de recursos industriais À gestÃo de pessoas: o ser humano … · 2010-05-11 · organizacionais...

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DE RECURSOS INDUSTRIAIS À GESTÃO DE PESSOAS: O SER HUMANO EM FOCO Mônica César Mozzer Orientador: Fernando Alves Universidade Candido Mendes Instituto a Vez do Mestre Rio de Janeiro Abril de 2010

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DE RECURSOS INDUSTRIAIS

À GESTÃO DE PESSOAS:

O SER HUMANO EM FOCO

Mônica César Mozzer

Orientador: Fernando Alves

Universidade Candido Mendes Instituto a Vez do Mestre

Rio de Janeiro Abril de 2010

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MÔNICA CÉSAR MOZZER

DE RECURSOS INDUSTRIAIS

À GESTÃO DE PESSOAS:

O SER HUMANO EM FOCO

Monografia apresentada ao Departamento

de Pós-Graduação em Gestão Pública pelo Instituto

a Vez do Mestre na Universidade Candido Mendes

como pré-requisito parcial para obtenção do título.

Universidade Candido Mendes Instituto a Vez do Mestre

Abril de 2010

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AGRADECIMENTOS

À minha família pelo apoio constante;

À minha amiga Célia Mara Mansur Branco que me ajudou tanto nesta jornada;

Aos meus mestres de pela dedicação ao ensinar;

Ao Instituto a Vez do Mestre e à Universidade Candido Mendes por tornarem

o conhecimento acessível.

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DEDICATÓRIA

A todos que enxergam no trabalho de Gestão de Pessoas uma forma

de crescimento e aprendizado constante que nos tornam pessoas melhores a

cada segundo de convívio.

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1. Não pense desonestamente.

2. O caminho está no treinamento

3. Familiarize-se com todas as artes.

4. Conheça o Caminho de todas as

profissões.

5. Nos assuntos materiais, aprenda a

distinguir ganho de perda.

6. Desenvolva o julgamento intuitivo e a

compreensão de tudo.

7. Perceba as coisas que não podem ser

vistas.

8. Dê atenção até as coisas triviais.

9. Não faça nada que não sirva para

nada.

(Musashi, 2008)

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RESUMO

A atual concepção Gestão de Pessoas (GP) tem sua origem

na Revolução Industrial quando esta ainda era denominada

Departamento de Recursos Industriais (DRI). O relacionamento

entre pessoas e organizações foi se transformando ao longo dos

anos de acordo com o momento socioeconômico-cultural. Neste

processo evolut ivo houve a valorização da f igura humana que de

mera mão-de-obra passou a ser considerada capital intelectual ou

humano. O presente estudo busca apresentar a correlação entre os

momentos históricos e a GP enfatizando os diversos papéis do ser

humano nas organizações ao longo desta trajetória.

PALAVRAS-CHAVES: Gestão de Pessoas, capital humano,

Revolução Industrial, globalização.

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METODOLOGIA

Do ponto de vista dos procedimentos técnicos a metodologia utilizada foi

a Pesquisa Bibliográfica. Isto é, o estudo foi desenvolvido a partir de material

publicado, em sua maior parte de livros e em menor parte de artigos de

periódicos e material disponibilizado na Internet.

No que concerne a forma de abordagem, este estudo adotou

metodologia semi-qualitativa. Apresentando alguns dados quantitativos e

seguindo uma diretriz qualitativa, isto é, descritiva.

Em relação à natureza da pesquisa a metodologia adotada foi a

Pesquisa Básica. Isto é, o presente estudo tem por objetivo gerar

conhecimentos úteis sem aplicação prática prevista envolvendo interesses

universais e específicos.

No que tange ao objetivo metodológico foi adotada a Pesquisa

Explicativa. Isto é, buscou-se identificar os fatores que contribuíram para o

surgimento da Gestão de Pessoas (GP) e foi desenvolvido um aprofundamento

do conhecimento desta prática no intuito de explicar a realidade atual da GP e

o papel do ser humano nas organizações através dos tempos.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I – GESTÃO DE PESSOAS: REVISÃO HISTÓRICA 12

CAPÍTULO II - GESTÃO DE PESSOAS 23

CAPÍTULO III - CONTEXTO ATUAL E REALIDADE NACIONAL 36

CONSIDERAÇÕES FINAIS 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51

ÍNDICE 53

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INTRODUÇÃO

O presente estudo buscará apresentar uma compreensão

ampla do atual conceito de Gestão de Pessoas através da revisão

histórica dos processos de Recursos Humanos e seus respectivos

momentos socioeconômicos culturais. Pretende-se demonstrar

como cada etapa da Gestão de Pessoas esteve e está intimamente

vinculada ao momento histórico desde a Revolução Industrial à

Globalização e a importância do ser humano para as organizações.

A partir da Revolução Industrial o século XX foi

subseqüentemente atravessado por três modelos de administração

organizacional: Era Industrial Clássica, Era Industrial Neoclássica

e Era da Informação. Cada uma apresentou um modelo de

relacionamento entre as organizações e as pessoas que nelas

trabalham. As teorias e prát icas de Recursos Humanos encontram-

se interligadas a estes momentos socioeconômicos. No primeiro

momento o Departamento de Recursos Humanos foi responsável

pelas denominadas Relações Industriais, na segunda Era tratou

das Relações Humanas e nesta terceira fase cuida da Gestão de

Pessoas. Cada uma destas funções se relaciona ao período

econômico atravessado mundialmente, ao modelo de relações

sociais vigente em cada época e à demanda das organizações em

determinado cenário socioeconômico.

Os Departamentos de Pessoal (DPs) têm sua origem na Era

Industrial ização Clássica e t inham por função dar conta do

cumprimento dos pressupostos existentes na legislação trabalhista

e aplicação de punição por descumprimento de contrato. Mais

adiante, nesta mesma Era, foi criado o Departamento de Relações

Industriais (DRI) que desempenhava as tarefas anteriores do DP e

ainda era responsável pelas negociações entre a administração e

os sindicatos.

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O DRI será inst into na Era Industrial Neoclássica e

substituído pelo Departamento de Recursos Humanos (DRH). O

DRH absorve as funções do antigo DRI e assume para si as

responsabil idades táticas, tais como recrutamento e seleção.

Com a passagem da Era Industrial Neoclássica para a Era da

Informação os DRHs são descentral izados. As atividades

desenvolvidas pelo RH são direcionadas aos gerentes, assim, eles

se transformam também em gestores de pessoas. Atividades

burocráticas legais são dividas por outros setores. O RH passa

aqui a dest inar-se somente às relações internas fornecendo

orientação global que possibi l itará inovação e mudanças na

empresa. Neste contexto surge o conceito de Gestão de Pessoas

(GP).

A pós-modernidade nos faz deparar com diversas

transformações sócio-culturais e econômicas reconfigurando a

cada instante o cenário em que vivemos. Desta forma, somos

constantemente impulsionados nos atualizar nesse mundo

acelerado e efêmero. Um exemplo forte que afeta a grande maioria

das empresas exigindo adaptação dos sistemas de gestão é a

tecnologia que dá saltos galopantes diariamente. A GP moderna

visa ser uma forma de gestão maleável e faci lmente adaptável ás

transformações constantes do mundo pós-moderno.

Através da pesquisa bibl iográf ica serão analisados mais

detalhadamente adiante o papel e os desafios da GP na

contemporaneidade. Para tal, será apresentado no primeiro

capítulo intitulado De Recursos Humanos à Gestão de Pessoas:

Revisão Histórica as transformações do relacionamento entre

pessoas e organizações ao longo do tempo destacando a

transformação de um relacionamento antagônico em uma parceria.

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Mais adiante será também abordada a Revolução Industrial

enquanto marco do surgimento do RH e o período subseqüente até

a Era da Informação enquanto marco do surgimento da GP. Por f im

será apresentado um estudo comparativo das relações

organizacionais através dos tempos.

O segundo capítulo int itulado Gestão de Pessoas buscará

def inir o conceito de GP abordando suas principais funções:

Provisão de Pessoas (recrutamento e seleção); Aplicação de

Pessoas (integração, desenho e análise dos cargos);

Desenvolvimento (desenvolvimento de pessoas, treinamento e

desenvolvimento organizacional); Manutenção de Pessoas e

Monitoração de Pessoas (sistemas de informações de pessoas).

No terceiro e últ imo capítulo inti tulado Gestão de Pessoas:

contexto atual e realidade nacional serão abordados os desafios

da Gestão de Pessoas na contemporaneidade apresentando a

concepção de que o ser humano constitui hoje o maior capital

organizacional. Mais adiante, adentraremos o histór ico do RH

brasi leiro apresentando o contexto atual da GP nacional e os

desafios brasileiro no desenvolvimento da tecnologia gerencial.

