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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
ESPAÇO ESCOLAR E MEDO: a percepção da vivência cotidiana das pessoas
envolvidas no processo educacional
Rosângela Santana Pedroso 1
Joseli Maria Silva 2
Resumo
Este artigo tem como objetivo apresentar os resultados do estudo realizado como parte das atividades de conclusão de curso do Projeto de Desenvolvimento Educacional do Estado do Paraná – PDE sobre a violência escolar e como os atores que vivenciam o cotidiano escolar veem esse espaço. Os instrumentos metodológicos utilizados para a produção desse artigo foi o embasamento teórico através da literatura disponível, tabulação de dados dos livros atas, reflexões no ambiente moodle no Grupo de Trabalho em Rede com professores sobre a temática, pesquisa qualitativa através de questionários semiestruturados aos professores, alunos e equipe pedagógicas e aplicação de uma unidade didática versando sobre a violência e territorialidade na sétima série D do Colégio Estadual Nossa Senhora da Glória, em Ponta Grossa. Percebemos que a violência, seja ela física ou psicológica vem aumentando assustadoramente no espaço escolar, isso justifica a necessidade de buscarmos estratégias para minimizar essas atitudes. Quase que diariamente os meios de comunicação nos apresentam histórias de violência envolvendo alunos, profissionais da educação e até mesmo pais. Dessa forma, o professor como gestor de dilemas, compromissado com as situações de aprendizagem, deve buscar os novos conhecimentos produzidos pelas ciências sociais e cognitivas produzidas no século XXI para discutir amplamente com a sociedade os problemas contemporâneos como o uso de drogas, o preconceito e a violência.
Palavras-chave: espaço escolar; violência; medo; bullying; territorialidade.
1 Licenciada em Geografia pela UEPG. Pós-Graduada em Psicopedagogia pela Facinter. Professora
de Geografia PDE – 2009 da Rede Estadual de Ensino do Estado do Paraná. [email protected] 2
Orientadora PDE. Professora Adjunta do Departamento de Geociências da UEPG. [email protected]
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Abstract
This article aims to presents the study results performed as part of the end activities of Educational Development Project of Parana State – PDE about school violence and how the people who live the school daily note this place. The methodology instruments utilized in the achievement of this article was the theoretical through the available literature, data tabulation of minutes books, reflections Moodle in the Working Group on Network with teachers about the thematic, qualitative research through semi-structured questionnaires to the teachers, students and pedagogical staff and implementation of a thematic unit dealing about the violence and territoriality in the seventh grade at Nossa Senhora da Glória State College, in Ponta Grossa. We realized that violence, both physical or psychological has been increasing frightfully in the school, this justifies the need to find strategies to minimize these attitudes. Almost everyday the media present us with stories of violence involving students, education professionals and even the students relatives. Thus, the teacher as manager dilemmas, committed to learning situations, must search the new knowledge produced by social and cognitive sciences done in XXI century to discuss widely the problems with society contemporaries such as drug use, discrimination and violence.
Keywords: school environment, violence, fear, bullying, territoriality.
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1 Introdução
Este artigo faz parte das atividades do Plano de Desenvolvimento
Educacional do Estado do Paraná – PDE. Tem como objetivo apresentar os
resultados do estudo realizado sobre a violência escolar e como os alunos e
professores do Colégio Estadual Nossa Senhora da Glória vivenciam e percebem
esse espaço.
A escola é o principal espaço de mediação entre o conhecimento científico,
histórico e das relações humanas entre as pessoas. Em uma análise desse espaço
não podemos deixar de perceber que essa mesma escola enfrenta em seu interior
conflitos que interferem na sua função de educar. A violência, o uso das drogas e o
confronto entre os pares, são problemas que fazem parte de nosso cotidiano escolar
e devem ser reconhecidos e tratados, não de forma superficial, mascarando a
realidade, mas buscando as causas reais e experiências para resolver as
adversidades.
Segundo Spósito (2009), a violência escolar não é nova; na década de 80 o
governo brasileiro já adotava medidas para conter as ações contra o patrimônio
escolar (depredações, pichações e invasões). O problema intensificou e as
manifestações passaram a acontecer entre os muros da escola de forma marcante e
contínua, através de agressões verbais e físicas.
Muitos são os autores que procuram entender as relações que ocorrem no
ambiente escolar, dentre eles podemos citar Debarbieux, estudado por Ruotti
(2006), que legitima a violência no ambiente escolar através do acesso maior da
população aos seus bancos e ao uso de drogas. Benevides é outra importante
estudiosa desse contexto, ela relata a inexistência da vontade de se enfrentar o
problema da violência no meio escolar, considerando-a como um fato normal.
Inexiste uma tomada de consciência da sociedade de que ela é responsável, ou seja, de que o problema da violência tem raízes econômicas, sociais e culturais; que diz respeito aos governos e aos políticos, mas também às famílias, às escolas, às igrejas, às empresas, aos sindicatos e associações de profissionais, aos meios de comunicação, à sociedade civil. (apud SILVIA, 2009, p. 253)
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Pesquisas norte-americanas destacam o bullying, caracterizado pela
ocorrência de agressões de ordem física e/ou psicológica, por um longo período e
de forma repetitiva como causa de incidentes fatais envolvendo alunos, professores
e funcionários. Não é difícil encontrarmos nos meios de comunicação notícias sobre
agressões e até mortes que ocorrem no espaço escolar motivada por causas
principalmente de cunho emocional.
