da faculdade de direito da universidade de são paulo, … · introduz ao mundo a figura do...

47

Upload: dotram

Post on 26-Sep-2018

216 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

O conteúdo dos artigos é de responsabilidade exclusiva do(s) autor(es), que cederam a Comissão de Pós-Graduação em Direito,

da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, os respectivos direitos de reprodução e/ou publicação. Não é permitida a

utilização desse conteúdo para fins comerciais. 1

1∗Professora Associada do Departamento de Direito do Estado, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

DEMOCRACIA X CONSTITUCIONALISMO Um navio à deriva?

LA DÉMOCRATIE X LE CONSTITUTIONNALISME

Un bateau à la derive?

Monica Herman Salem Caggiano∗

n. 1, 2011

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

©2011 Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP

Qualquer parte desta publicação pode ser reproduzida desde que citada a fonte

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Reitor: João Grandino Rodas Vice-Reitor: Hélio Nogueira da Cruz Pró-Reitor de Pós-Graduação: Vahan Agopyan Faculdade de Direito Diretor: Antonio Magalhães Gomes Filho Vice-Diretor: Paulo Borba Casella Comissão de Pós-Graduação Presidente: Monica Herman Salem Caggiano Vice-Presidente: Estêvão Mallet

Ari Possidonio Beltran Edmir Netto de Araújo Elza Antônia Pereira Cunha Boiteux Francisco Satiro de Souza Júnior Giselda Maria Fernandes Novaes Hironaka Luis Eduardo Schoueri Renato de Mello Jorge Silveira Serviço Especializado de Pós-Graduação Chefe Administrativo: Maria de Fátima Silva Cortinal Serviço Técnico de Imprensa Jornalista: Antonio Augusto Machado de Campos Neto Normalização Técnica CPG – Setor CAPES: Marli de Moraes Correspondência / Correspondence A correspondência deve ser enviada ao Serviço Especializado de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP / All correspondence should be sent to Serviço Especializado de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP: Largo de São Francisco, 95 CEP 01005-010 Centro – São Paulo – Brasil Fone/fax: 3107-6234 e-mail: [email protected]

FICHA CATALOGRÁFICA

Elaborada pelo Serviço de Biblioteca e Documentação Faculdade de Direito da USP

Cadernos de Pós-Graduação em Direito : estudos e documentos de trabalho / Comissão de

Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011-. Mensal ISSN: 2236-4544 Publicação da Comissão de Pós-Graduação em Direito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo 1. Direito 2. Interdisciplinaridade. I. Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de

Direito da USP CDU 34

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

Os Cadernos de Pós-Graduação em Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, constitui uma publicação destinada a divulgar os trabalhos apresentados em eventos promovidos por este Programa de Pós-Graduação. Tem o objetivo de suscitar debates, promover e facilitar a cooperação e disseminação da informação jurídica entre docentes, discentes, profissionais do Direito e áreas afins.

Monica Herman Salem Caggiano

Presidente da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

SUMÁRIO

DEMOCRACIA X CONSTITUCIONALISMO: um navio à deriva? ........................................................................................... 5 Monica Herman Caggiano

LA DÉMOCRATIE X LE CONSTITUTIONNALISME: un bateau à la derive? .......................................................................25 Monica Herman Caggiano CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO: ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRABALHO .................................................... 43 Normas para Apresentação

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

DEMOCRACIA X CONSTITUCIONALISMO

Um navio à deriva?

Monica Herman Caggiano

5

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

DEMOCRACIA X CONSTITUCIONALISMO

Um navio à deriva?

Monica Herman Caggiano∗

Resumo

O presente artigo busca homenagear a trajetória intelectual do Eminente Ministro e Professor Celso Lafer através de uma análise da interação entre Democracia e Constitucionalismo no curso dos últimos Séculos. Analisa as principais características do regime democrático sob os pontos de vista instrumental e material, sem esquecer de enumerar os elementos diferenciais e diagnósticos que o caracterizam. Passa, em seguida, a estudar a história do constitucionalismo desde os acontecimentos revolucionários de julho de 1789 na França até os dias de hoje, identificando os elementos que têm conformado os textos constitucionais contemporâneos. Esgotado este esforço, passa-se a problematizar o atual movimento doutrinário que advoga no sentido da busca dos valores que inspiram o ideal constitucional, ainda que ao arrepio do texto escrito da Norma Fundamental, denominado neoconstitucionalismo. Argumentando que as operações interpretativas realizadas sob este vetor não prestigiam o princípio da segurança jurídica, defende a valorização do Constitucionalismo Clássico como meio mais apto de garantia da democracia neste alvorecer do Séc. XXI.

Palavras chave: Democracia. Constituição. Constitucionalismo. Neoconstitucionalismo. Mutação constitucional. Interpretação constitucional expandida. Direitos Humanos. Cidadania

Abstract

This article seeks to honor the intellectual trajectory of Distinguished Professor and Minister Celso Lafer, through an analysis of the interaction between Democracy and Constitutionalism in the course of the past centuries. It analyzes the main characteristics of the democratic system from the instrumental and material points of view, not forgetting to enumerate the elements and diagnostic features that characterize it. Then, it studies the history of constitutionalism since the revolutionary events of July 1789 in France until the present days, while identifying the elements and factors that have shaped the contemporary constitutions. After this effort, it discusses the current doctrinal movement that advocates towards the search for the ideals that inspired the constitution, even if contrary to the written text of the Fundamental Law, which has been called Neoconstitutionalism. Arguing that the interpretive operations conducted under this vector do not honor the principle of legal certainty, this article defends the continous development of Classic Constitutionalism as the most suitable guarantee of democracy at the dawn of the XXI century.

Keywords: Democracy. Constitution. Constitutionalism. Neoconstitutionalism. Constitutional Mutation. Explaned constitutional interpretation. Human rights. Citizenship

Sumário: Nota Introdutória. I. Democracia X Constitucionalismo. II. O que é a democracia? III. O Constitucionalismo caminhando para a contemporaneidade.

∗Professora Associada do Departamento de Direito do Estado, da Universidade de São Paulo. Livre-Docente em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito/USP. Presidente da Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Professora Titular de Direito Constitucional e Coordenadora do Curso de Especialização em Direito Empresarial da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Assessora Especial do Vice-Governador e do Governador do Estado de São Paulo (2003-2006). Procuradora Geral do Município de São Paulo (1994-1996). Secretária dos Negócios Jurídicos do Município de São Paulo (1966). Procuradora do Município de São Paulo (1972-1996).

6

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

Nota Introdutória

Os trabalhos e as pesquisas detêm sempre objetivos. Este, em especial, busca se unir aos admiradores e discípulos que, com o propósito de prestar justa homenagem ao Ministro Celso Lafer, Professor Titular da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, decidiram concretizar a celebração produzindo estudos versando temas que, ao longo da vida acadêmica e no exercício dos elevados postos que ocupa e ocupou, tem instigado e motivado a obra do jurista, revelando perspicácia e a sua aguda percepção quanto aos problemas jurídicos a irromper e impactar as sociedades do século XX transitando para o XXI.

Hannah Arendt1 que acopla ao homem o dom do “zoon politikon” e disseca o totalitarismo, identifica o terror como elemento específico e peculiar aos regimes ditatoriais que expurgam e nulificam os direitos humanos, sistemas que se espalharam pela paisagem do século XX, imprimindo-lhe o tom cinzento das guerras e do sacrifício de gerações. Octavian Paler, observando o indivíduo que permaneceu e viveu no ambiente de medo da “cortina de ferro”, na Europa leste, introduz ao mundo a figura do “homem acrobata”2, cotidianamente submetido a novos testes de sobrevivência, levando o seu dia-a-dia numa verdadeira corda-bamba. Sartori convoca o “homo videns” para caracterizar o cidadão que habita o cenário atual: o ser postado diante do aparelho de televisão, ausente, absorvendo somente imagens, as imagens que a mídia entende oportuno lhe oferecer para alimentá-lo3.

Enfim, cada época traz os seus “néscios”, como registra Cláudio Lembo ao lembrar a eterna presença na comunidade social de personagens que, despidos de quaisquer sentimentos ou de respeito pelos demais habitantes do planeta terra, fazem irradiar os efeitos nocivos de suas ações ignorando por completo tudo que os cerca. Cada um deveria procurar o seu néscio, adverte Lembo4.

Pois bem, o Ministro e Professor Celso Lafer capta as angústias, as perseguições, a intolerância e as ações de profunda discriminação religiosa que contaminam a convivência no âmbito desta sociedade, dedicando a esses temas intensa e brilhante produção intelectual permeada pela constante inquietação com os direitos do homem numa sociedade livre e democraticamente organizada5. Isto diante do mundo globalizado que o século XX desvendou, um universo sem fronteiras; um universo, porém, pigmentado pelo multiculturalismo e pelas seqüelas atomizantes que lhe são próprias.

Costuma-se afirmar que onde há sociedade presente está o Direito. “Ubi societas, ibi ius” proclamavam os romanos. E, certamente, o conhecimento jurídico acumulado constitui uma das maiores obras da humanidade. Mas qual o destino das grandes instituições consagradas no

1ARENDT, Hannah. Los origines del totalitarismo. Madrid: Taurus, 1974; Id. Responsabilidade e julgamento. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

2PALER, Octavian. Don Quijote in Est. Iasi, Romênia: Polirom, 2010. ISBN978-973-46-1632-9. 3SARTORI, Giovanni. Comparative constitutional engeneering. New York: University Press, 1994. p. 148. ISBN 0-8147-7974-3. Nesta perspectiva, adverte: “Homo videns apenas vê e sey horizonte está confinado às imagens que a ele são oferecidas” (tradução nossa)

4LEMBO, Cláudio. Eles temem a liberdade. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2006. p. 33. ISBN 85-98416-17-7. 5O primado dos direitos humanos e a intensa inquietação do mestre Lafer com sua tutela vem delineada com extrema perspicácia no capítulo dedicado à Cidadania como o direito a ter direitos, tema tratado no LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 147 e ss. ISBN 85-7164-011-4.

7

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

percurso do século XX? Como serão recepcionadas as conquistas da democracia e as suas benesses? Quais serão os rumos do constitucionalismo que serviu de respaldo para a consolidação do regime democrático e que hoje é questionado, pregando-se a sua reinvenção pelos que pretendem anunciar um neoconstitucionalismo? Enfim, os temores diante de uma nova era, com os seus desdobramentos no mundo jurídico, é a tarefa que se pretende cumprir dedicando este trabalho à análise do questionamento, em ebulição, acerca da pacífica convivência entre as instituições democráticas e o constitucionalismo.

I. Democracia X Constitucionalismo

Parece lugar comum. Mas, como já ressaltado antes, o ser humano, por sua própria natureza, apresenta a sociabilidade como qualidade própria e peculiar. A vida em sociedade é indispensável para o seu progresso e ilusória se afigura a possibilidade do isolamento, como na fantástica e lendária ilha de Robinson Crusoé.

A comunidade, no entanto, reclama decisões. Quem tem o direito de decidir e como constitui e constituiu, em todos os tempos, a questão a ser resolvida para, diante do poder, presente em qualquer organização social6, restar preservada a liberdade do ser humano, sua eterna expectativa.

Dúvida não resta de que a capacidade do ser humano em identificar e estabelecer o que melhor lhe convém, de distinguir entre o bem e o mal, entre o justo e o injusto já era reconhecida na antiguidade, detectando-se na obra aristotélica a idéia de “polis” que emerge a partir, exatamente, desta característica própria do indivíduo, como aponta Javier Saldaña, na introdução que oferece à obra de Francesco Viola7. O homem, efetivamente ente detentor de zoon politikon8, vem, ao longo da sua história, desenvolvendo fórmulas que, organizando o poder e a tomada das decisões políticas, busquem exatamente a salvaguarda de sua liberdade. E, no extenso arsenal de receitas e combinações de elementos políticos que o mundo conheceu, emerge a democracia como o modelo que mais se aproxima da perspectiva de resguardo da liberdade.

É que, na fórmula democrática, a decisão política encontra sua origem genética nos destinatários do poder, no povo. De fato, adotando a mais simples e famosa das definições, a democracia viria a traduzir o governo do povo, pelo povo e para o povo, como proclamado por Abraham Lincoln no discurso de Gettysburg, de 19 de novembro de 18639. Consagra, em verdade,

6Neste sentido, ver o magistério de AGESTA, Luis Sanches, Encontramos organizações de poder e fenômenos de poder em todos os países e em todos os tempos. A história e a antropologia constatam este fato. Da mesma maneira, em uma tribo africana e na história do povo de Israel ou em Atenas e Esparta ou no feudalismo medieval, tratamos sempre de fenômenos do poder organizado. Esta universalidade dos fenômenos do poder e da organização do poder parece comprovar o fato de que estes correspondem a uma exigência da natureza humana e por isto os denominamos de fato natural (hecho natural). SANCHES AGESTA, Luis. Princípios de teoria política. 7. ed. Madrid: Ed. Nacional, 1983. p. 72.

7SALDANA, Javier. In: VIOLA, Francesco. La democracia deliberative entre constituionalismo y multiculturalismo. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2006. p. XI. ISBN 970-32-3918-8.

8A idéia do homo politicus vem visualizada com perspicácia na obra de Robert Dahl, (Análise política moderna. Brasília: Ed. da UnB, 1981. p. 12) afirmando: Virtualmente ninguém está fora do alcance de algum sistema político. A política é um fato inevitável na vida do homem. Não há quem não se envolva em algum momento em algum tipo de sistema político.

9Gettysburg Address, in HOFSTADTER, Richard. Great issues in american history. New York: Vintage Books, 1958. p. 414.

8

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

os contornos de uma receita política especialíssima, a impor a indisponibilidade do pluralismo político e a livre manifestação das opções políticas, de sorte que o polo da tomada das decisões venha a espelhar as perspectivas da comunidade.

Mas, nos diversos níveis de influência a conformar a confecção da decisão política, emerge um microcosmos altamente competitivo a albergar forças políticas concorrentes, guerreando para alcançar ingerência – e no seu mais elevado grau – na formação da opinião pública10, entendida esta como decorrente da discussão livre, como expõe Zippelius11.

Com efeito, implica a democracia no “resultado contingencial de conflitos”. Esta é a posição defendida por Adam Przeworski12, da Universidade de Chicago. Na sua obra, aliás, o ilustre e polêmico cientista aponta mais, desenvolvendo a idéia de que a democracia envolve um sistema fundado na incerteza. Incerteza eleitoral, porém ampla estabilidade e credibilidade institucional.

Nessa linha, impositivo reconhecer nos domínios da democracia uma acentuada incerteza quanto aos governantes e o seu projeto de governo. A cada nova consulta eletiva, timbrada pelo elevado grau de competitividade13, novas propostas e políticas públicas emergem. A garantia repousa nas instituições que, a seu turno, servem de respaldo a que se perpetue o clima de incerteza. Esta, pois, em territórios democráticos, passa a ocupar o pedestal de incerteza institucionalizada.

A visualização da democracia, em novo formato, a partir da mecânica do seu funcionamento, desvenda, contudo, delicadas questões no tocante ao constitucionalismo, um movimento que atravessa os dois últimos séculos, firmando-se e encontrando consagração no século XX, concomitantemente à expansão da democracia. Isto porque, com a conotação clara de “movimento político e jurídico”, no dizer de Manoel Gonçalves Ferreira Filho, o constitucionalismo – explicita o mestre – direciona-se a “estabelecer em toda parte regimes constitucionais, quer dizer governos moderados, limitados em seus poderes, submetidos a Constituições escritas”14 - ou seja, regimes democráticos.

Em verdade, a democracia configura uma receita política sensível e exigente15. Esta idéia é encampada por Cláudio Lembo, em artigo que discute “O difícil aprendizado da democracia”16. Encontra, pois, ambiente efetivamente propício ao seu florescimento na linha evolutiva do constitucionalismo que lhe oferece a garantia da presença e perpetuidade das instituições. A

10AGESTA anota a expectativa da presença dos mais diferentes setores do tecido social para a produção da decisão política, expondo que: Até que a decisão venha a assumir a natureza de ato jurídico, devemos falar de atos políticos, dos quais participam os partidos, os grupos de pressão, as correntes de opinião e os próprios cidadãos que nas eleições periódicas aprovam programas partidários e designam representantes ... que realizem estes programas. – SANCHES AGESTA, Luis. op. cit., p. 396.

