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Procuradoria da República - RJ Transcrição da audiência Publica: "DIVULGAÇÃO E DEBATES SOBRE A MINUTA DO COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA DA CHEVRON BRASIL UPSTREAM FRADE LTDA, CHEVRON LATIN AMERICA MARKETING LLC E TRANSOCEAN BRASIL LTDA, RELATIVO AOS INCIDENTES DE VAZAMENTO DE PETRÓLEO OCORRIDOS NO CAMPO DO FRADE EM NOVEMBRO DE 2011 E MARÇO DE 2012.” Data: 14 de dezembro de 2012 Local: Auditório da PR/RJ 1

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Procuradoria da República - RJ

Transcrição da audiência Publica: "DIVULGAÇÃO E DEBATES SOBRE A MINUTA DO COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA DA CHEVRON BRASIL UPSTREAM FRADE LTDA, CHEVRON LATIN AMERICA MARKETING LLC E TRANSOCEAN BRASIL LTDA, RELATIVO AOS INCIDENTES DE VAZAMENTO DE PETRÓLEO OCORRIDOS NO CAMPO DO FRADE EM NOVEMBRO DE 2011 E MARÇO DE 2012.”

Data: 14 de dezembro de 2012

Local: Auditório da PR/RJ

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Transcrição da Audiência Publica:

"DIVULGAÇÃO E DEBATES SOBRE A MINUTA DO COMPROMISSO DE AJUSTAMENTO DE CONDUTA DA CHEVRON BRASIL UPSTREAM FRADE LTDA, CHEVRON LATIN AMERICA MARKETING LLC E TRANSOCEAN BRASIL LTDA, RELATIVO AOS INCIDENTES DE VAZAMENTO DE PETRÓLEO OCORRIDOS NO CAMPO DO FRADE EM NOVEMBRO DE 2011 E MARÇO DE 2012.”

Data: 14 de dezembro de 2012

Local: Auditório da PR/RJ

Autoridades presentes, representantes de entidades da sociedade civil,

senhoras e senhores, boa tarde. Iniciamos agora a audiência pública relativa

aos vazamentos de petróleo ocorridos no Campo do Frade em novembro de

2011 e em março de 2012, onde serão organizadas mesas rotativas de acordo

com edital de convocação. Ao final a palavra será aberta aos presentes, que

assim o requererem, através dos formulários distribuídos na entrada e

entregues a equipe de cerimonial. Cada interessado chamado na ordem de

inscrição, falará apenas uma vez, tendo até cinco minutos para fazer suas

colocações, observado o limite de sessenta minutos, conforme o edital. Os

formulários poderão ser entregues a equipe de cerimonial a qualquer momento

da audiência pública. Os períodos de intervenção serão definidos pela

coordenação da mesa, conforme a dinâmica da audiência. O término da

audiência pública está previsto para as 18:30. Por favor, não esqueçam de

deixar seus celulares no modo silencioso ou desligados.

Para compor a mesa de abertura desta audiência, chamamos o

Excelentíssimo Senhor Mário Gisi - Subprocurador Geral da República, o

Excelentíssimo Senhor Antônio Fonseca - Subprocurador Geral da República, e

a Excelentíssima Senhora Gisele Porto - Procuradora da República.

Boa tarde a todos e todas, obrigado pela presença aqui no Ministério

Público. Normalmente o Procurador-Chefe Dr. Guilherme Raposo faz as

aberturas das nossas audiências públicas, mas hoje nós contamos com as

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presenças da Procuradoria Geral da República, através do Excelentíssimo

Subprocurador Geral Mário Gisi que coordena a 4ª Câmara de Coordenação e

revisão do Ministério Público Federal, relacionada a matérias de Meio

Ambiente, e o Excelentíssimo Subprocurador Geral da República Antônio

Fonseca que coordena a 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do Ministério

Público Federal relacionada a regulação do Direito do Consumidor e Ordem

Econômica. Agradeço muito o comparecimento de vocês que vieram de

Brasília para fazer a abertura desta audiência pública e participar aqui conosco.

Uma única palavra que tenho a dizer é sobre a função das audiências públicas

promovidas pelo Ministério Público Federal. Nós, os Procuradores da

República, atuamos na defesa de interesses da coletividade, portanto, nada

mais adequado de que sejam passadas as informações a todos, sobre o que o

Ministério Público está fazendo com relação a defesa desses interesses. Neste

sentido, esta audiência pública é um pouco diferente da audiência pública dos

licenciamentos, esta se presta à troca de informações. Assim venho dizer que

o andamento das ações civis públicas propostas pelo Ministério Público

Federal, no caso em Campos pelo Dr. Eduardo Santos de Oliveira, se encontra

num momento em que a empresa manifestou favorável a uma composição

amigável. Então esse espaço de hoje vai se prestar a informar aos senhores e

senhoras o panorama da situação com base na qual poderá ser feito algum

compromisso de ajustamento de conduta. Não é um momento para o Ministério

Público se pronunciar sobre o que vai ser dito aqui, é para troca de

informações e esclarecimento de dúvidas que existam quanto aos fatos dos

incidentes que ocorreram no ano passado. Então para fazer a abertura eu

passo a palavra ao coordenador da 3ª e 4ª Câmaras de Coordenação e

Revisão do Ministério Público Federal.

Agradeço a Dra. Gisele Porto pelo convite para estar aqui presente

neste evento de grande importância, como ela mesma disse, para a

coletividade. A 3ª Câmara deseja boa sorte a todos envolvidos nesta iniciativa.

A 3ª Câmara também louva a iniciativa das partes interessadas, em chegar a

um termo quanto as questões discutidas, para uma possível composição. O

Ministério Público está aberto a essa proposta e a sociedade, a coletividade

precisa conhecer as manifestações em torno dos dois processos que foram tão

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bem divulgados na mídia. Então sem qualquer delonga retorno a palavra à Dra.

Gisele, esperando, portanto, como eu disse, que o evento chegue a bom termo,

muito obrigado.

Obrigada.

Bom, boa tarde também, a 4ª Câmara de Meio Ambiente e Patrimônio

Cultural do Ministério Público Federal se sente sempre muito realizada quando

esse tipo de evento acontece, porque o Ministério Público Federal em

negociações que envolvem responsabilidades significativas na negociação

torna esse espaço público e essa reflexão pública para possibilitar, enfim novas

perspectivas e eventuais divergências, enfim que tudo seja considerado nesses

encaminhamentos que serão formulados, inclusive, com relação a destinação,

caso venha ser feito o acordo, com relação a destinação da verba negociada,

porque embora já tenhamos propostas, elas obviamente não estão fechadas,

acho que tudo está sujeito a amadurecimento a aprimoramentos e é isso que

de fato se espera dessa nossa conversa. Então com isso eu agradeço o

convite e parabenizo a iniciativa da procuradoria do Rio de Janeiro,

especialmente a Dra. Gisele, pela iniciativa, obrigado.

Oficialmente aberta a audiência pública, pedimos a gentileza, diante da

mesa solene, de cederem seus lugares aos próximos convidados da próxima

etapa da pauta da audiência.

Dando início ao primeiro painel, convidamos os senhores Roberto de

Silo e Marília Maia, representante da TransOcean e o senhor Rafael Willianson,

diretor de assuntos corporativos da Chevron.

Muito obrigada aos representantes da Chevron e da TransOcean então,

para não haver nenhum atraso, eu vou passar a palavra imediatamente para o

Rafael.

Boa tarde, eu trouxe uma apresentação, eu vou esperar carregá-la aqui

e então vamos proceder. Enquanto isso me apresento. Sou Rafael Williamson,

diretor de assuntos corporativos da Chevron Brasil, recentemente transferido

da nossa casa matriz na Califórnia para trabalhar no Brasil, muito feliz de estar

aqui. Excelentíssimo senhor subprocurador geral Antônio Fonseca,

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Excelentíssimo senhor subprocurador Mário Gisi e Excelentíssima senhora

procuradora Gisele Porto, em nome de quem cumprimento os demais

representantes do Ministério Público aqui presentes, representantes da ENEP,

IBAMA, FUNBIO, senhoras e senhores, muito boa tarde. Em nome da Chevron

Brasil, de todos nossos funcionários, obrigado pela oportunidade de apresentar

hoje o estágio da nossa resposta ao incidente no Campos de Frade e também

nossas contribuições e ações para demonstrar o nosso compromisso com o

Brasil e o meio ambiente. A Chevron prioriza sua operação à proteção a vida

humana, ao meio ambiente e as comunidades onde atua. Nós assumimos a

responsabilidade sobre o acidente no Campos de Frade e estamos aplicando

os aprendizados para aperfeiçoar nossa operação. Nossa presença aqui hoje,

compromisso e o comprometimento de melhorar sempre nossos procedimentos

de maneira transparente e a colaboração com a sociedade brasileira, parceiros

e autoridades. Com isso, vamos começar fazendo um breve histórico sobre a

Chevron e sua presença no Brasil.

A empresa atua em todas as etapas de cadeias de valores do setor

energético e também investe em tecnologias avançadas. Em nossas

operações, tanto no Brasil como no exterior, segurança e proteção ao meio

ambiente são valores centrais para a Chevron. Assumimos o compromisso de

prestar uma contribuição positiva e duradoura às comunidades que nos

abrigam. Conduzimos nossos negócios de maneira ética e socialmente

responsável. Acatamos a lei e respeitamos os direitos humanos universais. Os

negócios da Chevron, no Brasil, vão desde a exploração de petróleo em águas

profundas e operações de produção de petróleo e gás à fabricação e

distribuição de lubrificantes e aditivos químicos. A Chevron opera no Brasil há

quase cem anos, desde 1915, através da marca Texaco, que produz e

comercializa lubrificantes. Hoje a Chevron é uma das maiores fabricantes de

lubrificantes no Brasil. A Chevron iniciou suas atividades de exploração e

produção de óleo e gás no Brasil em 1997, acompanhada da seção do governo

brasileiro de abrir as portas do setor de petróleo para investimentos privados.

Em 1999, a empresa teve a concessão do Campos de Frade e em 2009, dez

anos mais tarde, a primeira produção, o primeiro óleo. Hoje, a empresa detém

participação na exploração e produção de 03 projetos em águas profundas no

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Brasil, como operadora no Campos de Frade, e como não operadora nos

Campos Papaterra e Maromba, em parceria com a Petrobrás, todos, na bacia

de campos. O Campos de Frade é o primeiro projeto de exploração e produção

de petróleo da empresa no país. A Chevron Brasil opera e detém uma

participação quase 52% desse campo em parceria com a Petrobrás e Frade

Japão Petróleo Ltda. A Chevron Brasil tem hoje, como mostra a imagem, cerca

de 850 colaboradores e aproximadamente 2.500 contratados indiretos no país,

sendo a grande maioria brasileiro. A Chevron também investe no treinamento

desses colaboradores, contribuindo para profissionalização técnica no setor de

óleo e gás. Também colaboramos, para a economia do Brasil, de maneira

importante, entre 2011 e 2012, pagamos em atividades de exploração e

produção, além da produção de lubrificantes, cerca de 700 milhões de reais em

impostos municipais, estaduais e federais. Desde 2010, investimos,

aproximadamente, 8 milhões de reais em projetos sociais, beneficiando mais

de 11 mil pessoas direta e indiretamente. O objetivo é incentivar a geração de

oportunidades econômicas para meninas e mulheres do estado do Rio de

Janeiro e Espírito Santo. Também trabalhamos com o diálogo constante com

as comunidades pesqueiras nas regiões onde atuamos, realizando ações de

conscientização para a segurança da navegação. Desenvolvemos, ainda, cinco

projetos de inclusão social, com mulheres de comunidades pesqueiras da

região de Itapemirim, no Espírito Santo. Como parte de nosso compromisso

regulatório, investiremos também, até 2014, cerca de 40 milhões de reais em

pesquisas e desenvolvimento no Brasil. O investimento beneficia projetos de

graduação, mestrado e doutorado em Engenharia, Geologia e Meio Ambiente

em algumas da maiores universidades do Brasil, como a UFRJ, a PUC-RJ, a

UFF, a UNB, a UFRGS e outras. A Chevron Brasil é uma empresa brasileira, e

ressalto aqui, o fato de ser uma empresa brasileira comprometida com a

responsabilidade ambiental e segurança operacional e com desenvolvimento

de setor energético do Brasil. Compartilhando tecnologia de ponta, tanto na

exploração e produção de petróleo e gás, quanto no desenvolvimento de

derivados de petróleo. Em novembro de 2011, como suponho que a maioria

saiba, foi notificado um afloramento de óleo no Campo de Frade, localizado na

bacia de Campo há mais de 100 quilômetros da costa, há uma lâmina d' água

de mais de mil metros é uma área de pós-sal. O afloramento surgiu após um

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momento inesperado de pressão e influxo de fluído, mais conhecido com um

“kick”, durante a perfuração de um dos poços. A pressão excedeu a quantidade

suportada pela estrutura rochosa, gerando fissuras nessa estrutura, permitindo

a saída de óleo para a superfície do mar. Assim que foi identificado o

vazamento, suspendemos as atividades de perfuração no Campo, fechamos o

poço que estava sendo perfurado e demos início ao plano de emergência

individual da companhia previamente aprovado pelo Ibama. A empresa se

mobilizou imediatamente acionando recursos humanos, financeiros e

tecnológico para resposta ao incidente, prosseguimos com os trabalhos e, a

partir, da identificação da fonte, controlamos a fonte em menos de uma

semana. Em março de 2012 um novo floramento foi identificado a 3

quilômetros do primeiro no fundo do mar, imediatamente, como medida de

precaução, e seguindo nossas políticas internas de segurança operacional,

interrompemos voluntariamente toda nossa produção no Campo de Frade para

melhor entender a geologia da área. A saída de óleo totalizou não mais do que

3.700 barris no primeiro incidente, ocorrido em novembro de 2011 e

aproximadamente um barril no segundo incidente ocorrido em março de 2012.

