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Sexta-feira, 19 de novembro de 2021 II Série-A Número 41 XIV LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2021-2022) SUPLEMENTO S U M Á R I O Decretos da Assembleia da República (n. os 199 e 201/XIV): N.º 199/XIV (Regula as condições em que a morte medicamente assistida não é punível e altera o Código Penal): Despacho do Presidente da Assembleia da República sobre a reclamação contra inexatidão, apresentada pelo CDS-PP, tendo como anexo a pronúncia da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, e republicação do Decreto. N.º 201/XIV Modifica o regime de teletrabalho, alterando o Código do Trabalho e a Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, que regulamenta o regime de reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais.

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Sexta-feira, 19 de novembro de 2021 II Série-A — Número 41

XIV LEGISLATURA 3.ª SESSÃO LEGISLATIVA (2021-2022)

SUPLEMENTO

S U M Á R I O

Decretos da Assembleia da República (n.os 199 e

201/XIV): N.º 199/XIV (Regula as condições em que a morte medicamente assistida não é punível e altera o Código

Penal): — Despacho do Presidente da Assembleia da República sobre a reclamação contra inexatidão, apresentada pelo

CDS-PP, tendo como anexo a pronúncia da Comissão de

Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, e republicação do Decreto. N.º 201/XIV — Modifica o regime de teletrabalho, alterando

o Código do Trabalho e a Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, que regulamenta o regime de reparação de acidentes de trabalho e de doenças profissionais.

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DECRETO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 199/XIV

(REGULA AS CONDIÇÕES EM QUE A MORTE MEDICAMENTE ASSISTIDA NÃO É PUNÍVEL E

ALTERA O CÓDIGO PENAL)

Despacho do Presidente da Assembleia da República sobre a reclamação contra inexatidão,

apresentada pelo CDS-PP, tendo como anexo a pronúncia da Comissão de Assuntos Constitucionais,

Direitos, Liberdades e Garantias, e republicação do Decreto

Reclamação contra inexatidão, apresentada pelo CDS-PP

Grupo Parlamentar

Ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 157.º do Regimento da Assembleia da República, vimos apresentar

a V. Ex.ª RECLAMAÇÃO contra o Decreto da Assembleia da República n.º 199/XIV, publicado no Diário da

Assembleia da República II Série A, n.º 37, de 15.11.2021, nos termos e com os fundamentos seguintes:

1. No Diário da Assembleia da República II Série A, n.º 37, de 15.11.2021, foi publicado o Decreto da

Assembleia da República n.º 199/XIV, que «Regula as condições em que a morte medicamente assistida não

é punível e altera o Código Penal» (doravante designado apenas por «Decreto n.º 199/XIV»).

2. O Decreto n.º 199/XIV resultou da reapreciação, feita ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 162.º do

Regimento da Assembleia da República, do Decreto da Assembleia da República n.º 109/XIV, objeto de veto

por inconstitucionalidade pelo Senhor Presidente da República, publicado a 16.03.2021.

3. No dia 3 de novembro, foi admitido e distribuído um texto com «Propostas de alteração ao Decreto n.º

109/XIV» apresentado pelo PS, BE, PAN, PEV, IL e NiCR, tendo a discussão da reapreciação do Decreto n.º

109/XIV tido lugar na reunião plenária do passado dia 4 de novembro e a votação na reunião plenária do dia 5.

4. Recorde-se que, nos termos previstos no n.º 4 do artigo 160.º do Regimento da Assembleia da

República (aplicável por força do disposto no n.º 1 do artigo 162.º), no caso de serem apresentadas propostas

de alteração, a votação incide apenas sobre os artigos objeto das propostas.

5. A votação, que ocorreu no dia 5 de novembro, versou sobre a reformulação do Decreto n.º 109/XIV (nos

termos previsto no n.º 2 do artigo 162.º do Regimento da Assembleia da República), tendo as propostas de

alteração apresentadas sido aprovadas, tanto na especialidade, como em votação final global.

6. As propostas de alteração aprovadas traduziram-se no aditamento de um novo artigo 1.º-A; na emenda

do n.º 1 do artigo 2.º; na emenda do n.º 2 do artigo 2.º; no aditamento de um novo n.º 3 do artigo 2.º; no

aditamento de um novo n.º 4 do artigo 2.º; e na emenda do n.º 2 do artigo 3.º

7. Por deliberação da Assembleia, o decreto objeto de reformulação voltou à comissão parlamentar

competente, no caso a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, para efeitos

de redação final (conforme prevê o n.º 3 do artigo162.º do Regimento da Assembleia da República).

8. Sucede que, no Ofício n.º 894/XIV/1.º – CACDLG/202, datado de 10-11-2021, da Comissão de Assuntos

Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, consta o seguinte, a propósito da redação final do Decreto

n.º 199/XIV, apreciada na reunião daquela Comissão de 10 de novembro p.p.:

«(…) foi fixada por unanimidade, na ausência do CDS-PP, do PAN, do CH e da Deputada não inscrita

Joacine Katar Moreira, a redação final do texto, tendo sido aceites todas as sugestões de redação constantes

da Informação n.º 97/DAPLEN/2021, de 10 de novembro de 2021, e tendo, ainda, a Comissão deliberado os a

substituição, por uma questão de uniformização, ao longo do texto, da expressão «antecipação da

morte» pela expressão «morte medicamente assistida», nos seguintes artigos e nos seguintes termos:

Artigos 4.º (n.os 1 e 4, e na parte final do n.º 4, onde se lê «independentemente da fase em que o

procedimento de antecipação da morte se encontre», deve ler-se «independentemente da fase em que o

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procedimento se encontre», 5.º (n.º 3), 7.º [alínea a) do n.º 1], 9.º (n.os 1, 2 e 5), 10.º (nos n.os 2 e 3, onde se lê

«vontade de antecipar a sua morte» ou «vontade de antecipar a morte», deve ler-se «vontade de solicitar a

morte medicamente assistida»), 11.º (n.os 1 e 2), 12.º (onde se lê «A revogação do pedido de antecipar a

morte», deve ler-se «A revogação do pedido de solicitar a morte medicamente assistida»), 13.º (no n.º 2,

onde se lê «O ato de antecipação da morte pode ser praticado», deve ler-se «A morte medicamente

assistida pode ser praticada»), 14.º, 16.º [alínea e) do n.º 1], 17.º [n.º 2 e alíneas a) e b) do n.º 3], 18.º (n.os 2 e

3, e neste onde se lê «envolvidos no procedimento de antecipação da morte», deve ler-se «envolvidos no

procedimento de solicitar a morte medicamente assistida», 19.º [proémio e alínea b), nesta onde se lê

«decisão de antecipar a morte», deve ler-se «decisão de solicitar a morte medicamente assistida»], 20.º

(n.os 1 e 2), 21.º ( no n.º 1, onde se lê «praticar ou ajudar ao ato de antecipação da morte de um doente», deve

ler-se «praticar ou ajudar a morte medicamente assistida de um doente»), 23.º (n.º 1), 24.º [epígrafe e no

texto, onde se lê «Procedimentos Clínicos de Antecipação da Morte (CVA)», deve ler-se «Procedimentos

Clínicos de Morte Medicamente Assistida (MMA)»], 26.º (n.º 1), 139.º do Código Penal, constante do artigo

28.º (no n.º 2, onde se lê «sobre o suicídio medicamente assistido», deve ler-se «sobre a morte

medicamente assistida»), 29.º (n.os 1 e 4), e 30.º (no proémio, onde se lê «realização da antecipação da

morte medicamente assistida não punível, com os seguintes campos», deve ler-se «realização da morte

medicamente assistida, com os seguintes campos», e na alínea a) substituir a expressão «antecipação da

morte» por «morte medicamente assistida», uma vez mais).»

9. Ou seja, para além das poucas sugestões de redação constantes da Informação n.º 97/DAPLEN/2021,

de 10.11.2021, deliberou a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias,

extravasando claramente as competências e os (limitados) poderes de que dispõe nesta matéria, aprovar

ainda um sem número de alterações a vinte e um artigos do diploma, mais precisamente, aos artigos 4.º, 5.º,

7.º, 9.º, 10.º, 11.º, 12.º, 13.º, 14.º, 16.º, 17.º, 18.º, 19.º, 20.º, 21.º, 23.º, 24.º, 26.º, 28.º, 29.º e 30.º, nos termos

do parágrafo anterior citado, aos quais ainda há que acrescentar os artigos 8.º, n.º 1, 16.º, n.º 1, 22.º e 29.º,

n.os 2 e 4, também eles objeto de alteração, mas que não foram em detalhe identificados na citada carta.

10. Ora, as alterações de redação que foram deliberadas pela Comissão por motu próprio (i.e., para além

das sugeridas pela DAPLEN), desrespeitam e violam de modo flagrante, inadmissível e inaceitável, quer a

votação ocorrida no passado dia 5 de novembro e, nessa medida, desde logo, o disposto no n.º 4 do artigo

160.º, quer o disposto no n.º 2 do artigo 156.º, ambos do Regimento da Assembleia da República, não

podendo, por isso, as mesmas ser mantidas no texto final, sob pena de o novo decreto ser inválido por razões

formais e orgânicas. Vejamos porquê.

11. Em primeiro lugar, importa ter presente que as propostas de alteração ao Decreto n.º 109/XIV, que

foram votadas e aprovadas no passado dia 5 por deliberação do Plenário, limitaram-se a:

(i) Aditar um novo artigo com definições;

(ii) Alterar o artigo 2.º (atual artigo 3.º), eliminando dos seus n.os 1 e 2 a palavra «antecipação», aditando

novos n.os 3 e 4 e renumerando os anteriores n.os 3 e 4 para 5 e 6;

(iii) Alterar o n.º 2 do artigo 3.º (atual artigo 4.º), eliminando toda a parte do texto que se seguia a «médico

orientador»; e a

(iv) Prever a renumeração dos artigos e a atualização das respetivas remissões.

