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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE Produção Didático-Pedagógica 2007 Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4 Cadernos PDE VOLUME II

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

Produção Didático-Pedagógica 2007

Versão Online ISBN 978-85-8015-038-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

I

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IDENTIFICAÇÃO Autor: Elídio Sérgio Budziacki

Estabelecimento: Colégio Estadual Antonio Lacerda Braga

Ensino: Fundamental

Disciplina: História

Conteúdo estruturante: Historiografia brasileira e Dimensão Histórica da

Disciplina de História do Brasil

Conteúdo Específico: A Coluna Prestes: Desafios e resultados

1) PROBLEMATIZAÇÃO DO CONTEÚDO

“Se são militares que formam na vanguarda do movimento de regeneração política do Brasil, é que suas armas lhes davam a possibilidade de agir; e não estava ainda em condições de substituí-los a ação das massas populares, desorganizadas e politicamente inativas. Os tenentes assumirão por isso a liderança da revolução brasileira.” (Caio Prado Júnior).

A Coluna Prestes: Desafios e Resultados

O Homem, como ser histórico e sujeito de sua própria existência, jamais

estará pronto e acabado. Durante sua vida em sociedade, se construirá e se

reconstruirá tantas vezes quantas forem necessárias para a compreensão de sua

realidade baseada não apenas em elementos de seu passado, como de seu

cotidiano e das possibilidades concretas de transformação da realidade futura.

Compreender a forma como ocorrem as relações entre os homens e as

instituições e as relações de poder que se constroem nestes espaços tornam-se

fundamentais para o entendimento das ações e reações produzidas por uma

sociedade. Segundo as Diretrizes Curriculares de História:

Ao tratar o conhecimento como resultado de investigação e sistematização de análises sobre o passado, de modo a valorizar diferentes sujeitos e suas relações, abrem-se inúmeras possibilidades de reflexão e superação de uma visão unilateral dos fatos históricos, os quais passam a ser mais abrangentes. (DCEs, 2006, p. 29)

Diante da realidade vivida no Brasil durante os primeiros anos do século XX,

vários movimentos de caráter político-sociais eclodiram em nosso país, frutos de

uma estrutura econômica e política baseada na permanência e manutenção das

oligarquias econômicas e políticas no poder.

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Essa permanência das oligarquias localizadas no sudeste do país alijava do

processo decisório e de participação na vida política e econômica nacional grande

parcela da sociedade que buscou, inicialmente, de forma pacífica, espaços de

atuação e de participação na vida institucional brasileira.

Existia uma insatisfação generalizada em nosso país com o processo

eleitoral, com a moralidade pública, com o descaso dos governantes. A maioria da

população vivia no campo, em grande parte submetida “aos poderes dos coronéis”.

Desta forma, não se podia esperar que dos setores rurais surgissem propostas de

contestação da ordem vigente. Na área urbana, os setores empresariais buscavam

diversificação e queria conquistar seu espaço, mas também se achava atrelado aos

setores oligárquicos, impedindo-os de ter vida própria ou também contestar os

grupos dominantes.

Os setores médios urbanos tornaram-se numerosos e diversificados, com alto

grau de insatisfação diante da grave crise que abalava o Brasil no início dos anos

20, pois não tinham poder decisório e suas possibilidades de influenciar a vida

política nacional eram muito restritas. Naturalmente revoltados, faltava-lhes

capacidade de organização em relação ao processo revolucionário. É neste quadro

que vão surgir os “tenentes” para preencher o vazio existente pela falta de

lideranças civis. Da mesma forma, a origem social dos tenentes, sua organização,

sua formação cultural, o fato de estarem inseridos institucionalmente lhes fornecia os

subsídios necessários à revolta, mesmo que representando ideologicamente os

preceitos de um liberalismo.

Cabia então aos militares o papel de salvacionismo, renovando o Brasil e as

instituições dos maus políticos. Contudo devemos nos indagar se esta era a

preocupação social que os tenentes apresentavam e se possuíam uma formação

adequada aos novos tempos que nosso país vivia.

Um grupo de brasileiros pertencentes em sua maioria ao quadro da média

oficialidade do Exército e pequena parcela da Marinha realiza uma cisão na

estrutura interna do poder e parte para a luta armada de forma isolada, buscando

demonstrar as contradições que o sistema político-econômico brasileiro apresentava

naquele momento da história.

Nascia assim a Coluna Prestes, que percorreu grande parte do território

brasileiro divulgando seus ideais, conhecendo as várias facetas do Brasil, suas

necessidades e seus problemas. Os reflexos de sua atuação enquanto grupo

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beligerante e questionador da ordem institucional, os diversos momentos de sua

ação pelo país demonstram uma luta interna de classes, de uma oligarquia

interessada na manutenção da ordem e de elementos de classes médias que lutam

por espaço de atuação e que buscam a alteração da ordem vigente, como condição

necessária para a moralização das instituições e para o desenvolvimento econômico

do país.

