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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

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O CIRCO DA ESCOLA: UM ESPETÁCULO CONSTRUÍDO POR ALUNOS

CLEIDE DALA PEDRA CADAN 1

IEDA PARRA BARBOSA RINALDI 2

RESUMO

O presente estudo foi desenvolvido com o objetivo de buscar a viabilidade e a adequação das práticas circenses no contexto da ginástica geral, como conteúdo da educação física, rompendo uma visão meramente motriz e com, isso contribuir para a discussão de uma metodologia para o ensino da arte circense nas aulas de educação física. A pesquisa foi realizada em uma turma de alunos do Programa Viva Escola do Colégio Igléa, localizado na cidade de Cianorte. Partindo da metodologia histórico- crítica, foram ministradas 32 aulas distribuídas em 4 unidades: Unidade I – O circo (História do circo, o circo no Brasil, Um novo circo, Escola, educação física, ginástica e circo); Unidade II – Ginástica (Ginástica de solo; Ginástica geral ou ginástica para todos e Ginástica rítmica; Unidade III – Malabares (Bolas, arco, swing, claves, devil stick ou bastão chinês e diabolo e Equilíbrio (Pé na lata e perna de pau) e Unidade IV – Teatro (Jogo de ator, palhaço e dança). A pesquisa qualitativa se deu por meio de observação e registro em diário de campo, relato de alunos, pais e professores. A análise do material, em conjunto com aplicação das aulas, nos permitiu realizar importantes reflexões sobre o tema. Verificou-se que a arte circense deve ser tratada pela educação física, acima de tudo, como um conhecimento relativo à cultura corporal a ser trabalhado, o que garante a abordagem desta manifestação artística de forma contextualizada e vinculada a seus significados. Entretanto, o estudo indica que a presença do circo no âmbito escolar não deve ter como objetivo principal o aprendizado técnico, mas sim promover o contato com a arte circense, visando sua compreensão e valorização, podendo ainda possibilitar aos alunos a descoberta das suas próprias possibilidades físicas e expressivas. Existe a necessidade de estudos complementares, a fim de que este conteúdo seja de fato concretizado na escola, e assim contribuir para que mudanças significativas aconteçam na educação física.

Palavras-Chave: Educação Física – Ginástica – Práticas Circenses

1 Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional 2009/2010. E-mail: [email protected] Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional e Professora Doutora do Departamento de Educação Física da Universidade Estadual de Maringá. E-mail: <[email protected]>.

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1 INTRODUÇÃO

Na atualidade muitos estudiosos da área da educação física escolar, como:

Soares (1994); Bratch (1999); Castelani Filho (1994), têm se debruçado em buscar romper

com sua dimensão meramente motriz, defendendo a importância de que no espaço

escolar sejam tratadas as diversas dimensões dos conhecimentos da educação física,

quais sejam histórica, cultural, social, estética, técnico instrumental e outras (RINALDI,

2004).

As Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná trazem como

conhecimentos/conteúdos estruturantes da educação física, os jogos e brincadeiras, as

lutas, os esportes, as danças e as ginásticas que serão foco de nosso estudo.

Acrescentam ainda que, estes conteúdos devem ser trabalhados de forma articulada com

a cultura corporal e a ludicidade, pois os elementos articuladores ampliam a compreensão

das práticas corporais, proporcionando diversas intervenções pedagógicas relacionadas

aos problemas que surgem no contexto escolar.

Atualmente, a ginástica, como conteúdo de ensino, praticamente não existe

mais na escola, aula de educação física tem sinônimo de esporte, mais ainda sinônimo de

“jogar bola” (AYOUB, 2004).

Nesse sentido, defendemos que no processo de ensino-aprendizagem das

aulas de educação física, é preciso considerar o desenvolvimento integral do aluno num

sentido amplo, de forma a prepará-lo para participar ativamente na

construção/transformação da sociedade. E, a ginástica geral como conteúdo desenvolvido

no âmbito escolar, seria uma forma de educar, além de possibilitar a formação humana,

tornando o aluno crítico. A proposta de planejamento do professor deve partir de

problemas sociais existentes na comunidade e na sociedade, a partir da realidade

existente na escola, transformados em conteúdos a serem tratados por meio da pedagogia

histórico-crítica, que tem como pressuposto fundamental trabalhar em busca de responder

os interesses da classe trabalhadora.

Para que ocorra uma transformação no âmbito escolar é necessário mudar as

referências sobre as quais a educação física historicamente se estabeleceu. Nesse

sentido, o conteúdo estruturante ginástica possibilitará ao professor o encaminhamento de

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uma interação com o conhecimento, com vistas a uma formação crítica em torno das

formas de pensar e agir sobre o corpo em nosso sistema de organização social.

Ampliando esse olhar, é importante entender que a área de conhecimento da

ginástica compreende uma gama de possibilidades, expressas pelas ginásticas de

condicionamento físico, ginásticas de conscientização corporal, ginásticas competitivas,

ginásticas fisioterápicas e ginásticas demonstrativas que tem como representante a

ginástica geral (SOUZA, 1997). Dentre as manifestações ginásticas, tomamos por foco

para nosso estudo, a ginástica geral que é uma prática presente na contemporaneidade e

potencialmente interessante ao trabalho escolar, pois nela estão presentes movimentos de

todas as manifestações gímnicas competitivas (ginástica artística, ginástica rítmica,

ginástica acrobática, ginástica entre outras), das danças, das lutas, dos esportes, bem

como das artes circenses.

Muitos são os fatores que justificam afirmar que existe um núcleo comum entre

as práticas circenses e as diversas manifestações ginásticas. Segundo Bortoleto (2000),

estas podem ser consideradas como artes corporais, e que cada uma delas possui várias

modalidades diferentes, que seus diferentes modelos técnicos se fundamentam nos

conhecimentos empíricos e científicos acumulados historicamente, e que seus

movimentos funcionam basicamente segundo os princípios físicos descritos pelas teorias

da física clássica (mecânica newtoniana). Isso significa que possuem uma base motora

comum (domínio corporal e de objetos).

Na busca de alternativas de novas práticas na escola, defendemos que é

necessário pensar a educação física a partir de uma mudança significativa, pois na

atualidade a educação física escolar não tem contemplado a enorme riqueza das

manifestações corporais produzidas socialmente pelos diferentes grupos humanos. Inovar

com a finalidade de proporcionar a superação da dimensão meramente motriz é ter

expectativas, possibilidades de articulação e de transformação com o intuito de

complementar, diversificar os conteúdos.

Sendo a escola lugar de transmissão e produção de saberes, conhecimentos e

cultura, a presença das práticas circenses no trato com a ginástica geral no contexto

escolar, particularmente na educação física, deve ser orientada a fim de trazer novos

significados ao corpo, à expressão e cultura corporal, que constituem parte do patrimônio

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cultural da humanidade.

Assim, entendemos que práticas circenses no contexto da ginástica geral

devam ser tratadas pela educação física como um saber pertencente à cultura corporal, de

maneira que possamos promover a compreensão, valorização e apropriação desta

manifestação artística, por meio de uma abordagem que também possibilite, a cada aluno,

a descoberta de suas possibilidades corporais e expressivas.

Segundo Goyaz (2003), quando se tem o circo como tema gerador, é possível

trabalhar de forma criativa com os elementos ginásticos. Pois os elementos básicos da

ginástica têm atividades semelhantes aos do circo, e podem ser explorados ludicamente,

estruturando-se de forma agradável e excitante, dando espaço para o aluno criar e recriar

seus movimentos.

