da escola pÚblica paranaense 2009 - operação de … · novas plantas medicinais e a extração...
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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
PLANTAS MEDICINAIS E CONDIMENTARES, RESGATE DO CONH ECIMENTO
POPULAR
Autora: Fatima Inês Schneider1
Orientadora: Rosali Constantino Strassburg2
Resumo
O presente artigo apresenta os resultados de uma pesquisa que teve como objetivo buscar informações através dos alunos e familiares e compilar os dados obtidos sobre as plantas com propriedades medicinal e condimentar que se desenvolvem no município de Diamante D’Oeste, resgatando e preservando o conhecimento popular e conscientizando-os da importância sobre o cultivo, para prevenção e cura de doenças em doses homeopáticas. Com o avança tecnológico, aliado ao interesse em se confirmar o conhecimento popular, as plantas medicinais e condimentares têm tido seu valor terapêutico pesquisado mais intensamente pela Ciência, pois sua utilização, para tratamento, cura e prevenção de doenças é uma das mais antigas formas de prática medicinal da humanidade. Muitos estudos científicos comprovam a eficácia e a segurança das plantas medicinais e condimentares no tratamento de doenças de forma menos agressiva, já que esse tratamento estimula as defesas do corpo e funciona como alternativa à medicina tradicional. Palavras-chave : Plantas Medicinais; Pesquisa; Conhecimento Popular; Eficácia.
MEDICINAL PLANTS AND CONDIMENTARES, RESCUE OF THE P OPULAR
KNOWLEDGE
_______________________________ 1 Professora do Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE – 2009/2010, com atuação no Colégio Estadual “Diamante D’Oeste”, NRE de Toledo. Especialização em “Ensino de Matemática”. Graduada em Ciências – Habilitação em Matemática. 2 Orientadora e Professora da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. Doutora em Ciências Biológicas da UNIOESTE, Campus de Cascavel, Paraná. This article presents the results of a survey that aimed to seek information through
Abstract
The students and their families and compile data on plants with medicinal properties
and flavor that develop in the city of Diamante D'Oeste, rescuing and preserving the
folk knowledge and making them aware of the importance on the cultivation,
prevention and cure of diseases in homeopathic doses. With technological advances,
coupled with an interest in confirming the popular knowledge, medicinal plants and
herbs have had therapeutic value for science more intensively investigated, since
their use for treatment, prevention and cure of diseases is one of the oldest forms of
medical practice of mankind. Many scientific studies prove the efficacy and safety of
medicinal plants and herbs to treat disease less aggressively, since this treatment
stimulates the body's defenses and acts as an alternative to traditional medicine.
Key-Words : Medicinal plants; Research; Popular knowledge; Effectiveness.
Introdução
Acredita-se que a medicina através dos tempos, sempre buscou nas plantas
medicinais e condimentares um recurso natural de tratamento de saúde. As práticas
indígenas, aliadas aos conhecimentos orientais, são responsáveis hoje, pela forte
medicina popular brasileira. Muito inspirada nos rituais prodigiosos, esta medicina é
com certeza, a alternativa de muitas pessoas, principalmente em regiões com infra-
estrutura deficitária. O uso popular das plantas medicinais comprova que há uma
gama de aplicações curativas e preventivas no tratamento de doenças de forma
menos agressiva ao corpo e menos onerosa a população e que o conhecimento
popular e científico é imprescindível para se obter os resultados desejados.
Sobre o resgate do conhecimento tradicional, Di Stasi (1989) relata que:
Ao considerarmos as características culturais do nosso país, principalmente
no aspecto do rico conhecimento de plantas medicinais existentes nas diversas regiões, verificamos que este é o momento da realização do maior número possível de estudos etnofarmacológico para que o conhecimento tradicional seja devidamente resgatado, preservado e utilizado como subsídio de pesquisas com plantas medicinais. (Di Stasi, 1989).