12. Apesar da natureza pontual e limitada das alterações aprovadas em Plenário, a redação final do texto

que foi deliberada pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias na sua

reunião de 10.11.2021 contém relevantes e substanciais alterações relativamente ao que foi aprovado pelos

Deputados no dia 5 – que, além do mais, não decorrem ou são determinadas pelo veto por

inconstitucionalidade –, o que consubstancia, desde logo, para além da violação de normas de competência,

uma clara violação do disposto no n.º 4 do artigo 160.º do Regimento da Assembleia da República.

13. Estando em causa a reapreciação de um decreto objeto de veto por parte do Senhor Presidente da

República, e ainda por cima, um veto por inconstitucionalidade, tem total justificação a norma constante do n.º

4 do artigo 160.º do Regimento da Assembleia da República, uma vez que a nova apreciação do diploma não

pode, nem deve, deixar de ser feita pelos Deputados tendo em consideração as razões que levaram ao veto

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do diploma.

14. Assim, tendo a reapreciação e a reformulação de um diploma objeto de veto por finalidade tentar

ultrapassar as razões que motivaram o veto, a apreciação pelos Deputados não só de cada uma das

propostas mas do conjunto das concretas propostas de alteração do diploma é, ou pelo menos devia ser,

determinante para a sua aprovação.

15. Nesta medida, nestes casos, assume especial importância e acuidade a exigência de que a redação

final do texto aprovado pela Assembleia da República esteja de acordo com o que foi deliberado pelo Plenário,

não podendo, nessa redação final, ser introduzidas alterações aos artigos que não foram objeto das propostas

de alteração votadas em Plenário, para além de alterações meramente sistemáticas que decorram

necessariamente das alterações aprovadas em Plenário.

16. Daqui também decorre que, nestes casos, e por maioria de razão, deva ser rigorosamente cumprido o

que dispõe o n.º 2 do artigo 156.º do Regimento da Assembleia da República a respeito da redação final dos

diplomas: «A comissão parlamentar não pode modificar o pensamento legislativo, devendo limitar-se a

aperfeiçoar a sistematização do texto e o seu estilo, mediante deliberação sem votos contra».

17. E nem se diga, como foi dito no Ofício da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e

Garantias supracitado, que as referidas alterações foram feitas «por uma questão de uniformização».

18. Se a questão de uniformização do texto fosse, ou tivesse sido, realmente, o que motivou as alterações

introduzidas, então aquilo que a Comissão teria feito era repor a palavra «antecipação» nos n.os 1 e 2 do

(atual) artigo 3.º, uma vez que apenas nestes dois números foi a mesma eliminada, tendo-se mantido a

palavra «antecipação» ao longo de todo o texto, mais precisamente nos vinte e três artigos do diploma,

indevida e ilegalmente alterados pela Comissão.

19. Aliás, os Deputados autores das propostas de alteração ao Decreto n.º 109/XIV tiveram tempo mais do

que suficiente – quase oito meses – para as redigir (ao contrário dos demais Deputados que apenas tiveram

um dia para as analisar e mais um dia para as votar), pelo que se não propuseram alterações aos referidos

vinte e três artigos e não submeteram as mesmas a discussão e votação do Plenário sibi imputet, não

podendo querer-se ou pretender-se introduzi-las no novo decreto a pretexto da redação final do seu texto em

sede de comissão parlamentar.

20. É, pois, forçoso concluir-se que aquilo que se pretendeu com a substituição, ao longo do texto, da

expressão «antecipação da morte» pela expressão «morte medicamente assistida», não foi uniformizar o

texto, nem aperfeiçoar a sua sistematização e o seu estilo, foi tão simplesmente (tentar) eliminar do mesmo

qualquer referência à verdadeira natureza do procedimento em causa, procedimento esse que se destina a

antecipar a morte de uma pessoa e que se concretiza, ou pode concretizar, nessa antecipação da morte.

21. Deste modo, tão ou mais grave é o facto de as alterações em causa, para além de não se destinarem a

aperfeiçoar a sistematização do texto e o seu estilo, e de não resultarem do veto por inconstitucionalidade,

modificarem, de modo substancial e relevante, o pensamento legislativo, não podendo, também por essa

razão, ser admitidas e permanecer no texto final do novo decreto.

22. Com efeito, decorre desde logo, de forma cristalina, do artigo 1.º do Decreto n.º 109/XlV referente ao

«Objeto» do diploma, o seguinte:

«A presente lei regula as condições especiais em que a antecipação da morte medicamente assistida não é

punível e altera o Código Penal.»

23. Tudo no diploma, para além da alteração do Código Penal, respeitava (e respeita) à previsão e

instituição de um procedimento de antecipação da morte de uma pessoa, razão pela qual ao longo de todo o

seu texto se falava tantas vezes em «antecipação da morte» ou em «antecipar a morte».

24. E para ainda melhor comprovar que o pensamento legislativo – i.e, a intenção do legislador, o espírito

da lei, o sentido da lei –, era e é a instituição de um procedimento de antecipação da morte, e não apenas de

um procedimento de morte medicamente assistida – procedimento bem distinto –, importa também atentar

naquilo que foi dito nas exposições de motivos dos vários projetos de lei que deram origem ao Decreto n.º

109/XIV, cumprindo citar algumas passagens das mesmas:

– Projeto de Lei n.º 4/XIV/1.ª – «Define e regula as condições em que a antecipação da morte, por decisão

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da própria pessoa com lesão definitiva ou doença incurável e fatal e que se encontra em sofrimento duradouro

e insuportável, não é punível»:

«(…)

O debate intenso e profundo a este respeito ocorrido, durante a XIII Legislatura, no Parlamento e na

sociedade portuguesa, tornou claro que não é aceitável, à luz de um princípio geral de tolerância e da

articulação constitucional entre direito à vida, direito à autodeterminação pessoal e direito ao livre

desenvolvimento da personalidade, negar o direito de, dentro de um quadro legal rigorosamente delimitado, se

ver atendido o pedido para antecipação da morte sem que tal gere a penalização dos profissionais de saúde

que, fieis ao comando de acompanhar os seus pacientes até ao fim, ajudem à satisfação de um tal pedido.

(…).

(…)

Impõe-se, pois, legislar com especial determinação e com reforçado sentido de prudência e equilíbrio nesta

matéria. Com determinação, acolhendo a exigência de um princípio de tolerância e de respeito pelo direito de

todos/as à livre e consciente decisão sobre todos os momentos da vida incluindo a morte. Com prudência e

equilíbrio, definindo com rigor as condições e os requisitos a preencher pela pessoa que peça a antecipação

da morte para que o seu pedido seja atendível.

O presente Projeto de Lei apresentado pelo Grupo Parlamentar do Bloco de Esquerda visa precisamente

definir e regular as condições em que a antecipação da morte, por decisão da própria pessoa, não é punível.

(…)» (realce nosso);

– Projeto de Lei n.º 67/XIV/1.ª – «Regula o acesso à morte medicamente assistida»:

«(…)

Numa breve definição de morte medicamente assistida, configuramos a mesma como o acto de

antecipar a morte, em resposta a pedido consciente e reiterado, de uma pessoa doente em situação de grande

sofrimento e numa situação clínica grave e irreversível, sem quaisquer perspectivas de cura. (…)»;

– Projeto de Lei n.º 104/XIV/1.ª – «Procede à 50.ª alteração ao Código Penal, regulando as condições

especiais para a prática de eutanásia não punível»:

«(…)

Evidentemente, a revogação da decisão de antecipar a morte em qualquer momento cancela

imediatamente o procedimento clínico em curso.

Por vontade do doente, o ato de antecipação da morte pode ser praticado no seu domicílio ou noutro

local por ele indicado, desde que o médico orientador considere que o local dispõe de condições adequadas

para o efeito.

Além do médico orientador e de outros profissionais de saúde envolvidos no ato de antecipação da

morte, podem estar presentes as pessoas indicadas pelo doente.

(…)

O projeto de lei respeita assim um critério de equilíbrio e prudência no enquadramento legal de uma

realidade complexa e sensível, salvaguardando, com rigor, em cada uma das fases do procedimento clínico

para a antecipação da morte, o cariz excecional da exclusão de ilicitude, garantindo uma verificação

qualificada da situação de sofrimento extremo e do caráter irreversível e terminal da doença ou lesão, a par do

estrito cumprimento de uma vontade atual, séria, livre e esclarecida do doente, e de um modelo de fiscalização

e avaliação permanente da aplicação da lei. (…)» (realce nosso);

E no texto do citado projeto de lei, no seu artigo 2.º, n.º 1, dizia-se o seguinte: «Para efeitos da presente lei,

considera-se eutanásia não punível a antecipação da morte por decisão da própria pessoa, maior, em

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situação de sofrimento extremo, com lesão definitiva ou doença incurável e fatal, quando praticada ou ajudada

por profissionais de saúde.»;

– Projeto de Lei n.º 168/XIV/1.ª – «Define o regime e as condições em que a morte medicamente assistida

não é punível»:

«(…)

Colocados perante um caso concreto de uma pessoa que padece garantida e inequivocamente de uma

doença sem cura, irreversível e fatal, causadora de um sofrimento intolerável e atroz, que, sabendo

conscientemente que a agonia tortuosa é a única expressão de vida que conhecerá até ao dia da sua morte,

pede que por compaixão lhe permitam não viver dessa forma e que a ajudem a antecipar a morte de forma

tranquila e indolor, pergunta-se se a garantia de dignidade desta pessoa não passa por aceder ao seu pedido,

desde que reiterado e com a certeza de que ele é consciente, genuíno, convicto e livre. (…).

(…)

Que fique igualmente claro que esta proposta não implica obrigar ninguém a escolher a antecipação da

sua morte. (…).

Na perspetiva de Os Verdes, tanto deve ser respeitada a vontade de uma pessoa que, perante uma

situação limite de dor e sofrimento intolerável, causados por doença terminal, não concebe a antecipação da

sua morte, como a vontade de outra pessoa que, nessa mesma situação, decide que a mesma acabe, breve

e tranquilamente, através dos procedimentos da morte medicamente assistida. (…).

