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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE BIBLITECONOMIA CURSO DE BIBLIOTECONOMIA Maria Jucilene Silva dos Santos NATAL/RN 2010 DA EVOLUÇÃO DOS SUPORTES DE INFORMAÇÃO E MEMÓRIA ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO: O CASO DO YOUTUBE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS DEPARTAMENTO DE BIBLITECONOMIA

CURSO DE BIBLIOTECONOMIA

Maria Jucilene Silva dos Santos

NATAL/RN 2010

DA EVOLUÇÃO DOS SUPORTES DE INFORMAÇÃO E MEMÓRIA ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO: O CASO DO

YOUTUBE

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MARIA JUCILENE SILVA DOS SANTOS

DA EVOLUÇÃO DOS SUPORTES DE INFORMAÇÃO E MEMÓRIA ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO: O CASO DO

YOUTUBE

Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pela professora Maria do Socorro de Azevedo Borba para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para a conclusão do curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

Orientadora: Profª Msc. Mônica Marques Carvalho

NATAL/RN 2010

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S237c Santos, Maria Jucilene Silva dos.

Da evolução dos suportes de informação e memória às

tecnologias de informação : o caso do you tube / Maria Jucilene

Silva dos Santos . – Natal/RN, 2010.

64 f. + i.l.

Orientadora: Mônica Marques Carvalho. Monografia (Graduação em Biblioteconomia). - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, 2010.

1. YouTube. 2. Estoques de informação e memória. 3. Memória. I.Título.

CDU: 004.738.5

RN/UF/DEBIB.

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MARIA JUCILENE SILVA DOS SANTOS

DA EVOLUÇÃO DOS SUPORTES DE INFORMAÇÃO E MEMÓRIA ÀS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO: O CASO DO

YOUTUBE

Monografia apresentada à disciplina Monografia, ministrada pela professora Maria do Socorro de Azevedo Borba para fins de avaliação da disciplina e como requisito parcial para a conclusão do curso de Biblioteconomia do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

MONOGRAFIA APROVADA EM ___/___/2010

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________________ Profª. Msc. Mônica Marques de Carvalho

(Orientadora)

__________________________________________________________ Profº. Esp. Francisco da Assis Noberto Galdino

(Membro)

__________________________________________________________ Msc. Jacqueline de Araújo Cunha

(Membro)

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Dedico esta monografia a Deus e a minha família, que muito me apoiou em toda a minha caminhada estudantil.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, sou grata a Deus, meu criador, pela certeza de estar

sempre próximo a mim.

A minha mãe, D. Rosangela, que me incentivou a prestar vestibular e

ingressar na Universidade; a meu pai, Erivaldo, por ter sido meu grande e

melhor professor durante toda a minha vida; ao meu irmão, Evandro, que me

atura todos os dias, quando chego estressada em casa.

Ao meu namorado, Anderson, que muito me fez sorrir nos momentos

de aflição e que me incentivou a não desistir de escrever esta monografia.

Aos amigos que conheci e aprendi a amar no decorrer desses quatro

longos/curtos anos, em especial, (por ordem alfabética), André, Caio,

Eduardo e Glessa, e a toda turma de 2007.1.

A um grupo recente, mas que muito me alegro de poder conhecer

melhor, Eudilene e Marcleane, que junto comigo e Glessa, formam as

PNLDettes.

A todos os professores do DEBIB que me ajudaram a galgar essa

etapa tão importante e fundamental em minha vida acadêmica e pessoal, em

especial, agradeço a minha orientadora, professora Monica, que muito me

auxiliou nos momentos de angústia e desespero.

A todos vocês, meu muitíssimo

OBRIGADA

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RESUMO

As Tecnologias de Informação e Comunicação têm possibilitado o aumento da produção de informações em um espaço de tempo cada vez mais curto, fazendo-se necessário então analisar, sob outra ótica, para além da tecnologia em si, o papel dessas tecnologias na sociedade, em especial, no que tange à temática memória. Dessa forma, esta pesquisa, de cunho exploratório, propõe-se analisar o YouTube enquanto possibilidade de suporte informação e memória e especificamente entender a evolução da Sociedade da Informação e da Tecnologia da Informação, o conceito de memória e tecer um breve histórico sobre algumas dessas tecnologias, que têm participado na formação dos estoques de informação e memória. Busca identificar de que forma o YouTube tem contribuído na formação dos estoques informacionais e de memória e como a sociedade tem se utilizado das tecnologias de informação e comunicação para externalizar e transmitir a sua memória. Para tanto, utiliza-se da metodologia de levantamento bibliográfico, em meio analógico e digital, em livros e revistas. Considera ao final que o YouTube tem contribuído para a formação desses estoques, permite processar e registrar de informações e memória, bem como, armazená-los para posterior consulta e transmissão fazendo com que haja o registro e posterior recuperação da informação através dos tempos.

Palavras-chave: Tecnologia da informação. Memória. YouTube.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Página inicial do YouTube...............................................................54

Figura 2 - Me at the zôo....................................................................................55

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

Arpanet - Advanced Research Projects Agency Network

ENIAC - Electrical Numerical Integrator and Computer

FGV - Fundação Getúlio Vargas

IL - Information Literacy

PC - Personal computer

TIC - Tecnologia da Informação e Comunicação

UFRN - Universidade Federal do Rio Grande do Norte

Web/ WWW - World Wide Web

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .............................................................................................. 11

2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO ................................................................. 15

3 MEMÓRIA ..................................................................................................... 28

4 A EVOLUÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE REGISTRO ................................. 38

5 VOCÊ NO TUBO ........................................................................................... 53

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................... 60

REFERÊNCIAS ................................................................................................ 63

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1 INTRODUÇÃO

O homem, como um ser intrinsecamente social, tem necessidade de

expressar seus pensamentos e comunicar-se com outros. Para isso ele desenvolveu

inúmeras habilidades inerentes a si, como a fala e gestos, de forma a criar laços de

afeto e redes de socialização.

Contudo, com a evolução da espécie, outras necessidades foram sendo

descobertas, entre elas, a necessidade de registrar as informações cotidianas, mas

que eram imprescindíveis para a sobrevivência e continuação da espécie, então o

ser humano cria meios que possibilitam que os conhecimentos sejam passados

adiante, elaborando tecnologias, mesmo rústicas para suprir essa necessidade.

Com o advento de tecnologias de registro e suporte de Informação, outras

necessidades de Informação são despertadas, causando um efeito de “bola de

neve”, isto é, quanto mais informações são transmitidas e acessadas mais

informações são produzidas, fazendo-se necessário que as tecnologias existentes

fossem aperfeiçoadas e outras fossem elaboradas, num processo evolutivo

contínuo, dessa forma, alterando a vida das sociedades tanto no momento presente

quanto no futuro.

As Tecnologias de Informações e Comunicação (TICs) procedem, por assim

dizer, das primeiras invenções humanas para registrar informações e comunicar.

Elas são o produto de milhares de anos de evolução, que se iniciou no momento que

o primeiro homem registrou para outro aquilo que ele possuía de conhecimento.

Esse processo evolutivo ainda está em andamento, não se sabendo ao certo

aonde ele irá levar. Um período de incerteza, mas principalmente, de muita euforia

tecnológica está em curso. Parecendo, às vezes, que se está descendo correnteza

abaixo num bote, sem controle de direção e velocidade. Prever as implicações,

mesmo que para um futuro próximo, de tanto desenvolvimento torna-se arriscado,

pois, com a rápida transposição, barreiras, que eram consideradas intransponíveis,

como o uso de computadores pessoais em larga escala, já foram removidas e tantas

outras em processo de remoção, como exemplo a proposta do Japão em usar a

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holografia para transmitir a copa do mundo de futebol em 2022. Para uns, um filme

de ficção científica, para outros uma realidade que já chegou.

Além das inquietações futuras de ordem de desenvolvimento tecnológico, as

TICs já vêm influenciando, em dias presentes, as formas como as pessoas se

expressam, agem, se comunicam, interagem umas com as outras e com o ambiente

onde vivem. A externalização da sua cultura se dá de forma totalmente díspare do

início do século XX e de todas as outras eras (desde a Idade Antiga ao início da

Idade Contemporânea).

Isso ocorre devido ao alargamento do uso da Internet e do computador,

anteriormente de uso exclusivo militar, para o mercado doméstico, causando um

aumento na quantidade e variedade de informações produzidas, disponibilizadas,

acessadas e transformadas. Para tanto, realizava-se o processo de digitalização das

informações manuscritas. Contudo é preciso acentuar que apenas a partir dos anos

2000, com o aparecimento da Web 2.0 e com o surgimento das redes sociais e

outros canais de comunicação social, uma nova instância de manuseio da

informação foi possibilitada.

Informações das mais variadas temáticas e formas são criadas e divulgadas

diretamente em ambiente virtual. Milhares de pessoas postam em seus diários

virtuais comentários, fotos e vídeos de seu cotidiano e interesses. Já outras milhares

assistem e postam, em sites, como o YouTube, vídeos que podem ser de shows de

bandas de garagem, momentos divertidos a flagrantes de acidentes. Encontra-se de

tudo ou quase tudo nesse “tubo”, um reflexo audiovisual de uma sociedade

globalizada e ainda assim tão heterogênea. Tanta informação registrada e disponível

sobre a realidade social suscita um momento ímpar e uma necessidade de

pesquisas envolvendo a temática Memória.

Sendo assim, diante do panorama descrito acima indagamos como o

YouTube poderia contribui na formação dos estoques informacionais e de memória?

Como a sociedade tem se utilizado das tecnologias para externalizar e transmitir a

sua memória?

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Diante disso, a pesquisa visa analisar o YouTube enquanto possibilidade de

suporte informação e memória.

Especificamente, a pesquisa visa realizar uma contextualização desse

fenômeno, endereçando assuntos tais como a evolução da Sociedade da

Informação e da Tecnologia da Informação; o conceito do que vem a ser memória

para algumas áreas de conhecimento; o desenvolvimento de algumas Tecnologias

de Informação que contribuíram para formação de estoques de informação e

memória; e o YouTube como suporte de memória.

Para tanto, propõe-se uma pesquisa que ressalte e busque compreender a

convergência cultural que se dá por meio do Youtube, e que em contrapartida

também é motivada por ele, despertando novas possibilidades de criação e

disseminação de informações e, por conseguinte da memória individual e coletiva.

Para a consecução deste projeto adotou-se uma metodologia de pesquisa de

cunho exploratório em acervo bibliográfico, em livros e periódicos, bem como em

meio digital.

A motivação que levou a pesquisadora a explorar a memória sob a

perspectiva da Biblioteconomia iniciou-se no ano de 2009 com uma palestra do

professor Ulpiano durante o seminário “Universidade, Memória e Sociedade”

realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Já em relação

ao interesse pelas informações audiovisuais, deveu-se à palestra da diretora do

Museu da Pessoa, a qual expôs o impacto que os vídeos vêm causando na

sociedade, em especial, com a presença do YouTube.

Dessa forma, a monografia está organizada em capítulos, com vistas a

contribuir para o posterior desenvolvimento de pesquisas que abordem essa

temática, uma vez que, apesar de ferramentas de Web 2.0 estarem presentes no

cotidiano do bibliotecário e das bibliotecas, o uso de algumas, dentre elas o

YouTube, permanecem ainda por ser exploradas de maneira mais aprofundada.

Assim sendo, o capítulo dois aborda a evolução da Sociedade da Informação,

desde a Antiguidade até a Idade Contemporânea, ressaltando-se que a informação

e o conhecimento, mesmo que em escala menos visível, já desempenhavam um

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papel ativo para o desenvolvimento social, político e econômico, em cada uma

dessas Eras, em maior ou menor grau.

No capítulo três será tratada a temática da memória, em diversas áreas do

conhecimento, dentre elas, a psicologia, história e Ciência da Informação,

elencando-se alguns conceitos-chave e tipos conforme cada disciplina, percebendo-

se semelhanças e discordâncias entre os conceitos. Discorre ainda sobre o papel da

memória para a sociedade tanto em nível individual quanto coletivo.

O capítulo quatro versa sobre os estoques de informação e memória e faz um

apanhado histórico da evolução de algumas Tecnologias de Informação e

Comunicação que contribuíram na formação de estoques de memória.

O quinto capítulo ressalta o papel do YouTube como um formador de

estoques de informação e memória, abordando questões relativas às inquietações

pertinentes à Sociedade da Informação, no que tange à sua percepção enquanto

repositório digital. Ao final são feitas as últimas considerações

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2 SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO

Vive-se em um tempo marcado pelo constante processo de mudanças

motivadas pela velocidade com a qual as notícias são transmitidas ao redor do

globo, sendo possível acompanhá-las em tempo real, independentemente da

localização geográfica onde elas aconteçam. Tudo isso na comodidade do lar, sem

sair de casa, transformando o mundo em uma grande “aldeia global”. No início do

Século XX, há apenas cem anos, isso seria algo inimaginável. Outro aspecto que

marca esta sociedade diz respeito à velocidade com a qual as inovações são criadas

e a rapidez com que elas se difundem em todo o mundo, rompendo-se com as

barreiras geográficas, processo conhecido como Globalização. Muita se tem

comentado acerca do que vem a ser esse termo. Para Prado (2000, p. 4)

o termo globalização veio a ser empregado principalmente em dois sentidos: um positivo, descrevendo o processo de integração da economia mundial; e um normativo prescrevendo uma estratégia de desenvolvimento baseado na rápida integração com a economia mundial. Globalização significa coisas distintas para diferentes pessoas. Definimos globalização como o processo de integração de mercados domésticos, no processo de formação de um mercado mundial integrado.