Nos Estados Unidos, uma notícia publicada em 1994 pelo jornal Folha de S. Paulo informava que pelo menos 270 mil estudantes entravam armados em sala de aula. Cerca de 70% dos colégios americanos revistam seus alunos na entrada e fazem inspeções inesperadas em salas de aula. Nesse mesmo ano foram instalados detectores de metal tanto nos portões de acesso aos prédios escolares e passaram a ser utilizados instrumentos portáteis de verificação que acompanhariam as investigações repentinas de grupos de alunos em salas de aula (Folha de S. Paulo 9/5/1994). Em 1997, em cidades como New York, observa-se a iniciativa de criação de novos estabelecimentos de ensino em parceria com instituições da sociedade civil, especialmente destinados a receber os alunos que apresentavam condutas violentas no interior das escolas públicas da cidade. (SPÓSITO, p. 2)
Na França, o sociólogo Pierre Boudier (1930 - 2003), criticou o sistema
educacional, para ele a escola é uma instituição que permite a reprodução pela
classe social dominante, ou seja, a escola ignora as diferenças socioculturais
reproduzindo somente os valores da burguesia capitalista, “o sistema escolar
francês, que ao invés de transformar a sociedade e permitir a ascensão social,
ratifica e reproduz as desigualdades” (apud STIVAL e FORTUNATO, 2006). A esse
tipo de pedagogia reprodutivista Boudier denominou de “violência simbólica”, na qual
os filhos das classes trabalhadoras são “desprezados, ignorados e desconstruídos
na sua inserção cultural”.
Para filhos das classes trabalhadoras, a escola representa uma ruptura no que se refere aos valores e saberes de sua prática, que são desprezados, ignorados e destruídos na sua inserção cultural, ou seja, necessitam aprender novos padrões ou modelos de cultura. Dentro dessa lógica, é evidente que para os alunos filhos das classes dominantes alcançar o sucesso escolar torna-se bem mais fácil do que, para aqueles que têm de desaprender uma cultura para aprender um novo jeito de pensar, falar, movimentar-se, enfim, enxergar o mundo, inserir nesse processo para se tornar um sujeito ativo nesta sociedade. (STIVAL e FORTUNATO, 2009)
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Em contraponto, é a respeito das instituições escolares da França, que
também encontramos os estudos feitos por Angelina Peralva enfatizando a violência
praticada contra professores:
Mulheres que já não ousam dar aula com a porta fechada. O conselheiro de orientação espancado, carro deteriorado por trás de portões de estacionamento fechados a cadeados, penetração constante na área do estabelecimento de pessoas estranhas a ele, na maioria das vezes ex-
alunos que vinham acertar contas com colegas ou ex-professores, inclusive dentro das salas de aula. (PERALVA apud SPÓSITO, 2009, p.1)
Peralva também cita a criação de um número telefônico especial “S.O.S.
Professor”, criado em 1996 para que os professores possam denunciar qualquer tipo
de violência sofrida. O mesmo aconteceu em 2010 com o Sindicato dos Professores
de Estado de Minas Gerais (Sinpro - Minas), após a morte do professor KVCG vítima
de um aluno, em 7 de dezembro de 2010 e devido ameaças sofridas por vários
professores, também foi adotado um número especial para atendimento dos
docentes. Pesquisa realizada pelo Sinpro em 2009 junto aos professores, demostrou
que 62% dos entrevistados já presenciaram uma agressão verbal; 39% relataram ter
visto situações de intimidação; e 35%, de ameaça.
Portanto, o desafio desse estudo foi efetuar uma investigação sobre as
relações vividas no meio escolar, o perfil de seus atores, refletindo sobre suas inter-
relações e situações de violência, consequentemente o medo, gerado pelos conflitos
entre os pares, propondo medidas para melhorar essas relações no cotidiano.
1.1 Metodologia
Para a realização desse trabalho adotou-se a pesquisa-ação como
metodologia para atingir os objetivos propostos pelo Programa de Desenvolvimento
Educacional PDE. A pesquisa-ação permite ao professor torna-se um pesquisador
de uma área de seu interesse.
Segundo Tripp (2005), a pesquisa-ação é um dos inúmeros tipos de
investigação-ação, processo que segue o seguinte ciclo: “planeja-se, implementa-se,
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descreve-se e avalia-se uma mudança para a melhora de sua prática, aprendendo
mais, no correr do processo, tanto a respeito da prática quanto da própria
investigação”.
Figura 1- Representação do ciclo básico da investigação-ação
Fonte: Tripp, David. 2005.
Tripp (2005) caracteriza a pesquisa-ação de onze formas, sendo ela
“inovadora, contínua, proativa estrategicamente, participativa, intervencionista,
problematizada, deliberada, documentada, compreendida e disseminada”.
A primeira ação adotada por essa pesquisa foi o embasamento teórico na
bibliografia disponível. A escolha dos documentos enriqueceu os conhecimentos
prévios, permitindo estabelecer como seriam organizadas as próximas etapas do
trabalho.
Paralelamente, foram realizadas discussões sobre o enfrentamento da
violência com um grupo de professores da rede estadual de ensino através do
ambiente virtual denominado Grupo de Trabalho em Rede.
Para ratificar a necessidade desse trabalho no seio escolar foram tabuladas
as causas das 467 ocorrências registradas nos livros de atas, para que pudesse
verificar se existiam ou não situações de violência na escola. Através desse método
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de levantamento de dados comprovou-se que a maioria das atas foi escrita devido a
agressões ocorridas em sala de aula. Esse resultado foi apresentado aos
professores, à equipe pedagógica e aos agentes de apoio na primeira reunião de
formação continuada do mês de julho de 2010. Todos os que estavam presentes
nesta reunião concordaram que há necessidade de um trabalho mais efetivo junto
aos adolescentes e a família para que essa situação não permaneça.
Como principal método de pesquisa qualitativa para produção desse artigo
adotou-se as entrevistas realizadas por meio de questionários semiestruturados.
Através delas foi possível estabelecer como os envolvidos na pesquisa – alunos e
professores - se relacionam e veem o ambiente escolar, valorizando as experiências
pessoais e cotidianas destes. Os resultados foram transcritos por meio de gráficos e
tabelas para facilitar a interpretação.
Todas as entrevistas foram realizadas nos meses de setembro e outubro de
2010, totalizando-se setenta e quatro questionários: doze docentes e sessenta e um
alunos do ensino médio e um patrulheiro que se propôs a colaborar com esse
trabalho. A intenção dessa fase foi fazer uma análise mais ampla da situação que se
encontra o relacionamento entre envolvidos no contexto educacional.