11ZIPPELIUS, Reinhold. Teoria geral do Estado. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1971. p. 126. 12PRZEWORSKI, Adam. Transition to democracy. New York: University of Cambridge Press, 1991. Ver ainda do mesmo autor La democracia como resultado contingente de conflictos. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Eds.). Constitucionalismo y democracia. Tradução de Monica Utrilla de Neira. México: Colegio Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública, A.C.; Fondo de Cultura Económica, 1999. ISBN 968-16-4927-3.

13Pacífico se apresenta o princípio “free and fair elections” (eleições livres e competitivas) como norteador das eleições em cenários democráticos. Ver o nosso Oposição na política. São Paulo: Angelotti, 1995.

14FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008. 15PASQUINO, Gianfranco. La democracia esigente. Bologna: Il Mulino, 1997. 16LEMBO, Cláudio. Eles temem a liberdade, cit., p. 63.

9

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

idéia de Constituição, destarte, entendida como um documento a premodelar o poder, a assegurar governos moderados, limitados e o respeito aos direitos fundamentais, aparece indissociável da evolução democrática.

Há que se considerar, no entanto, que as idéias de limitação do poder, de preservação dos direitos humanos e de prefixação da decisão política fundamental, o cerne fixo de uma Constituição, conduzem, na leitura de alguns analistas, a exemplo de Stephen Holmes17, a identificar na Constituição uma postura antidemocrática, na medida em que engessa decisões futuras a que as novas gerações, numa democracia, deveriam ter assegurada a acessibilidade. Reflexo desse emergente paradoxo todo um esforço doutrinário e jurisprudencial no sentido de reduzir as amarras da evolução democrática, afrouxando os elos que vinculam e limitam novas decisões políticas. Um permanente e contínuo processo geneticista de geriatria constitucional vem sendo proposto sob a bandeira do aperfeiçoamento democrático.

II. O que é a democracia?

Forçoso reconhecer as dificuldades em conceituar e delimitar com nitidez os contornos democráticos. E a penosidade da tarefa se acentua neste começo de século que descortina uma verdadeira “febre democrática”; um modelo em franca expansão, cujo alargamento já era anunciado tanto por Robert Dahl, no seu “La Democrazia i suoi critici”, como também por Samuel P. Huntington. Este, em especial, oferece uma visão otimista quanto à evolução do processo democrático no “La Tercera Ola. La democratización a finales del siglo XX” (Piados, Argentina, 1995). O avanço verificado constitui, com efeito, uma realidade, mormente no momento posterior à implosão do mundo monocolor soviético. Este absorveu a receita democrática que rapidamente se alastrou, acolhida que foi pelos países da Europa leste.

Cada vez mais, até em razão do fenômeno expansionista, o teorema democrático traz inquietações. É que a sua aplicação oferece ao analista um vasto leque de nuanças e caracteres diferenciados. Discorrer sobre a democracia, profetiza Jean Gicquel, seria apresentar “un mot qui chante”, uma verdadeira deusa. Democracia, aduz o jurista, “apresenta-se neste momento como o standard maior da civilização ocidental”.18 Ademais, com o fim da cortina de ferro, a queda do murro de Berlim, a independência dos estados africanos e a adoção de uma economia de mercado no mundo asiático, observa-se uma tendência clara da democracia de se transformar em regime político universal. E nessa trilha de alongamento do mundo democrático intensifica-se o contínuo esforço conceitual, buscando-se definir os contornos deste prestigiado e desejado sistema governamental.

Dentre os diferentes – e não muito afastados – conceitos doutrinários19, de qualquer forma, emergem os elementos liberdade e igualdade a nortear os rumos democráticos e a sua

17HOLMES, Stephen. El precompromisso y la paradoja de la democracia. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Coords.). Constitucionalismo y democracia, cit.

18GICQUEL, Jean. Droit constitutionnel et institutions politiques. 18. ed. Paris: Montchrestien, 2002. p. 185. ISBN 2-7076-1292-8.

19Veja-se sobre a diversidade conceitual da democracia o nosso Oposição na política, cit., p. 35-41. Uma das noções de maior sucesso na Europa, hoje, resulta de decisão proferida pelo Tribunal Constitucional alemão, definindo a ordem democrática como “aquela pertinente ao poder no âmbito de um Estado de Direito, exercido com fundamento na autodeterminação do povo, de acordo com a vontade da maioria, com observância da liberdade e da igualdade, excluido todo o poder violento e arbitrário” – decisão de 23 de outubro de 1952, apud GICQUEL, Jean. op. cit., p. 186.

10

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

concretização mediante eleições livres e competitivas com amplos espaços para oposição. Estes últimos valores, aliás, por muito tempo sustentaram o sufrágio universal como a conquista maior da humanidade20.

Em verdade, a legitimação do poder político nas democracias requer, de fato, o suporte da opinião pública21. Esta não apenas atua legitimando o seu exercício, como age, a seu turno, na plataforma do controle incidente sobre este mesmo poder e a imposição de seus limites22. E este é o papel da oposição, sem a qual não há democracia23.

Foi Robert Dahl a apontar a relevância dos fatores participação política e oposição na configuração democrática24. Ressalta a evidência, aliás, que a mera participação se afigura insuficiente. Esta não conduz necessariamente a um regime democrático, podendo, ao invés, implicar na instalação do populismo e não há que ignorar, também, que a mobilização de massas é tática característica do totalitarismo.25 Demanda-se, assim, como contraponto, a livre atividade da oposição, porquanto só assim estará assegurada interveniência no cenário decisório às maiorias e às minorias26, estas inexpulsáveis da plataforma política em ambientes democráticos.

A complexa e incômoda tarefa de se oferecer um conceito de democracia, em razão não somente das diferentes mixagens dos elementos que lhe são próprios, como também por força da importância da respectiva dosagem, resulta, ainda, na produção de uma vasta gama tipológica, oferecendo-se categorias democráticas de tons diferenciados em razão da amálgama que lhes serviu de pauta.

Pode-se examinar, pois, as mais diferentes espécies: a democracia formal, a democracia procedimental, às quais alude Morlino27; a democracia pelos partidos, entre nós analisada por Ferreira Filho28; a democracia política, a social, a industrial ou a democracia econômica, examinadas por Sartori, que prossegue sua investigação apontando, ainda, a democracia eleitoral, a democracia referendaria, a democracia participativa e a democracia consociativa, proposta

20Hoje, o cidadão não mais se satisfaz tendo assegurado o direito de sufrágio, o de eleger seus governantes/representantes. Busca mais: um canal de interveniência direta no polo decisional e uma via de controle sobre os denominados “decision makers”. A participação vem sendo assegurada por mecanismos da democracia semi-direta, a exemplo do referendo, do plebiscito, da iniciativa popular e para o controle há, no Brasil, uma gama variada de instrumentos, inclusive instituições, como o Ministério Pública com a missão constitucional de manter vigilância quanto ao respeito à Constituição e à lei.

21Neste sentido, veja-se SARTORI, Giovanni. Teoria de la democracia. Madrid: Alianza Universidad, 1987. p 168. Ainda nesta linha a exigência do “exercido com fundamento na autodeterminação do povo” estampada na decisão do conceituado Tribunal Constitucional alemão, cf. nota acima.

22Ver ainda sobre as funções da opinião pública ZIPPELIUS, Reinhold. op. cit., p. 124 e ss. 23Sobre o papel da oposição, ver o nosso Oposição na política, cit. 24DAHL, Robert. Polyarchy: participation and opposition. 4. ed. New Haven: Yale University Press, 1973. Ver, ainda, o nosso Oposição na política, cit.

25LINZ, Juan J. Totalitarian and authoritarian regimes. Handbook of Political Science, v. 3, 1965. 26Ver sobre a presença das maiorias e minorias no cenário da tomada da decisão política e sobre o tema da participação o nosso Oposição na política, cit.

27MORLINO, Leonardo. Democracia. In: PASQUINO, Gianfranco (Coord.). Manuale di scienza della política. Bologna: Il Mulino, 1986. p. 83 e ss. Esclarece Morlino que a classificação proposta, adotando a linha procedimental, atende à prática democrática, recorrendo às lições de Kelsen no sentido de que “como método ou procedimento a democracia é forma”.

28FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Partidos políticos nas Constituições democráticas. São Paulo: Ed. Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1966.

11

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

oferecida por Lijphart29, ou, ainda, a democracia deliberativa, hoje atraindo a atenção de juristas, sociólogos, cientistas políticos e políticos.

Reflexo do êxito e penetração das obras de John Rawls30 e de Habermas31, o debruçar sobre o novo tipo de democracia, a deliberativa, dimana também da crise que atinge a representação política e a figura do partido, que lhe serve de suporte operatório, bem assim da necessidade de se detectar uma solução adequada aos problemas de participação, assegurando-se aos representados, à comunidade, novos espaços de influência na produção das decisões políticas de índole comunitária. Em outras palavras, novos canais de participação na tomada das decisões, garantindo-se a possibilidade de discussão e deliberação coletivas.

A democracia deliberativa agrega, pois, em relação aos integrantes da comunidade social, a idéia de tomar parte na tomada de decisões coletivas, por intermédio de processos envolvendo o debate e deliberação. E, se a tanto, demanda-se a presença de espaço adequado e instrumental próprio, estes elementos a sofisticada era da Internet certamente favorece e estimula. Resulta deste novo mundo perfilhado na web o modelo democrático digitalizado, multiplicando-se os estudos sobe a Democracia digital ou a E.democracia, a exemplo da pesquisa produzida no âmbito de programa de pós-graduação sobre “E-Democracia. A Democracia do Futuro?”32.

De se reconhecer que esta postura de insatisfação da cidadania com o mero direito de depositar o seu voto na urna, escolhendo os seus governantes, os que irão tomar as decisões políticas fundamentais, vem motivando interessantes estudos e inovadoras fórmulas democráticas, não muito afastadas do tipo deliberativo, hoje tão explorado. Nesta linha, a observação de Cláudio Lembo, no seu Participação Política e Assistência Simples, que registrava “ganhar força, (...) na contemporaneidade (...) a idéia de participação”, “tornando-se presente e inafastável”. “Todos, hoje, querem fazer parte ativa da sociedade... Todos querem ser participes”33.

Sensível à exigência de participação do cidadão do século XX – caminhando para o XXI – o padrão consociativo, oferecido por Lijphart – já examinado por Sartori34, cf. acima enunciado – que propõe a idéia de governos de coligação como garantia da ampliação do locus de participação política aos múltiplos segmentos da sociedade, inclusive às minorias35. E, nesta mesma linha, 29A vasta tipologia que o estudo da democracia alberga pode ser examinada em nosso Oposição na política, cit. Demais disso, a diversidade das categorias e a possibilidade de alargamento originou diversas pesquisas nos quadros acadêmicos, com a produção de interessantes trabalhos à exemplo do produzido por RIZEK, Fernanda Montenegro de Menezes. A democracia econômica no constitucionalismo brasileiro. 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010, sob a minha orientação, junto ao Programa do Pós-Graduação em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

30RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São Paulo: Martins Fontes, 1997; Id. Deliberative democracy. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1997.

31HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Tradução de George Sperber e Paulo Astor Soethe. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

32CASTANHO, Maria Augusta Ferreira da Silva. E-democracia: a democracia do futuro? 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010, dissertação produzida, sob a minha orientação, junto ao Programa do Pós-Graduação em Direito Político e Econômico da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

33LEMBO, Cláudio. Participação política e assistência simples. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991. 34Examinar também, sobre os diferentes tipos de democracia, LIJPHART, Arend. Modelos de democracia: desempenho e padrões de governo em 36 países. Tradução Roberto Franco. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. ISBN 978-85-200-0570-5.

35O próprio LIJPHART explicita o modelo que denomina democracia de consenso, ao contrapô-la à democracia pela maioria, nos seguintes termos: “Uma proposta alternativa é: prevalece a vontade do maior número de pessoas. É este

12

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

desponta o estudo de Urbinati com tese reformulatória da democracia representativa clássica, para, incorporando as lições de Rousseau, plasmar a democracia sobre “a view of politics as an integrally collective construction and exchange of opinions and arguments in view of always revisable consent”36.

O objetivo de integração da comunidade no polo decisional, nas democracias, constitui, a seu turno, o núcleo de suporte de sofisticada proposta classificatória das democracias oferecida por Francisco Viola37. Com o escopo de demonstrar que o liame entre o constitucionalismo e o multiculturalismo reclama uma redefinição do modo de compreensão dos procedimentos democráticos para atender aos padrões da democracia deliberativa, passa a apresentar dois distintos universos democráticos, a partir do tipo de Constituição que respalda a respectiva fórmula.

Emergem, assim, as figuras da Constituição-custódia e da Constituição-semente. A primeira correspondendo ao conceito clássico de Constituição – um documento a albergar todo um conjunto de princípios e normas de natureza determinante e que encontram sua gênese nos destinatários do poder político que, por via eleitoral e adotando a regra da maioria, elegem seus representantes para produzir a Constituição. Esta, portanto atua como mero “container” destas regras e estas, de sua parte, agem como “vínculos invioláveis”, configurando limites externos à democracia que elas próprias modelam. A democracia praticada sob a égide deste modelo constitucional é rotulada de democracia vigiada, uma democracia em que se deve prestar contas das atividades e políticas aplicadas como, ainda, há responsabilidade quanto aos resultados e efeitos das decisões adotadas.

O segundo formato, porém, contabiliza no seu bojo princípios que correspondem a “razões fundamentais que devem ser desenvolvidos de conformidade com os contextos sociais e as circunstâncias históricas”38. Este último modelo, na visão de Viola, estaria definindo uma democracia-agricultora, porquanto atribui aos procedimentos democráticos e às instituições a tarefa de promover a evolução da “potencialidade dos princípios constitucionais fundamentais, respeitando a sua identidade”. Sob esta perspectiva, identifica-se no padrão proposto uma leitura moral da Constituição, seguindo a linha explorada também por Dworkin39 e reconhecendo no texto constitucional a possibilidade de tratamento moral das questões, ensejando um processo de interpretação e argumentação. E, exatamente, esta função interpretativa e argumentativa é que conduz ao exercício deliberativo, decorrente da diversidade de opiniões e posições que impõem o debate, a discussão e a deliberação para alcançar a interpretação que melhor se conformize às demandas e que se apresente mais justa.

o ponto vital do modelo consensual. Ele não difere do modelo majoritário, concordando em que é melhor o governo da maioria do que da minoria. Mas considera a exigência de uma maioria como um requisito mínimo: em vez de se satisfazer com mínimas maiorias, ele busca ampliar o tamanho das mesmas. Suas regras e instituições visam a uma ampla participação no governo e a um amplo acordo sobre as políticas que este deve adotar”. In LIJPHART, Arend. op. cit., p. 18.

36URBINATI, Nadia. Representative democracy: principles & genealogy. Chicago: The University of Chicago Press, 2006. Tradução livre do texto: “uma visão da política como construção integralmente coletiva e um intercâmbio de opiniões e argumentos de molde a permitir sempre alcançar consensos suscetíveis de revisão”.

37VIOLA, Francesco. La democracia deliberativa entre constitucionalismo y multiculturalismo. Tradução de Javier Saldaña. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2006.

38Id. Ibid., p. 5. 39DWORKIN, Ronald. La lectura moral de la Constitución y la premisa mayoritaria. Tradução de Imer B. Flores. México, 2002.

13

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

As dificuldades no tocante ao delineamento de uma noção mais precisa da democracia extravasam o campo conceitual e invadem o cotidiano e a sua aplicação prática, o que se apresenta extremamente desafiador para a democracia expandida do século XXI. Esta, aliás, é a observação muito perspicaz de Bobbio, no seu Teoria Geral da Política, registrando a difícil convivência das democracias contemporâneas com Estados não democráticos e, como efeito colateral dessa comunidade global diversificada que alberga as mais variadas democracias e não democracias, estas também de nuanças diversas, extrai o saudoso cientista a conclusão de que na atualidade o que se vê são democracias incompletas40. Do mesmo sentir, aliás, Robert Dahl que, já há longo tempo, mostrava reservas e o seu descrédito em relação à identificação de verdadeiras democracias, acoplando aos sistemas que maior número de elementos democráticos apresentassem o rótulo de poliarquia41.

Os riscos denunciados, o entorno hostil, enfim a fragilidade da democracia – tudo é real. Como Pasquino advertia, a democracia corresponde a um regime sensível e delicado. Portanto, dúvida não resta da necessidade de constante renovação democrática. Indaga-se, no entanto, se há descompasso entre os elementos intrínsecos da democracia e as demandas do cidadão deste novo milênio? Como identificar uma democracia?