Após lutarem por mais de 2 anos, que resultados obteve este movimento

revolucionário em nosso país? Com a tomada do poder por Getúlio Vargas, há um

esvaziamento da luta tenentista? São questões que procuraremos responder ao

longo deste trabalho.

PRADO JÚNIOR, Caio. “Prefácio”. In MOREIRA LIMA, Lourenço. A Coluna Prestes

– Marchas e combates. 3ª Ed., São Paulo: Alfa-Omega, 1979, p. 14

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação.

Departamento de Ensino Médio. Diretrizes curriculares para o ensino de história.

Curitiba: SEED, 2006.

PRESTES, Anita Leocádia. Uma epopéia brasileira: a coluna prestes. São Paulo:

Moderna, 1995.

2- RECURSOS DE INVESTIGAÇÃO

2.1. INVESTIGAÇÃO DISCIPLINAR:

A COLUNA PRESTES: REAÇÃO À ORDEM VIGENTE E A BUSCA DE UMA

NOVA IDENTIDADE DE BRASIL

Como afirma SCHMIDT(2004), no ensino de História, problematizar é,

também, construir uma problemática relativa ao que se passou com base em um

objeto ou um conteúdo que está sendo estudado, tendo como referência o cotidiano

e a realidade presentes dos alunos e do professor. Para a construção da

problemática, é importante levar em consideração o saber histórico já produzido e,

também, outras formas de saberes, como aquele difundido pelos meios de

comunicação.

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A Coluna Prestes possui suas raízes no movimento tenentista que se gestou

durante os primeiros períodos da República Velha. Segundo DRUMMOND(1986:31),

é evidente que não considero os militares como um grupo social e político

independente de todos os conflitos e diversidades; essa abordagem apenas

reproduziria o que os militares costumam afirmar sobre si mesmos para justificar

suas intervenções extraprofissionais.[...], procurando reconhecer os seus vínculos

com outros grupos políticos mas, principalmente, mostrando o notável grau de

discrepância entre o intervencionismo tenentista e a ação política de todos os seus

aliados, simpatizantes ou inimigos.[...] Os tenentes enquanto atores políticos foram

forjados pela organização que os reuniu e preparou profissionalmente.

Dessa forma, as forças armadas, com seu caráter institucional, como

organização complexa e burocrática, constituinte do aparelho de governo, aparecem

com autonomia em sua organização e buscando seu espaço de valor,

características essenciais de sua presença política na época das revoltas.

O período da Primeira República no Brasil demonstrou o domínio das

oligarquias paulista e mineira, constituindo um sistema político fechado. A

possibilidade de abertura desse sistema era praticamente nula. A eventual abertura

através de partidos políticos de oposição não traduzia a representação da pequena

burguesia, de onde se originavam os tenentes. De um lado as altas oligarquias não

permitiam espaço para ascensão e participação política da pequena burguesia. Por

outro lado, a maioria do povo constituía uma massa rural que acabava votando de

acordo com os interesses das oligarquias que dominavam cada estado.

O tenentismo apresentou características diferenciadas em relação às outras

revoltas anteriores porque estabeleceu uma clara divisão ou cisão na própria

estrutura militar, em relação aos quadros médios e a alta cúpula militar, que se

encontrava acomodada com o governo de Bernardes.

Dessa forma, a organização profissional dos tenentes lhes permitiu adquirir

certa coesão e organização interna que não existia com outros setores das camadas

médias urbanas. Sua proximidade física e funcional do poder possibilitou maiores

conhecimentos dos mecanismos do aparelho de Estado e de seu funcionamento

interno, possibilitando maiores chances de intervenção.

Considerando que a Coluna Prestes foi formada basicamente por “tenentes”

que se insurgiram e organizaram um movimento revolucionário, nota-se, ao mesmo

tempo, a busca pela afirmação como movimento revolucionário e o parcial

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desconhecimento da realidade brasileira no campo social. Os questionamentos que

naturalmente surgem, estão diretamente relacionados com a possibilidade ou não de

realizar um trabalho de transformação em virtude de falta de objetividade e de

coerência interna, verificadas por dissensões internas nas primeiras fases do

movimento.

Necessário se faz analisar o que ocorre nos primeiros momentos da formação

da Coluna Prestes, para estabelecer relações concretas com as demais fases do

movimento revolucionário, principalmente com a fase conhecida como “guerra de

movimento”1.

As reações das forças legalistas não se limitaram aos combates e

escaramuças normais em combates desta natureza. A utilização de notícias

veiculadas pelos órgãos de imprensa da época buscava descaracterizar e minimizar

a ação das tropas revolucionárias, buscando jogar a população brasileira contra os

seguidores de Prestes.

A Coluna Prestes apresentou uma tática de guerrilhas como forma de luta

contra as tropas legalistas, visto ter inúmeras dificuldades de abastecimento de

armas e munições.

Os revolucionários comandados por Luis Carlos Prestes representavam a

possibilidade de transformação da ordem vigente. A compreensão desta conjuntura

e das forças sociais envolvidas é fundamental para se entender as relações de

poder que se travam no período imediatamente posterior à desarticulação das forças

revolucionárias comandadas por Prestes e quais foram os caminhos seguidos pelos

tenentes que estavam junto com Prestes em tantos campos de batalha.