No decorrer do segundo semestre foram realizadas no contra turno
atividades diversificadas com um grupo de vinte alunos da sétima série D do colégio.
O espaço utilizado para a realização dessas atividades foi o laboratório de
informática, que muito facilitou o acesso das notícias nos jornais, textos informativos,
músicas, vídeos e outros instrumentos adotados durante a aplicação da intervenção
pedagógica, neste caso uma unidade didática.
Como meio de estabelecer uma aproximação com aluno usou-se os
elementos do movimento hip hop (rap, grafite, break e MCs), para embalar o
desenvolvimento dos temas. Os assuntos alvos desses debates foram: a ocupação
de espaços por gangues e a questões da territorialidade; os efeitos da globalização
e a xenofobia, em particular a violência motivada por preconceito racial, sexual,
religioso e por deficiência.
Por fim este artigo traz a apresentação e análise dos dados obtidos pela
pesquisa-ação, não como assunto esgotado, mas como apresentação de um
problema que paulatinamente está atingindo o meio escolar.
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2 O espaço escolar e seus conflitos
A escola incorpora e reproduz todos os aspectos da sociedade na qual se
insere. Atualmente materializa uma ideologia burguesa onde seu objetivo é formar
cidadãos para o mercado capitalista, onde o ter justifica qualquer atitude perante si
mesmo e a sociedade.
Para Schilling (2004, p. 61) “a escola é estudada, também como o lugar da
reprodução das desigualdades sociais, das desigualdades de gênero e raças, da
produção da pobreza e da exclusão. Teria, assim, sua cota de violências
socioeconômicas.” A autora acrescenta o conhecimento deixado por Durkheim “a
escola é, acima de tudo, o meio pelo qual a sociedade renova perpetuamente as
condições de sua própria existência”. (SCHILLING, 2004, p. 82)
O espaço escolar deveria ser um ambiente atrativo, pois nele converge um
grande número de pessoas com suas histórias de vida e experiências. Porém, o que
se verifica ultimamente são relações conflituosas e de desrespeito entre os pares
que afetam o processo educativo, gerando comportamentos agressivos e de
indisciplina nesse ambiente.
A discussão sobre a violência escolar deve considerar questões
institucionais, como a “violência simbólica” cometida nos modos de composição das
classes, de atribuições de notas, forma de falar dos professores, etc. O aluno
também utiliza maneiras inadequadas de falar e agir como forma de protesto e de
reprodução de uma sociedade que adota uma “cultura da violência”.
Nesse contexto, professores e alunos sofrem do mesmo mal: o medo. Medo
sentido pelo professor quando agredido por palavrões e violências físicas; da
mesma forma os alunos justificam que sentem medo quando são agredidos por
xingamentos e frases prontas como “você sabe quem manda aqui?”, “você vai ver
no dia da prova”, “ele é pobre mesmo não precisa de estudo”, notas baixas
consideradas injustas, entre outros. Existem ações que ampliam esse desajuste “os
jovens também apontam que é violência “passar sem aprender”. É preciso analisar
por que acontece essa desistência do professor em ensinar e a desistência do jovem
em aprender.” (SCHILLING, 2004, p. 98)
Essas relações conflituosas nem sempre são percebidas e discutidas no
ambiente escolar, o diálogo entre as partes é cada vez mais difícil e esse
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distanciamento precisa ser superado. Schilling (2005, p. 9) chama de “estado de
mal-estar” contemporâneo os atos de violência e sua percepção. Questiona se a
violência é “na” escola ou “da” escola.
Nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica do Estado do Paraná - DCE
(2008, p. 26) encontramos o enfrentamento da violência como parte dos problemas
sociais contemporâneos, junto com a questão ambiental e os problemas
relacionados à sexualidade e à drogadição. As Diretrizes propõem a abordagem
desses temas de forma contextualizados e articulados entre si.
Com a evolução da sociedade entendemos que a função social da escola
também mudou. Contemporaneamente ela é vista como um espaço de convivência
e de prática de diálogo (Freire, 2004) que objetiva a formação do aluno através do
acesso às formas elaboradas da cultura. É através da educação que o sujeito pode
tomar consciência da realidade em que vive intervindo e a modificando,
assegurando-lhe o exercício da cidadania.
Em sentido mais amplo, a escola é o espaço onde não somente ocorrem a aquisição e a construção do conhecimento cognitivo, mas também é um local onde se aprende a construir as relações afetivas, os valores e os papéis dos sujeitos presentes no processo educativo: pais, alunos, professores, pedagogos, diretores e funcionários. (NONATO JUNIOR, BIANCO, ZIEGEMANN, 2008, p. 249)
Entendemos que a escola não é a única responsável pela formação do
cidadão, pois a família e a sociedade são as principais responsáveis. No programa
PDE, tivemos a oportunidade de refletir com professores da rede estadual de ensino,
a crescente onda de violência escolar, suas causas e consequências para o
processo educativo em um espaço de discussão virtual. Essa atividade é
denominada Grupo de Trabalho em Rede (GTR). Em 2010, os professores que
participaram do GTR “Espaço escolar e medo” comungam a opinião que medidas
emergenciais devem ser tomadas para frear o aumento da violência na escola e na
sociedade.
Das opiniões registradas podemos exemplificar as da professora E.M.W.,
cursista da cidade de Ponta Grossa, que sugere algumas estratégias que podem ser
adotadas pela escola:
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A escola pode trazer as questões do mundo para a sala de aula através do desenvolvimento de programas de ação interativa em relação ao meio onde a mesma está inserida, com a criaçao de programas de educação para a saúde, para a paz, para a boa convivência, através de reuniões para famílias desajustadas, campanhas de sensibilização contra conduta violenta na escola.
A professora ainda completa:
A inadaptação social é devida a falta de presença familiar ou pelo meio onde o jovem vive (alcoolismo, drogas, prostituição, violência doméstica, agressões diversas), fazem com que os jovens tenham comportamentos de acordo com o que vivenciam diariamente. Esses jovens não têm referências positivas, constroem a sua identidade de acordo com o que observam, sem
noção do que é certo ou errado.
