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DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA À ATUAL DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO Gabriela Amorim Paviani 1 Ezequiel Anderson Junior 2 Universidade Estadual de Londrina RESUMO Compreendida como uma violência fruto do culturalismo e dos costumes, a violência simbólica se faz presente quando o assunto tratado é a divisão sexual do trabalho, visto que esta consiste em atribuições de atividades exclusivas aos homens e outras as mulheres, devido ao seu sexo biológico. Sabe-se que a divisão sexual do trabalho parte de dois princípios, o da separação e o da hierarquia, de modo a reconhecer a existência de atividades tidas como indubitavelmente femininas e outras masculinas, suprimindo, deste modo, a liberdade de escolha, bem como corroborando para a submissão da mulher ao homem. Assim, com a finalidade de averiguar a existência ou não desta divisão sexual no mundo atual, utilizou-se de pesquisas realizadas pelo IBGE, nos anos de: 2003, 2009 e 2011, as quais buscaram aclarar e demonstrar a verdadeira situação da mulher no mercado de trabalho. Utilizou-se para tanto o método dedutivo, ao que tange o uso de materiais bibliográficos e revistas especializadas, bem como método indutivo, partindo-se das conclusões tidas pela sequencia de gráficos, resultados das pesquisas realizadas pelo IBGE e CNI. Palavras-chave: Violência Simbólica; Mulher; Divisão Sexual do trabalho. INTRODUÇÃO O presente trabalho possui como objetivo identificar os reflexos da violência simbólica no mercado de trabalho, compreendendo as consequências da divisão sexual e a atual situação da mulher no âmbito laboral. 1 Autora deste resumo. Bacharela em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná campus Maringá (2016). Pós-graduanda em Direito Empresarial pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduanda em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Estácio de Sá em parceria tecnológica com o Complexo de Ensino Renato Saraiva. 2 Coautor deste resumo. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná campus Maringá (2016). Pós-graduando em Direito e Processo Penal pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduando em Direito Digital e Compliance pela Faculdade Damásio. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Informático.

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DA VIOLÊNCIA SIMBÓLICA À ATUAL DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO

Gabriela Amorim Paviani1

Ezequiel Anderson Junior2

Universidade Estadual de Londrina

RESUMO

Compreendida como uma violência fruto do culturalismo e dos costumes, a violência simbólica se faz presente quando o assunto tratado é a divisão sexual do trabalho, visto que esta consiste em atribuições de atividades exclusivas aos homens e outras as mulheres, devido ao seu sexo biológico. Sabe-se que a divisão sexual do trabalho parte de dois princípios, o da separação e o da hierarquia, de modo a reconhecer a existência de atividades tidas como indubitavelmente femininas e outras masculinas, suprimindo, deste modo, a liberdade de escolha, bem como corroborando para a submissão da mulher ao homem. Assim, com a finalidade de averiguar a existência ou não desta divisão sexual no mundo atual, utilizou-se de pesquisas realizadas pelo IBGE, nos anos de: 2003, 2009 e 2011, as quais buscaram aclarar e demonstrar a verdadeira situação da mulher no mercado de trabalho. Utilizou-se para tanto o método dedutivo, ao que tange o uso de materiais bibliográficos e revistas especializadas, bem como método indutivo, partindo-se das conclusões tidas pela sequencia de gráficos, resultados das pesquisas realizadas pelo IBGE e CNI.

Palavras-chave: Violência Simbólica; Mulher; Divisão Sexual do trabalho.

INTRODUÇÃO

O presente trabalho possui como objetivo identificar os reflexos da violência

simbólica no mercado de trabalho, compreendendo as consequências da divisão

sexual e a atual situação da mulher no âmbito laboral.

1 Autora deste resumo. Bacharela em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná campus

Maringá (2016). Pós-graduanda em Direito Empresarial pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduanda em Direito e Processo do Trabalho pela Universidade Estácio de Sá em parceria tecnológica com o Complexo de Ensino Renato Saraiva.

2 Coautor deste resumo. Bacharel em Direito pela Pontifícia Universidade Católica do Paraná campus Maringá (2016). Pós-graduando em Direito e Processo Penal pela Universidade Estadual de Londrina. Pós-graduando em Direito Digital e Compliance pela Faculdade Damásio. Membro do Instituto Brasileiro de Direito Informático.