Referências:

DRUMMOND, José Augusto. O movimento tenentista: intervenção militar e conflito

hierárquico (1922 – 1935). Rio de Janeiro: Graal, 1986.

1 A Guerra no Brasil, qualquer que seja o terreno, é a guerra de movimento. Para nós revolucionários o

movimento é a vitória. A guerra de reserva é a que mais convém ao governo que tem fábricas de munição,

fábricas de dinheiro e bastantes analfabetos para jogar contra as nossas metralhadoras. (Trecho da carta de

Prestes expondo ao General Isidoro Dias Lopes sobre a necessidade de movimentações rápidas das tropas

revolucionárias como solução para evitar os combates diretos, visto a diferença brutal de equipamentos bélicos e

número de forças entre as forças legalistas e as revolucionárias. (In Anita Leocádia Prestes. Uma epopéia

brasileira: a Coluna Prestes, obra citada, p.51)

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___________. José Augusto. A Coluna Prestes: rebeldes errantes. 3ª ed. São

Paulo: Brasiliense, 1991.

MEIRELLES, Domingos. As noites das grandes fogueiras: uma história da Coluna

Prestes. 10ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação.

Departamento de Ensino Médio. Diretrizes curriculares para o ensino de história.

Curitiba: SEED, 2006.

PRESTES, Anita Leocádia. Uma epopéia brasileira: a coluna prestes. São Paulo:

Moderna, 1995.

SÊGA, Rafael Augustus. Tempos belicosos: a revolução federalista no Paraná e a

rearticulação da vida político-administrativa do Estado (1889-1907). Curitiba: Aos

Quatro Ventos/CEFET-PR, 2005.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.

SILVA, Hélio. A marcha da coluna prestes: 1923/1926. 3ª ed. São Paulo: Editora

Três, 2004.

2.2. Perspectiva Interdisciplinar

O conteúdo Coluna Prestes apresenta muitas possibilidades de

interdisciplinaridade. Ao analisar todos os deslocamentos pelo território brasileiro,

devem-se considerar os elementos geográficos fundamentais como o conhecimento

do território e suas possibilidades concretas de utilização tanto pelas forças

revolucionárias como pelas forças legalistas. No mesmo sentido, ao conhecer a

geografia de nosso país, os revolucionários comandados por Prestes realizaram

ações de guerrilha e da guerra de movimento que não seriam possíveis sem os

fundamentos geográficos. Prestes criou o método das “potreadas”(pequenos grupos

de soldados se destacavam da tropa em busca não só de cavalos para a montaria e

de gado para a alimentação, como de informações, que eram transmitidos ao

comando). Esta modalidade permitiu que surgissem elementos valiosos para a

elaboração de mapas detalhados sobre cada região atravessada pelos rebeldes.

Esta situação caracteriza uma ramificação dos estudos geográficos, que é a

Cartografia. Como o governo não conseguia estabelecer vitórias significativas,

utilizou-se da mídia jornalística para disseminar notícias inverídicas ou distorcidas

sobre a realidade, caracterizando assim a utilização dos conhecimentos de Língua

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Portuguesa, também presentes nas poesias e literatura de cordel sobre o movimento

da Coluna Prestes. Ao enfrentar as forças legalistas com um mínimo de

armamentos, munições e sem a presença de médicos, podemos afirmar que há

elementos significativos dos conhecimentos matemáticos e biológicos. Da mesma

forma, os conhecimentos de Psicologia, Filosofia e de Sociologia acham-se

interligados, uma vez que precisavam ter argumentações suficientes para convencer

populações locais com ajuda de suprimentos, auxílio para a travessia de rios.

REFERÊNCIAS:

MEIRELLES, Domingos. As noites das grandes fogueiras: uma história da Coluna

Prestes. 10ª ed. Rio de Janeiro: Record, 2003.

PARANÁ. Secretaria de Estado da Educação. Superintendência de Educação.

Departamento de Ensino Médio. Diretrizes curriculares para o ensino de história.

Curitiba: SEED, 2006.

PRESTES, Anita Leocádia. Uma epopéia brasileira: a coluna prestes. São Paulo:

Moderna, 1995.

SCHMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004.

2.3. CONTEXTUALIZAÇÃO

Coluna Prestes: um momento histórico, uma memória inesquecível.

“Para a Coluna, bastava o existir” Agildo Barata, tenente que não integrou a

Coluna Prestes.

Quando estudamos um determinado assunto ou realizamos uma pesquisa,

torna-se comum o questionamento a respeito da necessidade, da validade e da

intencionalidade do trabalho que realizamos.

Realizar uma crítica sem base é um hábito também muito comum em nossas

instituições de ensino. Antes mesmo de compreender determinado escrito,

documento, uma conjuntura ou uma questão que exige maior profundidade,

lançamos mão da crítica, prontos para afirmar que este ou aquele assunto, autor,

escritor ou produção estão superados, por exemplo.

