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DE Universidade Estadual de Santa Cruz
Programa Regional de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente
GEOVÂNIA SILVA DE SOUSA
PERSPECTIVA ECÔNOMICA E AMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL DE
DENDÊ
ILHÉUS – BAHIA 2010
UESC
GEOVÂNIA SILVA DE SOUSA
PERSPECTIVAS ECÔNOMICA E AMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL
DE DENDÊ
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente da Universidade Estadual de Santa Cruz, para a obtenção do título de Mestre em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.
Orientadora: Profa. Mônica de Moura Pires Co-Orientadora: Profa. Patrícia Lopes Rosado
ILHÉUS – BAHIA 2010
S725 Sousa, Geovânia Silva de. Perspectiva econômica e ambiental da produção de
biodiesel de dendê / Geovânia Silva de Sousa. – Ilhéus, BA : UESC, 2010.
x, 75f. : il. ; anexos.
Orientadora: Mônica de Moura Pires. Dissertação (Mestrado) –- Universidade Estadual de Santa Cruz. Programa Regional de Pós-graduação em Desenvolvimento e Meio Ambiente. Bibliografia: f. 57 - 61. 1. Biodiesel – Aspectos econômicos. 2. Óleos vege- tais como combustível. 3. Cadeia produtiva. I. Título.
CDD 338.476655384
GEOVÂNIA SILVA DE SOUSA
PERSPECTIVAS ECÔNOMICA E AMBIENTAL DA PRODUÇÃO DE BIODIESEL
DE DENDÊ
__________________________________________________
Mônica de Moura Pires – DS UESC/DCEC (Orientadora)
__________________________________________________
Andréa Silva Gomes – DS UESC/DCEC
__________________________________________________
Ahmad Saeed Khan - PhD UFC/PRODEMA
Dedico este trabalho aos meus pais Tânia Maria e Julival Nery e a toda a minha
família pelo incentivo, apoio e carinho
AGRADECIMENTOS
A Deus pelo dom da vida, força, coragem, e perseverança renovados a cada
dia.
Ao DAAD pela concessão da bolsa
Aos meus pais Tânia Maria e Julival Nery, por terem sido instrumento de
Deus para que eu viesse ao mundo, pelo carinho, apoio e incentivo.
À minha orientadora professora doutora Mônica de Moura Pires pelo carinho
paciência, disponibilidade, dedicação, e exemplo de pessoa e profissionalismo. Por
ter me “lapidado” durante esses seis anos de orientação (4anos de iniciação
científica e dois de Mestrado).
À minha co-orientadora professora doutora Patrícia Lopes Rosado pela
disponibilidade, dedicação, e pelo acolhimento.
Aos Coordenadores, professores e à secretária (Maria Shaun) do Curso de
Mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente.
Aos meus colegas e amigos da sala de pesquisa: Sarah Farias, Mariana
Massena, Michele Dreger, Thallys Lima, e Lucas Silva pelo carinho e colaboração.
Ao Departamento de Economia pelo apoio, tratando - me como se ainda
tivesse vínculo com o curso.
“Ninguém pode prever a importância futura que estes óleos terão para o desenvolvimento das colônias. [...] a energia dos motores poderá ser produzida com o calor do sol, que sempre estará disposto para fins agrícolas, mesmo quando todos os nossos estoques de combustíveis sólidos e líquidos estiverem exauridos.” Rodolf Diesel.
vi
PERSPECTIVAS ECÔNOMICA E AMBIENTAL DA PRODUÇÃO BIODIESEL DE
DENDÊ
RESUMO
Esse estudo analisa a eficiência, competitividade e aspectos ambientais da produção de biodiesel de dendê produzido na região do Baixo Sul da Bahia. Foi adotada a Matriz de Análise Política (MAP), como instrumento de análise econômica, decorrente da adoção de medidas de políticas sobre a competitividade e lucratividade bem como as divergências e falhas observadas no mercado sob o ponto de vista social e privado. Sob a perspectiva ambiental, estruturou-se a Curva Ambiental de Kuznets (CKA), a fim de captar os ganhos ambientais resultantes da implementação do Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel (PNPB). Os resultados obtidos demonstram que a produção desse biocombustível apresenta potencial para expansão, é eficiente e competitivo sob a ótica analisada, apesar de limitações associadas ao pequeno percentual na mistura, o que pode ser modificado ao longo do tempo à medida que houver aumento do biodiesel, o que sob o aspecto ambiental poderá ser relevante. Muito embora os resultados econômicos sejam positivos, verifica-se que há necessidade de medidas que atuem em setores estratégicos da cadeia produtiva, principalmente, nas etapas de produção das máterias-primas, tomando-se como referência a oleaginosa estudada. As medidas de política devem focar, além dos aspectos sociais e econômicos, os ambientais, especialmente pelas características peculiares da região produtora de dendê na Bahia.
Palavras-chave: cadeia produtiva, eficiência, competitividade.
vii
ECONOMIC AND ENVIRONMENTAL PERSPECTIVES OF BIODIESEL
PRODUCTION OF PALM
Abstract
This paper analises the efficiency, competitiveness and environmental aspects of production of palm oil biodiesel in Southern Bahia. The Policy Analysis Matrix (PAM) was adopted as a tool of economic analysis resulting from the adoption of policy measures on competitiveness and profitability as well as the differences and failures observed in the market from the point of view of social and private sectors. From an environmental perspective was structured the Environmental Kuznets Curve (EKC) in order to capture the environmental gains resulting from the implementation of the National Program of Biodiesel Production and Use (PNPB). The results that were achieved show that the production of this biofuel presents potential of expansion and it is efficient and competitive under the analyzed circumstances, despite the limitations related to the low percentage in the mixture, which can be modified over time as there is an increase in biodiesel, which under the environmental aspect may be relevant. Nevertheless the economic results are positive, it is noticed that there is a need for measures that act in strategic sectors of the production chain, especially in the stages of raw material, taking as a reference the oleaginous studied. Polictical measures should focus, in addition to social and economical aspects, the environment, particularly the peculiar characteristics of palm oil producing region in Bahia.
Keys-Words: production chain, efficiency, competitiveness.
viii
LISTA DE TABELAS
1 Alíquotas de PIS/PASEP e COFINS sobre os produtores de biodiesel
(R$/litro de biodiesel)....................................................................................
5
2 Produção (T) brasileira e baiana de oleaginosas priorizadas pelo PNPB
em 2007........................................................................................................
7
3 Área Plantada, Produção e Produtividade de dendê em cachos dos
principais produtores braisleiros de 1997 – 2008 .........................................
10
4 Matriz de Análise Política (MAP)................................................................... 24
5 Matriz de Análise Política (MAP) – forma expandida.................................... 29
6 Matriz de Análise Política (MAP) para o cultivo de dendê no Baixo Sul da
Bahia, 2010...................................................................................................
43
7 Indicadores privados e sociais para para o cultivo de dendê no Baixo Sul
da Bahia, 2010..............................................................................................
44
8 Matriz de Análise Política (MAP) para o transporte da oleaginosa da propriedade agrícola à unidade de beneficiamento e produção de biodiesel de dendê, no Baixo Sul da Bahia, 2010 ......................................
45
9 Indicadores privados e sociais para o transporte da oleaginosa dapropriedade agrícola à unidade de beneficiamento da oleaginosa e produção de biodiesel de dendê, no Baixo Sul da Bahia, 2010....................
45
10 Matriz de Análise Política (MAP) para unidade de beneficiamento e produção de biodiesel de dendê no Baixo Sul da Bahia, 2010.....................
46
11 Indicadores privados e sociais para produção de biodiesel de dendê no Baixo sul da Bahia, 2010...............................................................................
47
12 Indicadores privados e sociais da MAP nos cenários estudados da cadeia produtiva do biodiesel no Estado da Bahia......................................
48
13 Matriz de Análise Política (MAP) para o transporte de biodiesel da unidade de produção à distribuidora, Baixo Sul da Bahia, 2010.................
49
14 Indicadores privados e sociais para o transporte do biodiesel da unidade de produção à distribuidora, Baixo sul da Bahia, 2010................................
50
15 Matriz de Análise Política (MAP) para a cadeia produtiva do biodiesel de dendê no Baixo sul da Bahia, 2010...............................................................
51
16 Indicadores privados e sociais para a cadeia produtiva do biodiesel de dendê no Baixo sul da Bahia, 2010...............................................................
51
17 Síntese dos indicadores para a cadeia produtiva de dendê no Baixo Sul da Bahia, 2010
54
18 Variáveis estimadas da curva de kuznets para o estado da Bahia, 2010 55
ix
LISTA DE FIGURAS
1 Cadeia Produtiva da produção de biodiesel, 2009....................................... 7
2 Mudas para expansão do cultivo de dendê na região do Baixo Sul da Bahia, 2010...................................................................................................
11
3 Comportamento do preço e da produção do dendê no Estado da Bahia no período de 1997 a 2008................................................................................
12
4 Evolução da produção, importação, e exportação brasileira de óleo de dendê no período de 1997-2007...................................................................
12
5 Esquema de uma economia moderna e sustentável tomando como exemplo a produção de combustível renovável............................................
16
6 Funcionamento equilibrado de um sistema econômico sob a ótica dos economistas ecológicos................................................................................
17
7 Diferentes possibilidades para relação renda – pressão ambiental.............. 37
8 Localização da Região do Baixo Sul no Estado da Bahia............................ 38
9 Absorção de mão de obra por setores econômicos na região do Baixo Sul da Bahia no período de 1996 a 2009............................................................
39
x
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................... vi
ABSTRACT................................................................................................ vii
LISTA DE TABELAS.................................................................................. viii
LISTA DE FIGURAS................................................................................... ix
1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 1
1.1 Objetivos..................................................................................................... 8
2 ASPECTOS GERAIS DA CULTURA DO DENDÊ..................................... 9
3 BIODIESEL NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL......................................................................................... 14
4 METODOLOGIA......................................................................................... 20
4.1 Descrição do modelo e operacionalização............................................ 23
4.1.1 Lucratividade privada.................................................................................. 25
4.1.2 Lucratividade social..................................................................................... 26
4.1.3 Efeitos de divergências............................................................................... 28
4.1.4 Transferência líquida................................................................................... 31
4.1.5 Indicadores privados e sociais.................................................................... 32
4.2 Curva Ambiental de Kuznets .................................................................. 35
4.3 Área de Estudo.......................................................................................... 38
4.4 Fonte dos dados ...................................................................................... 39
5 RESULTADOS E DISCUSSÕES............................................................... 41
5.1 Matriz de Análise Política (MAP) para o cultivo de dendê.................... 42
5.2 Matriz de Análise Política (MAP) da unidade de produção agrícola à unidade de beneficiamento e produção de biodiesel........................... 44
5.3 Matriz de Análise Política (MAP) para unidade de beneficiamento e produção de biodiesel de dendê.............................................................
46
5.4 Matriz de Análise Política (MAP) da unidade de beneficiamento do dendê à unidade de produção de biodiesel até a distribuidora...........
49
5.5 Matriz de Análise Política (MAP) para a cadeia produtiva do biodiesel de dendê no Baixo Sul da Bahia, 2010..................................
50
5.6 Análise Ambiental.................................................................................... 53
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................ 55
REFERÊNCIAS.......................................................................................... 57
ANEXOS..................................................................................................... 62
1
1 INTRODUÇÃO
A busca incessante por maior nível de produção no setor industrial, visando
atender às crescentes necessidades da sociedade hodierna, bem como mudanças
técnicas de cultivo e plantio, manejo e conservação de solo, aumento da
produtividade, vem imputando transformações relevantes no setor agrícola, e,
acarretando demanda cada vez maior por energia, a fim de manter patamares de
desenvolvimento mais intensivos em tecnologias modernas.
Os três grandes setores da economia (industrial, agrícola e de serviços) vêm
necessitando mais e mais de suprimento de energia, que na maior parte (84%),
provém do petróleo. De acordo com estudos realizados pelo Instituto Internacional
de Economia, estima-se que a demanda mundial de energia aumente 1,7% ao ano
entre os anos 2000 a 2030, o que corresponde a 15,3 bilhões de toneladas
equivalentes de petróleo (tep) (PNA, 2006). Considerando que o petróleo é uma
fonte não-renovável de energia, e, portanto, possui limitação ao seu uso, presume-
se, segundo pesquisas, que a quantidade disponível de petróleo, nas condições
atuais de uso e de reservas exploradas, seria capaz de suprir a demanda mundial
por aproximadamente 40 anos e, especificamente no caso das reservas brasileiras
esse suprimento seria por mais 18 anos (PNA, 2006).
Ao longo do tempo a forma de exploração, produção e uso das fontes de
energia, vêm provocando diversos impactos sobre o meio ambiente como: aumento
da poluição urbana do ar, chuva ácida, efeito estufa, degradação costeira e marinha,
dentre outras. Tais efeitos estão impulsionando a sociedade na busca por
estratégias que propiciem o uso mais racional dos recursos naturais disponíveis e
que permita atingir patamar cada vez maior de crescimento econômico, e que pari
passu, reduza ou minimize as disparidades regionais.
Nesse sentido, procura-se alcançar relação harmoniosa entre economia e
meio ambiente a partir de mudanças estruturais e técnicas envolvidas no processo
2
de produção e consumo. Nesse contexto, inserem-se os biocombustíveis originados
de recursos renováveis, em substituição às fontes de energias não renováveis. Um
exemplo disso é a substituição total ou parcial do diesel pelo biodiesel, uma vez que
esse é um combustível renovável que possui características importantes como a
possibilidade de reduzir a dependência de países importadores de diesel, além de
abrandar a emissão de gases poluentes na atmosfera. Além disso, sob a perspectiva
social, é uma alternativa na geração de emprego e renda para regiões em
desenvolvimento.
O biodiesel é um combustível que pode ser obtido a partir de óleos vegetais,
in natura ou residuais, quimicamente semelhante ao diesel, o que possibilita sua
substituição total ou parcial. Nesse mercado, espera-se que a produção desse
biocombustível seja economicamente viável e que as vantagens ambientais e
sociais sejam relevantes, a fim de se tornar realidade na matriz energética. Diante
desse contexto, vêm sendo desenvolvidas tecnologias em diversos países a fim de
se atingir essas metas.
