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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
A CONTRIBUIÇÃO DA PAISAGEM URBANA PARA O ENSINO DE GEOGRAFIA: a percepção do aluno do ensino fundamental
Autora: Lucilene Caldeira Leite1
Orientadora: Maria das Graças de Lima2
Resumo
O artigo aqui apresentado sistematiza informações levantadas em um projeto desenvolvido na Educação Básica do Paraná, cujo principal objetivo foi a utilização de novas tecnologias nas aulas de campo, da disciplina Geografia com o intuito de analisar, refletir e interpretar criticamente o espaço geográfico, integrando teoria e prática. A proposta foi desenvolvida no Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga, localizado em uma região central da cidade de Maringá, Estado do Paraná. A referida escola recebe alunos de diversos bairros da cidade, possibilitando estudar diferentes paisagens, diferentes condições sociais. A proposta desenvolvida envolveu estudos teóricos e práticos sobre as temáticas tratados em sala de aula. A paisagem do ambiente dos diferentes bairros onde os alunos vivem, foi estudada por meio de uma pesquisa de campo, que foi fundamental para que os alunos tivessem a oportunidade de contribuir com seu saber e adquirir conhecimento. Os alunos atuaram em grupos, coordenados pela professora: capturaram as imagens dos espaços urbanos dos bairros onde moravam, gravadas em celulares, “pen-drive”, CDs, DVDs e máquinas fotográficas digitais. Na sala de informática “Paraná Digital”, as imagens foram arquivadas em “pen-drive” específico para a atividade. Posteriormente, foram selecionadas as melhores imagens e editadas em recurso multimídia, como no programa Windows Power Point, para serem apresentadas como recurso didático nas aulas de Geografia, cujos temas tratem a questão urbana, e para a população dos bairros tratados. A proposta de intervenção realizada favoreceu o processo de ensino e aprendizagem em Geografia ao tratar das diferentes paisagens urbanas: ruas, estabelecimentos, indústrias, transporte, praças, casas, dentre outros, dos alunos que vivem em bairros do município de Maringá/PR e estudam na escola onde foi desenvolvida a proposta. Foi possível verificar a motivação dos alunos para participar das atividades, junto às suas comunidades, compreendendo a realidade que os cercam.
Palavras-chave: Tecnologia; Espaço geográfico; Conhecimento; Urbanização.
1 Licenciada em Geografia. Professora de Geografia da Educação Básica do Paraná Colégio Estadual Dr. José Gerardo Braga.2 Doutora em Geografia Humana. Professora do Departamento de Geografia (DGE), da Universidade Estadual de Maringá (UEM). Professora-Orientadora do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE) e do Programa de Pós-Graduação em Geografia (PGE).
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1 Introdução
Este artigo é resultado dos estudos da formação continuada realizada pelo
Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE do Governo do Estado do
Paraná, amparada pela Lei Complementar nº 103/2004, que consolida uma política
de valorização dos professores da Rede Estadual de Educação, como
pesquisadores(as) da realidade didática das salas de aula das escolas públicas.
O objetivo da proposta foi utilizar novas tecnologias nas aulas de campo, na
disciplina de Geografia, com o intuito de analisar, refletir e interpretar criticamente o
espaço geográfico, integrando teoria e prática. Mais especificamente, buscou-se
observar, registrar, e descrever as diferentes formas de apresentação da natureza
na paisagem local, para relacioná-los aos conteúdos estudados; o objetivo foi sugerir
um estudo da paisagem local e do entorno, em que o aluno vive, favorecendo o
conhecimento local, tendo como referência o contexto social de inserção dos alunos.
A proposta de intervenção foi realizada no Colégio Estadual Dr. José
Gerardo Braga, localizado em uma região central do município de Maringá/PR. A
referida escola recebe alunos de diversos bairros, possibilitando estudar diferentes
paisagens da cidade.
A participação do aluno nos debates de sua comunidade, no trabalho que
exerce, no lazer, nas decisões de transformação da paisagem, será de melhor
qualidade, desde que ele consiga pensar seu espaço de forma mais crítica,
estabelecendo relações entre o espaço próximo e o espaço regional ou global
(CAVALCANTI, 1998).