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Compromisso com o passado não significa estudar o passado pelo passado, apaixonar-se pelo objeto de pesquisa por ser a nossa pesquisa, sem pensar no que a humanidade pode ser beneficiada com isso. Compromisso com o passado é pesquisar com seriedade, basear-se nos fatos históricos, não distorcer o acontecido, como se esse fosse uma massa amorfa à disposição da fantasia de seu manipulador. Sem o respeito ao acontecido a História vira ficção. Interpretar não pode ser confundido com inventar. E isso vale tanto para fatos quanto para processos.

Quais as características do momento histórico no qual a ação da Coluna

Prestes se fez presente e qual foi a sua relevância para a História do Brasil? Como

os revoltosos compreendiam a realidade brasileira de sua época e quais as

alterações que realizaram diante da realidade? São contextos que precisam ser

relacionados e é o que se pretende neste trabalho.

A interferência revolucionária da Coluna Prestes trouxe resultados e estes

podem ser comparados com outras ações de grupos organizados em busca de

mudanças sociais. Sua ação social permitiu conhecer um Brasil que era

desconhecido, visto sua amplitude territorial e as grandes diferenças sociais

existentes.

Os milhares de quilômetros de lutas, perseguições, fugas pelo território

brasileiro contribuíram para o conhecimento da nossa realidade, onde os seguidores

de Prestes deparam-se com um Brasil miserável, de contrastes gritantes; aos

poucos, começam a perceber que as mudanças que precisam fazer não são apenas

moralizar o país e alterar a ordem política vigente, pois este país precisava também

de alterações profundas em suas estruturas econômicas, sociais e ideológicas.

E atualmente, qual é o Brasil que temos? Uma caravana de cidadania

encontraria um Brasil muito diferente do que foi conhecido por Prestes no início do

século XX?

As ações beligerantes da época de Prestes impediam-no de agir com mais

profundidade nas questões sociais, visto que as lutas contra as tropas legalistas

impediam-no de fazer isto. Se a Coluna Prestes assumiu um papel revolucionário e

ocorreu uma perseguição por mais de 2 anos em grande parte do território brasileiro,

significa que as estruturas de poder pretendiam eliminar este movimento antes que

causasse estragos maiores na vida institucional da época. Podemos estabelecer um

paralelo das forças presentes na época antes e depois do movimento revolucionário

comandado por Prestes. Visto que apenas parte do grupo denominado de tenentes

insurgiu-se contra o poder instituído na época, as disputas internas pelo poder

encarregam-se de cooptar elementos que constituirão uma nova feição de poder

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com a desagregação da Coluna Prestes após a eleição de Washington Luís. Mesmo

não sendo vencidos, os seguidores de Prestes são desarticulados e parte deles irá

compor futuramente o governo de Vargas.

Referências:

DRUMMOND, José Augusto. O movimento tenentista: intervenção militar e

conflito hierárquico (1922 – 1935). Rio de Janeiro: Graal, 1986.

KARNAL, Leandro. História na sala de aula: conceitos, práticas e

propostas. 4ª Ed. São Paulo: Contexto, 2005

PRESTES, Anita Leocádia. Uma epopéia brasileira: a coluna prestes. São

Paulo: Moderna, 1995.

3. RECURSOS DIDÁTICOS:

3.1 Sítios

CEDAP: Centro de Educação e Assessoria Popular

http://www.cedap.org.br/publicacoes_coluna_prestes.htm (acessado em

outubro/2007)

O Centro de Educação e Assessoria Popular - CEDAP é uma organização civil, sem fins econômicos. Neste espaço encontramos uma entrevista com Luís Carlos Prestes muito importante a respeito das ações da Coluna Prestes.

FGV- CPDOC

http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia/htm/anos20/ev_crisepol_prestes.htm (acessado em outubro/2007)

Neste espaço há um breve relato das ações dos tenentes e da Coluna Prestes.

Diário Vermelho: as origens e o significado da Coluna Prestes

www.vermelho.org.br/diario/2005/0414/0414_coluna2.asp (acessado em outubro/2007)

Neste espaço encontra-se um aprofundamento da temática sobre a Coluna

Prestes, 80 anos após sua ação beligerante.

Cecac.org.br

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http://www.cecac.org.br/mat%E9rias/Coluna_Prestes_Anita_Leocadia_Prestes.htm ( acessado em outubro/2007)

Neste espaço, Anita Leocádia Prestes apresenta uma síntese das principais

ações da Coluna Prestes, antes e após o exílio, com sugestões de leituras e com a

presença de mapa da região do conflito.

3.2 Sons e Vídeos

Filme: O Velho: a história de Luiz Carlos Prestes

http://www.cineparadiso.com.br/filmes_exibidos%20-%20velho.htm

Direção: Toni Venturi

Brasil, 1996- 98 minutos

Lançamento em DVD - 2004

A trajetória do líder Luis Carlos Prestes ( 1898-1990) é resgatada neste documentário, realizado a princípio para a TV. É a história de um mito, de um homem que encarnou uma causa. Um homem que carregou ideais. O roteiro atravessa 70 anos da história contemporânea brasileira, da qual Prestes foi um dos agentes principais.