As práticas circenses como parte da ginástica geral podem contribuir com o

trato da ginástica na educação física escolar, servindo como uma alternativa motivadora

para as aulas. Isto porque, as atividades circenses envolvem e encantam crianças,

adolescentes, jovens e adultos, constituindo assim um diferencial que pode ser

incorporado aos conteúdos da educação física. Como nos lembra Bracht (1992), o

movimento a ser tratado pela educação física, como disciplina escolar, é aquele que

carrega determinado sentido/significado conferido por um contexto histórico-cultural.

Parafraseando o autor, por ser dotada de sentido e significado é que as práticas circenses

no conteúdo da ginástica geral pode se justificar no contexto escolar, sobretudo por ser

parte da cultura corporal.

Dessa forma, construímos nosso estudo relacionado com as propostas

educacionais, a partir das práticas circenses por meio da ginástica geral que podem ser

tratadas na educação física proporcionando vivências diversificadas, de forma que

contribuam para o desenvolvimento e formação integral do educando e também como

buscar subsídios para os professores compreenderem e trabalharem este conteúdo nas

aulas. Assim, é uma possibilidade de se fazer presente na escola e vinculando-a a

educação física que tem como papel imprescindível a transmissão dos conhecimentos

relativos à cultura corporal.

Segundo Bracht (1992, p.22), após a II Guerra Mundial, observa-se um grande

desenvolvimento quantitativo do Esporte, o qual vai se consolidando gradativamente como

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o elemento hegemônico da cultura de movimento, em todos os países sob a influência da

cultura européia, como é o caso do Brasil. Com isso, um aspecto importante que ocorreu

foi a progressiva esportivização, impedindo que um horizonte de outras possibilidades de

movimentos possam ser realizados.

Nesse sentido, quando nos referimos aos saberes da educação física escolar,

deparamo-nos com algumas inquietações, tais como: Qual o papel desta disciplina e quais

contribuições poderiam suscitar, a partir do desenvolvimento dos temas da cultura

corporal, sobretudo a ginástica geral? Se as práticas circenses no contexto da ginástica

geral provocam interesse e empolgação nos alunos, porque são pouco exploradas no

âmbito escolar? Quais os limites e as possibilidades de seu ensino nas aulas de educação

física?

Em busca de encaminhamento para essa questão, o estudo procurou,

primeiramente, fazer uma breve discussão sobre o circo, a ginástica geral, o malabares e

o teatro no contexto escolar. Em seguida demarcou passos da proposta metodológica

fundamentada nos estudos de Luiz Gasparin, para a organização do planejamento do

trabalho pedagógico com o aluno. Nesse sentido proporcionou-se aos alunos práticas

circenses no contexto da ginástica geral, nas aulas de educação física, buscando na

interdisciplinaridade uma linguagem que transporte o aluno ao núcleo de criação do circo,

de forma a levá-lo a experimentar com vivacidade a íntima relação entre movimento,

corpo, expressão e arte.

As práticas circenses são um importante meio de inclusão social para crianças

e adolescentes, as quais podem, nas suas horas vagas, se ocuparem com uma atividade

benéfica, não sendo influenciadas pela violência que está presente hoje em nossas vidas,

além de promover o desenvolvimento da disciplina e bons hábitos, contribui para sua

formação, crescimento e auto-estima, melhorando também a sua qualidade de vida.

Constituem uma alternativa motivadora e lúdica para se explorar os conteúdos

da ginástica geral de maneira diversificada, ampla e expressiva. Dar um novo significado

às aula é um exercício que requer amplas possibilidades de intervenção, para superar a

dimensão meramente motriz e imprimir uma dimensão histórica, cultural e social, cuja

idéia ultrapassa a visão de que corpo se restringe ao biológico, ao mensurável.

Assim, acreditamos que podemos pensar na possibilidade de viabilizar o “circo

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da escola”, que deve ter como principal objetivo possibilitar o acesso às artes circenses

nas aulas de educação física, visando a compreensão e a valorização desta manifestação

da cultura corporal, além de organizar espetáculos para a comunidade. Espetáculos estes

que poderão dar oportunidade aos alunos de apresentar aos seus amigos e parentes uma

mostra do que aprenderam na escola, com diversão e técnica.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Na busca de superação de concepções existentes em torno da disciplina de

educação física, recorremos à proposta das Diretrizes Curriculares da Educação Básica

do Estado do Paraná que buscam romper com a maneira tradicional do trato com o

conhecimento na educação física, como uma forma de favorecer uma intervenção

pedagógica condizente com as problemáticas do processo de ensino/aprendizagem

apresentados na atualidade.

Nesse sentido, Paraná (2008, p. 50) propõe que a Educação Física seja

fundamentada nas reflexões sobre as necessidades atuais de ensino perante os alunos,

na superação de contradições e na valorização da educação.

Por isso, é necessário levar em consideração as experiências e os costumes de cada

região, entender a cultura corporal na sua complexidade.

Soares et al. (1992, p.61-62) afirma que “a educação física é uma disciplina que

trata, pedagogicamente, na escola, do conhecimento de uma área denominada de cultura

corporal”.

No período compreendido entre o final da década de 1980 e início da década de

1990, começam a surgir em, nosso país, correntes teóricas que propõem os temas da

cultura corporal como constituintes do conhecimento a ser tratado pela educação física

escolar. Dentre tais temas estariam o jogo, a ginástica, a luta, a dança, o esporte e outros

(SOARES et al., 1992).

O reconhecimento da ginástica como um dos conteúdos da educação física

escolar como um conhecimento a ser tratado na escola, é autêntico, pois segundo Soares

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[...] na medida em que a tradição histórica do mundo ginástico é uma oferta de ações com significado cultural para os praticantes, onde as novas formas de exercitação em confronto com as tradicionais possibilitam uma prática corporal que permite aos alunos darem sentido próprio às suas exercitações ginásticas (SOARES et al. 1992, p.77).

Em busca de um conceito atual de ginástica, este autor a caracteriza como sendo

uma forma particular de exercitação onde, com ou sem o uso de aparelhos, abre-se à possibilidade de atividades que provocam valiosas experiências corporais, enriquecedoras da cultura corporal das crianças, em particular, e do homem, em geral (SOARES et al. 1992, p.77).

Dessa forma, a ginástica geral é uma prática atual e potencialmente interessante,

pois é uma das poucas que permite uma formação corporal ampla e não especializada. É

apontada como ginástica para todos sem finalidade competitiva, orientada para o lazer,

demonstração e espetáculo.

Lara et al. (2007) trazem em uma pesquisa realizada com os conhecedores das

metodologias da educação física que a ginástica praticamente não existe no contexto

escolar. Está presente nas aulas de educação física, mas é tratada de forma equivocada.

Com isso Nista-Piccolo (1995, p.119) destaca a importância da mesma para a

educação física, enfatizando entre outras coisas, que a ginástica geral “(...) se apresenta

como uma atividade gímnica sem cunho competitivo, abrindo espaços para participação e

criação”.

Segundo Ayoub (2001), aprender ginástica geral na escola, significa, portanto,

vivenciar, estudar, compreender, confrontar, interpretar, problematizar, compartilhar,

aprender inúmeras interpretações da ginástica para, com base nesse conhecer, buscar

novos significados e criar novas possibilidades. Podemos assim, acreditar na ginástica

como conteúdo a ser trabalhado nas aulas de educação física.

