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II CONINTER Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013 DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS NO GRUPO REDENÇÃO DE PORTO ALEGRE: UM OLHAR GLOBAL E TRANSDISCIPLINAR RAMIRES, ANA LUCIA MARQUES Unilasalle/RS [email protected] RESUMO Este artigo trata sobre Globalização, transdisciplinaridade e Danças Circulares Sagradas, temáticas que permearam o trabalho de mestrado intitulado Uma Mandala Viva em Movimento: dez anos de Danças Circulares Sagradas no Grupo Redenção de Porto Alegre (2002-2012). Neste, a autora pesquisou e registrou a memória social do citado grupo, partindo de Halbwachs. Esta investigação foi realizada e apresentada no Brasil e na Escócia (Comunidade Findhorn, berço das Danças Circulares Sagradas e do Movimento New Age), resultando em uma dissertação e um vídeo que trataram sobre os aspectos histórico-culturais e sensíveis relacionados à memória social do Grupo Redenção. A metodologia utilizada consistiu em entrevistas individuais semiestruturadas (no total de vinte e duas) realizadas com quatro grupos de participantes diferentes, compostos por focalizadores e praticantes destas danças. Na primeira parte deste artigo, apresentamos o conceito, a origem e os usos das Danças Circulares Sagradas, inserindo-as no contexto da Globalização. Na segunda parte, mostramos como os referenciais teóricos de diferentes campos e a metodologia nos possibilitou conceber a memória social do Grupo Redenção na perspectiva transdisciplinar. No decorrer do texto, respaldamo-nos e articulamos passagens de alguns artigos da Carta da Transdisciplinaridade. Palavras-chave: Memória Social. Transdisciplinaridade. Globalização. Danças Circulares Sagradas. Grupo Redenção.

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Page 1: DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS NO GRUPO REDENÇÃO DE … II Coninter/artigos/928.pdf · Carta da Transdisciplinaridade, Artigo 8). 2.1. A Globalização Originadas nos anos 70 do século

II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades

Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013

DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS NO GRUPO REDENÇÃO DE PORTO ALEGRE: UM OLHAR GLOBAL E TRANSDISCIPLINAR

RAMIRES, ANA LUCIA MARQUES

Unilasalle/RS

[email protected]

RESUMO

Este artigo trata sobre Globalização, transdisciplinaridade e Danças Circulares Sagradas, temáticas que permearam o trabalho de mestrado intitulado Uma Mandala Viva em Movimento: dez anos de Danças Circulares Sagradas no Grupo Redenção de Porto Alegre (2002-2012). Neste, a autora pesquisou e registrou a memória social do citado grupo, partindo de Halbwachs. Esta investigação foi realizada e apresentada no Brasil e na Escócia (Comunidade Findhorn, berço das Danças Circulares Sagradas e do Movimento New Age), resultando em uma dissertação e um vídeo que trataram sobre os aspectos histórico-culturais e sensíveis relacionados à memória social do Grupo Redenção. A metodologia utilizada consistiu em entrevistas individuais semiestruturadas (no total de vinte e duas) realizadas com quatro grupos de participantes diferentes, compostos por focalizadores e praticantes destas danças. Na primeira parte deste artigo, apresentamos o conceito, a origem e os usos das Danças Circulares Sagradas, inserindo-as no contexto da Globalização. Na segunda parte, mostramos como os referenciais teóricos de diferentes campos e a metodologia nos possibilitou conceber a memória social do Grupo Redenção na perspectiva transdisciplinar. No decorrer do texto, respaldamo-nos e articulamos passagens de alguns artigos da Carta da Transdisciplinaridade.

Palavras-chave: Memória Social. Transdisciplinaridade. Globalização. Danças Circulares Sagradas.

Grupo Redenção.

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1. CONCEITO, ORIGEM E USOS ATUAIS DAS DANÇAS CIRCULARES

SAGRADAS

O reconhecimento da existência de diferentes níveis de realidades, regidos por lógicas diferentes é inerente à atitude transdisciplinar. (Congresso Mundial Transdisciplinaridade,I,1994.Portugal. Carta da Transdisciplinaridade, Artigo 2).

As Danças Circulares Sagradas são danças realizadas em círculos que têm por finalidade o

estar juntos. Ainda que dançar em círculo seja uma atividade muito antiga, o movimento das Danças

Circulares Sagradas é bastante recente. Na década de 1960 do século XX, enquanto a Europa

recuperava-se dos traumas deixados pela Segunda Guerra Mundial e os movimentos sociais

reivindicavam liberdade, paz e amor, o bailarino e coreógrafo Bernhard Wosien dedicava seu trabalho à

pesquisa, à elaboração e à preservação das danças étnicas e folclóricas europeias, enfatizando nestas

o estar junto, o sagrado e a cura. Desta forma, Bernhard Wosien coreografou danças de diferentes

origens para o círculo. Para ele, as danças tinham um caráter meditativo. Começava assim, um trabalho

de valorização da diversidade cultural e da memória destas danças.