Além do monitoramento, controle e dispersão da mancha, desenvolvemos um

sistema eficaz de contenção e coleta de óleo no leito marinho que minimizaram

os impactos sobre o meio ambiente. No incidente de novembro de 2011, o óleo

migrou para o alto mar e se decompôs. Estudos já apresentados a autoridades

competentes ao ministério público e em juízo, indicam que, primeiro, nenhum

óleo atingiu a costa brasileira e quero ressaltar que nenhum óleo atingiu a

costa brasileira. Não houve registro de que tenha havido um único espécime de

peixe, baleia, golfinho, tartaruga, ave marinha, que tenha sido afetado pelo

incidente, encontrados de alguma forma debilitados ou encontrados mortos.

Nas comunidades pantônicas não foram identificados impactos negativos,

muito menos impactos permanentes ou irreversíveis. Não há qualquer indício

de risco à saúde humana, também não houve impactos relevantes em

atividades socioeconômicas, como a pesca ou o turismo da região. Ninguém,

ressalto, ninguém morreu ou ficou ferido. E essas são as conclusões, não

apenas dos estudos contratados pela Chevron, mas também de estudos da

marinha e dos peritos da Polícia Federal. É importante lembrar também que

durante e depois do incidente, procuramos adotar uma postura de total

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transparência e cooperação com as autoridades brasileiras envolvidas,

comunicando regularmente nossas ações e enviando todos os documentos

solicitados e oferecendo acesso irrestrito às nossas instalações. A ANP

produziu um relatório rigoroso em relação à empresa e vale ressaltar que o

relatório nos foi importante para aperfeiçoarmos nossos procedimentos,

melhorarmos nosso desempenho como empresa. A Chevron Brasil pagou as

multas aplicadas pela ANP, renunciando o direito de recorrer, mesmo tendo

ressalvas técnicas. As multas totalizaram o valor de 35 milhões de reais.

Gostaria de reiterar mais uma vez nosso compromisso com o Brasil e com o

desenvolvimento sustentável do setor de óleo e gás no país. Se Sua

Excelência me permite agora, eu gostaria de pedir ao nosso colega Dr. Oscar

Graça Couto que faça uso da palavra para explicar os detalhes da ação civil

que nos trouxe aqui hoje.

Boa tarde a todos, o TAC, que todos desejamos venha ser celebrado,

dirá respeito a duas ações civis públicas propostas pelo órgão do ministério

público de Campos dos Goytacazes, nos quais nessas ações são alegados

danos ambientais, pros quais, a título de indenização, existe o pedido de 40

bilhões de reais: 20 bilhões em relação ao primeiro incidente em novembro do

ano passado e 20 bilhões relacionados ao incidente de março deste ano. Para

fazer esse pleito, o Ministério Público de Campos do Goytacazes se vale de

dois paradigmas fundamentais, os incidentes envolvendo a indústria de

petróleo de Exxon Valdez em 1989 e o de Macondo, no golfo do México em

2010. No que toca a esses incidentes, o Ministério Público, em relação a

Valdez, assevera que o incidente ocorrido lá foi menos grave do que o ocorrido

aqui em Frade e que o incidente do Golfo do México foi equivalente ao aqui do

Frade. Por conta do incidente de Frade foi cobrado o valor total de 40 bilhões.

Nós fomos examinar e explorar a metodologia e os paradigmas empregados

pelo Ministério Público para chegar a esses valores e nós vimos o seguinte, aí

eu peço a atenção de todos. Em primeiro lugar, em relação aos volumes, em

Valdez houve o vazamento de 260 mil barris, em Frade houve o vazamento em

3.700 barris, segundo avaliação da ANP. Então no que toca o volume, em

Valdez houve um volume aproximadamente 80 vezes maior do que o ocorrido

aqui. No que toca ao incidente de Macondo, o vazamento foi da ordem de

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quatro milhões e novecentos mil barris, portanto mais de mil e quinhentas

vezes maior do que o incidente do Campos de Frade. Pois bem, então nós

temos aqui, e já nos detendo no aspecto volumétrico, a quantidade de barris

vazados, uma desproporção enorme entre os dois incidentes apresentados

com o paradigma e o ocorrido aqui. Muito objetivamente, se feito uma regra de

3, um cálculo matemático envolvendo esses valores, nós concluiríamos o

seguinte: se 20 bilhões fazem frente aos danos ocorridos no golfo do México,

qual o valor equivalente, valendo dessa metodologia, cobrável aqui? Feito esse

cálculo, nós chegamos a importância de 30 milhões de reais, portanto um valor

assombrosamente menor do que os 40 bilhões de reais pleiteados nessas

ações. Mas aí eu chamo atenção de todos para o seguinte fator, volume é um

dado a ser considerado, mas existem outros também a serem considerados.

Por exemplo, é possível que exista um volume de derramamento muito

pequeno, mas que ele se dê em um ambiente muito sensível, quando então,

apesar da diminuta quantidade de óleo vazado, o impacto ambiental pode ser

dramático. Mas é possível o contrário também. É possível que um incidente de

razoáveis proporções não gere significativos danos ambientais se ele se der,

por exemplo, em uma área oligotrófica, numa área pobre em biodiversidade.

Então nós podemos comparar também esses incidentes paradigmáticos com o

que aconteceu aqui em Frade, e aí nós teríamos os seguintes números: em

Valdez foram mortas comprovadamente cerca de 400 mil aves marinhas, foram

mortos também, 22 orcas, 300 focas e 5 mil lontras. Portanto é um ambiente

mega diverso, é um dos ambientes mais ricos do hemisfério norte inteiro, não

apenas dos Estados Unidos. Em relação ao Golfo do México, nós tivemos 6 mil

aves mortas, nós tivemos 153 golfinhos mortos, nós tivemos 600 tartarugas

mortas. Aqui não houve um único espécime da fauna morto, nenhum, nem

mesmo encontrado debilitado e aqui se estabelece um contraste brutal entre os

dois paradigmas empregados e os fatos tal como ocorreram aqui. Então essa é

também uma questão que eu chamo atenção de todos. Mas além disso, no

caso de Valdez, houve comprovadamente toque de óleo em dois mil

quilômetros de uns dos ambientes mais sensíveis do planeta, dois mil

quilômetros de costa. Se nós pensarmos que o Rio de Janeiro está a 400

quilômetros de São Paulo, é cinco vezes essa distância de toque de óleo em

costa comprovado e disso resultou um impacto socioeconômico brutal. Por

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exemplo, foram afetados dois dos dez maiores portos de pesca americano,

foram suspensas por mais de um ano, a pesca de salmão, de arenque, de

crustáceos, que são peixes fundamentais para a economia do Alasca. A pesca

do arenque foi suspensa por quinze anos. Aqui no Brasil por conta do incidente

de Frade, não foi nem mesmo cogitada a suspensão de pesca. No que toca o

incidente do golfo do México, houve toque de óleo de mil quilômetros em cinco

estados americanos, com impactos brutais na socioeconomia desses estados,

tanto no que toca aspectos turísticos, tanto no que toca aspectos econômicos.

Então, com isso, nós procuramos estabelecer o contraste que existe, e isso de

modo comprovado, entre os dois incidentes utilizados como paradigma e o

incidente de Frade, tal como ele sucedeu. Então voltando um pouco atrás,

analisados puramente aspectos volumétricos, e portanto, sem levar em conta

danos efetivos nós teríamos, segundo a metodologia apresentada nas iniciais,

um valor de 30 milhões de reais. A Chevron está maximamente empenhada

numa composição amigável dessas ações, a Chevron está maximamente

empenhada em deixar pra trás esse episódio, em aprender com ele, em dividir

com todo setor de petróleo, com as autoridades competentes, com todas as

demais partes envolvidas, as duras lições que aprendeu e pra esse fim, quer

dizer, com vistas, animada pela perspectiva e pelo propósito de um acordo, a

Chevron encontrando um valor de 30 milhões de reais e, de novo, nos valendo

da metodologia empregada nas petições iniciais, ela se apresenta com

perspectiva de triplicar esse valor, pro fim de fazer face aos danos que, em

tese, presumidamente teriam ocorrido em relação ao incidente de Frade. Até

aqui, todos os estudos realizados, sem qualquer exceção, de que temos

conhecimento indicam a inexistência de danos minimamente relevantes. O

Ministério Público e a Dra. Gisele, em particular, defendem muito

aguerridamente, com extraordinária competência, a tese de que não obstante à

ausência de danos comprovados, existiriam, no caso, danos presumidos.

Animada pelo propósito de acordo, a Chevron se rende a essa tese, e de novo,

eu repito, a conta dela, obediente a ela, a Chevron propõem um pagamento no

valor três vezes superior àquele que, em tese, seria correspondente aos danos

empregados. De novo, estamos todos muitíssimo empregados nesse acordo,

temos tido uma posição de grande sensibilidade, embora deve se reconhecer

também, de muita dureza por parte do Ministério Público, entendemos que

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seremos capazes de superar, aliás do Ministério Público e também da ANP e

do IBAMA, nós temos certeza que seremos capazes de superar esses

obstáculos e nos aproximar com vistas a um acordo que favoreça a todos

indistintamente, das autoridades, que vire a página desse capítulo, que nos

aproxime maduramente das autoridades competentes, da agência reguladora,

do IBAMA, do Ministério Público, da sociedade brasileira, estamos muito

empenhados e com esperança, uma convicção grande que, ao final, teremos

esse acordo estabelecido.

Muito obrigado doutor, obrigado excelência. Continuo com o uso da

palavra, que diante de tudo isso é importante o seguinte, nós queremos fazer

um resumo assim, os incidentes comparados, tanto do Golfo do México, como

de Valdez, não apresentam quaisquer semelhanças com o incidente do

Campos de Frade. Os estudos comprovam danos poucos relevantes ao meio

ambiente, mas mesmo assim desejamos virar a página com uma discussão

sobre o TAC, no intuito de não restar mais dúvidas das nossas boas intenções

com o meio ambiente e com o Brasil e, diante das alegações e preocupações

levantadas, nós buscamos colaborar com o Ministério Público. Que levem em

conta não apenas os problemas ambientais, que são muito importantes, mas

também os aspectos da natureza. Aí eu termino dizendo o seguinte, imbuídos

nesse espírito, a Chevron Brasil está preparada a se comprometer pra ações e

projetos, incluindo medidas preventivas ou outras medidas que irão beneficiar o

cenário social e ambiental em relação às nossas comunidades conteiras.

Algumas áreas aonde implementariam medidas seriam aprimorar nossos

relacionamentos institucionais, implementar novas áreas dentro de nossa

estrutura organizacional, como já fizemos, aprimorar sistemas submarinos de

coleta de óleo e tecnologia, instalar sistemas integrados de detecção de

vazamento e monitoramento de óleo e muitas outras ações preventivas. Outras

medidas poderiam ser realizadas por intermédio de organizações sem fins

lucrativos que atuem na área ambiental, através de projetos que

representariam benefícios imediatos e efetivos às comunidades pesqueiras e

litorâneas. Em conclusão, nós lamentamos que os incidentes tenham ocorrido,

e assumimos total responsabilidade por eles, como temos feito desde o início.

Nossa resposta foi implementada de acordo com a lei e empregando todos os

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recursos necessários. Procuramos agir de forma responsável e transparente.

Suspendemos, voluntariamente, a produção após o segundo incidente, em

março, como uma ação preventiva. Temos estudos documentados

demonstrando que não houve dano ambiental relevante em função dos

incidentes e felizes de compartilhar isso com quem quiser. O óleo não chegou à

Costa, não houve danos significativos a vida marinha, não houve impacto à

economia da região e nenhuma pessoa morreu em decorrência dos incidentes.

Temos incorporado as lições aprendidas em nossa operação e continuamos

tentando aprimorar nossas operações com as medidas preventivas

mencionadas, a Chevron acredita que estará contribuindo com a melhoria do

setor ao implementar ações a partir das lições obtidas com o incidente do

Campos de Frade. Estamos empenhados em continuar a trabalhar em estreita

colaboração com as autoridades brasileiras, desta forma queremos estreitar

ainda mais a parceria com o Brasil, gerando empregos, contribuindo para o

fortalecimento da cadeia de fornecedores e contribuindo para o

desenvolvimento do país como potência emergente. Muito obrigado pela

oportunidade.

Antes de passar a palavra para os representantes da TransOcean, eu

queria apenas fazer duas pontuações, tendo em vista que o Dr. Oscar falou em

meu nome. Na verdade, eu como membro do Ministério Público, entendo que a

lei, na teoria de responsabilidade ambiental, abrange o risco de dano, que no

meu entendimento existiu. Então quando o Dr. Oscar mencionou “dano

presumido” isso eu deixo pro IBAMA que vai falar aqui daqui a pouco. A minha

forte posição de não tem como dizer que não há uma responsabilidade

ambiental é no sentido de que a legislação abrange o risco de dano e a

responsabilidade é objetiva, ou seja, não se define culpa, simplesmente é

ocorrido um fato se ele gerar um risco de dano tem que ser promovida a

responsabilidade ambiental. Outra coisa é que esse assunto sobre a

possibilidade de uma solução negociada tem um histórico anterior, foi proposto

ao Ministério Público um valor de 311 milhões e ao longo da evolução da

conversa verificou-se que esses 311 milhões abrangem medidas que

constariam do TAC que supostamente pra melhorar regulação e a proteção

ambiental com medidas que seriam referentes ao licenciamento ambiental que

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posteriormente os órgãos entenderam que não seria necessário entrar num

TAC porque eles próprios já tem o poder de exigir, então a gente parou nesse

tempo e vai ser importante em seguida a apresentação da ANP e do IBAMA

para que a gente possa ter um cenário melhor demonstrado, então passo

agora a palavra ao Dr. Roberto.