Vê-se então que o termo Globalização, em um primeiro plano, é utilizado para

definir o processo de “integração da economia”, mas com o advento das Tecnologias

da Informação e Comunicação (TICs) esse conceito se estende, passando a ser

aplicado também às relações interpessoais.

Devido à importância que a informação alcançou como motor de

desenvolvimento social, econômico, cultural e político desde o período pós-Segunda

Guerra, classifica-se essa nova conjuntura como Sociedade da Informação, o que

leva Wurmann (1991, p. 43) a declarar que “a palavra informação tornou-se a

palavra mais importante da nossa década, tornou-se o sustento da nossa vida e do

nosso trabalho”. Nessa sociedade, o que muda é que não mais a terra ou a matéria-

prima, bens tangíveis, são tidos como o recurso econômico básico, mas a habilidade

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de inovação, a capacidade de inventar e reinventar meios, produtos ou serviços, que

passa a configurar como capital de giro (DRUCKER, 1999), pois o “valor da

informação [...] consiste precisamente na possibilidade prática de aplicar um

conhecimento a uma demanda concreta” (CAPURRO, 2003)1. Isso tem causado

rápidas alterações na forma como as pessoas interagem e percebem o meio. Na

Revolução Industrial vigorava a produção em massa de artigos, desde carros e

roupas até mesmo de pensamento, todos deviam encaixar-se em um padrão, como

numa linha de produção.

Em um século movido pela informação e pelo conhecimento a sociedade se

caracteriza pela criação de “nichos” ou “tribos” (reunião de pessoas que têm

interesses em comum), nos quais o que marca é a valorização do “eu”, do indivíduo

enquanto ser único. Exigem-se artigos que reflitam a personalidade de cada um e

(do grupo), gerando uma demanda por produtos e serviços personalizados,

diferenciados. O mesmo ocorre com as pessoas, valorizam-se indivíduos que

pensem “fora do quadrado”, criativos e que consigam dar forma e aplicar seus

conhecimentos na resolução de problemas e questões que a eles sejam propostos.

Toffler (1995) denomina essa nova ordem mundial também como “Terceira

Onda” e Drucker (1999) como “Sociedade Pós-Capitalista” e “Sociedade do

Conhecimento”. Existem algumas inquietações em relação se o termo mais coerente

seria Sociedade do Conhecimento ou da Informação. Nesse sentido, Demo (2000, p.

37) afirma que “utiliza-se a nomenclatura da „sociedade do conhecimento‟

praticamente como sinônimo de „sociedade da informação‟, mesmo que esta última

noção contenha, como mostra com grande verve Castells, ainda a perspectiva da

„rede‟”, pois um dos aspectos que marcam essa sociedade é aplicação cada vez

maior das tecnologias, com destaque para a Internet, no cotidiano, que interligam

não só computadores, mas também pessoas. O termo Sociedade do Conhecimento

estima o conhecimento e o termo Sociedade da Informação, o fluxo de informações

advindo da relação entre as pessoas.

Tais questões são por vezes levantadas em decorrência do desconhecimento

desses conceitos, acarretando uma relação de igualdade entre eles, levando-se a

1 Documento online não paginado.

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acreditar, erroneamente, que tais palavras sejam sinônimas, uma vez que a

informação é o insumo básico do conhecimento, isto é, a informação propicia a

geração de conhecimento e vice-versa. Portanto, para a melhor compreensão

desses termos faz-se necessário observar algumas definições.

Para Setzer (1999, grifo do autor)2, conhecimento pode ser definido como

[...] uma abstração interior, pessoal, de alguma coisa que foi experimentada por alguém. [...] conhecimento está associado com pragmática, isto é relaciona-se com alguma coisa existente no „mundo real‟ do qual temos uma experiência direta.

Conhecimento pode ser concebido como o fruto da inserção da informação

em um contexto que depois de vivenciada é processada e internalizada, passando a

fazer parte de um estoque de experiências de um indivíduo.

Nonaka e Takeuchi (1997, apud TEIXEIRA FILHO, 2000, p. 23)

complementam afirmando que existem dois tipos de conhecimento, o tácito e o

explícito. Para eles,

o conhecimento tácito é aquele que as pessoas possuem, mas não está descrito em nenhum lugar, residindo apenas em suas cabeças. O conhecimento explícito é aquele que está registrado de alguma forma, e assim disponível para as de mais pessoas.

O conhecimento explícito, ao contrário do tácito, pode ser gerido e transmitido

às demais pessoas através da informação, configurando, de acordo com o senso

comum, como o conceito mais empregado de informação, no sentido de

conhecimento comunicado ou de notícia.

Entretanto, como o termo informação é muito debatido por vários autores e

por áreas distintas ainda não é possível chegar a um consenso do que vem a ser

informação. Bogdan (apud CAPURRO, 2007, p. 160) faz um breve apanhado de

alguns conceitos utilizados por áreas, tais como a Física, e na Teoria da

Comunicação de Shanon e Weaver. Ele ressalta que

2 Documento online, não paginado.

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a noção de Informação tem sido usada para caracterizar uma medida de organização física (ou sua diminuição, na entropia), um padrão de comunicação entre fonte e receptor, uma forma de controle e feedback, a probabilidade de uma mensagem ser transmitida por um canal de comunicação, o conteúdo de um estado cognitivo, o significado de uma forma lingüística, ou a redução da incerteza.

Percebe-se então o caráter multifacetado e por vezes escorregadio que a

informação possui no que tange à sua conceituação e aplicabilidade.

Le Coadic (2004, p. 4), em uma definição clássica para a Ciência da

Informação, conceitua informação como sendo “um conhecimento inscrito

(registrado) em forma escrita (impressa ou digital), oral ou audiovisual, em um

suporte. A informação comporta um elemento de sentido”. Para Kuhlen (apud

CAPURRO, 2003, p. 9)3, “ informação é conhecimento em ação”, é a aplicação

prática do conhecimento para a resolução de um problema. Portanto, para se gerar

conhecimento é preciso informação e para se gerar informação é preciso

conhecimento. Corroborando a afirmação de McGarry (1999, p. 30, grifo do autor),

que considera conhecimento como sendo “algo teórico e mais generalizado” e

informação “como conhecimento potencial”, Oliveira (1999, p. 99, grifo do autor)

destaca o caráter social da informação que está implícito em sua etimologia. “A

palavra básica informare, do latim, tem a idéia de moldar material. [...] Assim, há

definições de informar no sentido de „moldar a mente‟, ou de „modelar ou instruir a

mente‟.

Destaca-se ainda, o papel social da informação, pois em uma sociedade

marcada pela a informação e que vem reforçando a máxima de que “Informação é

poder”, no sentido de que quem detém o domínio sob os meios de comunicação de

massa, principais responsáveis por “moldar‟ os estoques de informação de grande

parte das pessoas como a televisão, o rádio, e mesmo a Internet4, tenta manipular a

informação (e as pessoas) de forma a assegurar seu domínio e poder.

3 Documento online, paginação dada pelo autor.

4 Os grandes conglomerados da comunicação têm convergido para a Internet, tentando utilizá-la

como uma extensão dos meios de massa.

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O que suscita um paradoxo, pois pessoas criativas são valorizadas como um

„bem‟ preciso num ambiente que favorece o desenvolvimento de pessoas que não

possuem discernimento nem para pensar? E como pensar se as informações

disponíveis para maioria da população advêm desses meios? Já que é algo bastante

ressaltado que o acesso à informação possibilita ao indivíduo transformar-se a si e a

seu meio, como fazer isso acontecer se as informações que chegam (quando

chegam) à parcela da população carente são manipuladas e servem apenas como

“pão e circo”? Essas são algumas questões que têm emergido nessa nova

conjuntura, para advertir que essa sociedade, assim como sua predecessora,

também possui seus pontos fracos e que nem tudo é um mar de flores.

No que tange ao campo econômico, conforme ressalta Schwartz (2000), a

nova economia funciona com base em redes de conhecimento e “[...] a produtividade

econômica é alimentada essencialmente, não mais pela força física do trabalhador,

mas por sua inteligência [...]” (DEMO, 2000, p. 2). Estudos recentes realizados pela

Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Brasil (ABRANTES, [2010])5 e pelo

Departamento do Trabalho dos Estados Unidos (PESQUISA..., [2007?])6 que

abordam previsões do mercado de trabalho para os próximos anos, em seus

respectivos países, comprovam essas afirmações. A FGV destaca que, em 2015, as

áreas ligadas ao setor de petróleo, petroquímica, meio ambiente, construção civil e

engenharia serão as que obterão maior crescimento; e o Departamento do Trabalho

destaca a saúde e tecnologia da informação como as áreas mais promissoras, em

2018. Esse processo de migração das profissões do “chão da fábrica” para a “[...]

prestação de serviços e manipulação de símbolos”, já era identificado por Toffler

(1980, p. 186) nas décadas de 1970 e 1980, sendo alargado nas décadas seguintes.

De acordo com Araújo (1996, p. 5), esse processo de migração é explicado pelas

mudanças ocorridas nas bases da estrutura da Sociedade Industrial para a

Sociedade da Informação, pois

[...] a base teórica desta sociedade se direciona a um só ponto: a substituição da produção industrial pela Informação, da experiência profissional pela ciência, do trabalho operário pelo trabalho dos engenheiros. Assim, estaríamos

5 Documento online, sem paginação.

6 Documento online, sem paginação.

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presenciando uma substituição das atividades industriais – fundada na manipulação da matéria – por atividades fundadas no tratamento da Informação – tal como aconteceu no processo de substituição da agricultura pela indústria. Este processo de substituição se caracterizaria pela valorização dos ofícios informacionais. [...] a Informação adquire valor econômico, pois se parte do pressuposto de que a Informação gera conhecimento e esse, quando acumulado, possibilita a produção científica e tecnológica, responsável pela geração de bens e serviços.

Esse fato muitas vezes leva a pensar, erroneamente, que a relação do

homem com a informação é algo recente e que a informação só agora passou a ser

utilizada. Mas ao contrário do que se imagina a informação e o conhecimento

sempre estiveram impulsionando o desenvolvimento da humanidade, na medida em

que a civilização humana tem se utilizado de conhecimentos e, em contrapartida de

informações, ao longo da sua História para transformar o meio no qual vive com o

intuito de melhorar e facilitar a sua interação com esse meio. (LASTRES; ALBAGLI,

1999; FREIRE; FREIRE, 2009). O que muda na relação do homem com a

informação não é a maneira de utilizá-la e sim a maneira como esta passa ser vista

e valorizada enquanto um bem de produção.

Pode-se perceber essa relação através História. Analisando-se alguns pontos

de vista acerca da evolução da sociedade, percebe-se que as mudanças foram

propelidas pela informação e pelo conhecimento e, posteriormente aceleradas e

difundidas pelas TICs.

A História comumente divide a evolução da sociedade humana em cinco

momentos: Pré-História, Antiguidade, Idade Média, Idade Moderna e Idade

Contemporânea. Durante o período da Pré-História o que impulsionou o início da

vida em sociedade foi à descoberta do fogo e da agricultura e da pecuária, pois

essas descobertas possibilitaram que os Homens deixassem de ser nômades e

passassem a ser sedentários pondo fim a Pré-História e dando início a Antiguidade.

No período Antigo, duas potências se destacam: Grécia e, posteriormente, Roma.

Ambas tiveram no regime escravocrata como força motriz para realização do

trabalho. Hunt e Sherman (1986, p. 11) declaram que “[...] cerca de 80% da

população compunha-se de escravos. Esses escravos executavam todo trabalho

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manual e, inclusive, grande parte do trabalho clerical, burocrático e artístico dessas

sociedades”, tendo como base de sua economia a agricultura.

Os autores supracitados alegam também que “a escravidão deu origem

também à noção de que todo trabalho era indigno. Essa noção desestimulou a

atividade inventiva e, no período romano, limitou o progresso tecnológico,

contribuindo, assim, para a estagnação da economia.” (HUNT; SHERMAN, 1986, p.

11). Já Drucker (1999, p.9) explica essa resistência da aplicação do conhecimento

ao trabalho, pois o conhecimento está diretamente ligado a ser, não significando

“capacidade para fazer. Não significando utilidade”.

Se o período Antigo teve seu desenvolvimento retardado pela falta de

aplicação do conhecimento ao trabalho, na Idade Média ocorre ao contrário. Nesse

período, que durou cerca de mil anos para acabar, a forma de poder vigente foi o

feudalismo, “no qual o servo, isto é, o camponês, recebia proteção do senhor do

feudo que, por sua vez, devia lealdade e era protegido por um senhor mais forte

[...]”. (HUNT; SHERMAN, 1986, p. 12). Drucker (1999) e Lévy (2000) concordam que

foi a invenção do estribo que condicionou o surgimento do feudalismo, pois “[...]

permitiu o desenvolvimento de uma nova forma de cavalaria pesada, a partir da qual

foram construídos o imaginário da cavalaria e as estruturas políticas e sociais do

feudalismo.” (LÉVY, 2000, p. 25).