Em 1976, Bernard Wosien foi à Comunidade de Findhorn (Escócia, um dos centros do

movimento New Age na Europa), a fim de ministrar um curso de danças. Para lá retornou outras vezes,

para dar cursos, e as danças então, passaram a fazer parte das atividades diárias daquela

comunidade. Com o tempo, estas danças se espalharam pelo mundo, principalmente através de

pessoas que, ao visitar Findhorn e ao experimentá-las, acabavam gostando desta forma de dançar,

pelas coreografias e pelas possibilidades que elas oferecem como meio de integração humana. “[...] o

trabalho de dança em Findhorn, a comunidade da Escócia tornou-se, desde 1976, um exemplo de uma

rede internacional de meditação pela dança.” (Wosien, 2000, p.25). Estas danças foram, desde o início,

concebidas como uma meditação em movimento. Segundo Preiss (2011), Bernhard Wosien adaptou as

danças folclóricas e étnicas ao círculo, porém conservou nestas o seu conteúdo cultural e simbólico,

chamando-as pela a expressão “Heilige Tange” que, em alemão, significa “sagrado.”

[...] mas poucos anos depois já não tinha certeza de ter sido a escolha certa, pois sua intenção era expressar a espiritualidade nas danças, inclusive sugerindo outros nomes como holística ou curativa, mas depois de um tempo já não era mais possível a mudança. Também nesta época, Maria Gabriele Wosien, sua filha, havia publicado um livro sobre danças e Antropologia, traduzido em diversas línguas e em inglês Sacred Dance, o termo sagrado acabou se tornando conhecido e permanecendo (Preiss,

2011, p.16-17).

Para a prática das Danças Circulares Sagradas não é necessário experiência anterior e

também não deve haver competição porque as danças são, em princípio, movimentos para

potencializar os aspectos positivos da vida no planeta, respeitando a individualidade de cada um dos

praticantes. Esta intenção que as Danças Circulares Sagradas trazem vem ao encontro do que salienta

a Carta da Transdisciplinaridade: “a dignidade do ser humano é também de ordem cósmica e

planetária.” (Congresso Mundial Transdisciplinaridade , I,1994.Portugal. Carta da Transdisciplinaridade,

Artigo 8).

Para dançar, os praticantes desta modalidade de dança são conduzidos por um focalizador,

que é o integrante do grupo que possui formação em Danças Circulares Sagradas e que passa aos

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demais a coreografia de cada dança, a origem, a história, a música que acompanha os movimentos, as

intenções, os símbolos. Ele também cuida da harmonia e dos valores que mantêm a qualidade das

relações interpessoais no círculo.

O site do Semeiadança1 destaca os usos atuais das Danças Circulares Sagradas em

diferentes ocasiões: como dançatas nos espaços públicos, parques e praças; como danças de tradição

e como ferramentas para trabalhar valores éticos, sociais e a diversidade cultural, atendendo neste

sentido a outro uso, os públicos específicos, ou seja, pessoas em conflitos com a lei, situação de risco

social, portadores de necessidades especiais, idosos. Na área da Saúde, as danças são usadas para o

equílibrio do corpo, em seus aspectos físico, mental e emocional, cuidados especiais e cura.

2. DANÇAS CIRCULARES SAGRADAS E GLOBALIZAÇÃO

Todo ser humano tem direito a uma nacionalidade mas, a título de habitante da Terra, é ao mesmo tempo um ser transnacional. O reconhecimento pelo direito internacional de um pertencer duplo - a uma nação e à Terra – constitui uma das metas da pesquisa transdisciplinar.(Congresso de Transdisciplinaridade, I, 1994, Portugal. Carta da Transdisciplinaridade, Artigo 8).

2.1. A Globalização

Originadas nos anos 70 do século XX, as Danças Circulares Sagradas inserem-se no contexto

histórico de aceleração dos processos globais. Para Hall (2006), mesmo que a Globalização não seja

um fenômeno recente, ela intensificou-se nessa época, ultrapassando as fronteiras físicas e integrando

“comunidades e organizações em novas combinações de espaço-tempo, tornando o mundo, em

realidade e em experiência, mais interconectado.” (Hall, 2006, p.67-68). Esperandio (2007) refere-se à

Globalização como

[...] diferentes dimensões econômicas, sociais, políticas, culturais, religiosas e jurídicas interligadas de modo complexo. A Globalização hoje tem tudo a ver com a ideia de abertura (embora assimétrica) de territórios/espaços; tem a ver com a não separação de mundos; com a expansão da produção e circulação de conhecimento e com abertura de territórios nacionais e subjetivos.” (Esperandio, 2007, p.77).