A disciplina de Geografia ocupa um lugar importante dentro das demais
disciplinas curriculares, pois proporciona a construção de uma cidadania crítica e
participativa, visto que a disciplina ajuda os alunos a repensar a realidade e a atuar
sobre ela. Segundo as palavras do professor R.M.P., também cursista da cidade de
Ponta Grossa:
No ensino da Geografia com base nas Diretrizes Curriculares, vemos que nossa função como professores é propiciar ao aluno o desenvolvimento crítico na sociedade em que vive, possibilitar o desenvolvimento de valores éticos, respeito ao meio ambiente, o valorização da pluralidade socio-cultural e demais valores, a sociedade através dos poderes constituídos propiciar a cidadania, e a mais importante de todas para a transmissão de valores, é a família, pois sem ela será muito difícil trabalhar valores morais.
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948 encontramos em
seu artigo 26:
A educação terá como objeto o pleno desenvolvimento da personalidade humana e o fortalecimento do respeito aos direitos humanos às liberdades fundamentais; favorecerá a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos étnicos ou religiosos; e promoverá o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a manutenção da paz. (JARES, 2002, p. 57)
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O espaço geográfico, objeto de estudo da Geografia, através da localização
dos fatos na superfície terrestre, das transformações de ordem natural e as
interrelações entre os homens e a natureza, vem sendo abordado de várias
maneiras segundo exigências da sociedade. As Diretrizes Curriculares do Estado do
Paraná (DCE) orientam que “a espacialização dos fatos, dinâmicas e processos
geográficos, bem como a explicação das localizações relacionais dos eventos em
estudo são próprias da análise geográfica da realidade.” (DCE, 2008, p.52)
A escola é vista como espaço territorial integrador de diversas identidades
do segmento social e lugar onde são exercitadas atitudes para o desenvolvimento
de valores comuns à sociedade humana. Ao receber alunos oriundos de diferentes
meios socioculturais e econômicos a escola enfrenta diversos problemas
relacionados à convivência. Pior, a própria escola acaba por gerar situações de
conflitos ou discriminações, “na ânsia de resolver situações de conflitos, muitas
vezes professores impõem regras, agem de forma repressora, coercitiva e não
propiciam o desenvolvimento da autonomia moral.” (ARAGÃO e FILHO, 2009, p. 5).
Definir o que venha a ser violência não tem sido fácil para os pesquisadores
dessa área, existem muitas contradições em o que considerar como violência,
incivilidades ou simplesmente indisciplina. Por exemplo, podemos utilizar o conceito
dado por Marilena Chauí onde observa que:
Em nossa cultura a violência é entendida como o uso da força física e do constrangimento psíquico para obrigar alguém a agir de modo contrário à sua natureza e ao seu ser. A violência é violação da integridade física e psíquica, da dignidade humana de alguém. Eis que o assassinato, a tortura, a injustiça, a mentira, o estupro, a calúnia, a má-fé, o roubo são considerados violência, imoralidade e crime. (CHAUÍ, 2004, p. 337)
Dessa forma não é raro encontrarmos no espaço escolar formas diversas de
violência, sendo praticada e sentida por muitos dos que convivem nela. Porém, o
considerado como violência pode mudar conforme a época e a sociedade. Na
literatura observa-se que o considerado como ato violento para algumas sociedades
pode ser normal para outras. Essa é uma dificuldade também vivida dentro da
escola: a de definir o que é uma atitude agressiva ou a considerado como
indisciplina.
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A primeira atividade da pesquisa foi realizada através dos Livros de
Ocorrências (Livro Ata) do Colégio Estadual Nossa Senhora da Glória, localizado no
Núcleo Habitacional Rio Pitangui, de onde foram coletados dados do periodo de 03
de fevereiro de 2008 até 30 de junho de 2009. De posse desses registros foi
possível verificar quais os problemas que mais acontecem durante o período de
aulas e que atrapalham o trabalho pedagógico e as atitudes tomadas pela
instituição, no caso direção e equipe pedagógica, para a resolução desses conflitos
e agressões.
O primeiro gráfico refere-se ao período da manhã, o qual apresentou maior
número de ocorrências registradas, totalizando 228.
Gráfico 1
Fonte: Livro Ata do Colégio Estadual Nossa Senhora da Glória Organizado por: PEDROSO, R.S.
Das 228 ocorrências, 13 delas estão registradas como agressão verbal e 53
como agressão física, totalizando 66 atas, o que corresponde 28,9% do total de
ocorrências desse periodo.
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Outras 50 ocorrências foram registradas como indisciplina, correspondendo
a 21,9%. Vale a pena verificar no gráfico que 25 das ocorrências são de desacato e
6 sair sem autorização, o que também pode ser classificado como agressão verbal;
13 de atentado ao pudor que é um tipo de violação. Dessa forma o número de atos
considerados violentos aumentaria seu índice para 97 ocorrências, subindo para
42,5%, quase metade das atas assinadas.
Nos registros verificou-se que 144 das medidas tomadas foi a advertência
verbal, 30 suspensão das aulas, 5 encaminhamento ao Conselho Tutelar e 4
comparecimentos da Patrulha Escolar para orientar os alunos. Outras 23
ocorrências foram registros de comparecimento dos pais para tomar ciência da vida
escolar do filho ou reclamar de agressões sofridas no ambiente escolar. Os 12
registros restante foram de encaminhamento ao FICA (Ficha de Comunicação do
Aluno Ausente), conversa com professor, responsabilização do aluno por perda de
nota devido o não comparececimento para realizar provas marcadas.
O gráfico 2 refere-se ao período da tarde.
Gráfico 2
Fonte: Livro Ata do Colégio Estadual Nossa Senhora da Glória
Organizado por: PEDROSO, R.S.
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O gráfico do período noturno abrange alunos do Ensino Médio – com idade a
partir dos quatorze anos.
Gráfico 3
Fonte: Livro Ata do Colégio Estadual Nossa Senhora da Glória Organizado por: PEDROSO, R.S.
