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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Produção Didático-Pedagógica Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7 Cadernos PDE VOLUME I I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Produção Didático-Pedagógica

Versão Online ISBN 978-85-8015-053-7Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO

SUPERINTENDÊNCIA DA EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL -

PDE

PRODUÇÃO DIDÁTICO - PEDAGÓGICA

PROFESSORA PDE: Zenete Eurich

ORIENTADOR: Daniel de Oliveira Gomes

Guarapuava

2010

UNIDADE DIDÁTICA

SENSIBILIZAÇÕES POÉTICO - MUSICAIS

Produção didático-pedagógica apresentada à SEED – Secretaria de Estado da Educação, como parte integrante do PDE – Programa de Desenvolvimento Educacional, sob a orientação do Prof. Dr. Daniel de Oliveira Gomes.

GUARAPUAVA

2010

(...)

Que é o Poeta?

Um homem

Que trabalha o poema

Com suor de seu rosto.

Um homem que tem fome

Como qualquer outro homem.

(Poética, Cassiano Ricardo)

Sumário

1. Apresentação..........................................................................05

2. Bloco I: Teorizando.................................................................07

2.1. Primeiras conversas .......................................................07

2.2. Poema e Poesia, eis a questão? ....................................08

3. Bloco II: Diálogo entre as artes................................................10

3.1. O pôr do sol.....................................................................12

3.2. Um pouco de história.......................................................13

4. Bloco III: Leitura.......................................................................15

4.1. Tema 1.............................................................................17

4.2. Tema 2 ............................................................................21

4.3. Tema 3 ............................................................................27

4.4. Tema 4 ............................................................................31

4.5. Tema 5 ............................................................................35

5. Referências Bibliográficas.......................................................39

NRE: Pitanga Município: Santa Maria do Oeste

Professora: Zenete Eurich

Email: [email protected]

Escola: Colégio Estadual José de Anchieta - EFMNP

Disciplina: Língua Portuguesa - Ensino Fundamental ( ) Ensino Médio ( X )

Conteúdo Estruturante: O discurso como prática social

Conteúdo Específico: gêneros textuais – poesia/música

Título: Leitura: sensibilizações poético-musicais

Orientador: Daniel de Oliveira Gomes.

Apresentação

Movimento e Harmonia

Em nossa vida estamos em constante movimento, todo o nosso corpo se

move em ritmo e harmonia para podermos ter equilíbrio.

Ritmo, sonoridade, harmonia nos acompanham desde o nosso

nascimento, ao nosso redor está repleto de poesia e musicalidade, pois somos

pessoas musicais. Desde a nossa concepção somos embalados no ventre da

mãe por várias batidas (o ritmo) e encantados pelas palavras cantadas e

pronunciadas. Mais tarde, nos rodopios das brincadeiras, nos versos do meio

da roda, nas antigas cantigas na varanda, nas batidas do violão (menos sem

muito saber tocar), nas danças com os irmãos e depois nos bailes, a cada

momento somos construídos e ao mesmo tempo construtores...

Assim nós, seres humanos, somos encantados pelos sons, pelas rimas,

pelas palavras. Crescemos neste meio de sons e imagens e interagimos com

ele de maneira consciente ou inconsciente. Construindo conceitos ou

desconstruindo (pré)conceitos.

Somos, portanto, seres musicais e poéticos, pois as palavras nos

encantam e escondem seus segredos. Nesta trajetória existencial carregada de

sons e ritmos pode trazer sorrisos ou lágrimas dependendo da situação em que

5

é contextualizada, um exemplo, quando estamos ausentes da pessoa amada e

ouvimos aquela canção que nos marcou, quando recebemos uma rosa com

algumas palavras rimadas, falando de amor, ou simplesmente algo que mexe

com os sentimentos fazendo despertar emoções nunca antes reveladas

(assistir um filme e chorar com o mocinho, olhar uma escultura, pintura, foto e

ficar chocado, extasiado, admirado).

Podemos dizer que essas artes (re)despertam em nós o lado

humanizado, poético, musical buscando a sensibilidade, o estético , o belo, as

quais muitas vezes, se esconde para dar vazão ao racional.

Quando menos se espera uma melodia toca no rádio (“você foi... o melhor

dos meus sonhos...”), um livro nos é dado, indicado e nos redescobrimos

cantando, falando, declamando. Neste vai e vem do mundo abre-se espaço

para os sentimentos e tudo é imprescindível.

O presente trabalho tem como foco o poema e a música, suas

características e sua utilização com os alunos em sala de aula. Será tratado

dos elementos que compõe o poema, sua história, e, principalmente sobre a

importância de se realizar estratégias de leitura desse gênero na escola.

Busca-se o diálogo entre as artes, a aproximação entre a música e a

poesia, pois a primeira faz parte do cotidiano do educando (não se predente

discutir gênero musical) e está lá por meio das mais variadas formas, muitas

vezes carregada de fatos marcantes (alegres ou tristes) que envolve a sua

realidade, da comunidade, do país.

A música está muito próxima da poesia, é um instrumento valioso para

auxiliar a ação pedagógica, pois contribuirá no processo de formação de

leitores críticos.

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Bloco I : Teorizando

Primeiras conversas

1ª técnica: Sensações

Distribuir folha de sulfite aos alunos. Dividir a folha em quadro partes igual,

numerando de 1 a 4, em seguida distribuir lápis de cor pelo menos quatro cores

para cada aluno (podem utilizá-los em grupo). Explicar que vão escutar vários

trechos de música e a cada trecho deverão expressar o que a música

despertou nele por meio da pintura, desenho, com movimentos mais rápidos ou

lentos, vamos observar o ritmo de cada trecho musical.

Para terminar a atividade, conversar com os alunos como foi? O que

sentiram? O que mais chamou a atenção? Quais as sensações que

despertaram (medo, tristeza, alegria, saudade, euforia, melancolia,...).