Outra inovação tecnológica que condicionou este período histórico foi a

substituição do sistema de rodízio de cultura em dois campos pelo sistema de

rodízio em três campos. Conforme Hunt e Sherman (1986, p. 23) este foi o “avanço

tecnológico mais importante ocorrido na Idade Média.” Isso acarretou no aumento na

produção agrícola, sendo considerado pelos referidos autores um dos fatores que

influenciaram o declínio do sistema feudal, pois permitiu o aperfeiçoamento da

tecnologia agrícola e dos meios de transportes, ocasionando um aumento no

crescimento do comércio e dos centros urbanos. Com a transferência do foco

econômico para o comércio,

Várias cidades comerciais e industriais foram fundadas em decorrência da expansão do comércio, sobretudo, o comércio alonga distância. O crescimento dos centros urbanos, submetidos à dominação dos mercadores capitalistas,

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provocou uma série de mudanças importantes, tanto na indústria quanto na agricultura. Tais mudanças, sobretudo as que afetaram a agricultura, resultaram no enfraquecimento e, finalmente, na dissolução completa dos vínculos tradicionais que mantinham a coesão da estrutura social e econômica da sociedade feudal. (HUNT; SHERMAN, 1986, p. 25).

Vale salientar ainda que durante a Idade Média outra importante inovação foi

desenvolvida, os tipos de móveis de Gutemberg. Acerca desse tema Freire e Freire

(2009, p. 12, grifo do autor) discorrem explanando que

[...] Apesar da invenção da imprensa não ter provocado diretamente a expansão da visão de mundo que viria a chamar-se Iluminista, certamente fez com que surgissem as condições para eu essa luz se materializasse, uma vez que a Informação, contida nos diversos suportes impressos, pôde circular com a maior facilidade pela sociedade. Esse momento da História foi muito importante para o desenvolvimento das forças produtivas na sociedade capitalista, pois gerou a necessidade de criação de novos conhecimentos que foram utilizados na primeira revolução industrial (no século XVI), principalmente pela indústria têxtil.

Findo esse período tem-se início a Idade Moderna, marcada pelo

“renascimento intelectual ocorrido no século XVI, responsável pelos progressos

científicos de utilidade prática imediata, sobretudo para a navegação.” (HUNT;

SHERMAN, 1986, p. 25). Tinha na indústria manufatureira e o artesanato, além do

comércio, como forma de economia. Nessa época, a fabricação de produtos era

realizada de forma artesanal e controlada pelas guildas, associações de artesãos

especializados em determinada arte, detinham o conhecimento necessário para a

confecção de um artigo.

Pode-se ver nitidamente a relação do homem com a informação e com o

conhecimento, entretanto, eles não eram vistos como algo útil, uma vez que se

entendia que o conhecimento é inerente ao ser e que só poderia ser aprendido

através da prática e da observação, pensamento que dava mais poder para as

guildas. (DRUCKER, 1999).

Devido ao „enclausuramento‟ do conhecimento apesar das inovações

ocorreram demora-se muito tempo para atingir a outros locais e também para se

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criar novas aplicações desse conhecimento. Esse panorama se altera com a

Primeira Revolução Industrial, a qual ocorre no fim do período.

Durante a Idade Contemporânea a Revolução Industrial ganha força

delineando novos padrões mundiais e dando início à globalização com o advento

das máquinas às Industriais. O desenvolvimento do motor a vapor de James Watt

possibilitou a produção de bens de consumo nunca antes alcançado pela

manufaturas. A primeira indústria a aderir à utilização das máquinas foi a Indústria

Têxtil. Se antes o alfaiate era responsável por criar roupas sob medida para uma

pessoa ditando o tempo de produção e valor do artigo, com a implantação do

maquinário produzia-se roupas em massa em um curto espaço de tempo e a um

valor mais acessível. A Revolução Industrial causou transformações tanto no campo

econômico como no social da época. Não se restringindo, contudo a esse espaço de

tempo, pois conforme Freire e Freire (2009, p. 13),

Isso merece ser destacado, uma vez que foi nesse período histórico que foram iniciadas as bases da nossa sociedade atual, que começou a ser construída quando as associações científicas foram criadas e os jornais passaram a disseminar „ Informação, favorecendo o conhecimento cientifico‟ para todos.

Com o aumento da quantidade de conhecimento científico sendo gerado as

inovações tecnológicas se tornam cada vez mais presentes e corriqueiras na

sociedade. Passa então a haver um crescimento inversamente proporcional entre a

quantidade de inovações geradas e o espaço de tempo para a criação de outras

novas. Ocorrendo processo semelhante com a informação e o conhecimento. Esse

processo é acentuado com o início da Segunda Guerra Mundial, pois os países que

estavam no cerne do combate perceberam que necessitavam de informação para a

criação e desenvolvimento de estratégias de produção que lhes permitissem ganhar

a guerra. (FREIRE; FREIRE, 2009). Sendo assim, tais países passam a recursos

tanto financeiros quanto humanos nessa área, dando início à Indústria da

Informação. Diante disso, Freire e Freire (2009, p. 14) destacam que

[...] foi empregado um grande número de pessoas que passaram a trabalhar em processos de coleta, seleção, processamento e disseminação de informações, que fossem relevantes para as estratégias de guerra. Um grande número

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de informações dava conta das inovações produzidas pelos cientistas, surgindo a necessidade de serem criadas máquinas que pudessem armazenar o número crescente delas, bem como tecnologias intelectuais para sua organização e disseminação.

McGarry (1999, p. 120) salienta que “as guerras impulsionam o

desenvolvimento tecnológico”, o que explica os avanços tecnológicos que marcaram

essa época, em especial, na indústria química e nas telecomunicações (FREIRE;

FREIRE, 2009), com a criação dos mainframes, os primeiros computadores

responsáveis por armazenar e processar as informações produzidas e da Arpanet,

rede descentralizada e interconectada que viabilizava a troca de informações entre

os cientistas das forças armadas ao redor do globo, resultando numa “explosão de

informação”, isto é, o aumento da quantidade de dados e informações produzidas.

Nesse contexto, as tecnologias empregadas nos combates era o que se tinha

de mais avançado exigindo, assim, um nível de instrução mais avançado por parte

do soldado para o seu manuseio. Entretanto, os soldados eram muitas vezes

operários de fábrica que não possuíam tal requisito, pois para se trabalhar em uma

fábrica o nível de estudos era básico, requerendo por vezes apenas a leitura e

escrita funcionais. Precisava-se então capacitar a sociedade para fazer uso dessas

tecnologias, acarretando na necessidade da sociedade civil em ter acesso à

informação através da educação, causando uma revolução na educação desde os

métodos utilizados até a sua importância para a sociedade.

Ao término da guerra, tais tecnologias passaram a ser progressivamente

disseminadas para o meio empresarial e, posteriormente, para o meio doméstico. Se

na sociedade anterior à Segunda Guerra não era necessário saber ler e escrever, na

sociedade do Pós-Guerra tornou-se imprescindível. A informação assume então um

aspecto básico para o desenvolvimento social e cognitivo do indivíduo, enfatizando-

se o direito ao acesso e uso da informação pela população como elemento básico

para o pleno exercício da cidadania.

O aumento exponencial da quantidade de informações ocasiona ainda outras

complicações, pois diante do que Ascott (apud LÉVY, 2000) caracterizou em

analogia bíblica como “Segundo Dilúvio”, a quantidade de informações produzidas

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excede e muito a capacidade humana de absorvê-las e de apreendê-las, causando

o que Wurmann (1991, p. 38) chama de “ansiedade da informação”, que ele define

como sendo “o resultado da distância cada vez maior entre o que compreendemos e

o que achamos que deveríamos compreender”. Tem-se tanta informação que por

vezes os indivíduos não sabem nem o que fazer com ela ou se realmente ela atende

as suas necessidades. Suscitando outro problema, como saber onde encontrar uma

informação realmente útil e pertinente num mar tão vasto? Para o referido autor

“grande era da informação é, na verdade, uma explosão da não-informação – uma

explosão de dados.” (WURMANN, 1991, p. 43, grifo do autor), o que acarreta o

surgimento de uma nova capacidade mister de “sobrevivência” nesses dias

tempestivos que só têm provocado mais tormentas no mar das informações. Tal

capacidade é nomeada de information literacy7 (IL). Através dela, os indivíduos

podem desenvolver meios de “navegar” nesse mar sem ir a pique. A IL pode ser

concebida como uma habilidade de localizar, acessar e utilizar a informação de

maneira pró-ativa. Dudziak (2003, p. 28) a define como “processo continuo de

internalização de fundamentos conceituais, atitudinais e de habilidades necessário à

compreensão e interação permanente com o universo informacional e sua dinâmica,

de modo a proporcionar um aprendizado ao longo da vida”. Dentro dessas

habilidades, torna-se necessário também o domínio das TICs e da Internet, uma vez

que a maior parte das informações geradas ou são produzidas diretamente em

formato digital ou são digitalizadas e disponibilizadas na web ou então é possível

através da rede encontrar locais físicos que detenham a informação desejada.

Salienta-se que o boom informacional iniciado com a criação do computador e

da Arpanet, avó da Internet, foi desencadeado, sobretudo, pelo desenvolvimento de

novas tecnologias, conhecidas com Tecnologias da Informação e Comunicação.

Para Zuboff (apud OLIVEIRA, 1999, p. [8]), o termo Tecnologia da Informação

[...] é uma denominação que reflete a convergência de diversas correntes do desenvolvimento tecnológico, incluindo microeletrônica, ciência da computação, telecomunicações, engenharia de software e análise de sistemas. É uma tecnologia que aumenta incrivelmente a habilidade para registrar, armazenar, analisar, e transmitir Informação, tendo

7 Há várias traduções e adaptações desse termo inglês para o português, como competência em

informação ou informacional, letramento em informação ou informacional, tendo a autora preferido adotar, portanto, o termo em língua inglesa.

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como características a flexibilidade, integridade e a não existência de limites geográficos, bem como, a possibilidade de manipular grandes volumes de Informação.

As TICs têm proporcionado às pessoas possibilidades de interação e

comunicação que não eram possíveis nem através das mídias tradicionais como o

correio e o telégrafo nem pelas mídias de massa como a televisão e o rádio, pois

tais meios permitiam a comunicação entre indivíduo e indivíduo, no caso do correio e

telégrafo; e nos meios de massa restringia-se o processo de comunicação, o papel

de emissor a um indivíduo, o qual envia mensagens a vários receptores. (LÉVY,

2000). Com as TICs, cria-se um novo dispositivo comunicacional8, a comunicação

todos-todos, do qual citam-se o mundo virtual e a informação em fluxo9 como

exemplos, por permitirem que vários emissores se comuniquem e interajam com

vários receptores.

Nessa direção à Globalização, não apenas de mercados, mas principalmente,

de pessoas. Araújo (1996, p. 3) expressa bem esse conceito ao afirmar que

esta super-rede [infovia] de computadores, uma vez que, completamente instalada, vai colocar todos em contato com tudo, com efeitos formidáveis e imprevisíveis sob formas de trabalhar, aprender e se divertir‟, criando novas formas de interação e percepção com o meio e com os outros.

Lévy (2000, p. 17) defini esta „super-rede‟ ou „infovia‟, de ciberespaço e

caracteriza de cibercultura “o conjunto de técnicas (materiais e intelectuais), de

práticas, de atitudes, de modos de pensamento e valores que se desenvolvem

juntamente com o crescimento do ciberespaço”, refletindo o caráter fluido da

informação e da Sociedade da Informação.

Tem-se então buscado construir uma nova identidade na qual a velocidade

das transformações são a única constante (LÉVY, 2000) e na qual a semelhança

entre o virtual e o real muitas vezes não se faz presente. Tomando-se os

adolescentes e suas “tribos”, tem-se um exemplo claro da afirmação e necessidade

8 Dispositivo comunicacional designa a relação entre os participantes da comunicação, podendo

dividir-se em três categorias: um-todos, um-um e todos-todos. (LÉVY, 2000). 9 O mundo virtual dispõe a Informação em espaço contínuo e o faz em função da posição do

explorador ou de seu representante dentro desse mundo, baseando-se no processo de imersão; a Informação em fluxo designa dados em estado contínuo de modificação [...]. (LÉVY, 2000, p. 62).

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de pertencer a algum grupo, contrariando o conceito de “aldeia global‟‟ tão difundido

no século XXI. Segundo Takahashi et al. (2000, p. 59-60) ,

O processo de globalização não tem provocado a homogeneização completa das culturas e das identidades. Pelo contrário, não apenas antigas questões de identidade se mantêm vivas como multiplicam-se diferentes bolsões de identidades locais, de inspiração religiosa, étnica ou comportamental, reanimadas e fomentadas como maneira de resistir à introdução de novos modos culturais uniformizantes. [...] Países economicamente mais avançados vêem na preservação da identidade nacional o instrumento decisivo para auto-capacitação não apenas em assuntos culturais como científicos e tecnológicos, com suas claras dimensões econômicas.

Não sendo de admirar que redes sociais, as quais muitas vezes se baseiam

na afinidade e interesse em comum que seus participantes possam ter, obtenham

grande sucesso e adeptos em todo o mundo.

Dentro desse caldeirão efervescente de transformações que marcam o

começo do século XXI, muitos questionamentos emergem, dentre eles, a

preocupação da Memória, pois com tantos tipos e formatos de informações

registrados em meio impresso e digital, questiona-se como se dá o processo de

formação dos estoques de memória e o que vem a ser esse conceito. Pois,

compreender o que vem a ser esse conceito, o que ele vem a ser e qual o papel que

ele desenvolve na e para a sociedade. Quando são gerados estoques de

informação, constroem-se de igual modo, estoques de memória. Portanto, se a

informação é importante para o desenvolvimento social, tecnológico, político, para a

transmissão do conhecimento, de igual modo, ocorre com a memória como se verá a

seguir.

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3 MEMÓRIA

Recordar é viver. Talvez uma das máximas que mais simbolize o século

XXI, pois diante de tantas e variadas formas de registro de fatos cotidianos

pode-se reviver muitas e muitas vezes aquele momento especial, imortalizar

esse ou aquele acontecimento. Um exemplo é o atentado às Torres Gêmeas

dos Estados Unidos: quem assistiu ficou com a cena do momento em que o

avião é lançado contra a segunda torre ou quando o primeiro prédio se implode

gravado não apenas em sua memória, mas também nas câmeras de inúmeras

emissoras de televisão, de celulares de transeuntes entre outras mídias.