O período noturno foi o que apresentou certa calmaria. Foram registradas
apenas 85 atas. Isso se deve ao número menor de turmas e de alunos por salas,
além do desenvolvimento psicológico desses devido à idade.
As agressões físicas foram 5 e as verbais 11, totalizando 18,8% das
ocorrências, empatando com a indisciplina que também totalizou 16.
As condutas desse grupo de alunos são bem típicas, estão relacionadas ao
enfrentamento de colegas/professores e transgressões das normas do colégio. São
exemplos delas: desacato 8, sair sem autorização 7, entrar atrasado 4, usar celular
em sala 11 e ameaças 4.
Foi registrado 1 caso de embriaguez e o mesmo número de fumante nas
dependências do colégio (menor que os registros do período da manhã, 3
fumantes).
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O comparecimento dos pais foi mínimo, somente 5, porém a pedagoga
registrou 6 vezes seu contato telefônico com a família a fim de comunicar
principalmente o não comparecimento do filho (a) nas aulas. Atitude essa que
demonstra interesse por parte dos profissionais do colégio, cobrando maior
comprometimento dos pais e responsabilidade do aluno.
Há aqueles que defendam a ideia que muitas das situações que ocorrem na
escola não passam de indisciplina gerada pela desorganização e falta de preparo
dos profissionais envolvidos. Desorganização vista quando o aluno pode entrar e
sair do estabelecimento na hora que quer, chegando atrasado às aulas e
interrompendo o professor e os colegas; na entrada de pessoas sem autorização
nas dependências da escola ou mesmo quando os portões de acesso ficam abertos
para que entre ou saia qualquer pessoa; a não identificação dos alunos através do
uso de uniforme; a pouca articulação verificada quando falta um professor (os alunos
são liberados para ficarem ao pátio causando aglomerações, empurrões, brigas
etc.); a não permanência da equipa pedagógica e diretiva junto ao aluno realizando
atividades de formação ética e mediando os conflitos, são alguns dos problemas que
podem colaborar com a indisciplina.
O despreparo dos profissionais frente às atitudes dos alunos intensifica a
situação. Não se trata apenas de não saber como lidar psicologicamente com o
aluno, mas também de seu próprio domínio sobre o conteúdo e a estratégia que vai
utilizar durante a aula. A organização do trabalho pedagógico permite um trabalho
contínuo das atividades, o que ajuda a manter o aluno interessado e mais ocupado,
com menos tempo para provocar os colegas ou criar outras situações de conflitos.
Professores relatam (Ruoti, 2006) que sentem medo do confronto com
alunos, pois estes geralmente respondem com ameaças de agressões físicas, ao
patrimônio do professor ou por meio de agressões morais. O número de professores
com depressão aumentou muito nas últimas décadas devido em parte a esse medo
gerado no espaço escolar (estresse físico e psíquico).
Enquanto, porém, a socialização, o convívio, e mesmo a violência como expressão de rebeldia, podem ainda emprestar aos alunos alguma forma de sentido à escola, aos professores, nem mesmo isso resta. Nada mais provoca um sentimento tão profundo de absurdo e solidão quanto lecionar, dia após dia, ano após ano, para alunos que, como eles próprios dizem, não estão nem aí. Todos os professores conhecem essa experiência
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devastadora: ser profissional e psiquicamente demolido por crianças ou jovens que destituem o professor de seu lugar, não pelo fracasso, mas pela ausência, pela recusa em entrar no jogo da escola. Os empurrões, os insultos, o vandalismo são meras decorrências desse dado principal. (SOUSA, 2008, p.21)
2.1 Como os professores percebem a escola
No intuito de verificar o relacionamento entre professores, alunos e a
Patrulha Escolar foram aplicados questionários semiestruturados, como fonte de
pesquisa, a alguns profissionais do corpo docente e equipe pedagógica que
trabalhavam no estabelecimento nos anos de 2008 e 2009.
Dos doze profissionais que participaram da pesquisa, somente um não
possuía pós-graduação na época, demonstrando que os profissionais estão
buscando cada vez mais qualificação para exercer sua função.
Quando questionados sobre qual série era mais difícil de realizar o trabalho,
não se obteve uma conclusão, pois todas foram citadas na mesma proporção.
Os motivos foram identificados os citados na tabela abaixo:
Tabela 1 - Dificuldade no trabalho pedagógico
Motivo Quantidade São muitos alunos por sala, o que dificulta o trabalho individual.
7 Os alunos não possuem conhecimentos básicos (pré-requisitos).
6 Os alunos são desinteressados.
8 Os pais não incentivam os filhos.
7 Os pais não cobram responsabilidade dos filhos.
9 Os pais não ajudam os filhos nas realizações das atividades.
4 Os alunos desrespeitam muito os colegas e professores.
7 Fonte: Questionário aplicado aos docentes e Equipe Pedagógica em 2010. Organizado por: PEDROSO, R. S.
Ao serem abordados os profissionais relataram que já haviam sofrido algum
tipo de violência no ambiente escolar, 8 respostas foram positivas - sim por alunos -
e duas acrescentaram que também foram vítimas de pais.
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Quanto ao colégio, onze dos dozes profissionais responderam que este já
havia sido alvo de apedrejamento e furtos. Carros de professores que ficam
estacionados na rua em frente já foram riscados por alunos que se “sentiram
prejudicados”.
As ações violentas identificadas são as depredações, os furtos e as invasões aos prédios escolares. Há uma violência contra a escola, que, aparentemente, não é vista como um bem comum, como um bem público a ser preservado... as ações são cometidas por ex-alunos excluídos do processo educacional pela escola. O poder público e os dirigentes das escolas respondem a essas ações violentas, geralmente, com o incremento da segurança física dos locais, seu cercamento com muros e grades, e a criação de sistemas de vigilância. Começamos a ver nas escola “hostis” e “hostilizadas”, que dialogam com a arquitetura urbana dominante – com suas guaritas, cercas eletrificadas, muros enormes. (SCHILLING, 2004, p. 79-80)
Sobre o que pensam do aumento da violência urbana e do envolvimento de
adolescentes nestas ações, a maioria dos professores entrevistados responsabiliza
a família por esses índices. Parte dos pais se encontra despreparado para assumir a
educação dos filhos e ausentes devido à situação econômica. Foram citadas como
agravantes dessa situação a falta de punição dos jovens em consequência do ECA
(Estatuto da Criança e Adolescente) que protege menores e limitam a ação da
escola e órgãos; o uso e acesso fácil às drogas e o consumismo exagerado.