Montar um mural com as atividades em sala de aula.

Nesta unidade estaremos em contato com poemas e letras de música que

serão trabalhados de diferentes formas e utilizando diferentes instrumentos

“para a ampliação de nossa consciência e de nossa sensibilidade” buscando a

função social da poesia.

Assim como a poesia e a música há muitas formas de arte (arquitetura,

escultura, teatro, dramatização, pintura...) as quais contam com diferentes

recursos para formar e transmitir as mensagens.

Reflita e discuta com seus colegas as diferenças existentes entre o poema

e outros textos.

Lembre-se de alguma poesia ou música de que goste. Escreva o que você

lembrar. Compartilhe com os colegas.

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Poema ou Poesia, eis a questão?

Vocês sabem a diferença entre Poema e poesia? Conversem com dois

colegas e escrevam a definição que chegaram das diferenças entre poema e

poesia.

Depois pesquise em um dicionário, em livros as diferenças e faça

anotações para debatermos no grupo.

Leia como o escritor Otávio Paz em seu texto ”A Arca e a Lira” fala

dessa diferença entre poesia/poema...

Poesia e Poema

A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. Operação capaz

de transformar o mundo, a atividade poética é revolucionária por

natureza; exercício espiritual, é um método de libertação interior. A

poesia revela este mundo; cria outro. Pão dos eleitos; alimento maldito.

Isola; une. Convite à viagem; regresso à terra natal. Inspiração,

respiração, exercício muscular. Súplica ao vazio, diálogo com a

ausência, é alimentada pelo tédio, pela angústia e pelo desespero.

Oração, litania, epifania, presença. Exorcismo, conjuro, magia.

Sublimação, compensação, condensação do inconsciente. Expressão

histórica de raças, nações, classes. Nega a história, em seu seio

resolvem-se todos os conflitos objetivos e o homem adquire, afinal, a

consciência de ser algo mais que passagem. Experiência, sentimento,

emoção, intuição, pensamento não-dirigido. Filha do acaso; fruto do

cálculo. Arte de falar em forma superior; linguagem primitiva.

Obediência às regras; criação de outras. Imitação dos antigos, cópia do

real, cópia de uma cópia da Idéia. Loucura, êxtase, logos. Regresso à

infância, coito, nostalgia do paraíso, do inferno, do limbo. Jogo,

trabalho, atividade ascética. Confissão. Experiência inata. Visão,

música, símbolo. Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a

música do mundo, e métricas e rimas são apenas correspondências,

ecos, da harmonia universal. Ensinamento, moral, exemplo, revelação,

dança, diálogo, monólogo. Voz do povo, língua dos escolhidos, palavra

do solitário. Pura e impura, sagrada e maldita, popular e minoritária,

coletiva e pessoal, nua e vestida, falada, pintada, escrita, ostenta todas

as faces, embora exista quem afirme que não tem nenhuma: o poema

8

é uma máscara que oculta o vazio, bela prova da supérflua grandeza

de toda obra humana!

Como não reconhecer em cada uma dessas fórmulas o poeta que as

justifica e que, ao encarná-las, lhes dá vida? Expressões do algo vivido

e padecido, não temos outro remédio senão aderirmos a elas -

condenados a abandonar a primeira pela segunda e esta pela seguinte.

Sua própria autenticidade mostra que a experiência que justifica cada

um desses conceitos os transcende. Será preciso, portanto, interrogar

os testemunhos diretos da experiência poética. A unidade da poesia só

pode ser apreendida através do trato desnudo com o poema.

Perguntando ao poema pelo ser da poesia, não confundimos

arbitrariamente poesia e poema?(...) nem todo poema - ou, para

sermos exatos, nem toda obra construída sob as leis da métrica -

contém poesia. No entanto, essas obras métricas são verdadeiros

poemas ou artefatos artísticos, didáticos ou retóricos? Um soneto não é

um poema mas uma forma literária, exceto quando esse mecanismo

retórico - estrofes, metros e rimas - foi tocado pela poesia. Há

máquinas de rimar, mas não de poetizar. Por outro lado, há poesia sem

poemas; paisagens, pessoas e fatos podem ser poéticos: são poesia

sem ser poemas. Pois bem, quando a poesia acontece como uma

condensação do acaso ou é uma cristalização de poderes e

circunstâncias alheios à vontade criadora do poeta, estamos diante do

poético. Quando - passivo ou ativo, acordado ou sonâmbulo - o poeta é

o fio condutor e transformador da corrente poética, estamos na

presença de algo radicalmente distinto: uma obra. Um poema é uma

obra. A poesia se polariza, se congrega e se isola num produto

humano: quadro, canção, tragédia. O poético é poesia em estado

amorfo; o poema é criação, poesia que se ergue. Só no poema a

poesia se recolhe e se revela plenamente. É lícito perguntar ao poema

pelo ser da poesia, se deixamos de concebê-lo como uma forma capaz

de se encher com qualquer conteúdo. O poema não é uma forma

literária, mas o lugar do encontro entre a poesia e o homem. O poema

é um organismo verbal que contém, suscita ou omite poesia. Forma e

substância são a mesma coisa.” (PAZ, Otávio, O arco e a Lira.

Copyright, 2000, UFRGS) (O texto acima foi montado a partir de

fragmentos do artigo do autor que pode ser acessado integralmente no

link: http://www.ufrgs.br/proin/versao_2/paz/index01.html )

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Você sabia que os poemas, assim

como a escultura, pintura, arquitetura,

fotografia tem diferentes recursos e elementos

para formar a sua mensagem ao leitor?

Bloco II :

O DIÁLOGO DAS ARTES

O caráter irrepetível e único do poema é compartilhado por outras obras: quadros, esculturas, sonatas, danças, monumentos. A todas elas é aplicável distinção entre poema e utensílio, estilo e criação. (...) Uma tela, uma escultura, uma dança são, à sua maneira, poemas. E essa maneira não é muito diferente da do poema feito de palavras. A diversidade das artes não impede sua unidade. Ao contrário destaca-se. (PAZ, 2000, pg. 19, 20).