No Ocidente, à medida que o processo civilizatório avançou e se solidificou, o homem moderno

foi restringindo o contato com antigas práticas sociais, então naturais realizadas em comunidade, como

a de dançar juntos e em círculo. Na contemporaneidade, segundo Maffesoli (2006), assistimos a “um

retorno à tribo,” pois voltamo-nos para alguns valores perdidos durante a modernidade. A

“pós-modernidade tem um aspecto emocional e busca uma sensibilidade entre as novas gerações.“

(Maffesoli, 2006 apud Campos, 2010, p.1). Neste contexto, as antigas ideologias “assumiram outras

aparências.” Exemplificando, este autor cita o reaparecimento dos dialetos locais e o recrudescimento

dos diversos sincretismos filosóficos ou religiosos (dos quais a New Age oferece um exemplo

1 Um dos principais sites de Danças Circulares e de Danças da Paz Universal de São Paulo organizado pelas

focalizadoras Arlenice Juliani, Mônica Goberstein e Vaneri de Oliveira. Disponível em:

http://www.semeiadanca.com.br/quem_somos.htm Acesso 20.07.2011.

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flagrante). [...] A verdade absoluta fragmenta-se em verdades parciais a que convém viver. (Maffesoli,

2004, p.24-25).

Na teoria e também na prática, as ideias de “aldeia global” e da interconexão dos povos e dos

indivíduos são pontos centrais e presentes tanto no conceito de Globalização como no Movimento New

Age, no qual a Comunidade de Findhorn tornou-se um dos centros irradiadores desta ideologia e as

Sacred Dance, uma de suas práticas. Neste sentido, apresentamos um resumo histórico sobre o local

de origem das Danças Circulares Sagradas, a chegada destas danças no Brasil até o surgimento do

Grupo Redenção de Danças Circulares Sagradas. O cenário destes acontecimentos, o plano de fundo

é o próprio processo de Globalização. Nosso intuito é mostrar como uma prática local (da Escócia)

expandiu-se em um nível mais global (Brasil).

2.2. Globalização, New Age, Findhorn e Bernhard Wosien

O trabalho de Bernhard Wosien com as Sacred Dance iniciou no final dos anos 60 quando ele

deixou os palcos e passou a dedicar-se a essas danças. Naquele momento, a sociedade ocidental

passava por grandes transformações sociais, econômicas e tecnológicas: os primeiros computadores,

a chegada do homem à Lua, a gradativa utilização de eletrodomésticos, dos meios de comunicação de

massa (rádio, TV, jornal, revista) configurando o consumismo, principalmente nos Estados Unidos.

No campo sociocultural, a época é conhecida pela designação de Anos Rebeldes, momento de

grande criatividade e expressão cultural, quando a sociedade civil colocava em cheque, através da arte,

da moda e de inúmeros movimentos de contestação e de reivindicação (políticos, filosóficos, estudantil,

militante, feminista ou de juventude) os valores conservadores vigentes. (Schmidt, 2001, p.251-257).

Na expressão e na expansão destes movimentos, originou-se a Contracultura (Schmidt, 2001,

p.253) e o New Age (Nova Era) que, segundo Lacroix (1996), foi um movimento contracultural que se

desenvolveu em dois pontos diferentes, na Califórnia (EUA), contrapondo-se ao América way of live e

em Findhorn (Escócia) com Peter Caddy. De acordo com este autor, os termos New Age e Era de

Aquário foram criados respectivamente por Alice Ann Bailey (1880-1949) e Paul Le Cour (1871-1954).

Iniciado no século XIX, o New Age é uma continuidade do movimento preconizado por Helena Perovna

Blavatsky que, em 1875, fundou a Sociedade Teosófica. (Lacroix, 1996, p.13).

Nova Era, New Age ou Era de Aquário, para Terrin(1996), são termos que indicam este

“movimento que olha para frente com saudade do passado.” No livro, Nova Era: Religiosidade da

Pós-Modernidade, o autor ressalta que o conceito de Nova Era “é amplo e envolve muitas coisas

diferentes, numa espécie de guarda-chuva.” (Terrin, 1996, p. 15-18). Mesmo que a Nova Era englobe

vários ensinamentos, há alguns princípios que são constantes: consciência ecológica, holismo e as

ideias de totalidade da história e da natureza, sendo a alma presente em todas as coisas, ou seja, o

pressuposto de vida total, global.

No segundo capítulo da obra citada, Terrin (1996), trata sobre os lugares da Nova Era,

descrevendo alguns centros holísticos dos Estados Unidos e comentando sobre a Comunidade de

Findhorn, mostrando que ali “[...] a dança, o yoga, a cozinha vegetariana e os momentos da vida

comunitária [...] formam um life style (estilo de vida), ao qual o frequentador facilmente se adapta.”

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(Terrin, 1996, p.53-57).

Para David Splanger2, Findhorn,o berço das Danças Circulares Sagradas é o centro da Nova

Era. As passagens a seguir, retiradas do livro A Verdade Interior (Walker, 1998, p.28), nos mostram o

que significa a Nova Era no contexto daquela comunidade.