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CAPÍTULO I

GESTÃO DE PESSOAS: REVISÃO HISTÓRICA

1.1 – Organizações e pessoas: do relacionamento

antagônico à dependência mútua

Organizações ou empresas serão terminologias adotadas no

presente estudo para designar a enorme variedade de instituições

que abrange colégios, universidades, indústrias, comércio, lojas,

bancos, hospitais, prestadoras de serviços etc. Desta forma,

podem variar quanto à especif icidade, tamanho ou produtividade,

sendo pública ou privada.

Na sociedade pós-moderna as organizações e instituições

fazem parte da vida dos seres humanos desde sempre. Na maior

parte das vezes, antes mesmo de nascer já se é tratado, avaliado

ou observado em hospitais. Após o nascimento as organizações

passam a fazer parte dos processos de desenvolvimento e r ituais

de passagem. Assim, a educação, saúde, trabalho e alimentação

advêm de empresas ou organizações.

Estas relações de vidas atravessadas ou mesmo formadas

por organizações se dão há mais de um século. Contudo, há até

duas décadas ainda se acreditava que o relacionamento entre

empresas e pessoas era antagônico no que concerne aos objetivos

e conflituoso na medida em que se acreditava ser de dif ícil

conci l iação. De acordo com o que nos aponta o grande

pesquisador do tema e autor de livros referenciais em gestão

moderna de pessoas Idalberto Chiavenato (2010, p. 05):

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Até pouco tempo atrás, o relacionamento entre pessoas e organizações era considerado antagônico e conf l i t ivo. Acreditava-se que os objet ivos das organizações – como lucro, produtividade, ef icácia, maximização da apl icação de recursos materiais e f inanceiros, redução de custos – eram incompatíveis com os objet ivos individuais das pessoas -, como melhores salár ios e benef íc ios, conforto no trabalho, lazer, segurança no trabalho e no emprego, desenvolvimento e progresso pessoal.

Desta forma, o autor nos aponta que a forma adotada para

lidar com estes supostos conflitos era binária:

A solução usada era do t ipo ganhar-perder: se uma parte leva tudo a outra f ica sem nada. Em situação de recursos l imitados e escassos, se uma parte ganhava mais, ela o fazia às custas da outra. ( . . .) Verif icou-se que, se a organização busca alcançar os seus objet ivos da melhor maneira possível, ela precisa saber canal izar os esforços das pessoa para que também elas at injam os seus objet ivos individuais e que ambas saiam ganhando. (Idem)

Somente na década de 50 quando o fordismo dá lugar ao

toyotismo é que se descobre a importância das pessoas para as

organizações e não somente das organizações para as pessoas. A

partir de então, há um “aumento da preocupação com os outros

agentes envolvidos nas atividades organizacionais, como

fornecedores e a força de trabalho, que passaram a ser chamados,

muitas vezes, de cl ientes internos.”(CAPELLE & BRITO: 2006, p.8)

Têm início então à idéia de gestão de recursos humanos e

valorização das pessoas como bem primordial para empresa. As

mudanças se iniciam pela transformação do sistema ganhar-perder

em sistema ganhar-ganhar. Essa transformação demanda muitas

negociações e participação de uma gama muito maior de setores

do que anteriormente. A vertical idade das decisões dá lugar à

participação.

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Observa-se nesta transição, também, mudanças nas

nomenclaturas adotadas pelas empresas. Um exemplo é a

mudança das denominações chefe ou superior que em muitas

empresas deram lugar a de gerente.

A nomenclatura de designações adota por uma empresa diz

muito sobre a polí t ica através da qual trata as pessoas que nela

trabalham. Assim, uma pessoa executando a mesma função pode

ser intitulada de mão-de-obra, operário, trabalhador, mensalista,

horista, empregado, funcionário, recurso humano, colaborador,

parceiro, talento humano ou capital humano de acordo com a

organização em que trabalha.

Tratar as pessoas como recursos organizacionais é um desperdício de talentos e de massa encefál ica produt iva. Assim, hoje se fala em Gestão de Pessoas e não mais em recursos humanos, exatamente para proporcionar essa nova visão das pessoas - não mais como meros funcionários remunerados em função do tempo disponibi l izado para a organização - mas como parceiros e colaboradores do negócio da empresa. (CHIAVENATO: 2010, p. 34)

Os conceitos relativos à importância das nomenclaturas só se

tornaram possíveis a partir do momento em que os Departamentos

de Recursos Humanos ampliaram o cunho legal e burocrático

inicialmente adotado para uma visão mais humana da Gestão de

Pessoas. Conforme apontam Cappelle & Brito (2006), essa visão

de Gestão de Pessoas nas organizações é produto da década de

80 e início de 90.

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1.2 – O Século XX: da Revolução Industrial à Era da

Informação

O trabalho existe nas sociedades desde o surgimento da

humanidade. Ao longo dos séculos muitas guerras se sucederam

em função do poder e do trabalho. Civi l izações foram

escravizadas, isto é, colocadas para trabalhar forçosamente.

Muitas discussões se sucederam e estão ainda em pauta sobre a

ética das relações de poder e trabalho.

Embora a história do trabalho tenha se iniciado com a

humanidade, é somente no século XX que adquir iu configurações

semelhantes a que se conhece nas sociedades contemporâneas. O

marco desta mudança foi a Revolução Industrial, que alterou

profundamente o modelo de produção afetando as relações de

trabalho desde o formato de administração aos modelos de

comportamento adequados para se adotar nas empresas.

Embora tenha chegado ao auge no século XX às

transformações que culminaram na grande Revolução tem início

ainda no século XVII na Grã-Bretanha quando Thomas Newcomen

instalou o primeiro motor a vapor com o objet ivo de esgotar água

de uma mina de carvão. Até o século XX o grosso da produção era

manual e artesanal, isto é, o sistema de produção era a

manufatura.

A Revolução Industrial abrange as transformações

tecnológicas que impactaram profundamente o processo produtivo,

tanto economicamente quanto socialmente. Teve início na

Inglaterra no século XVIII e já no século seguinte expandiu-se para

outros países. As mudanças sociais deram-se principalmente no

ponto em que máquinas começam a efetuar trabalhos

anteriormente manuais, há uma suplantação do trabalho humano.

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Assim, o papel social do trabalho se altera dando lugar a

uma nova relação de trabalho e capital. É neste ponto que as

mudanças econômicas se dão e ganham mundo na medida em que

a produção em massa interfere nas relações entre nações. Neste

momento o capitalismo ganha status mundial e práticas como

acumulação monetária se difundem.

A Revolução Industrial trouxe consigo as fábricas e

burocracias. “Sem dúvida alguma, as mudanças e transformações

que nele [século XX] aconteceram marcaram indelevelmente a

maneira de administrar as pessoas.” (CHIAVENATO: 2010, p. 34)

Distinguem-se ao longo do século XX três momentos

signif icat ivos. São eles Era Industrial Clássica, Era Industrial

Neoclássica e Era da Informação. A primeira, respectivamente,

corresponde ao momento subseqüente à Revolução Industrial e

prolongou-se até aproximadamente 1950. Destaca-se pela

intensif icação e expansão mundial da industrialização.

Economicamente, marca a divisão entre países desenvolvidos ou

industrializados e subdesenvolvidos. Assim, a Era Industrial

Clássica foi marcada por prosperidade e crise.

No que concerne às relações de trabalho esta Era marcou a

instauração da burocracia nas empresas através da estrutura

organizacional com caráter central izador e formato piramidal.

Surge a divisão funcional em departamentos obedecendo no geral

ao poder central que toma as decisões, delega funções e regras de

comportamento discipl inar visando padronizar a produção.

Cappelle & Brito (2006: p. 23), associando aspectos da teoria

foucaultiana, nos apresentam que estas técnicas discipl inares

buscam “ampliar ao máximo o potencial produtivo do corpo,

simultaneamente à repressão de seu potencial polít ico.”

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Neste primeiro momento às preocupações voltavam-se

integralmente para produção e administração de recursos internos

(máquinas e pessoas). O panorama mundial era estável, passava

por mudanças lentas e passíveis de cálculo.

