da escola pÚblica paranaense 2009 - operação de ... · como linguagens e comunicaram sempre...
TRANSCRIPT
O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE
2009
Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE
VOLU
ME I
A DANÇA CRIATIVA NA INTEGRAÇÃO DOS GÊNEROS
Autora: Marília Silveira de Souza Reginato1
Orientador: Gustavo André Borges2
Resumo:
Dançar é mesmo coisa de menina? Este estudo apresenta uma experiência
pedagógica com o conteúdo dança criativa na Educação Física Escolar tendo em
vista a integração dos gêneros. Os sujeitos do estudo foram crianças e adolescentes
matriculados nas 5as às 8as séries do ensino fundamental do Colégio Estadual
Amâncio Moro do município de Corbélia (Pr). A dança criativa foi planejada com
diferentes dinâmicas pedagógicas, envolvendo, tempo, espaço, forma, ritmo, e
movimentos tematizados. Todas as atividades foram desenvolvidas através de
dinâmicas de grupo, proporcionando uma metodologia diferenciada que visou a
sociabilização e o respeito mútuo. Também foram capturados os depoimentos dos
alunos sobre a dança durante as etapas do projeto e a efetiva participação em um
festival de dança organizado na escola. Os resultados demonstraram que, de acordo
com essa experiência e dos depoimentos, o evento proporcionou além de
conhecimento, uma superação de limites pessoais. A coeducação e a dança criativa
permitiram que meninos e meninas trabalhassem juntos com as suas diferenças,
possibilitando uma maior integração de ambos.
Palavras chave: Educação Física; Dança Criativa; Gênero
1 Introdução
Nas últimas décadas, diferentes estudos abordaram a dança como um
dos conteúdos das aulas de educação física escolar, contudo ainda são poucos os
1 Professora de Educação Física do Colégio Estadual Amâncio Moro do Município de Corbélia
(Paraná), Núcleo Regional de Educação de Cascavel. 2 Professor Adjunto do Centro de Ciências Humanas, Educação e Letras da Universidade Estadual do
Oeste do Paraná, Campus de Marechal Cândido Rondon.
que abordam esse tema relacionado ao gênero. Em minha experiência de docência
no ensino fundamental e médio, em alguns dos conteúdos desenvolvidos nas aulas
de Educação Física é comum ouvir comentários dos meninos, quando o tema é a
dança, do tipo, “Ah! Professor/a, isso é coisa de menina”.
É necessário diversificar e direcionar as atividades em que, tanto
meninos quanto meninas, pudessem participar em igualdade de condições,
explorando seus movimentos e ampliando seus conhecimentos. A discussão sobre
gênero nas aulas de educação física não é um tema novo, mas tem sido
intensificado nos últimos anos (GONÇALVEZ, 2005; MARQUES, 2007; NANI,
2002).
A discussão sobre gênero tem sido abordada sob diferentes perspectivas
da cultura corporal de movimento. Em uma delas, Saraiva (2005, p. 30) orienta para
a necessidade de se buscar uma reformulação teórica em relação aos estereótipos
sexuais na Educação Física que fundamente novas práticas pedagógicas, que
venham a transformar a relação entre meninos e meninas contribuindo para a
formação de indivíduos autônomos e críticos.
Um dos aspectos mais importantes é que, atualmente, as aulas de
educação física sejam planejadas numa perspectiva de coeducação. Ou seja, é
necessário que meninos e meninas participem conjuntamente e ativamente das
atividades propostas, desmistificando o fato dos conteúdos das aulas de educação
física serem genereficados, reforçando, assim, os papéis sociais de meninos e
meninas.
A construção de um comportamento socialmente aceito, de acordo com
as influências sociais e culturais, é observada nas aulas de educação física com o
conteúdo dança, pois para os meninos a dança é conteúdo das meninas, por outro
lado o esporte é conteúdo para os meninos. Além do mais, é comum ouvirmos dos
meninos que “homem que dança é boiola”.
Por outro lado, ainda há uma confusão sobre a proposição do conteúdo
dança, para além das relações de gênero, havendo muitas vezes uma associação
inconsciente das relações de gênero e a sexualidade, pois ambos podem muitas
vezes confundir (CARDOSO, 2008).
Nesse sentido, a educação física, como disciplina curricular, tem um
papel fundamental na desconstrução desses estereótipos relacionados ao gênero ou
a sexualidade. A dança pode se constituir em um dos conteúdos nas aulas de
educação física mais relevante para desconstruir os preconceitos com o gênero e a
sexualidade.
Por outro lado, a dança é um dos conteúdos que menos tem sido
trabalhado nas aulas de educação física, o esporte geralmente é o conteúdo mais
vivenciado nas escolas. Desta forma as aulas de educação física acabam por não
proporcionar aos alunos espaços de inclusão de conteúdos que desenvolvam o
senso critico e humano, valorizando atitudes e as relações sociais (PEREIRA;
SILVA, 2004). A dança pode se constituir um importante conteúdo nas aulas de
educação física, para a inclusão e desconstrução dos preconceitos com gênero e a
sexualidade, valorizando assim a coeducação.
Muitas vezes a falta de conhecimento específico do conteúdo dança por
parte dos professores e a dificuldade em relação à participação dos alunos, são
considerados os fatores que dificultam o desenvolvimento da mesma na escola. É
preciso entender à dança como conhecimento significativo para nossas ações e
explorá-la no universo da linguagem corporal (BRASILEIRO 2003).
Dentro desse contexto, vencer barreiras não só quanto aos diferentes
tipos de dança, mas, sobretudo, que meninos e meninas possam dançar sem
nenhum preconceito, apenas desvelando a sua criatividade, instigando os mesmos a
explorarem os movimentos em sua própria cultura corporal em um processo
coeducativo, que, segundo Gonzáles e Fensterseifer (2008), pode ser efetivada
levando o aluno e aluna a uma reflexão para a incursão de uma nova prática e
elaboração de uma nova atitude
De acordo com as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná (2008) a
dança se constitui como uma manifestação da cultura corporal responsável pela
diversificação de diferentes práticas sociais. Essas práticas devem ser concretizadas
através das danças típicas (nacionais e regionais), dança de rua, danças folclóricas,
danças circulares, dança de salão e a dança criativa.