Na realidade o termo “Nova Era” tem assumido significados muito diferentes [...]. Na comunidade, usamos este termo para descrever uma ideia que os que acreditam que a humanidade está em um determinado ponto da história em que mudanças significativas de cunho cultural e espiritual estão ocorrendo.[...] se há uma única palavra que possa ser usada para esclarecermos o conceito de Nova Era é, talvez, totalidade. [...] Esta nova cultura pode ter diversas formas diferentes, mas, na sua

essência está relacionada com maior inspiração na alma, com maior afinidade com o sagrado, é mais holística, compassiva e de criação conjunta do que qualquer coisa que experimentamos antes. Também é uma cultura planetária, que respeita e honra as diferenças locais e individuais, mas que dá espaço à experimentação e expressa a

interdependência, a interligação e a unificação –・em suma a identidade –・da

humanidade do planeta como um todo. (Walker, 1998, p.24-27).

A Comunidade de Findhorn foi fundada em 1962, por Peter Caddy (inglês), Eileen Caddy

(egípcia) e a amiga Dorathy Maclean (canadense). Eles trabalharam no Hotel Cluny Hill, próximo à

cidade de Forres (norte da Escócia) e, posteriormente, foram transferidos para trabalharem no Hotel

Trossachs (Perthshire, região central da Escócia), de onde foram demitidos. A partir deste momento, os

três foram morar no trailer que Peter Caddy havia comprado e, com muitas dificuldades,

estabeleceram-se em Findhorn Bay Caravan Park, um lugar inóspito, cheio de arbustos e que servia

como depósito de lixo. (Walker, 1998, p.42).

Peter e Eileen Caddy e Dorothy Maclean meditaram durante quase dez anos com Sheena

Govan, espiritualista que lhes ensinou “colocar Deus em primeiro lugar em suas vidas.” (Maclean, 2012,

p.8). Eileen Caddy afirmava: “I am the perfect expression of divine Love.” (Eu sou a expressão do amor

divino) e acreditava, como Peter e Dorothy, no The God Within (o Deus Interior). Esta última crença

tornou-se importante para a Comunidade de Findhorn ( Hollingshead, 2012, p.7-8), juntamente com o

entendimento iniciado por Peter Caddy que “o trabalho é o amor em ação” (Bone, 2012, p.14-15) e com

a ideia de “co-criação com a inteligência da natureza” através da comunicação com os reinos naturais

os devas, os arquitetos do mundo físico, conforme acreditava Dorothy Maclean. (Mcallister, 2012, p.18).

Ela considerava que os devas traziam em si, a essência da espécie.

Em 1970, David de Spangler, estudante de bioquímica, conheceu os famosos Jardins Findhorn

e, entusiasmado pela comunidade, passou a colaborar para sua ampliação. Em 1972, foi criada a

Fundação Findhorn. Peter Caddy deixou a comunidade em 1979, vindo a falecer em 1994 em um

acidente de carro. Assim, a comunidade passou a ser gerenciada por um Grupo Central. Eileen Caddy

morou na comunidade até a sua morte em 2006 e Dorothy Maclean ainda vive na comunidade.

2 Professor e espiritualista norte-americano. Foi um dos principais líderes da Nova Era. Residiu em

Findhorn entre 1970-1973, onde foi um dos fundadores do programa de educação daquela

comunidade. Em 1974, voltou para os Estados Unidos e fundou a Associação Loriah, educação e

espiritualidade. Dados retirados do site da citada associação. Disponível em:

http://www.lorian.org/davidspage.html Acesso 26.09.2012

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É importante ressaltar que os três pilares Deus, Natureza e Trabalho permanecem até hoje

como referência ao legado que Eileen e Peter Caddy e de Dorothy Maclean deixaram à Comunidade de

Findhorn, de acordo com a obra “Findhorn Birthday Book - Spirit of the Future3.” (Bijman, 2012). A

comunidade fundada pelo casal Caddy e por Dorothy Maclean é hoje a Findhorn Foundation, uma

ecovila e centro de desenvolvimento humano de referência no mundo, recebendo centenas de pessoas

durante o ano. Ali as Danças Circulares Sagradas são a expressão da cultura da comunidade, sendo

realizadas nas atividades cotidianas e nos eventos culturais promovidos por aquela fundação,

conforme constatamos durante a semana que passamos na Fundação Findhorn, na condição de

visitante e pesquisadora, participando do Festival of Sacred Dance, Music & Song, Este festival é

realizado anualmente no mês de julho, sendo que em 2012 este festival homenageou os 50 Anos da

Comunidade de Findhorn. Mais de cento e vinte pessoas de diferentes países dançaram juntas nesse

evento, onde observamos que muitas das coreografias realizadas naquela ocasião, eram as mesmas

dançadas no Grupo Redenção de Porto Alegre (RS). Dançar em Findhorn deu-nos a imediata

percepção destas danças como linguagem corporal e global que atua como uma ferramenta que

possibilita, entre outros benefícios, a sociabilidade e a diversidade cultural, ficando muito próximo ao

que o focalizador Carlos Solano Carvalho 4 comentou em sua entrevista, quando recordou suas

vivências em Findhorn.

