daniel oliveira mualeque

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0 Universidade Politécnica A POLITÉCNICA ESCOLA SUPERIOR DE ALTOS ESTUDOS E NEGÓCIOS Centro de Estudos de Pós-graduação e Pesquisa Aplicada DISTRIBUIÇÃO E BIOLOGIA DE OCAR DE CRISTAL (Thryssa vitrirostris) NOS DISTRITOS DE ANGOCHE E MOMA Daniel O. Mualeque Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Avaliação e Conservação de Recursos Pesqueiros Orientador: Prof. Doutor Jorge Santos Julho de 2008

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Page 1: Daniel Oliveira Mualeque

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Universidade Politécnica A POLITÉCNICA

ESCOLA SUPERIOR DE ALTOS ESTUDOS E NEGÓCIOS

Centro de Estudos de Pós-graduação e Pesquisa Aplicada

DISTRIBUIÇÃO E BIOLOGIA DE OCAR DE CRISTAL (Thryssa vitrirostris) NOS

DISTRITOS DE ANGOCHE E MOMA

Daniel O. Mualeque

Dissertação submetida como requisito parcial para obtenção do grau de Mestre em Avaliação e Conservação de Recursos Pesqueiros

Orientador:

Prof. Doutor Jorge Santos

Julho de 2008

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I. RESUMO

O Ocar de cristal, Thryssa vitrirostris, é um pequeno pelágico da família Engraulidae que

tem grande importância comercial ao longo da costa de Moçambique, onde é capturado

pela pesca artesanal de arrasto para a praia. O Ocar de cristal distribuí-se pelo Oceano

Índico Oeste, mas apesar da ampla distribuição geográfica, existe apenas alguma

informação sumária sobre esta espécie. Relatórios dos cruzeiros DR. FRIDTJOF

NANSEN efectuados na costa de Moçambique, entre 1980 e 1990 e em 2007, indicam

que a biomassa acústica de todos os pequenos pelágicos ao largo da costa apresenta uma

tendência fortemente decrescente. Foram utilizados dados do processo de amostragem da

pescaria costeira nos distritos de Angoche, Mogincual, Moma, Pebane e Beira, no

período 1998 e 2007, para estudar as tendências temporais e geográficas das capturas e

rendimentos (CPUE, kg/rede/dia), e as variações sazonais destes. Os resultados indicam

que as capturas e rendimentos tenderam a baixar ao longo dos anos, principalmente em

áreas limítrofes da distribuição da população. Pebane poderá ser o centro da distribuição,

e de lá migrará a população em direcção ao norte. Além dum padrão sazonal nesta

migração, poderão ter existido anos de maior concentração no norte do Banco de Sofala.

Para estudos biológicos, foram adicionalmente colhidos entre Julho de 2007 e Janeiro de

2008, no distrito de Moma, dados mensais de comprimentos, peso individual, otólitos e

estados de maturação sexual. O ajuste dum modelo logístico à distribuição de frequências

relativas dos indivíduos maduros indicou um tamanho de primeira maturação L50 = 13,2

cm de comprimento total para sexos agrupados (13,4 cm para fêmeas e 13,9 cm para

machos). A análise das frequências de comprimento e dos estados de maturação sexual

indicou que o principal recrutamento à pescaria ocorre a partir de Março. A desova

principal ocorreu entre os meses de Outubro e Dezembro, no fim do primeiro ano de vida

dos indivíduos. O crescimento ponderal médio parece ser relativamente isométrico com

PT = 0,0073.CT3,0120, mas observaram-se grandes variações neste padrão para indivíduos

adultos, um fenómeno provavelmente relacionado com a sua fisiologia reprodutiva. No

estudo do crescimento foi utilizado o método de Análise de Progressão Modal para o

cálculo dos comprimentos médios mensais das coortes observadas. Duas curvas de

crescimento de von Bertalanffy foram ajustadas aos valores médios dos comprimentos

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mensais, uma simples e outra com uma componente sazonal. O comprimento

assimptótico (L∞) encontrado foi de 19,0 cm para um coeficiente de crescimento (K) de

0,7 ano-1. Aparentemente, o crescimento (somático) das coortes é marcadamente maior na

época das chuvas (Novembro-Fevereiro). Os parâmetros da função de crescimento

sazonal de von Bertalanffy foram usados para converter a composição de comprimentos

em idades. Através da análise da curva de captura obteve-se uma taxa instantânea de

mortalidade total de 2,30 ano-1. Apesar da mortalidade natural esperada para esta espécie

ser alta, este valor de mortalidade total indica uma mortalidade por pesca relativamente

alta.

PALAVRAS CHAVE: Thryssa vitrirostris, distribuição, biologia, Moçambique.

ABSTRACT

Orangemouth anchovy (Thryssa vitrirostris), is small pelagic of the Engraulid family

explored mainly along the coast of Mozambique by the artisanal beach-seining

fishery.This anchovy is widely distributed along the margins of the West Indian Ocean,

but, in spite of the wide geographical distribution, only summary information exists about

this species. Reports of the research surveys of the R/V DR. FRIDTJOF NANSEN

performed in the period 1980-1990 and on 2007, indicate that the acoustic biomass of all

small pelagic fish has been largely decreasing offshore. Original fishery statistics

obtained for this coastal artisanal fishery in the districts of Angoche, Mogincual, Moma,

Pebane and Beira, in the period between 1998 and 2007, were used to study the

temporary and geographical trends of the landings and harvest rates (CPUE, kg/net/day),

and the seasonal variations of the CPUE. The results indicate that the captures and CPUE

tended to decrease along this period, mainly in the boundary area of population

distribution. Pebane can be the center of the distribution; from there segments of the

population may migrate to the north, with seasonal regularity and, more strongly, in

special years. For additional biological studies in the district of Moma, monthly data of

individual length and weight composition were collected, and otoliths and maturity stages

of selected specimens were analysed, between July of 2007 and January of 2008. A

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logistic regression of maturity on fish length indicated that the size of first maturation,

L50, was 13,2 cm total length for the combined sexes (or, 13,4 cm for females and 13,9

cm for males). The analysis of the length frequencies and maturation showed that

recruitment to the fishery starts in March, and that the main spawning period occurs

between October and December, at the end of the first year of life. The mean length-

weight relationship was Wt = 0,0073*TL3,0120 , but there was considerable variation on an

individual basis, particularly for maturing fish.. Modal Progression Analysis was used to

study mean length at age of the different cohorts. Two von Bertalanffy growth functions

were adjusted, one with simple shape and the other accounting for seasonal trends.

Somatic growth appeared to have a strong seasonal component, with highest growth

observed during the rainy season (November-February). The parameters of seasonal

VBGF (L∞ = 19,0 cm; K = 0,7 year-1) were used to convert the length composition in

age. An instantaneous rate of total mortality (Z) of 2,30 year-1 was estimated by catch

curve analysis. Although the natural mortality of this species is expected to be high, this

value of Z may indicate a strong fishing mortality as well.

Key words: Thryssa vitrirostris, distribution, biology, Mozambique.

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II. ÍNDICE

I. RESUMO......................................................................................................................... 1 II. ÍNDICE .......................................................................................................................... 4 III. DEDICATÓRIA ........................................................................................................... 9 IV. AGRADECIMENTOS ............................................................................................... 10 1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 11

1.1. Descrição da pescaria e sua importância ............................................................... 11 1.2. Biologia e distribuição da família Engraulidae no mundo..................................... 13 1.3. Biologia e distribuição de Thryssa vitrirostris no mundo e em Moçambique ....... 14 1.4. Antecedentes e objectivos do estudo ..................................................................... 18 1.5. Sistema actual de gestão da pescaria ..................................................................... 19

2. MATERIAIS E MÉTODOS......................................................................................... 22 2.1. Área de estudo........................................................................................................ 22 2.2. Fonte de dados e análise ........................................................................................ 25 2.3. Análise de reprodução............................................................................................ 29 2.4. Análise de idade e crescimento.............................................................................. 31 2.5. Análise de mortalidade .......................................................................................... 35

3. RESULTADOS............................................................................................................. 37 3.1. Distribuição e importância da família Engraulidae nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma e Pebane ............................................................................................ 37 3.2. Reprodução e modelo de maturação...................................................................... 45 3.3. Idades e crescimento.............................................................................................. 49 3.4. Determinação de mortalidade total por curva de captura ...................................... 57

4. DISCUSSÃO ................................................................................................................ 58 4.1. Distribuição e importância da família Engraulidae nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma e Pebane ............................................................................................ 59 4.2. Reprodução e ogiva de maturação sexual.............................................................. 63 4.3. Idade e crescimento................................................................................................ 65 4.4. Determinação de mortalidade por curva de captura .............................................. 69

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES .................................................................... 70 5.1. Conclusões ............................................................................................................. 70 5.2. Recomendações...................................................................................................... 71

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.......................................................................... 73 7. APÊNDICE................................................................................................................... 77

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FIGURAS

Figura 1. Thryssa vitrirostris. Exemplares colhidos durante uma das amostragens do presente estudo, variando os peixes em tamanho entre 4 e 18 cm.................................... 12 Figura 2. Pescadores artesanais de arrasto para a praia e a embarcação típica usada, uma canoa tipo Moma............................................................................................................... 13 Figura 3. Distribuição geográfica de Thryssa vitrirostris (Fonte: Fisbase.org)................ 14 Figura 4. Mapa de distribuição dos pequenos pelágicos no Banco de Sofala. Fonte: Dados do cruzeiro com o navio Dr. Fridjof Nansen, 2007, não publicados. .............................. 17 Figura 5. Capturas de Thryssa vitrirostris por arrasto para a praia no distrito de Angoche entre 1997 e 2005. Fonte: Brito et al. (2006, não publicado). .......................................... 18 Figura 6. Redes mosquiteiras retiradas pelos pescadores dos sacos das suas redes de arrasto de praia e armazenadas na sede de CCP de Moma-sede....................................... 21 Figura 7. Localização dos distritos analizados no presente estudo, Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira (sombreados). Alterado do mapa que localiza os distritos cobertos pelo sistema de amostragem do IIP. Fonte: Departamento de Informática do IIP. .......... 23 Figura 8. Modelo da circulação da corrente de Moçambique. Fonte: Segtnan, 2006...... 24 Figura 9. Circulação das correntes costeiras de Moçambique. Fonte: Lutjeharms (2007)............................................................................................................................................ 24 Figura 10. Estados de maturação para os dois sexos de Thryssa vitrirostris amostrados em Moma entre Julho de 2007 e Janeiro de 2008................................................................... 30 Figura11. Capturas cumulativas (toneladas) das espécies da família Engraulidae nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma e Pebane desde 1998 a 2007. Códigos: Thryssa baelama ( TBA); Thryssa vitrirostris (TVI); Thryssa setirostris (TSE); Stolephorus commersonii (SOM); Stolephorus indicus (STI); Stolephorus holodon (SHO); Encrasicholina heteroloba (EHE) e Encrasicholina puntifer (EPU). A disposição dos distritos segue ordem geográfica, de Norte (Mongicual) para Sul (Pebane). ................... 39 Figura 12. Rendimentos (Kg/rede.dia) das espécies da família Engraulidae nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma e Pebane desde 2001 a 2007. Códigos: Thryssa baelama ( TBA); Thryssa vitrirostris (TVI); Thryssa setirostris (TSE); Stolephorus commersonii (SOM); Stolephorus indicus (STI); Stolephorus holodon (SHO); Encrasicholina heteroloba (EHE) e Encrasicholina puntifer (EPU)......................................................... 40 Figura 13. Variação anual de captura e CPUE de Thryssa vitrirostris nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira. ................................................................. 42 Figura 14. Variação mensal (ano médio) de CPUE de Thryssa vitrirostris nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira entre 1998 à 2007..................................... 44 Figura 15. Proporção sexual de Thryssa vitrirostris por classes de comprimento entre Julho de 2007 e Janeiro de 2008 em Moma...................................................................... 45 Figura16. Estágios de maturação para fêmeas (a), machos (b) e sexos agrupados (c) por mês de Thryssa vitrirostris................................................................................................ 47 Figura 17. Ogivas de maturação sexual para fêmeas (a), machos (b) e sexos agrupados (c). ..................................................................................................................................... 48 Figura 18. Histogramas das composições mensais de comprimentos nos distritos de Moma e Pebane (dados combinados). Sobrepostas estão curvas de crescimento de quatro supostas coortes observadas ao longo de todo o período de amostragem. Seguindo o

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modelo de crescimento proposto, a coorte mais velha (linha amarela) terá tido o seu início em 2004................................................................................................................... 50 Figura 19. Otólitos de Thryssa vitrirostris em vista dorsal, imersos em glicerol e iluminados com luz transmitida. O otólito pequeno, extraído dum peixe de comprimento total de 8.8 cm, apresenta um nucleo central bem definido. O otólito dum peixe grande (17 cm) parece apresentar um anel mais marcante ao longo do rebordo inferior............. 52 Figura 20. Estudo de secções finas de otolitos de Thryssa vitrirostris amostrados em Moma em Janeiro de 2008. Vista dorsal do otólito inteiro (à esquerda) de peixes com comprimento total de 3.5 cm, 13.5 cm e 18.0 cm, cujos otólitos mediam cerca de 1.5 mm, 5 mm e 6 mm, respectivamente. Vistos em secção fina, o otólito do peixe #17 (centro) parece ter formado um primeiro anel hialino, enquanto o do peixe #18 (direita) parece já mostrar a formação completa dum segundo anel e um claro início duma zona opaca..... 53 Figura 21. Curvas de crescimento de von Bertalanffy simples e sazonal ajustadas a Thryssa vitrirostris no distrito de Moma. As barras indicam o erro padrão das médias ds distribuições analisadas..................................................................................................... 54 Figura 22. Relação peso-comprimento de Thyssa vitrirostris amostrado em Moma no período de Fevereiro de 2007 a Janeiro de 2008: (a) pesos médios por classe de comprimento; (b) peixes pequenos e c) peixes grandes.................................................... 56 Figura 23. Curva de captura linearizada baseada na composição etária média das capturas de Thryssa vitrirostris do distrito de Moma no período de Fevereiro de 2007 a Janeiro de 2008................................................................................................................................... 57 Figura 24. Distribuição de frequencies de comprimento de T. vitrirostris entre Fevereiro de 2007 e Janeiro de 2008 no distrito de Moma. .............................................................. 78 Figura 25. Distribuição de frequencies de comprimento de T. vitrirostris entre Janeiro e Outubro de 2007 no distrito de Pebane............................................................................. 79 Figura 26. Distribuição de frequencies de Comprimento da T. vitrirostris amostrada nos meses de Março e Julho, mostrando uma estrutura bimodal, sendo primeira moda em Julho constituida de indivíduos de tamanho menor (7 cm). ............................................. 81 Figura 27. Variação mensal de CPUE de Thryssa vitrirostris nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira entre 1998 à 2007........................................................ 82

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TABELAS Tabela 1. Biomassa acústica estimada de pequenos pelágicos em vários periodos ao longo da costa de Moçambique (Fonte: Sætersdal et al., 1999). ................................................ 16 Tabela 2. Escala de maturação para Thryssa vitrirostris adaptada de Vazzoler (1996) e Millan (1999). ................................................................................................................... 29 Tabela 3. Parâmetros da relação alométrica para Thryssa vitrirostris amostrada em Moma no período de Fevereiro de 2007 a Janeiro de 2008. “n” é o número de observações utilizadas em cada ajuste................................................................................................... 55 Tabela 4. Comparação dos parâmetros da relação peso-comprimento de T. vitrirostris (sexos combinados) entre vários estudos efectuados na região. De notar que tanto comprimento total (CT) como standard (CS) têm sido utilizados. ................................... 69 Tabela 5. Ficha para amostragem laboratorial usada durante o presente estudo.............. 77 Tabela 6. Captura por unidade de esforço (CPUE) de ocar de cristal nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira entre 1998 e 2007..................................... 80

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LISTA DE ABREVIATURAS E CÓDIGOS DE ESPÉCIES FAO CCP – Conselho Comunitário de Pesca

IIP – Instituto Nacional de Investigação Pesqueira

IDPPE – Instituto de Desenvolvimento de Pesca de Pequena Escala

PSU – Primary sampling unity (unidade primária de amostragem)

EHE – Encrasicholina heteroloba

EPU – Encrasicholina puntifer

SOM – Stolephorus commersonii

STI – Stolephorus indicus

SHO – Stolephorus holodon

TBA – Thryssa baelama

TSE – Thryssa setirostris

TVI – Thryssa vitrirostris

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III. DEDICATÓRIA

Á Memória de meu pai: Mualeque Namulaquela,

Que plantou a árvore, fez crescer, mas não colheu frutos.