Trechos do documentário O Velho com 10 minutos de duração.

www.youtube.com/watch?v=FOstj1HMu9o (acessado em outubro/2007)

Áudio: O Cavaleiro Da Esperança

Intérprete: Taiguara

Título do CD: Brasil Afri

Faixa: 7

Gravadora: Movie Play

1994

Disponível:

http://app.radio.musica.uol.com.br/radiouol/linklista.php?nomeplaylist=006263-

7<@>Brasil_Afri&opcao=umcd (acessado em outubro/2007)

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O Cavaleiro Da Esperança

Quem só espera não alcança Mas quem não sabe esperar erra demais, feito criança Cai. E até se entrega ou trai. E cansa de lutar O Cavaleiro da Esperança faz a hora acontecer Faz punho armado Faz pujança Mas combate pela paz pro povo não morrer Pois Ogum Guerreiro não morre prestes a encontrar uma estrela d'alva para nos guiar É soldado alerta. É São Jorge prestes a enfrentar o dragão do mal que quer nos matar

http://www.youtube.com/watch?v=fWwEjKmRIQI (acessado em outubro/2007)

Além da letra da música que trata da luta de Prestes, ao final da música há

um breve comentário sobre a Esperança que deve ser mantida viva na vida das

pessoas. Afirma que só se pode transformar aquilo que se conhece. Fantástico.

Verifiquem.

3.3. Proposta de Atividades.

Guerra na Paz: a realidade de nosso país.

A Coluna Prestes representou, para a História do Brasil, um momento muito

importante para a compreensão de que movimentos sociais de caráter político

ocorrem a todo instante. A organização destes movimentos e os resultados

alcançados permitem-nos compreender que outros movimentos estão ocorrendo

pelo Brasil afora na atualidade, alguns de abrangência local e outros de abrangência

nacional. Cabe a nós, analisarmos a nossa realidade local para identificarmos as

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formas, as maneiras como os grupos se organizam para defender seus interesses

ou seus direitos. Compreender a dinâmica, as reivindicações e as ações realizadas

por pessoas organizadas é também o papel do historiador.

Em nossa comunidade provavelmente já ocorreram situações semelhantes à

vivenciada pelos seguidores da Coluna Prestes. Talvez estejam acontecendo neste

instante. Quais são estes movimentos? Qual a sua pauta de reivindicações? Quais

as metodologias encontradas para a busca de soluções para seus problemas?

Em cada recanto deste país temos situações-problemas que nem sempre

são resolvidas através de negociações. Muitas vezes, a violência torna-se visível

como resultado final no embate inicial de idéias.

O trabalho com a história local pode produzir a inserção do aluno na

comunidade da qual faz parte, criar sua própria historicidade e identidade, ajudando-

o a gerar atitudes investigativas, criadas com base no cotidiano do aluno, além de

ajudá-lo a refletir acerca da realidade local.

Assim, o trabalho com espaços menores facilita o estabelecimento de

continuidades e diferenças com as evidências de mudanças, conflitos e

permanências. Este trabalho pode ser instrumento para a construção de uma

história mais plural, que não silencie a multiplicidade de vozes dos diferentes

sujeitos da história. Segundo Maria Auxiliadora Schimidt:

“O estudo da localidade ou da história regional contribui para uma compreensão múltipla da História, pelo menos em dois sentidos: na possibilidade de se ver mais de um eixo histórico na história local e na possibilidade da análise de micro-histórias, pertencentes a alguma história que as englobe e, ao mesmo tempo, reconheça suas particularidades”.

Neste espaço, é importante que se estude inicialmente a realidade local,

identificando os movimentos semelhantes ao desencadeado pela Coluna Prestes.

Talvez a presença do Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra, dos Sem

Teto, dos trabalhadores expulsos por grilagem de terras, por pessoas que foram

desapropriadas injustamente com a construção de barragens. Ainda segundo Maria

Auxiliadora Schimidt:

“O trabalho com a história local no ensino de História facilita, também, a construção de problematizações, a apreensão de várias histórias lidas com base em distintos sujeitos da história,

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bem como de histórias que foram silenciadas, isto é, que não foram institucionalizadas sob a forma de conhecimento histórico. Ademais, este trabalho pode favorecer a recuperação de experiências individuais e coletivas do aluno, fazendo-o vê-las como constitutivas de uma realidade histórica mais ampla e produzindo um conhecimento que, ao ser analisado e retrabalhado, contribui para a construção de sua consciência histórica”.

É fundamental que se busque entender a dinâmica interna do movimento,

não apenas em suas causas e conseqüências. Quais são os atores envolvidos em

todo o processo, seus papéis distintos e as relações internas.

Depois de escolhido o movimento ou movimentos que se pretende analisar,

caberá ao professor estabelecer as formas de abordagens necessárias, como

pesquisa bibliográfica, análise de imagens, entrevistas, utilização de questionários,

entre outras formas que poderão ser selecionadas. A socialização das pesquisas é

fundamental para que todos os envolvidos nas diversas atividades tenham pleno

conhecimento do que foi produzido, lembrando de que a participação e envolvimento

da comunidade são fundamentais.