Assim, a proposta envolveu conteúdos bastante diversificados. Num primeiro
momento foram realizados estudos teóricos, utilizando-se de textos que trataram o
processo de urbanização, os principais problemas urbanos no Brasil e a formação
histórica do município de Maringá, bem como aspectos da sua localização. Para
complementar os estudos foram apresentados vídeos sobre o processo histórico de
Maringá, assim como mapas para ilustrar a localização da cidade e os bairros
estudados. Os alunos entrevistaram familiares e antigos moradores de seus bairros,
levantando informações de como se deu o processo de formação do seu bairro e da
cidade.
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Em um segundo momento, a paisagem dos diferentes bairros em que os
alunos vivem foi estudada, por meio de um trabalho de campo. Os alunos atuaram
em grupos, coordenados pela professora: capturaram as imagens dos espaços
urbanos dos bairros onde moravam, gravadas em celulares, “pen-drive”, CDs, DVDs
e máquinas fotográficas digitais. Na sala de informática “Paraná Digital”, as imagens
foram arquivadas em “pen-drive” específico para a atividade.
Em etapa anterior, os alunos foram orientados pela professora sobre o
manejo da máquina fotográfica digital, do celular e da filmadora para capturar boas
imagens, pois a fotografia, as filmagens e as entrevistas com os moradores dos
bairros, comporiam o material que resultaria no recurso didático. Após esse trabalho,
foram selecionadas as melhores imagens e editadas em arquivo multimídia, como o
programa Windows Power Point, para serem utilizadas como recurso didático em
sala de aula.
No laboratório de informática da escola as imagens capturadas pelos alunos
foram utilizadas para estabelecer relação com o conteúdo tratado, a urbanização,
auxiliando o trabalho de abordagem dos conceitos e categorias geográficos,
possibilitando diferenciar as paisagens que compõem o espaço urbano,
desenvolvendo os conceitos de território e lugar. As imagens possibilitaram leituras
importantes e significativas para a compreensão do espaço em que vive o aluno.
Com esse propósito, apresentamos os resultados da intervenção
pedagógica realizada junto aos alunos; organizadas em seis encontros, totalizando
32 horas. Nesse artigo, apresentamos uma leitura sobre o processo de urbanização
que ocorreu no Brasil e no Paraná, tratando a gênese das cidades, sua formação,
seu desenvolvimento. Na sequencia, versamos sobre os resultados da proposta de
intervenção.
1.1 Gênese das Cidades
As cidades fazem parte do espaço geográfico desde a antiguidade. Na
Mesopotâmia, as cidades surgiram às margens dos rios em razão das condições
climáticas favoráveis para o desenvolvimento da agricultura, contribuindo para
facilitar o transporte pela navegação (SPÓSITO, 1994).
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Com o decorrer do tempo, as cidades foram se tornando cada vez maiores.
Roma é exemplo de uma grande cidade da antiguidade que, no início da Era Cristã,
chegou a atingir 700.000 (setecentos mil) a 1.000.000 (um milhão) de habitantes.
Desde o início, as cidades se diferenciaram do campo, desenvolvendo o
comércio, o artesanato, a administração e o poder político e militar. Todavia, durante
a Idade Média, com o Feudalismo, a urbanização entrou em crise e as cidades
foram perdendo a sua importância. Em relação a essa questão, Spósito (1994)
afirma que:
[...] a terra passa a ser a única fonte de subsistência e de condição de riqueza. A produção artesanal, antes localizada na cidade, volta a se fazer no campo, nos limites do feudo, garantindo que toda organização social do novo modo de produção esteja assentada na posse da terra (SPÓSITO, 1994, p. 27).
O fim da Idade Média, a partir do Século XVIII foi marcado pela decadência
da estrutura feudal, com o aumento intenso do desenvolvimento do comércio como
atividade peculiar das cidades, promovendo, o renascimento urbano e o surgimento
da produção capitalista, cujo sistema econômico propiciou a expansão das mesmas
com a industrialização. Desse modo, o Capitalismo foi responsável pelo surgimento
das grandes cidades com variadas funções: administrativas, políticas, tecnológicas,
econômicas, industriais, turísticas e outras. No século XIX e XX, surgiram as
metrópoles e megalópoles, marcas desse processo de urbanização (SPÓSITO,
1994).
