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AL DA RELAÇÃO DO PORTO Inscrito no registo do TrmlA\!lo DA JUSTiÇA - CAM MÁRTIRES DA PÁTRIA - 4099-012 PORTO - TELEF, 222008 531 - FAX 222 000 715 b otO .::: D. I. S5 Email: [email protected] de Justiça so o n .__..'.J...w._ -", •• ~ •• , __ o Luxemburgo, O2 -07- 2010 c- 3~ S' 11 O (~ Pu)- -1 Pele Secredrio, * '._ . Acór ão do Tribunal da Relação do Porto Fax I E-mail: ::::::: l~.cu~~v ':1 (::\Maria Manuela~rre' apresettado em:1:t1::~..:r-:~ y Administradora~c' cios ecurso de agravo interposto na acção com processo comum e forma ordinária n0506/06.8TBVLC.Pl, do l° Juízo da Comarca de Vale de Cambra. Agravantes / Autoras - C" Siderúrgica Nacional, com sede na República Federativa do Brasil, e CSN Cayman, Ltd., com sede nas Ilhas Caimão. Agravadas / Rés - Unifer Steel, SL, com sede em Espanha, BNP - Paribas - Suisse, com sede na Suíça, COLEPCCL (Portugal), S.A. (antes Colep Portugal, S.A.), com sede em Vale de Cambra (Portugal) e BPI - Banco Português de Investimento, S.A., com sede no Porto (Portugal). Pedido Que seja considerado ineficaz em relação às Autoras a cessão a favor do 2 0 Réu, BNP - Paribas, do crédito que a la Ré detém sobre a Colep (no montante de 3 192000). A3 a Ré Colep e o 4° Réu BPI condenados a não reconhecer a cessão, bem como a não efectuar qualquer pagamento a favor do 2° Réu, BNP - Paribas. O 2° Réu BNP - Paribas condenado a indemnizar as Autoras dos danos que lhes causou ao invocar a cessão de crédito, em abuso de direito, danos estes que se apurarão em execução de sentença. Pedido Subsidiário Deve o 2° Réu BNP - Paribas ser condenado a indemnizar as Autoras no valor de € 3 192 000, acrescido de juros, à taxa legal, desde a data da alegada cessão até ao efectivo pagamento do crédito arrestado às Autoras, correspondente aos danos que, com o seu comportamento abusivo, lhes causou. Tese das Autoras A1 a Ré Unifer Steel deve às Autoras a quantia de US$ 4.645.975,17. O pagamento das facturas encontrava-se assegurado por duas cartas de crédito documentário emitidas pelo 2° Réu, banco da la Ré. Em 20/11/01, as AA. intentaram uma providência cautelar de arresto sobre o crédito que a 1 a Ré detinha sobre a 3 U Ré Colep, no valor de 3.192.000, a pagar através de transferências de fundos que a 3 a Ré possuía no Banco 4° Réu. O arresto foi deferido em 22/11/01. Rec. S06-06.8TBVLC.Pl. Relator - Vieira e Cunha. Adjuntos - Des, Ma das Dores Eiró e Des. Proença Costa. Decisão recorrida de 4/1/10. Mod.3

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Page 1: DAJUSTiÇA - CAM MÁRTIRES DA PÁTRIA- 4099-012 PORTO- …curia.europa.eu/common/recdoc/convention/gemdoc2011/pdf/05-u-p-11.pdf · Os tribunais portugueses são incompetentes em razão

AL DA RELAÇÃO DO PORTOInscrito no registo do TrmlA\!lo DA JUSTiÇA - CAM MÁRTIRES DA PÁTRIA - 4099-012 PORTO - TELEF, 222008 531 - FAX 222 000 715

botO .::: D. I. S5 Email: [email protected] Justiça so o n .__..'.J...w._ -", ••~ ••, __ o

Luxemburgo, O2 -07- 2010 c- 3~S' 11O (~ Pu)- -1Pele Secredrio, *

'._ . Acór ão do Tribunal da Relação do PortoFax I E-mail: ::::::: l~.cu~~v

':1 (::\Maria Manuela~rre'apresettado em:1:t1::~..:r-:~y Administradora~c' cios

ecurso de agravo interposto na acção com processo comum eforma ordinária n0506/06.8TBVLC.Pl, do l° Juízo da Comarca de Vale deCambra.

Agravantes / Autoras - C" Siderúrgica Nacional, com sede naRepública Federativa do Brasil, e CSN Cayman, Ltd., com sede nas IlhasCaimão.

Agravadas / Rés - Unifer Steel, SL, com sede em Espanha, BNP -Paribas - Suisse, com sede na Suíça, COLEPCCL (Portugal), S.A. (antes ColepPortugal, S.A.), com sede em Vale de Cambra (Portugal) e BPI - BancoPortuguês de Investimento, S.A., com sede no Porto (Portugal).

PedidoQue seja considerado ineficaz em relação às Autoras a cessão a

favor do 20 Réu, BNP - Paribas, do crédito que a la Ré detém sobre a Colep (nomontante de € 3 192000).

A 3a Ré Colep e o 4° Réu BPI condenados a não reconhecer acessão, bem como a não efectuar qualquer pagamento a favor do 2° Réu, BNP -Paribas.

O 2° Réu BNP - Paribas condenado a indemnizar as Autoras dosdanos que lhes causou ao invocar a cessão de crédito, em abuso de direito,danos estes que se apurarão em execução de sentença.

Pedido SubsidiárioDeve o 2° Réu BNP - Paribas ser condenado a indemnizar as

Autoras no valor de € 3 192 000, acrescido de juros, à taxa legal, desde a datada alegada cessão até ao efectivo pagamento do crédito arrestado às Autoras,correspondente aos danos que, com o seu comportamento abusivo, lhes causou.

Tese das AutorasA 1a Ré Unifer Steel deve às Autoras a quantia de US$

4.645.975,17.O pagamento das facturas encontrava-se assegurado por duas

cartas de crédito documentário emitidas pelo 2° Réu, banco da la Ré.Em 20/11/01, as AA. intentaram uma providência cautelar de

arresto sobre o crédito que a 1a Ré detinha sobre a 3U Ré Colep, no valor de €3.192.000, a pagar através de transferências de fundos que a 3a Ré possuía noBanco 4° Réu. O arresto foi deferido em 22/11/01.

Rec. S06-06.8TBVLC.Pl. Relator - Vieira e Cunha. Adjuntos - Des, Ma das Dores Eiró e Des. Proença Costa.Decisão recorrida de 4/1/10.

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Todavia, o 2° Réu deduziu embargos de terceiro, invocando que a1a Ré lhe havia cedido o crédito, cessão essa consumada por comunicaçõesescritas à 3a Ré e 4° Réu, datadas de 25/10/01 e de 5/11/01.

A alegada aquisição de créditos da la Ré sobre a Colep foi oexpediente acordado entre a 1a Ré e o 2° Réu para inviabilizar o arresto anteriordesse crédito pelas Autoras (a verdadeira data da comunicação consta daautenticação mecânica do fax - 27/11/01). Ainda que a cessão fosse anterior aoarresto, constituía um acto que impossibilitava as Autoras de obterem asatisfação dos seus créditos - art° 610° al.b) C.Civ.

O 20 Réu conhecia perfeitamente a situação económica da 1a Ré e arespectiva impossibilidade de satisfazer o crédito das Autoras.