O ambiente não oferecia desaf ios devido ao relat ivo grau de certeza quanto às mudanças externas, o que permit ia que as organizações se introvertessem e se preocupassem com os seus problemas internos de produção. A ef iciência era a preocupação básica e para alcançá- la eram necessárias medidas de padronização e simpl if icação, bem como especial ização da mão-de-obra para permit ir escalas de produção maiores e a custos menores. (CHIAVENATO: 2010, p. 35)

Assim, a administração clássica e burocrática representava a

justa medida para o crescimento. Pessoas representavam recursos

de produção e deveriam ser uti l izadas, reguladas e administradas

tais como os demais recursos (capital, máquinas, etc.). Os

recursos de produção eram o centro das preocupações das

empresas, o mercado estava ativo e seguro, o sucesso dependia

da capacidade de produzir de modo ef iciente.

Na década de 1950 o panorama mundial não era mais tão

estável, principalmente em decorrência do f im da Segunda Guerra

Mundial em 1945.

A partir deste marco as mudanças nas relações comerciais

que antes ocorriam de modo previsível e lento se tornaram

aceleradas e intensif icadas. “As transações comerciais passaram

da amplitude local para regional, e de regional para internacional,

tornando-se cada vez mais intensas e menos previsíveis,

acentuando a competição entre as empresas.” (CHIAVENATO:

2010, p. 36)

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Desta forma, o modelo clássico e burocrático não dá mais

conta de atender às necessidades das empresas e é substituído

pelo modelo neoclássico e estruturalista. Tem início a Era da

Industrial ização Neoclássica.

O mercado passou a ser competit ivo e as empresas não

poderiam disputar neste mercado com estruturas rígidas e

centralizadoras. Implementa-se, então, o modelo neoclássico de

administração caracterizado pelo fortalecimento do exercício

administrativo. Isto é, nesta Era enfatizou-se a prática

administrativa enquanto uma prática social básica e não somente

técnica. Assim, cabia ao administrador o conhecimento técnico de

seu trabalho e, também, o conhecimento da função e trabalho das

outras pessoas na empresa.

Contudo, a teoria neoclássica ainda reaf irma postulados da

Era Clássica e funcional, tais como destaque na produção e

resultados. Desta forma, embora tenha oferecido melhorias ao

modelo administrat ivo organizacional não foi o bastante para se

manter uma vez que ainda trazia consigo a rigidez do modelo que

lhe serviu de base. O modelo neoclássico estava marcado

burocrática sobre a qual se assentava. No início dos anos 1990 a

Era Industrial Neoclássica deu lugar à Era da Informação.

Atualmente vivemos na Era da Informação. Este período

caracteriza-se pelas mudanças constantes e rápidas. O tempo

corre e o que era novo ou moderno hoje será velho ou antiquado

amanhã ou depois. A estabil idade definit ivamente não é mais uma

característica mundial. A informação é globalizada através de

novos recursos tecnológicos que brotam diariamente.

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O conceito de economia internacional está caindo em

desuso, pois, na medida em que a informação torna-se global os

negócios também são mundiais e a economia é hoje basicamente

global ou mundial. Assim, tudo o que permeia o mercado, como a

competit ividade ganha proporções gigantescas e são cada vez

mais intensif icadas.

A ênfase não está mais na produção, mas na capacidade das

empresas em inovar. “São mais bem-sucedidas as organizações

capazes de tomar a informação e transformá-la rapidamente em

uma oportunidade de novo produto ou serviço, antes que outras o

façam.” (CHIAVENATO: 2010, p. 38)

Neste panorama, o capital deixa de ser o diferencial para o

sucesso de um negócio e é substituído pelo conhecimento. As

pessoas não mais representam recursos materiais humanos, mas

capital humano e intelectual capaz de produzir o maior bem para a

empresa da Era da Informação: conhecimento.

1.3 – RH através dos tempos: estudo comparativo das

relações organizacionais

Na Era Industrial Clássica as pessoas eram consideradas

mão-de-obra. Neste período o setor responsável por l idar com as

relações entre a organização e pessoas era nomeado de

Departamento Relações Industriais (DRI). A função do DRI

consistia em intermediar e concil iar as relação das pessoas com a

organização, ajustando possíveis ou eventuais confl itos. Tem-se

aqui uma separação entre organização e pessoas e a suposta

incompatibil idade de objetivos que veremos ao longo do presente

trabalho.

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A organização objetivava a produção e o homem deveria ser

ajustado ao seu cargo ou função sem nenhum papel cr iativo. A

máquina produtiva estava a todo vapor e as pessoas faziam parte

dela tanto quanto qualquer outra máquina. No intuito de manter o

funcionamento da máquina sob rígido controle exist iam muitos

cargos em diferentes níveis hierárquicos, assim um controlaria o

outro, mas no topo do poder somente uma coordenação

centralizadora. Este é o exemplo clássico da estrutura de poder do

panóptico analisado por Foucault (1979).

O autor nos apresenta que vigiar e punir são formas usuais,

especialmente nesta Era, de adestrar as pessoas para que se

comportem de acordo com as leis e normas estabelecidas pelo

poder vigente. Contudo, vigiar é mais rentável para economia do

poder do que punir. Vigiar é um ato preventivo com alto índice de

ef icácia e que não provoca tanta revolta quanto à punição suscita.

O panópt ico de Jeremy Bentham é uma composição arquitetônica de cunho coercit ivo e discipl inatór io: possui o formato de um anel onde f ica a construção à per ifer ia, dividida em celas tendo ao centro uma torre com duas vastas janelas que se abrem ao seu inter ior e outra única para o exter ior permit indo que a luz atravesse a cela de lado. (FOUCAULT: 1979, p. 48)

A teoria do panóptico tem origem em um modelo

arquitetônico onde todos vigiam e são vigiados, existem muitas

hierarquias e uma coordenação central que vigia a todos. Foucault

ampliou a função arquitetônica do modelo para analisar a função

social e ressaltou como este modelo foi e ainda é aplicado na

sociedade. Na Era Industrial o uso do modelo do panóptico está

nit idamente ressaltado.

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Outras práticas também características da estrutura do

panóptico podem ser observadas neste período. Destacam-se

dentre elas os padrões de comunicação rígidos e delimitados pelos

cargos que são restritos e bem definidos. O trabalho era individual

e repetit ivo dif icultando a comunicação e uma visão mais ampla da

própria função de cada cargo.

Neste modelo a rotina, o método e a ef iciência da produção

eram itens altamente valorizados. Tudo isso se material izava na

limitação do processamento de informações e, em conseqüência,

falta de inovação e capacidade de mudança que levaram ao f im

desta Era.

Na Era Industrial Neoclássica as pessoas são consideradas

recursos humanos e o setor responsável por administrar as

relações entre as pessoas e a organização é denominado

Departamento de Recursos Humanos (DRH). Para o DRH as

pessoas representam potencial ativo e não mais um apêndice da

máquina produtiva.

Neste período com as mudanças constantes e rápidas que o

mundo passava o RH “tornou-se o mais importante recurso

organizacional e fator determinante do sucesso empresarial.”

(CHIAVENATO: 2010, p. 48) O modelo Neoclássico traz sua

estrutura interligada à estrutura produtiva, os cargos são

descentralizados, mas somente na relação de produto e serviço.

Isto é, há dois t ipos de autoridade, a funcional – relat iva ao cargo

– e a de projeto – relativa ao produto ou serviço. Com isso os

cargos passam a ser menos estát icos e mais abertos às inovações.

Em conseqüência destes fatores a capacidade de

processamento de informação é ampliada para permit irem mais

l iberdade de comunicação. Tem, assim, alguma capacidade de

inovação e mudança.

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Contudo, o mundo encontrava-se cada vez mais acelerado

demandava mais e mais inovação e este modelo sede o lugar ao

modelo da Informação que permanece até esse momento em que

escrevo.

Na Era da Informação as pessoas são consideradas

parceiras da organização e o setor responsável por administrar as

relações entre as pessoas da organização é denominado Gestão

de Pessoas (GP).

Neste ponto, as pessoas não são mais mão-de-obra ou

recursos humanos são “abordadas como seres inteligência,

personalidade, conhecimento, habil idades, competências,

aspirações e percepções singulares. São os novos parceiros da

organização” (CHIAVENATO: 2010, p. 39)

O autor nos aponta ainda que “a cultura organizacional

recebe forte impacto do mundo exterior e passa a privi legiar a

mudança e a inovação com foco no futuro e no destino da

organização.” (Idem)

Neste modelo os departamentos dão lugar às equipes

autônomas com grande interdependência entre si. Os cargos são

auto-definidos, maleáveis e ajustados para cada função

possibil itando agil idade, mutabil idade e f luidez nas empresas.

Tudo isto, se bem empenhado, poderá ser revertido em grande

capacidade no processamento de informações, inovação e

criatividade. Permanecerá como modelo vigente até enquanto der

conta da demanda socioeconômica.