A ginástica deveria ser pensada e colocada em igualdade com outras práticas

sociais, explicada e ordenada. Devia tornar-se obrigatória para a sociedade em geral,

bem como prática regular em todos os currículos escolares (SOARES et al.,1992, p. 22).

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(...) a ginástica tem o potencial de promover ricas experiências aos educandos, no sentido de possibilitar uma educação comprometida com a relação do homem no mundo e com o mundo. O ensino desta na escola, sua importância no processo educacional e de formação humana, os objetivos deste ensino, os conteúdos a serem desenvolvidos e as possibilidades metodológicas deveriam fazer parte das preocupações dos profissionais que atuam neste espaço educacional (RINALDI e PAOLIELLO, 2003, p.160).

No presente estudo, nos interessa destacar a inclusão das práticas circenses

no âmbito escolar por meio do contexto da ginástica geral.

Os argumentos citados anteriormente nos ajudam a justificar a pertinência da

incorporação de alguns dos movimentos típicos do circo na ginástica geral e, sobretudo,

como movimentos que ajudam a complementar a cultura corporal dos praticantes.

Considerando que as atividades circenses constituem parte do patrimônio

cultural da humanidade, a literatura nos aponta que as mesmas são interessantes e

empolgantes de serem trabalhadas nas aulas de educação física (DUPRAT, 2007);

(BORTOLETO, 2007); (MACHADO, 2003).

No entanto, podemos observar que as práticas circenses no contexto da

ginástica geral são pouco exploradas no âmbito escolar. Assim, acreditamos que deva

ser tratada pela educação física como um saber relativo à cultura corporal a ser

trabalhado com nossos alunos, de maneira que possamos promover a compreensão,

valorização e apropriação desta manifestação artística, por meio de uma abordagem

que também possibilite, a cada aluno, a descoberta de suas possibilidades físicas e

expressivas.

O circo é uma atividade que exerce grande fascínio na sociedade européia do

século XIX. Ali o corpo é o centro do espetáculo, de todas as “variedades”

apresentadas pela multifacetada atuação de seus artistas (SOARES et al. 1992, p. 23).

Em se tratando do conceito de circo, encontra-se no dicionário do Aurélio

(1999) como um grande anfiteatro, recinto circular onde são realizados espetáculos de

ginástica, equitação, acrobatismo, malabarismo, palhaços faziam graça e etc., se

mostrando ainda limitado em relação à notável abrangência da área circense.

Atualmente, as práticas circenses ultrapassam as lonas dos circos e chegam aos

espaços de lazer e às escolas.

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Em diversos países o circo assume características diferentes, como por exemplo no Canadá, onde ginastas começaram a dar aula para alguns artistas performáticos e a fazer programas especiais para a televisão e em ginásios em que os saltos acrobáticos eram mais circenses” (DUPRAT, 2004, p.5).

Muitas manifestações circenses surgiram aleatoriamente em diferentes

sociedades e culturas, muitas vezes ligadas a manifestações religiosas, festivas ou de

treinamento para guerra. Estes tipos de atividades promoviam possibilidades diversas

que iam desde aos desafios dos próprios limites corporais às formas de oposição a

ideologias vigentes, ao mesmo tempo em que se constituía numa forma de encontro e

lazer à comunidade (VIVEIROS DE CASTRO apud BORTOLETO, 2003).

Como já aconteceu com outras atividades, como o esporte, a pintura e a dança,

o circo deixou de ser uma atividade unicamente profissional (corpo espetáculo - um

meio de trabalho). Atualmente observamos muitas pessoas praticando as atividades

circenses como forma de lazer-recreação, com fins educativos e sociais (BORTOLETO,

2003); (MACHADO, 2003).

Portanto, a arte do circo ajudará a enriquecer ainda mais esse legado cultural a

ser ensinado e a formação humana de forma global, algo defendido por (PÉREZ

GALHARDO, 2002).

O grande diferencial no mundo do circo talvez seja a ampla possibilidade de

(re)criação de movimentos e exploração (BORTOLETO, 2004).

Nessa perspectiva compete a nós educadores, romper com os “vícios” do

passado e do presente, e imaginar uma ginástica contemporânea que privilegie, acima

de tudo, o humano do homem, que esteja aberta aos ensinamentos multifacetados da

cultura corporal, inclusive o do esporte, porém sem se render aos apelos e às

armadilhas da esportivização (AYOUB, 1998). De acordo com o mesmo autor (1998,

p.48) “Uma ginástica que aprenda com a acrobacia ousada do equilibrista e a acrobacia

prudente do ginasta, com flexibilidade da contorcionista e a firmeza da ginasta, com o

riso do palhaço. Enfim, uma ginástica que crie espaço para o componente lúdico da

cultura corporal”.

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METODOLOGIA

As experiências obtidas com os alunos por meio da ginástica geral e práticas

circenses foram desenvolvidas numa turma do Programa Viva Escola, constituída em

média por 30 alunos, do Colégio Estadual Igléa Grollmann – Ensino Fundamental e

Médio da rede pública estadual no município de Cianorte-PR, no ano de 2010, por meio

da aplicação de trinta e duas aulas de forma geminada, sendo quatro aulas semanais,

sob a orientação da professora titular ( participante do Programa de Desenvolvimento

Educacional – PDE). O encaminhamento das aulas partiu da prática social inicial do

conhecimento apresentado pelo aluno problematizamos todo esse conhecimento a

partir das necessidades de novas apropriações no campo de estudo proposto no

projeto de trabalho instrumentalizamos esse conhecimento por meio das atividades

trabalhadas na busca de reestruturá-lo atingindo uma nova prática social desse

conhecimento pelos alunos participantes.

A escolha das atividades circenses como área do conhecimento a ser tratada

na escola deu-se pelo fato destas serem um dos componentes que integram os

elementos da cultura corporal presentes na ginástica geral, esta que é um dos

conteúdos da educação física.

Ao experimentar a ginástica geral e práticas circenses, na educação física

escolar foram adotados os cinco passos ou momentos articulados na pedagogia

histórico-crítica, que segundo Saviani (2000, 2003) é uma metodologia de ensino-

aprendizagem, que tem com função primordial a educação escolar na formação integral

do homem contemporâneo, a socialização do saber, o professor como mediador no

processo didático e o processo de aprendizagem na totalidade, tem uma nova

característica na maneira de planejar as atividades.

A pedagogia histórico-crítica, na visão de Gasparin (2002) é uma metodologia de

ensino-aprendizagem que apresenta características como: uma nova maneira de

planejar as atividades docentes-discentes, novo processo de estudo por parte do

professor e novo método de trabalho docente-discente, que tem como base o processo

prática-teoria-prática.

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A pedagogia histórico-crítica é uma prática pedagógica que propõe uma

interação entre conteúdo e a realidade concreta, visando a transformação da sociedade

por meio da ação-compreensão-ação do educando, que enfoca nos conteúdos, como

produção histórico-social de todos os homens. Além do mais, essa pedagogia é

articulada em cinco momentos, a saber: prática social inicial, problematização,

instrumentalização, síntese e prática social final.