A competência internacional dos tribunais portugueses resulta dodisposto no art° 6° n" 1Reg. CE 44/2001, do Conselho, de 22/12/00.

Interpretação idêntica resulta do acórdão Kalfelis, do TJUE, de27/9/88 (pO n" 189/87), na interpretação do art° 6° n01 da Convenção deBruxelas (hoje Reg. N° 44/2001); ou do Ac. Réunion Éuropéenne e outros, de27/10/98 (pOn" C-51197).

Para além do mais, como resulta do art° 65° n01 al.c) C.P.Civ., acessão de créditos que sustenta a causa de pedir foi praticada em territórioportuguês - art° 583° n01 C.Civ., bem como o crédito cuja cedência se impugnaresulta de actos jurídicos praticados em território português.

A acção que antecedeu o arresto dos autos apenas se baseia nocrédito das Autoras sobre a 1a Ré, pelo que nenhuma semelhança apresenta coma acção dos autos - naquela acção não foram demandadas a Ré Colep, nem 04°Réu Banco.

Para além do mais, o 2° Réu age em abuso de direito.

Tese da Ré Unifer SteelNa acção principal, na sequência do arresto requerido, a

contestante foi absolvida da instância por via da incompetência absoluta dotribunal (infracção de regras relativas à competência internacional). Tal decisãofoi confirmada em recurso.

Os tribunais portugueses são incompetentes em razão danacionalidade para dirimir a questão da existência do crédito das AA. sobre acontestante, matéria que integra previamente a apreciação da impugnaçãopauliana.

Tese do Réu BNP Paribas (Suisse)Tanto a Convenção de Lugano, no seu art° 18°, como os art°s 65° e

65°_A C.P.Civ. não atribuem competência internacional aos tribunaisportugueses para julgar o pedido de ineficácia, em relação às Autoras, da cessãodo crédito, nem o pedido subsidiário.

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Email: [email protected]

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTOPALAclO DA JUSTiÇA - CAMPO MARTIRES DA pATRIA - 4099-012 PORTO - TELEF. 222 008 531 - FAX 222 000 7

Só as ordens jurídicas espanhola, suíça e brasileira.têmcom o objecto do litígio.

O pedido formulado contra as 3a e 4a Rés nem sequer é necessário àprocedência da pretensão de impugnação pauliana. De todo o modo, sempre,por via da incompetência internacional para o conhecimento do primeiropedido, seria inadmissível a cumulação de pedidos.

Tese da Ré ColepImpugna por desconhecimento, não se tratando de factos pessoais,

a generalidade dos factos alegados e relativos a pessoas invocadas que não acontestante.

Acrescenta que, por "faxes" de 6/11/01 e de 9/11/01, a 1a Rénotificou a contestante de que fez uma cessão da totalidade do crédito que sobreela contestante mantinha, a favor do 20 Réu.

Mais tarde, tal crédito foi arrestado, pelo que os pagamentos pelo40 Réu de fundos que a contestante aí tinha depositados se devem considerarsuspensos, até decisão judicial em contrário.

A validade da cessão deverá ser analisada à luz do direito suíço.

Despacho SaneadorNa decisão proferida, o Mm° Juiz "a quo" considerou procedente a

excepção invocada e, em consequência, declarou o tribunal comumabsolutamente incompetente para o conhecimento do pedido, por via daincompetência internacional dos tribunais portugueses, e, em consequência,absolveu a Ré da instância.

Conclusões do Recurso de AgravoI - O tribunal recorrido reconheceu que a sua competência

internacional para a presente acção é imposta pelo art° 60 n01 Reg. (CE) n"44/2001, do Conselho, de 22/12/00, relativo à competência judiciária, aoreconhecimento e à execução de decisões em matéria civil e comercial.

II - No entanto, julgou-se internacionalmente incompetente para apresente acção, porque os Tribunais Portugueses se consideraraminternacionalmente incompetentes para o julgamento da acção principal decondenação no pagamento do crédito subjacente à presente impugnaçãopauliana.

III - Salvo melhor opinião, esta justificação é improcedente, vistoque a presente acção de impugnação pauliana é uma acção distinta, com umacausa de pedir distinta e com pedidos distintos, da acção de condenação nopagamento do crédito.

IV - A competência internacional do tribunal para a presente acçãoresulta, sem margem para dúvidas, do art° 6° n01 Reg. (CE) n" 44/2001, doConselho, de 22/12/00, relativo à competência judiciária, ao reconhecimento e à

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TRIBUNAL D~ RE~AÇÃO DO PORTO ~ rPALÁCIO DA JUSTiÇA· CAMPO MÁRTIRES DA PÁTRIA· 4099-012 PORTO - TELEF. 222 008 531 - FAX 222 000 715 MJ~

Email: [email protected] ~

execução de decisões em matéria civil e comercial, que dispõe que' a ~ess.6a >-com domicílio no território de um Estado-Membro pode também ~demandada: I - Se houver vários requeridos, perante o tribunal do domicílio dequalquer um deles, desde que os pedidos estejam ligados entre si por um nexotão estreito que haja interesse em que sejam instruídos e julgadossimultaneamente para evitar soluções que poderiam ser inconciliáveis, se ascausas fossem julgadas separadamente".

V - Ao considerar-se internacionalmente incompetente, o Tribunalrecorrido violou o art° 6° nOIdo referido Regulamento da União,

VI - A competência internacional dos Tribunais portuguesesresulta ainda do art° 65° nOI al.a) C.P.Civ., que prescreve a competência dostribunais portugueses no caso de "ter o réu ou alguns dos réus domicílio emterritório português, já que os 3° e 4°s RR. têm domicílio em território luso.

VII - E a competência internacional do tribunal recorrido resulta,igualmente, do art° 65° nOI al.c) C.P.Civ., nos termos do qual os Tribunaisportugueses são competentes se tiver sido praticado em território português ofacto que serve de causa de pedir na acção ou alguns dos factos que aintegram", visto que o principal facto que sustenta a causa de pedir na acção, acessão de crédito que se impugna, foi praticada em território português.

Em contra-alegações, as I a e 2a Agravadas (Unifer Steel e BNP -Paribas, Suisse) pugnam pela manutenção da decisão recorrida.

Factos ProvadosEncontram-se provados, genericamente, os factos alegados pelas

partes e supra resumidamente expostos.Igualmente se prova que as Autoras intentaram, previamente à

presente acção, uma outra acção, que havia sido antecedida de uma providênciacautelar de arresto do crédito em causa na cessão invocada nos presentes autos,entre a Ia Ré, como cedente, e o 2° Réu, como cessionário, acção propostacontra a aqui 1a Ré.

Em tal acção a Ré foi absolvida da instância, por força da excepçãoprocedente de incompetência do tribunal em razão da nacionalidade.

Tal decisão foi confirmada nos recursos interpostos para o Tribunalda Relação de Lisboa e para o Supremo Tribunal de Justiça.

FundamentosInscreve-se a apreciação do presente agravo no conhecimento da

seguinte questão: ao contrário da acção em que as aqui Autoras peticionavamum crédito da pessoa da Ia Ré, esta presente acção, que visa, em primeira linha,a impugnação pauliana de um negócio de cessão de créditos em que a 1a Ré,com sede em Espanha, é cedente, e o 2° Réu, com sede na Suíça, é cessionário,

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Email: [email protected] jr,,~/)

e, em segunda linha, a condenação do 2° Réu por actuação em ab so d ifêito,sendo aquele crédito cedido devido por entidades portuguesas (3a Ré e 4° Réu),pode ou deve ser proposta num Tribunal português, quer à luz do Reg. CE n"44/2001 do Conselho ou até do disposto no Código de Processo Civilportuguês?