Mas, do mesmo modo, não se obrigam os profissionais de saúde a acompanhar e a auxiliar na

antecipação da morte de uma pessoa que padece, em absoluto sofrimento, de doença fatal, no caso de esse

ato ferir os seus próprios princípios e convicções, sejam eles de que ordem forem. (…).» (realce nosso);

– Projeto de Lei n.º 195/XIV/1.ª – «Regula a antecipação do fim da vida, de forma digna, consciente e

medicamente assistida»:

«(…)

Numa sociedade caracterizada pelo respeito perante a vontade dos seus cidadãos, será sempre

inadmissível tratar a antecipação da morte medicamente assistida como uma questão pública, deslocando o

poder de decisão do indivíduo para o coletivo.

(…)

Entendemos que deve ser garantido às pessoas que, padecendo de lesão definitiva ou doença incurável e

fatal, e que se encontram em sofrimento duradouro a possibilidade de anteciparem o fim da própria vida de

uma forma mais digna, o que, para muitos, significará uma morte pacífica, nos seus próprios termos. (…).

Definir a vontade que pode dar início a um procedimento de antecipação da morte e como a ajuda pode

ser praticada neste procedimento reveste a maior importância. Da mesma forma que o ordenamento jurídico

português exige formas qualificadas para a realização de certos atos e negócios jurídicos que, em matéria de

importância, não se podem comparar à opção pela antecipação da morte, a morte assistida não pode, de

modo algum, operar-se num quadro legislativo simplista. Porém, e contrariamente aos atos e negócios

jurídicos mencionados, na antecipação da morte há necessidade de garantir a possibilidade de revogação, a

todo o tempo, da decisão de iniciar o procedimento, e que essa revogação seja o menos onerosa e formal

possível, de forma a que a livre revogação o seja verdadeiramente, e haja o máximo de garantias possível de

que qualquer pessoa que antecipou a sua morte o desejava inequivocamente.

Deste modo, prevêem-se diversos momentos em que a vontade do indivíduo de continuar com o

procedimento é objeto de indagação. Assim, cada pessoa que decide pela antecipação da morte é

consultada por, pelo menos, dois médicos. Assegura-se assim, por conseguinte, que se não se cumprirem os

requisitos legais ou no caso de a pessoa manifestar dúvidas em relação à sua execução, o procedimento seja

imediatamente cancelado.

Neste sentido, para assegurar uma decisão o mais esclarecida possível, à pessoa que requer a

antecipação da morte são garantidos dois períodos de reflexão, um imediatamente após o pedido, e outro

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entre o agendamento e a administração do fármaco letal, durante os quais lhe é obrigatoriamente prestado

apoio psicológico.

Assegura-se ainda a isenção de todo o processo, através da garantia de que os profissionais de saúde

intervenientes não têm qualquer interesse patrimonial ou sucessório na morte da pessoa que decidiu pela

antecipação da morte. A isenção do processo é também assegurada por uma Comissão expressamente

criada para avaliar, antes e depois da administração do fármaco letal, o cumprimento das condições legais,

quer relativas à capacidade de tomar decisões de quem requereu a antecipação da morte, quer relativas ao

seu estado clínico, bem como à sua Vontade durante o procedimento. (…)» (realce nosso).

25. Quer isto significar que a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, na

deliberação tomada na reunião de 10.11.2021, não se limitou apenas a aperfeiçoar a sistematização do texto e

o seu estilo, tendo ido, ao invés, muito para além disso, ao ponto de modificar o pensamento legislativo, não

cumprindo, assim, o disposto no n.º 2 do artigo 156.º do Regimento da Assembleia da República, excedendo

claramente os seus poderes e competências.

26. Acresce que, como foi anteriormente referido, no texto final do Decreto n.º 199/XIV foram ainda

introduzidas muitas outras alterações para além das que foram deliberadas pela Comissão de Assuntos

Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, a saber:

(i) A eliminação da palavra «antecipação» no artigo 1.º e

(ii) A (incompreensível) substituição da sigla «CVA» correspondente a «Comissão de Verificação e

Avaliação», pela sigla «MMA», nos artigos 8.º, n.os 1 a 4, 9.º, n.º 1, 10.º,n.º 4, 16.º, n.os 1, al. c) e 2, 17.º,

n.os 1 e 2, 25.º, n.os 1 a 6, 26.º, n.os 1 a 3, 27.º, n.os 1 a 3, e 32.º

27. Refira-se que, significando a sigla «MMA» «morte medicamente assistida», não faz qualquer sentido a

substituição efetuada, uma vez que em todos os referidos artigos se pretende referir à Comissão de

Verificação e Avaliação.

28. Em suma, quer as alterações de redação que foram deliberadas pela Comissão de Assuntos

Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias por motu próprio (i.se., para além das sugeridas pela

DAPLEN), quer as posteriormente introduzidas na versão publicada no Diário da Assembleia da República,

acarretaram, em manifesta violação das normas aplicáveis, uma desconformidade inaceitável do texto do

Decreto n.º 199/XlV com o que foi deliberado pelo Plenário no passado dia 5 de novembro no âmbito da

reapreciação do Decreto n.º 109/XIV,

Em face de todo o supra exposto, pelas razões e com os fundamentos enunciados, vimos requer a V. Ex.ª

que o texto do Decreto da Assembleia da República n.º 199/XIV, publicado no Diário da Assembleia da

República lI Série A, n.º 37, de 15.11.2021, seja revogado e substituído por outro que se mostre expurgado

das alterações deliberadas pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias em

violação das votações realizadas (em Plenário de 05.11.2021) e de disposições do Regimento da Assembleia

da República, a saber, as alterações que procederam à substituição da expressão «antecipação da morte»

pela expressão «morte medicamente assistida» nos artigos 4.º, 5.º, 7.º, 9.º, 10.º, 11.º, 12.º, 13.º, 14.º, 16.º,

17.º, 18.º, 19.º, 20.º, 21.º, 23.º, 24.º, 26.º, no artigo 139.º do Código Penal, nos termos constantes do artigo

28.º e nos artigos 29.º e 30.º do Decreto n.º 199/XIV.

Os Deputados,

——

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DESPACHO N.º 92/XIV

RECLAMAÇÃO CONTRA INEXATIDÕES DO DECRETO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 199/XIV

Ao abrigo do disposto no n.º 1 do artigo 157.º do Regimento de Assembleia da República, os Deputados

Miguel Arrobas e Telmo Correia, do Grupo Parlamentar do CDS-PP, apresentaram, no dia 18 de novembro de

2021, reclamação contra inexatidões do Decreto da Assembleia da República n.º 199/XIV.

De acordo com o n.º 1 do referido normativo regimental, as «(…) reclamações contra inexatidões podem

ser apresentadas por qualquer Deputado até ao terceiro dia útil após a data de publicação no Diário do texto

de redação final».

A reclamação apresenta-se, assim, em tempo, atendendo a que o Decreto da Assembleia da República n.º

199/XIV fora publicado no Diário da Assembleia da República (II, Série A, n.º 37) no dia 15 de novembro de

2021, podendo, assim, qualquer reclamação ser apresentada até ao dia 18 de novembro de 2021, como

sucedeu.

A reclamação desenvolve um conjunto de fundamentos, vindo requerer, a final, «(…) que o texto do

Decreto da Assembleia da República n.º 199/XIV, publicado no Diário da Assembleia da República II, Série A,

n.º 37, de 15.11.2021, seja revogado e substituído por outro que se mostre expurgado das alterações

deliberadas pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias em violação das

votações realizadas (em Plenário de 05.11.2021) e de disposições do Regimento de Assembleia da República,

a saber, as alterações que procederam à substituição da expressão «antecipação da morte» pela expressão

«morte medicamente assistida» nos artigos 4.º, 5.º, 7.º, 9.º, 10.º, 11.º 12.º, 13.º, 14.º, 16.º, 17.º, 18.º, 19.º, 20.º,

21.º, 23.º, 24.º, 26.º, no artigo 139.º do Código Penal, nos termos constantes do artigo 28.º e nos artigos 29.º e

30.º do Decreto [n.º] 199/XIV».

Assim que foi recebida a reclamação, solicitei, de imediato, que a Comissão de Assuntos Constitucionais,

Direitos, Liberdades e Garantias se pronunciasse sobre o seu teor, a fim de ser tomada a decisão prevista no

n.º 2 do artigo 157.º do Regimento.

Em cumprimento daquele despacho, e através do ofício n.º 907/XIV/1.ª – CACDLG/2021, de 19 de

novembro de 2021, pronunciou-se a Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias,

enquadrando a questão e concluindo que «(…) Devem, assim, ser desconsiderados os aperfeiçoamentos de

texto questionados pelos reclamantes, a saber, a substituição da expressão 'antecipação da morte' pela

expressão 'morte medicamente assistida', e retomar-se, nas normas enumeradas na reclamação, aquelas

mesmas expressões na redação conforme com o texto apresentado e aprovado em Plenário (precisamente o

que se teria feito se a oposição tivesse sido expressa na reunião da Comissão)».

Tendo em consideração o exposto, e com os fundamentos desenvolvidos na pronúncia da Comissão de

Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, determino, nos termos e para os efeitos do

disposto no n.º 2 do artigo 157.º do Regimento:

1 – Deferir a reclamação apresentada pelo Deputados Miguel Arrobas e Telmo Correia, do Grupo

Parlamentar do CDS-PP, contra inexatidões do Decreto da Assembleia da República n.º 199/XIV, publicado no

Diário da Assembleia da República II Série A, n.º 37, de 15 de novembro de 2021.

2 – Que, em consonância, no texto definitivo do referido Decreto sejam desconsiderados, como se refere

na pronúncia da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, «(…) os

aperfeiçoamentos de texto questionados pelos reclamantes, a saber, a substituição da expressão 'antecipação

da morte' pela expressão 'morte medicamente assistida', e retomar-se, nas normas enumeradas na

reclamação, aquelas mesmas expressões na redação conforme com o texto apresentado e aprovado em

Plenário».

Registe-se, notifique-se e publique-se.

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19 DE NOVEMBRO DE 2021

9

O Presidente da Assembleia da República

Eduardo Ferro Rodrigues

Palácio de São Bento, 19 de novembro de 2021.

Anexo: Pronúncia da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias, de 19 de

novembro de 2021.