Obrigado Dra. Gisele, obrigado a todos aqui presentes. A TransOcean só

gostaria de pontuar uma questão que foi abordada já em diversas

oportunidades pela própria ANP, inclusive no pedido de suspensão de liminar

apresentado no Supremo Tribunal de Justiça e esse ponto é: a TransOcean

não participou, nem com culpa nem com omissão, dentro do escopo limitado

que cabe a uma prestadora de serviços. A TransOcean é apenas uma das

prestadoras de serviços que participou do projeto que estava presente nessa

situação específica, então acho que isso é um ponto importante pra ser

colocado aqui.

Muito obrigada a todos vocês que compareceram aqui, contribuindo para

que a gente possa fornecer as informações completas ao público, mais uma

vez. Para seguir na próxima mesa, que acredito que é da ANP, eu vou convidar,

primeiro ressaltar e agradecer a presença dos membros do grupo de ação

estratégica de petróleo formado pela 3ª Câmara de Coordenação e Revisão do

Ministério Público Federal, então já vi aqui a subprocuradora geral Dra.

Helenita, o procurador regional da república Marcos Vinícios e o procurador da

república Dr. Renato Machado que já é conhecido como meu parceiro aqui de

presidir audiência pública, então em atenção ao GAEP eu convido o Dr. Renato

pra presidir a próxima mesa.

Para composição da próxima mesa, convidamos o senhor Olavo David,

procurador geral substituto da ANP; o senhor Rafael Moura, superintendente de

segurança operacional e ambiente da ANP; e o senhor Silvio Jaguanski, chefe

de gabinete da ANP.

Senhores procuradores da república, senhores procuradores federais,

representantes da empresa e aos demais membros da indústria e da sociedade

brasileira, agradeço, especialmente à Dra. Gisele, pela oportunidade de vir aqui

e dar uma satisfação à sociedade em relação aos eventos ocorridos no Campo

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de Frade e antes de iniciar a apresentação há um ponto central de

esclarecimento em relação às atribuições e ações da ANP e em relação a

questão da atuação ambiental, que vem sendo explorada até o momento. A

ANP como órgão regulador da indústria do petróleo é responsável pelo

monitoramento e pela fiscalização da segurança das operações. Então existem

operações de exploração, perfuração e produção que são conduzidas pelos

concessionários, signatários do contrato de concessão junto à ANP e pela qual

a agência adota procedimentos de fiscalização regulares, no intuito de verificar

se os seus normativos estão sendo cumpridos. Em relação à questão

ambiental é importante pontuar que a atribuição pela instauração de processos

administrativos, de procedimentos administrativos de forma ambiental cabem,

de acordo com a lei do óleo, à autoridade marítima e aos órgãos integrantes do

SISNAMA, entre eles o IBAMA que aqui está representado e fará uma

exposição após a minha. Então o foco dessa apresentação recai justamente

sobre os eventos que ocorreram no Campo de Frade e levaram ao vazamento,

como já foi citado, de 3.700 barris de petróleo na área um e cerca de 25 barris

na área 2. Em relação ao vazamento, o Campo de Frade é um Campo que fica

distante 113 quilômetros de Campos dos Goytacazes , numa lâmina d' água de

mais ou menos 1100 metros de profundidade e em termos do acidente o que

que veio a ocorrer. Durante a perfuração do poço, esse poço atingiu um

reservatório que não era o objetivo dele, o reservatório NQ60, ao chegar nesse

reservatório, o mesmo estava sobre pressurizado, a pressão que se esperava

era maior do que a atingida, os procedimentos de fechamento dos poços foram

adotados e foram seguidos tempestivamente. Esse poço foi corretamente

fechado, entretanto a pressão do reservatório foi suficiente pra que houvesse

uma fratura na formação, esse fratura se propagou pelas formações rochosas e

ocasionou um evento conhecido como “underground blow out” que é a fuga de

hidrocarbonetos do poço para o solo marinho. A partir daí se iniciaram

procedimentos de controle do poço e que se concluíram no dia 13/11/2011.

Nesse sentido, nada melhor do que visualizar o que significa essa exsudação,

como os senhores podem observar, havia uma fissura no solo marinho com a

exsudação de petróleo, esse já é um cenário posterior ao controle de poço, ou

seja, havia e há um óleo residual que permanece exsudando através dessas

fissuras no solo marinho que apresentam tendências de decrescimento até o

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presente momento. Hoje estamos com uma vazão, uma exsudação de cerca

de 30 litros por dia nessa área, através dessas fissuras, e no evento da área 2,

da chamada área 2 cerca de 10 litros. Bom retornando à apresentação, o

evento em linhas gerais foi esse ocorrido, a partir daí a agência desencadeou

um processo conhecido como investigação do incidente, em que os servidores,

a partir das constatações do evento e a partir de uma série de diligências na

sede da empresa, na sonda de perfuração e no navio FPSO que produzia o

óleo e fazia o processo de injeção pra justamente se chegar as causas do

evento. Nós temos um link, esse relatório está disponível na página da ANP, na

página de internet da ANP, é um documento público, o link está aqui

apresentado e eu vou brevemente resumir as conclusões desse relatório. A

primeira conclusão é que a Chevron cometeu um erro na interpretação da

geologia e na fluido dinâmica local. Houve uma interpretação em relação aos

efeitos dos poços injetores de água no campo, que são responsáveis por

manter a pressão desse reservatório e esse erro, o dimensionamento dessas

pressões, a partir dos dados da injeção e dos dados dos poços anteriormente

perfurados acabaram por ocasionar essa imprecisão, ocasionou uma

estimativa incorreta. O relatório, a equipe de investigação concluiu que essa

sobrepressão não foi uma sobrepressão natural, foi uma sobrepressão

causada pela elevação artificial de trecho do reservatório, através dos poços

injetores, ou seja, os poços injetores que seriam responsáveis por manter a

pressão desse reservatório elevaram a pressão a ponto dela se tornar

arriscada como um todo para as operações e na conjunção de diversos

eventos contribuiu efetivamente pro “underground blow out” que os senhores

puderam evidenciar. A empresa, no caso desse poço específico, desconsiderou

resultados do teste de resistência da formação da rocha de poços anteriores.

Esses poços anteriores indicavam uma resistência baixa e que se, esses poços

chamados pela indústria de poços de correlação tivessem sido considerados

no projeto, esse projeto teria que ser modificado, teria se mostrado inviável,

não passaria nas premissas de projeto e uma sapata mais profunda seria

aplicada, uma pressão mais baixa teria que ser usada nos poços injetores,

enfim deveria se ter adotado salvaguardas complementares para se evitar esse

evento. Foi constatado também que foi utilizado uma incerteza de pressão

inferior ao estabelecido no próprio manual de controle de poços, no manual de

15

controle de poços aprovado pela empresa, pra um poço investigativo, que era o

caso desse poço e que, como eu citei brevemente anteriormente, o

assentamento da última sapata numa profundidade rasa para um campo “off

shore” onde as formações são inconsolidadas e a exposição de formações

entre 600 e 914 metros abaixo dessa sapata aumentaram os riscos de

exsudação e de “underground blow out” nesse campo. Além disso pra

perfuração especificamente para esse poço, não houve uma análise de riscos

em conformidade com a regulamentação e com o próprio procedimento de

gestão de riscos da concessionária. Nas primeiras tentativas de controlar o

poço, em que foram aplicadas três metodologias, duas inicialmente pela

Chevron e após esse momento, após se constatar que se encontrava numa

situação de controle de poço avançado, foi chamada uma companhia, como é

praxe de mercado, para efetuar esse controle avançado de poço e, só aí, o

poço foi finalmente controlado, o que aconteceu dia 13 de novembro,

entretanto essas primeiras tentativas, as evidências que se apresentavam

naquele momento já indicavam que se estaria num caso de controle de poço

avançado, então o entendimento que esses dois dias a mais tentando controlar

o poço com técnicas que para aquela situação eram inadequadas aumentou o

tempo de sessação desse vazamento. Como conclusão final do resultado de

investigação aí de que o acidente poderia sim ter sido evitado, como já é uma

lição aprendida, talvez não aplicada em termos da indústria do petróleo, se a

empresa tivesse conduzido as operações em plena aderência em relação a

regulamentação, em conformidade com as boas práticas da indústria do

petróleo e além disso com o próprio manual de procedimentos aprovado. Após

o processo de investigação, a agência adotou um grupo, uma série de medidas

administrativas, a maioria dessas medidas, a maioria desses processos já se

esgotaram, a medida que a Chevron, de fato, recebeu as penalidades e

efetuou os pagamentos através de um guia de recolhimento da União, mas

antes mesmo da investigação logo no decorrer do evento, tiveram medidas que

antecederam a própria conclusão dos investigadores. A primeira delas foi a

interrupção das atividades de perfuração, uma vez que uma atividade deu

causa ao acidente. A diretoria colegiada da agência, através da resolução

diretoria 1.065 de 23/11/2011 suspendeu as atividades de perfuração no campo

de Frade, posteriormente em uma das primeiras diligências a bordo do FPSO

16

Frade, a equipe da ANP, os especialistas em regulação da ANP interditaram os

poços injetores de água no FPSO Frade, no Campo de Frade, através do

documento de fiscalização 375272 no dia 29/11 e a partir disso tivemos

algumas outras medidas associadas ao processo de fiscalização/investigação

do evento. Em virtude da investigação de todo processo de aquisição de

informação para as conclusões administrativas da ANP, nós tivemos

identificadas 25 infrações, a maioria delas ligadas a segurança operacional. 22

correlacionadas a segurança das operações, 02 relacionadas ao não

atendimento de notificação, 01 em relação a não entrega de vídeos na forma

solicitada pela ANP e a outra em relação a entrega de uma salvaguarda

conhecida na indústria como poço de alívio e a vigésima quinta seria em

referencia ao plano de abandono. Houve um plano de abandono inicialmente

aprovado pela ANP, esse plano inicial não foi aplicado pela empresa, um

segundo plano de abandono que incidia em riscos maiores e num grau de

incerteza maior foi proposto em seguida, esse plano foi aprovado mais uma vez

e foi aplicado dando sequência ao abandono do poço. Então essa é a única

penalidade que segue em apuração, segue no âmbito administrativo dentro da

ANP e as outras 24 deram ensejo a uma penalidade de R$ 35.160.000 do qual

o valor recolhido para a união foi de R$ 24.612.000 em função da Chevron ter

exercido o direito de abrir mão do recurso em prol de um desconto de 30%

nesse valor que é uma previsão legal da lei 9847/99. Além dessas medidas, em

função da questão do acidente, das conclusões da investigação, a ANP julgou

necessário atribuir medidas adicionais, ou condicionantes para que fosse

restabelecido um ambiente seguro de produção e perfuração dentro do Campo

de Frade. Essas condicionantes estão associadas a conclusão de que houve o

descumprimento de uma das cláusulas do contrato de concessão que rege a

relação entre a União e os concessionários, a União representada pela ANP e

essa cláusula cita o dever de agir com diligência na condução das operações

de acordo com as melhores práticas da indústria. Essas condicionantes tiveram

associadas ao saneamento das não conformidades, a obrigatoriedade de se

sanear essas não conformidades, de se alterar a estrutura organizacional, pois

no decorrer da investigação foi constatada que havia uma prevalência de

decisões voltadas para a operação ao invés de ter um balanço entre operação

e segurança, então por essa razão a ANP teve que determinar essa

17

reestruturação na organização em si. Uma reestruturação na área de SMS pra

que as análises de risco passassem a ter um foco maior na segurança de

processo. A questão da reestruturação da área de relacionamento institucional

no intuito de reduzir uma série de deficiências observadas no início do evento e

que no entender da agência e que nos processos administrativos ficou

comprovado que prejudicaram a divulgação das informações como um todo à

sociedade brasileira. Foi determinado estabelecimento de uma estrutura

mínima no centro de crise, no centro de resposta da Chevron, até para ajustar

a comunicação com a sociedade, da comunicação com os órgãos

controladores, houve necessidade de se revisar, solicitar ou determinar a

revisão do procedimento de operações simultâneas, em função das influências

da injeção, operação de injeção com a operação de perfuração que ficou

demonstrada na investigação que teve uma relação muito profunda com o

evento. Treinamentos em geral, em relação a controle avançado de posto, de

forma a prover uma identificação mais antecipada de um evento deste porte.

Gestão de risco, gestão de mudanças e investigação de incidentes. Outra

condicionante foi a implementação de um manual determinístico em relação

aos critérios ou premissas do projeto de construção de poços. A necessidade

de se manter um perfil, uma ferramenta de perfilagem de temperatura que

facilitaria a identificação de pontos de fratura, a bordo num evento similar,

apresentação de um projeto de poço de alívio e por fim a manutenção de um

sistema de coleta de óleo, da filmagem submarina e do monitoramento aéreo

até que não se observe mais exsudação que ainda hoje se observa e a

realização da auditoria realização de terceira parte que é praxe e é uma

determinação da regulamentação. Então a Chevron, na forma de contrato de

concessão, foi notificada a sanar essas condicionantes sob pena de ser

destituída como operadora da concessão do campo de Frade. Essa notificação

foi encaminhada em setembro do ano corrente, o prazo exaure no final dessa

semana e a Chevron, há dois dias, protocolou informações que pretendem, de

fato, comprovar que ela atendeu a todos esses condicionantes e nesse

momento a agência inicia a fase de análise dessa documentação para concluir

se a Chevron saneou e implementou essas condicionantes no seu sistema de

gerenciamento de segurança. Muito obrigado, eu passo a palavra agora para o

18

Dr. Olavo David Bentes, procurador federal junto a ANP, que vai falar da

atuação judicial da ANP no caso em questão. Obrigado.