Entretanto estudos mostram que mesmo as memórias que são consideradas

“nítidas” e latentes no espírito podem e são alteradas, pois conforme

Halbwachs (2006) elementos de outras memórias são agregados, de forma

inconsciente, à memória individual, tornando-a assim mais consistente, mais

confiável.

O homem busca através da externalização de suas memórias (registro)

controlar o tempo, dominá-lo, em um confronto incessante, no qual procura-se

congelar tais e tais momentos particularmente felizes ou agradáveis, e destruir

(rasgando ou deletando fotos, vídeos, cartas, etc.) esses mesmos momentos

outrora registrados, simbolizando o rompimento com as emoções vividas num

contexto passado e que no presente despertam não situações felizes, mas

tristeza, numa tentativa de também excluir não apenas da memória externa,

mas também, e principalmente, apagando da memória interna aquilo que fere e

magoa. Tenta-se forçar uma “amnésia”, pois como não se consegue evocar tal

acontecimento, não consegue senti-lo mais, é como se tal fato jamais houvesse

ocorrido.

O caráter mutante da memória torna-a por vezes não confiável, mutante

no sentido de que está em constante formação pelos “contextos sociais que

servem de baliza à essa reconstrução que chamamos de memória”.

(HALBWACHS, 2006, p. 8, grifo do autor). Da mesma forma que o contexto

social é modificado pela ação do homem, o mesmo ocorre em sentido inverso,

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configurando-se em um estado contínuo de retroalimentação.

A memória apresenta-se então como fator crucial para o

desenvolvimento social e intelectual da sociedade, pois de que forma os seres

humanos poderiam transmitir seus conhecimentos, hábitos e costumes, enfim,

sua cultura, para a posteridade? Sem a memória o homem teria que recomeçar

sempre do início, sem um ponto de partida definido. Ele perderia então uma

das habilidades que lhe diferencia do restante dos animais. Nesse contexto,

Ortega y Gasset (apud CUNHA, 2009, p. 39) discorre que

o tigre de hoje tem que ser tigre como se jamais houvesse existido tigre algum: não tira proveito das experiências milenares por que passaram seus semelhantes no profundo fragor das selvas. Todo tigre é um primeiro tigre; deve começar desde o princípio sua profissão de tigre. Mas o homem de hoje não começa sendo um homem, mas, ao contrário, herda as formas de existência, as idéias, as experiências vitais de seus ancestrais e parte, portanto, do nível representado pelo passado humano acumulado sob seus pés. Em face de qualquer problema, o homem não se encontra sozinho com sua reação pessoal, com o que lhe ocorre voluntariamente, mas com todas ou muitas das reações, idéias e invenções de seus antepassados. Por isso sua vida é feita com a acumulação de outras vidas; por isso sua vida é substancialmente progresso.

Com base nessa premissa, a memória permite ao homem construir sua

identidade ao longo do tempo enquanto indivíduo e ser coletivo, devido à

necessidade de pertencimento que o homem possui, agindo como um elo entre

a pessoa e o seu grupo e despertando pensamentos em comum em certos

aspectos e sentimentos de identificação e pertencimento. (HALBWACHS,

2006).

Pollak (1992, p. 5, grifo do autor) complementa afirmando que

podemos portando dizer que a memória é um elemento constituinte do sentimento de identidade, tanto individual como coletiva, na medida em que ela é também um fator extremamente importante do sentimento de continuidade e de coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua reconstrução de si.

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A lembrança de fatos e sentimentos em comum aos componentes de um

grupo permite criar um ambiente no qual pessoas com cargas de

conhecimentos e história de vida diferentes vivam sob um mesmo espaço,

instituindo um sentimento de comunidade. Dessa forma, estabelece-se uma

corrente de valores em comum para todos que se completa com a soma das

memórias, formando uma unidade.

Ela desperta, no homem, também o desejo de ser lembrado na

posteridade, pelos seus atos ou feitos realizados, ligando-se aí uma vontade de

imortalizar-se, não do corpo físico, mas de seu espírito, de sua ideologia. A

célebre frase pronunciada por Getúlio Vargas antes de suicidar-se expressa

essa afirmação: “[...] saio da vida para entrar para a história”. (MORES,

2001)10. Muitos creem que permanecerão “vivos”, por meio da memória alheia,

que seus ideais e suas lutas não se perderão, resistindo não apenas à ação do

Tempo, mas os que ficam, influenciados pelas ações e crenças, darão

continuidade post mortem a essas lutas, isto é, mesmo que fisicamente a

pessoa não mais viva, deixará parte de si na alma de outrem, continuando viva

em memória, participando, ainda que indiretamente, da sociedade.

Outra expressão que exprime os desejos de imortalização é a “a História

me julgará”, na qual se busca a explicação para atos incompreendidos no

presente. Essa declaração manifesta outra faceta da memória. Através dela,

torna-se possível reavaliar os fatos com mais “tranquilidade”, sem a pressão do

momento, de forma mais racional e, por vezes, detendo mais informações do

que no momento, dando o ensejo de se caso algo análogo ocorra novamente

seja possível resolvê-lo sem cometer os mesmos erros.

Devido ao seu caráter multifacetado, a memória é um campo vasto de

pesquisa e tem sido estudada no decorrer do tempo por diversas áreas, dentre

as quais se cita a psicologia, a neurobiologia, psicofisiologia, biologia,

psiquiatria (LE GOFF, 1994), em relação ao aspecto psíquico; pela sociologia,

história e Ciência da Informação, no que tange aos seus registros e influência

para o desenvolvimento do social; e informática, cibernética e telemática, entre

10

Documento online, não paginado.

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outras, as quais pretendem reproduzir, se não em toda, mas em parte, a

complexidade do cérebro e suas funções, em máquinas. Bolter (apud

MCGARRY, 1999, p. 52) ilustra que “ao prometer ou ameaçar que iria substituir

o homem, o computador nos deu uma nova definição do homem como

processador de informações e da natureza como informação a ser

processada”, o que, parcialmente, explica o impulso ou interesse que

pesquisas em memória têm despertado no campo acadêmico desde meados

do século XX.

Diante disso, cada área procura conceituar esse termo no seu campo de

pesquisa ressaltando, contudo, a carga psíquica que ele evoca. Referindo-se

ao fato de que a memória se inicia interiormente no ser humano, isto é, em seu

cérebro e sua mente11, através da qual ele percebe e avalia12 o meio no qual

está inserido, interagindo e modificando-o por meio de suas percepções e

posteriormente repetindo-se.

Entretanto, a memória é um conceito mais amplo que possui várias

facetas. Piaget (1979, p. 3) distingue “três grandes espécies de significações”,

a primeira ligada à Biologia, no sentido de que designa a conservação de toda

reação e aprendizagem adquirida pelo corpo, como no caso da imunidade; a

segunda, a memória no sentido restrito, liga-se à conservação dos hábitos e

comportamentos e de reconhecimento, ocorrendo uma conservação de

esquemas; e por último, a memória num sentido estrito, relacionada às reações

de reconhecimento (em presença do objeto) ou à evocação (em sua ausência),

a qual necessita buscar no passado uma referência para a situação presente.

Analisar tais significações é útil, na medida em que, comumente define-

se memória como aquilo que se lembra, como uma habilidade de recordar fatos

passados, o que reduz esse conceito a apenas uma de suas características.

Com base nisso é intento desta pesquisa refletir sobre conceitos de alguns

11

Há um dualismo entre os termos cérebro e mente. O primeiro é compreendido como o aspecto físico do corpo humano; e o segundo como espírito, a alma, a personalidade (HAURAY,2009). 12

A memória, de acordo com Piaget, está intrinsecamente ligada à inteligência e à formação de conhecimento.

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autores de áreas distintas, com fins de traçar um panorama mais completo,

ressaltando-se que não é propósito exaurir o discurso acerca dessa questão.

No campo da História, Le Goff (1994, p. 423) compreende memória

como uma “propriedade de conservar certas informações, [que] remete-nos em

primeiro lugar a um conjunto de informações psíquicas, graças às quais o

homem pode atualizar impressões ou informações passadas, ou que ele

representa como passadas”. Boncompagno (apud LE GOFF, 1994, p. 453)

complementa essa premissa ao expor que “a memória é um glorioso e

admirável dom da natureza, através da qual reevocamos as coisas passadas,

abraçamos as presentes e contemplamos as futuras, graças à sua semelhança

com as passadas”. Tal afirmação emerge uma característica intrinsecamente

humana, a imaginação. Ela possibilita tecer enredos do futuro tanto

individualmente quanto do coletivo. A junção da imaginação e da memória

permite a criação de novas estruturas, como o desenvolvimento de

ferramentas, e buscar no passado respostas para o futuro.

Sob o viés da Psicologia, Doron e Parot (1998, p. 491) afirmam que é a

“capacidade de adquirir, conservar e restituir informações”. Portanto, pode-se

comparar a memória a um quarto, no qual se deposita os mais variados

objetos. À medida que ele for sendo ocupado se não houver uma organização

lógica desse cômodo ele ficará entulhado, dificultando a localização de um

determinado objeto. Explicando-se por que tantas pessoas têm problemas em

lembrar fatos simples do cotidiano, na Sociedade da Informação, pois não

conseguem filtrar informações irrelevantes “guardando tudo no quartinho”,

transformando-o num amontoado de informações e causando um

congestionamento no momento de recuperá-la.

Na área de Ciência da Informação e da Biblioteconomia, McGarry (1999,

p. 47-48) defende que memória “trata-se, talvez, do conceito crucial [...], pois

sempre nos orgulhamos em designar as bibliotecas e os centros de

documentação como memória da sociedade e ultimamente temos transferido

esse conceito para as bases de dados”. Para esse autor, a memória “consiste

em uma grade de associações que se tornam cada vez mais complexas pela

reação do indivíduo aos estímulos das informações” (MCGARRY, 1999, p. 48).

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Ao agregarem-se novas informações à memória pré-existente, essas novas

informações causarão uma alteração na percepção, ocasionando mudança de

comportamento. O indivíduo não mais será o mesmo internamente, mesmo que

exteriormente permaneça igual.

Barreto (2007, p. 162), em uma defesa eloquente da memória enquanto

função social, disserta que ela é mais do que a mera repetição de palavras e

atos. Desse modo, a memória

não deve ser vista como hábito de repetir imagens, mas como fenômeno inconsciente que se torna útil à necessidade presente, que assegura a reprodução e a transformação dos comportamentos em sociedade. Articula-se com a representação simbólica, o que aponta para sua condição semiológica. Pode-se dizer da função social da memória, com origem comunicativa. Memória decifra o que somos hoje, o que já não somos mais”.

Novamente, destaca-se o caráter transformador que essa faculdade

humana encerra, a qual, ligada a outras, tem possibilitado à raça humana

alcançar o nível de evolução ao qual chegou, galgando degraus e obstáculos

desde os tempos primitivos até a contemporaneidade.

De forma a enriquecer as definições acima citadas, elencam-se alguns

significados extraídos do dicionário. Esses conceitos refletem a quantidade de

facetas pelas quais a memória pode ser analisada:

1. faculdade de conservar e lembrar estados de consciência passados e tudo quanto se ache associado aos mesmos. 3. aquilo que ocorre ao espírito como resultado de experiências já vividas; lembrança, reminiscência. 8. exposição escrita ou oral de um acontecimento ou de uma série de acontecimentos mais ou menos seqüenciados; relato, narração. 14. fisil. Psic. Faculdade de conservar as modificações sofridas pelo organismo com responsabilidade de reproduzir a ação que as provocou. 19. psic. Função geral que consiste em reviver ou restabelecer experiências passadas com maior ou menor consciência de que a experiência do momento presente é um ato de revivescimento. 20. psic termo geral e global para designar as possibilidades, condições e limites da fixação da experiência, retenção,

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reconhecimento e evocação. Etim. Lat. Memória de memoris “aquele que se lembra, que se recorda”. (HOUAISS, 2008, p. 1890-1891).

Em analogia ao seu conceito, pode-se encontrar também uma variedade

de tipos de memória, que variam de área para área. Portanto, serão elencados

três exemplos de tipologia, de três áreas de conhecimento, quais sejam,

Psicologia, História e Sociologia.

Para a Psicologia existem dois tipos de memória, a memória de curto

prazo e a memória de longo prazo (VERSTICHEL, 2009; GRÜTER, 2009), esta

última podendo ser subdividida em:

Memória semântica – que envolve o uso da linguagem na

representação das ideias, eventos e etc.;

Memória episódica ou auto-biográfica13 – possibilita a retenção de

eventos vividos pessoalmente em um dia;

Memória implícita – relaciona-se às habilidades motoras, como

andar de bicicleta.

Observa-se que, nesse caso, a tipologia se refere ao aspecto psíquico

do indivíduo, ao funcionamento do cérebro, considerando-se o funcionamento e

formação da memória enquanto faculdade desse órgão.

Em contrapartida, segundo Leroi-Gourham (apud LE GOFF, 1994, p.

425-426), existem três tipos de memória, em sentido lato, no campo da

História:

Memória específica – diz respeito à fixação dos comportamentos

nos animais;

Memória étnica – a qual aborda a reprodução dos

comportamentos nas sociedades humanas;

Memória artificial – assegura a reprodução de atos mecânicos

encadeados.

13

As memórias semântica e episódica podem ser reunidas também como memórias declarativas.