Isso ocorre porque desde a descoberta do petróleo, as economias mundiais
tornaram essa fonte de energia fundamental no processo de desenvolvimento dos
mais diversos setores econômicos. Entretanto, fatores relativos à sua finitude (fonte
não renovável de energia) e impactos ambientais negativos, tornaram os
combustíveis fósseis alvo das mais diversas discussões ambientais, motivando
estudos de alternativas energéticas, como por exemplo, a utilização de óleo vegetal
e animal nas suas mais diversas formas, como fonte de matéria-prima na produção
de energia renovável, especialmente em relação ao diesel de petróleo.
A história do uso de óleos vegetais como combustível começou a partir da
experiência de Rodolf Diesel em 1900 na Exposição de Paris, quando utilizou o óleo
de amendoim para fazer funcionar um motor da companhia francesa Otto, que seria
alimentado com óleo mineral. Em 1937 Chavanne descreve o uso de ésteres etílicos
de óleo de dendê como combustível do tipo diesel (KNOTHE et al, 2006). Ao longo
do século XX foram feitas diversas experiências em nível laboratorial e em escala
piloto com uso de diferentes fontes de matéria-prima para operar motores veiculares
ou estacionários. No entanto, diversos fatores restringiram o uso em escala
comercial de combustíveis de fontes renováveis, dentre eles o mais relevante é o
aspecto econômico (custo de produção).
3
As primeiras experiências brasileiras com o aproveitamento de fontes
renováveis foram realizadas em 1970 pelo Instituto de pesquisas tecnológicas (IPT),
com o desenvolvimento de projeto integrado de açucar e álcool e do projeto de apoio
ao Pró-álcool. O PROÁLCOOL é um Programa Nacional de produção de energia
renovável a partir da biomassa, com o intuito de reduzir a dependência do país em
relação ao petróleo - à época negociado a preços elevados, configurando-se na
primeira iniciativa brasileira de diversificação da matriz enérgética de repercução nos
diversos setores econômicos do país, que propiciou, a partir dessa experiência, a
implementação de outros projetos de geração renovável de energia tal qual os para
obtenção de combustíveis provenientes de óleos vegetais. No Brasil, o primeiro
registro da obtenção de combustível a partir de óleo vegetal foi em 1980, a partir de
pesquisas na Universidade Federal do Ceará pelo professor Expedito Parente, que
obteve a primeira patente de biodiesel no mundo (Lima, 2004).
Mesmo assim, as pesquisas pouco avançaram no Brasil. No entanto, a crise
do petróleo em 1983 motivou o governo brasileiro a implantar o Programa Nacional
de Energia de Óleos Vegetais (OVEG), denominado de Pró-Óleo, um projeto para
testes de combustíveis a partir de óleos vegetais. Entretanto, os altos custos de
produção e a redução do preço do petróleo, após duas grandes crises na década de
1970, acarretaram na paralisação do projeto (MCT, 2002). Assim, a matriz
energética do país continuava tendo como principal fonte de energia o petróleo e
pouco se avançava em pesquisas, pois não havia estímulo por parte do governo e
também do mercado. No entanto, nos anos 2000 se retomam as discussões sobre o
tema, especialmente quando nos anos de 1990 uma série de questionamentos a
respeito de impactos ambientais da produção e uso de fontes de energia não
renováveis entraram em voga. Nesse ínterim, o governo formula novas estratégias
de política para o setor energético, sob a coordenação do Ministério de Ciência e
Tecnologia (MCT), constituindo grupos interdisciplinares para discutir a respeito do
tema biocombustível com foco em biodiesel.
Sob essa perspectiva e em sintonia a essas mudanças, a Universidade
Estadual de Santa Cruz instala em março de 2000 uma unidade piloto de produção
de biodiesel, colocando o estado da Bahia à frente das discussões que vinham
ocorrendo em nível federal, participando das discussões nos ministérios envolvidos.
Em 2002 é lançado o Programa Brasileiro de Biocombustíveis – PROBIODIESEL,
visando o progresso científico e tecnológico da produção, estabelecendo como meta
4
a adição de 5% de biodiesel no diesel a partir de janeiro de 2004. No entanto, esse
programa não obteve o êxito previsto e, praticamente poucos foram os avanços ao
longo desse período. Em 2004 começam a ser sistematizadas novas metas e em
dezembro de 2004 é lançado o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel
(PNPB), sob a coordenação do Ministério de Minas e Energia e participação de
quatorze ministérios. Esse Programa baseia-se em novas medidas de políticas para
produção do biodiesel em todo território nacional, priorizando como matéria-prima a
mamona e o dendê, oriundos da agricultura familiar e cultivados nas regiões Norte,
Nordeste e Semi–Arido do país. Ademais, a Agência Nacional de Petróleo (ANP)
tornou-se responsável pela regulação e fiscalização da indústria de petróleo, gás
natural e biocombustíveis, que dadas essas atribuições passou a Agência Nacional
de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Esse programa foi regulamentado pela Lei n 11.097 de 13 de janeiro de 2005,
que define biodiesel em seu artigo 6 inciso XXV como:
Biocombustível derivado de biomassa renovável para uso em motores a combustão interna com ignição por compressão, ou conforme regulamento para geração de outro tipo de energia, que possa substituir parcial ou totalmente combustíveis de origem fóssil (BRASIL, 2005).
Essa Lei estabeleceu ainda, um prazo de oito anos para a comercialização do
B5 (5% de biodiesel e 95% de diesel), sendo de três o período para a
comercialização do B2, no entanto esse prazo poderia ser modificado em função da
oferta de matéria-prima e capacidade de produção instalada, participação da
agricultura familiar, políticas industriais de inovação tecnológica, e desempenho dos
motores com o uso do combustível.
Em 2006, o biodiesel foi inserido efetivamente na matriz energética do país
com cerca de 500 postos de combustível comercializando o B2, e em 2010 passou-
se a comercializar o B5, antes mesmo do período de tempo inicialmente previsto.
Desde então, a oferta de biodiesel sob a forma de mistura é por meio de leilões
realizados pela ANP. No leilão de novembro de 2009 foram arrematados 535.000 m3
de biodiesel, a um preço médio de R$ 2,32/L. Participaram 40 empresas, dentre elas
duas empresas sediadas na Bahia a BRASILECODIESEL instalada no município de
Iraquara e a Petrobrás instalada no município de Candeias, ofertando conjuntamente
29.814 m3 . O leilão é o mecanismo que o governo adota para garantir a oferta do
5
biodiesel e foi regulamentado pelo Ministério das Minas e Energia que estabeleceu
os requisitos de participação. Quem oferta é o produtor de biodiesel ou sociedade
resposável por projeto de produção do biodiesel, detentor do selo combustível social
– como forma de sustentar o objetivo social do programa, que adquire são os
produtores ou importadores conforme participação no mercado. A organização e
fixação do preço de referência para cada leilão é feita pela ANP, de acordo com a
portaria nº 31 de novembro de 2005. Esse foi um mecanismo estabelecido para
monitorar e regular o mercado e assim proporcionar sua expansão e
desenvolvimento. Algumas exigências inicialmente previstas como participação de
produtores apenas com o selo combustível social foram sendo modificados em
função de que essa condição muitas vezes limitava a oferta de biodiesel no
mercado.
Quanto ao regime tributário que incide sobre a produção do biodiesel, esse foi
estabelecido pelo Decreto Lei nº 5.097 de 6 de dezembro de 2004, modificado pelo
Decreto Lei 6458 de 14 de maio de 2008, que dispõe sobre os coeficientes de
redução das alíquotas de contribuição para o PIS/PASEP e COFINS por litro de
biodiesel. Essa alíquota varia de acordo com a região de plantio, tipo de oleaginosa
e categoria de produção (Tabela 1).
Tabela 1 – Alíquotas de PIS/PASEP e COFINS sobre os produtores de biodiesel (R$/L de biodiesel)
Coeficiente de
redução PIS/PASEP
COFINS
TOTAL R$/m3
Alíquota Base (%) - 6,15 28,32 34,47
Regime especial (R$/m3) 0,00
120,14 553,19 673,33
Caso1A (R$/m3) 0,6763 38,90 179,10 218,00
Caso2B (R$/m3) 0,775 27,03 124,47 151,50
Caso3C (R$/m3) 0,896 12,49 57,53 70,03
Caso4D (R$/m3) 1,00 0,00 0,00 0,00
A Regra geral; B Mamona/Palma advindas do Norte, Nordeste e Semi – Arido; C Todas as oleaginosas provenientes de Agricultura Familiar do PRONAF; D Todas as oleaginosas provenientes de Agricultura Familiar do PRONAF no Norte, Nordeste, e Semi – Arido. Fonte: Adaptado de SILVA, 2008.
6
Como estímulo à produção de oleaginosas voltadas para a produção de
biodiesel, no sentido de promover a inclusão social, principal objetivo do PNPB,
“assegurando” ao produtor rural a venda de sua produção, assistência e capacitação
técnica, criando o que se denominou de Selo Combustível Social a ser concedido a
produtores de biodiesel que adquiririssem um percentual de no mínimo 50% de
matéria-prima da região nordeste e semi-árido do país, 10% região norte e centro-
oeste e 30% das regiões sudeste e sul. Além disso, essa matéria-prima deveria ser
produzida pela agricultura familiar. Assim, o produtor deveria atender a todos esses
requisitos a fim de se beneficiar de políticas públicas específicas e imprimir sob
essas condições o marketing do seu produto no mercado (MDA, 2009). Nesse
cenário, foi introduzido o biodiesel na matriz energética brasileira.
A cadeia produtiva que envolve a produção desse biocombustível é dinâmica
e integra um conjunto de atividades que pode ser particionada em três
macrosegmentos: produção de matéria-prima com destaque para o setor agrícola;
industrialização – transformação da matéria-prima em produto final e
comercialização – viabiliza o contato do consumidor com o produto final. Souza
(2005) afirma que a interdependência setorial na cadeia produtiva agroindustrial
pode elevar o grau de industrialização e promover o desenvolvimento de novas
tecnologias, gerando modificações relevantes no valor adicionado da economia
(Figura 1).
Ademais, essa cadeia produtiva gera externalidades quanto aos aspectos
social, econômico e ambiental, que são fatores fundamentais na sustentabilidade do
Programa Nacional. Uma das externalidades, reside no potencial de geração de
emprego e renda apresentado pelo setor agroenergético, em especial pela inserção
da agricultura familiar no processo produtivo. O segundo aspecto refere-se à
economia de divisas, já que reduz a importação do petróleo; imputando uma nova
dinâmica para o setor agroindustrial com o fortalecimento das relações inter
setoriais; assim como espaço para comercialização no mercado de carbono. O
terceiro aspecto diz respeito às questões ambientais que envolvem essa produção,
como o seqüestro de gás carbônico (CO2) - um dos principais causadores do efeito
estufa, na fase agrícola, e redução da emissão a partir da diminuição do uso de
combustível fóssil, principal emissor desse gás na atmosfera.
7
Figura 1 – Cadeia Produtiva da produção de biodiesel, 2009.
Fonte: Elaborada pelo autora.
Nesse contexto, o Brasil vem se destacando, pois, o país reúne aspectos
como: diversidade de matéria-prima, terras agricultáveis disponíveis, condições
edafoclimáticas favoráveis que permitem a expansão do cultivo de oleaginosas com
pouco impacto, ainda sobre a produção de alimentos, diversidade de solo e clima.
Inserido nessa realidade encontra-se o estado da Bahia por possuir características
de solo e clima favoráveis ao cultivo de diversas oleaginosas, sendo responsável por
cerca de 7% da produção nacional das principais oleaginosas que servem de
matéria-prima para o biodiesel.
Tabela 2 – Produção (T) brasileira e baiana de oleaginosas priorizadas pelo PNPB em 2008
Oleaginosa Brasil Bahia % Dendê (cachos de coco) 1.091.104 194.629 18 Mamona (baga) 122.140 96.620 79 Algodão herbáceo (em caroço) 3.983.181 1.167.947 29 Girassol (em grão) 148.297 999 1 Soja (em grão) 59.242.480 2.747.634 5 Total 64.587.202 4.207.829 7
Fonte: IBGE, 2009.
8
Diante do exposto, este estudo analisa a cadeia produtiva do biodiesel na
Bahia, produzido a partir do dendê. A escolha dessa oleaginosa fundamentou-se no
critério de prioridade do PNPB, especialmente pela capacidade de fixação da mão-
de-obra no campo, gerando emprego e renda, e em função da microrregião
produtora no estado (Baixo Sul), que se destaca no cultivo dessa oleaginosa. Além
disso, levou-se também em consideração a potencialidade técnica da cultura
alicerçada no seu alto teor de óleo e renovabilidade, conforme análise do ciclo de
vida publicada pelo World Watch Institute citado por Jank (2007). Ademais, o
dendezeiro apresenta aspectos ambientais que devem ser destacados, em especial,
a absorção e fixação de gás carbônico na biomassa, potencializando seu uso em
recuperação de áreas degradadas. Estima-se, que mesmo após 15 anos do plantio,
um hectare de dendê seja capaz de produzir 90 toneladas de biomassa e seqüestre
35,87 toneladas de gás carbônico (CEPLAC, 2010).
1.1 Objetivos
O objetivo geral desta pesquisa é analisar a eficiência, competitividade e
benefícios ambientais da produção de biodiesel de dendê no Baixo Sul da Bahia,
visando identificar os efeitos da política de produção do biodiesel.
Especificamente pretende-se:
• Determinar a lucratividade privada e social da cadeia produtiva do
biodiesel;
• Identificar os efeitos de políticas setoriais sobre a eficiência da cadeia
produtiva e as externalidades geradas;
• Verificar a contribuição do PNPB para redução da pressão ambiental
gerada pela utilização dos combustíveis fósseis.
9
2 ASPECTOS GERAIS DA CULTURA DO DENDÊ
O dendezeiro se adapta facilmente às condições de clima quente e úmido das
florestas equatoriais, pois requer grande quantidade de chuva (no mínimo 2.200
mm/ano) e de luz solar (aproximadamente 2000 horas ao longo do ano), devido à
intensa atividade fotossintética da planta. Nesse mercado, os maiores produtores
são os países próximos à linha do equador: África Central, Brasil, Colômbia, Costa
do Marfim, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Indonésia, Malásia, Papua-Nova
Guiné e Venezuela (AGRIANUAL, 2006; 2008).