A Erissa Sovila, minha mãe;

Por ter regado a árvore até crescer e dar frutos. Dedico.

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IV. AGRADECIMENTOS

O presente trabalho não teria sido possível sem ajuda de muitas pessoas e instituições.

Profundo e especial agradecimento ao Prof. Dr. Jorge Santos, meu supervisor, pelos

ensinamentos, conselhos, correcções e paciência na humilde condução deste trabalho (Dr.

Jorge Santos, muito obrigado).

À Direcção do Instituto Nacional de Investigação Pesqueira (IIP), o meu agradecimento

pelo esforço feito para financiar este curso, por me terem escolhido como candidato e

por todo o apoio prestado durante o curso.

À Coordenação científica, na pessoa do Dr. Fernando Ribeiro Loforte, muito obrigado

pela paciente coordenação e conselhos científicos dados na escolha do tema. O

agradecimento é extensivo a todos os professores, em particular aos Drs. Thomas Hecht e

Lars Rydberg, pela dedicação e paciência na transmissão dos conhecimentos.

Para os meus colegas de curso, Mafuca (papai), Tânia, Halare, Narci, Alice, Isabel,

Rabia, Claúdia, Thuzine, Avene e Silvia, muito obrigado pelo apoio que me deram

durante o curso.

Agradeço igualmente aos colegas da Delegação do IIP em Nampula, aos meus familiares

e a todos aqueles que directa ou indirectamente contribuiram para que este trabalho fosse

uma realidade.

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1. INTRODUÇÃO

1.1. Descrição da pescaria e sua importância

A pesca costeira dos distritos de Angoche e Moma, na província de Nampula, é

caracterizada pela ocorrência de um grande número de espécies comerciais e pela

diversidade das embarcações e artes de pesca utilizadas. Uma das importantes espécies

comerciais é o Ocar de Cristal, Thryssa vitrirostris (Gilchrist & Thompson, 1908) (Figura

1). Em Angoche e Moma, T. vitrirostris é capturada pela pesca artesanal de arrasto para a

praia (Balói et al., 2003; 2004a; Mualeque & Uetimane, 2006) (Fig. 2). Em Moçambique

e na Tanzânia, a espécie é também capturada como fauna acompanhante de arrasto

industrial do camarão de superfície (Gislason, 1985; Branchi, 1992; Nkondokaya, 1992 in

Pinto, 1995; Brito et al., 1998; Haule, 1998).

A pescaria artesanal de arrasto para a praia é a mais importante no sul da província de

Nampula, quer em termos do número de artes quer no volume das capturas,

representando 48% do total dos desembarques por todas as artes. A rede de arrasto para a

praia é manobrada em média por 12 pescadores, o que significa que esta pescaria

contribui muito para o emprego das populações costeiras. Esta arte é pouco selectiva,

capturando muito do que estiver na sua zona de acção, principalmente os pequenos

pelágicos como a T. vitrirostris. Estruturalmente, a arte é composta por um saco central e

duas longas paredes de rede (asas), a cujas extremidades são amarrados cabos para

alagem. A parte superior é armada dum cabo com flutuadores, e a parte inferior dum cabo

com chumbos ou pedras que arrastam pelo fundo. Alguns tipos de rede podem não

possuir um saco na parte central1. Na região onde se realizou este estudo, a arte é usada

em pequenas embarcações chamadas canoas tipo Moma (Figura 2), cujo comprimento é

inferior a 10 metros. O comprimento da rede chega a atingir os 600 metros e os cabos

1200 metros. O tamanho mínimo legal para a malha no saco é de 38 mm2. Sobre os cabos

de alagem são amarrados cintas feitas de saco de rafia que os pescadores enrolam à

1 (www.fao.org). 2 Legislação. Regulamento Geral da Pesca Marítima, I Série, no. 50, da Lei 3/1990, de 26 de Setemro, Lei das Pescas.

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cintura para facilitar o processo de tracção (observação pessoal). A manobra desta arte é

similar em toda a região estudada, diferindo apenas no número de pescadores por rede,

característica que está relacionada com o tamanho da rede. Nos últimos anos tem-se

disseminado a utilização de rede mosquiteira no saco desta rede, o que resulta na captura

elevada de juvenis (Brito et al., 2006, não publicado). De acordo com o censo realizado

pelo IDPPE no ano de 2002 (Anon., 2004) em Angoche, 329 (68%) das 487 redes de

arrasto para a praia possuíam redes mosquiteiras, enquanto que em Moma, das 498 redes

apenas 25 (5%) possuíam redes mosquiteiras.

Estima-se que cerca de 22940 pescadores praticam a pesca artesanal em Nampula,

correspondente a 33% do total a nível nacional. Destes, 20452 são pescadores

permanentes, 2276 eventuais e 212 são pescadores sem barco (Anon., 2004). Nos

distritos de Angoche e Moma a actividade pesqueira é a base da economia das

populações costeiras, e é praticada principalmente pelos homens. As mulheres praticam a

agricultura, a actividade que complementa a pesca. A produção é usada para o consumo

familiar e para o pequeno comércio, tanto monetário como por troca directa de bens

alimentares com as populações do interior. Uma parte do dinheiro é re-investida na

aquisição dos insumos de pesca (Brito et al., 2006, não publicado).

Figura 1. Thryssa vitrirostris. Exemplares colhidos durante uma das amostragens do presente estudo, variando os peixes em tamanho entre 4 e 18 cm.

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Figura 2. Pescadores artesanais de arrasto para a praia e a embarcação típica usada, uma canoa tipo Moma.

1.2. Biologia e distribuição da família Engraulidae no mundo

Os peixes da família Engraulidae apresentam ampla distribuição geográfica, sendo

encontrados predominantemente nas águas tropicais e subtropicais da América e África

(Mcgowan & Berry, 1983 in Silva et al., 2003; Whitehead et al., 1988). São abundantes

em regiões costeiras semi-abertas, como baías, que funcionam como áreas de

crescimento. A desova ocorre em geral nas zonas costeiras da plataforma, sendo os ovos

e formas larvares transportados para baías onde encontram melhores condições de

protecção e disponibilidade de alimento (Coto et al., 1988; e Mcgregor & Houde, 1996 in

Silva et al., 2003). Estes pequenos pelágicos apresentam um ciclo de vida relativamente

curto e, quando adultos, realizam migrações de curta extensão entre o interior das baías e

a plataforma interna adjacente. Pela sua abundância desempenham um importante papel

na cadeia alimentar dos oceanos, servindo de forragem a muitas espécies de peixe e aves

marinhas (Hildebrand, 1963). Os engraulideos são grandes contribuintes do fluxo

energético ao longo da cadeia alimentar, visto serem os maiores consumidores de

zooplâncton entre os peixes (Baird & Ulanowicz, 1989).

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14

1.3. Biologia e distribuição de Thryssa vitrirostris no mundo e em Moçambique

Em Moçambique, a família Engraulidae é representada por três géneros, Encrasicholina,

Stolephorus e Thryssa. Por sua vez, o género Thryssa está representado por três espécies,

sendo uma delas T. vitrirostris (Fisher et al., 1990, p. 93). Esta espécie distribuí-se pelo

Oceano Índico Oeste, desde KwaZulu-Natal e Madagascar, na costa oriental de África,

até Porto Alfredo no Golfo Pérsico (mas não no Mar Vermelho). Ocorre também nas

costas do Paquistão e Índia (Whitehead et al., 1988) (Figura 3).

Figura 3. Distribuição geográfica de Thryssa vitrirostris (Fonte: Fisbase.org). Trata-se de uma espécie pouco estudada em toda a sua distribuição. Apesar da sua

importância em Moçambique, não existe um grande número de trabalhos realizados a seu

respeito no país. Assuntos previamente estudados no litoral moçambicano incluem, ainda

que sumariamente: a selectividade das artes de pesca (Pinto, 1995), estimativas das

capturas da pesca artesanal no Banco de Sofala, a sul da província de Nampula (Balói et

al., 2002; 2003; 2004a; Mualeque & Uetimane, 2006); relações peso-comprimento,

índices gonadossomáticos e estados de maturação (Brinca et al., 1982). T. vitrirostris é

uma espécie zooplanctívora pelágica; estuarina ou marinha, e que ocorre em cardumes

em intervalos de profundidade que variam de 0 até 50 m (Blaber, 1979). Gislason &

Sousa (1985) referem que T. vitrirostris se alimenta de pequenos camarões (Palaemon

styliferus) e eufausiáceos. Consideracões teóricas indicam que as populações poderão ter

uma alta resiliência, com um coeficiente de crescimento K = 0.5 ano-1 (parâmetro da

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15

função de von Bertalanffy) e um tempo mínimo de duplicação da população menor que

15 meses (Whitehead et al., 1988). Na Baía de Maputo, os valores de K obtidos

anteriormente variaram de 0,52 a 0,77 ano-1 para um comprimento total assimptótico (L∞)

entre 22,8 e 28,5 cm (Gjøsaeter & Sousa, 1987). Outros estudos realizados no Banco de

Sofala indicam que o recrutamento ocorre de Abril a Junho e de Setembro a Outubro

(Gjøsaeter & Sousa, 1983). A desova principal ocorre em Dezembro (Saetre & Silva,

1979, in Gjøsaeter & Sousa, 1983), sendo a área de desova no Banco de Sofala, desde a

foz do rio Zambeze até Angoche (Gjøsaeter & Sousa, 1983).

Para esta espécie, foi registado um comprimento total (CT) máximo de 22,5 cm no banco

de Sofala, em Moçambique (Gjøsaeter & Sousa, 1983; Gislason & Sousa, 1985), e 18 cm

no Irão (Whitehead et al., 1988). Ainda segundo Gislason & Sousa (1985), peixes

pequenos até 4 cm são apanhados principalmente para norte da foz do rio Zambeze e até

Pebane. No entanto, a maior parte dos peixes capturados variam entre os 12 e 17 cm de

comprimento. Outros estudos realizados em KwaZulu-Natal, na África do Sul, referem

que esta espécie atinge o comprimento de maturação aos 8 cm (Wallace, 1975, in Balói

et., 2002).

Resultados de variados cruzeiros do navio DR. FRIDTJOF NANSEN realizados no

Banco de Sofala mostram que a biomassa dos pequenos pelágicos PEL1 (grupo que

inclui os clupeídeos e engraulídeos) tem largas variações sazononais e inter-anuais. Entre

1980 e 1990, a biomassa acústica média destes pequenos pelágicos foi estimada em cerca

de 160 mil toneladas (Tabela 1), dos quais cerca de 60 mil toneladas de clupeídeos e

engraulídeos. Em 2007, a biomassa acústica do grupo PEL1 foi estimada em 20 mil

toneladas: embora possa haver dificuldades na utilização precisa do metodo acústico, isto

parece constituir uma considerável redução.

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Tabela 1. Biomassa acústica estimada de pequenos pelágicos em vários periodos ao longo da costa de Moçambique (Fonte: Sætersdal et al., 1999).

Observação Biomassa (t)

II Outubro-Novembro de 1980 100,000

III Setembro de 1982 160,000

IV Maio-Junho de 1983 190,000

V Abril-Maio 1990 210,000

VI Agosto-Setembro de 1990 130,000

De acordo com o relatório preliminar do cruzeiro Dr. FRIDTJOF NANSEN3 realizado

em 2007, foi encontrada uma pequena densidade de pelágicos em Dikambane e entre a

Beira e Angoche. Densidades maiores foram observadas em pequenas áreas da Beira

(Figura 4).

3 http://www.fao.org/WAIRDOCS/FNS/FN130E/BEGIN.HTM ( Dr. Fridjof Nansen, Fao)

Page 18: Daniel Oliveira Mualeque

17

Figura 4. Mapa de distribuição dos pequenos pelágicos no Banco de Sofala. Fonte: Dados do cruzeiro do navio Dr. Fridjof Nansen, 2007, não publicados.

Page 19: Daniel Oliveira Mualeque

18

1.4. Antecedentes e objectivos do estudo

T. vitrirostris tem sido uma espécie bastante importante na pescaria artesanal de arrasto

para a praia, que é, provavelmente, a maior pescaria do país. De 1997 a 2005, a espécie

que predominou nas capturas do arrasto para a praia no distrito de Moma foi T.

vitrirostris com uma média de 53,3 toneladas anuais correspondente a 23% do total (Brito

et al., 2006). Brito et al. (2006, não publicado) constataram que o esforço de pesca desta

arte em Angoche baixou cerca de 1/3 nos últimos seis anos devido ao abandono da pesca,

o que se tem reflectido nas capturas. Segundo estes autores, de 1997 a 2005 estiveram

activas no distrito de Angoche uma média anual de 2226 redes e foram capturadas, em

média, 224 toneladas. Em 2005 operaram 2384 redes, tendo sido capturadas cerca de 64

toneladas, o valor mais baixo registado até então. De acordo com os mesmos autores, o

declínio da captura total anual desta arte em Angoche poderá estar associado com a

redução das capturas de T. vitrirostris que, tradicionalmente, contribuía com o maior

volume: a produção desta espécie baixou drasticamente de 17,3 para 0,05 toneladas, entre

2003 e 2005 (Figura 5).

0

50

100

150

200

250

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005

Ano

Captura (t)

Figura 5. Capturas de Thryssa vitrirostris por arrasto para a praia no distrito de Angoche entre 1997 e 2005. Fonte: Brito et al. (2006, não publicado).

