da escola pÚblica paranaense 2009 · 2013-06-14 · progressos em seus relacionamentos de formas...

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

PROPOSTAS DE AÇÕES COOPERATIVAS COM ALUNOS DO 1º e 2º ANOS DO

ENSINO MEDIO EM UM COLEGIO ESTADUAL DE FOZ DO IGUAÇU

Autor: Prof. Gerson Graff

1

Orientador: Ms. Inácio Brandl Neto2

RESUMO Este artigo faz parte de um projeto de intervenção desenvolvido num Colégio Estadual de Foz de Iguaçu, através do Programa de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná, e tem como tema os Jogos Cooperativos como forma de amenizar a violência que está sendo constatada nesta escola e no seu entorno. De modo geral, pretendeu-se observar se com o desenvolvimento de jogos cooperativos pode-se colaborar para que problemas como a violência, a falta de colaboração, perspectiva de vida, bem como a falta de respeito para com os colegas e para consigo mesmo, venham a diminuir na população do Ensino Médio envolvida (1º e 2º anos). O objetivo deste estudo é um dos primeiros passos em direção ao que se pretende, isto é, verificar a opinião dos alunos em relação às atividades e jogos cooperativos que foram desenvolvidos nas aulas. A pesquisa é de cunho descritivo e foram ministradas 20 aulas com ações envolvendo a cooperação. O instrumento utilizado para verificar a opinião dos discentes foi um questionário com nove questões objetivas e uma aberta, sendo que 36 alunos responderam. Os resultados mostraram que a grande maioria dos discentes entendeu o que é cooperação e gostaram das atividades e jogos, reconhecendo os valores humanos que existiam nestes.

Palavras-chave: Escola; Educação Física; Jogos Cooperativos.

ABSTRACT

This article is part of an intervention project developed in the State College of Foz de Iguacu, through the Educational Development Program of Paraná State, and has as its theme the Cooperative Games as a way to lessen the violence that is being observed at this school and its surroundings. In general, we intended to observe is the development of cooperative games can contribute to problems such as violence, lack of collaboration, life expectancy, and lack of respect for colleagues and himself, will decrease the population of the school involved (1 and 2 years). This study is one of the first steps toward what is intended, ie to check the students' opinions regarding 1 Professor de Educação Física da rede pública de ensino do Estado do Paraná, formado pela UNIOETE de

Marechal Cândido Rondon – Pr. Pós Graduado em Administração, Orientação e Supervisão Escolar 2 Professor Doutorando em Educação Física da UNIOESTE – Marechal Cândido Rondon – Pr.

the activities and cooperative games that were developed in the classroom. The research is a descriptive and were given 20 lessons with activities involving cooperation. The instrument used to check the students' opinion was a questionnaire with nine objective questions and one open, and 36 students responded. The results showed that the vast majority of students understand what cooperation is and enjoyed the games and activities, recognizing the human values that existed in these.

Keywords: School, Physical Education, Cooperative Games.

1 INTRODUÇÃO

Observa-se nos últimos anos um aumento na violência, por parte dos alunos

e seus colegas, na escola e nos arredores dela. Acontecem assassinatos e

agressões por motivos fúteis. Também temos observado que muitos não têm mais o

senso de ajuda e de cooperação com colegas e docentes. Quando são solicitados a

cooperarem para realização de atividades, ou se negam ou fazem com má vontade.

Outro grande problema que encontramos com os nossos jovens é a falta de

educação quanto aos mais velhos e por que não dizer, com eles próprios, onde o

levar vantagem em tudo é o que impera no seu círculo de amizade. Não existe

companheirismo. O coleguismo só vale quando traz alguma vantagem. Ainda vemos

que nossos jovens a cada dia têm menos perspectiva de vida, que faz com que eles

não tenham vontade, muitas vezes, de sonhar, realizar projetos de médio ou longo

prazo. Vivem como se o amanhã não existisse. Fazer uma faculdade? Isso é coisa

de quem não tem o que fazer, dizem eles. “Nós vamos aproveitar a vida”.

Perguntamo-nos: é essa a sociedade que queremos formar para nosso futuro?

Sabemos que a emancipação de uma comunidade só vem por meio do

conhecimento e sonhos que podem se tornar realidade, e melhorar a vida das

pessoas que estão envolvidas nestes sonhos.

Sendo assim, este trabalho com ações cooperativas veio tentar mostrar outra

forma de convivência, fazendo com que os alunos venham a cooperar mais com a

comunidade em que vivem, deixando de lado o pensamento de que temos que

aproveitar a vida só agora, neste momento. Tentar mostrar o amanhã com

responsabilidade, como uma construção coletiva e possibilidade de melhorar nosso

círculo de amizade, nosso colégio, nossa comunidade, pois, com a cooperação de

todos, conseguiremos melhorar nossa vida e a de muitos que estão ao nosso redor.

O conhecimento adquirido de forma diferenciada (com colaboração/ajuda e reflexão)

entendendo a situação social encontrada, faz com que a união do grupo se fortaleça

e faça as reivindicações necessárias a comunidade. Mas, é a construção do

conhecimento que pode levar a verdadeira liberdade. É o conhecimento que

possibilita argumentar em qualquer situação, e não ser enganado. E é um grupo

cooperativo e reflexivo que normalmente chega ao conhecimento com mais

facilidade.

