dá-me um abraço - john a. rowe-1

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— Oh, obrigado! — gritou o Piquinhos, muito feliz. E, em troca, deu um grande beijinho ao Bocarra! John A. Rowe Dá-me um abraço Porto, Ambar, 2007 Dá-me um abraço Numa das pontas, Piquinhos, o porco-espinho, era tão eriçado como uma escova de esfregar. Na outra, era tão espinhoso como uma agulha. O que o Piquinhos mais queria no mundo era ser abraçado. Mas, mesmo quando pedia de forma delicada, ninguém lhe dava um abraço. — Não, és demasiado espinhoso! — diziam as pessoas. Ele via muitos abraços na cidade. — Por favor, também posso receber um? — perguntava ele. — Xô! Sai daqui! — diziam todos. — És demasiado espinhoso! Ele via muitos abraços no parque. — Também posso ter um, só um pequenino? — perguntava ele sempre muito simpático.

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Page 1: Dá-me um abraço - John A. Rowe-1

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m t

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.

— É

s de

mas

iado

esp

inho

so!

Ele

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mui

tos

abra

ços

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e.

— T

ambé

m p

osso

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um

, só

um

peq

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no?

— p

ergu

ntav

a el

e

sem

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mui

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tico

.

Page 2: Dá-me um abraço - John A. Rowe-1

— C

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que

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m t

odos

. — É

s de

mas

iado

esp

inho

so!

Ele

via

mui

tos

abra

ços

no jo

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l.

— T

ambé

m p

osso

ter

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? —

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le.

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s jo

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limit

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a ri

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— O

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or f

avor

, po

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por

fav

or,

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ele.

Mas

nin

guém

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um

abr

aço,

por

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os s

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.

Ele

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mui

tos

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ços

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ios.

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osso

, por

fav

or, r

eceb

er u

m a

braç

o pe

quen

ino?

— p

edia

ele

.

— O

oooo

h nã

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os. —

Não

com

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es e

spin

hos!

Ele

via

mui

tos

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ços

no h

ospi

tal.

Podi

a,

por

favo

r,

ser

sim

páti

co

e da

r-m

e um

ab

raço

tam

bém

? —

ped

ia e

le.

— O

quê

?! —

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tara

m t

odos

os

paci

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s.

És

dem

asia

do

peri

goso

, co

m

esse

s es

pinh

os

todo

s...

Vai e

mbo

ra!

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pobr

e Pi

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a o

que

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r...

Aga

rrou

-se

à pe

rna

de u

ma

pess

oa...

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h, p

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, nã

o po

de d

ar-m

e um

abr

acin

ho p

eque

nino

? —

pedi

a el

e.

— N

ão,

não,

não

! Os

teus

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inho

s sã

o de

mas

iado

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pinh

osos

! —

resp

onde

u o

hom

em. —

Por

fav

or, l

arga

a m

inha

per

na!

O P

iqui

nhos

sen

tia-

se m

uito

tri

ste,

e p

ergu

ntav

a-se

se

algu

ma

vez

cons

egui

ria

rece

ber

um a

braç

o.

Nes

se m

omen

to o

uviu

a c

oisa

mai

s es

tran

ha...

— O

h, n

ingu

ém m

e dá

um

bei

jinho

? Só

um

bei

jinho

peq

ueni

no, n

ão

peço

mai

s na

da!

Era

o cr

ocod

ilo B

ocar

ra a

ped

ir u

m b

eijin

ho a

tod

a a

gent

e!

— O

h, n

ão, é

s de

mas

iado

fei

o! —

diz

iam

as

pess

oas,

e n

ingu

ém lh

e

dava

um

bei

jinho

.

— E

u do

u-te

um

bei

jinho

! — d

isse

o P

iqui

nhos

. O B

ocar

ra n

em p

odia

acre

dita

r!

— O

h, e

u po

dia

abra

çar-

te s

ó po

r es

se b

eijin

ho!

— g

rito

u o

Boca

rra,

mui

to e

xcit

ado.

Aga

rrou

o P

iqui

nhos

nos

seu

s br

aços

e d

eu-lh

e

o m

aior

abr

aço

de s

empr

e!