Esta mesma constatação dum declinio considerável já tinha sido feita anteriormente por

Balói et al. (2003; 2004a) e por Mualeque & Uetimane (2006) nos relatórios estatísticos

da pesca artesanal dos distritos de Mogincual, Angoche e Moma em 2002-2004. Balói et

Page 20: Daniel Oliveira Mualeque

19

al. (2004a) mostraram preocupação por esta tendência, porventura indicadora duma

excessiva redução do stock, e recomendaram uma maior monitorização dos

desembarques de ocar na pesca de arrasto para a praia em Angoche.

Uma análise do estado duma população explorada requer a análise e a síntese de vários

tipos de informação estatística e biológica (King, 2007), entre a qual a definição espaço-

temporal de distribuição. Tentou-se ao longo do presente trabalho atingir os seguintes

objectivos:

o Análise de tendências temporais das capturas e rendimentos, de modo a distinguir

padrões de período curto (dias, meses) de tendências anuais de abundância;

o Análise de tendências geográficas de rendimentos, de modo a compreender a

eventual ocorrência de migrações de longo período do recurso;

o Estudo do padrão de crescimento, mortalidade e de reprodução da população, de

modo a melhor compreender a sua biologia e contribuir para uma boa gestão do

recurso.

1.5. Sistema actual de gestão da pescaria

A pesca artesanal em Moçambique é gerida principalmente de acordo as directivas

contidas na lei 3/1990, de 26 de Setembro, a Lei das Pescas, e nos regulamentos

estabelecidos pelo Ministério das Pescas. O principal enfoque desta regulamentação geral

é o ordenamento pesqueiro e a utilização sustentável dos recursos pesqueiros. A

regulamentação mais importante da lei no âmbito da pesca artesanal está contida no

decreto 43/2003, o Regulamento da Pesca Marítima (REPMAR)4. O REPMAR institui os

actores do processo de administração e de gestão pesqueira, além dos variados níveis de

intervenção (central, provincial e distrital).

4 Legislação. Regulamento Geral da Pesca Marítima, I Série, no. 50, da Lei 3/1990, de 26 de Setemro, Lei das Pesaacas.

Page 21: Daniel Oliveira Mualeque

20

Os serviços da Administração Pesqueira de nível central e provincial têm um papel

fundamental no processo da administração pesqueira, por exemplo no licenciamento,

fiscalização e de gestão dos recursos. A gestão da pesca artesanal, e principalmente do

arrasto de praia, assenta num pequeno número de medidas determinadas pela

regulamentação geral nacional:

o Período de defeso entre os meses de Novembro a Fevereiro. Este período tem sido

alterado de zona para zona. De salientar que esta veda é dirigida à pesca de arrasto

para a praia. As outras artes, como as redes de emalhar e a pesca à linha, não estão

sujeitas a esta medida.

o Malhagem mínima permitida para arrasto para a praia (38 mm). Contudo, por

motivos de preservação dos recursos pesqueiros e de gestão das pescarias, esta

malhagem pode ser alterada (alargada) para cada zona de pesca.

o Preservação de espécies ameaçadas. Constituem capturas não permitidas, os

mamíferos e tartarugas marinhas, espécies raras ou em perigo de extinção e outras

espécies internacionalmente protegidas e de interesse para a investigação. Essas

espécies uma vez capturadas devem ser, segundo a lei, devolvidas ao mar.

Além destas regras gerais, poderão ser instituídas a nível provincial regras locais

específicas, o que poderá incluir e.g. a limitação do número de artes, ou tipo de artes,

admissível numa determinada zona ou período. Estes controlos são, no entanto, raramente

exercidos. Do mesmo modo, a observância das regras gerais relativas à veda e malhagem

é geralmente baixa ou variável, em grande parte por falta de inspecção efectiva.

O processo de gestão de pescas é assistido pelo Instituto Nacional de Investigação

Pesqueira (IIP), que também tem níveis de implantação provincial, além do central. A

missão do IIP é de aconselhamento científico sobre recursos pesqueiros e ambiente

aquático, o que implica monitoria de rotina, estudos especiais, e avaliação científica dos

recursos pesqueiros industriais e artesanais. Normalmente, o IIP recomenda medidas de

gestão para a execução pela Administração Pesqueira. No entanto, até ao presente, o nível

de aconselhamento formalizado sobre as tácticas de ordenamento dos recursos artesanais

tem sido bastante modesto em comparação com as pescarias industriais. Estas últimas

Page 22: Daniel Oliveira Mualeque

21

encontram-se sob um regime rigoroso de controlo de meios e de produção (quotas). Este

contraste deve-se, em parte, à curta história de monitorização de rotina dos recursos

artesanais, e à natureza dispersa destas pescarias.

A regulamentação geral de pesca de pequena-escala também contempla a intervenção no

processo de gestão pelos utilizadores dos recursos pesqueiros, (comunidade pesqueira

local), desde que estes estejam integrados em organizações de base comunitária

denominadas Conselhos Comunitários de Pesca (CCP). Contudo, a eficiência e o

dinamismo destas organizações varia de região para região. Na província de Nampula,

por exemplo, os CCP do distrito de Moma são vulgarmente conhecidos por serem mais

dinâmicos do que os dos outros distritos . Assim, os CCP de Moma têm conseguido

convencer os pescadores a retirarem as redes mosquiteiras dos sacos das suas redes de

arrasto para a praia (Figura 6). Este dinamismo dos CCP de Moma explica a existência de

poucas redes mosquiteiras no distrito de Moma relativamente aos outros distritos da

província de Nampula, segundo o censo realizado pelo IDPPE em 2002 (Anon, 2004).

Figura 6. Redes mosquiteiras retiradas pelos pescadores dos sacos das suas redes de arrasto de praia e armazenadas na sede de CCP de Moma-sede.

As instituições públicas do ministério das pescas e provínciais acima mencionadas

participam, em princípio, no processo de gestão participativa dos recursos pesqueiros.

Page 23: Daniel Oliveira Mualeque

22

Segundo a regulamentação vigente estes são processos coordenados pelas

Administrações Pesqueiras provinciais. A Administração Pesqueira tem, portanto, o papel

coordenador e executor das decisões relevantes para o sistema de gestão com vista ao

objectivo comum da gestão sustentável dos recursos pesqueiros.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Área de estudo

Os distritos de Angoche e Moma estão localizados no sul da província de Nampula, entre

as latitudes 15° 58`S e 17° 01`S e entre as longitudes 39° 04`E e 40° 08`E. A linha de

costa dos dois distritos perfaz cerca de 175 km. O distrito de Angoche ocupa uma área

aproximada de 3 560 km2, e o distrito de Moma de 5 700 km2 (Anon, 1945; 1980; in

Balói et al., 2002, p. 4). As capitais dos distritos utilizados ao longo deste trabalho para

analisar a distribuição geográfica das espécies têm as seguintes latitudes: Mogincual (15 o

35’S) , Angoche (16 o 08’S), Moma (16 o 47’S), Pebane (17 o 10’S) e Beira (19o50’S)

(Figura 7).

Page 24: Daniel Oliveira Mualeque

23

Figura 7. Localização dos distritos analizados no presente estudo, Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira (sombreados). Alterado do mapa que localiza os distritos cobertos pelo sistema de amostragem do IIP. Fonte: Departamento de Informática do IIP. Os distritos de Angoche e Moma situam-se na parte norte do Banco de Sofala, uma das

mais importantes áreas de pesca de Moçambique. Dentro desta região, a área que se

encontra dentro da zona delimitada pela cadeia das ilhas de Goa e Fogo (em frente de

Angoche e Moma) pode ser vista como uma sub-região deste grande ecossistema. Nela

foi identificado um círculo de correntes marítimas (Brinca et al., 1983) e um afloramento

costeiro local rico em nutrientes (Steen & Hoguane, 1990 in Balói et al., 2004a).

Observações e modelos recentes indicam que o sistema de correntes costeiras ao longo do

canal de Moçambique é extremamente dinâmico, existindo um certo número de vórtices

persistentes que induzem fortes correntes de norte para sul, além de sistemas de contra-

corrente na direcção oposta (Segtnan, 2006; Lutjeharms, 2007) (Figuras 8 e 9).

Page 25: Daniel Oliveira Mualeque

24

Figura 8. Modelo da circulação da corrente de Moçambique. Fonte: Segtnan, 2006.

Figura 9. Circulação das correntes costeiras de Moçambique. Fonte: Lutjeharms (2007).

Page 26: Daniel Oliveira Mualeque

25

A costa dos distritos de Angoche e Moma, é caracterizada por um substrato basicamente

arenoso. Os fundos costeiros são de características estuarinas (sedimentares) devido à

influência dos rios Mutomoti, Meluli, Ligonha, e outros que aí desaguam. Esta região é

coberta por várias espécies de mangal. Comparando Angoche e Moma este último distrito

é o que maior afluência de rios apresenta. O clima é tropical e caracterizado por duas

estações, húmida e seca. A estação chuvosa estende-se desde Outubro até Março, com

chuvas predominantes durante os meses de Janeiro e Fevereiro, enquanto que a estação

seca decorre entre Abril e Setembro (Balói et al. 2004).

2.2. Fonte de dados e análise

A informação utilizada no presente trabalho divide-se em dois tipos de dados consoante a

sua natureza e origem: dados da pescaria e amostragem biológica.

2.2.1. Estatísticas de pesca

Os dados estatísticos usados neste estudo são originários do sistema de amostragem da

pesca artesanal do IIP (Volstad et al., 2004) nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma,

Pebane e Beira. Foi usada a série temporal de dados de 1998 a 2007 disponível na base de

dados Pescart do IIP referente à arte de arrasto para a praia. Para o distrito da Beira

estavam disponíveis apenas dados para o período de 2001 a 2006. O sistema Pescart

fornece ao utilizador tabelas contendo dados de esforço e captura até ao nivel temporal de

dias, e combina centros de pesca em estratos geográficos pré-definidos. Os estratos são

definidos por agrupamento geográfico de centros de pesca vizinhos com pescarias

semelhantes. Na base de dados Pescart, o cálculo das estimativas totais de desembarque e

esforço tem como base a unidade primária de amostragem ( ing. PSU, primary sampling

unity). Uma PSU corresponde a uma visita realizada por uma equipa de amostradores a

um centro de pesca num dia de trabalho. De acordo com Volstad et al. (2004), este

processo de amostragem e cálculo decorre em várias etapas. O primeiro passo do cálculo

é a extrapolacão da média da captura observada nos lances amostrados para o total dos

lances efectuados pela unidade de pesca (rede) nesse dia. A segunda etapa engloba toda a

Page 27: Daniel Oliveira Mualeque

26

PSU: o esforço total é a soma do número de unidades activas observadas nessa PSU. O

cálculo da captura total é feita multiplicando a média das capturas totais das unidades

amostradas pelo número de unidades activas naquela PSU. Na etapa temporal (dia ou

noite) ou tipo de dia (dias de semana ou fins de semana), o processamento é feito em

separado. Na etapa seguinte, estrato geográfico, o esforço total é obtido multiplicando a

média do número de unidades de pesca activas por PSU amostrada pelo número máximo

de PSU do estrato. A captura no estrato é calculada multiplicando a captura média das

PSUs amostradas pelo número máximo de PSUs. Da combinação das estimativas do

esforço e desembarques dentro de cada estrato obtêm-se as estimativas do distrito, e, a

partir deste, da província.

O cálculo da CPUE (captura por unidade de esforço) por rede activa é obtido no sistema

Pescart, em qualquer dos níveis de amostragem, dividindo a captura desse nível pelo

respectivo esforço de pesca. Para o cálculo da composição específica usa-se o

procedimento do cálculo da captura considerando a captura de cada espécie

separadamente.

Para qualquer nível de definição desejado (diário, mensal, anual, etc) a composição

específica das capturas é fornecida ao utilizador como uma percentagem do desembarque

total (kg) nesse período. No presente trabalho, o desembarque por espécie foi, portanto,

calculado por uma regra de proporções simples (kg x %). Separadamente, e para os

mesmos períodos de tempo, foi processado o esforço de pesca (artes activas) por distrito.

A partir destes dados base foram calculadas médias aritméticas e ponderadas de captura,

esforço e composição específica.

Uma das tarefas preliminares no processamento dos dados estatísticos foi o controlo da

sua consistência e qualidade. As principais dificuldades encontradas podem-se repartir

entre as seguintes categorias: erros óbvios de introdução de valores na base de dados e

ausência de amostragem em certos meses do período analisado. Os erros de introdução de

valores na base de dados foram detectados apenas num mês, no distrito de Pebane. Este

valor foi ignorado, tendo-se, em substituição, calculado a média aritmética entre os meses

adjacentes ao mês em causa.

Page 28: Daniel Oliveira Mualeque

27

Os erros de ausência de amostragem foram os mais comuns. No distrito de Mogincual foi

verificada a ausência de amostragem em 7 e 9 meses dos anos 1998 e 2000,

respectivamente. Nos distritos de Angoche e Moma registou-se também a ausência de

amostragem no ano de 2000, em 9 e 8 meses, respectivamente. Por impossibilidade de

correcção, estas combinações de anos e distritos foram simplesmente omitidas das

análises. Outro tipo de erros desta categoria foi a ocorrência de espaços em branco para a

captura, esforço e percentagens das espécies da família Engraulidae. Este erro ocorreu em

Mogincual, 2 vezes (2003 e 2006); Angoche, 3 vezes (1998, 2003 e 2006), Moma, 3

vezes, sendo dois em 1998, e um em 2006, e Beira 6 vezes, uma vez nos anos de 2001,

2003 e 2005 e 3 vezes em 2004. Igualmente, no mês de Junho de 2007, não foi feita

amostragem em toda área de estudo, devido ao envolvimento dos amostradores no censo

da pesca artesanal. Foram calculadas médias aritméticas para a captura e o esforço nestes

meses utilizando os valores dos meses contíguos (anterior e posterior) e a média

ponderada das percentagens da composição específica. Espaços em branco foram

também observados para outras espécies menos importantes da família Engraulidae,

frequentemente durante anos inteiros. Discriminando por distrito, estas faltas foram

observadas em Mogincual para: E. heteroloba (2006), T.vitrirostris (2001 e 2006), T.

setirostris (2001 e 2006); Angoche: E. heteroloba (2001 e 2003), E. puntifer (2001-

2003), S. holodon (2001 e 2002) e T. baelama (2002). Igualmente em Moma: T.

vitrirostris um mês em 1998, E. puntifer (2001 e 2004), S. holodon (2002-2005) e E.

heteroloba (2005-2006). Finalmente, em Pebane: T. baelama (1999-2007), S. commerson

(2003, 2004 e 2006), S. holodon (2000, 2003, 2004, 2006 e 2007), S. indicus (2000-2006,

excepto 2005), E. heteroloba (2000-2007), e E. puntifer (2000-20007). Para estes espaços

em branco foram atribuídos valor zero (0), tendo-se, assim, assumido que a falta de

observação correspondia a uma ausência efectiva nos desembarques.