Devido a falta de verdadeiras amizades nas escolas (amizades estas que só

querem tomar proveito das situações), a falta de perspectiva de vida dos jovens que

estão em nossos bancos escolares, a falta de respeito com eles próprios e com as

pessoas mais velhas, a falta de responsabilidade, além da grande quantidade de

jovens mortos nos bairros e a violência exacerbada e sem controle, procurou-se

encontrar outras formas de ações que tentam mostrar o contrário do que se percebe

no colégio e na sociedade. E essas ações observam-se em algumas abordagens

mais recentes da Educação Física Escolar, como as com conotações críticas,

cooperativas, integrativas e “para todos” (inclusivas). Dessas, a abordagem dos

jogos cooperativos se aproxima mais diretamente dos problemas anteriormente

citados. Logo, surgiu a seguinte problematização: Será que ações cooperativas

realizadas com os alunos do Ensino Médio de um Colégio Estadual de Foz do

Iguaçu, poderão colaborar para mostrar valores éticos e morais que respeitem o ser

humano e, dessa forma, pelo entendimento, possam amenizar as situações

relatadas? Como poderemos iniciar uma conscientização dos valores cooperativos?

A idéia da intervenção realizada é observar, a médio e longo prazo, se as

ações cooperativas podem colaborar para que situações como a violência, a falta de

colaboração, perspectiva de vida e a falta de respeito possam ser amenizadas ou

revertidas num primeiro e segundo ano de um colégio estadual de Foz do

Iguaçu/PR. O objetivo geral deste artigo foi verificar a opinião destes alunos sobre as

atividades e jogos cooperativos desenvolvidos nas aulas e se conseguiram entender

o significado da cooperação e dos valores nela envolvidos.

2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

No mundo moderno em que vivemos, de um lado nos deparamos com a

figura do homem quase analfabeto ou analfabeto funcional, e de outro, com homens

intelectuais e com grande grau de conhecimento. Entre eles, podemos observar

pessoas em várias localidades e classes sociais vivendo entre essas duas

situações. Nesse meio termo, existe uma diversidade imensa de seres, que aqui

podemos citar, desde o analfabeto, que vivem em um mundo que se diz civilizado, e

que possui ou não conduta cooperativa conquistada pela sociedade moderna, até

aqueles seres humanos que tiveram uma boa educação, e que apresentam ou não

progressos em seus relacionamentos de formas nobres para uma boa convivência

com os outros e consigo mesmo, mas, muitas vezes, de forma não cooperativa.

Na diversidade cultural e educacional encontrada em nossa sociedade, cada

um vem agindo conforme seu tipo de vida e a possibilidades de sobrevivência. Em

todos os seres humanos, as questões relativas à elevação moral e intelectual são

muito diferentes. A dinâmica social, dessa forma, refere-se ainda com a

conscientização de cada ser humano relacionada à aceitação desse modo de ser,

como ele se apresenta e da necessidade da convivência entre eles, de modo que

seja observada também a aceitação de si próprio, como forma de progresso

individual e coletivo no convívio em sociedade. Portanto, não podemos determinar

as condutas ou atitudes das pessoas, mas, partindo da conduta ou atitude de cada

um, de acordo com sua vivência, pode surgir normas ou comportamentos

adequados para uma relação interpessoal onde estão presentes os valores

humanos como a cooperação, o respeito, a solidariedade e a fraternidade,

possibilitando a formação de pessoas conscientes de si e da importância de seu

papel na sociedade, vivendo as diferenças e a necessidade delas, num plano de

igualdade, buscando alcançar êxito em termos de aprendizagens, cooperação e

aquisição do desenvolvimento desses valores. Dessa forma, poder-se-á melhorar o

ambiente social e familiar, gerando um bem-estar para todos com base nos

princípios que regem a ação cooperativa. A inclusão é um processo de

compartilhamento de ações, onde os resultados apresentam-se de forma benéfica a

todos os envolvidos, com disseminação destes valores no âmbito da cooperação, o

que a torna importante no contexto escolar.

Segundo Brotto, (2001, p.31),

desmistificar a competição e ritualizar a Cooperação pode nos ajudar a enxergar com novos olhos, as velhas paisagens. E, desse modo, quem sabe, possamos descobrir novas passagens e “sacar” um jeito diferente de praticar o Jogo da Vida. (Brotto, 2001, p.31),

2.1 EDUCAÇÃO FÍSICA E FORMAÇÃO HUMANA

Nas aulas de Educação Física podemos ajudar no processo da formação

integral do ser humano, devendo estar presente o compromisso com o projeto geral

de formação do indivíduo que vive em sociedade. Isto é importante para atitudes

respeitosas, aceitação da diversidade entre nós, mantendo sempre um bom

relacionamento em nosso cotidiano, para que seja atingido o potencial como um ser

humano crítico, autônomo e que mantém um convívio social pautado nos valores da

cooperação social.

Para Brotto (2001), através dos Jogos Cooperativos, novas possibilidades no

processo de educação do ser humano, priorizando o jogo e o esporte, agregados a

valores, princípios e modos de comportamentos podem ser desenvolvidos.

A partir da consciência de cada indivíduo sobre essas questões, será possível

a diminuição da violência através da organização de grupos pautados no

crescimento da afetividade e da administração de confrontos em nosso meio social,

estimulando o convívio com a diversidade.

Diversos autores manifestam opinião a respeito da importância da Educação

Física somente como se fosse uma questão de preparação física, de prática

esportiva, de prevenção da saúde, de hábitos de higiene, como o desenvolvimento

de um corpo sadio, de aspectos psicomotores, recreativos, de lazer. Somente numa

dimensão meramente motriz, restringindo, assim, os movimentos enquanto

expressividade humana. Entende-se ser essa visão um princípio que diminui a

importância da Educação Física.

A Educação Física não pode estar na escola para suprir um espaço vago,

nem tampouco apenas relacionar a atividade física à saúde ou aos cuidados com o

corpo ou a alimentação, a diversão e ao tempo livre, mas, expandir seus

conhecimentos aos diversos setores da formação social em que vivemos, a cultura,

o processo de humanização do trabalho, a solidariedade, a capacidade crítica do

indivíduo, no poder de combater à violência social, no cumprimento do dever moral

da sociedade em que vive, na responsabilidade social, no exercício da cidadania de

forma plena e na construção de um processo histórico.

