da tragédia a farsa_a violência contra a mulher continua

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Anais do III Simpósio Gênero e Políticas Públicas, ISSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014 GT3 - Violência contra a Mulher e Políticas Públicas- Coord. Sandra Lourenço A. Fortuna 1 Da tragédia à farsa, a história da violência contra a mulher se repete Fernanda Sofieti Netto 1 Laís Soares Faria de Souza 2 Silene de Moraes Freire Resumo: O artigo foi elaborado com base nas reflexões desenvolvidas no projeto “As Novas Expressões da Questão Social no Brasil Contemporâneo”, do Programa de Estudos de América Latina e Caribe (PROEALC/CCS/UERJ), e visa identificar as heranças culturais que influenciam até os dias de hoje as questões de classes sociais e gênero, envolvendo a violência contra mulher e identificando/analisando os alarmantes índices de homicídios femininos. Neste estudo, daremos ênfase à violência doméstica perpetrada às mulheres, analisando as políticas de apoio às mulheres vítimas de violência, que muitas vezes acabam voltando a viver com seus agressores, ao não receberem o suporte adequado do Estado. Palavras-chave: violência, mulheres, cultura. Apresentação O presente artigo apresenta os resultados preliminares da pesquisa de iniciação científica desenvolvida sob a orientação da Profa. Dra. Silene de Moraes Freire. O projeto possui vínculo com o Departamento de Política Social, da Faculdade de Serviço Social da UERJ, e é desenvolvido no âmbito do Programa de Estudos de América Latina e Caribe (PROEALC), vinculado ao Centro de Ciências Sociais da UERJ, tendo como sua principal vertente a análise dos Direitos Humanos no país, e suas diferentes interfaces. Os resultados da pesquisa tem constatado uma cultura histórica-patriarcal, na qual a violência contra as mulheres não só é banalizada como também “incentivada”, 1 Graduanda do Curso de Serviço Social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ pesquisadora associada do Programa de Estudos de América Latina e Caribe PROEALC. Orientadora: Profa. Drª Silene de Moraes Freire Profa. Associada da UERJ, Doutora em Sociologia pela USP, Pós- Doutora em Serviço Social pela ESS da UFRJ, Procientista do RJ, pesquisadora Bolsista de Produtividade, nível 1 do CNPq. E-mail: [email protected], [email protected] 2 Graduanda do curso de serviço social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ Bolsista de Iniciação Científica do Programa de Estudos de América Latina e Caribe PROEALC. Orientadora: Profa. Drª Silene de Moraes Freire- Profa. Associada da UERJ, Doutora em Sociologia pela USP, Pós- Doutora em Serviço Social pela ESS da UFRJ, Procientista do RJ, pesquisadora Bolsista de Produtividade/nível 1 do CNPq. E-mail: [email protected], [email protected]

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Tragédia a Farsa

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Anais do I I ISimpsio Gnero e Polticas Pblicas, I SSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014GT3 - Violncia contra a Mulher e Polticas Pblicas- Coord. Sandra Loureno A. Fortuna 1 Da tragdia farsa, a histria da violncia contra a mulher se repete Fernanda Sofieti Netto1 Las Soares Faria de Souza2

Silene de Moraes Freire Resumo:OartigofoielaboradocombasenasreflexesdesenvolvidasnoprojetoAs NovasExpressesdaQuestoSocialnoBrasilContemporneo,doProgramade EstudosdeAmricaLatinaeCaribe(PROEALC/CCS/UERJ),evisaidentificaras heranasculturaisqueinfluenciamatosdiasdehojeasquestesdeclassessociaise gnero, envolvendoa violncia contra mulher e identificando/analisandoos alarmantes ndicesdehomicdiosfemininos.Nesteestudo,daremosnfaseviolnciadomstica perpetradasmulheres,analisandoaspolticasdeapoiosmulheresvtimasde violncia,quemuitasvezesacabamvoltandoavivercomseusagressores,aono receberem o suporte adequado do Estado. Palavras-chave: violncia, mulheres, cultura. Apresentao Opresenteartigoapresentaosresultadospreliminaresdapesquisadeiniciao cientficadesenvolvidasobaorientaodaProfa.Dra.SilenedeMoraesFreire.O projeto possui vnculo com o Departamento de Poltica Social, da Faculdade de Servio SocialdaUERJ,edesenvolvidonombitodoProgramadeEstudosdeAmrica Latina e Caribe (PROEALC), vinculado ao Centro de Cincias Sociais da UERJ, tendo comosuaprincipalvertenteaanlisedosDireitosHumanosnopas,esuasdiferentes interfaces.Osresultadosdapesquisatemconstatadoumaculturahistrica-patriarcal,na qualaviolnciacontraasmulheresnosbanalizadacomotambmincentivada,