A prática social inicial, segundo Saviani (2001) deve ser o ponto de partida do

trabalho docente no qual o aluno estabelece um contato inicial com o conteúdo a ser

trabalhado. Segundo Gasparin (2002), na prática social inicial, a respeito do conteúdo,

o aluno tem uma visão da totalidade empírica e ao mesmo tempo é desafiado a dizer o

que gostaria de saber a mais sobre o conteúdo.

A problematização é o momento no qual se identifica os principais problemas,

“Trata-se de detectar que questões precisam ser resolvidas no âmbito da prática social,

em consequência, que conhecimento é necessário dominar” ( SAVIANI, 2000, p. 71).

Na instrumentalização, o conteúdo sistematizado e produzido, historicamente,

é levado ao conhecimento do aluno para que o assimilem e recriem, esse é o momento

da estruturação do conhecimento científico. No processo de conhecimento, é o

momento em que predomina a análise (SAVIANI, 2003).

A catarse é a nova forma de entendimento no processo de conhecimento é o

momento em que predomina a síntese, a construção da nova totalidade concreta,

Gasparin (2002, p. 134) destaca que a catarse “[...] é a expressão mais evidente que,

de fato, o aluno se modificou intelectualmente”, pois esse momento é a nova postura

mental do aluno, que deve ser capaz de reunir intelectualmente o cotidiano e o

científico, a teoria e a prática.

E por ultimo a prática social final que consiste na manifestação da nova postura

prática, da nova atitude sobre o conteúdo e da nova forma de agir, de pensar a

realidade. Esse momento, de acordo com Gasparin (2002) é o ponto de chegada do

processo pedagógico.

Como técnica de coleta de dados foi utilizada a observação. Nesta, GIL (2002,

p. 53) afirma que “o pesquisador realiza a maior parte do trabalho pessoalmente, pois é

enfatizada importância do pesquisador ter tido ele mesmo uma experiência direta com a

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situação de estudo”. O que, conseqüentemente, torna seus resultados mais fidedignos

e não requer equipamentos especiais para a coleta de dados. Quanto às respostas

apresentadas, as mesmas se tornam mais confiáveis, devido ao fato do pesquisador

participar mais efetivamente no acompanhamento do grupo.

Tendo como finalidade conseguir informações e/ou conhecimentos a respeito

de um problema, para o qual se procura uma resposta, ou acerca de uma hipótese, que

se queira comprovar, ou ainda, descobrir novos fenômenos ou as relações entre eles

(LAKATOS, MARCONI, 1991, p.186). Sendo assim, os dados coletados durante a

aplicação das aulas foram registrados em diário de campo ao final de cada aula,

destacando os acontecimentos principais ocorridos durante a mesma. Também

observamos e anotamos as dificuldades apresentadas pelos alunos em realizar

determinadas atividades.

Para atingir o objetivo proposto, foram aplicadas trinta e duas aulas distribuídas

em quatro unidades: Unidade I – O circo (História do circo, o circo no Brasil, Um novo

circo, Escola, educação física, ginástica e circo); Unidade II – Ginástica (Ginástica de

solo; Ginástica geral ou ginástica para todos e Ginástica rítmica; Unidade III –

Malabares (Bolas, arco, swing, claves, devil stick ou bastão chinês e diabolo e Equilíbrio

(Pé na lata e perna de pau) e Unidade IV – Teatro (Jogo de ator, palhaço e dança).

Visamos com estas atrair e despertar o interesse dos alunos para aulas. O quadro a

seguir apresenta os conteúdos trabalhados e os objetivos dados às aulas.

AULAS CONTEÚDOS OBJETIVOS

UNIDADE I CIRCO

História do circo, o circo no Brasil, Um novo circo, Escola, educação física, ginástica e circo.

- Conhecer a origem do circo (mundo e Brasil);- Conceituar o circo com relação ao aluno;-Conhecer as práticas circenses possíveis de serem trabalhadas no contexto escolar.

Duas aulas

UNIDADE IIGINÁSTICA Ginástica de solo

-Rolamentos, Vela, avião, roda, parada de mão (três apoios)

- Vivenciar os movimentos da ginástica geral.- Melhorar a flexibilidade e agilidade do corpo.

Duas aulas

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Quatro aulas Ginástica geral ou ginástica para todos

- Desenvolver a autoconfiança ao descobrir várias possibilidades de apoio;- Trabalhar com conceitos de cooperação;- Desenvolver alguns conceitos e atividades básicas de ginástica acrobática, por meio da prática de pirâmides em duplas;- Vivenciar e construir alguns movimentos da ginástica geral, criando figuras acrobáticas em grupo, a partir da visualização de matrizes.

Quatro aulasGinástica rítmica – arco, bola, corda e fita

- Conhecer os elementos da ginástica rítmica; - Aprender a manusear os aparelhos da ginástica rítmica;- Montar uma série com os elementos da ginástica rítmica.

UNIDADE IIIMALABARES/EQUILIBRIO

Malabarismo – Bolas, arco, swing, claves, devil stick ou bastão chinês e diabolo.

- Demonstrar e conhecer a diversidade das técnicas circenses/malabaristicas;-Divulgar a importância dos malabares na formação educacional (motora e cognitiva);- Buscar a construção de elementos cênicos básicos possíveis no circo.

Doze aulas

Duas aulas Equilíbrio – Pé na lata e perna de pau

- Adquirir confiança em si próprio e nos colegas, nas atividades de equilíbrio.- Vivenciar os conteúdos de equilíbrio na prática.- Desenvolver, a agilidade, coordenação motora e ritmo.

UNIDADE IVTEATRO

Teatro – Jogo de ator

- Desconstruir a imagem que temos;- Adquirir conhecimento de como se comportar no palco;- Demonstrar capacidade de concentração, improvisação.

Quatro aulas

Duas aulas Teatro - Palhaço- Conhecer alguns os tipos de palhaços;- Criar sua própria imagem de clown;- Aprender a maquiagem.

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Duas aulas Teatro - Dança

- proporcionar ao aluno que reflita sobre a dança na escola;- descobrir novas possibilidades de movimentos;- desenvolver o rítmico individualmente e em grupo.

Assim, as atividades circenses dentre os temas (conteúdos) da cultura corporal

expressam um sentido/significado no qual se interpretam, dialeticamente, a

intencionalidade/objetivos do homem e as intenções/objetivos da sociedade, além

disso, visa aprender a expressão corporal como linguagem (SOARES et al. 1992).

Nestas linhas apresentamos a importância das atividades circenses como

conteúdo da educação física e dos aspectos a elas relacionados, enfatizando o que

tange as aulas e o desenvolvimento desta prática. Em seguida apresentamos nossa

intervenção/investigação de modo a situarmos o leitor no contexto no qual se deu este

processo.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nas unidades nas quais foram abordados os conteúdos que tratavam sobre a

história do circo, ginástica, malabares e teatro, com o objetivo do aluno adquirir um

novo conceito e uma nova consciência crítica sobre o assunto discutido, utilizamos a

metodologia dialética de construção do conhecimento, como podemos verifica a seguir:

UNIDADE I – O CIRCO

Nesta unidade foram trabalhadas duas aulas e o conteúdo apresentado foi a

história do circo; o circo no Brasil; um novo circo; escola; educação física; ginástica e

circo.