Neste espaço faremos a correlação da literatura (poema) com outros

movimentos artísticos buscando a leitura diferenciada de cada obra, bem como

o lirismo/poético contido em cada um deles. A poesia tem produtivos diálogos

com outras formas textuais, sejam eles: a pintura, escultura, a dança, a

cinematografia, fotografia, arquitetura, evidenciando assim, a leitura para a

formação do leitor crítico e, em questão a leitura literária de poesias, a qual

ligada as demais artes tende a despertar a consciência leitora do individuo e

as diferentes formas de linguagens que o cerca.

As diferenças entre o idioma falado ou escrito e os outros – plásticos ou musicais – são muito profundas, não tanto, porém, que nos façam esquecer que todos são, essencialmente linguagem: sistema expressivos dotados de poder significativo e comunicativo. Pintores, músicos, arquitetos, escultores e outros artistas não usam como materiais de composição elementos distintos dos que emprega o poeta. Suas linguagens são diferentes, mas são linguagem. (PAZ, 2000, pg. 23 e 24)

http://projecoes-julani.blogspot.com/2009_04_19_archive.html

10

Nesse sentido escolher-se algumas artes para apreciação da linguagem

poética que cada uma inspira. Neste bloco, será apresentado o trecho do filme

“Romeu e Julieta” a cena do balcão, na pintura a obra de Michelangelo “A

criação de Adão”, na escultura a obra de Auguste Rodin “A eterna primavera”,

a poesia de Ferreira Gullar“ Traduzir-se” musicada por Raimundo Fagner e os

poemas de Mário Quintana “Bilhete e canção da garoa”. As obras servirão

como apoio para questionamentos do fazer poético, como cada arte expressa a

poesia por meio de sua técnica. Levantar questionamentos sobre as sensações

e os sentimentos que as obras de arte despertaram em cada um. Tecer

comentários sobre o ponto de vista da criação de cada obra, material utilizado,

forma, efeito... E qual a importância da arte para a vida? Fazer várias leituras

das obras. Essa atividade tem por objetivo criar expectativas de práticas de

leitura do fazer poético. Para Otávio Paz a poesia pode estar em muitas obras

artísticas desde que tenham o “poder de suscitarem” no observador, no leitor,

no ouvinte as muitas imagens impregnadas na obra.

Nada impede que sejam considerados poemas as obras plásticas e musicais desde que satisfaçam as duas características assinaladas: de um lado, fazerem regressar seus materiais ao que são – matéria resplandecente ou opaca – e assim se negarem ao mundo da utilidade; de outro transformarem-se em imagens e desse modo se converterem numa forma peculiar de comunicação. (PAZ, 2000, pg. 31)

Use a criatividade e componha uma obra poética utilizando uma das

formas apresentadas acima, expondo às sensações, percepções, as cores, os

sons, as palavras, os sentimentos... Por meio da pintura ou escultura ou poesia

ou música. Depois apresente para os colegas e em grupo monte uma

exposição.

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Versos: cada linha de um poema;

Estrofe: o conjunto de versos de um poema.

Rima: são sons semelhantes no final ou no interior

dos versos. Elas são responsáveis pela melodia dos

poemas

Ritmo: sucessão regular de sílabas acentuadas de

que resulta impressão agradável ao ouvido; são as

cadências, os movimentos regulares e médios;

2ª técnica: O pôr do sol

Observe a imagem do pôr-do-sol e escreva um texto (poético ou

não). Depois faça a leitura do seu texto para os colegas, colocando o seu ponto

de vista, o que este lhe traz de lembranças ou é somente

observação/contemplação de um momento lírico. Para esta atividade será

utilizado imagens de pôr do sol retirados da internet. Após a realização dessa

atividade, os alunos socializam as produções.

http://www.tcomp.com.br/entretenimento/paper/pordosol/pordosol0011.jpg

Prática educativa:

Veja, contemple um pôr do sol de verdade. Anote todos os efeitos que

este momento lhe causar, que sensações ele desperta (medo, tristeza, alegria,

saudade, lembrança...), que imagens lhe vêm à cabeça, como são as cores

(fortes, fracas, luminosas, opacas...), anote todas as impressões e traga para

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sala de aula para socializar com os colegas. Se quiser pode também fotografar,

mas curta todos os momentos contemplando o belo espetáculo da natureza.

Em sala de aula elabore a experiência de escritura de estrofes de uma

música coletiva, utilizando da inspiração física, ocular, sensitiva do pôr do sol.

A idéia é coletar raios de sol, raios de inspiração, e transformar em palavras o

que foi visto, contemplado. Essas sensações e essa experiência a fotografia

não dá conta em captar. Questione o aluno as diferenças em captar o sol numa

fotografia e na experiência de testemunha do pôr do sol (quais as diferenças

existentes?)

Refletir que todos podem ver o mesmo pôr-do-sol, mas sempre com um

olhar diferente, pois cada um tem percepções e sensações únicas, individuais.

Anexar às produções no mural.

Eu – lírico ou eu poético: é a voz que fala nos poemas ou

na prosa poética, expressando emoções, sentimentos,

impressões...

Um pouco de história.....

“Morre lentamente quem não viaja,

Quem não lê,

Quem não ouve música, [...]”

Pablo Neruda

Instrumentos musicais

museu da felicidade São Paulo –

Zenete Eurich 22/05/2010

13

As artes abordadas nesta unidade são a poesia e a música. Para a

compreensão destas vamos relembrar um pouco de como tudo começou...

Você sabia que na antiguidade a poesia e a

música caminhavam juntas, isto é, não havia

separação?