Segundo Cunha (1992), a dança criativa possui características, valores,
essencialmente educativos, seus conteúdos são adaptáveis a qualquer nível de
ensino. Com a dança criativa, podemos transformar mais facilmente as relações
entre meninos e meninas. Relações estas que foram sempre construídas
socialmente, mas que, segundo Auad (2006, p. 20), não são inatas e imutáveis, uma
vez construídas podem ser transformadas.
A “dança criativa” nas aulas de educação física pode fazer com que os
professores vejam seus alunos numa totalidade e sem preconceitos ou distinção
sexual. Neste caso, essas aulas proporcionariam aos meninos e meninas a
oportunidade de vivenciarem conjuntamente essa dança e, acima de tudo, tenham
condições de desconstruir os padrões socialmente construídos sobre os papeis
sociais, e assim transformá-los.
Diante disso, o objetivo geral deste trabalho foi relatar a experiência da
construção de uma proposta pedagógica de dança criativa coeducativa, para
crianças e adolescentes matriculados nas 5as às 8as séries do ensino fundamental.
Objetivos específicos
- desenvolver uma proposta pedagógica coeducativa para a dança
criativa;
- construção de coreografias para as diferentes séries na escola;
- apresentação das coreografias em um festival geral de dança.
2 A Educação Física na escola
A presença da Educação Física na escola hoje se dá, de forma marcante.
Ela faz parte da escola e durante as duas últimas décadas esta disciplina vem
sofrendo transformações voltadas a reflexões, onde o corpo em movimento e sua
construção social dentro de uma cultura corporal é o foco principal. Ela sempre foi
vista como uma disciplina que cuida do corpo em movimento, principalmente no seu
aspecto físico (força, velocidade, resistência), preocupando-se na maioria das vezes
com o desempenho e ainda desenvolvendo atividades separando meninos e
meninas, tendo o esporte como uma atividade valorativa do desempenho escolar.
A influência do esporte na escola foi tão acentuada que em muitas
instituições não tínhamos o esporte da escola, mas sim o esporte na escola
(COLETIVO DE AUTORES, 1992). Ou seja, a escola ainda era vista como uma
extensão de instituição esportiva. É assim que a Educação Física vem sendo
influenciada e desenvolvida ao longo do tempo.
Não podemos desvincular a Educação Física do processo educacional,
onde ela deve ser trabalhada na sua totalidade e a mesma deve ser vista também
como área que produz conhecimento. De acordo com o que nos diz as Diretrizes
Curriculares do Ensino Fundamental e Médio do Estado do Paraná (2008 p. 4), “[...]
o corpo deve ser entendido na sua totalidade, ou seja, o ser humano é o seu corpo
que sente, pensa e age”. Vendo este corpo em sua totalidade, que tipo de
conhecimento, uma disciplina que sempre esteve voltada a separar meninos e
meninas dentro de padrões estéticos e esportivos, poderia estar transmitindo aos
alunos?
As danças, os jogos, os esportes, as ginásticas e as lutas, são os
conteúdos propostos para se trabalhar a Educação Física na escola, e cada um
possui características específicas e se constituem em um objeto de estudo tendo em
vista os aspectos socialmente construídos em torno de cada conteúdo. Cabe então a
esta disciplina curricular trabalhar essas características dentro de uma sociedade em
que o aluno e a aluna deverão refletir sobre a evolução de cada conteúdo através do
tempo e aplicá-las de forma a produzir e reproduzir conhecimentos específicos, com
uma análise crítica que envolve as relações sociais.
Temos em cada conteúdo da cultura corporal de movimento uma história
específica voltada a uma sociedade que a construiu ao longo da história, aonde o
homem e a mulher vêm acumulando mais conhecimento e aprimorando cada vez
mais seus movimentos corporais. Vemos isso de uma forma bem clara nos esportes
competitivos, onde em primeiro lugar a competição gera uma superação em relação
a si e ao seu próprio corpo, e conduz homens e mulheres à transcendência, ou seja,
os eleva para serem mais humanos (MANUEL SERGIO, 1989). A isso tudo também
se deve considerar também as marcas, os limites e superação impostos na
competição.
Tudo isso acontece a todo instante. Diante dessa relação do homem e da
mulher com o movimento, temos na Educação Física um caminho em que a busca
por uma diversidade de movimentos se faz necessária, ressignificando todo o tempo
esse mesmo movimento. Nesse sentido, sobre o movimento aprendido na escola,
Soares (1996) considera que
as atividades físicas tematizadas pela Educação Física se afirmaram como linguagens e comunicaram sempre sentidos e significados da passagem do homem pelo mundo. Constitui assim um acervo, um patrimônio que deve ser tratado pela escola.
A Educação Física na escola está para proporcionar ao aluno e à aluna,
condições de vivenciar uma prática pedagógica colocando os mesmos diante desse
patrimônio da humanidade, voltada ao conhecimento de uma cultura de movimento
abrangendo todos os conteúdos sugeridos, e, segundo Manuel Sérgio (1989),
visando à superação e transcendência do ser, para uma melhoria nas relações
humanas, principalmente entre homens e mulheres, sem que haja nenhum tipo de
preconceito ou alienação.
3 A Dança como conteúdo da Educação Física
A Educação Física como componente curricular, apresenta várias opções
de conteúdos. A dança, neste sentido, e em especial a “dança criativa”, nos
proporciona algumas reflexões sobre os demais conteúdos estruturantes, sobretudo
sobre o esporte e a sua maneira de ser trabalhada na escola. Para Gonçalves Junior
e Souto Ramos (2005), o que se pretende não é negar o esporte como conteúdo,
mas distribuir outros conteúdos dessa cultura de movimento para o desenvolvimento
integral de mulheres e homens.