Essa palmácea, Elaeais guineensis Jaquim, originária da África Ocidental,
chegou ao Brasil, especificamente na Bahia, através dos escravos da etnia nhendê,
que pilavam e cozinhavam o coco para fins nutricionais (AGRIANUAL, 2008).
Da planta, todas as partes podem ser aproveitadas sendo a de maior
interesse comercial, o fruto. Da polpa do fruto pode-se extrair o óleo de palma
(usado nos segmentos alimentício, medicinal, oleoquímico e industrial), e, da
amêndoa, o óleo de palmiste, cuja obtenção resulta em uma torta com 18% de
proteína que serve como adubo ou ração animal. Os cachos, os resíduos do
processo de extração do óleo, as fibras e as cascas das amêndoas tanto podem ser
usados em caldeiras na produção de vapor para extração de óleos, como na
geração de energia elétrica. As fibras das folhas e dos cachos dos frutos são usados
na fabricação de tampos de lareiras. Os troncos derrubados das plantas em idade
improdutiva podem ser transformados em móveis. O beneficiamento do dendê gera,
em média, 20% de óleo de palma, 1,9% de óleo de palmiste, 17% de fibra, 4% de
torta, e 7% de cascas, segundo Embrapa (2010).
Atualmente a produção dessa oleaginosa no país concentra-se nos Estados
do Pará e Bahia, com produção atingindo 896 mil toneladas e 194 mil toneladas em
2008, respectivamente (Tabela 3)
10
A produtividade dos plantios varia em função das variedades e dos tratos
culturais dispensados como poda, rebaixo, coroamento, e adubação. Em função
dessas variáveis, a idade produtiva da planta pode se estender até 30 anos. Na
Bahia os plantios apresentam, de maneira geral, rendimento físico da planta, inferior
aos observados no Pará. Enquanto a produtividade média dos dendezais baianos
estão em torno de 4 T/ha, no Pará atinge-se quase 16 T/ha, ou seja, o equivalente a
¼ daquela observada nos plantios do Pará, apesar de o Estado possuir maior área
plantada. Essa grande diferença na produtividade ocorre em função da idade dos
plantios, variedade cultivada e do manejo empregado.
Tabela 3 – Área plantada, produção e produtividade de dendê (em cachos) dos principais produtores brasileiros, 1997 a 2008 Área plantada (ha) Produção (T) Produtividade (T/ha)
Ano Bahia Pará Pará Bahia Pará Bahia
1997 38040 39744 572011 158624 14,39 4,17 1998 41346 33614 539558 172785 16,05 4,18 1999 39469 38243 516712 146716 13,51 3,72 2000 44025 37893 517114 161430 13,65 3,67 2001 46267 38912 582797 189117 14,98 4,09 2002 41690 39747 550129 167581 13,84 4,02 2003 41466 44463 729001 167111 16,40 4,03 2004 41584 45969 738241 171044 16,06 4,11 2005 41691 46969 747666 155651 15,92 3,73 2006 44941 51790 1031004 176089 19,91 3,92 2007 53077 49184 869771 203773 17,68 3,84 2008 55442 49544 896295 194629 18,09 3,51 Média 44086,5 43006,00 690858,25 172045,83 15,87 3,92
Fonte: IBGE, 2010.
Tal situação faz com que a dendeicultura venha perdendo espaço em nível
estadual. Mesmo assim, estudos realizados pela Secretaria de Agricultura do Estado
da Bahia - SEAGRI (2010), mostram que no estado existem áreas disponíveis para
expandir a lavoura, pois apenas 1,53% de um total de 750 mil hectares com aptidão,
são cultivados com dendê. Tudo isso vem estimulando produtores a produzirem
11
mudas (Figura 2), a fim de aumentar as áreas plantadas e também renovar as áreas
mais antigas, que se configuram a maior parte dos plantios da Bahia. A produção de
dendê gera 3 mil empregos diretos nos 33 mil hectares plantados, considerando que
boa parte da produção estadual provém da agricultura familiar, é importante
ressaltar, que para cada 10 hectares plantados é possível abrigar uma família
(IBGE, 2009; BAHIABIO,2007; BIODIESELBR, 2007).
Figura 2 - Mudas para expansão do cultivo de dendê na região do Baixo Sul da
Bahia, 2010. Fonte: Dados da pesquisa.
De acordo com a Figura 3, observa-se que a produção baiana de dendê é
relativamente estável ao longo do tempo, apresentando tendência crescente e
pequenas reduções nos períodos de 1998 a 1999 e 2004 a 2005. Para os preços em
nível de produtor, constata-se também tendência crescente, o que significa estímulo
à produção. Além disso, ressalta-se que entre 2001 e 2002, houve elevação abrupta
nos preços, que pode em certa medida, estar associada ao lançamento do
Programa Brasileiro de Desenvolvimento Tecnológico do Biodiesel –
PROBIODIESEL, cuja estratégia principal era produção de biocombustível a partir
de óleos vegetais. Mesmo assim, àquela época o foco principal era a soja.
12
0
50000
100000
150000
200000
250000
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008
To
nel
adas
0,00
5.000,00
10.000,00
15.000,00
20.000,00
25.000,00
30.000,00
35.000,00
40.000,00
45.000,00
R$/
T
Produção ( T ) Preço ( R$ )
Figura 3 – Comportamento do preço e da produção de dendê no estado da Bahia no período de 1997 a 2008.
Fonte: IBGE, 2010.
No mercado mundial, o Brasil é o segundo maior produtor de óleo de dendê,
porém a produção é insuficiente para atender o mercado doméstico, levando o país
à importação, mesmo assim, conforme Figura 4, pode-se verificar que a produção
do fruto e desse óleo cresceu nos últimos anos. A partir de 2004, quando foi
lançado o PNPB, a demanda por esse óleo aumentou, levando o país a reduzir
drasticamente suas exportações enquanto aumentava as importações a fim de
suprir a demanda do mercado. Tudo isso mostra como o Programa tem sido
relevante para estimular a produção dessa oleaginosa no país.
0
100000
200000
300000
400000
500000
600000
700000
1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
To
nel
adas
Produção Importação Exportação
Figura 4 – Evolução da produção, importação e exportação brasileira de óleo de dendê no período de 1997-2007.
Fonte: FAO, 2010.
13
Pesquisas demonstram que a planta pode produzir até 6 mil T/ano de óleo,
atingindo rendimento máximo entre 7 a 12 anos após o plantio, mantendo-se
produtiva por aproximadamente 20 anos (AGRIANUAL; 2006; IBGE, 2010).
Segundo a publicação Agrianual (2008), vêm sendo realizados nos últimos 15
anos, estudos a respeito de melhoramento genético a partir do cruzamento de várias
espécies da palma, a fim de obter variedades mais resistentes a doenças e ampliar
o ciclo de vida da planta. Tais estudos são importantes em uma perspectiva de taxas
de crescimento de 5% a 6% ao ano da demanda mundial de óleos vegetais.
Observando o potencial do estado da Bahia nos seus mais variados aspectos
da produção de biodiese,l é que se percebe a relevância de estudos desta natureza
a fim de identificar os aspectos importantes da inserção do biodiesel de dendê na
matriz energética do estado, salientando as questões econômicas e ambientais que
envolvem a sua cadeia produtiva.
De certo que o Brasil reúne características que proporciona o país atingir o
patamar de maior produtor mundial de biodiesel, contudo, o potencial ainda é pouco
explorado. Nesse sentido, espera-se que fatores como eficiência e competitividade
possam nortear o mercado e assim dar sustentabilidade à produção.
14
3 BIODIESEL NO CONTEXTO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Ao longo do tempo, a sociedade tem passado por evoluções que têm
transformado a relação homem-natureza. Nos primórdios, o homem utilizava dos
recursos disponíveis na natureza apenas no sentido de satisfazer suas
necessidades básicas. Com o passar do tempo, além de retirar esses recursos, o
homem passou a produzir e desenvolver novas técnicas de cultivo sem se preocupar
com esgotamento dos recursos naturais, como se esses fossem inesgotáveis.
Nesse sentido, Silva (2003) salienta, “os recursos naturais não são, eles se
tornam – eles se expandem e se contraem em resposta aos desejos e ações dos
homens, e às condições tecnológicas, econômicas e políticas”. Em certa medida,
traz à tona a teoria malthusiana da discrepância entre o crescimento da população e
dos alimentos, o que levaria fatalmente ao não atendimento das necessidades
básicas do ser humano. Isso ocorre frente a escassez dos recursos enquanto o ser
humano possui desejos ilimitados. Sob esse cenário, emergem as discussões a
respeito da questão ambiental.
Pari passu Cavalcanti (2001, p. 30), apresenta argumentações a respeito
dessas questões:
Se as atuais tendências de crescimento da população mundial – industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais – continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial. É possível modificar estas tendências de crescimento e formar uma condição de estabilidade ecológica e econômica que se possa manter até um futuro remoto. O Estado de equilíbrio global poderá ser planejado de tal modo que as necessidades materiais básicas de cada pessoa na terra sejam satisfeitas, e que cada pessoa tenha igual oportunidade de realizar seu potencial humano individual. Se a população do mundo decidir empenhar-se em obter este segundo resultado, em vez de lutar pelo primeiro, quanto mais cedo ela começar a trabalhar para alcança-lo, maiores serão suas possibilidades de êxito.
15
Essas teses e argumentações, na época, foram alvo de severas críticas,
principalmente dos adeptos à teoria do crescimento. Muito embora haja contra-
argumentações, percebe-se que as discussões a respeito são importantes devido às
inter-relações entre energia, produção e consumo de alimento e desenvolvimento
sustentável.
Pode-se salientar, que os debates acerca dos problemas ambientais são
relativamente recentes e vêm ocorrendo de forma esparsa no mundo ao longo
tempo, sendo que as primeiras sistematizações iniciam-se nos anos de 1960. Em
1973, segundo Bruseke (1998), foi sistematizada a teoria do ecodesenvolvimento
por Maurice Satrog, em que se delinearam questões importantes quanto ao
desenvolvimento, pois passou-se a associar desenvolvimento a diversos fatores
como atendimento às necessidades básicas, solidariedade com as gerações futuras,
participação da população, preservação ambiental, justiça social; sendo esse o
ponto de partida para o atingimento de um desenvolvimento sustentável. No entanto,
apenas vinte anos após a conferência de Estolcomo, na UNCED – Conferência da
ONU sobre Meio Ambiente em 1972, é que a preocupação com questões ambientais
sucitaram maiores discussões em todo o mundo, pois começaram-se a estabelecer
vínculos cada vez maiores entre crescimento, desenvolvimento e mudanças no meio
ambiente.
Pautado na existência de interligação entre os aspectos econômicos,
tecnológicos, políticos e sociais com os aspectos ambientais, é publicado em 1987 o
Relatório de Brundtland, em que o desenvolvimento sustentável é tratado como
estratégia para o desenvolvimento incitando a responsabilidade da sociedade atual
para com as futuras gerações (WCED, 1987). Assim côncios de que:
É a natureza, em primeiro plano, a fonte de todos os bens. É dela que o homem obtem todos os bens naturais – animais, vegetais, minerais, e dela provém as fontes primárias de energia: a luz e o calor solar, o vento, as quedas d’água, as marés etc. (CANO, 1998 p. 27).
Sob essas perspectivas, e buscando o equilíbrio entre crescimento e
desenvolvimento, a natureza (recursos naturais nos seus mais diversos aspectos)
torna-se fator de produção fundamental na economia moderna. Assim, a produção e
16
consumo inseridos em uma perspectiva de sustentabilidade deve então atender a
determinados critérios, conforme exemplificado na Figura 5.
Figura 5 – Esquema de uma economia moderna e sustentável, tomando como exemplo a produção de combustível renovável.
Fonte: Adaptado de Cavalcanti, 1997, p. 48.
Deste modo, para atingir a sustentabilidade, as atividades devem pautar-se
na manutenção do processo produtivo, a partir da alocação eficiente dos recursos
disponíveis renováveis e não renováveis, bem como na manutenção da qualidade
de vida – que compreende a prevenção da poluição e proteção da biodiversidade.
Nesse sentido, na visão dos economistas ecológicos, o sistema econômico
nada mais é do que um sistema aberto integrado em um sitema maior (sistema
ambiental), em que existem troca de energia entre si. Como sistema aberto, a
economia recebe energia (materiais) do sistema maior, liberando a posteriori energia
não disponível e materiais de alta entropia, que se reciclados podem ser reutilizados
(Figura 6). Assim sendo, a economia produz dois tipos de resíduos materiais: o calor
dissipado (2ª lei da termodinâmica) e os resíduos materiais. Portanto, para o bom
funcionamento de um sistema econômico é necessário equilíbrio entre a energia e
os materiais, de forma que haja biodiversidade, e que o meio ambiente seja capaz
de absorver os resíduos gerados (CAVALCANTI, 1997 p. 134).
17
Figura 6 – Funcionamento equilibrado de um sistema econômico sob a ótica dos economistas ecólogicos.
Fonte: Adaptado de Cavalcanti,1997, p. 134.
Diante do exposto anteriormente, parte-se do princípio que as transformações
ambientais bruscas estão associadas, dentre outros fatores, à organização da
sociedade atual e intervenção do homem na natureza com práticas ambientais não
sustentáveis, tal qual o uso dos recursos naturais não renováveis, a exemplo do
petróleo, que se tornou ao longo do século XX o sustentáculo energético das
atividades produtivas. A queima desse combustível provoca: poluição do ar, chuva
ácida, aquecimento por efeito estufa e mudanças climáticas – através da emissão de
CO2, que tem crescido cerca de 30% na composição atmosférica e continua
aumentando (OSPINA, 2009). Além disso, flutuações nos preços, instabilidade de
18
abastecimento, concentração da produção em áreas de conflito, esgotabilidade do
recurso – aspecto de fundamental relevância nas discussões, não só pelo aspecto
econômico, mas pela disponibilidade do recurso -, têm conduzido a sociedade ao
desenvolvimento de tecnologias que integrem e atendam à geração de energia de
forma sustentável.