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Para tanto, se faz necessário esclarecer que a violência simbólica é uma

modalidade de violência legitimada pela sociedade, devido à naturalização da

cultura machista como um padrão de comportamento que fundamenta o papel do

homem e da mulher na sociedade.

Explicar-se-á as teorias que versam sobre a origem das diferenças existentes

entre homens e mulheres, quais sejam, a teoria universalista, teoria diferencialista,

também denominada de substancialista, e a teoria queer, como uma forma de que

esclarecer como as diferenças biológicas entre os sexos ainda sustenta a atual

posição masculina e feminina no mercado de trabalho.

Por fim, será demonstrado que a discriminação da mulher no mercado de

trabalho, assim como a rotulação de atividades laborais típicas como masculina e

feminina, se mostram como uma violência simbólica que possui consequências reais

para as mulheres e para coletividade, sendo uma inegável ofensa aos direitos

fundamentais, em especial da igualdade, liberdade e da dignidade da pessoa

humana.

1. VIOLÊNCIA SIMBÓLICA

Quando se estuda a violência, ainda que de forma genérica, tem-se a errônea

impressão de que ela se manifesta apenas em atos e fatos facilmente identificáveis,

ou seja, ela está vinculada às ofensas que resultam efeitos externos como, por

exemplo, as agressões físicas, sexuais, verbais e, inclusive, psicológicas, pois

causam debilidades aparentes na vítima.

Denuncia-se, então, a existência de uma “violência suave, invisível as suas

próprias vítimas, que se exerce essencialmente pelas vias puramente simbólicas da

comunicação e do conhecimento (Bourdieu apud Lara; et al., 2016, p. 164)”,

intitulada como violência simbólica, a qual sustenta outros abusos de cunho

emocional, sexual e físico.

Para se compreender a violência simbólica, é preciso ter a consciência de que

os atos de hostilidade frequentemente se penetram como ações naturais, cuja

essência passa despercebida pela sociedade, sendo preciso um “esforço para

superar sua aparência de ato rotineiro, natural e como que inscrito na ordem das

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coisas” (Odalia, 1985, p. 22-23). Isso porque, a violência está entranhada no dia a

dia de tal forma que pensar e agir em função dela deixou de ser um ato prioritário e

se transformou em um modo de viver o mundo (Odalia, 1985, p. 9).

Nesta perspectiva, a violência contra a mulher não se retrata, somente, em

opressões físicas, decorrendo de uma normalização da cultura, da discriminação e

submissão feminina (Soihet, 1997, p. 10). Esta forma de violência abarca formas

sutis do machismo, disfarçadas nas relações cotidianas e legitimadas pelo

descumprimento dos padrões ideais de gênero, uma vez que, as estruturas de

dominação são produtos de um trabalho incessante de reprodução, intensificado

pelas instituições sociais como as famílias, religiões, escolas e, inclusive, pelo

próprio Estado (Bourdieu, 1999, p. 46).

Pode-se afirmar que a violência simbólica, definida pela naturalização do

gênero, é a base concreta que sustenta e mantém o imaginário social que sobrepõe

os homens às mulheres (Lara; et. al., 2016, p. 32), de forma que os papéis

designados para cada um deles sejam tomados como verdades universais.

Uma das formas de se demonstrar a incidência da violência simbólica no

cotidiano social é analisar a posição da mulher no mercado de trabalho.

Recentemente, um estudo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística (IBGE), mostrou que, quanto maior o grau de escolaridades das

mulheres, maior é também a diferença salarial em comparação com os homens na

mesma função. Além disso, em 2002, o rendimento das mulheres era equivalente a

70% ao rendimento masculino, enquanto 10 anos depois, o aumento foi de apenas

3%, correspondendo ao total de 73% (Gazetaonline, 2014).

Estes dados revelam uma situação de inferioridade que gera os reflexos de

negação de direitos fundamentais femininos, em especial o da igualdade e da

dignidade da pessoa humana, além de incentivar práticas culturais prejudiciais para

os membros da sociedade, o que provoca uma consequente desigualdade entre os

gêneros que, devido a sua naturalização, ratifica as práticas sexistas.