Encantaram-me as danças representarem ali, de uma forma muito simples e direta, todos os conceitos em torno dos quais a Comunidade Findhorn foi construída, por exemplo: a integração e o trabalho de grupo ao invés de competição. Lá é uma semente de um mundo novo, você vê pessoas do mundo inteiro, de diversos países, de todos os continentes, trabalhando juntas em prol da construção de um mundo melhor, por causas positivas. Isto é bem explícito e a dança mostra isto, essas pessoas que dão as mãos e se unem em prol da construção de uma mensagem

positiva porque cada dança tem sua mensagem, sua história5.

2.3. Danças Circulares Sagradas no Brasil

De Findhorn, as Danças Circulares Sagradas ganharam o mundo através de seus praticantes.

No Brasil, estas danças chegaram através de Sara Marriott, moradora de Findhorn que, em 1983, veio

para o Centro de Vivências de Nazaré6 (SP) e, em 1984, através de Carlos Solano Carvalho (MG), que

se tornou oficialmente, o primeiro focalizador brasileiro formado por Findhorn. A focalizadora Christina

Dora (Sabira) introduziu estas danças em Nova Friburgo (RJ) no ano de 1990. O estado de São Paulo

tornou-se o irradiador destas danças através da Comunidade de Nazaré Paulista e do trabalho pioneiro

e inovador das focalizadoras Renata Lima Carvalho Ramos e Bia Esteves. A primeira é a focalizadora

que mantém a tradição e os vínculos com a Comunidade de Findhorn, organizando grupos de

brasileiros para visitarem e participarem de eventos daquela comunidade. A segunda, Bia Esteves, foi

3 Livro lançado em 2012 pela Fundação Findhorn em homenagem aos 50 Anos daquela Comunidade. 4 Carlos Solano Carvalho é mineiro, formado em Arquitetura e Urbanismo e focalizador de Danças Circulares Sagradas. Ele residiu alguns meses em Findhorn e trouxe estas danças para o Brasil em 1984. 5 Entrevista com o focalizador Carlos Solano Carvalho realizada por Ana Lucia Marques Ramires em 23.12.11. 6Nazaré Uniluz é uma escola de desenvolvimento integral do ser humano e sua inter-relação com a Totalidade da Vida. Os princípios que norteiam seu trabalho, desde sua criação no início dos anos 80 são a meditação, o silêncio, a plena atenção, a ordem cerimonial, o serviço altruísta. Com práticas que aliam as experiências individual e grupal, oferece-se um rico campo para processos de autoconhecimento e expansão da consciência. Dados retirados do site: http://www.nazareuniluz.org.br/ Acesso: 28.07.2012.

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quem iniciou a prática das Danças Circulares Sagradas nos parques e praças de São Paulo.

E No sul do Brasil, em Porto Alegre as Danças Circulares Sagradas chegaram através Marge

Oppliger7, que também focalizou estas danças em Florianópolis. Tendo morado no Centro de Vivências

de Nazaré Paulista entre 1990 e 1992, Marge Oppliger voltou para Porto Alegre (1992) e passou a

introduzir as Danças Circulares Sagradas, durante as suas aulas de yoga que ministrava na GFU

(Grande Fraternidade Universal),8 no bairro Independência, e em um grupo que tinha na rua em que

morava, localizada na Zona Sul da capital gaúcha. Em sua entrevista, Iara Henriques9 nos ressaltou

que a GFU é uma instituição civil e cultural que está situada em Porto Alegre desde 1972 com o objetivo

de trabalhar pelo desenvolvimento humano e pela cultura da paz, atuando nas áreas de Artes,

Ciências, Filosofia e Didática.

As representações internacionais da GFU estão situadas no sul, centro e norte da América, Europa e Austrália. Além de desenvolverem o aspecto espiritual, elas realizam diversas ações sociais, educativas, artísticas e culturais. A GFU tem como princípios a Verdade, a Tolerância e a Paz. Ela difunde os valores de universalidade, equilíbrio, altruísmo e sabedoria, visando à reeducação da humanidade. A sede central desta instituição localiza-se em Caracas na Venezuela e está representada por um Corpo Colegiado chamado Conselho Supremo. Em cada país existe um Conselho Executivo como uma sede principal. No caso do Brasil, é aqui em Porto Alegre. Na Nova Era, a missão da Arte se cumprirá quando se consiga transmitir um ensinamento essencial, mediante símbolos ou signos universais. O círculo é um deles. Por isso, as Danças Circulares Sagradas se adaptam à proposta da GFU, pois resgatam os valores tradicionais e simbólicos da Arte.

10

Desta forma, nossa pesquisa verificou que Marge Oppliger conheceu as Danças Circulares

Sagradas em Nazaré Paulista e as trouxe para Porto Alegre, em 1992, introduzindo-as como uma

ferramenta de integração nos eventos da GFU e da UNIPAZ SUL. Ao final de nossa pesquisa, visitamos

a UNIPAZ SUL e, conforme a diretora daquela instituição, Lúcia D. Torres,11

a GFU e a UNIPAZ SUL

são dois centros irradiadores de muitos ensinamentos em Porto Alegre, entre estes, as Danças

Circulares Sagradas, pois estas possibilitam trabalhar a paz consigo, com o outro e com o planeta.