O uso popular de plantas medicinais no município é uma prática bastante
difundida. A tradição no uso de plantas como recurso terapêutico é praticada pela
nação indígena Avá-Guarani e também pelos colonizadores de origem européia que
aqui residem e trouxeram consigo várias espécies exóticas que predominam até hoje
em hortas e quintais. O resgate do conhecimento popular das plantas medicinais e
condimentares iniciou-se há mais de três décadas, através de trabalhos populares
de base desenvolvidos pela Igreja Católica, Pastoral da Criança e foi crescendo
através de interesses de ONGs com o objetivo de valorizar e disseminar o uso das
plantas medicinais, porém, esta convergência de interesses vem crescendo a partir
da vontade popular, que manteve viva e crescente esta tradição e, que estimula as
instituições da sociedade civil a reconhecerem esta prática como um recurso
terapêutico viável e eficaz.
O conhecimento e o uso das plantas como recurso terapêutico são inerentes
à espécie humana e outras espécies que habitam a terra, porque estão diretamente
ligados à teia da vida: evolução, sobrevivência e perpetuação. Mas, geralmente as
pessoas só procuram os chás ou fazem uso de temperos na alimentação quando já
estão doentes e debilitados. O que poderia ser evitado se fizesse uso destas plantas,
com mais freqüência, buscando assim o bem estar físico e mental das pessoas,
sendo que as plantas medicinais e condimentares são portadoras de importantes
propriedades terapêuticas que quando usadas em pequenas proporções, ajudam
muito no equilíbrio orgânico e na prevenção de doenças. É propósito deste trabalho,
apresentar o estudo desenvolvido com os alunos de 6ª e 7ª séries do Colégio
Estadual Diamante D’Oeste, realizado no 2º semestre de 2010, sobre as plantas
medicinais e condimentares de maior utilização pela população local, onde, através
de um levantamento de dados, buscou-se obter informações sobre o conhecimento
e utilização das plantas e assim procedeu-se os estudos, através de pesquisas com
familiares, livros, internet e acrescentou-se maiores conhecimentos com
profissionais da área através de palestra e visita ao Ervanário Medicinal da Itaipu
Binacional. O conhecimento popular e científico das plantas medicinais e
condimentares deve ser mantido através de valores repassados de pais para filhos
ao longo das gerações e através da escola.
Pressupostos Teóricos
“Desde os tempos imemoráveis, os homens buscam na natureza recursos
para melhorar suas próprias condições de vida, aumentando suas chances de
sobrevivência” (Lorenzi, 2002). Nos registros conhecidos sobre a História da
Medicina, as plantas medicinais constam como recursos terapêuticos indissociáveis.
Estudos antropológicos confirmam os principais indícios organizados do uso de
plantas medicinais pelas civilizações antigas, o país com mais longa e ininterrupta
tradição é a China. Na Mesopotânea era comum cultivar plantas medicinais nos
jardins dos templos (2.600 a.C.).
Em relação às civilizações mais recentes, uma contribuição importante é
dada pelos povos helênicos, que ao receberem dos persas muitos produtos
orientais, tiveram grandes médicos como Hipócrates, o “pai da medicina”. Galeno a
quem se devem algumas das formas farmacêuticas precursoras das que ainda são
usadas e Teofrasto, discípulo de Aristóteles e pai da Botânica, que com seu Livro
“História das Plantas”, deixa descrições botânicas muito preciosas, acompanhadas
de indicações sobre efeitos tóxicos e propriedades curativas. No entanto, quem
posteriormente se destaca no campo das plantas medicinais é Dioscórides que, ao
escoltar os exércitos romanos na Península Ibérica, no Norte da África e na Síria,
recolhe abundante informação sobre plantas dessa região. Escreve o tratado “De
Matéria Médica” que representa um marco histórico no conhecimento de numerosos
fármacos, muito dos quais ainda hoje são usados. Ao longo dos anos, a busca por
novas plantas medicinais e a extração de essências surge Paracelso ou Paracelsus,
o “Pai da Farmacologia Química”, médico e químico suíço, pioneiro na extração de
essências vegetais e uso de tinturas, autor da frase “Não há nada na natureza que
não seja venenoso. A diferença entre remédio e veneno está na dose de prescrição”.