Anexo

Pronúncia da Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias sobre a

reclamação acerca do Decreto da Assembleia da República n.º 199/XIV

A redação final do Decreto n.º 199/XIV foi aprovada em Comissão, nos termos regimentais aplicáveis. Com

efeito, de acordo com o disposto no n.º 2 do artigo 163.º (norma a aplicar a este caso por a reapreciação do

Decreto decorrer de veto por inconstitucionalidade), tendo sido aprovadas/introduzidas alterações ao diploma

vetado estamos perante um «novo decreto» a ser enviado ao Presidente da República para promulgação. É

essa a razão pela qual foi entendimento da Comissão aceitar uma proposta, distribuída antes do início da

reunião, para se «aperfeiçoar» a redação do texto do decreto no sentido de procurar uma uniformização de

termos utilizados ao longo do articulado.

Como bem dispõe o Regimento, tal só pode ocorrer «mediante deliberação sem votos contra» (parte final

do n.º 2 do artigo 156.º do Regimento), e foi precisamente esse o caso. A proposta de uniformização

apresentada não mereceu oposição de nenhum Deputado(a) presente, pois se assim fora de imediato seria

desconsiderada, como sempre se tem procedido em inúmeros processos de redação final.

Acontece que, como expressamente é descrito no ofício remetido ao PAR por esta Comissão, nenhum

Deputado do CDS, agora reclamante, esteve presente nessa deliberação, não tendo por isso tido a

oportunidade de se lhe opor.

O instituto da reclamação, em qualquer caso, serve exatamente para que qualquer Deputado(a), mesmo os

não pertencentes (especialmente esses) à Comissão competente, possa manifestar oposição a quaisquer

aperfeiçoamentos aprovados em redação final.

Havendo essa oposição, conforme a reclamação agora formulada, e não sendo o caso de essa reclamação

enfermar de um eventual mau entendimento ou de desconformidade com o deliberado na redação final, deve

entender-se valer ela como voto contra para efeitos do disposto no referido n.º 2 do artigo 156.º do Regimento.

Devem, assim, ser desconsiderados os aperfeiçoamentos de texto questionados pelos reclamantes, a

saber, a substituição da expressão «antecipação da morte» pela expressão «morte medicamente assistida», e

retomar-se, nas normas enumeradas na reclamação, aquelas mesmas expressões na redação conforme com

o texto apresentado e aprovado em Plenário (precisamente o que se teria feito se a oposição tivesse sido

expressa na reunião da Comissão).

Palácio de São Bento, 19 de novembro de 2021.

O Presidente da Comissão,

Luís Marques Guedes

——

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II SÉRIE-A — NÚMERO 41

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REPUBLICAÇÃO DO DECRETO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 199/XIV

REGULA AS CONDIÇÕES EM QUE A MORTE MEDICAMENTE ASSISTIDA NÃO É PUNÍVEL E

ALTERA O CÓDIGO PENAL

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

CAPÍTULO I

Disposições gerais

Artigo 1.º

Objeto

A presente lei regula as condições especiais em que a antecipação da morte medicamente assistida não é

punível e altera o Código Penal.

Artigo 2.º

Definições

Para efeitos da presente lei, considera-se:

a) Morte medicamente assistida, morte que ocorre por decisão da própria pessoa, em exercício do seu

direito fundamental à autodeterminação e livre desenvolvimento da personalidade, quando praticada ou

ajudada por profissionais de saúde;

b) Suicídio medicamente assistido, autoadministração de fármacos letais pelo próprio doente, sob

supervisão médica;

c) Eutanásia, administração de fármacos letais, pelo médico ou profissional de saúde devidamente

habilitado para o efeito;

d) Doença grave ou incurável, doença grave que ameace a vida, em fase avançada e progressiva,

incurável e irreversível, que origina sofrimento de grande intensidade;

e) Lesão definitiva de gravidade extrema, lesão grave, definitiva e amplamente incapacitante que coloca a

pessoa em situação de dependência de terceiro ou de apoio tecnológico para a realização das atividades

elementares da vida diária, existindo certeza ou probabilidade muito elevada de que tais limitações venham a

persistir no tempo sem possibilidade de cura ou de melhoria significativa;

f) Sofrimento, sofrimento físico, psicológico e espiritual, decorrente de doença grave ou incurável ou de

lesão definitiva de gravidade extrema, com grande intensidade, persistente, continuado ou permanente e

considerado intolerável pela própria pessoa;

g) Médico orientador, médico indicado pelo doente que tem a seu cargo coordenar toda a informação e

assistência ao doente, sendo o interlocutor principal do mesmo durante todo o processo assistencial, sem

prejuízo de outras obrigações que possam caber a outros profissionais;

h) Médico especialista, médico especialista na patologia que afeta o doente e que não pertence à mesma

equipa do médico orientador.

Artigo 3.º

Antecipação da morte medicamente assistida não punível

1 – Para efeitos da presente lei, considera-se morte medicamente assistida não punível a que ocorre por

decisão da própria pessoa, maior, cuja vontade seja atual e reiterada, séria, livre e esclarecida, em situação de

sofrimento intolerável, com lesão definitiva de gravidade extrema ou doença incurável e fatal, quando praticada

ou ajudada por profissionais de saúde.

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2 – Para efeitos da presente lei, consideram-se legítimos apenas os pedidos de morte medicamente

assistida apresentados por cidadãos nacionais ou legalmente residentes em território nacional.

3 – A morte medicamente assistida ocorre em conformidade com a vontade e a decisão da própria

pessoa, que se encontre numa das seguintes situações:

a) Lesão definitiva de gravidade extrema;

b) Doença grave ou incurável.

4 – A morte medicamente assistida pode ocorrer por:

a) Suicídio medicamente assistido;

b) Eutanásia.

5 – O pedido subjacente à decisão prevista no n.º 1 obedece a procedimento clínico e legal, de acordo com

o disposto na presente lei.

6 – O pedido pode ser livremente revogado a qualquer momento, nos termos do artigo 12.º.

CAPÍTULO II

Procedimento

Artigo 4.º

Abertura do procedimento clínico

1 – O pedido de abertura do procedimento clínico de antecipação da morte é efetuado por pessoa que

preenche os requisitos previstos no artigo anterior, doravante designada por doente, em documento escrito,

datado e assinado pelo próprio, ou pela pessoa por si designada nos termos do n.º 2 do artigo 11.º, a ser

integrado em Registo Clínico Especial (RCE) criado para o efeito.

2 – O pedido é dirigido ao médico escolhido pelo doente como médico orientador.

3 – O médico orientador deve obrigatoriamente aceder ao historial clínico do doente e assumi-lo como

elemento essencial do seu parecer, emitido nos termos do artigo 5.º.

4 – Não são admitidos os pedidos de doentes sujeitos a processo judicial para aplicação do regime do

maior acompanhado, enquanto o mesmo se encontrar pendente, sendo o procedimento de antecipação da

morte imediatamente suspenso quando o processo judicial for instaurado posteriormente à apresentação do

pedido e enquanto o mesmo decorra, independentemente da fase em que o procedimento de antecipação da

morte se encontre.

5 – Ao doente é sempre garantido, querendo, o acesso a cuidados paliativos.

Artigo 5.º

Parecer do médico orientador

1 – O médico orientador emite parecer fundamentado sobre se o doente cumpre todos os requisitos

referidos no artigo 3.º e presta-lhe toda a informação e esclarecimento sobre a situação clínica que o afeta, os

tratamentos aplicáveis, viáveis e disponíveis, designadamente na área dos cuidados paliativos, e o respetivo

prognóstico, após o que verifica se o doente mantém e reitera a sua vontade, devendo a decisão do doente

ser registada por escrito, datada e assinada.

2 – A informação e o parecer prestados pelo médico e a declaração do doente, assinados por ambos,

integram o RCE.

3 – Se o parecer do médico orientador não for favorável à antecipação da morte do doente, o procedimento

em curso é cancelado e dado por encerrado e o doente é informado dessa decisão e dos seus fundamentos

pelo médico orientador, podendo o procedimento ser reiniciado com novo pedido de abertura, nos termos do

artigo 4.º

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Artigo 6.º

Confirmação por médico especialista

1 – Após o parecer favorável do médico orientador, este procede à consulta de outro médico, especialista

na patologia que afeta o doente, cujo parecer confirma ou não que estão reunidas as condições referidas no

artigo anterior, o diagnóstico e prognóstico da situação clínica e a natureza incurável da doença ou a condição

definitiva da lesão.

2 – O parecer fundamentado do médico especialista é emitido por escrito, datado e assinado por ele e

integra o RCE.

3 – Se o parecer do médico especialista não for favorável à antecipação da morte do doente, o

procedimento em curso é cancelado e dado por encerrado e o doente é informado dessa decisão e dos seus

fundamentos pelo médico orientador, podendo o procedimento ser reiniciado com novo pedido de abertura,

nos termos do artigo 4.º

4 – No caso de parecer favorável do médico especialista, o médico orientador informa o doente do

conteúdo daquele parecer, após o que verifica novamente se o doente mantém e reitera a sua vontade,

devendo a decisão do doente ser registada por escrito, datada e assinada pelo próprio ou pela pessoa por si

designada nos termos do n.º 2 do artigo 11.º, e, juntamente com o parecer ou pareceres alternativos emitidos

pelo médico ou médicos especialistas, integrar o RCE.

5 – Caso o doente padeça de mais do que uma lesão definitiva ou doença incurável e fatal, o médico

orientador decide qual a especialidade médica a consultar.

Artigo 7.º

Confirmação por médico especialista em psiquiatria

1 – É obrigatório o parecer de um médico especialista em psiquiatria, sempre que ocorra uma das

seguintes situações:

a) O médico orientador e ou o médico especialista tenham dúvidas sobre a capacidade da pessoa para

solicitar a antecipação da morte revelando uma vontade séria, livre e esclarecida;

b) O médico orientador e ou o médico especialista admitam que a pessoa seja portadora de perturbação

psíquica ou condição médica que afete a sua capacidade de tomar decisões.

2 – Se o médico especialista em psiquiatria confirmar qualquer uma das situações referidas no número

anterior, o procedimento em curso é cancelado, sendo o doente informado dessa decisão e dos seus

fundamentos, podendo o procedimento ser reiniciado com novo pedido de abertura, nos termos do artigo 4.º.