1GraduandadoCursodeServioSocialdaUniversidadedoEstadodoRiodeJaneiroUERJ pesquisadora associada do Programa de Estudos de Amrica Latina eCaribe PROEALC. Orientadora: Profa. Dr Silene de Moraes Freire Profa. Associada da UERJ, Doutora em Sociologia pela USP, Ps-DoutoraemServioSocialpelaESSdaUFRJ,ProcientistadoRJ,pesquisadoraBolsistade Produtividade, nvel 1 do CNPq. E-mail: [email protected], [email protected] 2 Graduanda do curso de servio social da Universidade do Estado do Rio de Janeiro UERJ Bolsista de IniciaoCientficadoProgramadeEstudosdeAmricaLatinaeCaribePROEALC.Orientadora: Profa.DrSilenedeMoraesFreire-Profa.AssociadadaUERJ,DoutoraemSociologiapelaUSP,Ps-DoutoraemServioSocialpelaESSdaUFRJ,ProcientistadoRJ,pesquisadoraBolsistade Produtividade/nvel 1 do CNPq.E-mail: [email protected], [email protected] Anais do I I ISimpsio Gnero e Polticas Pblicas, I SSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014GT3 - Violncia contra a Mulher e Polticas Pblicas- Coord. Sandra Loureno A. Fortuna 2 atravsdeprticassexistaseoconsensomiditico,resultando-seempermannciasde difceissuperaes.Dentrodestequadro,procuramosanalisarasexpressesmais recorrentesdeaviltamentodosdireitoshumanoseosgruposmaisvitimadospelas mesmas. Breves Aportes Para Uma Reflexo Necessria Pierre Bourdieu (1998), em sua obra A dominao masculina, expe a questo da violncia simblica. A violncia simblica sutil e se instaura na sociedade a partir dasdiferenciaescriadaspelobiolgico,ouseja,criam-sesobreascaractersticas fenotpicas modelos ideais que so naturalizados e perpassados de cultura a cultura. Esta naturalizaodecomportamentosbaseadasnofsico,noexterno,explicitaohabitus. Habitus so formas inconscientes de percepo impostas previamente, que determinam quaiscomportamentossocaractersticosdehomensemulheres.Asociedademostra sercomplacentecomadominaomasculinaaoreproduzirhistoricamenteatributos sobre os sexos, haja vista que os sujeitos esto inseridos em uma realidade hegemnica quedefendeepropagaessediscurso.Oautorapontaqueocoletivoresponsvelpor essedeterminismosimblico,tendocomoagentesprincipais(quereproduzemestes ideais), a famlia, a igreja, a escola e o Estado. Assimbologiasquecaracterizamasrelaessociaisacarretamvidacotidiana umafacereguladoradosersocial.Destemodoaviolnciacontraamulherderivadas concepestradicionaisdopoderiodohomemsobreamulher.Istonosremeteideia de uma sociedade patriarcal, fortemente subposta dominao masculina.A regulao davida,docomportamento,doseredosaberumdosaspectosquecaracterizama sociedade capitalista que tem no machismo a ponte para construo da hegemonia que desfigura dia-a-dia, cada vez mais, a situao das classes perigosas por Netto pelo grandecapital.Aideiadequeohomempodeedevetermaisliberdadeedomnio irrefutvelnestalgicahierrquica,quetemnadesigualdadeeconmica,racialede sexo, um forte constructo hegemnico, inibidor do conhecimento e do senso-crtico3.