Manoel Gonçalves Ferreira Filho propõe-se a verdadeiramente dissecar a receita democrática e promove uma análise da trajetória histórica das democracias. Adverte que o referencial clássico atribuía à democracia a peculiaridade de alojar o supremo poder no povo – ou à maioria – o seu legítimo titular. “Não há democracia – grifa o mestre – se o povo não se governar a si próprio”42. Mas, prosseguindo, aponta a democracia contemporânea assumindo contornos diferenciados para atenuar a imagem do povo como titular, produtor e executor do poder político. Nesta concepção, que se alastra e fortalece nos últimos cinqüenta anos, ao povo restaria consignada a postura de fonte do poder político (princípio da soberania popular), cometendo-se sua execução a representantes (princípio representativo) que atuam dentro de limites impostos por intermédio de sistema de freios e contrapesos e mais que isto sob as barreiras estabelecidas pelos direitos fundamentais (princípio da limitação do poder)43.

É de se notar – e o próprio Ferreira Filho admite – que apesar do recurso à técnica representativa, deslocando o exercício do poder para os representantes/governantes, no mundo democrático de hoje o povo pode e efetivamente participa diretamente da tomada de decisões (exercício do poder), “embora excepcionalmente”44. De fato, reflexo do descontentamento da cidadania em permanecer como mero eleitor-espectador, a superveniência de variados mecanismos de participação popular e a atribuição ao Ministério Público e aos Tribunais de Contas de potentes competências de controle sobe a atuação dos representantes/governantes, quer atingindo aspectos legais quer políticos.

Neste território onde a polêmica conceitual da democracia apresenta tenaz persistência, optamos por lembrar, reforçando sua influência, os 8 critérios desenvolvidos por Robert A. Dahl 40BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Tradução de Daniela Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. p. 384.

41DAHL, Robert. Polyarchy: participation and opposition, cit. 42FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 44. ISBN 978-85-02-08563-3.

43Id. Ibid., p. 51. 44Id. Ibid.

14

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

para identificar a presença da democracia, fatores já expostos e acolhidos em nosso Oposição na Política e, denotando sua importância, retomados por Lijphart, no seu Modelos de Democracia. Desempenho e padrões de governo em 36 países45. Pois bem, a partir destes elementos e da sua inserção na receita democrática é que, entendemos possa se avaliar a adoção ou não do sistema. São eles: (1) liberdade de associação, no sentido de criar associações e a essas se filiar; (2) liberdade de expressão; (3) direito de voto; (4) elegibilidade para cargos públicos; (5) direito dos líderes políticos disputarem respaldo popular; (6) fontes alternativas de informação; (7) eleições livres e competitivas; (8) instituições hábeis a assegurar à política governamental ressonância no âmbito do corpo eleitoral, expressa por via de sufrágio ou por outro meio de manifestação de preferências políticas. Estes elementos, aliás, conformam e garantem a verificação da figura conhecida como responsiveness, isto é a conformização da decisão política às perspectivas da sociedade46.

Existem no mundo contemporâneo, decerto, muitas maneiras pelas quais a democracia se organiza e pode funcionar. A ausência de um destes fatores, no entanto, cancela a chancela do atributo “responsiveness”, o que acaba retirando do sistema o rótulo de democracia. Por isto é que, na literatura jurídica contemporânea, há uma nítida preferência por indigitar os elementos componentes da fórmula democrática, verificando-se uma resistência às clássicas definições que, em matéria de democracia, apresentam inconsistências e incompletude.

Desse mesmo sentir, o próprio Bobbio que, no verbete que subscreve no seu Dicionário de Política, arrola, a partir de uma visão procedimental, os 9 indicadores da presença democrática, in verbis: (1) o órgão político máximo, a quem é assinalada a função legislativa, deve ser composto de membros direta ou indiretamente eleitos pelo povo, em eleições de primeiro ou segundo grau; (2) junto do supremo órgão legislativo deverá haver outras instituições com dirigentes eleitos, como os órgãos da administração local ou o chefe do Estado (como acontece nas repúblicas); (3) todos os cidadãos que tenham atingido a maioridade, sem distinção de raça, de religião, de censo e possivelmente de sexo, devem ser eleitores; (4) todos os eleitores devem ter voto igual; (5) todos os eleitores devem ser livres em votar segundo a própria opinião formada o mais livremente possível, isto é, numa disputa livre de partidos políticos que lutam pela formação de uma representação nacional; (6) devem ser livres também no sentido em que devem ser postos em condição de ter reais alternativas (o que exclui como democrática qualquer eleição de lista única ou bloqueada); (7) tanto para as eleições de representantes como para as decisões do órgão político supremo vale o princípio da maioria numérica, se bem que podem ser estabelecidas várias formas de maioria segundo critérios de oportunidade não definidos de uma vez para sempre; (8) nenhuma decisão tomada por maioria deve limitar os direitos da minoria, de um modo especial o direito de tornar-se maioria, em paridade de condições; (9) o órgão do Governo deve gozar de confiança do Parlamento ou do chefe do poder executivo, por sua vez eleito pelo povo47.

Depreende-se claramente que para a enumeração dos fatores componentes da receita democrática, Bobbio ateve-se ao sistema parlamentar de governo e que não deixou de contemplar o especial padrão norteamericano que adota a técnica das eleições em dois graus (indireta). Contudo, numa linha comparativa, os critérios de Dahl se aproximam muito dos oferecidos por Bobbio,

45LIJPHART, Arend. op. cit., p. 69. 46HERMAN-CAGGIANO, Monica. Oposição na política, cit., p. 55-56. 47BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de política. 2. ed. Brasília: Ed. da UnB, 1986. p. 327.

15

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

concluindo-se que a deusa democracia deve necessariamente envolver na sua concretização eleições livres e competitivas com amplos espaços para oposição; isto sob o norteamento dos princípios de liberdade e igualdade, única fórmula política – até o momento idealizada – apta à salvaguarda dos direitos humanos fundamentais.

Assevera Manoel Gonçalves Ferreira Filho que “ninguém contestará, hoje, ser a democracia o princípio de atribuição do poder adotado pelo constitucionalismo”48; a relevância da ordem constitucional para os ambientes democráticos, de sua parte é inquestionável. Foi intensamente cultivada por Hamilton, Madison e Jefferson e a própria Constituição norte-americana lhe oferece respaldo já desde as suas primeiras linhas, proclamado: “Nós o povo...”. Isto porque, passa a noção de constitucionalismo a impor a participação do povo na feitura da Lei Maior, deste Estatuto fundamental. E mais importa numa real limitação do poder, conformando o seu exercício a determinadas balizas. A Constituição assume, pois, o status de marco jurídico a preordenar a atuação dos atores no cenário político, perseguindo, neste desenho, a garantia da liberdade do indivíduo no âmbito da comunidade social.

É esta idéia de constituição a inspirar o constitucionalismo moderno que emerge das revoluções americana e francesa que, no dizer da doutrina e reforçado por Dippel49, inauguram um novo ciclo e nova prática no constitucionalismo, por atribuir ao documento constitucional a função genitora dos poderes: os institui nas suas variadas vertentes, os limita e os mantêm dentro de balizas estreitas por intermédio do mecanismo de freios e contrapesos. No entanto, o autor reclama especial atenção para a exigência de uma análise histórica do fenômeno constitucionalista, um debruçar sobre os seus vários estágios abrangendo tanto o período anterior ao século XVIII como – e de forma particular – a sua trajetória evolutiva a partir deste exato ponto e ao longo de dois séculos de vigência. É neste último percurso que novas doutrinas e teorias são edificadas. Se, principalmente no século XX, no período em que a Europa viveu uma fase de intensa conturbação, abalada por dois conflitos bélicos, a Constituição e o constitucionalismo moderno serviram como arma de defesa das democracias, hoje se percebe um nítido avanço nos questionamentos acerca do velho constitucionalismo e sua conformização às novas demandas de prática democrática.

Como o velho constitucionalismo, modelado nas entranhas do liberalismo setecentista e alinhado às exigências da democracia que, sofrida e frágil, avançava timidamente a partir do início do século XX, poderá permanecer na postura de expressão normativa da ordem democrática? Demais disso, há que considerar – como registra Cláudio Lembo – que o processo político “é sempre instável e repleto de surpresas. Na política – adverte o jurista – não há momento de pausa. São todos instantes de sobressalto. O rompimento de hoje é o prenúncio da aliança de amanhã.”50 Neste cenário, pois, dominado pelas incertezas, próprias do jogo democrático, como tratar o constitucionalismo e sua mecânica garantidora?

48FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do direito constitucional, cit., p. 43. Complementa o mestre seu pensamento: “...o estabelecimento de Constituição é visto como o mesmo que instituição da democracia e a instituição da democracia passa pela adoção da Constituição.”

49DIPPEL, Horst. História do constitucionalismo moderno: novas perspectivas. Tradução de Antônio Manuel Hespanha e Cristina Nogueira da Silva. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

50LEMBO, Cláudio. Eles temem a liberdade, cit., p. 46.

16

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

III. O Constitucionalismo caminhando para a contemporaneidade

Elementar a lição que nos coloca diante de um movimento, o constitucionalismo que impacta o século XVIII e, a passos largos, vai se alongando para, em todas as partes, recomendar e inspirar a presença de Constituições, documentos escritos, fundantes, que, do pedestal de lei suprema, obrigam o Poder, cingindo o seu exercício a balizas e limites pré-determinados, resguardando, pois, os direitos humanos fundamentais de ações arbitrárias e, pelo cerceamento do poder abusivo, salvaguardando a liberdade individual. Este, aliás, um dos primeiros registros de Manoel Gonçalves Ferreira Filho ao iniciar as aulas do curso de Direito Constitucional.

Nesse sentido, prossegue o autor, anotando ser este o espírito da idéia de Constituição. Ela penetra no período das revoluções setecentistas, conformando o núcleo central do constitucionalismo moderno que reclama: “(1) um corpo sistemático de normas; (2) que formam a cúpula da ordem estabelecida – lei suprema; (3) contido (preferencialmente) num documento

escrito e solene; (4) versando sobre a organização política basilar de um Estado; (5) estabelecida pelo povo, por representantes extraordinários; (6) cuja finalidade é a limitação do

Poder em vista da preservação dos direitos do Homem51”.

Plasmada no célebre artigo 16 da Declaração Francesa dos Direitos do Homem, a imposição da separação dos poderes, da soberania popular, da defesa dos direitos humanos e da universalidade destes princípios, assumem a posição de caracteres próprios do constitucionalismo moderno. E este – na visão de Dippel e da literatura jurídica no campo do Direito Constitucional – criou raízes profundas na Europa, “apesar dos inúmeros opositores que enfrentou e dos graves retrocessos...”52

Fato é que o novo mundo que o século XX descortina impregna o constitucionalismo de novos contornos, porquanto passa a absorver reclamos de uma sociedade em ebulição que exige uma reorientação constitucional. Abandonando-se a linha que atribuía aos textos constitucionais a tarefa de, tão somente, cuidar da organização dos poderes públicos e do estatuto das liberdades públicas (direitos humanos fundamentais)53, relegando temáticas sociais e econômicas a um patamar secundário, de bastidores, verifica-se a forte emergência da idéia de inserir na Constituição espaço próprio a albergar esses direitos de segunda geração54. Como já assinalado nosso Direito público econômico: fontes e princípios na Constituição brasileira de 198855,

51FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do direito constitucional, cit., p. 23. 52DIPPEL, Horst. op. cit., p. 32. 53Ver a respeito da variada gama de denominações dos direitos fundamentais: LEMBO, Cláudio. A pessoa: seus direitos. Barueri: Manole, 2007.

54Alinhando-se aos direitos proclamados no século XVIII (direitos de primeira geração), que vislumbram, em prol do ser humano, um círculo de autonomia impenetrável, são inseridos novos direitos reconhecendo a seu favor o poder de exigir do Estado determinadas prestações positivas (direitos de segunda geração). A proteção nos domínios econômico e social constitui a mola mestra a modelar os novos direitos e à pessoa é facultado reivindicar do Estado os meios aptos à eficácia desses direitos. A idéia de certeza do direito constitui a tônica que acompanha o desenvolvimento dos direitos de uma terceira geração, um novo complexo, cujos titulares são os povos. Integram esta terceira geração o direito à autodeterminação dos povos, o direito à paz, o direito à segurança, o direito de solidariedade, o direito a um meio ambiente saudável e ecologicamente equilibrado que deve ser preservado inclusive para as novas gerações. Ver sobre o tópico direitos fundamentais o nosso: HERMAN-CAGGIANO, Monica. Direitos humanos e aprendizado cooperativo. In: DE LIBERAL, Márcia Mello Costa (Org.). Um olhar sobre ética e cidadania. São Paulo: Ed. Mackenzie, 2002. (Coleção Reflexão Acadêmica, v. 1).

55HERMAN-CAGGIANO, Monica. Direito público econômico: fontes e princípios na constituição brasileira de 1988. In: Direito constitucional econômico. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2007. p. 1-26. (Coleção Culturalismo Jurídico).

17

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

ao longo do século passado consolidou-se o entendimento de que o documento constitucional não mais poderia se ater a estatuto jurídico de organização política da sociedade, erigindo-se à estrutura soberana da Constituição matérias atinentes ao espectro econômico, social, previdenciário, cultural, etc. Pode-se afirmar até que no âmbito das Constituições contemporâneas convivem em harmonia diversas Constituições: a política, a econômica,a financeira, a monetária, a social, a previdenciária, a cultural, a do núcleo familiar e a das comunicações.

Nessa esteira, ainda, o entendimento perfilhado por Tercio Sampaio Ferraz Jr. ao apontar os efeitos da “transformação da forma típica do Estado constitucional enquanto Estado de Direito burguês”. Esta reorientação, pondera, produz a expansão dos procedimentos interpretativos e “a aplicação das normas (constitucionais) por via interpretativa torna-se uma realização de valores e não apenas uma consideração valorativa , capaz de orientar a determinação do sentido dos dispositivos”56.

Pois bem, reflexo da absorção de novas matérias e dos novos direitos positivados, a emergência de desenho arquitetônico em mutação apresentado pelas Constituições que passaram a ser editadas nos últimos sessenta anos. Textos analíticos, documentos recheados de preceitos cobrindo a mais vasta variedade de assuntos – todos tratados a nível constitucional. Uma textura diferenciada na construção das normas, sendo volumoso o número de preceitos de confecção aberta, preceitos não auto-executórios, cometendo ao legislador ordinário a sua implementação. Enfim, normas, por natureza, incompletas ou programáticas57, invadiram o espaço constitucional ensejando uma atividade adicional tanto para o Poder Executivo, impondo-lhe a criação e instalação de programas previstos na Lei Maior, como para o Poder Legislativo, atribuindo-lhe esforço sucessivo no sentido de dar efetividade às disposições constitucionais a demandar complementação, e, ainda, instaurando em relação ao Poder Judiciário um largo campo interpretativo, ampliando consideravelmente o poder jurisdicional.

Em particular no que toca à figura do Juíz, nova missão é introduzida. Em razão do território alongado em que agora atua – quer em virtude da ampliação da esfera interpretativa, quer por deter a competência do controle de constitucionalidade – o Poder Judiciário assume papel diferenciado. Uma outra perspectiva, uma outra dimensão, passando, nesta sua tarefa, a envolver a responsabilidade pela interpretação constitucional e, conseqüentemente, pela aplicação concreta de critérios de interpretação legal resultantes do esforço de hermenêutica. Uma

56FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Direito constitucional. Barueri: Manole, 2007. p. 7. 57A presença, na Constituição de “normas sem suficiente densidade” para se tornarem exeqüíveis por si mesmas e que, portanto, reivindicam do legislador a tarefa de lhes oferecer efetividade e eficácia - como remarcado por CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2007 – já foi objeto de exame por ilustres constitucionalistas. Entre nós, de se examinar, por exemplo, Zeno Veloso que se socorre, para tanto, do magistério de José Afonso da Silva, explicitando: “A aplicabilidade de algumas normas constitucionais não é imediata, instantânea, plena (normas constitucionais de eficácia limitada ou reduzida, na terminologia de José Afonso da Silva), dependendo de regulamentação posterior, de normação complementar, operando-se portando, com a “interpositio legislatoris”. Em alguns casos, o preceito constitucional – especialmente nas hipóteses das chamadas normas constitucionais programáticas – só terá plena eficácia com a edição de atos executivos (normativos, como regulamentares), e a inércia do administrador pode ensejar, também, a inexeqüibilidade, a ineficácia do comando constitucional”. (VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003). Ver ainda o nosso trabalho sobre O controle da omissão legislativa e administrativa. Revista Ibero-Americana de Direito Público, Rio de Janeiro, v. 13, 2004, coordenação de Ives Gandra da Silva Martins e Mauro Roberto Gomes de Mattos.