3 – O parecer do médico especialista em psiquiatria é emitido por escrito, datado e assinado pelo próprio e

integra o RCE.

4 – A avaliação necessária para a elaboração do parecer referido no n.º 1 envolve, sempre que a condição

específica do doente assim o exija, a colaboração de um especialista em psicologia clínica.

5 – No caso de parecer favorável do médico especialista em psiquiatria, este, acompanhado do médico

orientador, deve informar o doente do conteúdo daquele parecer, após o que verifica novamente se o doente

mantém e reitera a sua vontade, devendo a decisão consciente e expressa deste ser registada em documento

escrito, datado e assinado pelo próprio ou pela pessoa por si designada nos termos do n.º 2 do artigo 11.º, o

qual integra o RCE.

Artigo 8.º

Parecer da Comissão de Verificação e Avaliação

1 – Nos casos em que se apresentem os pareceres favoráveis nos termos dos artigos anteriores,

reconfirmada a vontade do doente, o médico orientador remete cópia do RCE para a Comissão de Verificação

e Avaliação dos Procedimentos Clínicos de Antecipação da Morte (CVA), prevista no artigo 24.º, solicitando

parecer sobre o cumprimento dos requisitos e das fases anteriores do procedimento, que é elaborado no prazo

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máximo de 5 dias úteis.

2 – Quando a CVA tiver dúvidas sobre se estão reunidas as condições previstas na presente lei para a

prática da morte medicamente assistida, deve convocar os médicos envolvidos no procedimento para prestar

declarações, podendo ainda solicitar a remessa de documentos adicionais que considere necessários.

3 – Em caso de parecer desfavorável da CVA, o procedimento em curso é cancelado, podendo ser

reiniciado com novo pedido de abertura, nos termos do artigo 4.º.

4 – No caso de parecer favorável da CVA, o médico orientador deve informar o doente do conteúdo

daquele parecer, após o que verifica novamente se este mantém e reitera a sua vontade, devendo a sua

decisão consciente e expressa ser registada em documento escrito, datado e assinado pelo próprio ou pela

pessoa por si designada nos termos do n.º 2 do artigo 11.º, o qual integra o RCE.

Artigo 9.º

Concretização da decisão do doente

1 – Mediante parecer favorável da CVA, o médico orientador, de acordo com a vontade do doente, combina

o dia, hora, local e método a utilizar para a antecipação da morte.

2 – O médico orientador informa e esclarece o doente sobre os métodos disponíveis para praticar a

antecipação da morte, designadamente a autoadministração de fármacos letais pelo próprio doente ou a

administração pelo médico ou profissional de saúde devidamente habilitado para o efeito mas sob supervisão

médica, sendo a decisão da responsabilidade exclusiva do doente.

3 – A decisão referida no número anterior deve ser consignada por escrito, datada e assinada pelo doente,

ou pela pessoa por si designada nos termos do n.º 2 do artigo 11.º, e integrada no RCE, sem prejuízo do

disposto no n.º 6 do artigo 3.º.

4 – Após a consignação da decisão, o médico orientador remete cópia do RCE respetivo para a Inspeção-

Geral das Atividades em Saúde (IGAS), que pode acompanhar presencialmente o procedimento de

concretização da decisão do doente.

5 – No caso de o doente ficar inconsciente antes da data marcada para a antecipação da morte, o

procedimento é interrompido e não se realiza, salvo se o doente recuperar a consciência e mantiver a sua

decisão.

Artigo 10.º

Administração dos fármacos letais

1 – Além do médico orientador e outro profissional de saúde, obrigatoriamente presentes aquando da

administração dos fármacos letais, podem estar presentes outros profissionais de saúde por indicação do

médico orientador, assim como pessoas indicadas pelo doente, desde que o médico orientador considere que

existem condições clínicas e de conforto adequadas.

2 – Imediatamente antes de se iniciar a administração ou autoadministração dos fármacos letais, o médico

orientador deve confirmar se o doente mantém a vontade de antecipar a sua morte, na presença de uma ou

mais testemunhas, devidamente identificadas no RCE.

3 – Caso o doente não confirme expressamente a sua vontade de antecipar a morte, nomeadamente se

manifestar qualquer dúvida, o procedimento em curso é cancelado e dado por encerrado, o que é inscrito em

documento escrito, datado e assinado pelo médico orientador, integrando o RCE, podendo o procedimento ser

reiniciado com novo pedido de abertura, nos termos do artigo 4.º

4 – No caso previsto no número anterior, deve ser entregue ao doente o respetivo RCE, devendo uma

cópia ser anexada ao seu processo clínico e outra enviada para a CVA com o respetivo Relatório Final do

médico orientador, nos termos do artigo 17.º

Artigo 11.º

Decisão pessoal e indelegável

1 – A decisão do doente em qualquer fase do procedimento clínico de antecipação da morte é estritamente

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pessoal e indelegável.

2 – Sem prejuízo do disposto no número anterior, caso o doente que solicita a antecipação da morte não

saiba ou esteja impossibilitado fisicamente de escrever e assinar, pode, em todas as fases do procedimento

em que seja requerido, fazer-se substituir por pessoa da sua confiança, por si designada apenas para esse

efeito, aplicando-se as regras do reconhecimento de assinatura a rogo na presença de profissional legalmente

competente, devendo a assinatura ser efetuada na presença do médico orientador, com referência expressa a

essa circunstância, e na presença de uma ou mais testemunhas.

3 – A pessoa designada pelo doente para o substituir nos termos do número anterior não pode vir a obter

benefício direto ou indireto da morte do doente, nomeadamente vantagem patrimonial, nem ter interesse

sucessório.

Artigo 12.º

Revogação

1 – A revogação do pedido de antecipar a morte cancela o procedimento clínico em curso, devendo a

decisão ser inscrita no RCE pelo médico orientador.

2 – Mediante a revogação do pedido é entregue ao doente o respetivo RCE, devendo ser anexada uma

cópia ao seu processo clínico com o Relatório Final do médico orientador.

Artigo 13.º

Locais autorizados

1 – A escolha do local para a prática da morte medicamente assistida cabe ao doente.

2 – O ato de antecipação da morte pode ser praticado nos estabelecimentos de saúde do Serviço Nacional

de Saúde e dos setores privado e social que estejam devidamente licenciados e autorizados para a prática de

cuidados de saúde, disponham de internamento e de local adequado e com acesso reservado.

3 – Caso a escolha do doente recaia sobre local diferente dos referidos no número anterior, deve o médico

orientador certificar que o mesmo dispõe de condições clínicas e de conforto adequadas para o efeito.

Artigo 14.º

Acompanhamento

Além do médico orientador e de outros profissionais de saúde envolvidos no ato de antecipação da morte,

podem estar presentes, também para os efeitos previstos no n.º 2 do artigo 10.º, as pessoas indicadas pelo

doente.

Artigo 15.º

Verificação da morte e certificação do óbito

A verificação da morte e a certificação do óbito obedecem à legislação em vigor, devendo as respetivas

cópias ser arquivadas no RCE.

Artigo 16.º

Registo Clínico Especial

1 – O RCE inicia-se com o pedido de antecipação da morte redigido pelo doente, ou pela pessoa por si

designada nos termos do n.º 2 do artigo 11.º, e dele devem constar, entre outros, os seguintes elementos:

a) Todas as informações clínicas relativas ao procedimento em curso;

b) Os pareceres e relatórios apresentados pelos médicos e outros profissionais de saúde intervenientes no

processo;

c) O parecer da CVA;

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d) As decisões do doente sobre a continuação do procedimento ou a revogação do pedido;

e) A decisão do doente sobre o método de antecipação da morte;

f) Todas as demais ocorrências consideradas relevantes.

2 – Concluído o procedimento ou cancelado por revogação do pedido do doente, decisão médica ou

seguindo parecer da CVA, o RCE é anexado ao Relatório Final, devendo ser anexada uma cópia ao processo

clínico do doente.

3 – O médico orientador é responsável pelo RCE, nele integrando os documentos a que se refere o n.º 1.

4 – O doente tem acesso ao RCE sempre que o solicite ao médico orientador.

5 – O modelo de RCE é estabelecido em regulamentação a aprovar pelo Governo.

Artigo 17.º

Relatório Final

1 – O médico orientador elabora, no prazo de 15 dias após a morte, o respetivo Relatório Final, ao qual é

anexado o RCE, que remete à CVA e à IGAS.

2 – A obrigação de apresentação do Relatório Final mantém-se nos casos em que o procedimento é

encerrado sem que tenha ocorrido a antecipação da morte do doente, seja por revogação do doente seja por

decisão médica ou parecer desfavorável da CVA.

3 – Do Relatório Final devem constar, entre outros, os seguintes elementos:

a) A identificação do doente e dos médicos e outros profissionais intervenientes no processo, incluindo os

que praticaram ou ajudaram à antecipação da morte, e das pessoas consultadas durante o procedimento;

b) Os elementos que confirmam o cumprimento dos requisitos exigidos pela presente lei para a

antecipação da morte;

c) A informação sobre o estado clínico, nomeadamente sobre o diagnóstico e prognóstico, com

explicitação da natureza incurável e fatal da doença ou da condição definitiva da lesão e das características e

intensidade previsível do sofrimento;

d) O método e os fármacos letais utilizados;

e) Data, hora e local onde se praticou a antecipação da morte e a identificação dos presentes;

f) Os fundamentos do encerramento do procedimento.

4 – O modelo de Relatório Final é estabelecido em regulamentação a aprovar pelo Governo.

CAPÍTULO III

Direitos e deveres dos profissionais de saúde

Artigo 18.º

Profissionais de saúde habilitados

1 – Os profissionais de saúde inscritos na Ordem dos Médicos e também os inscritos na Ordem dos

Enfermeiros podem praticar ou ajudar ao ato de antecipação da morte, excluindo-se aqueles que possam vir a

obter qualquer benefício direto ou indireto da morte do doente, nomeadamente vantagem patrimonial.

2 – Para efeitos da prossecução do ato de antecipação da morte, os profissionais de saúde referidos no

número anterior devem verificar previamente a existência de prescrição dos fármacos necessários, efetuada

nos termos legais aplicáveis.