Uma boa tarde, a ideia desses minutos que eu vou dirigir a palavra aos

senhores, é esclarecer algumas dúvidas que foram suscitadas quando a ANP

passou a intervir nas ações judiciais interpostas pelo Ministério Público e isso

de certa forma causou um mal entendimento, a gente teve alguns

questionamentos, até questionamentos de próprios colegas da Advocacia Geral

da União, por que a ANP estaria nessas ações ao lado da Chevron e

Transocean? Eu entendo que ainda resta algumas dúvidas sobre isso, então

eu gostaria de aproveitar esses minutos para tentar esclarecer que a ANP

jamais atuou em nome de ninguém. Ela atuou em nome próprio nessas ações.

Tudo começou numa decisão de 31/07/2012, da quinta turma especializada do

tribunal regional, uma decisão em cima das ações civis públicas empedradas

pelo ministério público de Rio de Janeiro, ela determinou que em 30 dias

fosses suspensas todas as atividades de extração e transporte petrolífero da

Chevron e da Transocean, sob pena de multa de 500 milhões de reais e

determinou a ambas empresas a adoção de procedimentos necessários ao

integral cumprimento do termo de abandono de poço, com fiscalização da ANP,

também sob pena de multa no valor de 500 milhões de reais. Não sei dessa

decisão, o judiciário, o Tribunal Regional Federal da 2ª região alegou que a

ANP estaria agindo com escopo de sanar omissões e coibir eventuais medidas

de excesso administrativo, ou melhor, medidas de excesso cometidas pela

administração. Foi em relação a esse entendimento que a ANP se insurgiu,

porque nós entendemos, e a apresentação do Rafael deixa isso muito claro,

que desde o primeiro momento a ANP agiu com toda diligência, cumprimento

seu papel de órgão fiscalizador, regulador, de administração dos recursos

petrolíferos nacionais desde o início do incidente, desde o início do vazamento

até os procedimentos que estão sendo adotados até hoje e continuarão a ser

adotados. Só ressaltando aí da apresentação do Rafael, desde que houve a

primeira notícia do vazamento, a ANP esteve presente nas instalações de

escritório da Chevron, esteve presente nas instalações de operação, na FPSO,

na plataforma de produção. O relatório de investigação do incidente foi iniciado

tão logo houve dados para tanto, em fevereiro de 2012 já havia uma primeira

19

versão, em homenagem aos princípios do contraditório, da ampla defesa, essa

versão foi entregue à Chevron, isso foi discutido no nível técnico, no nível

jurídico, até que se chegou no relatório final, que a Chevron contesta, com todo

direito, contesta algumas das conclusões da ANP. Todo procedimento

administrativo foi cumprido com todo rigor, o que culminou com as penalidades,

que são as penalidades prescritas em lei, penalidades relativas aos 25

processos administrativos que foram abertos e um que estão em curso ainda.

Com essa decisão, a ANP entendeu que agiu de forma dirigente, em relação ao

plano de abandono, entendeu que não havia o que fazer já que na verdade

houve o abandono do poço, está em discussão administrativa se esse

abandono foi feito dentro das melhores práticas da indústria, é esse o último

processo administrativo em trâmite, isso está sendo averiguado ainda dentro

do devido processo legal administrativo e nos preocupou a proibição da

operação, lógico da Chevron também, e também a proibição da operação por

parte da Transocean. Todas as conclusões das apurações efetuadas pela ANP

foi que a Transocean não tem qualquer responsabilidade no incidente. Isso

está colocado no relatório, foi colocado nas nossas petições e eu afirmo aqui

que as conclusões da ANP em relação à Transocean foi de que não houve

responsabilidade da Transocean no incidente. As consequências da suspensão

da operação, de certa forma, essa decisão traz uma lesão a própria segurança

jurídica, a própria segurança do nosso ordenamento que confere à ANP essas

atribuições de regular e fiscalizar as atividades concernentes a indústria do

petróleo nacional e esse poder, eventualmente, de suspender operação e até

mesmo de destituir operador, ou ainda, sanções mais gravosas como a perda

da concessão. Com isso, nós entramos com uma ação que é exclusiva da

União, ou de seus órgãos, nós entramos com pedido de suspensão de liminar,

junto ao tribunal superior de justiça, nesse pedido de suspensão de liminar, a

ANP entrou como parte autora. Com base em que nós entramos com esse

pedido de suspensão de liminar. Principalmente grave lesão a ordem

econômica, porque a suspensão das operações da Transocean não afetaria tão

somente o Campo de Frade operado pela Chevron, a Transocean tem 10

sondas “off shore” trabalhando no Brasil, corresponde a quase 20% do total de

sondas, a produção dos equipamentos da Transocean hoje equivale a 175 mil

barris por dia, e a gente fazendo uma projeção aí pra dois anos, isso

20

representaria em termo de perda de receita para o Brasil valores da ordem de

R$ 6.000.500.000,00, perda de receitas de royalties e participação especial.

Então a gente entendeu que haviam razões suficientes de ameaça de grave

lesão a ordem econômica e entramos com pedido de suspensão da liminar.

Também nos utilizamos do permissivo legal trazido pela Lei 9469/99, tenho

aqui o parágrafo único que vou ler para os senhores “as pessoas jurídicas de

direito público poderão, nas causas cuja decisão possa ter reflexo, ainda que

indireto, de natureza econômica, intervir, independentemente de demonstração

de interesse jurídico para esclarecer questões de fato e de direito, podendo

juntar documentos, memoriais, se for o caso, recorrer, hipótese em que, para

fins de deslocamento, de competência serão consideradas partes…”. Sem

querer aprofundar juridicamente, não é a nossa intenção, mas doutrinariamente

isso é entendido como uma intervenção anômala do estado, um litígio

envolvendo com que um dos polos, haja uma parte privada. Então a ANP não

entrou na ação como amicus curiae, que ela estaria prestando auxílio ao

Ministério Público, nem como assistente da parte, ela entrou em nome próprio

como parte na intervenção anômala, e com a intenção de preservar a

integridade e a integralidade de suas atribuições legais e constitucionais. No

pedido de suspensão de liminar a decisão do Superior Tribunal de Justiça foi

parcialmente procedente, mas nós nem recorremos porque ela atendeu

perfeitamente as expectativas que a ANP tinha, porque a decisão do STJ

permitiu a continuidade das operações da Transocean, que era uma grande

preocupação pelo impacto na economia nacional, e autorizou a Chevron a

continuar operando no Campo de Frade apenas no que concerne a mitigação

dos danos e a segurança operacional. Então até aquele momento essa decisão

nos satisfez e nós não prosseguimos na ação. E aqui no TRF2 nós entramos

com instrumento processual também, uma contra razão de agravos e

obtivemos uma decisão favorável na quinta turma que basicamente fez com

que a situação voltasse ao status quo original, ou seja, a retomada da

operação do campo de Frade está condicionada à decisão tecnicamente

motivada da ANP. Duas coisas são boas que se deixem claras: quando a

liminar suspendendo as operações da Chevron e da Transocean foi exarada as

operações já estavam suspensas, e agora que a liminar foi cassada as

operações continuam suspensas, então não há propriamente uma relação

21

entre as decisões judiciais e o retorno da plena operação da Chevron. O que

há é o retorno do poder fiscalizatório do poder, de administração dos recursos

petrolíferos nacionais à ANP. Não que nós entendamos que o judiciário não

tenha condição, pelo amor de Deus, é evidente que o judiciário tem a

possibilidade de intervir, desde que o executivo não esteja cumprindo com

diligência as funções constitucional e legalmente atribuídas a eles. Para

finalizar, eu gostaria apenas de ler alguns trechos da decisão da 5ª turma, que

ainda é uma decisão ainda em liminar, o processo continua correndo, não há

nada em definitivo, mas que reforçam essas questões que eu quis trazer aqui

para os senhores: “assim a ANP, agência reguladora para o caso em questão

é quem detém competência e conhecimento técnico para avaliar a melhor

solução cabível para evitar a ocorrência de acidentes da mesma natureza.

Bem como a sanção a ser aplicada aos réus.” Mais adiante. “No decorrer do

processo, restou comprovado que independentemente da tutela recursal

deferida, as medidas cabíveis estão sendo aplicadas”. Mais adiante ainda. “As

agravadas, a Chevron e a Transocean, nunca estiveram ao da lei, ao revés,

estão sendo devidamente fiscalizadas pela agência.” Tem outro trecho grifado

aqui, mas acho que não vai trazer nenhum esclarecimento a mais. Enfim,

essas questões que a procuradoria geral, junto com a ANP, gostaria de trazer

em complementação à apresentação do Rafael, estamos totalmente

disponíveis para as perguntas que vierem no final da sessão e agradeço a

atenção de todos.

Queria agradecer a participação dos senhores Olavo Davi e Rafael

Moura, pelas explicações técnicas e jurídicas importantíssimas para a

compreensão do caso. Se alguém ficou com alguma dúvida, algum

esclarecimento que ache necessário, pode se inscrever para a última parte da

audiência, com a participação da plateia. Agora eu gostaria de chamar para

compor a próxima mesa de exposições o Sr. Cristiano Villar, coordenador do

petróleo e gás, Sr. Marcelo Amorin, coordenador geral de emergências

ambientais do IBAMA e a Sra. Rosa Maria Lemos de Sá, secretária geral do

FUNBIO.

Com a palavra então o Sr. Cristiano Villar, coordenador geral de petróleo

e gás do IBAMA.

22

Boa tarde, uma boa tarde a todos. Gostaria, antes de iniciar, agradecer

ao Ministério Público, na figura da procuradora Gisele Porto, pelo convite e pela

oportunidade desse esclarecimento, de tornar público o estágio atual desses

processos administrativos do IBAMA, reforçando a intenção de colaborar no

que for necessário com a atuação do Ministério Público nesse caso. O IBAMA

tem suas atribuições próprias sobre os incidentes no campo de Frade, assim

como a ANP também tem, assim como a Marinha tem. Eu não tenho dúvidas

de que, do ponto de vista da investigação das causas do incidente, é a ANP

que tem a liderança desse processo e o IBAMA tem uma cooperação próxima

com a ANP e a gente fica sempre em contato compartilhando esses achados

da agência e apoiando no que for necessário. Como apresentado, eu sou o

coordenador geral do licenciamento do petróleo de gás do IBAMA, só que essa

questão do IBAMA é tratada não só pelo licenciamento. O que eu pretendo

fazer é uma apresentação bastante objetiva, bastante simples, até para

privilegiar o espaço de debate posterior, um panorama organizacional do

IBAMA aonde que o licenciamento se situa, processos administrativos relativos

às autuações que foram feitas, processos administrativos relativos ao

licenciamento e o estado atual da colaboração com o Ministério Público. Em

relação ao incidente no Campo de Frade duas instâncias do IBAMA tem

atuação complementar, atuação cooperativa, mas com missões e

competências bastante distintas. Então a coordenação geral de petróleo e gás

fica subordinada as diretorias de licenciamento. Nós conduzimos os processos

de licenciamento, avaliamos estudos ambientais, conduzimos as consultas

públicas, estabelecemos as condicionantes no ritual de licenciamento

ambiental que todos conhecem. Existe também, ligada a diretoria de proteção

ambiental, uma coordenação geral de emergências ambientais. O

representante Marcelo Amorin, infelizmente, em última hora teve um problema

de logística, questão de passagem, não conseguiu viabilizar a vinda dele de

Brasília para cá para estar conosco, mas a gente tem uma atuação bastante

conjunta, eu não vejo problemas em eu falar também pela coordenação de

emergências ambientais, que no caso concreto do vazamento do Frade é

responsável pela supervisão do atendimento a essa emergência. Enquanto o

licenciamento ambiental analisa o plano de emergência, aprova o plano de

emergência e acompanha o preparo da empresa no ponto de vista de resposta

23

a emergência no caso de um acidente em si quem supervisiona, quem atua

pelo IBAMA, quem lidera o processo de atuação pelo IBAMA é a coordenação

geral de emergências ambientais pelo regimento do órgão. É claro que sendo

um assunto de petróleo, quem licenciou atua conjuntamente, se fosse um

acidente numa ferrovia, acompanharia quem licenciou aquela ferrovia e assim

sucessivamente, mas há uma atribuição distinta dentro do próprio IBAMA da

coordenação de emergência e da coordenação geral de petróleo e gás. Indo

bem direto ao ponto, o IBAMA, como é do conhecimento amplo, lavrou dois

autos de infração relativos aos incidentes no Campo de Frade. O primeiro deles

tem como enquadramento legal dar causa a vazamento de petróleo, ele é um

da lei do óleo e a valoração inicial dessa multa foi de 50 milhões. Um segundo

auto de infração foi lavrado por deixar de atender a condicionante de licença,

no caso a condicionante que fala do plano de emergência individual e a análise

feita pela área de licenciamento entendeu que houve sim falhas, houve sim

problemas no atendimento imediato da emergência. Poderia ter sido melhor,

não era exatamente como estava aprovado, então isso deu causa ao auto de

infração de 10 milhões. Ambos os processos têm uma tramitação interna ao

órgão de algumas indas e vindas em diversas instâncias a empresa se

manifestou em ambos processos, há uma proposta de convenção de multa no

primeiro caso, há uma defesa no segundo caso, mas ambos processos estão

em fase final da tramitação para julgamento, ainda não há uma decisão final

sobre esses autos. Do ponto de vista do licenciamento ambiental é importante

começar reforçando a noção de que a operação da Chevron no Campo de

Frade era uma operação plenamente licenciada. A empresa disponha de duas

licenças de operação, uma relativa a atividade de perfuração e uma relativa as

atividades de produção no campo. O status atual delas são, a licença de

perfuração se encontra suspensa, na sequência tendo o mesmo entendimento

que a ANP teve, não é possível considerar essa licença válida, uma vez que

ainda há um incidente em andamento decorrente de uma perfuração, então

essa licença não tem aplicabilidade hoje, ela se encontra suspensa. Do ponto

de vista da licença de operação da atividade de produção o que está suspenso,

também, é a injeção de água, da mesma forma como a ANP, houve a interdição

dessa possibilidade. Até a interrupção voluntária, por parte da empresa, da

produção esse era o cenário, a empresa estava possibilitada a continuar

24

produzindo, mas por uma decisão da empresa ela decidiu parar de produzir.