Tendo se iniciado com a Revolução Industrial, o processo de urbanização foi
lento até o Século XX, especialmente, nos países desenvolvidos. Esse fenômeno
avançou de forma rápida nos países subdesenvolvidos, principalmente a partir da
Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
No Brasil, o processo de urbanização se deu principalmente a partir de
1930, com a mudança do modelo econômico brasileiro. De forma rápida, a
população passou a engrossar as os espaços, principalmente os periféricos, das
médias e grandes cidades brasileiras, com destaque para São Paulo e Rio de
Janeiro. No Brasil, as cidades datam do início da colonização (1530);
experimentaram um momento de expansão a partir da Colônia, no século XVIII.
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De modo geral, porém, é a partir do Século XVIII que a urbanização se desenvolve e ‘a casa da cidade torna-se a residência mais importante do fazendeiro ou do senhor de engenho, que só vai à sua propriedade rural no momento do corte e da moenda da cana (BATISTE, 1978 apud SANTOS, 1998, p. 19).
No entanto, foi necessário mais um século para que a urbanização atingisse
sua maturidade no século XIX, e ainda mais um século para adquirir as
características com as quais se conhece na contemporaneidade (SANTOS, 1978).
No Estado do Paraná, a urbanização das cidades inicia-se com a ocupação
do século XVI, fundadas pelos espanhóis. Entretanto, não se desenvolveram, pois a
cidade não despertava interesse da Coroa Portuguesa. Gomes (2010) ressalta que
com a descoberta de ouro e a procura de índios para o trabalho escravo, os
portugueses e paulistas começaram a ocupar a região. Contudo, até o século XVIII
existiam apenas duas vilas na região: Curitiba e Paranaguá.
Até meados do século XIX, o Paraná pertenceu a província de São Paulo, e
com a economia baseada na pecuária, pouco desenvolveu sua área urbana,
surgindo muitos povoados, vilas, patrimônios, e distritos. Logo após a conquista de
sua autonomia, em 1853, teve início um programa oficial de imigração européia para
a região, principalmente de poloneses, alemães e italianos e, ao final do século, a
economia paranaense foi impulsionada pelo cultivo da erva-mate, seguido da
exploração madeireira e das lavouras de café (GOMES, 2010).
A expansão cafeeira nas terras do norte do Paraná proporcionou
crescimento econômico e populacional. Nesse período chegaram no Paraná
imigrantes do Rio Grande do Sul, de São Paulo, de Minas Gerais, de estados do
Nordeste, além de imigrantes europeus e japoneses. No entanto, foi a partir de 1940
que a cultura do café colaborou para a efetiva colonização dessa região, e
consequentemente com seu processo de urbanização.
A Urbanização no Paraná, assim como a maior parte das cidades
brasileiras, ocorreu rápida e intensamente na segunda metade do século passado, e
o norte do estado conheceu essa transformação devido à erradicação do café, como
base da economia da região, e a introdução de culturas mecanizáveis. Desde a
década de 1960, planejava-se a retirada do café e a introdução de uma agricultura
de larga escala, destinada à exportação. Neste período de modernização da
agricultura brasileira, com destaque para o Paraná, em torno de 2 milhões de
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pessoas deslocaram-se da área rural para a área urbana do Paraná ou de outros
estados.
A cidade de Maringá foi fundada em 1947, pela Companhia Melhoramentos
Norte do Paraná (CMNP), obedecendo um projeto de colonização previamente
estabelecido pela companhia. No entanto, seu plano urbanístico foi projetado pelo
engenheiro Jorge de Macedo Vieira, influenciado pelos projetos de “cidades jardins”,
comuns na Inglaterra. Praças, ruas e avenidas foram traçadas considerando as
características topográficas da área escolhida, revelando preocupação lúcida no que
se refere à proteção de áreas verdes e vegetação nativa idealizada para se tornar
um pólo regional (QUEIROZ, 2003). Mais que isso, sua intenção era deixar um
testemunho na cidade, do que fora sua vegetação nativa no início da colonização.