3 – Aos profissionais de saúde envolvidos no procedimento de antecipação da morte é disponibilizado,

sempre que solicitado, apoio psicológico.

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Artigo 19.º

Deveres dos profissionais de saúde

No decurso do procedimento clínico de antecipação da morte, os médicos e outros profissionais de saúde

que nele intervêm devem respeitar os seguintes deveres:

a) Informar o doente de forma objetiva, compreensível, rigorosa, completa e verdadeira sobre o

diagnóstico, tratamentos aplicáveis, viáveis e disponíveis, resultados previsíveis, prognóstico e esperança de

vida da sua condição clínica;

b) Informar o doente sobre o seu direito de revogar a qualquer momento a sua decisão de antecipar a

morte;

c) Informar o doente sobre os métodos de administração ou autoadministração dos fármacos letais para

que aquele possa escolher e decidir de forma esclarecida e consciente;

d) Assegurar que a decisão do doente é livre, esclarecida e informada;

e) Auscultar com periodicidade e frequência a vontade do doente;

f) Dialogar com os profissionais de saúde que prestam cuidados ao doente e, se autorizado pelo mesmo,

com os seus familiares e amigos;

g) Falar com o procurador de cuidados de saúde, no caso de ter sido nomeado e se para tal for autorizado

pelo doente;

h) Assegurar as condições para que o doente possa contactar as pessoas com quem o pretenda fazer;

i) Assegurar o acompanhamento psicológico do doente.

Artigo 20.º

Sigilo profissional e confidencialidade da informação

1 – Todos os profissionais que, direta ou indiretamente, participam no procedimento de antecipação da

morte estão obrigados a observar sigilo profissional relativamente a todos os atos, factos ou informações de

que tenham conhecimento no exercício das suas funções nesse âmbito, respeitando a confidencialidade da

informação a que tenham tido acesso, de acordo com a legislação em vigor.

2 – O acesso, proteção e tratamento da informação relacionada com o procedimento de antecipação da

morte processam-se de acordo com a legislação em vigor.

Artigo 21.º

Objeção de consciência

1 – Nenhum profissional de saúde pode ser obrigado a praticar ou ajudar ao ato de antecipação da morte

de um doente se, por motivos clínicos, éticos ou de qualquer outra natureza, entender não o dever fazer,

sendo assegurado o direito à objeção de consciência a todos os que o invoquem.

2 – A recusa do profissional deve ser comunicada ao doente num prazo não superior a 24 horas e deve

especificar a natureza das razões que a motivam, sem prejuízo do disposto nos números seguintes.

3 – A objeção de consciência é manifestada em documento assinado pelo objetor, dirigido ao responsável

do estabelecimento de saúde onde o doente está a ser assistido e o objetor presta serviço, se for o caso, e

com cópia à respetiva ordem profissional.

4 – A objeção de consciência é válida e aplica-se em todos os estabelecimentos de saúde e locais de

trabalho onde o objetor exerça a sua profissão.

5 – A objeção de consciência pode ser invocada a todo o tempo e não carece de fundamentação.

Artigo 22.º

Responsabilidade disciplinar

Os profissionais de saúde não podem ser sujeitos a responsabilidade disciplinar pela sua participação no

procedimento clínico de antecipação da morte, conquanto cumpram todas as condições e deveres

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estabelecidos na presente lei.

CAPÍTULO IV

Fiscalização e avaliação

Artigo 23.º

Fiscalização

1 – Compete à IGAS a fiscalização dos procedimentos clínicos de antecipação de morte nos termos da

presente lei.

2 – Em caso de incumprimento da presente lei, a IGAS pode, fundamentadamente, determinar a

suspensão ou o cancelamento de procedimento em curso.

Artigo 24.º

Comissão de Verificação e Avaliação dos Procedimentos Clínicos de Antecipação da Morte

Para cumprimento do disposto no n.º 1 do artigo 8.º e avaliação da aplicação da presente lei, é criada a

Comissão de Verificação e Avaliação dos Procedimentos Clínicos de Antecipação da Morte (CVA).

Artigo 25.º

Composição e funcionamento da Comissão

1 – A CVA é composta por cinco personalidades de reconhecido mérito que garantam especial

qualificação nas áreas de conhecimento relacionadas com a aplicação da presente lei, designadas da seguinte

forma:

a) Um jurista indicado pelo Conselho Superior da Magistratura;

b) Um jurista indicado pelo Conselho Superior do Ministério Público;

c) Um médico indicado pela Ordem dos Médicos;

d) Um enfermeiro indicado pela Ordem dos Enfermeiros;

e) Um especialista em bioética indicado pelo Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida.

2 – Não podem integrar a CVA os profissionais de saúde, referidos nas alíneas c) e d) do número anterior,

que tenham manifestado objeção de consciência nos termos do artigo 21.º.

3 – O mandato dos membros da CVA é de cinco anos, renovável por um único período.

4 – A CVA elabora e aprova o seu regulamento interno e elege, de entre os seus membros, um

presidente.

5 – A CVA funciona no âmbito da Assembleia da República, que assegura os encargos com o seu

funcionamento e o apoio técnico e administrativo necessários.

6 – Os membros da CVA não são remunerados pelo exercício das suas funções, tendo direito a senhas de

presença por cada reunião em que participam de montante a definir por despacho do Presidente da

Assembleia da República e, bem assim, a ajudas de custo e a requisições de transporte nos termos da lei

geral.

Artigo 26.º

Verificação

1 – A CVA avalia a conformidade do procedimento clínico de antecipação da morte, através de parecer

prévio, nos termos do artigo 8.º, e através de relatório de avaliação, nos termos do número seguinte.

2 – Uma vez recebido o Relatório Final do processo de antecipação da morte, que inclui o respetivo RCE, a

CVA examina o seu conteúdo e avalia, no prazo de cinco dias após essa receção, os termos em que as

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condições e procedimentos estabelecidos na presente lei foram cumpridos.

3 – Nos casos em que a deliberação prevista no número anterior seja de desconformidade com os

requisitos estabelecidos pela presente lei, a CVA remete o relatório ao Ministério Público para os devidos

efeitos e às respetivas ordens dos profissionais envolvidos para efeitos de eventual processo disciplinar.

Artigo 27.º

Avaliação

1 – A CVA apresenta, anualmente, à Assembleia da República, um relatório de avaliação da aplicação da

presente lei, com informação estatística detalhada sobre todos os elementos relevantes dos processos de

antecipação da morte e que pode conter recomendações.

2 – Para elaboração do relatório são avaliados, com garantia de anonimato e confidencialidade, os

relatórios finais e respetivos RCE remetidos à CVA pelos médicos orientadores, que devem prestar todos os

esclarecimentos adicionais que esta lhes solicite.

3 – A IGAS presta à CVA as informações solicitadas sobre os procedimentos de fiscalização realizados

relativamente ao cumprimento da presente lei.

CAPÍTULO V

Alteração legislativa

Artigo 28.º

Alteração ao Código Penal

Os artigos 134.º, 135.º e 139.º do Código Penal passam a ter a seguinte redação:

«Artigo 134.º

[…]

1 – […].

2 – […].

3 – A conduta não é punível quando realizada no cumprimento das condições estabelecidas na Lei n.º

xx/aaaa.

Artigo 135.º

[…]

1 – […].

2 – […].

3 – A conduta não é punível quando realizada no cumprimento das condições estabelecidas na Lei n.º

xx/aaaa.

Artigo 139.º

[…]

1 – (Atual corpo do artigo).

2 – Não é punido o médico ou enfermeiro que, não incitando nem fazendo propaganda, apenas preste

informação, a pedido expresso de outra pessoa, sobre o suicídio medicamente assistido, de acordo com o n.º

3 do artigo 135.º.»

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19 DE NOVEMBRO DE 2021

19

CAPÍTULO VI

Disposições finais e transitórias

Artigo 29.º

Seguro de vida

1 – Para efeitos do contrato de seguro de vida, a antecipação da morte não é fator de exclusão.

2 – Os profissionais de saúde que participam, a qualquer título, no procedimento clínico de antecipação da

morte de uma pessoa segura perdem o direito a quaisquer prestações contratualizadas.

3 – Para efeitos de definição de causa de morte da pessoa segura, deve constar da certidão de óbito a

antecipação da morte.

4 – Uma vez iniciado o procedimento clínico de antecipação da morte, a pessoa segura não pode proceder

à alteração das cláusulas de designação dos beneficiários.

Artigo 30.º

Sítio da Internet

A Direção-Geral da Saúde disponibiliza, no seu sítio da Internet, uma área destinada a informação sobre a

realização da antecipação da morte medicamente assistida não punível, com os seguintes campos:

a) Informação sobre o procedimento clínico de antecipação da morte;

b) Formulários e documentos normalizados;

c) Legislação aplicável.

Artigo 31.º

Regulamentação

O Governo aprova, no prazo máximo de 90 dias após a publicação da presente lei, a respetiva

regulamentação.

Artigo 32.º

Disposição transitória

Nos dois primeiros anos de vigência da presente lei, a CVA apresenta semestralmente à Assembleia da

República o relatório de avaliação a que se refere o n.º 1 do artigo 27.º.

Artigo 33.º

Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor 30 dias após a publicação da respetiva regulamentação.

Aprovado em 5 de novembro de 2021.

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

———

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DECRETO DA ASSEMBLEIA DA REPÚBLICA N.º 201/XIV

MODIFICA O REGIME DE TELETRABALHO, ALTERANDO O CÓDIGO DO TRABALHO E A LEI N.º

98/2009, DE 4 DE SETEMBRO, QUE REGULAMENTA O REGIME DE REPARAÇÃO DE ACIDENTES DE

TRABALHO E DE DOENÇAS PROFISSIONAIS

A Assembleia da República decreta, nos termos da alínea c) do artigo 161.º da Constituição, o seguinte:

Artigo 1.º

Objeto

A presente lei procede à alteração do regime de teletrabalho, alterando o Código do Trabalho, aprovado

pela Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, e a Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, que regulamenta o regime de

reparação de acidentes de trabalho e doenças profissionais.