A cultura machista contemporânea opera por trás das aparências, em

detalhes que, embora pareçam inofensivos, revelam um jogo de poder com

consequências incalculáveis (Castañeda, 2006, p. 17) e que acabam por legitimar a

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violência simbólica. Diante disso, ela “surge quando a diferença se transforma em

desigualdade hierárquica que domina, explora e oprime” (Pitta, 2014, p. 40),

tomando por base o fato de ser mulher para justificar determinadas atitudes e

comportamentos, de homens e mulheres, praticantes desta violência, cuja principal

arma é a manipulação e a desqualificação feminina.

Por isso, o principal objetivo da conscientização da violência simbólica é

“denunciar, desvendar e transformar a construção social da imagem da mulher”

(Alves e Pitanguy, 1982, p. 64), vislumbrando oportunizar que a identidade feminina

tenha algum significado para as mulheres. Com isso, se ataca as construções

sociais que as aprisionam a simples função de cumprir papeis e reproduzir imagens,

garantindo-lhes o direito de poder ser o que quiserem.

2. DIVISÃO SEXUAL DO TRABALHO

Influenciada pelo sistema patriarcal, a divisão sexual do trabalho consiste em

atribuições de atividades aos homens e mulheres devido ao seu sexo biológico, bem

como ao culturalismos. Deste modo, como o observado até tempos modernos, ainda

existe a nomeação de funções tidas como exclusivamente femininas, qual seja, em

sua grande maioria, a atividade doméstica.

Hodiernamente há três grandes teorias que versam sobre a origem das

diferenças existentes entre homens e mulheres, as chamadas: teoria universalista,

teoria diferencialista, também denominada de substancialista, e a teoria queer.

A teoria universalista, a qual tem como principal expoente Simone de

Beauvoir, parte da ideia de que todos os indivíduos são iguais, não sendo levado em

conta características vistas como secundárias, como sexo, raça ou língua (Thome,

2012, p. 115).3 Estes acreditam que, além das distinções biológicas e sexuais entre

homens e mulheres, todas as pessoas possuem diferenças advindas do meio social,

conforme as crenças culturais do meio que estão inseridas (Hirata, e Segnini (Org.),

2007. p.110).

Por sua vez, os teóricos diferencialistas defendem a tese de que os homens e

as mulheres são divergentes por natureza, todavia, apesar não argumentarem a

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favor de uma hierarquização entre os sexos, para eles a igualdade entre estes seria

impossível, posto às experiências advindas da paternidade e maternidade. De outra

banda, a teoria queer afirma que o sujeito não possui uma identidade fixa, de modo

que estará sempre predisposto a alterações externas a fim de construir o

entendimento que tem por si mesmo (Thome, 2012, p. 115).

Estas teorias são essências para compreender o enquadramento das

mulheres no âmbito familiar, como também no mercado de trabalho. É a partir de

tais perspectivas que surge no ano de 1970 na França, com a ascensão dos

movimentos feministas, o chamado estudo da divisão sexual do trabalho. Desta

forma, conceitua Danièle Kergoat:

A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais de sexo; esta forma é adaptada historicamente e a cada sociedade. Ela tem por características a destinação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apreensão pelos homens das funções de forte valor social agregado (políticas, religiosas, militares, etc...)(KERGOAT, 2003, p. 1)

Helena Hirata também afirma que:

A divisão sexual do trabalho é a forma de divisão do trabalho social decorrente das relações sociais entre os sexos; mais do que isso, é um fator prioritário para a sobrevivência da relação social entre os sexos. Essa forma é modulada histórica e socialmente. Tem como características a designação prioritária dos homens à esfera produtiva e das mulheres à esfera reprodutiva e, simultaneamente, a apropriação pelos homens das funções com maior valor social adicionado (políticos, religiosos, militares etc)(HIRATA, e SEGNINI (Org.), 2007. p. 599).

A divisão sexual do trabalho parte de dois princípios, o da separação e

hierarquia. O primeiro reconhece a existência de trabalhos tidos como

especificadamente femininos e outros como masculinos, por sua vez, o segundo

admite a superioridade do homem em qualquer trabalho (Thome, 2012, p. 118).

Conclui-se que, em ambos, não há uma liberdade de escolha quanto às funções a

serem exercidas pelos sexos, além de corroborar com a existência da dominação

masculina sobre as mulheres.