Até o momento não há nesses processos de licenciamento a formalização da

intenção de retorno. A empresa já sinalizou pra gente, em algum momento, que

já está iniciando tratativas para voltar a operar, mas de fato do ponto de vista

formal junto ao IBAMA não há um pleito, não há uma sondagem formal da

intenção de retorno. O que se pode colocar com bastante veemência é que a

retomada de injeção, de pressão no Campo ou de perfuração está certamente

condicionada a uma revisão significativa do plano de emergência individual,

devido às falhas encontradas, do ponto de vista do IBAMA. Não há hipótese da

empresa voltar a operar no Campo de Frade sem que haja uma revisão

profunda nos seus procedimentos de emergência e, certamente, a intenção do

IBAMA é que nesse cenário de retorno à operação a Chevron precisaria ser a

referência de proteção, de preparo a emergências no Brasil. Então, não

pouparemos esforços para levar a empresa nesse nível de exigência

internacional e ela vai ser o standard da indústria para poder voltar operar do

ponto de vista ambiental. A colaboração com o Ministério Público no âmbito

desse procedimento, ela se resume, além dessa contribuição na construção

desse compromisso de ajustamento de conduta, que acho que a procuradora já

colocou bastante assertivamente o nosso entendimento de que obrigações que

já seriam impostas a empresa de qualquer jeito não fazem sentido estar no

termo de ajustamento de conduta, a princípio. Há também o compromisso

assumido com o MP da elaboração de um novo laudo técnico ambiental sobre

esses vazamentos, exatamente detalhando um pouco mais essas premissas

que como já foi debatido aqui da questão da presunção do dano, ou seja, não é

porque você tem dificuldades ao tipo de vazamento para medir esses danos

que você pode deduzir que eles não existiram. O fato de não ter havido uma

foto de um animal morto não quer dizer que nenhum animal foi morto. Não é

difícil para ninguém perceber que essa quantidade de óleo não teria passado

despercebida pelo ecossistema, não precisa ser biólogo para poder perceber

isso e é um laudo que está sendo elaborado com todo cuidado para colaborar

na instrução processual. Eu queria agradecer mais uma vez a oportunidade e

fico a disposição no final do evento para responder qualquer questão que seja

da alçada do IBAMA. Agradeço a todos.

25

Com a palavra agora Sra. Rosa Maria Lemos de Sá, Secretária geral da

FUNBIO. Só para esclarecer a FUNBIO é uma entidade não-governamental

que presta serviços ambientais, serviço de recuperação ambiental, então seria

uma possível destinatária dos valores de um possível TAC.

Boa tarde a todos, eu gostaria de agradecer o convite, principalmente

pela Dra. Gisele Porto, que nos dá a oportunidade de apresentar a instituição

FUNBIO, o fundo brasileiro para biodiversidade. A missão do FUNBIO é aportar

recursos estratégicos para conservação da biodiversidade. O FUNBIO foi

criado logo após a RIO 92 com o objetivo de apoiar a implementação da

convenção de diversidade biológica que foi assinada pelo Brasil aqui no Rio de

Janeiro em 1992. Nossos 16 anos de trabalho, nós operamos

aproximadamente 390 milhões de dólares para conservação da biodiversidade

e mais de 180 projetos e mais de 190 unidades de conservação no país. Nós

temos nossos valores de independência, transparência e de controle social

efetivo. Uma breve demonstração da nossa organização, nós temos um

conselho deliberativo de 16 membros, comissões técnicas de finanças, de

auditoria e de gestão de ativos, a secretaria geral, eu sou a secretária geral e

equipes de comunicação, jurídica, de programas e de administração. Nosso

conselho foi definido em 1995, com a participação de 04 segmentos

importantes. O segmento de ambientalistas, 04 acadêmicos, 04 pessoas do

setor empresarial e 04 membros do governo federal. O que o FUNBIO se

especializou em fazer nesses 16 anos de trabalho. O FUNBIO aporta recursos

através de editais de convocações de projetos, também faz aquisições e

compras e logística para execução de projetos, nós fazemos contratações de

especialistas para elaboração e execução de planos de manejos, construções

de sedes e postos em unidades de conservação, aquisição de veículos e

outros equipamentos pra unidades de conservação e projetos. Nós apoiamos

projetos de associações locais, fazemos articulação entre órgãos de governo e

instituições locais e também trabalhamos com gestão de ativos. Hoje o

FUNBIO tem seis fundos fiduciários que ele, através de gestão profissional,

aplica no mercado e os lucros são para os projetos de conservação. Alguns

números sobre o FUNBIO, nós já apoiamos mais de 50 mil pessoas em

projetos, comunidades extrativistas, povos indígenas, populações locais, já

26

trabalhamos também em mais de 60 projetos executados por ONGs e

associações locais, o FUNBIO não executa na ponta, ele trabalha com

associações e instituições locais. Mais de 130 unidades apoiadas hoje, 100

delas na Amazônia, cerca de 30 bolsistas em 08 projetos em pesquisa

científica, 166 milhões administrados nos fundos fiduciários que eu acabei de

mencionar, são 06 fundos fiduciários e 128 milhões em contas correntes de

projetos, que hoje somam mais ou menos 98 contas correntes de projetos que

nós executamos na ponta. Como nós fazemos isso? A gente faz um

planejamento financeiro dos projetos e apoio, como eu disse, com obras,

compra de equipamentos, contratação de estudos e planos de manejo,

expedições de pesquisa e fiscalização, reuniões de conselho, nesses últimos

15 anos o FUNBIO já trabalhou em mais de 195 unidades de conservação no

Brasil. Equipamentos de transporte, embarcações de todos os tipos,

informática, motores, equipamentos de combate a incêndios, equipamentos de

segurança, equipamentos de comunicação, geração de energia a utensílios

domésticos, uma xicrinha de café a uma pick-up ou um barco. Apoiamos

também a fiscalização e a reunião dos conselhos de gestão das unidades de

conservação, e aí nós apoiamos provendo meio de transporte, combustível

para as reuniões, alimentação e logística para as reuniões, imagens de

satélites, consultores e facilitadores pra essas reuniões dos conselhos de

gestão das unidades. Além disso apoiamos expedições de pesquisas, com

mapas, combustível, pesquisadores, equipamentos de camping, telefones por

satélite, suporte aéreo, o que for necessário a essas pesquisas de camping.

Um dos maiores programas que o FUNBIO executa desde 2002 é o programa

ARPA, áreas protegidas da Amazônia, o maior programa de preservação

floresta tropical do mundo. Nós fazemos desde o planejamento das unidades a

compras e contratações para mais de 100 unidades na Amazônia, projetos de

geração de renda para comunidades no entorno dessas unidades e

desenvolvemos mecanismos financeiros para sustentabilidade a longo prazo

das unidades e, também, a capacitação de equipes das unidades de

conservação, nós trabalhamos com as unidades de conservação federais e dos

09 estados amazônicos. Nós temos parceria com todos estados da federação.

Até agora os resultados desse programa foi o apoio direto a 32 milhões de

hectares, isso representa uma área equivalente a 07 estados do Rio de

27

Janeiro. Já aplicamos 80 milhões de dólares na primeira fase do programa,

100% dos recursos foram executados, recursos de doação de multilaterais,

bilaterais e privados. Nessa segunda fase que começou em 2011, nós temos

100 milhões de dólares para execução que vai até os próximos 05 anos.

Comprovadamente, as unidades de conservação que fazem parte desse

programa melhoraram a sua gestão. Isso num estudo feito com o ICMBio em

que eles mesmos contaram a efetividade dessas unidades com as restantes do

país que não fazem parte do programa. Também temos o fundo de

capitalização o INDALMA pra esse programa que hoje tem aproximadamente

57 milhões de dólares e a meta é chegar a um fundo de mais ou menos 160

milhões de dólares para apoio dessas 100 unidades da Amazônia. Um mapa

das unidades de conservação da Amazônia, em verde são as unidades

federais, em amarelo laranja são as unidades estaduais e aqui são unidades

que são apoiadas por esse programa ARPA que trabalha desde 2002. FUNBIO

tem uma proposta de transparência muito forte, nossos fundos são auditados

por auditores internos anualmente, a cada 03 anos esse auditor interno é

trocado, então são auditores externos diferentes, nunca houve qualquer

ressalva na nossa contabilidade. As nossas contas bancárias e os nossos

relatórios de prestação de contas são independentes, cada projeto tem a sua

conta bancária separada, não existe mistura de recursos de um para outro e

cada relatório é de acordo com a exigência do doador. Hoje nós temos mais de

40 financiadores entre multilaterais, bilaterais ou ONGs, institutos de pesquisa

e instituições privadas brasileiras. Nós fazemos mais de 60 prestações de

contas aos financiadores anualmente, Nós temos no mínimo 06 missões de

acompanhamento e supervisão dos projetos. O Banco Mundial tem uma

missão por projeto anualmente. KFW que é o banco de cooperação alemã,

todos esses tem no mínimo uma missão de acompanhamento e avaliação dos

projetos. Nós temos no nosso site um canal de denúncia anônima, se alguém

tiver alguma restrição ou qualquer coisa de desvio de conduta, felizmente não

tivemos que utilizá-lo até hoje, mas está disponível e fomos classificados pelo

BID que é o Banco Interamericano de Desenvolvimento o mais alto patamar de

gestão possível de classificação do banco que eles fizeram e classificaram o

FUNBIO no mais alto patamar. Nossa credibilidade é tudo para a instituição,

nós estamos nos credenciando junto ao GEF, que é o Global Environment

28

Facility que faz doações ao governo brasileiro para aplicações em projeto de

conservação e desenvolvimento sustentável. Essa guia de tensão foi aberta em

2011 para os países da América Latina e Caribe. O Brasil foi a única instituição

não governamental brasileira recomendada pelo governo brasileiro para

participar dessa creditação. Nós já passamos por duas fases desse processo e

estamos indo para terceira fase, fase final e devemos ser creditados no ano

que vem. Nós somos também a instituição da América Latina, Caribe e da

África que mais executou recursos do GEF, se você olhar todos os executores

de recursos do GEF do mundo inteiro o FUNBIO é o que tem o maior número

de projetos executados pelo GEF. A gente não tem informações sobre a Ásia,

mas a gente acredita que lá também, o FUNBIO seja maior. Execução de

recursos do Banco Alemão para reconstrução PFW, no mundo o FUNBIO foi a

primeira instituição a colocar recursos do banco no. É a ONG com o maior

número de projetos e recursos aprovados no fundo Amazônia, que é gerido

pelo BNDES e foi também a primeira instituição a receber um com recursos do

BNDES. Um projeto que se criou um e foi a primeira vez que o BNDES aportou

recursos para um fundo como esse. Nós temos o título de desde 2004 que é

renovado anualmente. Em agosto de 2012 o projeto ARPA foi considerado o

maior projeto de proteção de florestas tropicais do mundo e recebeu um prêmio

chamado Development Impact Honor do tesouro americano. Foi a primeira vez

que um projeto de conservação recebeu esse prêmio do tesouro e o FUNBIO

foi reconhecido na reunião da CDB na Índia pela vice presidente do Banco

Mundial para o Meio Ambiente, Rachel Keite, como um dos maiores fundos

ambientais do mundo. Isso vindo de uma vice presidente do Banco Mundial é

um cartão de credibilidade muito bom. Novamente o BID nos reconheceu, por

termos processos, por termos o mais alto patamar de gestão. Muito obrigada

pela oportunidade, estou disponível para perguntas.

Queria agradecer, participação e exposição da senhora Rosa Maria e do

Sr. Cristiano do IBAMA e chamo a mesa a Dr. Gisele Porto, procuradora da

República.

Monique Cheker, que é procuradora da República em Angra dos Reis e

eu já sei que pediu um espaço para fazer uma apresentação relacionada com a

questão de petróleo e outros colegas procuradores da República, procuradores

29

regionais ou subprocuradores gerais da República que queiram participar

desse momento previsto no edital para considerações ou perguntas do

Ministério Público com relação ao que foi dito até agora. Monique está aí?

Monique, Mário Gisi. Bom enquanto isso eu vou pontuando aqui, como

eu disse, esse não é um fórum decisivo, mas como o Dr. Olavo também entrou

no campo jurídico, eu tenho também uma observação a fazer, com relação ao

que ele mencionou que foi concluído que a TransOcean não tem

responsabilidade no incidente. Como aqui é uma audiência pública, a gente

tem pessoas que não tem formação jurídica, eu gostaria de ressaltar que

quando ele diz que não tem responsabilidade, não significa a responsabilidade

ambiental que o Ministério Público defende em razão da coletividade que é

baseada na Teoria do Risco e não leva em conta culpa, não avalia negligência,

imperícia ou imprudência nessas ações civis públicas, porque não é necessário

pela lei, como aconteceu um ato que gerou aquele resultado, há um nexo de

causalidade é imputada a responsabilidade àquela pessoa que teve aquela

ação. Então o fato de dizer que a TransOcean não tem responsabilidade não

significa dizer que não praticou nenhum ato que levou àquele resultado,

significa que não é uma culpa, uma contribuição, uma negligência, uma

imperícia, uma imprudência da TransOcean com relação ao resultado. É isso

Dr. Olavo? Gostaria de explicar?

Na verdade é um entendimento diverso, a gente respeita logicamente o

entendimento do Ministério Público, mas a gente entende que a conduta da

TransOcean não tem um nexo causal com o acidente, a ANP entende,

tecnicamente, desta forma. Logicamente que a gente não fez nenhuma

intervenção jurídica a favor ou contra a TransOcean, a gente trabalhou, como

eu fiz a exposição, em relação, defendendo as prerrogativas da ANP, mas a

gente não vê na conduta dela esse nexo causal.