A poesia e a música na época medieval eram

cantadas pelos trovadores que compunham os seus

textos poéticos (as cantigas) para serem cantadas e,

geralmente, acompanhados de instrumentos

musicais, principalmente, a lira. Com o passar do

tempo surgiram novas formas de pensar e ver as

artes, os textos literários separaram-se da melodia,

aparecendo dois gêneros distintos: o poema (literário)

e a canção (musical). No entanto a poesia e a música

continuam com características comuns,

especialmente o ritmo e o som.

Leia o trecho abaixo de Otávio Paz sobre cadência rítmica que faz parte

da vida:

O ritmo não é apenas o elemento mais antigo e permanente da

linguagem, como também não é difícil que seja anterior a própria

fala. Em certo sentido, pode-se dizer que a linguagem nasce do

ritmo ou, pelo menos, que todo ritmo implica ou prefigura uma

linguagem. Assim, todas as expressões verbais são ritmo, sem

exclusão das formas mais abstratas ou didáticas da prosa. Como

então distinguir prosa e poesia? Deste modo: o ritmo se dá

espontaneamente em toda forma verbal, mas só o poema se

manifesta plenamente. Sem ritmo não há poesia; só com ritmo

não há prosa. O ritmo é condição do poema, ao passo que é

inessencial para a prosa. Pela violência da razão as palavras se

desprendem do ritmo; essa violência racional sustenta a prosa,

impedindo-a de cair na corrente da fala onde não vigoram as leis

Leitura de poemas – Zenete Eurich – 06/2010

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do discurso e sim as de atração e repulsa. Mas esse

desenraizamento, nunca é total porque, do contrário, a

linguagem se extinguiria. E com ela o próprio pensamento. A

linguagem, por sua inclinação natural, tende a ser ritmo. Como

se obedecesse a uma misteriosa lei da gravidade, as palavras

retornam espontaneamente a poesia. No fundo de toda prosa

circula, mais ou menos rarefeita pelas exigências do discurso, a

incrível corrente rítmica. E o pensamento na medida que é

linguagem, sobre o mesmo fascínio. Deixa o pensamento em

liberdade, divagar, é regressar ao ritmo; as razões se

transformam em correspondências, os silogismos em analogias,

e a marcha intelectual em fluir de imagens. O prosador, porém,

busca a coerência e a claridade conceptual. Por isso resistem a

corrente rítmica que fatalmente tende a se manifestar em

imagens e não em conceitos. (PAZ, 2000, pg. 31)

Bloco III: leitura

Vamos às atividades de leitura e a realização do jogo dramático a partir de

textos poéticos e musicais

Que tema pode ter um poema?

Poemas: podem ter temas variados. Não se

faz poema somente sobre o amor, mas

podemos fazer poemas sobre temas

universais como a guerra, a paz, a fome, a

própria poesia, e outros como o sertão,

infância, os passarinhos, a natureza, fatos

do cotidiano... enfim os temas são

inúmeros.

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O trabalho com poesia e música será realizado por meio de temas,

baseando-se no material de Héder Pinheiro “Poesia na sala de aula”, o

qual faz sugestões de como se trabalhar a poesia no contexto escolar e a

utilização do improviso e do jogo dramático como uma alternativa lúdica e

criativa para o incentivo a práticas de leituras.

A poesia já foi conceituada como jogo de linguagem, a poesia, através de seu jogo sonoro (aliterações, assonâncias, rimas, ritmo etc.) e semântico, desloca sentidos, cria outros revitaliza palavras através se associações inusitadas, joga com a tensão entre som e sentido. (...). (PINHEIRO, 2007, pg. 52)

Para a elaboração deste material fez-se pesquisa com um grupo de

alunos da Formação de docentes os quais selecionaram alguns temas e

alguns sugeridos pelos professores. Dentre eles foram selecionados cinco

para se trabalhar neste projeto envolvendo o poema e a canção.

O que é jogo dramático?...

a) “O JD é uma atividade coletiva. O grupo é o lugar onde o individuo se elabora para

si e com os outros. (...)”

b) “O JD não reclama atores virtuosos, competentes em todas as técnicas de

expressão. Destina-se em formar jogadores, mais preocupados em dominar o seu

discurso do que em criar a ilusão. (...)”

c) “O JD não necessita de cenários, trajes ou adereços no sentido tradicional. A

construção o espaço escolar e do mobiliário corrente chamado as novas funções.

Uma “caixa de ferramenta” composta por objetos cotidianos e materiais brutos

pode ser utilizada em função das necessidades.” 1

1. RYNGAERT, Jean Pierre. O Jogo dramático no meio escolar. Trad. Cristine Zumbach e Manuel

Guerra. Coimbra: Cetelha, 1981 (34 e 35). APUD PINHEIRO, Héder. Poesia na sala de aula. Campina

Grande. Bagagem, 2007. (p. 48 e 49)

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Tema 1: o sertão/ o campo/ a roça

1. Poesia - Patativa de Assaré – Poeta da

Roça.

2. Música – Cuitelinho – Milton Nascimento.

3. Música - Luar do Sertão – Simone

Primeiros contatos

1. Distribuição e leitura dos poemas; primeiro leitura silenciosa, depois leitura oral.

2. Ouvir a música e/ou cantá-la. 3. Conversa sobre os poemas: o que mais chamou a atenção? Como é

construído o poema (verso/ rima...) comentários livres sobre o assunto.

Paisagem local – Zenete

Eurich 04/2010

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O Poeta da Roça Patativa do Assaré

Sou fio das mata, cantô da mão grosa

Trabaio na roça, de inverno e de estio

A minha chupana é tapada de barro

Só fumo cigarro de paia de mio.

(...)

Meu verso rastero, singelo e sem graça,

Não entra na praça, no rico salão,

Meu verso só entra no campo da roça e dos eito

E às vezes, recordando feliz mocidade,

Canto uma sodade que mora em meu peito.