O conhecimento adquirido traz à consciência a possibilidade crítica dessa

disciplina, observando o seu caráter socializador. Mesmo com nível de consciência

maior, ainda nos deparamos no momento das aulas com a falta de vontade para as

atividades, o desrespeito à individualidade, enfim, a falta de cooperação para

realizar as atividades.

Nas atividades desenvolvidas nas aulas de Educação Física queremos

evidenciar a cultura cooperativa. A introdução de ações cooperativas poderá gerar a

não aceitação das atividades, uma vez que se condicionou que a competição é o

melhor caminho para a educação. Mas, segundo Soler (2002), a competição em

suas formas extremas torna todos perdedores. A competição diminui a auto-estima,

e aumenta o medo de falhar. Um ambiente competitivo aumenta a frustração e pode

desencadear comportamentos agressivos. Orlick (1978) explica que a obsessão dos

adultos pela vitória pode destruir o ingrediente mais importante de todos para o

desenvolvimento das habilidades da criança, o lúdico.

Esses fatores favorecem a exclusão dos alunos que não tem boa habilidade,

renunciando o trabalho coletivo e cooperativo daqueles outros que se acham o

“dono da bola”, como se a Educação Física fosse feita única e exclusivamente para

eles, e se impõe sobre os demais não deixando os outros participarem. Não

podemos privilegiar a aula para os mais habilidosos em detrimento dos menos

habilidosos. As aulas de Educação Física devem se desenvolver com a participação

de todos, pois suas atividades não podem se restringir apenas às práticas corporais,

mas vislumbrar a enorme riqueza das manifestações culturais e corporais

produzidos para além do movimento corporal.

Sobre esse assunto, Brotto (2002, p.5) é de opinião que

podemos aprender que o verdadeiro valor do Jogo e do Esporte, não está em somente vencer ou perder, nem em ocupar os primeiros lugares no pódium, mas esta também e, fundamentalmente, na oportunidade de jogar junto para transcender a ilusão de sermos separados uns dos outros, co-evoluídos para a experiência de jogar e viver em comum-unidade. (Brotto 2002, p.5)

Estas aulas devem oportunizar o entrosamento e a participação de todos os

alunos, levando-os ao conhecimento de si, do respeito mútuo com os colegas e

outros integrantes da comunidade escolar e de toda sociedade, atingindo o seu

potencial maior na cooperação, e desta forma, assumir uma postura onde o

companheirismo, a amizade, o trabalho em equipe, sejam valorizados e estejam

presentes em todos os momentos, reconhecendo o próximo como extensão de si

mesmo, entendendo as suas próprias limitações e a do outro, provocando uma

aproximação entre os indivíduos e consequentemente, uma troca de experiências,

emoções e por que não falar em uma vivência.

As exigências não estão direcionadas apenas ao professor, ou a um

determinado grupo, que, por questões culturais ou de status impõe suas idéias,

métodos e determinados comportamentos. As exigências são: o diálogo, o

compromisso, o interesse, a responsabilidade de todos e entre todos. Os momentos

pedagógicos exigem agir de forma consciente, debatendo idéias, evitando

rivalidades, assumindo nossas qualidades e defeitos. A atitude do professor é de

fundamental importância neste contexto, pois é ele quem deve mediar, porém, não

poderá haver mudanças significativas de comportamento se o professor não

valorizar este momento tão importante na capacidade que o aluno tem de pensar,

interagir e se relacionar com os colegas no meio escolar e fora dela (SOLER, 2002).

Nenhuma inovação será produtiva se não houver o envolvimento de todos,

permitindo que seja formado um ser voltado a iniciativas que contemplam os valores

humanos em busca da cooperação, aprendizagem e auto-realização, pautando uma

sociedade na consciência de seus direitos e deveres e na existência de um ser

crítico e humanitário. Os alunos têm consciência dessas questões de como efetivar

estas mudanças? Como superar o individualismo? O que fazer para que em nossas

escolas prevaleça o bem de todos? Como podem acontecer as transformações?

Para tentar obter respostas a esses problemas, o estudo se encaminhará para

ações cooperativas nas aulas de Educação Física.

2.2 CONTEÚDOS ESTRUTURANTES (JOGOS E BRINCADEIRAS)

A seguir será apresentada uma breve exposição sobre os conteúdos

estruturantes, dando ênfase aos conhecimentos básicos (jogos e brincadeiras)

dessa intervenção.

Nas Diretrizes Curriculares, os Conteúdos Estruturantes foram definidos como

os conhecimentos de grande amplitude, conceitos ou práticas que identificam e

organizam os campos de estudos de uma disciplina escolar, considerados

fundamentais para compreender seu objeto de estudo/ensino. Constituem-se

historicamente e são legitimados nas relações sociais (PARANÁ, 2006).

Os Conteúdos Estruturantes da Educação Física para a Educação Básica

devem ser abordados em complexidade crescente, isto porque, em cada um dos

níveis de ensino os alunos trazem consigo múltiplas experiências relativas ao

conhecimento sistematizado, que devem ser consideradas no processo de

ensino/aprendizagem.

A Educação Física e seu objeto de ensino/estudo, a Cultura Corporal, deve,

ainda, ampliar a dimensão meramente motriz. Para isso, pode-se enriquecer os

conteúdos com experiências corporais das mais diferentes culturas, priorizando as

particularidades de cada comunidade.