Os dados foram transferidos e armazenados em folhas de cálculo Microsoft Excel e

tratados usando tabelas dinâmicas (pivotTable). Foram igualmente elaborados gráficos

usando Microsoft Excel descrevendo as variações sazonais (anual e mensal) e espaciais

(por distrito) das capturas e rendimentos (CPUE), tal como da distribuição espacial das

diferentes espécies dos géneros da família Engraulidae.

Page 29: Daniel Oliveira Mualeque

28

2.2.2. Amostragem biológica no terreno

Pretendia-se inicialmente efectuar uma amostragem mensal em dois centros de pesca,

Kwirikwige em Angoche e Mucoroge no distrito de Moma, com medição extensa e

aleatória da composição dos comprimentos de ocar nas capturas, e descrição biológica

mais apurada de 100 indivíduos por centro e mês. Esta sub-amostragem não seria

aleatória, mas estratificada, de modo a recolher indivíduos de todas as classes de

comprimento (intervalo: 1 cm) disponíveis no desembarque. Assim, foi feita uma

amostragem quase mensal nos distritos de Angoche e Moma entre Julho de 2007 e

Janeiro de 2008 para o estudo dos parâmetros biológicos (Figura 7). As amostras foram

compradas aos próprios pescadores artesanais no centro de pesca e levadas ainda frescas

para o laboratório para análise biológica. As capturas provinham de redes de arrasto para

a praia sem rede mosquiteira no saco. Devido à escassez de ocar em Kwirikwige

(Angoche) foram colhidas apenas amostras biologicas em Julho de 2007. Como tal, dados

deste distrito foram omitidos das análises posteriores.

No total, foram amostrados em Moma (estrato de Mucoroge) 1261 indivíduos para fins

de análise da composição de tamanhos: de cada indivíduo foi obtido o comprimento total

(mm). Os dados foram registados numa ficha preparada para o efeito (Tabela 5, anexo).

Desta amostra, foi retirada uma sub-amostra composta por 226 indivíduos (89 fêmeas, 41

machos e 96 de sexo indeterminado): depois de pesados com uma balança electrónica

(precisão, 1 g), foram-lhes extraídos os otólitos e gónadas para o estudo da relação peso-

comprimento, idade e reprodução.

Para fins de comparação geográfica foram tambem utilizadas as frequências de

comprimentos de indivíduos amostrados noutros distritos pelos técnicos do IIP. Estes

dados adicionais foram colhidos em trabalho de rotina desde Fevereiro de 2007 até

Janeiro de 2008, em Mucoroge (510 indivíduos)) e Pebane, Zambézia (759 indivíduos).

Page 30: Daniel Oliveira Mualeque

29

2.3. Análise de reprodução

O sexo de cada indivíduo seleccionado para amostragem biológica foi determinado

macroscopicamente. Os estados de maturação sexual foram determinados com base na

análise macroscópica das gónadas, tendo sido adoptados 4 estados propostos por

Vazzoler (1996) e Millan (1999) (ambos citados in Souza-Conceição et al., 2005):

imaturo (1), em maturação (2), maduro (3) e desovado ou em repouso (4). Uma descrição

e ilustração destes estados é fornecida na Tabela 2 e Figura 10. Aos indivíduos do estado

1 não foi possível retirar as gónadas ou efectuar fotografias nitidas.

Tabela 2. Escala de maturação para Thryssa vitrirostris adaptada de Vazzoler (1996) e Millan (1999).

Estado Descrição

1

Imaturo

o Ovários e testículos ocupam, no máximo, 1/3 do comprimento

da cavidade abdominal.

o Ovários transparentes e de côr rosa, testículos filamentosos,

finos e esbranquiçados. Ovos não são visíveis a olho nú.

2

Em maturação

o Ovários e testículos ligeiramente maiores ocupando cerca de ½

do comprimento da cavidade abdominal.

o Ovários transparentes e de côr rosa; testículos esbranquiçados

e quase simétricos. Ovos não são visíveis a olho nú.

3

Maduro

o Ovários e testículos atingem cerca de 2/3 do comprimento da

cavidade abdominal.

o Ovários desiguais e de côr rosa a laranja; testículos desiguais e

de côr esbranquiçada a creme. Ovos são visíveis a olho nú.

4

Desovado ou

em repouso

o Ovários e testículos maiores cerca de 2/3 do comprimento da

cavidade abdominal.

o Ovários de côr laranja a rosa com vasos sanguíneos

superficiais visíveis com parede frouxa com alguns ovos ainda

visíveis; testículos moles de côr branca a creme ou vermelhos

carnudos, desiguais com uma linha mediana vermelha.

Page 31: Daniel Oliveira Mualeque

30

Figura 10. Estados de maturação para os dois sexos de Thryssa vitrirostris amostrados em Moma entre Julho de 2007 e Janeiro de 2008.

O cálculo da proporção sexual foi feito com base no número de machos e fêmeas na

amostra. O período de desova foi determinado analisando a frequencia mensal dos vários

estados de maturação: o periodo em que maior proporção dos individuos se encontrava

em estados finais de maturação foi considerado a época de desova.

O comprimento de primeira maturação (L50) foi determinado como o comprimento ao

qual 50% dos indivíduos atingem o estado de maturação avançado (Martins &

Haimovici, 2000). Para estimar esse comprimento, os indivíduos foram distribuídos por

Page 32: Daniel Oliveira Mualeque

31

classes de tamanho com uma amplitude de 1 cm. Em cada classe de comprimento foi

determinada a frequência de maduros, tendo sido definido como maduro todos os

indivíduos que se encontrassem pelo menos no estado de maturação 3. Foi ajustada uma

curva sigmoidal simétrica (equação 1). Os parâmetros L50 e MR (intervalo de maturação)

foram calculados pelo método de minimização da negativa da função de máxima

verosimilhança (Kvamme, 2004). Para isso foi usada a ferramenta Solver do Microsoft

Excel. A partir destes parâmetros (L50 e MR) foi determinado o intervalo de maturação

L25 – L75 para sexos separados e agrupados. O L25 foi obtido subtraindo o valor de L50

pela metade de MR; para o L75 adicionou-se o valor de L50 pela metade de MR.

Maturação (L) = 1/(1+EXP((-2*LN(3)*(L-L50))/MR)) (1) Onde:

Maturação (L) é a proporção de indivíduos maduros na classe de comprimento L

L50 é o comprimento médio de primeira maturação gonadal

L é o ponto central da classe de comprimento

MR é o parâmetro que indica a inclinação da curva.

2.4. Análise de idade e crescimento

A análise de crescimento foi efectuada pelo método Análise de Progressão Modal (Sparre

& Venema, 1997). A utilização de métodos integrados (Gayanilo et al., 1989), não

forneceu resultados fiáveis, e preferiu-se, assim, utilizar um procedimento manual. Em

resumo, os vários histogramas ilustrativos da composição mensal de comprimentos

(amostragem aleatória) foram sobrepostos e foram desenhadas à mão linhas que ligavam

grosseiramente a moda de cada coorte ao longo de todo o período de amostragem. O

processo foi repetido para as várias coortes identificadas visualmente nos histogramas.

No passo seguinte tentou-se estimar o comprimento médio mensal de cada coorte. Para

este efeito utilizou-se o programa MIX (Macdonald e Pitcher, 1979; Macdonald 1986)

Page 33: Daniel Oliveira Mualeque

32

que permite destrinçar interactivamente misturas de distribuições. Utilizando o método de

máxima verosimilhança este programa permite estimar o comprimento médio, o desvio

padrão de cada distribuição e a proporção de cada coorte na amostra. Assumiu-se que os

comprimentos de cada coorte tinham distribuição normal e definiu-se a priori o número

de componentes normais incluídos em cada distribuição.

Para efeitos do estudo das trajectórias de crescimento, os comprimentos médios mensais

de todas as coortes foram colocados separadamente no mesmo gráfico. A coorte principal

no material amostrado em 2007 era a coorte de 2006: presumiu-se que o mês médio de

eclosão tinha sido Novembro de 2006, pois foi em Dezembro de 2007 que foi encontrada

a maior frequência de indivíduos maduros ou em fase de pós-desova. Para efeitos de

ajuste duma curva única de crescimento presumiu-se que todas as coortes eclodiram na

mesma época do ano. Ajustaram-se então curvas de crescimento a todo este material

combinado, assumindo-se, portanto, que a função descrevia o crescimento médio das

coortes, ou que todas as coortes tinham parâmetros de crescimento semelhantes.

Foram ajustados dois modelos de crescimento aos valores médios dos comprimentos

mensais: a função clássica de von Bertalanffy (equação 2: Sparre & Venema, 1997) e

uma função de crescimento com padrão sazonal sobreposto. Para simular este

crescimento sazonal foi usada a versão da equação de crescimento sazonal de von

Bertalanffy proposta por Somers (1988), utilizando a folha de cálculo Excel desenvolvida

por de Graaf e Dekker (s.d), (equação 3):

Lt = L∞*[1-e(-K*(t-t0))] (2)

L(t) = L∞*{1-e-K*(t-t0)-(C*K/2π)[sin2π*(t-ts)-sin2π(t0-ts)]} (3)

Onde:

Lt é o comprimento do peixe com idade t (meses)

L∞ é o comprimento assimptótico

K é o coeficiente de crescimento

Page 34: Daniel Oliveira Mualeque

33

t0 (T-zero) é a idade a qual o comprimento é zero

C é a amplitude ou intensidade (sinusoidal) da oscilação do crescimento

ts é ponto de verão, ts = tw + 0,5, tw é o ponto de inverno e

π = 3,14159...

O ajuste da função de crescimento foi feito utilizando o método dos minimos quadrados

na rotina de optimização Solver de Excel. Os comprimentos mensais médios observados

nas várias coortes diferiam na sua variância, ou eram suportados por um número diferente

de observações. Assim, para compensar estes efeitos, na utilização do método dos

mínimos quadrados os desvios mensais foram ponderados pelo erro padrão da média

(epm):

( )2

)(

)()(1

min∑ − esptLobstLepm obstL

(4)

Desta maneira, modas bem pronunciadas ou com grande número de indivíduos tiveram

maior peso no ajuste da curva única de crescimento.

2.4.1. Leitura de otólitos

Tentou-se fazer uma verificação das observações de idade e crescimento obtidas por

analise de comprimentos utilizando para o efeito a leitura de otólitos. Nessa verificação

foram utilizados 226 indivíduos de T. vitrirostris retirados mensalmente dos

desembarques através de amostragem estratificada. A estes indivíduos foram extraídos

otólitos, que posteriormente foram secos e conservados. Por não existir uma descrição

clara e detalhada na literatura de métodos de tratamento e leitura de otólitos para

engraulídeos fizeram-se testes com vários métodos: leitura a seco e em imersão (água,

glicerol) em lupa estereoscópica dos otólitos inteiros, com luz transmitida ou reflectida.

Tentou-se, além disso, fazer a leitura de um número reduzido de otólitos utilizando

Page 35: Daniel Oliveira Mualeque

34

secções transversais finas (0.4 mm). O seccionamento foi efectuado na Universidade de

Tromsø, utilizando o método de impregnação e corte descrito por Taylor et al. (2000). A

leitura foi também efectuada sob lupa estereoscópica.

2.4.2. Análise biométrica

Estimou-se a relação peso-comprimento de T. vitrirostris no distrito de Moma com base

em 1771 indivíduos de ambos os sexos amostrados entre Fevereiro de 2007 e Janeiro de

2008. O intervalo de comprimento variou entre 3,5 e 18 cm e o peso total entre 1 e 64 g.

Para dar a noção do ajuste das funções aos pontos, foram ajustadas 3 curvas, para peixes

pequenos, grandes e valores médios dos pesos por cada classe de comprimento,

respectivamente.

Para evitar deturpação da estrutura do erro estatístico, as unidades de medição não devem

ser alteradas aquando do ajuste do modelo matemático, caso hajam suspeitas de que o

erro não é aditivo e de distribuição normal (Quinn & Deriso, 1999). Após observação da

distribuição dos dados assumiu-se que o modelo deveria ter estrutura multiplicativa, pelo

qual o seguinte modelo estatístico (5) é adequado, e foi utilizado:

P = q. Cb.ε (5)

Nesta relação, o peso P (g) é uma função potencial do comprimento C (cm) de cada

indivíduo medido, e o valor observado está sujeito a um erro estatístico multiplicativo

(log-normal, ε). O ajuste deste modelo foi feito com uma ferramenta que mantenha

intacta a estrutura do erro, havendo várias formas de o fazer. No presente trabalho optou-

se pela utilização de um ajuste não-linear em Excel, seguindo os métodos aconselhados

por Haddon (2001).Tentativas iniciais não demonstraram diferenças relevantes entre o

ajuste pelas técnicas de maxima verosimilhanca e o ajuste por minimização dos

quadrados dos logaritmos, e este último, por ser o método mais simples, foi preferido no

decorrer das análises.

Page 36: Daniel Oliveira Mualeque

35

2.5. Análise de mortalidade

2.5.1. Cálculo da captura ponderada por classe de comprimento

Para calcular a taxa de mortalidade instantânea (anual) da população pelo método da

curva de captura torna-se necessário obter a composição total de comprimentos na

captura anual e, de seguida, fazer a conversão de comprimentos para idades. Para obter a

distribuição total de comprimentos existiam duas fontes de dados: a composição de

comprimentos das capturas (número de indivíduos) obtidas mensalmente por amostragem

aleatoria (secção 2.2.2) e as capturas mensais nos distritos (em toneladas), obtidas da

Base de dados Pescart, (secção 2.2.1). A importância de cada classe de comprimento (em

números) na captura anual obteve-se elevando a sua contribuição na amostra para a

captura total mensal e, seguidamente, da captura mensal para a anual, utilizando o

seguinte método:

Os indivíduos foram organizados por mês e classes de comprimento com amplitude de 1

cm. Para cada classe de comprimento foi calculado o peso médio mensal e anual,

utilizando a relação média peso-comprimento definida pela relação alométrica com

parâmetros q e b (equação 5). A biomassa de cada classe de comprimento na amostra foi

obtida segundo a equação (6).

c(l) = n(l) .q.L(i)b (6)

Onde:

c(l) é a biomassa da classe de comprimento (l) na amostra mensal

n(l) número de individuos da classe l na amostra

L(l) é o comprimento médio da classe l

a e b são os parâmetros da relação peso-comprimento.