3 Embora o espao feminino tenha aumentado nos meios de produo, indiretamente, a lgica na qual se baseiamuitoscasosdeviolnciavemsereafirmandoemdiferentesesferascomoadomsticaeado mercado de trabalho, por exemplo.Assim, a violncia perpetua-se em forma de banalizao, atingindo a Anais do I I ISimpsio Gnero e Polticas Pblicas, I SSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014GT3 - Violncia contra a Mulher e Polticas Pblicas- Coord. Sandra Loureno A. Fortuna 3 Sobre as denncias decasos de violncia, destacamos neste estudo os dados do servio de denncias da Secretaria de Polticas para as Mulheres da Presidncia (2010), Ligue 180, que tambm afirma que 74,6% dos casos o agressor o companheiro ou ex-companheiro da vitima; em 52,9% dos casos a vtima corre risco de morte; em 58,6% as agresses ocorrem diariamente; em 38,9% dos casos as agresses comeam no incio da relao enquanto 40,6% das agresses j duram 10 anos ou mais; em 32,2% dos casos o agressorumapessoaconhecidaeem32,2%oagressorumparentedavitima, principalmente pai ou irmo; e um dado alarmante que 66,1% das agresses ocorrem na frente dos filhos da vitima, um fato grave j que as pesquisas tambmafirmam que crianas que presenciam esse tipo de violncia podem vir a se tornar futuros agressores, reproduzindo a cultura machista da violncia. SegundoaspesquisasmaisrecentesdoInstitutodePesquisaEconmica AplicadaIPEA(2011),osndicesdeviolnciacontraamulhersoalarmantes.A pesquisaafirmaqueaexpressomximadaviolnciacontraamulheramortepor homicdio.Essescrimessonormalmentecometidospelomarido,namorado, companheiro ou ex-companheiro da vtima; acontecendo na maioria das vezes dentro da residnciadavtima,ondeelasofreameaas,passaporhumilhaesporser financeiramentedependentedoparceiro,violnciasexual,agressesfsicaseo homicdio. A pesquisa mostra que 40% de todos os homicdios de mulheres no mundo socometidosporumcompanheiro,enquanto6%doshomenssoassassinadospor suas parceiras.Durante a pesquisa, observamos que os casos de homicdios tinham como marca preponderante a condio geracional e a condio racial dos vitimados. No por acaso, destas26.854[eram]jovensentre15e29anos,foramvtimasdehomicdio,ouseja, 53,5%dototal;[destes]474,6%dosjovensassassinadoseramnegrose91,3%das vtimasdehomicdioeramdosexomasculino(http://www.cnte.org.br).Paraalm destesdados,verificamosquetambmcresceramosindicadoresdehomicdiosde

esferadomiciliar.Estanaturalizaodecasosdeviolncianombitofsicoepsicolgicopromovea aceitao por parte da vtima, fazendo com que a mesma evite denunciar os casos de agresses. Anais do I I ISimpsio Gnero e Polticas Pblicas, I SSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014GT3 - Violncia contra a Mulher e Polticas Pblicas- Coord. Sandra Loureno A. Fortuna 4 mulheres,cujotemaseimpsemnossapesquisanaatualetapa,emvirtudeda ampliao da veiculao pela mdia de casos de violncia contra a mulher.importanteregistrarque,segundoconstanoMapadaViolncia(2012)- CadernoComplementar11:HomicdiosdeMulheresnoBrasil,paracada100mil mulheres brasileiras, em 1980, a taxa de homicdios femininos era de 2,3% e se ampliou em 2010, para 4,4%, apesar de no perodo teremsido construdas polticas pblicas de combate violncia contra mulher, que constam no Plano Nacional de Enfrentamento ViolnciaContraMulheres(2003).TalindicadorcolocaoBrasilna7colocao, entre os pases com elevados nveis de feminicdio, de acordo com o Relatrio sobre o Peso Mundial da Violncia Armada (Apud: Mapa daViolncia, 2012).Embora tenha havidoquedanoshomicdiosnoanoseguinteapromulgaodaLeiMariadaPenha (2006),logodepoisde2008aespiraldeviolnciaretomaospatamaresanteriores, indicandoclaramentequenossaspolticasaindasoinsuficientespararevertera situao (idem, p. 17).Embora no exista entre os tericos um consenso para construo do conceito de violncia5,nestetrabalhoselecionamoscomobaseadefiniodaOrganizaoPan-Americana de Sade (2002. Apud: idem), define-se violncia o uso deliberado da fora fsicaoudepoder,sejaemgraudeameaaouefeitocontrasimesmo,contraoutra pessoa, um grupo ou a comunidade, que cause ou tenha muitas probabilidades de causar leses,morte,danospsicolgicos,transtornosdodesenvolvimentoouprivaes,auto-agresso interpessoal e coletiva. OMapadaViolncia(2012)-CadernoComplementar11apontaaindaa importnciadacriaodaobrigatoriedadedenotificaoaosarquivosdeInformao deAgravosdeNotificao(SINAN),em2009,doMinistriodaSade,decasosde ViolnciaDomstica,Sexuale/ououtrasViolnciascontraamulher,oquetornou possvelaconstruodeindicadoresquenorteiamnossapesquisa.Foramregistrados peloSINAN,em2011,5.236registros(10,9%)decasosdeviolnciacontramulheres semolocaldeocorrnciadoincidenteouidadedavtima,jos42.916atendimentos