A seguir, o Conteúdo Estruturante jogos e brincadeiras será tratado sob uma

abordagem que contempla os fundamentos da disciplina, em articulação com

aspectos políticos, históricos, sociais, econômicos, culturais, bem como elementos

da subjetividade representados na valorização do trabalho coletivo, na convivência

com as diferenças, na formação social crítica e autônoma. Os Conteúdos

Estruturantes propostos para a Educação Física na Educação Básica são os

seguintes: Esporte, Jogos e brincadeiras, Ginástica, Lutas, Dança (PARANÁ, 2006).

2.2.1 JOGOS E BRINCADEIRAS

Nas Diretrizes, os jogos e as brincadeiras são pensados de maneira

complementar, mesmo cada um apresentando as suas especificidades. Como

Conteúdo Estruturante, ambos compõem um conjunto de possibilidades que

ampliam a percepção e a interpretação da realidade.

No caso do jogo, ao respeitarem seus combinados, os alunos aprendem a se

mover entre a liberdade e os limites, os próprios e os estabelecidos pelo grupo. Além

de seu aspecto lúdico, o jogo pode servir de conteúdo para que o professor discuta

as possibilidade de flexibilização das regras e da organização coletiva. As aulas de

Educação Física podem contemplar variadas estratégias de jogo, sem a

subordinação de um sujeito a outros. É interessante reconhecer as formas

particulares que os jogos e as brincadeiras tomam em distintos contextos históricos,

de modo que cabe à escola valorizar pedagogicamente as culturas locais e regionais

que identificam determinada sociedade.

Brotto, (2001, p.5) afirma que

o jogo é tão importante para o desenvolvimento humano em todas as idades. Ao jogar, não apenas representamos simbolicamente a vida, vamos além. Quando jogamos estamos praticando, direta e profundamente, um Exercício de Co-existencia e de Re-conexão com a essência da Vida. (Brotto, 2001, p.5)

Nessa direção, pode-se trazer como exemplo o jogo de queimada ou caçador,

fortemente presente no cotidiano escolar, que em sua organização delimita os

papéis e os poderes concedidos aos jogadores, os quais mudam conforme a

hierarquia assumida no jogo. Ou seja, o “capitão” ou “base” detém maior poder do

que qualquer outro jogador, com autoridade de decidir sobre a “vida” e a “morte” dos

demais jogadores. Via de regra, o jogador que assume este papel é o mais

habilidoso, o mais forte e com maior liderança, já aqueles que são escolhidos para

“morrer” no início do jogo, representam os jogadores mais frágeis e menos

habilidosos, e que dificilmente serão os escolhidos como “base”.

Para Soler (2006, p.20),

o que falta é uma postura é uma nova postura do educador, treinador, ou seja, das pessoas significativas na vida das crianças, pois sabemos que só haverá uma mudança se as pessoas que são significativas na vida das crianças mudarem a forma de oferecerem o jogo. Pois parece que, se falo de jogo, tenho que falar de competição, criado erroneamente uma relação de sinonímia entre as palavras. (Soler 2006, p.20)

A partir dessa exemplificação, entendemos que o jogo praticado nesta

perspectiva reproduz e pode servir para reforçar desigualdades arraigadas no

contexto social.

Dessa maneira, é possível garantir o papel da Educação Física no processo

de escolarização, a qual tem, entre outras, a finalidade de intervir na reflexão do

aluno, realizando uma crítica aos modelos dominantes. Intervenção esta que requer

um exercício crítico por parte do professor diante das práticas que reforçam tais

modelos. Exige, também, a busca de alternativas que permitam a participação de

todos os alunos nas aulas de Educação Física.

Assim, as crianças e os jovens devem ter oportunidade de produzirem as

suas formas de jogar e brincar, isto é, ter condições de produzirem suas próprias

culturas, pois,

[...] o uso do tempo na infância varia de acordo com o momento histórico, as classes sociais e os sexos. Na nossa sociedade [...] ainda que por razões bem diferentes, independente das classes sociais a que pertençam, as crianças também não têm tempo e espaço para vivência da infância, como produtoras de uma “cultura infantil” (MARCELLINO, 2002, p.118).

Os trabalhos com os jogos e as brincadeiras são de relevância para o

desenvolvimento do ser humano, pois atuam como maneiras de representação do

real através de situações imaginárias, cabendo, por um lado, aos pais e, por outro, à

escola fomentar e criar as condições apropriadas para as brincadeiras e jogos. Não

obstante, para que sejam relevantes, é preciso considerá-los como tal.

Tanto os jogos quanto as brincadeiras são conteúdos que podem ser

abordados, conforme a realidade regional e cultural do grupo, tendo como ponto de

partida a valorização das manifestações corporais próprias desse ambiente cultural.

Os jogos também comportam regras, mas deixam um espaço de autonomia para

que sejam adaptadas, conforme os interesses dos participantes de forma a ampliar

as possibilidades das ações humanas.

Segundo Soler (2006, p.37),

o professor deve utilizar e localizar em cada um desses conteúdos seus benefícios fisiológicos, psicológicos, sociais e suas possibilidades de utilização como instrumento de comunicação, expressão, lazer e cultura e construir uma nova proposta para a EFE, levando em conta todas as dimensões (cognitiva, corporal, afetiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social).(Soler 2006, p.37),

Torna-se importante, então, que os alunos participem na reconstrução das

regras, segundo as necessidades e desafios estabelecidos. Para que os princípios

de sobrepujança sejam relativizados, os próprios alunos decidem como equilibrar a

força de dois grupos, sem a preocupação central na mensuração do desempenho.

Através do brincar (jogar) o aluno estabelece conexões entre o imaginário e o

simbólico.

[...] as brincadeiras são expressões miméticas privilegiadas na infância, momentos organizados nos quais o mundo, tal qual as crianças o compreendem, é relembrado, contestado, dramatizado, experienciado. Nelas as crianças podem viver, com menos riscos, e interpretando e atuando de diferentes formas, as situações que lhes envolvem o cotidiano. Desempenham um papel e logo depois outro, seguindo, mas também reconfigurando, regras. São momentos de representação e apresentação, de apropriação do mundo (VAZ et al., 2002, p. 72).