Música : O cuitelinho

Composição: Folclore recolhido por Paulo Vanzolini e Antônio Xandó

Cheguei na beira do porto

Onde as onda se espaia

As garça dá meia volta

E senta na beira da praia

E o cuitelinho não gosta

Que o botão de rosa caia,ai,ai

(...)

A tua saudade corta

Como aço de naváia

O coração fica aflito

Bate uma, a outra faia

E os óio se enche d´água

Que até a vista se atrapáia, ai...

http://www.youtube.com/results

18

Luar do Sertão

Simone

Composição: João Pernambuco e Catulo da Paixão Cearense

Não há, oh gente, oh não

Luar como esse do sertão

Não há, oh gente, oh não

Luar como esse do sertão

Oh, que saudade do luar da minha terra

Lá na serra branquejando folhas secas pelo chão

Esse luar lá da cidade tão escuro

Não tem aquela saudade do luar lá do sertão

(...)

Coisa mais bela neste mundo não existe

Do que ouvir-se um galo triste

No sertão se faz luar

Parece até que a alma da lua é que descanta

Escondida na garganta desse galo a soluçar

Ah, quem me dera que eu morresse lá na serra

Abraçada à minha terra

E dormindo de uma vez

Ser enterrado numa grota pequenina

Onde à tarde a surunina

Chora a sua viuvez

http://www.youtube.com/results

19

Os sentidos do texto.

1. Observando a linguagem:

Que tipo de linguagem foi utilizado nos textos?

Como vemos essa linguagem em nosso dia a dia?

2. Em “O Poeta da Roça” como o eu-lírico expressa o sentimento do fazer

poético?

3. O que representa o cuitelinho na música? Em nossa região qual é a

denominação para este pássaro?

4. Chico Bento constata a difícil arte de fazer versos. Você concorda que é

difícil de ler e produzir poemas?

HORA DO IMPROVISO

1. Fazer novamente várias leituras (silenciosa, individual, em grupo, oral)

para se apropriar do ritmo e da sonoridade de cada um. É hora de improvisar e

de utilizar o jogo dramático, os textos têm como cenário a natureza. Perguntar

o que tem na natureza local (Animais, plantas, árvores...)? Fazer anotações.

Dando um exemplo: Pedir que escolham um dos animais sugerido pela classe.

Agora podemos imitar o animal escolhido pela classe (cada um a seu jeito), uns

mais fortes, outros mais fracos todos “cantando” ao mesmo tempo, fazer uma

sonata como, por exemplo, imitando as várias espécies de pássaros. Ou ainda

os pingos da chuva caindo...

2: Organizar grupos para que cada um escolha um texto já visto como

base para a atividade. Elaborar uma história encenada por todos, levando em

conta a criatividade de cada um. Para isso, é necessário, muitos personagens,

animações (casas, plantas, animais, chuva,...). Apresentar o resultado para o

grupo. Montar um painel para a exposição dos trabalhos.

20

Tema 2: amor

1. Poesia - Vinicius de Moraes Poema dos

olhos da amada;– soneto de separação;

soneto de fidelidade;

2. Poesia - Luiz Vaz de Camões – Amor é

fogo que arde sem se ver;

3. Poesia - CDA - Caso do vestido;

4. Música – Sozinho – Caetano Veloso.

Primeiros contatos

1. Distribuição e leitura dos poemas; primeiro: leitura silenciosa, depois leitura oral.

2. Explorar a diferença em se fazer a leitura de um texto poético em voz alta e em voz baixa (silenciosa), pois quando a leitura é feita em voz baixa não se consegue apreender todo o seu sentido, o seu ritmo e segundo Saramago um texto literário em um livro fechado é uma palavra morta, está dormindo, o mesmo lido em voz baixa não tem música, mas acorda um pouquinho, já quando é lido em voz alta, ele canta, acorda.

3. Ouvir a música e/ou cantá-la. 4. Conversa sobre os poemas: o que mais chamou a atenção? Como é

construído o poema (verso/ rima...) comentários livres sobre o assunto.

Mãos espalmadas – Eurich 06/2010

21

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;

É ferida que dói e não se sente;

É um contentamento descontente;

É dor que desatina sem doer;

(...)

Mas como causar pode seu favor

Nos corações humanos amizade,

Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

Autor: Luís de Camões

POEMA DOS OLHOS DA AMADA

Vinícius de Morais

Ó minha amada

Que olhos os teus

São cais noturnos

Cheios de adeus

São docas mansas

Trilhando luzes

Que brilham longe

Longe dos breus...

(...)

Ah, minha amada

De olhos ateus

Cria a esperança

Nos olhos meus

De verem um dia

O olhar mendigo

Da poesia

Nos olhos teus.

22

Soneto De Separação

Vinicius de Moraes

Composição: Vinicius de Moraes / Antonio Carlos Jobim

De repente do riso fez-se o pranto

Silencioso e branco como a bruma

E das bocas unidas fez-se a espuma

E das mãos espalmadas fez-se o espanto

(...)

Fez-se do amigo próximo, distante

Fez-se da vida uma aventura errante

De repente, não mais que de repente

SONETO DA FIDELIDADE

Vinícius de Morais

De tudo, meu amor serei atento

Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto

Que mesmo em face do maior encanto

Dele se encante mais meu pensamento.

(...)

Eu possa me dizer do amor ( que tive ) :

Que não seja imortal, posto que é chama

Mas que seja infinito enquanto dure.

23

Caso do Vestido

Nossa mãe, o que é aquele

vestido, naquele prego?

Minhas filhas, é o vestido

de uma dona que passou.

Passou quando, nossa mãe?

Era nossa conhecida?

Minhas filhas, boca presa.

Vosso pai vem chegando.

Nossa mãe, dizei depressa

que vestido é esse vestido.

Minhas filhas, mas o corpo

ficou frio e não o veste.