De seguida calculou-se o factor de extrapolação mensal X, com base na captura total

mensal (Cmês) obtida da Base de dados Pescart e no somatório da biomassa de todas as

classes de comprimento (∑c(l)) obtidas na amostra:

Page 37: Daniel Oliveira Mualeque

36

X = Cmês/∑c(l) (7)

Com este factor de extrapolação calculou-se o número total de indivíduos capturados

mensalmente por classe de comprimento, N(l):

N(l) = X.n(l) (8)

A captura total anual em número para cada classe de comprimento, N(l)a, foi calculada

somando as capturas ponderadas de cada classe de comprimento nos 12 meses (Fevereiro

de 2007 a Janeiro de 2008). Esta foi usada para a construção da curva de captura

linearizada:

N(l)a= N(l)Fev + N(l)Mar + ... + N(l)Jan (9)

Num segundo passo foi necessario converter os intervalos de comprimento em intervalos

de idade. Assumiu-se que o ocar de cristal tem um crescimento sazonal, tendo sido usada

a versão da equação de crescimento sazonal de von Bertalanffy descrita por Somers

(1988) (3), para fazer esta reversão. Em resumo, os parâmetros da equação de

crescimento sazonal foram utilizados para converter o valor central de cada classe de

comprimento em idade. Os dados de comprimento foram convertidos em idade usando a

função “LOOKUP” do spreadsheet desenvolvida por de Graaf & Dekker (2008)..

2.5.2. Construção da curva de captura linearizada

A análise de mortalidde foi feita com base na conversão dos comprimentos/idades em

curva de captura linearizada. Assumindo-se que o recrutamento e a mortalidade são

constantes para a T. vitrirostris, a curva de captura foi descrita pela equação (10).

ln(N(l)a/dti) = a + Zti (10)

Onde:

N(l)a é o número de indivíduos capturados anualmente da classe de comprimentos l

dti é o tempo necessário para o peixe crescer dentro do comprimento da classe l

Page 38: Daniel Oliveira Mualeque

37

Z é a taxa de mortalidade total

ti é a idade do comprimento médio da classe de comprimento l

a é uma constante.

A regressão obtida no gráfico de ln(N/dt) contra a idade do comprimento médio, fornece

a curva de captura (Sparre e Venema, 1997).

3. RESULTADOS

3.1. Distribuição e importância da família Engraulidae nos distritos de Mogincual,

Angoche, Moma e Pebane

Foram identificadas oito espécies da família Engraulidae nos distritos de Mogincual,

Angoche, Moma e Pebane, segundo os dados originários da amostragem de rotina

efectuada pelo IIP no período 1998 - 2007. Os engraulídeos capturados comercialmente

pertencem aos seguintes géneros: Thryssa [Thryssa baelama (Forskål, 1775) ( TBA);

Thryssa vitrirostris (Gilchrist & Thompson, 1908) (TVI) e Thryssa setirostris

(Broussonet, 1782) (TSE)], Stolephorus [Stolephorus commersonii Lacepède, 1803

(SOM); Stolephorus indicus (van Hasselt, 1823) (STI) e Stolephorus holodon (Boulenger,

1900) (SHO)] e Encrasicholina [Encrasicholina heteroloba (Rüppell, 1837) (EHE) e

Encrasicholina puntifer Fowler, 1938 (EPU)].

Várias tendências ou gradientes bio-geográficos são aparentes dos dados comerciais

(Figuras 11 e 12): as capturas totais, tal como as CPUE, aumentam em direcção ao sul da

área estudada, o que pode ser indicativo duma maior abundância em águas mais frias;

embora a riqueza específica seja semelhante em todas as latitudes, a equidade da

composição é maior a norte; em termos de importância relativa em biomassa, o género

Encrasicholina é mais importante na zona norte e o género Thryssa na zona sul, enquanto

que o género Stolephorus parece ter uma distribuição uniforme.

Page 39: Daniel Oliveira Mualeque

38

T. vitrirostris (TVI) foi a espécie mais capturada com 64% duma captura cumulativa total

estimada em 342 toneladas. A sua importância aumentou de Mogincual (norte) para

Pebane (sul), tendo sido capturado neste último distrito 126 toneladas em 8 anos (1999-

2007) (Figuras 11 e 12). O mesmo padrão de distribuição foi seguido pelas espécies T.

setirostris (TSE), E. heteroloba (EHE), embora estas tenham o distrito de Moma como

centro das capturas. As restantes espécies não apresentaram um padrão regular de

distribuição, além dos acima citados para os diferentes géneros. No distrito de

Mogincual, zona limítrofe a norte do Banco de Sofala, as várias espécies foram

capturadas em quantidades diminutas, menos de 2 toneladas, com a excepção de E.

heteroloba (EHE) cuja captura foi um pouco superior, 4 toneladas em 10 anos.

Page 40: Daniel Oliveira Mualeque

39

Angoche

TBA 11

TSE 6

TVI 34

STI 0SHO 0

EHE 4

SOM 1

EPU 0

Mogincual

EPU 1

SOM 0

EHE 4

SHO 0

ST I 0

TBA 0TSE 1 TVI 1

Moma

TSE 8

TVI 58

TBA 0STI 5

SHO 0EHE 5

SOM 2

EPU 1

Pebane

TVI 126

STI 60

SHO 3

EHE 2

SOM 5

EPU 0

TSE 3

TBA 0

Figura11. Capturas cumulativas (toneladas) das espécies da família Engraulidae nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma e Pebane desde 1998 a 2007. Códigos: Thryssa baelama ( TBA); Thryssa vitrirostris (TVI); Thryssa setirostris (TSE); Stolephorus commersonii (SOM); Stolephorus indicus (STI); Stolephorus holodon (SHO); Encrasicholina heteroloba (EHE) e Encrasicholina puntifer (EPU). A disposição dos distritos segue ordem geográfica, de Norte (Mongicual) para Sul (Pebane).

Page 41: Daniel Oliveira Mualeque

40

Mogincual

TV I 0 ,6

STI 0 ,0

SHO 0 ,0

TSE 0 ,4

EPU 0 ,3

TBA 0 ,4EHE 0 ,7

SOM 0,4

Moma

TV I 17 ,5

SOM 0,8

EHE 0 ,8

TBA 0 ,1

EPU 0 ,1

TSE 2 ,7

SHO 0 ,0

STI 1 ,9

Pebane

TV I 45 ,0

STI 23 ,5

SHO 0 ,0

TSE 0 ,9

EPU 0 ,0 TBA 0 ,0

EHE 0 ,2

SOM 1 ,4

Angoche

TV I 5 ,5

STI 0 ,1

SHO 0 ,0TSE 0 ,6

EPU 0 ,4 TBA 0 ,1EHE 0 ,6

SOM 0 ,2

Figura 12. Rendimentos (Kg/rede.dia) das espécies da família Engraulidae nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma e Pebane desde 2001 a 2007. Códigos: Thryssa baelama ( TBA); Thryssa vitrirostris (TVI); Thryssa setirostris (TSE); Stolephorus commersonii (SOM); Stolephorus indicus (STI); Stolephorus holodon (SHO); Encrasicholina heteroloba (EHE) e Encrasicholina puntifer (EPU).

Page 42: Daniel Oliveira Mualeque

41

3.1.1. Evolução anual das capturas e rendimentos (CPUE) de T. vitrirostris nos

distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira

A análise da evolução anual das capturas e rendimentos (CPUE) de T. vitrirostris (TVI)

nos distritos de Mogincual (15o 35’S) , Angoche (16o 08’S), Moma (16o 47’S), Pebane

(17o10’S) e Beira (19o50’S) é ilustrada na Figura 13. Esta espécie ocorre

esporadicamente nos distritos de Mogincual e Angoche, no norte da região. Nestes dois

distritos, ela foi sobretudo capturada entre 2002 e 2003, período em que houve uma

ligeira redução em Moma e Pebane.

Os índices de densidade (CPUE) indicam que a espécie tem uma abundância crescente do

norte (Mogincual) para o sul (Pebane), parecendo ser o distrito de Pebane o centro da

distribuição. Para sul de Pebane a densidade poderá decrescer de novo, e na Beira os

índices de cpue, embora ainda elevados, são cerca de metade dos de Pebane. Tem havido

uma certa variabilidade nos rendimentos em Pebane tendo sido observadas duas modas,

uma em 2000 e outra em 2002 (Figura 26, anexo), seguidas por alguma estabilidade até

2007. Nos distritos de Moma e Beira, depois de um período de certa estabilidade dos

rendimentos entre os anos 2001 e 2003, seguiu-se uma redução considerável até 2007,

principalmente em Moma. Os valores mínimos de captura e rendimentos na Beira foram

observados em 2004. Após este ano as capturas e os rendimentos aumentaram, tendo

atingido um máximo em 2005, ano em que os rendimentos em Pebane baixaram. No

distrito de Angoche observou-se uma tendência decrescente ao longo do tempo com uma

redução drástica nos últimos três anos.

Page 43: Daniel Oliveira Mualeque

42

Mogincual

0

5

10

15

20

25

30

35

40

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Ano

Captura (t) ( )

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

CPUE Kg/rede/dia (--)

Moma

0

100

200

300

400

500

600

700

800

900

1000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Ano

Captura (t) ( )

0

5

10

15

20

25

30

35

CPUE Kg/rede/dia (--)

Angoche

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Ano

Captura (t) ( )

0

5

10

15

20

25

30

35

CPUE Kg/rede/dia (--)

Pebane

0

500

1000

1500

2000

2500

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Ano

Captura (t) ( )

0

10

20

30

40

50

60

70

CPUE Kg/rede/dia (--)

Beira

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008

Ano

Captura (t) ( )

0

5

10

15

20

25

30

35

40

45

50

CPUE Kg/rede/dia (--)

Figura 13. Variação anual de captura e CPUE de Thryssa vitrirostris nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira.

Page 44: Daniel Oliveira Mualeque

43

3.1.2. Variação sazonal dos Rendimentos

Uma análise do ano médio para cada distrito não revelou a existência de topos marcantes

de rendimentos em épocas especiais do ano (Figura 14). No entanto, uma análise mais

detalhada indica que podem existir dois tipos de padrões. Nos centros de densidade de

ocar de cristal (Moma, Pebane e Beira), os principais picos de rendimentos são

normalmente obtidos na época estendida das chuvas (Outubro-Março). Pelo contrário,

nos distritos a norte, e principalmente no distrito mais setentrional (Mogincual), os picos

de rendimentos tenderam a ser obtidos na estação estendida da seca (Abril-Setembro).

Embora tenha ocorrido uma certa variação inter-anual nestas tendências, como se pode

observar numa análise mais detalhada (Figura 26, anexo), o único ano de excepção óbvia

parece ter sido 2006. Este foi um ano de rendimentos anuais médios, mas os rendimentos

máximos em todos os distritos, mesmo nos mais a sul, foram obtidos no início da época

seca, à excepção de Mogincual onde não se registaram capturas.

Page 45: Daniel Oliveira Mualeque

44

Ano médio_Mogincual

0,0

0,5

1,0

1,5

2,0

2,5

3,0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

MêsCPUE (Kg/rede.dia)

Ano médio_Angoche

0,0

5,0

10,0

15,0

20,0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Mês

CPUE (Kg/rede.dia)

Ano médio_Moma

0,0

10,0

20,0

30,0

40,0

50,0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Mês

CPUE (Kg/rede.dia)

Ano médio_Pebane

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Mês

CPUE (Kg/rede.dia)

Ano médio_Beira

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Mês

CPUE (Kg/rede.dia)

Figura 14. Variação mensal (ano médio) de CPUE de Thryssa vitrirostris nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira entre 1998 à 2007.

Page 46: Daniel Oliveira Mualeque

45

3.2. Reprodução e modelo de maturação

3.2.1. Proporção de sexos e tendências sazonais de maturação

Foi de, modo geral, impossivel identificar o sexo de individuos inferiores a 10 cm de

comprimento total. A partir deste comprimento foi possível definir o sexo de 132

indivíduos, 91 fêmeas e 41 machos, dos 226 individuos amostrados. A frequência relativa

de machos e fêmeas por classes de tamanho mostrou predominância de fêmeas, excepto

nas classes de comprimento de 9-10 cm, 12-13cm e 17-18 cm, onde a proporção das

fêmeas foi sensivelmente igual à de machos (Figura 15).

0,0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1,0

9-10 10-11 11-12 12-13 13-14 14-15 15-16 16-17 17-18

Classe de comprimento total (cm)

Proporção sexual

M

F

Figura 15. Proporção sexual de Thryssa vitrirostris por classes de comprimento entre Julho de 2007 e Janeiro de 2008 em Moma.

A distribuição dos estados de maturação sexual de T. vitrirostris, com base nas

amostragens feitas em Moma, mostra um pico do estágio 3 nos meses de Outubro e

Novembro, tanto para as fêmeas como para os machos (Figura 16). O estado 4, que indica

já um período de pós-desova, ocorreu com maior frequência após ao pico do estado 3: em

Novembro-Dezembro para as femeas, e em Outubro-Novembro para os machos. No mês

de Dezembro não foram identificados machos, e a maior parte das fêmeas encontravam-

Page 47: Daniel Oliveira Mualeque

46

se no estado correspondente ao processo de repouso e recuperação. Infere-se assim que

Novembro é o mês principal de desova, pois no mês de Dezembro, embora só três fêmeas

tenham sido amostradas, todas se encontravam no último estado de maturação

(desovadas/repouso) (Figura 16a).

Para este estudo foram usados 91 fêmeas, destas 50 estavam no estágio 3 e 4 (maturas ou

desovadas), perfazendo mais de metade das fêmeas, parecendo que a espécie usa a área

para a desova.

Page 48: Daniel Oliveira Mualeque

47

a

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

Jul-07 Ago-07 Set-07 Out-07 Nov-07 Dez-07 Jan-08

Mês

Frequência de estádios

IV

III

II

I

10 17 13 15 3 33

b

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

Jul-07 Ago-07 Set-07 Out-07 Nov-07 Dez-07 Jan-08

Mês

Frequência de estádios

IV

III

II

I

10 7 10 10 4

c

0

0,2

0,4

0,6

0,8

1

Jul-07 Ago-07 Set-07 Out-07 Nov-07 Dez-07 Jan-08

Mês

Frequência de estádios

IV

III

II

I

20 24 23 25 3 37

Figura16. Estágios de maturação para fêmeas (a), machos (b) e sexos agrupados (c) por mês de Thryssa vitrirostris

Page 49: Daniel Oliveira Mualeque

48

3.2.2. Ogiva de maturação sexual

As curvas sigmoidais (logit) ajustadas às frequências médias de indivíduos que

apresentavam estados de maturação igual ou superior ao estado 3, agrupados por classe

de comprimento total e sexo, constam da figura 17. O comprimento da primeira

maturação (L50) estimado para as fêmeas foi de 13,4 cm e um intervalo de maturação (L25

- L75) de 12,2 – 14,6 cm. Para os machos foi obtido um L50 de 13,9 cm e um intervalo de

maturação de 12,7 – 15,2 cm; para sexos agrupados o comprimento de primeira

maturação foi de 13,2 cm e o intervalo de maturação de 12,1 – 14,4 cm (Figura 17 a, b e

c).

0

0,25

0,5

0,75

1

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19Frequência maduras (>= est 3)

0

0,25

0,5

0,75

1

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19Frequência maduras (>= est 3)

b

0

0,25

0,5

0,75

1

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Comprimento total ( cm)

Frequência maduras (>= est 3)

mat obs Logit L50 L75 L25

c

a

Figura 17. Ogivas de maturação sexual para fêmeas (a), machos (b) e sexos agrupados (c).