Almeja-se organizar e estruturar a ação pedagógica da Educação Física, de

maneira que o jogo seja entendido, apreendido, refletido e reconstruído como um

conhecimento que constitui um acervo cultural, o qual os alunos devem ter acesso

na escola (SOARES et al., 1992).

Nesta perspectiva, não se pode esquecer dos brinquedos que, no seu

processo de criação, envolvem relações sociais, políticas e simbólicas que se fazem

presentes desde sua invenção.

[...] os brinquedos não foram em seus primórdios invenções de fabricantes especializados; eles nasceram, sobretudo nas oficinas de entalhadores em madeira, fundidores de estanho etc. [...] O estilo e a beleza das peças mais antigas explicam-se pela circunstância de que o brinquedo representava antigamente um processo secundário das diversas indústrias manufatureiras (BENJAMIN, 1984, p. 67-68).

A construção do brinquedo era repleta de significados tanto para o pai, que o

construía com as sobras de materiais utilizados em seu trabalho artesanal, como

para a criança, que brincava com ele. Entretanto, com o desenvolvimento da

industrialização, os brinquedos passaram a ser fabricados em grande escala,

perdendo sua singularidade, isto é, tornando-se cada vez mais estranhos aos

sujeitos inseridos nesta lógica de mercantilização dos brinquedos.

Assim, oportunizar aos alunos a construção de brinquedos, a partir de

materiais alternativos, discutindo a problemática do meio ambiente por meio do

(re)aproveitamento de sucatas e a experimentação de seus próprios brinquedos e

brincadeiras, pode dar outro significado a esses objetos e a essas ações

respectivamente, enriquecendo-os com vivências e práticas corporais. Dessa

maneira, como Conteúdo Estruturante da disciplina de Educação Física, os jogos e

brincadeiras compõem um conjunto de possibilidades que ampliam a percepção e a

interpretação da realidade, além de intensificarem a curiosidade, o interesse e a

intervenção dos alunos envolvidos nas diferentes atividades.

Soler (2006, p.68) afirma que

a proposta não é acabar com o esporte competitivo, pois este sempre irá existir e é ótimo que continue existindo. Devemos, sim, criar alternativas que façam com que a criança tenha uma nova opção, tentando com isso humanizar a competição, que vencer não seja a coisa mais importante dentro do processo, uma questão de vida ou morte. 9Soler 2006, p.68)

2.3 JOGOS COOPERATIVOS COMO POSSIBILIDADE

Segundo os pressupostos de SOLER (2001), a defesa de uma prática que

aponte para os valores humanos relevantes e coerentes a ser desenvolvida nas

aulas de Educação Física, devem partir do envolvimento do grupo relacionado à

práticas cooperativas. A exigência por parte do professor representa uma forma de

manipular a reprodução dos meios de dominação. É somente com valores

cooperativos que avançaremos a uma ética nas relações interpessoais e

educacionais dentro do espaço escolar (SOLER, 2001).

Podemos observar na prática pedagógica que quando o trabalho envolve

todos os alunos da turma num objetivo comum, há a construção de um trabalho

colaborativo entre todos os alunos, independente de seu desempenho motor,

experimentando um evidente prazer na interação com o seu colega, reconhecendo

suas potencialidades e a dos outros em todos os aspectos relacionados às

atividades. Eles percebem nas atividades coletivas as características que privilegiam

os aspectos cooperativos e valorizam nelas sua dinâmica, fato observado quando os

alunos responderam às questões sobre suas preferências em relação às atividades

desenvolvidas, verificando a necessidade da presença dos princípios da

cooperação, aceitação, união, comunicação e criatividade.

Estes jogos são estruturados para diminuir a pressão para competir e a necessidade de comportamentos destrutivos. Visam promover a interação e a participação de todos, e deixar aflorar a espontaneidade e a alegria de jogar. (SOLER, 2006, p.55).

No desenvolvimento dos jogos cooperativos, os alunos passaram a envolver-

se completamente, embora houvesse ainda o interesse pela sua “nota” na

participação; isto é um elemento cultural presente na realidade do processo

educacional, importante para a discussão no processo de um ser consciente, pois as

formas culturais não são impostas, elas vão sendo produzidas na própria prática

diária. Segundo Orlick (1978, p.19), “não ensinamos nossas crianças a amarem o

aprendizado; nos as ensinamos a se esforçarem para conseguir notas altas”. A

atitude participativa do aluno em cada atividade deve ser estimulada a partir de sua

própria capacidade participativa.

Se no desenvolvimento do jogo for percebida a capacidade que ele e o outro

tem de criar e, conseqüentemente, a troca de experiências, ambos poderão

compreender a importância do jogo cooperativo para a formação do ser humanitário,

através da participação, com divertimento e alegria. A propósito, diz Orlick (1978, p.

4),

talvez, se alguns adultos mais destruidores de hoje tivessem sido, quando crianças, expostos ao afeto, aceitação e valores humanos que tento promover através dos jogos cooperativos, teriam crescido em uma outra direção. Se outros aspectos do seu ambiente tivessem também apoiado uma orientação mais positiva em relação à vida humana eles teriam adquirido maneiras alternativas e mais positivas de se relacionar com as pessoas e os problemas. À medida que as pessoas se tornarem mais sensíveis para com os sentimentos dos seus semelhantes e mais dispostos a cooperar para o bem comum, nosso planeta se tornará um lugar mais saudável e feliz de se viver, para todos nós. Orlick (1978, p. 4),

Os princípios dos jogos cooperativos e os resultados que as atividades

cooperativas podem alcançar são de grande relevância no que se refere à formação

do ser humano como elemento ativo na transformação social, bem como, sua

contribuição na formação de pessoas conscientes de sua responsabilidade no meio

em que vivem. Somos competitivos porque aprendemos a sermos assim; e se é

comportamento adquirido, podemos então aprender também a sermos cooperativos.