A cidade de Maringá, assim como as outras cidades localizadas na área de
colonização da Companhia, foi implantada no caminho, em que se construiria mais
tarde a estrada de ferro da Rede Ferroviária Federal (RFFSA). Ferrovia e cidade
formaram-se em processo paralelo. A cidade cresceu a partir dos espaços onde a
ferrovia já havia construído uma infra-estrutura com caixas d’água e postos de
reabastecimento de lenha para suas locomotivas. Por outro lado, a estrada de ferro
só avançava por que haveria a certeza da comercialização da produção extraída dos
sítios loteados e vendidos pela CMNP (QUEIROZ, 2003).
Planejada para alcançar 200.000 habitantes em 50 anos, representou um
grande empreendimento econômico. Compôs a onda representada pela plantação
de café que se estendia das regiões paulistas até o norte do Paraná. Conforme
Queiroz (2003), com uma rapidez sem precedentes, juntamente com a cidade de
Londrina, Maringá tornou-se em poucos anos, um município com a maior produção
agrícola do país e, ao mesmo tempo, com maior grau de urbanização e incremento
demográfico do Estado.
1.2 O Contexto Educacional
No contexto das cidades temos o aluno que pouco conhece do seu meio,
pois as questões mundiais e nacionais são estudadas como se tudo isso estivesse
fora da realidade. Todos os problemas, os pontos positivos e as dificuldades
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enfrentadas nas grandes cidades, na maioria das vezes tratados de forma isolada,
permanecem fazendo parte da realidade dos alunos.
Com base nas Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná para o Ensino de
Geografia – DECs – Paraná (2006), os conteúdos de ensino e as abordagens
metodológicas, devem possibilitar ao aluno a compreensão do espaço geográfico,
suas contradições, seus conceitos referenciais de forma crítica e as relações
socioespaciais nas diversas escalas geográficas.
A aula de campo é uma importante ferramenta para o estudo do meio por
parte do aluno. As DCEs - Paraná (2006) destacam que:
A aula de campo é um rico encaminhamento metodológico para analisar a área em estudo (urbano ou rural), de modo que o aluno poderá diferenciar, por exemplo, paisagem de espaço geográfico. Parte-se de uma realidade local, bem delimitada para investigar sua constituição histórica e as comparações com outros lugares, próximas ou distantes (PARANÁ, 2006, p. 46).
Faz-se necessário inovar as ações em sala de aula, explorando os recursos
existentes na escola e na comunidade, por meio do trabalho de campo. Segundo
Passini (2007):
O estudo do meio, diferentemente do estudo estático baseado em livros didático, provoca ainda um maior interesse por parte dos alunos em aprender, observando e fazendo leituras do espaço geográfico com sua dinâmica, diversidade e conflitos (PASSINI, 2007, p. 173).
A importância do estudo do meio possibilita ao aluno a compreensão das
experiências concretas, para a construção de idéias abstratas, ou seja, para melhor
assimilação do conteúdo e da realidade vivenciada. Nesse processo de
aprendizagem, o aluno passa a perceber e a atuar em sociedade de maneira mais
crítica e transformadora, à medida que se apropria do conhecimento que lhe revela a
cidade.
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2 A Proposta de Intervenção
A proposta objetivou utilizar as novas tecnologias para desenvolver o
trabalho de campo com os alunos do Ensino Fundamental, a partir de estudos sobre
a temática Urbanização, que se estendeu para explicações sobre “o espaço urbano
da cidade de Maringá”, nas suas mais diversas expressões: bairros, ruas, avenidas,
comércio, dentre outros.
Para tal, em um primeiro momento, apresentamos a proposta para os
alunos, tratando da temática urbanização, com a utilização das tecnologias
disponíveis na escola e de acesso a eles. Foram utilizados equipamentos de
gravação de imagem, tais como filmadoras e câmeras fotográficas, além de
celulares. Os bairros (casas, ruas, praças) foram filmados, por meio de recurso
didático instalado no programa do computador. Algumas expressões demonstram a
recepção dos alunos:
Vai ser uma aula diferente então. Nós vamos poder sair da sala e conhecer o ambiente, conversar e fotografar. Vamos aprender coisas novas (SUJEITO 1).