Ainda no tocante às atividades desenvolvidas, é importante que sejam

realizadas comparações com os aspectos ideológicos dos movimentos sociais que

já existiram no Brasil e existentes na atualidade, identificados em cada localidade.

Inúmeras perguntas e dúvidas devem surgir com naturalidade. Elementos

característicos dos grupos sociais envolvidos deverão ser identificados. É preciso

analisar todos os aspectos em sua essência, buscando encontrar traços

semelhantes e contrastantes entre os movimentos sociais do passado e do

presente.

Há que se pensar nas idéias socialistas presentes na Europa, como

resultado do processo de industrialização promovido após a Revolução Industrial e

as conseqüências para a classe trabalhadora, bem como na presença de idéias

socialistas no Brasil, principalmente com o advento das primeiras greves de

trabalhadores. Questionar-se se as práticas socialistas européias são semelhantes

às idéias que emergiram em nosso país.

Os movimentos que eclodem em nosso país na década de 20 do século

passado possuem elementos importantes e que devem ser discutidos no espaço de

sala de aula, promovendo debates, seminários, mesas redondas ou outras formas

que sejam utilizadas para a construção do conhecimento. Há que se considerar a

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realidade brasileira do período acima mencionado, lembrando que temos a fundação

do Partido Comunista, a Semana de Arte Moderna, os Dezoito do Forte de

Copacabana, e, como nosso objeto de estudo, a Coluna Prestes.

Nestes movimentos é importante analisar a presença ou não de idéias

socialistas revolucionárias ou apenas movimentos contra a ordem vigente,

representando uma cisão dentro do sistema político e econômico. Em seguida,

torna-se igualmente salutar analisar os movimentos sociais de cada localidade deste

estado ou país, identificando suas idéias centrais, sua essência, suas propostas.

Sabemos que Prestes teve os primeiros contatos formais com as idéias socialistas

após o período de seu exílio, após a Longa Marcha pelo território brasileiro. E

atualmente, temos movimentos como o MST, os Sem Teto e tantos outros

movimentos que são encontrados por este imenso Paraná. Cabe a cada envolvido

no processo de educação selecionar os movimentos significativos e promover

aprofundamentos e estudos acerca dos mesmos.

Referências:

SCHIMIDT, Maria Auxiliadora. Ensinar História. São Paulo: Scipione, 2004

KARNAL, Leandro(org). História na sala de aula: conceitos, práticas e

propostas. São Paulo: Contexto, 2005.

3.4 Imagens:

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Fonte: Nosso Século, Editora Abril, ed. no 45.

Esta imagem mostra os principais deslocamentos da Coluna Prestes pelo

território brasileiro.

4. RECURSO DE INFORMAÇÃO

4.1. Sugestão de leitura

Livro: Uma epopéia brasileira: a coluna prestes

Referência: PRESTES, Anita Leocádia. São Paulo: Moderna, 1995.

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Comentário: A Coluna foi o acontecimento mais avançado do movimento

tenentista, levando às últimas conseqüências, dentro do ideário liberal da época, a

luta contra as oligarquias, com hegemonia da burguesia cafeeira paulista,

combatendo por justiça, contra a corrupção. Lutava pela moralização dos costumes

políticos, tendo no voto secreto a sua principal reivindicação e a derrubada do

governo Artur Bernardes, representante destas oligarquias, seu principal objetivo.

Livro: O movimento tenentista: intervenção militar e conflito hierárquico

(1922 – 1935).

Referência: DRUMMOND, José Augusto. Rio de Janeiro: Graal, 1986.

Comentário: Importante capítulo do movimento tenentista, a Coluna Prestes

foi mais uma das manifestações do crônico intervencionalismo militar na vida política

brasileira. Acreditando-se os supremos representantes dos interesses nacionais, os

jovens oficiais do Exército que dela participaram percorreram mais de 25.000 Km do

país em 27 meses, arrebanhando simpatizantes e enfrentando tropas regulares do

Exército, de polícias militares e de grupos civis armados.

Livro: As noites das grandes fogueiras: uma história da Coluna Prestes

Referência: MEIRELLES, Domingos. 10ª Edição. Rio de Janeiro: Record,

2003

Comentário: Relato dramático as saga comovente dos jovens oficiais que

doaram suas vidas em defesa da honra e da dignidade. Descreve a Coluna Prestes

como muito mais que uma rebelião militar, semeando esperanças. Obra que narra o

cotidiano da Coluna através da visão de um jornalista.

Internet:

Título: A Coluna: a Paz

Disponível em: http://www.angeloclemente.info/Paz/acolunaapaz.htm

Comentário: Sítio que trata da possibilidade de se produzir uma peça teatral,

um pequeno filme ou documentário. Fornece informações aprofundadas sobre

momentos da Coluna Invicta, como também é conhecida a Coluna Prestes, com

falas montadas e a possibilidade de alterações nos títulos e nos diferentes quadros

em que é composta a dramatização.