Muitos de nós falamos sobre a cooperação como forma ideal para a vivência em

sociedade, mas, como realmente agimos em nosso cotidiano? Quais os caminhos a

seguir, para pormos em prática a cooperação como parte integrante em nossa

cultura? (ORLICK,1978, p.83 ).

3 METODOLOGIA

Caracterização da pesquisa

A pesquisa se caracterizou como descritiva. Segundo Gil (1994, p.42), "o

objetivo principal da pesquisa é encontrar respostas para problemas baseado no

emprego de procedimentos científicos". Este autor ainda explica que a pesquisa

descritiva tem com objetivo primordial a descrição das características de

determinada população ou fenômeno ou então, o estabelecimento de relações entre

variáveis.

População e amostra

Os sujeitos que participaram do estudo foram 36 discentes, separados em

duas turmas do 1º e 2º ano de Ensino Médio de um Colégio Estadual de Foz do

Iguaçu, PR, sendo 22 do sexo masculino e 14 do sexo feminino.

Instrumento de coleta das informações

Após a implementação do trabalho, ocorreu a realização do levantamento de

dados através da aplicação de questionários com os alunos das turmas para

verificação e análise das informações sobre as atividades cooperativas

desenvolvidas. Para Thomas; Nelson (2002), com o uso do questionário, é possível

através das respostas dos sujeitos, fornecer as suas percepções, interpretações e

consciências da situação total na interação entre os atores e o cenário. Assim, este

instrumento foi o escolhido para a referida pesquisa, pois atende os anseios deste

estudo.

O questionário foi composto por nove questões objetivas e uma aberta, sendo

elaborado conjuntamente pelo pesquisador e orientador. A testagem do instrumento

foi realizada com quatro alunos que participaram da implementação, mas não

responderam posteriormente o questionário utilizado na pesquisa com o restante da

turma. Para validar o instrumento, além do orientador, mais dois docentes do Curso

de Educação Física da Unioeste fizeram a verificação.

Procedimentos para a pesquisa

Inicialmente foi apresentado o projeto de implementação a direção do

Colégio, que prontamente autorizou a execução. Em relação aos alunos, a

introdução das ações aconteceu através de discussões de textos, vídeos e

atividades de caráter cooperativo, previstos no OAC. Foram realizadas 20 aulas.

Depois de ministrar atividades e jogos cooperativos aos alunos, estes responderam

o questionário em sala de aula aplicado pelo próprio pesquisador, no mês de

novembro de 2010.

Análise dos dados

Foi realizada através de dados numéricos e percentuais (freqüência absoluta

e freqüência relativa) e análise qualitativa das respostas dos questionários.

4 APRESENTAÇÃO E DISCUSÃO DOS RESULTADOS

A implementação deste projeto foi de grande importância para as turmas,

desenvolvendo-se de forma agradável e com bons resultados, conforme poderemos

ver. Estes serão apresentados de acordo com a sequencia do questionário, sendo

em forma discursiva e através de quadros com as devidas discussões.

Na primeira questão pedimos para que fosse informado o sexo e a idade.

Como resultado, vinte e dois responderam que eram do sexo masculino e quatorze

do sexo feminino, com idade entre quatorze e dezessete anos.

Quando perguntamos se eles já haviam ouvido falar de jogos cooperativos

nas aulas, vinte sete (27) falaram que sim, e apenas nove (9) disseram que não.

Essa resposta é interessante, pois, as atividades cooperativas costumam não ser

integradas às aulas de Educação Física, mesmo porque, podemos levar em conta,

que as orientações para estas atividades são recentes.

O que nos causou muita surpresa foi que na questão seguinte, dos trinta e

seis alunos que participaram das aulas com conotações cooperativas, seis falaram

que não tinham participado de atividades cooperativas nas aulas de Educação

Física, levando-nos a pensar que os alunos não entenderam que, com o uso das

diversas modalidades esportivas e utilizando situações participativas, inclusivas

(para todos) e cooperativas, podemos modificar a forma de encarar o jogo e a vida.

Neste caso, seria importante conversar e discutir novamente com o grupo,

procurando esclarecer as diferenças de ênfase da competição e da cooperação.

Na sequencia perguntamos se haviam gostado da prática de atividades

cooperativas.

CATEGORIAS FREQUENCIA %

Gostei 28 77,77%

Não gostei 02 5,55%

Ás vezes 06 16,66%

TABELA 1: Gosto pelas atividades cooperativas

Como podemos observar na tabela, vinte oito (77,77%) responderam que

haviam gostado das práticas cooperativas, somente dois (5,55%) não e seis (16,66)

disseram às vezes. Percebemos que no decorrer das atividades os próprios alunos

iam se motivando e participando mais ativamente das ações desenvolvidas. Brotto,

(2001 p. 56) explica que

a princípio é difícil conceber atividades cooperativas estimulantes e jogos não-competitivos que não tenham perdedores. Talvez isso seja resultado da orientação global da nossa sociedade, que limita a nossa experiência cooperativa e estreita a nossa visão dos jogos e dos esportes.( Brotto, 2001 p. 56)

Isso foi confirmado nas duas perguntas seguintes. Questionamos se eles haviam

percebido alguma diferença nas aulas. Vinte e sete afirmaram que sim, três não e

seis às vezes. Perguntamos, a seguir, se consideravam importante participar de

atividades cooperativas. Todos os 36 alunos responderam que sim. O que nos

gratificou foi ver que alunos que no inicio da implementação eram totalmente

competitivos, nos últimos dias vinham se mostrando altamente colaboradores com

seus colegas em suas dificuldades.