As regras de boa convivência e respeito mútuo foram deixadas de lado. A
elaboração de projetos permanentes de resolução de conflitos através de
mediadores e para uma cultura de paz, é importante para organizar o espaço
escolar e estabelecer uma boa convivência. Quando não se tem normas comuns,
bem estabelecidas, cada um acaba fazendo da maneira que lhe convém, criando
situações que podem afetar o convívio harmonioso e até prejudicar o trabalho
desenvolvido por todos os profissionais.
Atos anteriormente classificados como produtos usuais de transgressões de alunos às regras disciplinares, até então tolerados por educadores como inerentes ao seu desenvolvimento, podem hoje ser sumariamente identificados como violentos. Ao contrário, condutas violentas, envolvendo agressões físicas, podem ser consideradas pelos atores envolvidos episódios rotineiros ou meras transgressões às normas do convívio escolar. Por essas razões, um dos aspectos ainda a serem investigados diz respeito
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ao modo como, no âmbito da instituição escolar, são construídas as definições que designam e normalizam condutas - violentas ou indisciplinadas - por parte dos atores envolvidos: professores, alunos, funcionários, pais, entre outros. (SPÓSITO, 2009, p. 3)
O Programa Patrulha Escolar Comunitária foi criado para realizar atividades
específicas relacionadas à segurança dos estabelecimentos de ensino. A respeito
desse programa os professores deram as seguintes opiniões:
Alguns policiais têm preparo, mas outros tratam os casos com desprezo. Acredito que pelo fato de certos casos serem comuns para eles, porém isso não significa que seja comum no Colégio. P1 Infelizmente, o projeto da Patrulha Escolar não funciona... Não fazem uma conversa preventiva com o aluno. Não estão preparados para o atendimento. P2 ... deve ser chamados, eles estão preparados para atender os alunos, mas há alguns policiais que muitas vezes não se envolvem na situação, é mais cômodo. P3 Penso que alguns casos deve sim ser chamada a Patrulha Escolar para acabar com o jargão que “não dá nada”. Quanto a eles estarem preparados não posso opinar, pois não sei quais as orientações e treinamentos que eles receberam. P4 Não estão preparados ou são instruídos para não se envolver. P5
Sobre o relacionamento da Patrulha Escolar com a comunidade escolar,
quatro profissionais avaliaram a relação com os patrulheiros como boa, mas que
eles pouco aparecem no colégio, outros foram categóricos em afirmar:
Insuficiente, comparece poucas vezes e os problemas continuam. P 6 Cada vez mais ausentes e sem vínculo ou ação – praticamente ineficientes. P 7 Enquanto pessoal ótima, os policiais são simpáticos, receptivos, enquanto profissional às vezes deixam a desejar. P 8 Nem sempre podemos contar com eles, pois muitas vezes em que é necessário a Patrulha Escolar eles demoram muito pra atender. P 9
Desconheço, algumas vezes os vi no laboratório de informática. P 3
19
Os professores que participaram dessa pesquisa foram levados a fazer uma
avaliação da sua atuação no combate da violência; o que eles enquanto
profissionais da educação estão fazendo para atender esse objetivo. As repostas
foram as seguintes:
Conversas na turma e individuais, quando for o caso. P 2 Propor projetos contra violência, trabalhando com a família e comunidade. P 10 Tenho um ótimo relacionamento com a grande maioria dos meus alunos e isso contribui para a não violência. P 1 Dentro dos meus limites, constantemente desenvolvo atividades como reflexão de parábolas, textos, imagens, filmes, diálogos. P 11 Tenho trabalhado com projeto de consciência da violência cotidiana e as suas consequências e as formas de enfrentamento através de filmes, dinâmicas... P 7
Para organizar ações efetivas é necessário planejamento e tempo para esse
planejamento. Sendo assim, foi questionado aos profissionais se o colégio
disponibiliza horários para serem discutidos os problemas enfrentados no dia-a-dia.
As respostas foram divergentes: três responderam diretamente – não; cinco citaram
os conselhos de classes, mas que nem sempre as decisões tomadas são colocadas
em prática e nove mencionaram que são feitas reuniões com os pais para repasses
gerais.
Tabela 2 – Momentos de planejamento de ações
Respostas Quantidade Não possui
3 Conselhos de classe
5 Reunião com todos os funcionários do colégio
3 Reunião com os pais
9
Reunião com os alunos e pais específicos 4 Fonte: Questionário aplicado aos docentes e Equipe Pedagógica em 2010. Organizado por: PEDROSO, R. S.
20
A reunião com os pais é a principal prática adotada pelo colégio para discutir
os problemas internos, porém a participação destes é questionável visto que dos
doze participantes dessa pesquisa, nove responderam que a minoria dos pais
comparece as reuniões quando são solicitados e um respondeu que não tinha
conhecimento da participação dos pais porque as reuniões acontecem quando ele
está em sala de aula. Percebemos que é importante rever essa medida, pois todos
os envolvidos no processo educacional devem participar das discussões e ações
para resolver os problemas escolares.
Na caracterização do corpo docente, os entrevistados concordaram que
raros são os professores desorganizados e que não conseguem manter a disciplina
na sala de aula.