Para se valorizar o conteúdo dança nas aulas de educação física, é
preciso compreender que a dança é uma arte e manifestação corporal tão antiga
quanto o próprio homem, pois foi utilizada também enquanto forma de linguagem e
não apenas expressão (NANI, 2002, p.168). Diante disso, podemos presumir que o
homem usou a dança como uma das suas primeiras formas de comunicação.
Sobre os homens na pré-história, Faro (2004, p.13) o que distinguiu as
figuras das cavernas de Lascaux pelo homem pré-histórico, foram figuras dançando.
E como o homem naquele período só gravava nas paredes de suas cavernas, aquilo
que lhe era importante, como a caça, alimentação, a vida e a morte, é possível que
essas figuras dançantes fizessem parte de rituais religiosos ou místicos, a cujos
costumes esse tipo de manifestação já estaria incorporado.
Temos em conta então que a dança deve ser considerada uma
manifestação corporal e ritualística de grande importância para a história do homem.
Nesse sentido, Nani (2002, p. 169) reforça essa idéia quando defende os achados
de arqueólogos e antropólogos, pois suas pesquisas pressuporiam que o homem
primitivo dançava para simbolizar a sua força numa tentativa rudimentar de
comunicação, e mais recentemente na história, a dança tem estado presente em
todos os momentos solenes, tais como celebrações de vitórias em guerras, pela paz,
nas festas de casamento, festas populares de agradecimentos à colheita, etc.
Homens e mulheres, portanto, expressam sentimentos através do
movimento das mais diferentes formas, sendo que esse movimento realizado de
forma expressiva e acompanhado de música e com muito sentimento denominou-se
de “dança”. Fala-se ainda do homem enquanto ser dançante expressando suas
emoções e ainda expondo seu vigor físico. Contudo, sobre a história da dança
observamos que o sujeito ou ator dessa história geralmente é o homem, ou gênero
masculino. Acredita-se que para a mulher como sempre estavam restritas as
atividades de menor importância, produzindo desde tão tenra época as
desigualdades nas relações de dominância entre homem e mulher.
Considerando o envolvimento do homem e da mulher com o movimento e
a dança, podemos dizer que dançar é uma forma de comunicação que, na escola,
deve estar inserida como forma de conhecimento, contextualizada social e
culturalmente, não podendo então estar desvinculada do ensino. Inseri-la nas aulas
de Educação Física é agregar aos meninos e meninas aspectos e valores histórico-
culturais onde os mesmos terão oportunidade de se expressarem se utilizando as
mais variadas formas de expressão corporal, ampliando a cultura corporal de
movimento, de modo que os meninos e meninas possam desenvolver uma prática
corporal pouco vivenciada por eles.
Mesmo tendo como foco principal as diferentes formas de movimento, a
dança só é mencionada pela primeira vez em 1997, em um documento nacional
(PCNs) como parte integral da Educação, na disciplina de Arte (MARQUES, 2007,
p.66). Já em Educação Física, no mesmo documento a dança é mencionada como
“atividades rítmicas expressivas”. Ou seja, enquanto a primeira disciplina trata a
dança de forma teórica, a educação física faria a sua vivência prática.
O Governo do Estado do Paraná, em 1992, adianta-se nesta questão e
lança um documento chamado “Currículo Básico para a Escola Pública do Estado do
Paraná”, onde a dança é citada como conteúdo da Educação Física em todo o
ensino fundamental. Temos então no Estado do Paraná a dança como conteúdo
obrigatório da disciplina de Educação Física, mas mesmo com essa obrigatoriedade,
“a dança quando se faz presente na escola muitas vezes é vista como uma
reprodução de repertórios prontos e para serem apresentados em festas de final de
ano por um grupo de meninas” (MARQUES, 2007).
Não temos mais como negar o trabalho com a dança na escola, mas este
ainda tem se tornado difícil, tanto pela falta de conhecimento do conteúdo pelo
professor ou ainda pela falta de infraestrutura para se desenvolver este conteúdo,
como salas adequadas, aparelhos de som, etc.
Os profissionais que já trabalhavam na década de 1990, quando a dança
foi introduzida como conteúdo da Educação Física, foram formados em uma escola
tradicional e tecnicista, em que a esteriotipação do desempenho nos esportes eram
o foco principal do seu trabalho. Como então ensinar algo que não tinha sido
aprendido?
Diante das novas propostas pedagógicas da Educação Física, muitos
cursos, encontros e discussões foram acontecendo, conscientizando os profissionais
da área, a repensarem sua prática pedagógica. Temos então a dança como uma
proposta pedagógica nova para as aulas de Educação Física, um novo desafio para
os profissionais da área. Muitos encontros ainda acontecem agora chamados de
formação continuada, onde o professor através das teorias tem oportunidade de
refletir sobre sua prática.
Muitas vezes torna-se mais fácil para o professor desenvolver um
conteúdo onde o aluno já possui conhecimento prévio enraizado na sua cultura e
que os movimentos são preestabelecidos facilitando o desenvolvimento. Mas não
podemos esquecer que explorar o potencial dos alunos através de outros conteúdos,
e fundamentalmente considerando um principio dos PCN que é da igualdade entre
os gêneros, desenvolvendo uma coeducação física e que nela seja envolvida a
criatividade, exploradas as emoções, sentimentos e sensibilidade, todos
relacionados ao conhecimento sistematizado e transformador, indispensável para
viver na sociedade atual.
A falta de conhecimento na área de dança passa uma ideia equivocada
de como trabalhar o corpo fazendo-o expressar sentimentos, apropriando dos
conteúdos da dança de forma consciente e transformadora. Marques (2002, p. 21)
nos diz que:
Mesmo que tenhamos conseguido superar as marcas negativas da história, a visão ingênua que se tem a respeito do ensino de dança e
alguns dos preconceitos existentes em relação a ela, ainda temos dificuldades no Brasil para obtermos informações, termos experiência práticas e discussões criticas em relação ao ensino da dança. Na grande maioria dos casos, professores não sabem como ou até mesmo porque ensinar dança na escola.