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35

E, na Sociologia, Halbwachs (2006, p. 71) defende a existência de dois

tipos, a memória individual ou pessoal, “ligada a um corpo ou a um cérebro

individual”, e a memória coletiva, holisticamente apoiada num conjunto de

memórias individuais (fragmentos que formam um todo).

A História e a Sociologia consideram não o funcionamento da memória,

mas a sua qualidade social, na qual se baseia a construção da cultura que se

herda e que numa ocasião ou outra floresce novamente sob outro aspecto,

conferindo-lhe toda sua dinamicidade.

Conforme visto, muito tem se estudado acerca dessa temática ao longo

dos tempos. É interessante também perceber as diferenças do viés sob o qual

a memória era estudada enquanto campo científico nos tempos passados, em

especial, nas sociedades ágrafas ou ditas orais. E isso, porque a memória

detinha uma conotação diferenciada nessas sociedades para as que se

alicerçavam na escrita.

Nas sociedades orais a transmissão da memória, dos conhecimentos e

cultural, como o próprio nome exprime, era realizada através da oralidade,

valorizando-se os chamados homens-memória, “especialistas da memória”, os

quais eram considerados “a memória da sociedade” cabendo-lhes “na

humanidade tradicional, o importantíssimo papel de manter a coesão do

grupo”. (BALANDIER apud LE GOFF, 1994, p. 429).

Os homens-memória, de acordo com Le Goff (1994), enquadravam

desde genealogistas a historiadores da corte, destacando-se os menemones14,

que representam objetivamente a função social desempenhada pelos homens-

memória. A sua nomenclatura deriva-se do mito de Mnemon, que de acordo

com Brandão (2000, p. 139) significa “o que se lembra, o que reflete, o

conselheiro”, e que possuía a incumbência de lembrar a Aquiles, na Guerra de

Tróia, de não matar ninguém sem antes conferir-lhe o calcanhar em busca de

uma marca que indicasse que este era filho do deus Apolo, pois, caso isso

ocorresse, Aquiles seria condenado à morte pelo deus.

14

Tal função foi institucionalizada na Grécia arcaica. (LE GOFF, 1994).

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Nessa sociedade, o ofício dos mnemones assemelhavasse ao mito, uma

vez que eram “utilizados pelas cidades como magistrados encarregados de

conservar na sua memória o que é útil em matéria religiosa [...] e jurídica” (LE

GOFF, 1994, p. 437), servindo também de testemunhas de um fato passado de

forma a comprovar que realmente aconteceu desse ou daquele modo.

Semelhantes também no sentido de que ambos tinham a incumbência de

relembrar constantemente acerca de um ou mais eventos, que se caso fossem

esquecidos acarretariam em conseqüências catastróficas, no caso de Mnemon,

a morte e dos mnemones, uma espécie de “amnésia” coletiva, destituindo as

cidades dos seus ritos e decisões.

Vale ressaltar que, com a invenção da escrita, a memória transmitida

oralmente não é substituída de maneira total pelo registro, elas ocorrem

concomitantemente.

Mnémosine ou Mnémosina representa antes de tudo a personificação da

memória e mãe das nove musas, as quais inspiravam as ciências e as artes.

Conforme Le Goff (1994), Mnémosine recordava ao povo sobre os feitos de

seus heróis e presidia a poesia lírica, sendo os poetas homens “possuídos”

pela memória, aos quais se revelavam os segredos do passado, conhecedores

dos mistérios do além, considerando-se a memória como um dom místico para

uns poucos iniciados nessa arte.

Em relação a questão do poder que a memória constituía nessas

sociedades poucos detinham o conhecimento, já que era passado de pessoa

para pessoa garantindo o caráter sigiloso, era mais simples manipular não

apenas os conhecimentos, mas também as pessoas, promovendo a

manutenção do poder.

A religião na maioria das sociedades estava intimamente relacionada ao

poder político, e a figura máxima do Estado, em algumas culturas, para explicar

seu domínio alegava ser escolhido diretamente por uma divindade para exercer

o cargo político ou que possuía uma ligação hereditária com uma entidade, o

que confirmava que tal homem seria um ser divino.

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Com o advento da escrita, a situação se altera em alguns campos, pois

torna-se mais difícil garantir o caráter sigiloso e místico do conhecimento e da

memória, desenvolvendo-se técnicas que os expunham mais abertamente.

No próximo capitulo será abordada a problemática concernente à

memória exossomática (fora do corpo), isto é, as formas de registro e sua

evolução. Ainda, as tecnologias serão consideradas pertinentes para o

desenrolar desta pesquisa.

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4 A EVOLUÇÃO DAS TECNOLOGIAS DE REGISTRO

Inúmeras tecnologias têm sido desenvolvidas ao longo da história

humana, as quais registram não apenas as idéias, mas também, em caráter

mais recente, os sons, com destaque para a música e as imagens. A fim de

abarcar e perpassar por essas formas de registro, a seguir enumeram-se

algumas tecnologias que ao longo do tempo têm sido utilizadas como suporte e

meios de externalização da memória. É interessante ressaltar que os registros

utilizam meios que reproduzem a capacidade humana da visão, audição e fala,

por exemplo. Ressalta-se que tal rol não segue precisamente a ordem de

aparecimento ou criação e que não é intento exaurir o assunto em questão.

É necessário dizer que para os fins desta pesquisa adota-se o conceito

de Galindo (apud CUNHA, 2009, p. 43) do que vem a ser tecnologia. Para esse

autor, “são ferramentas que têm a função de potencializar as capacidades das

inteligências além dos limites impostos pela condição física e intelectual e para

o aproveitamento eficiente e racional dos recursos naturais”, bem como o de

Barreto (2000)15, quanto afirma que “o conceito de tecnologia se refere a um

conjunto de conhecimentos científicos, empíricos e intuitivos, que podem

alterar um produto, processo de produção e o de comercialização deste

produto (ou serviço)”.

Para Galindo, (apud CUNHA, 2009) as tecnologias são vistas como

“ferramentas”, instrumentos a serviço do homem, que são por ele utilizados

com o intuito de gerar progresso tanto para o indivíduo quanto para a

coletividade; e Barreto (2000) expressa a dependência da tecnologia do

homem, pois é comum atribuir à tecnologia o “controle” da evolução temporal e

social, isto é, as inovações ocorrem não por influência do ser humano, mas das

máquinas, marginalizando o domínio do homem sobre a máquina e

superestimando o potencial tecnológico.

15

Documento online, sem paginação.

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Nesse caso, o que ocorre são as diretrizes e as aplicabilidades que a

sociedade dá à tecnologia. Inúmeras são as possibilidades de usos, mas é a

sociedade que impõe esse ou aquele uso em detrimento de outros, sendo

moldada para se encaixar nas necessidades ou pseudonecessidades

humanas, pois nem tudo o que se quer é o que se precisa. As influências e

conseqüências do uso da tecnologia sobre a sociedade são então causadas

pelas decisões da própria comunidade.

Afunila-se, entretanto, a questão das tecnologias ligadas ao

processamento de informações. Conforme anteriormente citado, as tecnologias

são desenvolvidas com o objetivo de ampliar a capacidade humana. Sendo

assim, é possível traçar uma escala evolutiva das tecnologias de registro

criadas pelo homem em períodos sociais e temporais que possuíam

necessidades e conjunturas próprias.

A primeira tecnologia abordada será a escrita que, para McGarry (1999,

p. 73), foi ”a primeira das grandes revoluções da comunicação na história da

humanidade, e da qual todas as subsequentes são devedoras”. As primeiras

formas de comunicação e em contrapartida de registro da memória foram as

pinturas rupestres, as quais constituem um tipo de escrita, também conhecida

como pictográfica, que representam objetos, ações ou idéias. Essa foi a

primeira tentativa de abstração do homem, por meio da externalização da sua

memória, utilizando signos rudimentares, mas que para a época era de um

nível muito avançando de tecnologia e que convinha ao seu intento, qual seja,

de demarcação de território, servindo de aviso a outros que por ventura

viessem dar naquelas paragens e de informar, caso os antigos moradores não

estivessem mais por lá, os perigos e tipos de caça existentes na região, entre

outras coisas. Tudo isso refletido em desenhos simples e “toscos”, mas que em

suma continuam sendo utilizados até ao século XXI, em formas de placas de

trânsito, por exemplo.

Vê-se que a escrita ocorre graças à conversão da linguagem auditiva em

linguagem visual, primeiro o homem se comunicava apenas pela fala e

posteriormente através de sinais gráficos, a linguagem visual abrange não

somente a escrita, mas também desenhos, a mímica, gestos e outros.

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(MARTINS, 2002). No entanto, a escrita se distingue dos demais sinais gráficos

por apresentar um nível maior de independência do contexto no qual se insere;

pela sua objetividade em transmitir a mensagem, mesmo no caso das escritas

baseadas em ideogramas, que condensam em um único signo uma idéia ou

objeto, limitam a quantidade de interpretações possíveis a umas poucas; e

também por registrar de forma inalterável a informação e que perdurará,

dependendo do suporte, por milhares de anos.

Geralmente, fala-se em uma escala evolutiva da escrita, assim sendo,

de acordo com Martins (2002, p. 36), tem-se:

escrita pictográfica – a forma mais antiga de escrita encontrada e

que adquire a qualidade de testemunho do cotidiano dos homens

pré-históricos;

escrita mnemônica – os exemplos mais notórios desse tipo de

escrita são os quipos e os wanpuns, que exprimiam idéias

baseadas nos desenhos formados nos cordões de nós, no caso

dos quipos, e nos colares conchas, no caso dos wanpuns;

escrita ideográfica – esse sistema fundamenta-se essencialmente

na representação das idéias por um símbolo, mostrando-se

desvantajoso na medida em que cada povo cria um símbolo

diferente para cada idéia, variando conforme suas necessidades;

escrita fonética – esse tipo de escrita se distância dos demais por

apresentar características que lhe são praticamente exclusivas. A

escrita fonética baseia-se nas unidades mínimas da fala, os

fonemas, utilizando “signos visuais para representar sons ou

grupos de sons. Isso é conhecido como salto fonético, quando

signos gráficos se ligam à fala”. (MCGARRY, 1999, p. 73, grifo do

autor). Nesse sentido, a escrita fonética se ramifica em escrita

silábica, sistema baseado em „grupos de sons‟ e na alfabética “em

que cada sinal corresponde a uma letra”. (MARTINS, 2002, p. 40).

Nesse ponto, outra invenção ganha destaque, o alfabeto. Assim como a

escrita, ele não aconteceu do “dia pra noite”, foram anos de evoluções e “tiros

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no escuro” que em ocasiões não deram em nada e em outras vingaram e

produziram seus frutos. Como não poderia deixar de ocorrer, questões a

respeito de sua origem e de qual povo o teria criado inicialmente permanecem

uma incógnita, mas os povos que mais exerceram influência na construção do

alfabeto utilizado na Idade Contemporânea foram o povo semita, que

influenciou o alfabeto dos povos do Oriente Médio, principalmente Egito e

Mesopotâmia, por volta de 1500 a.C; o fenício, que está na origem de alguns

alfabetos, dentre eles, o alfabeto hebraico, árabe, aramaico e o alfabeto grego,

do qual se derivou o alfabeto romano (latino) que é empregado por grande

parte do mundo. (CAGLIARI, [200-?]p. 2).

Nas sociedades que desenvolveram a arte da escrita, inicia-se também

uma necessidade de armazenar esses registros, pois os documentos gerados

assumem um caráter probatório relativos às questões políticas e jurídicas e no

que tange ao registro do conhecimento e acontecimentos, para que quando

fosse preciso tais documentos pudessem ser encontrados. Surgem então os

primeiros arquivos e bibliotecas com a finalidade de congregar todos esses

documentos em um único local para que posteriormente pudessem ser

utilizados, os quais se podem chamar de centro de memórias, pois guardavam

documentos referentes à memória individual e coletiva da comunidade.

Concomitantemente à evolução da escrita e do alfabeto, ocorre a

evolução dos suportes, nos quais esses registros são gravados. Os primeiros

suportes usados foram as próprias cavernas, que além de servirem como

residência suporte para as inscrições, utilizando-se também outros tipos de

rochas, como mármore. Várias tentativas de suportes mais apropriados e que

viabilizassem maior mobilidade e praticidade foram buscadas, dentre elas,

osso, estofo, pele, folhas de palmeira etc. (LE GOFF, 1994). Porém, os

suportes que se mostraram mais adequados foram o pergaminho, o papiro e o

papel, sendo desenvolvidos especificamente como suporte para a escrita.

Contudo, o papel merece destaque, pois diferentemente do pergaminho e do

papiro, seu custo de fabricação era mais baixo e não necessitava de matérias-

primas específicas, como da planta papirus utilizada na fabricação do papiro,

nem dependia da criação de animais, caso do pergaminho. Na fabricação do

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papel podiam ser usados desde trapos de tecidos a cascas de árvores,

viabilizando a sua produção em praticamente qualquer região. A criação de

materiais destinados exclusivamente à escrita aumentou a quantidade de

registros, uma vez que se torna mais prático escrever sobre um rolo de

pergaminho, por exemplo, do que gravar inscrições em mármore.

Outra tecnologia que está intrinsecamente relacionada, não apenas a

escrita, mas também ao papel, é a Imprensa de Gutenberg, responsável pela

primeira grande “explosão” da informação.