No sentido de reprodução dos sistemas econômicos e de forma sustentável,
têm-se desenvolvido novas fontes de energia para diversificação da matriz
energética e manutenção do processo produtivo, a exemplo do biodiesel. Um
combustível renovável, neutro e biodegradável, sendo um substituto potencial do
diesel de petróleo. O uso da mistura do biodiesel ao diesel pode reduzir a emissão
de CO2 numa proporção de 20% a 80% e a redução da emissão de dióxido de
enxofre (SO2) é reduzida em quase 100%, a partir de percentuais de mistura
superiores a 20% (OSPINA, 2009).
No processo de produção do biodiesel utiliza-se insumo renovável (óleo
vegetal), originando como produto final o biodiesel (combustível renovável), gerando
resíduos ao longo da cadeia produtiva, mas, que podem ser reaproveitados em
outras funcionalidades. Assim, o desenvolvimento de tecnologias limpas está
balisada na alocação eficiente dos recursos, manutenção dos níveis produtivos, bem
estar social e preservação ambiental, propostas para o atingimento de uma
sociedade mais sustentável.
Ademais, visualizando o sistema econômico como um subsistema do meio
ambiente, verifica-se, que apesar da lógica econômica permanecer a mesma, o
pressuposto da escassez pode ser visto sob outro ponto de vista, havendo, com
isso, a necessidade da implementação de políticas públicas para o fomento e
manutenção de atividades e iniciativas, que caminhem rumo ao desenvolvimento
sustentável.
Contudo, o processo produtivo do biodiesel é ambientalmente questionável
em função de que a emissão de CO2 é apenas um dos gases que afeta o clima.
Questiona-se também, o uso de aditivos químicos na produção da oleaginosa - que
podem provocar problemas à saúde e às condições ambientais em função de
impactos na biodiversidade; além de resíduos que não conseguem ser absorvidos
no próprio sistema. Com isso, a produção de biodiesel, assim como a de outros
produtos, se não obedecer a critérios ambientais, torna-se sem sustentação ao
longo do tempo.
19
Posto isto, é importante destacar que existem vantagens e desvantagens na
produção e uso de biodiesel, assim, é fundamental estudos que sinalizem os seus
benefícios ambientais associados a economicidade. Nesse sentido, é importante
refletir sobre a possibilidade de atingir a estabilidade econômica e ecológica, de
modo que todos tenham as mesmas oportunidades e satisfaçam suas necessidades,
sendo para tanto, necessário esforço para conter o crescimento populacional
mundial, os níveis de produção e manutenção dos recursos naturais, caso contrário
os limites do crescimeto chegariam em cem anos (BRUSEKE 1998). Parafraseando
Furtado (1995), citado por Romeiro (1997), o desenvolvimento só será alcançado
quando os desejos da coletividade estiverem satisfeitos e isso só acontecerá quando
o homem tiver consciência de que faz parte de um meio e lançar-se para o
conhecimento, aprimoramento e aplicabilidade de seu potencial.
20
4 METODOLOGIA
Este estudo está fundamentado na teoria da firma, aborda conceitos
relacionados à lucratividade, custos privados e sociais dos fatores, competitividade e
política comercial.
Partindo-se do pressuposto que a firma ou unidade de produção age
racionalmente, o seu objetivo principal ao produzir é maximizar seus resultados no
que tange à produção e aos lucros. A decisão do quanto produzir baseia-se na
tecnologia e recursos disponíveis a partir da demanda existente e, ou potencial.
Nesse sentido, o produtor/firma procurará ser eficiente sob o ponto de vista da
tecnologia possível de ser adotada e dos recursos que possui, e assim minimizar
seus custos, de forma que também otimize seus lucros. A eficiência no sentido de
Pareto, em que se dispõe do melhor uso dos fatores de produção, obtendo-se maior
nível produtivo, de forma que se atinja a otimização no uso dos recursos,
especificamente do lucro auferido, respeitando-se os limites ambientais, econômicos
e sociais que envolvem tal processo de produção. Atingir a condição de ótimo da
produção, está associada à escala de produção, pois tende-se a reduzir custos à
medida que a escala seja maior, no entanto, pouca diferenciação haverá entre os
produtos disponibilizados no mercado sob tais condições.
Aos fatores de produção estão atrelados sua distribuição e escassez,
tomando-se como referência os custos de oportunidade e social, de forma que se
possa obter o maior valor possível a partir do seu uso. Dessa forma, para utilizar os
recursos disponíveis a unidade de produção despenderá recursos, ou seja incorrerá
em custos - denominados de custos privados - relacionados à valoração monetária
dos fatores de produção, ou seja, esses insumos são remunerados de acordo com
os preços de mercado.
21
Quanto aos custos de oportunidade, esses se referem ao melhor uso dos
fatores de produção dadas as oportunidades de investimento na produção. Por outro
lado, os custos sociais estão relacionados a diversos custos imputados à sociedade
quando se incorre na produção de determinado produto que levarão a falhas de
mercado, como a produção que impacta o meio ambiente (poluição, desmatamento,
etc.), ou que provoca doenças profissionais, dentre outros.
Assim, o uso de inovações tecnológicas para melhor aproveitamento dos
fatores de produção, custos, disposição e qualidade dos insumos, políticas de
produção, serviços, economia de escala, e fatores externos, de acordo com a teoria
econômica neoclássica, são fundamentais para tornar mais competitivo o setor.
Dessa forma, “os resultados seriam capazes de espelhar a capacidade de obter
lucratividade e gerar valor a custos iguais ou inferiores àqueles dos concorrentes”
(SILVA; BATALHA, 2010).
Baseando-se nessas formulações teóricas e procurando atender aos
objetivos traçados neste estudo, utiliza-se o modelo da Matriz de Análise Política
(MAP) desenvolvida por Monke e Pearson, a qual fornece uma estrutura
sistematizada para análise dos impactos de políticas sobre a lucratividade privada,
além dos impactos favoráveis ou desfavoráveis à sociedade, no tocante às
atividades econômicas. Esse modelo foi aplicado na parte referente as análises
econômicas e sociais do biodiesel.
O uso da MAP permite aos gestores e formuladores de políticas públicas
avaliar os efeitos esperados da adoção de determinada medida de política sobre
determinado setor, economia etc. Monke e Pearson (1989) afirmaram que a MAP é
uma metodologia que analisa os efeitos de políticas governamentais, apresentando
os resultados de forma simples e precisa, e portanto, constitui-se em mais um
instrumento a ser adotado no acompanhamento de tais políticas.
Além disso, a MAP permite também, avaliar os efeitos de novas tecnologias
sobre a lucratividade do sistema através de análises comparativas de receitas,
despesas e lucros, gerados pela produção de determinada mercadoria. Essas
análises comparativas subsidiam na elaboração de políticas que promovam
incentivos a mudanças tecnológicas (MONKE ; PEARSON, 1989).
Tal método permite ainda, a mensuração dos efeitos das políticas sobre a
renda do produtor, bem como a identificação de transferências entre os agentes do
mercado, produtores e consumidores (a sociedade). Os resultados podem ser
22
desagregados para enfocar regiões particulares, tipos de unidades de produção ou
tecnologias, que podem se constituir em informações relevantes para qualquer tipo
de avaliação de política agrícola. Tudo isso depende da quantidade de informações
desagragredas que estejam disponíveis, bem como do objeto de pesquisa e análise.
4.1 Descrição do modelo e operacionalização
A matriz de análise política (MAP), desenvolvida por Monke e Pearson (1989)
em 1981 para auxiliar na análise da política agrícola de Portugal, configura-se nos
princípios balizadores deste estudo. A base metodológica desse método está em
verificar a influência de medidas de política sobre os custos e retornos dos
produtores. Ademais, possibilita investigar os efeitos de políticas setoriais sobre o
sistema de produção, sendo estruturada a partir da formulação de orçamentos das
atividades que compõem a cadeia produtiva a ser analisada, no caso deste estudo,
abrange a produção de dendê, beneficiamento para extração do óleo, produção de
biodiesel puro até as unidades de produção da mistura (biodiesel mais diesel) até
sua distribuição.
Os orçamentos são constituídos de avaliações privadas e sociais das
receitas, custos e lucros. A partir do apreçamento nesses dois níveis, são
identificadas as divergências entre as valorações social e privada. Essas
divergências decorrentes de falhas de mercado constituem o ponto central do
método, pois, a partir dessas informações é possível identificar o impacto de
determinada política pública.
Ademais, a MAP é um sistema de análise dos efeitos de ações de política
governamental na lucratividade privada do sistema e mede a eficiência econômica
no uso dos recursos.Tomando por base o comportamento da economia e as
prioridades estabelecidas para um nível setorial, as medidas de políticas podem ser
ajustadas a fim de se atingir a maior eficácia na sua aplicação. Sendo assim, “as
estimativas de parâmetro, a partir da análise quantitativa, fornecem condições para
criticar o alcance de objetivos previamente estabelecidos, modificar as restrições e
estabelecer medidas mais consistentes” (PIRES, 1996).
O ponto de partida para construção da MAP são os orçamentos dos sistemas
constituídos em um produto de duas identidades contábeis - uma que expressa a
lucratividade definida como a diferença entre receitas e custos e outra que mensura
23
o efeito das divergências (políticas “distorcivas” e falhas de mercado), dado pela
diferença entre os valores privados e valores sociais (Tabela 4). Uma matriz de
receita, de custo e de lucro é construída para cada sistema de produção
selecionado, em que os custos são separados em insumos comercializáveis e
fatores domésticos. Os insumos comercializáveis referem-se àqueles que são
transacionados no mercado internacional enquanto os fatores domésticos são
negociados apenas internamente, ou seja, são denominados também de insumos
não comercializáveis. Exemplo desses insumos são fertilizantes, pesticidas,
sementes, rações, eletricidade, transporte e combustível (MONKE; PEARSON,
1989).
Tabela 4 – Matriz de Análise Política (MAP)
Receitas Custos Lucros
Itens Insumos
Comercializáveis
Fatores
Domésticos
Valores Privados A B C D1
Valores Sociais E F G H2
Efeitos de divergência e
eficiência política I3 J4 K5 L6
1Lucros privados: D = A - B - C 2Lucros sociais: H = E - F - G 3Transferências de produção: I = A - E 4Transferências associadas aos custos dos insumos comercializáveis: J = B - F 5Transferências associadas ao custo dos fatores domésticos: K = C - G 6Transferências líquidas L = D – H, ou L = I – J – K Fonte: Monke e Pearson, 1989.
4.1.1 Lucratividade privada
A lucratividade privada (D), obtida na primeira linha da Tabela 3, refere-se à
diferença entre as rendas observadas recebidas (A) e os custos (B + C) dos insumos
adquiridos pelos produtores. Essas variáveis podem ser mensuradas para cada
etapa da cadeia de produção . A lucratividade pode ser expressa da seguinte forma:
D=A – B – C (1)
sendo,
A=pd qd
24
em que A é a receita privada, sendo pd o preço privado do produto e qd a quantidade
total privada de determinado produto:
qp d
i
n
1i
d
i∑=
=Β i = 1, 2, 3,...n
sendo B, o custo dos insumos comercializáveis externamente, que pd
i o preço
privado do insumo i e qd
i a quantidade privada do insumo i utilizado na produção do
bem sendo analisado:
j=1, 2, 3,...n
C é o custo dos insumos domésticos, em que Wd
j é o preço privado do insumo j e d
j1
a quantidade privada do insumo j utilizado.
Os preços privados de mercados incorporam os efeitos de medidas de política
e imperfeição de mercado. Após a sistematização das informações coletadas,
passa-se para a construção de orçamentos para cada segmento da cadeia
produtiva. Os componentes desses orçamentos são normalmente utilizados para
compor a MAP em moeda nacional, por unidade física do produto, embora a análise
possa também ser efetuada usando moeda estrangeira para expressar esses
valores.
Os cálculos da lucratividade privada (D) indicam a competitividade do sistema
de produção do período base escolhido na análise, para determinado nível
tecnológico, dados os valores dos produtos, os custos dos insumos e as políticas de
transferência (como exemplo, impostos e subsídios) prevalecentes. Nesse caso, o
termo competitividade representa resultados financeiros na presença de efeitos de
políticas e, ou, imperfeições de mercado. Os resultados financeiros positivos
(lucratividade), indicam que o sistema produtivo é competitivo, dadas as condições
existentes.
O custo do capital, definido como um retorno preestabelecido (de acordo com
o custo de oportunidade) pelos possuidores de capital para manter seus
1W C d
j
n
1j
d
j∑=
=
25
investimentos no sistema de produção, está incluído nos custos domésticos (C).
Dessa forma, os lucros (D) positivos são considerados como lucros em excesso –
acima do retorno normal ou lucro econômico – para os operadores da atividade. Se
os lucros privados são negativos (D < 0), isso indica que os operadores estão
ganhando uma taxa abaixo do retorno normal e, desse modo, pode-se esperar que
saiam dessa atividade, a menos que transformem o modo de produzir para
aumentar os lucros até pelo menos o nível normal (D = 0). Deste modo, os lucros
privados positivos (D > 0) são um indício de que há retornos acima dos normais e
deveriam levar à expansão do sistema, a menos que a área explorada não possa
ser expandida ou que as produções concorrentes sejam mais lucrativas do ponto de
vista privado (ALVES, 2002).
4.1.2 Lucratividade social
A segunda linha da matriz de contabilidade, Tabela 4, apresenta os valores
sociais. Nessa linha, a lucratividade social é calculada para avaliar a eficiência ou
vantagem comparativa, do sistema de produção agrícola. O conceito de vantagem
comparativa indica a eficiência de alocação de recursos nacionais (KANNAPIRAN;
FLEMING, 1999).
Destarte, a eficiência é alcançada quando os recursos de uma economia são
utilizados em atividades que proporcionam os maiores níveis de produção e renda.
Desse modo, os lucros sociais (H) são uma medida de eficiência, desde que as
receitas (E) e os custos dos insumos (F + G) sejam avaliados em preços que
refletem o custo de oportunidade social. Assim, o lucro social é dado por:
GFEH −−= (2)
sendo:
q sspE =
em que: E é a receita total, o ps
i o preço social, qs a quantidade total do produto:
qp s
i
n
1i
s
i∑=
=F i = 1, 2, 3,...n
26
Sendo F o custo dos insumos comercializáveis, ps
i o preço social do insumo i e q s
i a
quantidade do insumo i utilizado.
