego e principalmente de higiene, os terrenos marginais assumirão rápidamente alto valor e o governo executor do melhoramento (o estadual ou o municipal) deverá cobrar uma taxa de valorização para se pagar dos juros e amortização do capital invertido. (BRITTO, 1944: 214).

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Neste alvorecer do séc. XX (e mesmo em fins do XIX), percebemos que a beleza, ligada à noção de

aformoseamento, que se dará com alamedas, jardins e parques, é algo que aparece. E que descerá

das praças tornadas parques, acima, para as ruas marginais aos rios urbanos. Entretanto, esta é uma

outra etapa que não cabe aqui desenvolver.

6. Conclusão

A Rua da Valla é parte de uma série de iniciativas que revelam um salto de escala na compreensão da

cidade, dos seus problemas e soluções. Uma das dificuldades da história urbana está em ter uma visão

de conjunto. Neste caso, apontamos para a crescente mecanização da cidade, com a navegação a

vapor pelo Recôncavo e de cabotagem pelo litoral norte e sul, a nova estrada de ferro que a ligava aos

sertões, as várias linhas e companhias de bondes a burro, a coleta de lixo e seus incineradores, a

iluminação pública a gás, o abastecimento de água por açudes e chafarizes. A urbanização também

desenvolve o aparato técnico, e devemos ver as vias como tais. Estas deixam de ser uma abertura na

vegetação, e se tornam artefatos, com camadas de serviço, mecânico ou de material inerte produzido

industrialmente. Na superfície, estrias definidas, com leito carroçável adaptado ao veículo, área de

pedestre, vegetação, transições, drenagem superficial, tampas. Subterrâneos, estratos e dutos, para

drenagem pluvial e cloacal, abastecimento de água potável. Aéreos, iluminação e energia. É uma

coluna vertebral, cada vez mais complexa, cada vez mais distante da mera picada.

Há uma expansão veloz da área abrangida pelas iniciativas e da própria compreensão da cidade.

Deixou de enfatizar-se apenas o Rio das Tripas, e começou a ser pensada a bacia por inteiro, e mesmo

sua conexão com a bacia do Lucaia – item que não exploramos aqui. A Rua da Valla pensava o

escoamento de todo o interior da cidade, e será ainda, por muitas décadas, o principal tronco dos vários

projetos de saneamento. Ao contrário do abastecimento de água, que sucessivamente apelará para

bacias mais amplas, e represas de maior capacidade, abandonando as antigas, vestígios da história

técnica da cidade. Os próprios mapas denotam esse salto escalar. Mas poucos destes revelam as

características altimétricas da cidade, com seus vales e morros, gargantas e grotões, essenciais para

todos os projetos de circulação da cidade.

Salvador se defronta com problemas relacionados com sua topografia em três escalas, ou situações.

A primeira, mais geral, é o desafio de regularizar caminhos. A segunda, específica, é a conexão entre

Cidade Alta e Cidade Baixa, a administração e moradia primária e a atividade portuária e comercial. A

terceira, global e urbana, é a articulação do andar superior da cidade, onde ela se desenvolve como

residência, originalmente, e os andares inferiores, não mais laborais, mas de veraneio e, depois,

moradia: Itapagipe, Barra e Rio Vermelho, em um primeiro momento. Isso implicará em uma malha de

vias muito porosa, com grandes vazios que, como dendrificações, penetram fundo no próprio cerne da

cidade original. A história dos bondes mostra esse tipo de costura, e o vale do Camurugipe, com outros

vales e seus rios na cidade, terá o papel urbano repleto de tensões de servir de escoamento das águas

pluviais e servidas, como áreas verdes e de equipamentos de lazer – algo que começa a se anunciar

com Saturnino de Britto e se propõe em outro momento, no séc. XX – e como circulação, transversal e

longitudinal, próxima e distante.

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É algo dessa história, de como a urbanização se deu sobre a plataforma física da cidade, da sinergia e

conflitos entre as diferentes funções designadas a ela, que aqui se desenvolveu.

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