“No Brasil, os primeiros europeus que aqui chegaram depararam-se com
uma grande quantidade de plantas medicinais em uso pelas inúmeras tribos
indígenas que aqui viviam” (Lorenzi, 2002). Esses índios possuíam conhecimentos
que eram transmitidos e aprimorados ao longo das gerações. Ainda segundo
Lorenzi (2002) “Tais conhecimentos foram prontamente absorvidos pelos europeus
que passaram a viver no país principalmente aqueles que passaram a fazer
incursões mais prolongadas no interior”. Esses novos conhecimentos sobre a flora
da região acabaram-se fundidos àqueles trazidos da Europa, de uso popular
bastante difundido. Os escravos africanos também contribuíram com o uso de
plantas trazidas da África, muitas delas utilizadas em rituais religiosos, mas também
utilizadas por suas propriedades farmacológicas empiricamente descobertas. “Com
essa contribuição africana os principais alicerces de toda a tradição no uso de
plantas medicinais no Brasil foram fundidos” (Lorenzi, 2002).
Muitos estudos científicos confirmam a eficácia e a segurança do uso
terapêutico de plantas medicinais e condimentares e isso simboliza muitas vezes o
único recurso terapêutico de muitas pessoas. O uso de plantas medicinais no
tratamento, cura e prevenção de enfermidades é uma das mais antigas formas da
prática medicinal da humanidade. Segundo a Organização Mundial de Saúde
(OMS), 65 a 80% da população dos países em desenvolvimento e entre estes o
Brasil dependem das plantas medicinais como única forma de acesso aos cuidados
básicos de saúde. “Mesmo na época atual, em que a tecnologia médica mostra-se
capaz de realizações espetaculares, muitas pessoas continuam adeptas da medicina
natural por divisarem nela o meio ideal para recuperar a saúde e manter o equilíbrio
orgânico” (Spethmann, 2003, p. 17).
A mãe natureza proporciona ao ser humano uma grande infinidade de
plantas com valores medicinais e condimentares. A flora da região constitui uma
fonte inesgotável de saúde e nossos ancestrais sempre souberam se apropriar desta
riqueza, pois o uso das mesmas existe desde o início dos tempos. Segundo Brüning
(2000) relata que, quando Von Martius – botânico alemão visitou nosso país,
afirmou: “As plantas brasileiras não curam apenas, fazem milagres.” Esta celebre
frase definiu bem a capacidade de nossas ervas medicinais. Nos países em
desenvolvimento, bem como nos mais desenvolvidos, os apelos da mídia para o
consumo de produtos à base de fontes naturais aumentam a cada dia, prometem
saúde e vida longa, com base no argumento de que plantas usadas há milênios são
seguras para a população.
No princípio havia apenas o conhecimento empírico, fruto de várias tradições
diferentes. Criado pelo método de experiência e erro, muitos tratamentos
fitoterápicos tinham uma eficácia admirável, mas com o passar dos tempos, a
medicina tornou-se teórica, e esse saber caiu em desgraça, qualificado como
superstição. A mudança só ocorreu quando a medicina abriu suas portas. Hoje, a
Ciência está reafirmando muito de o antigo saber e com o desenvolvimento
tecnológico, aliado ao interesse em se confirmar o conhecimento em medicina
popular, através de pesquisas científicas, as plantas medicinais tem seu valor
terapêutico pesquisado mais intensamente pela Ciência.
Segundo Di Stasi (1996), destaca que:
“O uso das espécies vegetais, com fins de tratamento e cura de doenças e sintomas, remonta ao início da civilização, desde o momento que o homem despertou para a consciência e começou um longo percurso de manuseio, adaptação e modificação dos recursos naturais para seu próprio benefício. Esta prática milenar, atividade humana por excelência, ultrapassou todas as barreiras e obstáculos durante o processo evolutivo e chegou até os dias atuais, sendo amplamente utilizada por grande parte da população mundial como fonte de recurso terapêutico eficaz” (Di Stasi, 1996).