1W Gs
j
n
1j
s
j∑=
= j = 1, 2, 3,...n
em que G é o custo dos insumos domésticos, w s
j o preço social do insumo e l s
j a
quantidade do insumo já utilizado.
Para a produção (E) e insumos (F), que são comercializados no mercado
internacional, considera-se que as avaliações sociais apropriadas são dadas pelos
preços internacionais – preço de importação CIF para bens ou serviços que são
importados ou preços de exportação FOB para bens exportáveis. Considera-se que,
a esses preços internacionais, os consumidores e os produtores podem importar,
exportar, ou produzir bens e serviços domesticamente. O valor social da produção
doméstica adicional compreende as reservas estrangeiras que não são dispendidas
pela redução de importações, bem como o valor das reservas ganhas pela expansão
das exportações (para cada unidade de produção o preço de importação CIF ou
preço de exportação FOB).
Os serviços providos pelos fatores de produção doméstica – mão-de-obra,
capital, e terra – não têm preços internacionais, porque esses dificilmente é
comercializados entre países. A avaliação social de cada fator é feita pela estimativa
da receita líquida que cada fator obteria no seu melhor uso alternativo.
Como medida de eficiência ou vantagem comparativa, o lucro social quando
negativo, indica que o sistema não é considerado economicamente viável sem a
presença do governo via regulação do mercado. Tem-se, com isso, alocação
ineficiente dos recursos escassos em tal sistema, já que produz custos sociais
superiores aos custos de importação. A manutenção dessa forma de aplicação dos
recursos só é justificavél quando os objetivos não são restritos à eficiência
econômica, por exemplo, quando se busca a segurança alimentar ou se procede
uma melhoria da redistribuição de renda.
27
4.1.3 Efeitos de divergências
A terceira identidade (terceira linha: I J K e L), na Tabela 4, refere-se às
diferenças entre os valores privados e sociais de receitas, custos e lucros. Para cada
entrada na matriz – mensurada verticalmente, uma eventual diferença entre o preço
privado observado (no mercado doméstico) e o preço social estimado (eficiência),
deve ser atribuído aos efeitos de políticas (na forma de taxações, subsídios,
restrições comerciais e distorções na taxa de câmbio) ou a existência de falhas de
mercados de produtos e de fatores. Essa relação é originada diretamente da
definição de preço social.
O modelo MAP pressupõe que na ausência de falhas de mercado – que
podem ser decorrentes de estruturas de mercado que impedem o mercado de alocar
eficientemente os produtos ou fatores, todas as divergências entre valores privados
e sociais de produtos e insumos são causados por distorções de políticas públicas.
Portanto, no modelo empírico, essas divergências são atribuídas aos efeitos de
políticas públicas.
Os preços sociais inadequados podem ser consequência de política
“distorciva”, ou seja, políticas que levam a um uso ineficiente dos recursos. Quando
aplicadas essas políticas, os responsáveis pelo seu uso estão dispostos a aceitar a
existência de ineficiências com o propósito de cumprir objetivos de não-eficiência,
por exemplo de redistribuição de renda ou de segurança alimentar. No entanto, é
preciso observar que não são todas as políticas que distorcem a alocação de
recursos. Algumas políticas são implementadas para promover eficiência, corrigindo
as falhas de mercado de produtos ou fatores para operar de forma mais eficiente.
Na Tabela 5, apresenta-se a desagregação dos efeitos de divergências e
eficiência política em três categorias: efeitos de falhas de mercado, efeitos de
políticas “distorcivas” e efeitos de políticas eficientes.
28
Tabela 5 – Matriz de Análise Política (MAP) – forma expandida
Receitas Custos Lucros
Itens Insumos
Comercializáveis
Fatores
Domésticos
Valores Privados A B C D1
Valores Sociais E F G H2
Balanço dos efeitos de
divergência e eficiência
política
I3 J4 K5 L6
Efeitos de falhas de
mercado M N O P
Efeitos de polítcas
“distorcivas” Q R S T
Efeitos de polítcas
eficientes U V W X
1Lucros privados: D = A - B - C 2Lucros sociais: H = E - F - G 3Transferências de produção: I = A – E ou I = M + Q + U 4Transferências associadas ao custo dos insumos comercializáveis: J = B – F ou J = N + R + V 5Transferências associadas aos custos dos fatores: K = C – G ou K = O + S + W 6Transferências líquidas: L = D – H, ou L = I – J – K ou L = P + T + X Fonte: Monke e Pearson, 1989.
A mensuração das transferências associadas à produção (I) pode ser
representada pela seguinte expressão:
I UQMEA ++=−= (3)
e as transferências associadas aos custos de insumos comerciálizaveis (J) são
dados por
J VRNFB ++=−= (4)
Considera-se que essas transferências resultam de dois tipos de políticas que
causam divergências entre os preços domésticos dos produtos e os preços
internacionais, caracterizados como políticas específicas de produtos e políticas
cambial.
29
As políticas que se aplicam a commodities específicas, incluem uma ampla
lista de taxas ou subsídios e política comercial. Por exemplo, as receitas do produtor
podem ser incrementadas por meio de subsídios (às vezes denominado de
compensação na agricultura), tarifas ou cotas de importação sobre pordutos (que
elevam os preços domésticos), ou forte apoio de preço doméstico pelo estoque
governamental (o qual requer uma restrição comercial para produtos
comercializáveis). Políticas de commodity específica sobre insumos também afetam
a lucratividade privada. Por exemplo, os custos do produtor por unidade podem ser
reduzidos a partir de políticas que subsidiem diretamente a aquisição de insumos ou
sua importação.
Geralmente, a contabilidade da MAP é feita em moeda doméstica, mas, os
preços mundias são cotados em moeda estrangeira. Nesse contexto, torna-se
necessário utilizar uma taxa de câmbio para converter os preços cotados em moeda
estrangeira em equivalentes domésticos.
Os custos sociais de fatores (G) refletem condições de oferta e demanda
subordinadas aos mercados de fatores domésticos. Os preços de fator são, desse
modo, influenciados pelas políticas macroeconômicas e de preço do produto em
vigor. A atuação do governo pode ainda criar divergências entre custos privados (C)
e custos sociais (G) por intermédio de política tributária ou de subsídios para um ou
mais fatores de produção (capital, trabalho, e terra).
Por fim, as falhas de mercado, devido a informações imperfeitas ou ao
desenvolvimento ineficiente das instituições que consistem em características do
funcionamento de mercados, podem também influenciar os preços dos produtos e
dos fatores. Considerando que existem imperfeições no mercado e políticas
“distorcivas”, tem-se que ambos, O e S, e possivelmente W, são componentes
positivos das transferências associados ao custo dos fatores domésticos (K). Essas
transferências são representadas pela seguinte expressão:
WSOGC ++=−=K (5)
Dessa forma, a transferência líquida (L) combina efeitos de políticas
“distorcivas” (I, J, e S, que são componentes de K) com aqueles de falhas de
mercado de fator (representado por O, componente de K) e políticas eficientes para
30
compensá-los (representado por W, componente de K). A transferência pode ser
representada pela expressão:
XTPHD ++=−=L (6)
4.1.4 Transferência líquida
A transferência líquida decorrente de políticas inadequadas e falhas de
mercado (L na matriz) é dada pela soma de efeitos separados dos mercados de
produto e de fator, )(L KJI −−= a transferência líquida de política “distorciva” é a
soma de todas as políticas de fator, produto e taxa de câmbio (separados de
políticas de eficiência que compensam falhas de mercado).
Através de uma comparação de lucros privados e sociais, pode-se encontrar
a transferência líquida. Essas medidas de transferência líquida devem, por definição,
ser idênticas na matriz de contabilidade de dupla entrada, )()(L HDKJI −=−−= .
A desagregação da transferência líquida total indica que cada política “distorciva”
fornece transferências positivas ou negativas para o sistema. Assim, a MAP permite
a comparação dos efeitos de falhas de mercado e políticas “distorcivas” para o grupo
inteiro de políticas de produtos e de “macropreço” (preço de fatores e a taxa de
câmbio).
Quando as falhas de mercado não são importantes, a importância das
medidas de transferência torna-se destacada (principalmente os efeitos de “políticas
distorcivas”). O sistema eficiente ganha lucros excessivos (L>0) sem ajuda do
governo, e a política de subsídio aumenta o nível final do lucro privado.
Considerando que as políticas de subsídios permitem que sistemas ineficientes se
tornem economicamente viáveis, o consequente desperdício de recursos deve ser
justificado em termos de objetivos de não – eficiência (por exemplo, segurança
alimentar e políticas sociais de transferência de renda).
31
4.1.5 Indicadores privados e sociais
A estruturação dos indicadores de lucratividade privada e social serve de
análise mais detalhada das variáveis, pois, permite identificar pontos estratégicos
para a estruturação e aplicabilidade de políticas públicas. Esses indicadores são:
• Razão do Custo Privado (RCP)
A razão de custos privados demonstra quanto o sistema pode produzir para
pagar seus custos com fatores domésticos e continuem competitivos, ou seja, que
obtenham um lucro normal. O cálculo é dado pela relação entre custos dos fatores
domésticos (C) e valor adicionado pelo uso dos insumos comercializáveis, a preços
privados (A – B), isto é:
RCP = C/(A-B) (7)
Os produtores buscam minimizar a relação dos custos privados a partir da
redução dos custos com fatores domésticos (C) e insumos comercializáveis (B), no
intuito de obter lucros extraordinários. Esta relação pode indicar, ainda, se os
retornos aos fatores domésticos estão sendo normal (RPC = 1), acima do retorno
normal (RPC < 1) ou abaixo do retorno normal (RCP > 1).
• Custos dos Recursos Domésticos
Esse indicador constitui-se em uma medida de vantagem comparativa que
indica o comportamento da lucratividade social, avaliado a preços sociais. Calculado
a partir da razão entre o valor social dos recursos domésticos e o valor adicionado.
Dessa forma, tem-se que:
CRD = G / (E – F) (8)
De acordo com Rosado et al. (2006), quanto menor o CRD, maior será o
benefício social.
32
• Coeficiente de Proteção Nominal (CPN)
O coeficiente de proteção nominal (CPN) expressa a relação entre o preço
doméstico (A) de um bem e o preço social (E). É obtido da seguinte forma:
CPN = A/E (9)
Segundo Shapiro e Staal (1995), citados por Alves (2002), esse indicador
demonstra o grau de proteção para os sistemas produtivos, o nível de transferência
implícito no preço do produto e em estudos de políticas de preços, pode ser
empregado para avaliar as intervenções nos preços e os impactos sobre o bem
estar social. Assim, se os valores do CPN forem menores que a unidade, há
transferência de renda do produtor para a sociedade, e valores maiores que a
unidade, a transferência é da sociedade para os produtores. Westlake (1987),
porém, discute as limitações desse indicador, alertando para a necessidade de se
considerar os custos dos fatores de forma a contabilizar os coeficientes de proteção
efetiva.
• Coeficiente de Proteção Efetiva (CPE)
O coeficiente de proteção efetiva, expressa as transferências provenientes de
políticas sobre o produto e os insumos comercializáveis dos produtores para a
sociedade. É definido a partir da razão do valor adicionado a preços privados e o
valor adicionado a preços sociais. Assim:
CPE = (A – B)/(E – F) (10)
A interpretação dos resultados se dá da seguinte forma: valores maiores que
a unidade, significa que a medida de política beneficia os produtores, e para valores
menores que a unidade, o produtor pode está sendo penalizado, pois há benefício
na importação.
33
• Coeficiente de Lucratividade (CL)
O coeficiente de lucratividade indica o efeito total dos incentivos das políticas
abrangendo, inclusive, o mercado de fatores, sendo portanto, uma ampliação do
CPE. Definido da seguinte forma:
CL = (A - B – C)/(E – F – G) = D/H (11)
Se esse coeficiente for maior que 1, indica sistemas de produção que
possuem políticas protecionistas, por outro lado, se o valor for inferior a 1 significa
sistemas, do ponto de vista privado, efetivamente taxados. Entretanto, por não
incorporar efeitos de transferências de políticas no mercado de fatores, sua
interpretação limita-se a resultados positivos para a lucratividade social e privada.
• Razão de Subsídios à Cadeia Produtiva
Esse indicador evidencia os efeitos de políticas sobre toda a cadeia produtiva,
podendo ser desagregado para separar os efeitos de políticas de produto, insumos e
fatores. Constitui-se em uma medida de transferência líquida de política como uma
proporção das receitas sociais totais, isto é:
RSC = L/E = (D – H)/E (12)
Sendo assim, mostra quanto da receita, em valores sociais, seria necessário
para manutenção da eficiência econômica, caso uma tarifa (subsídio ou imposto)
fosse subtituída por políticas macroeconômicas ou específicas para o produto.
Dado o exposto, a vantagem da análise empregando a MAP sobre a
tradicional análise custo-benefício resulta da possibilidade de identificar os impactos
de políticas sobre a produção e a tecnologia. A análise tradicional que considera as
características da oferta e da demanda, permite verificar apenas os efeitos totais de
políticas sobre o bem-estar de produtores, consumidores, e da economia como um
todo. A análise da MAP, entretanto, possibilita separar os efeitos de políticas de
natureza microeconômica (como, de falhas de mercado, por exemplo) e natureza
macroeconômica (assim como impostos e tarifas), dentre outras distorções,
34
possibilitando a avaliação dos impactos desses fatores sobre as atividades aos
diferentes níveis da cadeia produtiva. As implicações de políticas para o
desenvolvimento de tecnologias, tornam-se evidentes no momento em que se
incorpora também a tecnologia na avaliação (MONKE; PEARSON,1989).
A principal limitação dessa metodologia é que os resultados são estáticos e
aplicáveis ao período utilizado no estudo, uma vez que a análise restringe-se a um
ano-base. A metodologia permite, no entanto, a realização de projeções de
mudanças nos seus principais parâmetros – como taxa de câmbio, preços
internacionais de produtos e insumos, salários, taxas de juros, tecnologia e outros, a
fim de simular a vantagem comparativa dinâmica à medida que os lucros mudam em
resposta a parâmetros, procedimento esse que não faz parte dos objetivos dessa
pesquisa (MONKE; PEARSON,1989).