Artigo 2.º

Alteração ao Código do Trabalho

Os artigos 3.º, 165.º a 171.º, 465.º e 492.º do Código do Trabalho, aprovado pela Lei n.º 7/2009, de 12 de

fevereiro, passam a ter a seguinte redação:

«Artigo 3.º

[…]

1 – […].

2 – […].

3 – […]:

a) […];

b) […];

c) […];

d) […];

e) […];

f) […];

g) […];

h) […];

i) […];

j) […];

k) Teletrabalho;

l) […];

m) […];

n) […];

4 – […].

5 – […].

Artigo 165.º

Noção de teletrabalho e âmbito do regime

1 – Considera-se teletrabalho a prestação de trabalho em regime de subordinação jurídica do

trabalhador a um empregador, em local não determinado por este, através do recurso a tecnologias de

informação e comunicação.

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19 DE NOVEMBRO DE 2021

21

2 – As disposições contidas nos artigos 168.º, 169.º-A, 169.º-B, 170.º e 170.º-A aplicam-se, na parte

compatível, a todas as situações de trabalho à distância sem subordinação jurídica, mas em regime de

dependência económica.

Artigo 166.º

Acordo para prestação de teletrabalho

1 – Pode exercer a atividade em regime de teletrabalho um trabalhador da empresa ou outro

admitido para o efeito.

2 – A implementação do regime de teletrabalho depende sempre de acordo escrito, que pode constar

do contrato de trabalho inicial ou ser autónomo em relação a este.

3 – O acordo de teletrabalho define o regime de permanência ou de alternância de períodos de

trabalho à distância e de trabalho presencial.

4 – O acordo deve conter e definir, nomeadamente:

a) A identificação, assinaturas e domicílio ou sede das partes;

b) O local em que o trabalhador realizará habitualmente o seu trabalho, o qual será considerado,

para todos os efeitos legais, o seu local de trabalho;

c) O período normal do trabalho diário e semanal;

d) O horário de trabalho;

e) A atividade contratada, com indicação da categoria correspondente;

f) A retribuição a que o trabalhador terá direito, incluindo prestações complementares e acessórias;

g) A propriedade dos instrumentos de trabalho, bem como o responsável pela respetiva instalação e

manutenção;

h) A periodicidade e o modo de concretização dos contactos presenciais a que se refere a alínea c)

do n.º 1 do artigo 169.º-B.

5 – (Anterior n.º 7).

6 – Se a proposta de acordo de teletrabalho partir do empregador, a oposição do trabalhador não

tem de ser fundamentada, não podendo a recusa constituir causa de despedimento ou fundamento da

aplicação de qualquer sanção.

7 – No caso de a atividade contratada com o trabalhador ser, pela forma como se insere no

funcionamento da empresa, e tendo em conta os recursos de que esta dispõe, compatível com o regime

de teletrabalho, a proposta de acordo feita pelo trabalhador só pode ser recusada pelo empregador por

escrito e com indicação do fundamento da recusa.

8 – O local de trabalho previsto no acordo de teletrabalho pode ser alterado pelo trabalhador,

mediante acordo escrito com o empregador.

9 – O empregador pode definir, por regulamento interno publicitado, e com observância do

Regulamento Geral sobre a Proteção de Dados, aprovado pelo Regulamento (UE) 2016/679 do

Parlamento Europeu e do Conselho, de 27 de abril de 2016, as atividades e as condições em que a

adoção do teletrabalho na empresa poderá ser por ele aceite.

Artigo 167.º

Duração e cessação do acordo de teletrabalho

1 – O acordo de teletrabalho pode ser celebrado com duração determinada ou indeterminada.

2 – Sendo o acordo de teletrabalho celebrado com duração determinada, este não pode exceder seis

meses, renovando-se automaticamente por iguais períodos, se nenhuma das partes declarar por escrito,

até 15 dias antes do seu término, que não pretende a renovação.

3 – Sendo o acordo de duração indeterminada, qualquer das partes pode fazê-lo cessar mediante

comunicação escrita, que produzirá efeitos no 60.º dia posterior àquela.

4 – Qualquer das partes pode denunciar o acordo durante os primeiros 30 dias da sua execução.

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5 – Cessando o acordo de teletrabalho no âmbito de um contrato de trabalho de duração

indeterminada, ou cujo termo não tenha sido atingido, o trabalhador retoma a atividade em regime

presencial, sem prejuízo da sua categoria, antiguidade e quaisquer outros direitos reconhecidos aos

trabalhadores em regime presencial com funções e duração do trabalho idênticas.

6 – (Anterior n.º 4).

Artigo 168.º

Equipamentos e sistemas

1 – O empregador é responsável pela disponibilização ao trabalhador dos equipamentos e sistemas

necessários à realização do trabalho e à interação trabalhador-empregador, devendo o acordo a que se

refere o artigo 166.º especificar se são fornecidos diretamente ou adquiridos pelo trabalhador, com a

concordância do empregador acerca das suas características e preços.

2 – São integralmente compensadas pelo empregador todas as despesas adicionais que,

comprovadamente, o trabalhador suporte como direta consequência da aquisição ou uso dos

equipamentos e sistemas informáticos ou telemáticos necessários à realização do trabalho, nos termos

do número anterior, incluindo os acréscimos de custos de energia e da rede instalada no local de

trabalho em condições de velocidade compatível com as necessidades de comunicação de serviço,

assim como os custos de manutenção dos mesmos equipamentos e sistemas.

3 – Para efeitos do presente artigo, consideram-se despesas adicionais as correspondentes à

aquisição de bens e ou serviços de que o trabalhador não dispunha antes da celebração do acordo a

que se refere o artigo 166.º, assim como as determinadas por comparação com as despesas homólogas

do trabalhador no mesmo mês do último ano anterior à aplicação desse acordo.

4 – O pagamento da compensação prevista no n.º 2 é devido imediatamente após a realização das

despesas pelo trabalhador.

5 – A compensação prevista no n.º 2 é considerada, para efeitos fiscais, custo para o empregador e

não constitui rendimento do trabalhador.

6 – Sendo os equipamentos e sistemas utilizados no teletrabalho fornecidos pelo empregador, as

condições para o seu uso para além das necessidades do serviço são as estabelecidas pelo

regulamento interno a que se refere o n.º 9 do artigo 166.º.

7 – No caso de inexistência do regulamento interno ou de este omitir as condições mencionadas no

número anterior, estas são definidas pelo acordo previsto no artigo 166.º.

8 – Constitui contraordenação grave a aplicação de qualquer sanção ao trabalhador pelo uso dos

equipamentos e sistemas para além das necessidades de serviço, quando esse uso não esteja

expressamente condicionado nos termos dos números anteriores.

Artigo 169.º

Igualdade de direitos e deveres

1 – O trabalhador em regime de teletrabalho tem os mesmos direitos e deveres dos demais

trabalhadores da empresa com a mesma categoria ou com função idêntica, nomeadamente no que se

refere a formação, promoção na carreira, limites da duração do trabalho, períodos de descanso,

incluindo férias pagas, proteção da saúde e segurança no trabalho, reparação de acidentes de trabalho

e doenças profissionais, e acesso a informação das estruturas representativas dos trabalhadores,

incluindo o direito a:

a) Receber, no mínimo, a retribuição equivalente à que auferiria em regime presencial, com a

mesma categoria e função idêntica;

b) Participar presencialmente em reuniões que se efetuem nas instalações da empresa mediante

convocação das comissões sindicais e intersindicais ou da comissão de trabalhadores, nos termos da

lei;

c) Integrar o número de trabalhadores da empresa para todos os efeitos relativos a estruturas de

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representação coletiva, podendo candidatar-se a essas estruturas.

2 – O trabalhador pode utilizar as tecnologias de informação e de comunicação afetas à prestação de

trabalho para participar em reunião promovida no local de trabalho por estrutura de representação

coletiva dos trabalhadores.

3 – Qualquer estrutura de representação coletiva dos trabalhadores pode utilizar as tecnologias

referidas no número anterior para, no exercício da sua atividade, comunicar com o trabalhador em

regime de teletrabalho, nomeadamente divulgando informações a que se refere o n.º 1 do artigo 465.º.

4 – Constitui contraordenação grave a violação do disposto neste artigo.

Artigo 170.º

[…]

1 – O empregador deve respeitar a privacidade do trabalhador, o horário de trabalho e os tempos de

descanso e de repouso da família deste, bem como proporcionar-lhe boas condições de trabalho, tanto

do ponto de vista físico como psíquico.

2 – Sempre que o teletrabalho seja realizado no domicílio do trabalhador, a visita ao local de trabalho

requer aviso prévio de 24 horas e concordância do trabalhador.

3 – A visita prevista no número anterior só deve ter por objeto o controlo da atividade laboral, bem

como dos instrumentos de trabalho, e apenas pode ser efetuada na presença do trabalhador durante o

horário de trabalho acordado nos termos da alínea d) do n.º 4 do artigo 166.º.

4 – No acesso ao domicílio do trabalhador, as ações integradas pelo empregador devem ser

adequadas e proporcionais aos objetivos e finalidade da visita.

5 – É vedada a captura e utilização de imagem, de som, de escrita, de histórico, ou o recurso a

outros meios de controlo que possam afetar o direito à privacidade do trabalhador.

6 – Constitui contraordenação grave a violação do disposto nos n.os 1, 2, 3 e 4.

7 – Constitui contraordenação muito grave a violação do disposto no n.º 5.

Artigo 171.º

Fiscalização

1 – Cabe ao serviço com competência inspetiva do ministério responsável pela área do trabalho

fiscalizar o cumprimento das normas reguladoras do regime de teletrabalho, incluindo a legislação

relativa à segurança e saúde no trabalho, e contribuir para a prevenção dos riscos profissionais

inerentes a essa forma de prestação de trabalho.

2 – As ações de fiscalização que impliquem visitas de autoridades inspetivas ao domicílio do

trabalhador requerem a anuência do trabalhador e a comunicação da sua realização com a

antecedência mínima de 48 horas.

Artigo 465.º

[…]

1 – […].

2 – As estruturas representativas dos trabalhadores têm o direito de afixar em local disponibilizado,

para o efeito, no portal interno da empresa, convocatórias, comunicações, informações ou outros textos

relativos à vida sindical e aos interesses socioprofissionais dos trabalhadores, bem como proceder à sua

distribuição por via de lista de distribuição de correio eletrónico para todos os trabalhadores em regime

de teletrabalho, disponibilizada pelo empregador.