5 Cabe um parnteses nesta discusso, sobre nosso entendimento do significado do termo violncia, visto que ao nos depararmos com tal fenmeno, temos que ter em conta que estamos diante de uma infinidade dedefinieserepresentaessubordinadasadiversasticasdiferenciadas,resultadodemltiplas determinaes, que so permeadas por relaes sociais que perpassam tanto as questes de classe, quanto pelasrelaesdegnero,etnia,geraoecultura,eixosquecompeosdiversosprocessossociais (TAKEITI, 2003. Apud: LOPES, 2008). Anais do I I ISimpsio Gnero e Polticas Pblicas, I SSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014GT3 - Violncia contra a Mulher e Polticas Pblicas- Coord. Sandra Loureno A. Fortuna 5 formam detalhados da seguinte forma: em todasas faixas etriasa residncia o local preponderante a residncia (68,8%), com maior registro de incidncia de violncia at os 10 anos e aps os 40 anos da mulher. Destes casos apontados, at os 14 anos os pais soosprincipaisresponsveis,eapartirdedos15ataos59anosocnjugeeo namoradosoosprincipaisagressores.Oshomicdiosdemulheresseguempadro geracional semelhante ao dos homens, ou seja, a maioria das vtimas so jovens, que se concentram na faixa dos 15 aos 29 anos, com preponderncia no intervalo entre 20 a 29 anos, e tendncia de queda a partir dos 30 anos, mas tal dado no representa reduo da violncia contra as mulheres fora desta faixa etria. Consideraes Finais Oquadroapresentadodeaumentononmerodehomicdiosdemulheres justificouainstauraopeloCongressoNacionaldeumaComissoParlamentarMista de Inqurito (CPMI) sobre o tema. Segundo dados levantados por esta, nos ltimos 30 anosforamassassinadasnopaspertode91milmulheres,sendoque43,5milsna ltima dcada. O nmero de mortes nesses trinta anos passou de 1.353 para 4.297, o que representaumaumentode217,6%,maisquetriplicando(BRASIL,CPMI,2013,PP. 1920). J em pesquisa elaborada pela Fundao Perseu Abramo (2010), que atualiza os dados apresentados em 20016 (Apud: BRASIL, CPMI, p. 21), novamente confirmamos a centralidade da violncia domstica nos casos perpetrados contra mulheres, pois, com exceodoscasosdeviolnciasexualouassdio,80%dostiposdeviolncia notificadostiveramcomoresponsvelomaridoounamorado.importanteregistrar queaCPMIapontaasdelegaciasdepolciaemgeral,enosomenteasDelegaciasda Mulher(DEAM),soosrgospblicosmaisprocuradosparanotificaode denncias,principalmentenoscasosmaisgraves,comriscodevidadamulher,por ameaas com armas de fogo e espancamentos com marcas, fraturas ou cortes.Importaregistraraindaqueosresultadosencontradosnolevantamentode notciasnamdiasobreviolnciacontraamulherjrevelamalgumastendncias significativas. A saber:

6 A Mulher nos Espaos Pblico e Privado. Fundao Perseu Abramo. So Paulo, 2001 Anais do I I ISimpsio Gnero e Polticas Pblicas, I SSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014GT3 - Violncia contra a Mulher e Polticas Pblicas- Coord. Sandra Loureno A. Fortuna 6 Emboramulheressejammortasemtodasasidades,prevaleceafaixa entre 20 e 30 anos, o que corrobora os estudos apontados no Mapa da Violncia (2012) - Caderno Complementar 11: Homicdios de Mulheres no Brasil; As notcias indicam que a violncia domstica justificada pelo agressor emvirtudedetentativasdeseparao,cimesesuspeitadeadultrio.Ouseja, representam a perpetuao entre os agressores de uma cultura machista e patriarcal que creditaamulherostatusdepropriedadedohomem,travestidadedramatizao passional. Noplanolegal,aviolnciacontramulheresvemsendocombatidacoma juridicializaodotema,atravsdaLei11.340,de07/08/20106(LeiMariadaPenha), legislao especfica deproteo violncia domstica e familiar contra mulheres. Tal lei criou mecanismos que estabelecem medidas protetivas de urgncia em prol da vtima e dispe sobre a criao de Juizados de Violncia Domstica e Familiar contra a Mulher epropeumasriedemedidasdeproteoeassistnciaporpartedoEstado. Cavalcante define a Lei Maria da Penha (2006) nos seguintes termos: (...)temporfinalidadesalvaguardarosinteressesdasvtimasde violncia domstica, possibilitando a aplicao de medidas efetivas de proteoepunircommaisrigorosagressores.Reuniutodaa legislaosobreamatria,definindoocrimedeformaadequada, estabelecendoprocedimentoespecialparaatramitaodasaes,a competncia para processar e julgar, alm de medidas de assistncia e proteo s vtimas. (CAVALCANTI, 2007, p. 52). As medidas de assistncia previstas na lei Mariada Penha (2006) dependem da articulaoentreopodermunicipal,estadualefederal,principalmenteatravsda criaodecentrosdeatendimentointegralemultidisciplinar,casas-abrigo,delegacias, ncleosdedefensoriapblica,serviosdesadeemdico-legalespecializadosno atendimentosmulheresemsituaodeviolnciadomsticaefamiliar.Alegislao prev ainda a criao de centros de educao e reabilitao para agressores e os juizados especializados de violncia domstica, no art. 29. Emboraaquestodaviolnciadomsticacontraamulhertemognerocomo base de entrecruzamento de outras dimenses de violncia7, subalternizao e opresso,