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CAPÍTULO II

GESTÃO DE PESSOAS

É possível conceber uma empresa como um ser vivo. Desta

forma, quando bem cuidada tende à sobrevivência e ao

crescimento. E, como qualquer ser vivo, na medida em que se

desenvolve e cresce demanda mais complexidade, mais espaço e

mais recursos.

No caso deste ser organizacional há principalmente uma

necessidade de aumentar o corpo prof issional que atua na

manutenção da empresa capacitando-a para atuar

competit ivamente no mercado.

As pessoas passam a signif icar o diferencial competit ivo que mantém e promove o sucesso organizacional: elas passam a constituir a competência básica da organização, a sua principal vantagem competit iva em um mundo globalizado, instável, mutável e fortemente concorrencial. (CHIAVENATO: 2010, p. 4)

Ao longo das suas últ imas décadas ocorreram muitas

mudança no modelo administrativo das empresas. O RH sofreu

transformações conceituais e prát icas na Gestão de Pessoas. É,

pois, neste panorama que o invest imento nos prof issionais, ou

seja, no capital humano mostrou-se mais signif icat ivo para o

crescimento organizacional do que o investimento direto e único

em serviços e/ou produtos.

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Surgem, então, as estratégias de Gestão de Pessoas. Estas

constituem a abordagem adotada pela empresa objetivando que os

prof issionais sejam capazes de atingir as metas da inst ituição de

acordo com os valores e missão da mesma.

No que concerne à dialética desta relação destaca-se o fato

de que a maioria das pessoas despende em média entre um terço

e a metade de seu tempo trabalhando, ou seja, dentro de

empresas. Dentre os muitos fatores que as levam a fazê-lo

ressaltam-se a necessidade de subsistência, reconhecimento e

sucesso pessoal. No pólo organizacional destacam-se a

necessidade de pessoas para produzir, prestar serviços e operar o

funcionamento da empresa. Tem-se, assim, uma relação dialética

de dependência em que as pessoas obtêm satisfações pessoais

através das organizações e/ou do trabalho e as organizações

obtêm vida através das pessoas.

Desta forma, o conceito de Gestão de Pessoas só se torna

possível se há pessoas e organização. A Gestão de Pessoas trata

simultaneamente das pessoas no que concerne à empregabil idade

– habilidade do indivíduo para obter e manter seu emprego – e das

organizações no que concerne à empresabilidade – habilidade das

empresas para reconhecer, captar, ampliar e aplicar as

capacidades intelectuais e práticas individuais das pessoas.

Contudo, a Gestão de Pessoas encontra-se suscetível à l inha

polít ica e ideológica de cada empresa.

Ela é extremamente contingencial e situacional, pois depende de vários aspectos, como a cultura que existe em cada organização, da estrutura organizacional adotada, das caracter íst icas do contexto ambiental, do negócio da organização, da tecnologia ut i l izada, dos processos internos, do est i lo de gestão ut i l izado e de uma inf inidade de outras var iáveis importantes. (Idem, p. 08)

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A despeito da suscetibil idade da prática de Gestão de

Pessoas existem definições comuns a esta função. Estas

compreendem que a Gestão de Pessoas corresponde às funções

administrativas e gerenciais relat ivas aos recursos humanos de

uma determinada organização.

2.1 – Gestão de Pessoas: definição

Por Gestão de Pessoas compreende-se o conjunto integrado

de decisões e atividades que interferem direta ou indiretamente no

sucesso das pessoas e da empresa. De acordo com a definição de

Fisher & Fleury (1998, p. 18) é o “conjunto integrado de polít icas e

práticas def inidas de uma organização para orientar o

comportamento humano e as relações interpessoais no ambiente

de trabalho.”

A Gestão de pessoas destina-se tanto às funções

operacionais quanto às estratégicas abrangendo assim

recrutamento, seleção, treinamento, aplicação de programas de

recompensas, avaliação de desempenho, etc. Cuida do capital

humano objetivando competit ividade e competência dos

funcionários e da organização.

De acordo com Ulrich (1998) os quatro principais papéis

Gestão de Pessoas são:

1. Administração de estratégias de recursos humanos:

diagnóstico organizacional. Isto é, a partir da avaliação das forças

e fraquezas da empresa são realizados ajustes objet ivando

impulsionar e propiciar a execução satisfatória da estratégia. A

imagem visual ou metáfora característica deste papel denominada

Parceiro Estratégico;

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2. Administração da infra-estrutura da empresa: serviços

comuns para melhoria contínua. Isto é, engenharia dos processos

organizacionais ou base de serviços objetivando a construção de

uma infra-estrutura ef iciente. A imagem visual ou metáfora

característica deste papel denominada Especialista Administrat ivo;

3. Administração da contribuição dos funcionários:

provimento de recursos aos funcionários. Isto é, ouvir e responder

aos funcionários de modo a propiciar o envolvimento e

comprometimento do prof issional. Desta forma, funcionários

tornam-se parceiros, agentes empreendedores ou fornecedores da

empresa. A imagem visual ou metáfora característ ica deste papel

denominada Defensor dos funcionários;

4. Administração da transformação e da mudança:

provimento de capacidade de mudança. Isto é, gere as mudanças e

transformações assegurando que a organização possa permanecer

criativa, inovadora e renovadora. A imagem visual ou metáfora

característica deste papel é denominada Agente de mudança.

O trabalho executado pela Gestão de Pessoas se divide em

cinco eixos. São eles: Provisão de Pessoas (recrutamento e

seleção); Aplicação de Pessoas (integração, desenho e análise de

cargos); Desenvolvimento de Pessoas (treinamento e

desenvolvimento organizacional); Manutenção de Pessoas

(benefícios sociais e relações trabalhistas) e Monitoração de

Pessoas (sistemas de informações de Gestão de Pessoas).

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2.2 - Provisão de Pessoas: recrutamento e seleção

É através do recrutamento que as empresas atraem

candidatos para participarem de seu processo selet ivo ampliando

suas possibil idades de escolher prof issionais que melhor se

ajustem à missão, objetivo e valores da empresa. Abrange em sua

prática o processo de comunicação na medida em que a empresa

comunica, através de divulgação, que está dispondo de

oportunidades de trabalho.

O recrutamento – tal como ocorre no processo de comunicação - é um processo de duas mãos: ele comunica e divulga oportunidades de emprego, ao mesmo tempo em que atrai candidatos para o processo selet ivo. Se o recrutamento apenas comunica e divulga, ele não at inge seus objet ivos básicos. O fundamental é que atraia e traga candidatos para serem selecionados. (CHIAVENATO: 2010, p. 114)

O recrutamento corresponde, portanto, ao conjunto de

procedimentos e técnicas que objetivam atrair candidatos

qualif icados para disputar um cargo. O recrutamento pode ser

interno ou externo, isto é, pode recrutar pessoas de dentro da

própria empresa para concorrer a ocupação de outros cargos ou

pode recrutar pessoas de fora da empresa incluindo novos

conhecimentos. Uma vez encerrado o recrutamento, tem início o

processo seletivo.

A seleção corresponde ao processo através do qual a

empresa escolherá o candidato recrutado que melhor atende às

necessidades do cargo e/ou da empresa.

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As exigências do processo selet ivo podem variar tanto em

relação à qualif icação para o cargo quanto em relação à

qualif icação para empresa. Por exemplo, uma pessoa pode não ser

a melhor qualif icada para ocupar um determinado cargo, mas

possuir outras características prof issionais e/ou pessoais que a

empresa está buscando.

2.3 - Aplicação de Pessoas

O segundo eixo refere-se à aplicação de Recursos Humanos

ou Pessoas. Conforme dito anteriormente as pessoas passam em

média um terço de seu dia na empresa em que trabalha. Embora

isso represente uma boa fatia, se considerarmos que geralmente

passam outro terço dormindo, as pessoas estão apenas

parcialmente incluídas na organização em que trabalham. Nas

outras partes estão incluídas em outras organizações - sociais,

familiares, educacionais, etc. “A organização não util iza

integralmente a pessoa, nem ocupa totalmente as suas

potencial idades, mas apenas alguns de seus comportamentos mais

relevantes para o desempenho de um papel.” (CHIAVENATO:

2010, p. 168) O papel corresponde aos comportamentos e

atividades esperados de cada indivíduo dentro da empresa.

2.3.1 – Integração

Após a seleção a pessoa ingressa na empresa ou no cargo e

precisa ser orientada para que possa desempenhar seu papel

adequadamente. Assim, a orientação representa a del ineação do

papel de cada pessoa dentro da empresa, os objet ivos que a

organização espera que ela alcance e a apresentação das diversas

atividades desenvolvidas pela organização.