3 – Constitui contraordenação grave a violação do disposto neste artigo.

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Artigo 492.º

[…]

1 – […]:

a) […];

b) […];

c) […];

d) […];

e) […];

f) […];

g) […];

h) […];

2 – […]:

a) […];

b) […];

c) […];

d) […];

e) […];

f) […];

g) […];

h) […];

i) As condições de prestação de trabalho em regime de teletrabalho;

3 – […].

4 – […].»

Artigo 3.º

Aditamento ao Código do Trabalho

São aditados os artigos 166.º-A, 169.º-A, 169.º-B, 170.º-A e 199.º-A ao Código de Trabalho, aprovado pela

Lei n.º 7/2009, de 12 de fevereiro, com a seguinte redação:

«Artigo 166.º-A

Direito ao regime de teletrabalho

1 – Verificadas as condições previstas no n.º 1 do artigo 195.º, o trabalhador tem direito a passar a

exercer a atividade em regime de teletrabalho, quando este seja compatível com a atividade

desempenhada.

2 – Além das situações referidas no número anterior, o trabalhador com filho com idade até três anos

tem direito a exercer a atividade em regime de teletrabalho, quando este seja compatível com a

atividade desempenhada e o empregador disponha de recursos e meios para o efeito.

3 – O direito previsto no número anterior pode ser estendido até aos oito anos de idade nas

seguintes situações:

a) Nos casos em que ambos os progenitores reúnem condições para o exercício da atividade em

regime de teletrabalho, desde que este seja exercido por ambos em períodos sucessivos de igual

duração num prazo de referência máxima de 12 meses;

b) Famílias monoparentais ou situações em que apenas um dos progenitores, comprovadamente,

reúne condições para o exercício da atividade em regime de teletrabalho.

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4 – O empregador não pode opor-se ao pedido do trabalhador efetuado nos termos dos números

anteriores.

5 – Tem ainda direito a exercer a atividade em regime de teletrabalho, pelo período máximo de

quatro anos seguidos ou interpolados, o trabalhador a quem tenha sido reconhecido o estatuto de

cuidador informal não principal, mediante comprovação do mesmo, nos termos da legislação aplicável,

quando este seja compatível com a atividade desempenhada e o empregador disponha de recursos e

meios para o efeito.

6 – O empregador pode opor-se ao direito previsto no número anterior quando não estejam reunidas

as condições aí previstas ou com fundamento em exigências imperiosas do funcionamento da empresa,

sendo nestes casos aplicável o procedimento previsto nos n.os 3 a 10 do artigo 57.º, com as necessárias

adaptações.

7 – O direito previsto no n.º 3 não se aplica ao trabalhador de microempresa.

8 – Constitui contraordenação grave a violação do disposto neste artigo.

Artigo 169.º-A

Organização, direção e controlo do trabalho

1 – As reuniões de trabalho à distância, assim como as tarefas que, pela sua natureza, devem ser

realizadas em tempos precisos e em articulação com outros trabalhadores, devem ter lugar dentro do

horário de trabalho e ser agendadas preferencialmente com 24 horas de antecedência.

2 – O trabalhador é obrigado a comparecer nas instalações da empresa ou noutro local designado

pelo empregador, para reuniões, ações de formação e outras situações que exijam presença física, para

as quais tenha sido convocado com, pelo menos, 24 horas de antecedência.

3 – O empregador suporta o custo das deslocações a que se refere o número anterior, na parte em

que, eventualmente, exceda o custo normal do transporte entre o domicílio do trabalhador e o local em

que normalmente prestaria trabalho em regime presencial.

4 – Os poderes de direção e controlo da prestação de trabalho no teletrabalho são exercidos

preferencialmente por meio dos equipamentos e sistemas de comunicação e informação afetos à

atividade do trabalhador, segundo procedimentos previamente conhecidos por ele e compatíveis com o

respeito pela sua privacidade.

5 – O controlo da prestação de trabalho, por parte do empregador, deve respeitar os princípios da

proporcionalidade e da transparência, sendo proibido impor a conexão permanente, durante a jornada

de trabalho, por meio de imagem ou som.

6 – Constitui contraordenação muito grave a violação do disposto nos n.os 1 e 3.

Artigo 169.º-B

Deveres especiais

1 – Sem prejuízo dos deveres gerais consagrados neste Código, o regime de teletrabalho implica,

para o empregador, os seguintes deveres especiais:

a) Informar o trabalhador, quando necessário, acerca das características e do modo de utilização de

todos os dispositivos, programas e sistemas adotados para acompanhar à distância a sua atividade;

b) Abster-se de contactar o trabalhador no período de descanso nos termos a que se refere o artigo

199.º- A;

c) Diligenciar no sentido da redução do isolamento do trabalhador, promovendo, com a periodicidade

estabelecida no acordo de teletrabalho, ou, em caso de omissão, com intervalos não superiores a dois

meses, contactos presenciais dele com as chefias e demais trabalhadores;

d) Garantir ou custear as ações de manutenção e de correção de avarias do equipamento e dos

sistemas utilizados no teletrabalho, nos termos do n.º 2 do artigo 168.º, independentemente da sua

propriedade;

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e) Consultar o trabalhador, por escrito, antes de introduzir mudanças nos equipamentos e sistemas

utilizados na prestação de trabalho, nas funções atribuídas ou em qualquer característica da atividade

contratada;

f) Facultar ao trabalhador a formação de que este careça para o uso adequado e produtivo dos

equipamentos e sistemas que serão utilizados por este no teletrabalho.

2 – Sem prejuízo dos deveres gerais consagrados neste Código, o teletrabalho implica, para o

trabalhador, os seguintes deveres especiais:

a) Informar atempadamente a empresa de quaisquer avarias ou defeitos de funcionamento dos

equipamentos e sistemas utilizados na prestação de trabalho;

b) Cumprir as instruções do empregador no respeitante à segurança da informação utilizada ou

produzida no desenvolvimento da atividade contratada;

c) Respeitar e observar as restrições e os condicionamentos que o empregador defina previamente,

no tocante ao uso para fins pessoais dos equipamentos e sistemas de trabalho fornecidos por aquele;

d) Observar as diretrizes do empregador em matéria de saúde e segurança no trabalho.

3 – Para além de responsabilidade disciplinar, as infrações dos deveres indicados no número

anterior podem implicar responsabilidade civil, nos termos gerais.

4 – Constitui contraordenação grave a violação dos deveres dispostos no n.º 1.

Artigo 170.º-A

Segurança e saúde no trabalho

1 – É vedada a prática de teletrabalho em atividades que impliquem o uso ou contacto com

substâncias e materiais perigosos para a saúde ou a integridade física do trabalhador, exceto se

efetuados em instalações certificadas para o efeito.

2 – O empregador organiza em moldes específicos e adequados, com respeito pela privacidade do

trabalhador, os meios necessários ao cumprimento das suas responsabilidades em matéria de saúde e

segurança no trabalho, nomeadamente cumprindo as medidas previstas no Decreto-Lei n.º 349/93, de 1

de outubro, que transpõe para a ordem jurídica interna a Directiva n.º 90/270/CEE, do Conselho, de 29

de Maio, relativa às prescrições mínimas de segurança e de saúde respeitantes ao trabalho com

equipamentos dotados de visor.

3 – No quadro da responsabilidade a que se refere o número anterior, o empregador promove a

realização de exames de saúde no trabalho antes da implementação do teletrabalho e, posteriormente,

exames anuais para avaliação da aptidão física e psíquica do trabalhador para o exercício da atividade,

a repercussão desta e das condições em que é prestada na sua saúde, assim como das medidas

preventivas que se mostrem adequadas.

4 – O trabalhador faculta o acesso ao local onde presta trabalho aos profissionais designados pelo

empregador que, nos termos da lei, têm a seu cargo a avaliação e o controlo das condições de

segurança e saúde no trabalho, em período previamente acordado, entre as 9 e as 19 horas, dentro do

horário de trabalho.

5 – O regime legal de reparação dos acidentes de trabalho e doenças profissionais aplica-se às

situações de teletrabalho, considerando-se local de trabalho o local escolhido pelo trabalhador para

exercer habitualmente a sua atividade e tempo de trabalho todo aquele em que, comprovadamente,

esteja a prestar o seu trabalho ao empregador.

6 – Constitui contraordenação muito grave imputável ao empregador a violação do disposto neste

artigo.

Artigo 199.º-A

Dever de abstenção de contacto

1 – O empregador tem o dever de se abster de contactar o trabalhador no período de descanso,

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ressalvadas as situações de força maior.

2 – Constitui ação discriminatória, para os efeitos do artigo 25.º, qualquer tratamento menos

favorável dado a trabalhador, designadamente em matéria de condições de trabalho e de progressão na

carreira, pelo facto de exercer o direito ao período de descanso, nos termos do número anterior.

3 – Constitui contraordenação grave a violação do disposto no n.º 1.»

Artigo 4.º

Alteração à Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro

O artigo 8.º da Lei n.º 98/2009, de 4 de setembro, passa a ter a seguinte redação:

«Artigo 8.º

[…]

1 – […].

2 – […]:

a) […];

b) […];

c) No caso de teletrabalho ou trabalho à distância, considera-se local de trabalho aquele que conste

do acordo de teletrabalho.»

Artigo 5.º

Teletrabalho no âmbito da Administração Pública

1 – O regime jurídico do teletrabalho aplica-se, com as necessárias adaptações, à Administração Pública

central, regional e local.

2 – Sem prejuízo das competências da Inspeção-Geral das Finanças, enquanto autoridade de auditoria,

cabe às inspeções sectoriais fiscalizar o cumprimento das normas reguladoras do teletrabalho no âmbito da

Administração Pública.

Artigo 6.º

Entrada em vigor

A presente lei entra em vigor no primeiro dia do mês seguinte ao da sua publicação.

Aprovado em 5 de novembro de 2021.

O Presidente da Assembleia da República, Eduardo Ferro Rodrigues.

A DIVISÃO DE REDAÇÃO.