[...] vai ser muito bom acompanhar a professora e aprender coisas dos moradores e do espaço (SUJEITO2).
Vai ser importante aprender coisas novas, principalmente de tecnologia. (SUJEITO 3).
Na sequencia, discutimos o processo de urbanização, abordando,
sobretudo, aspectos relevantes ao Município de Maringá, tais como questões
referentes à vegetação, relevo, crescimento urbano, diferenças entre o espaço
urbano e rural, entre outros aspectos geográficos. Os vídeos serviram de
instrumento para complementar as explicações. Os mapas contribuíram para ilustrar
a localização da cidade e de seus bairros.
Os alunos compreenderam que a urbanização consiste no processo pelo
qual a população urbana cresce em proporção superior à população rural. É um
fenômeno de concentração urbana e conseqüente crescimento e desenvolvimento
das cidades. Com base em Ballei (2009) foi explicado que uma sociedade é
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considerada urbanizada quando a população urbana ultrapassa 50%. Os países
industrializados são altamente urbanizados. Já os países subdesenvolvidos
apresentam grande crescimento populacional nas cidades, devido ao aumento da
natalidade e do êxodo rural, oriundo da migração da população interiorana para os
grandes centros urbanos.
Para fundamentar teoricamente o trabalho, procedemos a leitura e análise
de textos sobre a urbanização e seus desdobramentos no que concerne ao seu
surgimento, fatores que determinaram o processo de urbanização no norte do
Paraná, pontos positivos e negativos desse processo.
Os alunos refletiram sobre a condição precária das famílias brasileiras que
vivem em favelas e cortiços, sem acesso a saúde, moradia, educação, saneamento
básico. Compararam essas situações às condições enfrentadas nos bairros em que
moram.
A questão do transporte urbano foi a que mais interessou dada as condições
dos alunos: trabalhadores, usuários do transporte coletivo. Comentaram que: “[...] se
houvesse uma rede de transporte urbano coletivo mais eficiente na cidade,
melhoraria a circulação de veículos e a poluição do ar seria menor” (SUJEITO 4).
O lixo urbano gerou um intenso debate. Foi discutido que a quantidade de
lixo que as cidades produzem diariamente é grande, e muitas delas não possuem
um sistema de coleta eficiente, ou que dê uma destinação adequada ao lixo
coletado. Os resíduos não são reaproveitados por meio do processo de reciclagem,
e a deposição é feita de forma inadequada nos chamados “lixões” em terrenos a céu
aberto contaminando o solo, o ar, os rios e as águas subterrâneas; favorecendo a
proliferação de muitos animais transmissores de doenças e comprometendo a saúde
da população que pode ser afetada de várias formas, uma delas, pela água
contaminada Os aterros sanitários, a incineração, a compostagem, a reciclagem,
são formas de destinação final do lixo.
Sobre o processo histórico de ocupação da cidade de Maringá foi lembrado
que o lugar onde moramos é resultante de um tempo passado, um tempo histórico.
A fundação de um município exige uma organização política, social e econômica que
vai caracterizando o espaço territorial, expressão dessa organização política que é o
município.
Para fundamentar essas discussões, tomou-se como base um texto
intitulado “Formação Histórica, Aspectos Físicos e Localização de Maringá”, para o
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estudo da formação histórica da cidade. Após as explicitações serem dadas pelo
professor, ocorrerem discussões em grupo.
Além de vídeos, também foi utilizado um mapa (Figura 1) para ilustrar a
localização da cidade e dos bairros estudados.
Figura 1 – Mapa para localização da cidade e bairros estudadosFonte: Pereira (2010).
Os conteúdos (urbanização) foram trabalhados (imagem) de forma a
estabelecer relação com a vivência dos alunos (bairros). A entrevista foi um
instrumento importante nesse processo. Para o desenvolvimento da atividade, os
alunos foram divididos em grupos de acordo com o bairro onde residiam, com o
objetivo de pesquisar junto às famílias e aos moradores antigos, como se deu o
processo de formação do seu bairro.
Após, a entrevista, os alunos organizaram um texto, destacando as marcas
do passado e a configuração atual do seu bairro. O texto foi apresentado oralmente
em sala de aula, contando as principais curiosidades relatadas pelos antigos
moradores. Ficou demonstrado que, em razão da diversidade dos bairros, havia a
necessidade de trabalhar a paisagem do bairro dos alunos.