7importanteregistraracrticadeAlmeida(2007)sobreaLeiMariadaPenha(2006).Paraoautora violncia de gnero no pode ser entendida fora do campo contraditrio das relaes contemporneas, que Anais do I I ISimpsio Gnero e Polticas Pblicas, I SSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014GT3 - Violncia contra a Mulher e Polticas Pblicas- Coord. Sandra Loureno A. Fortuna 7 so partes constituintes e constitudas nos e pelos processos sociais que no podem ser desvinculados da totalidade (idem). A cidadania plena das mulheres est condicionada a construodeumprojetodesociedadequegarantaauniversalizaodedireitos, incompatvel com as desigualdades sociais vigentes. Neste sentido entendemos que por maisquetenhahavidoavanosnocampo,asimplesjuridicializaodotema,ou represso criminal dos agressores insuficiente para o enfrentamento da questo, uma vezquetalcaminhoconsagraoprivilgiodaresponsabilizaoepunioindividual, como uma soluo biogrfica de contradies sistmicas [...] e uma pedagogia da pena (RIFIOTIS, 2006, p. 30).Em suma, a questo da violncia contra a mulher uma questo historicamente detectada,quefazpartedeumaculturaquebanalizaessetipodeviolncia. Juridicializaraquesto,portanto,nopodesercompreendidacomoanicamedida necessriapararesolveroproblema.AleiMariadaPenhafezavanarapunio,mas longe est de preveni-la. Referncias bibliogrficas: ALMEIDA, S. S. Femicdio: algemas (in) visveis do pblico privado. Rio de Janeiro: Revinter, 2007. BOURDIEU, Pierre. A dominao masculina. 3ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2003. BRASIL; Subsecretaria de Apoio s Comisses Especiais e Parlamentares de Inqurito, Comisso Parlamentar Mista de Inqurito (Senado), Braslia, Junho de 2013. (http://www.senado.leg.br/atividade/materia/getPDF.asp?t=130748&tp=1) CAVALCANTI, Stela V. S. F. Violncia Domstica. Anlise da Lei Maria da Penha, n. 11.340/06. Salvador, Ed. Podivm, 2007. LOPES, Roseli Esquerdo et al . Juventude pobre, violncia e cidadania. Sade soc. So Paulo, v. 17, n. 3, Set. 2008. Disponvel em: http://www.scielo.br/scielo NETTO, Jos Paulo. Uma face contempornea da barbrie. In: O Social em Perspectiva: Polticas, Trabalho, Servio Social. Macei, Edufal, 2013.

compreendem diversas desigualdades sociais engendrada no mbito das relaes sociais, tais como: as de classe,gneroeetnia.Ouseja,alegislaoprotetivanopodeimprimirumavisoreducionistada vitimizao (ALMEIDA, 2003, p.100). Anais do I I ISimpsio Gnero e Polticas Pblicas, I SSN 2177-8248 Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014GT3 - Violncia contra a Mulher e Polticas Pblicas- Coord. Sandra Loureno A. Fortuna 8 RIFIOTIS, T. As delegacias especiais de proteo mulher no Brasil e a judiciarizao dos conflitos conjugais. Revista Sociedade e Estado. Braslia, v.19, n.1, p. 90-115, jan./jun. 2006. WAISELFISZ, J. J Mapa da Violncia 2 0 1 2 Caderno complementar 1: Homicdio de Mulheres no Brasil. abril de 2012 so Paulo, 1 Waiselfisz, Julio Jacobo. Mapa da Violncia 2012. Os novos padres da violncia homicida no Brasil. So Paulo, Instituto Sangari, 2011.(http://mapadaviolencia.org.br/pdf2012/mapa2012_mulher.pdf).