18

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

função orientadora. De uma justiça constitucional defensiva aporta, no século XXI, na configuração de uma justiça constitucional de orientação58.

Mister é anotar que o alargamento do campo de ação do Poder Judiciário decorreu da preocupação com o futuro democrático, o que sensibilizou juristas e políticos incentivando o desenvolvimento dos processos constitucionais e a ampliação do espectro do controle de constitucionalidade, protegendo as soberanas regras insculpidas na Constituição. Esta – nos termos da visão da doutrina do judicial review – deve ser respeitada, sob pena de desabamento de toda a teoria construída por força do constitucionalismo e, conseqüentemente, irreparáveis danos aos ideais e práticas democráticas.

No percurso evolutivo do constitucionalismo moderno, um panorama comandado pelo ideal democrático e pelo ícone em que se transformou o modelo de estado de direito59, firmou-se o consenso de que “não basta que a Constituição outorgue garantias; tem, por seu turno, de ser garantida.”, como afirma Jorge Miranda.60

No entanto, o que repugna aos que proclamam a exigência de remodelação do constitucionalismo, propagando a visão de um neoconstitucionalismo, consiste exatamente nesta “petrificação da Constituição”, o que em última análise produziria um efeito perverso, congelando e desestimulando o desenvolvimento da própria democracia. É Sampaio Ferraz Jr., ainda que retomando terminologia empregada por Karl Loewenstein61 , anota, assim, a atual tendência de adotar a designação de mutação constitucional quando se procede a “uma transformação na real configuração do poder político, da estrutura social e do equilíbrio de interesses, sem que isso se reflita no texto da constituição, que, de resto, permanece intacto.”62 E de fato, a atividade interpretativa expandida conduz, por inúmeras vezes, até mesmo a uma reorientação constitucional, a exemplo do que ocorreu no Brasil com o problema da infidelidade partidária, quando uma Resolução do Tribunal Superior Eleitoral criou uma hipótese de perda do mandato político não prevista na Constituição – por mudar de partido político, abandonando a legenda sob cuja bandeira o parlamentar ou membro do executivo se elegeu63.

De outra parte, relevante verificar a análise de Elster que restringe o papel das Constituições a duas funções: a da tutela dos direitos individuais e a de servir de obstáculo a

58Não é outra, nos parece, a posição do Ministro Gilmar Ferreira Mendes, em pronunciamento sobre Os efeitos das decisões de inconstitucionalidade: técnicas de decisão em sede de controle de constitucionalidade, palestra proferida no dia 03 de junho de 2005, na Escola Superior de Direito Constitucional – in Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo, n. 5, p. 443-464, jan./jun. 2005. Nesta ocasião é que o Ministro Gilmar Mendes refere-se à experiência brasileira, rotulando o nosso tradicional modelo de controle de constitucionalidade como binário.

59Interessante a noção delineada por GARCIA DE ENTERRÍA, sobre Estado de Direito, um figurino que garante “a convivência dentro ‘de las leyes”; não, porém, quaisquer leis ou normas, apenas e tão somente aquelas produzidas “dentro de la Constitución, por la voluntad popular e com garantía plena de los derechos humanos ou fundamentales”, GARCIA DE ENTERRÍA, Eduardo. Principio de legalidad, Estado material de derecho, y facultades interpretativas y constructivas de la jurisprudencia en la Constitución. Revista Espanhola de Direito Constitucional, n. 10, p. 12, 1984.

60CANOTILHO, J. J. Gomes. Contributo para uma teoria da inconstitucionalidade. Coimbra: Coimbra Ed., 1996. p. 76-77. 61LOEWENSTEI, Karl. Teoria de la Constitución. Tradução de Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona: Ariel, 1976. p. 164 e ss. (Coleção Demos). ISBN 84 34417928.

62FERRAZ JR., Tercio Sampaio. op. cit., p. 9. 63Ver HERMAN-CAGGIANO, Monica. A fenomenologia dos trânsfugas no cenário político-eleitoral brasileiro. In: LEMBO, Claudio (Coord.). O voto nas Américas. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2008. p. 219. (Coleção Culturalismo Jurídico).

19

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

alterações políticas de interesse da maioria.64 E frisa o fato de que o principal elemento protetor dos direitos é o princípio da legalidade. Para o constitucionalismo, reserva apenas a função de respaldo dos Tribunais Superiores ou Cortes Constitucionais.

Holmes, de sua parte, sustenta para o Judiciário a competência constitucional de “guardião da democracia”. Esta, porém – assevera o cientista – “como toda criação humana necessita de reparos periódicos”, não podendo ater-se e ser subjugada pelos “freios constitucionais”.65 Recorda, ainda, apontamentos históricos como o de Tom Paine que, já em 1776, exigia liberdade a cada geração para atuar sobre o seu destino. E mais ainda, recorre às famosas lições de Jefferson e Madison acerca das “gerações vivas” e do “governos dos vivos” para respaldar sua linha de raciocínio desmistificando o papel da Constituição como elemento de salvaguarda da democracia.

Ora, destas posturas desconstrutivas é que dimanam os movimentos a preconizar a remodelação do constitucionalismo. Sob esta roupagem diferenciada, a Constituição viria albergar valores, os valores da sociedade que ela – a Constituição – estrutura e organiza juridicamente. À lei compete efetivamente prescrever as políticas públicas; aos Tribunais, porém, é atribuída a principal responsabilidade quanto ao alinhamento da lei aos valores estabelecidos para comandar a democracia praticada. O Judiciário passa a protagonizar o papel de “guardião da democracia’66.

Impositivo reconhecer que a sociedade do século XX e a que aporta no presente apresenta-se muito diferente quanto às expectativas em relação ao Estado. A cidadania sofreu profunda remodelação. E o Estado ganhou a responsabilidade direta e irrefutável de amoldar as políticas públicas de forma a atender as perspectivas da cidadania no complexo mundo contemporâneo pigmentado pelos fenômenos da globalização e do multiculturalismo.

A questão que se coloca, no entanto, é a pertinente à elasticidade, flexibilidade e mutabilidade que impregnam a teoria denominada “neoconstitucionalismo” que opera com valores. Abandonada a idéia da rigidez, da superioridade, da estabilidade e da previsibilidade constitucional como serão resguardados os direitos fundamentais? Qual exatamente o instrumento e mecânica a preservar a segurança jurídica?

O que se depreende é que o constitucionalismo que pretende ser contemporâneo – ou a teoria do neoconstitucionalismo – assume uma postura descompromissada com o princípio da segurança jurídica, que exsurge na trajetória evolutiva da idéia de Estado de Direito, buscando exatamente lhe assegurar reforço, robustecendo a missão maior de uma Constituição, qual seja estabelecer limites e engradar o Poder.

O novo standard da segurança jurídica, produzido em esfera germânica, onde se encontra constitucionalmente protegido, rapidamente conquistou a simpatia da doutrina e da jurisprudência no panorama europeu. Na França, se instalou como reflexo do direito comunitário em expansão e, embora ainda não tenha sido contemplado de forma expressa em nível constitucional, vai se robustecendo ganhando espaço próprio em textos legais, no âmbito da doutrina e da jurisprudência.

64ELSTER, Jon. Introduction ao constitucionalismo y democracia. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Coords.). Constitucionalismo y democracia, cit., p. 34-35.

65HOLMES, Stephen. op. cit., p. 217 e ss. 66Neste sentido veja-se Id. Ibid., p. 219.

20

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

Um de seus primordiais atributos reside em se consubstanciar em indicador de qualidade do direito, conduzindo Bertrand Mathieu a explicitar: “A segurança jurídica exprime, pois, um

certo número de exigências as quais deve atender o direito enquanto instrumento. Ela

condiciona a realização da “proeminência do direito”67.

Extraído, pois, do direito comunitário europeu68, o princípio da segurança jurídica repousa sobre a idéia do prévio conhecimento da lei e do tratamento ao qual essa será submetida na sua aplicação. Apresenta-se como macro-princípio, alojando no seu bojo outros princípios, a exemplo (a) da confiança legítima, (b) da legalidade ou (c) da qualidade da lei. Nessa visualização, portanto, o analista viria a se deparar, de um lado, com os princípios direcionados à exigência de qualidade do direito e, de outro, com os atinentes à imposição de previsibilidade do direito.

É fato que os “mortos” não devem governar os “vivos”; mas disso não decorre a exigência de demolição da idéia de rigidez constitucional. A própria previsão de reforma da Constituição – quer por via revisional, quer por via de emenda – atende razoavelmente à necessidade de adaptar as Constituições à realidade fática. E mais que isto, rompida a estabilidade constitucional e o núcleo duro do postulado do Estado de Direito, qual seria a estrutura jurídica, sólida o suficiente para garantir e preservar a democracia? A fragilidade e a expansividade dos processos de interpretação constitucional já demonstraram flagrante fracasso quando do aniquilamento da democrática Constituição de Weimar, abrindo as portas para o nazismo. A segurança jurídica e a democracia ainda se encontram na dependência do velho constitucionalismo.

São Paulo, janeiro de 2011

Referências Bibliográficas

ARENDT, Hannah. Los origines del totalitarismo. Madrid: Taurus, 1974.

______. Responsabilidade e julgamento. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Tradução de Daniela Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.

______ et al. Dicionário de política. 2. ed. Brasília: Ed. da Universidade de Brasília, 1986.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Contributo para uma teoria da inconstitucionalidade. Coimbra: Coimbra Ed., 1996.

______. Direito constitucional e teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2007.

CASTANHO, Maria Augusta Ferreira da Silva. E-democracia: a democracia do futuro? 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.

67“Constitution et Securité Juridique”, relatório apresentado na Xve Table Ronde Internationale, Aix en Provence, setembro de 1999, pelo Prof. Bertrand Mathieu, da Universidade de Paris I, Panthéon Sorbonne, com o auxílio de Anne Laure Velembois, monitora da Faculdade de Direito e de Ciências Políticas de Dijon.

68Esse standard, que implica na proteção da confiança jurídica foi inserido de forma implícita na ordem jurídica da Comunidade européia pela decisão da Comissão C. Conseil de 5.06.1973, confirmada de modo expresso pela decisão Töpfer, de 3.05.1978, onde restou assente que a ignorância dessa máxima constitui violação de tratado ou de qualquer regra de direito no tocante a sua aplicação. In Recueil de Jurisprudence Constitutionnelle, p. 575 e 1019.

21

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

DAHL, Robert. Análise política moderna. Brasília: Ed. da UnB, 1981.

______. Polyarchy: participation and opposition. 4. ed. New Haven: Yale University Press, 1973.

DIPPEL, Horst. História do constitucionalismo moderno: novas perspectivas. Tradução de Antônio Manuel Hespanha e Cristina Nogueira da Silva. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

DWORKIN, Ronald. La lectura moral de la Constitución y la premisa mayoritaria. Tradução de Imer B. Flores. México, 2002.

ELSTER, Jon. Introduction ao constitucionalismo y democracia. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Coords.). Constitucionalismo y democracia. Tradução de Monica Utrilla de Neira, México: Colegio Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública, A.C.; Fondo de Cultura Económica, 1999. ISBN 968-16-4927-3.

FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Direito constitucional. Barueri: Manole, 2007.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008.

______. Partidos políticos nas Constituições democráticas. São Paulo: Ed. Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1966.

______. Princípios fundamentais do direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. ISBN 978-85-02-08563-3.

GARCIA DE ENTERRÍA, Eduardo. Principio de legalidad, Estado material de derecho, y facultades interpretativas y constructivas de la jurisprudencia en la Constitución. Revista Espanhola de Direito Constitucional, n. 10, 1984.

GICQUEL, Jean. Droit constitutionnel et institutions politiques. 18. ed. Paris: Montchrestien, 2002. ISBN 2-7076-1292-8.

HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Tradução de George Sperber e Paulo Astor Soethe. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

HERMAN-CAGGIANO, Monica. O controle da omissão legislativa e administrativa. Revista Ibero-Americana de Direito Público, Rio de Janeiro, v. 13, 2004.

______. Direito público econômico: fontes e princípios na constituição brasileira de 1988. In: Direito constitucional econômico. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2007. (Coleção Culturalismo Jurídico).

______. Direitos humanos e aprendizado cooperativo. In: DE LIBERAL, Márcia Mello Costa (Org.). Um olhar sobre ética e cidadania. São Paulo: Ed. Mackenzie, 2002. (Coleção Reflexão Acadêmica, v. 1).

______. A fenomenologia dos trânsfugas no cenário político-eleitoral brasileiro. In: LEMBO, Claudio (Coord.). O voto nas Américas. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2008. (Coleção Culturalismo Jurídico).

______. Oposição na política. São Paulo: Angelotti, 1995.

HOFSTADTER, Richard. Great issues in american history. New York: Vintage Books, 1958.

HOLMES, Stephen. El precompromisso y la paradoja de la democracia. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Coords.). Constitucionalismo y democracia. Tradução de Monica Utrilla de Neira, México: Colegio Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública, A.C.; Fondo de Cultura Económica, 1999. ISBN 968-16-4927-3.

22

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. ISBN 85-7164-011-4.

LEMBO, Cláudio. Eles temem a liberdade. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2006. ISBN 85-98416-17-7.

______. Participação política e assistência simples. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.

______. A pessoa: seus direitos. Barueri: Manole, 2007.

LIJPHART, Arend. Modelos de democracia: desempenho e padrões de governo em 36 países. Tradução Roberto Franco. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. ISBN 978-85-200-0570-5.

LINZ, Juan J. Totalitarian and authoritarian regimes. Handbook of Political Science, v. 3, 1965.

LOEWENSTEI, Karl. Teoria de la Constitución. Tradução de Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona: Ariel, 1976. (Coleção Demos). ISBN 84 34417928.

MATHIEU, Bertrand. Constitution et securité juridique. In: TABLE RONDE INTERNATIONALE, 15., Aix en Provence, Sept. 1999. Avec Anne Laure Velembois.

MENDES, Gilmar Ferreira. Os efeitos das decisões de inconstitucionalidade: técnicas de decisão em sede de controle de constitucionalidade. Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo, n. 5, p. 443-464, jan./jun. 2005. Palestra proferida no dia 03 de junho de 2005, na Escola Superior de Direito Constitucional.

MORLINO, Leonardo. Democracia. In: PASQUINO, Gianfranco (Coord.). Manuale di scienza della política. Bologna: Il Mulino, 1986.

PALER, Octavian. Don Quijote in Est. Iasi, Romênia: Polirom, 2010. ISBN978-973-46-1632-9.

PASQUINO, Gianfranco. La democracia esigente. Bologna: Il Mulino, 1997.

PRZEWORSKI, Adam. La democracia como resultado contingente de conflictos. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Eds.). Constitucionalismo y democracia. Tradução de Monica Utrilla de Neira. México: Colegio Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública, A.C.; Fondo de Cultura Económica, 1999. ISBN 968-16-4927-3.

______. Transition to democracy. New York: University of Cambridge Press, 1991.

RAWLS, John. Deliberative democracy. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1997.

______. Uma teoria da justiça. Tradução Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

RIZEK, Fernanda Montenegro de Menezes. A democracia econômica no constitucionalismo brasileiro. 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.

SALDANA, Javier. In: VIOLA, Francesco. La democracia deliberative entre constituionalismo y multiculturalismo. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2006. ISBN 970-32-3918-8.

SANCHES AGESTA, Luis. Princípios de teoria política. 7. ed. Madrid: Ed. Nacional, 1983.

SARTORI, Giovanni. Comparative constitutional engeneering. New York: University Press, 1994. ISBN 0-8147-7974-3.

23

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

SARTORI, Giovanni. Teoria de la democracia. Madrid: Alianza Universidad, 1987.

URBINATI, Nadia. Representative democracy: principles & genealogy. Chicago: The University of Chicago Press, 2006.

VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

VIOLA, Francesco. La democracia deliberativa entre constitucionalismo y multiculturalismo. Tradução de Javier Saldaña. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2006.

ZIPPELIUS, Reinhold. Teoria geral do Estado. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

LA DÉMOCRATIE X LE CONSTITUTIONNALISME

un bateau à la derive?