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Poesia: Prestes, o cavaleiro da esperança

Referência: http://www.novomilenio.inf.br/cultura/cult063d2.htm

Comentário: Afonso Schmidt faz referência à Luiz Carlos Prestes, o

Cavaleiro da Esperança, com sua força altaneira e os desafios que enfrentou. Muito

bom para trabalho interdisciplinar.

Surgiu no extremo Sul de nossa terra, à frente De uns homens de metal, e aquele batalhão Cortou em linha reta o pampa reluzente E em linha reta entrou pelo escuro sertão.

Destes pagos do Sul que a carqueja colore Às cantigas do Norte, onde o ar cheira a mel Não há patrício meu que a recordar não chore O cavaleiro santo, o de São Gabriel.

Ao longo do Brasil, se todos os gemidos Por um milagre a gente pudesse escutar, O coro redolente e vão dos oprimidos Seria mais profundo e triste que o do mar.

Mas ele há de escutar, e ao trom da sua gente, A terra há de tremer e os brutos fugirão; Há de vir até nós, abrindo no poente, Uma estrada de luz a golpes de facão!

A Coluna

Nesta poesia, Jacinta Passos destaca os principais momentos da grande

marcha e dos combates enfrentados pela Coluna Prestes, demonstrando um grande

conhecimento e a defesa incontestável da luta pela liberdade.

Coluna de mil guerrilhas

Sempre vence e nunca apanha

[...]

Que medida para medir

Os teus feitos de andarilha

De 26 mil quilômetros

Teu roteiro e tua trilha?

Combates, 53,

Sem cair numa armadilha.

Vencidos foram dezoito

Generais. Só de guerrilhas,

Mais de mil Brasil em fora.

[...]

Que medida para medir

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Esse caminho de esperanças

E lutas que abriu tão fundas

Sementeiras de lembranças

E lições para teu povo?

Coluna, tu és a herança

Que os pais transmitem aos filhos

Como abc de criança.

Cartilha de toda hora.

[...]

Eles eram tão moços! E lá fora,

O mundo, a vida, o amor, tanta ilusão!

Que anseios de viver, de se ir embora,

Cada um não sufocou no coração!

Por que enfim esse gesto? Essa

vergonha da derrota final?

Ah, brava mocidade que ainda sonha

E morre pelo ideal!

[...]

Eram paulistas rebeldes

Contra o governo Bernardes,

Eram paulistas que o “5

De julho” já revoltara,

Paulistas que o general

Miguel Costa comandara.

[...] a Coluna já partiu

Partiu das terras do sul,

Dos descampados sem fim

O gaúcho indaga atento:

Para onde marcham assim?

- Adeus cidades que ficam,

Santo Ângelo de onde vim, arredai

serras, adeus

A quem fica atrás de mim.

Partiu das terras do sul,

Dos descampados sem fim.

[...]

Quem deixou essas pisadas?

Foi a Coluna que passou.

Quem na mata abriu picadas?

Foi a Coluna e Viajou

E no seu rastro, cavalos,

Homens e armas, levou

Atrás um feixe de luz

E de esperanças deixou.

Quem deixou essas pisadas?

Foi a Coluna que passou.

[...]

Dois inimigos. Quem são?

Luta de morte. Escuridão.

Silvos, balas. Não responde?

Matou. Morreu. Quem? Aonde?

Foi-se a noite e de manhã

Ó cegueira humana e vã!

Quando em Santa Catarina

A luz primeira ilumina

Jazem restos e destroços

Carne, sangue, armas, ossos,

De legalistas.

Legalistas se encontraram

E enganados se mataram.

Ó Maria preta ó sorte

Ó curva de engano e morte

Longe, voz a comandar

- Coluna ao norte! Marchar!

[...]

Vou com quinze, senhores,

Tirem o facão da bainha,

Arrebanhar os cavalos

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Na redondeza vizinha

Ah! Potreada relâmpago

Tirem o facão da bainha!

Hoje eu vou correr 100 léguas eh!

Cem léguas de arrepiar.

Gritar eh! Eh! Catingueiros

Eh! Polícia. E debandar.

[...]

Ó São Francisco barreira

Entre o oeste e o mar

Tu vais servir ao governo

Para a Coluna cercar?!

Eu nunca! Responde o rio

sou até capaz de secar

Como outrora o Mar Vermelho

Para a Coluna passar.

[...]

Dentro da noite, uma vela

De cera de carnaúba

Com sua luz amarela

Um fio de luzes subindo

Que procissão é aquela?

Na Serra do Sincurá

Soldados caminham nela

Subindo a pé vão puxando

Os animais, vão naquela

Marcha lenta, padiolas

Da chama à luz amarela

Os homens de sete fôlegos

Ofegam, que marcha aquela!

Dentro da noite, Coluna,

Dentro da noite, uma vela.

[...]

Homens de ferro

Curvos cansados

Os pés afundam

No atoleiro

Caminho de visgo,

O derradeiro.

[...]

Coluna, quem

Quem te venceu?