Uma quantidade infindável de lendas cerca essa invenção, quando e

onde de fato ocorreu, e no que concerne ao seu criador, se foi ele mesmo

quem criou os famosos tipos de móveis e até mesmo se ele de fato existiu. Não

se entrará, contudo, nesses méritos, ficando-se com a versão original e mais

difundida entre os estudiosos desse tema, os quais atribuem a criação da

Imprensa ao ourives Johann Gutenberg, natural da Mongúncia, cidade situada

na Alemanha.

Esclarecendo que a imprensa desenvolvida por Gutenberg não foi

concebida exclusivamente por Gutenberg, pois se deriva de outros tipos de

mecanismos de imprimir, isto é, ele não criou a sua imprensa do nada, num

lampejo de inventividade, pois anteriormente ao experimento de Gutenberg já

existiam máquinas que gravavam sobre papel. Com relação a isso, Martins

(2002, p. 135) relata que “livros impressos com caracteres móveis, datando das

primeiras décadas do século XV [a impressa de Gutenberg data de 1455],

foram descobertos na Coréia” e McGarry (1999) complementa afirmando que

os chineses estavam bem adiantados no processo da tipografia e que já havia

a xilogravura, imagem talhada em relevo em madeira podendo ser utilizada

para impressão, sendo possível agrupá-las ou costurá-las, denominando-se

livros tabelares ou livros xilográficos.

Mas algumas diferenças dos tipos móveis desenvolvidos por ele e os

pré-existentes são visualizadas, das quais se cita o material usado na criação

dos tipos móveis, uma liga metálica obtida da junção de chumbo, estanho e

antimônio, que, ao contrário da madeira, poderia ser derretida e reaproveitada,

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bem como o desenvolvimento de uma tinta que não manchava; outra inovação

por ele alcançada é a adaptação da prensa de lagar, objeto usado na

fabricação de vinhos, como prelo de impressão.

O processo de impressão nunca mais foi o mesmo, nem a sociedade

ocidental. Na época que Gutenberg elabora seus tipos móveis, a cultura oral

era muita mais forte do que a escrita, apesar de conviverem. As pessoas não

tinham necessidade da palavra escrita, pois as decisões, como as jurídicas,

mesmo quando documentadas, só serviam para ser arquivadas, o que

realmente valia era a decisão oral e a cultura, os valores, normas vigentes e

até a religião eram transmitidos oralmente para a sociedade (MARTINS, 2002).

Os monumentos erguidos tanto de cunho religioso quanto dos heróis e reis

serviam como forma de registro visual, sendo os documentos escritos

dispensáveis para relembrar ao povo esse ou aquele acontecimento.

A imprensa de Gutenberg transforma essa realidade, pois quantidade de

livros publicados aumenta, não apenas de cunho religioso, mas também

científico, dando base para o Renascimento e para a propagação de idéias, por

exemplo, as de Martinho Lutero, responsável pela chamada Reforma

Protestante. Esse processo de laicização do livro gera também um maior status

e prestígio para o mesmo como transmissor do conhecimento. Mas como nem

tudo são flores, nos primeiros anos após a sua concepção, a tipografia sofre

resistência por parte daqueles que visualizavam nela um perigo. Como os

copistas, profissionais que copiavam à mão o conteúdo dos livros, daí a

denominação livros manuscritos, a Igreja e outras pessoas interessadas em

manter a população sob “controle”.

A população passa a ter mais acesso ao conhecimento, sendo então

capaz de sair do estado de inércia, apenas recebendo informações como

verdadeiras, para o da ação, isto é, tendo subsídios para pensar mais

criticamente, o que não era interessante para os poderosos da época. Além

dessas questões, outro problema enfrentado é o mesmo que assola a

Sociedade da Informação, muitos documentos disponíveis que não possuíam

controle, nem organização, dificultando a recuperação dos livros; bem como o

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surgimento dos meios de comunicação impressa, como jornais e revistas, que

vieram a acrescentar material que deveria ser armazenado nas bibliotecas.

Com o aumento na quantidade dos documentos e de usuários nas

bibliotecas, um novo panorama começa a ser traçado para essa instituição. A

“caixa armazenadora de livros” (biblos, livros e teka, caixa, isto é, caixa de

livros) sofre uma reviravolta, pois, até então, a forma de guardar os livros tinha

se apresentado viável, os bibliotecários sabiam de cor cada livro que

compunha a “sua” biblioteca e os livros ficavam dispostos nas estantes de

acordo com o tamanho, por exemplo, não necessitando de catálogos ou outros

meios de recuperação. A tipografia altera isso, os bibliotecários já não eram

capazes de recordar de todo o acervo e em qual estante o livro estava inserido.

Elaboram-se então os catálogos que viessem a informar o acervo e a

localização de cada item. Mas para isso era preciso que se desenvolvesse uma

ordem lógica de armazenamento, tornando dispensável a confecção de um

outro catálogo cada vez que um novo livro fosse adquirido.

Assim sendo, no campo científico, com mais livros disponíveis, os

pesquisadores passam a confrontar autor com autor, alterando a maneira de

fazer ciência. Para McLuhan (1986, p. 76), “o método de descobrir foi a grande

descoberta no século dezenove” não só para a época, mas um legado para

toda a humanidade, de todas as épocas vindouras. E, para as pessoas

“comuns”, a imprensa leva a palavra escrita para o cotidiano, tornando-se algo

pertencente ao dia a dia, com os primeiros folhetins, romances, etc., o que

força o domínio das técnicas de escrita e leitura. Todavia, a preocupação com

os baixos índices de alfabetizados não deriva apenas do interesse social, mas,

principalmente, de interesses de cunho comercial, pois a imprensa multiplicou o

comércio da informação e, como qualquer ramo de negócios, necessitava de

uma clientela, portanto, quanto maior o número de pessoas letradas, maior a

quantidade de vendas alcançadas.

Posteriormente à imprensa, outras formas tecnologias de informação

foram desenvolvidas. Não somente registros escritos, mas também registros

que envolvem som, imagens e vídeos. As primeiras tecnologias, propriamente

ditas, que registravam documentos sonoros, visuais e audiovisuais, datam do

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século XIX, contudo, teóricos como Leonardo da Vinci, em meados dos séculos

XV e XVI, já vislumbravam as primeiras teorias que iriam dar forma e base para

a consecução das tecnologias, caso da próxima TIC que será abordada, a

câmera fotográfica.

De igual modo como ocorre com a escrita, tecnologias são criadas com

o propósito de inscrever sobre determinado objeto (suporte) a informação. As

primeiras máquinas que inscreviam informações visuais datam do século XIX.

Todavia, conforme citado, teorias já haviam sido formulados há pelo menos

três a quatro séculos passados. Leonardo da Vinci, renomado inventor

renascentista, havia descoberto um processo conhecido como câmara obscura

experiência muita difundida entre nobres e artistas durante os séculos

seguintes.

A câmara obscura, também chamada de câmara escura, baseia-se num

processo simples: em um quarto escuro fazia-se um orifício arredondado na

parede, que refletiria na parede defronte (uma parede pintada de branco) as

imagens captadas do mundo exterior, só que com uma peculiaridade, as

imagens eram refletidas de cabeça para baixo. Esse método foi o utilizado por

Joseph Nicéphore Niepce, em 1822, para fixar no papel a primeira imagem da

realidade. O processo consistia em sensibilizar uma folha de papel em

produtos químicos e colocá-la dentro de uma câmara e apontá-la para a

imagem que se deseja reproduzir, e após a uma exposição de algumas horas a

imagem aparecia sobre o papel (MCLUHAN, 1986; BRIGGS; BURKE, 2006).

A técnica usada por Niepce foi também adotada por outro inventor

contemporâneo a ele, Louis Jacques Manuel Daguerre, utilizando, contudo não

o papel, mas placas de metal. Daguerre obtém o êxito que Niepce conseguiu,

pois as imagens por ele obtidas não podiam ser reproduzidas, gerando apenas

um exemplar, enquanto os daguerreótipos (nomenclatura dada às imagens de

Daguerre) podiam ser copiados várias vezes. (ENCICLOPÉDIA..., 1990).

Com isso, a prática de fotografar emplaca no cotidiano da população

ocidental. Mesmo sendo um processo um tanto moroso, muitas pessoas

passam a aderir à fotografia em detrimento dos retratos. A fotografia permitia

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uma imagem fidedigna da realidade, reproduzindo-a de forma idêntica e rápida.

Inúmeras imagens de famílias, acontecimentos históricos, como a Guerra da

Secessão, nos Estados Unidos, foram documentados. E não só fotografias,

pois o aperfeiçoamento contínuo pelo qual passou desde sua invenção

possibilitou a criação de outro tipo de registro, o visual com movimento16, isto é,

o cinema.

A tecnologia usada na fabricação dos filmes consistia em fotografar

imagens sucessivas, dando a idéia de movimento. Dessa forma, pode-se dizer

que cinema “é o conjunto de técnicas que permite a reprodução fotográfica, por

projeção luminosa, do movimento natural”. (ENCICLOPÉDIA..., 1994, p. 2416).

O cinema estende o alcance da memória humana. Se com a escrita era

possível ter um registro de como os fatos acontecerem, ele possibilita ver os

fatos acontecerem. Muito embora os filmes cinematográficos fossem (e ainda

continuem sendo) produzidos em caráter ficcional, eles reproduziam valores e

costumes adotados à época de sua criação. A fotografia age como um

acompanhamento visual da narrativa oral, atuando como uma auxiliadora da

memória. Quantas pessoas se juntam ao redor do álbum familiar para

relembrar os “velhos tempos” e ouvir a “história” por trás da imagem? Do

mesmo modo que a escrita desterritorializa a informação, uma vez que ela se

passa em um contexto estranho ao leitor, a imagem apesar de “valer mais que

mil palavras” por si só não diz muita coisa, é preciso ser em alguns momentos

interpretada, é preciso que alguém diga quem é essa ou aquela pessoa ou

lugar.

Os primeiros filmes com áudio envolviam uma convergência de

tecnologias, de registros visuais, as câmeras, e os registros sonoros, os

gramofones, “netos” de outra invenção que possuía o mesmo objetivo, o

fonógrafo.

De fato, O primeiro aparelho gravador de som foi o de Thomas Alva

Edison, em 1877. Isso porque anteriormente outros pesquisadores haviam

16

Ressalta-se que os primeiros filmes rodados eram mudos, não sendo qualificados como audiovisuais.

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criados protótipos que não chegaram a ser fabricados, como o do francês

Charles Cross (ENCICLOPÉDIA..., 1982). Piccino (2003, p. 2-3) ressalta que

Edison tinha pretensões que iam além da simples exploração comercial do seu

aparelho, publicando em uma declaração dada a North American Cientific

Review as intenções que tinha para sua invenção:

escrever cartas e toda espécie de ditado;

livros falantes para cegos;

ensino de elocução;

reprodução musical;

registros familiares: anotações de poupança, lembranças de família

pelas vozes de seus componentes e mesmo as últimas palavras de

pessoas moribundas;

brinquedos: bonecas falantes, etc.;

relógios falantes;

preservação da linguagem, através da reprodução da pronúncia exata;

preservação das explicações faladas de professores de modo que os

alunos pudessem recorrer a elas quando desejassem;

conexão com o telefone para fazer deste instrumento um auxiliar na

transmissão de gravações permanentes e valiosas em vez de

recipientes de momentâneas e fugazes comunicações. (PICCINO, 2003,

p. 2-3).

Edison previu muitas das utilidades que seu aparelho viria a contribuir,

ressaltando-se a preocupação dele com a memória dos sons, com a

preservação da memória oral transmitida para as próximas gerações da

mesma forma, através da fala. Ele visualizou um meio de preservar aspectos

da memória oral que a escrita não abrange e nem pode abranger, pois mesmo

que o conteúdo resista à ação do tempo, idiossincrasias como sotaques e até

mesmo a pronúncia não ficam registradas nos escritos. No caso da partitura,

que representa de maneira escrita a música tocada, preserva-se a

possibilidade de a composição ser recriada, mas jamais a peça será tocada

como o seu compositor a tocava ou como outro músico a toca, pois cada

pessoa terá uma interpretação diferente, uma conotação diferente,

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reproduzindo-a e causando emoções diferenciadas em seu público. O

fonógrafo permitiu isso, preservar a fala, o som, uma parte do indivíduo, assim

como a câmera permitiu preservar a imagem. Juntos, som e imagem têm o

poder de preservar uma porção muito maior que separados.

O início dos registros audiovisuais advém de meados da década de

1920, quando as primeiras produções cinematográficas passam a ser faladas.

Tais produções se utilizavam discos de fonógrafo para sincronizar as falas com

as imagens, e posteriormente, por meio de gravações ópticas (BRIGGS;

BURKE, 2006).

Assim sendo, o século XX caracterizou-se por uma grande quantidade

de inovações tecnológicas, como o computador, bem como por

aperfeiçoamentos das tecnologias já desenvolvidas (rádio, câmera, imprensa,

etc.), contudo a invenção que mais se destaca nesse período é o computador.

Não pela invenção em si, mas pelas oportunidades que ela desperta e pela

quantidade funções que passa a agregar. Em um campo mais restrito, o da

memória, desperta interesses até inexistentes, por ser uma tecnologia que

converge todas as formas de registros (escrito, sonoro, visual, audiovisual) em

formato digital, desperta novas formas de interação com esses registros.

O computador alcança um patamar tão elevado na história e na vida das

pessoas de maneira distinta da qual foi concebido, nos anos de 1945, com fins

bélicos, como é o caso do Eniac, mas, segundo Lévy (1997, p. 101), o que

“transformou a informática em um meio de massa para a criação, comunicação

e simulação” foi a sua migração de “monstro de calcular” usado na indústria de

guerra e nas grandes corporações para o uso pessoal. O que ocorre através da

evolução da interface gráfica possibilitando que usuários comuns, que não

possuíuam domínio no campo da informmática, pudessem manusear o

computador de forma intuitiva.