Até eu não tinha entendido que era isso que o senhor quis dizer, eu

achei que tivesse entrado na seara da questão subjetiva. Monique está aí?

Então vocês querem fazer alguma consideração sobre o que foi dito?

Bom na verdade, acho que as minhas maiores indagações não vão com

relação a estrutura do acordo que já está sendo, de certa forma, colocado, mas

30

as principais dúvidas ainda são com relação a destinação das verbas que

eventualmente venham a fazer parte desse acordo, porque das informações

que nós tivemos a partir da exposição da FUNBIO, que já havia também sido

feita no MPF em Brasília, ainda faltam dados para que nós possamos ter

elementos mais seguros de que a destinação dos valores para os projetos

propostos estaria ou não adequada. Então, para mim ainda fica pouco

esclarecido com relação a essa destinação que me parece que é uma questão

bastante significativa porque enfim, a composição dos valores, enfim, toda essa

gama de questões que envolvem, enfim, mesmo essa reflexão sobre os

projetos específicos, se seriam os melhores projetos ou não, acho que isso é

uma questão que precisa ainda ser amadurecida. Obrigada.

Na verdade, houve uma apresentação do FUNBIO, na 4ª Câmara de

Coordenação e Revisão em que, além de apresentar o fundo, como a Rosa fez

aqui agora, eles apresentaram algumas sugestões de possíveis medidas

compensatórias assim sem compromisso, como sugestões. Só que depois, na

reunião posterior eu conversei com os representantes das rés, que me

disseram que não necessariamente fica aquilo como sendo os projetos que o

FUNBIO iria executar, o FUNBIO poderia receber orientações do Ministério

Público da 4ª Câmara que o corpo técnico nosso aqui da procuradoria da

república fica em Brasília na 4ª Câmara de Coordenação e Revisão justamente

a importância dos membros aqui, porque não sou eu a procuradora sozinha

que vou determinar se eventual aplicação da verba que vem a ser destinada a

compensação ambiental.

Então, só a partir dessas considerações, acho que a sociedade civil,

nessa oportunidade, também se tiver alguma sugestão, não deixe de

apresentar porque essa vai ser a oportunidade de eventual consideração em

relação a esses aspectos, penso eu.

Por isso que eu estou chamando a Monique, essa é a fala dela. A Dra.

Monique vai apresentar uma proposta de projeto a integrar eventual medida

compensatória que vai utilizar as verbas de eventual TAC.

Enquanto a Dra. Monique vem, eu gostaria de acrescentar uma

colocação quanto ao esculpo do TAC, que ao final haverá de ser dirimido, é

31

claro, fala-se de uma destinação do montante da compensação que for

afirmada, vamos chamar isso de compensação. Ainda existem dois processos

administrativos, um do IBAMA e outro na ANP, então ao final é preciso se

responder uma coisa, o TAC depende da conclusão do laudo técnico do

IBAMA? O TAC também depende da conclusão do processo administrativo da

ANP? Por que essas indagações? Já falamos que os dois processos judiciais,

e agora, o TAC como uma possibilidade de solução ou de resolução,

finalização desses dois processos judiciais, esses 03 elementos são de

interesse da coletividade, isso é, são do interesse da Chevron, são do interesse

do Ministério Público, são de interesse de todos operadores que atuam no mar,

Petrobrás, Transocean, por que eu digo isso, porque, veja bem, de certo modo

o padrão de qualidade da atuação da agência de Petróleo, a respeito do qual

não se põe nenhuma dúvida, é importante que fique claro e que esse TAC

possa incorporar. É importante que o padrão de qualidade da atuação do

IBAMA nesse caso também possa ser incorporado de algum modo, me parece

que isso possa ser contemplado. O escopo do TAC pode juntar tudo isso,

porque, novamente, e sobre tudo do ponto de vista da 3ª Câmara, Dr. Mário, é

importante a gente pensar pro futuro. O padrão de qualidade da atuação

desses órgãos reguladores, desses órgãos de controle precisa hoje ser muito

claro, muito aprendido como modelo, afim de que, se daqui a 05 ou 10 anos,

ocorrer um evento semelhante qualquer que seja a empresa envolvida,

qualquer que seja a petroleira envolvida, a sociedade deve exigir o mesmo

nível do padrão de qualidade. A petroleira envolvida talvez não tenha a mesma

sensibilidade, com respeito a responsabilidade social que a Chevron está

apresentando, por exemplo agora, pode ser que os executivos da ANP não

sejam os mesmos, pode ser que os executivos do IBAMA não sejam os

mesmos, mas a sociedade tem o genuíno direito de exigir que o padrão de

qualidade seja o mesmo, por isso nós gostaríamos que houvesse um momento

e fosse solucionado bem claramente o escopo do TAC, a fim de que esse TAC

represente, ele represente um padrão de qualidade pro futuro, que qualquer

que sejam os atores envolvidos em um caso de um evento semelhante.

Porque nós estamos nos referindo a uma atividade de alto risco. É muito

importante para o Brasil, é muito importante para o crescimento do país, mas

de alto risco. Então a importância do TAC, ele extrapola a simples dimensão,

32

em termos de relações processuais aqui dos dois processos, então eu acho

que o TAC pode ser mais rico, portanto, para capturar esse padrão de

qualidade de atuação dos atores. Portanto era esse o esclarecimento que eu

gostaria de fazer. Obrigado.

Obrigado, Dr. Antônio Fonseca, na verdade essa era a ideia inicial, as

exigências da ANP e do IBAMA, desde que não já cumpridas, já apresentaram

agora determinadas medidas que tiveram que ser tomadas, integrem também o

TAC, porque além do interesse do IBAMA de exigir, a partir desse momento,

porque não foi exigido antes, como licenciamento, também faz parte do

interesse do Ministério Público como uma medida que vai resolver a lide.

Então, vou passar para o Dr. Renato e depois para Dra. Monique.

Eu queria fazer um pedido para os representantes da ANP, como eu não

sou o procurador que está cuidando do caso, me surgiu uma dúvida que eu

imagino que tenha surgido a plateia em geral. Eu não consegui entender até

aonde foi a responsabilidade da TransOcean no caso, eu acho que isso não

ficou bem claro, eu acho que não ficou bem explicado quais foram os motivos

que levaram a exclusão da responsabilidade dela, então já que essa dúvida

possa surgir eu gostaria de me colocar no lugar da plateia e já pedir esse

esclarecimento desde logo.

Tá, quando terminar aqui eu passo a palavra ao Rafael. Eu vou passar

agora para a Dra. Monique procuradora da República em Angra dos Reis.

Eu queria chamar o Dr. Joel Creed, ele está aí? Deixa eu então explicar.

Na realidade o Ministério Público Federal de Angra dos Reis instaurou um

inquérito público para tratar da problemática do Coral Sol. É um coral invasor

que ameaça os corais verdadeiros da orla brasileira e a situação chegou a tal

ponto que está se tornando uma situação extremamente perigosa para a

biodiversidade. E por que a gente trouxe isso aqui? Porque a problemática do

Coral Sol tem uma relação direta com as plataformas de petróleo, na verdade

estudos foram realizados e ficou constatado que o ingresso dessa espécie

invasora ocorreu por conta das plataformas e navios de petróleo. Então, ao ver

do MPF, o MPF vislumbra muito a questão da causa e o nexo para colocar ou

não algo em eventual TAC, então eu vislumbrei como esse aspecto ocasiona

33

dano, tem nexo com a questão do petróleo, nós levamos a questão à Dra.

Gisele e ela aceitou discutir isso aqui. Então eu chamei o Dr. Joel, que é, senão

o maior, um dos maiores especialistas no tema e ele vai expor com muito mais

habilidade.

Obrigado a todos, vou tentar ser breve. O Coral Sol chegou na década

de 80, inicialmente em Ilha Grande, mas houve vários outros registros no

Brasil. Em 2000 eu iniciei uma série de estudos para investigar até qual ponto

esse coral tem efeito negativo sobre a biodiversidade marinha brasileira. São

dois espécies na verdade, ambas espécies são do pacífico e chegaram aqui no

Brasil em plataformas de petróleo. Aqui um exemplo, os primeiros registros

foram feitos na Bacia dos Campos, nas plataformas de lá, o problema é quando

essas plataformas se eventualmente abrem trechos, e chegam as regiões

costeiras, eles vão trazer uma série de organismos que estão encrustados na

plataforma, e esses organismos tem seus poros que são liberados na água e

podem chegar nos costões rochosos, manguezais e recifes. Aqui uma foto do

registro numa plataforma em Niterói em 2002 e aqui bem recentemente em

São Sebastião, São Paulo. Então cada vez que essas plataformas vem para

eventuais manutenções na região costeira eles são um vetor de introdução de

Coral Sol. Então essas plataformas foram rebocadas para o Brasil, não houve

nenhuma limpeza na entrada, não existe legislação que eu saiba que necessita

qualquer limpeza dos organismos em plataformas em sua entrada no país.

Esse mapa é de Ilha Grande que mostra o aumento do Coral Sol e aqui são os

pontos de introdução que a gente conhece hoje, então inicialmente na Ilha

Grande, na região dos lagos também houve uma segunda introdução, há uma

introdução no arquipélago das Cagarras e mais recentemente foram feitos

registros na Bahia, Espírito Santo, São Paulo e mais recentemente Laje dos

Santos e Alvoredo. Muitos desses pontos são dentro de unidades de

conservação, que é mais preocupante ainda, isso é só para registrar o que

acontece quando o Coral Sol chega, você tem uma situação que é substituído

basicamente por comunidade do Coral Sol. Aqui um experimento, no lado

direito, que o Coral Sol foi transplantado no lado de um coral nativo, um mês

depois você já tem um mote dessa colônia, esse coral nativo só ocorre no

Brasil e é um dos principais formadores de recifes, então a presença do Coral

34

Sol ocupa espaço e esse espaço não é disponível para as especies nativas,

tem efeitos negativos econômicos uma vez que algumas dessas espécies são

de importância econômica, uma vez que impedem a formação de mexilhões e

outras espécies marinhas na região. Como são organismos não

fotossintetizantes, não captam luz, muda toda cadeia alimentar. Como são

organismos que comem coisas que estão flutuando no plâncton, eles

competem diretamente com espécies nativas, por exemplo a sardinha que é

um espécime plantívoro. O estabelecimento de população de Coral Sol muda

também o ciclo bioquímicos locais uma vez que o esqueleto e então você tem

que não existia antes. Aqui uma seção foto ilustrativa do coral sol crescendo

em cima do mexilhão que é uma espécia de importância econômica da região

de Ilha Grande. Então por que isso é de interesse, porque cabe aos países, a

gente tem pela convenção de diversidade biológica que o Brasil assinou, no

seu artigo 8, a gente tem prevenir introdução, controlar e erradicar aquelas

espécies alienígenas que ameaçam ecossistema habitados ou espécies. No

Brasil a gente tem resolução do CONABIO que tem estratégia nacional sobre

espécies exóticas invasoras que e diz “tem por prevenir e mitigar os impactos

negativos causados pelas espécies exóticas invasoras sobre a população

humana nos setores produtivos, no meio ambiente e na biodiversidade por

meio de planejamento de ações de prevenção e erradicação dessas espécies

exóticas invasoras com articulação entre os órgãos do Governo Federal,

Estadual e Municipal e sociedade civil incluindo cooperação internacional.”

Então como que a gente faz isso, a gente precisa saber onde esses

organismos ocorrem, então a gente faz mapeamento e monitoramento e a

gente trabalha com catadores de coral. A gente tem uma licença de retirada de

coral, em todo território nacional e com isso a gente vai reduzindo, controlando

populações maiores e extinguindo completamente populações pequenas. Esse

é um exemplo com foto antes e depois. A gente também realiza pesquisas em

monitoramento, eficácia das ações que a gente está desenvolvendo e também,

evidentemente, tem que ter toda uma campanha de educação ambiental, tem

que explicar porque é necessário matar esses corais, exatamente para deixar

as espécies nativas sobreviverem. Para terminar, eu gostaria de colocar que a

bio invasão marinha é um problema muito sério que está sendo enfrentado pela

sociedade civil. Houve uma reunião esse ano, organizada pelo

35

IBAMA/PETROBRÁS para discutir a questão da bio invasão por bio

incrustação, então foi a primeira vez que esse assunto foi discutido, apesar de

o país ter uma série de compromissos em relação a isso, que atualmente não

estão sendo cumpridos. Obrigado.

Se não houver mecanismos imediatos e prioritários para fazer esse

controle, a tendência é justamente a questão da extinção até de algumas

espécies, então estamos falando de espécies que vão ser extintas e também

em relação a extinção dos próprios recifes de corais, então estamos falando de

algo assim relativamente grave se não houver medidas prioritárias.

Só para acrescentar nessa linha também que apesar disso, há estudos

doutrinários que sustentam que houve esse ingresso mais ou menos pela

década de 80 incrustados na plataforma de petróleo no Campo de Marlim, na

bacia de Campos, então tem um nexo de relação temática muito grande com a

questão de petróleo.

Obrigada professora, sei que você tem um voo, então agradeço muito

sua colaboração. Alguém da lista de convidados, deseja falar?

Eu vou fazer uma colocação, eu sou de Arraial do Cabo, temos um

porto, estamos muito impactados pela exploração de petróleo, mas o ponto

principal que eu gostaria de colocar para a plateia é que nós temos um plano

nacional de gerenciamento costeiro que foi aprovado, é uma lei e não avança.