Partindo de uma visão sociológica, Weber define que a dominação que os

homens exercem sobre as mulheres é fruto do culturalismo, assim, o sociólogo

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acredita que esta dominação está inserida dentro da dominação tradicional (Weber,

2000. p. 33).

Desta maneira, com a divisão sexual do trabalho imputam-se as mulheres as atividades tidas como domésticas e aos homens, o que se define como produtivas (Hirata, e Segnini (Org.), 2007. p.113). Portanto, a partir do momento da existência de imputação de certos trabalhos as mulheres, configura-se um dos meios que se externa a violência simbólica, a qual é instituída:

Por meio da adesão que o dominado não pode deixar de conceder ao dominador (logo à dominação), uma vez que ele não dispõe para pensa-lo ou pensar a si próprio, ou melhor, para pensar sua relação com ele, senão de instrumentos de conhecimento que ambos têm em comum e que, não sendo senão a forma incorporada da relação de dominação, mostram essa relação como natural: ou, em outros termos, que os esquemas que ele mobiliza para se perceber e se avaliar o dominador são o produto da incorporação de classificações, assim naturalizadas, das quais o seu ser social é produto (BOURDIEU, 1999, p. 42).

Pierre Bourdieu ainda explica que:

[...] A força da ordem masculina pode ser aferida pelo fato de que ela não precisa de justificação: a visão androcêntrica se impõe como neutra e não tem necessidade de se anunciar, visando a sua legitimação. A ordem social funciona como uma imensa máquina simbólica, tendendo a ratificar a dominação masculina na qual se funda: é a divisão social do trabalho. Distribuição muito restrita das atividades atribuídas a cada um dos dois sexos, de seu lugar, seu momento, seus instrumentos [...] (BOURDIEU, 1999, p. 15).

Dessarte, a divisão sexual do trabalho é vista como uma violência simbólica,

pois se encontra “no âmago do poder que os homens exercem sobre as mulheres”

(Hirata, e Segnini (Org.), 2007. p. 114), assim como subordina as mulheres ao

desempenho de funções socialmente atribuídas como femininas e masculinas,

restringindo a liberdade, intensificando a desigualdade e suprimindo a dignidade das

mulheres.

3. A ATUAL SITUAÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO

Com a intenção de averiguar a situação da mulher brasileira no mercado de

trabalho o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicou em março

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de 2010 e março de 2012, o resultado da avaliação dos anos de 2009, e a

comparação entre os anos de 2003 e 2011, discutindo exatamente está questão.

Conforme se depreende do gráfico abaixo, em 2003 a população

economicamente ativa feminina era de 44,4 % e a ocupada 43,0 %, por sua vez, em

2009 o mesmo índice foi elevado para 46 % e 45,1 %, já em 2011 46,1% e 45,4%

respectivamente. Levando em consideração que a população economicamente ativa

(mais de 15 a 64 anos de idade) é aquela que engloba potencial mão de obra, ou

seja, o somatório entre a população ocupada (inserida de alguma forma no mercado

de trabalho) e desocupada (sem emprego), constata-se que menos da metade da

população feminina a qual está apta pelo fator idade a laborar está realmente

trabalhando. Salienta-se que o crescimento da população feminina ocupada cresceu

apenas 0,1% em dois anos, ao se fazer uma análise comparativa entre o gráfico de

2009 e 2011, ou seja, um valor irrisório de crescimento.

Gráfico 1: Distribuição das populações segundo o sexo.

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FONTE: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Mensal de

Emprego 2003-2011.

Gráfico 2: Distribuição da população com 10 anos ou mais de idade, por condição de atividade segundo o sexo.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Mensal de Emprego 2009

Ainda sobre a perspectiva dos mesmos gráficos, merece observação de que,

nos períodos analisados, de 2003, 2009 e 2011, mais da metade da população

economicamente ativa masculina estava empregada, fato que se inverte ao que

tange a população feminina.

Desta forma, chega-se à conclusão de que o homem sempre esteve presente

de forma mais ativa no mercado de trabalho. Um dos fatores dessa situação com

certeza advém do preconceito em relação à inserção da mulher no âmbito laboral, o

que configura uma violência simbólica, como também de um reflexo da divisão

sexual do trabalho, visto que ainda existe a máxima de que o lugar de mulher é

“pilotando um fogão”.