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Na prática social inicial realizamos uma pesquisa junto aos alunos sobre o

conhecimento que eles tinham a respeito de circo, inicialmente pedimos que os alunos

respondessem algumas perguntas relacionadas ao circo, que os levassem a refletir

sobre o que já conheciam a respeito. Como: Qual sua definição de circo? Você já

assistiu há algum espetáculo de circo? Onde? No circo existem apresentações de

vários números. Você conhece algum? Qual? Quais as práticas circenses que você

gostaria de conhecer, possível dentro do contexto escolar?

Procuramos tornar a aula divertida, pedimos que colocassem as respostas

escritas num papel dentro de uma bexiga e enchesse, brincamos durante alguns

minutos, muitos alunos não queriam estourar, de tão divertida que estava a brincadeira.

Por meio das respostas, percebemos que muitos nunca haviam assistido há um

espetáculo de circo, outros foram pouquíssimas vezes no circo. Entendemos que na

nossa cidade vêm poucos circo. E as crianças não têm conhecimento nenhum das

possíveis atividades que podem ser trabalhadas no circo por meio da ginástica no

contexto escolar. Pois os mesmos relataram que circo é alegria, divertimento e que tem

mágico e palhaço. E alguns gostariam de aprender mágica.

Segundo Gasparin (2002) este momento da prática social inicial seria o

primeiro contato que o aluno mantém com o conteúdo sistematizado que será

trabalhado pelo professor.

Na problematização escolhemos as maiores dúvidas e dificuldades

apresentadas pelos alunos durante a aula inicial para em seguida, serem solucionadas.

A instrumentalização aconteceu por meio de debates sobre a história do circo, desde

o circo de antigamente até os dias atuais. Sua relação com a ginástica, a educação

física e a escola, trouxemos vídeos de atividades de circo (Cirque du Soleil), apostilas.

Solicitamos que os alunos questionassem seus familiares em relação ao circo de

antigamente, disseram que as pessoas, de antigamente demonstravam maior interesse,

se divertiam bem mais, riam mais, demonstravam serem mais felizes.

Nesse momento, percebeu-se que os alunos tiveram dificuldades em dissertar

sobre a história do circo, qual a relação com a educação física, uma vez que, os alunos

não estavam preparados para fazer esse tipo de atividade.

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O momento da catarse ocorreu quando os alunos passaram a perceber que as

práticas circenses dentro da ginástica geral poderiam ser trabalhadas nas aulas de

educação física.

A prática social final ocorreu por meio de entender mais o sentido, significado

do circo, da relação com a ginástica e por que nas aulas de educação física. Com isso

os alunos começaram a ter uma maior compreensão sobre esse conteúdo e se

mostraram ainda mais interessados no circo. E que é possível trabalhar práticas

circenses dentro da ginástica geral no contexto escolar.

Segundo Goyaz (2003), quando se tem o circo como tema gerador, é possível

trabalhar de forma criativa com os elementos ginásticos. Pois os elementos básicos da

ginástica têm atividades semelhantes aos do circo, e podem ser explorados

ludicamente, estruturando-se de forma agradável e excitante, dando espaço para o

aluno criar e recriar seus movimentos.

Durante o processo de ensino aprendizagem das atividades circenses, os

alunos desenvolvem diferentes aspectos pessoais como a sensibilidade na expressão

corporal, a cooperação, o desenvolvimento da criatividade, a melhora da auto-

superação e a melhora da auto-estima. Assim torna-se um excelente veículo condutor

para uma Educação Física mais artística, mais dedicada às atividades de expressão

corporal (DUPRAT, 2007).

UNIDADE II – GINÁSTICA

O planejamento do conteúdo de ginástica teve duas aulas de ginástica de solo e

acrobática, quatro aulas de ginástica geral ou ginástica para todos e quatro aulas de

ginástica rítmica.

Na prática social inicial os alunos foram questionados se eles sabiam identificar

e vivenciar alguns elementos da ginástica geral, movimentos de solo, acrobáticos e a

ginástica rítmica. Eles demonstraram alguns movimentos, mas muito inseguros e

apresentaram dificuldade na realização. Perceberam que o equilíbrio, a força e a

flexibilidade são de extrema necessidade para a ginástica de solo. Alguns alunos

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relataram que ginástica geral seria salto, alongamentos e outros. Nas aulas de ginástica

rítmica percebeu que eles não sabiam como manuseara os elementos. Tendo assim o

primeiro contato com o conteúdo.

Na problematização escolhemos as maiores dúvidas e dificuldades

apresentadas na prática social pelos alunos para em seguida, verificar quais seriam

solucionadas.

A instrumentalização ocorreu quando o professor solicitou que os alunos

vivenciassem na prática alguns movimentos acrobáticos como rolamentos, estrela,

avião. Também movimentos com corda, bola, arco, fita. Alguns alunos relataram que

faziam rolamentos, cambalhotas, equilibravam no meio fio, parada de cabeça, pulavam

corda, jogavam arco e muitas coisas que fazemos na ginástica. Percebemos que os

alunos faziam no dia a dia os movimentos, mas não identificavam como ginástica geral.

Nesse momento perceber que os alunos reelaboraram seus conceitos cotidianos para

um conceito mais científico.

Segundo Gasparin (2002) a teorização é um processo fundamental para a

apropriação crítica da realidade, uma vez que, ilumina e supera, o conhecimento

imediato e conduz a compreensão da totalidade social.

O momento da catarse ocorreu explicando para os alunos oralmente que a

ginástica de solo e acrobática, podem fazer parte da ginástica geral, mas que é

necessária a confiança e a colaboração dos companheiros para realizar as atividades

propostas. Para Gasparin (2002) é a expressão mais evidente de que o aluno se

modificou intelectualmente, haja vista que nesse momento, o conteúdo empírico torna-

se concreto.

O mesmo autor a esse respeito (2002, p. 128) afirma que é no momento de

catarse que o aluno pode manifestar a "conclusão, o resumo, que ele faz do conteúdo

aprendido recentemente. É o novo ponto teórico de chegada, a manifestação do novo

conceito adquirido".

Além do mais, o momento da prática social final se deu por meio de uma

demonstração dos movimentos de solo e acrobáticos por parte dos alunos e também a

compreensão de que estes elementos fazem parte da ginástica geral e pode ser

trabalhada nas aulas de educação física e mesmo por aqueles alunos que diziam não

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gostar. Montar uma coreografia não é difícil, depois que o professor apresenta todos os

elementos, divide a turma em grupos coloca uma música, os próprios alunos criam,

pesquisam, com tantos recursos hoje em dia, o professor apenas orienta, dá o toque

final.

Na ginástica rítmica os meninos não queriam participar das aulas, dizendo que

era coisa de menina. Depois quando familiarizaram com o material, todos brincaram

sem descriminação. Jogaram arco para cima. Rolaram, até bambolear os meninos

fizeram. Teve uma gincana no colégio, e uma das provas era ver que mais conseguia

bambolear e manter o bambolê, o arco na cintura, e uma sala foi representada por dois

meninos, foi uma surpresa. Achei muito importante essa falta de preconceito por parte

dos demais alunos. Até a fita eles se divertiram, passavam a fita em volta da cabeça, do

corpo. Por meio destas atividades podemos observar como a criança não tem

preconceito. O adulto, o professor é que pensa que a criança não vai fazer, não gosta.

Outro momento que devemos ressaltar foi a ajuda dos alunos entre si. Os que

apresentaram mais facilidade na execução dos movimentos ajudavam os que

apresentavam mais dificuldades.