Não obstante, nós temos muitos técnicos sendo capacitados em pós-

graduação pra esse tipo de atividade. Então seria o momento dentro de uma

compensação ambiental ou então uma condicionante, que se estimule, a nível

de litoral do Rio de Janeiro principalmente, para que se faça cumprir essa lei

federal que institui o plano nacional de gerenciamento costeiro. Assim como

houve avanço nos planos de recursos hídricos, assim como houve avanço nos

planos de gerenciamento de resíduos sólidos. Então é uma boa oportunidade

para gente fazer desenvolvimento de projetos e principalmente profissionais

que se formam nessa área para atuar no litoral do Brasil, mas destacando aqui

o Rio de Janeiro.

36

Muito obrigado pela participação. Rafael, eu vou terminar, porque pode

ser que alguém levante uma outra questão aí no final eu passo a palavra de

uma vez só, passo a palavra ao professor Paulo Couto da COPPE-UFRJ.

Boa tarde a todos, gostaria de agradecer a oportunidade que a gente

tem de estar esclarecendo ponto de vista técnico. Minha área de atuação junto

a COPPE é justamente na área de perfuração de poços, então só gostaria de

esclarecer um ponto de vista técnico com relação a responsabilidade da

empresa que perfura poços. A empresa ela segue um programa de poço que

inclui o projeto e todas as atividades relacionadas a perfuração daquele poço, é

o que a gente chama de programa de poço. O programa de poço, a

responsabilidade pela elaboração do programa de poço é da concessionária do

bloco, porque o programa de poço, o principal insumo do programa de poço

são os dados geológicos, os dados de perfis, os dados relativos o reservatório.

Esses dados, via de regra, são considerados pelas empresas concessionárias

como segredo de estado porque é ali que está o centro do negócio da empresa

concessionária. Então a empresa responsável pela perfuração, ou contratada

pra perfurar o poço, ela recebe o programa de poço e cumpre ele a risca, sob

fiscalização constante da concessionária. Nas sondas há sempre o fiscal

embarcado, que é o representante da concessionária dentro da sonda de

perfuração que vai garantir com que as operações conduzidas pela empresa

contratada para perfurar o poço estejam de acordo com aquele programa

preparado pela concessionária. Então nesse sentido, a empresa que perfura o

poço, ela não tem acesso aos dados de geologia, ela só recebe aquele

programa pronto e aquele programa descreve exatamente as operações que

devem ser feitas, portanto não há motivo algum pra que a empresa que perfura

o poço desconfie daquele programa que lhe foi entregue, porque aquele poço

vai ser do ativo da empresa concessionária, é do interesse da empresa que

perfura o poço seguir exatamente aquele programa que lhe foi apresentado.

Então nesse sentido a COP concorda plenamente com o parecer da ANP na

qual ela exime a TransOcean da responsabilidade, do ponto de vista técnico.

Muito Obrigado.

Carlos Henrique Abreu Mendes do Instituto Brasileiro de Petróleo Gás e

Biocombustíveis.

37

Boa tarde a todos, boa tarde Gisele, prazer estar aqui com vocês. É

mais no sentido de colaborar com alguns encaminhamentos, possíveis

desdobramentos. Eu estou há cinco anos no IBP, como gerente de meio

ambiente, embora tenha havido uma passagem muito longa no serviço público,

vinte e oito anos no serviço público, sou aposentado da antiga FEEMA hoje

NEA, fui Superintendente do IBAMA durante quatro anos e tenho algum

acompanhamento de várias situações semelhantes a essa. O IBP é um fórum

técnico, cuja grande força do IBP são seus associados, são mais de 900

pessoas que contribuem, essa credibilidade que ele alcançou ao longo de 55

anos, principalmente em cursos e eventos fez com que nos últimos anos a

gente tenha tido uma possibilidade de aproximação com a ANP, a equipe do

Rafael, do Cristiano, do IBAMA, dos dois ministérios, meio ambiente, minas e

energia que resultaram em duas portarias extremamente interessantes. Uma

em 2011 que melhora o licenciamento ambiental, das atividades de petróleo e

gás especificamente e uma portaria interministerial de 2012, dos dois

ministérios que trabalham o planejamento estratégico que provavelmente a

ANP irá liderar a partir de 2013, quando qualquer oferta de bloco será

precedida de uma avaliação ambiental regional estratégica extremamente

relevante com várias audiências públicas e consultas públicas ao longo desse

processo. Isso quer dizer que do ponto de vista do licenciamento e do

planejamento estratégico, talvez hoje tenhamos diplomas legais interessantes e

suficientes para que o país possa exercitá-los bem nos próximos anos. Mas eu

na minha sugestão, na minha fala aqui é mais sugerir coisas que possam

contar com a colaboração deste TAC, caso venha a ser assinado. Sobre a

liderança do ministério do meio ambiente, principalmente, existe a elaboração

das cartas sal, cartas sal são cartas de sensibilidade ao derramamento de óleo,

existe algumas mais antigas no nordeste e existe uma mais recente na bacia

de Santos, 2008, que já precisa ter seus dados atualizados. Está em

elaboração dados da bacia do Espírito Santo outras bacias e será incluído a

bacia de Campos oportunamente. Talvez pudéssemos discutir, e essas

informações que o ministério do meio ambiente dispõe são informações que

não estão em banco de dados, ou seja, são mais difíceis de ser atualizadas.

Existe a dinâmica que é contínua do licenciamento ao longo do litoral todo que

está sob responsabilidade do IBAMA. Por que não tentarmos, primeiro, criar

38

um sistema informatizado dos dados já levantados, referentes, não só a bacia

de Santos, mas às demais bacias que já tem a carta sal. Eventualmente dispor

de recursos já contratados para a Bacia do Espírito Santo ou aqueles que

serão contratados para a bacia de Campos, acelerando o processo de coleta,

aperfeiçoando esse processo e todos eles migrando para um portal, para um

sistema informatizado de domínio público, de acompanhamento do próprio

ministério público, da ANP, das operadoras, enfim, que possam ter informações

fundamentais onde estão as áreas sensíveis. A cada tomada de decisão sobre

qual a tecnologia poderia ser mais apropriada para proteger exatamente essas

áreas sensíveis, isso possa estar num portal, num sistema informatizado, e

quem sabe esse sistema aqui permita que caminhemos nessa direção de

modernização. Há também uma iniciativa do IBAMA de que deverá ter

desdobramentos a partir de 2013 que é um sistema integrado de gestão

ambiental que é o SIGA, esse sistema não é só para óleo e gás, são todos

sistemas de licenciamento onde tudo será digital. Por que também não

pensarmos no segmento de petróleo e gás, temos rotinas que possam ser

informatizadas e também de domínio público e acompanhamento do próprio

ministério público de qualquer licenciamento que venha a ser feito pelo IBAMA

e atividades “off shore”. Também é uma oportunidade, extremamente

interessante, que poderia ser sentado, na primeira sugestão, com o ministério

do meio ambiente, na segunda, com o IBAMA, quem sabe poderíamos ter

possibilidades aí de alocação de recursos e apoio para aprimorar e acelerar

essas informações. Com a ANP temos um grupo de trabalho, identificação de

parâmetros de prevenção. Ninguém quer que o óleo vá para o mar. Todo

esforço deve ser feito na ação preventiva. Estamos num grupo de trabalho

permanente entre o IBP são vinte operadores, os seus melhores profissionais,

com a equipe do Rafael, elaborando parâmetros que ao longo de 2013 deverão

ser implementados e ao longo de 2014 deverão ser divulgados os resultados

desses parâmetros, ações de prevenção relativa a todos os equipamentos

antes de qualquer situação que venha a causar algum tipo de incidente. Não

acredito, fica a seu critério, imaginar que precise de algum apoio financeiro

para isso. Eu apostaria mais na dimensão da costa brasileira que é conhecer

as bacias sedimentares e identificar as áreas sensíveis. Manter atualizado que

é um grande problema. Então essa é a sugestão que o IBP faz, nós temos

39

possibilidade de colaborar naquilo que formos instados a colaborar. Temos, por

trás de nós, muito menos do que a gerência de meio ambiente que hoje eu

represento, tem muitas operadoras, inclusive fora do Brasil, que poderão

colaborar com profissionais a cada momento pontual que vier a ser necessário.

Obrigado.

Dando sequência eu chamo Antônio Braen, da FGV Direito Rio.

Em seguida, Nathan Waters da Algas Media, Michael, correspondente

da International Environment Reporter.

Obrigado, eu gostaria de entender se esse TAC que está sendo

negociado vai substituir os dois processos os dois processos ou vai tentar

diminuir o impacto dos dois processos, quer dizer, Chevron ofereceu, como eu

entendo, 90 milhões de reais, o MPF fez uma contraproposta até agora,

quando for decidido o valor e os procedimentos de segurança, isso vai ser

apresentado ao juiz como uma maneira de acabar o processo ou de influenciar

o processo, e a segunda pergunta é se isso também tem impacto sobre o

processo criminoso que Chevron tem contra 17 executivos e engenheiros de

Chevron e Transocean. Esse TAC vai ter um impacto sobre esse segunda

processo e se 90 milhões foi o que Chevron ofereceu depois de uma preliminar

de 311 milhões.

Bom essa questão do valor vai depender do que vai constar do TAC.

Pelo posicionamento da terceira câmara o entendimento é que as exigências

do IBAMA e da ANP também são uma resposta para o incidente. Então as

melhorias que a ANP exigiu e o IBAMA também deveriam estar no TAC. Então,

nesse sentido, o valor do TAC, seria, como proposto, 311 milhões. Os noventa

e poucos milhões se referem às cláusulas relativas especificamente a

compensação ambiental, do impacto do óleo no mar, então há uma divisão de

atribuição de valores. 90 milhões é o valor destacado desses 311 relativos a

medidas reparatórias de eventuais danos presumidos ao mar, os 90 milhões

fazem parte dos 311 propostos pelas empresas. Se um TAC for eventualmente

celebrado, ele encerra os projetos judiciais cíveis, não criminais.

Tem ideia de quando será assinado o TAC?

40

Diz o Dr. Oscar Graça Couto que antes do natal, temos que ver como

que a ANP, o IBAMA, o ministério público, é muita gente envolvida para decidir

as cláusulas que tem que ser redigidas, tira essa palavra, põe essa palavra,

então não tem como precisar exatamente a data mas, respondeu tudo?

Sim você está achando que pode ser antes do natal?

Não, isso não tem como saber.

Eu tenho mais uma pergunta só, o valor, porque Chevron falou que não

houve nenhum dano ao meio ambiente, mas nunca foi colocado a ideia, ao

menos a meu ver, que houve um ser consertado, pode ter vazamentos futuros.

Essas fraturas vai ser considerado como dano ambiental quando o TAC for

assinado?

Pois é, essa é a parte que está faltando, porque o IBAMA, eu achei que

fosse trazer hoje o laudo, mas o Marcelo da coordenação de emergências do

IBAMA, e pelo visto o laudo não foi finalizado. Mais alguns dias para o IBAMA

que é quem vai dizer o dano.

E o dinheiro vai para onde não foi decidido também.

Foi, a gente tá propondo dentro do TAC, o dinheiro iria para o FUNBIO

gerenciar, foi o que se apresentou aqui.

Na verdade não há necessidade de aprovação na Câmara. Eu até acho

que a destinação para a FUNBIO é uma destinação muito, é uma entidade de

muito crédito, eu acho que isso está muito bem encaminhado, apenas a

destinação que o FUNBIO daria a essa verba que eu penso que fosse o caso

de a gente ainda refletir, mas não vejo, pelo menos na minha perspectiva,

respeitando obviamente o colega que também faz parte da câmara, eu tenho

maior respeito, inclusive a própria câmara já fez um convênio com o FUNBIO e,

portanto, a idoneidade pelo menos até aonde nós conhecemos da desse fundo,

ele merece toda credibilidade. A preocupação é que de fato nós reconheçamos

que a destinação dessa verba traga de fato uma melhoria efetiva para o meio

ambienta para a região afetada, a costa carioca. Exatamente, inclusive

41

contemplando na perspectiva, inclusive via FUNBIO a essa proposta que a Dra.

Monique também trouxe, se for o caso.

Para atender a essa manifestação, a gente pode criar uma cláusula

dentro da cláusula do FUNBIO que o MPF tem que aprovar os projetos que

forem. Só colocar isso no documento, não tem maiores problemas. Deixa eu

terminar aqui e eu volto pro senhor. Só para explicar também que a Dra.

Helenita que é a subprocuradora geral que atua na quarta câmara, lá tem que

ser aprovado pela câmara, na verdade quando há um processo judicial quem

vai ter que homologar é o excelentíssimo juiz Dr. Rafaeli que é o da vara onde

corre o processo, a homologação não é pela quarta câmara é pelo judiciário,

mas como a prática, quando a gente elabora TAC é de dar ampla participação

não só da sociedade, dos interessados que foram convocados a estar aqui

hoje, especialmente da quarta câmara. Não teria motivo, eu, para excluir a

quarta e a terceira câmara da participação, que aliás eu não só acho super

bem vinda como agradeço novamente ao suporte que a câmara e os

subprocuradores gerais estão me dando que sou a procuradora titular e aos

membros dos grupos de petróleo criado também, então assim, da mesma

forma que a gente advoga a informação e a participação pública, o direito não é

meu, da procuradora, é difuso da coletividade, a câmara participa nesse

sentido. Então vamos passar passar a palavra para o Luís Otávio da Mota

Veiga.

Eu abri mão, obrigado.

Leandro Leme.

Dra. Gisele, obrigado pela oportunidade de manifestação, minha

pergunta é pra Dra. mesmo. Nesse evento que está sendo julgado aqui e tem a

empresa Chevron, Transocean, ANP e IBAMA. Meu conhecimento que tenho

da indústria, trabalha no Brasil há mais de 30 anos nesse, a ANP é muito bem

equipada, tem técnicos excelentes, o IBAMA nessa parte de meio ambiente no

Brasil nada se compara, também muito bem equipado, conhecimento,

expertise. Eu não estou entendendo o que o Ministério Público, em

complemento ao acidente, qual a função disso aqui tudo, vigiar eles, qual é o,

eu queria que você esclarecesse aqui pra mim isso.