A sentença recorrida responde negativamente e vem impugnadapor recurso; mas vejamos com detalhe.

., IÉ consensual no processo a aplicação, para a determinação do

tribunal competente em razão da nacionalidade, do Regulamento (CE) n"44/2001, do Conselho, de 22/12/2000.

O Regulamento, como é sabido, é o instrumento jurídicocomunitário mais aproximado da "lei" interna, na medida em que assumecarácter geral e obrigatório, seja para os Estados-membros, para as empresas oupara os cidadãos - já o dizia o art" 249° §2° do Tratado de Roma, repete-o hojetambém o are 288° §2° do Tratado de Funcionamento da União Europeia.

Possui aplicabilidade directa e não necessita de acto interno detransposição (pese embora poder necessitar de medidas complementares deexecução em cada Estado-membro).

Assumindo então a aplicação ao caso deste citado Regulamento emmatéria de competência judiciária, reconhecimento e execução de decisões emmatéria civil e comercial, no âmbito da União Europeia, veremos desde logoque o âmbito de aplicação subjectivo deste Regulamento se estende apenas às"pessoas domiciliadas no território de um Estado-membro", as quais devem serdemandadas, independentemente da sua nacionalidade, perante os tribunaisdesse Estado - art" 2° n° 1.

A sentença recorrida invoca o chamado "princípio do primado" dodireito da União, pelo qual se afasta o direito de origem nacional, seincompatível com o direito da União rectius com a doutrina e na jurisprudênciada União, princípio decorrente da lealdade descrita no are 4° n03 do Tratado deLisboa (Tratado da União Europeia), antes art" 10° do Tratado de Roma. Detodo o modo, o direito português não se oporia, para o caso dos autos, aodisposto no Regulamento, já que prevê, como uma das regras-base decompetência internacional dos tribunais portugueses, que "o réu ou alguns dosréus tenham domicílio em território português", como aliás se verifica para ocaso dos RR. Colep e BPI - art" 65° n01 al.a) C.P.Civ.

A questão reside mesmo no carácter geral e abstracto doRegulamento, tal qual o da lei, no direito interno, acrescido do princípio dalealdade definido nos Tratados, conforme se referiu supra - a dita conjugaçãoconduz a aplicar directa e imediatamente, no âmbito das referidas previsões, asnormas da União Europeia que imponham deveres ou reconheçam direitos (no

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TRIBUNAL D~ RELAÇÃO DO PORTO t-. ~PALÁCIO DA JUSTiÇA - CAMPO MÁRTIRES DA PÁTRIA - 4099-012 PORTO - TELEF. 222008531 - FAX 222 000 Ks:A JJJ;)~

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que consiste antes o chamado "princípio do efeito directo norrnVeuropeias" - cf. Alessandra Silveira, Princípios de Direito da União Europeia,Quid Juris, 2009, pg. 96).

No caso dos autos, porém, um dos quatro Réus possui sede (rectiusdomicílio) na República Helvética, o que recorda que, quanto a tal Réu, sedeverá aplicar antes, para a determinação do tribunal competente para arespectiva demanda, a Convenção de Lugano, aprovada para ratificação pelaResolução da Assembleia da República n033/91, in D.R. IS.-A de 30/10/91,vigorando em Portugal igualmente desde 1/7/92 (Aviso n094/92, in D.R. IS.-Ade 10/7/92).

Tal convenção veio a ser modificada, através da Convenção deLugano de 2009, publicada no Jornal Oficial da União Europeia de 10/6/2009, ena qual foi parte contratante a própria Comunidade Europeia, para além de,como outorgantes autónomos, os Reinos da Dinamarca, Noruega, a Suíça e aIslândia.

Na verdade, Suíça e Portugal são parte desta Convenção(Convenção Relativa à Competência Judiciária e à Execução de Decisões emMatéria Cível e Comerciais, concluída em Lugano em 16/9/88 - a Suíça nãooutorgara, nem posteriormente outorgou, a Convenção de Bruxelas de 27/9/68.

A Convenção de Lugano, sendo posterior in tempore à Convençãode Bruxelas, influenciou esta última, a qual incorporou normas da Convençãode Lugano, através da designada Convenção de Adesão de 1989. Como recordao preâmbulo do Regulamento, este dito instrumento vem no seguimento dostrabalhos de revisão das Convenções de Bruxelas e de Lugano.

O direito convencional internacional que vincula o Estadoportuguês, mesmo na falta de uma norma constitucional expressa, tem vindo aser entendido na doutrina como possuindo primazia sobre o direito ordináriointerno, por aplicação do disposto nos arr's 7° e 8° C.R.P. (cf. GomesCanotilho e Vital Moreira, CRP Anotada, vol. I, 2007, art" 8°, notas VIII aXI).

Abreviando, o are 2° n° 1 da Convenção de Lugano, reportando-nos à Convenção de 2009, actualmente em vigor, é norma de idêntico teor aorespectivo equivalente no Regulamento - "as pessoas domiciliadas no territóriode um Estado Contratante devem ser demandadas, independentemente da suanacionalidade, perante os tribunais desse Estado".

Decalcada que se mostra, ainda mais na actualidade, a Convençãode Lugano, do Regulamento n° 44/2001, todos os normativos que infracitaremos respeitantes ao Regulamento, pertencem também, com idênticanumeração, à Convenção de Lugano de 2009.

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Cl~PALAC'ODAJU~!~~~~R~:'A!:~?'~~.?~F!~~~~AX222~~.At;( .'~

Emeik porto.trtgrribunais.org.pt ~

II -/ »O douto despacho recorrido assenta no pressuposto da aplica~

ao caso dos autos, prima fade, do disposto no art" 6° n" 1 do Regulamento.Trata-se aí de uma norma especial, com relação ao disposto no art"

2° n° 1 do Regulamento, nela se prevendo que "uma pessoa com domicílio noterritório de um Estado-membro pode também ser demandada, se houver váriosrequeridos, perante o tribunal do domicílio de qualquer um deles, desde que ospedidos estejam ligados entre si por um nexo tão estreito que haja interesse emque sejam instruídos e julgados simultaneamente, para evitar soluções quepoderiam ser inconciliáveis se as causas fossem julgadas separadamente".

Todavia, conclui por afastar a aplicação da norma por via do factode os tribunais portugueses já se terem declarado incompetentes, em razão danacionalidade, para o conhecimento da questão do crédito que as Autorasinvocam possuir sobre a 1a Ré Unifer Steel, SL.