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A orientação não se limita aos novos funcionários, devendo

ser exercida também com antigos funcionários quando ocorrem

mudanças. Na orientação a missão, valores e cultura

organizacional são apresentados.

Cultura organizacional ou corporat iva equivale ao conjunto

de crenças e hábitos compart i lhados pelas pessoas que fazem

parte da empresa.

Cultura organizacional é a maneira costumeira ou tradic ional de pensar e fazer as coisas, que são compart i lhadas por todos os membros da organização e que os novos membros devem aprender e aceitar para serem aceitos no serviço da organização. (SCHEIN: 1992, p.2)

A socialização organizacional diz respeito à forma como a

empresa recebe novos membros, corresponde à apresentação da

cultura organizacional e integração da pessoa ao contexto da

empresa.

A integração constitui uma das etapas mais delicadas e,

geralmente, com maior índice de rotatividade de pessoal. Neste

período é necessário um ajuste recíproco, pois de um lado a

organização tenta encaixar a pessoa ao seu modelo (social ização)

e de outro a pessoa tenta trazer seus próprios modelos

(personif icação). “É uma aprendizagem recíproca em que ambas

as partes procuram reduzir a incerteza a respeito da outra.”

(CHIAVENATO: 2010, p. 182)

É através da socialização que as empresas buscam integrar

os novos colaboradores ao ambiente de trabalho propiciando o

bom uso desta nova força.

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O programa de integração procura fazer com que o novo part ic ipante assimile de maneira intensiva e rápida, em uma situação real ou de laboratór io, a cultura da organização e se comporte daí para a f rente como um membro que veste def init ivamente a camisa da organização. (Idem, p. 186)

O programa de integração oferece formal e intensivamente

treinamento aos novos membros para estes possam se familiarizar

com aquela l inguagem organizacional e sua cultura, bem como

com a estrutura, objetivo e missão da empresa. Desta forma,

promove a incorporação das normas, valores e padrões de

comportamento adotados pela organização.

2.3.2 - Desenho e Análise dos Cargos

A função exercida pelas pessoas dentro de uma empresa

bem como a forma através da qual elas exercem suas funções são

previamente estruturadas de acordo com o modelo organizacional

da empresa que distribui as funções na maior parte das vezes

através dos cargos. A estruturação dos cargos é dada pelo

desenho organizacional que irá distr ibuí- los e conf igurar sua

respectiva função determinando o nível de especial ização

necessário para cada cargo.

O desenho organizacional representa a arquitetura da organização: como os seus órgãos e cargos estão estruturados e distr ibuídos, quais as relações de comunicação entre eles, como o poder está def inido e como as coisas deverão funcionar. Se a estrutura organizacional é r ígida e imutável, os cargos também serão f ixos, permanentes e def inidos, fechados, individual izados e del imitados. Se a estrutura é f lexível e adaptável, os cargos também serão maleáveis, ajustáveis e abertos, com elevado índice de interação com o ambiente que o circunda. (Idem, p. 198)

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Desta forma, a maleabilidade do desenho organizacional irá

variar de acordo com a f lexibi l idade da estrutura da organização.

Quanto mais f lexível a estrutura da organização maior a

probabilidade da empresa ter equipes multidiscipl inares e gestão

autônoma o que atende melhor às exigências de mercado atuais.

Do mesmo modo que as organizações precisaram se reestruturar

ao longo dos tempos os cargos tiveram que se adequar para

acompanhar este novo contexto organizacional.

O desenho de cargos corresponde à forma de estruturação e

dimensão de cada cargo abrangendo especif icações de conteúdo e

método de trabalho, bem como as relações entre os cargos. Assim,

apresenta quatro pi lares básicos:

1. Conteúdo do cargo: atr ibuições ou tarefas a serem

desenvolvidas pela pessoa que ocupa o cargo;

2. Métodos de trabalho: como as atribuições ou tarefas serão

desempenhadas, isto é, a forma através da qual o conteúdo será

desenvolvido;

3. Superior imediato: a quem a pessoa que ocupa o cargo

deve se reportar e prestar conta;

4. Subordinados: quais são as pessoas a quem o ocupante

do cargo deve supervisionar.

Existem três modelos de desenhos de cargos: Clássico,

Humanístico e Continental. O modelo clássico foi desenvolvido por

engenheiros de Administração Científ ica e segue princípios de

racionalização do trabalho. Assim, projeta cargos através da

padronização de métodos, treinamento para aumentar a ef iciência

do trabalho e bonif icações salariais. É um modelo que apresenta

pouca f lexibil idade e espaço criativo e com todas as mudanças no

contexto socioeconômico passou a não atender mais.

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Desta crise emergiu o modelo humanístico, que -

desenvolvido por cientistas sociais - busca substituir a formalidade

organizacional por uma certa informalidade, por exemplo, a chefia

da lugar a l iderança. Com o tempo o modelo humanista se

desdobrou no modelo continental ampliando o formato originário a

partir da consideração de três variáveis simultâneas: pessoas,

tarefa e estrutura organizacional.

Assim, o desenho do cargo torna-se dinâmico e baseado na

mudança contínua da Era da Informação. Os cargos são revistos

constantemente e cabe ao gerente e sua equipe estarem sempre

atentos ao desenvolvimento da pessoa um determinado que ocupa

o cargo e da tecnologia relat iva à função para usufruir de ambas

as oportunidades. O modelo continental é mais complexo, mas

mais adequado à atualidade.

Emerge, então, a necessidade de descrever e analisar os

cargos já existentes. A descrição de cargo corresponde ao relato

preciso e breve da função desempenhada pela pessoa que ocupa o

cargo, isto é, relatar desde o que a pessoa que ocupa o cargo faz,

como faz, em que condições o faz e os motivos pelos quais ela o

faz. A part ir da descrição do cargo pode-se fazer a análise do

cargo.

A análise de cargo equivale ao detalhamento das exigências

necessárias ao ocupante, isto é, conhecimentos, capacidades e

habil idades necessárias para que uma pessoa possa desempenhar

o cargo. Descrição e análise de cargo são inter-relacionadas e

diferem-se apenas pelo foco. A descrição foca mais no conteúdo

do cargo e a análise nos requisitos f ísicos e mentais necessários

para que uma pessoa possa ocupar determinado cargo.

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2.4 – Desenvolvimento organizacional e de pessoas e

treinamento

Destacam-se nos processos de desenvolvimento três

seguimentos: desenvolvimento de pessoas, treinamento e

desenvolvimento organizacional. De acordo Chiavenato (2010) o

estrato maior está no desenvolvimento organizacional que abrange

o desenvolvimento de pessoas e este, por sua vez, abrange o

treinamento. O desenvolvimento organizacional relaciona-se com a

forma através da qual as organizações aprendem e se

desenvolvem a partir das inovações e mudanças diversas. Os

demais estratos relacionam-se a como as pessoas aprendem e se

desenvolvem, isto é, a aprendizagem individual.

Desenvolvimento de pessoas e treinamento se assemelham

na medida em que ambos constituem processos de aprendizagem

e diferem na perspectiva de tempo. Ao passo que o treinamento

objetiva promover melhorias no momento presente, aprimorar o

desempenho imediato no cargo atual, o desenvolvimento de

pessoas objet iva desenvolver cargos que serão ocupados

futuramente def inindo as competências e habil idades que serão

necessárias para ocupar o cargo.

No momento em que se descobre a riqueza que as pessoas

representam para as organizações cresce o interesse em invest ir

neste patrimônio. Investe-se principalmente na habilidade inerente

ao ser humano para aprender e desenvolver. Desta forma, os

programas de desenvolvimento de pessoas marcaram

intensamente essa mudança na administração organizacional. O

desenvolvimento de pessoas deve ter por objet ivo propiciar às

pessoas a oportunidade de desempenhar suas habil idades.

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Desenvolver pessoas não é apenas dar- lhes informação para que elas aprendam novos conhecimentos, habi l idades e destrezas e se tornem mais ef icientes naqui lo que fazem. É, sobretudo, dar- lhes a formação básica para que aprendam novas at itudes, soluções, idéias, conceitos e que modif iquem seus hábitos e comportamentos e se tornem mais ef icazes naquilo que fazem. Formar é muito mais do que simplesmente informar, pois representa um enr iquecimento da personalidade humana. (Idem, p. 362)

Na Era da Informação o conhecimento tornou-se um dos bens

mais preciosos. Desta forma, a produção de conhecimento passou

a ser essencial para o sucesso organizacional. Contudo, para tal, o

conhecimento precisa ser produtivo, isto é, precisa ser aplicado de

modo a se tornar um diferencial. Isto ocorre na medida em que

melhora processos e produz resultados agregando valor e gerando

riquezas para a empresa.