Na outra pergunta o aluno poderia escolher mais de uma resposta.

Relacionamos vinte atitudes ou comportamento que as aulas com atividades

cooperativas poderiam desenvolver.

ATITUDE OU COMPORTAMENTO FREQUENCIA %

1 Participação 35 97,22

2 Agressividade 1 2,77

3 Inclusão 20 55,55

4 Brigas 1 2,77

5 Trapaças 1 2,77

6 Individualismo 3 8,33

7 Respeito 33 91,66

8 Descriminação 0 0,00

9 Eliminação 4 11,11

10 Colaboração 35 97,22

11 Integração 20 55,55

12 Confronto 5 13,88

13 Solidariedade 24 66,66

14 Cooperação 29 80,55

15 Exclusão 1 2,77

16 Violência 0 0,00

17 União 31 86,11

18 Divertimento 34 94,44

19 Descontração 18 50,00

20 Humilhação 0 0,00

TABELA 2 - atitudes ou comportamentos que as aulas com atividades cooperativas

poderiam desenvolver.

O quadro anterior nos reservou uma grata surpresa, pois trinta e cinco

alunos (97,22%) responderam colaboração e participação, trinta e quatro (94,44%)

divertimento, trinta e três alunos (91,66%) respeito, trinta e um (86,11%) união, vinte

e nove (80,55%) cooperação, vinte e quatro alunos (66,66%) solidariedade, vinte

alunos (55,55%) inclusão e integração, dezoito alunos (50%) descontração, cinco

(13.88%) confronto, quatro (11,11%) eliminação, três (8,33%) individualismo, e um

(2,77%) respondeu agressividade, brigas, trapaças, exclusão. Nenhum aluno

respondeu discriminação, violência e humilhação. Isso, além de outras observações

feitas no decorrer da implementação, leva-nos a acreditar que o objetivo foi

realmente alcançado e que a maioria dos discentes percebeu/entendeu as

diferenças entre situações cooperativas e competitivas. Segundo ORLICK (1978, p.

14),

à medida que as pessoas se tornarem mais sensíveis para com os sentimentos dos seus semelhantes e mais dispostas a cooperar para o bem comum, nosso planeta se tornará um lugar mais saudável e feliz de se viver, para todos nós. ORLICK (1978, p. 14)

Quando perguntamos quais os valores envolvidos que eles perceberam,

trinta e dois (88,88%) responderam “respeito pelo outro”, três (8,33%) disseram “ser

sujeito e não objeto”, e oito (22,22%) “amor ao próximo”. Como colocado

anteriormente, também em relação aos valores envolvidos na cooperação, os alunos

conseguiram ter um bom discernimento.

Na próxima pergunta apresentamos uma tabela, conforme abaixo, e

pedimos para assinalar o que eles consideraram que tinha existido durante as aulas

com atividades cooperativas. As respostas foram:

Frequencia Situações Conceitos

25 alunos

69,44%

CONSTRUÇÃO DE UMA REALIDADE SOCIAL POSITIVA

Os Jogos Cooperativos mudam as atitudes das pessoas para o jogo e para elas mesmas, favorecendo a criação de um ambiente de apreço

8 alunos

22,22% A EMPATIA

A capacidade para situar-se na posição do outro e compreender seu ponto de vista, suas preocupações, suas expectativas, suas necessidades e sua realidade

22 alunos

61,11%

A COOPERAÇÃO

Valor e destreza necessários para resolver tarefas e problemas juntos, através de relações baseadas na reciprocidade e não no poder e controle. As experiências cooperativas são a melhor maneira de aprender a compartir, a socializar-se e a preocupar-se pelos demais

16 alunos

44,44% A COMUNICAÇÃO

Desenvolvimento da capacidade para expressar, deliberada e autenticamente, nosso estado de ânimo, nossas percepções, nossos conhecimentos, nossas emoções e nossas perspectivas

24 alunos

66,66% A PARTICIPAÇÃO

Gera um clima de confiança e de implicação comum

4 alunos

11,11%

O APREÇO E AUTOCONCEITO POSITIVO

Desenvolver uma opinião positiva de si mesmo, reconhecer e apreciar a importância do outro. A auto-estima, confiança e segurança em si mesmo é um elemento de identidade vital que joga um importante papel na determinação de nossa conduta comunicativa. O jogo cooperativo oferece ao jogador a ocasião de apreciar-se, de valorizar-se, sentir-se respeitado em sua totalidade. Pouco importam as suas aptidões físicas, é sempre ganhador e nunca eliminado. Respeitar-se envolve o respeito aos outros. Respeitar-se, traz a aceitação e o melhor de si. Quando alguém se ama, se transforma e melhora.

25 alunos

69,44% A ALEGRIA

Uma das metas do ensino-aprendizagem deve ser a formação de pessoas felizes e o desaparecimento do medo do fracasso e do rechaço

TABELA 3: Opinião dos alunos sobre situações que aconteceram durante as aulas

Novamente confirma-se o entendimento dos alunos sobre a ideia da

cooperação, pois os objetivos normais desta atitude foram os itens mais

assinalados, como alegria, participação, comunicação, cooperação e construção de

uma realidade social positiva. Estes itens acoplados levam a mais e melhor

aprendizagem (Pozo, 2002).