Por relevante para a economia da presente decisão, transcrevemoso seguinte segmento decisório, do despacho impugnado:

"Acresce, com sobejo relevo, que, traduzindo-se a ratio legis danorma constante do art. 6.°, n." 1 do Regulamento, no desiderato de, perante umcaso em que os pedidos se interliguem de forma a aconselhar o seu julgamentosimultâneo, evitar soluções que poderiam ser inconciliáveis se as causas fossemjulgadas separadamente, a subsequente tramitação dos autos neste Tribunalrepresentaria um autêntico contra-senso, uma vez que, com relação à mesmarelação litigiosa, globalmente considerada, foi já excepcionada a incompetênciainternacional da nossa ordem jurídica. Significaria isto que, para parte do litígio- de resto, a mais importante atentas as suas consequências no demaiscontrovertido -, competente seria uma jurisdição estrangeira, enquanto que,para uma sua outra parte - que acima designámos de ramificação, na medida emque se ancora na questão mais vasta, qual seja, a do crédito e seus contornos -já seriam os tribunais portugueses os competentes para decidir, o que, em nomeda segurança e estabilidade do Direito, não se pode conceber. Ademais,poderiam as duas questões em que ora nos focalizamos - sendo certo que outraspode haver -, ser objecto de decisões contraditórias, bastando, para o efeito, queum tribunal estrangeiro não reconhecesse às autoras o crédito de que se arrogamtitulares, e que o tribunal nacional julgasse a cessão de créditos ineficaz emrelação às mesmas."

Outra coisa não diz o TJUE, no Ac. Kalfelis, de 27/9/88, proferidono p" n" 189/87 e disponível a partir do sítio http://eur-Iex.europa.eu. Vejamos:

"Deve observar-se que o princípio consagrado na convenção é o dacompetência dos órgãos jurisdicionais do Estado do domicílio do réu e que acompetência prevista pelo n.? 1 do artigo 6.° constitui uma excepção a esteprincípio. Daí resulta que tal excepção deve ser utilizada por forma a não pôrem causa a própria existência do princípio. Tal poderia ser o caso se o autor

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»::tivesse a liberdade de demandar vários réus com a única finalid e de.subtnair /'"um destes réus à competência dos tribunais do Estado em que es ' lciliaVComo assinala o relatório preparado pela comissão de peritos que elaborou otexto da convenção (JOC 59, de 5.3.1979, p. 1), tal possibilidade deve serexcluída. Para tanto, é necessário que exista uma conexão entre as acçõesintentadas contra cada um dos réus."

"Daí resulta, a fim de garantir, na medida do possível, a igualdadee a uniformidade dos direitos e obrigações decorrentes da convenção para osestados contratantes e as pessoas interessadas, ser preciso determinarautonomamente a natureza dessa conexão. A este propósito, há que salientarque o já referido relatório, elaborado pela comissão de peritos, invocaexpressamente, para justificar o n.° 1 do artigo 6.°, a preocupação de evitarque sejam proferidas nos estados contratantes decisões contraditórias. Deresto, trata-se de uma preocupação que foi tomada em consideração pelaprópria convenção no artigo 22.°, que rege o caso de acções conexasintentadas em órgãos jurisdicionais de estados contratantes diferentes. A regraprevista no n.° 1 do artigo 6. o aplica-se, portanto, quando as acções intentadas'contra os diferentes réus sejam conexas na altura em que são apresentadas,isto é, quando haja interesse em serem instruídas e julgadas simultaneamentepara evitar soluções que poderiam ser incompatíveis se as causas fossemjulgadas separadamente. Compete ao órgão jurisdicional nacional verificar emcada caso específico se esta condição está preenchida. (. ..) Para a aplicaçãodo n. o 1 do artigo 6. o da convenção, deve existir entre as diferentes acçõesintentadas por um mesmo autor contra vários réus um nexo tão estreito quehaja interesse emjulgá-las simultaneamente para evitar soluções que poderiamser incompatíveis se as causas fossem julgadas separadamente."

Esta formulação, repetida no Ac. Réunion Européenne, de27/10/98, pO n" C-51-97, vem reinterpretada no Ac, Roche Nederland, de13/7/2006, pO n° C-539/03, no sentido de que "a formulação utilizada peloTribunal de Justiça no acórdão Kalfelis retoma os termos do artigo 22.° daConvenção de Bruxelas, ao abrigo do qual se consideram conexas as acçõesligadas entre si por um elo tão estreito que haja interesse em instruí-las ejulgá-las conjuntamente, a fim de evitar soluções que poderiam serinconciliáveis se as causas fossem julgadas separadamente; o referido artigo22.° foi interpretado no acórdão de 6 de Dezembro de 1994, Tatry (C-406/92,Colect., p. 1-5439, n.? 58), no sentido de que, para que haja conexão entre duasacções, basta que a sua instrução e o seu julgamento separado comportem orisco de uma contradição de decisões, sem ser necessário que impliquem o riscode conduzirem a consequências jurídicas que se excluam mutuamente".

Ou seja, e para efeitos do Regulamento 44/2001 CE, do Conselho,a norma do art" 60 n'T deve ser interpretada à luz do disposto no art" 28° n03 deidêntico diploma, que normativiza o conceito de "conexão de processos" (à

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semelhança do anterior art" 22° § 3° da Convenção de Bru elas): " (consideram-se conexas as acções ligadas entre si por um nexo tã reito quehaja interesse em que sejam instruídas e julgadas simultaneamente para evitarsoluções que poderiam ser inconciliáveis, se as causas fossem julgadasseparadamente" .

Note-se que o art" 6° n01 da Convenção de Lugano repete, comorepetia, mesmo antes de 2009, o teor do art" 6° n01 da Convenção de Bruxelas,normas de DIP sobre as quais se pronunciava o Tribunal de Justiça nos termosatrás citados.

É claro que existem igualmente decisões do TJUE que sedebruçaram especificamente sobre o enquadramento da acção pauliana naeconomia do Regulamento n" 44/2001.

Neste sentido, o Ac. TJUE Reichert e Kockler (tambémconhecido por Reichert II), de 26/3/92, p" n" C-261/90, afirma expressamenteque são competentes para a apreciação da acção pauliana ou "revogatória", nãodependente de insolvência do demandado, os tribunais do domicílio desteúltimo, por aplicação da regra geral do art" r n"}, não excepcionada emqualquer outro ponto do Regulamento. Da mesma forma, as conclusões doAdvogado-Geral Ruiz Jarabo-Colorner, no pO Christopher Seagon, n" C-339/07, conclusões de 16/10/08.1

Os arestos citados, porém, não dilucidam a questão no quadro daexistência de "vários demandados", por aplicação do critério especial do actualare 6° n01 do Regulamento n° 44/2001, matéria essa sobre a qual se debruçamos presentes autos e que vem fundamentada nos acórdãos que atrás citámos.

IIICom Meneses Leitão (Garantias das Obrigações, 2a ed., pg. 89),

Brandão Proença (A Resolução do Contrato no Direito Civil, 2006, pg. 57) eRibeiro de Faria (Obrigações, I, pg. 242, nota 1), consideramos que a acçãopauliana consiste numa acção pessoal, visando restituir ao credor, na medida doseu interesse, bens com que contava no património do devedor, para garantia doseu crédito.

Do disposto no art" 610° C.Civ. retira-se abundantemente que,pressuposto da impugnação pauliana, é o da existência de um crédito (oupossibilidade de exigência de uma prestação debitória) do credor sobre orespectivo devedor.

De uma forma ou de outra, atendendo às diversas tradições eancoragens históricas dos direitos nacionais, o mesmo se antolha nos direitosnacionais brasileiro, espanholou suíço - como nos dá nota, para os doisprimeiros, J. Cura Mariano, Impugnação Pauliana, pgs. 73 e 68,

I Da mesma forma, os Acs, AS Autoteile, de 417185, p" nO C-220/84, e Reichert I, de 10/1/90, p" n° C-I 15-88.

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respectivamente, e, para o direito suíço, uma pesquisa simples or t o no sí 10

www.bger.ch/fr/index/juridiction , o qual informa da jurispru encia suíça emmatéria de acção pauliana.