Entre 2000 e 2001, Marge Oppliger realizou um curso de formação para um grupo de

praticantes, que se tornaram focalizadores e alguns deles iniciaram o Grupo Redenção, o qual foi o

objeto de nossa pesquisa. Marge Oppliger foi morar em Florianópolis e posteriormente na Suíça,

deixando no Rio Grande do Sul, a semente do movimento das Danças Circulares Sagradas.

O Grupo Redenção de Danças Circulares Sagradas forma-se espontaneamente dois sábados

7 Marge Oppliger é graduada em Oceanologia com especialização em Educação Ambiental. Nasceu em Rio Grande (RS) e mora atualmente na Suíça. Em 2012 foi ordenada como monja budista, 8 A Grande Fraternidade Universal (GFU) é uma Instituição civil e cultural, fundada em 1948 na Venezuela pelo sábio francês Dr. Serge Raynaud de la Ferrière, com base nos ensinamentos tradicionais. É um movimento internacional que busca criar uma consciência coletiva de fraternidade, conforme indica o seu nome. Considera-se também como uma faculdade de ensinamentos de síntese, um movimento de reeducação humana, uma ordem espiritual de tipo universal. Sendo de utilidade pública com registro municipal e estadual, a GFU não tem fins lucrativos, é absolutamente apolítica e possui status consultivo no Conselho Econômico e Social das Nações Unidas (ONU), desde o ano de 2000 e reconhecida pelo Departamento de Informação Pública dessa mesma entidade desde 1995. 9 Iara Henriques é graduada em Artes Plásticas e Arquitetura pela UFRGS. Na GFU, atua como instrutora de yoga e membro do Conselho Executivo. 10 Entrevista com Iara Henriques realizada por Ana Lucia Marques Ramires em 10.02.2013 11 Lúcia D. Torres é educadora, terapeuta e astróloga. Pesquisadora em Astrologia da Saúde. Mentora dos Círculos Femininos Tendas e Clãs do Sul. Livros publicados: "Tendas e clãs do sul - jornadas femininas de amor e cura" ( Porto Alegre, Dacasa, 2005), "O Ser e o Todo - um breve olhar na jornada de Pierre Weil" (Porto Alegre, Gênese,

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por mês, na sala Multiuso do Parque Esportivo Ramiro Souto, situado dentro da área do Parque

Farroupilha (Redenção). Ali, a prática destas danças começou em 2002 e, em dezembro de 2012,

completou uma década. A duração da prática das Danças Circulares Sagradas no Grupo Redenção é

de uma hora e meia por encontro, das dez horas às onze horas e trinta minutos, no primeiro e no

terceiro sábados de cada mês. Nestes, os focalizadores que fazem formação no Brasil e no exterior

trazem aos praticantes um variado repertório de danças tradicionais e contemporâneas. Seguidamente,

o grupo recebe novas pessoas para experimentar as Danças Circulares Sagradas e por tal motivo há

uma reconfiguração do Grupo Redenção a cada encontro, pois os componentes (focalizadores,

praticantes e iniciantes) não são sempre os mesmos, embora haja pessoas que são praticantes

assíduos. Mesmo que este grupo não tenha se institucionalizado, ele persiste espontaneamente

produzindo atividades culturais, organizando-se de forma simples, gratuita, voluntária e inclusiva. O

Grupo Redenção tem uma parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, a qual empresta o espaço aos

praticantes. Em troca, os focalizadores atuam gratuitamente, quando necessário, nas atividades já

citadas do Parque Ramiro Souto. Com exceção dos focalizadores, que se comprometem a estarem

presentes em um ou mais sábados por ano, as demais pessoas comparecem às práticas sempre que

desejam, ou seja, há um comprometimento subjetivo e de afinidade entre os integrantes e deste com as

Danças Circulares Sagradas, e isto parece manter o grupo vivo, dançando por tantos anos.

4. ASPECTOS TEÓRICOS E METODOLÓGICOS DA MEMÓRIA SOCIAL

NA PERSPECTIVA TRANSDISCIPLINAR

A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as

ultrapassa. (Congresso de Transdisciplinaridade, I,1994, Portugal. Carta da Transdisciplinaridade, Artigo 3).

O interesse pelo tema e pelo objeto de pesquisa adveio da percepção da pesquisadora ao

observar a riqueza cultural destas danças durante as suas vivências no Grupo Redenção, a partir de

março de 2010. A pesquisadora já praticava estas danças em outro grupo no centro de Porto Alegre,

mas foi no Grupo Redenção que a mesma percebeu a existência de um diferencial, dado que o mesmo

está localizado em espaço público, é aberto a todos, gratuito, feito através de ações voluntárias e

cooperativas. Apesar de as Danças Circulares Sagradas constituírem uma prática recente em Porto

Alegre (aproximadamente duas décadas) e do Grupo Redenção ser um dos pioneiros, a pesquisadora

observou que o tema e o grupo em questão careciam de dados sobre a sua trajetória e de uma

investigação do ponto de vista histórico-cultural.

