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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis, UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos. Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s) documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença. Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s) título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do respetivo autor ou editor da obra. Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por este aviso. Datar sem destruir Autor(es): Louzada, José Luis Publicado por: Publindústria URL persistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/29925 Accessed : 1-Feb-2019 21:08:35 digitalis.uc.pt impactum.uc.pt

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A navegação consulta e descarregamento dos títulos inseridos nas Bibliotecas Digitais UC Digitalis,

UC Pombalina e UC Impactum, pressupõem a aceitação plena e sem reservas dos Termos e

Condições de Uso destas Bibliotecas Digitais, disponíveis em https://digitalis.uc.pt/pt-pt/termos.

Conforme exposto nos referidos Termos e Condições de Uso, o descarregamento de títulos de

acesso restrito requer uma licença válida de autorização devendo o utilizador aceder ao(s)

documento(s) a partir de um endereço de IP da instituição detentora da supramencionada licença.

Ao utilizador é apenas permitido o descarregamento para uso pessoal, pelo que o emprego do(s)

título(s) descarregado(s) para outro fim, designadamente comercial, carece de autorização do

respetivo autor ou editor da obra.

Na medida em que todas as obras da UC Digitalis se encontram protegidas pelo Código do Direito

de Autor e Direitos Conexos e demais legislação aplicável, toda a cópia, parcial ou total, deste

documento, nos casos em que é legalmente admitida, deverá conter ou fazer-se acompanhar por

este aviso.

Datar sem destruir

Autor(es): Louzada, José Luis

Publicado por: Publindústria

URLpersistente: URI:http://hdl.handle.net/10316.2/29925

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DATAR SEM DESTRUIR Por: José Luis Louzada e Redação

Devido às limitações e inconvenientes dos métodos de datação clássicos das árvores, sur-giu em Portugal um método inovador menos invasivo e mais rápido e eficaz. A árvore mais antiga do país, em Santa Iria da Azóia, foi uma das “cobaias” deste processo.

Graças ao projeto desenvolvido e liderado pelos professores da Univer-sidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, José Luis Louzada e Pacheco Marques, em co-laboração com o empresário André Soares dos Reis, é agora possível proceder à data-ção de uma árvore de forma mais rápida, precisa e sem causar qualquer lesão na mesma. Exemplo disso foi a datação da árvore que é agora considerada a mais antiga de Portugal. Está localizada em Santa Iria da Azoia, concelho de Loures, tem 2850 anos e mede, na sua base, 10,15 metros. A árvore atinge os 4,40 metros de altura e o diâmetro da copa tem 7,60 por 8,40 metros.

COMO SURGIU A IDEIAA ideia de criar este método surgiu do desafio colocado pelo Sr. André Soares dos Reis (dono da empresa Oliveiras Milenares, que se dedica ao comércio de exportação de árvores ornamentais, nomeadamente oliveiras) no sentido de se desenvolver um método de datação de oliveiras anti-gas, que não fosse destrutivo das árvores e adaptado a árvores ocas. Sendo o principal mercado destas oliveiras a exportação, os clientes começaram a exigir que as mesmas fossem acom-panhadas por um certificado que atestasse a sua idade, emitido por uma instituição oficial. A necessidade de dar resposta esta exigência de mercado fez com que o empresário em causa suportasse todo o investimento de investigação e desenvolvimento do método, e disponibili-zasse um conjunto muito significativo de árvores, sem os quais não teria sido possível executar o trabalho.

ANTECEDENTES DA INVENÇÃOUma das mais proeminentes características de muitas madeiras, nomeadamente prove-nientes de regiões que apresentam acentuadas alterações cíclicas (normalmente anuais) das condições ambientais (temperatura, precipitação, fotoperíodo, etc.) resulta do facto da madeira ser formada por anéis de crescimento concêntricos, correspondendo a suces-sivos acréscimos anuais que aparecem, em secção transversal, sob a forma duma sucessão de zonas claras e escuras devido a uma estrutura anatómica muito diferente. As primei-ras correspondem ao lenho formado durante a primeira fase do período vegetativo (lenho inicial, formado na primavera), enquanto as zonas mais escuras correspondem ao lenho produzido na fase terminal do período vegetativo (lenho final, formado no verão/outono). Assim, o crescimento anual de uma árvore traduz-se no acumular na parte exterior do tronco de um anel de crescimento formado por duas bandas, correspondentes ao lenho

inicial (mais claro) e ao lenho final (mais escuro). Desta forma, a avaliação da idade duma árvore é relativamente fácil, bastando para tal contar o número de anéis presentes numa secção transversal do tronco da ár-vore, localizada o mais próximo possível da base, já que é aí que se encontra a totalidade dos anéis formados pela árvore.