Sob este aspecto, o Ibope Inteligência realizou uma pesquisa para a

Confederação Nacional da Indústria, a qual demonstra, conforme dados estratégicos

no ano de 2016, que 84% dos homens estão empregados, enquanto entre as

mulheres esse percentual é de 61%3.

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Gráfico 3: Brasileiros que estão trabalhando, exceto aposentados. Percentual de respostas por gênero.

Fonte: CNI, 2016.

Os gráficos a seguir demonstram as diversas atividades exercidas por

homens e mulheres, nos quais se percebe notadamente que algumas funções são

exercidas pela grande maioria da população feminina, independente da idade. É o

caso do serviço doméstico, cujo percentual variou infimamente de 94,5% (2009) a

94,8% (2003 e 2011), contra uma taxa de aproximadamente 5 % da população

masculina, fato que demonstra existir realmente uma divisão sexual dos afazeres

tidos como masculinos e femininos.

Da mesma forma que o serviço doméstico é quase que totalmente exercido

pelas mulheres, o mesmo acontece em contrário senso, quando o assunto a ser

discutido é o emprego em construção e mão de obra, uma vez que da totalidade de

pessoas que exercem está profissão, entre 93% a 95% são homens. Um detalhe

interessante é que houve um aumento de 1% da inserção da mulher nesta profissão,

o que se torna, apesar de pouco, um avanço, ainda mais em uma tipologia laboral

que é tida como absolutamente masculina.

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Gráfico 4: Participação na população ocupada, por grupamentos de atividade, segundo o sexo- 2003

e 2011.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Mensal de Emprego 2003-2011. *Média das estimativas mensais.

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Gráfico 5:Participação na população ocupada, por grupamentos de atividade, segundo o sexo- 2009.

Fonte: IBGE, Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento, Pesquisa Mensal de Emprego 2009. *Média das estimativas mensais.

Deste modo, é possível concluir que a divisão sexual laboral existe e se faz

latente em tempos modernos. Isto evidencia a incidência da violência simbólica,

como uma forma de materializar as agressões às quais as mulheres são submetidas

diuturnamente e que, embora não deixam marcas aparentes, causam

consequências incalculáveis para cada mulher e para a coletividade, impedindo que

os direitos fundamentais constitucionalmente assegurados aos cidadãos se tornem

efetivos.

4. CONCLUSÃO

Diante do estudo realizado, conclui-se que a violência não se retrata tão

somente em atos que causam debilidades aparentes na vítima, de forma que, por

vezes, é necessária uma consciência social para reconhecer determinados atos de

hostilidades que se penetram nas relações cotidianas como ações naturais.

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É possível reconhecer a normalização das agressões no que se refere à

violência contra a mulher, pois a naturalização da cultura machista, da discriminação

entre os gêneros e da submissão feminina, se revelam como uma violência

legitimada pelo cumprimento de padrões ideais de masculino e feminino, que acaba

por ser legitimada pelas instituições sociais.

A esta modalidade de violência dá-se o nome de simbólica, compreendida

pela incidência de um machismo disfarçado, convencionado socialmente como um

padrão universal de comportamento que rege as relações sociais e que engessa

especialmente as mulheres, a estereótipos de gêneros e a funções sociais já pré-

estabelecidas.

Uma forma de se materializar a violência simbólica é se estudar a divisão

sexual do trabalho. Isto porque, diversas pesquisas apontam para a desigualdade

feminina no âmbito laboral, identificando que a atual situação da mulher no mercado

de trabalho ainda não representa o empoderamento feminino.

Os estudos revelam que no mercado de trabalho há atividades típicas

femininas e masculinas como, por exemplo, às atividades domésticas e de

construção civil; além disso, quanto maior o grau de escolaridade feminino, maior é

também a diferença salarial entre homens e mulheres. A consequência disto é que

menos da metade da população feminina apta ao labor está, de fato, trabalhando,

assim como mais da metade da população economicamente ativa feminina está

desempregada, o que não se verifica quando se analisa o público masculino.

Estes reflexos sociais se devem ao fato de que ainda há uma cultura machista

a ser socialmente superada. Deste modo, é preciso superar a premissa da

separação e hierarquia entre homens e mulheres no mercado de trabalho,

sustentada, especialmente, pelas características biológicas de homens e mulheres,

que atribuíram àqueles a produtividade e a estas a reprodução e sua consequente

vinculação ao ambiente doméstico.