Page 50: Daniel Oliveira Mualeque

49

3.3. Idades e crescimento

3.3.1. Análise de frequências de comprimento

Uma ampla distribuição de tamanhos foi observada tanto em Moma como em Pebane

durante grande parte do ano (Figura 18). No entanto, as modas de individuos pequenos

(≤7 cm) ocorreram principalmente entre Março e Setembro de 2007. Em Moma parece

ter existido um indício de recrutamento em Janeiro de 2008. De modo geral, no principio

e final do ano (na época chuvosa) foram individuos maiores (>10 cm) que dominaram as

capturas do arrasto para a praia. Em Pebane, os indivíduos mais pequenos (4 cm) foram

registados no mês de Março e os maiores (18 cm) no mês de Maio; em Moma, os

indivíduos mais pequenos (3,5 cm) foram observados no mês de Janeiro de 2008 e os

maiores em Dezembro de 2007 (Figuras 24 e 25, apêndice).

Page 51: Daniel Oliveira Mualeque

50

C. 2007

C. 2006

C. 2005

C. 2004

Comprimento (cm)

Figura 18. Histogramas das composições mensais de comprimentos nos distritos de Moma e Pebane (dados combinados). Sobrepostas estão curvas de crescimento de quatro supostas coortes observadas ao longo de todo o período de amostragem. Seguindo o modelo de crescimento proposto, a coorte mais velha (linha amarela) terá tido o seu início em 2004.

Page 52: Daniel Oliveira Mualeque

51

3.3.2.Verificação por otólitos

Apesar dos otólitos serem relativamente pequenos (< 7 mm) e translúcidos, a leitura por

métodos simples, utilizando otólitos inteiros, nâo demonstrou ser fácil nem coerente. De

modo geral, a leitura de otólitos de peixes menores de 12 cm deixou a impressão da

inexistência de anéis anuais marcantes. Vistos em luz transmitida, alguns dos otólitos de

peixes maiores deram a impressão da existência de um anel ao longo do rebordo inferior

(Figura 19). No entanto, os resultados nem sempre foram consistentes para as várias

combinações de tamanhos de peixe e estações do ano. Decidiu-se assim selecionar alguns

otólitos provenientes de peixes de variados tamanhos para realização de cortes finos (0.4

mm). Alguns dos otólitos dos peixes de maior tamanho capturados em Janeiro de 2008

mostraram claramente, em secção fina, a formação de um ou dois anéis hialinos (Figura

20). Além disso, alguns deles possuiam na margem um indício de zona opaca, o que

poderia sugerir um período de crescimento rápido. O número de otólitos seccionados foi

pequeno, o que não permitiu uma análise exaustiva do número de anéis e de incrementos

marginais.

Page 53: Daniel Oliveira Mualeque

52

Figura 19. Otólitos de Thryssa vitrirostris em vista dorsal, imersos em glicerol e iluminados com luz transmitida. O otólito pequeno, extraído dum peixe de comprimento total de 8.8 cm, apresenta um nucleo central bem definido. O otólito dum peixe grande (17 cm) parece apresentar um anel mais marcante ao longo do rebordo inferior.

Page 54: Daniel Oliveira Mualeque

53

Figura 20. Estudo de secções finas de otolitos de Thryssa vitrirostris amostrados em Moma em Janeiro de 2008. Vista dorsal do otólito inteiro (à esquerda) de peixes com comprimento total de 3.5 cm, 13.5 cm e 18.0 cm, cujos otólitos mediam cerca de 1.5 mm, 5 mm e 6 mm, respectivamente. Vistos em secção fina, o otólito do peixe #17 (centro) parece ter formado um primeiro anel hialino, enquanto o do peixe #18 (direita) parece já mostrar a formação completa dum segundo anel e um claro início duma zona opaca.

Page 55: Daniel Oliveira Mualeque

54

3.3.3. Modelo de crescimento

Os resultados da análise de crescimento de T. vitrirostris são apresentados graficamente

na figura 21. No gráfico, a abcissa representa a idade imputada pela análise de progressão

modal e o eixo das ordenadas o comprimento médio das modas ao longo de 2007. Duas

curvas de crescimento de von Bertalanffy foram ajustadas à série de dados: uma curva

simples, seguindo o modelo tradicional, e uma curva com uma componente periódica que

sugere que o ocar tem um padrão de crescimento sazonal com K igual a 0,7 ano-1, um

comprimento assimptótico L∞ de 19,0 cm TL e uma amplitude de crescimento C de 0,9

(Figura 21). Os dados das três coortes aglomeradas dão a aparência de crescimento

sazonal, com uma estagnação entre 5 e 10 meses e outra entre 16 e 22 meses de idade.

Mantendo o pressuposto da eclosão em Novembro, esta estagnação decorreria

sensivelmente entre Abril e Setembro.

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

0 6 12 18 24 30

Idade (meses)

Lt (cm)

Coorte 2004

Coorte 2005

Coorte 2006

Coorte 2007

Ajuste vB

Ajuste vB saz

Figura 21. Curvas de crescimento de von Bertalanffy simples e sazonal ajustadas a Thryssa vitrirostris no distrito de Moma. As barras indicam o erro padrão das médias ds distribuições analisadas.

Page 56: Daniel Oliveira Mualeque

55

3.3.4. Relação peso-comprimento

A relação de potência de T. vitrirostris amostrada entre Fevereiro de 2007 e Janeiro de

2008 foi estudada a dois niveis de definição: para organismos individuais e para as

médias de peso por intervalo de comprimento (1 cm) (Figura 22). A relação entre peso

(PT, g) e comprimento total (CT, cm) para os valores médios resultou numa função com

os seguintes parâmetros (Tabela 3):

PT = 0,0073.CT 3,0120 (12)

Para se obter um ajuste razoável da relação alométrica às observações individuais foi

necessário separar estas observações em dois grupos: peixes pequenos, de comprimento

<10 cm e na sua totalidade juvenis, e peixes grandes, de comprimento ≥ 10cm e quase

todos maduros (Figura 22 e Tabela 3). A utilização duma função única resultaria numa

curva mal ajustada que se centrava nos tamanhos intermédios (os mais abundantes), mas

que exagerava o peso dos individuos pequenos e sub-avaliava o peso dos individuos

maiores. Além desta limitação referente ao balanço dos dados conforme os tamanhos, a

baixa precisão (1g) das medições dificultou o ajuste para os indivíduos pequenos (Figura

22b). De igual modo, o grande factor de condição dos individuos >15cm enviezou um

pouco o ajuste para comprimentos superiores (Tabela 3), mesmo na análise desagregada.

Tabela 3. Parâmetros da relação alométrica para Thryssa vitrirostris amostrada em Moma no período de Fevereiro de 2007 a Janeiro de 2008. “n” é o número de observações utilizadas em cada ajuste.

Parâmetro Intervalo de tamanhos

Dados de peso n

q b Todos os tamanhos (4,5-18cm) Médias por intervalo 14 0,0073 3,0120 Peixes pequenos (3,5 – 9.9 cm) Individuais 150 0,0283 2,3430 Peixes grandes (10.0 – 18 cm) Individuais 1621 0,0020 3,5056

Page 57: Daniel Oliveira Mualeque

56

0

1

2

3

4

5

6

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Comprimento Total (cm)

Peso (g)

Peso P esp Power (P esp)

b

0

10

20

30

40

50

60

70

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Comprimento Total (cm)

Peso (g)

Peso P esp Power (P esp)

c

0

10

20

30

40

50

60

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19

Comprimento médio (cm)

Peso médio (g)

peso (g) Power (peso (g))

a

Figura 22. Relação peso-comprimento de Thyssa vitrirostris amostrado em Moma no período de Fevereiro de 2007 a Janeiro de 2008: (a) pesos médios por classe de comprimento; (b) peixes pequenos e c) peixes grandes.

Page 58: Daniel Oliveira Mualeque

57

3.4. Determinação de mortalidade total por curva de captura

A curva de captura obtida para T. vitrirostris com os dados da amostragem efectuada

entre Fevereiro de 2007 e Janeiro de 2008 encontra-se ilustrada na Figura 23. O método

utilizado toma em consideração o padrão de crescimento sazonal. O declive da recta nos

pontos seleccionados indica uma taxa instantânea relativa de mortalidade total Z= 2.30

ano-1. Só os grupos de idade indicados com circulos pontuados foram utilizados na

determinação do declive da recta. Os grupos de idade inferior foram considerados

estarem parcialmente recrutados à pescaria.

Curva manual de captura sasonal

y = -2,3017x + 18,742

R2 = 0,9933

0

2

4

6

8

10

12

14

16

18

20

0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5

Idade (anos)

Ln(n/dt)

LN(n/dt)

Pontos seleccionados para a curva de captura

Linear (Pontos seleccionados para a curva de captura)

Figura 23. Curva de captura linearizada baseada na composição etária média das capturas de Thryssa vitrirostris do distrito de Moma no período de Fevereiro de 2007 a Janeiro de 2008.

Page 59: Daniel Oliveira Mualeque

58

4. DISCUSSÃO

Uma das fontes de informação usada no presente trabalho consistiu das estatísticas de

pesca recolhidas pelo IIP nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira

entre 1997 e 2007. Este é um vasto e ambicioso programa de amostragem face às

vicissitudes das nossas instituições. Visto as rotinas de extracção e controlo de qualidade

de dados ainda não estarem perfeitamente regularizadas, foi necessario dedicar uma boa

parte do tempo à inspecção da consistência dos dados. Contudo, foi possível usar os

dados verificados para analisar as tendências temporais das capturas e rendimentos, as

quais permitiram distinguir alguns padrões sazonais e anuais de abundância. Foi

igualmente possível analisar as tendências geográficas de rendimentos, o que permitiu

estudar as eventuais ocorrências de migração da população de ocar de cristal na região. A

segunda fonte de informação foi a recolha mensal e análise laboratorial de peixe. Teria

sido recomendável efectuar uma amostragem biológica mais intensiva no terreno. No

entanto, limitações de tempo e dificuldades logísticas e financeiras determinaram que o

estudo fosse optimizado para os escassos recursos existentes.

A análise de padrões de crescimento e mortalidade foram alguns objectivos definidos no

presente estudo. Os métodos a serem usados preconizavam o uso da leitura directa de

otólitos para a verificação da composição etária da população. A leitura de otólitos por

métodos simples, como a leitura de otólitos inteiros, não permitiu o obtenção de

resultados consistentes. Isto deveu-se em parte às conhecidas complicações de leitura de

estruturas duras em peixes de áreas tropicais referidas por Sparre & Venema (1997).

Apesar de diversos especialistas em leitura de otólitos terem feito análises etárias em

engraulídeos, poucos, ou nenhum, fez uma descrição sistemática dos métodos utilizados,

ou documentou o seu trabalho com fotografias. Neste aspecto particular, será o presente

trabalho talvéz o único no género, e aqui se discutem as dificuldades específicas e se

fazem propostas para melhoria dos métodos.

Page 60: Daniel Oliveira Mualeque

59

4.1. Distribuição e importância da família Engraulidae nos distritos de Mogincual,

Angoche, Moma e Pebane

As capturas acumuladas das espécies da família Engraulidae, observadas entre 1998 e

2007 (Figuras 11 e 12) revelam a distribuição e a importância desta família, e

principalmente de Thryssa vitrirostris, na região em estudo. De uma forma geral, as

presentes observações parecem reflectir o padrão zoogeográfico descrito por Blaber

(2000). Segundo este, a diversidade especifica de algumas familias, entre as quais a

Engraulidae, decresce desde o seu centro evolucionário no sul da Ásia, em direcção ao

Índico sudeste (Austrália) e sudoeste (sudeste Africano). Assim, os índices médios de

densidade especifica (Figura 12) mostram grande homogeneidade em Mogincual, com 8

espécies equitativamente representadas, passando a ser dominados por duas espécies em

Pebane, no Sul. Ao longo deste gradiente geral norte-sul, dá-se principalmente um

desaparecimento das espécies do género Encrasicholina, e um forte aumento da

representação de Thryssa vitrirostris e Stolephorus indicus, mas não necessariamente

doutras espécies nestes dois géneros taxonómicos. Esta dominância significa porventura

que estas duas espécies, e primariamente o ocar de cristal, são migrantes marinhos

bastante flexíveis, de menor afinididade obrigatória aos estuários, uma adaptação

evolucionária postulada por Whitfield (1994). Isto poderá explicar a dominância do ocar

de cristal ao longo da costa e dos estuários recentes e inconstantes do sudeste Africano,

incluindo muitos pequenos estuários de Mocambique e da África do Sul (Blaber, 2000;

Balói et al. 2002, 2003 e 2004). Ambientes deste tipo acentuam-se do norte para sul, na

região em estudo, devido à influência dos rios Meluli entre Angoche e Moma, Ligonha

entre Moma e Pebane, entre outros. As restantes espécies tiveram ocorrências esporádicas

ao longo do período e região em análise, revelando o seu carácter migratório e transiente.

Sobrepostos a estes padrões zoogeográficos regionais podem ocorrer variacões de

carácter local: diferenças na exposição às ondas e do tipo de substrato das praias, e das

correntes e turbidez da água podem-se reflectir na composição específica das capturas e,

até, da composicao de tamanhos dos peixes (Clark, 1997).

Page 61: Daniel Oliveira Mualeque

60

4.1.1. Evolução anual das capturas e rendimento (CPUE) de T. vitrirostris nos

distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira

Um aspecto fundamental para o ordenamento dos recursos pesqueiros é a definição da

unidade populacional de gestão. Os resultados da análise particular das capturas e

rendimentos (CPUE) da T. vitrirostris, apresentados na figura 13, confirmam os obtidos

na análise conjunta das outras espécies da família (Figuras 11 e 12): existe um aumento

da abundância relativa crescente de norte para sul, mas o pico de densidade junto à costa

ocorre na região de Pebane. A este padrão de tipo regional e perene podem-se sobrepôr

variacões anuais conotadas talvéz com fenómenos oceanográficos, ou com a dinâmica da

população e da própria exploração pesqueira. Se a análise for feita por distrito, pode-se

observar, por exemplo, que as capturas e os rendimentos de ocar nos distritos a norte, e

particularmente em Mogincual, foram anormalmente altos entre 2002 e 2003 (Figura 13),

o que pode indicar uma arribação ou migração de cardumes de período longo. Mas, os

anos de 2002-2004 foram também, de modo geral, anos de bons rendimentos (CPUE) nos

outros distritos a sul. Pressupondo que se trata duma única população, isto poderia indicar

um aumento da população ou uma deslocação desta para junto à costa, tornando-se assim

mais acessivel às artes de praia. Por outro lado, parece ter havido uma assincronia

(correlação negativa) dos rendimentos entre os distritos do norte (Angoche e Moma) e os

do sul (Pebane e Beira) no inicio e fim da série de dados. No início os rendimentos foram

muito altos no norte, e aparentemente baixos no sul; de 2004 em diante os rendimentos de

ocar têm baixado substancialmente no norte e aumentado no sul. Estas ocorrências

podem suportar a hipótese de que se trata duma única unidade populacional cujo centro

de densidade realiza deslocações de periodo longo (anos) entre o norte e o sul.