Outro aspecto que pode ser considerado como limitação dessa metodologia,
relaciona-se ao uso dos preços mundiais para valoração social dos insumos e
produtos nas análises de efeitos de políticas e de vantagem comparativa ou
eficiência da cadeia produtiva. O preço social é utilizado na valoração de produtos e
insumos, refletindo os valores de escassez ou de custo de oportunidade social. Os
preços mundiais refletem a escolha do governo, ao formular políticas que
determinem se consumidores e produtores deverão realizar importações e
exportações ou produzir (consumir) os bens ou serviços da economia nacional.
Assim, questiona-se a escolha do preço mundial, em especial o que prevalece no
ano-base de estudo, como referência para a valoração social devido às flutuações
da produção global ou distorções de políticas de produção estrangeiras (como
exemplo os subsídios), além de possíveis falhas de mercado.
4.2 A curva ambiental de Kuznets
O modelo analítico para avaliar a qualidade ambiental seguiu uma abordagem
econométrica, a partir da utilização de séries temporais. Ao longo do período a ser
analisado, podem ocorrer eventos que modificam o comportamento da série, como
por exemplo a implementação de políticas públicas no setor, no caso deste estudo, a
implementação do PNPB para a diversificação da matriz energética brasileira e
redução de impactos sobre o meio ambiente, especificamente do CO2.
35
Estudos recentes denotam a hipótese da relação entre crescimento e pressão
ambiental para a curva ambiental, sendo definida para um grupo de países. De
acordo com Andrade (2009)
a relação entre produção e poluição tem sido tradicionalmente proposta nas formas quadráticas e cúbica. Stagl (1999) cita alguns estudos que têm encontrado evidências de uma curva em forma de “N”, ao invés da forma em “U” invertido preconizada pela CKA.
A composição do modelo se dá por uma única equação:
Et = α + β1Yt + β2Yt2
+ β3Yt3 + µi + εt i =1 (13)
em que E, representa a emissão de CO2 em termos per capita; α é uma constante; Y
é a renda per capita; µi é uma variável dummy, e εt representa o erro estocástico; o
subscrito t representa o ano.
A variável dummy foi inserida no modelo no sentido de captar o efeito do
PNPB sobre a emissão de CO2 no período analisado: para o período anterior à
implementação a variável assume valor “0” e para o período sucessor ao PNPB
assume o valor “1”.
O modelo descrito pela equação 13 serve de subsídio no teste das várias
formas de relação entre renda e qualidade ambiental e a depender da significância
estatística dos coeficientes (β) a função de regressão assume formatos distintos.
Resumidamente:
1) β1>0 e β2 = β3 = 0, então a relação entre a emissão de CO2 e PIB será positiva
e linear, assim um aumento na renda aumenta a emissão de CO2;
2) β1<0 e β2 = β3 = 0, tem-se uma em que a relação entre as variáveis é negativa
e linear;
3) β1>0 e β2<0 e β3 = 0 então a relação apresenta o formato de “U” invertido;
4) β1>0 e β2<0 e β3 > 0 a curva apresenta o formato de “N” indica que a relação
passou pelos estágios positivo e negativo (CKA) e entra novamente em
estágio positivo.
Graficamente assume as seguintes formas:
36
Figura 7: Diferentes possibilidades para relação renda – pressão ambiental.
Fonte:Lucena, 2005.
4.3 Área de estudo
O Baixo Sul da Bahia, Figura 8, é composto por 12 municípios: Cairu,
Camamu, Ibirapitanga, Igrapiúna, Ituberá, Maraú, Nilo Peçanha, Piraí do Norte,
Presidente Tancredo Neves, Taperoá, Teolândia, Valença. Ocupa uma área de
6.451 Km2, e uma população de 282.575 pessoas, segundo senso IBGE (2007).
Y
E
Y
E
Y
E
Y* Y
E
37
Figura 8 – Localização da Região do Baixo Sul no Estado da Bahia. Fonte: Adaptado de Fischer, 2007.
A região apresentou em 2007, segundo dados da Superintendência de
Estudos Econômicos e Sociais da Bahia SEI, um PIB de um milhão quatrocentos e
seis mil reais, sendo este composto pelo valor agregado dos setores agropecuário
(20%), industrial (30%) e de serviços (50%). Apesar de menor participação no PIB, o
setor agropecuário é de grande relevância para a região do Baixo Su,l sendo
responsável por considerável percentual de absorção da mão de obra (Figura 9).
Assim como outras, a região sofreu o impacto do modelo de desenvolvimento
concentrador, adotado pelo Estado, firmando suas bases produtivas na
agropecuária, sem investimentos em modernização da estrutura produtiva. Todavia,
em 2007 destacou-se na produção, dentre outros produtos, de dendê, sendo
responsável por cerca de 80% da produção baiana (IBGE, 2009). Atualmente, a
região possui três indústrias de produção do óleo de dendê: Óleo de Palma S/A -
OPALMA, Luzipalma Extração de Óleo Vegetal Ltda, Mutupiranga Industrial Ltda.
Apresentando, portanto, aspectos estruturais favoráveis à instalação de uma
unidade de produção de biodiesel de dendê.
38
0
1000
2000
3000
4000
5000
6000
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
2008
2009
Agropecuária Indústria Serviços
Figura 9 - Absorção de mão de obra (%) por setores econômicos, na região do Baixo Sul da Bahia no período de 1996-2009.
Fonte: Dados CAGED, 2010.
4.4 Fontes dos dados
A MAP é construída a partir da seleção dos sistemas de produção
representativos da cadeia produtiva do biodiesel, conforme enfoque do estudo. A
definição da cadeia produtiva analisada nesta pesquisa, seguiu os procedimentos
adotados por Almeida (2006) para a cadeia produtiva de biodiesel de mamona.
Nesta análise, a cadeia produtiva do biodiesel de dendê analisada é composta por
cinco elos: produção agrícola, transporte, unidade de produção do óleo, unidade
produção do biodiesel e transporte do biodiesel para unidades de mistura e
distribuição.
Inicialmente foram estruturados orçamentos para cada elo da cadeia
produtiva. A valoração privada constitui-se da obtenção e transformação dos dados
dos orçamentos em valores correspondentes ao do mercado doméstico. De posse
dos valores privados de receitas, custos e lucros, foram calculados os valores
sociais utilizando fatores de conversão a partir de informações da Empresa
Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). O fator de conversão, portanto,
permite identificar os valores sociais a partir dos valores privados. A taxa de câmbio
39
adotada é a nominal em que US$1.00 corresponde a R$1,81. Essa informação foi
obtida do site do Banco Central do Brasil, e o preço internacional de dendê foi obtido
do sítio da FAOSTAT - Food and Agriculture Organization of the United Nations,
tomando-se como referência a Malásia,em função da sua relevância nesse mercado.
Como a cultura do dendê é caracterizada como permanente, o horizonte de
planejamento refere-se à média dos custos de produção para o nono ano, quando a
produção se estabiliza em vinte e duas toneladas por hectare.
Os transportes, tanto do primeiro, quanto do quarto elo, referem-se aos
deslocamentos do produto da unidade de produção à unidade de beneficimento, e
desta, até as unidades de produção de biodiesel e desta, até as distribuidoras.
Para o elo seguinte - beneficiamento do dendê – ,os custos foram estimados
a partir de informações obtidas junto a empresa produtora de óleo de dendê,
localizada na região estudada.
Os custos para a unidade de produção do biodiesel foram estruturados a
partir de trabalho de Encarnação (2008). Neste estudo, foram considerados os
custos do processo de transesterificação, por ser o mais utilizado na obtenção do
biodiesel, e deflacionados usando o IGP-DI de janeiro de 2010 (R$1,01)
disponibilizado na Fundação Getúlio Vargas - FGV.
Na análise ambiental foram utilizadas séries de dados de emissão de CO2
provenientes da queima de combustíveis fósseis líquidos per capita, obtida do
Carbon Dioxide Information Analysis Center CDIAC (2010), e o PIB per capita da
Bahia, obtido da Superintendência de Estudos Econômicos e Sociais da Bahia - SEI
(2010). Assim, as informações ambientais referem-se ao agregado do estado, e
portanto, as análises configuram um panorama mais geral do estado. Isso foi feito
porque não existiam informações desagregadas para o estado da Bahia. Além disso,
entende-se que os benefícos ambientais decorrentes da produção e uso do biodiesel
não se restringem a um território de identidade, e são mais abrangentes.
As informações a respeito de emissão de CO2 são do período de 1992 a
2006, para os anos de 2007 a 2009 os valores foram estimados a partir da taxa
geométrica de crescimento. Para estimar a curva de Kuznets utilizou-se o software
Eviews.
40
5 RESULTADOS E DISCUSSÃO
O mercado do biodiesel é muito recente e tem se expandido nos últimos três
anos. Esse crescimento pode ser observado tomando como referência o aumento da
sua produção no país e, ao longo do tempo, antecipação do percentual da mistura
ao diesel. Mesmo assim, a garantia da oferta desse biocombustível, depende
sobretudo, da disponibilidade de matéria-prima a preços que permita ofertar o
biodiesel que atenda às exigências da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e
Biocombustíveis - ANP e que seja competitivo, haja vista que, segundo Sousa
(2006), a matéria-prima é responsável pelo maior percentual dos custos de produção
do biodiesel. No caso do dendê, o desenvolvimento desse agronegócio no Estado
da Bahia tem sido estimulado a partir da implementação de programas que
incentivam a instalação de empresas processadoras. Por outro lado, o governo ao
longo do tempo tem lançado diversos programas para expandir a dendeicultura
baiana. Em 1999 foi lançado o Programa de Desenvolvimento da Dendeicultura
Baiana, a partir do Protocolo do Dendê assinado pelo governo baiano, Comissão
Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac), Banco do Nordeste e as
empresas produtoras de óleo de dendê da região, pela Empresa Baiana de
Desenvolvimento Agrícola (EBDA). O objetivo era financiar a renovação, ampliação,
custeio da área plantada e elevação do rendimento médio, bem como a integração
entre produtor e indústria, e apoiar a comercialização da produção de produtores
rurais, cooperativas e associações. A Ceplac foi a instituição responsável pela
produção de 2,4 milhões de sementes de dendê (SEAGRI, 2010).
Se a produção baiana de dendê se expandisse, por exemplo, para 15 mil
hectares e considerando que toda a produção destinasse para o biodiesel seriam
obtidos 60 mil m3, considerando uma produtividade de 4 m3/ha, conforme Silva
(2008).
Em 2003 foi implementado o programa para o desenvolvimento do
agronegócio baiano contemplando 23 programas, dos quais um voltado para o
41
dendê, a fim de expandir a área cultivada, renovar os plantios e melhorar a
qualidade da matéria-prima para processo industrial.
Em abril de 2009, outro incentivo dado pelo governo foi a distribuição de 70
mil mudas de dendê da variedade tenera (uma espécie híbrida que produz cerca de
trinta toneladas por hectare com rendimento de 22% em óleo e vida média em torno
de 25 anos), a CEPLAC também doou 70 mil mudas (CHAME, 2010).
Além desses programas mais recentes, outros também foram implementados
ao longo do tempo. Mais recentemente foi lançado o Programa Bio-Sustentável com
o objetivo de inserir agricultores familiares na produção de oleaginosas destinadas a
produção do biodiesel cujas ações, influenciam toda a cadeia produtiva do
biodiesel.
Posto isso, vale ressaltar que a região abarca uma infra-estrutura que
comporta a instalação de unidades de produção de biodiesel que dinamiza a
economia local e é relevante para o desenvolvimento do estado, especialmente no
que diz respeito à diversificação da matriz energética em função da oferta de energia
renovável.
5.1 – Matriz de Análise Política (MAP) para o cultivo de dendê
Os lucros privados para o cultivo de dendê foram positivos, R$ 998,79
caracterizando a atividade como atrativa. Apesar do valor positivo observa-se que
esses lucros poderiam ser ainda maiores em função de aumentos na produtividade,
pois, a variedade cultivada no Baixo Sul da Bahia é do tipo dura, em que o
rendimento por hectare atinge de 4 a 6 T/ha/ano, enquanto a variedade tenera
chega a 30 T/ha/ano. Quando se compara a área plantada do estado da Bahia com
o do Pará verifica-se que apesar de ser maior, os índices de produtividade são muito
inferiores, o que tem levado o estado paraense a ocupar o posto de maior produtor
do país.
A maioria dos cultivos baianos é oriundo de pequenas propriedades com
pouco acesso a tecnologias mais modernas, sendo muitas vezes praticados como
cultivo de renda auxiliar. Todos esses fatores acabam influenciando a receitas e
custos, consequentemente a lucratividade dos sistemas de produção.
Analisando-se a lucratividade sob a ótica social, o valor obtido é de
R$ 1.091,42. Esse valor evidencia discrepância em relação ao valor privado, o que
42
implica transferência de renda do produtor para a sociedade, ou seja o valor
internacional pago pela produção de dendê é maior que o nacional (Tabela 6). Sob
tais condições, verifica-se que enquanto as indústrias se beneficiam dessa condição,
o produtor acaba sendo penalizado pois é menos remunerado do que se resolvesse
exportar a sua produção. Mesmo assim, é importante salientar que muitas vezes há
uma relação forte entre as empresas beneficiadoras e o produtor, levando-o à
dependência. Ademais como existem poucas empresas operando na região e o
número de produtores é grande, isso acaba transferindo o poder de barganha para
os compradores dessa matéria-prima.
Tabela 6 – Matriz de Análise Política (MAP) para o cultivo de dendê no Baixo Sul da Bahia, 2010
Custos (R$/T) Itens Receitas
(R$/T) Insumos
Comercializáveis
Fatores
Domésticos
Lucros
(R$/T)
Valores Privados A
2.640,00
B
870,19
C
771,02
D
998,79
Valores Sociais E
2.640,00
F
1.056,40
G
492,18
H
1.091,42
Efeito de divergências
e eficiência política
I
0
J
-186,21
K
278,84
L
-92,63
Fonte: Dados da pesquisa.