42

É exatamente o que eu falei, o Ministério Público tem o dever de

defender os direitos da coletividade, entre eles o meio ambiente. Então a ação

foi proposta pelo ministério público em defesa da coletividade. Então como vai

ser feito, é possível que seja feito um acordo, um TAC, um ajustamento de

conduta, que abre mão das ações que estão em trâmite, esse momento aqui é

para possibilitar que aqueles destinatários da atuação do ministério público

tenham a oportunidade de participar. Isso é melhor do que depois que o TAC

for assinado alguém vir falar “ai mas que absurdo”, o momento é agora, quem

quiser falar está com a palavra pra sugerir, para criticar, essa é uma ou uma

das audiências públicas que normalmente eu promovo porque entendo que

estou aqui defendendo o direito da coletividade, portanto a coletividade tem o

direito de ser informada, então esse é o único motivo dessa reunião.

Antonio Abrahim.

Boa tarde a todos, peço licença a todos para elaborar uma pergunta, é

para a mesa essa pergunta. Em relação a responsabilização da TransOcean

não ficou claro para mim ainda se está sendo a responsabilidade civil na

modalidade do poluidor indireto ou poluidor direto, porque a meu ver o poluidor

direto nesse caso é a Chevron e a TransOcean por ter participado da relação

jurídica sendo uma subcontratada entraria na modalidade poluidor indireto que

como nossa legislação permite, a responsabilidade solidária entre poluidor

direto e indireto, mas não ficou claro para mim ainda em que modalidade que a

TransOcean está sendo responsabilizada. Senhores.

A inicial que foi proposta pelo procurador da república com atuação em

Campos não fez essa diferenciação, então não há, as duas estão juntas.

Eu não vejo isso como um estímulo a que não sejam tomadas medidas

preventivas, eu acho justamente o contrário, eu acho que isso é um estímulo

para que sejam tomadas medidas preventivas eficazes, porque se essas

medidas preventivas elas não foram suficientes para evitar o dano e se o dano

ocorreu é porque elas não foram suficientes, então deve se estimular para que

se tome medidas, e também não existe insegurança jurídica, a partir de que a

lei considera que todo aquele que concorre para o dano tem responsabilidade,

o objetivo é justamente que aqueles que fazem parte daquela relação jurídica,

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subcontratados ou, enfim, empresas coligadas, que uma fiscalize a outra, que

uma não venha a ser responsabilizada pela conduta da outra porque toda

cadeia vai poder ser responsabilizada, então eu até discordo um pouco.

É eu ia exatamente, faço minhas as palavras do Renato, se ele não

toma medidas preventivas, maior chance de ocorrer o dano, maior chance de

ele ser responsabilizado, então como que isso não vai ser um incentivo para

ele tomar as medidas, ele não vai querer correr um risco maior do que a

atividade que já é de risco.

Se acontecer o dano, pode ser que as medidas preventivas evitem o

dano.

Eu chamei mais o Nathan que não está aí. Passo para Jorge Ferreira.

Vou me apresentar melhor, apesar de meu sotaque, sou um brasileiro

em meu coração, 50 anos no Brasil, aposentado, agrônomo, especializado em

gerenciamento socioambiental costeiro, em ciências ambientais. Voluntário

apoiados projetos. Já participei de TAC. Se houver alguma dúvida quando eu

fiz questão de falar sobre o plano nacional de gerenciamento costeiro, porque

isso é uma reivindicação social de nossa região. Então quando eu vi, por uma

comunicação que recebi por e-mail sobre essa reunião, e vi o programa, é a

oportunidade de colaborar para o que nós dizemos do ganha ganha. O TAC,

pelo que eu entendi, um termo de ajuste de conduta, então eu, como os

pescadores, a sociedade civil de arraial do cabo e do litoral entendemos que

por alguma razão o que aconteceu no poço lá do Frade tem uma influência

muito grande na vida social, ambiental e econômica dos moradores, então

entendi que o TAC, através do ministério público, está colocando aqui a

empresa, a Chevron, o estado, no caso o ministério do meio ambiente, a ANP,

o IBAMA e eu estou representando a sociedade civil organizada, tanto quanto a

plateia. Então o que nós estamos querendo fazer aqui é justamente aproveitar

que houve um impacto ambiental, o estado colocou uma multa e a Chevron

está pedindo, acredito que foi a Chevron que pediu para fazer um TAC, que

facilita justamente para que no caso, especificamente da sociedade civil

organizada, ela se organize melhor para poder entender que hoje o petróleo é

essencial para a vida do Brasil, para a vida do Rio de Janeiro, mas também

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criar a possibilidade que essa sociedade se sinta protegida, então por isso que

se tem o plano nacional de gerenciamento costeiro, lembrando que a

população brasileira mais de 80 por cento está na costa. Temos que lembrar

também a questão ambiental, que na costa nós temos os manguezais, as

lagoas, o mar, a pesca e lembrando para vocês, que se não protegermos o

meio ambiente, a pesca, o grande projeto da nossa presidente Dilma, de

colocar 4,1 bilhões de reais, para duplicar a pesca, não vamos conseguir. Nós

temos que realmente aproveitar essa oportunidade para colocar o plano

nacional de gerenciamento costeiro no seu devido lugar. Porque esse projeto

vai levantar o potencial que o Brasil tem no mar, vai levantar as possibilidades

de diversificarmos as atividades no nosso litoral, lembrando tanto agricultura,

como maricultura, tudo aquilo que é alimento pra população brasileira, então

por isso que estou aqui aproveitando a oportunidade. Mas minha dúvida no

caso seria a seguinte, se tratando de um TAC, eu deveria mandar por escrito

minha proposta de trabalhar em cima do plano nacional de gerenciamento

costeiro, dar uma conotação através de um termo de responsabilidade, não sei

como poderia colocar o que está acontecendo hoje para que seja levantado no

dia em que houver mais uma audiência provavelmente, para trabalhar em cima

do TAC. Era isso aí, pra vocês obrigado pela paciência e espero que vocês na

próxima audiência estejamos juntos para chegar a um bom resultado.

Obrigado.

Só para constar, se o senhor quiser encaminhar qualquer coisa por

escrito pro ministério público, pode encaminhar, mas essa audiência terá uma

ata e tudo que o senhor falou constará da ata. Se nós chegarmos a um acordo

numa minuta antes de assiná-la será apresentada. Então eu passo a palavra

para o Rafael.

Bom obrigado, Dra. Gisele, apenas uma colocação preliminar citado pela

apresentação do Carlos do IBP em relação aos projetos conjuntos da ANP com

a indústria e foi muito bem citado a questão de um projeto de indicadores de

desemprenho pró ativo para a industria que a agência vem trabalhando em

conjunto com as concessionárias representadas pelo IBP no sentido de adquirir

previamente uma série de dados e informações em relação as operações por

um sistema informatizado, um sistema de informações de segurança

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operacional para que previamente à ocorrência de eventos esses indícios e

possibilidades indicadores de desempenho de segurança já sejam suficientes

para desencadear ações tanto da ANP na figura do estado e órgão fiscalizador

da indústria do petróleo, quanto das empresas que identifiquem através de um

sistema de gestão de segurança pró ativo eventuais indícios de problemas e

possam prover solução antes da ocorrência de eventos incidentais. Bom passo

à questão da TransOcean que foi inicialmente objeto da pergunta do

procurador Dr. Renato, posteriormente objeto de esclarecimentos do professor

Paulo Couto da COP da UFRJ, então eu acredito que os esclarecimentos

técnicos foram bastante oportunos no sentido de deixar claro que existem uma

série de dados e informações em relação à indústria do petróleo

especificamente há um projeto de perfuração, um projeto de poço que são

exclusivos das empresas, das petroleiras, das concessionárias, de fato alguns

desses dados são confidenciais, a medida que afetam a estratégia da empresa

pra exploração do recurso natural e para exploração daquele campo específico,

reflete o conhecimento geológico, que advém de uma série de investimentos

em aquisições sísmicas e atividades exploratórias que a título de

esclarecimento resposta à pergunta e continuidade aos esclarecimentos

técnicos apresentados, o que ocorre é que a investigação da ANP, através do

relatório apresentado no site, indica quais foram o conjunto de fatores que

contribuíram para ocorrência desse acidente, que envolvem fatores, desde a

questão geológica, as simulações de reservatório, os levantamentos que foram

efetuados, as premissas que foram colocadas nesse projeto de poço que foi

refletido no programa de perfuração entregue pela Chevron à TransOcean e

dentre todos esses fatores contribuintes, dentre todas as informações de

equipamentos, dentre os dados de manutenção e inspeção dos equipamentos

de bordo, não foi identificado nenhuma ação ou omissão da Transocean que

tenha contribuído para a realização desse acidente específico, poderia,

hipoteticamente, ter acontecido, a empresa responsável pela atividade de

perfuração poderia concorrer para um evento similar, ou para um acidente na

indústria do petróleo, poderia sim. Acontece que a empresa responsável pela

gestão, pela inspeção, pela manutenção, pelos equipamentos, pelo BOP, pela

válvula responsável pelo fechamento da cabeça do poço no momento do poço.

Alguns de vocês tem ciência que no caso do acidente do Golfo do México essa

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válvula falhou, mas no caso do acidente no campo de Frade, todas as ações

adotadas pela TransOcean dentro da apuração administrativa executada pela

ANP, foram de acordo com as melhores práticas da indústria, foram de acordo

com os manuais previstos para controle de poço e nessa investigação não há

nenhum elemento que poço indicar qualquer contribuição da TransOcean para

o caso em tela.

A gente já entendeu que a ANP chegou a essa conclusão, mas eu estou

entendendo que o Dr. Ricardo, o Dr. Renato e alguém da plateia gostaria de

saber é exatamente qual é o papel da TransOcean, o que ela faz? Dentro da

ótica de ação, resultado e nexo de causalidade dessa ação com esse resultado

independente de culpa ou não culpa, por que que a conclusão foi que ela está

inocentada. Então eu acho que é uma oportunidade que a gente tem que

quanto mais explicado isso ficar melhor até para a Transocean, então isso é

que eu gostaria que ficasse mais detalhada as ações. Obrigada.

Tá ok. Obrigado. A TransOcean foi a empresa contratada para executar

um programa de perfuração de um poço específico no Campo de Frade, então

o que acontece, dentro do evento incidental, foi determinada toda sequência

dos eventos dentro do relatório de investigação existe uma sequência minuto a

minuto de tudo que foi acontecendo desde o início da perfuração deste poço

até a ocorrência do evento, inclusive a análise de registros, fechamento de

válvulas, abertura de válvulas, leituras dos manômetros, dos componentes que

indicam a pressões do poços, da coluna de perfuração, enfim, uma série de

elementos dentro da sequência da atividade de perfuração que foram

executados pela Chevron ou pela Transocean. Acontece que a investigação e

as causas deste evento específico apontaram apontaram para fatores prévios à

atividade de perfuração, fatores relacionados como a questão de reservatório,

como eu disse anteriormente, como a questão da análise de operações

simultâneas, como por exemplo, a questão da injeção que mantém a pressão

do reservatório em conjunto com a perfuração, então existe, sem dúvida

nenhuma existe uma fiscalização do estado, essas já na figura do conjunto

Marinha como autoridade marítima e a ANP nesse equipamento chamado

sonda de perfuração contratada para perfurar esse poço e que executou esse

trabalho específico. Essa fiscalização é conduzida em termos de equipamentos

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pela marinha nos elementos navais, nos elementos marítimos da plataforma, a

questão de casco a elementos de salvatagem, equipamentos de emergência,

navegação e a ANP fiscaliza os equipamentos relacionados com a perfuração,

colunas de perfuração, o BOP, essa válvula que é responsável pelo

fechamento do poço, então esse conjunto de equipamentos já havia sido

fiscalizado, a plataforma detinha uma declaração de conformidade para

operação em nome da autoridade marítima Marinha do Brasil e da ANP e na

investigação todos esses elementos esses equipamentos essas válvulas foram

revisitadas, então nessa revisita durante a investigação para se obter indícios

que esses equipamentos poderiam ter apresentado alguma falha total ou

parcial que pudesse ter contribuído para o o acidente, não foi encontrado

nenhum indício de que isso tenha acontecido. Todo equipamento equipamento

de responsabilidade da TransOcean contratada para realizar a perfuração

funcionou perfeitamente e as ações adotadas para fechamento do poço foram

tempestivas e adequadas. Então as causas desse evento recaíram no

planejamento do poço, numa ação que foi anterior em si à perfuração. Bom, eu

me refiro a apuração técnica do evento. Eu, engenheiro que sou, e não

operador do Direito, me refiro a sequência dos eventos e das empresas

envolvidas, havia não só duas empresas envolvidas, mas diversas empresas

envolvidas na operação, existem técnicas por exemplo, para perfilar o poço,

técnicas para verificar a resistência da formação, técnicas para cimentar o

revestimento do poço. E cada atividade dessa é conduzida por uma empresa

distinta, então a TransOcean é uma das empresas contratadas pelo Chevron

que é responsável pelo gerenciamento de toda essa operação para executar a

perfuração em si. Eventualmente, poderiam até ter eventos e falhas associadas

a atuação de outras empresas, não nesse caso concreto. A fiscalização e a

apuração do evento é muito clara em indicar quais foram os fatores que

contribuíram para essa ocorrência, esse “undergroun blow out” que estão

refletidas no relatório de investigação da agência e que não envolvem essas

atividades ou equipamentos pertencentes a contratadas da Chevron.

Alguém tem mais algum questionamento, dúvida ou posicionamento que

gostaria de colocar. Não? Então acho que segundo o edital. Agradeço a

presença de todos e todas, acho que foi muito interessante essa reunião

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pública para colocação de todas essas informações e declaro encerrada essa

audiência.

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