Monica Herman Caggiano

25

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

LA DÉMOCRATIE X LE CONSTITUTIONNALISME

Un bateau à la derive?∗

Monica Herman Caggiano∗∗

Résumé

L’article cherche à faire une hommage au parcours intellectuel du Éminent Ministre et Professeur Celso Lafer par une analyse de l’interaction de la Démocratie et du Constitutionnalisme au cours des derniers siècles. Il analyse les caractéristiques principales du régime démocratique sous un avis instrumental et matériel, sans oublier les éléments différenciés et les diagnostics qui lui sont propres. Il passe, ensuite, à étudier l’histoire du constitutionnalisme depuis les faits révolucionaires de juillet 1789 en France jusqu’au présent, id´pentifiant les éléments qui composent les textes constitutionnels contemporains. Nous traitons le problème du mouvement doctrinal actuel qui cherche des valeurs qui inspirent l’idéal constitutionnel, même si contre le texte de la Norme Fondamentale, nommé néoconstitutionnalisme. Compte tenu que les opérations interpretatives réalisées sous cette orientation ne concernent pas le principe de la sécurité juridique, le Constitutionnalisme Classique est vu comme moyen approprié de garantie de la démocratie dans le vingt-et-unième siècle.

Mots-clés: Démocratie. Constitution. Constitutionnalisme. Neoconstitutionnalisme. Mutation constitutionnelle. Intreprétation constitutionnelle élargie. Droits de l’homme. Citoyenneté

Résumé: Note d’introduction. I. La démocratie x Le constitutionnalisme. II. Qu’est-ce que la démocratie? III. Le constitutionnalisme vers la contemporanéité.

Note d’introduction

Les travaux et les recherches ont toujours des objectifs. Ceci en particulier cherche à se rejoindre à ceux admirateurs et aux disciples qui, à fin de rendre des hommages au Ministre Celso Lafer, Professeur Titulaire de la Faculté de Droit de l’Université de Sao Paulo, ont décidé de mettre en oeuvre une célébration en produisant des études portant sur des thèmes qui, au cours de la vie académique et dans l’exercice des postes élévés qui occupe et a occupé, a incité et motivé l’oeuvre du juriste, mettant en évidence sa perspicacité et sa perception par rapport aux problèmes juridiques à éclater et à toucher les sociétés du vingtièmes siècle, en transition vers le vingt-et-unième.

Hannah Arendt1 attribue à l’homme le don du « zoon politikon » et dissèque le totalitarisme, idéntifiant la terreur comme un élément spécifique et particulier des régimes dictatoriaux qui éffacent et annulent les droits de l’homme, systèmes qui se sont diffusés par le paysage du vingtième siècle,

∗Cet article a été traduit par André Luís M. Freire. ∗∗Professeur Agrégée du Département de Droit d’État, de l’Université de Sao Paulo. Professeur de Droit Constitutionnel

à la Faculté de Droit/USP. Présidente de la Commission de Pos-Graduation de la Faculté de Droit de l’Université de Sao Paulo. Professeur Titulaire de Droit Constitutionnel et Coordenatrice du Cours de Spécialisation en Droit des Affaires de l’Université Presbytérienne Mackenzie. Conseiller Spéciale du Vice-Governeur et du Governeur de l’État de Sao Paulo (2003-2006). Procureur Génerale de la Municipalité de Sao Paulo (1994-1996). Secrétaire des Affaires Juridiques de la Municipalité de Sao Paulo (1966). Procureur de la Municipalité de Sao Paulo (1972-1996).

1ARENDT, Hannah. Los origines del totalitarismo. Madrid: Taurus, 1974; Id. Responsabilidade e julgamento. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

26

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

en lui attribuant des tons de gris des guerres et du sacrifice des générations. Octavian Paler, observant l’individu qui est resté et a vécu dans le climat de peur crée par « le Rideau de Fer », dans l’Europe de l’est, introduit au monde la figure de « l’homme acrobate »2, qui est soumis à des nouveaux tests de survie au quotidien, lui aménant à une vrai corde raide. Sartori convoque « l’homo videns » pour caractériser le citoyen qui habite la scène actuelle : l’être face à l’appareil de télévision, absent, n’absorbant que des images, les images qui les médias jugent appropriées pour lui nourrir3.

Enfin, chaque époque améne des « insensés », comme régistre Cládio Lembo en rappellant l’éternelle présence dans la communauté sociale des caractères qui, destitués de sentiments ou de respect pour les autres habitants de la planète terre, font dissiper les effets nuisibles de ses actions, ingnorant totalement tout ce qui lui entourne. Chacun devrait chercher son insensé, avertit Lembo4.

Bien, le Ministre et Professeur Celso Lafer comprend les angoisses, les persécutions, l’intolérence et les actions de discrimination réligieuse profonde qui contaminent la vie sociale dans le cadre de cette société, dédiant à ces sujets une production intellectuelle intense et géniale caractérisée par le trouble constant vis-à-vis les droits des individus dans une société libre et démocratiquement organisée5. Ceci face au monde globalisé que le vingtième siècle a dévoilé, un univers sans frontières ; un univers, néanmoins, pigmenté par le multiculturalisme et par séquelles qui lui sont propres.

On affirmait, souvent, que le Droit est présent où il y a de société. « Ubi societas, ibi ius » disaient les romains. Certainement, les connaissances juridiques accumulées constituent une des plus importantes oeuvres de l’humanité. Mais quel est le destin des grandes institutions consacrées au cours du vingtième siècle ? Comment seront reçues les conquêtes de la démocratie et ses avantages ? Quelles seront les chemins du constitutionnalisme qui a servi de base pour la consolidation du régime démocratique et qui est mis en doute au présent, à cause de ceux qui veulent son réinvention, défendant le néoconstitutionnalisme ? En fin, la peur face à une nouvelle ère, apportant des consequences pour le monde juridique, est le but à suivre, dédiant ce travail à l’analise des questions en ébulition portant sur les rapports entre les institutions démocratiques et le constitutionnalisme.

I. Démocratie X Constitutionnalisme

Il semble banal. Mais, comme déjà souligné précédemment, l’homme présente par nature la sociabilité tel que caractéristique propre et particulière. La vie en société est indispensable pour son progrès et la possibilité de l’isolement n’est que illusoire, comme dans l’île fantastique et legendaire de Robinson Crusoé.

2PALER, Octavian. Don Quijote in Est. Iasi, Romênia: Polirom, 2010. ISBN978-973-46-1632-9. 3SARTORI, Giovanni. Comparative constitutional engeneering. New York: University Press, 1994. p. 148. ISBN 0-8147-

7974-3. Dans ce point de vue, l’auteur avertit: “Homo videns ne voit que son horizon est reduit aux images que lui son offertes”. (notre traduction).

4LEMBO, Cláudio. Eles temem a liberdade. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2006. p. 33. ISBN 85-98416-17-7. 5La primauté des droits de l’homme et le trouble intense du mâitre Lafer est tracée avec la perspicacité extrème dans le chapitre

dédié à La Citoyenneté comme le droit à avoir des droits, sujet abordé dans La reconstruction des droits de l’homme. Un dialogue avec les pensées de Hannah Arendt. (LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. p. 147 e ss. ISBN 85-7164-011-4).

27

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

La communauté, néanmoins, démande décisions. Dans tous les temps, qui a le droit de décider et comme constitue et a constitué la question à résoudre pour, face au pouvoir présent dans une organisation sociale quelconque6, preserver la liberté de l’homme, son expectative eternelle.

Il ne reste aucune doute sur la capacité de l’homme pour identifier et établir ce qui lui convient, de distinguer entre le bien et le mal, entre le juste et l’injuste. Elle était déjà reconnue dans l’Antiquité, aussi détectée dans l’oeuvre aristotélicienne l’idée de « polis » qu’émerge à partir de cette caractéristique propre de l’individu, comme l’a souligné Javier Saldaña, dans l’introduction que il a offert à l’oeuvre de Francesco Viola7. Au cours de son histoire, l’homme, effectivement titulaire de zoon politikon8, développe des formules qui cherchent exactement la salvegarde de son liberté, en organisant le pouvoir et la prise de décisions politiques. Dans la variété de recettes et combinaisons d’éléments politiques que le monde a connue, la démocratie émerge tel qu’un modèle qui se rapproche de la perspective de la garde de la liberté.

Dans la formule démocratique, la décision politique trouve son origine génétique dans les déstinataires du pouvoir, le peuple. En adoptant la définition plus simples et celèbre, en effet, la démocratie vient à traduire le gouvernement du peuple, par le peuple et pour le peuple, comme l’a proclamé Abraham Lincoln dans son discours en Gettysburg, le 19 novembre 18639. En fait, il consacre les contours d’une recette politique trop spéciale, en imposant l’indisponibilité du pluralisme politique et la libre manifestation des options politiques, de sorte que le pôle de la prise de décisions reflète les perspectives de la communauté.

Cependant, dans les plusieurs niveaux d’influence à conformer la formulation de la décision politique, un microcosme assez competitif émerge pour accueillir des forces politiques concurrentes, qui se battent pour atteindre une intervention – dans son degrée plus élévé – dans la formation de l’opinion publique10, entendue comme issue de la libre discussion, comme montre Zippelius11.

6Dans ce sens, voir les leçons de AGESTA, Luis Sanches: Il y a des organizations et des phénomènes de pouvoir dans tous les pays en tous les temps. L’histoire et l’anthropologie constatent ce fait. De la même façon, dans une tribu africaine et dnas l’histoire du peuple d’Israel ou en Athènes et Sparte ou dans le féodalisme médiéval, nous traitons toujours de phénomènes de pouvoir organisé. Cette universalité des phénomènes du pouvoir et de l’organisation du pouvoir semble prouver le fait de que ceux correspondent à une exigence de la nature humaine et pour cela nous les appelons de fait naturel (hecho natural). SANCHES AGESTA, Luis. Princípios de teoria política. 7. ed. Madrid: Ed. Nacional, 1983. p. 72.

7SALDANA, Javier. In: VIOLA, Francesco. La democracia deliberative entre constituionalismo y multiculturalismo. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2006. p. XI. ISBN 970-32-3918-8.

8L’idée de l’homo politicus est vue avec perspicacité dans l’oeuvre de Robert Dahl, (Análise política moderna. Brasília: Ed. da UnB, 1981. p. 12), où il affirme: « Virtuellement, personne est dehors de système politique quelconque. La politique est un fait inévitable dans la vie de l’individu. Il n’y a personne qui ne fait partie de quelque moment dans un genre de système politique ».

9Gettysburg Address, in HOFSTADTER, Richard. Great issues in american history. New York: Vintage Books, 1958. p. 414. 10AGESTA rappelle l’expectative de présence des secteurs plus diférents du tissu social pour la production des

décisions politiques, exposant que : « Jusqu’au moment que la décision prenne la nature de l’acte juridique, nous devons lui appeller d’acte politique, duquel participent les parties, les groupes de pression, les courants d’opinion et les propres citoyens qui approuvent des programmes partidaires dans les elections périodiques et choisissent des représentants... qui réalisent ces programmes. » - SANCHES AGESTA, Luis. op. cit., p. 396.

11ZIPPELIUS, Reinhold. Teoria geral do Estado. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1971. p. 126.

28

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

En effet, la démocratie implique dans le « résultat contingentiel de conflits ». C’est la position défendue par Adam Przeworski12, de l’Université de Chicago. Dans l’oeuvre, le cientist illustre et polémique développe l’idée de que la démocratie s’agit d’un système fondé sur l’incertitude. Incertitude électorale, malgré la grande stabilité et crédibilité institutionnelle.

Dans cette ligne, il faut reconnaître dans les domains de la démocratie une forte incertitude par rapport aux gouvernants et son projet de gouvernement. Chaque nouvelle consultation élective, marquée par le degrée élévé de compétitivité13, des nouvelles propositions et politiques publiques émergent. La garantie repose dans les institutions qui, à son tour, servent de support pour la perpétuation de l’incertitude. Celle-ci, donc, passe à occuper la poste d’incertitude institutionnalisée, dans les territoires démocratiques.

Néanmoins, à partir de la mécanique de son fonctionement, la visualisation de la démocratie, dans ce nouveau format, montre des questions délicates en ce qui concerne le constitutionnalisme, un mouvement qui passe pour les deux derniers siècles en se concrétisant, jusqu’à son consécration au vingtième siècle, au moment de l’expansion de la démocratie. Comme un « mouvement politique et juridique », ceci est expliqué par Manoel Gonçalves Ferreira Filho, selon lequel le constitutionnalisme cherche à « s’établir dans tout le régime constitutionnel, c’est-à-dire les gouvernements modérés, limités dans ses pouvoirs, soumis à une Constitution écrite »14 - dans d’autres termes, des régimes démocratiques.

Ainsi, la démocratie représente une recette politique sensible et exigeante15. Cette idée est admise par Cláudio Lembo, dans un article où il aborde « l’apprentissage dificile de la démocratie »16. Elle trouve l’environement propice pour son croissance dans l’évolution du constitutionnalisme, qui lui offre la garantie de présence et perpétuité des institutions. L’idée de Constitution, en consequence, entendue comme un document qui définit la pouvoir, qui rassure des gouvernements modérés, limités et le respect aux droits fondamentaux, apparaît indissociable de l’évolution démocratique.

On doit envisager, pourtant, que les idées de limitation du pouvoir, de préservation des droits de l’homme et de fixaton à l’avance de la décision politique fondamentale, ces qui sont l’essence des Constitutions, conduisent à indentifier une position antidémocratique, dans la mesure où elle raidit les décision futures des nouvelles générations. Dans une démocratie, par contre, il devrait être assurée l’accessibilité, d’après Stephen Holmes17 et d’autres analystes. Il y a des efforts de la doctrine et de la jurisprudence pour réduire les liens de lévolution de la démocratie, tel qu’un reflet de ce paradoxe, en relâchant les liens qui déterminent et limitent les

12PRZEWORSKI, Adam. Transition to democracy. New York: University of Cambridge Press, 1991. Voir aussi du meme auteur La democracia como resultado contingente de conflictos. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Eds.). Constitucionalismo y democracia. Tradução de Monica Utrilla de Neira. México: Colegio Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública, A.C.; Fondo de Cultura Económica, 1999. ISBN 968-16-4927-3.

13Le príncipe des “free and fair elections” (élections libres et competitives) se présente pacifique comme un guide des élections dans les scènes démocratiques. Voir nôtre Oposição na política. São Paulo: Angelotti, 1995.

14FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008. 15PASQUINO, Gianfranco. La democracia esigente. Bologna: Il Mulino, 1997. 16LEMBO, Cláudio. Eles temem a liberdade, cit., p. 63. 17HOLMES, Stephen. El precompromisso y la paradoja de la democracia. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune

(Coords.). Constitucionalismo y democracia, cit.

29

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

nouvelles décisions politiques. Un développement généticiste permanent de la gériatrie constitutionnelle est proposé sur le drapeau de l’amélioration démocratique.

II. Qu’est-ce que la démocratie?

Il faut reconnaître les obstacles dans la construction du concept et de la délimintation des contours démocratiques. Cette tâche est plus dificile au début de ce siècle, qui présente une vrai « fièvre démocratique » ; un modèle en réelle expansion, duquel l’élargissement était annoncé par Robert Dahl, dans « La Democrazia i suoi critici », et aussi par Samuel P. Huntington. Ceci, spécialement, offre une vision optimiste vis-à-vis l’évolution de la procédure démocratique dans « La Tercera Ola. La democratización a finales del siglo XX » (Piados, Argentine, 1995). En effet, l’avancée constitue une réalité, surtout au moment après l’implosion du monde soviétique d’une seule coleur. Celui-ci a absorbé la recette démocratique qui s’est rapidement disséminée, accueillie par les pays de l’Europe de l’est.

De plus en plus, en raison du phénomène expansionniste, le théorème démocratique apporte d’inquietudes. Son application offre à l’analyste une variété de caractères différents. Selon Jean Gicquel, réflechir sur la démocratie est présenter « un mot qui chante », une vrai déesse. D’après le juriste, la démocratie»18. D’ailleurs, après la fin du rideau de fer, de la chute du mur de Berlin, de l’indépendance des États africains et de l’adoption d’une économie de marché dans l’Asie, on voit une tendance claire de la démocratie qui se transforme en régime politique universel. Dans ce mouvement d’élargissement du monde démocratique, on intensifie les efforts conceptuels, cherchant à définir les contours de ce système gouvernamental préstigié et désiré.

De toute façon, parmi ces différents – mais pas trop éloignés – concepts doctrinaux19 les éléments libérté et égalité qui guident les chemins démocratiques émergent et son concrétisation à travers d’élections libres et compétitives laissant l’espace pour l’opposition. Ces dernières valeurs ont soutenu le suffrage universel tel qu’une grande conquête de l’humanité20.