O desenvolvimento do computador pessoal ou personal computer mais

conhecido pela sigla PC, penetra nos lares e no subconsciente coletivo da

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sociedade a tal ponto que em apenas cinquenta anos17 tornou-se inconcebível

imaginar um mundo sem computadores pessoais e até mesmo imaginar como

as pessoas viviam sem eles.

Outras inovações que atreladas ao computador, que condicionaram a

forma de pensar e agir da sociedade, foram a Internet e a WWW, sigla de

World Wide Web. Comumente, associam-se esses dois conceitos como iguais,

o que não está correto, pois a Internet é uma interconexão de redes que

permitem a transmissão de informações dos mais variados formatos, como

textos, gráficos, imagens, vídeos e etc., já a Web segundo a definição de Dias

(1999, p. 273) é “um conjunto de documentos hipertexto, com informações

digitalizadas de textos, sons e imagens, conectados entre si e espalhados por

computadores do mundo inteiro”. Ou seja, a Web utiliza-se da Internet para

“enviar” esses documentos de um computador para outro. O conceito de Web

suscita outros conceitos, tais como hipertexto e digitalização, podendo-se

acrescentar os termos multimídia e convergência. Esses conceitos são

importantes para se compreender o nível de transformações que a sociedade

do século XXI tem passado, uma vez que grande parte dessas transformações

está vinculada à integração desses conceitos ao dia a dia da sociedade,

mesmo que de forma imperceptível para a maioria das pessoas.

O primeiro deles, o hipertexto, apesar de ganhar notoriedade com o

advento do computador e da Internet, sua concepção deriva dos anos de 1945,

com o Memex de Vannevar Bush, um projeto que conteria num mesmo local,

segundo o seu idealizador, e ao mesmo tempo, imagens, sons e textos, isto é,

seria “uma grande biblioteca multimídia” (LÉVY, 1997, p. 28). Conforme

visualizado por Bush, é possível encontrar toda (ou quase toda) informação em

qualquer formato que ela se apresente, dando ênfase ao conceito de

multimídia. Um exemplo da integração desse conceito ao cotidiano é o correio

eletrônico, milhares de pessoas ao redor do mundo enviam e recebem e-mails

contendo arquivos multimídia, sem se dar conta do avanço que isso representa

para a humanidade, simplesmente “tenho acesso à tecnologia e faço uso dela”,

poderia dizer um internauta.

17

Os primeiros PCs foram desenvolvidos em meados da década de 1970. (LÉVY, 1997).

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50

Muitas das informações disponíveis na rede são provenientes de

materiais impressos que são digitalizados, gerando objetos digitais,

aumentando em muito a quantidade das informações na rede. A digitalização

tem sido utilizada não apenas por profissionais da informação ou por

instituições que desejam pôr seu acervo informacional disponível em qualquer

parte do globo, mas também por pessoas comuns, como participantes de

comunidades diversas que digitalizam fotos, arquivos sonoros, textos e que

trocam esses arquivos entre si. Segundo Lévy (1997, p. 102), “a digitalização,

conecta no centro de um mesmo tecido eletrônico o cinema, a rádiotelevisão, o

jornalismo, a edição, a música, as telecomunicações e a informática”.

E essa conexão causa uma convergência de tecnologias, que fluem não

apenas para o computador, mas que se estendem para mídias mais antigas

como a imprensa, o cinema, a televisão, etc. É bem verdade que através da

Internet informações que levariam horas, dias, meses e até mesmo anos para

ter uma repercussão nacional, passam a ocorrer em tempo real, como

anteriormente abordado. Mas não somente isso, a virtualização das

informações, e por que não dizer da vida, tem modificado a maneira como os

indivíduos interagem com as mídias e como elas interagem entre si. Isto é, a

linha que define uma mídia da outra está se tornando cada vez mais tênue,

sendo possível assistir televisão pela Internet, assistir a um filme e criar novas

histórias e finais para ele em blogs de fãs. A convergência gerada pela

digitalização tem criado uma “cultura da convergência”18.

Cultura que tem levado cada dia mais pessoas a participarem e não

apenas interagirem com as mídias, originando uma gama infindável de

conteúdo, para o bem e para o mal. A quantidade de blogs e wikis duplica

todos os dias e conteúdo criado por amadores tem sido disponibilizado como

verdade na rede, sendo praticamente impossível averiguar se realmente a

notícia transmitida por eles é verídica. E devido à popularização dessas

ferramentas como meios de acesso à informação poucas pessoas se

18

Termo cunhado por Henry Jenkins, o qual o define como “fluxo de conteúdos através de múltiplas plataformas de mídia, à cooperação entre múltiplos mercados midiáticos e ao comportamento migratório dos públicos dos meios de comunicação [...]”. (JENKINS, 2009, p. 29).

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interessam ou têm tempo de buscar em outras fontes mais seguras a

confirmação da notícia.

De igual modo, tal fenômeno tem gerado uma participação em massa de

indivíduos interessados em compartilhar e acrescentar às perspectivas de

outros seus próprios pontos de vista, construindo uma inteligência coletiva,

mais democrática e aberta à participação, partilhando dessa inteligência tanto

amadores quanto profissionais.

Assim como as demais tecnologias, as TICs têm acarretado mudanças

profundas na cultura humana desde as primeiras formas de registro, pois

quando a tecnologia estende ou prolonga qualquer um dos sentidos humanos,

a cultura sofre “uma transposição tão rápida quanto rápido for o processo de

interiorização da nova tecnologia”. (MACLUHAN, 1986, p. 70). Essa premissa

explica, em parte, o processo de migração pelo qual passou a civilização

baseada predominantemente na oralidade para uma sociedade com base na

escrita, tanto que o homem da civilização oral dificilmente reconheceria um

outro cuja base da sociedade é a escrita e vice-versa, permanecendo um

enigma, para o homem contemporâneo, como os antigos homens-memória

possuíam a habilidade de ter em sua mente poemas tão longos como a Ilíada,

por exemplo, e de recitá-los de cor a qualquer instante que fosse pedido ou

necessário. Entretanto, essa habilidade, e por vezes o conhecimento

“decorado”, morria, por assim dizer, com o seu detentor, o que impedia que

esse conhecimento alcançasse uma extensão maior de pessoas fora desse

raio espaço-temporal.

Dessa forma, as TICs têm proporcionado ao homem externalizar a sua

memória, tanto individual quanto social e coletiva, contribuindo para a formação

de estoques de informação, pois elas agem como artefatos de processamento

e armazenamento de informações. Barreto (2007)19 conceitua estoques de

informação como sendo “toda a reunião de estruturas de informação”, isto é, os

estoques de informação podem ser compostos por diversos tipos de

19

Documento online, sem paginação.

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52

informações e compreendem variados formatos (analógico ou digital) e

suportes (livros, DVD, CD, etc.).

Pode-se acrescentar à expressão “estoques de informação” de Barreto

(2007) a questão da memória, ficando então como estoques de informação e

memória. Tal expressão é passível de analogia com a tipologia de memória

estipulada por Halbwachs (2006), memória individual ou pessoal e memória

social ou coletiva, explicitado anteriormente. Barreto (2000) defende que os

estoques de informações existem em dois níveis, o pessoal e o social. O

estoque pessoal se dá na mente do indivíduo, caracterizado como “saber”, pois

[...] pensa no conhecimento que aceitou e acumulou nos recipientes de sua mente. É um estoque que se pode chamar para re-elaborar. É um acervo pessoal; mas em uma comunidade adiciona-se, implicitamente, para dar sinais do estado de aprimoramento ou desenvolvimento social e cultural atingidos”. (BARRETO, 2002, p. 68).

Uma característica desse tipo de estoque é a dinamicidade, estando

sempre em processo de construção. Os estoques em nível social residem em

instituições, como bibliotecas e arquivos, as quais compreendem os registros

do processo de exteriorização do saber humano, como o livro. Tais acervos

são tidos por estáticos, na medida em que são agregados “segundo critérios de

interesse de uma comunidade de receptores potenciais”. (BARRETO, 2002, p.

68).

Portanto, têm-se estoques de informação, apresentando-se “como um

importante recurso no processo de geração conhecimento” (BARRETO, 2002)

e também de memória, já que resguardam as informações para posterior

resgate, de uma maneira mais simplista.

Incutido dentro desse conceito, tem-se o YouTube. O que começou

como uma simples ideia de disponibilização de vídeos pessoais transformou-se

para o “maior aglutinador de mídia de massa da Internet no início do século XXI

[e que já mudou] para sempre a [...] relação com a propriedade intelectual, o

entretenimento e o conteúdo audiovisual”. (MOTA; PEDRINHO, 2009, p. 9).

Será sobre esse fenômeno que esta pesquisa abordará no próximo capítulo.

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5 VOCÊ NO TUBO

“Uma idéia na cabeça e uma câmera na mão”, esse lema sempre foi

muito popular entre aqueles que pretendiam seguir carreira no cinema ou na

TV, mas também, com o aparecimento das filmadoras de pequeno porte e de

celulares com câmeras integradas, de um incontável número de pessoas

menos ambiciosas, artisticamente falando. Trata-se de pessoas que possuíam

não ambições de criar um grande filme ou um inesquecível programa de TV, e

sim de “congelar” momentos que eles consideram importantes para si. Nascem

desse desejo os primeiros álbuns de família e vídeos caseiros, demonstrando

de maneira mais crua e fiel a realidade diária. Tal repertório familiar, com o

passar dos anos, configura-se uma fonte de pesquisa inestimável para

historiadores, antropólogos, entre outros, sobre a sociedade, destacando-se

nesse cenário os materiais de caráter audiovisual.

Para muitos, o documento escrito ainda está no centro de toda e

qualquer pesquisa científica. Sem intenções de desmerecê-lo, existem outros

meios tão importantes, e dependendo do caso, mais importantes. Para os fins

da pesquisa, não serão abordados documentos exclusivamente sonoros ou

imagéticos, mais sim os que compreendem a junção desses, os documentos

audiovisuais.

Está se tornando usual lançar mão de vídeos, em caráter ilustrativo ou

não, em pesquisas, tanto de ensino fundamental e médio quanto em ensino

superior. Mas o que se destaca não é a utilização da Internet como fonte de

busca, e sim, o destino primário de quem busca esse tipo informação na rede,

o YouTube. Isso se deve, em parte, à grande quantidade de arquivos

existentes. O YouTube possui um dos maiores (se não o maior) estoques de

informação e memória, em formato digital, de vídeos, disponíveis na Internet.

Para assisti-los, é preciso apenas ter acesso a um computador e à

Internet. Um estoque que continua crescendo. Dados exatos de quantos vídeos

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o Youtube tem hospedado em sua página são quase impossíveis de delimitar,

pois, segundo Aguiari (2010, grifo nosso)20, o “YouTube recebe 50 mil horas de

vídeos por dia [...] levando em consideração que, em média, cada longa-

metragem tem cerca de duas horas, é como se o YouTube recebesse 25.200

filmes por dia”. O fluxo de arquivos é tão intenso que não se demarca mais pela

quantidade vídeos postados, e sim de horas.

Figura 1: Página inicial do YouTube. Fonte: YouTube, 2010. Diponível em: <http://www.youtube.com/>.

O sucesso desse website é tanto que já extrapolou os limites virtuais,

lançando seu domínio e influência no “mundo real”. Um exemplo recente é que

nas campanhas para presidente nos Estados Unidos e Brasil, em 2008 e 2010

respectivamente, foi amplo o uso dessa ferramenta, com vistas a promover os

candidatos e suas propostas. Esse não é somente mais uma tentativa de se

inserir ou usar a web como fonte (barata) de divulgação de idéias, o “YouTube

agora faz parte do cenário da mídia de massa e é uma força a ser levada em

consideração no contexto da cultura popular contemporânea”. (BURGESS;

GREEN, 2009, p. 13). Para melhor entender como esse fenômeno alcançou tal

patamar, é bom saber como tudo começou.

20

Documento online não paginado.

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55

O Youtube é uma marca que pertence ao grupo Google, mas nem

sempre foi assim. O site foi criado, em 2005, por três jovens do Vale do Silício,

Chad Hurley, Steven Chen e Jawed Karim, que estavam insatisfeitos com o

nível da postagem e compartilhamento de vídeos. Eles criaram então o

YouTube e o primeiro vídeo postado por eles, intitulado “Me at the Zoo”,

descrevia a visita de Karim ao zoológico. (JULIÃO; GOMES, 2010).

Figura 2 – Me at the zoo. Fonte: YouTube, 2005. Disponível em: <http:// www.youtube.com/t/terms>.

Os primeiros meses após o lançamento do site foram incertos, mas

mesmo assim a grande empresa Google Inc., em outubro de 2006, decidiu

apostar e arrebatou o YouTube por cerca de 1,6 bilhões de dólares. Após a

compra, em torno de um ano depois, o YouTube era um dos sites mais

populares do mundo. Burgess e Green (2009, p. 18) demonstram a carreira de

sucesso sem precedentes alçada após a compra do site pelo Google: “Em

novembro de 2007, ele já era o site de entretenimento mais popular do Reino

Unido, [...]. No começo de 2008 [...], já figurava de maneira consistente entre os

dez sites mais visitados do mundo. Em abril de 2008, o YouTube já hospedava

algo em torno de 85 milhões de vídeos [...]”.

A popularidade do YouTube é tanta que o site possui versões locais em

24 países, dentre eles o Brasil. Um êxito tão grande e em tão pouco tempo tem

despertado teorias diferentes que tentam explicar o porquê de tal sucesso.