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No estudo do espaço geográfico, a utilização do trabalho de campo foi um
instrumento viável, pois possibilitou capturar as imagens observadas, com o uso de
máquinas fotográficas digitais, telefones celulares e filmadoras.
A realização das atividades envolveu a todos. Os alunos foram organizados
em três grupos, de acordo com o bairro de sua moradia. O primeiro grupo elaborou
questões para as entrevistas com os moradores de seus bairros; o segundo discutiu
o registro fotográfico, visando obter uma melhor imagem das paisagens dos bairros;
e, o terceiro grupo, ficou encarregado de discutir alguns procedimentos que seriam
utilizados para a realização das filmagens observando o ângulo, a posição da
câmara, a utilização do zoom e o que seria filmado.
De posse do material coletado nos bairros, produziu-se a edição de um
áudio com as imagens, tratadas no laboratório de informática “Paraná Digital” em
arquivo multimídia, Power Point, entre outros.
As imagens favoreceram o processo de ensino e aprendizagem, propiciando
novas leituras, interpretação e integração com o ambiente urbano. O professor
utilizou os materiais produzidos pelos alunos como recurso didático em sala de aula,
tratando as diferentes paisagens observadas pelos alunos em seus bairros.
Conforme ressalta Venture (2009, p. 109-110):
O hábito da observação, de seu registro e de sua interpretação, leva à compreensão do nosso ambiente. A importância da observação não consiste apenas em aproveitar informações visuais, que podem levar à inferência de propriedades menos aparentes do meio, mas é preciso considerar seu papel na educação do olhar a favor de uma maior conscientização sobre o ambiente que nos cerca. A observação não deve recair sobre o objeto individualizado, mas vê-lo como parte de um todo estruturado e articulado historicamente. Trata-se de considerar que o tempo da natureza aparece combinado com o tempo social, com escalas e ritmos distintos.
Pretende-se que o educando compreenda o espaço físico onde vive,
ultrapassando a concepção de paisagem que temos no senso comum, para que
conheça sua paisagem e possa intervir de forma crítica, uma vez que perceba suas
transformações.
Os alunos foram levados a perceber, com base nas suas próprias
produções, as diferenças e semelhanças entre os bairros da cidade (urbano e rural),
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pois os mesmos fazem parte de um conjunto de lugares, com suas diferentes
características ligadas por complexas relações políticas, econômicas e sociais.
Por fim, em conjunto com os alunos, professores e moradores entrevistados,
apresentou-se os recursos produzidos. Ao apresentar a sua produção, cada equipe
relatou os pontos importantes (curiosidades) observadas na paisagem do lugar onde
vivem, especialmente, as diferenças existentes entre um bairro e outro.
3 Conclusão
A proposta de intervenção realizada favoreceu o processo de ensino e
aprendizagem em Geografia ao tratar das diferentes paisagens urbanas que há nos
bairros em que vivem os alunos que freqüentam a escola em que desenvolvemos o
trabalho.
Foi possível verificar a motivação dos alunos para participar das atividades,
junto a seus bairros, compreendendo a realidade que os cercam. Os alunos tiveram
a oportunidade de procederem a uma leitura crítica do seu espaço, ultrapassando a
concepção de paisagem que se tem do senso comum, integrando teoria e prática,
percebendo suas transformações.
Para os alunos ficou a experiência vivenciada no trabalho de campo, a
fundamentação teórica, suas abordagens e o respeito à sua aprendizagem, além de
terem documentado e registrado aspectos relevantes de sua realidade.
O projeto desenvolvido foi relevante para o ensino de Geografia no contexto
do ensino fundamental. A proposta de trabalho de campo aqui sugerida diferenciou-
se do campo tradicional da disciplina, pois neste trabalho, o docente e os alunos
organizaram a temática em sua abordagem teórica desde o roteiro de trabalho inicial
até a ida ao campo (bairro dos alunos). As temáticas trataram basicamente de
assuntos pertinentes a área urbana, e, quando necessário enveredou para os
possíveis desdobramentos suscitados.
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Referências
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