Finalizando, os profissionais foram indagados sobre quais medidas devem
ser tomadas para minimizar os problemas de confronto e conflitos deflagrados
dentro do colégio e ao redor dele:
Mais participação dos pais, palestras relacionadas com o tema com a presença dos pais. P6 Ao redor é complicado, mas dentro, acho que o resgate de valores morais, respeito, boas maneiras também com o professor e alunos. P 8 Reuniões para que os envolvidos exponham suas posições e, juntos, busquem formas para resolver ou diminuir os problemas. P11 Diminuiriam se a escola tivesse mais autoridade. P 12
2.2 Como os alunos percebem a escola
Através de questionários também foram entrevistados 61 alunos das três
séries do Ensino Médio do período noturno. Este grupo de alunos foi escolhido para
a pesquisa por já terem estudado nos período da manhã e da tarde, portanto
estarem a mais tempo no colégio, serem mais velhos, possibilitando melhor
qualidade sobre as respostas.
Os gráficos que seguem procuram traçar um perfil desses alunos:
21
Gráfico 4 Gráfico 5
Fonte: Questionário aplicado aos alunos em 2010. Organizado por: PEDROSO, R. S.
O sentimento do medo vivido pelos alunos no relacionamento com o
professor ocorre porque muitos veem nele uma figura distante e opressora. Há
professores que sentem felicidade em dizer que nas suas aulas os alunos
permanecem totalmente mudos e que “ele tira nota” de quem incomodar. Essa
prática não garante aprendizagem, não é porque os alunos permaneçam quietos
que estão estendendo o que lhe é apresentado. Há alunos que não veem na escola
importância para suas vidas, já que a escola não é mais vista como um meio de
ascensão social.
Tabela 3 – Por que gostam de vir para o colégio
Respostas Quantidade
Conversar ou ver os amigos. 16
Aprender 20
Não gostam de vir ao colégio 8
Distração 2
Não responderam 6
Outros 8 Fonte: Questionário aplicado aos alunos em 2010.
Organizado por: PEDROSO, R. S.
Fonte: Questionário aplicado aos alunos em 2010. Organizado por: PEDROSO, R. S.
22
Da mesma forma que questionado aos professores e equipe diretiva e
pedagógica, foi perguntado aos alunos como é a atuação da Patrulha Escolar.
Gráfico 6
Fonte: Questionário aplicado aos alunos em 2010. Organizado por: PEDROSO, R. S.
Para os alunos a atuação dos patrulheiros não é boa. Tivemos 32 dos
entrevistados apontando que eles são muito rígidos, 12 que estes são agressivos,
15 que os patrulheiros são conselheiros e ouvintes, espontaneamente 4 alunos
acrescentaram ao questionário que os policiais não atendem as ocorrências quando
solicitados.
A maioria das brigas, segundo os alunos acontecem na hora da saída e na
parte externa da escola motivada principalmente por ciúmes e acerto de contas do
consumo de drogas. Para os alunos o controle na entrada e saída do colégio não é
organizado.
Avaliando o relacionamento entre alunos e professores os alunos
responderam que essa é boa, mas alguns já se sentiram intimidados com palavras
ofensivas e de discriminação relacionadas à cor da pele, a religião, a opção sexual e
até por a adolescente estar grávida.
Quanto à avaliação da direção, 48 alunos responderam que essa é acessível
contra 18 que caracterizaram como autoritária.
23
2.3 A participação da família
Em meio a essa problemática da violência nas instituições educacionais não
podemos deixar de falar da atual falência do núcleo familiar.
Pela primeira vez, em nossa historia, lidamos no Brasil, com nossa face violenta – esse tema informa a fala das pessoas no cotidiano, aparece de modo espetacular na mídia, permeia os discursos políticos, provoca ações políticas públicas, produz pesquisas, debates. A sensação é de que a violência tomou conta do mundo. (SCHILLING, 2004, p. 8)
Os pais permitem todo tipo de liberdade aos filhos, não estabelecem
nenhum tipo de limite quanto à forma de se comportar com as outras pessoas fora
do ambiente familiar e até mesmo nele. A autoridade dos pais é questionável, pois
estes chegam a relatar que não sabem da vida dos próprios filhos e não conseguem
fazer com que estes lhe obedeçam. Crianças e adolescentes chegam a se ausentar
de casa sem dar maiores explicações aos seus pais, estabelecendo uma atitude
desafiadora em relação “autoridade exercida” pelos pais, reproduzindo na escola
também esse tipo de comportamento transgressor.
A influência dos meios de comunicação na personalidade das crianças e
jovens também é muito forte. Os filmes com lutas, tiros e perseguições fazem parte
do universo do entretenimento do adolescente. Os desenhos animados há muito
tempo deixaram de ser ingênuos e educativos, como os jogos de videogame, onde o
que se vê são lutas entre animais de estimação com superpoderes, guerras
estelares ou entre espécies diferentes de monstros, robôs com alto poder
destruição, que incentivam o uso da violência e o preconceito. Nesses exemplos os
que são diferentes tem que ser destruído. Os programas de TV baseados na
utilização de palavreado de baixo calão e que “tiram sarro” das pessoas (bullying),
fazem parte dos momentos de lazer das famílias.
Quanto ao modo de utilizar o tempo quando não estão na escola, 38 alunos
responderam que ficam ouvindo música, 31 citaram que ficam acessando redes de
relacionamento social na internet, 25 assistem programas na televisão e 37
24
respostas mencionaram que gostam de realizar passeios na casa de amigos,
parentes e ir ao shopping.
Gráfico 7
Fonte: Questionário aplicado aos alunos em 2010. Organizado por: PEDROSO, R. S.
É urgente a necessidade da família em assumir seu papel como responsável
pela formação moral e ética dos filhos.
Muitas vezes, ao tentar fugir dos padrões autoritários, a família não consegue estabelecer novos padrões e limites na educação dos filhos. Na fase da adolescência, a ausência de clareza, a desorientação, enfim, torna-se um complicador para os jovens. A total liberdade, que a família assegura aos seus filhos, acaba levando-os à perda de referências significativas, complicando seu desenvolvimento e amadurecimento psicológicos. (SILVIA, 2009, p. 263)
2.4 Atividade de implementação pedagógica
Durante o terceiro semestre do curso PDE foi produzida e aplicada uma
unidade didática utilizando assuntos específicos da Geografia como a territorialidade
e a expansão urbana.