O vestido, nesse prego,

está morto, sossegado.

Nossa mãe, esse vestido

tanta renda, esse segredo!

Minhas filhas, escutai

palavras de minha boca.

Era uma dona de longe,

vosso pai enamorou-se.

E ficou tão transtornado,

se perdeu tanto de nós,

se afastou de toda vida,

se fechou, se devorou,

chorou no prato de carne,

bebeu, brigou, me bateu,

me deixou com vosso berço,

foi para a dona de longe,

mas a dona não ligou.

Em vão o pai implorou.

Dava apólice, fazenda,

dava carro, dava ouro,

beberia seu sobejo,

lamberia seu sapato.

Mas a dona nem ligou.

Então vosso pai, irado,

me pediu que lhe pedisse,

a essa dona tão perversa,

que tivesse paciência

e fosse dormir com ele...

Nossa mãe, por que chorais?

Nosso lenço vos cedemos.

(...)

de que tudo foi um sonho,

vestido não há... nem nada.

Minhas filhas, eis que ouço

vosso pai subindo a escada.

Carlos Drummond de Andrade

24

Música: Sozinho

Caetano Veloso - Sozinho

Às vezes, no silêncio da noite

Eu fico imaginando nós dois

Eu fico ali sonhando acordado, juntando

o antes, o agora e o depois

por que você me deixa tão solto?

por que você não cola em mim?

Tô me sentindo muito sozinho!

(...)

e se ela, de repente, me ganha?

Quando a gente gosta

é claro que a gente cuida

fala que me ama

só que é da boca pra fora

ou você me engana

ou não está madura

onde está você agora?

(...)

http://www.youtube.com/results

25

Os sentidos do texto

1. Cada texto traz diferentes formas de amar. Discuta com seus colegas no grupo e escreva a

idéia de amor de cada um dos textos acima. ( exemplo: Amor apaixonado; amor paterno;

amor romântico...)

2. Após ouvir a música , ler os poemas novamente, escolha um dos textos e faça uma

ilustração.

3. Grife os versos da música que mais lhe chamou a atenção. Depois compare e reflita com

os colegas.

4. Que sentimento revela o eu - lírico dos poemas:

a. Soneto de separação

b. Poema dos olhos da amada.

HORA DO IMPROVISO

Declamação: é o ato de recitar versos em voz alta, dando as palavras e as frases

entonação apropriada. Pode utilizar-se de versos e expressões.

Individualmente ou em grupo escolha um poema ou uma canção dessa atividade, leia

repetidas vezes. Ensaie diversas vezes, levando em conta o ritmo, rima, entonação e outros

aspectos do poema e da declamação.

Organize-se para apresentar para a turma, você pode utilizar gestos, expressões faciais

durante a apresentação, enfatizando alguns aspectos importantes do texto.

Faça a avaliação por meio do debate e da reflexão com os colegas.

Pode, ainda, durante as declamações utilizar-se de instrumentos musicais ao vivo ou um

aparelho de som. Para a cação pode ser usado a melodia como acompanhamento para a

declamação da letra.

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Tema 3: poesia infantil

1. Poesias de Elias José – Grilo Grilado – Caixa

Mágica de surpresa.

2. Música - A casa de Vinicius de Moraes;

3. Poesia de Mario Quintana – Pé de pilão

Primeiros contatos

1. Fazer leituras diversas sentindo as diferenças existentes em todos os poemas. 2. Ouvir a música e/ou cantá-la. 3. Conversa sobre os poemas: o que mais chamou a atenção? Como é construído o poema?

(verso/ rima...) comentários livres sobre o assunto.

Livros de Poesias – Eurich – 06/2010

27

1. GRILO GRILADO

Elias José*

O grilo,

coitado,

anda grilado,

e eu sei

o que há.

Salta pra aqui,

salta pra ali.

Cri-cri pra cá,

cri-cri pra lá.

O grilo,

coitado,

anda grilado

e não quer contar.

(...)

Seu Grilo,

eu sei:

o seu grilo

é um grilo

de amor

caixa mágica de surpresa ´

Elias José

Um livro

é uma beleza,

é caixa mágica

só de surpresa.

Um livro

parece mudo,

Mas nele a gente

descobre tudo.

Um livro

tem asas

longas e leves

que, de repente,

levam a gente

longe, longe

(...)

Um livro é uma floresta

com folhas e flores

e bichos e cores.

É mesmo uma festa,

um baú de feiticeiro,

um navio pirata do mar,

um foguete perdido no ar,

É amigo e companheiro.

28

2. A casa

Composição: Vinicius de Moraes

Era uma casa muito engraçada

Não tinha teto, não tinha nada

Ninguém podia entrar nela, não

Porque na casa não tinha chão

(...)

Mas era feita com muito esmero

na rua dos bobos numero zero

http://www.youtube.com/

4. Mário Quintana - Pé de Pilão

(...)

A avó do pato é uma fada

Que ficou enfeitiçada.

Nunca nunca envelhecia

Era loira como o dia.

Ai, que linda era ela!

E agora seca e amarela.

Parece passa de gente,

Não tem cabelo nem dente.

Vou num instante contar

Como pode assim mudar.

Lá na floresta encantada

Mora a Fada Mascarada.

Ninguém direito a conhece,

pois sempre outra parece.

Conforme lhe dá no gosto,

Cada dia usa um rosto.

(...)

E não sei se já lhe disse

Que a avó do pato era Alice.

Ora um dia Alice vinha

Pela floresta sozinha.

Vendo-a, a Fada Mascarada

Voa a casa da coitada.

O pato, naqueles dias

Era um menino, o Matias.

“olha menino , o que eu trouxe!”

E lhe mostra um lindo doce.

Ele, guloso e contente

Finca o dente no presente.

Vai falar. Mas que é que há?

Só pode dizer quá...quá...

(...)