Visão esta que deve ser rompida em uma Educação integral com aspectos
de valorização de ambos os sexos, sendo que o professor deve buscar uma
flexibilização nas suas ações profissionais buscando valorizar o movimento corporal
em todos os aspectos.
4 A dança e as relações de gênero
Dentro de um aspecto social e cultural a maioria das pessoas, sejam elas
jovens ou não, gostam de dançar. Percebe-se isso em vários aspectos como shows,
bailes, festas, em que vemos tanto os meninos como meninas dançando. Ou seja,
movimentando seu corpo diante de uma música, mas isso acontece de forma que a
maioria das vezes está a repetir movimentos, já preestabelecidos, com coreografias
prontas e impostos pela mídia, que na maioria das vezes são confundidas com
dança criativa.
Podemos observar em meninos e meninas que não gostam de dançar a
existência de um misto de vergonha e sofrimento que leva a uma retração ao ato de
dançar (LOURO 2008). Essa timidez que o indivíduo vai adquirindo com o passar do
tempo (enquanto criança essa timidez não existe) vem de um processo de
construção de conhecimentos preestabelecidos, em que a dança, não faz parte de
um contexto educacional, embora faça parte do contexto social e cultural. Ou seja,
ela não é desenvolvida principalmente nas séries iniciais do ensino fundamental ou
pelo menos não é desenvolvida de forma a relacionar o conhecimento abordando
aspectos dentro de uma dimensão cultural, social e histórica.
Nesse sentido, Kunz (2003, p. 136) advoga que há uma carência da
dança nos contextos formais de ensino, incluindo-se o universitário acarreta que
crianças, adolescentes e adultos em geral não experimentam o comportamento
expressivo (acontecimento corporal sensual – expressivo que pode despertar
momentos íntimos, particulares) e consequentemente, a dança parece-lhes fora dos
padrões habituais.
A falta de oportunidade em desenvolver as mais diferentes formas de
expressão corporal, desde que a criança entra na escola, faz com que ela se retraia
com o passar do tempo. Isso acontece principalmente com os meninos que
normalmente são menos estimulados a dançarem, como as meninas. Conforme as
crianças vão crescendo, diante do processo social construído, naturalmente vão
acontecendo as separações. Para Louro (2008), a escola que nos foi legada pela
sociedade ocidental moderna começou por separar adultos de crianças, católicos e
protestantes. Ou seja, “ela também se fez diferente para os ricos e para os pobres e
ela imediatamente separou os meninos e meninas” (LOURO, 2008, p.57).
Os conteúdos da Educação Física e as atividades trabalhadas para o
desenvolvimento dos mesmos direcionam bem algumas dessas separações citadas
pela autora, onde se diferencia atividades para meninos e meninas.
Desde que nascemos alguns padrões culturais relacionados ao gênero
são preestabelecidos e perpetuados na nossa sociedade tais como: a cor rosa para
meninas; e a cor azul para meninos; meninas usam brinco; meninos usam boné;
meninas brincam de boneca; meninos com carrinho; meninas fazem balé; meninos
jogam futebol. Quando alguma criança foge desses padrões, já existe uma
preocupação quanto a sua orientação sexual. Sendo que a maior preocupação da
sociedade para com a criança deveria ser com os estímulos recebidos em relação
ao seu desenvolvimento integral.
Uma criança que tem oportunidade de vivenciar, criar situações de
brincadeiras, nas quais meninos e meninas possam construir conjuntamente
atividades de interesse comum sem nenhum tipo de preconceito, certamente tornar-
se-á um adulto com uma concepção diferente em relação aos padrões normativos
pré-estabelecidos socialmente.
Quando meninos e meninas brincam juntos sem a interferência de um
adulto, a brincadeira flui num aspecto dinâmico, com total responsabilidade e
respeito, e quando as mesmas se encontram numa situação de liberdade de
movimento criam um mundo diferente daquele que os adultos tentam impor. A
criatividade vai além do que podemos imaginar e não existe distinção biológica,
cultural e social entre meninos e meninas, o importante para a criança é estar
participando de um grupo e poderem estar brincando.
Quando a criança chega aos onze ou doze anos (5ª série), professores
inibem essa liberdade e impõem novas formas de expressão, com movimentos
repetitivos e mecânicos, relacionados aos esportes e generificados. Entre os muitos
papéis da Educação Física escolar, um deles deveria proporcionar condições para
que o(a) aluno(a) continue vivenciando as mais variadas formas de movimento
incentivando os mesmos a explorarem a sua motricidade e criatividade ampliando o
seu desenvolvimento global.
5 A dança criativa
Dentro das atividades desenvolvidas pelos alunos, das séries finais do
ensino fundamental, cria-se uma rotina, os mesmos buscam as formas mais
variadas de movimentos em atividades diferenciadas, onde possam cumpri-las sem
perceber. E dentro dessa rotina, raros são os momentos em que os vemos dançar.
Existem hoje inúmeros estilos de música e de dança, e a maioria dos
nossos jovens não possuem conhecimento das diferentes formas de expressão.
Desde o século XVII até o século XXI, vemos os mais variados estilos de dança que
foram criados ou transformados, a partir da imensa diversidade cultural.
Entre eles podemos citar: a dança clássica e a neoclássica, dança livre,
dança moderna, dança a caráter (folclore), balé contemporâneo, dança
contemporânea, jazz, danças populares (criadas por grupos de movimentos sociais,
que incluem a dança de rua, o rapp, o funk e outros) e dança de salão. Todos estes
estilos de dança possuem características próprias, gêneros musicais próprios,
movimentos preestabelecidos que os definam e os diferenciam. Cada dança ao ser
desenvolvida possui uma metodologia de ensino e aprendizado específica que a
caracteriza, como: os deslocamentos, as quedas, os saltos, os giros entre outros.