Para finalizar realizamos uma pergunta aberta. Eles deviam responder o

que entendiam por cooperação. Citaremos respostas (unidades significativas –

análise de conteúdo) que sintetizam todas, procurando se aproximar das formas

como eles escreveram:

- é para os alunos se unir; cooperar para dar um resultado bom; evitar briga e

desavenças;

- é participar e não criticar, divertir e respeitar os limites dos colegas;

- é jogar mais e não para acabar com o próximo;

- é jogar com o outro e não contra, é também diversão;

- é incluir todos os alunos a jogarem, a participarem das atividades escolares;

Afirmações estas, que são confirmadas por Brotto (2001, p. 54):

Jogando Cooperativamente temos a chance de considerar o outro como um parceiro, um solidário, em vês de tê-lo como adversário, operando para interesses mútuos e priorizando a integridade de todos. Brotto (2001, p. 54)

- é sempre trabalhar em equipe e ajudar o seu parceiro e também o seu adversário;

- é você participar com os outros brincando de um modo mais adequado sem

desavença com os outros;

- é cooperarmos com os outros participantes sem agressões, apenas jogando.

Estas respostas confirmam o que Orlick, (1978, p. 184) já escrevia em seu

livro Vencendo a Competição: quando as pessoas se desenvolvem em meio a uma

cooperação genuína, passam a gostar, a apreciar e a partilhar com as outras,

sabendo que cada uma tem um papel importante a desempenhar. Considerando

estas respostas, podemos dizer que grande parte dos discentes conseguiu, se não

definir, mas entender conceitos e ações em que a cooperação está atrelada.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As atividades cooperativas nos levam a pensar que temos que mudar nossa

atitude em relação a muitas coisas, inclusive em nós mesmos. Foi um desafio

trabalhar com jogos cooperativos uma vez que a formação no Curso de Educação

Física na época da graduação (licenciatura) foi totalmente voltada para o tecnicismo,

para a competição, onde o que importava era o movimento correto, a perfeição, os

acertos e a vitória (não importa de que forma). No principio, logo após expor esta

forma de trabalhar para os alunos, foram cometidos erros, sendo que inclusive

alguns alunos chegaram a questionar momentos da aula em que a competitividade

tomava conta. Mas, aos poucos, fomos (docente e alunos) sendo transformados e

conscientizados que o jogar com o outro é muito mais divertido e gratificante do que

jogar contra o outro. Desenvolvemos muita coisa boa nestes três meses de

atividades: a amizade, o coleguismo, o respeito, a forma de tratar colegas e

professores mudou. Houve transformações significativas em todos.

Revendo a meta colocada neste artigo, pode-se constatar que um grande

passo foi dado pelos alunos no entendimento sobre cooperação e nas formas de

ações com este caráter, pois, pelas respostas dos mesmos, podemos verificar que o

objetivo foi alcançado. Agora nossa expectativa é que esses comportamentos sejam

incorporados e utilizados para sempre no cotidiano da escola e fora dela. Como

exemplo de mudança significativa, ressaltamos um aluno que no inicio não admitia o

erro de nenhum colega e, depois de varias conversas tentando conscientiza-lo,

pode-se ver o resultado. Ele mesmo nos últimos dias veio testemunhar a mudança

de atitude em relação aos colegas, o que nos fez acreditar que valeu a pena. As

últimas aulas da implementação do projeto foram gratificantes e acreditamos que as

pessoas têm como transformar a sua vida, bastando para isso canalizar os seus

pensamentos, as suas atitudes e ter uma orientação que os leve a refletir sobre a

sua prática e decida ter um ambiente de cooperação, com atitudes e pensamentos

onde todos precisam de todos para sobreviver, para brincar, para jogar e se divertir.

Agora, nosso pensamento se alinha com Reinaldo Soler, que nossa missão maior é

ritualizar a cooperação em cada momento possível, aprender a conviver e

compartilhar experiências, e principalmente que todos os homens nasceram livres e

iguais e tem, portanto, os mesmos direitos. Lembramos também que para melhorar

nossos conhecimentos necessitamos de um bom ambiente, e a partir da convivência

pacífica e harmoniosa proporcionada pela cooperação nas aulas, o processo de

ensino/aprendizagem poderá se desenvolver com maior eficácia.

REFERÊNCIAS

BENJAMIN, W. Reflexões: a criança, o brinquedo, a educação. São Paulo: Summus, 1984.

BROTTO, Fábio Otuzi, F. Jogos cooperativos: Se o importante é

competir, o fundamental é cooperar. 2ª ed. Re-novada. Santos SP, 2002.

BROTTO, Fábio Otuzi, F. Jogos cooperativos: o jogo e o esporte como exercício de convivência.Ed. projeto de cooperação. Santos, SP, 2001.

GIL, A. Projetos de Pesquisa. São Paulo: Editora Atlas, 1994.

MARCELLINO, N. C. Estudos do lazer: uma introdução. 3 ed. Campinas: Autores Associados, 2002.

ORLICK, Terry. Vencendo a competição. São Paulo: Círculo do Livro, 1978.

PARANÁ, SEED. Diretrizes Curriculares Da Rede Pública Da Educação Básica Do Estado Do Paraná. Curitiba 2006.

PARANÁ. Manual de Orientação para Produção de Objeto de Aprendizagem Colaborativa.

POZO, J.I. Aprendizes e mestres: a nova cultura da aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002.

SOARES et al. Metodologia de Educação Física. São Paulo, SP. Ed. Cortez 1992.

SOLER, Reinaldo. Jogos Cooperativos. Rio de Janeiro: Sprint, 2002.

SOLER, Reinaldo. Educação Física: uma Abordagem Cooperativa. Rio de Janeiro. Sprint. 2006.

THOMAS, Jerry R; NELSON, Jack K. Métodos de pesquisa em atividade física. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2002.

VAZ, A. F.; PETERS, L. L.; LOSSO, C. D. Identidade cultural e infância em uma experiência curricular integrada a partir do resgate das brincadeiras açorianas. In: Revista de Educação Física, v. 13, n. 01, Maringá: UEM, 2002,