29

Os sentidos do texto

1. Leia os poemas acima e marque as rimas e o ritmo de cada um.

2. Como cada autor retrata o tema nos poemas citados?

3. Com base nos textos responda:

a. Qual é a atitude do grilo grilado? Por que ele é grilado?

b. Como Elias José descreve o livro?

c. Por que a casa de Vinicius era engraçada?

d. O poema pé de pilão faz intertextualidade com outros textos conhecidos cite-os.

e. O que acontece com o pato e com a avó em o pé de pilão?

Paráfrase: é uma espécie de reescrita do texto existente, é uma nova forma de dizer o que

já está dito no texto base. Para isso é necessário que o autor da paráfrase entenda as

ideias contidas no texto e utilize a mesma sequencia, sem omitir informações, nem fazer

comentários do que diz o texto original. Não apenas repetir construções, mas utilizar

vocabulário diferente.

Hora do improviso

Releia os textos de modo particular e reveja como cada autor em especial tratava o tema.

Individualmente ou em grupo improvise uma paráfrase de um dos textos vistos ou outros

conhecidos, essa pode ser musicada.

Apresente em voz alta para o grupo.

30

Tema 4: metalinguagem na poesia.

1. Poesia de Elias José - tem tudo a ver

2. Cassiano Ricardo - Poética

3. CDA - procura da poesia

4. Música - Lulu Santos - Como uma onda no mar

Primeiros contatos

1. Distribuição e leitura dos poemas primeiro leitura silenciosa, depois leitura oral. 2. Ouvir a música e/ou cantá-la. 3. Assistir um vídeo clipe. 4. Conversa sobre os poemas: o que mais chamou a atenção? Como é construído o poema

(verso/ rima...) comentários livres sobre o assunto.

Moça lendo em Itu. José Ferraz de Almeida Júnior (Brasil 1850-1899) –Pinacoteca Eurich -06/2010

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1 . Tem Tudo a Ver

Elias José

A poesia

tem tudo a ver

com tua dor e alegrias,

com as cores, as formas, os cheiros,

os sabores e a música

do mundo.

A poesia

tem tudo a ver

com o sorriso da criança,

o diálogo dos namorados,

as lágrimas diante da morte,

os olhos pedindo pão.

A poesia

(...)

A poesia

— é só abrir os olhos e ver —

tem tudo a ver

com tudo.

2. Poética:

Cassiano Ricardo

1

Que é a Poesia?

uma ilha cercada

de palavras

por todos

os lados.

2

Que é o Poeta?

(...)

2 Procura da Poesia, de Carlos Drummond de Andrade. 32

Não faças versos sobre acontecimentos.

Não há criação nem morte perante a poesia.

Diante dela, a vida é um sol estático,

Não aquece nem ilumina.

As afinidades, os aniversários, os incidentes pessoais não contam.

Não faças poesia com o corpo,

esse excelente, completo e confortável corpo, tão infenso à efusão lírica.

(...)

O que pensas e sentes, isso ainda não é poesia.

Não cantes tua cidade, deixa-a em paz.

O canto não é o movimento das máquinas nem o segredo das casas.

Não é música ouvida de passagem: rumor do mar nas ruas junto à linha de espuma.

O canto não é a natureza

nem os homens em sociedade.

Para ele, chuva e noite, fadiga e esperança nada significam.

A poesia (não tires poesia das coisas)

elide sujeito e objeto.

Não dramatizes, não invoques,

não indagues. Não percas tempo em mentir.

Não te aborreças.

(...)

Que se dissipou, não era poesia.

Que se partiu, cristal não era.

Penetra surdamente no reino das palavras.

Lá estão os poemas que esperam ser escritos.

Estão paralisados, mas não há desespero,

há calma e frescura na superfície intata.

Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.

Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.

Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.

Espera que cada um se realize e consuma

com seu poder de palavra

e seu poder de silêncio.

(...) Trouxeste a chave?

(...)

33

4 Música: Como uma onda no mar

Composição: Lulu Santos / Nelson Motta

Nada do que foi será

De novo do jeito que já foi um dia

Tudo passa, tudo sempre passará

A vida vem em ondas como o mar

Num indo e vindo infinito

Tudo que se vê não é

Igual ao que a gente viu há um segundo

Tudo muda o tempo todo no mundo

Não adianta fugir

Nem mentir pra si mesmo

(...)

http://www.youtube.com/results

Sentidos do texto.

1. Cada aluno escolhe um poema para fazer leitura individual e silenciosa,

observando como cada um foi construído ( estrofes, rimas, sonoridade).

Depois fazer a leitura em voz alta analisar como cada poema foi escrito,

a disposição dos versos e do fazer poético de cada autor. Compare

como cada autor se coloca na arte de poetar. Há pontos semelhantes?

Quais?

2. Eu - lírico é o ser que expressa suas emoções num texto do gênero

lírico. Como você idealiza o eu - lírico nos textos?

Hora do improviso

Escreva um texto poético em grupo para apresentado em forma de

jogral, utilize os poemas desta atividade como base e enriqueça com suas

idéias.

Imite os poetas. Improvise um poema que tenha como base o fazer

poesia. Esse texto deve ter a estrutura do poema em versos, distribuídos em

estrofes, possuindo rima ou não. Não esqueça que poesia é invenção criação.

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Tema 5: social

Leia os poemas a seguir e note o que cada um deles tem em comum.

01. A morte do leiteiro - CDA

02. Faroeste caboclo – Legião Urbana

03. Não há vagas – Ferreira Gullar

04. O bicho – Manuel Bandeira

05. Comida - Titãs

Primeiros contatos

Neste momento serão lidos os textos de diversas formas ( leitura silenciosa, oral, individual, grupo...) e feito a exposição de ideias oralmente, para sentir os textos e sua composição.

Cidade de São Paulo –

Eurich 05/2010

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1. Morte do Leiteiro

Carlos Drummond de Andrade

A Cyro Novaes

Há pouco leite no país,

é preciso entregá-lo cedo.