Este método ótico de avaliação da ida-de das árvores, baseado na identificação e contagem dos anéis de crescimento é bem conhecido e frequentemente utilizado em árvores com idades relativamente jovens. Todavia, em árvores com idade mais avança-da, esta metodologia depara-se com grandes

Figura 1

Professor José Luis Louzada

SILVICULTURA

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dificuldades. Com o avanço da idade, a parte mais velha da árvore (que está localizada junto à medula, no centro da árvore) entra em biodegradação, o que conduz à destruição total do material lenhoso, ficando assim as árvores ocas no seu interior. Por este motivo torna-se então impossível avaliar a idade dessas árvores, quer se recorra a processos óticos através da contagem dos anéis, quer a processos indiretos através de técnicas de radiocarbono (normal-mente 14C). Outra das grandes limitações destes métodos é a obrigatoriedade de proceder ao abate das árvores.

Em face disso, foi necessário desenvolver uma metodologia não destrutiva que permi-te estimar a idade de árvores idosas, particularmente para os casos em que as árvores já estejam ocas.

Figura 2

Devido ao avançado estado de degradação de algumas árvores, o método

anteriormente usado era bastante falível

EM QUE CONSISTE O NOVO MÉTODO?Este método já patenteado (Patente de Invenção Nacional nº 104183) não se baseia na iden-tificação e contagem dos anéis de crescimento, ou na análise de radiocarbono da madeira formada nos primeiros anos de vida da árvore, mas sim através de um parâmetro dendro-métrico do tronco das árvores (traduzido por exemplo pela dimensão do raio, diâmetro ou perímetro do tronco), com o qual a idade está bem correlacionada. Esta metodologia re-corre a uma abordagem que faz lembrar as “matrioskas”, as bonecas russas que vão saindo umas de dentro das outras, no sentido de ultrapassar a questão dos troncos ocos, partindo progressivamente de árvores maiores para mais pequenas que tenham a parte central do tronco intacta, nas quais é possível contar os anéis, a sua forma e dimensão. Assim, mesmo que a árvore já não conserve a totalidade dos anéis de crescimento, como os mais recentes estão localizados no exterior do tronco e os que vão sendo destruídos são os que estão no interior, a árvore ao crescer vai sempre aumentando de raio, diâmetro ou perímetro, o que permitirá, então, através de um modelo matemático elaborado para o efeito, estimar a idade em função da dimensão e forma do tronco, permitindo, assim, a sua datação por um processo extremamente rápido, não destrutivo e exequível mesmo em árvores ocas.

COMO SE DESENROLA O PROCESSO DE DATAÇÃO DAS ÁRVORES?Segundo esta metodologia, a idade das árvo-res é estimada por um modelo matemático que relaciona a idade com variáveis dendro-métrica do tronco, por exemplo o raio, diâ-metro ou perímetro.

A primeira fase do processo de datação consiste na elaboração e ajustamento do mo-delo de crescimento médio das árvores de determinada espécie, com a idade. Para tal é necessário estudar a evolução do perímetro, diâmetro médio ou raio médio de um conjun-to alargado de árvore, com a idade.

Depois de desenvolvido o modelo, este será utilizado para datar qualquer outra árvo-re da mesma espécie e região, em função das suas características dendrométricas.

Todavia, convém sublinhar que o modelo desenvolvido é específico da espécie florestal e da região em causa, não podendo ser extra-polado para outras espécies ou regiões com características edafo-climáticas diferentes.

QUAIS AS VANTAGENS DESTE MÉTODO, FACE A OUTROS?Este novo método apresenta características vi-sivelmente mais vantajosas em relação aos mé-todos anteriormente usados. A datação é agora possível é possível em árvores oucas (uma vez que esta técnica não conta os anéis de crescimento. Para além disso, uma das maiores (talvez a maior) vantagens desta técnica prende-se com a não destruição da árvore. Como referido em epígrafe, a utilização de um modelo matemático permite a datação da árvore, pelo que não é ne-cessário o abate da mesma ou que seja causada qualquer lesão que comprometa a sua sanidade. Comparativamente aos métodos tradicionais, este é ainda consideravelmente mais rápido e eficaz.

63AGROTEC / JUNHO 2013