Quando falamos em dança no ambiente escolar, normalmente os jovens
relacionam esse conteúdo com a dança clássica, onde a mesma sempre tem a
figura feminina em evidência. Contudo quando existe a participação dos homens na
dança, esta acontece de forma a sobrepor a figura feminina, evidenciando o trabalho
de força, de modo que a mulher acaba sendo submissa aos movimentos dos
homens.
Temos hoje jovens com influências culturais diferenciadas, sem muitos
compromissos, mas com uma bagagem de informações muito grande, recebidas
através das diferentes mídias. Diante disso, entender os jovens hoje, tornou-se um
desafio, e quando falamos em dança, as dificuldades aumentam tendo em vista ser
uma atividade que não faz parte do seu cotidiano.
Os diferentes estilos e diversificação da dança muitas vezes confundem
os jovens, não existe necessidade de usarmos termos diferenciados e ao mesmo
tempo semelhantes para nos referirmos à dança dentro do contexto educacional.
Conclui-se então que todas as danças possuem denotações educativas desde que
tenham como objetivo desenvolver no aluno a compreensão, sentimentos,
contextualização e a criatividade.
Quando se pensa em “Dança Educação” é necessário observar a
diferença entre a dança como produto da indústria cultural e aquela presente nas
escolas. Enfatizamos que a dança na escola é diferente, pois não estamos
interessados em formar artistas ou dançarinos, tampouco se ensinar as danças da
“moda”, por isso ela deve ser “criativa”, “educativa” e “expressiva”. Muitas vezes
acabamos negando a presença da dança como área de conhecimento, ou seja,
como arte (MARQUES, 2007, p.142).
Baseada no trabalho de Rudof Laban, a dança criativa se desenvolveu
como uma atividade em que o movimento não é usado de maneira funcional, mas
como uma forma de expressão individual. O movimento corporal transcende o
exercício físico e a dança surge como uma nova forma de linguagem, de
sentimentos, ideias, e emoções, desenvolvendo através de atos espontâneos a
expressividade do ser humano, restringidos e inibidos pela rotina imposta pelo dia a
dia (MARQUES, 2007).
Ao desenvolver a dança, de forma “criativa”, oportunizam-se aos jovens,
tanto meninos como meninas, condições de vivenciar, experimentar e explorar as
variadas formas de movimento de um determinado ritmo, sem que haja preconceito
por qualquer uma das partes. A relação do movimento com o ritmo vai partir do
próprio aluno, desenvolvendo no mesmo, aspectos de coordenação, equilíbrio e
flexibilidade, ampliando o seu potencial criativo.
Quando falamos em ritmo e movimento não podemos deixar de relacioná-
lo com uma música, sendo que a mesma tem grande importância no
desenvolvimento das atividades em dança criativa. Ela deve transcender os ritmos e
movimentos já conhecidos, de modo que o aluno venha a descobrir novos
compassos, romper com padrões socialmente construídos e com modismo. Tem-se
na música uma diversidade e variações de ritmos que devem ser explorados, para
que os movimentos possam fluir num aspecto dinâmico e natural.
O principal aspecto trabalhado na dança escolar “é conscientizar
profundamente o esquema corporal em movimento, e este movimento deve ser
percebido, incorporado, conhecido e expressado através dos sentimentos” (CUNHA,
1992). É desta forma que se pode diferenciar a dança criativa das demais, onde o
fator expressão e movimento não possuem movimentos preestabelecidos como as
demais danças, o aluno vai criar os movimentos de acordo com a sua expressão
corporal enfatizando aspectos relacionados ao seu cotidiano.
A relação do corpo com a dança criativa ocorre através das relações
quanto à forma, espaço, tempo e o próprio movimento, no qual meninas e meninos
irão expressar-se, explorando o seu potencial criativo, tornando a dança uma
atividade que todos possam participar sem nenhum tipo de preconceito, buscando
no jovem uma maior compreensão e a relação do movimento e seu corpo, dentro de
um ritmo, considerando-a assim como uma “expressão representativa de diversos
aspectos na vida do homem. Envolvendo uma linguagem que expressa sentimentos
e emoções” (COLETIVO DE AUTORES, 1992, p.82).
A dança criativa dentro das aulas de Educação Física deve ser
direcionada e adaptada de acordo com a realidade do aluno diante de sua bagagem
sociocultural, favorecendo uma aprendizagem e ensinar o aluno a dançar, não
demonstrar o movimento, mas criar situações para que o aluno se movimente, e que
todo o movimento seja espontâneo e livre.
A dança criativa não tem regras e os meninos e meninas não têm que se
preocupar com o movimento certo ou o errado. Diante deste aspecto, a dança
criativa deve ser desenvolvida de forma coeducativa, para que meninas e meninos
aprendem o que o seu corpo pode fazer, dentro do tempo, espaço, forma e ritmo,
com objetivo de se comunicar através do movimento.
Desta forma meninos e meninas poderão ser estimulados a dançar, de
forma criativa onde os preconceitos sobre as relações de dança e os meninos sejam
rompidos no momento em que os mesmos construam seus movimentos dentro de
um ritmo preestabelecido de acordo com sua cultura.
6 Metodologia
Para que houvesse uma maior compreensão sobre a dança criativa e as
relações de gênero na escola, este projeto foi desenvolvido para um relato de
experiência do emprego de uma metodologia baseada em Laban (1990), para a
dança criativa na escola.
O projeto a Dança criativa na integração dos gêneros foi desenvolvido no
Colégio Estadual Amâncio Moro localizado no município de Corbélia, com os alunos
de 5ª a 8ª séries do ensino fundamental.