Com a informação globalizada todos podem acessá-la, porém

“sobressaem as pessoas capazes de acessá-la, interpretá-la e

transformá-la rapidamente - e antes dos outros - em um novo

produto, serviço, aplicação, inovação ou oportunidade.” (Idem, p.

364)

O treinamento se insere neste contexto como facil itador da

construção de competências, como o meio de aprimorar o

desempenho das pessoas em seus cargos. Apresenta-se como

uma forma de agregar valor às pessoas, aos clientes e à empresa

enriquecendo o capital intelectual. Karl Sveiby nos aponta que:

Treinamento é a experiência aprendida que produz uma mudança relat ivamente permanente em um indivíduo e que melhora sua capacidade de desempenhar um cargo. O treinamento pode envolver uma mudança de habi l idades, conhecimento, at itudes ou comportamento. Isso signif ica mudar aquilo que os empregados conhecem, como eles trabalham, suas at itudes perante o seu trabalho ou suas interações com os colegas ou supervisor. (SVEIBY: 1998, p. 56)

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O treinamento pode ter tanto a f inalidade de transmitir

informação quanto de desenvolver novos hábitos de

relacionamento com o trabalho e clientes ou mesmo de

desenvolver conceitos de modo a elevar o nível de abstração

individual permitindo que as pessoas atuem e decidam de modo

mais amplo e dinâmico. Transmitir informações ainda é o objetivo

da maior parte dos treinamentos efetuados nas organizações.

O processo de treinamento divide-se em quatro etapas:

diagnóstico, desenho, implementação e avaliação. A primeira

envolve levantamento e análise das necessidades de treinamento a

serem realizados pela organização.

A segunda trata da elaboração de um programa para atender

as necessidades levantadas anteriormente. A terceira trata da

execução do programa de treinamento. A quarta e últ ima etapa

avalia os resultados obtidos a part ir do treinamento.

É a part ir do treinamento que a organização amplia seu

capital intelectual, mas, conforme dito anteriormente, o mundo hoje

sofre mudanças rápidas demandando também f lexibi l idade das

organizações. Funcionários capacitados não têm muito como

exercer suas habilidades num espaço rígido e imutável.

O desenvolvimento organizacional refere-se assim a

capacidade da organização em formar equipes, ter órgãos f lexíveis

e modelo dinâmico para que possa usufruir do capital humano e

colher os frutos do investimento feito em desenvolvimento de

pessoas e treinamentos.

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2.5 - Manutenção de Pessoas

Após recrutar, selecionar, apl icar, integrar e desenvolver

pessoas a organização precisa manter as pessoas. Para que a

empresa possa usufruir qualitat ivamente de todo o investimento

feito as pessoas precisam estar sat isfeitas e motivadas.

Para manter pessoas são necessários diversos fatores,

destacando-se estilos de gerência, relacionamento com os

empregados, os programas de segurança e higiene do trabalho.

“Todos esses processos visam proporcionar um ambiente f ísico,

psicológico e social de trabalho agradável e seguro, bem como

assegurar relações sindicais amigáveis e cooperativas.”

(CHIAVENATO: 2010, p. 436)

A abordagem moderna de administração reforça convicções

posit ivas em relação às pessoas que fazem parte da organização

propiciando uma postura democrát ica e consult iva dos gerentes.

Há, assim, um respeito mútuo entre os membros da empresa e

destes com os clientes. As relações são mais humanas e pessoais

e o reconhecimento funciona como maior estímulo ao trabalho.

2.6 - Monitoração de Pessoas: sistemas de informações

de pessoas

Uti l izar o termo monitoramento a esta altura do trabalho pode

parecer um contra-senso na medida em que o trabalho todo traz

uma visão geral de confiança, respeito, espontaneidade,

criatividade, auto-controle e autonomia. O termo monitoramento

está relacionado ao acompanhamento do comportamento de

pessoas para que estejam dentro de delimitações desejadas.

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Contudo, as empresas operam com base em planos, metas e

objetivos a cumprir. “O comportamento organizacional não pode

ser casual ou errático, mas deliberado e racional. Por isso, as

organizações requerem considerável esforço de monitoração em

suas várias operações e atividades.” (Idem, p. 498)

Neste contexto monitorar representa acompanhar as

atividades e operações cert if icando-se de que a execução do

planejamento seja feita para que os objetivos possam ser

cumpridos. “Os processos de monitoração estão relacionados com

a maneira pela qual os objet ivos devem ser alcançados através da

atividade das pessoas que compõem a organização.” (Idem, p.

499)

A abordagem moderna de administração favorece o sistema

de autocontrole e f lexibi l idade adotando uma postura de autonomia

e liberdade oferecendo discipl ina através do consenso. Através da

autoridade e responsabil idade interna cada pessoa poderá agir

tanto nas gerências quanto na l inha de trabalho deste sistema

descentralizado.

O monitoramento se dá através da comunicação, ou seja, da

informação. As organizações precisam de sistemas de informação

que possibi l ite a transformação de seus colaboradores em

parceiros at ivos nas inovações e transformações. Assim, uma

comunicação consistente com os colaboradores deve ser uma das

principais estratégias da Gestão de Pessoas.

A transparência é fundamental ao sistema de informação,

pois através dela gerentes e colaboradores poderão acompanhar o

resultado de seu trabalho, as mudanças de metas e se atualizar a

respeito do que precisam fazer.

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CAPÍTULO III

GESTÃO DE PESSOAS:

CONTEXTO ATUAL E REALIDADE NACIONAL

3.1 – Os desafios da Gestão de Pessoas na

contemporaneidade

Durante muito tempo se acreditou que o fundamental para

criação e o crescimento de uma empresa era o capital. Isto é, que

o sucesso de uma empresa seria proporcional ao capital nela

invest ido. Contudo, a experiência nos aponta atualmente que esta

crença é demasiadamente abrangente, superf icial e falha. Um bom

projeto de trabalho que possua em seu corpo técnico uma equipe

prof issional de qualidade adequada à proposta é plenamente capaz

de obter capital para se desenvolver e de ser bem sucedida em

sua proposta.

Temos conhecidas empresas de grande porte atualmente que

começaram com capital desprezível, pode-se observar muitos

destes exemplos em empresas que administram websites. Em

contrapartida, observam-se empresas cujo capital era bastante ou,

mesmo, superior ao necessário para implementação de projetos de

expansão que poderiam se reverter em crescimento e aumento de

lucro, mas que fadaram ao fracasso por falta de prof issionais

competentes e envolvidos com o projeto da empresa. Assim, pode-

se dizer que estas empresas falharam por falta de capital

intelectual.

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Conforme elucida Chiavenato (2010, p. 11) “hoje se percebe

que a inabil idade de uma empresa em recrutar e manter uma boa

força de trabalho é que constitui o principal gargalo para as

operações de negócio. (... ) O panorama do futuro está relacionado

com talento, competência e capital intelectual.”

Na medida em que se descobre que as pessoas representam

a base fundamental para o crescimento, sustentabil idade e

sucesso das organizações a função do Departamento de Gestão de

Pessoas (DGP) adquire suma importância dentro das empresas.

É função DGP apresentar à empresa as questões referentes

às pessoas, ampliando o conhecimento a atenção que a

organização dest ina a seus funcionários.

As organizações bem-sucedidas estão percebendo que apenas podem crescer, prosperar e manter sua continuidade se forem capazes de ot imizar o retorno sobre os invest imentos de todos os parceiros. Principalmente, o dos empregados. E quando uma organização está voltada para as pessoas, a sua f i losof ia global e sua cultura organizacional passam a ref let ir essa crença. A GP é a função que permite a colaboração ef icaz das pessoas (. . .) para alcançar os objet ivos organizacionais e individuais. ( Idem, p. 23)

Cumpre à GP saber administrar os recursos técnicos

disponíveis para que os objet ivos sejam cumpridos. Por este

motivo este estudo privi legiou o foco no capital humano.

3.2 - Administração e Gestão de Pessoas no Brasil

Conforme descrito ao longo do presente estudo, a área de

Gestão de Pessoas sofreu e vem sofrendo severas

transformações.

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No Brasil, o maior desafio encontrado para acompanhar estas

mudanças é saber administrar uma organização no contexto de

uma economia globalizada regida pela tecnologia da informação.

Na busca por se manter atualizada mundialmente a Gestão de

Pessoas no Brasil sofreu bruscas modif icações.