Os valores obtidos para os indicadores privados e sociais para o cultivo de
dendê no Baixo Sul da Bahia (Tabela 7), demonstram que os produtores recebem
um lucro acima do normal (RCP = 0,43), caracterizando um mercado atrativo. Essa
atração é sustentada por aspectos como disponibilidade de terras aptas para o
cultivo, características edafoclimáticas favoráveis, programas de incentivo à
produção, que vêm propiciando a expansão da atividade na região.
Tomando-se para análise o CRD (0,31) verifica-se que tal valor indica que os
recursos estão sendo eficientemente alocados, o que significa que há economia à
medida que se economiza com as importações. Quanto ao CPN (1,00), observa-se
que não existe transferência de renda, mas, existem políticas beneficiando os
produtores (CPE = 1,11). A transferência líquida resultante da intervenção política no
43
cultivo do dendê apresentou um valor menor que a unidade (CL = 0,91), o que
corresponde a uma transferência dos produtores para a sociedade (Tabela 7).
Novamente, salienta-se que nesse mercado os produtores são um pouco “reféns”
das indústrias instaladas na região, pois, para se vender o dendê é necessário
algum tipo de beneficiamento, e que a maioria dos produtores não possui
infraestrutura para realizar tal tarefa. Ademais, essa condição é ainda mais
complexa quando se analisa o indicador RSC que apresentou valor negativo (RSC =
-0,03), o que significa que o produtor ainda é taxado, necessitando assim, de
políticas que minimizem essa condição, pois a prevalência dessa situação no longo
prazo tenderá a desestimular a expansão e cuidados dispensados à lavoura.
Tabela 7 - Indicadores privados e sociais para para o cultivo de dendê no Baixo Sul da Bahia, 2010
Indicadores Privados e Sociais Valor
1 - Razão do Custo Privado – RCP = C/(A - B) 0,43
2 – Custo dos recursos domésticos – CRD = G/( E – F) 0,31
3 – Coeficiente de Proteção Nominal - CPN = A/E 1
4 - Coeficiente de Proteção Efetiva - CPE = (A – B)/(E – F) 1,11
5 - Coeficiente de Lucratividade - CL = (A - B – C)/(E – F – G) = D/H 0,91
6 - Razão de Subsídios à Cadeia Produtiva - RSC = L/E = (D – H)/E -0,03
Fonte: Dados da pesquisa.
Os valores obtidos neste estudo estão em consonância com os de Santos et
al. (2007), que apontam, sob determinadas aspectos analisados, a atratividade da
atividade e competitividade sob o ponto de vista da alocação dos recursos
domésticos, muito embora, sejam necessárias políticas de longo prazo para a
atividade, em função da característica da lavoura. Nota-se que apesar da atividade
apresentar lucros positivos, esses poderiam ser ainda maiores.
5.2 – Matriz de Análise Política (MAP) da unidade de produção agrícola à
unidade de beneficiamento e produção de biodiesel
Nesse elo cada cadeia considera-se apenas o transporte da produção de
dendê nas unidades agrícolas até as unidades de beneficiamento, agregando-se
44
também a produção de biodiesel. A atividade de transporte dos cachos de dendê até
a unidade de beneficiamento é importante no que diz respeito à qualidade da
matéria-prima, isso porque quanto maior o tempo entre a colheita e o
beneficiamento, maior o teor de acidez do óleo, afetando assim o seu preço e
também as possibilidades de uso no mercado. Na região do Baixo Sul da Bahia, o
dendê tem nível de acidez relativamente alto, chegando a 2,5% a 5,5%. Esse teor de
acidez faz com que esse óleo não esteja em condições adequadas para uso na
produção de biodiesel, que deve ser de 1%.
Os resultados da MAP nesse elo da cadeia, apresentou lucros privados
positivos (R$ 30,97), sinalizando que os custos de transporte não se constitem em
entraves à competitividade do produto, além disso os lucros sociais também são
positivos (R$ 18,45), indicando alocação eficiente dos recursos. Diferentemente do
que se percebeu na MAP, associada apenas à produção de dendê, as medidas de
política até então consideradas permitiram a expansão desse setor (Tabela 8). Em
certa medida, pode-se considerar que houve eficiência na adoção de políticas
específicas à atividade, levando a investimentos nas etapas de beneficiamento da
matéria-prima até a produção de biodiesel.
Tabela 8 – Matriz de Análise Política (MAP) da unidade agrícola à unidade de beneficiamento e produção de biodiesel de dendê, no Baixo Sul da Bahia, 2010
Custos (R$/T) Itens Receitas
(R$/T) Insumos
Comercializáveis
Fatores
Domésticos
Lucros
(R$/T)
Valores Privados A
62,50
B
27,56
C
3,97
D
30,97
Valores Sociais E
49,38
F
28,43
G
2,50
H
18,45
Efeito de divergências
e eficiência política
I
13,12
J
-0,87
K
1,47
L
12,52
Fonte: Dados da pesquisa.
Os indicadores (Tabela 9), servem para identificar como as medidas de
políticas afetaram especificamente os agentes envolvidos nesse mercado. O valor
dos custos privados demonstram que a atividade é economicamente viável, de
45
acordo com a tecnologia analisada (Tabela 2A), mesmo o indicador sendo menor
que a unidade (RCP = R$ 0,11). O indicador de custo dos recursos domésticos
indica vantagem comparativa em relação a outras atividades e eficiência na
alocação dos recursos. O coeficiente de proteção nominal (CPN = 1,26) indicou que
nessa atividade as políticas estão incrementando o preço de mercado em 26%.
Observou-se ainda, que existe transferência de renda da sociedade nas etapas de
intermediação do produto. O indicador de proteção efetiva sinalizou que os custos
de transporte são subsidiados (CPE = 1,66) e que os preços praticados estão acima
do preço de eficiência. Isso ocorre, porque muitas vezes as indústrias de
beneficiamento arcam com os custos de transporte, a fim de ter regularidade da
matéria-prima. Contudo, observando esse elo da cadeia produtiva, verifica-se que há
taxação, em função do RSC apresentar valor inferior à unidade. De maneira geral,
percebe-se que enquanto em algumas etapas desse elo há subsídio à produção,
eles não são suficientes para inibir o agregado de taxação pelo qual passa a
produção de biodiesel da etapa que se estende do transporte de dendê da unidade
agrícola, passando pelo beneficiamento (produção de óleo) até o produto final
(biodiesel).
Tabela 9 - Indicadores privados e sociais para o transporte da oleaginosa da propriedade agrícola à unidade de beneficiamento da oleaginosa e produção de biodiesel de dendê, no Baixo Sul da Bahia, 2010
Indicadores Privados e Sociais Valor
1 - Razão do Custo Privado – RCP = C/(A - B) 0,11
2 – Custo dos recursos domésticos – CRD = G/( E – F) 0,12
3 – Coeficiente de Proteção Nominal - CPN = A/E 1,26
4 - Coeficiente de Proteção Efetiva - CPE = (A – B)/(E – F) 1,66
5 - Coeficiente de Lucratividade - CL = (A - B – C)/(E – F – G) = D/H 1,67
6 - Razão de Subsídios à Cadeia Produtiva - RSC = L/E = (D – H)/E 0,25
Fonte: Dados da pesquisa.
5.3 – Matriz de Análise Política (MAP) para unidade de beneficiamento e
produção de biodiesel de dendê
De acordo com a Tabela 10 os valores da MAP para a unidade de
beneficiamento e produção de biodiesel de dendê, verifica-se que a lucratividade
46
privada é positiva indicando competitividade, além de ser uma atividade atrativa sob
o ponto de vista de que os resultados financeiros mais que remuneram os custos, ou
seja, após cobrir todos os custos, a indústria obtém lucros além dos
economicamente denominados de normais.
A lucratividade social positiva representa eficiência na alocação dos recursos
empregados. Entretanto, existe nesse mercado transferência de renda do produtor
para a sociedade indicado pela diferença entre o valor privado e o social que resulta
dos efeitos de divergência das políticas para o setor. Esse sistema é influenciado
pelas medidas de polítita lançadas após o Programa Nacional de Produção e Uso do
Biodiesel (PNPB), o Programa Estadual de Bioenergia (BAHIABIO), além dos
programas voltados para o desenvolvimento da agroenergia que impacta direta e
indiretamente a cadeia produtiva do biodiesel. Os programas estaduais são guiados
e fundamentados nos objetivos do projeto maior (PNPB), que visa a inserção social
e desenvolvimento regional, buscando atingir esse objetivo através da integração da
agricultura familiar na cadeia produtiva, desonerando tributariamente a produção de
biodiesel a partir de oleaginosas provenientes da agricultura familiar. Portanto, a
diferença entre a lucratividade privada e lucratividade social é aceitável, dados os
objetivos de não-eficiência desses programas. Assim, a idéia é que a eficiência não
é uma meta a ser atingida sob o ponto de vista econômico, no entanto, considerando
os aspectos sociais e ambientais que envolvem a produção de biodiesel é factível a
não-eficiência, desde que se beneficie a sociedade com um todo.
Tabela 10 – Matriz de Análise Política (MAP) para unidade de beneficiamento e produção de biodiesel de dendê no Baixo Sul da Bahia, 2010
Custos (R$/T) Itens Receitas
(R$/T) Insumos
Comercializáveis
Fatores
Domésticos
Lucros
(R$/T)
Valores Privados A
4.160,00
B
3.249,11
C
99,89
D
811,00
Valores Sociais E
4.529,00
F
3.223,53
G
12,80
H
1.292,67
Efeito de divergências
e eficiência política
I
-369,00
J
25,58
K
87,09
L
-481,67
Fonte: Dados da pesquisa.
47
Os indicadores privados e sociais para produção de biodiesel a partir de
dendê, indicou que a atividade sob as condições analisadas é competitiva, sendo os
custos dos fatores domésticos menores que o valor adicionado em preços privados,
com isso, os lucros recebidos estão acima do normal e como forma de maximizar
seus lucros os produtores minimizam os custos dado que os fatores domésticos de
produção por meio do RCP é 0,10. No entanto, como o CRD é 0,01, pouco se
economiza na ausência de importações, apenas quando o volume é muito grande é
que se poderá ter impacto relevante sobre a economia. Os coeficientes de proteção
nominal e efetiva, apresentaram valores de R$ 0,92 e R$ 0,69 respectivamente,
evidenciando que o produtor de biodiesel está desprotegido, indica ainda que o valor
adicionado na produção é inferior economicamente, o que reflete que a
regulamentação do mercado pode não beneficiar o mercado. Mesmo assim, deve-se
salientar, que as medidas de política devem estimular a expansão do mercado, dada
a condição ainda incipiente da sua estrutura, pois é um mercado recente e que em
alguns elos da cadeia é importante a presença do governo no sentido de viabilizar a
produção e torná-la mais eficiente no longo prazo, considerando os pilares do
programa – econômico, social e ambiental - (Tabela 11).
Tabela 11 - Indicadores privados e sociais para produção de biodiesel de dendê no
Baixo sul da Bahia, 2010
Indicadores Privados e Sociais Valor
1 - Razão do Custo Privado – RCP = C/(A - B) 0,10
2 – Custo dos recursos domésticos – CRD = G/( E – F) 0,01
3 – Coeficiente de Proteção Nominal - CPN = A/E 0,92
4 - Coeficiente de Proteção Efetiva - CPE = (A – B)/(E – F) 0,69
5 - Coeficiente de Lucratividade - CL = (A - B – C)/(E – F – G) = D/H 0,62
6 - Razão de Subsídios à Cadeia Produtiva - RSC = L/E = (D – H)/E -0,10
Fonte: Dados da pesquisa.
Em estudo realizado por Almeida (2006), para a produção de biodiesel a partir
da mamona, verifica-se que a relação dos custos dos fatores domésticos
apresentaram mesmo comportamento quando comparados a esta pesquisa, porém,
em valores absolutos mais elevados (Tabelas 11 e 12), o que implica que os custos
48
privados eram menores que os sociais. De acordo com Almeida (2006) os fatores
domésticos recebiam mais do que seu retorno normal sendo a atividade de potencial
crescimento. É interessante verificar a discrepância entre o indicador de vantagem
comparativa do trabalho citado deste estudo, que é menor. No caso da mamona, a o
valor encontrado é de R$0,23 (cenário III), e neste trabalho o valor é de R$0,01, o
que indica que há menor economia em divisas com a produção de dendê
compartivamente à mamona. O coeficiente de proteção efetiva para a cadeia
produtiva do biodiesel de mamona apresentou valor superior ao encontrado para o
biodiesel de dendê o que demonstra que o produtor que desenvolve a atividade
usando a mamona é mais subsidiado do que aquele que adota como matéria-prima
o dendê. Isso pode ter ocorrido em função dos maiores incentivos à cultura da
mamona assim que se implementou o PNPB, já que essa é uma oleaginosa cuja
maior produção concentra-se na região nordeste e semi-árido, região alvo do PNPB,
além das diferenças quanto ao ciclo de produção, pois, uma possui um ciclo
produtivo mais curto (mamona) e outra mais longo (dendê).
Tabela 12 – Indicadores privados e sociais da MAP nos cenários estudados da
cadeia produtiva do biodiesel no Estado da Bahia Cenários Indicadores Privados e Sociais
I II III IV 1. Razão do Custo Privado (RCP) [RCP = C / (A – B)]
0,38 0,75 0,27 0,66
2. Custos dos Recursos Domésticos (CRD) [CRD = G / (E – F)]
0,30 0,53 0,23 0,45
3. Coeficiente de Proteção Nominal (CPN) [CPN = A / E]
0,96 0,96 0,95 0,95
4. Coeficiente de Proteção Efetiva (CPE) [CPE = (A – B) / (E – F)]
1,03 0,92 1,04 0,85
5. Coeficiente de Lucratividade (CL) [CL = D / H]
0,92 0,49 0,99 0,53
6. Razão de Subsídios às Cadeias – (RSC) [RSC = L / E]
-0,02 -0,09 0,00 -0,09
Fonte: Almeida, 2006.