A arte de curar através das plantas é uma forma muito antiga de tratamento,
que está fundamentada no acúmulo de informações através de sucessivas
gerações. O homem conhece os benefícios das plantas medicinais há séculos. Na
cultura oriental, a planta é considerada um ser vivo capaz de restaurar o fluxo da
energia vital do organismo doente, já no Ocidente, os efeitos terapêuticos são
explicados através dos constituintes bioquímicos das plantas, com ações específicas
nos órgãos doentes.
A fitoterapia, forma de tratamento mais simples e natural que consiste em
tratar as doenças ou preveni-las graças a certos preparados vegetais ou aos
princípios ativos que deles se pode extrair, tem aumentado consideravelmente nos
últimos anos. Desde o surgimento dos animais na Terra, estes usam instintivamente
determinadas plantas como alimento, cura ou até para estimular o vômito e
eliminação de substâncias nocivas.
“A fitoterapia permite que o ser humano se reconecte com o ambiente,
acessando o poder da natureza, para ajudar o organismo a normalizar funções
fisiológicas, restaurar a imunidade, promover a desintoxicação e o rejuvenescimento”
(Revista Brasileira de Enfermagem). “Esses conhecimentos empíricos, adquiridos no
dia a dia, transmitidos de geração a geração, estão tanto na origem de todas as
medicinas primitivas como na de nossa medicina atua” (Rudder, 1997, p.71).
Infelizmente, a maior parte dos fitoterápicos que são utilizados atualmente por
automedicação ou por prescrição médica, não tem seu perfil tóxico bem conhecido.
Por outro lado, a utilização inadequada de um produto, mesmo natural, pode induzir
problemas graves, desde que existam outros fatores de risco como contra indicação
ou uso concomitante de outros medicamentos.
É importante ressaltar que, algumas plantas apresentam substâncias
potencialmente perigosas, por isso não se deve fazer uso indiscriminado desta
terapia. Por detrás da sugestão de um chazinho, se esconde a perigosa idéia de que
“tudo o que é natural é bom, se não fizer bem, mal não fará”. É preciso tomar
cuidado, pois do mesmo modo que são curativas e benéficas, as plantas medicinais
podem fazer mal à saúde: tudo depende de como são utilizadas. Assim, para obter
os resultados desejados, sem riscos é preciso saber, pela ordem, como reconhecê-
las, como prepará-las e como ministrá-las corretamente. Lembre-se também do que
disse Paracelso (químico da idade média) que: “a diferença entre remédio e veneno,
está na dose”.
Plantas Condimentares
“Plantas condimentares são aquelas usadas como tempero para realçar o
sabor e o aspecto dos alimentos” (Receitas Saudáveis da BP III, 2007). A forma mais
correta de utilizar as plantas para manter a saúde e curar pequenos distúrbios é
utilizá-las na alimentação diária. São ingredientes indispensáveis nas cozinhas mais
sofisticadas do mundo, mas podem e devem ser usadas em nosso dia a dia,
transformando pratos comuns em deliciosas iguarias.
Quando os temperos à base de ervas aromáticos são usados de forma
adequada, só trazem benefícios ao nosso organismo, além de transformarmos os
alimentos mais saborosos, estamos contribuindo para a melhoria de nossa saúde, se
consumidos todos os dias na quantidade certa. Essas plantas são reconhecidas pela
comunidade científica internacional como “alimentos funcionais”, pois elas contêm
substâncias bioativas.
A tradição Indiana possui uma experiência milenar na utilização de
condimentos em sua culinária. Dentre os mais comuns e também reconhecidos
como funcionais destacam-se o alho, a cebola, o gengibre, açafrão, o coentro, a
hortelã, a noz moscada, a canela, a pimenta do reino, o cravo da índia, que foi uma
iguaria do comércio de troca antigamente na Índia. A medicina na Índia é um tesouro
de plantas medicinais e iguarias.
Instruções para a utilização de Plantas Medicinais
O uso popular das plantas medicinais é uma prática muito utilizada pela
população local, pois não prejudica o organismo humano. “Ao contrário dos
medicamentos químicos, que geralmente expõem o paciente a efeitos colaterais, os
recursos fitoterápicos restauram a saúde e promovem o bem estar sem causar
danos ao organismo” (Spethmann, 2003, p.55). Porém, é bom lembrar que, conhecer
a planta a ser utilizada e não fazer uso indiscriminado dessa terapia é muito
importante para a saúde.