Os Departamentos de Recursos Humanos que até

recentemente desenvolviam rotineiras atividades burocráticas e de

controle de pessoas passaram a ser o diferencial organizacional.

Isto é, o departamento responsável pelo bom invest imento do

capital humano. Assim, a Gestão de Pessoas assumiu a importante

responsabil idade de recrutar, selecionar, desenvolver e

principalmente manter as pessoas satisfeitas e “vest indo a camisa”

da empresa.

Contudo, há ainda nas empresas nacionais um forte cunho

operacional burocrático nos Departamentos de RH. O que dif iculta

a realização do grande e recente desafio imposto pelo mercado, a

criação e inovação. Este fato pode ser melhor compreendido

através da análise histórica dos Departamentos de RH no Brasil.

3.2.1 – Os Departamentos de RH no Brasil: revisão

histórica

Em 1930 com o surgimento da legislação trabalhista

emegiram os movimentos sindicais e as polít icas de proteção aos

trabalhadores. Houve uma transformação drást ica nas relações de

trabalho que levaram a polít ica de proteção social dos trabalhares.

É neste período que se iniciam ainda de modo insipiente os

Departamentos de RH.

Nas décadas de 40 e 50 ocorre uma intensif icação das

intervenções governamentais nas relações trabalhistas ampliando

as funções dos Departamentos de RH.

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A promulgação da Consolidação das Leis de Trabalho (CLT)

em 1943 é o grande marco nas relações trabalhistas. A partir dela

foram regulamentados os horários de trabalho, as férias

remuneradas, as condições de trabalho para menores de dezoito

anos, foi criada a Carteira Prof issional e insti tuídas as Comissões

Mistas nas Juntas de Concil iação. E esse processo foi se

expandindo com o passar dos anos de modo que nas décadas de

60 e 70 foram promulgadas as leis de Saúde Ocupacional, pensões

e Segurança no Trabalho.

Essa explosão de leis reguladoras do Estado demandou das

organizações que delegassem um departamento para implementar

e administrar estas leis. Desta forma, os Departamentos de RH

tiveram seu papel ampliado nas empresas e precisaram ser

informatizados.

Quando observamos as at ividades que são desenvolvidas pelo Departamento de RH, seja para dar resposta às questões de formulação de polít icas de gestão ou para real izar a integração de processos, s istemas e pessoas ao negócio da empresa ou ainda para real izar as at ividades de cunho legal e burocrát ico, ver if ica-se a necessidade premente do uso intensivo de tecnologia. (TEGON: 2009, p. 02)

A tecnologia é parte importante na Gestão de Pessoas desde

os Departamentos de RH, ainda que nesta época para gerir

atividades burocráticas e de cunho legal os sistemas de

informática necessários eram majoritariamente departamentais.

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Atualmente, na Gestão de Pessoas ainda restam resquícios

destes sistemas. Contudo, a Gestão de Pessoas moderna exige

sistemas coorporativos sincronizados, isto é, precisa dispor de

informação ampla e em tempo real. Esse vem sendo um grande

desafio para as empresas brasi leiras, substi tuir os viciados

sistemas departamentais por sistemas corporativos.

3.3 – Os desafios da Gestão de Pessoas no Brasil

Na medida em que a globalização se configurou enquanto

real idade mundial tendo a tecnologia como principal ferramenta

deste fenômeno as discussões a respeito da produção de

conhecimentos tecnológicos passaram a ocupar grande espaço no

Brasil.

Tornou-se necessário que se produza tecnologia para que as

organizações brasi leiras part icipem da reestruturação da economia

internacional. A pesquisadora Maria Teresa Fleury nos aponta que:

Em países desenvolvidos, os dispêndios com Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) representam mais de 2% do Produto Interno Produto (PIB)(2,7% no Japão; 2,4% nos Estados Unidos e na Alemanha), segundo dados da Nat ional Science Foundation para 1996. No Brasil, essa porcentagem tem crescido nos últ imos anos,chegando em 1997 a 1,2% do PIB. Nos Estados Unidos, 61% dos recursos para P&D são or iginár ios da indústr ia e34% do governo federal. Entre os órgãos executores, a própr ia indústr ia é responsável por 73% dos projetos executados e a universidade por 15%. (Fleury, 1998: p. 90-91)

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Adentrando a real idade brasi leira a autora af irma que ao

longo dos últ imos anos o Conselho Nacional de Desenvolvimento

Científ ico e Tecnológico (CNPq) tem se esforçado para cadastrar a

produção científ ica e tecnológica nacional nas universidades. E

desenvolve, ainda, cadastros dos grupos de pesquisadores.

De acordo com as informações coletadas pelo CNPq há uma

predominância de produção de conhecimento na região Sudeste do

país (69% dos grupos de pesquisa). Estes estão concentrados nas

áreas de “saúde, ciências ambientais, biotecnologia, educação,

cultura, novos materiais, informática, produção vegetal,

desenvolvimento rural e energia.” (Idem, p. 91)

Na área de administração os números são pouco

expressivos. Tal fato leva a constatação de que se de um lado há

procura por conhecimentos tecnológicos para atender aos desafios

do mundo atual por parte das organizações de outro há uma

carência de grupos que produzam esses conhecimentos. Assim, há

no Brasi l uma demanda que exige oferta, que necessita

urgentemente de conhecimentos produzidos por grupos de

pesquisa idôneos.

Com o objet ivo de atender esta demanda criou-se no

Departamento de Administração da Faculdade de Economia,

Administração e Contabil idade da Universidade de São Paulo

(FEA/USP) o Programa de Estudos em Gestão de Pessoas

(PROGEP). Fundado por um grupo de pesquisadores e professores

deste departamento o PROGEP tem por objetivo “contribuir para o

aprimoramento de empresas e de inst ituições públicas e privadas,

criando diferenciais competit ivos sustentáveis por meio de

polít icas, processos e práticas de gestão das relações humanas.”

(Idem, p. 92)

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O PROGEP trabalha nos campos educação continuada,

treinamento, capacitação, pesquisa e desenvolvimento de

prof issionais especial izados e consultoria. Isto é, contribui para

que as pessoas deixem de ser meros recursos humanos (como

quaisquer outro recurso material ou tecnológico) e passem a ser

vistas como capital humano.

Todas as at ividades, tanto aquelas referentes às caracter íst icas pedagógicas voltadas para o ensino como as inic iat ivas de invest igação cient íf ica, pesquisa apl icada e apoio consult ivo, terão como componente obr igatório a exigência de gerar conhecimentos teóricos e prát icos e/ou aperfeiçoar os conhecimentos existentes. Esses conhecimentos serão divulgados nos âmbitos acadêmico e empresar ial, nos da administração públ ica e da gestão das organizações da sociedade civi l. ( Idem, p.93)

O PROGEP visa acima de tudo transformar em prática as

conceituações básicas da Gestão de Pessoas especialmente no

que se refere à mudança de olhar das organizações para as

pessoas. Assim, representa o espaço de integração do

conhecimento acadêmico com a atividade organizacional

transformando a ref lexão e o debate em tecnologia gerencial.

3.4 – Desenvolvimento da tecnologia gerencial no

Brasil

O uso da tecnologia está presente nas mais diversas

atividades organizacionais. Com a globalização existem

atualmente empresas pequeno, médio e grande porte espalhadas

por em prat icamente todas as nações realizando múlt iplas

operações.

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O acesso a tecnologia é necessário para manter

comunicação intra e extra-organizacional. Para suprir essa

necessidade foram desenvolvidos bancos de dados, planilhas de

cálculo, softwares diversos, correio eletrônico e sistemas de work-

flow . Cezar Antonio Tegon nos aponta que:

A tendência é que f iquem cada vez mais complexos e integrados, cada vez mais amigáveis e f lexíveis. É a época dos sistemas em ambiente cl iente-servidor f lexíveis, integráveis e íntegros; das intranets; da integração e interl igação dos mais diversos sistemas (ERPs1 e Best- inbreeds), em f im, da comunicação aproximando extremos. (TEGON, 2010: p.02)

Neste contexto, os SIRH (Sistemas de Informação de

Recursos Humanos) assumem papel fundamental no processo de

globalização. Estes constituem bancos de informações que servem

de alicerce da Gestão de Pessoas contemporânea.

Com a descentralização do poder organizacional, a gestão

dos negócios empresariais ocorre a partir da comunicação entre

sistemas e processos integrados. Esta se dá através da Intranet -

rede de comunicação privada, que permite a tramitação veloz de

dados entre os diversos sistemas organizacionais - e através de

work-f lows ou f luxo de trabalho – “onde Gestores e Colaboradores

são agentes pró-at ivos de criação e mudança e ainda, através da

consolidação de banco de dados nacionais em um único e

def init ivo banco de dados mundial.” (Idem, p. 03)

1 O ERP (Enterprise Resource Planning) foi denominado no Brasil de SIGE (Sistemas Integrados de Gestão Empresarial) e corresponde ao sistema de informação que integra num sistema único o conjunto de dados e processos de uma empresa. De modo geral, os ERPs representam uma plataforma de software criada para integrar conectar os departamentos de uma organização.