25
O estudo desse recorte da Geografia fez com que os alunos refletissem
sobre a violência no lugar onde moram, utilizando linguagens próximas, como as do
movimento hip hop. Ao estudar sua própria realidade o aluno percebe que faz parte
de um lugar – espaço vivido – e que pode intervir significativamente direta ou
indiretamente nesse lugar.
São as brigas, que sempre existiram, mas que agora chamam mais profundamente a atenção dos educadores. Relacionam-se, por vezes, com a existência de gangues e tribos, grupos de jovens que se unem em torno de “estilos” (clubes, punks, rappers, torcidas esportivas, etc.). Podemos problematizar se há realmente “incremento”, aumento das ocorrências ou se nosso olhar está mais sensível – amedrontado. (SCHILLING, 2004, p. 82)
A unidade didática é um conjunto de atividades que faz parte da
implementação do projeto de pesquisa-ação. Nela são encontrados textos
informativos, sugestões de vídeos da internet, filmes, músicas, imagens e vários
exercícios relacionados com os assuntos já descritos.
Durante as atividades foram debatidas as ações dos grupos que se
apropriam de determinados espaços na cidade e da comunidade, a formação de
gangues e grupos que praticam a xenofobia, do modismo imposto pela globalização
e a desvalorização da vida humana.
Como o uso do computador e dos elementos do hip hop as atividades se
tornaram mais atraentes e dinâmicas, permitindo melhores resultados.
3 Considerações finais
As discussões sobre a violência no espaço escolar são emergenciais.
Procurar soluções é de responsabilidade de todos, somos responsáveis pela
construção de uma sociedade igualitária, livre de preconceitos e da violência.
Não podemos deixar que fatos como o “Massacre do Realengo” no Rio de
Janeiro, manchete de jornais no mundo todo, torne a se repetir. Não podemos deixar
26
virar rotina os espancamentos e as agressões que ocorrem em frente às escolas,
tão pouco permitir que ocorram dentro delas.
Violência gera dramas psicológicos que podem resultar em mais violência ou
fazer com que a vítima seja incapaz de se proteger.
É preciso enxergar em nosso cotidiano os agressores e as pessoas que são
vítimas de bullying ou qualquer outro tipo de violência, para que possam ser
tomadas providencias necessárias para melhorar o relacionamento entre elas. Não
devemos permitir que ações incivilizadas se tornem um câncer na sociedade, sem
remédio.
Não é fácil. É preciso Polícia, Justiça, moradia, trabalho, saúde, educação, meio ambiente, cultura, apoio às vítimas, tratamento dos agressores. Há intervenções que podem ser feitas a partir dos recursos próprios, dos recursos pessoais de cada um de nós. Há ações que só são possíveis a partir da construção de um coletivo, que exigem, uma interlocução mais ampla. (SCHILLING, 2004, p. 98)
À escola não cabe silenciar-se.
Os pais e a escola devem compartilhar do processo educativo e dos
encalços dele. Como existem pais não preparados para educarem os filhos e sem a
autoridade necessária, a maioria das vezes a escola se encontra sozinha no
trabalho de ensinar os conhecimentos científicos, acumulando também a formação
moral e ética que deveria ser transmitida pelos pais.
Infelizmente, cada vez mais a escola acumula funções. Devemos somar
esforços para criarmos nos bancos escolares uma geração de novos pais, mais
responsáveis e atuantes na vida dos filhos. O momento é esse, os alunos de hoje
serão os pais de amanhã.
É assustador o número de ocorrências e de alunos envolvidos em situações
de agressões, existindo inclusive pesquisas que apontam à violência como uma das
causas do abandono escolar. Não longe dessa situação de insatisfação e medo,
encontramos o professorado. O desinteresse atual pela profissão deve-se em parte
pelas condições de trabalho oferecidas e pela insegurança vivida no ambiente
escolar.
27
Com a leitura dos estudiosos que debatem o tema, chegamos a um
consenso que os jovens compõem a população mais vulnerável à violência,
principalmente os pertencentes a regiões periféricas.
Esses estudos mostram o impacto dos homicídios na expectativa de vida da população masculina entre 15 e 34 anos. A maior concentração de eventos fatais acontece de 17 aos 24 anos. Geograficamente, esses eventos encontram-se claramente definidos: são jovens moradores de regiões periféricas urbanas. (SCHILLING, 2004, p. 51)
No interstício dos dois anos dessa pesquisa, quatro jovens da comunidade
foram assassinados por acerto no comércio de drogas e roubo. Uma dessas vítimas,
uma menina de treze anos, covardemente morreu apedrejada e seu corpo foi
deixado às margens de um córrego.
Mesmo com poucos envolvidos, o projeto PDE sobre a percepção da
violência escolar foi importante para que pudesse repensar o fazer pedagógico de
ação-reflexão-ação, incorporando ao plano de trabalho docente novas práticas de
combate à violência, propondo uma cultura de paz baseada na resolução de
conflitos por meio de mediadores da própria escola e da comunidade.
Na escola muita coisa deve ser repensada: as pessoas que fazem parte da
comunidade escolar devem ser valorizadas e ouvidas, sejam elas alunos ou
profissionais, normas devem ser criadas e respeitadas, mas para organizar esse
espaço de forma compartilhada, não como meio de ostentar autoridade.
O Colégio Estadual Nossa Senhora da Glória, neste sentido tem
desenvolvido um “trabalho de escuta”, adotado práticas como desenvolvimento de
projetos para melhorar as inter-relações vividas em seu interior, enfatizando a
permanência dos alunos e combatendo a evasão. Não excluir os agressores é uma
maneira de oportunizar a recuperação deste. Eles não deixarão de agredir só porque
estão fora da escola, é primordial tratar o agressor.
Há, também, de fato, poucos trabalhos sobre os agressores. Quem são realmente? Quais foram as experiências que os levaram ao crime. Há, portanto um círculo de silêncio em torno dos protagonistas das violências. Eles são falados por especialistas, criminólogos, por psiquiatras. Não falam. Não tem voz própria. (SCHILLING, 2004, p. 8)
28
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