Na dissertação intitulada Uma Mandala Viva em Movimento: dez anos de Danças Circulares

Sagradas no Grupo Redenção de Porto Alegre, investigamos questões como: a origem do movimento

das Danças Circulares Sagradas em Porto Alegre; quais as recordações dos praticantes e

focalizadores em relação à memória do grupo e em termos subjetivos, o que os praticantes e

2009), "Além das constelações - herança, memória e transpessoalidade em Astrologia" ( Porto Alegre, Gênese, 2012). Diretora da UNIPAZ SUL. Dados conforme depoimento da entrevistada.

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focalizadores recordaram e sentiram ao dançar. A partir destas e outras questões, elaboramos o projeto

de pesquisa para estudar os processos de construção e elaboração da Memória Social do Grupo

Redenção em dez anos de prática das Danças Circulares Sagradas. Além do registro da memória

social na dissertação, elaboramos uma mostra em vídeo, a partir dos achados de pesquisa e dos

excertos das entrevistas realizadas.

Tendo em vista o caráter exploratório e inovador desta investigação, foi necessário aceitar o

desafio de abordar o tema e o objeto de pesquisa, através do fio condutor da memória social que,

segundo Gondar, é um conceito em construção por seu caráter polissêmico, transversal e

transdisciplinar. (Gondar, 2005, p.13).

Os estudos acadêmicos sobre a memória social são recentes, tendo se constituído,

principalmente no século XX e recebendo novas contribuições, de diferentes áreas do conhecimento,

no século atual, embora constem “... que a concepção de memória como construção social tem início

no século XIX.” (Gondar, 2005, p.21). Para esta autora, existem diferentes maneiras de abordarmos a

memória social (Gondar, 2005, p.11-12). Entre estas concepções, pode-se observar que uma parte

considerável dos pensadores sobre a memória social concebe-a e contextualiza-a, a partir de uma

problemática negativa, dado o contexto e os temas por eles tratados: Pierre Nora (1993) parte da

retórica da perda, daí a necessidade dos lugares de memória, Paul Ricouer (2007) e Todorov (2000)

preocuparam-se com os abusos da memória e do esquecimento, propondo, no caso do primeiro, uma

justa memória, e do segundo, uma memória para o bem, enquanto Pollak (1992) volta-se para o estudo

das memórias traumáticas da Segunda Guerra Mundial. Nestes pensadores, a memória social

evidencia-se através de situações que enfatizavam o conflito, embora haja uma sinalização para um

desfecho melhor, ao proporem uma memória com virtudes, ética e justiça. Já Halbwachs, um dos

pioneiros do campo em questão, refere-se à memória como uma construção coletiva, salientando os

aspectos sociais no âmbito da cultura humana, ao afirmar que: “nossas lembranças permanecem

coletivas e nos são lembradas por outros. [...] Isto acontece porque jamais estamos sós” (Halbwachs,

2006, p.30).

O desafio conceitual, segundo Gondar (2005), está na busca do equilíbrio entre a abertura e o

rigor, levando-se em conta “que o conceito de memória social resulta de uma tentativa de responder às

indagações que construímos em dado momento.” (Gondar, 2005, p.13). Neste sentido, continua

Gondar, é preciso saber “em que direção essa concepção de memória nos lança.” (Gondar, 2005, p.16).

Este nos parece o momento crucial, onde o pesquisador questiona-se e posiciona-se frente ao campo e

a sua pesquisa. Desta forma, mesmo com as críticas cabíveis, nossa concepção de memória social

parte de Halbwachs (2006) por ele trabalhar a multiplicidade e a integração, o que nos parece

contemplar não só o tema, Danças Circulares Sagradas, mas também o objeto de pesquisa, a memória

social do Grupo Redenção, pois ambos têm como finalidade a união entre as pessoas e almeja-se a

soma das diferenças e a possibilidade de uma diversidade estável.

Para conceber a Memória Social do Grupo Redenção de Danças Circulares Sagradas,

partimos de três aspectos mencionados por Halbwachs (2006) no texto Memória individual e memória

coletiva: a comunidade afetiva (para conceber o grupo), intuição sensível (para trabalhar as

memórias individual e social) e semente da rememoração (para a rememoração e o testemunho de

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cada entrevistado).

Em sentido semelhante, Gondar entende que a memória social é um processo que se articula

pelo afeto, de forma seletiva dentro de um contexto singular, capaz de incluir não só as representações

coletivas, mas também a criação e o novo. (Gondar, 2005, p.25)

Além de Halbwachs e Gondar, utilizamos Pollak que considera que a memória é um fenômeno

construído e é “um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva.”