Assim, pode assentar-se que constituem requisitos da acçãopauliana: a existência de determinado crédito; a anterioridade desse crédito emrelação à celebração do acto, ou, sendo posterior, que o dito acto tenha sidorealizado dolosamente, com vista a satisfazer o direito do credor; resultar doacto a impossibilidade para o credor de obter a satisfação do seu crédito ou oagravamento dessa impossibilidade; que tenha existido má fé, pelo menos porparte do alienante I devedor, tratando-se de acto oneroso, entendendo-se por máfé a consciência do prejuízo que cause ao credor - veja-se ex abundanti os Ac.S.T.J. 10/11/98 Bol.4811449 e o Ac.R.E.17/6/99 Col.III/278 (e demais doutrinaaí citada).

Todavia, se a existência do crédito é pressuposto da procedência dopedido, não constitui o seu objectivo declarado ou maior, qual seja o daimpugnação de um acto que "visa restituir ao credor" (ao menosinvocadamente) "na medida do seu interesse os bens que ele contava para agarantia do seu crédito" (Meneses Leitão, op. e lococits.).

De toda a maneira, ver-se-á desde logo no presente processo que opedido de declaração da existência de um crédito das AA. sobre a Ré UniferSteel não foi sequer formulado. Pode porém ele encontrar-se contido na causade pedir, ou ser até passível de consideração como "pedido implícito" ou"tácito" (cf., para esta noção, S.T.J. 10/4/84 Bol.336/433, Ac.R.C. 20/10/87Bo1.370/619 ou Ac.R.C. 19/2/92 Bol.414/691) - ou "pedido aparente" naformulação de J. Alberto dos Reis, Comentário, III/148: podem não seformular dois pedidos substancialmente distintos, quando a condenaçãopressupõe uma apreciação prévia de natureza declarativa.

E pode igualmente entender-se que tal considerando, relativo àexistência da dívida da Unifer Steel às Autoras, constitui antecedente lógicoindispensável da parte dispositiva da sentença, como tal também abrangido pelocaso julgado, posição muito cara à jurisprudência portuguesa e a autores comoVaz Serra (ut Revista Decana, 110°/232 e 112°/275).

IVSeja como for, em matéria de existência da obrigação de

pagamento da Unifer Steel, entidade com sede em Espanha, às Autoras,entidades com sede no Brasil e nas Ilhas Caimão, foi já declarada, com trânsitoem julgado, a incompetência em razão da nacionalidade dos tribunaisportugueses.

Todavia, não se encontra adquirido que, seja a Ré devedora UniferSteel, seja a Ré terceira adquirente do crédito da Unifer Steel, o BNP - Paribas(Suisse), sobretudo sejam os portugueses Colep e BPI, venham a ser

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demandados em eventual acção pauliana instaurada em Esta an~e0pertença ele, ou não à União Europeia, e seja a acção decidida por que direitonacional venha a ser .

Esta questão coloca problemas de vinculação das diversasentidades aqui demandadas ao caso julgado que vier a ser formado noutrajurisdição.

Em Portugal, por interpretação do disposto no are 611° C.Civ., émaioritária a opinião de que devem ser demandados quer o devedor, quer oterceiro adquirente, neste caso do crédito, quer, para o caso dos autos, até, emlitisconsórcio voluntário (art" 27° nOl la parte C.P.Civ.), os própriosdepositários da prestação ou crédito cedido ao terceiro adquirente, a fim de quetodos se achem vinculados pelo caso julgado formado?

Todavia, e adoptando um ponto de vista meramente prático oupragmático, que pretendemos tributário de uma jurisprudência de interesses, éem Portugal que se encontra a quantia monetária cuja transferência as Autorasalmejam a seu favor, como contrapartida de diversos fornecimentos de aço.

Por outro lado, o Tribunal de Justiça ainda se não pronunciou sobrea questão da competência, no âmbito do Regulamento CE n° 44/2001, doConselho, de 22/12/2000, em matéria de acção pauliana e quando se encontremdemandados vários Réus, designadamente o devedor, o terceiro adquirente e osdepositários do bem, prestação ou crédito cedido.

Por fim, conforme os citados Ac. Roche Nederland, de 13/7/2006,pOn" C-539/03, e Ac. Tatry, de 6/12/1994 (p0 n° C-406/92, Colect., p. 1-5439,n.? 58), tendo em conta que "para que haja conexão entre duas acções, bastaque a sua instrução e o seu julgamento separado comportem o risco de umacontradição de decisões" - a qual pode existir desde que os quatro entes, queem Portugal ficariam vinculados pelo julgado em acção de impugnaçãopauliana, não possam ser demandados nas mesmas jurisdições nacionais - e quea jurisprudência comunitária é expressa em excluir da conexão necessária entreos pedidos referidos no art" 6° n"! do Regulamento 44/2001, quando talimplique meramente o risco de conduzir a consequências jurídicas que seexcluam mutuamente, tudo o que vem de se dizer aconselha este tribunal, asuspender a instância e suscitar, oficiosamente, nos termos do art" 267° TFUE,o reenvio prejudicial da questão ao Tribunal de Justiça (regime que visa garantirum princípio fundamental da ordem jurídica da UE: o princípio dauniformidade na interpretação e aplicação do direito comunitário).

2 Em sentido contrário, ver-se-é P. de Lima e A. Varela, Anotado, I, nota 2 ao art? 617°, quando admitem queo terceiro adquirente, em acção pauliana, pode chamar à autoria o devedor - ou até S.T.J. 10/12/91801.412/406, quando sustenta, para a acção pauliana, uma mera situação, pelo lado passivo, de litisconsórciovoluntário entre devedor e terceiro adquirente.

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VTal questão prejudicial será enunciada atentos os seguintes

considerandos:

I - Está pendente neste Tribunal da Relação do Porto acção comprocesso declarativo e forma ordinária na qual Companhia SiderúrgicaNacional, com sede em Rio de Janeiro, República Federativa do Brasil, e CSNCayman, com sede em Georgetown, Ilhas Caimão, demandam Unifer Steel, SL,com sede em Madrid, Espanha, BNP Paribas (Suisse), com sede em Genebra,Colepccl, S.A., com sede em Vale de Cambra, Portugal, e BPI - BancoPortuguês de Investimento, S.A., com sede no Porto.

II - As Autoras formulam o seguinte pedido:Que seja considerado ineficaz em relação às Autoras a cessão a

favor do 20 Réu, BNP - Paribas, do crédito que a la Ré detém sobre a Colep (nomontante de € 3 192000).

Que a 3a Ré Colep e o 4° Réu BPI sejam condenados a nãoreconhecer a cessão, bem como a não efectuar qualquer pagamento a favor do20 Réu, BNP - Paribas.

Que o 2° Réu BNP - Paribas seja condenado a indemnizar asAutoras dos danos que lhes causou ao invocar a cessão de crédito, em abuso dedireito, danos estes que se apurarão em execução de sentença.

III - Subsidiariamente, formulam o seguinte pedido:Que o 2° Réu BNP - Paribas seja condenado a indemnizar as

Autoras no valor de € 3 192 000, acrescido de juros, à taxa legal, desde a datada alegada cessão até ao efectivo pagamento do crédito arrestado às Autoras,correspondente aos danos que, com o seu comportamento abusivo, lhes causou.