Essa é uma das principais qualidades desenvolvidas pelo meio circense, a auto-

confiança e a auto-estima, assim como a confiança no próximo (BORTOLETO, 2003).

Percebemos na ginástica que trabalhar em dupla, a confiança que tem que ter

no próximo, isso é muito importante, isso nos leva a refletir na sociedade que vivemos

hoje.

Nesse sentido, Ginástica acrobática, movimentos de solo é uma atividade que

permite o desenvolvimento do domínio corporal, da flexibilidade, da velocidade, do

equilíbrio e, principalmente, da autoconfiança (TEIXEIRA 1996, p. 264).

Um dos grandes fatores da criança não ter conhecimento do corpo, domínio dos

movimentos, estarem totalmente despreparadas, se dá pelo fato de não serem

trabalhados nas séries iniciais, até o 5º ano. Quando chegam na rede Estadual tem a

visão de que “ aula de educação física é jogar bola e pior futsal para os meninos e pular

corda para meninas”.

Segundo Ayoub (2004), atualmente a ginástica como conteúdo de ensino,

praticamente não existe mais na escola, aula de educação física tem sinônimo de

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esporte, mais ainda sinônimo de “jogar bola”. Contudo, é autêntico o reconhecimento da

ginástica como um dos conteúdos da educação física escolar como um conhecimento a

ser tratado na escola (SOARES et al. 1992).

UNIDADE III – MALABARISMO/EQUILIBRIO

Neste conteúdo foram trabalhadas doze aulas, focalizou a confecção e

manipulação de alguns materiais de malabares não tradicional da ginástica (bolas,

arcos, clave, swing, diabolo, devil stick) e perna de pau.

A prática social inicial iniciou-se questionando os alunos se eles conheciam

algum material de malabares (bolas, swing, diabolo, clave, arcos, devil stick) se sabiam

com construírem e também quais os movimentos que poderiam ser realizados com

aqueles materiais. Os alunos disseram que sabiam o que eram os materiais e que

serviam para realizar movimentos, mas não tinham noção de como confeccioná-los e

manuseá-los.

A problematização ocorreu em selecionar as maiores dificuldades que foram

apresentadas e os questionamentos levantados pelos alunos na prática inicial e quais

precisavam ser resolvidos.

O momento da instrumentalização ocorreu com a demonstração da

manipulação destes materiais e a construção de alguns destes materiais de baixo custo

e até mesmo recicláveis. Foram construídas bolas utilizando painço e bexigas; lenços;

arcos feitos de papelão; devil stick utilizando madeira e borracha de aro de bicicleta;

claves feitas de garrafas de refrigerantes.

Segundo Bortoleto (2004), a fabricação de materiais, com sucata, materiais

recicláveis e de baixo custo, além de garantir uma excelente atividade multidisciplinar

para os praticantes, não restringem necessariamente a qualidade do material.

Os alunos exploraram os materiais sozinhos e em equipe, e apresentaram uma

coreografia com a utilização dos mesmos. E ainda muitos relataram que era fácil e

diferente manipular alguns materiais. Durante a construção de alguns materiais não

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tradicionais, observou-se um grande interesse dos alunos, como isso pode estimular a

criatividade e a participação dele nas atividades propostas.

Nesse sentido, Ayoub (2001) salienta que os materiais não tradicionais podem

tornar-se um rico material pedagógico para o desenvolvimento das aulas de ginástica

geral na escola.

A catarse deu-se por meio de discussões e reflexões sobre a aula, de que as

bolas, lenço, arcos, claves são materiais nada tradicionais da ginástica, e que

constatou-se que a maioria dos alunos nunca havia tido contado com o material, nem

manipulado estes malabares. Primeiramente quando apresentamos os malabares para

os alunos deixamos que eles os explorassem, manusearem com queriam, depois

passamos a ensinar os movimentos corretos. Iniciamos com lenços, bolas e arcos.

Esta escolha foi pelo fato do movimento mais simples para mais complexo. Os lenços

permitem um controle motor e um maior entendimento pelos alunos dos movimentos,

por ser mais leve, flutuar mais, demorar mais tempo para cair. Já com as bolas

realizamos movimentos circular e efeito cascata, acreditamos que a maioria

conseguiria, pois com os lenços eles haviam conseguido e assim aumentando o grau

de dificuldade tentar executar com arcos. Muitos alunos conseguiram executar os

movimentos com êxito de bolas e arcos. Neste momento da aula observou-se o quanto

um novo material serve de estímulo para a criatividade dos alunos.

A prática social final Os alunos compreenderam que alguns materiais de

malabares são fáceis de serem confeccionados e que estimulam a criatividade, o

companheirismo em equipe, sendo muito importante esta aproximação para a

aprendizagem de conteúdos. Alguns relataram que foi muito legal, que nunca tinham

brincado com esses materiais, e que não é difícil. Um aluno do 2º do Ensino médio,

disse que gostava de praticar swing, porque se sentia calmo, não percebia a hora

passar.

Com isso muitos conhecimentos foram adquiridos e limites superados. Os

alunos perceberam que os malabares podem ser trabalhados nas aulas de educação

física, por qualquer série, por alunos do ensino fundamental e Médio, que para algumas

pessoas o malabares além de divertido, é uma técnica terapêutica para aliviar o stress.

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Segundo Domingues e Santos (2006), todo exercício de agilidade requer

concentração na atividade, e a capacidade de coordenar movimentos manuais e de

fundamental importância para a precisão dos movimentos das mãos e dos dedos.

Entendemos que o malabarismo não está somente vinculado ao circo, mas

agora podem ser desenvolvido isoladamente ou podem ser subsídios para espetáculos

teatrais e de dança. Também traz muito benefícios para o corpo e a mente. Trabalhar a

coordenação motora, a coordenação olho-mão, aumenta a força a flexibilidade, ajuda

na criatividade e a raciocinar melhor, com isso ajuda na concentração, na atenção,

melhora a auto estima, trabalhando de forma lúdica ajuda a desenvolver a

perseverança e a ganhar autoconfiança. Quando realizamos algo que parece

impossível, adquirimos mais confiança e o prazer de enfrentar sempre novos desafios.

UNIDADE IV – TEATRO

O planejamento do conteúdo teve seis aulas de teatro (jogo de ator, tipos de

palhaços e dança).

O momento da prática social inicial deu-se por meio de dialogo com a turma,

foram feitas algumas perguntas. Quem já participou de teatro? O que fez como ator?

Quando você conta piada pode rir? O que acontece com o coração quando subimos no

palco? Como essas perguntas se dão em nossas vidas cotidianas.

Por meio desses questionamentos constatou-se que alguns alunos nunca tinham

participado de nenhuma apresentação, outros já haviam e relataram que o coração

dispara, que eles ficam nervosos.

Após o questionamento iniciou-se o momento da problematização, no qual

foram detectadas as questões que precisavam ser discutidas.

Na instrumentalização possibilitou-se a realização de expressões na qual o

corpo representasse determinadas situações e emoções vivenciadas do cotidiano.

Exemplo: Como você pode interpretar um velho de 90 anos (ex. bengala, corcunda,

tremendo....)? Uma criança de quatro anos (andando, correndo, chorando....)? Um bebê

(não fala, chora , chupa dedo....)?

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Mostramos para os alunos como cada um já tem a imagem formada, e no teatro

temos que desconstruir esta imagem.