Para cumprimento dos objetivos, o projeto foi dividido em diferentes
etapas. Na primeira foi desenvolvida uma proposta pedagógica do ensino da dança
criativa com os alunos do ensino fundamental, nas aulas de Educação Física, de
forma coeducativa. Em seguida, a construção de coreografias para os diferentes
grupos de crianças e adolescentes de cada série. Por último, a apresentação dos
trabalhos em forma de festival de dança. Para todas as etapas foram consideradas a
coparticipação tanto de meninos quanto de meninas, relatando os aspectos positivos
e negativos de cada etapa, além de analisar os depoimentos de ambos os sexos
sobre a proposta pedagógica apresentada.
7 Resultados
7.1 Atividades práticas desenvolvidas com os alunos
A dança criativa necessita de uma metodologia específica, em que a
expressão corporal seja uma forma de comunicação, envolvendo sentimentos, ideias
e emoções completamente originais, ou pretensamente não estereotipadas.
Diante da perspectiva de “dança criativa”, a proposta foi estimular que
meninos e meninas tivessem as mesmas condições para criarem movimentos em
relação ao tempo, espaço e forma, tudo de forma coeducativa.
Para que as atividades fossem desenvolvidas, cada turma recebeu um
tema para ser pesquisado, aumentando o conhecimento dos alunos sobre o tema
proposto. Por exemplo, os temas desenvolvidos foram os “Elementos da Natureza”;
“Esportes”; “Resgate Cultural dos Anos, 60,70 e 80” e as “Danças de Salão”, de
forma que os temas fossem acessíveis para as pesquisas e facilitando assim a
forma de explorar os movimentos de acordo com as dinâmicas pedagógicas
apresentadas. Todas as atividades de pesquisa com os alunos aconteceram durante
as aulas de Educação Física.
Diante dos temas sugeridos, os alunos observavam tudo o que acontecia
ao seu redor e que de alguma forma se relacionava com o tema proposto. As idéias
eram levadas para a sala de aula em forma de discussão e em seguida os/as
aluno/as foram instigados a transformar os temas em alguma forma de movimento.
Posteriormente esses movimentos foram transformados em uma sequência
coreografada mais longa, trabalhando aspectos de atenção e memorização e
utilizando composições musicais que contemplassem o tema maior pesquisado.
Todas as atividades apresentadas envolviam muito ritmo e movimentos
variados. A ludicidade estava sempre presente e envolvia os alunos de forma
bastante dinâmica. Quando falamos em movimento não podemos esquecer que ele
é uma variação constante de formas e ritmos, mesmo quando trabalhados em
atividades que não estão relacionadas à dança.
Durante uma atividade que se explorava diferentes níveis de
movimentos, tais como o alto, o médio e o baixo, os alunos tinham que buscar
formas variadas de movimento tanto no alto como no chão. Após estas atividades,
os meninos que não estavam muito acostumados as práticas de dança, fizeram
comentários surpreendentes, tais como:
“Nossa professora, essa brincadeira é muito legal”... (sujeito 1) ”Essa aula nem parecia uma aula de Educação Física. Foi muito massa”.... (sujeito 2)
Diante desses comentários, ficou evidenciado que, fundamentalmente
para os meninos, a aula de Educação Física - quando foge de alguns padrões de
movimentos generificados e estereotipados, com os quais já estão acostumados,
passa a ser mais prazerosa e não há identificação dos papéis sociais exercidos por
meninos e meninas.
Como o princípio pedagógico destas aulas eram explorar os movimentos
das mais variadas formas, os meninos não perceberam o que estavam fazendo, ou
até mesmo que estavam dançando. Dessa forma a atividade passou a ser
desenvolvida por prazer e não como uma mera repetição. Para as meninas, estas
atividades já tinham uma denotação mais séria. Ou seja, quando se desenvolvia
atividades com música, as meninas participavam de forma mais dinâmica,
preocupando-se com a execução dos movimentos e usando mais delicadeza e
expressão corporal, diferente dos meninos que viam na atividade mais uma
brincadeira ou diversão.
Em alguns momentos das atividades, por se tratar de alunos do ensino
fundamental (idades entre 11 a 14 anos), os mesmos deveriam se organizar em
duplas mistas, e nessas atividades existiu certa dificuldade por parte deles se
envolverem, pelo fato de eles se relacionarem de uma forma diferente, mais formal,
com as colegas do sexo e grupos opostos. Isto gerou certo “constrangimento” para
os dois grupos, pois as atividades envolviam necessariamente o contato físico entre
os sexos.
Sobre isso, Cunha (1992, p. 27) comenta que entre os adolescentes
sempre há uma necessidade de afirmação das personalidades e dos papéis sociais
perante o grupo ao qual o adolescente está engajado. Tanto a maneira de se vestir,
ou de se pentear ou falar por códigos dialéticos compreensíveis somente pelo grupo,
marcam as diferenças de ambos os grupos de meninos e meninas. Ou seja, o
constrangimento é natural de ocorrer entre os grupos nas atividades em que ambos
se confrontam em seus papéis sociais.
Quando os mesmos deveriam se organizar com colegas que não
pertenciam ao seu grupo social, houve certa resistência principalmente por parte de
alguns meninos. Sendo assim, as dinâmicas da dança criativa foram direcionadas de
maneira a criar oportunidades de vivenciar, criar situações lúdicas, onde meninas e
meninos construíram juntos, atividades de interesse comum, independente do seu
grupo social.
Como os meninos geralmente não apresentam uma concepção diferente
em relação aos padrões preestabelecidos socialmente, inicialmente havia uma
dificuldade no desenvolvimento das atividades de forma coeducativa. Ou seja,
somente após a proposta da dança criativa, meninos e meninas entenderam o que o
seu corpo pode fazer em termo de movimentos e criatividade, envolvendo aspectos
de energia e força, tomando conhecimento do mesmo, dentro do tempo, espaço,
forma e ritmo, rompendo assim o constrangimento anteriormente existente. Neste
caso, os padrões socialmente preestabelecidos começaram a ser modificados por
eles.