Há muita sede no país,

é preciso entregá-lo cedo.

Há no país uma legenda,

que ladrão se mata com tiro.

Então o moço que é leiteiro

de madrugada com sua lata

sai correndo e distribuindo

leite bom para gente ruim.

Sua lata, suas garrafas

e seus sapatos de borracha

vão dizendo aos homens no sono

que alguém acordou cedinho

e veio do último subúrbio

trazer o leite mais frio

e mais alvo da melhor vaca

para todos criarem força

na luta brava da cidade.

(...)

Da garrafa estilhaçada,

no ladrilho já sereno

escorre uma coisa espessa

que é leite, sangue... não sei.

Por entre objetos confusos,

mal redimidos da noite,

duas cores se procuram,

suavemente se tocam,

amorosamente se enlaçam,

formando um terceiro tom

a que chamamos aurora.

1. Faroeste Caboclo

Legião Urbana

Composição: Renato Russo

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo

Era o que todos diziam quando ele se perdeu

Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda

Só pra sentir no seu sangue o ódio que

Jesus lhe deu

(...)

E João não conseguiu o que queria

Quando veio pra Brasília, com o diabo ter

Ele queria era falar pro presidente

Pra ajudar toda essa gente que só faz...

Sofrer...

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2. NÃO HÁ VAGAS

O preço do feijão

não cabe no poema. O preço

do arroz

não cabe no poema.

Não cabem no poema o gás

(...)

- porque o poema, senhores, está fechado: "não há vagas" Só cabe no poema o homem sem estômago a mulher de nuvens a fruta sem preço O poema, senhores, não fede

nem cheira Ferreira Gullar

3. O bicho

Manuel Bandeira

Vi ontem um bicho

Na imundície do pátio,

Catando comida entre os detritos.

(...)

O bicho não era um cão.

Não era um gato.

Não era um rato.

O bicho(...).

4. Comida Titãs Composição: Arnaldo Antunes / Marcelo Fromer / Sérgio Britto

Bebida é água! Comida é pasto! Você tem sede de que? Você tem fome de que?...

A gente não quer só comida A gente quer comida Diversão e arte A gente não quer só comida A gente quer saída para qualquer parte...

A gente não quer só comida A gente quer a vida como a vida quer. (...)

Bebida é água! Comida é pasto!

Você tem sede de que? Você tem fome de que?...

A gente não quer só comer A gente quer comer E quer fazer amor A gente não quer só comer A gente quer prazer Prá aliviar a dor...

A gente não quer Só dinheiro A gente quer dinheiro E felicidade A gente não quer Só dinheiro A gente quer inteiro E não pela metade...

(...)

http://letras.terra.com.br/titas/91453/

37

Sentidos do texto

Leitura dos textos, debate sobre a linguagem e a forma de composição.

Reflexão dos vocábulos desconhecidos. Busca da intencionalidade de cada

texto.

1. Relacione os textos a que temática social pertence:

a. Fome:

b. Insegurança

c. Violência

2. Identifique nos dois primeiros textos a que tipo de violência eles se

referem.

3. Os três últimos falam de tipos diferentes de fome. Identifique nos textos

a que tipo de fome o autor se refere.

4. Discutir as necessidades básicas dos seres humanos que se distingue

dos outros seres.

5. Faça um estudo comparativo entre o texto “comida” e o texto “ O bicho”.

Jogral: Na Idade Média o artista, de origem popular, cantava melodias ou

recitava poemas com acompanhamento de instrumentos musicais, geralmente

as cantigas apresentadas nos jograis eram compostas pelos trovadores. Hoje o

jogral compõe-se de textos poéticos os quais são declamados de forma

harmoniosa e em voz alta.

Hora do improviso

Faça novamente a leitura dos textos poéticos e escolha um para servir

de base para o jogo dramático. Reúna no grupo e discuta as ideias

apresentadas. Monte um jogral atualizado sobre a temática discutida e

apresente para a turma, utilizando os recursos dispostos no momento da

criação.

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Referências bibliográficas.

ANDRADE, Carlos Drummond de. Literatura Comentada. 3ª Ed.. São

Paulo, Nova Cultural, 1990. (páginas: 64; 77).

ANDRADE, Carlos Drummond de. Coleção Carlos Drummond de

Andrade – A Rosa do Povo. Editora Record, Rio de Janeiro – RJ. (página 96)

ASSARÉ, Patativa do. Antologia Poética; organização e prefácio de

Gilmar de Carvalho. 3ª edição. Fortaleza, Edições Demócrito Rocha, 2004.

(páginas 21 e 22)

BANDEIRA, Manuel. Literatura Comentada. 3ª Ed.. São Paulo, Nova

Cultural, 1990.

GULLAR, Ferreira. Toda Poesia. 6ª edição. Rio de Janeiro, Editora José

Olympio, 1997. (página 157)

MORAES, Vinicius de. Livro de Sonetos. São Paulo, Editora Círculo do

Livro, 1991. (páginas 23, 55).

QUINTANA, Mário. Literatura Comentada. 3ª Ed.. São Paulo, Nova

Cultural, 1990. (páginas 163 a 168)

PAZ, Otávio, O arco e a Lira. Copyright, 2000, UFRGS.

PINHEIRO, Héder. Poesia na sala de aula. Campina Grande.

Bagagem, 2007.

Sites consultados:

http://images.google.com.br/images (Consultado em 16/06/2010)

http://letras.terra.com.br/ (consultado em 07/07/2010)

http://www.youtube.com/ (consultado em 10/05/2010)

http://www.tcomp.com.br/entretenimento/paper/pordosol/pordosol0011.jpg (consultado em

20/06/2010)

http://www.ufrgs.br/proin/versao_2/paz/index01.html ) (consultado em 24/07/2010)

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