A manipulação de plantas para a extração de seus princípios ativos constitui
num verdadeiro procedimento farmacêutico. Além de técnicas específicas é
necessário atentar para algumas noções básicas como identificação da planta certa,
coleta em momento e local apropriado, preparação com cuidados e uso sob a devida
orientação. Para que as plantas não percam o valor medicinal, devem ser colhidas
durante o dia o horário apropriado é pela manhã, após a evaporação total do orvalho
e, em dias muito quentes deve-se fazer a colheita no fim da tarde. “Nos casos em
que for necessário secá-las, isso deve ser feito à sombra. As raízes, antes de serem
postas para secar, devem ser lavadas e cortadas em pedaços pequenos. Depois de
secas, folhas, raízes e flores podem ser armazenadas para uso posterior”
(Spethmann, 2003). É preciso examiná-las periodicamente para garantir que
umidade, fungos ou insetos não comprometam o uso das plantas.
É bom lembrar também que as informações deste trabalho têm apenas fins
educacional de pesquisa e informação. Elas não devem ser usadas para
diagnosticar, tratar, curar ou prevenir qualquer doença, muito menos substituir
cuidados médicos adequados.
Dosagem
Em fitoterapia, não existe dosagem absoluta. “Não corre nenhum risco a
pessoa que preparar chá com alguns gramas de ervas a mais ou a menos. Não
sofrerá efeito contrário a pessoa que ingerir uma xícara de chá, além do
recomendado” (Spethmann, 2003). Porém, é bom salientar também que todo
medicamento que for utilizado seguindo rigorosamente a dosagem, os resultados
serão mais eficientes e consumir chá em alta dosagem não significa apressar ou
potencializar a cura. “A quantidade indicada nas receitas prevê a capacidade do
organismo em assimilar as substâncias em condição normal” (Spethmann, 2003).
Mas é evidente que, em excesso pode ser prejudicial.
Dosagem geral : Planta seca e triturada: três a cinco gramas (uma colher de sopa)
para 250 ml de água (um copo grande). Quando utilizar planta verde dobrar a dose,
pois os princípios ativos estão menos concentrados. Quando for uso externo
também duplicamos a dose.
Adultos: Uma colher de sopa para um copo de água.
Crianças de 10 – 15 anos: Uma colher de sobremesa para um copo de água, duas a três vezes ao dia. Crianças de 5 – 10 anos: Uma colher de chá para um copo de água, duas a três
vezes ao dia.
Crianças de 0 – 5 anos: Uma colher de cafezinho para meia xícara de água, duas a
três vezes ao dia.
Duração do tratamento
“A terapia natural não se propõe extirpar o mal. O que ela faz é suprir o
organismo das substâncias que este necessita para reagir aos agentes agressores e
restabelecer a normalidade” (Spethmann, 2003). Diante disso, a duração do
tratamento depende de alguns fatores como: as características orgânicas do
indivíduo, o estágio da enfermidade, a disposição do enfermo, condições ambiental e
histórico clínico. Tratamentos baseados na ingestão de chás devem durar de 5 a 10
dias.
Como Preparar Chás
Chás “são bebidas obtidas pela dissolução dos princípios medicamentosos
das plantas (folha, flor, caule, raiz) em água fria – por maceração, em água quente –
por infusão ou decocção.”(Rudder, 1997, p. 77). Fornecem substâncias terapêuticas,
hidratam, estimulam, desintoxicam, controlam a temperatura e auxiliam na digestão.
“Os chás devem ser preparados em recipiente de barro, de faiança, de
porcelana ou de esmalte. Devem-se evitar os utensílios de metal que são atacados
pelos ácidos das plantas e que podem alterar os componentes químicos extraídos
das mesmas” (Rudder, 1997, p. 17).
Existem várias maneiras de preparar chá:
Tisana : Acrescentar erva a água fervente, tampar o vasilhame, e permitir a fervura
por mais cinco minutos. Em seguida, desligar o fogo e aguardar alguns minutos
antes de usar o chá.