A catarse foi manifestada por meio de demonstração, cada um tinha que passar

no palco fazendo mímica, gesto, que eles mesmos construíram. Ex.: Jogando

amarelinha; Brincadeira esconde-esconde (contar de olhos fechados); Brincando de

estilingue; Representando a personagem pantera cor de rosa; Tomando refrigerante.

Os demais alunos tinham que descobrir o que eles estavam representando. Os alunos

apresentaram vivências de suas casas, sua família o que acontece com ele

diariamente, na escola, na rua, além de situações vivenciadas por outras pessoas e que

haviam presenciado com assalto, tiros, brigas. Apresentaram cenas com brigas e

resolver. Observamos que possuem um conhecimento muito grande da sociedade que

fazem parte de seu cotidiano, ou de alguém que conhecem.

A prática social final ocorreu quando os alunos perceberam que eles estavam

representando, que podiam criar e inventar sua história.

Percebemos nesta unidade que o teatro tem uma grande importância nas aulas

de educação físicas, os alunos desenvolvem a criatividade, a coordenação, a

memorização, o vocabulário, a socialização e muitos outros, como também estimular o

aluno em diversos aspectos que o levam ao aprendizado, servindo como uma variação

da forma de ensinar. Quando os alunos apresentaram as peças demonstraram que é

possível criar e interpretar e com muito pouco, divertir e ensinar a todos.

E se tratando de criatividade nas aulas de educação física, Tafarel (1985) citado

por Ayoub (1998, p.132) afirma que todo ser humano é potencialmente criativo e que o

processo da criatividade deve ser desenvolvido através de procedimentos específicos,

intencional e objetivamente organizados.

Através do teatro, o professor pode perceber traços da personalidade do aluno,

seu comportamento individual e em grupo, traços do seu desenvolvimento e essa

situação permite ao educador, um melhor direcionamento para a aplicação do seu

trabalho pedagógico (LEITÃO, 2002).

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O SHOW VAI COMEÇAR! ORGULHOSAMENTE APRESENTAMOS PARA VOCÊS O CIRCO CONSTRUÍDO POR ALUNOS

Das aulas foi organizado um espetáculo para a comunidade, no qual os alunos tiveram a oportunidade de apresentar para seus amigos e parentes uma amostra do que aprenderam na escola, com diversão e técnica. Em seguida alguns depoimentos e experiências de alunos em relação ao projeto.

“No inicio achei que não daria certo, mas com o passar dos dias, vi que as coisas foram sendo organizadas, os números foram escolhidos e ensaiados e bem apresentados. Percebi também que o circo influência na disciplina das crianças, tanto das que apresentam, como das que assistem, pois exige delas organização em todos os sentidos”. (Sic.)

Aluna Mayara F. Cattarino

“Chegou o grande dia, e foi tudo um grande espetáculo, deu tudo certo, os números engraçados, bonitos e tudo bem organizado, chegou a minha hora e fiquei muito nervosa, mas consegui, faria tudo de novo. Só para ver o olhar daquelas criancinhas, a felicidade deles, para eles parecia tudo tão real, foi lindo, um encanto”. (Sic.)

Aluna Sara Andressa Consani

“Quase tudo pronto, enfim, a estréia do Circo Imaginarium. Foi um momento inesquecível da minha vida. A alegria de muitas crianças foram feitas nesses dias de apresentação, e com certeza ficará na memória delas para sempre”. (Sic.)

Aluno Pedro Henrique Vieira

“É um trabalho muito educativo, onde desperta as crianças descobrindo seus talentos através da peças e apresentação de dança, teatro, ginástica e muito mais. Com a liderança da professora Cleide de educação física podemos realizar este trabalho maravilhoso e educativo para a educação cada vez mais do nosso país”. (Sic.)

Aluno Jeremias Lima dos Santos Filho

“Projeto diferente e muito interessante, proporciona conhecer e interagir com outras pessoas. Fazer novos amigos e reencontrar outros. É uma oportunidade para novos talentos, se expressarem e das crianças divertirem com o circo na escola. A melhor coisa é olhar nos olhinhos daquelas crianças e verem elas felizes, dando tchau, querendo tirar foto e abraçar, isso supera qualquer cansaço que tivemos. Tenho muito orgulho em ter feito parte desse grupo, desde começo, e vou levar para sempre as lembranças de tudo e de todos”. (Sic.)

Aluna Karem Lívia Miranda de Carvalho

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“O circo é bom, ajuda a distrair, ter algumas aulas diferentes de educação física, e bom que foram muitas crianças assistirem o espetáculo e trouxe um momento de distração e novidade a elas”. (Sic.)

Aluno Leomar B. Baggio

“Tivemos a oportunidade de mostrar nosso trabalho para muitas crianças e tenho certeza que fizemos o nosso máximo para tentar ter deixado alguma coisa em suas memórias e acredito que conseguimos. A participação do circo para alguns passou despercebida mas para outros foi um marco muito grande em suas vidas e será lembrado para sempre”. (Sic.)

Aluno Lucas Grecco Contato

Questionamos dois professores, qual sua opinião na possibilidade de trabalhar ginástica e com práticas circenses nas aulas de educação física.

“Sim. Porque na educação física os movimentos são livres e é de fácil aprendizagem, aprende expressão corporal, movimentos que desperta a criatividade das crianças”. (Sic.)

Prof. Helena Sivestre Yassoyama

“Acredito sim, pela necessidade de contrapor a tradição pela renovação. A atividade circense além de uma atividade corporal secular aumenta a experiência pessoal do aluno, traz vários elementos benéficos a quem as pratica, voltados ao físico-corporal, social e pscico-cognitivo”. (Sic.)

Prof. Antonio Guedes da Silva

Queremos ressaltar que as atividades circenses, em diversos países, vêm

constituindo-se como um aliado da educação física, são atividades que não se limitam

somente ao simples controle do corpo, mas sim que geram atitudes com um potencial

educativo (INVERNÓ, 2003).

Um fator importante da inclusão das práticas circenses por meio da ginástica e

práticas circenses no contexto escolar se dá também pela forma participativa dos pais e

da comunidade, como podemos observar a importância das práticas circenses na

aprendizagem, no rendimento escolar, na melhora atenção, na concentração dos

alunos, comprovado pelos depoimentos das mães e da pedagoga da escola.

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“Minha filha mudou para melhor, com as atividades. Se sente mais segura, comunicativa. Estou adorando tudo, gostaria que ela continuasse”. (Sic.)

Nelsa Vicente da Silva

“Através do circo minha filha venceu alguns medos, como a vergonha de se relacionar com as pessoas. Vi de perto o crescimento dela, a mudança na auto- estima, de saber que ela é muito importante, mesmo se errar ela se preocupa com as amizades”. (Sic.)

Wellena Careesso

“Gosto muito que meu filho participa das aulas, deixa a criança fora de computador e estimula a aprender alguma coisa. Parabéns pela iniciativa”. (Sic.)

Regiane Calado

“Na ginástica mexe com os movimentos do corpo e no malabares mexe os movimentos mão dos braços que eu acho fundamental”. (Sic.)

Valdirene Domingos Siqueira

È muito importante para ele tenha um melhor desenvolvimento e habilidade em tudo que praticar, até mesmo a ter mais responsabilidade e também ajudar ele a entender que na rua existe droga e não leva ele a lugar nenhum. (Sic.)