(Pollak, 1992, p.204). Com eles construímos a base da pesquisa que é descrita na introdução da

dissertação. Como um dos objetivos foi fazer um histórico sobre as Danças Circulares Sagradas de

Findhorn a Porto Alegre, utilizamos referenciais sobre a história destas danças e referenciais sobre

história do século XX, especialmente sobre os temas movimentos culturais, dança, globalização e

contemporaneidade. Com este conjunto de referenciais, com os excertos das entrevistas e fotos

criamos o primeiro capítulo. Por outro lado, a pesquisa se propôs a entender os sentidos de dançar em

grupo e em círculo. Para tal propósito, respaldamo-nos em autores da História Cultural: Chartier (1990),

Pesavento (2004) e Santos (2000), os quais foram articulados aos achados de pesquisa no segundo

capítulo. O terceiro capítulo tratou sobre o conteúdo cultural das Danças Circulares Sagradas e para

apresentar estes temas usamos os autores sobre a história e cultura das Danças Circulares Sagradas.

Para o roteiro, produção e arte do vídeo, utilizamos Brasil (2003) e Lucena (2012). O quadro 1

apresenta as fases da pesquisa, os capítulos, os assuntos trabalhados, os autores utilizados e as

dimensões da memória social na perspectiva transdisciplinar .

Quadro 1 – A Memória Social do Grupo Redenção de Danças Circulares Sagradas

Fases da Pesquisa Partes da

Dissertação Assuntos

Referencial

Teórico

Três dimensões da memória

social ao final da pesquisa

1. Fase de construção: - revisão bibliográfica, - seleção e articulação dos referenciais teórico e metodológico.

2. Pesquisa de Campo: - 22 entrevistas em 4 grupo diferentes de focalizadores e praticantes de Danças Circulares Sagradas

3. Transcrição e Análise dos achados

4. Redação da Dissertação

5. Roteiro do Vídeo

6. Produção do Vídeo

Introdução

Tema, objeto, problemas e objetivos

de pesquisa Referencial Teórico

HALBWACHS GONDAR POLLAK

Polissêmica Transversal

Capítulo I Comunidade Afetiva

(HALBWACHS)

Aspectos históricos das Danças

Circulares Sagradas

LACROIX PREISS TERRIN WALKER WOSIEN

HISTÓRICA

Capítulo II Intuição Sensível (HALBWACHS)

Memória Social e Identidade

Sensibilidade e Representações

POLLAK CHARTIER

PESAVENTO SANTOS

SENSÍVEL

Capítulo III Semente da

Rememoração (HALBWACHS)

O Conteúdo Cultural das Danças

Circulares Sagradas

BRASIL BARTON WOSIEN

CULTURAL

Roteiro do Vídeo Aspectos históricos sensíveis e culturais

BRASIL LUCENA

Uma Perspectiva Global e

Transdisciplinar

Fonte: Ana Lucia Marques Ramires

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Como outras atividades culturais, as Danças Circulares Sagradas espalharam-se por vários

países, sendo o Brasil, e especialmente Porto Alegre, um dos locais de grande fruição das mesmas.

Com vistas na importância da prática desta modalidade de dança, a nossa pesquisa foi buscar em

Findhorn, além dos aspectos históricos e culturais, o sentido de dançar junto e em círculo. As Danças

Circulares Sagradas que ali surgiram, a partir do trabalho de Bernhard Wosien, trazem potencialmente

em seu conceito e na sua história o princípio de uma prática física e cultural que converge para: o

“cuidado de si e do outro”, o estar junto na dança, facilita a sociabilidade através da linguagem simbólica

e efêmera da dança em círculo. Considerando o conceito, os usos e a própria história destas danças,

percebemos que elas significam a própria manifestação cultural da contemporaneidade, do mundo

globalizado, da conexão da arte da dança sem fronteiras.

No que tange à questão transdisciplinar da memória social ressaltamos que a construção e a

aplicação de conceitos nos aspectos práticos da pesquisa implicam partir de perguntas que nos

fazemos, de aproximar teoria, tema, objeto e objetivos. Nessa aproximação necessária, escolhas são

feitas a partir de uma avaliação criteriosa do pesquisador, a qual nos remete a posturas éticas e

políticas, em relação à investigação pretendida, de modo que escolhemos alguns e não outros

referenciais. Assim, o conceito de memória social adotado nesta pesquisa partiu de um estudo, de uma

reflexão e de uma escolha, no sentido de possibilitar as citadas aproximações e articulações,

contemplando igualmente, os problemas de pesquisa.

Investigar através do fio condutor da memória social significou transitar entre campos, tendo um

olhar além destes, construindo novas formas conhecer que, por natureza, são difusas e complexas. Ao

final da pesquisa, tínhamos materializado (em registro textual e audiovisual), o imaterial, um

conhecimento polissêmico que nos permitiu tratar o tema Danças Circulares Sagradas e o objeto, o

Grupo Redenção nas três dimensões da memória social: a histórica, a sensível e a cultural.

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