IV - Invocam as Autoras que a 18Ré Unifer Steellhes deve, a elasAutoras, a quantia de US$ 4.645.975,17.

O pagamento das facturas encontrava-se assegurado por duascartas de crédito documentário emitidas pelo 2° Réu, banco da 18Ré.

Em 20/11/01, as AA. intentaram uma providência cautelar dearresto sobre o crédito que a 18 Ré detinha sobre a 38 Ré Colep, no valor de €3.192.000, a pagar através de transferências de fundos que a 38 Ré possuía noBanco 4° Réu. O arresto foi deferido em 22/11/01.

Todavia, o 2° Réu deduziu embargos de terceiro, invocando que a1a Ré lhe havia cedido o crédito, cessão essa consumada por comunicaçõesescritas à 3a Ré e 4° Réu, datadas de 25/10/01 e de 5/11/01.

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V - Mais alegam que a alegada aquisição de créditos da 1~é /'sobre a Colep foi o expediente acordado entre a 1a Ré e o 2° Réu ~inviabilizar o arresto desse crédito pelas Autoras. Ainda que a cessão fosseanterior ao arresto, constituía um acto que impossibilitava as Autoras deobterem a satisfação dos seus créditos.

O 2° Réu BNP - Paribas conhecia perfeitamente a situaçãoeconómica da la Ré Unifer Steel, SL, e a respectiva impossibilidade desatisfazer o crédito das Autoras.

Para além do mais, como resulta do art" 65° nOI al.e) C.P.Civ., acessão de créditos que sustenta a causa de pedir foi praticada em territórioportuguês, nos termos do art" 5830 nOI do Código Civil, pois que ficouconsumada com a respectiva comunicação às devedoras (Colepcc1 Portugal,S.A., e BPI - Banco Português de Investimento), bem como o crédito cujacedência se impugna resulta de actos jurídicos praticados em territórioportuguês.

TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTO

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VI - Posteriormente, na acção com processo declarativo e formaordinária que Companhia Siderúrgica Nacional e CSN Cayman, Ltd, intentaramcontra Multi Dynamics Corporation, SL, hoje usando a sigla social de UniferSteel, SL, e na qual as Autoras pediam da Ré a condenação desta na quantia deUS$ 4.645.975,17, acrescida de juros, contados desde 21/1/2002, até integralpagamento, tendo por base a venda pelas Autoras à Ré de bens não pagos pelaRé no momento do vencimento do preço, os tribunais portugueses decidiram,com trânsito em julgado, e por apoio no Regulamento CE n° 44/200 I doConselho, relativo à competência judiciária para o reconhecimento e execuçãode decisões em matéria civil e comercial, serem incompetentes, em razão danacionalidade para o julgamento do citado pleito.

Tal acção correu com o n° 13/2002, da 5a Vara Cível, 3a Secção, daComarca de Lisboa.

VII - Esta acção havia sido antecedida de uma providênciacautelar de arresto, que correu termos pela 3a Vara Cível da Comarca do Poro,com o n'' 13-A/2002, intentada entre as mesmas partes, e na qual se decretou, afavor das Autoras, o arresto do crédito que a Requerida então chamadaMultidynamics Corporation possuía sobre a Requerida Colep, no valor de €3.192.000,00, ordenando-se a notificação da entidade bancária BPI - BancoPortuguês de Investimento de que não deveria efectuar qualquer transferênciade fundos de Colep - Portugal, S.A., a favor de Multidynamics Corporation,S.L.

VIII - Nos presentes autos, volta a encontrar-se em causa acompetência internacional dos tribunais portugueses. E assim:

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IX - O Ac. TJUE Reichert e Kockler (também conhecido porReichert II), de 26/3/92, p" n? C-261190, afirma expressamente que sãocompetentes para a apreciação da acção pauliana ou "revogatória", nãodependente de insolvência do demandado, os tribunais do domicílio desteúltimo, por aplicação da regra geral do are 2° n'T, não excepcionada emqualquer outro ponto do Regulamento _Da mesma forma, as conclusões doAdvogado-Geral Ruiz Jarabo-Colomer, no pO Christopher Seagon, n" C-339/07, conclusões de 16/10/08, e os Acs. AS Autoteile, de 4/7/85, pOn° C-220/84, e Reichert I, de 10/1/90, pOn" C-115-88.

X - Tais acórdãos, porém, não se pronunciaram sobre a hipótese daconjugação da doutrina que firmaram com a da existência de uma pluralidadede demandados na acção pauliana.

XI - No entender das Autoras nos presente processo, que têm sedeuma na República Federativa do Brasil, outra nas Ilhas Caimão, devem serdemandados na acção pauliana quer o devedor, quer o terceiro adquirente, nestecaso do crédito, quer, para o caso dos autos, até os próprios depositários daprestação ou crédito cedido ao terceiro adquirente, a fim de que todos se achemvinculados pelo caso julgado formado. Esses depositários são duas entidadesque possuem sede em Portugal. Tal entendimento é reforçado pelo direitointerno português, designadamente pelo disposto no art" 6110 do Código Civil,pelo qual devem ser demandados quer o devedor, quer o terceiro adquirente,neste caso do crédito, quer, para o caso dos autos, até, em litisconsórciovoluntário (art" 270 nOl la parte do Código de Processo Civil), os própriosdepositários da prestação ou crédito cedido ao terceiro adquirente, a fim de quetodos se achem vinculados pelo caso julgado formado.

XII - As autoridades judiciais portuguesas, porém, declararam-seincompetentes, em razão da nacionalidade, previamente e em outro jáidentificado processo, para conhecer da acção judicial em que as Autorasreclamam o crédito que possuem da aqui Ré Unifer Steel, entidade com sede emEspanha. A decisão final foi proferida em 25/5/2006.

XIII - Entretanto, as Companhia Siderúrgica Nacional e CSNCayman, Ltd, intentaram acção judicial, no Juzgado Decano de Madrid, contraUnifer Steel, SL, anteriormente denominada Multi Dynamics Corporation, SL,na qual reclamam da Ré a quantia de € 4 258 686,54.

XIV - Tendo em conta a jurisprudência dos Ac. RocheNederland, de 13/7/2006, pOn" C-539/03, e Ac, Tatry, de 6/12/1994 (pOn"

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C-406/92, Colect., p.I-5439, n.? 58) que "para que haja conexão entre duasacções, basta que a sua instrução e o seu julgamento separado comportem orisco de uma contradição de decisões" - a qual pode existir desde que os quatroentes, que em Portugal ficariam vinculados pelo julgado em acção deimpugnação pauliana, não possam ser demandados nas respectivas jurisdiçõesnacionais,

xv - Tendo em conta que a jurisprudência comunitária é expressaem excluir da conexão necessária entre os pedidos referidos no art" 6° nOl doRegulamento 44/2001 Cde teor idêntico ao da Convenção de Lugano de 2009),quando tal implique meramente o risco de conduzir a consequências jurídicasque se excluam mutuamente, por conjugação daquela norma com o disposto noare 28° n03 do Regulamento 4412001 e da Convenção de Lugano de 2009 CAcoKalfelis, de 27/9/88, proferido no pOn? 189/87, Ac. Réunion Européenne, de27/10/98, po n" C-51-97 e Ac. Roche Nederland, de 1317/2006, pO n" C-539/03).

XVI - Tendo ainda em conta que a jurisdição portuguesa sedeclarou incompetente para conhecer da questão prévia à impugnação pauliana,consistente na existência de um crédito das Autoras sobre a Unifer Steel.