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Desta forma, tem-se ao mesmo tempo uma gestão

individualizada e participat iva com conhecimento, economia e

agil idade na tomada de decisões.

Na medida em que o mercado brasileiro passou a ocupar

espaço no mercado global, representantes mundiais do mercado

de sistemas de informação passaram a destinar mais atenção às

necessidades desta economia em expansão.

Desta forma, ocorreu no Brasi l uma crescente oferta de

produtos desenvolvidos especif icamente para se ajustarem a

realidade econômica nacional. Em contrapartida, este material

produzido sob medida mostrou-se mais l imitado em sua

abrangência. Essa experiência aponta que não pode haver produto

adequado a uma determinada economia nacional quando a

economia hoje é global.

Conf irma-se, portanto, que o gerenciamento informatizado e integrado dos Negócios não tem nacional idade e que as pessoas que compõem as empresas podem estar espalhadas por todos os continentes, assim como podem ter as mais diversas or igens. (Idem, p.04)

Mais adiante o autor af irma ainda que:

O Brasil está inserido dentro do mesmo contexto mundial. Nossas empresas são mult inacionais de origem alemã, norte-americana, f rancesa, inglesa, espanhola, dinamarquesa, brasi leira, entre outras. E ainda, contamos com a cr iação de um mercado comum no Cone Sul – o Mercosul, além de estarmos vivendo uma fase de estabil ização econômica sem precedentes nos últ imos 20 anos. (Idem)

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As empresas brasi leiras vêm se conscientizando que tanto a

Gestão de Pessoas quanto a Gestão Organizacional demandam,

hoje, informação e comunicação entre os sistemas

organizacionais. Assim, muitas delas já adotam SIRH na Gestão de

Pessoas e ut i l izam o work-f low facil itando a integração e

distribuição das informações intra e extra-organizacional.

Tegon (2010) af irma que futuramente as diferenças entre os

SIRHs no Brasil e nos mais diversos países serão quase que

exclusivamente legais, pois há uma tendência para formação de

informações e conhecimento global e, automaticamente, de

prof issionais e cidadãos globais ou mundiais. Cumpre ressaltar

que não se trata da ext inção das especif icidades culturais de cada

nação, mas da globalização da economia.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir deste estudo conclui-se que o que atualmente se

denomina Gestão de Pessoas possui uma história relativamente

recente. Teve seu início no século XX com Revolução Industrial

que provocou considerável impacto nas relações entre

organizações e trabalhadores. Em decorrência deste primeiro

impacto o mercado industrial atravessou até o momento três

períodos representativos. São eles Era Industrial Clássica, Era

Industrial Neoclássica e Era da Informação.

A Era Industrial Clássica deu origem ao Departamento de

Relações Industriais (DRI) que objet ivava intermediar as relações

entre empregado e empregador (nomenclatura ut i l izada nesta

época). Essa relação era considerada antagônica e cumpria ao DRI

concil iar as divergências. Este modelo atendia bem à economia da

época que era estável e o sucesso dependia da capacidade

produtiva. As pessoas eram consideradas e denominadas mão-de-

obra e deveriam se ajustar ao cargo e cumprir a função sem

nenhuma interferência pessoal, como máquinas.

A Era Industrial Clássica entrou em crise com o f im da

Segunda Guerra Mundial. O mercado tornou-se mais competit ivo e

instável e essa estrutura rígida central izadora não dava mais

conta. Assim por volta de 1950 a Era Industrial Clássica deu lugar

a Era Industrial Neoclássica.

Na Era Industrial Neoclássica a prática administrat iva

assume também um papel de social ização deixando de ser uma

atividade meramente técnica. As pessoas deixam de ser mão-de-

obra e tornam-se recursos humanos. O DRI é subst ituído pelo

Departamento de Recursos Humanos (DRH).

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As pessoas têm papel mais ativo e são valorizadas pelo seu

potencial criativo para atender ao mercado competit ivo. O sucesso

não está mais na capacidade de produzir e sim na habil idade em

criar. Os Recursos Humanos representam o diferencial da empresa

e o DRH assume importância fundamental nas organizações. Neste

movimento cícl ico produz-se em maior quantidade e com mais

inovação. Emerge no mercado a necessidade de um modelo ainda

mais f lexível e abrangente. Tem início, então, a Era da Informação.

Nesta a informação é globalizada e a economia é muito mais

mundial do regional.

A comunicação, facil itada pela tecnologia, acelera ainda mais

o mercado. A inovação é a chave do sucesso e as pessoas passam

a ser consideradas parceiras representando o capita l intelectual. O

RH dá lugar à Gestão de Pessoas (GP) e os departamentos dão

lugar às equipes autônomas que se comunicam, mas mantêm

grande interdependência entre si.

Embora não existisse um reconhecimento explícito da

importância fundamental do Homem nas eras Industria l Clássica e

Industrial Neoclássica pode-se concluir que ela é categórica desde

as primeiras teorias administrativas. Com a Era da Informação

esse papel tornou-se explicitamente destacado e as pessoas

passaram a ser o capital mais valioso de uma empresa. As

mudanças decorridas na GP marcaram esse processo.

Atualmente a GP agrega conhecimentos de muitas áreas do

saber (tais como, administração, economia, arquitetura, sociologia,

marketing, medicina, f isioterapia, psiquiatria, psicologia,

pedagogia, etc.) para dar conta do capital humano.

No Brasi l ainda há muita resistência das empresas em

abandonar o modelo de administração neoclássico. A burocracia

ainda está muito entranhada na cultura nacional. O desafio maior é

produzir e implementar tecnologia de gestão de pessoas.

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Todavia, há um movimento fundado na Universidade de São

Paulo (USP) pelo Programa de Estudos em Gestão de Pessoas

(PROGEP) desenvolvendo conhecimento acadêmico e facil itando

sua aplicação.

Aos poucos as empresas brasi leiras estão se

conscient izando da necessidade desta mudança e do foco no

capital humano com espaço potencialmente criat ivo para poderem

competir no mercado global. Com base na análise dos dados

apresentados ao longo deste estudo conclui-se que num futuro

próximo a grande maioria das empresas brasi leiras conseguirá se

desvencilhar da rigidez burocrática e adotar uma prática mais

f lexível. Pois, este é movimento conjectural e a tendência

econômica nacional é crescer.

Por f im, conclui-se que o antigo RH, atual GP sofreu e

sofrerá muitas mudanças em sua teoria e prática para poder dar

conta do contexto socioeconômico-cultural. Mas este sempre foi e

continua sendo imprescindível às organizações na medida em que

as organizações dependeram e dependem das pessoas para

exist irem. São as pessoas que criam, mantêm, crescem e

alimentam as empresas. Seja trabalhando nelas ou usufruindo do

produto/serviço delas.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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ÍDICE Introdução 09

Capítulo I – GESTÃO DE PESSOAS: REVISÃO HISTÓRICA 12

1.1 – Organizações e pessoas: do relacionamento antagônico à dependência mútua 12

1.2 – O Século XX: da Revolução Industrial à Era da Informação 15

1.3 – RH através dos tempos: estudo comparativo das relações organizacionais 19

CAPÍTULO II - GESTÃO DE PESSOAS 23

2.1 – Gestão de Pessoas: definição 25

2.2 - Provisão de Pessoas: recrutamento e seleção 27

2.3 - Aplicação de Pessoas 28

2.3.1 – Integração 28

2.3.2 - Desenho e Análise dos Cargos 30

2.4 – Desenvolvimento organizacional e de pessoas e treinamento 33 2.5 - Manutenção de Pessoas 36

2.6 - Monitoração de Pessoas: sistemas de informações de pessoas 36

CAPÍTULO III - CONTEXTO ATUAL E REALIDADE NACIONAL 38

3.1 – Os desafios da Gestão de Pessoas na contemporaneidade 38

3.2 – Administração e Gestão de Pessoas no Brasil 39

3.2.1 – Os Departamentos de RH no Brasil: revisão histórica 40

3.3 – Os desafios da Gestão de Pessoas no Brasil 42

3.4 – Desenvolvimento da tecnologia gerencial no Brasil 44

CONSIDERAÇÕES FINAIS 48

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 51

ÍNDICE 53