Decocção : Fracionar a parte indicada, adicionar água fria, levar ao fogo. O tempo
de cozimento varia conforme a planta ou a parte da planta utilizada. Será mais longo
para a casca e a raiz do que as flores, folhas e os frutos. Mas não deve ultrapassar
de 15 ou 20 minutos; coar, beber quente, morno ou frio, conforme a receita.
Infusão : Fracionar a parte indicada da planta, colocar num recipiente, derramar água
fervente sobre ela, deixar infundir a mistura durante um tempo que varia de alguns
minutos a meia hora para as flores, os caules e as folhas, e de 1 a 2 horas para as
outras partes das plantas, como: raiz, casca ou rizoma.
Maceração : Mergulhar a planta em algum líquido que pode ser água (fervida ou
filtrada), vinho, pinga, vinagre ou álcool. Tampar bem o recipiente, deixar por horas,
dias ou até semanas, conforme a receita – coar e tomar. Assim são feitas as
garrafada, vinhos e óleos medicinais. Por esse processo são extraídos os princípios
ativos das plantas.
Recomendações sobre o uso de Plantas Medicinais • Utilize somente as plantas conhecidas. Nunca utilize plantas de identidade
duvidosa.
• Nunca colete plantas medicinais em locais próximos a lavouras que possam ter
recebido agrotóxicos ou venenos.
• Não utilize plantas contaminadas ou colhidas na beira de estradas ou locais
poluídos. Nem utilize plantas furadas, amareladas, manchadas, nem folhas
velhas demais ou novas demais.
• As plantas devem ser secas à sombra por alguns dias, em local bem arejado, até
ficarem quebradiças.
• Após secagem, guardar em vidros fechados, em local escuro; no rótulo colocar o
nome da planta e a data de coleta.
• Tenha cuidado ao comprar plantas medicinais. Verifique a identidade e o estado
de conservação. Somente compre plantas de fornecedores conhecidos e de
confiança.
• Evite usar misturas de plantas. Nem sempre as plantas podem ser usadas da
mesma maneira e a mistura pode causar efeitos não esperados.
• Não utilize plantas durante a gravidez, a não ser sob orientação médica. Existem
plantas que podem causar sérios problemas ao bebê e a mãe.
• Algumas plantas medicinais são recomendadas para uso externo por suas
propriedades cicatrizantes e anti-sépticas e não devem ser tomadas como chás.
Metodologia
A finalidade do projeto foi oportunizar aos alunos e familiares o resgate do
conhecimento popular e uso das plantas medicinais e condimentares e foi realizado
com alunos da 6ª e 7ª série, do ensino fundamental.
O levantamento de dados com os alunos junto aos seus familiares realizou-
se através de um questionário visando à busca de informações a respeito do grau de
conhecimento e utilização das plantas. Esse levantamento foi realizado no 2º
semestre de 2010 e abordou as plantas mais utilizadas pela população. Partindo
desse conhecimento tradicional foram propostas atividades de educação ambiental
para sensibilizar os alunos e familiares quanto ao uso adequado de plantas
medicinais. Os alunos se mostraram seduzidos pelo trabalho e conseguiram
desempenhar com êxito todas as atividades propostas.
A metodologia do projeto foi dividida em etapas de acordo com as atividades
de implementação:
1ª etapa – Apresentação do Projeto aos alunos, ressaltando a importância
de resgatar o conhecimento popular sobre as plantas medicinais e condimentares.
2ª etapa - Levantamento de dados realizado com os familiares dos alunos:
a) Utiliza plantas como medicamento? Por que faz uso das mesmas?
b) Quais as plantas mais utilizadas? Cite o nome de algumas.
c) Para que é usada cada uma delas?
d) Como adquiriu esse conhecimento? (fonte do conhecimento).
e) Como você utiliza estas plantas? (chá, xarope, pomada, banho, compressa,
inalação e outros).
f) Como é preparado o remédio com estas plantas? (por infusão, faz fervura, a frio,
amassa a folha verde ou seca ou outros).
g) E as plantas condimentares, que dão sabor aos alimentos, quais são mais
utilizadas?