De relevância também para o ordenamento das pescas é o conhecimento do estado da

população. Os dados acústicos de cruzeiros são intermitentes, mas indicam uma redução

muito considerável, de cerca de 90%, da abundância de pequenos pelágicos (PEL1), entre

os quais se inclui o ocar, entre a década de 1980-1990 e 2007. É possível que as

estimativas resultantes deste tipo de acústica não sejam muito propícias para pequenos

pelágicos do tipo do ocar, quer por dificuldades técnicas, quer pela natureza da

Page 62: Daniel Oliveira Mualeque

61

distribuição do recurso. Espécies como o ocar tendem muitas vezes a utilizar a zona

costeira, muitas vezes a própria zona litoral de rebentação, como habitat preferido,

possivelmente para escapar à predação por peixes píscivoros em águas mais afastadas

(Blaber, 2000; Sato et al., 2008) . Esta estratégia tanto dificulta o levantamento acústico

por navios de grande porte, como porventura os torna mais acessiveis a artes de arrasto

para a praia.

A tendência geral para os anos amostrados nos distritos de Angoche e Moma é de

redução de desembarques e rendimentos, em particular no distrito de Angoche onde se

registou uma redução drástica a partir de 2004. Brito et al. (2006), referiram que as

capturas totais da pesca artesanal baixaram nos últimos anos como consequência da

redução das capturas da T. vitrirostris, a espécie mais importante. De facto, as capturas

no distrito de Angoche reduziram-se drasticamente entre 2003 a 2005, de 17,3 para 0,05

toneladas (Figura 5). Em geral, a densidade da espécie (ilustrada pelos rendimentos de

pesca) parece ter estabilizado nos últimos anos em Pebane e Beira, apesar da tendência

decrescente dos desembarques. Isto poderia, em principio, ser explicado por uma

deslocação do stock para sul, ou por uma recuperação do seu estado devido ao abandono

do esforço, se se excluirem possíveis artefactos de amostragem deficiente, de aumento do

poder de pesca ou outra qualquer mudança na capturabilidade da espécie. Nos três

distritos mais a norte, incluindo Moma, a tendência tem sido a duma descida marcante

nos rendimentos de pesca nos últimos 3-4 anos. Assim, parece realmente ter existido uma

diminuição da acessibilidade ou da abundância do recurso, embora não tão extrema como

os dados acústicos o poderiam indicar. No entanto, a curta extensão e falta de

sobreposição temporal das séries de dados de cruzeiros e de amostragem na praia não

permitem retirar elações definitivas sobre as causas e extensão do declínio.

Page 63: Daniel Oliveira Mualeque

62

4.1.2. Variação sazonal dos Rendimentos de pesca

A variação mensal dos rendimentos (CPUE) de pesca do ocar pode fornecer informação

sobre possiveis migrações sazonais. Duma maneira geral, a espécie mostrou, num mesmo

ano, mais que duas modas na mesma localidade. Por exemplo, no distrito de Mogincual,

onde o registo da espécie é esporádico, ocorreram duas modas salientes no segundo

trimestre de 2002 e no terceiro de 2003. A tendência geral foi, no entanto, da ocorrência

de modas mais salientes na época estendida das chuvas (Outubro-Março) nos distritos

mais a sul (Pebane e Beira), e na época estendida da seca (Abril-Setembro) nos distritos a

norte, em particular em Mogincual (Figura 14). Embora exista uma grande variabilidade

inter-anual neste padrão (Figura 26, em apêndice), o tempo das chuvas é, segundo os

pescadores artesanais entrevistados em Moma , uma época de boas capturas. Este facto

será porventura devido á maior disponibilidade de nutrientes, que são arrastados pelas

chuvas do interior para a costa, e uma maior produtividade local.

De um modo geral, se estas tendências se confirmarem os dados dos rendimentos

sazonais poderão indicar que existe normalmente uma migração latitudinária da

população a partir do centro de distribuição em direcção ao norte na altura das chuvas.

Esta fronte migratória atingiria os distritos a norte de Pebane, primeiramente Moma, e

depois Angoche, já no início da estacão seca. Em anos especiais de migração, a fronte de

T. vitrirostris poderia atingir e ser capturada em Mogincual, mas já no período de Maio a

Setembro. A variação inter-anual na força desta migração poderá estar dependente de

factores oceanográficos, tais como variações no transporte da água costeira para norte ou

para sul, devidas à localização propícia dos vortices ciclónicos e anti-ciclónicos (Segtnan,

2006; Lutjeharms, 2007). Por esta razão torna-se difícil estabelecer se o decréscimo dos

rendimentos e capturas na região norte se deveu somente a i) excesso de pesca, ou padrão

incorrecto de pesca (redes de malha fina) dentro da própria região, ii) a factores

ambientais que dificultaram a deslocação da população para norte, ou iii) a pesca

excessiva na região central de distribuição da população (Zambézia). Esta tendência

migratória sazonal deverá ser analisada detalhadamente em estudos futuros com maior

definicao geográfica. A confirmar-se a tendência estar-se-á na presença duma pescaria de

Page 64: Daniel Oliveira Mualeque

63

tipo sequencial: os rendimentos de pesca a juzante poderão ser comprometidos pela pesca

intensiva em centros de pesca a montante. Este seria mais um desafio à gestão dum

recurso único partilhado.

4.2. Reprodução e ogiva de maturação sexual

4.2.1. Proporção de sexos e tendências sazonais de maturação

De um modo geral, a proporção de fêmeas nas capturas foi igual ou superior à de machos

(Figura 15) Estes resultados podem evidenciar a distinta capturabilidade dos dois sexos

para a arte de arrasto para a praia (Figura 2) e particularidades do comportamento dos

dois sexos na zona, que parece ser um local de desova. Encontraram-se individuos

maduros e desovantes ao longo de todo o ano, mas o período principal de desova parece

ter ocorrido em Outubro-Dezembro (Figura 16). Em Dezembro, a maior parte das

fêmeas amostradas encontrava-se no último estado de maturação (desova/repouso). Estes

resultados confirmam os estudos de Saetre & Silva (1979, referidos por Gjosaeter &

Sousa, 1983). O uso desta área como local de desova por T. vitrirostris poderá ser uma

questão estratégica ligada à disponibilidade alimentar para as suas larvas, já que o

ambiente é estuarino e provavelmente mais produtivo (Fisher et al., 1990; Balói et al.,

2002, 2003, 2004). Observou-se no presente estudo que a proporção sexual varia ao

longo dos meses (Figura 16): com a aproximação de Dezembro a diferença entre as

percentagens dos sexos diminui, mostrando que tal tendência pode ser consequência da

proximidade da época reprodutiva..

Além duma possivel estrategia de migração ligada ao sexo, os presentes resultados

também indicam uma possivel diferenciação no respeitante a tamanhos. Quando a análise

da proporçao sexual nas capturas foi feita por classes de comprimento, pôde-se

evidenciar o predomínio de fêmeas nas classes de maior tamanho (Figura 15). Este

aspecto, que está de acordo com as observações feitas previamente por Vazzoler (referido

por Silva et al., 2003), pode indicar que os dois sexos de T. vitrirostris têm diferentes

Page 65: Daniel Oliveira Mualeque

64

padrões de crescimento e/ou de mortalidade. Estes são aspectos que merecem estudos

detalhados, e uma maior carga de amostragem biológica, em futuros trabalhos.

4.2.2. Ogiva de maturação sexual

As presentes observações feitas em Moma indicam somente ligeiras diferenças nos

comprimentos de primeira maturação (L50) de fêmeas (13,4 cm) e machos (13,9 cm),

havendo uma grande sobreposição nos intervalos de maturação (comprimentos de L25 a

L75). Para os sexos agrupados o comprimento de primeira maturação foi de 13,2 cm e o

intervalo de maturação de 12,1 – 14,4 cm. Na África do Sul, Wallace (1975, in Balói et

al., 2002), observou um comprimento de primeira maturação de 8 cm para o ocar de

cristal. No Banco de Sofala, Pereira (2008, em preparação) obteve um comprimento de

50% de maturação gonadal para esta espécie de 12,1 cm, utilizando a mesma

metodologia de classificação gonadal que o presente autor. Este é um valor próximo do

intervalo de maturação obtido no presente estudo e pode indicar pequenas variações na

distribuição da população ou pequenos artefactos da amostragem. A disparidade do

resultado obtido por Wallace na África do Sul, no entanto, já indica grandes diferenças

ecológicas, ou da metodologia utilizada na apreciação macroscópica das gónadas e no

ajuste de curvas de maturação.

Vaz-dos-Santos et al. (2005) referem que, de modo geral, diferentes valores observados

em diferentes estudos para os comprimentos e idades de primeira maturação gonadal

reflectem a variação de recrutamento e do crescimento, que são características intrínsecas

de cada coorte. Os mesmos autores, referindo os trabalhos de Vazzoler (1981; 1996),

referem que a estimativa do comprimento médio de primeira maturação gonadal adquire

importância quando uma população de peixe está sujeita a exploração, pois a pesca em si

pode ter efeitos densito-dependentes sobre os parâmetros reprodutivos da população.

Bezzi & Tringali (2003) in Vaz-dos-Santos et al. (2005), apontam que, quando se regula

a sobrepesca, controla-se, além do esforço de pesca, o atingimento da primeira maturação

gonadal.

Page 66: Daniel Oliveira Mualeque

65

No contexto da gestão do recurso, o comprimento e idade de primeira maturação gonadal

podem representar pontos de referência biológica utilizados como tamanho mínimo de

captura (Hilborn, 2002). Este é um aspecto que merece futura consideração para o

ordenamento pesqueiro da T. vitrirostris. No entanto, outros indicadores deverão ser

combinados nesta avaliacão, pois em Moçambique a pesca artesanal de arrasto a praia é

de natureza multiespecífica, não havendo esforço dirigido especificamente para T.

vitrirostris. Medidas de gestão de recursos baseadas no comprimento do pescado

implicam que se façam, no futuro, estudos aprofundados da selectividade da arte de

arrasto para a praia. Para tal, as capturas de artes de arrasto munidas de rede mosquiteira

poderão servir de controlos nos mesmos centros de pesca.

4.3. Idade e crescimento

4.3.1. Análise de frequência de comprimento

Os resultados das distribuições de frequências de comprimento (Figura 18), mostram que

os indivíduos mais pequenos (< 7 cm) tendem a aparecer na pescaria nos meses de

Março, Maio, Julho e Setembro o que poderá corresponder ao período de recrutamento.

Nos outros meses, os individuos amostrados tendem a ser, de modo geral, maiores (7-16

cm). Gjosaeter & Sousa ( 1983), citam também que o recrutamento desta espécie

acontece de Abril a Junho, e de Setembro a Outubro. Segundo os resultados do presente

estudo, os tamanhos dos indivíduos variaram de 3,5 a 18 cm nos dois distritos (Moma e

Pebane). Estes resultados confirmam os obtidos por Gislason & Sousa (1985), que

referem que no Banco de Sofala indivíduos menores são capturados desde a boca do rio

Zambeze até Pebane, enquanto que os indivíduos maiores, até 22,5 cm, são capturados

longe da costa. A ocorrência de indivíduos de quase todos os tamanhos no presente

estudo pode corroborar a ideia de que a espécie usa a área de estudo como zona de

desova e crescimento inicial.

Page 67: Daniel Oliveira Mualeque

66

4.3.2. Modelo de crescimento

Os resultados da análise de crescimento para Ocar de cristal são apresentados na Figura

20. A espécie parece ter um crescimento sazonal e rápido com uma amplitude de

crescimento C de 0,9. Sparre & Venema (1997), referem que este parâmetro assume

valores entre 0 e 1, pelo que quanto maior for o valor de C, como é o caso do Ocar de

cristal, mais pronunciadas são as oscilações sazonais na taxa de crescimento. Assumindo

que a data de eclosão é em Novembro, os períodos de estagnação de crescimento das

várias coortes ocorrem sensivelmente entre Abril e Setembro (Figura 21). Esta é a época

seca, o que corrobora a possibilidade do crescimento ser fortemente influenciado pelo

ciclo de cheias e produção primária, tanto nos estuários como na plataforma adjacente

(Blaber, 2000).

O comprimento assimptótico estimado foi de 19,0 cm para um coeficiente de crescimento

de 0,7 ano-1. Na Baía de Maputo, os valores de comprimento assimptótico (L∞) obtidos

anteriormente variaram de 22,8 a 28,5 cm com K de 0,52 a 0,77 ano-1 (Gjøsaeter &

Sousa, 1987). O coeficiente de crescimento encontrado no presente estudo, parece ser

típico dos pequenos pelágicos tropicais: Sparre & Venema (1997, p 76), referem que o

valor de K está relacionado com a taxa metabólica do peixe e que os pequenos peixes

pelágicos são bastante activos, tendo por isso, um K maior que os demersais. Os mesmos

autores dizem ainda que K é também função de temperatura, tendo, portanto, os peixes

tropicais um coeficiente de crescimento maior que os de água fria.

Outros estudos referem que a espécie cresce até 20 cm (Fischer et al., 1990). Contudo,

foram encontrados no Banco de Sofala indivíduos com o comprimento máximo de 22,5

cm (Gjosaeter & Sousa, 1983). No presente trabalho o valor de Lmax encontrado foi de

18 cm, e não se encontram justificacões simples para esta disparidade na distribuição

geográfica de comprimentos. No entanto, diferenças temporais entre as duas amostragens

podem explicar parte desta diferença. No cruzeiro do navio Fridjof Nansen efectuado em

Setembro de 2007 ao longo da costa de Mocambique, a distribuição de comprimentos

teve forte semelhancas àquela observada no mesmo mês no presente trabalho: além duma

Page 68: Daniel Oliveira Mualeque

67

moda dominante para peixes de cerca de 7 cm, a distribuição de comprimentos não se

estendeu além dos 19 cm (dados de cruzeiro não publicados). Dada a falta de dados

históricos contínuos é difícil explicar se esta diminuição aparente do tamanho máximo se

deve a flutuacões naturais ou a sobre-pesca.

4.3.3.Verificação por otólitos

Não foram encontrados na literatura estudos sobre a leitura de otólitos para a T.

vitrirostris ou espécies afins. Vários métodos foram tentados no presente trabalho

(secção 2.4.1), e foi difícil determinar idades a partir da leitura de otólitos inteiros.