En effet, la légitimation du pouvoir politique dans les démocraties exige le soutien de l’opinion publique21. Celle-ci non seulement agit en légitimant son exercice, ainsi qu’elle agit dans

18GICQUEL, Jean. Droit constitutionnel et institutions politiques. 18. ed. Paris: Montchrestien, 2002. p. 185. ISBN 2-7076-1292-8.

19Voir sur la diversité conceptuelle de la démocratie le nôtre Oposição na política, cit., p. 35-41. Une des notions de réussite à l’Europe résulte aujourd’hui de la décision du Tribunal Constitutionnel Allemand, éfinissant l’ordre démocratique tel que « celle pertinent au pouvoir dans le domaine d’un État de Droit, exercé sous le fondement de l’autodétermination du peuple, d’accord avec la volonté de la majorité, observant la liberté et l’égalité, supprimant tout le pouvoir violent et abritaire », GICQUEL, Jean. op. cit., p. 186.

20Aujourd’hui, assurer le droit du suffrage et d’élire ses gouvernants ne satisfaient plus le citoyen. Lui, il cherche plus: une voie d’intervention directe dans le pôle décisionnel et une voie de contrôle sur les nommés ‘decision makers’. La participation est assurée par des mécanismes de la démocratie semi-directe, tel que le référendum, le plébiscite, de l’iniciative populaire et pour le contrôle il y a au Brésil une gamme variée d’instruments, ainsi que des institutions, comme le Ministère Public qui a la mission constitutionnelle de maintenir la surveillance par rapport au respect à la Constitution et à la loi.

21Voir SARTORI, Giovanni. Teoria de la democracia. Madrid: Alianza Universidad, 1987. p. 168. Encore dans ce sens, l’exigence du « exercé avec fondement dans l’autodétermination du peuple » présente dans la décision du renommé Tribunal Constitutionnel Allemand, cf. note ci-dessus.

30

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

la plateforme du contrôle incident sur ce même pouvoir en imposant ses limites22. C’est celui le rôle de l’opposition, sans laquelle il n’y a pas de démocratie23.

Robert Dahl a soulingé l’importance des facteurs participation politique et opposition dans le cadre démocratique24. D’ailleurs, il rehausse l’évidence que la simple participation se montre insuffisante. Celle-ci ne conduit nécessairement à un régime démocratique ; par contre, elle peut met en oeuvre le populisme. N’oublions pas non plus que la mobilisation des masses est une strategie typique du totalitarisme25. On demande, donc, au contrepoint, l’actuation libre de l’opposition, vu que ainsi l’intervention des majorités et des minorités dans les décisions sera assurée26. Ces groupes doivent être toujours présents dans la plateforme des contextes démocratiques.

La tâche complexe et dérangeante de proposer un concept de démocratie crée une production d’une vaste gamme typologique, offrant des catégories démocratiques divers en raison de l’amalgame que lui a servit de source. Il y a des differents mixages des éléments propres de la démocratie, mais aussi une importance de la dosage de ces éléments qui peuvent explique ce phénomène.

Il y a des genres differents de démocratie qui peuvent être examinés : la démocratie formale, la démocratie procédurale, auxquelles Morlino fait référence27 ; la démocratie par des parties politiques, analysée par Ferreira Filho au Brésil28 ; la démocratie politique, celle sociale, celle industrielle ou la démocratie économique, examinées par Sartori, qui cite encore la démocratie électorale, la démocratie référendaire, la démocratie participative et la démocratie associative, proposée par Lijphart29, ou encore la démocratie délibérative, qui attire les juristes, les sociologues, les politologues et les politiques au présent.

Sous l’influence du succès des oeuvres de John Rawls30 et de Habermas31, l’étude de ce nouveau type de démocratie, la déliberative, issue de la crise par laquelle passent la représentation

22Voir encore sur les fonctions de l’opinion publique, ZIPPELIUS, Reinhold. op. cit., p. 124 et s. 23Sur le rôle de l’opposition, voir nôtre Oposição na política, cit. 24DAHL, Robert. Polyarchy: participation and opposition. 4. ed. New Haven: Yale University Press, 1973. Voir encore

nôtre Oposição na política, cit. 25LINZ, Juan J. Totalitarian and authoritarian regimes. Handbook of Political Science, v. 3, 1965. 26Voir sur la présence des majorités et des minorités dans la prise de la décision politique et sur le sujet de la

participation dans nôtre Oposição na política, cit. 27MORLINO, Leonardo. Democracia. In: PASQUINO, Gianfranco (Coord.). Manuale di scienza della política. Bologna: Il

Mulino, 1986. p. 83 et s. Morlino explique que la classification qui adopte la ligne procédurale proposée est d’accord avec la pratique démocratique, utilisant les enseignements de Kelsen, dans le sens « comme méthode ou procédure, la démocratie est la forme ».

28FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Partidos políticos nas Constituições democráticas. São Paulo: Ed. Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1966.

29La vaste typologie que l’étude de la démocratie garde peut être examinée dans nôtre Oposição na política, cit. Par ailleurs, la diversité des catégories et la possibilite d’élargement ont donné lieu à plusieurs recherches au monde académique, résultant dans la production des travaux interessants, tel que celui produit par RIZEK, Fernanda Montenegro de Menezes. A democracia econômica no constitucionalismo brasileiro. 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010, dissertation produite sous mon orientation, au Programme de Pós-Graduation en Droit Politique et Économique de l’Universidade Presbiteriana Mackenzie.

30RAWLS, John. Uma teoria da justiça. Tradução Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São Paulo: Martins Fontes, 1997; Id. Deliberative democracy. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1997.

31HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Tradução de George Sperber e Paulo Astor Soethe. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

31

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

politique et la figure du partie, est né du besoin de détecter une solution appropriée aux problèmes de participation. Ainsi, des nouveaux espaces d’influence dans le décisions politiques de caractère collectif sont assurés aux représentés et à la communauté. En d’autres termes, ce sont des nouveaux moyens de participation dans la prise de décision, assurant la possibilité de discussion et de délibération collectives.

Vis-à-vis les membres de la communauté sociale, la démocratie délibérative rassemble, alors, l’idée de faire partie de la prise de décisions collectives, à travers des procédures apportant le débat et la délibération. Si l’on attend pour un espace approprié et pour l’instrumental propre, l’ère sophistiquée de l’internet certainement favorise et stimule ces éléments. Comme résultat de ce monde marqué par la web, le modèle démocratique digitalisé se multiplie dans nombreauses études sur la Démocratie digitale ou l’E.démocratie, tel que le travail produit au programme de pós-graduação portant sous le titre « E-Démocratie. La démocratie du future ? »32.

Il faut reconnaître que cette position d’insatisfaction du citoyen avec le simple droit de déposer le vote à l’urne, choisissant ceux qui iront prendre les décisions politiques fondamentales, est le sujet d’études intéressants et de formules démocratiques novatrices, pas trop loin du genre délibératif. Dans ce sens, Claudio Lembo obsèrve, dans l’oeuvre « Participação Política e Assistência Simples », que « l’idée de participation gagne force à la contemporanéité, devenant présente et non pas écartable. Tous, au présent, veulent faire partie activement de la société... Tous veulent être participants »33.

Sensible à l’exigence de participation du citoyen du vingtième siècle – vers le vingt et unième – le standard associatif, offert par Lijphart – déjá examiné par Sartori34 (cf. au dessus) – qui propose l’idée de gouvernements de coalition comme une garantie de l’élargissement du locus de participation politique aux multiples branches de la société, y compris les minorités35. Les travaux de Urbinati se distinguent pour sa thèse de reformulation de la démocratie représentative classique. Elle aborde, à partir des enseignements de Rousseau, la démocratie selon « a view and exchange of opinions and arguments in view of always revisable consent »36.

Le but de l’intégration de la communauté dans le pôle décisionnel, dans les démocraties, constitue le centre du support d’une proposition sophistiquée de classification des démocraties, faite

32CASTANHO, Maria Augusta Ferreira da Silva. E-democracia: a democracia do futuro? 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010, dissertation produite sous mon orientation au programme de Pós-Graduation en Droit Politique et Économique de l’Universidade Presbiteriana Mackenzie.

33LEMBO, Cláudio. Participação política e assistência simples. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991. 34Examiner aussi, sur lês différents types de démocratie, LIJPHART, Arend. Modelos de democracia: desempenho e

padrões de governo em 36 países. Tradução Roberto Franco. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. ISBN 978-85-200-0570-5.

35LIJPHART, lui aussi montre le modèle qui il appelle démocratie du consensus, en l’opposant à la démocratie de la majorité, dans ces termes : « Une proposition alternative est :la volonté du plus grand nombre de gens réussie. C’est celui le point central du modèle consensuel. Il ne se distingue pas du modèle de la majorité, en affirmant qu’il est meilleure le gouvernement de la majorité que celui de la minorité. Mais il voit l’exigence d’une majorité comme une condition minimale :au lieu de satisfaire majorités moins importantes, il cherche à les élargir. Ses règles et institutions veulent une participation vaste dans le pouvoir et un accord sur les politiques à adopter ». In LIJPHART, Arend. op. cit., p. 18.

36URBINATI, Nadia. Representative democracy: principles & genealogy. Chicago: The University of Chicago Press, 2006. Trad. libre du texte: « une vision de la politique comme construction pleinement collective et un échange d’opinions et d’arguments à fin de permettre toujours à arriver des consensus susceptibles de révision ».

32

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

par Francisco Viola37. À fin de montrer que la liaison entre le constitutionnalisme et le multiculturalisme exige une redéfinition des concepts des procédures démocratiques pour aboutir des standards de démocratie délibérative, l’auteur présente deux univers démocratiques distincts, à partir du genre de Constitution sur laquelle s’appuie la respective formule.

En conséquence, il crée les figures de la Constitution-garde et de la Constitution-semence. La première expression correspond au concept classique de Constitution – un document qui contient un ensemble de principes et de normes de nature déterminante et qui trouvent son origine aux destinataires du pouvoir politique, ceux qui, par la voie électorale et selon la règle de majorité, élisent ses représentants pour produire la Constitution. Celle-ci agit, donc, comme un simple ‘container’ des règles, qui, à son tour, sont des ‘liens inviolables’, encadrant des limites extérieurs à la démocratie qu’elles mêmes modèlent. La démocratie mise en oeuvre sous l’égide de ce modèle constitutionnel est nommé de démocratie surveillée, une démocratie où l’on doit rendre des comptes des activités et politiques appliquées, mais aussi il y a la responsabilité par rapport aux résultats et aux effets des décisions prises.

Le second format, nonobstant, est formé par principes correspondants à « raisons fondamentales qui doivent être développées selon les contextes sociaux et les circonstances historiques »38. Ce parallèle, d’après Viola, définit une démocratie-agricultrice, tandis qu’elle attribue aux procédures démocratiques et aux institutions la tâche de promouvoir l’évolution de la « potentialité des principes constitutionnaux fondamentaux, respectant son identité ». De ce point de vue, une lecture morale de la Constitution peut être identifiée dans le standard proposé, selon la construction aussi explorée par Dworkin39. Elle reconnaît dans le texte constitutionnel la possibilité de traitement moral des questions, créant une procédure d’interpretation et d’argumentation. C’est exactement cette fonction interpretative et argumentative qui conduit à l’exercice de délibération, issu de la diversité d’opinion et avis qui composent le débat, la discussion et la délibération pour arriver à l’interpretation plus juste et conforme à la demande sociale.

Les difficultés pour tracer les contours d’une notion précise de la démocratie vont au-delà du champ conceptuel et arrivent au quotidien et son application pratique, ce qui représente um défis pour la démocratie élargie du vingt-et-unième siècle. D’ailleurs, c’est une des observations perspicaces de Bobbio, dans la Théorie Générale de la Politique, par rapport aux difficultés de cohabitation des démocraties contemporaines avec des États non démocratiques et, comme un effet secondaire de la communauté glabale diversifiée, qui groupe les démocraties plus variées et non démocraties, conclue le cientiste qu’aujourd’hui il y a des démocraties incomplètes40. Robert Dahl résiste et montre une manque de croyance par rapport à l’idéntification des démocraties réelles, octroyant l’étiquette de polyarchie aux systèmes qui présentent le plus grand nombre d’éléments démocratiques41.

37VIOLA, Francesco. La democracia deliberativa entre constitucionalismo y multiculturalismo. Tradução de Javier Saldaña. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2006.

38Id. Ibid., p. 5. 39DWORKIN, Ronald. La lectura moral de la Constitución y la premisa mayoritaria. Tradução de Imer B. Flores. México,

2002. 40BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Tradução de Daniela

Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000. p. 284. 41DAHL, Robert. Polyarchy: participation and opposition, cit.

33

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

Les risques dénoncés, le contours hostile et, enfin, la fragilité de la démocratie – c’est tout réel. Comme avertit Pasquino, la démocratie corresponds à un régime sensible et délicat. Ainsi, il n’y a pas de doute sur la nécessité de rénouvellement démocratique. Pourtant, il demande s’il y a un déséquilibre entre les éléments intrinsèques de la démocratie et les demandes du citoyen du nouveau millène ? Comment idéntifier une démocratie?

Manoel Gonçalves Ferreira Filho se penche à disséquer la recette démocratique et réalise une analyse de l’évolution historique des démocraties. Il avoue que la référence classique attribue à la démocratie la particularité de garder le suprème pouvoir dans le peuple – ou dans la majorité – son titulaire legitime. « Il n’y a pas de démocratie – souligne le maître – si le peuple ne gouverne à soi même »42. L’auteur indique ensuite le countours différents assumés par les démocraties contemporaines pour atténuer l’image du peuple comme titulaire, producteur et exécuteur du pouvoir politique. Dans cette conception, qui s’est disseminée et fortifiée depuis les années 60, la condition de source du pouvoir politique (principe de la soveranéité populaire) resterait attribuée au peuple. Aux représentants est confiée l’exécution, sous les limites imposés par le système de freins et contrepoids (principe représentative). Par ailleurs, il y a la primauté établie par les droits fondamentaux (principe de la limitation du pouvoir)43.

Malgré le recours à la technique représentative, qui déplace l’exercice du pouvoir aux représentants/gouvernants – lui-même Ferreira Filho l’admet – dans le monde démocratique actuel le peuple effectivement participe directement de la prise de décisions (l’exercice du pouvoir), « néanmoins exceptionnellement »44. En effet, le comme un reflet du mécontentement de la citoyennété d’être le simple elécteur-spectateur , la survenance des mécanismes variés de participation populaire et l’attribution au Ministère Publique et aux Tribunaux de Comptes de compétences puissantes de contrôle atteint l’actuation des représentants/gouvernants, soit sur des aspects legaux, soit politiques.

Dans ce sujet, dans lequel la polémique conceptuelle de la démocratie est persistante, nous rappelons les 8 critères développés par Robert A. Dahl pour idéntifier la présence de démocratie, éléments déjà montrés et accueillis dans nôtre Oposição na Política, et reprises par Lijphart dans son Modelos de Democracia. Desempenho e padrões de governo em 36 países45. Bien, à partir de ces éléments et de son insertion dans la recette démocratique nous pouvons évaluer l’adoption ou non du système. Les critères sont : (1) liberté d’association, dans le sens de créer associations et lui adhérer ; (2) liberté d’expression ; (3) droit de vote ; (4) éligibilité pour les postes publiques ; (5) droit des politicians de disputer le soutien du publique ; (6) sources alternatives d’information ; (7) élections libres et compétitives ; (8) institutions capables d’assurer à la politique gouvernamentale l’acceptation du corps éléctoral, exprimée par la voie du suffrage ou par un autre moyen de manifestation de préférences politiques . Ces éléments, d’ailleurs, assurent la vérification d’une figure connue comme responsiveness, c’est-à-dire, l’adaptation de la décision polotoque aux prespectives de la société46.

42FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. p. 44. ISBN 978-85-02-08563-3.

43Id. Ibid., p. 51. 44Id. Ibid. 45LIJPHART, Arend. op. cit., p. 69. 46HERMAN-CAGGIANO, Monica. Oposição na política, cit., p. 55-56.

34

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

Il y a plusieurs manières par leslquelles la démocratie s’organise et peut fonctionner dans le monde contemporain. La manque d’un de ces éléments, néanmoins, annule la ribrique de l’attribut de ‘responsiveness’, ce qui enlève du système l’étiquette de démocratie. Dans la littérature juridique contemporaine, il y a une préférence claire pour indiquer les éléments qui composent la formule démocratique, vérifiant une résistance aux définitions classiques qui présentent de manque de cohérence et d’exhaustivité.