Também foram realizados alguns questionamentos com os alunos para
verificar qual o conhecimento que possuíam a respeito das plantas medicinais para
daí começar o estudo das mesmas.
3ª etapa – Após isso, todos os dados foram consolidados e serviu como
fonte de estudo das espécies mais utilizadas pela população, em sala de aula pela
professora, através de livros, pesquisa com os pais e na Internet.
4ª etapa - Palestra ministrada por Altevir Zardinello, gestor do projeto de
Plantas Medicinais da Itaipu Binacional, que abordou de maneira clara toda a
trajetória do uso das plantas medicinais desde o início da civilização até os nossos
dias e, como o conhecimento tradicional tem sido repassado de geração em
geração.
5ª etapa – Preparação dos canteiros utilizando adubação orgânica e
obtenção das mudas com os alunos e também do ervanário de Itaipu e plantio das
mesmas, no sentido de resgatar e valorizar o uso dessas plantas, com fins medicinal
e culinário.
6ª etapa – Visita ao Ervanário de Plantas Medicinais do Refúgio Biológico de
Itaipu, onde os alunos puderam acompanhar todo o processamento das plantas, a
colheita, secagem e acondicionamento.
7ª etapa – Desse trabalho desenvolvido, resultou a produção de um
pequeno livro, onde consta o nome popular, nome científico, família, partes da planta
utilizada, principio ativo, como preparar o chá, enfim orientações gerais de promoção
a saúde. Para apresentar o resultado do trabalho e a entrega do livro, realizou-se
uma “Noite de Autógrafo,” numa confraternização contando com a presença dos
alunos, familiares, professores, autoridades, onde foram apresentados todas as
etapas da execução do projeto e os trabalhos desenvolvidos pelos alunos. Para
demonstrar que é possível utilizar as plantas medicinais e condimentares, no
coquetel, oferecido aos participantes foram servidos comes utilizando diversos
temperos, como orégano, hortelã, coentro, salsinha, cebolinha; chás utilizando ervas
medicinais chás com frutas acrescentando cravo e canela para realçar o sabor e
também sucos de diversas frutas.
Vale ressaltar que a elaboração do livro impresso, intitulado Plantas
Medicinais e Condimentares, Resgate do Conhecimento Popular (2010) foi
produzido pelos alunos, com minha organização e a impressão teve o apoio (da
Rede de Educação Ambiental Linha Ecológica, Projeto Plantas Medicinais, Vida
Orgânica e parcerias como o Conselho de Desenvolvimento dos Municípios
Lindeiros, Cultivando Água Boa e Itaipu Binacional). Observe a capa do livro:
Org. de Fátima Inês Schneider Fonte: Schneider, F. I. (2010)
Com relação ao resultado da pesquisa com os familiares dos alunos e
compilando esses dados com pesquisa realizada com a população do município os
resultados foram o seguinte:
Considerações finais
A utilização de plantas medicinais constitui uma forma de medicina muito
utilizada pela população local e o conhecimento popular vem sendo repassado de
geração em geração e muito difundido até mesmo entre vizinhos que além de
cultivar as plantas em quintais e jardins, dividem esses conhecimentos. Essa
transmissão oral e gestual é de base prática, os mais novos aprendem com os mais
velhos vendo-os atuar socialmente e a desempenhar atividades que no futuro será
um de seus afazeres.
O ser humano é um ser em permanente construção. Nunca estamos
completamente prontos. “Caminhando se abre caminhos” e vivendo se constrói a
vida. Cada um é livre para fazer escolhas, porém o que somos e o que fazemos
depende de nossa consciência. A modernidade revela que o homem é um ser
racional de cuja livre vontade depende suas realizações e seu destino. Porém, com
relação à saúde, temos que ter consciência que atitudes impensadas podem trazer
conseqüências indesejáveis, por isso o uso racional de plantas medicinais ainda é
uma forma mais saudável de prevenir e curar determinadas doenças sem causar
efeitos colaterais ao organismo.
Referências
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