Utilizando este método nem sempre foi possível detectar a presença de anéis

possivelmente anuais, mesmo para individuos de comprimentos superiores a 12 cm. Esta

dificuldade é tradicionalmente descrita como caractéristica de espécies de peixes

tropicais: por exemplo, Sparre & Venema (1997), afirmam que espécies de peixes

tropicais raramente mostram aneis anuais nítidos nos seus otólitos ou escamas, pelo facto

de não existir a forte sazonalidade que caracteriza as zonas temperadas. No entanto, a

análise piloto efectuada no presente trabalho indica que não só poderão ser observados

claros anéis hialinos, como também zonas de provável crescimento rápido (opacas),

desde que se utilizem secções osteológicas finas. Algumas das observações feitas em

Janeiro de 2008 (Figura 20) indicam que peixes de 13.5 cm e 18.0 cm poderão já estar a

entrar no 2º e 3º ano de vida, o que se parece ajustar ao padrão anual de crescimento

acima descrito. Embora as observações em secção fina sejam poucas e variáveis, a

existência duma zona de crescimento rápido em Janeiro (estação húmida) também se

coaduna com o padrão sazonal de crescimento acima proposto. As presentes estimativas

de crescimento, em conjunto com as anteriores observações de maturação sexual,

parecem indicar que a entrada na população desovante aos 12,1 – 14,4 cm (L25 - L75) de

comprimento se perfaz no final do 1º ano de vida dos indivíduos.

O método de leitura de secções finas parece assim bastante promissor para esta espécie, e

talvez para outras afins em águas tropicais. No entanto, a implementação desta técnica

Page 69: Daniel Oliveira Mualeque

68

requer ainda um grande esforço de calibração, de modo a serem feitos estudos

sistemáticos de deposição de anéis marcantes e de incrementos marginais em otólitos.

Estudos desta natureza são certamente necessários no futuro apesar das vicissitudes. Uma

das principais dificuldades será a de equipar os laboratórios, principalmente os

provinciais, de recursos humanos e técnicos para estas tarefas. O aparente crescimento

rápido das coortes, aliado à alta mortalidade natural desta espécie (ver abaixo), preconiza

que a análise de crescimento num futuro próximo se continue a basear no estudo de

progressão de modas de comprimento. A leitura de otólitos deverá ser efectuada para

verificação pontual.

4.3.4. Relação peso-comprimento

Os parâmetros médios da relação peso-comprimento determinados durante este estudo

são similares aos obtidos por outros autores, tanto no Banco de Sofala (Brinca et al.,

1983) como na África do Sul (Harrison, 2001) (Tabela 3). Foram, contudo, observadas

diferenças no presente estudo entre indivíduos pequenos e grandes quando a análise foi

efectuada a nível individual (tabela 3). As diferenças nos parâmetros entre o peso e o

comprimento observadas por tamanho harmonizam-se com os resultados obtidos nas

análises de crescimento (Figura 20) e maturação. T. vitrirostris apresenta momentos de

estagnação no seu crescimento, mas também períodos de crescimento vigoroso. Aliado à

maturação sexual decorrente no final do ano, este crescimento contribui para as grandes

flutuações do factor de condição que foram observadas nos individuos maiores (> 10 cm).

Como tal, foi necessário ajustar duas curvas alométricas para obter uma descrição mais

exacta e menos enviezada para o leque total de comprimentos individuais.

Page 70: Daniel Oliveira Mualeque

69

Tabela 4. Comparação dos parâmetros da relação peso-comprimento de T. vitrirostris (sexos combinados) entre vários estudos efectuados na região. De notar que tanto comprimento total (CT) como standard (CS) têm sido utilizados.

Local Comprimento q b Referência Banco de Sofala 0,004 3,172 Brinca et al (1983) África do Sul (estuário) CS 0,0051 3,189 Harrison (2001)

Banco de Sofala (Moma) CT (3-18 cm) 0,0073 3,012 Presente estudo

4.4. Determinação de mortalidade por curva de captura

A mortalidade total instantânea (Z = 2,30 ano-1), foi determinada a partir da curva de

captura com adaptação sazonal (Figura 22). Não foram encontrados na literatura estudos

sobre a mortalidade de T. vitrirostris. Estimativas derivadas de valores padrão da família

Engraulidae feitas por Eli (2007, disponíveis na FishBase5), indicam uma taxa de

mortalidade natural M esperada de 1,40 ano-1. Se for assumido este valor como a taxa de

mortalidade natural também para T. vitrirostris na área deste estudo, e de acordo com o

valor obtido no presente estudo para a mortalidade total, a mortalidade instantânea anual

por pesca F será de 0,90 ano-1. Este é um valor bastante alto, mas que corresponderia a

uma taxa de exploração (F/(F+M) de sensivelmente 40%, o que sendo alto não é

excessivo. Os próximos estudos da biologia pesqueira desta espécie deverão agregar as

composições de comprimentos e estimativas de crescimento, usando para isso dados

recolhidos em cruzeiros e junto à costa. Deste modo será possível melhorar as estimativas

de mortalidade por pesca, e avaliar mais correctamente o estado de exploração da

população.

5 (www. fishbase.org)

Page 71: Daniel Oliveira Mualeque

70

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES

5.1. Conclusões

o Os dados da CPUE indicaram que o distrito de Pebane parece ser o centro da

distribuição da população de T. vitrirostris, a qual parece migrar latitudinamente

em direcção ao norte na altura das chuvas.

o Tem havido uma redução considerável da captura e rendimentos da espécie, em

particular nos distritos de Angoche, Moma e Mogincual.

o A espécie utiliza a área de estudo (Moma) tanto para reprodução como para o

crescimento e, o período de desova abrange principalmente os meses de

Novembro a Dezembro (dentro do período amostrado).

o O comprimento de primeira maturação foi estimado em 13,2 cm para sexos

agrupados, e em 13,4 cm e 13,9 cm para fêmeas e machos, respectivamente.

o As estimativas de crescimento conjugadas com as observações de maturação

sexual indicam que a entrada dos indivíduos na população desovante ocorre aos

12,1 – 14,4 cm (L25 - L75) de comprimento, quando estão no final do primeiro ano

de vida.

o Os dados de amostragem indicaram que as capturas incidem em grande parte

sobre individuos juvenis. Isto poderá comprometer a reposição do stock.

o Dada a natureza multispecifica da pesca de arrasto para a praia, o comprimento de

primeira maturação de T. vitrirostris dificilmente poderá ser a única ferramenta a

ser utilizada para o ordenamento da pescaria.

Page 72: Daniel Oliveira Mualeque

71

o O ocar de cristal apresenta um padrão de crescimento sazonal com L∞ = 19,0 cm,

K = 0,70 ano-1 e uma amplitude da taxa de crescimento C de 0,9. Assumindo a

eclosão em Novembro, a época de baixo crescimento ocorre na estação seca,

sensivelmente entre Abril e Setembro.

o T. vitrirostris apresenta uma taxa de mortalidade instantânea total de 2,30 ano-1.

Apesar da taxa instantânea de mortalidade natural ser presumivelmente alta, este

valor de Z parece indicar que a pesca é uma considerável causa de mortalidade.

o Os modelos de gestão pesqueira para esta população, ou populações, devem tomar

em consideração a maturação relativamente tardia e os padrões sazonais de

crescimento (e produção) do stock.

5.2. Recomendações

o A realização de estudos futuros sobre a biologia de T. vitrirostris e suas interações

com o ambiente é uma necessidade, pois trata-se de um recurso capturado

comercialmente, que precisa de uma gestão sustentável.

o Futuros estudos da biologia pesqueira desta espécie deveriam agregar as

composições de comprimentos e estimativas de crescimento, usando para isso

dados recolhidos em cruzeiros e junto à costa. Deste modo será possível melhorar

as estimativas de mortalidade por pesca, e avaliar mais correctamente o estado de

exploração da população.

o A realização de futuro estudos aprofundados de selectividade da arte de arrasto

para a praia para determinar a selectividade da pescaria. Para tal, as capturas de

artes de arrasto munidas de rede mosquiteira poderão servir de controlo nos

mesmos centros de pesca.

Page 73: Daniel Oliveira Mualeque

72

o Devem ser feitos estudos sobre a tendência migratória sazonal da T. vitrirostris

com maior definição geográfica, o que implica maior cobertura no terreno.

o Uma maior carga de amostragem biologica é necessária para verificar se os dois

sexos de T. vitrirostris têm diferentes padrões de crescimento e/ou de

mortalidade, uma possibilidade que é levantada pelos presentes dados.

o Dificuldade técnicas aliadas ao crescimento rápido das coortes desta espécie e à

sua alta mortalidade natural, preconizam que a análise de crescimento se continue

a basear na análise de progressão modal de comprimento. No entanto, a leitura de

otólitos deve ser feita para verificação pontual das estimativas de crescimento, e

principalmente do seu carácter sazonal. Modelos de pescas devem tomar em conta

estes padrões sazonais.

Page 74: Daniel Oliveira Mualeque

73

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Page 75: Daniel Oliveira Mualeque

74

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Page 78: Daniel Oliveira Mualeque

77

7. APÊNDICE

Tabela 5. Ficha para amostragem laboratorial usada durante o presente estudo

Espécie: Thryssa vitrirostris

Estrato: __________________________________________________

Centro de pesca: __________________________________________

Data: _____ / _____ / _______

Nr. Ordem Data Wt (g) Lt (cm) Aneis obs. Estágio mat Sexo

1

2

3

4

5

6

7

8

9

10

11

12

13

14

15

16

17

18

19

20

21

22

23

24

25

26

27

28

29

30

31

32

33

34

35

36

37

38

39

40

41

42

43

44

45

46

47

48

49

50

Ficha de amostragem biologica

Page 79: Daniel Oliveira Mualeque

78

Janeiro 2008 Moma (n=763)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Fevereiro 2007 Moma (n=128)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Julho 2007 Moma (n=100)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Agosto 2007 Moma (n=98)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Março 2007 Moma (n=100)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Setembro 2007 Moma (n=82)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Abril 2007 Moma (n=100)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Outubro 2007 Moma (n=100)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Maio 2007 Moma (n=100)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Novembro 2007 Moma (n=100)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Dezembro 2007 Moma (n=100)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classe de comprimento (cm)

%

Figura 24. Distribuição de frequencies de comprimento de T. vitrirostris entre Fevereiro de 2007 e Janeiro de 2008 no distrito de Moma.

Page 80: Daniel Oliveira Mualeque

79

Janeiro 2007 Pebane (n=12)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classes de comprimento (cm)

%

Março 2007 Pebane (n=107)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classes de comprimento (cm)

%

Maio 2007 Pebane (n=217)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classes de comprimento (cm)

%

Junho 2007 Pebane (n=112)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classes de comprimento (cm)

%

Julho 2007 Pebane (n=100)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classes de comprimento (cm)

%

Setembro 2007 Pebane (n=97)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classes de comprimento (cm)

%

Outubro 2007 Pebane (n=7)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

Classes de comprimento (cm)

%

Abril 2007 Pebane (n=107)

0

20

40

60

80

100

3-4

4-5

5-6

6-7

7-8

8-9

9-10

10-11

11-12

12-13

13-14

14-15

15-16

16-17

17-18

18-19

19-20

Classes de comprimento (cm)

%

Figura 25. Distribuição de frequencies de comprimento de T. vitrirostris entre Janeiro e Outubro de 2007 no distrito de Pebane.

Page 81: Daniel Oliveira Mualeque

80

Tabela 6. Captura por unidade de esforço (CPUE) de ocar de cristal nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira entre 1998 e 2007.

Distrito Ano Média N Desvio-padrão

1998 0,00 1 .

1999 0,00 1 .

2000 0,00 1 .

2001 0,00 1 .

2002 2,60 1 .

2003 1,80 1 .

2004 0,00 1 .

2005 0,00 1 .

2006 0,00 1 .

2007 0,00 1 .

0,44 10 0,95

1998 32,40 1 .

1999 9,40 1 .

2001 6,00 1 .

2002 12,60 1 .

2003 12,10 1 .

2004 5,70 1 .

2005 0,00 1 .

2006 3,30 1 .

2007 0,30 1 .

9,09 9 9,86971

1998 29,70 1 .

1999 22,30 1 .

2001 24,70 1 .

2002 21,30 1 .

2003 22,50 1 .

2004 24,30 1 .

2005 17,00 1 .

2006 13,20 1 .

2007 11,60 1 .

20,73 9 5,80

1999 21,90 1 .

2000 49,30 1 .

2001 38,50 1 .

2002 35,70 1 .

2003 46,70 1 .

2004 41,90 1 .

2005 24,20 1 .

2006 46,30 1 .

2007 61,20 1 .

40,63 9 12,34

2001 41,40 1 .

2002 44,40 1 .

2003 41,80 1 .

2004 18,40 1 .

2005 43,50 1 .

2006 33,80 1 .

37,22 6 9,95Total

Beira

Total

Total

Total

Total

Mogincual

Angoche

Moma

Pebane

Page 82: Daniel Oliveira Mualeque

81

Março 2007

0

5

10

15

20

25

30

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Comprimento (cm)

Freq. %

Julho 2007

0

5

10

15

20

25

30

35

40

0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17

Comprimento (cm)

Freq. %

Figura 26. Distribuição de frequencies de Comprimento da T. vitrirostris amostrada nos meses de Março e Julho, mostrando uma estrutura bimodal, sendo primeira moda em Julho constituida de indivíduos de tamanho menor (7 cm).

Page 83: Daniel Oliveira Mualeque

82

TVI Mogincual - CPUE mensal

0

5

10

15

20

25

1

1998

5 9 1

1999

5 9 1

2000

5 9 1

2001

5 9 1

2002

5 9 1

2003

5 9 1

2004

5 9 1

2005

5 9 1

2006

5 9 1

2007

5 9

Mês [1998-2007]

CPUE (Kg/rede/dia)

TVI Moma - CPUE mensal

0

20

40

60

80

100

120

1

1998

5 9 1

1999

5 9 1

2000

5 9 1

2001

5 9 1

2002

5 9 1

2003

5 9 1

2004

5 9 1

2005

5 9 1

2006

5 9 1

2007

5 9

Mês [1998-2007]

CPUE (Kg/rede/dia)

TVI Angoche - CPUE mensal

0

20

40

60

80

100

120

1

1998

5 9 1

1999

5 9 1

2000

5 9 1

2001

5 9 1

2002

5 9 1

2003

5 9 1

2004

5 9 1

2005

5 9 1

2006

5 9 1

2007

5 9

Mês [1998-2008]

CPUE (Kg/rede/dia)

TVI Pebane - CPUE mensal

0

50

100

150

200

250

300

350

1

1998

5 9 1

1999

5 9 1

2000

5 9 1

2001

5 9 1

2002

5 9 1

2003

5 9 1

2004

5 9 1

2005

5 9 1

2006

5 9 1

2007

5 9

Mês [1998-2007]

CPUE (Kg/rede/dia)

TVI Beira - CPUE mensal

0

20

40

60

80

100

120

140

1

1998

5 9 1

1999

5 9 1

2000

5 9 1

2001

5 9 1

2002

5 9 1

2003

5 9 1

2004

5 9 1

2005

5 9 1

2006

5 9 1

2007

5 9

Mês [1998-2007]

CPUE (Kg/rede/dia)

Figura 27. Variação mensal de CPUE de Thryssa vitrirostris nos distritos de Mogincual, Angoche, Moma, Pebane e Beira entre 1998 à 2007.