Dans ce sens, Bobbio, dans son Dictionnaire de Politique, présente les 9 indicateurs de présence démocratique, à partir d’un avis procédural, in verbis : (1) l’organe politique maximum, à qui est attribuée la fonction législative, doit être composé par des membres directe ou indirectement élus par le peuple, dans élections en premier ou deuxième dégrée ; (2) à côté de l’organe législative, il y aura d’autres institutions avec des dirigéants élus, comme organe de l’administration locale ou chef d’État (comme dans les républiques) ; (3) tous les citoyens majeurs, sans distinction de race, de religion, de de sexe, doivent être électeurs ; (4) tous les électeurs doivent avoir de vote de même valeur ; (5) tous les électeurs doivent être libres pour voter d’après son propre opinion, formée le plus librement possible, dans un contexte de dispute libre de parties politiques qui se penchent vers la formation d’une représentation nationale ; (6) les électeurs doivent être libres dans le sens d’avoir des vrais alternatives (ce qui exclue une élection quelconque avec de liste unique ou bloquée) ; (7) le principe de la majorité numérique s’applique aux élections des représentants aussi pour les décisions de l’organe politique suprème, si bien que plusieurs formes de majorité selon des critères d’opportunité non pas éternels peuvent être établiees ; (8) aucune décision prise par majorité doit limiter les droits de minorité, d’une façon spéciale le droit de devenir majorité, en parité de conditions ; (9) l’organe du Gouvernement doit jouir de confiance du Parlement ou du chef du pouvoir exécutif, ce-ci élu par le peuple47.

Il est claire que pour la description des facteurs composants de la recette démocratique Bobbio a tenu compte du système parlamentaire de gouvernement et qu’il a abordé le standard américain qui adopte la technique des élections dans deux dégrées (indirectes). Nonobstant, en comparant, les critères de Dahl se rapprochent beaucoup de ceux offerts par Bobbio. Il peut être affirmé que la déesse démocratie doit nécessairement avoir, pour son concrétisation, des élections libres et compétitives, ouvertes à l’opposition ; les principes de liberté et d’égalité les guident, la seule formule politique, jusqu’au moment, capable de sauvegarder les droits fondamentaux de l’homme.

Manoel Gonçalves Ferreira Filho souligne que « personne ne contestera aujourd’hui que la démocratie est le principe d’attribution du pouvoir adopté par le constitutionnalisme »48. La pertinence de l’ordre constitutionnel por les environnements démocratiques, à son tour, est incontestable. Elle était fortement cultivée par Hamilton, Madison et Jefferson et la Constitution américaine elle-même la soutien dans ces premières lignes, proclamant : « Nous le peuple... ». La conception de constitutionnalisme passe à imposer la participation du peuple dans la création de la Loi Majeur, de ce Statut fondamental. La limitation du pouvoir réelle est plus importante, conformant son exercice à certaines balises. La Constitution assume, ainsi, le statut de jalon

47BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de política. 2. ed. Brasília: Ed. da UnB, 1986. p. 327. 48FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do direito constitucional, cit., p. 43. Le maître ajoute à

sa pensée: «...l’établissement de Constitution est vu en similarité avec l’institution de la démocratie et celle-ci passe par l’adoption de la Constitution.»

35

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

juridique à préordonnerl’actuation des acteurs dans la scène politique, poursuivant la garantie de la liberté de l’individu dans la communauté sociale.

C’est cette idée de Constitution qui inspire le constitutionnalisme moderne émergeant des révolutions américaine et française, celles qui inaugurent un nouveau cycle et une nouvelle pratique du constitutionnalisme, d’après la litterature et renforcé par Dippel49, attribuant à la Constitution la fonction génératrice des pouvoirs. Elle les institue dans ses plus variées formes, les limite et les maintient en accord avec les balises étroites par le mécanisme de freins et contrepoids. Néanmoins, l’auteur requiert une attention spéciale à l’exigence d’une analyse historique du phénomène constitutionnaliste, un adresse sur ses plusieurs niveaux, touchant la période précédente au dix-huitième siècle mais aussi son trajectoire évolutive à partir de ce point et ao cours des deux siècles de vigence. Dans ce dernier parcours que nouvelles théories ont été construites. Malgré l’Europe avoir vécu une période tourmenteuse, marquée par deux conflits armées pendant le vingtième siècle, la Constitution et le constitutionnalisme moderne ont servi comme protection des démocraties. Aujourd’hui, on aperçoit un avancée claire dans les questions sur le constitutionnalisme ancien et son conformité aux nouvelles demandes de la pratique démocratique.

Comment le constitutionnalisme ancien, fondé selon le libéralisme et aligné aux exigences de la démocratie fragile qui a avancée peu à peu à partir du débur du vingtième siècle, pourra rester comme expression normative de l’ordre démocratique ? Par ailleurs, il faut envisager – comme souligne Cláudio Lembo – que la procédure politique « est toujours instable et remplie de surprises. Dans la politique – avertit le juriste – il n’y a pas de pause. Ce sont tous de moments de secousse. La rupture d’aujourd’hui est l’annonce de l’alliance de demain »50. Dans ce contexte marqué par les incertitudes typiques du jeu démocratique, comment traiter le constitutionnalisme et son mécanique de garanties ?

III. Le constitutionnalisme vers la contemporanéité

L’enseignement élémentaire nous met en face d’un mouvement, le constitutionnalisme qui impacte le dix-huitième siècle, et s’élargie vers le monde rapidement, recommandant et inspirant la présence de Constitutions, documents écrits, fondamentaux, qui, du piédestal de loi suprème, obligent le Pouvoir, limitant son exercice aus balises prédéterminées, sauvegardant, ainsi, les doirt de l’homme fondamentaux contra actions arbitraires. Par le retranchement du pouvoir abusive, elles protègent la liberté individuelle. Ceci est un des premiers remarques de Manoel Gonçalves Ferreira Filho au début de son cours de Droit Constitutionnel.

Dans ce sens, l’auteur continue notant l’esprit de l’idée de Constitution. Elle pénètre dans la période des révolutions du dix-huitième siècle, conformant le centre du constitutionnalisme moderne, réclamant : « (1) un corps systématique de normes ; (2) qui forment la cupule de l’ordre établi – loi suprème ; (3) contenu (de préférence) dans un document écrit et solenelle; (4) versant sur l’organisation politique de base d’un État ; (5) établie par le peuple, pour ses représentants

49DIPPEL, Horst. História do constitucionalismo moderno: novas perspectivas. Tradução de Antônio Manuel Hespanha e Cristina Nogueira da Silva. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

50LEMBO, Cláudio. Eles temem a liberdade, cit., p. 46.

36

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

extraordinaires; (6) qui ont la finalité de limiter le Pouvoir en vue de la preservation des droits de l’Homme.»51.

Fondée sur le celèbre article 16 de la Déclaration Française des Droits de l’Homme et du Citoyen, l’imposition de la séparation des pouvoirs, de la souveranéité populaire, de la défense des droits de l’homme et de l’universalité de ces principes, ce sont des caractères typiques du constitutionnalisme moderne. D’après Dippel et de la litterature juridique dans le champs du Droit Constitutionnel, il a crée de racines profondes en Europe, «malgré les nombreaux opposants et les graves marches arrières»52.

Le monde du vingtième siècle octroie des nouveaux contours au constitutionnalisme, passant a absorber les demandes d’une société en ébullition qui exige une reorientation constitutionnelle. Laissant la ligne qui n’atribuait aux textes constitutionnels que la tâche de verser sur l’organisation des pouvoirs publiques et sur le statut des libertés publiques (droits de l’homme fondamentaux)53, ignorant des sujets sociaux et économiques dans un deuxième plan, nous vérifions une émergence forte de l’idée d’insérer uns espace propre à recevoir ces droits de deuxième génération dans la Constitution54. Comme montre nôtre Direito público econômico : fontes e princípios na Constituição brasileira de 198855, au cours du vingtième siècle, l’interpretation selon laquelle le document constitutionnel ne pourrait plus se limiter au statut juridique de l’organisation politique de la société s’est consolidée, des matières concernant à l’aspect économique, social, cultural, etc. passent à la structure souveraine de la Constitution. Dans le contexte des Constitutions contemporaines, nous pouvons affirmer qu’il y a une harmonie entre plusieurs Constitutions : la politique, l’économique, la financière, la monétaire, la sociale, la de sécurité sociale, la culturale, de la famille et des communications.

Tercio Sampaio Ferraz Jr. souligne les effets de la « transformation de façon typique de l’État constitutionnel entendu comme un État de Droit burgeois ». Cette reorientation, il affirme, produit l’expansion des porcédures interpretatives et « l’application des normes (constitutionnelles) par la voie intepretative devient une réalisation de valeurs et non seulement une considération de valeur, capable d’orienter ola détermination du sens des dispositifs »56.

51FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do direito constitucional, cit., p. 23. 52DIPPEL, Horst. op. cit., p. 32. 53Voir sur la gamme de dénominations des droits fondamentaux: LEMBO, Cláudio. A pessoa: seus direitos. Barueri:

Manole, 2007. 54En accord avec les droits proclamés dans le dix-huitième siècle (droits de première génération), qui envisagent un

cercle d’autonomie impénétrable, des nouveaux droits sont insérés reconnaissant le pouvoir d’exiger de l’État certaines prestations positives (droits de deuxième génération). La protection des domaines économique et social constitue ce qui modèle les nouveaus droits. Il est une faculté de la personne revendiquer de l’État les moyens appropriés à l’efficacité de ces droits. L’idée de certitude du droit constitue la tonique qui accompagnele développement des droits de trosième génération, un nouveau complèxe dont le titulaire sont les peuples. Cette troisième génération est constituée par le droit à l’autodétermination des peuples, le droit à la paix, le droit à la sécurité, le droit de solidarité, le droit à l’environnement équilibré qui doit être preservé aussi par les nouvelles générations. Voir sur le sujet des droits fondamentaux le nôtre: HERMAN-CAGGIANO, Monica. Direitos humanos e aprendizado cooperativo. In: DE LIBERAL, Márcia Mello Costa (Org.). Um olhar sobre ética e cidadania. São Paulo: Ed. Mackenzie, 2002. (Coleção Reflexão Acadêmica, v. 1).

55HERMAN-CAGGIANO, Monica. Direito público econômico: fontes e princípios na constituição brasileira de 1988. In: Direito constitucional econômico. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2007. p. 1-26. (Coleção Culturalismo Jurídico).

56FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Direito constitucional. Barueri: Manole, 2007. p. 7.

37

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

Bien, l’émergence du dessin architectural en mutation présenté par les Constitutions des derniers soixante ans est une conséquence de l’absortion des nouvelles matières et des nouveaux doits positivés. Ce sont des textes analystiques, des documents pleins de préceptes sur une grande variété de sujets – tous traités au niveau constitutionnel. Une texture differenciée dans la construction des normes, étant volumineux le nombre de préceptes ouverts, préceptes non auto exécutoires, le législateur ordinaire doit les mettre en oeuvre. Enfin, normes, par nature, incomplètes ou programmatiques57, ont envahi l’espace constitutionnel, donnant lieu à une activité complémentaire, soit au Pouvoir Exécutif, lui imposant la création et l’installation de programmes prévues dans la Loi Majeur, soit au Pouvoir Legislatif, les attribuant un effort constant pour octroyer l’efficacité aux dispostions constitutionnelles. De plus, elles concèdent ao Pouvoir Judiciaire un large champ d’interpretation, élargissant considérablement le pouvoir de décision.

En particulier ce qui concerne la figure du Juge, une nouvelle mission est introduite. En raison du large territoire où il passe a avoir compétence – grâce à l’expansion de la sphère d’interpretation et la compétence sur le contrôle de constitutionnalité – le Pouvoir Judiciaire assume un rôle differencié. Un autre point de vue, une autre dimension passe, dans cette tâche, à considérer la responsabilité par l’interpretation constitutionnelle et, consequemment, par l’application concrète des critères d’interpretation legale résultants de l’effort de l’herméneutique. Une fonction d’orientation. Une justice constitutionnelle défensive apporte, dans le siècle XXI, la configuration d’une justice constitutionnelle d’orientation58.

Il faut reconnaître que l’élargissement du champ de compétence du Pouvoir Judiciaire est résultat de la préoccupation pour l’avenir démocratique, sensibilisant des juristes et politiques. Ce phénomène favorise le développement des proccès constitutionnels et l’élargissement du champ du contrôle de cosntitutionnalité, protégeant les règles souvéraines présentes dans la Constitution. Celle-ci, selon la doctrine du judicial review, doit être respectée, sous peine de d’enffondrement de toute la théorie construite pour le constitutionnalisme et, conséquemment, des domages irréparables aux idéaux et pratiques démocratiques.

57Il y a de ‘normes sans la densité suffisante’ dans la Constitution qui demandent l’exercice du legislateur pour lui offre effectivité et efficacité, devenant exécutables par elles-mêmes, comme a remarqué CANOTILHO, J. J. Gomes. Direito constitucional e teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2007. Leur présence a été objet d’analuse par constitutionnalistes célèbres. Au Brésil, Zeno Veloso s’appuye sur José Afonso da Silva, expliquant: « L’applicabilité de certaines normes constitutionnelles n’est pas immediate, instantanée, pleine (normes constitutionnelles d’efficacité limitée ou réduite, dans la terminologie de José Afonso da Silva), elles dépendent de réglementation postérieur, de caractère complémentaire, apportant l’interposition legilatoris. Dans certains cas, le précepte constitutionnel n’aura efficacité pleine que par la publication de actes exécutifs (normatives, comme réglementaires), spécialment dans les hypothèses des normes appelées programatiques. L’inertie de l’administrateur peut donner lieu aussi à l’inexécutabilité, à l’inefficacité de l’ordre constitutionnelle. » (VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003). Voir nôtre O controle da omissão legislativa e administrativa. Revista Ibero-Americana de Direito Público, Rio de Janeiro, v. 13, 2004, coordination de Ives Grandra da Silva Martins et Mauro Roberto Gomes de Mattos.

58C’est aussi l’avis Du Ministre Gilmar Ferreira Mendes, dans Os efeitos das decisões de inconstitucionalidade: técnicas de decisão em sede de controle de constitucionalidade, conférence Du 03 juin 2005, dans l’École Supérieure de Droit Constitutionnel – in Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo, n. 5, p. 443-464, jan./jun. 2005. Dans cette occasion, le Ministre Giolmar Mendes se prononce sur l’expérience brésilienne, appelant le modele traditionnel de contrôle de constitutionnalité de binaire.

38

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

Au cours évolutif du constitutionnalisme moderne, l’idéal démocratique et l’´cône du modèle de l’État de Droit59 ont commandé un panorama, un consensus s’est créé sur l’idée de que ‘il ne suffit pas l’établissement de garanties para la Constitution ; il faut qu’elles soient assurées’, d’après Jorge Miranda60.

Néanmoins, ce qui répugne à ceux qui proclament l’exigence de reforme du constitutionnalisme, défendant l’avis d’un néoconstitutionnalisme, consiste exactement dans cette ‘pétrification de la Constitution’, produisant un effet pervers, congelant et décourageant le développement de la démocratie elle-même. Sampaio Ferraz Jr., reprisant la términologia adoptée par Karl Loewenstein61, affirme, ainsi, la tendance actuelle d’adoption de la designation de mutation constitutionnelle quand il y a « une transformation dans la configuration réelle du pouvoir politique, de la structure sociale et de l’équilibre des intérêts, sans que cela reflète au texte de la constitution, qui se maintient intacte dans le reste. »62. En effet, l’activité interprétative élargie conduit, par plusieurs fois, à une réorientation constitutionnelle, par exemple ce qui est passé au Brésil autour du problème de l’infidélité partidaire, quand une résolution du Tribunal Supérieur Éléctoral a créé une hypothèse de perte du mandat politique non prévue par la Constitution – changeant de partie politique, laissant la sigle sous laquelle le parlamentaire ou membre de l’Exéxutif s’est élu63.

D’un autre côté, il faut vérifier l’analyse d’Elster qui restreint le rôle des Constitutions à deux fonctions : celle de tutele des droits individuels et celle de servir d’obstacle aux changements politiques d’intérêt de la majorité64. L’auteur souligne le fait de que le élément principal protecteur des droits est le principe de la légalité. Pour le constitutionnalisme, il ne réserve que la fonction de soutinen des Tribunaux Superieurs ou Cours Constitutionnelles.