XVII - Tendo em conta que existe, como questão 'prévia doconhecimento do pedido de impugnação pauliana, o conhecimento, ao menosimplícito, da existência de uma dívida da P Ré Unifer Steel para com as aquiAutoras.

XVIII - Tendo em conta que a doutrina espanhola prevê ademanda necessária do devedor e daquele que celebrou com ele o actofraudulento Ccf Díez-Picazo e Antonio Gullón, Sistema de Derecho Civil,vol.II, 9a ed., pg. 216), mas não é certo que permita a demanda dos depositáriosdo crédito, os Réus na acção proposta em Portugal e que neste país têm sede.

Formula-se a seguinte questão prejudicial:O facto de as autoridades judiciais portuguesas se haverem

declarado incompetentes em razão da nacionalidade para o conhecimento deuma acção relativa a um crédito comercial, constitui obstáculo à conexão entreacções, referida nos art''s 6° nOl e 22° do Regulamento n° 44/2001, quando nosencontramos, na jurisdição portuguesa, perante uma outra acção, acção deimpugnação pauliana em que são demandados quer o devedor, quer o terceiroadquirente, neste caso de um crédito, quer os próprios depositários da prestaçãocreditícia cedida ao terceiro adquirente, estes com sede em Portugal, a fim deque todos se achem vinculados pelo caso julgado formado?

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Na hipótese de resposta negativa, poderá aplicar- e livrecaso o disposto no art" 6° nO} do Regulamento n" 44/2001 ?

Com os poderes conferidos pelo disposto no art" 2020 n01 daConstituição da República, decide-se neste Tribunal da Relação:

Suscitar perante o Tribunal de Justiça da União Europeia(suspendendo a instância até decisão a proferir por esse Tribunal) a seguintequestão prejudicial:

o facto de as autoridades judiciais portuguesas se haveremdeclarado incompetentes em razão da nacionalidade para o conhecimento deuma acção relativa a um crédito comercial, constitui obstáculo à conexão entreacções, referida nos art''s 6° nOI e 2ZO do Regulamento n" 44/2001, quando nosencontramos, na jurisdição portuguesa, perante uma outra acção, acção deimpugnação pauliana em que são demandados quer o devedor, quer o terceiroadquirente, neste caso de um crédito, quer os próprios depositários da prestaçãocreditícia cedida ao terceiro adquirente, a fim de que todos se achem vinculadospelo caso julgado formado?

Na hipótese de resposta negativa, poderá aplicar-se livremente aocaso o disposto no are 6° nOI do Regulamento n'' 44/2001?

Deverão as partes, no prazo de 10 dias, fazer as sugestões queentendam por pertinentes relativamente ao pedido de reenvio.

Porto, )q/r/Io

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Tribunal da Relação do Porto2"Secção

Campo Mártires da Pátria - 4099-012 PortoTelef: 222008531/2084833 Fax: 222000715 Mail: [email protected]

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CONe. -18-06-2010

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TRIBUNAL DA RELAÇÃO DO PORTOPALÁCIO DA JUSTiÇA - CAMPO MARTIRES DA pATRIA - 4099-012 PORTO - TELEF. 222 008 531 • FAX 222 000715

Email: [email protected]

Formula-se a seguinte questão prejudicial:O facto de as autoridades judiciais portuguesas se haverem

declarado incompetentes em razão da nacionalidade para o conhecimento deuma acção relativa a um crédito comercial, constitui obstáculo à conexãoentre acções, referida nos art''s 6° nOI e 22° do Regulamento n" 44/2001,quando nos encontramos, na jurisdição portuguesa, perante uma outra acção,acção de impugnação pauliana em que são demandados quer o devedor, quero terceiro adquirente, neste caso de um crédito, quer os próprios depositáriosda prestação creditícia cedida ao terceiro adquirente, estes com sede emPortugal, a fim de que todos se achem vinculados pelo caso julgado formado?

Na hipótese de resposta negativa, poderá aplicar-se livrementeao caso o disposto no art° 6° n01 do Regulamento n° 44/2001 ?

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REENVIO PREJUDICIAL AOTRIBUNAL DE JUSTIÇA DAS COMUNIDADES EUROPEIAS

(Pedido de decisão prejudicial- cópia para os autos)

I-Está pendente neste Tribunal da Relação do Porto acção comprocesso declarativo e forma ordinária Companhia Siderúrgica Nacional,com sede em Rio de Janeiro, República Federativa do Brasil, e CSN Cayman,com sede em Georgetown, Ilhas Caimão, demandam Unifer Steel, SL, comsede em Madrid, Espanha, BNP Paribas (Suisse), com sede em Genebra,Colepccl, S.A., com sede em Vale de Cambra, Portugal, e BPI - BancoPortuguês de Investimento, S.A., com sede no Porto.

II - As Autoras formulam o seguinte pedido:Que seja considerado ineficaz em relação às Autoras a cessão a

favor do 20 Réu, BNP - Paribas, do crédito que a 1a Ré detém sobre a Colep(no montante de € 3 192000).

Que a 3a Ré Colep e o 4° Réu BPI sejam condenados a nãoreconhecer a cessão, bem como a não efectuar qualquer pagamento a favor do20 Réu, BNP - Paribas.

Que o 20 Réu BNP - Paribas seja condenado a indemnizar asAutoras dos danos que lhes causou ao invocar a cessão de crédito, em abusode direito, danos estes que se apurarão em execução de sentença .

III - Subsidiariamente, formulam o seguinte pedido:Que o 2° Réu BNP - Paribas seja condenado a indemnizar as

Autoras no valor de € 3 192 000, acrescido de juros, à taxa legal, desde a datada alegada cessão até ao efectivo pagamento do crédito arrestado às Autoras,correspondente aos danos que, com o seu comportamento abusivo, lhescausou.

IV - Invocam as Autoras que a 1a Ré Unifer Steel lhes deve, aelas Autoras, a quantia de US$ 4.645.975,17.

O pagamento das facturas encontrava-se assegurado por duascartas de crédito documentário emitidas pelo 2° Réu, banco da 1a Ré.

Em 20/11/01, as AA. intentaram uma providência cautelar dearresto sobre o crédito que a 1a Ré detinha sobre a 3a Ré Colep, no valor de €3.192.000, a pagar através de transferências de fundos que a 3a Ré possuía noBanco 4° Réu. O arresto foi deferido em 22/11/01.

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-. Todavia, o 2° Réu deduziu embargos de terceiro, invocando quea 1a Ré lhe havia cedido o crédito, cessão essa consumada por comunicaçõesescritas à 3a Ré e 4° Réu, datadas de 25/10/0 1 e de 5/11/01.

v - Mais alegam que a alegada aquisição de créditos da 1a Résobre a Colep foi o expediente acordado entre a 1a Ré e o 2° Réu parainviabilizar o arresto desse crédito pelas Autoras. Ainda que a cessão fosseanterior ao arresto, constituía um acto que impossibilitava as Autoras deobterem a satisfação dos seus créditos.

O 2° Réu BNP - Paribas conhecia perfeitamente a situaçãoeconómica da 1a Ré Unifer Steel, SL, e a respectiva impossibilidade desatisfazer o crédito das Autoras.