Com a mudança dos padrões socialmente estabelecidos pelos meninos
todos foram estimulados a dançar, sem preconceitos ou constrangimentos sobre os
diferentes movimentos criados. As dificuldades que os meninos tinham, em relação
a criar movimentos a partir de um ritmo, foram remediadas no momento em que os
mesmos construíram juntos com as meninas, movimentos dentro de um ritmo
preestabelecido e de acordo com suas experiências corporais anteriores.
A dança criativa dentro das aulas de Educação Física foi direcionada e
adaptada de acordo com a realidade cultural do aluno, considerando a sua origem
social para favorecer a aprendizagem. Ensinar meninos e meninas a dançar, não é
demonstrar o movimento, mas criar situações, para que os mesmos se movimentem,
e que todo o movimento seja espontâneo, livre e criativo.
Durante as dinâmicas, os alunos criavam os movimentos em pequenos
grupos. Os movimentos criados em cada grupo eram repassados para os colegas de
outros grupos, ampliando as variadas formas que já tinham desenvolvido. Diante
dessa troca de experiências com os ritmos e movimentos, uma sequência
organizada de novos movimentos foi surgindo, construindo assim uma coreografia.
Diante dessa dinâmica, todos os alunos da turma participaram da construção da
coreografia. Em todos os novos movimentos criados, os grupos iam se interagindo
uns com os outros, e cada vez mais, novas ideias iam surgindo ampliando e
enriquecendo o trabalho.
A organização das coreografias foi desenvolvida considerando os
aspectos antes trabalhados nas aulas de educação física, tais como deslocamentos,
tempo, ritmo, espaço, além das diferentes formas que o corpo pode assumir.
Durante a realização das atividades e a apresentação da coreografia, os meninos e
meninas dividiam o espaço de maneira que tanto meninos quanto meninas se
revezavam a frente, sem que houvesse destaque para um ou para outro grupo.
Quando se trabalha com sequência coreografada de movimentos, não
podemos deixar de citar a importância da concentração e memorização, aspectos
fundamentais na elaboração e finalização da mesma. Desenvolver uma coreografia
significa juntar movimentos variados, ritmos e deslocamentos, sem que exista uma
variação na sequência organizada, portanto a repetição é um fator essencial para
elaboração da mesma. Para encerrar o projeto, os alunos, foram incentivados a
concluírem seus trabalhos e apresentarem o que tinham produzido através de um
festival. A organização do mesmo foi o elemento que motivou todos na efetivação da
coreografia.
No início de outubro foi apresentada para os alunos e alunas a proposta
do FESTIDAM (Festival de Dança Amâncio Moro), para que os mesmos pudessem
se organizar para participar durante as aulas de educação física. Antes do festival
cada turma fez uma pré apresentação de suas coreografias na escola para os
colegas da mesma série, mas de turmas diferentes. Como esta primeira
apresentação aconteceu na escola e em horário de aula, houve uma participação de
todos os meninos e todas as meninas.
Toda a metodologia desenvolvida com os alunos teve como base o
“material didático” elaborado para a implementação do projeto na escola como parte
do programa PDE.
7.2 Festival de dança
O planejamento de todo o festival teve início com a organização de um
concurso para a escolha do logotipo do cartaz, houve a participação de vários
alunos, cada um apresentou um desenho que poderia simbolizar a dança na
integração dos gêneros.
Após a escolha do logotipo, outras providências foram tomadas; local de
realização, data e horário e a organização de um cronograma com a sequência e
horário das apresentações, que depois de elaborado foi entregue para os alunos em
forma de convite para os pais.
Todos os aspectos da realização de um festival são muito relevantes e
não fica somente nos itens citados anteriormente, junto com os alunos o professor
de educação física irá planejar orientar, e organizar para que todos participem de
forma efetiva.
O festival foi organizado de forma que os alunos fizessem somente as
apresentações sem concorrer à classificação ou premiação. Durante o festival houve
um total de 32 apresentações envolvendo todas as turmas de ensino fundamental.
O Colégio Amâncio Moro em 2010 possuía um total de 575 alunos no
ensino fundamental a tabela a seguir demonstrará a participação dos mesmos no
FESTIDAM.
Tabela- 1 Número de alunos do ensino fundamental do Colégio Amâncio Moro e
participação dos mesmos no FESTIDAM
Total de alunos no
ensino fundamental em
2010
575 %
Número. de meninos por turma
292 51%
Número de meninas por turma
280 49%
Meninos que participaram no
festival
173 30%
Meninas que participaram do
festival
200 35%
Total de alunos que
participaram do festival 373 65%
Sendo a participação no festival uma decisão do próprio aluno, houve
uma participação bastante significativa principalmente por parte dos meninos, sendo
que os mesmos sempre tiveram uma rejeição quando o conteúdo dança era
proposto na escola.
Alguns fatores que dificultaram a participação no festival; em função do
mesmo ter acontecido no período noturno, muitos alunos que moram na zona rural
não conseguiram transporte para a cidade. A falta de interesse dos pais em
acompanhar os filhos menores que não moram perto do local do evento, e até
proibindo os mesmos de participarem.
Ao solicitar um relatório após a apresentação, vários alunos enfatizaram a
satisfação em ter participado do evento, muitos relataram da tensão e um frio na
barriga no momento da apresentação, após subir ao palco e que passava quando a
música começava.
De acordo com alguns depoimentos, um misto de vergonha e timidez foi
um dos fatores que mais influenciaram a não participação de diversos alunos,
principalmente meninos, que estavam presentes no local do evento, prestigiando os
colegas. Por exemplo:
Aluna 1. “Foi uma experiência muito boa, todos meninos e meninas ajudaram a montar os passos e a dança. Nós tínhamos um objetivo deixar a dança quase perfeita dar o melhor de nós e conseguimos a dança ficou linda. Infelizmente não participei, e me arrependi.”
Aluna 2. “As aulas de dança e o festival de dança foi a melhor coisa que aconteceu na minha escola.”