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Para uns, foi a publicação de um perfil publicado no blog TechCrunch,

muito conhecido no meio tecnológico e de negócios, apontando pontos fortes e

fracos do site, chamando a atenção de muitas pessoas.

Outra versão, de Jawed Karim, afirma que foi a adoção de quatro

recursos: a implementação de um link de e-mail que permite aos usuários

compartilharem seus vídeos, a existência de uma lista de recomendações de

vídeos, algumas características de redes sociais, como a possibilidade de fazer

um comentário, e a possibilidade dos vídeos serem incorporados em outras

páginas da Internet, como em blogs.

E a terceira versão se relaciona à atenção que a mídia televisiva

concedeu em um caso de violação de direitos autorais. A NBC Universal, um

canal de TV dos Estados Unidos, acusou o Youtube pela reprodução de um

vídeo de um de seus programas, o Saturday Night Live. O vídeo, intitulado

Lazy Sunday, foi o primeiro fenômeno viral do YouTube, com 1,2 milhões de

acessos.

Após esse evento o YouTube nunca mais saiu da mídia, seja através de

acusações contra o site, seja pela utilização de seus vídeos na mídia

tradicional. (BURGESS; GREEN, 2009).

Muitas meios de comunicação, em especial a televisão, lançam mão de

vídeos presentes no YouTube para divulgação de notícias, alguns possuem até

canais (contas) no site. A quantidade e a diversidade dos vídeos são imensas,

pois qualquer um pode fazer um upload de vídeo e a existência dos celulares

com câmera tem multiplicado a divulgação de vídeos, que variam desde

situações cômicas ou constrangedoras a momentos que marcam toda a

história da humanidade, como os vídeos do ataque terrorista de 11 de

setembro aos Estados Unidos, por exemplo.

Nesse caso, quem faz o YouTube? A resposta é TODOS. O título

YouTube, algo como “você no tubo”, e o slogan, Broadcast Yourself (transmita-

se), não são à toa. Desta maneira destaca-se o “você” direcionado a qualquer

pessoa e incita todos a participarem. Seja pelo sentimento de ser participante

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da fabricação da cultura, pela ambição de ter os seus 15 minutos de fama ou a

simples vontade de compartilhar com os amigos momentos divertidos e

engraçados, a motivação é o que menos importa. O fato é que muitas pessoas

de diferentes culturas estão transformando o YouTube, de uma mera

ferramenta Web 2.0 em uma plataforma multicultural, democratizando não

apenas o acesso, mas também a fabricação da cultura, o que suscita debates

no que tange ao que é cultura e quando algo é cultura.

Muitas críticas são feitas em relação à utilidade do YouTube enquanto

arquivo seja cultural ou de cunho científico. Serão citadas e discutidas apenas

três delas. A primeira diz respeito ao conteúdo do acervo. Como dito, ele é

criado em grande parte por amadores e qualquer pessoa pode disponibilizar

um vídeo. O que caracteriza um tipo diferente da cultura massa propagada

pelas mídias tradicionais como a televisão, a cultura participativa, isto é, o

usuário é produtor e distribuidor do conteúdo. Numa teia constituída por outros

produtores/distribuidores, para o bem e para o mal. Garantir a qualidade e a

veracidade das informações é quase impossível, mas permite uma nova forma

de produção cultural, não apenas top-down, mas também bottom-up. Todos

podem ser criadores de conteúdo, não mais apenas consumidores de

conteúdo.

Mas o anonimato possibilitado pela web muitas vezes põe em xeque a

veracidade das informações postadas e até mesmo das identidades em

especial dos casos de sock puppets21. Caso famoso do canal Lonelygirl15, que

narrava às angústias de uma adolescente chamada Bree, de 16 anos. As

especulações acerca de se lonelygirl15 seria ou não de fato um vídeo amador

foram ferrenhas, mas provou-se que, na realidade, os vídeos tinham sido um

experimento de um cineasta e um roteirista da Califórnia, e que Bree era uma

atriz de 20 e poucos anos (KEEN, 2009). No ambiente virtual, a linha que

determina a mentira da verdade é tênue. Nesses casos, como determinar o que

é ou não cultura? Já que, mesmo não sendo verdade, exprime a realidade de

muitos.

21

Alter ego através do qual as pessoas falam numa comunidade online ou postam num blog. (KEEN, 2009, p. 75).

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Outra questão levantada se refere à manutenção do conteúdo e sua

efemeridade, marca não apenas do YouTube, mas da Web 2.0 como um todo.

Pois, algo que normalmente se esquece, é o fato de que o YouTube também é

uma empresa privada, e da mesma forma que uma empresa privada visa

lucros e age em busca da consecução desses lucros, o YouTube disponibiliza

arquivos que são vistos e muito vistos, se o vídeo não está atraindo a atenção

nenhum tipo de nicho de interesse, eles são excluídos da plataforma.

(BURGESS; GREEN, 2009). Outro fator de exclusão diz respeito aos “Termos

de Serviço”, pois quando a reprodução desses arquivos fere alguma das

cláusulas, eles são retirados. Cita-se então um trecho do termo que representa

essa proposição:

O YouTube se reserva o direito de decidir se o Conteúdo é apropriado e obedece a estes Termos de Serviço no que diz respeito a infrações outras que não as infrações ou violações das leis de direitos autorais, como por exemplo, mas sem se limitar, à pornografia, material obsceno ou difamatório, (inclusive difamação, calúnia ou injúria), ou excessivamente longo. O YouTube poderá a qualquer momento, sem aviso prévio e a seu exclusivo critério, remover tais Conteúdos e/ou cancelar uma conta de Usuário por enviar tais materiais que violam os Termos de Serviço. (YOUTUBE, 2010.)22

Percebe-se que o conteúdo não está isento de ser excluído sem aviso

prévio, pois, como qualquer um pode criar um canal e utilizá-lo, algumas

pessoas que têm acesso à ferramenta usam de má fé e a empregam para

intimidar (ciberbullyng) ou perpassar preconceitos ou sentimentos de

xenofobia, por exemplo. Nesses casos, a aplicação de punições diretamente

aos infratores é quase improvável de ocorrer (confirmar a “existência” de cada

youtuber23 que posta ou cria um canal é algo complicado), o controle de seu

conteúdo e a sua organização torna-se de difícil fiscalização. Sendo assim, o

YouTube seria apenas mais um meio de perpetuar e até mesmo de incentivar

esse tipo de comportamento e pensamento.

22

Documento online, não paginado. 23

Termo usado por Jenkins (2009) ao se referir a um usuário que faz upload no YouTube.

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E a última questão abordada versa acerca da exclusão digital, que

ocorre devido à necessidade de se ter um aparato tecnológico e acesso à

Internet para usufruir dos benefícios oferecidos, o que nem todos possuem.

Entretanto, tal necessidade não se aplica somente ao YouTube, mas a toda

Internet. O YouTube tem como premissa marcante a democratização. Mas que

tipo de democratização poderá ser alcançada se poucas pessoas tem acesso

(em nível global) à tecnologia necessária para usufruir dessa

“democratização”?

Sendo assim, essa barreira tecnológica acabaria por gerar um acervo

que refletiria apenas a cultura de uma minoria mais abastada, exprimindo os

pensamentos de um pequeno grupo. Mas essa afirmação já estava presente

nos meios de perpetuação culturais antigos, como a oralidade e a escrita. As

informações passadas de uma pessoa para outra eram selecionadas e se

estivessem de acordo com os interesses da classe dominante poderiam ser

transmitida, uma das formas mais eficazes da manutenção do poder. No caso

da escrita, para se desfrutar dos benefícios que ela tem a oferecer é preciso ter

domínio sobre a palavra escrita, isto é, saber ler e escrever. Mesmo no século

XXI, a quantidade de analfabetos e analfabetos funcionais ainda é grande. E se

a escrita e a oralidade que estão presentes na sociedade humana há mais de

dois mil anos não puderam resolver os problemas de democratização do

conhecimento e da informação. Por que o Youtube deveria resolver, tendo

pouco mais de cinco anos de existência?

Algo que se esquece é que não é a tecnologia que irá salvar o mundo ou

tornar a utopia de uma sociedade justa e igualitária em realidade, e sim a

mudança das atitudes do ser humano para com o seu próximo. O YouTube,

como plataforma e tecnologia, é apenas uma ferramenta, controlada pelos seus

donos e que segue as diretrizes e valores impostos e aceitos pela sociedade. E

mesmo que o YouTube não abranja todas as classes, sua grande diferença

consiste, em pelo menos, possibilitar à massa expressar-se mais livremente e

produzir cultura ao invés de simplesmente absorvê-la.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O volume de informação disponibilizada às pessoas continua a crescer

exponencialmente devido ao aperfeiçoamento das Tecnologias de Informação

e Comunicação. Sofre-se, então, com o paradoxo de processar uma infinidade

de informações que são apresentadas em diferentes tipos e mídias em um

curto espaço de tempo. Tais questões têm despertado o interesse do universo

acadêmico e social para problemas relacionados à memória.

Nesse sentido, percebe-se ao analisar a evolução da sociedade até o

período contemporâneo, caracterizado como Sociedade da Informação, que a

informação sempre ocupou um papel crucial para o desenvolvimento social,

econômico e político do homem, bem como, a memória. Atrelando-se ambas,

informação e memória, como fatores imprescindíveis para o acumulo,

transmissão e evolução do conhecimento adquirido no decorrer do Tempo. Em

decorrência disso registrá-los em suportes físicos, faz-se necessário, para que

assim resistam a ação do tempo e não caiam no esquecimento ficando para

sempre perdidas.

Percebe-se também que as TICs têm então sido criadas e

aperfeiçoadas, ao longo da história, com o intuito de processar e gravar

informações gerando uma grande quantidade de estoques de material

informacional, com destaque para a imprensa (que causou a primeira explosão

da informação) e do computador (segunda explosão da informação). O que

contribuiu para o surgimento de instituições que tratassem e armazenassem

tanto o suporte quanto o seu conteúdo.

E com o desenvolvimento da internet e das ferramentas de Web 2.0,

como o YouTube, a produção e disseminação de informação continua a

aumentar, criando um mar quase infinito de arquivos digitais, causando uma

verdadeira revolução digital e transformando o modo como o indivíduo interage

com a mídia e com o ambiente no qual está inserido. Notícias e

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acontecimentos que antes permaneceriam ocultos ou restritos a um pequeno

grupo passaram a ser registrados e disponibilizados. E isso não se resume

apenas à informação escrita, mas também à audiovisual.

Inúmeros sites de vídeos estão se propagando, destacando-se, o

YouTube, plataforma de distribuição de vídeos mais conhecida e acessada da

web. A popularidade é tanta que a quantidade de vídeos postados já alcançou

a casa dos milhões. E por contar com um acervo tão vasto e multifacetado,

com temáticas que podem ser corriqueiras, como um dia na praia, ou o

acontecimentos marcantes para a sociedade, como atentados terroristas no

Iraque. O acervo abrange tanto informações em nível macro e global e micro,

de interesse de uma comunidade de amigos, por exemplo. E esse repositório

reflete a necessidade humana de guardar memórias que ela considera

importantes para si e para outros, transmitindo parte de si para a posteridade.

Portanto, o YouTube tem valor enquanto repositório digital de

informações e memória, pois por meio dele arquivos têm sido preservados e

criados, uma vez que o YouTube influencia a criação desse tipo de

informações que são, em alguns casos, produzidas com a intenção de serem

vinculadas no site.

Salientando-se que apesar de ser um fenômeno recente, existe há cerca

de cinco anos, o seu aparecimento não surgiu “do dia para noite” e não é um

acontecimento isolado. Ele é reflexo do momento presente da sociedade, do

processo de evolução da sociedade em termos técnicos e sociais. As pessoas

da Sociedade da Informação têm uma relação e percepção da informação e da

memória diferente da que tinha no período da Revolução Industrial ou na Idade

Média, pois o acesso aos meios de produção e distribuição era restrito a uma

parcela dominante seja governo, igreja, editores, etc.

Com o advento das TICs, primeiramente com a impressa e depois com o

computador, esse controle se torna mais complexo, já que uma maior

quantidade de informações passa a circular, facilitando o acesso da população

às informações, mudando a relação indivíduo/ informação. Instituições passam

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a ser criadas com o intuito de suprir as necessidades informacionais e até

mesmo a considerarem o acesso a ela como um direito básico.

Essas mudanças causaram transformações que se estendem e se

estenderão por todas as Eras históricas. De uma sociedade baseada na

oralidade para uma baseada na escrita. Dos homens-memória para o

armazenamento da memória em ambientes virtuais. De registros escritos para

os audiovisuais. Sem, contudo, nenhum deles substituir por completo seu

predecessor, mas somando novos conhecimentos e habilidades e transmitindo-

os para as próximas gerações.

E é isso o que o Youtube está possibilitando: a transferência de

conhecimentos e culturas de uma forma mais completa, como padrões de

comportamento, gírias, entonações, estilos comportamentais, idiossincrasias

que se fossem apenas escritos ou imagéticos seriam perdidos, mas que

através de arquivos audiovisuais podem ser apreciados em sua completitude.

Contudo, outros estudos acerca dessa temática precisam ser

desenvolvidos, com vistas a solucionar algumas questões tais como a

efemeridade dos arquivos, Pois, do contrário todo o acervo reunido nessa

plataforma pode ser perdido, não sendo possível recuperá-los e utilizá-los

posteriormente. Porém, todas essas transformações se fazem necessárias e

acrescentam muito a historia da sociedade como um todo.

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REFERÊNCIAS

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