Holmes, à son tour, soutinens pour le Judiciaire la compétence constitutionnelle de ‘gardien de la démocratie’. Néanmoins, cette construction « comme toute création humaine a besoin de réparations périodiques », ne pouvant pas être soumise aux ‘freins constitutionnels’65. Il rappelle, encore, de faits historiques comme celui de Toma Paine qui, en 1776, exigait liberté à chaque génération pour agir sur son propre destin. De plus, il cite les lessons célèbres de Jefferson et Madison sur les ‘générations vives’ et les ‘gouvernements des vivants’ pour soutenir sa pensée, desmystifiant le rôle de la Constitution comme élément de sauvegarde de la démocratie.

Or, les mouvements qui affirment la redéfinition du constitutionnalisme sont issus de cet avis déconstructif. Sous ce visage differencié, la Constitution recevrait de valuers de société qu’elle –

59La notion interressante construite para GARCIA DE ENTERRÍA, sur l’État de Droit, une figure qu’assure «vivre ensemble aux limites ‘de la leyes’», nonobstant, pas des lois ou normes quelconques, mais seulement celles produites «dentro de la Constitución, por la voluntad popular y con garantía plena de los derechos humanos ou fundamentales», GARCIA DE ENTERRÍA, Eduardo. Principio de legalidad, Estado material de derecho, y facultades interpretativas y constructivas de la jurisprudencia en la Constitución. Revista Espanhola de Direito Constitucional, n. 10, p. 12, 1984.

60CANOTILHO, J. J. Gomes. Contributo para uma teoria da inconstitucionalidade. Coimbra: Coimbra Ed., 1996. p. 76-77. 61LOEWENSTEI, Karl. Teoria de la Constitución. Tradução de Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona: Ariel, 1976. p. 164

et s. (Coleção Demos). ISBN 84 34417928. 62FERRAZ JR., Tercio Sampaio. op. cit., p. 9. 63Voir HERMAN-CAGGIANO, Monica. A fenomenologia dos trânsfugas no cenário político-eleitoral brasileiro. In:

LEMBO, Claudio (Coord.). O voto nas Américas. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2008. p. 219. (Coleção Culturalismo Jurídico).

64ELSTER, Jon. Introduction ao constitucionalismo y democracia. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Coords.). Constitucionalismo y democracia, cit., 1999. p. 34-35.

65HOLMES, Stephen. op. cit., p. 217 et s.

39

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

Constitution – organise juridiquement. À loi compète effectivement prescrire les politiques publiques ; aux Tribunaux, cepedant, il est attribué la responsabilité principale par rapport à la similarité de la loi aux valeurs établies pour commander la démocratie pratiquée. Le Judiciaire passe à guider le rôle de ‘gardien de la démocratie’66.

Il faut roconnaître que la société du vigtième siècle et la actuelle se présentent trop différentes par rapport aux expectatives vis-à-vis l’État. La citoyenneté a souffert une transformation profonde. L’État a gagné la responsabilité directe et inévitable de formuler les politiques publiques d’une façon à satisfaire les perspectives de la citoyenneté dans le monde contemporain complexe, marqué par les phénomènes de la globalisation et du multiculturalisme.

La question qui se pose, nonobstant, est important pour l’élasticité, fléxibilité et mutabilité qui composent la théorie nommée ‘néoconstitutionnalisme’ opérant avec des valeurs. Comment serton sauvegardés les droits fondamentaux si l’on abandonne l’idée de rigidité, de supériorité, de stabilité et de prévisibilité constitutionnelle? Quel est l’instrument et la mécanique à préserver la sécurité juridique exactement?

Le constitutionnalisme qui se penche à être contemporain – ou la théorie du néoconstitutionnalisme – assume une position non engagée avec le principe de la sécurité juridique, naissant de l’évolution de l’idée d’État de Droit, cherchant lui attribuer un renforcement, agrandissant la mission majeur d’une Constitution, une mission quelconque d’établir limites au Pouvoir.

Leu nouveau standard de la sécurité juridique, produit par des bases germaniques, où le principe est constitutionnellement protégé, a plu rapidement la doctrine et la jurisprudence européennes. En France, la notion s’est instalée en conséquence du droit communautaire en expansion et, malgré ne pas être insérée expressement dans l’ordre constitutionnel, elle se renforce et gangne espace propre dans les textes legaux, dans la doctrine et jurisprudence aussi.

Un de ses attributs centraux concerne l’indication de qualité du Droit, ce qui conduit Bertrand Mathieu à explique : « La sécurité juridique exprime, donc, un certain nombre d’exigences auxquelles le Droit doit respecter tandis qu’un instrument. Elle conditionne la réalisation de la ‘proéminence du Droit »67.

Le principe de la sécurité juridique, extrait donc du Droit Communautaire européen68, repose sur l’idée de la connaissance en avance de la loi et du traitement auquel il y sera soumis à l’application. Il admit de subprincipes, par exemple (a) de la confiance légitime, (b) de la légalité ou (c) de la qualité de la loi. Dans ce contexte, alors, l’analyste se voit en face de principes dirigés à l’exigence de qualité du Droit d’un côté, et d’une imposition de prévisibilité du Droit, de l’autre.

66Dans ce sens, voir Id. Ibid., p. 219. 67Constitution et Securité Juridique, rapport présenté dans la Xve Table Ronde Internationale, Aix en Provence,

septembre 1999, par le Prof. Bertrand Mathieu, de l’Université Paris I (Panthéon Sorbonne, avec Anne Laure Velembois, chargé de la Faculté de Droit et Sciences Politiques de Dijon).

68Ce standard, qui implique la protétion de la confiance juridique a été inséré de forme implicite dans l’ordre juridique communautaire européen par la décision Comission v. Conseil du 05.06.1973, confirmée expressement dans la décision Topfer, du 03.05.1978, où il est affirmé que la non observance de cette maxime constitue violation du traité ou de un règle de droit quelconque par rapport son application. In Recueil de Jurisprudence Constitutionnelle, p. 575 et 1019.

40

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

C’est vrai que les ‘morts’ ne doivent pas gouverner les ‘vivants’ ; mais il ne peut pas être conclu que la rigidité constitutionnelle doit être supprimée. La prévision de réforme de la Constitution – soit par la voi revisionnelle, soit par amendement – satisfait considérablement le besoin d’adaptation des Constitutions à la réalité phatique. De plus, quelle serait la structure juridique solide suffisamment pour garantir et préserver la démocratie, si l’on rompt la stabilité constitutionnelle et le concept d’État de Droit ? La fragilité et l’expansivité des procédures d’interpretation constitutionnelle ont déjà montré l’échec à l’occasion de la supprésion de la Constitution démocratique de Weimar, ouvrant les portes au nazisme. La sécurité juridique et la démocratie sont encore dépendantes du constitutionnalisme ancien.

São Paulo, janvier 2011

Referências Bibliográficas

ARENDT, Hannah. Los origines del totalitarismo. Madrid: Taurus, 1974.

______. Responsabilidade e julgamento. São Paulo: Cia. das Letras, 2004.

BOBBIO, Norberto. Teoria geral da política: a filosofia política e as lições dos clássicos. Tradução de Daniela Beccaccia Versiani. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.

______ et al. Dicionário de política. 2. ed. Brasília: Ed. da UnB, 1986.

CANOTILHO, J. J. Gomes. Contributo para uma teoria da inconstitucionalidade. Coimbra: Coimbra Ed., 1996.

______. Direito constitucional e teoria da Constituição. 4. ed. Coimbra: Almedina, 2007.

CASTANHO, Maria Augusta Ferreira da Silva. E-democracia: a democracia do futuro? 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.

DAHL, Robert. Análise política moderna. Brasília: Ed. da UnB, 1981.

______. Polyarchy: participation and opposition. 4. ed. New Haven: Yale University Press, 1973.

DIPPEL, Horst. História do constitucionalismo moderno: novas perspectivas. Tradução de Antônio Manuel Hespanha e Cristina Nogueira da Silva. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 2007.

DWORKIN, Ronald. La lectura moral de la Constitución y la premisa mayoritaria. Tradução de Imer B. Flores. México, 2002.

ELSTER, Jon. Introduction ao constitucionalismo y democracia. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Coords.). Constitucionalismo y democracia. Tradução de Monica Utrilla de Neira, México: Colegio Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública, A.C.; Fondo de Cultura Económica, 1999. ISBN 968-16-4927-3.

FERRAZ JR., Tercio Sampaio. Direito constitucional. Barueri: Manole, 2007.

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Curso de direito constitucional. São Paulo: Saraiva, 2008.

______. Partidos políticos nas Constituições democráticas. São Paulo: Ed. Revista Brasileira de Estudos Políticos, 1966.

41

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

FERREIRA FILHO, Manoel Gonçalves. Princípios fundamentais do direito constitucional. 2. ed. São Paulo: Saraiva, 2010. ISBN 978-85-02-08563-3.

GARCIA DE ENTERRÍA, Eduardo. Principio de legalidad, Estado material de derecho, y facultades interpretativas y constructivas de la jurisprudencia en la Constitución. Revista Espanhola de Direito Constitucional, n. 10, 1984.

GICQUEL, Jean. Droit constitutionnel et institutions politiques. 18. ed. Paris: Montchrestien, 2002. ISBN 2-7076-1292-8.

HABERMAS, Jürgen. A inclusão do outro: estudos de teoria política. Tradução de George Sperber e Paulo Astor Soethe. São Paulo: Edições Loyola, 2002.

HERMAN-CAGGIANO, Monica. O controle da omissão legislativa e administrativa. Revista Ibero-Americana de Direito Público, Rio de Janeiro, v. 13, 2004.

HERMAN-CAGGIANO, Monica. Direito público econômico: fontes e princípios na constituição brasileira de 1988. In: Direito constitucional econômico. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2007. (Coleção Culturalismo Jurídico).

______. Direitos humanos e aprendizado cooperativo. In: DE LIBERAL, Márcia Mello Costa (Org.). Um olhar sobre ética e cidadania. São Paulo: Ed. Mackenzie, 2002. (Coleção Reflexão Acadêmica, v. 1).

______. A fenomenologia dos trânsfugas no cenário político-eleitoral brasileiro. In: LEMBO, Claudio (Coord.). O voto nas Américas. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2008. (Coleção Culturalismo Jurídico).

______. Oposição na política. São Paulo: Angelotti, 1995.

HOFSTADTER, Richard. Great issues in american history. New York: Vintage Books, 1958.

HOLMES, Stephen. El precompromisso y la paradoja de la democracia. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Coords.). Constitucionalismo y democracia. Tradução de Monica Utrilla de Neira, México: Colegio Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública, A.C.; Fondo de Cultura Económica, 1999. ISBN 968-16-4927-3.

LAFER, Celso. A reconstrução dos direitos humanos: um diálogo com o pensamento de Hannah Arendt. São Paulo: Companhia das Letras, 1988. ISBN 85-7164-011-4.

LEMBO, Cláudio. Eles temem a liberdade. Barueri: CEPES; Manole; Minha Ed., 2006. ISBN 85-98416-17-7.

______. Participação política e assistência simples. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1991.

______. A pessoa: seus direitos. Barueri: Manole, 2007.

LIJPHART, Arend. Modelos de democracia: desempenho e padrões de governo em 36 países. Tradução Roberto Franco. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008. ISBN 978-85-200-0570-5.

LINZ, Juan J. Totalitarian and authoritarian regimes. Handbook of Political Science, v. 3, 1965.

LOEWENSTEI, Karl. Teoria de la Constitución. Tradução de Alfredo Gallego Anabitarte. Barcelona: Ariel, 1976. (Coleção Demos). ISBN 84 34417928.

MATHIEU, Bertrand. Constitution et securité juridique. In: TABLE RONDE INTERNATIONALE, 15., Aix en Provence, Sept. 1999. Avec Anne Laure Velembois.

42

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

MENDES, Gilmar Ferreira. Os efeitos das decisões de inconstitucionalidade: técnicas de decisão em sede de controle de constitucionalidade. Revista Brasileira de Direito Constitucional, São Paulo, n. 5, p. 443-464, jan./jun. 2005. Palestra proferida em 03 de jun. de2005, na Escola Superior de Direito Constitucional.

MORLINO, Leonardo. Democracia. In: PASQUINO, Gianfranco (Coord.). Manuale di scienza della política. Bologna: Il Mulino, 1986.

PALER, Octavian. Don Quijote in Est. Iasi, Romênia: Polirom, 2010. ISBN978-973-46-1632-9.

PASQUINO, Gianfranco. La democracia esigente. Bologna: Il Mulino, 1997.

PRZEWORSKI, Adam. La democracia como resultado contingente de conflictos. In: ELSTER, Jon; SLAGSTAD, Rune (Eds.). Constitucionalismo y democracia. Tradução de Monica Utrilla de Neira. México: Colegio Nacional de Ciências Políticas y Administración Pública, A.C.; Fondo de Cultura Económica, 1999. ISBN 968-16-4927-3.

______. Transition to democracy. New York: University of Cambridge Press, 1991.

RAWLS, John. Deliberative democracy. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1997.

______. Uma teoria da justiça. Tradução Almiro Pisetta e Lenita M. R. Esteves. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

RIZEK, Fernanda Montenegro de Menezes. A democracia econômica no constitucionalismo brasileiro. 2010. Dissertação (Mestrado em Direito Político e Econômico) - Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2010.

SALDANA, Javier. In: VIOLA, Francesco. La democracia deliberative entre constituionalismo y multiculturalismo. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2006. ISBN 970-32-3918-8.

SANCHES AGESTA, Luis. Princípios de teoria política. 7. ed. Madrid: Ed. Nacional, 1983.

SARTORI, Giovanni. Comparative constitutional engeneering. New York: University Press, 1994. ISBN 0-8147-7974-3.

______. Teoria de la democracia. Madrid: Alianza Universidad, 1987.

URBINATI, Nadia. Representative democracy: principles & genealogy. Chicago: The University of Chicago Press, 2006.

VELOSO, Zeno. Controle jurisdicional de constitucionalidade. 3. ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2003.

VIOLA, Francesco. La democracia deliberativa entre constitucionalismo y multiculturalismo. Tradução de Javier Saldaña. México: Universidad Nacional Autónoma de México, 2006.

ZIPPELIUS, Reinhold. Teoria geral do Estado. 2. ed. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1971.

43

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRABALHO

Normas para Apresentação

44

Cadernos de Pós-Graduação em Direito, Comissão de Pós-Graduação da Faculdade de Direito da USP, São Paulo, n. 1, 2011

CADERNOS DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DIREITO

ESTUDOS E DOCUMENTOS DE TRABALHO

Normas para Apresentação

A apresentação do artigo para publicação nos Cadernos de Pós-Graduação em Direito deverá obedecer as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)

● Titulo: Centralizado, em caixa alta. Deverá ser elaborado de maneira clara, juntamente com a versão em inglês. Se tratar de trabalho apresentado em evento, indicar o local e data de realização.

● Identificação dos Autores: Indicar o nome completo do(s) autor(res) alinhado a direita. A titulação acadêmica, Instituição a que pertence deverá ser colocado no rodapé.

● Resumo e Abstract: Elemento obrigatório, constituído de uma seqüência de frases concisas e objetivas e não de uma simples enumeração de tópicos, não ultrapassando 250 palavras. Deve ser apresentado em português e em inglês. Para redação dos resumos devem ser observadas as recomendações da ABNT - NBR 6028/maio 1990.

● Palavras-chave: Devem ser apresentados logo abaixo do resumo, sendo no máximo 5 (cinco), no idioma do artigo apresentado e em inglês. As palavras-chave devem ser constituídas de palavras representativas do conteúdo do trabalho. (ABNT - NBR 6022/maio 2003).

As palavras-chave e key words, enviados pelos autores deverão ser redigidos em linguagem natural, tendo posteriormente sua terminologia adaptada para a linguagem estruturada de um thesaurus, sem, contudo, sofrer alterações no conteúdo dos artigos.

● Texto: a estrutura formal deverá obedecer a uma seqüência: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão.

● Referências Bibliográficas - ABNT – NBR 6023/ago. 2000.

Todas as obras citadas no texto devem obrigatoriamente figurar nas referências bibliográficas. São considerados elementos essenciais à identificação de um documento: autor, título, local, editora e data de publicação. Indicar a paginação inicial e final, quando se tratar de artigo de periódicos, capítulos de livros ou partes de um documento. Deverão ser apresentadas ao final do texto, em ordem alfabética pelo sobrenome do autor.

● Citações: devem ser indicadas no texto por sistema numérico, obedecendo a ABNT - NBR 10520/ago. 2002.

As citações diretas, no texto, de até 3 linhas, devem estar contidas entre aspas duplas. As citações diretas, no texto, com mais de três linhas devem ser destacadas com recuo de 4 cm da margem esquerda, com letra menor que a do texto utilizado e sem aspas.