Aluno 3. “Eu achei que foi muito legal porque foi um modo de todo mundo se aproximar meninos e meninas faziam as atividades juntos e se conheciam melhor”.
Aluno 4. “Quando a professora falou que nós íamos fazer atividades de dança, pensei que não ia conseguir, sempre achava que dança era coisa de menina, mas as aulas eram muito legais, quando percebi estava apresentando no festival foi muito massa.”
Aluno 5. “Sempre gostei de dançar, mas não essas musicas que dança junto com meninas, mas a professora durante as aulas foi fazendo umas atividades que a gente tinha que se organizar rápido em grupos, outra hora em duplas era umas atividades bem legal, quando percebi estava dançando com uma menina e era uma dança de salão, bem diferente do que eu danço com meus amigos,eu gostei muito.
Aluno 6. “As aulas de dança foram bem diferente, a gente ia fazendo os movimentos e ensinando para os outros grupos e o que foi mais legal é que os meninos e as meninas faziam tudo junto, tinha umas meninas que queriam fazer uns movimentos que a gente não conseguia, ai a gente conversava e mudava, pra que todos pudessem participar, cada um dava uma idéia diferente e todos faziam os passos”.
Poder proporcionar a alunos e alunas uma atividade nova, rompendo
padrões, buscando fazer o melhor, relacionando teoria com prática, é obrigação de
todo professor. Enquanto profissionais de educação física, devemos envolver os
alunos em atividades diferenciadas de forma que os mesmos possam compreender
que o movimento deve ser espontâneo e livre e que não são direcionados para
meninos ou meninas, ou seja, o movimento não tem sexo.
8 Considerações Finais
Diante da proposta desenvolvida neste projeto, pode-se observar a
necessidade de se repensar sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas nas aulas
de educação física, considerando os seguintes aspectos.
Ao desenvolver a proposta coeducativa em dança criativa, ficaram
evidenciados dois aspectos importantes. O primeiro relacionado à construção de
novos movimentos, pois tanto meninos como as meninas, tiveram a mesma
possibilidade de criatividade e participação. E segundo, o fato de estas atividades
possibilitarem a ruptura dos padrões socialmente construídos em relação aos
movimentos preestabelecidos por conteúdos específicos, quanto em relação aos
papéis sociais de meninos e meninas.
Na construção da sequência das danças, denominada de coreografia,
meninos e meninas compartilharam o mesmo espaço, criaram movimentos e
dividiram os papéis de liderança no grupo. Nesta perspectiva, pode-se considerar a
necessidade de diversificar as atividades voltadas a uma cultura corporal plural,
valorizando o trabalho coeducativo, enfatizando aspectos de sensibilidade,
cooperação, emoções, superação e maior integração de ambos os sexos, tanto
consigo mesmo quanto em relação ao sexo oposto.
Com relação à realização do festival de dança, ele possibilitou e
estimulou tanto meninos quanto meninas a vivenciarem conjuntamente novas
práticas corporais em educação física, proporcionando aos mesmos que, além de
mostrar o que tinham aprendido a fazer com seu corpo, tiveram condições de
enfrentar e superar seus medos, preconceitos, além de adquirirem confiança para se
comunicarem livremente com sensibilidade, criatividade e imaginação. Tudo isso
possibilitou a ruptura de alguns padrões socialmente construídos em relação à
dança e ao gênero.
Finalmente, considerando o pensamento de Laban, que defende que se
em nossas aulas ajudarmos os nossos alunos a enfrentarem seus temores e
adquirirem confiança para se comunicarem livremente com sensibilidade e
imaginação; e se conseguirmos, mesmo que seja um pequeno grupo, que eles
tomem consciência de seu próprio potencial criativo e do potencial de seus colegas;
que eles aprendam a respeitar seu colega independente do sexo, aí então teremos
conseguido um êxito considerável na nossa missão educativa. Este êxito é o que
justifica desenvolver a educação através da dança.
9. Referências bibliográficas
AUAD,DANIELA. Educar Meninos e Meninas: relações de gênero na escola: São
Paulo. Contexto, 2006.
BREGOLATO, ROSELI APARECIDA. Cultura Corporal da Dança: v. 1. São Paulo.
Ícone, 2000.
COLETIVO DE AUTORES: Metodologia do Ensino da Educação Física. São
Paulo. Cortez,1992.
CUNHA, MORGADA. Dance Aprendendo Aprenda Dançando: 2ª edição: Porto
Alegre. Sagra-DC Luzzato, 1992.
DCEs. Diretrizes Curriculares Estaduais de Educação Física para a Educação
Básica. SEED/PR/2008.
Dicionário Critico de Educação Física. Org/ Fernando Jaime González, Paulo
Evaldo Fensterseifer. Ed. Unijui, 2005
FARO, ANTONIO JOSÉ. Pequena História da Dança: 6ª edição: Rio de Janeiro.
Jorge Zahar Ed., 2004.
GONCALVES JUNIOR, LUIS. et al. A Educação Física escolar a a questão de
gênero no Brasil e em Portugal: São Carlos: EdFSCar, 2005.
LABAN, RUDOLF, Dança Educativa Moderna (tradução Maria da Conceição
Parayba Campos). São Paulo, Ícone, 1990.
LOURO, GUACIRA LOPES. Gênero, Sexualidade e Educação: uma perspectiva
pós-estruturalista: 10ª edição: Petrópolis, Vozes, 2008.
MANUEL, SÉRGIO, Educação Física ou ciência da motricidade humana?
Papirus Editora, Campinas, 1998.
MARQUES, ISABEL A. Dançando na Escola: 4ª edição: São Paulo.Cortez, 2007.
NANNI, DIONISIA. Dança Educação – Princípios Métodos e Técnicas: 4ª edição:
Rio de Janeiro. Sprint, 2002.
OSSONA, PAULINA. A Educação pela Dança: tradução de Norberto Abreu e Silva
Neto: São Paulo Summus, 1998.