Ninguém, ó filha

Do povo meu.

( Jacinta Passos, A Coluna)

4.2. Notícias

Título da Notícia: Coluna Prestes e a Grande Marcha

Fonte: Revista História Viva, número 3, ano I

Referência: www.revistahistoriaviva.com.br

Texto: A Coluna guerrilheira liderada pelo Capitão Luís Carlos Prestes saiu de

Santo Ângelo, com o intuito de juntar-se com os tenentistas paulistas liderados pelo

major Miguel Costa na região oeste de Santa Catarina. A partir daí estava montada

a Coluna Miguel Costa-Prestes. Contrários às políticas do voto de cabresto vigentes

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e da defesa de interesse oligárquicos da República Velha, os rebeldes percorreram

mais de 35 mil km para defender suas idéias. Enfrentaram as tropas regulares do

exército e as forças policiais dos estados, além de grupos de jagunços estimulados

por promessas oficiais de anistia. Os governos de Artur Bernardes e Washington

Luís não conseguiram derrotar a Coluna que chegou a reunir cerca de 1500

homens. Após mais de dois anos de marcha, os guerrilheiros exilaram-se parte na

Bolívia, parte no Paraguai.

A grande Marcha, como ficou conhecida na China ocorreu entre 16 de

outubro de 1934 a 20 de outubro de 1935.

Para fugir das tropas do governo, os comunistas chineses foram para a região

sul do país, criando a República Soviética da China em 1931, na cidade de Kiangsi (

chamada de Mao de feudo vermelho), com cerca de 10 milhões de habitantes. Para

combatê-los Chiang Kai-shek, líder chinês do partido governista, o Kuomintang, que

dominava a maior parte da China, mobilizou um exército de mais de meio milhão de

homens, financiados com armas e aviões alemães. Destruída a República, os

comunistas se retiraram para o norte. Daí teve origem a Grande Marcha, liderada

por Mao Tsé-tung. Formada por camponeses e revolucionários do PCC, mobilizou

inicialmente 100 mil pessoas. As deserções e a fadiga em diversas batalhas contra

os nacionalistas causaram inúmeras baixas, e somente 20 mil pessoas chegaram a

Yanan onde Mao instalou um território sob domínio comunista.

Comentários: Neste texto há a busca de comparações entre dois

movimentos distintos que ocorreram no mundo. Enquanto a Grande Marcha tinha

conotação e orientação marxista e comunista, Prestes foi ter contato com estas

ideologias apenas após o final da Coluna, durante seu exílio na Argentina.

4.3. Destaques

A Coluna Prestes: Apenas mais uma revolta?

BITTENCOURT, Circe (org). O Saber Histórico em Sala de Aula. 10ª Ed.

São Paulo: Contexto, 2005.

Muitas vezes nos deparamos com manifestações populares, greves,

movimentos reivindicatórios e nossa postura diante destas problemáticas é a do não

envolvimento, visto se tratar de lago que não nos diz respeito. Visões a análises

preconceituosas são facilmente produzidas pelos meios de comunicação de massa,

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principalmente neste momento da globalização. Vemos muitas vezes através das

lentes e dos interesses de quem produziu a informação. Será que vamos a fundo e

investigamos a verdadeira natureza destes movimentos? Será que realmente

conhecemos a história que nos cerca? Como vemos em Bittencourt:

“A invocação do passado constitui uma das estratégias mais comuns nas interpretações do presente. O que inspira tais apelos não é apenas a divergência quanto ao que ocorreu no passado e o que teria sido esse passado, mas também a incerteza se o passado é de fato passado, morto e enterrado, ou se persiste, mesmo que talvez sob outras formas.”

Quantas colunas semelhantes a de Prestes já existiram no Brasil? Quantas

pessoas que se doaram por causas desconhecidas para nós e muitas vezes apenas

ouvimos falar ou ficaram no esquecimento? Há uma necessidade de conhecer a

realidade em que vivemos, identificando os diversos movimentos organizados

existentes em nossa sociedade, que atuam em busca de seu espaço, em busca de

identidade. Numa época crescente de individualismo, cabe-nos importante tarefa

que é a de resgatar as inúmeras vozes que não podem ser caladas, obstruídas ou

eliminadas. Em cada recanto deste nosso país, outros Prestes se manifestam,

atuam, atuaram, desempenharam seus papéis, foram vitoriosos ou ficaram no

esquecimento.

4.4. Paraná

Coluna Prestes, suas marcas também ficaram aqui...

Colônia de Pato Branco (1925-1927): requisitavam o que queriam, não

pagavam pelos animais, feno de corda. Quando derrubassem o governo, a

população seria ressarcida. Ocorreu uma verdadeira correria para esconder os

melhores animais (vacas, cavalos e mulas) nas matas, deixando somente os piores

para serem confiscados. O mesmo destino tinha os homens, por medo do

recrutamento à força e as moçinhas casadoiras. (pg. 75)

STECA, Lucinéia Cunha. História do Paraná: do século XVI à década de

1950. Londrina: Editora UEL, 2002.