Para além do mais, como resulta do art° 65° n01 al.c) C.P.Civ., acessão de créditos que sustenta a causa de pedir foi praticada em territórioportuguês, nos termos do art° 583° n01 do Código Civil, pois que ficouconsumada com a respectiva comunicação às devedoras (Colepccl Portugal,S.A., e BPI - Banco Português de Investimento), bem como o crédito cujacedência se impugna resulta de actos jurídicos praticados em territórioportuguês.

VI - Posteriormente, na acção com processo declarativo e formaordinária que Companhia Siderúrgica Nacional e CSN Cayman, Ltd,intentaram contra Multi Dynamics Corporation, SL, hoje usando a siglasocial de Unifer Steel, SL, e na qual as Autoras pediam da Ré a condenaçãodesta na quantia de US$ 4.645.975,17, acrescida de juros, contados desde21/1/2002, até integral pagamento, tendo por base a venda pelas Autoras à Réde bens não pagos pela Ré no momento do vencimento do preço, os tribunaisportugueses decidiram, com trânsito em julgado, e por apoio no RegulamentoCE n° 44/2001 do Conselho, relativo à competência judiciária para oreconhecimento e execução de decisões em matéria civil e comercial, seremincompetentes, em razão da nacionalidade para o julgamento do citado pleito.

Tal acção correu com o n? 13/2002, da 5a Vara Cível, 3a Secção,da Comarca de Lisboa.

VII - Esta acção havia sido antecedida de uma providênciacautelar de arresto, que correu termos pela 3a Vara Cível da Comarca doPoro, com o n" 13-A/2002, intentada entre as mesmas partes, e na qual sedecretou, a favor das Autoras, o arresto do crédito que a Requerida entãochamada Multidynamics Corporation possuía sobre a Requerida Colep, novalor de € 3 192 000,00, ordenando-se a notificação da entidade bancária BPI- Banco Português de Investimento de que não deveria efectuar qualquer

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transferência de fundos de Colep - Portugal, S.A., a favor de MultidynamicsCorporation, S.L.

VIII - Nos presentes autos, volta a encontrar-se em causa acompetência internacional dos tribunais portugueses. E assim:

IX - O Ac. TJUE Reichert e Kockler (também conhecido porReichert II), de 26/3/92, pO n° C-261190, afirma expressamente que sãocompetentes para a apreciação da acção pauliana ou "revogatória", nãodependente de insolvência do demandado, os tribunais do domicílio desteúltimo, por aplicação da regra geral do are 2° n'T, não excepcionada emqualquer outro ponto do Regulamento. Da mesma forma, as conclusões doAdvogado-Geral Ruiz Jarabo-Colomer, no pO Christopher Seagon, n" C-339/07, conclusões de 16/10/08, e os Acs. AS Autoteile, de 4/7/85, pOn" C-220/84, e Reichert I, de 10/1/90, pOn" C-115-88.

X - Tais acórdãos, porém, não se pronunciaram sobre a hipóteseda conjugação da doutrina que firmaram com a da existência de umapluralidade de demandados na acção pauliana.

XI - No entender das Autoras nos presente processo, que têmsede uma na República Federativa do Brasil, outra nas Ilhas Caimão, devemser demandados na acção pauliana quer o devedor, quer o terceiro adquirente,neste caso do crédito, quer, para o caso dos autos, até os próprios depositáriosda prestação ou crédito cedido ao terceiro adquirente, a fim de que todos seachem vinculados pelo caso julgado formado. Esses depositários são duasentidades que possuem sede em Portugal. Tal entendimento é reforçado pelodireito interno português, designadamente pelo disposto no art" 611° doCódigo Civil, pelo qual devem ser demandados quer o devedor, quer oterceiro adquirente, neste caso do crédito, quer, para o caso dos autos, até, emlitisconsórcio voluntário (art" 27° n'T la parte do Código de Processo Civil),os próprios depositários da prestação ou crédito cedido ao terceiroadquirente, a fim de que todos se achem vinculados pelo caso julgadoformado.

XII - As autoridades judiciais portuguesas, porém, declararam-se incompetentes, em razão da nacionalidade, previamente e em outro jáidentificado processo, para conhecer da acção judicial em que as Autorasreclamam o crédito que possuem da aqui Ré Unifer Steel, entidade com sedeem Espanha. A decisão final foi proferida em 25/5/2006.

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XIII - Entretanto, as Companhia Siderúrgica Nacional e CSNCayman, Ltd, intentaram acção judicial, no Juzgado Decano de Madrid,contra Unifer Steel, SL, anteriormente denominada Multi DynamicsCorporation, SL, na qual reclamam da Ré a quantia de € 4 258 686,54.

XIV - Tendo em conta a jurisprudência dos Ac, RocheNederland, de 13/7/2006, pOn" C-539/03, e Ac. Tatry, de 6/1211994 (pOn"C-406/92, Colect., p. 1-5439, n.? 58) que "para que haja conexão entre duasacções, basta que a sua instrução e o seu julgamento separado comportem orisco de uma contradição de decisões" - a qual pode existir desde que osquatro entes, que em Portugal ficariam vinculados pelo julgado em acção deimpugnação pauliana, não possam ser demandados nas respectivasjurisdições nacionais.

XV - Tendo em conta que a jurisprudência comunitária éexpressa em excluir da conexão necessária entre os pedidos referidos no are6° nOl do Regulamento 44/2001, quando tal implique meramente o risco deconduzir a consequências jurídicas que se excluam mutuamente, porconjugação daquela norma com o disposto no art" 22° do Regulamento44/2001 (Ac. Kalfelis, de 27/9/88, proferido no p" n" 189/87, Ac. RéunionEuropéenne, de 27/10/98, pO n" C-51-97 e Ac. Roche Nederland, de13/7/2006, p? n° C-539/03).

XVI - Tendo ainda em conta que a jurisdição portuguesa sedeclarou incompetente para conhecer da questão prévia à impugnaçãopauliana, consistente na existência de um crédito das Autoras sobre a UniferSteel.

XVII - Tendo em conta que existe, como questão prévia doconhecimento do pedido de impugnação pauliana, o conhecimento, ao menosimplícito, da existência de uma dívida da la Ré Unifer Steel para com as aquiAutoras.

XVIII - Tendo em conta que a doutrina espanhola prevê ademanda necessária do devedor e daquele que celebrou com ele o actofraudulento (cf. Díez-Picazo e Antonio Gullón, Sistema de Derecho Civil,vol.II, 9a ed., pg. 216), mas não é certo que permita a demanda dosdepositários do crédito, os Réus na acção proposta em Portugal e que nestepaís têm sede.

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Formula-se a seguinte questão prejudicial:O facto de as autoridades judiciais portuguesas se haverem

declarado incompetentes em razão da nacionalidade para o conhecimento deuma acção relativa a um crédito comercial, constitui obstáculo à conexãoentre acções, referida nos ares 6° n01 e 22° do Regulamento n° 44/2001,quando nos encontramos, na jurisdição portuguesa, perante uma outra acção,acção de impugnação pauliana em que são demandados quer o devedor, quero terceiro adquirente, neste caso de um crédito, quer os próprios depositáriosda prestação creditícia cedida ao terceiro adquirente, estes com sede emPortugal, a fim de que todos se achem vinculados pelo caso julgado formado?

Na hipótese de resposta negativa, poderá aplicar-se livrementeao caso o disposto no art" 6° n01 do Regulamento n" 44/2001 ?

Porto, ~ 1!Ji/&.oJ Or~~J2J__

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