Martinha Aparecida P. Neves

“Ele descarrega sua ansiedade, fica mais atento nas aulas. Obrigada pela dedicação e por pensar no futuro dessas crianças. Só tenho que dizer Obrigado”. (Sic.)

Inêz Yoslive Shibata

“As apresentações encantaram os espectadores, além de motivar os artistas participantes, que foram surpreendidos com o próprio talento, até então desconhecido ou pouco valorizado. As práticas circenses e ginásticas aplicadas neste trabalho mostraram-se muito eficientes para o processo educativo dos alunos envolvidos, pois ludicamente as aulas levaram ao desenvolvimento da socialização, criatividade, cooperação, habilidades motoras, expressão, organização, disciplina, responsabilidade, entre outras. Vários alunos foram levados a superar medos e inseguranças, a lidar com a ansiedade e melhorar a auto-estima, aspectos indispensáveis à aprendizagem. Este trabalho mostra e nos ajuda a compreender a potencialidade, possibilidade e importância das práticas circenses e ginásticas nas aulas de Educação Física para o desenvolvimento dos educandos na formação da cidadania”. (Sic.)

Maria Eliane Bergamasco – pedagoga

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Desta forma, como Bortoleto (2006), estamos convencidos que a utilização das

atividades circenses desperta sensações e produzem uma motricidade que ajuda no

desenvolvimento de vários aspectos da conduta humana, o que contribui de forma

especial na formação humana de nossos alunos. Atividades que põem em destaque a

criatividade, a cooperação, a interculturalidade, a expressão corporal, assim como as

habilidades e capacidades.

Percebemos que a ginástica geral e as práticas circenses, foi uma experiência

muito valiosa para os alunos, além de promover o desenvolvimento da disciplina e bons

hábitos, contribui para sua formação, crescimento e auto-estima, melhorando também a

sua qualidade de vida, mas que ainda existe muita resistência por parte de alunos e

professores. No entanto, acreditamos que há a necessidade de estudos

complementares para que mudanças significativas possam acontecer na educação

física escolar, neste sentido.

5 CONCLUSÃO

Este estudo buscou apresentar as práticas circenses no contexto da ginástica

geral como uma proposta para o espaço escolar, esperando que as mesmas sejam

inseridas neste espaço numa situação real de ensino. E no decorrer do trabalho

encontramos autores que defendem esta proposta nas aulas de educação física.

Procuramos durante a pesquisa identificar algumas alternativas e sugestões

possíveis de serem trabalhadas nas aulas de educação física com a ginástica e,

especificamente as práticas circenses. Fizemos uma discussão sobre a história do

circo, a ginástica geral, os malabares e o teatro, como conteúdo da cultura corporal e

apresentamos como resultado deste trabalho o discurso de alunos, professores e pais

acerca da importância educacional do processo de construção de um espetáculo para

os alunos e comunidade.

Buscando trabalhar de uma forma diferenciada das que freqüentemente são

trabalhadas nas aulas de educação física, utilizamos a metodologia que leve o aluno a

pensar sobre suas ações e conseqüentemente refletir sobre a implicação dos mesmos

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para a sua vida. Os conhecimentos propostos para as aulas foram baseados

efetivamente na pedagogia histórico-crítica.

As atividades circenses foram bem recebidas, pois trouxeram a liberdade e a

ludicidade como fundamentos especiais às práticas corporais, das quais os alunos não

possuem conhecimento.

De maneira geral os participantes do estudo foram unânimes em afirmar que

depois das aulas desenvolvidas começaram a olhar para o circo de um modo diferente;

disseram que as aulas práticas foram diferente do que imaginavam, que aprenderam

muitas coisas, pois os alunos pensam que circo é só palhaço. Afirmaram que o circo é

ginástica, é cultura por meio do teatro e que por meio das atividades desenvolvidas

aprenderam a desenvoltura no palco ou diante de um público. Acrescentaram também

que auxilia a se expressar melhor na escola, além de ajudar quando tem que expor um

trabalho para os outros alunos na sala de aula.

Percebemos também que os resultados alcançados provocaram efeitos positivos

que são percebidos na mudança de comportamento, na disciplina, no senso de

solidariedade e socialização e na auto-estima do aluno, como podemos observar nos

depoimentos no desenvolvimento do trabalho dos alunos, pais e professores e também

na satisfação dos alunos ao realizar, brincar e experimentar as atividades circenses

durante o espetáculo. A virtude desses fatores positivos nos leva a conclusão de que o

impacto mais significativo virá posteriormente, fruto da preparação do aluno para a vida.

O fim é educar o aluno com o objetivo de formar cidadãos. Isto porque, a

ginástica geral pode participar do processo de formação de indivíduos críticos,

assumindo assim, sua função educacional. (RINALDI, 2001).

Ainda, Bortoleto (2006) relata o seguinte:

Considerar o Circo como parte integrante da cultura humana, particularmente da cultura artístico-corporal, pode justificar sua presença no universo educativo, como conteúdo pertinente (...) neste sentido, considerando que grande parte das atividades típicas do Circo possui um caráter motor, podemos considerar que, ao menos esta parte do repertório circense, forma parte como conteúdo pertinente à Educação Física, quanto disciplina que se ocupa de transmitir a cultura corporal dentro do marco escolar (BORTOLETO, 2006, apud DAOLIO, 1995).

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Sabe-se que as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia são muitas, principalmente

nas Escolas públicas, que a falta de aparelhos e materiais é um dos principais

empecilhos que levam à exclusão das práticas circenses e a acomodação por parte dos

professores, assim permanecendo sempre nas mesmas atividades.

Cunha (1999, p.95) afirma que “todos os professores tem um comportamento

político, mesmo que este não seja consciente. Mas poucos agem de forma intencional,

procurando espaços de transformação na sociedade”.

Como conclusão, estamos certos de que a ginástica e as práticas circenses no

contexto escolar contribuí de forma a mudar a realidade, com a construção de uma

educação, formal ou informal, mais dinâmica, prazerosa e eficiente, na qual os alunos

sejam mais conscientes do seu papel na aprendizagem, os professores comprometidos

com uma escola moderna, participativa e renovadora, os pais mais próximos da

aprendizagem dos filhos e do ensino da escola.

O conteúdo de ginástica e práticas circenses somente poderá se tornar legítimo

na Educação Física, quando ocorrer mudanças, quando tivermos indivíduos

comprometidos com a intervenção pedagógica e cientes de seu papel político na

formação humana.

A formação humana, segundo Perez Galhardo (2000, p.81) “tem relação com o

desenvolvimento da criança como pessoa, capaz de ser procriadora junto com as

outras, de um espaço humano de convivência social desejável”.

Na democratização deste ensino, o professor deve ser “[...] um gerador, um

difusor, um crítico de ideias. Ideias sobre a corporalidade, a organização social e

política da sociedade, sobre a cultura” (OLIVEIRA, 1999, p.127).

Espera-se que com este estudo apresentado pelo Programa de

Desenvolvimento Educacional os professores tenham uma visão crítica, para construir

juntamente com os alunos a cidadania, o direito à igualdade a todos os seres humanos,

sem exclusão. Com isso ajude os professores a repensar sua prática e deixar de

restringir as aulas de Educação Física apenas a algumas modalidades esportivas.

Por isso, recomendamos que estudos complementares aconteçam nesta área, a

fim de concretizarmos essa abordagem como proposta metodológica e, assim

contribuirmos para que mudanças significativas aconteçam na educação física escolar.

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