Por fim, o reconhecimento da violência simbólica como uma realidade social

que possui consequências reais para as mulheres e para a coletividade, torna-se

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possível o empoderamento feminino e a materialização da igualdade e da dignidade

da pessoa humana.

REFERÊNCIAS

ALVES, Branca e Moreira; PITANGUY, Jacqueline. O que é feminismo?. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 1982. BOURDIEU, Pierre. A dominação masculina. KUHNER, Maria Helena (trad.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999. CASTAÑEDA, Marina. O Machismo Invisível. Tradução Lara Christina de Malimpensa. São Paulo: Girafas, 2006. CNI. Confederação Nacional da Indústria. A inserção das mulheres no mercado de trabalho. Nota Econômica, ano 2, n. 3, abr. 2016. Disponível em:< http://www.portaldaindustria.com.br/media/filer_public/86/82/86820285-4a44-45cd-821c-80a09240b9ff/nota_economica_3_-_a_insercao_das_mulheres_no_mercado_de_trabalho.pdf>. Acesso em: 10 ago. 2016. IBGE. Diretoria de Pesquisas, Coordenação de Trabalho e Rendimento. Pesquisa Mensal de Emprego 2003-2011. Disponível em:< http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/trabalhoerendimento/pme/pmemet2.shtm>. Acesso em: 14 jun. 2016. IBGE. Instituto Brasileiro de Pesquisas. Disponível em: http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/pesquisas/pesquisa_resultados.php?id_pesquisa=40. Acesso em: 25 jun. 2016. HIRATA, Helena; SEGNINI, Liliana (Org.) Organização, trabalho e gênero. São Paulo: Senac São Paulo, 2007. KERGOAT, Danièle. Divisão sexual do trabalho e relações sociais de sexo. Tradução Miriam Nobre. ago. 2003. Disponível em:< http://poligen.polignu.org/sites/poligen.polignu.org/files/adivisaosexualdotrabalho_0.pdf>. Acesso em: 28 jun. 2016 LARA, Bruna de; RANGEL, Bruna; MOURA, Gabriela; BARIONI, Paola; MALAQUIAS, Thaysa. #Meu Amigo Secreto: Feminismo além das redes. Rio de Janeiro: Edições de Janeiro, 2016.

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MULHERES ainda enfrentam discriminação no mercado de trabalho. Disponível em: <http://agazeta.redegazeta.com.br/_conteudo/2014/03/noticias/dinheiro/1481293-mulheres-aindaenfr entam-discriminacao-no-mercado-de-trabalho.html>. Acesso em: 03 nov. 2015. ODALIA, Nilo. O que é violência? São Paulo: Nova Cultura: Brasiliense, 1985, p. 22-23. SOIHET, Rachel. Violência Simbólica. Saberes Masculinos e Representações Femininas. Estudos Feministas, Florianópolis, v. 5, n. 1, p. 7, jan. 1997. ISSN 0104-026X. Disponível em: <https://periodicos.ufsc.br/index.php /ref/article/view/12558>. Acesso em: 04 abr. 2016. PITTA, Tatiana Coutinho. Protagonismo Feminino: a necessária atuação estatal na proteção da mulher vítima de violência. 1 ed. Birigui: Boreal Editora. THOME, Candy Florencio. O princípio da igualdade de gênero e a participação das mulheres nas organizações sindicais de trabalhadores. São Paulo: LTr, 2012. WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília: Unb, 2000.

ABSTRACT

Understood as a violence of culturalism and customs, symbolic violence is a reference when the subject is a sexual division of labor, since it is constituted in attributions of activities exclusive to men and other women, due to their biological sex.

It is known that a sexual division of labor is based on two principles, separation and hierarchy, in order to recognize a existence of activities considered as undoubtedly female and other masculine, thus suppressing a freedom of choice, as well as corroborating Submission of women to man. Thus, with the purpose of ascertaining whether or not there is a sexual division in the current world, we used research conducted by IBGE in the years 2003, 2009 and 2011, which sought to clarify and see a situation of women in the market. Work The deductive method was used for both the use of bibliographic materials and specialized journals, as well as an inductive method, based on the conclusions drawn in the sequence of graphs, results of the research carried out by IBGE and CNI. Keywords: Symbolic Violence; Woman; Sexual division of labor.