5.4 – Matriz de Análise Política (MAP) da unidade de beneficiamento e
produção de biodiesel de dendê à unidade de até a distribuidora
Observa-se, também, que nesse elo a lucratividade privada (R$58,23) é
superior à social (R$41,83) e que é possível se obter lucros econômicos acima do
49
normal, e que os recursos são eficientemente alocados. As políticas que vigoram
para o setor, em certa medida, têm dado suporte à atividade, porém, sob o ponto de
vista dessa análise, poderiam até ser retiradas e a atividade continuaria a ser
lucrativa. Esse elo apresenta características semelhantes às das análises feitas nas
Tabelas 8 e 9. A diferença entre os elos está no produto transportado – um é a
matéria-prima bruta e o outro, o biodiesel. É interessante notar que existe
transferência de renda do produtor para a sociedade, decorrente de políticas do
setor. Vale ressaltar que a construção desses indicadores tomou como referência o
ano de 2010 de acordo com as tecnologias observadas para a região em estudo.
No entanto, há diferenças importantes na produção, por exemplo, da Bahia e do
Pará, que podem resultar em competitividade e vantagens comparativas diferentes
sob o ponto de vista privado e social. Ademais, os custos de transporte
representados nesta análise consideram determinadas distâncias entre localidades e
que dependendo da localização da unidade de produção de biodiesel e distribuição
poderão ser muito maiores que os expostos neste trabalho (Tabela 13 e 14).
Tabela 13 – Matriz de Análise Política (MAP) para o transporte de biodiesel da unidade de produção à distribuidora, Baixo Sul da Bahia, 2010
Custos (R$/T) Itens Receitas
(R$/T) Insumos
Comercializáveis
Fatores
Domésticos
Lucros
(R$/T)
Valores Privados A
75,00
B
13,67
C
3,10
D
58,23
Valores Sociais E
59,25
F
15,28
G
2,14
H
41,83
Efeito de divergências
e eficiência política
I
15,75
J
-1,61
K
0,96
L
16,4
Fonte: Dados da pesquisa.
50
Tabela 14 - Indicadores privados e sociais para o transporte do biodiesel da unidade de produção à distribuidora, Baixo sul da Bahia, 2010
Indicadores Privados e Sociais Valor
1 - Razão do Custo Privado – RCP = C/(A - B) 0,05
2 – Custo dos recursos domésticos – CRD = G/( E – F) 0,04
3 – Coeficiente de Proteção Nominal - CPN = A/E 1,26
4 - Coeficiente de Proteção Efetiva - CPE = (A – B)/(E – F) 1,39
5 - Coeficiente de Lucratividade - CL = (A - B – C)/(E – F – G) = D/H 1,39
6 - Razão de Subsídios à Cadeia Produtiva - RSC = L/E = (D – H)/E 0,27
Fonte: Dados da pesquisa.
5.5 - Matriz de Análise Política (MAP) para a cadeia produtiva do biodiesel de
dendê no Baixo Sul da Bahia, 2010
A lucratividade privada da cadeia produtiva do biodiesel é positiva, e atinge o
valor de R$3.408,91 (Tabela 15), significando retornos extraordinários. Lucros acima
do normal é o desejo dos produtores, levando a atividade à condição de atrativa e de
potencial de expansão. Tudo isso estimula a entrada de novos produtores no setor,
o que impulsiona e leva ao crescimento do mercado. O resultado revela ajuste entre
as análises e o que se observa no setor, haja vista que tanto em nível nacional,
como internacional, vem ocorrendo aumento na demanda por energia, diversificação
da matriz energética decorrente também de mudança no paradigma ambiental que é
o uso de recursos naturais renováveis no sentido de reduzir os níveis de poluição,
em especial as emissões de gases do efeito estufa.
Tabela 15 – Matriz de Análise Política (MAP) para a cadeia produtiva do biodiesel de dendê no Baixo sul da Bahia, 2010
Receitas Custos (R$/T) Lucros Itens
(R$/T) Insumos
Comercializáveis
Fatores
Domésticos
(R$/T)
Valores Privados 8195,98 4.051,54 735,53 3.408,91
Valores Sociais 9.299,07 4,522,82 454,03 4.183,14
Efeito de divergências
e eficiência política -1.103,10 -471,29 142,42 -774,23
Fonte: Dados da pesquisa.
51
Assim, à medida que a concorrência se torne cada vez maior, o excedente de
lucros tenderá a desaparecer, levando a condições de lucratividade normal. Porém,
nas condições prevalescentes pode-se inferir que a cadeia produtiva de biodiesel é
competitiva a partir das análises dos indicadores da MAP. Como demonstração do
potencial de crescimento e atratividade do setor, dos benefícios oferecidos pelo
estado, pode-se citar a instalação de uma unidade de produção de biodiesel a partir
do dendê no município de Una, Sul da Bahia. Essa unidade abrange desde o cultivo
de dendê, produção de óleo até a sua transformação em biodiesel. O biodiesel é
produzido pelos processos de transesterificação e hidrosterificação. A partir da sua
obtenção, ele segue via tubulação para ser armazenado em tanques, para depois
ser transportado até as distribuidoras, em que se faz a mistura permitida por lei.
Apesar de a empresa produzir o dendê, de acordo com informação coletada junto à
direção da empresa, será necessário também adquirir a produção, e que deverá ser
feita junto a unidades familiares, a fim de conseguir beneficiar da isenção tributária e
também poder operar com maior capacidade de produção.
O indicador de lucrativiade social para o sistema analisado apresentou
resultado positivo, R$ 4.183,14, indicando eficiência na alocação dos recursos. Tal
condição é importante especialmente em situação de escassez desses recursos.
Essa lucratividade social expressa ainda, as reservas estrangeiras economizadas
com a não importação de produtos.
Quanto às divergências entre os valores privados e sociais que decorrem de
efeitos distorcivos das políticas públicas setoriais e, ou falha no mercado de
produtos ou de fatores, pode-se verificar que os valores foram negativos na ordem
de R$1.103,10 R$ 471,29 R$ 774,23, para as receitas, fatores domésticos e lucros,
respectivamente (Tabela 15). Para o primeiro valor, tal resultado representa
transferência de renda do produtor para a sociedade, ou seja, o preço pago pela
sociedade nessas condições seria maior, caso não houvesse a produção doméstica.
Esse resultado sustenta que as políticas são distorcivas, mesmo assim há
lucratividade, no entanto, poderia ser ainda maior. No caso dos insumos
comercializáveis pode estar associado ao preço da matéria-prima, fator que
representa maior valor percentual (46%) nos custos. Quanto à lucratividade o valor
obtido indica que políticas aplicadas ao setor, em certa medida, não beneficiaram o
mercado. Essas condições de produção são sustentáveis sob a ótica de objetivos
52
mais abrangentes, e portanto, a não eficiência é plausível, especialmente em região
menos desenvolvidas ou que possuam mais limitações ao desenvolvimento.
No que se refere aos indicadores privados e sociais, os resultados obtidos
indicam que o sistema é competitivo e que os produtores recebem um lucro
extraordinário. Evidenciam ainda que a produção do sistema é suficientemente
maior que os custos incorridos à sua produção. É uma atividade que apresenta
vantagem comparativa para a região, consequentemente para o estado, pois mesmo
utilizando R$0,12 de recursos domésticos, consegue economizar R$1,00 em
importação. Com um CPN de R$ 0,88 demonstra que há no sistema transferência de
renda do produtor caracterizando a fragilidade de alguns elos da cadeia produtiva de
biodiesel. Há, com isso, políticas influenciando nos preços dos insumos e dos
produtos (CPE = 0,87). Tudo isso é ainda, corroborado pelo coeficiente de
lucratividade em que se percebe transferência de renda dos produtores para a
sociedade. No entanto, a análise de subsídio à cadeia produtiva indica desincentivo
à atividade, isso ocorre porque muitas vezes torna-se difícil vender biodiesel a
R$2,32/L (preço do 16º leilão de biodiesel) frente a um custo de produção de óleo de
dendê de R$ 2,15/L (Tabela 16).
Tabela 16 - Indicadores privados e sociais para a cadeia produtiva do biodiesel de
dendê no Baixo sul da Bahia, 2010
Indicadores Privados e Sociais Valor
1 - Razão do Custo Privado – RCP = C/(A - B) 0,18
2 – Custo dos recursos domésticos – CRD = G/( E – F) 0,12
3 – Coeficiente de Proteção Nominal - CPN = A/E 0,88
4 - Coeficiente de Proteção Efetiva - CPE = (A – B)/(E – F) 0,87
5 - Coeficiente de Lucratividade - CL = (A - B – C)/(E – F – G) = D/H 0,81
6 - Razão de Subsídios à Cadeia Produtiva - RSC = L/E = (D – H)/E -0,08
Fonte: Dados da pesquisa.
A seguir, é apresentada a síntese dos indicadores para melhor visibilidade da
da necessidade de intervenção política, principalmente nos elos do cultivo do dendê
e no beneficiamento e produção do biodiesel (Tabala 17).
53
Tabela 17 – Síntese dos indicadores para a cadeia produtiva de dendê no Baixo Sul
da Bahia, 2010
Indicadores Cultivo 1º
Transporte
Beneficiamento/
Produção
2º
Transporte
Cadeia
RCP 0,43 0,11 0,10 0,05 0,18
CRD 0,31 0,12 0,01 0,04 0,12
CPN 1,00 1,26 0,92 1,26 0,88
CPE 1,11 1,66 0,69 1,39 0,87
CL 0,91 1,67 0,62 1,39 0,81
RSC -0,03 0,25 -0,10 0,27 -0,08
Fonte: Dados da pesquisa.
5.6 Análise ambiental
Partindo do pressuposto de que a utilização do biodiesel contribuirá para
redução da emissão de gases poluentes, posto que no Brasil o modelo de transporte
mais utilizado no setor de cargas é o rodoviário, e que essa atividade está
relacionada ao desenvolvimento, verificou-se a partir da análise de emissão de CO2
o quanto a manutenção desse sistema, e, apenas alteração no tipo de combustível
implicaria em impactos sobre o ambiente.
De acordo com a estimativa da curva ambiental o formato é em forma “N”, ou
seja, a relação PIB e pressão ambiental apresenta um processo cíclico que se
alterna entre positivo e negativo, decorrente dos estágios de desenvolvimento. Isso
ocorre, porque ao se atingir um patamar de desenvolvimento, as questões
ambientais são incorporadas no cotidiano, no entanto, à medida que se deseja
atingir novos patamares de desenvolvimento novamente o ambiente é pressionado
nos seus mais variados aspectos. Salienta-se porém, que a curva ambiental é só um
estágio da relação. Os estimadores (Tabela 18) indicam que as mudanças na
economia provenientes do desenvolvimento, não foram tão importantes para o
aumento da concentração de gás carbônico na atmosfera. O valor estimado para a
variável dummy (D1), presença e ausência de política setorial, indica que, mesmo
incipiente o Programa Nacional de Produção e Uso do Biodiesel contribuiu para a
qualidade ambiental do estado da Bahia.
54
Tabela18 – Variáveis estimadas da curva de Kuznets para o estado da Bahia, 2010
Variável Coeficiente Desvio-Padrão Teste t
C 0.423240*** 0.025 16.8383
PIB 5.92E-15*** 1.75E - 15 3.3917
PIB2 -3.88E-29** 1.40E - 29 -2.7628
PIB3 1.25E-45** 4.53E - 46 2.7621
D1 -1.3709** 0.555681 -2.4672
D*PIB 4.38E-14** 1.77E-14 2.4811
R2 0.94
R2 ajustado 0.91
Estatística D. W 1.71
*** significativo a 1%
**significativo a 5%
Fonte: Dados da pesquisa.
55
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A análise da cadeia produtiva do biodiesel de dendê no baixo sul da Bahia,
demonstrou, de acordo com as condições analisadas, mostra-se competitiva,
economicamente eficiente, havendo, do produtor para a sociedade, transferência de
renda. Portanto, diante dessas condições pode-se inferir que há potencialidade e
atratividade para sua expansão local, o que pode ser percebido pelo aparato de
indústrias de processamento do óleo, pela presença de produtores há muito tempo
na atividade e pelas empresas de produção de biodiesel que hoje já são quatro.
Observa-se, entretanto, que as medidas de política ainda são inibidoras de
maiores investimentos na atividade, pois foram observados resultados negativos
para a produção e custo dos insumos comercializáveis. Nesse aspecto é
fundamental a intervenção em pontos estratégicos como a produção de dendê –
estimulando o plantio de novas áreas, renovação das áreas mais antigos, novos
manejos que propiciem um óleo de melhor qualidade, tudo isso irá reproduzir em
ganhos de produtividade e de eficiência. Em certa medida, algumas dessas
estratégias já vêm sendo observadas a partir de programas, direcionadas
especificamente à produção de dendê. Espera-se que tais iniciativias fortaleçam a
cadeia produtiva do biodiesel no estado, pois ela envolve diversos agentes
econômicos que poderão propiciar desenvolvimento regional e, de forma sustentável
a partir da geração de postos de trabalho, renda, economia de divisas, dentre outros;
fixação do homem no campo, e garantia do escoamento da produção de agricultores
familiares. Ademais o incentivo ao uso de fontes renováveis de energia permitem,
em determinadas condições, reduzir a emissão de gases provadores do efeito
estufa, além de contribuir para o não esgotamento da fonte fóssil de combustível, um
comportamento apregoado pela economia ecológica. Assim, se continuadas as
práticas atuais na agroenergia é de esperar aumento da oferta de óleo de dendê e
de biodiesel produzido a partir do seu uso.
56
A curva ambiental revelou que após a implementação do PNPB, as emissões
de CO2 reduziram, dessa forma houve contribuição para a qualidade ambiental no
Estado. Contudo, o efeito é mínimo demontrando a necessidade de medidas
estratégicas que atuem em toda a a cadeia produtiva, principalmente, na produção
de máterias-primas, no caso da região estudada, o dendê, para possibilitar aumento
no percentual da mistura, atentando para que as medidas vislumbrem tanto os
aspectos econômico quanto o social e o ambiental.
57
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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AGRIANUAL – Anuário da Agricultura Barasileira. São Paulo: iFNP, 2006.
AGRIANUAL – Anuário da Agricultura Barasileira. São Paulo: iFNP, 2008.
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ANEXO
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